POSTAL 1306 5MAI2023

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Tavirense bate recorde numa universidade norte-americana

Tomás Luís, jovem tavirense de 21 anos, bateu este domingo o recorde de jogador com mais vitórias numa temporada da universidade de Belmont. P5

Funerária Santos & Bárbara inaugura novo espaço em Tavira “São 45 anos de ofício. Para este novo espaço avançámos com um novo conceito tumultuoso. Para além de uma loja de artigos funerários e religiosos temos também um gabinete de apoio documental e psicológico e uma sala de reuniões e formações”, explica Carlos dos Santos P11

Chumbar ou abandonar a escola acontece mais no Algarve

Um em cada dez alunos no ensino secundário na região de Faro (10%) também não concluiu com sucesso, segundo o mapa do Infoescolas P8

Medidas do Alojamento Local vão ter efeito devastador

➡ No Algarve, o Alojamento Local corresponde a cerca de 60% da oferta turística

➡ Maioria dos proprietários são pequenos empresários, com uma ou duas casas

➡ Medidas podem originar cancelamento de registos e levar turistas para outros destinos

➡ Instabilidade já está a ter ecos além-fronteiras P12

RECEBE MAIOR CIMEIRA

Em maio há 25 anos votava-se a criação da moeda única

➡ Por José Apolinário P2

Jantar vínico promove sinergia harmoniosa entre João Tique

- Vinhos Artesanais, a Brito Garrafeira e o Restaurante

Mercearia da Aldeia P7

PAULO SERRA

Entrevista a Lídia Jorge sobre Misericórdia

MARIA LUÍSA FRANCISCO

Percepções… e realidades

➡ DIA DO ALGARVE

➡ DIA DA MÃE

Por Mendes Bota P6

ANÁLISE e Perspectivas Turísticas

Regionalização

“O país da realidade tem de acabar com o país nominal inventado nas secretarias”

- Alexandre Herculano

➡ Por Elidérico Viegas P6

Biblioteca Municipal Carlos Brito Uma janela poética para o Rio Guadiana CS20

COBRAMOR

Contra os concursos literários só tenho uma caneta CS21

PAULO LARCHER

O ALGARVE DE COSTA-A-COSTA:

Albufeira: o nosso Gibraltar? CS16

LUÍS DE MENEZES

SAÚL NEVES DE JESUS

A arte pode ser sentida na PELE? CS15

MAURO RODRIGUES

O inventor do flash sincronizado CS19

MARIA JOÃO NEVES

Fábrica Júdice Fialho de Olhão CS18

E ainda a Opinião
Em
TRIBUNA PARLAMENTAR O Algarve precisa urgentemente de
PROT GESTÃO DOCUMENTAL PARA EMPRESAS www.hpz.pt Interdita venda na distribuição quinzenal com o jornal 5 de maio de 2023 1305 • €1,5 Diretor: Henrique Dias Freire Quinzenário à sexta-feira postaldoalgarve 145 mil www.postal.pt
➡ Por Luís Gomes P2
destaque
um novo
SOS Educação CS17
JORGE QUEIROZ Celtas e Mouros, a genética populacional CS19
DE
IBERIAN TECHNOLOGY SUMMIT OLHÃO
TECNOLOGIA DA REGIÃO P3
CS22 e 23
“Escrevi este livro apenas para falar da resistência dos seres humanos”

OPINIÃO

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Tiragem desta edição

8.947 exemplares

José Apolinário

Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve e ex-eurodeputado | OPINIÃO

Em maio há 25 anos votava-se a criação da moeda única

2de maio de 1998, uma data histórica: onze Estados-membros entraram no Euro. No dia 2 de maio de 1998, há precisamente 25 anos, o Parlamento Europeu, reunido em sessão extraordinária, aprovou a passagem à terceira fase da União Económica e Monetária, com a criação da moeda única, com base na recomendação do Conselho de Ministros da Economia e Finanças (ECOFIN). No dia 2 de maio, numa sessão em Plenário ao sábado de manhã que se prolongou até ao início da tarde, no novo hemiciclo de Bruxelas, tivemos a honra de participar e dar

ga épsilon, o símbolo do Euro evocaria o berço da civilização europeia “E”, a primeira letra de “Europa”. Assim, após esse parecer, a proposta de recomendação formulada pela Comissão e o relatório von WOGAU, o Conselho Europeu, numa reunião vivida com especial intensidade, já pela madrugada de dia 3 de maio, aprovou a criação do euro a partir de 1 de janeiro de 1999, com a participação de 11 Estados-membros: a Alemanha; a Áustria, a Bélgica, a Espanha, a Finlândia, a França, a Irlanda, a Itália, o Luxemburgo, os Países Baixos e Portugal.

Ao assinalar 25 anos sobre essa data

TRIBUNA PARLAMENTAR Luís Gomes

Deputado do PSD pelo Algarve | OPINIÃO

O Algarve precisa urgentemente de um novo PROT

Portugal é cada vez mais um país cuja população vive no seu litoral. De acordo com os últimos censos, em 2021, os distritos do interior não atingiam as duas dezenas percentuais da população portuguesa. Esta enorme disparidade populacional, constitui um dos maiores desafios, que o nosso país tem que superar. O passar das décadas tem sido avassalador para estes territórios, têm-se tornado mais sombrios, inóspitos e sós. Outrora cidades, muitas são hoje vilas, ou até aldeias.

de desenvolvimento e as do interior podem ter um papel determinante na criação de dinâmicas nos territórios do interior do país. São necessárias, por isso, verdadeiras reformas. Reformas que impulsionem modelos de desenvolvimento a partir da capacidade infraestrutural instalada, que tirem partido dos seus recursos endógenos. Reformas que permitam instalar dinâmicas de empreendedorismo e de inovação, através do investimento em redes de conectividade, cujo déficit atual é inaceitavelmente uma realidade no interior.

Não se percebe a razão pela qual está-se a rever PDM`s tendo por base um PROT que já não serve o Algarve

parecer favorável à criação da moeda única.

Para todos nós que votámos a favor o momento era - e foi - de especial significado. Em representação dos cidadãos europeus, dos eleitores portugueses, estávamos a fazer acontecer mais um passo na construção europeia, europa de cultura e de identidade, desde logo com um símbolo inspirado na letra gre-

BIOGRAFIA

José Apolinário Nunes Portela nasceu em Pechão; concelho de Olhão, em 22 de julho de 1962. É casado e tem dois filhos. Licenciado em Direito, é militante do Partido Socialista desde 1976. Foi secretário-geral da Juventude Socialista, presidente da Federação do Partido Socialista, membro da Comissão Política do Partido Socialista, e deputado à Assembleia da República

emblemática na construção europeia evoco e destaco o papel de Jacques Delors, um presidente da comissão europeia que marcou e impulsionou a concretização da união económica e monetária, mas também o empenho e compromisso estratégico do então primeiro-ministro, António Guterres, colocando Portugal no núcleo inicial dos Países fundadores do Euro.

pelo círculo eleitoral de Faro diversas vezes. Membro da Comissão Parlamentar de Economia e Finanças, coordenador do Grupo Parlamentar do PS para os assuntos de pescas na Comissão Parlamentar de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, membro da Subcomissão de Turismo e da Assembleia Parlamentar Euro-Mediterrânica.

Entre 1993 e 98, ocupou o cargo de eurodeputado no

parlamento Europeu. José Apolinário foi presidente da Câmara Municipal de Faro. Foi diretor-geral das Pescas e gestor do PROMAR e presidente do Conselho de Administração da Docapesca. Foi presidente da Assembleia Municipal de Faro e por duas vezes secretário de Estado das Pescas. Em 13 de outubro de 2020, foi eleito presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve.

Nota da Direção: a crónica do deputado socialista algarvio Luís Graça (ou de um camarada seu) não chegou à nossa redação. Relembramos, que há cerca de um ano, o POSTAL convidou, para a rúbrica "Tribuna Parlamentar" as duas forças partidárias, PS e PSD, com maior representatividade na Assembleia da República, para dar voz aos deputados algarvios, tantas vezes desconhecidos dos próprios algarvios.

Mértola, que nos anos sessenta tinha mais de 26 mil habitantes, hoje tem apenas pouco mais de 6 mil. Montalegre, mesmo no profundo de Trás-os-Montes era uma cidade dinâmica em 1961 com mais de 32 mil habitantes, e hoje não chega aos 10 mil. Este é um breve retrato demográfico do nosso Portugal, um país altamente desequilibrado onde as assimetrias têm desfragmentado o território nacional.

Nas últimas décadas têm faltado políticas eficazes, políticas que atenuem a dinâmica, imparável, de reforço da litoralização. São necessárias, portanto, políticas de base territorial que produzam resultados concretos nas vidas das pessoas, de modo a reduzir o fosso de desigualdades crescentes.

A excessiva concentração da população nas cidades do litoral, também se traduz em serviços e territórios mais congestionados, mais assoberbados, o que também impacta na qualidade de vida das populações que aí residem. Falar em políticas do interior, sem falar de uma política de cidades não é ser realista. As cidades são uma âncora

É, por isso, urgente implementar-se estratégias de desenvolvimento territoriais que permitam tirar partido dos recursos e potencialidades endógenas de cada território, sobretudo através de instrumentos adequados, que garantam a participação dos agentes económicos e sociais no desenho de cada estratégia regional. E é por isso que o Algarve, em particular, precisa de um programa regional de ordenamento do território (PROT) atual, que consubstancie uma estratégia adaptada aos desafios do território. É, portanto, inadmissível o atual imobilismo que tem intensificado o processo de desertificação do interior do país e das regiões mais periféricas, sendo a atual ausência de estratégia de desenvolvimento territorial, uma das principais causas para a estagnação de Portugal.

Não se percebe como se pode inverter esta tendências sem PROT`s atualizados, e mais não se percebe a razão pela qual está-se a rever PDM`s tendo por base um PROT que já não serve o Algarve.

lfgomes@psd.parlamento.pt

2 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO
Evoco e destaco o papel de Jacques Delors, um presidente da comissão europeia que marcou e impulsionou a concretização da união económica e monetária

Olhão recebe a maior cimeira de tecnologia da região, o primeiro ‘Iberian Technology Summit’

Aprimeira edição da Iberian Technology Summit (ITS) decorreu na passada sexta-feira e sábado, no Real Marina Hotel & Spa, em Olhão, com o objetivo de impulsionar o setor tecnológico na Península Ibérica e criar redes de profissionais.

De acordo com a organização, tratou-se do primeiro grande evento de tecnologia realizado na região, opinião corroborada de forma geral pelos participantes com quem falámos, oriundos de toda a parte do mundo.

“A ITS oferece uma oportunidade única para indivíduos de todas as origens e níveis de competências se reunirem e explorarem as últimas inovações em TI e software. Quer estejam à procura de iniciar uma nova carreira, avançar com a atual ou mesmo encontrar uma forma de entender como fazer crescer o seu negócio, este

evento potencia a sua entrada para a porta do sucesso”, explica ao POSTAL a promotora do evento, Kaila Bloomfield.

Olhão na vanguarda do sector da economia ligada à indústria das tecnologias

A presidir as sessões de abertura e encerramento, João Evaristo, em representação do Município de Olhão, agradeceu e felicitou Kaila Bloomfield e toda a sua equipa responsável pela organização do evento, referindo que a realização do mesmo na cidade cubista “veio reforçar a intenção de colocar Olhão na vanguarda do sector da economia ligada à indústria das tecnologias”.

O autarca olhanense relembrou que “já em 2019, antes da pandemia e de ficarmos globalmente dependentes do digital, o município de Olhão fez

uma grande aposta na literacia digital com a criação do projeto Caíque Bom Sucesso, que tinha como objetivo a oferta de tablets a todos os alunos, antecipando até aquela que foi a estratégia do Governo da oferta de computadores, efetivada apenas a partir de 2022”.

“A esta ação pioneira seguiu-se, em 2021, a instalação do Centro de Investigação da Altice Labs e a vontade de criar cada vez melhores condições para acolher empresas na área da tecnologia. Essa vontade, associada às vias de comunicação, reforço da fibra óptica, mas também ao clima, à segurança, à qualidade de vida e hospitalidade são aspetos que levaram já um investidor privado a escolher Olhão, para a criação de um polo tecnológico, que acolherá empresas e profissionais da área e consequentemente aumentar a oferta de emprego, o crescimento do sector no nosso concelho e consequente dinamização de toda a

economia”, salientou João Evaristo. O autarca destacou ainda que “este ano, foi aprovada uma candidatura ao PRR que permitirá criar o Polo Hub Azul do Algarve, num investimento de 4 milhões de euros, que ficará situado em Olhão, no pontão nascente do porto de pesca, e que tem como objetivo criar sinergias que potenciem o desenvolvimento e atraiam empresas, investimento e a criação de posto de trabalho, para além de ser um polo de formação e capacitação técnica de trabalhadores e estudantes na área das biotecnologias e das tecnologias associadas ao cluster do mar”.

Na sessão de encerramento de sábado, e após ter sido feito um balanço “muito positivo do evento”, João Evaristo apresentou a disponibilidade do município em se associar à iniciativa, já na edição do próximo ano, apostando no aumento de dimensão e impacto do evento.

A cimeira recebeu líderes da indústria que apresentaram sessões sobre tecnologia e soluções empresariais em inglês, português e espanhol.

Os participantes assistiram a apresentações e workshops de especialistas internacionais em Tecnologia de Informação (TI) e líderes da indústria.

Só na última sessão de workshops estiveram presentes cerca de 350 participantes, para além dos 800 acessos grátis disponíveis para quem quisesse participar nas outras atividades, nomeadamente apresentações e vários momentos de networking, que não só permitiram aos participantes ligarem-se de uma forma mais informal, como dar azo à criação de espaços de rede para profissionais de TI, empresas e pessoas interessadas em entrar na indústria das TI em Espanha ou Portugal.

Oradores como Jon Levesque (Washington, EUA), Maíra Wenzel (Los Angeles, EUA) e Miguel Coquet (Faro, PT) partilharam o seu ponto de vista sobre envolvimento, adoção e como criar centros locais de conhecimento que influenciam empregos, comunidade e melhor concorrência no mercado.

Os workshops abordaram tópicos como “RH num dia à maneira da Microsoft”, “Como utilizar a IA” e “Como criar um centro automatizado de contacto com o cliente”. Também foi organizada «uma Hackathon centrada na procura de soluções tecnológicas para as alterações climáticas, com um prémio para a melhor equipa”.

A Iberian Technology Summit, contou com o apoio do International Workplace Group (IWG), da Microsoft e do KnK Group.

3 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023 FOTOS D.R.

Consolidação do litoral entre os objetivos do Programa Regional de Ordenamento do Algarve

Aconsolidação do sistema do litoral algarvio é um dos objetivos do novo Programa Regional de Ordenamento do Território (PROT) do Algarve, que entrou em vigor esta quinta-feira, segundo uma resolução publicada no dia anterior em Diário da República.

A resolução, aprovada a 20 de abril em Conselho de Ministros e que abrange também as regiões de Lisboa, Oeste e Vale do Tejo e do Alentejo, visa converter os planos regionais de ordenamento do território produzidos na primeira década do século XXI em programas que reflitam as novas realidades sociais e económicas.

A medida visa “garantir a atualidade dos instrumentos face à intensa transformação social e aos desafios do futuro, designadamente no que respeita às alterações climáticas”, para “permitir que cada uma

PPR: Algarve propõe reforço de 164 ME para investimentos públicos

A COMISSÃO de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve propôs um reforço dos investimentos públicos a realizar a região ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência no valor de 164 milhões de euros, anunciou o organismo regional.

A proposta, feita no âmbito da atualização Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que esteve em consulta pública, beneficiaria, sobretudo, a gestão hídrica, com 90 milhões de euros, e a requalificação do património cultural, com 35,4 milhões, precisou o presidente da CCDR do Algarve, José Apolinário.

das regiões de intervenção das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional disponha de um programa estratégico concertado, capaz de suportar as grandes opções territoriais”.

Na resolução publicada, são apontados os objetivos do Programa Regional de Ordenamento do Território do Algarve, nomeadamente, “promover a preservação dos ecossistemas, dos recursos naturais e da paisagem” ou “consolidar o sistema do litoral definido no PROT Algarve, face à elevada sensibilidade ecológica e à vulnerabilidade da zona costeira” da região.

Entre os objetivos estão também o uso sustentável dos recursos para o crescimento económico, a melhoria dos modos e qualidade de vida e do emprego ou a atração e fixação de comunidades no meio rural.

“Consolidar o sistema do litoral

definido no PROT Algarve, face à elevada sensibilidade ecológica e à vulnerabilidade da zona costeira, numa faixa do território em que se localiza a maioria dos aglomerados urbanos de grande dimensão do Algarve, e onde se concentram as atividades económicas motoras do desenvolvimento regional”, é um dos objetivos do novo programa.

O programa vai também procurar “promover a descarbonização, a transição energética - designadamente, nos domínios da mobilidade, energias renováveis e eficiência energética -, e fomentar uma economia circular, em linha com os desígnios do Pacto Ecológico Europeu”.

Criar um modelo territorial equilibrado e “fomentar a conectividade regional por via da promoção da intermodalidade e do reforço da integração de redes de acessibilidades e de

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mobilidade, intra e inter-regional” também são metas previstas.

A conversão do plano em programa regional do Algarve inclui ainda preocupações com a equidade territorial, a ligação entre litoral e interior e a redução das desigualdades socioeconómicas nas quatro unidades territoriais terrestres da região (Litoral Sul e Barrocal, Costa Vicentina, Baixo Guadiana e Serra), prossegue o documento.

O programa algarvio deve, ainda, “melhorar a governança e a cooperação transfronteiriça” e “desenvolver esforços acrescidos na concretização de modelos de cooperação mais amplos” para potenciar “complementaridades” nas áreas “económico empresarial”, de “infraestruturas e serviços públicos” e na “valorização do capital natural e do património cultural”.

As propostas estão “em linha com a Estratégia de Desenvolvimento Regional - Algarve 2030” e vão também minimizar o impacto da pandemia de covid-19 e “acelerar a resolução de problemas estruturais”. Em declarações à Lusa, José Apolinário destacou que o reforço proposto de 90 milhões de euros para o Plano de Eficiência Hídrica do Algarve vem juntar-se aos 200 milhões inicialmente destinados pelo PRR a esta matéria, dos quais 164 milhões já estão aprovados. O responsável salientou que, destes 90 milhões de euros de reforço para a gestão hídrica, 21 milhões serão aplicados em “aumentar a capacidade disponível e resiliência das albufeiras e sistemas de adução em alta existentes”, enquanto os outros 69 milhões vão permitir “reduzir perdas de água no setor urbano”.

A CCDR indicou, também, que a proposta prevê investimentos nas componentes de habitação (adequação da resposta de alojamento estudantil), investimento e inovação (‘hub’ Azul do Algarve e descarbonização) e de qualificações e competências (construção de novas infraestruturas e reabilitação e ampliação de escolas do 2.º e 3.º ciclos e escolas secundárias). As infraestruturas, nomeadamente, a Área de Acolhimento Empresarial de Lagos, a ponte Alcoutim –Sanlúcar de Guadiana, a variante Norte a Olhão e agora, também, a requalificação da Estrada Nacional 2 entre Faro e São Brás de Alportel, e a mobilidade sustentável (renovação da linha do Sul, no troço entre a Torre Vã e Tunes) também foram incluídas.

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4 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO REGIÃO FOTO D.R.
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Jovem tavirense bate recorde de vitórias numa temporada de universidade norte-americana

Tomás Luís, jovem tavirense de 21 anos, bateu este domingo o recorde de jogador com mais vitórias numa temporada da universidade de Belmont. A instituição do ensino superior fica na capital do estado do Tennessee, em Nashville. O jovem contou a sua experiência por terras norte-americanas ao POSTAL.

Tomás refere que foi para esta universidade “em janeiro de 2021. O contrato com a universidade é de quatro temporadas. Neste momento estou no final da minha terceira temporada”.

O nome da universidade é Belmont University e fica na capital do Tennessee que é Nashville, cidade com cerca de 700.000 habitantes, conhecida como a capital da música ‘country’.

“Vim para cá com bolsa integral, ou seja, tenho alojamento e comida pagos pela universidade. A única coisa que pago são

os voos”, explica. A universidade e o atleta têm os objetivos bem vincados, “o nos-

so objetivo é ganhar o torneio da conferência para qualificarmo-nos para os nacionais.

A universidade qualificou-se por três vezes para participar nos nacionais e em duas dessas vezes eu fazia parte da equipa, no ano de 2021 e 2023”. 2023 já é um ano para a universidade celebrar: “este ano a equipa bateu vários recordes. São eles: jogos consecutivos sem perder; temporada com mais vitórias de sempre e ‘rankeados’ pela primeira vez na primeira divisão em que só constam no ranking as universidades Top75 dos Estados Unidos da América”. O tenista algarvio finaliza com a importante marca desportiva que alcançou, “a nível pessoal bati o recorde de jogador com mais vitórias numa temporada da universidade. Para além disso, com a vitória do meu jogo, dei a vitória à equipa na final do torneio da conferência e a minha universidade vai competir de novo nos nacionais”.

Sete pessoas constituídas arguidas por prática de jogo ilícito em Almancil

Sete pessoas alegadamente envolvidas na prática de jogo ilícito foram constituídas arguidas pela GNR no sábado, durante uma ação de fiscalização em estabelecimentos de restauração e de bebidas em Almancil, no concelho de Loulé.

Em comunicado, a GNR indicou que os arguidos, com idades entre os 25 e os 53 anos, foram detetados no interior de um estabelecimento “a jogarem a dinheiro”.

Na ação foram apreendidos 3.480 euros e um baralho de cartas, adiantou a força de segurança.

O processo foi remetido para o Tribunal de Loulé.

Prisão preventiva para suspeito de traficar droga em Vila do Bispo

O Tribunal de Portimão decretou a prisão preventiva para um homem, com 36 anos, detido na sexta-feira por tráfico de estupefacientes em Vila do Bispo, anunciou a força de segurança.

A detenção ocorreu no âmbito de uma investigação iniciada há dois meses e que permitiu identificar o autor da venda de droga em vários locais do concelho de Vila do Bispo e zonas limítrofes, revelou a GNR. Durante a operação foram apreendidas

524 doses de heroína, 371 de cocaína, 1,5 gramas de MDMA, seis botijas de óxido nitroso (conhecido como gás hilariante), aparelhos de comunicações e diversos produtos alegadamente utilizados na atividade criminosa.

Município de Lagoa com orçamento participativo de 300.000 euros

Os munícipes de Lagoa podem, até 05 de junho, apresentar as suas propostas para a aplicação de 300 mil euros de Orçamento Participativo, anunciou a câmara municipal deste concelho algarvio.

Segundo um comunicado, o dinheiro será aplicado “em projetos materiais ou imateriais de inovação e conhecimento de interesse e benefício para o concelho” e a iniciativa promove “o exercício do mais puro conceito de cidadania”, tendo como objetivo “a melhoria da qualidade de vida de todos”.

A população pode apresentar as suas propostas em audições organizadas em quatro locais: no Centro Cultural D. Dinis, em Porches, a 08 de maio, no Salão Nobre da União das Freguesias de Estombar e Parchal, em 10 de maio, no Pátio das Gerações, no largo de Convento de S. José, em Lagoa, a 15 de maio, e na Sala do Mercado Municipal, em Ferragudo, a 17 de maio.

Os interessados também podem enviar as suas sugestões na plataforma digital do Orçamento Participativo, entre 22 de maio e 05 junho, conclui a nota.

REGIÃO 5 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023
breves
FOTOS D.R.
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ANÁLISE e Perspectivas Turísticas (24)

Elidérico Viegas

Regionalização

“O país da realidade tem de acabar com o país nominal inventado nas secretarias” - Alexandre Herculano

Éhoje consensual na vida e sociedade portuguesa que a pouca eficácia da máquina administrativa do Estado resulta, em boa medida, da relação vertical de cada ministério, sem qualquer lógica de organização territorial horizontal, coordenação, interligação e respeito pelas dinâmicas políticas, económicas e sociais das diferentes realidades regionais.

A falta de coerência política das várias forças partidárias em torno da regionalização, tem provocado a falta de uma visão clara, integrada e esclarecedora sobre o desenvolvimento económico e social do país, uma consequência natural de um Estado centralista e, por conseguinte, cada vez mais agregador de poder, ausente e distante das populações. Neste sentido, a regionalização apresenta-se como o instrumento mais adequado para aumentar a eficácia administrativa do Estado, através da transferência de competências, atribuições e meios para as futuras regiões, aproximando os centros de decisão das populações e garantindo, simultaneamente, os direitos participativos dos cidadãos na eleição dos órgãos responsáveis pela sua gestão e implementação.

DIA DO ALGARVE

mandos territoriais, que muitos recordam do serviço nas forças armadas, quer como circunscrições administrativas englobando várias comarcas.

A ideia instalada nos meios políticos e partidários, consubstanciada na afirmação segundo a qual a regionalização promove o caciquismo é absurda, assim como a acusação de não termos políticos à altura de governar as regiões.

O Algarve, por exemplo, sempre deu ao país muitos e bons governantes, e saberá encontrar os melhores entre os melhores para administrar e gerir os seus recursos e resolver os seus problemas.

O centralismo administrativo vem condicionando o centralismo económico, com efeitos ao nível do investimento e do emprego, eles próprios centralizados. A deslocação dos centros de decisão para a região, não tenho dúvidas, fixará o essencial do tecido empresarial que opera no Algarve, e que hoje joga as suas influências junto dos centros de decisão em Lisboa. O turismo constitui um bom exemplo desta realidade.

Neste contexto, e também por estes motivos, o centralismo revelou-se incapaz de promover um desenvolvimento equilibrado do país, tor-

O nosso sistema administrativo é excessivamente burocrático, velho e desactualizado, ineficaz e lesivo.

A regionalização é a solução mais credível para conduzir a necessária e indispensável reforma do Estado

O que está em causa na regionalização é a coragem para mudar, uma vez que o centralismo já provou representar um desperdício de recursos e enormes atrasos nas decisões, consubstanciado na falta de concepções integradas e potenciadoras de desenvolvimento económico e social sustentável, cuja face mais visível são as grandes assimetrias e desigualdades que se verificam ao nível do nosso país, designadamente entre o litoral e o interior.

A falta de rigor na delimitação das grandes regiões, seis já no século XIII (D. Dinis), e os abusos dos responsáveis pelas comarcas medievais, bem como as confrontações e choques entre as autonomias municipais e o centralismo do Estado, designadamente nos séculos XIV e XV, foram as razões apontadas para justificar a necessidade de agregar cada vez mais o poder.

No século XIV, o mapa de Portugal definia 6 áreas naturais, entre as quais o Algarve, e que se mantiveram mesmo depois das reformas liberais que instituíram os distritos no século XIX, à semelhança do modelo francês.

Este modelo vigorou até ao regime anterior, quer como modelo militar, os chamados co-

nando-se indispensável opor a esta estratégia de verticalidade uma outra capaz de conduzir o poder e a autoridade das decisões do topo para as bases.

O nosso sistema administrativo é excessivamente burocrático, velho e desactualizado, ineficaz e lesivo dos interesses do país e dos seus cidadãos. A regionalização é a solução mais credível para conduzir a necessária e indispensável reforma do Estado.

A regionalização deve, pois, ser entendida como um processo gradual, evolutivo e moderno, cujo sucesso dependerá da dinâmica e capacidade colectiva de todos, incluindo, naturalmente, a qualidade política e técnica dos nossos dirigentes.

Nestes termos, é preciso contrapor àqueles que acusam a regionalização de dividir o país, que o divisionismo resulta antes da incapacidade demonstrada pelo poder central no aproveitamento das potencialidades regionais e na resolução das assimetrias derivadas do vazio administrativo existente e da dependência das diversas delegações regionais de um órgão central - o seu ministério.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

PERCEPÇÕES…

E REALIDADES (19)

Mendes Bota | OPINIÃO

Antigo parlamentar e diplomata da União Europeia

Todos os dias são dias de qualquer coisa. Há dias mundiais, internacionais, nacionais, regionais, profissionais, individuais, etecetritais e sabe-se lá que mais. No amor há o dia do primeiro olhar, do primeiro toque, do primeiro beijo, da primeira cavalgada, do primeiro tudo, seja filme, passeio, praia, bailinho, anel, até que acabe, seja bem, seja mal, ou porque a vida também tem um final. E claro!, sem esquecer o Dia de S. Valentim, esse bispo casamenteiro, decapitado pelos romanos no ano de 273, e apeado do calendário católico em 1969. Religiosamente falando, é uma santidade pegada, quase um santo por cada dia, dum tempo de gente sadia imune às poucas vergonhas do confessionário. No topo da popularidade está, obviamente, o Dia de Natal, cuja época o comércio já antecipou mais de um mês na propaganda e prolongou para saldo das sobras. O Dia de Páscoa, para não lhe ficar atrás, promove coelhos e ovos de chocolate em abundância, e folares diversos. Para gente gulosa, se não há invente-se já o Dia do Pastel de Nata, do Dom Rodrigo ou do Folhado de Loulé. Para gente comilona, nem é preciso inventar: aí estão os Dias do Hamburguer, do Sushi, do Pão ou da Sanduíche. Ignore-se o Dia da Obesidade, próprio de gente chata que quer tirar aos outros o prazer de comer. Pena, que ainda não haja o Dia do Carapau Alimado ou do Arroz de Lingueirão. Haja esperança. Nos últimos tempos, nos últimos meses para ser mais preciso, desenvolveu-se em Portugal um fenómeno fantástico: o Dia das Mentiras, convencionado para o primeiro de Abril, replica-se agora em todos os dias do ano. Deixou de ser uma brincadeira, passou a caso sério, relegando o Carnaval ou o Dia da Gargalhada para um cantinho, até que chegue o Dia do Pânico, onde toda a gente pode chorar do terror a que isto chegou.

os anos são compridos e passam depressa. É só facturar.

Cá em baixo, dá que pensar. Se temos o Dia da Europa, o Dia de Portugal (mais Camões e Comunidades), e até o Dia da Restauração para os mais nostálgicos, porque razão não há o Dia do Algarve? Já temos um Hino, lindo aliás, fruto da inspiração do Maestro Armando Mota, com letra de José Carlos Barros, produzido em 2005 pela AMAL, ao tempo liderada por Macário Correia. Porque não ter um Dia do Algarve, feito feriado regional, para que os velhos e os novos algarvios se lembrassem do Reino que o Algarve já foi e da Região Autónoma que poderia ter sido e Lisboa não deixou.

A gesta dos Descobrimentos ou os alvores do Turismo têm datas algo difusas. Mas há duas que não enganam. A 16 de Fevereiro (de 1267) foi assinado o Tratado de Badajoz entre D. Afonso III de Portugal e D. Afonso X de Leão, no qual se estabeleceu que o Reino do Algarve pertencia ao Reino de Portugal. E, a 1 de Novembro (de 1808) deu-se início à revolta vitoriosa do povo de Olhão contra as tropas invasoras de Napoleão. É só escolher.

DIA DA MÃE

Odia de aniversário das pessoas mais próximas, familiares ou amigas, tem um lugar especial que não deve ser passado no esquecimento. Com festa ou sem festa, com ou sem bolo e velas, com canção ou sem canção, com prenda ou sem prenda, o serviço mínimo é um parabéns a você, pessoal ou telefónico, um beijo e um abraço aos pais, irmãos, filhos, tios, avôs, parentes ou primos em décimo grau se tão longe se quiser ir. Mas o Dia da Mãe que se celebra este 8 de Maio é uma ocasião muito especial de homenagem à maternidade e à figura familiar materna. Claro que há excepções, mas uma Mãe significa amor sem condições, instinto protector,

Porque não ter um Dia do Algarve, feito feriado regional, para que os velhos e os novos algarvios se lembrassem do Reino que o Algarve já foi e da Região

Autónoma que poderia ter sido e Lisboa não deixou

Matérias sensíveis e meritórias, radicando na defesa dos Direitos Humanos, merecem dias especiais consagrados à Mulher, ao combate à Escravatura ou à Violência. Pessoas complicadas, gostam do Dia ao Contrário, registe-se a onda de adesões. Na caserna, falta o Dia dos Generais para imitar o Dia dos Sargentos. E malta precavida, venera o Dia do Preservativo. Em suma, há Dias para todos os gostos, por vezes em datas diferentes de país para país. Muitos deles dão jeito, porque carregam Feriados às costas, para descanso do pessoal, ou ponte grevista. Mas o mais importante, é que tudo isto é negócio, dá dinheirinho, venham Dias, que

dádiva total sem nada exigir em troca. Ser Mãe significa colocar a felicidade dos filhos acima de si própria. É ser professora, cuidadora, protectora, sem tempo para cansaço nem sono descansado. Significa muito trabalho, dentro e fora de casa, para que nada falte a quem daquele ventre saiu. Significa compreender e saber perdoar as faltas, os pecados, as omissões, os defeitos grandes e pequenos do sangue do seu sangue. Ser Mãe é ser titular de um crédito enorme que nunca se cobrará. Perante tamanha idiossincrasia de amor, malditas sejam todas as guerras que roubam filhos às mães e mães aos filhos! *O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

6 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO

Jantar vínico promove

OPOSTAL marcou presença no jantar vínico realizado no passado dia 21 e ‘provou’ a sinergia harmoniosa à mesa proporcionada pela relação entre a loja e distribuidora “Brito Garrafeira”, o restaurante “Mercearia da Aldeia” e o produtor “João Tique.

O jantar foi marcado por uma gastronomia portuguesa de qualidade aliada a uma fantástica seleção de vinhos: Bellus Rosé, Suavis Tinto, Suavis Syrah, Cultus Tinto, Bellus Tinto, que proporcionaram um memorável momento.

O restaurante “Mercearia da Aldeia”, que recebeu este evento, localiza-se em Santo Estevão, Tavira, é caracterizado, por quem o visita, como tendo uma excelente comida caseira, um leque imenso de bons vinhos e um atendimento de qualidade.

Das novas iguarias da Mercearia da Aldeia, que fazem parte do menu deste ano e que estão à disposição dos clientes, sobressaem as saladas de quinoa e a de bulgur, sem es-

quecer a “tábua de broas” composta por tomate seco e azeitonas, amendoim e gila, passas e nozes, maçã e canela, amêndoa e figo simples, alfarroba, chouriço de frango e por fim, chocolate e nozes. Uma das caras deste jantar foi João Tique, produtor de vinhos de Évora, parceiro da Brito Garrafeira, que caracteriza a sua produção como artesanal. Os vinhos posicionam-se numa faixa média-alta e são apenas produzidas 10.000 garrafas por ano.

A vinha é sustentável e ecológica, com a enologia de intervenção mínima. Os vinhos são naturais, sem aditivos e com um mínimo de sulfitos, vocacionados para um público jovem, consciente, ecológico, ávido por diferenciação, indiferente a marcas, mas sensível ao processo produtivo e sobretudo

à experiência gustativa. Os vinhos produzidos por João Tique caracterizam-se por serem de uma elevada “pureza”, por terem uma identidade singular que “agrada aos sentidos” e ainda pela sua imagem bastante marcada. São vinhos artesanais realmente diferentes, “sem maquilhagens”.

"O meu bisavô, avô e pai já vendiam vinhos"

O POSTAL conversou durante o jantar com Pedro Brito, sócio gerente da loja e distribuidora Brito Garrafeira, localizada em Almancil, que conta entre outros vinhos, com alguns do produtor João Tique no seu portfólio. A empresa está ligada ao ramo há 72 anos, desde 1951. Pedro começa por contar que “atualmente somos a quarta geração a assumir com alma o legado deste negócio familiar. Não é uma empresa muito grande, mas já tem alguns anos de mercado. O meu bisavô, avô e pai já

vendiam vinhos. Todos têm essa ligação ao mercado do Algarve na venda de vinhos e medronhos”. A Garrafeira sente-se orgulhosa porque tem “um portfólio pensado em cada cliente, fruto de um trabalho contínuo de pesquisa de pequenos e médios produtores, de norte a sul do nosso país, riquíssimo em palatos, aromas, sensações e néctares vínicos”. Quando questionado do como e do porquê da ligação com o produtor João Tique, Pedro Brito revela:

“Nós temos bastante diversidade de vinhos e de outras coisas no nosso portfólio, mas achámos que havia [no mercado] uma procura para um tipo de vinho mais natural, e então decidimos apostar também nestes vinhos que até à data eram uma falha no nosso portfólio, acreditamos que há no mercado uma crescente procura deste tipo de vinhos 'raros'.”

A distribuição é feita no Algarve com vinhos provenientes de norte a sul do país. A escolha dos produtores é feita consoante a existência de uma mais-valia para o portfólio da Garrafeira.

Beber menos, mas melhor

O mercado algarvio de vinho, nas palavras do próprio, encontra-se “cada vez mais a procurar conhecer vinhos diferentes”, o que se reflete num “crescimento bastante bom este ano para a nossa empresa, fruto em boa parte da nossa aposta em produtores novos e deste aumento da procura que se caracteriza pela tendência de procurar produtos de qualidade. Não é por isso estranho que cada vez se vendam vinhos mais caros. As pessoas começam a preferir beber menos, mas melhor, do que mais e sem tanta qualidade”. 'Um vinho de qualidade tem de ser um vinho mais velho', ideia que é partilhada por uma boa parte da população, mas que não é necessariamente verdade: “há vinhos mais novos que têm muita qualidade. Um vinho de qualidade não tem de ser aqueles [vinhos] de reserva, como antigamente. É entendido no nosso país que vinho bom é vinho com muita madeira e muitos anos, mas não tem de ser esse o paradigma”.

Ao convite, o POSTAL espera que mais iniciativas como esta se realizem, sendo ou não convidado. AF

REGIÃO 7 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023
sinergia harmoniosa entre Brito Garrafeira, vinhos de João Tique e Mercearia da Aldeia
Produtor de vinhos – João Tique a falar sobre a maneira como “vê” o vinho | FOTOS HELENA GAUDÊNCIO DR POSTAL Loja Brito Garrafeira, em Almancil | FOTO DR Bolinhas caseiras de farinheira de presunto

Chumbar ou abandonar a escola acontece mais a sul do país: um em cada dez alunos no Algarve

Apercentagem de alunos que chumba ou desiste de estudar é mais elevada no sul do país do que no centro e norte, segundo o portal de estatísticas de Educação.

O Portal Infoescolas tem desde terça-feira novos dados disponíveis, nomeadamente dados regionais que permitem ver num mapa de Portugal quais as zonas do país onde os alunos têm mais dificuldades académicas.

Segundo estes dados, os distritos de Viana do Castelo e Braga são dois dos que se destacam pela positiva no que toca a taxas de retenção e abandono escolar. No primeiro ciclo, por exemplo, a taxa de retenção e abandono escolar é de 0% em Viana do Cas-

telo. Braga, Aveiro e Coimbra têm apenas 1%, Viseu e Leiria tem 2% e depois todos os outros distritos têm 3%, com exceção de Beja e Portalegre, que se destacam pela negativa, com taxas de chumbo e insucesso de 6% e 4%, respetivamente.

No 2.º ciclo destacam-se pela positiva as regiões de Viana do Castelo, Bragança e Aveiro com apenas 1% de chumbos e abandono, num mapa em que Lisboa, Portalegre, Setúbal e Beja voltam a ser as regiões com piores desempenhos médios (5% de chumbos e abandono).

Nove em cada dez alunos concluíram o 3.º ciclo no tempo esperado em 2020/2021, destacando-se novamente o norte litoral com melhores resultados e o sul

com menos casos de sucesso: A taxa de chumbos e abandono é de 7% em Portalegre e em Beja e de 6% em Lisboa, Setúbal e Faro No secundário, mais de um em cada dez alunos dos distritos de Lisboa, Beja e Setúbal chumbaram ou abandonaram os estudos: São 11% do total, segundo os dados do Infoescolas.

Um em cada dez alunos no ensino secundário na região de Faro (10%) também não concluiu com sucesso, segundo o mapa do Infoescolas, enquanto em Bragança, a taxa de retenção e desistência é de 9%. Há depois uma faixa com uma taxa de retenção e abandono de 7%, que atravessa o país desde o distrito de Leiria, passando por Santarém e até Évora. Portalegre, Castelo Branco, Coim-

bra, Viseu e Porto surgem com taxas de 6% e Aveiro, Guarda e Vila Real com 5%. Com maiores taxas de sucesso aparecem Braga e Viana do Castelo, com apenas 4% de retenção. A nível nacional, no ensino secundário, 77% dos alunos conseguiram concluir o curso científico-humanístico no ano letivo de 2020/2021 sem chumbar e os restantes 23% abandonaram a escola ou chumbaram durante o percurso que deveria ser de três anos. Olhando para a evolução ao longo dos anos, verifica-se que o insucesso tem vindo a diminuir: Em 2018/2019, 63% dos alunos conseguiu terminar o secundário nos três anos esperados, no ano seguinte a taxa subiu para 70% e, em 2020/2021, já eram 77%.

A tendência de melhoria também se regista entre os alunos que optaram por cursos profissionais: Eram 62% em 2108/2019, subiram para 65% no ano seguinte e para 70% em 2020/2021. Também entre os mais novos as taxas de sucesso tem vindo a aumentar: Em 2020/2021, 91% dos alunos do 1.º ciclo fez os quatro anos sem chumbar. A plataforma do Infoescolas tem novos dados relativos aos mais de 1,17 milhões de alunos matriculados nas mais de cinco mil escolas, contou o diretor-geral da DGEEC, Nuno Neto Rodrigues. Além do Infoescolas, a plataforma tem também o “Infocursos”, sobre cursos do ensino superior que, segundo Nuno Neto Rodrigues, será atualizado nas próximas semanas.

Mais de 30% dos alunos de 39 colégios teve 19 ou 20 a pelo menos uma disciplina

AS CONCLUSÕES são de um relatório divulgado esta terça-feira pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), que analisa as classificações internas dos alunos nos cursos científico-humanísticos entre 2017/2018 e 2021/2022. Numa análise às escolas em que os alunos tiveram classificações internas muito elevadas, os dados

mostram que esta tendência é observada, sobretudo, nas escolas privadas. No ano letivo passado, 84 das 101 escolas privadas com ensino secundário atribuíram classificações médias internas de entre 19 e 20 valores a, pelo menos, uma disciplina, sendo que essas notas foram atribuídas a mais de um terço dos alunos de 39 colégios. Nas 39 escolas, 46% dos

alunos superaram os 19 valores a, pelo menos, uma disciplina, sendo que 38% conseguiram o mesmo feito a todas as disciplinas. Admitindo que se possa tratar de um resultado pontual, a DGEEC olhou também para o número de escolas em que essa tendência se registou mais do que uma vez nos últimos cinco anos. No total, são 41 escolas particulares em que

a percentagem de alunos com notas internas altas superou os 30%, pelo menos, uma vez desde 2017/2018, sendo que na maioria esse cenário repetiu-se sempre. Há ainda oito escolas que o relatório identifica com repetições em quatro anos letivos, cinco escolas com três repetições e quatro escolas em que o cenário se registou apenas duas vezes.

DOIS MINUTOS PARA OS DIREITOS HUMANOS

2. LITUÂNIA

Para assinalar o Dia da Liberdade, a 25 de abril, a Amnistia Internacional distribuiu 1001 cravos no Desfile comemorativo em Lisboa. Por todo o país, a ação foi replicada pelos grupos de ativismo da organização. Cada cravo tinha a história de uma pessoa que, por defender a liberdade de expressão e de manifestação pacífica, acabou por perder a sua. Todos os casos partilhados integram a campanha Protege a Liberdade, que apoia movimentos sociais que atuam por mudanças positivas pelos direitos humanos.

A Lituânia aprovou, a 20 de abril, alterações à legislação referente à proteção da fronteira estatal que legalizam a prática de pushbacks (retornos forçados de refugiados e migrantes sem o devido processo legal). Esta mudança conduz os migrantes de volta à violência, intimidação e maus-tratos generalizados na Bielorrússia, sendo proibida à luz do direito internacional. Com esta aprovação, a Lituânia fica em rota de colisão com a legislação da União Europeia (UE) e com o Tribunal de Justiça da UE.

A política de repressão do governo nicaraguense, que procura silenciar qualquer voz dissidente, continua a crescer, incorporando novos padrões de violações de direitos humanos. Desde que a população saiu às ruas para se manifestar pacificamente contra as reformas do sistema de segurança social, em 2018, o uso excessivo da força pelas autoridades já fez mais de 300 mortos e 2.000 feridos. Além disto, os manifestantes têm sido alvo de detenções arbitrárias, tortura e desaparecimentos forçados.

No seguimento dos terramotos que atingiram a Turquia, as pessoas com deficiência a viver em campos de deslocados têm sido esquecidas na resposta humanitária dada à catástrofe. A falta de instalações sanitárias acessíveis a pessoas com pouca ou nenhuma mobilidade, e o pouco apoio especializado, têm levado pessoas com deficiência e idosos a pedir ajuda a familiares na recolha de alimentos e bens essenciais e na facilitação de cuidados de higiene.

A Amnistia Internacional recorda os governos do Chile e do Peru que devem terminar com a militarização das suas fronteiras em resposta à chegada de migrantes, principalmente da Venezuela e do Haiti, e garantir-lhes a devida proteção internacional. A organização estima que pelo menos 300 pessoas - entre as quais crianças, mulheres grávidas e pessoas com doenças crónicasestejam retidas na fronteira entre o Peru e o Chile, sem acesso a comida, água, abrigo ou cuidados de saúde.

8 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO
www.amnistia.pt/apoiar-amnistia-internacional/ Junte-se a nós. Torne-se nosso apoiante 2 3 5 1 4
1. PORTUGAL 3. NICARÁGUA 4. TURQUIA 5. CHILE E PERU

Vem aí o passeio comentado sobre “A Arte da Ornamentação das Casas de Odeleite e Castro Marim”

No dia 7 de maio, este domingo, no âmbito da programação dos Mercadinhos na Aldeia (1º domingo de cada mês, em Odeleite), o município de Castro Marim promove um passeio comentado sobre “A Arte da Ornamentação das Casas de Odeleite e Castro Marim”, com a arquiteta Marta Santos. A ornamentação das fachadas, recorrendo a várias técnicas de revestimento, como as caiações, marmoreados, escaiolas, esgrafitos e trabalhos de relevo em argamassa, para além das suas exigências técnicas e construtivas, revelam a existência de uma

classe operária especializada e organizada de artífices, bem como as motivações e gosto dos seus encomendadores.

O concelho de Castro Marim destaca-se pela originalidade e erudição destas técnicas de revestimento, evidenciando uma rede organizada e especializada de mestres construtores e de uma encomenda esclarecida na arte de ornamentação da casa, não apenas na arquitetura da cidade como na dos núcleos rurais.

A proposta de passeio pela aldeia de Odeleite vai permitir a observação de vários programas decorativos na ornamentação

da casa, estabelecendo paralelos entre a arquitetura das freguesias rurais do resto do concelho, com o seu próprio núcleo urbano histórico e ainda as suas relações com Vila Real de Santo António. O passeio terá uma duração aproximada de 2 horas (9:30-11:30) e decorrerá nas povoações de Odeleite e da Foz de Odeleite. A participação é gratuita, com número limitado de inscrições a cerca de 30 participantes, o que obriga a uma inscrição prévia dos interessados até às 12:00 do dia 5 de maio, através dos contactos do Gabinete de Apoio ao Munícipe:

gam@cm-castromarim.pt ou 281 510 778.

NOTA BIOGRÁFICA

Arquiteta e Mestre em Reabilitação da Arquitetura e Núcleos Urbanos (FAUL), Pós-graduada em Património Cultural Imaterial (ULHT). Atualmente a finalizar a tese de Doutoramento “Conservação de superfícies arquitetónicas exteriores da região do Algarve: Os ornatos em relevo e os trabalhos de massa”, desenvolvido no âmbito do Doutoramento em Arquitetura, Conservação e Restauro na FAUL e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Algar vence primeira edição do concurso Electrão

Prémio no valor de 10 mil euros distingue a iniciativa “Separa e Ganha”, que consiste numa competição entre escolas, que promove a reciclagem na região do Algarve

A Algar é a vencedora da primeira edição do concurso lançado pelo Electrão, em 2022, para distinguir as iniciativas de sensibilização, comunicação e educação desenvolvidas pelos Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU) de forma a incentivar a separação e correto encaminhamento de pilhas e equipamentos elétricos usados para reciclagem.

O prémio, no valor de 10 mil euros, foi atribuído à Algar pela dinamização da campanha “Separa e Ganha”, que consiste numa competição entre escolas, que promove a reci-

clagem na região do Algarve. “O objetivo do prémio lançado pelo Electrão é promover uma colaboração mais estreita com os Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos, que são determinantes para o sucesso da recolha e reciclagem, dada a proximidade que têm com o cidadão”, explica a Algar em comunicado.

O prémio pretende distinguir campanhas inovadoras, desenvolvidas pelos SGRU, promovendo aos mesmo tempo a disponibilização de soluções diferenciadoras que potenciem a recolha de resíduos, nomeadamente pilhas e equipamentos elétricos usados.

“Os SGRU que integram a rede Electrão são parceiros de referência na recolha de pilhas e equipamentos elétricos usados. As campanhas de sensibilização, desenvolvidas tendo em conta a especificidades de cada região, podem fazer a diferença na educação ambiental envolvendo ao

mesmo tempo uma comunidade mais vasta. O trabalho desenvolvido pela Algar nas escolas é um exemplo disso e os resultados estão à vista”, congratula-se o diretor-geral do Electrão, Ricardo Furtado.

Campanha “Separa e Ganha” da Algar foi lançada no ano letivo de 2012/2013

A campanha “Separa e Ganha” da Algar foi lançada no ano letivo de 2012/2013.

Ao longo de 10 anos a sensibilizar mais de 188 mil alunos de várias escolas e a promover as boas práticas possibilitou a recolha de mais de 84 toneladas de pilhas e equipamentos elétricos usados.

No ano letivo de 2022/2023 a campanha chegou a 137 escolas inscritas alcançando mais de 46 mil alunos. Em parceria com a Escola Electrão este sistema recolheu, em 2022, mais de 23 toneladas de pilhas e equipamentos elétricos usados. Fora do âmbito da campanha a concurso, a Algar

recolheu 584 toneladas de pilhas e equipamentos elétricos usados, que foram enviados para reciclagem pelo Electrão, o equivalente a 1,3 quilos por habitante, que contribuíram para os resultados nacionais nestes fluxos.

“A Algar, S.A., é a empresa responsável, no Algarve, pela valorização e tratamento dos resíduos Urbanos produzidos na região, presta um serviço público essencial aos cidadãos e a todas as atividades económicas que são alvo da sua abrangência, sendo seu dever sensibilizar todos os cidadãos à adoção de comportamentos ambientais adequados quanto à gestão dos seus recursos e resíduos e facilitar todo o processo de separação de embalagens para reciclar”, afirma Telma Robim, administradora executiva da Algar.

“A parceria, entre a Algar e o Electrão, veio melhorar a separação nas escolas, mas também influenciou

a comunidade envolvente, já que as escolas, devido à tradição de reciclagem deste fluxo e das condições de contentorização que dispõem, garantem uma melhor separação e o correto encaminhamento para valorização, passando a população a identificar

estes locais como pontos de receção desses resíduos. A contribuição da população residente na envolvência das escolas foi também fundamental, além de reciclarem também ajudaram as escolas a alcançar os melhores resultados para a região”, acrescenta.

REGIÃO 9 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023 www. PreviaSafe .pt Tel. : 28 9 39 3 71 1 | 28 9 82 4 861 geral@previa.pt
PUB.

29-03-1943 Ÿ 21-04-2023

Agradecimento

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que se dignaram a acompanhar o seu ente querido à sua última morada ou que de qualquer forma, lhes manifestaram o seu pesar.

SANTA MARIA - TAVIRA

SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA

Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

EDITAL / ANÚNCIO

Exercício do direito de preferência

José Martins Gonçalves Murtinha e mulher Almerinda da Conceição Amaro Murtinha, casados no regime de comunhão geral bens, contribuintes nºs 170715620 e 170715612, residentes em 32 Rue du Pic, 38640 St. Michel, França, representados por Francisco Assis Gonçalves Murtinha, casado, Nif 141367059, residente na Rua Frei João de Faro nº 34 – 2º C, 8000-351 Faro, vem comunicar a eventuais interessados em exercer o direito legal de preferência, na venda de:

Prédio rústico, sito em Estiramantens, da União das freguesias da Luz Tavira, Stº Estevão, concelho de Tavira, inscrito ora na matriz sob o artigo 2868 (ex artigo 1039 da freguesia de Stº Estevão), descrito na Conservatória do Registo Predial de Tavira, em nome dos proprietários, sob o nº 0453/280688, com a área aproximada de 1.200 m2.

A venda vai ser efectuada até 30/07/2023, pelo preço total de 6.000,00 € (seis mil euros), em qualquer Cartório Notarial do Algarve, com o pagamento a ser efectuado na integra no acto da escritura de alienação a Gilberto Padeiro Figueira, solteiro, maior, Nif 278825958, residente no Sitio das Areias C.P. 79 A, 8700-062 Moncarapacho.

Assim, ao abrigo do disposto no artigo 1380 do Código Civil, vem dar conhecimento aos proprietários de terrenos confinantes, a faculdade de exercerem o direito de preferência, devendo no prazo de 8 (oito) dias úteis, a contar da presente publicação, por escrito, conforme estipula o nº 3 do artigo 416 do Cº Civil, se pretendem exercer o direito de preferência na venda, a dirigir ao procurador dos vendedores atrás identificado.

O presente anúncio é efectuado por impossibilidade de identificar os titulares e respectivas morada dos prédios confinantes e recusa em fornecer elementos por parte da Autoridade Tributária.

Faro, 20/04/2023

ALZIRA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES

21-08-1936 Ÿ 25-04-2023

Agradecimento

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, ou que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

CONCEIÇÃO - TAVIRA

CONCEIÇÃO E CABANAS DE TAVIRA - TAVIRA

Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

DORILA DA SILVA FERNANDES

16-02-1938 Ÿ 29-04-2023

Agradecimento

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, ou que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

CONCEIÇÃO - TAVIRA

CONCEIÇÃO E CABANAS DE TAVIRA - TAVIRA

Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

MARIA ADÉLIA GONÇALVES FRANCISCO

13-01-1935 Ÿ 30-04-2023

Agradecimento

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos os que a acompanharam em vida e nas suas cerimónias exéquias, ou que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

SANTA CATARINA DA FONTE DO BISPO - TAVIRA

SANTA MARIA E SANTIAGO - TAVIRA

Agência Funerária Santos & Bárbara, Lda.

Francisco Assis Murtinha (POSTAL do ALGARVE, nº 1306, 5 de maio de 2023)

10 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO ANÚNCIOS
ROSA COSTA LEANDRO

Funerária Santos & Bárbara inaugura novo espaço em Tavira na comemoração do 45.º aniversário

“São 45 anos de ofício. Para este novo espaço avançámos com um novo conceito tumultuoso.

Para além de uma loja de artigos funerários e religiosos temos também um gabinete de apoio documental e psicológico e uma sala de reuniões e formações”, explica

Carlos dos Santos

O dia 1 de maio celebra mais do que apenas o Dia do Trabalhador. Para a Funerária Santos & Bárbara, a data faz parte da história e do presente da empresa. Foi a 1 de maio de 1978 que a agência funerária abriu portas em Tavira, e 45 anos depois, no mesmo dia, inaugurou na rua 1.º de maio o seu novo espaço.

O objetivo do mais recente espaço, anteriormente um restaurante, era fazer com que as pessoas se sentissem à vontade: “queríamos criar um espaço simples, confortável e ser o mais inclusivo possível”, começa por contar o filho do fundador Carlos dos Santos ao POSTAL

“São 45 anos de ofício. Para este novo espaço avançámos com um novo conceito tumultuoso. Para além de uma loja de artigos funerários e religiosos temos também um gabinete de apoio documental e psicológico e uma sala de reuniões e formações”, explica Carlos dos Santos.

Carlos conta que uma vez, o pai, no Dia de Natal, teve que se au-

sentar de casa para ir laborar porque “não há horários” neste tipo de ofício, “é um ramo que trabalha 24 sobre 24 horas. Por essa razão, só posso deixar o meu agradecimento aos familiares dos nossos trabalhadores pelo apoio

que lhes prestam. Não é um trabalho fácil. Quero ainda agradecer em nome da empresa a todos os que colaboraram para o engrandecimento da Santos & Bárbara, o meu muito obrigado”, finaliza.

A antiga agência na Rua Fumeiros

de Diante vai funcionar doravante como armazém.

Santos & Bárbara foi fundada a 1 de maio de 1978

A Santos & Bárbara foi fundada a 1 de maio de 1978 por João Sebastião dos Santos Bárbara e sua esposa Maria Almerinda Gonçalves.

Na passagem do seu 45 aniversário, esta segunda-feira, 1 de maio, decidiu inaugurar a nova sede da empresa familiar que se tornou numa das agências funerárias de referência do Algarve, tanto pela personalização dos serviços que presta como pela constante atualização e modernização. AF

REGIÃO 11 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023 FOTOS AFONSO FREIRE | POSTAL D.R.

Novas medidas do Alojamento Local vão ter efeito devastador no Algarve

Osol, a comida e a boa comida continuam a ser dos maiores cartões de visita do país. Os turistas estrangeiros rendem-se aos encantos de Portugal e deixam-se embalar pelos preços ainda relativamente baixos, comparando com outros destinos. Só que a proposta apresentada pelo Governo de agravamento do setor do Alojamento Local – que no Algarve corresponde a cerca de 60% da oferta turística – coloca agora vários pontos de interrogação no setor. Quem ganha o seu pão a arrendar casas não vê com bons olhos o que aí vem.

“Há histórias dramáticas de proprietários de alojamentos no Algarve, que ficaram no desemprego com a pandemia, investiram todas as suas poupanças na remodelação das suas casas, para assim terem uma fonte de rendimento no setor. E agora, com esta proposta do Governo de agravamento das condições, temem perder o emprego e não reaver o investimento”, contou ao Postal do Algarve a coordenadora da região Sul da ALEP – Associação do Alojamento Local em Portugal.

Helena Raimundo fez questão de frisar que esta instabilidade já está a ter ecos além-fronteiras. “A notícia desta realidade já chegou ao estrangeiro, com vários operadores turísticos preocupados, pois não sabem o que vai acontecer e querem servir da melhor maneira os seus clientes. Estas medidas podem levar já ao cancelamento de registos e levar os turistas para outros destinos”, bem como inviabilizar novas reservas. “O agravamento das medidas vai ter

um efeito devastador no Algarve”. Mas afinal de contas o que está em causa? No pacote ‘Mais Habitação’ fala-se, entre várias medidas, no agravamento do IMI, bem como da criação de uma Contribuição

Registos no Algarve por concelho

Extraordinária sobre o Alojamento Local. “A proposta dessa taxa começou nos 35% mas agora está nos 20%. Ainda assim, numa casa de tipologia T1, e consoante a área, o valor dessa taxa pode chegar aos

3 ou 5 mil euros/ano”.

A responsável da ALEP salienta que a maioria dos proprietários são pequenos empresários, com uma ou duas casas. “Não estamos a falar de grandes multinacionais

com uma capacidade de investimento alta. Qualquer medida de agravamento vai ter um forte impacto nestas pessoas”. E Helena Raimundo não tem dúvidas do que vai acontecer. “A serem aprovadas estas medidas, os proprietários vão optar pela via da ilegalidade, algo que enquanto associação temos combatido nos últimos anos”. Esta realidade é, para a ALEP, má para todos. “Cria-se toda uma atividade paralela, onde a qualidade da oferta diminui, o Governo não recebe impostos. É dinheiro que não entra na nossa economia em prol de uma maior qualidade de serviço”. Helena Raimundo relembra que o efeito não vai afetar apenas as 55 mil famílias que dependem do Alojamento Local. “Não nos podemos esquecer daqueles que indiretamente estão ligados a este setor, como as empresas de tranfers e de limpeza, as lavandarias. Todos saem a perder”.

Mais de 3100 registos desde fevereiro

Apesar de toda a indefinição no setor, o número de novos registos continua a aumentar. E o Algarve está na frente do pelotão: desde meados de fevereiro, altura em que o primeiro-ministro anunciou as novas medidas, que existem mais 3.100 registos na região algarvia. O distrito de Faro – total de 43.312 registos – foi o que registou a maior subida no país.

“Esta correria a novos registos espelha o receio das pessoas em não se poderem registar no futuro, à semelhança do que já acontece na zona de Lisboa e Porto. E assim têm mais opções em aberto sobre o que fazer. Mas isso pode ser contraproducente, pois podem vir a serem confrontadas com os agravamentos já anunciados”.

Albufeira ‘campeã’ do Alojamento Local

A 1 de maio, Portugal tinha 115.601 registos de Alojamento Local. O Algarve ascende a 43.312 habitações legalizadas (37,4% do total nacional) e prontas a receber quem visita o sul do País. Sem surpresas, o concelho de Albufeira lidera o ‘ranking’ de AL no Algarve, com 9.743 registos.

Se a Albufeira juntarmos Loulé (6.659), Portimão (5.932) e Lagos (5.709), então o número ultrapassa mais de metade dos alojamentos na região. JT

12 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO
Helena Raimundo, coordenadora da região Sul da ALEP – Associação do Alojamento Local em Portugal
Aloj. Modalidade Aloj. Distrito CONCELHO Total Apartamento Hostel Hospedagem Moradia Quartos Faro Albufeira 9743 7000 10 44 2666 23 Alcoutim 35 1 0 4 30 0 Aljezur 1153 253 10 125 742 23 Castro Marim 473 210 0 9 253 1 Faro 1005 436 23 168 346 32 Lagoa 3636 1775 1 37 1799 24 Lagos 5709 3824 32 294 1478 81 Loulé 6659 4249 7 58 2323 22 Monchique 95 8 0 18 66 3 Olhão 1413 736 3 41 614 19 Portimão 5932 5226 19 46 615 26 São Brás de Alportel 147 5 0 14 122 6 Silves 2183 1532 4 13 610 24 Tavira 2778 1972 0 40 745 21 Vila do Bispo 1134 354 14 95 626 45 Vila Real de Santo António 1217 871 4 13 326 3 TOTAL GERAL 43312 28452 127 1019 13361 353
13 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO POSTAL, 5 de maio de 2023

Lídia Jorge vence Prémio Vida Literária Vítor Aguiar e Silva

OPrémio Vida Literária

Vítor Aguiar e Silva, no valor de 20 mil euros, foi atribuído à escritora algarvia Lídia Jorge, “personalidade de invulgares méritos e reconhecimento na atividade cultural”, anunciou na passada sexta-feira a Associação Portuguesa de Escritores (APE). Nesta que é a segunda edição da iniciativa conjunta da APE com a Câmara Municipal de Braga, relativa ao biénio 2022/2023, Lídia Jorge foi distinguida por unanimidade do júri, constituído pela direção, que destacou também a projeção da escritora “aquém e além fronteiras”.

Para este prémio, foi ainda considerado “o percurso notável da

escritora, romancista, poeta, autora de obras marcantes nos domínios do conto e da crónica, com numerosas e aplaudidas traduções em diversas línguas”.

No início de julho de 2021, a APE lançou, em Braga, a primeira edição do Prémio Vida Literária Vítor Aguiar e Silva, a ser atribuído de dois em dois anos. O primeiro vencedor foi o ensaísta e tradutor João Barrento.

Na altura, o presidente da APE, José Manuel Mendes, explicou que o objetivo da iniciativa era “recolocar” o Prémio Vida Literária “num lugar mais forte e marcante”, atribuindo-lhe o nome de Vítor Aguiar e Silva, vencedor da edição 2020 do Prémio Camões.

Vítor Aguiar e Silva viria a mor-

rer no final do ano seguinte. “O prémio vai distinguir poetas, ficcionistas e ensaístas de topo, de consagração plena, no quadro da cultura portuguesa”, referiu o presidente da APE, então. O prémio não tem candidaturas, sendo o vencedor eleito pelo júri. Anteriormente, quando se designava apenas Vida Literária, o prémio foi atribuído a autores como Miguel Torga, José Saramago, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, Óscar Lopes, José Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, Mário Cesariny, Vítor Aguiar e Silva, Maria Helena da Rocha Pereira, João Rui de Sousa, Maria Velho da Costa e Manuel Alegre. Nascida em 1946, no Algarve,

Festival Internacional de Blues regressa ao Teatro Lethes

A 9ª edição do Festival Internacional de Blues de Faro regressa ao Teatro Lethes, em Faro, a 12 e 13 de maio, para apresentar algumas das melhores atuações de Blues no panorama internacional

No dia 12, pelas 21:30, sobe ao palco o guitarrista canadiano Troy Nahumko acompanhado no baixo pelo espanhol Elias Martinez Gomez e convidarão alguns músicos associados da Blues a Sul. Para fechar a noite, atuam os Gringo’s Washboard Band (BR/PT), uma banda num estilo Blues Mississippi/New Orleães que se apresenta em quinteto com instrumentos como o washboard, o trompete ou o contrabaixo.

No dia 13 o palco pertence aos Wax & Boogie (ES) que trarão da Catalunha o Boogie Woogie e o Rythm & Blues dos anos 50 e

prometem pôr a sala a dançar! Mas antes, por volta das 21:30 ainda há tempo para o duo Hearts & Bones levar o público ao intimismo do Blues mais antigo, caracterizado pelas guitarras acústicas.

Nesse mesmo dia, pelas 15:00 haverá um workshop direcionado a todos os músicos interessados, que decorrerá no Gimnásio Clube de Faro e será leccionado por Troy Nahumko.

Ao longo do fim de semana estará presente no Teatro Lethes uma exposição de pintura intitulada “Live on Canvas”, onde Margarida Freire apresenta pinturas de músicos da esfera do Blues.

Estes espectáculos são organizados pela Blues a Sul e pelo Teatro Lethes e têm o apoio da Câmara Municipal de Faro.

O preço dos bilhetes é de 10 euros diário e 18 euros para os dois dias, encontrando-se à venda em www.bol.pt, nas lojas aderentes e na bilheteira do Teatro Lethes, situado na Rua de Portugal, 58, em Faro.

Lídia Jorge estreou-se com a publicação de “O Dia dos Prodígios”, em 1980, um dos livros mais emblemáticos da literatura portuguesa pós-revolução.

Em 1988, “A Costa dos Murmúrios” abriu-lhe as portas para o reconhecimento internacional, tendo sido posteriormente adaptado ao cinema por Margarida Cardoso.

“O Vento Assobiando nas Gruas” (2002) aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. A obra venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da APE em 2003.

Entre muitas outras, Lídia Jorge escreveu ainda obras como “O Va-

le da Paixão”, “Combateremos a Sombra”, “Os Memoráveis” ou “O Livro das Tréguas”, a sua estreia na poesia.

À autora foram atribuídos alguns dos principais prémios nacionais, alguns deles pelo conjunto da obra, como o Prémio da Latinidade, o Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores ou o Prémio Vergílio Ferreira.

No estrangeiro, venceu a primeira edição do prémio Albatross da Fundação Günter Grass, o Grande Prémio Luso-Espanhol de Cultura e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara, entre outros.

NOTA: Ler entrevista de Paulo Serra nas páginas 22 e 23

Feira de Maio de volta a Quelfes com atividades para toda a família

A Feira de Maio está, este fim de semana, de volta a Quelfes, de 5 a 7 de maio, e contará com uma programação repleta de atividades para toda a família

Esta feira regressa após muitos anos de ausência, organizada pela Junta de Freguesia de Quelfes, com o apoio do Município de Olhão, a Empresa Municipal Fesnima e a TVI.

Este evento tradicional “é uma celebração da cultura e artesanato locais e tem sido aguardada com bastante entusiasmo por parte de toda a comunidade”, refere a junta de freguesia em comunicado.

“Haverá uma variedade de expositores locais e regionais, onde os visitantes poderão explorar e descobrir artesanato, gastronomia e produtos típicos da região”, acrescenta.

O evento será marcado pelas apresentações musicais de José Malhoa, na sexta-feira, Tributo a António Variações por Kássio, no sábado, e ao longo de toda a tarde de domingo o programa da TVI “Somos Portugal”.

“A Feira de Maio é uma ocasião única para os visitantes conhecerem a cultura e o património da região do Algarve, assim como para apreciar a gastronomia local e os produtos regionais de qualidade”, salienta a organização .

14 POSTAL, 5 de maio de 2023 CADERNO ALGARVE com o EXPRESSO CULTURA

A arte pode ser sentida na PELE?

Além disso, beneficiam duma formação multidisciplinar, em que o desenho, a pintura, a escultura, a fotografia, a videoarte e a arte digital/multimédia se complementam na sua formação.

A criação do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) foi também essencial neste processo, sobretudo do ponto de vista da investigação em Artes Visuais, permitindo a construção do conhecimento neste domínio, mas estando este muito associado à própria formação dos alunos, sobretudo ao nível do mestrado e do doutoramento no âmbito das Artes Visuais, que abriram mais recentemente na UAlg. Assim, o centro de investigação e a formação em Artes Visuais interligam-se quase como um laboratório de criação e aprendizagem neste domínio científico/artístico, em que a arte e a ciência se entrecruzam, tornando-se a arte ciência e a ciência arte.

Faro”, lançado oficialmente no dia 29 de março e inserido na Bienal Cultura e Educação do Plano Nacional das Artes. Trata-se de um percurso que apresenta o trabalho desenvolvido nas diferentes escolas do Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa durante o ano letivo, tendo como impulso a PELE: estímulo para a criação e fruição artísticas, explorando todas as suas possibilidades, conceito para uma mudança das metodologias utilizadas em sala de aula (sentir na pele).

SAÚL NEVES DE JESUS

Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

Desde os primórdios da humanidade, quando o homem ainda não tinha um domínio completo da linguagem e da escrita, que a arte esteve presente nas manifestações simbólicas, em particular nas pinturas rupestres localizadas nas cavernas. Mas, para além da dimensão comunicacional, a arte tem tido uma dimensão emocional nas expressões humanas.

Inclusivamente, por vezes parece que sentimos na pele a emoção induzida por uma obra de arte. Nesses momentos, há que saber apreciar, fruindo com a sensação corporal produzida.

A fruição e a produção artística parecem encontrar no Algarve

condições climatéricas excelentes. Com uma luz que permite uma cor e um brilho especiais, vários artistas de renome, portugueses e estrangeiros, têm vindo residir para o Algarve nos últimos anos. Desta forma o Algarve tem sido, não apenas local de fruição, mas também espaço e tempo de produção artística no âmbito das Artes Visuais.

Num projeto iniciado já no século XXI, no Algarve começou-se também a desenvolver o conhecimento e a investigação no domínio das Artes Visuais, tendo a Universidade do Algarve (UAlg) sido essencial para isso, com a abertura da licenciatura em Artes Visuais, permitindo a existência no Algarve dum ambiente formal para aprendizagem no âmbito das artes visuais. Com um corpo docente constituído sobretudo por artistas, os alunos têm tido oportunidade de vivenciar de perto o mundo da arte na sua complexidade e articulação entre a teoria e a prática.

A relação com a comunidade tem sido desde o início um dos aspetos muito valorizado pela equipa de docentes, sendo constantemente feitas mostras ou exposições do trabalho artístico produzido nas atividades letivas, em particular pelos próprios alunos. Muitas das atividades de mostra do trabalho produzido, permitindo a fruição por parte dos “espetadores”, têm sido realizadas na Galeria Trem, em Faro, ou no Convento de Santo António, em Loulé, expressando o reconhecimento e o apoio que ambas as autarquias têm proporcionado às Artes Visuais na UAlg. Mas não é apenas ao nível do Ensino Superior que as artes têm tido um incremento no Algarve. Também ao nível do Ensino Básico e Secundário têm ocorrido iniciativas que procuram sensibilizar os estudantes para as artes e cultura, bem como têm sido realizadas atividades que pretendem contribuir para o desenvolvimento cultural na comunidade. Neste âmbito destacaria a iniciativa “PELE - Percurso Artístico

A Bienal Cultura e Educação 2023 decorre de 1 de março a 30 de junho de 2023, tendo uma dimensão nacional e sendo dirigida à infância e juventude, visando refletir e disseminar o lugar das expressões e das linguagens artísticas na educação, formal e não formal, através de uma programação cultural integrada e diversa, com o grande objetivo de transformar as instituições culturais em território educativo e as escolas em pólos culturais. Trata-se de um movimento para reconhecer quem está a trabalhar para o público infanto-juvenil e reforçar redes de colaboração e circulação.

A cidade de Faro acolheu este evento na semana do 24 a 28 abril, com um programa que incluiu exposições, espetáculos, concertos, visitas, conferências, oficinas, entre outros, para valorizar a criação e a programação para a infância e a juventude, os artistas, os professores e os mediadores, quer nas instituições culturais, quer nas educativas.

Com a PELE pretendeu-se trazer a escola para a rua, derrubando os seus “muros” e abrindo-a para os espaços da arte, cultura e lazer da cidade, permitindo que a Rua de Santo António, a Alameda João de Deus, etc, se enchessem de ritmo, cores, sabores e, sobretudo, gentes.

O Agrupamento Pinheiro e Rosa tem sido pioneiro numa série de iniciativas e mais uma vez revelou o seu potencial e constituiu exem-

plo ao nível do papel da escola nas artes e na cultura, envolvendo as associações culturais e artísticas locais.

Cada vez mais a escola deve estar inserida na comunidade e esta na escola, numa interação constante, permitindo que os espaços e os tempos de aprendizagem e desenvolvimento sejam constantes e diversificados.

Naquele que foi o meu primeiro artigo científico, ainda como estudante finalista na Universidade de Coimbra, intitulado “O sentido da Escola”, em 1989, salientava que a escola deveria ser cada vez mais um espaço e tempo de aprendizagem e desenvolvimento com prazer para quem aprende e para quem ensina.

A arte, enquanto catalisadora de emoções positivas, pode constituir um instrumento importante neste sentido...

ARTES VISUAIS Ficha técnica

Direção GORDA, Associação Sócio-Cultural

Editor Henrique Dias Freire Responsáveis pelas secções:

• Artes Visuais Saúl Neves de Jesus

• Café Filosófico Maria João Neves

• Crónicas de um Beduíno Cobramor

• Bibliotecofilia

Maria Luísa Francisco

• Espaço ALFA Raúl Coelho

• Império Júdice Fialho Luís de Menezes

• Letras e Literatura Paulo Serra

• Mas afinal o que é isso da cultura?

Paulo Larcher,

Fotos: António Homem Cardoso

• Os Dias Claros Jorge Queiroz Colaborador desta edição

Mauro Rodrigues e-mail redação: geralcultura.sul@gmail.com

publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve FB https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve

MAIO 2023 Ÿ n.º 174
8.947 EXEMPLARES
Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o
www.issuu.com/postaldoalgarve
Cartaz da iniciativa “PELE” (abril de 2023) Imagem de pintura rupestre localizada na caverna de Chauvet (França) FOTO DR Desenho de Raquel Figueiredo, aluna do Agrupamento Pinheiro e Rosa FOTO DR

O Algarve de Costa-a-Costa: Albufeira:

o nosso Gibraltar?

muralhas: altas, poderosas, pouco menos que inexpugnáveis. Albufeira, aliás, pode apresentar galões históricos de gabarito. Foi na época romana um burgo com uma forte actividade económica baseada na pesca e na mineração e, após a conquista árabe no Séc. VIII, ganhou novas fortificações e importância económica, sobretudo graças ao comércio que foi capaz de desenvolver com o norte de África.

PAULO LARCHER

Jurista e escritor

FOTOS: António Homem Cardoso

Conta uma antiga lenda que o nosso Rei Dom Afonso III viveu no castelo de Albufeira muito apaixonado por uma bela escrava muçulmana que, infortunadamente, já teria entregue o seu coração a um homem da sua religião. Mas as lendas têm o condão de conduzir as narrativas para onde mais lhes convêm e, nesta em particular, o amor

do Rei consegue derrubar as reticências da linda moura e conceber um rebento real que lhes permitirá viver felizes para sempre, protegidos pelas vigorosas fortificações do castelo. Linda história mas falsa, como é aliás o timbre da maior parte das lendas: não houve Rei, nem moura, e quanto ao forte castelo é necessário uma forte imaginação para o visualizar quando se olha o diminuto pano de muralha que ainda lá está, derribado, in memoriam. Mas eu, baseado nos dados históricos disponíveis, garanto a autenticidade das antigas

Em 1249, Dom Afonso III (o nosso herói na lenda romântica), atacou Albufeira mas esta resistiu valentemente. Penso até que terá sido a última cidade do Al-Garb a ser tomada pelos soberanos cristãos. Desgraçadamente, os oficiais cavaleiros da Ordem de Aviz, a quem a praça foi oferecida, encarregaram-se do quase completo extermínio da população moura. Desde essa altura Dom Afonso III autoproclamou-se Rei do Algarve, título que, curiosamente, a nossa monarquia ostentou até ao malogrado Dom Manuel II. Verdade é que após a conquista Albufeira cresceu em importância e dimensão - recebeu foral de D. Manuel I em 1504 - crescimento travado pelo terramoto de 1755 e terrível maremoto que se seguiu, tendo causado uma enorme mortandade e destruição do edificado. Menos de um século depois, em 1833, não teve também modo de escapar a outro episódio sangrento ocorrido durante a guerra que opôs miguelistas a liberais. Um facínora, de alcunha O Remexido, mais os seus homens de mão, atacaram-na e passaram a fio de espada um considerável número de habitantes. A cidade entrou então num acentuado declínio económico e social só contrariado já nos finais do Séc. XIX e meados do século XX, pelo surgimento da indústria conserveira e do crescimento da exportação de frutos secos, a meias com alguma indústria ligada ao processamento da alfarroba. Depois, entre 1930 e 1960, uma insidiosa decadência tomou conta da povoação até ao poderoso resgate permitido pelo turismo de massas a partir dos anos sessenta, ao qual se seguiu um enorme crescimento urbanístico nos anos oitenta. Visitei Albufeira no passado mês de janeiro. Já não o fazia há pelo menos 40 anos! Uma vida. É claro que em janeiro não se visita o Algarve com o mesmo estado de espírito que se tem em agosto. Nem, aliás, a cidade apresenta um

aspeto agradável aos seus poucos visitantes. Pressente-se um clima de abandono. Nas ruas dos bairros antigos passamos por lojas, por restaurantes e bares, todos encerrados. Os seus anúncios desatualizados (apenas em inglês 90% das vezes), dão-nos uma noção do que deverão ser na época alta. Há que fazer um forte apelo à imaginação para povoar a Avenida da Liberdade - artéria principal da cidade velha - com as torrentes de turistas que por ela passam em marés que no Verão são sempre cheias. As estatísticas refletem a brutal diferença de atividade entre verão e inverno, mas não deixam transparecer a melancolia que perpassa aquelas ruas e praças desertas, desarrumadas, expectantes, aguardando um novo verão que as resgaste da crise sazonal e reate o cash-flow tão desejado. Talvez esteja a ser demasiado impiedoso nesta apreciação porque Albufeira, embora quase vazia, respira uma atenção cuidadosa à qualidade urbana. É verdade que nas áreas para onde a cidade moderna se expandiu, as grandes avenidas são extensas, rasgadas, arborizadas, limpas. Nada a dizer. Contudo, eu trazia na cabeça o sonho de rever a vilazinha ingénua da minha adolescência, de me acomodar numa esplanada muito rústica de que estranhamente me recordava do local - voltado a umas arribas ocre e a um mar turquesa - e do nome: A Ruína.

Lembrei-me até que dessa vez comera um belo e fresquíssimo peixe grelhado vindo diretamente das ondas do mar para o prato, pois nessa época não se inventara ainda a aquacultura. Para minha gratíssima surpresa, no passeio pela Rua da Bateria passei à porta dessa mesma casa, mas estava fechada.

Tive pena. Tanto que gostaria de ter revisto a inesquecível paisagem que seguramente deverá manter, e de ter encomendado o peixe mais atrativo que os modernos expositores me sugerissem, indiferente à inevitável contraparte financeira. Pelo contrário almocei no único restaurante que encontrei aberto na Praça da Cidade Velha ou, para o dizer como os locais, Old Town Square. Encomendámos duas pizzas. Experiência a não repetir… Chegámos por volta do meio-dia e sentámo-nos na esplanada que em coisa de meia-hora se encheu de velhos e velhas (mais eles que elas)1. Todos de língua inglesa. A maior parte muito desmanchada

e semi-nua num frio de janeiro apesar de amaciado por um Sol soberbo. Todos (ou quase) já bebiam àquela hora álcoois diversos; todos muito relaxados e conversadores. Reparei então melhor no fenómeno: há velhos por todo o lado em Albufeira. A cidade descobriu uma fonte inesgotável de receita para as épocas baixas: os velhos ingleses middle-class Imagino eu que, com o avançar do ano, a faixa etária vá diminuindo paulatinamente até às invasões juvenis do verão. Não interessa. É uma maneira de obter alguma receita e esperar pelos verões. De facto, uma temperatura de 20 graus ao Sol deve parecer um Éden a estes seres de ossos atacados pelos reumatismos e pelas artroses. Existem para cima de trinta mil ingleses a residir no Algarve a maioria em Albufeira. Eles e muitos outros adquiriram imobiliário. Esta situação, embora seja conveniente do ponto de vista económico levanta algumas preocupações. Quando eu questionei a empregada que nos trouxe as pizzas, uma azougada algarvia de olhos cor de mel, esta não teve papas na língua:

- Estes velhotes gostam dos copos mas são sossegadinhos - afirmou ela - e são eles que me pagam o ordenado ao fim do mês.

- Mas no verão - retruco eu, a tentar tirar nabos da púcara - isto é tudo deles. Ou não?

- Ó senhor! isto no verão é pior que Gibraltar! - e com esta se foi a empregada azougada.

Seria injustificável e imperdoável não fazer uma referência ao aspecto mais espantosamente belo e harmonioso de Albufeira: a sua frente de mar entre as praias do Peneco e a dos Pescadores. A falésia, talhada num tom castanho alaranjado que contrasta com as casas e vedações muito brancas, surge com uma força telúrica impressionante. Não deve ser só minha, esta opinião. Será seguramente partilhada pelos grupos humanos - provavelmente ingleses - que transitam lá em baixo, caminhando calmamente sobre as cómodas passadeiras de madeira que cobrem a areia escura, tendo de um lado o pacífico e amigável oceano e, do outro, a força imensa da falésia apaziguadora.

(1) Posso chamar “velhos” aos “seniores” porque eu também o sou e acho mais simpático ser um velho pachola do que um sénior recalcitrante.

16 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023
MAS AFINAL O QUE É ISSO DA CULTURA?

SOS Educação

Imaginem que estamos a caminhar por um bosque de denso arvoredo. Como é que se chama o espaço vazio que nele podemos encontrar, insuspeitadamente?

Fiz esta pergunta, há alguns dias atrás, a alunos universitários de um curso de humanidades. Perante o silêncio, e mau grado a minha falta de talento, desenhei no quadro várias árvores, um bosque denso, deixando no centro um espaço vazio, ligeiramente arredondado. Como se chama isto, insisti.

As respostas foram as seguintes: “um descampado”, “um buraco”, e muitos “ehhh sei lá, professora!”, com um ar enfastiado. Chama-se “clareira”, respondi, algo desanimada, mas sem dúvida impreparada para o que viria a seguir: “cla...quê?”, “Clareira, clareira, que é isso? Nunca ouvi essa palavra antes!” E assim por diante, para minha tristeza e desespero. Como poderia eu levá-los da clareira física, biológica, existente nos bosques da natureza, para a clareira intelectual, se o ponto de partida lhes era totalmente desconhecido? Quando nem do significado denotativo há referente, como passar à metáfora? Ou pior, quando nem a palavra se conhece, como saber da existência de algo?

Um amigo dizia-me outro dia que se recordava de que na sua infância existiam nomes diferentes para o cesto da fruta, o cesto da roupa, ou cesto da lenha, etc... Tinham nomes individualizados, agora tudo são apenas cestos. Caíram no indiferenciado. Vi-o encolher-se e um esgar de dor assomar-lhe o rosto. Quanto mais palavras conheço, maior é o meu mundo... Sim, o nosso mundo está a encolher.

Não se trata de capricho ou obstinação, a clareira é uma das metáforas mais importantes do pensamento ocidental. Heidegger a ela se refere no seu Caminhos de Floresta ; “O Bosque” é, justamente, o primeiro capítulo das Meditações do Quixote de Ortega y Gasset, e María Zambrano dá o título de Clareiras do Bosque a um dos seus mais excelentes livros. A história do

pensamento ocidental está ligada à metáfora da visão. Mesmo em linguagem coloquial, quando queremos certificarmo-nos de que alguém percebeu o que dissemos costumamos perguntar: “estás a ver?”, ou “está claro?”. A clareira do bosque é o lugar vazio e aberto para o acontecimento da luz e também do som. A clareira de pensamento é espaço mental que reúne as condições onde talvez possa dar-se o acontecimento da aletheia - o desvelamento da verdade encoberta.

Algumas semanas antes tinha carregado comigo mais de uma dezena de livros de diferentes filósofos, entre eles: a Ética a Nicómaco e a Política de Aristóteles, A República e o Protágoras de Platão, o Emílio de Rousseau, as Meditaciones del Quijote de Ortega y Gasset, os manuscritos de Filosofía y Educación e as Clareiras do Bosque de María Zambrano, as Cartas a Lucílio de Séneca, Sobre a Pedagogia de Immanuel Kant, Música e Pensamento de Fidelino de Figueiredo, Cartas a um Jovem Filósofo de Agostinho da Silva. Dispus os livros ao longo das mesas e polvilhei-os de flores de buganvília e jasmim. Levei comigo uma coluna de som e fiz soar o segundo andamento do Concerto em Sol M de Ravel, com a Hélène Grimaud como solista. No quadro escrevi o seguinte: “o pensamento é uma paisagem intelectual, cada filósofo um bosque por desvendar”.

Pouco a pouco, as expressões de hostilidade foram como que derretendo e a curiosidade começou a nascer. Pediram-me licença para mexer nos livros - claro que sim, é mesmo para mexerem! - vi como alguns reviravam um livro nas mãos como se fosse um objecto estranho. Aquelas capas duras, aquelas folhas amarelecidas, por fim alguém perguntou: “que é isto professora?”, referindo-se a um marcador de fita.

Apesar desta interrogação tão reveladora da ausência de contacto com livros, há esperança, porque uma pergunta interessada revela curiosidade intelectual.

O desejo de aprender, que Aristóteles no livro alfa da Metafísica considerava ser aquele que todos os homens têm em comum, ainda não morreu. E eu tinha válidas razões para suspeitar que sim... Logo na primeira aula fui bombardeada pelos alunos

a quererem saber como ia ser a avaliação. Respondi-lhes que a avaliação não é neutra com respeito aos conteúdos que se leccionam, e que me parecia que primeiro deveriam querer familiarizar-se com os conteúdos daquela unidade curricular. Foi um desastre! Só queriam saber como seriam avaliados. Estavam completamente fechados, incapazes de ouvir o que quer que fosse que não se referisse à avaliação. Uma vez estabelecido esse ponto, dispus-me uma vez mais, a introduzir o tema de que trataríamos nessa aula. Imediatamente alguém quis falar e eu não acedi. Logo se levantaram vozes indignadas em defesa da colega que pusera a mão no ar “A professora não deixa a colega falar! Nós temos o direito de dar a nossa opinião!” Estaquei. Respirei fundo e respondi: “Opinar sobre o quê se eu ainda não comecei?”

Assim está o mundo universitário. Qual será a situação nos níveis anteriores? Posso relatar o que se passou comigo quando, cheia de ideais, resolvi experimentar leccionar no ensino secundário, há quatro anos atrás. Deparei-me com alunos de décimo e décimo primeiro ano que não sabiam conjugar o verbo ser. Quando lhes pedia para lerem em voz alta recusavam veementemente. Depois percebi porquê: soletravam! Hesitavam a cada palavra, incapazes de lerem uma frase inteira até ao fim, quanto mais dar-lhe uma entoação apropriada! Quanto ao significado daquilo que se está a ler, o esforço mental estava todo em conseguir juntar os signos linguísticos e produzir o som adequado. Esgotados, já não tinham forças para tentar perceber o significado daquilo que tinham acabado de ler. Temos, pois, nos níveis complementares de ensino, alunos semianalfabetos. Aqui nos conduziram as políticas educativas que impedem de reprovar um aluno seja em que circunstâncias for. O horror burocrático pelo qual tem de passar um professor que se atrevesse a fazê-lo é tal que ninguém ousa!

Nessas aulas percebi que o máximo que podia fazer era tentar passar alguns valores éticos, porque pedir a esses alunos que não dominam a sua língua materna que reflictam é, como calcularão,

uma impossibilidade!

Nesse mesmo ano foram-me dadas direcções de turma. Entre as tarefas desse cargo estava a de, em horários definidos, permanecer na sala de directores de turma e realizar o trabalho burocrático que me competia. Invariavelmente, havia alguma falha no sistema informático que impedia que a tarefa se realizasse. Porém, mesmo incapacitada de trabalhar naquele horário e naquele local por falta de condições, eu era obrigada a permanecer nesse sítio sob pena de me marcarem falta! Esse trabalho teria de ser depois realizado em casa sobrecarregando ainda mais uma vida já assoberbada. Dei-me conta de que passava mais de 90% do meu tempo a resolver problemas burocráticos, ou técnicos, causados pela tirania informática e administrativa em que vivemos. Deixei de ter tempo para ler. Ora eu preciso de ler como de respirar, e comecei a asfixiar. Como fariam os meus colegas?

Fui então falar com a directora da escola, uma colega doutorada em Literatura Portuguesa. Revelei a minha angústia e pedi-lhe conselho. Ela ergueu para mim

um rosto tão cansado que já nem a perplexidade assomava: “A Maria João sabe há quantos anos é que eu não leio um livro?”

A minha solidariedade está com todos os colegas professores que apesar de massacrados por um sistema que nos suga a vida e nos maltrata, continuam a lutar por ensinar.

A minha compaixão está com todos os alunos vítimas de embrutecimento mental, resultado do facilitismo a que foram sujeitos num sistema que só pretende resultados estatísticos.

A minha força está com todos aqueles que queiram mudar este estado de coisas

Café Filosófico: SOS Educação

18 Maio 2023 | 18:30 | AP Maria Nova Lounge Hotel, Tavira Contribuição: 5€

Inclui: água aromatizada / cálice de vinho

Inscrições: filosofiamjn@gmail.com

*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia

17 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023
MARIA JOÃO NEVES Doutorada em Filosofia Contemporânea Investigadora da Universidade Nova de Lisboa
CAFÉ FILOSÓFICO
Bosque de Filósofos FOTO MARIA JOÃO NEVES | DR

Planta do alçado da fábrica de conservas de peixe da Júdice Fialho de Olhão s/d (colecção do Museu de Portimão)

IMPÉRIO

1ª edição, Olhão: Câmara Municipal, 2001, p. 26 e Biblioteca Nacional

Planta da fábrica de conservas de peixe da Júdice Fialho em Olhão em 1924 (colecção do Museu de Portimão)

Fábrica Júdice Fialho de Olhão

LUÍS DE MENEZES Investigador e Documentalista

Afábrica de conservas de peixe em azeite de Olhão, estava localizada no sítio denominado do Costado, freguesia de Marim, concelho de Olhão, distrito de Faro. Destinava-se a conservas de peixe em azeite, terminando a sua instalação a 20-3-1913 e através de um pedido de alvará de licença para exploração da fábrica passado pela Câmara Municipal de Olhão a 10-91917 e laboração pelo Administrador do Concelho em 22-9-1917, tendo concessão de alvará n.º 939 de 17-5-1923.

Em 20-3-1913, este estabelecimento continha: «3 geradores de vapor; 1 motor a vapor; 5 máquinas cravadeiras; 2 aparelhos de iluminação

“F P”; 3 bombas de alimentação; 2 (…) de puxar água; 2 cofres de ferro para cozer peixe; 1 estufa para ebulição. Pessoal todos nacionais: 1 mestre fabricante de conservas; 3 empregados de escritório; 25 trabalhadores; mulheres, conforme o peixe que houver».1

Na vistoria realizada à fábrica de Olhão pela Inspeção Geral de Fiscalização do Consórcio Português de Conservas de Sardinha a 14-2-1933, constavam 3 caldeiras a vapor (2 do tipo D Babcok e 1 C-F Fourcy Fils), 2 cozedores (1 de 1m,23 de comprimento, 1m,27 de largura e 1m,52 de altura e outro de 1m,25 de comprimento, 1m,26 de largura e 1m,55 de

altura) e 1 esterilizador (de 3m,87 x 1m,25 x 1m,78), 2 caldeiras para peixe grande (1m54 de diâmetro e 0,46 de altura), 6 cravadeiras (5 Karges Hammer (Matador) e 1 de formato redondo). As áreas calculadas nessa vistoria para esta fábrica eram em solo coberto de 9.726m2 e terreno livre 13.282m2. Produzia 848 caixas com o peso líquido de 20.352 kl em 1929, 11.518 caixas com o peso líquido de 276.42 kl em 1930, 21.261 caixas com o peso líquido de 510.264 kl em 1931, 5.925 caixas com o peso líquido de 142.200 kl em 1932, no total de 39.552 caixas e peso líquido de 949.248 kl entre 1929-1934.2

Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 15-3-1935, a instalar uma máquina de azeitar; a 8-5-1939, a instalar um cozedor simples igual ao aí existente e uma cravadeira Sudry B.C. 15, publicado no Diário do Governo n.º 120 de 255-1939; a 5/7-12-1945, a instalar uma máquina de vazio, que estava isenta de autorização do condicionamento industrial ao abrigo do decreto n.º

32.742 de 8-12-1942.3

Nesta fábrica, existiam os seguintes equipamentos, máquinas e produção de energia em 1939: «Recebia energia para iluminação, da Empresa de Electricidade Olhanense Limitada, possuía 3 geradores de vapor e 1 motor de vapor de 18 C.V. Em relação às máquinas para fabricação de conservas existiam 5 cravadeiras Matador, 1 cravadeira para lata

redonda, 2 cofres simples, 1 bateria de duas caldeiras de fogo directo, 5 carros para cozedura, 6 carros para estufagem, 1 filtro de pressão normal para azeite, 1 máquina de azeitar. Para fabricar guano havia 2 prensas manuais para aperto de desperdício e 2 dornas para os cozer. Como utensílios diversos eram discriminados, 2 caldeiras de lavagem de grelhas, 1 caldeira para estranhar grelhas, 1 caldeira para fazer solda, 1 engenho de furar, 1 forja de fole e 2 bombas de vapor horizontais para tirar água».4

A fábrica de Olhão, produzia 299 caixas em 1933, 6588 caixas em 1934, e o seu melhor ano de produção foi o de 1927 com 20.000 caixas, conseguindo produzir 25 caixas com as cravadeiras existentes na fábrica.5

Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia 10.160 caixas de conservas de peixe em 1938, 12.449 em 1939, 10.430 em 1940, 284 em 1941, 1602 em 1942, 4.032 em 1943, 4.547 em 1944, 2.046 em 1945, 6.802 em 1946, 6.626 em 1947, 4.238 em 1948.6 Luciano Cativo, refere que a fábrica de conservas de peixe em azeite de Júdice Fialho em Olhão, situava-se «a seguir aos antigos estaleiros dos irmãos António e José da Graça, hoje Doca Nova, a que corresponde, mais ou menos, a localização da firma Sopursal. Esta fábrica tinha uma ponte de madeira que entrava pelo mar dentro e se destinava à acostagem das enviadas e buques para descarrego do peixe, e também das barcas para embarque das conservas».7

Notícia sobre a visita de António Oliveira Salazar, Ministro das Finanças à fábrica Júdice Fialho de Olhão em 21-11-1931, in Diário de Notícias de 21-11-1931

Em 21-11-1931, esta fábrica recebia a visita de António de Oliveira Salazar, Ministro das Finanças, sendo acompanhado na mesma pelo genro do proprietário: «Vindo de Vila

Real de Santo António, chegou aqui [Olhão] o sr. Ministro das Finanças, que era acompanhado pelo seu chefe de gabinete, pelo sr. governador civil e por algumas individualidades daquela vila (…) Na fábrica Júdice Fialho, cujo proprietário se encontra no estrangeiro, foi o ministro acompanhado na visita pelo genro daquele

D. António de Sousa Coutinho e pelo sr. Emiliano Ramos (…)».8

Foi a fábrica Júdice Fialho de Olhão, expropriada para obras de alargamento do porto de pesca da localidade, por despacho do Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria a 10-11-1951, conforme circular n.º 786 do Instituto Português de Conservas de Peixe de 16-5-1952, rondando o montante de indemnização, o valor de 701.712$00 escudos.9

Segundo a planta da fábrica de conservas de peixe da Júdice Fialho em Olhão esta era constituída em 1924:

1 - estrada que liga o terreno da fábrica com a vila, 2 - residência do guarda, 3 - poço que fornece água à fábrica, 4 - armazém para desperdício de peixe: prensas para prensar o desperdício de peixe, 5 - casa de ebulição: estufa (1), máquinas certisseuse de K H (3), motor a vapor (1), árvores de 30.000 de cumprimento e 0,05 de diâmetro (1), prensas à volante SS, tesoura mecânica de K H (1), mesa de soldadores para 18

lugares (1), abatage (2), balancés (4), fieira (4), tesoura de mão (1), aparelho de gasolina completo (1), 6 - casa de enlatar: mesas (12), bancos (12), 7 - casa de azeitar: tinas (6), 8 - casa para as grelhas, 9 - adega do azeite, 10 - casa de descabeçar: geradores de vapor de 27 cavalos tipo Babcot (2), bombas Wortington (2), cosedor para peixe (1), tinas de ferro para lavar as grelhas (2) e mesas para descabeçar (12), 11 - casa do sal, 12 - oficina do serralheiro, 13 - casa do carvão, 14 - chaminé, 15 - hangar para enxugar peixe, 16 - escritório e residência do mestre da fábrica, 17servidão para o rio, 18 - retretes, 19 - tanque de ferro depósito para água: A - logradouro da fábrica, a - casa do gasómetro de gasolina, b - casa da estanhagem das grelhas.

cf. Para a fábrica de conservas de peixe em azeite de Olhão, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes - João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 50-53; e Arquivo Distrital de Faro (ADF), Cota: 5ª CIProc. 1037: Processo n.º 42 Unif. - Alvará n.º 939, documento 1, de 10-9-1917 e documento s/n de 18-5-1950: Relatório do agente fiscal da

5ª Circunscrição Industrial; Arquivo Municipal de Olhão, Licença de Laboração da Fábrica de Olhão de 22-9-1917, Fundo documental do Concelho de Olhão, Série D/C 4, registos de alvarás e licenças 1899-1938; e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra - O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 65-66.

cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José). Fab. 4.701.109, 1934. cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL., Olhão, Portimão, Sines, 1936 e Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.

4cf. ADF, Cota: 5ª, CIProc. 1037: Processo Nº 42 Unif. - alvará n.º 939, documento 6 v.º, de 10-2-1939. cf. ADF, Cota: 5ª CIProc. 1037: Processo Nº 42 Unif. - Alvará n.º 939, documento s/n de 21-2-1935 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 100. 6cf. Ana Rita Silva de Serra Faria - A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 7, op. cit., p. 15. cf. Luciano Victor Cativo - Ainda Olhão e a Indústria de Conservas de Peixe, 1ª edição, Olhão: Câmara Municipal, 2001, pp. 26 e 105. cf. Diário de Notícias, ano 67º, n.º 23640 de 22-11-1931, p. 1, Diário da Manhã, ano 1, n.º 232 de 21-11-1931, p. e Século, ano 51, n.º 17853 de 22-11-1931, p. 7. 9cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL., Olhão, Portimão, Sines, 1936 e Diário de Notícias de 12-1-1952.

18 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023
JÚDICE FIALHO
Fábrica Júdice Fialho de Olhão cerca de 1918, in Luciano Victor Cativo - Ainda Olhão e a Indústria de Conservas de Peixe,

O inventor do flash sincronizado

MAURO RODRIGUES

Membro da ALFA

- Associação Livre Fotógrafos do Algarve

Por volta de 1887, os inventores germânicos, Adolf Miethe e Johannes Gaedicke criaram uma forma de iluminar ou introduzir luz artificial, melhorando a exposição no geral da cena fotográfica à sua volta com literalmente uma pequena explosão, misturando dois pós químicos, magnésio e clorato de potássio. Esta mistura era acionada manualmente e colocada numa pá metálica, criando um som característico, fumo e muita faísca. Este tipo de utilização e explosão poderia correr mal se o material não estivesse em condições, e as pessoas que o operavam po-

diam até correr risco de vida. Dado este facto, esta técnica foi transferida para uma lâmpada, o pó ficava contido e haveria menos risco para os fotógrafos e pessoas em redor. Joshua Lionel Cowen em 1899 patenteou uma forma de ignição do pó através de baterias e fio que atravessava a lâmpada. Diversas variações e alternativas, muitas delas amadoras prevaleceram até 1929, onde se distinguiu a lâmpada de arco voltaico, mas muitas destas variações apresentavam resultados insatisfatórios, pois a queima era inconstante e a vida útil muito curta, exigindo constante manutenção. O pó foi eventualmente substituído por um gás bem conhecido, o oxigénio e filamentos de magnésio. Estas lâmpadas eram eletricamente aciona-

das através do mecanismo de disparo contido na própria máquina fotográfica, mas apenas funcionavam uma vez e ficavam extremamente quentes, não podendo ser manuseadas logo após o disparo. Mais tarde foi introduzido um plástico envolvente azul para simular a temperatura diurna do meio-dia, a famosa luz branca ou neutra e o magnésio substituído por zircónio de forma a produzir uma luz mais brilhante. O problema é que estas lâmpadas demoravam muito tempo a aquecer e a duração do flash era muito grande, o suficientemente para os fotógrafos serem obrigados a usarem tempos de exposição mais longos, tipicamente entre 1/10 e o 1/50 por segundo. Foi precisamente por volta de 1947 que o prolífico inventor

Artur Fischer, famoso por muitas outras invenções, pelo menos 1.100 invenções, como por exemplo a famosa bucha de plástico ou os brinquedos de construção Fischertechnik, parecidos com Lego, mas de uma complexidade muito maior, patenteou o tão famoso mecanismo sincronizado para flashes, permitindo assim que as câmaras fotográficas e o flash pudessem “conversar um pouco melhor” e adaptar a duração e momento preciso em que o flash disparava após carregar no botão.

Uma invenção que melhorou consideravelmente as condições e os locais, principalmente em interiores que se fotografava o que expandiu a criatividade de vários tipos novos de fotografia. O inventor Arthur Fischer

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OS DIAS CLAROS

Celtas e Mouros, a genética populacional

AGenética é a área da Biologia que analisa os processos de transmissão hereditária.

Um dos seus ramos, a genética populacional, revela a diversidade, selecção natural, padrões de acasalamento e mutações genéticas, permite estabelecer itinerários migratórios, a “pegada humana”, disponibilizando, entre outros conhecimentos, a origem e desenvolvimento de doenças hereditárias em determinadas comunidades e grupos.

Na base da genética populacional encontra-se a investigação do ADN mitocondrial, transmissão por via feminina das características de cada ser humano, designada por “Eva mitocondrial”. As técnicas de análise do ADN mitocondrial surgiram sobretudo a partir de 1981, incidindo sobre as mitocôndrias responsáveis pela respiração e energia celulares. Hoje é possível determinar linhagens antigas, mais difícil será estabelecer a história genética

recente, porque os processos de transmissão ocorrem no tempo longo e por gerações.

Em Portugal é corrente ouvir-se falar em “celtas” a norte e “mouros” a sul, como se os portugueses fossem grupos étnicos genética e culturalmente diferenciados.

Mas o que revelou a genética populacional?

Nas últimas duas décadas sete estudos internacionais, utilizando metodologias diferentes, concluíram pela presença no noroeste peninsular da linhagem U6 dos berberes, correspondendo às regiões das Astúrias, Leão, Galiza e norte de Portugal. A revelação causou surpresa por serem zonas mais distantes do Norte de África, com menor controlo político muçulmano.

Entre os trabalhos publicados, encontram-se vários de investigadores portugueses do IPATIMUP, Luísa Pereira, António Amorim e outros, divulgados nomeadamente pelo “International Journal of Legal Medicine “abordando o património genético do País.

A população portuguesa, segundo a investigação genética, integra linhagens do neolítico, o haplogru-

po H, que resultam de migrações do Médio Oriente para a Europa, logo surge a linhagem característica das populações magrebinas, o haplogrupo U6, praticamente ausente no resto da Europa e ainda o haplogrupo L, resultante das colonizações do século XV-XVI, transmissões genéticas a partir de indivíduos vindos da África subsaariana por via da escravatura.

Os estudos em Portugal revelaram que o haplogrupo U6 dos berberes aparece com maior incidência no norte do País (5%), do que no centro (3%) e sul (2%), confrontando algumas teses do medievalismo tradicional.

Nos últimos anos surgiu investigação e bibliografia científica que questiona a “invasão árabe” ou “islâmica” de 711 d. C, não só porque o Islão se consolida mais tarde, também porque há registos de fixação de populações vindas do Magrebe em séculos anteriores, facto normal dada a facilidade de navegação e de atravessamento do Estreito de Gibraltar, apenas 16 quilómetros separam os dois continentes. É por outro lado conhecida a resistência berbere à colonização árabe, na-

tural que comunidades berberes tenham ido para a Galiza e zonas próximas dos Pirenéus.

A “reconquista cristã” teria por objectivo recuperar territórios perdidos, justificou a unificação das Espanhas pelos reis católicos, à qual apenas o Reino de Portugal não foi incluído até 1580.

A ocupação cristã do Sul, menos povoado, fez-se com a participação das ordens militares e milícias feudais que praticavam a endogamia, os não cristãos eram separados em “mourarias” e “judiarias”, bairros de onde apenas saíam de dia para trabalhar. Para o norte e centro do País, de propriedade mais fraccionada, carecida de mão de obra camponesa, terão ido famílias muçulmanas que acabariam por se integrar e se transformar em pequenos proprietários. Por aprofundar estão as consequências das deportações para o interior da Península dos “mouriscos” revoltosos de Alpujarras (1567-1571), décadas após à queda do reino nazari de Granada. O processo de “cristianização” forçada, que atingiu primeiro os judeus, culminou com a expulsão para o Norte

de África, entre 1609 e 1613, por decisão de Felipe III sob controlo da Inquisição, de cerca de meio milhão de “mouriscos”, que desde sempre viveram na Península.

Após mil anos de permanência de diferentes tradições culturais ibéricas, apareceu uma História eminentemente ideológico-religiosa, centrada na competição entre povos e culturas, na construção do Outro, baseada na lenda e na fé, explorada no interesse dos diferentes poderes. O Al Andalus é hoje reconhecido como uma das fontes da civilização europeia, evidencia-se nele características ibéricas particulares. Investigadores de diferentes origens e especialidades, identificaram neste centro de conhecimento partilhado o primeiro Renascimento que influenciou as universidades, na filosofia, medicina, ciências e artes por toda a Europa medieval. A genética populacional e outras ciências ligadas à História Cultural, permitem-nos entender melhor da história do País e do mundo, propor as revisões necessárias e normais alterações.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

19 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023
faleceu a de janeiro de 2016.
ESPAÇO ALFA
O inventor alemão Arthur Fischer, segurando uma réplica aumentada da sua invenção mais popular, a bucha de plástico, mas também foi o responsável pela criação do mecanismo do flash, que veio melhorar significativamente a criatividade fotográfica FOTO DR

Biblioteca Municipal Carlos Brito

Uma janela poética para o Rio Guadiana

de ir a este espaço não só pela imprensa diária, mas também pelas novidades literárias e por ser um local histórico: a antiga Casa dos Condes de Alcoutim. Falou da importância das bibliotecas para incentivar o gosto pela leitura, principalmente com iniciativas em torno do livro infanto-juvenil.

Com 90 anos já feitos, Carlos Brito publicou recentemente um novo livro de poesia, (o sétimo) a que deu o título Estar Presente. Logo na primeira página explica-o, num curto poema: “Estar presente o lema que adoptei depois de ausente nesta fase da idade. Não me basta assistir mas intervir como posso e sei na actualidade.”

músico, poeta e também deputado à Assembleia Constituinte em 1974. Reza a história que quando D. Sebastião visitou Alcoutim, a Condessa convidou o Rei, que chegou pelo Rio Guadiana, para um almoço em sua casa.

MARIA LUÍSA FRANCISCO

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Programadora Cultural luisa.algarve@gmail.com

No passado dia 25 de Abril a Biblioteca Municipal de Alcoutim passou a ter como patrono o poeta e resistente Carlos Brito. Foi deputado da Assembleia Constituinte pelo círculo eleitoral de Faro e foi durante 15 anos deputado e líder parlamentar do PCP na Assembleia da República.

A data não poderia ser melhor escolhida, pelo Município, para atribuir a nova designação: Biblioteca Municipal Carlos Brito. Foi especial assistir ao momento em que foi descerrada a inscrição em ferro forjado que está, desde o Dia da Liberdade, no exterior do edifício, agora Biblioteca Municipal Carlos Brito e constatar o brilho no seu olhar. Tanto mais que foi surpreendido com um busto também em ferro igualmente no exterior da Biblioteca, como se pode ver na imagem.

O dia dos 49 anos da Revolução de Abril foi marcante para uma personalidade que sempre associamos à luta pela liberdade. Um momento importante na vida de um homem persistente que foi o convidado de honra na cerimónia comemorativa do 25 de Abril no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Depois de agradecer a homenagem, Carlos Brito disse publicamente:

“Nenhuma distinção tocaria de maneira tão profunda o meu coração, tanto pela deferência que comporta, como o simbolismo de que se reveste. Vejo nela uma alusão à minha ligação aos livros, à leitura, à escrita e à cultura. Mas sinto nela, sobretudo, uma referência à minha participação nas lutas pela liberdade e a justiça social, que antecederam e se seguiram ao glorioso 25 de Abril de 1974 e aos próprios acontecimentos desse Dia Memorável, em que a ditadura fascista, num golpe de misericórdia, foi finalmente derrubada.”

Os livros de Carlos Brito

Carlos Brito frequenta quase diariamente a biblioteca da sua terra, onde tantas vezes tem colaborado em actividades de dinamização cultural e cívica e contribuído para aumentar o espólio da mesma. Lá podem encontrar-se exemplares dos seus cerca de 20 livros. No final das cerimónias conversamos brevemente sobre a importância das bibliotecas. Carlos Brito é muito atento à actualidade e não dispensa a leitura matinal de jornais. Falou da crise do livro e de tudo que é leitura em papel. Referiu que agora já não se vende jornais diariamente em Alcoutim e que lê alguns jornais na Biblioteca. Gosta

Num outro, igualmente curto, fala do seu dia, assim: “Um pé na poesia outro nas plantas do quintal pautam o meu dia desde que saí do hospital. E não sei qual me dá mais felicidade ambos afastam a nostalgia e a saudade.”

Estar Presente foi apresentado, em Faro, pelo poeta e escritor José Carlos Barros, numa sessão muito participada e também em Coimbra e Lisboa, depois de um pré-lançamento em Alcoutim.

A Casa dos Condes

O edifício da imagem, conhecido por Casa dos Condes, foi remodelado em 1997/8 pela autarquia e, no seu interior, foi instalada a Biblioteca Municipal e uma sala de exposições temporárias. Trata-se de um edifício medieval, que terá sofrido algumas transformações arquitectónicas realizadas por engenheiros militares, durante os séculos XVII e XVIII.

Edifício singular com escadaria de duplo acesso que interrompe a via pública. No interior existe um pequeno pátio com um poço como elemento central e que é usado para algumas das actividades da Biblioteca, nomeadamente “A Palavra Sexta à noite”.

Foi nesse pátio que, em homenagem a Carlos Brito e ao 25 de Abril, algumas canções de intervenção foram cantadas pela voz de Afonso Dias,

Esta Biblioteca foi casa de habitação dos Condes de Alcoutim e, posteriormente, de outras famílias, onde ainda se mantêm as divisões casa na sua versão original. Tem uma excelente localização, junto ao Rio Guadiana, em pleno centro da vila.  Os estrangeiros proprietários de barcos, que estão no Rio Guadiana, costumam frequentar a Biblioteca. Não só para consultar a internet, livros e jornais, mas também para participar nas actividades culturais e alguns até já mostraram trabalhos artísticos na sala de exposições temporárias. Vale a pena visitar Alcoutim, o Rio Guadiana, o Castelo, o Museu e a Biblioteca.

Tive a oportunidade de assistir a um dia especial na vida de um homem que faz parte da história portuguesa e de quem sou amiga desde 2009, quando trabalhámos conjuntamente na Direcção da Associação Transfronteiriça Alcoutim Sanlúcar (ATAS).

Através do Instagram Bibliotecofilia poderá ser vista a gravação dos principais momentos de um dia histórico para Alcoutim e para Carlos Brito.

*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia

20 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023 BIBLIOTECOFILIA
Exterior da Biblioteca Municipal Carlos Brito FOTOS MARIA LUÍSA FRANCISCO | DR
Carlos Brito e esposa, Rosa Brito, no final da Cerimónia de descerramento da placa enquanto patrono da Biblioteca Intervenção de Carlos Brito nas Cerimónias do 25 de Abril após ter sido distinguido com a atribuição do seu nome à Biblioteca FOTO MUNICÍPIO DE ALCOUTIM | DR

CRÓNICAS DE UM BEDUÍNO

Contra os concursos literários só tenho uma caneta

Biografia de Cobramor

Cobramor é o pseudónimo de Hugo Filipe Lopes, escritor amaldiçoado, poeta contrariado, tradutor, editor e guerrilheiro e curador.

Licenciado em sociologia, trabalha como copywriter publicitário criativo desde 2010, paralelamente à actividade literária. É tradutor e editor na Traça Edições e programador cultural na associação cultural CAL, tendo sido o criador do Clube dos Poetas Tortos que vai na sua quarta edição.

Foi premiado no concurso Lisboa à Letra em 2004 e em 2006 obteve uma menção honrosa no concurso Textos de Amor da Casa da Imprensa. Desde então tem escrito para diversas publicações, quer nacionais, quer internacionais, desde o suplemento do jornal Público até ao Bandcamp, passando pela revista DIF, Palavrar, Mapa, Umbigo, Gerador e Vice.

Fez também traduções literárias de nomes como John Zerzan, Robert Frost, Patti Smith ou Bill Wolak.

Conta com participações em diversos eventos literários, como a Feira do Livro de Lisboa ou o Festival Conexões Atlânticas.

COBRAMOR

Parte do problema será certamente meu. Medo de perder ou provavelmente de competir. Mas isso não é necessariamente mau numa sociedade assente no crescimento infinito e na competição incessante. Já houve um tempo em que concorri a vários concursos literários. Ganhei um e obtive uma menção honrosa noutro. Foi há décadas. Entretanto o mercado editorial mudou e não necessariamente para melhor. Grande parte devido às falsas editoras. Falsas na medida em que são um esquema de pirâmide em que o autor se compromete a adquirir dezenas de exemplares do seu livro no valor de várias centenas de euros, cujo ónus da venda fica depois nele. Entretanto, nem revisão nem promoção.

As redes sociais também vieram alterar as regras do jogo da forma que as redes sociais o fazem. Tornando tudo num concurso de popularidade. Como se mais seguidores implicassem mais vendas. Descontextualizando excertos de livros e poemas ou citações e tornando uma coisa em algo totalmente diferente. Podemos ver isso acontecer com Bukowski, em vias de passar de escritor maldito a guru de autoajuda. O mercado editorial mudou mas a lógica de funcionamento não. O que importa são as vendas. Portanto o que importa são as tendências do momento. Não verdadeiramente a relevância das temáticas ou a importância do que é escrito, mas se os ventos estão favoráveis. A indústria, seja ela de que espécie for, não tem estados de alma sobre nenhum assunto excepto o lucro. Fascistas ou anar-

quistas são apenas nichos de mercado. Como o são a ecologia, a identidade de género ou étnica. O único valor que resiste é o ganho. Os concursos operam na mesma base. A do concurso de popularidade e das tendências. Não é o único factor a considerar, obviamente. Frequentemente os júris são pessoas cujas competências literárias deixam muito a considerar. O que leva à questão da qualidade. A qualidade é mensurável?

E se sim, qual o instrumento de medição? Vendas? Fama? Seguidores? Reconhecimento dos pares? E quem está habilitado para o fazer? Se assim for, o que dizer de Pessoa, por exemplo? Será necessário morrer para ser um autor de referência?

Pessoa hoje em dia é mais uma comodidade do que um escritor. É também o salvo-conduto para as centenas de pessoas que pouco ou na-

da lêem, algumas das quais que se afirmam escritores. É sempre possível fazer uma citação de Pessoa que se viu no Instagram qual ilusionista a tirar um coelho da cartola.

Finalmente, a forma como se tratam os participantes. O vencedor recebe alvíssaras, nos casos em que isso acontece. Já os restantes, recebem spam no email ou se tiverem sorte, são ignorados.

Tal como já fui premiado, já fui ignorado. Mas há muito que decidi deixar de participar em qualquer tipo de concurso literário. Talvez eu não saiba escrever. Talvez não tenha qualidade literária. Talvez não seja vendável. Talvez a minha atitude seja deplorável. Todas podem ser verdade. Não muda uma coisa: porque deveria alguém colocar-se na situação de ser avaliado por outros, excepto se houver algum tipo de interesse

É responsável pela curadoria do evento Casa dos Poetas em Silves, único festival anglo-lusitano de Portugal e colabora como o festival ConVento Levante.

Publicou o seu primeiro livro, “O Fim da Noite” em 2016 pelas Publicações Nabo e o seu mais recente trabalho, “Sol Invicto”, pela Traça Edições. Editou recentemente um livro infantil pela Toth, intitulado “O Atlas do Coração”.

Mais em www.cobramor.com

material na equação? Colocando-se numa espécie de negociação, sujeitando-se a um juízo de valor subjectivo em troca da possibilidade de obter um prémio monetário ou um contrato.

Para depois, poder incluir o mesmo no currículo e dessa forma, talvez abrindo algumas portas. Porque operamos sempre numa impostura de meritocracia, onde, como é da sua natureza, as oportunidades não são iguais para todos. E portanto, os resultados também não.

O público não decide o que quer ler, até porque pouco lê e quando o faz, não procura activamente. Recebe sugestões validadas pelos júris e especialistas culturais da nossa praça, com o CV a acenar qual bandeira, as medalhas ao peito e os galões aos ombros. Que não haja ilusões, não é por serem com escritores que os concursos literários são diferentes do Ídolos ou do The Voice.

21 CULTURA.SUL POSTAL, 5 de maio de 2023
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia FOTO DR

Entrevista a Lídia Jorge sobre Misericórdia

“Escrevi este livro apenas para falar da da sua capacidade de sonhar e realizar

Misericórdia, o novo livro de Lídia Jorge, foi publicado no ano passado e encontra-se agora na 4.ª edição. Como tem vindo a ser hábito, a Lídia Jorge deu uma entrevista ao Cultura.Sul sobre o seu mais recente romance. Depois de Estuário ter anunciado uma nova fase na escrita da autora algarvia, este é um livro inteiramente novo na sua obra literária, integralmente publicada pela Dom Quixote. Para quem conhece a autora e acompanhou a sua vida nos últimos anos, percebe de imediato os laivos pessoais deste livro. Leia-se um excerto do comunicado divulgado na altura do lançamento do livro:

“Um livro diferente, que Lídia Jorge nunca esperou escrever, acabando por fazê-lo para corresponder a um desejo da sua mãe que, internada numa instituição para idosos, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro chamado Misericórdia, que fosse um testemunho de compaixão para com aqueles que estando limitados pela sua condição de grande precariedade, vivem uma vida de resistência escondida.

A última vez que esse pedido foi feito coincidiu com a última vez que Lídia Jorge esteve com a mãe – dia 8 de março de

2020. A partir desse dia, a instituição onde se encontrava, como todas as outras do mesmo género por toda a parte, entraria num isolamento com tudo o que isso significou de dramático. Perante esta realidade, o pedido da mãe de Lídia Jorge assumiu um relevo absoluto.”

Misericórdia é uma narrativa híbrida, entrelaçando o romance, o diário íntimo, o memorial, a biografia e a crónica. Uma nota inicial indica que estas páginas se tratam de uma transcrição de várias gravações áudio.

Maria Alberta Nunes Amado encontra-se num lar, onde convive com vários outros idosos e funcionários. Hotel Paraíso parece ser um lugar acolhedor, onde estes idosos são bem acompanhados. Dona Alberti, como é apelidada, tem a filha longe, algures no Chile, e vale-lhe as visitas do genro para a atualizar. Persegue-a uma memória fugidia e incerta, um lugar cujo nome não consegue situar. Da mesma forma que muitas vezes Dona Alberti, embora seja capaz de nos deixar este diário, parece não conseguir encontrar as palavras necessárias para expressar o que lhe vai na alma. Certo dia, um dia que se demarca dos demais, e parece marcar uma cisão,

temente voando em torno do mesmo assunto e de si próprios. E há os que a cada livro levantam um mundo, constroem-no, destroem-no, e partem para uma nova aventura no livro seguinte, erguendo de novo um outro mundo. Saramago incluía-se neste segundo grupo. Salvas as devidas proporções, também é neste segundo grupo que me incluo.

um garboso idoso dá entrada no lar, o sargento João Almeida. Lídia Jorge estreou-se com a publicação de O Dia dos Prodígios (1980). Os seus livros têm sido adaptados para teatro e cinema, e têm sido distinguidos com os mais relevantes prémios literários nacionais, alguns deles pelo conjunto da obra, como o Prémio da Latinidade, o Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores – Millennium BCP ou o Prémio Vergílio Ferreira. Largamente traduzida e estudada também no estrangeiro, recebeu prémios internacionais como o Prémio ALBATROS da Fundação Günter Grass, o Grande Prémio Luso-Espanhol de Cultura e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara em 2020.

Em 2022, foi inaugurada, nos Estados Unidos da América, a Cátedra Lídia Jorge, criada e anunciada pela Universidade UMass Amherst, no Massachussets.

Mais recentemente, no passado dia 28 de abril, Lídia Jorge foi anunciada vencedora, por unanimidade do júri, da segunda edição do Prémio Vida Literária Vítor Aguiar e Silva, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores em parceria com a Câmara Municipal de Braga.

idosa, que era também a mais frágil, imediatamente remetida a um confinamento e isolamento dramáticos, ao ponto de nem ser possível visitar familiares ou de os enterrar condignamente, como forma de fazer o nosso próprio luto.

amigos. Afinal, escrevi este livro apenas para falar da resistência dos seres humanos, da sua capacidade de sonhar e realizar a partir das forças mínimas. Sobre o fulgor da vida.

PAULO SERRA

Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)

P Estuário já anunciava uma nova fase na sua escrita. Com este livro marca uma vez mais uma nova fase, e possivelmente um momento único, na sua obra. Afinal este livro, e o próprio título, resultam de um pedido que a fez colocar de

lado outro romance em curso. A própria história de como este livro nasce parece em si romanceada. R Compreendo o seu comentário. Mas tenho dificuldade em responder de forma esclarecedora. Essa questão, a da continuidade, rotura e ciclos, faz-me recordar o que o Académico que entregou o Prémio Nobel a José Saramago disse na altura. Foi mais ou menos assim – Há escritores que são como os condores (houve quem traduzisse do sueco por abutres) que andam permanen-

P Numa entrevista ao Cultura. Sul, em 2021, teve oportunidade de explicar como gosta de inserir subtilmente elementos de romances anteriores nas suas obras. É isso que acontece, uma vez mais, com o Globo Terrestre de Maria Alberti Atlas, que se liga à corrente como um candeeiro, de uma luz esverdeada, e lembra o globo azul de Estuário. Nas suas próprias palavas, em entrevista, afirmava que nessa “forma esférica perfeita também está encerrada a forma utópica de salvar o mundo”. R Não me lembrava dessa menção. De facto, o Atlas é um elemento de que me sinto próxima. Talvez coisa da infância. Atlas, globos terrestres, olhar para eles era a minha forma de viajar quando as distâncias geográficas percorridas eram tão curtas. Também em O Vale da Paixão a manta do soldado se transforma num atlas. Todos nós temos objetos-chave que alimentam a vida. Dona Alberti, limitada pelas paredes de um quarto, conseguia liberta-se porque mantinha a capacidade de imaginar outros lugares. Um gosto partilhado.

P Aquilo que acontece no Hotel Paraíso é apenas um reflexo do que aconteceu um pouco por todo o mundo, com a geração mais

R O isolamento dos idosos constitui um problema como é sabido. As sociedades modernas não conseguem resolvê-lo satisfatoriamente, como está bem patente. Mas a pandemia, que foi global, que obrigou a um sobre-isolamento, acabou por nos colocar perante uma situação nova e inesperada. Ficámos desarmados diante da situação. Foram dias extravagantes, desertos, silêncios e aprisionamentos. A nossa precariedade foi posta à prova, e também a nossa capacidade de superação, mas ainda estamos longe de retirar conclusões.

“Misericórdia é uma história, e não pretendeu denunciar, apenas mostrar”

P É um livro duro, onde transparece a realidade do que acontece nos lares, a rotatividade dos cuidados, a falta de cuidados, uma certa brusquidão das pessoas que por lá trabalham, os cuidadores que são predominantemente imigrantes.

R Misericórdia é uma história, e não pretendeu denunciar, apenas mostrar. Escrevi-o como uma viagem pelo interior da intimidade dos fragilizados, vítimas de condições precárias, ora em tom trágico ora em tom irónico e até cómico, como na vida. Por isso, na história que conto, os cuidadores não são homogéneos, também há figuras formidáveis que estão atentas, que respeitam os idosos, que são seus

P Há ainda, e creio ser algo que tem sido pouco falado, uma série de episódios revestidos da natureza alegórica dos seus primeiros livros. Refiro-me às formigas que ameaçam devorar os idosos do lar… Não fosse o triste facto de esta triste série de eventos ter ocorrido efetivamente num lar no Algarve. R Há coincidências impressionantes neste mundo. De facto, desde O Dia dos Prodígios que as formigas invasoras perpassam pelas minhas narrativas. A presença de seres minúsculos que surgem como pragas sempre me impressionou. Coisa dos países do Sul, creio. Ítalo Calvino também foi tocado pela presença das formigas, leia-se A Nuvem de Smog e a Formiga Argentina. Em Misericórdia, eu simplesmente usei a invasão das formigas como um sinal de que uma outra invasão, a do vírus, vinha a caminho. Afinal, um recurso literário que iria ter correspondência num facto real que acabaria por ter lugar no mesmo espaço que me havia servido de cenário para a ficção. Isto é, o texto escrito antecedeu esse certo episódio paralelo posterior que, uma vez sobre-difundido, acabou por ter um forte impacte na população portuguesa. Mas eu não adivinhei nem chamei as formigas, foi coincidência.

P À medida que os acontecimentos se precipitam e se torna claro que assistimos ao desenrolar da pandemia, a narrativa de

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Lídia Jorge tem sido distinguida com numerosos prémios em Portugal e no estrangeiro FOTO FRANK FERVILLE | DR

resistência dos seres humanos, a partir das forças mínimas”

Alberti continua de uma forma ingénua a não ter em devida conta a verdadeira dimensão dos acontecimentos. O que aconteceu, provavelmente, com todos aqueles que se viram fechados e arredados do mundo para sua própria proteção, ou por medo dos de fora.

Aquilo que aqui parece alegorização pode ser, afinal, o desconhecimento possivelmente imposto em instituições deste género?

R Não posso generalizar. Creio ter descrito em Misericórdia o sentimento de surpresa que dominou aqueles primeiros meses de 2020. A tentativa de ir respondendo às situações momento a momento, quando tudo era dúvida sobre a dimensão do desastre, quando não havia ainda nem meios de higienização adequados nem vacinas, nada de nada. Os próprios profissionais da saúde infetados continuavam a trabalhar, exaustos, sem ainda se ter a noção de que infetavam os outros. Se este livro ajudar a reconstituir esses dias de perturbação, seria um contributo para alimentar a memória que é bem curta, no meio da rapidez em que vivemos, e desembocados que estamos em catástrofes de outras dimensões, como são a brutalidade da guerra e a histeria das sociedades desorientadas pela desinformação.

Seja como for, Misericórdia é apenas um livro de ficção.

P No quotidiano de Alberti, ainda assim, a beleza dos dias, especialmente pelas memórias, das flores no seu jardim, nunca é abafada pela sombra dos dias, e continua a rematar cada jornada com pequenos versos. Criação da autora ou transmissão de um legado?

R A resposta justa e honesta é a do meio termo. As últimas palavras escritas pela figura que deu origem a dona Alberti eram quase ilegíveis, e as frases sincopadas, sem pontuação. Eram simulacros de páginas de um diário que já não se escrevia como antes, mas ainda havia algumas marcas escritas. Palavras isoladas no meio da folha. Isto é, sínteses de pensamentos a um milímetro de serem poemas.

“Dona Alberti representa uma geração de mulheres que atravessaram o Estado Novo amarradas a vidas limitadas”

P Nos seus romances temos, quase sempre, uma jovem protagonista, de olhar inocente e desarmado,

que aprende de algum modo a maldade sobre o mundo. Penso que pela primeira vez, Misericórdia traz-nos uma voz narrativa que, a acompanhar a idade, é também mais crítica. Isso nota-se sobretudo no conflito que se estabelece com a filha escritora e nas exigências e acusações que lhe faz, desde o desmazelo com a roupa à dispersão com a escrita ou ao desarranjo na rotina dos dias. Estamos ainda no domínio da ficção, ou há aqui alguma projeção…

R Há uma certa projeção. Na verdade, essas passagens, que roçam a crónica biográfica, só aí estão referidas para vincarem o retrato do carácter de uma mulher batalhadora. Dona

Alberti representa uma geração de mulheres que atravessaram o Estado Novo amarradas a vidas limitadas, mas que desejaram para as suas filhas e os seus filhos um mundo novo. Proporcionaram-lhes autonomia, preparação escolar e académica, desejaram que a geração que iria ser sua descendente encontrasse formas de libertação à altura.

A sua visão é a da pessoa comum, aquela que associa linearmente a escrita e a publicação ao triunfo.

P Tão depressa critica, aliás, como logo depois defende a filha, perante um grupo de viúvas religiosas: “Pois fiquem a saber que todas as palavras que a minha filha escreve também são ditadas por Deus. Ela senta-se à mesa, olha para cima, para as alturas, e Deus dita-lhe o que ela deve escrever. Os livros da minha filha também são sagrados, também são ditados pelo Criador. Quem pensam vocês que ela é?” (p. 241) R Sim, ela balança entre o aconselhamento, seguindo modeles empíricos, e procedendo em privado a críticas severas para estimular a correcção do trabalho da filha, mas em público consegue enaltecê-la sem medida. Naturalmente. Como disse, trata-se da pintura de uma personalidade enérgica. Na passagem citada, perante o denegrir do trabalho da filha, por parte das quatro mulheres piedosas, ela encontra uma forma de as afrontar assumindo que Deus também está presente na escrita profana.

P Em contrapartida, Dona Alberti muitas vezes tenta encontrar as palavras, mas vê-se incapacitada, quase como se a voz lhe faltasse, como as próprias mãos já lhe fraquejam e não lhe permitem escrever com a segurança de outrora… R Sim, dona Alberti deixou de poder suportar na sua mão, quer a agenda onde escrevia o seu diário, quer uma esferográfica normal. Os seus instrumentos de escrita foram-se reduzindo até serem apenas papelinhos soltos onde desenhava palavras com pontas de lápis.

de vir sempre ao mesmo ponto e repetir cenas e ideais. Mesmo quando quero afastar-me desse processo, apenas consigo escondê-lo. Tem a ver com a forma como as primeiras imagens de um livro surgem. Este modo tem vantagens e tem limitações. Cada um tem as suas.

“Este livro fala do poder de escrever, ler em voz baixa e em voz alta, o poder libertador de deixar palavras escritas”

P Misericórdia é também um hino à literatura. Uma parte da beleza dos dias de Alberti – podemos ler a certa altura de como “Este foi um dia belo e um dia tremendo”(p. 72) – acontece também quando ela é visitada por um jovem leitor.

E o poder da leitura é de tal forma encantatório que o jovem, aparentemente feio, se transfigura, da mesma forma que a história, horrível, se torna enfeitiçantemente bela: “O rapaz leitor, de sobrancelhas espessas, que eu achara feio e era belo, também.” (p. 296)

R Sim, este livro fala do poder de escrever, ler em voz baixa e em voz alta, o poder libertador de deixar palavras escritas. Os dois contos de Luís Sepúlveda que são lidos pelo rapaz a dona Alberti permitem o esclarecimento sobre o que é a Literatura, através do diálogo entre dona Alberti e o rapaz. Vejo que o Paulo põe em evidência uma passagem do Capítulo 5. Foi lido na apresentação deste livro pela Ana Zanatti. Os escritores vivem de pequenos nadas. Esse momento foi um nada que se transformou em tudo. Agora, quando volto a abrir Misericórdia, dona Alberti fala com o timbre de voz de Ana Zanatti.

certeza de que a Terra era um local de fragilidade, perdido no Espaço? - Era-me tão claro. Mas agora sinto-me envergonhada. Qualquer pessimista, e até mesmo qualquer cínico de taberna, era mais esperto do que eu. Ainda o ciclo da pandemia não tinha terminado e desencadeia-se uma guerra de uma crueldade sem limites no meio da Europa. Não escondo que sinto uma enorme amargura, e por vezes desesperança. Estamos tal qual como na Idade do Bronze, quando Homero escreveu as epopeias sobre a carnificina no Mediterrâneo Oriental, só que no século XXI temos meios letais que dão para explodir dois planetas. Afinal confirma-se que não há ciclos, a História é só um ciclo de violência após violência. É triste o momento que passa.

P Em 2021, a Lídia foi convidada a substituir Eduardo Lourenço como membro do Conselho de Estado. Pode falar-nos um pouco do que representa para si esta responsabilidade e honra enquanto Conselheira.

R Aceitei porque significava ir tomar o lugar de um amigo, ainda que a distância a que me encontro de Eduardo Lourenço seja a que se sabe. Enquanto Eduardo Lourenço poderia falar a partir do ponto de vista próprio de um erudito na área da História da Cultura e da Filosofia, eu coloco-me na perspectiva de alguém que fala a partir da observação da vida comum. É esse o ponto de vista de um escritor como eu, não é outro. Mas essa participação não passa pela honra, passa pela verdade.

P A mãe acha a filha “fraca” (p. 84) e acusa-a de que o “remate” dos seus livros é “completamente desajustado em relação à forma como os finais devem ser” (p. 86).

R Dona Alberti, do ponto de vista da instrução, é uma mulher colocada sobre o muro, entre o mundo rural arcaico e um outro, cultivado, já moderno, a caminhar para o tecnológico. A personagem, autodidacta, leitora informal, habitada pelo desejo do conhecimento, claro que só poderia ter visões simplistas sobre a Literatura.

P Tece-se assim um subtil paralelismo ao longo do livro em que a filha dá voz e corpo às palavras da mãe. Simultaneamente, ecoa-se romances como A Costa dos Murmúrios em que há um relato primeiro que se vai de alguma forma decompondo ou reconstruindo.

R Cada escritor tem a sua forma. Vendo bem, desde O Dia dos Prodígios que esse é o meu modo. Um relato qualquer, como se fosse um incipit, que depois vou desembrulhando e desenvolvendo. Os meus livros surgem assim, acho que já o disse – uma espécie de ovo inicial, embrulhado e confuso que depois se esclarece. De onde uma forma um tanto solene e litúrgica que resulta

P Durante a pandemia, escreveu vários textos em que manifestava esperança num mundo melhor, mais solidário. Essa fé foi desacreditada pelo testemunho do que hoje se vive…

R Tem toda a razão. Escrevi doze textos durante a pandemia, e estava crente que depois de uma experiência global tão avassaladora, iríamos ficar mais próximos e mais fraternos. Afinal tinha havido uma batalha contra um inimigo não humano, e estávamos sozinhos, só nos tínhamos a nós mesmos sobre a Terra. Como não nos aproximarmos, como não passarmos a viver em conjunto, depois de salvos pela Ciência e pela Medicina? Agora que tínhamos a

P Também por estes anos, O Vento Assobiando nas Gruas, uma das suas obras mais aclamadas, em que retomou como cenário o Algarve, foi transposta para o cinema. Acompanhou a produção desse filme? Podemos esperar novidades para breve?

R Não acompanhei o processo. Uma numerosa equipa, e total liberdade. Veremos como está o filme, por certo que ouviremos falar dele. Também estou à espera.

P Ao aceitar o pedido de sua mãe, para poder escrever Misericórdia, conseguiu retomar o projeto interrompido? Ou perdeu essa voz?

R Não perdi a voz, só se distanciou, mas estou a aguardar o momento próprio para retomar. Veremos. Veremos é uma boa fórmula – combina receio e esperança.

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Misericórdia foi escrito a pedido da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país

Há trabalhadores em “situações dramáticas” na easyJet em Faro

OSindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) afirmou esta quarta-feira, no parlamento, que há trabalhadores da easyJet em Faro que enfrentam “situações dramáticas”, pedindo o fim deste tipo de condições.

“Os nossos trabalhadores em Faro passam grandes dificuldades. Nós temos trabalhadores que tiveram que viver dentro de carros durante alguns meses, auferiam à volta de 350, 400, 500 euros a operarem durante um mês. Quase todos os nossos trabalhadores de Faro têm que ter um segundo ou um terceiro trabalho”, disse Ana Dias, diretora do SNPVAC, na Comissão parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão.

De acordo com a diretora sindical, estes trabalhadores estão a trabalhar como condutores de TVDE durante a noite e trabalham para a companhia aérea durante o dia, “cansados”.

Estas condições podem, segundo Ana Dias, “comprometer, também, a segurança do voo, como é lógico”.

“São situações muito dramáticas que se vivem em Faro e é mais do que uma questão legal, é uma questão social e temos que eliminar por completo esse tipo de contratos”, defendeu.

De igual forma, o SNPVAC pediu, também, melhorias salariais.

“Os nossos salários não estão ajustados nem ao custo de vida em Portugal, nem àquilo que se pratica no mercado da aviação aqui em Portugal, e muito menos quando comparados com os nossos colegas lá fora”, afirmou Ana Dias, apontando que um colega francês ou alemão “aufere mais 90%” do que um trabalhador português na easyJet em Portugal.

O sindicato diz que os trabalhadores da easyJet em Portugal recebem cerca de menos 60%, em média, do que os restantes trabalhadores da empresa na Europa.

Ana Dias registou que o sindicato não pretende aumentos que igualem esses valores, mas pede “um aumento que, pelo menos, acompanhe o crescimento da easyJet aqui em Portugal”.

A diretora sindical registou que a companhia aérea é “líder no mercado europeu” em algumas rotas, nomeadamente nas ligações com Reino Unido, França e Luxemburgo, e recordou que adquiriu vários 'slots' que pertenciam à TAP e que foram distribuídos no seguimento da reestruturação e os ganhos no espaço no Terminal 1 do aeroporto de Lisboa.

Trabalhadores portugueses tratados como trabalhadores de segunda

“A companhia continua a não assumir essa responsabilidade e a tratar os trabalhadores portugueses como trabalhadores de segunda”, acusou a sindicalista.

Já o presidente do SNPVAC,

Ricardo Penarroias, constatou que a há “um grau de insatisfação tão grande que, neste momento, os tripulantes de cabine não pretendem mais conversações, querem ações”.

Ricardo Penarroias registou que tem havido, nos últimos anos, uma modificação da política da companhia aérea. “Eu entrei nas funções como diretor sindical em 2019, e eu vi uma política muito diferente. Apesar de ‘low cost’, no seu segmento comercial, a verdade é que na easyJet havia uma diferença gigante, abismal, entre uma easyJet e uma Ryanair na política de tratamento entre o trabalhador e a empresa”, referiu o presidente do SNPVAC.

“A verdade é que, passados três anos, quatro anos – não sei se é de efeitos da pandemia, não sei se advém da contratação de diretores que vinham da Ryanair, a verdade é que a easyJet passou a ter uma política totalmente diferente”, atirou o presidente do sindicato.

Sete consórcios para as aceleradoras do comércio digital O Ministério da Economia e do Mar anunciou que foram escolhidos os setes consórcios para as aceleradoras do comércio digital, um programa no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O ministério tutelado por António Costa Silva revela que entre os sete vencedores contam-se a Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja (ACSTDB), líder do Consórcio da Região do Alentejo, e a Associação dos Empresários de Quarteira e Vilamoura (AEQV), líder do Consórcio da Região do Algarve.

Residentes fizeram mais 33,8% de viagens em 2022 Os residentes em Portugal fizeram um total de 23,4 milhões de viagens turísticas em 2022, mais 33,8% do que em 2021, mas menos 4,2% do que em 2019 (pré-pandemia), anunciou o Instituto Nacional de Estatística. O INE precisa que as viagens nacionais aumentaram 25,1% e as viagens ao estrangeiro cresceram 176,0% em 2022, pela mesma ordem, menos 3,4% e 9,9% face a 2019 e mais 20,2% e 48,8% face a 2021. A duração média das viagens foi de 4,21 noites em 2022, contra 4,72 noites em 2021 e 4,05 em 2019. A região Centro (30,3%) reforçou a primeira posição como principal destino das viagens nacionais, seguida da região Norte (21,6%) e da Área Metropolitana de Lisboa (17,6%) que ultrapassou o Algarve. Espanha (38,2%), França (10,7%) e Itália (6,5%) mantiveram-se como os principais países de destino nas deslocações.

Cruzamento de Santa Rita na EN 125 Quem passou esta segunda-feira no cruzamento da Estrada Nacional 125, com a Estrada Municipal de Santa Rita – Vila Real Santo António por volta das 15:00, viu o que pareceu ser um grave acidente, cujo protagonista aparentava ser um ciclista. O ciclista dos Maios foi ali colocado como forma de chamar a atenção para o

facto de parte da população considerar necessária uma rotunda naquele local. Um utilizador de Facebook a propósito deste 'acidente' escreveu: “este ciclista vinha de Tavira e virou para Santa Rita para ir ver os Maios da nossa aldeia. Coitado, não viu o labirinto que os senhores engenheiros aqui fizeram, e espetou-se no bloco de betão e ali ficou.

Até quando esta situação de sermos prejudicados e privados de circulação livre?”

No Algarve, em muitos lugares, é costume, no primeiro dia de maio, criarem-se os Maios ou Maias, enfeitá-los e colocá-los na rua. Trata-se de bonecos e bonecas representando pessoas, em tamanho natural, cheios com palha, trapos, jornais amachucados e vestidos com roupa usada.

Muita música e dança de países lusófonos na Fuseta Martinho da Vila, Cláudia Pascoal e Élida Almeida vão estar na 11.ª edição do Festival Pé na Terra, que leva música e dança de países de língua portuguesa à Fuseta, entre 02 e 04 de junho, anunciou a organização. Um dos elementos da organização, Kelly Tanoco, disse à agência Lusa que “o festival começou em 2012”, na localidade do concelho de Olhão, distrito de Faro, já se realiza há 11 anos, e “trabalha sempre no contexto da cultura tradicional lusófona, com ritmos de alguns países de África, como Angola, Cabo Verde ou Moçambique, mas também do Brasil e Portugal”.

FOTO DR Tiragem desta edição 8.947 exemplares POSTAL regressa a 19 de maio Distribuição quinzenal nas bancas do Algarve
E ainda
“CICLISTA DOS MAIOS TEM ACIDENTE” EM CRUZAMENTO NA EN125
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