A FORMAÇÃO DO NUTRICIONISTA PELOS CAMINHOS DA EXTENSÃO POPULAR

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A FORMAÇÃO DO NUTRICIONISTA PELOS CAMINHOS DA EXTENSÃO POPULAR: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA EM JOÃO PESSOAPB Pedro Cruz; Ana Cláudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos Na atualidade, a criação de metodologias de ensino capazes de estimular a formação de nutricionistas com postura crítica frente a realidade brasileira tem sido um desafio para os cursos de graduação, especialmente considerando a recente inserção deste profissional em ações de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional (SAN). O modelo da formação universitária continua privilegiando o paradigma cartesiano, onde a teoria é dissociada da compreensão e do enfrentamento dos problemas sociais mais graves. Buscando superar tais lacunas, professores e estudantes vêm desenvolvendo propostas pedagógicas de formação norteadas pela concepção de educação popular (EP), sistematizada por Paulo Freire. Este trabalho objetiva, a partir do Projeto de Extensão do Departamento de Nutrição/UFPB “Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde” (PINAB), refletir sobre a contribuição da extensão universitária em educação popular (extensão popular) para a formação do nutricionista. O PINAB desenvolve práticas da Nutrição no campo da Saúde Coletiva e da SAN, com a comunidade usuária da Unidade de Saúde da Família Vila Saúde e da Escola Municipal Augusto dos Anjos, em João Pessoa-PB. As atividades organizam-se em quatro eixos: 1) ações educativas com grupos de gestantes, idosos, famílias do Programa Bolsa Família, comunidade escolar e mobilização popular; 2) visitas domiciliares; 3) aconselhamento dietético individual; 4) gestão do Projeto. Nestes espaços, através de uma relação dialogada com a população, é oportunizado ao nutricionista em formação participar de trabalhos sociais coletivos, permitindo-lhe desenvolver princípios como: percepção crítica, visão humanística e postura criativa. Realizam-se reuniões semanais de acompanhamento, a fim de trabalhar as perplexidades presentes nas vivências dos estudantes com a cultura e a realidade da população, além de aprofundar questões teóricas inerentes às diferentes frentes de atuação. Ao permitir o contato do estudante com os saberes populares, podem ser fomentados processos de sensibilização para um exercício da nutrição mais crítico e humanizado, articulado com os anseios da população, na busca pela promoção da saúde e da SAN. Há dificuldades no diálogo com a lógica tradicional do cuidado em saúde realizada por muitos profissionais, onde há ainda valorização de condutas normativas. Outro limite é o pouco tempo disponível para a participação estudantil nas atividades de extensão, o que compromete as oportunidades de avaliação da prática e uma maior imersão no cotidiano da comunidade. Mesmo diante destes desafios, as características pedagógicas e a intencionalidade transformadora da EP tornam a extensão popular um caminho propício para construir a formação do nutricionista baseada nos reais interesses e nos mais emergentes problemas vivenciados pelos setores mais desfavorecidos da sociedade.


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