Revista PRIMAZ - 10ª edição

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Ano 04 | Nº 10 | Edição de Dez/2021 a Fev/2022

A revista da Arquidiocese de São Salvador da Bahia

Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão “Nós contamos, acima de tudo, com a ação do Espírito Santo”, afirma o Cardeal Dom Sergio da Rocha


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Sumário

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Sé Primacial

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Com a Palavra, o Cardeal

A caminho do Sínodo

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Especial Sinodalidade

Pela primeira vez, a Igreja descentraliza o Sínodo dos Bispos, de modo a escutar todo o Povo de Deus.

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Curiosidades

Você sabe qual é o significado da Cátedra, a “cadeira do bispo”?

Acompanhe alguns passos do primeiro ano de pastoreio do Cardeal Dom Sergio da Rocha

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Entrevista

Assistente eclesiástico da Comissão Arquidiocesana da Pastoral Catequética fala sobre o Ministério do Catequista, instituído pelo Papa Francisco

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umdia.com

Irmã Violeta: Ternura e determinação fazem parte da vida de quem decide largar tudo pelo TUDO!

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Nossas igrejas

Há 30 anos, sob o manto da Virgem Maria, comunidade da Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja caminha firme

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Viver bem

Especialista alerta sobre os cuidados com a saúde mental durante a pandemia Ano 04 | Nº 10 | Edição Nov a Dez/2021

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Editorial

Sara Gomes Jornalista

Expediente A Revista PRIMAZ é uma publicação trimestral da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, produzida pelo Setor de Comunicação. Arcebispo Cardeal Dom Sergio da Rocha Bispos Auxiliares Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida Dom Dorival Souza Barreto Júnior Dom Valter Magno de Carvalho Bispo Referencial para a Comunicação Dom Valter Magno de Carvalho Vigário Geral Cônego Juraci Gomes de Oliveira Ecônomo Padre Jairon Batista Jornalista Responsável Sara Gomes (DRT/BA 3757) Equipe do Setor de Comunicação Sara Gomes Fábio Silva Revisão Marize Pitta Diagramação Agência Hesed Foto de Capa Sara Gomes Impressão Edição apenas na versão digital Endereço Avenida Leovigildo Filgueiras, 270 CEP.: 40.100-050 - Garcia São Salvador, BA - Brasil Fale com a Redação revistaprimaz@arquidiocesesalvador.org.br Tel.: (71) 4009-6604

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om o coração quentinho, como é próprio dos baianos, nós apresentamos esta edição da Revista PRIMAZ, após um período difícil, ocasionado pela pandemia. Embora publicada apenas na versão digital, este veículo de comunicação foi preparado com muito carinho, pensando, de modo especial, nos fiéis desta Igreja Particular de São Salvador da Bahia. Entre as matérias que compõem esta edição, está um breve balanço sobre o primeiro ano do pastoreio do Cardeal Dom Sergio da Rocha, que tomou posse como Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil no dia 5 de junho de 2020, na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador. Desde que chegou, o Cardeal, embora impedido pelo distanciamento imposto pela pandemia, não para de trabalhar, o que é comum em um pastor que cuida do rebanho que a ele foi confiado. Este período de isolamento social gerou, também, inúmeras iniciativas concretas por todo o Brasil. Uma delas, sob os cuidados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi a ação “É Tempo de Cuidar”, mobilizando todo o país. Como a revista PRIMAZ é um instrumento que quer tornar a Igreja de Jesus Cristo ainda mais conhecida e amada, nós também preparamos uma matéria sobre este gesto concreto, tão fundamental no auxílio das pessoas em situação de vulnerabilidade social. Se houve desafios durante a pandemia? Sem dúvida! Entre as lutas diárias enfrentadas pelo Povo de Deus está o processo da evangelização, tão afetado neste tempo em que o contato físico ficou cada vez mais difícil. Contudo, ele não deixou de acontecer e, aos poucos, foram sendo encontradas maneiras de vencer os obstáculos para anunciar o Reino de Deus. Você sabe quais foram eles? Confira na matéria principal.

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Quem também caminha com os passos firmes é o Serviço Arquidiocesano de Animação Vocacional (SAAV), sempre com o olhar voltado para as vocações, sejam elas quais forem. Assim como esta pastoral, seguindo na caminhada está a Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, localizada em Plataforma, e que este ano completou 30 anos de fundação. Esses dois assuntos também foram destacados nesta edição. Por falar em missão, o Papa Francisco instituiu, em maio de 2021, o Ministério do Catequista. Mas, você sabe o que muda a partir de agora? Para falar sobre este assunto, a nossa equipe foi até o assistente eclesiástico da Comissão Arquidiocesana da Pastoral Catequética, padre José Carlos Ferreira Santana, e você pode conferir esta entrevista nas páginas 11, 12 e 13. Por falar em entrevista, na editoria “Viver bem”, a revista PRIMAZ aborda um assunto importantíssimo: saúde mental na pandemia, com a responsável técnica do Serviço de Psicologia das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), a psicóloga Larissa Medeiros. Você conhece a Fundação Instituto Feminino da Bahia (FIFB)? Ainda não?! Então, aproveite para conhecer este espaço que revela um pouco da história de Salvador, da Bahia e do Brasil, no acervo que compõe o Museu Henriqueta Catharino. Nas ruas da Cidade Baixa, nas proximidades da Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, não há quem não conheça a Irmã Violeta. Conhecida como a “nova Irmã Dulce”, esta senhora revela o amor de Deus nos cuidados com os mais pobres que, ao se encontrarem com ela, também encontram acolhida e carinho. Ao ler esta matéria, com certeza, você se sentirá ainda mais próximo de quem tem a coragem de deixar tudo para seguir o TUDO! Boa leitura!


Com a Palavra, o Cardeal

Cardeal Dom Sergio da Rocha Arcebispo de São Salvador da Bahia Primaz do Brasil

A caminho do Sínodo Papa Francisco convocou toda a Igreja a percorrer o caminho rumo à XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ou, simplesmente, “Sínodo dos Bispos, programado para o mês de outubro de 2023. Estamos sendo chamados a rezar, a refletir e a viver o tema belo e desafiador: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. O tema da “sinodalidade” é de profunda atualidade, adquirindo especial importância desde o Vaticano II, sobretudo no pontificado do Papa Francisco. De acordo com seu sentido etimológico, o termo grego “sínodo” significa “caminhar juntos”. A sinodalidade expressa a participação e a comunhão em vista da missão. A unidade, a variedade e a universalidade do Povo de Deus se manifestam no caminho sinodal. Dentre as iniciativas tomadas pelo Papa para tornar mais efetiva a participação, está a ampliação da consulta na etapa preparatória da Assembleia Sinodal. Ele ampliou o processo de escuta iniciado nos Sínodos anteriores, estabelecendo várias fases, com início nas dioceses, prosseguindo nos níveis nacional e continental. Contudo, o caminho sinodal não se restringe ao âmbito geográfico; revela-se ao mesmo tempo um itinerário espiritual que exige passos, como ocorre em todo caminhar. Ele não se reduz à reflexão, mas consiste num exercício efetivo de sinodalidade. O caminho sinodal não pode restringir-se a produzir documentos ou

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Foto: Vatican Media

a adotar novas palavras. A propósito, no Discurso para o Início do Percurso Sinodal, o Papa nos alerta para os riscos do “formalismo” e do “intelectualismo”, pois não se pode “transformar o Sínodo numa espécie de grupo de estudo, com intervenções cultas, mas alheias aos problemas da Igreja e aos males do mundo”, assim como o “imobilismo” que impede dar passos de vida nova. Na homilia de abertura do Sínodo, o Papa Francisco ressaltou três verbos a serem conjugados por todos no caminho sinodal: encontrar, escutar e discernir. Necessitamos de “tempo para encontrar o Senhor e favorecer o encontro entre nós”. É preciso “escutar com o coração” e “não apenas com os ouvidos” para“discernir” os passos a serem dados. A Arquidiocese de São Salvador da Bahia, unida ao Papa Francisco, em comunhão com toda a Igreja, é convocada a percorrer o caminho sinodal, refletindo e vivenciando a “participação, comunhão e missão”. O Documento Preparatório do Sínodo apresenta questões para serem refletidas sobre como temos vivido e como devemos viver a participação, a comunhão e a missão na Igreja. Rezemos pelo Sínodo! Rezemos pela Igreja! Procuremos conhecer o Documento Preparatório, refletir sobre as questões propostas e participar das atividades que forem programadas nesta fase. Deus nos conceda a graça de uma fecunda participação no caminho rumo ao Sínodo dos Bispos

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Foto: Catiane Leandro

Sé Primacial

Tudo na Caridade Pastoreio do Cardeal Dom Sergio da Rocha proporciona frutos de comunhão e missão na Igreja Primacial esde o primeiro momento da nomeação recebida, tenho voltado o olhar e o coração para Salvador como minha nova família. Com amor de pai, irmão e amigo, assumo esta nova missão com esperança e alegria, sabendo que vou encontrar irmãos e amigos, com os quais quero conviver fraternalmente e trabalhar juntos pelo Reino de Deus”. Estas palavras foram pronunciadas pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha no dia da Missa de posse, celebrada na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador, em 5 de junho de 2020. Embora com o número de fiéis limitado, devido à pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, em todas as paróquias da Sé Primacial da Igreja no Brasil a expectativa era grande para a acolhida do novo pastor, que passou a suceder o Arcebispo Dom Murilo Krieger, que, naquele mesmo dia, tornava-se emérito. A partir daquele dia – primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus -, a missão do Cardeal começou a dar passos concretos nesta Igreja Particular. Encontros online e presenciais, com o número de pessoas extremamente reduzido, aconteceram, afinal, o Arcebispo precisava e queria conhecer

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os padres, os religiosos e os leigos que caminham à frente dos trabalhos pastorais desta Arquidiocese. Ao clero, Dom Sergio sempre voltou o olhar de pai. Com atenção e cuidado com os sacerdotes, o Arcebispo costuma preparar e enviar cartas pastorais, com orientações sobre a exigente missão assumida por cada um, sempre recordando o amor de Deus. Em uma delas, por ocasião do período quaresmal, o Cardeal destacou um trecho de um dos artigos publicados por jornais impressos de circulação no estado. “Neste tempo de pandemia, a Quaresma torna-se ainda mais significativa, levando-nos o voltar o olhar e o coração para Cristo crucificado e a reconhecer o seu rosto sofredor nos rostos dos que mais sofrem. É tempo de subir o calvário e permanecer aos pés da cruz, sendo mais fraternos e solidários.O mundo necessita de Cirineus e Verônicas, o Cirineu que alivia a dor e a Verônica que enxuga as lágrimas de quem sofre. Eles estão presentes junto aos doentes, aos aflitos e aos pobres. Além disso, o cuidado da vida e da saúde tem exigido renúncias e sacrifícios. Observar as medidas para conter a pandemia pode ser um sacrifício agradável a Deus e sinal de amor ao próximo”, escreveu.


O desafio de assumir uma Arquidiocese com mais de três milhões de habitantes e localizada em cinco municípios baianos tem sido enfrentado por Dom Sergio com serenidade e firmeza. Para ajudá-lo a estar ainda mais presente junto ao Povo de Deus, além de Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida, o Papa Francisco nomeou dois novos bispos auxiliares, que foram apresentados à Igreja Primaz no dia 6 de fevereiro de 2021: Dom Dorival Souza Barreto Júnior e Dom Valter Magno de Carvalho. “O bispo é chamado a ser sinal de Cristo pastor em meio ao rebanho, assemelhando-se a Ele por meio do serviço humilde e generoso e, acima de tudo, pela doação cotidiana da própria vida. O bispo é chamado a abraçar Cristo crucificado, abraçando os que estão crucificados com Cristo, em meio à provação de sofrimentos, em meio a este tempo tão difícil da pandemia”, afirmou Dom Sergio durante a Missa de Apresentação, realizada na Catedral Basílica. Desde então, a missão se tornou ainda mais intensa, embora com desafios devido à pandemia. E para que seja possível atingir a todos, cada um dos bispos auxiliares passou a ser referencial para regiões, pastorais, organismos e novas comunidades. Em carta ao clero da Arquidiocese de Salvador em 15 de fevereiro, o Cardeal explicou: “Para favorecer o atendimento, estamos organizando o trabalho dos Bispos Auxiliares como bispos referenciais para Foranias e para algumas Comissões Arquidiocesanas. Eles estarão atendendo prioritariamente, mas não exclusivamente, os campos de atuação

indicados, podendo atender, sempre que oportuno, os vários campos da vida eclesial. Novas funções poderão ainda ser acrescentadas, dependendo das necessidades da Arquidiocese. Assim sendo, esperamos atender melhor e mais rapidamente ao grande número de solicitações que chegam ao Arcebispo e aos Bispos Auxiliares. O Arcebispo continuará disponível para o conjunto da Arquidiocese, assumindo suas funções próprias nos diversos âmbitos da vida da Igreja”, escreveu. A partir deste momento, Dom Marco Eugênio passou a ser o bispo referencial para as Foranias 3, 4 e 5 e, também, para a Vida Religiosa (masculina e feminina), para as Novas Comunidades de Vida Consagrada (Comissão Arquidiocesana) e colaborador junto ao Tribunal Eclesiástico. Já Dom Dorival tornou-se referencial para as Foranias 9, 7A, 7B, 8 e 10, bem como para a Comissão Arquidiocesana de Pastoral, Comissão Arquidiocesana de Liturgia, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, Comissão das Ordens Terceiras, Irmandades e Devoções (COIDE), Comissão Arquidiocesana da Pastoral Catequética, Conselho Missionário Diocesano (COMIDI), Comissão da Pastoral Familiar, Pastoral da Educação e da Comissão Arquidiocesana de Bens Culturais da Igreja. As Foranias 1, 2A, 2B e 6 passaram a ter como bispo referencial Dom Valter Magno de Carvalho, que também tem sob os cuidados os Seminários (etapas Propedêutica, Filosodia e Teologia), o Serviço de Animação Vocacional (SAAV), a Comissão ArquidioceFoto: Sara Gomes

Proximidade com o clero arquidiocesano é uma das marcas que se destacam no pastoreio do Cardeal Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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sana da Pastoral Presbiteral, a Comissão dos Diáconos Permanentes (CAD), a Comissão Arquidiocesana de Movimentos Eclesiais (CAMEC), a Ação Social Arquidiocesana (ASA), as Pastorais Sociais, o Setor Juventude e a Pastoral da Comunicação. Além da proximidade de pai com o clero, a simplicidade e o desejo de estar com o Povo de Deus, principalmente com os mais pobres, é característica marcante no pastoreio de Dom Sergio. Logo nas primeiras horas da manhã, o Cardeal se pronuncia no Programa Oração Por Um Dia Feliz, que vai ao ar na Rádio Excelsior da Bahia, às 5h45. Mas não para por aí! Vídeos e entrevistas passaram a fazer parte da agenda de Dom Sergio com muita frequência, fazendo com que a mensagem do evangelho e as palavras do Cardeal alcancem ainda mais vidas. Além disso, mensalmente três artigos são publicados em dois grandes jornais impressos da capital baiana e, logo em seguida, publicados nos sites da Arquidiocese de Salvador, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Regional Nordeste 3 e no Vatican News. Entre os inúmeros momentos marcantes no pastoreio de Dom Sergio, alguns merecem ser destacados. Um deles foi a Santa Missa pelos 470 anos de criação da Diocese de São Salvador da Bahia, em 25 de fevereiro; e, também, a Celebração Eucarística pelo aniversário da Dedicação da Catedral Basílica do Santíssimo Salvador, que também aconteceu pela superação da pandemia, tendo presente, à época, a triste marca de 500 mil mortos no Brasil pelo novo coronavírus. Na mesma ocasião, foi manifestada a ação de graças a Deus pelos bispos padres, diáconos e leigos que se recuperaram da COVID-19,

bem como a gratidão aos profissionais da saúde. Outro momento foi a recepção do Pálio Arquiepiscopal no dia 6 de novembro de 2021, pelas mãos do Núncio Apostólico no Brasil, Dom GiambattistaDiquattro. Derivado do latim (pallium), o pálio é uma vestimenta litúrgica que consiste em uma faixa de lã branca recebida por cada arcebispo metropolitano, dotada de rico simbolismo. Possui cerca de cinco centímetros de largura, dois apêndices, um na frente e outro nas costas, e seis cruzes bordadas com lã preta, recordando as chagas de Cristo. O pálio simboliza a unidade com o Papa, sucessor de Pedro. Colocado sobre os ombros do arcebispo, representa também a ovelha carregada pelo pastor, sinal da missão pastoral em comunhão com a Santa Sé.Além do Papa, somente os arcebispos metropolitanos recebem o pálio, podendo usá-lo somente na própria arquidiocese e nas dioceses que compõem a sua província eclesiástica. A Província Eclesiástica de São Salvador da Bahia, além da própria Arquidiocese, é composta pelas dioceses de Alagoinhas, Amargosa, Camaçari, Cruz das Almas, Eunápolis, Ilhéus, Itabuna e Teixeira de Freitas-Caravelas. Em pouco mais de um ano de pastoreio, o Arcebispo enfrentou alguns problemas de saúde, como a COVID-19 e dois procedimentos cirúrgicos renais, todos superados com fé. “No cuidado de si e do outro é fundamental o cultivo da espiritualidade, especialmente, em momentos de crise. Orar e meditar fazendo a experiência do amor de Deus é fonte de serenidade e de esperança, sustento para a vivência do amor solidário. Neste tempo de pandemia nós podemos aprender a conjugar mais os verbos orar, amar e servir”, escreveu o Cardeal em um dos artigos intitulado Aprendendo com a pandemia.

Foto: Sara Gomes

Recepção do Pálio Arquiepiscopal, vestimenta litúrgica que simboliza a unidade com o Papa, sucessor de Pedro. 8

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Foto: Cáritas Brasileira

Igreja no Brasil

É Tempo de Cuidar! Ação emergencial concretiza o pedido do Papa Francisco para uma Igreja em saída. om o coração sempre voltado para os que mais sofrem, neste tempo de pandemia a Igreja no Brasil permaneceu atenta, numa atitude concreta de socorrer as famílias em situação de vulnerabilidade social. Neste cenário de milhares de mortes, de desempregos, de restrições e de tantos outros sofrimentos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileirase somaram a outras organizações, como a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o Movimento de Educação de Base (MEB) e a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), para desenvolver a Ação Solidária Emergencial “É Tempo de Cuidar”. Somente em 2020, quando a campanha teve início, foram arrecadados 5,868.961 mil quilos de alimentos não perecíveis. Quanto a recursos financeiros, a Campanha atingiu R$ 4,523.832; além da distribuição de 717 mil quentinhas, 727.832 mil unidades de roupas e calçados, 411.580 mil kits de higiene e 414.114 Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). No total, mais de 1,1 milhão de pessoas foram beneficiadas. Para que isto fosse possível, arquidioceses, dioceses e outros organismos eclesiais intensificaram a ação, realizando, entre outras atividades, a Semana Nacional de Mobilização. “A situação extrema de pobreza e de carência alimentar não dá a ninguém o direito de repousar sem inquietações. É hora de fecundar mentes e corações com o remédio da sensibi-

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lidade singular que se pode cultivar no gesto diário de socorrer quem precisa, porque não tem e não pode esperar”, disse o presidente da CNBB, em entrevista ao organismo, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Também como parte da campanha, os esforços foram somados para ajudar a socorrer as vítimas do terremoto de 7,2 na escala Richter, no Haiti, o que ocasionou a morte de mais de duas mil pessoas e deixou milhares de feridos, desabrigados e desalojados. No âmbito da Ação Solidária Emergencial “É Tempo de Cuidar”, aconteceu a Campanha SOS Haiti, que teve como objetivo arrecadar recursos para possibilitar a compra de itens de primeira necessidade, como alimentos, água potável, barracas, lonas, materiais de higiene e de limpeza, medicamentos, atendimento médico, transporte e combustível. Em junho deste ano, a Ação Emergencial foi, mais uma vez, mobilizada e, já no início da segunda fase, alcançou a arrecadação de 238,7 mil quilos de alimentos não perecíveis. Nesta etapa, o foco segue no gesto concreto de amenizar a fome e as consequências da COVID-119, como o desemprego, por exemplo. “Todo cristão é convidado a integrar esse bonito gesto de amor ao próximo que é a ação emergencial solidária ‘É tempo de cuidar’, promovida por confissões religiosas e segmentos sensíveis da sociedade, com selo humanitário reconhecido”, convocou Dom Walmor.

*Com informações do site da CNBB Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Foto: Sara Gomes

Especial

Sinodalidade: um caminho a percorrer Pela primeira vez, a Igreja descentraliza o Sínodo dos Bispos, de modo a escutar todo o Povo de Deus. aminhar pela mesma estrada, caminhar em conjunto. Encontrar, escutar, discernir”. Estas foram algumas das palavras proferidas pelo Papa Francisco na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos, celebrada no Vaticano, em 10 de outubro deste ano. Diferente das edições anteriores, esta é a primeira vez que o Sínodo ocorre de maneira descentralizada e com um itinerário composto por três fases (diocesana, continental e universal), culminando com a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, em Roma, na Itália. Na Arquidiocese de Salvador, assim como em outras arquidioceses e dioceses, a Fase Diocesana teve início no dia 17 de outubro, quando o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, presidiu a Santa Missa na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador, localizada no Centro Histórico da capital baiana. “A palavra Sínodo, em si mesma, tem um significado relativamente simples, mas profundo, amplo, desafiador: significa caminhar juntos. Nós não vamos agora, neste período, apenas refletir sobre a importância do caminhar juntos, mas nós vamos ter uma ocasião privilegiada de realizar, de pôr em prática aquilo que é o objetivo do próprio Sínodo: a participação, a comunhão e a missão. Para isso, nós precisamos de muita oração e, por isso, estamos abrindo esta Etapa Arquidiocesana com a celebração da Eucaristia. Esperamos, pela graça de Deus, ampliar cada vez mais a participação. Nós contamos, acima de tudo, com a ação do Espírito Santo”, disse, na ocasião, o Cardeal.

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A palavra Sínodo, em si mesma, tem um significado relativamente simples, mas profundo, amplo, desafiador: significa caminhar juntos. Nós não vamos agora, neste período, apenas refletir sobre a importância do caminhar juntos, mas nós vamos ter uma ocasião privilegiada de realizar, de pôr em prática aquilo que é o objetivo do próprio Sínodo: a participação, a comunhão e a missão (...) Nós contamos, acima de tudo, com a ação do Espírito Santo

Cardeal Dom Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil


Com a abertura desta primeira etapa, que, na Arquidiocese de Salvador, é chamada de Fase Arquidiocesana, o caminho será marcado pelo processo de escuta. “O objetivo deste Processo Sinodal não é proporcionar uma experiência temporária ou única de sinodalidade, mas garantir uma oportunidade para todo o Povo de Deus discernir em conjunto como progredir no caminho para ser uma Igreja mais sinodal a longo prazo. Portanto, o Processo Sinodal será orientado por uma questão fundamental: Como é que este ‘caminhar juntos’ tem lugar, hoje, a diferentes níveis (desde o local ao universal), permitindo que a Igreja anuncie o Evangelho? E quais os passos que o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal?”, disse o Vigário Episcopal para a Pastoral e coordenador da Equipe Sinodal na Arquidiocese Primaz do Brasil, padre Edson Menezes da Silva.

Passos concretos Para que a caminhada sinodal aconteça de maneira concreta na Arquidiocese de Salvador, uma equipe foi formada por padres, religiosos e leigos, que receberam, no dia 17 de outubro, pelas mãos do Cardeal, o envio, de modo a darem os primeiros passos. “Comigo e com o padre Ailan, formam a equipe executiva Lúcia Maria de Brito Pina Davanzo e Andréia Aparecida Bulcão. Depois, todos os outros membros formam a equipe ampliada, que poderá ser dividida em equipes de espiritualidade, formação, animação, grupos, redação e síntese final e equipe de produção de conteúdos formativos. Contaremos com a assessoria de Dom Dorival Souza Barreto Júnior, bispo auxiliar, e do padre Alberto Montealegre Viera Neves, Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico. Estamos dispostos para enfrentar o referido desafio, cumprir com fidelidade a responsabilidade que Dom Sergio nos confia, certos de que contaremos com as orações de todos”, disse o padre Edson. A Fase Arquidiocesanaé caracterizada pelo proces-

so de escuta ao povo de Deus. “Vamos escutar as paróquias, os movimentos, as pastorais, as associações laicais, as escolas e as universidades, as congregações religiosas, as comunidades cristãs de bairro, a ação social, os movimentos ecumênicos e inter-religiosos e outros grupos. Esta fase é uma oportunidade para as paróquias e dioceses se encontrarem, experimentarem e viverem juntas o caminho sinodal, descobrindo ou desenvolvendo instrumentos mais adequados ao seu contexto local, que acabarão por se tornar o novo estilo das Igrejas locais no caminho da sinodalidade”, destacou o padre Edson, recordando que o papel das Conferências Episcopais, quando terminar esta fase, é fazer uma síntese,na qual estarão reunidos os contributos e o feedback que receberam das dioceses. Estas sínteses servirão então de base para a primeira edição do InstrumentumLaboris(Instrumento de Trabalho), que será publicado pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Em seguida, este Instrumento de Trabalho será enviado para a Fase Continental, para ser desenvolvido nos sete continentes: África (SECAM), Oceania (FCBCO), Ásia (FABC), Médio Oriente (CPCO), América Latina (CELAM), Europa (CCEE) e América do Norte (USCCB e CCCB). Estas sete reuniões internacionais produzirão, por sua vez, sete Documentos Finais, que servirão de base para o segundo Instrumentum Laboris, que será utilizado na Assembleia do Sínodo dos Bispos em outubro de 2023, na Fase Universal. “Estamos tendo uma oportunidade ímpar! Isto é, de fazer uma experiência de comunhão e participação eclesial importante! De olhar para trás e recordar o caminho que fizemos até agora, identificando nossos acertos e desacertos, nossas experiências de martírios, de ressurgimentos, renovação. De olhar para a frente, vislumbrar novos horizontese de contribuir para que a nossa Igreja seja verdadeira‘casa e escola da comunhãoe da participação’,‘com uma fisionomia acolhedora’, ‘uma Igreja que encontra novos caminhos’. Participem! Não percam esta oportunidade!”, assevera o padre Edson.

Foto: Arquivo CNBB

A equipe executiva é formada pelos padres Edson Menezes e Ailan Simões, e pelas leigas Lúcia Maria Davanzzo e Andréa Aparecida Bulcão. Ao lado deles está a equipe ampliada, que conta com a participação de sacerdotes, diáconos, seminaristas e leigos. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Foto: Sara Gomes

Entrevista

Ministério do Catequista: o que diz a Igreja? o mês de maio de 2021, o Papa Francisco instituiu o Ministério do Catequista, afirmando que esta é “uma necessidade urgente para a evangelização no mundo contemporâneo, a ser realizada sob forma secular, sem cair na clericalização”. Para falar sobre esta iniciativa do Santo Padre, a equipe da Revista Primaz conversou com o assistente eclesiástico da Comissão Arquidiocesana da Pastoral Catequética, padre José Carlos Ferreira Santana. Confira:

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Revista PRIMAZ - Em maio de 2021, o Papa Francisco instituiu o Ministério do Catequista, com a publicação do Motu Proprio “Antiquum ministerium”. O que mudou a partir deste momento? PADRE JOSÉ CARLOS FERREIRA SANTANA: Na verdade, não podemos falar de mudança, ainda, mesmo que a publicação do documento do Papa tenha trazido um “impacto de alegria” e tenha levado os catequistas a pensarem em “mudar a postura” em relação ao seu compromisso e responsabilidade com a catequese. O catequista agora pensa: “... agora o meu trabalho será reconhecido e valorizado”, ou seja, chamar o serviço de catequese como Ministério é um ato de valorização da catequese e, consequentemente, para o catequista isso é muito bom.O serviço à catequese, que cada um desempenha, não muda, necessariamente. Mas, como já disse, a Instituição do Ministério do Catequista é uma grande valorização à missão do catequista – neste sentido – vai mudar o “SER” catequista, que terá de imprimir, por força da missão, um caráter de compromisso e responsa12 Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

bilidade ministerial, não será entendido mais como aquele simples serviço que se presta à paróquia. No documento, o Papa deixa sobre a responsabilidade das Conferências Episcopais elaborar os critérios e estudos necessários para que o catequista receba uma boa preparação para este ministério, então isso muda, ou seja, será preciso ser bem formado para ser catequista. Um outro documento da CNBB, o Estudo 95 (2006, 70), diz que a instituição do ministério do catequista não é um acontecimento ordinário, mas, extraordinário, especial, como são as instituições diaconais e dos ministros extraordinários da comunhão eucarística. Logo, as “mudanças” que acontecerão são no sentido de se instituir o ministério como forma de buscar uma maior responsabilidade com relação ao serviço como catequista; dedicação e tempo à catequese; formação integral e, com certeza, um exercício vocacional a esta importante missão na Igreja. Revista PRIMAZ - Com o olhar voltado para aqueles que são chamados a educar na fé, quais


são as condições indispensáveis para que os catequistas possam desempenhar a missão no mundo? PADRE JOSÉ CARLOS: É importante pensar que a Igreja é, por natureza, essencialmente missionária. Com isso, todo cristão batizado participa do múnus da Igreja, obedecendo o mandato do próprio Senhor, que diz: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão é o elemento estruturante da identidade e da atividade da Igreja, por isso, “fidelidade ao passado e responsabilidade pelo presente” são as condições indispensáveis para que a Igreja possa desempenhar a sua missão no mundo.Quanto aos catequistas, João Paulo II, na Redemptoris Missio, diz que: “Entre os leigos que se tornam evangelizadores, contam-se, em primeiro lugar, os catequistas. O decreto missionário define-os como sendo ‘aquele exército tão benemérito da obra das missões entre os pagãos (...) que, penetrados de espírito apostólico, prestam, com seus relevantes serviços, um singular e indispensável auxílio à causa da dilatação da fé e da igreja” (João Paulo II. Encíclica Redemptoris Missio sobre a validade permanente do mandato missionário. São Paulo: Paulinas, 1991, n. 73). O Papa, no Motu Proprio, diz: “Os catequistas devem ser homens e mulheres “de fé profunda e maturidade humana”; devem participar ativamente da vida da comunidade cristã; devem ser capazes de “acolhimento, generosidade e uma vida de comunhão fraterna”; devem ser formados do ponto de vista bíblico, teológico, pastoral e pedagógico; devem ter amadurecido a prévia experiência da catequese; devem colaborar fielmente com os presbíteros e diáconos e “ser animados por um verdadeiro entusiasmo apostólico”. Revista PRIMAZ - O Papa Francisco enfatiza a importância de um encontro autêntico com as gerações mais jovens. Na Arquidiocese de Salvador, no que tange à catequese, como o senhor avalia esse encontro? PADRE JOSÉ CARLOS: É muito interessante a questão, pois, na Exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, Christus Vivit, ele nos levar a enxergar a necessidade, quando diz: “O olhar atento de quem foi chamado a ser pai, pastor ou guia dos jovens consiste em encontrar a pequena chama que continua a arder, a cana que parece quebrar-se (cf. Is 42, 3), mas ainda não quebrou. É a capacidade de encontrar caminhos onde outros só veem muros, é a habilidade de reconhecer possibilidades onde outros só veem perigos. Assim é o olhar de Deus Pai, capaz de valorizar e nutrir as sementes de bem semeadas no coração dos jovens. Por isso, o coração de cada jovem deve ser considerado “terra sagrada”, portador de sementes de

vida divina, diante de quem devemos “tirar as sandálias” para poder nos aproximar e penetrar no Mistério”. (Francisco.Exortação Apostólica pós-sinodal Christus Vivit para os jovens e para todo o povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2019, n. 67).Neste contexto, considerando as urgências pastorais e os desafios na nova evangelização, a própria catequese realiza os encontros integrando movimentos, pastorais ou outros serviços da Igreja que tenham vivência de fé, oferecendo uma dinâmica atraente com a prática da Leitura Orante da Palavra, possibilitando, de maneira progressiva, uma experiência com Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Os encontros, na sua própria dinâmica, têm que favorecer uma experiência com o Mistério. Revista PRIMAZ - Na Sé Primacial da Igreja no Brasil, de que forma os catequistas e as catequistas são preparados para o desenvolvimento desta missão? PADRE JOSÉ CARLOS: Primeiro: tendo claro que este serviço na Igreja é uma vocação, como nos diz o Papa Francisco: “Ser catequista, esta é a vocação, não ‘trabalhar’ como catequista; (...) esta forma de serviço que se realiza na comunidade cristã deve ser reconhecida como um verdadeiro e genuíno ministério da Igreja”. Segundo: entender que o catequista é testemunha da fé, mestre e mistagogo, ou seja, é aquele que transmite um ensinamento por meio da mística; na prática, ensina a rezar, rezando, que instrui em nome da Igreja.Terceiro: deve conhecer e estudar os principais Documentos da Igreja destinados à práxis catequética, indispensáveis para a fidelidade à mensagem de Cristo e à Doutrina da Igreja, onde a própria Igreja aborda a catequese como missão primordial, tendo por base o espírito de Cristo e do Evangelho. Na sua atividade, a catequese deverá ser considerada permanentemente partícipe das urgências e das ânsias próprias do mandato missionário para o nosso tempo, em vista de uma catequese que parte do mistério de Cristo, fundamento da nossa fé e fonte da nossa vida. Por isso, o catequista é “Palavra”, “Memória” e “Testemunho”. Revista PRIMAZ - De que maneira a catequese é uma maneira de ajudar na transformação da sociedade, por meio da transmissão dos valores cristãos? PADRE JOSÉ CARLOS: Esta pergunta, de certa maneira, também se encaixa na resposta acima. Respondendo de forma mais ampla, todo batizado é “Palavra” – kerigma, anúncio, evangelização – é “Memória” – celebração, vida, ação, mandamento – é “Testemunho” – martírio, entrega, oblação, vida renovada, transformada. E o evangelho de São Mateus é profundo quando diz: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13). Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Foto: Cathopic

Vocação

Caminhada Vocacional Acompanhamento desenvolvido pela Coordenação Arquidiocesana de Animação Vocacional ajuda jovens e adultos a perceberem a vontade de Deus. nimar a caminhada vocacional, ajudando no discernimento de jovens e adultos, não é uma tarefa fácil, mas é uma missão possível e carregada de amor. É com este olhar que a Coordenação Arquidiocesana de Animação Vocacional (CAAV) prepara e desenvolve as ações no território da Igreja Particular de São Salvador da Bahia. “O CAAV tem se reestruturado enquanto núcleo de reflexão e de articulação do Serviço de Animação Vocacional (SAAV). Então, estamos tentando articular membros das pastorais, dos serviços e das outras áreas vocacionais da Igreja, para que possam fazer parte deste serviço”, destaca o coordenador da CAAV, padre Alberto Montealegre Vieira Neves. Para que esta articulação seja possível, o CAAV está

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dando passos concretos ao lado da Conferência dos Religiosos da Bahia (CRB), da Pastoral Catequética, da Pastoral Familiar, das Escolas Católicas, da Vida Consagrada Secular e do Setor Juventude. “Temos feito essas articulações justamente para poder ver, principalmente, como podemos fazer uma animação vocacional na Arquidiocese dentro dessas pastorais e serviços. O nosso desafio primeiro para o ano de 2022 é a formação de grupos vocacionais nas paróquias e nas foranias tentando formar orientadores vocacionais que realizem acompanhamentos. Temos, também, planejamento para encontros vocacionais, de modo muito mais amplo, com um itinerário vocacional, no qual vamos tratar, sobretudo, de formar o jovem para que ele possa discernir a sua vocação dentro da Igreja”, afirma.


A respeito desta formação voltada para a juventude, público principal do Serviço de Animação Vocacional, serão trabalhados três pilares: da formação humano-afetivo, ou seja, a humanidade vocacional, a partir de retiros e encontros para que o participante possa perceber, na própria vida, os sinais de Deus; da eclesialidade, que visa desenvolver questões como “qual é a visão de Igreja que eu tenho”, “o que é a Igreja de Cristo?”, “onde eu me encontro nela?”, “qual é o meu papel dentro da Igreja?”; e da vocação. Cada um destes encontros contará com momentos de acompanhamento vocacional, conduzidos por animadores que poderão orientar os jovens individualmente. Para o seminarista e membro do CAAV, Túlio Rocha Pugas, um acompanhamento desenvolvido de modo personalizado é uma instância privilegiada no processo para identificar a própria vocação. “Por meio deste exercício de proximidade, torna-se possível o vislumbramento dos aspectos que ao longo da história de vida de uma pessoa ressoaram como verbalização do chamado divino. A Igreja Particular de Salvador tende a haurir operários para a formosa vinha do Senhor, mediante a escuta e a formação de todos os que trazem inscritos na alma o desejo de configurar a própria vontade ao querer de Deus”, afirma.

Animadores vocacionais Para que a missão de acompanhamento seja desenvolvida, o CAAV contará com homens e mulheres de fé, dispostos a animarem os pilares que serão trabalhados. “Nós estamos planejando entrar em contato com os vigários forâneos, para que os animadores vocacionais que estão já trabalhando no CAAV comecem a ter esse contato com os párocos, ou seja, para que os sacerdotes possam ver pessoas que tenham essa inclinação, mas também para aquelas que se sentem chamadas para esse serviço se coloquem à disposição”, explica o padre Alberto, acrescentando que esta formação será mensal, no formato híbrido: online e presencial, abordando toda a questão vocacional a partir dos documentos da Igreja, sobretudo o Christus Vivit.

É importante que o vocacionado dê sempre o primeiro passo na busca de uma pessoa que possa ajudá-lo no caminho de discernimento vocacional”, diz o padre Alberto.

Neste processo de discernimento, o jovem vai descobrindo que a vocação é sempre um mistério de Deus, incompreensível aos olhos humanos, que vai se revelando ao longo da caminhada. “Decidir-se por uma vocação específica significa rever e deixar muita coisa na própria vida. Aí tem questões familiares, de trabalho, da autonomia financeira, da liberdade como pessoa e também os projetos. O problema é que muitas vezes as pessoas querem ter certeza do chamado e essa certeza nós não vamos ter nunca. Deus não nos dá certeza, porque senão nós não viveríamos pela fé. Por isso que no itinerário vocacional é necessário preparar a humanidade, por isso a nossa proposta para os jovens que querem fazer esse itinerário vocacional”, diz o padre Alberto. Nesta caminhada, a oferta oblativa da própria existência a Deus é a rota sacratíssima de consolidação da mais plena realização pessoal. “Não existe nenhuma outra via cravejada de plenitude, de felicidade ou ornamentada do mais absoluto maravilhamento que não seja a do dom de si mesmo. A correspondência leal e perseverante ao convite sedimentado na voz divinal é o único penhor de um futuro verdadeiramente promissor. Numa sociedade marcada pela carência de testemunhos cristãos autênticos, quem se deixa inebriar pelos ditames que as alocuções do Mestre ocasionam, faz-se luzeiro da esperança, expressão da clemência do Eterno, aporte propagador da suave fragrância de Cristo, alvorecer do Reino Celeste, já aqui - nesta terra. Deste modo, atrevam-se a dizer sim, sem medo ou hesitações, Àquele que vos chama!”, destaca Túlio. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Foto: Fábio Silva

Principal

Vinho novo, odres novos Neste novo tempo, novos formatos garantem que a evangelização continue atingindo todo o Povo de Deus. compreensão de uma Igreja em saída, tão destacada pelo Papa Francisco, se fortalece a cada dia. Ir “para fora dos muros”, evangelizar, anunciar e deixar que o Reino de Deus seja ainda mais conhecido e amado é o que deseja e incentiva o Santo Padre, apesar de todas as dificuldades próprias da evangelização. Contudo, ninguém poderia imaginar que estas mesmas dificuldades seriam alargadas em um período longo de tempo, devido à pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. Desde que esta crise sanitária ganhou grandes proporções e o isolamento social passou a ser extremamente necessário, as atividades religiosas, como encontros, formações e até mesmo as missas, precisaram ser suspensas passando, em seguida, por um processo

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de readequação, com transmissões em tempo real pelas redes sociais, para que a Palavra de Deus e a Comunhão pudessem ser vivenciados por todos. Entre os milhares de fiéis que sofreram neste tempo desafiador estão os membros e os assistidos pela Obra Lumen de Evangelização. “Acho que a principal dificuldade da evangelização neste tempo da pandemia foi nos adaptarmos aos meios digitais. De certa forma, todos já utilizavam as redes sociais para a evangelização, mas sempre de uma maneira complementar. Com esta situação, nós nos tornamos dependentes desses meios para alcançar o povo, para alcançar o jovem, por exemplo. Tivemos que nos tornar muito mais competentes nessa parte e isso aconteceu em um período de tentativas e erros, sempre em busca de me-


lhorar as estruturas técnicas, bem como a organização do espaço para que a transmissão pudesse alcançar as pessoas nesse meio que é bom por um lado, por alcançar mais pessoas, garantir a acessibilidade; mas, por outro lado, manter as pessoas atentas a este ambiente digital se torna muito mais difícil”, afirma o coordenador da Obra Lumen em Salvador, Victor Rodrigues.

Neste tempo de pandemia, temos procurado cumprir a nossa missão evangelizadora, realizar as celebrações e dar assistência pastoral, observando as normas da saúde pública. As vacinas têm trazido esperança, mas a situação da pandemia no Brasil continua a exigir bastante cuidado. É preciso observar, em cada município, as medidas estabelecidas para preservar a vida e a saúde

escreveu o Cardeal Dom Sergio da Rocha em carta enviada ao clero da Arquidiocese de Salvador, em 15 de julho de 2021. Se, para quem já estava à frente de um movimento, grupo, pastoral ou novas comunidades,as dificuldades para garantir que a evangelização aconteceria foram imensas, imagine para quem assumia coordenações no momento em que o isolamento social passou a fazer parte da rotina. “Assumimos a coordenação da Pastoral Familiar em janeiro de 2020 cheios de sonhos e planos, com a expectativa de realizar diversas atividades. Como Comissão Arquidiocesana, programamos reuniões com os vigários e coordenadores de cada forania para, assim, nos aproximarmos dos membros desta pastoral nas paróquias. Em março veio a pandemia, paralisando as atividades, fechando os nossos templos

e deixando-nos ausentes da Eucaristia e dos encontros com os irmãos”, lamenta Rita de Cássia Galvão que, junto com o esposo Carlos Antônio Galvão, coordena a Pastoral Familiar na Arquidiocese de Salvador. De fato, para que a evangelização aconteça se faz necessário encurtar as distâncias e fortalecer os laços. “O cuidado com a preservação da vida prevaleceu para que tomássemos a decisão do afastamento social parcial ou total. E, com isso, fez-se necessário descobrir novas formas de encontrar as pessoas e anunciar o Evangelho. Os mais diversos meios de comunicação e, sobretudo, as redes sociais foram de extrema importância nesse processo: lives, reuniões online, programas de rádio e de TV, todos cumpriram bem a função de aproximar quem estava distante. Além disso, diversas iniciativas no campo social também surgiram, potencializando a solidariedade nas comunidades mais afetadas pela pandemia no âmbito sanitário e econômico”, afirma o coordenador do Conselho Missionário Diocesano (COMIDI), padre Diego Jesus dos Santos.

A criatividade suscitada pelo Espírito Santo mostra quepodemos encontrar novos meios para a evangelização, ocupando espaços que antes eram desconsiderados ou desvalorizados, mas que também podem trazer potência e mais colorido à ação evangelizadora das nossas comunidades eclesiais.

diz padre Diego. No mesmo barco Em uma das muitas vezes nas quais o Papa Francisco se referiu ao momento da pandemia, o pontífice destacou a fragilidade da vida humana. “Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Foto: Fábio Silva

Arcebispo e bispos auxiliares também aceitaram o desafio desta nova evangelização. 18 Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022


todos carecidos de mútuo encorajamento. [...] nós nos apercebemos de que não podemos continuar a estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos” (homilia do dia 27 de março de 2020). Essa estrada, cujos passos devem ser dados um após o outro, mas todos juntos, já era ser observada e foi destacada na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizado em Aparecida, São Paulo, em 2007. Na ocasião, os pastores reunidos desejaram e passaram a empreender esforços para que fosse possível estimular a ação evangelizadora da Igreja, a partir de todas as forças vivas que, com Cristo, formam um só Corpo. Diante de tantos desafios e da necessidade de adequações para que ninguém ficasse longe das celebrações, a Pastoral da Comunicação foi grande aliada. Presente em mais de 70 das 101 paróquias que compõem a Arquidiocese de Salvador, a Pascom se organizou internamente e, independente dos recursos tecnológicos disponíveis, arregaçou as mangas. “A pandemia e a paralisação de atividades, mesmo que de forma parcial, foram desafiadoras para mantermos o anúncio do evangelho na paróquia. Com as atividades paradas e as restrições quanto ao acesso dos fiéis às missas presenciais, fomos em busca de alternativas para levar os acontecimentos da Igreja, de modo especial as missas para todos os paroquianos. Alguns não tinham nem habilidade para utilizar estes meios, mas, aos poucos, com o auxílio de familiares e de membros da paróquia, foram se habituando”, destaca Isaías Nery, coordenador da Pascom na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, em Salvador.

Com fé e persistência continuamos na perseverança de levar a boa notícia de Cristo em meio a uma onda trágica que nos tortura, como a pandemia. Mesmo com todas as dificuldades, Deus nos pede para evangelizarmos com sabedoria, a partir das ferramentas que temos ao nosso alcance. Assim, eu posso dizer que a internet foi uma terra fértil e, com a semente jogada, nos proporcionou chegar mais perto dos nossos irmãos com conteúdos de evangelização.

afirma Isaías. Foto: Sara Gomes

Com o número limitado de fiéis, aos poucos, encontros voltam a ser realizados na Sé Primacial

De acordo com o padre Diego, os momentos de crise são importantíssimos para que caminhos de superação sejam encontrados e, assim, as dificuldades possam ser superadas. “Nos momentos de crise encontramos novos caminhos de superação das dificuldades que se apresentam e, com isso, aprendemos e

crescemos ainda mais. Nesta pandemia, que ainda estamos enfrentando, não está sendo diferente. Especificamente, na missão compreendemos que nada pode impedir a Igreja de realizar o mandato de Jesus a seus discípulos: ‘Ide pelo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura’”, diz. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Refletindo com o Clero

Dom Murilo S. R. Krieger, scj Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

As perguntas de Jesus Perguntar para aprender o Antigo Testamento, os judeus tinham um sonho: o de ir, sempre que possível, ou, ao menos por ocasião das grandes festas, ao Templo de Jerusalém, para ali participar das celebrações religiosas. A própria viagem fazia parte desse importante momento de oração: os peregrinos caminhavam rezando Salmos – os chamados Salmos de Subida, ou das Romarias (120-134) -, proclamando: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do SENHOR” (Sl 122/121,1). Foi com essa alegria que, quando Jesus tinha doze anos, a sagrada Família de Nazaré peregrinou a Jerusalém. O evangelista Lucas observou: “Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). Dessa vez, porém, tiveram uma surpresa: terminada a festa, Maria e José, ao voltarem para casa, não perceberam que Jesus havia ficado na cidade santa. Depois de uma longa busca – três dias! -, o encontraram no Templo, sentado entre os mestres da Lei, “ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas” (Lc 2,46). É a primeira vez que os Evangelhos se referem a palavras de Jesus, e o evangelista Lucas destaca que ele estava fazendo perguntas. Não sabemos quais foram feitas aos mestres que ensinavam a Palavra de Deus no Templo. O que sabemos é que, tendo sido encontrado, sua Mãe indagou: “Filho, por que agiste assim conosco?” (Lc 2,48). Ele lhe respondeu com outra pergunta: “Por que procuráveis?” E, em seguida: “Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2,49). É possível que, para Maria e José, essa maneira de ser de Jesus não tenha causado estranheza, pois já deviam estar acostumados com suas perguntas. O povo, por sua vez, começou a se acostumar com esse seu jeito mais tarde, já no início de sua pregação. Foi o que aconteceu quando, um dia, João Batista estava com dois de seus discípulos. Ao ver Jesus passar, o Precursor o apontou, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus!” (Jo 1,35). A conclusão dos dois discípulos foi lógica: se esse é o “Cordeiro de Deus”, o Cristo, o Messias, o Ungido, aquele de quem João Batista havia afirmado

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ser tão importante que elepróprio não era digno nem de desatar a correia de sua sandália, só havia uma decisão a tomar: segui-lo. Então, “Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais?” (Jo 1,38).

Perguntar para inquietar Perguntar é uma forma de se aprender o que não se sabe. Quantos “por quês?” faz uma criança? É assim que ela aprende, se situa, conhece o mundo e as pessoas. Fazer indagações é “uma arte mais de mestres do que de discípulos. É preciso já ter aprendido muitas coisas para saber perguntar aquilo que não se sabe” (Rousseau). Perguntar é também uma forma de obrigar o outro a pensar e a se posicionar. A pergunta de Jesus aos dois discípulos de João Batista tinha essa finalidade. Mas, como as demais que fez ao longo de sua vida, elas atravessam o tempo e o espaço, pois são para seus discípulos de todos os tempos e lugares – para nós, inclusive! Jesus quer continuar a inquietar quem dele se aproxima; quer que também seus novos discípulos saiam de uma vida superficial e incolor; em vista disso, apresenta-lhes novos e amplos horizontes. As perguntas de Jesus nos obrigam a olharmos para nós próprios; por isso, não é possível ficar indiferentes diante delas.

“Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, não o fará muito mais a vós, fracos na fé?” (Mt 6,30).


A quem vivia preocupado com coisas superficiais, ele perguntou: “Por que ficar preocupado quanto ao vestuário?” (Mt 6,28). E esclareceu: “Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está ai e amanhã é lançada ao forno, não o fará muito mais a vós, fracos na fé?” (Mt 6,30). Diante de quem criticava os erros dos outros, ele indagou: “Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Mt 7,3). Aos apóstolos, que navegavam no Lago de Genesaré e que, assustados com a tempestade que parecia afundar o barco, acordaram Jesus (“Senhor, salva-nos, estamos perecendo!” – Mt 8,25), Jesus perguntou: “Por que tendes medo, fracos na fé?” (Mt 8,26). Em outra ocasião, diante de uma multidão faminta, o Mestre lhes perguntou: “Quantos pães tendes?” (Mt 15,34). No Horto das Oliveiras, a Pedro que não conseguia ficar vigilante a seu lado, interrogou: “Simão, estás dormindo?” (Mc 14,37). A esse mesmo Pedro, após sua ressurreição, Jesus questionou: “Simão, filho de João, tu me amas mais do estes?” A resposta de Pedro foi tão clara que ele se surpreendeu com a nova pergunta: “Simão, filho de João, tu me amas?” Talvez já um pouco impaciente, Pedro lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. A terceira pergunta, nessa mesma linha – “Simão, filho de João, tu me amas?” – desmontou Pedro, que “ficou triste”. Nunca mais Pedro se esqueceria tanto de sua própria infidelidade – ele havia negado o

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Mt 7,3).

Mestre por três vezes – como do coração misericordioso de Jesus, que o confirmara no seu papel de chefe dos apóstolos (cf. Jo 21,15-19). Um levantamento das perguntas que Jesus fez nos faz conhecer 217 delas diferentes, registradas pelos evangelistas. Quantas outras ele deve ter feito nos muitos encontros e desencontros com o povo! (Da parte do povo, ele ouviu bem menos : 141). Hoje, voltando-se para nós, ele nos pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,13). Atenção: responder-lhe é comprometer-se. Se tivermos um coração de discípulo, acabaremos fazendo o que fizeram aqueles dois discípulos de João Batista, que seguiram Jesus, “viram onde morava, e permaneceram com ele” (Jo 1,39). Então, será a nossa vez de lhe multiplicar perguntas...

Foto: Cathopic

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Foto: Sara Gomes

Curiosidades

Você sabe o que é a Cátedra? A “cadeira do bispo” recorda a missão do pastor junto ao Povo de Deus o chegar à Catedral Basílica do Santíssimo Salvador, no Centro Histórico da capital baiana, o coração começa a bater ainda mais forte. Cada detalhe deste templo chama logo a atenção e, para onde quer que se olhe, para além do encantamento, sempre surgem perguntas curiosas, como, por exemplo, qual é o significado da cadeira na qual o Arcebispo preside a Santa Missa? Para quem não sabe, esta cadeira possui o nome de Cátedra e representa o poder do Bispo (no caso da Arquidiocese de Salvador, do Arcebispo) de ensinar e governar os fiéis desta Igreja Particular. A palavra Cátedra vem do grego (Kathe – no alto – e hedra – assento) e recorda a missão do pastor para com o rebanho que a ele foi confiado. Por ocasião da festa da Cátedra de São Pedro, o Papa Emérito Bento XVI explicou o simbolismo:

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“‘Cátedra’ significa, literalmente, a sede estabelecida do Bispo, colocada na igreja-mãe de uma diocese, que, por essa razão, é conhecida como ‘catedral’; é o símbolo da autoridade do Bispo e, em particular, do seu magistério, ou seja, o ensinamento evangélico que, como sucessor dos apóstolos, é chamado para salvaguardar e transmitir à comunidade cristã. Quando um Bispo toma posse da Igreja Particular que lhe foi confiada, usando sua mitra e segurando o cajado pastoral, ele se senta na cátedra. Deste lugar, como professor e pastor, ele guiará o caminho dos fiéis na fé, esperança e caridade”, disse. A Cátedra que está na Catedral Basílica, em Salvador, foi uma oferta do clero ao então Arcebispo de Salvador Dom Jerônimo Tomé da Silva, que governou a Sé Primacial da Igreja no Brasil de 1893 a 1924, como reconhecimento do pastoreio.


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Foto: Sara Gomes

umdia.com

Irmã Violeta Ternura e determinação fazem parte da vida de quem decide largar tudo pelo TUDO!’ andálias nos pés, vestido e véu... e lá vai a Irmã Violeta buscar fazer sempre a vontade de Deus. O olhar atento, as palavras firmes e, ao mesmo tempo, pronunciadas com ternura são próprios desta senhora de 58 anos que decidiu entregar a vida por completo para cuidar dos que mais sofrem. E não são poucos os que batem, diariamente, à porta da Irmã Violeta em busca de alimentos e de um lugar onde possam, ao menos, descansar. Se eles encontram? Não tenha dúvidas! A casa e o coração dela estão abertos para acolher quem quer que seja, de onde quer que venha. Mas, se você não a conhece, deve estar se perguntando: quem é a Irmã Violeta? – esta foi a primeira pergunta feita para ela no dia entrevista. Com simplicidade, eis a resposta: “Eu não gosto muito de definições. Eu diria que a Irmã Violeta é uma mulher apaixonada por Deus, pela vida, pelos irmãos e que procura derramar esse amor que recebe de Jesus”, disse. O amor pelos sofredores sempre brotou do coração da Irmã Violeta, que também é conhecida como a nova Irmã Dulce. A casa onde acolhe homens, mulheres e crianças – chamada de Casa do Encontro e Oração - está localizada em uma das ruas próximas à Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, na Cidade Baixa, em Salvador. Na região, não há uma pessoa sequer que não a conheça e que não demonstre por ela carinho e respeito, o que faz com que se torne ainda mais fácil localizá-la. No dia marcado para o bate-papo, muita chuva caía sobre Salvador, e a casa, como sempre, nas primeiras horas

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da manhã já estava com o portão aberto. Logo na entrada, quem chega se depara com um espaço para rezar. Ao lado, mesas e bancos ocupam o lugar onde seria uma garagem. É ali que, cuidadosamente, pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade social podem se alimentar e receber palavras de carinho e de ânimo. Para a Irmã Violeta, cada um que chega é tratado como se fosse o próprio filho.

Tocar o Corpo de Cristo A conversa agradável com a Irmã Violeta precisou ser interrompida algumas vezes, já que o momento também estava sendo dividido com quem chegava. Durante a pandemia, a casa passou a acolher os homens pela manhã e as mulheres à tarde. Embora as conversas pudessem ser escutadas;muitas vezes, apenas o barulho da chuva era ouvido. Talvez a vida da gente seja assim: como um breve barulho ou como uma chuva passageira. De volta à conversa, Irmã Violeta conta um pouco da vida pessoal. “Eu só tive um namorado, que foi o meu marido. Foram três anos de namoro, dois de noivado e casei dentro de uma Missa, às 18h, na hora da Ave Maria, no Colégio que eu tinha estudado, nas Mercês. Passei sete anos casada, mas não era essa a minha vocação, não era o que Deus sonhava para mim. Então, Deus foi me conduzindo por outros caminhos”, relata. Deste matrimônio, nasceu um menino que, hoje, aos 32 anos, ajuda as pessoas, a partir da profissão escolhida: medicina.


Foto: Sara Gomes

por aquela porta é desafiada a viver este amor. Aqui nós não cadastramos ninguém, porque nenhum deles é assistido, não exigimos documentos e nem queremos saber o que eles já fizeram de errado no passado. As portas ficam abertas, tanto para entrar com o desejo de viver esse desafio, quanto para sair, já que alguns não estão dispostos a viver este amor”, afirma.

Amor 24k A Casa do Encontro e Oração é o local onde os filhos de Deus mais vulneráveis podem descansar

Após a separação, Irmã Violeta, que se chama Violeta Schindler,começou a perceber sinais ainda mais concretos do amor de Deus. “Ele começou a mandar para a minha porta as pessoas com fome, precisando de roupa... Aí eu digo que não foi um projeto: foi o Senhor que foi abrindo caminhos. As pessoas pediam roupas e eu comecei a dar as minhas, e começou a surgir uma necessidade de uma coerência com o que estava acontecendo dentro de mim. Eu não estava mais preocupada com roupa, em me enfeitar. Eu sentia um encantamento no mundo”, conta. Nesta etapa da vida, ainda sem compreender o que Deus estava exigindo, Irmã Violeta passou a contar com a direção espiritual de um sacerdote italiano, que a ajudou nesta caminhada intensa, na qual consegue “tocar o corpo do próprio Cristo”, como ela mesma diz. Atualmente, todos os dias, cerca de 150 pessoas tomam café da manhã na casa da Irmã Violeta. Com a pandemia e com o aumento no número de pessoas em situação de vulnerabilidade social, foi necessário alugar outra casa para acolher mais pessoas, que chegam, se alimentam e seguem em busca da sobrevivência. “Eles retornam às 10h45 para um momento de oração, almoçam e saem novamente. Já às segundas e quartas-feiras as mulheres também vêm para cá, à tarde, para a oração, o lanche e o artesanato, que está suspenso por causa da pandemia. Nós partilhamos com elas o que nós temos, dependendo do que recebemos”, diz. As ajudas recebidas para manter a Casa do Encontro e Oração são enviadas por homens e mulheres que também sentem a dor do próximo. “Eu digo sempre que aqui é a casa da provocação. Muitos lugares dão comida, mas aqui o desafio é o de viver este amor louco, que é o de Jesus: um amor que não julga, que não condena; um amor que nos desconcerta. Cada pessoa que passa

Quando se aproxima o horário em que cada um precisa sair da casa para ir em busca de trabalho, muito se escuta: “bênça, mainha”. E a Irmã responde a um por um: “Deus te abençoe”. “Eu acho que eles pensam que nada de mau pode acontecer com eles, porque a mãe deles deu a bênção. Eles sentem que são meus filhos e eu vejo tanta beleza, tanta bondade no coração deles todos”, diz a Irmã. O fato de perceber o amor de Deus em cada ser humano também faz com que cada um dos acolhidos diariamente tenha certeza da filiação que possuem, afinal todos, sem exceção, são filhos de Deus. “Eu não quero passar pela vida amando pouco, amando quem merece, amando quem é bom. Eu quero amar a todos. Por causa de Jesus eu decidi amar cada pessoa, procurando ver um filho de Deus. Muita gente acha um absurdo o que eu vivo, quando sabem que eu cuido de pessoas que o mundo diz que não prestam. Eu já perdi muitos filhos que foram mortos pela polícia, que morreram de overdose, por traficantes... eu não passo a mão pelo erro, mas eu amo a pessoa”, testemunha a Irmã Violeta. Embora seja conhecida de Irmã, Violeta não pertence a nenhuma Congregação religiosa, mas vive os carismas passionista e franciscano. As roupas que ela utiliza também têm uma explicação: “Eu sinto a presença de São Francisco de Assis, de Santa Clara, de São Paulo da Cruz e de Santa Gemma. Sinto-me filha espiritual deles e a roupa que eu uso me ajuda a viver essa ligação. O cinza é o carisma franciscano; o preto é o carisma passionista. O véu não é de freira, mas é o manto da minha Senhora, a Virgem das Dores. Peço a Deus que quando eu estiver morrendo, que dê tempo de eu puxar o véu e dizer ‘Mãe, muito obrigada por ter me emprestado o véu que a senhora usou naquela Sexta-feira Santa. Eu procurei usar com a maior dignidade possível; eu procurei acolher os seus filhos da melhor maneira, fazendo deles os meus filhos também’”, diz emocionada.

A história da vida e da total entrega que a Irmã Violeta fez a Deus mereceriam muitas páginas, que não caberiam nesta revista. Mas, se você ficou interessado em conhecer a Casa do Encontro e da Oração, ou deseja fazer uma experiência de fé a partir da ajuda ao próximo, o telefone de contato é (71) 3316-1421. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Fotos: Sara Gomes

Nossa Igrejas

Há 30 anos, sob o manto da Virgem Maria, Igreja caminha firme m dos mais antigos bairros do Subúrbio Ferroviário de Salvador, Plataforma é cercado pela orla marítima da Baía de Todos os Santos, e possui este nome por causa de uma balsa, cujo formato era de uma plataforma flutuante, que permitia a travessia das pessoas do local à Ribeira, na Península Itapagipana. Situado às margens da Avenida Suburbana, uma das principais de Salvador, o bairro guarda parte da história desta que foi a primeira capital do Brasil. Para se ter ideia, no século XIX, foi nesta região que o padre Antônio Vieira, jesuíta, pronunciou o primeiro sermão público a favor dos escravos. Também não há como esquecer que o bairro foi a porta de entrada dos holandeses, em 1638; e que episódios da luta pela Independência do Brasil na Bahia aconteceram em Plataforma, no ano de 1823. Se este é um bairro que guarda muita história, é também nele que está um povo marcado pela fé. Na Rua Alto do Bariri, a Matriz da Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja fortalece a certeza de que a Virgem Maria está com os braços abertos, acolhendo todos os que a procuram. “Neste bairro existem quatro paróquias, todas filhas da Paróquia São Brás. Para melhorar o território paroquial, o então pároco, padre Gaspar Kuster, trabalhou para que ela fosse desmembrada, criando, assim, as paróquias Nossa Senhora Mãe da Igreja, Jesus Cristo Ressuscitado e Santa Teresinha Doutora da Igreja”, conta o padre Hermano Conceição de Jesus. Após o desmembramento, em 27 de outubro de

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1991, portanto há 30 anos, a Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja deu início à caminhada. Formada por seis comunidades (Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Senhora de Lourdes, Jesus, o Pão da Vida, Imaculado Coração de Maria e Matriz), territorialmente, esta paróquia também se estende para o bairro de Itacaranha. “O primeiro pároco foi o padre Gaspar, depois foi o padre Frederico, padre Joelson e eu sou o quarto pároco nesses 30 anos. A vida da nossa comunidade é muito dinâmica, todos se envolvem no trabalho pastoral. Graças a Deus, eu conto com a ajuda de todos”, afirma o padre Hermano.

A missão Mesmo antes de ser paróquia, os fiéis que participavam da comunidade já sabiam muito bem o que era uma vida missionária: encontros, momentos de oração, círculos bíblicos nas casas e outras atividades religiosas sempre fizeram parte da caminhada. “No início, tudo era bem simples. Ao lado da nossa matriz havia uma escola chamada padre Gaspar Kuster, para as crianças do Ensino Fundamental. Vendo a necessidade do povo, o padre Gaspar foi se empenhando ainda mais e a Paróquia começou a crescer através de mutirões e de muitas lutas”, recorda a paroquiana Maria de Lurdes Santos dos Santos, conhecida como Lurdinha. A missão do padre Gaspar e dos paroquianos ganhou


desafios, entre eles o aumento da violência. “A violência tem atrapalhado muita coisa, porque muita gente tem medo de vir à noite, por causa dos tiroteios; e essa violência se estende em todo o território da Paróquia. Além disso, mesmo eu sendo jovem e tendo uma participação de adolescentes e jovens nas atividades, ainda há um desafio muito grande para que o jovem venha se inserir na comunidade. Esse é um grande desafio: tentar resgatá-los”, afirma o padre.

Símbolo de fé

A religiosa que aparece debaixo do manto de Nossa Senhora representa a Congregação das Irmãs da Congregação do Santíssimo Sacramento (Sacramentinas).

ainda mais força com a dedicação das Irmãs da Congregação do Santíssimo Sacramento (Sacramentinas). “Elas chegaram em 1981, portanto há 40 anos, ainda quando éramos da Paróquia São Brás. Me lembro bem, em um dia de sábado, eu estava com as crianças da catequese e o padre Gaspar chegou e disse ‘essas são as Irmãs Sacramentinas e vão trabalhar aqui conosco’”, conta Lurdinha, destacando que a pedra fundamental da Igreja foi colocada pelo então Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Lucas Moreira Neves. E são as Irmãs as responsáveis por registrar e catalogar em álbuns todos os acontecimentos. Quem chega à Igreja e deseja conhecer melhor a história, pode procurá-las e pedir para ver os inúmeros álbuns, todos bem organizados, com fotos e a descrição de cada uma das imagens. “Nós sempre atuamos nas diversas pastorais, com os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, com a catequese, realizamos visitas às famílias e encontros de Círculos Bíblicos”, conta a Irmã Mônica da Cruz. Entre as pastorais e os movimentos, fazem parte da paróquia a Pastoral Familiar, a Pastoral da Criança, a Pastoral Catequética, a Pastoral Litúrgica, a Pastoral da Comunicação. “Além disso, nós temos trabalhos sociais, com artesanato e um grupo de relaxamento, que vem toda semana. Temos, também, um trabalho desenvolvido, em Itacaranha, com crianças e adolescentes que aprendem Jiujitsu. Aqui a Pastoral da Criança tem uma casa para o desenvolvimento das ações dela, localizada nas Pedrinhas”, conta o padre Hermano. A comunidade paroquial também enfrenta muitos

Em um dos altares laterais, na Matriz, está a imagem da padroeira, moldada em argila e fundida em resina pelo artista pernambucano Diego Andrade. O símbolo de fé e de devoção destaca a Virgem Maria, que está no céu, sobre as nuvens, diante de Deus, e também está com o povo e com a Igreja, protegendo a todos debaixo do divino manto, que cobre a figura de São João Paulo II, então Papa na época da fundação da Paróquia, um bispo e de um padre representando a hierarquia da Igreja, uma religiosa da Congregação das Irmãs do Santíssimo Sacramento – Sacramentinas, representando todos os religiosos e homenageando a congregação presente na paróquia desde sua fundação. Um homem e uma mulher representam todos os leigos da Igreja. A pintura, preciosa nos detalhes, segundo as cores próprias de cada personagem que a compõe, ficou a cargo de Jorge Miguel Carnaúba, um artista alagoano. A inspiração para a criação desta imagem veio do padre Hermano e do artista Jorge Miguel, a partir de um dos painéis do teto da Igreja de São Francisco, no Pelourinho, onde Nossa Senhora está acima dos frades franciscanos protegendo-os, e também de uma das imagens antigas que já era destaque no templo.

“A vida da nossa comunidade é muito dinâmica, todos se envolvem no trabalho pastoral. Graças a Deus, eu conto com a ajuda de todos”, afirma o pároco, padre Hermano Conceição de Jesus. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Fotos: Pexels

Viver bem

Saúde mental na pandemia uidar da mente nunca foi tão necessário como nos últimos meses. A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus obrigou todos, sem exceção, a restrições, como, por exemplo, o isolamento social, sem abraços e sem visitas, durante uma quarentena que já dura bem mais do que os 40 dias, como o próprio nome sugere. Frente a esse cenário, a solidão levantou outra preocupação, que é a saúde mental de homens, mulheres, adultos, idosos, jovens e crianças. Em julho deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre os reflexos dos confinamentos impostos pela pandemia, bem como sobre as crises na saúde e na economia, afirmando que terão um impacto prolongado, no que diz respeito à saúde mental. Esta mesma questão já havia sido levantada em uma reunião com representantes da saúde de 53 países-membros da região europeia, realizada em Atenas, na Grécia. Para falar sobre este assunto, a equipe da Revista PRIMAZ entrevistou a psicóloga Larissa Medeiros, responsável técnica do Serviço de Psicologia das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Confira:

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Revista PRIMAZ - Quais são os principais danos psicológicos para a população neste tempo de pandemia? A piora na saúde mental devido à quarentena é real? LARISSA MEDEIROS - De acordo com a cartilha de Recomendações Gerais da Fiocruz, lançada no ano de 2020, e que trata sobre os impactos da pandemia no âmbito psicossocial, houve um aumento da incidência de transtornos psíquicos, estimando-se que um terço e metade da população exposta no período pandêmico encontra-se passível a apresentar alguma manifestação de ordem psicopatológica. Nesse sentido, essa piora é 28 Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

real e os assuntos que envolvem a saúde mental dos indivíduos diante do atual cenário ganharam visibilidade. Isso porque a atual conjuntura não permitiu uma preparação prévia, nem tampouco celeridade no desenvolvimento de estratégias de cuidados que ajudassem a atravessar o contexto, convocando o sujeito, de forma incisiva, a vivenciar a realidade. Como consequência, pode-se apontar como principais danos psicológicos ocasionados pela pandemia: estresse, ansiedade, insônia, medo, irritabilidade, perdas afetivas e econômicas, insegurança, tristeza, impotência, entre outros.


Revista PRIMAZ - Como as pessoas podem lidar com as frustrações e com a ansiedade ocasionadas pela pandemia? LARISSA MEDEIROS - Primeiramente, é importante reconhecer, acolher e respeitar as suas emoções. Aprender a gerenciá-las também é um dos passos importantes. O momento atual está sendo de repentinas e significativas mudanças, o que leva o ser humano a se deparar com suas próprias fragilidades e, com isso, exigindo o desenvolvimento de mecanismos funcionais e adaptativos para aprender a lidar com as transformações. Um outro passo fundamental é aceitar que você não vai conseguir dar conta de tudo e que é preciso respeitar as suas limitações. Assim, é importante valorizar o seu esforço na tentativa de organizar-se emocionalmente, procurando entender que, neste momento, você fez o que lhe é possível, sem cobranças excessivas.

Revista PRIMAZ - De que forma é possível e por onde começar a cuidar da saúde mental neste tempo de pandemia? LARISSA MEDEIROS - Antes de tudo, reconhecendo que você precisa desse cuidado, validando as emoções presentes. Os próximos passos são assumir que a sua saúde mental está comprometida, procurar um profissional capacitado, com escuta responsável e cuidadosa para te ajudar a trabalhar as suas necessidades. Reconhecer suas fragilidades não faz de você uma pessoa fraca, como muitos pensam, mas sim uma pessoa que está disposta a cuidar de algo subjetivo, que muitas vezes é desvalorizado e estigmatizado. Outra maneira de exercer esse cuidado é praticando atividades que lhe sejam prazerosas e construindo rotinas.

Revista PRIMAZ - Há alguma recomendação específica para as pessoas que moram sozinhas e ficaram ainda mais isoladas neste período? LARISSA MEDEIROS - As recomendações são muitas, porém, também é preciso respeitar a realidade de cada um, bem como a viabilidade das ações a serem adotadas. Uma das recomendações funcionais é o fortalecimento dos vínculos da rede de apoio e a manutenção dos contatos com aquelas pessoas que são importantes para o indivíduo, já que relações saudáveis podem ajudar no enfrentamento de situações adversas. Outra recomendação é a busca de realização de atividades prazerosas, a exemplo de músicas, danças, atividades físicas, meditação, relaxamento, exercícios de respiração, leituras, ou seja, investir no seu bem-estar. Buscar ajuda profissional, a fim de auxiliar nas questões emergentes que, no momento, podem estar contribuindo para sua instabilidade emocional, também é uma recomendação imprescindível.

Revista PRIMAZ - Quais são os primeiros sinais que podem identificar algum transtorno e de que maneira as pessoas devem estar atentas? LARISSA MEDEIROS - Na maioria das vezes, as mudanças no comportamento são sempre sinais. Alterações ou distúrbios no apetite e no sono, oscilações de humor, tristeza, agressividade, entre outros. É importante estar atento às implicações negativas dessas alterações, uma vez que elas podem comprometer a rotina do indivíduo. Qualquer alteração no comportamento merece relevância, isso porque não se pode ter certeza de quais serão os desdobramentos, nem tampouco assegurar que isso não vai acontecer. Logo, identificando qualquer comportamento não habitual, primeiramente procure ter consciência dessa mudança, depois, se julgar necessário, procure ajuda profissional. A família ou pessoas próximas também podem ter papéis significativos nessas observações, já que, sinalizando essas alterações, poderão estimular a busca do cuidado e validação desses sinais.

Revista PRIMAZ - A solidão pode impulsionar o aparecimento de transtornos antes não manifestados? LARISSA MEDEIROS - Sim. A solidão pode ser caracterizada por uma reação emocional de insatisfação que, normalmente, está ligada aos relacionamentos e a forma como você os vê. Esse sentimento é algo subjetivo e nem sempre está voltado ao tempo em que você se sente sozinho, mas sim à qualidade dos relacionamentos que você possui. Assim, conclui-se que a solidão não diz respeito à presença física de alguém, mas a quanto essa pessoa consegue se fazer presente, mesmo a distância. Portanto, dependendo da forma como você lida com essa solidão e vive a sua companhia, a mesma pode impulsionar ou não o surgimento da depressão, ansiedade ou outros transtornos até então não manifestados.

Revista PRIMAZ - Neste tempo, as famílias têm ficado cada vez mais próximas, convivendo no mesmo ambiente por mais tempo. Uma boa estrutura familiar pode ajudar a evitar o aparecimento de problemas relacionados à mente? LARISSA MEDEIROS - Uma boa estrutura familiar, uma rede de apoio ativa e fortalecida e a busca de boas convivências podem evitar problemas relacionados à mente, podendo, inclusive, ser utilizadas nas estratégias funcionais de enfrentamento de situações complexas. O fortalecimento dos laços e uma boa comunicação também são elementos cruciais para uma convivência saudável e harmônica. Portanto, cuidar do ambiente familiar pode também refletir no cuidado e na prevenção da sua saúde mental. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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Na maioria das vezes, as mudanças no comportamento são sempre sinais. Alterações ou distúrbios no apetite e no sono, oscilações de humor, tristeza, agressividade, entre outros. É importante estar atento às implicações negativas dessas alterações, uma vez que elas podem comprometer a rotina do indivíduo. Qualquer alteração no comportamento merece relevância, isso porque não se pode ter certeza de quais serão os desdobramentos, nem tampouco assegurar que isso não vai acontecer. Logo, identificando qualquer comportamento não habitual, primeiramente procure ter consciência dessa mudança, depois, se julgar necessário, procure ajuda profissional. A família ou pessoas próximas também podem ter papéis significativos nessas observações, já que, sinalizando essas alterações, poderão estimular a busca do cuidado e validação desses sinais.

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Fotos: Sara Gomes

Cultura

No coração de Salvador

Localizada no Centro da Cidade, Fundação Instituto Feminino da Bahia resgata a história do povo brasileiro

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ma senhora de quase 100 anos que tem muito para contar. Embora não tenha nem os cabelos alvos e nem a pele enrugada, esta gentil senhorinha permite que todos possam adentrar o espaço e conhecer o que ali está guardado: quadros, pinturas, esculturas e muitos outros objetos que, só de olhar, levam o visitante para outra época, algumas vezes distante; outras, nem tanto. Como as doces vovós, que guardam as melhores histórias para contá-las aos netos, sem dizer uma só palavra a Fundação Instituto Feminino da Bahia (FIFB), localizada no coração de Salvador, consegue resgatar momentos importantes não apenas para os soteropolitanos, mas para todos os baianos e brasileiros. Cada pequeno detalhe deste lugar foi construído a

partir da dedicação de Henriqueta Martins Catharino e do Monsenhor Flaviano Osório Pimentel que, movidos pela fé e pelo amor ao próximo, desejavam contribuir, de maneira concreta, para a melhoria da qualidade de vida de mulheres, e juntos, em 1923, deram os primeiros passos através da educação e da ação social. “Dona Henriqueta, uma mulher rica, abdicou de toda a fortuna para dedicar a vida a esta fundação. Ela se juntou com o Monsenhor Flaviano com o objetivo de poderem propiciar às mulheres melhores condições de vida”, conta a diretora executiva da FIFB, Cheryl Sobral. De fato, naquele ano, as mulheres começaram a contar com iniciativas que a valorizavam e permitiam que elas pudessem dar saltos cada vez mais altos na profissionalização. Em 5 de outubro de 1923, o sonho começaAno 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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ou melhor, raríssimas que estão no local. Uma delas é o crucifixo que a Sóror Joana Angélica de Jesus utilizava quando foi assassinada a golpes de machado, em 19 de fevereiro de 1822, na porta principal do Convento da Lapa, em Salvador, quando tentava defender, com a própria vida, a invasão dos soldados portugueses e a morte das demais religiosas. Ainda como parte do acervo, quem visita o Museu Henriqueta Martins Catharino pode conferir a saia e a cauda utilizadas Uma das coleções do Museu Henriqueta Martins Catharino é a de Arte Popular, com peças das mais diversas regiões do mundo. pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888, quando assinou a va a tomar forma e teve início a Casa São Vicente, com Lei Áurea, bem como trajes de baile, festas e passeios, sede na Praça Quinze de Novembro, Terreiro de Jesus, roupas de cama e mesa, além de acessórios femininos, onde passou a funcionar a “Obra de Proteção à Moça vestes eclesiásticas, a exemplo do solidéu do Papa Pio que Trabalha”. O espaço, que contava com uma biblio- X e paramentos utilizados pelo Papa João Paulo II, teca e com salas de leitura, abrigava, ainda, agências de hoje, São João Paulo II. trabalhos manuais e de empregos, além de pensionato Mas não para por aí! O prédio histórico guarda para moças e restaurante para senhoras e jovens. outros objetos, que ajudam a preservar a memória da Com o tempo, a missão e o compromisso só aumen- Bahia, disponíveis para visitação na coleção Arte Potavam, o que conferiu ao trabalho o reconhecimento e a pular, a primeira deste gênero no Estado, que também oficialização, pelo governo, em 21 de março de 1929, e contempla peças de outras partes do mundo. “Ela é a escola recebeu o título de Instituto Feminino da Bahia; composta por cerâmicas, ferro, cestaria, artesanatos e, em 27 de junho do mesmo ano, obteve a declaração de em geral, do Brasil e de outros países. Aqui cada peça utilidade pública estadual. “Nós passamos por três sedes, representa um lugar, uma cidade, um país. É uma coantes de chegar a esta. A primeira foi no Terreiro de Je- leção bem ampla, bem vasta”, conclui Cheryl. sus, a segunda foi na Piedade, a terceira foi nas Mercês e esta que estamos atualmente é no Politeama. Estamos aqui desde 1950, quando o Instituto passou a ser Fundação Instituto Feminino da Bahia”, diz Cheryl. Além dos cursos, que permitiram avanços de muitas moças no mercado de trabalho, a FIFB foi, também, guardando objetos históricos, o que possibilitou a criação do Museu Henriqueta Martins Catharino, em homenagem à fundadora, formado por três coleções: Traje e Têxtil, Arte Popular e Arte Decorativa. “Na Arte Decorativa nós temos mobiliários, cristais, pinturas, pratarias e inúmeras peças. Elas são dos séculos XVIII, XIX e XX e toda a coleção foi formada por doações de famílias baianas, mas também a partir de algumas viagens de dona Henriqueta”, contaCheryl. Essas doações de peças que Cheryl destaca vão das mais comuns, como mesas e cadeiras, às mais inimagináveis, a exemplo de joias feitas com cabelos. Pode parecer fúnebre para os dias atuais, mas, no século passado, as mulheres eram presenteadas com colares, brincos, pulRoupa usada por Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gaseiras e braceletes produzidos com os próprios cabelos, briela Gonzaga de Bragança e Bourbon quando foi investida como Princesa Regente do Império, em 7 de maio de 1871, e, posteriormente, ou de pessoas já falecidas. Estranho, mas curioso, né? quando assinou a Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888. Se essas peças são curiosas, imagine as peças raras, 32 Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022


Foto: UCSAL

Crucifixo utilizado pela madre Joana Angélica de Jesus, quando foi assassinada a golpes de machado, no Convento da Lapa, em Salvador, no dia 19 de fevereiro de 1822.

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Foto: Freepik

Fala aí!

“Qual o seu sonho para o ano de 2022?” Quando um novo ano inicia, é normal que cada pessoa externe os desejos e projetos para mais uma etapa da vida, colocando tudo, absolutamente tudo, nas mãos de Deus, para que seja realizada a vontade Dele. Como os planos são os mais variados possíveis, a equipe da revista Primaz quer saber o que os leigos almejam para 2022. Fala aí! “Meu sonho é que sejamos mais sensíveis e praticantes daquilo que Santa Teresa de Calcutá aconselhou: ‘Temos de ir à procura das pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade’. Vitórias para todos!”, Luana Paula, 31 anos, paroquiana da Paróquia São João Evangelista. “Meu sonho para 2022 é que seja cheio de esperança! Esperança fincada em Nosso Senhor, a fim de sermos mais santos, fraternos, solidários, principalmente se compadecendo com os mais necessitados e tendo em vista o anúncio do Evangelho a toda e qualquer pessoa e realidade”, Lucas Almeida, 22 anos, seminarista. “Sonhar é viver dois lados, conseguir ou não conseguir e, muitas vezes, não depende de nós. Tenho um sonho de fazer uma viagem à Terra Santa, mas depende da minha saúde e da situação da pandemia”, Aída Maria Andrade Leal, 69 anos, membro do Apostolado da Oração. “Brota em meu coração a esperança de um ano melhor; e todos aqueles sonhos que estão no papel vamos ter oportunidade de colocá-los em prática. O meu maior desejo é que seja um ano de florescer em todas as áreas da minha vida, espiritual, pessoal e profissional, ano de grandes conquistas”, Sílvia Letícia Souza dos Santos, 24 anos, membro da Comunidade Católica Missão Redenção. “Que a sociedade possa experimentar o Amor de Deus e que tenhamos um país melhor, com demonstração de amor, não só na fala, mas na prática!”, Guilherme Melo Leal, 14 anos, paroquiano da Paróquia São Brás. 34 Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022


Imagem: Divulgação

Para a Memória

Cardeal Dom Frei Lucas Moreira Neves sta edição da revista PRIMAZ quer recordar um dos Arcebispos que pastorearam esta porção eleita do Povo de Deus. Nomeado pelo então Papa João Paulo II como o 25º Arcebispo Metropolitano de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, sucedendo o Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, em 9 de julho de 1987, Dom Frei Lucas Moreira Neves foi elevado ao cardinalato em 1988 e iniciou um trabalho intenso, deixando um legado importantíssimo para toda a Igreja Entre as atividades pastorais e administrativas, o Cardeal preencheu 10 vagas no colendo Cabido da Sé; reconstituiu os conselhos Episcopal, Presbiteral, Pastoral e Econômico-Administrativo; dividiu a Arquidiocese em quatro regiões pastorais (Centro, Zona de Expansão, Suburbana e Interior), formadas por 13 foranias; erigiu as paróquias Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Mata Escura), Santa Mônica (Cajazeiras), São Cristóvão (São Cristóvão), Santa Rosa de Lima (Stiep), São Lucas Evangelista (Marechal Rondon), Sagrada Família (Nova Brasília de Itapuã), Nossa Senhora Aparecida e Santa Catarina de Sena (Itinga), Nossa Senhora Mãe da Igreja (Plataforma), Santa Teresinha, Doutora da Igreja (Alto da Teresinha) e Santa Clara (Águas Claras). Dom Lucas inaugurou, em fevereiro de 1990, o Seminário Propedêutico Santa Teresinha de Lisieux; ordenou mais de 40 sacerdotes; construiu o edifício da Rádio Excelsior da Bahia; instituiu a Fundação Dom Avelar Brandão Vilela; concluiu a construção do novo pavilhão do Centro de Treinamento de Líderes (CTL), em Itapuã, e reformou o antigo; apoiou as obras de reforma e novas construções da Casa do Padre e do campus da Universidade Católica do Salvador (UCSal); conseguiu recursos para a restauração de peças sacras e a implantação do Museu da Catedral; fundou a Associação Barroco na Bahia, implantando um órgão no coro da Catedral; estabeleceu, em Salvador,

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o Instituto da Família; promoveu vigílias de oração pelas vocações sacerdotais e recitação do Terço nos primeiros sábados, transmitida pela Rádio Excelsior. O Cardeal foi o responsável por dinamizar a Caminhada Penitencial dos Mares ao Bonfim, na Quaresma, bem como a Procissão de Ramos, da Piedade à Praça Municipal. Dom Lucas presidiu a ordenação e a apresentação de quatro novos bispos auxiliares da Arquidiocese de Salvador: Dom José Carlos Melo, Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, Dom Gílio Felício e Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Após quase 11 anos de ministério episcopal na Bahia, o Papa João Paulo II o nomeou como Prefeito da Congregação para os Bispos, em 25 de junho de 1988, no Vaticano. Dois anos mais tarde, quando também exerciaa função de presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, por motivos de saúde, ao completar 75 anos, o Cardeal apresentou o pedido de renúncia, que foi aceito em 16 de setembro de 2000. Dom Lucas faleceu em 8 de setembro de 2002. A Missa de corpo presente foi celebrada em 11 de setembro, na Basílica de São Pedro, em Roma, presidida pelo então Papa João Paulo II e concelebrada por mais de 30 cardeais, entre eles o Cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde seria nomeado papa Bento XVI. Logo após as cerimônias fúnebres, em Roma, o corpo de Dom Lucas seguiu para o Brasil, sendo recebido em 14 de setembro em Salvador, seguindo para a cidade natal do prelado, São João d’El Rei, em Minas Gerais, onde foi celebrada mais uma Missa exequial. Após retornar para a capital baiana, o Cardeal foi sepultado e 16 de setembro, data em que completaria 77 anos, na Catedral Basílica do Santíssimo Salvador. * Texto com informações do livro Pastores da Bahia, da autoria do Monsenhor Walter Magalhães. Ano 04 | Nº 10 | Edição Dez/2021 a Fev/2022

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