O Ovo - Publicação cultural do Wonka Bar

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O Ovo é uma publicação do Wonka Bar ano 1 - edição 1 - dezembro 2008


publicação do Wonka Bar - dezembro 2008 2 O Ovo abcdefgabcde

Carta ao leitor

E

mbrião, germe, começo, origem. E por que não dizer excitação! Quem já ficou pacientemente observando um pintinho sair do ovo, sabe do que estou falando. Também dá pra pensar no calor do sangue correndo nas veias, sem o qual O Ovo não originaria nada, então, sem muitas explicações estamos aqui. A idéia surgiu, a princípio, para divulgar de forma criativa os eventos do Wonka, mas declaramos que, excetuando o narcisismo quase inevitável do primeiro número, não pretendemos ficar só nisso. Queremos dar lugar a pessoas e seus trabalhos legais que não têm muito espaço ou apoio por aí. Queremos falar mais de Poesia e de idéias, queremos falar de outros bares. Não sei exatamente aonde vamos parar, pois não planejo futuros distantes, pra mim falar de amanhã e futuro é coisa de político demagogo. Quero, isto sim, MUITOS hojes. E quero agradecer por todos os hojes da minha vida e por todas as pessoas boas, ou não, que conheci, pois todas me ensinaram coisas. Agradeço profundamente à Natureza Divina de cada um, à minha família que amo mais que tudo, aos meus funcionários tão queridos, aos DJS, ao pessoal do Jazz, ao pessoal do Samba, ao pessoal da Poesia, a todas as bandas que tocaram no Wonka, aos parceiros de festas, ao público queridíssimo, às garotas super-poderosas que viajaram nessa história comigo, ao Rodolfo que, malucamente, me deu essa idéia, e ao Marcelo, claro, que sempre me dá um pouco da grande força que tem.

Ieda Godoy

Desenhos nesta página:: DW RBTZK

Tributo a Bowie - por Woyzeck! terça 16/12, no Wonka Bar

Calendário dezembro Jornalista Responsável: Mário Messagi Jr (DRT 2963/PR) Coordenação editorial: Manuela Salazar Reportagem: Flávia Silveira, Nayara Brante, Renata Ortega e Thaís Schneider Projeto Gráfico e diagramação: Iasa Monique Ilustrações: DW RBTZK e Marcelo Weber Capa: Mariana Salazar e Marcelo Weber (conceito) Conselho editorial: Ieda Godoy

Expediente


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Fernando Rivaben, Jeff Sab­bag, Helinho Brandão e Antônio Boldrini no palco do Wonka Jazz Project

Wonka Jazz Project Há mais de três anos, o jazz encontra espaço no Wonka

T

oda quinta-feira, Helinho Brandão (saxofone), Fernando Rivaben (bateria), Antônio Boldrini (baixo acústico) e Jeff Sabbag (piano) sobem ao palco do Wonka para mais uma noite de jazz. O Wonka Jazz Project existe há mais de três anos, e tornou-se um ícone da cena musical curitibana, com música de qualidade e descontração. O jazz nasceu das work songs dos trabalhadores norte-americanos, em New Orleans, Chicago e New York, no final dos anos 10. No Brasil, o gênero sofreu várias transformações sob influências de diversos estilos, como o choro, o samba e o maracatu. A música instrumental brasileira é, portanto, conhecida como o “jazz brasileiro”. Em Curitiba, o estilo começou a ter destaque na década de 50, enquanto se fortalecia nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Mesmo com alguns expoentes, no entanto, a cidade reservou poucos espaços dedicados exclusivamente à música – e estes eram considerados, em sua maior parte, “elitistas”. Mas aos poucos o jazz começou a chamar a atenção do público curitibano. O bancário Fábio Dustin, por exemplo, fazia vaquinhas com os amigos para comprar os discos dos grandes nomes do jazz. “Comprávamos um disco por mês, que ficava rodando nas mãos de todo mundo. Íamos atrás do primordial, conhecendo o estilo”, relata. Para escutar ao vivo, freqüentavam alguns bares no Largo da Ordem. “Mas esses bares tocavam mais samba e MPB, e às vezes um pouco de jazz. As casas de jazz mesmo eram muito elitistas e caras”, diz. Quando o Wonka Jazz Project começou, Fábio se tornou um dos clientes fiéis do bar. “O espaço é convidativo, o preço é bacana e, além disso, o porão do Wonka faz com que a gente se sinta em um bar dos Estados Unidos dos anos 50. Tem todo esse clima marginal do jazz”,

destaca. A musicista e empresária Íris Knopfholz também é figura marcada das quintas-feiras do Wonka. Ela conheceu o projeto através de uma amiga, e há quase dois anos freqüenta o bar. “Conhecer a música (e os músicos) mudou a minha vida, a minha carreira”, justifica. Com a experiência de 23 anos, Glauco Solter é um dos músicos que tocam como convidados no Wonka Jazz Project. Ele aponta que o jazz tem um público muito grande. “Muitos universitários, que geralmente preferem a música eletrônica ou o rock, estão procurando pelo estilo”, afirma. Dustin complementa: “O jazz se popularizou bastante, não é mais música para músicos. Esses dias, por exemplo, tinha um cara com uma camiseta do Dead Kennedys na platéia do Helinho Brandão. Isso é muito legal”. Glauco acredita que manter a tradição dos bares é um importante passo para que mais pessoas conheçam o estilo. “O Wonka carrega a bandeira do jazz. Foi pioneiro ao reservar um dia da semana para o instrumental, o que acaba movimentando outros bares também, como o John Bull, o Hermes Bar e o Bar Curitiba”, afirma. Ele afirma que a cena está se abrindo em Curitiba, com mais lugares colocando o jazz em seus repertórios. “Existe uma série de músicos que gostam e tocam música instrumental”, garante. Helinho Brandão afirma que ceder um espaço fixo para o jazz melhora a concepção da música e o público. “Não é tocar como música de fundo, e sim tocar para pessoas que gostem de música. Mas, da mesma forma, em um ambiente descontraído, que dê para conversar”, diz. Para ele, ambiente, público e música são elementos igualmente importantes para se ter uma boa noite: “Os três fazem parte de uma unidade e, portanto, devem trabalhar bem juntos”.

Nayara Brante

Tradição com inovação Helinho Brandão garante: “Cada noite é diferente”. Mesmo depois de três anos tocando no bar, a banda sempre procura trazer novidades ao seu público. “É sempre interessante quando alguém de fora vem dar uma canjinha”, opina Dustin. E grandes nomes já passaram pelos palcos do Wonka, nas quintas--feiras, como Mauro Senise, Raul de Souza, Robertinho Silva e Idriss Boudrioua. Em ou-tros dias, o Wonka deu lugar a artistas como Neuza Pinheiro, Cida Moreira, Carlos Careqa e Thaís Gulin. Pra Íris Knopfholz, uma das noites mais representativas foi quando a Big Band se apresentou. “Foi muito bom, e gostaria muito de ver isso de novo”, diz. A Big Band é uma prática associada ao jazz, quando vários músicos (aproximadamente 15) se juntam em um mesmo palco, com diversos instrumentos. Outra noite histórica aconteceu em novembro, quando três bateristas tocaram simultaneamente no palco. “Mas não somente com os convidados, há certos momentos da noite que nos marcam também. Um solo, um certo arranjo que a gente sente que ficou legal”, confessa Helinho Brandão. O repertório é bastante variado, do tradicional ao fusion. “Uma hora fazemos um jazz bem ensaiado, organizado, outra hora trabalhamos mais no improviso. O jazz tem essa liberdade”, explica o saxofonista. Para o fim do ano, Helinho Brandão espera trazer mais um convidado. “Vamos trazer Robertinho Silva novamente”, afirma. Robertinho Silva é um baterista e percussionista carioca, conhecido como um dos artistas brasileiros mais significativos das últimas décadas.


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A poesia está em tudo Projeto das terças no Wonka, Porão Loquax abriu espaço para a poesia em forma de voz

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do e ganhou freqüentadores assíduos”. Um ano depois, foi esse grupo de apreciadores que ajudou Ieda a dar continuidade ao projeto. Durante os dois primeiros anos, o Porão Loquax era realizado todas as terças-feiras do mês; no início de 2008, tornou-se um evento mensal. Em todo esse tempo, os participantes – tanto artistas com apresentações marcadas quanto o público que se propunha ao microfone aberto – fizeram as mais variadas experimentações.

Primeiros passos A partir dessa idéia, o Porão Loquax foi criado há três anos, numa iniciativa do poeta Mário Domingues junto à proprietária da casa, Ieda Godoy. Antes disso, o bar não abria às terças-feiras. “Senti que era um assunto que precisava de espaço”, conta Ieda. Bearzoti concorda: “os espaços para leitura e declamação de poesia são raros, praticamente não existem. O projeto foi bem-vin-

A poesia em tudo, e tudo na poesia Bearzoti costuma dizer que o Porão, mesmo quando é ruim, é bom. Afinal, o espaço rendeu muitas descobertas – que funcionaram ou não –, especialmente em relação à forma. Teve poesia musicada, dançada, autoral, traduzida, adaptada. “A preocupação nunca foi passar uma mensagem de conteúdo, mas sim afirmar a poesia como arte – e como arte vocal, sem ser teatro”, avalia o poeta,

Manuela Salazar

oquaz’ é o termo que define o falador, o eloqüente, aquele que consegue comover através da palavra. E ‘loquax’ – quase um ‘loquaz’ – é o nome que o porão do Wonka Bar recebe na primeira terça-feira de cada mês, quando abre suas portas para a declamação de poesia, acompa-nhada ou não de outras expressões artísticas como a música e a dança. Depois da apresentação principal – individual ou em grupo –, o microfone é aberto para quem quiser subir ao palco e fazer uma declamação livre. O projeto tem, aliás, nome e sobrenome (Porão Loquax – A voz da palavra), que propõem a concretização de uma poesia falada, para além de sua existência meramente na forma escrita. Para o poeta paranaense Paulo Bearzoti, o caráter oral é parte importante da mensagem da poesia. “Se nunca vocalizada, ela perde sua essência e não se constitui enquanto arte. Por isso, muita gente diz que não gosta de poesia – existe uma dificuldade em absorvê-la apenas na forma na escrita”. Ou seja, ela nasceu para ser dita – e deixar de fazê-lo seria, numa comparação simples, como compor uma música e nunca tocá-la.

O poeta Ricardo Pedrosa Alves em leitura que ele organizou em novembro de 2007

que não aprecia, particularmente, sua fusão (ou confusão) com outras artes. “Quando misturada com outras expressões, a poesia se descaracteriza, perde sua especificidade”. Para o também poeta paranaense Rodolfo Jaruga, o Porão Loquax representa um movimento consistente da poesia em Curitiba, e o espaço em que um amplo grupo de poetas se reúne para exibir, celebrar e discutir sua produção. “Uma de suas mais louváveis características consiste na variedade de poéticas apresentadas. Ali convergiram diferentes correntes artísticas em exercício na cidade, formando um todo jamais registrado por aqui”. Neste ano, o Porão ganhou um novo formato, que delimita melhor o momento da poesia e o de outras artes. Todo mês, no dia das declamações, é lançada uma exposição de artes plásticas, que procura valorizar a produção de artistas locais. Eventualmente, a programação da noite conta também com um esquete de teatro antes da leitura poética.

Thaís Schneider Três artes

Poema de Rodolfo Jaruga

Experimentações

(a arte de ser)

(a arte de desesperar) Um rio que se precipita em queda e não encontra ao fundo pedras em que correr de novo, desespera-se. (a arte esquecer) O fruto quando esquece de ser fruto, vem ao chão. A arte de esquecer, de todas elas, é a arte mais triste e a mais difícil.

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Ser a pedra consistente e sólida e ruir em grãos de areia por todo o sempre, e ser o raio momentâneo e lúcido e já não ser senão o assombro alheio. Ser ambos ao mesmo tempo é o mistério de ser homem.

Em agosto deste ano, a poeta surda Rosani Suzin realizou um recital em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Bearzoti lembra que as pessoas não compreenderam tudo; afinal, não se trata de português traduzido para sinais, mas de outra língua. “Mesmo assim, foi interessante ter contato com outro universo simbólico, com a diversidade da cultura surda e com a poesia em uma linguagem visual”, afirma. Do erudito ao cotidiano Dentro do Porão surgiram, também, grupos de estudos sobre poetas clássicos, como o norte-americano Ezra Pound e o próprio Dante Alighieri, considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, autor do famoso A divina comédia. Os dois poetas foram declamados por Jaruga e Bearzoti, que avalia: “Para nós, o Porão sempre foi uma oportunidade de tornar ativa uma poesia histórica e erudita, de trazer o clássico para um contexto cotidiano”. O mesmo fez a atriz Claudete Pereira Jorge, sob a direção de Octávio Camargo, ao declamar o canto I da Ilíada, de Homero, poema épico que, junto à Odisséia, é considerado o mais antigo documento literário grego. Mas também há espaço para a contemporaneidade no Porão. Ali apareceram criações de poetas locais, tanto em termos de conteúdo quanto de forma. Além de Domingues, Jaruga e Bearzoti, outros nomes que marcaram presença no projeto foram Adriano Smaniotto e Ivan Justen, Octávio Camargo e Bárbara Lia, Keila Kern e Ana Madureira, Thadeu Wojciechowski e Assionara Souza, Ricardo Pedrosa Alves e Luiz Felipe Leprevost, Ricardo Pozzo e Jussara Salazar, Paulo Venturelli e Rodrigo Madeira, Ricardo Corona, Lindsey Rocha e Sálvio Nienkötter, Marcos Cordiolli, Marcelo Sandmann e Miriam Adelman.


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Em outras terças, blues e composições próprias Antonella Iacovone

Novas criações em música também ganham espaço na terça feira do Wonka

Em novembro e em janeiro, Décio Caetano agita as noites de terça-feira com blues, no porão do Wonka

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epois de dedicar as terças-feiras para a poesia durante dois anos, Ieda Godoy sentiu falta de espaço na agenda para outras “coisas legais”, em suas próprias palavras – propostas que surgiram, inclusive, a partir de experiências feitas dentro do Porão Loquax, como a poesia musicada. Durante janeiro de 2008, as terças no bar fica-

Projetos que Wonka em 2008

ram conhecidas como ‘experimentais’, quando foram apresentadas algumas experiências, principalmente na área da música. Esse foi o pontapé inicial para outros projetos que ocuparam as terças no Wonka ao longo do ano, como Mulheres Bárbaras, Flores de Aço e Composições (de Inverno e Primavera). O último, batizado pelo poeta Luis Felipe Leprevost, exemplifica a idéia dessa nova fase: valorizar compositores locais, de estilos musicais variados, especialmente os que apostem em coisas novas. “Mesmo se a proposta for fazer um cover, tem que ser um cover com categoria”, explica Ieda. O poeta, músico e compositor Alexandre França, que participou do Composições de Inverno junto com Bárbara Kischner, vê o projeto como uma iniciativa inédita em Curitiba de fomento à formação de um novo público e de incentivo aos compositores curitibanos. “A prioridade dada à composição própria acabou gerando surpresa e encantamento no público, acostumado a ouvir sempre ‘os mesmos sucessos do passado’”, comenta. “Acho é o começo de uma atitude nova frente aos nossos artistas, que por durante um bom tempo sofreram por não ter com quem dividir a sua arte, além da revelação de uma nova identidade musical e daquilo que é chamada música curitibana”. Agora a terça é Blues Já no mês de novembro, quem agitou as terças do Wonka foi o guitarrista Décio Caetano, acompanhado por Fernando Rivaben na bateria e Edu Mella no baixo, com o autêntico blues de Chicago. Com visual dos anos 50, traje e sapato preto, Décio Caetano é reconhecido como um

dos melhores blues man do país, e já dividiu palco com André Christovam, Blues Etílicos e Marcus Rampazzo, entre outros. A relação do músico com o estilo começou de forma bastante curiosa: o blues nasceu nas plantações de algodão do delta do Mississipi, e se difundiu nos Estados Unidos através do trem; coincidentemente, Décio Caetano nasceu em Goioerê, cidade que foi capital do algodão no Brasil na década de 70, no interior do Paraná. “E foi em um trem, indo para Ribeirão Preto, que conheci o que era o blues”, lembra. Décio Caetano conta que na época tinha 15 anos e estava viajando para fazer uma surpresa para a namorada. No trem, encontrou um grupo de pessoas que viajavam para o 1º Festival Internacional de Blues no Brasil. “Os caras me mostraram o que era aquilo, e eu gostei logo de cara”, afirma. A surpresa foi quando descobriu que sua garota estava viajando. Para não perder a viagem, Décio compareceu ao festival, e lá conheceu alguns dos grandes nomes do blues, como Magic Slim, Etta James e Buddy Guy. “Nesse mesmo dia eu já sabia o que queria fazer da minha vida”, confessa. De lá para cá, o guitarrista já gravou quatro álbuns, sendo “I Can’t Stop” o mais recente. Décio Caetano fez várias participações especiais nas quintas-feiras de Jazz do Wonka, e em novembro começou a experiência com as terçasfeiras de blues. “Muitos lugares tocam blues, mas poucos têm essa atmosfera que o Wonka Bar e o Hermes Bar têm”, afirma. Em janeiro de 2009, as terças também devem ser reservadas à voz e aos acordes de Décio Caetano.

Nayara Brante e Thaís Schneider

incrementaram as terças no

Flores de Aço Sucessor do Mulheres Bárbaras – que, segundo Ieda, não teve tempo de contemplar todas as cantoras que mereciam uma participação –, veio para dar continuidade à idéia é homenagear outras artistas. Passaram por ele, dentre outras, a atriz e cantora Uyara Torren-te, paranaense que vem ganhando espaço na cena musical, e Chiris Gomes, que fez o encerramento do projeto interpretando Dalva de Oliveira e outras performances. Composições de Inverno / Composições de Primavera O Composições abriu espaço para nomes como Troy Rossilho, com sua proposta voltada para a MPB, e Carlito Birolli e Cauê Menandro, que têm influências da música afro brasileira, do baião e do maracatu, entre outros. Por ter surgido na época do inverno, acabou ganhando o nome da estação como complemento do título. Meses depois veio a versão de primavera. A idéia de Ieda é manter o projeto, contemplar todas as estações e fechar o ano com um festival.

Ilustração: Marcelo Weber

Mulheres Bárbaras A idéia foi trazer cantoras – tanto já conhecidas, a exemplo de Cida Moreira e Neuza Pinheiro, quanto novos nomes da música local, como Michelle Pucci e Bárbara Kirchner – para valorizar o lado feminino da música brasileira.

A primeira edição acontece já neste ano, no dia 14 de dezembro. A abertura deve ficar por conta de uma leitura poética com o poeta Amarildo Anzolin e exibição de dois curtas-metragens do cineasta Marcos Peretti. Depois, a idéia é que cada grupo que participou do projeto apresente oito músicas – e os jurados serão o próprio público.


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No batucajé que vai ao longe `A

s quartas-feiras, a pista do Wonka dá lugar ao samba de Maytê Corrêa & Grupo Batucajé, formado por Maytê Corrêa, nos vocais, Hestevan Prado, no violão, Tiago Portella, no cavaco, Maurício Santos, Alex Figueiredo e André, na percussão, e Denis Nunes, no baixo. Durante o mês de novembro, o grupo dedicou suas noites a um dos sambistas mais importantes do país, o aniversariante João Nogueira. Maytê Corrêa recorda que seu interesse pelo samba começou ao preparar um show sobre Clara Nunes. “Pesquisei sua biografia e seu repertório, e deu certo. Tomei gosto pela música e fui atrás dos compositores que Clara Nunes cantou”, afirma. Daí até a formação da banda passou-se algum tempo. A idéia inicial foi de Alex Figueiredo e de Denis Nunes. Com o nome de “Samba de Mesa”, apresentaram-se pela primeira vez no Wonka em março de 2007. “Era para ser somente aquele dia, mas a casa lotou. Fomos convidados para mais uma apresentação em abril, e a partir de maio já estávamos fixos nas quartas-feiras”, conta. A partir desse momento, foram desenvolvendo sua identidade e seu repertório. Maytê Corrêa esclarece que o grupo busca resgatar a cultura afrobrasileira, a miscigenação do povo, não muito

valorizada em Curitiba. “No aniversário de um ano do grupo, nos batizamos de Batucajé, nome de uma música de João Nogueira com referência à cultura afro”, diz. Nesses quase dois anos de apresentações, muitas noites ficaram marcadas na história. Maytê destaca o Tributo aos Orixás, as apresentações em homenagem a João Nogueira, Candeia e Cartola. “É importante relembrar esses caras, porque foram os primeiros, e somente os conhecendo é possível inovar”, afirma. A professora Kelly Rodrigues, conheceu o grupo Batucajé pela primeira vez em uma dessas homenagens, e não se decepcionou. “Vim porque amigos me recomendaram e, realmente, a banda e o repertório são muito bons”, afirma. Já a analista de projetos Marcele Vitta freqüenta o bar quase toda quarta-feira há cinco meses. “A qualidade da música e do repertório é o que me atrai”, completa. Para as próximas noites, Maytê Corrêa adianta que pretende trazer o compositor Ratinho, do Rio de Janeiro. Ele compôs inclusive para Zeca Pagodinho, e participará de mais um especial em homenagem a João Nogueira. “Isso acontecerá na nossa última quarta do ano aqui no Wonka, para fechar com chave de ouro”, promete a cantora.

Ilustração: Marcelo Weber

João Nogueira, um dos maiores nomes do samba, é homenageado no Wonka

Nayara Brante

Entrevista:

D

esde a inauguração, em 21 de julho de 2005, o Wonka se tornou um espaço underground em Curitiba, que une estilos musicais variados a poesia, teatro e artes visuais. Segundo a proprietária Ieda Godoy, o bar surgiu devido a uma convergência de fatores. “Essencialmente, a proposta inicial era unir vida noturna, jazz e poesia. Com o tempo, novos elementos culturais foram agregados”, diz. O que diferencia o Wonka dos grandes projetos é justamente essa possibilidade de experimentação e transformação. No entanto, para que a empreitada alcançasse sucesso foram necessárias muitas noites em claro, boas idéias e algumas pessoas essenciais. Uma delas é o produtor cultural, músico e DJ Geraldo Filet. Freqüentador do Wonka desde o primeiro ano de existência, ele já discotecou e até gerenciou o bar. Para Filet, mais que um simples bar, o Wonka é um espaço que agrega entretenimento, cultura e diversão. Em entrevista a O Ovo, o produtor cultural falou de sua dos momentos mais marcantes do Wonka. O início Em julho de 2007, eu me propus a discotecar no Wonka. A idéia surgiu após a reforma do segundo andar da casa, pois vi no novo ambiente a possibilidade de desenvolver um trabalho musical bacana e passei a ser DJ residente, às quintas-fei-

Geraldo Filet ras. Começamos com uma música mais tranqüila, estilo lounge. Aos poucos, a proposta foi se tornando um sucesso e, quando a gente percebeu, já estávamos fazendo uma ‘quase balada’ lá em cima. O trabalho durou cerca de seis meses e rendeu bons frutos. Foi interrompido porque percebemos que era mais interessante manter um só ambiente às quintas-feiras, com o “Wonka Jazz Project”. Momentos marcantes Entre os muitos eventos legais, foram dois os momentos mais marcantes que eu passei no Wonka. O primeiro deles foi a festa dos virginianos de 2007, a “Virgin Forevers”. Todos os anos a Ieda promove, no mês de setembro, uma festa para os nascidos sob o signo de Virgem. Naquele ano havia uma cama elástica no jardim e a decoração era igual a de uma festa de aniversário infantil. Outro momento marcante foi, no início deste ano, a festa “B.O.R.N. Project Friends”. O bar inteiro foi ocupado com performances artísticas, body painting, living theatre e outras manifestações como pintura de quadros. Na época, eu fazia parte da banda B.O.R.N. Project e nós tocamos dois sets. Além destes dois momentos, alguns músicos também marcaram a história do Wonka. Um deles é o percussionista e baterista carioca Robertinho Silva, que tocou na comemoração do ani-

versário de dois anos do “Wonka Jazz Project” (e que toca novamente em dezembro). Outra banda que tem tudo a ver com o bar é a curitibana Wandula. Eles tem uma química muito boa com o ambiente e com o público do Wonka, o que sempre me deixa extasiado quando vejo um show deles lá. “As Mulheres Bárbaras”, programação do mês de março deste ano, também foi muito especial. Importância do Wonka Lugares de convergência cultural são importantíssimos – e não existem muitos espaços aqui onde você possa estar à vontade para trocar idéias, conhecimento artístico. Por isso, quando um bar como o Wonka abre as portas para eventos culturais ele assume um papel diferenciado. Fica mais fácil expor seu trabalho e ficar sabendo o que os outros artistas estão fazendo. Já para o público que não faz parte diretamente do meio artístico, é uma oportunidade de se aproximar dessas pessoas de forma descontraída e divertida. Para mim, o Wonka tem assumido este papel de uma espécie de centro cultural. Mas um centro de cultura em que você pode, além de absorver arte, se divertir. Acaba sendo um espaço de atualização, onde é sempre possível encontrar algo novo, seja na música, nas artes visuais ou no teatro. Ao privilegiar a criação, o bar também abre espaço para que as pessoas tenham a oportunidade de criar.

Renata Ortega


Wonka b Bar - dezembro 2008gfedc O b Ovo a 7 epublicação ddoc a

O novo e velho (mas sempre bom) Rock ‘n Roll As noites de sexta e sábado do Wonka tem público cativo e sempre trazem novidades

hegou o tão aguardado final de semana. Já antes do final do expediente no trabalho, você começa a pensar o que vai fazer naquela noite de sexta: um barzinho com os amigos, uma música legal, talvez um show de alguma banda que te indicaram, quem sabe uma pista de dança cheia... E é tudo isso que você encontra nas sextas do Wonka. Se você é do tipo mais tranquilão, tudo bem, você pode arranjar uma mesa para sentar com os amigos e ouvir a música ambiente do bar enquanto toma uma cerveja. Se você gosta de balada, pode

descer para a pista e aproveite a seleção de músicas dos Djs da casa. Tem para todos os gostos. Na sexta, é dia da Festa de Garagem, comandada pelo DJ M.M., buscando relembrar aquelas festinhas que rolavam no final dos anos 80 e início dos 90. Naquela época, como havia pouco lugar pra sair, o pessoal se reunia na garagem de alguém. “A idéia é recriar o clima dessas festas, então rola muito rock dos anos 80, anos 90. O ‘slogan’ da festa diz tudo: música ‘véia’ de boa qualidade para dançar a noite toda”, diz ao DJ.

O setlist do DJ é bem variado. No início da noite ele dá preferência para a música pop, como Michael Jackson e Madonna. “O começo é bem dançante. Do meio para o final da noite é mais rock, punk rock. Sempre rola Sonic Youth, The Cure, Stoogies”. Além do rock e do pop internacional, M.M. também toca músicas nacionais, de bandas como Ultraje a Rigor e Camisa de Vênus, além de rock ainda mais antigo, dos anos 60 e 70, como James Brown, Beatles e Beach Boys. Mas sempre buscando ressaltar a identidade da festa.

Flávia Silveira

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De tudo um pouco nas sextas e sábados: bar, música, shows de rock e pista de dança

Desde setembro, o Wonka traz também às sextas pelo menos uma banda para se apresentar, geralmente grupos do cenário underground curitibano e mais um de fora da cidade. A psicóloga Débora Salomão aprovou a iniciativa do bar de oferecer mais um espaço em Curitiba para as bandas se apresentarem. “Eu vinha bastante na quinta-feira, agora tenho vindo mais na sexta. As bandas são ótimas, o público é diferenciado e é mais movimentado do que durante a semana”, conta. O DJ M.M. lembra que a Festa de Garagem é bem diferente do que rola no sábado no Wonka, não só pelo som, mas também pelo público. Ele afirma que existem grupos “fiéis” à festa, que vão lá toda semana e agora, com as bandas, há sempre gente nova indo e conhecendo a festa. “Mas o som é bem diferente do de sábado. Eu chego, no máximo, a bandas do ano 2000, 2001. No sábado é tudo bem mais moderno”, afirma o DJ. E quem pode falar sobre o sábado é a DJ Claudinha, uma das DJs responsáveis pelo som da noite. “O meu set é mais para o Indie Rock,

bandas mais novas”, conta. Claudinha e Bernardo, o outro DJ do sábado, tentam separar um pouco o estilo de música que cada um toca. “Eu toco mais rock. Ele sempre toca um pouco de Pop, Electro Rock. É bom porque daí o som fica bem variado e agrada todo mundo”. Mas Claudinha diz que não fica apenas nas bandas mais modernas. “Vez ou outra toco músicas de bandas dos anos 80, anos 90, tipo Pixies e Pavement”. E essa variedade atrai, de acordo com a DJ, pessoas dos mais diferentes estilos. “É bem variado, tanto no estilo, como na idade. A faixa etária é de uns 20 a uns 25 anos, mas sempre dá gente mais nova e mais velha”, afirma. Já todo último sábado do mês, os DJs Claudinha e Bernardo dão lugar para uma outra festa: a Festa Tirana. Há cerca de um ano e meio a festa é comandada pelo Dj Ivanovick, junto com a Dj Valéria. “Além de nós, sempre temos outros dois ou três convidados”, conta Ivanovick. De acordo com ele, o maior número de DJs faz com que a festa tenha um som ainda mais variado. “Nós to-

camos algumas coisas que não se ouve tanto nas pistas por aí, tipo Mutantes e Ramones”, diz. Ivanovick já é DJ há dez anos e costumava discotecar em um antigo bar da proprietária do Wonka, o Bar Dromedário. Quando o bar fechou, continuou tocando em outras casas, até que reencontrou Ieda, que fez o convite para ele tocar uma vez por mês no Wonka. A Festa Tirana já era uma idéia que ele e o amigo Flávio Jacobsen tinham: uma festa com um conceito diferenciado, buscando elementos da estética russa. E é exatamente essa variedade que pode ser encontrada no Wonka que chama a atenção. Paulo Germano Scherer, estudante de Farmácia, freqüenta o bar aos sábados e afirma que é, principalmente, por causa das músicas. “Eu gosto porque toca tudo quanto é tipo de rock, desde os mais clássicos até os mais atuais”, afirma. A amiga de Paulo, Inajara Rotta, concorda com ele e completa: “Além do som, as pessoas que freqüentam e a decoração alternativa são bem legais”.

Flávia Silveira


publicação do Wonka Bar - dezembro 2008 8 O Ovo abcdefgabcde

Moderno e Cosmopolita Há oito anos, Mafalda encanta com boa comida e ambiente agradável

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ma casinha vermelha na rua Tibagi, ali atrás do Teatro Guaíra com a placa “Mafalda – Café Bistrô”. Você entra e se depara com confortáveis poltronas, uma mesinha com flores, um castiçal. Parece até casa da sua avó. Mas você dá uma olhada melhor e repara que há mesas e cadeiras de diversas cores, lê um poema de Walt Whitman numa escultura, olha para paredes estampadas, nota uma caixa registradora antiga do lado dos bancos modernos. A decoração do Mafalda chama muita atenção. E tudo isso antes de provar a comida. Você abre o cardápio e lê “Para um longo e tenebroso inverno...” - lá estão as sopas do Mafalda (veja a receita). “A dama e o vagabundo” são as massas. Numa referência mais obscura ao filme de Peter Greenaway, o cardápio intitula “O ladrão, o cozinheiro, a mulher e seu amante ou o que não se encaixa em outro lugar” os pratos mais diferentes. Nessa parte há comida alemã, brasileira, polonesa, com toque japonês, e o famoso Virado da Isaura. O Mafalda ainda tem pizzas muito saborosas – como a Paris é uma Festa, com champignon e alcaparras –, doces, extensa carta de vinhos e drinks clássicos. O Mafalda surgiu há oito anos e tinha outro endereço. Ficava a umas três quadras do novo local, na rua XV, pertinho da reitoria da UFPR. Em dezembro de 2006, as duas sócias, Ieda

Godoy e Sandra Pillati, decidiram que era hora de mudar para um espaço maior. O antigo estabelecimento tinha uma cara de armazém, um visual mais antigo com objetos que remetiam ao passado “Fiz uma pesquisa junto com a arquisteta, baseada em artistas plásticos em busca da originalidade”, diz. A arquiteta é Wendy Ferreto, que também foi responsável pela reforma do Mafalda neste fim de ano. “Não quisemos acabar com o Mafalda antigo, a essência continua a mesma”, conta. O cardápio, por exemplo, não mudou quase nada. Há seis anos, as duas proprietárias juntaram-se com a chef Adriana Vecchi para criar os pratos servidos no café. Alguns deles tornaram-se tradição, como o sanduíche de pernil, o Ali Babá e o Virado da Isaura, que originalmente era receita da mãe de Ieda. “São idéias que davam certo em casa, aquela coisa: pega o feijão do almoço mistura com uma farofinha, uma lingüiça”, brinca. O Mafalda também tem diversos pratos sem produtos animais, para os vegetarianos. O café/bistrô Mafalda abre também para o almoço, com um buffet variado. E não se esqueça: quando for ao Mafalda peça, na hora de pagar, uma tirinha da Mafalda (aquela mesma, do Quino) para dar uma boa risada depois de uma ótima refeição.

Manuela Salazar

Cabral Julia Guedes

(essa receita é inspirada, só inspirada, no tradicional Caldo Verde português)

Ingredientes

(para um prato farto ou dois nem tanto)

A nova decoração do Mafalda foi inaugurada no fim de novembro

3 batatas inglesas mais pra médias que pra pequenas 300 g de lingüiça Blumenau Cebola a gosto 2 folhas, grandes, de couve-manteiga Cheiro verde a gosto Sal, tome cuidado extra com ele

Coloque as batatas para cozinhar. Se estiver com tempo, vá ler um pouco, até que a batata cozinhe; Se a fome for urgente, fatie-as em rodelas finas, mas não deixe derreter. Nesse caso, sugiro que coloque uma música que mexa com seus sentidos, para distrair a vontade de comer. Enquanto a batata borbulha, corte a cebola em rodelas finas da mesma forma que a couve e reserve. Retire a casca da lingüiça e esfarele-a com os dedos. Ah... a batata já cozinhou! Coloque um fio de óleo numa panela pequena e funda, aqueça bem, frite a cebola sem torrar e depois a lingüiça, (ela não precisa de muito tempo, pois é defumada). Reserve. Tire a batata do fogo, descasque-a, e aperte-a com um garfo (jamais liquidificador - vira sopa de hospital). Misture os ingredientes reservados, acendendo novamente o fogo. Coloque um pouco de água e deixe ferver para encorpar. Tempere a seu paladar, e coloque a couve picada Dê só uma fervida rápida, só falta o cheiro verde e o prazer maravilhoso dessa sopa quentinha, principalmente se estiver frio e chovendo. Não aconselhamos pão por também ser carboidrato, mas não condenamos. Então coma como quiser, mas coma feliz!

Se você pensa em música de qualidade para ouvir ou para dançar, se pensa em poesia, em jazz, vá ao Wonka! Se você pensa em cerveja gelada na calçada, vá ao O torto! Se pensa em um bar com o dono mais querido da cidade, vá ao VU! Se pensa em rock nas quartas, vá ao James! Se pensa num lugar divertido, vá ao Kitinete! Se pensa em uma deliciosa carne de onça numa terça, vá ao Chinaski! E se pensa em uma comidinha gostosa no almoço ou no jantar, em um lugar bem agradável, vá ao Mafalda!


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