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março 2006

Belém Pará - Brasil

www.paramais.com.b

ISSN 16776968

Edição 49

3,00

QUADRINHOS do Pará para o mundo O PODER DA ÁGUA CF 2006




DIA MUNDIAL DA ÁGUA No mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, é preciso lembrar que em diversos lugares do planeta milhares de pessoas já sofrem com a falta desse bem essencial à vida...

Destaque na sua área de atuação e pelos serviços prestados à população em 2005.

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ANDRÉ MENDES

UM GRANDE CIENTISTA Paulo Bezerra Cavalcante

A COLONIAL DIAMANTINA

De Chica da Silva ao “Peixe Vivo”

Alçada a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, teve seu início histórico no primevo Arraial do Tijuco, criado pela Coroa portuguesa para abrigar as famílias nobres na continuada e estafante busca do ouro... SÉRGIO PANDOLFO

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ARTESANATO

AMAZÔNIA. A SOPREN E ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS

Amigos leitores de PARÀ+, já tivemos a oportunidade de descrever nessa revista um pouco das biografias de paraenses ilustres como o Médico Gaspar Vianna e o aeronauta Júlio Cezar, que atravez de Seus feitos e genialidade, ganharam a imortalidade do povo não só paraense, mais também em todo território nacional... HÉLIO TITAN

QUADRINHOS PARAENSES PRODUTO DE EXPORTAÇÃO

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CAMILLO VIANNA

RICARDO JORDÃO

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Campanha da Fraternidade 2006

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O poder da Água Os idos de março

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A NOVA IDADE MÉDIA

A Idade Média é média porque o meio é a mensagem. O canal necessário para o nascimento do homem. O fim dos feudos e o reconhecimento do tempo de Galileus, Davincis e Descartes... JOSÉ VILHENA

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matérias

nestaedição

Pará+ REVISTA DO ANO

Acyr Castro

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Agenda Cultural

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ANATEC Editora Círios S/C Ltda CNPJ: 03.890.275/0001-36 Inscrição (Estadual): 15.220.848-8 Rua Timbiras, 1572A - Batista Campos Fone: (91) 3083-0973 Fax: (91) 3223-0799 ISSN: 1677-6968 CEP: 66033-800 Belém-Pará-Brasil

www.paramais.com.br revista@paramais.com.br

Í N D I C E

PUBLICAÇÃO

ASSOCIAÇÃO DE PUBLICAÇÕES

DIRETOR e PRODUTOR: Rodrigo Hühn; EDITOR: Ronaldo Gilberto Hühn; COMERCIAL: Alberto Rocha, Augusto Ribeiro, João Modesto Vianna, Rodrigo Silva, Rodrigo Hühn; DISTRIBUIÇÃO: Dirigida, Bancas de Revista; REDAÇÃO: Ronaldo G. Hühn; REVISÃO: Paulo Coimbra da Silva; COLABORADORES: Acyr Castro, André Mendes, Camillo Martins Vianna, Hélio Rodrigues Titan, José Vilhena, Ricardo Jordão Magalhães, Sérgio Martins Pandolfo, ; FOTOGRAFIAS: Arquivo CNBB, Arquivo Revista Amazônia, Arquivo Sopren, Arquivo Sérgio Pandolfo, Cláudio Smith, João Vianna, Verônica Fonseca; DESKTOPING: Mequias Pinheiro; EDITORAÇÃO GRÁFICA: Editora Círios *Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores



2006

CAMPANHA DA FRATERNIDADE Oração Oficial

Ó Pai de misericórdia, nós vos louvamos e agradecemos porque, pela morte e ressurreição de vosso Filho e pela ação do Espírito Santo, nos reconciliais convosco e entre nós. Abri nossos olhos para reconhecermos em cada ser humano a dignidade de filhos benditos vossos. Convertei nosso coração para acolhermos a todos com amor fraterno, de maneira especial as pessoas com deficiência. Ajudai-nos a promover a autonomia e a plena realização desses nossos irmãos e irmãs, na família, na sociedade e na Igreja. Ensinai-nos que o segredo da felicidade está em fazer o bem e em partilhar alegrias e sofrimentos. Tornai-nos solidários em relação às pessoas com deficiência: que elas ocupem o centro de nossas atenções. Ao lado delas estaremos mais perto de Vós e receberemos muito mais do que oferecemos. Ó Maria, Mãe querida, Jesus nos confiou a Vós como filhos e filhas. Confortai os que se dedicam com amor àqueles que um dia, felizes, nos receberão na casa do Pai. Amém!

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“Levanta-te, vem para o meio!" (Mc 3,3). A frase de Jesus, dirigida ao homem com a mão atrofiada, representa o convite feito a todas as pessoas com deficiência para que se sintam acolhidas e valorizadas. O tema traduz também as ações positivas propostas pela Campanha de 2006 para a inclusão fraterna desses nossos irmãos e irmãs. Essa atitude fraterna é indicada pelo gesto de acolhida e pelo sorriso dos dois jovens. Desta Campanha ninguém deverá ficar de fora. As cores claras e alegres mostram que a deficiência não é, por si, causa de tristeza. Ao mesmo tempo, a Campanha ajuda a tomar consciência sobre as condições quase sempre difíceis vividas pelas pessoas com deficiência. O fundo azul transmite calma e tranqüilidade. Lembra que Deus está presente na vida dessas pessoas. Victor é um jovem com síndrome de Down. Ele estuda, trabalha numa lanchonete e faz academia. Permitir e favorecer que pessoas com deficiência possam se desenvolver é um desafio para os vários setores da sociedade e da Igreja. A imagem é um apelo forte para que deixemos a condição de espectadores. Vamos nos envolver com ações que resgatem a dignidade das pessoas com deficiência! Vamos construir uma cultura de solidariedade com esses irmãos e irmãs!



Troféu Topp Brasil Marketing

REVISTA DO ANO

Destaque na sua área de atuação e pelos serviços prestados à população em 2005 Fotos: João Vianna

C

omo nos anos anteriores, novamente a nossa revista Pará+, foi escolhida como a Revista do Ano de 2005, após pesquisa e levantamento da opinião pública para aferir a vontade e opinião popular, sobre quais as Empresas e Profissionais Liberais, que mais se destacaram, na sua área de atuação e serviços prestados à população em 2005. Foi a Topp Brasil Marketing e Comercio, tendo a frente Francisco Gomes, que procedeu as pesquisas. Durante a entrega da premiação, mais uma vez a atuação da Pará+ foi ressaltada tendo sido ovacionada pelos presentes. Após a entrega da premiação aos profissionais liberais e às empresas houve uma bela festa de congraçamento com um saboroso jantar oferecido aos presentes. Agradecemos as honrarias, pois a Promoação também esteve inclusa entre os agraciados, aos quais, parabenizamos a todos.

Rodrigo Hühn - Promoação

Ronaldo Hühn - Pará+ Raimundo santos da Luz - Tecnocoop

Dra. Elza Brito - Patologos

José Maria da Costa Mendonça - Copala

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Wilson Portela - Gil Publicidades

João Messias Neto - Ideal

Pedro Lima - Labodental

Os agraciados com a Topp Brasil Marketing, Troféu e Diploma : Revista Pará+, representada pelo editor Ronaldo Hühn, PromoAção- Ações Promocionais, Rodrigo Hühn Tecnocoop Informática, Raimundo santos da Luz Gil Publicidade, Wilson Portela Patólogos Associados, Dra. Elza Brito Grupo Educacional Ideal, João Messias Junior Aços Copala, José Maria da Costa Mendonça Marcas e Patentes, Wilson Portela Jr. Labodental, Pedro Lima Eky Churrasco, Ayame Hidaka Aparelhagem Tupinambá, Dj Dinho Transcobras, Ruy Guilherme Igreja Cardoso Panificadora Versailles, Lindalva Pereira Parque das Palmeiras, Adolfo Frederico Grupo Hotel/Agência Paramazônia, Daniel Serique ART1000, Carlos Navarro Jeffersom Lima,Café Diário e Giro na TV , dentre outros.


Ayame Hidaka - Eky Churrasco

Lindalva Pereira - Panificadora Versailles Carlos Navarro - Art1000

Dj Dinho - Tupinambá

Adolfo Frederico - Parque das Palmeiras Café Diário - Representante

Ruy Guilherme I. Cardoso - Transcobras

Daniel Serique - Paramazônia Giro na TV

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Meio ambiente +

Dia Mundial Água da

conclama à reflexão

(22 de março)

Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a resolução A/RES/47/193 de 22 de fevereiro de 1993, através da qual 22 de março de cada ano seria declarado Dia Mundial das Águas (DMA), para ser observado a partir de 93, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento contidas no capítulo 18 (sobre recursos hídricos) da Agenda 21.

ONU

OMS

INTERNATIONAL WATER MANAGEMENT INSTITUTE

por André Mendes

N

o mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, é preciso lembrar que em diversos lugares do planeta milhares de pessoas já sofrem com a falta desse bem essencial à vida. Hoje, a água não integra, mas desagrega, não cria equilíbrio, mas introduz continuamente desigualdades, porque é montada sobre a concorrência e não sobre a cooperação. Ela é fonte de vida, mas, se não cuidada, pode ser condutora de doenças, como a dengue, e de guerras entre os povos. A água está ligada essencialmente à vida e ao equilíbrio de todo o planeta. É o bem mais inestimável da natureza, por isso não pode ser visto como mercadoria ou objeto de privatização, pois ela é patrimônio comum de todos os seres vivos. No contexto atual, o Dia Mundial da Água - festejado no dia 22 de março - não enseja comemorações. As agressões ao ciclo natural da água são atos irreversíveis que privarão as futuras gerações de um dos recursos básicos da vida. Temos que nos mobilizar para manter a água como um bem público e libertá-la da dominação econômica mundial que deseja mercantilizar e privar o seu sucesso às pessoas que hoje não a têm. A água não

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pode ser alvo de cobiça, pois é dádiva divina. Para cada 1.000 litros de água utilizados, outros 10 mil são poluídos. Segundo a ONU, parece estar cada vez mais difícil conseguir água para todos, principalmente nos países em desenvolvimento. Dados do International Water Management Institute - IWMI mostram que, no ano de 2025, 1.8 bilhão de pessoas de diversos países deverão viver em absoluta falta de água, o que equivale a mais de 30% da população mundial. Diante dessa constatação, cabe lembrar que a água limpa e acessível se constitui em um elemento indispensável para a vida humana e que, para tê-la no futuro, é preciso protegê-la para evitar o futuro caótico previsto para a humanidade, quando homens de todos os continentes travarão guerras em busca de um elemento antes tão abundante: a água. Estudos divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), confirmam que a contaminação e a infestação por mosquitos são as principais vias de transmissão de doenças, como a disenteria, dengue e a febre amarela. No Brasil, a contaminação da água e falta de saneamento respondem por 63% das internações pediátricas e 30% da morte de crianças


com menos de um ano de vida. Observa-se também que qualquer cidade brasileira de grande ou médio porte sofre com problemas de enchentes urbanas, e seus derivados, tais como mortes, desabamentos de barreiras, enormes engarrafamentos de trânsito, disseminação de doenças, entre outros problemas. Neste quadro, as precárias condições que muitas vezes se observam nos rios são freqüentemente o resultado final (os sintomas) de problemas que já estão ocorrendo ao longo de toda uma bacia (causas) nos mais variados níveis do processo produtivo, quer sejam resultantes das atividades extrativistas, da produção e consumo de bens e serviços ou do despejo e emissão de poluentes. As intervenções que atuam apenas no elo final desta cadeia de causa-efeito normalmente falham, levando a uma frustração crescente na medida em que são investidos tempo e recursos financeiros sem qualquer retorno aparente. Como exemplos de tais intervenções podem ser citadas operações de dragagem de rios para retirada de grandes volumes de sedimentos, sem atuação na origem do problema nas vertentes da bacia; ou obras de drenagem urbana (como os piscinões, em São Paulo) sem interfaces com políticas de habitação em bacias urbanas. Assim sendo, um dos grandes desafios ambientais da atualidade reside, portanto, na capacidade de compreender as inter-relações entre o recurso natural e

Informações: 0800 91 0909

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BACIA HIDROGRÁFICA AMAZÔNICA

a pressão evolutiva empreendida pelo ser humano. Para compreender esta relação é necessário que se possa avaliar, ou quantificar de alguma forma, o padrão da evolução da ação do homem na bacia hidrográfica, já que existe claramente uma relação de causa-efeito na bacia, seja ela em áreas urbanas ou rurais. Neste contexto, o planejamento dos recursos hídricos deve fazer parte de um amplo processo de planejamento ambiental, no qual somente com a organização espacial das forças que interagem na bacia hidrográfica haverá expectativas de garantia da unidade da região. Os conflitos de uso das águas são assim conseqüências do desenvolvimento e da expansão da sociedade moderna, que criou novas necessidades de uso e consumo e tornou mais complexas as relações entre as várias forças que atuam no espaço de uma bacia hidrográfica. O objetivo hoje deve ser então compreender estas relações e avançar no sentido de considerar não apenas o comportamento hidrológico de uma região, mas também considerar os efeitos decorrentes dos diversos conflitos e interesses que atuam na disputa pelo espaço. Políticas públicas e um melhor gerenciamento dos

recursos hídricos em todos os países tornam-se hoje essenciais para a manutenção da qualidade de vida dos povos. No Brasil, a Lei Federal n° 9.433 de 8 de janeiro de 1997 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, considera a água como um recurso natural de domínio público, limitado e dotado de valor econômico, sendo a unidade territorial básica para estudo a bacia hidrográfica, gerenciado através de comitês de Bacias Hidrográficas. Apesar do marco legal já existente no país, alguns problemas devem ser examinados por toda sociedade brasileira no sentido de implementar ações que realizem medidas concretas para impedir um futuro onde os recursos hídricos estejam comprometidos. Entre elas, atualmente, pode-se citar: adoção de técnicas de reuso de água e construção de infraestrutura de saneamento, já que 90% do esgoto produzido no país é despejado em rios, lagos e mares sem nenhum tratamento; desenvolvimento de políticas habitacionais como forma de resolução dos graves problemas de drenagem urbana; participação ativa da sociedade, representada nos comitês de bacia através dos vários setores de usuários dos recursos hídrico; a partir de agora, as empresas de abastecimento e indústrias que poluem os rios e mananciais terão de pagar pelo uso da água captada. O dinheiro arrecadado com a cobrança deverá ser

Informações e Reservas R. Jerônimo Pimentel, 82 - Umarizal CEP: 66055-000 - Belém-Pará Fone: (91) 40063850 / 40063852 - Fax: 40063851 E-mail : iara@amazon.com.br - Home page : www.iaraturismo.com.br 49 [MARÇO] 12 EDIÇÃO p a r a m a i s . c o m . b r


u t i l i z a d o n a despoluição de rios e bacias hidrográficas do Brasil, exigindo uma fiscalização intensa da população para que, efetivamente, o dinheiro seja aplicado em melhorias na bacia. A l é m d a s responsabilidades públicas, cada cidadão tem o direito de usufruir a água, mas o dever de preservá-la, utilizando-a de maneira consciente, sem desperdícios, assim dando o valor devido à água. Em síntese, assim como a vida, a água para muitos só tem valor quando acaba. Precisamos estar atentos para não sermos atropelados pelos fatos, comprometendo, assim, nossa maior riqueza: a água.

Na revista Amazônia, novo lançamento da nossa Editora Círios, veiculamos matéria sobre o novo PNRHPlano Nacional de Recursos Hídricos.

*Doutor em Planejamento Ambiental pela Universidade de Bristol e, atualmente, dá aulas em nível de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ao longo de sua carreira ele também foi professor visitante em outras instituições de ensino superior no país, além de prestar consultoria para entidades públicas e privadas. Entre seus objetos de estudo estão: sensoriamento remoto em recursos hídricos, planejamento urbano e regional, modelamento ambiental, entre outros

AV. GENTIL BITENCOURT N° 694, ENTRE RUI BARBOSA E QUINTINO. EDIÇÃO 49 [MARÇO] p a r a m a i s . c o m . b r

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Sa ú d e +

O Poder ÁGUA da

V

ocê sabia que muitas pessoas têm problemas de saúde provocados pela falta de água no organismo? Mas, sem saber, vivem tomando remédios, gastando dinheiro e se intoxicando com drogas, tentando curar esses problemas, sem conseguir, é claro. Precisam de água e não de remédios. O seu corpo é formado de 65 % de água. E essa água precisa ser renovada continuamente, a cada hora. Todo funcionamento do seu organismo depende de água: as reações químicas, a respiração, a circulação, o funcionamento dos rins, a desintoxicação, a digestão, os sistemas de defesa, a pele, enfim,tudo que é necessário para manter a vida. Quando falta ou existe pouca água no corpo, todo o funcionamento do organismo fica prejudicado. Beber bastante água todos os dias, faz com que o organismo fique mais equilibrado, mais resistente, funcionando melhor em todas as suas áreas, e também contribui para a cura de qualquer problema de saúde existente.

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OS PREJUÍZOS CAUSADOS POR BEBER POUCA ÁGUA O organismo, recebendo pouca água, fica desidratado. Cansaço, indisposição, pele seca, cabelos secos, dores de cabeça, problemas digestivos, inflamações, cistites, formação de cálculos (pedras), alterações da pressão


arterial, da circulação, do sistema hormonal, irritabilidade, insônia, são alguns exemplos do que pode acontecer. Na falta de água, fica prejudicado o sistema natural de limpeza e desintoxicação do organismo. Esse sistema é indispensável para a saúde, mas só funciona se existir grande quantidade de água. Você conseguiria fazer uma limpeza em sua casa com apenas 1 ou dois copos de água? Claro que não. O organismo também não. Se a água é pouca, não é possível fazer as eliminações e limpezas necessárias. Assim, ficam retidas dentro do corpo substâncias tóxicas, prejudiciais, contribuindo para o aparecimento das mais variadas doenças. Você deve beber de 2 a 4 litros de água por dia (8 a 16 copos). Nunca menos de 2 litros (8 copos). A quantidade depende da temperatura do dia, da atividade que você realiza, se faz muito ou pouco esforço físico, se trabalha exposto ao sol ou na sombra. De qualquer forma, nunca pode ser menos de 2 litros por dia.

COMO SABER SE A QUANTIDADE DE ÁGUA QUE TOMAMOS É SUFICIENTE? Existem dois sinais fáceis para você saber se a quantidade de água que bebe está suficiente: 1 - A quantidade de urina que você elimina. 2 - A cor da sua urina. Quando a quantidade de água é suficiente, a urina é eliminada em grande quantidade e em cor clara, transparente como água. Se a sua urina é pouca e de cor escura, o seu corpo está avisando que precisa de mais água, mesmo que esteja bebendo 2 litros por dia. É sinal que você precisa de mais, quem sabe, 3 ou 4 litros. A água deve ser tomada ao longo de todo o dia. Bebe um ou dois copos, pela manhã, ao acordar; ao deitar a noite; durante o dia, de uma em uma hora. Beba água mesmo que não tenha sede, pois isso não significa que seu organismo não precisa de água. O ideal é não beber água junto com as refeições, pois atrapalha a digestão.

A água é o líquido ideal para a hidratação do organismo e não deve ser substituída por outros líquidos, tais como: chás, refrigerantes, sucos, etc.

O ideal é beber água na temperatura ambiente

Beba meia hora antes e uma hora após as refeições. Muitos não bebem água porque esquecem. Por isso, coloque a água ao seu alcance: no local de trabalho, na sua mesa, no quarto a noite, na viagem, de maneira que você a veja sempre e lembre-se de tomá-la. Aos poucos você vai se acostumando até não mais esquecer e sentir falta dela. O ideal é beber água na temperatura ambiente ou, caso esteja muito calor e a água a ser consumida fique quente, misture com a gelada. A água gelada não mata mais a sede do que a natural (é uma ilusão pensar assim) e, além disso, “agride” mais o organismo (garganta, estômago). O que alivia a sensação de sede, é o umedecimento das mucosas da boca e das papilas gustativas. Se, simplesmente, deixar a água na boca durante alguns segundos, antes de engolir, poderá constatar isso. A água é o líquido ideal para a hidratação do organismo e não deve ser substituída por outros líquidos, tais como refrigerantes, chás e sucos.

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s o h n i r d a P u a Q raenses

O

PRODUTO DE EXPORTAÇÃO

s quadrinistas paraenses querem mais espaço para mostrar que história em quadrinhos não é coisa só de criança. Atualmente cerca de 50 profissionais atuam neste ramo no Pará. Três deles Mauro Tavares, Elton Galdino e Jorge Trindade resolveram criar o grupo Edição Limitada e divulgar ainda mais os trabalhos em todo o estado. Eles cansaram de esperar pela ajuda que não vinha e vão colocar as mãos na massa, ou melhor, no papel. “Vamos massificar os quadrinhos, seja pela internet, seja pelas revistas nas bancas”, ressalta Jorge Trindade, revelando ainda que outra intenção é incentivar a produção dos quadrinistas em todo estado. Segundo ele, o paraense ainda desconhece o que é produzido por aqui. “Tem gente produzindo quadrinhos no Norte, tem gente produzindo quadrinhos para fora e o público não sabe disso”, ressaltou Jorge, que é formado em psicologia. Um grande evento para divulgar o trabalho desses profissionais do desenho está sendo estudado pelo

grupo Edição Limitada. No ano passado aconteceu o primeiro Encontro Paraense de Quadrinho, que reuniu na Fundação Curro Velho, inúmeros fãs dos Gibis. Naquela oportunidade eles conheceram mais um pouco dessa arte que encanta cada vez mais adulto e criança. A idéia do Grupo é tornar o evento mais rotineiro. Para Elton Galdino, o que falta é uma melhor organização dos profissionais do quadrinho. “Só assim vamos conseguir respeito de outras pessoas. E também precisamos do incentivo de empresas e quem sabe criar um mercado de quadrinhos paraenses”, disse Elton. Mauro Tavares concorda com Elton. “O que falta mesmo é um incentivo. Belém é um ótimo mercado para ser explorado”, ressaltou. Enquanto o sonho deles não vira realidade, o trio tenta sobreviver com o desenho. Os próximos passos é montar um site e colocar os quadrinhos na internet. Sem esquecer do mercador regional com impressão de revistas.

Edição Limitada Será que é possível sobreviver só desenhando histórias em quadrinhos? Os integrantes do Grupo Edição Limitada acham que sim. Pelo menos esse é o ideal dos quatro quadrinistas. Jorge Trindade largou o consultório de Psicologia para se dedicar ao desenho. Mas, antes mesmo de se formar, ele já teve contato com a arte. Atualmente leciona no Curro

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poesia para os quadrinhos”, exemplifica Elton, que atualmente promove eventos e ministra curso no Curro Velho. Assim como Jorge e Elton, Mauro Tavares também começou cedo no ramo. Desde criança gostava de desenhar e copiar outros desenhos. Fã do quadrinho europeu, Mauro prepara agora uma mostra de quadrinhos no Instituto de Artes do Pará. Ele faz, quadro por quadro, um balanço de sua carreira. São 20

Velho, faz trabalhos para agências de publicidade e presta serviços no Centro Nova Vida, local de tratamento para dependentes químicos. Elton Galdino tem sua trajetória artística desde pequeno. Quando criança já rabiscava, gostava de ler quadrinhos do Maurício de Sousa. Agora, adulto, os seus desenhos ganharam novas formas. “Eu tento fazer experimentações como adaptar uma

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telas em pintura em acrílico. ”Quero mostrar a relação entre a história em quadrinho com a pintura”, ressaltou.

Pará em quadrinhos porque não? Realmente os brasileiros e principalmente os paraenses são destaques no cenário internacional. O quadrinista mais famoso do Pará é José Benedito, conhecido como Joe Bennet. Nome adotado para se adequar ao ramo internacional. Junto com ele, apareceram na década de 90 os primeiros nomes importantes para o quadrinho brasileiro: entre eles estão Renato Guedes, Mike Deodato Jr., Luke Ross, Ivan Reis e Greg Tocchini. Desde aquela época, a atual leva de quadrinhistas brasileiros que desenham para o exterior jamais interrompeu sua produção. Nos últimos meses, porém, essa turma voltou a chamar atenção, quando muitos deles assumiram publicações de destaque nos Estados Unidos. Renato Guedes está desenhando Smallville, Mike Deodato empresta seu traço a Hulk, Luke Ross reconfigura Green Lantern e a dupla Ivan Reis e Marcelo Campos assume Action Comics, a mais antiga publicação do país e principal título do Super-Homem. Outros também se destacam: Ed Benes (Birds of pray), Greg Tocchini (Thor: Son of Asgard) e Joe Bennett (Captain America & Falcon). Mas, com tanta gente boa desenhando, porque não fazem sucesso no Brasil, ou mesmo no Pará? Há uma explicação para esta indagação. Raras são as editoras que contratam os profissionais do desenho para confeccionar revistas inteiramente nacionais. Afinal de contas, quase não há gibis brasileiros nas bancas. As editoras americanas e européias possuem indústrias de HQ bem estruturadas e com demanda constante de quadrinhos.

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Exposição de quadrinhos - novembro de 2005

História Os quadrinhos marcam sua história desde o primeiro desenho em pedra. Neles eram contadas as histórias dos povos e sua cultura, nas paredes das cavernas. Com

Oficinas de quadrinhos

o passar dos anos, os quadrinhos enfrentaram adaptações artísticas, variados formatos, comércio, público, indústria. Os egípcios deram um passo mais convincente, desenvolvendo a primeira forma de linguagem escrita (hieróglifos - forma ordenada de ler através de gravuras). Os artistas egípcios criaram, assim, o conceito de continuidade, agrupando gravuras numa série de composições - de maneira semelhante às HQs. Da mesma forma, os babilônicos representavam suas histórias em relevo, esculturas e baixos-relevos detalhadíssimos. Os gregos foram responsáveis pelo degrau seguinte do desenvolvimento da arte: a figura humana passou a ser o centro de todas as atenções, resultando no seu refinamento e na ênfase do elemento narrativo. Já os romanos deram origem aos desenhos satíricos, que obtiveram grande popularidade. Os vickings

Mauro Tavares, Elton Galdino e Jorge Trindade na produção da capa desta edição


Maratona de quadrinhos

também construíram gravuras que enfeitavam tapetes e manuscritos. O primeiro livro em quadrinhos produzido em massa surgiu na Inglaterra no século XVII. Com o tempo, foram aparecendo novos quadrinhos e publicações na Europa e EUA, junto ao aperfeiçoamento de certas técnicas de comparação. Porém, as histórias em quadrinhos eram consideradas uma arte “menor”, sendo sua maior aceitação entre leigos. Aproveitandose disso, os quadrinhos entravam na vida do homem comum através do jornal, tomando a forma de “tiras”. O humor passou a ser o tema mais corriqueiro nos quadrinhos a partir do século XIX graças a esse novo formato encontrado no meio jornalístico. Dos jornais, surgiram tiras cômicas (Yellow Kid, Mutt e Jeff, e outros) que fizeram longa carreira na imprensa. No

quando a criação original norte-americana deixou de ser realizada. Aos poucos, os artistas brasileiros foram se destacando com seus próprios quadrinhos. Até os anos 60, as HQs nacionais tinham como tema principal os super-heróis, seguindo a tendência dos quadrinhos norte americanos. Porém, a "concorrência" entre os quadrinhos nacionais e os americanos era desleal: o produto importado era melhor e mais barato que o nacional. A conseqüência foi que poucos super-heróis vingaram - "Capitão 7" é uma orgulhosa exceção. Por volta da década de 70 surgiu uma nova lei de direito autoral, eliminando muitos plágios entre as HQs brasileiras. Com o fim da "era de ouro" dos superheróis nacionais, restou aos autores brasileiros o caminho do humor, terror e erótico. Hoje, as HQs brasileiras estão entre as melhores do mundo em muitas das facções existentes no mercado.

Algumas revistas em quadrinhos em exposição na Feira da Beira

início do século XX, o “fantástico” passou a ser um tema comum nas HQs, como também as preocupações com referência e apresentação. Com o surgimento das editoras de Histórias em Quadrinhos, estas adotaram e consagraram um novo estilo de publicação, com um formato criado pela união e diferentes tiras únicas (não mais “tiras de jornal”). A temática das Hqs passou por mudanças, contendo, na maioria das vezes, histórias de aventuras. Contudo, a qualidade temática das revistas ainda permanecia inferior às “tiras de jornal”. Foram criadas com sucesso as novelas não-ilustradas. A revista infantil O Tico-Tico foi a primeira HQ impressa no Brasil, em 1905, destacando artistas nacionais EDIÇÃO 49 [MARÇO] p a r a m a i s . c o m . b r

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helio.titan@ig.com.br

Hélio Titan

Grande CIENTISTA UM

[Paulo Bezerra Cavalcante]

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migos leitores de PARÀ+, já tivemos a oportunidade de descrever nessa revista um pouco das biografias de paraenses ilustres como o Médico Gaspar Vianna e o aeronauta Júlio Cezar, que atravez de seus feitos e genialidade, ganharam a imortalidade do povo não só paraense, mais também em todo território nacional. Nesse artigo, pretendo fazer uma justa homenagem a um homem que tive a honra de ser seu amigo, admirador de sua profunda cultura na ciencia que ele dominava, como também conviver quase diariamente junto a sua mente privilegiada. Chefe de uma família equilibrada e cristã, Paulo Cavalcante transmitia a todos que dele se aproximasse, uma sensação de paz e ternura, naturalmente sentimentos que emanavam de seu coração sábio, cristão e amigo. Morava o amigo que se foi, no mesmo prédio do articulista, sendo esse fato uma dádiva de Deus em me proporcionar vê-lo e ouvi-lo com freqüência. Paulo Cavalcante gostava de ouvir, pois era portador de deficiência visual, os meus opúsculos, quando descia a seu apartamento para lê-los, sendo para mim felicidade maior em vê-lo em pessoa, e sentir a aura de harmonia que esse homem privilegiado por Deus emanava de seu espírito translúcido. Paulo Cavalcante era engenheiro agrônomo, formando-se em 1954, deslocando-se logo após para o sul do país, a fim de realizar um estagio de 03 meses sobre colonização, sob a tutela do Instituto Nacional de Imigração e colonização, atual Incra. Paulo Bezerra Cavalcante começou sua trajetória cultural ainda jovem, pois nasceu em 12 de julho de 1922, na cidade de Nova Cruz, Rio Grande do Norte. Paulo era católico fervoroso, embora seu genitor fosse um pastor evangélico, que realizou diversas peregrinações para difusão de sua religião o futuro botânico mudou-se para Belém, onde em nossa terra lutou sozinho para continuar seus estudos. Em 1950, Paulo Cavalcante concluiu o

Paulo Bezerra Cavalcante! Um cientista de alto calibre cultural, simples, afável

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curso cientifico no colégio do Carmo, ingressando na Escola de Agronomia da Amazônia, fundada por Felisberto Camargo, na época, diretor do Instituto Agronômico do Norte (IAN), hoje transformado no Centro de Pesquisas Agropecuária do Tropico Úmido (CPATU), Embrapa. Paulo Cavalcante, fascinado pela botânica, já de volta de seu curso, resolveu estagiar na secção de botânica do IAN, sob a orientação do Dr. João Murça Pires, quando teve a oportunidade de conhecer os cientistas Adolfo Ducke, Ricardo Froes e George Blake, todos afamados botânicos. Seu entusiasmo era tão intenso pela botânica, que chegou a recusar uma nomeação para a Colônia de Monte Alegre, aceitando a nomeação de pesquisador botânico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), instalada na região. Seu grande colega de pesquisas foi sem sombra de duvida, Adolfo Ducke, a partir do final de 1955, quando teve a oportunidade de contribuir na área de botânica amazônica, dissecando flores com as respectivas identificações das plantas. As visitas de Paulo Cavalcante tornaram-se quase diárias aos herbários do museu Emilio Goeldi e do IAN, fortalecendo a velha amizade com Adolfo Lucke. Paulo Cavalcante estudava e monitorava por assim dizer, as plantas introduzidas por Ducke. Com a saída de Adolfo Ducke para o jardim botânico do Rio de Janeiro, o herbário da instituição contava com 17 mil exicatas botânicas! Entre 1917 e 1955 o herbário foi praticamente abandonado, quando para sorte de nossa terra, o Dr. Olympio da Fonseca, primeiro diretor do INPA, contratou o jovem Dr. Paulo Bezerra Cavalcante como pesquisador botânico. Em 1955 ainda, o CNPq nomeou o Dr. Walter A. Egler para diretor do museu Emilio Goeldi, passando o Paulo Cavalcante para dirigir a recém-criada Divisão de Botânica do museu. Foi a “sopa no mel” para o jovem botânico! Paulo Cavalcante passou a orientar os auxiliares na montagem de exicatas, etiquetagens, registros,


distribuição e conservação da coleção. A primeira grande excursão de Paulo Cavalcante (maio de 1957) foi aos campos de Ariramba (Rio Cuminá), no município de Oriximiná. Foi nessa expedição que nosso já paraense de coração, conheceu mais de perto Egler e Black, dois grandes botânicos conhecedores profundos da flora amazônica. Infelizmente morreram prematuramente a serviço da ciencia. Paulo Cavalcante, em homenagem a morte prematura dos colegas botânicos, concluiu uma biografia sobre Adolfo Ducke, que havia sido iniciada por Walter Egler, publicando-a no boletim do museu Emilio Goeldi. Para os amigos leitores de PARÁ+ terem uma idéia de que foi esse grande cientista chamado Paulo Bezerra Cavalcante, seus trabalhos, pesquisas, estudos acerca da botânica de nossa região, ele publicou em 1960, em parceria com o Dr. João Murça Pires, a descoberta de 03 especieis novas no campo da taxonomia vegetal: “Diospyros cachimboensis”, “D. capmnensis” e “D. egleri”. Paulo Cavalcante homenageou diversos amigos com suas descobertas vegetais, como exemplo: “Diospyros duartei”, em homenagem a Aparício Pereira Duarte, botânico do Rio de Janeiro; “D. araripensis”, “D. piresii”, “D. landii”, “D. uaupensis”, todos amigos e colaboradores de seu magnífico trabalho dedicado quase toda sua brilhante vida a Amazônia, que ele tanto amava! O Dr. Paulo Bezerra Cavalcante, num reconhecimento pela causa nobre que ele abraçou, recebeu as seguintes distinções cientificas: Medalha da Campanha de Educação Florestal, outorgada pelo Ministério da Agricultura. Medalha Brazão D'Armas da cidade de Belém, outorgada pela prefeitura municipal de Belém (1973). Medalha do Bicentenário da Igreja de São João Batista. Diploma de Honra ao Mérito (INPA). Medalha comemorativa aos 30 anos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (1981). Diploma Comemorativo dos 125 anos do museu Emilio Goeldi. Gráo de Comendador, atravez do governador Jader Barbalho (Decreto 358 de 02/10/1991). Paulo Cavalcante publicou vários trabalhos científicos

PUPUNHA

AÇAÍ

ARAÇÁ-BOI

BURITI

CAMU-CAMU

em anatomia das plantas, fisiologia vegetal, palinologia e fitogeografia, biografias de botânicos da região além da obra mais importante de sua trajetória brilhante: “ Frutas Comestíveis da Amazônia”, com varias edições esgotadas, onde Paulo catalogou 176 espécies sendo citado em referida obra, as frutas preferidas pelos habitantes paraenses, como o cupuaçu, açaí, bacuri, abacaxi, pupunha e graviola. No campo da Etnobotanica, publicou o trabalho “A Farmacopéia Tiriyó”, dados obtidos entre os índios da tribo Tiriyó. Paulo Cavalcante colaborou também na administração do museu Emilio Goeldi, quando exerceu diversas vezes o cargo de diretor e vice-diretor da entidade referida. Foi chefe do Departamento do Parque Zoobotanico (DPZ) por duas vezes. O Dr. Paulo Bezerra Cavalcante, elaborou para os visitantes do museu, o “Guia Botânico do Museu Goeldi”, com preciosas informações sobre as espécies cultivadas no horto. Assim era Paulo Bezerra Cavalcante! Um cientista de alto calibre cultural, simples, afável, excelente chefe de família, católico até a medula, bom amigo, irradiando uma ternura aconchegante em seu redor! Mas meu amigo Dr. Paulo, apesar do choque repentino de sua morte, eu estou tranqüilo, pois ao chegar perante o Altíssimo, esse lhe deu logo uma tarefa divinal: O senhor agora tratará com carinho e zelo de todas as flores e frutos do os

CUPUAÇU

GRAVIOLA

JAMBO ROSA

FRUTAS COMESTÍVEIS DA AMAZÔNIA Paulo B. Cavalcante / ISBN 85-7098-048-5 79 p. Il. / 15,5 x 22,0cm / R$ 20,00 Em sua 6ª edição, mostra a riqueza e variedade das frutas comestíveis regionais. Um manancial de delícias e sabores exóticos reforço alimentar das populações indígenas, caboclas e citadinas. Além de divulgar o potencial frutífero, alerta para a preservação da flora e da cultura amazônicas.

Éden Celestial, tornando-o ainda mais belo e acolhedor pelas suas mãos amantíssimas que o senhor sempre teve na terra, pela natureza plena! Meu grande amigo, Paulo Bezerra Cavalcante, faleceu numa paz serena, no dia 18 de Janeiro de 2006, cercado pelo carinho de sua família, em sua residência vitima de uma parada cardíaca. Sua alma privilegiada alçou imediatamente para a morada dos justos! *Médico Escritor Cosmólogo

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Acyr Castro

Idos Os

de Março

M

arço tem muito haver com os cronistas, quer profissionalmente, quer vida pessoal sempre, ou quase, afinada com a vida pública. Foi em março, nos distantes anos 1940, que nasceram, em minha cabeça, logo tornadas raelidades, a movimentação para criar o grupo ARTS (que deu início à sistematização em Belém da crítica cinematográfica ao lado de Rafael Costa, Amílcar Tupiassu e Manoel Wilson dos Santos Penna) e a Academia Cultural Juvenil Ruy Barbosa a incluir aqui outros colegas do Colégio Estadual Paes de Carvalho como Lauro Souza, Hermeval Maltez e Pedro Cruz. Em março, dia 15, no fatídico ano de 2003, felecia a criadora dos meus dias, Neuza Cecília Paiva de Castro, a Neucília amada minha, da Marildinha, de Cecy, da Antonica, da Nina Rosa, da Suely das Mêrcês e do infinitamente saudoso João Luís. E foi em março de 1966 que reencontrei, vendo “O Colecionador” lançado nos Estados Unidos em 1965, um dos meus mais amados cineastas, William Wyler, nascido em Milhouse, região franco-alemã da Alsácia e Lorena, filho de mãe alemã e de pai suiço. Acabo de rever o filme, tão genial quanto o foi, a maior parte do tempo, seu realizador tão singular. Muitos críticos despreparados, alguns desavisados, diversos por má fé pura e simples, fingem que não sabem nem da fita nem do diretor na tentativa de diminuir, ou até de destruir, o grande outor. Autor de verdade, sim, e grande, dos mias legítimos, da altitude de Orson Welles, de Alfred Hitchcock, de Fritz Lang, de John Huston, de George Stevens, de Charles Chaplin. Fato é que a maioria dos que tentam desacreditar Wyler (1902/1981) jamais viram, ou puderam ver, as obras de arte que ele fez: “Fogo de Outono” e “Infâmia” datam de 1936, exatos 70 anos atrás, motivo a mais para lembra-lo neste 2006. Mas há mais, bem mais: “Beco Sem Saida” (1937), “Jezebel” (1938), “O Morro dos Ventos Uivantes” (1939), “A Carta” (1940), “O Galente Aventureiro” (1940), “Pérfida” (1941), “Rosa de Esperança” (1942), “Os Melhores Anos de Nossa Vida” (1946), “Tarde Demais” (1949), “Chaga de Fogo” (1951), “Perdição Por Amor” (1952), “Horas de Desespero” (1955), “Sublime Tentação” (1956), “Da

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Teraa Nascem Os Homens” (1958), afinal “O Colecionador” em que a certa leitura do diretor presta tributo ao estilo e à técnica de Hitchcock, o primeiro entre todos os mestres. “Bem-Hur” (1959) caiu na desgraça dos reacionários por causa das insinuações de intimidade física entre o herói e seu implacável perseguidor; ocorrendo o mesmo em face da oportuna refilmagem de “Infâmia” em 1962. Não importa que o extraordinário recriador cinemágico da ficção literária a mais alta (a Emily Brönte de “O Morro dos Ventos Uivantes”, o Theodore Dreiser de “Perdição Por Amor”, o Henry James de “Tarde Demais”, o Somerset Maugham de “A Carta”, inclusive o John Fowles de “O Colecionador”) não haja tido um canto-de-cisne ao nível da carreira ilustre, de “Funny Girl” (1968) ao frustrante “A Libertação de L.B. Jones” em a

William Wiler com a esposa Margaret


1969, ainda assim superiores à qualidade geral a que somos submetidos pelas distribuidoras e os exibidores, vários prontos a exaltar o pior da produção atual desde que bem pagos. O grande cinema de William Wyler mereceu do crítico André Bazin, que creio não está esquecido dos cronistas mais velhos, o seguinte: “Trata-se do vestido vermelho de baile de “Jezebel”, do dialogo durante o barbear ou da morte de Herbert Marshall em “Pérfida”, da morte do xerife em “O Galante Aventureiro”, do travelling na plantação do inicío de “A Carta”, da cena do bombardeiro desativado de “Os Melhores Anos de Nossa Vida”...” são preferências temáticas e estilísticas a permitir, ao analista inteligente e imparcial, a identificação da assinatura de Wyler, na sua maestria autoral. Uma força, uma intensidade, uma lógica de autoria de raro, raríssimo, cineasta, como pouquíssimos o são, e exemplarmente

Terence Stamp e Samantha Eggar, “O Colecionador”

rigoroso. E preocupado com o ritmo, a montagem, a composição cênica, a exigir, em sua equipe, os maiores e melhores atores, Bette Davis & Laurence Olivier & Olivia de Havilland & Montgomery Clift & Mirian Hopkins & Humphrey Bogart & Walter Huston & Sylvia Sidney & Herbert Marshall & Greer Garson & Fredric March & Eleanor Parker & Ralph Richardson & Merle Oberon & Kirk Douglas & Gale Sondergad & Gary Cooper & Shirley Mclaine & Anthony Perkins & Terence Stamp & Samantha Eggar... Há precisos 40 anos a Reação e o Preconceito, na esteira do golpe pará-facista de 1964, m'expulsavam desta querida, sofrida e resistente Santa Maria da Graça de Belém do Grão-Pará. Foi uma violência, um ultrage infamente e injusto que vitimou também a minha familia sem responsabilidade nenhuma pelas idéias políticas e intelectuias que venho defendendo, e terminou significando um pontapé rumo a uma transformação para melhor na trajetória particular e na carreira minhas de jornalista e de escritor. Sinto-me, 2006 avançando, aberto cada vez mais à leitura e à escrita em processo. O resto é resto. Lillian Hellman, que serviu de roterista a William Wyler em 1936, em 1937 e em 1941, dá, como dou, a toda essa aventura pelo universo mental e ideológica a que nos entregmos no jornalismo e na literatura, o caráter de viagem poética. Não me levo muito a sério além da conta. Todavia respeito e amo o que fazemos, quantos se despõem a essa viagem e àquela aventura, o degás aqui incluso, é lógico. *Jornalista e Escritor

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Camillo Vianna

AMAZÔNIA A Sopren e essas Mulheres Maravilhosas

A

fundação da Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (SOPREN), em Belém, no ano de 1968, foi conseqüência do chamado processo histórico da integração da Amazônia que vinha - e vem sendo - levado a cabo e ferro e fogo, destruindo a esperança do homem da região que há mais de 500 anos aguarda desenvolvimento harmonioso ficando, porém, sempre à margem da história do país. A questão ambiental, incluindo a ecologia, no seu mais amplo sentido, era praticamente desconhecida e limitada a centros acadêmicos, daí a necessidade da SOPREN atuar na formação de mentalidade cultural, nesse particular, levando a mensagem, principalmente, aos educadores, ampliando o máximo possível a área de atuação nos diferentes campos do conhecimento abordados em toda a Amazônia legítima ou clássica, formada pelos Estados do Pará, Amazonas e Acre e pelos então Territórios Federais do Amapá, Roraima e Rondônia. Desde sua criação, a Sopren contou com a presença preponderante da mulher hileiana em seus quadros, como é o caso da engenheira agrônoma Léa Lobato Oliveira, do ex-Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (IDESP), que fez parte da pequena equipe que fundou a entidade. Uma das primeiras atividades da Sopren foi o adestramento de coordenadoras para atuarem no interior do Estado e mesmo na Capital, obedecendo ao critério de rodízio, visando ampliar e consolidar o conhecimento das áreas trabalhadas, e minimizar a severa agressão dos projetos impostos à

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comunidade, despertando a brasilidade amazônica que permanecia à margem dos acontecimentos, porquanto, ao contrário do que se possa considerar, a violentação ambiental não passava, como não passa ainda, de verdadeiro ataque aos nossos valores, fazendo vir à tona, com maior ou menor impetuosidade, a internacionalização da região. Com o apoio do Delegado Federal do Ministério da Agricultura, em Belém, José Alfinito, a Sopren passou a atuar no vale do Rio Tapajós, com referência especial ao Estabelecimento Rural, acervo da extinta s

Curso de artesanato


Companhia Ford Industrial do Brasil, onde contou com a colaboração das assistentes sociais Terezinha de Jesus Torres, Maria da Graça Pardal, Edda Franco Amoras, engenheiras agrônomas, Aurora Santos e da odontóloga Fátima Yared, cujas atuações concentraram-se na setores comunitários e educacional, além das atividades características de cada qual, como é o caso das professoras Joialina Feitosa, na fazenda de Daniel de Carvalho, no município de Aveiro e Elza Silva, no porto do Pindobal, onde foi instalado pequeno bosque comunitário. No Lago Grande de Monte Alegre, a senhora Bias Rufino Pinto (Dona Bibi) líder comunitária é ativa propagadora do ideal da Sopren, substituta natural do soprenista Henrique Cristo de Carvalho, o verdadeiro mártir da ecologia amazônica, assassinado por ordem de fazendeiros recém-chegados, que estavam devastando as margens do Lago. Apesar das denúncias, o que inclui 10.000 exemplares de literatura de cordel contando a saga desse preservacionista, nenhuma providência foi tomada no sentido de prender os responsáveis pelo crime. Na busca de maior envolvimento, passo decisivo foi dado no início dos anos 70, com a parceria Sopren/Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos (MOBRAL), formando àquelas alturas, grande rede de comunicação que incluía os centros urbanos e as mais remotas comunidades amazônicas, ribeirinhas ou interioranas. No Estado do Amazonas, a professora Eliza Benvinda Tinoco, coordenadora do Mobral, passou a representar a Sopren, absorvendo rapidamente as idéias básicas da entidade conservacionista enriquecendo-as, de acordo com as peculiaridades sócio-econômicas e culturais, ampliando a área de abrangência no Estado. Com as mesmas características, Íris Célia Cabanelas Zanini, do Mobral, e posteriormente, secretária de Educação no Acre, reforçou as ações nos setores propostos pela entidade, passando a ser sua representante. Em Rondônia, a professora Natalina Bispo colaborou com a Sopren levando em conta sua experiência no Tapajós, área pioneira de atuação.

Em Xapuri, no Acre, a médica Clementina Gallo desenvolveu trabalhos, apoiada nas normas básicas da Sopren. Do mesmo modo, em Altamira, a professora Rita Maria dinamizou os setores comunitário e educacional e Yacira Sidrim, técnica da Acar-Pará que preparou o primeiro grupo de professoras selecionadas entre as recém-chegadas para a colonização da Transamazônica. Em Almerim, a médica Lia Lobato, da Secretaria de Saúde do Estado do Pará, desenvolveu trabalho nos campos social e médico. Fundadora da Associação Cultural Obidense, a professora Chaguita dedicou-se extraordinariamente

Curso de embalagem - Abaetetuba

à causa da preservação da cultura, do meio ambiente e valorização do homem, mantendo estreito relacionamento com a Sopren de quem recebeu como estímulo, grande quantidade de mudas de paumulato, oriundas do Amapá. Em Belém o relacionamento com o Mobral era dinâmico a partir da colaboração efetiva da coordenação, através da educadora Maria Olinda Bastos da Costa. Em 1968, durante Operação Nacional do Projeto Rondon, integrantes da Sopren, as jovens universitárias Ana Margarida Geraldes Vianna, Diva Camurça, Sônia Maria Pinheiro Vianna, Eluiza Árias e a professora Arlete Benevides apoiaram estudantes que vieram atuar na região, usando cartilha especialmente elaborada pela Sopren, contendo peculiaridades da região, cultura popular, educação ambiental e atividades comunitárias entre outras. Arlete, posteriormente foi responsável pela SoprenMirim. Na administração do Reitor Aluízio da Costa Chaves, foi criado o Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC) que junto com Sopren

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Curso Farmácia Viva, Tartarugalzinho-Amapá

teve importante papel na interiorização da Universidade Federal do Pará. Foi fundamental a integração de mulheres que exerciam funções na Vice-Reitoria e posteriormente na Pró-Reitoria de Extensão: a advogada Ana Maria Chaves Stilianidi de elevado espírito participativo e as agentes administrativas Idelza Barata, Maria Terezinha Pereira Lima, Ester Helena Brabo Arero e Mercedes Costa Silva deram grande reforço estímulo e apoio às equipes. Em trabalho de campo, com igual entusiasmo e dedicação atuaram: a assistente social Terezinha Lisieux Miranda da Silva, coordenadora em Abaetetuba; Ana Rosa Tadeu Bittencourt, assistente social, que pelas suas atividades no município de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, teve seu nome dado, por sugestão de autoridades e comunidade a uma escola do local; Sônia Maria Pinheiro Vianna (falecida), socióloga e museólega, coordenadora em Vigia, cuja equipe composta pelas educadoras Luiza Araújo e Ana Maria Reis Abreu, assistentes sociais Terezinha Lisieux M. Silva, Suleima Pegado, Terezinha Torres e Maria Elvira Sá organizou o Festival da Gurijuba, incentivo a bandinha, preservação do patrimônio arquitetônico, jóia da engenharia jesuítica, além de oportunizar aulas de musicalidade e incentivo à sindicatos rurais. À época foi homenageada a doceira Tia Pê, defensora intransigente da cultura vigiense, cujos biscoitos postos à venda nas ruas da cidade, representavam animais da fauna e da flora da região. No município de Viseu, Augusto Correa e Bragança, as assistentes sociais, Tereza Daguer, Edith Vieira, Joaninha da Costa Alves, Terezinha Torres, Suleima Pegado, América Sobral e Carmela, professora Zilah Barbosa, acadêmica de medicina Eluiza Árias, Sonia Vianna e Sonia Berger, atuaram na reativação da cultura, artesanato e educação ambiental, inclusive com professoras de colégio, onde implantaram o 2º grau, impedindo com isso, seu fechamento. Bragança foi outra comunidade trabalhada por SoniaVianna, Joaninha da Costa Alves, Terezinha Torres, Doranildes Barbosa, Sonia Berger, Tereza Daguer, Ana Suely Reimão, Zilah Barbosa e Ana Maria Reis Abreu, que recebeu da Marujada da Irmandade de São Benedito, das mais importantes atividades culturais da Amazônia, com mais de dois séculos, o título de Maruja, uma vez que as mulheres representam importante papel na festividade do 49 [MARÇO] 30 EDIÇÃO p a r a m a i s . c o m . b r

amazonário, que teve sua origem entre os escravos. Na Zona do Salgado, que corresponde a Amazônia Atlântica, houve concentração de esforços nos municípios de Curuçá, Vigia e São Caetano de Odivelas. Em Curuçá foram realizados: Festival da Cultura, Festival da Gurijuba, Olimpíada Rural, apoio à Colônia de Pesca, curso e treinamento sobre administração para funcionamento da prefeitura, normas básicas de educação ambiental e reanimação cultural. Das mais tradicionais colaboradoras da Sopren, a senhora Ângela Maria da Costa Alves vem atuando em Sta. Luzia do Pará e municípios vizinhos, distribuindo mudas e sementes para interessados na luta em defesa do patrimônio ambiental. A médica Eunice Castro Ribeiro, e seu marido Eduardo, soprenistas, empenham-se na defesa da fauna, da flora e da cultura, dando grande incentivo ao turismo. Em Taciateua, município de Santa Maria do Pará vem sendo realizado há seis anos, com o apoio da guarda-de-saúde e líder comunitária Salete, recentemente falecida, o evento cultural Eco-Taciateuara em defesa do meio ambiente, com especial atenção ao Rio Taciateua, dos mais importantes da região bragantina onde foram soltas centenas de tartaruguinhas oriundas do Serviço de Proteção à Tartaruga, do Ministério da Agricultura, no Rio Tapajós, distribuição de mudas e sementes para comunitários e colonos, com participação ativa das religiosas, irmãs Lígia (falecida) e Inês ambas de Nova Timboteua, com excelente trabalho de preservação ambiental e organização da comunidade. Uma das responsáveis pela rádio-comunitária de Colares, Ytala Gondim, leva ao ar mensagens da Sopren e de interesse regional. Resultante da parceria Sopren-Heidelberg, fundada na Alemanha pela soprenista Jazely Nunes, professora de língua portuguesa naquele país, a entidade passou a receber pequenas contribuições que deram ensejo ao desenvolvimento de Cursos de Curta Duração, criação de escolinhas de reforço, e de mutirõezinhos, em Abaetetuba, nos ramais do Castanhal I e II e mutirões para adultos no km-14 da Rodovia Moura Carvalho e no Rio Maracapucu sob a responsabilidade das professoras Auxiliadora Ferreira Rodrigues e Maria do Rosário Miranda Cardoso e da técnica da Emater-Pará, Maurila Irene dos Santos Freitas, que contavam com a participação das mães no preparo da alimentação das crianças e recebiam treinamentos, os mais diversos, como: corte e costura ministrado pela agrônoma Isabel Lozada, manicure, licor, doçaria e serigrafia. Na região das Ilhas, nas comunidades de Maracapucu do Sagrado Coração, Sapucajuba, Sirituba, Urubueua, como resultante dos Cursos de Curta Duração, foram criadas padarias e hortas comunitárias, orientação para produção de mudas, plantio de essências florestais,

Furo do Maracapucu, crianças pescando


amazônica; professora Ludetana Araújo, líder universitária de frutíferas e medicinas, cursos de alimentação alternativa, corte e relevância em educação ambiental, dos quadros da Secretaria costura, bordado, manicure, serigrafia e artesanato, sob orientação da Executiva de Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM); a advogada vice-presidente da Sopren, técnica-agrícola Maurila Irene dos Santos Letícia Morais, de origem tocantina, que faz parte da diretoria da Freitas, com colaboração da professora e diretora de colégio Estelita da Sopren; Oro Serruya, arquiteta, presidente do Congresso Costa Ferreira e da líder comunitária Dona Mariona. Internacional Israelita de Sociosfera da Amazônia (CISA), com Na Colônia Nova de Abaetetuba, Dona Constância participou atuação abrangente no que se diz respeito à defeso da região e à juntamente com seu marido, o soprenista e Mestre Preservador, Dudu valorização da ciência e do homem da Amazônia. Sobrinho, da formação de floresta, que foi mostrada para todo o Brasil Base de apoio para essas tarefas vem sendo a Abordagem Cultural no programa Globo Ecologia. de Comunidade, de autoria da professora Maria da Paz Araújo A professora Nina Abreu, artesã premiada da cidade de Abaetetuba, (falecida), que abre um leque variado de ações que incluem Mestre Preservadora da Sopren, tem atuação permanente na hábitos, usos e costumes, artesanato, saúde, cidadania, autoreanimação da cultura popular e defesa do meio ambiente, sendo estima, preservação da natureza, nacionalidade e tudo mais que responsável por colégio, onde repassa seus conhecimentos. contribua para o desenvolvimento. A Sopren contou ao seu início, com o melhor e mais abrangente meio de O êxito desse enfrentamento deve-se à tenacidade, dedicação e comunicação existente àquelas alturas - o rádio amadorismo - e a amor de nossas companheiras - sempre voluntárias - da Sopren, soprenista Maria Emília Miranda Cabral e seu marido Homero (já Mobral, Universidade Federal do Pará, Crutac, Projeto Rondon, falecido) foram precursores em divulgar a mensagem da Sopren, aos técnicas do Ministério de Agricultura, quatros cantos do planeta. no Tapajós e de grupos organizados e Criado no governo do prefeito Stélio comunitários. Maroja, a Sociedade dos Amigos de Estenda-se essa homenagem às Belém, contou com a dinâmica mulheres amazônidas, tendo como participação da Sopren, através de simbolismo o que ocorreu no Rio Scylla Fecury e Iolanda Santos, Tocantins paraense. Durante a defensoras da arborização da cidade construção da Hidrelétrica de Tucuruí, que contavam com o apoio foram recrutados 35.000 homens e inquestionável do soprenista e neo5.000 homens para a instalação da hileiano, Ir. Affonso Haus, do Colégio Coleginho do Ramal do Castanhal II ABEET. Albrás-Alunorte, quase todos da Nazaré, dos mais tradicionais da região, esvaziando a presença do homem, passando a mulher a ter Amazônia, criador e responsável pela Campanha do Caroço, quando papel preponderante na comunidade e na parte administrativa do alunos orientados pelo irmão, levavam caroços de manga, que eram município. Ao término dessa obra e de outras de grande transformados em mudas para posterior entrega festiva aos Prefeitos envergadura, legiões de desempregados, maltrapilhos, de Belém. perambulavam na busca de trabalho, realçando ainda mais o Atualmente, a Sopren conta com a integração permanente de papel da mulher na luta pela sobrevivência. veteranas e novas batalhadoras de primeira linha como a líder A combatividade dessas guerreiras, nessa luta, exige continuidade comunitária, defensora da formação do mais novo Bosque de Belém, e envolvimento de todos os cidadãos brasileiros em demonstração no Conjunto Médici I, Aldenora Gonçalves; Ima Guimarães Vieira, de dignidade, respeito e amor à Pátria. agrônoma, ativista dos primeiros tempos, atual diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi, referência mundial na defesa da ciência *SOPREN

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Todo mundo sabe que todo revolucionário radical se torna conservador um dia após a revolução ter sido feita. Seja radicalmente a favor do diálogo.

Artesanato por Ricardo Jordão Magalhães

Q

uerida(o) Amiga(o), O que você estava fazendo no momento em que o segundo avião bateu no World Trade Center naquele 11 de Setembro de 2001? Eu participava de um curso sobre gestão com outras 200 pessoas em um hotel em São Paulo. No momento em que o avião explodiu na segunda torre, a equipe de gestores, separada em grupos de cinco, apresentava as suas idéias para o problema que haviamos sido desafiados a resolver: "Como será o mundo daqui a 100 anos e qual produto você acredita que será bem-sucedido?". Enquanto o meu grupo aguardava a sua vez, eu observava atentamente as idéias apresentadas pelos líderes de cada mesa. "Daqui a 100 anos o trânsito vai estar tão caótico, que o produto mais bem-sucedido será o carro que voa", "Daqui a 100 anos haverá tantos vírus e doenças no mundo, que o produto mais bemsucedido será o atendimento médico domiciliar", "Daqui a 100 anos os avanços da tecnologia serão tão impressionantes e as pessoas estarão tão solitárias, que o produto mais bem-sucedido será um robô-clone do Ser Humano que terá a aparência que o cliente quiser",

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"Daqui a 100 anos a água do planeta estará tão poluída e escassa, que o produto mais bem-sucedido será a água limpa e pura". As idéias sobre melhorias em produtos e serviços jorravam das mesas. O mundo repleto de maravilhas tecnológicas preparadas para consumo brotava da mente das pessoas. No instante em que o avião bateu na segunda torre, a vez do meu grupo chegou . Sem entender bem o que acontecia em Nova Iorque, eu me levantei da cadeira e disse: "Daqui a 100 anos não mais existirá o Capitalismo. O Ser Humano estará tão educado, compreensivo, consciente e politizado, que deixará de consumir coisas. O capitalismo vai quebrar! O Ser Humano não mais desejará trocar de carro todos os anos, não mais desejará trocar de televisão a cada nova Copa do Mundo de Futebol, não mais gastará com comida além daquilo que é o suficiente para sua saúde. Daqui a 100 anos, a sociedade do CONSUMO irá desaparecer, dando lugar a sociedade da PRODUÇÃO. O produto mais bemsucedido daqui a 100


anos será aquele feito artesanalmente por cada um de nós. Serão 7 bilhões de produtos bemsucedidos. Eu mal posso esperar para conhecer o que cada um de vocês sabe realmente fazer." Seis anos depois, eu acredito ainda mais nessa previsão. O Ser Humano quer PRODUZIR e não consumir. O Ser Humano quer ser RELEVANTE e não gigante. O Ser Humano quer CONTRIBUIR e não destruir. A Wikipedia, maior enciclopédia web do mundo, lançada em 2001, superou a marca de 1 milhão de artigos e 320 milhões de palavras publicadas com apenas 2 funcionários em tempo integral. A tradicional Enciclopédia Britânica, disponível no mercado há decadas, possui apenas 120 mil artigos e 77 mil palavras publicadas com várias centenas de funcionários. Como a Wikipedia chegou a esse tamanho? A Wikipedia possui hoje 36 mil voluntários que escrevem GRATUITAMENTE todos os dias sobre os mais variados assuntos. A Wikipedia confiou nas pessoas, delegou tarefas, explicou a sua visão de futuro, e o Ser Humano correspondeu. A IBM possui 329 mil funcionários bem pagos em todo o mundo que se esforçam todos os dias para promover e sustentar a marca da gigante. A Ebay, web site de compra e venda na internet, possui mais de 724 mil pessoas que não são funcionárias e nem são pagas pela Ebay, mas promovem entusiasticamente a empresa por ela ter se transformado na principal fonte de renda dessas pessoas. 70 mil novos blogs aparecem na web a cada 24 horas. 25 milhões de blogs já estão no ar e superam em uma centena de vezes o número de jornais e revistas disponivéis no mundo impresso. O mesmo vale para o mundo do rádio, onde milhares de programas de aúdio no formato de podcasting motivam as pessoas a parar de consumir rádio para prestar atenção a produção de indíviduos. No mundo da música, o web site GarageBand, promove de uma maneira brilhante para mais de 3 milhões de ouvintes cansados de consumir o mais do mesmo, o trabalho de artistas independentes descartados pelas gravadoras tradicionais. Para aqueles que sonham em publicar o seu próprio livro, mais de 20 empresas no Brasil oferecem serviços de produção e distribuição de livros sob medida, em pequenas quantidades, sem necessidade de aprovação de editores e críticos. Nos EUA, Built-a-Bear Workshop, reinventou a maneira de vender ursinhos de pelúcia ao produzir o ursinho na própria loja, na frente da criança, do jeito que a meninada sempre sonhou: com coração, nome,

certidão de nascimento, mensagem falada personalizada, roupas e acessórios escolhidos a dedo. A era industrial nos ensinou que a produção em série é a melhor maneira de lucrar no mundo dos negócios. Quanto mais do mesmo produto a fábrica vomitar prá fora, maior a probabilidade de ganharmos dinheiro. Quanto mais padronizada for a maneira de servir as pessoas, mais eficiência teremos. Quanto mais robotizada for a maneira que as pessoas trabalham, mais produtividade teremos. Quanto mais treinarmos o Ser Humano, menos humano e menos interessante ele será, menos artesanato ele produzirá. Parabéns aos poucos gigantes que fazem isso. Desejo sucesso a eles no mundo da robótica. Longe de mim. Para competir com a turma da robótica, e vencer, FAÇA ARTESANATO! Se o Wal-Mart é o seu concorrente, e ele vende chocolates Nestle, biscoitos Bauducco e iorgutes Batavo, não venda o que eles vendem. PRODUZA ALGO DIFERENTE! Por exemplo, monte uma oferta chamada "Lanche da Tarde" composta por frutas + barras de cereais + sanduiche natural para o cidadão que trabalha sentado o dia inteiro enfurnado nos escritórios do mundo. Não ofereça o que o robô oferece, FAÇA ARTESANATO!

Se o Submarino é o seu concorrente, e o cliente coloca um pedido na sua loja de um produto que você não tem, não faça o que o Submarino faz. Não envie um e-mail robótico perguntando ao cliente se ele confirma o pedido. PRODUZA algo ARTESANAL! Ligue para o cliente, informe o prazo de chegada do produto, sugira outras ofertas que possam interessar quem tem interesse por esse produto. Faça algo, mas não faça o que o robô faz, FAÇA ARTESANATO!! Todas as grandes empresas nascem artesanais mas na maturidade perdem o quê as tornou o que são. Não deixe isso acontecer com você. SEJA ARTESANAL! Desafie os manuais, questione as regras, não decore o script, reprograme o software. Fique próximo do SER HUMANO! É para ele que tudo isso foi feito. É ele que deve PRODUZIR TUDO e não consumir. NADA MENOS QUE ISSO INTERESSA! QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você? *BIZREVOLUTION E-Mail e Messenger: ricardom@bizrevolution.com.br EDIÇÃO 49 [MARÇO] p a r a m a i s . c o m . b r

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SÉRGIO PANDOLFO serpan@amazon.com.br

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COLONIAL DIAMANTINA

De Chica da Silva ao “Peixe Vivo”

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colonial Diamantina, alçada a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, teve seu início histórico no primevo Arraial do Tijuco, criado pela Coroa portuguesa para abrigar as famílias nobres cujos líderes comandavam escravos e tropeiros na continuada e estafante busca do ouro. Com o achamento de diamantes na região o povoado cresceu e fez-se próspero. Os registros históricos apontam o ano de 1734 como o da criação da intendência dos diamantes e de transformação do Arraial do Tijuco em centro político-administrativo do distrito diamantino, dando nascimento a uma verdadeira cidade, com construções de palácios e casas senhoriais e febricitante vida profana, elevado à categoria de vila em 1770 e transformado na cidade de Diamantina em 1838. Uma história de aventuras, heroísmo, riquezas, amores, ganâncias, mas, sobretudo, uma seqüência histórica de fatos e de gentes que transformaram Diamantina numa das mais belas e ricas cidades brasileiras, herança patrimonial da colonização portuguesa de valor inestimável e em muito bom estado de preservação, que merece ser conhecida pelos brasileiros. “O CAMINHO DO OURO FOI TRAJETO FORJADO POR BRAVOS, GENTE DE FIBRA OU DE GANÂNCIA QUE TROUXE PARA SI A RESPONSABILIDADE DE CRUZAR QUILÔMETROS EM LOMBO DE BURRO, LEVANDO O OURO BRASILEIRO ATÉ A SAÍDA PARA O MAR, EM PARATY, NO RIO DE JANEIRO.” in PRAIA E MONTANHA, Nº. 30

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Estrada Real. O novo e o velho caminho

Casa com forro pintado por José Soares de Araújo, artista da mesma importância de Mestre Ataíde

Já tivemos oportunidade de referir, aqui mesmo, nas páginas de Pará+, o inestimável patrimônio que nos foi legado por nossos descobridores e colonizadores, mas sempre convém ressaltar que esse cabedal está representado, desde o vasto território sob nossa soberania, a língua lusa, que Camões exalçou, hoje uma das mais importantes e difundidas no mundo, a índole pacífica do brasileiro, a extraordinária e superior mescla trirracial que nos distingue e orgulhece, hábitos e costumes e um dos maiores, importantes e ricos patrimônios arquitetônicos da era colonial, que vai desde prédios isolados e únicos, passa por conjuntos originais de nossas principais cidades, tais como os chamados Centros Históricos (de Salvador, São Luis, Rio de Janeiro, Belém a nossa distinta Cidade Velha) e chega mesmo a incluir cidades inteiras, como é o caso, só para pôr exemplos, de Ouro Preto e Diamantina, de que ora nos ocupamos. São legados que sobre muito nos orgulhar ainda nos enseja, hoje, um avultado filão turístico, pelas preciosidades, em alguns aspectos únicas, responsável por elevada receita financeira daí advinda. Diamantina era o ponto inicial da chamada Estrada Real, percorrida por tropeiros, aventureiros e volantes de fiscalização e taxação de impostos incidentes sobre os minerais encontrados à farta, naqueles recuados tempos, em várias cidades das Minas Gerais, dentre as quais sobressaía a de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Esse trajeto, que está atualmente sendo objeto de um plano de reavivamento, com vista ao incremento turístico, Praça Juscelino Kubitschek

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Igreja de Nª. Srª. Do Carmo, cuja construção foi financiada por João Fernandes para sua amante Chica da Silva

cidade ricas reminiscências históricas sob a forma de edificações civis e religiosas, espalhadas pela cidade. Tudo em Diamantina está muito bem preservado e é motivo de orgulho para seus habitantes, conscientes e ufanos desse tesouro que não tem preço: o casario, o calçamento em pedra, os variados estilos arquitetônicos de épocas diversas e povos de costumes diferenciados que por lá passaram, as muitas igrejas, feitas com o emprego de materiais de construções originais, os museus, as fontes, que nos faz voltar no tempo e imaginar a vida citadina daquela gente, com seus hábitos e costumes tão diferentes dos dias de hoje. Tivemos oportunidade de conhecer a cidade em novembro de 2005, como esticada de lazer e curiosidade histórica, após um congresso cultural em

era feito a fim de levar o ouro e pedras preciosas primitivamente ao porto da cidade de Paraty (RJ), o chamado Caminho Velho, e posteriormente às instalações portuárias do Rio de Janeiro, já então sede da colônia, o que permitia um melhor controle e inspeção, que passou a ser conhecido como o Caminho Novo. Foi lá, na trissecular Diamantina, que desenvolveu-se o romance amoroso efervescente de Chica da Silva, uma escrava negra por quem o português João Fernandes de Oliveira, contratador de ouro, se apaixonou perdidamente, fazendo-a rainha do Tijuco, fato narrado em livros, fascículos de cordel e levado às telas de cinema e TV. Desse romance subsistem na Casa de Chica da Silva

Através da sacada colonial, uma visão da Igreja do Bonfim

Belo Horizonte. Diamantina foi berço, também, de um dos brasileiros mais ilustres e cultuados de todos os o

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tempos, o exPresidente Juscelino Kubitschek e em sua memória estão conservados na cidade inúmeros prédios, hoje duplamente históricos, como a casa em que nasceu, a outra em que morou com sua mãe enquanto lá viveu, o seminário em que estudou e alguns monumentos que em seu honor foram erigidos. A praça que abriga o histórico Mercado Municipal hoje leva Casa de Muxarabiê, cujo nome identifica a treliça mourisca de madeira, presente em um dos balcões

O bicentenário Mercado Velho

seu nome e a casa onde residiu com sua mãe é atualmente um museu de seus objetos pessoais, domésticos e atividade médica e uma biblioteca municipal. Alguns pontos de um roteiro turístico pelas ruas e vielas de Diamantina são obrigatórios, imperdíveis (como se diz hoje) e evocativos daqueles alonjados dias de glória e esplendor, como a Casa de Chica da Silva, a Capela de N.Srª. da Consolação, o Museu do Diamante. A Igreja de N.Srª. do Carmo, imponente e suntuosa, entalhada em ouro pela artesania dos mestres Francisco Antônio Lisboa e Manuel Pinto, tem em seu interior um órgão também trabalhado em ouro e teve sua construção, financiada por João Fernandes, encerrada em 1765. A Casa de Chica da Silva sem ponta de dúvida é a que atrai maior número de curiosos

Fone: (91) 3248-5651 EDIÇÃO 49 [MARÇO] p a r a m a i s . c o m . b r

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O Passadiço da Glória permitia o trânsito inapercebido das freiras de um casarão a outro

turistas, dada a difusão do tórrido e voluptuoso romance vivido pelo contratador com a escrava negra, feita sua amante e preferida, que os guias se esmeram em particularizar, entre os anos de 1755 a 1770. È uma mansão típica das residências coloniais mineiras. Outra curiosa atração é a Casa de Muxarabiê, que deve seu nome à conservação de sua A Casa-Museu onde morou JK sacada original com treliça de madeira, de origem mourisca, que leva essa denominação. Esse tipo de balcão projetado permitia às mulheres ampla visão das ruas sem que fossem notadas, sinal de uma época conservadora e marcante dos costumes do século XVIII. Não se pode deixar de visitar também a Casa com Forro Pintado, em que residia o intendente da câmara, assim como o prédio da prefeitura, antiga Casa da Intendência, erguida pela Coroa (1733-1735) para abrigar a administração das jazidas. O Museu do Diamante, edificação do 18º século, foi residência do Pe. José de Oliveira e Silva Rolim, um dos mais ativos inconfidentes. O acervo desse museu é deveras expressivo e representativo da atividade extrativa e comercial dos diamantes, ademais de móveis, arte sacra, armaria, numismática e utensílios da

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A antiga fonte e o calçamento original em rua central

época. O Mercado Municipal é outra construção-símbolo da cidade. Arquitetado inteiramente em madeira, suas peças se articulam por meio de encaixes, cravos do mesmo material e amarrilhos com cipós. Nesse edifício, onde atualmente se comercia “de um tudo”, no dizer parauara, em seus primórdios eram também expostos, para compra e venda, animais de tração, condução e alimentação, além de escravos. O Passadiço da Glória, uma construção fantástica e verdadeiro sinal de seu tempo, liga duas edificações, dos séculos XVIII e XIX, referências européias dos habitantes do Arraial e emblemático da rígida moral vigente na época, permitia o trânsito das irmãs sem serem notadas. Terra de grandes personalidades e mitos da História brasileira, Diamantina gosta de cultuar seus filhos ilustres: a Escola Estadual “J úlia K ubits chek”, em contraste com o estilo colonial que caracteriza e domina a cidade, foi erguida com as linhas da modernidade de Oscar Niemayer. Mas notundamente se equivoca quem pensa ser

Em sua cidade-natal o “peixe vivo” tem estátua em tamanho natural


Diamantina apenas o conglomerado de um casario obsoleto, descolorido, d e s a t i v a d o , a s u s p i r a r, saudosista, por um passado viçoso e buliçoso. Ao revés, seu Centro Histórico, totalmente restaurado à fiel originalidade, abriga, e condignamente, mansões de ricos senhores, hotéis, pousadas, pensões, restaurantes, lojas de artesanato e de suvenir, bancos, joalherias, mobiliarias e toda a complexidade comercial de uma moderna cidade, ademais de sediar vários cursos acadêmicos da Universidade mineira, cujos alunos, misturados aos muito turistas sempre presentes, dão às ruas o Interior do quarto de Juscelino para a prática de bulicio e o viço da mocidade e de atualidade. esportes radicais, Diamantina é pelos amantes da também terra em que se cultiva Natureza e pelos hábitos e que querem tradições que lhe reportar-se a um são caros e tempo, já bem característicos, distante, em que como a música, Diamantina era o que é ouvida o ponto de partida ano inteiro, da trilha do ouro executada por e dos diamantes. conjuntos *Médico e musicais de Escritor qualidade e bom SOBRAMES-PA gosto que tocam A musicalidade domina os diamantinos e marcou JK, havido como bom seresteiro e exímio pé-de-valsa

o fino do Jazz, Bolero, Bossa Nova, Samba, Chorinho e, principalmente, as famosíssimas Serenatas, que Nonô (terno apelido de infância de JK) a gosto pleno apreciava e delas participava, tanto que a canção “Peixe Vivo” hoje quase que se confunde com o sorriso, a simpatia e a imensa saudade que sentimos desse diamantino que tirou o Brasil da modorra e do obscurantismo, fazendo-o respirar os ares da modernização, progresso e avanço econômico, tecnológico e social. A cidade oferece ainda roteiros de aventuras em trilhas ecológicas que levam a cachoeiras, como a da Sentinela, grutas como a do Salitre e áreas

Alegoria de Chica da Silva, a rainha do Tijuco

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T ecnologia

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AIdade Média

NOVA Idade

(Média) José Vilhena

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é média porque o meio é a mensagem. O canal necessário para o nascimento do homem. O fim dos feudos e o reconhecimento do tempo de Galileus, Davincis e Descartes. A busca do raciocínio na Velocidade da Luz como Tempo Real: 50 anos em cinco. Terceiro Milênio. A começar pelo Brasil, terra de Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Pagú, Villa-Lobos e Monteiro Lobato, todos precursores de seu povo, à frente de seu tempo. Digitais. Mais tarde decodificada por Paulo Freire: a transformação da sociedade de ondas para a de dados. Um verdadeiro profeta. Já tinha previsto o descompasso entre escola e sociedade como "educadora" (ordem) e, conseqüentemente, solidez do Estado (progresso). A necessidade de Orkuts para suprir a falta de referências. E propunha a Sociedade do Conhecimento, libertária e democratizadora. A Revolução Educacional tão sonhada pelos anos 60 e que agora está na pauta de líderes norte-americanos para impedir a queda do Império. A descoberta da importância do tempo e do espaço nos custos de produção. O Ser Criativo, metamorfe ambulante, onde ter velha opinião formada sobre tudo será lixo, burocracia. O tempo como somatório de todas as freqüências humanas e o ponto de mutação como passagem da Idade Média para o Renascimento. A destruição de paradigmas, as chamadas premissas. Cuja lógica chega ao desvio padrão, o imprevisto. A hipocrisia de aceitar a matemática cartesiana como ciência exata. Então, caros amigos, convido a todos a entrar na lógica holística e, conseqüentemente, na matemática holística, para entender a passagem da Sociedade do Espetáculo, a Idade Média Moderna, para a Sociedade Alternativa, a Idade do Ouro. E sua correlação com a televisão brasileira, que entrará agora na Era Digital.


Por que os historiadores reconhecerão este tempo como Idade Média Moderna? Porque será uma outra Idade Média para o mesmo determinismo histórico: a união da tradição religiosa, a "necessidade de religação ao Todo", aos interesses econômicos, a "verdade do capital", para a formação de poder, o "movimento opressor". A diferenciar apenas uma sofisticada mensagem subliminar patrocinada pelos meios de comunicação "modernos" para desencadear o terror. Em bom português, a Nova Cruzada. Pela ótica ocidental, o Islã é o "demônio", assim que, como resistência, a ótica oriental considera o pensamento ocidental como o "Grande Satã". Por trás de tudo isso, a constatação de que até o fim da Era do Petróleo o seu maior produtor planetário reside no mundo islâmico. A "novela diária" (em capítulos), que combina terrorismo de Estado com manipulação feudal. A única dúvida é se o Papa Bento XVI abençoará o casamento: Urbi et Orbi, temendo a inexplicável complacência islâmica com o erro histórico das "cruzadas" (em nome do Cristo guerrear pela "lei", como fizeram os profetas que o antecederam, na "eterna" luta humana entre o "bem" e o "mal", materializada pelas "religiões" como a Guerra Santa que haverá entre "Deus" e o "demônio" na "batalha" final). Porque o "cristianismo" evangélico dos EUA já comprou a idéia. E a compreensão real: ninguém é inocente neste jogo de enxadrista entre grandes potências e periferia. E no centro do jogo, o Líbano,

disputado por Síria e Israel, num reino dividido. O que só reascende a discussão sobre a Teoria do Reconhecimento de Paulo Freire para o planeta, assim como o direito à informação para a construção de um outro mundo possível. O mundo digital forma-se a partir do momento em que os relógios (medidor do tempo) passam da Era das Cordas para a Era Digital a partir do quartzo. Depois da ampulheta e das cordas, o quartzo foi incorporado ao relógio como marcador de tempo. Como a freqüência de vibração do quartzo varia muito pouco com a temperatura e outros fatores, a precisão do relógio de quartzo pode ser mantida por muito tempo sem grandes variações. Foi assim que Bill Gates acompanhou a mudança e começou o seu negócio. Como não tinha aptidão para a burocracia, ele não chegou a se formar na universidade para não perder tempo por ser digital (quartzo). A partir da Microsoft, criou ferramentas para o homem economizar tempo com a forma e beneficiou a máquina em matéria-prima (instrumento) para o ser humano atingir o maior valor agregado: o conteúdo em Tempo Real. Daí que no computador você tem ao seu dispor dicionário, calculadora e todo um aparato para que o raciocínio mantenha a velocidade da luz. Assim como os celulares passaram a incorporar novas ferramentas trazendo mobilidade ao homem. Porque cada vez que se pára para consultar um dicionário, ou os dados não são encontrados no espaço em que está, perde-se o fluxo de idéias que propicia o desenvolvimento do melhor conteúdo. A criação e recriação. Em sentido contrário, muitos colegas que iniciaram a universidade junto com Gates, que repetiam a doutrina de consulta ao dicionário, preferiram a forma burocrática. O bilionário Bill Gates Receberam o canudo (diploma exemplo de “homem digital” que a sociedade confere como valor de "sabedoria") na reunião final dos formandos, nas quais as famílias

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ficaram encantadas com a forma (a fala dos oradores, o filho todo aparamentado, as delícias da festa) e se esqueceram do conteúdo: o posto de trabalho. Resultado, muitos estão desempregados, sendo tratados pela família como "encosto" e deixaram de ser iguais ao colega não burocrático: "Bilionários". Ao entendermos o mundo digital, já percebemos que o instrumento inicial do sistema digital, o computador, iniciou-se com uma ampulheta para marcar um determinado momento, contagem do tempo assim como nos primórdios, e terá que terminar com a imagem do quartzo, o Tempo Real. Que não conhecemos ainda e isso se evidencia de região para região, o espaço. Exemplificados pela metafísica através da ótica do emissor. Os urbanos dirão no interior: como andam devagar! E a ótica dos interioranos dirá ao conhecer a cidade grande: como andam depressa!. Ela é quantificada através dos fusos horários, alguns dentro do próprio País. O que dirá o Japão em relação ao Brasil? A pública face da outra moeda como expressão de oriente e ocidente. A metade da laranja dentro do mesmo universo. Global. Na disputa por este novo tempo está a TV digital em nível mundial. E nós entramos nessa discussão agora. Até meados ou fim de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva baterá o martelo sobre o padrão da TV digital brasileira. Receberá o relatório preparado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, exrepórter do "Fantástico", que vinha neutralizando a participação da sociedade civil dentro da comissão formada pelo Estado. Costa disse que entregará um documento que possibilitará o presidente da

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República "chutar a gol" em tempos de Era Digital. Cabe à sociedade, que não participou da discussão, esperar a decisão de Lula porque o Congresso que, tardiamente entrou no processo, desconhece completamente a matéria como vimos pela TV Senado. Um assunto que envolve política industrial para o Brasil nos próximos 30 anos. Isto significa participação da indústria, do comércio, do sistema bancário e do Itamaraty num negócio de bilhões de dólares e globalizado (mais fluxo financeiro). Não posso dizer que o presidente Lula errou até agora. Ao destinar recursos para pesquisas sobre a TV digital, distribuídos em 22 consórcios entre centros de pesquisas e universidades no Brasil, o País avançou porque iniciou o jogo com contrapartidas. Tecnologia nacional. O que não aconteceria se o País comprasse apenas o pacote tecnológico desenvolvido por outros países ou bloco como era a meta do governo anterior. Ou seja, eles só estão oferecendo vantagens porque o Brasil mostrou que tem capacidade tecnológica para desenvolver a TV Digital. O problema é o tempo. Além de atrasar a liberação de verbas para pesquisa, o governo propiciou pouco tempo para o desenvolvimento da digitalização da TV brasileira, mas teve pressa em exigir o cumprimento do prazo estabelecido para pôr em operação este novo sistema, que poderá ter reflexos nas bolsas de valores mundiais, que enfrentam forte volatilidade. Mas não adianta colocar no mercado um produto sem que o seu desenvolvimento seja auto-sustável. O segundo ponto é: o investimento em pesquisa nesta área se tornará permanente? Qual será a destinação do Fust? Não há discussão porque o governo não acordou sobre o potencial industrial que tem nas mãos. E trata este setor com descaso. A PUC do Rio Grande do Sul estava desenvolvendo um sistema avançado, mas teve que interromper porque havia pressa para entregar o relatório ao governo. Muitas novidades ainda podem sair de lá se houver investimento público ou privado, algo raro no Brasil. A Universidade Federal da Paraíba desenvolveu excelente tecnologia para a TV Digital.


Continuará neste processo o Estado de Assis Chateaubriand? E a USP? A precursora da discussão no Brasil. Como será a comunicação, a segunda matéria-prima mais importante na composição de preços? Ela virará uma grande operadora para os seus diversos atores (sociedade, sistema financeiro, comércio e indústria)? Qual a tendência da comunicação? Se transformar na Sociedade do Conhecimento porque só desta forma o homem se liberta da opressão e produz? Como se chega à Sociedade do Conhecimento? Unindo a Sociedade de informação e a sociedade de comunicação, conteúdo e entretenimento? Software e imagem? Por esta razão, a TV Digital sai na frente para formar a Sociedade do Conhecimento porque a discussão da digitalização se aprofundou e ela passou a ser vista como uma nova mídia e não apenas uma melhor definição de imagem e som. Desta forma, o governo não precisa autorizar os canais analógicos vigentes a se digitalizar. O governo pode abrir para novos atores porque não estará tirando nada de ninguém. A TV analógica, a que conhecemos, continuará funcionando. E de repente por muito tempo. Porque se a TV digital não despertar o interesse do público, principalmente o mais pobre economicamente, ele continuará na analógica. É claro que nenhum governo sério tirará da Rede Globo a TV

digital porque ela está ganhando o mundo com o conteúdo que produz: novelas e seriados de alta qualidade. Mas o que será da CNT? Venderá tapetes pela televisão? Porque melhor definição de imagens representará altos investimento em novos estúdios, maquiagem, câmeras, que só a Rede Globo se preparou neste sentido. A TV digital é um produto novo de mídia e tem que ser encarada desta maneira porque unirá televisão e informática, ou seja, digitalizada em dados. O telespectador poderá fazer perguntas aos entrevistados do programa tipo Jô Soares, num canal anexo, e interagir com outros interlocutores como se estivesse numa teleconferência. Haveria intervalos para a publicidade. Ou seja, com a compressão do espectro, uma operadora disporia o Programa do Jô com seus vários entrevistados e em outro o entrevistado com os

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telespectadores ávidos em fazer perguntas para diminuir as suas dúvidas. Assim como no programa do "Fantástico" um assunto de saúde poderia ser discutido pelo Drauzio Varella aos mais pobres. Tudo de forma interativa como estivesse participando de um "chat", só que ao vivo e a cores. O exemplo da reportagem exibida estimulou a sertaneja a entrar no canal anexo e conversar com o Dráuzio Varello, sobre a coceira que o filho está tendo e qual o nível de emergência do caso, além de receber precauções caseiras. Isso é possível. Só falta investimento tecnológico visando os óbices que o País enfrenta. O investimento da operadora televisiva aberta, concessionária do Poder Público, será ressarcido pelos anúncios durante os intervalos comerciais. Porque estará se "vendendo" informação. A outra reportagem do "Fantástico" poderia não despertar interesse e a sertaneja iria, pelo controle remoto, para o SBT por dois minutos. E abriria espectro para outros atores, como canais comunitários, legislativos, do Poder Judiciário, e até de produção independente, que não deveriam estar na TV Paga por ser de interesse público. A melhor decisão do Governo Federal será deixar que o desenvolvimento tecnológico se dê através da concorrência entre as televisivas digitais abertas a fim de que se descubra a linguagem deste novo meio. Haverá, conseqüentemente, uma mudança no formato

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dos comerciais e na estratégia das agências de publicidade. Qual será o melhor padrão? Será aquele que incluir digitalmente toda a população brasileira. Por isso, em 2003, a TV digital passou a ser estratégica. Porque se descobriu que esta inclusão poderia ser feita pela televisão que já está presente em cerca de 90% das casas brasileiras. Essa foi a novidade para o Brasil. E por ela tem que se pensar qual o padrão escolhido. O segundo ponto é incluir as classes pobres que foram beneficiadas com o aumento da renda na base de consumo. Daí que sistema bancário, indústria e comércio têm que estar presentes nessa discussão tão apressada (não entendo o motivo. Copa do Mundo?). Não tenho aqui o relatório preparado pelo Ministério das Comunicações e não posso avaliar se ele será isento. Mas espero que o presidente Lula não bata novamente na trave, como não retomar a Embratel no desastre da WorldCom. Faltou visão estratégica. Para entender o mundo digital, é preciso saber que haverá uma convergência de várias mídias (televisão, rádio, telefonia fixa, móvel e Internet) em Um: Sistema Digital. Então o modelo requererá mobilidade. Desta forma, a sociedade tem que verificar que as rádios digitais abertas terão que adotar o mesmo padrão da TV digital aberta para haver a sincronia. Fica a pergunta: como o Ministério das Comunicações já se apressou em entregar a tecnologia norte-americana para as rádios se não definiu ainda a TV? Se pensarmos que o telespectador, ao ter novas ferramentas, desejará participar da programação, o sistema terá que ter interatividade. E há os que defendem a melhor definição de som e imagem como um dos interesses do consumidor para trocar a programação analógica pela digital. A preferência pelo sistema japonês se deve ao fato de ele atender a estes três requisitos porque no sistema europeu o padrão de imagem e som é o do tipo DVD (bem melhor do que é


exibido atualmente), mas não tão fantástico como o japonês e o norte-americano (onde se pode ver a imagem, com precisão, da bolinha da água mineral). Bem, o padrão dos EUA está descartado tecnicamente para o Brasil. Como não entenderam o produto na Era Digital, ele está sendo reformulado pela sul-coreana LG para o público norte-americano. Nada mais bizarro. O Europeu tem como enorme vantagem a possibilidade de empresas brasileiras entrar no consórcio que desenvolve o futuro da TV digital, a transmissão de até quatro programas simultâneos no mesmo canal (diversidade), o que inclui novos produtores de conteúdo. O sistema é adotado em mais de 50 países (possibilidade de exportação) e, pela disponibilidade de conversores, o que facilita a aquisição pelas pessoas de baixa renda (inclusão digital). Vale lembrar que, ao participar do consórcio europeu, o Brasil pode decidir, no futuro, com base na TV digital, um melhor uso da Internet, caso o governo norte-americano use o poderio de deter nas mãos o domínio da Grande Rede para prejudicar outros atores e beneficiar suas indústrias. O sistema japonês contempla apenas a melhor definição de imagens (o que será apetite apenas para as classes mais abastardas), e não passa pela rede telefônica (desejo das emissoras em não compartilhar o sistema com as operadoras de telefonia). O sistema japonês passa pela emissão por antenas. É bom lembrar

O futuro do empresário de comunicação é ser empresário de mídia

que a Universidade Mackenzie desenvolveu um sistema brasileiro, baseado no japonês, mais adequado à realidade do País. Por conseguinte, é patente brasileira (valor agregado à matéria-prima) que pode servir de modelo de exportação para outros países com a mesma realidade (morros, presença de enormes prédios e etc). Assim sendo, o governo brasileiro estará preferindo um sistema nacional, sem pagamento de royalties. A TV digital tem que ser comparada ao computador. Em que vou montando a torre com a tecnologia que propiciará o melhor aproveitamento do conteúdo (maior valor agregado). Em tese, não precisa comprar um pacote fechado. O mais importante é que a Era Digital veio para destruir os burocratas porque são sinônimos de mais tempo e espaço, conseqüentemente, de maior custo do que benefício para a sociedade. E a atitude está refletida nos novos consumidores: a juventude hiperativa, em perfeita consonância com o seu tempo, mas sem os instrumentos necessários para a emissão desta enorme energia. O futuro do empresário de comunicação é ser empresário de mídia. O resultado se encontra em pequenos exemplos, como a Telemar. A Oi já virou conteúdo na Internet e sua revista disputa espaço publicitário com as tradicionais do mercado. Então os grandes desafios da TV digital na busca pelo Tempo Real são: um conversor (set-box) que consiga captar a TV digital aberta, a TV digital paga e a TV

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digital interna e realize a conexão entre elas para reduzir tempo e espaço. Para isso é necessário saber qual o sistema de caixa de retorno (o uplowd)? A partir dele se conhece o tipo de investimento em infraestrutura, tanto estatal como privado, que será usado como política industrial brasileira. Terceiro: definir se será incorporado novos agentes ao jogo, principalmente produtoras independentes de conteúdo, incluindo as cinematográficas e as de cunho educacional. O resto é detalhe. Desta forma, sugiro que a TV digital aberta tem que começar numa plataforma mais aberta como sugere o padrão europeu e por seu maior valor agregado (participação das indústrias nacionais na formulação da TV digital em nível mundial e em exportação). Já a TV digital paga utilizará como base o sistema japonês (ou até mesmo o norte-americano) de melhor definição de imagem porque atende a um público que pagará (paga) mais para ver o melhor produto. Assim sendo, a Rede Globo poderá vender o excelente conteúdo de suas novelas e seriados para o público norte-americano em melhor definição de imagens, ganhando mercado. Transformando a Globo Digital Internet em espectro da Sky. Quem quiser pagar mais para ver a bolinha de água mineral se tornará assinante da Sky. Enquanto isso, a TV digital aberta estará permitindo a inclusão digital das classes pobres, que aproveitarão o aumento da renda para se informar e se educar e também para consumir um liquidificador ou até um aparelho DVD através da interatividade e do merchandising direto. Este público entrará no novo sistema, a Era Digital, e poder ter vontade, com o aumento da renda, em pagar

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pela TV para ter outros tipos de serviço como melhor definição de imagem, serviços de telefonia e outros, utilizando todo o serviço disponível da TV paga (com maior valor agregado). Serão dois tipos de sistemas, com maior recurso para as operadoras. Enquanto isso, os centros de pesquisa estudarão como agregar valor para que os dois sistemas se encontrem em Um. A futura convergência digital. Não podemos prejudicar a Rede Globo de concorrer em conteúdo televisivo com os norte-americanos, o segundo melhor do mundo. Ela continuará a concorrer na TV paga, até porque a Globo Internacional passa na TV paga mundial. Mas também não podemos descartar a maravilhosa proposta européia para a TV Digital aberta. E também não esquecer a vocação dos asiáticos na redução de espaço e, conseqüentemente, em redução de valor no preço final dos produtos eletroeletrônicos. Brasil e EUA (conteúdo), Comunidade Européia (base democrática) e Japão (produção de eletro-eletrônicos) ou Coréia. Seria a solução? O Brasil ficaria com o maior valor agregado (o melhor conteúdo do entretenimento e o melhor software, a matériaprima beneficiada pelo homem), enquanto os asiáticos ficam com a linha de montagem. Os europeus ganhariam na TV digital aberta. E como ficará a TV Digital paga? Ela terá que agregar as telefônicas. Porque chegará a uma hora em que a operadora de telefonia terá que dar melhor imagem e som, como

A produção independente por ser interesse público deveria está disponível ao alcance de todos


uma teleconferência, para quem já usa o sistema "Voz sobre IP" pela Internet. E descobrirá que tem um cabo para isso, capacidade instalada, para gerar som e imagem. Mais veloz que a banda larga e, por isso, mais acessada. E pensará em adquirir a capacidade instalada da DirectTV para vender conteúdo também. Enquanto o futuro não chega, prefiro, agora, chegar à Teoria de Reconhecimento de Paulo Freire e seu poder de diálogo no processo turbulento, mas revolucionário, da globalização humana que hora se inicia. "A atitude dialótica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e recriar", (Paulo Freire). Mas como o tempo é relativo, como dizia Einstein e mostrou Davinci, nos resta apenas aguardar: "paciência, paciência, paciência". E esperar pela maior crise do capitalismo a fim de que a história dê um salto quântico e jogue fora a elite burocrata de plantão. Porque a história só tem valor porque demonstra que o determinismo histórico, apesar da ação do tempo, é resultado da difícil destruição de paradigmas e preconceitos humanos para a evolução. A criação do tempo representada por ampulhetas, cordas,

calendários solar e lunar, e também por quartzo. A representação metafísica da violência, materializada em banhos de sangue ou imposição de mentiras, como enfrentou Galileu. Ação desencadeada por valentes que querem ser maior do que a união. A eqüidade. A Sociedade Alternativa é a conclusão de que a busca humana é pelo valor como reconhecimento, a transcendência como sua musa inspiradora, a comodidade através da certeza e o desejo como a personificação da paz, o obscuro objeto do interesse. A vitória do conteúdo sobre a forma. Em forma de Tempo Real. O meio digital sendo a expressão dos homens: o melhor conteúdo e a melhor captação da comunicação. Enquanto se espera este Tempo Real, vejo os brasileiros a entrarem no dia-a-dia na Era Digital em direção à Sociedade do Conhecimento. Apesar de a ação ser vedada a muitos por traves de ótica. Como é emocionante ver os "gringos" entrarem no samba em busca da batida perfeita, a energia. O DVD completo. Será que terá retorno (replay) da jogada do Lula para verificarmos se ele viu a trave ou fez o gol? o autor é Jornalista

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Dia da Mulher Centro da Cidade Tel: (94) 3337-1201 Fax: (94) 3337-1201

Semana da Mulher Praça de Evento Tel: (94) 3346-6453

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Temporada da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz Theatro da Paz Tel: (91) 4009-8766 Fax: (91) 4009-8760

Shows de Leila Pinheiro em benefício do Clube de Mães do Barreiro Theatro da Paz Ingressos: R$ 20,00

Troféu Rômulo Maiorana Assembléia Paraense Tel/fax: (91) 3224-3661/ 32131168


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Curso “O Pensamento Fotográfico” No auditório do IAP Tel: (91) 4006-2930/2931 www.iap.pa.gov.br

Workshop “Novela Expressa Coletiva On-Line” No auditório do IAP Inscrições gratuitas Tel: (91) 4006-2930/2931 www.iap.pa.gov.br

BELÉM 20 a 24

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Oficina de Guitarra Na sala de multimeios do IAP Inscrições, gratuitas, no IAP Tel: (91) 4006-2930/2931 www.iap.pa.gov.br

Projeto Olhos D´Água No auditório do IAP Tel: (91) 4006-2930/2931 www.iap.pa.gov.br

Forum Mundial de Educação Informações Tel: (21) 3773-5264/ 2767-9754 (11) 3021-0670

VITÓRIA DO XINGÚ 24 e 25

SÃO DOMINGOS DO CAPIM 25 a 28

SÃO DOMINGOS DO CAPIM 25 a 28

Paixão de Cristo Estádio Padre João

7° Campeonato Nacional de Surf na Pororoca Ilha de Tóio Tel: (91) 3084-1119

5° Festival da Pororoca Arena Pororoca Tel: (91) 483-1121 / 1107

NOVA IGUAÇU 23 a 26

As ilustrações usadas nestas páginas são meramente ilustrativas

ABEL FIGUEIREDO 12


SÃO MIGUEL DO GUAMÁ 25

Via Sacra Dramatizada Largo de Nazaré Tel: (91) 446-1822 Fax: (91) 446-1887

CURITIBA 28

Lançamento da Revista Amazônia Na COP8

BELÉM 28

Projeto Noites de Ópera No auditório do IAP (Entrada franca) Tel: (91) 4006-2930/2931 www.iap.pa.gov.br

BELÉM 01/04

1º Fest Marco 8 - Apresenta: Juizes Mc’s, Conexão Resgate, Fatos Mc’s, Sentinela, Grupo de Dança Áquila e DJ Fantasma Almirante Barroso (ao lado do Supermercado Amazônia) Tel: (91) 8812-5505

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II Prêmio Anatec de Mídia Segmentada - Inscrições Tel: (91) 3801-2843 3034-4566 www.anatec.org.br

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