CARGAS DE TRABALHO: um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde

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Cargas de Trabalho: um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde

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um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde

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Denise Elvira Pires de Pires e Letícia de Lima Trindade

Conselho Científico Moriá Editora Diretor do conselho Prof. Dr. Márcio Neres dos Santos Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS Brasil Colaboradores do Conselho Prof.ª Dra. Dagmar Elaine Kaiser Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Brasil Prof.ª Dra. Erica Rosalba Mallmann Duarte Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Brasil Prof.ª Dra. Iride Cristofoli Caberlon Universidade Luterana do Brasil, Gravataí/RS Brasil Prof.ª Dra. Magáda Tessmann Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma/SC Brasil Prof.ª Dra. Maira Buss Thofehrn Universidade Federal de Pelotas, RS Brasil Prof.ª Dra. Maria da Graça de Oliveira Crossetti Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Brasil Prof.ª Dra. Maria Ribeiro Lacerda Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR Brasil Prof.ª Dra. Regina Gema Santini Costenaro Universidade Franciscana, Santa Maria/RS Brasil Prof.ª Dra. Rita Catalina Aquino Caregnato Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre/RS Brasil Prof.ª Dra. Roseana Maria Medeiros Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim/RS Brasil

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Denise Elvira Pires de Pires Letícia de Lima Trindade Organização

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Denise Elvira Pires de Pires e Letícia de Lima Trindade

Os autores e a editora se empenharam para dar aos devidos créditos e citar adequadamente a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado nesta obra, dispondo-se a possíveis acertos posteriores, caso, involuntária e inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Todas as fotos que ilustram o livro foram autorizadas para publicação e uso científico pelos pacientes e/ou familiares na forma de consentimento livre e informado, seguindo as normas preconizadas pela Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. Diagramação e capa: Laura Cardillo Revisão de Português: Annelise Rocha – annelisesr@gmail.com 1ª Edição – 2022 Todos os direitos reservados para

É proibida a duplicação deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (mecânico, eletrônico, fotocópia, gravação, distribuição pela internet e outros), sem permissão, por escrito da Moriá Editora Ltda. Contato: moriaeditora@gmail.com www.moriaeditora.com.br 55 51 986043597 DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) C276

Cargas de trabalho: um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde / organizadoras: Denise Elvira Pires de Pires, Letícia de Lima Trindade. - Porto Alegre: Moriá, 2022. 309 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-65-86659-20-7

1. Enfermagem do trabalho. 2. Carga de trabalho. 3. Saúde do trabalhador. 4. Pessoal de saúde. 5. Profissionais de enfermagem. I. Pires, Denise Elvira Pires de. II. Trindade, Letícia de Lima. NLM WY 141 CATALOGAÇÃO NA FONTE: RUBENS DA COSTA SILVA FILHO CRB10/1761

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PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina GESTRA: Grupo de Estudos sobre Saúde e Trabalho da Universidade do Estado de Santa Catarina Organização: Denise Elvira Pires de Pires e Letícia de Lima Trindade Financiamentos: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (FAPESC2021TR939) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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AUTORES Alexa Pupiara Flores Coelho Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões/RS. Líder do Laboratório de Estudos em Saúde, Enfermagem e Trabalho (LABEST/UFSM). Ana Lúcia Cardoso Kirchhof Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente da Universidade Federal de Santa Maria (1984-2002), fundadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Trabalho (1998-2002) do Departamento de Enfermagem/UFSM. Docente aposentada da UFSC e membro fundador do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi pesquisadora visitante do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (2008-2010). Camila Dourado Reis Enfermeira. Mestre em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração dos Serviços de Enfermagem (GEPASE) da UFBA. Carmem Lúcia Colomé Beck Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente Titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem/UFSM. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq 1 D.

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Carine Vendruscolo Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente do Departamento de Enfermagem e do Mestrado Profissional em Enfermagem na Atenção Primária à Saúde da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Líder do Laboratório de Inovação e Tecnologias para a Gestão do Cuidado e Educação Permanente em Saúde (LABIGEPS/UDESC), membro do Grupo de Estudos sobre Saúde e Trabalho (GESTRA/UDESC) e do Grupo de Pesquisa Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/ UFSC). Cristina Queirós Psicóloga. Doutora em Psicologia pela Universidade do Porto. Docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Daiane Biff Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Araranguá. Daiane Dal Pai Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Docente Adjunta da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Saúde Ocupacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (GISO) e da Rede Internacional de Enfermagem em Saúde Ocupacional (RedENSO). Denise Elvira Pires de Pires Enfermeira. Pós-doutorado na University of Amsterdam. Docente titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), atuando no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC. Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem-Seção

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SC (1986-1989). Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC (1999-2003). Presidente do Conselho Regional de Enfermagem-SC (2008-2011) e Conselheira (2012-2014). Bolsista de Produtividade em pesquisa do CNPq 1B. Denise Maria Quatrin Lopes Enfermagem. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande. Dircéia Borges Fernandes Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Enfermeira de Saúde da Família em Coronel Vivida, Paraná (PR) e instrutora do Serviço Nacional do Comércio (SENAC/Pato Branco, PR). Edinilza Ribeiro dos Santos Enfermeira. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Líder do Laboratório de Estudos Epidemiológicos de Populações Amazônicas (LAEP). Elaine Cristina Novatzki Forte Enfermeira. Pós-Doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Adjunta no Departamento de Enfermagem da UFSC. Diretora do Desenvolvimento da Prática Profissional e do Trabalho de Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem de Santa Catarina. Elisabete Borges Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Instituto Ciências da Saúde, da Universidade Católica Portuguesa. Docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto. Investigadora integrada do Center for Health Technology and Services Research. Membro da Red Internacional de Enfermería en Salud Ocupacional (RedENSO).

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Gilberto Tadeu Reis da Silva Enfermeiro. Pós-doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi contemplado com bolsa para Professor Visitante no Exterior. Professor Titular na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e colaborador na UNIFESP. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração dos Serviços de Enfermagem – GEPASE na UFBA. Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq 1D. Hosanna Pattrig Fertonani Enfermeira. Pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora Associada da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Pesquisadora do PRAXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC e do Núcleo de Estudos sobre Formação para o SUS (NEFORHUS) da UEM. Isabel Cristine Oliveira Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem no Programa de PósGraduação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem/UFSM. Ises Adriana Reis dos Santos Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem e Saúde na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração dos Serviços de Enfermagem (GEPASE)/UFBA. Jacks Soratto Enfermeiro. Pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina. Docente da Universidade do Extremo-Sul de Santa Catarina (UNESC). Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina e do Grupo de Pesquisa em gestão do cuidado, integralidade e educação na saúde (GECIES) da UNESC.

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João Miguel Almeida Ventura da Silva Enfermeiro. Doutorando em Ciências de Enfermagem, pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Especialista em Enfermagem de Reabilitação no Centro Hospitalar Universitário São João e Assistente Convidado na Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal. Juliana Petri Tavares Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica (DEMC) da Escola de Enfermagem (UFRGS) e docente do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da UFRGS. Pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Saúde Ocupacional da UFRGS (GISO) e membro da Rede Internacional de Enfermagem em Saúde Ocupacional (RedENSO). Lara Vandresen Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC. Larissa Martini Junqueira Enfermeira. Residente em Saúde Mental Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Letícia de Lima Trindade Enfermeira. Pós-doutorado na Universidade do Porto. Docente da Departamento de Enfermagem e do Mestrado Profissional em Enfermagem na Atenção Primária à Saúde da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Líder do Grupo de Pesquisa sobre Saúde e Trabalho (GESTRA/UDESC), membro PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC, do grupo Formação e Trabalho da Unochapecó e da Rede Internacional de Enfermagem em Saúde Ocupacional (RedENSO).

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Magda Duarte dos Anjos Scherer Sanitarista. Pós-doutorado no Conservatoire des Arts et Metiers (Cnam/Paris). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Saúde Pública, coordenadora do Labor – Laboratório de pesquisa sobre o trabalho, gestão, formação e avaliação em saúde e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Gestão e Educação em Saúde da UnB. Pesquisadora Associada do Centre de Recherche sur le Travail et le Developpement (CRDT/Cnam/ Paris). Vice-presidente da Associação Latina para Análise de Sistemas de Saúde /ALASS e membro da Sociedade Internacional de Ergologia. Maiara Bordignon Enfermeira. Pós-doutorado na Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Professora na Universidade Federal do Paraná, Campus Toledo. Membro do Grupo de Pesquisa Biociências e Saúde (UFPR), Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho (Unicamp), do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva e Meio Ambiente (NUPESC/ UnC) e do Laboratório de Práticas de Enfermagem baseadas em Evidências (LAPE) (UnC). Maira Buss Thofehrn Enfermeira. Pós-doutorado na Universidade de Múrcia, na Espanha. Docente aposentada da Universidade Federal de Pelotas. Docente visitante na Universidade Federal de Juiz de Fora. Participa do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem. Maria Inês Monteiro Enfermeira. Pós-doutorado no Finnish Institute of Occupational Health – Finlândia. Docente da Universidade Estadual de Campinas. Participou como Professora Visitante em Curso sobre Sustentabilidade na University of Shanghai/China (2010). Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho (Unicamp). Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq – PQ 2.

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Maria Helena Palucci Marziale Enfermeira. Doutora em Ciências. Professora Titular e Diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Líder do Núcleo de Estudos Saúde e Trabalho (NUESAT/ USP), Coordenadora da Red Internacional de Enfermería en Salud Ocupacional, Coordenadora da Coleção de Revistas de Enfermagem REVENF da Biblioteca Virtual de Salud (BVS-Enfermería), Presidente do Conselho Gestor da Revista Latino-americana de Enfermagem. Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq 1A. Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva Martins Enfermeira. Doutora em Ciências de Enfermagem pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Investigadora Integrada do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal. Mariana Mendes Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC. Bolsista CAPES. Olga Maria Pimenta Lopes Ribeiro Enfermeira. Doutora em Ciências de Enfermagem, pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Investigadora Integrada do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal. Patrícia Alves Galhardo Varanda Enfermeira. Mestre em Enfermagem e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Enfermagem do trabalho pela Universidade Paulista-UNIP. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração dos Serviços de Enfermagem (GEPASE) da UFBA.

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Pilar Espinoza Quiroz Enfermera. Doctora por la Universidad de Sao Paulo. Directora de postgrado, investigación y relaciones internacionales de la Facultad de Ciencias para el Cuidado de la Salud de la Universidad San Sebastián. A cargo de la generación y coordinación de programas de postgrado y de intercambio internacional para alumnos, académicos y profesionales de salud. Participando de redes de investigación y docencia con universidades en America Latina, USA y paises de Europa. Asesoria a instituciones de salud en modelo MAGNET (Internacional) para enfermería de excelencia. Rita de Cássia Flôr Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente Titular aposentada do Departamento Acadêmico de Saúde e Serviços do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), atua no Curso Superior de Tecnologia em Radiologia e no Programa de Mestrado em Tecnologias Radiológicas do IFSC. Rosani Ramos Machado Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora do PRAXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC. Rosângela Marion da Silva Enfermeira. Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Professora Adjunto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSM. Vice-líder do grupo de pesquisa Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem. Simone Coelho Amestoy Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) em exercício provisório no

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Colegiado Acadêmico do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração dos Serviços de Enfermagem GEPASE/UFBA. Thayse Aparecida Palhano de Melo Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do PRÁXIS: Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem da UFSC. Washington Luiz de Sousa Oliveira Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Especialista em Direito Penal e criminologia pelo Centro Universitário Internacional – Uninter. Wilson Danilo Lunardi Filho Enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente da Universidade Federal do Rio Grande.

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SUMÁRIO Apresentação

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Agradecimentos

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Prefácio

29 PARTE I – Cargas de trabalho: reflexões e interfaces teórico conceituais

Capítulo 1 – Cargas de trabalho: um referencial profícuo para compreensão da relação entre trabalho e saúde 35 Denise Elvira Pires de Pires, Letícia de Lima Trindade, Thayse Aparecida Palhano de Melo Capítulo 2 – Cargas psíquicas e trabalho 49 Thayse Aparecida Palhano de Melo, Denise Elvira Pires de Pires, Letícia de Lima Trindade Capítulo 3 – Cargas psíquicas: a influência do bullying e do burnout na saúde dos trabalhadores 65 Elisabete Borges, Cristina Queirós Capítulo 4 – Violência no labor em saúde e no processo de trabalho da enfermagem 93 Daiane Dal Pai, Juliana Petri Tavares, Larissa Martini Junqueira Capítulo 5 – Violência no trabalho e inteligência emocional: (inter) relações com as cargas de trabalho 111 Maiara Bordignon, Maria Inês Monteiro, Maria Helena Palucci Marziale, Pilar Espinoza Quiroz Capítulo 6 – Suicídio e trabalho: desvelar para prevenir 127 Thayse Aparecida Palhano de Melo, Denise Elvira Pires de Pires, Carine Vendruscolo

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Capítulo 7 – Marx e Dejours: a dialética entre satisfação e insatisfação no trabalho em saúde 147 Jacks Soratto, Denise Elvira Pires de Pires Capítulo 8 – Cargas de trabalho e a produção do erro Elaine Cristina Novatzki Forte

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Capítulo 9 – Reflexo das cargas de trabalho na liderança do enfermeiro 175 Simone Coelho Amestoy, Gilberto Tadeu Reis da Silva, Maira Buss Thofehrn, Camila Dourado Reis, Patrícia Alves Galhardo Varanda, Ises Adriana Reis dos Santos, Washington Luiz de Sousa Oliveira PARTE II – Cargas de trabalho em pesquisas na saúde, Brasil e Portugal Capítulo 10 – Cargas de trabalho de enfermeiros na Estratégia Saúde da Família 193 Daiane Biff, Denise Elvira Pires de Pires, Rosani Ramos Machado Capítulo 11 – Cargas psíquicas no processo de trabalho da enfermagem na Estratégia Saúde da Família no Brasil 209 Mariana Mendes, Letícia de Lima Trindade, Edinilza Ribeiro dos Santos, Hosanna Pattrig Fertonani, Magda Duarte dos Anjos Scherer Capítulo 12 – Cargas de trabalho dos gestores: um olhar sobre as influências do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica, Brasil 223 Letícia de Lima Trindade, Dircéia Borges Fernandes, Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva Martins, Carine Vendruscolo, Olga Maria Pimenta Lopes Ribeiro Capítulo 13 – Cargas de trabalho: olhares dos enfermeiros portugueses sobre as condicionantes estruturais 239 Olga Maria Pimenta Lopes Ribeiro, Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva Martins, João Miguel Almeida Ventura da Silva

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Capítulo 14 – Cargas de trabalho na perspectiva do dimensionamento de pessoal, Brasil e Portugal 263 Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva Martins, Lara Vandresen, Letícia de Lima Trindade, Olga Maria Pimenta Lopes Ribeiro Capítulo 15 – Pesquisa sobre cargas de trabalho com agentes comunitários de saúde, Brasil 281 Denise Maria Quatrin Lopes, Wilson Danilo Lunardi Filho, Carmem Lúcia Colomé Beck, Alexa Pupiara Flores Coelho, Rosângela Marion da Silva, Isabel Cristine Oliveira Capítulo 16 – Exposição ocupacional à carga física da radiação ionizante no uso das tecnologias radiológicas no Brasil 299 Rita de Cássia Flôr, Ana Lúcia Cardoso Kirchhof

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APRESENTAÇÃO Teoria e pesquisa para compreender as relações entre saúde e trabalho: à guisa de apresentação Denise Pires

Esta obra trata de um referencial profícuo para estudos acerca do trabalho humano, em especial a complexa interface entre trabalho e a saúde de quem o realiza. O trabalho humano pode ser entendido como uma ação transformadora para atender necessidades individuais ou sociais. E, ao longo da história, estudiosos de diversas áreas, dentre elas saúde, humanidades e economia, vem produzindo conhecimentos sobre essa temática, mostrando que o modo, as relações, as condições e o ambiente em que o trabalho ocorre tem forte determinação sobre a saúde de quem o executa.

No trabalho humano o processo de transformação do objeto, em produtos materiais ou não materiais para atender necessidades, pode ser fonte de satisfação e de criação para o trabalhador, contribuir para a promoção da saúde e, até, ser terapêutico. No entanto, no trabalho realizado em diferentes sociedades históricas, tem predominado a produção do sofrimento, do desgaste e do adoecimento de quem o realiza. Na atualidade, o trabalho ocorre em um cenário de grandes transformações. Esse processo inclui mudanças nos modos de produzir, fortemente impactado pelo processo de inovação tecnológica; transformações nas formas de utilização da força de trabalho, geralmente com perdas de direitos; assim como estão em disputa distintos projetos de sociabilidade. Nas relações entre trabalho e sociedade cabe questionar se as riquezas produzidas têm contribuído para a preservação da vida e do planeta, e se acessíveis ao conjunto da população. O cenário

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atual não parece muito promissor, mas a história não é linear e os caminhos dependem dos valores que orientam as nossas ações e da correlação de forças da luta política. O caso da saúde é paradigmático neste momento histórico em que a humanidade vivencia a atual pandemia de COVID-19. Ficam evidentes as articulações entre política, conhecimentos e tecnologias disponíveis, interesses econômicos, assim como as relações entre trabalho e adoecimento de um grupo especial de trabalhadores do setor de serviços – os que cuidam da saúde das pessoas. Trata-se de um evento sanitário com efeitos tão intensos na vida social que tem sido mencionado como o marco real de início do século XXI, de modo similar ao efeito da primeira guerra mundial e da gripe espanhola para o século XX, marcando seu início de modo mais significativo que o calendário. A COVID-19 está provocando mudanças profundas na vida em sociedade, com alterações no modo de produzir, no consumo, no meio ambiente, nas relações entre as pessoas e nos modos de estudar e ensinar. Para dar respostas que aliviem a dor e o sofrimento das pessoas, invoca-se a ciência e a produção de tecnologias inovadoras e eficazes. Os serviços de saúde e as políticas sanitárias são colocados em cheque no que diz respeito a sua capacidade de atender as necessidades da população e proteger a saúde dos trabalhadores do setor. Os profissionais de saúde têm a responsabilidade de realizar esse trabalho especial de cuidado da saúde de outros seres humanos, no entanto, na sua realização, estão adoecendo e morrendo. Desde dezembro de 2019, quando foi reconhecido um surto de infecção humana por um novo tipo de coronavírus, até maio de 2020 (cinco meses), o mundo registrava cerca de 90 mil profissionais de saúde acometidos pela doença.1 A enfermagem representa 59% do total destes profissionais,2 está presente diuturnamente nos serviços de saúde provendo cuidados vitais, e é o grupo mais atingido. O Conselho Internacional de Enfer-

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magem (ICN), em junho de 2020, já registrava a morte de 600 enfermeiros no mundo3 e, só no Brasil, no mesmo mês, mais de 6 mil profissionais de enfermagem adoeceram ou morreram vítimas da COVID-19.4 O número de mortes continuou crescendo e, em outubro do mesmo ano, o ICN registrava a morte de 1500 profissionais de enfermagem por COVID-19, em 44 países, e reconhece que este número é subestimado.5 Esse cenário agravará o déficit de profissionais de enfermagem reconhecido em relatório sobre a situação da enfermagem, publicado no início de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ICN e Programa Nursing Now.2 O relatório registra que, em 2018, já havia um déficit de 5,9 milhões na força de trabalho da enfermagem e que o mesmo se agravará, especialmente, pelo surto de COVID-19 e pelo deslocamento populacional em massa gerado por conflitos.2 No ano de 2020, declarado pela OMS como ano internacional da enfermagem, o caráter vital e essencial do trabalho desenvolvido por estes profissionais ficou evidente, e amplamente divulgado na sociedade. No entanto, dialéticamente, os traumas gerados por trabalhar em circunstâncias tão dramáticas, associado ao adoecimento e mortes destes profissionais terá forte impacto na força de trabalho com consequências a longo prazo, demandando a formulação e implementação de políticas apropriadas. O referencial teórico-metodológico das cargas de traba6 lho, com suporte na teoria do processo de trabalho,7 apresentado neste livro, contribui para o entendimento do trabalho vivo, considerando o contexto histórico, micro e macro social da determinação do processo saúde-doença dos sujeitos que realizam o trabalho. Adoecimento e morte relacionada ao trabalho são entendidos como fenômenos que têm múltipla determinação, não são fatalidades ou causados por riscos de fácil identificação e solução.

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No cenário da pandemia de COVID-19, para além da natureza do trabalho em saúde e da intensidade da carga biológica (exposição a um novo tipo de coronavírus) assume relevância a inadequação da infraestrutura, ambiente e condições de trabalho, com destaque para a deficiência e/ou inexistência de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), assim como a fragilidade dos conhecimentos clínicos e epidemiológicos e insuficiência de terapêuticas disponíveis. Adoecimento, sofrimento e morte dos profissionais de saúde, neste cenário, são fortemente determinados pela presença ou ameaça de contato com uma carga biológica relevante. No entanto, é possível identificar outros elementos presentes no referido processo de trabalho, gerando diversos tipos de cargas de trabalho e, ainda, que elas interatuam entre si na geração de desgaste ou adoecimento, com expressão singular e coletiva. Além das cargas biológicas, também ficam evidentes as fisiológicas (como esforço físico e movimentos exigidos pelas tarefas; espaço disponível e posições assumidas na execução do trabalho; ritmos de trabalho com alteração do sono), as psíquicas (como o medo do adoecimento e morte, sua e de familiares; a tensão para salvar vidas e enfrentar limitações e impotência) e as físicas (calor e frio dos ambientes de prática e causados pelos próprios EPI); as cargas químicas e mecânicas também podem ser identificadas, dependendo do cenário de prática. Considerando o que já temos acumulado, cabem algumas considerações e questionamentos. O cenário econômico e a macropolítica interferem nas práticas sanitárias e na cultura de segurança. Que preço será pago pela sociedade ao adotar uma visão fragmentada, negacionista e anti-ciência? A disponibilização de conhecimento científico, normas e protocolos é condição suficiente para uma prática segura? A identificação de fatores de risco e nexo causal, como interpretado pela biomedicina, constitui-se em aporte suficiente para o estudo do fenômeno “traba-

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lho e saúde”? Subjetividade e valores, como diz Yves Schwartz8 interferem nas escolhas e ação dos sujeitos para um agir mais ou menos protetor, no entanto, cabe investigar as relações entre política e interferência econômica nas práticas sanitárias. Dentre os caminhos possíveis, o aporte teórico-metodológico e resultados de pesquisa apresentados nesta obra constituem um instrumental a ser utilizado e criticado.

REFERÊNCIAS 1. Kenny P. 90,000 healthcare workers infected with COVID-19: ICN. Anadolu Agency [internet] 2020 May 06 [acesso em 2020 Jun 10]. Disponível em https://www.aa.com.tr/en/europe/ 90-000-healthcare-workers-infected-with-covid-19-icn/1831765 2. World Health Organization. State of the World’s Nursing Report – 2020. [internet] 2020 [acesso em 2020 Jun 09]. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/nursing-report-2020 3. International Council Nurses. More than 600 nurses die from COVID-19 worldwide. [internet] 2020 Jun 03 [acesso em 2020 Jun 10]. Disponível em https://www.icn.ch/news/more-600-nurses-die-covid-19-worldwide 4. Conselho Federal de Enfermagem (BR). Profissionais infectados com COVID-19 informado pelos enfermeiros e responsáveis técnicos/coordenadores. [internet] 2020 Jun 10 [acesso em 2020 Jun 10]. Disponível em: http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/ 5. International Council Nurses. ICN confirms 1,500 nurses have died from COVID-19 in 44 countries and estimates that healthcare worker COVID-19 fatalities worldwide could be more than 20,000. [internet] 2020 Oct 28 [acesso em 2020 Dez 12]. Disponível em https://www.icn.ch/news/icn-confirms-1500-nurses-have-died-covid-19-44-countries-and-estimates-healthcare-worker-covid 6. Laurell AC, Noriega M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: Hucitec; 1989. 7. Marx K. O capital: crítica da economia política. Livro I. São Paulo, SP: Boitempo; 2013.

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8. Schwartz Y, Durrive L. Trabalho e ergologia: conversas sobre atividade humana. 2ª ed. Niterói: Universidade Federal Fluminense; 2010.

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AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo financiamento de pesquisas que integram o livro. Às Universidades e instituições de ensino e assistenciais Brasileiras e Portuguesas onde atuam os autores dos estudos que integram o livro. À Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), à Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e à Universidade Comunitária da Região de Chapecó pelo suporte à produção do livro. À Mariana Mendes pelas contribuições na revisão da obra. À Lisiane Palau (in memoria) pelo investimento na produção editorial da obra, mesmo na luta contra a COVID-19. Em seu nome homenageamos todas às vitimas da pandemia.

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Cargas de Trabalho: um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde

PREFÁCIO Agradeço às organizadoras, Professoras Doutoras Denise Pires e Pires e Letícia de Lima Trindade, pelo honroso convite para prefaciar este extraordinário livro intitulado “CARGAS DE TRABALHO: um referencial para entender a relação entre trabalho e saúde”. Trata-se de uma obra bastante extensa, de autoria dos melhores especialistas no tema, muitos deles produtores de outras obras relevantes acerca do trabalho & saúde. De abordagem marxiana em sua inspiração, o livro aborda subtemas e tópicos bastante importantes para escrutinar o trabalho e sua relação com a saúde. E o que realmente acaba interessando a nós trabalhadores da saúde, o trabalho e a saúde do trabalhador da saúde, com especial ênfase nos trabalhos da Enfermagem. Ênfase dada pelo domínio, mais propriamente da vivência (pessoal ou do ofício de docente e pesquisador) dos autores e da produção científica resultante da curiosidade de dissecar este mundo específico: o trabalho da Enfermagem e as questões relativas à saúde dos exercentes. Pode-se dizer que quase nada escapou dos autores dos diversos capítulos, realizando algumas vezes magistralmente a costura entre o singular e o particular dos processos de trabalho e também do sujeito trabalhador. Portanto, por todas estas qualidades, recomendo este livro, a ser lançado no cenário da devastadora pandemia do COVID-19 que assolou o planeta e que fez, até o início de agosto de 2021, mais de 560 mil mortos no Brasil. Eram mortes e sofrimentos evitáveis? Diria que não poderíamos evitar todas as mortes, mas poderia ter sido minorado. Poderia ser minorado adotando-se medidas de enfrentamento da expansão da epidemia, esperando uma vacina que certamente apareceria neste mundo científico bastante bem qualificado, que até esperava por uma

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pandemia, só não se sabia de que doença... e isso vale ao mundo todo, não somente ao Brasil. Poderia ser minorado, se o nosso SUS não tivesse sido tão vilmente tratado pelos formuladores e gestores de políticas públicas nos últimos anos que só viam (acredito que muitos continuem vendo) o financiamento do SUS como gastos e não como investimentos, como sempre nos ensina a Profa Sayuri Maeda, enfermeira e economista, docente da Escola de Enfermagem da USP. Mesmo na ótica de gastos, ao menos poderia ter sido mais bem utilizado, seguindo o princípio da equidade, ou mais propriamente dar a grupos sociais mais desfavorecidos, melhores “gastos” para recuperar a saúde e qualificar a vida. Qualificar a vida? Sim, o que faltou para que diminuísse o impacto da pandemia em nosso país, ou melhor a nossa dívida social: o reconhecimento de que a desigualdade nas condições de vida das diferentes classes sociais é tão abismal, resultando em expressivo contingente populacional sem menor condição de vida digna (saneamento, acesso a bens e serviços, incluindo a alimentação, abrigo, educação de qualidade e serviços de saúde) em detrimento de um conjunto bem menor que tem acesso ilimitado a excessos e às (des) necessidades. Reconhecer e praticar políticas potentes para diminuir as desigualdades, estabelecer e prover o que minimamente é condizente com a vida humana: poderia dar maior fôlego aos grupos sociais alijados de um cotidiano digno de se viver para enfrentar a pandemia. Voltemos ao cerne do presente livro: ao falar sobre o trabalho, os processos de trabalho, as cargas de trabalho, estamos falando de quem? Convido os leitores a buscarem dentro desta obra, em que parte há maior confluência com a vertente marxiana, ou seja, na explicitação das contradições dos processos de trabalho de diferentes grupos de trabalhadores, que podem e devem ser reolhados sob outras categorias férteis: classes sociais (todos os trabalhadores de saúde e enfermagem pertencem às mesmas classes sociais?); gênero (todos os trabalhadores portam a mesma categoria? E quais seriam as

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consequências da subalternidade do gênero feminino que impera em nossa sociedade brasileira para tornar mais deletério ainda o processo de trabalho em saúde?); geração (no conjunto dos trabalhadores de saúde temos homogeneidade de categoria geracional? Como isto interfere nos processos de trabalho e impacta as cargas de trabalho dos trabalhadores da Enfermagem?); raça e etnia (no grande conjunto dos trabalhadores de saúde há diferentes raças e etnias, especialmente no atendimento de determinadas comunidades que também se diferenciam pela subalternidade de raça/etnia, relativamente ao conjunto estruturalmente dominante? Como estas distinções e resultados de subalternidades se expressam nos momentos dos processos de trabalho?). As respostas a estes questionamentos (e buscas na obra em apreço) podem significar o encontro da polaridade dialética, ou seja, o núcleo da contradição rumo à superação, mesmo que gradativa. Um livro do porte deste que prefacio não deve ser lido de forma puramente instrutiva, ele mesmo contém o germe da crítica emancipatória dos sujeitos, aqueles que buscam alcançar a gradativa desalienação, enquanto parte do mundo que vivemos. Desalienar-se, como dizia a Profa Silvia Lane*, é o ser humano reconhecer-se como parte do produto criado por meio dos processos de trabalho, no nosso caso o cuidado. E acrescentaria que é tendo a plena capacidade de enxergar tanto os saberes ideológicos – que nos envolvem nos processos de produção em saúde-, quanto os saberes instrumentais – que nos permitem operar nos objetos do processo de trabalho a finalidade antevista, ou seja, da mudança dos perfis epidemiológicos da população e neste livro com ênfase nos perfis epidemiológicos da população trabalhadora da saúde – realiza-se o movimento contínuo do processo de aperfeiçoamento de nossas vidas. E que poderia ser iluminado pelo sentimento de solidariedade humana.

* Professora Doutora Silvia Lane foi Reitora da PUC São Paulo e autora, dentre muitos livros, de: Lane S, Codo W. Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense; 2006.

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Reafirmo o convite: leiam atentamente os capítulos do livro e tal qual uma obra de mistério ou um game, pensem sobre as imensas possibilidades emancipadoras e, portanto, de desenvolvimento de consciência crítica sobre a relações entre o trabalho e a saúde. Boa leitura e boa reflexão! Emiko Yoshikawa Egry Professora Emérita da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Professora Titular Sênior do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (2017-2021) Professora Visitante da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (2019-2020) Pesquisadora Sênior do CNPq (2018-2023)

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