Seafood Brasil #22

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PONTO DE VENDA

Modelo centralizado de entregas é opção a peixarias frescas

seafood

SUPLEMENTO ESPECIAL

Tecnologias aquícolas

brasil

#22 - Out/Dez 2017 ISSN 2319-0450

www.seafoodbrasil.com.br

De cabeça erguida Carcinicultura se levanta com trabalho de resistência nos laboratórios


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Editorial

Coesão

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stamos assistindo a um fenômeno raro e importante. Os fóruns e encontros da cadeia produtiva começam a aproximar elos antes antagônicos. Por meio de um diálogo outrora inédito estes passam a encontrar áreas de intersecção – causas comuns a quem pesca, cultiva, processa e comercializa. Está em curso um realinhamento de interesses que não ignora as claras divergências, mas aos poucos vai canalizar as energias sem deixar espaço para embates fratricidas. O caminho rumo à coesão é pantanoso, mas pode ser transposto com a disposição que vejo emergir nos microfones e nas rodas de conversas de que tenho o privilégio de participar. Com a posição de espectador que a Seafood Brasil me dá, começo a ver o despertar de um sentimento de coletividade ou pertencimento que dá um novo fôlego em tempos de tanta dificuldade.

Diante de tantos dissabores do passado, vejo que a maior pauta comum é o futuro. Precisamos trazer os anseios para as mesas de discussão, aparar arestas, encontrar pontos de convergência e criar um discurso único para que o Brasil enxergue e respeite de uma vez por todas a força que emerge das águas. Com o coração pleno de gratidão por mais um ano de existência, agradecemos a todos os parceiros, leitores e apoiadores que constroem coletivamente esta revista dedicada a toda a cadeia produtiva. Excelentes festas a todos. Até 2018!

Ricardo Torres - Editor

Índice

06 Cinco Perguntas

08 MKT & Investimentos 18 Na Gôndola

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Capa

44 Ponto de Venda

52 Suplemento

66 Fora do Expediente

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Na Cozinha

74 Personagem

68 Especial

Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres

Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil R. Domingos de Santa Maria, 329 São Paulo - SP - CEP 04311-040 Tel.: (+55 11) 2578-5126 Escritório comercial na Argentina Av. Boedo, 646. Piso 6. Oficina C (1218) Buenos Aires julio@seafoodbrasil.com.br

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5 Perguntas Øyvind Fylling-Jensen, CEO da Nofima

Entrevista

Tripé da pesquisa aplicada Nofima é a expressão máxima da estreita colaboração entre a pesquisa científica aplicada, compromisso governamental de longo prazo com a atividade e direcionamento do setor privado

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Quem determina linhas de pesquisa tão específicas não são os próprios pesquisadores, mas a própria indústria de pescado, como conta Jensen: “A indústria define seus desafios e o setor institucional oferece soluções baseadas em pesquisas aplicadas”. Na entrevista abaixo, o executivo conta como a inversão da lógica fez a Nofima se tornar um órgão respeitado em tão pouco tempo de existência.

O setor aquícola, pesqueiro e de processamento no Brasil reclama que existe pouca pesquisa aplicada relacionada aos problemas atuais que desafiam nosso desenvolvimento. Vocês tiveram o mesmo diagnóstico na Noruega antes de a Nofima ser implementada? A pesquisa aplicada no setor tem uma longa história na Noruega, mesmo antes do estabelecimento da Nofima. A indústria de conservas iniciou sua própria iniciativa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) já em 1931 para criar mais valor aos seus produtos. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, a lacuna de conhecimento entre as universidades e a indústria foi reconhecida como um desafio crescente, uma vez que havia necessidade de implementação de pesquisa para criar empregos.

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O governo iniciou as bases de vários institutos de pesquisa aplicada e a indústria se tornou um usuário ansioso, já que os resultados poderiam

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ma das principais instituições europeias de pesquisa despachou seu CEO ao Brasil no último mês de novembro. Øyvind Fylling-Jensen desembarcou em São Paulo com a missão de mostrar a experiência norueguesa de investigação científica aplicada ao pescado conduzida pela Nofima. Fundado em 2008, o órgão tem receita anual de 582 milhões de coroas norueguesas (perto de R$ 230 milhões) exclusivamente para descobrir a resolução de problemas como a melhor forma de exportar caranguejos vivos para a Coreia do Sul ou a cor mais adequada dos filés processados de cavalinha para o mercado japonês.

ser facilmente implementados no negócio. Esses institutos abrangiam a pesca, aquicultura e produtos agroalimentares para superar o fosso de conhecimento entre a academia e a indústria. O governo também criou fundos de pesquisa baseados em impostos, com foco no financiamento de projetos de pesquisa que atendessem às necessidades do setor. A indústria define seus desafios e o setor institucional oferece soluções baseadas em pesquisas aplicadas. Paralelamente, os institutos que fornecem conhecimento e resultados de pesquisa ao governo (como o Instituto de Pesquisa Marítima, Instituto Veterinário etc) obtiveram um papel mais visível como assessores para a formulação e regulamentação de políticas públicas.


“É importante reconhecer a estreita colaboração entre os diferentes órgãos de pesquisa, fornecendo conhecimento tanto aos reguladores quanto ao go­verno e à indústria. Esta colaboração triangular é parte do sucesso.”

Você acha que ter fontes públicas e privadas de financiamento ajuda a estabelecer pesquisas ligadas às necessidades reais dos negócios? Estou convencido de que deve haver uma estreita colaboração entre o governo e a indústria quando se trata do setor de pescado. O governo deve financiar projetos e infra-estrutura de longo prazo para divulgar a ciência. Em seguida, deve haver uma área de financiamento comum (por exemplo, projetos de parceria público-privada baseados em impostos) para mais áreas de pesquisa aplicada. No entanto, quando os projetos se aproximam do mercado e os elementos de risco são reduzidos, a indústria deve financiar os projetos. A adicionalidade do financiamento está criando mais valor para a sociedade do que apenas um financiamento público.

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Qual é a estrutura que a Nofima tem (pessoas, instalações, recursos, orçamento etc) para desenvolver pesquisas para aquicultura, frutos do mar e ciência alimentar e quais são os principais tópicos pesquisados ​​hoje em dia? A Nofima realiza pesquisas ao longo de toda a cadeia de valor da aquicultura, da criação e da genética, pesquisa alimentar e nutricional, biologia de produção, saúde dos peixes, embalagem, desenvolvimento de produtos e pesquisa de mercado e consumidor. No setor da pesca e no setor agroalimentar, nossas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação começam com a matéria-prima e terminam quando consumidas.

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A Nofima não paga dividendos e o capital excedente é investido em novas atividades de pesquisa. Além disso, recebemos financiamento do Ministério do Comércio, Indústria e Pesca para pesadas infra-estruturas de P&D e financiamento básico do Conselho de Pesquisa. Este financiamento suporta as áreas de pesquisa de longo prazo, enquanto o fundo de pesquisa da indústria financia desafios mais aplicados. Uma chave para o sucesso é a colaboração estreita com os usuários para garantir relevância e capacidade de implementar os resultados da pesquisa. Para apoiar a nossa pesquisa, a Nofima possui uma infra-estrutura de pesquisa de ponta, que vai desde laboratórios até licenças de produção em grande escala, incluindo fábricas de ração, instalações de processamento de pescado, uma usina de bioprocessamento e laboratório avançado de ciência sensorial. Desta forma, podemos nos envolver com a indústria de forma ampla e científica. Um critério chave é a capacidade da Nofima de trabalhar de maneira interdisciplinar e nosso foco contínuo no treinamento e desenvolvimento de competências de nossos funcionários, incluindo o envolvimento na educação de estudantes de mestrado e de doutorado. Quais são as contribuições que a Nofima já trouxe para a indústria do salmão, peixes brancos e processamento de pescado na Noruega? Esta é uma questão muito ampla e a resposta fácil é que nós temos pesquisadores com experiência na indústria. A Nofima esteve envolvida no desenvolvimento da indústria da aquicultura norueguesa desde o primeiro dia, uma vez que o desenvolvimento das formas jovens e da

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genética são fundamentais para a história de sucesso. Uma compreensão profunda do setor de pescado, incluindo questões socioeconômicas e políticas, é um pré-requisito. Nossos cientistas têm de compreender a sustentabilidade social, econômica e ambiental para ser bem sucedidos. A Nofima tem capacidade de encontrar soluções práticas para os desafios enfrentados pela indústria, ao longo de toda a cadeia de valor, de captura e produção, qualidade do pescado, mercados e comportamento do consumidor. Além disso, tem um forte foco em trabalhar em estreita colaboração com a indústria usando seus insights ao projetar áreas estratégicas de pesquisa. De certo modo, salvaguardamos nossa relevância e implementação de resultados. Como você acha que este conhecimento pode ser compartilhado com organismos de pesquisa brasileiros e aplicado ao nosso ambiente de negócios? A Nofima e outras entidades de pesquisa norueguesas certamente podem ajudar o Brasil a criar uma história de sucesso. Requer vontade política e vontade de financiar (com um compromisso de longo prazo) por um lado, e um compromisso coerente da indústria para investir e fazer as coisas acontecerem do outro lado. Um caminho para isso é conseguir as prioridades certas: o que fazer primeiro e o que fazer a seguir?

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Não acredito que o sucesso seja conseguido apenas financiando projetos solitários se o objetivo for tornar a aquicultura e pesca a indústria do futuro. Isso exigirá um esforço estreito de colaboração entre reguladores, instituições de pesquisa, indústria e financiadores.

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É importante reconhecer a estreita colaboração entre os diferentes órgãos de pesquisa, fornecendo conhecimento tanto aos reguladores quanto ao governo e à indústria. Esta colaboração triangular é parte do sucesso.


Marketing & Investimentos

A inovação vem da Noruega Novos projetos procuram solucionar problema de espaço e impacto ao meio ambiente para incrementar volumes produtivos

Divulgação/Empresas

Barco-fazenda da NSK Ship: 430 metros de proa a popa para engordar 10 mil toneladas de salmão

Divulgação/Empresas

Construída por chineses, fazenda oceânica da SalMar tem 110 m de diâmetro, suporta terremotos de magnitude 12 e é capaz de produzir 1,5 milhões de peixes em 14 meses

Divulgação/Empresas

Sistema iFarm, desenvolvido pela Cermaq, escaneia, conta e remove automaticamente peixes infectados para tratamento

Feridas expostas, soluções à vista SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 8

Criado para incentivar o intercâmbio comercial e tecnológico na aquicultura, encontro entre Brasil e Noruega aponta caminhos, mas expõe problemas crônicos do nosso desenvolvimento

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s noruegueses já são muito bem sucedidos em terras brasileiras, mas começam a estender sua área de influência para outros segmentos. A aquicultura é a próxima fronteira a ser explorada pelos escandinavos, que já atuam no Brasil em várias frentes desde que o primeiro navio norueguês desembarcou com bacalhau no Rio de

Janeiro 175 anos atrás. Hoje, a Noruega já é o oitavo maior investidor no Brasil, com empresas como a Yara – a maior indústria de fertilizantes do País -, e forte participação da Statoil em empreendimentos de petróleo e gás. “Os noruegueses não estão aqui para ensinar a criar peixe no Brasil, os melhores experts são os brasileiros, mas

temos algumas experiências que podemos compartilhar e já cometemos muitos erros com a indústria do salmão”, disse na abertura do I Norwegian-Brazilian Aquaculture Summit, realizado nos dias 07 e 08 de novembro em São Paulo (SP), o cônsul comercial e diretor da Innovation Norway no Brasil, Stein-Gunnar Bondevik.


A aquicultura norueguesa, toda focada nos salmonídeos, gera volume de exportação de quase R$ 30 bilhões com cerca de 1 milhão de toneladas produzidas anualmente. “A chave do sucesso foi uma parceria forte entre o governo (licenças, comando e controle), pesquisa (soluções para diversos obstáculos no caminho) e setor privado (foi e é criativo em desenvolver soluções)”, opinou o embaixador da Noruega, Nils Gunneng. Ele disse ainda que o Brasil pode se tornar uma superpotência de 4 milhões de toneladas de pescado. Os vikings sabem muito bem que estão pisando em uma mina de ouro, mas durante o evento tiveram uma noção mais clara do tamanho do desafio. As comparações entre as trajetórias dos dois países foram inevitáveis, mas do lado brasileiro os problemas foram mais evidenciados do que os casos de sucesso. Mário Sérgio Cutait, diretor do Departamento de Agronegócios da Fiesp (Deagro/Fiesp), sublinhou uma das primeiras deficiências do setor privado: a formação das lideranças.

Divulgação/Empresas

os desafios de criar uma produção em larga escala, aumentar o consumo e expandir o mercado.” Na conta dele, se o consumo crescer em 1 kg por habitante/ano a produção teria de crescer mais 220 mil toneladas. “Não temos ração, não temos alevino, não temos frigoríficos para processar tudo isso.” Ele vê na busca da competitividade o caminho para que isso aconteça. “A curva de demanda crescerá drasticamente com a redução dos custos de produção. Nos próximos 10 a 20 anos, a biosseguridade e produção em grande escala vão transformar a aquicultura, mas precisamos de uma estratégia setorial conjunta”, alerta.

“Se fosse resumir o relacionamento entre os dois países, vemos oportunidades, negócios e lucro. Mas as oportunidades começam com pessoas: não adianta formarmos bons técnicos, precisamos formar gente preparada para assumir os desafios da eficiência na genética, ração, manejo e dentro do frigorífico.” Cutait também é um dos donos da MCassab, que atua no setor com engorda de tilápia e frigorífico em Rifaina (SP) com a marca Fider.

Esta é uma das linhas de trabalho de entidades setoriais presentes ao evento como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), que ajudou a organizar o encontro. Eduardo Ono, presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da CNA, disse que a entidade começou a construir uma proposta estruturada, com ações de curto, médio e longo prazo, em consenso, para criar um plano de Estado a ser apresentado em 2018. “Independentemente de quem esteja lá, vai ter de respeitar estas regras.”

Breno Davis Campolina, CEO da Geneseas Dell Mare, endossou as palavras de Cutait. “Estamos no estágio inicial da profissionalização e temos

Segundo ele, a transitoriedade política gera uma insegurança total sobre o setor. “Falta segurança jurídica aos investidores. Muitas empresas se assus-

taram e desistiram com a falta de prazo para investir, porque a regularização dos empreendimentos é muito burocrática e as regras mudam a toda hora.” Sem regularização, não há acesso a crédito ou seguro e os projetos ficam paralisados. De acordo com Francisco Medeiros, presidente-executivo da PeixeBR, das 640 mil toneladas de pescado produzidas em cativeiro pelo Brasil em 2016, 170 mil toneladas vieram de Águas da União. “A capacidade estimada pela ANA [Agência Nacional de Águas] é de 5,8 milhões de toneladas, mas as solicitações paralisadas no governo são de 3,8 milhões de toneladas.” Ele estimou ainda que uma força-tarefa de 30 técnicos conseguiria fazer as análises e liberações de cessões de áreas aquícolas em até 90 dias. Caso solucione o problema das cessões, o setor vai se deparar com outro problema. “Para produzirmos estes 3,8 milhões de toneladas, vamos precisar de investimentos na ordem de US$ 7,6 bilhões”, calcula Medeiros. Atento à demanda por investidores internacionais, Bondevik já anunciou que no próximo encontro fará um esforço extra para atrair mais empresas norueguesas. A pesquisa aplicada também foi alvo de comentários gerais. Ono, da CNA, disse que a estrutura de investimento em pesquisa no Brasil é voltada

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À Seafood Brasil, o executivo confidenciou que a estratégia da Noruega para a aquicultura no Brasil é similar ao que o país europeu fez na área de petróleo e gás. “O ramo de fornecedores de serviços e equipamentos para aquicultura está no mesmo pé do setor de petróleo e gás 20 anos atrás. O espaço para a extração de petróleo e gás se estagnou na Noruega e foi necessário se internacionalizar; é o mesmo com a aquicultura.”

Sistemas de recirculação como este, da Akva Group, são tendência em cenário de restrição de áreas para o cultivo


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Marketing & Investimentos

Stein-Gunnar Bondevik apresenta colegas noruegueses: país quer estimular a geração de negócios com Brasil à pesquisa científica e não à tecnologia. “Com isso, há ineficiência na transferência na tecnologia, uma ruptura entre quem a usa e quem a gera, além de uma carência de conhecimentos e serviços setoriais.” Medeiros aproveitou a ocasião para apresentar um documento produzido pela PeixeBR com diversas demandas de pesquisa aplicada em diversas linhas (leia mais no Suplemento de Tecnologia Aquícola, na pág. 50). “Existe uma defasagem tecnológica muito grande entre as regiões”, exemplificou. “No PR se produz com 45 toneladas por hectare, enquanto em RO se produz 7 toneladas por hectare”.

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Os representantes de instituições de pesquisa avaliaram que algumas linhas já realizadas cobrem parte destas necessidades, mas reconheceram que muitas não chegam ao setor privado. Um dos noruegueses, a cientista Kjersti T. Fjalestad, do Conselho Norueguês de Pesquisa, surpreendeu o público com a informação de que o Brasil tem mais publicações científicas na área aquícola que o Chile. O chefe-geral interino da Embrapa Pesca e Aquicultura, Alexandre Freitas, mostrou os avanços da entidade na investigação de demandas do segmento, e alertou: “a ciência precisa ser ouvida no desenvolvimento das políticas públicas.” Ele adiantou ainda que a Embrapa discute uma cooperação com sua equivalente norueguesa (Nofima) para desencadear parcerias científicas.

Já a secretária-executiva da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática (Aquabio), Célia Frascá-Scorvo prontificou a entidade para receber estas demandas e redistribui-las. Por outro lado, pontuou que faltam órgãos financiadores nas mesas de discussão. “Para conseguir o financiamento de órgãos como Fapesp e CNPQ é muito difícil, o pesquisador precisa ter um currículo que envolve publicações em revistas indexadas, entre outras questões.” Luis Felipe Maciel, gerente de agronegócio e biocombustíveis da Financiadora de Estudos e Projetos do governo federal (Finep), disse que a entidade tem condições de financiar projetos específicos para o setor, desde a pesquisa básica até desenvolvimento de protótipos e tecnologia. “Um dos apoios possíveis é de fusões e aquisições em que haja sinergia tecnológica. Se há um processo de fusão de empresas que tenham tecnologias e que o resultado desta fusão gere algum avanço tecnológico, a Finep pode apoiar.” O chefe-adjunto de pesquisa da Embrapa Pesca e Aquicultura, Eric Routledge, crê numa mudança gradual do cenário. “Antes o setor privado não tinha esta solicitação de demandas. Do lado da pesquisa, o pesquisador sempre vai querer levar a pesquisa para o que ele é apaixonado. Acho que o diálogo vai levar a esta aproximação em prol do desenvolvimento do setor.”

Hélice tripla é o segredo da Noruega O publico brasileiro se surpreendeu a encontrar pontos em comum com os noruegueses, como a burocracia na obtenção da permissão para os cultivos. As solicitações passam por sete órgãos na Noruega até que sejam autorizadas. Por outro lado, como mencionaram todos os palestrantes noruegueses, a transformação do país em potência só ocorre quando houve uma a colaboração intrínseca entre a pesquisa, o go-

verno e o setor privado: a hélice tripla. Tudo começou com a criação do Directorate of Fisheries, uma agência governamental estabelecida em 1900 com a intenção de criar uma linha-mestra para todo o desenvolvimento do pescado como setor econômico. “Nosso objetivo é promover lucro por meio de gerenciamento orientado ao usuário e de forma sustentável para assegutrar às próximas gerações os benefícios de desfrutar do que é produzido ou capturado nos mares”, sintetizou Olav Lekve, CCO da agência, que existe até hoje. Segundo ele, o diálogo entre a indústria aquícola e a agência derivou da indústria pesqueira, que criou canais para o envolvimento dos pescadores com as regulamentações, fazendo com que participassem de sua elaboração e as legitimassem. Concomitantemente ao surgimento da entidade, pipocavam iniciativas orientadas à produção em cativeiro. “A primeira tentativa foi em 1850 com salmão e truta no mar, depois veio a segunda em 1910. Em seguida tentamos a produção em viveiros escavados. Nada deu certo”, resgatou Kjell Reitan, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega. Dois eventos mudariam a trajetória norueguesa, sublinhou Reitan. “A indústria decolou com o surgimento de tanques-rede e um programa de alevinagem para o salmão Atlântico.” Em 1974, a produção foi de 3600 toneladas de trutas e 900 toneladas de salmão. Com forte investimento em pesquisa aplicada e foco praticamente exclusivo nos salmonídeos, o país evoluiu para cerca de 1,3 milhão de toneladas despescadas em 2016. Na década de 1980, o custo de produção era superior a US$ 12/kg e passou para US$ 4/kg em 2010. A pesquisa continua como pilar fundamental da evolução do setor, principalmente no momento em que a aquicultura norueguesa passa por fal-


A salmonicultura na Noruega hoje

TANQUES-REDE 160-200 metros de circunferência têm os tanques-rede circulares 200 mil peixes em cada tanque 16 tanques em apenas uma fazenda

BARCOS TRANSPORTADORES 24 – 40 m de comprimento têm os barcos transportadores 4500 m3 de capacidade 700 ton. de salmão vivo

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1,3 milhão de toneladas de salmonídeos (trutas e salmões) 60 bilhões de NOKs (R$ 23 bilhões) é o orçamento para pesquisa na Noruega (pesca e aquicultura) 1.3 é a taxa de conversão alimentar média (FCA) do salmão

Auditório lotado: empresários e representantes de entidades conheceram o modelo aquícola norueguês

DESAFIOS 300 a 400 milhões de euros de prejuízo anual com sea lice (parasita marinho) 128 mil peixes haviam escapado das gaiolas em 2016 (921 mil escaparam em 2006) 60% do custo de produção vem da ração Fonte: NTNU/Directorate of Fisheries/Nofima/The Research Council of Norway

Entre os principais benefícios alcançados pela pesquisa estão: a redução do uso de antibióticos para praticamente zero, a partir da disseminação de vacinas administradas individualmente (e

já de forma automática); um programa de melhoramento genético que desenvolveu, além de colorações específicas, resistência a diversas doenças; o ciclo de vida do salmão, que chegava ao tamanho comercial em 40 meses (1975) hoje caiu pela metade. Atualmente as pesquisas se concentram na redução de proteína e óleo de peixe e na busca de ingredientes alternativos, bem como em novas tecnologias de cultivo que minimizem os rejeitos da produção ou até os elimi-

nem por completo em sistemas fechados de recirculação e semi-intensivos. Ainda assim, o foco inicial, definido há mais de 40 anos, permanece: o salmão. Na visão dos noruegueses, o Brasil tem o mesmo potencial de resultados, mas não com o pirarucu, tambaqui ou pintado. “Eu aconselharia fortemente a se concentrar em uma espécie com potencial nacional e internacional, que hoje é a tilápia”, sublinhou Bondevik. “E uma vez que você desenvolva alta competência nisso, talvez o tempo venha para as outras espécies.”

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ta de áreas para expansão. De acordo com Fjalestad, do Conselho Norueguês de Pesquisa, diz que o orçamento para pesquisa aquícola e pesqueira chega a 60 bilhões de NOKs (R$ 23 bilhões). A conta é dividida entre o setor público e privado em uma razão de 50% para cada parte.


Marketing & Investimentos

Noruega no Brasil Dois eventos recentes introduziram aos brasileiros as maiores contribuições norueguesesas ao setor de pescado no Brasil: a tecnologia aquícola e o bacalhau. A Seafood From Norway (Ex-Norge) apresentou o novo conceito da marca que pretende distinguir o produto nórdico dos similares pelo mundo. Já a Innovation Norway reuniu brasileiros e escandinavos para discutir intercâmbio tecnológico (leia matéria nas páginas anteriores).

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Rodrigo Nohlen Astur e Viviani Janasi Menezes (Cencosud)

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Arne Sperre (Brødrene Sperre) e Torgeir Bjorge (Mathias Bjorge)

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João Machado (Soguima), Roberta Ferreira (Carrefour), Igor Andrade Lima e Aline Fernandes (Orleans & Castro)

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Kristin Pettersen (Seafood From Norway) e Jan Dybfest (Embaixada da Noruega)

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Wilson Barquilla (Consultor), Luiz Roberto Baruzzi (Rede São Paulo Supermercados), Rafael Monezi Guinutzman (GPA) e Mauricio Chiarella Sanches (Assaí) Nelson Oliveira (J.A. Oliveira), Laís Pauli (Adolfo Lutz), Bartira Volpato (Mathias Bjorge), Marcia Bittar Atui e Marcia Dimov (Adolfo Lutz) Vasco Tørrissen Duarte e Karina Mendes (Seafood From Norway) e Vítor Sobral (Tasca da Esquina)

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Moacyr Veiga (Damm)

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Eder Shizuo (PeixeBR), Luiz Ayroza (IPesca SP), Ricardo Neukirchner (Aquabel) e Mauro Nakata (Piscicultura Cristalina)

Leila Hayashi (UFSC), Beatriz Castelar (D’Alga) e Rodrigo Carvalho (UFRN)

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André Camargo e Paola Camargo (Escama Forte), Célia Scorvo (Apta-SP), Ana Paula Packer (Embrapa), Alfredo Canuto (Escama Forte), Breno Davis (Geneseas), Ricardo Neukirchner e Luiz Ayroza

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Nils Arne Grønlie (Pharmaq)

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Finn-Arne Egeness (Nordea Bank) e Stein-Gunnar Bondevik (Innovation Norway)

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Francisco Medeiros (PeixeBR), Alexandre Freitas (Embrapa), Eduardo Jacusiel (Aquamat) e Marcelo Toledo (Skretting/Nutreco)


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Marketing & Investimentos

Futuro compartilhado A última plenária do ano no Comitê da Cadeia Produtiva da Pesca e da Aquicultura (Compesca/Fiesp), em 24/11, representou uma união de forças em prol do fortalecimento do setor. Diversas entidades prestigiaram o evento, que culminou com o lançamento de um Encontro Nacional de Entidades da Pesca e Aquicultura, previsto para 2018 na própria Fiesp. Depois da plenária, os convidados participaram de um happy-hour que procurou valorizar a fusão de culturas da gastronomia brasileira por meio de uma viagem em diversas preparações de pescado.

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Eduardo Lobo (Abipesca), Betinho (FishTV), Francisco Medeiros (PeixeBR), Roberto Imai (Compesca/Fiesp), Marcos Pereira (Seap), Itamar Rocha (ABCC) e Márcio Ortega (Abrapes) Betinho, Eduardo Lobo, Francisco Medeiros, Márcio Ortega, Itamar Rocha, Roberto Imai e Ismael Coelho (Miami)

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Meg Felippe (Nordsee) e Roberto Imai (Compesca)

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Conceição Zeppelini (Francal), Luiz Ayroza (IPesca-SP) e Lúcia Cristina de Buone (Francal)

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Eduardo Lobo, Sandra Takahashi (Nordsee) e Afonso Vivolo (Trutas NR)

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Rodrigo Joaquim (Grupo5), Ricardo Montenegro (Peixes da Amazônia) e João Paes (Pescado Express)

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Ismael Coelho, Luis Palmeira (New Fish) e Jiro Yamada (Acapesp)

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Rodrigo Teixeira (FishTV), Elaine Alves (Anepe) e Betinho

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Karina Moura, Carol Lima e Adriana Brustolin (Fiesp)


Alasca em foco O Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) celebrou seis anos de presença no Brasil no último dia 5 de dezembro, em São Paulo (SP) com números importantes: 88 redes de varejo já vendem a polaca, o cod (bacalhau fresco) e os tipos de salmão provenientes das frias águas do maior Estado dos Estados Unidos. Além disso, 10 empresas já trazem os produtos com frequência daquele país. A julgar pela forte presença de varejistas, frigoríficos e distribuidores nacionais no evento, os números devem ser ainda melhores em 2018.

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12 Sergio Karagulian e Pedro Pereira (Brascod), Rafael Guinutzman (GPA), Rodrigo Joaquim (Grupo5), José Noeli (Walmart), Rosi Costa (Carrefour), Lourival Jr. (Walmart), Francisco Homsi (Oba Hortifruti), Ricardo Pereira (Makro) e James Loureiro (Noronha)

Gregolin e Iryna Bokan (Trident Seafoods)

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José Madeira (ASMI) apresenta prêmios concedidos a compradores do varejo Carolina Nascimento (ASMI), Carlos Gonçalves (Casa Santa Luzia), Sergio Karagulian (Brascod) e José Madeira Carolina Nascimento, Marcelo Eiger (Trident Seafoods), Altemir

José Madeira, Pablo Rillo (Ecil), Maurício Monteiro (Piscare), Alexandre Pavan (Iglu), Ricardo Bermejo (Satel Despachos) e Victor Arruda (Fênix) Lourival Jr, Rafael Guinutzman, Rafael Camacho (Nutriworld), Gisele Vittoretti (GPA), Pablo Rillo (Ecil), Marcelo Nasser (Riberalves) e Francisco Homsi

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Sandra Ortega e Márcio Ortega (Fênix)

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Rodrigo Nojiri (Kampomarino), William Yamamoto (Frumar), Marcel Simões (LM Import) e Kazuo Nojiri (Kampomarino)

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Antônio Lopes (Vivenda do Camarão), José Madeira, Altemir Gregolin, Eduardo Honrado e Bruno Perrod

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James Loureiro, José Noeli, Nanook, Guilherme Blanke (Noronha) e Altemir Gregolin

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Gustavo Gutierres (Bom Peixe), Diego Fávero (Grupo5) e Eduardo Frasson (Bom Peixe)

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Juan Carlos Lozano (JBS), Bruno Correa e Paulo Christofani (Swift), Stephanie Mestanza (JBS), Paula Monteiro (Brascod) e Larissa Dezem (JBS)

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Marketing & Investimentos

XIV FENACAM A Fenacam chegou à 14ª realização entre 15 e 18 de novembro com clima de volta às origens, motivado pelo retorno do evento a Natal. Corredores cheios e muito otimismo dos expositores marcaram o evento, que ainda contou com mais de 58 apresentações e 250 trabalhos técnicos-científicos. Itamar Rocha, presidente da ABCC, deu um recado enfático logo na abertura sobre a importação de camarão: “Não vamos deixar!”, repetiu três vezes.

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Luciana Thie Seki Dias (UFSCar), Garibaldi Alves (Senador), Guilherme Saldanha (Secretário de Agricultura do RN), Raimundo Ferreira (Coordenador Pesca e Aquicultura RN), Martinho Colpani (Colpani Pescados), Gaetano Furno (ABCPanga) e Gabriel Vieira (atacadista de pescado)

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João Carlos Lobo e Eduardo Amorim (AquaFeed)

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Simone Sühnel (UFSC), Márcia Kafensztok (Primar) e Francisco Lagreze (UFPR)

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André Machado e Rafael Guinutzman (GPA), Marisa

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Sonehara (Camanor), Paulo Americano e Frederico Rezende (Faifs), Rodrigo Joaquim (Grupo5)

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Assis Castellan, Assis Henrique Castellan e Emerson Esteves (Peixe Vivo Aquacultura), Hideyoshi Segovia e Birgitte Sorheim (Spring Genetics)

09

Guilherme Saldanha, Rondinelle Oliveira (Idema RN) e Cristiano Maia

Moacyr Maia, Christianny Maia, Luzia Diógenes Maia e Cristiano Maia (Potiporã)

10

Ricardo Santini (BRF Ingredients) e Mariana Soares (UFSC)

Equipe da Skretting/Nutreco apresenta Lorica

11

Willem Pijl e John Herwijnen (Seafood Trade Intelligence Portal)

12

José Alberto de Almeida Jr. (Gourmar Pescados) Jaqueline Medeiros e Maria Tereza Sarmento (Larvi Aquicultura)

17 13

Jonathas Costa (Sebrae) e Fernando Roversi (UFRJ)

14

Lucas Granuzzo, Marina Valdo e Eduardo Conte (Ammco Pharma)

15

Alan dos Anjos, Ricardo Campos, Rodrigo Carvalho (ABCC), Luciano Amorim (Ufal) e Paulo Rocha (Alliplus)

16

Tiago Bueno (Seafood Brasil), Itamar Rocha (ABCC), Alessandro Araujo, Agnaldo Limas e Luiz Zambotti (Tempel)

17

Helder Medeiros (ANCC), Orígenes Monte Neto e Moisés Junior (Maricultura Cutia), Ilidio Silva (Cutia e Radio Popular)


ECIL, desde 1949, importando,

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SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 17

comercializando e distribuindo seriedade e confiança


A vácuo Na mesma onda das bandejas com produtos refrigerados, a Frumar acaba de introduzir no mercado cortes nobres de salmão, meca e atum. O lombo de meca e de atum sem pele, além dos filés de salmão com ou sem pele são embalados a vácuo.

Na

suas lojas. Cultivado pela Vinh Hoan em fazendas certificadas pela ASC no Vietnã, o peixe chega em três versões: filé empanado préfrito congelado com embalagem de 300g, com alho e ervas em 300g e pedaços congelados para saltear em 200g.

Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar

De cabeça no ATM

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 18

A Bom Peixe aderiu às embalagens em atmosfera modificada para vender seus peixes frescos nas gôndolas brasileiras. A empresa de Piracicaba (SP) acaba de lançar dois produtos na linha de bandejas skin pack: o filé de salmão em 350g e os filés de tilápia em 400g. A tecnologia é uma parceria com a Sealed Air e envolve tripla barreira para esticar o tempo de prateleira em até 18 dias.

Patê defumado Salmão é o ingrediente principal deste novo patê da Komdelli, que incrementa assim a linha de produtos elaborados da empresa catarinense. Em breve nas prateleiras do Brasil, o produto será vendido em pote de vidro de 100g com cartucho de papelão que a companhia pretende emplacar até em cestas natalinas.

Delícias do panga 1 O Pangalicious, linha com panga da holandesa Queens que acaba de desembarcar no Brasil, é a nova aposta exclusiva do Walmart para

Delícias do panga 2 A própria Vinh Hoan engrossou recentemente o mercado de filés brancos sem espinha com o Petalo Panga, marca de filés congelados vendida nas lojas Extra, do GPA, em bolsas de 800g. A empresa garante que o diferencial é a ausência total de “tratamento químico” do produto, além da certificação ASC.


Tilápia na ceia?

Fila de delícias

A Qualimar segue com a tendência de alto padrão na linha Gold Line, onde se insere o camarão rosa congelado 31/35. O produto vem em bolsa a vácuo acoplada a um display de papelão provido de janela com vista privilegiada para a iguaria.

Vai bem também, segundo a Copacol, que lançou esta edição especial na embalagem de 800g. Os filés são maiores do que na roupagem tradicional: a empresa afirma ter produzido 100 toneladas exclusivas deste produto para os principais mercados do País.

A paraense Amasa, parte do grupo japonês Nichirei, sai das bolsas convencionais que embalam 90% dos crustáceos congelados do varejo e enfileira os camarões rosa descascados em embalagens de 400g a vácuo como esta.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 19

Crustáceo de ouro


Capa

Um novo olhar A SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 20

Texto e fotos: Ricardo Torres

chegada da mancha branca ao Ceará, no ano passado, acelerou um processo de mudança de paradigma nos sistemas de produção que ainda impacta fortemente a organização da cadeia produtiva. Afinal, o custo de produção era a maior preocupação do carcinicultor em todo o mundo, conforme pesquisa da Global Outlook Aquaculture Leadership (GOAL), mas ficou para trás por conta das doenças. Nos sistemas extensivos o setor viu uma diminuição drástica das densidades, enquanto os produtores

intensivos procuraram o melhor equilíbrio entre o rápido crescimento e sobrevivência para amortizar os altos custos do investimento. Tudo isso impactou fortemente os laboratórios de pós-larvas, que tiveram de redefinir prioridades. No lado do mercado, os preços subiram menos do que no ano passado, mas a montanha-russa continua. A demanda claramente diminuiu: as gôndolas de 2017 apresentam uma oferta menor de produtos e embalagens reduzidas, simultaneamente

a medidas drásticas no food service, como a retirada do crustáceo de circulação. Por outro lado, o fluxo ilegal de camarão argentino nunca esteve tão alto e já desperta a atenção da Polícia Federal. Na esfera legal, o Equador só aguarda a finalização dos registros de produtos no Dipoa para anunciar oficialmente o desembarque do vannamei, desde que a ABCC não consiga virar o jogo. Saiba como anda o Mercado a partir da pág. 22 Saiba como anda a Produção a partir da pág. 30


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SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 21

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Capa MERCADO

Equilíbrio e retomada SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 22

Demanda deve reagir em 2018, mas a recuperação de margens ainda mantém preços altos e assusta consumidor; liberada, importação ainda não aconteceu

J

ulho foi um mês chave para o mercado brasileiro do camarão em 2017. O preço do crustáceo despencou 7,58% sobre o mês anterior – quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. já registrava uma desvalorização de 4,4%. Foram quatro meses consecutivos de deflação, um indicativo do esfacelamento da demanda pelo produto no País. “Há muita oscilação

no preço do camarão no País, quando a demanda fica fraca o preço começa a cair”, avalia Werner Jost, economista e diretor da Camanor Produtos Marinhos. A justificativa é ampla e começa pelo costume corrente do setor em vender o produto resfriado, evitando assim custos logísticos e de desenvolvimento de mercado. “Isso é muito ruim para a formação do preço: quando há uma

superoferta ou uma doença que obriga a despescar o camarão, o produtor não consegue fazer estoque regulador e fica exposto ao comprador”, completa Jost, para quem a saída é trabalhar cada vez mais com camarão congelado. A própria Camanor trilha este caminho na comercialização a um tipo de cliente onde a informalidade é corrente: o food service. “A cadeia ainda é muito


No caso do varejo, há três fatores principais para a diminuição da demanda, conforme a visão de Ricardo Pedroza, da Camarões do Brasil – representante de fazendas como a Compescal, Três Mares e Aquadelta: a diminuição do poder de compra, o aumento do preço e a recuperação das margens dos supermercados com o produto. “O camarão dobrou de preço, mas já se reduziu em 25%. Os supermercados não repassaram isso no início: se antes trabalham com uma margem de 30%, hoje trabalham com mais de 50%.” Já não falta camarão como no ano passado, garante Pedroza. “As principais empresas têm estoque congelado e em água inclusive. Mas em função das margens das redes e da diminuição da demanda, não houve recompra e o preço agora é o dobro”. O estoque do varejo foi formado em abril, segundo o especialista, mas novas compras, ainda que pequenas, mostram uma tímida reação. A consequência disso se expressa no preço final da gôndola, que afugen-

tou o consumidor e diminuiu consideravelmente o espaço dedicado ao produto nos pontos de venda. De acordo com uma análise da Seafood Brasil (veja mais detalhes no infográfico da página 28), todos os tamanhos subiram de preço no período de um ano. O pacote de 400g do camarão intermediário, 71/90, por exemplo, valorizou-se em média 40% sobre novembro de 2016 no monitoramento do IPCA. Outro fenômeno foi fácil de observar in loco. Para evitar o susto generalizado, surgiram mais opções em 200g ou 250g, inclusive do camarão rosa de alto calibre. Por outro lado, o processamento está menos sofisticado: crescem as opções de inteiros, com cauda ou apenas sem cabeça. Ainda conforme a análise da nossa equipe, os tamanhos menores apuraram a menor valorização no preço, a bolsa de 400g do 111/130 ficou 11,08% mais cara. Se o varejo regulou a margem, a retração na alimentação fora do lar não permitiu aos restaurantes repassarem qualquer aumento. “O food service não conseguiu repassar nem 20% do aumento no auge da crise”, avalia José Alberto, representante de vendas da Gourmar, distribuidora focada em entregas pulverizadas para hotéis, resorts e restaurantes de alto padrão com clientes na Bahia, Rio de Janeiro e Belo

CONTRABANDO A TODO VAPOR Misiones, na Argentina, recebe toda semana da Patagônia 100 toneladas de Pleoticus muelleri, o camarão vermelho ou gambón argentino. Detalhe importante: a província faz fronteira com o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O real destino da mercadoria, como revelou reportagem da publicação Revista Puerto (revistapuerto.com.ar) em 4 de dezembro, são intermediários que o revendem a supermercados e restaurantes brasileiros. O veículo estima que só uma empresa teria enviado este ano mais de 700 toneladas ao Brasil sem qualquer registro da operação, como notas fiscais. Empresas de fachada, endereços fictícios e fiscais corruptos alimentam um esquema milionário: a empresa compraria o kg do produto ao equivalente em pesos a R$ 17 e o revenderia a R$ 26; já o distribuidor brasileiro o repassa a R$ 67. Em janeiro deste ano a Seafood Brasil já havia revelado que o esquema envolve até transportadoras e frigoríficos brasileiros situados em Santa Catarina, que recepcionam, armazenam e distribuem a carga contrabandeada a clientes do Sul e Sudeste. A Polícia Federal está no encalço dos criminosos no lado brasileiro: a Operação Tripoli, deflagrada em maio, mobilizou 140 policiais e prendeu 6 pessoas. Ainda assim, o fluxo não dá sinais de arrefecer. Até outubro, só no Paraná, ao menos oito cargas de camarão foram apreendidas depois de passarem por estradas clandestinas na fronteira seca entre os dois países - muitas transportadas sem o menor cuidado com refrigeração.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 23

informal, muita coisa sai sem nota fiscal ou então com meio valor ou quantidade menor. Como trabalhamos com cadeias nacionais de restaurantes, não enfrentamos este tipo de concorrência, mas os produtores legais sofrem”.


Capa MERCADO Restaurantes buscaram novas soluções, como cobrar por uma porção extra de camarões

Horizonte. “Eles cortaram alguns tipos de bebidas do cardápio, diminuíram insumos e até cortaram funcionários para conseguir manter o camarão no cardápio, outros fizeram como o Coco Bambu e tiraram temporariamente do cardápio.” O fast-food especializado também teve de se reinventar. A Vivenda do Camarão, por exemplo, criou uma opção de uma porção extra de 10 camarões no prato por mais R$ 13,90 além do preço convencional. Para o presidente da rede, Fernando Perri, o cenário ainda é crítico, mas o pior momento já teria passado. “Os preços recuaram um pouco, mas ainda estão muito acima de um patamar médio razoável.”

Foi para garantir a demanda que a empresa arrendou no ano passado uma fazenda na região de Jaguaruana (CE). A conversão da propriedade ao sistema superintensivo ainda está em curso. “Houve imprevistos nas obras, mas toda a infraestrutura deve ser finalizada até meados de janeiro, quando teremos condições de produzir em volumes crescentes”, indica. O objetivo é, até o meio de 2018, atingir produção suficiente para suprir de forma integral a rede. O investimento em fazendas também movimenta o lado dos fornecedores. A Bomar, por exemplo, resolveu apostar em uma quarta fazenda no Maranhão para se somar às três propriedades já instaladas no Ceará

INFLAÇÃO DO CAMARÃO | IPCA % MÊS A MÊS Índice geral

Alimentação e bebidas

Camarão

8,29

7,21

3,65 2,91 3,95

2,74 1,88 0,26 -0,05

0,18

0,3 0,08

0,38 0,35

0,33

0,25 0,34

0,14 0,58

0,31

0,23

-0,35

-0,45

-0,2

1,43

-0,23

0,24

0,19

0,16

0,07 0,42 -0,05

-0,47

-0,41 -1,07

-1,78

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 24

-2,72

-4,4

-7,58 Outubro 2016

Novembro 2016

Dezembro 2016

Janeiro 2016

Fevereiro 2016

Março 2016

Abril 2016

Maio 2016

Junho 2016

Julho 2016

Agosto 2016

Setembro 2016

Outubro 2016

Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo | *último mês disponível


Empresas como a Bomar, de Alexandre Reis, expandem produção confiantes em reaquecimento

Há, porém, quem esteja mais otimista com 2018. “Com o sucesso de combate às doenças e a volta das produções nos patamares ideais, acreditamos que teremos um ano bem promissor”, estimam os diretores da Nutra Foods, Luciano Lara e Cristiano De La Noce. A empresa acaba de adquirir um frigorífico para ter uma linha abrangente de peixes, moluscos e o camarão como destaque, graças a parcerias com fazendas superintensi-

do Exija cedor e n r fo seu alidade a qu dutos pro dos ás ubr a N t

vas em Aracati, Acaraú, Piauí e no Rio Grande do Norte. A esperada retomada do mercado no ano que vem anima até quem não estava habituado a vender o produto. É o caso da paulistana Ecil, fundada como trading há mais de 20 anos e cada vez mais ligada à oferta nacional de pescado. “O camarão é uma alternativa interessante para não dependermos tanto da importação”, reconhece o gerente de vendas, Pablo Rillo. A partir de janeiro, a empresa vai passar a comercializar camarão fornecido pela Compescal/Maris para pequenas e médias redes de varejo, como Negreiros, Pedreira e Boa. “Faremos em embalagens de 200g e 400g, mas acho que o de 200g vai pegar pelo preço unitário e utilização para petisco.”

Pescados com qualidade

Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.

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SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 25

e ocupar uma fatia de mercado pouco explorada. “A meta é tirar camarão de 18g já na primeira fase, quando teremos 400 hectares”, antecipa o diretor comercial, Alexandre Reis. “O sistema é bem parecido com o sistema extensivo do Equador, com densidades de 10 camarões por m2.”

O sabor que faz a diferença


Capa MERCADO Camarões 111/130 e 71/90 ganharam mais espaço, enquanto 36/40 teve de criar novos formatos; entre os grandes, surpreende o preço da bandeja de 500g do Rosa Extra

nesta abertura”, indica o presidente-executivo, José Antonio Camposano.

de Camarão (ABCC) obteve liminar favorável à suspensão até a realização de uma Análise de Risco de Importação contemporânea; a Associação Brasileira dos Bares e Restaurantes (Abrasel) reagiu e interpôs um Agravo de Instrumento, já julgado com decisão favorável aos importadores.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 26

O princípio da precaução sanitária continua norteando a argumentação da ABCC, enquanto nos bastidores se fala que a insistência do Mapa na liberação se deve a reclamações do Equador de uma balança comercial muito deficitária em razão da soja brasileira. Em meio às discussões, parece se desenhar uma briga política que terá como palco a nova Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) – cuja recriação teve a ABCC como uma das principais apoiadoras.

Importação à vista Enquanto o fluxo de camarão argentino contrabandeado só cresce, nenhum grama de vannamei equatoriano entrou por vias legais no País. Juridicamente não há mais nenhum impedimento: depois de a SDA/MAPA liberar as importações no início do ano, a Associação Brasileira dos Criadores

A Câmara Nacional de Aquacultura (CNA) do Equador já está com as mangas arregaçadas, mas por enquanto prepara uma contestação oficial ao governo brasileiro pela demora na emissão dos registros de produtos no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa). “Em fevereiro completaremos um ano sem que a abertura ou a celebração efetiva do comércio tenha acontecido. O Equador vai insistir de maneira mais enérgica

A ABCC insiste que a importação da cauda congelada pode trazer doenças não existentes no Brasil capazes de ameaçar a carcinicultura nacional. Daniel Lanza, especialista em genética e biologia molecular da UFRN apresentou em palestra na última Fenacam e na edição de novembro da revista da entidade inúmeros estudos que apontam conservação do vírus inativo em produtos congelados. “Mesmo o congelamento rápido não elimina a infectividade de alguns tipos de vírus. Aquilo vai para o restaurante, depois do preparo vai pela rede de esgoto, pode chegar ao ecossistema, ao estuário e depois aos viveiros.” Outro receio elencado por ele é o aumento da variabilidade genética do vírus da mancha branca. “A mancha branca do Brasil com a do exterior pode gerar uma terceira variante, com uma recombinação por DNA. A consequência disso é que fica muito mais difícil definir linhagens de resistência.” A argumentação do professor endossa uma vertente conspiratória entre alguns produtores de que a abertura pode embutir uma estratégia para prejudicar a carcinicultura brasileira – única que poderia fazer frente aos equatorianos, líderes sul-americanos. Fato é que o Equador ainda não sente a concorrência: deve fechar o ano com 14% de crescimento sobre o ano passado, aproximando-se de 400 mil toneladas quase integralmente exportadas, enquanto o Brasil deve chegar a 100 mil toneladas só em 2019, segundo projeção do GOAL. O México, que em 2013 produziu apenas 48 mil toneladas por conta da Síndrome da Mortalidade Precoce (EMS), cresceu 100 mil toneladas em apenas quatro anos.


SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 27


Capa MERCADO

Preço nas alturas Extra Hipermercado Amasa Rosa descascado congelado

2017: R$ 74,90

Potiporã descascado cozido congelado

2017: R$ 47,90

41/60

400g

111/130

400g

Av. R

icar

St. Marche

Pão de Açúcar Dell Mare descascado cozido congelado

2016: R$ 61,99 2017: R$ 76,90

71/90

Bomar descascado congelado

2017: R$ 62,90

400g

Qualimar Gold Line Rosa com cauda

Qualitá descascado cozido congelado

2016: R$ 72,99 2017: R$ 66,90

MÉDIA 2016

2017: R$ 109,90

71/90

%

111/130 400g R$ 52,53

11,1%

R$ 60,45

40,0%

R$ 77,80

28,1%

71/90 400g R$ 43,17 36/40 400g R$ 60,74

400g

31/35

400g

afet

400g

MÉDIA 2016

R$ 47,29

71/90

do J

Em uma r ota de 8km na zo na sul de São Paulo, pe rcorremo s as principais redes de varejo para cons tatar: o ca marão continua m uito acima dos preços inte rnacionais


PREÇOS DO CAMARÃO 1 KG EX-FRIGORÍFICO (DESCASCADO CRU E CONGELADO, EXCETO QUANDO INDICADO DE OUTRA FORMA) Nova York (18 set a 22 set) | Espécie padrão: Litopenaeus vannamei de cultivo | US$ 1 = R$ 3,281 (11/12/17) | 1 lb = 0,453592 kg Argentina (Pleoticus meulleri)

Un/15

16/20

21/25

26/30

R$ 39,78

R$ 35,81

R$ 32,55

R$ 30,02

R$ 39,78

R$ 35,08

R$ 32,91

R$ 30,02

China (EZPeel IQF)

31/35

36/40

41/50

51/60

61/70

71/90

91/110

R$ 27,49

R$ 26,76

R$ 24,59

R$ 20,98

R$ 27,13

Equador

R$ 47,02

R$ 38,34

R$ 31,47

R$ 30,38

R$ 28,93

Índia

R$ 40,87

R$ 34,72

R$ 32,55

R$ 29,66

R$ 29,30

R$ 26,76

R$ 40,87

R$ 34,72

R$ 32,55

R$ 29,66

R$ 29,30

R$ 26,76

R$ 39,78

R$ 33,27

R$ 31,10

R$ 28,93

R$ 40,87

R$ 34,72

R$ 32,55

R$ 29,66

R$ 29,30

Indonésia

R$ 53,17

México Tailândia Américas Central e do Sul MÉDIA MUNDIAL PREÇO 2016 [Nova York (28 nov a 2 dez)] x 2017

R$ 28,57

R$ 27,49

R$ 26,04 R$ 26,76

R$ 47,02

R$ 38,34

R$ 31,47

R$ 30,38

R$ 28,93

R$ 28,57

R$ 27,49

R$ 26,76

R$ 24,59

R$ 20,98

R$ 46,47

R$ 41,75

R$ 36,03

R$ 32,10

R$ 30,12

R$ 29,11

R$ 27,94

R$ 26,88

R$ 26,76

R$ 24,59

R$ 20,98

-6%

-2%

-8%

-9%

-12%

-10%

-8%

-6%

-5%

3%

-4%

Fonte: USA Department of Commerce/NOAA/NMFS | Elaboração REDES & Seafood/Seafood Brasil

Carrefour Hipermercado New Fish Vermelho descascado congelado Médio 400g

Vivenda do Camarão (Shop. Plaza Sul) PREÇOS 2017 Strogonoff de camarão

2017: R$ 29,90

R$ 29,90

Costa Sul vermelho s/ cabeça congelado

Moqueca de camarão

2017: R$ 39,90

36/40

400g

Macarrão com molho de camarão ao catupiry

R$ 29,90

R$ 28,90

Risoto de camarão ao provençal

Camarão 4 queijos

R$ 29,50

R$ 31,90 Paella Vivenda

R$ 30,90

Shrimp salad

R$ 31,90

2017: R$ 54,96

Bom Peixe vermelho descascado

2017: 19,98

36/40 201/300

400g

400g

s Filho

Swift descascado pré-cozido congelado

gunde

Av. Fa

Swift Mercado de Carne

Walmart Supercenter Dell Mare descascado cozido congelado

2017: R$ 47,14

Great Value inteiro cozido congelado

iro

Rua

ne Car

a

unh

C da

2016: R$ 12,98 2017: R$ 14,98

71/90

150

400g

200g


Capa PRODUÇÃO

Limpeza de reprodutores é uma das linhas de trabalho para evitar rebote de doenças a partir dos laboratórios

Em fase de muda Carcinicultura assiste a consolidação nas larviculturas e recuperação gradual da produção pós-doenças com novos manejos e sistemas polifásicos, mas alta nos custos de produção e recuperação de margens ainda é barreira para baixar preços

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 30

A

pré-adolescência chegou para a Feira Nacional do Camarão (Fenacam) e com ela as oscilações de humor típicas da idade. Com 14 anos de vida completados entre os dias 15 e 18 de novembro, o evento capturou o sentimento de renascimento e otimismo da atividade pós-mancha branca, mas também evidenciou preocupações com os custos de produção, a convivência com os atuais e futuros desafios sanitários e a chegada do produto importado. O embaixador da carcinicultura brasileira engrossou a voz logo na abertura da feira e reiterou ao longo

dos demais dias, sempre quando lhe davam um microfone, a apaixonada defesa aos produtores nacionais. Mesmo sem perder o entusiasmo, mostrou certo cansaço. “É preciso ter cometido muito pecado para ser presidente de uma associação como a ABCC”, disse Itamar Rocha, bem humorado. A exemplo do setor, porém, a entidade parece ter despescado mais vitórias que derrotas. Arrecadou quase meio milhão de reais com empresas e afiliadas regionais para lutar contra a Abrasel e participar da 2a Revisão Quinquenal da Ação Antidumping dos Estados Unidos. Se por um lado viu o Desembargador Kássio Nunes acatar

o agravo da Abrasel pró-importação (o magistrado ainda pode reconsiderar), conseguiu a exclusão do Brasil do antidumping enquanto China, Tailândia, Índia e Vietnã permanecerão por pelo menos mais cinco anos. Em 2017 Rocha também esteve mais tempo em Brasília que na Paraíba, seu Estado Natal, e endossou a recriação da Seap. Em contrapartida deve participar ativamente da elaboração do decreto regimental para transferir a sanidade à nova estrutura e, assim, tirar do Mapa a atribuição sobre eventuais análises de risco de importação – briga que se desenrolará em meio às próximas eleições gerais. Em São Paulo, apresentou-se na


Enquanto tudo isso seguiu na esfera institucional, o campo aprofundou as mudanças introduzidas forçosamente pela mancha branca. E foram muitas, que já se expressam no custo de produção. De acordo com o projeto Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o custo total subiu 34% para o camarão de 10g cultivado em sistema monofásico (só engorda). Os autores da pesquisa, Rafael Simões Coelho Barone, João Marcos Meneghel de Moraes, Rafaela Gordo Correa, do Pecege/Esalq/USP, avaliaram três regiões produtoras (CE: Acaraú, Aracati e Jaguaruana; RN: Natal). Constataram mudanças importantes entre 2015 e 2017. “A densidade de estocagem final em Acaraú-CE e Aracati/Jaguaruana-CE passou de 20 e 24,5 para 7,4 e 6,5 camarões/m2, respectivamente.” Com menos ração, cai o acúmulo de resíduos nos viveiros e a suscetibilidade a doenças. Diante de taxas de sobrevivência até 46% menores no período, os produtores capazes de investir em sistemas polifásicos intensivos o fizeram. Mas são poucos que podem arcar com um custo tão elevado. “Fica em torno de R$ 1,2 milhão por hectare implantado, com custo de manutenção muito alto”, calcula Orígenes Monte, presidente da Associação Norte-Riograndense de Criadores de Camarão (ANCC). O empresário é uma referência na intensificação de sistemas fechados, com controle de temperatura, aeração intensiva, drenagem de fundo, recirculação de água e controle rigoroso da alimentação.

Alguns destes sistemas em funcionamento no Brasil chegam a alcançar produtividade de 40 mil kg por hectare com 700 camarões por m2. Só que a realidade de mais de 70% dos carcinicultores brasileiros ainda é outra: áreas entre 1 e 7 hectares extensivos, 10 camarões por m2, renovação de água constante e baixa produtividade. Boa parte destes produtores preferem não arcar com os custos de ração e nutrem os animais apenas com alimentação natural, estendendo os ciclos de cultivo para mais de 100 dias.

Laboratórios pós-mancha branca Os dois sistemas têm algo em comum: a dependência de uma larva cada vez mais específica. A maior demanda por soluções customizadas já impacta profundamente os laboratórios de produção de pós-larvas (PLs), como constatou a Seafood Brasil em visitas a algumas das principais estruturas do País (confira a partir da pág. 36). Em 2016, o Rio Grande do Norte voltou a liderar a produção nacional de formas jovens para a carcinicultura com 48,7% de participação, enquanto o Ceará respondeu por 48,1%, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal, do IBGE. Apesar de terem produzido praticamente os mesmos volumes (6,15 milhões de milheiros contra 6,07 milhões de milheiros), a larva potiguar foi vendida em média a R$ 10,1 o milheiro, enquanto a cearense ficou em um patamar médio de R$ 8,1. A experiência de conviver com a mancha branca desde 2011 foi determinante para chegar a este desempenho, como explica Ana Carolina Guerrelhas, sócia e fundadora da Aquatec, instalada na Barra do Cunhaú, em Canguaretama. “Quando a doença entrou o RN sofreu muito porque o preço do camarão era baixo e não se tinha conhecimento das tecnologias atuais. O Estado foi tremendamente penalizado

Movimento frenético: após queda de demanda e ociosidade em 2016, laboratórios veem retomada em 2017

porque a mancha branca veio e varreu todos os cultivos.” Diante de sobrevivências médias que despencaram de 80% para 20-30% nos viveiros com a doença, cresceram então duas vertentes de trabalho nas fazendas que passaram a influenciar os laboratórios. Uma era focada em baixa densidade com camarão maior e demandava larvas de crescimento, enquanto outra buscava animais de resistência para maior sobrevivência em modelos de cultivos intensivos trazidos da Ásia. A Camar TecMares, também na Barra do Cunhaú, conseguiu produzir larvas cuja sobrevivência nas fazendas crescia para 50-60%. “Essa larva teve uma repercussão fantástica e coincidiu com a entrada da mancha branca no norte do RN e no CE”, reconhece Ana Carolina. O segredo dos resultados estava no foco na resistência: os animais eram enviados a viveiros com desafios e os sobreviventes separados, em um processo contínuo de seleção e cruzamento.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 31

Fiesp como um eventual candidato a senador capaz de defender toda a cadeia produtiva. Em Sergipe, viu a Assembleia Estadual aprovar com o seu nome uma lei que regulamenta a carcinicultura no Estado.


Capa PRODUÇÃO Saída aos pequenos: de ostra orgânica ao consórcio com pangasius A intensificação dos cultivos não se aplica a qualquer perfil de produtor, não só pelo alto investimento associado à implantação. Uma outra corrente prega um cultivo totalmente orgânico, sem a introdução de ração, antibióticos, estufas ou aeração intensiva. A maior expoente desta vertente é a Primar Orgânica, uma fazenda de camarões e laboratório de produção de sementes de ostra e até cavalo marinho em Tibau do Sul, perto de Pipa (RN). A estrutura é o principal legado deixado pelo biólogo Alexandre Wainberg. “O objetivo aqui é cultivar e tirar biomassa variada com o mais baixo impacto possível”, explica a designer Marcia Kafensztok, que assumiu a atividade da fazenda após a morte do marido, em 2015. Desde 2003 a estrutura é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD) está se convertendo em um centro de estudos voltados à aquicultura orgânica, turismo sustentável e gastronomia. Na fazenda, os camarões estocados em densidades de 4 animais por m² comem o alimento natural do próprio viveiro, em que coabitam os crustáceos, algas, siris, peixes e uma ampla fauna aquática. Já o laboratório de sementes de ostra tem a segunda maior produtividade do Brasil depois da UFSC e um cliente de peso: o Sebrae. “Havia muitos produtores de ostras na região que coletavam as sementes na natureza”, conta Jonathas Sales, consultor do Sebrae. A Primar foi então um parceiro natural: forneceu inicialmente 120 mil sementes e agora deve fechar uma nova remessa de 900 mil sementes para todos os projetos da entidade no Nordeste. As “Ostras da Pipa”, marca desenvolvida pelo Sebrae aos pequenos produtores, já angaria bons resultados junto ao universo gastronômico local. O cenário já converteu alguns carcinicultores locais em ostreicultores, mas o impacto da mancha branca ainda deixa sequelas na lagoa de Guaraíras e em todo o Estado. Muitos viveiros foram desativados e a situação preocupa o secretário da Agricultura, Guilherme Saldanha.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 32

Instado por produtores desgostosos com a ociosidade, ele foi a São Paulo conhecer as pesquisas realizadas pela professora Luciana Seki Dias no Centro de Aquicultura da Unesp em Jaboticabal com uma nova espécie que desponta como tábua de salvação para alguns produtores. “O panga tem uma conversão alimentar muito melhor que a da tilápia e o Brasil inteiro já o consome”, disse o secretário. O interesse é grande: uma reunião simultânea à Fenacam reuniu mais de 50 curiosos na espécie e já há planos de um workshop tecnológico para 2018 com apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Panga (ABCPanga).

Os resultados aprofundaram uma prática corrente em grandes e pequenos laboratórios: a coleta de animais oriundos de larvas da TecMares para cruzamento com outras variedades. “Enquanto a TecMares selecionou para resistência à doença, a Potiporã até hoje selecionou para variações ambientais. Estamos vendo se a combinação destas duas genéticas dará um bom resultado na larva”, conta o consultor Fá-

bio Expedito, que coordena o trabalho no laboratório da Faif´s, em Galinhos, para 15 milhões de PLs por mês. Em uma escala completamente distinta, a Potiporã está em plena transição de modelo. Em lugar da exposição dos animais a distintos desafios (doenças, queda de oxigênio, salinidades), entrarão a genética e a biologia molecular para a limpeza dos animais. “Estamos gastando

muito em genética, com consultores internacionais, e instalamos um sistema de filtragem da água por ozônio”, conta o empresário Cristiano Maia. Em outra frente de atuação, Maia adquiriu ao longo de 2017 outros dois laboratórios – em Tibau do Sul (RN) e Beberibe (CE) – e está concluindo a negociação de um terceiro em Carnaubinha, distrito de Touros (RN). Este último funcionará como uma espécie de quarentena do primeiro e maior laboratório da empresa, também em Touros, cuja produção atual ultrapassa 300 milhões de larvas por mês – das quais só as fazendas de Maia (Potiporã e Aquisa) compram 205 milhões. As aquisições são parte de um plano ambicioso que contempla inclusive o retorno da Potiporã à exportação até 2019, o que só aumenta a responsabilidade da gerente operacional, Roseli Pimentel Silva. “Não podemos fazer nada errado ou então será um tiro no pé.” Um dos maiores desafios do maior cliente do laboratório é a salinidade dos 1200 hectares de produção extensiva em Pendências (RN). “Hoje a salinidade está em 55 ppm e a gente sabe que agora só chove em março. Devemos chegar a salinidades próximas a 90 ppm, contrariando o que a literatura diz.” Segundo ela, pesquisadores entendem que o camarão não sobrevive a salinidades superiores a 60 ppm. Outra linha de trabalho começa a ganhar corpo nas formas jovens: larvas SPF (do inglês Specific Pathogen Free), completamente livres de determinadas doenças. Se a mudança de paradigma no ano passado foi aprender a conviver com a mancha branca, nesta nova linha de trabalho o segredo é não dar nenhuma condição para ela se desenvolver. Werner Jost, fundador da Camanor, confirmou recentemente a intenção da empresa em construir seu próprio laboratório. “Será direcionado exclusivamente à demanda da Camanor, não temos a pretensão de vender a terceiros. Queremos criar uma pós-larva diretamente para o sistema AquaScience. Ela pode sair tão cara que não valerá a pena para outras empresas.”


ria à importação do camarão do Equador. Os produtores equatorianos, no entanto, rechaçam a acusação e relativizam a preocupação do presidente da entidade. Jose Antonio Camposano, presidente da Câmara Nacional de Aquicultura (CNA) do Equador, aponta contradições, como o fato de o Brasil prosseguir com a importação de insumos potencialmente contaminados – tal qual os cistos de artêmia e moluscos para a nutrição de reprodutores. “Digo porque nós tivemos este problema e estivemos nos Estados Unidos verificando os cuidados sanitários.”

Itamar Rocha, da ABCC, costuma incluir a sigla na argumentação contrá-

O executivo se refere à disseminação de uma vibriose na região de Mar

Orígenes Monte (ANCC), João Crescêncio (Seap), Itamar Rocha (ABCC) e o governador do RN, Robinson Faria: apoio do governo do Estado foi fundamental para Fenacam retornar à Natal

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 33

A antiga sócia de Jost se preparou para larvas comerciais SPF, mas ainda não vê mercado para isso. “A SPF só serve para mantermos nossas linhas de crescimento, não tenho clientela para isso. Acho que a maioria dos brasileiros vai seguir com adensamento baixo e áreas maiores, o que vai exigir um trabalho político para conseguir mais áreas”, ressalva Ana Carolina. Se o caminho majoritário continuar nesta linha, os laboratórios vão ter de se esmerar para conseguir fazer frente às doenças, não só para os clientes das fazendas. “A EMS é uma bactéria e até então nós só tivemos problemas com vírus. Essa bactéria entra nos laboratórios.”


Capa PRODUÇÃO Consolidação à vista A profusão de laboratórios de pós-larvas a partir da década de 2000 foi um fenômeno guiado por tudo, menos pela excelência técnica. Era puro negócio: produzia-se a larva a R$ 3 e vendia-se a R$ 9. Alguns pioneiros assistiram à ascensão e queda de vários concorrentes, como foi o caso de Cesar Silva, que trabalha com larvicultura desde 1979 e fundou a Aquamar – pequeno laboratório em Nísia Floresta comprado pela Potiporã. A área de 2.200 m² será repassada em breve ao conglomerado de Cristiano Maia para dar suporte ao trabalho de melhoramento genético das larvas. Silva chamou a atenção pela inovação que aplicou em processos diversos. Na maturação, por exemplo, desenvolveu um controle automático do fluxo de água para regular a qualidade da água durante a introdução de alimentos naturais. Na nutrição, empregou alimentadores automáticos. Para minimizar os invernos rigorosos, desenvolveu um sistema caseiro de aquecimento de água. “Nosso trabalho é bem artesanal, aceitamos testes de todo tipo. Fazemos acompanhamento, controle de microscopia e desenvolvemos um protocolo. Este tipo de flexibilidade só se encontra em laboratórios pequenos”, conta Silva. O filho, Thiago, deve continuar na empresa para dar suporte à transição, que só ocorreu, segundo ele, porque não havia recurso compatível com o salto tecnológico necessário. “Fizemos tudo o que podíamos e o próximo passo era o melhoramento genético, que só uma empresa como a Potiporã, com fazenda própria, pode fazer.” Será este o destino de todos os laboratórios de pequeno porte? Bravo, onde estão 70% dos laboratórios equatorianos. Boa parte destas estruturas era de pequenos empresários que, diante da forte demanda por pós-larvas, não tomaram medidas de precaução e, posteriormente, não tiveram recursos para afrontar o problema. O Equador tem uma das

larvas mais baratas do mundo (US$ 1,20, contra US$ 4 do México, por exemplo). “As fazendas chegaram a aumentar as densidades em 25%, provocando uma redução nos dias de vazio sanitário e com este valor de venda não tinham necessidade e condições de incrementar custos.”

Quando grandes laboratórios também foram atingidos, no fim do ano passado, a CNA entrou em ação: reativou uma área de gerência técnica e criou um processo de checklist mínimo de adequação e adaptação em infra-estrutura. Por outro lado, o governo intercedeu em práticas comuns, conforme

SISTEMAS DE PRODUÇÃO X RECEITA X CUSTOS E MARGENS | 2015 E 2017 (PESQUISA DIVULGADA EM SETEMBRO/2017) ACARAÚ (CE) 2015 2017 Sistema de produção (fases)

monofásico

Duração do ciclo (dias) Densidade final de estocagem (un./m²) Produtividade (t/ha)

bifásico

monofásico

bifásico

NATAL (RN) 2015 2017 monofásico

%

bifásico

105

65

-38%

100

90

-10%

100

95

-5%

20

7,4

-63%

24,5

6,5

-73%

3

3,9

30%

2

0,5

-75%

2,45

0,65

-73%

0,45

0,39

-13%

Conversão alimentar

1,3

0,7

-46%

1,4

1

-29%

1,6

1,4

-13%

Sobvrevivência média (%)

80

43

-46%

70

65

-7%

30

35

17%

Peso de abate (g)

10

7

-30%

10

10

0%

15

10

-33%

RECEITA, CUSTOS, MARGENS E LUCRO SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 34

ARACATI/JAGUARUANA (CE) 2015 2017 %

%

Receita bruta unitária Custo Operacional Efetivo Custo Operacional Total

%

R$/KG

R$/KG

%

R$/KG

%

R$ 12,00

R$ 18,00

50%

R$ 12,00

R$ 20,00

67%

R$ 18,00

R$ 25,00

39%

R$ 7,90

R$ 11,52

46%

R$ 10,10

R$ 13,08

30%

R$ 12,20

R$ 14,45

18%

R$ 8,67

R$ 11,94

38%

R$ 11,20

R$ 15,88

42%

R$ 15,08

R$ 15,79

5%

R$ 10,10

R$ 11,96

18%

R$ 12,12

R$ 16,27

34%

R$ 19,64

R$ 16,27

-17%

Margem Bruta

R$ 4,10

R$ 6,48

58%

R$ 1,87

R$ 6,92

270%

R$ 5,80

R$ 10,55

82%

Margem Líquida

R$ 3,33

R$ 6,06

82%

R$ 0,80

R$ 4,12

415%

R$ 2,92

R$ 9,21

215%

R$ 1,90

R$ 6,04

218%

-R$ 0,12

R$ 3,73

3208%

-R$ 1,64

R$ 8,73

632%

R$ 6.660,00

R$ 3.030,00

-55%

R$ 1.960,00

R$ 2.678,00

37%

R$ 1.314,00

R$ 3.591,90

173%

Custo Total

Lucro Margem líquida por ha (R$)

Fonte: Campo Futuro CNA | Pecege/Esalq/USP


conta Sonnya Lombana, gerente geral da consultoria Nova Gestión. “As microalgas eram compradas de terceiros e vinham com grandes cargas bacterianas. Agora o governo obriga que cada laboratório produza sua própria alga.”

Estande da Camanor na Fenacam: feira teve bastante movimento e clima de otimismo nos corredores

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 35

Embora os produtores não queiram saber de produto equatoriano por aqui, os especialistas de lá são bem-vindos. Afinal, eles praticamente riscaram a mancha branca da lista de ameaças sanitárias. “Não temos mais problemas de mancha branca porque fizemos seleção genética de acordo com a região. Cada uma tem linhas específicas para cada lugar. A região mais afetada tem uma variedade genética mais resistente a enfermidades e com baixo crescimento, outras se concentram em mais crescimento com menos resistência”, complementa Sonnya. Seja pelos problemas ou soluções, os laboratórios brasileiros têm em quem se espelhar.


Capa AQUATEC Fêmea fecundada: maturação ocorre em sistemas cada vez mais controlados

O nome da larva

H

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 36

á algumas marcas capazes de redefinir o produto que representam – Gilette é o exemplo mais clássico desta figura de linguagem denominada metonímia. No mundo das pós-larvas de camarão, Aquatec é um nome forte. Pioneirismo, direcionamento técnico e estabilidade na qualidade e fornecimento são alguns dos fatoreschave elencados pela fundadora, Ana Carolina Guerrelhas. “Temos estabilidade de resultado e padrão de produto. É muito complicado dizer que um bicho está padronizado, mas fazemos isso como ninguém há 30 anos.” O primeiro laboratório comercial de pós-larvas do país abriu oficialmente as portas em 1987 depois de um processo de amadurecimento dos negócios dos sócios Werner Jost e Ana Carolina. À época, Jost “caçava” as larvas da Maricultura da Bahia, em Valença (BA), mas a falta de regularidade o empurrou para a produção própria na Barra do Cunhaú, em Canguaretama (RN). O suíço enxergava uma demanda inexplorada no País, apesar da carcinicultura

incipiente daqueles dias. “Nesta época ainda se fazia pesca de larvas selvagens. Foi então que Werner sugeriu construir um laboratório comercial para atender não só à demanda da própria fazenda [Camanor], mas de outros produtores”, relembra Ana Carolina. A bióloga marinha era a parceria certa para isso: já havia acumulado experiência com espécies nativas de água doce no Amapá e com o próprio Litopenaeus vannamei na Bahia. Depois de iniciarem a produção com L. Schmitti e P. Subtilis, em 1992 os sócios resolveram apostar no crustáceo do Pacífico. Os indicadores de crescimento e sobrevivência da espécie exótica logo apontaram o caminho da revolução no negócio. “Produzíamos cerca de 5 milhões de pós larvas por mês. Quando passamos ao vannamei, logo no início foram 25 milhões de pós-larvas em um mês.” Ana e Werner resolveram expandir a estrutura quando o potencial do negócio ficou claro e atraiu outros empresários interessados em construir seus próprios laboratórios. A arquiteta

Maria Claudia Menezes, atual sócia e gerente operacional, então entraria para dar suporte a duas grandes ampliações realizadas nos anos de 93 e 96, que elevaram a capacidade produtiva para 360 milhões de pós-larvas anuais. Enquanto Maria Claudia tocava as obras, Ana e Werner continuavam a viajar pelo exterior para garantir a compra dos reprodutores e se atualizar sobre o negócio. Em um evento sediado em Honduras, conheceram o trabalho de melhoramento genético do salmão desenvolvido pela Akvaforsk e perceberam que aquela era a chance de resolver dois problemas: a dependência de reprodutores importados e a falta de PLs para a expansão desenfreada da engorda. Inicialmente, o trabalho se concentrou no desenvolvimento de uma linhagem de crescimento. “Em 95 não se pensava em cultivo intensivo, nem tínhamos as doenças principais de hoje. Começamos a investir em crescimento e ficamos encantados, porque o crescimento passa muito fácil de uma geração pra outra, diferentemente da resistência”, justifica Ana.


Biossegurança é mandatória no laboratório em Barra do Cunhaú, mas não se compara às exigências do centro de pesquisa genética da filiada Genearch

Os avanços foram diversos e um deles perdura até hoje: “Se você quer crescimento, é preciso se manter isolado das doenças. Aprendemos com eles como fazer um programa sanitário de controle de entrada de doenças”. A primeira medida foi evitar a introdução de reprodutores de outras fazendas e fazer uma transição gradual para a produção exclusiva dentro do laboratório. A outra foi transferir todo o trabalho de melhoramento genético para uma nova estrutura na praia de Pititinga, a 55 km de Natal. Nascia assim a Genearch. “Tenho quase mil hectares de produção aqui. É impossível manter esse laboratório num estado sanitário 100%, então ali temos todo o material genético livre de doenças desde 2006”, sublinha Ana. A estrutura, com 25 funcionários, é o eixo

central do programa focado em alto crescimento da Aquatec, que ampliou forçosamente após o desembarque da mancha branca no RN, em 2011. A doença penalizou primeiro as larvas de alto crescimento, reduzindo as taxas de sobrevivência nos viveiros de 80% para até 20%. Outros dois laboratórios especializados em resistência, Potiporã e Camar TecMares, começaram a mostrar sobrevivências surpreendentes para aquele cenário e se sobressaíram. Ou a Aquatec entrava na onda da resistência ou ficava de fora do negócio. “O nosso foco hoje desde 2015 é procurar uma forma de fazer o segundo produto da Aquatec ser um produto de resistência. Para justificar esse tamanho de laboratório nós precisamos de um segundo produto.” Em 2014, por meio de uma parceria com a cearense Bomar, começou a adaptar um laboratório para um trabalho focado na resistência em Cajueiro da Praia (PI). Enquanto não havia doença o negócio ia bem, mas em 2016 foi a vez de o Ceará também sentir o golpe da mancha branca e a pressão advinda da queda da demanda fez os sócios discordarem sobre os rumos do projeto e extinguirem o acordo em novembro de 2017. Dois anos antes, Jost já havia saído da sociedade para se concentrar exclusivamente no projeto do AquaScience. Hoje, a Aquatec aposta na diversificação para manter o aumento da proje-

Maria Claudia Menezes e Ana Carolina Guerrelhas: sócias têm o desafio de compatibilizar programa de crescimento com demanda por resistência

ção de vendas, uma vez que o laboratório opera com 70% da capacidade total de 250 milhões de PLs/mês. Atualmente, 60% do faturamento anual de R$ 15 milhões (devem fechar 2017 com R$ 16,8 milhões) provém da linhagem de crescimento. “40% é de resistência que é uma cópia da Tecmares, a partir da qual produzimos as próximas gerações”, reconhece Ana. “Todo mundo faz isso para ter a oportunidade de entrar em fazendas de desafio”, ressalta.

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 37

O negócio se expandiu de tal forma que despertou o interesse da inglesa Sygen, especializada em melhoramento genético de suínos. “Eles tinham um problema de diversificação e resolveram começar com camarão. Queriam que a Aquatec fosse um dos multiplicadores de material genético de crescimento do mundo.” Fecharam negócio em 2003, mas mantiveram os sócios. Três anos depois, depois de terem sido adquiridos por outro grupo, os ingleses abandonaram o trabalho com os crustáceos em meio à grave crise pela qual passava a carcinicultura e revenderam a empresa para Ana, Jost e Maria Cláudia.


Capa POTIPORÃ

Consultor Daniel Lanza e a gerente operacional Roseli Pimentel na nova estação de tratamento de água por ozônio do laboratório da Potiporã, em Touros (RN)

SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 38

“Temos o maior cliente do Brasil”

D

urante a negociação que surpreendeu o mercado em agosto do ano passado, a Queiroz Galvão só aceitou concluir a venda da Potiporã para Cristiano Maia quando os mais de 1000 hectares de lâmina d’água da fazenda de Pendências (RN) passaram a fazer parte do negócio. O empresário decidiu então arrematar toda a estrutura que a empresa havia montado para a engorda, embora seu interesse inicial fosse o laboratório instalado em Touros (RN).

“Dr. Cristiano era meu maior cliente”, conta a gerente operacional, Roseli Pimentel Silva, há 11 anos na empresa. “Depois da própria Potiporã, o maior cliente era a Aquisa [Aquicultura Samaria], a fazenda dele no CE.” O motivo era simples, segundo a especialista. “Ele queria o laboratório porque era a única larva que dava certo na fazenda dele.” Maia comprovava na pele o rigor na produção das PLs resistentes a variações ambientais que a equipe de Roseli era capaz de fazer.

Quando o laboratório efetivamente trocou de mãos, Roseli ganhou completa autonomia para tocar a estrutura. Ela abraçou a oportunidade e hoje já colhe resultados, como o novo equipamento de tratamento da água com ozônio – uma demanda levantada pela gerente prontamente atendida pelo novo chefe. Instalado em novembro, o sistema desinfeta toda a água do laboratório e foi responsável por uma melhora imediata dos indicadores de sobrevivência. “Fizemos todos os


A introdução do ozônio é a mais recente etapa de uma série de transformações na filosofia de trabalho. Antes da aquisição, a linha era orientada pela consultoria da franco-equatoriana Concepto Azul, que em síntese expõe as PLs a diversos riscos sanitários, selecionando os exemplares com os melhores indicadores de sobrevivência e crescimento em meio aos desafios. “Em um primeiro momento, nosso programa tinha sido muito exitoso para o vírus causador da NIM [mionecrose infecciosa], mas quando chegou a mancha branca percebemos que precisávamos repensar.” Com a coexistência de dois vírus nos cultivos, a transferência da resistência de geração em geração ficou comprometida e os animais produzidos mostravam boa resistência apenas para um dos patógenos ao mesmo tempo. O laboratório então se viu obrigado a buscar outra linha de trabalho, focada no melhoramento genético dos animais. Foi quando a Concepto Azul saiu para a entrada dos panamenhos da OneLab, responsável por auxiliar no desenvolvimento de um programa exclusivo de melhoramento genético. “Hoje estamos buscando um animal mais robusto e variabilidade genética, o processo inverso do que vínhamos fazendo”, indica Roseli. Um dos testes realizados envolveu o cruzamento de 32 famílias ao acaso, com foco na distância genética. Com todas dentro de um único viveiro, os animais foram despescados e deles foram extraídas 2 mil amostras para checar a porcentagem de cada família dentro daquele universo. “Tivemos representação das 32 famílias, mas as sobrevivências variavam de 69% a 1%.” A próxima etapa é fazer a

seleção e posterior cruzamento das famílias com uma média consistente de sobrevivência. O paradigma do crescimento x sobrevivência é equilibrado dentro desta nova orientação, como explica Roseli. “O peso da sobrevivência é 70% e o peso do crescimento é 30%. Se eu tenho uma família de excelente sobrevivência que não cresce, é perda financeira. Nossos testes de campo não refletem a concepção de que famílias de boa sobrevivência crescem pouco. Existem famílias que atendem os dois critérios.” Em paralelo, a Potiporã desenvolve um trabalho intenso de “limpeza” dos animais. As matrizes passam por uma quarentena e testes de PCR avaliam a presença de doenças mesmo em animais assintomáticos. “Ainda assim dá cerca de 30-40% positivo e eu tenho que descartar. O animal está aparentemente saudável, mas é portador. O problema do reprodutor positivo é fazer uma prole de larvas positivas.” Quem faz o diagnóstico e a sanidade dentro dos preceitos da biologia molecular dentro do laboratório é o Dr.

Daniel Lanza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele desfaz um dos mitos associados à mancha branca: a doença “pegaria” mais no inverno. “Quando o animal está em um ambiente estável, a carga viral se mantém e não se notam os sintomas, mas com uma variação térmica surge o estresse e, portanto, a replicação viral.” A equipe coordenada por Lanza é capaz de atestar a presença de DNA e RNA e o tamanho da carga de inúmeros vírus e bactérias, inclusive a própria EMS. “Por que a gente ainda não fez isso? Porque nunca tivemos uma amostra com EMS, e não seremos loucos de trazer”, brinca. O segredo é se antecipar investindo pesado em um programa de expedição de larvas limpas, assumindo o custo do descarte de reprodutores contaminados. “Tem que ter muito sangue os olhos. Isso tem um custo elevado e esse é nosso diferencial, porque às vezes perdemos dinheiro para a fazenda ter o lucro. Quem vive apenas do laboratório não pode perder dinheiro”, avalia Roseli. “Quando a EMS chegar, a gente acredita que sairá na frente”, conclui.

Fêmeas tem pedúnculo ocular removido para evitar inibição de hormônio estimulador da reprodução

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estudos prévios e contratamos uma empresa muito séria, a Brazil Ozônio, fizeram bioensaios ao longo de uma semana. Em duas semanas, já batemos recordes de sobrevivência.”


Capa LARVI

Desinfecção e aplicação mensal de cal é um dos diferenciais do laboratório instalado em Barreiras, que recebe pesquisadores de todas as partes do mundo

Fruta que amadurece no pé

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N

a Larvi Aquicultura, pequeno laboratório instalado em plena Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, em Barreiras (RN), as pós-larvas amadurecem como frutas no pé. “Aqui só trabalhamos com apenas uma fase e não aceleramos o processo natural do animal”, sublinha a diretora, Jaqueline Medeiros. Sob sua orientação, todo o processo de conversão dos náuplios em PL14 leva 20 dias e acontece de forma a encontrar um equilíbrio dos parâmetros químicos, físicos e biológicos ideais.

Ambas reconhecem que os métodos encarecem o custo da pós-larva, mas elas não abrem mão. “Sabemos que faz a diferença porque já fizemos testes de tanques e é nítido o desempenho da pós-larva”, conta Erica. Ela dá o exemplo de um cliente que fazia testes de estresse, baixando nível de oxigênio, introduzindo doenças etc. “Eles diziam que as nossas pós-larvas eram as mais fortes, então reforçamos esta linha de trabalho para fortalecer o animal.” Há outras inovações em curso, como imunoestimulantes naturais, mas a empresa prefere não entregar os detalhes.

A estrutura já produziu em torno de 43 milhões de pós-larvas ao mês em apenas um ciclo, mas se estabilizou em 30 milhões – resultado de uma combinação de rigor na bioseguridade e biossegurança e administração de produtos naturais aos animais. “Trabalhamos numa linha natural sempre, da desinfecção ao cultivo em si. Não utilizamos antibióticos, mas probióticos, alho, limão, chá preto etc”, conta Érica Araújo, gerente de produção do laboratório. O alho e o limão entram na hidratação das rações, enquanto o chá é usado como bactericida na produção de artêmias.

Em tempo de mancha branca e outras ameaças sanitárias, a Larvi adotou diversas medidas ao longo dos 15 anos de funcionamento. Tudo começa na captação de água, feita no braço de mar que passa por um manguezal. Normalmente os laboratórios já têm um cano enterrado na areia, uma espécie de pré-filtração. No sistema da Larvi, há uma primeira filtração mecânica. Antes de entrar nos tanques, elas passam por filtros Jacuzzi com carvão aditivado. A cada cinco dias toda a água é clorada e neutralizada para ser usada em todos os setores do laboratório.

A compra dos náuplios, feita de terceiros, também é um ponto sensível, já que a empresa não consegue controlar todos os riscos sanitários nos fornecedores. “Não posso interferir no trabalho feito em outro laboratório, mas tentamos escolher aqueles com filosofia semelhante à nossa”, sublinha Jaqueline. “É um processo contínuo, precisamos testar sempre e ver se está funcionando. O laboratório de microalgas, por sua vez, é fisicamente separado das demais áreas e visitantes só podem observar por meio de uma janela de vidro. “Percebemos que há contaminação na nossa área externa: esporadicamente víamos a presença de protozoários, então fechamos o espaço”, conta Jaqueline. A transferência do alimento é feito por bomba – em outros locais o processo envolve o transporte de sacos verticais repletos de microalgas. Os dois módulos de produção das pós-larvas (com 8 e 6 tanques) também são cobertos em estufas trazidas de Holambra. A temperatura da água oscila entre 30oC e 31oC sem o uso de aquecedores. “Essa cobertura é para não ter perda à noite, cobrimos no fim


Jaqueline Medeiros e Érica Araújo: introdução de produtos naturais e respeito ao ritmo de desenvolvimento do animal são marcas da Larvi

da tarde porque isso estabiliza os parâmetros”, explica Jaqueline. Nos tanques, a coluna d’água tem 2 metros de profundidade, o que diminui a densidade do povoamento e reduz o estresse do animal. Quem anda pelos corredores e áreas livres da estrutura percebe o branco imaculado das paredes, que não tem apenas função estética. A inspiração é nas pocilgas, que usam o óxido de cálcio, ou cal, para limpar e desinfetar as instalações. “Todos os meses fazemos essa aplicação. Primeiro queimamos todo o piso interno do laboratório com maçarico. Depois de uma limpeza minuciosa, tudo é pintado com cal”, detalha Jaqueline.

O cenário lembra uma paisagem do Mediterrâneo com as casas encravadas nas montanhas, mas o sol inclemente e o manguezal ao fundo

acaba com as dúvidas: estamos no berçário de um dos melhores camarões do Brasil, em pleno semi-árido nordestino.

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MERLUZA PREMIUM CONGELADA A BORDO


Capa FAIF´S

Fazenda e laboratório da Faif’s estão instalados em pleno parque eólico, mas a energia não vem das pás

“Mancha branca vai deixar de ser problema”

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V

iveiros de engorda e laboratório convivem na mesma fazenda de 52 hectares da Faif’s Maricultura encravada no meio do Parque Eólico Rei dos Ventos, em Galinhos (RN). A engorda segue o modelo extensivo (15 camarões por m2) e foi projetada em “L”: 10 viveiros de 3 hectares e 11 viveiros de 1 hectare. A mancha branca também passou por ali e deixou sequelas, como explica André Seabra, gerente administrativo da fazenda e do frigorífico, instalado em Parnamirim (RN). “Antes da doença a gente conseguia tirar quase 100 toneladas, agora tiramos até 3 toneladas por viveiro em ciclo de 90 dias com camarão de 7,5 g.” O volume atual é de 15 toneladas mensais, todas direcionadas ao abastecimento da indústria, que processa e vende especialmente para clientes do food service do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas já há uma expansão em

curso com a instalação de uma fase de berçário e construção de novos viveiros – o que deve ampliar o volume a uma média de 200 toneladas mensais. Algumas obras também estão em andamento na estrutura do laboratório, de forma a dar mais suporte à produção atual de 15 milhões de pós-larvas por ciclo: a produção de microalgas vai ganhar fabricação própria. O que não vai mudar é a ausência da maturação no local. O consultor técnico da larvicultura, Fábio Expedito, avalia que a reprodução e a larvicultura só podem coexistir em locais completamente adaptados e com isolamento entre as duas áreas. “É melhor que alguém faça o náuplio, eu trazê-lo limpinho para cá e produzo uma larva limpa. Trabalhar com animal de viveiro e larva ao mesmo tempo é complicado.” A captação de animais em viveiros é prática comum no Brasil para o apri-

moramento das linhagens genéticas do vannamei. “Sobrevivia no viveiro à mancha branca? Traziam como reprodutor, tiravam as larvas, mandavam aos viveiros novamente, tirava os sobreviventes; geração após geração isso foi se refinando e a resistência aumentando”, ressalta Expedito, para quem em 10 anos a tendência é que a mancha-branca nem seja mais um problema. “Os animais vão criar resistência por essa seleção.” O consultor teme a chegada de novas doenças bacterianas causadas pelo excesso de antibióticos. É por este motivo que a Faif’s reforça cada vez mais o uso de probióticos, que melhoram a qualidade da água, estimulam a imunidade dos camarões e melhoram a flora intestinal dos camarões. Expedito tem sua marca de preferência, mas cautelosamente testa novas formulações. “Larvicultura é complicado, com um time que está dando certo é melhor não mexer.”


Fábio Expedito e André Seabra em Galinhos: demanda da própria fazenda em ampliação vai consumir quase toda produção do laboratório

durante uma semana depois do ciclo de 19 dias para se produzir uma PL 10 e 21 dias para uma PL 12. Em outra frente de trabalho, as microalgas de terceiros replicadas em tanques verticais externos são transferidas por tubulação diretamente aos tanques de crescimento das pós-larvas.

tempo SPR (Specific Pathogen Resistant) e SPF (Specific Pathogen Free). Aconteceu isso no Equador: a mancha branca é praticamente erradicada por lá porque as larvas já estavam dentro dos laboratórios com resistência.” Como parece ser uma questão de tempo para isso também ocorrer no Brasil, larviculturas como a da Faif’s agora já se permitem preocupar com o próximo desafio sanitário: a EMS.

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O tradicional vazio sanitário também faz parte da política de redução de riscos. A limpeza de todos os tanques e tubulações com ácido e cloro é feita

Outro ponto sensível elencado por Expedito diz respeito à recontaminação de viveiros por larvas. “Nunca iremos erradicar a doença se não limparmos os reprodutores. A larva sai com resistência, mas carrega o vírus de volta para o viveiro.” Ele reconhece que a produção é um desafio, já que o mercado atual demanda larvas resistentes. “É aí que começam os trabalhos de genética em cima desses reprodutores, para se chegar a uma larva que seja ao mesmo


Seafood Brasil

Lourival Jr. e José Noeli, do Walmart: novo modelo logístico para peixe fresco contempla mudanças nas lojas

Ponto de Venda

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Peixarias em transição Novo modelo de entrega centralizada do Walmart aponta caminhos para o varejo transformar logística, diminuir quebras e aumentar rentabilidade

O

celular de Lourival Miguel Jr., comprador regional (SP e Centro-Oeste) de peixaria do Walmart, é uma arma branca não letal na árdua guerra do varejo pesqueiro nacional: é por meio

dela que ele grava e distribui inúmeros vídeos sobre as atividades da peixaria a seus colaboradores, fornecedores e parceiros. Foi ali que ele anunciou, em 25 de janeiro de 2017, que a revolução no abastecimento e na venda de peixe

fresco nas lojas da multinacional estava prestes a começar. O projeto teve início oficial em 02 de fevereiro deste ano, mas começou a tomar forma pelo menos


Luis Palmeira, diretor da New Fish, garante que a centralização é só 5% das vendas atuais da empresa, mas pode chegar a 100%

Ao mesmo tempo, o alto índice de quebras e a baixa lucratividade das peixarias – comum a todo o varejo nacional – guiavam as peixarias frescas no modelo descentralizado para a extinção, se nada diferente fosse feito. “Trabalhávamos com peixe como fazíamos 25 anos atrás e o mundo mudou muito neste período”, diz Lourival. A implantação de uma plataforma de pescado nos moldes da concorrência não se encaixava no mantra Everyday Low Cost pregado pela companhia. Foi então que o executivo, com passagens pelo Carrefour, GPA, Sé Supermercados e Dia, fitou o salmão fresco com outro olhar: se os fornecedores chilenos conseguiam enviar o produto resfriado em caixas de isopor e isso funcionava, por que os produtores nacionais ainda transportavam o peixe em caixas plásticas, condicionando a centralização à montagem de uma plataforma tradicional, sem informações

básicas como o nome científico, validade, informação nutricional etc? Para responder à pergunta, teve o sinal verde da empresa em 2013 para fazer um piloto com o próprio salmão no Refrio, em Itapecerica da Serra (SP), que abriga o centro de distribuição de perecíveis da rede para o Sudeste. Os testes duraram seis meses e foram bem sucedidos. Lourival correu então para replicar o modelo com seus fornecedores, mas enfrentou resistência dos parceiros da época. “Achavam que não funcionaria ou era caro, e não avançou.” Em paralelo, o Walmart iniciava um processo de outsourcing em algumas áreas em busca de ganho de eficiência nas lojas. A terceirização começa na padaria e evolui para outras áreas, chegando ao açougue. A carne bovina moída em bandejas com atmosfera modificada surge como uma das inovações e inspira a equipe da peixaria. Enquanto buscava soluções similares, Lourival recebeu uma ligação de Lino Francisco Faccina, representante comercial da New Fish. A empresa sediada na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) queria uma chance para vender pescado fresco para as peixarias da rede. “Queríamos

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levar a eles um produto pronto, como filé de pescada branca, ou de maria mole, um porquinho limpo etc., facilitando o processo”, lembra Faccina. Foi a fome com a vontade de comer, reforça Lourival: “Ele chega e me apresenta um projeto de caixinhas de isopor para peixes processados. Mas eu enxergava mais além: a possibilidade de ter todo o sortimento recebido em isopor”.

Cortes conge lados de pir a

ru pintad cu, tamba o e qui pra to do o B

rasil.

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dois anos antes a partir de um cenário de adversidades. Terceira força no varejo nacional segundo a Abras, o Walmart não tinha uma plataforma de armazenagem e distribuição para o peixe fresco de que o Carrefour e o GPA dispõem – recebia de dois distribuidores que faziam a entrega pulverizada loja a loja.


Ponto de Venda

o Walmart de forma bem antecipada”, frisa Faccina. Os pedidos passaram a ser feitos às quintas à tarde ou sexta de manhã, para ser entregues às terças – dia (ou madrugada) de maior movimento na Ceagesp.

Implantação

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Apesar do encontro da demanda e da oferta, a concretização do negócio tardou um ano. Lourival apresentou a ideia ao gerente nacional de peixaria, José Noeli, como o primeiro passo de um plano para chegar ao global sourcing de pescado com ATM nas gôndolas. “A companhia tem hoje uma demanda para todas as áreas de empregar todos os esforços necessários para centralizar a operação, diminuindo ao máximo as entregas loja a loja, porque a eficiência da entrega centralizada é muito maior”, ressalta Noeli. Em seguida, começou a preparar o desembarque de alguns fornecedores antigos da rede, que não conseguiriam cumprir as entregas nos moldes do que a New Fish havia proposto: uma entrega centralizada, periódica e com produtos pré-processados para evitar o excesso de manipulação em loja. Com os resultados dos testes com o salmão, outros três pilotos foram implantados nas lojas de Osasco, Tamboré e Pacaembu. O primeiro aprendizado foi com a equipe de peixeiros. “Você tem de administrar a resistência do peixeiro, porque a primeira reação foi

‘vão acabar com todos os peixeiros’.” Lourival garante não ser este o objetivo, que passa por converter o peixeiro cada vez mais em consultor. “Assim ele pode caprichar mais na montagem do balcão e no atendimento ao cliente.” Foi um trabalho árduo que contou com a participação constante de Edmar Gonçalves, também da New Fish. O profissional visitou todas as lojas e acompanhou a montagem dos balcões, mostrando as vantagens do peixe já porcionado ou filetado e treinando os peixeiros a manipular o produto, trabalho que faz até hoje. O que levou a uma necessidade de padronização. As duas partes definiram que seriam caixas de dois tamanhos, o que gerou algumas dificuldades no caso dos peixes inteiros. “Houve uma fase em que discutimos se daria para colocar um namorado ou um bagre na caixa de 10kg, aí fomos discutindo uma padronização para diferentes espécies”, relembra Faccina. Outra definição foi a respeito da dinâmica de pedidos e entrega. Alguns fornecedores da New Fish estão a mais de 2.500 km de distância, então foi preciso ajustar. “Preciso passar a minha prospecção de venda da semana para

Para se adaptar a isso, a New Fish concentrou a filetagem e evisceração às segundas durante o dia, deixando a manipulação dos peixes inteiros para as madrugadas de terça. O CD também criou uma rotina específica para a chegada do pescado, de modo a manter o frescor. “Readaptamos algumas janelas de entrega e centralizamos quase 100% da expedição de peixe fresco às terças feiras”, conta o gerente de operações do CD de perecíveis para o Sudeste, Luciano Falzoni. O objetivo foi garantir a entrega das mercadorias geralmente às quartas. “Hoje estamos com um nível de serviço de atendimento de mais de 80% nas quartas e o restante de lojas recebem entre quinta ou no máximo até sexta-feira.” A praça mais distante atendida por este CD com o pescado resfriado nas caixas de isopor é Goiânia, aonde chega entre quinta e sexta.

Na loja A reportagem visitou a loja do Walmart em Barueri (Tamboré), que abrigou o piloto do modelo descentralizado e hoje é referência para as outras 14 lojas que fazem parte do projeto. Reginaldo Batista de Farias, gerente da peixaria, não tem boas lembranças das entregas feitas antes do novo modelo. “Recebíamos o fornecedor de entrega direta aqui e ele tinha que tirar primeiro o gelo das caixas, conferir todos os itens com a nota fiscal e tirar para pesar na balança.” O processo ocorria na própria doca, molhando toda a plataforma e criando


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Ponto de Venda

desconforto com outros operadores da área de recebimento. “Depois o peixeiro tinha que entregar a plataforma limpinha e lavada”, ressalta Farias. Além disso, alguns produtos eram descartados por ter ficado muito tempo expostos ou até por terem caído ao chão na conferência. O gelo passou a vir dentro das caixas em sacos, no caso de produtos processados, ou direto em contato com os peixes, nas caixas com inteiros. Nas câmaras frias, Lourival implantou um método que consiste em renovar o gelo das caixas e descartar o do fornecedor. “Descarta-se a tampa, joga-se fora o gelo e fura-se a caixa para não deixar juntar líquido, para depois gelar o produto com uma papa de gelo três vezes ao dia.” Com as facilidades e a roteirização do processo, o tempo de entrega e montagem do balcão das peixarias foi reduzido em até duas horas – período em que o fornecedor fazia a liberação, os funcionários da peixaria transferiam a mercadoria para as câmaras e montavam o balcão da loja. “Isso aqui melhorou 100% a nossa vida. De recebimento e até mesmo pra exposição do balcão”, conclui.

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O ponto de venda propriamente dito também está em fase de reformulação, como explica José Noeli. Em 2016, a rede disseminou

a necessidade de aderir a um novo programa chamado Reinvention, que também chegou à peixaria. Além da nova sinalização, os balcões já não são abertos, com gelo escorrendo e pingando no chão. “Fomos buscar um equipamento em que você consiga mostrar bem a variedade e qualidade do produto respeitando todas as normas de higienização, de segurança e vigilância sanitária.” Além disso, como as normas da vigilância variam entre os Estados, o expositor refrigerado fechado pode ser usado em qualquer região do Brasil, mas, segundo a estratégia da empresa, apenas para hipermercados.

Avanços e o futuro A experiência já permite ao Walmart alçar novos voos. As lojas sem peixaria fresca, como os supermercados, deverão contar com expositores verticais com as bandejas de pescado refrigerado já filetado, limpo ou porcionado. “É um modelo de operação que abre mais algumas portas para se repensar peixaria em determinadas lojas. O modelo de exposição de banca com peixe 100% exposto dificulta muito a operação”, sublinha Noeli. De ponta a ponta, tudo parece funcionar como um relógio suíço, mas o preço também acompanha a sofisticação do modelo. Lourival não fala em valores, mas reconhece uma mordida

maior do que antes. “Obviamente eu pago mais caro pelo peixe, mas existe um ganho na operação como um todo por não termos os altos custos de uma plataforma tradicional.” Mercadorias antes sem muita saída hoje já se provam viáveis, como o lombo de atum ou o linguado. “Não é qualquer profissional que sabe cortar com o devido rendimento, então receber o produto cortado por especialistas já é um avanço. E aí o varejo se concentra no que sabe fazer melhor: atender o cliente e montar uma exposição bonita”, indica Lourival. É por este motivo que o executivo não tem medo da concorrência: “Tenho absoluta certeza de que esta operação vai se tornar mais rentável ainda quanto mais empresas aderirem, gerando maior escala e disseminando o modelo pelo mercado de pescado.” A New Fish também aposta no futuro, já que este modelo do Walmart representa apenas 5% da receita da empresa, como revela o proprietário, Luis Palmeira. “Estou há 27 anos no peixe, não aposto em coisa que dá errado. Se continuar como está amanhã poderá pode ser de 50% a 100% do negócio”. Confiante, o empresário determinou a ampliação do entreposto instalado na Ceagesp (SIF 4073). As obras vão melhorar o fluxo de circulação dos 45 funcionários da planta e a comunicação entre as áreas de manipulação e armazenamento, de forma que acomodem melhor as caixas de isopor. Palmeira adianta ainda que o próximo passo é a atmosfera modificada, tecnologia para a qual eles já estão preparados desde 1999, ano de construção do frigorífico. “Eu fiz todos os laudos pelo Ital [Instituto de Tecnologia de Alimentos] e gastei uma fortuna na época. Cheguei até a começar e não foi pra frente, pois não tinha essa parceria de hoje.” A depender da vontade do Walmart, em breve a carne bovina em ATM não vai reinar sozinha.


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O novo modelo do Walmart de entregas centralizadas de peixe fresco simplifica e barateia os custos da operação

Ponto de Venda

Centralização em cinco passos 2

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Geralmente às terças, a New Fish recebe as espécies de cultivo e na madrugada compra os itens da pesca extrativa direto na Ceagesp. Em uma área de recebimento instalada ali mesmo padroniza as espécies e faz a pesagem em caixas plásticas, para depois transferi-las ao frigorífico, onde os peixes entram e são lavados em um túnel helicoidal com solução clorada.

Lourival Miguel Jr. atualiza mensalmente o sortimento disponível. Semanalmente, um sistema eletrônico faz uma solicitação automática de itens para cada loja do Walmart. O gerente da peixaria pode fazer pedidos adicionais manualmente conforme sua estratégia de vendas.

Em torno de 15% do volume total é filetado ou porcionado no frigorífico. Tanto os processados quanto inteiros são depois acondicionados nas caixas de isopor, já com uma camada de gelo envolto em plástico para evitar danos à carne.

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Pedido

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Recepção

Chegada à loja e montagem do balcão

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Expedição, recepção e conferência no CD

Processamento

5 Os itens chegam à loja normalmente um dia depois (ou no máximo três dias depois em localidades mais distantes), onde são conferidos e posteriormente descarregados pelo gerente da peixaria. As caixas são acondicionadas na câmara fria, onde são furadas e têm o gelo trocado.

Às terças, a New Fish despacha as caixas em direção ao CD de perecíveis da rede. Ali os técnicos da segurança alimentar primeiro avaliam a temperatura do veículo para então liberá-lo à descarga. Ainda no caminhão, o técnico faz uma primeira conferência dos produtos por amostragem e o libera à câmara (0-5ºC para resfriados), onde nova avaliação com parâmetros da ABNT vai diagnosticar a qualidade do produto.


Caminhos diversos Em busca de soluções para tornar a comercialização de pescado mais rentável, as redes começam a investir em novos modelos ou modernização das lojas. No caso do Grupo GPA, o alto custo da operação da peixaria fresca motivou uma novidade: um balcão móvel que apresente peixes frescos ao menos uma vez por semana nas lojas Extra Supermercado. “Realizamos uma pesquisa com clientes, que apontou o interesse em comprar peixes frescos nas lojas próximas à sua residência, uma vez que esta categoria só estava disponível no hipermercado”, revela Rafael Monezi Guinutzman, gerente comercial do GPA.

No Makro, o comprador Ricardo Pereira assiste à revitalização de algumas das 73 lojas do grupo no País, como a do Butantã, na zona oeste de São Paulo. Depois de cinco meses de reforma, toda a área de exposição de FLV, carnes e pescado foi modernizada, com nova sinalização, pé direito mais alto e novos expositores refrigerados. Nos bastidores, foram construídas 17 câmaras entre resfriados e congelados.

Segundo ele, a adesão por parte do consumidor foi grande, bem como a recorrência. “Isso demonstra que o produto passou a fazer parte do hábito de compra de nossos clientes, além de abrir novas frentes de venda nas lojas.” No formato Extra Super, cerca de 70 lojas já contam

Com foco nos clientes do food service e no objetivo de crescer 10% na categoria, outras mudanças vêm sendo feitas desde junho, quando o executivo foi contratado. “O sortimento era igual para o Brasil inteiro. Aqui em São Paulo, por exemplo, eu tinha postas de corvina ou castanha,

com a peixaria móvel, que os comercializa toda sexta-feira. As demais lojas trabalham com itens já processados na indústria, especialmente os filés de tilápia e de salmão.

produtos que vendem melhor no Nordeste. Por outro lado, pintado e tambaqui deixei mais para o Norte e Centro-Oeste”, explica. O perfil de cliente não comporta peixaria fresca, mas filés de salmão e tilápia em atmosfera modificada devem em breve ocupar as prateleiras dos novos expositores verticais. Em outra frente, o espírito do cash & carry vai permitir a venda de caixas fechadas de grande volume para panga, polaca e merluza. “O cliente de restaurante compra de caixa fechada, mas não encontra isso exposto na loja, tem de abordar um funcionário. Aqui já iremos deixar na área de vendas.”

Repaginação de loja do Makro em SP: câmaras próximas à exposição do produto; ao lado, diretores da rede e fornecedores durante a reinauguração

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SUPLEMENTO ESPECIAL DE TECNOLOGIA AQUÍCOLA

Arquivo Seafood Brasil

EIXOS DO FUTURO

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Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) lançou recentemente um documento que reúne as principais demandas da entidade para a pesquisa científica no Brasil. Neste suplemento de tecnologia para aquicultura, reunimos alguns dos pleitos e apresentamos os caminhos que alguns fornecedores traçam por conta própria para responder às necessidades dos produtores.

Aditivos

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Mais ampla do que as seções deste suplemento, a lista contém indicações de pesquisa aquícola em: sistemas de produção; espécies; nutrição; sanidade; qualidade de água; e genética. Acesse a versão completa do documento neste link: http:// bit.ly/PeixeBR_demandas. “Muitas demandas aqui apresentadas podem já estar contempladas em diversos centros de pesquisas pelo Brasil, porém, sem nenhuma conexão entre si e longe

Equipamentos e acessórios

Tanques-rede

Saúde animal

dos olhos do setor produtivo”, ressalvam no texto Francisco das Chagas de Medeiros, diretor-presidente e Giovanni Lemos de Mello, diretor internacional. As empresas citadas a seguir viabilizaram a realização deste material com patrocínio: Alliplus, Belgo, Trevisan, MSD Saúde Animal, AcquaSystem, Benchmark Group/ Spring Genetics e Potiporã. Formas jovens


Produtos naturais

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s terapias ou profilaxias naturais cada vez mais se popularizam nos cultivos aquícolas e, aos poucos, vai se dissipando o preconceito atrelado à utilização de óleos essenciais, extratos, bioremediadores etc. “Estamos passando por um dos melhores momentos da piscicultura e carcinicultura para a entrada de produtos naturais”, avalia Paulo José Carmo da Rocha, diretor da Alliplus, fornecedora de óleos essenciais. A popularização passa por uma abertura gradual das empresas às soluções naturais. “É de fundamental importância que as empresas compreendam o poder que estes produtos trazem”, diz. “Você não pode comparar um antibiótico sintético com um natural. Daqui para frente, o contexto aquícola para o uso destes produtos naturais vai mudar bastante porque a aquicultura está receptiva para estes produtos.” Rocha crê que o aumento dos desafios sanitários e de produtividade impõem a necessidade de resguardar a saúde dos animais. “Sempre vai haver problema na aquicultura, mas tem de

dar bem estar ao animal, porque sem isso não dará para manter o cultivo sustentável. Com os óleos essenciais, extratos e bioremediadores do mercado conseguimos minimizar este impacto e mostrar que prevenir realmente é mais do que a solução, é obrigatório.” A Alliplus trabalha com ácidos orgânicos e óleos essenciais puros, cujo mecanismo de ação consiste em danificar a membrana celular da bactéria facilitando a entrada do ácido orgânico no citoplasma, o que interromperá a fisiologia normal da célula. “São soluções eficientes para o animal cultivado, ajudando no combate aos vírus, parasitas, bactérias e ou patógenos fúngicos”, completa Rocha.

ou óleo de peixe. Segundo Rocha, a carcinicultura já está mais habituada à utilização do produto, mas o futuro é expansão para outras áreas. “O Nordeste está muito acostumado com a gente, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e na Bahia, nosso produto já é conhecido. Agora estamos ampliando para o Centro-Oeste e Sudeste, mas com calma e responsabilidade”, indica. Empresa citada:

Paulo José Carmo da Rocha (+49 89) 922 699 72 paulo@alliplus.com

A linha aqua se aplica a todas as fases do cultivo e é comercializada em pó. Pode ser incluída nos pellets das rações ou então aplicada diretamente no cultivo, com o uso de um veículo como melaço

Para Paulo Rocha, da Alliplus, caminho traçado pelos óleos essenciais na carcinicultura deve ser o mesmo na piscicultura

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Equipamentos: inovação e desempenho

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lgumas palavras caem na boca dos produtores e se espalham rapidamente. É o caso de “tecnificação”, normalmente atribuída ao processo de evolução tecnológica dos processos, equipamentos e manejo da aquicultura nacional. A PeixeBR, no levantamento das demandas para a pesquisa, expõe algumas das principais deficiências neste âmbito. Ela recomenda, por exemplo, o desenvolvimento de equipamentos de alimentação automática que proporcionem ganho de competitividade. Sugere também a criação de sistemas de controle de água nas áreas de cultivo com sondas automáticas de baixo custo. O documento da PeixeBR traz ainda demandas associadas à biometria, com equipamentos e estimativas de biomassa por meio de drones e câmaras óticas que eliminem a necessidade de captura dos peixes. A aeração é outro foco relevante, com sugestões para padronização de desempenho com certificação do INMETRO e a busca por alto desempenho de oxigenação de água e remoção de partículas indesejadas. Atenta a este âmbito, a paranaense Trevisan aproveitou a última Fenacam para apresentar um novo modelo de aerador sem paralelo no mercado, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ao longo dos últimos oito anos. Previsto para inauguração em março, o novo aerador terá três pás alternadas. “Ele vai usar a mesma energia e aumentar o rendimento de produção de oxigênio. É uma revolução no mercado, não existe paralelo no mundo e está 54

Primeiro aerador de pás da Trevisan: novo modelo terá três pás independentes e oxigenação 50% maior em relação ao modelo anterior

comprovado isso em testes internos que fizemos”, garante Marcelo Stefanello Trevisan, engenheiro de controle e automação da empresa. Segundo ele, o teste consistiu em uma comparação com o aerador convencional de pás da própria Trevisan. “Foi comprovado que, com o mesmo motor de 2CV, o novo aerador aumenta a oxigenação em 50%.” O objetivo da empresa, no entanto, é chegar a uma oxigenação até 70% maior do que o aerador de pás tradicional. “Por enquanto ele deverá ser lançado com o mesmo redutor e motor, mas estamos fazendo estudos para lançar com outro tipo de redutor que aumentaraá ainda mais a oxigenação”, diz Marcelo. Com o incremento de sistemas intensivos, o novo equipamento pode representar um grande auxílio para a busca incessante por maiores densida-

des de estocagem. No entanto, o maior custo-benefício faz com que ele seja indicado para qualquer tipo de sistema, seja na carcinicultura ou na piscicultura intensivas ou extensivas. “Ele terá um preço superior ao do mercado, mas com ao menos 50% a mais de oxigênio, quem usa três aeradores em um viveiro vai precisar de somente dois do modelo novo.” Marcelo frisa que o cliente consegue economizar em energia e o aumento do desempenho dos viveiros neutraliza o investimento mais alto.

Bombeamento flutuante A transferência de água para viveiros constitui um desafio importante para qualquer sistema, especialmente em fazendas onde há baixa diferença de nível entre a captação e o canal de abastecimento. Foi atenta a isso que a AcquaSystem, empresa fundada em 1989 em Limeira (SP) e hoje sediada em Acaraú (CE), desenvolveu uma


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tecnologia de bombas flutuantes que se tornou uma febre em carciniculturas de todo o Nordeste. Conforme conta o diretor comercial, Maurício Dorigatti, a transferência à Região ocorreu em 2001 justamente por conta da expansão da carcinicultura. “Iniciamos em Limeira, onde ficamos 12 anos desenvolvendo trabalhos em irrigação. Com o passar do tempo, sentimos a necessidade de expandir e nos mudamos para Acaraú, região com imenso potencial para a carcinicultura. Hoje já atendemos uma grande área, de Canavieiras (BA) a São Luiz (MA).” O êxito com a expansão se deve, na visão dele, ao sistema de gerenciamento da qualidade em projetos, desenvolvimento, produção e assistência técnica. A qualidade dos componentes também é essencial. “As bombas são construídas em ferro fundido, pintura feita com tinta desenvolvida e fabricada especialmente para este fim pela divisão de tintas e solventes da WEG.” Além disso, segundo Dorigatti, os componentes das bombas são todos fundidos com acompanhamento da fábrica, o que garante maior confia56

bilidade no equipamento. “Os componentes com maior contato com liquido são confeccionados em aço inox ou bronze, proporcionando maior durabilidade do equipamento.”

modelo também tem alta vazão (até 2400 m3³/hora), mas envolve alta pressão para grandes diferenças de nível ou grande distância entre a captação e o canal de abastecimento.

A base flutuante retangular é feita de resina de poliéster e revestimento gel coat e abriga conjunto moto bomba (motor, bomba e acoplamento), tem capacidade de flutuação de até 1900 kg. Já o motor, também da marca WEG, tem classe de proteção IP 55, com flange e ponta de eixo padrão dos motores marca WEG para acoplamento monobloco ao sistema de bombeamento e vedação do acoplamento feito por meio de selo mecânico. A inovação, ainda de acordo com o executivo, fica por conta de um sistema flexível fixado ao flutamte para permitir movimentos em todos os sentidos dentro do viveiro, fabricado em PVC e revestido com fibra de vidro e resina de poliéster.

Com a diversificação dos modelos produtivos na carcinicultura, a empresa elaborou ainda um sistema de bombeamento flutuante para berçário e tanques intermediários. Com vazão de até 200 m3, pode ser instalado no canal ou diretamente na gamboa, com possibilidade de cobrir grandes distâncias com instalação de uma adutora.

O sistema de bombeamento flutuante da AcquaSystem tem três modelos. Um com alta vazão e baixa pressão, indicado para fazendas com o desnível sutil na captação e no canal de abastecimento, mas que necessitem uma vazão de até 3000 m3 por hora por hora. O outro

Empresas citadas:

Nedyr Chiesa (44) 3649-1754 nedyr@trevisan.ind.br

Mauricio Dorigatti (88) 3661-4393 mauricio@acquasystembrasil.com.br


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Tanques-redes mais seguros

N

o caso dos tanques-rede, a PeixeBR aponta a necessidade de se desenvolver tecnologia e estabelecer dos padrões de produção em tanques-rede para as principais espécies cultivadas. Parte da estrutura dos tanques já é certificada, como no caso dos arames galvanizados plastificados fornecidos por empresas como a Belgo Bekaert. O produto foi desenvolvido de acordo com a norma 10118 da ABNT, que estabelece os

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requisitos exigíveis para encomenda, fabricação e fornecimento de telas de arame zincado de simples torção. A empresa indica ainda que acrescentou uma camada de PVC de alta aderência, de forma a evitar que o revestimento se solte na ocorrência de algum corte. A norma exige algumas questões que se recomenda atentar no momento de adquirir os arames para a confecção dos tanques, seja para consumo pró-

prio, seja para revenda. “É importante observar a regularidade da malha”, indica a empresa. Segundo material técnico elaborado pela Belgo, a malha precisa ser um quadrado perfeito e não pode apresentar falhas no recobrimento de PVC, principalmente nos pontos de conformação da malha da tela. O material da companhia ressalva ainda que as telas precisam ser limpas após o ciclo de cultivo. “Preferencial-


mente com o uso de um sistema de água em alta pressão, para que toda a biocomatação (algas, material em suspensão e moluscos) possa ser retirada. Aproveite o período de vazio sanitário para uma melhor biossegurança”, recomenda. No descarte, a Belgo recomenda que as telas sem uso devem ser destinadas a empresas especializadas em compra de sucata metálica para reciclagem. “Nunca queime o PVC que recobre as telas. Isso pode levar à produção de gases tóxicos”, sublinha a empresa.

Ponto de conformação da malha

Malha

Medição de tela de alambrado (simples torção) segundo definição da ABNT

Empresa citada:

Guilherme Vianna (31) 3329-2471 guilherme.vianna@belgobekaert.com.br

Teste do canivete

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Novas vacinas

A

o longo dos anos, a Noruega eliminou quase por completo a necessidade de antibióticos na salmonicultura por conta da elaboração de vacinas específicas, o que gera um diferencial importante para diversos mercados. A PeixeBR aponta o mesmo caminho para o Brasil: “É preciso desenvolver vacinas e medicamentos para a prevenção das enfermidades encontradas atualmente na piscicultura brasileira.”

Com a TiLV batendo na porta e outras enfermidades virais ou bacterianas causando diversos prejuízos, a MSD Saúde Animal – que hoje reina soberana no mercado de vacinas – mostra alinhamento com a tendência. “A empresa já tem programada a chegada de duas novas vacinas bivalentes em curto prazo para o Brasil, reforçando ainda mais seu posicionamento e soluções em saúde animal a seus clientes”, antecipa Rodrigo

Zanolo, gerente de mercado aquicultura da multinacional. Enquanto as novas vacinas não chegam, os piscicultores já têm à disposição uma ferramenta contra uma das principais ameaças: a estreptococose. De acordo com Zanolo, esta é a enfermidade de maior impacto econômico da cadeia da tilapicultura. “Aproximadamente 35 % do plantel nacional de tilápias já é imunizado no Brasil, o que reflete a importância deste manejo.” E este patamar deve aumentar nos próximos anos com o aumento das densidades e a pulverização da tilapicultura por todo o País. “Os programas de vacinações para estreptococoses no Brasil têm proporcionado um novo patamar de segurança e incremento produtivo nas fazendas de produção, além de trazer novas perspectivas associadas ao bem estar animal e certificações na tilapicultura nacional”, completa. Outras multinacionais esperam a saída de registros de produtos farmacêuticos, mas a MSD foi a primeira a lançar uma vacina exclusiva para a estreptococose: a AquaVac Strep Sa. A linha contempla ainda o antimicrobiano Aquaflor 50 % Premix, produto registrado tanto no Mapa quanto no USDA para tratamento de enfermidades de origem bacteriana em produções de trutas, tilápias e camarões marinhos. Zanolo afirma ainda que as soluções da empresa em todo o mundo contemplam ainda outras vacinas orais e de imersão, monovalentes ou multivalentes. Empresa citada:

Rodrigo Zanolo (11) 4613-4000 rodrigo.zanolo@merck.com 60


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A evolução da genética

O

Brasil já despertou para o impacto do melhoramento genético no ritmo de desenvolvimento do setor. Instituições de pesquisa como a Embrapa Pesca e Aquicultura já desenvolvem linhas de trabalho específicas, enquanto o setor privado toma a dianteira e dá escala comercial para as inovações que melhoram o desempenho zootécnico das espécies. O Grupo Benchmark Holdings, que expande aos poucos a

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atuação no Brasil, é uma das referências mundiais no tema.

em Miami (EUA) e acumular o melhoramento de 12 gerações.

A organização abriga a Spring Genetics, empresa herdeira da linhagem GIFT de tilápia nilótica, que iniciou nas Filipinas em 1988 e durou até 1997 com 5 gerações de seleção. O trabalho passou pelo Vietnã e foi implantado na Nicarágua por outra empresa do grupo, a norueguesa Akvaforsk, para depois se concentrar

Ao longo dos anos, os animais foram incorporando benefícios produtivos, biológicos e resistência a doenças. Na fase mais recente do trabalho com a tilápia, a empresa passou a se concentrar em ferramentas genômicas que permitem a identificação de pares de genes específicos associados a diversas características, como a conversão alimentar


ou rendimento de filé. Um dos estudos conduzidos pela empresa, por exemplo, mostra um aumento do rendimento de 30% para 35%, o que representaria um faturamento extra de US$ 1,87 milhão para um cultivo de 5 mil toneladas. De acordo com Hernán Pizarro, diretor técnico da Fish Vet (outra empresa da Benchmark) e diretor comercial para Spring, há indicações de benefícios da seleção genômica para tolerância a doenças e um trabalho específico para doenças crônicas no Brasil está em desenvolvimento. “Estamos desenvolvendo, em parceria com Instituto de Pesca, soluções para enfermidades locais. Nosso produto já mostrou boa proteção para a estreptococose brasileira.”

Outra linha de trabalho em desenvolvimento está direcionada à carcinicultura. A Benchmark assumiu o programa de melhoramento genético do camarão vannamei desenvolvido na Colômbia pelo Ceniacua em 2016 e agora pretende buscar oportunidades para fazer este programa de seleção genética no Brasil, já que a intensificação do cultivo e aumento das densidades está cada vez mais na pauta dos produtores. O programa tem a coordenação do brasileiro Oscar Hennig desde novembro de 2016, que atualmente se concentra em usar as linhas de resistência para seleção genômica. “A ideia da seleção genômica é poder selecionar animais limpos baseados na genética

deles, sem reduzir muito o número de animais.” O trabalho tem um primeiro diferencial que é o uso de 100% de alimento seco na maturação. “Você tem todo o trabalho de manter seu animal livre de contaminação e depois usa lula ou poliquetos, que podem ser veículos de transmissão de patógenos”, contesta. A quebra de paradigmas também vem de reprodutores híbridos, que apresentam tanto rápido crescimento quanto resistência a doenças – algo considerado incomum para laboratórios nacionais. O especialista afirma que a empresa já realizou cruzamento da linha básica com a linha resistente à mancha branca e selecionou grupos de família com crescimento rápido e resistência à doença que ainda assola a

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carcinicultura nacional. “Nosso estudo comprovou que as famílias de maior resistência crescem menos, mas há híbridos que ficam realmente no meio.” Outra linha diz respeito às salinidades. “Quase metade do vannamei cultivado no Vietnã e 25% da China são com salinidades abaixo de 5. Descobrimos que as famílias que crescem bem em salinidades mais altas não são as mesmas de salinidades mais baixas”, conta Hennig. Os reprodutores selecionados estão sendo comercializados primeiro ao Peru e enviados para testes na Ásia com diferentes linhagens. “E estamos em processo de autorização do governo brasileiro para trazê-los para a nossa quarentena em Fortaleza com alguma regularidade. A ideia é trazer os avós, reproduzir na quarentena e testar as pós-larvas. Uma vez liberada a quarentena, faremos uma seleção local”, antecipa Hennig. Segundo ele, no futuro o objetivo é oferecer linhagens adequadas a cada região produtiva.

Genética e biologia molecular O time do laboratório da Potiporã para produção de pós-larvas ganhou recentemente um reforço indireto para vencer a acirrada briga pelo desenvolvimento de animais resistentes a

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doenças. O professor Daniel Lanza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é especializado em genética e biologia molecular e atua como consultor da empresa num projeto fortemente apoiado no diagnóstico de enfermidades. Com ele, a empresa desenvolveu um processo de identificação de doenças por DNA que tem diversos benefícios, entre os quais está o controle da variabilidade genética de um vírus como o da a mancha branca. “Às vezes você tem um camarão que morre contaminado com uma variante em determinada fazenda e ambiente, mas a mesma variante não mata este camarão em outra fazenda. Quanto mais variável ele for, maior a chance de aparecer um vírus capaz de causar um sintoma drástico”, diz o especialista. Diariamente, de segunda a sexta, a equipe coordenada pelo consultor faz 300 amostras de hemolinfas (sangue dos camarões), além de análises sobre amostras de clientes, de água, controle de alimentos aos reprodutores, das larvas comercializadas, entre outras. Em paralelo, cresce muito dentro do laboratório o foco na genética.

Consultores especializados na área, com experiências na Austrália, México e Equador, já fizeram a seleção de famílias resistentes a doenças e realizaram seu cruzamento. Em um período de até seis meses, as próprias fazendas da Potiporã serão povoadas com estes animais para a realização de testes de sobrevivência e desempenho. A produção gira em torno de 300 milhões de pós-larvas mensais, das quais as fazendas da Potiporã e Aquisa consomem 205 milhões (leia mais sobre a Potiporã na matéria de Capa desta edição).

Empresas citadas:

(85) 9 9922-3580; 0 9753.4968 brazil@spring-genetics.com

Roseli Pimentel Silva (84) 3693-2072 roselisilva@potipora.com.br


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Q

uando a caneta cai no escritório da Swift, em São Paulo, Paulo Christofani só pensa em cerveja. Isso não quer dizer que ele corra para o boteco mais próximo todos os dias em busca de um happy-hour. O executivo está pensando mesmo é na fórmula perfeita de cevada, lúpulo e leveduras que ele pretende alcançar no próximo lote de cerveja artesanal. Christofani é um homebrewer (cervejeiro caseiro) e um amante da bebida dourada, ambas características forjadas no bairro da Freguesia do Ó, onde nasceu, cresceu e experimentou a primeira cerveja. “Ali é como uma cidade do interior. Todos os amigos se encontravam no Frangó para conversar e tomar umas cervejas.” Ele morava a 5 minutos de caminhada do bar, escolhido várias vezes como o reduto das melhores coxinhas de São Paulo e conhecido por sua ampla carta de cervejas. Perto dos 16 anos já conhecia algumas marcas vendidas ali e cresceu apreciando boas comidas

Arquivo pessoal

Com a produção de cervejas artesanais, Paulo Christofani foge da rotina e harmoniza refeições com suas próprias criações e bebidas. Quando o movimento em prol das cervejas artesanais ganhou corpo no Brasil, há cerca de 10 anos, Christofani era um candidato natural a se envolver com a “causa”. Para aliviar um pouco o stress do trabalho, decidiu fazer um curso de sommelier de cervejas, no Senac, o primeiro do País. “Trabalhava na área comercial da BRF e esta profissão é muito desgastante, aquela meta para bater, pressão todo dia etc. Precisava variar um pouco.” Um dos módulos do curso envolvia visitar algumas cervejarias. Quando bateu o olho naquele equipamento todo, começou a entender e se apaixonar pelos métodos de fabricação. Atenta ao entusiasmo do marido, a esposa o incentivou. “Ganhei de aniversário um curso de cerveja artesanal da minha esposa no Rio de Janeiro. Na semana seguinte comprei o equipamento e comecei a fazer.” Arquivo pessoal

FORA DO EXPEDIENTE SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2017 • 66

Um respiro a cada brassagem

No princípio foram 60 litros, mas aos poucos as quantidades diminuíram pela própria limitação de espaço. Christofani produzia - e ainda produz - as cervejas no seu próprio apartamento de 69 m2, que

divide com a esposa e dois meninos. “É a única dificuldade que tenho. Quando é um lote pequeno, de até 20L, coloco as panelas em duas bocas e consigo fazer.” Um dos três quartos se tornou cômodo específico para guardar os equipamentos - que ele mesmo construiu - e insumos. Hoje o ritmo de novos lotes diminuiu: de 20 litros por mês para o mesmo volume a cada dois ou três meses. Seja como for, quando sai uma nova cerveja, é hora de reunir os mais chegados. “A questão de reunir todo mundo ao redor da produção é muito prazerosa. Eu me reunia para ficar no Frangó e agora me reúno para fazer cerveja com os amigos.” Enquanto degustam a bebida do lote anterior, ele já prepara a próxima. No escritório alguns já tiveram o privilégio de provar as receitas. A melhor dela, segundo o mestre cervejeiro, foi uma Brown Ale com Ovomaltine. “Levei-a em um evento e foi um sucesso”, lembra. Agora o executivo terá outro desafio: fazer uma cerveja especial para o aniversário da Cervejoteca, uma loja de cervejas artesanais com filial no bairro do Tatuapé. Se o leitor acha que ele vai vender a produção, está enganado. “Todo mundo me diz para eu vender, mas eu não quero. Se virar um negócio, vai perder o encanto que eu tenho, tem de sempre ser um hobby”, conclui.


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Especial

Espírito de MBA De olho na capacitação empresarial do setor, FGV realiza segunda edição de curso executivo e já define outra turma para 2018

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E

m 25 e 26 de maio de 2018, outros 20 e tantos afortunados darão novo fôlego à tentativa da Fundação Getulio Vargas (FGV) de estabelecer um programa de pós-graduação lato sensu focado nos negócios do pescado. A data já foi confirmada para a terceira turma do curso executivo “Aquicultura e Pesca: Oportunidades, Desafios e Estratégias”, embrião de um processo que pode culminar na criação de um Master Business Administration (MBA) específico.

O programa teve a intenção de capacitar os participantes para a análise e compreensão da cadeia produtiva, da produção primária ao acesso a mercados. O coordenador do curso, o ex-ministro e consultor Altemir Gregolin, iniciou as apresentações com informações sobre as tendências de consumo para a próxima década. “Em 2025, a previsão é de 21,8 kg/hab/ano, o que exigirá um volume adicional de 31 milhões de toneladas. Brasil, China, Peru, Chile e México terão os maiores aumentos no consumo.”

O segmento e a FGV demonstram interesse no projeto. Na segunda turma do curso, realizado entre 27 e 28 de outubro, participaram representantes de empresas e instituições como a ABVista, Value Dynamics (representante da Tilabras), MCassab, Frescatto Company, Potiporã, Instituto de Pesca de São Paulo (IP-Apta), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Bom Peixe, Ministério da Integração Nacional, Agência Nacional de Águas, Zaltana e a própria Seafood Brasil.

O ex-ministro recomendou prestar atenção na China, cuja classe média com mais de 600 milhões de habitantes pode se tornar cliente dos produtos aquícolas e pesqueiros brasileiros, assim como os africanos. “A África crescerá de 1 bilhão para 2 bilhões de pessoas em poucos anos. Imaginem a demanda de alimentos que teremos de prover para alimentar estas pessoas”, acrescentou. A necessidade de crédito para esta expansão foi discutida por Marcos Rossi, chefe do departamento do complexo

agroalimentar e biocombustíveis do BNDES (responsável pela área de pescado). Ele lembrou que o banco formou um grupo de trabalho para discutir a aquicultura em 2011 e depois de três fases que incluíram estudos de caso da China, Vietnã, Indonésia, Chile e Noruega criou um programa específico, o BNDES Pro-Aquicultura. Até o ano passado, penas quatro empresas haviam acessado os recursos do programa, que não emplacou. “Uma das hipóteses é o timing da profissionalização do setor, que só agora começa a acontecer. O licenciamento ambiental e uma demonstração financeira auditável foram entraves”, disse Rossi. Eric Routledge, chefe-adjunto de pesquisa da Embrapa Pesca e Aquicultura foi convidado a falar sobre a ciência e disparou: “Existe uma cultura na universidade brasileira de que o conhecimento é para a própria universidade. Há uma cultura de afastamento do meio acadêmico, mas isso já vem mudando e na crise houve uma aproximação maior entre as instituições de pesquisa.”


Por outro lado, segundo ele, o setor produtivo espera a tecnologia já pronta. “Acha que não deve investir um real sobre isso.”

de total instalada.” Entre as soluções para o problema, ele apontou a aproximação dos frigoríficos das áreas de produção. Encerraram o curso o sócio do Grupo5, Rodrigo Joaquim,

e Marcelo Prado, diretor comercial nacional de pescado do Carrefour. Juntos, apresentaram a experiência de ambos nas estratégias de marketing e vendas aplicadas ao setor.

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A seguir, Ricardo Neukirchner, sócio da Aquabel, abordou a questão do melhoramento genético e o que espera do futuro com a genômica. “A genética está diretamente relacionada ao mercado que se pretende atingir”, disse. Já Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, tratou sobre a competitividade das indústrias de processamento de pescado com um cenário crítico. “Das mais de 300 indústrias sob o SIF, 150 estão paradas e 150 estão trabalhando com metade de sua capacida-


Na Cozinha

Promessa de

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expansão Depois de amargar dois anos de péssimo desempenho, food service deve crescer junto à recuperação do consumo das famílias desde que abra novos canais

A

alimentação fora do lar é muito sensível a turbulências econômicas e políticas. Como isso foi só o que o Brasil teve nos últimos anos, o food service sentiu o gosto amargo de dois anos de fechamento de restaurantes e contração de margens e faturamento.

Mas a crise também ofereceu novas oportunidades aos pequenos negócios e novos canais, como o delivery por aplicativos de celular. O cenário econômico também reagiu positivamente, com queda da inflação e taxa de juros e diminui-

ção da queda do emprego, fatores indispensáveis para o aumento do consumo das famílias. “O nível de endividamento estava muito alto, mas as famílias estão se desalavancando e o consumo tende a subir”, avalia Bruno Rezende, sócio-diretor da 4E Consultoria.


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Na Cozinha

O especialista participou de evento organizado em São Paulo no dia 06 de dezembro pelo grupo Distribuidores Especializados em Food Service (Diefs), que reúne 16 empresas responsáveis por atender semanalmente 85 mil estabelecimentos no Brasil e 12 mil na Argentina e Chile. Apesar da instabilidade que as Eleições Gerais devem trazer, Rezende traçou cenários positivos ao food service, como a expectativa de expansão de 2% do segmento de alimentos e bebidas em 2018, fortemente apoiada na expansão do consumo. Enzo Donna, diretor da ECD Consultoria e fundador do Diefs, também segue a onda otimista, mas faz uma ressalva: “O consumo volta de maneira cautelosa e o restaurante vai para casa por meio de comida pronta entregue para delivery”. O consumidor deve continuar visitando os pontos fixos, mas mais aos fins de semana e alguns almoços da semana. “O almoço preparado que o pessoal levava de casa para os escritórios já está se reduzindo.”

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Para ele, é neste contexto que ganham mercado os aplicativos de entrega de refeições, que facilitam o acesso do consumidor e, ao mesmo tempo, estimulam a entrada de novos operadores. “Até os operadores mais tradicionais terão de fazer entrega, apesar de terem pagar para 15% para o aplicativo. “ Sai mais barato do que o custo de um restaurante parado, explica Donna. “Eles têm uma ociosidade que não paga o gasto fixo deles.” Donna ainda frisa a necessidade de os operadores recuperarem o desempenho perdido com a crise. “No ano que vem, o operador precisa recuperar margem. Os nossos distribuidores cresceram em torno de 9% em termos nominais, mas os operadores não, pois se sacrificaram para não perder público.” Se não ajustarem a margem, diz o executivo, não sobreviverão. Os operadores integrantes do Diefs esperam fechar o ano com faturamento estimado de R$ 3,2 bilhões, enquanto todo o setor do food service deve ultrapassar os R$ 154

bilhões do ano passado, de acordo com o Instituto Food Service Brasil.

pou recentemente de evento do Sebrae com produtores de pirarucu.

Pescado

Por enquanto, o executivo assegura que a merluza, panga e salmão ainda continuam a ser os produtos mais demandados para o food service, mas a tilápia tem o maior potencial de crescimento. “A tilápia já tem uma produção enorme e já faz parte do cardápio, crescendo a ponto de se equiparar ao salmão. Foi ela que deu a primeira partida e agora virá a outra onda com peixes nativos”, aponta o especialista.

O processamento prévio antes de chegar ao operador continua a ser a principal demanda dos distribuidores de pescado. Para o Diefs, onde os peixes e frutos do mar representam apenas 4% do faturamento total. “O problema agora é acertar a demanda com o distribuidor. Ele quer acesso aos peixes de água doce já processados, e são poucos os fornecedores que podem fornecer isso. Quando isso melhorar o distribuidor entra de cabeça”, garante. Uma das interessadas é a Irmãos Avelino, que atende em torno de 8 mil clientes por mês em toda a região da Grande São Paulo, Litoral Sul, Baixada Santista, Vale do Paraíba e interior de São Paulo a um raio de 200 km. Na capital fluminense, a Rio Quality quer levar a seus mais de 6 mil clientes espécies nativas, como pirarucu, tambaqui e pintado. “Vou colocar alguns produtores em contato com eles e ambas devem começar este trabalho em breve”, conta Donna, que partici-

Um dos desafios é justamente este perfil em transição para o delivery. “As pessoas querem, mas não estão acostumadas com o pescado no delivery. A comida japonesa já está indo para casa.” Isso deve crescer com o pescado já pré-processado nos distribuidores. Por outro lado, sublinha Donna, o apelo de saudabilidade é cada vez mais forte. “Isso está claríssimo. O peixe é uma das poucas categorias, junto com o frango, que pode ter sabor e saúde. Além disso, não estamos dependendo só da Argentina, Chile e China.” Dependemos só de nós mesmos.

Enzo Donna, diretor da ECD Food Service, crê na expansão do delivery por aplicativos também para o pescado


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Personagem Lar sobre rodas Hector Henriquez largou um emprego em um banco chileno para se tornar motorista especializado em cargas frigorificadas

80

% da vida do chileno Hector Reinaldo Henriquez, 62 anos, acontece sobre as rodas de um caminhão e não em Uruguaiana, onde fica sua residência oficial. Motorista especializado em cargas frigorificadas, trabalha do nascente ao poente até cumprir o itinerário demarcado. Nos intervalos, porém, é um turista inveterado: já conheceu das ruínas incas de Machu Picchu, no Peru, ao pródigo litoral catarinense. “A felicidade do trabalho você é quem faz”, costuma dizer aos que apontam as agruras da vida na estrada. O lema ele adotou aos 40 anos, depois de deixar de lado um trabalho bucrocrático em um banco de Concepción, cidade 500 km ao sul de Santiago. Trocou as planilhas pelo volante do caminhão e longas horas de trânsito entre pontos tão longínquos quanto a ilha de Chiloé (Chile) e Piracicaba (São Paulo), sede da Bom Peixe - empresa para a qual trabalhou durante três anos para cumprir a rota do salmão Atlântico fresco. Ele conta que o trajeto sem surpresas em média dura seis dias sem exageros (velocidade controlada e condução só durante o dia), mas que as fronteiras - e a meteorologia - são sempre imprevisíveis. Certa vez, dois brasileiros o acompanhavam no retorno do Chile para o Brasil, quando uma tempestade de neve os fez parar nos Andes durante oito dias. Quando finalmente conseguiram cruzar a Cordilheira, aliviados, pararam na fronteira com a Argentina. Um dos companheiros brasileiros resolveu brincar com o fiscal aduaneiro: disse que enquanto ele estava ali trabalhando o “Ricardón” estava em casa com a esposa. O fiscal se enfureceu e encaminhou os três à prisão. “Ficamos algumas horas até que nos liberassem dali”, lembra com bom humor. Henriquez não se preocupa com o “Ricardón”. Sempre que possível viaja com a esposa, uma gaúcha que ele conheceu em Uruguaiana. “Sempre tratei de tornar meu trabalho agradável. Quando termino meu trabalho vou passear com a minha esposa.” Com isso, conhece toda a América do Sul, mas é suspeito para falar do Chile, terra de que mais gosta. “O Chile tem tudo, de neve a praia, passando por deserto.” Mas ele faz questão de elogiar a Argentina, o Brasil e o Peru. Os dois últimos países são aqueles com os quais ele têm mais contato atualmente: periodicamente faz uma rota com carga fresca da Peixes da Amazônia entre Basileia (Acre) e a cidade peruana de Puerto Maldonado (Peru). No caminho, tem experiências inesquecíveis. “Há muitos indígenas nesta rota. Uma vez vi do caminhão eles preparando uma receita de peixe enrolado em folha de bananeira e parei para ver o que era. Eles me ofereceram o peixe, que assam na brasa, acompanhado de sucos de distintas frutas em uma cumbuca e um canudo. Estava uma delícia.”

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A partir de janeiro, a Transitex - empresa em que trabalha atualmente - deve recolocar o motorista no trajeto do salmão. Novamente ele vai cruzar a Cordilheira, ver paisagens de tirar o fôlego e encarar horas de desembaraço aduaneiro das fronteiras do Chile com a Argentina e depois com o Brasil. “Às vezes ficávamos 7 ou 8 horas esperando porque o fiscal de aduana não estava porque havia ido pescar, e a empresa me pressionando. Cheguei a ficar cinco dias parado na fronteira porque o responsável não estava, mas eram casos isolados.” A viagem trará outros benefícios, porém: será a chance de visitar com mais frequência as três filhas do primeiro casamento, que se dão muito bem com os irmãos brasileiros.


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