Violência agrária no Brasil

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Painel de Geopolítica, Meio Ambiente e Cultura

Violência agrária no Brasil O período da redemocratização: camponeses e grandes proprietários em disputa

À luz da criatividade Quais os segredos por trás das mentes brilhantes?

ISSN 2179-1538

número 4 ano 2

gl c cal

R$ 14,90

Bolivia y la ley de la madre tierra La naturaleza con los mismos derechos que el hombre

Na cadência bonita do samba O surgimento da música popular brasileira ligado à figura do “malandro”

André Luiz Martins Ariel Ganassim Arthur Hussene Bernardo Arthur Zimerman Cristina de Siqueira Santos Duanne Ribeiro Eduardo Munari Eduardo Seino Elenita Malta Pereira Felipe Brasil Gabriel Brigante Isabel Cristina Martins Juliana Alves Dos Santos Leandro Carvalho Lucas Ambrósio MarcosVinicius Ferrari Mariana Morena Lemos Paulo Jubilut Rafael Cabral Piedade Ricardo Rifane Sandra Cruz Vanessa Mayumi Kawaichi Vinícius Volcof Antunes


Seu autêntico plano de estudos.

516s. pág

31

s fascículo

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4513-8660

(11) 9 9423-1131

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Materiais didáticos


edit rial Prof. Fernando de Souza Coelho

Educador Mateus Prado

Caros amigos leitores, A revista Glocal traz nesta edição dois textos que dialogam com Política, principalmente quanto à períodos eleitorais: “À parte dos Partidos” é um deles, que trabalha a questão do envolvimento da sociedade com a política, num momento que, para muitos, é de desilusão ou afastamento; e o outro tem por título “Estratégias eleitorais”, que aborda como os candidatos e partidos elaboram suas campanhas de forma a conquistar esse eleitor. Optamos por trazer, nessa edição, o tema da Reforma Agrária, que, por mais debatido que seja, ainda é uma mácula para nosso país, principalmente por não ser “interessante” para determinados setores da sociedade. Como resultado desse descaso e da ausência de políticas significativas nesse sentido, vemos hoje “A Violência Agrária no Brasil”, título do artigo de Arthur Zimerman, escolhido para a capa. Outro tema muito discutido no cenário atual, e de grande relevância, é a política federal de redução do IPI de determinados produtos. Trouxemos para essa Glocal o debate sobre a “Redução do IPI sobre Veículos”. Com esse artigo você poderá, além de entender o que foi feito, questionar como essa política pode trazer prejuízos a médio e longo prazo, se olharmos para a dinâmica do mercado e para as questões ambientais e da mobilidade urbana. Ainda dentro do tema da sustentabilidade, teremos, na área de Ciências Humanas, um artigo sobre as reservas de petróleo brasileiras,

e, na área de Ciências da Natureza, um artigo sobre biocombustíveis e outro sobre os desafios da química para um novo tempo. Destacamos também, agora dentro da área de Linguagens, o texto “Acompanhar o Contemporâneo”, que vai te dar dicas sobre como se preparar para o vestibular e para o ENEM através de uma atividade cotidiana, a leitura de jornais. Nessa mesma área, temos o texto “À Luz da Criatividade”, que irá pensar, através da psicologia, como a criatividade é desenvolvida em cada indivíduo e quais são os aspectos que envolvem, cooperando ou não, nesse desenvolvimento. Afinal, o que torna uma pessoa mais criativa que a outra? Por fim, citamos o texto “Crowdfunding: uma vaquinha para mudar o mundo”. Não entendeu o título? Com a leitura do artigo você descobrirá como algumas pessoas, com criatividade, mas sem dinheiro, conseguiram apoio para a realização de seus projetos. Vale a pena conferir. Nós, editores da Revista Glocal, desejamos que desfrutem de forma prazerosa e enriquecedora da leitura de mais essa edição.

Dos editores, Prof. Dr. Fernando Coelho e Educador Mateus Prado.

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sumário

por Elenita Malta Pereira

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Tesouros de biodiversidade

por Arthur Hussne Bernardo

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À parte dos partidos

por Vinícius Volcof Antunes

Expediente: Editores: Fernando Coelho e Mateus Prado Conselho Editoral: Renato Eliseu, Wagner Iglesias, Pedro Ivo Batista e Paulo de Tarso Gestora de Educação e Ensino: Ana Paula Dibbern Coordenador do Observatório Social: José Gustavo Fávaro Barbosa Silva Revisão: Patrícia Bernardes Diretor de Arte: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Designer: Daniel Paiva

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Documentários nacionais


por Sandra Cruz

08 Na cadência bonita do samba por Marcos Vinícius Ferrari

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À luz da criatividade por Ariel Alexandrino Ganassim

Cidades globais em foco

14 Ensaio sobre o Solo por Juliana Alves dos Santos

por Artur Zimerman

18 Biocombustíveis: Você realmente sabe o que são? por Paulo Jubilut

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Violência agrária no Brasil

Bolivia y la Ley de Derechos de La Madre Tierra por Mariana Morena Lemos

24 Estratégias eleitorais por Ricardo Rifane

por Felipe Brasil

28 Química Verde por André Luis Martins

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Reducão do IPI sobre veículos: uma política apenas de curto prazo

Crowdfunding: uma vaquinha para mudar o mundo por Gabriel Brigante


Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.


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À luz da criatividade Pesquisadores dedicam-se ao estudo da capacidade criativa e tentam revelar os segredos por trás das mentes brilhantes

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O químico e industrial sueco Alfred Nobel, inventor da dinamite, deixou sua fortuna como herança a pessoas de qualquer nacionalidade que se destaquem por seus trabalhos. O Prêmio Nobel é distribuído desde 1900 e contempla criadores da Física, Química, Medicina, Literatura, Economia e defensores da Paz. Em todo esse período, nunca um brasileiro ganhou o Nobel.

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e modo geral, as pessoas criativas são consideradas iluminadas, ou mesmo abençoadas, e despertam interesse sobre a origem e o funcionamento de suas capacidades, na esperança de que elas possam ser ensinadas. Por isso, a psicologia tem se dedicado a investigar como grandes cientistas, artistas e inventores criam suas obras-primas. Mas criatividade não significa apenas produzir novas ideias. Estudos dizem que ela precisa ser útil de algum modo e que a genialidade depende de um contexto. As ideias de Copérnico, por exemplo, eram concebidas como blasfêmias em sua época e hoje são amplamente aceitas. Além disso, não é possível ser criativo sem um conhecimento mínimo na especificidade de uma área. Noções avançadas de astronomia foram necessárias a Copérnico, de modo que as suas conclusões não existiriam com base em anatomia ou em dança. Isso não significa que uma pessoa inteligente seja também criativa. Criatividade, no sentido tratado aqui, sugere uma tendência a promover mudanças, a fugir de convencionalismos, associando-se intimamente a aspectos da personalidade. A especialista Albertina Martínez lembra que traços como motivação, abertura à experiência, não-conformismo, autoaceitação, flexibilidade e originalidade são frequentemente apontados pelos pesquisadores, mas não são determinantes para a manifestação da criatividade. Ela esclarece que a observação dessas características encontra ainda diversos problemas metodológicos - os diferentes campos investigados. Criatividade pode se manifestar na música, na matemática, no teatro, na química, na dança, na arquitetura, no futebol, dentre outras muitas possibilidades. Fica difícil dizer se uma característica verificada em uma área é válida para as outras. O problema é que não se sabe a dimensão da capacidade criativa nas pessoas. Será que Copérnico conseguiria ser igualmente criativo para pintar quadros? Há quem defenda que sim, e a história apresenta casos de multitalentosos, sendo Leonardo da Vinci, provavelmente, o de mais destaque. Durante o período em que viveu, ele se dedicou à pintura, à escultura, à botânica, à anatomia, à poesia, à matemática, à engenharia… Por outro lado, considerando o Prêmio Nobel, agraciado há mais de um século,

percebe-se que os grandes criadores são normalmente reconhecidos em uma única área de atuação. Estudiosos apontam a existência de dois níveis de criatividade, um pessoal e outro social. Isso quer dizer que um criador eminente, como o ganhador de um Nobel, também possui ideias que são criativas apenas para si mesmo, e não para toda a sociedade. Essa oscilação está relacionada à energia dirigida aos diferentes interesses. Por isso, alguém muito dedicado à física quântica e pouco à música, dificilmente será indicado ao Grammy. Embora pouco se saiba sobre a genética das pessoas criativas, as pesquisas sugerem uma forte relação da criatividade com a emoção e com a realidade externa. Ambientes repressores podem inibir, mas isso também depende da tolerância a frustrações para afetar ou não a motivação de alguém. Criatividade não escolhe classe social, religião, sexo, estado civil… pelo contrário, ela é escolhida: na maioria das vezes, as pessoas criativas querem ser assim, originais, fora do padrão… Todos nós somos capazes de criar, mas isso não significa ser criativo. O que diferencia os grandes nomes da história é a intenção que cada um deles teve sobre o mundo, de transformá-lo e não apenas ser transformado por ele. Ariel Alexandrino Ganassim Cursa o 2º ano de Psicologia na Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP e é bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq.


1950 Nesse ano, os estudos sobre criatividade ganharam um importante impulso graças à conferência Creativity, proferida por Joy Paul Guilford.

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Cidades globais em foco

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A ruptura da estrutura das Cidades Globais em meio à crise econômica de 2008

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globalização tem se tornado cada vez mais presente em nosso cotidiano, consistindo, basicamente, no aprofundamento das relações de integração entre atores, como países, empresas ou pessoas, seja em nível econômico, cultural, político ou social, que se tornou mais abrangente após a Revolução Técnico-Científico e Informacional. A expansão do capitalismo em conjunto com a abertura econômica neoliberal também foram facilitadores nas relações globais. Essa globalização parece ter se tornado irreversível, as trocas comerciais e de informações ampliaram-se em proporções antes inimagináveis, permitindo grande circulação de pessoas, capitais, mercadorias e serviços. As empresas ampliam seu perímetro de alcance, instalando filiais em diversos países, buscando reduzir os custos de produção através de mão de obra barata e baixos tributos. Ainda em busca de lucro, e tendo como alicerce o desenvolvimento tecnológico, transações financeiras tiveram início em todo o mundo, ações de empresas foram colocadas à venda, vislumbrando sua valorização futura e permitindo a transferência de capital aos lugares mais longínquos. As bolsas de valores tornaram-se o termômetro financeiro, sendo importante indicador de atração de investimentos estrangeiros. Como consequência, as regiões metropolitanas, onde se localizam os centros financeiros mundiais, tornaram-se novos atores em nível internacional e passaram a ser chamadas de cidades globais. “As cidades globais nada mais são do que espécies de centro de poder que comandam a estrutura capitalista.”. Nessas cidades ficam localizadas as bolsas de valores, as empresas transnacionais e os conglomerados econômicos, avançados centros de pesquisa de tecnologia, alto nível de telecomunicação, além de malha urbana desenvolvida e modernos portos e aeroportos. Estes fatores elencados que as determinam, também as distanciam, já que nem todas as cidades globais alcançam o mesmo nível de desenvolvimento. Pensando nisso, a Globalization and World Cities Research Network passou a clas-

sificá-las hierarquicamente conforme o nível de influência internacional, intituladas Alfa, Beta e Gama. A crise econômica de 2008 causou rupturas na estrutura das cidades globais. A cidade de Nova York, a segunda maior cidade global, foi palco do início da crise econômica após o anúncio de concordata (quebra) do banco de investimento Lehman Brothers, que possui sedes regionais em Londres e Tóquio, também cidades globais. Não demorou muito para que outras empresas seguissem o mesmo quadro, a seguradora AIG, sediada em Nova York, recebeu bilhões do governo norte-americano para não apresentar falência, e logo um efeito dominó se desdobrou pelo mundo. O banco de investimento Merrill Lynch, sediado em Nova York, e o banco Washington Mutual, com sede em Seattle, cidade global beta, tiveram seus ativos bancários vendidos abaixo do valor de mercado. Já a seguradora Swiss Re e o banco UBS, sediados em Zurique, o banco Société Générale, sediado em Paris, Sadia, Votorantim e CSN, com sedes em São Paulo, cidades globais alfa, perderam bilhões de dólares com a crise. Como podemos perceber, as cidades globais não saíram incólumes à crise irrompida pelo mundo financeiro. A mesma globalização que permitiu a ascensão descomunal das empresas levou parte delas à bancarrota, governos injetaram dinheiro público para que bancos e empresas não apresentassem solvência. A estrutura lapidada pelo neoliberalismo sofreu rachaduras em seu alicerce. Em meio à crise, as cidades globais não deixaram de ser globais, algumas entram no páreo, outras saem, e as cidades, as mesmas que um dia o sociólogo Octávio Ianni mencionou como sendo o lugar por excelência da modernidade, evidenciam as glórias e desdouros de uma sociedade em constante reconstrução.

Sandra Cruz Bacharel em Relações Internacionais pela Faculdade Belas Artes - SP e hoje cursa Ciências Sociais pela UNIFESP.

Grupo de pesquisas da Inglaterra, o GaWC, foi constituído com o objetivo de pesquisar as relações entre as cidades globais.

A partir da segunda metade do século XX tivemos muitas descobertas nos setores de tecnologia e informação, como informática, robótica, telecomunicação, química, nanotecnologia, biotecnologia e engenharia genética. Essas mudanças configuraram um mundo marcado por novas possibilidades nos campos da produção, economia, política e sociedade.

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Os mistérios do Número Áureo e do Retângulo Dourado A inexplicável aparição do número áureo e do retângulo dourado na natureza e no dia a dia.

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ocê já ouviu falar sobre a Proporção Áurea, ou Número Áureo, e o Retângulo Dourado? Esses são os nomes dados a valores e sequências que estão misteriosamente presentes no nosso cotidiano, podendo ser encontrados na natureza, no forma de crescimento do corpo humano e em alguns animais, assim como está presente em construções humanas desde a pré-história. Porém, para falar sobre ele, precisamos primeiro relembrar um pouco sobre a sequência de Fibonacci. Fibonacci criou uma sequencia de números naturais a partir da observação da reprodução de coelhos, que pode ser representada da seguinte forma: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34... Um fato curioso obtido a partir dessa sequencia é o chamado “Número de Ouro”. Para chegar a esse número, devemos pegar qualquer número da sequencia de Fibonacci, a partir do segundo termo, e dividir seu sucessor por ele mesmo. Assim, o resultado dessas divisões converge sempre para o valor 1,6180, mais conhecido como “O número de

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ouro” ou “Número Áureo”, como expresso na equação abaixo. 32=1,5 53=1,666… 85=1,6 138=1,625 Na natureza são encontrados alguns exemplos da aparição do Número Áureo. Entre eles, podemos citar, por exemplo, a aparição em vegetais, animais e, em específico, nos seres humanos. Verifique algumas aparições do Número Áureo em: • Vegetais: - Semente de girassol – A proporção com que o diâmetro das espirais de sementes de um girassol aumenta é a razão áurea. • Animais: - População de abelhas – A proporção entre abelhas fêmeas e machos em qualquer colmeia. Como exemplo dos animais, temos o caramujo Nautilus, que constrói, dentro de uma concha, compartimentos que são refeitos conforme o seu crescimento. Esses compartimentos seguem a proporção áurea, conforme mostra a imagem.


Para além do aparecimento natural da sequencia de Fibonacci e do número áureo, como demonstrado nos exemplos anteriores, também podemos identificar a mesma lógica em construções feitas pelos homens. Na Arquitetura, temos o famoso caso do Retângulo Dourado, que aparece em inúmeras construções antigas e aumenta o mistério sobre como povos tão antigos já sabiam da existência dessa proporção. O Retângulo Dourado é o retângulo onde a proporção entre o comprimento e a largura é aproximadamente o Número Áureo, ou Número de ouro. Essa proporção pode ser vista, por exemplo, no templo grego Pártenon.

Conforme o caramujo Nautilus cresce, ele constrói “compartimentos” novos em sua concha. Note que cada novo “compartimento” é exatamente 1,618 vezes maior que o anterior, ou seja, ele cresce conforme a proporção áurea.

Um dos aparecimentos mais impressionantes se dá no corpo dos seres humanos. Para citar alguns exemplos, temos: - A altura do corpo humano e a medida do umbigo até o chão. - A altura do crânio e a medida da mandíbula até o alto da cabeça. - O tamanho dos dedos e a medida da dobra central até a ponta.

Se dividirmos a soma dos tamanhos dos dois gomos debaixo de qualquer dedo das mãos, pelo tamanho do gomo de cima, obteremos resultados convergentes ao número áureo.

O Pártenon foi um templo da deusa grega Atena. É o mais conhecido dos edifícios remanescentes da Grécia Antiga e foi construído no século V a.C., na acrópole de Atenas.

Ainda na área da arquitetura, temos o caso dos egípcios, que fizeram o mesmo com as pirâmides. Cada bloco de sua composição era 1,618 vezes maior que o bloco do nível acima e as câmaras no interior da pirâmide também seguiam essa proporção, de forma que os comprimentos das salas são sempre 1,618 vezes maior que as larguras. O retângulo de ouro é um objeto matemático que marca forte presença no domínio das artes, nomeadamente na arquitetura, na pintura, e até na publicidade. E esse uso não é uma simples coincidência, já que muitos testes psicológicos demonstraram que o retângulo de ouro é, de todos os retângulos, o mais agradável à vista. Até hoje não se conseguiu descobrir a razão de ser dessa beleza, mas a verdade é que existem inúmeros exemplos onde o retângulo de ouro aparece. Mesmo nas situações mais práticas do nosso cotidiano encontramos aproximações do retângulo de ouro: cartões de crédito, registros de identidade e até mesmo a forma retangular da maior parte dos nossos livros.

Eduardo Munari Graduando em Ciência da Computação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP

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natureza

O violão e a guitarra: como é produzido seu som?

O casamento entre Matemática, Física e Música e o entendimento padrão das denominações musicais dos instrumentos de corda

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ocê conhece alguma pessoa que não gosta de música? A música é uma arte reconhecida e desenvolvida em todo o mundo. Expressando-se de diversas formas e tendo diversas funções nos ambientes em que se executa, agrada todas as pessoas. Contudo, além de arte, a música é ciência! E está intimamente relacionada com a matemática e a física. Como? É o que vamos falar neste texto e o que vai nos ajudar a entender como obtemos o som de um violão e de uma guitarra. Um dos importantes estudiosos da música era um grande matemático: Pitágoras! Conta-se que ele se propôs a provar que tudo que existia na natureza era explica-

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do por matemática e, para isso, estudou os sons que compunham as músicas de sua época. Estudando o monocórdio, antigo instrumento de uma única corda, observou que vibrando cordas de determinados tamanhos, que seguiam proporções matemáticas, obtinha sons que agradavam seus ouvidos, sons harmônicos, como os que compõem uma música. Ele estava certo! A música pode ser entendida pela matemática (e pela física também). Você sabe o que é o som? O som são ondas que se propagam movimentando as partículas do ar e alcançam a nossa orelha, fazendo com que percebamos o som por meio do nosso sentido, chamado audição.


As ondas que formam a música são harmônicas, como Pitágoras observou, e cada instrumento que forma uma música produz um padrão de ondas diferente, chamado de função. São essas funções que determinam o timbre dos instrumentos, que diferenciam uns de outros quando emitem a mesma nota. As notas musicais, por sua vez, são diferenciadas pela frequência, unidade utilizada na física, que corresponde à quantidade de vezes que uma onda (um ciclo) ocorre em uma unidade de tempo: quanto menos ondas ocorrem, menor a frequência, mais baixa é a nota (grave); e quanto maior a frequência, mais alta a nota (agudo). A unidade mais utilizada para quantificar frequências é o “Hertz”, nome dado em homenagem a um importante físico que contribuiu muito no estudo das ondas. O Hertz é expresso em termos de ciclos (de onda) por segundo. Agora fica fácil entender como obtemos o som do violão e da guitarra! O violão é formado por um braço, em que aparecem marcações chamadas trastes – pequenas barras de metal que mudam o comprimento da corda vibrada e a nota emitida; por um corpo, que é uma caixa acústica; por uma cabeça, que apresenta “tarraxas”, que modificam a tensão das cordas (“esticam” ou “afrouxam”) e são utilizadas com a finalidade de encontrar a afinação desejada de cada uma delas. Essa afinação é a frequência mais próxima que se pode chegar de uma nota pura. Quando vibramos uma corda, ela emite, junto à nota fundamental, sons harmônicos que têm frequências duas, três ou quatro vezes

mais altas que a nota pura da corda. Portanto, o som que você ouve de um violão para uma nota é uma mistura de várias frequências relativas. O som produzido pelo violão inicia-se quando vibramos uma corda. A vibração é transferida para o corpo, o som é amplificado na caixa acústica e sai pela boca dessa caixa (buraco no centro do corpo). Um violão e uma guitarra são semelhantes em sua estrutura e o som é também emitido pela vibração das cordas, porém, a principal diferença entre estes é que a guitarra é um instrumento elétrico, e a amplificação do seu som é feita por um aparelho eletrônico, denominado amplificador, que substitui a caixa acústica do violão. As cordas vibram e a vibração é captada por sensores que ficam embaixo das cordas no corpo da guitarra. Esses sensores emitem sinais eletrônicos para um amplificador e um alto-falante, que vibra emitindo o som já “copiado” e amplificado nas caixas de som. A guitarra, o violão e todos os demais instrumentos musicais estão repletos de conhecimentos científicos, que junto às artes formam a música: fundamental nos traços culturais de diferentes regiões, celebrações religiosas, festas populares e no nosso dia a dia, completando-o com encanto e beleza.

Mais O que é o Monocórdio de Pitágoras? Pitágoras iniciou sua pesquisa, no século VI a.C., ao esticar uma corda musical e dividi-la em doze secções iguais buscando relações de comprimentos que produzissem diferentes intervalos sonoros. Esse estudo resultou no instrumento conhecido como “Monocórdio de Pitágoras”.

Izabel Cristina M. S. Gonçalves Graduanda do curso de Medicina e bolsista de extensão na Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande – RS) e participante do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da mesma Universidade.

As orquestras executam suas peças afinando os instrumentos a uma frequência de 440 hertz, que equivale à nota “lá” em sua forma fundamental. Entretanto, um costume comum é de afiná-los em 442 hertz, pois, enquanto os instrumentos estão sendo tocados, são aquecidos pelo calor do corpo dos músicos e do próprio ambiente. Quando aquecidos, os corpos se dilatam, e a dilatação dos instrumentos musicais faz com que a frequência de afinação se reduza naturalmente, alcançando o valor desejado. Em decorrência dessa variação de frequência, as orquestras afinam seus instrumentos mais de uma vez em seus ensaios e apresentações.

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