Revista do Meio Ambiente 39

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Menno Groenmen (sxc.hu)

texto Maurício Andrés Ribeiro (mandrib@uol.com.br)

2 ecologia interior

Nesse período da história da Terra em que ocorrem a grande 6ª extinção e as mudanças climáticas, o ser humano é um grande causador dessas transformações. Conhecê-lo a partir da abordagem ecológica – seu corpo, mente, energia, consciência, sentimentos, emoções, suas motivações e desejos – é essencial para compreender as relações ecológicas do ser que está transformando o planeta nesse período antropoceno e dar respostas à crise evolucionária atual. Neste texto focalizamos a dimensão corporal da ecologia do ser. Na perspectiva ecológica, o corpo humano é um ecossistema que se relaciona com os demais corpos e com o ambiente em que vive. Temos dentro do corpo um sistema circulatório análogo à rede fluvial; a flora intestinal é como as florestas internas de corais; a combustão da digestão é o efeito estufa interno. No ecossistema que é o corpo humano vivem vírus, bactérias, germes, além de parasitas, lombrigas, vermes, fungos, amebas, que mantêm com ele relações ecológicas harmônicas ou desarmônicas. No ciclo da vida, o corpo se transforma da concepção ao nascimento, do nascimento à infância, da juventude à fase adulta e até a velhice. O feto e a criança têm grande quantidade de água; recém-nascidos são mais vulneráveis que adultos a variações no meio ambiente. Na criança, há desenvolvimento da massa corporal e ocorrem grandes transformações na puberdade. Os corpos adultos e dos idosos têm menor percentual de água em seus órgãos. Na velhice, há redução de resistência física, perda da capacidade de percepção, um apagamento dos sentidos surdez, cegueira, perda de sensibilidade tátil, gustativa. Nessa idade, é preciso tomar cada vez mais cuidado com a manutenção do corpo e com a saúde física. O corpo necessita alimentar-se, tem necessidade de abrigo e de se proteger contra as intempéries; apresenta necessidades fisiológicas de respiração, comida, água, sexo, sono, excreção. Tais necessidades são sacia-

ago 2011 revista do meio ambiente

Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo. (Gandhi)

das com a roupa, o abrigo, cuidados médicos preventivos e curativos, escolas, transportes. Da primeira inspiração ao último suspiro, o corpo interage com a atmosfera. A respiração é a atividade vital por excelência e por meio da consciência da respiração focaliza-se a atenção no agora. O corpo é parte da hidrosfera e tem sede: 2,5 litros de água por dia. Os corpos vivos contêm água, encontrada na seiva dos vegetais, nos humores dos corpos animais e humanos. 70% do peso de um corpo humano adulto é água, o restante é mineral, parte da lito e da geosfera. O corpo tem fome e sede e interage com a biosfera, a hidrosfera e a geosfera ao se abastecer de alimentos e água. Gandhi dizia que “Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo.” Cristo identificou o corpo com o alimento ao repartir o pão: “Tomai e comei, esse é o meu corpo.” “Nós somos o ambiente e o ambiente somos nós” sintetizou Jiddhu Krishnamurti. As atividades cotidianas influenciam a forma de gerir o corpo. Variam o consumo de alimentos para nutri-lo e as dietas: enquanto um jóquei deve comer o mínimo para controlar seu peso e não sobrecarregar o cavalo, um lançador de discos precisa comer muito para ter força para arremessá-lo. O sobrepeso e a obesidade resultam de uma dieta maior do que a necessidade do corpo, que precisa então malhar para queimar o excesso ingerido. Há, então, um duplo desperdício de energia: ao ingerir alimentos a mais e ao exercitar-se para livrar-se do excesso de gordura. A propaganda de alimentos infantis influencia a mente das crianças e exerce pressão sobre os pais. Dietas alimentares inadequadas levam ao aumento da obesidade em geral e, em particular, a infantil. Os sentidos são um dos caminhos para se expandir a consciência ecológica. Quando agredidos, despertam reações, movimentos sociais ou coletivos para que se controle a fonte da agressão. Muitas das lutas do ativismo ecológico foram deflagradas a partir de sinais captados pelos sentidos como, por exemplo, o ar


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