CONSTRUÇÃO DE UMA HORTA COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIA PARTICIPATIVA PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIM.

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CONSTRUÇÃO DE UMA HORTA COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIA PARTICIPATIVA PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E INCENTIVO A PARTICIPAÇÃO POPULAR Ana Paula Maia Espíndola Rodrigues1; Adriana Maria Macedo de Almeida2; Elina Alice Alves de Lima Pereira3; Maria José Pereira Tavares4; Renan Soares de Araujo5 Nas ultimas décadas a população brasileira sofreu mudanças no padrão de saúde e consumo alimentar resultante das diversas transformações sociais que contribuíram para a diminuição da pobreza e exclusão social e, por isso, da fome e da desnutrição (BRASIL, 2013). No entanto, profundas contradições marcam a sociedade atual, uma vez que ainda é expressivo o número de famílias em situação de insegurança alimentar e vulnerabilidade social, além do aumento expressivo do excesso de peso, coexistindo assim, a desnutrição, a obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis em um mesmo espaço. Por isso, é fundamental a realização de propostas sustentáveis e autônomas que abordem a questão alimentar para além do modelo prescritivo e biologicista, através de processos horizontais, que priorizem o diálogo e que promovam a Segurança Alimentar e Nutricionais (SAN), de modo integral, crítico e humanístico (VASCONCELOS; PEREIRA; CRUZ, 2013). Nesse contexto, as hortas comunitárias constituem-se como espaços de convívio, lazer e aprendizagem, com um forte potencial sociocultural e de incremento da qualidade de vida dos seus utilizadores com o objetivo de aumentar a oferta de alimentos de alto poder nutritivo e melhorar as condições sociais de grupos em situação de insegurança alimentar (BRASIL, 2014). A partir dessa visão, o Programa de Extensão Universitária “Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)” vem atuando desde o ano de 2007 nas comunidades Boa Esperança, Pedra Branca e Jardim Itabaiana, no bairro do Cristo Redentor em João Pessoa – PB, em parceria com alguns equipamentos sociais, como a Associação Promocional do Ancião (ASPAN), com as Unidades de Saúde da Família (USF) “Vila Saúde” e “Unindo Vidas”, e com a Escola Municipal de Ensino Fundamental Augusto dos Anjos, desenvolvendo ações voltadas à promoção da Segurança Alimentar e Nutricional e da Promoção da Saúde, norteado pelo referencial teórico-metodológico da Educação Popular, que tem como base o respeito pelas experiências anteriores dos sujeitos, a promoção da autonomia, a troca de conhecimentos e a construção de novos saberes de forma dialógica, com vistas a emancipação humana. O PINAB está configurado a partir de diferentes frentes de ação, denominados Grupos Operativos, sendo estes os seguintes: Grupo de Idosos, Grupo Saúde do Trabalhador, Grupo Terapia Comunitária, Grupo Escola, Grupo Saúde na Comunidade e Grupo Horta Comunitária. Este, porém, se apresenta como fundamental na promoção da SAN e do Direito Humano à Alimentação Adequada, através de atividades educativas e lúdicas que incentivam 11 Graduanda do curso de Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba; Extensionista bolsista do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica. E-mail: anapaulaespindola@hotmail.com 2 Graduada em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Colaboradora do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica 23 Graduanda do curso de Direito pela Universidade Federal da Paraíba; Extensionista bolsista do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica. 34 Graduanda em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Extensionista voluntária do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica 45 Graduando do curso de Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba; Extensionista voluntário do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica


a troca de saberes, o diálogo e a construção compartilhada, como forma de propiciar a inclusão de indivíduos em assuntos comunitários, estimulando a mobilização social e a busca por melhorias no ambiente em que vivem. Através da mobilização e parceria com alguns moradores da comunidade Boa Esperança, uma das regiões mais vulneráveis do território, o Programa promove semanalmente atividades próximas à nascente do Rio Jaguaribe – o qual nasce na comunidade supracitada e cruza boa parte da cidade de João Pessoa, sofrendo, por isso, demasiadamente com o descarte de lixos e rede de esgotos clandestinos. Assim, as ações na horta buscam a aproximação dos sujeitos com a terra e com o alimento consumido, além de auxiliar na integração entre membros de uma mesma comunidade e destes com a natureza, estimulando a preservação dos recursos naturais, o cuidado ambiental e a reciclagem. A partir do referencial metodológico da Educação Popular, o PINAB atua incentivando a troca de saberes, o diálogo, o respeito à diversidade, a valorização das pessoas e da cultura, a problematização da realidade local e a construção compartilhada a partir de atividades que vão desde o ato de adubar, semear, regar e colher até ações de retirada do lixo, preservação do meio ambiente e atividades educativas como oficinas de fabricação de sabão, caça ao tesouro a partir de informações sobre o lixo local, dinâmicas sobre o tempo de degradação dos objetos encontrados próximo à nascente e sobre o ato de separar o lixo domestico, assim como discussões sobre a importância do espaço para os participantes, atividade integrativas como forma de conhecermos melhor o outro, pintura da placa com o nome da Horta, assim como placas para evitar o descarte de lixo em locais inapropriados, conversas sobre a utilização de determinado alimentos colhidos, e atividades envolvendo letras de musicas criados pelas crianças e jogos de capoeira, entre outras. Essas ações envolvem atualmente algumas crianças, adolescentes e senhoras, que apesar de uma participação ainda tímida e inconstante -por viverem em um ambiente com fragilidades socioculturais, que apresenta problemas de segurança, além dos preconceitos vivenciados pelos próprios moradores e descrença nas alternativas e possibilidades de mudança social - vem se fortalecendo a cada dia de atuação, com a troca constante de experiências, buscando alternativas para a melhoria do espaço e tendo como fruto a edificação de um saber construído de forma coletiva e dialógica. Como resultado deste trabalho, pode-se notar o envolvimento dos participantes em contribuir com o espaço e participar inclusive de outras ações promovidas pelo Programa, como forma de ser ouvido e opinar nas decisões, além da contribuição dos profissionais da Unidade de Saúde da Família que abrange o território, visto que divulgam o espaço e incentivam a comunidade a participar e buscar alternativas terapêuticas a partir dos produtos cultivados na Horta, o enriquecem com o plantio de novas mudas, auxiliam na limpeza e manutenção do ambiente, participam das reuniões de planejamento do grupo e buscam o envolvimento em atividades pedagógicas desenvolvidas no espaço. É possível também notar a participação ativa e o envolvimento cada vez mais eficaz de estudantes de diversos cursos em assuntos relacionados à SAN, antes muito vinculada dentro do Programa aos alunos de Nutrição, valorizando a dimensão interdisciplinar desta e favorecendo a formação de profissionais mais críticos e comprometidos com as classes populares. Além disso, o referencial ao qual o PINAB é norteado contribui efetivamente para a formação de estudantes mais sensíveis e sintonizados com as adversidades e complexidades próprias não apenas da prática alimentar, mas principalmente da realidade local, sendo, por isso, capaz de dedicar-se a escuta e compreender a atenção nutricional de forma ampla, lembrando que associado ao processo saúde-doença existem peculiaridades que os processos pedagógicos tradicionais não nos permitem perceber. Além disso, esse modo de fazer pautado na Educação Popular viabiliza o enfrentamento dos desafios encontrados, uma vez que descontrói conceitos pré-formados e, de forma crítica, possibilita o dialogo entre os sujeitos e a problematização do que, segundo Vasconcelos (2011), incomoda e oprime. Podendo-se assim concluir, no contexto da horta comunitária, que o Programa contribui com a construção de estratégias participativas de enfretamento das


desigualdades e contribui na mobilização para a transformação social, através de relações horizontais que evidenciam a amorosidade e a humanização em suas ações, de forma a promover a SAN e o direito humano à alimentação adequada. Palavras-chave: Educação Popular; Segurança Alimentar e Nutricional; Horta Comunitária

REFERENCIAS BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, SISAN, com vistas a assegurar o DHAA e dá outras providências. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.Básica. – 1. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. VASCONCELOS, A.C.C.P; PEREIRA, I.D.F; CRUZ, P.J.S.C. Educação Popular e a Promoção da Segurança Alimentar e Nutricional em Comunidades: desafios com base em uma experiência de extensão. In: VASCONCELOS, E.M; CRUZ, P.J.S.C. Educação Popular na Formação Universitária: reflexões com base em uma experiência. São Paulo: Hucitec; João Pessoa: editora universitária da UFPB; 2011. EIXO 1. METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS NAS ÁREAS DA SAÚDE


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