Revista do Meio Ambiente 75

Page 1

Agenda política do século XXI e a depressão Entrevista especial com Átila Nunes Filho e Átila A. Nunes Revolução silenciosa no campo: a agricultura familiar

revistadomeioambiente.org.br

9772236101004

75 ISSN 2236-1014

ano IX • setembro 2014

Conheça 10 ecovilas brasileiras em cada região do País

A beleza incrível dos

beija-flores



JosÉ CRuZ/ABR

Sede e Redação Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370290 • Telfax: (21) 2610-2272• vilmar@rebia.org.br • CNPJ 05.291.019/0001-58

A peneira do

voto limpo

Nestas eleições, não jogue lixo nas urnas por vilmAr sidnei demAmAm bernA*

Q

uem se preocupa com o meio ambiente, naturalmente quer votar em gente que também está realmente comprometida com o meio ambiente, além das palavras e promessas, mas com atitudes. A grande maioria dos eleitores ainda não está devidamente sensível às questões ambientais, ainda sonha com o consumo primeiro e o meio ambientre depois. Acaba não levando em conta os limites e a capacidade do meio ambiente e, de certa maneira, alguns chegam a perceber meio ambiente como uma espécie de inimigo do progresso. Essa baixa consciência ambiental de grande parte dos eleitores vai refletir, naturalmente, na escolha dos candidatos. Políticos comprometidos com o meio ambiente ainda continuarão sendo minoria. Então, cada voto ambiental é importante. Não é verdade que todos os políticos são iguais, ou que votar nulo signifique alguma forma de protesto ou que ajudará de alguma maneira a mudar o quadro político para melhor. Isso é o que os maus políticos querem que a maioria pense. O vídeo disponível na internet A verdade sobre o voto nulo (www.youtube.com/watch?v=LVvOLPviNTs) explica isso direitinho. A cada nova eleição, cidadãos e cidadãs ambientais, através do voto, têm a chance de varrer para a lixeira da história os maus políticos de toda a espécie, e também os políticos descomprometidos ambientalmente. Os cidadãos e cidadãs ambientais contam hoje com a internet como uma poderosa ferramenta de pesquisa para identificar quem merece e quem não merece o voto. Fichas Sujas não merecem. Ou que estiveram envolvidos em escândalos como os listados no Wikipedia também não (pt.wikipedia.org/ wiki/Anexo:Lista_de_esc%C3%A2ndalos_de_corrup%C3%A7%C3%A3o_ no_Brasil). O próprio Tribunal Superior Eleitoral lista os políticos cujas contas estão irregulares (www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2012/contas-irregulares-tcu) e existem sites como www.politicos.org.br e www.transparencia.org.br, entre outros, cheios de informações valiosas para ajudar a votar certo. Entretanto, numa democracia, só votar não basta. É preciso acompanhar o voto, por exemplo, cadastrando-se nos serviços de busca como o Google, nos sites dos políticos, etc. Conseguir o e-mail, telefone, facebook, etc., e manter contato com o político ou sua assessoria, para opinar, sugerir, criticar, cobrar responsabilidades. Dá trabalho? Claro que dá, mas é muito melhor que agir como a maioria que, depois que vota, nem lembra mais o nome do candidato em quem votou. * Escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da oNu para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio verde das Américas

A instituição A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações, opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam comprometidas com os mesmos propósitos. Fundador da Rebia A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das Nações Unidas de Meio Ambiente. • escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634 Conselho Editorial A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários, e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia, democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto. A Rebia na web • Facebook: facebook.com/rebia.org.br Fórum Rebia Sul: facebook.com/groups/rebiasul/ Fórum Rebia Sudeste: facebook.com/groups/rebiasudeste/ Fórum Rebia Centro-Oeste: facebook.com/groups/rebiacentrooeste/ Fórum Rebia Nordeste: facebook.com/groups/rebianordeste/ Fórum Rebia Norte: facebook.com/groups/rebianorte/ • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Linkedin: www.linkedin.com/company/ rebia---rede-brasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_compy_id_2605630 • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/ injarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw Coordenadas GPS da Rebia: -22.929432, -43.111917 Imune/Isenta de Impostos A Prima (prima.org.br) é a pessoa jurídica responsável pela publicação do Portal do Meio Ambiente e da Revista do Meio Ambiente (termo de parceria assinado com seu editor e fundador, escritor Vilmar Sidnei Demamam Berna, e com a proprietária Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental) e por ser uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) registrada no Ministério da Justiça sob o nº 08015.011781/2003-61 é Imune/Isenta de Impostos (art. 15 da Lei nº 9.532 de 10 de dezembro de 1997). • Razão Social: Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade • CNPJ 06.034.803/0001-43 Rua Fagundes Varela, 305/ 1032 - Ingá, Niterói, RJ • 24.210.520 Inscrição estadual: Isenta Inscrição Municipal: 131974-8 • Conta Bancária: CEF ag. 3092 OP 003 - C/C 627-5 • Contato: Ricardo Harduim • (21) 9962-1922 • harduim@prima.org.br • Renúncia Fiscal: Os patrocínios e doações de empresas tributadas por lucro real aos projetos da Rebia através da Oscip Prima poderão ser abatidos em até 2% do imposto devido declarado (ISSQN, do IRPJ, da CSLL, da COFINS e da contribuição para o PIS/PASEP, a que se refere o art. 64 da lei nº 9.430, de 27/12/1996).

Projeto gráfico e diagramação Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 skype: estudio.mutum contato@estudiomutum.com.br Razão Social: Haldney Antonio Silvino Ferreira - ME CNPJ 07.413.335/0001-80 estudiomutum.com.br

Webmaster Leandro Maia Araujo - MEI (21) 9729-6312 suporte@lmatech.com.br webmaster@rebia.org.br CNPJ 18.463.673/0001-43 Rua Adelaide Correia Machado, 56 CS São Gonçalo, RJ • 24732-725

Impressão Grupo SmartPrinter • (21) 3597-3123 / (21) 9655-4860 / 24*6443 • atendimento3@gruposmartprinter. com.br (Josy Torres / Comercial) CNPJ 06.034.938/0001-47 Rua José Mendes de Souza, 7 Saquarema, RJ • 28990-000 gruposmartprinter.com.br

revista ‘neutra em carbono’ prima.org.br

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da Rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia. Para acessar a Revista do Meio Ambiente online ao vivo com o código QR é só escanear o código e ter acesso imediato. Se não tiver o leitor de QR basta abaixar o aplicativo gratuito para celulares com android em http://bit.ly/16apez1 e para Iphone e Ipads em http://bit.ly/17Jzhu0 FoTo DeSTA cAPA: FRoNtPAGE / shuttERstoCk

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4

editorial / expediente

3


Agenda política do século XXI e

a depressão

por Fabio Feldmann

A

morte do ator Robbin Williams expõe o grave problema da depressão que nos aflige. A Organização Mundial de Saúde, já faz tempo, tem alertado sobre a necessidade de colocarmos na agenda política este tema tão relevante. Infelizmente muita gente encara a depressão com preconceito, como se ela revelasse uma fragilidade da pessoa que vive intensamente o problema. Hoje já se reconhece que nem as crianças estão isentas desse mal. Recentemente o tema foi abordado em Paraty na FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty por Andrew Solomon, reconhecido escritor americano. Certamente, a depender das circunstâncias, todos estão sujeitos aos altos e baixos da roda gigante que é a vida. Mas temos que pensar se de fato estamos enfrentando adequadamente a questão. Como a depressão nos afeta? Como a desigualdade social torna mais vulnerável pessoas com menos possibilidades de um correto diagnóstico e de escolhas para o seu enfrentamento? Existe uma pré disposição genética à depressão? Todas essas perguntas deveriam estar na agenda do debate político do Brasil, com o objetivo de se estabelecer uma política pública eficaz para podermos lidar com a depressão. Como é sabido, estou coordenando a temática de sustentabilidade e meio ambiente da campanha de Aécio Neves. Quando tomei conhecimento sobre o suicídio de Robbin Williams me perguntei se este tema deveria ou não ser contemplado neste campo. Ou eventualmente no que tange à saúde. Pesquisei também os outros programas das outras candidaturas e me convenci de que há uma omissão clara em relação à matéria. A agenda de século XXI tem que tratar a depressão na complexidade que ela exige. A exemplo de outros temas complexos e contemporâneos, estou convicto de que o assunto merece uma atenção da Presidência da República. Por que? Em primeiro lugar, por exigir uma abordagem Infelizmente muita gente encara a depressão com preconceito, como se ela revelasse uma fragilidade da pessoa que vive intensamente o problema

A depressão, entre outros males, deveria estar na agenda do debate político do Brasil, ter uma política pública mais eficaz holística, assegurando com isso que não se torne matéria de domínio exclusivo de um ou dois ministérios. Além disso, é importante que se colete o mais amplo conjunto de informações sobre como o tema tem sido tratado pela ciência no mundo e no Brasil. E quais políticas públicas são mais eficazes para o diagnóstico, prevenção e tratamento da doença nas várias esferas da vida das pessoas. A ideia é que em temas complicados como depressão, resistência a antibióticos, obesidade, entre outros, a Presidência da República crie um painel específico com objetivos bem definidos e processo de consulta pública amplo, de modo que com isso se possa oferecer à sociedade brasileira estratégias claras para o enfrentamento desses problemas. O fato do Presidente colocá-los como uma prioridade sua, claramente indica a importância dos temas, gerando, de um lado, a repercussão necessária na mídia de maneira geral e do outro, mobilizando a sociedade em busca das melhores estratégias e soluções. Com isso, o Brasil moderniza a sua agenda política e dá importância às temáticas que afligem efetivamente os nossos cidadãos. Depressão e obesidade, cada vez mais, estão presentes em nossas vidas. Por sua vez, na medida em que os antibióticos se tornam mais ineficazes em função da resistência das bactérias, os riscos de morrermos de certas doenças se tornam cada dia mais provável. FONTE: ffeldmann.com.br/blog

iofoto/shutterstock

saúde e meio ambiente

4

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r


sxc.hu

5

Poluição do ar pode causar

A ciência da depressão A OMS estima que mais de 350 milhões de pessoas sofram com a doença no mundo todo

D

e acordo com um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com base nos dados do sistema de mortalidade do Datasus, o número de mortes relacionadas com a depressão (incluindo suicídio) cresceu 705% no Brasil apenas nos últimos 16 anos. Mas o que acontece exatamente com o corpo e a mente de uma pessoa depressiva? O que se passa dentro dela? No passado, a depressão era comumente explicada como sendo apenas um “desequilíbrio químico” do cérebro: faltava serotonina aos doentes, substância conhecida por causar bem estar nas pessoas. Porém, a única evidência que apoiava essa teoria é que pacientes que recebiam serotonina sentiam um alívio de seus sintomas. Agora, a ciência sabe que a depressão é mais complexa do que somente a falta de uma substância química no cérebro. Recentemente, descobrimos que as conexões entre as células também desempenham um papel. Além disso, o hipocampo – aérea do cérebro que controla memória e emoção – dos depressivos tende a ser menor do que o de outras pessoas. Quanto mais tempo alguém sofre da doença, mais seu hipocampo diminui. As células da região de fato se deterioram. O estresse é um grande fator que desperta essa condição. Estudos já mostraram que quando tal parte do cérebro é regenerada, células crescem, novos neurônios são estimulados e o humor da pessoa melhora. Aliás, muitas drogas do mercado, incluindo as que afetam o nível de serotonina, tem um efeito indireto no crescimento de células do cérebro. Por isso, esses remédios parecem ajudar os deprimidos. Daqui para frente, cientistas querem focar nos medicamentos que diretamente afetam a neurogênese (o crescimento de novos neurônios) para tratar a depressão. Até agora, falamos de coisas físicas, mas os pesquisadores também descobriram que a depressão é influenciada por fatores genéticos. Por exemplo, um defeito no gene que afeta o transporte de serotonina deixa seu portador mais vulnerável à condição. Por fim, a propensão a doença também pode ser hereditária. A causa exata da depressão, no entanto, é desconhecida. Falamos de células do cérebro, substâncias químicas e fatores genéticos, mas os estudos feitos nos últimos anos encontraram diferentes “gatilhos” e condições associadas à ela, de maneira que a consideramos uma doença com base biológica e implicações psicológicas e sociais. Dada tamanha complexidade, então, não é legal confundir tristeza com depressão. Essa doença não é algo que as pessoas podem simplesmente “deixar para lá” ou “esperar para passar”. Está na hora da população aceitar que a condição pode ser realmente debilitante e precisa de atenção e cuidados médicos especiais. FOnte: hypescience

o site hYpescience disponibilizou um teste de depressão. Acesse em: http://hypescience.com/ciencia-da-depressao/

depressão Pesquisa da Universidade de State Ohio aponta que gases na atmosfera afetam o hipocampo por Redação Galileu

P

éssima notícia para quem mora em cidades em que a poluição impera: pesquisadores da Universidade de Ohio State, após uma série de pesquisas, chegaram à conclusão que a poluição do ar causa males não somente ao nosso coração e pulmões, mas também ao cérebro, podendo gerar falhas de memória e até depressão. O estudo consistiu em expor um camundongo à poluição encontrada nas grandes metrópoles durante dez meses. Camundongos preferem lugares escuros. Assim, os pesquisadores treinaram durante cinco dias camundongos expostos a poluição e outros não expostos a acharem um buraco que os levaria para um lugar escuro. No dia do teste, os camundongos foram colocados em uma área clara e tinham que achar o buraco que os levaria para a área escura (mais agradável), missão para a qual tinham sido treinados. Os camundongos expostos a poluição não só demoraram mais para achar o buraco, como depois, tiveram dificuldades para se lembrar do caminho. E ainda apresentaram traços de depressão. Verificado o hipocampo dos camundongos, área responsável pela memória, aprendizagem e depressão, os cientistas de Ohio observaram que os camundongos que respiraram ar poluído tinham menos dendritos (prolongamentos dos neurônios responsáveis pela recepção dos estímulos nervosos), gêmulas (parte do dendrito que faz essa recepção) e um nível de complexidade celular menor. Esses são os elementos que fazem o hipocampo funcionar bem. Fonte: revistagalileu.globo.com

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


água

6

“Tem menos água aqui que no

deserto

Um grupo de seis alunos de jornalismo da ECA-USP elaborou a reportagem hipermídia “2000 e água”, sobre a crise hídrica de 2014 em São Paulo. O biólogo, educador ambiental e presidente da AGUA (Associação Guardiã da Água), John Emilio Garcia Tatton, falou sobre o assunto por francisco milanez*

Saara. Há muito tempo já deveriam estar sendo feitas não só campanhas, mas amplos programas de educação ambiental, da pré-escola à universidade, porque era óbvio que isso ia acontecer.

“T

em menos água aqui que no deserto do Saara”. Para ele, toda a rede de ensino precisa ser mobilizada pelo uso racional da água. “Há muito tempo, deveriam estar sendo feitas não só campanhas, mas amplos programas de educação ambiental, da pré-escola à universidade”, defende o especialista. Apesar de definir as perdas de água do Estado como “um absurdo”, Tatton defende que a responsabilidade pelo desperdício deve ser compartilhada entre todos. “Na agricultura, por exemplo, a irrigação poderia ser realizada à noite. Imagina o quanto se perde de água por evaporação? Na indústria, a água de reuso poderia ser universalizada. Não faz sentido usar água potável e fluoretada para lavar chão de fábrica”, exemplifica. Confira a entrevista a seguir, para o Projeto 2000 e Água. 2000 e água: Entre 2004 e 2013, o consumo de água nos 33 municípios abastecidos pela Sabesp aumentou em 26%, enquanto a produção cresceu apenas 9%. A estiagem no Sistema Cantareira já era prevista? John Emilio Garcia Tatton: A grande complexidade é o aglomerado de 39 municípios, com mais de 20 milhões de pessoas em uma mesma bacia hidrográfica. Segundo a ONU, a disponibilidade hídrica abaixo de 1,5 mil metros cúbicos por habitante por ano já é considerada crítica. Na bacia do Alto Tietê este índice é de apenas 200 metros cúbicos. Tem menos água aqui que no deserto do s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Segundo a ONU, a disponibilidade hídrica abaixo de 1,5 mil metros cúbicos por habitante por ano já é considerada crítica. Na bacia do Alto Tietê este índice é de apenas 200 metros cúbicos

2000 e água: A seca sofrida na bacia PCJ agravou ainda mais a situação na região que já estava poluída. Como a AGUA acredita que esse cenário possa ser contornado? John Emilio Garcia Tatton: A estiagem implica não só na redução da água, mas também na mudança da concentração de nutrientes nela. Devido às ações antrópicas [causadas pela ação humana] decorrentes da agricultura e da indústria, todos os mananciais nas regiões metropolitanas estão eutrofizados pelo aporte de nutrientes como o fósforo, que é o fator limitante na floração das algas. É preciso reduzir o alimento da alga. Ela se alimenta principalmente do fósforo, que tem três fontes: sabão em pó, resíduos, e o desmatamento que deixa o solo exposto e faz com que a água das chuvas leve os nutrientes ricos em fósforos para a represa. 2000 e água: Ao mesmo tempo em que o Estado de São Paulo passou por uma estiagem, no Sul do Brasil observamos as comportas da Usina Hidrelétrica de Itaipu serem abertas. Como poderíamos amenizar esses contrastes climáticos regionais? John Emilio Garcia Tatton: Os extremos, enchentes e escassez, prenúncios das mudanças climáticas têm sido recorrentes. A verdade é que conseguimos alterar até o curso dos “rios voado-


7

reciclagem de resíduos. Grandes corporações investiram na gestão ambiental atrelada ao seu negócio e estão inclusive ganhando mais dinheiro com isso. No estado de São Paulo, por exemplo, há dezenas de empresas adeptas ao ISE Bovespa, índice de sustentabilidade empresarial que premia com maior rentabilidade as empresas sustentáveis. No futuro, não haverá mais espaço para a poluição e desperdício no processo de produção e consumo. A legislação ambiental estará cada vez mais restritiva e o consumidor cada vez mais exigente. Inclusive, preocupado com o trabalho escravo e a justiça social. Marcelo Camargo/ABr

do saara

res”, impactando não só a bacia hidrográfica, mas também a bacia aérea. As águas de março não chegaram suficientemente este ano porque desviamos as correntes aéreas, por meio de desmatamentos na Amazônia e no Mato Grosso. Isso foi decorrente do uso e ocupação do solo, incorreto e indevido, realizado pelo setor do agronegócio, que não poupa em seu caminho nem mesmo os povos da floresta. Por fim, a falta d’água em São Paulo é apenas um capítulo do filme de terror que assistiremos nos próximos anos se não mudarmos nossos paradigmas. Temos que nos engajar na preservação dos mananciais, no uso racional da água e na despoluição hídrica. 2000 e água: O desperdício da água é um agravante para o período de crise. Como evitá-lo? John Emilio Garcia Tatton: Devemos trabalhar o conhecimento do ciclo de vida da água, desde a captação nos mananciais à distribuição do consumo. O governo tem que investir mais no controle das perdas de água, que ainda está acima do normal. Atualmente, mais de 25% do que é produzido é perdido. Isso é um absurdo. Mas a responsabilidade é de todos. Na agricultura, por exemplo, a irrigação poderia ser realizada à noite. Imagina o quanto se perde de água por evaporação? Na indústria, a água de reuso poderia ser universalizada, não faz sentido usar água potável e fluoretada para lavar chão de fábrica! 2000 e água: Quanto as empresas e indústria, como incentivá-las a investirem em planejamento ambiental? John Emilio Garcia Tatton: Atualmente existem milhares de empresas no mundo que praticam as “compras verdes”, a coleta seletiva e a

No futuro, não haverá mais espaço para a poluição e desperdício no processo de produção e consumo. A legislação ambiental estará cada vez mais restritiva e o consumidor cada vez mais exigente. Inclusive, preocupado com o trabalho escravo e a justiça social

2000 e água: Como funciona a legislação ambiental no Brasil para a gestão da água? Ela é eficiente? John Emilio Garcia Tatton: No Brasil, a gestão da água modernamente é feita por bacias hidrográficas em um sistema de gerenciamento de recursos hídricos. No Estado de São Paulo temos 22 bacias, organizadas em comitês e câmeras técnicas, onde são discutidas as necessidades e expectativas de todas as partes interessadas. Outra novidade é a cobrança pelo uso da água. Quase todos os grandes usuários já pagam pela água, assim como a própria Sabesp, as indústrias e os agricultores. O que se faz com esse dinheiro? Ele é voltado para administração da própria bacia. Essa verba é usada para obras de saneamento como a construção de estações de tratamento de água e esgoto e também para educação ambiental. Eu acredito nessa gestão. Nos comitês de bacia já se tem mais de R$ 23 milhões só para investimentos em educação ambiental. Porém, o que falta são projetos para o uso e aplicação deste recurso na conscientização e mobilização social. Não se sabe planejar, fazer, checar e avaliar projetos. 2000 e água: Por fim, como a população pode se conscientizar de suas próprias atitudes no contexto ambiental? John Emilio Garcia Tatton: Toda a rede de ensino poderia estar sendo mobilizada por uma causa comum: o uso racional da água. A rede de ensino pública atende no Estado cerca de 5 milhões de alunos, por meio de 200 mil professores que são capacitados e treinados por centenas de coordenadores pedagógicos. Portanto, esses coordenadores deveriam estar bem orientados e engajados, principalmente os da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. O pessoal da Bacia Hidrográfica do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) já implementou essa estratégia e está conseguindo resultados. Fonte: franciscomilanez.com *Professor, arquiteto, urbanista, biólogo, escritor e terapeuta. Atual coordenador do Plano Rio Grande do Sul Sustentável do Governo do Estado do RGS, ex- presidente da Agapan Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


COMUNICAÇÃO AMBIENTAL

8

Mais fontes de informação socioambiental Na edição anterior, continuamos a publicar uma relação de importantes fontes que oferecem informações socioambientais gratuitas que complementamos aqui. Existem muitas outras, e estaremos divulgando-as à medida que as informações nos forem chegando. Uma sociedade ambientalmente melhor informada e mais consciente tenderá a pressionar cada vez mais por políticas públicas e de mercado que levem em conta as questões ambientais em suas tomadas de decisão

gratuitas • Poço das Antas: www.pocodasantas.com.br/noticias.htm • Projeto Tamar: www.tamar.org.br/noticias_lista.php • SOS Fauna: www.sosfauna.org/noticias.php • USP - Núcleo de Economia Socioambiental: http://nesa.org.br/ • Uipa: www.uipa.org.br/category/noticias/ • Amigos da Natureza: www.amigosdanatureza.net/noticias/ • Animais SOS: www.animaisos.org/

por Vilmar Berna

• Animais & Natureza: www.animalenatureza.org.br/noticias_todas.php

Setor empresarial • Sebrae: www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ Busca?q=MEIO%20AMBIENTE

• Projeto Grandes Primatas: www.projetogap.org.br/noticias/

• CEBDS: http://cebds.org.br/comunicacao/noticias • Itaipu Binacional: www.itaipu.gov.br/meioambiente-capa • Fundação O Boticário: www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt/noticias/pages/default.aspx • Fundação Toyota do Brasil: www.fundacaotoyotadobrasil.org.br/noticias/ • Petrobras: www.petrobras.com.br/pt/sociedade -e-meio-ambiente/?gclid=CjgKEAjwz7mdBR DS46_ipNqqsEQSJAC4rrGk0vH-itCdF7VS7Q6NqBRXepgpL3EsC8Zk8y45EC8g3fD_BwE Animais • Fala Bicho: www.ogritodobicho.com/ • Olhar Animal: www.olharanimal.net/noticias • Tribuna Animal: http://tribunaanimal.org/ index.php?/Noticias/ANIMAIS-BRASIL/ • Anda – Agência De Notícias De Direito Animal: www.anda.jor.br/ • Renctas: www.renctas.org.br/pt/home/ • Arca Brasil: www.arcabrasil.org.br/blog/ s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

• WSPA: www.worldanimalprotection.org.br/noticias/default.aspx • Índice das Associações de Proteção animal no Brasil: www.lphbrasil. com.br/enderecos.html • Rede Ambiente: www.redeambiente.org.br/tanamidia.asp?sessao=fauna • SPVS: www.spvs.org.br/noticias/ Lixo & Reciclagem • Máfia do Lixo: www.mafiadolixo.com/categoria/noticias/ • Portal do Lixo Marinho: www.globalgarbage.org/praia/ • Rota da Reciclagem: www.rotadareciclagem.com.br/index.html • Ecoinforme: www.ecoinforme.com.br/#!noticias/c10d6 • Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável: www.mncr. org.br/box_2/noticias-regionais • Programa Coleta Seletiva Solidária www.coletaseletivasolidaria.com.br/ index.php/midia-2/noticias • Sucatas: http://sucatas.com/portal/news/index • Doe seu Lixo: www.doeseulixo.org.br/category/ultimas-noticias/ • Google Lixo: https://news.google.com.br/news/search?hl=pt-BR&tab =wn&q=lixo • Recicloteca: www.recicloteca.org.br/category/noticias/


Dilma defende sustentabilidade para combater

“A redução das emissões e ações de adaptação devem ser reconhecidas como fonte de riqueza”, defende a presidenta por Lucas tolentino

Roberto Stuckert Filho/ PR

o aquecimento global A

presidenta Dilma Rousseff defendeu na terça-feira (23/09), na Cúpula do Clima das Nações Unidas, em Nova York, o desenvolvimento sustentável como a principal arma para combater os avanços e prejuízos causados pelo aquecimento global. Realizado na sede da ONU, o encontro reúne representantes de 125 países e antecede a Assembleia-Geral da Organização, marcada para esta quarta-feira (24/09). A solução, segundo a presidenta, deve incluir ações ambientais, econômicas e sociais. “Precisamos reverter a lógica de que o combate à mudança do clima é danoso à economia”, disse. “A redução das emissões e ações de adaptação devem ser reconhecidas como fonte de riqueza, de modo a atrair investimentos e lastrear novas ações de desenvolvimento sustentável.” ACORDO Além de mobilizar a sociedade para a questão, a cúpula tem o objetivo de debater o novo compromisso climático global, previsto para ser definido em 2015. O formato do futuro acordo global vem sendo discutido, ao longo dos anos, pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) e deverá ser submetido à comunidade internacional no próximo ano, em Paris. O compromisso deve conter os deveres de cada ator frente ao problema. “O crescimento das nossas economias é compatível com a redução de emissões”, defendeu a presidenta. “O novo acordo climático precisa ser universal, ambicioso e legalmente vinculante, respeitando os princípios e os dispositivos da Convenção-Quadro, em particular os princípios de equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.” MODELO Os esforços e os resultados da política ambiental brasileira foram listados pela presidenta como formas de aliar proteção ambiental ao crescimento da economia. Entre as ações adota-

Além de mobilizar a sociedade, a cúpula tem o objetivo de debater o novo compromisso climático global, previsto para ser definido em 2015

das em território nacional, a presidenta destacou o corte das emissões de 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono entre 2010 e 2013 e o alcance das quatro menores taxas de desmatamento da Amazônia da série histórica no país. A prevenção de desastres naturais, a promoção da agricultura de baixo carbono e o aumento das energias renováveis surgem, ainda, como medidas ambientais e de inclusão da população. “Ao mesmo tempo em que diminuímos a pobreza e a desigualdade social, protegemos o meio ambiente”, destacou Dilma Rousseff. “Nós, países em desenvolvimento, temos igual direito ao bem-estar. E estamos provando que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível.” SAIBA MAIS O novo acordo climático é um dos principais assuntos em pauta na UNFCCC. Em dezembro deste ano, representantes dos mais de 190 paísesmembros se reunirão em Lima, capital do Peru, para discutir aspectos finais sobre o compromisso. O rascunho deverá ser concluído e colocado para aprovação no fim de 2015, na Conferência de Paris. Esse futuro acordo deverá substituir o Protocolo de Kyoto, instrumento que vigora atualmente e estabelece metas de redução de emissões para os países desenvolvidos. Apesar de não estar nessa lista, o Brasil se comprometeu de maneira voluntária a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em território nacional. Fonte: mma

íntegra do discurso da presidenta em Nova York em: http://simat. mma.gov.br/acomweb/Media/Documentos/5c02f2df-0990-411b-a.pdf

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4

Política Ambiental

9


água

10

São Paulo e os

Por que os “rios voadores” da Amazônia não chegaram a São Paulo este ano?

Ana Cotta (Flickr cc 2.0)

“rios voadores”

por mário ferreira neto*

I

ronicamente desde o início do ano a grande mídia nos inunda com uma enxurrada de manchetes sobre a seca paulista em abordagens superficiais explicando para a população apenas como “falta de chuvas”, mas a queda nas precipitações do último verão está longe de ser a regra para o clima desta região. O que pode ter ‘quebrado’ o grande corredor de rios voadores em formato de bumerangue que costuma existir nos verões da América do Sul? A expressão ‘rios voadores’ foi criada pelo pesquisador José Marengo (Inpe) ao se referir à grande quantidade de água na forma de vapor carregada ao centro-sul do Brasil com uma massa de ar quente (Massa Equatorial Continental - mEc) proveniente da floresta amazônica. Neste começo de ano, a umidade que se desloca com a mEc não chegou a São Paulo e as chuvas ficaram bem abaixo das médias mensais esperadas para o período. Imagens de satélite do Cptec/Inpe das precipitações mensais mostram claramente que o bimestre janeiro/fevereiro de 2014 os habituais rios voadores não conseguiram chegar se comparados aos cinco anos anteriores. As explicações para anormalidades climáticas como essa são diversas, enquanto para alguns se trata apenas de eventos cíclicos dentro de grandes intervalos de tempo, para outros as razões parecem convergir para possíveis desdobramentos do aquecimento global e da perda de cobertura florestal. O aumento das temperaturas médias da superfície do planeta poderia alterar a dinâmica das correntes marítimas e das massas de ar, já o desmatamento reduz a umidade no ar devido ao fato de que, ao transpirarem, as florestas funcionam como verdadeiras ‘bombas d’água’ que liberam na atmosfera bilhões de litros na forma de vapor. Sendo assim, ambos os fenômenos parecem influenciar nos padrões climáticos. Segue um pequeno esboço com algumas hipóteses para este caso da seca paulista: 1) O aquecimento global; nos últimos 15 anos foram batidos quase todos os recordes históricos de maiores médias de temperaturas anuais medidos desde 1850; a amazônica enfrentou nos últimos anos a maior seca (2010) e as duas maiores cheias (2009 e 2012) desde o início das medições nos rios em 1902; estaria provocando alterações na dinâmica das massas de ar que atuam na América do Sul; neste contexto de temperaturas médias mais altas, a zona de influência da Massa Tropical Continental - mTc vinda do Paraguai pode ter se redimensionado estacionando o ar quente/seco e impedindo a chegada da umidade da Amazônia, bem como aumentado as temperaturas médias nesta região provocando maior evaporação dos rios/reservatórios e aprofundando lençóis freáticos;

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

2) O desmatamento de 22% da floresta Amazônica brasileira (IBGE/Prodes), 47% do Cerrado (MMA) e 91,5% da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica) fez com que essas coberturas vegetais deixassem de prestar importantes serviços ambientais como a regulação das temperaturas médias e o ‘bombeamento’ de imensa quantidade de vapor d’água para atmosfera resultando nos rios voadores e nas chuvas em São Paulo durante o verão. 3) O aumento da urbanização do Centro-Sul brasileiro provocaria uma somatória de ilhas de calor aumentando as temperaturas médias e a taxa de evaporação dos rios e reservatórios. 4) O aumento da população e do consumo de água – a população do estado de São Paulo cresceu 4,2 milhões de 2000 a 2010 (IBGE); 5) Outros eventos não elencados (o professor Lucivânio Jatobá de Oliveira, do departamento de Ciências Geográficas da UFPE, sinalizou que houve um avanço mais intenso do anticiclone do atlântico sul que teria influenciado para a estiagem: “Ele ficou mais enérgico e agiu intensamente sobre o Centro-Oeste e partes do Sudeste. Isso gerou bloqueios de frentes e inibição da convecção. Some-se a isso, mesmo que discretamente, a subsidência do ar decorrente do El Niño, que já dava marcas de seu início em março e abril”) ou desconhecidos; Em janeiro de 2008 houve um padrão de distribuição de chuvas um pouco semelhante ao que ocorreu este ano, os rios voadores não chegaram a São Paulo, no entanto nos verões seguintes (20092013) a umidade vinda da Amazônia se restabeleceu. Nos últimos anos, os pesquisadores Philip Fearnside (Inpa) e Antonio Nobre (Inpe) vêm atentando para evidências de relações bilaterais entre a floresta amazônica e as mudanças climáticas, porém sem grande atenção da mídia. A estiagem virou até motivo de disputa política, mas com um reducionismo da questão. O fato é que os meios de comunicação não se preocuparam em iniciar uma reflexão e discussão com a população sobre as possíveis causas, a maior parte da informação é passada de maneira reduzida e incompleta, o que compromete a conscientização para mudanças nas matrizes energéticas dos países, nas estratégias de conservação/valorização dos serviços ambientais de grandes biomas e na atitude de cada pessoa diante do novo panorama socioambiental.

*Biólogo formado pela Unicamp: Iniciações Científicas em Ecologia e Ensino de Biologia


11

Sistema transforma caixa d’água em miniusina hidrelétrica

Garota inventa sistema portátil que limpa água e

produz energia

hidrelétrica

E

nquanto cientistas em todo o mundo tentam aumentar a eficiência dos grandes sistemas de produção energética, dois empreendedores brasileiros desenvolveram uma solução simples para gerar energia limpa em casa. Apelidada de UGES, a tecnologia transforma as caixas d’água em miniusinas hidrelétricas. O nome é uma abreviação de Unidade Geradora de Energia Sustentável e a criação é fruto do trabalho dos engenheiros Mauro Serra e Jorgea Marangon. A tecnologia é simples e pode ser utilizada em qualquer caixa d’água, independente de seu tamanho. “A UGES transforma a passagem da água que abastece os reservatórios em um sistema gerador de energia. Vale destacar que o consumo diário de água no país é, em média, de 250 litros por pessoa, consumo que é totalmente desperdiçado como forma de energia. Ao desenvolver um sistema que reaproveita essa energia, podemos gerar eletricidade, sem emissão de gases e totalmente limpa”, destacou Mauro Serra, em entrevista à Faperj. A ideia já foi patenteada e logo deve estar disponível no mercado. Além de contar com um sistema instalado dentro do próprio reservatório de água, o UGES também precisa de uma unidade móvel para que seja possível transformar toda a energia captada em eletricidade e assim distribuí-la para o uso doméstico. No entanto, ele não precisa de uma fonte externa de energia para funcionar. “Ao entrar pela tubulação para abastecer a caixa, a água que vem da rua é pressurizada pelo sistema gerador de energia, passando pela miniusina fixada e angulada na saída de água do reservatório”, explica Serra. Depois disso, a pressão gera energia, que é transformada em eletricidade. O empreendedor explica que a produção é ideal para abastecer lâmpadas, geladeiras, rádios, computadores, ventiladores, entre outros aparelhos domésticos. A energia só não é ideal para ser usada em equipamentos de alto consumo, como chuveiros e secadores de cabelo. Não é possível quantificar com exatidão a produção, pois a variação depende do tamanho da caixa d’água e da quantidade de água consumida. “Se ela for instalada em um sistema de abastecimento de água municipal, poderá, por exemplo, ser dimensionada para gerar energia suficiente para abastecer a iluminação pública. Imagine então esse benefício em certos locais como restaurantes, lavanderias ou mesmo indústrias, onde o consumo de água é grande”, exemplifica o inventor. Outro ponto positivo do sistema é o armazenamento do excedente para uso posterior e a independência – ao menos, parcial – das redes de distribuição. Fonte: ciclo vivo

divulgação

divulgação

Brasileiros criam miniusina

C

om apenas 17 anos, a jovem australiana Cynthia Sin Nga Lam desenvolveu um sistema portátil que pode facilitar muito a vida de pessoas que vivem em comunidades isoladas. A pequena tecnologia é capaz de purificar a água ao mesmo tempo em que gera energia. A invenção foi apelidada de H2prO e tem como base apenas dois agentes principais: dióxido de titânio e luz. Ao entrar em contato com a luz, o titânio absorve a energia ultravioleta e gera radicais que auxiliam o processo de oxidação de compostos orgânicos, que se decompõem para produzir CO2 e H2O. Os testes que usam o titânio para separar poluentes da água foram feitos pela primeira vez pelo japonês Akira Fujishima e serviram de inspiração para Cynthia em seu experimento. Para tornar o sistema efetivo, a jovem precisou testas diferentes combinações, com a adição de um agente de oxidação, como metanol, gliverol e EDTA, que atuam como excelentes redutores. Essa mistura eleva a produção de hidrogênio, usado como combustível, e tornam a decomposição mais eficaz. O dispositivo é pequeno e composto por duas partes. A unidade superior é usada para a purificação da água, enquanto a divisão inferior serve para a geração de hidrogênio, conectada a uma célula de combustível e à unidade base para a filtração da água. Os testes feitos mostraram que o H2prO tem eficiência de 90% na remoção dos poluentes orgânicos, finalizando o processo em até duas horas. No entanto, em relação à produção de energia, o sistema ainda é instável, mesmo que a produção de hidrogênio fotocatalítico tenha sido satisfatória. A jovem inventora é uma das finalistas do concurso de ciência do Google e, em sua apresentação, ela garante que continuará trabalhando para tornar o sistema ainda mais eficiente. Clique aqui para saber todos os detalhes deste sistema. Fonte: ciclo vivo

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


Lixo & Reciclagem

12

Reciclagem de pneus: recorde no Brasil

por Afonso Capelas Jr.

S

im, o reaproveitamento de pneus velhos – também chamados de “inservíveis” – bate recordes no Brasil. A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) acaba de divulgar que coletou e encaminhou para a reciclagem mais de 223 mil toneladas de pneus inservíveis, só no primeiro semestre deste ano. É algo como quase 45 milhões de pneus de carros de passeio. A imensa quantidade de pneus imprestáveis para circular e já sem condições de reforma foi recolhida pelos setenta caminhões que estão a serviço da Reciclanip diariamente em todo o país. Essa entidade sem fins lucrativos criada em 2007 pela Anip para cuidar do recolhimento e reciclagem dos pneus, tem hoje 834 pontos de coleta distribuídos em todos os estados brasileiros e o Distrito Federal. Para ter ideia do crescimento do setor de reciclagem de pneus, em 2004 esses pontos de coleta eram 85. O processo de recolhimento e reciclagem de pneus no Brasil começou em 1999 pelos próprios fabricantes, a partir do Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis. Desde então, quase três milhões de toneladas de inservíveis já foram coletados e devidamente reciclados. Depois de sua vida útil, os pneus são encaminhados para empresas que fazem a separação da borracha, tiras de aço e tecido que os compõem. Tudo é reaproveitado. A borracha – o principal componente – é moída para depois transformar-se em tapetes de automóveis, solas de sapato, pisos industriais e para quadras esportivas, materiais de vedação e até dutos pluviais. Também pode ser adicionada ao asfalto para recapear ruas e rodovias. Entretanto, a maior parte da borracha dos pneus, segundo a Reciclanip, vai parar nos fornos das indústrias de cimento, já que é um ótimo combustível alternativo. Essa queima é feita com todos os cuidados ambientais exigidos pelo Ibama, como a utilização de filtros de retenção dos resíduos gerados. Com todos esses resultados, a indústria de pneus está conseguindo se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que exige que os fabricantes de todos os setores sejam responsáveis pelo destino final de seus produtos depois de consumidos. Que sirva de exemplo. Fonte: Exame Info.

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Termina prazo para que municípios acabem

com lixões Quem não cumprir a legislação estará submetido às punições previstas na Lei de Crimes Ambientais, que prevê multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões por Yara Aquino*

O

Brasil tem atualmente 2.202 municípios com aterros sanitários, o que representa 39,5% das cidades do país. Apesar de mais da metade das cidades ainda terem lixões, 60% do volume de resíduos já está com destinação adequada. No fim de agosto a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, informou que o governo federal não vai estender o prazo para que os municípios acabem com os lixões. Segundo ela, uma ampliação pode ser discutida no Congresso Nacional e a repactuação do prazo para a adequação deve vir acompanhada de um debate ampliado sobre a lei, levando em conta a realidade e a lógica econômica de cada município. “A necessidade de repactuar o prazo deve ser tratada no Congresso Nacional. O governo apoia uma discussão ampliada sobre a lei. Ampliar o prazo sem considerar todas as questões é insuficiente”, avalia a ministra. Quem não cumprir a legislação estará submetido às punições previstas na Lei de Crimes Ambientais, que prevê multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões. Umas das alternativas para as cidades que não cumpriram a meta seria buscar um acordo com o Ministério Público, que fiscaliza a execução da lei, e firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). “Aqueles que demostrem interesse de cumprir as obrigações, que firmem acordo com o Ministério Público. Se não fizer absolutamente nada, nem tomar providências, nem assinarem o TAC, vão responder por ação civil pública, por improbidade administrativa e crime ambiental”, explica a a procuradora do Trabalho do Paraná e coordenadora do projeto Encerramento dos Lixões e Inclusão Social e Produtiva de Catadores de Materiais Recicláveis do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Margaret Matos de Carvalho. A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em 2010 e determina que todos os lixões do país deverão ser fechados até a data de hoje. Pela lei, o lixo terá que ser encaminhado para um aterro sanitário, forrado com manta impermeável, para evitar a contaminação do solo. O chorume deve ser tratado e o gás metano terá que ser queimado. Nos últimos quatro anos, desde que a política foi aprovada, o governo federal disponibilizou R$ 1,2 bilhão para municípios e estados para ações de destinação de resíduos sólidos, incluindo a elaboração de planos e investimentos em aterros. Segundo a ministra Izabella Teixeira, menos de 50% desses recursos foram executados, por causa de situações de inadimplência de municípios ou dificuldades operacionais. * Colaboraram Sabrina Craide e Andreia Verdélio / Edição: Fábio Massalli Fonte: agência brasil


extraído de vídeo/globo.com

13

Por dia, 130 mil litros de chorume viram água e adubo em aterro do ES. No RJ, empresa economiza R$ 300 mil em dois meses com tratamento

Tecnologias transformam o chorume em água

limpa

A

s tecnologias de proteção e de recuperação do meio ambiente têm conseguido resultados revolucionários no Brasil e no mundo. O chorume, aquele líquido resultante da decomposição do lixo, já pode ser transformado em água pura. A maior parte do lixo gerado no Brasil é matéria orgânica, principalmente restos de comida. A decomposição desses resíduos provoca o aparecimento do chorume, o suco do lixo, um líquido escuro, tóxico, que pode contaminar as águas subterrâneas. Na maioria dos aterros do país, não há tratamento adequado para o chorume. “Não é possível que a gente continue levando o chorume para estações de tratamento de esgoto que não tratam chorume. Diluem apenas”, comenta o engenheiro civil Walter Plácido. Uma das exceções é o aterro de Cariacica, no Espírito Santo. Lá, uma tecnologia totalmente brasileira transforma 130 mil litros de chorume por dia em água tratada e adubo. “95% do chorume vira água e os outros 5% são transformados em resíduo, na forma de um lodo sólido, sendo que este resíduo pode ser utilizado em processos de compostagem para que sejam transformados em adubo orgânico”, explica o empresário Poy Ramos Carneiro. Em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, o tratamento do chorume é ainda mais sofisticado. Sai mais barato tratar o chorume por essa tecnologia alemã do que levar o material para tratamento em uma estação de esgoto. O chorume recolhido do aterro é bombeado para uma miniestação de tratamento que cabe em um contêiner. Equipamentos de última geração filtram o chorume. Micro membranas só deixam passar as moléculas de água. O resultado do processo é impressionante. É água pura, destilada. O que era problema virou solução. Uma economia de R$ 300 mil em apenas dois meses. “Eu acho que é um primeiro passo para que o país evolua no tratamento do chorume para todos os aterros”, diz Milton Pilão Junior, executivo da empresa de tratamento de resíduos. O desafio agora é descobrir o que fazer com 80 mil litros de água destilada por dia. “Os usos mais nobres desta água deveriam ser usos industriais. Indústrias que têm necessidade de água com alto padrão de desmineralização, alto padrão de destilação”, aponta o engenheiro Walter Plácido. Por enquanto, a água destilada está sendo usada para baixar a poeira dentro do próprio aterro. Um banho de luxo, até que novos negócios transformem essa água em uma fonte de receita para quem cuida do lixo. Fonte: Jornal Nacional - G1

veja o vídeo referente aos frames ao lado em: http://g1.globo.com/ jornal-nacional/noticia/2014/08/tecnologias-transformam-ochorume-residuo-toxico-do-lixo-em-agua-limpa.html

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


Nova estimativa diz que 8,7 milhões de espécies

habitam a Terra

O novo número vem do estudo das relações entre os ramos e folhas da “árvore genealógica da vida”

Barrett A. Klein

biodiversidade

14

Ilustração da Martialis heureka (formiga de marte): esse animal foi encontrado pela primeira vez em 2003, em Manaus, mas teve problemas de conservação e foi perdido. Dois anos depois, ele foi encontrado novamente

por Natasha Romanzoti

S

egundo uma nova estimativa, a mais precisa até hoje, o mundo natural contém cerca de 8,7 milhões de espécies. No entanto, a grande maioria não foi identificada ainda, e sua catalogação poderia demorar mais de 1.000 anos. Embora o número de espécies no planeta possa parecer algo óbvio de se saber, é muito difícil calculá-lo. Há anos os cientistas pensam numa maneira de resolver o problema, já que uma série de abordagens diferentes foi tentada, sem sucesso. A última tentativa, porém, parece ter sido a melhor aplicada. Hoje, cerca de 1,2 milhões de espécies foram formalmente descritas, a grande maioria da terra, e não dos oceanos. O truque da equipe foi olhar para a relação entre as espécies e os agrupamentos mais amplos a que pertencem. Em 1758, o biólogo sueco Carl Linnaeus desenvolveu um sistema abrangente de taxonomia, que ainda está, embora com modificações, em uso hoje. Grupos de espécies intimamente relacionadas pertencem ao mesmo gênero, que por sua vez estão agrupadas em famílias, então em ordens, em seguida, classes, filos, e, finalmente, em reinos (tais como o reino animal).

quando as pessoas pensam em espécies, tendem a pensar em mamíferos ou aves, que são muito bem conhecidos. Mas, quando você vai para uma floresta tropical, é fácil de encontrar novos insetos

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Quanto mais alto para a árvore hierárquica da vida você olha, as descobertas tornam-se mais raras, o que é pouco surpreendente, já que uma descoberta de uma nova espécie é muito mais comum do que a descoberta de um filo ou classe totalmente nova. Os pesquisadores quantificaram a relação entre a descoberta de novas espécies e a descoberta de novos grupos superiores, como filos e ordens, e usaram os números para prever quantas espécies permanecem desconhecidas. A abordagem previu com precisão o número de espécies em vários grupos bem estudados, como os mamíferos, peixes e aves, proporcionando confiança no método. E o número total saiu como 8,7 milhões, com margem de erro de cerca de um milhão. A grande maioria dos 8,7 milhões de espécies são animais, com números cada vez menores de fungos, plantas, protozoários (um grupo de organismos unicelulares) e cromistas (algas e outros micro-organismos). O número exclui bactérias e alguns outros tipos de micro-organismo. Se isto estiver correto, então apenas 14% das espécies do mundo já foram identificadas, e apenas 9% desse número nos oceanos. A equipe que realizou a estimativa alerta que muitas espécies serão extintas antes de poderem ser estudadas. Os pesquisadores comentam que, quando as pessoas pensam em espécies, tendem a pensar em mamíferos ou aves, que são muito bem conhecidos. Mas, quando você vai para uma floresta tropical, é fácil de encontrar novos insetos, e quando você vai para o fundo do mar e puxa uma rede, 90% do que você vê podem ser espécies desconhecidas. Caminhando conforme as taxas atuais de descoberta, completar o catálogo levaria mais de 1.000 anos. No entanto, novas técnicas tais como o “código de barras” de DNA podem acelerar as coisas. Os estudos a fim de chegar a um número mais preciso possível continuarão. Mas algo perto de 8,7 milhões já é demais, e nos mostra o pouco que sabemos sobre as espécies com as quais compartilhamos o planeta. Fonte: hypescience/BBC



Quando o socioambiental e o econômico estão Em tempos politicamente incorretos, onde a ética foi deixada em segundo plano por diversos setores, duas vozes se mantém firme na defesa dos interesses da população e do meio ambiente no Estado do Rio por vilmar berna

Fotos: facebook.com/atilanunesrj

política ambiental

16

Á

tila Nunes Filho, carioca, nascido em 14 de dezembro de 1948, é pai de Átila Nunes Neto e Átila Alexandre Nunes, sendo casado desde 1971 com a advogada Tânia Nunes. Jornalista, advogado e publicitário, é deputado estadual desde 1970. Em levantamento feito pelo jornal O Globo, Átila Nunes foi o parlamentar com melhor produção legislativa na última legislatura. Conhecido por ser grande defensor dos direitos do consumidor e da liberdade religiosa, é o parlamentar fluminense mais vezes eleito deputado estadual, somando onze mandatos, durante mais de 40 anos de vida pública. Segundo dados do projeto Excelências (www.excelencias.org.br), que traz informações sobre a atuação dos parlamentares em exercício no país, a maioria dos projetos sugeridos pelo deputado foi considerado importante para a sociedade, contemplando áreas como trânsito, saúde, deficientes, meio ambiente e segurança. Na Alerj, preside a Comissão de Meio Ambiente, atuando fortemente na preservação e denúncia de crimes ambientais no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Rebia: O que é o Projeto “Tecendo a Cidadania”, de sua autoria? Átila N. Filho: Trata-se de um incentivo à destinação dos retalhos da Indústria Têxtil para servir de matéria prima para trabalhos de detentos. Assim, ao mesmo tempo em que reduzimos o lixo produzido pelo setor, contribuímos para a ressocialização dos detentos, a geração de trabalho, de renda, a criatividade, a oferta de produtos inovadores com a marca da inclusão social. As unidades prisionais selecionadas para implantação das oficinas recebem o maquinário e insumos necessários e cursos aos detentos sobre confecção de produtos a partir dos retalhos. Uma vez comercializados em pontos turísticos, hotéis, aeroportos e rodoviárias, os recursos arrecadados, descontando-se os valores investidos, são reinvestidos aos presos envolvidos no projeto. Rebia: Por que o Sr. enfrentou o Setor Nuclear? Átila N. Filho: Por que, a verdade, é que a população está praticamente abandonada no caso de um improvável, mas não impossível, acidente nuclear.

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Átila N. Filho e Átila Nunes (foto ao lado) em ação do programa Reclamar Adianta

Veja, por exemplo, o que aconteceu em Fukushima, no Japão. Então, junto com os colegas, convocamos Setor Nuclear para uma Audiência Pública na Alerj apenas para constatar o que já sabíamos: num caso de acidente nuclear, que exija a evacuação da população, não há saída pelo ar porque não tem aeroporto, a estrada é deficiente, e não existem piers construídos ou abrigos. O representante do Setor Nuclear ainda tentou explicar que trata-se de um plano em constante processo de melhoramento, mas é obvio que esta melhoria precisa partir de uma base mínima de razoabilidade! O atual Plano, ainda que melhore continuamente, precisa dar um salto enorme de qualidade para ser considerado minimamente aceitável. Na época, também enfrentamos a questão do licenciamento ambiental das usinas nucleares. O poder público, que cobra das empresas privadas uma série de responsabilidades ambientais, precisa ser o primeiro a dar o exemplo, operando suas atividades de maneira segura e com todos os licenciamentos e compromissos ambientais em dia! Angra II funciona há anos sem licença definitiva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Continuamos de olho, cobrando uma resposta do Setor Nuclear. Rebia: Quando foi Secretário de Trabalho e Habitação do Estado, entre 1989 e 1990, o Sr. foi responsável pela construção de cerca de dez mil casas populares. Foi dessa experiência que nasceu a ideia de reaproveitar as sobras de construção e de demolições para fazer tijolos ecológicos? Átila N. Filho: Sim, constatei que existe um grande desperdício de materiais no setor de construção civil e demolições. Com a lei 6.006, de minha autoria, procuro contribuir para a solução do problema, sempre no conceito do tripé da sustentabilidade. Do ponto de vista ambiental, proponho um melhor encaminhamento dos resíduos da construção civil e demolições e, além disso, os tijolos ecológicos são auto encaixável, com dois furos no meio, o que suprime a necessidade de quebrar a parede para fazer a instalação elétrica e hidráulica, portanto, menos resíduos e melhor economia; do ponto de vista social, resíduos de construção podem virar tijolo ecológico para moradias populares; do ponto de vista econômico, o tijolo ecológico pode ser ainda uma fonte de geração de trabalho e renda. Rebia: O Sr. propôs a criação de um Programa de Educação de Defesa Civil e trata do serviço voluntário na área. Por quê?


17

de mãos dadas,

a sustentabilidade dá certo

Átila N. Filho: O Estado do Rio de Janeiro tem sido assolado por fenômenos climáticos com grande intensidade sem que a população civil esteja preparada para enfrentá-los. É necessário que haja preparação prévia a fim de amenizar os graves efeitos desses eventos climáticos, o que passa necessariamente por um processo de educação de toda a população civil. O projeto que apresentei prevê inclusão de matéria interdisciplinar de noções de defesa civil nas escolas da rede pública e atividades de ensino informal para a população em geral. O ensino do tema será regulado pelo Conselho Estadual de Educação, que definirá conteúdo e carga horária. Já o serviço voluntário será oferecido a civis previamente cadastrados e treinados pelo Corpo de Bombeiros. ÁTILA A. NUNES, candidato a Deputado Federal (PSL) Espiritualista, combativo na luta contra a intolerância, Átila Alexandre Nunes, nascido em 24 de junho de 1974, é carioca, casado e pai de dois filhos. É economista formado pela PUC-Rio, com pós-graduação em Administração pelo IBMEC e em Comunicação pela ESPM, com curso de extensão em finanças na Universidade de Berkeley, Califórnia, Estados Unidos. Átila A. Nunes é um dos fundadores do serviço “Em Defesa do Consumidor”, com mais de 1 milhão de brasileiros atendidos nos últimos quase 20 anos. Como jornalista e radialista, produz o programa Reclamar Adianta na Rádio Bandeirantes, junto com o pai. Rebia: O Sr. é vereador na Cidade do Rio de Janeiro, o que o Rio precisa em meio ambiente? Átila A. Nunes: Há muito o que ser feito quando o assunto é meio ambiente em nossa Cidade. Tenho usado o meu mandato como vereador para cobrar da Prefeitura que acabe com o esgoto a céu aberto na Zona Oeste, aumentando a cobertura da rede coletora de esgoto; promova o plantio de 1 milhão de árvores em terrenos públicos, comunidades, parques e praças do Rio; que estimule os programas de lixo reciclável; que implante o Plano Diretor Ambiental, um programa de gestão de meio ambiente; que estimule a educação ambiental com a integração de atividades entre as Secretarias Municipal de Meio Ambiente e de Educação, conscientizando os jovens para uma sociedade sustentável; que institua um nível de alerta para a qualidade do ar do Município do Rio

de Janeiro; que torne em realidade a coleta seletiva de lixo, já que a Comlurb separa apenas, 0,27% das quase 9 mil toneladas coletadas diariamente; que estimule a criação de mais empresas de reciclagem e cooperativas de catadores de lixo; que inclua a Prefeitura como parceira na despoluição das lagoas de Jacarepaguá e Barra da Tijuca; que estimule a implantação de hortos; que torne obrigatória nas novas construções a captação de água das chuvas para abastecimento domiciliar. Rebia: Muito se fala em sustentabilidade sem que os pilares mais básicos para a organização de ações populares sejam viáveis Átila A. Nunes: Sim, especificamente para a nossa cidade, isso significa que precisamos criar leis e projetos que façam com que as pessoas não sejam dificultadas ao querer fazer parte dessa mudança. Falta promover à Comlurb, por exemplo, condições no trabalho da coleta seletiva, investir em indústrias de reciclagem, incentivar a transformação nas classes de educação infantil nas escolas de itens enviados para o lixo em algo reutilizável. Não se pode dizer que a responsabilidade está unicamente nas mãos do cidadão enquanto não for oferecido a ele formas de ajudar. A responsabilidade é nossa: tanto do governo quanto do cidadão. Rebia: Eleito Deputado Federal, a causa dos animais ganharão mais um aliado no Congresso Nacional? Átila A. Nunes: Não só a causa animal, mas as causas ambientais e da sustentabilidade. Claro que os animais merecem um carinho especial. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais decreta que eles devem ter direito ao respeito e à proteção de nós, humanos, não devendo ser maltratados ou abandonados e, infelizmente, isso nem sempre acontece. O descumprimento dos direitos dos animais constitui atitude imoral e condenável em desrespeito à vida. No Congresso Nacional, pretendo trabalhar para que o Poder Público assegure parâmetros adequados de saúde sanitária, estabelecendo uma política de medicina veterinária de respeito aos animais e à saúde das espécies, em especial de cães e gatos, com fortalecimento do setor de zoonoses nas Cidades. Como parlamentar, podemos propor emendas ao orçamento neste sentido e aprovar projetos de lei, fiscalizar o Poder Executivo, e tudo isso farei visando a execução de práticas em benefício dos animais em todo o país, além de atuar fortemente em todas as causas socioambientais.

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


Consumo

18

O veneno

do modelo agrícola

Fotos: Pedro Augusto

Assista “O Veneno Está na Mesa 2”, de Sílvio Tendler

Fotógrafo confronta indústria e resolve mostrar o que está

por trás dos alimentos É hora de enfrentar o seu alimento! Foi o que o fotógrafo Pedro Augusto, não só fez, como está revelando a todos os que consomem carne de animais, o que realmente estão comendo por redação do Jornal Ciência

À

s vezes as pessoas compram e consumem certo alimento, sem nem ao menos pensar de onde vieram ou como são processados e embalados de forma a parecerem ‘agradáveis’ aos olhos. Nascido no Texas, EUA, Pedro Augusto se mudou para Hong Kong há dois anos. Lá ele percebeu a enorme quantidade de açougues e restaurantes que focam toda a alimentação em carnes de animais expostas nas vitrines ou ao ar livre. Foi justamente esse conceito sobre o visual e a origem verdadeira dos alimentos que fez com que Pedro Augusto criasse um ensaio sobre como seriam os alimentos mais populares dos Estados Unidos (e do Brasil também), caso não fossem tão mascarados pela indústria. Fonte: Jornal Ciência / ANDA s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

por redação do Jornal Ciência

A

pós impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica? Apoiadores • Realização: Caliban Cinema e Conteúdo • Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida • Fiocruz • Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio • Bem Te Vi • Cineclube Crisantempo. Fonte: ecodesenvolvimento.org


USFS Region 5 (Flickr cc 2.0)

Iniciativa verde: mais de um milhão de árvores

plantadas Benefícios vão da recuperação da biodiversidade aos ganhos sociais e econômicos por reinaldo canto

S

ão diversas as razões pelas quais a Iniciativa Verde está comemorando a marca de mais de um milhão de árvores plantadas ao longo de seus quase nove anos de existência. O trabalho incessante de seus colaboradores aliado ao esforço de produtores rurais, agricultores, parceiros e simpatizantes resultou em inúmeros benefícios que acabaram por atingir de maneira positiva não só as pessoas que vivem no campo, mas também os moradores das cidades favorecidas pelos serviços ambientais prestados gratuitamente pelas florestas, por meio da regulação climática, regime de chuvas e qualidade do ar e da água entre outros. Para se ter uma ideia do que representam essas um milhão de árvores: elas ocupam uma área de 644 hectares, tamanho correspondente a 904 do Maracanã (sede da final da Copa do Mundo de 2014) ou ainda, se estivessem enfileiradas, fariam uma fila de 2.144 quilômetros (equivalente à distância entre São Paulo e Salvador). No que se refere à quantidade de dióxido de carbono captado, o montante ultrapassa 204 mil toneladas. Isto corresponde à 3,4 milhões de viagens aéreas entre São Paulo e Rio de Janeiro ou às emissões de um carro à gasolina rodando 1,5 bilhão de quilômetros. O que daria para rodar cerca de 38 mil vezes ao redor da Terra! recuperação da Mata Atlântica O bioma mais beneficiado ao longo da trajetória do trabalho desenvolvido pela Iniciativa Verde, sem dúvida, foi a Mata Atlântica. Os projetos desenvolvidos nos estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul representam 97,6% do total de árvores plantadas e de hectares restaurados pela organização até o momento. As outras 2,4% mudas foram inseridas em projetos realizados na Amazônia brasileira.

Mais do que nunca, a relevância da atuação na Mata Atlântica está ratificada na atual crise da água pela qual passa o Sudeste, em especial o estado de São Paulo. Como os projetos da Iniciativa Verde são realizados prioritariamente em áreas degradadas de mananciais e nascentes que protegem e preservam as fontes de água, eles atendem diretamente aos interesses da sociedade. A importância dos setores privado e público A parceria com as empresas na compensação de atividades, processos produtivos e eventos foi o grande impulsionador da Iniciativa Verde no início de suas atividades e continua a exercer um papel fundamental. Empresas dos mais diversos setores e atividades como Leroy Merlin, Banco do Brasil, São Paulo Fashion Week, Caixa Seguros e Pinheiro Neto Advogados foram e continuam a ser alguns dos principais financiadores dos projetos de recomposição florestal. Em contrapartida, elas recebem o selo Carbon Free que atesta a compensação das emissões de gases de Efeito Estufa (GEEs) de uma determinada ação ou processo (leia e saiba mais sobre o Carbon Free em: http://www.iniciativaverde.org.br/programas-e-projetos-carbon-free.php). Ao longo dos últimos anos, a Iniciativa Verde entrou forte na disputa por financiamentos via editais. Graças à seriedade atestada ao longo de sua existência, a Iniciativa Verde foi contemplada com a assinatura de contratos com o Instituto HSBC Solidariedade (Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas no Litoral Sul de São Paulo) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o maior contrato estabelecido pela organização até o momento pelo qual foram plantadas cerca de metade de todas as árvores da organização. Mais recentemente foi assinado com a Petrobras o projeto Plantando Águas que possui cinco principais ações ligadas à adequação ambiental da paisagem rural. São elas: saneamento rural, educação ambiental, sistemas agroflorestais, recuperação de mata ciliar e inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O próximo 1.000.000 A Iniciativa Verde está consciente do tamanho dessa imensa tarefa que é recompor ao menos uma parte do bioma Mata Atlântica. Sem dúvida, um dos mais ricos, mas também dos mais degradadas do mundo ao longo da história. Ao mesmo tempo, está claro que os benefícios são tantos e tão abrangentes que os ganhos superam em muito esse utópico desafio. Que venha o próximo milhão!! Sobre a Iniciativa Verde A Iniciativa Verde é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que tem como missão contribuir para a construção de um novo tempo baseado em uma economia de baixo carbono e na redução dos impactos ambientais causados pelas atividades humanas. A instituição acredita na busca por novas alternativas de desenvolvimento e oferece uma gama de projetos relacionados ao combate às mudanças climáticas, recuperação ambiental, conservação da biodiversidade e recomposição florestal. Mais informações: imprensa@iniciativaverde.org.br

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4

dia da árvore

19


Conheça sete razões para evitar o consumo de

mel Todos os animais, incluindo as abelhas, existem para seus próprios fins. Eles não estão aqui para serem explorados e manipulados para fins lucrativos

P

rovavelmente você já ouviu o debate sobre o mel ser vegano ou não. Apenas no caso de você não ter a certeza disso, eu irei te ajudar. O mel não é um produto vegano – ele é de origem animal. Todos os animais, incluindo as abelhas, existem para seus próprios fins. Eles não estão aqui para serem explorados e manipulados para fins lucrativos. 1. As abelhas são criadas em processos industriais, assim como as galinhas, os porcos e as vacas Esses insetos são produzidos em larga escala por apicultores, onde eles vivem confinados em ambientes artificiais apertados e ficam feridos muitas vezes. 2. As abelhas são feridas no processo de coleta do mel Apicultores podem ser descuidados ao coletarem mel. As asas e as pernas das abelhas são frequentemente arrancadas no processo. Além disso, os agricultores cortam as asas da abelha rainha para se certificarem de que ela não irá sair da colmeia. 3. Abelhas polinizam flores naturalmente As abelhas desempenham um papel essencial na polinização, que é necessário para a reprodução das plantas, de modo que, se elas fossem extintas, o ecossistema correria o risco de entrar em colapso. 4. Abelhas precisam de seu mel O mel ajuda as abelhas a sobreviver no inverno. E ele é feito com nutrientes específicos necessários para a sua sobrevivência. 5. O mel é vendido para o lucro As abelhas são exploradas para que as grandes organizações lucrem com seu mel. 6. As abelhas trabalham constantemente Uma única abelha operária pode visitar até 10 mil flores por dia e, durante toda a sua vida, produzir apenas uma única colher de chá de mel. Todas as abelhas têm um trabalho específico a fazer, dependendo de sua idade, sexo e época do ano. Não devemos manipular este processo.

shutterstock

consumo

20

Fonte: O Holocausto Animal

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

7. Roubar é errado Todo mundo sabe disso. Então por qual motivo aceitamos roubar algo de um animal? O mel é essencial para a sobrevivência das abelhas, e elas trabalham arduamente para fazer isso! O que você pode fazer: É fácil. Evite todos os produtos que são feitos com mel. Outros adoçantes, como agave e xarope de ácer, são deliciosas alternativas que não prejudicam as abelhas ou qualquer outro animal.



AMAdo dEMEsA (FlICkR CC 2.0)

Fotografias em close de beija-flores revelam um pouco de beleza incrível destas aves

A incrível beleza dos

beija-flores por linA d. versão nATAshA romAnzoTi

Q

uando se trata de aves, temos para todos os gostos: as ferozes águias, os raros papagaios tropicais, as espertas corujas etc. No entanto, os beija-flores são fortes candidatos a “aves mais impressionantes do mundo”. Com um tipo de beleza delicada única, velocidade incrível e domínio de manobras voadoras incomparável, esse animal é mais inspirador que a maioria dos outros pássaros. Capturar uma imagem de um beija-flor em voo com asas claramente focadas pode ser muito difícil, já que algumas variedades são capazes de batê-las até 52 vezes por segundo. Isto dá-lhes a capacidade de pairar e voar para trás – habilidade que poucas outras aves possuem e que ninguém domina do modo como o beija-flor faz. Para homenagear esse bichinho encantador, confira 5 impressionantes fotos de beija-flores que mostram todo o seu charme. FonTe: boredpAndA/hypescience

s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

JAN ARENdtsZ (FlICkR CC 2.0)

animais

22


Página anterior: Campylopterus Hemileucurus e Calypte anna. Nesta página: ThaluraniaColombica (no alto), Selasphorus rufus (fêmea) e Panterpe insignis

Joseph C Boone (CC 3.0/Wikimedia Commons)

Brendan Lally (Flickr cc 2.0)

Kathy & sam (Flickr cc 2.0)

23

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


Vira-lata que impediu criança de ser estuprada

ganha fama de heroína por G1 Itapetininga e Região*

A

vira-lata Kiara, que pertence a uma família de Pilar do Sul, a 150 quilômetros de São Paulo, ganhou fama na cidade na údia 4 de setemebro. Ela atacou um estuprador e impediu que a dona, uma menina de 10 anos, fosse violentada. A tentativa de estupro ocorreu em 30 de agosto, quando o homem invadiu a casa da menina, que estava sozinha. O estupro só não foi praticado porque Kiara interveio e mordeu várias vezes o criminoso, que ainda acertou a cabeça da menina com um pilão antes de fugir. Após a agressão, a menina ficou em coma por cinco dias. A princípio, a família achou que ela tinha sofrido uma queda, mas, quando ela acordou, conseguiu contar aos pais o que tinha acontecido. Com base na descrição que ela fez do criminoso, a Polícia Civil conseguiu chegar até o agressor, preso no dia 5 de setembro com ferimentos na perna, causados pelas mordidas de Kiara. O pai, o trabalhador rural Sebastião dos Santos, conta que foi o primeiro a conversar com a filha depois que ela saiu do coma. “Eu cheguei, abracei e peguei na mão dela. Ela então me disse que era para eu pegar o homem que tinha tentado estuprá-la. Na hora, para saber se ela estava lúcida, comecei a perguntar os nossos nomes e até de amigos dela na escola. Ela lembrou de tudo, daí tive certeza que ela tinha sido ferida por uma pessoa”, conta. No dia do crime a criança estava sob os cuidados do irmão mais velho e da cunhada, que moram nos fundos do imóvel. Ela contou aos pais que o agressor estava passando pela calçada quando a viu e pediu um copo d’água. Quando ela entrou para pegar água foi seguida pelo homem, que a atacou. A menina conseguiu correr para o quarto e gritou por Kiara, que começou a morder o criminoso. Mas, antes de fugir, ele ainda bateu na menina com o pilão. “Eu cheguei [no hospital], abracei e peguei na mão dela. Ela então me disse que era para eu pegar o homem que tinha tentado estuprá-la.” Ela foi socorrida por vizinhos que ouviram os gritos e o choro quando ela já estava na rua pedindo ajuda e desmaiou em seguida. Ao chegar ao hospital, ficou em coma induzido por quase uma semana. s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Kiara avançou em homem que invadiu a casa da família em Pilar do Sul. Menina relatou o crime após ficar cinco dias em coma induzido Fotos: Reprodução/TV Tem

animais

24

Houve uma época em que a gente pensou em mandar ela embora porque dá trabalho, mas agora não vamos largar dela mais. Primeiramente foi Deus que ajudou a salvar a minha filha. Segundo, foi a cachorra, a nossa heroína Sebastião dos Santos, pai da menina

Heroína A menina continua internada no Hospital Regional de Sorocaba (SP), onde se recupera do traumatismo craniano sofrido com a pancada. Segundo o pai, a filha só fala na cachorra, que ela chama de heroína. “Quando eu ligo para falar com ela, ela já pergunta da heroína dela. Chegou a dizer que se não fosse pela cachorra, não estaria conversando com a gente. Ela fala: ‘pai, cadê a minha heroína?’. Hoje mesmo [domingo], ela pediu para eu colocar o telefone no ouvido da Kiara e começou a falar e assobiar com a cachorra. A Kiara começou a latir e até tentou morder o telefone”, diz o pai, emocionado. O pai conta que a família chegou a pensar em se desfazer da cachorra antes da agressão. “Houve uma época em que a gente pensou em mandar ela embora porque dá trabalho, mas agora não vamos largar dela mais. Primeiramente foi Deus que ajudou a salvar a minha filha. Segundo, foi a cachorra, a nossa heroína. A gente já imaginava que a cachorra era capaz de defender a minha filha porque dá para perceber que ela tem muito amor pela criança.” Segundo a Polícia Civil, o agressor tinha saído de um hospital psiquiátrico em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, no fim de julho. A prisão temporária do suspeito foi decretada por 30 dias e ele foi levado para cadeia de Pilar do Sul.

*Com colaboração de Fernando Daguano e Jussara Bette / TV TEM


Mapas mostram implicações

das mudanças climáticas mundiais

Exemplo de mapa disponível para download em www.metoffice.gov.uk/media/pdf/j/k/HDCC_map.pdf. No mapa acima, vemos o escoamento de água, que é a superfície e sub-superfície da água que flui nos rios. Esta é a água disponível para uso a partir de precipitação, levando-se em conta as perdas por evaporação

Visando reunir dados básicos sobre mudanças climáticas de uma maneira simples, o serviço meteorológico britânico, Met Office, elaborou um pôster com sete mapas mundiais por Fernanda B. Muller

C

om a grande quantidade de informações disponíveis atualmente sobre interações entre as alterações no clima e seus efeitos sobre a humanidade, é cada vez mais difícil ter um panorama do que isso significa em um cenário mais amplo. Focando nesse esclarecimento, o Met Office criou um pôster baseado em informações técnicas provenientes da análise de dezenas de modelagens e vários parâmetros. O pôster é um bom começo para as pessoas que estão buscando conhecimento sobre a questão climática, sendo na verdade um ‘teaser’ para um relatório técnico bem mais detalhado, que inclui informações que não foram possíveis de serem apresentadas nos mapas. A publicação Dinâmica humana das mudanças climáticas visa ilustrar alguns dos impactos das alterações climáticas e populacionais no contexto de um mundo globalizado. Dois tipos de informações foram incluídos nos mapas: a dinâmica humana atual; e as projeções futuras das alterações no clima e na população entre a linha de base atual (1981-2010) e o final do século 21 (2071-2100). A publicação usou um cenário business as usual (se nada for feito) para as emissões de gases do efeito estufa, não incluindo qualquer presunção sobre capacidade de adaptação às mudanças climáticas e nem sobre a implantação de medidas de mitigação. Para ilustrar como as informações do mapa podem ser interpretadas, o Met Office disponibilizou também um panorama do cenário global como suplemento, e uma série de estudos de caso regionais são apresentados no próprio mapa.

Por exemplo, para a produtividade de culturas como o trigo e a soja, as projeções indicam reduções no Brasil e no norte da América do Sul e incrementos sutis no sul dessa região. As projeções indicam que a América do Sul deve apresentar reduções na precipitação, aumento no número de dias secos e maiores temperaturas, combinados com o aumento na demanda por água para irrigação. É possível constatar através das ilustrações que os diferentes impactos (tanto positivos quando negativos) e os contextos específicos nos quais ocorrem interagem de formas múltiplas e complexas. O Oriente Médio, o Norte da África e partes da Ásia, por exemplo, são grandes importadores de trigo, soja, arroz e milho; isso os conecta aos efeitos das mudanças climáticas nos países exportadores do sul e sudeste asiáticos e na América do Sul e do Norte. “Os futuros impactos das mudanças climáticas serão sentidos tanto localmente quanto globalmente, com as principais regiões importadoras sendo conectadas através do comércio aos impactos locais das alterações no clima das principais regiões exportadoras”, aponta a publicação. Fonte: Instituto CarbonoBrasil

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4

Mudanças climáticas

25


A revolução silenciosa no campo feita pela

agricultura familiar

MarciaGouthier/Agência sebrae

Qualidade de Vida

26

A agricultura familiar no país envolve 4,3 milhões de estabelecimentos rurais, com mais de 12 milhões de pessoas trabalhando, representa 38% do Valor Bruto de Produção – R$54,5 bilhões –, embora ocupe menos de 25% da área agriculturável por Najar Tubino

E

sta é uma história que tenta retratar algumas mudanças ocorridas na zona rural brasileira nos últimos anos e que, certamente, não estão nas estatísticas. Uma das fontes consultadas é o trabalho divulgado em dezembro de 2013 pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Federal, realizado pelo Ipea, IBGE e analisado pelos pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O trabalho é sobre Agroindústria Rural no Brasil. O IBGE registra, com base no censo de 2006, que 16,7% dos estabelecimentos rurais do país praticaram algum tipo de transformação da matériaprima produzida. A agricultura familiar no país envolve 4,3 milhões de estabelecimentos rurais, com mais de 12 milhões de pessoas trabalhando, representa 38% do Valor Bruto de Produção – R$54,5 bilhões –, embora ocupe menos de 25% da área agriculturável. A agroindústria familiar, portanto, é um passo a mais na organização da agricultura familiar, com investimentos em manufaturas, em produtos elaborados, alimentícios, que vão desde as farinhas, como de mandioca e de milho, pães, biscoitos, doces e geleias, além de mel, mas também embutidos, queijos, aguardente e vinho. O trabalho selecionou, com as devidas estatísticas por estado e por região, 32 produtos produzidos. Desses nove são os mais importantes. No caso da região nordeste e norte, é preciso acrescentar a rapadura e a tapioca. Somente agroindústrias que produzem farinha de mandioca no país são mais de 266 mil, sendo que a maioria no Nordeste, quase 150 mil. O Brasil produzia 30 milhões de toneladas de mandioca na década de 1970. Agora produz 21 milhões e faltam sementes. A farinha de mandioca, que faz parte do cálculo da inflação, subiu mais de 100% nos últimos anos. s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Estima-se que 90% da produção orgânica no Brasil vêm da agricultura familiar

PRONAF está em todo o país A citação da região Nordeste é mais do que óbvia. É lá que está a maioria das propriedades familiares, mais de 50% segundo a estatística, e também é lá que os agricultores e agricultoras mais acessam o Pronaf, o programa de financiamento da agricultura familiar, que este ano vai investir mais de 24 bilhões de reais no segmento. Aliás, o Pronaf é um programa que está presente em todos os 5.460 municípios do país. A Revolução Silenciosa na área rural na verdade é consequência da organização dos agricultores e agricultoras, de trabalhadores rurais que assumiram a reforma agrária na prática, transformando suas áreas em campos de produção de alimentos para o país, não para exportação. Além disso, uma parte dele, produzidos sem agroquímicos, principalmente, sem veneno. É claro, que isto não se tornaria uma realidade se não fossem as políticas públicas conquistadas de baixo para cima, como é o caso do Pronaf, dos Programas de Aquisição de Alimentos, do Programa Nacional da Merenda Escolar, e agora, mais recente, o Plano Nacional de Produção Orgânica e Agroecológica (Planapo), que também está viabilizando linhas de financiamento para a agricultura familiar, com juro de 1% ao ano. Comida é uma questão de saúde A questão da produção de alimentos e da agroindústria familiar, que também envolve a produção de alimentos, não é uma simples questão econômica. A começar pela falta de dados e informações atualizadas, fato reconhecido no próprio trabalho citado. Estamos falando de mudanças sociais, culturais e de saúde. Já é notório o fato do Brasil ser o quinto país do mundo em obesidade, de mais de 50% da população estar acima do peso, sendo 17% na condição de obesos. A dieta veiculada nos meios de comunicação está levando o Planeta para um ciclo vicioso que só beneficia a indústria química, a mesma que produz agrotóxico e remédios. Isso não é uma coincidência. A receita inventada pelos estadunidenses de consumo de sanduíches gordurosos e xaropes gaseificados levou a uma completa desorganização das dietas dos povos. “Amar tudo isso” ou “abrir a felicidade” se transformou numa armadilha que alavancou as estatísticas de obesidade, por consequência, de diabetes, doenças coronárias e hipertensão.


27

O que foi vendido como a modernização da agricultura, com índices imbatíveis de produtividade, milagres na produção de commodities, hoje em dia, não passa de uma falácia de péssima categoria. Junto com a modernização da agricultura, ao mesmo tempo cresceram as redes de supermercados, hipermercados e shoppings centers. A agricultura familiar ficou relegada ao patinho feio das produções de Hollywood. Era ineficaz, sem qualidade e a única saída era debandar para os grandes centros urbanos, onde as oportunidades na indústria e na construção civil surgiam como milagrosas. Hoje se sabe bem o inferno que viraram as metrópoles. A população está doente, sofre diariamente para se mover, come mal e ainda sofre com a violência em diversos estágios. Para os apóstolos do neoliberalismo, o mundo seria de concreto, a comida totalmente industrializada, inclusive com pílulas astronáuticas, e o campo uma modelo de indústria de ponta, com suas potentes colheitadeiras e seus tratores com GPS e pulverizadores eletrônicos, que dosificam milimetricamente o veneno necessário para a planta transgênica produzir. Onde está a estatística? Lascaram-se. O povo do campo, que realmente vive e produz onde mora se organizou. Não só produz como industrializa. Além disso, vende diretamente em feiras de todo tipo. Na capital paulista funcionam 850 feiras livres, mais de 16 mil barracas, uma história que iniciou no século XVII. Claro que este tipo de feira convencional é formada por comerciantes, outra por produtores, e mais recentemente, uma parte de agroecologistas. São 140 feiras no país de caráter agroecológico, segundo pesquisa feita em 2012 pelo IDEC, o Instituto de Defesa do Consumidor, juntamente com outras organizações que trabalham com agroecologia. Entretanto, o movimento das feiras, quer ecológicas, ou feiras de produtores, que trazem seus produtos uma ou duas vezes por semana para vender na cidade, é disseminado pelo país. Em Fortaleza são 76 feiras livres. Em Recife são 17. Porto Alegre tem a feira mais antiga em agroecologia, no Bairro Bonfim, desde 1989. Passam mais de cinco mil pessoas no sábado pela feira. O Rio de Janeiro tem 25 feiras agroecológicas. Somente cinco capitais não tem feira ecológica – Cuiabá e Boa Vista, estão entre elas. Na Paraíba, no Polo da Borborema, com 15 municípios, funcionam oito feiras agroecológicas. Em março desse ano, os agricultores e agricultoras realizaram a 5ª Marcha das Mulheres pela Vida e pela Agroecologia. Participaram 3.500 mulheres no município de Massaranduba. Feira livre, feira agroecológica, estamos falando de relações econômicas, de compra e venda, de produtos consumidos pela população de todas as faixas, mas principalmente, da que tem menor

poder aquisitivo. Isso não está na estatística. Os preços das verduras, frutas e cereais nas feiras são mais baratos do que no supermercado, além da vantagem de negociar o preço com o feirante ou produtor. Sem contar a hora da “xepa”, no final da feira, quando os preços caem. Em 2002, os supermercados faturavam 7% do total comercializado com hortifrutigranjeiros. A Monsanto em Petrolina As feiras se tornaram o canal de comercialização, mas também o canal de comunicação e de divulgação de um novo tipo de agricultura que existe no campo. Também resgatou a importância dos costumes locais, da comida da vovó, das verduras e legumes sem agrotóxicos, em casos mais específicos. Principalmente, derrubaram a supremacia das grandes corporações do varejo, das corporações de commodities e, agora, da transgenia. A Monsanto trabalha na produção de sementes de hortaliças. Em Petrolina comprou duas fazendas – uma com 186 ha e outra com 64 ha - e montou seu complexo tecnológico de pesquisa dentro do perímetro irrigado, que terá a mesma função que o Havaí tem em relação aos Estados Unidos, para a produção de sementes. Trabalham com milho, depois sorgo, algodão, cana e milho doce. Nos próximos cinco anos será o centro responsável pelos lançamentos da multinacional. O semiárido, com água, favorece a produção, com até quatro safras, dependendo da cultura. Isso acelera o trabalho que seria muito maior, e mais caro, no Sul ou no Sudeste. A Monsanto inaugurou este centro em março de 2013, embora estivesse na área desde 2009. É o 19º centro de pesquisa no Brasil – ela tem 36 unidades no país. Capacidade de resistência Em que pese uma trajetória genérica de apropriação e concentração das atividades de processamento alimentar por grandes conglomerados industriais a agroindústria rural continua revelando uma notória capacidade de resiliência. Assim, diferente do que se preconizava no auge da modernização da agricultura, a atividade está longe de ser um resquício, pelo contrário, trata-se de uma expressão absolutamente contemporânea de emergência de novas trajetórias de desenvolvimento no mundo rural”, registra o trabalho Agroindústria Rural no Brasil. Outra citação: “a agricultura familiar responde pela maior parcela de valores agregados a produção associados à transformação dos alimentos. É responsável por 78,40% da agregação de valor, enquanto a agricultura não familiar abarca uma percentagem de 21,60%”. O Nordeste aparece em primeiro lugar com 43% dos valores agregados aos alimentos, seguido pelo Sudeste com 24%, o Norte com 21%, O Sul com 8% e o Centro-Oeste com 4%. Os pesquisadores ressaltaram que os dados não computaram as vendas para os programas PAA e PNAE, sem contar o crescimento das feiras de vendas diretas em todo o país. Se a Monsanto se instalou no semiárido, região onde a ASA desenvolve o trabalho mais eficiente que existe neste país de organização de agricultores e agricultoras familiares, com a implantação de tecnologias de convivência com as agruras da seca, os próprios sertanejos tratam de dar o troco. No dia 18 de julho começa no município de Pedro II, no Piauí, o I Festival das Sementes da Fartura, como eles denominam as sementes crioulas. Na Paraíba são as sementes da paixão, onde já funcionam 225 bancos de sementes. A ASA tem registro de mais de mil práticas de uso e troca das sementes crioulas, envolvendo quase 20 mil famílias. No Piauí participarão 800 agricultores e agricultoras. Também não tem feira agroecológica ou livre nesse Brasil afora que eles não troquem semente. Enquanto as corporações despejam bilhões de dólares em marketing, para vender um mundo de facilidades inúteis e prejudicais à saúde da população e ao ambiente do Planeta, os sertanejos e outros brasileiros espalham o seu conhecimento e suas práticas no silêncio. Fonte: Carta Maior / EcoAgência r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


10 ecovilas brasileiras

para conhecer em cada região do país 1

Fotos: divulgação

Qualidade de Vida

28

2

2

1

2

por Brunella Nunes

C

ada vez mais presentes, as ecovilas são parte de um modelo de assentamento humano sustentável. Ou seja, comunidades urbanas ou rurais onde pessoas vivem em harmonia com a natureza e com um estilo de vida o mais sustentável possível. Para que deem certo, é preciso seguir algumas práticas, como a criação de esquemas de apoio familiar e social, utilização de energias renováveis, produção orgânica de alimentos, bioconstrução, economia solidária, preservação do meio ambiente, entre outros. É como se as ecovilas resgatassem o modo de sobrevivência mais primário da humanidade, que por milhares de ano viveu em comunidade, num convívio íntimo com a natureza, utilizando-a de forma inteligente e sempre respeitando o ciclo natural das coisas. A partir de 1998, as ecovilas consagraram-se então como uma das 100 melhores práticas para o desenvolvimento sustentável, nomeadas oficialmente através de uma lista da ONU. Chamadas também de eco aldeia e eco comunidade, o modelo de vida acaba por preservar áreas já degradadas ou que poderiam estar se degradando, além de trazer soluções viáveis para a erradicação da pobreza. s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Confira a seguir algumas ecovilas interessantes para você visitar, ou morar, no Brasil 1. Clareando, Serra da Mantiqueira, SP Condomínio rural que segue a proposta de viver em harmonia com a natureza, considerado um dos principais do estado. A localização, entre as cidades de Piracaia e Joanópolis, é pra lá de privilegiada, pois se situa ainda entre os vales e montanhas da Mata Atlântica. 2. Arca Verde, São Francisco de Paula, RS A infraestrutura segue com foco na permacultura, incluindo hortas e agrofloresta, alojamento coletivo, cozinha e refeitório comunitários, espaço social e espiritual, ateliês, galpões e oficinas, espaço para as crianças, lotes de uso particular, familiar e coletivo, entre outros. 3. Viver Simples, Morro Grande, Município de Itamonte, MG Formado por um grupo de 13 famílias, o condomínio rural tem área de cultivo, um centro de aprendizado onde são oferecidos cursos, 10 chalés para visitantes e cozinha comunitária. 4. Ecovila Sítio das Águias, Lindolfo Collor, RS A 70 quilômetros de Porto Alegre, entre Novo Hamburgo e Nova Petrópolis, os nove hectares que compõem o Sítio das Águias foram elevados de um centro espiritual para uma ecovila de respeito, que propõe a alimentação saudável, harmonia entre os moradores e a natureza, além de reunir atividades num centro de lazer e vivências.


Nacho/Flickr cc 2.0

Fotos: divulgação

29

3

10

9

9

3

3

5. Asa Branca, Brasília, DF O Centro de Permacultura Asa Branca é uma das principais referências em projetos de sustentabilidade no Brasil. Localizado a 23 km do centro de Brasília, abriga interessados em serviço voluntário e está aberto a visitações através de turismo ecopedagógico para até 15 pessoas. 6. Aldeia Arawikay, Antônio Carlos, SC Nas colinas de Alto Rio Farias, numa área rural, a aldeia tem como meta principal a preservação e recuperação florestal de 80% da área original dentro de 17,70 hectares. 7. Flor de Ouro Vida Natural, Alto Paraíso, Go Turistas e demais simpatizantes de um modo de vida alternativo se reúnem nesta ecovila que existe há mais de 30 anos. Localizada na região da Chapada dos Veadeiros, a ecovila organiza diversos eventos em prol da espiritualidade e harmonia com o corpo e a natureza. 8. Ecovila da Lagoa, Lagoa Formosa, Planaltina, Go Quem busca por esportes, este é o lugar certo. A ecovila está às margens da Lagoa Formosa, onde podem ser praticadas modalidades aquáticas como stand up paddle e kitesurf. Além disso, tem pista de skate, mountain bike, rappel, trekking, escalada e corrida de aventura. A estrutura recebe famílias e grupos em seu camping, albergue e bangalôs.

9. El Nagual, RJ Fundada por dois estrangeiros há mais de 20 anos, os princípios dessa famosa ecovila carioca visam promover a gestão sustentável de recursos, implantar estudos de zoneamento e planejamento de ocupação do solo, vivenciar boas práticas de convívio e assim preservar e respeitar o meio em que vivem. 10. Caminho de Abrolhos, Nova Viçosa, Ba Ainda em vias de execução, é um empreendimento sustentável, parte de uma incorporadora, com facilidade de aquisição e financiamento próximo a um lugar de dar inveja a qualquer vizinho: o arquipélago de Abrolhos. Com base na consciência ecológica, as construções variam de tamanho e estilo, e, consequentemente, de preço. O local ainda terá áreas de lazer e um clube de férias, mas parece fugir um pouco do conceito principal de uma ecovila, embora não podemos julgar por enquanto. Fonte: Nômades Digitais

r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > s e t e m b r o 2 0 1 4


Cidadania Ambiental

30

Grito da floresta

ecoa no Senado

A

violência a que estão sujeitas as populações que vivem na floresta amazônica foi o tema de uma audiência pública, realizada em 3 de setembro, pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, em Brasília. O evento trouxe esclarecimentos à Casa legislativa quanto a íntima relação existente entre a atividade madeireira ilegal e os constantes assassinatos que ocorrem na região. O encontro, comandado pelo vice-presidente da comissão, o Senador João Capiberibe (PSB/Amapá), contou com a participação do delegado da Polícia Federal, Adalton Martins, do Diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, e de representantes de comunidades afetadas, que compareceram ao local com apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Entre as vozes da floresta que apresentaram suas histórias estavam o pastor Antônio Vasconcellos, da Resex de Ituxi (sul do Amazonas), a representante da Comissão da Pastoral da Terra CPT de Boca do Acre, Maria Darlene Martins, e a irmã caçula do ex-lider comunitário Zé Claudio (morto em 2011 ao lado de sua esposa Maria), Claudelice dos Santos. Os três estão atualmente ameaçados de morte por posicionarem-se firmemente contra a atividade. O coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace, Marcio Astrini, também esteve presente e levou à mesa de debates as propostas da organização para combater este mercado, que é extremamente nocivo tanto para o meio ambiente como para as populações tradicionais. “Não é possível um País que consegue explorar petróleo nas profundezas do oceano não conseguir lidar com a miséria social gerada pela madeira ilegal”, disse. Durante o encontro foram apresentadas estatísticas e imagens que dimensionam o impacto da ação de madeireiros ilegais na Amazônia. De acordo com a coordenadora do CPT no Acre, Maria Darlene, só em 2013 ocorreram 501 invasões de terras na Amazônia, com a finalidade de extração de madeira ilegal. Estas invasões afetaram 35.801 famílias e pelo menos 525 foram expulsas de suas casas pelas organizações criminosas. Já Antônio Vasconcellos relatou que em Lábrea, dois mandatos judiciais de soltura foram expedidos antes mesmo de os criminosos serem presos. Na época o delegado da cidade possuía em mãos 21 mandados de prisão, que nunca seriam cumpridos. Crime organizado Tanto o representante do Ibama como o da Polícia Federal admitiram que estas atividades são coordenadas por grupos bem organizados, com elementos inseridos nas mais diversas esferas da sociedade. Luciano Evaristo, do Ibama, afirmou que os criminosos já desenvolveram, inclusive, meios para “tapear” o monitoramento do desmatamento, feito por satélite. Enquanto os sistemas oficiais falham em identificar as extrações, os órgãos competentes falham em gerenciar o comércio de madeira e a justiça falha em punir os assassinos, os homens e mulheres da floresta continuam a tombar na mesma velocidade em que as toras de madeira morta caem no chão. De 1985 a 2013 foram registrados 699 assassinatos na Amazônia. De todos esses crimes, apenas 35 foram julgados, condenando 20 mandantes e 27 executores. Todos os presentes lamentaram a ausência de representantes do Ministério da Justiça e o senador Capiberibe fez menção especial a falta de Ideli Salvatti, Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Eu leio (as desculpas), mas não posso aceitar e acatar a ausência de quem deveria garantir o direito das pessoas. Isso é extremamente lamentável”, disse. s e t e m b r o 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r

Audiência pública realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado expôs a ligação entre a extração ilegal de madeira e a violência contra ativistas socioambientais da região. Senador João Capiberibe comprometeu-se a apresentar projeto de lei que obrigue os estados a manter transparência em ações de gestão florestal

O senador admitiu, ainda, que o Senado precisa assumir sua parte na responsabilidade sobre o problema. “Não podemos admitir crimes cometidos contra pessoas que só querem garantir o direito de viver”. Soluções Acabar com a violência na região é uma empreitada dura. Mas é possível combate-la a partir da eliminação de suas causas e dos meios que garantem que a madeira ilegal seja “lavada” e comercializada em todo o mundo. Para isso, Marcio Astrini apresentou algumas medidas urgentes que devem ser tomadas para lidar de uma vez por todas com a situação: • Revisão dos planos de Manejo aprovados desde 2006; • Amplo debate sobre a reformulação ou reconstrução do sistema de controle, e que ele seja, efetivamente, nacionalmente integrado; • Transparência nos dados da Gestão Florestal de modo que se possibilite o controle social (incluindo relatórios de vistoria pré e pós-exploratórios). Diante das sugestões, o Senador Capiberibe se comprometeu a elaborar e apresentar um projeto de lei no Senado que obrigue os Estados a tornar públicas todas as informações referentes a concessão de planos de manejo. O Ibama sinalizou que lançará em novembro um Sistema Nacional de Gestão Florestal, desenvolvido pelo órgão e que poderá ser adquirido gratuitamente pelos estados que tiverem interesse em monitorar a atividade. A medida, segundo Evaristo, deve contribuir para uniformizar as informações sobre a extração de madeira. Fonte: greenpeace

A audiência foi transmitida em tempo real pelo Twitter do Greenpeace. Para conferir o que aconteceu por lá, acesse. https:// twitter.com/GreenpeaceBR



Guia do Meio Ambiente

Aqui o seu anúncio é visto por quem se importa com o meio ambiente

Anuncie aqui: (21) 2610.2272

A TID

DR RJ

AN

DE VO LU Ç

ÃO

IMPRESSO R GA

ano IX • ed 75 • setembro 2014

A Revista do Meio Ambiente (revistadomeioambiente.org.br) é elaborada a partir das colaborações da Rede Rebia de Colaboradores e Jornalistas Ambientais Voluntários (RebiaJA – rebia.org.br/ rebiaja) e é distribuída de forma dirigida e gratuita, em âmbito nacional, em duas versões: 1) versão impressa – distribuída em locais estratégicos e durante eventos ambientais importantes que reúnam formadores e multiplicadores de opinião em meio ambiente e demais públicos interessados na área socioambiental (stakeholders) diretamente em stands, durante palestras, ou através de nossas organizações parceiras, empresas patrocinadoras, etc.; 2) versão digital – disponível para download gratuito no site da Revista bastando ao interessado: a) estar cadastrado na Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) – rebia.org.br (cadastro e associação gratuitas); b) estar logado no momento do download; c) preencher o campo do formulário com o comentário sobre o porque precisa da Revista do Meio Ambiente. Quem patrocina a gratuidade? A gratuidade deste trabalho só é possível graças às empresas patrocinadoras e anunciantes, às organizações parceiras e à equipe de voluntários que doam seu esforço, talento, recursos materiais e financeiros para contribuir com a formação e o fortalecimento da cidadania ambiental planetária, no rumo de uma sociedade sustentável.

Revista do Meio Ambiente Redação: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 Casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba, Niterói, RJ CEP 24370-290 Telefax: (21) 2610-2272


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.