Seafood Brasil #24

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CARDÁPIO INTERNACIONAL

Apesar de percalços, Brasil se mantém como alvo de importação e exportação

seafood

DIRETO DA PRODUÇÃO

A luta da pesca: sem subsídio, sem peixe e sem exportação

brasil

#24 - Abr/Jun 2018 ISSN 2319-0450

www.seafoodbrasil.com.br

Marcha dos paulistas Com regularização em andamento, aquicultores investem em tecnologia para ganhar escala e melhorar margens





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Editorial

Contra soluções mirabolantes

E

screvo este editorial sem gasolina, mas com esperança. Em pleno caos de produção e abastecimento motivado pela extensão do movimento dos caminhoneiros, vejo nos grupos e fóruns do segmento uma justa revolta com a classe política. A raiva é uma consequência natural da crise de representatividade dos nossos agentes políticos, vistos com pouca ou quase nenhuma legitimidade para resolver nossos problemas. Temos pressa, mas ainda assim não podemos cair na tentação de terceirizar a solução em um golpe de mágica. O vetor da mudança vem de baixo para cima e não ao contrário. Em junho de 2013 acreditamos que este era o caminho, mas a bagunça atual mostra como o buraco era bem mais embaixo. O autoestrangulamento que nos causamos com a caminhonada ilustra mais uma vez que

a mobilização “contra tudo o que está aí” não traz consequências práticas de transformação. A melhor prova disso vem do próprio setor. O licenciamento ambiental da piscicultura em São Paulo só foi conseguido com foco e muita articulação política da sociedade civil organizada. A tentativa de reversão do veto às exportações para a União Europeia, embora infrutífera, serviu para plantar uma semente de coesão no segmento. Outras batalhas seguem em andamento. É assim, com vitórias e derrotas, que daremos maturidade à nossa democracia. Vote consciente!

Ricardo Torres - Editor

Índice

10 Cinco Perguntas

12 Na Água

52 Na Gôndola

14 MKT & Investimentos 28

54 Especial

30 Capa

Na Planta

62 Direto da Produção

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Personagem

Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Atualização de mailing: Tatiane Santos

Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil R. Domingos de Santa Maria, 329 São Paulo - SP - CEP 04311-040 Tel.: (+55 11) 2578-5126 Escritório comercial na Argentina Av. Boedo, 646. Piso 6. Oficina C (1218) Buenos Aires julio@seafoodbrasil.com.br

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5 Perguntas a Cristiano Maia, presidente da ABCC

Entrevista

Alternância de poder Chegada de Cristiano Maia interrompe sequência de Itamar Rocha à frente da ABCC e abre espaço para maior diálogo com Mapa, frigoríficos e restaurantes

Q

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uem acompanha a carcinicultura brasileira não consegue dissociar a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) da figura de Itamar Rocha. Mas desde março deste ano a entidade está sob o comando oficial de Cristiano Maia, proprietário do Grupo Samaria e da Potiporã, que foi vice de Rocha e presidente da entidade cearense por muitos anos. O próprio empresário reconhece que o seu nome surgiu como parte de uma solução negociada pela diretoria para apaziguar os ânimos, muito acirrados desde o processo que a entidade move contra a União por

ocasião da abertura às importações do crustáceo sem Análise de Risco de Importação (ARI). Neste aspecto, a entidade conseguiu vitória recente, com a suspensão de liminar que autorizava as exportações de camarão do Equador pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A nacionalização do produto agora volta a depender de uma Análise de Risco de Importação (ARI) contemporânea. “Seja quem queira exportar ao Brasil, deverá fazer ARI”, diz Maia. O pedido, deferido pela ministra e presidente do STF, Cármen Lúcia, aponta até “risco à saúde pública”, mas se

baseia no princípio da precaução. Os equatorianos irão recorrer (leia mais nesta edição), mas enquanto isso a ABCC se reorganiza. Leia a decisão na íntegra neste link: http://bit.ly/STF_camarao

Por que a mudança na ABCC? No último ano vínhamos sentindo um certo desgaste da presidência com o Ministério da Agricultura, até por conta desta posição [de Itamar] no cargo por muitos anos. Por isso, reunimos os produtores e achamos que uma troca na presidência poderia melhorar o relacionamento dentro do Mapa, já que o setor vinha sentindo um certo afastamento.

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“Acredito que, com o investimento em melhoramento genético, em 2019 devemos atingir 100 mil toneladas [produzidas em todo o País]”

O sr. é um grande empresário do segmento. Como vai conciliar as agendas? São dois anos de mandato, temos várias frentes. Já presido a associação cearense e tenho muitas outras atividades, mas montamos uma diretoria muito ativa. Os diretores regionais também são muito ativos: vamos nos reunir todo mês e iremos delegar para a área de cada um, sempre sob o nosso comando. Outras funções iremos terceirizar. Na feira de Bruxelas, por exemplo, tivemos um consultor para pesquisar e abrir mercados, pois temos a intenção de retomar a exportação no segundo semestre.

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Os europeus querem frequência na entrega, não é um contrato spot. Não se pode mandar um contêiner e depois desistir. Para conquistar o mercado é difícil. Hoje o maior concorrente mundial é a Índia. Lá o salário fica em 1 dólar por dia. Tenho mais medo da Índia do que do Equador. Apesar da queda drástica dos 3 preços na porta da fazenda, o Brasil ainda não é competitivo lá fora. O que fazer para melhorar isso? Temos procurado enxugar até onde dá para diminuir o custo de produção. Em cada ciclo temos diminuído mais, porque queremos chegar ao preço de mercado internacional. Temos que produzir em um valor para produzir e competir lá fora. Um dos maiores investimentos é em um camarão que cresça rápido, para encurtar o prazo dele no viveiro. Para um camarão de 10 gramas é pelo menos 90 dias, mas já estamos chegando a 70 dias. Acredito que, com o investimento em melhoramento genético, em 2019

devemos atingir 100 mil toneladas [produzidas em todo o País]. Há muita gente entrando na atividade e frigoríficos devem ser reabertos ou inaugurados, pois não haverá estrutura suficiente para a produção interna e para exportação. Ainda que possamos atingir este patamar, ficaremos muito atrás de outros países. Segundo a ABCC, a área total para cultivo de camarão no Brasil subiu de 4.320 hectares em 1998 para 25 mil hectares em 2016. O Equador tem 10 vezes mais área. Por que não crescemos mais? Até estranhamos que o Equador produza 450 mil toneladas. Mas no início a exigência ambiental era muito difícil. Antes colocar uma fazenda para rodar era preciso tirar três licenças: prévia, de instalação e de operação. Aí vem exigências de APP [área de preservação permanente], reserva legal e a burocracia dentro do licenciamento. Existem muitas fazendas no Brasil sem licença, porque não conseguem se legalizar. Quase 90% é por conta disso. E muita gente não está nas informações oficiais.

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Em 2017 houve um aumento de 10% na produção para cerca de 70 mil toneladas. Estimamos 85 mil em 2018 e 100 mil em 2019 pela projeção de fazendas novas e sem a mancha branca. Com a mancha branca, a produtividade por hectare diminuiu muito. Em regime extensivo tem que ser ao menos 1000 kg por hectare por ciclo, senão o produtor fica no vermelho. Na minha fazenda no Ceará tínhamos 6 mil kg/hectare, agora estamos em 4 mil kg/hectare.

O sr. concorda que exista uma demanda reprimida por camarão no Brasil? A produção nacional dá conta disso? Quando a gente sofreu o antidumping em 2003, ficamos sem chão. Naquela época, o consumo nacional era de 100 g per capita/ano. Depois de uma campanha nacional em que fizemos oferta de camarão barato por seis meses em 2007, com preço de R$ 6 o kg, o consumo passou para 500 g per capita/ano. No ano passado, voltamos ao consumo de 300 g per capita/ano.

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O Brasil precisa comer mais camarão. O interior de São Paulo, por exemplo, come muito pouco camarão. Queremos aumentar o consumo e, para isso, vamos contratar uma consultoria e fazer campanhas. Com os preços voltando a um preço mais acessível, o camarão voltará a ser uma das bandejas que mais se repetem na fila dos restaurantes. Precisamos convencer os produtores de que os custos são altos e de que terão de melhorar a produtividade, para então baixar mais o preço e estimular o consumo. Só com uma genética melhor, podemos fazer em 70 dias um camarão de 10 g. O teto internacional hoje para este tamanho é de US$ 5,80, então na porteira terá de ser R$ 15.

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Nós, além da produção direta, temos os frigoríficos e beneficiamos o camarão, estamos sujeitos ao Mapa. Então criamos um grupo de 12 maiores produtores e chegamos à conclusão de que seria importante a alternância.


Na

Água Tecnologia para pesca e criação

Até 65% de proteína bruta O grande volume de pescado processado pela fábrica da Patense no Rio de Janeiro rende três linhas de farinha de peixe para nutrição animal: 55%, 60% ou 65% de proteína bruta. Ambas possuem antibacterianos, antioxidantes e, no máximo, 10% de gordura, umidade e cloretos. O produto é comercializado em embalagens de 25kg ou em big bags. Outro produto é o óleo de peixe com 1% de umidade, 3% de acidez livre e 1% de impureza, indicado para todos os tipos de ração, exceto para ruminantes.

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Dietas iniciais A Skretting levou à Aquishow Brasil 2018 a linha de rações iniciais para larvas e alevinos que compõem o programa Life Start. O objetivo é garantir o máximo desempenho e o correto desenvolvimento dos peixes. Já a Fri-Aqua Defense pretende fortalecer o sistema imunológico para proteger os peixes das condições adversas de ambiente

e manejo. Tudo pode ser controlado pelo AquaSim, ferramenta da Nutreco para gerenciamento de produção que permite, calcular o desempenho e otimizar a produção.

Pronto para o bioflocos A Multipesca constrói tanques elevados com estrutura galvanizada e geomembrana PEAD atóxica. A tecnologia de corte e solda contínua da lona é própria e não oferece pontos fracos de extrusão. Segundo a empresa, o intuito é oferecer uma estrutura confiável e robusta para projetos que necessitam de maiores cuidados e fácil visualização dos animais, como berçários de peixes e camarões.

Mangueiras porosas A oxigenação com mangueiras porosas é uma alternativa para tanques de peixes, berçários e viveiros de camarões. A Aquadrop já fornece aeradores específicos com a tecnologia, como este em forma de estrela, que funciona com um soprador responsável por alimentar um sistema de baixa pressão e baixo consumo energético.

Reversão sexual O salto de produtividade na tilapicultura mundial se deu com a descoberta da reversão sexual de alevinos. Por aqui, o único hormônio registrado com esta finalidade é o Alfarever, da Fav do Brasil. A metiltestosterona 50% é um esteróide anabolizante e anti-neoplásico que estimula as funções da polimerase do ácido ribonucléico e da síntese específica do RNA, resultando em aumento da produção protéica.

Solução natural O Macrogard é mais conhecido pelo uso no camarão, mas a Biorigin fez questão de levar o produto à Aquishow. Fonte de beta 1,3/1,6 glucanos purificados, ele busca equilibrar as defesas naturais de forma a contribuir para uma proteção mais eficiente a desafios causados por vírus, bactérias e parasitas. É uma alternativa natural para fortalecer a imunidade dos peixes e reduzir a mortalidade em situações de desafios.


Os sopradores regenerativos de ar da Nexco são injetados em alumínio e possuem motor de alto rendimento. Tudo para que a linha Nexair seja mais compacta, silenciosa, eficiente, econômica e durável. Segundo a empresa, o aumento da produtividade, maior qualidade da água, sanidade animal, redução do custo energético e aumento da lucratividade são consequências.

Digestibilidade e absorção Com o propósito de melhorar o desempenho zootécnico, a saúde e o bem-estar dos peixes e camarões, a Phileo Lesaffre está nos principais mercados aqua do mundo com cepas específicas de leveduras, bactérias e produtos à base de leveduras, seja em com-

binação ou isoladamente. Os objetivos são reduzir a utilização de antibióticos e melhorar a performance dos animais e sua produtividade, promovendo maior resistência a doenças.

Despesca com bomba A Marine Equipment já tem 16 bombas de despesca da Aqua-Life instaladas no Brasil, a maior parte em pisciculturas, mas três delas já estão no camarão. Nas carciniculturas, uma operação que durava 10 horas com sistema de moto cai para três horas. Além do benefício para operação, dá biossegurança e facilita a vida dos trabalhadores.

Controle de matérias-primas A multinacional Foss apresenta um equipamento específico para monitorar todas as matérias-primas utilizadas na composição da ração para animais aquáticos. O DS2500 F avalia o valor nutricional das cargas, com a intenção de garantir pagamento dos fornecedores pelos níveis ideais de proteína especificados para cada matéria-prima. Os benefícios alegados pela empresa são a melhoria de custo das rações e a padronização e melhoria constante da conversão alimentar.

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Sopro da produtividade


Marketing & Investimentos

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Turbulência virou regra

Apas Show 2018 vê pescado menor na feira em meio a intensos debates sobre dólar, preços do salmão, camarão equatoriano e rechaço de contêineres

O

s mares revoltos dos primeiros meses do ano persistiram durante a Apas Show 2018, entre 07 a 10 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo. Tudo apontava para um evento

de retomada, apesar de uma presença levemente menor dos estandes com pescado: o varejo desabastecido depois da Semana Santa, sinais de reação na economia e no consumo, além do resgate de algumas categorias.

O pré-feira realmente era promissor, mas durante o evento já se notava entre os presentes um certo pessimismo com o estado de coisas em Brasília (mais especificamente no Ministério da Agricultura), principalmente aos que


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Marketing & Investimentos

A escalada do salmão Preços médios em US$ FOB para o head-on 10-12

8,07* 5,91

Janeiro

5,99

Fevereiro

6,60

Março

7,16

7,30*

Abril

Maio

Junho

*Preços da última semana de maio e primeira semana de junho Fonte: DEAEX/SECEX/MDIC/SalmonEx/DataSalmon

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Jenaro Correa (AgroSuper/Super Salmón) e Pilar Serrano (ex-Cermaq, agora na Aquachile), ambos nas fotos abaixo, não tiveram a vida muito fácil na Apas este ano. Os compradores brasileiros queriam saber as razões para a escalada de preços do salmão inteiro HG, que não para de subir desde janeiro. “A conjuntura é complexa. A descoberta de salmão da Noruega contrabandeado na China fez com que os asiáticos direcionassem suas compras ao Chile. Se os chineses compravam 8% do nosso volume, agora estão próximos ou até superiores ao volume brasileiro, com cerca de 25% das compras”, diz Correa. A produção total deve ficar em 580 mil toneladas, das quais metade vai para Brasil e China. Só que os EUA, Japão e Rússia também disputam esta oferta e o Chile não tem mais para onde crescer. “Creio que a situação vai se estabilizar quando a Noruega normalize sua produção, e também com a safra do salmão selvagem do Alasca.” De fato, o Estado norte-americano pode ajudar a equilibrar a escassez da oferta por aqui com o salmão sockeye, que deve sustentar os mesmos níveis de captura de 2017. Se em 2017 foram 53,6 milhões de salmões da espécie, neste ano a previsão para a safra é de 51,8 milhões, segundo o Alaska Department of Fish and Game (ADF&G). “Estamos otimistas com as novas importações de peixes do Alasca, de acordo com conversas recebtes que tivemos com players de Santa Catarina”, diz Carolina Nascimento, do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI).

dependem em grande medida da oferta da importação. A apreensão com o temido Regime de Alerta de Importação (RAI) se estendia aos fornecedores: os argentinos, por exemplo, tiveram apenas dois expositores este ano, Pampa Fish e Polo Sur - esta com uma surpreendente caixa de langostino argentino. Referências tradicionais, como a Mardi e a Coomarpes, nem tomaram o avião (leia mais sobre o tema no Especial Cardápio Internacional desta edição). Os chilenos também vieram em menor número e passaram a feira se justificando. Depois de um mergulho no fim do ano passado para US$ 5,60, o salmão com cabeça (head-on 10-12) disparou nos quatro primeiros meses do ano: saiu de US$ 5,91 em janeiro para US$ 8,07 na primeira semana de junho. E não deve parar por aí, como anunciou o presidente da SalmonChile, Arturo Clément, na Seafood Brasil #23. Segundo ele, o preço deverá se estabilizar em US$ 8. O cenário ficou mais grave ainda com a apreciação recorde do dólar em plena semana de feira: +2,20%, maior alta semanal desde fevereiro (+2,67%). Tudo o que foi planejado com a moeda norte-americana abaixo de R$ 3,50 já estava em revisão em pleno evento. No fechamento desta edição, em 01 de junho, a cotação registrada foi a maior em 27 meses, já muito próxima a R$ 3,80. Nos “aquários” dos estandes maiores, os rostos carregavam certa tensão pelas renegociações de contratos e o futuro incerto com o panorama eleitoral. Já nos corredores, a complexidade do novo regime de ICMS em São Paulo pautou as conversas, mais sóbrias e focadas nas consequências para varejo, indústrias e distribuidores (veja infográfico sobre o novo ICMS na página 50). Nenhuma das grandes camaroneiras nacionais esteve presente, mas a


Gigante discreta

Os portugueses ficaram com o quintal mais livre com a saída da Mathias Bjorge e da Brodrene Sperre do evento, depois de iniciativas frustradas nos cortes especiais de bacalhau. Para a tríade Bom Porto, Riberalves e Soguima não parecia haver turbulência alguma: estandes lotados, muito vinho, champagne e Gadus morhua. Embebida do clima festivo também estava a Opergel, que celebrou seus 25 anos de existência com a nova linha para o varejo Oceani.

Na linha do Equador O estande da ProEcuador na feira provavelmente nunca viu tantos expositores (oficiais e agregados) e interessados no camarão equatoriano como nesta edição. A Omarsa fez um voo solo, com um estande exclusivo em outro pavilhão, separado dos compatriotas. A expectativa de todos era de crescimento dos volumes exportados ao Brasil, que de janeiro a abril somaram 42,6 toneladas. A fórmula parecia infalível: a queda de 40% no preço do camarão brasileiro não se sustentaria por muito

A Friboi mostrou que está atenta à ascensão do pescado no sortimento básico do varejo de proteínas. Sem alarde, aproveitou a Apas para lançar os itens do segmento na linha Do Chef (bacalhau, salmão, cação, merluza, tilápia, pintado e polaca do Alasca) e metas ousadas: aumentar as vendas em 25% e contribuir para popularizar o consumo. “Queremos oferecer opções acessíveis de pescado para os nossos clientes e desmistificar o consumo de peixe apenas em datas comemorativas ou especiais”, comenta Ailton Firmino, diretor executivo de vendas da JBS Carnes.

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oferta nacional foi bem representada com a boa briga das cooperativas pelo filé de tilápia (veja box).


Marketing & Investimentos Conservas em queda

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2014 foi um ano glorioso para a Marbelize: US$ 12 milhões só com atum em conserva. “Tínhamos 39 clientes ativos só no Brasil. Era o segundo maior mercado depois da Espanha, os líderes globais no consumo e na produção, mas a maior margem de rentabilidade de toda a indústria”, resgata Marcelo Fabara (à direita, na foto com o diretor operacional da empresa, Andres Cuka), que acaba de retornar à empresa depois de uma incursão no mercado financeiro. A consequência desta oásis de quatro anos atrás é parte da derrocada que o segmento sofreu nos anos posteriores, de acordo com o executivo. Em 2015 alguns concorrentes começaram a ter uma presença mais forte na feira e, segundo ele, baixaram demais os preços e prejudicaram um pouco o mercado, que em paralelo se contraiu muito. Três anos depois, Gomes da Costa e Camil já não estão na Apas, o que Fabara interpreta como um sintoma do desinteresse do consumidor. Por isso a intenção em retomar a marca Yeli, com novos formatos que incluem até um estojo para presente e latas com impressão em litografia. Tecnologia já comum na linha desenvolvida pela Robinson Crusoe, marca da espanhola Jealsa-Rianxeira, que aos poucos vai assumindo a lacuna deixada no evento pelas concorrentes nacionais. Na feira, toda a diretoria espanhola esteve presente, reforçando a aposta no mercado brasileiro apesar dos percalços.

tempo e, com a tradicional diminuição da oferta nos meses de inverno, o camarão novamente se tornaria vantajoso nos tamanhos grandes especialidade equatoriana. “O Brasil poderia significar para o Equador umas 1000 toneladas por mês de cauda, que é um subproduto do camarão inteiro”, calcula Fabricio Amador Bayas, agente que trabalha para a BilboSA. Ele já havia constatado em março a queda de 40% no produto nacional, mas como o vannamei despencou globalmente, o Equador ainda seria competitivo. Ele via a desvalorização como um fator desencadeador de uma explosão no consumo do crustáceo, independentemente da origem, ainda mais se somado à escalada do salmão. Autora da primeira exportação ao Brasil, MarEcuador faz uma ressalva. “Cortamos onde pudemos para nos tornarmos mais competitivos, mas se o dólar estivesse um pouco mais baixo, conseguiríamos ampliar ainda mais o interesse de novos clientes”, diz o gerente comercial, Daniel Ramón. Para Javier Romero, da Excamecor, a pulverização poderia ser a chave: “Não atacar em volumes, mas

em pallets. Ser eficiente na entrega com produto de alta qualidade para pequenos restaurantes e mercadinhos, com bom preço e eficiência, esta é a melhor dica que recebi aqui na feira.” Estratégias montadas e prontas para funcionar, até que, no primeiro dia de

junho, o STF suspendeu a liminar que autorizava as importações e condicionou as vendas de crustáceos ao Brasil a uma ARI contemporânea. A análise ficará a cargo de uma nova coordenação de sanidade criada no âmbito da Seap. É um banho de água fria também em outros países, como o Peru e a Tailân-

Ronald Baque e Fabricio Bayas, da BilboSA: equatorianos viam grande oportunidade de incrementar volumes até nova decisão do STF


que é hora de entrar na OMC porque a autoridade sanitária brasileira tem a mesma opinião que a nossa.” Enquanto assiste ao desenrolar da contenda, o comprador de camarão pode esperar uma recuperação dos preços no segundo semestre. Não nos patamares pré-2018, mas com a questão sazonal, a saída dos equatorianos e a retomada das vendas brasileiras a um mercado mundial sedento por vannamei pequeno e barato, não se espera a manutenção dos níveis atuais.

Langostino e merluza Quem conseguiu achar pescado no estande argentino se impressionou. Ou pelo baixo número de participantes ou pela caixa de langostino Pleoticus muelleri que o Grupo Polo Sur levou para a feira. Junto ao irmão, José Manuel, o diretor Jose Emilio Castro explicou que a mobilização brasileira é que motivou a iniciativa. “Há um movimento forte

de importadores e instituições como a Abrapes [Associação Brasileira de Fomento ao Pescado] para retomar a abertura ao langostino.” Em 2012, quando o então ministro Marcelo Crivella definiu uma quota de 5.000 toneladas, a empresa chegou a exportar apresentações distintas, como o eviscerado descascado, e agora vê o contrabando crescer na fronteira. Por outro lado, apesar do interesse brasileiro, a safra de camarão argentino que supera as 200 mil toneladas anuais vai muito bem lá fora. O foco aqui, portanto, segue na merluza. Tanto para a Polo Sur quanto para a Pampa Fish, notória e histórica fornecedora do produto. Em bom português, que fala fluentemente, o diretor Oscar Poletti confirmou a retomada do produto argentino diante do temor de rejeição com os filés asiáticos. “O filé tradicional de merluza em bolsas vai bem, fazemos 200 toneladas por mês em média.

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dia, que já estavam aprovando rótulos de crustáceos, mas como pioneiro o Equador sobe o tom. “Lamentamos que uma demanda apresentada com graves falhas técnicas e jurídicas tenha sido acolhida por um tribunal supremo brasileiro”, salientou José Antonio Camposano, presidente da Câmara Nacional de Aquicultores do Equador (CNA). Para ele, o que se busca realmente é “perpetuar o monopólio dos produtores de camarão.” “Se não fosse isto os produtores estariam tão preocupados com os cistos de artêmia importados dos Estados Unidos, país comprovadamente portador da EMS.” Apesar do comentário contundente, a reação será técnica. A CNA contratou advogados para recorrer à decisão da ministra, que não julgou o mérito, mas defendeu a “precaução”. Por outro lado, deve haver um contato mais estreito entre o corpo técnico e oficinas comerciais de ambos os países antes de qualquer retaliação mais grave. “Não acreditamos


Marketing & Investimentos A boa briga da tilápia

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A entrada da Aurora na briga pelo filé de tilápia foi uma das grandes novidades da Apas deste ano. Com faturamento de R$ 8,9 bilhões em 2017, a cooperativa chapecoense fechou acordo para absorver parte da produção em franco crescimento da C.Vale e aumenta o mix para os canais nacionais já habituados aos suínos e aves. Ambas comercializarão as embalagens de 2 kg para os atacarejos e 800g ou 400g com suas marcas para diferentes praças, em um acordo comercial ainda não muito claro. Sabe-se, porém, que a C.Vale tem atuação mais regional, enquanto a Aurora está nos quatro cantos do País. Mesmo caso da Copacol, que concentra energias neste momento na consolidação da sua liderança na tilápia no mercado doméstico, ao mesmo tempo em que busca salvar os mercados estrangeiros depois da reputação arranhada do Brasil no exterior com as carnes em geral. Correndo por fora, PifPaf, Cooperativa Lar e Plena Alimentos também apostam na categoria e podem contribuir para equilibrar um pouco os preços, normalmente em alta no inverno. Se em 2018 a novidade é o acirramento do mercado de tilápia, na Apas do ano que vem podemos ver outras novidades: sabe-se que o cultivo do camarão em bioflocos interessa muito aos integrados. De olho nesta briga, a Geneseas Holding usou a feira para fazer a transição definitiva do B2C para as marcas Dell Mare (mix geral de pescado), Dell Mare Saint Peters (filés de tilápia) e Tilly (produtos de baixo custo). “Contratamos uma consultoria para uma pesquisa de mercado no varejo e a Dell Mare foi a marca mais lembrada como marca de pescado com qualidade”, conta Fabricio Ribeiro, diretor de relacionamento com o varejo. A estratégia agora é apoiar o consumo de pescado com base na praticidade. Um expositor horizontal repleto de novos produtos chamou a atenção de quem desde a Nativ não via produtos elaborados no portfólio das empresas. “Estamos cercando de todos os lados quem tinha dificuldade de preparar e consumir pescado”, finaliza Ribeiro.

Camarão argentino: irmãos José Manuel e José Emilio, do Grupo Polo Sur, creem na eventual reabertura

Oscar Poletti, da Pampa Fish, junto às representantes Kelly Karacho e Luciana Boccia: merluza compete com langostino justo no momento em que demanda retorna

O nosso cliente inclusive está solicitando nosso produto com a marca deles.” O volume só não aumenta porque não há mais merluza. Não que seja um problema da safra, mas de foco. “O camarão prejudica a produção da merluza, porque este ano mais de 100 barcos que pescam merluza irão capturar camarão. São 4 ou 5 meses sem pescar a merluza.” Ainda assim, ele garante, o preço não deverá subir muito além do patamar atual.


Apas da retomada

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Pelo menos era o que se esperava, apesar da presença levemente menor de estandes de pescado. A visitação foi menor, segundo os expositores, mas um pouco mais focada que em edições anteriores. Naturalmente os negócios tendem a fluir melhor com este clima em um ambiente tão caótico quanto o supermercado dos supermercados.


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Marketing & Investimentos

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Sidónio Barros, Antonio Guimarães e João Machado (Soguima)

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Ricardo Bermejo (Satel Despachos), Carlos Alberto Santos e Victor Moreira Santos

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Pedro Vasconcelos e Paulo Brásio (Frijobel)

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Priscila Moreno (GerenciAli), Miguel Bregieira (Noribérica), Patricia Nascimento (GerenciAli) e Gustavo Pedroza (Camarões do Brasil)

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Felipe Katata e Matias Cirano (Cermaq), Andrea Guardino e Rubens Hada (Nordsee)

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Maciel Correa, Luzaldo Pscheidt e Paulo Pscheidt (Costa Sul)

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Alvercínio Vieira e Juliano Mafra (Vova Seafood), Guilherme Blanke (Noronha)

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José Madeira (ASMI), James Loureiro, Milena Figueiredo, Guilherme Blanke (Noronha) e Carol Nascimento (ASMI)

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Vitor Pierri (Komdelli), Marcus Galvão (GPA), Priscila Moreno,

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23 Elane Santos (GPA) e Tiago Dreher (Komdelli)

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Equipe da MarEcuador

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Javier Romero e Yuri Caicedo (Excamecor)

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Vasco Tørrisen Duarte, Øystein Valanes e Karina Mendes (Seafood from Norway)

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Marcelo Pestana e Felipe Scartezzini (Opergel)

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Cleverson Alves, William Yamamoto, Eduardo Raskin, Ana Paula Jesus, Patricia e Éderson Krummenauer (Frumar)

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Geraldo Neves (Costa Sul), Sonia Barbosa (Supermercado Barbosa) e Paulo Oliveira (AV09)

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Dagoberto Coracini (Geneseas), Luciano Antônio, Célia Nunes (Carrefour), Fabrício Ribeiro (Geneseas), Érica Yamada (Carrefour), Roberta Oliveira e Breno Davis (Geneseas)

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Fabricio Ribeiro e Tito Lívio Capobianco Jr. (Geneseas), Meg Felippe (Nordsee) e Breno Davis

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Francisco Vía (Seafrost) María Fernanda Azabache e Alba García Flores (Dexim)

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Eduardo Frasson (Bom Peixe), Bruno Correa (JBS), Eduardo Hissnauer (Bom Peixe) e Altemir Gregolin

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Juliene Gennari e Thiago Monteiro (Golden Foods)

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Pedro Pereira, Sergio Costa, Sergio Karagulian e Rui Costa (Bom Porto)

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Gustavo Gutierres (Bom Peixe), José Robson, Christianny Maia (Potiporã/Samaria), Will Maranhão, Rodrigo Joaquim (Grupo 5), Luzia Maia e Cristiano Maia (Potiporã), Altemir Gregolin e Diego Fávero (Grupo 5)


Os 25 anos da Opergel Ivan Lasaro, Rossana Pancorvo e todo o time da Opergel receberam convidados especiais na celebração de 1/4 de século de existência desta que é uma das principais importadoras, distribuidoras e agora processadoras de pescado do País. A festa, na capital paulista, reuniu parceiros locais e de países como Portugal, Argentina e Chile, tradicionais fornecedores que agora acompanham a investida da empresa na marca Oceani. Fotos: Divulgação/empresa e arquivo pessoal

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Thiago Menezes (Sao Peixe), Ivan Lasaro (Opergel) e Ignacio Fernandez (Atlantis Seafood)

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Cristian Martinic (Skyring), Ivan Lasaro (Opergel), José Garcia Menendez (Opergel) e Alvaro Sagardia (Multiexport)

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Ivan Lasaro, Sidónio Barros (Soguima), Antonio Guimarães (Soguima) e Rossana Pancorvo (Opergel)

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Denis Silva (Opergel) e Rossana Pancorvo

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Festa ocorreu em 19 de maio, em São Paulo

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Equipe de funcionários da Opergel

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Ivan Lasaro e Rossana Pancorvo

Ivan Lasaro e Rossana Pancorvo

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Marketing & Investimentos

Com ou sem estande

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Os brasileiros não deixam de ir à Bruxelas. A meca do pescado mundial recebeu uma delegação consistente de conterrâneos, cuja sede por novos produtos e informações de mercado surpreendeu os expositores. Indicativo de uma reação nas compras iniciada em 2017, que pode não se manter este ano por conta do cenário político-econômico - responsável, por sua vez, pela ausência de um pavilhão brasileiro pela primeira vez desde 2009.

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Kazumy Miura, Gentil Linhares (Bomar), Alvercínio Vieira (Nova Seafood) e Alexandre Reis (Bomar)

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Totonho (Peixes Meggs), Ricardo Bermejo (Satel Despachos), Marcel Simões (LM Import) e Guilherme de Souza (Trovão)

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Davi Costa Santos, Mariana Benvenutti, Francisco Benvenutti e Alan do Vale (Seabev)

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Roberto Coronel (Santa Priscila)

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Rafael Camacho, Geraldo Cosentino (Squalo) e Lincoln Dubiela (Independent Brazil)

17 Paulo Rech Filho (Frumar), Gianfranco Nattero (Marine Harvest), Éder Krummenauer (Frumar) e Bruno Stingo Rissetto (Marine Harvest)

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Ana Paula Redmer (Água Bonita) e Cadu Villaça (Conepe)

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Diego Mavarez e David Fernandez (CadapeFernandez)

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Megan Rider, Monica George e Alexa Tonkovich (ASMI)

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María Fernanda Vilches (CNAEcuador) e Denise Vélez (Edpacif)

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Felipe Marambio (Cooke)

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Guilherme Blanke (Noronha) e Marcelo Eiger (Trident)

Henrique Gonçalves Moreira, Rossinna Nuñez-Melgar Galluccio e José Andrés Veiga Suárez (Marfrío)

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Roberto Gutierres (Bom Peixe), Eduardo Lobo (Prime), Fábio Marques (Premier Pescados) e Christiano Lobo (Abipesca)

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Afonso de Ligório (Asa Branca), Miguel Bregieira (Noribérica), Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil), Danilo Ferreira Bezerra (Asa Branca) e Rafael Pedroza (Camarões do Brasil)

Egberto Braga (Peixes Mares), Vanessa Salomão (Interatlantic), Fábio Marques (Premier) e Luis Palmeira (New Fish)

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Gustavo Peruchi e equipe da Control Union

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Marketing & Investimentos

A casa da piscicultura brasileira A Aquishow Brasil firmou o pé este ano como o principal evento da piscicultura brasileira. Durante a feira, a Ambar Amaral aproveitou a ocasião para celebrar a nova identidade visual da Brazilian Fish em um passeio de chalana. Com o mote “Todos em uma mesma batida”, a campanha pretende reforçar os vínculos com os clientes atuais e ampliar mercado com produtos mais elaborados, como os já tradicionais petiscos de tilápia.

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Eduardo Gianini Abimorad e Daniela Castellani (IPescaSP)

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Tiago Bueno (Seafood Brasil), Ramon Amaral (Ambar Amaral) e Eder Alonso (Karcher)

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Paulo Rocha (Alliplus) e Eduardo Urbinatti (Trouw Nutrition)

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Altemir Gregolin, Alexandre Freitas (Embrapa), Carlos Magno, Luiz Ayroza (IPescaSP), Cláudio Doneaux (Ilha de Búzios) e Eric Routledge (Embrapa)

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Rui Reis, Gilmar Pessi (Royal Fish), Emerson Esteves (Peixe Vivo), Valdir (Ambar Amaral), Assis Castelan (Peixe Vivo), Paulo Bindilatti, Assis Henrique Castelan (Peixe Vivo) e Ramon Amaral

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Emilio Caradori, Ramon Amaral, Emerson Cavalcante (Brazilian Fish), Raimundo Caetano, Marcelo Luiz Gonçalves e Marcos Costa (OBA)

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Adriano Jerônimo da Silva, Celso Bernardo Júnior, Gustavo Alves, Renato Morandi (Geneseas) e Felipe Cunha (Multipesca)

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Helenice Pereira de Barros, Carlos Massatoshi Ishikawa, Daniele de Carla Dias, Marcos Aureliano Silva Cerqueira, Raquel Leite e Clóvis Ferreira do Carmo (IPescaSP)

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James Loureiro e Ramon Amaral (Ambar Amaral)

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Eder Valpiano, Merlen Keiti, Thiago Bortolozi e Alberto dos Santos (Aquadrop)

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Eduwaldo Jordão (Wenger)

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José Luiz Carvalho, Juliete Manzoli, Angélica Zaine, João Manzoli e Talita Tameirão (Supreme Brasil)

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Marcelo Berriel, Rubens Ramos, Rita de Cássia Ramos, Jurandi Ramos, Rodrigo Maia e Gabriela Cunha (Grupo Peixe Bom) Lucas Piva, Rodrigo de Araújo Rodrigues e Dalton Sales (AquaQualy)

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máquinas a vácuo. O diferencial, para a empresa, é a robustez e durabilidade dos equipamentos, além do portfólio de peças e equipe técnica para demandas preventivas ou de manutenção.

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Planta Tecnologia em processamento de pescado

Peso ou espessura fixas Precisão é palavra-chave na porcionadora I-Cut 11, da Marel, que permite o corte em peso ou espessura fixas. Além de proporcionar ganho de agilidade e poupar esforço dos colaboradores, segundo a empresa, ainda é de fácil limpeza e tem design compacto para todos os layouts de plantas.

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testemunho do piscicultor saiu de um grupo de WhatsApp e tornou-se público pela boca de Emerson Esteves, presidente da PeixeSP, na abertura da última Aquishow, quando emocionou os presentes. Tomamos emprestadas as palavras de Pedrini porque as consideramos o retrato perfeito da rotina de uma cadeia produtiva já consolidada, que a partir de

agora deve dar passos mais ousados em busca de alta tecnologia para ganhar escala, eficiência e melhorar as margens para todos os envolvidos. Saiba quais são estes passos nas próximas páginas desta reportagem especial, que busca atualizar o especial “Causos da Piscicultura Paulista”, publicado na edição #9 desta revista.


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a r o s l u p o r p a l A mo

Três vezes maior, Aquishow Brasil estimula R$ 40 milhões em geração de negócios e dá suporte para o desenvolvimento tecnológico do setor após regularização dos cultivos entrar no rumo

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regularização do licenciamento ambiental da aquicultura no Estado de São Paulo pautou a edição de 2017 da Aquishow Brasil, a primeira realizada pelo próprio setor produtivo representado pela Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP). O forte foco em negócios já funcionou como uma prévia do que viria um ano depois, mas o clima era misto: festa pela conquista do decreto Nº 62.243 e apreensão pela guerra fiscal.

Na edição deste ano, realizada entre 15 e 17 de maio com visitas técnicas no dia 18, a sensação era de que agora o setor arregaçou as mangas definitivamente. Até houve comemoração pelo novo regime do ICMS, que beneficia diretamente as indústrias sediadas no Estado e, por consequência, os aquicultores (veja infográfico na pág. 50). Mas o pragmatismo ficou claro, da organização aos expositores, totalmente concentrados em difundir soluções para expandir a produção.

Quem passou pela gigantesca escultura de tilápia na entrada do Complexo Turístico, Cultural e Histórico de Santa Fé viu um novo arranjo de estandes que triplicou o espaço de exposição: três pavilhões de 1000 m2 cada abrigaram 106 empresas brasileiras e estrangeiras. Os negócios estimados a partir dos orçamentos realizados ali superam os R$ 40 milhões, enquanto outros R$ 10 milhões foram gerados diretamente no chão de feira.


De fato, o evento foi muito além do contexto regional. Delegações do Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso e até da Noruega se sentiram em casa. Todos interessados em ganhos de produtividade e escala para aumentar as apertadas margens de uma commodity como a tilápia. O CEO da Geneseas Aquacultura, Breno Davis, garante ser essa uma condição de sobrevivência e diferenciação das empresas especializadas na criação, processamento e abate. “Acreditamos que o negócio de proteína é um negócio de escala. Há uma diferenciação competitiva quando rompemos barreiras.” Aos pequenos e médios produtores, resta sustentar o cultivo em alta tecnologia. E, neste sentido, a feira foi pródiga. Da nutrição à despesca, as

empresas mostraram seus esforços em pesquisa e desenvolvimento para facilitar a vida do produtor. A Nutreco, com as marcas Trouw Nutrition e Skretting, e a Aquafeed (AquaQualy) apresentaram sistemas de gerenciamento da produção que auxiliam no cálculo correto da frequência e quantidade de ração, de forma a reduzir custos e melhorar indicadores de conversão alimentar. Esta também é a linha de trabalho do centro de nutrição Neovia, em Aparecida do Taboado (MS), que a reportagem visitou (veja na página 46). A Immersus Tecnologia, uma startup incubada na Poli/USP, viu seu estande abarrotar com o interesse em um equipamento equipado com sensores capazes de calcular a quantidade e frequência corretas de arraçoamento para o melhor crescimento do peixe (veja os primeiros resultados do sistema na Piscicultura Água Pura na página 44). Lucas Machado, sócio da empresa, estava extasiado. “Não imaginávamos que teríamos tanta demanda a partir da feira. Agora é organizar todos estes contatos e ampliar os testes com o sistema.” Em um momento de aumento de densidades, o encontro entre a melhor digestibilidade, conversão e rendimento de filé com a sanidade e bem estar animal foi uma consequência bem-vinda do evento. Fornecedores de bioestimuladores, óleos essenciais, ácidos

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106 empresas participantes 2.696 inscrições R$ 10 milhões em negócios diretamente na feira R$ 40 milhões projetados por meio de 860 orçamentos

orgânicos, leveduras e bactérias benéficas cresceram em participação neste ano, o que denota maior maturidade dos produtores na adoção destas tecnologias. A Phibro, por exemplo, apresentou na feira um novo probiótico, da CHR Hansen, que será distribuído exclusivamente no Brasil pela empresa. Já no aspecto de prevenção e controle de enfermidades, a MSD fez certo barulho com uma segunda vacina contra estreptococoses além da Aquavac Strep Sa, mas que ainda passa pelo processo de registro no Ministério da Agricultura. A inovação ficou por conta do “laboratório ambulante” com o qual a Prevet pretende circular em breve. Parceria público-privada em negociação com o Instituto de Pesca-SP, o caminhão terá a estrutura necessária para realizar análises e diagnósticos de enfermidades. “A ideia é que, uma vez ao mês, possamos ir a um pólo produtivo e receber peixes de produtores Continua na pág. 36

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Cifras superlativas, mas não suficientes para surpreender a organização. “Me perguntaram se a feira superou as expectativas e eu disse que não”, decretou ao fim do evento a coordenadora Marilsa Fernandes, também secretária-executiva da PeixeSP. Ela explica: “Foi muito trabalhoso porque não sabemos fazer eventos. Há muitas correções a fazer, mas planejamos durante um ano e já tinha na minha visão o que queria.Tenho muita afinidade com este setor, sei da importância dos piscicultores da minha região, do Estado e do Brasil inteiro.”


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Camarão continental A Aquatec é a maior fornecedora de pós-larvas de camarão para terceiros do Brasil. No meio de um dos maiores pólos de tilápia do País, a sócia Ana Carolina Guerrelhas (à dir. na foto ao lado, junto à sócia, Maria Claudia Ferreira) admite mais curiosidade do que outra coisa. “Decidi fazer um pequeno estande porque queria saber o que estava acontecendo.” A demanda por larvas do crustáceo cresceu além do esperado na região, embora com baixos volumes e muita pulverização. A ponto de a empresa ter de restringir: o volume mínimo agora é de 100 mil pós-larvas. São Paulo, mais especificamente o pólo de Santa Fé do Sul, tornou-se o principal cliente fora do eixo Ceará, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. O ascensão é reflexo de uma certa febre nacional com a criação em bioflocos: sistemas de fertilização, reabsorção e decomposição da matéria orgânica que dispensam a renovação de água. Instalados em tanques elevados ou raceways abrigados por estufas, são capazes de produzir 1kg de camarão com menos de 100 litros de água - os viveiros escavados com alta renovação usam 50 mil litros para este volume. “Isso torna possível criar camarão em qualquer lugar”, diz Guerrelhas. Até em pleno Planalto Central. “Temos 52 produtores novos de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Brasília, Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás.” Com exceção de um projeto já em escala comercial para 1000 toneladas no interior de São Paulo, ainda mantido em sigilo por se tratar de um piloto, são produtores de pequena escala que buscam um produto complementar capaz de ser vendido a R$ 15, contra R$ 5 da tilápia.

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Mas está longe de ser a “salvação da lavoura”. “Surgiram muitos cursos de bioflocos aqui na região e existe uma ideia de que fazer camarão no fundo de quintal é fácil, mas não é”. Além de complexo, pode ser muito custoso. Por este motivo, a Aquatec decidiu monitorar frequentemente os clientes para avaliar o interesse na continuidade. “Está se transformando em um mercado interessante. Mas é uma base muito frágil, muita empolgação com pouca fundamentação.”

para fazer diagnósticos ali mesmo, sem custo”, conta o sócio José Dias Neto. O objetivo é subsidiar futuras pesquisas de ferramentas para novas doenças e tratamentos. A Spring Genetics procurou demonstrar como a genética também se insere no controle e convivência com enfermidades. As matrizes e reprodutores já estão na quinta geração, que deverá chegar ao Brasil até o fim do ano, e uma sexta já está em desenvolvimento no centro de produção da empresa, em Miami (EUA). “Nosso grande diferencial, além de não ser um melhoramento estagnado, é na seleção de resistências a doenças. Nenhuma outra genética tem este trabalho em campo”, garante Micaele Pereira Sales, responsável pela manutenção e realização das operações técnicas na estação de quarentena no Ceará. Como a Spring só importa o material genético, trabalha com multiplicadores para a comercialização de alevinos. A Fai do Brasil, parte do mesmo grupo Benchmark ao qual a Spring está vinculada, foi projetada para produzir 1 milhão de alevinos por mês. “Hoje a quantidade de matrizes é pequena, mas a ideia é distribuir os animais a clientes-chave para acompanhar o desempenho

Para a Spring Genetics, o desenvolvimento de linhagens resistentes a estreptococoses é tendência irreversível


Equipe da Sicoob Credicitrus na feira: retomada do crédito para custeio e financiamento de máquinas e equipamentos marcou o evento

desta genética em campo.” Tudo para se sobressair em um mercado acirrado, com gigantes que trilham o caminho dos marcadores genéticos, como a Aquabel. A empresa utilizou a Aquishow como vitrine para apresentar seu investimento em Tocantins: R$ 7 milhões para construir uma unidade de alevinagem próxima a Palmas.

A introdução de tecnologias como estas normalmente esbarram no

financiamento, artigo muito escasso nos últimos três anos. Mas a retomada dos investimentos no setor também deu confiança ao mercado financeiro para retomar linhas específicas ao segmento. Foi o caso da cooperativa de crédito Sicoob Credicitrus, que se destacou com um caminhão decorado como uma agência bancária. “Sentimos uma deficiência grande de crédito para custeio, por conta da documentação, mas também temos linhas com taxas atraentes para aquisição de equipamentos e máquinas”, indica Gustavo Belini, supervisor de marketing. Ele ressalta ainda que a cooperativa tem todo o portfólio dos bancos tradicionais, mas com taxas de juros muito melho-

res. “O correntista se torna nosso sócio e até as operações financeiras com juros dão retorno aos sócios sobre estas taxas.” Outra grande deficiência para o estímulo da cadeia produtiva é de opções em seguro aquícola, que a feira também procurou solucionar com a participação da THB Brasil, parceira da seguradora Fairfax e responsável por trazer ao País a experiência da resseguradora britânica Longline Environment. A modalidade de seguro pela biomassa é um pleito antigo dos piscicultores em busca de proteger de eventualidades o seu maior patrimônio: o peixe.

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Outra linha de trabalho associada aos aspectos sanitários foi no manejo. “Se tiver que colocar a mão no peixe já dá problema”, simplifica Fábio Rossi, da Marine Equipment. A empresa apresentou uma linha de bombas para despesca, da norte-americana Aqua-Life, capazes de mover peixes de 1kg a 9kg sem causar lesões. Conhecida pelos aeradores, a Agricotec também aproveitou para apresentar sua bomba, de fabricação nacional, que movimenta 10 toneladas de peixe por hora. Rossi acredita que outro benefício trazido pelas bombas é na mão-de-obra, que não passa pelo desgaste da operação de despesca.


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s o c i g ó l o n c e Avanços t

s terras ógica em curso na ol cn te a id rr co a já há um ução. Veja a ara além da feira, e dar escala à prod ns ge ar m as ar or urou na paulistas para aprim ssa reportagem ap no a e qu as tiv ia ic do de in seguir um apanha Sul (SP). lo de Santa Fé do última visita ao po

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Bioflocos é para quem pode

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nvestir R$ 500 mil para montar um sistema comercial com custo mensal de R$ 300 mil não é para qualquer aquicultor. Este é o principal recado que a Geneseas pode dar aos pequenos e médios produtores interessados na criação em bioflocos. “Para empresas maiores, bem estruturadas e com técnicos que entendam o sistema, não tem volta, será como as granjas de frango”, avalia Renato Morandi, gerente de produção. “Mas quem entra no negócio só para testar é complicado. A energia elétrica aqui é fundamental e, como é muito cara, só se dilui este gasto energético com volume de produção.” Aventureiros já estão perdendo dinheiro. Tudo porque o bioflocos promete o melhor dos mun-

dos, mas exige um controle intenso. O objetivo é formar um ecossistema, conforme Morandi. “Controlamos temperatura, oxigênio, amônio, nitrito e nitrato. É uma recirculação fechada, a água não sai dele, só há reposição de evaporação. As bactérias consomem o muco do peixe, que se alimenta de algas, que consomem a matéria orgânica do peixe.” Sopradores, bombas e aeradores funcionam 24 horas com backups: em caso de pane elétrica, a produção toda morre em 20 minutos. A empresa iniciou o sistema na unidade produtiva de Santa Fé do Sul (SP) em setembro de 2017 para encurtar os tempos de engorda, que sofriam muito com a sazonalidade e variação de temperaturas. Morandi já diz ter tido prejuízo com o aprendizado, mas agora está se aproximando

das metas. São 18 tanques de 60m3 e cada um deles pode produzir 45 mil juvenis de 5 gramas a cada 21 dias. A densidade média é de 3,5 kg por m3, mas o objetivo é chegar a 5 kg por m3. A conversão alimentar é invejável: 0,5 de ração para 1 kg de peixe. Quando saem deste berçário, os animais chegam mais resistentes a 18 viveiros escavados, onde chegam a 20 gramas entre 35 e 40 dias - antes eram 90 dias. “Praticamente dobramos a produção de tanque escavado com esta operação.” Tudo para conseguir dar conta do povoamento semanal de 200 mil juvenis, que ficarão alojados em gaiolas até chegarem a 120g. Nesta recria eles são vacinados e classificados. Depois chega a hora de “ir para o rio”.


Engorda off-shore O ritmo de investimentos da Geneseas segue firme neste segundo ciclo depois da aquisição pelo fundo AquaCapital. A novidade mais recente é um sistema análogo ao usado nas salmoniculturas do Chile e Noruega. A GS6, como foi batizada, terá

32 tanques de 20x20 m divididos em 8 módulos de produção. “A unidade será totalmente off-shore, com embarcação central de alimentação automática para os tanques de grande volume”, adianta Morandi. Outra embarcação, o work-boat, vai levar caminhões para o meio do rio para facilitar o trânsito de ração e despesca. “Será a primeira unidade em pleno canal do Rio Paraná, também no reservatório de Ilha Solteira, onde há a melhor renovação de água possível.” O volume previsto é de 5 mil toneladas. Somando as novas áreas com as estruturas atuais, a companhia pretende entrar em 2020 com 23 mil toneladas/ ano. A unidade de Santa Fé já chegou a um limite auto imposto de 6 mil toneladas, embora a outorga seja de 8 mil. Por isso há outra engorda prevista em Selvíria (MS), onde já está se instalando a Tilabras. Perto da concorrente, a GS7

(200 tanques 6x6) produzirá 3500 toneladas já a partir de 2019 com tecnologia similar à de Santa Fé, onde já são feitos três ciclos por ano - antes eram 1,5. Os investimentos deram suporte a isso, mas mudanças no manejo e outras intervenções foram fundamentais. Entre os segredos estão o uso de mangueira porosa para aeração e ração administrada junto com água por tubulações, para evitar desperdício com sopradores.

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Os tanques foram fornecidos pela paranaense Multipesca, que agora tem um desafio ainda maior. A Geneseas gostou tanto dos resultados com o bioflocos que encomendou mais 24 unidades para uma nova área a ser construída a partir de agosto. Quando inaugurada, terá 24 tanques de de 96 m3 e 10 metros de diâmetro. “Faremos toda a parte de hidráulica, bombeamento, aeração e construção dos tanque e estufas. Fomos contratados para o pacote fechado”, revela o gerente administrativo, Irineu Feiden.


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Panga: em busca de escala

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os poucos o pangasius começa a sair da fase de promessa e entrar nas planilhas dos compradores de pescado do grande varejo. Em 16 de maio, em plena Aquishow, a tríade formada pela professora da UFSCar, Luciana Seki Dias, Martinho Colpani e Gaetano Furno, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Pangasius (ABCPanga), foi participar da despesca de um produtor em Rubineia (SP). O processo de convencimento havia começado em setembro, quando o produtor Wanderson Olivo, conhecido como Tatão, ligou para Colpani em busca de pintado. “Estamos na região da tilápia, que já é tradicional e tem protocolo de produção em tanques-rede. Mas temos muitos questionamentos de produtores procurando alternativa para viveiros escavados“, frisa Colpani. A propriedade de 20 hectares da família, antes voltada totalmente à pecuária leiteira, aos poucos migra de vez para a piscicultura, mas a necessidade de aeração constante dos viveiros tirava o sono de todos. Como a produção de patinga não avançava e os custos

só subiam, Tatão quis diversificar. Foi neste ponto que Colpani o convenceu: “Quando ele descreveu que tinha viveiros pequenos com água bombeada da represa, na hora vi que ele tinha perfil de panga.” Tatão e a família pagaram para ver e não se arrependeram. Depois de 7,5 meses com “trato” (arraçoamento) quatro vezes ao dia e renovação constante de água, Tatão despescou 1,5 tonelada com peso médio de 1,7 kg, projetando uma despesca total de 10 a 15 toneladas em 800 m² 125 a 187 ton/ha.

mitos habitualmente associados à espécie não se confirmam. “Os desafios são grandes. Apesar de se colocar o panga como um peixe rústico, ele para de comer por dois ou três dias depois de qualquer manejo que ocasione um estresse grande. Nestas ocasiões também identificamos bacterioses”, conta a professora Dias. A respiração aérea, um de seus grandes trunfos, não é passe-livre para descuidos. “Como todo peixe, ele precisa de boa qualidade de água para se desenvolver.”

O peso médio foi muito acima dos 1,2 kg esperados pela ABCPanga e deixou contentes o cliente: o GPA. O produtor salienta que encontrar um comprador foi a principal dificuldade de todo o processo. “É um peixe muito fácil de criar, só tratar quatro vezes por dia e renovação de água da represa. Custo de produção é mais baixo que a patinga. Estamos vendo dificuldade na comercialização, mas nosso plano é aumentar e expandir negócios.”

A espécie também não aceita grandes variações de temperatura. Em Rubineia, onde a temperatura da água é muito mais estável e normalmente acima de 20ºC, o peixe cresceu em 7,5 meses. Em Araras, outro produtor teve um inverno mais rigoroso e, com 15ºC de temperatura de água, o peixe chegou ao peso ideal em 9 meses. “Em cidades mais quentes, não tem tido quebra no período de inverno, então o resultado é obtido de forma mais rápida.”

Apesar de bem sucedida, a experiência de Tatão mostra que ainda há muito pela frente para garantir volumes e frequência ao mercado. As pesquisas científicas mostram que os

A pesquisa com a espécie coordenada pela professora agora segue duas linhas. A primeira é a


Do ponto de vista da cadeia produtiva, as dificuldades aos poucos diminuem. Se o alevino antes custava R$ 2, hoje já chega a ser vendido a R$ 0,70. “O alevino de pintado sai até R$ 2 e tem 20 anos de tecnologia embarcada. O panga já sai mais barato com 10 anos de tecnologia”,

sublinha Colpani. Segundo ele, já se pode produzir a R$ 0,20, mas a falta de escala ainda não permite isso. “Mas precisamos ter consumo, um cliente que compre 2 milhões de peixes.” A estratégia do PangaBR, segundo ele, é se diferenciar do filé vietnamita com peixes inteiros e porcionados frescos. “Queremos levar ao consumidor o filé de R$ 25 a 28 o kg.” Enquanto isso, a associação continua a colaborar na formação do arranjo produtivo. Já há cerca de 300 produtores em todo o País, alguns com 30 mil e 50 mil peixes, mas a ABCPanga precisa botar a mão na massa junto aos pequenos. “Fazemos este serviço de ajudar na despesca e buscar o peixe nos cultivos para facilitar a vida dos produtores,

que não têm este acesso”, relata Furno. Aos poucos, o empenho e os resultados vão atraindo a atenção. “Ontem mesmo veio um produtor aqui ao lado do Tatão que se interessou em povoar seus viveiros com este peixe aqui.” A tríade do panga no Brasil: Martinho Colpani (Colpani), Luciana Seki Dias (UFSCar) e Gaetano Furno (ABCPanga)

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adaptação do animal a água salina e água do mar reconstituída, por conta da demanda e potencial para cultivo em viveiros de camarão abandonados no Rio Grande do Norte. “Foram 4 meses de testes e se provou possível com determinadas salinidades.” Dias não revela os dados até o trabalho ser publicado, mas indica que ele também contemplará a porcentagem ideal de sais na água para a água de mar reconstituída. Outro experimento em vista é o uso de pré e probióticos da Imeve e silica da Ceresco, além da porcentagem de proteína ideal na ração - hoje se usam as dietas de tilápia.


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Alevinagem e engorda: régua baixa

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do ano queremos subir nosso consumo a 10% da nossa produção, mas queremos pular para 7 milhões de peixes produzidos aqui.”

O

caminhão da concessionária de energia elétrica estacionou na piscicultura Peixe Vivo, em Esmeralda, distrito de Rubineia, em plena semana de Aquishow. À base de gerador, o sócio Assis Castellan contou o motivo: a produção de alevinos da empresa comandada por ele, Emerson Esteves e Assis Henrique Castellan vai dobrar. “Nós produzimos 3 a 4 milhões e consumimos 200 mil para nossas engordas próprias. Até o fim

Ligada a energia, toda a estrutura passaria por uma revisão para colocar em marcha o plano a tempo da nova safra, em agosto. “A desova acaba agora com o começo da frente fria. Vamos desmanchar laboratório e rever todos os nossos processos. Quando recomeçar, em agosto, estaremos bombando”, projeta, entusiasmado. A Peixe Vivo faz a reprodução, larvicultura, alevinagem e vacinação de juvenis na mesma propriedade de 18 hectares desde 2010. A produção foi se expandindo ano a ano e hoje já são 105 viveiros no total, em tamanhos distintos conforme o núcleo produtivo: larvas, alevinos e juvenis. “Os peixes vão até 15 g e passamos ao tanque-rede a partir daí. Quando chegam a 20 g recebem a vacina e são classificados. Aos meno-

res dá-se o tempo para chegar até 30g e os demais chegam a este peso em uma semana”, sintetiza Castellan. A produção comercial hoje é 100% concentrada na tilápia, mas há experimentos com o panga - que até o momento não foram muito frutíferos. “Pensamos em desovar 300 mil peixes e só desovaram 3 mil”, reconhece o produtor. Por este motivo, a convite da Neovia, Castellan e Esteves foram ao Vietnã para entender o que deveria ser aprimorado. “Daqui a cinco anos imagino que o protocolo estará dominado e a produção poderá chegar até a 50% da nossa linha. O custo do alevino até deve ser menor que o da tilápia.” Na visão dele, a tilápia passa por uma espécie de depuração de produtores. “Antes o mercado procurava o produtor, agora inverteu. Quem tiver abaixo de 50 toneladas por mês não vai ficar porque o custo não vai compensar.” O cálculo é simples: um caminhão carrega 15 toneladas. “O cara que produz 30 toneladas faz 7 toneladas por semana, meio caminhão. Ninguém quer carregar meio caminhão aqui e meio caminhão ali. Gelo, mão de obra, custo alto, o comprador só quer encostar e resolver tudo em 3 ou 4 horas.” Quem tiver escala, consegue margens melhores e, por consequência, repassa o melhor custo ao mercado - que é sempre soberano.


Nutrição para smartfarm A aquicultura intensiva e as smartfarms vieram para ficar, na visão do grupo Neovia, que abriga um amplo portfólio de marcas da nutrição aquícola, como Presence, Socil, Total, Nutrizon e Bernaqua. O trabalho de pesquisa e desenvolvimento da empresa nos próximos anos deve se pautar pelas exigências deste tipo de propriedade, como níveis muito mais precisos de ingredientes, aminoácidos, pre e probióticos. É por isso que faz sentido manter uma área como a que a empresa construiu em 2014 na cidade de Aparecida do Taboado (MS) exclusivamente para pesquisar o segmento. É uma espécie de unidade-modelo de piscicultura, coordenada pelo líder de P&D Gustavo Pizatto (na foto ao lado). “O foco

aqui é o desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos. Testamos manejo alimentar e dos animais para validar nossas linhas e diferentes condições que encontramos entre os produtores.” Instalada em pleno reservatório de Ilha Solteira, a unidade possui 40 tanques de 18 m2 e 88 experimentais de 1,5 m2. “Trabalhamos com alto número de repetições para ter confiabilidade nos resultados”, ressalta Pizatto. “Quando vai começar um experimento, usamos por volta de 5 mil animais., mas para fazer uma repetição bem feita chega a usar três vezes mais.” Isso para garantir homogeneidade na amostra desde o início, já que se houver diferença no começo do processo os resultados certamente ficarão comprometidos.

A validação de muitos produtos das linhas acima foi feita nesta estrutura. “Toda a linha starter de rações iniciais, de 0,8 mm a 2 mm, foi validada aqui. Da mesma forma temos rações de alta performance que validamos aqui.” Em um dos experimentos com a ração Bernaqua, os resultados foram tão satisfatórios para a empresa que viraram referência mundial para o grupo.

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MERLUZA PREMIUM CONGELADA A BORDO


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A fórmula do “trato”

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mbora as fábricas de ração invistam os tubos para encontrar a melhor formulação, nada garante que o piscicultor vá extrair o melhor desempenho de crescimento do animal. A chegada de sistemas on-line de gestão de pisciculturas ao Brasil prometeu solucionar este problema e hoje até já faz parte do portfólio das grandes fornecedoras. Por maior a facilidade e a conveniência que ofereçam, estes sistemas dependem de uma variável complexa: o fator humano.

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O sucesso da criação depende diretamente da leitura que o produtor faz dos seus tanques e das atitudes que toma diante disto. Muito do que acontece debaixo d’água, porém, ainda é um mistério. “Sempre ouvimos que ‘trato’ é algo muito mal feito: o fabricante dá uma referência, a experiência diz outra”, conta Lucas Machado, sócio da Immersus Tecnologia (à esquerda na foto ao lado, junto ao sócio Rodrigo Vale). Junto aos demais sócios, o especialista concluiu que pouco ou nada se sabe de concreto sobre o fator responsável por 70% do custo de produção. “O piscicultor não consegue medir todos estes dados, nem fazer a conta para as melhores quantidades e frequências para o tratador.” Os sócios da Immersus dizem ter en-

contrado a solução: um sistema capaz de monitorar automaticamente todas as variáveis envolvidas e fazer os milhões de cálculos necessários para encontrar a fórmula exata do trato.

mas os ensaios pontuais mostraram taxas de conversão de 1,24 na fase de 600 a 800g. A princípio partimos de 0,9 e deveríamos conseguir 1,2 no ciclo completo.”

O “algoritmo adaptativo”, tema de doutorado de outro sócio, Rodrigo Vale, é uma fórmula que vai se adaptando sempre em busca do ponto ótimo. “Nosso sensor consegue medir a evolução do crescimento do peixe conforme a ração dada”, diz. E cruza estas informações com pressão atmosférica, temperatura do ar, temperatura da água, umidade, fotoperíodo e outros parâmetros, estimando a quantidade ótima de ração. Com o uso de uma impressora 3D, eles desenvolveram ainda uma caneca dosadora com regulagem de porção para evitar desperdícios e facilitar a vida do tratador.

Outra vantagem é saber o custo de ração por lote. “Muitos piscicultores não sabem definir se conseguem dar desconto ou não. Quando aparece um cliente interessado em comprar peixe de 450 g, o produtor consegue saber quanto já gastou de ração naquele lote.” O sistema tem ainda uma câmera 3D que consegue processar e tirar o peso médio dos peixes com uma biometria digital. “O sistema manda para nós e então fazemos a modelagem do crescimento da piscicultura.” Com os computadores fazendo o trabalho duro, o produtor consegue dedicar seu tempo e energia às correções de rota e à evolução do negócio.

A piscicultura Água Pura, em Redenção da Serra (SP), abraçou totalmente a ideia. Wagner Camis, um pioneiro da piscicultura paulista, implantou a tecnologia na fazenda e já levou alguns resultados para apresentar na última Aquishow. “O principal benefício é a economia de ração e a conversão alimentar”, diz Machado. “Vamos começar um teste de ciclo completo,


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Automatização em fatias

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uem dirige pela estrada que margeia o reservatório de Água Vermelha, em Riolândia (SP), tem de tomar cuidado: a paisagem faraônica torna difícil manter a atenção no volante. Onze tanques-rede de grande volume (TRGV) de 12m de diâmetro com um topo piramidal flutuam sobre o reservatório. Se pudessem observar o que cada um abriga, os motoristas ficariam ainda mais impressionados. Cada tanque de 450 m3 de área útil abriga 80 mil peixes, classificados e alimentados de forma totalmente automática.

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A estrutura corresponde à primeira fase da Unidade Integrada de Produção (UIP) da Fisher Piscicultura, que pretende dar viabilidade à piscicultura. O projeto contempla ainda uma segunda fase com a entrada em operação de uma fábrica de ração e uma terceira, na qual será construído um frigorífico com graxaria. Quando concluída poderá produzir 6 mil toneladas por ano na razão de 50% de produção própria e 50% de produtores integrados, à maneira dos cooperados paranaenses e catarinenses. A premissa inicial foi melhorar o sistema de arraçoamento e classificação dos peixes. O diretor de operações da Fisher, Hélio de Sousa Barbosa, começou a gestar a ideia quando era responsável pelo projeto da Zippy Alimentos. Na fazenda, 50 funcionários manejavam 50 tanques para produzir em torno de 300 toneladas mensais. Mas Barbosa já visualizava problemas crônicos. “O principal era aumentar a sobrevivência e ter economia de ração”, conta. Em 2012 a Fisher começou a desenhar o modelo de TRGV que hoje chama a atenção na beira da estrada. A estru-

tura opera com grades apoiadas em um eixo central (redondel) que varrem o tanque conforme a necessidade. Na despesca ou classificação, saem as telas finas e o redondel abre as grades para receber um “tanque fatia”. “A fatia faz a classificação mecanizada, sem tirar o peixe da água. Isso faz enorme diferença na redução de doenças e controle de mortalidade”, explica David Pulino, diretor-presidente. Outras pisciculturas registram mortalidades de até 12% nesta atividade, segundo Pulino, enquanto no sistema da Fisher a sobrevivência é de 98% do lote. O ineditismo do projeto o credenciou para receber um aporte financeiro do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE Fapesp), graças ao suporte técnico dado pelos pesquisadores João Donato Scorvo e Célia Frascá-Scorvo, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e do Instituto de Pesca de São José do Rio Preto. Desde 2014, quando foi aprovado, os Scorvo participam do aprimoramento da tecnologia. Uma das inovações

desenvolvidas em conjunto foi a flutuação das fatias. “No projeto original ele era estático, mas começamos a notar que havia escape. Como são duas linhas de flutuadores, esvaziamos uma delas e ele consegue selar o tanque, evitando escape”, explica Célia. Outra melhoria foi a invenção e construção, em conjunto ao gerente de operação da UIP Água Vermelha, Cláudio Olivério Masocatto (também um ex-Zippy), de uma balsa que carrega 4 toneladas de ração para abastecer os tanques. Pulino, Helio e os Scorvo consideram o programa de arraçoamento em si um dos principais diferenciais do projeto. Em parceria com a equipe do campus de Botucatu da Unesp, eles elaboraram um alimentador automático que viabilizou uma ideia tida como irrealizável até pelos próprios técnicos: tratar 10 vezes mais que os padrões atuais. “Alimentamos 48 vezes ao dia, fazer isso sem mecanização não tem chance”, diz Pulino. Os melhores horários e frequências foram testadas em tanques de 1x1m da Unesp.


O projeto da UIP já está em um segundo PIPE, que pretende avaliar

os parâmetros do cultivo da tilápia com três diferentes densidades de estocagem: 60 mil, 80 mil e 100 mil juvenis por TRGV, durante dois ciclos de produção completos (inverno e verão). Os resultados preliminares, ainda não publicados, indicam resultados promissores na conversão alimentar, sobrevivência, gastos com ração, rendimento de filé e economia com combustível das balsas. A próximo passo é acoplar células fotovoltaicas para energia solar e transmissão de dados para geren-

ciamento remoto. Um sistema próprio de gestão on-line também está em desenvolvimento. Quando concluído e testado para checar a viabilidade das 3600 toneladas por ano, o projeto passará a ser comercializado com a marca Fisher Tech.

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Levar a técnica aos tanques da Fisher foi um desafio que deu certo. A balsa encosta no tanque e uma esteira abastece em 15 minutos um silo instalado no topo com capacidade para 1,5 mil kg de ração. “Quando inauguramos, vimos o tratador com uma mão na cintura, vendo o silo encher. Este era nosso objetivo, mecanizar o processo e reduzir o desgaste aos funcionários”, sublinha Sousa. Antes eles levavam os sacos nas costas até o silo. Graças à mecanização, toda a estrutura atual é operada com apenas quatro funcionários. “É o mesmo número previsto para operar até 20 tanques”, sinaliza Masocatto.


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Comercialização patina

E

nquanto nas águas não falta esforço para produzir mais e melhor, no asfalto a coisa anda mais estagnada. O setor ainda patina na comercialização. A dificuldade de encontrar canais de venda ou acessar os atuais levou a Aquishow a estimular um debate de grandes e pequenos produtores com compradores de pescado do Wal-Mart, GPA e Ceagesp para uma espécie de lavagem de roupa suja.

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Ademir Pedrini, o piscicultor que abre esta matéria, colocou o dedo na ferida. “A dificuldade do pequeno produtor em chegar aos grandes mercados é enorme, só por meio de atravessadores conseguimos chegar à Ceagesp.” O gerente do entreposto de pescado da Ceagesp, Sidnei Gaspar, confirmou que pretende restringir o acesso de intermediários ao mercado, que movimenta 4 mil toneladas de peixe ao ano. A tilápia já é 15% de todo este volume. “Quem não tiver SIF não vai entrar. Vamos procurar uma forma de sobretaxar os atravessadores” Pedrini reclamou da sujeira da Ceagesp e disse ter nojo de colocar o peixe nas caixas plásticas do local.

Depois disparou aos frigoríficos e ao grande varejo, arrancando aplausos da plateia formada, em sua maioria, por pequenos produtores locais. “Os produtores levam de 6 a 8 meses para ganhar R$ 0,80 em um kg de peixe. Um frigorífico em 48 horas processa e ganha R$ 2 no kg. Já o supermercado ganha em 24 horas de R$ 7 a 20 no kg do filé.” Enquanto os grandes produtores presentes (Ambar Amaral, Royal Fish e Geneseas) defenderam a escala ou o associativismo como saídas, o varejo não fugiu do debate. “A explicação passa pelo custo operacional muito

alto em todo o ciclo, questões tributárias e pressão do próprio mercado e concorrência. Tenho insistido que vocês têm de procurar chegar a lojas que não têm produto e dar volume para podermos fazer ofertas”, frisou Rafael Monezi Guinutzman, gerente comercial nacional de aves, suínos e pescado do Multivarejo GPA. Lourival Jr., comprador regional (SP e Centro-Oeste) do Walmart, confirmou a tendência de extinção das peixarias de fresco. “Dos 10 itens que mais vendo tem filé de tilápia fresco, congelado e inteira. O aumento de venda é muito grande dos processados.”


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O novo ICMS na saída interna de SP

O recente decreto Nº 63.342, da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Sefaz), muda a dinâmica da incidência do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e foi aprovado em pleno sábado, 07/04. Desde então, houve muitas interpretações divergentes sobre as consequências das medidas. O documento atualiza o Decreto nº 45.490, de 2000, que previa um diferimento do imposto (não tributação) das operações com pescados, exceto os crustáceos e os moluscos, para o momento em que ocorrer a saída para outro Estado, ao exterior, na saída do estabelecimento varejista e na saída dos produtos resultantes de sua industrialização. A alíquota padrão, de 7%, foi mantida. Com o auxílio da própria Sefaz e o advogado David Veiga, da consultoria Respect, um especialista no assunto, usamos o exemplo do filé de tilápia para ilustrar como era e o que mudou.

Como era • O produtor paulista vende tilápia a R$ 5 para o frigorífico, com imposto diferido (não tributado).

• O frigorífico irá comercializar o filé a R$ 30 com diferimento. Não há transferência de crédito para o ponto de venda (supermercado ou atacadista) ou recuperação deste impostos em outras fases da cadeia.

• O varejo vai comercializar o pescado a R$ 40, com incidência de 7% sem crédito em virtude do diferimento da cadeia anterior. Além disso, irá recolher 7% sobre o valor total.

CONCLUSÃO: Indústrias, aquicultores paulistas, estabelecimentos sem cadastro como processador de pescado e importadores eram diferidos sem repassar qualquer crédito ao varejo. Na compra interna, o varejista não tem crédito, mas na compra de outros Estados tinha crédito de até 7%. Isto dava melhores condições para o fornecedor de outro Estado em detrimento do fornecedor paulista.

Pesca e aquicultura

Frigorífico

Varejo

• O frigorífico irá comercializar o pescado a R$ 30, com incidência de 7%, mas terá direito a um crédito outorgado de 7%. Isto resulta em um valor nulo a recolher, mas transfere R$ 2,10 de crédito para o ponto de venda (supermercado ou atacadista).

• O supermercado vai comercializar o pescado a R$ 40, com incidência de 7%, mas com direito ao crédito de R$ 2,10 da aquisição. Assim, recolherá R$ 0,70, que equivale a 7% sobre o valor adicionado.

Como ficou

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• Com o novo regime fiscal, o produtor paulista vende tilápia a R$ 5 para o frigorífico, com imposto diferido (não tributado).

CONCLUSÃO: Na prática, fica mais vantajoso adquirir o pescado internamente. Indústrias (com os CNAEs 1020-1/01 e 1020-1/02) e aquicultores paulistas se beneficiam diretamente, mas estabelecimentos sem cadastro como processador de pescado ou importadores continuam seguindo a regra anterior. Vale notar ainda que a opção pelo crédito outorgado veda o direito a outros créditos. Exemplo: quando um frigorífico compra uma caixa de papelão com crédito de ICMS, ele não pode tomar este crédito se optou por outorgar o ICMS adiante. Se compra de outros Estados, o varejo paulista também se credita de até 7%. O Paraná, que baixou sua alíquota de 12% para 7% nas operações de saídas interestaduais que tenham São Paulo como destino, continua muito competitivo.


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dos produtos da parceira, a cooperativa pretende defender seu peixe com os atributos de padronização e rastreabilidade.

Peixe é Friboi?

Na

Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos

Suínos, aves e… Tilápia. A nova aposta da Aurora é fornecida pela C.Vale, com quem a cooperativa já tem parceria com outras proteínas animais. Grande novidade da Apas Show 2018, os filés serão vendidos em pacotes de 2kg, 800g e 400 g.

Se depender da linha Do Chef, sim. A Friboi reinaugurou a marca com nova identidade visual e quer crescer 25% em vendas apoiada em um novo portfólio completo de pescado congelado. A oferta vai de bacalhau português a peixes selvagens do Alasca, passando por cação, bacalhau, salmão, merluza, tilápia e pintado. Todos os itens serão comercializados em embalagens de 800 gramas e 1kg. O preço dos itens vai variar entre R$ 15 e R$ 60.

Kit pro rodízio (dentro ou fora de casa) Além da tradicional oferta de pescado para os restaurantes orientais, a Frumar leva ao

varejo, atacado e food service produtos da sua marca Nikkei. A linha de algas premium, em pacotes com 10 ou 50 folhas, vem de um fornecedor inspecionado na origem que fornece diretamente à empresa. Já o molho de ostra da tailandesa Pantai se soma ao mix, que já conta com leite de coco e pimenta sriracha.

Para presentear Conhecida por encher latas de muitas marcas nacionais, a equatoriana Marbelize apresentou na Apas um combinado de delícias de atum para encantar os amantes de conservas. Lom-

Muito além do filé Direto da origem

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Se a Aurora vai usar sua capilaridade para disseminar o filé de tilápia a todo o País, a C.Vale também vai se fortalecer no contexto regional com sua própria marca. Nos mesmos tamanhos

A Geneseas Holding não ficou satisfeita com os lançamentos pré-Apas em ATM e desembarcou na feira com um expositor refrigerado repleto de novidades. Ao todo, são 6 novos itens (aperitivo e espetinho de tilápia, camarão empanado e em espetinho e hambúrgueres de salmão e de tilápia) e 9 embalagens reformuladas com a nova identidade visual, que completam a transição para as marcas Dell Mare, Dell Mare Saint Peters e Tilly.


bos e ventrechas perfeitamente encaixados em uma caixa de papelão reforçado dão a dimensão do barulho que a empresa pretende fazer com a própria marca Yeli por aqui.

A linha Seleção Gourmet da Bomar acaba de ganhar uma adição que amplia o mix de soluções em pescado para o varejo: mexilhões chilenos descascados, cozidos e congelados em pouches de 400g.

do Exija cedor e n r fo seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr a N t

A nova realidade do camarão no Brasil nos últimos anos impôs mudanças que parecem ter vindo para ficar, apesar da recente queda nos preços. Uma delas é a criação de embalagens menores e mais acessíveis, como a deste camarão temperado da Maris, vendido em pouches de 200g.

sificados e democráticos: o descascado cozido 111/130 em embalagem de 200g, sem cabeça cozido 91/110 de 200g, descascado 91/110 e 71/90 em 400g eo descascado eviscerado 36/40 em 400g. A novidade fica por conta do sem cabeça 111/130 cru, indicado para atacadistas.

Camarão premium A Opergel foi para a feira com a experiência de 25 anos e a marca Oceani, que agora chega às gôndolas de todo o País com lançamentos como a linha de camarão. Drenados, clas-

Pescados com qualidade

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Mexilhão chileno

Porção de solteiro

O sabor que faz a diferença


Especial

Cardápio internacional

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O

momento não é dos melhores para a imagem do Brasil lá fora. Para ficar só nas proteínas animais, a União Europeia (UE) decretou em abril a suspensão de 20 frigoríficos de aves e canalizou de vez a atenção do Ministério da Agricultura a respeito das exigências sanitárias do bloco. O pescado, à deriva desde dezembro, ficou desamparado até receber o que alguns consideram como o golpe de misericórdia, dado em maio, quando os europeus confirmaram a intenção de suspender e descadastrar todos os estabelecimentos brasileiros dedicados à exportação de produtos pesqueiros.

Até o fechamento desta edição não houve a publicação da lista das empresas, mas um documento da Direção Geral de Saúde e Segurança dos Alimentos (DG Sante) a que a Seafood Brasil teve acesso diz que um regulamento ainda em implementação terá o objetivo de “deslistar todos os estabelecimentos brasileiros dos quais as importações de produtos pesqueiros são permitidas”. O documento menciona ainda o caso de alguns Estados membros que teriam recebido produtos pesqueiros originados do Brasil com certificado

Brasil segue como alvo de empresas internacionais, apesar dos percalços políticoeconômicos, nos registros de rótulos, nos parâmetros de fiscalização e no veto à UE

sanitário emitido depois de 3 de janeiro deste ano. O Mapa havia dito que, a partir desta data, o Serviço de Inspeção Federal (SIF) ou o Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) já não assinariam ou desembaraçariam Certificados Sanitários Internacionais (CSIs). Suposições à parte, fato é que, desde janeiro, as entidades interessadas no tema não saem de Brasília para cobrar do Mapa um encaminhamento. Alguns avanços foram obtidos no período, como a liberação dos CSIs para a pele de tilápia a partir de uma interven-


Quem também participou ativamente da força-tarefa das entidades foi a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca). Embora lamente a postura do Mapa nos últimos

meses, o presidente, Eduardo Lobo, vê interesse da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa) em reverter o cenário. “O setor tem uma esperança grande na vontade do secretário de defesa agropecuária, Luis Eduardo Rangel, de resolver a questão.” O executivo estima que R$ 100 milhões em negócios deixarão de ser realizados, o que vai limitar outros R$ 385 milhões em investimentos em plantas produtivas. “Em torno de 1.000 postos de trabalho já deixaram de existir ou migraram a outras atividades. As empresas atuneiras e as que trabalham

com ênfase no peixe sapo e lagosta foram atingidas em cheio. Iremos iniciar uma safra em que 30% das exportações era feita para a UE”, disse, em meados de maio. A saída foi abrir outros mercados. A Prime, empresa que Lobo dirige e é especializada em lagostas, foi a única a ter estande na Seafood Expo Global, em Bruxelas, entre 24 e 26 de abril deste ano, já que o governo brasileiro cancelou a participação este ano em virtude do imbróglio com a UE. “Trata-se de uma feira global, onde todos os compradores da Ásia, Estados Unidos,

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ção da PeixeBR, e vistorias de barcos congeladores e laudos de certificação de atendimento aos requisitos emitidos pela UE - pleitos das entidades ligadas ao Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe). “A não continuidade das exportações para a Europa está, neste momento, formalmente, sob responsabilidade exclusiva do Mapa”, diz Cadu Villaça, do Conepe.


Especial

Único estande brasileiro na feira, Prime recebeu demandas sobre diversos produtos além da lagosta, que levaram viva a Bruxelas

mes ou FIPs) do red shrimp, como é conhecido no exterior, mostrou que os hermanos querem correr. “Há compradores que simplesmente não aceitam o produto sem certificação, ainda que os consumidores não solicitem”, avaliou Dirk Belmans, diretor comercial da Shore, uma das maiores processadoras europeias do crustáceo e grande cliente do produto argentino.

Austrália participam, e muitos negócios chegaram à mesa de negociação da Prime pelo fato de sermos o único estande brasileiro.” As consultas já ajudaram a equilibrar a saída de cena da UE: “hoje nossa composição, que era 50% EUA, 40% Ásia e 10% Europa, migrou para 40% EUA, 40% Ásia, 15% Austrália e 5% países diversos, como o Chile.”

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Mercado agitado Se os exportadores brasileiros dão seus pulos para equilibrar a perda de arrecadação com a UE, os importadores mostraram este ano um interesse renovado na matéria-prima estrangeira. A reportagem topou com a Bom Peixe, Bomar, Frumar, Premier Pescados, Peixes Meggs, Karnekeijo, LM Import, Água Bonita, Sirius, Independent, Seabev e outros. Os dados de 2017 justificam o interesse. No ano passado o Brasil importou 14,39% mais que no ano anterior, um indicativo de um certo desabastecimento nacional e leve recuperação do consumo. Algumas categorias e

determinados países tiveram resultados surpreendentes, como as sardinhas marroquinas e as merluzas de origem equatoriana e peruana.

Camarão em constante movimento O preço do camarão internacional caiu 30% nos primeiros cinco meses do ano em comparação aos níveis de 2014. De um lado, os EUA, maior consumidor mundial do produto, encontrava-se plenamente abastecido no início do ano e só retomou as compras no fim do terceiro trimestre. Do outro, a produção mundial aumentou 15% para 3,5 milhões de toneladas, com uma demanda crescente do sudeste asiático e da China - que barrou o contrabando na fronteira com o Vietnã. Os argentinos seguem em busca da certificação do seu crustáceo para acessar ainda mais mercados, já que a safra cresce ano a ano e já supera 200 mil toneladas. Um evento em Bruxelas com a ONG CeDePesca, que coordena o Projeto de Melhoria da Pesca (Pro-

Já os equatorianos demarcaram território frente aos asiáticos, principalmente indianos, com o lançamento da iniciativa Sustainable Shrimp Partnership (SSP). A ideia é inspirada nas potências do salmão que, em 2012, sentaram à mesa para tornar a sustentabilidade uma prática efetiva das companhias e montaram a Sustainable Salmon Initiative (SSI). José Antonio Camposano, presidente da Câmara Nacional de Aquicultores do Equador (CNA), disse que as empresas participantes do programa precisam adotar três medidas: impacto neutro na água que sai do cultivo, rastreabilidade e zero antibióticos. “Nosso objetivo é transmitir a toda a cadeia o nosso critério de produção de camarão sustentável. Queremos trabalhar inclusive com os pequenos produtores, incentivando-os a adotar FIPs para aos poucos eles se adequarem e assim termos todo o setor em aprimoramento constante.”

Salmão: concentração no Chile, contrabando na China A China adotou medidas contra o contrabando de pescado, principalmente camarão e salmão, na fronteira com o Vietnã. No salmão a questão obrigou a um redirecionamento do foco de compras ao Chile - equiparando-se


Sardinhas marroquinas Os marroquinos nunca estiveram tão felizes com o Brasil. Completamente desabastecidas de sardinha nacional, as conserveiras brasileiras compraram do país africano 34,9% mais produto em 2017. “Como não há matéria-prima no Brasil, as exportações cresceram porque temos bons preços e boa qualidade”, garante Safa Bahiri, diretora de operações da Derhem Seafood. A empresa exporta às conserveiras brasileiras há 15 anos e hoje vê o preço médio do produto marroquino em US$ 9 o kg.

O Chile teve de se virar. Entre janeiro e abril deste ano, o volume total de envios de salmonídeos aumentou 27%, para 236.635 toneladas, na comparação com a mesma época do ano anterior, segundo dados do Infotrade. A receita correspondente foi de US$ 1,8 bilhões, 8,7% superior ao mesmo período de 2017. O bom momento dos chilenos parece ter chegado ao ápice em maio com o anúncio de duas importantes transações: a Agrosuper/Los Fiordos

O alvo principal é a Sardina pilchardus eviscerada e sem cabeça para Camil, Crusoe Foods e Gomes da Costa, que apesar do preço relatam a Bahiri sérios problemas de competitividade. “É nosso melhor momento com o Brasil por conta do nosso preço, mas o custo de produção está muito alto. Se houvesse matéria-prima no Brasil eles seriam mais competitivos.” Um dos caminhos é vender diretamente as latas, que a Derhem fabrica na planta de Dakhla, no sul do país.

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ao Brasil com 25% na participação das vendas mundial do produto. De certa forma desabastecido, o país anunciou ainda a redução de tarifas de importação de mais de 200 produtos de pescado que chegam a até 15,7%.


Especial Mexilhão chileno

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O programa Patagonia Mussel, que desembarcou no Brasil em 2014 e durou dois anos, não motivou um aumento expressivo das compras de mexilhão chileno no País, reconhece o novo presidente do programa, José Miguel Barros, executivo da Orizon (primeiro da direita à esquerda na foto abaixo) “Não vendemos mais do que queríamos, porque a renovação de rótulos para diferentes produtos era muito complicada, bem como a flutuação do câmbio e o momento do País nos afetaram.” Outro ponto, segundo ele, é que falta gerar consciência da origem e que os importadores nacionais peçam o produto, pois hoje o veem mais como um acompanhamento para kit paella. O objetivo agora é retomar ações pontuais de relacionamento com os distribuidores locais para a manutenção do mercado. “Fizemos tudo certo: ações com chefs, com o varejo, com a mídia, mas isso se encerrou em 2016”. O resultado naquele momento foi um aumento do volume de 359 toneladas em 2015 para 1,1 mil toneladas em 2016. No ano passado, o volume caiu quase pela metade. “Não faz muito sentido abrir um mercado como fizemos e depois desaparecer dele, então devemos analisar ações pontuais para manter o mercado.” Na feira, Barros fez uma atualização sobre o programa, que começou em 2012 na Rússia, passou pelo Brasil e China e agora se concentra na costa oeste dos Estados Unidos.

venceu a briga com cinco concorrentes pela Friosur e outras duas salmoneiras menores ao desembolsar US$ 229; uma das que estavam no páreo, a AquaChile adquiriu a Salmones Magallanes e suas 26 concessões para produção mais ao sul do país, por US$ 255 milhões. A concorrência chilena observa de perto, principalmente no que diz respei-

Panga: sem bagunça

to às consequências da concentração do mercado. “O crescimento do Chile é inferior a 5% ao ano agora, estamos limitados em áreas, mas a demanda dos Estados unidos, China e outros países cresce a taxas bastante mais altas”, avalia o diretor comercial da Cooke Chile, Felipe Marambio. Já a Noruega vê a desvalorização da coroa levar a receita exportada a um recorde de preços para o kg do salmão fresco inteiro (NOK 73,73 em maio, equivalente a US$ 9,15), segundo o Norwegian Seafood Council. Nos primeiros cinco meses do ano, o país exportou 400 mil toneladas de salmão, com o mercado norte-americano comprando 24% mais do que em maio do ano passado. A briga agora é contra a imagem arranhada pelo contrabando vietnamita. Em 2017, os noruegueses viram o Vietnã ocupar o segundo lugar na Ásia para o produto, atrás apenas do Japão. Em abril a receita federal chinesa descobriu o segredo: mais de US$ 98 milhões em salmão passaram pela fronteira sem pagar qualquer imposto ou então rotulados como cavalinha (mackerel) para pagar taxas menores. O esquema também envolve peixes, moluscos e crustáceos do Canadá, Índia e Tailândia.

A bagunça no mercado do panga no Brasil já não é a mesma, na visão de Diem Nguyen Hong (na foto abaixo), gerente de contas da Vinh Foods, marca da vietnamita Vinh Hoan. “O Brasil é um mercado potencial para o panga, mas há dois anos os produtos chegavam sem a especificação correta e com baixa qualidade, não tínhamos nenhuma competitividade”, reconhece. Agora, ela calcula que o filé livre de aditivos que eles comercializam com a marca Petalo Panga fica entre US$ 4 e US$ 5, frente aos demais produtos que chegam por US$ 2. A diferença ainda é grande, mas já é possível competir em alguns pontos de venda com marca própria e até com produtos de valor agregado. A Vinh Hoan chegou a vender no ano passado pedaços de filé temperados com a mar-


Notícias sul-americanas O Uruguai tem uma relação discreta com o Brasil, apesar de os volumes movimentados estarem longe de serem desprezíveis. “O Uruguai não participa muito em feiras e eventos, mas há muitos anos temos relação com o Brasil. Há mais de 20 anos descarregávamos diretamente em Rio Grande, na Pescal, por exemplo”, lembra Eduardo Estellano, diretor da Novabarca (na foto ao lado). Ele acha que o Brasil deveria ser o mercado natural para 100% do mercado uruguaio, pelas espécies disponíveis, como a corvina, merluza e cação. Para a empresa, cuja planta fica em Canelones, ao lado de Montevideo, o negócio atual é o “cação Mercosul” - importado da Espanha ou Taiwan em troncos HG, é limpo e porcionado na indústria local para entrar no Brasil com 10% de desconto no imposto de importação. “A norma exige que se dê ao menos 60% de valor agregado para a matéria-prima importada.” A espanhola Noribérica faz a mesma coisa na Urunova, planta em que possui participação. O encarregado do mercado brasileiro, Miguel Bregieira, recebeu brasileiros no estande ainda muito focados em preço. “Vemos uma limitação para ampliar nossa oferta de produtos disponíveis no Brasil. Todos se interessam por novos produtos, mas quando começamos a discutir o preço acabamos ficando na oferta tradicional, o cação de sempre.” Grandes moluscos como o polvo seguem no radar, mas com a escassez global do produto só é possível fazer ações pontuais.

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A Perupez lamenta que seus anéis de lula outrora comuns desapareceram do mercado brasileiro. Umberto Olivera, diretor comercial, reconhece que a pouca oferta disponível segue em outros formatos para mercados tradicionais e de maior valor agregado, como a Europa. Já outros peruanos focados na merluza ainda celebram o desempenho de 2017, quando dobraram o volume exportado em 2016. Com a limitação de oferta de merluza argentina, equatorianos e peruanos incrementaram muito os despachos. A situaçaõ favorável atrai novos players, como a CadapeFernandez, que acaba de registrar rótulos no Dipoa para filés de merluza e outros produtos, como confirmou à reportagem o diretor, Diego Mavarez.


Especial Europa: pescado de cultivo e tecnologia para eliminar aditivos Quando descongelado, o pescado naturalmente perde hidratação. Para recuperar a umidade, as empresas usam uma solução de água, sal e aditivos permitidos pela legislação. Há os que fazem a reidratação com este objetivo, enquanto outros o fazem para fazer o pescado ganhar peso e, assim, vendê-lo mais caro. Estamos falando da Espanha, onde a Scanfisk propôs um projeto cofinanciado pela Universidade de Zaragoza e a União Europeia para resolver definitivamente o problema. Denominado Ultrafish (www.ultrafish.eu), o projeto pretende reduzir em 50% o consumo de água e 30% de energia elétrica no processamento, além de estender em cinco dias a vida útil do pescado sem usar meios químicos. “Conseguimos o mesmo efeito sem qualquer aditivo por meio de uma máquina de ultrassom e raios UV, que anulam a carga bacteriana do pescado por princípio físico, não mecânico. A água pode ser tratada e reutilizada no processo”, sintetiza Jorge Alonso, diretor de marketing da Scanfisk (à esquerda na foto abaixo, junto ao gerente, Ángel García). O projeto pode chegar ao Brasil, desde que um parceiro local se interesse em facilitar a aplicação da tecnologia. “Já provamos que isto funciona, mas a fase atual do projeto exige que façamos estas máquinas a nível industrial e apliquemos na planta industrial. Precisamos de parceiros em toda a parte do mundo que se interessem nesta tecnologia, que dará maior período de vida a um pescado fresco, sem aditivos químicos e com garantia de inocuidade do pescado.” Além do Ultrafish, Alonso também está em busca de parceiros diretos para a empresa espanhola. “Temos duas obsessões: trazer espécies brasileiras para as nossas bandejas e encontrar um representante brasileiro que não queira receber antes de vender. Temos muita experiência e recursos para investir em marketing para os dois objetivos.” Para isso, ele diz querer um parceiro que “os entenda”: “Tive contatos locais se interessaram em alguns artigos da Scanfisk desde que houvesse modificações, mas diziam que sem registro no Dipoa nem valeria a pena começar. Mas como eu faria um registro de um produto que logo depois teria de ser alterado?”

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A parceria seria de mão dupla: uma representação das bandejas skin pack com pescado fresco da Scanfisk e o despacho de peixes nativos para a Espanha. “Estou convencido de que o pescado proveniente da aquicultura brasileira tem muito futuro no mercado europeu. O pirarucu, por exemplo, é um pescado sem gosto de barro, com bom porcionamento, filés altos que saem de uma forma fácil e cômoda. Teria encaixe perfeito nas bandejas que vendemos ao mercado europeu.”

ca holandesa Queens em redes como o Walmart, com resultados satisfatórios. “Houve boas vendas no Brasil para produtos de valor agregado, então imaginamos que há demanda para isso.” A exportação de panga para o Brasil no ano passado mostrou uma recuperação consistente sobre 2016, quando as cargas começaram a ser rechaçadas e o mercado se contraiu.

Com preço médio de US$ 2,21, os asiáticos venderam 101,6 mil toneladas de panga, desempenho 8,3% maior que no ano anterior. Empresas como a South Vina, por exemplo, perderam participação. Conforme apurou a reportagem, faziam 30 contêineres por mês e agora fazem entre 5 e 10. O preço deve sofrer maior impacto este ano, já que uma oferta reduzida de alevinos deve reduzir a produção.

Rechaço de contêineres Foi difícil encontrar um argentino disposto a conversar claramente sobre as consequências dos novos parâmetros físico-químicos do pescado congelado, que penalizaram muito os exportadores de merluza nos últimos meses. Um dos maiores exportadores confidenciou à Seafood Brasil que a inclusão de empresas no Regime de Alerta de Importação (RAI) por inconformidades no pH já provoca quase um problema diplomático: o uso deste parâmetro como indicador de frescor e qualidade foi alvo de um debate entre as autoridades sanitárias argentinas e brasileiras que culminou em um contundente informe do Instituto Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Pesqueiro (Inidep) em conjunto com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa). Apoiado em uma revisão bibliográfica, o documento conclui ser muito difícil associar um determinado nível de pH ao frescor do pescado abatido, já que o parâmetro depende do estado nutricional do peixe, tipo de captura e condições de processamento e armazenamento. Os argentinos tomam como indicador aceitável um pH máximo de 7,5, sempre associado a outros parâmetros, para descartar o produto. No Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Pescado Congelado, o Dipoa/Mapa admite 7,2. A consequência é, como era de esperar, aumento no preço. “Vamos diminuir muito os carregamentos e ouço dizer que muitos estão cotando a preços mais altos para cobrir o risco”, diz um executivo que preferiu não se identificar. Ele tomou ainda outra decisão: não mandar nada via Santa Catarina, onde, segundo ele, rejeitaram contêineres com produtos do mesmo lote aprovados em outros Estados.


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Direto da Produção

Arquivo Seafood Brasil

Eles querem respeito

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Sem sardinha, sem exportar à Europa e sem subvenção de óleo diesel, atividade constrói alternativas para valorizar papel fundamental na oferta nacional com o apoio de entidades setoriais reformuladas

A

ssim como a ração na aquicultura, o combustível representa o maior componente de gastos em uma operação pesqueira. O cálculo chega a 80% de uma conta de R$ 80 mil a R$ 110 mil. Este é o custo de saída de uma traineira com tanque cheio, tripulação e suprimentos, sem qualquer garantia de que vai trazer peixe suficiente para pagar esta conta e ainda sobrar algum troco. Com o desaparecimento dos cardumes de sardinha, muitos têm enfrentado

a situação de voltar para terra firme sem um peixe sequer. “Só em Itajaí são 250 traineiras. Na semana passada, nossa traineira voltou e encostou no cais. Fizemos a conta: R$ 80 mil de prejuízo. Muita gente vai quebrar”, contou no fim de maio o gestor comercial da Cais do Atlântico, Dagoberto Castoldi. O panorama motivou muitos pescadores e armadores a aderirem à recente greve dos caminhoneiros para evidenciar as condições adversas pelas quais passa o segmento. Em uma cena

inédita e impressionante, mais de 30 embarcações pesqueiras fecharam o canal de Itajaí (SC) em 24 de maio. Tudo isso em plena abertura da temporada da tainha, que neste ano promete bons resultados (leia box). O desespero tem fundamento. Quem está no pescado mas não acompanha o setor pesqueiro pode pensar que o segmento não é representativo - o que não é verdade. Só em Santa Catarina, apesar de todos os entraves, foram desembarcadas 66,2 mil toneladas em 2017,


Os dados mostram que a participação da pesca comercial na oferta de matéria-prima às indústrias e aos pontos de venda à população está longe de ser desprezível. As entidades representativas calculam a existência de ao menos 125 mil pescadores embarcados em um universo de 15 mil barcos e 40 mil funcionários nas plantas que manipulam produtos pesqueiros no Brasil. E apesar de irrisória, a oferta exportadora brasileira (37,8 mil toneladas em 2017) teve 98% de seus despachos correspondente a produtos oriundos da captura. Para lutar as inúmeras batalhas e reconstruir o prestígio geral do segmento, as entidades à frente do setor têm capitaneado uma série de mudanças na forma de se relacionar com a sociedade civil e o governo. A atuação segue uma linha cada vez mais técnica, como indica Alexandre Espogeiro, presidente do Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe). “[A entidade] tem como princípio atuar com um posicionamento técnico baseado em ciência e dados consistentes e confiáveis, apoiando e exigindo uma gestão dos recursos pesqueiros que considere a capacidade dos estoques, a coleta contínua de informações e o respeito ao setor pesqueiro nacional.” Com Espogeiro à frente e Cadu Villaça como diretor técnico, a nova gestão do Conepe procura se distanciar da administração anterior - que teve membros envolvidos na Operação Enredados, da Polícia Federal. “Desde 2016 temos buscado a reconstrução e recuperação da imagem do Conepe baseada em compliance e transparência”, defende Villaça. Completam a direto-

ria-executiva o vice-presidente, Marcio Kyldare, e o diretor administrativo-financeiro, Jorge Bastos. O novo Conepe já conquistou protagonismo em discussões técnicas diretamente relacionadas à evolução do segmento. Abertamente favorável

a cotas de captura, política comum em potências pesqueiras mundiais, conseguiu emplacar a ideia com a pesca da tainha no âmbito dos Comitês Permanentes de Gestão (CPGs). “Conseguimos, com importante participação de outros membros do CPG alguns avanços importantes, como a proposição e

Veto à UE uniu “povo das águas” O Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) capitaneou uma reunião em 27 de março que se tornou conhecida como o encontro do “povo das águas”. A expressão, cunhada pelo presidente do Sindipi, Jorge Neves, capta o espírito do encontro. “Todos estão juntos no sofrimento gerado pelo descaso do governo com o setor: aquicultura, pesca artesanal, industrial, esportiva, indústrias etc.” Segundo ele, a falta de um discurso único foi um dos fatores que levou a situação ao patamar atual. “A nossa falha sempre foi a desunião, mas hoje esta articulação está completa.”

Apesar da longa lista, o estopim foi a suspensão das exportações de pescado para a União Europeia, o que colocou no mesmo balaio aquicultores, pescadores e industriais. A decisão continua formalmente sob a responsabilidade exclusiva do Mapa, que passou a receber uma pressão mais intensa a partir da união das entidades em torno do objetivo comum de retomar as vendas externas. Do lado da aquicultura, uma primeira vitória foi a retomada da emissão de certificados para a exportação da pele. Na pesca, uma força-tarefa sob a Coordenação da Secretaria Executiva do Mapa iniciou vistorias de barcos congeladores e laudos de certificação de atendimento aos requisitos da UE.

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segundo o Projeto de Monitoramento da Atividade Pesqueira em Santa Catarina (PMAP-SC), coordenado pela Univali. O resultado é 43% maior do que todo o volume registrado em 2016 e idêntico ao que a piscicultura paulista (a terceira maior do País) produziu no ano passado, segundo a PeixeBR.

Acervo pessoal/Dagoberto Castoldi

Mais de 30 embarcações fecharam o canal de Itajaí no meio da greve dos caminhoneiros em protesto por melhores condições


Direto da Produção

A safra da tainha

aceitação do estabelecimento de cotas de captura para a tainha, o que será implementado pela primeira vez nesta temporada de 2018”, sublinha Villaça. Para evitar o papelão do ano passado, quando houve sorteio entre os interessados, a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) criou neste ano um processo baseado em critérios objetivos que pretendiam selecionar até 50 traineiras/cerco (grande escala) e 110 de emalhe anilhado (pequena escala). Foram escolhidas 37 embarcações para receber as licenças. Para o coordenador da Câmara Setorial do Cerco do Sindipi, Agnaldo dos Santos, o governo cumpriu com a promessa de publicar e emitir as licenças dentro do prazo previsto. “Este é o primeiro ano com uma safra de tainha no sistema de cotas e todo o setor está na expectativa para que seja uma captura farta e dentro da cota estipulada pelo governo.”

Acervo pessoal/Dagoberto Castoldi

Já conhecida como a safra das cotas de captura, a temporada da tainha de 2018 deverá ter uma captura de 3.400 toneladas. Em 29 de maio, o governo, entidades setoriais e sociedade civil criaram um comitê para monitorar a pesca. O grupo tem como responsabilidade acompanhar a safra e apontar quando as capturas alcançarem os limites estabelecidos para este ano. Os dados de entrada de tainha nas indústrias de Santa Catarina serão o parâmetro para a Seap recomendar o fechamento da pescaria, quando se atingir 80% da cota.

Além da tainha, a pesca da lagosta também pode se beneficiar das discussões nos CPGs. O Conepe defende um sistema de cota de exportação e desembarque somente de lagostas vivas e, em paralelo, já conseguiu definir junto ao comitê do crustáceo uma taxa de Captura Total Permitida (TAC) de 4 mil toneladas para lagosta vermelha e 900 toneladas para lagosta verde em 2019. Os CPGs são ambientes de assessoramento do Governo nos quais a sociedade civil é representada por entidades representativas, academia e organizações não governamentais. Em 2015, 12 CPGs foram anunciados, mas poucos estão em pleno funcionamento. “Dentre os comitês marinhos, somente os CPGs Lagosta, Atuns e Afins e Pelágicos SE/S estão implementados e em funcionamento, porém com uma certa dificuldade quanto a periodicidade das reuniões tanto dos

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Pesca artesanal x industrial: um falso conflito Paternalismo e ignorância contaminam a discussão sobre a pesca de grande e pequena escala. Isso se reflete na adoção de políticas públicas totalmente associadas à sede por votos, como o seguro-defeso - há anos envolvido em fraudes -, e na demonização dos “pescadores industriais” que teriam problemas de convivência com os “artesanais”. Mas estes rótulos e meiasverdades estão com os dias contados. “Temos demonstrado a discordância de um posicionamento arcaico separatista da pesca artesanal e da pesca industrial, pois entendemos que trata-se somente de pesca comercial, que atua sobre os mesmos recursos pesqueiros e que, juntos, podem ser elaboradas e implementadas políticas públicas coerentes e eficazes”, diz o Conepe.

Comitês quanto dos Subcomitês Científicos”, ressalta Villaça. Outra conquista importante foi a manutenção do País na lista positiva da Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT). O governo se comprometeu, por meio do CPG dos Atuns e Afins, de criar uma força-tarefa para consolidação de dados de captura de espécies correlatas dos últimos cinco anos para envio ao órgão. A proposta foi aceita e a exclusão do Brasil postergada. O Conepe e o Sindipi reforçam a necessidade de se implantar os demais CPGs, mas há outras discussões áridas, como a “novela” da Portaria MMA nº 445/2014. Jorge Neves, presidente do Sindipi, considera a portaria um exemplo do “descaso, falta de ordenamento, pesquisas e uma legislação totalmente preservacionista.” Já o Conepe prega que a norma foi editada unilateralmente pelo Ministério do Meio Ambiente sem diálogo com o setor pesqueiro. Justamente por isso, as entidades criaram um Grupo de Trabalho com o governo, pesquisadores, ONGs e setor produtivo no qual foram elencadas as principais espécies de interesse econômico da pesca. Estas espécies ganharão um plano de recuperação que irá apontar a possibilidade de uso. Um subgrupo terá como trabalho a proposi-


ção de medidas alternativas ao descarte das espécies ameaçadas de extinção, tendo por base as regras e legislações aplicadas em outros países. “Para isso acontecer contamos com a agilidade do MMA, pois a disposição de dialogar e colocar a ‘mão na massa’ o setor já tem demonstrado”, diz Espogeiro. A lista de demandas do setor produtivo é grande, mas a retomada da subvenção ao óleo diesel é uma das principais. A Seap adotou uma política de subvenção associada às entidades representativas, mas na prática praticamente nenhum armador recebeu o benefício pleno nos últimos dois anos, diz o Conepe. “Alguns recebem o desconto estadual, mas o repasse federal está complicado”, relata Espogeiro. Com os reflexos da greve dos caminhoneiros, ninguém sabe como ficará a política.

Para o líder, a proposta de nivelar com o preço internacional é “lógica e necessária”, mas sua reformulação passa por um debate maior sobre a questão tributária no Brasil. “Tanto quanto os benefícios e privilégios sociais que criticamos quando nos referimos a pescadores seguro-dependentes, devemos também desenvolver e desmistificar todo e qualquer benefício.” Espogeiro acredita que “regras tributárias claras e de fácil assimilação, alicerçadas no equilíbrio fiscal, na igualdade de oportunidades e na ética” farão o mercado se ajustar e o preço de venda se adequar aos custos de produção e a “uma sensata distribuição de renda.” Com os novos atores institucionais, a pesca já não quer privilégios, mas ser tratada com respeito.

Arrendamento estrangeiro O sucateamento da frota nacional e a falta de uma política efetiva de modernização novamente abrem espaço para a discussão sobre o arrendamento de embarcações estrangeiras. Recentemente, a Seap disse a interlocutores do setor que discute uma nova norma para simplificar o processo de nacionalização e arrendamento. O Sindipi e o Conepe se opõem à iniciativa. “Na situação atual, falar em nacionalização ou arrendamento de embarcações estrangeiras, ou em aumento de esforço sem um programa de coleta de dados contínuo, avaliação das espécies e alterações no modelo atual de permissionamento pesqueiro nos parece inadequado”, diz Espogeiro.

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a demanda e a oferta no mercado de seafood no Brasil e no exterior.


Personagem

Truteiro de Pindamonhangaba No Serra Azul, no interior de São Paulo, João “Pistón” produz 4 toneladas de trutas todos os meses e quer alçar novos voos

O

vale do Paraíba é um dos pólos produtivos mais adequados ao cultivo da truta arco-íris no Brasil. É lá que fica a Trutas NR, maior produção comercial do País, em Sapucaí-Mirim (MG). Mas a apenas alguns quilômetros dali também tem gente pensando grande. João Benedito dos Santos, ou “João Pistón” (nome emprestado do pai espanhol), acha que as 4 toneladas mensais que ele cultiva no Pesqueiro e Restaurante Serra Azul, em Pindamonhangaba (SP), já são pouco para a fome do mercado. Ele mesmo testa o potencial do peixe desde 1988, quando abriu o trutário na propriedade da família. Pistón produz os próprios alevinos e faz a incubação e desova na própria fazenda, para depois engordar os peixes em 44 tanques circulares de 8 m³ de diâmetro com 1 metro de profundidade. A truta produzida ali, entre 300g e 400g, é vendida a frigoríficos de São Paulo.

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Outra coisa que Pistón produz ali mesmo é energia elétrica. Toda a iluminação do espaço é garantida por uma pequena central que redistribui a energia produzida por um redemoinho importado da Inglaterra. “Uma fazenda próxima queria se desfazer deste redemoinho com mais de 100 anos. Trouxe ele para cá e instalei a central para produzirmos nossa própria energia” A área abriga ainda um restaurante especializado para 250 pessoas, capacidade ampliada em 2016. No cardápio, truta defumada, com diferentes molhos e até uma opção de sashimi de truta. Entre os clientes, peregrinos do caminho de Aparecida (SP), trilheiros, observadores de pássaros, estudantes de Medicina Veterinária e até grandes empresários. “Uma vez recebi aqui um diretor da Coca-Cola que me ensinou a importância de investir em marketing. Disse que se eu tivesse perdido tudo e que me sobrasse 1 real, eu deveria investir em marketing”, conta o produtor rural. Ele absorveu a lição. Até hoje, grava vídeos para a página da empresa nas redes sociais para convidar clientes e amigos a visitá-lo. Mas ele pensa em dar passos mais ousados. Já adquiriu uma segunda fazenda a 85 km dali, em Cunha (SP) e agora quer expandir o número de clientes de restaurantes. “Quero vender para mais restaurantes de São Paulo e interior. Já produzo em torno de 1000 kg por semana e vou crescer muito mais com a nova unidade.” E ele aproveita para vender seu peixe: “Quer comer um peixe saudável venha comer truta, que é de água limpa, saudável e potável. É muito excelente.”


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