O Vale do Neiva - Edição 109 maio 2023

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maio 2023 edição 109

Propriedade: A MÓ • Associação do Vale do Neiva (Cultural, Património e Ambiente)

Barroselas Mensal Gratuito Versão digital

TeatroNeiva d’A Mó atua em Tregosa pág. 5

Festa das Cruzes em Barcelos:

A batalha das flores pág. 4

Tregosa Atividades do Centro Social Paroquial de Tregosa | pág. 10 Largo das Neves Queimada do Judas de tons verdes e amarelos | pág. 8 Carvoeiro Património do Vale do Neiva: Roteiro da Talha de Carvoeiro | pág.12

destaques edição 109

maio 2023

Longevidade e qualidade de vida página 14

Lenda do Senhor de Matosinhos

ficha técnica

diretoria e administração: Direção de “A Mó”

redação:

José Miranda

Manuel Pinheiro

Estela Maria

António Cruz

edição:

109 – maio 2023

colaboradores:

Alcino Pereira

Américo Manuel Santos

Ana Sofia Portela

Daniela Maciel

Fernando Fernandes

Francisco Carneiro Fernandes

Francisco P. Ribeiro

Geovana Mascarenhas

J.F. Vila de Punhe

José Händel de Oliveira

José Maria Miranda

Mota Leite

Pedro Tilheiro

design gráfico:

Mário Pereira

paginação:

Cristiano Maciel

supervisor:

Pe. Manuel de Passos

contacto da redação:

Avenida S. Paulo da Cruz, Edifício Brasília, 3, Fração F 4905-335 Barroselas

e-mail:

redacaojornalvaledoneiva@gmail.com

periodicidade:

Mensal

formato:

Digital

distribuição:

Gratuita

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores, podendo ou não estar de acordo com as linhas editoriais desta publicação.

Literatura Assédio página 18

Cinema A nova vaga de filmes verídicos página 22

Crónica Geração futura página 24

Parabéns por mais um Aniversário do Jornal O Vale do Neiva d’A Mó

Ojornal o Vale do Neiva, faz nove anos (9) que reapareceu em formato digital. Foi no dia 05 de Maio de 2014 que, a então Direção, avançou com este projeto, visto o estudo efetuado e discutido, não aprovou a continuação da sua impressão, por razões de ordem financeira. Ainda é novo, mas já se afirma como um mensário atraente e, com conteúdos interessantes e diversificados, quer no aspeto cultural como social. Presentemente, A Gestão e Administração do Jornal O Vale do Neiva, está a cargo da Direção da Instituição de A Mó que tudo fará para que este mensário continue a atrair os nossos colaboradores e leitores. Com base em ações já aplicadas, informamos os nossos colaboradores e leitores que, presentemente, já estão a surtir efeito. Também

os nossos colaboradores e amigos, poderão fazer algo pelo jornal, como por exemplo: conseguir que um particular, ou uma empresa, passe a ser assinante, ou outro tipo de ação que traga beneficio. Lá diz o ditado: “grão a grão é que a galinha enche o papo”.

Deixo aqui este repto,

como forma de incentivar, todos os que estão ligados a este projeto, a desenvolver ideias e ações que, podem ser muito úteis, para que o jornal O Vale do Neiva, continue a fazer muitos Aniversários.

Finalmente, cantemos em uníssono, os Parabéns à Edição n.º109 de Maio de 2023.

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editorial
José Maria Miranda Presidente da Direção d’A Mó

EB1 de Vila de Punhe ...comemora o Dia

Mundial da Árvore e Dia Internacional da Floresta

de Vila de Punhe, em parceria com a Autarquia, no dia 21 de Março, procederam a nova plantação de árvores nos Parques da Azenha e do Rexio.

...no Moinho do Inácio

Noâmbito projeto «Conhecer para valorizar

- do grão do pão», os alunos da EB1-VP, no passado dia 31 de Março, deslocaram-se ao Moinho do Inácio, a fim de visualizarem a utilização dos apetrechos apropriados.

Noâmbito do Dia Mundial da Árvore e do Dia Internacional da Floresta, os alunos da EB1

Prezamos por cativar, nas nossas crianças, estas atividades no intuito de inspirar as futuras gerações a continuar este trabalho a fim de preservar e garantir a sustentabilidade ambiental.

jornal 3 local » vila de punhe
por Junta de Freguesia de Vila de Punhe junta.vilapunhe@gmail.com por Junta de Freguesia de Vila de Punhe junta.vilapunhe@gmail.com

Festa das Cruzes em Barcelos Batalha das flores

Dia um de maio, comemorou-se o dia do trabalhador e, corriam as festas das Cruzes em Barcelos que, este ano, registaram uma grande diversidade de eventos, pautando todos, pela boa organização. Também, no dia do trabalhador, a população das oitenta e nove freguesias do concelho e forasteiros, encheram por completo todos os espaços da cidade, foi impressionante. Quinze horas bateram na igreja do Senhor da Cruz e, deu-se início, ao momento mais esperado pelos forasteiros e devotos: “A Batalha das flores”.

Várias associações, participaram com carros ador-

nados das mais lindas flores campestres, percorrendo um trajeto traçado pela organização.

Atrás de cada carro, seguiam vários elementos que, munidos por um cesto com flores, atiravam para

o público presente nos dois lados da rua.

O fotógrafo do jornal o Vale do Neiva, foi detetado e, de seguida, choveu sobre si uma grande quantidade de pétalas. Foi digno de ser visto tal momento ímpar, cabendo às associações participantes, a responsa-

bilidade de tão grande animação, deixando as ruas cobertas com um belíssimo manto multicolor. Louva-se o trabalho associativo, por ter oferecido à multidão presente, este momento fantástico que, só na bonita cidade de Barcelos, pode acontecer. Bonito espetáculo.

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por José Maria Miranda Presidente da Direção d’A Mó

TeatroNeiva d’A Mó arrancou gargalhadas ao público presente

Nopassado dia 29 de abril, o Grupo de teatro TeatroNeiva, levou à cena em Tregosa a sua produção intitulada “Vamos todos prá Paródia”. Trata-se de um conjunto de quatro rábulas que, todas elas, são inspiradas nos usos e costumes do povo do Vale do Neiva, como: no namoriscar, na traição, no confessionário (confessadas anuais) e, por último, no lavar a roupa no rio Neiva, onde as cabaneiradas, estavam sempre na ponta da língua.

A noite, apresentou-se com uma temperatura agradável e, o público, aderiu muito bem à publicida-

de feita pela organização. O presidente da autarquia de Durrães e Tregosa Sr José Dias, esteve presente e, deixou bem claro que, o teatro, vai continuar a ser apoiado pela autarquia, porque é, uma forma, de manter as tradições culturais de uma comunidade.

O público, desde o início até ao fim, rendeu-se por completo ao engenho e arte dos atores, soltando fortes gargalhadas e, interagindo na maioria dos casos.

Como curiosidade, a casa encheu com o público fora da terra, é caso para dizer: “Santos da porta não fazem milagres”.

Termino, agradecendo a todo público presente e, que continuem a apoiar-nos porque, estamos empenhados em trabalhar, no sentido de divertir, ainda mais e melhor.

TeatroNeiva na vanguarda da boa disposição.

jornal 5 local » tregosa

Do moinho à mesa: as voltas que o pão dá!

Empenhado na preservação das tradições e memórias locais, o Futebol Clube Lírio do Neiva organizou, no passado dia 16 de Abril, mais uma iniciativa que proporcionou a todos que quiseram participar, a possibilidade de reviverem alguns dos momentos que, no último quartel do século passado marcavam a vida de muitas famílias de Durrães, a cozedura do pão, sob o pretexto que intitula este artigo.

“Do moinho à mesa –as voltas que o pão dá”, foi uma atividade inserida no projecto Durrães ComVida | Rio Neiva – Correntes de Memória, com início marcado para as 14h30 na sede da Junta de Freguesia, onde os participantes puderam visitar a exposição “Rio Neiva – Engenhos”, cujos trabalhos eram de autoria de Raimundo Castro.

Depois de uma curta caminhada (2 km), o ponto de paragem fora junto ao moinho do Morgado. Aí, as vozes dos grupos; ora das Cantadeiras Lírio do Neiva - Durrães, ora das Cantadeiras do Vale do Neiva - Vila de Punhe, fizeram-se ouvir ao mesmo tempo que

as mós trituravam o milho para as fornadas daquela tarde vindas, como carga, num pequeno burrito!

Coube aos Senhores: Marcolino Maciel e Francisco Abreu exercerem os trabalhos inerentes à moagem e, quem o pretendesse, elucidar dessas tarefas quase em

extinção!

As atividades prosseguiram, uma hora depois, com os mesmos cantares, mas já noutro local, a eira da Ti Glória

Aqui, enquanto se amanhavam os preparos para amassar a farinha e se aquecia o forno para cozer o pão, trabalhos superiormente executados pelas; dona Elisa Silva, nos trabalhos da cozedura da “broa” e a dona Clemência Sobreiro, nos trabalhos da cozedura do “bolo”.

Porém, enquanto as massas levedavam, nas voltas que o pão dá, uma pequena tertúlia, conduzida pelo ilustre convidado Cândido Miranda, submetia à conversa outros dois convidados; o mentor da exposição, Raimundo Castro, incontornável investigador de toda a dinâmica motora que outrora o Rio Neiva fora detentora, e Rogério Pereira, profundo

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local » durrães

conhecedor dos valores destes meandros, desde o moinho à mesa e suas envolvências nos cantares das terras do Vale do Neiva.

Finda a salutar elucidação tertuliana, foi a vez do Grupo S. Paulo da Cruz atuar na eira, ali frente ao espigueiro, e demonstrar algumas das suas danças ao som do instrumental e vozes bem afinadas. Depois, os grupos de cantadeiras convidadas, retomaram o seu reportório e premiaram-nos com mais um par de cantigas, fruto das pesquisas aos valores d’outrora, no nosso Vale! E como foi bom ouvir estes “entendes”, ao mesmo tempo que se degustava, ora o bolo com toucinho, ora a broa com sardinhas…, e, para que tudo se desenrolasse na mais digna feição, o verdasco, aquele que corre e muda a cor das faces como mandam os cânones da boa observância, disse presente! E viva a alegria…

Do moinho à mesa, ai as voltas que o pão dá! Não poderíamos escolher melhor tema! E mais: é muito nosso!

Nesta dinâmica interativa de modo algum poderei negligenciar um conjunto de personagens que foram as peças fulcrais desta aventura e responsáveis da singular performance na conjuntura. Se dignifico o Futebol Clube Lírio do Neiva personalizado pelo José Carvalho e toda a sua equipe diretiva, terei que enaltecer o grande arquiteto de toda esta dinâmica, o Luís Pedro, reconhecendo que todos são importantes mas este elemento tem sido o verdadeiro timoneiro empreendedor na dinâmica cultural de Durrães de há alguns anos a esta parte!

Sim! Durrães tem vida e convida todos a, numa escapadinha, visitar-nos!

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Queimada do Judas de tons verdes e amarelos

por Junta de Freguesia de Vila de Punhe junta.vilapunhe@gmail.com

Nanoite do passado dia 8 de abril voltou-se a realizar a Queimada do Judas no Largo das Neves. Depois de recuperada em 2014 com o propósito de dinamizar a cultura popular e de fortalecer a cooperação entre as três comunidades, este ano, que assinalou a 8ª edição, o tema escolhido foi o Brasil, uma vez que o ex. presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, personificou o Judas. O resultado foi uma noite bem passada no Largo das Neves, com uma enorme multidão a desfrutar de um espetáculo elaborado com a prata de casa.

O Judas, o cenário e o cortejo revestiram-se de tons brasileiros, não fal-

tando música, adereços e indumentária brasileira. O muito povo que ocorreu ao Largo das Neves, desfrutou de um espetáculo popular que incluiu dança, música e sátira. De destacar as danças brasileiras, o testamento – protocolar – e o esconjuro. No final, tivemos o judas queimado, uns foguetes lançados e a queimada galega servida ao som dos clássicos sons brasileiros. No entretanto, junto à praça da Bandeira, o momento foi de animação noturna.

O evento foi organizado pelo Núcleo Promotor do Auto da Floripes 5 de Agosto em parceria com a Câmara Municipal de Viana do Castelo e as autarquias de Mujães, Vila de Punhe e Barroselas e Carvoeiro. Associaram-se à iniciativa as Cantadeiras do Vale do Neiva, a escola de Dança Daniela Chaves, o grupo de Bombos Zé P’reiras. A música ao vivo esteve a cargo de um grupo local, que conta com a vocalista Lara Escoval.

O Largo das Neves assume-se, num contexto municipal, como um espaço central em termos de oferta cultural, lúdica e noturna. A este dinamismo

ímpar das entidades locais – associações, autarquias e privados – importa diligenciar todo o apoio para se consolidar e melhorar a oferta existente.

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local » largo das neves
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Fonte: Jornal O Vale Neiva (impresso) março 1984 – ano 1 n.º 3

Atividades do Centro Social Paroquial de Tregosa

próximos daqueles que, em cada momento, mais necessitam.

Asférias da Páscoa foram vividas com grande intensidade na nossa instituição. Os dias primaveris convidaram a diversas atividades, a estar em contacto com a Natureza e a muita diversão. O plano de férias contou com vários ateliers: culinária, pintura, trabalhos manuais, música, inglês…. e também a atividades no exterior, como caça aos ovos, aula de atividade física ou educação motora.

Sendo a Páscoa a festa da comunidade, no dia 5 teve lugar a Celebração Pascal, na igreja Paroquial de Tregosa, cerimónia organizada e dinamizada pelas crianças, colaboradoras e elementos da direção. Deixamos um excerto da mensagem lida no momento de ação de graças: “O Centro Social e Paroquial de Tregosa trabalha, diariamente, e desde a sua fundação, para praticar a solidariedade social e apoiar efetivamente os cidadãos, respetivas famílias, refletindo-se numa melhor vivência em comunidade. Temos a convicção plena que é este o rumo certo, o caminho que devemos percorrer, e que só através dele estaremos mais

Fazer o bem sem olhar a quem é um ditado popular que congrega, em si, a solidariedade, a amizade, a partilha, a entrega ao outro e, em última instância o amor, chave e razão de ser de tudo o que o ser humano pratica e vive, no seu dia-a-dia, ao longo da sua existência terrena. Bem-haja a todos quantos têm, desde o ano 2000, contribuído com o seu esforço e a sua dedicação, para que esta instituição continue a trilhar o rumo delineado e a não se desviar dos objetivos inicialmente definidos. Fazemos votos, desejamos, esperamos e acreditamos que, no futuro, a semente lançada continue a germinar, a produzir bons frutos.”

Na segunda semana realizamos duas visitas à nossa sede de concelho, na primeira fomos ao teatro e na segunda ao museu. Fomentar o gosto pela arte, pela cultura e pelas tradições são objetivos da nossa instituição que tentamos trabalhar de forma mais atenta nas pausas letivas. Fizemos as viagens de comboio, pois é também nossa preocupação estimular a cidadania e a preocupação ecológica.

Obrigado a todos que quiserem fazer parte desta família nestas férias.

Informamos que já estão abertas as inscrições para as férias de Verão e a partir de 1 de maio as

matrículas para ATL e prolongamento de jardim-de-infância!. Para informações: centro_sp_trego-

sa@sapo.pt, tlm 967691925 ou presencialmente nas nossas instalações! Seguimos juntos!

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Ana Sofia Portela Centro Social e Paroquial de Tregosa
local » tregosa

Uma ponte que nos une

OComité

de Geminação da “União de Freguesias de Durrães e Tregosa” com “Vaulx-Milieu” tem feito algo para que o sequente slogan, “Uma Ponte Que Nos Une”, seja uma realidade!

Assim, passados que foram cinco anos foi possível concretizar mais uma importante etapa daquilo para que o protocolo de geminação está vocacionado; promover a ligação entre povos e, desta forma, sermos a verdadeira ponte de harmonia sob o respeito de promover a sã convivência, conhecer e dar a conhecer as vivências das nossas terras, capitalizar a beleza das nossas paisagens, fomentar o intercâmbio entre os jovens e as famílias e, até, cultivar o gosto pelo que possa ser favorável, abandonando o receio de copiar aquilo que é bom dos outros!

Na verdade, o pretérito dia 13 de Fevereiro de 2018 fora o dia em que se celebrou o protocolo de geminação. Porém, já depois de algumas viagens, necessariamente de reconhecimento mútuo, ao processo de geminação a que se dera início ainda em

2016, chegou-se então a essa conclusão. Depois, passou-se à prática e, em 2019, um grupo de crianças francesas vieram até nós. Distribuídas por umas quantas famílias, que se associaram ao Comité de Geminação, de forma que cada duas crianças ficassem alojadas em famílias distintas. Desses momentos, sobrou regozijo e a indelével sensação de “saber receber”. Prova disso foram as saudades, plasmadas na face de cada protagonista, através das lágrimas! Há felicidades que ninguém sabe disfarçar!

O ano imediato, 2020, seria a vez das nossas crianças, as mesmas que receberam as homologas francesas, visitarem Vaulx-Milieu. Mas, como todos perceberam, as vicissitudes provocadas pela “Covid 19”, decretaram a interdição de viajar. Já tínhamos tudo programado! As crianças viveram dias de frustração! E o tempo, leia-se Covid 19, teimava em importunar os sonhos…, até que chegou o dia 12 de abril de 2023! Irra… mais de um milhar de dias!

Eram 10 horas da manhã dessa quarta feira quando duas carrinhas, uma da Autarquia e outra do Centro Social de Durrães, partiram

a caminho do aeroporto Sá Carneiro, para as crianças rumarem até Vaulx-Milieu – França. As oito crianças, agora já uns jovenzitos, três rapazes e cinco raparigas, acompanhadas dos respetivos professores, Prof. Paulo Liquito e Prof. António Fão, mais uma mãe, a Dona Cármen, e o Prof. Rogério em representação do Comité de Geminação de Durrães e Tregosa.

Depois da receção, na “Mairie de Vaulx-Milieu”, deslocaram-se para casa de cada família acolhimento.

No dia seguinte, numa viagem em que se incluiu o uso do Metro, visitaram Lyon, a terceira cidade da França. Aqui, conheceram parte significativa da cidade mais antiga que, exemplarmente conservada, permite-nos reter uma ideia de como era uma cidade outrora. Subiram para admirar a sublime paisagem que lhes é facultada e onde convergem dois rios, o Rhône e o Saône e, naturalmente, visitarem a “Basílica de Notre Damme de Fouvriéres”. Fizeram ainda um pequeno cruzeiro no Saône!

Tiveram ainda oportunidade de visitarem o “Stade

Olympique De Lyon”, onde foram tão bem recebidos e, à sua causa, tiveram direito a lotação esgotada…! Não cabia nem mais uma cadeira (!).

Este último dia fora reservado para a convivência com os colegas franceses, e até competirem desportivamente, trocaram endereços e, sei lá que mais! Tudo sob a égide dos professores, claro. Numa das tardes interagiram com os colegas, num descampado de Vaulx-Milieu, através dum pedipaper.

Para que não viessem de mãos a abanar, visitaram o mercado livre onde até chocolates havia. Pudera(!), era imperioso comprar uns miminhos para adocicar os pais…

Foi, como convém, uma jornada que ficará na memória destes jovens que serão o futuro próximo e os responsáveis pela repercussão destes valores, agora mesmo semeados e prontos para germinar.

Do sonho, do desejo, da vontade, sobejou uma experiência para os nossos jovens que, doravante, desta jornada reterão na mente a saudade que tanto nos vem definindo…

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local » durrães e tregosa

Roteiro da Talha Carvoeiro

Iniciamos um roteiro ao encontro da Talha, revisitando igrejas e capelas das freguesias do Município de Viana do Castelo relacionadas com o Vale do Neiva: Carvoeiro, Barroselas, Mujães, Vila de Punhe, Alvarães, S. Romão de Neiva, Castelo do Neiva.

Talha Religiosa multissecular, dourada, policromada ou sem douramento, em retábulos de altar, púlpitos, sanefas, caixas de órgão e outras obras de genuína goiva lusitana.(1)

Nota:

Lado do Evangelho – o flanco principal no interior de um templo, correspondendo ao lado do altar que fica à direita do celebrante, quando este se encontra de costas para a cabeceira;

Lado da Epístola – lado do altar que fica à esquerda do celebrante quando ele está de costas para a cabeceira (ou de frente para os fiéis na nave).

Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Carvoeiro

Invocada sob o título de Nossa Senhora da Expectação – popularmente

“Nossa Senhora do Ó”, ou “do Parto” – faz parte do corpo do Mosteiro Beneditino de Santa Maria, de

fundação remota (anterior à Nacionalidade) passando mais tarde por Comendatários que o descapitali-

zaram, deles se libertando no início do século XVII, sendo administrado pelos Superiores Beneditinos,

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crónica » património do vale do neiva
Figura 1 Figura 2

com a sede no Mosteiro de Tibães. A igreja e respectivo mosteiro foram profundamente reformulados em 1704, ainda no reinado de D. Pedro II (Figura 1).

Templo de elevado pé direito, na nave e capela-mor, com planta próxima do modelo de “igreja-salão”. Preserva valioso Pa-

trimónio, com destaque para as talhas e peças de imaginária (Figura 2).

Na nave, lado do Evangelho junto do coro-alto, órgão com armação em três castelos convexos, guarda vazada e mísula sobredimensionada, de suporte do coreto, com decoração em relevo alusiva à

Música e impregnada de Romantismo da longa Gesta Portuguesa de Além-Mar! (Figura 3). Retábulo Barroco em Estilo Joanino, do Senhor Jesus Crucificado e da Senhora das Dores. Do lado da Epístola, retábulo Barroco em Estilo Nacional, com Santo António na tribuna, ladeado

por imagens com estofo a ouro e de fino recorte: Santa Gertrudes, São Plácido, Santo Mauro (Santo Amaro)…

Colaterais à Capela-Mor, retábulos de talha dourada em Estilo Nacional, das primeiras décadas do século XVIII.

O retábulo-mor impõe-se pela volumetria e trabalho minucioso de goiva, traduzindo a simbologia do Primeiro Barroco (dito “Estilo Nacional”) e o fenómeno de aculturação ultramarina (Brasil) visível na representação antropomórfica. No nicho do eixo central, sobrepujado pelo trono para a exposição do SS Sacramento, imagem do Orago de Carvoeiro – Nossa Senhora da Expectação –, ladeada pelo Patriarca São Bento, no lugar de honra (lado do Evangelho) e por Santa Escolástica (Figura 4).

(1) Sobre este tema, ver: FERNANDES, Francisco José Carneiro: Talha – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Janeiro 2019 (208 págs.).

Fotografias: Victor Roriz

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(Continua)
»
vale do neiva
crónica
património do
Figura 3 Figura 4

Longevidade e qualidade de vida

o incremento da qualidade de vida. Os marcadores que podemos acompanhar nas nossas análises clínicas prendem-se com os níveis de vitamina D, glicose e insulina, colesterol e enzimas no fígado, os mais básicos e aos quais juntamos os níveis de HsCRP e de homocisteína.

Aproposta

de artigo para esta edição visa disseminar informação que contribuí para uma longevidade, associada à qualidade de vida. Estes aspectos não são cumulativos, não estando associados um ao outro. É um facto que do processo de envelhecimento ninguém escapa, apenas se evidencia maior ou menor impacto, é uma inevitabilidade desde o nascimento. Agora, a questão que se coloca prende-se com a proposta de sermos instrumentos activos no processo de maior longevidade e, associado a este, contribuirmos para o aumento da qualidade de vida individual. Segundo a médica americana, Rajsree Nambudripad (dr.a), aos sinais exteriores de idade estão associados fadiga, incremento de cabelos brancos, aumento do número de rugas, aumento das dores, perda de massa muscular e de audição. Considera a médica que é fundamental ter cuidado com o estilo de vida que seguimos, seja por opção pessoal seja por imposição de factores externos. As opções alimentares, associadas aos diversos regimes possíveis, e os suplementos alimentares, são um complemento fundamental para

Não podemos descurar que, associada à questão da longevidade temos a genética individual da pessoa, com impacto na equação, sendo possível encontrar evidências em pessoas com idade biológica distinta da idade cronológica. Qualidade de vida já é um factor que depende, exclusivamente, das nossas opções (dentro dos parâmetros). Para a dr.a Rajsree, os factores de sucesso que determinam a longevidade de cada um relacionam-se com (1) genética da pessoa, (2) dieta alimentar, (3) volume e tipo de actividade física, (4) níveis de stress, (5) qualidade do sono individual, (6) factores externos a que estamos expostos (condições atmosférica, etc.), (7) comunidade onde nos inserimos e (8) apoio familiar e social. É do senso comum que alguns destes aspectos não dependem de nós, mas há factores externos no qual podemos e temos interferência, nomeadamente, opções de dieta alimentar (cuidados associados) e exercício físico (versus passividade da sociedade moderna), contribuindo para o aumento da massa muscular, que se perde com a idade. Recorda-se que o “relógio genético” trabalha em função da forma como expo-

mos os nossos genes e como tratamos o corpo (incluindo o sono). Estes factores, em conjunto, contribuem para uma maior longevidade e para um incremento da qualidade de vida. Em termos de opções alimentares, o alerta vai para uso abusivo de proteína animal (carne e derivados, queijo e leite), sendo estes condutores de aminoácidos que provocam problemas de saúde, relacionados com o cancro (diversos tipos) e questões cardiovasculares. A médica defende que o investimento na qualidade de vida considerando a opção pelo jejum intermitente, é aconselhável, seguindo um regime de 16 horas de jejum, acompanhado de duas refeições equilibradas com intervalo de 8 horas (mas atenção que depende da capacidade individual, não é para todos). Também se alerta para os níveis de açúcar e doces, consumidos de forma inadvertida (e.g.: bebidas gasificadas e alcoólicas).

Na apresentação feita (disponível em youtube), a médica refere David Sinclair, professor doutorado nos EUA, que desenvolveu a teoria sobre a informação

do envelhecimento tendo em conta o ambiente e as nossas opções. Refere ainda que, nas zonas azuis, onde se identifica o registo de maior número de pessoas com idade acima dos 100 anos (Okinawa no Japão, Sardenha em Itália, um povoado na Grécia e Califórnia), a tónica comum associa-se aos comportamentos e opções individuais, como o não consumo de comida processada, redução de carne e incremento de vegetais diversos e fruta, reduzindo na quantidade de comida consumida (nunca encher o estomago mais que 80% da sua capacidade).

Todas as dietas devem ser personalizadas e ajustadas às características individual e necessidade. No caso do jejum intermitente, ajustado à capacidade individual, é considerado um estímulo à longevidade, associado com exercício físico. E ter sempre presente os níveis de vitamina D (chamada a hormona da longevidade), complexo de vitamina B, ómega 3 (ajuda a combater as infeções), magnésio (ajudar a relaxar os músculos e contribuir para o sono relaxado), entre outras. Fica a sugestão.

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crónica
» qualidade de vida

Abril: mês da prevenção dos maus tratos na infância e juventude

Enfermeira especialista em Enfermagem Comunitária USF Aqueduto – ACES Vila do Conde/Póvoa do Varzim

O movimento ganhou relevância a nível mundial e enfatiza o efeito da preocupação que cada cidadão pode ter no despertar das consciências da população, em relação aos maus-tratos contra as crianças, na prevenção, promoção e proteção dos seus direitos.

Provavelmente

este mês cruzou-se com o laço azul. Este laço é o símbolo das campanhas de sensibilização de prevenção dos maus tratos na infância e juventude, que se lembra de forma particular no mês de abril. E porquê o laço azul?

Em 1989 nos Estados Unidos da América, concretamente no Estado da Virgínia, surgiu o “Movimento do Laço Azul”. Este movimento foi criado por Bonnie W. Finney, depois de saber que os seus netos tinham sido vítimas de maus-tratos por parte dos pais. As crianças apresentavam nódoas negras pelo corpo. O neto acabou mesmo por ser assassinado pelos pais. Como maneira de lidar com a dor, atou um laço azul à antena do seu carro. Escolheu esta cor com a finalidade de representar os corpos magoados e repletos de nódoas negras dos seus dois netos, tornando-se ao mesmo tempo um símbolo de alerta para a luta na proteção das crianças contra os maus-tratos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), caracterizam-se como “abusos ou maus-tratos às crianças, todas as formas de lesão física ou psicológica, abuso sexual, negligência ou tratamento negligente, exploração comercial ou outro tipo de exploração, resultando em danos actuais ou potenciais para a saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder”.

Os maus-tratos constituem-se como grandes problemas para o desenvolvimento das crianças, repercutindo-se mesmo ao longo da sua vida. Destaca-se a depressão, agressividade, abuso de drogas, problemas de saúde e infelicidade, anos depois de terem cessado os maus-tratos.

Para que os serviços de saúde se tornem mais efetivos nesta matéria, é essencial a melhoria da aplicação dos mecanismos de prevenção da ocorrência dos maus-tratos, da deteção precoce das situações de risco e de perigo, do acompanhamento

e prestação de cuidados e da sinalização e/ou encaminhamento de casos para outros serviços, sempre que se justifique.

O papel de cada um de nós passa por promover

ambientes saudáveis para as crianças e jovens e, na suspeita de algum caso, comunicar às entidades componentes. Com estes gestos podemos estar a salvar vidas. Vale a pena pensar nisto.

jornal 15
saúde » maus tratos

A importância da primeira infância no desenvolvimento do indivíduo

Falar de adultos cognitiva, social e emocionalmente bem estruturados, é falar de como esse sujeito recebeu e desenvolveu seus estímulos na primeira infância, isso porque é na primeira infância que desenvolvemos a maior parte dessas habilidades. A formação do cérebro é constituída nos primeiros anos e impacta na aprendizagem, no comportamento e na saúde ao longo de toda a vida. O cérebro é construído ao longo do tempo, começando nos primeiros anos de vida, aprendendo primeiro as habilidades simples, com as habilidades mais complexas sendo construídas sobre elas. O desenvolvimento cerebral é muito parecido com a construção de um prédio, precisamos de um alicerce forte que nos garanta a estabilidade de todo o restante, pois, começa com uma base e então as habilidades simples geram as habilidades mais complexas, sobrepondo-se umas às outras.

As habilidades cognitivas emocionais e sociais

estão emaranhadas ao longo da vida do sujeito. Há muito tempo a, psicologia, estudava cognição, emoção e desenvolvido social separadamente, mas sabemos que os três andam juntos, particularmente nos primeiros anos de vida. Uma base forte e estruturada na primeira infância melhora as chances de resultados positivos, e uma base fraca aumenta as chances de dificuldades posteriores. A capacidade de mudança do cérebro é menor com o tempo, pois a plasticidade cerebral diminui com a idade. Por isso é muito mais fácil para uma criança aprender um novo idioma por exemplo, do que para um adulto, pois o esforço fisiológico do cérebro para esse aprendizado é muito menor na criança. Nos estágios iniciais do desenvolvimento cerebral, as áreas associadas a informações sensoriais como visão, audição e tato são as que se desenvolvem primeiro. Só depois é que surgem as habilidades relacionadas à linguagem, com a função cognitiva completa.

Relacionamentos estáveis e atenciosos e interações responsivas do tipo moldam a arquitetura cerebral. Isso é fundamental para o crescimento de uma criança saudável. Uma mãe, um pai, um cuidador e o bebê estão interagindo entre si de maneira harmo-

niosa o tempo todo. Precisamos pensar nos resultados e apoiar a qualidade dos relacionamentos nos locais de cuidados para crianças, comunidades e lares, pois essas interações dão suporte ao desenvolvimento para uma arquitetura robusta e saudável do cérebro.

O estresse tóxico nos primeiros anos de vida pode prejudicar o desenvolvimento saudável da criança. Quando falamos em stress, queremos destacar as implicações de um espaço estressante para um cérebro em desenvolvimento. Mas é importante assinalar que não estamos falando do stress com o trabalho ou com o trânsito, ou com o vizinho, mas sim de situações de estresse diárias durante o desen-

volvimento. No estresse tóxico, o sistema de resposta do corpo é ativado excessivamente, enfraquecendo o desenvolvimento da arquitetura cerebral.

Portanto, é importante lembrar que sem o devido cuidado por parte dos adultos responsáveis, o estresse tóxico, causado ou associado à pobreza, negligência, abuso ou depressão materna, negação paterna, pode trazer consequências sérias para o desenvolvimento, a saúde e a aprendizagem a longo prazo. Essas consequências podem ser imensuráveis e irreversíveis. Cuidar da saúde mental, emocional e afetiva das nossas crianças é garantir adultos mentalmente saudáveis e equilibrados.

edição 109 • maio 2023 16
crónica » neuropsicopedagogia

Theatro Gil Vicente

7 de maio • 16h00

Alice - O Musical

A partir da obra de Lewis Carroll, “Alice - O Musical” chega com uma nova essência e interpretação. Alice é uma adolescente curiosa e inconformada com as regras e costumes do seu mundo. Ao avistar, novamente, um Coelho Branco, que surge apressado, Alice decide segui-lo. A curiosidade da jovem Alice faz com que atravesse um espelho mágico que a transporta novamente para o mundo onde nada é impossível: o País das Maravilhas. Porém, Alice não se recorda daquele lugar, acreditando que tudo nunca passou de um sonho antigo.

Theatro Gil Vicente

13 de maio • 21h30

5, 6,

7, 8 and One

A bailarina, também coreógrafa e backup dancer, Marlyn Ortiz, nascida em 1976, que dançou nos clubes nova iorquinos dos anos 90, em musicais da Broadway, e em tournés e vídeos musicais de Madonna, Jennifer Lopez, Rihanna, Mariah Carey, Britney Spears, Katy Perry, The Black Eyes Peas, Taylor Swift e Usher, é o ponto de partida de “5, 6, 7, 8 and One”. Este mais recente trabalho de Martim Pedroso apresenta-se como um híbrido entre o ‘docfilm’ e o ‘docudrama’, a performance e a dança.

Estádio Municipal

18 de maio • 10h00

Formação “Plantas

Aromáticas e Medicinais”

Preço: Gratuito (inscrição obrigatória)

Pretende-se com esta formação, dar a conhecer os recursos naturais endógenos que temos à nossa disposição diariamente e o potencial das plantas aromáticas e medicinais (PAM) em diversas áreas como a medicina, a culinária, a beleza, os espaços verdes, a agricultura biológica e a decoração.

jornal 17 agenda cultural » barcelos

Assédio

Carlota é uma eficiente funcionária de uma clinica bracarense, onde, há muitos anos, sou utente. É sempre ela, com um sorriso nos lábios, da sua cara bonita, quem me marca os exames de rotina, análises e até, gentilmente, me mede a tensão arterial, quando, por qualquer motivo, a enfermeira está impedida. Agrada-me o seu trabalho, feito com boa disposição e estabelecendo uma conversa interessante e de apreciável cultura, ou não fosse ela ter frequência universitária. Sempre, mas mesmo sempre, não tive qualquer pensamento condenável, para tão encantadora pessoa, até porque embora me tivesse confessado ter já quarenta anos, o seu aspecto extraordinariamente jovem, ainda mais nos separava na questão de idades. Porém, um dia em que lhe mostrei uma notícia publicada num jornal de que sou colaborador e em que relatava um acidente que sofrera na sua habitação, ela ficou tão satisfeita que me perguntou se me podia dar um abraço. Claro que concordei imediatamente e ao sentir aquele corpo esbelto a roçar no meu e os seus braços, bem torneados, a rodear-me, senti uma emoção tão forte que,

a partir daí, comecei também a reparar no seu corpo escultural que quer encoberto por um vestido ou por uma t-shirt com calças de ganga, deixavam adivinhar formas harmoniosas e porque não dizê-lo, tentadoras. Fixei os seus bonitos olhos castanhos e o cabelo comprido da mesma cor, ligeiramente escurecidos e comecei a sonhar como seria maravilhoso tê-la por companhia. Procurei ver se ela sentia algum interesse por mim. Assim, quando ao cumprimentar-me – os seus apertos de mão são inesquecíveis – se queixou que a minha mão estava gelada, disse-lhe que a sentia assim por a Carlota ser muito quente, mas não reagiu. Noutra altura, em que fazíamos contas, perante um número elevado que frisei, disse-me. Oh Sr. Ricardo, olhe que me deixou assustada. Respondi-lhe que eu gostaria era de a encantar e não assustar. Mas não acusou o toque e a conversa ficou por ali. Um dia, quando me dirigia para a estação para apanhar um comboio que me levasse ao Porto, lembrei-me que tinha um documento para entregar na clinica. Dirigi-me rapidamente à recepção, onde não encontrei ninguém. Chamei pela Carlota e como não obtivesse resposta, espreitei para o Gabinete que tinha a porta entreaberta. Contra a luz vi a sua figura delicada e perturbadora. Carlota apercebeu-se da minha presença e pediu-me desculpa de não ter ar-tendido imediatamente, mas

estava ao telefone. Fiquei a pensar. Em que Serviço, algum funcionário se desculparia por ter feito esperar menos que dois minutos? Sensibilizado, tirei do bolso a pasta de chocolate que levava para substituir a refeição que não tivera tempo de tomar e ofereci-lha. O seu obrigado carinhoso, acompanhou-me toda a viagem. Contudo, as minhas esperanças começavam a diluir-se, quando, inesperadamente recebi um telefonema da Carlota a dizer-me que lera um conto meu que fora publicado num jornal local e que tinha ficado maravilhada, aguardando, com ansiedade, pelo próximo pois estava curiosa. Perante isto, resolvi arriscar tudo para a conquistar. Nessa tarde dirigi-me à clinica, numa hora em que sabia que o movimento era quase nulo e disse-lhe que tinha uma declaração muito importante a fazer-lhe, mas tinha medo que ficasse aborrecida. Sr. Ricardo, já nos conhecemos há tanto tempo que não há nada que vindo de si me aborreça. Pedi-lhe então para não me tratar por senhor. Na minha terra dizem que o Senhor está no Céu. Concordou e eu, a custo e quase gaguejando, acabei por lhe dizer quanto gostava dela e quanto a queria fazer feliz. Nessa altura fez-se uma pequena pausa para atender um cliente, mas não tardou a voltar para junto de mim e incitou-me a continuar. Afiancei-lhe então o imenso amor que sentia por ela e que desejava muito que fosse minha. Poder acariciar os seus lindos cabelos, sentir o seu perfume inebriante. Apreciar as caricias que

eu lhe merecesse. Enfim, tornar-me no homem mais feliz do mundo. E de uma coisa podia estar certa. Se ansiava intensamente pelos seus carinhos, a verdade é que faria tudo, mas mesmo tudo, para a fazer esquecer de outras experiências que, naturalmente, já tivesse tido. Como me disse que gostava de viajar. Poderíamos, nas suas férias, fazer uma grande viagem. Começaríamos por Coimbra onde lhe mostraria a Universidade – os Gerais, a Via Latina, a Biblioteca Joanina, a Capela. Tomaríamos café no Bar da Faculdade de Letras, para lembrar o seu curso de Português – Inglês. Desceríamos ao Jardim Botânico, o jardim dos namorados que percorríamos de mãos dadas e onde lhe cantaria, ao ouvido, uma parte de um bonito fado coimbrão:

“Fecha os olhos de mansinho/ Não os abras para ver/ Que a vida de olhos fechados / Custa menos a viver”. Iríamos ao Penedo da Saudade, ao Penedo da Meditação, ao Portugal dos Pequeninos, à Quinta das Lágrimas, ao Mosteiro de Santa Clara, à Igreja de Santa Cruz, à Sé Velha. Ouviríamos uma serenata e tantas coisas mais. Eu sei que tem pouco tempo disponível, por isso limitar-me-ei a referir os nomes das outras terras a que gostaria de a levar. Concordou, com o seu irresistível sorriso e eu continuei: Lisboa, Albufeira, Ayamonte, Évora, Estremoz, Elvas, Badajoz, Castelo Branco, Portalegre, Cáceres, Covilhã, Serra da Estrela, Cidade Castelo Rodrigo, Salamanca. Iriamos à Suíça onde veríamos Genebra, Montreux e Lausanne. Em

edição 109 • maio 2023 18
crónica » literatura

França passaríamos por Ferney Voltaire, Anemasse, Nice, Paris e descansaríamos na paradisíaca Île d’Oléron. Voltando a Portugal estaríamos em Viana do Castelo, Bragança. Passaríamos a Espanha para ver Vigo, Corunha e Santiago de Compostela. Se não tem medo do mar, visitaríamos as ilhas do Sal e de S. Vicente, em Cabo Verde, Porto Santo e Madeira e terminaríamos nas maravilhosas nove ilhas dos Açores. De todas estas terras, falar-lhe-ia das suas belezas, história e gastronomia. E parei para ganhar fôlego. A Carlota que me parecia ouvir com muito interesse, pousou uma das suas delicadas mãos sobre as minhas que tinha cruzadas no balcão e disse-me: Convenceu-me… e baixando os olhos, murmurou: Serei sua. Ao ouvir isto, todo o meu ser estremeceu. Só tinha estremecido assim quando na Guiné, numa ronda nocturna, ao passarmos numa Tabanca – aldeia indígena – um dos soldados que seguia na parte detrás do jeep, disparou acidentalmente a G-3, tendo a bala passado a centímetros da minha cabeça e o estouro junto ao meu ouvido, abalara-me muito. Radiante da vida ao sentir o suave toque daquela mão que prometia carinhos maravilhosos, só me ocorreu dizer-lhe que iria pôr um anel de brilhantes num daqueles dedos. Embora soubesse que não brilhariam tanto como os seus olhos, mas, quando reparasse nele, certamente se lembraria de mim. Encorajado, propus-lhe que quando saísse do trabalho, passasse por minha casa para comemorarmos. Não aceitou

e explicou-me que sendo sábado no dia seguinte, a zona de recepção e os consultórios, estariam sem ninguém, pelo que ficaríamos à vontade. Na manhã desse dia telefonar-me-ia a marcar a hora do encontro e despediu-se com um até amanhã.

Nessa noite mal consegui dormir e levantei-me muito cedo. Tomei um demorado duche, salpiquei-me, levemente, com uma água-de-colónia de boa qualidade, fiz a barba com todo o cuidado, esmerei-me no penteado e resolvi vestir uma roupa que me desse a aparência de mais novo. Calcei os confortáveis sapatos de verão, vesti umas calças claras e um polo azul que todos me diziam que ficava muito bem. No bolso das calças guardei apenas uma pequena carteira com o cartão de cidadão, algum dinheiro e as chaves de casa. Esperei e desesperei e nem o facto de pensar que dentro de pouco tempo podia ter a Carlota sentada no meu colo e beijar-lhe aquela boquinha bem desenhada que, imaginava, doce como o mel, me acalmava. Mas, finalmente, o telefone tocou e ela disse: Ricardo, apareça pelas 10H00. Ao sair de casa vi que o tempo ameaçava chuva. Peguei no meu guarda-chuva que reduzi ao mínimo, metendo-o na respectiva capa de napa, ficando só com a moca de fora. Chegado à clinica, Carlota esperava-me junto à entrada dos consultórios, onde me introduziu, dizendo-me: Vá-se despindo que eu volto já, saindo por uma pequena porta de acesso. Quando, sentado na marquesa, só me faltava tirar os boxers, a porta por onde

tinha saído a Carla, abriu-se com estrondo e entrou um matulão cabeludo, de bata verde desabotoada, deixando ver um matagal de pelos negros hirsutos do peito e as manápulas com luvas de latex que para aumentar o meu espanto me disse: Ora vamos lá ao exame prostático! Rabinho para cima. Colérico, levantei-me de um salto e agarrando no guarda-chuva que estava em cima de uma cadeira, juntamente com a roupa, mesmo ao meu lado, apontei-lho à cabeça e gritei: Nem para cima, nem para baixo! Seu estupor! Olhe que eu perdi o medo na Guiné! Se avançar, rebento-lhe com o focinho. O homem que contava encontrar um morcão apaixonado – Apaixonado sim, morcão não – recuou um passo. Esgrimindo sempre o improvisado bastão em frente à cara dele,

enfiei os sapatos e com a outra mão agarrei a roupa, escapulindo-me para o local dos elevadores, aproveitando para vestir as calças. Nessa altura abriu-se a porta do ascensor e saiu uma empregada de limpeza que ao ver-me de tronco nu, disse um palavrão, benzeu-se e afastou-se rapidamente, arrastando o balde e a esfregona. Meti-me no elevador, vesti o polo e logo que cheguei ao rés-do-chão, caminhei rapidamente para casa, amaldiçoando a minha sorte. Mais tarde soube que a Carlota contara a uma amiga que pedira a um enfermeiro seu conhecido para pregar um susto a um admirador indesejado que queria dela mais do que a amizade. Mas fora discreta e não mencionara o meu nome, o que não aumentou o meu desgosto. Resultado de tudo isto. Mudei de clinica.

POEMA MAIO

Eu necessito de amar

Eu Sinto falta de amar

Como amam tantos por aí

Para este desejo eu saciar

E eu saber que já vivi

Sinto falta de abraçar

Um corpo mais uma vez

Sinto falta de amar

De sentir uma nudez

Sinto falta de dar prazer

E já dei a quem não merecia

Para eu saber se posso viver a magia que como eu queria

jornal 19 crónica » literatura

Lenda do Senhor de Matosinhos

Hoje em dia, são raras as pessoas que nunca ouviram falar da cidade de Matosinhos. Além, orgulhosamente, a minha filha é matosinhense, nascida no Hospital Pedro Hispano. Mas ainda mais popular do que a cidade em si, é, sem dúvida, o seu Santo; o Senhor de Matosinhos. O monumento do Senhor de Padrão construído junto à praia do Titã, o majestoso guindaste se tornou um dos ex-libris da cidade, e junto às ruelas onde se assa aquele que é considerado o melhor peixe do Mundo, assinala o local onde foi encontrada a imagem de Nosso Senhor de Matosinhos. Mas, se o nome é famoso, poucos saberão a origem da lenda por detrás do Santo.

Dizem os escritos que São Nicodemos, um escultor amigo de Jesus Cristo, aquando da crucificação, terá esculpido mais de quatro imagens em tamanho real do filho de Deus. Uma delas, a que posteriormente se chamará de Senhor de Matosinhos foi considerada a primeira e a mais fiel ao rosto de Cristo. Esculpida em madeira oca, e como consequência da furiosa perseguição inicial feita aos seguidores do Cristianismo, foi atirada

ao mar Mediterrâneo, pelo próprio Nicodemos, para escapar à mais que certa fogueira visto ser considerada um objeto pagão. Milagrosamente, veio para à praia de Matosinhos, mas sem um dos braços.

Centenas, se não milhares de tentativas para reproduzir o braço em falta na milagrosa imagem de Nosso Senhor de Bouças foram feitas sem qualquer tipo de sucesso. O nome derivou do facto da imagem ficar à inteira responsabilidade e sendo venerada pela população de Bouças. Muitos anos mais tarde, uma mulher que procurava lenha para se aquecer no inverno, como era apanágio da época encontra, agora sim, na praia da Matosinhos, um pedaço de madeira em tudo diferente, mas que leva para casa, para pôr a arder na lareira. Porém, sempre que o tentava deitar ao lume, o misterioso pedaço de madeira saltava para fora da lareira. Espantada com o acontecimento a filha da mulher, por sinal muda de nascença, fala pela primeira vez, para dizer que aquele pedaço de madeira era o braço do Nosso Senhor de Bouças. Perplexa, a mulher leva o braço para que seja colocado na imagem, encaixando este na perfeição. Concretizou-se o que foi considerado de milagre, deixando a população ainda mais devota à imagem.

Após a mudança da imagem para a nova igreja, construída em Matosinhos no século XVI, o Nosso Senhor de Bouças

passou a ser conhecido por Nosso Senhor de Matosinhos. A partir deste momento, passa a celebrar-se tradicionalmente as festas em sua honra. Estas realizam-se todos os anos, passadas sete semanas a seguir à Páscoa. Hoje em dia, um gigante aglomerado de pessoas juntam-se em redor das mais variadas diversões, zonas de comes e bebes e tendas de produtos artesanais fazendo desta celebração uma das

maiores de Portugal. É que caso para dizer que este milagre, se São Tomé fosse vivo, serviria perfeitamente as suas pretensões de ver para crer. A possibilidade do impossível, caraterizada pelo deambular de um braço de madeira pelas águas do Mediterrâneo, acabando na praia de Matosinhos, para finalmente se juntar à imagem original.

edição 109 • maio 2023 20
crónica » mitos e lendas

org. Associação RelaxArt e JArtesãos

06, 13, 20 e 27 de maio 16h–18h

Oficina de Artesanato Cabeçudos de Viana

“Mãos com Arte” - Arteterapia, Oficina de Cabeçudos, consiste em reunir várias pessoas e dar a oportunidade de aprender, ensinar, partilhar e envolver pessoas com algum tipo de dificuldade a realizar trabalhos como uma terapia. Os trabalhos são escolhidos pelos participantes e vão desde bordado, leitura, escrita, pintura, artesanato de todo o tipo, macramê, arraiolos e até fazer só conversa. Inscrição obrigatória.

Museu Virtual da Memória Marítima

Navio Hospital Gil Eannes

Exposição temporária Os Navios Construídos em Viana do Castelo para a Pesca do Bacalhau

Exposição fotográfica que mostra a continuação da tradição secular dos vianenses na construção naval, com a construção de muitos bacalhoeiros pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, lembrados nesta exposição, bem como o Navio Gil Eannes pelo apoio que prestou nas campanhas do bacalhau.

Centro Histórico

de Viana do Castelo e freguesias

até domingo 28

Viana Florida:

As plantas na saúde e bem-estar

Feira de Flores e Jardinagem

Festival de Flores

Ateliês

Exposição

Festas

jornal 21 agenda cultural » viana do castelo

A nova vaga de filmes verídicos

Acontece

pelo mundo fora, muitas vicissitudes e ações, com enorme significado a vários níveis, efetuado ou concretizado por pessoas anónimas, que são dignas de registo, levando as artes cénicas, a dar-lhes relevo, através dos diversos formatos, que disponibiliza ao grande público.

Por isso mesmo, tem-se notado, um aumento considerável do interesse por parte do mero espectador, pelas histórias do foro verídico, especialmente aquelas que se expressam de forma singular, estrondosa, inédita e trágica, não obstante salientarem a valentia e o caráter do homem íntegro, confrontado com tamanhas adversidades.

Na linha desse género de cinema, baseado em fatos reais, assisti recentemente a alguns filmes atuais, que partilho com o leitor, e que espelham esse pendor periclitante e controverso, que o homem se sujeita, ou se põem a jeito.

Ao verificar no serviço de streaming da Netflix, a existência dum separador intitulado “Filmes baseados numa história verídica”, entendi visionar, um enredo de superação e de coragem chamado “As Nadadoras” de 2022, que aborda a temática dos refugiados, designadamente os que fogem á guer-

ra, ou á chacina dum povo. Relativamente ao filme em si, ele conta as peripécias de duas jovens nadadoras, que tomam a decisão drástica de sair do seu país natal, Síria, a braços com um conflito bélico civil, estávamos no ano 2015. Viajando ambas, na companhia do seu primo, atravessando a fronteira da Turquia, com o desiderato de chegar são e salvos, á almejada nação germânica, estes passam por momentos complicados, que quase lhes lacera a vida, sendo crucial a prestação e o talento, das duas irmãs nadadoras. Ao alcançarem com tenacidade e aflição, o destino ambicionado, e posteriormente já integradas numa equipe alemã de natação, surge a chance de participarem, nas olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, através duma representação que alberga refugiados.

No dia seguinte, logrei encontrar uma narrativa, no mínimo insólita e paradigmática, sobre um engenheiro rebelde e megalómano, que no final dos anos 60,

construiu uma plataforma perto da costa italiana, e perante a adesão duma turba multa ao seu projeto, declara a independência daquele exíguo local, apelidando de Ilha das Rosas. Imbuído pelo espírito revolucionário do maio de 68, a “A Incrível história de Giorgio Rosa” de 2020, dá respaldo a essa irreverência dos jovens em geral, que se juntam aos desmandos utópicos de Giorgio Rosa, usufruindo da fruição e da beleza natural, do sítio, desenhado e executado primorosamente pelo protagonista da trama. Contudo, este assunto não é visto, com bons olhos, pelas autoridades italianas, que em face desse propósito, delineiam a destruição do equipamento instalado em alto-mar.

Outro filme denominado “O Enfermeiro da Noite” de 2022, que por sinal chocou-me clamorosamente, relata o falecimento de pessoas internadas em várias unidades de cuidados intensivos, não por morte natural, mas sim causada por um enfermeiro, que sub-repticiamente in-

troduzia insulina e digoxina nos sacos do soro fisiológico, provocando intencionalmente o óbito dos pacientes. Esse individuo atroz chamado Charles Cullen, cometeu bastantes assassinatos, em praticamente todos os hospitais, que laborou, sempre usando o mesmo método, sendo que no filme, a narrativa foca-se sobre a última instituição, em que trabalhou, antes de ser recriminado, pela sua amiga Amy.

Por fim indico “As árvores da Paz” de 2021, um argumento arrepiante, que anacronicamente, posiciona-se com uma destarte inominável, em 1994, no Ruanda, onde nessa altura, decorreu um genocídio inexorável, que vitimou 800 mil pessoas, em 100 dias. Durante a cadência horrível desse massacre, quatro mulheres de fações distintas, nitidamente desesperadas escondem-se numa apertada cave subterrânea, onde resistem e sobrevivem, dotadas duma mescla, que deriva entre a angústia, o medo, a unidade e a esperança.

edição 109 • maio 2023 22
crónica » cinema

O pulsar da sociedade Habitação para todos

Tem-se ultimamente comentado, as carências que portugueses em geral, manifestam, em dispor duma habitação condigna, devido aos preços altos praticados pelo mercado, e o engodo associado ao crédito bancário, que este apesar da crise do SUB prime em 2008, incentivou cinicamente os clientes a enterrarem-se em aquisições megalómanas, iludindo-os com a mantra temporária dos juros baixos.

Somando a isso, verificamos o cliché videirinho e arguto de certos proprietários, que detêm uma residência adicional, em condições ótimas para alugar ou vender,

estando completamente a marimbarem-se para a filantropia social. Em face disso, ainda recentemente, retive-me chocado, com a situação pungente dum conhecido meu, que vive praticamente na penúria, sendo apoiado pelo estado, com o rendimento social de inserção. Ora esse individuo, ao fim de cinquenta anos, á habitar na sua casa de sempre, e que até ao presente momento pagava um montante ínfimo mensal, viu-se agora na iminência de abandonar a mesma, por decisão irrevogável do senhorio, que provavelmente ao exumar outra hipótese de negócio, escorraça com o desgraçado, que não possui meios financeiros, para arranjar um apartamento, se calhar nem com o apoio da assistência social. Outro detalhe, prende-se com o facto de alguns proprietários deixarem as suas casas vazias propositadamente, para posteriormente venderem a um pre-

ço alto, em conformidade com a ótica neoliberal do dito mercado, ao invés de dispensar a quem precise, por preços mais cómodos e acessíveis a um maior número de pessoas.

Com o pacote reformador da habitação, que o governo português apresentou, a 16 de fevereiro de 2023, enunciando um rol de propostas, que proporciona um considerável crescimento do lado da oferta de imóveis para habitação, depreendem-se que neste lote estão incluídos os edifícios devolutos do estado e dos privados, no caso concreto destes últimos, salientando o arrendamento coercivo, para aqueles proprietários que por vários motivos, não tem interesse em alugar. Além desta opção, o governo retirou da cartola, outra solução pundonor, predestinando-se obter através do P.P.R, uma verba colossal de 2700 milhões, para serem usados em construção de habitação social, com isso tudo conjugado, perspetiva-se a possível redução dos preços das casas.

Contudo acho que estas medidas, podiam alcançar resultados robustos, se num procedimento embrionário, fossem canalizados para determinadas classes ou certas tipologias de indivíduos, nomeadamente destinado aos casais jovens, aos professores que por contingências de colocação, se deslocam para longe da sua terra, e as pessoas identificadas como pertencerem aos escalões mais baixos. No que diz respeito ao polémi-

co “arrendamento coercivo”, aceito a sua alegação, por força do elementar direito a uma habitação, invocado num artigo fundamental da nossa constituição, porém em vez disso, também podia surtir efeito, aplicar aos senhorios, uma política de isenção nas taxas de IMI e IMT, para estes aderirem a um programa, que consubstanciasse a descida dos valores das rendas.

Obviamente de fora, provisoriamente, desta lista, perfilham-se os sujeitos, que nos anos 90 e no início deste século, submeteram-se a pacotes de empréstimos tipo bonificado, comparticipados pelo estado, que lhes permitiram, franquear sem grandes sobressaltos, a sua dívida, mesmo com eventuais percalços, fomentados pelas oscilações nas taxas de juros. Recomendando-se no atual momento, onde não reside essas benesses do passado, que os bancos ao concederem o crédito, se cingem apenas a uma taxa fixa, com o intuito de obviar surpresas desagradáveis.

Todavia há quem se oponha, á regulação do mercado, preconizada pelo estado, argumentando que os proprietários, ao serem obrigados a aceitar as novas regras, não se sentem estimulados pecuniariamente, para realizar as obras de restauro, na sua propriedade, prejudicando deste modo as novas gerações. Não obstante isso, acima de tudo o importante, é nocautear os problemas atuais, aproveitando as condições favoráveis do P.P.R..

jornal 23
crónica » o pulsar da sociedade

Geração futura

Aproposta de artigo de opinião para esta edição relaciona-se com o da edição anterior sobre a preocupação das novas tecnologias nas gerações vindouras. A base é uma entrevista ao jornal britânico The Gardian, de Yuval Noah Harari, professor universitário na Universidade Hebraica de Jerusalém e autor do livro “Sapiens: uma breve história da humanidade” e de “Homo Deus: uma breve história da Humanidade”. Segundo Noah Harari, a respeito do significado da vida num mundo sem trabalho, considera que a nova classe de pessoas em 2050 será composta por inúteis (parece-me um pouco demais). A entrevista está disponível em(1) Os argumentos para este cenário são idênticos às

previsões na idade média, na revolução do ferro, na revolução industrial, na revisão tecnológica e por aí adiante, com todas as convulsões sociais da altura. É mais do mesmo, defende o desaparecimento da maioria dos empregos de hoje, com a introdução da inteligência artificial, substituindo os seres humanos nas tarefas (recorda-me a ideia antiga que os robots roubariam

postos de trabalho tendo, de facto, criado outros). Como sempre, a solução passa por nos reinventar, como tem sido ao longo da história. Teremos que nos adaptar e passar a considerar novos empregos com o desempenho dos algoritmos actuais. Mas segundo o autor, a tendência será o crescimento de pessoas economicamente redundantes, gastando muito tempo com realida-

des virtuais em 3D, em detrimento do mundo real. O autor faz até um paralelo sobre uma realidade virtual que temos vivido, com consciência, a respeito das religiões, no geral. O cumprimento das normas religiosas dá-nos pontos no Céu. Não ganhar pode significar o purgatório (ou algo assim). A ideia de “jogar” jogos de realidade virtual associados a ideologias seculares tem sido

edição 109 • maio 2023 24
crónica » geração futura
Publicidade Publicidade Yuval Noah Harari

comum, ao longo dos tempos. Agora com o “rótulo” para o assunto – realidade virtual. O autor considera que o cenário destas opções só acontece na nossa cabeça, ou na tela de um artista. Temos vivido uma ficção, por nós criada.

O autor refere que, no mundo real, em Israel, uma percentagem significativa de homens judeus ulta-ortodoxos nunca trabalhou. A opção passa por estudar as escrituras sagradas e realizar rituais religiosos. Trabalham as mulheres enquanto os homens ganham subsídios do Governo. Refere que, com essa renda básica, nunca serão pobres e reportam sempre níveis elevados de satisfação, colocando Israel no top do ranking (posição) dos países com mais qualidade de vida. Defende que as realidades virtuais são fundamentais para fornecer significado à classe desocupada, seja composta por religiosos, políticos ou apenas jogadores em 3D. A pergunta que se coloca é: queremos viver num mundo onde milhares de milhões de pessoas estão imersas em fantasias e obedecendo a leis imaginárias? Gostemos ou não, essa é a realidade que temos vivido nos últimos milhares de anos.

Penso que há algum exagero, mas o autor defende que fruto da sociedade moderna, estamos a criar pessoas sem aptidão para serem empregáveis. Devemos sempre ter uma actividade, que dê sentido à vida. Com o incremento

da inteligência artificial, o autor considera que a maioria dos empregos que existem hoje podem desaparecer em décadas. O problema futuro será criar empregos onde as pessoas apresentem melhor desempenho que os algoritmos desenvolvidos. Até 2050 poderá surgir a classe de pessoas não empregáveis (desempregáveis). A tecnologia que visa trazer conforto às pessoas pode ser, também, a mesma que nos torne uns inúteis. E o autor refere, com razão, que o consumo é, também, um jogo de realidade virtual que cada mais cria hábitos e raízes em nós. Considera que o significado da vida é apenas uma história de ficção, criada pelos Homens. Que seja, já é um sentido para a vida.

O fim do trabalho não significa o fim da vida. O trabalho é essencial para as ideologias e estilos de vida. Em 2050, as pessoas provavelmente poderão jogar jogos mais profundos e construir mundos virtuais mais complexos. Mas temos vindo a mimar um mundo onde pessoas estão imersas em fantasias e obedecendo a leis imaginárias. Este é o mundo em que vivemos há milhares de anos. Certo ou errado, é a nossa opção. Fica aqui a partilha da preocupação e a mensagem de alerta, para gerações vindouras.

RECOMENDAÇÃO LITERÁRIA

Nesta sequela do maravilhoso «Viver Depois de Ti», continuamos a acompanhar Louisa Clark, que está agora a começar a aprender a seguir em frente.

Com uma escrita tão cativante, e a voz inocente e divertida da Louisa, é impossível que o leitor não fique agarrado desde o primeiro capítulo.

«Viver Sem Ti» fala-nos de luto, de como se segue em frente depois de se perder alguém que se ama, de como se ultrapassa os sentimentos de culpa, a dor, o vazio... Depois de algo tão doloroso, como se constrói uma vida com um objetivo, com algo que valha a pena?

jornal 25 crónica » geração futura
(1) Fonte: https://bit.ly/VdN109-1

68 anos

AGRADECIMENTO

Claudino João

Vaz Lima

Portela Susã – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

Agência Funerária Tilheiro

Tel: 258 971 259

Tlm: 962 903 471

www.funerariatilheiro.com

Barroselas

89 anos

AGRADECIMENTO

Manuel Lima

Correia do Casal

Subportela – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

62 anos

AGRADECIMENTO

Albino Serafim dos Santos Neto

Barroselas – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

98 anos

AGRADECIMENTO

Adelina Ferreira Grilo

Balugães – Barcelos

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

92 anos

AGRADECIMENTO

Gaspar de Miranda Fernandes do Rego

Barroselas – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

92 anos

AGRADECIMENTO

Laurentina Martins da Costa

Barroselas – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

53 anos

AGRADECIMENTO

Maria Aida Branco de Jesus

Barroselas – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

edição 109 • maio 2023 26
necrologia

88 anos

AGRADECIMENTO

Monsenhor, José Maria da Costa Reis Ribeiro

Alvarães – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

94 anos

AGRADECIMENTO

Maria da Conceição Fernandes Martins Leite

Tregosa – Barcelos

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

81 anos

AGRADECIMENTO

Luís de Sá Martins

Fragoso – Barcelos

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

91 anos

AGRADECIMENTO

Hilário Guerreiro Gonçalves

Balugães – Barcelos

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

73 anos

AGRADECIMENTO

Elvira Filomena Meira de Miranda e Sá Barroselas – Viana do Castelo

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

A Família

98 anos

AGRADECIMENTO

Maria Carvalho de Faria Matos Poiares – Ponte de Lima

Sua Família, vem por este meio agradecer a todas as pessoas que participaram no funeral e missa de 7.º dia, bem como aquelas que de alguma forma os acompanharam na sua dor.

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