Revista Ragga #68

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REVISTA

EDIÇÃO TEMÁTICA FIM DO MUNDO

#68

DEZ 2012

leitura recomendada para maiores de 18 anos

NÃO TEM PREÇO

A VOLTA DO

planet hemp Marcelo D2 fala sobre o reencontro com sua primeira banda e dos planos para depois do apocalipse

“NÃO ESTOU PRONTO PARA O MUNDO ACABAR”












C

CAIXA DE ENTRADA CARTAS

EXPEDIENTE

Edição Guga

DIRETOR GERAL

Francisco César, pelo Twitter Enviando fotos pra edição fotográfica da @revistaragga. Será que esse ano sai de novo? Haha. Tomara! Florence Fontes, pelo Twitter Sou mineira radicada no Rio de Janeiro e achei sensacional a matéria Rio das Gerais da Edição de Nov 67. Show! Carla Corrêa, pelo Twitter Minha próxima meta é ter pelo menos uma fotografia na revista de janeiro que, na minha opinião, é a mais importante. #Instaragga #RevistaRagga Edição Fábio Porchat

Pedro Duarte, pelo Facebook Capa massa demais de um cara que comecei a curtir ainda mais recentemente! Queria ter impressa por aqui! Hehe Larisssa Rodrim, pelo Twitter Rachando com a seção Twitter da @revistaragga #muitobom

lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO

nathalia wenchenck [nathaliawenchenk.mg@diariosassociados.com.br] COORDENADORA DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

patrícia melo

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ana slika bruno senna carlos hauck

ARTICULISTA

lucas machado COLUNISTAS

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frederico borges . luciana gonçalves . thais brait

RAGGA GIRL

NOSSA CAPA Pegamos Marcelo D2 desprevenido. Ele tinha feito o terceiro show de retorno do Planet Hemp em Florianópolis no sábado anterior à entrevista, voltado para o Rio no domingo, comemorado seus 45 anos na segunda e terça-feira, e passado a manhã de quarta tentando superar a ressaca aos dias anteriores. O homem que chegou para conversar com a gente na quarta à tarde estava cansado. Mas, quando mostramos nosso incrível balão mapa-múndi, ele animou! “Só não vou pular”, disse o rapper, que já operou os dois joelhos. Foram horas de conversa, fotos e risadas. O resultado você confere na página 58.

fernanda miranda FOTOGRAFIA carlos hauck lucas de souza REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.ragga.com.br/digital] MODELO

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EDITORAL

Última chance

bruno senna

Não falta água, falta consciência; não falta diversão, falta tempo; não falta saúde, falta cuidado; não falta movimento, falta movimentação; não falta amor, falta amar; não falta política, falta vontade; não falta dinheiro, falta equação; não falta trabalho, falta querer; não falta oportunidade, falta visão; não falta reza, falta fé; não falta comida, sobra; não falta luz, falta noite; não falta sono, falta paz; não faltam recursos, falta equilíbrio; não falta informação, falta filtro; não faltam sábios, faltam ouvidos. Vai que o mundo percebe isso a tempo e acaba não acabando.

Lucas Fonda — diretor geral lucasfonda.mg@diariosasassociados.com.br


Enfim, verão!

ÍNDICE

Breakdance A final de uma das maiores competições internacionais de b-boys rola no Rio

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A Ragga dá dicas para passar os próximos meses com um estilo impecável

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Ragga Night Run Última corrida do ano no Parque Municipal, com direito a percurso no Viaduto de Santa Tereza

40

A prova cabal

A última cidade

A equipe da Ragga fez pesquisas intensas e descobriu os 15 indícios do fim (do mundo)

Notícias que preocupam cidadãos do povoado do fim (do continente)

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44

Prontos para o pior

Cidade sobrevivente

Marcelo D2

Os mais desesperados com o apocalipse, americanos falam das expectativas para o juízo final

Nossa repórter foi conhecer Alto Paraíso, a cidade que não vai acabar com o resto do planeta

Rapper conta como foi reunir o Planet Hemp após 10 anos de brigas

46

50

58 Zumbis entre nós

carlos hauck

JÁ É DE CASA

Scrap 16 Só no site 18 Destrinchando 20 Twitter 22 Estilo Vinicius Leonel 24 Eu quero 26

Quem é Ragga 30 Por aí 70 Ragga Girl Fernanda Miranda 72 Prata da casa 78 Crônico 80 Quadrinhos Rasos 82

Se depender de quem ama os mortos-vivos, não há dúvidas: existe vida após a morte

66



S

SCRAP S/A

COLUNA POR ALEX CAPELLA // ALEXCAPELLA.MG@DIARIOSASSOCIADOS.COM.BR

Sugestões e informações para a edição de fevereiro, entre em contato pelo e-mail acima.

A festa Carnavaliza BH dá o pontapé inicial para as comemorações momescas na capital mineira. A atração principal do evento, que acontece no dia 15 deste mês, no Music Hall, é o bloco carioca Sargento Pimenta, que leva ao palco os clássicos dos Beatles em versões inusitadas, tocadas em samba e outros ritmos brasileiros. A noite terá ainda show da banda Pequena Morte e discotecagens do grupo I Love Bubble e DJ Sininho.

loja mil

COQUETEL

Lucas Siqueira, de Curitiba, e Kennedy Nascimento, de São Paulo, representarão o Brasil na disputa pelo título de melhor bartender do mundo, competição com mais de 100 candidatos de vários países, realizada em Bordeaux, na França. Eles foram os vencedores da etapa brasileira do Campeonato Mundial de Coquetelaria Marie Brizard IBS - International Bartender Seminar, realizada no bar It do Hotel Pullman, em São Paulo, pela Casa Flora e pela Porto a Porto.

A Subway, maior rede de franquias de fast food do Brasil, acaba de inaugurar em Bertioga, no interior de São Paulo, sua milésima loja. Em 2012, foram abertas mais de 250 unidades em mais de 300 cidades. O plano da rede para os próximos anos é duplicar o numero de lojas, chegando a 2 mil pontos no país até 2015. A empresa lidera o seguimento, à frente do Bob’s, com 892 lojas, e do McDonald’s, com 701.

imagens e fotos: divulgação

CARNAVALIZA

CAMPANHA

A Ragga, núcleo de conteúdo jovem dos Diários Associados, usou o bom humor para celebrar o Dia Mundial de Combate à Aids (1º de dezembro). Para conscientizar homens e mulheres sobre o uso da camisinha, a campanha mostrou, de maneira divertida, imagens alusivas aos órgãos sexuais masculinos e femininos. A ação conta com vídeos para internet, cartazes e anúncios. A direção de criação ficou sob a responsabilidade de Dan Zecchinelli; head of art, Márcio Dotim; criação, Paulo Filipe Souza; Saul Gervásio; edição e finalização, Paulo Filipe Souza. A trilha sonora foi a New Orleans, de Gobodobro (Creative Commons); e o planejamento foi de Gustavo Jabrazi. Tudo aprovado pelo diretor-geral da Ragga, Lucas Fonda.

Silva

O site Silva.etc.br acaba de ser lançado com a proposta de oferecer cursos de aprimoramento pessoal e qualificação profissional. Vendendo cursos à distância a preços reduzidos, contando com arquivos para download e videoaulas, o site se propõe a “apoiar e transformar as pessoas”. O sistema é dividido em cinco categorias: ganhar dinheiro, com cursos de cozinha e outras habilidades; negócios, com cursos sobre gestão; beleza; saúde, com dicas de alimentação, cuidados com a pele e emagrecimento; e uma categoria chamada “para você”, que busca dar informações úteis para a vida pessoal. SÉTIMA ARTE

A Cineart, uma das principais redes de cinemas de Minas Gerais, abrirá as portas de mais quatro salas. O complexo, previsto para ser inaugurado na segunda quinzena de dezembro, está instalado no Ponteio lar Shopping, que já abrigou duas salas nos anos 1990. O investimento é de R$ 3 milhões, e entre as novidades está a primeira sala prime da capital mineira, com atendimento exclusivo. 16



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COLUNA DA WEB

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Octógono Atleta do UFC, Rousimar Toquinho Palhares, nascido em Dores do Indaiá, reconhece a importância da família e fala das raízes humildes. migre.me/c593X

Hipsterismos A poesia biosonora de Wilmar Silva consiste em tirar sons dos amplexos de ecos obtidos por andrajos ou tímidos meandros da guitarra do dia a dia. migre.me/c59ik

EXTRAS

Making of Confira o vídeo que mostra a transformação dos nossos modelos para o ensaio fotográfico com zumbis. migre.me/c5adM SÓ NO SITE

Apocalipse tupiniquim A websérie ApocalipZe explora o cenário brasileiro e seu contexto econômico enquanto nosso país é deflagrado por sucessivos ataques bioterroristas. migre.me/c59TO

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foto: reprodução da internet

Arranha-céu Já pensou na adrenalina de ficar na ponta dos pés, na borda do topo de um dos prédios mais altos do mundo? No Canadá é possível fazer isso sem beirar a morte. migre.me/c59xk

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SÓ NO SITE

Extinção musical O que fazer com as pilhas de CDs que você guarda em casa? Artistas italianos criaram imagens de astros da música usando os velhos discos. migre.me/c5a5Y

SÓ NO SITE

Morte indigna O vídeo animado mostra, da forma mais fofa possível, várias formas totalmente estúpidas de morrer. migre.me/c59K2



DESTRINCHANDO ARTIGO POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO JONATHAN SOARES

A Bahia de todos os dias “VOCÊ JÁ FOI A BAHIA, NÊGA? NÃO? ENTÃO VÁ!” Dorival Caymmi

b

O lado literário é apenas uma deixa para falarmos de uma região onde o verão é tão forte que ultrapassa as barreiras

BOM, FOI POR AQUI, na Bahia, que resolvi dar um tempo de tudo e de todos para cumprir uma das etapas da minha vida: escrever meu primeiro livro, já em fase final. Depois de alguns meses, não tive como não falar um pouco sobre o local que escolhi para me afastar do meu cotidiano, e aqui aproveito para agradecer à equipe do site do Destrinchando, que abraçou minha ideia e me apoiou durante esses meses. Em março, lançaremos um novo layout e também o livro, que nada mais é do que uma coletânea dos meus melhores textos aqui publicados. Diretamente da Bahia de todos os Santos, no ano do centenário de Jorge Amado, romancista que conheceu tudo sobre a velha Bahia e sua gente, seu folclore, sua capoeira e sua culinária, vou falar um pouco da pitoresca literatura baiana e alguns dos donos da palavra – o poeta libertário Castro Alves e o político e escritor Rui Barbosa. De Rui, a Bahia do amor, do verbo eloquente, da frase sonora e do liberalismo político; de Castro Alves, a vocação para o futuro, o desejo de liberdade e a capacidade de romper com o passado e seguir em frente. Como dizia Gilberto Freyre, “por aqui se rompe o espírito de moleque”. Em minha opinião de alguns meses, apesar da vivência temporária, sinto que aqui o conservadorismo e o revolucionário coexistem, trazendo à tona um espírito saudosista, enamorado de fórmulas passadas. O lado literário é apenas uma deixa para falarmos de uma região onde o verão é tão forte que ultrapassa as barreiras, por aqui não se fala em horário de

MANIFESTAÇÕES

articulista.mg@diariosassociados.com.br | facebook.com/lucastmachado | destrinchando.com.br 20

verão, pois não existe. A Bahia é um lugar onde tempo ainda não adquiriu a velocidade alucinante dos grandes centros urbanos. A Bahia é múltipla e desigual. Aqui também podemos ver diferenças e contradições absurdas. Sua beleza natural eterna, que é vista em poucas regiões brasileiras, foi cenário do início da nossa colonização. Qualquer catálogo oficial contará quanto custou o Elevador Lacerda, a idade exata de suas igrejas e número certo de milagres do Senhor do Bonfim. Ninguém sabe conversar com o povo baiano. É deles a prosa calma, de frases redondas e longas pausas esclarecedoras, de gestos comedidos e precisos, de sorrisos largos e gargalhadas longas, principalmente vistas em suas cidades do sul como Arraial da Ajuda, Trancoso e Caraíva. Voltando aos intelectuais, o que posso garantir é que por aqui se sente o gosto quase sensual das palavras e do amor à liberdade. Não conheci de perto os velhos baianos, mas, com certeza, eles deixaram sua marca. No mais, quando estiver por aqui, não se esqueça: sorria, você está na Bahia. J.C.



T

TWITTER

thiagomava

ulissesmattos

Imagine que louco um filme em que um padre exorciza uma pessoa possuída pelo ritmo ragatanga.

Galera, é pior do que a gente pensava. Vi no Facebook que o nome completo do mascote da Copa é Fuleco Guarani-Kaiowá.

Dicas_do_heman

Para se sentir magro, poste um prato de salada no Instagram antes de comer seu hambúrguer. relaxei

O nível da falsidade é medido pela quantidade de gente que a pessoa chama de AMIGA. DaniAIbuquerque

DrauzoVarella

evertonico

Na foto 3x4, a gente fica sério, mas na 4x4 a gente zoa.

Quando a meia está com cheiro de Cheetos queijo é sinal de que ela está suja? Pesquisar.

alissondemetrio

caiomanthis

LADRÃO ROUBA AUTORAMA E NÃO DEIXA PISTA.

Já que não tem Halls preto, vai Gelol mesmo.

tati_bernardi

Precisei suar no buço e fazer barulho de pum quando a coxa desgruda da cadeira pra me sensibilizar pelos ursos polares. Salvem o planeta! marcusvisn

Acabei de criar a conta e já vêm me mandando aviso: “SEU NIVEL DE SEGURANÇA É BAIXO”. Roma não foi construída em um dia, cara.

Tive um amigo que bebia muito suco de goiaba até os 90 anos e acabou morrendo.

LatinoFesta

Olá, amigos! Nossos corpos são nossos jardins, cujos jardineiros são nossas vontades. Fiquem ligados pq tudo q a gente planta, a gente colhe!

procrastino

O lado bom de não ter nenhum atributo físico, financeiro ou psicológico é que, quando alguém gosta de mim, é sincero.

COISANDO: palavra sem significado que serve pra tudo. 22

Segunda: volte três casas, por favor. LudmilleLouhane

Não confio em quem levanta o dedinho na hora de tomar café.

_melodramatico

Você entrou na minha vida pelo sistema de cocotas. tiagouss

Hoje em dia, se vc quer comprar uma camisa de banda, tem que estudar a história inteira dela antes de usar pra não te chamarem de poser. PurasIronias

AReflexao

evertonico

Vc fica puxando uma pelinha do dedo. Aí, quando vc percebe, saiu o fígado junto.

ulissesmattos

Furacão Sandy. Brisinha Júnior.

LADYGAGA_ILHEUS

Um sonho: trabalhar com open bar.


agabrielasilva

elisamrb

rafadalcantara

andreridolfi

andreridolfi

Todo mês tem desafio da Ragga no Instagram. Em novembro, chamamos todo mundo para postar fotos com o tema “moleskine” com a hashtag #instaragga. O resultado você vê por aqui.

Quer participar em dezembro? Basta postar no Instagram uma foto com o tema “Meus pés” e a hashtag #instaragga.

pamayala

annaversiani


E

ESTILO Vinicius Leonel

COLUNA POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK A MODA É PARA MUITOS UMA AVENTURA

na qual a inspiração e a sofisticação se fundem com a lealdade, o amor e a paixão de quem realmente faz acontecer. Conversamos com o produtor de cinema Vinicius Leonel, Vina para os mais chegados, dono de uma prosa hipnotizante e cheia de personalidade. Com apenas 28 anos, esse paulista quase mineiro consagrou-se como uma revelação. ‘’Tenho uma relação muito forte com a música, o cinema e a literatura. Sempre quis colocar tudo isso de uma forma diferenciada, tipo aquele imaginário que não conseguimos mostrar em palavras. Achei na moda uma espécie de laboratório para me introduzir no cinema”, diz. Depois de criar um programa de TV chamado Moda Brasil, veio o convite para produzir trabalhos para França, Itália e Estados Unidos, além de vídeos para nomes da música como Ed Motta e Frejat. Vina também tem trabalhos para marcas do porte de Gucci e Calvin Klein. Perguntamos sua fórmula do sucesso, e aí vem o soco na cara: ‘’Não basta diploma, temos que ser humildes para que as pessoas humildes possam nos ensinar’’.

Vinicius usa Camisa Mercado

Blusa quadriculada Hollister Califórnia

Calça Ellus

Bota Timberland

Relógio Dona Karan

Olha lá vimeo.com/vina

Estilingue de estimação

Câmeras Diana F+ Olympus Trip 35

Livros Kind of blue: A história e obra prima de Miles Davis – Ashley Kahn Rolling Stone: As melhores entrevistas da Revista Rolling Stone – editadas por Jann S. Wenner e Joe Levy Cabeça Tubarão – Steven Hall

Camisa do São Paulo Primeiro título Mundial – 1992

Caneca Lente Canon J.C. 24



$

EU QUERO

CONSUMO

Bodyshort O modelo Mirage ultimate, da Ripcurl, usa a tecnologia STL, na qual áreas críticas são unidas sem costuras, evitando machucados. R$ 299,90 no ripcurl.com

Capa iPhone Do artista plástico mineiro Rogério Fernandes, as capinhas são inspiradas em celebridades como Che Guevara, Frida Kahlo, Lampião e Muhammad Ali. R$ 87 no rogeriofernandes.com.br

Ducati Plaintiff Inspirado na marca italiana de motocicletas, o modelo aviador da série da Oakley foca nos feixes de molas das motos de corrida. R$ 570 na Oakley Store (Diamond Mall) 26


Lenço Scarf Me

fotos: divulgação

A marca paulista chega a Belo Horizonte para agradar os amantes de lenços, echarpes e pashminas. R$ 328 na Scarf Me (BH Shopping e Pátio Savassi)

Auto falante O sistema portátil Geneva sound system model S funciona com iPod, iPhone e toca rádio FM. R$ 1.995 no Live (Av. Raja Gabáglia, 2.680 / sala 907 – Estoril)

Tênis Olodum O tênis da Green Co. é feito com eco-pet, uma malha desenvolvida a partir de garrafas plásticas. R$ 179,90 na Green Co. Store (Shopping Boulevard ou Av. Cristovão Colombo 64, loja 106 – Savassi)

27


$

EU QUERO Relógio

CONSUMO

Hippie chic Inspirada na primavera, o novo lançamento da Mormaii. R$ 279,90 no mormaiishop.com.br

Beluka O novo lançamento da Quiksilver é para dar a elegância ao visual. Preço sob consulta no quiksilver.com.br

Digital A versão da Chilli Beans foge da onda dos relógios analógicos. R$ 138 no chillibeans.com.br 28

Baroness O modelo em acetato, com vidro mineral, é da Roxy. R$ 490 no roxybrasil.com. br/onde-comprar



QUEM É RAGGA FOTOS ANA SLIKA E BRUNO SENNA

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Veja todas as coberturas do mĂŞs no bit.ly/quemeragga

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Na batida da música ESPORTE

POR GUILHERME ÁVILA

Rio de Janeiro recebe final do campeonato internacional de breakdance da Red Bull A ÚLTIMA ETAPA da temporada 2012 da Red Bull BC One, uma das competições de b-boying mais importantes do mundo, será realizada este mês na capital carioca. Essa é a segunda vez que o Brasil recebe a final do evento internacional, que há oito anos reúne os melhores dançarinos de breaking do planeta. Quem ainda não garantiu a entrada para assistir a disputa que rola em 8 de dezembro, na arena da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, poderá acompanhar a final ao vivo, a partir das 19h50, no site oficial. No total, 16 participantes vindos de países como Estados Unidos, México, Colômbia, Inglaterra, França, Marrocos, Bulgária, Rússia, Coreia do Sul e Japão disputarão o título de b-boy número um do mundo. Nosso país, que já emplacou um campeão mundial em 2010, também está na disputa. 32

Quem defende a bandeira verde e amarela desta vez é o brasiliense Kleson Silva Moreira, de 22 anos. Conhecido como b-boy Klesio, da crew New Old School do Distrito Federal, o dançarino garantiu sua vaga para a final do mundial vencendo todas as batalhas homem a homem da grade eliminatória latino-americana, promovida em agosto deste ano no México. Durante sua trajetória até o racha final contra um adversário nativo, o b-boy Gato, o brasileiro mostrou tranquilidade e criatividade em seu desempenho. Para disputa no Rio, Klesio promete repetir a dose e seguir à risca os conselhos de seu treinador. Mesmo com grande parte da torcida da Cidade Maravilhosa a seu favor, o b-boy de Brasília respeita muito o nível de seus adversários. “Não importa se vou ganhar ou perder, meu foco é sempre dançar. Quem está no seu melhor dia acaba vencendo. Eu não mereço mais do que ninguém este prêmio”, explica. Entre os favoritos da Red Bull BC One 2012 está o b-boy norte-americano Roxrite, de 30, que defenderá o título conquistado na última final realizada ano passado, na Rússia, confiante em seu bicampeonato.


fotos: divulgação

Nosso país, que já emplacou um campeão mundial em 2010, também está na disputa

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fotos: divulgação

FINAL MUNDIAL RED BULL BC ONE 2012 QUANDO Dia 8 de dezembro (sábado) ONDE Fundição Progresso Rua dos Arcos, 24 - Lapa (Rio de Janeiro)

COMPETIÇÃO

MAIS INFORMAÇÕES redbullbcone.com.br fundicaoprogresso.com.br

A disputa anual da Red Bull BC One é feita no formato mata-mata, ou seja, quem perde uma batalha está automaticamente desclassificado. A competição, avaliada por jurados convidados que darão veredito ao fim de cada batalha, tem início com oito chaves de dois participantes, seguindo para as quartas, semifinais e a grande final. Entre março e setembro deste ano foram realizadas eliminatórias nacionais em cerca de 60 países para definir um time de possíveis participantes. Os classificados seguiram então para as qualifiers regionais, realizadas na América do Norte, América Latina, Oeste Europeu, Leste Europeu, Ásia, Oceania, África e Oriente Médio. O vencedor de cada etapa se classificou automaticamente para a final no Rio. Além da participação destes e da presença já confirmada do atual campeão mundial, as demais vagas para a disputa final do campeonato foram preenchidas por b-boys escolhidos por uma equipe internacional da Red Bull, formada por especialistas em dança de rua. Entre os cinco nomes escolhidos para julgar as batalhas da final está Fabiano Carvalho Lopes, o b-boy Neguin, único representante latino a conquistar o título até agora. Natural do Paraná, ele foi o campeão de 2010, quando venceu a final realizada no Japão, depois de disputar a Red Bull BC One por três vezes seguidas. Esta será a sua primeira experiência como membro do exigente corpo de jurados do campeonato, e ele dá a dica para quem espera chegar ao lugar mais alto do pódio: “O segredo é não pensar na competição, apenas ouvir a música e dançar”. Assista A transmissão live streaming em redbullbcone.com.

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Campeão da eliminatória na América Latina, o b-boy Klesio agora tem a missão de representar o Brasil na grande final do mundial



apresenta

NO

calor DO verão

Barbara usa blusa Botswana short MyPlace cinto e pulseira spikes Espaço Fashion pulseiras coloridas Sterlina

Flávia usa vestido, pulseira e brinco Espaço Fashion 36

Já tivemos frio e chuva, agora é chegada a hora da nossa estação preferida


37


Barbara usa saia, blusa e cinto Ágatha biquíni Cila pulseiras Sterlina óculos Chilli Beans tênis Farm

Vecchi usa bermuda Boundless óculos Chilli Beans

Barbara usa maiô Cila pulseiras Ágatha

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Flávia usa saia MyPlace blusa Espaço Fashion cinto Botswana pulseiras Ágatha tênis Karita Ideale

Administração

ONDE COMPRAR Ágatha 3228 4111 Botswana 3228 4300 Boundless 3264 0200 Chilli Beans 3286 1406 Cila 3286 6203 Espaço Fashion 3286 6605 Farm 3228 4047 Karita Ideale 3286 6064 MyPlace 3226 4050 Sterlina 3286 3906

EQUIPE FOTOS E DIREÇÃO DE ARTE Bruno Senna (brunosennaimagens.com) PRODUÇÃO DE MODA Júlia Nogueira ASSISTENTE DE PRODUÇÃO Mariana Michalick MAQUIAGEM Fairuze Reis MODELOS Bárbara Bürckel, Flávia Drummond e Vecchi (Woll Agency) 39


ETAPA EUROPA

a

última do ano

FOTOS ANA SLIKA, BRUNO SENNA E CARLOS HAUCK

Ragga Night Run conquista as ruas do Centro de BH no fechamento do circuito 2012

ESSE FOI UM ANO ESPECIAL para a Ragga Night Run. Pela primeira vez desde sua criação, aconteceram quatro corridas ao longo do ano, cada uma com um percurso diferente, em regiões diferentes da cidade. No dia 10 do último mês, fechamos o circuito espírito olímpico com a etapa Europa. Foram cerca de 1.200 atletas profissionais e amadores. Todos se juntaram no Parque Municipal ao fim da tarde do sábado para dar a largada ao som da trilha feita especialmente para eles pela Rádio Guarani. O percurso teve início na maior área verde do Centro de Belo Horizonte e os partici-

40

pantes tiveram a oportunidade de correr em vias públicas, como a Avenida das Andradas, o Viaduto de Santa Tereza e a Avenida Afonso Pena, que foram parcialmente ou completamente fechadas para os atletas. Agora, é aproveitar o fim de ano e aguardar as novidades que a Ragga já prepara para as corridas de 2013!


Acesse Confira mais fotos no site: ragga.com.br.

41



do fim

S O P M DOS TE QUIPE POR E

O trânsito de BH é pior do que o de São Paulo.

Corinthians é campeão da Libertadores.

9 10

Pessoas pagam para ver a “pior restauração do mundo”.

A Hebe morreu.

2

Star Wars foi comprado pela Disney.

11

Xuxa é morena.

3

Michel Teló canta em especial de fim de ano de Roberto Carlos.

4

12

Brasileira vende virgindade por R$ 1,5 milhão. Longa mudo francês ganha Oscar de melhor filme.

13

O mascote da Copa chama Fuleco.

5 6 7

O Ragga Drops acabou.

O Faustão é magro.

A

Google e YouTube saem do ar (temporariamente).

8

1

RAGG

14

15

Um livro de sadomasoquismo vira favorito de donas de casa.

O sul-coreano Psy faz mais sucesso que Justin Bieber. 43


Jornal argentino foca nos pormenores da última cidade antes do fim

POR ALEX CAPELLA

NEM TSUNAMIS OU TERREMOTOS. O que atormenta a pequena Ushuaia é a discussão na Câmara Municipal sobre a possível proibição do uso de celulares em bares e restaurantes. Para muitos moradores e comerciantes, isso sim é uma notícia do fim do mundo. Por isso, o assunto ganhou as páginas recentes do El Diário del Fin del Mundo. Fundado há 18 anos, o jornal acompanha o dia a dia da cidade argentina mais ao sul da América do Sul. A expressão “fim do mundo” parece pejorativa, mas a cidade a incorporou por acreditar que poderia torná-la exótica e para descrever sua localização. Com 60 mil habitantes, a capital da província Terra do Fogo está a 3.040km de Buenos Aires. É uma típica cidadezinha de interior, sem prédios elevados e com uma sucessão de casinhas desprovidas de terraço, já que o clima não permite. Abriga também um porto comercial importante. A maior calamidade vista no lugar foi há seis meses, quando a cidade foi castigada por uma forte tempestade de neve que obrigou a evacuação de dezenas de pessoas. O acúmulo de neve em algumas áreas chegou aos 70 centímetros. O argentino Fulvio Baschera, fundador do El Diário del Fin del Mundo, confirma que essa foi uma das piores notícias publicadas pelo jornal. Mas ele próprio assegura que, de longe, parecia o “sinal dos tempos”. Segundo Baschera, como a cidade está localizada no extremo da América do Sul, ganhou fama de ser o “último lugar da Terra” ou de “fim do mundo”. “Então, quando surgiu a ideia de fundar o jornal, naturalmente me veio o nome. Seria um jornal para falar das coisas do fim do mundo, 44

ou seja, da cidade”, lembra. No início, segundo ele, muita gente associou o jornal a alguma seita ou religião. “Tinha gente de fora pensando que o jornal seria uma espécie de ‘oráculo’ com previsões catastróficas”, se diverte o empresário. Mas, aos poucos, percebeu-se que se tratava de uma publicação normal, como qualquer outro jornal. Hoje, na única grande rua comercial da cidade — a San Martín, com extensão de 17 pequenos quarteirões —, o El Diário del Fin del Mundo é a principal fonte de informação. O jornal fala de tudo de importante que acontece na cidade, local para quem gosta de frio suportável, de esquiar ou de ver os picos nevados na extremidade sul dos Andes. Ushuaia também abriga um festival de música erudita e é a principal porta de entrada para quem quer navegar rumo ao território antártico. Em meio aos cafés, bares e restaurantes, é comum ver até turistas com o jornal nas mãos. “As pessoas têm curiosidade. Algumas se surpreendem ao ver o conteúdo do jornal. Falamos de política, de esporte e de tudo o que interessa a cidade”, garante o fundador. Baschera cita como exemplo a discussão sobre o uso de celulares nos estabelecimentos comerciais. Ele diz que o tema vem movimentando a cidade, com gente contra e a favor. O empresário sustenta que tudo começou quando as pessoas perceberam que o nível de barulho estava muito grande nos cafés, em função das conversas pelos celulares. “Alguns clientes passaram a ficar incomodados com tanta conversa pessoal. Nos cafés, é possível saber de tudo da vida alheia, já que o uso do celular se tornou comum”, afirma. A expectativa é a de que até o início do ano uma medida para o assunto seja tomada. Até lá, segundo o fundador do jornal, os frequentadores dos bares e dos cafés terão de conviver com as confidências e inconveniências dos outros, feitas pelo celular. Para muitos, isso é o fim do mundo. Para outros, é só o começo.



PREPARADOS PARA O FIM TEXTO E FOTOS FREDERICO BORGES

Nova iorquinos se dividem entre os que se preparam para sobreviver e os que aceitam o inevitável DURANTE AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, o candidato republicano Mitt Romney afirmou que os EUA foram criados por Deus para liderar o resto do mundo. Se existe alguma verdade nisso, essa liderança seria rumo a um destino meio apocalíptico. Furacões, tsunamis, terremotos, supertempestades, mudanças na temperatura, ameaças biológicas. Não faltam perigos criados pela agressão que a potência mundial — e o resto do mundo — vêm fazendo ao meio ambiente. “A mãe natureza está puta conosco, pois estamos maltratando-a há muito”, diz um senhor que se apresenta apenas como Eddie, alguns poucos dias depois de Sandy/Frankenstorm atingir Nova York — além de modificar o mapa de Jersey Shore e bagunçar parte dos EUA, o misto de furacão e tempestade tropical também deixou um rastro de destruição pelo Caribe. 46

Eddie é descendente de índios norteamericanos, trabalha com construção civil e mora no East Village. Do alto de seus quase 60 anos, ele entende que o ser humano está simplesmente colhendo aquilo que planta. “Desta vez escapamos por pouco, mas se o fim não chegar para esta geração, chegará para a próxima ou a próxima.” E, entre um gole e outro de cerveja barata, complementa: “Meus filhos com certeza não terão tanta sorte”. Apesar dos temores em relação ao futuro da humanidade, Eddie não se deixa abater e segue vivendo muito bem o presente — logo após compartilhar sua milenar filosofia, ele arriscaria, com vigor


Shannon Stapleton_REUTERS

impressionante para a sua já não tão modesta idade, alguns passos no recém-instalado mastro de pole dance de seu bar favorito. Sim, Nova York é repleta de gente maluca. Porém, nem todos esses doidos se preparam para o iminente fim do mundo com a mesma irreverência de Eddie. Harold Camping, então presidente do grupo de radiodifusão cristã Radio Family, causou alarde em 2011 com uma polêmica campanha profética. Segundo o religioso, Jesus Cristo viria buscar seus escolhidos no dia 21 de maio e a Terra seria tomada por fogo, enxofre e pragas nos cinco meses seguintes. No material promocional de sua campanha lia-se: “Você ouviu as incríveis notícias? O fim do mundo está quase aqui! A bíblia garante”. Para azar de seu séquito — e sorte do resto do mundo —, a profecia não se cumpriu. Posteriormente, ele viria a alterar a fatídica data para 21 de outubro do mesmo ano, sendo igualmente malsucedido. CAOS PÓS-SANDY

Blackout, linhas de metrô paralisadas, prateleiras de supermercados vazias, falta de combustível, ausência de internet e de sinal de telefonia móvel... Esse poderia ser um indício de que o cenário previsto por Camping estava por vir tardiamente, mas, para parte dos EUA, era como se estivessem no ano seguinte, após o furacão. Não é de hoje que o ser humano é fascinado pelo fim dos dias e, entre teorias da conspiração e profecias variadas, os grupos religiosos sempre se destacam nesse segmento, parecendo viver em constante polvorosa. “Deus não foi o responsável por Sandy ou outros desastres naturais. Contudo, ele dá avisos para que quem o escutar possa escapar”, diz uma testemunha de Jeová, em meio à evangelização na estação central do metrô de Nova York. “Os iníquos serão condenados quando o dia chegar”, complementa em tom ameaçador. Mesmo sem a precisão de um Harold Camping, outras denominações também são incisivas. “Não sei falar quando será, mas estou certo de que serei um dos escolhidos no dia do julgamento”, afirma um membro do Street Life Ministries no Tompkins Square Park, antigo ponto de tráfico de drogas e prostituição dos anos 1980. Se Sandy não foi um aviso divino, talvez a ameaça de novas tempestades/ventanias e a queda brusca na temperatura que se seguiriam nos próximos dias pudessem ser interpretadas assim. A variação climática foi tão drástica que a cidade encarou neve em pleno outono, com parte da população ainda sem energia elétrica. “Estamos há quase um mês no escuro, passando frio e sem ter como nos comunicar direito. É como se estivéssemos isolados do resto do mundo”, afirma Robert, um morador de Red Hook, no Brooklyn, confirmando que o clima de fim dos dias ainda assolava a região. Quando a fé não é suficiente e a possibilidade de se encarar uma realidade pósapocalíptica estilo Mad Max é levada em conta, uma das opções mais óbvias é se armar até os dentes, claro. “Se as pessoas ficam paranoicas? Esse país é a ‘Disneylândia da Paranoia’”, afirma John, funcionário de uma das poucas lojas de armas restantes em Manhattan. Os luxuosos e nada discretos estabelecimentos que até alguns anos

atrás enfeitavam a Quinta Avenida deram lugar a um processo bem burocrático para se adquirir uma arma. “Não posso ao menos mostrar uma delas se você não tiver licença, mas em outros lugares a coisa é diferente.” Claro, essa é a fachada decente da Manhattan pós-Giuliani. No entanto, isso não impede as pessoas de se armarem. Até mesmo em bairros mais afastados a oferta já é maior e sempre existe um jeitinho ilícito. “Eu realmente não posso falar sobre o mercado ilegal, mas basta você dar uma conferida nas notícias dos jornais para chegar a uma conclusão”, explica John. “E eu estaria mentindo se dissesse que as pessoas que usam armas para fins recreativos ou esportivos também não as usam para segurança pessoal”, complementa, facilitando todo o processo de conclusão. Se o clima de paranoia generalizada parece ser a regra, em certo bar do Lower East Side, cujo slogan é The happiest place on Earth, a situação é bem diferente. Pôsteres nas paredes divulgam um evento apropriadamente intitulado End of the world event, a acontecer exatamente na data que marca o fim do calendário ou do ciclo maia, dia 21 de dezembro. “O que tiver que acontecer,

NÃO É DE HOJE QUE O SER HUMANO É FASCINADO PELO FIM DOS DIAS E OS GRUPOS RELIGIOSOS SEMPRE SE DESTACAM NESSE SEGMENTO, PARECENDO VIVER EM CONSTANTE POLVOROSA

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Debra Trizzini Shannon Stapleton_REUTERS

Um caixão em um lote vago, o descendente indígena Eddie dança em um bar, o East River invade as ruas, voluntários rezam no Tompkins Square Park e idosos procuram abrigo após a devastação do Sandy. Seriam esses os sinais do fim do mundo?

QUANDO A FÉ NÃO É SUFICIENTE E A POSSIBILIDADE DE SE ENCARAR UMA REALIDADE PÓSAPOCALÍPTICA ESTILO MAD MAX É LEVADA EM CONTA, UMA DAS OPÇÕES MAIS ÓBVIAS É SE ARMAR ATÉ OS DENTES vai acontecer, e não existe algo que possamos fazer para mudar isso”, filosofa a bartender Amy. O clima do estabelecimento parece fazer jus ao seu slogan: pornografia pouco convencional, trailers de filmes de terror e trechos de um show dos Stooges exibidos de forma alternada nas TVs. Uma vasta seleção de punk rock clássico na jukebox e uma clientela de bêbados felizes compõem o ambiente. “Se o mundo for acabar mesmo, quero morrer fazendo o que eu gosto, me divertindo com meus amigos”, conclui um dos empolgados clientes, de forma igualmente conformista e desencanada. Não muito longe dali, um cenário chamava a atenção: um

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caixão disposto no centro de um lote vago. Originalmente simbolizando o fechamento de uma tradicional tenda de antiguidades que funcionava no local, hoje o tal caixão poderia servir como um presságio não muito otimista do que está por vir. A mãe natureza pode até estar puta, como acreditam os nativos norte-americanos, mas também está sendo paciente demais com os abusos do ser humano. E, se nos restam mais alguns dias, existem lugares que se mostram perfeitos para receber o fim do mundo. Tanto para um fanático religioso quanto para um tarado por armas ou para um beberrão, Nova York é definitivamente um desses lugares.



começo

mundo

em Alto Paraíso POR RENATA FERRI

FOTOS ANA SLIKA

Moradores da única cidade brasileira que, por causa de suas características geográficas, sobreviveria ao fim do mundo, contam o que acham das teorias de que tudo acabará em 2012 BASTA PESQUISAR NA INTERNET sobre a cidade de Alto Paraíso de Goiás, para se deparar com inúmeros textos e reportagens sobre como o local pode servir de refúgio para quem quer escapar de um possível desastre que destruiria o planeta em dia 21 de dezembro de 2012. A cidade, que tem altitude superior a 1.600m acima do nível do mar, é protegida também pela Chapada dos Veadeiros, uma formação rochosa situada no ponto mais alto do Planalto Central Brasileiro. Esses fatores representam uma localidade menos vulnerável a enchentes e alagamentos que podem ser provocados pela elevação dos níveis oceânicos. Porém, ao caminhar pela cidade e conversar com quem já vive lá há muitos 50

anos, compreende-se que o fim do mundo mais provável não será aquela catástrofe holywoodiana que a nossa cultura do entretenimento nos ensinou a imaginar. Em vez disso, o que pode acontecer é uma mudança gradual de paradigmas, que deve causar impactos mais profundos em nossa cultura do que um eventual meteoro caindo no Atlântico. De acordo com o paulista Rogério*, que vive na cidade há 20 anos, os boatos de que Alto Paraíso seria um local onde as pessoas poderiam se proteger do fim do mundo surgiram na virada do milênio. “Em 1999, a rede Globo fez uma reportagem dizendo que, de acordo com previsões, no dia em que as águas do mar subissem, aqui não seria atingido


por causa do chapadão, e que, se o mundo acabasse, aqui não ia acabar. Um monte de gente que é alienada entrou nessa história. E começou a chegar aqui. De 1999 a 2000, de repente, chegaram de 2 a 3 mil pessoas. Dessas pessoas que vieram para cá naquela época, só restou umas 300. Agora, começou a acontecer de novo a mesma coisa”, conta. O CALENDÁRIO MAIA

O casal Rogério e Clara* são donos de uma pousada, em Alto Paraíso, e são conhecedores da cultura maia. Durante a estadia da equipe da Ragga na cidade, a primeira coisa que Clara fez foi anotar as datas de nascimento para descobrir quais são os signos maia, chamado de kin, da equipe. Rogério explicou como essa antiga civilização elaborou conhecimentos sobre o nosso universo, com base em estudos matemáticos. “Nosso planeta está em constante mutação. O ser humano também é mutante, você se transforma todo dia, o que vai mudar são os ciclos. No dia 21 de dezembro de 2012, encerra-se o que os maias chamavam de conta longa, que é um ciclo de 5.125 anos. Eles falam que é a ascensão e a queda de uma raça. Isso aconteceu com os gregos, os egípcios, todas as civilizações que tiveram um auge de poder e depois sofreram uma reação do planeta”, diz Clara, oferecendo detalhes sobre o que realmente a cultura maia diz a respeito da data que se aproxima e assusta tantas pessoas com ameaças de um fim catastrófico. “Muita gente confundiu esse chamado fim de ciclo com o fim do mundo. É apenas uma contagem que está se encerrando. Mas é uma data importante para toda a galáxia”, completa Rogério. LONGE DA CIVILIZAÇÃO

Liege Rava, uma paulista mão na massa, dona da pousada Catavento, onde mora com seu filho Tarick, de 9 anos, foi nosso anjo da guarda desde a primeira troca de e-mails para organizar a ida à cidade. Sempre doce e prestativa, foi ela quem levou a equipe em sua charmosíssima Kombi, para conhecer as peculiaridades de Alto Paraíso. Mas antes de nos apresentar às personalidades locais, que passam as manhãs tomando café nas padarias da região, ela já nos deu uma pílula de conhecimento que coincide com o sentimento geral de quem escolheu viver na cidade. “O que vai acontecer a partir de 21 de dezembro é que o ser humano vai parar de ter essa relação materialista e

Os signos maias são definidos de forma matemática, de acordo com a data de nascimento de cada um

egoísta com as coisas, e vai se sensibilizar mais com o outro. Vai passar a ser praticamente impossível você estar bem, se o outro não estiver”, disse Liege. Depois disso, foi a vez de conhecer Sol, artista paranaense, que antes de chegar a Alto Paraíso, 34 anos atrás, viveu em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Europa. Tomando um café no copo lagoinha e mordendo um pedaço de bolo de fubá, ele contou como e por que veio parar neste lugar. “Muitas pessoas vem para cá para fugir dos grandes centros, buscar uma vida de meditação, de mudança de paradigmas. Na época, eu vim porque havia um movimento de cultura alternativa e a gente vivia a Ditadura Militar. Não queríamos saber dessas coisas de armas e política, queríamos uma vida mais saudável, mais natural”, explica. Quanto a um possível apocalipse, Sol diz que não acredita exatamente no fim do mundo. “Há uma série de previsões a respeito do término da civilização, não da humanidade, pois a humanidade tem compromissos mais profundos com o planeta. A maneira de sociedade que nós temos é que não serve mais. A projeção de progresso que o homem fez 100 anos atrás está se mostrando uma má opção. Criar indústrias que poluem, que exploram as pessoas, isso não é uma boa maneira de evoluir. Muito agro51


tóxico, a medicina nas mãos da indústria farmacêutica, religiões que só cegam as pessoas, política corrupta. São essas coisas que vão se transformar nesse novo momento que vai começar”, esclarece. Ele completa, bem-humorado, dizendo que a cidade de Alto Paraíso é um lugar seguro sob muitos aspectos: “Mas nada impede de bater um temporal e matar todo mundo, como pode ocorrer em outros lugares”. A próxima parada foi uma apresentação infantil de capoeira angola, em comemoração à Semana Mundial da Consciência Negra. Lá, Matheus Aleixo, professor de circo e mineiro de BH já se identificou com o sotaque das forasteiras e contou que sonhou com esse lugar antes mesmo de conhecê-lo. “No sonho, eu caminhava por um lugar que nunca tinha visto e depois fui descobrir que era aqui. Ainda no sonho, havia várias pessoas orando em frente a uma igreja e, quando perguntei por que elas estavam orando, me disseram que era porque os responsáveis pela igreja não estavam cumprindo com o que se dispuseram a fazer.” Depois disso, Matheus descobriu Alto Paraíso como seu novo lar, onde, além das aulas de circo, realiza eventos junto à igreja cristã Caverna de Adulão. A FÍSICA DA CIDADE

De acordo com Rogério, Alto Paraíso é uma cidade que está localizada em cima de uma das maiores placas de silício do mundo. “O silício é um material condutor, que potencializa, amplifica e isso mexe com as pessoas. Por isso é bom exercitar a vontade enquanto estão aqui. É bom sonhar

“O QUE VAI ACONTECER A PARTIR DE 21 DE DEZEMBRO É QUE O SER HUMANO VAI PARAR DE TER ESSA RELAÇÃO MATERIALISTA E EGOÍSTA COM AS COISAS, E VAI SE SENSIBILIZAR MAIS COM O OUTRO. VAI PASSAR A SER PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL VOCÊ ESTAR BEM, SE O OUTRO NÃO ESTIVER”, ESCLARECE LIEGE, DONA DE POUSADA EM ALTO PARAÍSO acordado e visualizar o que quer para a vida. Se isso não for prejudicar ninguém, acontece. Isso porque as coisas aqui acontecem muito facilmente, por causa dessa condução do material, o silício”, explica. O artista Sol também confirma essa teoria: “Aqui, temos que tomar cuidado com as coisas que desejamos, pois a chance delas acontecerem é um muito grande”. VIDA EXTRATERRESTRE

Ao passar por uma das ruas sinuosas da cidade, nos chamou a atenção algumas construções em progresso. Eram pequenos iglus de concreto, com janelas arredondadas no topo. O pedreiro Oderlon “Cabelo” nos explicou que aquelas casas serão parte de uma pousada e que são feitas dessa forma para resistirem a qualquer desastre natural que venha a acontecer. “Eu acho que isso de fim do mundo é coisa que o povo inventa, mas meu patrão acredita, por isso estou fazendo esses iglus”, disse Cabelo. À beira da piscina, também ainda inacabada, há a estátua de um ser extraterrestre, que o pedreiro explica ser muito importante para o patrão — que não estava lá no momento — e conta que ele próprio já viveu uma experiência assustadora com possíveis seres de outro mundo. “Essas histórias de gente que viu ETs são muito comuns aqui na região. Uma vez, à noite, do lado



“Há uma série de previsões a respeito do término da civilização, não da humanidade, pois a humanidade tem compromissos mais profundos com o planeta. A maneira de sociedade que nós temos é que não serve mais”, conta o artista Sol

O artista Sol mostrou seu ateliê, a Casa do Sol, onde ele toca e produz instrumentos musicais

de fora de casa, senti uma coisa estranha. Quando entrei em casa, olhei pelo buraco da fechadura e vi dois olhões brilhantes, a única coisa que consegui fazer foi chamar por Nossa Senhora”, diz Cabelo. Sol conta que também já viu coisas que tem certeza não serem daqui. “Óvnis existem, mas não podemos provar nada, e existe muito preconceito também. Quando tive experiências com manifestações extraterrestres, inicialmente tive medo, mas hoje eu sei é que há tanta coisa que a gente não sabe, não sabemos o segundo seguinte. Uma hora a gente vai ter mais clareza sobre isso, somos bitolados, e eles são civilizações avançadas”, diz. Rogério também conta que praticamente todas as pessoas da cidade já viram luzes que podem remeter a óvnis. “Sempre tem grupos de ufologia na cidade, pesquisando. Mas se acharam alguma coisa, a gente não sabe. Inclusive, 10 anos atrás guiamos pessoas da Nasa até alguns locais aqui na Chapada, onde eles instalaram aparelhos. Mas não adianta nada a pessoa falar o que vê, cada um tem que saber da própria verdade.” (*) Os personagens pediram para não ter o nome identificado.

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Matheus é belo-horizontino, mas vive em Alto Paraíso, onde desenvolve trabalhos junto a uma igreja cristã



APRESENTOU

Publicitária mineira e jornalista pernambucana falam sobre a concretização do sonho de trabalhar com aquilo que amam criando projetos que acontecem dentro e fora da internet PATROCÍNIO

ELAS SE CONHECERAM TROCANDO

e descobriram que tinham muito mais em comum do que só um link ou outro para trocar. “Vale a pena correr atrás dos sonhos, trabalhar com o que ama. Basta tirar as ideias do papel e superar os empecilhos. Criamos nossa empresa como um plano B, porque tínhamos outros trabalhos. Hoje ela é nosso plano A”, explica a jornalista pernambucana Daniela Arrais. Sua sócia, a arquiteta de informação e publicitária mineira Luiza Voll reforça que é possível criar projetos com poucos recursos na web, fazendo disso uma fonte de aprendizado, lazer e até mesmo um negócio lucrativo. A ideia de maior sucesso da dupla é o

E-MAILS

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REALIZAÇÃO

#instamission, um projeto colaborativo de fotografia que, desde fevereiro de 2011, utiliza o Instagram para lançar desafios semanais. Sem nenhum investimento inicial e utilizando apenas redes sociais e ferramentas já existentes, a iniciativa já conta com quase 20 mil participantes em suas mais de 90 missões, que contabilizam milhares de colaborações e diversas ações patrocinadas por grandes marcas. “Sentimos que estamos fazendo um retrato do momento em que vivemos, de como a gente usa a internet”, definiu Luiza durante sua palestra com Daniela, que ocorreu em 26 de novembro, às 19h30, no Plug Minas (Rua Santo Agostinho, 1441 - Horto).


fotos: ana slika

NÃO PERCA

O De Frente continua! A palestra que rola este mês encerra o ciclo deste ano. Já falaram Antônio Tabet, criador do site Kibe Loco; o médico Jairo Bouer, referência em sexualidade e comportamento jovem; René Silva, conhecido por twittar a pacificação do Complexo do Alemão; e Mara Mourão, diretora do documentário Quem se Importa. Mais informações sobre data, horário e local: plugminas.mg.gov.br (entrada franca) 57


PERFIL

Depois do fim,

o recomeço POR FLÁVIA DENISE FOTOS LUCAS DE SOUZA

“Adivinha doutor quem tá de volta na praça? Planet Hemp! Ex-quadrilha da fumaça”

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MARCELO MALDONADO PEIXOTO foi capa da Ragga pela primeira vez em abril de 2007. Na edição 12, a entrevista era totalmente voltada para a briga dele com seu ex-companheiro de banda, BNegão. Cinco anos depois do fim do Planet Hemp, o desentendimento dos dois ainda chamava a atenção dos fãs e da imprensa nacional. “Carreguei a banda anos e anos, todas as letras do Planet fui eu que escrevi, ele nunca apresentou uma música”, criticou Marcelo na época, em resposta às reclamações de BNegão, que dizia não receber o que tinha direito no grupo. Hoje, cinco anos depois, trazemos outra conversa com Marcelo D2, agora com 45 anos. Dessa vez, o objetivo não é continuar a briga, mas comemorar que a banda está unida novamente. Passados de quase 10 anos sem se falar, ambos finalmente deixaram a rixa de lado para trazer de volta o Planet Hemp, que está fazendo shows pelo Brasil e se apresenta no Mineirinho, em 8 de dezembro. “É lógico que teve a briga, mas não podemos esquecer os 10, 12 anos que passamos juntos e foram legais para caramba”, justifica o rapper, que nos recebeu em sua produtora, cercado de pôsteres, discos de ouro e de platina da banda. Os shows já apresentados no Rio, em Porto Alegre e em Florianópolis mostram que eles estão sendo fiéis ao antigo objetivo de tocar o terror nos conservadores de plantão. Apesar da idade de seus integrantes, o grupo está, sem dúvida nenhuma, voltando ao passado e mostrando para uma nova geração porque o Planet foi uma das bandas mais polêmicas do país.

QUANDO VOCÊ CONHECEU O SKUNK, QUE FUNDOU O PLANET HEMP COM VOCÊ, VOCÊ ESTAVA USANDO UMA CAMISA DA BANDA DEAD KENNEDYS E FOI POR ISSO QUE ELE PAROU VOCÊ PARA CONVERSAR. JÁ CHEGOU A PENSAR QUE TUDO QUE ACONTECEU NA SUA VIDA FOI PORQUE VOCÊ ESTAVA COM AQUELA CAMISA NAQUELE DIA?

+ Leia a nossa primeira entrevista com o rapper no bit.ly/d2ragga12

CONHECERIA O SKUNK de qualquer maneira, sabe? Depois que a gente virou amigo, vi que íamos aos mesmos lugares e não nos conhecíamos. Não sei se foi a camisa do Dead Kennedys, mas o Skunk foi “o cara” na minha vida. Ele foi um anjo mesmo. Costumo até falar que eu vivo um sonho dele, não o meu. O meu sonho era outro, era ser skatista profissional. Não queria ser músico, nunca tinha pensado nisso. Esse foi o sonho dele a vida inteira e ele jogou isso no meu colo e foi embora [Skunk morreu em 1994, pouco depois do começo do Planet Hemp]. Ele me tirou da inércia, de um lugar meio cansado. Meu filho tinha acabado de nascer, precisava trabalhar, fazer dinheiro para sustentá-lo, meio que desisti dos meus sonhos e ele me puxou de volta. 59



Eu faço rap. O que está dentro disso tudo, rock ou samba, está dentro do rap Você ainda pensa muito nele?

Tanto que estamos fazendo um filme [Minha hora é agora]. Ano que vem deve rodar. É um filme sobre esse momento mesmo, sobre como a vida é feita de escolhas. Como ela abre portas e, se você não estiver atento, acaba perdendo. O filme mostra três momentos: no primeiro, os dois ainda não se conhecem; no segundo, os dois se conhecendo. E, depois que o Skunk morre, tem a parte final, que é a coisa da cadeia do Planet. É um filme sobre como a vida é a arte do encontro, apesar de haver tantos desencontros.

PARA CARAMBA.

Você já tocou rap, samba, rock. Como você se define?

disso daí. É aquela coisa, cresci comendo feijoada, que, naquela época, não se fazia churrasco em casa. Era feijoada, rabada, peixada, essas coisas que se fazia no quintal. Hoje todo mundo faz churrasco. Então comia esse tipo de coisa e também comia hambúrguer. Ouvia muito samba e ouvia hardcore. Cresci vendo basquete americano e futebol brasileiro. Então, acho que sou a mistura de tudo isso aí mesmo. Cresci assim. UM POUQUINHO DE CADA COISA

Você acha que a crítica musical brasileira tem dificuldade de lidar com artistas que não tocam e produzem dentro de um só gênero? ACHO QUE É NORMAL. Quando compus A procura da batida perfeita, sai de Los Angeles e pensei: “Vai ser difícil mostrar esse disco”. Na época, as rádios eram ou de pop rock — que o disco não cabia muito, porque era de samba — ou de samba — que também não cabia, porque minhas letras têm a linguagem popular do pagode. E acabou que ela tocou na rádio de pop e na rádio de

samba. É difícil para as pessoas, tudo é muito mastigado. O que se chama de música sertaneja não é sertaneja. Tem um pouco de sertanejo no visual dos caras. Mas é um pouco de axé com funk, que é o pop nacional hoje. Às vezes me vejo no meio disso tudo e pergunto o que eu estou fazendo ali, sabe? Não tenho nada a ver com isso. Mas é bom estar ali também, estou representando um pouco da minha cultura, essa bagunça toda que expliquei antes. Tem que ter alguém ali. A cultura hip-hop é tão grande, o rap é tão grande. Faço rap. O que está dentro disso tudo, rock ou samba, está dentro do rap. Ele está passando por um momento tão legal. Tem o Criolo, o Emicida, o Projota. Toda essa galera que está fazendo uma nova cena. Tem que ter alguém lá, no mainstream, e é legal estar lá. Toca Gustavo Lima, toca Marcelo D2 e depois toca Ivete. Acho ótimo estar no meio dos peixes grandes. E você está lançando o disco Nada pode me parar. Como é reviver seu tempo no Planet Hemp ao mesmo tempo em que você está lançando um rap completamente novo? SEMPRE FOI ASSIM. Quando lancei meu primeiro disco solo, em 1998, tinha acabado de sair da prisão. Foi aquele turbilhão do Planet Hemp. Acho interessante, sabe? Eu gosto. Tava há tanto tempo na estrada, fazendo meus shows solo. E agora essa turnê do Planet. Os shows têm sido tão intensos. Esse cansaço de hoje tem um pouco a ver com isso. Além da minha festa de aniversário, teve show do Planet Hemp no sábado. No domingo, tive que voltar para o Rio. Cheguei aqui acabado. O show foi foda. Porra, 9 mil pessoas é gente para caramba. E ouço tanto rap, preciso lançar disco de rap sempre. Lancei, em 2010, A arte do barulho. Gravei em 2009, então foram três anos sem gravar. Gravei o disco do Bezerra, mas eram regravações. Foram três anos sem fazer música nova. Estava precisando.

Como é esse processo de parar de fazer música nova e voltar a gravar?

de um tempo assim. Quando lancei A arte do barulho, vinha fazendo disco assim: ia para o estúdio, escrevia o disco todo lá dentro e depois ia fazer turnê. Decidi fazer diferente, agora estou fazendo música por música. Comecei a fazer esse disco no meio do ano passado. Fiz videoclipes para todas as músicas, filmamos em Nova York, Los Angeles, Ruanda, Angola. Também teve gravações no Rio e em Recife. Escrevia a música, gravava uma demo para fazer o vídeo e depois finalizava a música. Então esse processo deu uma renovada que eu precisava. Estava caminhando muito no mesmo lugar, que não é uma coisa que me agrada. Quando lancei A procura da batida perfeita, todo mundo falava: “Você achou a batida perfeita”. E eu falava: “A batida não importa, o que importa mesmo é a procura”. Estava me sentindo já um pouco cansado de fazer quase a mesma coisa depois de quatro discos solo. Esse disco vai trazer coisas novas. TODO MUNDO PRECISA

O disco estava marcado para ser lançado em setembro, mas foi adiado. Quando ele sai? ESPERO QUE ATÉ O FIM DO MÊS

[dezembro].

Você está esperando acabar a turnê do Planet Hemp? NÃO, QUERIA LANÇAR TUDO JUNTO

e vender os discos 61


Voltar a dividir o palco com o Bernardo é legal demais. Eu tinha esquecido como ele é poderoso no palco nos shows do Planet Hemp, mas tem problema com editora porque tem muito sample nesse trabalho. No Brasil isso é um problema. O filho do cara que tem o direito da música não quer liberar, o outro já morreu, não sabe onde que está. Mas acho que sai em dezembro. E, se não rolar, pode lançar em janeiro. Estava ansioso para caramba para lançar, aí veio a turnê do Planet e eu falei: “Quer saber? Tudo bem. Tenho outra brincadeira aqui” [risos]. Vou tirar umas férias também depois dessa turnê com a banda. Vou aproveitar para ir à Ásia. Quero conhecer Bangkok, Hong Kong e Xangai. Você também faz vídeos, certo?

Como foi chamar o BNegão para voltar depois da briga de vocês?

ESTOU FAZENDO UMA SÉRIE AGORA ,

TEM UM TEMPAÇO

só filmando com a Super 8 do iPhone. E editando direto no celular, fazendo uns vídeos pequenos para por no YouTube. Chama Pupila dilatada. Estou terminando o segundo agora. Mas é difícil editar no iPhone. Vou parar de editar nele. Estou com tendinite. Fui ao médico, falei que tava com uma dor gigante e ele perguntou: “Você usa muito o iPhone?”. Uso Instagram, Twitter, Facebook, telefone, câmera fotográfica, Super 8, edição. Ele falou que estou com lesão de esforço repetido. Está doendo bastante.

E agora? AGORA ESTOU MEXENDO COM A MÃO ESQUERDA.

[risos] Daqui a pouco vou mexer com o dedão do pé. Já tive que deixar de jogar videogame por causa disso. Mas adoro fotografia, vídeo e cinema. Tenho uma ideia para fazer um curta. Mas tenho que esperar eu ter mais tempo. Vou dar uma desacelerada no próximo ano. Essa volta do Planet Hemp foi muito importante para isso. Tenho que voltar um pouquinho para o básico. Fazer coisas antigas que deixei para trás. Em uma entrevista em 2010, você falou que ia ficar ridículo se voltasse a pular em cima do palco e que tinha medo de voltar com o Planet Hemp e acabar estragando a banda. E aí? FUDEU. [risos] Assim, vai ser difícil voltar para fazer alguma coisa nova. Mas uma turnê para rever os amigos e renovar as amizades... O fim do Planet foi 62

uma coisa interessante. Primeiro, a gente acabou a banda e manteve a amizade. Mas depois que terminou a banda, a amizade foi para casa do caralho, começamos a brigar. Voltar e rever tudo isso. A gente passou uma década sem subir no palco. Está legal e está irado. Tenho uma cadeira no palco para eu sentar e não bancar o ridículo. Para mostrar a idade também. Mas voltar a banda, voltar mesmo, é bem difícil. Acho que podíamos fazer uma turnê de dois em dois anos.

[sic] essas coisas, sabe? Outro dia escrevi sobre isso, falando como tinha aprendido, falando daquele fim de semana dos dois primeiros shows. Achava que nunca mais ia falar com o Bernardo na minha vida, sabe? E a gente voltou superamigo. Parece que a gente estava se vendo sempre. Não parece que ficamos 10 anos sem se ver ou tanto tempo sem se falar. A gente sentou e conversou. Primeiro encontrei com todo mundo da banda. O Bernardo tava fazendo shows do disco dele, não foi nos primeiros ensaios. Revisamos as músicas, fizemos um set list. O Bernardo ia chegar para o terceiro ensaio. Liguei para ele e decidimos conversar antes de entrar na frente de todo mundo e resolver nossas diferenças. E conversando vimos que não tinha mais uma gota daquilo daquela época. Mudamos muito, estamos velhos, nossos filhos são homens. Vi o filho do Bernardo no ensaio, ele tem 17 anos. É lógico que teve a briga, mas não podemos esquecer os 10, 12 anos que passamos juntos e foram legais para caramba. É tempo de deixar isso para trás, esquecer. E na balança, a coisa boa está muito maior que a coisa ruim. Deixa para lá. Bola para frente.

Como foi tocar com ele de novo? VOLTAR A DIVIDIR O PALCO com

o Bernardo é legal demais. Tinha esquecido como


ele é poderoso no palco. Já cantei com muita gente, mas ele no palco é sinistro. No primeiro ensaio, nós dois olhando para o outro: “Que foda, cara, nós dois de novo aqui”. O primeiro show foi no Circo Voador, a nossa casa. Sai do show, deitei no sofá do camarim e fiquei uns 30 minutos lá. Minha vida veio toda na minha cabeça. Quando era moleque, meu sonho era tocar no Circo Voador e, depois de tudo que passei, estar ali de novo. Com o Planet Hemp. Com o Bernardo, o Rafael, o Formigão e o Pedrinho. Foi demais. O show de Porto Alegre foi foda. O show de Floripa foi animal. . Tenho certeza de que o show no Mineirinho vai ser inesquecível. Além disso, estamos no processo de nos entrosar de novo. O primeiro foi emoção pura, no segundo já estávamos mais conscientes do que íamos fazer. No terceiro, de Floripa, erramos mais que nos dois primeiros, porque relaxamos mais, mas o erro faz parte do show. Fizemos o show mais foda lá. Teve aquilo que tem de melhor no palco. A força da banda. Dos três, foi o melhor até agora. Vocês já brigaram de novo depois de voltar? ACHO QUE NÃO VAMOS BRIGAR de novo. Todo mundo está tendo um cuidado enorme de como falar um com o outro. Ninguém quer brigar, sabe? Está todo mundo querendo mais é fazer a coisa direito. De certa maneira, esses três shows reacenderam um orgulho da gente de ser Planet Hemp. Depois da briga, ficou aquela coisa do “foda-se Planet, não quero mais saber daquela porra”. Eu não, eu deixei as coisas na parede, tenho o maior orgulho. Mas a gente, junto, não queria mais ver as coisas. Acho que reacendeu esse orgulho: “Caralho, a gente fez uma parada foda, a gente fez uma banda foda”. Temos nossas carreiras solo, principalmente eu e o Bernardo, mas essa era a nossa banda. Não podemos cuspir nisso. Não podemos esquecer.

Vocês ficaram 10 anos sem tocar e a galera tá lotando os shows. FORAM 10 ANOS SEM TOCAR e a galera está viva. O Planet nunca foi um sucesso de um verão. Não teve “aquele verão em que estourou a música do Planet Hemp”. Fomos uma banda de carreira grande, com três discos sólidos, álbuns importantes para caramba para o rock nacional, para a nossa geração. É isso que a galera que viu quer ver de novo. E tem muita gente nova cantando. O moleque de 20, 25 anos que vai ao show agora não podia ir antes. Estou falando do 63


É DIFÍCIL FALAR SÓ DE MACONHA O TEMPO INTEIRO. EU GOSTO MAIS DE FUMAR DO QUE DE FALAR

último show, de quando ele tinha 10, 15 anos. O Planet Hemp era só para maior de idade. E, nos nossos dois últimos anos, não tocamos em BH. Se tocamos, foi uma vez. O cara de Belo Horizonte só teve uma chance. Se ele não foi, esse cara de 30 anos nunca viu um show do Planet. E é legal ver gente nova cantando. Você fala cada vez menos de maconha nas suas músicas. Chegou um ponto que esse assunto esgotou? TODO DISCO MEU tem uma composição que fala de maconha. Sempre falo em pelo menos uma frase, em uma música ou outra. Mas também é difícil falar de um tema só durante tantos discos. Estou no meu 10º disco agora. O primeiro álbum do Planet é sobre maconha, o Usuário. Todas as músicas falam de maconha, o segundo já não é tanto assim. Já fala mais de liberdade de expressão, a gente estava passando por aquele momento. É difícil falar só de maconha o tempo inteiro. Eu gosto mais de fumar do que de falar.

Toda entrevista que você dá perguntam: “O que você faria se seus filhos fumassem maconha?”

Ele tem 20 anos. Não sei se ele quer que eu fale isso. Mas ele fala na música dele. Fico com muito mais medo dele sair e beber do que fumar um baseadinho. Se ele fuma um baseado, fica chapado no sofá, fazendo letra, fazendo vídeo. Agora, quando sai para beber com os amigos... É uma puta de uma hipocrisia. A molecada sai para beber com os amigos com 13 anos e tudo certo. Mas quando têm 18, 20 anos e fumam um baseado: “Porra!” E diz a Veja que faz mais mal do que bebida. Não sei de onde eles arrumaram isso, mas tudo bem. É a Veja.

MEU FILHO FUMA MACONHA.

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E você acha que a maconha deveria ser legalizada no Brasil? ELA DEVIA SER LEGALIZADA no

mundo inteiro.

Você acha isso possível?

O mundo está caminhando para isso. Aqui do lado, no Uruguai e na Argentina, já está legalizado. Na Argentina, você pode portar 5g. O Uruguai legalizou para plantação. Daqui uns anos, o Uruguai vai ser nossa Amsterdã. Vai todo mundo para lá. Acho que o caminho do ser humano vai ser esse. É uma idiotice tão grande achar que o problema das drogas é criminal e não de saúde. Acho que todas as drogas — aí incluo todas: álcool, cocaína, maconha — têm que ser tratadas por psiquiatras, não pela polícia, na base da porrada. Ninguém vai parar de fumar, vai parar de beber porque a polícia meteu porrada. Tinha que ter muito mais educação sobre o assunto. Sobre a anfetamina, que é legalizada, o remédio para dormir, remédio para emagrecer, que junto do álcool dá onda... Acho que a ilegalidade só leva ao crime e isso gera polícia corrupta, traficante armado.

EU ACHO.


BNegão e Marcelo D2 em show do Planet Hemp antes do fim da banda

Ninguém vai parar de fumar, vai parar de beber, porque a polícia meteu porrada O que a Holanda, onde você tem um lugar específico para isso e leis fortes, e a Argentina e o Uruguai estão fazendo com a maconha é o certo. Porque não adianta falar: “Está legalizado”. O cara tem que ter responsabilidade. Como agora estão fazendo com o álcool aqui. O cara bebeu, dirigiu e matou um. Bebeu, dirigiu e foi pego bêbado dirigindo. Tem que pagar por isso. Não precisa matar não, mas tem que pagar por isso. E isso vale para todas as drogas. O indivíduo tem que ter o direito de usar e a responsabilidade de usar. Não vejo o porquê de as drogas serem ilegais.

porque estava machucando um joelho. Tive que operar e tive que operar o outro joelho também. Futebol é pesado, ainda mais quando você joga pouco. Mas é isso. É a idade, estou me preparando. Me sinto muito melhor agora do que há cinco anos. Agora estou sentindo a idade chegando e estou desacelerando um pouco. Tenho dado mais tempo para minha família, o que é muito importante. Este ano fiz muito isto: fui gravar e levei família, papagaio, cachorro, gato, sobrinha, filhos, todo mundo. Isso foi legal para o disco e foi bom para mim também. D2 canta com o filho mais velho, Stephan

Você começou a fumar com 13, casou com 19, fundou o Planet Hemp com 25 e acabou de fazer 45 anos. Você está começando a sentir o peso da idade nas costas? NAS COSTAS, nos joelhos, no cotovelo, na cabeça, no dedão do pé, na cicatriz da perna. Está foda. Sempre fui um cara muito ativo, mas, ao mesmo tempo, não pratiquei muito esporte, sou boêmio. O Bezerra falou isso. Eu falei para ele: “Porra, Bezerra. Você tem 67 anos”. Eu achava que ele tinha uns 80. Aí ele falou: “É cara, a boemia é foda”. Eu largo a boemia, mas a boemia não me larga. Tento me alimentar bem, almoço meio dia todos os dias com as minhas crianças, uma comida balanceada, caseira. Como pouco na rua. Quero fazer música pelo resto da vida e vem tudo isso junto. Parei de jogar bola, 65


ENSAIO

Apocalipse zumbi FOTOS CARLOS HAUCK

Um romance p贸s-apocal铆ptico pode transformar um mundo inteiro sem vida



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MAQUIAGEM Ariane Tavares MODELOS ZUMBIS Christian Brenner Fernanda Ayuki PRODUÇÃO Flávia Denise Guilherme Ávila Lara Dias MAKING OF Bruno Senna AGRADECIMENTO Teatro Nossa Senhora das Dores



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Marriah Com uma vista privilegiada da cidade, a Marriah reúne o ambiente contagiante da balada com o melhor da gastronomia japonesa, fazendo a cada noite uma grande festa, sempre garantidas pela presença de bandas e dos DJs que animam a pista.

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avaliação da casa Para encontrar os amigos

O que sai da cozinha

Quem frequenta

Carlos Hauck

“Os camarotes são ótimos para reunir os amigos” quem. quando. porque Camila Esteves, de 26 anos, vai à Marriah toda semana. Segundo a advogada, a preferência pela casa tem uma explicação simples: “O ambiente é superbonito, a infraestrutura é excelente e o atendimento é sempre muito bom”. Frequentadora assídua, Camila conta que, depois de comemorar seu aniversário na Marriah, ficou tão satisfeita que acabou fazendo amizade com as pessoas que trabalham na casa. “Foi um sucesso, meus amigos também adoraram. Fomos tão bem atendidos que continuei voltando sempre e acabei conhecendo quase todo mundo.”

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O projeto arquitetônico da casa, comandado por Sylvio de Podestá, criou um ambiente com lounge e pista de dança. Para Camila, a decoração é um dos pontos fortes. “Acho a vista de lá muito bonita, o espaço é bacana, super bem decorado e agradável. E os camarotes são ótimos para reunir os amigos”, ressalta. A advogada indica a Marriah para quem quer se divertir com conforto sem abrir mão da balada. “Sempre que vou, a organização está impecável. Não tenho que enfrentar filas enormes para entrar, lá dentro também fica muito agradável, e não superlotado como em outras boates de Belo Horizonte.”

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RAGGA GIRL MODELO Fernanda Miranda FOTOS Carlos Hauck

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PRATA DA CASA Retrigger O músico e produtor Raul Costa comemora 10 anos tocando para amigos

COLUNA POR LUCAS BUZATTI

Laura Sobenes

Com o pseudônimo Retrigger, artista usa joystick e teremim para criar som eletrônico

“NINGUÉM SABE QUANTOS ASSALTOS,

Acesse retrigger.net

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roubos, incêndios e atentados ao pudor ele já praticou. Com 26 anos e 26 mortes, foi condenado a 167 anos de prisão. Só poderá ficar livre se provarem que ele é louco.” Projetada na parede de um pequeno estúdio em BH, a cena do filme brasileiro O bandido da luz vermelha introduz a apresentação do Retrigger, alterego do músico e produtor mineiro Raul Costa. O que vem a seguir é um show visceral, no qual suor, chamas, pulos e gritos se misturam com diferentes gêneros musicais. Performático, o “artista de computador” rasga a noite com suas canções autorais, reproduzidas pelo laptop e incrementadas por um joystick e um teremim (instrumento eletrônico executado com o movimento das mãos). O êxtase roqueiro escancara as raízes culturais de Raul, que veio da cena punk/ hardcore de BH e levou consigo a ideologia do “faça você mesmo”. Sua criação musical, porém, não se atém a um só estilo: surf music, rockabilly, hip-hop, funk e samba confundem-se com o breakcore, o electro e as diversas experimentações eletrônicas. “Desde 2005, tento colocar tudo o que gosto na minha música. Sempre fui fã de surf music, toco na banda Vostok Deluxe, então isso foi aparecendo no som que eu fazia em casa, no PC”, conta Raul. O Frankenstein musical

pode ser apreciado nos últimos registros ao vivo do Retrigger, lançados em 2011 — o disco Ornitorrinco voador e o DVD 10 anos tocando pros amigos —, que incluem músicas como Flying platypus, Comancho!, Brand new Cadillac e Ez money. No atual momento do Retrigger, música e performance caminham de mão dadas. Raul pula, grita, se diverte e conclama todos para a festa. No auge do show, ateia fogo no teremim e leva os espectadores à loucura. Aliás, que onda é essa do teremim e do joystick? “Quando vi o Man or Astroman? tocando teremim, concluí que eu precisava ter um. O som que ele faz no palco é o que mais tem sentido na minha música. E o joystick é uma forma de me desligar do laptop no show, com ele posso me divertir mais e tentar coisas diferentes.” Mas nem sempre foi assim: “Quando comecei, eu era jacu. Ficava atrás do PC apertando muitas teclas e fazendo um monte de coisas que ninguém notava. Com o tempo, vi que era muito mais legal ficar me divertindo com o som e pulando. Por isso, gosto de tocar em espaços menores e participar mais da festa”. Após uma animada década de trabalho, o músico celebra o alcance de antigos objetivos e segue em busca de novos desafios. “Estou comemorando 10 anos de diversão e bons momentos com os amigos, pois foi isso o que eu busquei e consegui com o Retrigger. Pude fazer shows maiores, tocar em outros países, mas principalmente colecionei amigos pelo mundo. E aprendi muita coisa.” Para o futuro, Raul (que hoje vive entre BH e São Paulo) já trabalha no próximo disco, que contará com várias participações e deve ser lançado em vinil e MP3. E um show repleto de novidades está por vir com o novo álbum. “Podem esperar fortes emoções!”, alerta.



CRÔNICO Antilista para efeitos nada edificantes

CRÔNICA

POR JOÃO PAULO ILUSTRAÇÃO FELIPE ÁVILA

João Paulo é de esquerda e gosta muito de cerveja, o que é quase a mesma coisa: uma opção pela esbórnia pessoal e coletiva.

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Três coisas para fazer antes do fim do dia: demitir seu chefe, expulsar a família de seu inconsciente e mandar pastar a pessoa mais chata que você conhece

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QUAL O MELHOR FILME QUE

E seu livro preferido? Se tiver que escolher 10 canções para a trilha sonora de sua existência, por onde começaria? Qual viagem mais ocupa espaço em sua memória? Entre todos os sabores que experimentou, qual ainda é capaz de despertar desejo? Somos feitos de escolhas. A vida é uma jornada em que fazemos opções o tempo todo, da roupa que vestimos ao programa escolhido para o fim de semana; do trabalho aos amores; da cor da parede de casa ao nome do cachorro. Da opção entre a esquerda e a direita, entre a cerveja e o suco, entre o Toddy e o tédio. Ao mesmo tempo em que escolhemos, sem perceber muito bem, começamos a teorizar sobre nossas decisões. O homem é um ser que faz listas. E o mais interessante nas relações de preferidos é que elas raramente são iguais, mesmo entre amigos muito próximos. Além disso, a lista de uma pessoa só interessa a ela, tem pouco potencial de comunicação e interesse fora do próprio umbigo. Para criar um parâmetro que permita às listas o mínimo de objetividade, foi inventada a relação dos mais vendidos. Com isso, o que era consequência da escolha passou a ser, muitas vezes, o próprio motivo da opção. É o que acontece com os best-sellers, que são livros mais vendidos apenas pelo fato de serem mais vendidos. Ocupam lugar de destaque nas lojas e são comentados mesmo quando não são lidos. A mesma lógica vale para as bilheterias de filmes e outras relações baseadas no consumo. Se algo faz sucesso, deve ter uma razão para isso. Essa lógica explica o sucesso, por exemplo, das várias coleções de livros eróticos de capa preta e cinza que inundam as lojas. Os leitores não estão atrás da história, mas do VOCÊ VIU NA VIDA?

comentário que as histórias geram em seu círculo de relações. O romance real é vivido pelos leitores, não pelos personagens. As pessoas reconhecem as cenas repetitivas e se sentem agradadas com isso. Da mesma forma como as crianças adoram ouvir, todas as noites, o mesmo conto de fadas: o prazer não é a surpresa, e sim o reconhecimento. Experimente mudar o fim de uma história. A criança vai chiar: ela quer viver a mesma emoção da noite anterior. Com os leitores de best-sellers, espectadores de blockbusters e ouvintes de hits se dá o mesmo. O consumo infantiliza. Essa operação psicológica de tornar adultos em crianças é um sintoma antigo — ser adulto dá trabalho — e universal. Amadurecer é um ato de coragem contra a mesmice. Para crescer é preciso deixar de lado a segurança e se arriscar. É fundamental contestar e ser do contra. O desacato é condição do progresso humano. O respeito é uma forma de decadência e infantilismo. Por isso, toda vez que vejo uma lista de mais vendidos, penso que é hora de fazer uma relação alternativa, não apenas dos menos vendidos, mas dos mais desafiadores, contestadores e anárquicos produtos dispostos ao consumo do homem. Como toda lista, é a cara do dono. Três livros que não podem faltar na sua casa: Manifesto do Partido Comunista (Marx), Mulheres (Bukowski) e Demian (Hermann Hesse); filmes para uma noite de insônia: Amarcord (Fellini), Zabriskie Point (Antonioni) e um pornô daqueles de virar a cabeça; três coisas para fazer antes do fim do dia: demitir seu chefe, expulsar a família de seu inconsciente e mandar pastar a pessoa mais chata que você conhece. Não é lá um programa nobre, tirando Marx e Hesse. Contudo, pode ser completado com a derradeira lista das listas: escolher o que você vai beber hoje. Sugiro cerveja, cerveja e cerveja. Porém, há quem lhe aconselhe a intercalar com algo mais forte. Prefiro ficar com a cerveja mesmo e acabar a noite lendo o Manifesto. E pensando em sexo, pois ninguém é de ferro.



QUADRINHOS RASOS

COLUNA

POR Eduardo Damasceno E LuĂ­s Felipe Garrocho // quadrinhosrasos.com

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