É tempo de campanha

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É tempo de campanha Sol forte e temperaturas altíssimas ou chuva e frio. Não importa: não há tempo ruim em época de propagada eleitoral Por Natália Scholz Ano de eleição é sinônimo de propaganda, inclusive nas ruas. Além dos meios de comunicação, como a televisão e o rádio, é no boca a boca que se fica mais próximo do eleitor. Militantes e pessoas contratadas dos partidos estão por toda parte carregando bandeiras e panfletos de seus candidatos. A avenida João Corrêa - mais conhecida pelos habitantes de São Leopoldo como a “Rua do Mc Donalds” - é um dos pontos mais disputados da cidade. Vestidos e com maquiagem de palhaços, dois meninos enfrentam um sol forte e uma temperatura acima de trinta graus, segurando placas de um candidato que também se identifica com a figura circense, o Mortadela. Margarina e Chimia, como preferem ser conhecidos, são funcionários do candidato e estão nas ruas por amor à causa. “As propostas dele são muito boas. Ele quer criar oficinas para as crianças saírem das ruas. Então ao invés delas chegarem perto das drogas, elas vão estar fazendo teatro”, comentam. Para eles, isso é investir na educação e ocupar bem o tempo dos jovens leopoldenses. Além de fazer propagandas, os meninos afirmam que se divertem muito nas três horas por dia que ficam pelas ruas, em pontos que o candidato a vereador escolhe. “O pessoal conversa com a gente, ficamos fazendo piadas e tudo mais. Esses dias até fiquei com uma menina palhaça”, conta Chimia com entusiasmo. Inspiração no Congresso Nacional Ao serem questionados sobre a credibilidade que um candidato vestido de palhaço passa aos eleitores, Margarina cita o fenômeno Tiririca, que nas eleições de 2010 foi eleito como o deputado federal mais votado do Brasil, com 1.3 milhão de votos. Tiririca utilizou os bordões "O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto" e "Pior do que tá não fica, vote Tiririca" e causou muita polêmica no país, questionando o valor que os eleitores deram ao seu


voto. Surpreendentemente, hoje, Tiririca é um dos poucos deputados que participaram de todas as sessões destinadas a votação na Câmara. Multirão feminino Luciana da Silva, diferente dos palhaços, trabalha em um dia que poderia ser parte do roteiro de um filme de terror: Três horas da tarde e não há sol. É praticamente noite em São Leopoldo, chove com muita intensidade e ela, juntamente com a amiga Jociele da Silva Teixeira, segura a bandeira de seu partido. Ao contrário de Margarina e Chimia, as moças ganham pago para fazer a campanha. “R$ 150,00 por semana, das 13h às 18h”, conta Luciana. Mesmo sendo um serviço remunerado, elas dizem que acreditam nas propostas dos seus candidatos. As mulheres que estão reunidas debaixo da passagem do trem próximo ao supermercado BIG fazem parte da Caravana das Mulheres, que, em sua maioria, é composta por donas de casa que buscam uma renda extra para suas famílias. Essas mulheres, além de segurarem as bandeiras, percorrem a cidade visitando moradores para ver quais são as demandas e sugestões para os candidatos. “Falamos mais com mulheres, pois elas são a maioria da população e têm mais paciência para ouvir e falar”, relata Jociele. A briga entre os partidos não passa de alguns “corridões”, diz Luciana. “Não tem discussão ou qualquer coisa do gênero, porque a gente tem que respeitar, né? Cada um faz a sua escolha no campo político.” Uma estranha no ninho Nas cinco horas diárias de trabalho há pouco que fazer. De vez em quando há algum simpatizante do partido que demonstra sua aprovação à causa com algum buzinaço, mas raramente há maiores emoções. Por isso, uma estranha no ninho chama a atenção e causa desconfiança. Apesar da discrição, em pouco tempo uma entrevista com apenas duas mulhres vira uma roda de conversa e o questionamento surge: “Ô, moça! Para quê que é essa pesquisa que tu tá fazendo?” Ao obter a resposta, complementa: “Ah, bom. Porque se for para falar contra, não é para dizer nada”.


Nova militância Outro aspecto da campanha eleitoral se dá pela militância por amor. Ediana Krohn trabalha dentro do Partido dos Trabalhadores de São Leopoldo, participando da juventude do PT. O cronograma dos locais em que vão permanecer é definido através de um planejamento feito semanalmente. Os pontos fortes, porém, para a Juventude são os debates e comícios, que conseguem ser conciliados na agenda desses jovens. “Eu trabalho dentro do PT, mas os outros trabalham na iniciativa privada ou são servidores públicos. Fazemos a campanha conforme os nossos horários permitem e os horário dos candidatos também”, conta. Marília Dias, assessora de imprensa do PT em Esteio, relata essa mudança no campo da militância do partido. “A ideia antiga era que não se pagassem pessoas. Os militantes é que fariam a campanha. Porém, isso mudou, porque o perfil da militância acaba sendo de pessoas mais velhas, com mais responsabilidade. Esse pessoal não consegue fazer campanha nas ruas. Por isso é que se pagam pessoas para realizar o serviço”, afirma. A campanha está nas ruas, independente do motivo que a incentiva. Faça chuva ou faça sol; de graça ou remunerada. Cabe agora, ao eleitor, saber escolher.


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