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Padrão facial em pacientes com fissura pós-forame incisivo

artigo inédito

INTRODUÇÃO As fissuras de lábio e/ou palato são anomalias congênitas que ocorrem no período embrionário e que acarretam uma série de sequelas que podem acompanhar o indivíduo durante toda a vida. A alteração morfológica manifestada clinicamente é variável, podendo envolver o lábio, o palato ou o lábio e o palato28. A fissura isolada de palato, que corresponde a cerca de 23% dos pacientes com fissura9, motivo de estudo do presente trabalho, aparece na vida pré-natal, entre o final do período embrionário e o início do período fetal, mais especificamente entre a oitava e a décima segunda semana gestacional, período em que se fusiona o palato secundário. A formação do palato secundário envolve: 1) o crescimento de dois processos palatinos individuais, um de cada lado, oriundos da parte interna dos processos maxilares; 2) a elevação desses processos palatinos posicionados obliquamente em cada lado da língua e, 3) finalmente, a horizontalização acima da língua, com o crescimento em direção à linha média até o encontro dos dois processos palatinos, o que culmina com o desaparecimento do epitélio que os reveste e os individualiza, caracterizado por um mecanismo biológico denominado “mesodermização”. Esses eventos ocorrem até a décima segunda semana de vida pré-natal. A ausência de fusão dos processos palatinos, por falha em quaisquer dos eventos citados, determina a fissura de palato, cuja diversidade morfológica varia em extensão desde uma úvula sulcada até o comprometimento integral do palato, quando alcança o forame incisivo (Fig. 1)3. Elas podem ser classificadas como completas ou incompletas, agravando-se de posterior para anterior. Acredita-se na etiologia extragenética para a fissura de palato, muito embora tenha sido mencionado que vários genes estão envolvidos na formação do palato11,18. O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC-USP) fixou uma rotina terapêutica que estabelece a realização da palatoplastia aos 12 meses de idade. Parece evidente a lógica de recompor a morfologia para, então, buscar uma adequação das funções desenvolvidas pelo sistema nasofaríngeo19. A restauração anatômica da fissura isolada de palato visa o desenvolvimento normal da fala, proteção da mucosa nasal respiratória e melhor funcionamento da tuba auditiva. Existe consenso de que quanto mais precoce for realizada a palatoplastia, melhores serão as respostas funcionais16.

© 2012 Dental Press Journal of Orthodontics

Em pacientes com fissura isolada de palato, a palatoplastia pode influenciar negativamente no comportamento sagital da maxila, de acordo com a análise da projeção malar na face, muito embora não chegue a comprometer o comportamento do padrão facial29. A configuração das características dentofaciais dos pacientes com fissura de lábio e/ou palato tem sido estabelecida com base na cefalometria. Nesse contexto, o padrão cefalométrico dos pacientes com fissura isolada de palato exibe diferença em relação ao padrão cefalométrico normativo27. Em virtude da escassez de relatos na literatura descrevendo o padrão facial dos pacientes com esse tipo de fissura, denotou-se a necessidade de um estudo mais amplo que não fosse baseado unicamente no padrão cefalométrico, e sim na morfologia facial. OBJETIVO O objetivo dessa pesquisa consistiu em diagnosticar o tipo de padrão facial em pacientes com fissura pós-forame incisivo, utilizando a análise morfológica da face, por meio das avaliações frontal e de perfil, definindo a classificação com base no conceito de padrão sugerido por Capelozza Filho5. MATERIAL E MÉTODOS Para esse estudo transversal retrospectivo, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do HRAC-USP, conforme parecer 140/2008, e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de todos os participantes ou responsáveis, foram selecionadas fotografias em norma frontal e de perfil, com base em documentação já existente, de 71 pacientes regularmente matriculados no HRAC-USP (Gráf. 1), sendo 22 indivíduos do sexo masculino e 49 do feminino, brasileiros, leucodermas, adultos jovens no estágio oclusal de dentição permanente, com idade média de 17 anos e 8 meses, sem histórico de tratamento ortodôntico e sem síndromes associadas. A distribuição amostral está de acordo com relatos da literatura, em que há consenso quanto à maior frequência das fissuras pós-forame nas mulheres26,27. As alterações morfológicas pós-operatórias, tão marcantes nas fissuras de lábio e palato8 que acabam por redesenhar a maxila ao longo do crescimento, não comprometem esteticamente a maxila nas fissuras de palato, comprovando que a palatoplastia não induz

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Dental Press J Orthod. 2012 Sept-Oct;17(5):35-42


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