Celular
Metal, vidro e plástico. A eletricidade pulsa em meu sistema eletrônico. Sou pequeno e frágil, contudo, esperto e prático. Já fui manejado por várias mãos diferentes, sentindo suas emoções. Já fui jogado à cama e já senti a dor de uma lágrima. Já ouvi sussurros de amor, gritos de sofrimento e vozes em desesperança. Às minhas teclas de zero a nove já discaram números alegres e mensagens de saudades. Já caí e quebrei a cara, mas me arrumaram e agora sou cuidado com mais amor. Sou atualizado: ouço conversas todos os dias, sentindo no locutor a euforia e no locutário, o espanto. Já trocaram-me a identidade e já vesti do rosa ao amarelo, mas o meu preferido é o cinza. Já refleti o sol e ceguei a noite. Conheci Paris e Taiwan, mas amei São Paulo. Fui montado em uma fábrica, é verdade, mas sou vivo de emoções. Já questionei ao computador se ele já tinha sentido o que senti, mas tudo que ele respondeu foi o barulho da ventoinha.
Augusto Alberto Iglesias Ferreira Filho, 2009