#44 limite

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limite revista nu #44 maio 2018

3,5 euros



Limite

revista nu #44 Maio 2018

editorial

entrevista artigo gráfico enviados nu

à conversa com

entrevista contaminações

a nu

Capa Sem título #6, Série Mar

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O limite do limite Francisco Paixão

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O propósito é a Cidade Inês Saraiva

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Miscommunications Ivan Brito

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Quimera Paula Chaves

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Pedro Brígida Carolina Ramos, Cláudia Ribeiro e Inês Saraiva

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de(s)limitar Beatriz Marques

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RMB | Muhipiti António Moreno | Carlos Fraga

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António Bettencourt e Carlos Antunes Diogo Simões, Lara Reis e Paula Chaves

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Arquitectura, por vir Diogo Simões

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Olhar lá para fora Francisco Paixão

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Atrevimento Letícia Callou

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João Baía Lara Reis e Paula Chaves

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SENZEB João Paulo Cardielos, Eduardo Mota e João Briosa

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Stairway to nowhere

Diretor Francisco Paixão Editor Francisco Paixão Editor gráfico Hugo Silva Redação Carolina Ramos, Cláudia Ribeiro, Diogo Simões, Francisco Paixão, Hugo Silva, Inês Saraiva, Ivan Brito, Lara Reis, Paula Chaves Colaborações António Moreno, Beatriz Marques, Carlos Fraga, Eduardo Mota, João Briosa, João Paulo Cardielos, Letícia Callou

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editorial

O limite do limite Francisco Paixão Aluno de dissertação do dARQ

Limite, estrema, fronteira, raia, aquilo que define ou delimita um espaço.

Entendemos, muitas vezes, o limite como um fim, uma meta, uma fronteira entre dois espaços, uma linha que separa, como o momento imediatamente antes de algo transbordar, algo completo ou acabado, um término. Contudo, esse momento pode ser ultrapassado, transpondo-se esse ponto, passando, então, o limite a ser um mediador entre estados diferentes e não apenas um fim em si mesmo. Mas o que está para além do limite? E qual limite? Do limite físico, existente, marcável e definível? Ou o limite do bom senso, da legalidade, do que é normal fazer? 4

Qual o limite entre o real e o irreal? Entre o natural e o artificial? Entre o possível e o utópico? Será o espaço infinito? E o Espaço? Tem o Universo limites? Sendo este, aparentemente, uma coisa física, é definível e limitado? O Universo expande-se constantemente, mas qual o limite dessa expansão? Terá fim? E qual o limite oposto, o da concentração? Quanto poderá ser o espaço condensado e comprimido? Partimos da arquitectura, onde os limites se revelam primariamente no espaço, sendo aquilo que dá forma à própria arquitectura. Normalmente podem ser condicionantes para o projeto, mas são do mesmo modo a única base para o fazer; sem eles a arquitectura caíria num vazio experimental onde essa total


liberdade acabaria por impedir o processo de criação. Todo o projeto surge de algo - um programa, um local ou um conceito -, e esse algo, por mais variável que possa ser, terá sempre o seu caráter de limite. No entanto, fugimos também do próprio limite da arquitectura tentando encontrar-nos a nós próprios num tema que é, por contradição à sua natureza, muito amplo e quase ilimitado. Ao mar como uma fronteira física que impede o continuar opomos um estado de reflexão que pela imensidão do seu confronto nos provoca o sonho e desse sonho julgamos o real. Questionamos aquilo que existe mesmo e aquilo que apenas pensamos existir. Real ou irreal, sonho ou metafísica, um diálogo constante que nos provoca a sensação de medo.

Regressamos a casa quando nos deparamos com este abismo, mas mesmo aqui há um confronto: discutem-se os tais limites do campo disciplinar da arquitectura. Entendê-los, ou pelo menos discuti-los, permite-nos perceber, não só o modo como esta lida com outras áreas, mas sobretudo as expectativas depositadas sobre ela. Entender os limites é, no fundo, entender o que é limitado; é entender o que se está a delimitar. Procurando os limites de algo, procura-se esse algo em si. O que define e limita uma coisa acaba por ser a sua própria definição, o modo de a designar. Viveremos a vida nu limite?

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artigo

O propósito é a Cidade Inês Saraiva Aluna do 4º ano do dARQ

Urbanismo e Arquitectura. Dois conceitos distintos, tão abrangentes quanto multidisciplinares, cada um com a sua estrutura ramificada e plural, que se conectam, assumindo aí um campo híbrido relevante que desperta alguma curiosidade. Híbrido porque, se de um lado, existe um traçado urbano que define previamente a forma da arquitectura, por outro, há um objeto arquitectónico através do qual se desenvolve uma malha urbana. Tal como os comissários da exposição “Poder Arquitectura” afirmam: “A Arquitectura não é apenas a expressão de um único poder. Reflete e trabalha a partir de vários poderes.”1, logo, a arquitectura acontece quando revela a capacidade de moldar as suas restrições e as conduz numa única direção. Portanto, não poderá a malha ser uma dessas condicionantes? Ou será a malha um tema 6

tão mais abrangente que se revela, de facto, impossível de pertencer ao léxico da arquitectura como algo submisso? Desta forma, é questionável se o objeto arquitectónico é capaz de desencadear uma Cidade. Talvez seja hiperbólico lançar esta linha de pensamento, ou então apenas difícil ter a perceção clara do ponto em que esta contaminação e repercussão da malha ou do edificado se condicionam a posteriori. Para além do mais, torna-se desconcertante atribuir à arquitectura que, por princípio, surge depois da malha urbana, este carácter de ‘dominador de cidade’, porém a capacidade de um edifício desencadear uma Cidade não é improvável, pois mesmo nas malhas mais rígidas a arquitectura surpreende e torna-se um momento excecional, como o caso singular do Plano de Barcelona, de Cerdá, reconhecido pelo seu planeamento contextualizado e enraizado.


Numa primeira análise, o traçado aparenta ser o resultado da posição da régua e esquadro, repetidos numa fração do território. No entanto, numa escala mais aproximada, é percetível como esta malha se articula com o existente, adicionando, mas sobretudo apresentando um conjunto de continuidades. É uma malha rígida e regrada que nos dirige para uma tipologia arquitectónica igualmente sólida - os quarteirões. Estes não foram desenhados nem pensados separadamente, nem o poderiam ter sido. Existe uma ligação nesta rigidez que condiciona a arquitectura que ali se poderá implementar e, desta forma, saltam à vista as grandes massas regulares dos quarteirões, limitadas pelos traçados urbanos que se repetem num ritmo harmonioso, e apesar de Cerdá ter concebido um leque de variações desse preenchimento, a expressão desta tipologia permanece. No entanto, num rápido olhar e a uma escala ainda mais aproximada, ocasionalmente, o objeto arquitectónico ressalta na malha, porque rompe essa intransigência da tipologia de quarteirão. A Sagrada Família de Gaudi está inserida numa das retículas do plano e surge de uma forma autêntica e sublime, cria rutura com a austeridade dos quarteirões e surpreende na sua forma escultórica. É um objeto inolvidável por si só, que

notavelmente surpreende na malha de quarteirões que varrem Barcelona na expansão do século XX. Surge ainda, desta análise mais aproximada, a existência de objetos que rompem, tanto com a tipologia, como também com a malha, o que faz com que se enalteçam neles mesmos, desprovidos da consistência do tecido urbano. São singulares, nessa perspetiva, o caso de estudo da Torre Glòries - um objeto solto da malha e da tipologia que cria os seus próprios entendimentos, aparentemente desligado do tecido cosido, quase como ‘não inserido’ - e, por oposição, o caso de estudo do Museu Azul, decorrendo como exemplo que afirma submissão a uma retícula imposta e onde a sua forma triangular - excecional da tipologia dos quarteirões da cidade - é resultante disso, condicionando todo o objeto por si só. Barcelona é uma Cidade versátil conseguindo gerar nela variadas possibilidades, a sua peculiar racionalidade da malha provoca também o oposto, dando lugar à excecionalidade dos objetos inseridos nos contornos do traçado, ou apenas, singularmente colocados no território. Se, em alguns destes casos, a malha e a tipologia andam de braço dado e formam um desenho maciço e repetido, noutros são nitidamente a supremacia da tipologia e a exaltação de uma nova expressão que se evidenciam.

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artigo

Miscommunications Ivan Brito Aluno do 4º ano do dARQ

A língua e as palavras, tal como a arquitectura, devem funcionar como um todo; os vários povos e várias nacionalidades adequam a linguagem às suas necessidades. As palavras podem ter um acréscimo de significado consoante a sua importância para a sociedade à qual está vinculada. O seu significado passa a ser importantíssimo para o contexto em que se inserem - é o caso da definição de pedra. Já há muito nos debatemos sobre essa questão, para alguns é apenas o nome que se dá a um objeto que tem as propriedades físicas da pedra, para outros é a imagem mental de pedra que guardamos desde criança até agora. O que acontece é que estas variadas interpretações sobre o significado das palavras podem originar problemas de comunicação.1 A arquitectura, desde os princípios dos tempos, debate-se com problemas de comunicação, acompanhando os avanços civilizacionais, mas tentou através da sua imagem ser representativa. Sobre esta perspetiva, a arquitectura pode também ser vista como uma forma de comunicação mas, por vezes, um problema de leitura da mesma pode levar a uma diferente compreensão da obra como um todo. O conceito e a clarificação passam, assim, a ser imperativos para a compreensão da ideia de uma obra de arquitectura. O conceito procura responder aos problemas que a arquitectura se propõe a resolver, sob este ponto de vista, torna-se, então, essencial para demonstrar a verdade da arquitectura. 8

O conceito pode, por vezes, pela compreensão geral de um grupo, ser adulterado, ganhando a obra um novo sentido, uma nova interpretação. O desenho de Aldo Rossi, para o bairro da Bela Vista, deixa clara a intenção de um projeto longitudinal, mas, moldada pela imagem mental que o povo português tem de bacalhau, a sua longitudinalidade fez com que a obra passasse a ser interpretada como tal – o ‘bacalhau’. A imagem do projeto foi adulterada através do significado que as palavras têm para a memória comum e coletiva.2 Mas não é necessária que essa interpretação seja transformada sob um ponto de vista coletivo. Por vezes, a crítica de alguém a uma determinada obra pode mudar a opinião pública e, ao longo do tempo, mudar também o que esta representa. “O carácter camuflado e intimista das obras domésticas de Álvaro Siza tem na Casa Beires uma reviravolta, mesmo se o cliente pretendia uma casa com pátio, virada para o interior. (…) A implantação do desejado pátio interior, dada a pequena dimensão do lote, leva Siza a um jogo tenso entre o construído e o espaço livre. Nesse sentido, a Casa surge como um bloco fragmentado, o resultado de uma ‘explosão’ ”.3 A opinião crítica vem, mais tarde, a chamar-lhe “Casa Bomba”, aclamando que a intenção projetual é a sensação da explosão de uma bomba no interior da casa, criando, deste modo, uma sucessão de planos díspares. A imagem mental de uma explosão foi,


neste caso, o elemento potenciador para esta alegoria: o que parecia ser uma casa que, sob o ponto de vista experimental, era inovadora, com esta narrativa ganha mais sentido. A própria arquitectura ganha sentido! A narrativa de uma obra pode ainda ser moldada antes da mesma ser construída como o caso do edifício REN, do Bjarke Ingels, projetado inicialmente para um concurso na Suécia. O júri argumentou que o objeto não se inseria no contexto de cidade onde se encontrava, visto que a relação com a envolvente estava em carência; por esta razão, o atelier BIG não se sagrou vencedor do concurso. Mais tarde, um grupo de executivos, vendo no projeto a semelhança ao símbolo chinês para pessoa - - ren/rén, propõe que o edifício seja construído na China, não olhando para a envolvente, apenas porque o projeto representava algo físico para eles, ganhando uma dimensão simbólica. No entanto, a mudança de paradigma resultante do processo conceptual do mesmo, faz com que o projeto passe a ser puro produto de marketing. A arquitectura aqui não tenta resolver qualquer tipo de problema urbano ou de carência funcional de uma região, passando a ser apenas um símbolo. O símbolo passa a ser arquitectura, o edifício - pessoa para as pessoas.4 Mas qual é a verdadeira verdade para um projeto… A do criador ou a interpretação social? “Platão definiu a beleza como esplendor da verdade.”5 Para Campo Baeza, a verdade está nos elementos que constituem a arquitectura. “Se a arquitectura essencial de que falamos tem poucos elementos todos eles são necessários e verdadeiros”6. Mas o que acontece quando esses elementos levam a múltiplas interpretações, a verdade deixa de existir? Para Josef Pieper, a verdade é a realidade. É evidente que, “toda a arquitectura construída é real, tem uma presença real evidente. Mas isso não significa necessariamente que seja verdadeira”7.

O que ela procura expor e responder deve ser clarificado desde o seu ponto de partida, não criando margens para problemas interpretativos, mas, por vezes, o conceito prevê essas várias interpretações e deixamos aí de perceber qual é a verdadeira intenção. No entanto, a verdade pode-se tornar um instrumento de subjetividade e pode ser moldada ao longo do tempo. A arquitectura nunca foi estática, o tempo molda-a e vai garantindo mutações; a realidade permanece, o que muda é a verdade.

Émile Benveniste. Problèmes de Linguistique Générale. Paris: Éditions Gallimard, 1966. 2 Jorge Figueira. Fragmentos rossianos na arquitectura portuguesa, Estudos Italianos. Coimbra: IICL, 2017, pp. 42 e 43. 3 Jorge Figueira. A Periferia Perfeita. Lisboa: Caleidoscópio, 2015, p. 381.a 4 Bjarke Ingels. Yes is More. Cologne: Taschen, 2009, p. 26 e 27 5 Alberto Baeza. Principia Architectónica. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2013, p. 20 6 Ibidem, p. 20 7 Ibidem, p. 20 1

Pág. 11 Bloco Habitacional “Bacalhau”, Aldo Rossi, 1975

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artigo

Quimera Paula Chaves Aluna do 3.º ano do dARQ

Casa. Define-se por um ambiente destinado a habitação em que a materialidade delimitadora também é capaz de proteger os seus utilizadores do mundo exterior. Com base na vivência quotidiana, o espaço doméstico torna-se receptor de laços afetivos: lar, termo que certamente conduz a um sentimentalismo nostálgico. A manutenção da memória é um dos atos que melhor traduz um lar, porta-retratos, souvenirs de viagens, marcas provenientes do uso… Tudo grita que ali vive-se ou viveu-se. A criação ou preservação de uma lembrança torna-se desconfortante quando o fator imaginário humano é adicionado à cena. Ora, mas memórias não são sempre gestos positivos? Talvez não: o esforço de manter viva uma recordação fazendo uso de demasiada informação é capaz de criar um ambiente dúbio, parece continuar habitado. Quando alguém percorre os corredores de um sítio potencialmente habitado sem conseguir provar que de facto o é, a mente humana encontrará explicações para o que é visto e o silêncio, normalmente tranquilizador, revela-se extremamente inquietante ao contrastar com o barulho visual. Somos confrontados com o conceito de uma casa assombrada, verdadeira Quimera1 contemporânea. Não se sabe o que acontece: um mistério ao qual são atribuídas explicações sem nunca perder o carácter incógnito, e assim tem de ser para continuar como objeto de deslumbramento. O perigo não é claro, mas será sempre mais vantajoso para a preservação da espécie que interpretemos a dualidade como perigo. O desconhecido limiar dos sentimentos evocados num ambiente doméstico é curiosamente fascinante, afinal, por que outro motivo as pessoas continuariam a consumir o terror através de filmes, parques temáticos e visitando lugares 10

ditos assombrados? Talvez o ambiente fértil para a imaginação, aliado à adrenalina do estado de alerta, faz-nos sentir mais vivos que nunca: somos física e psicologicamente estimulados. Estar numa casa assombrada é encontrar-se num eterno ciclo de confronto interno: o ambiente parece acolhedor e calmo… então, por que não são os sentimentos compatíveis? A mente surpreende ao permitir a divagação entre o familiar e o inóspito: parece libertar as mazelas mais profundas da psique humana no último ambiente esperado. A angústia surge justamente na dualidade, a falta de evidências óbvias de perigo é intrigante, agonizante, estimulante. O pensar na quantidade de eventos parcialmente sabidos ocorridos num espaço permite que depositemos o medo do desconhecido com certa propriedade. Isso explica o porquê de uma casa antiga despertar mais medo do que um imóvel recente: quanto mais história, mais espaço para confabular situações. Isso abre espaço para o debate acerca das fantasias subjetivas terem influência direta sobre a maneira como lemos um objeto arquitectónico. Roger Scruton afirma que para descrever uma experiência arquitectónica certamente estaríamos descrevendo o processo básico da perceção2. Perceber vai muito além de ver. É preciso sentir: perambular por entre as vivências sensoriais e inevitavelmente confrontar-se com aspetos introspetivos que os sentidos despertam. Desta forma, ao arriscar um passeio por entre os corredores de um lar assustador, somos confrontados com o hibridismo do pior dos pesadelos e o sonho tranquilo de uma confortável casa. O caráter insólito da contradição de conceitos é mais que aceite, é bem-vindo.


A dualidade terror/fascínio é surpreendentemente presente nas narrativas fictícias há mais tempo do que seria de imaginar. Na mitologia grega, a Quimera era um ser híbrido ao qual foram impostas diversas descrições adaptadas ao que uma geração, um povo ou um indivíduo considerava assustador. Ou seja, ao analisar um símbolo ou estigma na sociedade é necessário levar em consideração que o homem e o meio influenciam-se mutuamente e o subconsciente humano encontra sempre maneiras de se manifestar. A mente busca artifícios para se manter em alerta: o que poderia ser tão encantadoramente hostil quanto o indefinido?

Quimera nada mais é que a personificação do devaneio humano: um sonho que faz emergir pesadelos e voltar à origem, num ciclo infinito. O limiar é desconhecido.

Ser da mitologia grega descrito de várias maneiras ao longo do tempo mas apresentando-se sempre como um ser híbrido ameaçador. 2 “Why should it be so difficult to describe the experience of architecture? We see, touch, and move among buildings, just as we see, touch and move among the other objects in our world. Surely then to describe architectural experience is to describe the basic processes of perception.” Roger Scruton. The Aesthetics of Architecture. New Jersey: Princeton University Press, 1979. 1

Francesca Woodman, Sem título, 1976

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entrevista

Pedro Brígida Carolina Ramos, Cláudia Ribeiro, Inês Saraiva Alunas do 4º ano do dARQ

A entrevista ao arquitecto Pedro Brígida teve lugar no nº 5 da Rua Sobre Ribas em Coimbra, no jardim do seu atelier. É um espaço confortável, intimista e especialmente sereno, que poderá ser encarado como uma analogia ao modo como o arquitecto encara a prática da arquitectura. A entrevista deambula num ritmo compassado mas, em simultâneo, conciso na forma como aborda questões do limite do desenho na prática projetual e das ramificações da arquitectura, que ambicionam o controlo total através da disciplina.

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A arquitectura assume-se como uma busca incessante do espaço e da forma através do desenho, idilicamente, segundo um processo de constante aproximação ao resultado ambicionado. Entende a posição do arquitecto como alguém que encara o desenho de arquitectura para lá do espaço, estendendo-o aos objetos que o compõem? É uma pergunta clássica, recorrente, que às vezes outros nos fazem e outras vezes fazemos a nós próprios, e que sintetiza o tema. Acredito que esta entrevista tenha surgido motivada por algumas coisas que eu fiz, exemplos dessa extensão, um pouco para lá do que é a encomenda normal. A resposta está contida no próprio processo, não é premeditada. É um processo contínuo, desenhar o espaço e o seu equipamento. Trata-se de materializar o espaço, relacionando a sua utilização com o equipamento, que por sua vez há que materializar também. É um circuito fechado! Equipar o espaço leva-nos a poder desenhar o equipamento como sua extensão e momento final de uma ideia inicial. Parecem, à partida, disciplinarmente diferentes, mas na realidade, eu não consigo separá-las. Isto explica-se no processo, na concretização. Há um projeto que me fez ganhar esta consciência - um projeto que contém estas camadas todas: a paisagem, o lugar, o programa complexo, a pré-existência, o cliente participativo, as condicionantes regulamentares, o tempo. E de repente, estamos a desenhar equipamento - porque houve essa possibilidade exatamente com as mesmas ferramentas e materiais que os edifícios e seus espaços. Isto não foi premeditado, mas nessa altura consolidei a consciência de que afinal era tudo a mesma coisa, podendo até esse equipamento autonomizar-se daquela obra.

É preciso que os espaços ganhem materialidade, matéria, revestimentos, sons, cheiros... Isto tem a ver com linguagem? As pessoas são diferentes, as linguagens são diferentes, mas o projeto pressupõe esse controlo, tal como o entendemos e nos ensinaram na escola. Não deixar ao acaso a materialização, os detalhes, e a sua relação com as pessoas, é determinante na eficiência da arquitectura. Eficiência espacial, material e funcional, conduzem ao conforto numa perspetiva humana. Eu tento pôr-me no papel de quem usa e, portanto, este carácter humano é, em primeira mão, testado por mim. Não desenho para mim - os arquitectos não devem desenhar edifícios para os outros como se fossem para si próprios -, mas tenho que os simular. E, às vezes, a simulação do seu uso é um reflexo daquilo que são as nossas necessidades e o nosso conforto. Posso não estar a ser completamente correto, do ponto de vista da história e da teoria, mas eu acho que linguagem é uma coisa, identidade arquitectónica é outra. A identidade arquitectónica, reflete questões pessoais, por isso é que é uma identidade. Não me preocupa muito o enquadramento numa determinada linguagem. Somos muito contaminados, e essa contaminação sempre existiu e sempre foi muito evolutiva. Não se pode entender uma arquitectura sem perceber o que está para trás. Eu gostava de acreditar que os meus projetos têm uma identidade arquitectónica, mas sei que têm muitas referências. De facto, é necessário que existam condições muito fortes para se criarem coisas realmente novas.

Ao observar as suas obras, é percetível a existência de uma co-habitação de diferentes escalas de desenho e detalhe, de acordo com uma perspetiva de conforto, clareza espacial e caráter intimista. A linguagem dos espaços que projeta assumem-se como reflexo da sua forma de entender e viver a arquitectura? Um edifício não se esgota num skyline, numa paisagem. Resolve, desenha, estrutura-se. 13


artigo grรกfico

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Beatriz Marques (bailarina) | Joรฃo Pereira (fotรณgrafo)

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Reuse of Modernist Buildings Marl, Alemanha António Moreno Aluno de dissertação do dARQ

Partimos de Coimbra, acompanhados pelo professor Paulo Providência, para um workshop em Marl, na Alemanha. Éramos um grupo de oito estudantes de arquitectura que tinha acabado de finalizar o quarto ano de projeto, e andávamos à procura de uma experiência internacional, da qual não sabíamos ao certo o que esperar - quer pelas diferenças culturais associadas a distintas abordagens projetuais, quer pela falta de consciência de como estava organizado o workshop. O que parecia certo era apenas que iríamos fazer parte do primeiro workshop Internacional RMB (Reuse of Modernist Buildings). Marl parecia o sítio ideal para o decorrer do workshop, visto que, nos anos 60, um novo centro político para a cidade tinha sido definido por Bakema e Van den Broek. Esta dupla de arquitectos holandeses, presentes nas discussões do Team 10, definiam assim um complexo modernista, extremamente racional e objetivo, com tendências brutalistas, ao querer mostrar

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a estrutura e materialidade associada à construção. Este complexo albergava a nova Câmara Municipal e Museu da cidade, definindo assim uma zona de expansão para o edificado. Desta forma, surgia a “nova” cidade de Marl, que partia do modernismo como modelo de constução arquitectónica. O local do workshop era uma espécie de museu modernista, pelo elevado número de casos de estudo possíveis de serem analisados. Lá chegámos, após umas largas horas de viagem (com um paragem em Colónia para visitar o Kolumba Museum de Peter Zumthor), e deparámo-nos com um grupo a jantar, ao ar livre, na entrada de uma escola modernista que tinha sido desativada para albergar o novo Museu da Cidade – local onde se iria realizar o workshop e onde permaneceríamos durante os seguintes seis dias. Pela sua distribuição programática aparentava ser o sítio ideal para o acontecimento, o espaço polivalente da entrada estava destinado ao workshop, às zonas expositivas e de apresentação


de conteúdos e, através de uma escada acedíamos às salas de aula, que dialogavam entre si através de pátios, e que, durante aquela semana, iriam servir de quartos. Estavam, então, reunidas as condições necessárias para a criação de um grupo coeso, no qual a arquitectura era o denominador comum. O dia seguinte foi marcado pelo (re)conhecimento da cidade e divisão dos participantes em grupos de trabalho, momento onde se misturaram estudantes das diferentes universidades participantes, procurando versatilidade nas propostas e diálogo entre diferentes culturas, ideais e perspetivas arquitectónicas. A todos os grupos foram atribuídos os mesmos objetos de análise: dois edifícios modernistas que tinham tido uma ocupação diferente da prevista inicialmente. Pretendia-se, tal como indica o nome do workshop, dar um novo uso a estes edifícios. Assim, nos restantes dias, estabeleceram-se etapas para a realização das abordagens ao projeto: definição de um conceito; metodologia da abordagem; definição do projeto; apresentação à comunidade.

transporte, foi-nos possível, durante os dias seguintes, visitar e conhecer a cidade de Marl, não nos limitando apenas ao espaço do workshop. No fundo, e essencialmente, criou-se um grupo coeso de amigos que, apesar do cansaço, não se importavam de dormir menos uma ou duas horas para se conhecerem. O workshop acabou por correr bem a todos os níveis, excepto a viagem de regresso - mas isso é outra história…

O penúltimo dia foi bastante benéfico para os participantes: na parte da manhã, apresentaram-se as diferentes propostas à população de Marl, recebendo o feedback dos mesmos; a tarde ficou marcada pela visita à escola projetada por Hans Scharoun, em 1979, nas periferias da cidade. Fizemos uma visita guiada e aí tivemos a oportunidade de perceber o pensamento do arquitecto na abordagem às dinâmicas das salas de aula, espaços polivalentes e relação com o exterior. Apesar de todo o trabalho desenvolvido, o workshop não se resumia somente ao compromisso de elaborar um projeto, havendo tempo para mais. Tendo sido, no segundo dia, distribuídas bicicletas por todos os participantes como forma de nos garantir um meio de 17


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Oficinas de Muhipiti Ilha de Moçambique Carlos Fraga Aluno de dissertação do dARQ

‘Familiar’ - que é próximo ou reconhecível por uma experiência anterior, na língua inglesa remete também para um espírito, que pode tomar uma forma animal e que normalmente acompanha uma bruxa. Esta invocação do lado oculto, dos “espíritos” que acompanham normalmente as nossas ações, resgata a memória de uma viagem e da dicotomia de experiências que nela encontrei.

A possibilidade de uma viagem a África, possibilidade esta que já tinha negado a mim mesmo, pelo menos num futuro próximo, deu-se com a apresentação das “Oficinas de Muhipiti: planeamento estratégico, património, desenvolvimento” ainda no primeiro semestre do ano letivo 2016/2017. A proposta era simples - se é possível caracterizar algo deste género como simples -, um workshop de onze dias na Ilha de Moçambique com o propósito de pensar o património comum e o desenvolvimento estratégico da Ilha. Propunha-se um reaproximar de culturas em estreita ligação com a academia. Este era o mote, já as experiências, regra geral, foram/poderiam ser completamente distintas. A experiência concreta deste ‘património de influência portuguesa’ teve especial ressonância por duas razões concretas: a primeira, deveu-se ao facto desta ter sido a minha primeira viagem a um país fora da Europa, com influência portuguesa; a segunda, por ser a oportunidade ideal para testar o que lia de Fernando Távora, especialmente no que se refere a essa ‘maneira de fazer’ que reconhece nas cidades e territórios do 18

antigo Império Português. Com esta perspetiva em mente, chegámos à Ilha de Moçambique, depois de uma viagem de dez horas entre Lisboa e Maputo, um voo entre Maputo e Nampula, cidade onde pernoitámos, e finalmente uma longa (e árdua!) viagem de ‘machimbombo’ entre Nampula e a Ilha de Moçambique. E se nestas ‘escalas’ poucas foram as oportunidades de visitar esta familiaridade, sendo, pelo contrário, o primeiro encontro de completa distância cultural e espacial, na chegada à Ilha esse panorama altera-se completamente. A Ilha de Moçambique, capital do país até à deslocação para Lourenço Marques devido a disputas com Inglaterra, importante porto para a rota mercantil Portuguesa - prova disso são os inúmeros naufrágios que povoam as águas ao largo da Ilha -, caracteriza-se especialmente por um eixo longitudinal que vence a ilha de ponta a ponta, uma marginal que circunda toda a ilha e pela clara definição de uma ‘linha divisória’ perpendicular a esses eixos. Esta linha caracteriza duas ‘cidades’, que na realidade são como duas ilhas distintas.


A secção a sul define-se pela sua arquitectura tradicional, pequenas habitações de ‘pau a pique’ - sistema construtivo tradicional caracterizado pelo uso de terra e madeira - e ‘macuti’ nas coberturas, material que lhe deu o nome de ‘Cidade de Macuti’. A secção a norte, a ‘Cidade de Pedra e Cal’, era a cidade dos portugueses, tendo-se da outra retirado a pedra necessária para erguer o que seria a capital. Um extenso parque encabeçado por um Hospital faz a união entre ambas. A dicotomia entre estas duas cidades, e o seu equilíbrio dinâmico, dá à ilha uma condição peculiar. Na ‘Cidade de Pedra e Cal’, à partida a cidade perene, encontramos o primeiro significado, a familiaridade de espaços, essa maneira de fazer, onde as praças são em calçada, as igrejas seguem a traça que reconhecemos tanto na Índia como no Brasil e os fortes ainda apresentam as suas armas e pontas, mesmo que erodidas pelo tempo. Dez mil quilómetros fazem-se no assentar de uma pedra!

pela proximidade entre habitações com cada casa a estender do seu volume um pequeno banco destinado à socialização, na ‘Cidade de Pedra e Cal’ o espaço já toma uma escala mais familiar do contexto europeu, largas praças com bancos, passeios em calçada, jardins e eixos que rasgam a ilha e interligam estes grandes espaços. Roda-se, numa das noites de convívio, um documentário sobre os ‘espíritos da ilha’, ainda presentes na cultura da comunidade. Questiono-me se a estes, que vejo na tela branca, suportada nos imponentes portões do hospital, se devem juntar os que se sentem no espaço. Terão sido eles a inverter a perenidade da cidade de pedra?

Mas é no confronto com a segunda, a ‘Cidade de Macuti’, à partida provisória, que nos confrontamos com o significado oculto emprestado do inglês, esse espírito que acompanha as ações faz-se sentir logo na implantação dos bairros. Nos grandes vazios de onde se retirou a pedra da ‘capital’ implantaram-se pequenas habitações, que mantêm até hoje a sua malha e as suas características enquanto que o ‘perene’ esmorece. Ao escolherem esta implantação para os bairros de ‘macuti’, os portugueses marcaram uma posição, diferenciando claramente uma cidade ‘superior’ e uma ‘inferior’, sendo esta tanto uma escolha pragmática como política, na qual o gesto confirma uma relação de poder. Em onze dias de trabalho sobre o espaço público da ilha, foi possível entender muito bem esta relação entre cidades e o profundo fosso cultural aparente neste mesmo espaço. Se nos bairros de Macuti o espaço público se caracteriza pela pequena escala, 19


à conversa com

António Bettencourt e Carlos Antunes Diogo Simões, Lara Reis e Paula Chaves Alunos do 4.º, 1º e 3º ano do dARQ

Idealizada e executada por toda a redação, a conversa abrange diversos pontos desenvolvidos ao longo do número. A amplitude do debate teve lugar num espaço que se revela subdimensionado perante o contributo dos entrevistados, discutindo-se, primordialmente, sobre a (re)construção da arquitectura - bastante para lá da questão física a ela inerente. Os novelos da História são, assim, cruzados criando pontos nodais, abordados de forma subjetiva e cuidada, não esquecendo a relação da prática profissional com a prática académica. Arte e Construção. Micro e Macro. Passado. Presente. Futuro. Como pode a arquitectura lidar com premissas aparentemente díspares?

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Até ao início do século XX, o arquitecto tinha uma posição quase absoluta no projeto de arquitectura desde o planeamento urbano e desenho geral do edifício até ao mais ínfimo detalhe de mobiliário ou à decoração dos espaços interiores. Esta posição de ‘arquitecto absoluto’ tem vindo a perder-se, pela cada vez mais especialização de áreas de saber. O arquitecto dos dias de hoje deve retomar essa posição? E de que modo o deve fazer? Carlos Antunes: Podes começar tu… És mais velho. António Bettencourt: Sou mais velho do que tu? CA: Da casa seguramente és! (risos) AB: Eu acho que a ideia do geral e da integralidade do objeto é uma coisa que não se pode deixar de ter presente, e o detalhe é um instrumento para aperfeiçoar a ideia que temos do global. A expressão do edifício é resultado do uso de cada um dos elementos da construção, provocado pela ideia e expressão do todo e do particular, por parte de cada elemento. Em cada projeto devemos conceber a expressão adequada de acordo com a ideia geral que se tem para uma parede, um pavimento, um caixilho, ou para uma cobertura - e isso é indissociável. Mas penso que o ensino, muitas vezes, não é adequado para chamar a atenção para a dicotomia entre a grande escala e o detalhe - e sinto isso nos últimos anos -, mas não acredito que isso seja consequência de uma maneira nova de fazer arquitectura. CA: Esta é uma pergunta armadilhada porque, no fundo, confunde ideias. Desde logo dá conta de um mundo cada vez mais complexo, associado ao ato de construir, ao aumento da responsabilidade e das especialidades. Tenta inferir uma espécie de imperativo, que resulta do arquitecto poder ter cumpridas algumas das suas funções por outros, não tendo necessidade de ir até ao limite. Acho

que é exatamente o contrário: com o aumento da complexidade do processo construtivo, torna-se mais importante o papel do arquitecto enquanto coordenador desta complexidade, na medida em que é o único agente com esta capacidade, pois é o único que tem uma formação transdisciplinar e uma visão demiúrgica da construção. Eu diria que o nosso papel, à medida que o mundo se torna um lugar mais complexo - e a construção também - , se revela operativo no controlo de tudo, sendo o detalhe apenas um desses pormenores. Pode haver uma arquitectura sem detalhe? Não, porque é uma inerência na arquitectura. A expressão de um caixilho é substancialmente diferente se tiver mais dois centímetros; e quem é que define isto? O arquitecto. Esta é uma questão vital. A arquitectura, enquanto campo de saber, distancia-se da engenharia - claramente mais prática -, e quando falamos desta questão do pormenor, do limite, queremos, de alguma forma, questionar-nos sobre o que é o limite. Será o pormenor o limite, desde a escala maior até à escala menor? AB: Eu acho que não é um limite, mas sim um complemento que define o todo. Eu entendo a arquitectura como uma arte, mas não é uma arte pura: é uma arte que tem a ver com uma coordenação entre várias ciências e vários campos disciplinares, em que cada especialidade tem a sua função. Para mim, o projeto é um espaço ilimitado onde o arquitecto tem de saber conciliar tudo aquilo que é fundamental para que este se revele integral. O detalhe não é um limite, é uma necessidade na definição da génese do próprio objeto. Defendo que o desempenho de cada especialidade tem de se encontrar, como resultado de uma integração total. Quando os alunos afirmam que a prática projetual não simula a realidade, devem, nesse mesmo momento, ter confiança nos professores que têm à 21


artigo

Arquitectura, por vir Diogo Simões Aluno do 4º ano do dARQ

Engenheiros: legislação 2005/36/CE, e Arquitectos: Arquitectura por Arquitectos. Nisto ressalta o imenso abismo em que o mundo incorre, incorreu e incorrerá, se em tal e por tal permanecermos. Por um lado, e referente ao primeiro caso, temos o objeto da lei, temos o meio pelo qual regemos os nossos atos, pelo pré-determinado, por outras palavras, pelo que já adquirimos como certo ou errado, como se de um dado onde se inscreve o mesmo número em cada uma das suas seis faces, e, no entanto, sempre, sempre temos o mesmo lance, o mesmo número, a mesma soma. Neste meio, onde tudo tende a objetivar-se, onde se encurta a distância entre ‘eu’ e ‘tu’, nada é já desvalado, ou permite tal desvelamento, precisamente por estar tudo já ensimesmado em si. A lei, diga-se, fecha qualquer possibilidade ao indivíduo como estrangeiro, como enigma, como singular, isto é, nesta representação, tudo está desde logo ditado pela lei, pela norma, e, então, se uma linha entorta, desviando, esse caminho por onde a lei segue, temos ipso facto a crítica feita, neste caso, aos arquitectos, que reclamam por uma coisa no qual, e pelo qual, foi já ditada em 2005, o direito (fala-se reconhecimento) de engenheiros assinarem projetos de arquitectura1. Por outro lado, o que se pinta não é de melhor alcance, nem somenos o mais digno da sua essência, que é a arquitectura. Aqui, os arquitectos reclamam o direito à prática digna do seu nome, falam do direito à boa arquitectura2, exigem a arquitectura feita por arquitectos (que tremenda contraproducência), e no entanto, são os mesmos que, e num campo larguíssimo do exercício da arquitectura, se debruçam sobre temas de design de toda e qualquer espécie, aqui reina ainda a mesmíssima ideia, presente nos finais do século XIX e princípios do posterior, de ‘obra de arte total’, diga-se, não de forma tão marcada, mas ainda assim reinante. Não queiramos falar aqui da diferença entre as duas disciplinas, como parece acontecer sempre nos 22

dizeres tanto de arquitectos como de engenheiros, que nos colocariam logo num confronto supérfluo e pouco desejável, diria, fora da sua essência. O que mais dá a espantar, neste trocar de testemunho, é, precisamente, o confronto, o confronto por meio da lei, o que põe, desde logo, em causa as duas disciplinas, quer dizer, ao que faz parecer, regemo-nos, movemo-nos, enquanto lei, e, necessariamente, perdemo-nos no supérfluo imediatamente quando o que importa é a lei. A haver uma anomalia, acima de tudo e em primeiro, é a existência de uma lei, como se as duas áreas não se respeitassem (passando ao lado se há ou não há respeito), como Heidegger nos diz, devemos colocar o elemento na sua essência, e aí, aqui, serve o debate entre diferendos, organização de conferências, ir até às pessoas, sensibilizá-las, para além do que vem acontecendo. A arquitectura, em primeiro lugar, em primeiríssima instância, é feita pelas pessoas, são elas que, enquanto seres viventes, a tematizam, que a exaltam, que a simbolizam, que fazem o que nunca poderemos sequer supor fazer, ao passo que os arquitectos, como seres que pensam, para além do que sabem, se ocupam da possibilidade de abertura que a obra, inacabada, suscita e dá azo para. Daí a contraproducência relativamente aos discursos acima ditados, que caem no abismo em que eles próprios incorrem, a arquitectura é vista como um objeto idealizado, conceptualizado, unicamente pelo arquitecto, mas será erróneo partir do pressuposto que a arquitectura é um campo de exclusão (exclusão relativamente a outras áreas do saber, relativamente ao grupo), quanto mais, é uma área desviante, penso, em todas as suas particularidades. Isto é, desviante, primeiro, no diálogo que mantém sempre com outras áreas do saber (há sempre mais áreas para além das áreas), segundo, no sentido de vadiagem, nunca se sabe o


que esperar, a urbe sempre foi pensada por quem se demorou e ocupou dos temas da arquitectura, mas também sempre houve quem por sua conta, sem um saber ou pensar, se propôs ‘invadir’ a cidade, e, no entanto, também é bem provável que foram nesses casos, diria, anacrónicos, que sobressaiu um outro pensamento, uma outra forma de pensar, de pensar com, mais próximo das pessoas, ainda que com falhas aqui e acolá, disto ou daquilo, no que se refere à arquitectura em si. O que estes casos nos lembram, é que a arquitectura é essencialmente feita pelas pessoas, pensada pelos arquitectos. Nos vários dizeres que se vêm apropriando desta questão, devemos levantar antes as perguntas: que confronto? Que confronto mantemos? O confronto entre arquitectos e engenheiros? O confronto entre diferendos das duas disciplinas? Ou apenas o alimentar algo suscitado por um nervosinho que a lei propiciou? A arquitectura, como se vem acostumado a dizer, não é do/nem para o mundo, porque é precisamente nesta questão do-ser-para-o-mundo, muito na língua de alguns arquitectos, teóricos e historiadores, que reside toda a normatividade. O mundo, é o que está para mim como para ti, é o que nos medeia, é um todo uno, um alinhavar as pontas, um limite do seu próprio limite; que limite? Qual limite pensamos? A haver um limite, esse, é a morte, ninguém tem o saber da morte (Platão), fala-se de trans-ascendência, o que está para lá daquilo que não podemos sequer conhecer. O que está aqui em voga, sempre e para além de qualquer normatividade, é o respeito e a sua devida vénia a cada campo do saber, por sua vez, o que

nesta discussão, encetada por meio da alteração da lei em vigor, sobressai, é a pergunta anteriormente colocada: que confronto? A arquitectura faz-se na recetividade ao outro, na abertura aos vários saberes e não em dialeto com quem quer que seja, quem confronta depende daquilo pelo qual confronta, e de todo é esta parafernália que engenheiros e arquitectos vão tecendo. O confronto é o que se faz dia-a-dia, perante cada tempo, o nosso tempo, não há nunca nada que almejamos, nada nunca objetivado, o que há é a possibilidade de almejarmos, ocupando-nos dos vários sucedidos, alimentando a cada instante a arquitectura, e não lograr fazer apenas quando um terceiro dita a regra. Precisamente, é aqui que temos o maior declínio no que diz respeito a temas de arquitectura, é imprudente a tomada de qualquer posição perante a lei, a lei não é limite, não é limitador, é um querer universalizar, e é por isso mesmo que o discurso começa desde logo a morrer, porque nos ocupamos da questão menos essencial. Deixemos de lamentar o que a arquitectura foi e não é, ou o que é e não-nunca poderá ser.

“O que está em causa é uma violação de uma directiva comunitária de forma gravosa pelo Estado português, que desde 2009 não exerceu o direito de fazer cumprir a directiva comunitária 2005/36/CE.’’ Bento Machado Aires (Coordenador do Conselho Regional do Colégio de Engenharia Civil – Norte). Arquitectura por engenheiros? Sim, mas a questão não existe!, in Público, 2018 2 Sofia Machado Santos (Arquitecta). Direito à “boa arquitectura”, in Público, 2018 1

Pág. 33 Manifestação “Arquitectura por Arquitectos’’ , Lisboa, Março 2018 Fotografia de Nuno Almendra

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artigo

Olhar lá para fora1 Francisco Paixão Aluno de dissertação do dARQ

Bastam duas pessoas para que se possa transmitir conhecimento, base fundamental da aprendizagem. Num diálogo as ideias são trocadas, ou pelo menos passadas em sentido único, permitindo ao indivíduo entender a posição do outro. Não depende do espaço onde essa troca é feita, mas do cruzamento de dois ou mais indivíduos.

E aqui perguntamo-nos: mas que trabalho? Folhas e cadernos sobrepõe-se nos estiradores sobre maquetes e restos de materiais que, entre prazos sucessivos, se tentam organizar para a formulação de um projeto. A dedicação a uma única disciplina volta a atenção de todos apenas para esse processo de trabalho e o tempo disponível para outros focos de atenção diminui: a participação no processo de ‘construir uma escola’. Os poucos que aparecem são capazes de representar o coletivo mas não são o todo, sentindo-se essas falhas presenciais. A dispersão do foco leva a que a aprendizagem pessoal seja mais densa e, do mesmo modo, permite outras vertentes para uma mesma Escola. Não deverá ser do seu objetivo a formatação, mas sim a criação de bases de aprendizagem e crítica passíveis de sustentar outras dinâmicas de trabalho. Pede-se que os alunos apareçam - porque são eles o principal agente do espaço de ensino -, mas esperar-se-ia que também os docentes lá estivessem. E estão, tal como os alunos, alguns em representação de um corpo maior.

Num espaço de ensino essa troca é maioritariamente feita entre professor e aluno dentro da sala de aula. A apresentação de conteúdos e de pontos de vista sobre os mesmos reflete-se na aprendizagem de quem assiste. Salas vazias refletem uma falta de adesão a essa troca; salas cheias têm normalmente muito ruído de fundo. A necessidade de entrada nesses espaços torna propícia a continuidade da permanência no exterior. A chuva e o frio, inimigos de uma agradável estadia lá fora, não são suficientes para empurrar os alunos para as salas - não tanto porque seria mais agradável estar lá dentro, mas porque o interesse volta-se para um outro caminho. O fumo adensa-se nos corredores anulando o pensamento - e, porventura, a discussão -, ou pelo menos dificulta-o já que muito se fala nesses espaços. Talvez os assuntos não sejam, muitas vezes, os relativos ao espaço onde a conversa acontece, mas ela existe. Entre cartas e cafés, deambulações e travessias até à casa-de-banho, as pessoas cruzam-se. Cruzam-se, então, nos corredores os agentes fundamentais da aprendizagem e, em diálogos quase sempre curtos ou dispersos, conhecem-se colegas, ou futuros colegas, parecendo mais importantes estas trocas do que as que se estabelecem lá dentro. Talvez o problema seja o momento que não é o mais indicado para essa transmissão ou talvez seja a transmissão em si que não se quer que aconteça. No entanto, o trabalho continua.

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Volta-se para dentro. O projeto continua, termina o semestre, arrumam-se as salas, a conversa acaba e espera-se o novo ano. Talvez precisemos de olhar o mundo além do enquadramento destas janelas… Ou então não!

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Este artigo é apenas um comentário ao estado dos caixilhos desta Escola.


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artigo

Atrevimento LetĂ­cia Callou Aluna do 2Âş ano do dARQ

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A antítese traduz, através de um estilo, a própria antítese, A dicotomia que existe em tudo. Daí podemos pensar sobre o limite das coisas, A linha ténue que separa, polariza, divide O bemmal, o belofeio, o certoerrado, o ser… Há como não ser? A dúvida… Separar ou Jun tar? Escolhas, sempre. Exercícios eternos. Vivemos em metalinguagem porque vemos, Ouvimos, sentimos, andamos, falamos… Falamos da vida, vivendo. Vivemos, vivendo. Então a morte é uma ilusão? Não responda… Quem vai saber? A vida é por um triz.

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entrevista

João Baía Lara Reis e Paula Chaves Alunas do 1º e 3º anos do dARQ

Em tempos de cidades densamente povoadas e com fortes contrastes sociais surge a necessidade de refletir sobre tópicos como movimentos sociais, ocupações urbanas e direito à cidade. Neste intuito, reunimo-nos com o antropólogo João Baía cuja formação compreende tais temas.

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A dissertação “Relação entre políticas de habitação e movimento de moradores num período denso” narra a existência de barracas clandestinas, num ato de resistência antes do 25 de abril de 1974. Na sua opinião, a ocupação, mesmo que por necessidade, é um ato político? Sim, é um ato político. Em Coimbra, houve algumas ocupações. Eu fiz uma análise de imprensa para a tese de licenciatura, pré-Bolonha em Sociologia, e entrevistei uma ativista que apoiou ocupações e uma pessoa que viveu numa casa ocupada. Fiz análise de imprensa local e apercebi-me que o que aconteceu em Coimbra confirma o que Vítor Martins Ferreira diz: ‘Em Portugal não houve uma socialização da propriedade, mas sim uma socialização da apropriação’. Por exemplo, logo no dia a seguir à


ocupação eles avisavam a polícia que a ocupação

mandando a polícia, desalojando-as, sabendo que

tinha sido efetuada e tentavam negociar com o proprietário daquele imóvel o pagamento de uma renda justa. Por isso, aqui a grande reivindicação era que não houvessem tantas casas devolutas, que essas casas entrassem no mercado de arrendamentos e que essas rendas fossem a um preço acessível para as populações. Pronto, essa eu acho que era das grandes reivindicações do movimento de ocupação de casas. Isso vem mais da investigação que fiz na licenciatura. Mas em relação à Relvinha, que foi o que eu estudei na tese de mestrado, eu acho que é um pouco diferente dos movimentos de ocupação de cá, porque os movimentos sociais urbanos em Portugal na altura entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975 tomaram várias formas, como, por exemplo, de luta contra os subalugas. Os subalugas era quando numa casa viviam três famílias, partilhando a cozinha e as casas de banho, sendo que hoje em dia seria para uma apenas, como a tipologia T3. A população também se mobilizou contra isto! Os movimentos sociais urbanos interligara-se também com outros tipos de movimentos, movimentos pela educação, pela saúde. Por exemplo, o movimento de moradores tinha uma forte participação feminina e uma das reivindicações dos movimentos de moradores era também a construção de creches para as mulheres terem mais autonomia. Relativamente às ocupações que se fizeram nos últimos anos: houve a ocupação no Porto, da Escola da Fontinha e da Escola José Gomes Ferreira este ano. Em 2017, houve ocupações aqui em Lisboa na Rua do Solaza, no Ministério de Educação e no espaço da Câmara. Todas as ocupações que fizeram foram em espaços públicos e a ideia era um pouco alertar para esta questão de haver tantas casas devolutas, tantas casas vazias e tanta necessidade de habitação. Claro que estas pessoas que efetuaram as ocupações sabendo que, sempre que se faz uma ocupação, os poderes locais e regionais reagem,

estas pessoas, às vezes, ficam com processos judiciais, processos de ocupação de propriedade privada. Por isso, é complicado e acho que é exatamente por este motivo que não há mais ocupações com visibilidade pública. Por outro lado, estes ativistas não tentam levar moradores com necessidades, com carências habitacionais a viver nessas casas que eles ocupam porque sabem que essas populações já estão numa situação muito vulnerável e, se as colocam num contexto de ocupação, segundo os códigos jurídicos atuais, estarão a cometer um crime e poderão sofrer consequências jurídicas. E eu acho que os movimentos têm que ter o cuidado de não sujeitar essas pessoas a esses tipos de problemas! Mas há aqui outra questão que normalmente não se fala: há casas devolutas que estão ocupadas por sem abrigo que não optam por ter uma visibilidade pública e uma reivindicação pelo direito à habitação, é uma estratégia de sobrevivência - resolvem o problema deles, mas não resolvem o problema da população em geral. Sempre que uma ocupação se torna pública, torna-se uma reivindicação, a polícia aparece, os poderes locais e nacionais resistem.

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contaminações

SENZEB

Um projeto de investigação para desafiar limites João Paulo Cardielos, Eduardo Mota e João Briosa Arquitectos

O que significa, hoje, para a arquitectura, estar

ignorar o papel particular dos edifícios e dos espaços

no limite? Quais os limites da pedagogia em Arquitectura? Quais os instrumentos mais adequados? A pertinência destas questões é inegável — na verdade, às tradições do desenho e da modelação física tridimensional colou-se, mais recentemente, uma densa matriz digital, que se tem expandido continuamente em desmultiplicadas possibilidades de representação e auxílio à concepção. Conceber e edificar: como passar do conceito à prática? Que instrumentos valorizar? E, por outro lado, quais são aqueles que a urgência dos tempos nos impele a esquecer? Que conhecimento urge implementar, convictamente, sem soçobrar perante a avalanche de desafios renovados que continuamente somos coagidos a compreender e aplicar?

construídos, ou a responsabilidade dos técnicos de projeto e especialistas que os concebem ou requalificam. Depois, importa relevar as academias, que devem liderar os processos formativos e olhar a preparação de cada técnico, em função da sua contribuição particular no quadro temporal futuro. Talvez seja ainda pertinente um duplo sublinhar: da necessidade de modelar os comportamentos individuais e coletivos; conjugada com a responsabilidade europeia de, no quadro dos países mais desenvolvidos, liderar pelo exemplo, assumindo a condução deste processo à escala mundial.

A tentação regressiva de defender heroicamente os saberes e experiência passados está condenada a um rotundo fracasso. Em todas as épocas, foi sempre a aceitação dos novos desafios que tornou grandes as arquitecturas mais marcantes. E não, nunca antes a experiência conceptual se fez pelo abandono instrumental de processos ou técnicas. Foi sempre por adição, pelo sereno alargamento e aceitação dos novos meios disponíveis, que as vanguardas encontraram os caminhos de cada presente, sem adiar futuros. Contudo, há hoje mudanças evidentes que não podemos, nem devemos ignorar. É chegado o tempo de abraçar um novo paradigma, que também à Arquitectura reclama o adoptar de medidas urgentes e extraordinárias. Devemos olhar os espaços, os objetos construídos e os territórios na sua diversidade, mas isso não pode ser indiferente a um amplo conjunto de valores que o tempo presente nos obriga a reconhecer. Lembramos os objectivos e metas para o desenvolvimento sustentável que a Organização das Nações Unidas definiu e, nesse contexto específico, a relevância das cidades para que possam ser globalmente alcançados. Não é possível 30

É inquestionável a importância da arquitectura para a configuração dos modelos contemporâneos do habitar, dos quais as cidades são expoente incomparável. E é também aí que se desenharão as mudanças mais relevantes para a preservação do planeta. Há, seguramente, um conjunto de saberes próprios que a profissão do arquitecto reclama e implementa, e que a academia tem vindo a estabilizar e promover ao longo de centenas de anos, optimizando-o continuadamente. O certo é que, agora, se lhe exige possivelmente uma nova revisão ou ampliação. A resistência da tríade vitruviana, tantas vezes questionada ao longo dos últimos duzentos anos, serve para nos recordar que, ao pressionar os limites, vamos sempre alargando os horizontes e encontrando outros caminhos enriquecedores, sem alterar necessariamente as matrizes fundadoras. Com o projeto de investigação SENZEB1, que recentemente noticiámos e que está a trilhar os seus primeiros passos, pretendemos abrir uma porta para a investigação em arquitectura que nos tem estado vedada. A indispensabilidade da investigação pelo projeto — architectural research through design — está a ser progressivamente aceite, e cada vez melhor, pelas mais reputadas academias europeias e mundiais.


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a nu

Stairway to nowhere

Bairro da Bouça, Porto. Sérgio Ferreira (fotógrafo)

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Maio 2018 ISSN 1645-3891

Morada Revista NU, Dep. de Arquitectura, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Colégio das Artes – Largo D. Dinis 3000 Coimbra Telefone/fax (darq) +351 239 851 350 +351 239 829 220 E-mail revista.nu@gmail.com Arquivo digital revistanu.net Impressão Nozzle Lda 1.ª Tiragem 150 exemplares

Esta publicação segue o Novo Acordo Ortográfico, com a exceção da palavra Arquitectura.

#1 encruzilhadas #2 lugares #3 cidades #4 mecanismos #5 áreas de contaminação #6 imagem #7 desvios #8 tempo #9 sexo #10 ismos #11 tecnologias #12 onde está coimbra? #13 pecado #14 oposições #15 viagens #16 oriente #17 revolução digital #18 revistas #19 colagens #20 onde está portugal? #21 marginalidades #22 game design #23 brasil

#24 espectáculo #25 utopia #26 identidade #27 habitar #28 velocidade #29 modus operandi #30 poder #31 chão #32 ocupa #33 consumo #34 feio #35 XXL #36 sul #37 mito #38 ideia #39 matéria #40 entrevistas - antologia crítica #41 gordura #42 memória #43 zero #44 limite

A Revista NU surge no ano letivo de 2001/2002, integrada no programa de objetivos do NUDA, o Núcleo de Estudantes de Arquitectura da Associação Académica de Coimbra (DARQ-FCTUC). O primeiro número, #1 Encruzilhadas, é lançado em Abril de 2002, e a NU torna-se, aí, uma revista periódica de reflexão e debate sobre temas relacionados com a arquitectura, que se propõe, essencialmente, como um pretexto de discussão e como uma ferramenta de aprendizagem para quem a faz e para quem a lê. Desde então já foram publicados mais de 40 números da Revista NU, assumindo-se como uma publicação de teoria e crítica focada em temas de interesse à produção arquitectónica mas também extra-disciplinar. Assim, aos textos de crítica produzidos pelos estudantes acrescentam-se inúmeras colaborações de nomes nacionais e internacionais ao longo dos anos. Em 2003 surge o número #12 onde está Coimbra? no âmbito de Coimbra Capital Nacional da Cultura comissariada por Jorge Figueira. No ano seguinte, a convite do Instituto das Artes, a Bienal Internacional de Arquitectura de Veneza conta com a presença da NU, com o número #20 Onde está Portugal?, integrado na representação portuguesa comissariada por Pedro Gadanho. Em 2007, o programa Gau:di, de apoio a publicações sobre arquitectura de vários países europeus, faz uma recolha a ser apresentada em feiras internacionais e inclusa numa antologia, e distingue a NU para representar a crítica portuguesa de arquitectura. Em 2012 é lançado o número #40 Entrevistas – Antologia Crítica 2002-2012 em pareceria com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, como uma reflexão sobre os temas debatidos durante os primeiros dez anos da revista.


ISSN 1645-3891


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