Dilúvio explicadista

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DILÚVIO

EXPLICADISTA

Pedro Proença

Edições Asa D’Icarus


© Edições Asa d’Icarus 2017 © Pedro Proença 2017


DILÚVIO EXPLICADISTA É o canone metamórfico que é metamorfoseado neste outro livro «explicadista» de 56 páginas. Mas que raio de coisa é esse «explicadismo»? É uma prática obstinada aguçada pelo Pedro Portugal e eu de alguns anos para cá (no meu caso quase clandestina mas prolífica em teorias e desvarios artisticos) – P.Portugal insiste que é uma «arte que explica a arte» de uma vez por todas, com recurso a teorias como as «complex-networks» e por aí adiante – os «artomos», o uso imoderado de diagramas, esquemas e toda a cangalha vectorial conseguem dar um ar simultaneamente lúdico e pseudo-ciêntifico aos exemplos artisticos. Sempre gostei de livros e de «mutações». Com 18 aninhos iniciei o meu livro mutatante (então imberbe e piloso) no qual continuo a escarafunchar quando me dá para isso. Este Diluvio Explicadista é um «documentário» (ou será apenas um «trailer») do que é a tradição mutante. Nele utilizei o método (agora on-line) do cut-up (Burroughs/Gysin) e para o efeito misturei imoderadamente as Metamorfoses do Ovidio ( o Caos), o ínicio do Finnegans Wake, a minha dupla heteronomia femenina (as simpáticas Sóniantónia & Sandralexandra), o òbvio I Ching, um texto tantrico que não faço a minima ideia do que quer dizer, um fragmento (já não me lembro de onde) do Chrétien de Troyes, outro dessa suma da devassidão que é a Juliette do sr. Sad,e e para compor melhor o ramalhete veio à baila o famoso prólogo joanino em que o Logos é literalmente (e exemplarmente) transformado em Carne. As elipses são «culpa do» cut-up engine.

O resultado tem aquele ar leve e desmaselado de quem caiu nas malhas nefastas da influência do John Cage na sua juventude (e é verdade!) – o acaso está no ar... mas também a inclinação reverêncial perante o tipografismo limpo do oitocentista Mallarmé, o ruídoso e sujo dos Futuristas e Dadaístas, e o mais atilado do senhor Ezra Pound (com as suas clássicas páginas de ideogramas) – tendencia cinematográfica, grafitista e ornamental! É também uma homenagem ao Herberto Helder e à sua «máquina de emaranhar paisagens» - gosto da palavra emaranhar, que conjuga, joyceanamente, o mar e a aranha – génese-apocalipse, queda-trovão-dilúvio e o contrário disso tudo ao mesmo tempo. Sinto-me confortável nestes emaranhados sísmicos que dão forma a uma espécie de cómica liturgia – o «divino» não está própriamente no «bon detail» como pretendia Flaubert (o divino não é alta-costura e elegância) mas no selvático das silvas bramantes e «marginantes» que são os sensíveis links da consciência. (in catálogo La Fontaine & outras Fábulas, Coimbra, 2008)


Todo o mito inverte as explicações com outro mito. As explicações são inversões de inversões, mitos de mitos, que desmontam os mitos. Há que deixar-se atravessar pela pulsão originária que torna tudo poético.


























































É com distância que olho para estas páginas algo ingénuas — depois disto passei por uma avalanche de criação tipográfica, e por extensão gráfica. Este livro é o testemunho de um desejo de infectar de livros borbulhantemente tipográficos (e não só) o mundo — é uma obsolescência onde o poético fervilha. Há algo de disparatado neste dilúvio explicadista, mas que ainda falta concretizar — não tem nada a vêr com perfeição. É um dedicado fluxo, que é implicitamente amoroso, e que nada justifica para além dos seus esbracejamentos. Que a glória se desenrole dos palácios das letras!


precisamos dos excessos da palavra Todo para desfrutarmos das maravilhas das singulatidades


Este livro fez-se paginar no dia 25 de Maio do ano de 2017 pelo respectivo autor para as Edições Asa D’Icarus



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