Um bilhão que se ergue: uma luta mundial pelos direitos das mulheres

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Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

ISSN 2179-1538

número 1 ano 3

gl c cal

R$ 14,90

Um bilhão que se ergue: uma luta mundial pelos direitos das mulheres Henfil, irmão de tantos anseios Um texto de Eduardo Suplicy

A herança de Chico Mendes Resistência e Criatividade na preservação das florestas com gente dentro

A prova de Ciências da Natureza no ENEM Para acertar mais questões, quais temas estudar? Manoel Fernandes Neto Flávia Amparo Gabriel Serafim Gulherme Bessa Taísa Resende Yuji Kodato Silvia Maria Cintra Priscila Weber Vailton Silva Marcelo Pimenta Iara Vicente Fátima Ribeiro Nicolas Romero Tádzio Peters Coelho Júlio Moreira Mateus Prado Luiz Gustavo Ruffino Suraya Darido Severn Suzuki Isabela Menon Fausto Amaro Ecio Rodrigues Eduardo Suplicy Marcelo Piovezan Vanderli Silva Larissa Arruda


Seu autêntico plano de estudos.

516s. pág

31

s fascículo

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4513-8660

(11) 9 9423-1131

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Materiais didáticos


edit rial Fernando de Souza Coelho, Professor

Mateus Prado, Educador

Pedro Ivo Batista, Socioambientalista

Caros amigos leitores, Inauguramos a Glocal 2013 com artigos fortes, assuntos que estão na ordem do dia. Artigos que mostram nosso ímpeto de abordar os anseios, locais e globais, “glocais”, de luta por direitos que ainda precisam ser debatidos e conquistados e de problemáticas que precisam ser encaradas e encaminhadas. “Um bilhão que se ergue: uma luta mundial pelo direito das mulheres”, artigo de capa, trata das movimentações mundiais pelos direitos das mulheres, como a manifestação ocorrida na Índia, a Marcha das Vadias, etc., mas em especial o “One Billion Rising”, cujo primeiro encontro no Brasil aconteceu em Fevereiro de 2013, no Masp - São Paulo. As lutas sociais, dos mais variados segmentos, estão ligadas à Competência 5 de Ciências Humanas colocada pelo ENEM (“Cidadania e Democracia”). Fique atento pois, além de ser importante para a vida de todos nós enquanto sociedade, esses temas irão aparecer na sua prova. Lembre-se de respeitar o 5° eixo-cognitivo avaliado: aquele que exige uma postura ética do educando. Também em Ciências Humanas, mas agora relacionada ao tema “Geopolítica e Território” (Competência 2), apresentamos a questão da imigração ilegal para os Estados Unidos através do México. Não se trata de um problema novo, porém, ainda precisa ser encaminhado com maior atenção. Guardadas as diferenças e proporções, o Brasil passou a vivenciar uma situação parecida, a partir do terremoto ocorrido em 2010 no Haiti e a migração de haitianos para o Brasil através da fronteira com o Acre. As terríveis condições vivenciadas por esses imigrantes, tanto na travessia como na chegada ao Brasil, se aproxima muito do caso abordado no artigo supracitado e, assim como nesse caso, tem na palavra “legalização” a sua chave. É essa a palavra que precisamos colocar em discussão.

Outra problemática abordada nessa edição, que o país tem a necessidade de enfrentar, diz respeito às desigualdades. Desigualdades que constituem uma característica tão acentuada nesse vasto território, e que trataremos aqui a partir desse ponto de vista do espaço: qual a situação das desigualdades regionais no Brasil? Ainda em Ciências Humanas, “As muitas Áfricas” mostram a multiplicidade, complexidade e riqueza dos povos e culturas africanas, conforme indicado pelo ENEM na Competência 1: “Cultura e Identidade”. O que estudar, da área de Ciências da Natureza, para o ENEM? O artigo de Vailton Silva mostra, através da análise dos dados das provas, quais são os conteúdos mais (e menos) privilegiados. Apresentamos também o artigo “A herança de Chico Mendes”, que nos traz informações acerca das relações de ocupação e exploração da Floresta Amazônica. Por sinal, há dados de que a Amazônia, apesar da queda da taxa de desmatamento, se afastou da sustentabilidade. Entenda o motivo no artigo “Amazônia”, de Ecio Rodrigues. Por fim, gostaríamos de valorizar dois textos. O primeiro, em espanhol, que resulta das discussões do Fórum Social Mundial 2013, ocorrido na Tunísia. Em segundo lugar, a carta escrita pelo senador Eduardo Suplicy sobre sua vivência com o cartunista Henfil, que dá nome ao Cursinho Henfil - Educação e Sustentabilidade, na cena política da década de 80 brasileira. Desejamos à vocês leitura, inspiração e luta!

Dos editores, Fernando Coelho, Mateus Prado e Pedro Ivo Batista.

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sumário

por Vailton Afonso da Silva

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A prova de Ciências da Natureza no ENEM

por Iara Souza Vicente

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A heranca de Chico Mendes

por Júlio da Silveira Moreira

Expediente: Editores: Fernando Coelho, Mateus Prado e Pedro Ivo Batista Conselho Editoral: Renato Eliseu Costa e Wagner Iglesias Gestora Pedagógica: Ana Paula Dibbern Colaborador: Danilo Andrade de Pontes Cafeo Diretor de Criação: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Diagramação: Lucas Paiva e Daniel Paiva

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Os migrantes que passam pelo México


por Isabela de Oliveira Menon

06 Armênios Homônimos por Manoel Fernandes da Souza Neto

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As muitas Áfricas por Priscila Maria Weber

Um bilhão que se ergue: uma luta mundial pelos direitos das mulheres por Eduardo Matarazzo Suplicy

16 Mídia e Violência por Marcelo Pimenta e Silva

20 Câncer: Riscos e Prevencão por Fátima Sueli Neto Ribeiro

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Para onde vai o dinheiro dos nossos impostos?

Henfil, irmão de tantos anseios

por Nicolas Gabriel Palopolo Romero

28 por Larissa Rodrigues Vacari de Arruda

Revolucão dos Cocos: uma Eco-Revolucão por Mateus Prado

38 Amazônia

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por Ecio Rodrigues

Desigualdade no Brasil

46 Bioenergia e Sustentabilidade no Campo por Vanderli Luciano da Silva


Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.


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natureza

A prova de Ciências da Natureza no ENEM Para acertar mais questões, quais temas estudar? O termo “Novo ENEM” se refere ao exame realizado a partir de 2009 em que se adotou uma nova proposta de avaliação.

Os “Objetos de Conhecimento” especificam os subitens dos conteúdos a serem estudados para o ENEM.

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O

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é, atualmente, a prova mais importante do Brasil. Foram mais de 6 milhões de participantes inscritos em todo o país em 2012. Pelos números, percebe-se a importância que o Exame vem tomando como processo unificado de seleção. Assim, as Instituições de Ensino Superior (IES) estão revendo seus antigos processos seletivos (tais como o vestibular) e é nesse cenário que se insere o ENEM. Através dele você pode:

mento e seus subitens estão sendo menos privilegiados nas questões de Física, pois esse conhecimento irá orientar, especialmente, os alunos do Ensino Médio e de cursos preparatórios, oferecendo informações privilegiadas. Os Objetos de Conhecimento associados à Matriz de Referência de Ciências da Natureza e suas Tecnologias constantes do anexo II do Edital nº 3, de 24 de maio de 2012, relacionados ao conteúdo de Física são:

a) Ganhar bolsa de 100% ou de 50% em universidades privadas (Programa Universidade para Todos - PROUNI); b) Contar pontos no vestibular de centenas de universidades privadas e públicas; c) Passar no vestibular das universidades que aderiram ao Sistema de Seleção Unificado (SISU); d) Conseguir certificação para o Ensino Médio, etc.

• Conhecimentos básicos e fundamentais; • O movimento, o equilíbrio e a descoberta de leis físicas; • Energia, trabalho e potência; • A mecânica e o funcionamento do universo; • Fenômenos elétricos e magnéticos; • Oscilações, ondas, óptica e radiação; • O calor e os fenômenos térmicos.

O modelo do Novo ENEM induz à reestruturação dos currículos do Ensino Médio ao adotar uma proposta pedagógica centrada nos Objetos de Conhecimento elencados na Matriz de Referência. Portanto, é extremamente importante saber quais Objetos de Conheci-

Portanto, depois de mapeadas e identificadas as questões do exame, desde 2009 até 2012, de acordo com os Objetos de Conhecimento e seus subitens de Física associados à Matriz de Referência de Ciências da Natureza e suas Tecnologias chegamos à Tabela 1 e Gráfico 1:


Gráfico 1 - Distribuição por Objetos de Conhecimento das questões de Física do ENEM, (2009 – 2012).

Tabela 1 – Compilação das questões de Física do ENEM (2009 a 2012) distribuídas por Objetos de Conhecimento associados à Matriz de Referência, Edital 2012. Objetos de Conhecimento Conhecimentos básicos e fundamentais O movimento, o equilíbrio e a descoberta de leis físicas Energia, trabalho e potência A Mecânica e o funcionamento do Universo Fenômenos Elétricos e Magnéticos Oscilações, ondas, ótica e radiação O calor e os fenômenos térmicos TOTAL DE QUESTÕES

Novo ENEM 2009

2010

2011

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2012

Total

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O calor e os fenômenos térmicos Oscilações, ondas, ótica e radiação Fenômenos elétricos e magnéticos A mecânica e o funcionamento do universo Energia, trabalho e potência O movimento, o equilíbrio e a descoberta de leis físicas Conhecimentos básicos e fundamentais

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0

2

Fonte: Dados da pesquisa

Analisando a tabela 1 e o gráfico 1, identificamos 60 questões nas 4 provas aplicadas e que a prova do ENEM não privilegiou dois Objetos de Conhecimento (“Conhecimentos básicos e fundamentais” e “A mecânica e o funcionamento do universo”), conforme se observa no gráfico 1, mas existe uma tendência para a uniformização das questões nos Objetos de Conhecimento e seus subitens. No Novo ENEM, os Objetos de Conhecimento de Física menos privilegiados são: “Conhecimentos básicos e fundamentais” e “A mecânica e o funcionamento do universo”. Os subitens estudados nesses Objetos de Conhecimento são respectivamente: Noções de ordem de grandeza; Notação Científica; Sistema Internacional de Unidades; Metodologia de investigação: a procura de regularidades e de sinais na interpretação física do mundo; Observações e mensurações: representação de grandezas físicas como grandezas mensuráveis;

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6

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Fonte: Dados da pesquisa

Ferramentas básicas: gráficos e vetores; Conceituação de grandezas vetoriais e escalares; Operações básicas com vetores; Força peso; Aceleração gravitacional; Lei da Gravitação Universal; Leis de Kepler; Movimentos de corpos celestes; Influência na Terra: marés e variações climáticas; Concepções históricas sobre a origem do universo e sua evolução. Com essas informações, você pode redirecionar seus estudos dedicando mais tempo ao que realmente está sendo exigido, em relação ao conteúdo de física, no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Vailton Afonso da Silva É Licenciado em Física e Matemática pela UFV. Mestre em Ensino de Física pela PUC-Minas. Atua como docente no Ensino Básico e Superior do IFNMG – Campus Salinas.

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Mídia e violência A popularização dos programas sensacionalistas

D

esde os primórdios da imprensa, o sensacionalismo é artifício para estimular o aumento da venda de jornais. Com o surgimento dos jornais voltados à massa e que continham histórias que buscavam causar a emoção no leitor, explorando tragédias como forma de alavancar a vendagem, a imprensa moderna definiu esse tipo de jornalismo como sensacionalista: um jornalismo pobre e que na ânsia de vender, muitas vezes acabava criando notícias e explorando toda gama de situações dramáticas. Desde então, disseminou-se a ideia de que atos de violência e tragédias do cotidiano são os temas prediletos do público de classes mais baixas que consomem jornais popularescos.

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A veiculação de reportagens com a violência é um dos assuntos principais de programas “populares” nas emissoras de televisão. Com a justificativa de que se trabalha apenas o discurso jornalístico, a violência pauta cada vez mais a mídia - o velho slogan de que o papel do meio de comunicação é informar a “vida como ela é” torna-se pressuposto para produções em que os jornalistas tornam-se “agentes da lei”. Recorte da realidade Os programas sensacionalistas passaram a contar com uma profusão de espaços na mídia televisiva, a maioria tendo à frente jornalistas-apresentadores que encarnam o papel de juiz e líder


autoritário perante a massa espectadora. Não raro, assistimos aos jornalistas adotarem um tom agressivo, com direito a palavras ofensivas para expressar sua opinião. Esse discurso destoa de um telejornalismo tradicional, onde o apresentador serve como “instrumento” para anunciar as reportagens, quase sempre sem expressar a opinião. Todavia, a partir de âncoras como o jornalista Boris Casoy, que ficou conhecido por emitir opiniões para a câmera, tendo como lema o bordão “Isso é uma vergonha!”, o papel do âncora, como um simples apresentador de notícias, acabou mudando. A dita imparcialidade do jornalismo não funciona, visto que é comprovado que a produção de notícias parte de ações subjetivas, desde captação de informações, edição e a própria apresentação. Ou seja, o jornalismo produz discursos constituídos de recortes da realidade que é apreendida segundo a subjetividade de cada ator social. Portanto, os velhos paradigmas que caracterizam o valor da notícia: atualidade, universalidade, proximidade e proeminência caem por terra no campo desses programas de “jornalismo denúncia”, praticados cada vez mais na televisão aberta. A pauta diária desses programas é baseada na denúncia de uma sociedade alijada em seus valores e princípios, onde o caos toma conta de todos os espaços e há pouca presença efetiva do Estado para que seja concedida a proteção e a segurança do cidadão. Dessa forma, a mídia expõe a falência do Estado de forma crítica. Suas notícias apresentam apenas esse modelo da realidade, sem a possibilidade de uma construção de debate ou de novas perspectivas. Essa espécie de “jornalismo apocalíptico”, que seduz a massa com a insegurança, atuante num contexto histórico sem

mais ideologias, passa a enaltecer apenas a mídia como instrumento socializador e regulador de certa “normalidade”. A mídia como vigia da sociedade Nos programas de “jornalismo policial”, o Estado só ganha destaque pelo aparelho de repressão da polícia, sempre enaltecido como “símbolo ordeiro”, mal visto pelas autoridades que não favorecem a classe de funcionários da segurança. Nesse intuito, uma sociedade desorganizada e insegura é aquela que não paga salários melhores para os policiais e nem aumenta o efetivo nas ruas. Com esse tipo de discurso, os programas jornalísticos beiram uma tônica voltada aos ideais totalitários de que a repressão é a melhor saída para qualquer tipo de sociedade. Em nenhum momento é discutido que os problemas de violência e criminalidade são de ordem social, tais como a histórica disparidade econômica entre as classes; a educação que recebe o descaso de governo a governo, bem como a política nacional direcionada a interesses partidários e de diversas instituições e empresas que formam uma concentração de renda fomentadora da exclusão social. Nessa espécie de comunhão de forças que envolvem jornalistas e sistema de repressão, a figura da mídia - com a possibilidade de transmitir do alto de um helicóptero policial todas as ações por terra dos agentes de segurança - constrói a ideia da mídia como vigia social, protetora da sociedade. Marcelo Pimenta e Silva Graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha - Urcamp Bagé - RS.

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Um bilhão que se ergue A luta mundial pelos direitos das mulheres

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o dia 16 de fevereiro de 2013, centenas de pessoas dançaram e cantaram no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista em São Paulo, durante a edição paulistana do protesto mundial contra a violência doméstica, chamado de “Um bilhão que se ergue”. A campanha, realizada anualmente no dia 14 de fevereiro, é

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um movimento ativista global que visa combater a agressão contra mulheres e crianças e promover a igualdade de gênero. O nome do movimento faz referência a um cálculo da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o número de mulheres maltratadas ou violentadas ao longo da vida, contando que há 7 bilhões de pessoas no mundo, sendo metade delas mulheres, e


que uma em cada três mulheres no planeta vai ser estuprada ou espancada em sua vida, ou seja, um bilhão de mulheres. O movimento foi inspirado pela autora, dramaturga e ativista Eve Ensler, que relata ter sido física e sexualmente abusada por seu pai quando era uma criança. Em sua obra mais importante, “Os Monólogos da Vagina”, a autora propõe que as mulheres devem falar a respeito de suas vaginas e nos instiga a fazer uma reflexão sobre a relação da mulher com sua própria sexualidade. Segundo Ensler, as mulheres foram condicionadas a ver sua sexualidade como suja e pensar que são mais feias ao possuírem desejos. Em 1998, uma instituição de caridade sem fins lucrativos, chamada de “V-Day”, foi constituída com o objetivo de usar apresentações da peça “Os Monólogos da Vagina” para arrecadar fundos para beneficiar mulheres vítimas de violência e abuso sexual. A partir daí, o movimento se expandiu, ganhando apoio da ONU em 2013. Segundo a ONU, violência é o ato de agressão ou mesmo de omissão que causa sofrimento físico ou psicológico à vítima. A violência contra a mulher pode acontecer em qualquer lugar, seja na rua ou em casa. Quando a mulher sofre qualquer tipo de agressão na rua, estará amparada, como todo cidadão, pelas leis comuns, devendo procurar imediatamente a delegacia mais próxima. Quando a violência é praticada em casa, por familiares, ou outras pessoas que convivem no mesmo ambiente doméstico – mesmo que não sejam parentes – ou ainda pelo marido, companheiro ou companheira, a mulher agredida terá a proteção da Lei no 11.340, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha, que além de prever medidas de prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a mulher, dispõe sobre uma série de políticas públicas para garantir a igualdade de gênero. Em entrevista à IstoÉ (n° Edição: 2259), a procuradora aposentada do Ministério Público de São Paulo, Luiza Eluf, declarou que a violência contra a mulher “faz parte de um sistema de dominação violentíssimo. É o tipo de escravidão mais perverso que já existiu na humanidade.” Por estar tão arraigado e disseminado, irrestrito a fronteiras, raças ou classes sociais, governos e organizações têm encontrado dificuldade para lidar com o problema. Segundo a representante da ONU - Mulheres no Bra-

Em 2011, um representante da polícia do Canadá deu uma palestra em uma universidade de Toronto dizendo que as mulheres deveriam evitar se vestir como prostitutas para não serem vítimas de estupro. Após esta declaração, diversas pessoas se organizaram para criar a Marcha das Vadias, onde as mulheres protestam pelo fim da culpabilização das vítimas de violência sexual, violência de gênero e outras formas de machismo.

sil, Rebecca Tavares - esse problema é complexo, pois não envolve apenas leis, mas o funcionamento das famílias. Ela aponta que um caminho possível para melhorar os índices de violência é incentivar a inclusão das mulheres nas instâncias de poder, a participação dos homens nas tarefas domésticas e a garantia da independência financeira feminina. Ultimamente, surgiram diversos movimentos para lutar pelos direitos das mulheres, como foi o caso da Marcha das Vadias (em inglês SlutWalk), em 2011 no Canadá e, que se espalhou por diversos países e cidades brasileiras. Em dezembro de 2012, multidões tomaram cidades da Índia para protestar contra o estupro coletivo, que resultou na morte de uma jovem estudante, e reivindicar penas mais duras para os agressores. Protestos da mesma ordem se repetiram na África do Sul e Brasil. A luta do movimento pelos direitos das mulheres tem gerado frutos, como foi o caso da criação de uma nova entidade para acelerar o progresso e o atendimento das demandas das mulheres e meninas em todo o mundo pela ONU, e a criação de secretarias, conselhos e serviços especializados de atendimento a mulher.

Isabela de Oliveira Menon Graduada em Gestão de Políticas Públicas pela USP e atualmente trabalha na Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão de São Paulo.

Maria da Penha Maia Fernandes protagonizou um caso simbólico de violência doméstica e familiar contra a mulher. Em 1983, por duas vezes, seu marido tentou assassiná-la e, passados quase 20 anos, o agressor ainda não havia sido julgado e poderia se beneficiar da prescrição. Com o apoio de organizações de direitos humanos, Maria da Penha denunciou a omissão do Estado brasileiro junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Essa Comissão reconheceu a grave omissão e recomendou ao Estado brasileiro celeridade e efetividade na conclusão do processamento penal do agressor, indenizar Maria da Penha e promover processo de reforma que evitasse a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. Diante disso, o governo federal brasileiro sancionou a Lei 11.340/2006, dando-lhe o nome de Lei Maria da Penha, em homenagem a essa corajosa mulher brasileira.

• A cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil. • O Brasil é um dos países que mais sofre com a violência doméstica: 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas a esse tipo de violência. • A violência contra a mulher atinge indistintamente mulheres de todas as classes sociais, raças e etnias, religiões e culturas. • A violência contra a mulher produz consequências emocionais devastadoras, muitas vezes irreparáveis, e impactos graves sobre a saúde mental sexual e reprodutiva da mulher. Segundo a ONU, esses dados embasam/justificam a necessidade de reflexão e promoção de políticas públicas que defendam os direitos das mulheres.

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Desigualdade no Brasil A atual situação das diferenças regionais

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Brasil é um país de proporções continentais, quinto maior do mundo em extensão territorial, possui diferentes climas, vegetações e uma população de mais de 190 milhões de habitantes. A miscigenação ocorrida entre índios, portugueses e negros, somados aos muitos imigrantes que vieram, tornou o país com uma ampla gama de expressões culturais, diversidades e contrastes. Nesse caldo de culturas, transparece uma enorme desigualdade de renda, além de marcantes diferenças entre as regiões brasileiras. Assim, os brasileiros têm as condições de vida determinadas pelo local de nascimento. Por exemplo, quem nasce no Distrito Federal terá maior probabilidade de ter acesso a melhores condições de vida do que quem nasce no Maranhão.

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Não significa que não existam problemas no Distrito Federal, mas sim que, na capital brasileira, são oferecidas condições melhores que no Maranhão. A diferença nas condições entre as regiões constitui uma grande dificuldade para que o país se desenvolva plenamente. Segundo dados do IPEA (2011), o Brasil, até o fim do século XX, caracterizou-se por imensa desigualdade de renda, sem nenhuma tendência de queda. Está ocorrendo no século XXI uma redução significativa na desigualdade e na pobreza, mas o país ainda continua sendo um dos mais desiguais do planeta! As diferenças entre as regiões do Brasil são marcantes. Em 2000, o Distrito Federal, unidade federativa mais rica, tinha renda per capta cinco vezes maior que do Maranhão, a unidade federativa mais pobre.


Gráfico 1

Renda per capta por estado da Federação 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Maranhão

Piauí

Alagoas

Santa Catarina

Rio de Janeiro

São Paulo

Distrito Federal

Renda per capta

Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/indicadores_sociais_municipais/ tabelas_pdf/tab16.pdf Tabela 1

PIB e Participação no PIB por estado da Federação Unidades da Federação

Região do País

Brasil

Produto Interno Bruto em milhões de reais - 2010

Participação do PIB em porcentagem - 2010

3.770.085

100%

1- São Paulo

Sudeste

1.247.596

33,1%

2- Rio de Janeiro

Sudeste

407.123

10,8%

3- Minas Gerais

Sudeste

351.381

9,3%

4- Rio Grande do Sul

Sul

252.483

6,7%

5- Paraná

Sul

217.290

5,8%

6- Bahia

Nordeste

154.340

4,1%

7- Santa Catarina

Sul

152.482

4,0%

8- Distrito Federal

Centro-Oeste

149.906

4,0%

9- Goiás

Centro-Oeste

97.576

2,6%

10- Pernambuco

Nordeste

95.187

2,5%

11- Espírito Santo

Sudeste

82.122

2,2%

12- Ceará

Nordeste

77.865

2,1%

13- Pará

Norte

77.848

2,1%

14- Amazonas

Norte

59.779

1,6%

Centro-Oeste

59.600

1,6%

Nordeste

45.256

1,2%

17- Mato Grosso do Sul

Centro-Oeste

43.514

1,2%

18- Rio Grande do Norte

Nordeste

32.339

0,9%

19- Paraíba

Nordeste

31.947

0,8%

20- Alagoas

Nordeste

24.575

0,7%

21- Sergipe

Nordeste

23.932

0,6%

Norte

23.561

0,6%

Nordeste

22.060

0,6%

24- Tocantis

Norte

17.240

0,5%

25- Acre

Norte

8.477

0,2%

26- Amapá

Norte

8.266

0,2%

27- Roraima

Norte

6.341

0,2%

15- Mato Grosso 16- Maranhão

22- Rondônia 23- Piauí

Fonte: IBGE em parceria com Órgãos Estaduais, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA

A tabela 1 mostra como a produção de riqueza concentra-se em oito estados, que juntos produziram 77,8% do PIB nacional em 2010. Em 1999 foi criado o Ministério da Integração Nacional, que objetiva a redução das desigualdades regionais. O alvo principal do Ministério não é somente o combate à pobreza e sim às situações de pobreza territorial, ou seja, quando coincidem a pobreza individual e a pobreza regional, conforme a PNDR - Política Nacional de Desenvolvimento Regional, publicada em

2003. Dessa forma as cidades ricas, mas com extrema desigualdade, como São Paulo, não são objeto dessa política e sim das políticas urbanas e sociais, pois teriam condições internas para reverter essa situação. A Política Nacional de Desenvolvimento Regional ainda ressalta aspectos significativos, como a distribuição populacional. No Brasil persiste a concentração populacional na faixa litorânea, ao contrário de regiões de baixa densidade populacional na Amazônia, Centro-Oeste e Semiárido nordestino.

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Mapa 1

Densidade populacional

Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2000

Além do contraste litoral versus interior, também foi delimitado o contraste Norte/Sul, com os piores índices (educação, urbanização e rendimento médio domiciliar) encontrados na região Norte e Nordeste. Mapa 2

Renda

Fontes: Rendimento Domiciliar Médio/Hab (R$ constante de 2000) (IBGE): PIB Municipal Médio Trienal 1990/1992 (IPEA-R$ constante de 2002): PIB Municipal Médio Trienal 2000/2002 (IBGE-R$ constante de 2002); Cesta Básica Média 2000 (DIEESE)

50

Podemos notar que a área de baixa renda concentra-se predominantemente nas regiões Norte e Nordeste. No mapa 2, percebemos que os campos estagnados e dinâmicos se encontram por todo o país, já os espaços que contém a população com alta renda concentra-se majoritariamente nas regiões: Sudeste, Sul e Centro-Oeste, mesmo que as regiões Norte e Nordeste apresentem população com alta renda. A partir da experiência aprendida e do olhar pós-2010, podemos dizer que houve uma modesta mudança na desigualdade regional, ocorrida devido à interiorização do desenvolvimento econômico e à estagnação econômica das demais regiões. Segundo o Índice de Desenvolvimento Sustentável divulgado em 2010 pelo IBGE, no que se refere à dimensão social, houve melhora nas condições de vida da população. Entretanto, persistem as desigualdades sociais, regionais e interestaduais. Portanto, até o final do século XX ocorreu no Brasil uma gritante desigualdade social e regional, com marcantes contrastes entre litoral e interior (com maior concentração populacional no litoral) e entre norte e sul (com os piores índices de condições de vida no Norte e Nordeste do país). No início do século XXI houve uma significativa redução da desigualdade e da pobreza, mas muito ainda precisa ser feito para a melhoria nas condições de vida dos brasileiros.

Larissa Rodrigues Vacari de Arruda É Bacharel em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFSCar.


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