Destaque abril a junho de 2013

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abril - junho 2013

AS FESTAS DA ÁRVORE NA AMADORA O CARRO DA AGRICULTURA

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resente nas três Festas da Árvore da Amadora, o carro da Agricultura era uma alegoria ao trabalho dos campos. Sobre uma simples carroça, totalmente forrada com palha, inclusive nas rodas, apilhavam-se inúmeros apetrechos agrícolas, que alternavam com panos e fitas de várias cores. Foices, forquilhas, chocalhos, ancinhos, machados e até ferramentas de maior porte, como uma debulhadora, em 1910, eram os principais elementos decorativos nas várias edições do Carro da Agricultura. Em 1909, seguiam neste carro, várias meninas da Amadora, vestidas à minhota e eram escoltadas por três cavaleiros, vestidos de campinos. O carro de 1910 era puxado por duas juntas de bois, segundo a descrição dos jornais da época, enfeitados à alentejana. Na Amadora de então, rodeada de terrenos agrícolas e quintas, seria fácil obter os mais diversos objetos para a decoração dos carros, tanto mais que os maiores lavradores da zona também apoiavam a festa. No entanto, estes carros sobre a agricultura, organizados e preparados por e para uma população essencialmente urbana, espelhavam uma visão idealista do mundo rural, baseada nos primeiros estudos etnográficos das diferentes regiões do país.

NÚCLEO MUSEOGRÁFICO DO CASAL DA FALAGUEIRA MUSEU MUNICIPAL DE ARQUEOLOGIA

nível nacional a Festa da Árvore foi, inicialmente, fomentada pela Liga Nacional de Instrução, organização de cariz republicano, criada para promover a instrução, sobretudo o ensino básico oficial. Em Agosto de 1912 inicia-se a publicação do jornal O Século Agrícola, Semanário de Trabalhos Práticos dos Campos e Jardins, propriedade da Empresa o Século. Esta publicação destinava-se a um público específico, de agricultores, lavradores e interessados em temas agrícolas, e visava difundir os conhecimentos tecnológicos e científicos necessários à melhoria da produtividade dos trabalhos agrícolas. No Portugal republicano, onde estava a ser progressivamente implementada a Lei de Separação da Igreja e do Estado, grande parte das zonas rurais do interior e norte do país permaneciam longe dos ideais republicanos e sob forte influência da Igreja. O Século Agrícola foi uma tentativa, que durou até 1915, de fazer chegar as vantagens do progresso tecnológico a um público naturalmente afastado dos ideais republicanos, dominantes nas zonas urbanas.


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