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Janeiro a Abril 2014 ano xx brasília df ISSN 1517-6959

Revista

Avicultura Agroecológica Um mercado em expansão

Cães de Guerra

Como são treinados e utilizados em serviço

ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Equoterapia A importância do Médico Veterinário e a utilidade do cavalo

ENTREVISTA

Bernard Vallat Diretor geral da OIE



SUMÁRIO

nº 61 Janeiro a Abril 2014 16 CAPA Equoterapia A importância do Médico Veterinário e o valor do cavalo 21 A prática Médico-veterinária na equoterapia

5 ENTREVISTA

16

Bernard Vallat Diretor Geral da OIE

8 O mundo vem ao Brasil para discutir o ensino da Medicina Veterinária 9 Novas estratégias de ensino e aprendizagem para formação profissional 12 Uma nova agenda para Médicos Veterinários e Zootecnistas 14 Bem-estar animal: quais serão as respostas e soluções? 25 Destaques CFMV

12 44

33

28 CFMV na mídia 29 Avicultura agroecológica é possível 33 Cães de guerra 37 Tratamentos hormonais e inseminação artificial em tempo fixo em bovinos 44 Números da Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil 49 Suplemento Científico 84 Opinião: Paulo Maiorka 86 Publicações


EDITORIAL

Moderna e atual A primeira edição de 2014 da Revista CFMV está totalmente renovada. Ela segue seu propósito de educação continuada, mas com novo projeto gráfico para uma leitura mais agradável. Também traz temas diversificados sobre a atuação de Médicos Veterinários e Zootecnistas. Nesta edição, o destaque vai para a equoterapia, uma das áreas em expansão na Medicina Veterinária e Zootecnia. Com uma lei que regulamenta a atividade em fase final de tramitação no Congresso Nacional, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) foi atuante para garantir que os Médicos Veterinários fizessem parte da equipe de apoio da atividade. Além disso, a revista aborda assuntos sobre novas estratégias de ensino na graduação e aprimoramento, tecnologia, bem-estar animal e artigos de destaque no caderno científico. Convidamos você a participar da Revista CFMV com sugestão de temas, avaliação e envio de artigos. Boa leitura!

Benedito Fortes de Arruda Presidente do CFMV

A Revista CFMV é quadrimestral e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada e artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos

AGRIS L70 CDU619 (81)(05)

É permitida a reprodução de artigos da revista, desde que seja citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFMV. As fotos enviadas serão automaticamente cadastradas no banco de imagens do CFMV com o devido crédito.

EXPEDIENTE

órgãos públicos. A Revista CFMV é indexada na base de dados Agrobase.

Conselho Federal de Medicina Veterinária SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CEP 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br Tiragem: 95.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente Benedito Fortes de Arruda CRMV-GO nº 0272 Vice-Presidente Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037 Secretário-Geral Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850 Tesoureiro Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093 Conselheiros Conselheiros Efetivos Adeilton Ricardo da Silva CRMV-RO nº 0002/Z Fred Júlio Costa Monteiro CRMV-AP nº 0073 José Saraiva Neves CRMV-PB nº 0237 Marcello Rodrigues da Roza CRMV-DF nº 0594 Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho CRMV-MA nº 0454 Nivaldo de Azevedo Costa CRMV-PE nº 1051 Conselheiros Suplentes Francisco Pereira Ramos CRMV-TO nº 0019 Heitor David Medeiros CRMV-MT nº 0951 João Esteves Neto CRMV-AC nº 0007 José Helton Martins de Sousa CRMV-RN nº 0154 Conselho Editorial Presidente Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk Líder da Área de Comunicação Helenise Ribeiro Caldeira Brant Editor Ricardo Junqueira Del Carlo Subeditora Flávia Tonin Coordenador de Comissões Joaquim Lair Revista CFMV Editor Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759 Jornalista Responsável Flávia Tonin MTB nº 039263/SP Projeto e Diagramação Ideorama Design e Comunicação Impressão Gráfica Editora Pallotti


ENTREVISTA

Arquivo CFMV

Como avalia e quais são os principais pontos para melhorar o ensino da Medicina Veterinária no mundo?

Bernard Vallat Diretor geral da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), Médico Veterinário formado em Toulouse, França, com doutorado e duas pós-graduações técnicas, começou na inspeção, mas nos 17 anos iniciais de carreira atuou em cooperação e acordos internacionais, envolvendo programas e treinamentos de sanidade animal e produção pelo mundo. Atuou em ministérios na França e, em 1997, assumiu pela primeira vez o alto posto da OIE. Em maio de 2010, foi eleito pelos 178 países-membros da organização para seu terceiro mandato na direção geral. É voz firme e atuante em todo o mundo.

Fizemos visitas de avaliação em 120 países e em quase cem se constatou que a educação médicoveterinária não estava adequada para cumprir as necessidades dos países e normas internacionais de sanidade animal. Havia problemas e falta de harmonia em programas analíticos. Os recursos das instituições eram insuficientes para o ensino de qualidade, com falta de equipamentos, professores e animais. A OIE tem proposto uma lista de competências mínimas para a formação dos Médicos Veterinários em todos os países. Também influenciamos governos para liberar recursos financeiros e apoiar os estabelecimentos, lembrando a importância social da presença de Médicos Veterinários qualificados, o que irá repercutir, por exemplo, na economia, nas exportações e na saúde pública. Defendemos que o Médico Veterinário é um bem público e os governos podem fazer mais pela educação. A OIE é uma organização preocupada com a sanidade. Por que há o interesse na educação? Para cumprirmos o objetivo de melhorar a saúde animal e do planeta, como proposto pelos países-membros, há necessidade de Médicos Veterinários capacitados e a base é sua formação. É condição essencial para humanos, animais e planeta saudáveis. Como os órgãos estatutários, como o CFMV, podem ajudar a cumprir esse objetivo? Em todo o mundo, não há vínculo entre os Médicos Veterinários e os responsáveis pela educação médico-veterinária; em muitos, nem o diálogo. A melhor maneira de melhorar a educação veterinária é dar responsabilidade aos organismos veterinários quando fazem os registros profissionais e vincular critérios de sua formação. Um dos requisitos seria a

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

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ENTREVISTA Bernard Vallat

Unimar

demonstração de que os estabelecimentos de ensino cumprem as normatizações da OIE, adotadas por todos os países. Se a lei der poder e condições a esses órgãos, eles poderão influenciar a qualidade do ensino. Seria um trabalho de certificação dos profissionais e reconhecimento das instituições pelos órgãos estatutários, com base nas diretrizes da OIE?

O custo da boa educação em Medicina Veterinária é alto

A ideia é que os órgãos estatutários possam influenciar o governo

É importante que os Médicos Veterinários comuniquem a importância de seu trabalho e tenham orgulho dele

para que ele imponha os critérios de qualidade para reconhecer estabelecimentos. A OIE não quer ser um organismo de certificação. Nossa função é preparar e adotar normas, mas não fazemos controle. Serviço médico-veterinário é um bem público

Arquivo CFMV

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Essas normativas educacionais, no futuro, poderiam se tornar indiretamente barreiras comerciais?

gência de capacitação dos que fa-

A Organização Mundial do Comércio não tem responsabilidade para com a educação e não pode fazer barreiras com esse pressuposto. No futuro, pode pedir que os profissionais que certificam os produtos tenham algum tipo de reconhecimento. Normalmente, nos acordos de comércio internacional, há exi-

de Medicina Veterinária. Qual é

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

zem a certificação. O Brasil tem mais de 200 escolas sua avaliação? É importante avaliar a demanda de mercado profissional para que os recém-formados tenham boas condições de trabalho. É papel do governo ajustar o número de estabelecimentos à demanda


ENTREVISTA Bernard Vallat

Arquivo CFMV

e fazer as devidas negociações. O custo da boa educação em Medicina Veterinária é alto e os recursos disponíveis se diluem com muitas escolas. Com exemplos de excelência, como o Brasil pode contribuir para a educação da Medicina Veterinária no mundo? Qualquer país-membro da OIE pode propor intercâmbio de cooperação com outros países. Isso é assessorado e monitorado pela organização, principalmente por causa das prioridades. Com mais de cem mil profissionais, o Brasil tem peso em temas relacionados à Medicina Veterinária. Além disso, é o principal exportador mundial de produtos de origem animal e se destaca em competitividade e custo de produção, assegurando sanidade dos rebanhos. Esse é um tema que o País pode propor. Muito se fala em “um uma saúde”. Há maior ção da sociedade sobre do Médico Veterinário saúde pública?

mundo, percepo papel para a

No mundo, a sociedade não sabe a importância do Médico Veterinário para a sua saúde. Ainda associa os profissionais aos cães e gatos. Isso é justificado pela concentração em centros urbanos desconectados do campo. As crianças acham que o ovo é um produto industrial. É preciso educar e se comunicar com a socie-

Segurança alimentar: responsabilidade do Médico Veterinário

dade, que precisa entender que 70% das enfermidades humanas têm origem nos animais e são os Médicos Veterinários que protegem os homens.

querem conhecer as condições

E os Médicos Veterinários têm a consciência de sua importância para a saúde pública?

cisam estar na linha de frente

Muitos trabalham limitados ao seu espaço e não sabem se comunicar. Não têm consciência da sua importância. É preciso aprender a se comunicar desde as universidades e isso está previsto nas competências mínimas propostas pela OIE.

aceitável pelos consumidores e

Além da saúde pública, existe o bem-estar animal. Como os Médicos Veterinários podem contribuir?

É importante que comuniquem a

O bem-estar animal é uma demanda mundial das sociedades urbanas. Os consumidores

disso, é preciso que ampliem as

de produção e somente os Médicos Veterinários têm a formação apropriada para entender o que é ou não aceitável. Eles prepara a definição da legislação e sua aplicação, de forma que seja produtores. É um tema complexo que precisa de pessoas com elevado conhecimento. Gostaria de deixar uma mensagem aos profissionais e estudantes brasileiros?

importância de seu trabalho e tenham orgulho do que fazem. Além fronteiras e olhem para além do que acontece no Brasil.

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ensino

O mundo vem ao Brasil para discutir o ensino da Medicina Veterinária Evento reuniu mais de mil congressistas, que apresentaram suas realidades locais e discutiram, em conjunto, um modelo mínimo ideal para a formação profissional Por: Flávia Tonin

da OIE na área do ensino. Os temas foram abor-

C

dados por representantes de todo o mundo, que

om participação direta do CFMV na promoção do evento, foi realizado no Brasil o maior evento mundial para discussão do ensino da Medicina Veterinária. A 3ª Conferência Mundial sobre o Ensino da Medicina Veterinária, realizada de 4 a 6 de dezembro de 2013, reuniu em Foz do Iguaçu, PR, mais de mil congressistas dos cinco continentes. Preparada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e também promovida pelo Ministério Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, nela foram debatidas e apresentadas diretrizes mínimas para a formação profissional. As palestras abordaram a situação atual dos programas de ensino; a contribuição dos Médicos Veterinários privados e as suas necessidades educacionais; a investigação científica aplicada à Medicina Veterinária; o papel dos órgãos estatutários; e as normas e recomendações

evidenciaram suas realidades antes das discussões. Todas as apresentações estão disponíveis, em inglês, no site da OIE (www.oie.int). Ao final da conferência foi lavrado um documento que será levado à apreciação dos 178 países-membros daOIE, para posterior recomendação mundial. Ele propõe As competências do dia 1, texto que trata das habilidades necessárias para que os Médicos Veterinários prestem um serviço nacional de qualidade. A organização respeita as particularidades locais, mas entende que há uma deficiência na formação, o que impacta na qualidade dos produtos e na proteção da saúde pública e do meio ambiente.

Direcionada ao público participante, o CFMV publicou uma edição especial da Revista CFMV para a 3ª Conferência Mundial sobre o Ensino da Medicina Veterinária, com conteúdo específico. A publicação, bilíngue, apresentou dados atuais sobre a sistematização do ensino, sua estrutura e particularidades. Também detalhou as diferentes formas de pós-graduação e trouxe uma entrevista com a então ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Também foram abordados temas emergentes da profissão e o perfil acadêmico. O conteúdo completo pode ser acessado em www.cfmv.gov.br.

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Ensino Unimar

Novas estratégias de ensino e aprendizagem para formação profissional

As diferentes organizações mundiais sabem da importância do ensino para que se tenha um profissional que atenda às demandas da sociedade. O CFMV também tem essa preocupação e oferece aos docentes brasileiros uma gama de estratégias práticas voltadas, principalmente, para os dilemas humanísticos

P

ara a Organização Mundial da Saúde Animal

saúde dos ecossistemas. Tra-

preocupações semelhantes e es-

ta-se de profissão reconhecida

tabelecem nos arts. 3º e 4º:

(OIE), os Médicos Veterinários, in-

como das mais gratificantes, in-

dependentemente da sua área de

teressantes e desafiadoras, pois

prática profissional, são respon-

tem amplo espectro de opções

sáveis pela promoção da saúde

na carreira. O NAVMEC propõe

e bem-estar animal, saúde públi-

uma visão que traz elevado ní-

ca e segurança alimentar, sendo

vel de responsabilidade social,

seus serviços considerados bens

considera e atende às necessi-

públicos mundiais.

dades da sociedade e comparti-

O Consórcio Norte-Americano de Educação em Medicina

Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina Veterinária tem como perfil do formando egresso/ profissional formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, apto a compreender e traduzir as necessidades de indivíduos,

lha avanços tecnológicos e par-

grupos sociais e comunidades

cerias (Figura 1).

[...] em seus campos específicos

Veterinária (NAVMEC) coloca o

Nacionalmente,

as

Diretri-

de atuação.

Médico Veterinário como líder

zes

Medicina

Art. 4º A formação do Médico

influente em assuntos relacio-

Veterinária (Resolução CNE/CES

Veterinário tem por objetivo dotar

nados aos animais, humanos e

nº 1/2003) compartilham de

o profissional dos conhecimentos

Curriculares

de

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figura 1 Competências profissionais do Médico Veterinário segundo o NAVMEC e a OIE

O NAVMEC relaciona como competências profissionais essenciais do médico veterinário: •

a comunicação

a colaboração

o gerenciamento (de si mesmo, de equipes e de sistemas)

a educação permanente

a liderança

a consciência da diversidade

a adaptação a ambientes em mudança

A Organização Mundial da Saúde Animal, por sua vez, refere como competências: •

a comunicação;

a administração e o gerenciamento;

pesquisa a aplicação de análises de risco;

dentre outras.

para desenvolver ações e obter resultados voltados à área de Ciências Agrárias no que se refere à Produção Animal, Produção de Alimentos, Saúde Animal e Proteção Ambiental, além das seguintes competências [Figura 2] e habilidades gerais: [...]. Essas competências, denominadas humanísticas, são interdependentes. A menção a elas não se refere meramente ao desenvolvimento de determinados comportamentos nos alunos, que podem vir a denotar a presença ou não da competência. Espera-se o desenvolvimento desta de maneira aplicada. A resolução mostra a preocupação em fornecer as bases para o enfrentamento dos problemas sociais. Outro documento, os Quatro Pilares da Educação, propostos pela UNESCO na publicação Educação: Um Tesouro a Descobrir (DELORS, 2000), chama atenção para a importância de se conceber a educação como um todo, reforçando a necessidade da implementação de outras formas de aprendizagem. Nos pilares da educação (Figura 3), há um entrelaçamento no desenvolvimento das competências. É possível, portanto, perceber as ideias convergentes sobre a educação para o futuro e o que se espera do profissional que nele atuará.

Figura 2 Competências humanísticas segundo a resolução CNE/CES nº 01/2003

Atenção à saúde Tomada de decisões Comunicação Liderança Administração e gerenciamento Educação permanente

Figura 3 Pilares da educação segundo a Unesco

Educação

1. Aprender a conhecer

1

2

3

4

2. Aprender a fazer 3. Aprender a viver juntos 4. Aprender a ser

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A prática das estratégias de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento de competências humanísticas Seguindo a tendência mundial, foi lançada a publicação Estratégias de ensino-aprendizagem para desenvolvimento das competências humanísticas, fruto do esforço do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) em incentivar as reflexões sobre educação e construída com o apoio de docentes e coordenadores de curso nos Seminários Nacionais de Ensino organizados pelo conselho. O material traz, inicialmente, uma reflexão sobre os valores da educação e vai além, com sugestão de técnicas para aqueles que têm o comprometimento com a formação dos futuros profissionais. São propostas estratégias (Figura 4) usadas com regularidade no ambiente da educação, assim como em eventos educacionais, de desenvolvimento e de


Figura 4 Estratégias usadas no ambiente da educação e em eventos educacionais, de desenvolvimento e de capacitação para jovens e adultos

Tempestade cerebral Lista de discussão por meios informatizados Mapa conceitual Aula expositiva dialogada Dramatização

Oficina de trabalho (workshops)

Estudo de caso

Painel

Estudo do meio Estudo de texto Estudo dirigido

Aprendizagem baseada em problemas (Problem-based learning – PBL) Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) Tribunal do júri Jogos

Portfólio Seminário Solução de problemas

Fórum

capacitação para jovens e adultos, segundo Anastasiou e Alves (2003).

A publicação Estratégias de Ensino-aprendizagem para Desenvolvimento das Competências Humanísticas está disponível em www.cfmv.gov.br

As estratégias propostas, se aplicadas com consistência e coerentemente com as demais etapas do processo de ensino-aprendizagem, como o planejamento e a avaliação, contribuirão para melhorar a qualidade do ensino, porém não apenas no que tange ao desenvolvimento de competências humanísticas. Ao colocar as necessidades do aluno em primeiro plano e vislumbrá-las sob o ponto de vista da combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes, como compreende o conceito de competência, o professor

AUTORes

pode direcionar as atividades, bem como o “espírito” das aulas, para a formação do profissional adaptável que a sociedade tanto precisa.

Referências ANASTASIOU, L.G.C.; ALVES, L. Processos de Ensinagem na Universidade Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Univile, 2003. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir: Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 4ed. Cortez, 2000. GRAMIGNA, M.R.M. Jogos de empresa. 2ed. Pearson, 2007. SAVERY, J.R. “Overview of problem-based Learning: Definitions and Distinctions.” The Interdisciplinary Journal of Problem-based Learning v.1,n.1,p.9-20, 2006.

Comissão nacional de educação da medicina veterinária (CNEMV) do CFMV comissoes@cfmv.gov.br Rafael Gianella Mondadori (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5672

João Carlos Pereira da Silva Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1239

Breno Schumaher Henrique Médico Veterinário, CRMV-AM nº 0303

Paulo César Maiorka Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6928

Celso Pianta Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1732

Marcelo Diniz dos Santos Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0818

Francisco Edson Gomes Médico Veterinário, CRMV-RR nº 0177

Rogério Martins Amorim Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6757

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POLÍTICA

Uma nova agenda para Médicos Veterinários e Zootecnistas

A

primeira década deste século vem apresentando à sociedade um conjunto de desafios e de rea-

lidades imprevisíveis e de difícil entendimento. Na essência, as relações entre os indivíduos e o espaço social tornaram-se mais abrangentes. A importância dada aos animais e ao meio ambiente alcançou grande complexidade, às vezes ultrapassando barreiras ou confrontando paradigmas constituídos há séculos. Defender o direito dos animais, a tentativa de humanizá-los, assegurar que os recursos da natureza e até a sua biodiversidade sejam preservados são atitudes denominadas “do bem” e, invariavelmente, no contexto atual, “politicamente corretas”. Premissas ancestrais apontaram para a necessidade dos princípios convergirem para um estado de equilíbrio, onde a construção harmônica dos valores e das regras

texto alerta para a necessidade de conhecer os marcos legais que amparam o exercício profissional e as justas e pertinentes demandas da sociedade e, necessariamente, as ações do Conselho Federal de Medicina Veterinária frente a realidade que se apresenta. O que, aparentemente, pode ser caracterizado por um conflito entre vertentes da sociedade é um reflexo do amadurecimento das práticas democráticas, em particular, o contraditório. Assim, no dia

PLs relacionados ao Bem-estar Animal

constituíram as convenções da própria sociedade. A diversidade de interesses e de forças divergentes tem impedido a manutenção do “bom convívio” exclusivamente pelas convenções dos homens. Por necessidade, surgiram os princípios constitucionais escritos, as leis, normas, marcos regulatórios e uma infinidade de códigos de condutas. No entanto, a sociedade, diante de uma nova conduta, subjetiva, intangível e até circunstancial, desafia seus próprios códigos tentando estabelecer uma nova ordem para o mundo, resultando no estabelecimento de divergências. Como resultado, criam-se grandes conflitos: o bem-estar e humanização dos animais e a preservação do ambiente; ambos se contraponto com a produção de alimentos e a geração da pesquisa científica que gera produto para a saúde de animais e pessoas. Aparentemente, as atitudes “do bem” ou “politicamente corretas” estão em conflito com aquelas essenciais à garantia do “bom convívio”. Neste contexto, Médicos Veterinários e Zootecnistas constituem duas profissões muito sensíveis. Assim, este

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Código Federal de Bem-estar Animal (+ de 15 PLs) Criminaliza conduta contra cães e gatos Veda patrocínio a eventos com uso de animais Terapia assistida por animais Combate ao tráfico de animais selvagens

PLs relacionados ao Meio Ambiente Política nacional de Meio Ambiente Comercialiação de clones e material biológico Descarte de embalagens de uso veterinário Criação de selo de qualidade ambiental nos produtos de origem animal Controle sobre material genético de mamíferos, répteis e aves

Síntese dos principais projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional vinculados ao Bem-estar Animal e ao Meio Ambiente


a dia, é comum e cada vez mais intensa a convivência com estes contraditórios. Ao Médico Veterinário cabe assegurar, dentre outras atribuições, a saúde aos animais, mas é questionado pela sociedade quanto ao “uso de animais” na pesquisa. É desumana a fome no mundo, por outro lado, é desumano produzir carne por métodos intensivos de criação. É evidente que estes dois exemplos são postos de forma linear, mas o objetivo não é estabelecer uma opinião finalística, apenas desencadear uma discussão. Então, diante destas situações, muitas vezes paradoxais, o Estado cria seus mecanismos de resposta, na forma de normas, resoluções, decretos e marcos normativos, no sentido de disciplinar, orientar e estabelecer equilíbrio e bom convívio. Também, o Congresso Nacional ao captar os movimentos da sociedade passa a propor uma série de Projetos de Lei (PL) que resultam em novas diretrizes para os temas. Atualmente, tramitam e são monitorados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), por meio da Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap), aproximadamente 40 PLs que tratam das questões do meio ambiente e aquelas relacionadas aos direitos dos animais (bem-estar) e que tem relação com Médicos Veterinários e Zootecnistas. O escopo de cada PL, em discussão no Congresso Nacional, não possui consenso no âmbito da sociedade, pois para cada tema, por mais oportuno e pertinente que seja, os diversos aspectos da nova proposta devem ser amplos. O PL que trata do Código Federal de Bem-Estar Animal talvez seja um dos instrumentos mais abrangentes nesse objeto de regulamentação, mas dada a natureza contraditória de muitos de seus atos, exige da sociedade e, em particular dos profissionais Médicos Veterinários e Zootecnistas, uma ampla discussão e participação com ponderações na tentativa de estabelecimento de um equilíbrio. Por exemplo, ao mesmo tempo em que o PL protege animais de companhia e de produção, propõe normas rigorosas e pouco factíveis aos sistemas de produção de carne, leite e ovos que podem inviabiliza-los. Considere-se ainda que as cadeias produtivas da carne e leite no Brasil são essenciais para a sua economia e à segurança alimentar. O CFMV vem atuando, por meio da análise detalhada de todas as implicações do novo código,

Nova ordem para o “bem e politicamente correto”

Convenções para o “bom convívio”

+ direi

Direito s devere e s Estado guar das Le dião is

tos

Povo g uard

ião

Novas

Princíp

ios

Leis

Novos Princíp ios

As demandas da sociedade e seus valores circunstanciais criam um desequilíbrio entre a ordem vigente e o que está sendo apresentado

sustentado no conhecimento científico que existe a respeito de cada item, de modo a apresentar manifestações de apoio e sugestões para o aperfeiçoamento, modificações ou até mesmo ações pela retirada de artigos incompatíveis. Este trabalho acontece no Congresso Nacional junto aos parlamentares envolvidos em cada PL. O momento atual, de intensa participação da população brasileira nos movimentos sociais, com suas implicações, exige uma participação efetiva das profissões, mormente dos Médicos Veterinários e Zootecnistas. O CFMV, por sua vez, exerce seu papel de guardião e mediador dos interesses profissionais cujo objetivo final é a saúde única, ou seja, do homem, do animal e do planeta. AUTORes

Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap) do CFMV comissoes@cfmv.gov.br Júlio O. J. Barcellos (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 3185

Nilton Abreu Zanco Médico Veterinário, CRMV-SP no. 6956

Carlos Humberto Almeida Ribeiro Filho Médico Veterinário, CRMV-BA nº 0454

Ricardo Pedroso Oaigen Médico Veterinário, CRMV-PA nº 2272

Geraldo Marcelino Carneiro Pereira do Rêgo Médico Veterinário, CRMV-RN nº 0015 Marcelo Henrique Puls da Silveira Médico Veterinário, CRMV-SC nº 1646

Roberto Baracat de Araújo Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1755

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Arquivo CFMV

BEM-ESTAR

Bem-estar animal: quais serão as respostas e soluções? Motivado pelo avanço no conhecimento cientifíco e também pelas demandas sociais, o bem-estar animal cada vez desperta maior interesse de Médicos Veterinários e Zootecnistas. O III Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal traz novos debates para o palco das profissões

S

erá possível pensar em bem-estar de animais de produção quando o mundo enfrenta uma necessidade sem precedentes de aumento na produção de alimentos? Como ofereceremos mais espaço para cada ave, suíno, bovino e até peixe para aumentar seu bem-estar e evitar o sofrimento de uma vida confinada ao extremo? Por que, em tantos países, é crescente o segmento da sociedade que demanda respeito aos animais? E porque mais de 25 cientistas, em sua maioria eminentes neurologistas, reuniram-se em Cambridge, Reino Unido, no dia 7 de jullho de 2012, para publicar a Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos? Por que advogados, no Brasil e no mundo, começam a sugerir que animais sejam sujeitos de direito? Será que a forma como percebemos os sentimentos nos animais é confiável e merece toda essa atenção? O que pensar sobre ativistas arrombando laboratórios para libertar os animais usados em experimentação? E a criação de animais transgênicos, como interfere no bem-estar dos animais envolvidos? O que devemos fazer com os cães que estão nas ruas? O que nossas ações causam, direta e indiretamente, aos animais selvagens? Considerando o peso de tais perguntas e, principalmente, as consequências das suas respostas,

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Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

parece pertinente o interesse de Médicos Veterinários e zootecnistas pelo conhecimento científico sobre bem-estar animal. De acordo com o diagnóstico do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), publicado na edição 57 da Revista CFMV, o bem-estar animal está entre os temas de maior interesse dos Médicos Veterinários e Zootecnistas do Brasil. Eles procuram atualização, pois sabem da responsabilidade para a correta orientação de clientes, seja no campo ou na cidade, como também de legisladores e da sociedade. Além disso, um quarto dos projetos de lei de interesse da Medicina Veterinária e Zootecnia, monitorados pelo CFMV, publicado na Revista CFMV, número 56, estavam relacionados ao tema. Ciente da importância deste, o CFMV organiza a terceira edição do Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal. A iniciativa é também fruto do reconhecimento da importância da discussão embasada nos mais recentes conhecimentos científicos, envolvendo estudantes e profissionais, assim como o poder público, os professores e a sociedade. Esse tradicional evento realizado no país reúne pesquisadores de todo o Brasil e gran-


Antonio Velarde, membro do Comitê de Saúde e Bem-Estar Animal da European Food Safety Authority, apresentará as diretivas sobre bem-estar animal da União Europeia.

Arquivo CFMV

Instalações adequadas para animais de produção

des expoentes internacionais para debater os últimos avanços na área. Neste ano, sua realização será no Sul do país, em Curitiba (PR), de 5 a 7 de agosto. Para 2014, foram selecionados temas de alta relevância para a relação entre seres humanos e animais em nosso país, com base em marcantes movimentos sociais e questões cada vez mais valorizadas no âmbito do comércio de produtos de origem animal. Na abertura, uma das maiores referências na área de bem-estar animal, o professor John Webster, da Universidade de Bristol, discorrerá sobre a relação bem-estar de animais de produção e sustentabilidade ambiental, à semelhança do abordado em seu mais recente livro, Animal husbandry regained: the place of farm animals in sustainable agriculture, publicado em 2013. Na sequência,

A ética da aplicação dos recentes avanços em nano e biotecnologia em animais a partir da perspectiva de um filósofo e de dois pesquisadores constituirá um debate interessante e rico. A questão ética abordando o uso de animais em laboratórios será tema de um minissimpósio que se iniciará com a palavra de Judy MacArthur Clark, que chefia o controle do uso de animais para experimentação no Reino Unido. O ensino obrigatório de bem-estar animal nos cursos de graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia, que avança com dificuldades em nosso país, também será abordado. Haverá respostas? Devido à complexidade das questões, talvez seja melhor pensar que as soluções estão em permanente construção. É esperado, durante o III Congresso Brasileiro de Bem-estar Animal, participar de avanços significativos no sentido de uma nova realidade, mais compassiva em relação a animais e seres humanos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade.

Programação e inscrições em www.cfmv.gov.br Preço promocional até o final de maio Envio de trabalhos até o dia 12 de maio de 2014

apresentar-se-á o organizador da reunião de neurologistas que resultou, em Cambridge, na declaração científica sobre a presença de consciência nos animais, inclusive em invertebrados. Philip Low é coordenador geral da empresa Neurovigil e expli-

AUTORes

cará por que a Declaração de Cambridge foi redigida e recebeu o suporte da neurologia mundial. Nos dois dias seguintes, serão organizados oito minissimpósios, nos quais serão discutidos temas variados. O assunto bem-estar de animais de produção prosseguirá, trazendo aos Médicos Veterinários e Zootecnistas brasileiros uma visão das principais discussões e normativas mundiais, no âmbito da

Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (CEBEA) do CFMV comissoes@cfmv.gov.br Alberto Neves Costa (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-PE nº 0382

Carla Forte Maiolino Molento Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2870

Luis Fernando Batista Pinto Zootecnista, CRMV-BA nº 0235/Z

Marcelo Weinstein Teixeira Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1874

América Latina e do Brasil. Coordenador do maior projeto de bem-estar animal da atualidade, o professor Adroaldo Zanella, que recentemente voltou ao

Maria das Dores Correia Palha Médica Veterinária, CRMV-PA nº 0917

Rita Leal Paixão Médica Veterinária, CRMV-RJ nº 3937

Brasil, tem posição privilegiada para discorrer sobre as iniciativas globais em bem-estar animal, enquanto

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Atuação profissional

Liana Gati

EQUOTERAPIA É uma alternativa de tratamento não medicamentoso que cada vez tem mais adeptos. O trabalho de um terapeuta deve ser em conjunto com o de um Médico Veterinário que conheça a prática. A saúde alia-se à fisiologia e comportamento animal, além de haver a estimulação da interação animal-paciente

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A

equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo numa abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou necessidades especiais. Ela exige a participação do corpo inteiro, ou seja, de todos os músculos e de todas as articulações, e o cavalo é o meio para alcançar os objetivos terapêuticos (ANDE, 1999). Ainda, é uma alternativa de tratamento não medicamentoso em que se trabalham as várias formas do desenvolvimento da criança, de forma lúdica, com o cavalo e em seu ambiente natural (SILVA, 2004).

ultrapassar 1,5 m e o ângulo da quartela deve ser o mais próximo de zero. A raça não é relevante. Em relação ao cavalo e ao ambiente, é importante que o terapeuta os conheça, bem como os estímulos que eles oferecem, além dos movimentos do cavalo e tipos de andamento, quando se está montado em sela ou em mantas ou estando em decúbito ventral ou dorsal. Devem-se considerar todas essas variantes e os diversos tipos de terrenos que podem ser utilizadas, dependendo do que pode ser visto como estímulo útil ao praticante (CIRILLO, 1998). A seleção do cavalo é fundamental para o desenvolvimento da equoterapia

Em 1970, foi criada a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil), que, em 1989, registrou o termo ‘equoterapia’ no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio. Em 1997, o tratamento foi reconhecido como um método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina e pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitacional, de acordo com a legislação brasileira. Atualmente, a equoterapia compõe os serviços especializados oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (ANDE-BRASIL, 2007; KLEIN, 2007). IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO

O Médico Veterinário é responsável pela avaliação dos animais, sendo o único profissional capacitado para verificar a saúde de um cavalo terapeuta. Exerce função de orientador, informando e ensinando os cuidados básicos de saúde e higiene, bem como suas particularidades. Ele também deve participar do desenvolvimento e acompanhamento do projeto, realizando avaliações frequentes e estabelecendo cuidados higiênico-sanitários, como obediência de calendários de vacinação e vermifugação (FLÔRES, 2009). De acordo com Buchene e Savini (1996), a escolha do cavalo adequado é fundamental para o desenvolvimento da equoterapia. A docilidade é o pré-requisito mais importante. Se macho, o animal deve ser castrado. Ele não pode ter um elevado escore corporal, pois dificulta sua agilidade e prejudica a montaria do praticante. Deve possuir idade superior a 10 anos e ser treinado para ser montado pelos lados direito e esquerdo. A altura não deve

Liana Gati

O trabalho do coterapeuta deve ser em conjunto com o de um Médico Veterinário que conheça a terapia, pois estarão aliando saúde com fisiologia e comportamento animal, além da estimulação da interação animal-paciente. A saúde plena do animal terapeuta é um aspecto essencial e visa não somente ao bom desempenho e bem -estar do animal, mas também à garantia de que não haverá transmissão de zoonoses. Cuidados especiais com a higiene, como o banho diário e corretas vacinação e vermifugação, não podem ser negligenciados. A pele e pelos devem receber cuidado especial para que o encontro fique mais agradável e isento de riscos para a saúde do paciente (ANDERLINE; ANDERLINE, 2007). Um animal terapeuta deve demonstrar comportamento confiável, controlado, previsível e inspirar confiança naquele que está a interagir com ele (CAMPOS, 2009).

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INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA EQUOTERAPIA

De acordo com Medeiros e Dias (2002), entre as indicações, podem ser citadas: paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, síndromes neurológicas (Down, West, Rett e outras), traumatismo cranioencefálico, déficits sensoriais, atraso maturativo, lesão raquimedular, autismo, hiperatividade, deficiência mental, alterações do comportamento, dificuldades da aprendizagem ou da linguagem, etc. As contraindicações para a prática da equoterapia são classificadas como relativas ou absolutas e, entre elas, citam-se: portadores de sínFigura 1. Movimento tridimensional produzido ao passo pelo cavalo e transmitido ao paciente Fonte: equitação especial.blogspot.com

A MARCHA DO CAVALO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A REABILITAÇÃO

O cavalo pode movimentar-se de três modos: ao passo, ao trote e ao galope. Nessas diferentes modalidades, o cavalo não move os membros da mesma maneira, sendo os movimentos do dorso diferentes e os

drome de Down com menos de 3 anos e/ou com instabilidade atlantoaxial, ferimentos abertos, alergia ao pelo do cavalo, hiperlordose, luxações do ombro e/ou do quadril, escoliose acima de 40 graus, osteoporose, hérnia de disco, cardiopatias graves, epilepsia não controlada etc. Referindose ao ponto de vista psicológico, a equoterapia é contraindicada para medos e fobias em grau acentuado, distúrbios de comportamento que acarretam risco para o praticante e/ou outros, forte rejeição ao cavalo e graves transtornos psiquiátricos (NASCIMENTO, 2006).

do praticante adaptados a cada um deles. Todas essas

Ande

modificações de atitudes impõem um ajuste muscular ao praticante, a fim de responder aos desequilíbrios provocados (WICKERT, 1999). O passo, por suas características, é o andamento básica da equitação e é com ele que a maioria dos trabalhos de equoterapia é executada. O trote e o galope são saltados. Isso quer dizer que entre um lance e outro, seja de trote ou galope, o cavalo executa um salto, existindo um tempo de sustentação em que ele não toca os membros no solo. Em consequência disso, seu esforço é maior, seus movimentos, mais rápidos e mais bruscos e, quando ele retorna ao solo, exige do praticante mais força para se segurar e acompanhar os movimentos do animal (CIRILLO, 1998). Por isso, só podem ser usados, em equoterapia, por praticantes em estágio mais avançado. O caminhar do cavalo, passo a passo, proporciona ao praticante um movimento tridimensional (Figura 1), similar à marcha humana, levando seus corpos ao mesmo tempo para cima e para baixo, de um lado para o outro e, por fim, verticalmente subindo e descendo (WICKERT, 1999; QUEIROZ, 2006; FRARE; VOLPI, 2011).

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A prática resgata o indivíduo de forma global, atuando na mente e no corpo


Letícia Calavi

A segurança física do praticante deve ser uma preocupação constante de toda a equipe, tendo em vista o comportamento e atitudes habituais do cavalo e as circunstâncias que podem vir a modificá-los; os cuidados com a segurança do equipamento de montaria, particularmente correias, presilhas, estribos, selas e manta; e os cuidados com a vestimenta do cavaleiro, principalmente quanto aos itens que podem trazer desconforto ou riscos de outras naturezas, e o local das sessões, evitando ruídos anormais que possam assustar os animais (CESJCD, 2007). O solo do local pode ser coberto por areia ou grama. Geralmente, a prática é realizada no ambiente natural do cavalo, onde ele já está familiarizado e reconhece como espaço próprio (QUEIROZ, 2006). BENEFÍCIOS

Liana Gati

A equoterapia permite ao terapeuta interagir em múltiplos sistemas orgânicos, oferecendo uma oportunidade ímpar para atingi-los num ambiente que pode enriquecer o movimento durante o seu desenvolvimento. A fisioterapia na equoterapia proporciona ao praticante a prevenção e o tratamento de patologias, bem como a reabilitação e o desenvolvimento de seu estado atual por meio do uso dos movimentos tridimensionais e multidirecionais do cavalo.

Quadro 1. Benefícios da equoterapia Melhora o equilíbrio e a postura Desenvolve a coordenação de movimentos entre tronco, membros e visão Estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa Oferece sensações de ritmo Desenvolve a modulação do tônus e a força muscular Liana Gati

Desenvolve a coordenação motora fina Promove a organização e a consciência corporal Aumenta a autoestima Ajuda a superar fobias Estimula a afetividade pelo contato com o animal Aumenta a capacidade de independência Promove a sensação de bem-estar, motivando a continuidade do tratamento

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A equoterapia deve despertar grande interesse como forma de tratamento, por se tratar de uma abordagem

tônus muscular, relaxamento, conscientização corporal e aperfeiçoamento da coordenação motora, da atenção, da autoconfiança e da autoestima.

inovadora dentro de um ambiente estimulante. Sua prá-

Toda terapia deverá ter acompanhamento do

tica resgata o indivíduo de forma global, atuando tanto

Médico Veterinário, permitindo a interação entre di-

na mente quanto no corpo do praticante, levando-o a um

ferentes profissionais e a garantia do comportamento

estado de equilíbrio, desenvolvimento e manutenção do

e do bom estado higiênico-sanitário do animal.

AUTORes

REFERÊNCIAS ANDE – Associação Nacional de Equoterapia. História da equoterapia no mundo. Brasília, 2000. Disponível em: http://www.ande.org.br/. Acesso em 25 mar. 2013. ANDERLINE, G.P.O.S.; ANDERLINE G.A. Benefícios do envolvimento do animal de companhia (cão e gato) na terapia socialização e bem estar das pessoas e o papel do Médico Veterinário. Revista CFMV. Brasília, Ano XIII, n.41, mai/jun/jul/ago. 2007, p.70-75. CAMPOS, P. R. C. O tratamento e ajuda através dos animais. Disponível em: http:// www.slideshare.net/hospvetporto/o-tratamento-e-ajuda-atraves-dos-animais 2009>. Acesso em: 22 abril de 2013. CESJCD (Centro de Equoterapia Soldado Josué Cipriano Diniz). O que é Equoterapia. Noticiário Tortuga. Edição especial eqüídeos. Ano 53. p.60, nov./dez. 2007. CIRILLO, L. Equoterapia, hipoterapia e equitação terapêutica. Equoterapia v.1, n.1, p.7-10, 1998. FLÔRES, L. N. Os benefícios da interação homem animal e o papel do médico veterinário. Porto alegre, RS. 2009. Monografia (Especialização em clinica médica de pequenos animais) – Universidade Federal Rural do Semi árido. FRARE, F.F.; VOLPI, J.H. Equoterapia, corpo e emoções em movimento. In: ENCONTRO PARANAENSE. CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS; 16/11/2011. Anais. Curitiba; Centro Reichiano, 2011. [ISBN – 978-85-87691-21-7]. Disponível em; <http://www. centroreichiano.com.br/artigos>. Acesso em: 08 de março 2013. FREIRE, H.B.G. Equoterapia: Teoria e técnica, uma experiência com crianças autistas. São Paulo: Vetor. ISBN: 8587516019; 1999. 266p. KLEIN, M.Z. Possíveis benefícios da relação criança/equino na Equoterapia. Biguaçu. 2007. Monografia (Graduação em psicologia) – Universidade do Vale do Itajaí. LERMONTOV, T. Psicomotricidade na equoterapia. Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2004. MEDEIROS, M.; Dias, E. Equoterapia: Bases & Fundamentos. Niterói, RJ: Revinter, 2002. NASCIMENTO, Y. O. O papel do psicólogo na equoterapia. In CALIL F. e CAMPOS M.C.P. (Orgs.), Apostila do curso básico de equoterapia, Brasilia, p.143-152, 2006. QUEIROZ, C.O.V. Visualização da semelhança entre os movimentos tridimensionais do andar do cavalo com o andar humano. Equoterapia n.13 e 14, p.2-5, 2006. Disponível em: http://www.equoterapia.org.br/trabalho/20082221.pdf. Acesso em 08 março 2014. SILVA, H.C. Discussão sobre o efeito positivo da equoterapia em crianças cegas. Disponível em: http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php> Acesso em 27 abril 2013. WICKERT, H. O cavalo como instrumento cinesioterapêutico. Equoterapia n.3, p.7-14, 1999.

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Marconi César Palmeira Filho Médico Veterinário, CRMV-PB nº 0560 marconi.palmeira@bol.com.br Magna Lúcia de Souza Palmeira Pedagoga, CREFITO 1 – LTF 7031

Arquivo CFMV


Arquivo CFMV

A prática médico-veterinária na equoterapia A atuação ultrapassa os limites das ações clínicas. O profissional precisa ser paciente, observador e um educador Por: Flávia Tonin e Ricardo Junqueira Del Carlo

entre outros”, exemplifica. Ela acredita que o profissional se torna um agente de confiança da equipe, pais e

C

omo forma de tratamento que envolve a interação homem e animal, a equoterapia torna-se cada vez mais conhecida e conta, no Brasil, com quase 300 centros filiados à Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil). No total, são 12.500 praticantes, somados os participantes em centros filiados ou não, e esse número tende a crescer. Em razão de o “cavalo” ser um dos protagonistas da história, é vital a participação de um Médico Veterinário, o que vai além da assistência em clínica médica, interagindo na observação do comportamento, seleção de animais, treinamento multidisciplinar da equipe, entre outros. Para a fundadora e diretora do Grupo de Abordagem Terapêutica e Integrada (Gati), de São Paulo (SP) Liana Santos, além da assistência, o profissional tem uma função educacional. ”Ele conversa, esclarece e educa as crianças sobre a importância das vacinas, remédios, ferraduras,

pacientes. ”A garotada e as famílias ficam bem mais próximas do animal, pois passam a entender um pouco e perdem o medo”, conclui. O Médico Veterinário do Gati, Dácio de Castro Dias, ressalta a importância da capacitação e dos esclarecimentos sobre o comportamento animal e possíveis ocorrências que presta a equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Também destaca a relação com as crianças. “São explicações simples que fazem a diferença na interação e tratamento”. Ele exemplifica com os cuidados e orientações para o banho ou escovação, em que uma criança supervisionada pode ajudar, se essa atividade for importante para sua recuperação. Quem pode trabalhar

Dias acredita que o profissional precisa ter conhecimento aprofundado em equídeos e desenvolver a prática da observação. “Ao ficar ao pé da cerca, acompanhando um tratamento, identificam-se características que irão formar o

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conhecimento sobre o comportamento animal desejável para a atividade”. Ele lembra que a seleção do animal para a prática da equoterapia é vital e pode ser feita também por Zootecnista. “Um susto ou sinal de agressividade pode causar retrocesso em um paciente”, sentencia. Os cavalos devem permitir o toque sem esboçar qualquer reação negativa.

que “no caso de troca do cavalo pode ser necessário um

No interior de São Paulo, em Sorocaba, a Médica Veterinária Maria Isabel de Toledo Natthes, que atua no Centro de Equoterapia e Saúde Aziz, diz que é importante ter paciência e carinho, principalmente, pelo contato educativo com os pacientes e familiares. “O profissional tem que estar atento a tudo, mesmo durante um procedimento em outro animal, pois pode impressionar uma criança que está passando por perto”, diz sobre os cuidados, que vão além do ato clínico. Como complemento, o Médico Veterinário Márcio Correa, que também assiste o Centro Aziz, acredita que o profissional deve estar comprometido e ter um entendimento mínimo sobre as atividades realizadas.

coterapeuta e, por isso, os cuidados com animais de equo-

Pelo perfil da equoterapia, Correa defende que os esforços devem ser direcionados ao efeito profilático, evitando ocorrências que possam interromper a atividade do equino. “Existem casos de forte empatia entre os pacientes e determinado animal, o que influencia o progresso do tratamento”. Ele explica Arquivo CFMV

novo processo de adaptação na relação de confiança, atrasando o andamento do processo”. A Médica Veterinária Leticia Calovi, do Centro de Treinamento Roger Vieira, em Viçosa (MG), compartilha da importância da valorização do animal como indivíduo. “O cavalo não é uma simples ferramenta de trabalho. Ele é o terapia são diários”, explica. Entre eles, estão a escovação, limpeza dos cascos, boa alimentação, controle parasitário e imunológico, rotinas de trabalho, descanso e treinamento bem estabelecidos. Além disso, ela enfatiza a importância de condutas que considerem o bem-estar animal. “O cavalo bem cuidado fica disposto a praticar a terapia simplesmente por ter uma índole naturalmente sociável e com a vontade de servir”, avalia. Estritamente na clínica de equoterapia, os Médicos Veterinários concordam que não há grandes ocorrências. Na maioria das vezes, ocorrem distúrbios locomotores que podem interferir no estímulo ao paciente ou problemas comuns a cavalos com mais idade. Pacientes

Normalmente, antes do primeiro contato são feitas a análise e avaliação da situação atual do praticante para que a relação seja adaptada de acordo com sua demanda. Arquivo CFMV

Aspectos da higienização do cavalo são utilizados de forma lúdica e com orientação de Médico Veterinário.

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Letícia Calavi

“Em geral, no primeiro contato entre o animal e o praticante, o medo e a insegurança são normais e essa barreira vai sendo quebrada ao longo do tempo, até que o paciente inicie um vínculo afetivo de confiança com o animal”, diz a Letícia. Responsável pelo Centro Aziz, no interior de São Paulo, a fisioterapeuta Munique Moreira explica quea procura é feita por pessoas de todas as idades e para as mais diversas patologias, sendo os distúrbios neurológicos as mais comuns. A mãe de Gabriel, Erika Pappalardo, viu que o filho está mais calmo, perdeu o receio com animais e teve ganho, principalmente, em sua socialização. Para Rian, filho de Silvia Regina Sampaio, os avanços são locomotores. “Os médicos diziam que ele iria andar após os 5 anos e ele já caminha bem com menos de 4 anos”, avalia.

CFMV busca incluir Médico Veterinário em lei que regulamenta a atividade O Projeto de Lei que regulamenta a prática da equoterapia (PL 4761/2012) está em tramitação no Congresso Nacional em caráter conclusivo e o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) esclareceu aos legisladores a importância da atuação direta de um Médico Veterinário como parte da equipe. “Por se tratar de um projeto que diz respeito à atuação profissional, procuramos incluir o Médico Veterinário no escopo da propositura da nova lei”, afirmou o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. Após os esforços, no texto atual, o profissional faz parte da equipe de apoio, sendo responsável por emitir laudos permissivos aos animais. Entende-se que o Médico Veterinário é o único com formação para garantir a saúde do cavalo, além de ter conhecimento especializado sobre o comportamento animal, suas atitudes e reações prévias ou durante a prática da terapia.

Médico Veterinário também pode ser paciente Formado em Medicina Veterinária, Rafael Roberto Alves sofreu um grave acidente automobilísticoe os médicos ficaram desacreditados de sua reabilitação. Hoje, após 5 anos, ele fala sobre a sua recuperação auxiliada pela equoterapia. Qual foi a importância da equoterapia? Tenho algumas sequelas, mas a equoterapia me auxiliou na recuperação dos movimentos, postura, concentração e equilíbrio, me proporcionando movimentação com ajuda apenas de muleta. Sendo Médico Veterinário e paciente, como é a sua relação com o cavalo? Quando sofri o acidente, faltavam 8 meses para me formar. Eu não imaginava que meu paciente passaria a ser meu terapeuta. Hoje sou Médico Veterinário e a admiração que tinha pelos animais, em especial os cavalos, se tornou ainda maior. Recomenda alguma mudança na relação paciente e cavalo? Recomendo a aproximação física com o cavalo, quando possível, para aumentar a cumplicidade entre homem e animal e senti-lo parte da terapia. Os cavalos não devem ser um objeto do tratamento. Os profissionais também precisam valorizar e divulgar mais a atividade.

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Etapas para iniciar um centro de equoterapia Arquivo CFMV

única metodologia, segundo ele, comprovada para tornar os cavalos bons terapeutas. Em relação à manutenção no centro, o custo por animal está em torno de R$ 1.200, o que irá variar de acordo com o preço do volumoso no mercado regional. Também estão incluídos ração, água, sal, casqueamento, ferrageamento, serviço veterinário e tratador. A esse valor deve-se somar o exercício que continua sendo feito, uma vez que os animais precisam continuar em atividade para que não fiquem restritos aos movimentos da terapia.

Os cavalos precisam ser mantidos em atividade constante

A mensalidade, por aluno, varia de acordo com a região, mas pode ir de R$ 250 a R$ 800, em aulas de 30 a 45 minutos. Os centros de equoterapia também podem oferecer aulas de equitação para completar a renda (F.T. e R.J.C.).

A

A estrutura pode se dividir em área administrativa (sala de reunião, recepção, banheiros), setor de manejo equino, box, piquete, deposito de alimentos, lavador, redondel, pista aberta e pista coberta (20x40m ou 20x60m). O maior cuidado está na seleção dos cavalos, que também podem ser treinados para a prática. Esse tempo de aprendizado pode durar até 3 anos e meio, com custo de R$ 25.000, dependendo do equitador. “Após o treinamento, os cavalos passarão apenas por um período de adaptação para o novo manejo”, explica Letícia Calovi, uma das Médicas Veterinárias do centro. “O animal precisa estar bem iniciado no adestramento clássico”, completa Vieira, referindo-se à

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Quantidade de centros de equoterapia por estado

1

1

2

2

2 3

2

10 4

9 5

32 107

19 15 29

1

3 13

fonte: Ande-Brasil

s etapas iniciais para formação de um centro de equoterapia exigem, no mínimo, conhecimento da terapêutica, equipe multidisciplinar, estrutura e animais treinados. Roger Vieira, fundador do Centro de Treinamento Roger Vieira, em Viçosa (MG), sugere que para montar a equipe, além do conhecimento técnico específico de cada área, os profissionais devem ser capacitados para o trabalho com o animal. “Para o bom andamento, é muito importante o conhecimento mínimo sobre o cavalo, que é um coterapeuta”, afirma Vieira, formado em Educação Física.

4 2 5


Destaques Cfmv

Missão da OIE tratou de educação em visita ao CFMV

O CFMV recebeu, em fevereiro,

regulamentar a exigência do Exame

uma missão da Organização Mun-

de Certificação Profissional para a

dial da Saúde Animal (OIE) com o

aquisição do registro no Sistema

objetivo de discutir a atual con-

CFMV/CRMVs. “Entendemos ser de

juntura da Medicina Veterinária

suma importância que seja regula-

no país. Os representantes da OIE

mentado pelo nosso Poder Legis-

estavam acompanhados por servi-

lativo o exame para que entrem no

dores do Ministério da Agricultura,

mercado de trabalho profissionais

Pecuária e Abastecimento e foram recebidos pelo Ppresidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, pelo secretário-geral, Felipe Wouk, e pelo tesoureiro, Amilson Pereira.

preparados para atender às demandas da sociedade”, afirmou Arruda. A comitiva da OIE prometeu elaborar recomendações ao governo brasileiro com vistas à melhoria do

O principal tema abordado pelo CFMV foi a necessidade de

ensino e do exercício profissional no país.

Acupuntura Veterinária é reconhecida como especialidade Veterinária (Abravet) e a exigência

de pets, que cresce a cada ano,

para o candidato será a aprovação

pode ser um reflexo, também, da

em prova escrita e a análise de

exigência dos proprietários de

currículo. No Brasil, há hoje cerca

animais, que estão cada vez mais

de 500 acupunturistas na Medici-

cuidadosos”, declarou.

na Veterinária, mercado que é ascendente segundo o presidente da Abravet, Jean Joaquim.

O CFMV reconheceu mais uma especialidade da profissão: a Acupuntura Veterinária (Resolução CFMV nº 1.051/2014). A concessão do título partirá da Associação Brasileira de Acupuntura

A técnica faz parte da medicina complementar. O uso é mais frequente em animais de companhia

Na opinião do presidente do

e alguns exemplos de tratamento

CFMV, Benedito Fortes de Arruda,

estão ligados a quadros neurológi-

os profissionais estão em busca

cos, como no combate a sequelas

de mais conhecimento, para ofe-

da cinomose e lesões neurais. Na

recer aos animais qualidade de

Medicina Veterinária Esportiva, a

vida e longevidade. “Um espe-

acupuntura é recomendada para

cialista tem a capacidade de diag-

lesões na coluna de equinos. Em

nosticar doenças com mais preci-

bovinos, o uso das agulhas gera

são. O novo cenário no mercado

melhora no sistema locomotor.

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DESTAQUES CFMV

CFMV esclarece sobre ilegalidade no tratamento da Leishmaniose

O tratamento da Leishmaniose continua sendo ilegal e pode trazer riscos para os seres humanos, enfatiza o CFMV. Continua em vigor a Portaria nº 1.426/2008, que proíbe o tratamento de animais infectados. A

Organização Não Governamen-

cães que manifestarem a doen-

tal (ONG) Amigo dos Bichos en-

ça. A Advocacia-Geral da União

trou com duas ações, uma caute-

(AGU) também publicou um pa-

lar e uma principal, no Tribunal

recer informando que a decisão

Regional Federal da 3ª Região

do STF não afastou a obrigato-

pedindo a autorização para o

riedade da portaria, tampouco

tratamento da leishmaniose em

a revogou. Segundo ela, os Mé-

cães e, portanto, questionando

dicos Veterinários devem traba-

a portaria. A União recorreu da

lhar de acordo com a Portaria nº

decisão da ação cautelar, que foi

1.426/2008, que proíbe o trata-

posteriormente julgada pelo Su-

mento de cães com leishmanio-

perior Tribunal Federal (STF). No

se, sendo indicada a eutanásia

entanto, a ação principal julgada

em todos os casos. A nota, na ín-

pelo Tribunal Regional Federal

tegra, que ainda trata dos riscos

da 3ª Região, manteve a Portaria.

à população, orientação aos pro-

Nesse sentido, a decisão válida

fissionais e medidas para evitar

é a da ação principal, de modo

a doença, está no Portal do CFMV

que se exige a eutanásia dos

(www.cfmv.gov.br).

O Conselho quer ouvir os profissionais sobre as mudanças na Resolução CFMV no. 1015 A Resolução CFMV n°1.015/2012, que define alguns novos critérios para o funcionamento de estabelecimentos

veterinários,

foi

prorrogada para entrar em vigor a partir do dia 15 de setembro de 2014, de acordo com a Resolução CFMV nº 1.052/2014. Além disso, o CFMV submete o texto, com alterações, à consulta pública

26

para que todos os profissionais possam opinar. Sugestões podem ser enviadas até o dia 31 de maio próximo pelo e-mail: consultapublica@cfmv.gov.br.

cimento e da tecnologia, como

A Resolução de 2012 foi redigida com o intuito de garantir melhores condições de atendimento aos animais, acompanhar o desenvolvimento do conhe-

necessárias. Queremos ainda,

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

também alinhar-se à legislação sanitária vigente. “Nosso intuito foi buscar a garantia do atendimento dentro das condições ouvir os profissionais sobre as novas exigências”, afirmou o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda.


DESTAQUES CFMV

CFMV publica resolução que dita novos procedimentos de inscrição e registro Foi publicada pelo CFMV, no

e cancelamento de pessoas físi-

rações, destacam-se: possibilida-

dia 10 de janeiro, a Resolução

cas e jurídicas no Sistema CFMV/

de de suspensão de inscrição de

nº 1.041/2013, que disciplina os

CRMVs. O texto entrará em vigor

profissionais; previsão de registro

procedimentos de inscrição/re-

em 1º de julho de 2014 e revoga

de empresas rurais, e processo de

gistro, movimentação, suspensão

o anterior, de 2000. Entre as alte-

registro de pessoas jurídicas.

www

Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba, semanalmente, o boletim CFMV Informa com notícias de interesse para a Medicina Veterinária e Zootecnia. twitter.com/CFMV_oficial

facebook.com/cfmvoficial

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CFMV NA mídia

CFMV alerta sobre tráfico nas férias

Durante os meses de dezembro e janeiro, a imprensa repercutiu sobre o alerta feito pelo CFMV a respeito do aumento do tráfico de animais selvagens no período de férias nas rodovias do País. O Presidente do CFMV, Benedito Fortes Arruda, o Presidente da Comissão Nacional de Animais Selvagens do CFMV, Rogério Lange concederam entrevistas sobre o assunto. O tema foi discutido na Rádio Nacional, Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA), Agência RádioWeb, TV Cultura, BandNews FM e Jornal Hoje em Dia (Belo Horizonte-MG). A ação na imprensa teve como objetivo esclarecer aos possíveis compradores que portar animais selvagens é extremamente prejudicial para a saúde do animal e do ecossistema e orientar a sociedade para denunciar a prática à Polícia Rodoviária Federal (PRF).

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3ª Conferência Mundial da OIE Durante a 3ª Conferência Mundial sobre Educação Veterinária, o Presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Arruda, concedeu entrevistas sobre os objetivos do encontro para a TV Band; Rádio do Governo do Paraná; TV do Governo do Paraná; e Jornal Gazeta do Iguaçu (Foz do Iguaçu). O encontro também foi assunto também da Agência Brasil de Notícias, Avisite, Jornal Gazeta do Povo, Catve (TV Cascavel-PR); Rural BR, e site O Paraná. A conferência foi realizada entre os dias 3 e 6 de novembro, em Foz do Iguaçu (PR).

CFMV ratifica ilegalidade do tratamento da Leishmaniose

A ilegalidade do tratamento da Leishmaniose. O texto foi publicado nos sites UOL e G1 e nas Revistas Agron e Cães e Cia. Em seu posicionamento, o CFMV ratificou que a decisão do Poder Judiciário em ações movidas no Estado do Mato Grosso do Sul não invalidou a Portaria nº 1.426/2008, do Ministério da Saúde, que proíbe o tratamento. Também foi enfatizado que o Médico Veterinário que tratar animais

Artigos na revista Cães e Cia

com Leishmaniose e for flagrado ou denunciado estará sujeito à abertura de processo ético (Resolução CFMV 875/2007).

Nova especialidade Mensalmente, o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, assina a coluna “Amigo Vet” na Revista Cães e Cia (maior revista de pets da América Latina). Os últimos assuntos tratados foram: As diversas atuações do Médico Veterinário para a Saúde da Humanidade; Relatório da Relatório da ONU sobre Zoonoses e Leishmaniose.

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

O reconhecimento da Acupuntura Veterinária, pelo CFMV, como especialidade foi tema de diversas matérias jornalísticas. Entre elas, veiculação no Canal Rural, TV RBS, Globo Rural, Revista Veja Brasília, Revista Saúde, Rural BR, Portal do Agronegócio, Revista Grupo CIPA e Terra Viva (Gurpo Bandeirantes).


Produção de Aves

Avicultura agroecológica é possível Com um mercado que cresce 30% ao ano, no Brasil e no mundo, há espaço para pesquisa e aumento da produção de carne e ovos de frango com base ecológica

A

avicultura é uma das atividades agropecuárias que mais se desenvolveu no mun-

rurais e mesmo em algumas propriedades urbanas, com

do e, atualmente, lidera o emprego da tecnologia

mas produtivos eram rudimentares, criavam raças e cru-

para a produção de carne e de ovos. Várias espé-

zamentos adaptados à reprodução natural (choco), eram

cies avícolas são criadas com finalidade produtiva,

de crescimento lento e menos exigentes, capazes de ba-

sendo a de galinhas (Gallus gallus) a mais criada.

lancear suas dietas com os recursos forrageiros e alguma

finalidade de prover carne e ovos às famílias. Os siste-

No passado, antes da urbanização e industria-

suplementação de grãos e restos da agricultura. As es-

lização, as galinhas e as demais espécies avíco-

pécies eram criadas soltas na propriedade, com acesso a

las eram criadas em quase todas as propriedades

pastagens, estábulos e áreas agrícolas. Exerciam um papel

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550 mil frangos abatidos para produção de carne orgânica no Brasil

30%

de crescimento ao ano dos mercados nacional e internacional de carne e ovos orgânicos

importante no controle de insetos e de algumas plantas invasoras nas áreas agrícolas, sendo, porém, suscetíveis ao ataque de predadores e algumas doenças (cólera, tifo, bouba etc.). Esse sistema é conhecido como sistema de criação de galinha caipira. Com a urbanização e industrialização, foi criado um grande mercado para carne e ovos nos estabelecimentos que forneciam refeições, mercearias e supermercados, levando ao rápido desenvolvimento dos sistemas produtivos para melhorar o desfrute, a precocidade, a taxa de postura e o rendimento de carne no peito e pernas, fase que perdurou até o início dos anos 70 e tem sido referida como produção colonial. No entanto, tal desenvolvimento tem sido contínuo desde então, passando por fases distintas (cruzamentos, nutrição, instalações, manejo, ambiência, logística, abate, processamento, exportação, refeições prontas etc.), levando à especialização e ao aumento da escala e dos controles de qualidade, do ambiente, da mão de obra e outros, tornando a avicultura um negócio lucrativo e transformando-a em atividade industrial.

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720 mil dúzias de ovos são produzidas por ano no Brasil

Premissas para a produção agroecológica Evitar aquisição de insumos externos Ciclagem dos nutrientes no solo Manutenção da biodiversidade Controle biológico das pragas e doenças Práticas conservacionistas Evitar superpastoreio e degradação Proteger fontes de água Lotação adequada por m2


Arquivo CFMV

Manejo associado à ecologia da propriedade rural

Particularidades e esforços

Os agricultores familiares que ainda se dedicam à criação de aves como antigamente procuram nichos de mercado para sua pequena produção e também procuram agregar valor aos produtos. Muitos exploram o produto rotulado como caipira ou colonial, que está normatizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e auferem alguma vantagem mercadológica com isso. Alguns, entretanto, aperfeiçoaram seus sistemas para uma produção orgânica também normatizada pela Lei dos Orgânicos (Lei nº 10.831/2003) e pela Instrução Normativa nº 46/2011, em que todos os ingredientes utilizados na produção das aves são produzidos de forma orgânica, dentro do mesmo espaço rural. O termo ‘orgânico’, em alguns países, como a França, é referido como biológico e é normatizado segundo a orientação da International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), com sede na Alemanha, também auferindo vantagem pela agregação de valor aos produtos. No Brasil, esses sistemas são referidos como sistemas de base ecológica.

Entretanto, na verdadeira produção de aves em sistemas de base ecológica se procura associar a produção de carne e ovos das aves com a ecologia da propriedade rural, manejando os recursos de maneira a permitir uma produção saudável, com a qualidade desejada pelo consumidor, sem a necessidade de aquisição de insumos externos à propriedade e restaurando/privilegiando os processos naturais, como a ciclagem dos nutrientes no solo por meio da fixação biológica do nitrogênio do ar e da solubilização do fósforo pelos fungos do solo, da rotação das culturas e da compostagem; a manutenção da biodiversidade; o controle biológico das pragas e doenças; e as práticas conservacionistas (evitar o superpastoreio e a degradação do solo e das fontes de água), com a lotação adequada de aves por m2 para evitar a competição, o canibalismo e a degradação/poluição do solo/ambiente. Um sistema produtivo com essas características é altamente demandante de conhecimento científico, principalmente sobre os processos biológicos (ecológicos, agronômicos, zootécnicos e veterinários) para o controle da produção e das doenças (rações e aves) e de inspeção dos produtos. Anualmente no Brasil, por exemplo, são abatidas 550 mil cabeças de frangos para a produção de carne orgânica e produzidas 720 mil dúzias de ovos orgânicos, produções

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Levino Bassi

da produção vegetal com a produção avícola e dimensionado em função da vocação/ecologia da propriedade rural para os policultivos e do quantitativo de mão de obra disponível, considerando o mercado consumidor e as expectativas de renda e bem-estar dos produtores para que essas propriedades obtenham sustentabilidade e os agricultores familiares obtenham a renda necessária para a perpetuação do negócio. Contudo, no Brasil, ainda são poucos os exemplos concretos de sucesso com essa visão e muitas confusões entre as diferentes denominações têm atrapalhado o desenvolvimento do sistema, tendo predominado os sistemas caipira/colonial e orgânico.

Conforto na produção de ovos em ambientes fechados

aquém da demanda dos mercados nacional e internacional, que crescem em torno de 30% ao ano para esse tipo de produto. Portanto, ainda não existe oferta de carne e de ovos, produzidos em bases ecológicas, suficiente para o desenvolvimento do mercado, que se restringe a poucas feiras e mercados periféricos. Grandes esforços vêm sendo feitos para que a produção animal e vegetal de base ecológica se desenvolva no Brasil, seja no campo legislativo, com a criação da Lei dos orgânicos, e de políticas públicas com a implementação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (BRASIL, 2012), seja no alinhamento de pesquisas com a criação do marco referencial em agroecologia (EMBRAPA, 2006) e do portfólio de projetos em sistemas de produção de base ecológica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2012), que está ordenando e reunindo todos os projetos e tecnologias nessa área na empresa e disponibilizando para produtores familiares, associações e cooperativas práticas e processos para a produção carne, ovos e outros produtos de base ecológica. Entre os resultados importantes obtidos pela Embrapa, estão os genótipos para produção de carne e ovos mais adaptados à produção colonial/orgânica/ ecológica, com linhagens de produção de carne (aves abatidas com 2,5 kg em 84 dias) e ovos (300 ovos/ ave/ano) (FIGUEIREDO; SOARES, 2012). Os trabalhos são para que a avicultura de base ecológica seja um sistema moderno que agregue valor aos recursos da propriedade rural pela integração

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REFERêNCIAS EMBRAPA. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Marco referencial em agroecologia. Brasília: EMBRAPA, fevereiro. 2006. Disponível em <http:// www.embrapa.br/publicacoes/institucionais/titulos-avulsos/marco_ref.pdfL>. Acesso em: Janeiro/2014. FIGUEIREDO, E. A. P. de; SOARES, J. P. G. Sistemas orgânicos de produção animal: dimensões técnicas e econômicas. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 49., 2012, Brasília. A produção animal no mundo em transformação: anais. Brasília, DF: SBZ, 2012. 1 CD-ROM. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano Nacional de Agroecologia e produção orgânica 2013-2015. Decreto número 7794. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 de ago. 2012. Brasília: MDA, 2012 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n 46. Legislação para os sistemas orgânicos de produção animal e vegetal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil , Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de dez. 2011. Brasília: MAPA, 2011. BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. . Diário Oficial da República Federativa do Brasil , Poder Executivo, Brasília, DF, 23 de dez. 2003. Seção 1 p.8. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução Normativa nº 46 de 6 de outubro de 2011. Regulamento técnico para os sistemas orgânicos de produção animal, vegetal constante do Anexo I à presente Instrução Normativa DOU. Nº 194, Seção 1. P. 4-11. 7 de outubro de 2011. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO/MAA. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Divisão de Operações Industriais –DOI. Oficio Circular DOI/DIPOA nº 007/99 de 04/11/99. Registro do produto “Frango Caipira ou Frango Colonial” ou “Frango Tipo ou Estilo Caipira” ou “Tipo ou Estilo colonial”. 1999. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO. Secretaria de Defesa Agropecuária – DAS. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Oficio Circular nº 60/99 de 04/11/99. Registro do produto “Ovos Caipira” ou “Ovos Tipo ou Estilo Caipira” ou “Ovos Colonial” ou “Ovos Tipo ou Estilo colonial”. 1999.

AUTOR

Elsio Antônio Pereira de Figueiredo Zootecnista CRMV-SC nº0074Z, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves – Concórdia, SC. elsio.figueiredo@embrapa.br


Atividade Cinotécnicas Madri / Reginaldo Aranda

Cães de guerra

O

s cães de emprego militar, no Brasil conhecidos por cães de guerra, são, há muito tempo, utiliza-

dos para as mais diferentes finalidades. A atividade foi inicialmente descrita pelo historiador Plínio, que viveu entre 496 e 406 a.C. e destacou os Pugnaceietbellicosi (cães de luta ou de combate) em seu tratado de história natural. Na antiguidade, foram relatados espécimes molossoides portando um colete de couro com recipientes cheios

Eles já foram usados como bombas vivas para derrotar o inimigo. Passaram a mensageiros, patrulheiros, e sentinela. Hoje se destacam como farejadores para as mais diversas finalidades

de óleo, onde era ateado fogo, e coleiras com lancetas. Eram empregados para desestabilizar e atacar os inimigos, causando grandes danos às tropas a pé, à infantaria e à tropa montada, a cavalaria. Durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas soviéticas utilizaram cães com coletes carregando dispositivos magnéticos, os quais, quando em contato com os veículos blindados, deflagravam suas cargas explosivas. Esses exemplos ilustram o que a criatividade e o esforço bélico podiam criar, ainda que não se concorde com a finalidade e a falta de consciência para com o bem-estar animal.

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Arquivo do autor

tribuir aos seus canis militares, ou Seções de Cães de Guerra, cães de elevado padrão zootécnico e comportamental. Atualmente, as Seções de Cães de Guerra mantêm constante intercâmbio de informações voltadas ao biotipo, comportamento, técnicas de adestramento, seleção, clínica e cirurgia de cães de trabalho, participando de conferências, reuniões e congressos. A consolidação dessas informações define as novas e atuais vertentes do emprego militar de cães. Farejadores se destacam Iniciação de filhotes em caixas de recompensa, ambiente externo.

Frutos desses estudos de demanda e situações, grande ênfase vem sendo dada aos cães detectores. Também conhecidos como cães farejadores, eles são aqueles animais cujo perfil é selecionado

Na segunda metade dos anos 1960, o Exército Bra-

para atuar na detecção de substâncias pelo olfa-

sileiro vislumbrou a possibilidade de empregar cães em

to. Entre os exemplos, estão os entorpecentes, ex-

suas organizações militares, inicialmente nas unidades de

plosivos, cupim, contrabandos (dinheiro, CD, DVD,

Polícia do Exército, depósitos de suprimento e unidades

cigarro, pessoas, armas etc), cadáveres, vítimas de

paraquedistas. Assim, o Manual de Campanha de Adestramento e Emprego de Cães de Guerra, o C 42-30, estabeleceu que as finalidades de emprego fossem o cão mensageiro ou estafeta, o cão patrulheiro ou esclarecedor, o cão localizador de feridos e o cão de guarda ou sentinela. Estabeleceu ainda que a raça pastor alemão seria empregada como cão de guerra. Dessas formas de emprego, a mais utilizada foi o cão de guarda. Com a reativação do quadro de oficiais Médicos Veterinários, extinto em 1974, e a formação da primeira turma em 1992, as atividades gerenciadas pelos Médicos Veterinários foram retomadas e, com elas, os canis militares. As atividades cinotécnicas militares sofreram uma reestruturação, com novo direcio-

gás e combustíveis. O treinamento de cães para detecção não os inviabiliza para treinamento em outras atividades, como cães de patrulhamento, atividade bastante difundida em outros países, onde são conhecidos como dual purpose dogs (cães para duas finalidades). Diversas instituições, entre elas o Exército, vêm buscando esse tipo de cão e essa forma de adestramento, com resultados bastante expressivos, levando a uma maior oferta de possibilidades de emprego dos cães de trabalho, sem impactar em aumento dos efetivos, seja cães ou recursos humanos.

namento de emprego, voltado para a demanda, inclusive

O treinamento de cães detectores começa

com a adoção de novas raças, fomento de cursos de forma-

a partir de um estudo de situação. São avaliadas

ção de adestradores, auxiliares veterinários e condutores

todas as variáveis, como ambiente operacional,

de cães.

ocorrências mais comuns e meios disponíveis.

Outro ponto que sofreu reestruturação foi a forma de aquisição de cães. Apesar de prevista a compra de exemplares, a grande via de obtenção de cães era por doação, o que nem sempre trazia exemplares ideais. Às vezes, eram

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soterramento, tumores, minerais, vazamentos de

Em seguida, é elaborado um plano de trabalho, havendo a seleção do binômio homem-cão e a oferta dos meios necessários para a obtenção dos melhores resultados.

muito agressivos ou com idade superior àquela de impres-

O adestramento de um cão começa, na realida-

são comportamental (adestramento). Com a estruturação

de, na seleção e treinamento dos cinotécnicos, os

dos Centros de Reprodução de Cães de Guerra, o Exército

militares que serão responsáveis ou pelo adestra-

Brasileiro passou a selecionar, adquirir, reproduzir e dis-

mento ou pela condução e emprego dos cães.

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Arquivo do autor

Para trabalhar com cães o militar precisa

Ser capaz de trabalhar sem supervisão Ter controle emocional em situações adversas Ter boa condição física Ser voluntário Ter paciência

Estágio de cães de faro em busca nas matas

Gostar de cães

Etapas de seleção para condução

1 2 3 4

programa de treinamento Acompanhamento das atividades no canil Atuar na alimentação dos cães e higienização dos canis Qualificação para condução de cães já adestrados

Estágios de formação de adestradores Duração média de nove semanas Teoria cinotécnica Técnicas de adestramento Psicologia e comportamento caninos Noções de auxiliar veterinário e emprego militar de cães Selecionados se tornam adestradores

1 2 3 4 5 6

Os militares que vencem as etapas de seleção e formação começam a receber a tarefa de adestrar. Esse processo é acompanhado e avaliado, considerando ainda que o direcionamento do adestramento levará em conta o escalonamento das dificuldades, o planejamento e acompanhamento das respostas comportamentais produzidas e a aferição dos resultados. Aqueles que mostrarem amadurecimento profissional e respeito, principalmente aos cães, poderão participar do estágio de formação de adestradores de cães detectores.

Escolha do cão depende de observação e paciência Os profissionais participam das atividades com os filhotes desde o nascimento, pois serão futuros cães de trabalho. Aprender a “ler” na ninhada ou nas pequenas matilhas formadas pelos cãezinhos as sutis diferenças comportamentais será fundamental para registrar nos bancos de dados os progressos que os filhotes irão desenvolver, observando, ainda, as impressões ambientais e sociais que eles estão recebendo e produzindo. Essas observações começam desde o nascimento, com acompanhamento das curvas de ganho de peso, exploração do ninho ou caixa de parto, e seguem no desmame e exploração dos ambientes, como solários e creches. Diversos testes de seleção comportamental podem ser aplicados durante o desenvolvimento dos filhotes, numa busca pelo direcionamento da “vocação profissional”, ou seja, da atividade mais favorável a ser desenvolvida pelo futuro cão de trabalho, ou, até mesmo, na falta de aptidão para o serviço, pelo direcionamento para cão de companhia.

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Arquivo do autor

modeladores das respostas, evitando, assim, a necessidade de punições ou estimulações negativas, construindo a base de um cão seguro, sociável com as pessoas e outros animais, alegre e motivado. Todo o processo é acompanhado por avaliações clínicas realizadas por Médicos Veterinários militares, por meio de exames periódicos, perfis laboratoriais, imagens e criterioso programa de imunização.

Curso de treinador de cães de explosivos nos EUA Arquivo do autor

Em torno do sexto mês, os filhotes selecionados passam a frequentar o laboratório de odores, um ambiente controlado em que são apresentadas as caixas de recompensas. Há os exercícios de recuperação direcionados a uma associação entre a recompensa, o brinquedo e o odor que ele irá identificar. À medida que o filhote demonstra que entendeu e associou que, quando localiza o odor, recebe o prêmio, os adestradores modelam a forma como ele sinalizará a identificação desse odor. Esta é uma fase sutil de indução comportamental, que necessita no mínimo de um adestrador e de um observador comportamental, que não podem correr o risco de, com suas atitudes, posturas ou gestos, levar o filhote a interpretar a expressão comportamental ou a ansiedade como um “gatilho”, passando a explorar o ambiente visualmente e não pelo olfato. Uma curva crescente de dificuldades e situações é gradualmente apresentada aos cães em treinamento, culminando com as buscas em ambientes e cenários reais. O momento atual brasileiro, com a realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, vislumbra a necessidade de emprego de grande número de cães de trabalho, com parcela significativa de cães detectores para auxiliar o trabalho militar e proteger a nação.

Área de sociabilização de filhotes e impressões ambientais nos Estados Unidos

Ainda bem jovens, diversas atividades são desenvolvi-

AUTOR

das de forma lúdica, como jogos de recuperação e localização de brinquedos, base do trabalho dos cães detectores, ou mesmo a impressão comportamental dos exercícios básicos de adestramento. Métodos como o clicker (artigo para treinamento que sinaliza ao cão que ele atingiu o objetivo) e reforçadores positivos são empregados como estimuladores dos comportamentos desejados e como

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Carlos de Almeida Baptista Sobrinho Médico Veterinário, CRMV-SP nº 9687 Major Veterinário do Exército Brasileiro, atualmente compondo o Batalhão Brasileiro no Haiti


produção

Tratamentos hormonais e Inseminação Artificial em Tempo Fixo em bovinos

A

Inseminação Artificial (IA) é uma técnica consagrada e viável para acelerar o avanço

genético e o retorno econômico da bovinocultura. Entretanto, em todo o mundo, existem relatos que indicam baixa taxa de serviço em bovinos, devido, principalmente, à ineficiência da detecção de estros (BARUSELLI et al., 2007). Esse problema é mais destacado em Bos taurus indicus, devido a particularidades no comportamento reprodutivo, como estro de curta duração com elevada porcentagem de manifestação noturna (BARUSELLI; MARQUES, 2002). O anestro pós-parto e as falhas na detecção de estro no início da estação de monta, em rebanhos comerciais de corte, são fatores que contribuem para o prolongamento do período de serviço (MENEGHETTI; VASCONCELOS 2008), sendo comprovado o efeito negativo da mamada sobre o ciclo estral de vacas de corte, em função da inibição da secreção de hormô-

A escolha do protocolo de sincronização deve considerar a categoria animal, a ciclicidade do rebanho e o escore corporal

nio liberador de gonadotrofina (GnRH) por opioides endógenos (encefalinas, endorfinas e dinorfinas), limitando o uso da IA tradicional, com observações diárias de cio (ARMSTRONG et al., 2003), determinando baixo desempenho reprodutivo e baixa taxa de desfrute. Na Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), os protocolos procuram induzir uma onda de crescimento folicular sincronizada, controlar a duração do crescimento folicular e da fase luteínica até o estágio pré-ovulatório, sincronizar a retirada da progesterona exógena e endógena, e induzir a ovulação sincronizada em todos os animais tratados (BARUSELLI, 2004). A escolha do protocolo de sincronização deve considerar a categoria animal, a ciclicidade do rebanho e o Escore de Condição Corporal (ECC) (MELO, 2009). A avaliação do ECC é é um dos fatores mais importantes para o sucesso da IATF, com resultados de prenhez variando de 25% a, no máximo, 75%. O ECC de vacas e novilhas no início de um protocolo de sincronização não deve ser menor que 2,5

Faider Villadiego

(em escala variando de 1 a 5) (CUTAIA et al., 2003).

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Faider Villadiego

GnRH (hormônio liberador das gonadotrofinas)

Pursley et al. (1995) apresentaram um protocolo de manipulação hormonal, em fêmeas bovinas leiteiras, envolvendo o o GnRH e a prostaglandina F2α (PGF2α), formando ambos a base do primeiro protocolo para IATF, denominado OvSynch. Pursley et al. (1998), trabalhando com 733 vacas de diferentes granjas leiteiras, separadas em cinco grupos, avaliaram o tempo ótimo para IA, utilizando o protocolo OvSynch. Essas fêmeas foram inseminadas 0, 8, 16, 24 e 32 horas após a segunda dose de GnRH. O grupo hora zero foi inseminado no momento da aplicação da segunda dose (Co -Synch). As taxas de concepção e parição dos grupos 0, 8, 16 e 24 horas foram maiores do que aquelas observadas para o grupo 32 horas. Não houve diferença entre os grupos 0, 8, 16 e 24 horas. Atualmente, diversos protocolos de sincronização de estro continuam sendo pesquisados, com os objetivos de facilitar o manejo reprodutivo em rebanhos de leite e de corte e melhorar as taxas de concepção das fêmeas sincronizadas (BARUSELLI et al., 2002; ALMEIDA et al., 2006). Entre eles, destaca-se o uso frequente de dispositivos intravaginais ou auriculares de progestágenos associados ao GnRH e à PGf2α (PURSLEY et al., 1998), tendo sido contudo, o protocolo OvSynch o referencial inicial para o desenvolvimento desses novos procedimentos. Dentre os tratamentos hormonais que permitem inseminar um grande número de animais num período de tempo estabelecido, os mais utilizados, em gado de corte, combinam progesterona ou progestágenos, prostaglandina F2α, e estrógenos, como benzoato, cipionato ou valerato de estradiol (BARUSELLI; MARQUES, 2002). Contudo, combinações de progestágenos com o protocolo OvSynch e com o protocolo Co-Synch, em programa de IATF para vacas nelore em rebanho comercial, também foram testadas, proporcionando elevada taxa de prenhez, principalmente quando utilizadas após triagem ginecológica das matrizes (PALHANO et al., 2012). Prostaglandina F2α

A PGF2α e seus análogos são os agentes mais utilizados para sincronização do estro em fêmeas bovinas (ODDE, 1990) e o sucesso é dependente

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Inseminação artificial realizada após tratamento hormonal

da presença de Corpo Lúteo (CL), provocando sua regressão morfológica e funcional (RATHBONE et al., 2001). A maior taxa de regressão do CL é obtida quando a substância é administrada entre os dias 6 e 17 do ciclo estral (VASCONCELOS, 2000). A PGF2α não induz efetivamente a luteólise durante os cinco ou seis dias após o estro. Acreditava-se que essa falta de responsividade do CL imaturo fosse devido à deficiência em número ou afinidade de receptores para a PGF2α, porém foi demonstrada a presença de receptores com alta afinidade a partir de dois dias após a ovulação. Foi observado, então, que o CL maduro possui um sistema de feedback positivo que resulta na produção intraluteal de PGF2α, possibilitando a continuidade do processo luteolítico iniciado por uma única aplicação de PGF2α (WILTBANK, 1997). Geralmente, os tratamentos usados para a sincronização do estro consistem na administração de duas doses de PGF2α com intervalos de 11 a 14 dias (BROADBENT et al., 1993). Nas fêmeas em que se verifica a luteólise, a ocorrência do estro é distribuída no intervalo de dois a seis dias (geralmente três dias após), tornando impraticável a IATF em protocolos que utilizam apenas PGF2α (BÓ et al., 2002). A variação no intervalo entre a aplicação da PGF2α até o estro e a ovulação ocorre devido a diferenças no estágio das ondas foliculares no momento do tratamento (MAPLETOFT et al., 2000). Quando o tratamento é realizado na presença de um folículo dominante em fase final de crescimento ou no início da fase estática, a ovulação ocorre dentro de três a quatro dias. Por outro lado, se a PGF2α for aplicada quando o folículo dominante estiver no meio ou no final da fase estática, a ovulação ocorrerá cinco a sete dias depois, ou


seja, após o desenvolvimento do folículo dominante da próxima onda folicular (KASTELIC; GINTHER, 1991). Portanto, a variabilidade do intervalo entre o tratamento e a ovulação, com a utilização da PGF2α e seus análogos, reforça a necessidade de controlar tanto o desenvolvimento luteal quanto o folicular em protocolos cujo objetivo é a IATF (MELO, 2009). Progesterona ou Progestágenos

Os dois sistemas mais utilizados para encurtar ou prolongar a fase luteínica do ciclo estral envolvem agentes luteolíticos e as drogas à base de progesterona. Tais métodos, embora adequados para programar o estro, são ineficientes para promover altas taxas de concepção à IATF (PORRAS; GALINA, 1992). Os tratamentos utilizados envolviam longos períodos (12 a 14 dias) de administração de progesterona, que possibilitavam boa sincronia dos estros e ovulações, porém associadas com fertilidade variável e, em geral, menor que a dos animais de controle (ROCHE, 1974). Esses tratamentos tinham por objetivo superar a duração de um possível CL existente no ovário (MELO, 2009). A progesterona inibe o estro e a ovulação e altera a dinâmica folicular, atuando sobre o hipotálamo e regulando a liberação de GnRH (MIHM; AUSTIN, 2002) e, consequentemente, do hormônio luteinizante (LH). Assim, a administração de progesterona ou progestágenos por um período suficiente para permitir a regressão natural do CL pode promover o estro sincronizado, uma vez que a supressão do tratamento progestacional determina a ocorrência do pico de LH e a ovulação (KESNER et al., 1982).

aplicação de PGF2α produziram sincronia de estros apropriada para realizar a IA e obter fertilidade normal em novilhas. Os principais métodos de administração de progesterona ou progestágenos utilizados em bovinos são os implantes subcutâneos de Norgestomet, os dispositivos intravaginais de silicone com liberação lenta de progesterona e a administração de progestágenos no alimento (MORAES, 2002). Recentemente, mais dois dispositivos intravaginais de liberação de progesterona foram lançados, o Bovine Intravaginal Device (DIB®) e o Cronipress® (PORTO FILHO, 2004). A exposição à progesterona, por períodos de cinco a nove dias, pode induzir ciclicidade em vacas em anestro e no período pós-parto (RHODES et al., 2002). Rhodes et al. (2003) levantaram a hipótese de que o tratamento com progestágenos estimula o desenvolvimento e a maturação dos folículos dominantes, em vacas em anestro, por aumentar a secreção de LH e estimular o desenvolvimento de receptores de LH e a síntese de estradiol. Atualmente, os progestágenos estão sempre associados a outros hormônios nos protocolos de sincronização para a IATF, principalmente os estrógenos, como benzoato de estradiol (BE), cipionato de estradiol (ECP), valerato de estradiol (VE), e PGF2α. Estrógenos

Apesar de esses tratamentos serem efetivos para a sincronização do estro, a fertilidade é reduzida (ODDE, 1990), porque os sistemas de liberação lenta de progesterona ou progestágenos não mimetizam o CL na supressão do LH. Na ausência de CL, tais tratamentos produzem concentrações subluteais de progesterona e permitem que os pulsos de LH aumentem até uma frequência intermediária, o que prolonga o crescimento do folículo dominante (SIROIS; FORTUNE, 1988), resultando em baixas taxas de prenhez (MADUREIRA et al., 2006) devido à ovulação de oócitos envelhecidos (MELO, 2009).

Os estrógenos são indutores da ovulação e estão sempre associados aos progestágenos nos protocolos de sincronização. A combinação com benzoato de estradiol (BE) ou valerato de estradiol (VE) possibilitou a diminuição do tempo de exposição à progesterona (MELO, 2009). Esses tratamentos tinham por objetivos estender artificialmente a fase luteal (com o uso de progesterona/progestágeno) e iniciar a luteólise antecipada (com o uso de estrógenos), de maneira que, ao finalizar o tratamento com progesterona/progestágeno, iniciaria uma fase de proestro e se produziriam estro e ovulação em dois a três dias (ALBERIO; BUTLER, 2001).

A possibilidade de associar os tratamentos com progesterona ou progestágenos com um agente capaz de eliminar o CL surgiu com a disponibilidade comercial de análogos sintéticos da PGF2α (ALBERIO; BUTLER, 2001). Em estudos realizados por Smith et al. (1984), tratamentos de oito dias com progesterona finalizados com uma

O estrógeno, quando associado à progesterona ou progestágeno, promove o crescimento sincronizado de uma nova onda folicular cerca de quatro a cinco dias após a sua aplicação, independentemente do estágio do ciclo estral no qual o tratamento é iniciado (ROCHA, 2000). Quando administrado pouco

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39


tempo após a ovulação, o estradiol aparentemente age como antiluteotrófico (MELO, 2009) e, quando administrado na presença de um CL ativo, geralmente é luteolítico, apesar de a habilidade para induzir a regressão do CL ser mais limitada nos primeiros dias de atividade do CL (dias três a cinco pós-ovulação) do que mais tarde (PRATT et al., 1991). Falhas na regressão do CL pela ação do estradiol resultam em falhas na sincronização (MELO, 2009).

sincronia uniforme do estro e ovulação com fertilidade

Diferentes tipos de éster de estradiol, incluindo 17-β estradiol, BE, VE e ECP, estão disponíveis comercialmente na América do Sul (MELO, 2009). Todos são capazes de induzir a regressão de folículos antrais quando administrados na presença de elevadas concentrações de progesterona (BÓ et al., 1995).

O estrógeno pode estimular ou inibir a concentração de

Somente com a intensificação do uso da ultrassonografia como meio diagnóstico pode-se determinar com precisão o desenvolvimento das ondas foliculares. Observando tal padrão folicular, foi demonstrado que as altas doses de estradiol administradas nos tratamentos originais de sincronização de estro não somente produziam uma luteóliseantecipada, como também mudanças nos padrões de desenvolvimento folicular (ALBERIO; BULTER, 2001). Pesquisadores passaram a observar que combinando a regulação da fase folicular com a fase lútea era possível obter um apropriado controle do ciclo estral com uma

normal (MELO, 2009). Segundo Driancourt (2000), eficientes protocolos de sincronização do estro precisam induzir a atresia dos maiores folículos presentes nos ovários, independentemente do estágio de desenvolvimento, resultando no recrutamento de uma nova onda de crescimento folicular, desenvolvimento sincronizado de um novo folículo dominante em todas as fêmeas e ovulação em momento predeterminado. gonadotrofinas, dependendo da dose e das concentrações sanguíneas de progesterona (MELO, 2009). Em doses fisiológicas e baixas concentrações de progesterona, o estrógeno estimula a liberação de LH para que ocorra a ovulação. Ao contrário, elevadas doses de estrógenos, na presença de elevadas concentrações de progesterona, bloqueiam as gonadotrofinas, inibindo, principalmente, a produção e liberação de LH. Além disso, o estrógeno é fundamental para a expressão de receptores para ocitocina no endométrio, o que é importante no processo de liberação de PGF2α para a regressão do corpo lúteo (MORAES et al., 2002; MELO, 2009). A duração da supressão das gonadotrofinas pode ser afetada pela concentração e pelo tipo de estradiol utilizado, pela concentração de progesterona e por características individuais entre animais que se encontram em diferentes estágios reprodutivos (PORTO FILHO, 2004). Atualmente, os dispositivos intravaginais de progesterona e estradiol têm sido amplamente utilizados em pro-

ECC

1,0

ECC

2,0

Escala de escore corporal 1. Severa subcondição

40

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

2. Esqueleto visível


IATF para bovinos de corte e de leite (NEVES, 2010). Lane et al. (2001), ao sincronizar novilhas de corte com dispositivo de liberação de progesterona e BE, não obtiveram diferença entre os dois grupos com relação à manifestação de estro, mas as novilhas às quais foi administrado BE, independentemente da fase folicular em que se encontravam no início do tratamento, apresentaram menor intervalo entre a retirada do dispositivo e o início do estro (45 versus 59 horas). No grupo que estava em fase de dominância folicular no início do tratamento, as fêmeas que receberam o BE apresentaram maior taxa de prenhez (84%) que aquelas que não o receberam (65%), indicando que o tratamento com BE, como indutor da ovulação, pode ser eficiente em protocolos para a sincronização da ovulação em novilhas de corte, melhorando a eficiência desses protocolos. Ao comparar a utilização de CIDR® e E-17β, de CIDR® exclusivamente e de duas aplicações de PGF2α em intervalo de 11 dias em novilhas de corte, Bó et al. (1994) observaram que 75% das novilhas do grupo CIDR® e E-17β ovularam entre 72 e 84 horas após a retirada do implante; as novilhas que receberam somente o CIDR® apresentaram taxa de ovulação de 33% e as novilhas que receberam PGF2α atingiram índice de ovulação de 40%, esses dois últimos grupos também entre 72 e 84 horas

ECC

3,0

3. Esqueleto e tecidos de cobertura bem balanceados

após a retirada do implante. Esses resultados apontam para a utilização de protocolos com CIDR® e BE em novilhas como um método satisfatório para obter uma boa sincronia do desenvolvimento folicular e luteínico, além de ovulação em momento oportuno do ciclo estral. Macmillan (1999) comparou a utilização do CIDR® por 7 (G1) ou 8 (G2) dias, associado a BE no D0 (inserção do dispositivo), PGF2α no momento da retirada deste e BE 48 horas após a aplicação de PGF2α. Houve maior concentração de estros um dia depois do tratamento no G2 (97,5%) e dois dias depois do tratamento no G1 (80,3%). As taxas de concepção dos dois grupos foram semelhantes (45,2% no G1 e 47,4% no G2), indicando que os dispositivos de liberação de progesterona podem ser mantidos por sete a nove dias, sem comprometimento nas taxas de concepção de prenhez. A fim de verificar qual o melhor momento para a aplicação do agente luteolítico associado ao CIDR® e BE, Sá Filho et al. (2003) separaram 35 novilhas de corte em dois grupos. O grupo 1 (G1) recebeu o agente luteolítico no D7, sendo D0 o dia da inserção do dispositivo intravaginal, e o grupo 2 (G2) recebeu o agente luteolítico no D9, com a retirada do dispositivo intravaginal. O G1 apresentou tendência a uma maior taxa de concepção na IATF (64,7%, 11/17) do que o G2 (38,9%, 7/18). Esse fato pode ter sido decorrente da manutenção de uma única fonte de progesterona nos animais tratados no D7, o que faria com que os níveis de P4 fossem mantidos subluteais, aumentando a pulsatilidade do LH, promovendo a manutenção

ECC

4,0

4. Esqueleto não tão visível quanto o tecido de cobertura

ECC

5,0

5. Severa supercondição

Arquivo do autor

gramas de sincronização do estro e da ovulação em

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Crédito: Faider Villadiego

e crescimento do folículo dominante, aumentando o seu diâmetro e, consequentemente, favorecendo a formação de um CL com maior diâmetro (MELO, 2009). Lammoglia et al. (1998) observaram que a administração de BE 24 a 30 horas após a retirada do implante de progesterona, em vacas e novilhas, pode resultar em um maior pico na concentração de 17-β estradiol, maior número de animais demonstrando estro, maior número de animais apresentando o pico pré-ovulatório de LH e redução do intervalo entre a retirada do implante e o pico de LH. A aplicação de 0,5 a 1 mg de BE 24 horas após a retirada dos implantes de progesterona sincroniza o estro e a ovulação, aumentando, inclusive, a porcentagem de fêmeas bovinas que ovulam após o tratamento (MELO, 2009).

O exame ultrassonográfico permite determinar o desenvolvimento de ondas foliculares

O tratamento com BE promove a liberação de um pico de LH dentro do intervalo de 16 a 30 horas (LAMMOGLIA et al., 1998). A administração de GnRH induz pico de LH que se inicia logo após a aplicação, em torno de 15 minutos. Da mesma forma, os fármacos que agem diretamente nos

como o GnRH, LH e eCG que também são utilizados em

receptores de LH, como a gonadotrofina coriô-

protocolos para a realização da IATF em bovinos.

nica equina (eCG), têm sua ação estabelecida logo após a sua absorção (MELO, 2009). Assim, existem outros produtos no mercado brasileiro,

CONSIDERAÇÕES

O número de fêmeas inseminadas tem aumentado no Brasil e esse aumento tem sido possível pela utilização da IATF, a partir do uso de protocolos hormonais que possi-

Arquivo dos autores

bilitam o controle da sincronização, do desenvolvimento folicular e da ovulação. Os produtos têm mostrado uma acomodação de preços no mercado nacional, possibilitando sua utilização em larga escala, devendo ser adequados, sempre que possível, à realidade de cada propriedade. Atualmente, os índices de concepção são satisfatórios, tanto em vacas quanto em novilhas, contribuindo para melhorar a eficiência reprodutiva e produtiva do rebanho. Contudo, os resultados obtidos com fêmeas primíparas, principalmente em rebanhos de corte zebuínos, explorados de forma extensiva, são baixos quando comparados aos das categorias de novilhas e multíparas, sendo a condição corporal o principal fator de impacto, o que torna evidente a necessidade de ajustes nutricionais para adequá-las ao programa de IATF. Não menos importante é o estado sanitário do rebanho e a capacitação da mão de

Dispositivo intravaginal de liberação de progesterona

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Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

obra que irá executar as etapas envolvidas.


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AUTORes

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Raquel Rodrigues Costa Mello Graduanda em Medicina Veterinária, raquelmello@ufrrj.br

Joaquim Esquerdo Ferreira Médico Veterinário, CRMV-MG nº 11.236. Instituto de Zootecnia, UFRRJ.

Marco Roberto Bourg de Mello Zootecnista, CRMV-SP nº 9251/Z Professor adjunto Instituto de Zootecnia, UFRRJ

Helcimar Barbosa Palhano Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 4.235 Professor adjunto Instituto de Biologia, UFRRJ.

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Estatísticas brasileiras

Números da Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil

Crédito: Faider Villadiego

São apresentados dados obtidos em censos recentes que representam um conjunto de valores da Medicina Veterinária e Zootecnia brasileira, dos profissionais atuantes e dos rebanhos de animais de produção e de companhia criados no Brasil Por: Flávia Tonin e Ricardo Junqueira Del Carlo

MEDICINA VETERINÁRIA

Norte

Centro-Oeste

Sudeste

4.255

12.163

47.060

683

1.931

3.373

4.773

9.174

38.754

Sul

Nordeste

Total

21.950

11.742

97.170

1.286

1.328

8.601

24.433

12.639

89.773

Médicos Veterinários atuantes

57%

Zootecnistas atuantes

43%

ZOOTECNIA

pessoas jurídicas atuantes

Médicos Veterinários atuantes

70%

30%

Zootecnistas atuantes pessoas jurídicas atuantes

Médicos Veterinários atuantes Zootecnistas atuantes pessoas jurídicas atuantes

Médicos Veterinários atuantes Zootecnistas atuantes pessoas jurídicas atuantes

Médicos Veterinários atuantes Zootecnistas atuantes pessoas jurídicas atuantes

Médicos Veterinários atuantes Zootecnistas atuantes pessoas jurídicas atuantes

Fontes: Siscad/CFMV e CRMV-MG (2014)

44

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014


Perfil dos profissionais Médicos Veterinários Os dados apresentados foram extraídos de pesquisa completa realizada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), disponível na edição 57 da Revista CFMV. Vínculos Empregatícios

ÁREAS DE INTERESSE NO APROFUNDAMENTO DE CONHECIMENTOS

60

4

0 ni m

O NG s os en ta do Ap

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1

30 23

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2

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20

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8

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9

41 36 35

40

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13

64 62 59 56 54

60

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22

20

80

% de respondentes

34

-e

40 % de respondentes

100

45

ÁREA DE ATUAÇÃO Clínica e/ou cirurgia de pequenos animais Saúde pública Responsabilidade técnica Agropecuária Clínica e/ou cirurgia de grandes animais Educação/ensino Inspeção Pesquisa Laboratório Produção de alimentos de origem animal Segurança de alimentos ou alimento seguro Assessoria/consultoria Defesa agropecuária Extensão rural Nutrição animal Meio ambiente Outra Tecnologia dos produtos de origem animal Animais silvestres Magistério Exposições e feiras agropecuárias Representação comercial Melhoramento genético Animais selvagens Indústria de medicamentos Indústria de ração Biotério Médico Veterinário militar

10

20

30

40

50

% de respondentes Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

45


RebAnhos e produção em números Dados estatísticos de rebanho total e distribuído por região geográfica brasileira. Fonte: Anualpec (2013). Norte Bovino 2013 * Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 *** Bubalino 2010 *** Ovino 2010 *** Caprino 2010*** Equino 2010***

N

95.915 3.190 1.542.322 820.133 627.563 165.264 775.398 736.075

NORDESTE

NE

Bovino 2013 * Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 *** Bubalino 2010 *** Ovino 2010 *** Caprino 2010*** Equino 2010***

31.823.637 531.437 13.393 5.815.247 125.692 10.112.726 8.538.290 1.342.489

Centro-oeste

SE

60.941.494 765.508 8.799 5.774.973 79.392 1.209.581 114.275 1.123.287

sudeste

S

Bovino 2013 * Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 *** Bubalino 2010 *** Ovino 2010 *** Caprino 2010*** Equino 2010***

34.036.089 1.260.389 42.960 7.097.430 134.016 771.190 225.643 1.344.629

sul

2o

maior rebanho bovino do mundo com 193 milhões de cabeças

Bovino 2013 * Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 *** Bubalino 2010 *** Ovino 2010 *** Caprino 2010*** Equino 2010***

25.483.401 3.353.727 17.204 19.323.555 118.842 4.947.003 342.844 924.798

TOTAL

4

o

* Nº de cabeças | ** Mil cabeças | *** Cabeças

46

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

Bovino 2013 *

maior rebanho suíno e equino do mundo

Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 ***

193.393.388 6.006.975 85.548 39.553.527

Bubalino 2010 ***

1.278.075

Ovino 2010 ***

17.668.063

Caprino 2010***

9.386.316

Equino 2010***

5.510.601

Ilustração de Olivier Guin para o Noun Project

CO

Bovino 2013 * Plantel de pintos de corte 2012 ** Plantel de poedeiras 2012 ** Suíno 2012 *** Bubalino 2010 *** Ovino 2010 *** Caprino 2010*** Equino 2010***


Ilustrações de Consuelo Elo Graziola (queijo) e Cassie McKown (mel) para o Noun Project

Produção animal por região Dados estatísticos de produção total e distribuída por região geográfica brasileira. Fonte: Anualpec 2013.

Norte Carne bovina - Estimativa 2013 * Leite de vaca - Estimativa 2012 ** Carne de frango 2012 *** Ovos 2011 **** Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

1.542.968 1.389.897 232.457 1.981.413 946

NORDESTE Carne bovina - Estimativa 2013 * Leite de vaca - Estimativa 2012 ** Carne de frango 2012 *** Ovos 2011 **** Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

1o

maior exportador e 3º maior produtor mundial de carne de frango

1

maior exportador e produtor mundial de carne bovina

4

maior exportador e produtor mundial de suínos

o

o

4 6

maior produtor mundial de leite e 3º maior produtor mundial de queijo

o

Centro-oeste Carne bovina - Estimativa 2013 * Leite de vaca - Estimativa 2012 ** Carne de frango 2012 *** Ovos 2011 **** Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

2.548.742 3.396.298 1.604.939 5.217.048 1.416

sudeste Carne bovina - Estimativa 2013 * Leite de vaca - Estimativa 2012 ** Carne de frango 2012 *** Ovos 2011 **** Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

1.774.473 8.142.424 2.674.816 31.445.720 6.150

sul

maior exportador mundial de mel

o

1.221.695 3.162.084 1.157.603 10.343.992 13.117

Carne bovina - Estimativa 2013 * Leite de vaca - Estimativa 2012 ** Carne de frango 2012 *** Ovos 2011 **** Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

TOTAL Carne bovina - Estimativa 2013 *

* Tonelada equivalente carcaça | ** Por mil litros | *** Toneladas | **** Caixa de 30 d úzias

1.774.473 8.142.424 2.674.816 31.445.720 6.150

8.385.609

Leite de vaca - Estimativa 2012 **

24.976.827

Carne de frango 2012 ***

12.645.099

Ovos 2011 ****

60.212.303

Carne de porco 2012 *** Mel 2011 ***

3.531.975 41.578

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

47


Pequenos animais em números

Cães Gatos

37,1

milhões

milhões

Pássaros

Ilustração de Christopher T. Howlett para o Noun Project

Fonte: Abinpet (2012)

21,3

19,1

milhões

106,2 milhões

Peixes

milhões

Outros

TOTAL

milhões

26,5

2,17

Divisão de emprego

2º maior mercado mundial 4º maior população total de animais de

estimação do mundo

2º em cães e gatos

1. Tosador 2. Banhista 3. Vendedor 4. Representante 5. Veterinário 6. Adestrador 7. Dog Walker 8. Balconista 9. Recreacionista 10. Aux. Veterinário 11. Aquarista 12. Tratador 13. Zootecnista 14. Promotor 15. Técnico em Veterinária Fonte: Pet Empregos / Elaboração: Ambipet

48

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

37,7% 12,6% 11,6% 10,2% 10,1% 5,0% 5,0% 4,0% 2,0% 0,7% 0,3% 0,3% 0,3% 0,2% 0,2%


Suplemento Científico Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

50

Tratamento da vaca seca e controle de mastite bovina no período seco Cristina Simões Cortinhas / Marcos Veiga dos Santos

59

Intoxicação por ureia em bovinos Graziela Barioni / Rodolpho José da Silva Barros/ Diogo Antonio Rizzo / Marcel Arcanjo Silva/ Flavia de Almeida Lucas / Carla Braga Martins

65

Herpesvírus equino tipo 1 Enio Mori / Claudia Madalena Cabrera Mori / Paulo Cesar Maiorka

73

Produção de embriões bovinos in vivo e in vitro Jurandy Mauro Penitente Filho / Ciro Alexandre Alves Torres / Fabrício Albani Oliveira

Comitê Científico da Revista CFMV Cláudio Lisias Mafra de Siqueira (Presidente) CRMV-MG nº 5170 Roberto Baracat de Araújo CRMV-MG nº 1755 Gilson Helio Toniollo CRMV-SP nº 2113 João Luis Rossi Júnior CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS Luiz Fernando Teixeira Albino CRMV-MG nº 11607 Errata Diferentemente do que foi publicado nas páginas 46 e 48 da Revista CFMV, edição 59 (19), os créditos corretos das imagens são: Figura 1. ONG Campo de Santana e Figura 2. Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos (IPEC/ Fiocruz). Peter Ilicciev/ Agência Fiocruz.

As normas para apresentação dos artigos está em www.cfmv.gov.br e a tramitação é exclusivamente eletrônica.


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tratamento da vaca seca e controle de mastite bovina no período seco THERAPY AND BOVINE MASTITIS CONTROl ON DRY PERIOD RESUMO

A mastite bovina é a doença mais comum e onerosa de toda a cadeia produtiva do leite e o período seco é um dos pontos críticos, que merece especial atenção, por ser o momento no qual ocorrem diversas alterações na glândula mamária, que aumentam a suscetibilidade. Baseando-se na fisiologia desse período, métodos como a terapia da vaca seca têm se destacado por promoverem maiores taxas de cura que durante a lactação; eliminarem infecções existentes e prevenirem as novas; possibilitarem a utilização de antimicrobianos em maior concentração e de liberação mais lenta, para manter níveis da droga no úbere por um longo período e diminuir o risco de descarte do leite por resíduos de drogas. Palavras-chave: infecções intramamárias, contagem de células somáticas, período seco

ABSTRACT

Bovine mastitis is the most common and costly disease in the dairy industry. The dry period is a critical point that deserves special attention because at this time occurs physiological changes on mammary gland which increases mastitis susceptibility. Based on dry period physiology, tools such as dry cow therapy has been recommended because of: hither cure rates than during lactation period, elimination and prevention of subclinical infections, enabling the use of antibiotics in higher concentration and slower release, to maintain drug levels for a long period in the udder, and also by reducing the disposal milk with antibiotic residues. Keywords: intramammary infection, somatic cell count, dry period

Introdução O período seco é crucial no controle da mastite, pois essa fase é caracterizada como o momento no qual ocorrem alterações fisiológicas na glândula mamária, que resultam em maior suscetibilidade às infecções intramamárias (IIMs).

50

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

As IIMs do período seco podem ser causadas por patógenos ambientais ou ter como origem infecções preexistentes, causadas por patógenos contagiosos. Baseando-se no tipo de infecção e classificação do patógeno, o tratamento da mastite durante o período seco


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

apresenta como principais características: maiores taxas de cura que durante a lactação; possibilidade de eliminação e prevenção de infecções subclínicas; possibilidade de utilização de antimicrobianos em maior concentração e de liberação mais lenta, para manter níveis da droga no úbere por um longo período e, ainda, diminuição do descarte do leite com resíduos de antimicrobianos. Além dessas vantagens, o tratamento da vaca seca é uma medida com efeito na redução da contagem de células somáticas (CCS) do leite de tanque. O aumento da taxa de cura, ou simplesmente a prevenção de IIM pósparto, reduz a ocorrência de casos clínicos e subclínicos e, consequentemente, a CCS do leite de tanque. Fisiologia da glândula mamária durante o período seco O período seco é caracterizado por diversas alterações fisiológicas; entre elas, para o aumento de suscetibilidade às IIMs, o início da síntese de leite (colostro) é a de maior importância (OLIVER e SORDILO, 1988). A distribuição do risco ou suscetibilidade às IIMs durante todo o período seco está descrita na Figura 1. Quando a extração do leite é interrompida de forma abrupta ou intermitente, ocorrem descontinuação da

Susceptibilidade

Alta

Baixa

6 1

2

3

4

7

8

5

Período seco (semanas)

Figura 1. Distribuição da suscetibilidade às infecções intramamárias em vacas durante o período seco. Fonte: adaptado de Ruegg (2011).

liberação de hormônios galactopoiéticos, redução de síntese de leite e diferenciação de células secretórias (VANGROENWEGHE et al., 2005). Outro evento importante nessa fase, também denominada involução ativa, é o acúmulo de leite (aproximadamente 75 a 80% da produção diária até 2 a 3 dias após secagem), com aumento de pressão no lúmen alveolar da glândula mamária. Durante essa fase, lisossomos, macrófagos e outros polimorfonucleares participam do processo de autofagocitose, que é iniciado pelas células secretoras cujos lisossomos fagocitam seu próprio conteúdo celular, sendo seguidos pelos macrófagos, que fagocitam as células secretoras já degradadas (BRADLEY e GREEN, 2004). O aumento de imunoglobulinas (IgG1, IgG2, IgA, IgM) é marcante durante os 7 primeiros dias pós secagem. Nessa fase, o aumento das imunoglobulinas associado à diminuição do ferro disponível, constitui importante mecanismo de defesa da glândula mamária contra infecções (SMITH et al., 1971). A formação do tampão de queratina é fator de defesa da glândula mamária, ocorrendo entre 1 e 2 semanas pós secagem, em média. Esse tampão, além de conter substâncias de inibição da síntese microbiana, atua como selante natural da teta (PYÖRÄLÄ, 2008). Durante a involução ativa a ocorrência de novas infecções pode ser aumentada por: volume de leite acumulado e aumento da pressão interna do úbere; descontinuidade da desinfecção das tetas; redução das atividades fagocíticas de leucócitos; e secreções produzidas durante o processo de involução que podem favorecer o crescimento de bactérias (DINGWELL et al., 2003). Após a fase de involução ativa, inicia-se a fase de involução constante, que tem duração variável de acordo com a duração do período seco. Durante essa fase, as concentrações de imunoglobulinas e de lactoferrina são mantidas em níveis elevados e a predominância celular é de linfócitos e macrófagos (SMITH et al., 1971). O tampão de queratina encontra-se completamente formado e constitui mecanismo de prevenção contra novas IIMs. A alta concentração de imunoglobulinas, a lactoferrina e o tampão de queratina tornam a fase de involução constante a de menor suscetibilidade a infecções mamárias durante o período seco.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

O final do período seco é marcado por alterações hormonais provenientes do final da gestação e início da lactogênese. Durante a colostrogênese, a suscetibilidade da glândula mamária a novas infecções aumenta em razão do maior risco de invasão bacteriana pelo canal da teta e do início do processo secretório da glândula (OLIVER e SORDILO, 1988). Além das alterações hormonais e da formação de colostro, durante a fase de lactogênese as concentrações de imunoglobulinas (principalmente IgG1) aumentam progressivamente, iniciando-se 2 a 3 semanas pré-parto e atingindo a máxima concentração 5 a 10 dias antes do parto (SMITH et al., 1971). Entre as alterações imunocelulares, a atividade de macrófagos decresce, com aumento na síntese dos componentes do leite. Durante essa fase, ocorre diminuição da concentração de linfócitos e de lactoferrina, o que resulta em maior suscetibilidade da vaca a novas IIMs, principalmente as causadas por agentes ambientais. Relação entre mastite e período seco A importância do período seco sobre a ocorrência de IIM durante a lactação subsequente vem sendo estudada desde a década de 1940. O aumento de quartos mamários infectados durante o período seco resulta em perdas financeiras por ser fator de risco para o desenvolvimento de mastite durante a próxima lactação e reduzir a produção e a qualidade do leite (alta CCS) (GREEN et al., 2002). As IIMs do período seco podem ter duas origens principais. A primeira diz respeito às infecções persistentes da lactação anterior, que geralmente são causadas por microrganismos contagiosos. A segunda corresponde a infecções adquiridas durante o período seco, ou novas IIMs, causadas por microrganismos de origem ambiental. A prevalência de IIMs causadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae é maior durante a lactação, por serem microrganismos contagiosos, que são transmitidos, principalmente, durante a ordenha e têm como reservatório principal a glândula mamária (BRADLEY e GREEN, 2004). Ao contrário do que acontece durante a lactação, a prevalência de patógenos ambientais, como Streptococcus spp, é maior durante o período seco, pois nessa fase a contaminação é favorecida por fatores ambientais (BRADLEY e GREEN, 2004).

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O perfil e a origem dos patógenos dependem em parte de fatores ambientais, como a variação sazonal e entre fazendas (GREEN et al., 2007). No Brasil, Birgel et al. (2009) registraram taxas de novas infecções iguais a 66,67% e de infecções persistentes iguais a 61,54%. Em rebanhos bem manejados e que utilizavam terapia da vaca seca (TVS), a maioria das novas IIMs pós-parto originaram-se durante o período seco (Figura 2). Considerando todo o período seco e toda a lactação (Figura 3), o risco de novas IIMs é maior no início do período seco, próximo ao parto e início da lactação, em razão de alterações fisiológicas. Como a maioria das novas IIMs é ocasionada por microrganismos ambientais, o risco de novas infecções durante o período seco e pós-parto pode ser agravado quando os animais são alojados em ambientes inadequados, com altas temperaturas e umidade, acúmulo de lama e esterco, falta de sombra e conforto (GREEN et al., 2007). A velocidade de formação do tampão de queratina após secagem é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de novas IIMs. Essa velocidade está estritamente relacionada à produção da vaca (COMALI et al., 1984) durante o processo de secagem e a fatores raciais (BRADLEY e GREEN, 2010). Segundo Dingwell et al. (2003), aproximadamente 50% das vacas com produção igual ou maior que 21 kg de leite ainda permaneceram com o canal da teta aberto seis semanas após a secagem. A ocorrência de mastite na lactação anterior e o número de lactações, também são fatores que aumentam o risco de novas IIMs, o que ocorre em razão de exposições ou infecções prévias causadas por patógenos da mastite. Pantoja et al. (2009) relataram que quartos mamários com mastite na lactação anterior têm 4,2 vezes mais chance de apresentar mastite clínica na próxima lactação do que quartos sadios na lactação anterior. Além disso, quartos mamários de vacas com mais de quatro lactações têm 4,2 vezes mais chance de apresentar mastite do que quartos de vacas de segunda lactação. Ainda, no mesmo estudo, quartos mamários com CCS ≥ 200.000 cels/mL no período seco apresentaram 2,7 vezes mais chances de desenvolvimento de mastite clínica na lactação subsequente do que quartos com CCS < 200.000 cels/mL.


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

100 80

Proporção de IIMs pós-parto provenientes do período seco

60

IIMs persistentes Novas IIMs

40 20

is S.

ub er

e al sg

dy

ob Al lE

nt

er

ac tia

rit ac ae te

ac

ct ba ne ry Co

S.

i E. co l

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St ap hs ve

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Co

ag

+

-v

e

St ap hs

0

Figura 2. Perfil microbiano das infecções intramamárias pós-parto (novas ou persistentes) provenientes do período seco em vacas. Fonte: Bradley e Green (2004).

Devido a propriedades queratolíticas, o Corynebacterium bovis tem sido associado ao incremento da suscetibilidade a novas IIMs e desenvolvimento de mastite clínica pós-parto quando adquirido no início do período seco (BRADLEY e GREEN, 2004). No entanto, o Corynebacterium bovis também é descrito como protetor, quando animais que adquiriram esse patógeno na fase final do período seco apresentaram menor risco de desenvolvimento de mastite na lactação subsequente (BRADLEY e GREEN, 2004).

Considerações sobre o momento da secagem A produção de leite no momento da secagem é de fundamental importância para o sucesso da TVS, pois o volume de leite produzido é fator determinante no incremento da suscetibilidade às novas infecções, devido, principalmente, ao aumento do tempo de formação do tampão de queratina (COMALI et al., 1984). Em vacas de alta produção, a redução ou o corte no fornecimento de concentrado 7 a 10 dias antes da secagem, pode reduzir a produção de leite para menos de 15 kg/dia até o momento da secagem (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 2011).

Secagem

Parto

Secagem

O processo de secagem pode ser realizado de duas

Taxa de novas infecções

maneiras: 1) interrupção abrupta da ordenha (secagem abrupta); 2) redução no número de ordenhas diárias ou no número de ordenhas por semana (secagem intermitente). Na secagem abrupta, em dia preestabelecido, procede-se à esgota completa dos quartos mamários. A secagem intermitente é realizada ordenhando-se a vaca pelo menos uma vez por dia durante 3 a 4 dias até que Período seco

Lactação

Figura 3. Distribuição de novas IIMs em vacas durante o período seco e a lactação. Fonte: Bradley e Green (2004).

a ordenha seja cessada por completo (NEWMAN et al., 2010). Em ambos os casos, a vaca deve ser observada durante os primeiros dias para detecção de edema no quarto mamário, indicativo de mastite clínica.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

18 16

Infecções provenientes do período seco

Casos /100 vacas

14

Infecções provenientes da lactação

12 10 8 6 4 2 0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Meses em lactação Figura 4. Distribuição de casos de mastite clínica provenientes do período seco e da lactação de vacas leiteiras. Fonte: Bradley e Green (2007).

Eficiência de tratamento durante o período seco A TVS tem duas funções básicas: 1) cura de IIMs existentes na secagem; 2) prevenção de novas IIMs durante o período seco. Ela foi desenvolvida em 1950 e implantada no programa dos 5 pontos de controle da mastite em 1960, com o objetivo principal de controlar infecções existentes na secagem, por meio da utilização de antimicrobianos de longa duração. Além disso, a TVS passou a ser utilizada, com ênfase, também na prevenção de novas infecções durante o período seco, o que levou ao desenvolvimento dos selantes internos de tetas (BRADLEY; GREEN, 2004, 2007). A TVS é um método importante no controle da mastite, pois elimina em média 80% das infecções existentes e previne até 80% das novas IIMs durante o período seco, dependendo principalmente do agente infectante (RUEGG, 2011). Umas das suas grandes vantagens é a utilização de antimicrobianos de longa duração, que permitem a eliminação de infecções subclínicas existentes, pois apresentam taxa de cura maior que durante a lactação. Além disso, com a utilização da TVS não há descarte do leite e o risco de resíduos no leite é mínimo, se o período seco for de cerca de

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60 dias (a duração do período seco é fator importante na TVS). Sua utilização contra infecções causadas por Streptococcus agalactiae apresenta alta taxa de cura, pois a eficácia contra esse patógeno é de cerca de 90%. No entanto, quando se trata de IIMs crônicas causadas por Staphylococcus aureus, os resultados são conflitantes. Estima-se uma taxa de cura de até 50% na utilização da TVS contra o Staphylococcus aureus, porém essa taxa depende de fatores como a CCS do quarto infectado, a idade da vaca, o antimicrobiano utilizado, a duração do período seco e as condições higiênicas da fazenda (BARKEMA et al., 2006). Por exemplo, Erskine et al. (1994) descreveram taxas de cura para o Staphylococcus aureus, até quatro semanas pós-parto, de 29,4% e 27,5% utilizando penicilina benzatina intramamária associada à oxitetraciclina intramuscular e penicilina intramamária, sem associações, no período seco, respectivamente. Já Nickerson et al. (1999) descreveram taxas de cura para o Staphylococcus aureus de 78,1% com cefapirina benzatina intramamária, 74,2% com cefapirina associada à tilmicosina injetável e 9,2% apenas com tilmicosina injetável, no período seco. Ainda que os resultados da TVS para a cura de IIMs por Staphylococcus aureus sejam variáveis, essa prática alcança maiores taxas de cura quando comparada com a terapia para vacas em lactação (10% a 30%). Atualmente, a administração intramamária é considerada a via de eleição para aplicação de antimicrobianos na TVS. Sendo assim, são aprovados, comercialmente para a terapia, apenas produtos para infusão intramamária de dose única que contenham um ou mais antimicrobianos de liberação lenta que tenham a capacidade de se manter em níveis terapêuticos por longo tempo dentro do úbere (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 2011). Grande parte dos antimicrobianos para TVS foi desenvolvida para eliminar e prevenir IIMs causadas por bactérias gram-positivas, especialmente Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, pois, além da dificuldade de controlar IIMs causadas por essas bactérias no período de lactação, de forma geral, IIMs causadas por bactérias Gram-negativas possuem alta taxa de cura espontânea (Quadro 1).


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Desvantagens da TVS Uma das desvantagens do uso de antimicrobianos intramamários é o fato de ser considerado um fator de risco a novas IIMs, pois, no momento da aplicação, há risco de introdução de microrganismos com o antimicrobiano. Assim, o uso de múltiplas infusões, além de não demonstrar vantagens quando comparado com a infusão única, aumenta o risco a novas IIMs (BRADLEY et al., 2011). Outro questionamento se faz sobre o duplo propósito da TVS, tratamento e prevenção, uma vez que a maioria dos patógenos envolvidos nas infecções pré-existentes tem características muito diferentes daqueles encontrados nas novas IIMs. Dessa forma, em razão do risco de resistência microbiana e por motivos econômicos, a utilização da TVS com os mesmos antimicrobianos em todas as vacas no momento da secagem tem sido questionada em muitos países. Assim, surgiram alternativas para a TVS, como o desenvolvimento de selantes internos e a utilização da TVS de forma seletiva, baseada nas características da vaca, no histórico de IIMs e nos valores de CCS próximos ao momento da secagem. Recentemente, Batista et al. (2010) avaliaram a influência de medicamentos indicados para o tratamento de mastite no período seco sobre a função fagocítica

Quadro 1. Espectro de atividade de alguns antimicrobianos utilizados para a terapia da vaca seca. Gram Positivos

Gram negativos

Penicilinas

+++

-

Ampicilina

++

+

Cloxacilina / naficilina

+++

-

Cefalônio

++

++

Cefquinoma

++

++

Dihidroestreptomicina

+

+++

Framicetina / neomicina

++

+++

Fonte: Adaptado de Bradley e Green (2007)

de leucócitos obtidos do leite de vacas. Foram avaliadas amostras de leite, negativas ao exame bacteriológico, expostas a soluções contendo cefalônio anidro, gentamicina, cloxacilina benzatina e benzilpenicilina procaína em associação com naficilina e dihidroestreptomicina. Os autores concluíram que a função fagocítica pode ser prejudicada por alguns dos medicamentos disponíveis no mercado e que aplicações de medicamentos formulados para o período seco em animais não infectados podem interferir negativamente no processo fisiológico de secagem, quando a fagocitose é fundamental. Embora a TVS apresente algumas desvantagens, os benefícios obtidos com essa prática são maiores e, por isso, está incluída como prática obrigatória no programa de controle da mastite estabelecido pelo National Mastitis Council desde 1960 (programa dos cinco pontos). No Brasil, a alta prevalência de bactérias das espécies Staphylococcus aureus (Cruppe et al., 2008), somada às altas taxas de cura obtidas com a utilização da TVS para essa espécie, torna a utilização dessa prática de extrema importância. Selante interno de tetas O canal da teta possui como mecanismo de defesa natural contra novas IIMs o tampão de queratina. Esse tampão é formado em média 2 semanas pós-secagem, período que é variável dependendo da produtividade da vaca (BRADLEY e GREEN, 2010). Considerando que algumas tetas apresentam demora na formação do tampão de queratina, foi desenvolvido o selante interno de tetas, que mimetiza a ação do tampão de queratina. O selante de tetas não possui ação ativa contra os microrganismos existentes, tendo como composição um sal inorgânico pesado (subnitrato de bismuto) e uma base de parafina. Devido à boa ação de fixação, o selante interno de tetas permanece em quantidade variável até o final do período seco e é removido pós-parto pela sucção do bezerro ou pela ordenha. Esse produto não oferece riscos à saúde do bezerro e o material residual não oferece riscos à saúde humana por ser detectado em quantidades mínimas no leite de tanque (CARNEIRO, 2006).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Quando utilizado em tetas sem infecções pré-existentes, o selante resultou em eficácia igual ou superior na prevenção de novas IIMs, quando comparado com a utilização de antimicrobianos (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 2011). Quando se trata de vacas com infecções pré-existentes, ou quando não se sabe o estado da vaca em relação às IIMs, o selante pode ser utilizado em combinação com a TVS. No Brasil, Carneiro et al. (2006) compararam o uso do selante (subnitrato de bismuto) isolado ou em associação com antimicrobiano intramamário (gentamicina) e o comparando-os com o uso exclusivo do antimicrobiano (gentamicina) intramamário. Segundo os autores, não houve diferença entre a TVS e o selante interno de tetas na incidência de IIMs e não houve benefício significativo na aplicação simultânea do selante e TVS. O selante interno, sem a associação de antimicrobianos, não é prática eficaz no tratamento de vacas com IIMs pré-existentes no período seco. No entanto, é uma alternativa bem interessante no caso de produtores que praticam o monitoramento da saúde do úbere e são capazes de determinar quais vacas estão livres de IIMs na entrada do período seco. Nesses casos, o selante interno apresenta a vantagem de permanecer na teta das vacas por mais tempo que os antimicrobianos intramamários. Uso seletivo da TVS Quando a TVS começou a ser utilizada, recomendava-se seu uso em todas as vacas do rebanho com o mesmo produto no momento da secagem. Atualmente, em alguns países, há considerável pressão para utilização da TVS em nível de quarto selecionado, por cultura microbiológica ou CCS. Esses novos procedimentos foram recomendados com o aprimoramento do conhecimento sobre novas e persistentes IIMs no período seco e a crescente preocupação com o uso indiscriminado de antimicrobianos em animais de produção. O princípio da TVS seletiva é que somente vacas com IIMs devem receber esse tratamento. Ainda que os critérios de seleção para a TVS sejam consistentes na detecção de IIMs, a prevalência de mastite no início da lactação em rebanhos que recebem a TVS

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seletiva é consideravelmente maior. Nesse contexto, a TVS seletiva é efetiva quando usada em rebanhos com o objetivo de eliminar infecções existentes, mas, quando o rebanho tratado tem alto risco de novas IIMs, a terapia em todas as vacas torna-se mais efetiva. Adicionalmente, quartos mamários que não recebem a TVS têm maior probabilidade de novas IIMs durante o período seco. Além disso, uma vaca com um quarto infectado tem mais chances de desenvolver infecção nos outros quartos mamários do que uma vaca sem infecção nos quatro quartos (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 2011), o que torna a TVS seletiva pouco indicada e utilizada. O sucesso da TVS seletiva depende da capacidade de diagnóstico da mastite no momento da secagem e das características epidemiológicas do rebanho. Para tanto, podem ser utilizadas a CCS do tanque, a CCS individual e o histórico de IIMs clínicas durante a lactação. No entanto, a cultura microbiológica individual é fundamental na definição da etiologia da mastite (SANTOS e FONSECA, 2006). Com relação à CCS, em nível de quarto mamário, o limite de 200.000 cels/ mL tem sido utilizado na tomada de decisões para o tratamento da vaca seca, porém esses dados devem ser analisados em conjunto com o histórico do animal. As vacas no final da lactação tendem a apresentar ligeiro aumento na CCS e podem não estar infectadas, mesmo que os valores de CCS ultrapassem 200.000 cels/mL, o que constitui um potencial aumentado no número de animais selecionados para a TVS (SANTOS e FONSECA, 2006). Considerando o atual estágio de controle de mastite na maioria dos países, o uso da TVS seletiva não resulta em maior relação custo-benefício. Assim, o emprego da TVS em todas as vacas do rebanho ainda é o mais indicado no controle da mastite. Durante mais de 50 anos, muitos experimentos avaliaram o emprego de diferentes metodologias e sua eficácia na cura ou prevenção das IIMs durante o período seco. Devido à grande variação existente na interpretação dos efeitos da TVS entre experimentos e à variedade de técnicas utilizadas na TVS, recentemente Halasa et al. (2009) propuseram 3 estudos. O primeiro objetivou avaliar o efeito preventivo da TVS em todas as vacas do rebanho, da TVS se-


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

letiva e do selante de tetas, e o uso da cloxacilina

aqui considerou-se também o custo do diagnóstico

comparada com outros produtos para TVS, pela me-

de mastite no momento da secagem.

todologia de metanálise de 33 experimentos. Halasa

De forma geral, produtores de leite brasileiros ainda

et al., (2009b) concluíram que a TVS confere maior

têm grande dificuldade em diagnosticar a mastite no

proteção contra novas IIMs causadas por Streptococ-

momento da secagem; desta forma, o uso da TVS em

cus spp. e menor para novas IIMs causadas por Sta-

todas as vacas do rebanho é altamente recomendado.

phylococcus aureus. No entanto, a TVS não confere proteção contra novas IIMs causadas por coliformes. No mesmo estudo, a cloxacilina promoveu proteção similar contra novas IIMs, inclusive contra IIMs causadas por Staphylococcus aureus, quando comparada com outros produtos utilizados na TVS. Quando com-

Considerações finais A produção de leite é uma atividade complexa e depende não só de investimentos financeiros, como também de esforços na aquisição de conhecimentos que permitam visualizar os pontos críticos da produção de

parada com a ausência de tratamento, a TVS seletiva

leite no organismo da vaca. Nesse contexto, o entendi-

promoveu maior proteção contra novas IIMs, mas,

mento da fisiologia do período seco é importante, pois

quando comparada com a TVS em todos os quartos

permite a utilização de técnicas que minimizem a ins-

mamários de todas as vacas, a TVS seletiva teve me-

talação e manifestação de IIMs, durante a lactação, e

nor eficiência. O uso de selantes internos de tetas

perdas de produção. A técnica mais utilizada, e que de-

promoveu boa proteção contra novas IIMs.

veria ser obrigatória em todos os rebanhos brasileiros,

O segundo estudo foi realizado com os dados de

é a TVS com antibióticos intramamários em todas as

22 experimentos, nos mesmos moldes do primeiro,

vacas do rebanho e todos os quartos mamários. Outras

mas com o objetivo de analisar as taxas de cura de

práticas como a terapia da vaca seca associada ao uso

IIMs nos quartos mamários. A TVS em todos os quar-

de selante interno de tetas podem ser utilizadas, mas

tos mamários promoveu taxas de cura 1,78 vez maior

são de maior complexidade por terem sua eficiência

do que a ausência de tratamento e essas taxas fo-

atrelada a correta identificação de IIMs existentes no

ram similares às taxas de cura alcançadas com a TVS

momento da secagem. A utilização da terapia da vaca

seletiva (1,76). As taxas de cura foram semelhantes

seca não dispensa a necessidade de outras medidas de

quando se comparou a TVS contra Staphylococcus

prevenção contra as IIMs, como manter os animais em

aureus e Streptococcus spp. Não houve diferença

ambiente limpo, seco e com nutrição adequada.

quando se comparou a cloxacilina com outros produtos para TVS na cura de IIMs causadas inclusive por Staphylococcus aureus. O custo-benefício da TVS foi calculado por Halasa et al. (2010) por meio de modelos estatísticos avaliando os diferentes tipos de intervenção: TVS em todas as vacas do rebanho, TVS seletiva e uso de selantes, sem TVS ou selante. Nesse estudo, um número

AUTORES

substancial de vacas adquiriu novas IIMs durante o

Cristina Simões Cortinhas Médica Veterinária CRMV-SP no 11593 MSc e DSc pela Universidade de São Paulo ccortinhas@usp.br

período seco e iniciou a lactação com IIMs, fato que interferiu na dinâmica das IIMs durante a lactação e no custo líquido anual da mastite. A utilização da TVS

Marcos Veiga dos Santos Médico Veterinário CRMV-SP nº 9252. DSc. Docente Universidade de São Paulo

foi fundamental na redução de perdas econômicas. Além disso, a TVS em todas as vacas do rebanho contribuiu para menor custo anual total da mastite, pois

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTOXICAÇÃO POR UREIA EM BOVINOS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA UREA POISONING IN CATTLE. A REVIEW RESUMO

O trabalho foi desenvolvido com o intuito de orientar a forma de utilização de fontes de nitrogênio não proteico para a suplementação alimentar de bovinos, os fatores epidemiológicos e determinantes da intoxicação por ureia e as ações para prevenção e tratamento da intoxicação. Palavras-chave: ureia, intoxicação, nitrogênio não proteico

ABSTRACT

This paper was developed with the purpose to guide the way for the use of non-protein nitrogen sources for supplemental feeding of cattle, the epidemiological factors and determinants of urea poisoning and actions for prevention and treatment of poisoning. Keywords: urea, poisoning, non-proteic nitrogen

INTRODUÇÃO A análise dos rebanhos mantidos a pasto, em especial no período seco, no Brasil Central, indica que pelo menos 10 milhões de bovinos estejam recebendo anualmente suplementos contendo ureia (BARUSELLI, 2005). Nos ruminantes, o catabolismo das proteínas é regulado pelos microrganismos ruminais, que possuem a capacidade de transformar o nitrogênio da dieta em proteína de boa qualidade, a denominada proteína microbial. A proteína da dieta entra no organismo em forma de proteína verdadeira e nitrogênio não proteico (NNP), sendo que 40% da proteína total passa pelo rúmen sem transformação alguma, escapando da di-

gestão microbiana, se perdendo sem modificações nas fezes. Os 60% restantes da proteína total e o NNP são transformados no rúmen, por ação da urease, e desdobrados em amônia e dióxido de carbono. Essa amônia é utilizada como fonte de nitrogênio, para síntese de proteínas pelos microrganismos ruminais (protozoários Peptostreptocci spp e Prevotella spp) até peptídeos e aminoácidos, que fazem parte da chamada proteína microbiana, que é digerida e absorvida pelo intestino (RODRÍGUEZ, 2007). A suplementação proteica com NNP é prática comum na alimentação de bovinos (CAMPOS NETO et al., 2007) e tem sido utilizada em substituição parcial à proteína natural na dieta (BARUSELLI, 2005). Com o objetivo

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

de melhorar o aporte de proteína na dieta e diminuir os custos com suplementos proteicos, existe uma tendência à utilização de compostos nitrogenados não proteicos (OLIVEIRA et al., 2001). A ureia é a principal fonte de NNP, possui baixo custo e praticidade na utilização (CAMPOS NETO et al., 2007) e a intoxicação, nos ruminantes, não ocorre diretamente pela ureia alimentar, mas, sim, pela amônia gerada como primeiro composto de degradação após a fermentação bacteriana ruminal (HALIBURTON et al., 1989). A presença de surtos de intoxicação é o principal obstáculo para que seu uso rotineiro seja adotado por mais criadores. Apesar de esporádica, a intoxicação apresenta quadro clínico drástico, rápido e na maioria das vezes devastador, podendo levar à morte em até 30 minutos após a ingestão (ORTOLANI et al., 2000). Segundo Gonzáles et al. (2000), a intoxicação ocorre, principalmente, de forma aguda, quando os animais são suplementados com ureia ou sais de amônia, sem que tenha sido realizada uma adaptação prévia adequada. Nessas circunstancias, a microbiota do rúmen não aproveita as fontes de nitrogênio de forma eficiente, o que também acontece quando são ultrapassados os limites de utilização e os animais ingerem quantidade excessiva. A Ureia A ureia representa um composto orgânico classificado como amida, constituído por nitrogênio, oxigênio, carbono e hidrogênio (CO(NH)2)2, altamente higroscópico, solúvel em água e álcool, de cor branca e sabor amargo, e é considerada um composto nitrogenado não-proteico [NNP] (ANTONELLI et al., 2009). Seu uso, como fonte de nitrogênio para ruminantes mantidos exclusivamente a pasto, deve ser feito no período da seca, quando as pastagens apresentam-se com elevados teores de fibra e baixos teores de proteína, visando à manutenção ou ganho de peso (BARUSELLI, 2005). A administração de NNP associada a forragens fibrosas, contendo baixo teor proteico, tem sido sugerida em diferentes sistemas de criação de ruminantes e dietas (GOMES, 2007). Candido et al. (1999) percebe-

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ram que a amonização, via ureia, proporcionou melhoria no valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar e esta é uma das dietas mais utilizadas no Brasil. Barusseli (2005) relatou que os objetivos da utilização da ureia na alimentação de bovinos de corte e de leite, são a redução de custo pela substituição parcial de fontes proteicas vegetais e o fornecimento de quantidades adequadas de proteínas degradáveis no rúmen para que ocorra maior eficiência da digestão da fibra e da síntese de proteína microbiana. No mercado brasileiro, existem a ureia pecuária líquida protegida com ácido fosfórico e a ureia extrusada com fontes de carboidrato solúvel, bem como a ureia não protegida, comumente utilizada como fertilizante, que também pode ser utilizada na dieta animal (ANTONELLI et al., 2009). FISIOPATOLOGIA DA INTOXICAÇÃO A quantidade de ureia necessária para provocar intoxicação depende de diversos fatores, como a velocidade de ingestão, a quantidade e a capacidade de reciclagem diante de fatores dietéticos, tais como: a porcentagem de nitrogênio ingerido, a degradabilidade de nitrogênio no rúmen, o tipo de forragem, a porcentagem de grãos, a fermentabilidade de carboidratos no rúmen, o pH do rúmen e o grau de adaptação do animal (HUNTINGTON et al., 1996). Quanto maior o pH, maior será a concentração de amônia (NH3), que, por ser lipossolúvel, vai ser mais facilmente absorvida pela parede ruminal. Condições como jejum e dietas ricas em fibra e baixo teor de carboidratos ou mesmo grandes quantidades de consumo de ureia são compostas, em sua maioria, por aminoácidos dicarboxílicos que afetam o estado ácido-básico ao serem oxidados, causando alcalose metabólica e, portanto, aumento na absorção, gerando hiperamonemia no animal (WEEB et al., 1972; BARTLEY, 1976; PATIENCE, 1990). Doses de ureia superiores a 0,44 g/kg, em animais em jejum, podem ocasionar sinais de intoxicação e doses entre 1-1,5 g/kg, geralmente, são letais. A administração contínua de ureia determina tolerância e adaptação à dieta, porém, após três dias sem ingestão, os animais se tornam novamente sensíveis e nova adaptação de-


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

verá ser realizada (CORREA et al., 2001; RADOSTITS et al., 2006). Esse grau de adaptação também é reduzido

Alto HN3

Alta absorção

Alta Amônia Intracelular

por jejum prolongado e por dietas com baixos níveis de proteínas (RADOSTITS et al., 2006), ou, ainda, por dietas com baixos níveis energéticos, que refletem falta de sincronia nutricional no ambiente intrarruminal, pois diminuem a taxa de utilização da ureia pelos microrganismos do rúmen (GIMARÃES JUNIOR et al., 2007). A ureia ingerida é rapidamente hidrolisada no rúmen, pela urease bacteriana, em compostos amoniacais (NH4+ e NH3). Enquanto o amônio (NH4+) é hidrossolúvel e não absorvível pela parede ruminal, a amônia é lipossolúvel e altamente absorvível (BARTLEY et al.,

Neurônios Saturação do sistema glutamina-sintetase

Diminuição da produção de energia

Inibição da respiração celular

Alteração liberação neurotransmissores Alteração passagem estímulo Redução dos estímulos nervosos

1976). Assim, condições que favorecem o surgimento de pH alcalino, como jejum, dieta rica em fibra e/

Figura 2. Mecanismo da intoxicação pela ureia.

ou com baixo teor de carboidratos solúveis ou mesmo a ingestão de quantidades consideráveis de ureia, predispõem à intoxicação por amônia, pois aceleram a absorção para a corrente sanguínea. A maior parte da amônia absorvida é rapidamente transformada no fígado, com a síntese da ureia por meio do ciclo da ureia. Entretanto, quando há aumento na produção e absorção de amônia, ocorrem sobrecarga no sistema hepático, e, como consequência, aumento nos teores de amônia no sangue (O’CONNOR e COSTELL, 1990) (Figura 1).

Rúmen

Ingestão de Uréia Ureia

Saliva (reciclagem)

hidrólise NH4

NH3

Fígado Ciclo da ureia

PTN bacteriana Ureia Degradação de PTN bacteriana rúmen Absorção PTN

Excreção urinária

Abomaso e intestinos

Figura 1. Ciclo de metabolização da ureia.

Filtração renal

No ambiente intracelular, a amônia bloqueia o ciclo de Krebs por saturação do sistema glutamina-sintetase, resultando em diminuição da produção de energia e, finalmente, inibição da respiração celular (Figura 2) (ANTONELLI et al., 2009). Campos Neto et al. (2007) verificaram que a rápida liberação de amônia no rúmen é fator limitante para o uso da ureia como fonte de NNP na alimentação, pois, caso ocorra deficiência de energia na dieta, situação frequente no período da seca, a amônia livre no líquido ruminal não será utilizada pelos microrganismos para sintetizar proteínas bacterianas e, consequentemente, será absorvida pelas papilas ruminais e direcionada ao fígado, para ser metabolizada no ciclo da ornitina, determinando dispêndio de energia que refletirá, negativamente, nas fases produtiva e reprodutiva do animal. Os resultados observados tanto na solubilização da ureia in vitro quanto no tempo de liberação da amônia no líquido do rúmen, aliados aos testes clínicos de intoxicação, demonstraram que a suplementação por ureia revestida com polímeros proporcionou liberação lenta e contínua da amônia e evitou o aparecimento dos sinais clínicos de intoxicação, por diminuir a velocidade de liberação de amônia no ambiente ruminal. A ureia é cerca de 40 vezes menos tóxica que a amônia (BARUSSELI, 2005). O excesso de amônia liberada

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

SINAIS CLÍNICOS Os sinais clínicos da intoxicação por ureia passam a ser visíveis quando o nível de amônia no conteúdo ruminal bovino atinge o valor de 1.000 mg/L, os níveis séricos de nitrogênio na forma de amônia (N-NH3) estão entre 10 e 13 mmol/L (10 mg/l) e os níveis de nitrogênio no sangue atingem 0,7-0,8 mg/dl (RADOSTITS et al., 2006). Os sintomas se iniciam 10 a 30 minutos após a ingestão e a gravidade dos sinais relaciona-se aos níveis sanguíneos de amônia e não aos ruminais (RADOSTITS et al., 2006). Eles incluem apatia, tremores musculares e de pele, salivação excessiva, micção e defecação frequentes, respiração acelerada, incoordenação motora, dores abdominais, enrijecimento dos membros anteriores, prostração, tetania, convulsões, colapso circulatório, asfixia e morte (GOMES, 2007). Correa et al. (2001) citam que, além desses sintomas, podem ocorrer timpanismo e mugidos altos e que os animais se debatem exaustivamente antes de morrer e, normalmente, são encontrados mortos ou sobrevivem por um período de até 4 horas após a ingestão excessiva da ureia. A letalidade é próxima de 100%. Acredita-se que a causa da morte seja a parada respiratória devido ao excesso de amônia. Já em casos com pouca gravidade, os animais se apresentam sonolentos e em decúbito (RADOSTITS et al., 2006). Na necropsia poderão ser observados, timpanismo, congestão da carcaça, excesso de fluido pericárdico, edema pulmonar, espuma nas vias aéreas superiores

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Arquivo CFMV

eleva o pH do rúmen (7,0 a 8,5) e provoca aumento da permeabilidade da parede ruminal, favorecendo a absorção da amônia em altas quantidades, predispondo à alcalose ruminal e intoxicação (BRANDINI, 1996). O uso de ureia polímero (protegida) promove uma maior e constante produção de nitrogênio na forma amoniacal (N-NH3), no ambiente ruminal, e proporciona maior estabilidade de pH durante 24 horas de observação (PAULA et al., 2009). A pulverização de óleos (linhaça e tungue) acrescida de mistura catalítica de minerais (cobalto e manganês) permitiu que a ureia fosse metabolizada pela urease, com produção de amônia em dose lenta e contínua, para a síntese de proteína bacteriana (CAMPOS NETO et al., 2003). Rebanho com aptidão leiteira confinado, está sujeito à intoxicação após suplementação com uréia

e hemorragias na musculatura cardíaca (GONZALES e SILVA, 2006). Antonelli et al. (2009) utilizaram diferentes doses de amônia, depositada intrarruminalmente por de cânula, e perceberam que os animais que receberam ureia granulada (não-protegida) demonstraram sinais clínicos de intoxicação mais rapidamente que os tratados com doses tóxicas de ureia extrusada (protegida). O diagnóstico de intoxicação por amônia é baseado no histórico de ingestão de grandes quantidades de fonte de NNP, associado à presença de sintomas característicos, e à determinação laboratorial da concentração de amônia no sangue ou líquido ruminal (ANTONELLI et al., 2009). Caso não haja histórico de consumo, os diagnósticos diferenciais serão insuficiência hepática aguda, anafilaxia, intoxicação por cianobactérias, hipomagnesemia, intoxicação aguda por sal, enfisema e edema pulmonar agudo, encefalite ou encefalomalácia (RADOSTITS et al., 2006), intoxicação por nitritos e nitratos, cianídricos, organofosforados, carbamatos, sobrecarga de soja, 4-metilimidazole, gases tóxicos (monóxido e dióxido de carbono), doenças infecciosas agudas, encefalopatia hepática, enterotoxemia, timpanismo ruminal e hipocalcemia (RODRÍGUEZ, 2007).


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

TRATAMENTO E PREVENÇÃO O tratamento emergencial da intoxicação por ureia pode ser realizado pela administração de vinagre por via oral (3 a 6 litros por animal), que, além de baixar o pH, diminui a hidrólise da ureia e forma compostos com a amônia (acetato de amônia), reduzindo a absorção. A utilização de ácido acético a 5% serve como antídoto, porém podem ocorrer recidivas dos sinais 30 minutos após o tratamento, sendo necessário repeti-lo. O tratamento mais eficaz é a rumenotomia para o esvaziamento imediato e completo do rúmen, porém, quando a intoxicação atinge grande número de animais, torna-se inviável, devido ao rápido curso da enfermidade (CORREA et al., 2001; RADOSTITS et al., 2006). Pode-se utilizar uma sonda oroesofágica, para aliviar a compressão por gases oriundos do timpanismo, devendo-se evitar uma possível falsa via. Água gelada em grandes quantidades (20-40 L/animal) pode ser usada para reduzir a temperatura ruminal e diminuir a atividade da urease (RODRÍGUEZ, 2007). Segundo Kitamura et al. (2010), a utilização de fluidoterapia, à base de solução salina isotônica ou hipertônica, por via endovenosa ou sonda esofágica, promove rápido e marcante aumento do volume urinário, possibilitando maior eliminação de amônia na forma de ureia favorecendo a desintoxicação. A administração de furosemida (2 mg/kg/PV) com a fluidoterapia foi capaz de reduzir em 50% a dose tóxica de amônia sérica, durante a primeira hora de tratamento. Devido à extrema toxicidade da ureia, recomendase cuidado ao utilizá-la na suplementação alimentar, ao manuseá-la e também quanto ao local de estocagem. Quanto aos produtos industriais ou misturas pré-estabelecidas, devem-se respeitar, obrigatoriamente, as instruções do fabricante a respeito das concentrações máximas de ureia na ração ou na dieta para cada animal (RADOSTITS et al., 2006). Um período gradual de adaptação à ureia é necessário para evitar riscos de intoxicação, independentemente da forma de apresentação. Em boas condições de manejo, a ureia não deve ser ingerida em uma única

vez, mesmo para animais adaptados, utilizando-se um limitador de consumo, tal como sal comum, ou o fornecimento parcelado da ureia em duas ou mais vezes ao dia (ANTONELLI et al., 2009). CONCLUSÕES A utilização de nitrogênio não proteico na complementação alimentar de ruminantes é uma forma barata de suplementação, que apresenta ótimos resultados, e é capaz de otimizar diversos tipos de sistemas de criação no Brasil, representando alternativa em caso de baixa oferta de alimentos ricos em proteínas. Para utilização faz-se necessária orientação técnica e qualificada. Agradecimento a Médica Veterinária Barbara Rauta de Avelar.

Cerca de 10 milhões de bovinos mantidos a pasto recebem, anualmente, suplemento contendo uréia.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

AUTORES Graziela Barioni Médica Veterinária CRMV-ES nº 0487 MSc DSc. Docente Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) grazibari@gmail.com

Rodolpho José da Silva Barros Médico Veterinário CRMV-ES nº 1589 CCS/UFES

Diogo Antonio Rizzo Médico Veterinário CRMV-BA nº 3890

Marcel Arcanjo Silva Azevedo Médico Veterinário CRMV-ES nº 01758 MSc.

Flavia de Almeida Lucas Médica Veterinária CRMV-SP nº 8208. MSc DSc Unesp/ Araçatuba, SP

Carla Braga Martins Médica Veterinária CRMV-ES nº 1320 MSc DSc. Docente UFES

referências

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

HERPESVÍRUS EQUINO TIPO 1. REVISÃO DE LITERATURA EQUINE HERPESVIRUS TYPE 1. A REVIEW RESUMO

O herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1) é um patógeno capaz de causar perdas econômicas significativas aos plantéis e possui distribuição cosmopolita. Ele tem sido identificado como a causa de abortamentos, mortalidade neonatal, doença respiratória e manifestações neurológicas em cavalos. A mieloencefalopatia é menos comum do que as outras formas de doença causadas pelo EHV-1; entretanto, surtos de manifestações neurológicas têm sido relatados. Das 14 espécies de herpesvírus que acometem os equídeos, as mais relevantes são o EHV-1 e o EHV-4. Sabe-se que o EHV-1 encontra-se presente na população equina no Brasil e, até o momento, não existem estudos sobre a ocorrência de outros tipos de herpesvírus que acometem os equídeos em nosso meio. Palavras-chave: rinopneumonite equina, aborto equino a vírus, mieloencefalopatia herpética

ABSTRACT

Equine herpesvirus type-1 (EHV-1) is a major pathogen with significant economic impact. It has long been implicated causally in the occurrence of abortion, neonatal death, respiratory disease and neurological disorders in horses. Myeloencephalopathy is less common than other manifestations of EHV-1 infection; however, outbreaks have been reported. Among the 14 equine herpesviruses that affect horses, the most important are EHV-1 and EHV-4. EHV-1 infection is endemic in horse populations worldwide and it is also present in Brazil; however, until the current moment, there is no evidence of occurrence of other types. Keywords: equine rhinopneumonitis, equine herpesvirus abortion, equine herpesvirus myeloencephalopathy

INTRODUÇÃO O herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1) foi descrito pela primeira vez no início da década de 1930 (DIMOCK e EDWARDS, 1933). Desde então, inúmeras publicações tiveram o objetivo de investigar a infecção causada por esse agente, relacionando-a à imunidade do hos-

pedeiro (HELDENS, 2005; KYDD et al., 2006). No entanto, cerca de 80 anos depois, o EHV-1 continua sendo um patógeno capaz de ocasionar perdas econômicas significativas, tornando-o ameaça à criação mundial de equinos, uma vez que sua distribuição é cosmopolita.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Quadro 1. Principais herpesvírus de alguns membros da família Equidae, segundo king et al. (2011) Vírus

Sinônimo

Subfamília

Gênero

Hospedeiro natural

Doença

EHV-1

Vírus do abortamento equino (antigo EHV-1 subtipo 1)

α

Varicellovirus

Equus caballus

Respiratória, abortamento, neurológica

EHV-2

Antigo citomegalovírus equino

γ

Percavirus

Equus caballus

Rinite e conjuntivite

EHV-3

Vírus do exantema coital equino

α

Varicellovirus

Equus caballus

Exantema coital

EHV-4

Vírus da rinopneumonite equina (antigo EHV-1 subtipo 2)

α

Varicellovirus

Equus caballus

Respiratória

EHV-5

Antigo citomegalovírus equino

γ

Percavirus

Equus caballus

NA

EHV-6

Herpesvírus asinino tipo 1 (AHV-1 ou AsHV-1)

α

Varicellovirus (?)

Equus asinus

Exantema coital

EHV-7

Herpesvírus asinino tipo 2 (AHV-2 ou AsHV-2)

γ

NC

Equus asinus

NA

EHV-8

Herpesvírus asinino tipo 3 (AHV-3 ou AsHV-3)

α

Varicellovirus

Equus asinus

Rinite

EHV-9

Herpesvírus de gazela (GHV)

α

Varicellovirus

Equus grevyi

Neurológica

AHV-4

Herpesvírus de zebra

γ

NC

Equus asinus

Pneumonia

AHV-5

Herpesvírus asinino tipo 4 (AHV-4 ou AsHV-4)

γ

NC

Equus asinus

Pneumonia

AHV-6

Herpesvírus asinino tipo 5 (AHV-5 ou AsHV-5)

γ

NC

Equus asinus

Pneumonia

ZHV ou EzebGHV-1

Herpesvírus asinino tipo 6 (AHV-6 ou AsHV-6)

γ

NC

Equus zebra

NA

WAHV

Herpesvírus de zebra tipo 1 ou Equus zebra gammaherpesvirus 1 (antigo Equus zebra rhadinovirus 1)

γ

NC

Equus somalicus

NA

WAHV

Herpesvírus de jumento selvagem

γ

NC

Equus somalicus

NA

α: Alphaherpesvirinae; γ: Gammaherpesvirinae; NC: não classificado; NA: não associado. Fonte: King et al. (2011)

ETIOLOGIA Até o momento, foram identificadas 14 espécies de herpesvírus que acometem os equídeos (KING et al., 2011), das quais as mais relevantes são os tipos 1 (EHV-1) e 4 (EHV-4). A nomenclatura taxonômica foi determinada pela ordem de descoberta ou de classificação como herpesvírus, porém nem todos estão relacionados com manifestação de enfermidades em cavalos. Os principais herpesvírus responsáveis por infecções em membros da família Equidae estão descritos no Quadro 1. O EHV-1 é causador de diferentes doenças em cavalos, das quais as mais comuns são a rinopneumonite,

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caracterizada por manifestações respiratórias no trato superior em animais jovens; o abortamento a vírus em éguas no terço final da gestação e mortalidade perinatal em potros; e a mieloencefalopatia herpética equina (EHM), caracterizada por manifestações neurológicas em cavalos adultos. Com menor frequência, o EHV-1 pode provocar doenças oculares e infecção pulmonar vasculotrópica. Essas enfermidades podem ocorrer de forma isolada ou conjunta (PUSTERLA et al., 2010). Relatos informam que infecções causadas pelo EHV-1 estavam restritas à espécie equina, existindo raras descrições em outras espécies, como abortamentos em vacas ou encefalites em antílopes, alpa-


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

cas e lhamas (CHOWDHURY et al., 1986; REBHUN et al., 1988). Artigos recentes apresentam infecções naturais fatais em animais selvagens em zoológicos, como gazelas e ursos, e sugerem a quebra das barreiras naturais entre espécies (WOHLSEIN et al., 2011; GREENWOOD et al., 2012). HISTÓRICO Em 1932, foi relatada a ocorrência de surtos epizoóticos de abortamentos em éguas no estado de Kentucky (Estados Unidos), causados por agente de provável etiologia viral (DIMOCK e EDWARDS, 1933). Estudo retrospectivo nesse estado, de 1921 a 1947, concluiu que 26% dos casos de abortamento do total de 1.150 fetos foram de etiologia viral (DIMOCK et al., 1947). Estudos foram conduzidos em éguas prenhes infectadas com material biológico (macerado, filtrado e bacteriologicamente negativo), proveniente dos órgãos de fetos abortados, resultando em abortamento (DIMOCK et al., 1947). Relataram-se lesões necróticas e presença de corpúsculos de inclusão intranucleares acidofílicos no baço, timo, fígado e pulmões dos fetos abortados; contudo, sem relação com manifestação clínica prévia. Em 1941, na Hungria, Manninger e Csontos demonstraram que esse agente etiológico viral causava abortamento em éguas e doença respiratória em cavalos, inferindo que o abortamento seria sequela da influenza equina. A seguir, nos Estados Unidos, Doll et al. (1959) concluíram que o vírus causador do aborto equino deveria ser renomeado para vírus da rinopneumonite equina. Verificaram que a doença respiratória que precedia o abortamento não estaria relacionada com o vírus causador da influenza, pois as lesões da rinopneumonite eram distintas daquelas observadas na gripe. Os primeiros estudos in vitro foram realizados por Randall et al. (1953), demonstrando que o vírus poderia ser cultivado com sucesso em células fetais equinas (pulmão e baço). Além da reprodução de alterações observadas na infecção natural, observou-se aumento do título de antígeno viral após passagens seriadas em cultivo celular. Plummer e Waterson (1963) classificaram o vírus da rinopneumonite e do abortamento em equinos como

pertencente à família Herpesviridae, adotando o nome de herpesvírus equino (EHV), devido à similaridade morfológica com o Herpes simplex evidenciada por meio da microscopia eletrônica. A primeira associação entre o EHV e a enfermidade neurológica ocorreu em 1966, quando Saxegaard isolou o vírus do encéfalo e da medula de um cavalo com paralisia nos membros pélvicos. Devido às similaridades morfológicas e antigênicas, até 1981 o EHV-1 e o EHV-4 eram considerados variantes de um único agente, sendo denominados subtipos 1 e 2 do EHV-1. Com base nos diferentes padrões eletroforéticos do DNA viral, Studdert et al. (1981) reclassificaram os subtipos 1 e 2 para EHV-1 e EHV-4, respectivamente. A comparação eletrofenotípica obtida pela análise de restrição de isolados de EHV-4 de origens geográficas distintas indica uma grande estabilidade genética, com pouca variação intraespecífica. Entre os isolados de EHV-1, encontra-se maior variabilidade, com aparente relevância epidemiológica. Allen et al. (1983), a partir de 272 isolados do EHV-1 derivados de casos de abortamento em éguas no estado de Kentucky, EUA, no período entre 1960 e 1982, identificaram a existência de pelo menos 16 padrões eletroforéticos distintos do DNA viral, denominados de variantes, que foram classificados como protótipo EHV -1P e EHV-1A até EHV-1O. Entretanto, mais de 90% dos isolados, provenientes de animais não vacinados, apresentaram a predominância de somente duas variantes do EHV-1, denominadas de P e B, sugerindo, assim, uma variação molecular viral limitada na população estudada. De forma semelhante, alguns pesquisadores encontraram pouca diversidade molecular e predomínio da variante P em isolados do EHV-1 provenientes do Brasil (MORI et al., 2012), Argentina (GALOSI et al., 1998), Canadá (NAGY et al., 1997), Dinamarca (PALFI e CHRISTENSEN, 1995), França (ZIENTARA et al., 1993), Holanda (VAN MAANEN et al., 2000), Japão (PAGAMJAV et al., 2005), Oceania (STUDDERT et al., 1992), Reino Unido (McCANN et al., 1995) e Índia (GUPTA et al., 2005).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Allen et al. (1985) observaram que a variante P do EHV-1 era predominante e responsável por mais de 80% dos abortamentos ocorridos no estado de Kentucky nas décadas de 1960 e 1970. Em 1980, a variante B passou a ser encontrada com maior frequência e tornou-se o isolado mais comum em fetos abortados. A emergência de novas estirpes virais em substituição das mais antigas sugere que pressões biológicas e antigênicas, como, por exemplo, a imunidade vacinal, podem selecionar o crescimento e a sobrevivência das variantes do EHV-1. Por outro lado, as distintas estirpes virais isoladas de cavalos com manifestações neurológicas têm sido classificadas como sendo do tipo P do EHV-1, incluindo aquelas encontradas no Brasil e na Argentina (GALOSI et al., 1998; MORI et al., 2012). Até recentemente, encontravam-se relatos esporádicos de manifestações neurológicas ocasionadas pelos EVHs, sendo que os surtos eram raramente notificados. A partir de 2001, cresceu o número de casos de EHM na Europa e na América do Norte, sugerindo aumento na prevalência e/ou morbidade e mortalidade causadas por esses vírus em decorrência de possíveis mutações (APHIS, 2007). Sabe-se que variações genéticas entre o EHV-1 tipo P e B estão relacionadas a mutações do gene da região Open Reading Frame (ORF) 64, que codifica a proteína da célula infectada 4 (ICP4), que pode estar relacionada com a neuropatogenicidade (PAGAMJAV et al., 2005). Nugent et al. (2006) demonstraram diferenças em regiões variáveis específicas do genoma viral do EHV-1 originário de casos de EHM e de abortamento de diversas regiões do mundo, identificando uma mutação por substituição nucleotídica não sinônima de base única (Single Nucleotide Polymorphism - SNP) no gene codificador da DNA polimerase (ORF30) nas amostras neuropatogênicas. Tal mutação, provavelmente, estaria relacionada com a ocorrência de doença neurológica decorrente da infecção pelo EHV-1, sugerindo a existência de um marcador genético de neuropatogenicidade. Observaram também variabilidade na ORF68 em isolados do EHV-1 originários de oito países localizados na Europa, Américas do Sul e do Norte e Oceania, permitindo classificá-los em seis

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grupos geograficamente restritos, indicando um provável marcador filogenético. Segundo Allen e Breathnach (2006), a estrutura da enzima DNA polimerase foi modificada devido à mutação na ORF30, ocasionando maior agressividade na replicação viral e, consequentemente, levando ao aumento da carga viral e da duração da viremia associada aos leucócitos. A exposição intensa da superfície endotelial dos vasos sanguíneos do Sistema Nervoso Central (SNC) ao EHV-1 pode contribuir para o elevado risco de desenvolvimento de doença neurológica. De acordo com Borchers et al. (2006), além da lesão vascular, a doença neurológica pode ser decorrente da multiplicação viral nos neurônios por fatores relacionados ao vírus e/ou ao hospedeiro. HISTÓRICO NO BRASIL O primeiro relato de doença herpética em cavalos no Brasil (CORREA e NILSSON, 1964) apresenta, em dois fetos abortados, lesões pulmonares e hepáticas características. No entanto, mais dois anos foram necessários para isolamento do vírus de fígado de feto equino abortado originário de Botucatu (SP). A identidade com a amostra Ky-D do EHV-1 foi estabelecida pela técnica de soroneutralização viral (NILSSON e CORREA 1966). Reiner et al. (1972) isolaram o EHV-1 pela inoculação, em hamsters, da suspensão de fígado, baço e pulmão de feto equino abortado originário de Campinas (SP). Relataram sinais neurológicos, como convulsões tônico-clônicas e paralisia em hamsters lactentes, após a inoculação. Após 1980, a maior parte dos diagnósticos do EHV-1 foi realizada pela inoculação em células VERO (KOTAIT, 1991). No ano de 1992, foi isolada a estirpe denominada A9/92 do EHV-1, em células VERO, a partir de fragmentos do fígado, baço e pulmão de um potro com 10 dias de idade proveniente de Araçariguama (SP), pela imunofluorescência direta (CUNHA et al., 1993). A estirpe denominada A3/97 foi isolada em 2004, em cultivo de células de origem equina E-Dermal, a partir de fragmentos de fígado de feto equino abortado em Porto Feliz (SP), em 1997 (CARVALHO et al., 2012). Tentativas anteriores de isolamento viral, em células VERO, não foram bem-sucedidas devido à dificuldade de adapta-


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

ção do vírus em células de origem não equina (CUNHA E.M.S. comunicação pessoal). Também foi confirmada identificação viral, em surtos de abortamento, por Carvalho et al. (2000) em Minas Gerais (estirpes ISA e CR), Moreira et al. (1998) em Curitiba (PR) e Weiblen et al. (1994) em Santiago (RS). No Brasil, ainda não é comum o diagnóstico de doença neurológica em cavalos causada pelo EHV-1, sendo que o primeiro relato foi publicado por Lara et al. (2008). EPIDEMIOLOGIA O EHV-1 é responsável pela rinopneumonite que apresenta alta morbidade e baixa mortalidade na população de equinos e é geralmente negligenciada pelos tratadores, porque, na maioria dos casos, suas manifestações clínicas são de caráter leve ou inaparente. No entanto, resulta em perdas econômicas quando acomete animais de competição, com cancelamento das provas, interrupção de treinamento, diminuição do desempenho atlético e altos custos de tratamento, especialmente quando ocorrem complicações bacterianas secundárias (MORI, 2005). Apesar de os abortamentos em éguas (Figura 1) serem frequentes no Brasil, existem poucos estudos que os relacionem à infecção herpética (WEIBLEN et al., 1994; MOREIRA et al., 1998; CARVALHO et al., 2000). Os prejuízos econômicos decorrentes da mortalidade fetal ou do nascimento de potros fracos ainda não foram adequadamente avaliados. Acredita-se que surtos de abortamento podem ocorrer tanto em casos isolados quanto simultâneos em vários animais (epizoóticos), podendo atingir 10% do plantel (KOTAIT, 1991). As três principais fontes de infecção natural do EHV-1 para cavalos suscetíveis são: (1) animais ativamente infectados, que eliminam o vírus pelas secreções respiratórias; (2) fetos abortados e seus envoltórios ou secreções provenientes do trato reprodutivo de éguas imediatamente após o abortamento; (3) reativações endógenas do vírus, que se encontrava quiescente, em indivíduos portadores (KOTAIT, 1991; ALLEN, 2002). Éguas são as principais fontes de infecção primária do EHV-1 para potros

FIGURA 1. Feto equino abortado no terço final de gestação infectado pelo EHV-1

em fase de lactação, com idade entre 30 e 120 dias. Posteriormente, a disseminação viral para os animais suscetíveis é ampliada pela transmissão entre populações de potros antes e após o desmame. No final desse ciclo, quase todos os animais tornam-se portadores latentes (GILKERSON et al., 1999). O EHV-1 é altamente contagioso e sua transmissão é horizontal, ou seja, ocorre pela inalação de aerossóis ou pela ingestão de alimento e água contaminados por secreções (KOTAIT, 1991; ALLEN, 2002). A transmissão via fômite também pode ocorrer, por exemplo, quando o mesmo endoscópio é utilizado em diversos indivíduos, sem desinfecção prévia. A principal porta de entrada do EHV-1 é a mucosa do trato respiratório, na qual a infecção primária se instala pela multiplicação viral local (ALLEN, 2002). Levantamentos sorológicos realizados em diferentes regiões do Brasil, entre os anos de 1988 e 2010, revelaram que o EHV-1 encontra-se disseminado na população equina em todo o território nacional (Quadro 2) e já foram identificados diversos isolados originários de casos de doença neurológica (COSTA et al., 2008; LARA et al., 2008; MORI et al., 2011) e de abortamento ou mortalidade perinatal (REINER et al., 1972; CUNHA et al., 1993; WEIBLEN et al., 1994; CARVALHO et al., 2000; CARVALHO et al., 2012; MORI et al., 2012). Não existem relatos de isolamento de outros tipos de herpesvírus em equídeos no território nacional.

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Quadro 2. Dados de levantamentos sorológicos de equídeos infectados por herpesvírus equino tipo 1 em diferentes regiões do Brasil

Autores

Teste sorológico

% de positivos

n

Localidade

Fernandes (1988)

FC

67,2

586

SP

Modolo et al. (1989)

FC

17,6

250

SP (noroeste)

Kotait et al. (1989a)

SN

13,5

1.178

SP

Vargas e Weiblen (1991)

SN

84,7

348

RS

Vasconcellos (1997)

FC FC

88,14 67,3

59* 52**

SP SP

Moreira et al. (2000)

SN

17,7

299

PR (Curitiba)

Cunha et al. (2002)

SN

27,2

1.341

SP (noroeste)

Heinemann et al. (2002)

SN

17,71

96

PA (Uruará)

Lara et al. (2003a)

SN

14,3

70

PR (Curitiba)

Lara et al. (2003b)

SN

33,4

659

SP

Diel et al. (2006)

SN

4,5

1.506

RS

Pena et al. (2006)

SN

45,45

506

PA (sul)

Lara et al. (2006)

SN

5,2

97

PR (Curitiba)

Aguiar et al. (2008)

SN

22,7

176

RO (Monte Negro)

Cunha et al., (2009)

SN

26,0

163

SP (sul)

Lara et al. (2010)

SN

17,6

826

MG

FC: fixação de complemento, SN: soroneutralização, IP: imunoperoxidase, IFI: imunofluorescência indireta *histórico de abortamento; ** sem relatos anteriores de abortamento

Em estudo sorológico analisando uma população

70

CONSIDERAÇÕES FINAIS

de equídeos não vacinados, observou-se que a in-

O EHV-1 causa diferentes tipos de doença, que va-

fecção por EHV-1 e EHV-4 encontra-se amplamente

riam em gravidade, desde leve afecção respiratória

distribuída no estado de São Paulo (MORI E. comuni-

até o abortamento em éguas, mortalidade perinatal

cação pessoal). A maioria dos cavalos pesquisados

e distúrbios neurológicos. A natureza e a gravidade

(93,2% - 249/267) foi soropositiva para o EHV-4,

da doença dependem de inúmeros fatores, como a

sugerindo alta prevalência do agente na população

idade, o estado imunitário e a condição de saúde do

analisada, corroborando resultados de estudos epi-

hospedeiro. O potencial patogênico da estirpe viral

demiológicos realizados no estado do Pará (DIAS,

pode desempenhar papel importante no desenvol-

2000), na Colômbia (SÁENZ et al., 2008) e na Aus-

vimento das diferentes manifestações de doença.

trália (GILKERSON et al., 1999). Esse mesmo estudo

Até o presente, vários aspectos da patogenia e epi-

revelou que somente 23,2% (62/267) dos equinos

demiologia das doenças causadas pelo EHV-1 ainda

foram soropositivos para o EHV-1. Essa proporção

são desconhecidos. Estudos visando à caracteriza-

também foi semelhante ao descrito no Pará (DIAS,

ção de isolados nacionais do EHV-1 são fundamen-

2000), na Colômbia (SÁENZ et al., 2008) e na Austrá-

tais para determinar as melhores formas de prevenir

lia (GILKERSON et al., 1999).

e controlar a infecção.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

AUTORES Enio Mori Médico Veterinário CRMV-SP nº 6695 MSc, DSc. Pesquisador Instituto Pasteur, São Paulo, SP eniomori@gmail.com

Claudia Madalena Cabrera Mori Médica Veterinário CRMV-SP nº 8527. DSc Docente USP, São Paulo, SP

Paulo Cesar Maiorka Médico Veterinário CRMV-SP nº 6928; MSc, DSc. Docente USP, São Paulo, SP

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Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Produção de embriões bovinos in vivo e in vitro In vivo and in vitro bovine embryo production RESUMO

Os avanços na biotecnologia da reprodução aumentam a participação da fêmea bovina no processo de melhoramento genético do rebanho, visto que o número de descendentes deixados por uma única fêmea ao longo de sua vida reprodutiva aumentou significativamente, com o aperfeiçoamento das técnicas de transferência e produção in vitro de embriões. A produção de embriões bovinos in vivo, por meio da superovulação da doadora e posterior lavagem uterina, é consagrada mundialmente como forma eficiente de multiplicação rápida dos indivíduos de melhor mérito genético dentro de um rebanho. Os embriões também podem ser produzidos no laboratório utilizando técnicas de fecundação in vitro ou por clonagem de células embrionárias ou somáticas. Geralmente, fêmeas cruzadas (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus), jovens, com boa capacidade de conversão alimentar, alta fertilidade e boa habilidade materna são consideradas as melhores receptoras. Algumas considerações devem ser feitas em relação à sincronia da receptora com a doadora, tendo em vista que, no momento da colheita, os embriões apresentam importante variabilidade em seus estágios de desenvolvimento (24 a 36 horas de diferença). Assim, é adequada uma sincronia de aproximadamente 24 horas entre doadora e receptora. Palavras-chave: bipartição de embriões, eficiência reprodutiva, fertilização in vitro, transferência de embriões.

ABSTRACT

Advances in reproductive biotechnology over the years improved the participation of female in the process of cattle genetic improvement, since the number of descendants left by a single female throughout her reproductive life increased significantly with the use of techniques as embryo transfer and in vitro production. Production of bovine embryos in vivo, by donor superovulation and posterior embryo recovery is known worldwide as an efficient mode to multiply individuals with better genetic characteristics within cattle. Bovine embryos may also be produced in laboratory using in vitro fertilization techniques or by cloning somatic or embryonic cells. Generally, crossbreed females (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus), young, with good feed conversion capacity, high fertility and good maternal ability are considered the best recipient. Attention should be given regarding the synchrony between recipient and donor because embryos exhibit a significant variability in their developmental stages (24 to 36 hours apart) at the time of collection. Therefore it is appropriate a synchrony about 24 hours between donor and recipient. Keywords: embryo bipartition, embryo transfer, in vitro fertilization, reproductive efficiency

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Introdução A utilização e o desenvolvimento de biotécnicas da reprodução animal são condições indispensáveis para o aumento da eficiência produtiva. Nesse sentido, especialmente no que se refere aos ruminantes domésticos, biotécnicas como a inseminação artificial, fertilização in vitro e transferência de embriões vêm sendo utilizadas com sucesso (FIGUEIREDO et al., 2007). Os avanços obtidos nas biotécnicas reprodutivas ao longo dos anos permitiram maior participação da fêmea bovina no processo de melhoramento genético do rebanho, visto que o número de descendentes deixados por uma única fêmea ao longo de sua vida reprodutiva aumentou significativamente com o aperfeiçoamento das técnicas de transferência e Produção In Vitro (PIV) de embriões (GONÇALVES et al., 2007). Dinâmica folicular O desenvolvimento folicular de bovinos ocorre em um padrão de ondas. Cada onda de crescimento folicular é caracterizada por um grupo de pequenos folículos que são recrutados e iniciam uma fase de crescimento comum por cerca de três dias. Desses folículos, apenas um continua seu desenvolvimento, enquanto os outros sofrem decréscimo de tamanho, estabelecendo-se, então, o fenômeno da divergência folicular (BARUSELLI et al., 2007). Vacas e novilhas podem ter duas ou três ondas por ciclo, com um folículo tornando-se dominante em cada uma delas. Por isso, uma população de pequenos, médios e grandes folículos é encontrada em cada ovário, durante todos os dias do ciclo estral (BORGES et al., 2001). Cada onda de crescimento folicular é dividida em quatro fases: emergência, seleção, dominância e atresia ou ovulação. A emergência de uma onda é caracterizada por um crescimento de mais de 20 folículos pequenos que são estimulados pelo hormônio folículo estimulante (FSH) (REIS, 2004). A concentração de FSH atinge seu pico quando o maior folículo, denominado dominante (FD), alcança o tamanho de 4 a 5 mm (NASSER, 2006). Uma das maneiras de o FD manter seu status é produzir substâncias que inibam o desenvolvimento de

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Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

outros folículos antrais. Uma dessas substâncias é a inibina, um hormônio peptídeo produzido pela granulosa que inibe a secreção do FSH por efeito de retroalimentação negativa sobre a liberação de FSH, aparentemente por efeito direto sobre a hipófise (FLORIANI, 2006).

A

↑P4; ↓LH

Dia 0

Dia 10

↓P4; ↑E2; ↑LH

mm 14 10 6 2

Dia 20

Figura 1A. Ciclos estrais A. Duas ondas foliculares

P4; LH ↓P4; ↑E2; ↑LH

B ↑P4; ↓LH

mm

↑P4; ↓LH

14 10 6 2

Dia 0

Dia 8

Dia 16

Dia 23

Figura 1B. Ciclos estrais B. Três ondas foliculares

A dinâmica folicular em animais zebuínos tem-se mostrado diferente da de bovinos de raças europeias, de modo que o diâmetro dos FDs e a área do Corpo Lúteo (CL) são menores nas fêmeas zebuínas (BORGES et al., 2001). Rasi (2005) ressalta que a emergência da terceira onda folicular está associada a uma fase luteínica mais prolongada (Figura 1).


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Seleção e sincronização de receptoras As receptoras de embriões necessitam de cuidados tão rigorosos quanto os dispensados às doadoras. Os cuidados, em relação à sanidade (IBR, BVD, leptospirose, tuberculose, brucelose, tricomonose), nutrição, mineralização de qualidade e fertilidade, influenciam significativamente os resultados da técnica (TECNOPEC, 2010). Geralmente são utilizadas fêmeas cruzadas como receptoras jovens (zebu x taurino), com boa capacidade de conversão alimentar, alta fertilidade e boa habilidade materna. Em geral, as receptoras eram descartadas após a primeira cria, porém atualmente o reaproveitamento de receptoras tem se tornado comum, pois os preços praticados pelos fornecedores de receptoras têm se tornado cada vez maiores (TECNOPEC, 2010). Algumas considerações devem ser feitas em relação à sincronia da receptora com a doadora, tendo em vista que, no momento da colheita, os embriões apresentam uma importante variabilidade em seus estágios de desenvolvimento (24 a 36 horas de diferença) (HAFEZ, 1995). Sendo assim, é adequado ter um grau de sincronia de aproximadamente 24 horas entre a doadora e a receptora, o que permite eleger a receptora mais apropriada para cada tipo de embrião colhido. Associação de progestágenos e estradiol A função principal do estradiol (E2) é de induzir a regressão dos folículos antrais em crescimento. Os resultados mais eficazes foram obtidos quando o estradiol foi aplicado até 1 dia depois da inserção do implante de progesterona (P4). O mecanismo pelo qual o estradiol causa regressão folicular envolve a inibição do FSH, até que o E2 seja metabolizado. A partir de então, o FSH volta a aumentar seus níveis e uma nova onda folicular é recrutada. A dose de 5 mg de E2 causa uma emergência folicular 4 dias após sua aplicação. O benzoato de estradiol (BE), na dose de 5 mg, possui efeito similar. Os ajustes nos protocolos são controversos, mas temse notado maior sincronização da emergência folicular, quando o BE é aplicado no dia 0 com 50 mg de P4 (MORIERA et al., 2000).

Tríbulo (2000) sugere a inserção do dispositivo de liberação lenta de P4 (PRIMER et al., 2000) combinado com 2 mg de BE no dia 0 e uma aplicação de prostaglandina F2α (PGF2α) no dia 7, ou seja, no momento da retirada do CIDR, e mais uma dose de 1 mg de BE no dia 9, sendo que para todas as vacas foram consideradas que o dia 10 era o dia do estro (Figura 2). protocolo DI.P4: OVUL SIMPLES PGF 2α

BE

BE CL

mm

P4

14 10 06 02 Dia 0

Dia 4,3

Dia 8

Dia 9

Dia 17 Inovul

Figura 2. Protocolo para transferência de embriões em tempo fixo para receptoras cíclicas

Fêmeas que falham na concepção apresentam menores níveis de progesterona do que aquelas que concebem. O desenvolvimento embrionário e a habilidade do concepto em secretar Interferon τ estão relacionados com a concentração sérica de progesterona. Uma forma estudada para aumentar a concentração de progesterona plasmática é a indução de múltiplas ovulações, por meio da indução de maior recrutamento folicular pela utilização de gonadotrofina coriônica equina (eCG) (Figura 3A) ou FSH (Figura 3B) durante o protocolo de sincronização.

A

SUPEROVULAÇÃO DE RECEPTORAS BE

mm 14

PGF 2α

BE

↑P4

P4 eCG 400 UI

10 06 02 Dia 0

Dia 5

Dia 8

Dia 9

Figura 3A. Protocolo de superovulação. A. Utilizando eCG

Revista CFMV Brasília DF Ano XX nº 61 Janeiro a Abril 2014

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

B

SUPEROVULAÇÃO em tempo fixo PGF 2α

BE

mm

LH

↑P4

P4

14

FSH

10 06 02 Dia 0

Dia 4

Dia 7

Dia 8

Figura 3B. Protocolo de superovulação. B. Utilizando FSH

Seleção e superovulação (SOV) das doadoras Entende-se por doadoras as fêmeas que de alguma forma contribuam para o ganho genético de um rebanho. As doadoras devem ter características superiores à média de produtividade encontrada no rebanho, pois assim multiplica-se qualidade. Vacas sadias que já atingiram a puberdade devem ser escolhidas. Doadoras que apresentam problemas reprodutivos, ciclo estral irregular, metrite e/ou anestro não respondem bem ao tratamento superovulatório.

A SOV é o aumento do número fisiológico de ovulações, próprio de cada espécie, provocado pela administração exógena de gonadotrofinas. Nos bovinos, considera-se que houve resposta ao tratamento quando se conseguem mais de duas ovulações. A SOV, portanto, é um método que estimula diversos folículos terciários a se desenvolverem até o estágio de pré-ovulação, com subsequente ovulação (RASI, 2005). A resposta das doadoras à SOV apresenta grande variabilidade tanto na taxa de ovulação quanto na produção de embriões viáveis. Há grande efeito da idade da doadora, do coeficiente de endogamia da doadora, da ordem de colheita, da dose da droga e do número de inseminações sobre esses resultados (PEIXOTO et al., 2002). As doadoras podem ser superovuladas repetidamente a cada 40 dias, durante um período de 1 a 2 anos, com resultados satisfatórios (HASLER, 2003). Utilizando o cio natural, realizam-se oito aplicações de FSH com intervalos de 12 horas, para aumentar o recrutamento dos folículos, e, no terceiro dia da SOV, realizam-se duas aplicações de PGF2α promovendo a luteólise, para que haja redução da P4 e consequente pico de LH, ocorrendo, assim, a ovulação (Figura 4) (RASI, 2005). O uso de P4 e E2 em protocolos foi um grande avanço para a biotecnologia da reprodução animal, permi-

DIA

0

10

11

12

13

14

15

MANHÃ

CIO

FSH

FSH

FSH PGF2a

FSH

CIO

IA

FSH

FSH

FSH PGF2a

FSH

IA

TARDE

Figura 4. Protocolo de superovulação baseado no cio natural associado com FSH + PGF2a

DIA

0

4

5

6

7

8

9

MANHÃ

P4 + E2 + CIDR®

FSH

FSH

FSH

FSH CIDR®

CIO

IA

FSH

FSH

FSH PGF2a

FSH

IA

TARDE

Figura 5. Protocolo de superovulação em E2 + P4 + CIDR + PGF2a

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(Retirada)


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

DIA

0

4

5

6

MANHÃ

P4 + E2 + CIDR®

FSH

FSH

FSH PGF2a

FSH

FSH

FSH PGF2a

TARDE

7

8

9

FSH CIDR®

GnRH/LH

IA

FSH

IA

(Retirada)

Figura 6. Protocolo de superovulação com E2 + P4 + CIDR + P4 F2a + GNRH/LH para a inseminação em tempo fixo

tindo que a SOV fosse iniciada em fases aleatórias do

O protocolo de Transferência de Embriões em Tem-

ciclo estral dos bovinos. O BE, em protocolos de SOV, é

po Fixo (TETF) para doadoras taurinas consiste em

utilizado com a função de suprimir o desenvolvimento

aplicar no dia do início do protocolo (D0) 3 ml de BE

folicular e sua resposta é mais eficaz quando combina-

(Ric-BE®) e inserir um dispositivo de liberação de P4

do com aplicação de P4 IM na introdução de implante

(Primer®), no dia 4 iniciar a SOV com oito doses de FSH

vaginal, CIDR®, de P4 (Figura 5) (RASI, 2005).

(Folltropin®) aplicadas de 12/12 horas, no dia 6 às 18h

Nem sempre a ovulação está sincronizada nos trata-

se usa PGF2α (Prolise®), no dia 7 às 18h se retira o dis-

mentos de SOV e, portanto, há dificuldade no acerto

positivo de liberação de P4, no dia 8 às 18h usa-se LH

das inseminações realizadas, levando à recuperação

(Lutropin®), no dia 9 fazem duas inseminações artifi-

de inúmeras estruturas não fecundadas. O hormônio

ciais, sendo uma às 6h e outra às 18h. A colheita dos

liberador de gonadotrofina (GnRH) tem sido utilizado

embriões é realizada no dia 15 (Figura 7) (TECNOPEC,

para controle da ovulação no final destes protocolos,

2010). Já o protocolo recomendado para SOV em doa-

assim como o LH (Figura 6).

doras zebuínas é diferente das doadoras taurinas, em

DIA

0

4

5

6

7

MANHÃ

Inserir PRIMER + 3ml RIC-BE

Foltropin

Foltropin

Foltropin

Foltropin

TARDE

Foltropin

Foltropin

Foltropin + 2ml Prolise

Foltropin Retirada PRIMER

8

9

16

IA Coleta de Embriões Lutropin

IA

Figura 7. Protocolo TETF para doadoras taurinas

DIA

0

4

5

6

7

8

9

MANHÃ

Inserir PRIMER + 3ml RIC-BE

Foltropin

Foltropin

Foltropin

Foltropin

Lutropin

IA

TARDE

Foltropin

Foltropin

Foltropin + 2ml Prolise

Foltropin Retirada PRIMER

16

Coleta de Embriões IA

Figura 8. Protocolo TETF para doadoras zebuínas

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

que o indutor de ovulação (LH) é aplicado com 12 horas de antecedência e as inseminações artificiais também são adiantadas 12 horas em relação às doadoras taurinas (Figura 8) (TECNOPEC, 2010). Convencionalmente, a indução da SOV em vacas doadoras de embriões é realizada aplicando, por via intramuscular, doses decrescentes de FSH, duas vezes ao dia, durante 4 dias (duração da fase folicular do ciclo estral). A aplicação de doses decrescentes tem por objetivo mimetizar a queda fisiológica do FSH durante a fase folicular, melhorando a resposta superovulatória. Colheita, rastreamento e classificação de embriões A colheita normalmente é realizada com o animal em posição quadrupedal, por método transcervical, utilizando um sistema fechado. Realiza-se anestesia epidural, utilizando 2 a 4 ml de lidocaína 2%, e limpeza do reto e rigorosa assepsia da região vulvar. Utiliza-se um cateter de silicone contendo um balão inflável na sua extremidade distal, guiado inicialmente por um mandril de metal em seu lúmen para torná-lo rígido, para que o cateter seja introduzido e posicionado em um dos cornos uterinos. Remove-se o mandril e infla-se o balão com 10 a 20 ml de ar, para evitar refluxo de líquido durante a lavagem. O balão deve estar no terço médio do útero, para que a lavagem seja realizada no terço final. O cateter é acoplado a um equipo ligado a uma bolsa de 1 l de PBS e a um filtro próprio para embriões. Todo o equipamento está disponível comercialmente com custos acessíveis. Cada corno uterino é lavado aproximadamente 10 vezes, massageando levemente, utilizando 500 ml de tampão fosfato-salino (PBS) para cada. O PBS deve estar numa temperatura de 25 a 30 ºC (ambiente). Devem-se manter 2 a 3 cm de líquido no filtro durante a lavagem, para que as estruturas não grudem no fundo. O filtro com as estruturas colhidas deve seguir para o laboratório. O conteúdo do filtro é transferido para uma placa de Petri previamente quadriculada, para procura dos embriões. Realizam-se duas procuras completas removendo todas as estruturas viáveis e inviáveis encontradas.

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Os embriões viáveis encontrados devem ser avaliados e classificados segundo os critérios da da International Embryo Transfer Society (IETS) (STRINFFELLOW; GIVENS, 2010): EXCELENTE ou BOM (grau I) – estágio de desenvolvimento corresponde ao esperado; massa embrionária simétrica e esférica com blastômeros individuais que são uniformes em tamanho, cor e densidade; forma regular a Zona Pelúcida (ZP) não deve apresentar superfície côncava ou plana, deve ser lisa e, preferencialmente, intacta; menos de 15% de células extrusadas. REGULAR (grau II) – estágio de desenvolvimento corresponde ao esperado; forma regular, ZP intacta ou não, irregularidades moderadas na forma geral da massa embrionária ou no tamanho; pelo menos 50% das células compõem massa embrionária viável; menos de 15% de células extrusadas. POBRE (grau III) – estágio de desenvolvimento não corresponde ao esperado; irregularidades maiores na forma geral da massa embrionária ou no tamanho; menos de 75% das células degeneradas; pelo menos 25% das células compõem massa embrionária viável. MORTO OU DEGENERADO (grau IV) – estágio de desenvolvimento não corresponde ao esperado: embrião em degeneração; massa embrionária de menos de 25% de todo o material celular presente no interior da ZP. Transferência dos embriões Somente embriões classificados como grau I a III devem ser transferidos para receptoras. A transferência, de preferência, deve ser realizada por via transcervical. O embrião precisa ser previamente acomodado no centro de uma palheta de 0,25 ml (Figura 9). As receptoras devem estar sincronizadas com a idade do embrião, ou seja, se o embrião tem 7 dias, a receptora deve ter ciclado 7±1 dias atrás. Antes de transferir os embriões, avaliar o CL da receptora, confirmando a ovulação. A tranferência de embriões ou inovulação consiste na deposição do embrião no terço médio final do corno uterino ipsilateral ao CL. Utilizando aplicador semelhante ao utilizado na inseminação artificial, passa-se a cérvix, realizando-se a inovulação o mais cranialmente possível, na luz do corno uterino ipsilateral ao CL.


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

PIV (WATANABE et al., 1998), isso demonstra a capacidade da associação OPU/FIV de multiplicar de maneira Meio

Ar

Meio + Embrião

Ar

Meio

Bucha

Figura 9. Esquema de palheta contendo o embrião

rápida e eficiente animais geneticamente superiores. Os complexos cumulus-oócito (COC´s) colhidos devem ser separados em quatro categorias, de acordo com as características baseadas na compactação e transparência das células do cumulus e homogeneida-

Produção in vitro de embriões bovinos As diversas vantagens e aplicações da PIV de embriões estão relacionadas à determinação e controle do sexo dos produtos; aumento da eficiência dos programas de produção; rápidas e melhores possibilidades para executar programas de cruzamento; avaliação do efeito materno sobre a descendência; rápida multiplicação de raças; facilidade de importação e exportação de material genético da fêmea; formação de bancos de gametas congelados; aumento da eficiência do sêmen congelado de alto valor genético; e estudo e desenvolvimento de outras biotécnicas reprodutivas a partir da micromanipulação de gametas e embriões (GONÇALVES et al., 2002). O advento da aspiração folicular in vivo ou Ovum Pick Up (OVU) e; e o aprimoramento das condições de cultivo in vitro tornaram viável a aplicação da PIV em escala comercial (Gonçalves et al., 2007). Os índices atuais de blastocistos obtidos com a técnica de PIV de embriões giram em torno de 20 a 50% (média de 35%). Segundo Gonçalves et al. (2002), cada fêmea bovina é capaz de produzir 50 a 100 embriões/ano, com um regime de duas punções semanais por doadora, durante vários meses. A OPU apresenta maior flexibilidade em relação à transferência de embirões, pois permite a obtenção de oócitos de fêmeas a partir dos 6 meses de idade (ainda com resultados inferiores nessa idade), de vacas prenhes até o terceiro mês de gestação ou mesmo após o parto. A aspiração folicular, duas vezes por semana, produz maior percentagem de embriões grau 1 e maior número de embriões transferíveis do que aspirações realizadas uma vez por semana (GIBBONS et al., 1994). No entanto, a aspiração folicular semanal de animais da raça Nelore pode produzir um bezerro por semana via

de e transparência do ooplasma, utilizando o sistema de classificação descrito por Leibfried e First (1979). Consideram-se COCs viáveis os de classificação I a III, sendo os COCs de classe IV descartados. Grau I: oócitos com cumulus compacto e mais de três camadas de células. Ooplasma com granulações finas e homogêneas, preenchendo o interior da ZP e de coloração marrom (Figura 10A). Grau II: oócitos com menos de três camadas de células do cumulus oophorus. Ooplasma com granulações distribuídas heterogeneamente, podendo estar mais concentradas no centro e mais claras na periferia ou condensadas em um só local, aparentando uma mancha escura. O ooplasma preenche todo o espaço interior da ZP (Figura 10B). Grau III: oócitos que possuem o cumulus presente, mas expandido. Ooplasma contraído, com espaço entre a membrana celular e a zona pelúcida, preenchendo irregularmente o espaço perivitelino, degenerado, vacuolizado ou fragmentado (Figura 10C). Grau IV: Oócitos desnudos sem células do cumulus, citoplasma com cor e granulação anormais ou com células expandidas com aspecto apoptótico (Figura 10D). Para que o oócito seja capaz de ser fecundado e posteriormente se desenvolver até o estágio de blastocisto, precisa ser maturado e, durante essa fase, sofrer diversas transformações tanto em seu citoplasma quanto em seu núcleo. Durante todo o seu desenvolvimento, o oócito se encontra no estágio diplóteno da prófase I; o reinício da meiose, ou maturação, tem início após o pico pré-ovulatório de LH durante o estro. A retirada do oócito do contato com as células foliculares, in vitro, é suficiente para dar início ao processo de maturação nuclear. A maturação nuclear do oócito compreende a progressão do estágio diplóteno prófase I até

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

A

B

C

D

Figura 10. Classificação de oócitos segundo Stringfellow e Givens (2010): A. grau I, B. grau II, C. grau III e D. grau IV

a fase de metáfase II. O período de maturação in vitro varia de 18 a 24 horas em atmosfera controlada contendo 5% de CO 2 em ar e umidade saturada (GONÇALVES et al., 2007). Diferentes condições de cultivo e protocolos já foram testados, in vitro, para a maturação de oócitos; além disso, vários meios de maturação, como fluido sintético de oviduto (SOF; GANDHI et al., 2000), Dulbecco’s Modified Eagle Medium (DMEM), Ham’s F-10, Ham’s F-12 (SMETANINA et al., 2000) e meio de cultivo tecidual 199 (TCM 199), têm sido utilizados. O cocultivo (espermatozoide e oócito) é realizado em temperatura de 39 °C, atmosfera com 5% de CO2 e umidade saturada. Os espermatozoides viáveis contidos em uma palheta de sêmen precisam ser separados do plasma seminal, crioprotetores, extensores e dos espermatozóides, mortos antes de serem cocultivados com os oócitos. Em bovinos, o método de separação espermática mais utilizado é o gradiente de PERCOLL. Após a separação, os espermatozoides são diluídos a uma concentração de 1 a 5 x 106 sptz/ml de meio (GONÇALVES et al., 2007). O cocultivo de embriões com células somáticas foi utilizado, por muitos anos, com bons resultados. Entretanto, esse sistema tem sido substituído ao longo do tempo por sistemas mais simples que utilizam meios semidefinidos como os meios Charles Rosenkrans-1 (CR-1), Charles Rosenkrans-2 (CR-2; ROSENKRANS et al., 1993), meio simples otimizado enriquecido com potássio (KSOM) e fluido sintético de oviduto (SOF) associados a uma atmosfera gasosa

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controlada contendo baixa tensão de oxigênio (GONÇALVES et al., 2007). Fatores de crescimento como o semelhante à insulina (IGF-1) e fator de crescimento e transformação β1 (TGF 1) têm sido adicionados ao meio de cultivo in vitro objetivando melhorar o desenvolvimento embrionário (MATSUI et al., 1997). O tempo de cultivo, in vitro, varia de 7 a 9 dias, em temperatura de 39 ºC com atmosfera controlada (5% de CO2) e umidade saturada. A taxa de blastocistos, geralmente, é avaliada no sétimo dia de cultivo in vitro e a taxa de eclosão in vitro, no nono dia (GONÇALVES et al., 2007). Bipartição de embriões Apenas 25% da massa celular total do embrião é requerida para manter sua viabilidade. Nesse caso, embriões bipartidos podem manter ainda razoável capacidade de desenvolvimento (WILLADSEM e POLGE, 1981). A bipartição de embriões, com finalidades comerciais, iniciou-se em meados da década de 1980 (BAKER e SHEA, 1985). A partir desse período, vislumbrou-se a possibilidade de aumentar a progênie de machos e fêmeas pela colheita e posterior bipartição de embriões. A bipartição permite aumentar o número de bezerros a partir de menor número de embriões (TORRES et al., 2012). Com o auxílio de um estereomicroscópio com base de transiluminação, acoplado a um dispositivo de micromanipulação mecânico, cada estrutura é posicionada de forma a permitir uma divisão o mais equitativa possível da massa embrionária, objetivan-


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Figura 11. Sequência de bipartição de uma mórula, segundo Fernandes et al. (2007)

do a separação do embrião em duas metades com a maior semelhança. Esse procedimento simplificado de bipartição embrionária utiliza lâmina metálica de microcirurgia (Figura 11) (FERNANDES et al., 2007). Os embriões podem ser bipartidos nas fases de mórula, blastocisto inicial e blastocisto (OLIVEIRA et al., 2012). Embriões na fase de mórula podem ser bipartidos em qualquer sentido. Aqueles na fase de blastocisto são divididos de forma a se obter metades equitativas da blastocele e botão celular. A totipotência dos blastômeros isolados ou em grupos pequenos já foi relatada, principalmente com células originadas de embriões de duas a oito células. Para embriões com estágio de desenvolvimento mais adiantado, a totipotência é dependente de um grupo maior de células (WILLIANS et al., 1984). A separação dos blastômeros de embriões de duas a oito células pode ser obtida pela ruptura da ZP e posterior proteólise ou separação mecânica. Uma vez rompida a ZP, os blastômeros podem ser separados por

repetidas pipetagens em meio de cultivo apropriado. Os blastômeros de embriões bovinos de oito células produzidos in vitro, mesmo após separação em duas metades, mostraram a mesma capacidade de desenvolver para o estágio de blastocisto que os embriões de oito células intactos. Além disso, uma alta taxa de gestação foi obtida com a transferência desses blastocistos (TAGAWA et al., 2008). Considerações finais A utilização e o desenvolvimento de biotécnicas da reprodução em bovinos permitem o aumento da eficiência produtiva e reprodutiva. O número de descendentes deixados por uma fêmea ao longo de sua vida aumentou com o aperfeiçoamento das técnicas de transferência de embriões, PIV e bipartição. Contudo, embora as técnicas apresentem resultados satisfatórios, pesquisas ainda são requeridas objetivando redução dos custos da produção de embriões, ainda proibitivos para a grande maioria dos proprietários.

AUTORES Jurandy Mauro Penitente Filho Médico Veterinário CRMV-MG nº 12856 Doutorando pela UFV, Viçosa, MG jurandy.filho@ufv.br

Ciro Alexandre Alves Torres Médico Veterinário CRMV-MG nº 1.475. Professor da UFV Viçosa, MG

Fabrício Albani Oliveira Médico Veterinário CRMV-ES nº 1.486 Pós-Doutorando pela UFV Viçosa, MG

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

referências

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Ilustração por Wilson Joseph para o Noun Project

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Consultores 2013 Med. Vet. Adriana Cristina da Silva CRMV-MG nº 13215

Med. Vet. Kelly Cristine de Sousa Pontes CRMV-MG nº 8012

Med. Vet. Andrigo Barbosa de Nardi CRMV-SP nº 17553

Med. Vet. Luis Augusto Nero CRMV-PR nº 4261

Med. Vet. Célio Mauro Viana CRMV-RJ nº 1729

Zootecnista Luis Fernando Teixeira Albino CRMV-MG nº 0018/Z

Med. Vet. Cintia Minafra CRMV-GO nº 2685

Med. Vet. Luiz Cláudio Lopes Correia da Silva CRMV-SP nº 5993

Med. Vet. Cláudio Lisias Mafra de Siqueira CRMV-MG nº 5170

Med. Vet. Lukiya Birungi Silva Campos Mata CRMV-SP nº 16506

Med. Vet. Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo CRMV-PI nº 0472

Med. Vet. Marcus Alexandre Vaillant Beltrame CRMV-ES nº 0563

Med. Vet. Evandro Silva Favarato CRMV-MG nº 8836 Med. Vet. Gilberto Marcos Junior MV-ES nº 0527 Med. Vet. Gilson Helio Toniollo CRMV-SP nº 2113 Med. Vet. Guilherme Oberlender CRMV-PR nº 11990

Med. Vet. Nivaldo de Azevedo Costa CRMV-PE nº 1051 Med. Vet. Paulo Renato dos Santos Costa CRMV-SP nº 7973 Med. Vet. Rafael Gianella Mondadori CRMV-RS 5672 Med. Vet. Rafael Teixeira CRMV-RJ nº 9511

Med. Vet. João Carlos Pereira da Silva CRMV-MG nº 1239

Med. Vet. Rebeca Bacchi Villanova CRMV-PR nº 7470

Med. Vet. João Carlos Pinheiro Ferreira CRMV- SP nº 06575

Med. Vet. Roberto Baracat de Araujo CRMV-MG nº 1755

Med. Vet. José Ademar Villanova Junior CRMV-PR nº 4392

Med. Vet. Sony Dimas Bicudo CRMV-SP nº 2843

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opinião

Paulo Maiorka Médico Veterinário. CRMV-SP nº 6928 Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria, mestre e doutor em Patologia Experimental e Comparada pela USP. Pós-doutor em Patologia Molecular pela OMS - IARC – França. Membro da CNEMV/CFMV.

A contribuição da experiência universitária para o desenvolvimento pessoal N

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o final de janeiro, completou 1 ano da tragédia

É no ambiente universitário

É relevante ter oportunida-

que surgem as novas ideias e,

de de participar de discussões e

em Santa Maria (RS), resultado do

com a autonomia do pensamento,

mudanças num ambiente flexível,

incêndio da Boate Kiss e morte de

surgem as mudanças internas, os

informado e permeável ao novo.

estudantes, entre eles, muitos da

novos paradigmas que norteiam

A capacidade de raciocínio, imagi-

Medicina Veterinária e da Zootec-

as escolhas, e é moldado o cida-

nação e criatividade são enrique-

nia, atingindo um centro universi-

dão/profissional que será inseri-

cidas pelas relações de amizades

tário de importância para as ciên-

do na sociedade.

e convívios diversificados, nos quais também se aprende a res-

cias agrárias do Brasil. Ao refletir

A vida de um jovem estudante

sobre o acontecido, nos depara-

na universidade é repleta de de-

mos com a importância da expe-

safios. É onde vivenciam debates,

Há espaço para a crítica, do-

riência universitária e das relações

questionam, refletem sobre valo-

tado das ferramentas e ambiente

que se constroem entre professo-

res existentes e novos e passam a

necessários para que as reflexões

res, alunos e colaboradores.

ter uma nova visão do mundo.

ocorram, colocando os jovens

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peitar a diversidade.


o desenvolvimento do cidadão, entregando para a sociedade um profissional crítico, consciente e apto para a tomada de decisões. Embora a relação aluno-professor possa parecer assimétrica, o processo de aprendizagem envolve a troca de informações e experiências. Uma tragédia, como a de Santa Maria, evidencia ainda mais a importância desses atores na vida um do outro. Afinal, quantos, de ambos os lados, mudaram a forma de ver o mundo? De se relacionar? De se doar? Os professores devem assumir o papel de timoneiro nesses novos mares a ser navegados e se preocupar com a humanização de seu ambiente de trabalho. Encontro, em 2013, com alunos e coordenador da Medicina Veterinária da UFSM

diante de desafios complexos na tentativa de prepará-los para as responsabilidades sociais vindouras e conciliar as diversas dimensões da vida, quais sejam: nas áreas profissional, familiar, social e política, e nas suas crenças e espiritualidade. Os docentes têm responsabilidade direta nessa formação e a oportunidade ímpar de enriquecer essa experiência. São influenciadores, exemplos no processo de aceitação de novas ideias e formação de conceitos pelos acadêmicos. Lidam com uma clientela que chega cada vez mais jovem à universidade, cheia de sonhos; é neste momento que sua maturidade e experiência poderão auxiliar

A fase universitária é uma etapa da vida que, além do técnico, deve ser norteada por vínculo afetivo que será eterno na memória e nos sentimentos dos que praticaram o ensino e o aprender. A sensação de pertencimento, de ser parte da história da instituição, é um elo forjado no amadurecimento cognitivo, técnico e profissional, mas, sobretudo, deve ser humana, pois as universidades são feitas de pessoas, espaço da universalidade do saber, local da verdadeira evolução da nossa sociedade. Fui acadêmico de Santa Maria e, mesmo distante fisicamente dos acontecimentos, não me faltaram a reflexão e o sentimento de solidariedade para com aqueles que passaram por momentos tão difíceis nesse último ano. Que Santa Maria continue sendo uma instituição que zele pela humanização de suas salas de aula.

Arquivo SM

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Publicações

Anestesia Locorregional em Pequenos Animais Paulo Roberto Klaumann e Pablo Ezequiel Otero 2013 Editora Roca www.medvetlivros.com.br

Biotécnicas Reprodutivas em Ovinos e Caprinos

Maria Emilia Oliveira, Pedro Paulo Teixeira e Wilter Ricardo Russiano Editora Medvet www.medvetlivros.com.br

A relação homem-animal: Aplicação da Metodologia de Investigação Fenomenológica

Sheila Regina Andrade Ferreira e Walter Motta Ferreira Editora Novas Edições Acadêmicas www.nea-edicoes.com

2.000 Questões para Concursos de Medicina Veterinária

Organizado por Sandra Maria Gomes Thomé e Irineu Machado Bernardes Filho Editora Rubio www.rubio.com.br

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O livro faz uma profunda e minuciosa revisão da anatomia, contém excelentes ilustrações e imagens de preparados e cada técnica é analisada detalhadamente. Aborda tópicos de fisiologia do sistema nervoso periférico, anestésicos locais, equipamentos e suas aplicações para anestesia locorregional e os diversos tipos de anestesia locorregional.

O livro aborda aspectos da anatomia dos sistemas reprodutores feminino e masculino, fisiologia e controle do ciclo estral, manejo reprodutivo e técnicas modernas de reprodução. Trata também de aspectos relacionados à nutrição e reprodução, sanidade na reprodução, e conceitos de bem-estar animal e implicações práticas no manejo reprodutivo em ovinos e caprinos.

O livro preenche a lacuna existente no conhecimento das implicações da relação de convivência e do intercâmbio de afeto entre as pessoas e o cão. Tentando explorar esse caminho, os autores estabeleceram em um estudo, dois indicadores para a avaliação do bem-estar e apontaram, por meio da análise multivariada de correspondência múltipla, alguns possíveis fatores da relação homem-animal que estariam envolvidos com o bem-estar do cão.

A publicação tem por objetivo fornecer suporte aos Médicos Veterinários que buscam uma preparação adequada para prestar concursos públicos nas diversas instituições das esferas federal, estadual e municipal. Trata-se de obra de cunho acadêmico, técnico e científico.


3ª CAPA

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