Etecetário1

Page 1

etecetário: conversas pedro proença

edições asa dicarus


PALAVRAS QUE QUASE SE NÃO VÊEM OS LIVROS É PARA SE IR INVENTANDO NÃO TEM QUE SER AO CALHAS podes pôr o frontespí cio a meio as regras já foram todas quebradas ás vezes é como não fossem


o ser como casa em que não se mora malandrices do nemésio não sei se é bem assim coisas puras, intactas, brancas com arranjos florais e criadas de quarto este é um tempo de poetas sopeiros e lá temos que voltar a aspirar a casa toda


AGORA VOU TENTAR ESCREVER COM PALAVRAS BRANCAS ESTOU A PENSAR NO ÂNGELO DE SOUSA COM SAUDADES ÓBVIAMENTE ISTO PASSA SE NO PORTO VI TE NA MINHA ÚLTIMA EXPOSIÇÃO MAS FOI EM LISBOA SEMPRE FOSTE COMER UNS VIFES A ESCULTURA QUER SE BEM PASSADA FAZES VÍ CIOS COM A POESIA PONHO INTERROGAÇÕES PARVAS AS LIMITAÇÕES SÃO PORREIRAS

POIS


DESTE LADO VOU ENCHER É DE LAMBER OS BEIÇOS CONSELHOS CIÊNTIFICOS DÁ PARA DESENHAR PIADOLAS CULTAS VAQUINHAS PRIVADAS ASSIM É O ENTENDIMENTO COM PALAVRAS CRUZADAS


POR VEZES CONFUNDES O ALVARO DE CAMPOS COM O ALVARO LAPA NA TUA CABEÇA TALVEZ NO ACASO DA RUA O ACASO DA RAPARIGA LOURA PODEM SE CONTAR HISTÓRIAS OU DEIXAR DE CONTAR ESTAS SÃO CORES DO RODRIGO ADAPTADAS IMEDIATAPENTE POR TODOS HÀ QUE MUSICAR O MUNDO COM AS MUSICAS DELE MESMO


adivinhaste o meu lado frique já não escapa libertação careca diálogos a preto e branco as côres do absoluto o zarolhismo do camões docemente docemente com açucar com afecto enlacemos as mãos


agora experimento a teoria como uma arte combinatória e serial é de levar o lewitt às últimas consequências mas dou para o torto vale a pena experimentar nem que seja de soslaio eróticamente o teu corpo é o meu porco faz oinc deixa te de parvoeiras


voltar a lêr o gombrowicz para dares conta do rídiculo generalizado o linguistico a descalçar o calão as teses a fazer maldades tipo morder nas canelas tipo tipo doutoramentos em aspas isso já invadiu o discurso artistico aprendar a fazer arte como os doutores


este é o primeiro de uma série de livros tu é que o dizes príncipio descontinuado fartura de papelada ir dar uma volta ao bilhar grande faz o requerimento em papel almaço outra vez as horas as horas aproveita e traduz o catulo não tenho latim que chegue vai aos outros e abusa


principia a agora a alarve mania de escrever mal. pode o herberto ter enunciado mas não deu conta do recado. principia pois a recusa de documentar a realidade senão como encenação autobibliográfica, o livro é a tua maningância, o virus da vida, mas não como leitor ou crente, ou diligente escrutinador de sentidos. tu acreditas bem mais nas côres e nos ritmos e no fazer a página inteiramente sem brancura. a página branca é já o azul homérico e escreve se com a letra eleita que neste caso tiveste que roubar.


vou pôr o mundo demêncial aqui num canto da folha. o que é que tu sabes do corpo? coisas entre parênteses curvos ou quadrados, sem indignação, palavras indeléveis, o que se pode descobrir indo em pintura pelas cores adentro. talvez não seja sicialmente relevante. eu diria mesmo que a função da pintura é a sua associabilidade que é política pois. porque se gostas de pintar podem impedir-te com culpas, modas, actividade que é em desaparecimento como o amor. pois não queres discutir, catalogar, infernizar, auto-documentar. parafrenália de gajos sempre pretenciosos. ainda vou desatar ao insulto a alto e bom som como diz o amigo. cuspidelas higiénicas mas nem sequer é preciso isto é continuar a pintar que as ensaboadelas da posteridade não merecem um pentelho. passar a vida a pedir desculpas não que está uma noite de ananazes. continuo a pensar no ângelo de sousa.


é ainda da opacidade que acabo por falar sem ter que ir buscar vocabulário pimpão ao adorno que hoje já não se usa não caíu nas graças dos universitários camones. as nossas conjecturas ficam pelo estilo de resumir sábiamente as vacilaç\ões inauditas, o estipor da consciência inclinando-se para o dito e o feito e é por esses caminhos que vamos para a pancadaria da estética, seja com a passarada, a do messien, espantadora, seja com a lesma, a salivar por todos os lados e é uma via perniciosa, a urinária é mais directa, tudo o que o artista mija é obra de arte. o dadaísmo começou como farsa e repetiu-se em variantes que não trágicas, muitas delas patetas, em cima do tigre da seriedade. tem cuidado com a cauda. princípio da caudalidade, repito-te. diálogos com os mortos, acusas-me. ando há tanto tempo a aprender a ser velho.


quem tem mêdo do azul bebé?


e do cinzento rato?


WORDS WORDS WORDS EM COMBOIO COMO O APITÓ QUERO FALAR SOBRE ARTE CANTINHOS PARA PENSAR À BRAVA NO BRAVO DESCOBRISTE A PÓLVORA POESIA SUECA JOGAR ÁS CARTAS NA RELVA MAROTICES DE MANET SÓ TU É QUE ME PERCEBES SEMPRE A FINGIR È O BICHO É O BICHO VOU TE DEVORAR EXACTAMENTE CROCODILO EU SOU


DESAPRENDER DEPRESSA É UMA VIDA INTEIRA


que bichos é que se devem pôr nos poemas? é consoante há uns que fazem chinfrineira outros deixam tudo baboso queres macacos que mordam?

eu leio NIETZSCHE sempre MAL


ando a debicar estrofes ĂŠ uma forma de namorar


põe-se uma barra a meio da folha pode ser que fique bem vou tentar dizer espaçadamente a vida a fazer o pino as cascas de banana são crueis dar ou não dar por isso


ora a linguagem se rebusca com a pontuação desautinada pois tu sabes tão bem que ortografia trapalhona é cá comigo vais evitar hifenizar? só se me apetecer


vários números a encavalitarem-se com jeito enche-se a página com falta dele também vale a pena fazer homenagens? vai-se para a pintura como tal metemos os pés pelas mãos? e as orelhas pelos narizes? os filhos percebem disso o bebezês é anacrónico tens carradas de razão mas deu-nos para isso


acordar na praia com a frança a fazer cócegas

parágrafos submarinos estes pequenos tiros a saír pela culatra e o almoço nem está pronto

AINDA È CEDO AINDA MAS ESTOU CÁ COM UMA LARICA


perguntas conviviais: respostas espantosas: queres ir ver as lesmas? e que fazer com os cachimbos?

lรก em casa fumega e hรก-de haver jantar


vamos ver se os fragmentos encontram a realidade aos poucos e poucos

põe-se a mesa e tudo com garfos

aspectos que não tinhas em conta vão te surpreender DO TAMANHO DO MUNDO


a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v x y

foi do quadro da conversa que roubei precisamente estás a abusar do lapa tenho pena de não haver mais esquema de conversa refutação ou combate de morte ou de vida? um dia é um outro outra dá-me algum avanço posso arrecuar a negação é obscena só se iluminada enunciados nocturnos com vistas para dentro falso comentário documentário pirulas preocupação recorrente nota-se na cara peregrinação? ad loca infecta o inferno é o ritmo o paraíso os outros também à beira do vul cão debaixo da vul gata


. = 1 2 3 4 5 6 7 8 9 o

legitimação animal o mais forte ou o mais astuto o sortudo sem dúvidas interpretação com interjeição medidas bombásticas fragilidade alarve é de se lhe tirar o chapéu pergunta circumflexa exdrúxula maternidade o caos das interpretações voltaste à semiologia para desfrutar equívocos


quero preciso desisto vou afasto regresso afago termino começo adoro ignoro acuso culpo agrado desculpo atraso remeto desvio chateio enervo calo escuto amo odeio

poderia ser pior dá na mesma vai e não volta tiros ao ar escuridão porra ainda assim não te encolhas andas enganado é o do bandulho pernas tornas xico maravilhas nirvana bacana actrizes atrozes artoses e se fora tal e tal a abardinar justiça castiça a velha mestra os 4 pspagaios olívia palito marujinho grande ingatião um ar víciado justiça catita gaiteira esbanjador a não dar nada a colar selos a amarfanhar a exibir peditório conceptismo coitadinho cegueta


a minha tábua de salvação são as linhas a pintura como coexistência? e a poesia também é uma co-existência sensação de vulnerabilidade entro na poesia para desbastar o que me é dado, isto é, as referências da linguagem local, o sabor do que vem à rede, a reacção informada e inflamada de quem olha em busca de alimento os bichos, a caça, o engodo existêncial temos que inventar e não é preciso olhar sequer não é o olhar puro mas o reparar infantil no caudal de curiosidades


ide ide a polivilhar a página deita as palavrinhas por aí abaixo pode ser que fique com aspecto bonito expressões que se encavalitam nada de céus plúmbeos canalizados no enfado nas minúcias dos mambos hermeneuticos traduz toda a poética é de uma longa

brevidade

aos salpicos vem cá ter mas não sejas lesma


clichês assanhados gatos que não vão à ironia das filhoses é necessário um negro escorrido uma ténebra de esmalte para se entender milarepa o abismo que resplandece e o poema de marpa o tradutor sobes pelas orelhas do grande coelho a um terraço onde se devoram sonhos infantis as excepções a formarem se no quadro abandalhado


a pintura é a caricatura da sua justificação aprimorar o caricatural pede baixinho resisto a barafustar agora segreda decantar poéticamente tudo até ficar bem súado cacos de cultura instituída no planeta dos ma-cacos já estás com os copos falta-me começar a beber


a escultura é a insistência com desinência mete a no saco pesa demasiado atira a ao rio vamos fugir é fugindo que nos encontramos até mais logo mando te uma carta de amor pedido e perdido ABERTA EM COPAS uma boa alimentação é o principal


poemas sobre caracóis com a série de fibonacci ás costas ora lá vai

já tentaste atrás agora faz um esforço agora faz outro morde a perna aí vê a marca funda!

1 2 3 5 8 13 21 34 mas se preferires mete a série de não fibonacci ao barulho e encontrarás pérolas diz o eduardo lotaria dos adaptados mitologias glocais - - - - - - - - - - - - -

doi? doi? doi? o poeta é fingidor?

insiste conflui argumenta confirma arrasa sintetiza insiste


como poeta sou um moedor competente


tudo às arrecuas do sisudo nem para pintar letras teria paciência o espontaneo é perguiça exactamente e sem consolação que bellos ojos tienes sabedoria de mariachis


NESTE CANTO A COISA ESTÀ VERDE podes abanar a cauda mas não posso abandonar o barco desconfia dos marujos


assim um pouco aos poucos não sei o que fazer com as mãos inventa bolsos mais um abraço

baralho as distâncias confundes a arte com as medidas? falsifico dando um ar telúrico e depois os museus aparecem

o amor como não-trabalho e o ódio como forma de expansão aniquilar as diferenças e enterrá-las num buraco


penso esta página como uma viagem à procura da espanha interior uma espanha espalmada com praça de touros e tudo

conhecimentos escassos queres aplicá-los? de cima de uma palmeira e uma vaquinha rm baixo

astúcia de trovador coplas com limão e coentros a representação é caricatura do representado que não existe


FRONTESPICIO

onde se começa? onde se acaba? O QUE é QUE SE FAZ COM O LEITOR dá lhe um homero ou uma boia de salvação o dia começa aqui azulado a praia é a página vamos remar uns versos? não te esqueças das redes


são os objectos que nos escolhem começamos com a desvantagem se a letra é difí cil de lêr as palavras são mais vagarosas é a consciência que atrai os objectos?


o

os meus interesses pelo linguĂ­ stico sĂŁo gaiteiros e os teus ando a fintar a tirania do significante escrevo poemas cheios de caracois ĂŠ bem melhor do que com osgas


atordoa te a sobreabundância queres citar o inominável que se faz à mão a pintura ainda como o que diz ou é só uma conversa entre nós dois que o leitor apanha o leitor é um cusco e a nossa irrelevância é justa no escurinho do poema


gostas de pintura chinesa e japonesa? ANDA AOS PULOS NA PÁGINA a tradução não dá conta? nem dos pulos nem do pincel a fazer cócegas na folha de papel de arroz posso fazer-te cócegas não te atrevas hi! hi! hi!


adolescer em farsas? a beleza sai mais fresca do humor mas demora se a perceber que a legitimação é um empecilho tentaste fazer uma estética em anedotas? é mais em piadolas que depois se desmoronam é esse o lado chinês? é o esborratar o imprevisivel com a saborosa manha do não ser vamos ali dançar um bocadinho


somos frases que começam numa

podemos começar deste lado e

também queres experimentar ir

agora descemos mais abaixo

parece que vamos atravessar um

aquecem-te aos poucos

poemas que nos deixam


a pรกgina e acabam na outra

lado e aparecer no outro

comigo a esse lado?

e a cor estรก quente

atravessar um deserto de palavras

e fazem sede

mesmo mesmo sedentos


já é quase meio dia e ainda não fiz nada de jeito demogorgon é uma divindade do mundo dos mortos e um poema do campos não é preciso andar a desocultar tudo nem por sombras


pões cores diferentes no meio das palavras

o criticismo está fora de controle o que isso signica ao certo não faço a mínima


este livro foi desconversadamente escrito em etcedario nos dias oito e nove de junho de dois mil e dezassete por pedro proença e as letras andam por aqui a fazer das suas para as ediçþes asa dicarus algures em lisboa perto do rio


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.