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Cultura.Sul 05.05. 2011

museu

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira Isabel Soares

Museóloga/Arqueóloga

A viagem da descoberta e do inesperado por terras algarvias ainda não terminou. Regresso à cidade de Albufeira, por onde já passei inumeráveis vezes, e onde existe sempre motivo para “voltar a passar”. Desta vez, disfarçada de turista, por entre as dezenas, centenas ou até milhares dos transeuntes, que calcorreiam as ruelas estreitas, e as travessas da zona mais velha desta antiga vila piscatória, procuro, assim, a essência dos lugares. Sem mapas, sem grupos de excursionistas, sem lojas de souvenir, sou hoje a “viajante” que se aventura e mergulha na cultura local e desembarca num dos principais centros turísticos do país, a cidade de Albufeira. Este sítio pitoresco presenteia-nos com a beleza das paisagens da costa, das falésias e das praias, mas também, não nos deixa indiferentes à riqueza da sua História. O património cultural, desta antiga vila de feição marítima, combina vários pontos de interesse. Aqui ergueram-se outrora edifícios religiosos - igrejas, capelas e ermidas, assim como sistemas defensivos - muralha, torre e castelo, embora estes últimos se

Pesos de tear

encontrem praticamente desaparecidos. Apesar da beleza e do interesse de todos estes elementos arquitectónicos, reservei o meu apego e afeição para um dos edifícios sobranceiros ao mar, também ele parte da história: o Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira. O Museu Municipal de Albufeira fica situado no núcleo antigo de Albufeira, na Praça da República. Este Museu foi instalado nos antigos Paços do Concelho. O espaço foi retomado e reabilitado para integrar o património arqueológico do Município de Albufeira. Ao que parece o próprio edifício assenta em estruturas islâmicas, como testemunha o silo escavado na rocha que podemos observar, quando visitámos o museu. Este edifício, constituído por dois pisos, encerra na sua arquitectura especificidades do século XIX. No piso térreo encontrámos a exposição de longa duração que nos deu a conhecer a história do Município desde a PréHistoria até ao século XVII, através de diferentes núcleos temáticos, organzados cronologicamente: Pré-História; Período Romano; Período Islâmico e, por fim, a Idade Moderna. No segundo piso visitámos um espaço reservado a exposições temporárias, onde estava patente a mostra “Outras Viagens,

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira Outros Olhares”. Esta exposição, composta por painéis ilustrativos sobre o turismo no Algarve, relata-nos o nascimento do fenómeno turístico que, de forma geral, transformou a região algarvia e, em particular, o território de Albufeira, fazendo esta região parte de um dos roteiros turísticos mais conhecidos do País. A nossa visita começou pelo piso térreo. No início do percurso deparámo-nos com representações de modelos da evolução humana e com o espólio ligado às primeiras comunidades que habitaram o território de Albufeira. Desta sala, destacamos os testemunhos mais antigos da ocupação humana do Município, como as “ferramentas” utilizadas pelos grupos de caçadores-recolectores nómadas. Outros elementos deram-nos a conhecer os vestígios da cultura material das comunidades que se fixaram, progressivamente, na terra, e habitaram o território de Albufeira, introduzindo no seu quotidiano actividades como a agricultura e a pastorícia. Ainda do primeiro momento da visita salientamos a presença de dois menires do período do Neolítico Antigo, encontrados nesta localidade. No núcleo seguinte, a exposição partilha um conjunto de elementos arquitectónicos e objectos da época romana. Deste espólio ressaltamos os fragmentos de grandes contentores de cerâmica: as ânforas. Estes, funcionando como um género de grandes “latas de conserva” da época, possibilitavam o transporte marítimo e fluvial de produtos alimentares, tais como, os preparados de peixe; a árula votiva de calcário dedicada ao deus Silvanus; um capitel de mármore e, por fim, porque assume um particular interesse e, por

isso, merecendo um espaço próprio, descrevemos o mosaico romano da Retorta, achado de relevante importância, decorado com hexágonos definidos em tesselae de cor escura. Numa outra zona está representado o núcleo que corresponde ao período Islâmico. Nesta reconhecemos vários vestígios do período Islâmico, provenientes de Albufeira, Castelo de Paderne e também de outros aglomerados rurais. Do espólio arqueológico exposto evidenciamos, pela sua importância, a placa apotropaica de Albufeira, objecto de carácter religioso a que os árabes atribuíam a protecção da muralha. Acresce a tais vestígios arqueológicos, a variedade de elementos arquitectónicos da antiga Igreja Matriz de Albufeira (capitéis, cachorros, pilastras e o arco triunfal da matriz), que o museu partilha com o visitante. Ao longo de toda a visita observámos os diferentes aspectos da evo-

lução da população de Albufeira. Os painéis informativos, os desenhos de peças e as representações esquemáticas completam a informação e permitem compreender, ao longo do tempo, as diferentes ocupações humanas e as transformações ocorridas no território de Albufeira. Trate-se, portanto, de um museu dotado de equipamentos modernos adequados à exposição da colecção de cariz, eminentemente, arqueológico. Nos seus espaços impera uma variedade de materiais arqueológicos, que nos contam de forma simples e clara a História de Albufeira. Assim, esta “viagem no tempo e no espaço” proporcionou-nos um momento de lazer, de descoberta, e de aprendizagem, que deve ser repetido e que aconselho a experimentar. Se percorrerem as ruas e gavetos desta antiga vila piscatória, lembrem-se que ela é “dona” de uma riqueza arqueológica e patrimonial que testemunha toda a sua história.

Núcleo temático da Pré-História


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