Minha Luta e Vitória

Page 1

minha Luta

e

V I T Ó R I A Sempre gostei da primavera! Por isso, escolhi o mês de setembro para me casar. É o fim do inverno, as pessoas abandonam os casacos - a gripe constuma dar uma trégua e a maioria parece almejar a nova estação. Eu estava assim, em agosto de 2010. Foi um mês de surpresas boas, alegrias, descanso e sonhos. Eu e meu marido, David Magri, começamos a planejar o futuro. Davi (como costumamos chamar nosso futuro filho, se for um menino) estava nos planos. Mas

a

primavera

ainda

não

tinha

chegado.

Numa

madrugada, senti fortes dores no abdômem. Até então, o problema de saúde mais grave que eu tinha era alergia alimentar. Estava há 3 anos sem pegar uma gripe, não sabia o que era ter uma dor de dente e nunca havia estado internada num hospital.


A MÁ NOTÍCIA Até a adolescência, ainda sentia certa decepção infantil de nunca ter realizado o sonho de colocar um gesso e orgulhosamente desfilar com ele, de preferênica repleto de recadinhos dos colegas da escola. Por isso, todos diziam: “ah, deve ter sido alguma coisa que você comeu”. Estava ansiosa para passar uns dias com os meus pais, na chácara. Amanheceu e eu pedi a Deus que tirasse aquela dor e prometi procurar um médico, quando voltasse. E assim o Senhor fez. Fomos para a chácara, lá eu me senti muito bem, andei de bicicleta, aproveitamos o momento em família. Quando voltamos, senti novamente a mesma dor e, mesmo sem ir ao médico, sem qualquer diagnóstico, senti que era algo muito sério. Já prontos para ir ao hospital, eu sentei na cama e chorei. Tive medo. E o nome da enfermidade veio a minha mente, de repente. Eu só posso entender que o Espírito de Deus já estava me preparando. David, sempre do meu lado, me perguntou por quê eu estava sofrendo se ainda nem tínhamos feito nenhum exame, eu respondi: “é porque eu sei que é... grave”. Nesse momento eu quis dizer o que realmente estava pensando, mas nem eu queria acreditar. Porém, desde então, comecei a pedir ao Senhor a minha cura. Iniciou-se uma série de exames. O meu pastor, Gilvane de Abreu, lançou um desafio à ICE Betesda e começamos uma campanha de 40 dias de jejum e oração. Numa noite de culto, eu já tinha os resultados de alguns exames e compartilhei com a Kelley, esposa do pastor. Constatou-se que havia um cisto complexo no ovário direito, provavelmente hemorrágico, e era preciso uma cirurgia de emergência. Lembro-me que orei assim: Seja feita a Tua vontade, Senhor e que tudo seja para a Glória e Honra do Teu nome!


PRIMEIRAS MEDIDAS Minutos antes da cirurgia, sem nenhum acompanhante por perto, o médico se aproximou e perguntou se, um dia, eu queria ter filhos. Me disse que não sabia exatamente como estava o cisto, se outros órgãos estavam comprometidos, e que talvez fosse preciso retirar o útero e o outro ovário. Eu peguei o exame das mãos dele e destaquei: “Veja doutor, não há nada no outro ovário e o útero está preservado, é o que diz aqui!” e finalizei dizendo: “eu quero ter um filho”. Ele me ouviu e saiu. Fui levada ao centro cirúrgico e, no elevador - sem aliança, sem sandálias, apenas de touca e camisola - olhei para a minha imagem no espelho. Me vi sem nada que me caracterizasse. Estava entregue, dependente. Nada me diferenciava de outra pessoa naquele momento. Não existem títulos ou marcas ou qualquer outra coisa. E percebi que a grande diferença está naquilo que somos por dentro, no quanto conhecemos a Deus e confiamos nEle... A cirurgia aconteceu, apenas o ovário direito foi retirado e no outro dia eu já estava em casa recebendo visitas e os cuidados da mamãe. A campanha de oração continuava, a igreja estava unida e Deus tinha muitos propósitos com tudo isso. Vivenciamos o que é fazer parte do corpo de Cristo, sentimos o carinho dos irmãos, o cuidado de cada um, e entendemos que tudo isso fazia parte do plano de Deus, para nos fortalecer para o que ainda viria pela frente. Logo entendi que era hora de viver o que aprendi desde pequena, adorar em qualquer circunstância. Ou então a vida cristã e tudo o que eu pregava até então, não tinha valor nenhum para mim.


MEU IRMÃO Nasci num lar evangélico, meu pai, Divino Barbosa, conheceu minha mãe, Carmelita Queiroz, num encontro de jovens, na ICE do Gama, DF. Minha mãe foi a primeira a se converter da sua família. Curiosa, aos 13 anos foi descobrir que construção era aquela, perto de sua casa. Era a ICE em Ceilândia, DF, antiga Maranatha. Meu avô se converteu em seguida. Juntos viram muitos da família se render a Cristo. Juntos aprenderam muito ao lado do Pastor Corselho. Eu eu meu irmão, Jonathas, sempre recebemos uma educação cristã, crescemos dentro da igreja e, em casa, brincávamos de pregar a palavra e ministrar louvor, pois esse era o nosso cotidiano. Com minha mãe aprendi a contar histórias para as crianças e do meu pai herdei o gosto pela música e o hábito de fechar a igreja – continuo sendo uma das últimas a ir embora, depois que o culto acaba. Ainda na adolescência meu irmão se deixou levar pelos apelos do mundo. Constantemente estava envolvido em confusões e brigas. Percebendo esta tendência, meus pais o levavam para a igreja,

acompanhavam até a

escola, seguiam todos os passos. Aos poucos, na companhia dos amigos, envolvido pelo apelo musical passou a apreciar o cigarro, depois a maconha. Confrontado, ele dizia que aquela era a vida que tinha escolhido. Repetia os jargões dos usuários: “é uma erva natural. É um estilo de vida. Quando eu quiser parar eu paro”. A angústia tomou conta do nosso lar, ele já não tinha hora para chegar, e os pequenos furtos começaram. Meus pais já não tinham paz, conviviam com olhares e palavras acusadoras de vizinhos e pessoas conhecidas e tentavam, de várias formas, resolver aquele problema. Mandaram-no para outro estado, prometeram presentes em troca de boas notas, mas ele estava muito envolvido, já era um drogadependente, não tinha controle sobre seus atos. E no mesmo ano que me casei, ele saiu de casa.


O CÂNCER Dia 20 de setembro de 2010 era para ser um dia especial. Naquele ano, completamos 7 anos de casados! Neste mesmo dia, sairia o resultado da biópsia do cisto retirado em cirurgia. David quis fazer uma surpresa e saiu de casa, sem falar aonde ia. Imaginei que estava planejando algo para nós. Mas ele demorou muito e voltou com os olhos vermelhos. Perguntei, brincando, se estava emocionado com a data. Ele me levou ao parque para ver o pôr do sol, me abraçou forte e suspirou a cada olhar. O médico havia pedido que ele não dissesse nada. No outro dia cedo fomos a consulta para retirar os pontos e o médico disse que eu tinha câncer! Naquele momento eu perdi o chão. Eu não conseguia nem mesmo olhar para a minha mãe. Por um instante, eu me senti sem forças até para ficar de pé. Ele continuou explicando o diagnóstico e eu apenas ouvia. Era um tumor raro e agressivo, que me acompanha desde que nasci, gerado no momento da minha formação, visto nos exames de rotina como um micro-cisto, que se desenvolve rapidamente entre os 25 e 30 anos. No final, afirmou que se eu demorasse mais um mês, não haveria mais o que fazer por mim. Era assustador! No mesmo dia, meu pai chegou e, ao contarmos, a ficha caiu! Choramos juntos, eu, meu marido e meus pais. Choramos e oramos na sala da minha casa. E o Espírito do Senhor encheu meu coração de paz. Sosseguei... Descansei... Me alegrei e disse: Confio no Senhor! Fortaleza da minha vida. Ele me criou, me formou, me conhece desde o ventre da minha mãe. Eu não posso acrescentar um dia sequer à minha existencia. Tudo está nas mãos de Deus.


QUIMIOTERAPIA A quimioterapia começou e vieram as primeiras surpresas do cuidado de Deus. O técnico em enfermagem, que cuidou diretamente de mim, disse, logo nos primeiros dias, que Deus prepara servos dEle para cuidar dos Seus. Ele era cristão e tinha sempre uma palavra abençoada para mim. Com o tempo, só ele conseguia acessar minhas veias. Muitas vezes eu perguntava onde ele estava vendo uma veia no meu braço, pois eu olhava e não via nenhuma. Ele respondia que não estava vendo, mas que o Espírito Santo estava dizendo que estava ali. Ele sorria e dizia que era pela fé! O tratamento ia dando certo e um dia a oncologista viu o resultado de uns exames e falou, em tom de brincadeira, que o meu santo era forte. Eu disse a ela: “a senhora não imagina o quanto”. Outro dia, eu cheguei à clínica e as enfermeiras me disseram que um homem tinha passado por lá, mais cedo. Elas contaram que ele orou nos corredores, perguntou por mim, depois foi embora. Mais tarde, eu e David o conhecemos. Ele é uma das pessoas que mesmo antes de nos conhecer, já orava por nós.


PIOR QUE O CÂNCER... Naqueles dias, recebemos um telefonema. Era mais uma má notícia: meu irmão estava preso. Não consigo imaginar a dor dos meus pais. Meu pai me visitava na clínica e visitava meu irmão na cadeia. Minha mãe se dividia entre a chácara e a minha casa, cuidando de mim. Meu marido esteve ao meu lado, o tempo todo, inclusive quando meus cabelos caíram, era quem estava lá, cortando os últimos fios. Durante o tratamento, sentia saudades de estar na casa do Pai e contava os dias para, durante as “folgas” da quimioterapia, aproveitar cada momento na igreja, com a família e com os amigos. No primeiro domingo que pude ir a igreja, já sem cabelos, tive uma surpresa daquelas que fazem a gente chorar de emoção. Várias irmãs estavam de lenço também. Aliás, tenho lenço para usar como acessório de todas as cores e modelos, presentes que guardo de cada uma, com muito carinho. Assim que a quimioterapia começou, pedi ao Senhor para não me deixar reclamar, independente da situação. O tempo passou, as minhas veias já estavam fracas e tive faringite e, em seguida, alergia aos remédios que combateriam a inflamação na faringe. Minha imunidade estava muito baixa e, por causa da inflamação, eu sentia dificuldades para comer. Eu quis me lamentar, quis questionar o agir de Deus e quis desistir, estava difícil demais. No mesmo dia, perdi a voz. Fiquei 2 dias sem falar. Orava em pensamento e clamava com a alma.


ENFIM A PRIMAVERA Já era dezembro. Passamos o aniversário do meu marido e véspera de natal na clínica. Meu irmão saiu da prisão e nos procurou. Queria se internar numa casa de recuperação. Eu soube como ele estava, assisti uma reportagem sobre os efeitos das drogas pesadas e tive certeza de que naquele momento, assim como eu, ele estava lutando para viver. Passamos o natal a procura de uma vaga, mas não encontramos. Ele ficou muito decepcionado e voltou para onde morava. Pouco tempo depois, me ligou, desistindo da internação. Eu deixei a porta aberta para quando se decidisse. Em janeiro de 2011 me indicaram respouso até abril, quando faria novos exames. O tratamento havia terminado e o futuro dependeria dos resultados. E no dia 25 de abril, a médica afirmou que a doença estava controlada e que não havia mais sinais de tumor. Desde então, já falei de Jesus para muito mais pessoas que durante a minha vida cristã inteira. Falo de um Deus Fiel que salva, cura, e liberta. Um Deus que não te livra da tempestade, mas te livra na tempestade. Antes de receber este último diagnóstico, meu ‘maninho’ me ligou. Estava decidido. Queria uma vida nova! Fui com ele até o escritório do Desafio Jovem de Brasília, de lá ele foi internado no Rancho da instituição. A família celebrou sua recuperação a cada visita. A igreja acompanhou, orou e até fez um culto no local, com os outros jovens internos. Reconsciliado com Cristo, Jonathas saiu da internação 1 ano e 2 meses depois. Cumpriu o programa de dexintoxicação, que é de 9 meses, foi ungido obreiro e fez estágio interno, ajudando no acolhimento de alunos iniciantes. Em novembro do ano passado, completei 32 anos. Prestamos um grande culto de ação de graças a Deus e celebramos com gratidão a vida, os milagres, o cuidado de Deus. Ficamos felizes com a oportunidade e estratégia que Deus nos deu para ajudar a ICE de Barra do Garças, do Pr. Ernandes Lucas. No convite de aniversário, pedimos que os convidados não levassem presentes, e sim uma oferta missionária, pois a igreja estava em campanha para a aquisição de um lote.


Hoje eu e meu irmão somos dois milagres ambulantes. Sobreviventes! Temos muitas primaveras pela frente para contar as maravilhas de Deus e vivemos para a Sua Glória. Ainda temos muitos desafios. Orem por nós! Consultas e exames viraram rotina na minha vida. Visito o centro oncológico constantemente e dependo de Deus completamente. Vivo pela fé e me alimentos das promessas. Peço ao Senhor que me honre diante dos que ainda duvidam do Seu poder. Meu irmão também ainda luta muito para viver uma via plena. Estudar, recomeçar, reconstruir, fugir do caminho mau. Mas ‘nós sabemos em quem temos crido e estamos certos de que Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós’. A Ele seja a glória!


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.