REVISTA CÁSPER #27

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´ CASPER 27 #

Maio, junho, julho e agosto de 2019

#opinião pública Políticos usam as redes sociais e ignoram jornalistas e RPs

NA PONTA DOS DEDOS A publicidade brasileira já investe mais de 4 bilhões de dólares em anúncios digitais. E é só o começo

Web rádio

A Gazeta AM migra de vez para a internet

50 anos

O que tem a comemorar o Jornal Nacional


PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

Produção e Práticas Jornalísticas na Contemporaneidade Produção, Criação e Gestão Audiovisual Transmídia Marketing e Comunicação Publicitária Comunicação Organizacional e Relações Públicas

Para aperfeiçoar atitudes e competências e se colocar em dia com o que de mais atual Processos Midiáticos: acontece na Comunicação.

Saiba mais sobre os cursos de especialização em:

LINHAS DE PESQUISA

casperlibero.edu.com/pos-graduacao

Tecnologia, Cidadania e Mercado Produtos Midiáticos: Jornalismo, Imagem e Entretenimento

INFORMAÇÕES casperlibero.edu.br


´ CASPER ISSN 2446-4910

FUNDAÇÃO CÁSPER LÍBERO PRESIDENTE Paulo Camarda SUPERINTENDENTE GERAL Sérgio Felipe dos Santos FACULDADE CÁSPER LÍBERO DIRETOR Welington Andrade REVISTA CÁSPER NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS COORDENADORA DE ENSINO DE JORNALISMO Tatiana Ferraz EDITOR-CHEFE Eduardo Nunomura EDITORAS Paula Leal Mascaro e Rafaela Bonilla CONSELHO EDITORIAL Adalton Diniz, Eduardo Nunomura, Fábio Caim, Marcelo Rodrigues, Marco Antonio Vale, Marli dos Santos, Patrícia Salvatori, Roberta Brandalise, Tatiana Ferraz e Welington Andrade REPORTAGEM Henrique Artuni, Larissa Basilio, Luana Jimenez, Paula Leal Mascaro, Pedro Garcia, Rafaela Bonilla e Thiago Bio COLABORADORES Carolina Terra, Fabiana Pinheiro, Fábio Caim, Marco Vale e Tatiana Ferraz EDITORA DE ARTE E FOTOGRAFIA Luana Jimenez PROJETO GRÁFICO Giulia Gamba DIAGRAMAÇÃO Henrique Artuni, Larissa Basilio e Luana Jimenez

AS GRANDES CONEXÕES Em 11 de maio de 1997, o então supercomputador Deep Blue, da IBM, derrotou pela primeira vez uma lenda do xadrez mundial, o russo Garry Kasparov. O feito foi tão extraordinário que os visionários de plantão se anteciparam a dizer que em pouco tempo as máquinas seriam capazes de pensar sozinhas. Mais duas décadas depois nada disso aconteceu. Mas assusta pensar que um iPhone X, da Apple, tenha 30 vezes mais capacidade de processamento do que o bravo Deep Blue. Esse poder computacional concentrado em um pequeno dispositivo móvel, que cabe na palma da mão, tem revolucionado as comunicações. A reportagem de capa, assinada pelas editoras Paula Leal Mascaro e Rafaela Bonilla, investiga como o “mobile only” se tornou a nova ordem do mundo digital. Agências de publicidade investem em peças, anúncios e outras formas interativas que se ajustam às telas dos celulares. Tudo para captar a atenção dos usuários. Por enquanto, os potentes aparelhos telefônicos móveis podem até seduzir e criar desejos de compra, mas os consumidores ainda não foram “derrotados” pela máquina. Nesta edição, apresentamos ainda um leque de leituras variadas, tal como um celular cheio de apps e com o mesmo objetivo de prender sua atenção. Essa disputa é ferrenha, e quem melhor pode dizer isso é o Jornal Nacional, que completará 50 anos em 1º de setembro. Reportagem de Larissa Basilio mostra, de forma crítica, como o programa se tornou o principal e mais debatido noticiário brasileiro. Mostramos também como os políticos têm criado estratégias próprias de se relacionar com a população por meio das redes sociais - para desespero dos jornalistas e dos relações públicas. A rádio Gazeta AM, emissora universitária da Cásper Líbero, se voltou para a internet. Agora, pelo aplicativo ou pelo site, o ouvinte pode escutar a programação feita por estudantes da Faculdade em qualquer lugar do mundo. Boa leitura a todos.

REVISÃO Pedro Garcia e Thiago Bio NÚCLEO EDITORIAL DE REVISTAS Avenida Paulista, 900 – 5º andar 01310-940 – São Paulo – SP (11) 3170-5874/5814 revistacasper@casperlibero.edu.br revistacasper.casperlibero.edu.br

EDUARDO NUNOMURA

Editor-chefe

CAPA Luana Jimenez

CC

BY

Se não houver um © explicitado, você pode copiar, adaptar e distribuir os conteúdos desta revista, desde que atribua créditos

CÁSPER

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SUMÁRIO

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:: FEITO À MÃO :: Como as deepfakes são uma séria ameaça para a sociedade

OS POLÍTICOS NA REDE Eles decidiram falar direto com o povo

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REALITY SHOW

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Por que faz tanto sucesso

INFOGRÁFICO Você sabia que existem diferentes tipos de documentários?

GAZETA

A primeira rádio paulistana inova no meio digital

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ENQUADRAR

O cinema dissecado nos storyboards

UM JORNAL NACIONAL

38 Telejornal completa cinco décadas GENIUS

44 A música discutida coletivamente CASPERIANAS

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Destaques internacionais

:: GIRO PELO MUNDO ::

16 CAPA

AGORA É NO MOBILE O mercado publicitário só pensa nos smartphones

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EXPOGRAFIA

Entenda como se monta uma exposição

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:: NA ESTANTE ::

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PORTFÓLIO

O fotógrafo que clicou de perto os grandes astros do rock


MESTRADO

FACULDADE CÁSPER LÍBERO

COMPREENDENDO OS NOVOS DESAFIOS DA COMUNICAÇÃO

Investigar os avanços tecnológicos, dos mercados profissionais e dos processos e produtos da mídia para compreender os novos significados da comunicação contemporânea. Esta é a proposta do Programa de Mestrado da Cásper Líbero. O programa desafia seus alunos como pesquisadores a se envolverem na vida acadêmica para acompanharem os avanços e as mudanças que eles provocam na comunicação e na sociedade através de atividades de pesquisa, grupos de estudo e eventos nacionais e internacionais.

LINHAS DE PESQUISA Tecnologia, organizações e poder Jornalismo, imagem e entretenimento

INFORMAÇÕES casperlibero.edu.br CÁSPER

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POR ONDE ANDA RODRIGO LORENZON

PAULA LEAL MASCARO

Foco na produção :: AUDIOVISUAL :: Felipe Ferreira

conta sua trajetória desde a monitoria na Cásper até a Fox

“L

embro do primeiro texto que tive que ler na faculdade em 2006. Não entendi nada e pensei: esse curso não dá para mim.” O texto era do teórico da comunicação Walter Benjamin. Mas, pouco a pouco, o casperiano foi se familiarizando com as disciplinas e se tornou um apaixonado pelo audiovisual. Em 2007, teve experiência como monitor da coordenadoria do curso de Rádio, TV e Internet. No ano seguinte, conseguiu um estágio na Gazeta AM e lá ficou por dois anos. Na rádio, foi operador de áudio, cuidou da central técnica e chegou a apresentar o programa Tarde Gazeta. Diploma na mão, foi contratado como cabo man na TV Gazeta. Era um emprego de carteira assinada, mas desde os tempos da Faculdade alimentava o desejo em trabalhar com produção. Quando recebeu um convite da veterana Regiani Ritter para produzir programas esportivos, não pensou duas vezes. Como assistente de produção, foi para a Argentina cobrir a Copa América de 2011. Na volta para o Brasil, soube que a Fox Networks tinha uma vaga para produção. Conquistou o emprego em 2012. Em sete anos na Fox, hoje é responsável pela supervisão editorial e artística das produções originais do grupo. Em 2011, fez mestrado na Cásper Líbero em Comunicação e deu aula no curso de pós-graduação na Anhembi Morumbi. “Me deixou com gosto de quero mais”, diz sobre a experiência como professor. Similaridades entre a academia e o mercado audiovisual? “Meu trabalho é fazer as pessoas felizes. Acho isso tão bonito quanto ser professor”, sorri.

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Para o produtor, um grande desafio é definir o que as pessoas vão querer assistir daqui a dois ou três anos


FEITO À MÃO LUANA JIMENEZ REPRODUÇÃO

Agora são deep fakes :: DESINFORMAÇÃO :: Uma nova tecnologia que se baseia em inteligência artificial permite criar vídeos falsos hiper-realistas Mudar um texto e dar a ele uma faceta de realidade não só é fácil como virou uma epidemia mundial. As fake news estão aí para provar. Mas o que antes parecia coisa de ficção científica vem se tornando realidade com as chamadas deep fakes. A criação de vídeos hiper-realistas falsos tem o potencial de levar a propagação da desinformação para um outro patamar. Tudo começou quando, em 2017, um usuário do Reddit colocou rostos de atrizes hollywoodianas no corpo de atrizes pornô. As deep fakes se tornaram possíveis por meio da inteligência artificial, na qual se combinam e se sobrepõem imagens e vídeos reais sobre outros conteúdos produzidos pela tecnologia batizada de GAN (generative adversarial network, em inglês). Na prática, ela funciona a partir de duas redes: um gerador que parte de uma base de dados para criar novos “produtos” e um discriminador capaz de identificar erros e fazer as correções. No site thispersondoesnotexist.com, é possível capturar rostos de pessoas que, simplesmente, não existem (isso explica como existem tantos trolls nas redes sociais). Não é preciso recorrer a teorias conspiratórias para imaginar os riscos. Contudo, já há usos positivos. Em 2018, foi realizada a primeira pintura de um retrato por meio da GAN. Essa peça foi leiloada na Christie’s, nos EUA, por quase 500 mil dólares.

Não é de todo improvável pensar que Barack Obama ache que “Donald Trump é um idiota”. Mas ouvir o ex-presidente usando essas palavras (em inglês, claro) para se referir ao seu sucessor são outros quinhentos. Utilizando a tecnologia GAN, o site Buzzfeed fez exatamente isso. O ator Jordan Peele gravou a “fala” para um Obama-fake e a tecnologia finalizou o serviço. Primeiro, ela identificou os padrões nos rostos de ambos e depois sincronizou nariz com nariz, olho com olho, até fazer com que uma imagem estática do ex-presidente (objeto alvo) se movesse conforme o movimento do dublê (objeto fonte). A voz, ainda que estivesse um pouco estranha, foi imitação do ator.

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MARGARET HERRICK LIBRARY, ACADEMY OF MOTION PICTURE ARTS AND SCIENCES / REPRODUÇÃO

Momento mais célebre de Psicose (1960), a cena do assassinato, plano a plano, pela arte de Saul Bass

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PRODUÇÃO

O storyboard, que antecipa as cenas como em uma história em quadrinhos, virou ferramenta fundamental para o audiovisual POR HENRIQUE ARTUNI ganização da sua trupe de desenhistas. Em poucos anos, a técnica se popularizou na indústria cinematográfica. À primeira vista, esses desenhos podem ser encarados como guias descartáveis, por eles só servirem de apoio às filmagens. “Mas o storyboarding é claramente uma arte e tem ganhado reputação e reconhecimento”, conta a crítica inglesa Fionnuala Halligan no livro The Art of Movie Storyboards. Para a autora, é importante dar valor a esse tipo de trabalho não só pela beleza de alguns, mas pela engenhosidade dos desenhos, feitos com base no roteiro e em conversas com a direção. “O storyboard deve ser uma primeira versão completa da sua narrativa visual”, define Marco Vale, professor de linguagem cinematográfica da Faculdade Cásper Líbero. “Isso não quer dizer que ele deva ser uma camisa de força. No processo da gravação, você pode perceber novas possibilidades, ângulos”. Um bom storyboard, como em uma história em quadrinhos, deve trazer a sequência dos acontecimentos, movimentos de câmera e dos atores. Mesmo que a ideia seja fazer uma cena longa em um take só, não quer dizer que ela vai ocupar apenas um quadro no storyboard. Durante a etapa da produção, os desenhos planejados são essenciais para identifi-

NEWMARKET PRESS

O ASSASSINATO NA BANHEIRA de Psicose (1960) nunca foi “só uma cena” para Alfred Hitchcock. Filmado obsessivamente ao longo de uma semana, compõe-se de 78 planos e 52 cortes em cerca de 45 segundos. Para planejá-la, o cineasta trouxe ninguém menos que Saul Bass, designer gráfico famoso à época por cartazes como o de Um Corpo que Cai (1958), do próprio Hitchcock. O artista ficou responsável pelo storyboard da cena – um roteiro visual auxiliar às filmagens, em que os enquadramentos e movimentos de câmera são planejados antes no papel. O resultado ficou tão parecido com seus desenhos que Bass chegou a reclamar a direção da cena para si – mas, quando fez isso, o mestre do suspense já estava morto. Antológica, a cena virou o documentário 78/52 (2017), disponível na Netflix, e até hoje o momento faz parte do imaginário, inclusive, de pessoas que nunca viram Psicose. Na história do cinema, o storyboard tem sido precioso para manter as engrenagens de Hollywood girando desde a década de 1930. Com filmagens que raramente duram mais de quatro meses, é preciso evitar desperdício de tempo e dinheiro. Walt Disney, creditado como um dos precursores da ferramenta, começou planejando suas animações por meio desses roteiros auxiliares para facilitar a or-

Storyboard de Steve Skroce para uma das cenas mais famosas de Matrix (1999)

car se a narrativa está compreensível para o espectador, onde pode melhorar, se não está ficando chata. Para que a Warner aceitasse bancar os 60 milhões de dólares de Matrix (1999), os então irmãos (hoje irmãs) Wachowski, cineastas iniciantes, tiveram que desenhar praticamente o filme inteiro, cena a cena, para provar que o roteiro da ficção científica era viável. Destino não tão feliz teve Duna, do diretor mexicano Alejandro

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DUNE.INFO / REPRODUÇÃO

Para fazer o ambicioso Duna, Alejandro Jodorowsky conseguiu reunir nomes como o artista Chris Foss (autor da nave à direita), o quadrinista Moebius, Pink Floyd para a trilha sonora, além de ter escalado estrelas como Orson Welles, David Carradine e Mick Jagger. Ambicioso demais para sua época, Duna só chegaria às telonas em 1984, pelas mãos de David Lynch, sem muito refinamento. Ao lado, uma sequência do storyboard desenhado por Moebius, que descreve a trajetória de uma nave espacial e o desembarque de seus tripulantes em uma base. A sequência duraria por volta de um minuto nas filmagens

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Jodorowsky, que nasceu no papel – e por lá ficou. Para essa ficção científica psicodélica (e cara) demais para a década de 1970, o diretor fez um roteiro e chamou Moebius, pseudônimo do quadrinista francês Jean Giraud, para desenhar o storyboard do filme inteiro (um catatau com mais de mil páginas), além de reunir uma grande equipe para realizar artes conceituais e costurar figurinos. O filme não foi realizado, mas todo o material da produção acabou passando pelas mãos de nomes como Steven Spielberg, George Lucas e Ridley Scott. Não por coincidência, na mesma década, esses diretores produziram alguns dos maiores clássicos da ficção científica. A jornada dessa inspiradora produção foi resgatada no documentário Duna de Jodorowsky (2013). COM O TEMPO, o storyboard tornou-se uma ferramenta comum nas várias frentes do audiovisual. No mundo da publicidade, quando as propagandas ainda eram gravadas em película para ficarem mais bonitas na TV, um shooting board (outro nome dado para os storyboards, podendo denotar um roteiro visual mais rígido) aprovado de antemão facilitava o processo. Clipes musicais, especialmente os que contam uma história, também recorriam a esses desenhos, auxiliando na sincronia entre a trilha e as imagens.


O2 FILMES / ARQUIVO

Apesar de o videoclipe de O Farol, de Ivete Sangalo, ser em 360º, o storyboard realizado seguiu o padrão clássico

REPRODUÇÃO

O croqui em papel e o planejamento digital do filme 360º Inspector Crazy Schuss & Kuss, de Christophe Merkle

Na era da computação gráfica, surgiram os animatics, animações rudimentares feitas a partir dos desenhos do storyboard. No software de edição de vídeo, é possível trabalhar as imagens, simulando movimentos de câmera e planejando a duração de cada quadro, sincronizado com trilha e efeitos sonoros provisórios. Mais recentemente, a tecnologia vem proporcionando experiências imersivas mais complexas – e nas quais os storyboards também marcam presença. Em 2015, Ricardo Laganaro, à época na O2 Filmes e, hoje, chefe do departamento de storytelling do estúdio Árvore, dirigiu O Farol, videoclipe em 360o de Ivete Sangalo. Na produção, o espectador é convidado a acompanhar a estrela, enquanto ela passeia por diversos cenários montados em um estúdio. “Foi muito necessário [ter um storyboard] porque a gente precisava explicar para a Ivete o que ela ia fazer. Como ainda hoje é impossível fazer um layout em 360o funcional, fizemos de uma forma que pudesse enviar um PDF para ela e conversar

por telefone”, conta Laganaro. No fim, foi feito um storyboard clássico, mas com a diferença de que as setas dos desenhos não significavam movimentos de câmeras, mas a navegação esperada do espectador. Para sofisticar o storytelling de seus produtos, o setor de experiências imersivas tem buscado novas formas de planejar suas narrativas. Em seu blog, o cineasta e pesquisador norte-americano Christophe Merkle mostra como visualiza seus experimentos em papel. Em croquis que remetem aos do palco de um teatro arena, desenha-se uma circunferência em perspectiva isométrica, e o movimento dos atores é pensado em relação ao espectador e seu campo de visão. A partir daí, é possível planejar aspectos como a localização da equipe e microfones – coisas que devem ser escondidas do espectador. Existem, ainda, softwares como o ShotPro, em que é possível criar storyboards em 3D usando modelos simples e câmeras virtuais que simulem a visão do espectador. Na perspectiva de Merkle, a chave agora é “criar mundos, não quadros”. @

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RÁDIO

AS BOAS NOVAS DA GAZETA A primeira emissora radiofônica de São Paulo passa a ser transmitida exclusivamente por aplicativo e site, adaptando-se ao público jovem e sinalizando uma programação mais interativa POR PEDRO GARCIA E THIAGO BIO

ÀS 19 HORAS DE 28 DE JANEIRO DE 2019, o locutor Gilles Sonsino encerrava o noticiário do dia com a seguinte narração: “O Jornal da Gazeta AM fica por aqui. Muito obrigado pela sua audiência e companhia. Amanhã nós nos vemos exclusivamente pelo aplicativo da rádio Gazeta e pelo site gazetaam.com”. Em seguida, entrava no ar o programa A Voz do Brasil, pela última vez, e um novo e revigorante capítulo se iniciava nos 75 anos da primeira emissora radiofônica de São Paulo (além das duas décadas da Rádio Sociedade Paulista, que obteve a concessão inicial) e a segunda mais antiga do Brasil. A Rádio Gazeta AM, uma emissora universitária da Cásper Líbero, encerrou a transmissão na frequência 890 kHz, mas manteve sua programação exclusivamente online. Deixou de ser AM, portanto. A mudança foi pensada pela Fundação Cásper Líbero como uma “readequação no modelo de distribuição do conteúdo”, como explica o coordenador de produção da emissora, Leonardo Levatti. A ideia é trabalhar em um ambiente que faça mais sentido para quem está estagiando e colaborando na rádio, os estudantes da Faculdade. Isso significa aperfeiçoar ou ampliar as produções transmidiáticas e multiplataformas da emissora, aumentando a integração entre unidades de negócio da Fundação e os órgãos-laboratoriais da Faculdade. Está prevista, por exemplo, a instalação de câmeras para veicular vídeos e transmissões ao vivo, potencializando a distribuição de conteúdo pelas redes sociais. “A gente vai ter uma plurali-

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dade de natureza de conteúdos, a sonora e a audiovisual. É uma experiência que vai fortalecer muito mais o aluno no quesito mercado de trabalho, comunicação na contemporaneidade e espírito multiplataforma”, diz Levatti. O fim da transmissão da rádio na frequência do AM representa uma mudança de paradigma em curso em muitas localidades. “O radinho de todo mundo será o celular e o acesso será pela banda larga”, afirma Marcia Detoni, professora de Radiojornalismo da Faculdade, ressalvando que isso só virá a ocorrer em todo o território no longo prazo. Mas os hábitos de ouvir rádio já vêm mudando em ritmo acelerado. Mesmo sendo um apaixonado pelo dial, o aposentado Mauricio Tavares, de 65 anos, começou a ouvir a Gazeta AM pelo seu celular após as mudanças de transmissão, tudo para não perder os programas favoritos. “Sempre gostei muito mais de rádio do que de televisão. Fui criado ouvindo rádio no interior, naquela época a televisão não tinha chegado em Murutinga do Sul (SP)”, diz Tavares, ouvinte há mais de dez anos da Gazeta. Ele lembra ainda hoje quando foi a primeira vez que teve contato com a emissora. Estava buscando algo no rádio e ouviu a voz da apresentadora Regiani Ritter, que reconheceu de bate-pronto. Passou a ouvir todos os dias o programa Disparada no Esporte. Tavares faz questão de interagir e costuma entrar em contato sempre para “elogiar, incentivar, corrigir, puxar a orelha do pessoal”. Na internet, ele já percebeu uma melhora na qualidade de som, porque antes no rádio “dava uma chiada”.


OS TIPOS DE TRANSMISSÃO Mídia antiga, o rádio passa por mudanças nos seus modelos de difusão, adequando-se às novas tecnologias VARIAÇÃO EM AMPLITUDE

ONDAS HERTZIANAS

A

T

500-1600 kHz A faixa altera a altura da onda, com baixa qualidade de som A

T

87,5-108 MHz VARIAÇÃO EM FREQUÊNCIA A banda modula em frequência, e os ruídos são menos recorrentes MHz

FM

EXPANSÃO

87,5

108

FM ESTENDIDO

87,5

108

MHz

76

Como as frequências do FM já estão ocupadas, a solução é uma versão estendida entre os 76 MHz e 87,5 MHz. Antes entregue à TV analógica, poderão entrar no espaço 30 novas emissoras.

RÁDIO ONLINE

(WEB RÁDIO)

O conteúdo radiofônico é distribuído por meio do sinal das operadoras. A gravação nos estúdios vai para um servidor e é transmitida como se fosse um e-mail ou um áudio de WhatsApp. Quem estiver conectado pode acessar a programação.

R Á D I O

D I G I T A L

COMO FUNCIONA?

010010111000101000101001001 Depois de digitalizar o áudio, a sequência binária é transmitida pelo ar de forma parecida ao analógico (torres e antenas).

É VIÁVEL? Chamado de HD Radio, em inglês, por ter uma qualidade de som melhor, seria necessário trocar todos os aparelhos de recepção e transmissão de rádio para o digital ser executável. CÁSPER

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Esses ruídos na frequência do AM são explicados pelo supervisor de operações da Rádio Gazeta, Roberto Vilela. “A tecnologia AM sofre cada vez mais interferência das novas tecnologias. Tudo que for elétrico, sem fio ou tiver algum tipo de transmissão dá interferência”, conta. Vilela lembra que quando entrou na rádio, 21 anos atrás, nem havia computadores dentro dos estúdios. Usava gravador de rolo, vinil, minidisc e CD. “A mudança de tecnologia é necessária, e eu até gosto”, diz. “É um passo importante para que a gente possa evoluir.” Os ruídos que incomodavam ouvintes como o aposentado Tavares praticamente inexistem na rádio FM, que possui uma qualidade de som superior e é a mais consumida no Brasil. A faixa AM opera entre os 500 kHz e 1600 kHz em amplitude modulada (Veja infográfico na página anterior). A banda FM varia em frequência e está entre 87,5 MHz e 108 MHz (também conhecida por modulação em fase). O AM está para o FM como a água está para o vinho. O problema é que em grandes centros urbanos, como a metrópole paulistana, o dial do FM já está tomado pelas emissoras, sendo necessário criar a versão estendida. Essa

DIFUSÃO EM NÚMEROS

nova faixa funcionaria da mesma maneira que a convencional, porém em uma frequência mais baixa – entre 76 MHz e 87,5 MHz. A medida permitiria a inclusão de cerca de 30 novas rádios. Essa possibilidade surgiu depois que a frequência dos antigos canais 5 e 6 da TV analógica foi desativada com a migração para o modelo digital. Ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff foi anunciado que as rádios que operam no AM poderiam solicitar a transição para o FM. Em 2018, já com Michel Temer no governo, o assunto voltou à tona, quando foi anunciado que todas as rádios deveriam solicitar essa migração e que ela aconteceria mediante o pagamento de uma taxa que varia entre 4,4 mil e 8,4 mil reais. Mas de lá para cá nunca mais houve pronunciamento oficial sobre o assunto por parte dos órgãos responsáveis – pelo menos até o fechamento desta edição. O DESTINO DO AM PARECE INCERTO. “Antes se falava muito no apagão analógico. Hoje não se fala mais nisso. Em lugar algum do Brasil uma emissora de rádio foi para o estendido, porque o governo não autorizou”, relata

DISPOSITIVOS utilizados para ouvir as rádios (mais de uma resposta possível)

O Book de Rádio 2018 do Kantar Ibope mostra como os brasileiros escutam e comercializam essa mídia pelo Brasil

85% 18%

PUBLICIDADE

4,4% do investimento publicitário do primeiro semestre de 2018 foi destinado ao rádio

3 MILHÕES de inserções publicitárias foram feitas ao todo no mesmo período

1 MILHÃO de horas é o total de tempo preenchido por publicidade nas emissoras monitoradas durante o período de tempo da pesquisa

7.987 anunciantes investiram no rádio - desses, 49% são exclusivos (investem apenas em rádio)

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4%

pelo rádio comum

pelo celular

pelo computador

5% por outros meios

LOCAIS em que os usuários escutam as emissoras (mais de uma resposta possível)

71% 21% 12% 7% 3% em outros locais

em casa

no carro

no trabalho

no trajeto


PEDRO GARCIA

A Rádio Gazeta é a segunda emissora mais antiga do Brasil. Atualmente é um órgão universitário da Cásper Líbero, e segue com sua transmissão apenas no ambiente digital para se adaptar aos novos tempos

ACERVO GAZETA PRESS

ACERVO GAZETA PRESS ACERVO GAZETA PRESS

Vilela. A professora Márcia acredita que o AM não desaparecerá. “As cidades do interior precisam se comunicar”, alerta, frisando a ocorrência de rádios AM Brasil adentro. Pelo alcance maior, somente esse tipo de transmissão, que demanda alta potência e investimentos elevados, chega em áreas mais remotas. Se não fosse o rádio, que chegou ao Brasil em 1922 com a transmissão de um discurso comemorativo dos cem anos de Independência, muitos brasileiros não teriam tido acesso à informação ao longo desse período. Nunca é demais lembrar que aqueles que não sabiam ou sabem ler tinham ou têm no famoso “radinho de pilha” um importante aliado. A primeira emissora de FM no Brasil, a rádio Imprensa, só veio a surgir em 1955. Com a chegada da internet, apareceram veículos radiofônicos pensados exclusivamente para o ambiente digital, enquanto as antigas emissoras precisaram passar a trabalhar com o online com as suas transmissões habituais. Enquanto as modernas tecnologias não chegam, as emissoras buscam se adaptar aos novos tempos de diferentes maneiras. A rádio Jovem Pan investe na área audiovisual por meio da JP TV, basicamente com programas jornalísticos. Os vídeos são transmitidos ao vivo pela internet e ficam disponíveis no site da emissora. Já a CBN investe em podcasts, falando de alimentação, automóveis, educação, jornalismo, negócios e tecnologia. Para a professora Márcia, essa é uma tendência promissora para a mídia em áudio. “O desejo on demand é uma característica dessa nova sociedade”, comenta. Entre reinvenções e modelos de negócio, o rádio vive uma nova fase, sem perder o poder de conversar com o “amigo ouvinte”. De acordo com a pesquisa Book de Rádio 2018, do Kantar Ibope, o consumo pela web é de 2h21 diárias – valor que aumentou 14 minutos em relação a 2017. A audiência dessas emissoras online é jovem e tem entre 20 a 49 anos, público preferido pelo mercado anunciante. No mesmo estudo, foi mostrado que três a cada cinco brasileiros escutam rádio todos os dias – sendo que cada um deles passa cerca de 4h40 diariamente ouvindo essa mídia. @

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SOCIAL

O

V TI SI PO

EX

OBSERVATIVO

maio • junho • julho • agosto 2019

O PROCESSO (2016) Dir.: Maria Augusta Ramos O impeachment de Dilma Rousseff visto de perto

ENTREATOS (2004) Dir.: João Moreira Salles A vida de Lula nos bastidores da eleição presidencial de 2002

COWSPIRACY (2014) Dir.: Kip Anderson e Keegan Kuhn Os problemas causados pela agropecuária e ignorados por ambientalistas

ÔNIBUS 174 (2002) Dir.: José Padilha O que um espetáculo criminoso significa para a sociedade brasileira

REFLEXIVO

ABSORVENDO O TABU (2018) Dir.: Rayka Zehtabchi Vencedor do Oscar, o curta discute o preconceito contra a menstruação na Índia

ILHA DAS FLORES (1989) Dir.: Jorge Furtado O ciclo capitalista do consumo e o lixo produzido por ele

TIROS EM COLUMBINE (2002) Dir.: Michael Moore O cineasta investiga a cultura armamentista nos Estados Unidos

QUEM MATOU ELOÁ? (2015) Dir.: Lívia Perez Uma discussão sobre a cobertura midiática no caso de Eloá Pimentel

SOCIAL

IP

RT IC

PA

A

SUBJETIVO

OBJETIVO

AS CANÇÕES (2011) Dir.: Eduardo Coutinho Como as músicas podem traduzir nossas memórias mais célebres

TI V O

PESSOAL

PESSOAL

EDIFÍCIO MASTER (2002) Dir.: Eduardo Coutinho As histórias dos moradores do icônico prédio em Copacabana contadas por eles mesmos

JOGO DE CENA (2007) Dir.: Eduardo Coutinho Onde começa o teatro e onde termina a vida?

MARTÍRIO (2017) Dir.: Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho, Tatiana Almeida Uma análise da violência sofrida pelo povo indígena Guarani Kaiowá, um dos maiores do Brasil CABRA MARCADO PARA MORRER (1984) Dir.: Eduardo Coutinho O diretor e sua equipe retornam ao local de uma filmagem interrompida pelo Golpe Militar

OBJETIVO

POR HENRIQUE ARTUNI E RAFAELA BONILLA

Um mapa das diferentes formas de contar histórias verídicas

CARTOGRAFIA DO REAL

D O C U M E N TÁ R I O


LÍNGUAS DESATADAS (1989) Dir.: Marlon Riggs Narrativa experimental em que o próprio diretor discute sua situação como negro, gay e soropositivo

O ATO DE MATAR (2012) Dir.: Joshua Oppenheimer Um esquadrão da morte da ditadura indonésia é convidado a reencenar seus “feitos”

JUÍZO (2007) Dir.: Maria Augusta Ramos As violências do Judiciário brasileiro ao lidar com os infratores menores de idade

PERFORMÁTICO - Histórias subjetivas são encenadas quase de forma ficcional POÉTICO - Enfático nas emoções e impressões evocadas pelas imagens

PARTICIPATIVO - Mostra uma vivência imersiva do cineasta e de sua equipe no tema OBSERVATIVO - Como um voyeur, o cineasta acompanha a ação sem intervir explicitamente

OS TIPOS DE DOCUMENTÁRIO

ELENA (2012) Dir.: Petra Costa Uma jornada pessoal da diretora em busca da irmã que se suicidou

AFUNDE OU NADE (1990) Dir.: Su Friedrich A cineasta reflete sobre aspectos e traumas de sua infância

REFLEXIVO - Propõe questionamentos não apenas sociais, mas também linguísticos

SUBJETIVO

CHUVA (1929) Dir.: Joris Ivens e Mannus Franken A vida de Amsterdã vista pelos reflexos da chuva

SANTIAGO (2007) Dir.: João Moreira Salles Um patrão tenta se aproximar de seu mordomo – e fracassa

RESPOSTA DAS MULHERES (1975) Dir.: Agnès Varda Elas respondem: o que é ser mulher?

O HOMEM-URSO (2007) Dir.: Werner Herzog Como a tragédia de um dito “homem-urso” pode nos fazer pensar sobre a beleza

PESSOAL

POÉTICO

EXPOSITIVO - Comum nas reportagens, aposta nas informações transmitidas verbalmente

UM HOMEM COM UMA CÂMERA (1929) Dir.: Dziga Vertov Filme soviético pioneiro sobre o próprio fazer cinematográfico

SÓ HÁ UMA MANEIRA de enxergar a realidade? Diante desta questão realizamos um mapa para localizar as matizes do documentário e como se mesclam. A partir de uma seleção de filmes disponíveis na web e em plataformas de streaming, localizamos as obras em relação a dois eixos (objetivo-subjetivo e social-pessoal). Traçamos, então, ilhas que conseguissem mostrar a fluidez dos seis tipos de documentário definidos pelo teórico de cinema Bill Nichols. Com o auxílio do professor Marco Vale, da Cásper Líbero, optamos por evidenciar o gênero dominante de cada filme. @

SOCIAL

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PERFORMÁTICO

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REDES SOCIAIS

UM NOVO QUARTO PODER Políticos enxergam plataformas como Facebook e Twitter como a nova esfera pública e recorrem a elas para divulgarem atos e se autopromoverem POR PAULA LEAL MASCARO E RAFAELA BONILLA

HÁ UMA NOVA GERAÇÃO de políticos que não está nem aí para os profissionais da imprensa ou de relações públicas. Nos cálculos eleitorais, basta serem vistos, construírem uma reputação (boa ou má), exercerem influência sobre parte da sociedade e, se possível, se tornarem populares. Traduzindo para o contexto da web 2.0, eles querem ter perfis meméticos, escrever posts ou tuítes altamente compartilháveis e comentados por milhares como forma de atrair ainda mais seguidores. Quem já está fazendo isso descobriu que pode abrir mão da mediação antes feita por jornalistas e RPs. No século XXI, a clássica frase de Abraham Lincoln, no discurso de Gettysburg em 1863, foi subvertida. Para os novos governantes, a comunicação política deve ser do povo, pelo povo e para o povo das redes sociais.

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Em fins de março de 2019, os políticos de Brasília pareciam estar à beira de um ataque de nervos. Pela imprensa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lançava farpas na direção do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). “Eu não uso as redes sociais para agredir ninguém, eu uso as redes sociais para dar informação aos meus eleitores, à sociedade brasileira”, disse Maia, um jovem político conservador, filho de outro conservador veterano, o ex-prefeito carioca César Maia. Em uma frase, Maia resumia como a política mudou de patamar. E de palco. A esfera pública agora atende pelos nomes de Facebook, Twitter, Instagram ou WhatsApp. Bolsonaro tuita entre 5 a 10 mensagens diárias. Desde que assumiu a Presidência, os textos saem sem erro


de português, zelosamente formais para um ambiente mais libertário como o Twitter e, não raras vezes, são autopromocionais. Comemora com cards bem feitos os 3,8 milhões de seguidores na plataforma ou os 11 milhões no Instagram. Posta vídeos ao lado de populares e convoca os internautas para a transmissão semanal (live) de quintas-feiras pelo YouTube. Pai-coruja, compartilha muitas coisas dos filhos, os políticos Flávio (senador), Carlos (vereador) e Eduardo (deputado federal), conhecidos como 01, 02 e 03. Manda recados nada cifrados, como em 27 de

março, em que citou frase de Roberto Marinho, da Rede Globo, que chamava a ditadura civil-militar de “Revolução de 1964”. E discute a Previdência no limite dos 280 caracteres em vez de debater o assunto com os parlamentares eleitos pelo povo. Não surpreende que ele se autodeclare como “capitão do Exército Brasileiro” em seu perfil @jairbolsonaro no Twitter, antes mesmo de se reconhecer como presidente. Mas é surpreendente que essa estratégia tenha mudado a lógica da política brasileira tão rapidamente. Para vencer as eleições, Bolsonaro gastou menos

de 2 milhões de reais e só contava com 8 segundos no horário eleitoral do primeiro turno. O banqueiro Henrique Meirelles (MDB) gastou 27 vezes mais e tinha 1 minuto e 55 segundos. Em 2014, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro já mapeava eleitores potenciais e arregimentava militantes nas redes sociais. Falava (e continua falando) para o seu público-alvo, um rebanho disposto a seguir a lógica de seu líder. “Quando você fala de tudo, não fala de nada”, alerta Cesar Ungarelli, produtor de conteúdo de marketing político e sócio do EleitorWeb, sobre a importância da ISAC NÓBREGA / PR

Tuiteiro contumaz, Bolsonaro manda recados pelas redes sociais e ignora veículos de comunicação para fazer política

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THE WHITE HOUSE / SHEALAH CRAIGHEAD

segmentação do discurso. O capitão tem a sua própria plateia. Bolsonaro segue os passos do presidente dos Estados Unidos, o magnata Donald Trump. Ambos se elegeram com forte discurso de rejeição à imprensa. Na diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, o presidente brasileiro foi enfático ao afirmar que “o poder popular não precisa mais de intermediação, as novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o eleitor e seus representantes”. Um dos passatempos prediletos do republicano Trump é vociferar contra a mídia tradicional, como CNN, New York Times e Washington Post. Acusa esses veículos de serem “fake news”, deturpando e borrando a compreensão correta sobre o tema. Bolsonaro fez o mesmo ao se voltar contra a jornalista Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo. Para atacá-la, recorreu a uma informação falsa. É preciso voltar ao tempo para entender as transformações da comunicação política. No início da década de 1990, a internet capturou para si a ideia de espaço privilegiado para a formação da opinião pública. Quando todos se tornaram emissores e receptores, os políticos e os partidos partiram para o diálogo direto com os eleitores. Mas, no princípio, a tecnologia se resumia a e-mails, fóruns e listas de discussão. Nos anos seguintes, os sites se popularizaram, aumentando a visibilidade midiática dos partidos. NOS ANOS 2000 E 2010, as redes sociais amplificaram o alcance e as interações entre candidatos e eleitores. Com ajuda do estrategista Chris Hughes, co-fundador do Facebook, Barack Obama investiu em ações na internet e nas redes sociais, monitorando a opinião pública e organizando voluntários na campanha de 2008. O ex-presidente arrecadou mais de 1,2 bilhão de dólares em doações pela internet. A democracia parecia salva. O surgimento de ferramentas mais simples e eficazes de transmissão de mensagens permitiu que os

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O presidente Trump tem como passatempo acusar veículos como CNN, New York Times e Washington Post de serem “fake news”

TORNEIO DE PINÓQUIOS Washington Post e Aos Fatos estão conferindo o que andam falando os presidentes do Brasil e dos EUA DECLARAÇÕES FALSAS OU DISTORCIDAS

8.000

DONALD TRUMP

9.451 mentiras 11,8 por dia

6.000

JAIR BOLSONARO 4.000

161 mentiras 1,6 por dia

2.000

0

DIAS DE MANDATO

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(11/04/19)

Fonte: Washington Post e Aos Fatos

“As fake news são realmente o INIMIGO DO POVO!”

(31/03/19)

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eleitores pudessem se aproximar da política, seja participando de comunidades, consumindo mais notícias ou batendo na porta virtual dos políticos. A resposta foi imediata. Por trás dos perfis das redes sociais de figuras públicas, produtores de conteúdo, cientistas políticos, assessores, jornalistas e publicitários vitaminam postagens e mantêm o relacionamento com os seguidores. O objetivo é transmitir a ideia de que é o político que está em comunicação direta com o eleitorado. Às vezes sim, às vezes não. As redes sociais tiveram um papel fundamental na eleição de João Doria (PSDB) para o governo de São Paulo, mesmo ele tendo abandonado o mandato de prefeito e com reprovação de quase metade do eleitorado, segundo o Datafolha. Parte do sucesso se deve à sua comunicação digital. “É preciso entender quais são as demandas dos eleitores, escutar sugestões e críticas com o objetivo de entender o que a população anseia de

um gestor para lapidar as propostas e o discurso”, diz à CÁSPER. Como governante, afirma que continuará a transmitir ao vivo as entrevistas coletivas ou então fazer um anúncio antecipado pelas redes sociais, que será complementado com um press-release da Secretaria de Comunicação. Doria é um selfie-made-man. “A comunicação não pode mais ser vista sem essa integração. É a nova forma de se comunicar.” NA CAMPANHA DE 2014 para a prefeitura de Araraquara, Edinho Silva (PT) apostou no Facebook e no Twitter. “Com as redes sociais você foge do padrão estabelecido e pode criar espaços cotidianos de diálogo, de interação, com o eleitor”, diz o prefeito, reeleito no ano passado. Ele publica quase tudo em sua página do Facebook, de campanhas de combate ao mosquito da dengue e vistorias públicas a ações positivas para sua reputação. Certa vez, fez questão de revelar

que intermediou o encontro de uma garota, fã declarada, com o goleiro Cássio, do Corinthians. Os comentários que recebe são rapidamente respondidos por Silva ou por alguém da equipe de comunicação. Para Ungarelli, o segredo da comunicação política para engajar o público está em “sair do online e ir para o offline”. O jovem governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), não perde uma oportunidade de produzir pequenos vídeos para divulgar no Twitter. Mostra cenas de descontração, como no carnaval deste ano, ou conta histórias emotivas, como a de um bombeiro que fez o parto de um bebê. “Desejo muita saúde para o novo alagoaninho que veio ao mundo, Luiz Henrique”, escreveu. O governador Carlos Moisés (PSL), por coincidência um bombeiro que foi eleito de forma surpreendente em Santa Catarina, usa o perfil no Twitter para relatar dados favoráveis à economia estadual, anunciar reajuste

Acima, o governador João Dória chama o prefeito Bruno Covas para uma selfie Curtir · Responder · 45m

CELSO LUÍS GALLO

TÂNIA REGO / AG. BRASIL

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‘Falem bem, falem mal, mas falem de mim’

O governador do Rio, Wilson Witzel, é filmado em uma coletiva (superior à direita) Curtir · Responder · 17m

Ao lado, Edinho Silva, prefeito de Araraquara, interage com os cidadãos pelas redes Curtir · Responder · 13m

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REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO REPRODUÇÃO

O bombeiro que virou governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, não perde uma oportunidade de fazer uma selfie (superior esquerda)

O governador de Alagoas, Renan Filho, brinca no bloco carnavalesco Tudo Azul e faz questão de registrar (acima) Ao lado, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, encontra o enquadramento ideal para se autopromover

do salário mínimo regional e se humanizar em vídeos como o que canta com o jovem João Nápoli, um semifinalista do programa The Voice Kids, da Rede Globo, em 22 de março. Numa viagem para Brasília, ilustra a foto do embarque com a frase: “Quem trabalha por Santa Catarina não cansa.” O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), anuncia no Twitter ações que, potencialmente, seriam pautas para os jornais locais, como a mudança de rotatórias, inauguração de unidade hospitalares, vagas para cursos de música ou o novo andaime que construiu em torno da estátua do Laçador, símbolo da cidade. Em um post, recomenda que o público tire “fotos e selfies” no local, tal como ele fez. Exemplos não faltam de como a imprensa tem sido escanteada pelos governantes.

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Para a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo, a imprensa tem o papel de furar as bolhas e replicar para o mundo os assuntos importantes que circulam em esferas virtuais, além de trazer o tom crítico, a checagem de dados e a apuração. Ou seja, os jornalistas ainda possuem um papel relevante em dar visibilidade às informações publicadas pelos políticos nas redes sociais. “Um tuíte só chega para milhões por meio da imprensa”, comenta. Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, afirma que o profissional de comunicação “precisa aprender a não estar nas redes sociais”, mas cobrir, reportar e investigar o que acontece também nesses ambientes. Cabe ao jornalista, portanto, atuar como mediador do

debate público, mesmo que políticos tentem fugir dessa lógica. O editor de Poder da Folha, Eduardo Scolese, concorda. “Nem todo tuíte do presidente é notícia, precisamos aprender a filtrar”, diz com a experiência de ser jornalista de política há 21 anos. Para Francisco Brito, diretor do Internetlab e especialista no monitoramento de políticas públicas ligadas à tecnologia, “o quarto poder está em disputa”, recorrendo a um conceito bastante estudado sobre a influência da imprensa na sociedade. A comunicação entre o político e o eleitorado nas redes sociais, explica ele, é ilusoriamente direta. As plataformas como o Twitter têm regras, sistema de distribuição de conteúdo, interface e arquitetura. “Quer uma regra de edição mais absoluta do que permitir apenas 280 caracteres?”, compara. @


ARTES

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ANATOMIA DE UMA EXPOSIÇÃO

A expografia tem sido valorizada como uma eficiente ação comunicacional para que museus e centros culturais possam oferecer novas experiências ao público POR THIAGO BIO

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Abaixo, o filme Co(AI)xistence, da francesa Justine Emard. Na página anterior, Deep Meditations, do turco Memo Akten, e Cloud piano, do norte-americano David Bowen DAVID BOWEN

UM HOMEM AJUSTA a posição, zoom e a iluminação de um projetor. Outro manuseia uma furadeira elétrica, fazendo um barulho no primeiro andar. Um terceiro regula um televisor pendurado na parede de madeira curva do espaço. Outros dois carregam um piano de cauda para posicioná-lo sobre um pequeno tablado. Alguns deslocam pufes e pequenos assentos para um dos cantos da sala de pé direito alto. Mal parece que em cerca de cinco dias iria ser aberta para o público uma exposição internacional ligada à tecnologia, com nove artistas do mundo todo. Mas este trabalho – chamado de Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico – começou muito antes, a partir de reuniões entre os organizadores do Itaú Cultural. Desde 2006 são realizadas exposições com essa temática no instituto, localizado na Avenida Paulista, 149. A partir de 2017, a série recebeu o nome de Consciência Cibernética. Em novembro do ano passado, o grupo de produção do centro cultural inspirou-se na pergunta: até onde as inteligências humana e artificial podem conviver juntas? “A ideia original era entender o que é a interatividade, uma das características novas desse tipo de trabalho. E para entender a interatividade, usamos uma ciência, a cibernética”, explica Marcos Cuzziol, gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural e idealizador do conceito da mostra. As técnicas envolvidas no processo de desenvolvimento de uma exposição como a Consciência são conhecidas por expografia (ou mesmo exhibition design), envolvendo arquitetura, cores, iluminação, layout, curadoria de obras, texturas, trajetos e acessibilidade. Somados, esses conteúdos formam uma experiência estética. “A gente tinha vários trabalhos, cada um com a sua individualidade, e todos deveriam ser tratados como um coletivo”, comenta Stella Tedesco, que estreia no Itaú Cultural com a exposição e assina a mostra em coautoria com Renata Fernandes, ambas do estúdio ST Arquitetos Associados.

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QUANTUM, da brasileira Rejane Cantoni ANNA BUENO

Pensar como as obras serão distribuídas no espaço de uma exposição não é tarefa fácil. Há várias possibilidades de combinações dos elementos expográficos, o que influencia na forma que o público lê o conjunto. Além das características físicas do lugar (cor, luz ou superfície, por exemplo), deve-se levar em conta ferramentas digitais e possíveis interpretações do trabalho

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Tal qual editar um vídeo ou mesmo escrever um texto, a expografia deve ser pensada como comunicação. Além de terem diversificado seus temas, muitos agora voltados para o cotidiano e a tecnologia, os museus tornaram-se um lugar de experiências. Seus espaços interiores – e às vezes exteriores também – constituem novas narrativas por si só. O ingrediente “experiência” é a cereja do bolo dessa receita, já que ganhou um peso maior na decisão do público em visitar uma exposição. Daí surgem as propostas sensoriais, interativas e tecno-inovadoras, que têm tudo a ver com a expografia. Stella Tedesco é formada em Arquitetura e Urbanismo, com especialização em Exhibition Design pela Domus Academy, em Milão, na Itália. Ela dá aulas sobre o tema e abriu o escritório de arquitetura em 2001. Seu time – formado por quatro mulheres (ela, Renata, Bárbara Ginjas e Vitória Paulino), além de outros colaborado-

res – desenvolve projetos corporativos, expográficos, residenciais e institucionais. No ramo da expografia, a arquiteta já trabalhou com exposições e montagens na Casa Cor, Casa Vogue, Anual de Arte da Faap e Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. Um dos trabalhos recentes do escritório ultrapassou as paredes dos museus e foi parar no Memorial do Cementerio Español, em Porto Alegre. O objetivo era preservar a memória dos espanhóis da capital gaúcha a partir de documentos e elementos da época em um espaço sóbrio, de desenho contemporâneo e levando em conta as questões simbólicas e históricas do local. O cemitério foi comprado com ajuda do Ministério Público. Estava em precárias condições e datava do início do século passado. Uma boa expografia nunca funciona sozinha. “É um conjunto feito de forma colaborativa. A expografia, as obras dos artistas e o trabalho da produção técnica fazem parte dele.

Se ele não ajusta direitinho o grid [do projetor], o trabalho não vai ficar legal e de nada adianta a expografia”, comenta Cuzziol enquanto aponta para um dos membros da equipe de produção técnica de Consciência Cibernética [?]. Nesta edição, são nove trabalhos de artistas da Áustria, Brasil, Estados Unidos, França, Reino Unido, Suíça e Turquia. Segundo Carmen Fajardo, da equipe de produção de eventos do Itaú Cultural, pelo menos 60 pessoas foram envolvidas em todo o processo da mostra. Apesar de não ser uma situação padrão, é importante “compartilhar sem invadir”, como ela mesma define o trabalho. Nunca é demais lembrar que os museus e institutos culturais são espaços fixos, enquanto as exposições, exceto as permanentes, são itinerantes. Um mesmo espaço pode sediar em diferentes momentos obras tecnológicas, gravuras, literatura, ocupações, mudando somente a proposta expográfica. “Os artistas até

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O trabalho expográfico envolve um time maior do que parece. Para Consciência Cibernética[?], pelo menos 60 pessoas participaram da montagem da exposição nas equipes de iluminação, marcearia, comunicação, acessibilidade e segurança, passando por arquitetos, artistas e pessoas da produção de eventos

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Quantum Garden, do britânico Robin Baumgarten

Deep Meditations: A brief history of almost everything in 60 minutes, do turco Memo Akten ANNA BUENO

A partir do conceito da exposição – que também faz parte do processo de expografia –, são selecionados os artistas que trarão a proposta. A arquitetura do espaço é pensada para conversar com o tema das obras. O conceito nada mais é que uma estrela-guia para a montagem πTon/2, da dupla suíça Cod.Act

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Montagens, para além dos croquis, funcionam como uma forma de visualizar melhor como ficará o espaço da exposição. No caso do Itaú Cultural, a tinta cinza e a madeira natural nas paredes dão a sensação de um ambiente mais receptivo, diferente dos elementos associados à ficção científica

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As paredes curvas da exposição são pensadas para passar um sentimento de fluidez, sem determinar um caminho para os frequentadores seguirem enquanto passeiam pelas obras do espaço. Isso não é uma regra, podendo variar de acordo com cada trabalho expográfico

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pontuam seus objetivos e a gente tenta segui-los”, comenta Fajardo. A iluminação é um dos pontos vitais para a expografia. O processo, conhecido por lighting design, deve imergir o visitante na atmosfera da exposição. Remover a luz de um lugar ou colocar um objeto em evidência com luminosidade faz parte de um jogo de campos visuais. Outro fator importante é o som. Complementar à iluminação, deve estar presente em toda mostra pela sua capacidade de mergulhar os frequentadores no espaço. Os elementos expográficos devem ser trabalhados dentro de uma relação dialógica: a comunicação é feita pelo conjunto. Pensando na arquitetura dos três andares que comportam a exposição do Itaú Cultural (ela foi aberta em 27 de março e se encerra dia 19 de maio deste ano), Stella usa paredes sinuosas para transmitir as várias possibilidades da lógica quântica, tema da mostra. O visitante é convidado a simplesmente percorrer pelos diferentes cenários de forma não linear para observar as obras dos artistas internacionais, que estabelecem conexões entre si. Os painéis de madeira pelos quais a arquiteta optou no lugar das cores azul e verde, que costumam ser associadas à tecnologia, também dão uma sensação de estranhamento. “Não necessariamente porque é cibernético brilha e pisca e é altamente tecnológico”, diz Stella enquanto um som digno de ficção científica ressoa pelo primeiro subsolo do instituto. “Expografia é pensar que você está num espaço – que, aliás, comunica –, onde três coisas importam: o frequentador, o objeto que está exposto e a arquitetura”, explica a arquiteta. Desde resgatar a memória de famílias espanholas até falar do horizonte quântico, ouvir e dar espaço para os outros opinarem é fundamental. Assim como na cenografia teatral, o behind the scenes da expografia não mostra tudo. A imersão desperta curiosidade, atrai e encanta, estabelecendo vínculos comunicativos entre visitante, obra e museu. @

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POR CONTA PRÓPRIA PAULA LEAL MASCARO

Seleções digitais :: MÃO NA MASSA :: Oportunidades na comunicação para quem tem boas ideias e não tem medo do mercado

EM ALTO E BOM SOM

Precisando montar uma equipe para seu evento? Na Castfy é possível dar um match e contratar um dos 800 profissionais freelancers cadastrados na plataforma, com uma economia de até 40% em comparação às agências físicas. Fundado no ano passado pelos sócios Camila Nistal, Daniel Romualdo e William Santos, o modelo de negócio se baseia na cobrança de 20% do valor pago pelos estabelecimentos para o profissional contratado. Camila explica que um dos diferenciais da plataforma é contar com um sistema de avaliação em que os contratantes podem dar notas para o desempenho do staff contratado, elevando a segurança na transação do negócio. DIVULGAÇÃO

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Quer acompanhar uma partida do seu esporte favorito de forma diferente? Com criatividade, fazendo uso de inteligência artificial (IA) e machine learning, os sócios Rafael Vieira, Vinicius Gholmie, Mauricio Arima e Carlos Gamboa criaram em 2017 a iSPORTiSTiCS, uma plataforma que capta, processa e organiza conteúdos esportivos. Uma partida de vôlei pode ficar ainda mais interessante com recursos de IA que analisam os movimentos e fornecem estatísticas sobre o desempenho dos atletas. A startup ainda não atende pessoas físicas e é voltada para o mercado corporativo, como clubes, confederações, ligas, universidades, sites de apostas, grupos de mídia e comunicação. No ano passado, os sócios receberam um aporte de 1,8 milhão de reais para investir em novas tecnologias e expandir o negócio para novos clientes.

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O TINDER DOS EVENTOS

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Nem todo mundo tem tempo para ler tudo o que interessa na web. Mas sempre dá para ouvir enquanto faz outra coisa. Nascido em 2016, o Vooozer oferece serviços de narração de textos e publicidade por voz. O dono de um site contrata os serviços desta plataforma, que converte conteúdos para o áudio, gerando mais engajamento e fidelização dos clientes, garantem os sócios Mateus Chiavassa e Albert Hayfaz. O valor inicial do serviço é de 360 reais por mês e o contrato mínimo é de seis meses.

PLANILHAS ESPORTIVAS


A tecnologia a serviço da comunicação

BITS & BYTES HENRIQUE ARTUNI

O bom e velho e-mail :: NEWSLETTER :: Serviço de entrega de conteúdo na caixa postal online do usuário ressuscita a ferramenta que parecia cair em desuso A caixa de entrada do seu e-mail tem se tornado mais efetiva para os veículos de comunicação e seus leitores. Saber fazer um bom conteúdo no formato de mensagens pode gerar mais engajamento e ser uma alternativa para fugir dos algoritmos seletivos das redes sociais. Inventado nos primórdios da internet, em 1966, o correio eletrônico ganha nova relevância, e isso é uma boa notícia. Veja dicas de como formatar uma newsletter eficiente. NA BUSCA POR DESTINATÁRIOS Evite que sua mensagem vá parar na caixa de spam, deixando que os leitores assinem a newsletter naturalmente. Convites simples são as melhores pedidas. O serviço tem, como objetivo maior, gerar tráfego para um site, blog ou uma página no Facebook. Fuja dos pop-ups, pois são irritantes.

ENVELOPE RECHEADO O jornal The Seattle Times percebeu que um leitor de newsletter tinha 25 vezes mais chances de se tornar assinante do que aqueles que esgotavam o limite do paywall no site. É possível monetizar com publicidade, conteúdo patrocinado ou e-mails especiais de assinatura paga. Mas teste antes a aceitação dessas opções.

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VENHO POR MEIO DEST@... O primeiro passo é definir o formato da sua newsletter. Será uma curadoria de links ou textos para serem lidos no corpo da mensagem. A linguagem deve ser menos formal, com poucas notas (entre cinco e dez) que abranjam os assuntos mais relevantes do dia. Newsletters boas são aquelas que chegam cedo, antes do café da manhã.

</> CORREIO ELEGANTE Opte por uma interface leve, incluindo as imagens. O template deve ter carregamento rápido e compatibilidade com diversos dispositivos (sobretudo móveis). Na internet, há templates grátis e personalizáveis. Com testes A/B, em que envia duas newsletters, uma padrão e outra diferenciada, descubra qual gera mais audiência. P.S.: NÃO DEIXE DE ASSINAR Canal Meio - Todas as manhãs, um resumo do noticiário de política, cultura e tecnologia com referências nacionais e internacionais. Don’t LAI to me - Uma iniciativa do site Fiquem Sabendo para divulgar notícias com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Artichoke - O mais relevante da arte contemporânea destrinchada semanalmente em linguagem acessível.

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KING OF HEARTS / WIKIMEDIA COMMONS

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A ERA DA MOBILE MANIA Publicidade se volta para o celular, transformando como as campanhas são feitas e antecipando um futuro cada vez mais controlado pelos dados dos usuários POR PAULA LEAL MASCARO E RAFAELA BONILLA

HÁ ALGUNS POUCOS ANOS, a expressão em voga dos gurus do marketing era “mobile first”. Hoje, até o estagiário de uma agência de mídia digital repete, de boca cheia, o novo mantra: “mobile only”. São raras as campanhas publicitárias que não pensam, como uma de suas tarefas primordiais, no uso dos celulares. No Brasil, há mais aparelhos telefônicos móveis do que a soma da população - são cerca de 230 milhões de smartphones. Alguém é louco de querer ficar longe dessa massa de consumidores, digo, target?

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HENRIQUE ARTUNI

Os usuários brasileiros estão em segundo lugar no quesito de tempo gasto em aplicativos, atrás apenas da Argentina

FAZ 35 ANOS que os celulares começaram a ser vendidos no mundo. Eram da marca Motorola, pesavam 800 gramas e a bateria deles não durava mais que meia hora. Cada aparelho tinha 33 centímetros de comprimento, 8,9 de profundidade e 4,5 de largura. Maior que um tijolo. Tinha um display LCD de uma linha, suficiente para apresentar os números discados. Naquele 13 de março de 1984, o primeiro Dyna TAC 8000 X foi comercializado por 4 mil dólares, o equivalente hoje a quase 40 mil reais. Uma revolução tecnológica separa aquele pioneiro trambolho dos práticos, e até certo ponto acessíveis, smartphones. O bem de ostentação virou hoje um objeto tão ou mais importante que a carteira de dinheiro ou as chaves do carro. Com ele, até dá para abrir mão desses últimos pertences. E é por isso que o mercado publicitário está tão obcecado pelo chamado “mobile marketing”. No universo das agências de publicidade, métricas são linguagem corrente para aferir os resultados das

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campanhas. É preciso dados e estatísticas que, por sua vez, geram gráficos que fazem as apresentações ficarem vistosas para o cliente. Os mobiles são pura métrica. Graças aos simples (e perigosos) botões de curtir e compartilhar do Facebook, é possível rastrear uma avalanche de hábitos pessoais, algo que as outras mídias jamais foram capazes de entregar com precisão. O mesmo vale para o GPS do celular. Saber onde, quando e como alguém clicou numa propaganda ou acessou um site é informação que vale ouro para empresas anunciantes. E estamos falando de um público consumidor do tamanho do planeta. Desde o lançamento do iPhone, em 2007, o comércio global de aparelhos que fazem de tudo um pouco se proliferou. São mais de cinco bilhões de dispositivos móveis. O mercado publicitário enxergou oportunidade no tipo de união mais duradoura do século XXI, pelo menos até agora: o casamento entre o usuário e o celular. No Brasil, são cerca de 150 intera-

ções com o smartphone diariamente, de acordo com pesquisa realizada pela Mobile Marketing Association (MMA), divulgada no ano passado. Somando o tempo dessas interações, os brasileiros interagem com o seu dispositivo em média quatro horas por dia. É metade de um expediente de trabalho ou meia noite de sono. O brasileiro gasta 73% do tempo online na palma das mãos, pelo uso do celular. Ao entender essa dinâmica, as agências de publicidade passaram a investir pesado em mobile marketing, como são chamadas as estratégias das empresas para divulgar informações, produtos, serviços e promoções pelo celular. Segundo a pesquisa da MMA, os investimentos em anúncios digitais no Brasil tendem a crescer nos próximos três anos mais de seis pontos percentuais, passando dos 24% (3,9 bilhões de dólares em 2018) para 30% (5,2 bilhões em 2021). Difícil encontrar alguém que saia de casa sem o celular. Mais difícil ainda é encontrar alguém disposto a


BRASIL SEM FIO

230 milhões

85%

das pessoas acessam a internet todos os dias

131 milhões usam a internet via smartphone

de celulares até dezembro de 2018

1,1 celular

para cada habitante

65% assistem a vídeos pelo smartphone

Apenas

3h56

é o uso médio da internet via smartphone

23%

dos usuários são contrários à publicidade na internet Fonte: Y Digital / Anatel

dividir o gadget, como faria com um livro ou até mesmo um carro. Francesco Simeone, country manager da Logan, uma empresa de mobile marketing com escritório em dez países, brinca que “a pessoa não compartilha o celular nem com a sua mãe”. Representante da multinacional no Brasil, Simeone afirma que as peças publicitárias para celular permitem uma interatividade personalizada para o usuário. “Entender a persona que está atrás do celular é muito mais cirúrgico do que o computador”, afirma. Pode parecer inofensivo à primeira vista, mas ao autorizar o acesso (concordando com os termos de uso de um aplicativo ou habilitando a geolocalização do aparelho) o usuário abre as portas de sua vida para alimentar imensos e dinâmicos bancos de dados. Estes nada mais são do que uma cole-

ção de informações relacionadas entre si e que são organizadas por empresas especializadas. Simeone explica que, agora, é possível detectar quando um usuário é cliente de um banco analisando se ele tem o app baixado, já foi localizado em alguma agência ou acessou várias vezes o site da instituição financeira. São indícios que ajudam a construir a persona por trás da tela. SE ANTES A PUBLICIDADE previa consumidores estáticos, apreciando uma página de revista ou uma tela de TV, agora ela precisa considerar que a tecnologia é ubíqua e que a atenção do cliente deixou de ser unifocal. Cientes dessa nova configuração, as agências costumam adotar a regra dos oito segundos - é o tempo que a propaganda tem para cativar o interesse do consumidor e fazê-lo

ficar de olhos grudados no restante da mensagem, explica Simeone. Virou, portanto, uma disputa aguerrida para chamar a atenção e provocar o engajamento dos potenciais clientes. Um desses formatos é o rich media, definido como conteúdo digital que utiliza recursos interativos como jogos, fotos e vídeos 360°. O aplicativo 99 criou uma campanha publicitária por meio de um jogo (game ad) de corrida de carros. O movimento do celular nas mãos (motion ad) orienta o trajeto do veículo. O objetivo é ajudar o personagem Ariel a chegar ao seu destino. A peça, desenvolvida pela Hands, agência especializada em propaganda para dispositivos móveis, rende um cupom de desconto ao final. De acordo com a Hands Mobile, o rich media aperfeiçoou a mensuração de resultados e auxilia o cliente na análise de sucesso de uma campanha. Além das métricas tradicionais como medir número de impressões, cliques e views, é possível avaliar as interações do usuário com a peça - se ele girou, arrastou, expandiu a tela, adicionou endereço, entre outros. Ou seja, a campanha não vira um tiro no escuro. As métricas de performance, ou Key Performance Indicators (KPIs), precisam ser capazes de medir os resultados da estratégia da marca e também corresponder à recuperação dos investimentos. O diretor de mídia programática da Gamned, Fabio Almeida, alerta que é preciso entender os números por trás das métricas. “A propaganda no celular pode gerar um clique involuntário do usuário na tela, mas sem interesse real pelo produto ou serviço. Os números ficam bonitos no relatório, mas a efetividade não é tão boa”, diz. O problema é que, no Brasil, a infraestrutura digital não ajuda. A tecnologia 4G ainda está longe de ser uma realidade em todo País, e a 5G faz parte de um futuro sem previsão de chegada no Brasil. De nada adianta ser criativo, se a peça publicitária ficar pesada ou difícil de ser carregada no celular. Em outra campanha da Hands para divulgar o novo modelo do Ja-

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guar e levar o público às concessionárias, o time de criação usou dados de geo behavior (jornada geográfica) para impactar a classe média alta. Para tanto, cruzou informações de localização do público em condomínios de luxo, shopping centers e aeroportos com o app behavior (perfil de aplicativos acessados). Investigou também o histórico de navegação para criar uma peça usando a tecnologia para ativação por meio da função “acelerômetro” dos aparelhos. Ao final, os usuários podiam interagir pelas opções e cores do veículo. A equipe da Hands comemorou o engajamento superior a 15 segundos no “comercial”. Para quem defende o formato mobile, esse é um caminho sem vol-

ISCAS DIGITAIS

ta. “Temos ali maior engajamento, taxa de cliques [Click Through Rate - CTR], mais possibilidade de coleta de dados do usuário e possibilidades de segmentação de público”, afirma Thiago Franzão, VP de Mídia da Grey Brasil, na pesquisa da MMA. A realidade aumentada, pós-febre do Pokemón Go em 2016, é outra aposta recente das agências de mídia digital. Em 2017, a Ruffles queria se reconectar com o público adolescente. Com essa tecnologia, o usuário podia apanhar, virtualmente, batatas em qualquer canto que apontasse o celular, além de poder interagir com os amigos. Após dois meses de campanha, a empresa viu seu app ser baixado mais de 26 mil vezes e teve mais

de duas milhões de visualizações em uma sessão de transmissão ao vivo pelo Facebook com atores de Malhação, logo após uma ação de merchandising no programa da TV Globo. No Natal, a Coca-Cola também usou a realidade aumentada, apresentando vídeos no celular com os personagens dos ursos polares a cada vez que o aparelho mirava em embalagens temáticas do refrigerante. Na segunda quinzena de março, o Burger King criou o “Burn that ad”, uma ferramenta dentro do seu aplicativo que permitia “queimar” anúncios do concorrente McDonalds. Em troca, o usuário ganhava um sanduíche de graça. Na Páscoa deste ano, a Lacta criou um aplicativo que permitia que

Como capturar clientes com recursos interativos

Depois de dedicar a atenção por alguns segundos para o jogo, hora de recompensar o consumidor. Uma tela convida o cliente a inserir seu número de celular para receber um desconto no uso do aplicativo Um jogo de carrinhos divertido para fisgar a atenção do consumidor. A 99 utilizou o recurso de game ad para dar descontos e promover a marca

360º

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Uma experiência imersiva dentro de um carro de mais de 300 mil reais. A navegação 360º permite fazer um tour virtual e ver cada detalhe do painel como se estivesse dentro de um Jaguar


RECURSOS RICH MEDIA MOTION AD As campanhas que utilizam o recurso permitem ao usuário interagir com o anúncio ao mexer no celular. É possível abanar, rodar, torcer ou virar o aparelho, além de poder integrar a localização do consumidor com a campanha. Do balcão do bar para as telas do celular, a marca de gim Tanqueray aproveitou o calor do verão para convidar os fãs da bebida a preparar seu próprio drinque. Na ação, o cliente arrastava os ingredientes como gelo, gim e limão na tela para dentro do copo. Mirando os baladeiros de plantão, a campanha foi veiculada de quinta-feira a domingo e ganhou o prêmio de Bronze nos Smarties Espanha 2017.

WALKING AD Esse recurso utiliza o acelerômetro do celular, que mede a inclinação e movimento do aparelho, para que o usuário possa interagir com a campanha. Ao caminhar, um bonequinho da Lego na tela acompanha seus passos. Conforme você caminha, o boneco troca de uniforme e incorpora um bombeiro, um policial e até um vulcanólogo (especialista em vulcões). A ação visava aumentar a consciência (awareness) da marca e promover diversidade dos produtos Lego City na época de Natal. A ação foi veiculada em Portugal e recebeu Bronze nos Prêmios da Criatividade da Meios & Publicidade Portugal.

HOTSPOT 360º

GAME AD

Quer saber o que rola dentro de um navio de luxo? A navegação em 360° possibilita ao cliente uma experiência imersiva para conhecer o espaço interno de uma embarcação do Costa Cruzeiros. O recurso permite conhecer as cabines, a área da piscina, os restaurantes, a academia e se sentir praticamente em alto mar, sem sair de casa.

Jogos interativos estimulam o engajamento do público e fazem com que o usuário interaja com a campanha, como é visto na estratégia da Coca-Cola. Com foco no consumidor jovem, a marca identificou uma oportunidade para fazer um anúncio Game Ad e mostrar as novas opções da bebida, marcadas pelas diferentes cores das latinhas.

o consumidor mirasse nas embalagens e visse desenhos de coelhos devorando os chocolates. O DUOPÓLIO das plataformas digitais, acessadas predominantemente pelos smartphones, ainda reinam na captação dos gastos publicitários. É por essa razão que os anúncios do Google parecem invasivos por “adivinharem” as preferências de compra. Os usuários do Facebook continuam a ser bombardeados com anúncios. Mas até Mark Zuckerberg já entendeu que as pessoas revelam descontentamento em relação a um aplicativo dominado por propagandas. Uma pesquisa realizada em maio do ano passado pela Express VPN nos Estados Unidos aponta que 71% dos entrevistados se preocupam como os publicitários reúnem e utilizam os dados pessoais. A ordem do dia nas estratégias de marketing é usar os rastros digitais para alimentar os algoritmos que permitirão uma interação dirigida e menos invasiva. Tudo é medido pela tecnologia que captura o ID do celular e monitora o comportamento do consumidor. Na teoria, campanhas de notificação push no smartphone empurram produtos que, supostamente, seduzem o comprador. “Não é o usuário quem faz a pesquisa, é o banner que acha o cliente”, diz Simeone. Gabriela Manzini, head de conteúdo do Digitalks, concorda, afirmando que “entregar mensagens personalizadas no momento ideal, respeitando o cliente e dando o espaço para ele agir, é o que mais atrai hoje o consumidor”. Se algo é cristalino, é que os celulares só funcionarão como um canal interativo se as pessoas puderem receber uma propaganda quando e como quiserem e forem capazes de controlar a comunicação, como o fazem quando estão usando o aparelho para fazer uma ligação telefônica. Até lá, é provável que os publicitários tenham criado uma nova expressão para substituir o “mobile only”. Em inglês, obviously. @

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ENTRETENIMENTO

A VIDA COMO ELA NÃO É

Os reality shows viraram a fórmula fácil de produzir programas rentáveis e que caem no gosto do espectador

segunda 12-18h

19-20h

POR PEDRO GARCIA

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dida em outros países, acrescenta Kaoru. Em caso de um formato inovador, é possível replicá-lo e vender a fórmula para outros canais. A farta publicidade de produtos de cozinha durante os intervalos do programa MasterChef e as cotas que podem chegar a quase 40 milhões de reais para anunciar durante o Big Brother Brasil 2019 fazem os olhos dos donos das TVs brilharem. Segundo define o professor da Faculdade Cásper Líbero Luis Mauro Sá Martino, um reality show é um programa de pessoas comuns em situações não totalmente roteirizadas. É isso que cria a identificação com o espectador. “Como todo entretenimento, ele vai trazer as diferenças e as mentalidades que circulam na sociedade”, diz o pesquisador. Tornar os participantes famosos é como um gol de placa. Foi o caso dos ex-integrantes da banda One Direction, descobertos no The X Factor britânico, ou da cantora Gretchen, que voltou a ser celebridade após participar da Fazenda. Existem até festas para as pessoas assistirem episódios em uma balada ou bar, como ocorre com RuPaul’s Drag Race. É claro que há haters que consideram os realities alienantes. Mas a polêmica é parte do combustível que alimenta a audiência. @

21h

22h

Os Gretchens (Multishow) Drag Me as a Queen (E!) Big Brother Brasil (Globo) 1 por Todos (Band) REPRODUÇÃO

A DISPUTA DO “PAREDÃO”. A aspirante a celebridade que brigou com outra, porque não cuidou dos porcos em uma fazenda. A drag queen eliminada por não saber a letra de Greedy, de Ariana Grande. Não é improvável que, se você vive neste planeta, já tenha se flagrado discutindo temas como esses. E não é à toa. Eles foram pautados por reality shows, um programa que extrapolou e muito a ideia de ser só mais uma atração da indústria do entretenimento. Eles se tornaram parte da vida das pessoas e uma fábrica capaz de movimentar fortunas. Foi em 1973 que surgiu o primeiro reality show, o An American Family, que se propunha a acompanhar a vida de um casal e seus cinco filhos. O sucesso nos Estados Unidos rendeu uma versão britânica no ano seguinte. Havia sido dada a largada para um dos formatos mais copiados em todo o mundo. Razões não faltam. “A dramaturgia é muito cara. Programas de auditório precisam de inúmeras pautas. Realities já são planejados por temporada, dando tempo para as emissoras respirarem e procurarem por patrocinadores”, explica o especialista em gestão de TV Marcelo Kaoru. Os anunciantes agradecem, uma vez que é comum a compra de uma franquia já formatada e bem-suce-

A Fazenda (Record) O Aprendiz (Band)

* Reality shows produzidos no Brasil


2019 terça

quarta

quinta

sexta

sábado

domingo

REPRODUÇÃO

Que Seja Doce (GNT) Aprendiz Animal (Animal Planet)

Aprendiz Animal (Animal Planet)

Prelúdio (Cultura) PopStar (Globo)

Menos é mais (Discovery Home & Health)

Aprendiz Animal (Animal Planet)

The Voice Kids (Globo)

BBQ Brasil (SBT)

Aprendiz Animal (Animal Planet) REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO

Are You The One? Brasil (MTV) Deu Match! (MTV)

Arte na Fotografia (Arte 1)

MasterChef (Band)

Espaço para dois (GNT)

Os Gretchens (Multishow) Big Brother Brasil (Globo) Decora (GNT) The Voice (Globo) A Fazenda (Record)

REPRODUÇÃO

Skatepark (Woohoo) Santa Ajuda (GNT)

Os Gretchens (Multishow) The Four Brasil (Record) A Fazenda (Record) Big Brother Brasil (Globo) REPRODUÇÃO

De Férias com o Ex Brasil (MTV) Big Brother Brasil (Globo) Troca de Esposas (Record) Shark Tank Brasil (Band) The Voice (Globo) Deu Match! (MTV) A Fazenda (Record)

Catfish Brasil (MTV)

Fazendo a Festa (GNT)

REPRODUÇÃO

Esquadrão da Moda (SBT)

Os Gretchens (Multishow) A Louca das Plantas (GNT) Lugar de Criança (GNT)

Fábrica de Casamentos (SBT)

REPRODUÇÃO

Júnior Bake Off Brasil (SBT) Big Brother Brasil (Globo)

REPRODUÇÃO

Big Brother Brasil (Globo)

A Fazenda (Record) A Fazenda (Record)

Batalha dos Confeiteiros (Discovery H&H) Big Brother Brasil (Globo) A Fazenda (Record) 40 Graus Woohoo (Woohoo)

legenda Arte

Competição

Decoração

Beleza

Culinária

Esporte

Eventos Musical

Situacional Relacionamento

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HISTÓRIA

EM BUSCA DA AUDIÊNCIA PERDIDA Ao completar 50 anos, o Jornal Nacional preserva seu status de maior e mais comentado noticiário brasileiro, mas enfrenta o desafio de continuar líder de audiência POR LARISSA BASILIO

IMAGINE UM BRASIL em que não houvesse o Jornal Nacional. Presença quase onipresente nos lares, o principal e mais poderoso noticiário da TV completa cinco décadas com o desafio de provar que esse país hipotético, isto é, sem a sua presença, jamais existirá. Desde que foi exibido pela primeira vez, em 1º de setembro de 1969, o telejornal foi testemunha ocular e também narrador privilegiado de acontecimentos no Brasil e no exterior. Nesse intervalo de tempo, sete presidentes foram eleitos pelo voto direto, dois deles sofreram impeachment e outros dois foram presos, a seleção brasileira de futebol ganhou três Copas do Mundo, houve cinco papas, o Muro de Berlim caiu, a internet surgiu e o celular foi inventado, um atentado terrorista derrubou as Torres Gêmeas de Nova York e cientistas descobriram o vírus da aids. Para todas essas notícias, o JN dava a sua versão dos fatos e, do lado de cá da tela, milhões de telespectadores compreendiam o mundo a partir da narrativa definida no Jardim Botânico, no Rio, endereço dos estúdios do programa. O desafio de permanecer no ar não é despropositado mesmo para uma instituição midiática como o JN. O telejornal global, assim como o de outras emissoras, sofre

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para disputar a atenção do público em tempos de internet e redes sociais, que têm tornado a televisão a segunda ou terceira tela para muitos. Nos anos 1980, o JN atingia audiências de quase 70 pontos no horário nobre. Hoje, segundo o Kantar Ibope Media, a média de pontos fica abaixo dos 30 - cada ponto equivale a 73 mil domicílios. Esses números, por enquanto, não afugentaram os anunciantes, públicos e privados. As marcas ainda topam pagar até um milhão de reais por um break exclusivo ou quase 800 mil reais por 30 segundos no intervalo do programa. Não é difícil entender por que a TV Globo e o JN têm tanto poder econômico e político. Marialva Barbosa, doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que o JN foi o primeiro telejornal em rede com alcance nacional. A emissora do Jardim Botânico assumiu papel decisivo no projeto de unificação do País proposto pelos militares e, em troca, recebeu benefícios. “Quando o Jornal Nacional surgiu, a TV Globo não tinha a liderança no cenário televisivo, o que ocorreu, sobretudo, a partir da sua aproximação com os governos ditatoriais militares”, diz.


ANOS

1970

1990

2000 ANOS

ANOS

ANOS

ANOS

1980

2010

Em cinco décadas, o Jornal Nacional testemunhou o avanço das transformações tecnológicas, as mesmas que agora o fazem disputar a atenção com outras formas de comunicação

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50 ANOS DE NOTÍCIA Veja algumas das principais reportagens do JN

1969

Em 1º de setembro, o Jornal Nacional estreou, na TV Globo, sendo o primeiro jornal transmitido em rede do País

1987

Cid Moreira, ao anunciar a morte de Carlos Drummond, leu o poema José publicado originalmente em 1942

1998

Edney Silvestre reportou a primeira missa realizada pelo papa João Paulo II em sua visita a Santa Clara, Cuba

2013

William Bonner cobriu in loco a tragédia do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS) que matou mais de 240 pessoas

1972

Ao lado de Cid Moreira, Sérgio Chapelin fez parte da dupla de apresentadores mais longeva do jornal

1989

Silio Bocanera, enviado especial, noticiou a destruição do muro de Berlim, que perdurou por 30 anos

2001

A Globo foi a primeira emissora brasileira a mostrar o atentado terrorista nos EUA, contando com uma reportagem especial no JN

2014

O País recebeu a Copa do Mundo. Doze capitais brasileiras participaram e o JN acompanhou de perto a seleção canarinha

1974

Durante a Revolução dos Cravos, em Portugal, o JN inaugurou sua cobertura internacional, enviando dois repórteres

1990

Após ficar quase 30 anos preso na África do Sul, Nelson Mandela é libertado por decisão do presidente Frederik Willem de Klerk

2004

O enviado especial Caco Barcellos acompanha os últimos dias do líder palestino Yasser Arafat

2016

JN entrou diversas vezes ao vivo e até alterou sua programação na cobertura do impeachment de Dilma Rousseff


1979

Em 28 de agosto, a Lei de Anistia foi aprovada e a equipe do JN mostrou a libertação de presos políticos pelo País

1991

Em dezembro, Pedro Bial e Sergio Gilz cobriram o fim da URSS, com reportagens diárias para o JN e entradas ao vivo

2006

O repórter Marcos Uchoa realizou uma reportagem sobre a viagem espacial de Marcos Pontes, hoje ministro do governo Bolsonaro

1980

O jornalista Pedro Rogério mostrou as condições precárias no garimpo em Serra Pelada, no Pará, durante a corrida pelo ouro

1992

Durante um treino da Fórmula Indy, o piloto Nelson Piquet sofreu seu acidente mais grave com entrada ao vivo de Chapelin

2008

Nos dias 27 e 28 de novembro, William Bonner foi até Blumenau, no Vale do Itajaí, onde cidades foram devastadas pela chuva

1982

Vavá compôs a comissão técnica do Brasil na Copa do Mundo de 1982, duas décadas após o Brasil ganhar o bicampeonato

1994

A criação do Real, última mudança da moeda no Brasil, recebeu uma cobertura positiva do JN

2011

Com correspondente em Tóquio, o JN pôde realizar uma cobertura mais “quente” do tsunami que atingiu vários países da Ásia

? 2018

Sem acesso privilegiado, o JN teve de recorrer a imagens da TVT no dia da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

2019

O presidente Jair Bolsonaro concede uma entrevista para o JN, mas já revelou preferências por veículos concorrentes

Com audiência em queda e disputa acirrada com outras plataformas digitais, JN tem agora de lutar para manter sua relevância


GLOBO/JOÃO COTTA

A jornalista Renata Vasconcellos é a quarta mulher a ocupar a bancada do JN ao lado de William Bonner, que entrou em 1996

O jornalista Armando Nogueira, então diretor de jornalismo da TV Globo, escreveu “e o Boeing decolou” no script da primeira edição do JN. Naquela época, o Repórter Esso, da TV Tupi, era a principal referência de noticiário. Apaixonado pela aviação, Nogueira queria ilustrar as dificuldades de se colocar um jornal em rede no ar. Como na vida real, nada poderia dar errado no voo inaugural e nem nos demais. No primeiro programa, os apresentadores Hilton Gomes e Cid Moreira noticiaram o estado de saúde do presidente Costa e Silva, a morte do campeão mundial dos pesos pesados Rocky Marciano e o gol de Pelé no Maracanã, um dia antes na vitória sobre o Paraguai e que classificou a seleção brasileira para a Copa de 1970. No início, o JN tinha apresentadores próprios nas principais filiais da emissora, como São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife, além da bancada no Rio. Com exibições de segunda-feira a sábado, as edições tinham cerca de 15 minutos. O programa abria com a notícia “mais quente” do dia, enquanto o uso do “boa noite” – que ecoou quase 8 mil vezes durante 27 anos – era adotado apenas na despedida. A partir de 1972, as vozes potentes de Sérgio Chapelin e Cid Moreira formaram a mais longeva dupla de apresentadores da televisão brasileira. Os dois seguiram juntos até 1996. No livro Jornal Nacional: Modo de Fazer (2009), o

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atual apresentador e editor-chefe William Bonner conta pequenos “causos” que mudaram a forma de se noticiar os fatos por conta do telejornal. A diversidade regional era um desafio. O termo “tempo bom”, por exemplo, era usado nas previsões climáticas, mas só até alguns telespectadores dizerem que, para eles, não estava nada “bom”, exemplificando com a questão da seca: no Nordeste, que sofre com a falta de chuvas, sol não representava tempo bom. A partir disso, passou-se a usar as expressões “dia ensolarado” e “dia chuvoso”. E o adjetivo “bom” caiu. O filme de 16 milímetros usado no cinema era a matéria-prima para as primeiras reportagens do programa. Outras inovações também começaram pelo JN, como os usos do teleprompter, do videoteipe (tecnologia que só era utilizada em programas de dramaturgia e entretenimento) e das câmeras cinematográficas, lembra Marialva. Para os primeiros voos do “Boeing”, cerca de 150 profissionais (entre editores, locutores, repórteres e cinegrafistas) faziam parte do time. Hoje, as 600 equipes das filiais podem, por hipótese, veicular reportagens no JN — isto é, funcionam como produtores regionais. São mais de 4 mil profissionais para manter a nave no ar. “O Jornal Nacional no fim da década de 1970 e início da de 1980 era, de longe, o conteúdo jornalístico de maior audiência no País. No meio de duas telenovelas, ele era o ingrediente essencial da dieta de informação


A EVOLUÇÃO DO LOGO 1983 - 1989 1989 - 1999

1972 - 1974

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1972 - 1976

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1979 - 1981

2017 -

1981 - 1983

NOS ANOS 1980, uma lembrança viva dos comunicólogos foi a cobertura do JN do comício das Diretas Já. O noticiário saiu enviesado com a manifestação na Praça da Sé sendo tratada como um evento do aniversário de São Paulo. Foi taxada de “parcial” para baixo. Lins da Silva afirma que a partir desse episódio, o programa precisou praticar um jornalismo mais pluralista. Era também uma questão de sobrevivência econômica. “Em 1987, sua receita estimada era de 500 milhões de dólares. Com 12 mil funcionários, era a quarta maior rede privada do mundo, atrás das norte-americanas CBS, NBC e ABC. O Jornal Nacional sozinho possuía uma audiência de 50 milhões de telespectadores”, completa Marialva. Com o fim da ditadura, as relações de poder iriam se alterar no Brasil. Mas isso não impediu o JN de veicular uma edição manipulada do último debate presidencial, em 1989, favorecendo o candidato Fernando Collor (PRN) e prejudicando Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quem admitiu o erro foi José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então executivo da TV Globo. A partir da década de 1990, segundo Marialva, a emissora passou a se aproximar dos novos grupamentos políticos que chegavam ao poder, pendendo para o modelo “liberal-corporativo”. Foi em 1996 que o JN optou por colocar jornalistas envolvidos na produção do conteúdo como apresentadores, no caso William Bonner e Lillian Witte Fibe. Dois anos depois, Bonner permaneceu e Fátima Bernardes entrou no lugar de Lilian. Hoje, quem está ao lado do editor-chefe é a jornalista Renata Vasconcelos. Considerada uma espécie de Olimpo do jornalismo, a bancada do JN só viu um jornalista negro assumi-la em 5 de março de 2018, com Heraldo Pereira, um veterano repórter de política em Brasília. Já a primeira apresentadora negra, Maju Coutinho (formada pela Cásper Líbero), foi ao ar neste ano. @

1969 - 1972

dos brasileiros”, afirmou o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, autor de Muito Além do Jardim Botânico (1985), um pioneiro estudo sobre a audiência do telejornal. Nascido na fase mais dura da ditadura civil-militar, o JN só passou a cobrir o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e os ministérios a partir de 1974. Por ter se tornado tão grande, o JN ficou cada vez mais visado perante a opinião pública. Grupos de oposição à ditadura, além de teóricos da comunicação, criticavam a forma como o telejornal tratava os fatos. Para Mauro Porto, professor da Tulane University e autor do livro Televisão e Política no Brasil: a Rede Globo e as Interpretações da Audiência (2007), o alinhamento a grupos de poder fazia com que notícias veiculadas pelo JN que apresentavam um único enquadramento costumavam privilegiar fontes oficiais do governo federal. Procurada, a assessoria de imprensa do Globo Universidade afirmou que não seria possível indicar um porta-voz do JN para falar com a revista CÁSPER.

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MÚSICA

AS NOTAS NOTAS AS MUSICAIS MUSICAIS

Conheça o Genius, o portal voltado para a interpretação coletiva dos fãs para as letras de músicas POR LARISSA BASILIO E LUANA JIMENEZ

BEH IN D T HE LYR IC S

BEHIN D T H E LYR IC S

Em 2014, foi introduzido no Spotify na forma de cards que trazem dados do site sobre as músicas simultaneamente no player da plataforma.

1.9k

Anotação Genius (2 contribuidores)

O Genius se encaixa na mesma categoria que a Wikipédia: uma ferramenta que funciona por meio da criação de conhecimento coletivo. O trabalho realizado pelos usuários não fornece nenhum tipo de compensação monetária, apenas o compartilhamento de informações entre os internautas. Upvote +30

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FEATURED ARTIST

Lady Gaga

Artista e fãs podem interagir diretamente, trazendo uma experiência musical nova. Upvote +68

4

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Você se interessou pela premissa do site? Já conhecia antes?

Responda essa pergunta

(+5 IQ)

Quando a plataforma nasceu?

O Genius foi criado em 2009, pelos colegas da Universidade de Yale Tom Lehman, Ilan Zechory e Mahbod Moghadam. Insatisfeitos com seus empregos e sentindo falta de uma plataforma que pudesse materializar suas discussões sobre música, encontraram a solução na criação do Genius. +4

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DIVULGAÇÃO

O GENIUS É UMA PLATAFORMA ONLINE que permite que os usuários façam anotações e interpretações de letras de músicas. Com uma produção coletiva e compartilhada de informações, os fãs de cantores e bandas ajudam a explicar o contexto da música que gostam, formando uma espécie de biblioteca musical. Funciona de maneira simples: o usuário da plataforma precisa apenas entrar na página da música e adicionar comentários aos versos. Nos mesmos moldes da Wikipédia, um time de editores monitora a inserção dessas anotações. Os internautas acumulam pontos, chamados de “IQs” (quociente de inteligência), segundo o número de contribuições que fazem no Genius. Os comentários também podem incluir imagens, vídeos e notícias. O serviço começou com a adição de letras de rap, e era conhecido como Rap Genius. Depois, expandiu para o gênero hip hop. Atualmente, contém diversos tipos musicais, mais de 2 milhões de colaboradores e mais de 25 milhões de músicas, álbuns, artistas e anotações cadastradas. Serviços de streaming, como Spotify e Apple Music, fecharam parcerias comerciais para a utilização das letras comentadas. Devido ao aumento da popularidade do site, o Genius começou a fazer colaborações com os próprios artistas, em que eles mesmos explicam o significado de suas músicas por meio de anotações sinalizadas e vídeos. @

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Esteja preparado para novos desafios. A Faculdade Cásper Líbero oferece extensa variedade de Cursos Livres presenciais, dinâmicos e de curta duração. Ideais para o aprimoramento curricular e capacitação de profissionais para novos caminhos no mercado de trabalho.

confira a agenda de cursos 2019:

cursos.casperlibero.edu.br

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NO RITMO DO

ROCK MRossi, fotógrafo de grandes artistas da música brasileira e internacional, lança livro sobre o show business POR RAFAELA BONILLA ESTÁDIO DO MORUMBI, 20 DE MARÇO DE 1981. No palco, Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon desfilavam clássicos da banda Queen. Os mais de 200 mil espectadores no gramado e nas arquibancadas iam ao delírio, e entre eles um adolescente tímido. Marcelo Rossi, o jovem que tinha 13 anos, assistiu ao espetáculo desacompanhado e só entrou no estádio por que o controle de segurança não era dos melhores. Jamais poderia imaginar que a sua vida começava a ser escrita a partir dali. Aquele foi o primeiro dos mais de mil shows que ele já viu, quase sempre para registrar imagens exclusivas. Nos anos 1980, o Brasil era um lugar tão remoto para o show business quanto é hoje a Antártica. Apenas três grandes nomes internacionais tinham vindo aqui até então: Alice Cooper, Kiss e Genesis. Faltavam produtores, equipes de som e de luz especializados. E, claro, dinheiro para trazer os artistas. “De lá para cá, a demanda aumentou e um cenário foi criado. Quando comecei, quase não existiam fotógrafos musicais”, lembra. Mas como um fã de rock’n’roll se tornou um dos maiores fotógrafos especializados em música é algo que ele próprio não imaginava que poderia acontecer: “Foi uma coisa do dia a dia, mas se não acreditasse no meu trabalho e que pudesse entregá-lo, eu não teria chegado até aqui”. Aprendeu o ofício comprando revistas internacionais de fotografia e tentando reproduzir os ângulos dos profissionais com sua câmera analógica, uma Canon EOS A2e.

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PORTFÓLIO O show da banda Kiss, em sua formação original, foi um dos momentos marcantes de MRossi

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(1) Axl Rose, (2) Cássia Eller, (3) Imagine Dragons, (4) Ozzy Osbourne, (5) Bruce Springsteen, (6) Madonna, (7) Zé Ramalho, (8) Brian May

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“Agora quando olho a cena, sei se ela é fotogênica ou não. Criei um banco de dados na minha cabeça”, ensina Rossi. Nos anos 1990, surgiram os grandes festivais. E foi nessa época que ele teve sua primeira experiência profissional. Em uma temporada nos Estados Unidos, conseguiu credenciamento para um jornal de Miami, o Florida Review, para cobrir o Rock in Rio de 1991 no Brasil. Era a primeira vez também que surgia a assinatura “MRossi”, como ele é conhecido no mercado.

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ROCK IN RIO II, 1991. O vocalista da banda Guns N’ Roses, Axl Rose, era um popstar que odiava ser fotografado. Estrela mundial, ele ordenou que os fotógrafos fossem retirados do Maracanã, para desespero de MRossi. De posse da credencial, ele sabia que não podia desapontar o jornal de Miami. Naquele 20 de janeiro, decidiu se enfiar em umas catacumbas do estádio que, por sorte, o levaram para dentro de um dos anéis do Maracanã. Foi andando até conseguir chegar perto do palco, quando Axl Rose apareceu na sua frente, segundos suficientes para disparar a câmera. Saiu antes que um segurança fosse atrás dele. “Teriam me batido e tirado a câmera”, conta. Curiosamente, ele não se orgulha do feito. “Não faria isso hoje, na época estava começando e era importante fotografar o auge da banda.” 7


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Existem códigos não explícitos na fotografia de show que moldam a atitude do fotógrafo. É inaceitável, na visão de MRossi, influenciar o andamento da apresentação, seja chamando a atenção do vocalista ou usar o flash em cima do palco. O profissional está lá para captar flagrantes e não dirigir a cena, explica. MRossi, como conhece as bandas e os produtores, normalmente tem autorização para ficar durante todo o

show, enquanto a maioria dos mortais fotógrafos pode registrar apenas as três primeiras músicas. Nessas situações, ele cede lugar para o colega que tem menos tempo. Mas quando chega a sua hora de clicar, o fotógrafo fica atento a tudo: à mudança de luz, ao movimento do artista, aos ânimos do show, à superlotação de fotógrafos no palco. “Para cada circunstância você tem que se antecipar e conhecer o terreno”, comenta.

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MONSTERS OF ROCK, 1995. Outro megafestival que ele cobriu foi o Monsters of Rock, em 1995. Naquele ano, Ozzy Osbourne fazia o primeiro show no Brasil. Assim que as luzes se apagaram e o cantor subiu no palco, MRossi sentiu como se tivesse sido atingido por um soco nas costas. Não era ninguém, mas apenas a vibração da plateia enlouquecida. “Minha única explicação é a energia. Isso é rock’n’roll”. Para ele, mais importante do que registrar só o artista é mostrar a influência e a troca de energias com a plateia. Para passar a emoção e sentimento na foto, ele dá o conselho. Nada de tirar 50 fotos do rosto da pessoa. A chave é situar e contextualizar o lugar. “(No meu trabalho) quero fazer tudo uma experiência”, diz. MRossi aconselha os que querem seguir seus passos a desenvolverem bem as conexões de trabalho. Em 1996, por conhecer o produtor do Monsters of Rock, foi convidado para ser o fotógrafo oficial do festival. “Depois ficou fácil, porque passei a confiar no meu trabalho e as pessoas passaram a confiar em mim. Aquela coisa de fã ficou para trás”, ao lembrar, que fez a cobertura acompanhado da ex-namorada Carina Zaratin. RÁDIO ROCK, 2019. No 21º andar de um dos prédios da Avenida Paulista, as fotos de MRossi 13 ilustram todas as paredes do estúdio da emissora. Parceira de muitos anos, a 89FM exibe em tamanho real imagens de

(9) Lollapalooza, (10) Slash, (11) Steven Tyler, (12) Judas Priest, (13) Paul McCartney, (14) Rolling Stones, (15) Marcelo Rossi e Egler ‘‘Cebola’’ Cordeiro, (16) David Bowie, (17) Aerosmith e (18) AC/DC maio • junho • julho • agosto 2019


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astros capturados pelo fotógrafo. Com 30 anos de carreira, ele publicou no ano passado o livro MRossi Live Rock Photography, de 180 páginas, com uma coletânea dos melhores flagrantes no palco. Pelo sexto ano consecutivo, será o fotógrafo do Lollapalooza, comandando uma equipe de 18 pessoas. Por circular no meio, algumas de suas fotos já estamparam álbuns de artistas como Bruce Dickinson, Zé Ramalho e a banda Rush. Testemunha da profissionalização do setor, ele pretende lançar um documentário sobre o crescimento do show business. @

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CÁSPER

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ASPERIANAS

Jornalismo além das fronteiras A Polônia foi palco do maior evento sobre meio ambiente da ONU e recebeu jornalistas de diferentes nacionalidades para fazer a cobertura da COP 24 POR RAFAELA BONILLA, ENVIADA ESPECIAL A KATOWICE, POLÔNIA

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A correria é grande na sala de imprensa do megaevento sobre meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), conferência em que se credenciaram 1.600 jornalistas dos cinco continentes. A COP 24 é uma Babel jornalística em que as barreiras de idioma, de cultura e, sobretudo, de interesses noticiosos revelam como é difícil se chegar a consensos nos dias de hoje. Durante os 14 dias do evento, coberto também por uma equipe de 18 alunos da Cásper Líbero, profissionais da comunicação produziram reportagens segundo a importância de seus países de origem. Embora estivessem a quilômetros de distância – a COP 24 ocorreu na pequena cidade polonesa de Katowice –, os jornalistas só pensavam em como dialogar com seus públicos. Ginga Tamura, correspondente do Japan Broadcasting Corporation, a maior emissora do Japão, pensa em pautas buscando fazer o recorte delas com as catástrofes ambientais. Em 2018, as chuvas relacionadas ao aquecimento global mataram 244 japoneses e deixaram 17 desaparecidos, segundo a Agência Meteorológica do Japão. “As cidades precisam estar conscientes das consequências das emissões”, afirmou à CÁSPER. A jornalista sueca Suzana Eva Baltscheffsk, credenciada pela Rádio Sverige, cobre assuntos do meio ambiente desde 1985, muito pelo interesse de pessoas e dos veículos de seu país. A Suécia, que adota políticas de diminuição de emissão de carbono, vivia um episódio particular enquanto transcorria a COP 24. Por 134 dias, o país ficou sem governo após as eleições. “Os líderes políticos são fracos e essa crise governamental faz com que as questões ambientais não estejam na agenda”, explicou. Já Zahra Ouhssain, a jornalista marroquina da Société Nationale de Radiodiffusion et de Télévision, contou que seu maior desafio nessa cobertura se tratava de uma ques-

RAFAELA BONILLA

Mais de 23 mil pessoas de 195 países estiveram no evento

tão de gênero. “Em Marrocos, os direitos são diferentes e é difícil se locomover sozinha. É necessário ser uma mulher forte, especialmente se for jornalista”, disse. Uma cobertura internacional é um grande aprendizado para qualquer tipo de jornalista. É nessas horas que a experiência ajuda o profissional a enxergar além do que os editores costumam pedir. Tamura, por exemplo, sabe que países do sul asiático sofrem pela falta de liberdade de imprensa. O seu material também precisa pensar nesse público. Na visão da radialista sueca, o aumento de políticos de direita, tanto na Europa quanto no Brasil, corroboram na construção desse discurso de aversão à imprensa. “Os jornalistas apenas estão tentando fazer seu trabalho, às vezes arriscando suas vidas para noticiar algo e devem ser honrados por isso, não violentados ou perseguidos”, defendeu. Para Ana Carolina Amaral, que cobriu o evento para o jornal Folha de S.Paulo, a imprensa brasileira passa por um momento frágil e cada vez menos profissionais de comunicação têm realizado in loco as coberturas das COPs. Na visão dela, a missão da imprensa é pressionar as políticas domésticas e mostrar as contradições entre o que é defendido em solo internacional e em casa. Para ela, quanto maior a cobertura sobre o tema, mais as questões ambientais ficarão fortalecidas em Brasília. Pelo quarto ano, a Faculdade Cásper Líbero participou da cobertura do evento da ONU. Nesta edição, o projeto foi pilotado pelas professoras Tatiana Ferraz e Filomena Salemme, coordenadora e vice-coordenadora do curso de Jornalismo. “É importante mostrar aos futuros jornalistas que o meio ambiente é importante no mundo. Os presidentes, chefes de Estado e indígenas estavam todos lá falando a mesma língua”, diz Tatiana, que também é radialista e acumula uma larga experiência internacional.

CÁSPER

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Sob nova direção O diretor, o vice e os coordenadores da Cásper Líbero apontam os desafios para os próximos anos POR PAULA LEAL MASCARO

HENRIQUE ARTUNI

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ASPERIANAS

Welington Andrade Diretor da Faculdade “É preciso estar atento para a compreensão das transformações tecnológicas da área de comunicação e das mutações conceituais, éticas e profissionais do campo.”

RAFAELA BONILLA

HENRIQUE ARTUNI

Adalton Diniz

Coordenadora da Pós-Graduação

Vice-Diretor da Faculdade

“Queremos dar visibilidade à qualidade das pesquisas que são produzidas com rigor científico e que colaboram para refletir sobre as questões da contemporaneidade da sociedade.”

“Busco ser o apoio decisivo para a direção alcançar seus objetivos. O projeto de intercâmbio, em desenvolvimento na instituição, está alinhado com os processos de modernização e atualização da Cásper.”

RAFAELA BONILLA

Marli dos Santos

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Roberta Brandalise Coordenadora de Cultura Geral “Nosso desafio é contribuir para que o casperiano crie produtos e estratégias de comunicação com competência crítica para romper estereótipos e nao reiterar desigualdades.”


RAFAELA BONILLA

RAFAELA BONILLA

Fábio Caim Coordenador de Publicidade e Propaganda

Coordenadora de Jornalismo

RAFAELA BONILLA

“Precisamos resgatar a autoestima dos jornalistas e a identidade da profissão. Hoje todo mundo acha que é capaz de transmitir uma informação. Mas é o jornalista que tem a sensibilidade para discernir o que é notícia e capacidade técnica para publicar nos diversos meios.”

“Procuramos trazer a atualização do ambiente de trabalho para a academia e propor aos alunos uma visão de mercado mais dinâmica e flexível, conservando a base de pensamento e reflexão, que é uma característica muito forte do curso.”

RAFAELA BONILLA

Tatiana Ferraz

Patrícia Salvatori Marco Vale Coordenador de Rádio, TV e Internet “Buscamos a valorização das qualidades estética, narrativa e técnica da produção audiovisual. Com a democratização dos meios de produção, cria-se uma ilusão de que todo mundo pode fazer um trabalho audiovisual. Mas existe todo um repertório de recursos de expressão que mais do que nunca fazem a diferença, não importa qual seja a mídia. E o curso precisa evidenciar a importância da qualidade de forma e conteúdo do material audiovisual.”

Coordenadora de Relações Públicas “O maior desafio é agregar o conhecimento das novas tecnologias e os impactos para a comunicação em todas as vertentes de atuação do RP com habilidades relacionais, que é um ponto que o jovem precisa cada vez mais aprimorar. É preciso desenvolver nos alunos essas habilidades e conseguir conciliar todos os interesses, todas as análises necessárias para atuação no mercado de trabalho.”

CÁSPER

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ASPERIANAS

De portas abertas A Faculdade aposta em inovação com parcerias de intercâmbio e sedia o prêmio Jornalista de Impacto

PASSAPORTE CASPERIANO Tudo começou quando um pai decidiu realizar o sonho da filha de estudar fora. Adalton Diniz, vice-diretor da Faculdade Cásper Líbero, mergulhou nas feiras de intercâmbio para entender como funcionava o processo. Agora com a filha nos Estados Unidos, Diniz quer que os alunos da Cásper também passem por essa experiência. Ao lado da nova direção, a Faculdade iniciou neste ano uma parceria com a N&M Intercâmbios e Cursos no Exterior. “A ideia é que o aluno faça um curso que complemente a formação”, conta o vice-diretor. A empresa fará a ponte entre os casperianos e as universidades internacionais, além de ajudar

na documentação e na aprovação acadêmica. Nomes como California State University e New York Film Academy (Estados Unidos), University of Westminster (Reino Unido) e University of New South Wales (Austrália) estão na lista como possíveis destinos. Pelo projeto ter uma grande demanda, a proposta inicial é que o discente tenha a oportunidade de fazer um semestre que tenha equivalência com a graduação da Cásper. Também serão disponibilizados cursos de curta duração, preparados especialmente para os casperianos e que valerão horas complementares. A previsão é que serão abertos novos processos de seleção a cada semestre. (Rafaela Bonilla)

MARIANA CAVALCANTI

NOITE DE PRÊMIOS No dia 26 de março, o Teatro Cásper Líbero recebeu os participantes do Prêmio Jornalista de Impacto e nomeou os vencedores nas quatro categorias. Criada pela empresa PonteAPonte em parceria com a Faculdade Cásper Líbero, o evento buscou reconhecer produções de jornalistas brasileiros com o tema de investimentos e negócios de impacto. Tiago Mota, professor da Cásper, ressalta o alto nível dos trabalhos. “É um tema pulsante na economia e a comunicação é cada vez mais importante na disseminação do assunto”, diz Mota. Na mesma noite, foi lançado a Rede Jornalistas de Impacto, grupo no Facebook para reunir os

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participantes e discutirem sobre a temática do evento. Na categoria Audiovisual, a ganhadora foi Jussi Maria, da TV Globo, pela reportagem “Empresas e Sustentabilidade”. Giacomo Vicenzo Fanasca, do UOL TAB, levou o prêmio na categoria Iniciativas Periféricas com a reportagem “CEOs da Quebrada”. Em Texto, o ganhador foi Marcelo Moura de Souza, da editora Globo, pela reportagem “30 negócios que fazem bem ao Brasil” e, em Iniciativas Inovadoras de Jornalismo, Eliane Trindade, da Folha de S.Paulo com o projeto Empreendedor Social (editoria). Cada profissional levou para casa um prêmio no valor de 3,5 mil reais. (Paula Leal Mascaro)


DIVULGAÇÃO

OS RISCOS DA PÓS-VERDADE Professora da Universidade de Columbia em Nova York, Alexis Wichowski participa da Abrapcorp na Cásper Líbero em maio de 2019 POR RAFAELA BONILLA Em um cenário de discussões polarizadas, da ascensão de políticos com visões que destoam da realidade e do excesso de informações na era digital, qual é o caminho para nos comunicarmos? Alexis Wichowski, líder do grupo de comunicação e pesquisa do Instituto Harmony e professora da School of International and Public Affair, da Universidade de Columbia, estuda o impacto da produção midiática no indivíduo na sociedade atual. Ela trabalhou, na gestão da democrata Hillary Clinton, na Divisão de Inovação Diplomática e hoje é assessora-sênior do comissário do Departamento de Serviços para Veteranos de Nova York. A CÁSPER conversou com Alexis sobre instituições, tecnologia e governo. O termo “pós-verdade” é um de seus grandes temas de estudo. O que significa pós-verdade, afinal? Alexis Wichowski: Resumidamente é a incapacidade de distinguir quais informações são confiáveis. Descreve, para mim, como as pessoas se sentem, mais do que qualquer fenômeno atual. É o sentimento de perda e confusão que temos ao ver figuras de autoridade, como políticos, que trocam a realidade objetiva em prol de uma imagem pública favorável. O termo pós-verdade traz também uma sensação de derrota: se não existe uma “verdade” objetiva com a qual nós, como cidadãos, e nossos líderes eleitos podem concordar, o que nos resta? Como um discurso político pode se beneficiar em tempos de pós-verdade? AW: Um famoso político americano, o senador Daniel Patrick Moynihan, disse certa vez: “Todos têm direito a sua própria opinião, mas não a seus próprios fatos”. As narrativas são mais eficazes se incluem algum elemento da realidade. As pessoas não acreditarão que um político pode voar, por exemplo. Mas poderiam facilmente acreditar que um político financiou a pesquisa sobre carros voadores. Este é o perigo em nossa era. Quando uma narrativa parece plausível, tem uma chance de se espalhar. Estamos tão exaustos com a quantidade de informações que encontramos que raramente investigamos se a narrativa é realmen-

te verdadeira. E alguns políticos têm muita energia para difundir essas narrativas e ganharem vida própria. Você chegou a trabalhar no governo dos Estados Unidos na gestão de Hillary Clinton. Quais seriam as preocupações que o governo e os políticos devem ter ao lidar com redes sociais? AW: A mídia social é um novo cenário onde as narrativas se espalham rapidamente, como o fogo. Figuras de autoridade como líderes políticos precisam ser extremamente cuidadosas com o que colocam nas redes. Pode ser o combustível que espalhe um incêndio de desinformação ou a água que apaga as chamas. O governo tem esse poder, muito mais do que o cidadão comum. Sua discussão, como convidada especial para a conferência de abertura do Abrapcorp, levantará o debate sobre como as instituições podem intervir para salvar a democracia. Esse é o caminho para combatermos o cenário de polarização e pós-verdade? AW: As democracias precisam desesperadamente de instituições como a mídia independente, as organizações da sociedade civil e os centros de pesquisa não partidários, tanto nas universidades quanto no governo. São essas instituições que devem operar como administradores confiáveis ​​de informações. A fadiga do cidadão comum e a sobrecarga do volume de informações são perigosas para a democracia. Não porque não corremos atrás se aquele político está falando a verdade, mas porque estamos muito cansados cognitivamente para nos incomodarmos.

CÁSPER

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GIRO PELO MUNDO

Radar tech :: DIGITAL :: Impérios da tecnologia remuneram a produção de conteúdo na Europa, e pequenas redações ganham reforço nos EUA LEVANDO A INFORMAÇÃO

NOVAS REGRAS NO DIGITAL O Parlamento Europeu aprovou uma lei que obriga as gigantes da internet a fecharem um acordo com empresas para divulgarem seus conteúdos que possuem direitos autorais. Os alvos da medida são o Google e o Facebook, que, segundo os legisladores, cresceram à base do compartilhamento de conteúdos de terceiros. Tudo o que vai para as plataformas têm de ser consentido pelas empresas de mídia. Os opositores da ideia acreditam que o que foi implementado dificultará o compartilhamento de informações e que será quase impossível a fiscalização a respeito desse assunto. (Pedro Garcia)

NEM TÃO DESCOLADA ASSIM A empresa de mídia estadunidense Vice, conhecida por conteúdos irreverentes e que caiu no gosto dos millennials, foi condenada a pagar 1,9 milhão de dólares em um acordo judicial. A quantia, anunciada em março deste ano, é decorrente de denúncias de exfuncionárias da empresa que recebiam menos que seus colegas homens. Uma delas chegou a ganhar 25 mil dólares a menos que um funcionário do sexo masculino na mesma função. Os estados da Califórnia e de Nova York possuem leis contra a desigualdade de salários por conta de gênero. A punição só não alcançou valores maiores por que a Vice contrata mulheres jovens, que costumam ter salários menores. (PG)

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Em parceria com a McClatchy Company – editora de diversos jornais diários dos Estados Unidos –, o Local Experiments Project, do Google, financiará pequenas redações das cidades americanas pelos próximos três anos. Portais digitais receberão apoio de uma equipe de especialistas da gigante tecnológica para tocar o negócio. O programa, que depois deve ser expandido para outros países, surge no cenário dos desertos de notícias (locais que não dispõem de notícias sobre sua própria comunidade). (Thiago Bio)

MAIS VIEWS, POR FAVOR O TopBuzz reúne notícias de diversos veículos ao redor do mundo e é responsável pelo aumento de visualizações nesses sites. Metade do tráfego no aplicativo sai dos Estados Unidos, mas outros países – como Brasil, Itália e Reino Unido – também têm mostrado números de downloads crescentes. O TopBuzz é uma das propriedades do mundo digital da ByteDance, startup de tecnologia sediada em Pequim. A empresa atingiu o recorde de 75 bilhões de dólares em valor de mercado em outubro de 2018, segundo a Bloomberg, e ficou famosa por ser dona do Toutiao, plataforma de notícias personalizada e que trabalha com clickbaits. (TB)


REPRODUÇÃO

ANTEN DOS SUBCHAPÉU

Título da matéria ::OLHO DA MATERIA:: Esse é o olho da matéria

TITULO

Daniel Tupinambá sempre soube que um dia estaria atrás das câmeras. Ex-casperiano formado no curso de Rádio, TV e Internet, começou a se envolver com projetos audiovisuais logo no começo da graduação, ocasião em que estagiou com cineastas do calibre de Amílcar Oliveira e André Sturm, atual secretário municipal de cultura de São Paulo. Hoje, dez anos após concluir a Faculdade, Tupinambá é dono de uma trajetória robusta. Em 2015, dirigiu e roteirizou o seriado da TBS, Longa Metragem, estrelado por Fábio Rabin. A produção chamou a atenção do roteirista Diego Tavares, que o convidou para ser o diretor da websérie Põe na Conta. Protagonizada pela atriz Julianne Trevizol, o programa de sete capítulos pertence à plataforma digital da G Show, das Organizações Globo. Entre outros projetos recentes de Tupinambá, destacam-se alguns videoclipes, o curta Estro, com Marisa Orth, e A Vida de Picon, uma comédia para a internet baseada na vida do influenciador digital Leo Picon. “Falar sobre um influenciador me empolga muito, estamos vivendo

essa tendência muito intensamente no mundo da comunicação e gosto de fazer conteúdo para internet. É algo que eu ainda quero explorar bastante”, afirma. Desde agosto de 2016, Tupinambá e sua sócia Gabi Lopes comandam a Young Republic Films, uma produtora que se define como “um coletivo de artistas, sonhadores e profissionais criativos, unidos para fomentar cultura e entretenimento através do cinema, tv e internet”. (Guto Martini)

NÓS INDICAMOS A partir desta edição, a CÁSPER passa a dar dicas variadas do que os professores estão lendo, ouvindo e vendo

Samuel L. Jackson e Bruce Willis em Corpo Fechado (2000)

CÁSPER

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ANTEN DOS REPRODUÇÃO

A FILOSOFIA DO OLHAR Keanu Reeves como Neo em Matrix (1999)

Lacrimae Rerum, de Slavoj Žižek (Boitempo, 2018) Vladimir Lenin dizia que podemos conhecer melhor nossas fraquezas a partir das percepções de inimigos inteligentes. Esta citação é lembrada pelo esloveno Slavoj Žižek no seu livro de ensaios cinematográficos Lacrimae Rerum e resume, com perfeição, a postura dialética do autor em relação à indústria cultural. Reconhecido como um importante e influente intelectual de esquerda, Žižek dedica boa parte de seu livro analisando filmes hollywoodianos. Junto a análises sobre a ética que transcende a moral religiosa em Krzysztof Kieslowski ou a viagem interior dos personagens de Andrei Tarkovski, fruto do encontro desses com a alteridade radical do “Vazio Central da Coisa impossível-real”, Žižek discute também os filmes do Batman de Christopher Nolan ou da série Matrix. É capaz de elogiar um filme como Corpo Fechado de M. Night Shyamalan, que, segundo Žižek, consegue expor um vilão complexo em suas motivações, ao invés de justificar a violência cada vez maior de heróis “complexos” contra vilões bidimensionais. Em vários momentos, a verve polemista de Žižek se manifesta por meio de provocações estéticas,

ABRIR OS HORIZONTES

Marco Vale, coordenador do curso de Rádio, TV e Internet

RECEITA MÉDICA

O EXCESSO DE INFORMAÇÃO

A História da Humanidade Contada pelo Vírus. De Stefan Cunha Ujvari, Editora Contexto, 206 págs.

No Enxame: Perspectiva do Digital. De Byung-Chul Han, Editora Vozes, 136 págs.

Apesar do nome assustador, o livro A História da Humanidade Contada pelo Vírus trata de maneira leve e interessante como as doenças, epidemias e outros eventos ligados à saúde pública influenciaram a história do planeta. Com didatismo, mostra que as doenças não surgem “do nada”. Tudo tem uma explicação científica e as sociedades sempre tiveram de saber lidar com o problema de maneiras diferentes, conforme o clima, a economia e a fase tecnológica em questão. Recomendo a todos aqueles que se interessam pelo tema saúde. (Tatiana Ferraz, coordenadora de Jornalismo)

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como, por exemplo, quando diz que as maiores contribuições italianas ao cinema não foram os filmes do neorrealismo, mas os spaghetti-westerns, as comédias eróticas dos anos 1970 e, principalmente, os épicos de “espada e sandálias”, filmes sobre a Grécia e a Roma na Antiguidade, geralmente estrelados por halterofilistas americanos. Ainda nesta postura inquieta, Žižek se pergunta se a melodramática série de TV Holocausto (1978) não teve uma efetividade muito maior para que o alemão médio refletisse sobre os crimes nazistas do que mais de 7 horas do documentário Shoah de Claude Lanzmann, tão saudadas por intelectuais em sua austera recusa de usar apelos dramáticos, chegando ao ponto de nem usar imagens de arquivo como ilustrações. Em afirmações como essas, Žižek faz um saudável exercício de iconoclastia, tão necessário para quem busca refletir sobre o cinema, onde as fronteiras entre o sublime e o kitsch, entre o erudito e o popular costumam apresentar fronteiras para lá de difusas.

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Atualmente estou lendo No Enxame: perspectiva do digital. Do mesmo autor, Byung-Chul Han, li também Sociedade da Transparência e A Agonia de Eros. Todos os três são livros que estabelecem uma crítica à sociedade do excesso e como vivemos automatizados nesses processos de comunicação superficial. O autor trabalha com uma proposta de encontrarmos tempo para reflexão no meio desse mar de dados no qual estamos “perdidos”. (Fábio Caim, coordenador de Publicidade e Propaganda)


DICAS RÁPIDAS DIÁLOGOS NO TRABALHO O livro Diálogos Supera: uma Coleção de Experiências para Aprimorar a Comunicação com Empregados reúne ensinamentos e cases de 19 profissionais da academia e do mercado brasileiro para discutir a comunicação dentro das organizações. Entre os temas abordados, estão o presente e o futuro da comunicação com empregados, liderança e os desafios da comunicação interna. A obra ensina também técnicas para criar um diálogo efetivo com subalternos, colaboradores e funcionários da empresa, além de estratégias para mídias sociais. (Carolina Terra, professora de Relações Públicas)

NOS FONES DE OUVIDO Duas vezes por semana, vai ao ar o Podcast-se, um programa que discute temas contemporâneos ligados à comunicação corporativa, marketing de influência e jornalismo. A cada episódio, um novo assunto é debatido. O apresentador, Cassio Politi, conta com a presença de convidados especiais para conduzir o bate-papo. Para os alunos interessados em gerenciamento de crise e reputação das marcas, o programa discute cases de grande repercussão na mídia como o episódio 73, sobre o Supermercado Carrefour e no episódio 84, sobre a crise da Vale em Brumadinho. (CT)

PARA ENTENDER O MUNDO Escrito pelo sociólogo espanhol Manuel Castells e publicado em 2018 pela editora Zahar, a obra Ruptura: a Crise da Democracia Liberal é um livro essencial para compreendermos o mundo e suas transformações. Nele, o autor abarca as diversas crises contemporâneas como a crise econômica, o terrorismo e as inúmeras guerras, enfatizando a crise da representação política. Castells percorre também por acontecimentos recentes e marcantes como as eleições nos Estados Unidos com Donald Trump, o Brexit do Reino Unido e a polarização espanhola. (CT)

DIVULGAÇÃO

SUSPENSE BRITÂNICO Doctor Foster. Na Netflix.

Amantes de séries com um bom sotaque britânico provavelmente curtirão Doctor Foster. O que parece uma simples história de amor e traição se transforma em um suspense que te prende até o final. A série da BBC, lançada em Londres em 2015, tem duas temporadas de cinco episódios cada e se tornou uma obsessão na terra da rainha mais famosa do mundo. Se você, assim como eu, é adepto da maratona de séries, dá para vê-la em duas sessões com direito a pipoca e refri. Não seja preconceituoso e vá julgando logo no primeiro episódio que é apenas mais um clássico de “mulher traída”. A protagonista, de longe, não terá a simpatia de muitos, mas muda o curso esperado da história e se transforma completamente. Cenas sombrias e românticas, recheadas de ódio, obsessão e loucura, e compostas de forma muito intrigante e inteligente tiram totalmente o perigo da história clichê. Segundo alguns críticos, a série foi inspirada no mito de Medeia. Daí você pode tentar concluir o restante. Só a segunda temporada, que estreou na Netflix no ano passado, está disponível - não há uma confirmação sobre uma terceira ainda. Ligue o ar condicionado, pegue sua pipoca e o refrigerante, corra para a frente da Netflix e, se tiver um amigo que curta suspense, chame-o. É muito melhor ver acompanhado e fica mais divertido. Você com certeza não se decepcionará. Fabiana Pinheiro, professora de Relações Públicas

Suranne Jones, no papel de Dra. Gemma Foster, protagonista serie CÁSPER da61


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