MöndoBrutal #4

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MöndoBrutal #04

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Info e coisas..:

Sexo. Violência. Amor/ódio. Tudo aquilo que nos liga aos nossos instintos primários é aquilo sobre o qual o rock mais sincero tem tido enfoque, desde que apareceu. Desde que keith Richards ou Lemmy Kilmister descobriram o rock através da voz de Elvis Presley que essa herança tem sido passada de geração em geração e após décadas de rock, punk e até heavy metal dá vontade de dizer que esses sentimentos estão mais vivos do que nunca. Quando alguém disse que de 7 em 7, ou de 10 em 10 anos as pessoas - o grande público - se lembram de ouvir rock outra vez, não era algo sem fundamento. Na verdade essas emoções só podem ficar adormecidas durante um certo tempo, após o qual um mundo insuflado quer rebentar e precisamos de fazer mexer o corpo, dançar, delirar, cantar, fazer com que a nossa voz seja ouvida. E digam o que disserem, não há melhor forma de o fazer do que através de uma boa dose de rock’n’roll, seja com qual for das suas tonalidades. E se falamos em sexo, podemos começar já por introduzir a participação nesta edição da/o já afamada/o MulherHomem, e também dos inquietos feministas Dead by pregnancy. Amor/ódio encontramos de forma mais sublinhada nos Skypho, mas também.. ou melhor, principalmente uma boa dose da última dessas metades, nos Knives Out. Quanto à violência, preparem-se para conhecer os Yoshi, o puto dragão, pois a sua dose de crossover-over-the-top é algo que não é aconselhável a ouvintes mais desprevenidos. Uma violência controlada apenas pela matemática da estrutura, pela (ir)racionalidade do gosto, e pela beleza das melodias (e cultura) orientais. Não se esqueçam também de passar os olhos pelas linhas que explicam como os Moe’s Implosion surgiram com as sua malha “Broken record”, e pela história que foi escolhida para ser extraída do arquivo para vos apresentarmos nesta edição - a dos Ku de Judas que, para quem não conhece, estiveram na origem de muito do que ouvimos ainda hoje à nossa volta. É ler para saber, e ouvir para rockar!

MÖNDOBRUTAL webzine mondobrutal@gmail.com http://www.facebook.com/pages/MöndoBrutal/118889448226960

A Seita: KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas) Maltês (design) Rui LX (tmbm design) Cátia Panda (recolha de info/ an.discos) Girh (revisão textos/ entrevistas) Lagartixa (an.discos) Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)

índice 02 - Editorial 03 - Notícias 04 - Fora do Arquivo: Ku de Judas

06 - MulherHomem

10 - Yoshi, o puto dragão

14 - Skypho

18 - Knives Out

22 - Dead by pregnancy

26 - A.l.c.q.s.t.M.: “Broken record” dos Moe’s Implosion

28 - Análises a discos

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30 - Videoclube pag.10


Not]cias .................. Moonspell de volta, com álbum duplo

Já saíu para as lojas o novo álbum dos veteranos Moonspell. Alpha Noir, a parte obscura desta nova edição, vem acompanhado de um seu gémeo e contrastante Omega White, e juntos perfazem aquele que acabou por ser um álbum duplo para a banda de metal. A banda encontra-se em gravações daquele que será o video para “White Skies”, mas já é possível ver o resultado do que foi feito para o primeiro single, “Lickanthrope”. http://www.youtube.com/watch?v=I4Far7J-cb8

Gazua transgridem no próximo dia 10

Concurso de Bandas de Garagem de Vizela 2012 Estão abertas as inscrições para a edição deste ano do Concurso de Bandas de Garagem de Vizela. À semelhança do ano passado, a Câmara Municipal vai promover mais uma edição do concurso destinado a todos os projetos coletivos ou individuais do país e que não tenham sido alvo de qualquer contrato discográfico. Os interessados podem-se inscrever até 20 de Maio. Para tal, basta seguir o seguinte link: http://concursobandasvizela.blogspot.pt/

Concurso Palco Novos Valores 2012 Estão também abertas as inscrições para o Concurso Palco Novos Valores, promovido pela JCP, que visa apurar projectos musicais que acabarão integrados no cartaz do Festival do Avante! 2012. aqui está o link para os interessados:

http://www.jcp-pt.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1278

Heavenwood com música nova

É já no próximo dia 10 de Maio que os Gazua lançam o seu novo álbum. Transgressão, assim se chama o disco, é o quarto álbum de originais do trio Lisboeta, e será apresentado no dia de lançamento no Musicbox, em Lisboa, com as Anarchicks a fazer a primeira parte. http://www.facebook.com/events/164324310356176/

Excursõe True Spirit’s Alive para festivaleiros

“The High Priestess“ é o nome de uma das novas composições que se encontra sob a atenção da banda do norte. Neste momento ainda numa fase de pre-produção, no Estúdio 213, do guitarrista Bruno Silva, ao que parece o instrumental já está pronto e os Heavenwood preparam-se para experimentar colocar vozes no tema. Podem ir acompanhando os pormenores em: http://www.facebook.com/HeavenwoodOfficial

Dokuga na República Checa A True Spirit’s Alive está a organizar excursões (com saída do Porto) para os festivais Rock in Rio(Lisboa) e Vagos Open Air(Vagos), entre outros concertos que certamente interessarão aos fãs de metal, e não só. Para reservas ou outras informações adicionais podem contactar a organização através dos seguintes contactos: 916281178 (Pedro), ou 960188195 (Nuno), ou ainda através do e-mail truespiritsalive@gmail.com.

O punk dos portuenses Dokuga chegou aos ouvidos de promotores além fronteiras e acabaram por ser incluídos naquela que este ano irá ser a nona edição do cartaz do festival Play Fast or Don’t, a realizar na República Checa entre 27 e 28 de Julho. http://www.facebook.com/dokugapunx

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F#ra do Arquivo

KU DE JUDAS

Impossível de encontrar no mapa, até porque fica assim mais situado “entre a ressaca do dia anterior, difícil de passar, e o correr esbaforido para a sala de ensaios”, como chegou a escrever Manuela Brandão, os Ku de Judas não encarnavam uma localização fictícia nem nada que se parecesse, mas sim uma atitude.

Os primeiros ensaios começaram em 1982 com Fernando Serpa no baixo, Bago d’Uva na bateria e João Almendra na voz e guitarra. Almendra tinha então a alcunha de Autista (imortalizada algum tempo depois numa música dos Crise Total), devido ao seu fracasso em convencer os colegas de que era o homem para se responsabilizar quer pelo baixo quer pela guitarra a par com a voz, já que “não percebia nada de baixo nem de guitarra” como Serpa já chegou a referir. Dado este facto, a formação dos Ku de Judas completar-se-ia uns tempos depois com a entrada de João Ribas para o cargo de guitarrista, e após a substituição de Bago d’Uva por Carlos Aguilar depois do primeiro ter abandonado o grupo. Após alguns ensaios na casa do novo baterista, a banda chegaria a passar por salas quer da Senófila, quer da Harpa, tal a violência decibélica que descarregavam através dos instrumentos, de tal modo que não chegava a ser tolerada pelos vizinhos. A banda teve uma surpreendente e quase bizarra passagem pelas páginas do então célebre semanário ‘Êxito’, e chegaram a dar nas vistas com a sua atitude e imagem fortemente influênciada pelo Punk londrino, através do uso de roupa gasta, calças ou casacos de ganga orgulhosamente gastos, alfinetes e moicanos (tradicionalmente apelidados de cabelo em forma de crista). Na altura era algo nunca visto nas páginas de uma publicação

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portuguesa (não visando um grupo português, pelo menos..), e chegaram a dar bastante que falar. Na altura a sala de ensaios que costumavam frequentar era alugada à hora, portanto se a banda corresse o risco de perder a vez acabava por ter de esperar pelo próximo fim de semana, devido ao facto de Almendra se encontrar a cumprir serviço militar, pelo que não havia hipótese de se juntarem todos durante a semana. Também os concertos eram uma dificuldade, com a banda a ter de, muitas das vezes estar à frente da organização, juntamente com outras bandas a criar os eventos nos quais acabariam por tocar, caso contrário acabariam por ficar à espera que ninguém os convidasse para tocar, como chegaram a referir em entrevista a Manuela Brandão. Nesse mesmo artigo acerca da banda também se pode ler o resumo de um pequeno episódio numa sala de ensaios em que Autista gritava para Ribas “João, não oiço a tua guitarra!”, ao que o guitarrista respondia “Merda, isto não dá mais alto. Não dá! Este pedal não presta!”, ao que acabavam por desatar os dois a rir como forma de ignorar a frustração. Dificuldades era o que não faltava à banda, e graças a essas mesmas e outras dificuldades já haviam visto outras bandas cessar funções. Algo que os Ku de Judas ignoraram em favor de uma atitude de reacção à apatia, em que pretendiam alertar as pessoas para a realidade do seu quotidiano. Uma das acusações mais furiosas que o vocalista fazia pressupunha a forma como as pessoas estavam “televiciadas”, e como preferiam enganar os olhos e restantes sentidos em vez de estar atentas,


nas músicas e também sabia todas as letras, acabaria por dar o passo em frente e assumir o micro, a par da sua já inquestionável posição de guitarrista, passando o grupo a ser um trio. Neste formato chegaram a tocar no bar Oceano, no Palmeiras e em Coimbra, mas passado algum tempo acabariam mesmo por se dissolver e dar por terminadas as hostilidades. Após o cessar de funções dos Ku de Judas, Ribas e Almendra viriam a tocar de novo juntos e formar os Censurados, banda altamente influente dentro do punk português nos anos 90. Mas essa já é outra história! Quanto ao que diz respeito a esta, ficam versos como estes: por exemplo, à “guerra nuclear”. “Descobri que nada vivi/ Desde que nasci/ Já estou farto!”, este é um excerto de “Já estou farto!”, onde se pode ler a frustração quanto à suposta aprendizagem/educação suportada pelo sistema, e a forma como a banda via a inutilidade de tais conhecimentos quando confrontados com a “realidade real”, aquela na qual “Reagan e Gorbatchov não tomam gelados juntos ao fim de semana!”, como chegou a ironizar o vocalista. Como não podia deixar de ser, a banda pretendia levar a sua mensagem a todo o lado, no entanto como a realidade real acaba por ser sempre bastarda para quem não nasce em berços de ouro, não chegaram a ser muitos os palcos que viriam a ser pisados pela banda. Contudo, em 1985 acabariam por passar pelo palco do mítico Rock Rendez Vous, num concerto que inclusivamente ficaria cravado nas páginas do futuro álbum de recortes do punk da década seguinte, havendo sido registado, e então posteriormente editado pela Fast n’Loud em 1996, num Split CD partilhado com nomes como Trinta e um, Mukeka di Rato e Cabeçudos. Após o concerto no RRV chegaram a tocar na Teia, no Teatro da Comuna e na Cruz Vermelha, no Porto, antes que Pedro Almendra acabasse por provocar um ponto de viragem abandonando a banda, devido a divergências criativas, mas também, e principalmente devido a problemas pessoais com Serpa, para então acabar por fazer parte da fundação dos Peste & Sida. Com a saída do vocalista, João Ribas, que já havia vindo a fazer coros e segundas vozes

Só preciso de ULTRA-Violência Eu não sou bem normal sou um anarca sádico Quero anarquia em Portugal, já! ...e om os tempos em que vivemos, é melhor(...) não os repetirmos muitas vezes...

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MB

http://underrrreview.blogspot.pt/2009/04/ku-de-judas.html http://rocknoliceu.blogspot.pt/2010_05_01_archive.html

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MULHERHOMEM Os MULHERHOMEM surgem com respeito pelo que está para trás, mas com enfoque no está para vir. Com um rock que já conseguiu perfurar a barreira entre o que é novo cá dentro e a promoção radiofónica, o power-trio lembra-nos como os músicos também são público e o cantar em português (e sem baixista) acaba por fazer todo o sentido.

Terem todos o nome de Manuel é uma coincidência, brincadeira, ou foi algum tipo de requisito inicial? Manuel é um nome sumário da língua portuguesa, Maria é outro. Podíamos ser Marias, o nome da banda até o permitia, mas a verdade é que são de facto os nossos nomes. A coincidência faz bem ao ego, é muita das vezes um bom prenuncio se

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assim o quisermos. A atitude positiva permite este tipo de interpretação e nós temos que sobre. O que nos une acima de tudo é a música e o que dizemos nela. A força combinada de ambos vive bem no palco, que é – diga-se de passagem- um belíssimo vaso para colocar uma semente. E em nota de rodapé, é sempre um excelente momento quando se trata de apresentar a banda ao vivo.


Algo curioso nos MULHERHOMEM é que não têm baixista, e ao que parece sentem-se bem assim. Poderiam explicar um pouco sobre o porquê desta opção e a que nível ela vos tem moldado? A opção foi natural, a junção de 3 elementos no estúdio, os primeiros acordes, a composição tanto musical como letrista foi intuitiva e muito forte no seio da banda. Como quase tudo o que nos envolve quando gostamos muito, só se repara no que falta (ou não faz falta é o mais correto) neste caso no fim. A guitarra assume uma liberdade estonteante, congrega e dinamiza o leque sonoro, a voz também arrisca ritmicamente e o bombo e as taroladas ombreiam com tudo o resto. Apesar de admirarmos o instrumento, não nos fez falta. E um trio é sempre um trio.

O tema “Do Semente” tem sido alvo de airplay em algumas rádios. Quando tal é quase um privilégio para uma banda de rock nacional, como olham para essa oportunidade: uma dádiva ou uma maldição? A maior das dádivas. E quando acontece existe uma satisfação por sentirmos que é merecida. Merecida não por troca ou exigência, merecida por premiar trabalho e atenção ao detalhe. A todos os níveis. Acreditamos piamente na recompensa pelo trabalho. A oportunidade de estar a acontecer é aproveitada e humildemente agradecida da melhor forma que sabemos: com concertos de cortar a respiração, vídeos dinâmicos, mais discos na calha, certeza e convicção no que fazemos e muito respeito por todos.

O videoclip que fizeram para o mesmo tema tem na sua abordagem algo de anos 90. Sentem que essa época trouxe algo para a música de que hoje se sente falta? O videoclip é assinado por David Hinrichs. Visa trazer à luz a nossa postura ao vivo, num espaço claustrofóbico onde a ínfima parte de nós assiste ao que pretendemos ser. Tem uma abordagem direta, pretende ser um tanto ao quanto narrativo, quase a dizer “chegamos”. Foi filmado no complexo de estúdios onde ensaiamos e por curiosidade foi filmado no único dia em que choveu no mês de setembro. Daí acreditarmos, por superstição quase, que funcionamos ao contrário. Um exemplo disso é o nosso concerto na PtBluestation no Metro da Baixa Chiado, organizado pelo MAR, ter sido numa sexta feira 13 e foi o nosso primeiro concerto do ano. Começámos com o pé esquerdo e correu muito bem. Talvez seja porque o guitarrista seja canhoto. Quanto à referência dos anos 90, faz um pouco sentido no que toca à orientação da banda no que

toca ao som e à postura, mas não há qualquer tipo de revivalismo, até porque a criação e a imagem e o tom é uma miscelânea de culturas e inspirações que não conseguimos apontar friamente. É certo que o rock teve uma explosão com o seu regresso em força nos anos 90, mas também a transformação do pop, a música eletrónica e o trip hop tem como marca de água os anos 90. Não pensamos muito nisso, fazemos o agora com a responsabilidade do que vem para trás mas com os olhos e a vontade postos no futuro.

Na crítica a ‘novecentos’ no blog via nocturna é referido “estamos agradavelmente surpreendidos pela rara capacidade artística da capa deste trabalho”. Entre tantas coisas a ser desenvolvidas por uma banda nacional para, com alguma dificuldade promover o seu trabalho, que tipo de input têm tido a esse nível da imagem? Sentem que há esse tipo de dedicação por parte da maior parte dos novos grupos nacionais? Se não há tem de haver. Um trabalho discográfico é uma ode à vontade comum da expressão artística. Um disco, uma atuação ao vivo, um videoclip, uma capa ou um cartaz é um esforço combinado de muita gente com vontade, engenho e arte. O detalhe tem de ser observado. Não há outra forma se o fazemos às nossas custas e com gosto. No nosso caso o artwork do disco foi tratado pelo Bruno Broa que já assinou vários trabalhos de outras bandas portuguesas. Assume a personalidade temperamental e oscilante das faixas e do que dizemos. Personifica – na nossa interpretação - um parto orgânico, vivido e sem epidural, que transmite uma imagem ao mesmo tempo mecânica e por outro lado, porque o personagem da capa mal nasce inicia a caminhada, um lado da brutalidade da natureza. Porque assim que o animal nasce inicia imediatamente a sua caminhada pelas adversidades. Mesmo aquelas que são causadas pelos momentos felizes, como foi o nascimento de “novecentos”.

Dão uma dedicação extra ao cantar em português, como Manel Cruz ou Adolfo Luxúria Canibal, por exemplo, também já fizeram. É importante erguer essa bandeira de que o português ‘bem cantado’ pode fazer grandes coisas pela música nacional? Se o falamos até no sono, faz sentido cantá-lo. Até as interjeições são filhas de uma língua complexa e cheia de esquinas e mal entendidos. O português é a mãe do nosso raciocínio enquanto portugueses. Habita numa cave qualquer na nossa cabeça e serve para injuriar, amar, criticar, agradecer, divagar, proteger e ostentar. Em português, podemos ajustar a antiguidade rítmica das pala-

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vras e da narrativa secular da mesma. Por isso mesmo mais do que uma estratégia, mais do que uma moda, é acima de tudo uma posição que não foi racionalizada de tão natural que nos é.

Como as letras da banda são algo levado a sério, o nome terá, acreditamos, uma importância bem delineada. Porquê MULHERHOMEM? MULHERHOMEM é a confusão, nada tem a haver com a sexualidade ou qualquer tipo de outras interpretações fáceis e diretas. Se repararem assinamos sempre sem espaço, a provar a abstração da dualidade. Dicotómicos, confusos, atrapalhados pelo estonteante percurso que nos leva do 8 ao 80, nervosos por estar seguros e seguros porque precisamos de estar nervosos para ser arrojados. Somos um animal curioso, que vai para sempre procurar a resposta final a tudo. É a nossa grande luta interna enquanto seres humanos, animais dotados da centelha desconhecida que nos faz procurar A resposta para todos os porquês. A luta interna é entre a sensação fatalista de sabermos que nunca a vamos encontrar no nosso tempo de vida e o alívio de que partimos sem saber uma verdade qualquer que deve ser avassaladora. Com o nome pretendemos celebrar os argonau-

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tas da filosofia moderna, os anseios ancestrais do homem como animal e criar confusão e caos como quem espalha primeiro papeis na secretária para depois os arrumar e ordenar. MULHERHOMEM é sempre aquele papel que sobra no fim sem lugar para estar, sem sítio para arquivar, sem explicação e único.

Sabem equilibrar a vossa dose de rock desenfreado com momentos de mais calmaria de quando em quando. Ao vivo como reage o público a esses contrastes? Surpreso, e ao que nos parece também agradado, por ouvir o que é dito na surdez do momento aplacado da música. Consideramo-nos como público também e talvez por isso gostemos de andar para cima e para baixo numa narrativa musical sensorial. A adjetivação sonora existe, liga-se diretamente ao corpo. Este reage e é excecional assistir a isso e mais... vive-lo e ser parte disso.

Como acreditam que soaria o ‘novecentos’ sem o contributo do Bruno Broa (da Takeaway records)? Que diriam sobre bandas do underground que não recorrem ao cuidado de procurar


quem conheça os contornos de uma pós produção?

projetos. Não alteraríamos uma vírgula ao que está na rua. É um orgulho.

Antes, para esclarecer, o Bruno Broa não é da takeaway records. O Bruno Broa fez o artwork. A takeaway records é o Sérgio Dinis (exIconoclasts) que nos gravou e produziu. O nosso disco foi editado e promovido pela Editora MAR | Movimento Alternativo Rock. O que diríamos? Bom, não querendo entrar em questões estéticas, penso que o consumidor final merece o melhor que conseguirmos dar. Se por vezes o melhor que conseguimos dar é a gravação caseira com microfones do computador, pois assim seja, mas com a honestidade de o dizer e com a aspiração a evita-lo. Até porque a reputação da música portuguesa enquanto produto é responsabilidade de todos sem exceção. No que toca a MULHERHOMEM foi gravado na intimidade do seu estúdio, e o seu som nasceu de ensaios onde se fez tudo menos tocar. Conversar muito com quem nos produz, perceber as texturas e a sensibilidade do disco é um trabalho de corredor muito importante para nós. Utilizamos todos os meios para garantir a melhor experiência possível a quem o ouve. Talvez por isso consideramos ter muita sorte em gostarmos a 100% de tudo no nosso disco de estreia, estamos muito gratos ao Sérgio Dinis que está disponível para aceitar mais

Ainda é cedo para falar num segundo álbum, mas de qualquer forma já começaram a compor música nova? Por que orientação vos parece que a MULHERHOMEM vai optar num futuro próximo? Já vamos em meio disco no que toca a músicas novas. É um sinal saudável da postura da banda e do retorno positivo a este primeiro que ainda agora saiu. Ainda é cedo para percebermos se tem outro nome aquilo que sentimos com elas, se são uma passagem para outras fúrias ou anseios. O certo é que já as estamos a tocar ao vivo, logo já fazem parte da família. Mas o nosso foco é tocar. Tocar bem e disfrutar cada soundbyte que se envolva com o oxigénio que respiramos.

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MB

http://www.wix.com/mulherhomem/mulherhomem http://www.facebook.com/MULHERHOMEM

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agão r d o t u p o , Yo s h i

Saídos de um imaginário onde a cultura portuguesa e a japonesa se fundem numa cidade fantasiosa chamada Portókio(quer através da música extrema e complexa que pisca o olho ao powerpop, quer através da fusão com BD), os Yoshi são o exemplo de um conjunto de músicos que não tem medo nenhum de deixar a sua criatividade fluir e deixar-se levar, capítulo após capítulo, rumo àquele que será o destino do puto dragão. Eles acolhem-nos ao seu clã; sejam bem-vindos. Antes de mais, como surgiu a ideia de formar uma banda envolta no imaginário da BD e ficção ligada às artes marciais japonesas? A ideia surgiu naturalmente, pois simplesmente juntámos tudo aquilo que mais nos agradava. Todos adorávamos ver Anime, Manga e vídeo jogos assim como praticar artes marciais como o Karaté, Aikido e também Yôga. Aliarmos todas essas influências à musica, para nós fez logo todo o sentido, o que ajudou a criar uma identidade para o projecto, e tornou tudo muito mais divertido para nós! Outro motivo para a criatividade fluir desta maneira, foi o facto de todos já nos conhecermos à bastantes anos e sermos todos os melhores amigos uns dos outros!! Como o próprio nome da banda diz consideramonos uma fusão da cultura portuguesa(puto) com

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a japonesa(yoshi); por exemplo uma das cidades presentes na história é a fusão do Porto com Tokyo(Portokyo).

Há referências, tanto musicais quanto ao nível do imaginário atrás referido, que sintam como essenciais para terem atingido o resultado daquilo que hoje apresentam a quem vos ouve? Todo o nosso imaginário colectivo foi uma influência essencial, mas nada em específico. Talvez a principal influência sejam as artes marciais, pela parte física na performance ao vivo, pela parte mental na história que contamos, e pelos valores que usamos no nosso dia-a-dia. Apesar disso poderíamos eventualmente dizer que se o Son Goku o Max Cavalera e o Sensei Carlos Paredes tivessem um filho que tocasse numa banda de versões pop de Mr. Bungle e Tool, viciado em


filmes do estúdio Ghibli que gostasse de ir a rave parties, e a concertos dos Manowar, esse filho provavelmente se chamaria Yoshi.

Núcleo bem intenso de personalidades.. Dentro da própria banda também vestem personagens. Cada um dos membros da banda veste uma personagem associadas a uma narrativa, ou vão vestindo personagens conforme acham interessante do ponto de vista do que sentem em determinado momento? O nosso projecto conta a lenda de Yoshi, o puto dragão, e nós somos parte dessa história. Por isso cada um veste uma * personagem que vai evoluindo, acompanhando a história. Cada um cria a imagem com que se identifica dentro do conceito, e isso ajuda a interiorizar a personagem para que o espectáculo ao vivo seja mais coerente e contagiante.

O espectáculo ao vivo torna-se então quase como uma representação em cima do palco, não? De facto acabou por ser assim pois quando estamos juntos na sala de ensaios acabamos sempre por nos divertir mutuamente seja a dramatizar e encenar a história, trepar paredes, fazer ma-

labarismo, ver quem consegue fazer mais rir os outros ou treinar Aikido durante as músicas. Por exemplo o Xipa-san traz sempre a sua fiel prancha de bodyboard para nos concertos fazer “stage-board” (stage-diving com uma prancha de bodyboard(risos) ). O ambiente que nós trazemos às nossas actuações é semelhante ao ambiente dos nossos ensaios onde acabamos por nos divertir a fundir os nossos interesses e paixões. A diferença é que nos concertos quando o nosso chi está em sintonia com o do nosso clã as coisas ganham uma dimensão e intensidade espiritual exponencialmente maior.

A amálgama de géneros musicais que vocês fundem nas músicas que criam fazem-nos lembrar um pouco os IWrestledABearOnce, uma banda de extremos no que a críticas diz respeito. Costumam ter tantas demonstrações de desagrado, quanto as de apreciação pelo que fazem? Ainda estamos na fase em que ficamos como crianças quando falam de nós seja positivo ou negativamente!! Preferimos que falem mal de nós do que cair na indiferença, e claro, temos a consciência que nunca se pode agradar a toda a gente e que o nosso caminho não é fácil, mas aí é que está a piada! Por exemplo somos fãs da MöndoBrutal e só o facto de nos estarem a dar atenção deixa-nos extasiados. Muito obrigado por esta oportunidade e bem-vindos ao clã!

Quanto a eventuais críticas mais chatas, que balanço fazem e como reagem dentro da banda a esse tipo de feedback? Apesar de desagradar ter a sua piada, o objectivo é unificar todo o mundo num clã e até lá os diferentes clãs nem sempre estarão em sintonia, como é natural!! Basicamente ficamos ultra felizes quando falam de nós!! (* m-ania.com)

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Tanto a BD como a música foram criadas simultaneamente, e ambas se influenciam mutuamente e se complementam. A história que contamos é também autobiográfica e vai manifestando ocorrências que se vão passando na vida do projecto e nas nossas vidas pessoais, por isso o conjunto BD/Música é também um registo do momento da sua criação.

Se fossem a rotular o que fazem e a definir o género de música em que se encaixam, como o fariam? O conceito da narrativa musical é fundir os “estilos” que mexam connosco espiritualmente para que sirvam o propósito de contar a lenda de Yoshi. Curiosamente uma influência fortíssima, que não é assim tão obvia, é o Sensei Carlos Paredes e o fado em geral!

Paredes é de facto uma associação curiosa. De que forma crêem que isso se revela no que fazem? Sinceramente foi uma influência assumida desde o inicio do Clã pois somos todos fascinados pela arte e pela figura do Sensei Paredes. Ou seja a sua influência não é só musical; a maneira como o Sensei viveu a sua arte é uma inspiração para todos, especialmente para os portugueses. E também uma grande chamada de atenção, pois jamais deveremos menosprezar os nossos professores da maneira que menosprezámos o Sensei. A nível de referências estilísticas às tantas se ouvirmos com atenção, algumas malhas de guitarra e teclado terão qualquer coisa do Sensei Paredes. e as letras em português e algumas vocalizações terão alguma influência do fado de uma maneira subtil. A guitarra portuguesa por exemplo, é um elemento que só não entrou no EP de apresentação por uma questão logística e de tempo, pois no próximo lançamento com certeza estará presente.

Editaram o EP ‘volume 1’ acompanhado de um volume de banda desenhada dentro do dito estilo manga, que vos inspira. Diriam que as músicas foram feitas segundo um conceito que é comum às duas vertentes, ou que a BD foi feita posteriormente, como que um complemtento?

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Curiosamente, o sentido de humor é algo que um ouvinte tem de ter bem presente quando vos quer levar um pouco mais a sério, e um dos pormenores mais interessantes é uma espécie de cameo dos GoBabyGo na banda desenhada, assim como uma imagem da Fábrica de Som. É algum tipo de homenagem que queriam fazer? Tem alguma relação com a gravação do CD? Sim o humor é uma parte importante para quem nos quer perceber mais profundamente. Temos noção de que o humor usado em bandas com uma sonoridade que por vezes é pesada e extrema está mais associado á paródia, o que não é propriamente o nosso caso, mas acreditamos que isso aliado a uma atitude híper-positiva, de festa, acaba por ser uma das grandes diferença que nos distingue das outras bandas, o que contribui para uma identidade ainda mais própria. Compreendemos que exigimos bastante das pessoas visto que além da música temos histórias para contar e personagens para mostrar, e queremos contrabalançar isso com uma boa dose de humor e o facto de não nos levarmos demasiado a sério! Em relação a Fabrica de Som e os Gobabygo,


foi sim uma pequena homenagem pela importância que teve no arranque do nosso projecto. Grande parte do EP foi produzido lá, e o Daniel Carvalho é um grande amigo que estará no nosso coração para toda a eternidade. Também na BD aparece a Joana (Comboio Fantasma) que para além da amizade, teve uma contribuição criativa para o EP. Este é um exemplo da tal vertente autobiográfica da história, e uma demonstração de que nos vemos não como apenas uma banda mas como um clã, em que quem quiser pode participar e contribuir para o projecto seja a dar ideias para a história, ideias para merchandising, design dos figurinos etc. Daí a lista de colaboradores de Yoshi estar a crescer bastante. Desde o João Sousa e a Ana Quirino, que além de terem desenhado a BD do EP de apresentação colaboram directamente connosco noutros aspectos do projecto, até ao Luís Sousa, que simplesmente um dia decidiu aparecer no nosso dojo (sala de ensaios) decidido em se juntar ao clã e agora faz tudo desde filmagens de concertos até pinturas de adereços. Ou mesmo o Detective Malone (Equaleft) que nos dá um apoio técnico incrível, e a Brígida Lema que nos ajuda na caracterização. De facto temos muita sorte no facto de um grupo de pessoas tão talentosas participarem de forma tão activa no projecto. Um dos objectivos no inicío era mesmo esse, o de construirmos uma família. O clã está a crescer e nem conseguimos descrever por palavras o que sentimos por esta família incrível!

O conjunto de músicas que preenche Volume 1 não ultrapassa os 20 minutos de duração nem perfaz o número de 10 músicas, mas no entanto é bastante intenso. Consideram-no mesmo como um EP, ou pelo contrário, para vocês é um passo tão válido ao ponto de o considerarem como uma espécie de primeiro álbum? Na verdade, apesar do EP se chamar Volume 1, foi desde o inicio concebido como apenas uma pequena introdução do que estará para vir!

É então melhor começarmo-nos a preparar para um megatornado de ideias todas fundidas em forma de vários jutsos de 5/7 minutos cada?..

Sim. Logo a seguir ao lançamento do single teremos o início da maior aventura que o mundo alguma vez presenciou, e nada mais voltará a ser como dantes! A nível de forma, o primeiro capitulo será mais como uma ópera, no sentido em que o público terá mais facilidade em compreender a história ouvindo apenas a música, através da sonoplastia, diálogos, narradores, interpretação vocal de personagens, etc.

Abordarão então um álbum de forma diferente, com mais músicas, mais longo e abordando um tema como um todo numa só obra “completa”, em oposição à premissa de “aguardar pelo volume seguinte”? Sim é possível. A história baseia-se num mundo imaginário, em que muitas histórias merecem ser contadas, por isso vamos aguardar pelo futuro e ver onde a história nos leva.

Apesar de não se darem nada mal no processo de composição o palco parece ser o vosso habitat natural. O que têm a dizer a quem ainda nao vos viu ao vivo e que apesar da curiosidade ainda pode

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* estar a hesitar um pouco em vez de vos ir ver? Ehehe… para nós o espectáculo ao vivo é o culminar do trabalho da banda, encaramos isso como a parte mais essencial do projecto, e estamos a trabalhar para que este seja cada vez mais teatral, e com mais e melhores figurinos, cenários e elementos cénicos de todo tipo! Nos concertos tentamos mostrar o nosso imaginário, para que todos, banda e público, possam disfrutar do momento, todos numa homenagem ao que a vida tem de melhor. Assim como nós vestimos a nossa personagem, queremos que todos tragam também as suas personagens, katanas, shurikens e sake. Não somos apenas uma banda, somos um Clã! Por isso preparem-se para uma boa descarga de adrenalina e, essencialmente, pura diversão!

Levar katanas e shirukens para um concerto é capaz de ser um bocadinho perigoso(risos). Mas sake já alguém chegou a levar para celebrar alguma das actuações, por exemplo? Eheh.. Apesar de alguns membros da banda não beberem álcool, acho que falamos sobre trazer sake e partilhá-lo com o nosso clã em todos os concertos. Mas infelizmente por uma razão ou (* m-ania.com)

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outra(nomeadamente o consumo do próprio antes da actuação) nunca se concretizou… talvez seja melhor assim pois alguns membros do clã são conhecidos mundialmente pela sua capacidade de absorção de sake, o que pode resultar em actuações desastrosas e consequências catastróficas para a humanidade(risos).

Para terminar, para quando e o que podemos esperar do ‘volume 2’? Contamos apresentar algo brevemente, e este ano será recheado de novidades. Primeiro em forma de single onde apresentaremos temas que apesar de estarem inseridos no universo do Yoshi, contam 2 histórias paralelas, que irão completar a narrativa principal mais á frente. Depois estamos a planear o lançamento de videoclips dos nossos temas, em que vamos precisar da ajuda do nosso clã pois precisaremos de de muitos Delaforce´s. Vamos também começar a contar a história introduzida pelo EP por isso vão-se preparando que o melhor está ainda para vir!! Vocês sabem quíé yo!

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MB

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Skypho Sem uma cena à qual ho, chamar “casa”, os Skyp te, têm sido um caso apar no que diz respeito a perseverança. Com seis elementos, 10 anos de banda e o álbum Same o, old sin debaixo do braç aa banda de Albergariarar nt Velha continua a enco pela em si a principal razão qual cada um dos seus ra integrantes se mexe pa do ensaiar, arriscar e, quan com sorte, extravasar em palco. Aí estão eles:

Em Albergaria-aVelha ou mesmo na zona de Aveiro há um circuito no qual se sintam integrados, ou é complicado encontrar, por exemplo, bandas com que partilhar o palco, ou até mesmo os ditos palcos onde dar concertos? A música que fazemos efectivamente não se enquadra em praticamente nada daquilo que se faz aqui na zona ou até mesmo no país, pelo menos na nossa opinião. De qualquer maneira devido a este ecletismo na nossa música, acreditamos que podemos tocar com praticamente qualquer tipo de banda sem nos sentirmos muito deslocados. Tem sido isso o que tem acontecido. Tocámos com várias bandas dos mais diversos quadrantes da música. Quanto a espaços é que não me parece que existam muitos sítios para se tocar na zona.

Num cenário em que a música não patrocina a subsistência, e consequentemente “não pode” ser uma prioridade no meio das responsabilidades do dia-a-dia, bandas com três ou quatro elementos mais facilmente conseguem coordenar ensaios e concertos. Como conseguem equilibrar uma formação com seis elementos? Esse é um problema que temos há alguns anos e como tal já aprendemos a viver e a lidar com ele.

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Claro que não é fácil alinhar todas as nossas agendas de modo a arranjar tempo para ensaiar mas todos nós temos este escape chamado Skypho e como tal acabamos por fazer um esforço para nos conseguirmos juntar 1 ou 2 vezes por semana.

Tantos elementos ao vivo em cima de um palco causam estragos? Oscilam entre a energia de ambas as vossas facetas - a mais experimental e a mais pesada -, ou acabam por se deixar levar pela veia mais rockeira? Normalmente a nossa faceta mais agressiva acaba por estar mais em foco, até porque ao vivo somos mais pesados que nos discos. De qualquer maneira a nossa postura em palco acaba por depender um bocado em relação das condições com que tocamos. Se tocamos num palco com espaço e boas condições de som temos melhores condições para poder dar um melhor concerto e poder extravasar a nossa energia. Se ao contrário, tocarmos num


cas depois da masterização feita? Já pensaram se obteriam a mesma qualidade se tivessem recorrido a alguém que faça esse tipo de pós produção em Portugal? O que nós esperávamos que acontecesse aconteceu. Sabíamos que o Jens é um dos mais experientes técnicos da Europa no que a rock\metal diz respeito e que aliado á sua experiência também estava a qualidade do material que ele tem á sua disposição. Se conseguiríamos cá em Portugal os mesmos resultados penso que não. Sabemos que existe gente extremamente competente a trabalhar mas pensamos também que não existem estúdios com o nível qualitativo que o Fascination Street tem. Mas é claro que podemos estar enganados.

palco muito pequeno normalmente estamos em cima uns dos outros e mal dá para nos mexermos. De qualquer maneira damos sempre o máximo.

Como se deu a abordagem a Jens Bogren (que trabalhou com nomes como Katatonia, Paradise Lost ou Amon Amarth) para fazer a masterização do álbum? O nosso produtor (Ivo Magalhães) costuma masterizar alguns trabalhos que grava com o Jens Bogren e na altura em que nos reunimos para falar sobre como iriam decorrer as gravações do nosso álbum ele propôs o sueco para masterizar o disco e logicamente que aceitamos a sua proposta, até porque iria ficar dentro do orçamento que tínhamos á nossa disposição. Além do mais somos grandes adeptos de muitos dos seus trabalhos por isso juntou-se o útil ao agradável.

Como reagiram quando ouviram as músi-

Após mais de 10 anos de banda - que se iniciou com experiências mais grunge e culmina agora num rock/metal bastante experimental - qual é o balanço que fazem de tudo por que passaram? Podemos não ser a banda mais conhecida do país e de não ter muita música editada mas temos um enorme orgulho nas pequenas coisas que conseguimos alcançar. Nunca tivemos editoras ou empresas de agenciamento por trás nem sequer fomos uma banda com muitos amigos na cena mas mesmo assim temos uma lista de concertos interessante, tocámos com todas as bandas portuguesas com quem gostaríamos de ter tocado, gravámos algumas coisas e trabalhamos muito para isso ter acontecido e fundamentalmente nunca fizemos nada que não acreditássemos. A música que fazíamos no inicio era a que queríamos fazer e a música que fazemos agora é também a que queremos fazer. Sempre nos demos bem com todas as bandas com quem nos cruzámos e fizemos muitos amigos dentro deste mundo e isso é o que acaba por ser o mais interessante.

A música “Nowhere Neverland” deixa transparecer algo de balada rock

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Sentimos que a nossa música ganhou outra dimensão quando deixámos de lado as ideias pré-feitas da música e das suas estruturas e isso deu-nos possibilidades ilimitadas na composição de uma música. Na prática não interessa o que tocamos mas sim como soa. E julgamos que tem resultado. Pelo menos gostamos imenso daquilo que fazemos.

bastante acessível, sem deixar de lado a utilização inteligente dos sons, e acaba por se revelar um tema bastante agradável. Nunca pensaram tentar ver até onde um tema como este vos poderia levar, ou pelo contrário não faz parte dos vossos planos explorar um mercado que se pode revelar (mais tarde ou mais cedo) traiçoeiro? Temos muito orgulho nesse tema. No nosso novo álbum temos outra música (“Re_nasce”) que em termos musicais anda talvez mais próximo da “Nowhere Neverland” que doutra música que já tenhamos composto. De qualquer maneira, ir num futuro nessa direcção apenas, neste momento não nos parece que aconteça. Não dizemos que não gravemos algo nestes moldes, tipo um EP, mas nunca deixaremos de parte a distorção nas guitarras e os outros elementos que tornam a nossa música mais agressiva.

Tal como é referido algures por vocês, Soulfy e Primitive Reason são dois dos nomes mais evidentes quando nos deparamos com os fortes temas deste longa duração de estreia. Algo bem justificado pelo recorrer a sonoridades algo tribais. Podem explicar de que forma essas influências com um pé na chamada world music são importantes para vocês e o que vos transmite quando em fusão com a vossa fórmula? Além de metal e rock ouvimos também outros tipos de música e world music é um dos géneros que também ouvimos. De uma forma natural acabámos por ir metendo elementos tirados destes géneros musicais que pouco têm a ver com metal e rock na nossa música, e agradou-nos bastante. http://www.myspace.com/skypho

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http://www.facebook.com/skypho

A vossa sonoridade encaixa tão bem ao lado dos já afamados, e atrás mencionados Primitive Reason, que nos sentimos tentados a perguntar: já alguma vez colocaram a hipótese de, por exemplo, os convidar para editar um split em conjunto convosco? Por acaso foi coisa que nunca nos passou pela cabeça mas até que nos parece uma boa ideia. Nunca se sabe...

Entretanto o que podemos aguardar quanto ao futuro dos Skypho? Os nossos próximos passos passam pelo lançamento de um videoclip para o tema “Your love, my cage, my prison, my rage” e por tocar ao vivo. Depois logo se vê, não sabemos ainda se iremos apostar em gravar um outro álbum ou se antes gravamos um EP. Ainda é um pouco cedo para pensar nisso embora já andemos a compor músicas novas.

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MB



KnivesOut

Com razões q/b para debitar raiva e transpirar agressividade es nos concertos (muitas das vez pela dificuldade em conseguir espaços para os poder dar), punk hardcore sem freios e com uma ponta de perigo é o que se pode esperar dos leirienses Knives Out... quer dizer, a menos que os Black Sabbath ou os bailaricos se metam pelo meio.. 20

stante curioso. Knives Out é um nome ba ê esta De onde o tiraram e porqu expressão? a letra de uma O nome Knives Out vem de um nos influenciou música dos The Banner, que ainda em inícios de banda.

lá escrito No myspace da banda têm tipo de r várias vezes, sem qualque certo!”. reservas “precisamos de con vontade de Como sentem a situação da poder ir lta tocar VS espaços para a ma o? curtir umas malhas ao viv spots para tocar e Cá em Leiria, não há muitos


tos, poucos “locais” quando se organizam concer os recorrido a House aparecem. Ultimamente tem já ao pessoal que Shows (agradecemos desde das como a quem o torna possivel, tanto ás ban o início temos tido ajuda a organizar), mas desde Leiria, o que tem oportunidade de tocar fora de a nós e para a divulsido uma boa experiência par gação do nosso barulho.

endiária Um pouco pela atitude inc condão de do vosso vocalista, têm o mesmo contagiar o público e de o b. No vosso q/ responder com agitação ição de um entender qual seria a descr al? concerto punk hardcore ide

! Como foi REIdeal é quando é TUDO MUITO cá em leiria...Foi KO e VENGEANCE, LOCAL TRAP tudo MUITO!

não temem Ainda acerca do vocalista, your-face que por vezes a atitude inr algum elpossa ser mal entendida po coisa acabe emento do público e que a nteceu algum em pancadaria? Já vos aco episódio assim do género?

es, mas é tranquilo, Já nos aconteceu algumas vez é que vão. as pessoas sabem para o que

, num dos Na descrição de quem são uma citação vossos sítios virtuais, usam retado do personagem Joker, interp ger no filme pelo malogrado Heath Led por ser um The Dark Knight, que acaba inteligente à elogio perturbadoramente a intenção violência extrema. Qual foi ê essa deixa quando o fizeram, e porqu em particular? “Why so serious?”*

citação (Risos) ..é que dada a tal ao vivo e referida, a atitude visceral quanto um um pormenor tão curioso tual dedicado simpatizar com um perfil vir arles Manson, à música composta por Ch iste por aí dá vontade de crer que ex extremista algures um ponto de vista humanidade quanto à sociedade, ou à inião acerca em geral. Qual é a vossa op ndo de hoje? do papel do homem no mu

destruição. Somos os O Homem cria a sua própria os animais capazes nossos próprios inimigos. Som e os mais burros à de ser dos mais inteligentes face da terra.

algo como Em concerto às vezes lá sai cabrões”. “morte aos polícias, esses

(* outra deixa do mesmo filme)

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É uma revolta suportada po r algum facto em específico ou é ma is um grito contra o poder instituído?

É mais um grito contra o pod er instituído. Já houve umas quantas situaçõ es mas nada de muito grave, e sim pode-s e considerar mais um grito contra o poder institui do.

Considerariam adequado um rótulo como ‘os The Gallows de Lei ria’? Onde buscam inspiração pa ra a vossa atitude ao vivo?

Não, não consideramos adequa do. A nossa atitude ao vivo provém de tod a a merda que nos rodeia, das merdas do dia -a-dia que nos fazem chegar aos concertos e variarmos dos cornos. Então quando o pessoa l ‘tá parado ainda dá mais raiva.

Num tema como “Road 66 6” temos uma cadência, quase à Bla ck Sabbath, mais lenta do que na maior ia das restates músicas da banda. Decerto que vem de algo extra.. Po r onde passam essas vossas influê ncias mais fora do hardcore que de alg uma forma evitam levar para o local de ensaios para não perturbar muito a fórmula dos Knives Out?

Cada um tem as suas influen cias fora do punk, daí surgirem umas cad ências à la Black Sabbath, Slayer, stoner rock e bailarico! Não há maneira de não perturbar muito a fórmula de Knives Out, porque tudo o que ouvimos influencia a banda.

Disponibilizam um preview de uma música para escuta nu m dos vossos sites. Estão a prepa rar algum lançamento para breve? Pa ra quando um conjunto de temas dos Knives out para meter a debitar pelas colunas e intimidar a vizinhança?

Está para breve. Estejam ate ntos ao split que vamos lançar em conjunto com Local Trap. Planeamos também lançar um EP até ao fim do ano pa esfodaçar aí uns ouvido s. Cheerz!

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MB

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Dead by Pregnancy

uma Os Dead by pregnancy são fendidos banda dedicada aos valores de indo, pela cena riot grrrl, que, resum Loose passam pela igualdade. James fala-nos sobre o projecto que imaginou e viu crescer, até ao momento em que presentemente dá nas vistas além fronteiras.

Não deixa de ser curioso que uma banda centrada num género musical que é frequentemente rotulado como “feminista”, e caracterizado por ser na sua maioria constituído por raparigas, tenha germinado a partir do imaginário de alguém do sexo masculino. Qual foi a intenção por detrás da formação dos Dead by pregnancy? Vivemos numa sociedade doente onde a discriminação de genêro ainda é uma realidade. não tens obrigatoriamente que ser mulher para te intitulares de feminista. Os homens também o podem ser, porque feminismo na socieadde que vivemos significa luta pela igualdade de género. A passividade da sociedade em geral e das bandas portuguesas levam de facto a criar este projecto em que as suas raízes se baseiam no feminismo activista com total liberdade de expressão.

Há um movimento riot grrrl em Portugal, ou às vezes dão com vocês completamente isolados num panorama que não tem nada a ver com aquilo pelo qual militam? Em Portugual infelizmente não existe riot grrrl, o que torna tudo mais preocupante, em pleno século XXI não haver mais bandas a defender uma causa tão importante e que nos diz respeito a todos. Portugal continua a ser muito pequenino.

A luta pela elevação do respeito quanto ao sexo feminino, fazendo das violações uma coisa do passado é algo imediato quando falamos da emancipação do género.

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No entanto não se ficam por aqui mas também lutam contra a homofobia e o racismo. Até que ponto estamos a falar de coisas directamente relacionadas? Ou é mais uma questão de valores com os quais simpatizam e pretendem defender? Seria de esperar que em pleno sec XXI a diferença de género nao fosse uma questão social. O nosso baterista encarna uma personagem com ausência de género, tentamos assim ser cada vez mais abrangentes contra todas as possíveis formas de discriminação associadas ou não ao género. Homofobia, racismo, especismo, qualquer forma de discriminação está relacionada e cada um de nós devia de sentir empatia pela causa pois ninguém está livre de ser vítima. É esta a mensagem que tentamos transmitir ao público.

Foi de uma forma natural que viram o nome dos Dead by pregnancy chegar à compilação “Riot Grrrl Is Not Dead” (composta por 53 temas de várias grupos internacionais dentro deste estilo), publicada pela iniciativa alemã Riot Grrrl Berlin? Foi com alguma naturalidade que vimos o nosso nome chegar à compilação, devido ao trabalho que temos vindo a realizar ao longo dos anos. No passado gravámos um split EP com as “The Loosies” banda de riot grrrl sediada em Texas, USA. Fomos contactados o ano passado para participar no Ladyfest (festival de bandas riot grrrl) da Colombia mas infelizmente o custo da viagem foi um factor impeditivo da nossa participação. Como nós sabemos, estes festivais não tem fins lucrativos. Temos tido algumas abordagens fora de Portugal de maneira que as coisas vão surgindo naturalmente e com muito agrado da nossa parte. Posso dizer que estamos a preparar um novo Split LP com uma banda de fora.. mais novidades em breve.

Passaram por várias mudanças de formação, tendo algumas a ver com distância e deslocação. Foi complicado encontrar os membros certos para os Dead by pregnancy? As mudanças surgem como tudo na vida. É preciso viver muitas situações para saberes onde te enquadrar e no que acreditar, com isso saberás o que queres da vida. As mudanças foram surgindo de forma natural e até sentirmos que toda a banda tem uma ligação forte.

O processo de busca foi de alguma forma desmotivador ou os valores a defender pela banda sempre se mantiveram merecedores de toda a dedicação? Os valores sempre foram a prioridade e sempre foi a força que manteve [o nome] Dead by pregnancy vivo! sem estes mesmos valores [a banda] não fazia sentido.

Em forma de parêntese, na vossa biografia online indicam que ainda antes da Margarida Martins se ter juntado ao projecto, o primeiro e homónimo tema foi escrito “em conjunto com alguém que não ficou na memória…” Sendo que o primeiro tema é sempre algo tão simbólico e marcante no percurso de uma banda, o que faz com que alguém que tem um contributo destes não fique para a história? A vida nem sempre nós dá o que nós queremos e por muito que queiras, quando os caminhos são diferentes tu tens que seguir o teu caminho e não o dos outros. o primeiro tema “Dead by Pregnancy” nasceu como uma experimentação (instrumental) um embrião do que DBP é hoje. Hoje em dia tocamos o mesmo tema mas com voz.

Algumas das vossas influências, podemos adivinhar, passarão de L7 até Babes in Toyland, por exemplo, mas a nível nacional, há algum grupo ou músico que tenham como referência? Ouvimos L7 e Babes in Toyland, mas damos mais valor ao activismo e às causas defendidas. Posso falar de bandas como the Gits (Mia Zapata), Bikini Kill (Kathleen Hanna) e Bratmobile (Allison

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Wolfe); [essas] são as verdadeiras Heroínas. Voltando ao panorama nacional assim de repente vem-me a cabeça Ana da Silva das Raincoats (sediadas em londres). Bandas de cá? onde estão elas? é algo que nos preocupa.

Nós simplesmente não temos uma linha que queiramos seguir. Fazemos o que nos faz sentir bem não nos limitamos com regras, cada um de nós tem total liberdade de expressão e é isto que nos une, a liberdade de pensamento.

A maioria dos grupos riot grrrl costuma estar associado ao género punk mais directo, no entanto a vossa música chega a ter contornos de bastante improviso e até algum art rock. O género está a mudar, ou vêmse como pioneiros de uma nova forma de alienação dentro do mesmo?

Em resposta a um pequeno inquérito n’a-trompa.net disseram que esperam que as pessoas através da vossa música passem a “acordar para a realidade que nos rodeia”. Que realidade entendem que será essa? A realidade é que não vivemos num mundo justo mas sim num mundo desigual e está nas nossas mãos lutar pela mudança, levantar o cu do sofá, fazeres o teu próprio activismo. Não precisas de ser músico para fazer música; basta teres vontade! Nenhum de nós é músico ou estudou música. Acreditamos em nós proprios DIY. O teu activismo pode ser manifestado de qualquer forma - a arte não tem limites. Escreve os teus textos, publicaos, distribuiu FAZ-te OUVIR! Estou agora a elaborar uma fanzine que vamos distribuir gratuitamente nos nossos concertos, a ‘zine é de contribuição livre e quem tiver intresse pode contribuir que ainda vai a tempo. Vale tudo desde pensamentos, fotomontagens, pinturas, desenhos.

Planeiam desenvolver algum tipo de lançamento nos próximos tempos? ..devido ao cariz um pouco cénico e representativo da banda, não colocariam a hipótese da filmagem de um DVD ao vivo, por exemplo?.. Estamos a gravar um split album e estamos a trabalhar na gravação de um videoclip. A filmagem de um DVD ao vivo tem bastante intresse e já pensámos nisso.. quem sabe daqui a uns tempos o conseguiamos realizar.

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MB

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As linhas com_ que se cosem a [“Broken record”, dos Moe’s Implosion]

MALHA

Um dos temas mais directos, mas ainda assim bastante envolventes, “Broken record” é parte integrante de um todo que é ‘Light Pollution’, album conceptual dos Moe’s Implosion. João Camejo, guiatrrista da banda, ajuda-nos a decifrar o tema e avança que o álbum se inspira “na história de uma rapariga que está em busca da sua verdadeira identidade. As nossas letras incidem nas várias experiências de vida que esta personagem tem enquanto procura a sua verdadeira identidade. “Broken record”, é uma canção que espelha, entre muitas coisas, a sensação de frustação que sentimos ao esforçar-mo-nos para tentar atingir os nossos objectivos e perceber que não saímos do mesmo lugar. Em algum momento da nossa vida, todos nós já sentimos que estamos a lutar por alguma coisa e por mais que insistas os resultados não aparecem. A pressão a que somos sujeitos nesta luta que se repete no dia a dia acaba por nos quebrar e deixar com um sentimento de vazio. Essa luta de que falamos apenas serve para nos tornar cada vez mais fortes e confiantes, ao ponto de conseguirmos atingir os nossos objectivos como sempre gostaríamos.”

Quando confrontado com a questão de até que ponto alguém na banda se identificava com esta parte do que vai acontecendo no álbum em particular, João assegura que “nós todos sentimos um pedaço de nós nesta história”. Contudo confessa que esta música em particular “é uma das que mais gostamos de tocar ao vivo”, apesar de dar um pouco mais de trabalho ao colectivo em relação a outros temas. “Ao vivo temos sempre uma atenção especial com a “Broken record”. Ao vivo temos a tendência para tocar a maioria dos temas com um tempo mais acelerado. No

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caso deste tema, não podemos acelarar muito o tempo da música, temos que respeitar o tempo do sample do Kaos Pad para não estarmos descoordenados.” Descoordenação é o que parece não haver dentro dos Moe’s Implosion, já que, como o guitarrista explica, practicamente todas as decisões dentro do grupo, e principalmente as suas músicas “são todas um resultado de um trabalho de grupo.” Quanto a esta faixa em particular “a música surgiu como um improviso sobre uma marcação rítmica diferente das que estávamos habituados a usar. A linha de baixo que serve de introdução está em 7/4 e quando a bateria entra tem uma marcação binária, são tempos distintos mas que se coincidem num determinado momento, achámos essa mistura engraçada e seguimos com isso. Cada um acaba por acrescentar algo à música. Usámos um pedal de delay para repetir um arpejo de um acorde, sendo que essa repetição depois é processada por um pedal que altera o acorde.”

A própria estrutura da música “está associada à linha de acontecimentos que fazem parte do


processo de luta e busca de um determinado objectivo que falámos nas primeiras questões”, avança o músico. “Depois de uma introdução onde apresentamos o arpejo samplado, que soa a um disco riscado, logo de seguida entra o verso onde a voz aparece, surge o primeiro refrão, que reflecte a pressão a que somos sujeitos no dia a dia. Depois disso, há um retorno ao verso que simboliza o regresso à realidade e uma repetição do esforço e seguindo a ideia de que não podemos desistir voltamos a encarar as dificuldades, e volta o refrão. De seguida, surge uma nova parte, aqui, progredimos entre dois acordes maiores, que simbolizam a satisfação que sentimos quando as coisas começam a acontecer como queremos. Surge uma quebra e um regresso à realidade, um novo verso e um novo refrão, as coisas não estão garantidas temos que continuar. Surge de novo a progressão entre os acordes maiores que resolve para uma cadência de acordes que simbolizam a quebra do ciclo. A música termina como inicia, com o disco riscado, sendo que agora o ouvimos de maneira diferente.” Tudo isto numa mistura de sons - que incluem um “efeito de guitarra que temos no refrão [que] nos soa a rock japonês!” - que levou os músicos a concluir algo curioso acerca do tema. “Achámos que tínhamos uma música que seria interessante de dançar; a combinação da bateria e do baixo dão-lhe um groove bem fixe.” Esse groove, que parece quase ameaçar deixar os ouvintes num estado hipnotizante, entre outros, decerto terá algo a dever às referências musicais do grupo, que, tal como João nos ajuda a perceber “não temos problema em afirmar que o trabalho dos outros inspira o nosso. Mas, tal como eles, procuramos seguir o nosso próprio caminho e criar novas coisas a partir daquilo que eles nos forneceram!”

Outra característica acerca deste tema é que foi o eleito como terceiro single, para o seu mais recente trabalho, e como tal, a banda não fez por menos e também nos surge com uma versão acústica da música, e um novo videoclip. Videoclip esse que “já está feito e foi lançado em exclusivo pelo Myspace Portugal. Podem vê-lo na nossa página de myspace! O

vídeoclip mostra acções mais ou menos comuns que nós temos no dia a dia, sempre com um toque surreal e inesperado. Passem pela página e vejam o vídeo, vale a pena!” Quanto à versão acústica da música, esta já está disponível na página do Facebook da banda. “Pegámos no essencial da música, estrutura e letra, e transformá-mo-la em algo novo. Não queríamos cair nas típicas adaptações acústicas, tira-se bateria e baixo e deixam-se ficar as guitarras e as vozes sem acrescentar nada de novo, bem pelo contrário, esse tipo de versões sofrem bastante por se tornarem demasiado previsíveis e aborrecidas. Tentámos ao máximo evitar isso e decidímos logo à partida que iríamos usar instrumentos acústicos que fugissem ligeiramente à regra. Usámos um guzheng que, para quem não conhece, é uma espécie de harpa de mesa chinesa e é um instrumentos que podemos encontrar numa orquestra chinesa. Também usamos uma guitarra de 12 cordas a dobrar uma guitarra acústica normal. No fundo, optámos por procurar uma sonoridade bem diferente e aplicar as peças essenciais que constituíam a “Broken record” e fazer assim uma versão acústica.”

Decerto, nada está ao acaso no mundo dos montijenses, e a descrição de como criaram (e inclusive, se recriaram n)este tema a partir do éter acaba por comprovar como a música acaba por ser um elogio a essa arte de transmitir uma mensagem através do ritmo e do som, que acaba por funcionar como os 50% que se unem à outra metade, que é, ou pode ser constituída pela letra. Há ainda uma outra metade em relação aos Moe’s Implosion (uma que se complementa com aquilo que a banda revela em disco), e que diz respeito a actuações ao vivo, e em relação a isso, podem estar atentos aos próximos passos da banda em Lisboa, no dia 3 de Maio com O Bisonte, no Musicbox, e em Viana do Castelo, dia 11 de Maio com Killimankaro e The Kulture Brothers, no Super Bock DH Fest.

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MB

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Devil In Me - The End (2010)

que é um dos melhores riffs a sair da cena underground nacional nos últimos anos, no que constitui o refrão de “Beast”, um tema brutal que se dilui no meio dos temas deste álbum, simplesmente porque todos eles nos agarram pelos colarinhos e gritam para que a gente se ponha frente ao próximo palco onde Poli, Matos, Pedro e Tiago irão tocar.

Happy mothers - Psycho in Lust (2010)

The End é um álbum a bem dizer, obrigatório. Quem conhece o trabalho dos Devil in me já sabe que é hardcore minado de um pouco de tudo o que despeja energia quer através das colunas, quer em cima do palco, de punho em riste e gargantas prontas para entoar os refrões que se tornam em verdadeiros cânticos. Desde o tema título até à ultima faixa, “Claim my world“ na qual colabora Mike Ghost (Men Eater) na segunda voz, o resultado é um conjunto de músicas que consegue ser dinâmico, de forma a ter momentos que são practicamente de festa do início ao fim, como “On my own”, lado a lado com outros mais sóbrios e que dão que pensar, como “Postponed” (com uma das letras mais sérias do álbum), para além de momentos de velocidade e raiva desmesurada, como “Right my wrongs”. Praticamente todos os temas são dignos de mérito, mas destaque-se as restantes colaborações, como a subtil, mas eficaz voz de Andreia Duarte na arrebatadora “Push twist and turn”, e a de Andrew Neufeld (Comeback kid), que ajuda a dar outra tonalidade à paleta de cores da banda em “The fall”, completamente em contraste, por exemplo, com o desfecho demoníaco de “Crossroads”. De resto, não dá para fechar os olhos àquele

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Sob uma produção razoavelmente boa (não tivesse a banda investido neste registo e na sua pós-produção, ao ponto de encomendarem a masterização a cargo dos estúdios Boiler Room, em Chicago) e com muita ousadia e uma grande carga sexual nas letras, os Happy Mothers estreiamse nos longa duração com 11 faixas de puro rock’n’roll sem vergonha e com algumas surpresas pelo meio. Inspirados num som poderoso e um pouco sulista(vindo do outro lado do Atlântico) as influências que mais lhes associamos acabam por ser mesmo os Queens of the stone age(“So sick” e “Vicious” podem ser alguns dos exemplos mais salientes) e Stone temple pilots/Velvet Revolver tal a forma como a voz de Pedro A. Carlos se aproxima da de Scott Weiland(“Ain’t dead baby”, “Holy fuck”); mais a segunda das duas bandas integradas pelo vocalista americano, já que as guitarras de Miguel Martins e do vocalista transpiram um fulgor pedido emprestado à cena sleaze dos anos 80. também a bateria de António Magalhães merece todo o mérito, dada a variação de ritmos que tanto pode acertar o passo em malhas explosivas como a já referida “Holy fuck”, como pode contornar o baixo por vezes

serpenteante registado por Carlos Araújo, como podemos escutar em “heavy mask”. Mas há imenso grunge e até glam escondido nas entrelinhas deste “Psycho in lust”, seja pelos coros em “So sick” que lembram uns Alice in chains, como pelo versos com um pouco de Bowie em “ExSex”. Surpresas maiores são a toada mais acústica da banda, revelada através de “Naif song”, que cresce de uma forma surpreendente culminando com um solo que soa a algo muito familiar aos ouvidos de quem tropeçou pela fase ‘98 dos Smashing Pumpkins, e “Bang bang bang”, um momento excelente de electric blues, que soa quase como uma boa homenagem a Paulo Furtado e ao seu alter ego Legendary Tigerman. No entanto é inevitável que as faixas mais diabólicamente viciantes ssejam “Spreading legs”(é inevitável ficar colado áquele refrão) e “Holy fuck”, músicas que certamente farão mossa nos concertos desta banda do Porto. Os Happy Mothers terminam esta visita guiada pelo seu mundo a partir, e como não podia deixar de ser, cheios de lascívia com um “High on pussy” que fecha numa toada muito punk rock, com um feeling(lá está) muito ao vivo e preenchida de coros, que encerra o álbum com o feeling de celebração.

Destruction Eve - Demo 2012 [Demo] (2012)

Black Flag e até algo de Cro-Mags são logo associações que nos assaltam os sentidos aos primeiros rasganços desta nova demo dos Destruction Eve, com a introdução childish-spooky a contrastar com uma sublinhada maturidade que já se nota tanto na produção, como composição do jovem trio portuense, e com refrões como


o de “Stand up and fight against”, o final de “Trap” e a veia animada quase ‘oi’ da versão de “Small Man, Big mouth” dos Minor Threat, que prometem puxar pela reacção do público nos seus concertos. Uma demo? E só quatro minutos?? Sim, é verdade, mas soa muito bem! E pra quem tiver mais alguma coisa a dizer, basta ouvir o final da última faixa.

Fina Flor do Entulho Carne de Deus [EP] (2012)

rítmica(Ruy G. + Pedro K.), aliada à forma crua e cruel como as palavras saem da boca de Danix lembram os mais sujos anos de um tal de Sr. Marilyn Manson - é ouvir “Inapto para serviço militar“, por exemplo. Aliás, o rock industrial tal como nunca devia ter deixado de ser, não está muito longe da receita que o quarteto do Porto nos apresenta, quer a tocar o punk mais desavergonhado em “Circo a arder“, quer a arrastar-se no doom de “Ensanguentado“. Provocação, seriedade cáustica e melancolia de cortar à faca ao virar da esquina, seguida de mais uma boa dose de velocidade perigosa. Ouçam por exemplo “Cuidados paliativos“, seguida de “Carniceiro“ e digam lá que não é assim!

Ashes - Ecila (2012)

Ouvir os Fina Flor do Entulho e não pensar em Mão Morta é sintomático de algum problema mental. No entanto ouvir este EP é practicamente o mesmo que pedir para ser exposto a níveis de senilidade eficazes na partilha da insanidade.. mas não se entenda mal o que estas linhas transcrevem, porque as músicas, e as letras em igual medida, de Carne de Deus exalam génio no sentido mais provocador que queiram acreditar que ainda é possível. A maquinalidade senil, mas brutal dos temas, quer pela inspirada guitarra de James Loose (que divide funções com os seus Dead by pregnancy), e pela incisiva secção

Identificas-te com a MöndoBrutal?

Para quem ainda não percebeu, Ecila é Alice escrito ao contrário. Contudo os nabantinos Ashes estão muito bem alinhados com o seu plano sonoro. Música inspirada no tipo de composição avançada pelos norte americanos Tool, com rasgos de ímpeto à

Nonpoint, assombrados pela melancolia de uns improváveis My Dying Bride, através da perseguição do inquietante violino.. é uma mistura bastante invulgar, sim, mas que em alguns momentos funciona com uma subtileza que nos deixa de queixo caído - repare-se no rasgo sonoro hipnotizante e belo do acutilante instrumento de cordas em “Hall Of Mirrors“ a marcar a fronteira entre os contrastantes estados de espírito exaltados pela banda. Na verdade, nesta arte que é a música, o mais entusiasmante é desafiar a criatividade e quebrar barreiras, e só dessa forma é possível desbravar caminho, coisa que David Pais, Pedro Caldeira e companhia não se censuram a perseguir. Neste primeiro longa duração a banda apresenta-nos um conjunto de temas inspirado no romance de Lewis Carrol ‘Alice no País das Maravilhas’, sabendo assombrar e clarificar momentos com a sua receita sonora insuspeita, que entra de forma suave como na abertura do tema título, entra em modo agitado como no desenvolvimento instrumental de “Rewind” e atinge níveis de delírio insanos nos seus picos, como no conclusivo encerramento de “Redemption“, de forma a criar uma teia tão complexa quanto o próprio romance, e que, tal como o último, a cada nova leitura acaba por se entranhar debaixo da pele, junto àquele líquido vermelho que pulsa com as emoções e se inquieta e delicia com o desconhecido. Tal como Pais canta em “Kind of strange”: “Embrace the madness within yourself, only then will you be free”.

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MB

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Videoclube -KZkc

http://www.youtube.com/watch?v=Uf-Lyx

dol” WE ARE THE DAMNED - “Atrocity I

http://www.youtube.com/watch?v=6O180-OVu4k

DEADBEAT MINORITY - “Into

the dark”

SUPRAH - “Yourself / Your

32

own”

(clica e vê)

ALBERT FISH - “Do

it again”

http://www.youtube.com/watch?v=7YfRH2qZTWo

q160

http://www.youtube.com/watch?v=D0a1kZ_


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