Some big fires

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© Waf Books, 2018 © Francisco Clon , 2018


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Ajeito o espelho retrovisor para te ver pior. Na voragem da viagem todo o tema nos agrava. Disputamos os louros do amor e as falhas canalhas. A culpa é do zodiaco, do estore por consertar, da falta de sexo alarve, das circunstâncias laborais. Bem podes aspirar as almofadas do sofá que esta é uma cena de merda lírico-psicótica que enfada. Todos os amores desmembram seus feitos: temos a imobilidade das mães a destilar falhanços de educação e arredores e a incompetência dos pais a deixar tudo na mesma. Temos a beleza supinada, com talheres destinados a inventar mãos fidedignas e almoçaradas requintadas. Mas falha-nos o dínamo e o impulso oblíquo descamba na soma das inquietações, e às duas por três murmúrios, desgostos e raivas sobem ao estrado, ao coreto, para repetir serenatas e aprimorar melodramas. Ajeito o espelho outra vez


e é só paisagem carbonizada sem vontade de saír contigo e o cão para um piquenique infausto. A tua garganta luz com a tristeza tremenda de quem habita abandonos. Isso. Nexo do que aterra inclemente no límpido lirismo da sabuja estação.






São feitas para prémios, as palavras: resvaladas em opostos bem urdidos, recomendadas na mania até de temas com consabida dôr, com doença aí terminal a afinar plumas de éticas, castiçais com napron de casa velha a tremeluzir ou um eros burlesco de oportunista encartado. Podem os bruscos nevões cobri-las na brevidade das víboras em invernias destas que dão cabo de tudo. Encomendem-se cautelas na justiça que se aninha a poetar casos. Dizias-me que entre detritos de bichos e cuspos elas vicejam, guardiãs de um Ser, tão puro e cómodo, sem máculas ou bordéis. As minhas palavras, como as tuas rastejam mal, e acabam por florir encurvadas, antes fora de ressentimento ou inveja do que da graça de serem incautas. À nossa inocência, palavrosa, falta-lhe o tecto do cânone, ou o espigão da consagração, que serve caça aos patos. Andamos a musicar selvas de suspiros, ralações, azedumes, inutilidades


como: “açafrão tragando serpentes”, “dor superlativa de dentes”, “já chega de papelada”. E ainda que as atiremos à folha como massa de barro ou escarro deliberado não nos tinhamos dado conta de que os prémios contaminam as palavras com cumplicidades meigas muito acima de qualquer nádega. O que torna dificultoso este ofício com cornos que só queima os defuntos que outrora medravam o esplendor. Sim, são feitas para prémios, as palavras.






Partem em metáforas naturais, os breves, para no pavor pavonearem esse enigmático show, arroteado e arrebatador, de nem sequer saírem para bares, tão leves. Mãos adolescidas, adiantadas no parir às outras, irrompem durante a interpretação musical que assombra as casas: laranjas, espáduas, lumes do desequilíbrio, fronteiras foscas faiscando infelicidades. Lunações rapinando nos resumos do rosto, plagiando planetas nos textos dactilografados. Vêm-se shakespeareando a contragosto no môfo das toalhas turcas, com facas e garfos. Encobrem a treva com eletrochoques, crimes e danças, teorias e berloques, mulas russas, embarcados reboques. Unhas que arregaçam o estilo, que o achincalham — tumefacta inocência que prodigaliza esperanças, delicadeza envolta em tralhas e vaginas sorvendo tranças.


O tórax febril, autodestrutivo apanha as estrelas da fábrica, sujas, a aventar enxofres culinários a inclinar madrastas incendiárias. E as radiações repetem o equívoco — os aúlos de Dionísio penetrando: travando o mel das flamas filmadas de Ariadne, estrelas onde a cabeça do génio cadente tem baraços de luz, camaleão de activo olho que fulgura com hipnotismo devasso as vindouras vítimas, calcinada claridade que transpira a lua a lastros, águas subindo em arrotos nas crateras, através de um romance deprimido, no cismo sagaz da escrita até ao mármore congenital que emaranha nos promete nos premedita nos amanha.





Este livro foi composto no dia 19 de Abril de 2018 para as Waf Books por Francisco Clone



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