Revista Rota Verde Ed. 4

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Distribuição gratuita

Edição nº 4

TURISMO

ECOLOGIA

AVENTURA

Embarque Nessa Aventura! SERRA DA CANASTRA Um Baú de Riquezas Naturais

ARRAIAL DO CABO Os Encantos da Costa do Sol

TAVARES / RS 10º FESTIVAL DE AVES MIGRATÓRIAS O Turismo Impulsionado Pelas Aves




Revista

Edição 04

Arraial do Cabo

Os encantos da Costa do Sol.

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Antártica

Embarque nessa aventura.

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Serra da Canastra Um baú de riquezas naturais.

10º Festival de Aves Migratórias de Tavares O turismo impulsionado pelas aves.

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Expediente

Fale com a gente

Diretor Executivo: Marcello Lemos Jornalista Responsável: Daniela Alves - MTB 55873/SP Revisão: Alexandre Barbosa Coordenador de Arte: Marcello L. Reis Capa: Haroldo Palo Jr. Colaboradores: Haroldo Palo Jr., Kleber de Burgos, Renato Grimm, Fábio Olmos Pescaventura, Antarctica Expeditions, Prefeitura Municipal de Arraial do Cabo, Secretaria de Turismo do Estado de Minas Gerais, Roséli Azi Nascimento, João Batista Cardozo, Pousada Barcelos, Dra. Livia Echternacht Andrade, Dra. Rosana Romero, Dr. Jimi Naoki Nakajima, Dr. José Rubens Pirani, Dr. Renato de Mello Silva, Cristina Paredes e Instituto Terra Brasilis.

Rota Verde

rotaverde.net sac@editoragrisanti.com.br Revista ROTA VERDE edição N˚4, de Outubro de 2013 é uma publicação trimestral da Editora Grisanti Ltda - ME. O acesso gratuito à publicação digital é disponibilizado através do site www.rotaverde.net . Central de atendimento, de Segunda à Sexta-Feira, das 8h às 18h - Tel: (11) 4171-1133 -email: sac@editoragrisanti.com.br . É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo da Revista Rota Verde sem a prévia autorização da Editora Grisanti Ltda-ME.


Carta ao leitor

“Passarinhando” Há muitos anos viajo para lugares onde a natureza é o principal atrativo. Praias, ilhas, desertos, rios, cachoeiras, montanhas com e sem neve eram os fatores que definiam para onde eu rumaria e as diversas as atividades relacionadas a estes cenários fomentavam o meu interesse. Além desses ingredientes, sempre gostei de conhecer os costumes regionais. Porém num certo momento durante essas viagens, comecei a notar um curioso tipo de turista, engajado na missão de avistar e fotografar a maior quantidade de espécies de pássaros do local. Em sua grande maioria eram estrangeiros que visitavam a região justamente pela possibilidade de observar uma ave endêmica ou uma grande concentração de espécies. Atualmente essa atividade, birdwatching, é responsável por uma parcela significante do ecoturismo e vem crescendo vigorosamente ano a ano. Ao incluir um espaço para o birdwatching na Revista Rota Verde, pretendo mostrar os lugares mais propícios para desenvolver essa atividade e retratar a sua importância no desenvolvimento do turismo. Marcello L. Reis

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Arraial do Cabo Os encantos da Costa do Sol Texto: Cleide Janne de Mendonça Fotografia: Marcello L. Reis e Fotógrafos creditados junto à imagem.

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S

ituada na Região dos Lagos, a cerca de 140 km do Rio de Janeiro, Arraial do Cabo é uma das cidades do litoral carioca mais visitadas por turistas de todo o mundo – mais de 1 milhão de turistas durante o ano todo. Com uma beleza ímpar, a cidade possui características bastante favoráveis ao desenvolvimento do turismo: praias, ilhas, lagoas, restinga, trilhas ecológicas e também uma rica cultura e culinária baseada na biodiversidade marinha local, consequência do raro fenômeno da ressurgência. A rede hoteleira do município dispõe de hotéis e pousadas aconchegantes que oferecem excelentes serviços. Arraial do Cabo possui uma excelente infraestrutura turística com oferta de aproximadamente 65 meios de hospedagem - entre hotéis, pousadas e hostels (albergues), 180 embarcações de turismo, 13 operadoras de mergulho, 02 agências de

receptivo e mais de 20 restaurantes com uma diversidade de pratos que vão da cozinha francesa à famosa caldeirada de frutos do mar típica da região. A cidade é pequena, mas tem um povo carismático pronto para fazer o turista sentir-se em casa. As belas praias de águas cristalinas, areias brancas, ilhas paradisíacas e um por do sol deslumbrante, compõem o cenário encantador dessa “perola do Atlântico” e garantem diversão para os visitantes, que também podem praticar esportes náuticos em todas as praias da cidade, algumas delas com formações de ondas perfeitas para a prática do surfe e stand up paddle até mesmo em dias em que as ondas não estão tão altas. Nos dias de ventos fortes, o windsurf e kitesurf são os mais indicados, e com vento calmo o mergulho é uma boa opção.

Prainhas

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Praia dos Anjos

Eduardo Alves

Tradicional centro de pesca, a Praia dos Anjos, tem águas tranquilas onde dezenas de barcos, de passeio ou pesca, ancoram no mar e na marina dos pescadores de onde saem os passeios pela costa de Arraial. Seu tamanho de apenas 1 km de extensão, não é proporcional à

sua grande importância na cultura e economia da cidade. O Porto do Forno, localizado nesta praia é uma atraente base de apoio off-shore pelas excelentes condições para a atracação de navios e por sua posição geográfica estratégica e representa um poderoso elemento de expansão do desenvolvimento econômico e social desta importante Região do Estado do Rio de Janeiro.

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Praia Brava

Praia Brava Localizada no Pontal do Atalaia, a Praia Brava só apresenta faixa de areia em dias de maré baixa. Em maré alta, é uma das mais perigosas para a prática de banho, mas adorada pelos surfistas pelas ondas perfeitas. São 200 metros de muita aventura. O Acesso é feito de carro até o Pontal e por trilha até a praia.

recompensa quem está disposto a caminhar com uma vista panorâmica de tirar o fôlego. Nesta enseada existe um restaurante flutuante extremamente agradável, rodeado por vida marinha. Enquanto espera-se o prato principal, tartarugas e diversas espécies de peixes fazem companhia aos visitantes.

Praia do Forno A Praia do Forno fica a apenas 1,5 km do centro da cidade e o acesso pode ser por trilha de mais ou menos 20 minutos ou por barco (cerca de10 minutos) partindo da Marina dos Pescadores. A praia está localizada numa enseada de águas tranquilas e é uma das preferidas dos turistas. A trilha até a praia Praia dos Anjos

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Tartaruga verde (Chelonia mydas)

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Stanley Wagner

Praia do Forno


Praia do Forno

Restaurante flutuante da Praia do Forno, uma boa pedida para degustar as delícias da culinária local, cercado pela paisagem exuberante da Mata Atlântica.

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Praia do Farol A Praia do Farol foi eleita, por anos consecutivos, a praia mais perfeita do Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em eleição que levou em consideração elementos como a cor e a temperatura média da água, a cor da areia, a velocidade dos ventos, ou seja, tem tudo aquilo que se espera de uma praia virgem e paradisíaca. Controlada pela Marinha, que mantém uma base no local, e só permite desembarcar na praia com autorização, tem 1 km de extensão de um dos mais belos cenários do litoral brasileiro. Na Ilha do Farol também está o ponto mais alto de toda Região dos Lagos, a 390 metros do nível do mar, o Farol Velho é o grande monumento histórico da cidade. Construído pelo Major Belegard por ordem do Imperador Dom Pedro II, em 1836, tinha a missão de sinalizar às embarcações o posicionamento da Ilha do Cabo Frio, ou Ilha do Farol, como ficou conhecida após essa construção. Atualmente, em ruínas, pode ser visto de perto por quem pegar uma trilha com

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Praia do Farol

aproximadamente duas horas de duração, que parte do Maramutá (é preciso autorização da Marinha). Além do monumento, a maior recompensa para os aventureiros é a vista deslumbrante, que alcança o mar aberto e as cidades da região. Desativado em 1861 por ser constantemente encoberto por nuvens, foi substituído pelo Farol Novo, ainda em atividade


Eduardo Alves

e com visitação aberta por uma trilha que parte da Praia da Ilha do Farol.

As Prainhas As prainhas do Pontal do Atalaia compõem juntamente com a Praia do Farol, que fica logo em frente, um dos cenários mais incríveis

de todo o litoral brasileiro. O acesso pode ser por trilhas pelo Pontal do Atalaia ou pelo mar. Sua natureza deslumbrante já serviu de locação para diversos comerciais de circulação nacional. Localizada a apenas 4 km do centro da cidade, tem as águas mais claras e de maior visibilidade da Região dos Lagos.

Praia do Farol

Prainhas Rota Verde | 15


Prainha Vista de cima por quem passa pela RJ 140, logo na entrada da cidade, a Prainha dá boas vindas aos visitantes com suas calmas águas de cor azul turquesa. Frequentada por famílias, a Prainha tem atrativos como o passeio de banana boat, aluguel de caiaques e cantos perfeitos para a prática do mergulho em apneia.

Graçainha Praia Graçainha - A trilha começa no canto direito da Prainha, de onde se pode observar Prainhas

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uma linda vista após 20 minutos de caminhada, tem pouco grau dificuldade, mas deve-se ir sempre acompanhado, munido de água, celular e protetor solar.

Praia do Pontal Os 700 metros de extensão da Praia do Pontal começam logo na divisa entre Arraial do Cabo e Cabo Frio. Além de ser conhecida por ter ondas consideradas perfeitas para a prática do surf, a praia é um ponto tradicional de pescaria por ter um píer artesanal, muita sombra natural e tranquilidade.


Praia Grande

Atobá (Sula leucogaster)

A praia Grande tem 35 Km de extensão de frente para o mar aberto com ondas fortes que atraem muitos surfistas, sendo cenário de alguns campeonatos. No canto esquerdo, onde é urbanizada, conta com quiosques e reúne grande número de turistas e adeptos de esportes náuticos. A moldura é formada por dunas de areia branca e muito fina, cobertas por vegetação costeira. As praias de Monte Alto e Figueira dão continuidade à Praia Grande.

Arraial do Cabo é uma das cidades que compõem a Região dos Lagos, também conhecida como Costa do Sol. Essa é considerada uma das mais belas regiões do litoral fluminense.

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Foto:José Rama

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Eduardo Alves

Praia Grande

Jorge Porto

Lagoa de Monte Alto

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Stanley Wagner

Praia Grande

Praia Grande

Alto. A salinidade é muito alta, já que faz parte de uma das lagoas mais salgadas do mundo, a de Araruama. O ecossistema possui margens preservadas com vegetação de restinga e o cenário é extremamente bucólico. Lagoa rasa e de águas mornas é conhecida como Arubinha, perfeita para prática do Windsurf e Kitesurf.

Jorge Porto

Restinga de Massambaba Lagoa, Restinga e esportes radicais: Monte Alto e Figueira, distritos de Arraial, são locais pouco explorados onde é possível fazer trilhas pela restinga e apreciar orquídeas e outras plantas da vegetação nativa, observar pássaros e outras espécies da região.

Lagoa Azul A Lagoa Azul é uma área de preservação permanente do município que fica às margens de uma estrada de terra, no distrito de Monte

É uma faixa de mata fechada e virgem que fica entre o Oceano Atlântico e a Lagoa de Araruama, a Restinga de Massambaba é protegida pela Área de Preservação Ambiental (APA) da Massambaba, uma unidade estadual criada para proteger um dos ecossistemas com maior diversidade da Mata Atlântica brasileira. Preserva plantas raras e endêmicas, diversos animais silvestres e paisagens de tirar o fôlego. Seu ambiente de dunas, brejos e lagoas também é perfeito para a prática do ecoturismo.

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Gruta Azul

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Fenda de Nossa Senhora

Passeio de Barco Considerado um dos atrativos turísticos mais procurados pelos visitantes, o passeio de barco em Arraial do Cabo é diversão garantida. Durante o verão são oferecidas saídas de manhã e a tarde, coma duração de aproximadamente 3 a 4 horas. O passeio inclui uma visita à Gruta Azul, paradas nas Prainhas do Atalaia, na Praia do Forno e Praia da Ilha do Farol. Durante o passeio, podem-se avistar cardumes de peixes diversos, além de tartarugas, golfinhos e até mesmo baleias. Os passeios de barco têm preço médio de R$ 40,00 por pessoa.

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Eduardo Alves Eduardo Alves

A pesca artesanal é um espetáculo que pode ser visto diariamente em algumas praias. Tratase da pesca pelas redes, sob as orientações do “vigia”, um pescador que fica em cima do morro sinalizando como um maestro o posicionamento, a qualidade e a quantidade do pescado que avista a quilômetros de distância. Após o cerco, a rede com os peixes é puxada por dezenas de braços na beira da praia. E quem participa ainda leva um peixe para casa.

Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo - RESEXMAR

Olivancillaria carcellesi 24 | Rota Verde

Arraial do Cabo encontra-se em uma área denominada Reserva Extrativista Marinha que foi criada em 1997 por meio de decreto - e pertence ao grupo de Unidades de Conservação Federal (UC’s) de Uso Sustentável. A ResexMar de Arraial do Cabo tem como objetivo a proteção dos meios de vida e cultura das populações tradicionais, bem


como da utilização sustentável dos recursos naturais existentes (Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000). A ResexMar AC possui sua gestão compartilhada entre o ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e AREMAC - Associação da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo.

Stanley Wagner

Tatuí ou Tatuíra (Emerita brasiliensis) A presença desse crustáceo é um bom indicador de praias sem poluição.

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Mergulho O município é conhecido como a “capital do mergulho”. Além das águas claras, a fauna marinha nessa regiãoa é abundante e diversificada. A ressurgência é o nome dado ao fenômeno provocado por uma corrente de água fria, oriunda do sul do oceano Atlântico, que se desloca em direção ao norte, margeando a costa brasileira em um nível profundo e que, ao chegar à costa de Arraial do Cabo, aflora devido a seu aquecimento e ao encontro com outra corrente de água originária do norte. A corrente vinda do sul é rica em nutrientes, fazendo parte da cadeia alimentar de animais microscópicos que, por sua vez, alimentam outros maiores. Esse fenômeno natural não só aumenta 26 | Rota Verde

Gorgônia (Phyllogorgia dilatata)

Cristina Paredes

Tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata)


Cristina Paredes

Cavalo-marinho (gênero Hippocampus)

Shirlei Garcia

Shirlei Garcia

os estoques pesqueiros disponíveis, como também facilita as condições de previsibilidade das atividades pesqueiras, que associadas ao conhecimento empírico dos pescadores, aumentam a eficácia da atividade extrativista. Com isso, a cidade ainda guarda ares do antigo vilarejo de pescadores, e é possível andar tranquilamente pelas ruas, bater um papo com um pescador, que entre um “causo” e outro, tece a rede manualmente. A biodiversidade marinha é uma das mais ricas do país, justamente graças a esse fenômeno. Com cerca de 200 pontos de mergulho e dezenas de naufrágios catalogados, mergulhar neste paraíso, em qualquer época do ano, é uma experiência inesquecível. A cidade possui condições favoráveis para o mergulho e lazer o ano todo. Os meses de março, abril e maio são ótimos porque as águas ultrapassam a transparência e visibilidade já habituais, formando belos cartões postais, além da temperatura mais quente e os preços são mais baratos do que nos meses de alta temporada (verão e férias de julho).

Coió ou peixe-voador (Dactylopterus volitans) Rota Verde | 27


PADI, A MAIOR CREDENCIADORA DE MERGULHO NO BRASIL E NO MUNDO Com mais de 130.000 Profissionais PADI e aproximadamente 5.700 Lojas de Mergulho e Resorts PADI operando em mais de 180 países e territórios, você provavelmente vai encontrar um PADI Scuba Instructor que pode falar seu idioma e oferecer-lhe uma experiência de aprendizado confortável. Para atender às necessidades dos mergulhadores em todo o mundo, as traduções de materiais da PADI estão disponíveis em pelo menos 26 idiomas. Saiba mais sobre a:

A maneira como o mundo aprende a mergulhar.

E S E T N O U B J I R T A 28 | Rota Verde


Entre os principais pontos de mergulho estão: Ilha dos Porcos, Saco do Anequim, Saco do Cherne, Enseada do Oratório, Ilha dos Franceses, Gruta Azul, Buraco da Camarinha e os naufrágios do Thetis (1830 / Saco dos Ingleses), da fragata Dona Paula (1827 / Ilha dos Franceses), do Teixeirinha (1923 / Ponta da Jararaca), do Harligen (1971 / Pontal do Atalaia) e do Tunamar (1994 / Ponta do Focinho).

Cristina Paredes

Cristina Paredes

Moréia-pintada (Gymnothorax moringa)

Peixe-pedra (gênero Scorpaena)

Para quem nunca mergulhou e não quer perder a oportunidade de conhecer as belezas escondidas sobre a superfície do mar, o batismo (mergulho autônomo acompanhado pelo instrutor após breve instrução e treino, seguindo todas as regras de segurança) pode ser feito contratando os serviços de uma das operadoras de mergulho locais.

Shirlei Garcia

Paru (Pomacanthus paru) - peixe dócil e bem comum no litoral brasileiro.

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Eduardo Alves

Mas, Arraial do Cabo é muito mais que praias e lagoas. A Prefeitura Municipal já recuperou diversas trilhas ecológicas para proporcionar aos amantes do ecoturismo um belíssimo passeio que passa pelo Morro do Forno, Morro da Cabocla, Restinga de Massambaba e Farol Velho (este só com autorização da Marinha, mas que proporciona uma visão de 360º da cidade). Os quiosques funcionam diariamente. Nos finais de semana e períodos de férias oferecem aos clientes música ao vivo, sendo um espaço de lazer e descontração, pois as Orlas da Praia Grande e Praia dos Anjos foram

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recentemente revitalizadas com ciclovias e postos de informações turísticas. A Orla da Prainha também será revitalizada e terá 31 novos quiosques. Um projeto especial que tem como objetivo restaurar a área degradada da restinga, no canto esquerdo da praia. As obras terão início até o final deste ano. O Centro histórico fica na Praia dos Anjos e possuí construções do século XVII como a Casa da Poesia, a Igreja Nossa Senhora dos Remédios (primeira igreja construída no Brasil, em pau a pique), a Casa da Piedra (uma das primeiras edificações do país) e o Marco Histórico. As pousadas que ali se encontram, mantém intactas as características da colonização. Também se encontra a Casa de Cultura, onde é possível conhecer o acervo de artesãos locais e aprender a secular técnica da renda de bilro (tradição portuguesa). Existem mirantes espalhados por toda a região, de onde pode-se ter uma ampla visão da orla e da cidade. Estão localizados na Praia dos Anjos, o Mirante do Forno, na Prainha, o Mirante da Cabocla, na Praia Grande, o Mirante da Boa Vista e para ter uma visão panorâmica da cidade, o Pontal do Atalaia.


Distâncias aproximadas das capitais dos Estados do sudeste brasileiro à Arraial do Cabo: São Paulo 600 km Vitória 440 km Rio de Janeiro 140 km Belo Horizonte 575 km

Mapa: Fonte - IBGE

A Região dos Lagos é servida de boas estradas – RJ-106 (passando pela Serra) e a Via Lagos (cobra pedágio). Mas, para quem mora em outras capitais e quer fazer uma viagem mais rápida, a melhor opção é a viagem aérea. A cidade fica a 5 km do Aeroporto de Cabo Frio.

Agradecimentos: Prefeitura Municipal de Arraial do Cabo, Secretaria de Turismo de Arraial do Cabo, Cristina Paredes, Cleide Janne de Mendonça, Secretaria Municipal de Governo, Comunicação e Eventos, Shirlei Garcia, Eduardo Alves, Stanley Wagner e Jorge Porto.

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UMA BIBLIOTECA SEM PAREDES PIONEIRO NO PAÍS, PROJETO DO INSTITUTO TERRA BRASILIS COLOCA À DISPOSIÇÃO NA INTERNET PUBLICAÇÕES LIGADAS AO MEIO AMBIENTE

DIVULGAÇÃO

Basta acessar o endereço eletrônico www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital para começar uma viagem ao mundo da literatura ambiental. Esta é a Ecoteca Digital, projeto idealizado pelo Instituto Terra Brasilis, que está de perto de completar 1.500 títulos.

uma reconhecida dispersão dos títulos existentes, espalhados nas mais diversas fontes pulverizadas no país e ignoradas pelos potenciais usuários. “Esta é a primeira biblioteca digital existente no Brasil sobre o assunto. Isso facilita a vida de gestores, técnicos, especialistas, estudantes e pessoas que precisam pesquisar sobre o tema central da gestão das áreas protegidas, ferramenta reconhecida nacional e internacionalmente como estratégica para a conservação da biodiversidade”, comenta Sônia Carlos, coordenadora do projeto. Além de livros, é possível encontrar no site publicações científicas, jogos, vídeos, cartilhas educativas e animações infantis para conscientização ambiental.

O site foi estruturado para que uma publicação seja encontrada de forma simples e ágil. Por SERRA DA CANASTRA isso, além de uma ferramenta de busca, podeO espaço virtual é ideal para quem quer saber mais se procurar a obra por nome, autor ou data da sobre Gestão de Áreas Protegidas, Gerenciamento publicação. A Ecoteca Digital também organizou de Unidades de Conservação, Planos de Manejo, 14 estantes separadas por temas de interesse. Espeleologia, Educação Ambiental e outros assuntos ligados às melhores praticas de gestão das UCs SORTEIO e, sobretudo, ao conhecimento e as informações indispensáveis para organizar estas atividades. Para comemorar o sucesso de acessos e publiTudo disponibilizado de forma gratuita. cações (14.300 no mês de agosto), algumas até estrangeiras, a Ecoteca Digital está realizando A iniciativa surgiu do diagnóstico realizado um sorteio de 11 livros para os usuários do porpela ONG Terra Brasilis, que detectou uma tal. As inscrições podem ser feitas por meio do dificuldade no acesso a estudos e publicações site www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital, até que atendessem os gestores de Unidades de o dia 10 de novembro. Os ganhadores serão Conservação. Além disso, a análise comprovou conhecidos no dia 13 do mesmo mês.



AntÁrTica Embarque nessa aventura!

Texto: Adaptação da obra de Haroldo Palo Jr., “Antártida - Expedições Brasileiras” Fotografia: Haroldo Palo Jr. (sem os créditos no local) e Acervo da Antarctica Expeditions/Zelfa Silva 34 | Rota Verde


Acervo da Antarctica Expeditions Rota Verde | 35


Acervo da Antarctica Expeditions

Ushuaia / Argentina

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P

or muito tempo as viagens ao continente antártico eram restritas aos cientistas e a poucos intrépidos aventureiros. Histórias relatadas sobre as odisseias vividas na desértica região polar austral permeavam a imaginação de muitos e inspiravam novos aventureiros a descobrir os mistérios da “terra incógnita”. Atualmente, é possível ingressar numa dessas aventuras com conforto e segurança. Diversas opções de cruzeiros, com destino ao continente branco e às ilhas da região subpolar, partem anualmente realizando o sonho de um seleto grupo de pessoas que tem o privilégio fazer essa incrível viagem. A Antártica é a terra dos superlativos. Possui as maiores geleiras que produzem “icebergs” gigantescos e é o maior reservatório de água doce do mundo, nela se registram as menores temperaturas e os mais devastadores ventos do planeta e, sem dúvida nenhuma, é a região mais inóspita da Terra.

Ao contrário do Ártico, que não tem solo para sustentar sua calota de gelo polar, a Antártica é formada por uma imensa calota de gelo apoiada sobre um continente. Sua área é de 14 milhões de quilômetros quadrados e é o continente com a maior altitude média do planeta: 2.200 metros. Durante o inverno, quando o mar se congela formando o “pack ice”, a área coberta de gelo é acrescida de cerca de 19 milhões de quilômetros quadrados. Sua forma é grosseiramente circular com um diâmetro de cerca de 4.500 quilômetros, mas duas grandes reentrâncias, o Mar Weddell de um lado, e o Mar Ross do outro reduzem sua largura mínima para 1.900 quilômetros. Nessa parte estreita erguem-se as Montanhas Transantárticas, que separam as duas províncias geológicas formadoras do continente. Até as descobertas feitas durante o Ano Geofísico Internacional, em 1957/58, muito pouco se sabia a respeito do solo antártico e

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Fonte do mapa: NASA/Wikimedia Commons

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da camada de gelo que o recobre. Nos mapas antigos a citação Terra Incógnita era a melhor descrição que dela se podia fazer. A topografia da superfície escondida sob a calota de gelo foi um mistério só há pouco tempo desvendado. Descobriu-se que os radares dos aviões, ao sobrevoarem a calota, muitas vezes forneciam medidas excessivamente grandes da altitude de voo. Verificou-se, então, que os sinais dos radares penetravam no gelo e informavam, na verdade, a altitude acrescida da espessura do gelo. Desenvolveu-se, a partir daí, um novo método para o mapeamento do relevo do solo, utilizando-se radares a bordo de aviões. Os métodos anteriormente usados, gravimétricos e sísmicos, limitavam bastante a área mapeada. A impressionante calota de gelo que se apoia sobre o Continente Antártico recobre 98% de sua área e possui espessura variável, dependendo da altitude do leito de rocha sobre o qual se formou, e da distância até o litoral. Na região do Domo Charlie, a calota de gelo alcança sua maior espessura, com 4.776 metros. Devido a grande espessura da calota de gelo, poucas são as montanhas que conseguem ultrapassá-la. O Maciço Vinson, na Cordilheira Sentinel, é o pico mais alto do continente, com 5.140 metros de altitude. Todo esse inimaginável volume de gelo (30 milhões de quilômetros cúbicos) representa 90% da água doce da Terra.

A calota de gelo Antártica foi formada por precipitação de neve que se compactou devido ao seu próprio peso. À medida em que as precipitações de neve foram ocorrendo, aprisionaram junto com as moléculas de água amostras de partículas sólidas, bolhas de ar e toda uma gama de elementos e substâncias químicas que constituem um dos melhores registros da história evolutiva da Terra. Essas partículas podem agora ser analisadas através de amostras estratigráficas de gelo, colhidas em buracos perfurados na calota. Esse registro histórico é tão preciso que se pode, por exemplo, determinar a idade das camadas de neve em função da radioatividade nelas criada pelas bombas de hidrogênio explodidas na atmosfera, nos testes nucleares de 1954/55, 1958 ou 1961/62. Esta radioatividade indica também que os efeitos das explosões atômicas se esparramam por todo o planeta. Elementos depositados na neve depois de grandes erupções vulcânicas, como a de Krakatoa em 1883, podem ser recuperados, revelando as condições atmosféricas e climáticas da época. A União Soviética está extraindo gelo de um buraco na Estação Vostok, que já tem dois mil metros de profundidade, e está revelando a história climática da Terra, desde o presente até 160.000 anos atrás. Os franceses também estão perfurando na região chamada Domo C e já atingiram 900 metros de profundidade.

Acervo da Antarctica Expeditions

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“Icebergs”

Anualmente a calota de gelo antártica despeja no mar, sob a forma de “icebergs”, mais de um trilhão de toneladas de gelo, cerca de 1500 quilômetros cúbicos. A forma e tamanho dos “icebergs” dependem do tipo de geleira e do local onde é liberado no mar. As barreiras de gelo são imensas banquisas flutuantes, de 200 a 300 metros de espessura, que avançam mar adentro e normalmente produzem “icebergs” tabulares, que têm a forma de uma tampa de mesa. Como as barreiras de gelo são flutuantes, podem crescer durante muitos anos antes que se rompam, mas, quando o fazem, produzem “icebergs” gigantescos. ”Pack-ice” No final do verão antártico, quando a temperatura começa a cair, o mar inicia um processo de congelamento ao longo de toda a costa antártica, para formar o “pack-ice”. Gradualmente a área coberta pelo “pack-ice”

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aumenta, até atingir um máximo em setembro/ outubro, quando a área total recoberta de gelo no hemisfério sul pode alcançar 32 milhões de quilômetros quadrados. Essa massa de gelo flutuante tem uma grande influência na troca de calor entre a atmosfera e o oceano. Enquanto a superfície livre do mar reflete cerca de 5% da radiação solar, o “pack-ice” coberto de neve reflete mais de 80%, atrasando o aquecimento da atmosfera, mantendo o ar sobre a Antártica frio, mesmo após o período crítico do inverno. Durante as primeiras viagens ao redor da Antártica, muitos navios ficaram presos na armadilha do “pack-ice”. Atualmente os navios quebra-gelo polares são capazes de se deslocar pelo “pack-ice” de 3 metros de espessura a uma velocidade de 5 nós. A espessura do “pack-ice” varia entre 1 e 10 metros dependendo da idade e distância da costa.


Icebergs

Pack-ice


Climaticamente, a Antártica é a região mais fria da Terra, com temperaturas médias no mês mais frio de -15o a -30oC no litoral e de -40o a -70oC no interior do continente. Durante o verão, no mês mais quente, a temperatura média fica em torno de 0oC na costa e varia entre -15o e -35oC sobre a calota de gelo continental. Em julho de 1983, na Estação Vostok, os russos registraram a menor temperatura já medida no planeta: -88,3oC.

Em termos meteorológicos, a Antártica não pode ser vista isoladamente do resto do mundo. Ela influencia consideravelmente os padrões climáticos do planeta, especialmente da América do Sul. A umidade absoluta, na Antártica, devido às baixas temperaturas, é sempre muito baixa. Em contraste, a umidade relativa, varia tremendamente e pode atingir até 95%, quando existe muita neve sendo soprada pelo


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vento. Os valores baixos de umidade absoluta do ar antártico, provocam o ressecamento e encolhimento de muitos materiais. As habitações construídas de madeira, por exemplo, correm grandes riscos de incêndios. Animais mortos ressecam ao ponto de se tornarem mumificados. No entanto, a sensação de frio fica sensivelmente menor justamente por essa baixa umidade do ar, tornando a visitação não

só possível, mas também muito agradável. A única época do ano em que os cruzeiros turísticos operam tem início em Novembro e estende-se até o final de Fevereiro, abrangendo o luminoso verão austral. É neste período que podemos apreciar as paisagens antárticas com o sol da meia noite. Como ponto de partida, a maior parte dos cruzeiros turísticos tem seu inicio no “Fin del Mundo”, em Ushuaia, na província argentina de Tierra del Fuego. Seguindo em direção ao sul do planeta, os poderosos navios quebra-gelo atravessam cerca de 1.000 Km da Passagem de Drake até alcançar a Península Antártica. Dependendo do cruzeiro escolhido, o itinerário pode incluir a visitação às Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul, ou até mesmo o cruzar o circulo antártico, além de outros pontos de visitação tradicionais na Península Antártica, como por exemplo, a ilha Deception, de formação vulcânica, apresenta águas termais onde é possível aproveitar um banho cercado pela maravilhosa paisagem glacial.

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Apresentações sobre a fauna, geografia e história da Antártica são ministradas por uma equipe de naturalistas durante toda a viagem, preparando os turistas para o que vão encontrar nessa terra de extremos. Além das atividades culturais e dos diversos desembarques para observar a fauna e contemplar as belezas das terras austrais, alguns cruzeiros incluem também opcionais mais arrojados em suas programações. Entre as atividades oferecidas estão: - Fazer longas caminhadas no gelo, com a possibilidade subir em algumas montanhas, de onde a vista panorâmica é uma regalia para poucos; - Acampar para pernoitar no continente gelado, após um delicioso jantar servido a bordo do navio; - Passear de caiaque pela orla marítima na companhia de focas e pinguins.

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Na Antártica não existem mamíferos terrestres. Ursos polares, lobos, raposas e alces ocorrem somente no Ártico e não têm representantes equivalentes na região antártica, onde os únicos mamíferos vivem no mar: as baleias, os golfinhos e as focas.

Dentro da ordem Cetacea, que engloba todas as baleias, golfinhos e toninhas, existem duas subordens: as baleias com dentes (subordem Odontoceti) e as baleias com barbatanas (subordem Mysticeti). São dois grupos bem distintos, especialmente quanto ao tamanho, forma e alimento utilizado. As baleias de barbatanas são em geral maiores e comercialmente mais importantes.

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As baleias são animais de sangue quente, respiram ar na superfície do mar e estão altamente adaptadas à vida na água. A camada de gordura que envolve todo o corpo tem múltiplas funções; serve como isolante térmico, reservatório de energia, facilita a flutuabilidade, absorve nitrogênio durante os mergulhos profundos e acumula a água que é utilizada na osmo-regulação. Atualmente a caça às baleias na Antártica está regulamentada, mas desde o final do século XIX até os anos 60, a perseguição foi


inexorável, reduzindo seus estoques a níveis baixíssimos, comprometendo a própria reprodução. Somente no verão de 1930/31, um dos anos de maior coleta, foram mortas 29.410 baleias-azuis, 10.017 baleias-fin e 576 jubartes em águas antárticas. Com o declínio do número de baleias-azuis, nos anos 50, a pressão aumentou sobre as baleias-fin, baleiassei e cachalotes. Durante a estação de 1961/62, o total de baleias mortas somou 65.966 e durante aquele verão 21 navios-fábrica e 269 barcos de captura operaram na Antártida. Os

maiores países caçadores de baleias eram: Japão, Noruega, União Soviética, Grã-Bretanha e Holanda. Comercialmente o óleo de baleia é aproveitado na fabricação de margarinas, sabões, lubrificantes, ceras, explosivos e muitos outros produtos, enquanto os ossos são utilizados para fazer colas, gelatinas e fertilizantes. A carne serve como alimento humano em alguns países e como comida para cachorros e ração para gado.

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verde


Na verdade, todo o ecossistema antártico está passando por um processo de reequilíbrio devido a este superavit de krill não consumido pelas baleias que foram eliminadas. Estimase que a redução da biomassa das baleias de barbatanas soma 36,5 milhões de toneladas, implicando num superavit de krill de 153,3 milhões de toneladas. Os efeitos deste potencial de alimento excedente nos vertebrados antárticos já se faz sentir nas populações de focas-de-pelo e algumas espécies de pinguins, que aumentaram sensivelmente seu número. Só que agora eles precisam lutar por um espaço livre nas praias para construção dos ninhos, reprodução e cuidado dos filhotes, e essa competição significa um outro fator limitante para o seu crescimento. Além das baleias, frequentemente avistadas durante a navegação, outro grupo bastante abundante nesta região é o dos focídeos (focas).

Ilha Geórgia do Sul

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A ordem Pinnipedia engloba as focas, leõesmarinhos e morsas, e compreende 3 famílias: a Odobenidae, com uma única espécie, a morsa, que vive no Ártico; a Otariidae, com 14 espécies, entre as quais, as focas-de-pelo e os leões-marinhos; e a Phocidae, que inclui as focas-verdadeiras, com 18 espécies em todo o mundo.

Albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris)


Ilha Geórgia do Sul As Ilhas Geórgia do Sul, Sandwich e Bird são territórios britânicos ultramarinos. Localizadas no Atlântico Sul, esse pequeno território é um paraíso ecológico que abriga diversas espécies de aves e algumas de mamíferos, além da exuberante fauna marinha. No passado esta era uma área ocupada pela indústria baleeira. Atualmente, apenas pesquisadores e funcionários do governo ocupam o território. Assim como ocorre com as Ilhas Malvinas ou Falklands, o governo argentino reivindica a soberania sobre esse arquipélago. A ilha Geórgia do Sul faz proporciona a seus visitantes a grata surpresa de encontrar uma explosão de vida selvagem, totalmente indiferente à presença humana.

Fonte do mapa: CIA World Factbook/Wikimedia Commons

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Ilha Ge贸rgia do Sul Acervo da Antarctica Expeditions



A foca-de-pelo ou lobo-marinho é o único representante da família Otariidae que habita a Antártida. Eles são facilmente diferenciados das demais focas: possuem pequenas orelhas e, quando em terra, são capazes de se deslocar sobre as quatro nadadeiras com grande agilidade. As outras focas, ao contrário, são extremamente desajeitadas em terra; deslocam-se como lagartas. A foca-de-pelo foi vítima de uma das maiores perseguições já realizadas pelo homem contra uma comunidade de animais. A espécie foi quase extinta depois de uma descontrolada matança em busca da sua valiosa pele. Já em 1821/22 cerca de 320 mil focas-de-pelo foram mortas no Arquipélago das Shetland do Sul e os seus quase 100 mil filhotes foram abandonados e pereceram sem os cuidados dos pais. Somente na Ilha Geórgia do Sul, estimase que um milhão e duzentas mil focas-depelo foram eliminadas entre os anos de 1778 e

Ilha Geórgia do Sul

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1826. Em 1874, estava extinta na ilha. Quando foram, enfim, protegidas por lei, restavam apenas algumas centenas de exemplares que conseguiram, no entanto, recuperar a espécie, hoje estimada em 2 milhões de indivíduos. A família Phocidae possui 5 representantes na região antártica, todos com distribuição circumpolar. Ocupam desde as praias continentais até as ilhas subantárticas no verão e no inverno se distribuem sobre o “pack-ice”. Neste grupo temos a foca-leopardo, a foca-deweddell, a foca-caranguejeira, a foca-de-ross e o elefante-marinho.


Elefante-marinho (Mirounga leonina)

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Foca-de-wenddell (Leptonychotes weddellii)

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Elefante-marinho (Mirounga leonina)

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Elefante-marinho (Mirounga leonina)

A foca-de-weddell conta com uma dentição forte e não especializada e alimenta-se principalmente de peixes; já a foca-caranguejeira apresenta uma dentição adaptada para filtração e alimenta-se quase exclusivamente de krill; a foca-leopardo possui incisivos e caninos longos, dentes posteriores com 3 cúspides e se alimenta de krill, peixes, lulas, pinguins e focas; a foca-de-ross, com dentes incisivos e posteriores afiados, mas pequenos e recurvados, alimenta-se de lulas de grande profundidade; os elefantes marinhos têm o mesmo hábito alimentar da foca-deross, mas ocupam outro nicho ecológico. Os elefantes-marinhos são notáveis pelo tamanho que atingem. Os machos adultos chegam a medir 4,50 metros de comprimento, com um peso de 4 toneladas. São animais que habitam as ilhas oceânicas subantárticas, e

jamais se aventuram em mar aberto. Os machos mais fortes possuem haréns de 5 a 30 fêmeas e lutam para defendê-las dos machos jovens, que vivem desafiando a força e experiência dos mais velhos. Estima-se que possam existir cerca de 40 milhões de focas-caranguejeiras nos mares antárticos. Como já foi mencionado anteriormente, seus dentes funcionam como peneiras para separar da água, o krill, que compõe 90% da sua alimentação. Junto com as baleias, estas focas são os maiores consumidores de krill na Antártica. São capazes de permanecer mais de uma hora submersas em mergulhos de até 400 metros de profundidade.

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Foca-caranguejeira (Lobodon carcinophagus)

Foca-de-wenddell (Leptonychotes weddellii) 62 | Rota Verde


Quando jovens, as focas-caranguejeiras são muitas vezes atacadas por focas-leopardo. Este comportamento é tão significativo que 63% das focas-caranguejeiras apresentam profundas cicatrizes. Pinguins são também vítimas dos ataques das focas-leopardo. Estudos feitos mostraram que 6 focas-leopardo matam, cada uma, uma média de 8 pinguins adultos por dia, durante o período de reprodução dos pinguins de 100 dias. Já no final da fase de reprodução, quando os filhotes de pinguins estão entrando no mar pela primeira vez, verificou-se que 4 focas-leopardo matam, cada uma, 15 filhotes de pinguins por dia, durante 2 semanas. Outra característica interessante dos focídeos é o rápido período de lactação das fêmeas que oscilam entre 3 e 5 semanas, dependendo da espécie. Atualmente todas as espécies de focas antárticas estão protegidas contra a caça e foram estabelecidas cotas e regras para a coleta científica. A Convenção para a Conservação das Focas Antárticas controla e fiscaliza todos os estudos feitos com os pinípedes.

Foca-de-pelo (Arctocephalus gazella)

Foca-leopardo (Hydrurga leptonyx) Rota Verde | 63




A fonte da vida

Os mares antárticos, ao contrário do “desértico” Continente coberto de gelo, sustentam um ecossistema extremamente produtivo, no qual o krill desempenha um dos papéis mais importantes. Apesar de haver uma ampla distribuição circumpolar da fauna e flora submarinas, há lugares onde a concentração de biomassa excede os valores normais. Os ventos, o relevo submarino, as correntes marítimas e as diferenças na temperatura

anfípoda (gênero Bovallia)

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da água do mar, provocam complexas movimentações das massas de água entre a superfície e as regiões abissais. Com isso, as águas da superfície, são continuamente renovadas e substituídas por águas ricas em nutrientes e alimentos primários (fitoplâncton e zooplâncton), produzidos com o auxílio da energia solar. É nessa fértil e agitada superfície (0 a 150 metros) que se concentram a maior parte dos animais marinhos antárticos. Krill é o nome genérico das várias espécies de um pequeno crustáceo, parecido com o


camarão. Na verdade a palavra, de origem norueguesa, se referia originariamente aos resíduos encontrados no estômago das baleias de barbatanas, que se alimentam preferencialmente deste crustáceo. As 85 espécies de krill que habitam os oceanos de todo o mundo, pertencem à família Euphausiidae, e somente 7 espécies ocorrem nos mares antárticos, das quais, apenas uma, Euphausia superba, se destaca, devido aos grandes cardumes encontrados. Todas as espécies antárticas de krill têm distribuição circumpolar, mas as maiores concentrações ocorrem no Mar Weddell, Mar Bellingshausen e na parte norte do Mar Ross, onde a topografia do oceano aparentemente favorece a renovação dos nutrientes básicos da sua alimentação (fitoplâncton). O krill é onívoro e chega até mesmo a desenvolver hábitos canibalísticos. O tempo de vida é estimado entre 1 e 3 anos. Estudos recentes com Euphausia superba, indicam que esta espécie pode atingir 5 a 7

anos. Tempo de vida surpreendentemente longo para um animal planctônico. Em laboratório, foi observada a grande voracidade com que um anfípoda (uma espécie de crustáceo) captura e se alimentou de um krill. Se esta predação também ocorre no mar, e se considerarmos que existem cerca de 400 espécies de anfípodas nos mares antárticos o consumo de krill por este grupo de animais também deve ser considerável, aumentando ainda mais a importância deste crustáceo dentro do ecossistema marinho antártico. As populações de peixes constituem um segundo elemento importante dentro do ecossistema marinho antártico. Ao todo representam cerca de 150 espécies, a maioria delas de hábitos pelágicos, isto é, vivem em grandes profundidades. Os cefalópodes constituem outro segmento dos organismos marinhos acerca dos quais ainda pouco se sabe. As lulas são excelentes nadadoras, tornando muito difícil a sua captura para fins científicos.

krill (Euphausia superba) Rota Verde | 67


Avifauna

Albatrozes

Quem já teve a oportunidade de se aventurar mar adentro deve ter se surpreendido com o aparecimento súbito de dezenas, às vezes centenas de aves, que surgem como se viessem do fundo do mar. Dependendo de onde se esteja navegando, é possível observar desde os minúsculos petréis-das-tempestades, que nunca pousam, apenas saltitam sobre a água em busca de alimento, até os gigantescos albatrozes-errantes, que medem 3,35 metros de envergadura. As rotas migratórias acompanham as correntes marinhas ricas em plâncton e animais bentônicos que lhes servem de alimento. As águas geladas dos mares antárticos são extremamente ricas em alimentos primários, fitoplâncton e zooplâncton, base da cadeia alimentar que envolve todos os animais da região. Esta abundância de alimento permite, por exemplo, que 200 mil casais de petréis-dastempestades se reúnam para nidificar somente na Ilha Signy, nas Orcadas do Sul.

A forma mais elegante deste grupo de aves, o albatroz-errante, é uma máquina voadora perfeitamente adaptada aos mares circumpolares antárticos onde predominam ventos fortes. Na primeira fase da sua vida, quando ainda são muito jovens para reproduzir, ou seja, até o sexto ou sétimo ano, estas aves jamais procuram terra firme para descansar ou dormir. Voam dia e noite, pousando no mar apenas para se alimentar de lulas e peixes apanhados principalmente à noite, quando cochilam por curtos períodos, ou para fazer o “preening” das penas: penteando e untando com óleo todas as penas do corpo, eles garantem uma perfeita aerodinâmica no ar e completa impermeabilização na água. Ao contrário das demais aves marinhas, outra característica dos albatrozes é o longo período reprodutivo. O ciclo do albatroz-errante é o mais longo do grupo; desde a postura do ovo até o filhote deixar o ninho passam-se 13 meses.

Albatroz-cinza (Phoebetria fusca) 68 | Rota Verde


Albatroz-errante (Diomedea exulans)

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Petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus)


Procelarídeos São petréis, pardelas, bobos e fulmares que se caracterizam pelas narinas situadas no topo do bico, unidas num único tubo nasal e separadas por um septo mediano. É a família com maior número de representantes na Antártida e também aquela que traz as maiores dificuldades para a identificação das espécies na Natureza.

Petrel-gigante-do-norte (Macronectes halli)

Petrel-gigante O petrel-gigante (Macronectes giganteus) apresenta um interessante caso de polimorfismo com duas fases distintas de plumagem. Uma fase escura onde os adultos são quase inteiramente cinza amarronzados com branco sujo na cabeça e pescoço, e uma fase clara, onde as aves se apresentam inteiramente brancas com algumas poucas penas escuras esparramadas pelo corpo, que parece ser a fase terminal de um processo de branqueamento da plumagem com o avanço

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da idade. Para a outra população de petréisgigantes (Macronectes halli) não se conhece uma fase branca de plumagem e sua coloração é mais escura e marrom do que a outra espécie. Os petréis-gigantes são os urubus antárticos. Alimentam-se de qualquer animal recentemente morto ou em franca decomposição, mas muitas vezes também caçam, atacando especialmente os pinguins, jovens ou adultos. As skuas, os gaivotões e as pombas-antárticas são as outras aves que, junto com os petréis-gigantes, desempenham ali o papel de aves de rapina. Pombas-antárticas As pombas-antárticas são frequentadoras assíduas das pinguineiras, onde inclusive constrõem seus ninhos. Basta que encontrem alguma cavidade sob uma rocha grande, protegida do vento e da neve. São aves pequenas, mas capazes de atacar e matar filhotes desprotegidos de pinguins.

Pomba-antártica (Chionis alba)

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Bobo-de-sobre-branco (Puffinus gravis)



Skua-lonnberg (Catharacta lonnbergi) adulta. A fotografia abaixo ĂŠ do filhote da mesma espĂŠcie.

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Skuas Este grupo de aves talvez represente a surpresa mais agradável para um estudioso das aves antárticas. Classificadas como gaivotasrapineiras, as skuas são eficientes predadoras chegando até mesmo ao canibalismo. Capazes de voar com grande agilidade e rapidez podem tanto capturar pequenos petréis em voo quanto roubar um filhote de petrel-gigante protegido por seu pai no ninho. Muitas vezes observei skuas planando como helicópteros sobre as pinguineiras até terem a chance de abocanhar um ovo ou um filhote, e carregá-lo para longe antes de comê-lo. As skuas defendem rigorosamente o território em torno dos seus ninhos e também o espaço aéreo correspondente. Sua habilidade e destreza no controle de seu território são tão eficientes que nenhuma outra ave, além da própria skua, é capaz de predar seus ovos e filhotes.

Dentro de seu território as skuas costumam agredir até mesmo o homem com vôos razantes sobre nossas cabeças, desviando-se apenas nos últimos instantes. Muitas vezes nos atingiam com os pés, as pontas das asas ou bico.

Skua-maccormick (Catharacta maccormicki)

Skua-lonnberg (Catharacta lonnbergi) Rota Verde | 75


Trinta-rĂŠis-antĂĄrtico (Sterna vittata)

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Trinta-réis-antártico

Ao se abordar o assunto migrações, não se pode deixar de mencionar o campeão dos migradores: o trinta-réis-ártico. Esta pequena andorinha-do-mar, como também é conhecida, mede apenas 38 cm de comprimento e voa todos os anos da região ártica para a antártica, e vice-versa, fugindo dos invernos. Ela nidifica exclusivamente no Ártico e migra para a Antártica por duas rotas: as aves que partem do Alaska e leste da União Soviética seguem pela costa oeste das Américas e as aves procedentes do norte do Canadá e Groenlândia passam pela Islândia, oeste Europeu e oeste do continente africano até atingirem a região do Mar Weddel onde passam o verão. Assim o trinta-réis vive nos dois extremos da Terra, onde os dias são permanentes durante os verões, e talvez seja o animal do planeta que mais vê a luz do sol.

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Pinguins Em todo mundo existem 17 espécies de pinguins, mas nem todas as espécies habitam regiões de clima frio conforme sugere popularmente a sua imagem. Os pinguins são aves perfeitamente adaptadas à vida na água. Ao longo de sua evolução, suas asas, chamadas de aletas, foram modificadas para atuarem como remos, e assim eles podem nadar com grande agilidade e rapidez, atingindo velocidades de até 40 km/h. Quando se deslocam no mar, avançam saltando fora d’água como os golfinhos, e aproveitam o espaçamento entre as ondas para diminuir o atrito com a água e também para respirar. Praticamente todas as espécies habitam regiões de água fria e, para reduzir a perda de calor quando submersos, possuem uma camada de gordura sob a pele e um espesso revestimento de penas. Esta camada de gordura, além de agir como isolante térmico, é também um depósito de energia, utilizada eventualmente durante os períodos de muda das penas e incubação dos ovos. Na prática, o que lhes confere mesmo o isolamento hídrico e térmico é a impermeabilização das penas que são untadas com óleo retirado da glândula uropigiana e esparramado pelo corpo com o bico. Todos os dias, após o retorno do mar, os pinguins fazem este “preening” das penas, refazendo desta forma a impermeabilização e garantindo uma proteção do corpo no próximo contato com a 78 | Rota Verde

água fria, cuja temperatura na Antártica está em torno de -0.5oC. O pinguim-imperador é notável por seu tamanho de 1.10 m de altura e 30 kg de peso, e por ser o único que realiza a proeza de nidificar sobre o “pack-ice” durante o inverno, quando a temperatura cai para 40-50oC abaixo de zero, os ventos são verdadeiras tempestades e a noite é permanente. Nestas condições, muitas vezes, os pinguins deslocam-se até 400 km da costa para alcançar as áreas adequadas para a reprodução. Dois meses de namoro marcam o tempo de formação dos casais; a fêmea, então, deposita um único ovo que é incubado pelo macho. Imediatamente após a postura, a fêmea, que já perdeu cerca de 20% de seu peso, retorna para o mar. Como o casal não constrói ninho, o macho, sempre ereto, conserva o ovo sobre seus pés em contato com a placa de choco, durante toda a incubação de 60 a 65 dias. Na semana do nascimento do filhote, a fêmea retorna do mar, trazendo alimento para o recém-nascido e substitui o companheiro que não se alimenta há 4 meses, tendo já perdido cerca de 40 a 45% de seu peso. A partir desta etapa, macho e fêmea se revezam nos cuidados com a alimentação e proteção do filhote. No mar estes pinguins são capazes de mergulhar a 250 m de profundidade, por períodos de até 18 minutos, para apanhar principalmente peixes, lulas e crustáceos.


Grande col么nia de Pinguins-reis na Ilha Georgia do Sul.

Pinguim-rei (Aptenodytes patagonicus) Rota Verde | 79


Uma das espécies mais facilmente observadas é o pinguim-antártica. Apesar de constituírem grandes colônias, mostram-se bastante agressivos ao defender o território em torno dos ninhos. Até mesmo a distribuição dos ninhos dentro da colônia obedece a um rígido padrão de comportamento. Todos os ninhos são distribuídos, equidistantemente, entre si, e esta distância é determinada pelo espaço ocupado pelas aves vizinhas quando deitadas no ninho. Ao esticarem os pescoços, os pinguins devem se tocar apenas pela ponta dos bicos.

Depois da formação dos casais e construção dos ninhos, o que acontece em novembro, as fêmeas fazem a postura de 2 ovos (algumas vezes, um só) de cor branca-esverdeada pálida. Os pais se revezam na incubação dos ovos e posterior cuidado com os filhotes. No início da incubação de 37 dias, esse revezamento tem um intervalo de vários dias. A partir do nascimento dos filhotes, no final de dezembro ou início de janeiro, as substituições no ninho passam a ser diárias, pois é preciso fornecer doses maciças de alimento aos filhotes, que, em dois meses e meio atingem praticamente o tamanho e peso dos adultos e passam por uma completa muda da plumagem.


Os principais predadores do pinguim-antártica são as skuas, os petréis-gigantes e as pombas-antárticas, que atacam duramente os ninhos da periferia das pinguineiras, roubando ovos, filhotes, e até mesmo adultos.

Pinguim-antártica (Pygoscelis antarctica)

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Pinguim-adélia (Pygoscelis adeliae)

No caso dos pinguins-adélia, a mortalidade de ovos e filhotes atinge 50 a 70%, ao longo da fase reprodutiva. Na verdade, as populações de skuas e petréis-gigantes sustentam sua própria fase reprodutiva alimentando-se nas colônias de pinguins. No mar os pinguins são predados pelas focas-leopardo que atacam adultos e filhotes, especialmente quando estes se aventuram mar adentro pela primeira vez. A nidificação em colônias é um recurso muito utilizado pelas aves para garantir um melhor índice reprodutivo. Muitas vezes, no entanto, a própria colônia é responsável pelo sacrifício de filhotes e ovos. No caso dos pinguins-antártica, por exemplo, a alta agressividade dos adultos na defesa territorial provoca a morte de vários filhotes, impiedosamente bicados quando abandonam o ninho antes do tempo. Todo o alimento necessário para sustentar milhões de novos filhotes, além dos adultos já existentes, provém do mar. Cada pinguimantártica adulto captura no mar, todos os dias,

cerca de 800 gramas de krill, apanhando entre 500 e 600 unidades. Não é uma tarefa muito fácil, e boa parte da energia absorvida pelo pinguim é consumida nesta atividade que exige uma permanência no mar entre 6 e 12 horas, e deslocamentos dentro de um raio de 40 a 50 km, a partir dos locais de reprodução. O pinguim-antártica se especializou tanto na coleta de krill que este crustáceo constitui 98% da sua dieta.

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Pinguim-papua ou Pinguim-gentoo (Pygoscelis papua)

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Pinguim-de-penacho-amarelo (Eudyptes crestatus)

A Flora Continental A flora antártica é formada principalmente por líquens, musgos e fungos. Acima dos 60oS são encontradas apenas duas espécies de plantas superiores (angiospermas), que desenvolvem flores na época de reprodução: a Deschampsia antarctica e o Colobanthus quitensis. Os principais fatores que limitam o desenvolvimento da flora terrestre são a pouca disponibilidade de áreas descobertas de gelo e neve (apenas 2%), e as severas condições climáticas. No Continente Antártico a flora é dominada pelos musgos e líquens. Foram encontrados musgos a 84oS e líquens a 86oS, a apenas 400 km do Polo Sul. São conhecidas cerca de 150 espécies de líquens e todos eles proliferaram na Antártica, principalmente devido à falta de competição com outras plantas e por sua enorme tolerância ao frio e baixa umidade. Quando as condições do relevo favorecem, os musgos formam campos que se assemelham a gramados artificiais, acomodando uma série diversificada de espécies, incluindo líquens e fungos. 86 | Rota Verde


Já imaginou uma “cachoeira de cobras” ou cabras que sobem em paredes? Imagina como é viver entre leões? Ou Mergulhar com Crocodilos? Estas e outras aventuras estão no DVD Domingão Aventura! Em comemoração aos dez anos do famoso quadro exibido no “Domingão do Faustão”, a Globo Marcas lança em DVD “As dez missões inesquecíveis do Domingão Aventura”. Em uma década, a equipe do programa, hoje formada pelos biólogos e documentaristas João Paulo Krajewski e Cristian Dimitrius e pelo diretor Cris Gomes, já visitou mais de 40 países em todos os continentes. Agora, os fãs poderão rever em maiores detalhes algumas dessas reportagens e ainda acompanhar viagens inéditas, em conteúdo exclusivo do DVD, com curiosidades impressionantes do mundo animal. O DVD ‘Domingão Aventura’ está à venda no Portal Globo Marcas (www.globomarcas.com), pelos telefones (21) 2125-7025 (todo o Brasil), (11) 2196-7025 (São Paulo) e em lojas especializadas. Preço sugerido: R$44,90.


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Giovanni Fattori/ Wikimedia Commons

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Ilha Rei George Esta é a maior das ilhas que constituem o arquipélago Shetland do Sul, com aproximadamente 95 quilômetros de comprimento por 25 de largura e 90% de sua área coberta por gelo. A ilha concentra a maior quantidade de estações de pesquisa de todo o continente antártico, inclusive a recém destruída base brasileira. Programa Antártico Brasileiro O Brasil iniciou oficialmente suas atividades na Antártica em novembro de 1982, quando realizou sua primeira expedição de verão: a Operação Antártica I. Em abril de 1989 conclui-se a Operação Antártica VII e iniciouse a quarta invernação na estação brasileira.

Em apenas sete anos de trabalhos o Brasil conseguiu instalar e manter funcionando permanentemente (com uma equipe no verão e outra no inverno) uma estação de pesquisa. Para cumprir este objetivo foi criado o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) que tem o propósito assim descrito: “Promover a realização de substancial pesquisa científica na região antártica, com as finalidades de compreender os fenômenos ali ocorrentes e sua influência sobre o Brasil, e possibilitar a participação do País no aproveitamento dos recursos naturais da área”. A Estação Antártica Comandante Ferraz, como foi chamada a base brasileira, estava situada a 62o 05’ S e 58o 23,5’ W, na Península Keller, Ilha Rei George. Conforme a própria concepção do projeto, a



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estação brasileira foi instalada inicialmente, no verão 83/84, com 8 módulos e sofreu sucessivas ampliações nas operações posteriores, contando em sua fase final com laboratórios, alojamentos, garagem, centro cirúrgico, enfermaria, ginásio de esportes, tanques de combustível e módulos periféricos. Em 25 de Fevereiro de 2012 a estação foi quase totalmente consumida por um grande incêndio, no qual duas vidas foram perdidas. Segundo as informações noticiadas pela Empresa Brasil de Comunicação, no dia 08 de maio deste ano, a nova estação de pesquisas brasileira contará com uma área de 3.200 m2 e custará aos cofres públicos cerca de 100 milhões de Reais. O início das obras está previsto para Outubro de 2013 e seu término estimado para o final de 2015. Durante este período, navios da marinha brasileira darão suporte aos pesquisadores permitindo a continuidade de seus trabalhos.

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Acervo da Antarctica Expeditions

Deixamos ainda, como indicação, a Antarctica Expeditions (http://www.antartida. com.br), uma agência de viagem credenciada pela IAATO (International Antarctic Association of Tour Operators), especializada em turismo polar, com mais de 15 anos de experiência nessa área.

Agradecimentos: Editora Vento Verde, Haroldo Palo Jr, Antarctica Expeditions, Zelfa Silva e Gunnar Hagelberg.

Acervo da Antarctica Expeditions

Considerações finais: - Dentro dos navios a temperatura média fica entre os 21oC e os 24oC e a maior parte dos passageiros anda de calças de jeans, calça de abrigo, camiseta, pulôver e tênis. Normalmente há um jantar de despedida com o capitão, ocasião na qual pode-se fazer uso de uma roupa mais formal, mas não é necessário o uso de terno e gravata. - O uso de malas duras dificulta a acomodação nos espaços, se puder use malas flexíveis ou mochilas. - Levar: Gorro de lã, calça impermeável, meias de lã e esportivas (de cano alto), luvas, óculos de sol, mochila impermeável, binóculos, máquina fotográfica com baterias extras (deixe as baterias longe do frio), filmadoras, cartões de memória extras, loção hidratante, protetor labial e solar e traje de banho.Lembramos também que todas as normas da expedição devem ser respeitadas, evitando danos ao meio ambiente e acidentes. Para maiores detalhes, sugerimos que contatem seu agente de viagens e programem essa grande aventura.

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Texto e fotografias sem os crĂŠditos: Marcello L. Reis 96 | Rota Verde


C

achoeiras, grutas, aventura, história e paisagens deslumbrantes. É o que o visitante vai encontrar na região da Serra da Canastra, sudoeste de Minas. A principal atração desta região é o Parque Nacional da Serra da Canastra, criado em 1972 para proteger a nascente do rio São Francisco, e que atualmente recebe cerca de 42 mil visitantes por ano. A região possui uma das mais belas paisagens do Brasil e abrange seis municípios: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio.

Com uma boa estrutura turística, São Roque de Minas é o município que abriga em seu território a maior área do Parque Nacional da Serra da Canastra. O turismo em São Roque de Minas tem se tornado a principal atividade econômica por possuir muitos atrativos naturais como a nascente do Rio São Francisco, a Cachoeira da Casca d´Anta, a RPPN Cachoeira do Cerradão, a Cachoeira Antônio Ricardo, o Poço das Orquídeas, entre outros. Conta também com exuberante flora e fauna diversificada que abriga espécies ameaçadas de extinção.

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Localização Geográfica

*População constatada pelo Censo 2010

Fonte do mapa: IBGE

São Roque de Minas

6.686 habitantes*

Vargem Bonita

2.163 habitantes*

Delfinópolis

6.830 habitantes*

São João Batista do Glória

6.887 habitantes*

Sacramento Capitólio

23.896 habitantes* 8.183 habitantes*

PARNA Serra da Canastra 42.000 visitas/ano

Vista panorâmica de São Roque de Minas.

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São Roque de Minas também é conhecido como “Terra do Queijo”, por concentrar grande produção do famoso queijo canastra, declarado em 2008 patrimônio cultural imaterial brasileiro, título concedido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que é muito apreciado pelos visitantes.

O Parque Em 1816-1819 - Auguste de Saint-Hilaire, o primeiro naturalista a visitar o Brasil a convite do Imperador da época, em seu roteiro pelas Províncias de Minas e Goiás, colocou em destaque a nascente do rio São Francisco, a serra da Canastra e sua deslumbrante e majestosa cachoeira “Casca D’Anta”. No seu livro “Viagem as Nascentes do rio São Francisco e pela Província de Goiás” descreveu de modo especial a região do Parque e suas riquezas naturais. O Parque Nacional Serra da Canastra foi criado pelo Decreto Presidencial nº 70.355, em 03/04/1972, com 197.809,78 hectares e, de acordo com o ICMBio, órgão gestor do parque, recebe cerca de quarenta e dois mil visitantes anualmente, sendo que destes, oito mil são visitantes não pagantes, como estudantes, universitários e visitantes institucionais.

Queijo Canastra ainda é feito de forma artesanal em pequenas propriedades. Vale conhecer e experimentar.

Apenas 70 mil hectares foram indenizados na época da criação do parque, o restante de sua área está sendo atualmente reintegrada aos domínios desta unidade de conservação.

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O MAPA DA SERRA

Mapa da pous

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sada Barcelos

Mapa de propriedade da Pousada Barcelos - proibida a cópia sem autorização. www.pousadabarcelos.com.br Rota Verde | 101


Dividido em duas partes - a alta, com três portarias (São Roque de Minas, São João Batista e Sacramento) e a baixa, com uma portaria em São José do Barreiro, o parque abriga a Cachoeira Casca d’Anta, a Garagem de Pedras e o Curral de Pedras, além de diversas cachoeiras e riachos cristalinos. A Cachoeira Casca d’Anta é, sem dúvidas, o maior atrativo da região. Com aproximadamente 186 metros de altura, é a primeira e principal queda do rio São Francisco e pode ser observada tanto pelo alto quanto pela parte inferior, através de trilhas de onde Centro de visitantes do parque

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se tem uma bela vista do vale que separa os maciços da Canastra e da Babilônia. O Rio São Francisco nasce 14 quilômetros antes desta sua queda principal. É quase impossível acreditar que uma nascente tão pequena dê origem a um rio que percorre cerca de 3.160km, passando por cinco estados brasileiros, antes de desaguar no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas. Ruínas de antigas fazendas da região do Alto São Francisco, como o Curral de Pedras, compõem o cenário do parque. Os muros de pedras, construídos sem argamassa, constituem um imenso e bem preservado curral de formas arredondadas e com dois ambientes, construído para manejo do gado. Conhecido também como Retiro dos Posses (nome de família dos antigos proprietários), o Curral de Pedras é o que restou de um antigo “retiro”, fazenda de uso temporário, geralmente no verão, quando o gado de leite era levado das partes mais baixas da serra para o chapadão, planalto no o alto da serra, onde podia desfrutar de melhores pastagens.


Área de nascente do Rio São Francisco

Vale uma visita ao Centro de Visitantes, localizado a cerca de 500 metros da portaria 1 do Parque Nacional. O Centro possui um auditório, uma pequena biblioteca, exposição de fotos, rochas e outros materiais. O material fornece boas informações gerais sobre o Parque e outras unidades de conservação. Há também painéis com dados de pesquisas realizadas sobre a fauna e a flora no Parque.

Relevo A área do parque tem importância também pela diversificação geomorfológica. Apresenta dois maciços significativos: a Chapada da Serra da Canastra, que começa a leste de São Roque de Minas, e da Serra das Sete Voltas, com o Vale dos Cândidos no meio. As altitudes variam entre 900 e 1.496 metros. Além dessas serras e do vale, o parque possui outra chapada que é a da Zagaia. As chapadas são circundadas por escarpas com platôs nos topos. O ponto culminante é a Serra Brava, na parte oriental do

parque, com 1.496m de altitude. O parque é um divisor natural de águas das bacias dos rios São Francisco e Paraná, neste caso contribuindo ao sul com o rio Grande e ao norte com o rio Paranaíba, através do rio Araguari que nasce dentro do parque.

Clima Temperaturas médias de 17°C no mês mais frio (julho) e de 23°C nos messes mais quentes (janeiro e fevereiro). Verões chuvosos e invernos secos. Na região do Parque Nacional da Serra da Canastra, as temperaturas máximas absolutas são da ordem de 34°C a 36°C, enquanto as mínimas absolutas situam-se em torno de zero grau.

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Regulamento do Parque Nacional Serra da Canastra: • Horário de visitação: 8h00 às 18h00. Recomenda-se entrar até as 16h00 no máximo. • Velocidade de tráfego nas estradas: 40 km/hora. • Lixo: Recomenda-se usar as lixeiras instaladas nos principais pontos ou de preferência recolher o lixo e entregá-lo em uma das portarias. É proibido na área do Parque Nacional: • Entrada e consumo de bebidas alcoólicas. • Uso de equipamento coletivo de som. • Prática de esportes radicais como rapel, canyoning, tirolesa, pêndulo e escalada. • Entrada de animais domésticos. • Uso de armas e material de caça e pesca. • Coleta de rochas, plantas e animais de qualquer tipo ou espécie. Infrações: As infrações ao regulamento podem resultar em punições para o visitante, desde a expulsão da área do Parque até o pagamento de multa ou prisão em flagrante.

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Curral de Pedras

Curral de Pedras

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Casca d’Anta parte alta

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Principais atrativos do Parque Nacional da Serra da Canastra Nascente do Rio São Francisco O acesso é realizado pela portaria 1, a principal, em São Roque de Minas. Após percorrer cerca de 6 km pela estrada no interior do parque, chega-se à nascente do Rio São Francisco, localizada em uma pequena área de mata ciliar. O acesso ao atrativo, um dos mais visitados do parque, é fácil. Neste local também encontrase uma estátua de São Francisco de Assis.

Cachoeira Casca d`Anta A Cachoeira da Casta d`Anta, com os seus 186 metros de altura, pode ser observada em toda sua magnitude, tanto pelo alto quanto pela parte inferior e definir por sua própria experiência qual é o angulo mais bonito desse

cenário idílico. A trilha que une a parte baixa do parque ao topo da Casca d’Anta não possui sinalização além da indicação de seu início e não é uma trilha muito fácil de ser percorrida por idosos, crianças e pessoas com limitações de saúde, apresentando trechos íngremes com terreno acidentado. A parte mais alta da trilha é uma escarpa do Chapadão do Diamante, de onde se tem uma bela vista do vale que separa os maciços da Canastra e da Babilônia. Os últimos metros da trilha são de descida, com muitas canelas-de-ema até a cachoeira. A caminhada de 4 Km pode durar duas horas para subir e uma hora para descer. Felizmente, o acesso à parte alta pode ser alcançado de carro, o que possibilita que os visitantes possam curtir as piscinas naturais sem precisar enfrentar a trilha sob o sol escaldante.

Casca d’Anta parte alta

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Primeira e maior queda do Rio São Francisco

Rio São Francisco A importância do Rio São Francisco, conhecido como o“Rio da Unidade Nacional”, é reconhecida por todos os brasileiros, mas principalmente pelos 14 milhões que dependem das águas da sua bacia. É difícil acreditar que a pequena nascente da Serra da Canastra dê origem a um rio que percorre cerca de 3.160km, passando por cinco estados brasileiros, antes de desaguar no Oceano Atlântico, entre os estados do Sergipe e Alagoas. Hoje, o Velho Chico representa aproximadamente 60% das reservas de água do Nordeste. Uma das razões da criação do Parque Nacional da Serra da Canastra foi justamente proteger sua nascente. O São Francisco teve um papel fundamental para o Brasil em toda a sua história. Serviu de acesso para os primeiros aventureiros colonizarem o interior do país, dando água e pescado para as comunidades ribeirinhas e 108 | Rota Verde

fertilizando as terras vizinhas. Hoje, ele gera energia através de suas grandes hidroelétricas e as suas hidrovias são fundamentais para o escoamento da produção agrícola. Mas, o mais marcante é vê-lo atravessar cheio de vida pelo sertão do nordeste. O uso de suas águas viabilizou a irrigação da caatinga, mudando a paisagem e o modo de vida a sua volta. Se para quem está no mar a terra é um lugar seguro, para quem está no sertão o Rio São Francisco é esse lugar.



Cachoeira dos Rolinhos e Rasga Canga A Cachoeira Rasga Canga está na parte alta da cachoeira dos Rolinhos, a cerca de 35 km

da portaria 1, em São Roque de Minas. O acesso é feito pela estrada principal do

parque. Depois de percorrer 26,5 Km a partir da portaria, deve-se pegar a bifurcação à direita e manter a direita nas duas próximas bifurcações até a marca dos 35km. Este é o segundo ponto mais visitado do parque. Assim como outros locais do parque este ponto é muito agradável para um passeio de bicicleta, podendo deixar o carro na área de estacionamento próxima à cachoeira e seguir pela estrada em direção à estrada principal e voltar aproveitando as descidas. Cachoeira Rasga Canga

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Curral de Pedras Localiza-se próximo à nascente do Rio São Francisco, a 6 km adiante pela estrada principal. São ruínas de uma fazenda da qual sobraram os antigos currais de gado.

Torre Serra Brava É o pico mais alto do parque, com 1.496 metros. Pode ser apreciado da estrada principal na altura da Garagem das Pedras.

Vista panorâmica a partir do mirante entre São Roque de Minas e Vargem Bonita.


Garagem de Pedra

Fazenda Zagaia Está próxima à portaria 3, de Sacramento, na extremidade menos visitada do parque. É um local de difícil acesso e com muitas cascavéis. Dizem que a fazenda foi de uma quadrilha de bandidos.

Garagem de pedras Está localizada na parte alta do parque, de onde se tem uma ampla vista do Vale dos Cândidos. A garagem ficava a 2 Km da sede e quando os proprietários chegavam de carro, sinalizavam com rojões para que encaminhassem cavalos para conduzi-los à sede, no pé da serra.


Recomendações gerais: • Transitar somente por trilhas conhecidas e sinalizadas, de preferência na companhia de um guia local. • Levar sempre capa de chuva e agasalho em qualquer época do ano. • Usar boné ou chapéu e filtro solar para evitar queimaduras. • Não caminhar nas trilhas quando houver cerração. • Atenção para a trilha da Casca D’Anta - parte alta para parte baixa e vice- versa: reserve pelo menos 5 horas com luz solar para essa caminhada. • Usar calçado confortável, fechado e com solado antiderrapante. • Afastar-se dos rios e córregos ao primeiro sinal de chuva. • Proceda com extrema cautela ao caminhar sobre pedras e nas proximidades das cachoeiras e mirantes. • Levar água e comida (barras de cereais, frutas, etc) para as caminhadas.

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Cachoeira Casca d’Anta

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Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus)

Lobo-guarรก (Chrysocyon brachyurus)

Fotografia: Haroldo Palo Jr. 116 | Rota Verde


Fauna É possível encontrar uma diversidade enorme e preservada da fauna e da flora da região. Dentre os animais, algumas espécies ameaçadas de extinção, como o lobo guará, o tamanduá-bandeira e o veado-campeiro podem ser vistos com relativa facilidade. As áreas de campos e cerrados da Canastra abrigam também o cachorro-do-mato, a seriema, a ema, o carcará e o magnífico gaviãocaboclo. Nas matas ciliares e nas fazendas, o show é do mico-estrela, dos quatis, do bonito e imponente urubu-rei, do jacu, do tucano-açu e do canário-da-terra. Com um pouco de sorte, os turistas podem ver a lontra, o macaco sauá e as três maiores e mais fascinantes raridades: o tatu-canastra, o pato-mergulhão e a onçaparda. Sagui do gênero Callithrix

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) Rota Verde | 117


Avifauna No tocante à avifauna, a região do entorno, onde predominam as formações abertas, principalmente áreas de pastagens e culturas temporárias, apresenta aves quase que exclusivamente generalistas e bastante adaptadas ao entorno humano. É interessante notar que a maioria dessas aves não é comum no Chapadão da Canastra, onde as ações antrópicas sobre a paisagem não são recentes. Nas áreas mais baixas, ao longo dos vales dos rios e no entorno das fazendas e áreas agrícolas, são comuns o cochicho (Anumbius annumbi), a fogoapagou (Scardafella squammata), o suiriri-pequeno (Satrapa icterophrys), a lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta) e o chopim-do-brejo (Pseudoleistes guirahuro). 1

1 - Urubu-rei (Sarcoramphus papa) 2 - Anu-preto (Crotophaga ani) 3 - Ema (Rhea americana) 4 - Carcará (Caracara plancus) 5 - Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) 6 - Seriema (Cariama cristata) 7 - Curicaca (Theristicus caudatus)

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Várias aves como o tucanuçu (Ramphastos toco), o periquitão-maracanã (Aratinga leucophthalmus) e o saí-andorinha (Tersina viridis) são frequentemente avistadas no interior de cidades e vilarejos situados no entorno do PNSC, como São Roque de Minas, Delfinópolis e São João Batista da Canastra. Outras espécies parecem ter encontrado nessas cidades locais adequados para sua reprodução, como o andorinhão-do-temporal (Chaetura andrei) e a jandaiade-testa-vermelha (Aratinga auricapilla). 4

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1 - Noivinha-branca (Xolmis Velatus) 2 - Tietinga (Cissopis leverianus) 3 - Chopim-do-brejo (Pseudoleistes guirahuro) 4 - Maria-preta-de-penacho (Knipolegus lophotes) 5 - Lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta) 6 - Bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) 7 - Canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola) 8 - Saí-azul (Dacnis cayana) 9 - Saíra-amarela (Tangara cayana) 10 - Saíra-de-papo-preto (Hemithraupis guira)

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1 - Tucano-toco (Ramphastos toco) 2 - Periquitão-maracanã (Aratinga leucophthalma) 3 - Sabiá-do-campo (Mimus saturninus) 4 - Pica-pau-branco (Melanerpes candidus) 5 - Pato-mergulhão (Mergus octosetaceus)

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O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), ocupa vários córregos dentro e no entorno do Parque, o que torna a região um local prioritário para o desenvolvimento de ações para a conservação dessa espécie, a qual encontra-se criticamente ameaçada de extinção. 122 | Rota Verde


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Eriosema prorepens

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Flora O bioma predominante na Serra da Canastra é o cerrado, também chamado de “savanas brasileiras”. Esse bioma é fantasticamente rico em biodiversidade, com diversas espécies endêmicas. A distribuição da vegetação varia conforme o relevo e a hidrografia da região, dividindo-se, de forma geral, em: campos limpos, campos sujos, campo rupestres e mata ciliar. São mais de seis mil espécies vegetais, que dão suporte a milhares de espécies da fauna brasileira.

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1 - Colher de vaqueiro (Salvertia convallariodora) 2 - Vellozia sp. 3 - Baririço-amarelo (Trimesia juncifolia) 4 - Vellozia peripherica

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1 - Sisyrinchium alatum 2 - Cip처-de-s찾o-jo찾o (Pyrostegia venusta) 3 - Drosera montana 4 - Pinheirinho-roxo (Lavoisiera imbricata) 5 - Barbacenia glabra 6 - Jalapa (Mandevilla illustris)

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Sempre-viva Entre a diversidade da flora encontrada na Serra da Canastra estão as plantas da família Eriocaulaceae, conhecidas popularmente como sempre-vivas. Devido a durabilidade dessas plantas após serem coletadas, algumas das espécies desta família são muito usadas em arranjos florais e artesanatos, sendo apreciadas também em diversos países, impulsionando sua exportação. A coleta descontrolada em certas regiões, já pôs algumas espécies dessas plantas em risco de extinção.

1 - Chuveirinho (Paepalanthus chiquitensis) 2 - Paepalanthus sp. 3 - Paepalanthus canastrensis 4 - Actinocephalus polyanthus

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Atrativos vizinhos ao parque também são uma excelente opção de turismo e detém grande beleza cênica além de possibilitar aos visitantes caminhadas por trilhas, banhos de cachoeiras, relaxar em piscinas naturais de águas cristalinas e conhecer um pouco mais sobre a cultura local.

Cachoeira do Fundão Distante aproximadamente 50 Km de São Roque de Minas, esta é uma das mais belas cachoeiras da região. Com suas águas cristalinas de tom esverdeado e cercada por vegetação preservada e elevados paredões rochosos, a cachoeira oferece aos visitantes uma grande piscina natural num cenário de beleza ímpar. Para acessar essa cachoeira é recomendável o uso de carros com tração nas quatro rodas ou aproveitar o passeio, sem preocupações, contratando os serviços de um guia de turismo.

Cachoeira do Cerradão Em 2001, a área que abrange a Cachoeira do Cerradão foi transformada numa Reserva Particular do Patrimônio Natural. Assim, além da cachoeira esta reserva proporciona um passeio muito agradável por uma trilha autoguiada e muito bem preservada até a piscina natural formada pelas quedas d’água. A vegetação típica da região é evidenciada na trilha com plaquetas de sinalização e durante o trajeto é possível avistar diversas espécies de aves e outros animais. As cachoeiras em propriedades particulares cobram uma pequena taxa para a visitação e tem horários definidos para o ingresso e retorno do passeio. Consulte um operador de turismo ou pergunte na recepção de sua hospedagem sobre as normas e horários para esses atrativos turísticos. Além de São Roque de Minas, vale a pena conhecer outras cidades da região:

Cachoeira do Fundão 130 | Rota Verde


Cachoeira do Fund達o

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Cachoeira do Cerradão

Sacramento Sacramento tem a história de seu surgimento ligada à exploração de sua região por expedições em busca de riquezas minerais. O Parque Municipal da Gruta dos Palhares é o principal atrativo natural do destino, abriga

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uma gruta com formação rochosa de arenito Botucatu e que foi descoberta no século XIX. Possui 22 metros de altura e 450 metros de profundidade. A Represa de Jaguará e o Parque Nacional da Serra da Canastra, com a Cachoeira Parida são outros atrativos naturais de destaque.


Delfinópolis Delfinópolis é conhecida como Paraíso Ecológico devido a suas matas ciliares que abrigam diversas espécies em extinção. O principal atrativo do roteiro são as cachoeiras do Claro com 4 quedas; do Luquinha com 3 quedas; do Paraíso com 6 quedas e também de diversos poços propícios para o banho em várias partes do município. Merece destaque a Fazenda Paraíso que abriga os encantos de 8 cachoeiras. Para os turistas que gostam de caminhadas, a cidade oferece diversas trilhas, como a da Casinha Branca, Pico Dois Irmãos, Chora Mulher e Chapadãozinho. Os adeptos de adrenalina e aventura vão gostar de atividades como esportes náuticos, motocross, canyoning, rapel, mountain bike, moto-rail e off-road. A cidade oferece ainda passeios de jipe pelo Vale da Gurita e visitas em fazendas, onde se podem saborear as delicias do local, observar a ordenha dos animais e a fabricação de cachaça.

Cachoeira Capão Forro

Cachoeira da Chinela Rota Verde | 133


Distâncias aproximadas das capitais da região sudeste até a Serra da Canastra: São Paulo 540 km Rio de Janeiro 680 km Belo Horizonte 330 km Vitória 845 km Existem boas opções de hotéis e pousadas tanto rurais como urbanos. Tivemos a oportunidade de conhecer e aprovar os serviços de três das diversas opções de hospedagem da região: a agradável Pousada Barcelos, na área urbana de São Roque de Minas, o Hotel Chapadão da Canastra também na área urbana Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus)

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da mesma cidade e a Fazendinha da Canastra, localizada na área rural de Vargem Bonita, próxima à portaria 4 do parque nacional. Durante nossas incursões à Serra da Canastra pudemos contar com o auxílio do experiente guia Genilton Mendes, o “Boca”, da Canastra Adventure. Links: www.pousadabarcelos.com.br www.fazendinhadacanastra.com.br www.facebook.com/pages/Canastra-Adventure/284976971597413 www.chapadaodacanastra.com.br www.icmbio.gov.br


São Roque de Minas

Agradecimentos:

Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais, ICMBio - PARNA Serra da Canastra, Pousada Barcelos, Aos doutores em biologia: Dra. Livia Echternacht Andrade, Dra. Rosana Romero, Dr. Jimi Naoki Nakajima, Dr. José Rubens Pirani e Dr. Renato de Mello Silva. Fontes: Secretaria de Turismo de Minas Gerais, ICMBio e MMA/IBAMA

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LÁ VEM O PATO TERRA BRASILIS CHAMA A ATENÇÃO PARA A PRESERVAÇÃO DO PATO-MERGULHÃO, ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO QUE VIVE NA SERRA DA CANASTRA

ADRIANO GAMBARINI

O pato-mergulhão é uma espécie de ave extremamente rara e criticamente ameaçada, que vive em rios ou riachos de águas limpas e claras. Estima-se que existam apenas 250 indivíduos em todo o planeta. Por ser exigente quanto ao ambiente e a qualidade da água em que vive, poucos registros e estudos são encontrados na literatura mundial. No Brasil, a espécie é atualmente encontrada no Jalapão (TO), Chapada dos Veadeiros (GO) e na região da Serra da Canastra (MG), onde está concentrada a maior população de patos conhecida.

Ciente da importância do pato-mergulhão para manter a biodiversidade local, o Instituto Terra Brasilis, desde 2001, elaborou um programa ambiental específico para estudar a ave e sensibilizar a população quanto à preservação dos recursos hídricos da região da Serra da Canastra, uma vez que a espécie é um indicador natural da qualidade da água. “Nosso projeto trabalha com três objetivos principais: pesquisa e conhecimento, já que temos poucos registros

da espécie; educação ambiental da comunidade e dos produtores rurais do entorno da Serra e recuperação de áreas degradadas e proteção de mata ciliares, com o intuito de proteger as nascentes”, comenta, Sônia Rigueira, presidente do Instituto Terra Brasilis. De acordo com a coordenadora do programa, Lívia Lins, atualmente o Terra Brasilis, com mais de 12 anos de trabalho e estudo, já conseguiu diagnosticar cerca de 60 territórios onde a ave está inserida na região. “É um trabalho muito desafiador e que conseguimos muitos avanços. Nosso segundo passo então, foi acompanhar a rotina de vida da espécie para entender sua reprodução, seu convívio com o habitat e suas peculiaridades”, diz. Em 2002, a equipe do Terra Brasilis conseguiu um marco histórico para o estudo da espécie. O único e último ninho do pato-mergulhão encontrado havia sido em 1951, na Argentina, em um oco de uma árvore. Além dos biólogos do instituto terem encontrado o segundo ninho, eles identificaram também um novo ambiente onde a espécie depositava seus ovos – em uma fenda num paredão de rocha. “Aprendemos como e onde procurar esses locais e começamos a estudar também os filhotes e famílias inteiras do animal”, comenta Lívia. IDENTIFICAÇÃO E MONITORAMENTO Com a parceria do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o patrocínio da Petrobras através do


ADRIANO GAMBARINI

programa Petrobras Ambiental, o programa “Pato aqui, água acolá” começou o processo de captura das aves, com implantação de anilhas e radiotransmissores nos animais para rastreamento preciso dos deslocamentos. Com isso, foi possível identificar que alguns casais utilizam o mesmo trecho de rio para viver, reutilizam o mesmo ninho, há o agrupamento de jovens de famílias diferentes, além da observação do comportamento dos casais e outros aspectos nunca antes registrados na literatura biológica da espécie. ÉPOCA REPRODUTIVA Para disponibilizar maiores oportunidades para que a espécie pudesse criar seus ovos, o Terra Brasilis inovou em mais uma ação instalando “caixas-ninho” na região. Com a proximidade da época de reprodução (mês de maio), o instituto espera ter resultados positivos, em 2013, para saber se há necessidade da insta-

lação de novos ninhos artesanais para fomentar a reprodução do pato. EDUCAÇÃO AMBIENTAL Um dos pilares mais importantes do programa é a sensibilização ambiental das pessoas da comunidade que estão próximas ao patomergulhão, na Serra da Canastra. A criação de teatros infantis e palestras voltadas para educação ambiental nas escolas serviram para atingir as crianças e adolescentes e difundir o conhecimento aos pais. Mais de 1.500 alunos foram atingidos com as ações do programa. Com a boa aceitação da comunidade e percebendo o potencial educacional do projeto, o Terra Brasilis aliou educação ambiental e interação com os moradores da região, criando em São Roque de Minas, o “Centro de Informação Pato Aqui, Água Acolá”, ativo entre 2007 e 2010. O local recebeu sessões de cinema, oficinas de leitura e artesanato para idosos, contação de história, jogos e oficinas de ilustração.


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10 Festival Brasileiro das Aves Migratórias º

O Turismo Impulsionado pelas Aves Texto: Roséli Azi Nascimento Fotografia: Fábio Olmos / João Batista Cardozo / Kleber de Burgos / Renato Grimm

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Por que começar com a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias? Ora, ora, simplesmente, porque quero falar de uma terra onde canta sabiá, cardeal do banhado, batuíra de coleira, batuiruçu, capororoca, a escandalosa garça moura, marreca caneleira, martim-pescador, o delicado papapiri, entre tantas outras encantadoras aves! E que terra é esta? – A cidade de Tavares! Um pequeno município localizado no extremo Sul do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul. É um município de colonização afroaçoriana, com

uma área de 532 km² e aproximadamente 6.000 habitantes, localizado na Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Limita-se ao sul com São José do Norte, a leste com o Oceano Atlântico, ao norte com Mostardas e a oeste com a Lagoa dos Patos. Distante 230 km de Porto Alegre, capital do RS. Privilegiado por sua localização geográfica, entre o mar e a Lagoa dos Patos, na maior península brasileira. E entre o mar e a Lagoa estão diferentes faróis, um às margens da Lagoa dos Patos e dois do Oceano Atlântico. São eles o FAROL CAPÃO DA MARCA, FAROL MOSTARDAS e FAROL CAPÃO DA MARCA DE FORA. O turista que visitar este município terá o privilégio de assistir aos mais belos nascer e pôr-do-sol, um no mar e outro na Lagoa. Se desejar, poderá ser próximo a estes faróis. Renato Grimm

“Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

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Renato Grimm

Com um folclore rico como Corrida de Cavalhadas, Ternos Juninos e Ensaio de Pagamento de Promessas, a região de Tavares é refúgio de traços vivos e atuais de tradições, memórias e saberes dos descendentes destes imigrantes açorianos e africanos. seu povo é reconhecido pela hospitalidade. A economia deste local baseia-se na cultura da cebola e do arroz, na pecuária, pesca e extrativismo vegetal. Um dos principais pontos turístico deste lugar que estou falando é o PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE, que por ostentar um mosaico de ambientes naturais, como mata, dunas, banhados, praia, laguna e mar, é considerado um “Paraíso Ecológico entre a Lagoa e o Mar”. Com riquíssima flora e fauna, faz parte da Reserva da Biosfera e pela quantidade de nutrientes que a Lagoa do Peixe oferece, atrai aves migratórias dos mais remotos lugares do Planeta, motivo de visitação de pesquisadores 142 | Rota Verde

brasileiros e do exterior, além de muitos fotógrafos de natureza e observadores de aves. Na diversidade de seus ambientes e trilhas no meio da mata atlântica, é possível encontrar atrativos que possibilitam formatar produtos de ecoturismo e aventura o ano todo. Por esta razão, a região já é considerada um destino turístico, tanto pelo número em expansão de visitantes, quanto pelos produtos e serviços oferecidos, e a mesma continua em processo de aprimoramento para se posicionar de forma mais significativa no mercado turístico atual. Cabe ressaltar, que estes aprimoramentos incluem a qualificação dos empreendimentos em gestão, processos, hospitalidade, sustentabilidade e marketing, bem como fortalecimento da identidade e marca do destino, dos produtos formatados, dos empreendimentos atuantes no setor e fortalecimento dos atores regionais. Com isso,


o município em parceria com o SEBRAE/RS vem desenvolvendo um “Projeto de Turismo” desde o ano de 2009. E atualmente já é um dos 05 roteiros de Turismo para a Copa 2014. Então é hora de conhecer um pouco do que são os atrativos turísticos de Tavares e quais são as atividades que os visitantes podem curtir neste agradável município. São atividades de Ecoturismo, Turismo no Meio Rural ou Cultural, além de muita adrenalina no Turismo de Aventura. Tudo isso em ambiente hospitaleiro que visa superar as expectativas do cliente através de práticas de acolhimento e bem-estar. O PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE Foi criado em 1986, pelo Decreto Federal nº 93.546 por sugestão do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF (hoje IBAMA / INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE), visando à proteção de

espécies animais e vegetais dos ecossistemas da Planície Costeira Gaúcha, particularmente das aves migratórias, que encontram na região condições propícias para sua alimentação e repouso, durante seus vôos anuais, entre pontos que distam até 10.000 km desde as áreas de reprodução, na região ártica da América do Norte, até os locais onde passam o inverno boreal, na Patagônia e adjacências (caso das batuíras e maçaricos). A região serve também como excelente abrigo invernal para outras espécies de aves como os flamingos e o maçarico-de-papo-vermelho, que ali passam vários meses do ano, refugiando-se da aspereza do inverno austral do continente sulamericano. A criação do Parque também teve como objetivo a preservação das Áreas Úmidas, sendo uma importante contribuição do Brasil à Campanha Internacional para a preservação destas áreas. Estudos realizados pelo CEMAVE (Centro de Estudos de Migração de Aves –

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Talha-mar (Rynchops niger)

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Maรงaricos Fรกbio Olmos 144 | Rota Verde


João Batista Cardozo

órgão ligado ao IBAMA) na área da Lagoa do Peixe por mais de 10 anos, foram de indiscutível relevância para a criação deste Parque Nacional. Este fato possibilitou que o mesmo fosse incluído em 1991 na Rede Hemisférica de Reserva de Aves Limícolas pela International Association of Fish Wildlife Agency na categoria de Reserva Internacional. O Parque também foi incluído na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na categoria de Zona de Núcleo. Este diploma é concedido pela UNESCO, dentro do Programa MAB (L’Homme et la Biosphér) através do COBRAMAB - Comitê Brasileiro do Programa Homem e a Biosfera e representa o reconhecimento oficial da UNESCO sobre a importância deste ecossistema para a sobrevivência da vida no Planeta.

A biodiversidade de toda a área do PARNA da Lagoa do Peixe é muito impressionante. Além das “visíveis” aves migratórias, muitos outros elementos importantes para a manutenção das características deste ambiente natural, estão presentes permitindo a continuidade do ciclo de vida das mais de 270 espécies de aves migratórias e residentes que se utilizam de sua área. E o total desta área é de 34.400 hectares, com cerca de 65 km de extensão e 6 km de largura média, abrangendo os municípios de Mostardas e Tavares-RS, sendo 17% em Mostardas e 83% desta área dentro do município de Tavares. Porém a impressionante “Lagoa do Peixe” encontra-se 100% em Tavares.

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Incomum na maior parte do Brasil, a Narceja-de-bico-torto (Nycticryphes semicollaris) está entre as aves mais elusivas e difíceis de se observar ou fotografar. De pequeno porte (cerca de 20cm, medidos da ponta do bico à cauda), é a única espécie da família Rostratulidae a ocorrer no Brasil e pode ser encontrada em ambientes aquáticos do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, região de Tavares-RS. Avistamentos ou flagrantes, apenas razoáveis, dessa esquiva espécie, já bastariam ao observador ou fotógrafo dedicado. Mas, como dizem, a sorte e o serendiptismo favorecem aqueles que oferecem tempo às manifestações da Natureza, e assim aconteceu comigo. Certo dia, após atender às palestras e oficinas do Festival de Aves Migratórias, resolvi caminhar e fotografar em uma das inúmeras lagoas da região. Fim de tarde, Sol poente já deitava luz sobre os juncos e, sentado, dava o dia por encerrado, quando percebi algo a pousar, poucos metros donde me encontrava. Para minha surpresa, uma Narceja-de-bico-torto! que permaneceu por um eterno minuto a observar este observador, antes de se embrenhar entre juncos do seu local de pernoite. Este, amigos, foi apenas um dos felizes momentos que vivi durante esse ótimo Festival, nesse maravilhoso local, entre pessoas de altíssimo astral: Tavares, Rio Grande do Sul. Agradecimentos: Roséli Azi Nascimento, Roberto Fukuda, João Bastita Edson Endrigo Texto e foto: Kleber de Burgos 146 | Rota Verde


mares, narcejas, etc, etc, entre outras ordens importantes como a dos ‘famosos’ flamingos representantes dos Phoenicopteriformes. Falando nisso, vale lembrar que a Lagoa do Peixe é o único lugar do Brasil onde encontrase flamingo-chileno o ano inteiro. Estas aves, bem como tantas outras espécies encontram alimento abundante e rico em proteínas e gorduras que as migratórias necessitam para continuar suas migrações ou a sobrevivência daquelas que permanecem por ali durante o inverno A barra da Lagoa do Peixe é um local muito interessante, pois neste espaço é que a Lagoa se encontra com o mar em determinados períodos do ano, como em setembro de 2013, quando a mesma foi aberta por ação do homem. Então, diz-se que quando a barra está João Batista Cardozo

A LAGOA DO PEIXE Mas por que diríamos que é a ‘impressionante Lagoa do Peixe’? A Lagoa do Peixe, que se estende paralela a costa do mar por cerca de 35km, entre cordões de dunas e a restinga com sua mata nativa, apresenta uma pequena profundidade – até 60cm, mas com lâminas d’água que chegam a 10cm em determinados pontos – e é considerada um ‘restaurante internacional’ para aves limícolas, ou seja, aves que se adaptam facilmente em ambientes úmidos, lodosos, zonas úmidas, costeiras, como estuários e lagunas. Muitas das aves encontradas na Lagoa do Peixe e seu entorno pertencem a ordem Charadriiforme, dividida em diversas famílias. Estas estão representadas por maçaricos, pernilongos, batuíras, jaçanãs, trinta-réis, talha-

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A LAGOA DOS PATOS Esta é a maior laguna do Brasil e a segunda maior da América Latina. Em determinadas partes pode atingir até 55 km de largura e possui 265km de comprimento e uma superfície de 10.144km2. Pode atingir um máximo de 7 metros de profundidade, mas na sua maioria é de águas rasas.

Existem diferentes versões para o nome dado a esta lagoa, uma delas é que se refere a tribos indígenas que viviam no RS, chamados “patos”. Mas a outra – e mais interessante versão – é que alguns barcos de espanhóis viajavam por esta região, lá nos idos de 1554, passaram por um temporal, procuraram abrigo na barra de Rio Grande e perderam alguns patos que traziam a bordo. Estas aves se reproduziram muito bem na região da lagoa e, por isso, passaram a chamar de “Lagoa dos Patos”. Mas este fato não está comprovado, apenas é ‘contado’! O fato é que na Lagoa dos Patos inúmeras aves migratórias e residentes da região circulam com muita facilidade, encontram também muito alimento disponível e permitem uma aproximação interessante com os visitantes. Ao longo da orla desta Lagoa é possível observar a presença dos sambaquis!

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“aberta” as águas da lagoa fluem para o mar e quando está “fechada”, represa todo o volume das águas no seu interior. Este movimento de entrada e saída de águas do mar e água doce, aliada a constante ação de fortes ventos, dão uma característica especial a esta Lagoa, permitindo águas salobras importantes para a concentração de nutrientes e para a ocorrência de camarões, caranguejos, moluscos, algas, pequenos peixes que atraem todas estas aves.

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Papa-piri (Tachuris rubrigastra)

OS SAMBAQUIS Além de todas as riquezas dos ambientes naturais que fortalecem a condição para desenvolvimento turístico desta região, também encontra-se em Tavares uma riqueza “arqueológica”, são sítios arqueológicos representados pelos sambaquis. Com a presença de índios às margens da Lagoa dos Patos, ficou o registro de seus hábitos alimentares. São os sambaquis – montes empilhados ao longo do tempo e formados pela acumulação de moluscos marinhos ou terrestres, cascas de mariscos, até ossadas, além de objetos de pedra, cerâmica, etc. Os sambaquis são evidenciados em todo o litoral brasileiro até o Uruguai. E no RS, estão presentes no litoral médio e sul, passando por Tavares e demonstrando a exploração dos recursos aquáticos de maneira intensiva entre os habitantes que por aqui estavam entre 7 e 4 mil anos atrás!

OS FARÓIS Os faróis ou a vida dos ‘faroleiros’ ainda hoje exercem um certo fascínio em muitos visitantes, por isso, Tavares passa a ser uma ótima opção também para a visita a estes ambientes. No território deste município é possível percorrer e conhecer 03 faróis, sendo um na costa litorânea e 02 na orla da Lagoa dos Patos. São eles: Farol Capão da Marca é um dos que fica na Lagoa, foi inaugurado pelo Imperador D. Pedro II, em 1849, com torre de madeira. Sua torre atual, importado da França, foi inaugurada em 1895. Possui forma de uma torre tubular de ferro, de cor branca, com 19m de altura e 13 milhas náuticas de alcance. É o mais antigo farol do Estado do RS, localizado há cerca de 40m da orla, apresentando vista para a enseada lacustre e proximidade com sambaqui. Distancia-se da sede do município 10 Km. Farol Capão da Marca de Fora é o mais novo farol de Tavares, inaugurado em 04 de Abril Rota Verde | 149


de 2008, medindo 40 metros de altura, é o segundo mais alto farol do Estado. Possui forma cilíndrica, de concreto armado, na cor branca com faixa central na cor vermelha. Seu alcance luminoso é de 17 milhas náuticas. Localizado as margens do Oceano Atlântico, no extremo Sul do Município, distante 36 Km da sede. Farol Mostardas foi inaugurado em 1894, quando o território ainda pertencia ao município de São José do Norte, mais tarde, com a emancipação de Mostardas em 11 de abril de 1963, ficou pertencendo aquele Município. Com a emancipação de Tavares em 12 de maio de 1982, passou a pertencer ao município de Tavares, embora permaneça com o nome de Farol Mostardas. É revestido de mosaico de cores preto e branco. É o maior do litoral norte com 38 metros de altura e com alcance de 40 milhas náuticas. Localiza-se na praia do farol, no oceano atlântico, próximo a lagoa do peixe. Distante 26 Km da sede do município é o único farol do município ainda guarnecido possibilitando a visitação pública no seu interior. 150 | Rota Verde

A RIQUEZA CULTURAL Como o município tem descendência afroaçoriana, muito de sua cultura conta os hábitos e histórias interessantes como a Corrida de Cavalhadas, sobre os Cantadores de Ternos ou o ensaio de Pagamento de Promessas! O que diriam estas histórias? A Corrida de Cavalhadas é uma luta simulada na qual os participantes principais, em número de vinte e quatro, representam através de evoluções equestres e movimentos de espada, lança e pistola, uma batalha de fundo religioso entre Mouros e Cristãos. As Cavalhadas simbolizam acima de tudo a vitória da religião de Cristo sobre a de Maomé, O Islamismo. Em Tavares as Cavalhadas chegaram na década de 1950 nas festas de Santo Antônio, Padroeiro da Cidade. Já os Cantadores de Ternos Juninos e de Reis, na sua origem da região, era formado por agricultores e pescadores que soubessem fazer uso dos instrumentos musicais comuns à época, a gaita, (acordeão ou gaita de botão) o violão, Farol Capão da Marca

João Batista Cardozo

João Batista Cardozo

Farol Mostardas


a rabeca, tambor e pandeiro, e que na noite da véspera do dia dos Santos Antônio, João e Pedro e Dia dos Reis Magos, saiam a “cantar o terno” nas casas dos vizinhos e parentes. E tem ainda as histórias contadas através do Ensaio de Pagamento de Promessas. Esta é uma manifestação em que consiste uma Irmandade de descendentes de Africanos, devotos de Nossa Senhora do Rosário, e que através do canto e dança típicos acompanhados do ritmo do Tambor artesanal, vão até a residência da pessoa que fez a promessa, teve a Graça alcançada, e solicitou à referida Irmandade, o Pagamento da Promessa através do Ensaio. Este ato se prolongava por toda uma noite, tendo início ao por do sol e término quando amanhecesse. Se mantém viva no município de Tavares passando-se de geração à geração. E como, visitando o município de Tavares, pode-se usufruir desta riqueza natural, cultural e histórica?

Fácil! Basta realizar as “atividades de turismo” do “Roteiro da Lagoa do Peixe”! São várias as formas de visitar este município! Muitos visitantes já estão se deslocando do Litoral do Uruguai, entrando pelo Chuí e seguindo em direção ao Norte do Litoral Gaúcho. Com isso, cruzam pelo caminho das “Aves Migratórias”, produto que está em foco de divulgação no município de Tavares. No Roteiro da Lagoa do Peixe é possível: Participar de trilhas de off-road (veículo 4x4 – Land Rover à disposição), ou trekking em áreas de intensa beleza! A região oferece serviço completo para visitação nos diferentes pontos para conhecer a diversidade de ambientes, de aves, de contatos com as comunidades locais. Tudo isso com condutor especializado! ACERVO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE TAVARES

Cidade de Tavares

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Trilha de jipes pela lagoa dos Patos

Participar de um Safári fotográfico – a grande maioria dos praticantes de birdwatching é também um fotógrafo de aves ou de natureza em geral. Em Tavares fotografar é um prazer, na certa! Além da diversidade de aves e de ecossistemas, existe luminosidade muito intensa, o que permite ótimos clics nestes ambientes!

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Roséli Azi Nascimento

Envolver-se na Observação de aves – Fazer visitas em diferentes ambientes e poder observar aves de campo, mata, dunas, banhados, costa litorânea, lagoas, enfim ... são diversas as oportunidades para um excelente momento de observação! Este é um paraíso que tem atraído – e muito – os birders de plantão pelo Brasil e exterior! Aqui, o birdwatching está sendo praticado intensamente, durante todo o ano!


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Deslumbrar-se na Contemplação de Natureza passando por vários ambientes naturais, história, cultura e faróis – Não somente quem está equipado com uma lente ‘daquelas’ pode circular por aqui. Muitos visitantes não são praticantes da fotografia ou observadores de aves, mas podem aproveitar da melhor forma possível, o convívio em harmonia com a natureza! Se aventurar a cavalo pelas margens da Lagoa dos Patos que também encanta com seu envolvente pôr-do-sol. Em Tavares estão fazendas de criação de cavalos Puro Sangue Lusitano. São os conhecidos “Anda Luz” que oportunizam aos visitantes cavalgadas deliciosas pela Lagoa dos Patos!

É possível também, praticar atividades de Aventura como Trilhas de Jeep, Quadriciclo acompanhados de condutor local que leva o visitante aos recantos mais incríveis do município. São lugares de tirar o fôlego pela beleza cênica, além da adrenalina durante realização destas aventuras!!! Cada uma destas atividades pode ser feita com o acompanhamento de um condutor local especializado nas condições da região, conhecedor dos ambientes e dos recantos onde as aves podem ser encontradas, bem como dos trajetos que podem ser feito com os visitantes. Trata-se das atividades desenvolvidas pela Operadora Lagoas Expedições & Turismo. Pensando em aprimorar todas estas atividades de Turismo, desenvolvidas no Roteiro da Lagoa do Peixe que um grupo de representantes do Rota Verde | 153


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comércio, de serviços em geral e do poder público deste município se reúnem desde o ano de 2009. Este grupo desenvolve diversas atividades para montar os produtos turísticos, para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos visitantes, como atendimento adequado nos restaurantes, bares, hotéis, pousadas, lojas, centros de informações, etc. E para divulgar da melhor forma possível este paraíso. Estas atividades do grupo de empresários do local pretende alcançar o desenvolvimento do município e da região respeitando as suas importantes características culturais e ambientais. O grupo sabe o quanto é significativa a conservação destas características e o quanto o desenvolvimento do Turismo no município poderá permitir a melhoria da qualidade de vida de seus moradores. 154 | Rota Verde

Penso que a Observação de Aves possui princípios turísticos, além de características ambientalistas e educacionais que são inerentes na sua prática, ou seja, é uma atividade que busca a conscientização ambiental, promove o uso sustentável dos recursos, é economicamente viável e envolve as populações locais. Entre as muitas vantagens de se fomentar a observação e fotografia de aves, destaca-se a de ser uma atividade de baixo impacto ambiental. O Brasil apresenta uma posição estratégica na manutenção da biodiversidade do planeta devido a sua imensa riqueza natural. No nosso país encontra-se, aproximadamente 15% de TODAS AS ESPÉCIES ANIMAIS E VEGETAIS CONHECIDAS NA TERRA! É aqui que se apresenta o maior número de espécies endêmicas, ou seja, indivíduos que só existem em alguns ecossistemas do Brasil e em mais nenhum outro lugar. Se de um lado é aqui


Fรกbio Olmos

Flamingo-chileno (Phoenicopterus chilensis) Fรกbio Olmos Rota Verde | 155


que temos esta tamanha riqueza, por outro lado também é aqui que temos que fortalecer a nossa responsabilidade para com outros destinos turísticos por termos esta diversidade biológica. Em Tavares percebo que é nesse sentido que as ações que venho desenvolvendo, desde o início das atividades relacionadas a turismo no município, vem demonstrando que estou no caminho certo! Considerando que a natureza e a educação são patrimônios singulares para a melhoria de vida da população local, é fundamental que se estabeleçam relações harmoniosas entre os interesses humanos e as condições de renovação e manutenção desses recursos e, neste caso, através do reconhecimento e entendimento da importância da conservação da avifauna. Já temos um destino turístico reconhecido no Brasil e fora dele, mas precisaremos continuar nessa caminhada para mostrar ainda mais a comunidade local o quanto continua sendo importante, cada vez mais, identificar e mapear as áreas de ocorrência, pouso, reprodução, alimentação, entre outros espaços utilizados pelas aves migratórias para permitir que continue ocorrendo um processo de desenvolvimento do Turismo de forma ordenada dentro do município e região. Assim, pode-se garantir desenvolvimento local, participação ativa da comunidade e conservação do patrimônio natural, como a presença das aves migratórias e residentes do Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Nestes ambientes acompanha-se a caça da vida, a diversidade biológica, o passo a passo dos diferentes habitantes da cidade de Tavares que no mês de outubro realiza um encontro muito peculiar – também único no Brasil – É o FESTIVAL BRASILEIRO DAS AVES MIGRATÓRIAS. Neste ano ocorre a 10ª edição do Festival Brasileiros das Aves! Este é um evento que tem por objetivo incentivar a observação e conservação de aves na região do Parque 156 | Rota Verde

Nacional da Lagoa do Peixe, considerada um dos maiores refúgios de aves migratórias da América do Sul; - promover e divulgar um dos principais pontos de pouso de aves migratórias no Brasil; - divulgar as técnicas de observação para interessados na conservação de aves; - exaltar a beleza da natureza viva existente no Rio Grande do Sul e a importância da conservação destes ecossistemas; - além de promover o turismo da região de Mostardas e Tavares, com consequente desenvolvimento para ambos os municípios. A edição do 10º Festival ocorrerá no período de 24 a 27 de outubro e contará com importantes nomes do cenário nacional e internacional da pesquisa, observação e fotografia de aves. O município, mais uma vez se prepara para receber seus visitantes da melhor maneira possível, por isso:

Faça como as aves migratórias e trace sua rota em direção a TAVARES!

Maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) Renato Grimm


DEPOIMENTO DE UM EMPREENDEDOR: - JOÃO BATISTA CARDOZO – Proprietário do Hotel Parque da Lagoa e Lagoas Expedições: Tavares é um pequeno município situado ao longo da maior península brasileira, que tem uma riqueza, peculiaridade e singularidade invejáveis, não aparentado no primeiro momento, mas basta dar ouvidos e olhar com atenção para sentir que aqui não tem nada comum, não foi por acaso que aqui criaram o PARNA da Lagoa do Peixe, que é um santuário ecológico. Considero que aqui é uma ilha de atrativos para os turistas dos mais variados interesses. Com esta esfera de atrativos, sendo descoberta pouco a pouco, este município está se transformando num destino turístico, o qual é de grande relevância para a comunidade, que já se sente envolvida pelas atividades de turismo. Baseado em tudo isso, hoje o turismo é de suma importância para a comunidade local, e vem sendo muito bem aceita por todos, e com isso melhorando a renda de muitos que estão envolvidos direta e indiretamente, já que quando se fala em turismo, este move uma cadeia de personagens envolvidos com o turista. Hoje nós temos certeza que o turismo já faz parte de nossas vidas, coisa que não tão longe nem se imaginava. Sabíamos da riqueza que tínhamos, mas também sabíamos, que só tendo uma parte não bastava, só a natureza e história estavam aqui, mas faltava a outra parte, estrutura e pessoas afim de fazer acontecer. Hoje, juntando estas duas partes estamos conseguindo transformar o município. JOÃO BATISTA – Turismólogo e Condutor Local de Ecoturismo

Maguari (Ciconia maguari)

Kleber de Burgos Rota Verde | 157


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OBSERVANDO AVES

Por Fábio Olmos

O

poder de voar mexe com nossa imaginação. Para nós as aves são símbolos de países, tribos e times, que parecem ter um fraco por águias e outros rapinantes. Aves também são símbolos de deuses e seus agentes, que parecem ter uma compulsão por ter asas, do Garuda hinduísta aos anjos cristãos. Aves também são símbolos do pior e do melhor da natureza humana. Kleber de Burgos

Caraúna-de-cara-branca (Plegadis chihi)

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Essa fascinação é mais que justificada e qualquer um que já tenha realmente prestado atenção a um pardal, albatroz, falcão, águia, arara, curió ou canário sentiu isso. É impossível ficar indiferente a um bando de saíras, um corrupião, um par de papagaios ou a um arapaçu, quanto mais uma harpia, um condor ou pinguim. Aves são símbolos da riqueza da existência e sua beleza. Observar aves apreciando a maravilha que cada uma é, tanto como dinossauros vivos que são o ponto culminante de bilhões de anos de evolução, ou avatares de poderes superiores, não é apenas um exercício de prazer, mas também uma celebração da vida. Observar aves, um hobby antigo que começa a ganhar cada vez mais adeptos no Brasil, não se resume apenas a identificar o que se está vendo. Também é sobre aprender, viajar, conhecer pessoas, se exercitar, trocar experiências e viver estórias. E manter a mente curiosa e viva, e assim envelhecer bem, como

atestam milhões de aficionados. Um estudo de 2001 mostrou que naquele ano havia 46 milhões de observadores de aves nos Estados Unidos, ou mais que um em cada cinco pessoas acima de 16 anos. Destes, 40 milhões observam aves primariamente em seus quintais, janelas e arredores, mas pelo menos 18 milhões (40%) viajam pelo menos uma milha para observar aves. No Reino Unido há 2,85 milhões de observadores de aves ativos, enquanto mais de 30 milhões de pessoas alimentam aves em seus jardins (ou janelas e varandas de apartamentos). Nesta nação, observar aves é, junto com cozinhar e finanças, uma das “habilidades para a vida” que fazem parte do curriculum escolar para combater problemas sociais e a falta de uma direção na vida. Observar (e fotografar) aves é um hobby que foi adotado por notáveis como os expresidentes Teddy Roosevelt e Jimmy Carter, o príncipe Philip (que tem um livro com suas

Maçaricos Fábio Olmos Rota Verde | 159


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entraram nas rotas do turismo internacional somente porque têm aves endêmicas que não podem ser vistas em qualquer outra parte. Como pode um verdadeiro bird-watcher resistir a desafios como esses? Conforme você estuda e descobre que entre as mais de 10 mil espécies de aves do mundo há criaturas de uma beleza sobrenatural (pense nas avesdo-paraíso de Papua ou no beija-flor topáziode-fogo) ou que poucos já viram vivas, não há falta de razões para viajar a lugares onde o pessoal que compra pacotes para a Disney não costuma ir. O curioso deste processo é que a demanda dos birders fez com que surgisse a oferta de serviços e locais que não muito tempo atrás eram definitivamente fora das rotas turísticas hoje mostram saudável infra-estrutura de birding-lodges, restaurantes e guias para atender a demanda. Vi isso no norte do Peru, onde o lodge de Abra Patricia, em Pomacochas, oferece conforto a quem procura raridades como a Long-whiskered Owl, só encontrada ali, e no Equador, onde Mindo é a capital da

Fábio Olmos

fotos de aves marinhas), a princesa Takamado (que também tem um livro com suas fotos de aves), a rainha Noor. Observadores de aves incluem nomes famosos entre primeirosministros, roqueiros, escritores, humoristas, economistas, secretários do tesouro, médicos, advogados e artistas. Mesmo Saddam Hussein guardava migalhas para alimentar os pássaros que visitavam sua cela. Observar aves é o tema de filmes, como o recente O Grande Ano (The Big Year), e livros como The Big Twitch (um best-seller na Austrália) e o hilário A Supremely Bad Idea: Three Mad Birders and Their Quest to See It All. O que leva ao fato evidente de que quem procura aves para além de sua janela tem uma grande probabilidade de viver grandes aventuras. Observadores de aves visitam lugares tão fora do normal para as empresas de turismo (isto é, aquelas que não organizam excursões de birdwatching) como, por exemplo, o Monte Moco em Angola, as montanhas Arfak em Papua ou Murici, em Alagoas. Na verdade, alguns lugares


Flamingo-chileno (Phoenicopterus chilensis)

Renato Grimm

observação de aves do país e um dos melhores locais para visitar no mundo. A única habilidade necessária para observar aves é estar disposto a olhar e também ouvir. A experimentar a calma degustação daquilo que é absolutamente normal, como um sabiá no jardim ou um pardal na janela. E também aqueles momentos raros e inesperados, como um gavião que captura uma presa ou a silhueta de um flamingo contra o por do sol. Olhar é fundamental e um efeito colateral é como isso te afeta. Tenho amigos que abandonaram os óculos porque o exercício de focar a visão atrás de aves os curou de miopias e outros desvios leves. Você também se torna muito mais atento ao que te rodeia. Seus olhos automaticamente buscam um movimento percebido com o canto do olho. Sem perceber você localiza e identifica o que voa, saltita e canta ao seu redor. Você se torna muito mais antenado.

Piru-piru (Haematopus palliatus)

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Ouvir também é importante e é interessante como ouvir aves gradualmente se torna um passatempo para deficientes visuais interessados na natureza. Aves são tão diversas em suas vozes quanto em suas plumas e permitem que você, quando aprende o que está ouvindo, deguste e diferencie uma floresta de um cerrado da mesma forma que um black metal de um surf rock. Observar aves é aprender. Com mais de 10 mil espécies com caras e vozes diferentes é evidente que não falta assunto para alguém se aprofundar e manter a mente ativa. Há que consiga recitar as espécies endêmicas de cada país, ou como os sabiás-de-coleira da Amazônia diferem dos da Mata Atlântica. Afinal, birders celebram a diversidade da vida e muito mantém listas das espécies que já viram, ouviram e/ou fotografaram, uma atividade que sustenta algumas empresas de software. Esse exercício mental, junto com o exercício

Coscoroba coscoroba

das caminhadas, e eventuais escaladas, remadas, cavalgadas, etc, ajuda a manter a saúde do corpo e da mente. Você quer envelhecer bem? Comece a observar aves. Há quem diga ser esse o segredo de Micky Jagger. O Brasil é um país megadiverso e, com mais de 1800 espécies de aves, um dos melhores para a observação e fotografia de aves, passatempos que flertam tanto com a arte como com a

Fábio Olmos

Maçaricos

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ciência. A observação de aves, embora muito popular no exterior, demorou para conquistar uma massa de aficionados no Brasil, o que só aconteceu quando câmeras digitais se tornaram mais baratas e um número cada vez maior de pessoas descobriu a fotografia de natureza e as mídias sociais. Temos um número crescente de observadores e fotógrafos de aves. Sozinhos, em grupos e mesmo organizados em clubes (listados na Associação brasileira de Observadores de Aves – ABOA http://www. aboaves.org/), os birders brasileiros visitam lugares batidos e inusitados e encontram o trivial e o inesperado. É o mesmo fenômeno que está acontecendo em países asiáticos, incluindo a China. Afinal, não basta tirar uma foto bonita, a maior graça é mostra-la para os amigos e contar a estória por trás do feito. Um site, o Wikiaves (http://www. wikiaves.com.br) tem sido fundamental para isso e, com milhares de usuários cadastrados, está se tornando tanto uma rede social que permite que cada um mostre sua arte e aventuras como

um instrumento de ciência cidadã que permite que os fotógrafos construam listas das aves das áreas protegidas do Brasil. Como o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, onde a exuberância dos bandos de aves migratórias, que antes atraía poucos pesquisadores (como testemunhei quando visitei o lugar pela primeira vez em 1987) hoje atrai observadores-fotógrafos de todo o mundo. E deu origem a novos negócios e uma nova forma de explorar a natureza sem extrair nada dela além de imagens e lembranças. Observar aves é uma questão de manter seus olhos, ouvidos e mente abertos. É uma questão de apreciar. Apreciar a vida. E pode mudar a vida dos outros para melhor.

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Mapa: Fonte - IBGE

Farol Mostardas

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Piru-piru (Haematopus palliatus)

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Agradecimentos: Roséli Azi Nascimento - Bióloga / Mestre em Medicina Veterinária Preventiva Consultora SEBRAE / Diretora EXPÔR PMD LTDA (Empresa de Consutoria e Assessoria em Turismo e Meio Ambiente). Kleber de Burgos - fotógrafo de história natural e jornalista ambiental (FENAJ/DRT-PE 3567), especialista em registros de vida selvagem e recursos naturais de biomas brasileiros. Fábio Olmos - Biólogo e doutor em zoologia, com grande apreço pela ornitologia e pela relação entre ecologia, economia e antropologia. Renato Grimm - Jornalista e fotógrafo especializado em fotografia de natureza, com grande ênfase na avifauna e no ecoturismo. João Batista Cardozo - Turismólogo e empresário do setor hoteleiro.

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O livro Santuário das Aves – Parque Nacional da Lagoa do Peixe é um registro de imagens capturadas pelas lentes de Renato Grimm, especialista em fotografia de natureza. Ao longo de vários anos, o fotógrafo coletou flagrantes de rara beleza da riquíssima avifauna do Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Com 232 páginas, o livro apresenta mais de 200 fotografias de 147 espécies de aves, entre as quais figuram aves migratórias, espécies endêmicas do pampa e aves raras e/ou ameaçadas de extinção. Além da identificação de cada exemplar, textos informativos elucidam características e hábitos de 22 espécies.

Fotografias de Renato Grimm

Textos de Iria Pedrazzi e Rafael Antunes Dias

Características do livro: 26 x 19,5 cm, Capa dura, 232 páginas, Português / Inglês, Mais de 200 fotografias


www.renatogrimm.com/santuariodasaves



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