Edição 26 - Revista Geração Sustentável

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A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!

Ano 5 • edição 26

10 Entrevista

Elisa Prado Diretora de Comunicação da Tetra Pak

16 Capa

Capa

Campos Gerais: um Paraná a ser conhecido

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Visão Sustentável

Produtos concentrados fazem bem ao meio ambiente

28 Desenvolvimento Local

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Setor de sustentabilidade ganha representatividade no Brasil

32 Gestão de Resíduos

Matérias

04 Editorial 05 Mundo Digital 06 Sustentando 50 Vitrine Sustentável

Crianças aprendem a dar outro destino aos resíduos orgânicos

38 Energias Renováveis

Cenário para a comercialização de carros elétricos no Brasil ainda não é favorável

Paraná se mobiliza para o desenvolvimento sustentável

Cultura e Desenvolvimento Gestão Estratégica Gestão Sustentável Destaque Jurídico Meio Ambiente

02 09 13 15 27 37 43 47 51 52

Reciclação Banco do Brasil IBF EBS DFD Consult Expolux Civitas Unimed/PR

Anunciantes e Parcerias

23 31 36 42 48

Colunas

44 Responsabilidade Social Corporativa

Frísia GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Editorial

Cultura: respeitar o passado, atuando no presente, sem deixar de olhar para o futuro Um tema de capa que tratasse de cultura e sustentabilidade era um desejo antigo de publicação da nossa revista. Quando começamos a conversar, com os idealizadores do Parque Histórico de Carambeí, senti que esse momento estava amadurecendo e que teríamos um case ideal que contemplasse esses dois temas. Você, caro leitor, pode se questionar... Por que considerar o tema cultura tão importante assim? Talvez você até se pergunte, o que o tema sustentabilidade tem a ver com os aspectos culturais? Acredito que a cultura é efetivamente a quarta dimensão da sustentabilidade, considerando não apenas um complemento do conhecido tripé (econômico, ambiental e social), mais sim um pré-requisito para o desenvolvimento. E vou além! Acredito que a dimensão cultural é mais importante do que as três dimensões tradicionais. Na minha concepção, os fatores culturais que estão ligados aos hábitos, costumes e valores locais determinarão a evolução econômica e o respeito aos fatores socioambientais. Entendo também que podemos ter um excelente projeto ambiental e, se não existir aceitação cultural, esse projeto acaba não trazendo os resultados esperados. Quando se fala em cultura em uma localidade, parece que enxergamos o grau de sustentabilidade (ou de falta de sustentabilidade) daquela comunidade local. Talvez isso explique a razão de encontrarmos algumas regiões deterioradas e outras não, em localidades não muito distantes. A utilização do exemplo do Parque Histórico de Carambeí irá ilustrar claramente a relevância cultural para a continuidade de uma sociedade. Essa matéria sobre o parque demonstra toda a trajetória da comunidade holandesa na região dos Campos Gerais no estado do Paraná. Os entrevistados comentam sobre os fatores históricos, que foram essenciais, para que a comunidade local superasse os desafios e se fortalecesse. A construção do parque é uma forma de respeitar o passado, atuando no presente sem esquecer do futuro. Esta edição ainda traz conteúdos relacionados ao projeto minhocagem, que é voltado à educação ambiental infantil, bem como uma matéria sobre a legislação brasileira para carros elétricos. Além desses conteúdos, temos uma matéria sobre a ABRAPS (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade); uma matéria sobre a tendência de comercialização dos produtos de limpeza em embalagens menores e com fórmulas mais concentradas; e uma matéria sobre os projetos para 2012 do CPCE (Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial). Boa Leitura! Pedro Salanek Filho

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho (pedro@geracaosustentavel.com.br) • Diretora Administrativa e Relações Corporativas Giovanna de Paula (giovanna@geracaosustentavel.com. br) • Jornalista Responsável Juliana Sartori / MTB 4515-18-155-PR (juliana@geracaosustentavel. com.br) • Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck (marcelo@geracaosustentavel.com. br) • Conselho Editorial Pedro Salanek Filho, Antenor Demeterco Neto, Ivan de Melo Dutra e Lenisse Isabel Buss • Colaboraram nesta edição Jornalistas: Aline Presa, Letícia Ferreira, Lyane Martinelli e Karla Ramonda (redacao@ geracaosustentavel.com.br) • Revisora Alessandra Domingues • Foto de Capa Júlio César Souza • Assinaturas assinatura@geracaosustentavel. com.br • Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br • Impressão Gráfica Capital • ISSN nº 1984-9699 • Tiragem da edição: 10.000 exemplares • 26ª Edição • novembro/dezembro • Ano 5 • 2011 A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. A revista é produzida com papel certificado. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/0001-12 - Rua Bortolo Gusso, 577 - Curitiba - PR - Brasil - CEP: 81.110-200 - Fone: (41) 3346-4541 / Fax: (41) 3092-5141

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

www.geracaosustentavel.com.br A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.


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Revista Digital


Sustentando

Manual traz práticas de sustentabilidade para empresas A Febrac (Federação Nacional das Empresas de Serviços e Limpeza Ambiental) lançou um manual de sustentabilidade para as empresas brasileiras. No material, estão reunidas 80 práticas de sustentabilidade que podem ser desenvolvidas dentro das empresas, desde atividades básicas até o tratamento de resíduos sólidos. O lançamento, em dezembro de 2011, reuniu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o presidente do SEAC-PR, Adonai Aires de Arruda, senadores, deputados federais, entre outras autoridades.

Reciclagem de alumínio vai chegar a 40% no Brasil Segundo dados da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), o Brasil tem um dos ciclos mais eficientes de reciclagem do material no mundo. Hoje, segundo a entidade, o país recicla 35% do alumínio que utiliza, contra 29% da média mundial. A Alcoa, maior produtora de alumínio do Brasil, afirma que vem crescendo nos últimos anos o uso do alumínio primário reciclado em relação ao metal primário, passando de 17% em 1960 para 33% em 2004. Isso porque o alumínio é um material que pode ser reprocessado sem perder suas características físico-químicas, reduzindo impactos no meio ambiente e contribuindo para a economia de energia. A estimativa é que em 2020 o país recicle 40% de todo o alumínio utilizado no ano.

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Sustentando

Pagando pela sujeira do avião A partir de 1º de janeiro de 2012, as companhia aéreas que circulam pelo continente europeu (sejam europeias ou não), terão de pagar pela poluição atmosférica que produzem na Europa. A decisão é do Tribunal de Justiça da União Europeia, que objetiva aliviar o impacto da aviação no aquecimento global, já que as emissões de gases do setor representam 3% dos gases do efeito estufa gerados pelo bloco continental. A polêmica, que já movimenta empresas do ramo nos EUA e na China, foi aprovada em 2008, com o objetivo de reduzir em 20%, no mínimo, as emissões de gases do efeito estufa até 2020.

ISAE/FGV terá agenda preparatória para a RIO + 20 A busca por uma educação executiva voltada aos valores da sustentabilidade já faz parte do DNA do ISAE/FGV, que é o conveniado da Fundação Getúlio Vargas para Curitiba e outras praças no Paraná. Entre inúmeras ações com esse foco, o Instituto acaba de lançar uma agenda de atividades preparatórias para a Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece em junho de 2012 no Rio de Janeiro. Além de ações com os alunos e o corpo docente, o ISAE planeja envolver a comunidade e a imprensa nos debates, por meio de palestras e oficinas sobre a mandala de temas que serão abordados nesse grande evento.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Sustentando

Casca de laranja para abastecer seu carro Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), com especialistas das universidades de Córdoba, na Espanha, e de Nova Iorque, na Grã-Bretanha, está testando a produção de biocombustível a partir de cascas de laranja. A técnica consiste em processar as cascas depois de trituradas em uma máquina que expõe o material a altas potências de micro-ondas, que ativam a celulose presente na casca. A substância é isolada e utilizada na fabricação de biocombustível. Se der certo, a tecnologia pode ajudar (e muito!) o problema do lixo. Isso porque, só de cascas de laranja, são oito milhões de toneladas da casca da fruta jogadas fora todos os anos no Brasil. Além disso, a tecnologia não funciona apenas com cascas, mas com qualquer material que contenha celulose, como papel e cartolina. Além de eficiente, os especialistas afirmam que a máquina também é rápida: a capacidade de processamento de material é de seis toneladas de resíduo por hora.

Brasileiros acreditam que vai faltar água já em 2050 Uma pesquisa recém divulgada pela consultoria OThink revela que 68% dos brasileiros acreditam que em 2050 já sofrerão com a falta de água no país. A pesquisa, que ouviu mil pessoas em todo o Brasil (500 homens e 500 mulheres), também revela que 48% dos entrevistados acreditam que as reservas de petróleo, gás natural e carvão não se esgotarão. A classe A, segundo a pesquisa, é a mais otimista com relação ao assunto de riquezas naturais. A pesquisa revela ainda que 65% dos entrevistados acreditam que em 2050 todos os materiais utilizados serão reciclados e 83% acham que o petróleo será totalmente substituído por energia renovável nos meios de transporte. 8

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Região Norte VENCEDORA

Banco Comunitário Muiraquitã

Inclusão Digital da Amazônia - INDIA

Santarém

PA

Redes de Produção Agroecológica e Solidária

Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes - APACC

Cametá

PA

Tarumã Vida: Do Carvão às Tecnologias Sociais

Associação Agrícola do Ramal do Pau Rosa - ASSAGRIR

Manaus

AM

Região Nordeste VENCEDORA

Bancos de Sementes Comunitários

Centro de Educação Popular e Formação Social - CEPFS

Teixeira

PB

Jovem Empreendedor: Ideias Renascendo em Negócios

Acreditar

Glória do Goitá

PE

Rede Cearense de Turismo Comunitário - Tucum

Instituto Terramar de Pesquisa e Assessoria à Pesca Artesanal

Fortaleza

CE

Campo Grande

MS

Região Centro-Oeste VENCEDORA

Construção de Habitação em Assentamentos

Associação Estadual de Cooperação Agrícola - AESCA

Fique de Olho, Pode Ser Câncer Infanto-juvenil

Associação dos Amigos das Crianças com Câncer - AACC/MS

Campo Grande

MS

“Tampando Buraco”: Recuperando Voçorocas

Embrapa Arroz e Feijão

Santo Antônio de Goiás

GO

Região Sudeste VENCEDORA

Agroecologia Urbana e Segurança Alimentar

Sociedade Ecológica Amigos de Embu - SEAE

Embu da Artes

SP

Ecos do Bem: Educação Ambiental no Território do Bem

Associação Ateliê de Ideias

Vitória

ES

Modelos de Acesso ao Crédito para o Terceiro Setor

SITAWI

Rio de Janeiro

RJ

Oficinas de Artesanato e Construção de Identidade

Fundação Parque Tecnológico Itaipu

Foz do Iguaçu

PR

Tribos nas Trilhas da Cidadania

ONG Parceiros Voluntários

Porto Alegre

RS

Visão de Liberdade

Conselho Comunitário de Segurança de Maringá

Maringá

PR

Região Sul

VENCEDORA

Tecnologia Social na Construção de Políticas Públicas para Erradicação da Pobreza VENCEDORA

Fossas Sépticas Econômicas

Prefeitura Municipal de Caratinga

Caratinga

MG

Horta Comunitária - Inclusão Social e Produtiva

Prefeitura Municipal de Maringá

Maringá

PR

Orçamento Participativo Jovem de Rio das Ostras

Prefeitura Municipal de Rio das Ostras

Rio das Ostras

RJ

Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais VENCEDORA

Investimento Social em Mulheres e Meninas

Fundo Ângela Borba de Recursos para Mulheres/ELAS - Fundo de Investimento Social

Rio de Janeiro

RJ

Mulheres da Amazônia

Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia

Juruena

MT

Rede de Produtoras da Bahia

Cooperativa Rede de Produtoras da Bahia

Feira de Santana

BA

Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil VENCEDORA

Fazendo Minha História

Associação Fazendo História

São Paulo

SP

Formação de Jovens Empreendedores Rurais

Casa Familiar Rural de Igrapiúna

Igrapiúna

BA

ViraVida

Serviço Social da Indústria - Conselho Nacional

Brasília

DF

Brasília

DF

Gestão de Recursos Hídricos Água Sustentável: Gestão Doméstica de Recursos Hídricos VENCEDORA

Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente - IPOEMA

Cisternas nas Escolas

Cisternas nas Escolas

Irecê

BA

Sombra e Água Viva

Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios Ltda - CARPIL

Palmeira dos Índios

AL

Ministério da Ciência, T Tecnologia e Inovação


Entrevista

divulgação

Longa vida com sustentabilidade

Elisa Prado

Diretora de Comunicação da Tetra Pak Elisa Prado é formada em Comunicação Social pela PUC-Campinas e pós-graduada em Marketing pela ESPM de São Paulo. Possui mais de 20 anos de experiência na área de Comunicação Corporativa, adquirida em agências de Relações Públicas e empresas nacionais e multinacionais. Hoje atua como diretora de Comunicação da Tetra Pak, liderando equipes localizadas nos países da América Central e Latina. Anteriormente trabalhou por quatro anos na Vivo, empresa líder em telefonia móvel, na qual comandou o departamento de Comunicação Institucional. Nesta entrevista, com exclusividade para a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, Elisa abordou temas relacionados à gestão corporativa, ao consumo consciente e à reciclagem.

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A Tetra Pak atualmente é conhecida como uma organização que desenvolve inúmeros projetos socioambientais, como é feito o processo de comunicação para os públicos interno e externo? Na Tetra Pak, priorizamos a comunicação com transparência e acreditamos no valor desse trabalho como uma ferramenta estratégica no relacionamento com os nossos públicos. Assim, temos a obrigação de conscientizar os consumidores sobre a importância do equilíbrio entre os três pilares sustentáveis: Econômico, Social e Ambiental. Por isso, investimos intensamente na comunicação das nossas ações, atitudes e postura para todos os stakeholders, respeitando e adaptando os meios e mensagens de cada um deles. Procuramos disponibilizar o maior número possível de informações para os diversos públicos por meio dos diferentes canais como site, revistas, relatório de sustentabilidade, newsletters, além do atendimento direto à demanda dos jornalistas, por meio de nossos porta-vozes.

Quais são os principais projetos desenvolvidos no Estado do Paraná? Desde 2002, a Tetra Pak, além de ações de apoio a prefeituras e cooperativas, realiza um trabalho de campo para fomentar a cadeia de reciclagem de suas embalagens. Para isso, conta com o apoio de uma equipe de colaboradores externos que atuam em diversas regiões do País. O trabalho desses prestadores de serviço é bastante amplo. Eles realizam a prospecção de iniciativas de coleta seletiva com catadores, cooperativas, comércios, escolas, igrejas e outras instituições, levando informações sobre a importância da coleta e da reciclagem das embalagens longa vida pós-consumo. Quando as iniciativas não estão bem estruturadas, eles oferecem orientação para que se organizem da melhor forma possível. Atuam também junto às prefeituras para conscientizá-las da importância da reciclagem e incentivá-las a implantar a coleta seletiva formal em seus municípios. Para isso, disponibilizam folhetos desenvolvidos e impressos pela Tetra Pak com explicações simples e claras sobre reciclagem, para serem distribuídos à população. Entre 2008 e 2009, foram produzidos 5 milhões de folhetos destinados a essas iniciativas. Para as cidades com população igual ou superior a 100 mil habitantes, foram feitos folhetos específicos, e, para os municípios menores, foi distribuído um folheto com informações gerais sobre coleta seletiva. Além desses materiais, foram criados diversos outros, sobre conscientização ambiental, para abranger todos os públicos.

Além disso, em 2007, a Tetra Pak foi procurada pelo governo do Paraná para discutir soluções para a destinação de suas embalagens pós-consumo no estado. Dessa negociação surgiu o plano Paraná e Tetra Pak em Ação – Longa Vida para o Meio Ambiente, elaborado em conjunto pela Coordenadoria de Resíduos Sólidos da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e pela equipe da Tetra Pak. O principal objetivo é garantir o escoamento sustentável e a reciclagem das embalagens pós-consumo da Tetra Pak no estado. O plano foi composto por dez ações ambientais, baseadas em quatro estratégias-chave: incentivo ao trabalho de cooperativas para aumentar a captação das embalagens, iniciativas regionais de comercialização das embalagens pós-consumo, desenvolvimento de empresas recicladoras e educação ambiental. Essas ações foram realizadas durante o biênio 2008/2009, divididas em dois grandes blocos. O primeiro

Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, estamos com expectativas bem positivas, já que cada um dos agentes envolvidos no ciclo de vida dos produtos deve assumir sua responsabilidade teve como objetivo proporcionar a infraestrutura necessária para as atividades de coleta seletiva e reciclagem. Foi feito um diagnóstico detalhado dos 22 municípios indicados pela secretaria e foram elaborados planos de ação específicos para cada cidade. Com base neles, a empresa efetuou a cessão de prensas, telhas e outros materiais às entidades envolvidas que pudessem contribuir para o programa de coleta seletiva. No total, foram cedidas 20 prensas enfardadeiras, quatro esteiras para triagem de materiais, cerca de 1.200 big bags, 2.120 telhas, 245 placas recicladas e material para 15 pontos de entrega voluntária (PEVs). O segundo bloco de ações focou na educação ambiental. Envolveu a distribuição de 195 mil folhetos para conscientizar a população e 164 kits de educação ambiental, além da participação em eventos em shopping centers e da realização de outros projetos já consolidados na Tetra Pak, como o (Re) GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Entrevista

Ciclo de Cinema. Os resultados da parceria superaram as previsões. Apesar dos efeitos negativos da crise econômica de 2008, que afetou todo o setor de reciclagem, o número de iniciativas voltadas à coleta seletiva das embalagens longa vida no Paraná aumentou seis vezes (de 55 para 339). Além disso, o volume de embalagens encaminhadas para a reciclagem cresceu 18%, atingindo 4.099 toneladas em 2009, o que representa aumento de 4% na taxa de reciclagem de embalagens da Tetra Pak no estado em relação ao início do plano, em 2007. Esse índice significa que, em 2009, cerca de 207 milhões de embalagens foram recicladas somente no estado do Paraná.

Um dos maiores problemas socioambientais está relacionado com a geração de resíduos e grande parte destes são embalagens. Como a Tetra Pak vem atuando na orientação do consumidor de seus produtos no processo de reciclagem? A Tetra Pak busca ser reconhecida pelos consumidores como uma empresa que oferece soluções para manter os alimentos com suas características originais e seguros, com embalagens práticas, ambientalmente corretas e de qualidade. No entanto, mais do que informá-los sobre os atributos de seu produto, a companhia trabalha para mostrar que o consumidor, ao comprar alimentos ou bebidas acondicionados em embalagens da Tetra Pak, está fazendo uma escolha correta e consciente do ponto de vista ambiental e social. Assim, a Tetra Pak busca aproximar-se desse público por meio de ações que promovam a reciclagem e a consciência ambiental e social.

Como está organizado esse processo de reciclagem de embalagens no pós-consumo? Como funciona a logística e qual a capacidade instalada e utilizada? A embalagem da Tetra Pak é formada por três materiais: papel, alumínio e polietileno. A primeira etapa da reciclagem consiste em separar o papel dos demais elementos. O trabalho é feito em um equipamento denominado Hidrapulper, uma espécie de grande liquidificador que solta as fibras de papel com água. Elas seguem para processamento, onde se transformam em bobinas para a fabricação de caixas, tubetes (utilizados em bobinas de papel nas duas fábricas da Tetra Pak) e papel para impressão (feito a partir da mistura de uma porcentagem das fibras recicladas com papel sulfite). O que sobra é uma massa de plástico e alumínio. O material é enfardado e encaminhado para empresas que irão transformá-lo em produtos como telhas, placas, pellets (grãos) 12

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

para injeção ou para laminação de peças plásticas e parafina, recuperando o alumínio na forma metálica. No primeiro caso, a mistura é triturada e prensada até a eliminação de toda a água. Em seguida, o material é fundido e depois resfriado para, então, adquirir o formato desejado – telhas ou placas para construção civil. Essas peças vêm conquistando um mercado cada vez maior, graças a sua alta durabilidade e seu valor agregado. Outra vantagem é que elas são leves, flexíveis e possuem boa absorção acústica. No caso das telhas, elas são mais resistentes à degradação e oferecem melhor conforto térmico em comparação com as telhas comuns (o ambiente fica mais confortável, uma vez que o alumínio reflete os raios infravermelhos do sol, diminuindo a absorção de calor). Já a técnica de peletização foi desenvolvida no Brasil pela Tetra Pak e vem sendo aplicada desde 1998. A transformação da mistura de plástico e alumínio em grãos permitiu ampliar a forma de utilização do material, que hoje é matéria-prima para a fabricação de peças plásticas – vassouras, bolsas, sacolas, embalagens, canetas, capas de cadernos, pastas e objetos de escritório, entre outras. Hoje, mais de dez empresas fabricam peças a partir dos pellets, que, por sua vez, são produzidos por duas recicladoras no estado de São Paulo. Em 2005, a Tetra Pak desenvolveu, em parceria com as empresas Klabin, Alcoa e TSL Ambiental a tecnologia de reciclagem do alumínio as embalagens, que consiste na separação total das camadas de alumínio e plástico. O alumínio poder ser comercializado na forma de pó, e o polietileno é transformado em parafina, que é utilizada na produção de impermeabilizantes, lubrificantes ou como matéria-prima para a indústria química. Assim, a reciclagem de embalagens longa vida pós-consumo gera emprego e renda, além de promover a conservação ambiental e a cidadania.

Em sua opinião, o lado cultural dos consumidores, que envolve o hábito da separação do lixo, é a principal barreira para ampliar a reciclagem no Brasil? Que outros fatores dificultam esse processo? Atualmente, o maior gargalo para aumentar a reciclagem de nosso país é a coleta seletiva. Isso acontece porque as embalagens descartadas pelos consumidores ainda não formam volume suficiente do material para atender a demanda das indústrias recicladoras já existentes. Por isso, temos investido de diversas formas na educação ambiental e na sensibilização da sociedade para incrementar o volume de reciclagem de embala-



Entrevista

gens cartonadas no país, que hoje chega a mais de 50 mil toneladas por ano. Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, estamos com expectativas bem positivas, já que cada um dos agentes envolvidos no ciclo de vida dos produtos – fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e poder público – deve assumir sua responsabilidade.

Como a empresa vem atuando para divulgar seus projetos de reciclagem nas redes sociais? Com este objetivo de disponibilizar conhecimento à população e ajudar na coleta seletiva, a Tetra Pak lançou em 2008 um portal batizado de Rota da Reciclagem (www.rotadareciclagem.com.br). O site aponta a localização e o contato de cooperativas, pontos de entrega voluntária de materiais recicláveis e comércios ligados à cadeia de reciclagem em todo o território nacional. Outro portal desenvolvido pela empresa é o Cultura Ambiental

O maior gargalo para aumentar a reciclagem de nosso país é a coleta seletiva. Isso acontece porque as embalagens descartadas ainda não formam um volume suficiente do material para atender a demanda das indústrias recicladoras já existentes nas Escolas. Voltado a professores e alunos, a plataforma traz conteúdo didático sobre educação ambiental com destaque para a questão dos resíduos sólidos e reciclagem. Cada uma das ferramentas possui canais no Facebook e no Twitter.

Nos últimos 40/50 anos, as tecnologias nas embalagens propiciaram que muitas empresas ampliassem sua publicidade e agregassem mais valor em seus produtos, além de avanços relacionados a quantidades fracionadas e de conservação, por outro lado, passou-se a ter um alto passivo ambiental. Em sua opinião, quais são as perspectivas e tendências para o setor de embalagens nos próximos anos? Na Tetra Pak, temos a premissa da inovação, o que faz com que a companhia antecipe essas 14

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tendências. Como líder global mundial em soluções para processamento e envase de alimentos, a empresa tem realizado significativos investimentos na área de desenvolvimento mundial, que conta com cerca de 1.200 profissionais que já discutem como será o cenário do mercado em 2020. Toda a estratégia é antecipada já que uma tecnologia leva até cinco anos para ser desenvolvida. Assim, o ciclo de inovação da empresa mantém-se constante e, de três a cinco anos, são lançadas novidades baseadas nas necessidades e desejos latentes dos consumidores. Para isso, investimos globalmente aproximadamente 3,5% a 4% da receita de vendas, que em 2010 foi de €9,98 bilhões. Ou seja, foram cerca de €400 milhões em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, conhecer o nosso público e saber respeitá-lo é o primeiro passo. Por isso, apostamos nas pesquisas com os nossos clientes e também com os consumidores. Com os resultados, sabemos que uma grande tendência são os produtos ambientalmente corretos. Por isso, como líder, a Tetra Pak investe na utilização de matéria-prima proveniente de fontes renováveis e certificadas. A primeira certificação da cadeia de custódia da Tetra Pak Brasil pelo Forest Stewardship Council (FSC) foi conquistada em 2008. Nosso fornecedor de papel, a Klabin, já possuía a certificação para 100% de suas florestas e, a partir disso, conseguimos obtê-la também para nossas embalagens. A segunda conquista foi em relação ao plástico, com o lançamento das tampas produzidas a partir do “plástico verde”, produzido a partir do etanol da cana-de-açúcar. Esse projeto deu ao Brasil o pioneirismo mundial no uso do material, que também provém de uma fonte 100% renovável.

Que mensagem final deixaria para os leitores da revista Geração Sustentável? Costumamos dizer que a Tetra Pak possui o DNA de Sustentabilidade, principalmente por conta de sua origem e da preocupação com o meio ambiente. Assim, mais do que informar os públicos sobre o intenso trabalho desenvolvido em toda a cadeia de reciclagem, temos a missão de agir como agentes transformadores. Acredito que vivemos em um processo de mudança e de conscientização da sociedade, que não tem volta, felizmente! No entanto, fazer parte desse grupo vanguardista é um desafio já que temos que aprender na prática. Mesmo assim, encaramos esse desafio como uma oportunidade de provocar grande modificação comportamental das pessoas e das corporações.



Júlio César Souza

Capa

U

ma das regiões mais bonitas, ricas e agradáveis do Sul do país fica no Paraná: os Campos Gerais. É ali que fica, por exemplo, Castro, “a Capital do Leite”, um dos 26 municípios da região, que produz cerca de 180 milhões de litros por ano. No que depender, no entanto, do Parque Histórico de Carambeí, fundado em 2011, quando foram comemorados 100 anos da imigração holandesa ao Brasil, isso vai mudar. Nele, que já está sendo considerado o maior museu a céu aberto do Brasil, é possível conhecer um pouco da história não só da produção do leite, mas muitas outras características da região. Principalmente a colonização holandesa a partir do início do século XX. Os Campos Gerais ficam no segundo planalto paranaense, na porção meso-oriental, há cerca de 100 km da capital, Curitiba, e lá estão alguns dos maiores agropecuaristas do estado e do país. A região, com cerca de 700 mil habitantes numa área de quase 22 mil de quilômetros quadrados, destaca-se também na área industrial e no extrativismo de xisto e do cal. Segundo o Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), os Campos Gerais são responsáveis também pelo Paraná ter

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sido o primeiro estado brasileiro a atingir, em 2010, sete dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - estabelecidos pela Organização das Nações Unidas. As vocações agropecuária e industrial começaram a tomar forma no início do século XX, quando famílias de imigrantes lá se instalaram. Aos imigrantes holandeses e alemães costuma-se dar crédito pela cultura do cooperativismo, largamente difundida na região, e pelo revolucionário sistema agrícola de plantio direto: manejo do solo que diminui o impacto da agricultura, em que outros vegetais, como a palha do milho, são mantidos no solo durante o cultivo da lavoura principal. Em 2010, as principais cooperativas da região, que reúnem 3.351 produtores associados (segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) geraram uma movimentação financeira de R$ 2,2 bilhões, além de dois mil empregos diretos.

Industrialização do estado • Todo o setor industrial da região, segundo o Anuário Socioeconômico 2011/2012 Caminhos dos Campos Gerais, produzido pelo Jornal da Manhã, de Ponta Grossa, é responsável por 20% dos empregos


Campos Gerais

Um Paraná a ser conhecido Parque Histórico de Carambeí: preservar a memória e cultura também é crescer com sustentabilidade Letícia Ferreira

gerados em na região. Algumas das maiores e melhores indústrias brasileiras (segundo levantamento da revista Exame, publicado em julho do ano passado) estão nos Campos Gerais: Cooperativas Batavo e Castrolanda, em Carambeí e Castro; Rodonorte, em Ponta Grossa, e Stora Enso e Capal, em Arapoti. O faturamento dessas cinco empresas, em 2010, foi de R$ 3 bilhões. Além dessas, outras grandes empresas da região, citadas na revista por suas características singulares, são Klabin (longevidade: 112 anos) ao lado da Batavo (87 anos), Bunge e Masisa (políticas de sustentabilidade), Cargill e Tetra Pak (melhores para se trabalhar e fazer carreira). O turismo também movimenta a economia local. O Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, reúne formações rochosas pré-históricas curiosas e sítios geológicos de arenito. Em Tibagi, mais natureza no Parque Estadual do Guartelá, cujo cânion é o 6° maior do mundo em extensão, e rios, cachoeiras e morros para todos os gostos, inclusive para os apreciadores de esportes radicais, também em Ortigueira e Ivaí. O Santuário de Nossa Senhora das Brotas, padroeira da Rota dos Tropeiros faz de Piraí do Sul o quarto destino religioso mais procurado no Brasil.

Origens • Pelos Campos Gerais, ricos em pastagens e boas fontes de água, passaram milhares de tropeiros com gado e muares até o início do século XX. Tanto tempo deixou memórias, costumes e tradições que permanecem. A chegada dos imigrantes europeus, ainda no século XIX, trouxe mudanças positivas. Primeiros, foram os russos-alemães, italianos, ucranianos, poloneses, e sírio-libaneses. No início do século XX, começaram a chegar os holandeses, japoneses, russos e alemães menonitas. Novas tecnologias agropecuárias e, principalmente, o cooperativismo, com seus valores de união e respeito à coletividade, foram fortalecendo a evolução local. Que não comprometeu a cultura e as tradições daqueles que enfrentaram, com união e determinação, as primeiras dificuldades. Imigrantes, tropeiros, jesuítas e índios das tribos tupi-guarani e caigangue deixaram sua marca indelével na cultura local. Parque Histórico de Carambeí • Existem vários locais destinados a preservar essa história nos Campos Gerais; um dos mais importantes é o Parque Histórico de Carambeí, inaugurado em 2011 para preservar e divulgar a cultura dos imigrantes holandeses do início do século XX.

“Cultura é identidade e não pode ser mensurada. Temos orgulho de tudo isso ter começado do zero e ter dado certo”, Dick de Geus, presidente da Associação do Parque Histórico de Carambeí

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Também no ano passado, completaram-se 86 anos da constituição da primeira cooperativa de produção do Brasil: a Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios, hoje Batavo Cooperativa Agroindustrial. As cinco alas que compõe o Parque reproduzem cenograficamente e com acervos o estilo de vida da comunidade desde o início do século XX, onde viviam as famílias de holandeses que se estabeleceram na região. O visitante se sente levado no tempo a uma viagem pela cultura e vida diária daquelas pessoas: vida em família,trabalho com fabricação de queijo, criação de animais, marcenaria e ferraria, a praça, a igreja, a escola, a estação de trem e a Casa de Imigração de Carambeí, que recebiam os imigrantes recém-chegados. Segundo relatos históricos da prefeitura do município, a cidade teve início com o Vilarejo Carambehy (nome que vem do Guarani e quer dizer "rio das tartarugas"), formado no loteamento aberto pela Brazil Railway Company (companhia norte-americana) entre Castro e Ponta Grossa. Os irmãos Verschoor e Jan Vriesman, entre os recém-chegados da Holanda, assinaram o contrato com a companhia em 4 de abril de 1911. Eles e outros conterrâneos havia, primeiramente, se instalado na região de Irati a convite do governo brasileiro. Porém, as condições do local e o não cumprimento de algumas garantias dadas pelo governo levaram muitos holandeses de volta à terra natal e a outras regiões, como a do Vilarejo Carambehy. Após se instalar, Verschoor voltou à Holanda para buscar mais imigrantes, que chegaram a Carambeí em 11 de dezembro de 1911. A holandesa/brasileira De Geus & Cia começou a funcionar em 1916. Com o tempo, tornou-se a Cooperativa Batavo. Hoje, Carambeí é um município a 126 km de

Estação de Trem de Carambeí em 1911

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Curitiba, com aproximadamente 19 mil habitantes em uma área aproximada de 645 km². O PIB per capita - o maior da região - está em torno de R$ 43 mil (o total sendo R$ 745 milhões), com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,785. Em 2009, o município inaugurou o programa de coleta seletiva de lixo Educação Ambiental Recicle Agora, Não Perca a Hora. Em 2010, o recolhimento de óleo de cozinha foi incluído no programa, envolvendo estudantes, professores e a comunidade. O óleo deve ser destinado à industrialização e, com esse recolhimento, escolas ganham material de informática.

Preservação cultural • A área em que foi estabelecido o Parque Histórico de Carambeí pertenceu à família De Geus. Um de seus descendentes, Dick de Geus, é presidente da Associação do Parque Histórico de Carambeí. A mãe dele chegou ao Brasil em 1909, aos 4 anos de idade e o pai, em 1913, aos 13 anos de idade. Casaram-se em 1921. Observando a Casa da Memória de Carambeí - uma das atrações do parque - ele se emociona ao lembrar que o local foi o estábulo da família, onde trabalhou e brincou na infância e juventude, e onde, hoje, pode ver seus filhos e netos trabalhando e tendo momentos de lazer. "Aqui eu nasci e me criei, aqui eu tirava leite de vaca...", conta. De Geus diz que o estábulo, de 1100 m², foi construído em 1946 e hoje é a Casa da Memória,


Casa da Memória do Parque Histórico de Carambeí

que guarda o acervo historiográfico dos pioneiros, atualmente em processo de catalogação. O acervo conta com milhares de itens utilizados pelos imigrantes e colonizadores, como utensílios, equipamentos, fragmentos, representações imagéticas, livros, ferramentas, e guarda, ainda, artefatos das culturas indígena e tropeira, permitindo ao visitante ter uma visão perspectiva dessa história de perseverança e sucesso (Fonte: http://aphc.com.br). Na Casa da Memória, uma maquete mostra como deverá ficar o Parque quando completo. De Geus diz que, em dez anos de Casa, muito foi mudado e incluído, como a recente confeitaria Koffiehuis, famosa pelos doces, torta holandesa, diversos tipos de café e salgadinhos da culinária holandesa e indonésia, resultado do período de colonização. Para De Geus, tudo isso tem de ser valorizado e lembrado: "cultura é identidade, não pode ser mensurada", declara. "E temos orgulho de tudo isso ter começado do zero e ter dado certo. Com muito sofrimento e muitas dificuldades, com fé em Deus, fome de conhecimento e a busca em trabalhar juntos, conseguimos formar um núcleo bastante forte que pôde colaborar para o desenvolvimento do país". Alguns jornalistas e artistas holandeses foram convidados para a inauguração do parque e, conta De Geus, ficaram surpresos encontrando a própria tradição mais representada no Brasil do

que em seu país de origem. Ao ver as crianças brasileiras cantando músicas holandesas, alguns lamentaram por não encontrar mais grupos folclóricos na Holanda. "Eles reencontraram aqui uma infância que seus filhos nunca irão conhecer". De Geus lembra também de seus antepassados nos primórdios da cooperativa Batavo: "Sete sócios fundaram, há 86 anos, uma pequena cooperativa. Hoje, o cooperativismo representa mais de 55% do PIB agrícola do Paraná. O cooperativismo, no estado, nasceu praticamente aqui". Ele destaca também o progresso, que pôde acompanhar, da tecnologia na agropecuária. Trata-se de uma tecnologia que custa caro, mas que permite usar um rebanho menor para produzir mais leite e alimentar mais pessoas, fundamental do ponto de vista da sustentabilidade. O pioneiro diz que toda essa história e tradição não beneficia somente holandeses e descendentes, mas toda a sociedade. Para ele, o parque é diferente de tudo o que há no gênero no Brasil: "É um parque-museu e não apenas isso, porque abordamos o cooperativismo, o plantio direto, a sustentabilidade, o meio ambiente. Já recebemos milhares de crianças desde a inauguração, brincando, ouvindo histórias e aprendendo muito". Além disso, para ele, progresso e ação social têm que andar juntos. Aposentado há cinco anos, após 40 anos trabalhando em cooperativa, ele acredita que não adianta uma cooperativa ser grande e forte e se não se fizer presente socialmente. Ele usa o exemplo, mais uma vez, da Batavo, ao destacar que a cooperativa contribuiu muito para o desenvolvimento de Carambeí e do Paraná.

Preservar o passado para melhorar o futuro • Outro descendente da tradicional família

“Um povo sem memória, é um povo sem história. E um povo sem história, é um povo sem futuro”, Gaspar João de Geus, vicepresidente da Batavo

De Geus, Gaspar João de Geus, vice-presidente da Batavo e secretário geral da Associação do Parque Histórico de Carambeí, também acredita que é importante se pautar no passado para olhar para o futuro, o que é uma das inspirações para a criação do Parque Histórico de Carambeí: "Aprendendo com erros e aprimorando os acertos. As atuais gerações podem contribuir muito na perspectiva de um futuro sustentável". Para ele, o plantio direto, que começou ali e hoje faz parte da cultura agrícola do país e do mundo, é um bom exemplo de aprendizado e aprimoramento. Além disso, ao retratar o cenário da imigração holandesa, o Parque também traz à tona as contribuições das diversas frentes migratórias que vieram ao Brasil e fizeram com que essa colonização fosse um sucesso: "Foi a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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somatória de esforços multiculturais e multiétnicos que fez com que tudo isso desse certo", diz. "Um povo sem memória, é um povo sem história. E um povo sem história, é um povo sem futuro". A preservação dos valores desses imigrantes, como o associativismo e o cristianismo, tanto católico como protestante, são importantes na visão de Gaspar João, porque oferecerem auxílio em momentos de dificuldades e promovem a socialização e o congraçamento na comunidade. E foram esses valores que deixaram longe o fantasma da segregação e da perseguição, um dos medos que vinham com os imigrantes, que progrediram por esforço próprio - sem exploração dos habitantes locais - e sem degradar o meio ambiente. Gaspar João lembra, entretanto, que não somente a cultura imigrante é preservada no Parque, mas também a do tropeirismo, muito importante para a história e o desenvolvimento da região. "Muitos dos nossos visitantes dizem que é o lugar onde mais encontraram a preservação cultural tanto na reprodução da história, quanto na preservação de objetos, utensílios, livros, documentos. É um acervo muito rico", diz. Atualmente, historiadores, junto aos alunos da Universidade de Ponta Grossa, estão fazendo um levantamento de todo os acervos de documentos e história da região, até porque parte do acervo do parque ainda está sendo catalogado e homologado pelas normas do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). "Nosso Parque é também um espaço para que os jovens possam conhecer a cultura de seus antepassados. Ao ver essa cultura sendo valorizada, os jovens se interessam e começam a aprender."

Resultados • Por se tratar de um projeto de longo prazo, um amplo processo

fotos: Júlio César Souza

de curadoria foi implantado, estabelecendo um planejamento estratégico fundado na organização da informação, construção de novas alas, comunicação social e marketing cultural sustentável. Em parceria a Mind Promo Business e o Núcleo de Mídia e Conhecimento tornaram-se curadores executivos, planejando e realizando com foco em resultados objetivos. "Mesmo ainda em fase de conclusão, o Parque Histórico de Carambeí já está sendo considerado um dos maiores museus a céu aberto do Brasil e, em sua finalização, terá 17 museus temáticos integrados", diz Guilherme Klopffleisch, diretor da Mind Promo Business, empresa responsável pela viabilização do parque. Segundo ele, além de espaços temáticos para a preservação histórica, foram inseridas, no Parque, estratégias de sustentabilidade e responsabilidade social. A construção da vila histórica e outros espaços foram feitos com madeira plantada, tratada e certificada. As obras de base foram trabalhadas dentro dos padrões de uso do solo com supervisão de técnicos agrícolas da Fundação ABC. "Para a compensação do carbono emitido pela obra e pelos eventos realizados, um estudo do Instituto Chico Mendes apontou a necessidade de plantarmos 2.900 árvores no terreno", explica Klopffleisch. "Com o envolvimento da comunidade e das escolas regionais, realizamos um programa de plantação de mudas e árvores nativas num total de 3.200 unidades. Com isso e a prática de ações sustentáveis, conseguimos também o selo de carbono zero do ICMS Ecológico, que beneficia os municípios que priorizam Saneamento Básico e Unidades de Conservação." Além disso, foi desenvolvido um periódico, o Almanaque, contando a saga holandesa. Durante um período, a cada 15 dias, uma edição do almanaque era produzida e 15 mil exemplares eram distribuídos na rede educacional da região, sendo seis mil encartados nos jornais da região e 9 mil distribuídos na rede de ensino e inseridos em aulas, gerando estudos e concursos de redação

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entre alunos. E os quatro livros da Coleção Imigrantes contam a saga dos holandeses no Brasil, incluindo a história dos imigrantes de 1911. "Em parceria com o programa Vamos Ler, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa), temos uma média de 9 mil alunos participando de leitura e visitação ao parque", informa Klopffleisch. Com essas ações integradas e as festividades, o Parque tornou-se uma referência na região. Alguns números comprovam seu significado atual: • 65 mil visitantes em 2011; • geração de empregos; • atração de investimentos regionais em estruturas turísticas, pousadas, restaurantes, artesanato, etc. • o Parque está inserido nos programas de visitação da Secretaria de Turismo do Paraná e está sendo considerado um dos grandes espaços turísticos culturais do estado. • foi também apresentado nos eventos de promoção turística do Brasil no roteiro paranaense de turismo. Klopffleisch conta que, com o trabalho de comunicação estratégica, com um investimento geral de R$ 300 mil, foram obtidos espaços e mídia nos meios de comunicação impressos e eletrônico com um resultado estimado em R$ 3,8 milhões de reais: "Ou seja, o município nunca teve uma divulgação tão grande em mídia segmentada em negócios e turismo".

O visitante se sente levado no tempo a uma viagem pela cultura e vida diária daquelas pessoas: vida em família, trabalho com fabricação de queijo, criação de animais, marcenaria e ferraria, a praça, a igreja, a escola, a estação de trem e a Casa de Imigração de Carambeí, que recebiam os imigrantes recém-chegados. GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Próximos passos • Em 2012, a segunda fase das construções prevê o Parque das Águas e um centro de desenvolvimento pessoal. O Parque das Águas é um espaço destinado à escola de águas, que irá ensinar engenharia de pontes, domínio e uso racional de água, e alternativas sustentáveis. O centro de desenvolvimento pessoal deverá oferecer formas de preparação da população de baixa renda, atividades artísticas e culturais para a terceira idade e preparação de mão de obra básica destinada às empresas que se instalarem na região, bem como orientadores turísticos para o próprio parque. Entre outros planos, está a construção do Centro Cultural Amsterdam, uma estrutura multifuncional com escola de artes e línguas, cinema, teatro e espaços de exposição, programada para 2013. “Com o trabalho de comunicação estratégica o município nunca teve uma divulgação tão grande em mídia segmentada em negócios e turismo”, Guilherme Klopffleisch, diretor da Mind Promo Business

Viabilizando o Parque Histórico de Carambeí • Para levantar recursos para qualificar o Parque Histórico de Carambeí como espaço de preservação da memória da imigração e para a festa do centenário da imigração holandesa no Brasil, em 2011, a Associação do Parque Histórico de Carambeí contratou as empresas curadoras para diagnosticar e viabilizar o potencial cultural e turístico para a região. As conversas começaram em 2008 quando Klopffleisch ainda não tinham a visão do potencial que o projeto viria a ter como um pólo de turismo, cultura e ecologia. Através de uma análise técnico-econômica identificaram-se valores como as características geopolíticas, econômicas e especialmente de uma ampla cultura tradicional, colonial e imigratória. Além disso, a cultura holandesa e as colônias próximas sempre haviam sido atrativos Outro fator levantado foi a importância dos

Campos Gerais como centro de desenvolvimento de agronegócio, com a presença de cooperativas e de centros de pesquisa. Uma estratégia para a viabilização do projeto com a atração de investimentos foi elaborada com foco nas grandes empresas dessa área ou correlatas. A estratégia mostrou que, com espaços temáticos (museus) sobre as culturas do agronegócio, o parque poderia atrair turismo cultural e ecológico, além dos reflexos do agronegócio, criando-se nele uma vitrine para parceiros que investem em cultura e desenvolvimento sociocultural. Sempre demonstrando a confiabilidade do projeto. "No segundo semestre de 2009, tínhamos cinco projetos aprovados no Ministério da Cultura para captação de recursos de renúncia fiscal no valor estimado de R$ 8 milhões de reais", conta Klopffleisch. Assim, foi desenvolvido um material extenso de divulgação e comunicação e, no segundo semestre daquele ano, foi iniciada a busca por recursos. Apesar dos reflexos da crise financeira global de 2008, resultados efetivos começaram a aparecer. Klopffleisch diz que, além da captação via incentivo fiscal (Lei Rouanet), foram conduzidas parcerias com o poder público para emendas parlamentares e outras formas de viabilização de recursos. Em janeiro de 2011, o projeto já tinha R$ 2,3 milhões de reais para a primeira fase das obras do parque. "Isso colocou Carambeí e os Campos Gerais nos principais meios de comunicação do Sul do país. A grande repercussão, atraindo um expressivo movimento turístico cultural para a região, assegurou, para este ano e o próximo, investimentos em torno de R$ 3 milhões pelas empresas parceiras do parque", comemora. Esses recursos serão usados na continuidade das obras e manutenção operacional do parque.

Os Campos Gerais em números • • • • • • • • • • •

26 municípios R$13,1 bilhões: PIB R$10,1 bilhões: IPC 695 mil habitantes 0,718: IDH médio 60%: urbanização média 20% dos empregos gerados pela indústria 10% da produção de feijão do país 12 instituições de Ensino Superior 524 mil hectares de florestas plantadas em 12 mil propriedades 250 indústrias de agroalimentos Fontes: IBGE 2010, IPC Maps 2011 e PNUD 2000

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Brasil é um país reconhecidamente cultural, pois desenvolve sua visão de mundo e expressa isso com bastante abrangência, seja em função das tradições festivas do carnaval ou mesmo do futebol como fenômeno estético. Porém, o desenvolvimento cultural em termos mais profissionais demanda padrões estáveis de produção. Ideia criativa, interesse de público e especialmente capital de fomento. Nos países mais desenvolvidos, em que a renda do cidadão é proporcional às suas necessidades básicas, é possível o desenvolvimento de uma economia de mercado sustentando uma “indústria cultural”, o que eleva os níveis da produção cultural para níveis superiores aos da atividade artesanal comunitária, incluindo-a, mas ampliando sua abrangência. No caso do Brasil, depois dos anos sessenta, quando a cultura entrou em choque com os objetivos do regime militar, seu desenvolvimento foi suprimido aos níveis do submundo, deixando de ser possível a sustentabilidade comercial das atividades culturais. Foi então que, na década de noventa, promulgou-se a Lei nº 8313/91, nominada ROUANET, em função de seu idealizador Sérgio Paulo Rouanet, e que pretendia fomentar a produção cultural do país por meio do mecanismo de renúncia fiscal do Imposto de Renda. De fato, foi preponderante para a alavancagem da mobilização produtiva, pois inseria a iniciativa privada como co-participante, ao lado dos produtores culturais e do estado, como mobilizador e mensurador de resultados sociais. Originalmente, o financiamento se dava em proporção, onde o estado propiciava por meio da renúncia fiscal, algo em torno de setenta por cento e a iniciativa privada o restante, trinta por cento. Algo importante decorre da avaliação dos projetos pelo Ministério da Cultura, a oportunidade de financiamento da produção, mas paralelamente a validação do produto cultural

como apto a ser oferecido ao consumo, por suas características gerais e intrínsecas. Contudo, em certo momento, uma alteração na norma criou situação diferenciada de incentivo, onde até cem por cento do projeto é financiado através de renúncia fiscal, para incentivar mais ativamente algumas áreas de cultura, tais como: a) artes cênicas; b) livros de valor artístico, literário ou humanístico; c) música erudita ou instrumental; d) exposições de artes visuais; e) doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para a manutenção desses acervos; f) produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual; g) preservação do patrimônio cultural material e imaterial; h) construção e manutenção de salas de cinema e teatro, que poderão funcionar também como centros culturais comunitários, em Municípios com menos de 100.000 (cem mil) habitantes. Até certo momento isso foi positivo, porém, com o tempo, verificou-se grande desvirtuamento de objetivos, reduzindo-se o interesse dos patrocinadores apenas a projetos que possuam essas características, em função da amplitude do incentivo integral, desprezando-se os demais projetos com incentivo reduzido. Isso significa que a maioria dos patrocinadores passaram a se interessar somente quando não tinham mais que investir recursos de marketing seus, acabando o estado a ser o único investidor. Há projeto de nova lei cultural revendo essa distorção. Além disso, alguns estados federados possuem suas legislações de incentivo com base no ICM e municípios com base no IPTU/ISS. Projetos ligados ao Patrimônio Cultural, como o Parque Histórico de Carambeí são excelentes exemplos de uso positivo do incentivo fiscal, pois retornam para a sociedade quase gratuitamente o resultado do fomento.

Fábio André Chedid Silvestre

Advogado, Especialista em Direito Empresarial, Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas, Curador do Parque Histórico de Carambeí e Sócio Proprietário do Núcleo de Mídia e Conhecimento

Desenvolvimento e Cultura

As leis de incentivo à cultura

No caso do Brasil, quando a cultura entrou em choque com os objetivos do regime militar, seu desenvolvimento foi suprimido aos níveis do submundo, deixando de ser possível a sustentabilidade comercial das atividades culturais

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Produtos concentrados fazem bem ao meio ambiente Quanto menos produto, menor a embalagem e menor a emissão de carbono no transporte

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Letícia Ferreira

ocê sabe quanto tempo e dinheiro são gastos no transporte de todos os bens de consumo que compra? E, mais importante, sabe a quantidade de gases do efeito estufa (GEE) emitidos na atmosfera durante esse transporte? Para ter ideia, um caminhão a diesel que transita 1000 km por mês emite (calculando sem levar em conta o peso do veículo carregado e a velocidade praticada) no mínimo, 3,6 ton CO2 (fonte: Key associados). Para compensar essa emissão, é necessário o plantio de 15 árvores. É difícil calcular a emissão de todos os meios de transporte que levam produtos das fábricas para o atacado e varejo e, destes, para as residências e os locais públicos em que serão utilizados. Porém, pelo exemplo, pode-se imaginar que é uma quantidade bem maior do que vem sendo compensada, o que traz prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente. A destinação é outra questão importante; segundo dados do Instituto Socioambiental do Plástico (Plastivida), cerca de 2 milhões de toneladas de plástico descartado após o uso se acumulam anualmente no Brasil. Destes, somente 17% é reciclado HD – pela lei brasileira, plástico reciclado só pode ser utilizado na indústria têxtil e na fabricação de cabides, baldes, mangueiras, solados, vassouras, material de escritório e móveis para jardim, por exemplo. Nunca em embalagens de produtos alimentícios ou remédios. Já o de PET tem 41% reaproveitado no Brasil.

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Assim, iniciativas como a produção de menos embalagens ou de embalagens menores para diversos produtos são bem-vindas. Além de diminuir as emissões de GEE com transporte e fabricação, diminui o uso de matérias-primas (principalmente petróleo), o montante de lixo descartado e de dinheiro gasto. Os produtos podem ser comercializados mais baratos ao consumidor final e todos saem ganhando. (ver quadro) É o caso dos produtos de limpeza concentrados, vendidos em embalagens menores, como uma das linhas da Unilever ou a linha completa de produtos de limpeza Simple Clean. “Ao comprar um produto já diluído, o consumidor está comprando água – o que ele já paga (e paga caro) em casa – além da embalagem que depois vai ter de destinar”, diz Renata Ribeiro, proprietária da Simple Clean que, neste mês, inaugura loja em Curitiba e está presente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2012, os produtos chegam a São Paulo e Goiânia. Segundo Renata, além de concentrados, os produtos Simple Clean têm outras vantagens importantes em relação aos similares: são atóxicos, anticorrosivos, não abrasivos e não infla-


máveis, ou seja, não agridem o meio ambiente, não fazem mal à saúde, são menos perigosos em relação a acidentes e não estragam móveis, roupas e objetos em geral. Também geram menos espuma, o que, ao contrário do que se acredita popularmente, não dificulta a limpeza e ainda reduz o consumo de água.

Menos é mais • Os produtos concentrados são tendência de mercado. De acordo com informações da Unilever, nos Estados Unidos, a entrada no mercado do detergente líquido concentrado da marca gerou, em um ano, “uma economia de mais de onze milhões de litros de água, mais de 30 mil litros de diesel e um milhão de gramas de resina plástica. Na área de distribuição, houve uma redução de mais de 16 mil pallets (estrado de madeira para transporte de cargas), um milhão de caixas de papelão e mil horas usadas para descarregamento de caminhões.” Segundo os cálculos da Unilever, no Brasil, a embalagem menor de seus produtos concentrados gera uma economia de 58% de plástico por ano, cerca de 1.600 toneladas. No transporte, há redução de 52% de caixas de papelão e de 67% de pallets (estrados de madeira usados em

transporte de cargas), além de 67% menos caminhões nas estradas. O transporte de produtos tóxicos também gera uma série de demandas relacionadas a leis de envasamento e rotulagem. As embalagens de produtos devem ser aprovadas pelo Ministério da Saúde (Lei nº 6360/1976) em detalhes como material, tamanho, rotulagem e meio de transporte: “devendo a natureza do material escolhido ser compatível com o produto a ser acondicionado, bem como com o seu transporte, oferecendo condições que impeçam quebra, ruptura, vazamento e outros acidentes que possam pôr em risco a saúde humana e o ambiente” (Portaria 10/1980) – Fonte: TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná).

Ver para crer • Renata Ribeiro conta que a prin-

“Ao comprar um produto já diluído, o consumidor está comprando água, além da embalagem maior que depois vai ter de destinar” , Renata Ribeiro, proprietária da Simple Clean

cipal dificuldade na inserção de seus produtos no mercado é que as pessoas não acreditam. Ou melhor, só acreditam experimentando o produto. Por isso, Renata faz demonstrações nas empresas em que é convidada e, quando a venda é fechada, oferece treinamento para o uso correto do produto. Em uma dessas demonstrações, o proprietário da empresa chegou a tirar o produto das GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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“Não é toda hora que você vai ter que fazer a diluição, então, aprendendo na primeira vez e com as medidas certas, não é complicado”, Emerson Faune, administrador da concessionária Honda Fix

mãos de Renata para testar ele mesmo. A empresa compra os produtos Simple Clean até hoje. Com os concentrados, o consumidor da Simple Clean compra também as embalagens apropriadas para pronto uso que vêm com a indicação exata de quantidade de produto concentrado e de água a serem usados, não somente para cada tipo de produto, mas para cada tipo de limpeza. Nas compras seguintes, o produto é vendido em refis que economizam embalagens. A zeladora do condomínio Golden Lake, em Curitiba, um edifício residencial de 20 andares, Terezinha Rodrigues Albach, também tem uma história curiosa para ilustrar como é difícil ao consumidor brasileiro acreditar que, pelo rendimento, o produto é mais barato. Zeladora há dez anos, quando chegou ao condomínio, os produtos Simple Clean já eram utilizados. Porém, um novo síndico achou muito caro e, durante seis meses, fez suas faxineiras usarem produtos comuns, comprados no supermercado. Os moradores do prédio começaram a reclamar que estavam acontecendo muitos escorregões e quedas, e exigiram a volta do produto anterior. Ao fazer os cálculos, o síndico percebeu que não somente vinha usando, nos últimos meses, um produto inferior, como mais caro. Voltou ao Simple Clean: “Hoje mesmo eu estava limpando a escadaria, quando passaram moradores e comentaram como é agradável o cheiro do produto”, diz Terezinha. “Eu, que tenho rinite alérgica, sofria muito com outros produtos.” Emerson Faune, administrador da concessionária de automóveis Honda Fix, também em Curi-

tiba, acredita que produtos diluíveis são bons porque duram mais e economizam tempo. “Não é toda hora que você vai ter que fazer a diluição, então, aprendendo na primeira vez e com as medidas certas, não é complicado”. Para ele, um diferencial da Simple Clean são as demonstrações e os treinamentos de como usar, e as especificações nas embalagens. “Com outros produtos, fazíamos a compra e não nos ensinavam nada”, afirma. Faune solicitou uma demonstração dos produtos porque foram indicados pela Concessionárias Servopa, outra empresa cliente da Simple Clean na capital paranaense. Em março de 2011, solicitou uma demonstração porque precisava comprovar a eficiência, mesmo após ter recebido boas referências do produto. “Depois da demonstração, ficamos com um kit pequeno para teste. Usei e gostei, atendeu às expectativas”, declara. Ele diz ainda que, além de não agredir o meio ambiente, o efeito é melhor que o de outros produtos e não tem cheiro forte, nem estraga superfícies. “Por isso, podemos usá-lo em todos os lugares, o que facilitou a limpeza. As faxineiras também gostam tanto que, em uma ocasião em que me esqueci de fazer o pedido à Simple Clean e tive que comprar outro de emergência, elas logo me cobraram.” O administrador, que antes precisava renovar o estoque de produtos de limpeza todos os meses, agora faz suas compras em intervalos de 3 a 4 meses. O produto mais utilizado na Honda Fix é o Limpeza Pesada em todos os setores, inclusive banheiros e pisos - apenas a área de exposição da loja tem 1200 m².

Normas de destinação de embalagens usadas de produtos de limpeza • Não reutilizar as embalagens vazias. • Nunca utilizar embalagens vazias de bebidas para acondicionar produtos saneantes. • Lavar bem as embalagens vazias utilizando somente água no enxágue. • Após bem lavadas, as embalagens devem ser separadas de acordo com o material de fabricação e, se não houver restrições devido ao tipo de produto que acondicionavam, destinadas preferencialmente a processo industrial de reciclagem. • As embalagens de produtos que estão em uso devem ser mantidas bem fechadas e identificadas. • Caso os produtos não sejam utilizados até o fim, não misturar as sobras com outros produtos, nem adicioná-las a produto recém aberto. • Deve-se evitar o descarte de saneantes diretamente na rede pública de esgotos, sem que tenham sido previamente tratados – neutralizados e/ou inativados, conforme o caso (verificar com o fornecedor os métodos de tratamento e descarte adequados ao produto). Fonte: Gerência Geral de Saneantes da Agência Nacional de Saúde.

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Desenvolvimento Local

Setor de sustentabilidade ganha representatividade no Brasil Criação de associação que reúne profissionais da área traz força para segmento Lyane Martinelli

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crescimento da sustentabilidade no Brasil vem fazendo com que mais profissionais se dediquem a esse segmento, buscando garantir que ações diferenciadas sejam colocadas em prática em prol de um mundo com mais responsabilidade e cuidado com o meio ambiente. Por isso, é importante que os profissionais que se dedicam a essa área tenham representatividade não só para defender sua atuação, mas também para mostrar a força e a importância do investimento em sustentabilidade e em quem possa colocá-la em prática. A Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade) nasceu da união desses profissionais que vêm se dedicando ao processo de sustentabilidade no país. De acordo com Daniella Mac Dowell, coordenadora de Expansão da ABRAPS e representante do Grupo Sul, a entidade vem conectar e fortalecer a atuação do profissional da sustentabilidade no país. “De acordo com sua visão, a associação busca ser referência como movimento de profissionais que atuam decisivamente em processos e iniciativas com foco na sustentabilidade para a preservação

da vida. Entre seus objetivos estão representar formalmente os profissionais de sustentabilidade na defesa de seus interesses, tornando a atividade legítima e reconhecida na sociedade. Além disso, busca articular e mobilizar profissionais dedicados ao assunto na sociedade, compartilhando, fomentando e construindo o conhecimento”, define. Para atuar na esfera da defesa de interesses, reivindicações e anseios desses profissionais, a Abraps está investindo na criação de espaços de articulação e mobilização, com o intuito de integrar seus associados, a sociedade e as entidades representativas. “Na prática, a Abraps promove e participa de eventos, encontros e cursos de capacitação e formação, além de realizar diversas pesquisas, gerar publicações e desenvolver e alimentar interfaces on-line (portal/blog/redes sociais), sempre com o fim de representar, conectar e fortalecer a atuação do profissional da sustentabilidade”, explica Daniella. Inovadora dentro do mercado brasileiro, a Abraps vem ocupar uma lacuna existente no mercado brasileiro relacionado à sustentabilidade.

“Até o nascimento da ABRAPS, não havia no Brasil nenhum fórum ou espaço onde os profissionais pudessem se encontrar e trocar informações e conhecimentos como pessoa física”, Daniella Mac Dowell, coordenadora de Expansão da ABRAPS e representante do Grupo Sul

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Desenvolvimento Local

Uma das características da Abraps é ser focada no profissional como pessoa física, ou seja, não está atrelada a partidos, organizações ou instituições que atuam dentro da associação.

“Até o nascimento da Abraps, não havia no Brasil nenhum fórum ou espaço onde os profissionais pudessem se encontrar e trocar informações e conhecimentos como pessoa física, e não jurídica. Todos os espaços dedicados à discussão de temas relacionados à sustentabilidade até então tinham um foco organizacional, sendo empresarial, governamental ou do terceiro setor. O profissional trazia nesses espaços sua atuação, mas somente sob a ótica da organização que representava, da instituição onde estava inserido”, relembra Daniella. A proposta é que sejam discutidos abertamente desafios, soluções e necessidades que são comuns aos profissionais de sustentabilidade, não importando em qual organização ou instituição eles atuem. Uma das características da Abraps é ser focada no profissional como pessoa física, ou seja, não está atrelada a partidos, organizações ou instituições que atuam dentro da associação. Assim, com o foco no profissional, é possível identificar as necessidades e dificuldades da classe

dentro do sai a dia de sua atuação. “Estamos percebendo que, além de necessidades comuns, existem necessidades diferentes dependendo do setor ou até mesmo da região do Brasil onde esse profissional atua, e nosso desafio é definir quais as prioridades dentro das necessidades mapeadas em cada setor ou região”, comenta. Desde que o trabalho da associação começou, em setembro de 2011, já foram feitos mapeamentos dos profissionais de sustentabilidade, definindo perfil, local de atuação, formação, necessidades, pisos salariais e as diferenças entre os profissionais das diversas regiões do país. “Com esse mapeamento resultando em ações práticas de fortalecimento, conexão e troca de conhecimento entre profissionais, seremos capazes de contribuir para um salto significativo de qualidade na atuação desses profissionais, proporcionando um desenvolvimento sustentável consistente em diversos setores e em todo o país. Assim, além do próprio profissional, toda a sociedade se beneficia”, salienta Daniella.

Conheça melhor a Abraps Missão Representar, conectar e fortalecer a atuação do profissional da sustentabilidade

atividade legítima e reconhecida na sociedade; • Articular e mobilizar profissionais dedicados ao assunto na sociedade; • Compartilhar, fomentar e construir conhecimento

Visão Ser referência como movimento de profissionais que atuam decisivamente em processos e iniciativas com foco na sustentabilidade para a preservação da vida

Benefícios Potenciais • Participação na rede; • Ferramenta online: acesso à área restrita com indicação de vagas no mercado e banco de CVs; • Recebimento prioritário dos resultados das pesquisas realizados e/ou apoiados ela ABRAPS; • Descontos em eventos, palestras, seminários e cursos; • Descontos em espaços, restaurantes, livrarias e serviços conveniados; • Criação e participação em Câmaras Temáticas; • Recebimento de newsletter

Valores • Ética • Respeito • Coerência • Comprometimento • Equilíbrio Objetivos • Promover ações que busquem o desenvolvimento sustentável; • Representar formalmente os profissionais de sustentabilidade na defesa de seus interesses, tornando a 30

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Contatos • abraps2011@gmail.com • http://abraps.blogspot.com • http://twitter.com/abraps • http://verd.in/jzo • http://www.facebook.com/abraps


A

rtigos que se iniciam pela óbvia constatação de que o mundo mudou – ou que está mudando – costumam perder minha atenção imediatamente. No entanto, não encontro outra maneira de introduzir a reflexão que quero trazer a você. Se tiverem paciência, prometo tentar chegar a uma conclusão relativamente interessante. A globalização, criando mercados mais amplos e vorazes; a evolução tecnológica, gerando a comoditização de bens e serviços; o hiperconsumo, estabelecendo uma era calcada pela obsolescência programada; o crescimento exponencial da velocidade e acesso à informação, resultando em consumidores mais informados e instrumentalizados. Essas são apenas algumas das mais recentes e significativas mudanças do panorama mercadológico que têm exigido novas estratégias competitivas das empresas. Dois movimentos derivam desse contexto: a) estratégias de posicionamento calcadas na diferenciação tornam se fundamentais e, dado o dinamismo do novo ambiente, a formulação dessas estratégias pauta se prioritariamente pela gestão dos recursos internos disponíveis nas empresas, em especial os intangíveis, com destaque para as marcas; b) a evolução tecnológica populariza a internet, garantindo à interatividade crescente destaque no cotidiano dos consumidores e, com o advento das redes sociais, inverte pela primeira vez a lógica do brodcast, oferecendo às pessoas o protagonismo de suas relações com as marcas. Essas perspectivas aparentemente distantes se encontram quando, para se diferenciarem, as marcas passam a se apoiar em causas inicialmente desconectadas de sua realidade mercadológica, associando se a demandas emocionais dos consumidores. Se chegou até aqui, você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a Geração Sustentável? Diversos fatores amplamente discutidos nesta publicação garantiram à sustentabilidade lugar de destaque entre as alternativas de associação de valor subjetivo às marcas. Por outro lado, quando uma empresa usa esse conceito de maneira desvinculada de

sua estratégia de negócios, dá origem ao fenômeno denominado greenwashing. Pode se imaginar que a nova voz e o poder conquistados com a popularização das redes sociais ofereceriam ferramental definitivo para fiscalização do alinhamento entre as estratégias de negócios e comunicação das empresas e, mais importante, para penalizar as marcas que agem assim. O sempre atual Manifesto Cluetrain, de 1999 (vale a pena acessar: http://www.cluetrain.com) defende que mercados são conversações e que a internet está permitindo interações que simplesmente não eram possíveis antes. A capacidade de mobilização potencial daí derivada é enorme e já é certo que uma causa de interesse coletivo tem capacidade de engajar pessoas por meio das redes sociais. Um exemplo definitivo disso é a “Primavera Árabe”, que resultou na renúncia de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, após ter como reconhecido catalizador as manifestações do povo egípcio através do Twitter e do Facebook. A pergunta essencial, no entanto, é: uma marca que promete algo e não cumpre é capaz de mobilizar a mesma atenção? Hoje, a resposta ainda parece ser um sonoro “não”. Apesar da clara tendência que começa a se configurar, hoje as reclamações nas redes sociais costumam ter resultados inócuos. Isoladas, mesmo que sejam capazes de gerar o envolvimento e a resposta da empresa, elas pouco influenciam a imagem da marca, que em geral é bastante eficaz em desassociar‐se de eventos pontuais. No entanto, mesmo que as redes sociais ainda atuem de maneira embrionária no que diz respeito à sua capacidade de cobrar um posicionamento coerente das marcas, elas geram uma oportunidade real de mobilização de comunidades de consumidores mais maduros e politicamente orientados. Enfim, hoje detemos uma ferramenta inédita que, mais do que nos garantir voz, como é constantemente alardeado, garante-nos capacidade real de mobilização. Se promessa é dívida, cabe a nós, consumidores, exigir seu pagamento. Vamos cobrar juntos?

Gestor em Marcas e Comunicação

Gestão Estratégica

Promessa é dívida?

Leandro Frederico de Bastos Martins

Se promessa é dívida, cabe a nós, consumidores, exigir seu pagamento. Vamos cobrar juntos?

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Gestão de Resíduos

Crianças aprendem a dar outro destino para resíduos orgânicos Projeto de compostagem orgânica denominado Minhocagem leva a educação ambiental para as crianças que transformam lixo orgânico em adubo Aline Presa

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é Nhoco é uma personagem minhoca criada para ajudar crianças a entender e praticar o processo de compostagem orgânica. Numa história ao lado de Seu Sujeira, Tico Bala, Mujinho, Mestre Zangão e Miguel - personagens desenvolvidos pelo ilustrador Crisrobert Caires - Zé Nhoco trabalha na transformação dos resíduos orgânicos em húmus assim como acontece no projeto Minhocagem, que

além de conscientizar crianças sobre os cuidados com a natureza, despertando o interesse pela compostagem orgânica e pela preocupação com o lixo, dá um destino correto aos resíduos orgânicos que são transformados em fertilizantes. O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, lançado pela ABRELPE em 2010, incluindo dados do IBGE, revelam que um habitante produz em média 1,079 Kg de lixo por dia, gerando no total


fotos: divulgação

cerca de 173.583 toneladas de resíduos ao ano. A comparação entre os dados de 2009 e 2010 apresentados na pesquisa identificam um aumento de 5,3% no índice per capita de geração de resíduos sólidos do Brasil como um todo e um acréscimo de 6,8% na quantidade total gerada em relação ao ano anterior. De modo geral, grande parte do lixo produzido no Brasil é reciclado, outra parte, principalmente o lixo orgânico, o que corresponde a mais de 50% do lixo doméstico produzido, é enviada para os aterros. Para diminuir essa quantidade de lixo enviada para os aterros, a alternativa de se produzir húmus, adubo que pode ser utilizado na melhoria das hortas, plantas e jardins, foi desenvolvido o projeto de educação ambiental infantil denominado Minhocagem. O projeto de compostagem orgânica realizado por micro-organismos e pelas minhocas foi criado pela empresa R8, que traba-

lha com a consultoria ambiental, serviços de compostagem orgânica em geral e com a gestão de resíduos sólidos para qualquer tipo de empresa. Realizado em instituições de ensino, clubes e espaços de Curitiba onde há interesse em se aplicar a compostagem orgânica, o projeto é desenvolvido em diferentes formatos com a preocupação em se adaptar as idades dos participantes que varia entre 3 e 12 anos, conforme explica a engenheira química e idealizadora do projeto Ana Carolina de Macedo Sant´Ana. Ela conta que já realizava a compostagem em sua casa e que a ideia inicial do trabalho surgiu a partir da necessidade de dar destino correto ao orgânico, trabalhando inicialmente essa questão por meio da educação infantil. “O trabalho é flexível, posso apenas explicar as crianças o que é a compostagem e como é feita, até desenvolver um trabalho contínuo com a instalação de uma composteira”, afirma a engenheira. Este úl-

“O trabalho é flexível, posso apenas explicar as crianças o que é a compostagem e como é feita, até desenvolver um trabalho contínuo com a instalação de uma composteira”, engenheira química e idealizadora do projeto Ana Carolina de Macedo Sant'Ana

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Gestão de Resíduos

A educação ambiental pode fazer parte do currículo escolar de maneira transversal com desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

timo é um programa de meses e por ter uma continuidade, afirma Ana, “faz com que as crianças percebam na prática como uma banana pode se transformar em adubo”. A educação ambiental pode fazer parte do currículo escolar de maneira transversal com desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações. No colégio Santa Maria, na capital paranaense, por exemplo, as crianças das turmas dos primeiros anos participam do projeto Minhocagem e ajudam a cuidar de uma composteira instalada na instituição. Segundo a coordenadora psicopedagógica do estabelecimento de ensino, Antoniella Polinari Cavassin, a iniciativa faz parte de um projeto ainda maior em que as

crianças aprendem sobre o desperdício, reciclagem, reeducação e reutilização. “As crianças já tem uma consciência muito grande e demonstram uma mudança na postura em não gerar excedentes e excesso de lixo. Assim, o projeto soma com esse trabalho de redução de consumo e produção de lixo”, afirma Antoniella explicando que apesar de ainda não ter sido obtido o húmus, este é um projeto para o ano que vem, onde será trabalhada a questão da decomposição e o destino final do material. A idealizadora do projeto Minhocagem conta que a apresentação do tema e das personagens pode ser feita por meio de uma palestra, de atividade prática e da distribuição de material


ilustrativo. Uma atividade lúdica, por exemplo, foi realizada durante apenas uma tarde com as crianças do Clube Curitibano que trabalharam a gestão de resíduos em uma colônia de férias. Além da compostagem orgânica, também são abordados os assuntos lixo, sua problemática, reciclagem entre outros - sempre com a participação intensa das crianças. “Com as composteiras nas escolas, as crianças sentem-se responsáveis pelas minhocas e levam para o lanche alimentos mais saudáveis para que possam alimentar as minhocas com os restos”, afirma Ana sobre o fato do projeto também estimular melhorias na alimentação,

no senso de responsabilidade, na relação com a natureza e consequentemente, na qualidade de vida dos participantes. Para o ano que vem, a engenheira expõe que novos trabalhos relacionados ao tema estão sendo preparados com atividades envolvendo palestras, apresentações de teatro, confecção de novos materiais educativos, etc. Para os interessados em aplicar a compostagem orgânica em suas residências contribuindo também com a sustentabilidade, a R8 Ambiental comercializa ainda kits de compostagem, húmus e fertilizante líquido. Os produtos são comercializados na página do projeto: www.minhocagem.com.br

Conheça Zé Nhoco e seus amigos O Zé Nhoco é o principal personagem de nossa história! É a minhoca que junto com seus familiares e amigos, trabalha na transformação dos resíduos orgânicos em húmus. O Zé Nhoco é uma minhoca muito esperta e inteligente, pois além de fazer esse belo trabalho, incentiva as crianças a cuidarem mais da natureza. O Seu Sujeira é um urubu que vive nos lixões. Ele e outros urubus, ratos, moscas e baratas vivem do lixo e desta forma acabam causando sérios problemas ao meio ambiente e à saúde. O Tico Bala é um dos amigos do Zé Nhoco que o ajuda a cuidar da natureza. É um passarinho tico-tico que carrega o Zé Nhoco para fazer a vaporização do líquido fertilizante sobre as plantas. O Mujinho é outro amigo da natureza: Um caramujo que carrega o Zé Nhoco, o húmus e o líquido fertilizante formados até o encontro do Tico Bala e do Miguel. O Mestre Zangão é o professor no mundo do Zé Nhoco. Ele ensina toda a turma a como cuidar melhor da natureza e ensina as crianças a tomarem as atitudes corretas para ajudar a recuperar o meio ambiente. O Miguel já participa do PROJETO MINHOCAGEM. É ele o responsável por colocar os resíduos orgânicos na casa do Zé Nhoco e também por retirar o húmus formado e colocá-lo nas plantas e hortas. O Miguel representa todas as crianças que participam do PROJETO MINHOCAGEM e que cuidam da natureza.

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GESTÃO

jerÔnimo mendes Administrador, Consultor, Professor Universitário e Palestrante. Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local

Ter uma grande ideia não significa ter sucesso. Colocá-la em prática e trabalhar consistentemente para a sua execução é a melhor ideia.

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SUS EN ÁVEL Inovação e espírito empreendedor

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uando Bill Hewlett e Dave Packard se reuniram, em 23 de agosto de 1937, para discutir a formação da Hewlett-Packard, eles não tinham a mínima ideia do que a empresa faria. A única coisa que sabiam é que queriam abrir uma empresa em sociedade no promissor campo da engenharia eletrônica. Segundo James Collins e Jerry I. Porras, autores do best seller Feitas para durar, Hewlett e Packard decidiram primeiro abrir a empresa e depois resolveriam o que poderia ser feito. Eles simplesmente começaram a trabalhar, tentando tudo o que pudesse tirá-los da garagem e pagar as contas de luz. No início, a HP fabricava de tudo, desde indicadores de linha de colisão para boliche, mecanismos de relógio para telescópios, mecanismos para acionamento automático de descargas em banheiros públicos até uma máquina de choques para fazer as pessoas perderem peso. O indicador da linha de colisão para boliche não revolucionou o mercado. A descarga automática para mictórios e as máquinas de choque para emagrecimento também não chegaram a lugar nenhum. Na verdade, a empresa foi andando aos trancos e barrancos durante mais ou menos um ano antes da sua primeira grande venda: oito áudio-osciloscópios para uso no filme Fantasia, produzido pela Disney. Apesar dos reveses e das poucas perspectivas de sucesso, a HP continuou meio sem direção, aos trancos e barrancos, com uma série de produtos, até receber o empurrão com contratos assinados durante a guerra no início da década de 1940 quando, finalmente, decolou. Da mesma maneira que Hewlett e Packard, Sam Walton, fundador da rede de supermercados Wall Mart, também começou sem uma grande ideia. Ele abriu seu negócio com nada mais do que a vontade de trabalhar para ele mesmo, um pouco de conhecimento e muita paixão pelo varejo. Walton começou em 1945, com a franquia de uma lojinha Ben Franklin na cidadezinha de Newport, no Estado do Arkansas e, segundo suas próprias palavras, não tinha a menor ideia do escopo do negócio que estava começando. O negócio foi se desenvolvendo aos poucos, passo a passo, a partir daquela lojinha,

até que a grande ideia de uma loja rural de descontos surgiu com uma etapa evolutiva natural quase duas décadas depois de ele ter aberto a sua empresa. A 3M começou como uma mina falida de corundum, mineral utilizado na indústria de abrasivos, deixando seus investidores com ações cujo valor de venda era equivalente a “duas ações por uma dose de uísque barato”. Sem saber o que mais fazer, a empresa começou a fabricar lixas. A 3M começou tão mal que o seu segundo presidente não recebeu salário durante os seus primeiros onze anos de posse. Entre os seus cinco fundadores, não havia nenhum inventor ou cientista renomado. Eram todos homens comuns: um médico, um açougueiro, um advogado e dois executivos ligados à indústria de ferrovias que identificaram a oportunidade de ganhar dinheiro vendendo o mineral. Atualmente, a 3M - Mineraçao e Manufatura de Minesotta - é um exemplo de empresa que leva a estratégia da inovação ao patamar de prioridade absoluta, entretanto, já na década de 1930, uma série de decisões gerenciais promovidas por William McKnight, elegeu a inovação como foco principal da estratégia de negócios da empresa. O que todas essas empresas têm em comum? Em primeiro lugar, nenhuma delas começou com uma “grande ideia”, ou seja, uma ideia inovadora e revolucionária do ponto de vista da tecnologia. Em segundo lugar, todas tiveram que mudar, de maneira radical, a sua forma de trabalhar para atingir o público-alvo desejado. Na realidade, a combinação entre o espírito empreendedor e irrequieto de seus fundadores e a necessidade de inovar para sobreviver foi o que definiu o seu perfil de atuação no mercado. Ter uma grande ideia não significa ter sucesso. Colocá-la em prática e trabalhar consistentemente para a sua execução é a melhor ideia. De acordo com Peter Drucker, o grande guru da administração moderna, “Empreendedores procuram por mudanças, portanto, olhe para cada janela perguntando-se: Isso poderia ser uma oportunidade? Não perca algo somente porque não faz parte de seu planejamento. O inesperado é frequentemente a melhor fonte de inovação”.



Energias Renováveis

Cenário para a comercialização de carros elétricos no Brasil ainda não é favorável Falta de regulamentação, de incentivos fiscais e isenções de tributos impedem consumidores de adquirirem carros não poluentes Karla Ramonda

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primeiro protótipo de carro elétrico brasileiro foi o Itaipu, fabricado pela Gurgel em 1974, cuja motivação foi a crise do petróleo no ano anterior. Com o avanço tecnológico automobilístico ao longo dos anos e a necessidade de uma realidade amplamente sustentável, a expectativa é de que as vendas de automóveis elétricos no Brasil ocorram em breve. Ainda que uma comercialização deslanchada desses veículos venha a ser vantajosa ao planeta pelos baixos impactos ao meio ambiente e esteja em promissor crescimento em países como Japão

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e França, o cenário em nosso território conta com vários entraves. Os principais obstáculos que inviabilizam o incentivo à comercialização de carros elétricos no Brasil envolvem incentivos fiscais, isenções tributárias e toda uma legislação não regulamentada. Segundo o presidente da Aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn – que palestrou na Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, em outubro de 2011 – para que esses veículos possam circular no país, há a necessidade de cooperações privada e pública.


divulgação

cebem 7.500 dólares do Governo Federal quando o consumidor adquire um carro elétrico; França, 5 mil euros, e Japão, 700 mil Yyenes. “Os governos decidiram assim porque se trata do interesse deles, o que os levam ao corte da dependência do petróleo (porque são países importadores) e à redução de todos os problemas relacionados à emissão de gases poluentes”, conta. Os incentivos financeiros atribuídos às montadoras acabam sendo repassados ao consumidor final.

Preço • O Nissan Leaf, caso pudesse ser vendido no Brasil, custaria entre R$ 80 mil e R$ 110 mil. A princípio, a ideia é de um valor nada competitivo. Mas, segundo o presidente da marca, se os carros – em geral – estão muito caros não é porque as montadoras são “gulosas”. “A causa disso está relacionada primeiramente à tributação, que no Brasil é bárbara para os automóveis. O governo chega a levar de 40% a 48% do valor de um carro. Trata-se da maior tributação de todos os países desenvolvidos ou em desenvolvimento”, afirma. O segundo aspecto citado diz respeito a outros setores do país que não são competitivos e cujos valores acabam interferindo no preço final dos automóveis, como o do aço, apontando o Brasil como o maior produtor, porém, com o maior preço de venda do mundo. Apesar da falta de competitividade no preço e na impossibilidade atual de comercialização dos elétricos no país, a montadora japonesa Nissan investiu no marketing de apresentação do modelo. Nos últimos meses, a empresa trouxe uma frota de dez unidades do Leaf e do compacto March, para ser mostrada ao público no chamado Nissan Inova Show (evento que levou a “experiência da marca” para 30 cidades brasileiras), e também para provar ao governo brasileiro a viabilidade da tecnologia.

“O Nissan Leaf – modelo de um 100% elétrico apresentado aqui, recentemente – não pode ser comercializado porque não existe infra-estrutura”, referindo-se à falta de postos de abastecimento e a oficinas mecânicas especializadas. “Se não há cooperação privado-pública, não tem carro elétrico”, disse Ghosn, que também afirmou não acreditar no futuro para a indústria automobilística se ela não se desengajar do petróleo. Para exemplificar uma das formas de incentivar a comercialização dos carros elétricos, o presidente da Renault-Nissan citou os EUA, que re-

“No Brasil se não há cooperação privadapública, não tem carro elétrico” , Carlos Ghosn, presidente da Aliança Renault-Nissan

Projeto de Lei propõe menor tributação a carros elétricos • A Câmara analisa proposta que isenta os automóveis elétricos, bem como suas peças, do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A medida está prevista no Projeto de Lei nº 2092/11, que também isenta a comercialização desse tipo de produto do pagamento de PIS/Pasep e Cofins. O objetivo da proposta, segundo seu autor, o deputado Irajá Abreu (PSD-TO), é incentivar a utilização de veículos de motor elétrico em detrimento daqueles de combustão. “O emprego desses veículos trará ganhos extraordinários para a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Energias Renováveis

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elevação da qualidade de vida dos habitantes das metrópoles e promoverá sensível diminuição das despesas com serviços públicos de saúde decorrentes dos males causados pela poluição provocada pelos automóveis convencionais”, argumentou. A proposta também prevê o crescimento progressivo do uso de veículos elétricos na frota oficial. Pelo projeto, os automóveis elétricos deverão representar, num prazo de dez anos, pelo menos 20% do total de carros comprados ou alugados pelos governos.

Eficiência Energética • Um dos principais pontos favoráveis à mudança, afirma seu autor, é a maior eficiência energética dos veículos elétricos, uma vez que eles consomem menos da metade da energia requerida por um automóvel convencional da mesma categoria. Irajá Abreu afirma ainda que, quanto ao aspecto ambiental, é importante lembrar que o se40

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tor de transporte é aquele que possui maior peso na emissão de gases de efeito estufa de origem energética no Brasil. O setor elétrico, por outro lado, produz emissões bem menos relevantes, uma vez que, em nosso país, aproximadamente 85% da eletricidade gerada é originada de fontes renováveis, principalmente a hidráulica.

Economia • O deputado explica que essa mudança deverá garantir, além de benefícios ambientais, economia aos cofres públicos. “Em relação ao custo por quilômetro rodado, a vantagem dos veículos elétricos é expressiva, chegando a um quarto do custo relativo aos carros movidos a gasolina”, disse. A proposta, que tramita de forma conclusiva, será analisada pelas comissões de Minas e Energia; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Constituição e Justiça e de Cidadania; e Finanças e Tributação, inclusive no seu mérito. (Fonte: Agência Câmara).


Características do Nissan Leaf Geração Sustentável: O Leaf é uma realidade para os mercados onde será vendido. No Brasil, o modelo veio apenas para mostrar ao público que a tecnologia já existe? Yochio Ito (Gerente de Engenharia da Nissan do Brasil): O Nissan Leaf é uma das estrelas do Nissan Inova Show, evento organizado pela marca que acontece nos fins de semana em uma grande cidade do país durante um ano. A ideia é possibilitar aos brasileiros conhecer a tecnologia de um carro 100% elétrico e apresentar toda a gama de veículos da marca. Qual a proposta de uso: urbano? Estrada? Por quê? O Nissan Leaf foi pensado para ter uma autonomia de 160 km com uma carga, pois, de acordo com pesquisas feitas pela Nissan, é uma distância que atende com folga à mobilidade urbana, já que muitas pessoas não percorrem mais do 50 km por dia. Qual a durabilidade das baterias para o modelo? As baterias têm garantia de dez anos, com autonomia de 160 km. O que compõe as baterias do elétrico Leaf e o que isso significa? As baterias são de íon-lítio e posicionadas no assoalho do veículo, possibilitando melhor distribuição do peso e melhorando a condução. Elas são projetadas para maximizar o tempo de direção e minimizar o tempo de carregamento. São recarregáveis em quanto tempo? O modelo oferece várias opções para carregamento. Uma porta de recarga de 220V é localizada na dianteira, juntamente com uma porta para o cabo portátil de carga lenta (110V). A porta de recarga rápida permite recarga de 80% da capacidade em 30 minutos em estações de recarga públicas. Há também um aerofólio com painel solar fotovoltaico que suporta o carregamento de 12 volts, fornecendo energia para os acessórios do carro. Os freios também são equipados com um sistema que ajuda a regenerar (recarregar) as baterias, transformando a energia cinética das frenagens em eletricidade.

O projeto de Lei nº 2092/11 prevê que os automóveis elétricos deverão representar, num prazo de dez anos, pelo menos 20% do total de carros comprados ou alugados pelos governos.

Qual o desempenho e a velocidade final? Em termos de desempenho, o Nissan Leaf apresenta números muito interessantes. O moto elétrico gera 107 cavalos de potência e 28,5 kgfm de torque. A velocidade máxima é de 150 km/h. Qual o peso do modelo? 1.256 kg, sendo apenas 300 kg de bateria. O que falta de infraestrutura nas estradas para viajar com um elétrico? Seja onde for, é necessária uma tomada elétrica aterrada ou pontos de recarga rápida. Assim, para tornar o uso do modelo em uma viagem, por exemplo, seria importante ter eletropostos ou locais próprios nos trajetos com tomada para o carregamento. Qual o custo do abastecimento/mês com uso diário? Cada região do país tem uma tarifa para o uso da energia. E seu custo de rodagem é três vezes menor que o de um veículo abastecido com gasolina equivalente. Por que o valor comercial é alto? Como ocorre com toda nova tecnologia em um primeiro momento, seu custo é elevado até que seja produzida em massa. Após atingir uma quantidade suficiente na produção, o carro elétrico não necessitará de incentivos governamentais para se tornar acessível. Este é o próximo passo do Nissan Leaf, que já vendeu mais de 20 mil unidades em todo o mundo em seu primeiro ano de mercado.

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Antenor Demeterco Neto

Destaque Jurídico

Advogado especializado em Direito Empresarial Público. Doutorando em “Direito Econômico e Socioambiental”. Mestre em “Organizações e Desenvolvimento”. Membro da Academia Paranaense de Direito e Economia.

É preciso que o Paraná, dentro de suas atribuições constitucionais, estabeleça um renovado e abrangente marco regulatório legal de infraestrutura logística.

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Logística e desenvolvimento econômico sustentável

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Comunicado de n.º 71 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgado em dezembro de 2010 apresentou algumas informações reveladoras no que se refere à posição ocupada pelo Paraná no cenário econômico nacional. Basicamente, esse estudo demonstrou que, entre os anos de 1995 e 2008, o Paraná participou com apenas 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ocupando com Tocantins uma incômoda 9ª posição, abaixo, por exemplo, de estados como Pará e Goiás. Esse fraco desempenho mostra que nos últimos anos o Paraná não contou com uma agenda governamental capaz de planejar e implementar ações públicas voltadas ao desenvolvimento econômico sustentável. E as razões disso vão desde o posicionamento ideológico adotado, ou seja, a forma como até então se encarou o papel do Estado na economia, até a simples e recorrente falta de recursos. Para se reverter um quadro como esse, de quase estagnação, é preciso justamente a formatação de políticas públicas direcionadas a áreas estratégicas ao desenvolvimento econômico sustentável, entre as quais destaca-se, em específico, o aproveitamento da vocação logística do Paraná, com a devida renovação e manutenção da sua infraestrutura. Pode-se dizer, em termos gerais, que a infraestrutura logística é constituída pelos modais rodoviário, ferroviário, aquaviário, dutoviário e aéreo, bem como pelos portos, aeroportos, terminais de embarque e carregamento, conexões intermodais e instalações de armazenagem. É notório que investimentos públicos e/ ou privados em infra-estrutura logística são estratégicos para um desenvolvimento econômico sustentável, uma vez que propiciam maior regresso dos insumos da iniciativa privada, incentivam o investimento, criam empregos e vitalizam a atividade econômica.

No entanto, após a crise financeira da década de 1980 que abalou as estruturas das administrações públicas dos diversos países que adotaram o modelo de Estado social, inclusive o Brasil, e que, por conseguinte, culminou na escassez dos recursos públicos, iniciou-se o debate sobre de que forma o Estado poderia intervir nos segmentos estratégicos de infraestrutura sem tutelar excessivamente o mercado, mas também garantindo os investimentos necessários e a qualidade dos serviços públicos prestados. Foi então que surgiu no cenário nacional o instituto da regulação, consubstanciado numa modalidade de intervenção estatal indireta no ambiente socioeconômico, caracterizado por utilizar-se da atribuição essencialmente normativa do Estado para disciplinar as atividades socioeconômicas das iniciativas privada e pública, com o objetivo de garantir e realizar interesses públicos fundamentais, entre eles, o do desenvolvimento econômico sustentável. No caso do Paraná, a regulação criaria um ambiente perfeito para a captação de recursos destinados a revitalizar e incrementar a sua infra-estrutura logística, bem como seria um importante instrumento de controle da qualidade dos serviços públicos a serem prestados pela iniciativa privada e também pelo próprio Estado. Mas, para tanto, é preciso que o Paraná, dentro de suas atribuições constitucionais, estabeleça um renovado e abrangente marco regulatório legal de infra-estrutura logística. Com uma política pública voltada ao segmento de logística, com regras claras e combinada com instrumentos regulatórios, o Paraná poderá se tornar o polo logístico do MERCOSUL, com capacidade para atender, além das suas próprias necessidades, também as de outros estados e países, e, inclusive, as futuras demandas que a exploração do Pré-Sal trará ao Brasil.



Responsabilidade Social

c o r p o r a t i v a

“O papel dos conselheiros é de trocar informações de como se fazer a chamada responsabilidade social corporativa, fortalecendo a sinergia entre empresas, promovendo e conhecendo práticas e projetos voltados ao indivíduo””, Rosane Fontoura, coordenadora do CPCE

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

O

ano de 2011 foi um ano de comprometimento com a questão da sustentabilidade para muitas empresas e instituições paranaenses. Com os desafios do crescimento econômico frente à necessidade de se trabalhar projetos de responsabilidade social corporativa, o Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial, criado em 2004 pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) para promover o desenvolvimento sustentável do estado, conclui mais um ano de atividades somando mais de 300 conselheiros, ou seja, presidentes de instituições participantes do Conselho, espalhados em diferentes municípios. Segundo a coordenadora do Conselho, Rosane Fontoura, o papel dos conselheiros é trocar informações de como fazer a chamada responsabilidade social corporativa, “fortalecendo a sinergia entre empresas, promovendo e conhecendo práticas e projetos voltados ao indivíduo”. Apenas na XIV Reunião do Conselho Superior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial, realizada no dia 9 de dezembro, foram anunciados 20 novos conselheiros, situação em que os novos vice-presidentes das regionais instaladas em Londrina, Campos Gerais e Cascavel foram apresentados, e expostos os projetos realizados em 2011 e os propostos para o ano de 2012. Mais de 90 conselheiros, empresários e representan-

tes de sindicatos, instituições educacionais e organizações terceiro setor participaram deste evento e receberam as boas vindas do presidente executivo do CPCE, Victor Barbosa e do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, Edson Luiz Campagnolo. Além do estabelecimento de núcleos regionais, parcerias estratégicas foram firmadas pelo Conselho neste ano como, por exemplo, com Câmaras Bilaterais, OAB, GRPCOM, estado e municípios, estando ainda à frente de campanhas de adesão ao Pacto Global - iniciativa que visa mobilizar a comunidade empresarial para a adoção, em suas práticas de negócios, dos valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. No último dia 6 de dezembro, a prefeitura de Maringá e mais 20 empresas, instituições de ensino e organizações não governamentais da região Noroeste do Paraná, assinaram o termo de compromisso com a iniciativa, com a presença do presidente executivo do CPCE, Victor Barbosa e do prefeito de Maringá, Silvio Barros, no Hotel Elo da cidade. Maringá é a terceira cidade no Brasil a aderir ao Pacto Global, sendo Porto Alegre e Ortigueira as outras duas. As empresas de Maringá e outras que são signatárias do Pacto dão o exemplo na prática


Gilson Abreu

Paraná se mobiliza para o desenvolvimento sustentável Ações do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial ajudam empresas e instituições a agirem pensando no bem-estar de toda a comunidade Aline Presa

de como fazer essa iniciativa acontecer, afirma a coordenadora do CPCE, Rosane Fontoura. “Isso só contribui com a inovação da empresa, com a competitividade, otimização dos custos de produção, valorização dos stakeholders, etc”, afirma ela sobre como uma empresa voltada à colaboração ao desenvolvimento sustentável ajudando no desenvolvimento local das comunidades em que estão inseridas é positiva nos aspectos econômico, social e ambiental. A FGV foi uma das primeiras instituições do Brasil a assinarem o Pacto Global em 2001, quando eram permitidas apenas empresas a serem signatárias. Para o presidente do ISAE/FGV, Norman de Arruda Filho, sendo signatária do Pacto a instituição colabora na formação de lideranças, na participação do comitê brasileiro da comissão educacional, incentivo a pesquisas e criação de estudos de caso que mostram exemplos de como fazer àqueles que querem e não sabem como, na divulgação e implementação dos princípios que norteiam o Pacto como a educação responsável de qualidade bem como no dia a dia da estrutura da instituição com práticas como o reaproveitamento da água, reutilização de papel, certificações, entre tantas outras ações. O Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial, segundo o presidente do ISAE/FGV, é fundamental e exerce um papel inteligente de

descentralização e interiorização no processo de conscientização e mobilização de empresas, lideranças e instituições de ensino. Norman de Arruda Filho, que já palestrou sobre o Pacto Global e os Princípios para Educação Empresarial Responsável (PRME), afirma ainda que a educação é o caminho para a sustentabilidade - “novo modelo civilizatório que estamos ajudando a construir”. Outras ações do Conselho também tiveram destaque no ano de 2011, como o apoio do CPCE aos parceiros dos projetos como o Fórum Unidos pela Paz, Movimento Paraná Educando na Sustentabilidade, Destinação de Incentivos Fiscais e o Encontro Paranaense de Reabilitação, Inclusão e Tecnologia. O Fórum Unidos pela Paz realizado em setembro deste ano, por exemplo, buscou compartilhar experiências bem-sucedidas e construindo, em conjunto, uma cidade mais segura. Ele foi realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com apoio da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), por meio do CPCE, do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), Associação Comercial e Lions Club, reunindo cerca de 160 pessoas. Para 2012, a coordenadora Rosane afirma que o Conselho irá fazer um esforço ainda maior para que mais empresas assinem o Pacto Global sendo que serão oferecidas ainda oficinas para contribuir com a chamada comunicação de progresso GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Responsabilidade Social

c o r p o r a t i v a

Ana Paula de Freitas

A prefeitura de Maringá e mais 20 empresas da região Noroeste do Paraná assinaram o termo de compromisso e aderiram as iniciativas do Pacto Global

Maringá é a terceira cidade no Brasil a aderir ao Pacto Global, sendo Porto Alegre e Ortigueira as outras duas

(COP), com consultorias especializadas que mostram como devem ser feitos os relatórios de práticas sustentáveis que colaboram com a prática dos princípios do Pacto. Além da colaboração de um maior número de empresas assinando o Pacto Global num ambiente de responsabilidade social corporativa, visando a anti-corrupção e a ética, o Conselho visa também uma adesão ainda maior de indivíduos no interior por meio das regionais e do número de conselheiros no interior do estado, oferecendo diretrizes às empresas de acordo com objetivos estratégicos do CPCE, melhorando a educação para o desenvolvimento sustentável. Os objetivos estratégicos do setor (ver quadro) estão baseados em cooperar com projetos do Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento (PNUD) relacionados à responsabilidade social como o Pacto Global, negócios inclusivos e objetivos do milênio no estado do Paraná. Estes também objetivam influenciar políticas públicas que

promovam desenvolvimento sustentável, ampliar ações que intensifiquem a transferência de competências organizacionais, apoiar mecanismos que criam valor de cidadania empresarial às organizações e estimular a prática de voluntariado corporativo e do investimento social privado. Apesar de amplos os objetivos, os resultados nesse processo de desenvolvimento sustentável fomentado pelo CPCE podem ser percebidos, segundo Rosane, pelo número de empresas que participam do conselho, as quais estão bastante envolvidas na discussão e realização de projetos. Para Filho, há uma evolução clara nesse outro processo de produção colocado em prática nos últimos anos. “Percebemos outro olhar que se reflete na formação de uma maturidade no padrão de consumo, num novo jeito de pensar e agir em uma gestão equilibrada nos setores estratégicos, de finanças e negócios, num modelo baseado na sustentabilidade”, afirma o presidente do ISAE/FGV.

Objetivos Estratégicos 1. Cooperar com Programas do PNUD relacionados à Responsabilidade Social, como: Pacto Global, Negócios inclusivos e ODM no Estado do Paraná. 2. Influenciar políticas públicas que promovam desenvolvimento sustentável. 3. Desenvolver ações que promovam a transferência de competências organizacionais relacionadas à responsabilidade social. 4. Apoiar mecanismos que criam valor de cidadania empresarial às organizações do Estado do Paraná. 5. Estimular a prática de voluntariado corporativo e do investimento social privado nas organizações do Estado do Paraná.

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DHARMA

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A Responsabilidade social é diferencial competitivo na estratégia de negócio de uma organização bem sucedida e orientada para o desenvolvimento sustentável. A Civitas Consultoria e Treinamento, pode ajudar a orientar e implementar a gestão em Responsabilidade Social na sua empresa e seus respectivos projetos. Se você está pensando em seguir este caminho, fale conosco e veja de que forma podemos construir valor para seu negócio. Nossos serviços:

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Países que detêm reservas de água, minérios, petróleo e solos férteis (como é o caso do Brasil), precisam estar alertas, pois, como já deixou dito Milton Santos, há mais de uma interpretação de “globalização”, algumas interessantes, outras, nem tanto.

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Desafios globais ao “desenvolvimento sustentável”

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e nossa Proto-História, emergem registros de um território que era chamado pelos egípcios, País de Punt, com o qual mantinham intensas relações comerciais e culturais. Séculos após, os romanos o chamaram de País dos Aromas, dado ao fornecimento de incenso, mirra e demais especiarias, aos imperiais de então. Contemporaneamente, os dados e informações sobre essa terra, que teria tudo para ser desenvolvida, dizem-nos ser ela rica em petróleo, minérios, produtos pesqueiros, situação geográfica privilegiada, uma só religião, com dois idiomas oficiais, o que é raro no continente africano. Refiro-me à Somália, que ocupa o extremo nordeste do denominado Chifre Africano, país que nunca foi formalmente colonizado, pois repeliu com sucesso o Império Britânico por quatro vezes, sendo, pela fama e resistência, reconhecido como aliado pelos Impérios Otomano e Alemão; manteve-se durante a Primeira Guerra Mundial, como o único poder muçulmano independente na África. Geoestrategicamente, por estar no Golfo de Áden, rota que une o Índico ao Atlântico, deveria desfrutar de algum poder geopolítico, uma vez que as frotas comerciais entre a Ásia e a Europa, passam em suas portas, transportando inclusive o petróleo do Oriente Médio. Tudo para desfrutar do bem-estar social e

de alguma perspectiva sustentável. Mas não é assim. Em 1960, a Somália alcança a independência definitiva, cujo governo democrático dura apenas 9 anos – em 1969, Mohamed Barré, por meio de um golpe de estado, instala uma ditadura explicitamente apoiada pelos Estados Unidos, cujas companhias petrolíferas conseguem contratos “privilegiados” de exploração do petróleo somali. E é nesse ponto da História em que desabam algumas teses (como a de que países pobres “já surgiram fadados à ignomínia, dada a sua incompetência e ausência de recursos”), e confirmam-se as evidências sobre a eternização do imperialismo das grandes potências. Potências armadas, pois exauridas em seus próprios “recursos” naturais, dada a gana consumista e a gastança sem limites, encontram-se escandalosamente combalidas, como deixa clara a mídia diária sobre as economias estadunidense e européia, destacadamente. Alguns dados atuais sobre a Somália, envergonham a humanidade: mais de 300 mil mortos em conflitos civis há 20 anos, com um governo não-funcional que mal controla a capital, Mogadíscio; 10% das crianças morrem ao nascer e 25% antes dos 5 anos; 75% da população é subnutrida (o maior índice do planeta). Renda per capita de US$ 220 (a do Brasil é de US$ 8.114 – dados de 2009); 1,6%


gestão para a sustentabilidade Julis orácio felipe editora clube dos autoresEditora atlas

escolhas sustentáveis Discutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento global rafael morais chiaravalloti e cláudio valadares pádua editora urbana

Biblioteca

Auditoria ambiental florestal Julis orácio felipe editora clube dos autores

aquecimento global e créditos de carbono rafael pereira de souza (ORG.) editora quartier latin

Sustentabilidade planetária, onde eu entro nisso? Fabio Feldmann terra Virgem Editora

CIÊNCIA AMBIENTAL Terra, um Planeta Vivo daniel b. botkin e edward a. keller ltc editora

José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira

Responsabilidade social, empresarial e empresa sustentável

Escrever sobre Responsabilidade Social é um verdadeiro desa-

fio porque ainda não existe um consenso universal sobre o real significado do termo e os assuntos que estão inseridos no conceito ainda estão em construção. De fato, nós da ISO temos dado uma contribuição a este debate por meio do grupo de trabalho sobre Responsabilidade Social que desenvolve a futura norma ISO 26000 para orientar esse tema tão variado, complexo e quase sempre controverso.

• A L A N B RY D E N

Secretário-geral da ISO – International Organization for Standardization

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Responsabilidade social, empresarial e empresa sustentável

Se a abordagem usada pelos autores é muito abrangente, na intenção de refletir sua complexidade, corre-se o risco de tratar o tema com superficialidade. Se os autores focam demais em uma questão ou em um grupo pequeno de temas, fica difícil transmitir uma visão geral da ampla gama de conceitos envolvidos. Entretanto, os autores deste livro foram hábeis em evitar essas duas armadilhas e conseguiram comunicar toda a riqueza que o verdadeiro entendimento do conceito de responsabilidade social requer, tanto na profundidade quanto na abrangência.

José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira

de água potável e apenas 21% da população têm acesso a ela; estarrecedores índices de câncer, intoxicações, doenças de pele, hemorragias gástricas, nascimentos com malformações e enfermidades. Além da ganância dos interesses petrolíferos, há outros fatores causais desta tragédia, segundo informações de várias fontes, inclusive de agentes da ONU: a- frotas pesqueiras estadunidenses, europeias e asiáticas, há décadas saqueiam o pescado em águas somalis, praticando a conhecida IUU: Pesca Ilegal, Não-Regulada e Não-Declarada (do inglês: Illegal, Undeclared and Unregullated Fishing). Prática massiva em que, só a Espanha e França, respondem por aproximadamente 500 mil toneladas de atum/ano, usurpando fonte protéica de um País esfomeado; b- lixo tóxico (metais pesados), rejeitos radioativos de Urânio e hospitalares vêm sendo descarregados nas águas somalis, por países dos mesmos blocos, em estimativas de 600.000 toneladas, só em 2011 e que afetam também a Costa do Marfim, a Nigéria, o Congo e o Benin. Daí as patologias registradas na Somália. O livro de Annie Leonard (A história das coisas, 2011), obra já difundida em vídeo pela Internet, ajuda a constatar e dimensionar porque os ex-pescadores somalis (Guarda-Costas Voluntários da Somália) tornaram-se, na interpretação rasante da mídia internacional, “piratas”, quando, em verdade, lutam contra corsários de governos globalizantes nada exemplares. Mais evidências sobre esta somatória de afrontas ao ideal do “desenvolvimento sustentável”, está disponibilizado no site dotsub.com/view/8446e7d0-e5b4496a-a6d2-38767e3b520a Países que detêm reservas de água, minérios, petróleo e solos férteis (como é o caso do Brasil), precisam estar alertas, pois, como já deixou dito Milton Santos, há mais de uma interpretação de “globalização”, algumas interessantes, outras, nem tanto. E, até agora, a concepção de “desenvolvimento sustentável”, passando por análises sistêmicas, deixa claro que a visão linear, é de comprometedora “inocência” visual.

Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável Da teoria à prática

José Carlos Barbieri é mestre e doutor em Administração, é professor do Departamento de Administração da Produção e Operações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP-POI) desde 1992. Foi professor em renomadas instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). É professor do programa de pós-graduação stricto sensu da EAESP, da linha de pesquisa em gestão ética, socioambiental e de saúde. Pesquisador e coordenador de diversos projetos de pesquisa nas áreas de gestão da inovação, do meio ambiente e da responsabilidade social. Coordenador do Centro de Estudos de Gestão Empresarial e Meio Ambiente da FGV/EAESP. Membro do Fórum de Inovação da FGV/EAESP. Participou da comissão do INMETRO para criação de normas sobre certificação de sistemas de responsabilidade social. Participa de comitês científicos de diversas revistas e congressos científicos, nacionais e internacionais, e de várias agências de fomento. CONTATO COM O AUTOR:

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPRESA SUSTENTÁVEL José Carlos Barbieri e Jorge Emanuel Reis Cajazeira

barbieri@editorasaraiva.com.br

Jorge Emanuel dos Reis Cajazeira. Engenheiro mecânico pela Universidade Federal da Bahia,mestre e doutor pela FGV/EAESP. Executivo da área de competitividade da Suzano Papel e Celulose, onde trabalha desde 1992. Eleito pela revista Exame, em 2005, como um dos quatro executivos mais inovadores do Brasil. Foi expert nomeado pela ABNT para a redação das normas ISO 9001 e ISO 14001 (1995-2004), coordenou os trabalhos para a criação da norma NBR 16001 – Responsabilidade Social e presidiu a comissão do INMETRO para criação de um sistema nacional para certificação socioambiental. Em 2004, foi eleito o primeiro brasileiro a presidir um comitê internacional da ISO, o Working Group on Social Responsibility (ISO 26000). É membro do comitê de critérios da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), coordenador do comitê de inovação e ativos intangíveis (FNQ) e ex-presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre). CONTATO COM O AUTOR:

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LOGÍSTICA REVERSA Em busca do equilíbrio econômico e ambiental PATRICIA GUARNIERI editora CLUBE DE AUTORES

O PROPÓSITO DO SÉCULO XXI Um plano vital pra assegurar nosso futuro JAMES MARTIN CULTRIX - AMANA-KEY


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