Nós em Rede 9º edição

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PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA COORDENAÇÃO DE PASTORAL DA Rede Marista RS | DF | Amazônia - ANO 5 - NÚMERO 9 - 2014

e d e r m e s ó N

Cultura da solidariedade:

um contraponto à globalização da indiferença Aproximar-se, colocar-se no lugar do outro, deixar-se envolver e agir, assim como fez Marcelino Champagnat. Páginas 6, 7, 8 e 9

CONHEÇA A MISSÃO MARISTA EM ANGOLA QUE COMPLETA, EM 2014, SEIS DÉCADAS DE EXISTÊNCIA

Páginas 10 e 11

Jovens vivenciam a solidariedade através da descoberta da comunidade e da questão social

Páginas 12 e 13

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COORDENAÇÃO DE PASTORAL

sumário

A solidariedade em rede Gerente da Coordenação de Pastoral, Ir. Valdícer Fachi A realidade do mundo globalizado traz consigo diversas ‘globalizações’: de um lado a globalização dos saberes, da comunicação e da informação, do mercado, de política globais... de outro, de problemas sociais, tais como: pobreza, fome, violência, drogas, tráfico de pessoas, analfabetismo. A esses problemas globalizados, somos chamados a dar respostas globalizadas, pela articulação de uma solidariedade local e em rede. Numa entrevista à Rádio Vaticano, o Papa Francisco afirma: “Repensar a solidariedade não é simplesmente ajudar os mais pobres, mas repensar globalmente em todo o sistema: como reformá-lo, como corrigi-lo de modo coerente com os direitos fundamentais do homem, de todos os homens. A esta palavra, solidariedade, não bem vista pelo mundo financeiro, é preciso restituir a sua merecida cidadania social”. Com esse enfoque da solidariedade, como contraponto à globalização da indiferença, é que chega até você a 9ª edição do Nós em Rede, sob a perspectiva da proposta da Boa-Nova de Jesus que consiste na práxis da solidariedade fraterna, que liberta os sujeitos das escravidões. Na própria vida de Jesus observa-se uma progressiva sintonia horizontal com as pessoas e as realidades emergentes de sua época. A Rede Marista, segundo essa visão, atua de forma decidida em prol dos mais desassistidos. Você encontrará, por exemplo, na editoria Pastoral nas Unidades, o Centro Social Marista da Juventude, que trabalhou de forma dinâmica o Documento Caminhos da Solidariedade, e a PUCRS, com o Projeto Voluntariado. Já na editoria Missão, abordamos os 60 anos da trajetória de presença Marista em Angola. Irmãos e Leigos(as) levaram na bagagem a missão de contribuir para uma sociedade mais íntegra, justa e fraterna. Na editoria PJM, o tema Solidariedade é compreendido como importante viés de trabalho nos grupos, a partir das descobertas da comunidade e da questão social onde estão inseridos. Que a leitura possa nos despertar cada vez mais para o valor da dignidade da pessoa humana. Boa leitura!!

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PASTORAL NAS UNIDADES A solidariedade que habita em nós

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ESPECIAL Corações solidários na era da indiferença

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MISSÃO Solidariedade que ultrapassa fronteiras

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PJM A descoberta da comunidade e da questão social

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DIRETRIZES Princípio Solidariedade EXPEDIENTE Informativo da Coordenação de Pastoral da Rede Marista (RS, DF, Amazônia).

Produção: Comunicação Corporativa

Ano 5 - Nº 9 - 2014

Fotos: Arquivo Coordenação de Pastoral, Unidades Maristas e Assessoria de Comunicação Corporativa

Gerente Ir. Valdícer Fachi Equipe responsável

Diagramação: Design de Maria

Karen Theline Silva, Jaqueline Debastiani, José Jair Ribeiro, Laura Aparicio, Marcos José Broc

Jornalista Responsável

Comentários e sugestões pastoral.pmrs@maristas.org.br 2

Textos: Luísa Medeiros

Revisão: Ir. Salvador Durante Lidiane Amorim (DRT/RS 12725)

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EM REDE Relembre algumas atividades do segundo semestre


Pastoral nas unidades

A solidariedade que habita em nós Marcelino Champagnat revela, através da sua experiência com o Jovem Montagne, que a solidariedade é colocar-se no lugar do outro, aproximar-se, sofrer o seu sofrimento. E a partir desse encontro deixou-se interpelar por Deus e dar uma resposta significativa a essa situação concreta. Essa é a atitude que gera mudança na forma de ver, pensar e entender o que acontece ao nosso redor, sem naturalizar as injustiças sociais. A solidariedade se materializa no dia a dia nas nossas Unidades, em ações, e que mantém, em sua essência, a inspiração do fundador. A cultura da solidariedade é uma meta que perpassa as ações de todos os Empreendimentos da Rede Marista – faz parte do nosso propósito e norteia nossa missão. Estimular um olhar sensível para as mais diferentes realidades, em especial àquelas que envolvem crianças, adolescentes e jovens, permeia as atividades diárias de nossos colégios, unidades sociais, PUCRS e Hospital São Lucas. Foi com esse olhar sensível e o documento Caminhos de Solidariedade Marista nas Américas: crianças e jovens com direitos, que a comissão elaboradora do estudo percebeu a necessidade de aproximar os educandos e estudantes às teorias que têm pautado pesquisas e projetos de ação em todo

Em 28 de outubro de 1816, Marcelino Champagnat vivencia um encontro que lhe mostra a urgência de sua missão. É chamado para atender o jovem João Batista Montagne, em seu leito de morte. Surpreendeu-se ao ver que o rapaz de 16 anos ignorava a existência de Deus. Pacientemente, expressou-lhe toda a solidariedade e preparou-o para morrer. Esse fato convenceu Marcelino de que não havia mais tempo para esperar. Era preciso agir. Decidiu, então, fundar o Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria ou Irmãos Maristas.

o Instituto Marista. O resultado final daqueles anos de estudo não contemplava um envolvimento efetivo das crianças, adolescentes e jovens que estavam ali retratados. Era preciso, portanto, fazer essa aproximação. Para fazer essa aproximação e colocar em prática os princípios desse documento, crianças, adolescentes e jovens foram convidados a conhecer as realidades dos diferentes países, saber como vivem, sonham e se desenvolvem seus pares nos diferentes lugares da América. Cada unidade, então, recebeu a missão de pesquisar um desses países. Nesse contexto, os educandos atendidos nos projetos do Centro Social Marista da Juventude tiveram a

O Documento, publicado em 2013, é fruto da reflexão e compromisso assumidos pelas Províncias Maristas das Américas em trabalhar de maneira articulada em prol dos direitos das crianças, adolescentes e jovens do continente. Para sua construção, foi realizada uma escuta e pesquisa nos 21 países das Américas em que há presença Marista. O texto aponta os princípios que fundamentam a presença, opções e itinerários de solidariedade marista nas Américas. A presença marista no continente americano se dá nos seguintes países: Argentina, Canadá, Costa Rica, El Salvador, Haiti, Nicarágua, Porto Rico, Bolívia, Chile, Cuba, Estados Unidos, Honduras, Paraguai, Uruguai, Brasil,

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Pastoral nas unidades

Educandos da Caju estudaram sobre os direitos das crianças, adolescentes e jovens

missão de pesquisar sobre o Equador – sua realidade, particularidades, problemas e enfrentamentos. A psicopedagoga e educadora social, Flávia Quevedo Trindade, ficou à frente do projeto, que envolveu em torno de 120 crianças, adolescentes e jovens. Foram realizadas pesquisas em livros e sites equatorianos, onde a realidade da defesa dos direitos das crianças e adolescentes foi mapeada. Alguns vídeos foram mostrados aos educandos, que também fizeram uma visita à embaixada do Equador para conversar com o embaixador e ter acesso a materiais informativos sobre as políticas de enfrentamento no país. “Foi a primeira vez que envolvemos as turmas em um trabalho dessa amplitude, e o resultado não poderia ser melhor. Os educandos se sensibilizaram muito com a situação do Equador que, eles constataram, é bem mais 4

difícil que a encontrada aqui no Brasil”, comentou Flávia. As impressões e os relatos das pesquisas foram registrados em vídeo, que foi exibido às turmas e enviado para a Gerência Social da Rede Marista, onde serão reunidos com os projetos das outras Unidades Sociais. Além disso, três educandos foram escolhidos para ser protagonistas do Encontro Caminhos de Solidariedade, no final de setembro, onde foram apresentados os resultados desse trabalho. Neri Costa da Silveira Filho, de 13 anos, é um desses adolescentes e jovens que representou o Centro Social Marista da Juventude. “A gente percebeu que aqui no Brasil nós temos muito mais ações para proteger e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. No Equador, as crianças começam a trabalhar muito cedo”, disse, demonstrando preocupação.

Ao lado da colega Karine Teixeira Soares, 13 anos, ele também relata que foram feitas leituras de jornais equatorianos e, em nenhum lugar, foi encontrada menção à existência de uma lei específica para proteger crianças e adolescentes. “Aqui temos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que ajuda a nos proteger”, complementa a menina.

Karine e Neri estudaram o Equador


Vivenciar a missão e compartilhar sonhos Paulo Adriano Alves, 42 anos, é Coordenador Administrativo na Gerência de Infraestrutura e Logística da Pró-Reitoria de Administração e Finanças da PUCRS. Isso de segunda a sexta-feira. No sábado Paulo é professor, é amigo, é companheiro das crianças da casa Raio de Luz, em Alvorada, que pertence ao Abrigo João Paulo II. Desde o início do ano, ele dedica um turno por semana a ajudar os 10 meninos na área de reforço escolar. Formado em Letras, ele conta que sempre teve o desejo de fazer um trabalho voluntário na área da sua formação. Desejo que ficou registrado em uma publicação da universidade já em 2003, logo que ingressou na graduação. Somente 11 anos depois conseguiu colocar o plano em prática – e narra que está sendo uma experiência maravilhosa. “Conheci um mundo bem diferente do que eu imaginava e estou tendo a oportunidade de vivenciar essa realidade, poder ajudar, preencher aquele espaço que existia na vida desses meninos. Mais do que ajudar no reforço escolar, passei a fazer parte da vida deles”, conta. Paulo chegou até o Abrigo João Paulo II por meio do Projeto de Voluntariado da PUCRS, ligado ao Centro de Pastoral e Solidariedade. O projeto, que completa 15 anos em 2014, já possibilitou a participação de mais de 5.600 estudantes, familiares, colaboradores, professores e ex-alunos em instituições diversas, em parceria com a Avesol. O objetivo do projeto é fomentar o desenvolvimento da cultura da solidariedade no meio acadêmico, gerando um impacto transversal ao processo educativo que já ocorre, naturalmente, na universidade. Para que isso ocorra, além de cruzar o perfil do voluntário,

“Todos temos um compromisso social. A mudança começa por nós, não podemos esperar pelos líderes. Se cada um fizer um pouco, podemos mudar a realidade! Fazer voluntariado não é uma ação burocrática, é escolher e assumir vivenciar um compromisso.” Marcelo Silva, 26 anos, estudante do curso de Direito da PUCRS e voluntário na área de reforço escolar do Abrigo João Paulo II.

Paulo Alves é colaborador da PUCRS e, aos finais de semana, dá aulas de reforço escolar para crianças

suas vontades e interesses com as necessidades das instituições, promove encontros de formação permanente dos voluntários. Por meio da partilha e da orientação da equipe organizadora do projeto, os voluntários passam por um processo de amadurecimento do processo de transformação, visão de mundo, responsabilidade social e coletiva que estão assumindo.

Segundo o Irmão Dionísio Rodrigues, diretor do Centro de Pastoral e Solidariedade, as ações desenvolvidas pelo projeto são uma maneira de dar continuidade ao sonho de Marcelino Champagnat para transformar o mundo em um lugar melhor. “Quando abrimos coração, mãos e mentes, nós contribuímos para a vida ter mais vigor”, afirma.

A Associação do Voluntariado e da Solidariedade (Avesol) é uma entidade de assistência social, sem fins lucrativos, e tem como missão promover ações de voluntariado e de solidariedade, apoiando grupos e comunidades organizadas em busca da transformação e justiça social. Sua atuação é fundamentada na educação popular, possui como campo preferencial de trabalho a Economia Solidária, o Voluntariado e a Assessoria a Projetos Sociais. A Rede Marista é apoiadora e parceira das atividades da Avesol.

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especial

Corações solidários na era da indiferença Sentir, colocar-se no lugar do outro, tornar-se irmão de quem mais sofre, mudar sua forma de ver e perceber, pensar e compreender o entorno, não ser indiferente às injustiças sociais. Existem diversas formas de definir a solidariedade. Há, no entanto, uma única maneira de nos deixarmos tocar por ela – abrir o coração de forma profunda para o bem coletivo.

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Vem do Evangelho de Jesus nosso primeiro exemplo de solidariedade. Jesus de Nazaré foi um homem solidário e itinerante, espalhando o sentimento imperativo do embate. Ele ensina que a solidariedade se sente somente quando encarnada na realidade, no contato com o outro. A solidariedade cristã, pressupõe o rompimento de pré-conceitos morais e a aproximação dos segregados – um exercício de entrega, de abnegação do benefício próprio para que o coletivo se fortaleça. A palavra solidariedade vem do latim solidare, que significa, etimologicamente, solidificar, confirmar. Tem a mesma origem da palavra sólido, que tem consistência, que não é oco, que não se destrói facilmente. Pensar e agir de forma solidária são iniciativas que, portanto, precisam atingir dimensões que transcendam a generosidade e o assistencialismo para alcançar uma proposta

mais profunda, sólida, com sentido cooperativo e partilhado de solidariedade. De acordo com o teólogo Hugo Assmann, no livro Competência e sensibilidade solidária: educar para a esperança (e citado no Programa de Formação de Colaboradores da Rede Marista), “não se é solidário apenas ajudando pessoas próximas, ou engajando-se em campanhas de socorro às pessoas de um terremoto ou enchente”. Solidariedade, para o autor, é mais amplo, é colocar-se efetivamente no lugar dessas pessoas. Ou seja, trata-se de uma interdependência na vida social, diretamente associada à coesão social, uma necessidade para a vida e a sociedade.

Rompendo a indiferença Recentemente, diante de uma tragédia que matou (e mata) centenas de pessoas na ilha de Lampeduza, na Itália, o Papa Francisco alertou para uma coletiva falta de responsabilidade diante das misé-


rias humanas. Passou a adotar, à época, o termo globalização da indiferença para se referir ao constante estado de apatia em que a sociedade se encontra. Nas palavras do Papa Francisco: “Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna (…). A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito dos outros, nos faz viver em bolhas de sabão, que são belas, mas são nada, são uma ilusão de futilidade, do provisório, que leva à indiferença para com os outros, leva até mesmo à globalização da indiferença”. Não é difícil entender a dimensão do problema relatado pelo Papa Francisco. Vivemos em uma época em que são fáceis e crescentes as trocas entre os países, nas mais diversas dimensões: culturais, econômicas ou sociais. Ao mesmo tempo, vivemos em um mundo em que as nações destroem vidas em nome do fornecimento de gás, do benefício do petróleo, da divergência religiosa ou da discordância em taxas de importação. Mas então, como romper com esse contexto? Citando soluções apontadas no livro Caminhos de Solidariedade Marista nas Américas: crianças e jovens com direitos, a Leiga Mónica Linares, da Província Marista Cruz del Sur, lembra que a indiferença está intimamente ligada à falta de diálogo, às frustrações, à falta de trabalho conjunto e à invisibilidade da injustiça, que está matando a vida abundante da qual as pessoas têm direito. Para ela, a indiferença reduz a capacidade de mobilização coletiva. Para Mónica, é importante repensarmos as articulações de espaços de trabalho e a fraternidade universal entre países e regiões, ultrapassando fronteiras. Cita, como exemplo, projetos conjuntos, intercâmbio em trabalhos que

gerem frutos – não assistenciais ou de conjuntura – para as novas demandas de realidades complexas, de conflito, vulneráveis e esperançosas em que vivem nossas crianças e jovens. Articulações dinâmicas, conectivas, de acordo com as necessidades e os desejos de uma estrutura ampla de possibilidades e oportunidades.

Atitude que está no DNA Marista A vida de Champagnat está repleta de histórias que nos remetem aos atos de bondade, coragem e compaixão. Lições de vida do fundador do Instituto Marista e que, ao longo de quase 200 anos, inspiram e são focos essenciais na ação evangelizadora em todo o mundo. Uma em especial, relatada por Jean-Baptiste Furet, no livro Vida de São Marcelino José Bento Champagnat, nos dá um exemplo da mais profunda solidariedade ao sofrimento do outro. Narra que, certa vez, chamaram-no para atender um doente. Ao chegar na casa do enfermo, Marcelino deparou com um profundo estado de miséria. O homem, coberto de chagas, tinha apenas alguns trapos a cobrir a pele e úlceras. O caso toca profundamente o padre, que lhe dirige palavras de conforto e compaixão. Ao chegar em casa, chama o Irmão ecônomo e pede-lhe que leve imediatamente um colchão, lençóis e cobertores. Quando se dá o diálogo: – Mas, Padre, não temos nenhum colchão sobrando. – Como! Não encontra nenhum colchão na casa? – Não, nenhum. Deve lembrar-se que dei o último faz alguns dias. – Pois bem! Retire o colchão da minha cama e leve-o agora mesmo ao pobre do homem.

O Irmão Miguel Orlandi, membro da Subcomissão Interamericana de Solidariedade, coordenador do Centro Social Marista Ir. Antônio Bortolini e Presidente da Avesol, lembra, ainda, que a solidariedade marista pressupõe, sobretudo, a doação do capital humano. “Está na nossa essência, no nosso DNA. Ao revisitarmos a história dos Irmãos Maristas no Sul do Brasil temos um belo exemplo. Os primeiros Irmãos que chegaram ao Estado tiveram a pouca bagagem que traziam confiscada. Contaram, então, com a solidariedade do povo que aqui vivia. E, mesmo sem ter praticamente nada, nunca deixaram de atender quem precisava. Doavam o seu conhecimento em educação, música, esporte, evangelização – o capital humano – ao outro”, conta. Outro fator presente no carisma Marista e que é também exemplo de inspiração solidária, é a partilha e uso evangélico dos bens. Tudo o que os Irmãos possuem, exemplifica, está a serviço da comunidade. “Uma das formas maristas de ser é levar o valor da solidariedade incorporado em cada ação.”

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especial

Solidariedade ao migrante Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) nos mostram que existem, no mundo, mais de 232 milhões de migrantes – em torno de 3,2% da população mundial. Desses, 30 milhões estão em situação irregular e, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 21 milhões em trabalhos forçados. O que temos a ver com isso? Muitos desses migrantes buscam, em nosso País, condições para uma vida digna. Nós também estamos, portanto, sendo desafiados à solidariedade global.

Irmão Miguel vivencia a solidariedade diariamente, no contato com os educandos

O conceito de solidariedade está tão incorporado ao modo de ser marista que, a própria solidariedade, é um valor institucional, presente na nossa missão. A violeta, um dos símbolos da nossa atuação, também recorda que a solidariedade deve vir acompanhada de um sentimento genuíno e que não busca o benefício próprio, por isso deve ser exercida de forma discreta, mas marcante.

Missão sem fronteiras É ampla e diversificada a atuação marista pelo mundo. Estamos presentes em 82 países, em todos os continentes e, em alguns lugares do mundo, como a cidade de Aleppo, na Síria, a presença marista se dá de forma missionária e voluntária. Em nível mundial, contamos com a Fundação Marista de Solidariedade Internacional (FMSI), reconhecida pela Organização das Nações Unidas e que atua no campo da solidariedade internacional, com foco na defesa dos direitos da criança, do adolescente e do jovem. A FMSI promove e apoia projetos de ações educacionais e sociais em regiões em desenvolvimento. Além disso, ajuda a fomentar uma rede de integração com outras ONGs, redes, coalizões e grupos que partilham os mesmos objetivos e valores. Conheça mais em www.fmsi-onlus.org.

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Inspiradas na solidariedade que é iminente a todo cristão, as Irmãs Scalabrinianas realizam um importante trabalho de acolhida, orientação e encaminhamento de migrantes, em diversas cidades do País. Em Porto Alegre, elas realizam essa missão em um posto na Estação Rodoviária. As atividades iniciaram em 1999 e, de lá pra cá, já atenderam quase 21 mil pessoas. São migrantes do interior do Estado, de outras regiões e até outros países. Pessoas que chegam à cidade com poucas perspectivas e com as mais diversas necessidades – desde um local para dormir, o contato de um parente, até encaminhamento para fazer documentos perdidos ou furtados. A solidariedade, nesse caso, está intimamente ligada à aproximação com o outro. “Nos toca muito esse contato com os migrantes. Porque nos colocamos no lugar deles, sentimos suas necessidades, sonhos, esperanças e até sofrimento. Impossível ficar indiferente”, conta a Irmã Egídia Muraro, coordenadora da Pastoral dos Migrantes da Arquidiocese de Porto Alegre. No dia a dia de trabalho, as Irmãs contam que muitos migrantes chegam à cidade doentes, com pouca (ou sem) bagagem e um sentimento nostálgico de saudade de casa, das suas terras natais. “Mais do que dar esse suporte inicial, os encaminhamos para os serviços da prefeitura e fazemos um trabalho de sensibilização junto aos órgãos públicos para garantir que esses migrantes tenham seus direitos humanos preservados”, afirma Irmã Egídia. O mesmo trabalho é feito em diversas cidades do Rio Grande do Sul e outros Estados. Um importante polo regional fica em Bento Gonçalves, onde as Irmãs Scalabrinianas trabalham, atualmente, com mais de 1.300 migrantes haitianos.

“Ser solidário é fazer o que preserva a vida em sua integridade, é se doar para que outros possam viver em plenitude. Solidariedade é doação, é o ato de entregar-se para não esvaziar, não dissolver, não degradar a vida. É ser e estar a serviço de um mundo inteiramente digno, é ser militante do Reino de Deus.” Pilato Pereira, presbítero anglicano (IEAB), professor e mestre em Teologia

Atendimento aos migrantes é feito na rodoviária de Porto Alegre


Solidariedade x Globalização da Indiferença

Durante toda a minha vida eu tenho lutado contra a indiferença e tenho lutado por um mundo mais fraterno e Solidário. A primeira imagem de solidariedade que desperta em minha consciência é o episódio do Bom Samaritano. Isso mesmo, essa linda passagem bíblica no Evangelho de Lucas1. O que mais me toca nessa passagem é a resposta de Jesus sobre quem é o meu próximo. Geralmente pensamos que é aquele que está ao meu lado, alguém de minha família, etc. Pois ele apresenta algo muito diferente e desafiador. O mais instigante nessa história é o fato de que aqueles de quem esperamos apoio, não o fazem. Mas, alguém que passava por aí, um viajante, “quando chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele”. Essa á a palavra mágica. Algumas pessoas usam a palavra compaixão, fraternura, amor, etc. O ser humano está cheio de indiferença. Estamos acostumados a olhar os problemas e não fazer nada. Sempre achamos que alguém devia ou vai fa-

zer algo e passamos adiante. Sempre delegamos para alguém imaginário que não existe. Esse alguém sou eu. Hoje, aqui e agora. Nesse episódio, a pessoa “aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele”. Lindo! Muito Lindo. O final é ainda mais desafiador. “Vá e faça o mesmo”. O Papa Francisco tem sido a voz que clama em nossa sociedade. “Hoje em dia há crianças que não têm o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição. Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem três ou quatro pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama do humanismo desumano que estamos vivendo. Por isso, é preciso recuperar crianças e jovens, e não cair numa globalização da indiferença”.2 Por ocasião de sua visita à ilha de Lampedusa, falando do naufrágio ocorrido em outubro de 2013, o Papa perguntava sobre os responsáveis pela morte daquelas pessoas. E afirmava: “Todos nós somos responsáveis sim. A globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar”. E por que isso continua acontecendo? E nós facilmente esquecemos, até que outro fato macabro nos desperte do sono entorpecente. Alguns dados sobre a violência em nosso país nos levam a refletir sobre o que podemos fazer para mudar essa realidade. Segundo o recente estudo “Mapa da Violência 2012, Crianças e

Adolescentes do Brasil”, em 2010 foram assassinados pelo menos 24 crianças e adolescentes por dia, num total de 8.686 mortos. Trata-se de um trágico aumento de 346% entre 1980 e 2010. De 92 países analisados, o Brasil é o quarto por violência contra menores e adolescentes entre 0 a 19 anos, depois de El Salvador, Venezuela e Trinidad e Tobago, países com uma economia mais atrasada em relação à brasileira, considerada a sexta do mundo. O Brasil é o único desses países a ter um Estatuto da Criança e do Adolescente, assinado 20 anos atrás, e a realizar programas sociais que envolvem a população mais pobre, onde se registram os índices mais altos de violência. Entre 1980 e 2010, foram mortos 3,1 crianças e adolescentes a cada 100 mil; em 2010 foram registrados 13,8 casos a cada 100 mil.3 O mundo está cheio de Organismos Locais, Regionais, Nacionais e Internacionais. A ONU possui forte estrutura de acompanhamento para os países membros. Existem organizações não governamentais e Institutos Humanitários em todo o Planeta. Mesmo assim, a indiferença persiste.4 Sem dúvida esperamos por uma resposta refrescante aos nossos inúmeros gestos de solidariedade e também de egoísmo e falta de respeito humano. A resposta está em você. Ir. Vicente Sossai Falchetto Agente de promoção dos direitos da criança na Fundação Marista de Solidariedade Internacional (FMSI) 1 Lucas 10, 25 - 37 2 http://franciscanos.org. br/?p=42632#sthash.5KD4FMVK.dpuf 3 http://www.news.va/pt/news/americabrasilcresce-a-violencia-no-pais-a-cada-di 4 http://www2.ohchr.org/english/ 9


Missão

Solidariedade que ultrapassa

Missão em Angola beneficia 3 mil estudantes

Marcelino Champagnat, há quase 200 anos, foi audacioso ao preconizar que “todas as dioceses do mundo fazem parte dos nossos planos”. Na sua percepção, estar próximo e deixar-se tocar pela realidade do outro era fundamental para a sensibilização e o despertar da solidariedade, da vontade de agir. Em 1836, a Igreja Católica legitimou a Sociedade de Maria e lhe confiou uma missão muito especial: atuar junto às comunidades da Oceania. Foi o primeiro passo para a expansão missionária – que vem se fortalecendo ao longo das décadas e, hoje, já representa a atuação em 82 países. Uma dessas missões ganha significado especial em 2014, quando comemoramos 60 anos de atuação marista em Angola. Presentes no país desde 1954, os Irmãos Maristas conduzem três Unidades para o atendimento de mais de 3 mil estudantes: a Escola Marista Cristo Rei, na Capital Luanda; a Escola de Formação de Professores Marista São José, no Kuito-Bié; e a Escola Primária Marista São Marcelino Champagnat, em N’Dalatando. São Maristas que vivenciam a essência da missão em seu sentido mais amplo, sendo protagonistas da evangelização em uma realidade marcada por um histórico de violenta guerra civil, que deixou marcas profundas na má distribuição de renda e na presença de regiões de extrema miséria.

Trajetória calcada na coragem Os primeiros Irmãos estabeleceram-se em Angola no dia 17 de março de 1954, na cidade de Sá de Bandeira (atual Lubango). Eles vinham ao país, então uma colônia portuguesa, para assumir o Internato Diogo Cão, tradicional escola da região que passava por uma profunda crise administrativa e moral. 10

Foram três, os pioneiros nessa missão: o Irmão Rolando Amorim, deslocado do Alto Molócué, em Moçambique, com larga experiência educacional; o Irmão Alfredo Caetano Damian, ou Irmão Celso, como era conhecido, nomeado Diretor e, mesmo com a pouca experiência e desconhecimento do ambiente da África, foi incansável e, em pouquíssimo tempo, conquistou a comunidade escolar; além do Irmão Justino Maria, que permaneceu três anos no local e também teve grande importância na construção de um novo paradigma educacional. Com o empenho e amor à missão, protagonizados pelos pioneiros, logo a obra social e religiosa ganhou o respeito da comunidade. A expansão era inevitável e, nos anos seguintes, logo foram constituídas novas obras no país. Em 1955, foi fundado o Colégio São José, em Silva Porto, no Kuito-Bié. Em 1958, foi a vez do Colégio de Cristo Rei, na capital Luanda. Em 1971, os Irmãos assumiram a Escola de Professores Salazar, em N’Dalantando. E, por fim, em 1981, foi criada a Casa de Formação de Lobito.

Esperança em um cenário de guerra Das seis décadas de atuação em Angola, praticamente a metade (27 anos) se deu em meio a uma violenta guerra civil. O confronto foi fruto de uma disputa de poder no país, após o golpe de Estado de 1974, em Portugal, episódio conhecido como a Revolução dos Cravos. Nessa época, os milhares de portugueses nascidos ou residentes em Angola fugiram do país, deixando um vazio na estrutura social e administrativa – entre eles, os Irmãos Maristas portugueses. Sobraram apenas cinco Irmãos, que decidiram ficar para guardar os bens do Instituto e colaborar na Pastoral Eclesial. Era a semente de uma nova forma de missão e de presença Marista em Angola. Os Irmãos que permaneceram, organizaram-se para não deixar nenhuma residência Marista abandonada. As escolas acolheram refugiados, mas os edifícios foram nacionalizados, deixando de pertencer à congregação. A nacionalização dos colégios representou um fator determinante para que os Irmãos que decidiram ficar em Angola procurassem outras formas de exercer a missão. Maristas que enfrentaram a fome, a falta de medicamentos, sequestros, violência e um permanente clima de terror para manter acesa a chama da missão de São Marcelino Champagnat.


fronteiras O processo de pacificação de Angola, por diversas vezes começado e sempre negado pelo reinicio da guerra civil, deixou na carne e na alma do povo marcas profundas de sofrimento e de desilusão. Somente em 2002 a paz se instaurou, dando novo fôlego à atuação marista em terras angolanas.

Otimismo no pós-guerra Nesses doze últimos anos, existe um esforço de reconstrução que envolve todos os setores da sociedade. Ainda há muitos problemas a serem sanados, especialmente na desigual distribuição de renda e na infraestrutura do país. O povo angolano, no entanto, é incansável em demonstrar sua força. Da mesma forma, a atuação Marista de Angola tem presenciado diversas transformações e realizado projetos nesse período. A presença efetiva de Irmãos, missionários e Leigos Maristas na região eleva a condição de cooperação para uma efetiva inserção da missão em Angola. Esta missão evidencia a solidariedade, reiterando o caráter missionário e de cuidado com crianças, adolescentes e jovens presentes em nosso carisma.

“Realizei uma experiência missionária na comunidade do Kuito-Bié, de março a dezembro de 2013. Lá existe uma Escola Marista de Formação de Professores, em que pude contribuir com meus conhecimentos nas áreas de Biologia, Química e Voleibol. Foi uma experiência fantástica: conviver com um povo de uma cultura rica, distante da nossa realidade, e que tem uma história triste recente (guerra civil). Lembro que várias alunas que já eram mães e, muitas vezes traziam, seus bebês pra escola pois não queriam desperdiçar a oportunidade do estudo. É um povo de uma simplicidade marcante. Cada olhar, cada toque, cada pessoa que passou por mim deixou um pouco de si. Trago-as junto comigo, nos meus pensamentos, orações e, também, ações.” Regina Biasibetti, colaboradora na Coordenação de Vida Consagrada e Laicato da Rede Marista

“Vamos aos jovens lá onde eles estão. Vamos com ousadia aos ambientes, talvez inexplorados, onde a espera de Cristo se revela na pobreza material e espiritual.” Constituição Marista

Celebração marcou os 60 anos de atuação marista em Angola

Atualmente, três Irmãos da Rede Marista atuam em Angola: o Ir. Antonio Silva, de Santo Ângelo, que é diretor da escola de Luanda; o Ir. Tarcísio Postingher, de Garibaldi, que dá aulas de informática no centro de N’Dalantando; e o Ir. Belmiro Schmidt, de Santo Cristo, formador dos juvenistas no Kuito.

“Quando adolescente, movia-me o desejo de ir além das minhas cercanias, ser presença em outros ambientes. A oportunidade chegou em novembro de 2000 quando, já Irmão Marista, surgiu a necessidade de substituir um missionário em Angola. Cheguei ao meu destino em fevereiro de 2001 e lá permaneci por 10 anos. O país ainda encontrava-se em guerra e os deslocamentos, as comunicações e tantas outras necessidades eram precárias ou inexistentes. Nesses anos foram tantos os sentimentos: alegria de partilhar e descobrir a cultura diferente; solidão e isolamento em terras estrangeiras; acolhida e reconhecimento pela presença; desconforto por ser diferente; satisfação de ver as transformações do país. Sentia-me meio brasileiro e meio angolano.” Ir. Odilmar Fachi, diretor do Centro Social Marista de Porto Alegre 11


A descoberta da comunidade e da questão social É primordial entender o que acontece nos diversos âmbitos da organização social para identificar, no cotidiano de nossas vidas, as possibilidades de atuação solidária. Isso implica na descoberta da comunidade e, nela, a questão social. Nos meses de junho e julho de 2013, milhões de adolescentes e jovens brasileiros foram às ruas para lutar por melhores condições de vida. Inicialmente contra o aumento das tarifas do transporte, mas rapidamente a luta por mais direitos sociais estava presente nas mobilizações e se pedia mais saúde, educação, democracia. Nos cartazes, faixas e rostos pintados também diziam que a política atual não representa as juventudes, que quer mudanças profundas na sociedade brasileira. Para muitos/as, quando isso aconteceu, foi quase que um choque, pois não se imagina que pudessem se manifestar, sair às ruas. Sem que a sociedade percebesse, tinha algo que estava sensibilizan-

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do-os/as. Segundo o sociólogo Michael Mafessollì, “não há mais uma grande causa, a ‘sociedade perfeita do amanhã que vamos construir pela política’, mas, ao contrário, é o que está mais ligado à vida cotidiana” que está sensibilizando as juventudes. São causas mais afetivas, mas o ponto de partida é a realidade cotidiana, a partir de onde os pés pisam. Após a sensibilização vem o compromisso de cada pessoa. É o sair do isolamento e procurar agir em grupo, coletivamente. Esse compromisso precisa ser assumido e experienciado. Para assumir precisa entender o que está acontecendo, ver a vida cotidiana a partir de algumas chaves de leitura, pois, do contrário, a ação sem formação leva ao

vazio de sentido, e formação sem ação leva à alienação. Dentro do processo de vivência grupal da PJM, o grupo experimenta suas etapas a partir das descobertas: do caminho comunitário; do grupo; da comunidade; da questão social; do despertar da vocação e o amadurecimento do projeto de vida. Por essas descobertas o adolescente e jovem vai assumindo sua vida, libertando-se de dependências, vai solidarizando-se com as causas de outras pessoas. Enfim, vai amadurecendo e adquirindo mais condições para ajudar a gestar uma sociedade diferente, mais humana e solidária. A ousadia e o protagonismo de adolescentes e jovens resultam em mudanças na sociedade.


Sensibilizar para comprometer! A PJM do Colégio Marista Champagnat, em 2014, refletiu com os participantes e Animadores/as sobre política, motivados pelas manifestações de 2013 e por ser ano de eleições, despertando para a dimensão política do ser humano e para o exercício da cidadania. Eis as atividades realizadas:

Atividade 1: No Reencontro de toda a PJM, no início do ano, os participantes foram divididos em grupos de cinco pessoas representando a “família”. Cada pessoa representava uma especificidade dentro da família: pai, mãe, filho que estudava no Ensino Fundamental, filho que estudava no Ensino Médio e idoso. Não era necessário ser do gênero masculino ou feminino para exercer a função, só deveria representar o papel dessa pessoa dentro da família.

Prepararam-se seis Animadores/as que seriam os candidatos à prefeitura, e cada candidato tinha seis propostas. Em seguida, juntaram-se mães e pais em um grupo, todos os filhos em outro, e os idosos ficaram sozinhos. Cada um desses três grupos foi para um ambiente diferente onde dois candidatos falaram sobre as suas propostas. Cada candidato tinha aproximadamente seis minutos e fazia rodízio entre os grupos para que todos

ouvissem as propostas de todos. Para essa etapa foi distribuído papel com os nomes dos candidatos de cada rodada. Eles deveriam marcar um “x” no que eles escolhessem. As famílias foram novamente unidas e precisavam entrar em um consenso sobre os candidatos, já que cada uma delas tinha direito a apenas um voto. Para finalizar, fez-se a apuração dos votos e uma partilha das experiências da dinâmica.

todos os do transporte se reuniram; todos os da saúde, e assim por diante. O desafio era escolher a proposta mais em conta e unir as propostas, enfim, ficava a critério do grupo definir como e o que iria fazer. Após, cada grupo escreveu em um pedaço de tecido a sua proposta e todos os pedaços foram costurados, criando ações comuns. Cada Animador/a foi fazendo a conscientização no seu grupo sobre essa atividade, para gerar comprometimento. Eis as propostas: 1. Para ser executado diariamente por todos do grupo, individualmente, na sua realidade: cartazes da inspiração corrente do bem. 2. Transporte: criar um sistema de caronas por bairro. 3. Saúde: incentivar a criação de grupos para se exercitar regularmente. 4. Educação: partilha do conhecimento escolar via internet.

5. Sustentabilidade: lixeiras para lixo orgânico na sala de aula com a finalidade de hortas comunitárias. 6. Projeto social: levar ração e água na mochila para alimentar animais de rua. Criar uma página no Facebook para divulgar esse projeto. 7. Acessibilidade: produzir rampas de madeira para acessibilidade urbana contendo frases e imagens inspiradoras. 8. Livre: levar o seu espírito protagonista, adquirido na PJM, para fora do seu grupo, através de encontros. A partir dessa atividade, percebe-se que os participantes e o grupo vão descobrindo o seu protagonismo e a sua cidadania a partir da prática, pois o compromisso exige despojamento, espírito missionário, contato com a realidade, que se transforma em compaixão. Dar oportunidade para irem exercitando é incentivar para a participação cidadã.

Atividade 2: Essa aconteceu no reencontro da PJM de agosto. Separaram-se os participantes em grupos de oito pessoas. Cada grupo começou a ser chamado de chapa. Eles precisavam elaborar seis propostas, seguindo as seguintes temáticas 1. Para ser executado diariamente por todos do grupo, individualmente, na sua realidade; 2. Transporte; 3. Saúde; 4. Educação; 5. Sustentabilidade; 6. Projeto social; 7. Acessibilidade e 8. Livre. Cada Animador/a ficou responsável por acompanhar e animar uma chapa, dando as orientações e fazendo observações. Tinham que elaborar propostas que pudessem colocar em prática. Por exemplo: aumentar a frota de ônibus: como? Depois da primeira atividade do ano, deu-se uma das propostas elaboradas para cada adolescente e jovem do grupo (oito propostas para oito adolescentes e jovens). Em seguida, foram reorganizados por temáticas:

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diretrizes

Princípio Solidariedade Jesus chorou. (Jo 11, 35). O fato de Jesus ter chorado nos remete à Sua não indiferença diante da dor de outras pessoas. Como todo ser humano, Ele ficou cansado nas longas caminhadas pelos desertos da Palestina, sentiu fome, precisou dormir; o Filho de Deus se fez uma pessoa comum, semelhante a qualquer pessoa humana. Se as pessoas são sensíveis, choram, cansam, sentem sono, por que existem tantos abismos sociais espalhados pelo mundo todo, desafiando nossa solidariedade? A solidariedade precisa ser acordada em nossas consciências, pois quando olhamos para alguém maltrapilho numa calçada e pensamos “pobrezinho” e continuamos pelo nosso caminho sem nada fazer, estamos mantendo-a adormecida. No fundo, achamos que o Estado ou alguma instituição assistencial deveria fazer algo. Terceirizamos a solidariedade. Delegamos para alguém ser solidário por nós, até pagamos para que isso aconteça, não assumindo o que me cabe enquanto ser humano. Pensar que aquilo que só nós podemos fazer não pode ser delegado a um terceiro é o despertar do princípio solidariedade. Solidariedade é outro nome para o princípio cristão do “amor ao próximo”. Viver a solidariedade como princípio é não compactuar com a consciência egoísta e fechada na cultura do bem-estar. Precisamos despertar para novas sensibilidades. Quem chorou ontem pelas pessoas que morreram de fome no mundo? Quem no mundo se sente responsável por isso? Responder a essas perguntas implica viver o sentido da responsabilidade fraterna. Sentir que cada criança que nasce não é apenas filha de seus pais biológicos, mas filha de todos e que todos somos responsáveis uns pelos outros nos tornará capazes de acordar a solidariedade em nós, ajudando a criar a cultura da solidariedade.

Papa Francisco em meio aos sobreviventes da tragédia de Lampedusa

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Estamos em uma sociedade que esqueceu a experiência do chorar, do “padecer com”. A globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar! O outro é simplesmente aquele que perturba a minha vida, o meu bem-estar. Superar essa visão perversa sobre o outro é recuperar a nossa capacidade de chorar pelas pessoas que clamam por condições mínimas de vida, transformando lágrimas em atitudes. A palavra solidariedade é colocar-se no lugar do outro, fazer-se irmão de quem mais sofre, é sentir com..., não para manter as coisas como são, mas para dar-lhes novo sentido e, se necessário, fazer a diferença. Solidarizar-se é atitude que nasce da compaixão, gera mudança no modo de ver, pensar, entender e supera a visão que torna “naturais” as situações de injustiça social. Para muito além de campanhas assistenciais, a solidariedade nos mobiliza a desenvolver metodologias e processos educativos que sensibilizem para o engajamento em espaços de promoção e garantia de direitos de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Champagnat, no encontro com o jovem Montagne, não se acomodou achando natural a sua morte aos 16 anos, sem instrução escolar e sem os principais fundamentos da fé. Não podendo fazer mais nada por esse e movido pela compaixão, decidiu fundar o Instituto Marista como meio de evangelizar pela educação prioritariamente crianças e jovens empobrecidos. Karen Theline Silva, Marcos José Broc e José Jair Ribeiro | Assessora/es da Coordenação de Pastoral.


em rede

Confira algumas ações evangelizadoras que marcaram o segundo semestre nas Unidades Maristas.

Os colaboradores do Centro Social Marista Santa Isabel (Porto Alegre, RS) participaram de retiro com o objetivo de oferecer períodos de reflexão e integração, estudo e cultivo da espiritualidade Marista, através da temática Vocação. Um dos facilitadores foi Gustavo Balbinot, que propôs atividades de análise pessoal e contato com a e espiritualidade através de palestra, música e reflexão.

Durante a semana vocacional Marista, em agosto, os estudantes do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Marista Aparecida (Bento Gonçalves, RS) participaram de encontros de formação para refletir sobre vocação e profissão. Num momento descontraído puderam vivenciar cantos, brincadeiras, vídeos, dinâmicas e tirar suas duvidas sobre as diferentes vocações com integrantes da Equipe vocacional da Diocese de Caxias do Sul.

O Colégio Marista Santa Maria (Santa Maria, RS) promoveu o Festival de Música, evento construído em conjunto pela PJM e Grêmio Estudantil. Neste ano, o evento contou com 22 apresentações de alunos e exalunos. Além de descontração e boa música, o evento ajuda no desenvolvimento de habilidades, como cooperação e liderança. Um evento de jovens para jovens.

Em julho, o Projeto Espiritualidade da Pastoral da Saúde do Hospital São Lucas (Porto Alegre, RS) promoveu o 4º encontro de Formação do Voluntariado, que abordou o tema a arte de AMAR, com a assessora Rosa Maria Ayten. Participaram 17 voluntários e as Irmãs Iolanda Scnheider e Nair Frey

Em julho, Animadores/as participaram da Missão Jovem Marista, no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, que tem como objetivo oportunizar aos adolescentes e jovens uma experiência com grupos que estão contribuindo para a construção da Civilização do Amor. Experiência para os jovens de rever princípios e formular atitudes para ajudar a construir a Civilização do Amor.

O Colégio Marista Rosário (Porto Alegre, RS) recebeu o Prêmio Ser Humano 2014, um reconhecimento nacional concedido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) por seu projeto de voluntariado. As atividades são coordenadas pelo Setor de Pastoral Escolar e estão de acordo com o Projeto Educativo do Brasil Marista. Hoje são 70 estudantes voluntários, da 8ª série e Ensino Médio. 15


Rumo aos 200 anos

de presença marista no mundo Um novo começo que nos leva ao encontro dos Montagnes de hoje

Não é por acaso que a preparação ao bicentenário de fundação do Instituto Marista no mundo começa no dia 28 de outubro. Foi neste dia, em 1816, que São Marcelino Champagnat encontrouse com o jovem Jean-Baptiste Montagne, um adolescente à beira da morte, ignorante em aspectos fundamentais da fé cristã. Neste encontro, o fundador percebeu que não havia mais tempo a perder. Dois meses depois fundou o Instituto Marista. O Ano Montagne, que abre os preparativos para 2017, nos recorda a importância e a urgência da nossa missão nos dias de hoje, tão atual e necessária como nos tempos de Champagnat. 16


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