A INTEGRALIDADE NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO IDOSO REFLEXÕES NA EXTENSÃO POPULAR

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A INTEGRALIDADE NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO IDOSO: REFLEXÕES NA EXTENSÃO POPULAR Nayara Moreira Massa1, Caroline Sousa Cabral2, Thaise Anataly Maria de Araújo3, Ingryd de Lira Meireles4, Samara Cíntia Rodrigues Vieira5, Ingrid D’Ávilla Freire Pereira6, Ana Claúdia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos7

INTRODUÇÃO

O conjunto de fatores biológicos, sociais e comportamentais ressignificam o envelhecimento como sendo um fenômeno complexo e permeado por mudanças na vida e na saúde dos idosos. Devido a estereótipos criados ao longo das gerações, este grupo populacional é constantemente referido e tratado de modo reducionista, como quando se faz alusão a fragilidade física, comprometimento fisio-patológico, inatividade e invalidez. Diante desta realidade e das necessidades de ampliação e qualificação dos serviços de assistência social e de atenção à saúde para este público, tem se discutido o papel dos profissionais de saúde na construção da melhoria na qualidade de vida da população idosa, sobretudo no campo da Atenção Básica em Saúde. Como espaço crítico-reflexivo de experimentação de ações que pautam esta discussão, o Projeto de Extensão Universitária Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde (PINAB), vinculado ao Departamento de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba, vem se propondo a desenvolver ações de promoção à saúde e cidadania dos idosos, na Unidade de Saúde da Família (USF) Vila Saúde, no Bairro do Cristo Redentor em João Pessoa - PB. A USF Vila Saúde consiste em uma unidade integrada, composta por quatro equipes, responsáveis pelas suas respectivas áreas de abrangência. Pode-se caracterizar as áreas adscritas pela USF como sendo diversificadas e heterogêneas, onde segmentos com melhores condições financeiras e bolsões de pobreza dividem o mesmo território. Nesta última fração, a comunidade dispõe de poucas informações sobre saúde, o que, muitas vezes, acarreta em um agravamento no processo de prevenção de doenças. A grande maioria possui nível de escolaridade baixo e uma parcela não freqüenta a escola. É sabido que os agravos usualmente encontrados são decorrentes de uma série de fatores, os quais se inter-relacionam, tendo na má alimentação um de seus determinantes importantes. A Hipertensão e o diabetes acometem prevalentemente a população idosa que participa dos grupos. Estes são realizados no Bairro do Cristo Redentor, com participação de


estudantes, profissionais e os idosos, e as patologias supracitadas correspondem a algo em torno a 80%, valendo ressaltar que estas intensificaram a procura pela USF por parte deste grupo, uma vez que a entrega de medicamentos é responsiva à unidade. O PINAB é composto por vinte e cinco estudantes da graduação em Nutrição, do primeiro ao sétimo semestre, uma docente e três nutricionistas. Dentre os grupos que compõem a atuação do PINAB em parceria com os profissionais que atuam na USF encontrase o grupo de idosos. Objetiva-se com o presente trabalho compartilhar as experiências e aprendizados das extensionistas com o grupo de idosos refletindo e analisando as ações desenvolvidas pelo Projeto neste grupo durante o primeiro semestre de 2008.

DESENVOLVIMENTO

As ações do PINAB são pautadas pelos referenciais teóricos e metodológicos da Educação Popular, cujos alicerces estão sustentados na pedagogia sistematizada por Paulo Freire. Deste modo, as ações estão fundamentadas pelo diálogo, com a valorização da escuta e do compartilhamento de saberes entre os diversos sujeitos. Por meio das ações desenvolvidas, buscamos construir com os idosos sua autonomia, resgatando o potencial que eles têm em serem sujeitos mais questionadores e conscientes, nos encontros e em seu cotidiano. O grupo de idosos segue os eixos de atuação do PINAB envolvendo-se com as seguintes dimensões: aconselhamento dietético, visita domiciliar e atividade coletiva. O primeiro eixo de atuação constitui espaços de experimentação do cuidado em nutrição, sob uma forma mais humanizada e dialogada. Neste momento podemos discutir as práticas

da

alimentação

saudável,

através

de

conversa

entre

educador-educando

(extensionista-usuário), com espaço para a escuta e olhar atentos aos questionamentos, colocações e inquietações provindas do usuário. A prática de aconselhar se diferencia de outros padrões de atendimento clínico por levar em consideração boa parte dos aspectos que motivam e definem as práticas alimentares, desde os mais subjetivos às questões mais técnicas, identificando os limites e dificuldades no cuidado com a alimentação e construindo, em conjunto com o usuário, metas e diretrizes para o novo plano alimentar, com base na cultura local. Estes encontros têm possibilitado a reflexão sobre os padrões de atendimento clínico individualizado que ainda predominam na área da saúde, os quais valorizam o rigor prescritivo e normativo.


As visitas domiciliares permitem a aproximação dos extensionistas com a realidade vivenciada pelo idoso em seu domicílio, nos provocando a refletir sobre as relações familiares e pessoais destes sujeitos. Um grande desafio nas visitas domiciliares é desenvolver o diálogo, onde priorizamos a escuta pelo que o outro nos fala, sem o induzir às nossas opiniões e, desta forma, procuramos não influenciar o pensamento dele, com isso propiciando autonomia e gerando uma educação problematizadora, conferindo a devida importância a cada consideração e olhar. Em algumas ocasiões foram evidenciadas situações de descaso, infantilização no cuidado aos idosos, maus tratos e queixas de abandono, as quais fomentaram reflexões nas estudantes, despertando um maior interesse no cuidado a estes idosos, objetivando uma melhoria na qualidade de vida e conseqüente promoção da saúde. As atividades coletivas com o grupo de idosos ocorrem em rodas de conversa, com objetivo de integrar os conhecimentos técnicos aprendidos na universidade às experiências de vida que compõem o cotidiano deles. A partir destas discussões, torna-se possível contextualizar a realidade dos idosos e refletir sobre as dificuldades e potencialidades deste grupo no sentido de contribuir com a autonomia e envelhecimento ativo dos sujeitos envolvidos. A vivência na construção de atividades educativas para este grupo tem possibilitado um olhar sobre os idosos na perspectiva de sujeitos pró-ativos, que podem contribuir com a construção da cidadania e serem co-responsáveis pelo cuidado da saúde e da vida. Algumas situações que são observadas nas visitas domiciliares têm sido questionadas e discutidas entre as estudantes, no intuito de incluir as situações de conflito e negligência, como parte das ações educativas com este público. Muitos idosos procuram e participam ativamente dos grupos formados na comunidade, entretanto, outros ainda permanecem em seu ambiente domiciliar, deixando de se inserir em atividades superadoras de seu cotidiano. Há expectativas por parte das extensionistas em conseguir envolver mais ativamente os idosos da comunidade nas ações desenvolvidas pelo Projeto. Entretanto, pôde-se observar que existem muitos idosos com dificuldades de locomoção e, que em função disso, muitas vezes não têm possibilidades de participar das atividades supracitadas, ou mesmo de freqüentar a USF. Na unidade os empecilhos são encontrados, essencialmente devido ao tradicional método de saúde vigente, onde as ações curativas, baseadas na doença e na medicalização de pessoas ainda prevalecem. Deste modo, muitas vezes, no decorrer das atividades, os idosos assumem um compromisso com o grupo apenas pelo interesse nos medicamentos oferecidos pelos profissionais apoiadores das atividades.


No entanto, coube as extensionistas lutar e trabalhar para a construção de atividades no grupo de uma forma inovadora, aonde as ofertas de saúde extrapolam a medicalização, visando cada ser humano como individuo especial e único. Outra dificuldade deparada, foi em articular grupos de idosos nas quatro áreas que compõem a USF, pois só há dois grupos constituídos e durante o semestre criamos outro volante. Diante disto, muitos desafios ainda são identificados, entretanto, paulatinamente, tentamos cumprir com o nosso maior objetivo: inserir ações educativas no contexto da saúde e, deste modo, contribuir para a promoção da saúde dos idosos.

CONCLUSÃO

Durante o período de atuação no grupo operativo de idosos, enquanto sujeitos diretamente envolvidos com a comunidade e com o serviço de saúde, os extensionistas puderam experimentar a partilha dos saberes e a formação de vínculos. Por meio de práticas integrais de atuação, as quais aliam a nutrição à saúde e à vida das pessoas, os grupos podem se configurar em importantes espaços de convivência social e de união entre idosos, estudantes e profissionais de saúde, sendo, todos, co-responsáveis pelas atividades desenvolvidas com este grupo operativo. A possibilidade de atuar neste grupo ampliou o olhar dos envolvidos acerca da necessidade de construção de novos modelos de cuidado frente ao envelhecimento e de novas identidades sociais, que permitam o reconhecimento deste grupo como sujeito com potencial de criticidade e de pró-atividade. Ante o exposto, pode-se perceber a importância da Extensão no contexto da Universidade e da sociedade junto às comunidades e aos serviços, uma vez que, por meio deste trabalho, o estudante é convidado a transpor os “muros” acadêmicos e assim se confrontar com sua realidade prática de atuação, permitindo a ampliação dos seus horizontes, ultrapassando as teorias de sala de aula, incutindo-as um caráter mais humanístico e, deste modo, o graduando paulatinamente desenvolve um comprometimento social e ético.


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