Revista Fome de Quê?

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OUTUBRO DE 2009 • NÚMEROUM

ARIANO NORDESTINO SUASSUNA PÁG. 50


campina


campina


senvolvimento de uma sociedade. É necessário atuar, descobrir, redescobrir e, antes de tudo, livrar-nos do estigma de uma região de famintos miseráveis. Sendo assim, nossa proposta é de uma revista capaz de focar a cultura, a arte, a política, costumes, comportamento de nossa região, valorizando a mais forte das culturas brasileiras e produzir o despertar para as potencialidades da cidade de Campina Grande e região. A fmq? visa inovação em linguagem e conteúdo. Mas não é uma novidade uniforme. Cada edição terá seu sabor, sua cor, seu som, porque o que a nossa equipe deseja, é mexer com os sentidos mesmo. Nesta edição de número um, temos experimentos sobre Ariano Suassuna, sobre Stickers, Baixinho do Pandeiro, cinema no Nordeste, política, internet, música, mercado e culinária. Grande parte da revista é colaborativa. Os autores dos artigos emprestam suas ideias, conceitos e teorias para que possamos, coletivamente, falar sobre cultura em nossa região. Fome de tudo pra você!

Voyage LUIZA MOTTA

(83) 3337.7142

CENTRO

(83) 3343.1550

coletivo criativo

*EDITORIAL

“Fome de quê? Dá para encher um prato com as coisas que a gente sente falta: cultura, informação, entretenimento, educação, vergonha na cara, verdade. Enfim, doses homeopáticas desses ingredientes mataria a fome de muita gente.” Foi assim que, em 2006, iniciávamos o programa fome de quê?. O que naquela época era um projeto acadêmico de um programa piloto para TV, desenvolvido por cinco amigos e colegas de faculdade, no curso de Arte e Mídia (Franz Lima, Laércio Barros, Juliana Baracat, Julie Manuelle e Helton Paulino) é agora a Revista Fome de Quê? ou fmq?, como preferir. A ideia de transportar o formato do programa para uma revista foi uma sugestão de Emmanuela Melo (Diretora Comercial) a Franz Lima (Diretor de Criação e Arte) que convidaram Jocélio Oliveira (Jornalista) e Iramaya Rocha (Fotógrafa). Diana Reis e Jonathas Falcão colaboraram com sugestões que foram levadas a cabo nesta primeira edição. A fmq? é uma revista baseada no conceito de que é necessário mais que alimento para o corpo para produzir o de-


sumário

6. 10. 13. 14. famintos 17. 18. 20. 22. pUBLICIDADE 24. 27. 28. guia fmq? leitor 30. 36. 42. ariano nordestino suassuna capa: - um elogio ao povo brasileiro 50. canibal chef . Aluizio Guimarães o povo e meu primeiro ménage à trois tin! tin! . Yara Freud uirapuru jazz band - versão biodiesel do repórter esso

elucubrações nervosas . Felipe Motta mais do mesmo

ligado . Laércio Barros você está on ou off lado b . Hetury Estrela respeito lado b

cidade faminta . Alexandre Lima a rainha de copas teleco teco . Erick Moreno ziriguidum

ambidestro . Luiz Carlos voce engole tudo que come? do meu jeito . Ely Marques o plano som do novo seu pereira e coletivo 401

fome de cinema . Kennyo Alex uma história incomum numa paraíba desconhecida

Emmanuela Melo diretora comercial Franz Lima diretor de criação e arte Jocélio Oliveira jornalista responsável Iramaya Rocha fotógrafa

(83) 8790.8462 (83) 8822.9446

revistafomedeque@gmail.com

emmanuela melo

revistafomedeque@gmail.com

jocélio oliveira

fome de musica . LIGIA COELI baixinho à estatura do pandeiro

arte urbana . JOCÉLIO OLIVEIRA stickers - intervenção urbana e estética JOCÉLIO OLIVEIRA

apoio:

criação:

bronxbar.com.br

coletivo criativo


O povo e meu primeiro menage a trois

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ALUIZIO GUIMARテウS

6 revista fome de quテェ?


canibal chef

1. Na boa! Procura no Google, porque a revista é censura 14 anos.

E

la tinha mais ou menos uns dezoito anos, tinha os cabelos encaracolados, alta, seios fartos e um constante ar de riso no cantinho daquela boca rosada. Observava-me como quem queria descobrir algo e eu sentia-me um galeto naquela máquina que assa e lhe expõe. Encontrava-mos sempre na Praça Clemetino Procópio, antigo reduto dos alternativos – hippies, punks, darks e headbangers, como eu. Ela usava umas minissaias minúsculas mostrando as mais belas pernas que eu já tivera visto até aquela época. Tomávamos, sempre às sextas, uma caipirinha em um boteco da rodoviária velha. Ela sorridente e eu meio de mal com a vida, sisudo, cabisbaixo e sem namorar ninguém há mais de dois anos. Entre um trago e um gole, conversamos sobre tudo: política, heavy metal, playboys e o movimento alternativo. Depois das três da manhã, nos beijamos, um beijo sabor farofa de sardinha, com uma alma de gosto de cerveja. Beijo inesquecível. Já era manhã quando nos despedimos, ela indo para o centro e eu descendo a ladeira para voltar para a casa de meus pais: - Chau! Disse ela com um beijinho rápido em minha boca. - Chau! Disse eu com uma boca querendo mais beijinhos. Dei as costas e no terceiro passo ela me chama e pergunta se eu não queria ir pro quitinete dela. Nessa hora passou um monte de coisas na minha cabeça: será que estou com chulé? Será que a minha cueca está

rasgada? Deixei estas besteiras pra lá, primeiro porque estava doido por aquela menina e segundo porque éramos alternativos a tudo – ou a quase tudo. Cheguei em seu quitenetequarto-e-banheiro e me sentei no chão. Ela ligou o som e colocou um antigo disco do AC/DC e disse que iria tomar banho. Fiquei olhando para os lados, para o teto, todo por fora. Ao voltar ela perguntou se eu queria tomar banho, eu disse que sim, ela jogou sua toalha em mim, já bem úmida e com o seu maravilhoso cheiro, e disse que lá tinha sabonete. No colchão colocado no chão e já forrado, estava ela, deitada de calcinha com apenas uma camisa velha do Iron Maiden, me esperando. Saí do banheiro enrolado na toalha e vesti um calção velho e folgado que ela me entregara. Deitei-me ao seu lado e fiz amor de verdade, com Bom Scoth cantando The Jack no pé do meu ouvido e ela suspirando no outro, acho que essa foi a minha primeira experiência em ménage à trois. Muitas horas depois, acordei com o som do braço do três-em-um topando no final do disco (o automático estava com problemas) e com o cheiro do melhor pão com ovo que já comi em toda a minha vida. Até hoje dou boas risadas lembrando ela me perguntar: - Você come “povo”? Respondo: - “Povo”? Aquele do mar? - Não menino, deixa de ser besta, “povo”, pão com ovo? Lembro-me de tudo, do cheiro e de todos os sabores, menos do nome daquela que primeiro fez amor comigo.

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canibal chef

Receitas do chef farofa pão com ovo de sardinha

Em uma frigideira, derreta uma colher de sopa bem cheia de manteiga. Quebre um ovo dentro de um copo (pois se ele estiver estragado você não perde a manteiga), do copo passe para a frigideira, deixe-o começar a endurecer, jogue uma boa pitada de sal em cima e mexa. Despeje o ovo em um prato e, na frigideira “melada” de manteiga, asse um pão. Coloque o ovo (da galinha) dentro do pão e sirva com um café forte.

Frite em duas colheres cheias de manteiga uma cebola pequena, coloque uma sardinha amassada e duas pitadas de sal. Quando o cheiro já estiver por todo canto, coloque três colheres cheias de farinha de mandioca. Sirva com cerveja gelada.

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Uirapuru jazz band Versão biodiesel do Repórter Esso YARA FREUND

A

inda no ano passado, num sarau na casa do Zé Guilherme, fui iniciada no Gustav Mahler quando o amigo, e dono da casa, inventou de misturar o tema para o baixo da sinfonia número i com uma embolada de violões e pandeiros. O Zé tem cada ideia! Mas tão surpreendente quanto a estréia foi conferir a mesma sinfonia ao vivo, tocada pela Orquestra Sinfônica de San Francisco sob a batuta do Michael Tilsen Thomas: a especialidade da casa. Ela é, entre outras coisas, uma misturada de canções populares lá das bandas da Áustria, terra natal do Mahler. Deu até

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para reconhecer aquela “musiquinha” que a gente canta quando pequenininho: “meu lanchinho, vou comer, pra ficar fortinho e crescer” ou, originalmente, Frere Jacques. Isso é para a gente aprender a não achar que o erudito não se mistura com o popular. Vide o Quinteto Armorial e antes ainda, o magnífico Villa-Lobos. O Villa-Lobos, que é contemporâneo do Mahler, inseriu, também, nas suas composições canções populares brasileiríssimas e sons e ruídos mais estranhos feitos por instrumentos tradicionais da formação de uma orquestra. Reproduzir e vender uma paisagem um tanto quanto exótica


tin! tin! e selvagem aos olhos “civilizados” do século XIX não deve ter sido fácil, mas parece que Villa-Lobos tinha lá seus artifícios. Recentemente a Radio BBC de Londres produziu um programa super bacana sobre a vida e música do compositor tupiniquim. Mas acho que a formalidade britânica deixou passar muito da ironia contida nas palavras do VillaLobos, quando numa entrevista em Paris, o Villa-Lobos diz que escreveu a ópera uirapuru enquanto esperava pra ser comido por índios canibais da selva amazônica. Riquíssimo! Mas também tem arte popular visitando o erudito, como é o caso do Werckmeister Harmoniak (Hungria, 2001), filme do Bela Tarr baseado na novela de Laszlo Krasznahorkai. Apesar de o filme não ser precisamente sobre música, tem uma cena em um bar onde alguém tenta explicar a teoria harmônica de Andreas Werckmeister que, segundo o caríssimo compositor erudito e vizinho, Karl Pribrum, tem a ver com “a relação do movimento dos astros do nosso sistema solar e sua proporcionalidade ao arranjo e harmonia de uma musica”. Para falar a verdade, eu também ainda não entendi direito. Mas, de qualquer forma, a cena do filme é hilária e desconcertante: por ridículos e ininterruptos dez minutos, todas as pessoas daquele bar se põem a girar e girar e girar numa movimentação inebriante de

tão vagarosa e longa. Longevidade que, por sinal, é a marca registrada do cineasta, que dirigiu um filminho de meras sete horas. Parece até que quer competir com o Tartowsky, aquele do cinemarusso-filosófico que só os cinéfilos mais corajosos chegam a desbravar. Correndo o risco de você me chamar de eurocêntrica, mas ainda na dobradinha Paris-Hungria, a bola da vez nas noitadas alternativas aqui em Sanfra é a Gaucho Jazz Band. Inspirados pelo jazz cigano do, nem-tão-cigano-assim violonista, Django Reindhart. O bando composto por violão, baixo alto, percussão, acordeom e uma parafernália de sopros, apitos e afins, tem juntado um burburinho moderninho no Amnesia toda quarta-feira. Vestidos a caráter, dedinhos freneticamente balançando apontados pra cima e pés balouçantes para frente e para trás em sapatos preto e branco, os Swing-Dancers dão um verdadeiro show de agilidade no salão. No mais, cafezinho cosmopolita economicamente sustentável e “trocajusta” com desenhozinho em cima, ao som de bandas locais de indie-rock e bandeira com um símbolo que lembra a do partido comunista na porta. Ritual é a resposta da terra onde nasceu o movimento hippie ao “superconsumismo” e “superprodução” capitalista, combatendo a proliferação de sanguessugas como o Starbucks que já chegou até no Brasil. Nem tudo que reluz é ouro, mas se batendo um contra o outro pode até fazer um som legal.

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elucubrações nervosas

Mais do mesmo FELIPE MOTTA 1. the terminator (o primeiro), ou O “Exterminador do Futuro” (no Brasil), é um filme de ação e ficção científica, no qual um ciborgue (tecido vivo por cima de um esqueleto de andróide) com inteligência artificial, designado Cyberdyne Systems Model 101 - 800 Series Terminator (interpretado por Arnold Schwarzenegger), é transportado no tempo, de 2029 até ao dia 12 de Maio de 1984, com o objectivo de alterar o curso da História e, consequentemente, o Futuro. 2. Friday the 13th (no original) foi lançado com o intrigante lema: “They were warned. They were doomed. And on friday the 13th, nothing will save them”, em português: “Eles foram avisados. Eles estavam condenados. E na Sexta-Feira 13, nada os salvará”.

S

em demora e sem muído. Assim sai um bom texto. Então, vamos ao que interessa: o texto bom e sem muído. O segunda mão, programa que vai ao ar toda segunda-feira, às dez da noite, na Campina FM, é palco de muitas conversas interessantes e este é o espaço que vamos utilizar para dar vazão a elas – já que muitas delas são conversadas em off. Numa dessas noites tentamos imaginar o que faz um artista ou produtor acreditar que deva insistir em certos produtos. Explico: na ocasião da conversa eu tinha acabado de ler a programação do cinema e me deparei com o filme o exterminador do Futuro 4¹! Meu Deus, quanta insistência! Quanta teimosia! Cadê a lucidez deste povo? Está pior que sexta-Feira 13². O pobre do Jason deve estar de saco cheio de matar e ser morto. Assim também deve acontecer com esse tal de Exterminador, que nem extermina e nem é exterminado – embora no final do filme, o mocinho sempre ache um ponto fraco e pimba!, mande o maldito pras cucuias. Mas eis que por obra e

graça do produtor ou dono da franquia, o infeliz ressurge com força total. Alguém aí se lembrou de perguntar se o sujeito queria continuar exterminando? Ou melhor, se nós queremos assistir de novo o mesmo filme? Sim, porque, no frigir dos ovos (os do exterminador), o roteiro é sempre o mesmo: robô que vem do futuro tenta exterminar revolucionário do presente. Mas aí a conversa tomou outro rumo… Lembramos que temos vários artistas no Brasil que não se entregam. Um bom exemplo é o cantor baiano Netinho. Já notou que toda hora ele está retomando a carreira? Falando do disco novo (sic), do novo rumo na carreira e como agora tem consciência do que é melhor pra ele e etc. Sempre o mesmo papo. Ele pensa que não dá pra notar a insistência. Gente, tem que dizer pra ele que não tem jeito, o negócio acabou! Sair do cenário na hora certa é uma arte! Deixar o ego de lado e perceber que sua hora já passou é um exercício de humildade. Enfim, meus amigos, o “semancol” está em falta nas farmácias de plantão. E você, já tomou o seu hoje? Inté a próxima!

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Você está

on ou off?

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ligado

LAÉRCIO BARROS¹

O autor do artigo está afim de colocar você para pesquisar, . Então, não vamos colocar notas sobre seu tema neste espaço. 1. Ou Gnomo, é uma espécie de octopus: Diretor de Arte, Diretor de Vídeo, Professor, Publicitário, DJ. Laércio Barros pela net: maquinariadjs.com roxpublicidade.com.br evl.com.br figurinoemuitomais. com.br myspace.com/ segundamao Orkut: dJ Gnomo Facebook: laércio Barros Twitter: @dj_gnomo Fotolog: fotolog.com/ dj_gnomo e-mails/MSN: dj_gnomo@ maquinariadjs.com

M

esmo com todas as dificuldades de acesso a Internet, seja pela cobrança de valores abusivos, seja pela “simples” ausência do serviço em algumas regiões, a cada nova pesquisa divulgada o Brasil consta como sendo o país onde as pessoas passam mais horas online. Mas isto não tem tido lá grande significado ou feito grande diferença para a “massa”, pois o que vejo é uma verdadeira subutilização desta de outras tecnologias que estão facilmente à disposição das pessoas. Pois mesmo com um dado tão expressivo, ainda não se percebe uma mudança positiva no comportamento (e até mesmo na inteligência) das pessoas. Fico inquieto com isso, por perceber uma inércia online tão forte como a inércia offline: a grande maioria das pessoas ainda não percebeu o poder que elas têm “nas mãos” com uma ferramenta sem dimensões como é a Internet. Apenas 1% das pessoas que estão online é responsável pela geração de algum tipo de conteúdo, 4% replicam este conteúdo e os outros 95% apenas absorvem, como é que isso é possível? Com tantas ferramentas gratuitas e que dispensam conhecimentos sobre programação e afins, como Orkut, Facebook, Fotolog, Flickr, YouTube, Twitter, Blogger, isso só para citar as mais populares, e ainda assim não vemos a grande maioria das pessoas gerando conteúdo útil e colaborativo, compartilhando experiências e conhecimento. O tema é vaaaaasto, e para ilustrar como o online pode contribuir e muito com o offline vou compartilhar uma de minhas experiências: lá pelos idos de 1998, através do mIRC, eu soube de uma festa que iria acontecer em uma casa antiga, que estava sendo promovida por um programa de rádio chamado segunda mão. Fui para a memorável festa na Casa do Navio e

ali fui iniciado na e-music com os DJs Johan, Erick e Sóstenes. A minha felicidade foi tamanha, que, assim que voltei da festa, escrevi um e-mail para o pessoal do programa, expressando a minha alegria, o que acabou gerando um convite para trabalhar no mesmo ano na segunda festa do programa e assim acabei conhecendo os malucos que faziam o segunda mão: Karol e Felipe. Há oito anos faço parte da produção do segunda mão, há 8 anos sou DJ, há 8 anos optei por desistir do curso de Educação Física, na UEPB, para cursar Arte e Mídia, na UFCG, onde co-nheci o DJ Johan, que me ajudou e muito no início da minha vida de DJ. Conheci o professor Sóstenes Lopes, o mesmo da festa, e fui monitor de disciplinas dele por 2 anos. Conheci o cabeçudo e mentor do projeto FmQ? e outras tantas figuras ilustres com quem aprendi um bocado de coisas que me guiaram para trabalhar com algumas das coisas que mais gosto: e-music e publicidade. Posso afirmar que os últimos 11 anos da minha vida são “culpa” daquela mensagem que um dia Karol postou no mIRC. Para testar a disposição de vocês, esse desenho louco aí do lado é um QR Code, nele você encontrará um link para o mapa de um local em Campina Grande, onde você poderá resgatar uma encomenda interessante: uma camisa do segunda mão, um adesivo do Bronx Bar, um DVD do U2, o último álbum do los Hermanos e o CD da banda Aerotrio. Apenas uma pessoa levará o super kit. Para dar uma ajudinha, esclareço que o QR Code só poderá ser decifrado com o uso de uma webcam ou de um celular com câmera. Quer saber mais? Vai no Google e pesquisa! O “Indiana Jones” online será divulgado no Twitter da FmQ?! Leia, pesquise, produza, espalhe, replique, compartilhe!

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lado b

Respeito lado B HETURY ESTRELA

1. Estrela se refere ao Bar & Arte, fechado inesperada e abruptamente no dia 27 de junho de 2009. 2. O logotipo do seu novo bar, o Bronx Bar, é formado a partir da junção das formas de uma palheta de guitarra e um vinil. 3. Twitte-se: twitter.com/bronx_bar

O

fechamento de um espaço voltado para fomentação da cultura local¹, rica e nobre, apesar de desvalorizada por alguns, ainda foi capaz de causar indignação. Será que sentimentos inferiores como vaidade, soberba, inveja e ira prevaleceram sobre os sentimentos mais nobres do ser humano como a humildade e o respeito? Seria um desrespeito a tudo que foi construído por um contingente de pessoas comprometidas com a arte, e toda sua forma de expressão, se esse espaço se findasse de uma forma tão inesperada e tola. Apesar do poder destrutivo do ser humano, existe uma forma de con-

verter essa energia ruim em energia de luz: basta redirecionar o foco, pôr toda energia em um novo projeto - seja ele qual for, não se abater e, acima de tudo, acreditar naqueles que estão de fato ao seu lado. Afinal, o ser humano também é capaz de reconstruir tudo, tijolo por tijolo. Não é fácil, mais que se dane! Sem isso não seriamos seres humanos. Respeito é o nosso alicerce primordial. Lição aprendida, erros corrigidos, arestas aparadas e reparadas, eis que surge um novo conceito, ainda mais lado B (um espaço gordo para caber de A a Z), erguido sobre o aprendizado. Eis o Bronx! Amo vocês.

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A Rainha de Copas e o mercado moderno ALEXANDRE LIMA

D

o clássico Alice no país das maravilhas, remeto a duas forças que fundam os (chamados) tempos modernos e sua face econômica: a sociedade de mercado. Primeiro o Coelho Branco, o simpático animalzinho que Alice, sem porquê, resolve seguir. Sempre em vias de se atrasar, com um relógio desproporcional pendurado ao corpo, os olhos esbugalhados, paranóico. Cor-

rendo! A impressão é de que as obrigações/compromissos sempre são maiores e mais exigentes que sua capacidade de cumprí-los. Porém ele segue, toca em frente, sempre! Com esse espírito de desbravamento, ou neurose, boa parte de nós elabora as ações diárias. Os herdeiros do mundo moderno enfrentam os desafios de uma vida cuja noção de tempo intensifica-se cada vez mais em termos de promessas de liberdade e realizações, estas associadas direta ou indiretamente com atos de consumo, pois vivemos numa sociedade de mercado que a tudo e todos impregna com suas tintas de matizes os mais distintos e etiquetados. Acelerados e descartáveis. A segunda força, que está relacionada com a primeira, refere-se à relação que os grupos humanos estabelecem entre si no e com o espaço, o lugar em torno de nós que nos abarca e onde agimos. Mundo (globo), continente, país, estado, região, cidade, bairro, casa, sala de aula, mesa de bar. Tudo é espaço. Mais que isso: território. Território sendo algo que é posterior ao espaço. Onde existem relações sociais. Mais que isso: relações de poder. Onde os que mandam e os que obedecem estabelecem uma estrutura de domi-


cidade faminta

“A cidade come, a cidade vomita, a cidade tem uma fome e continua faminta.”

(MAKELY KÁ, A outRA cidAde)

nação legitimada. Tal dominação tem níveis distintos de “violência”, de determinação de condutas através de códigos diferentes de violência, ora como “direitos e deveres” ou como “sanções e penas”. Nesse sentido, existe um centro cuja órbita é onde giram as margens. Os representantes de poder desse território são vários: líder, chefe, orientador, instrutor, comandante, rei. Assim acontece no País das Maravilhas. O Coelho Branco é o guia nos apresentando ao fantástico País. Sempre a dizer “Estou atrasado! Estou atrasado”, seguido por Alice, que nos leva. No primeiro momento, nos apresenta fantásticos personagens e ambientes (o chapeleiro maluco, o gato invisível, os irmãos gêmeos contadores de histórias, as flores vaidosas, a lagarta fumando no narguilé). Em seguida, nas cenas finais, ele encarna o papel de arauto, anunciando a entrada triunfal da rainha. Descobrimos, por fim, o inadiável compromisso que tanto o atormentava: anunciar cerimoniosamente a Rainha de Copas, uma figura mimada, autoritária, intransigente, centro absoluto de seu reino. Quando Alice diz “Só procuro meu caminho”, a Rainha de Copas retruca: “Seu caminho? Que caminho?! Tudo aqui é meu! Tudo é meu!”. Ao menor equívoco dos súditos e vassalos manda-lhes cortar a cabeça. Lembrando, por exemplo, que as cartas, que equivocadamente haviam plantado rosas brancas no jardim do reino, foram sumariamente condenadas à guilhotina, pois só podia haver rosas vermelhas. Viajando um pouco. O termo regência - assim como região, que na discussão geográfica significa “grosso modo”, uma unidade mais ou menos ampla e que se caracteriza por estabelecer fronteiras com outras regiões, a partir de certas propriedades consti-

tutivas e distintivas tais como cultura, língua, etnia, economia - etimologicamente origina-se do termo regio, cuja acepção está atrelada a administração política do lugar (região, reino, regência, rei, todos tem a mesma origem no termo regio). Empresa de qualquer setor, grupo de qualquer determinação étnica, de gênero, de classe, política, estatal, o próprio indivíduo comum, todos têm um lugar (na verdade vários) no(s) qual(is) atuam e exercem domínio, de maneira legítima, quando há aceitação e aprovação dos outros, “cada qual no seu quadrado” ou de maneira nãolegítima, nesse caso tendo níveis diversos de violência explícita física e/ou simbólica. No caso da sociedade de mercado, tal lugar é um espaço atravessado por relações de dominação, ora do patrão sobre o empregado, ora entre empresas, ora destas com políticos e seus compromissos eleitoreiros ou ideológicos, às vezes privados, a própria relação das empresas com a Natureza, o meio ambiente, na busca de exploração dos recursos de matéria-prima. No jargão da sociedade, frases como “tendências do mercado”, “mercado cada vez mais exigente”, “mercado seletivo”, “adaptarse ao mercado”, “a mão invisível do mercado”, etc., concebem (o mercado) como sendo uma espécie de indivíduo/ sujeito autônomo, racional, criador e maximizador de oportunidades de lucro e vantagens, dinâmico e autorregulador. Sujeito que movimenta, de acordo com seus interesses, os principais agentes da sociedade: estado, sociedade civil e empresas. Diante disso, caberia aos indivíduos a adaptação aos tempos ou a ruína. Rainha de Copas outorgando arrancar as cabeças dos que não se adaptam.

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Zirigui dum

o Carnaval universitรกrioยน


teleco teco

ERICK MORENO 1. Acesse: carnavaluniversitario. wordpress.com/

O

nosso tão querido, amado, badalado e malemolente carnaval universitário, é um evento que surgiu em 2007 com o objetivo muito bonito e muito nobre de embeber a comunidade acadêmica com o todo o ziriguidum, todo o esquindo-le-lê e toda a irreverência característica dos carnavais de rua. Explicando melhor, a gente queria um bom motivo pra cair na gandaia. De maneira desconhecida, entre conversas de bares e noites de trabalho regadas a café, nos laboratórios de Ciência da Computação, na UFCG, a ideia foi tomando corpo. O carnaval oficial se aproximava ao mesmo tempo em que as provas e os trabalhos aumentavam. Essa mistura de esforço e sofrimento com perspectiva de diversão foi perfeita para fazer brotar nas cabeças mais criativas a ideia óbvia de fazer um carnaval em Campina Grande. Com a ideia posta e uma imensurável vontade de cair na vadiação (com toda responsabilidade, claro), surgiu a “Agremiação Acadêmico-Festiva Carnaval é o que há, meu negócio é sambar”, apadrinhada pelo nosso estimado Grão Mestre Cachaceiro do Priorado do Carnaval. A receita da festa era muito simples: avisar aos estudantes que havia cachaça de graça, tocar umas musiquinhas de carnaval e deixar que esses ingredientes simples resultassem em uma grande celebração ao Rei Momo. Foi o que aconteceu. A primeira edição contou com 20 litros de cachaça presenteda pelo nosso Grão Mestre e distribuída ao longo de 1,5km de percurso entre a universidade e um bar nas imediações (veja que a distância prova que o objetivo era se divertir, não fazer cooper) e foi um sucesso absoluto! Uma multidão de estudantes insaciáveis e embebidos do mais profundo espírito carnavalesco, divertiu-se de verdade ao som de

um carro emprestado e de CD’s criados às pressas. Foi emocionante, de marejar os olhos. A partir desse momento, o C.U. (sim, esse é o apelido carinhoso do nosso Carnaval) tornou-se uma lenda e consolidou-se como a prévia do carnaval na Universidade. Um sem-número de histórias e curiosidades foram contadas e recontadas ao longo das ou-tras duas edições para tornar o C.U. um evento sério (ok, não tão sério) e respeitado. É fácil entender os motivos do sucesso do C.U., basta olhar para ele, sentí-lo e qualquer um emocionase com a alegria, irreverência e malemolência do nosso folião. Que fique bem claro que o nosso folião é a alma da festa! É ele quem dá a cara ao nosso carnaval e faz do evento um mito, um momento único para se preparar para o carnaval de verdade. Acontece que o evento ocorre apenas uma vez por ano, mas a gente acha que para o C.U., toda hora é hora. Com isso, usando a desculpa esfarrapada do halloween, a “Agremiação Acadêmico-Festiva Carnaval é o que há, meu negócio é sambar”, resolveu em 2009 promover uma edição especial do nosso mais que querido Carnaval Universitário. É o “C.U. fora de época Indoor”. Espera-se que entre 4 paredes o C.U. se solte e proporcione o mesmo prazer que vem proporcionando aos nossos fiéis foliões ao longo desses 3 anos. A data e o local da grande cele-bração já estão confirmados, será no Bronx Bar, no dia 29 de Outubro. Para adequar a festa ao clima de halloween e ao ambiente indoor, estão confirmadas 3 bandas: Sex On the Beach, Cerva Grátis e Showbox. Além é claro, da nossa “Cachaça-Maravilhosa do nosso Carnaval-pra-lá-de-bom, melhor ainda porque é de-grátis” que sempre nos acompanha como atração principal.

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VocĂŞ engole tudo que come? 22 revista fome de quĂŞ?


ambidestro

LUIZ CARLOS (L.C.)

U

ma das exigências que me fizeram para escrever neste espaço foi: “só não quero que você escreva sobre política porque esse tema na Paraíba é seboso”. O apelo em forma de censura prévia só aumentou o apetite. Por isso, vou tentar suavizar o sabor de um texto sobre política salpicando um pouco de humor e informações de outras áreas do conhecimento ao tema. O antropólogo Richard Wrangham, em seu livro mais recente, catching Fire: How cooking made us Human (em tradução literal, “pegando Fogo: como o cozimento nos tornou Humanos”) levanta uma interessante tese sobre como a utilização do fogo para cozinhar alimentos contribuiu para o salto evolutivo que separou o homem dos chimpanzés. Da redução na energia gasta com a mastigação até a melhoria do aproveitamento calórico dos alimentos, o antropólogo inglês descreve em detalhes como a eficiência do processo digestivo de nossos antepassados, conseguida através da ingestão de alimentos cozidos, contribuiu para o sucesso evolutivo do Homo Sapiens. Ou seja, está provado que, desde o mais longínquo dos nossos ancestrais, só vai pra frente quem não engole qualquer coisa. Comer significa, portanto, um auto-exame de seleção natural: o que ou quem você come define até onde vão seus limites evolutivos. A despeito do que a tese possa ter de mera especulação, é interessante constatar que cérebro e corpo se retroalimentam desde sempre e como a metáfora do alimento como combustível é atual. Para ilustrar isso basta lembrar da primeira ação do Governo Lula ain-

da em 2003. Assim que o Brasil passou a ser de todos: a primeira peça de propaganda criada pelo Presidente Lula foi o Fome zero. O agora palatável LulinhaPaz-e-Amor voltou seu vasto arsenal retórico contra a fome, vitaminado pelo fato de ter se tornado o primeiro retirante-nordestino-operário eleito presidente, Lula se pôs a pagar, em suaves prestações, a auto-denominada dívida social histórica do Estado Brasileiro com o povo pobre, negro e menos favorecido. A promessa, em forma de premissa, era acabar com a fome. A euforia alimentou mais esperanças do que propriamente bocas e, em pouco tempo, o Fome zero, definhando, saiu à francesa do cardápio da propaganda institucional do Governo. O Bolsa Família ocupou seu lugar à mesa: nunca na história oficial desse país um programa de transferência de renda obteve tanto sucesso como boca-de-urna. A oposição caiu de pau, mas sem radicalizar: nada de greve de fome contra a boca livre. Veio a crise financeira mundial em ritmo de fast food, a marola transformou Lula em guru, exportamos o know-how do proer (programa de estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do sistema Financeiro nacional criado por FHC) e enquanto o mundo financeiro anunciava entrar em dieta, Lula prometeu vacas gordas com o anúncio do pAc (programa de Aceleração do crescimento). O crescimento até agora não saiu do forno, mas Lula já prepara novo menu - não recomendado para hipertensos: prato-feito em banhomaria, com generosas porções de óleo temperados a base de pré-sal. Receita com data de validade vencida pela evolução natural das espécies que nem nossos primos chimpanzés engoliriam.

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O plano Fotos: Rizemberg Felipe


do meu jeito

ELY MARQUES 1. 4. São dimensões do quadro da película fotográfica utilizada na captura de imagens para um filme cinematográfico. Usualmente são armazenadas em rolos dentro de latas. Vem daí o termo: “os enlatados norteamericanos”. 2. Abreviação para o termo documentário. 3. Festival de cinema de países de língua portuguesa realizado de dois em dois anos em joão pessoa, capital da Paraíba.

F

alar de fazer cinema é falar de sonho, sentimento, luz e sombra, mas também é falar de planejamento. Pelo menos pra mim. E nesse caso vou falar do curta que dirigi juntamente com meu amigo Arthur Lins o plano do cachorro que, antes de qualquer coisa, surgiu de uma necessidade, surgiu de um plano. Tivemos a oportunidade de produzir um filme com alguns recursos. Isso virou um desafio e precisávamos de um plano para conseguir, com esses poucos recursos, filmar e finalizar um dos últimos filmes captados/finalizados em 16 mm¹ do Brasil. Isso ocorreu quando recebemos um prêmio pelo filme um Fazedor de Filmes (“doc”² que dirigimos juntos também) durante o cineport3. Esse prêmio consistia em latas de 35 mm4. De cara começamos a pensar no filme diante de uma necessidade, o que não é o comum. Normalmente as ideias surgem e, só então, você pensa em filmá-las. Criamos alguns requisitos e parâmetros das nossas necessidades: a) queríamos que fosse uma ficção e b) que o cenário fosse urbano. Estabelecemos algumas referências de filmes que nós dois gostávamos, de onde resultaram os conceitos visual e narrativo: noite, rua, solidão, conflito, lentidão e por aí vai. Havia uma questão crucial: ter ou não ter diálogo? Estrategicamente decidimos tirar qualquer diálogo do filme, pois era em película, precisávamos ter no máximo 3 takes para 1 plano válido. Com diálogo é muito mais difícil fazer 3 tomadas do mesmo plano e delas extrair 1 boa.

Como consequência teríamos menos dias (nesse caso noites) de captação. “É também uma boa oportunidade de tentar circular em festivais internacionais sem ter que se preocupar com o custo da pós-produção de legenda na película”, pensamos. Depois de tantos parâmetros traçados, tínhamos um plano e Arthur Lins ficou encarregado de pensar em um argumento dentro desses moldes. Criando uma situação minimamente confortável para o desenvolvimento do argumento, percebo que fincamos uma base sólida para uma condição mínima de trabalho: a todo o momento recorrer às questões das limitações de produção como desculpa para situações desconfortáveis na produção do filme. O que pode parecer frio e metódico é o que muitas vezes oferece mais condições de abstração e abertura criativa. Gosto muito do argumento e roteiro de Arthur. Ele conseguiu oferecer para os dois diretores, matéria-prima de uma forma que ambos gostassem e pudessem trabalhar juntos. Foi quase que um roteiro por encomenda. É engraçado dizer isso num ambiente de cinema independente, mas foi o que aconteceu. Contamos com uma equipe disposta a investir seu tempo e trabalho sem retorno financeiro, característica ainda inerente do “fazer cinema no nordeste”. Às vezes parece um hobby, mas, na verdade, é uma grande vontade acalentada por cada um de viver de cinema. E essa disposição toda reflete a sede e o desejo que, aos poucos, vamos saciando coletivamente.

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som do novo 1. Esmeraldo Marques ou, se preferir, Chico Correa da chico correa e eletronic Band 2. Ouça: myspace.com/ seupereiraecoletivo401

E

m Campina Grande, no dia 11 de abril de 2009, no extinto Bar & Arte, uma nova banda de quatro amigos subiu ao palco pela primeira vez. Não era a primeira vez dos quatro amigos juntos em um palco, afinal, eles tocam juntos há quase 10 anos. Era a primeira vez dos quatro amigos juntos em um palco com um novo projeto, com uma nova história, com novas canções e novos planos, com um novo som, uma nova alegria, um novo nome e principalmente: uma nova energia. Energia contagiante que foi vista, ouvida e dançada por dezenas de pessoas naquela noite. Ali nasceu o seu pereira e coletivo 401, o novo projeto musical de

Jonathas Falcão, Victor Ramalho, Thiago Sombra e Esmeraldo Marques¹. No coletivo 401, além dos quatro amigos, viajam referências, idéias, passageiros, anônimos ou não, que, entre uma parada e outra, deixam no interior do coletivo matéria-prima pra uma nova música, uma nova poesia, que conte o cotidiano da cidade e do mundo. De abril até aqui, seu pereira e coletivo 401 já se apresentou em Brasília, Taguatinga, João Pessoa e está preparando o seu primeiro CD, que vai ser lançado no início de 2010. Mas até lá, quem quiser passear no coletivo 401² e conhecer um pouco da banda, é só entrar no myspace ou dar uma pesquisada no velho e bom youtube. Bom passeio!

Seu Pereira

e Coletivo 401 revista fome de quê?

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Guia

comida, diversão e arte FAUSTÃO HAMBURGUER Tel: (83) 3058-2263 Rua Sta Clara, 150 São José - Campina Grande

BONNOPRATO Tel: (83) 3322-3030 Rua Vidal Negreiros, 97 Centro - Campina Grande

ADEMAR A. SOUSA Telefone: (83) 3322.2949 Pc Lauritzen, s/n bx 5 Centro - Campina Grande

FELLIPE VICTOR XAVIER FALCÃO Tel: (83) 3341-1975 Rua Afonso Campos, 48 lj 2807 Centro - Campina Grande

COCO BAMBU SAFARI Tel: (83) 3337-3221 Rua Cícero Jacinto, 104 Catolé - Campina Grande

ALEX LANCHES Telefone: (83) 3321.5211 Pc Lauritzen, s/n bx 20 Centro - Campina Grande

GIRAFA'S Tel: (83) 3337-6133 Av Severino Bezerra Cabral, 1119 José Pinheiro - Campina Grande

COCO BAMBU SAFARI Tel: (83) 3337-3221 Rua Cícero Jacinto, 104 Campina Grande

FAST FOODS

Um lanche rápido, cai bem.

BHIA LANCHES Tel: (83) 3342-3676 Rua Sta Clara, 414 São José - Campina Grande

DONA EMPADINHA Tel: (83) 3322-4047 Av Manoel Tavares, 754 Campina Grande - PB

BIA LANCHES Tel: (83) 3342-3676 Rua Sta Clara, 414 Centro - Campina Grande

LA NOSTRA CASA Tel: (83) 3322-5196 Rua 13 Maio, 175 Centro - Campina Grande

BIG LANCHES Tel: (83) 3322-2949 Pc Lauritzen, s/n bx 5 Centro - Campina Grande

Rua Manoel Tavares Campina Grande - PB

Tel: (83) 3341.5001

NOVA CARNES & MASSAS Tel: (83) 3321-2111 Rua 13 Maio, 214 Centro - Campina Grande

BIG MIX LANCHES LTDA PABX: (83) 3341-4085 Rua Sta Clara, 254 Centro - Campina Grande

Pra todo munco comer muito.

NOVA CARNES & MASSAS Tel: (83) 3321-2111 Rua Treze de Maio, 214 Centro Campina Grande

BOBBY ESPETINHOS Tel: (83) 3341-5810 Rua Siqueira Campos, 1532 Campina Grande

BIG MIX CHOPPERIA E PIZZARIA Tel: (83) 3341-4085 Rua Sta Clara, 254 Centro Campina Grande - PB

FORNO DE PIZZA PABX: (83) 3342-0606 Rua D Pedro I, 732 São José - Campina Grande

BUONGUSTAIO Tel: (83) 3337-6109 Av Severino Bezerra Cabral, 1190 Catolé - Campina Grande

BONNA PIZZARIA Tel: (83) 3335-4440 Rua Enf Maria Lourdes Silva, 201 Santa Rosa - Campina Grande

PIZZARIA LA JULLIA Tel: (83) 3322-7997 Rua Mamede Moisés Raia, 241 Monte Castelo - Campina Grande

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PIZZARIAS


guia fmq?

BARES E RESTAURANTES

A qualquer hora.

CERVEJARIA ANEL DO BREJO Tel: (83) 3343-1560 Rua Prof Luiza Castro Lago, 267 Alto Branco - Campina Grande

SPAZZIO Tel: (83) 3250-2255 Rua Luna Pedrosa, s/n Poço - Cabedelo

ABSOLUTO Tel: (83) 3246-7554 Rua Fernando Luiz Henriques, 50 João Pessoa

CHAMBARYOS BAR Tel: (83) 3231-6857 Rua Prof Fenelon Pinheiro Câmara, s/n Cristo Redentor - João Pessoa

VILA FORRÓ Tel: (83) 3322-2040 Vl Forro, s/n Nações - Campina Grande

BANANA BEER Tel: (83) 3341-3029 Rua Rodrigues Alves, 1 lj A Prata - Campina Grande

CHOPERIA BARRAMAS Tel: (83) 3247-5877 Av .Alm Tamandaré, s/n João Pessoa

FORROCK PABX: (83) 3246-5858 Rod BR 230, s/n Lot Morada Nova - Cabedelo

BAR A BESSA Tel: (83) 3246-7072 Av Gov Argemiro Figueiredo, 1782 João Pessoa - PB

CHOPERIA LET IT BEERQ Tel: (83) 3337-6022 Av Pref Severino Bezerra Cabral, 1119 José Pinheiro - Campina Grande

ZARINHA CENTRO DE CULTURA Tel: (83) 4009-1130 Av Nego, 140 Tambau - João Pessoa SESC PABX: (83) 3341-5800 Rua Jiló Guedes, 650 Centro - Campina Grande

BAR A RAINHA DO REJEITO Tel: (83) 3213-1049 Rua Ivete Oliveira Cardoso, 148 Mangabeira - João Pessoa BAR CENTENÁRIO Tel: (83) 3453-2288 Av Pres João Pessoa, s/n Centro - Conceição BAR CENTRAL Tel: (83) 3392-1251 Rua Eunice Ribeiro Araújo, 408 Centro - Queimadas BAR DA AMIZADE Tel: (83) 3341-2881 Rua Dep. José Tavares, 198 bl 3 Centro - Campina Grande

Rua Getúlio Vargas, 164 Campina Grande - PB

Tel: (83) 8822.8682 CHOPP DO ALEMÃO Tel: (83) 3341-3233 Rua Br Abiai, 158 Centro - Campina Grande

BAR DA BUCHADA Tel: (83) 3221-6093 Av. Aderbal Piragibe, 255 João Pessoa

Celebrar.

BAR DA BUCHADA Tel: (83) 3248-2451 Av. Mar Irlanda, 288 qd 39 lt 12 Intermares - Cabedelo

MARTA M S NÓBREGA Tel: (83) 3337-2844 Av. Sen Argemiro Figueiredo, 681 Catolé - Campina Grande

CASAS DE ESPETÁCULOS

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fome de cinema

Uma hist贸ria incomum numa Para铆ba desconhecida

um filme de

Aluizio Guimaraes



fome de cinema

KENNYO ALEX

E

m meio à mata espessa, cerca de 60 pessoas avançam lentamente. Atravessam morros e cachoeiras carregando mantimentos, material para acampar e muitos, muitos equipamentos. Parece uma operação de guerra, e é quase isso. O objetivo: um antigo casarão localizado na zona rural de Matinhas, no Brejo paraibano. É lá que será montado o set para as filmagens do Borra de café, curta-metragem do diretor campinense Aluizio Guimarães. Mais conhecido por suas produções teatrais (quem não se lembra de Água Areia e as maçãs e inferno?), o diretor, que também assina o roteiro, explica que o título faz referência à produção cafeeira do Brejo da Paraíba. “Pouca gente sabe, mas lá se produziu, no início do século XX, o segundo melhor café do país, perdendo apenas para São Paulo”, garante. É neste período histórico que a trama, dividida em duas fases, é ambientada. Na primeira, um caso amoroso que abala a sociedade de Bananeiras. Na segunda, uma relação familiar controversa, que promete causar polêmica. “Não são histórias reais, mas bem que poderiam ser”, observa Aluizio, confessando que muito do que escreveu foi baseado em causos e estórias contadas por pessoas da região. Aliás, uma das características da produção é justamente a de retratar o cotidiano dos habitantes do Brejo. “É uma região pouco valorizada por sua beleza e história. No filme, tento mostrar que a Paraíba não é apenas solo rachado, sol escaldante e mandacaru”, diz. Realmente, nas cenas já gravadas, o verde da mata e os rios caudalosos formam um cenário deslumbrante,

por onde circulam os personagens Pedro da Mula (Napoleão Gutemberg) e Zé Tropeiro (João de Milton) com suas tropas de burros. São eles que “costuram” a trama, centrada inicialmente na paixão de Antônio (Francisco Oliveira) por sua prima Maria (Suelaine Lima), e depois no crescimento de sua filha Ana Beatriz (interpretada pela as atrizes mirins Iara Porto, com 4 meses, Sophia Vieira, com 1 ano, Júlia Dantas, com 4 anos, Íris Porto, com 8 anos, e pela atriz Rayanne Araújo, quando a personagem está com 15 anos). “As relações familiares na zona rural sempre foram muito pouco estudadas. O isolamento, a extrema religiosidade e os apelos da natureza, muitas vezes causavam graves conflitos, com consequências inesperadas”, adianta o diretor, que, confessa, não imaginava as dificuldades que iria enfrentar para realizar o filme. “Felizmente, vários amigos apostaram na audácia da nossa proposta”. O projeto é quase uma ação cooperada. “Todos os envolvidos são pessoas altamente capacitadas, experientes, muitos dos quais profissionais premiados, que aceitaram o desafio de fazer parte do filme abrindo mão de seus cachês”, reconhece Aluizio, que gravou entre os dias 9 e 12 de Outubro, as últimas cenas do filme. Borra de café está previsto para estrear em Novembro deste ano, com lançamentos na Festa da Laranja, em Matinhas e, também, em Campina Grande, João Pessoa, Olinda e Caruaru. Depois, participa dos inúmeros festivais de cinema no Brasil e no mundo (para tanto, será legendado em inglês, espanhol e francês). É esperar pra ver.

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FICHA TÉCNICA Direção e Roteiro: Aluizio Guimarães Assistentes de Direção: João de lima neto e nycolas Albuquerque Elenco: Rayanne Araújo, chico oliveira, suelaine lima, napoleão Gutemberg, João de milton, Íris porto, kaliuma soares, paulo dantas, sérgio simplício, Hildit nitsche, Renato Barros, cléber lima, José sereco, iara porto, Júlia dantas e sophia Vieira. Produção Executiva: Amazile Vieira Direção de Produção: luciano mariz e Hingrit nitsche Assistentes de Produção: luíza Areas, Giotto Braz, ian costa e emmanuela melo Diretor de Fotografia: Helton paulino Assistentes de Fotografia: Allancleryston pequeno e pablo Ferreira Iluminação: lúcio césar Assistente de Iluminação e Maquinaria: pablito Edição: ely marques Continuísmo: Filipe Brito Direção e Edição de Som: Gustavo s. Rocha Assistentes de Áudio: Aalison Vito, ian costa e iélison Barbosa Trilha Sonora: Aalison Vito Direção de Arte: Fernando Rabelo Assistentes e Produtores de Arte: thaïs Gualberto, luciana urtiga, paula Guimarães, Vanessa nóbrega, társila moscoso, thiago xavier, Fabiano Ra-

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poso e José sereco Figurino e Maquiagem: iomana Rocha, Rebecca cirino, Renato Barros e Jonatha medeiros Diretor de Platô e Co-Roteirista: nathan cirino Assistentes de Platô: cléber lima e Giotto Braz Projeto Gráfico e Assessoria de Imprensa: kennyo Alex Still: mainara nóbrega e Franz lima Making Of: Franz lima Assessoria de Imprensa: kennyo Alex Webdesigners: Franz lima e kennyo Alex Assessoria Jurídica: melina costa Realização: studio z marketing e produções Pigmento Cinematográfico moinho de cinema da paraíba sétima multimídia lúcio césar Filmes Parceiros: prefeitura municipal de matinhas uFcG - universidade Federal de campina Grande FAVip – Faculdade do Vale do ipojuca Vitamassa cultura inglesa Artexpress Rota publicidade môlins comunicação condomínio monte Verde Gênesis comunicação integrada Janeide cabeleireiros Revista “Fome de Quê?” pamonha de Ralo Guê cabeleireiros cine produtora Contatos: amazilevieira@hotmail.com (83)8819-2361 / 9972-0850 lucianomariz@gmail.com (83)8858-0766 / 8841-9353


Fotos: produção Borra de café

fome de cinema

Aluizio acompanha uma das cenas do filme


Baixinho à estatura do pandeiro

TEXTO: LIGIA COELI

FOTOS: IRAMAYA ROCHA


fome de mĂşsica



fome de música

E

ra noite quando aquele homem diminuto atravessava a Praça da Bandeira. Andava sorrateiramente, a passos curtos, porém firmes. Cada quicar do calcanhar no chão fazia estremecer a sua face um tanto enrugada. Sobretudo negro e chapéu no mesmo tom, enfeitado de pequenos pedaços metálicos em forma de círculos e estrelas, a aba aparada por ele mesmo. O barulho do solado de botas gastas fazia os pombos se assustarem, voando de súbito com burburinho de coisa abafada: abriam espaço para José Pedro Fernandes passar. Caboclo miúdo, parido no brejo Paraibano, em Alagoa de Remígio, na data de 15 de maio de 1940. Suas pernas sensivelmente finas são imperiosamente cruzadas, as mãos enrugadas e morenas, com veias puladas, são sobrepostas suavemente sobre os joelhos. Postura imponente,

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olhos miúdos e fixos, camisas com tecidos caprichosamente escolhidos pela mulher com quem mora junto, casar, “Deus me livre”. As blusas ora ficam esgotadas numa única cor, ora estampadas com caveiras e flores verdes. Ao seu lado, um estojo arredondado de napa, enfeitado com o nome de guerra em tecido dourado, com letras meio tortas, mas que inspiravam cuidado durante o recorte nos detalhes: Baixinho do Pandeiro. Aposto que a letra “R” deu o maior trabalho: era a grafia mais torta, mas não recebeu menos capricho por isso. Estava lá, tão dourada quanto todas as outras. A estrutura oval feita em madeira guardava aquilo que ele chamava de primeira-namorada e noiva, era o seu pandeiro. Uma lata de doce de goiaba e tampinhas de garrafas amassadas foram matéria-prima para a confecção do seu primeiro instrumento: tinha ele treze anos de idade, e foi aprendendo sozinho a tocar o pandeiro-improviso, cortando os dedos, fazendo zuada com os amigos no meio do terreiro. Escutou muita gente perguntar “Pra quê essa lata de doce, menino?” ao que respondia com a mesma convicção que carrega hoje no olhar: “é pra tocar”. Só carregou um pandeiro de verdade aos 17 anos e talvez isso explique o zelo atual por aquilo que carrega debaixo do sovaco, com mesma empolgação de passeio com a primeira namorada. Tanto que ele discute a relação com a dama sem maiores esforços e na frente de quem quiser. Coloca um CD, “às vezes CD de Rock mesmo”, e vai escutando a pancada, acompanhando o ritmo. “Eu estudo o pandeiro todo dia em casa”, e está explicada a paixão. Chegou a ser pipoqueiro por 35 anos, mas não tinha jeito: “Era a pipoqueira funcionando e eu tocando o samba”, vez em quando tirava sua “noiva” para dançar enquanto os clientes se deliciavam com a pipoca. Ele jura que não era por vaidade: “Eu toco porque gosto, é pra todo mundo saber que o Baixinho não tá esquecido”, e nem poderia. Quando sai com suas roupas

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elegantes do dia, os homens gritamlhe ao longe: “Vai fazer exame de fezes, Baixinho?” Ele para e responde zangado: “Não, vou fazer exame de Pandeiro!”. Com respostas como essa, na ponta de uma língua ferina de repertórios decorados, vai dando o diagnóstico como ninguém. Toca para ele mesmo, sem medo, num intimismo que não é afronta: cada barulho sai como uma confissão. Tem fé que o tamborilar dos dedos ágeis no pandeiro é atitude suficiente e certeira para fazer alguém se aproximar: esse instrumento é o seu melhor convite. A música, a sua melhor desculpa, como uma prova adquirida às pressas, no sufoco, para legitimar toda sua extravagância ao se vestir ou falar. Essa foi a primeira imagem gravada em minha mente. E tal qual palavra recém descoberta, passei a topar com ele em todo lugar: olhar preso numa boca que fala nervosamente, com voz distante e uma maneira curiosa de pontuar a fala: uma cuspidela por divagação feita, fixando uma pausa, num intervalo que sugere espera do ouvinte: o chão de repente fica cheio. Às vezes a saliva lhe escapa ao discurso, mas nada que incomode, ele dá uma risada seca e continua – e assim foram as nossas primeiras palavras trocadas, enquanto conversávamos num dos bancos gelados da praça, vendo os velhos trapacearem no jogo de Dama. Se a vida desse homem coubesse num livro, quantas páginas teria? Ele riu quando pensei alto e me respondeu com o ar debochado de sempre: “Ah, minha filha, era uma Bíblia”. Pedi desculpas com a face queimando, corada: foi uma pergunta estúpida. Vendo as pontas dos dedos esbranquiçadas de tanto segurar com força o pandeiro, tamanha a sua devoção por ele, fica difícil de não acreditar na quantidade de “Ave-Maria!” inspiradas por aqueles batuques. Tive urgência em constatar que, não importasse quantas segundas impressões eu tivesse daquele homem, restaria sempre o oco: desse Baixinho, eu só escrevi uma linha.


fome de música

“meu pandeiro é meu melhor amigo, minha namorada, minha noiva.”


Stick

intervenção urb


kers

bana e estética TEXTO: JOCÉLIO OLIVEIRA ENTREVISTA: EMMANUELA MELO | FRANZ LIMA FOTOS: IRAMAYA ROCHA



arte urbana

1. Tá ligado Albert Einstein, né?! teoria da Relatividade, espaçotempo e coisa e tal. 2. A tradução literal para stick é adesivo. Stickers seria algo como: “adesivadores”

Q

uarta-feira, meio dia, e desde as oito da manhã você trabalha, estuda, ou acabou de sair do hospital. Resolveu passar no banco só pra ter certeza que seu saldo é insuficiente para qualquer coisa. Do calçadão, você já conseguiu ver que o ponto de ônibus está cheio. Estresse. De repente, na praça, você encontra pequenos “einsteins”¹ com a língua pra fora, olhando para você. Anda mais um pouco e se depara com frases de efeito, bonequinhos coloridos e cabeças soltas ao vento. São os stickers²... Ah você não sabe o que é? Vou deixar, então, o pessoal do stk crew explicar, eles formam um grupo de jovens que colam stickers em Campina Grande!

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arte urbana 3. Do italiano graffiti, plural de graffito. Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade.Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais. 4. Do inglês stencil é um desenho ou ilustração que representa um número, letra, símbolo tipográfico ou qualquer outra forma ou imagem figurativa ou abstrata, que possa ser delineada por corte ou perfuração em papel, papelão, metal ou outros materiais. O estêncil obtido é usado para imprimir imagens sobre inúmeras superfícies, do cimento ao tecido de uma roupa.

FMQ?: Pra quem não sabe o que é Sticker, o que é Sticker? STK: Naaah: Sticker é uma forma de intervenção urbana que pode ter várias propostas: ele pode ser de corte, de protesto. A nossa é estética, intervir de forma estética no lugar. É pegar um local que não tem vida, que não tem graça e mudar aquilo, chamar mais atenção e convidar as pessoas a pensarem. O Sticker pega você desprevenido: você está andando, vê e fica pensando, parece que aquilo parou ali por acaso. É mais ou menos isso. Mas o nome mesmo vem do inglês e significa “adesivo”, mas o que agente faz não é auto-adesivo, na verdade, ele é mais conhecido como “lambe-lambe”. Rude: Realmente, eu acho que a proposta do grupo é modificar o cotidiano das pessoas que passam todos os dias, nos mesmos lugares e não vêem nada engraçado, passam de cara fechada, é mudar a rotina dessa pessoa. É puramente estético.

FMQ?: Como é que vocês conheceram os stickers e como resolveram fazê-los aqui em Campina? STK: Naaah: A primeira vez que eu vi um Sticker em Campina Grande foi há muito tempo e ele era feito de jornal., depois eu soube que quem os fazia era o Charliston, conhecido como Bob, mas, hoje em dia, ele não faz mais. Eu via muito também pela internet. Conversei com alguns amigos, como o Sweetcrack, Rude, Celo e a gente resolveu fazer. Até então, eu só tinha visto o Bob e um pessoal de Desenho Industrial, que faz, mas não com tanta freqüência. Rude: Eu conheci o Sticker através da internet, por gostar de arte urbana, de lambe-lambe, via em Campina Grande, nas placas, mas não sabia de quem era.

FMQ?: Porque o Sticker e não outra forma de intervenção artística, porque pra vocês o movimento é esse? STK: Celo: A gente começou e viu a facilidade de fazer isso. Por exemplo, eu sou ligado também a grafite e ao estêncil, mas já que o preconceito contra o grafite³ – porque usa spray – e o estêncil4 também são grandes, a forma que eu encontrei de usar meu estêncil foi com o Sticker, o preconceito é menor. Naaah: Não precisa ser uma arte bem elaborada com profundidade, com luz, com técnica, qualquer pessoa pode fazer. E eu acho massa também o fato da arte ficar na rua, de ser gratuita, porque quando você coloca uma arte num museu, você acaba direcionando ela pra uma classe social. Na rua não, de criança a senhor, qualquer pessoa tem acesso, a arte se expande. Fica mais acessível do que quando está presa dentro de uma galeria.

FMQ?: Quem é que financia essa história? STK: Rude: Cada um tira do seu bolso pelo prazer de fazer. Às vezes a gente não tem dinheiro, quer fazer, e dá um jeito para que o movimento não pare. É uma coisa que eu acho que não deve parar. O custo não importa tanto, até porque, é barato. Tirar uma xerox, imprimir algo em casa, pegar um lápis ou um pincel, riscar e sair com alguma coisa. Sweetcrack: Sai do próprio bolso mesmo. Quando não tem papel, a gente faz com jornal. Naaah: Às vezes eu deixo de tirar xerox da universidade para xerocar os Stickers (risos). Lá em casa eu mostro e ninguém entende. Dizem: “mas o povo gosta de uma besteira dessas?”. Meu filho adora! Ele tem só dois anos, mas ele adora! Ele

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ajuda a colorir. Eu faço a matriz, xeroco e pinto a mão.

FmQ?: por falar nisso: vocês acham que o público em geral entende o que vocês estão fazendo? STK: Naaah: Eu acho que não, mas acho que eles se perguntam. E deixar esse questionamento, essa interrogação, é muito bom! É aquela história: você passou e ficou pensando. E depois, quando você passar de novo naquele lugar, vai dizer “eu vou olhar pra ver se ainda está ali, vou parar pra ver o que é aquilo que eu não entendi”. E eu acho isso, porque aconteceu comigo. O meu primeiro contato foi assim, eu passei e não entendi, depois eu voltei pra olhar e eu achei tão interessante que aderi ao movimento! Eu acho que o cara da xerox pensa que eu sou professora do ensino infantil, porque eu chego com um monte de desenho e digo: faça tantas cópias! (risos) Sweetcrack: Uma coisa é a galera ver você fazendo na sua casa, como, às vezes, sua família vê e não concorda. E outra coisa é ver ali, pronto, colado em algum lugar. Ali já mudou o conceito. Rude: No meu caso a minha família apóia. Eu não tinha dinheiro pra comprar cola, minha mãe foi lá em comprou. Meu pai nem tanto, ele não gosta, mas minha mãe apóia muito a questão da criatividade, da intervenção e também disso não ser uma coisa marginal, de acabar, de destruir as coisas. A gente quer modificar. Mostrar que Sticker, estêncil, grafite não são marginais, não é coisa de quem quer depredar. A gente quer revitalizar o ambiente.

FmQ?: Já que o sticker é um movimento que não é brasileiro, como é produzir este tipo de arte em campina Grande?

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STK: Rude: Eu quis fazer para trazer isso para Campina Grande e mostrar que também pode ser feito aqui. Não fica só resumido ao Rio de Janeiro, a São Paulo ou ao exterior como muita gente pensa. E, além de tudo, isso é a nossa reunião. É o momento de juntar o pessoal, de conversar, de trocar uma idéia e, às vezes, bater um papo sobre música. Pra quem gosta de futebol, é como se aqui fosse a nossa pelada! (risos) Naaah: Eu acho que a diferença maior daqui em relação aonde ele se originou é a questão do material mesmo. Por exemplo, eles investem pesadamente em auto-adesivo, que não é barato.

FmQ?: uma coisa muito interessante que a FmQ? percebeu é que não é só copiar, cortar, colar. existe uma composição gráfica. Vocês têm alguma regra na colagem do stickers? STK: Rude: Depende. Para se desenhar não existe regra. Você pode pegar um desenho bacana na internet e colar também – isso até ajuda na divulgação de outros artistas. O que a gente evita são coisas que agridam, que atrapalhem ou poluam. Por exemplo, colar uma placa de trânsito inteira é um coisa que ficaria bacana pra gente, mas para o motorista não fica bacana, isso é uma coisa que a gente não quer.

FmQ?: então, colar stickers é um movimento do coletivo para o coletivo? Naaah: Exato. E tem que ser coletivo, sozinho ninguém faz nada. Sweetcrack: E a gente não quer monopolizar nada. Quem quiser colar stickers, pode marcar com a gente pra dar um “rolé”. Queremos que o movimento cresça.


arte urbana

“Tem que ser coletivo, sozinho ninguém faz nada.”

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Ariano Nordestino Suassuna um elogio ao povo brasileiro

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capa

Às vezes dizem que eu me entusiasmo tanto, que acabo batendo palmas para mim mesmo, mas eu bato palmas é para o povo brasileiro.

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chegada de Ariano a maturĂŠia


capa 1. Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, protagonista do Romance d’A Pedra do Reino, uma de suas principais obras. 2. Segundo dados do IBGE 2007, Maturéia tem 5.785 habitantes. E foi transformada em cidade, desmembrandose de Teixeira, em 13 de dezembro de 1995. 3. Ariano Vilar Suassuna nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa (PB) em 16 de junho de 1927. 4. Em entrevista Ariano explica que sofreu muito por amor, já que sempre foi feio, desde pequeno e só queria moças bonitas. Sua salvação foi Zélia, a moça bonita com quem se casou em 1957 e teve seis filhos: Joaquim, Maria, Manuel, Isabel, Mariana e Ana Rita.

S

enhoras e senhores! Era uma vez um palhaço frustrado, da voz baixa, rouca, feia e fraca, que se diz “um escritor que desenha”. Ele vive como se fosse um personagem. Vez por outra, ao escrever, escapa da vida para o sonho. Como é um cidadão pacífico, fez um livro para vingar o assassinato do pai. Ele é natural do sertão - terra de ousados e firmes, como talvez descrevesse o Ariano Quaderna1. E na visita a Maturéia2, cidade 312 quilômetros distante da capital paraibana, um esforço para defender a cultura popular nordestina, da qual nosso personagem, Ariano Vilar Suassuna, é amante e defensor. Numa data que ficará marcada no povo matureense como a abertura do primeiro Festival do Frio na cidade. O caminho para Maturéia é pela mesma estrada estadual que dá acesso a Taperoá, a PB-238. É um charme a mais na visita, ao “requentar as lembranças” da cidade onde Ariano viveu dos seis aos quinze anos (1933 a 1942), quando a família se muda de vez para Recife. Foi nesta Taperoá que ele viveu os encantos da infância de um garoto sertanejo, marcado por algumas palavras e coisas que lhe são mágicas: circo, teatro, arte – e há separação entre elas? – cordel, filosofia, religiosidade. Algumas marcas de sua vida, alguns traços de sua obra. Uma Escola Municipal, Maria Tâmara. Um auditório adaptado, platéia e um tema que talvez lhe seja alheio. Uma voz preservada, rouca e baixa. Ministrar suas aulas espetáculo é provavelmente sua modalidade esportiva favorita aos 82 anos3. No entanto, exige que o professor Ariano, cansado pela idade, preserve a voz nos bastidores. Falar pouco para embarcar num circo-teatro e interpretar um palhaço-professor.

O EspETáCuLO O assunto da aula é exposto com o humor característico: “Olhe,

minha gente, se vocês acham que eu vim aqui pra falar de um assunto chato como ‘filosofia da arte’, acertaram, pois eu vim mesmo!”. Os movimentos alvoroçados dão a impressão que é tudo uma encenação, uma “contação” de estória de um professor que transmite com paixão a lição que mais prazer lhe traz lecionar: o amor, respeito e defesa da cultura popular. É fácil confundir-lhe com um personagem, com uma caricatura de si mesmo. O caminhar até a mesa é feito com calma. Jamais lentidão ou vagareza. Pisa firme para sentir onde está, caminha segurando uma pasta preta, mas “veste-se de claro”. Sobrancelhas brancas e grossas chamam a atenção de quem conta os “fiapinhos” de cabelo cinza. Muita orelha e longos braços, pernas e dedos. Num desses dedos, a aliança, símbolo do amor com dona Zélia Suassuna4. Como bom “animador de circo”, Ariano começa o espetáculo elogiando o público “sou um admirador do povo brasileiro, pela sua alegria, pelo seu gosto por rir. Esse povo que consegue zombar de si próprio em meio a tantas dificuldades”. Para o professor, a firmeza da nação tem a ver com o riso e cita exemplos: durante a ditadura fizeram tudo, mas não conseguiram acabar com o nosso riso e nossa gargalhada. O mambembe de tudo isso entra em cena agora, imagine-se o “cabimento” de pensar que o nazismo não daria certo no Brasil porque nós, povo brasileiro, logo faríamos algazarra. A esta altura, já se foram algumas pigarreadas – mal que foi educadamente advertido e avisado ao público no início da aula, uns goles de água, a passagem delicada do lenço no rosto. Sabe-se lá como e porque, Ariano tem memória afiada. Conta e comenta causos, histórias populares que somados às técnicas de teatro, anestesiam o público. E o elogio ao povo brasileiro começa a fazer sentido. É ele quem mantém viva a tradição e a cultura através da oralidade, e através dos

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5. O cordel é a fonte de inspiração dos trabalhos de Ariano, que os admira inclusive pela mescla três artes, utilizadas em sua obra: a literatura, a xilogravura e a música.

folhetos de cordel. E assume “às vezes dizem que eu me entusiasmo tanto, que acabo batendo palmas para mim mesmo, mas eu bato palmas é para o povo brasileiro”.

Para saber mais: ABc de Ariano de suassuna (Bráulio Tavares. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007) Aula magna (Ariano Suassuna. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2007) Revista Vintém http://www.wooz.org.br/ entrevistasuassuna.htm Revista continente multicultural http://www.continentemulticultural.com.br/index.php?option=com_co ntent&view=article&id= 3213&Itemid=62

EnTEnDEnDO TRAGÉDIA E COmÉDIA A tragédia e a comédia não existem separadamente. Para Ariano, o trágico e o cômico se misturam. Só que em cada gênero, um se sobrepõe ao outro. Ou seja, aqui e acolá, traços de riso, podem coexistir num fato trágico, mas este é superior ao engraçado. Quem sabe fazer-se personagem seja fácil para Ariano, porque ele entende o bé-a-bá da tragédia e da comédia? E se esta for a resposta, qualquer um poderia se transformar em João Grilo, Chicó, Pedro Quaderna e sair pelo mundo mentindo inocentemente, contando e fazendo história? E então leitor... Que tal participar e interagir com nossa revista? Você tem dotes literários ou, de repente, é um ótimo contador de causos. Crie uma história que se encaixe tanto na tragédia quanto na comédia e envie pra gente através do e-mail:

revistafomedeque@gmail.com A melhor história será publicada na próxima edição da revista. Nos próximos parágrafos, o professor Ariano Suassuna pediu licença ao artista para dar sua aulaespetáculo sozinho. E o fez tão bem, que montamos um esquema com as características da comédia e da tragédia, de acordo com as explicações dele. Reproduzimos também a historieta que ele contou como um exemplo que se encaixa nos dois contextos.

João era raquítico, franzino, frágil e cego de um olho. Era

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também amigo de Pedro, companheiro na deficiência física, que lhe acometia os dois olhos. Mas, dotado de porte físico invejável a qualquer um. Acostumado com a condição, é Pedro quem reluta em aceitar o convite de João para andarem de barco. Mas este franzino esperto convence o companheiro dizendo: - Eu guio o leme enquanto você rema. Situação inesperada era que, por acidente, o remo saltasse no olho bom de João, que aturdido com a dor, grita um “pronto”. Grito que Pedro entende como ordem de desembarque, realizado com sucesso, no meio do mar.

” CARACTERÍsTICAs

DOs GÊnEROs TRáGICO E CÔmICO tRÁGico

1. Personagem excepcional; 2. Ele precisa estar implicado numa ação na qual ele entra em conflito com a comunidade; 3. Tem um momento em que ele tem dois caminhos para escolher: o da acomodação e o do perigo - ele segue sempre o caminho do perigo; 3. Por causa dessa escolha, ele encontra seu destino trágico. Normalmente a morte, mas não apenas ela.

comédiA

1. Aristóteles: o cômico é uma desarmonia de pequenas proporções e sem consequências dolorosas; 2. Um pensador francês: uma desarmonia de grandes proporções pode ser cômica através do anestesiamento da sensibilidade do público; 3. Diz obscenidade com palavras de aparência inocente.




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