MöndoBrutal #10

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MöndoBrutal #10

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Info e coisas..:

Há momentos em que dá vontade de desistir. Não é isto nenhum tipo de manifesto em relação quer a estas páginas, quer à MöndoBrutal, mas antes algo que relegamos para o plano de todas as coisas. Quantas vezes já não houve vontade para abandonar aquela banda, aquela paixão, toda uma vida? A infeliz realidade é que há momentos em que não há mais por onde continuar, não dá para continuarmos acomodados ao sonho e à fantasia, e a única saída é mesmo abandonar o que pesarosamente tratamos de designar como uma fase, e seguir em frente. O que nos fica é pesado. É uma tristeza cinzenta que só dói mais e mais quando fundida com a memória de outras cores, mais vivas, mais quentes, dolorosamente eternas. É nesse turbilhão que emerge a melancolia. A melancolia é de certa forma o ponto central que reúne uma boa dose das páginas desta edição, com a capa ocupada pelos surpreendentes Venial Sin, que nos fascinam com a fusão do seu doom melodramático e os rasgos de determinação vociferada através de momentos death metal pujantes. Melancolia que hipnotiza, arrasta e convence, mas que ombreia também com alguns triunfos que a banda tem conseguido, não só dentro de portas, mas também chamando a atenção de alguns ouvidos bem atentos por esse mundo fora que vêem um grupo com bastante potencial dentro do género onde se movem, independentemente da nacionalidade. Não estão eles no entanto sozinhos neste plano emocional, contando também esta edição com os So.ma e o seu rock de contornos pós-hardcore a tingir a monotonia urbana com emoções bem vincadas e sentidas. Assim como um toquezinho da mesma afogada em wisky pelas notas e sonoridade que tanto soa ébria como matemáticamente intocável no rock dos aveirenses Souq. Contudo temos também aqui o oposto na forma dos Affäir e do seu hard rock com toques de glam, a arriscar um certo elogio à sensualidade à lusitana, partindo da influente energia vintage vinda de Los Angeles. Tudo isto embrulhado num pacote já bastante diverso que conta ainda com o hardcore old school e sem papas na língua dos jovens portuenses Shitmouth, que erguem a bandeira do punk como poucos da sua geração.

MÖNDOBRUTAL webzine mondobrutal@gmail.com

Para além disto temos ainda a história dos Aqui d’El-Rock, e de como em poucos anos deixaram marcas que ainda hoje surpreendem tanto como inspiram novos músicos e não só, em Fora do Arquivo, e a dissertação sobre a música “Apanha o avião“ dos Deserto, que tem uma das letras mais sarcásticas do momento. Isto e bastante mais nas páginas do costume.

18 - So.ma

Por agora, tentem se abstrair da tristeza e melancolia e focar a concentração na força da acção. Aquela do que existe, que estas pessoas têm teimado em levar para a frente e as leva a concretizar coisas; aquelas mesmas coisas que tanto significam como pretexto para dinamizar, como a servir de voz que chega a inspirar. Isto porque é nessa inspiração que até os maiores impérios buscam força.

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A Seita: KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas) Maltês (design) Rui LX (tmbm design) Cátia Panda (recolha de info/ an.discos) Girh (revisão textos/ entrevistas) Lagartixa (an.discos) Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)

índice 02 - Editorial 03 - Notícias 04 - Fora do Arquivo: Aqui d’El-Rock

06 - Affäire

10 - Venial Sin

22 - Shitmouth

26 - Souq

Abraço, e boa leitura. \m/

32 - A.l.c.q.s.t.M.: “Apanha o avião” dos Deserto

34 - Análises a discos 38 - Videoclube pag.10


Not]cias .................. Pax Julia Metal Fest III, com cartaz, vinho e tatuagens prontos a rolar

Ponto final para os Thee Orakle Após nove anos de actividade, dois álbums, um EP e vários concertos envoltos numa sonoridade que findia o death metal progressivo com sonoridades góticas, os vila-realenses Thee Orakle decidiram terminar a sua carreira. Segundo os mesmos a decisão deveu-se a ”incompatibilidades artísticas e pessoais” dentro da banda. Poderão ler o comunicado deixado pela banda na sua página: https://pt-pt.facebook.com/pages/THEE-ORAKLE/123835520986090

Colosso com novo trabalho sobre ombros Está já marcada a data para aquela que será a terceira edição do Pax Julia Metal Fest, o festival de hard’n’heavy que se irá realizar na Casa da Cultura de Beja. O dia é 9 de Novembro, e será encabeçado pelos Dawnrider (que entretanto estão já a preparar o seu terceiro lançamento longa duração), assim como contará com a presença dos Head:Stoned, Lvnae Lvmen, Cruz de Ferro e os espanhóis Oker. Para além de um prometido serão recheado de bom heavy metal, quem comprar o bilhete com a devida antecedência ficará também habilitado a ganhar quer uma tatuagem no valor até 70€ (cortesia do estúdio Antraste-tattoo e body piercing), quer a um cabaz que pode incluir até nove garrafas de vinho (cortesia das lojas Sabores do Alentejo e Sabores de Serpa). Para mais informações, e acesso a todos os detalhes basta ir a: http://www.facebook.com/paxjuliametalfest

Carolina Torres, the Girl in the black bikini

A banda portuense de death metal moderno, liderada pelo multi-instrumentista Max Tomé (Holocausto Canibal) encontra-se a preparar um conjunto de novo material na forma de Thallium, um EP que conta lançar em Outubro ou Novembro. Este será o sucessor em curta duração do álbum de estreia dos Colosso, Abrasive Peace, que contou com gravações ao cuidado de Dirk Verbeuren (Soilwork, Devin Townsend, Scarve) e foi alvo de uma reedição no passado dia 5 de Junho pela editora Mulligore em duas distintas edições. A banda encontra-se neste momento a reunir condições para levar o projecto para os palcos e promover a sua música. Podem acompanhar tudo em: https://www.facebook.com/colossometal

O sentido proibido dos Dalai Lume

Para quem gosta de rock’n’roll com garra, e da pin-up do programa Curto Circuito (da SIC radical) Carolina Torres, há excelentes notícias. The Girl In The Black Bikini é a combinação perfeita das duas forças da natureza num resultado que está aos cuidados da produção de Daniel Cardoso, para aquele que será o primeiro trabalho de apresentação da banda. Para já está disponível para escuta o primeiro e inflamatório tema, “Trash”, que poderão escutar na página da banda:

Já saíu, no passado dia 26, o novo álbum dos Dalai Lume. Sentido Proibido é o segundo longa duração da banda punk que, como é descrito na nota de imprensa, “conta com 13 temas de puro rock de intervenção, mensagem sem rodeios e com a irreverência que este tempo exige”. Com este trabalho a banda segue em frente com a intenção de lançar uma pedra na direcção do punk rock português, para isso têm já também algumas datas planeadas para apresentar este novo trabalho pelo país fora. Podem saber mais, e seguir as próximas datas ao vivo em: https://www.facebook.com/dalailume

https://www.facebook.com/thegirlintheblackbikini

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F#ra do Arquivo

AQUI D’EL-ROCK

Por vezes uma música pode fazer toda a diferença! Uma das bandas que saíu directamente do underground nacional para o(s) lançamento(s) discográfico(s) e fez estragos foram precisamente os Aqui d´el-Rock. Ainda hoje é difícil conhecer alguém minimamente ligado ao punk rock português que nunca tenha repetido o chavão “Há que violentar o sistema”, viciante quer pela sonoridade quer pela mensagem. Não será portanto necessário estar a justificar a presença da história da banda nestas páginas. Ela aqui está: Surgidos em 1977, os Aqui d´el-Rock não foram de todo um nome consensual dentro do seio lisboeta que os originou. Apesar de já terem dado créditos musicalmente em projectos embrionários do que viriam a ser - como na banda Osiris, por exemplo, da qual 3 dos elementos da banda [Zé Serra (bateria), Fernando Rocha (baixo) e Alfredo Pereira (guitarra)] haviam feito parte -, e de Zé e Fernando serem oriundos do bairro do Relógio considerado um dos mais marginais de Lisboa (tendo mesmo vindo a ser demolido nos anos 90) - os elementos da banda chegaram a ser apelidados de oportunistas pelos auto-proclamados “punks autênticos”. Já na altura os elementos da banda não se viam a durar muito tempo juntos, como terá corroborado Serra numa entrevista, onde terá afirmado: “Eu acho, pessoalmente, que o grupo não vai durar muito tempo...” A formação com que deram o seu primeiro concerto, no C.A.C.O. (Clube Atlético de Campo de Ourique), que se completava com um colega de faculdade de Alfredo, Oscar Martins na voz e guitarra, acabou por se sentir no direito de reclamar para si o espírito punk, utilizando-o para denunciar o conformismo da cena rock nacional (e internacional), e para ao mesmo tempo transmitir os seus ideais quer a nível musical, quer a nível político. Três anos haviam passado desde a revolução

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dos cravos e apesar da óbvia mudança, havia ainda assim imensas dificuldades a muitos níveis. Com esse contexto em conta os Aqui d´el-Rock de forma muito natural acabaram por seguir o seu percurso e coincidentemente encabeçar o movimento dos anos 80 que mais tarde ficou conhecido como “Boom do rock português” onde jovens grupos surgiam com temas fortes de letras corrosivas, apontando o dedo ao que estava errado em vez de fechar os olhos e fingir que estava tudo bem. Para além de ser um dos grupos que menos papas na língua tinham, também a acumulação de experiência em palco e o factor novidade (com a lufada de ar fresco trazida por um estilo então a rebentar em Inglaterra e nos Estados Unidos, como o punk) justificam a liderança involuntária que os Aqui d’el-Rock acabaram por ter sobre esse movimento. Contudo as coisas foram sendo construídas passo a passo e com esforço desde o início, tendo a banda passado dificuldades em arranjar dinheiro para a música. Era difícil ter como pagar estúdio quer para gravar quer para ensaiar, e também para os instrumentos. Daí que a primeira guitarra de Fernando foi por si próprio construída, a bateria de Serra foi sendo construída por um artesão e adquirida peça a peça, conforme as possibilidades de pagamento, e o PA para a voz comprado em segunda mão a um grupo de baile em várias prestações (e utilizado pela banda também como amplificador para as guitarras). As queixas da vizinhança devido ao excesso de ruído faziam-se sentir sempre que ensaiavam e então dá-se uma intensa troca de


um período de grande actividade durante o qual gravou o seu segundo single - “Eu não sei”/”Dedicada (a quem nos rouba)” - e participou em programas das principais rádios nacionais, entre uma agenda razoavelmente preenchida. Um dos espectáculos dados nesse ano de 1979 foi na abertura para um concerto da banda punk inglesa Eddie and Hot Rods, no Coliseu de Lisboa. Em 1980 Alfredo Pereira deixa de ser guitarrista da banda e entra no seu lugar, não um, mas dois guitarristas: Carlos Cabral e Alberto Barradas (que para além de guitarrista, ajudava também como voz secundária). Ao longo deste ano a banda passa por algumas metamorfoses a nível de influências internas, e consequente sonoridade da banda, quem sabe como forma de evitar a perseguição (má fama) de que se tinha tornado alvo, e em 1981 acabam mesmo por assumir a mudança, com um novo nome - Mau Mau - e a adaptação ao estilo então a entrar em voga: a new wave. Desta nova versão da banda resultou o single “Xangai” / “Vietsoul” (com o último tema a reunir as curiosidades de ter sido cantado em inglês e de ter contado com a participação do guitarrista João Allain, da Go Graal Blues Band), alguns concertos e pouco mais. A verdadeira natureza do colectivo havia reclamado já há muito a vontade, e tendo sobrado apenas um ‘seguir em frente’ sem tanta vontade como isso, que não teve grande retorno por parte quer da indústria quer do público, a banda acabaria por terminar em 1982.

locais de ensaio entre outras mudanças no seio da banda. No entanto a vontade de dinamizar e de fazer ouvir a sua voz persistiu, e em meados de 1978 a banda conseguiu gravar o seu primeiro single, de onde saíu o mítico hino “Há que violentar o sistema”, completo com o tema “Quero tudo” como lado B. Há que referir que por esta altura as coisas eram demasiado complicadas a nível de introdução no meio discográfico para alguém que não pertencesse aos meandros do mainstream, e os Aqui d´el-Rock acabaram por, com a sua persistência, reclamar o título - que ainda hoje serve de introdução ao seu nome e à sua música - de ‘primeira banda punk nacional a gravar um disco’. Disco esse apresentado oficialmente na tal actuação no C.A.C.O., onde a dado momento houve uma encenada invasão do palco por parte de membros de outra banda punk - Os Faíscas. Quer o concerto, quer o disco receberam uma divulgação invulgar na época, tendo sido citados em imprensa ligada ao meio e não só. Mesmo ao nível da televisão os Aqui d’el-Rock tiveram divulgação, através daquele que acabou por ser o primeiro videoclip português produzido pela RTP sob a pressão de todo o alarido que a banda começava a gerar. Contudo o mesmo não foi alvo de muitas exibições. Aliás, toda a divulgação à banda acabaria por vir a ser alvo de censura, não muito depois da sua apresentação oficial, traduzindo-se numa perseguição e consequente propagação do seu “mau nome”, com base em justificações das mais descabidas, devido à postura incómoda que os seus elementos tinham em relação a todo o contexto nacional (o tipo de censura que supostamente deveria ter terminado com a revolução de Abril). Ainda assim, enquanto a onda de censura ainda se preparava para ganhar força, a banda insistiu e teve

O tratamento de choque de que chegaram a ser alvo chegou inclusivamente ao ponto de o nome dos Aqui d’el-Rock se tornar turvo e desfocado nas páginas da memória da música portuguesa, sendo a banda apenas ocasionalmente referida pelo seu feito como pioneiros punk nacionais em termos da gravação discográfica. No entanto quem reconhece valor no que criaram não deixou de os homenagear. Entre as mais variadas formas de admiração pelo grupo lisboeta, e aparições de música da banda em compilações algo revivalistas, há que destacar a inclusão de duas das suas músicas na colectânea Killed by death, vol.41, em 1998 (16 anos após o seu final), onde figuram também alguns nomes bem familiares do punk internacional. Aliás uma das provas de que a música dos Aqui d´el-Rock atravessou fronteiras está na versão que os brasileiros Ratos de Porão fizeram da sua música “Eu não sei”. E obviamente que dentro de portas o grupo foi uma influência maior para muitos dos grupos atentos que lhe seguiram os passos em direcção à sonoridade punk. Recentemente, em 2008, houve uma tentativa de renascer (não da banda, mas) do espírito que representavam os Aqui d´el-Rock por parte dos elementos da formação original, Óscar Martins e JC Serra. O projecto intitulouse de Aqui d´el-Rock II3 e contava também com João Damásio e David Amaral nas guitarras e Katy no baixo. O facto de os novos músicos terem todos idade bastante jovem em comparação aos músicos veteranos da formação original não era de todo inocente, pois a intenção destes era impulsionar a consolidação de um novo grupo que continuasse com o legado do original, tendo mesmo havido regravações dos temas originais da banda para esse efeito, a par com a criação de novos temas originais. No entanto, de momento, o projecto encontra-se suspenso. Curiosamente também os versos da sua música mais emblemática insistem em pairar suspensos acima de outras ideias, porventura conformistas; isto porque sempre que as descrepâncias insistem em não diminuir e a barricada é erguida, “Há que violentar o sistema”.

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MB

http://pt.wikipedia.org/wiki/Aqui_d’el-Rock http://blitz.sapo.pt/gen.pl?p=artistas&op=detalhe&fokey=bz.bands/1059 http://www.spirit-of-rock.com/groupe-groupe-Aqui_D’el_Rock-l-pt.html

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affäire

eira de (relembre-se quem lê, da prim lida rea o nad tor os put de ho son Quase como um o sleazy guitar num quarto desarrumado!) air er faz a to pos ter e dev lhe banda que sicos ligados uma formação constituída por mú com ma for a tom e äir Aff dos k roc hard ns. Curiosos? A curiosidade de mo De ick Att ou t Lus ine Div r, ride or de a bandas como Dawn quatro rapazes, portanto façam fav es est a par nfo tru um é o lad se quem está des so dos veteranos. a satisfazer.o respeito pelo percur


O rock’n’roll realmente não tem de ser auto-condescendente, como que fonte únicamente de consolo para almas incompletas. Quando foi que decidiram que era hora de mostrar isso aos mais distraídos, formando os Affäire? Primeiro que tudo, fizemos isto por e para nós próprios! Em relação ao timing, aquilo que viria a resultar nos Affäire começou a tomar forma há cerca de uns 4 ou 5 anos atrás, quando, na altura de compor, por mais que tentasse resistir, já só me saiam coisas que nada tinham a ver com as bandas em que tinha tocado e na que tocava no momento. O gosto pelo género existia desde puto, oportunidades para ter uma banda com estas características é que não. E eu sabia que aquilo que tinha em mente seria, na prática, uma banda num estilo sem referências em Portugal. Quem quer que viesse a completar a banda teria, obrigatoriamente, de se identificar sem reticências com o projecto. A verdade é que foi mais fácil do que pensava encontrar as pessoas certas!

Esta onda de rock’n’roll mais sleazy e provocante parece mesmo ser algo que não encontravam nas bandas nas quais têm vindo a trilhar caminho (Dawnrider, Divine Lust ou Attick Demons) até esta nova aventura. Sentiam algum vazio no que diz respeito a esse tipo de sonoridade mais groovy nas vossas outras bandas? Apesar do hard’n’heavy ser o grande ponto em comum entre nós os 4, ter um percurso em géneros tão diferentes como doom, punk rock ou heavy tradicional, entre outros, só nos fez – e faz – bem! Não existia um vazio nem se trata de um corte com o passado, foi antes uma questão de oportunidade e de encontrar as pessoas no momento certo. Continuamos a gostar de ouvir e de tocar outros estilos, noutros projectos. No meu caso e do Rick, que tocávamos juntos há anos, terminou um ciclo e felizmente começou logo este novo projecto ao qual nos agarrámos, algures no Verão de 2010... Quase de imediato, soubemos da vontade do Tony em alinhar numa banda de Sleaze, algo que também nunca se tinha tido proporcionado com ele. Posto isso, experimentámos vários vocalistas até chegar ao Filipe Cascata, um hard-rocker já com muita estrada em cima e cheio de vontade de partir louça connosco!

Pretendem com esta nova aventura percorrer mais palcos e kilómetros de estrada, ou é igualmente algo no qual pretendem investir a nível de composição e gravações?

Desde que nos juntámos que o ritmo de composições tem sido bastante elevado. Chegámos a um ponto em que já temos temas suficientes para gravar o nosso primeiro álbum e, falando de gravações, após os dois singles que já lançámos, sentimos que esse é o próximo passo a nível de edições. Mas a verdade é que não há nada que se compare à sensação de estarmos em cima de um palco e da química que se cria dentro da banda, e entre a banda e quem está á nossa frente. Para nós é viciante e tenho a certeza que muitos dos que lêem esta entrevista entendem o que quero dizer. Por isso e porque é uma forma importante de divulgar os Affäire – e bem que precisamos, como qualquer banda recente! queremos conjugar as duas situações.

Parece-vos que há espaço num país tão dado à saudade como o nosso, para os sons inspirados no sol californiano? Se nós decidíssemos o estilo da banda consoante o sabor da semana em Portugal, não estaríamos a fazer sleaze rock de certeza! Nos Affäire, estamo-nos completamente a cagar se a indústria e se as correntes de opinião aprovam o estilo ou não! Quando a banda se deu a conhecer, ainda ouvi um ou outro conselho a sugerir que introduzíssemos mais influêncas dos 90’s e, mesmo recentemente, uma figura duma rádio local “aconselhounos” a tocar um estilo mais moderno se quisermos airplay. É claro que os mandámos educadamente enfiar os conselhos onde o sol não brilha… Se em Portugal nos abrirem portas por aquilo que somos, óptimo! Se a nossa identidade nos cria barreiras no nosso próprio país, a única coisa que garanto é que não vamos ceder nem esmorecer por isso. A verdade é que nunca houve uma verdadeira cena ou cultura de rock’n’roll em Portugal, portanto já sabíamos ao que vínhamos quando nos metemos nisto. Não ponho a culpa na saudade nem no fado. Há espaço para a diversidade, mas a realidade é que predomina a carneirada e o fascínio por Tony Carreira & filhos, duplas sertanejas importadas ao desbarato, pop-rock hipster e betinho… Nisso, os nossos vizinhos espanhóis dão-nos uma lição…

A brincar a brincar acabam também por salientar a beleza feminina e aquele sentimento de vida presente em muita mulher portuguesa, tão bem ilustrado no vídeo de “Highway Affair”. À excepção de alguns estilos de música menos elogiosos, esse elogio à beleza da gaja é algo muitas vezes

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ignorado na nossa cultura não é? É verdade que o elemento feminino está presente na maioria das nossas músicas. Acaba por ser um reflexo honesto de histórias que se passam connosco ou com amigos, ou mesmo fruto da nossa imaginação perversa ou – porque não admiti-lo? – de demasiadas horas de exposição à pornografia. Talvez faltem estas duas últimas características aos estilos menos elogiosos que referes, não sei.

Pois, talvez lhes fizesse bem adquirir essas características... (risos) De qualquer forma, nas vossas palavras Portugal já estava a dever uma banda destas ao mundo desde os anos 80.. Concretizar algo deste género era algo no qual já pensavam mesmo desde a adolescência?

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Lembro-me de começar a ganhar a minha “independência” musical em miúdo, na viragem da década de 80 para 90. E filo com o hard rock que estava a dar as últimas cartadas antes do boom do grunge e do rock alternativo. Pouco depois começaram as experiências de bandas, mas estavámos em plenos anos 90 e a lavagem cerebral anti-rock e metal clássico era tal no mainstream, que isso acabava por afectar também todos os putos que estavam a começar a formar bandas. Acontece que, tanto eu como os outros mantivemo-nos à parte das modas mainstream dessa década, como o grunge, o industrial ou a aberração do nu-metal e ocntinuávamos a preferir aquilo que vinha dos 70s e 80s. Há que referir que não nos conhecíamos nessa altura. Cada um teve o seu percurso, em estilos diferentes do de Affäire mas que, obviamente, também nos agradavam. Em parte, vejo isto como o retomar de uma vontade subitamente adormecida há 20 anos, portanto acaba por nem ser saudosismo…

No entanto demoraram bastante tempo até formar esta banda - curiosamente o primeiro tema lançaram, “born too late”, refere isso mesmo. O que vos fez levar tanto tempo a concretizar esta ideia? A vida dá muitas voltas, fecham-se uns capítulos, outros iniciam-se. Pelo meio, estivemos em bandas às quais nos dedicámos e com as quais aprendemos muito e ganhámos experiência. “Born too late” é uma espécie de manifesto e de cartão de apresentação dos Affäire. A letra é explícita e o título resume-a bem: é uma homenagem a todos aqueles que se mantêm fiéis ao estilo de vida do rock’n’roll, independentemente de modas, pressões ou


idade!

Em alguns eventos mais ligados à festa e celebração decerto os Affäire devem elevar as coisas para um outro patamar ainda. Já houve registos de alguma farra “a sério” resultante de uma dessas noites de loucura com a vossa banda sonora? Logo no primeiro concerto, houve uma cena de porrada mesmo na primeira fila, mas não sei se houve influência nossa. Mas não voltou a acontecer. Já houve after-parties interessantes, mas ficam para quem lá esteve… Queria também salientar a data que fizemos como banda de suporte do Paul Di’Anno em Portugal. Uma lenda viva do punk e do heavy metal e um exemplo de integridade (sentes que é o mesmo puto rufia e cheio de pica de há 30 e tal anos atrás), com quem tivemos o prazer de conviver após o concerto e de beber uns bons whiskeys que ele amavelmente forneceu.

Até agora com “Born too late”, “Japanease tease” e agora com a nova “Highway Affair” têm lançado singles. É mais uma das tradições que pretendem ressuscitar dos anos 80 e manter, ou há planos para o lançamento de algo mais ‘longa duração’?

Ainda nem fez 2 anos desde que demos sinais de vida. É verdade que lançámos 2 singles, mas em ambos os casos fizemos questão que fossem mais do que um mero mp3 atirado para a internet. Em Setembro de 2011 surgimos com o 7” [disco de vinil, sete polegadas] “Born too late” (lado B “Japanese teaze”), lançado em edição limitada de 300 cópias numeradas, apenas em formato de vinil, apesar de ser possível ouvir tudo online e até fazer download de alta qualidade por um preço irrisório. A propósito, aproveito para fazer um pouco de publicidade gratuita e informar os interessados que ainda temos cópias disponíveis! O “Highway Affair” foi lançado no final de Março deste ano e é também o primeiro videoclip oficial da banda. É um bom cartão de visita dos Affäire e uma forma de chegar mais longe a nível promocional e por isso decidímos, desta vez, oferecer o download gratuito nas páginas da banda. Voltar a lançar single não é um objectivo, mas sim espalhar ao máximo o veneno - a quem gostar do vídeo, fica o desafio para nos ajudarem a partilhá-lo pela net fora - e reunir condições para lançar brevemente o nosso primeiro longaduração !

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MB

https://www.facebook.com/affairerocks https://myspace.com/affairerocks

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v esn i

Com Com os os olhos olhos postos postos em em grandes grandes exemplos exemplos do do metal metal ee rock rock progressivo progressivo que que virara virar Venial Venial Sin Sin emergem como um nome a sublinhar no panorama de metal progress progres equilíbrio perfeito, mas sim mantê-lo. Boas referências que ajudaram equilíbrio perfeito, mas sim mantê-lo. Boas referências que ajudaram aa cheg che Do death e black metal a um rock progressivo, experimental e até ambiental – É dentro do perímetro que encerra estes pontos cardeais que os Venial Sin se movem. De que forma encontram o equilíbrio necessário para que as vossas composições não se desenquadrem desta fórmula? São as sonoridades e influências retiradas tanto do black como do death metal que, juntas conferem um rótulo de extreme. Quanto ao progressivo, é uma herança de bandas de rock progressivo, principalmente dos anos 70 (Soft Machine, Camel, Caravan entre muitas outras), que lhe conferem uma certa dinâmica, as quais ouvimos desde sempre... A ideia consistiu

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sempre em conseguir uma linha de composição sonora que se desmarcasse de formatos e préconceitos musicais, portanto livres de rótulos, contudo havendo abordagens claras aos subgéneros associados num amplo espectro de sonoridades, mas sempre dentro do género do metal. Compomos conforme vamos sentindo. O resultado acaba por ser um som experimental e estranho como dizem, com uma abordagem diferente ao metal onde felizmente conseguimos sempre balancear e encontrar um equilíbrio são e bem balanceado, onde, por mais ou menos peso patente nas composições, estas estejam sempre bem munidas de todos os elementos que queremos considerar e ao mesmo tempo homogéneas.


nn ial

ram ram costas costas aos aos conceitos conceitos pré-concebidos pré-concebidos ee conctruíram conctruíram carreiras carreiras ambiciosas, ambiciosas, os os ssivo nacional, sempre com a noção de que o difícil não é conseguir encontrar o egar egar ao ao resultado resultado que que muitos muitos melómanos melómanos não não deveriam deveriam deixar deixar de de escutar. escutar. O essencial é mesmo o facto de este trabalho estar munido de uma grande mistura de elementos contrastantes, o que gostamos muito de fazer, onde na progressividade e evolução das composições estão sempre patentes diversas divergências estilísticas. Tentar ser original é relativamente fácil, o difícil será certamente conseguir manter essa originalidade na criação. Ao fazer o que gostamos podemos realmente atingir a meta desse propósito, de onde advém uma forte componente de satisfação. Cada vez mais será difícil inovar, mas a inovação existirá sempre, dependendo da forma como se conjuguem os recursos e se faça a abordagem às temáticas e ambientes criados na música. Cremos que existe espaço para todos os géneros, lamentamos apenas a falta de

abertura musical que se revela muito entranhada nos ouvintes que estão presos aos géneros predominantes controlados pela indústria e marketing associados.

Que nomes mais vos marcaram e continuam a marcar enquanto referências para os Venial Sin? São infindáveis e muito variadas, pois felizmente todos temos influências distintas, mas talvez Dimmu Borguir, Death, Opeth, Hypocrisy, Arcturus, Emperor, Amorphis, Katatonia, Tantra, Pink Floyd, Camel, Gentle Giant, Soft Machine, Porcupine Tree, Anathema, entre muitas, mesmo muitas outras, que passam também pela música electrónica e até de cariz tradicional. Podemos também mencionar nomes como Devin

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Townsend, Brendan Perry e Lisa Gerrard dos Dead Can Dance, entre outros como o conhecido Dan Swano e até Andrew Latimer e Peter Bardens dos Camel. Todos estes nomes e outros protagonizaram e cimentaram grandes carreiras musicais, bem estruturadas e de uma forma bastante consistente que com certeza continuarão a ser uma forte influência para a música em geral. Isto acontece devido ao facto destes músicos terem protagonizado produtos únicos e marcantes ao longo das suas carreiras musicais, destacando-se pela originalidade e suas fusões inovadoras e cativantes nas suas criações.

Ainda dentro das referências, nota-se uma sombra escandinava bastante forte a pairar e a inspirar a vossa música… Inevitável ouvir tais comparações hoje em dia, face a um tempo passado em que quase toda a inspiração (para as bandas) vinha do que era anglo-saxónico? Como é sabido, o black metal é um sub-género do metal que surgiu principalmente nos países escandinavos tendo evoluído do thrash metal e do death metal no início dos anos 80. É ainda mais agressivo que o thrash metal. Incorpora em suas letras temas como satanismo e paganismo (em particular a mitologia nórdica). Estas bandas misturavam elementos de heavy metal, hardcore e música clássica e as suas letras falavam de temas pagãos, satânicos, anti-cristãos e ocultos em geral. Começaram a ser rotuladas como bandas de black metal melódico ou symphonic black metal, pelo uso intensivo de teclados e elementos de música clássica em suas músicas e começaram a tocar em grandes festivais europeus. Com isso as bandas norueguesas de black metal que tocavam um som mais cru e agressivo também ganharam mais atenção dos media, não mais por assassinatos e queima de igrejas, mas sim pela sua música. Neste panorama da história da música é pois sempre inevitável ouvir comparações de uma costela escandinava nas nossas composições, algo que é trazido não apenas pelas nossas preferências musicais, mas também pela influência variada a que como banda estamos sempre sujeitos! A nossa ideia será sempre variar ao máximo os recursos estilísticos e mistura-los sempre com uma agradável estética musical!

O vosso EP Sphere Of Morality foi gravado nos Blind & Lost Studios. O quão à vontade chegaram a estar em estúdio? Conseguiram atingir um à vontade tal ao ponto de conseguirem deixar fluir até os mais expansivos momentos de ambientes envolventes,

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ou a pressão também poderá ter ajudado? Estivemos sempre muito bem preparados e sabíamos desde o inicio exactamente o que queríamos com este registo! Todo o à vontade surge com a naturalidade de quem já gravou mais trabalhos anteriormente e quando se gera de forma natural um ambiente agradável em estúdio, o que aconteceu sempre em todas as sessões de captação, bem como mistura, etc, tudo se torna ainda mais promissor. Nunca houve pressão adjacente a todo o processo, ao invés, houve um superar de expectativas e um tamanho à vontade que nos permitiu em certos momentos enaltecer o registo, com rasgos vários de improvisação que mais tarde se revelaram uma mais valia. São momentos como estes que vivemos em estúdio que nos dão uma enorme vontade e motivação para sempre fazer mais e melhor!

Quem estava por detrás na mesa do estúdio era Guilhermino Martins dos ThanatoSchizo. Foi importante para este trabalho (e para o vosso método aquando da sua gravação) ter o input de alguém com a experiência deste produtor e músico? Certamente que sim, algo que não se põe em questão! Sem dúvida que foi uma mais valia podermos trabalhar com o nosso amigo de longa data Guilhermino Martins.

Primeiramente tendo ele também todo o knowhow, bem como as devidas instalações para que tudo funcione na perfeição, de seguida imprimindo toda a sabedoria, experiência e profissionalismo adquiridos ao longo do seu historial activo como músico e produtor. Algo que repetiríamos sem dúvida num futuro registo com todo o agrado, pois a cumplicidade musical existente entre nós sempre foi muito acentuada, o que se reflectiu em todos os processos da concepção do disco.

Chegaram a dar bastantes concertos graças ao excelente trabalho que têm em Sphere Of Morality, tocando inclusivamente em Espanha e Inglaterra. Como é para uma banda portuguesa trocar de underground por umas noites, com o underground de outros países? Que tal foi a receptividade por parte do público nessas ocasiões? Foi uma experiência que pudemos já repetir, no caso de Espanha. Sempre fomos bem recebidos lá fora, sem excepção. O público adere sempre muito bem, sendo nós uma “banda de fora”, mais ou menos o que acontece aqui em Portugal com as bandas estrangeiras. Pudémos sempre sentir a vibração de outros “Undergounds” bem compostos, onde as pessoas nos agradeciam pela nossa presença, algo único e que fica marcado no nosso percurso. Em Espanha fomos sempre

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considerados “hermanos” e talvez não houve local onde fossemos tão bem recebidos. No caso de Inglaterra foi mesmo uma experiência enriquecedora, pois queríamos ver até que ponto as coisas corriam bem, em todos os aspectos. Algo que se revelou também muito mais para além das expectativas que criámos em redor dessa viagem a Londres. Houve sempre um público entusiasta, as bandas foram sempre muito próximas e houve uma boa troca de contactos, pena só termos ido apenas para uma actuação ao abrigo do Bloodstock Open Air. Uma vez que nos vimos forçados a recusar uma tourné no Brasil já para Setembro deste ano, por motivos alheios à banda, sem dúvida que os Venial Sin querem tentar repetir estas saídas, talvez noutros locais da Europa, pois é sempre bom levar o nosso som a mais paragens e poder visitar culturas e costumes diferentes, sempre fazendo aquilo que mais gostamos!

Uma das qualidades pelas quais primam é a diversidade dentro de um mesmo conceito, que parece estar ligado ao rock/metal mais melancólico. Conseguem rever essa mesma diversidade em alguns dos vossos pares /bandas com que já cruzaram palcos e não só, no underground nacional? No que toca à diversidade estilística musical, hoje em dia, esta já se verifica em alguns nomes do “underground musical português”. É com grande satisfação que podemos partilhar o palco com algumas dessas bandas, embora não muitas apresentem uma faceta diversificada. Infelizmente, grande parte das bandas de metal portuguesas estão centradas num único género ou sub-género do metal, não havendo espaço para as mesmas poderem divergir por outro espectro musical. Desta forma, a maior parte das bandas limitam, à partida, o espaço por onde se movem. Salientamos, que da minoria que ousa absorver recursos estilísticos musicais variados nas suas composições, a generalidade das bandas fá-lo sem preconceitos, pois não estão presas, à partida, a este ou àquele rótulo musical, o que na nossa opinião é sempre uma mais valia, em termos de composição, bem como para o público, que é prendado com diversidade musical!

Algo que fazem questão de mencionar em algumas ocasiões é a notória diferença de atitude face à banda, para melhor, graças ao trabalho de promoção realizado pela Infektion Records. Até que ponto chegava a ser difícil passar algumas barreiras sem esse “músculo” extra? A Infektion Records protagonizou, em relação aos Venial Sin, uma excelente promoção relativa

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ao nosso EP de estreia Sphere of Morality, o que para nós é motivo de uma enorme satisfação. Conseguimos com este acordo chegar a lados que, sem ele, não seria possível. Obtivemos excelentes críticas a nível nacional, mas sobretudo também vindas de fora. Toda a plataforma da editora, em termos de promoção, foi para nós uma mais-valia, bem como para a Infektion Records, ambos crescendo lado a lado. No que toca às apresentações em público, salientamos que todo esse processo se deveu aos esforços e contactos realizados no seio da banda, pois no acordo discográfico apenas estavam traçados objectivos promocionais e de distribuição. Foi claro, um músculo extra que veio enaltecer este nosso registo. Contaremos sem dúvida, no futuro, caso haja interesse mútuo, perpetuar este elo de ligação entre os Venial Sin e a Infektion Records. Desde já, um enorme agradecimento, a toda a equipa, em especial ao Joel, mentor da editora.

Uma das maiores dificuldades chegava mesmo a ser ultrapassar os preconceitos e manias das cenas mais vincadas e proeminentes do underground português, quer em Lisboa, quer no Porto, é verdade? Às vezes há ideia de que se não fizerem parte de uma dessas cenas não estão no mapa do metal nacional... De facto, podemos constatar, até em anos anteriores à banda, que é uma verdade. Se não marcarmos presença em certos palcos nacionais, independentemente dos benefícios dessas aparições, o público não reconhece a banda. Os Venial Sin nunca tocaram em Lisboa, mas andaram lá perto e por algumas vezes ficámos desgostosos com todo o esforço imprimido, julgando ser em vão. A cena metal aqui em Portugal como é sabido, é muito concentrada no Porto e em Lisboa. Para ter a possibilidade de tocar nos festivais mais conhecidos tens de ser conhecido por alguns promotores ou ter um grande, grande amigo! É muito difícil para uma banda nos primeiros anos porque todo o círculo da cena metal está muito bem estabelecida nestes três ou quatro promotores que literalmente governam os festivais de metal, shows em locais famosos, em suma, toda a realidade do metal parece às vezes estar muito contaminada e viciada! Daí termos

decidido romper com esses preconceitos e “ir à luta”, pelos nossos meios! Sim, é verdade que os fãs nos apoiam nos concertos, dizendo-nos que o nosso som é diferente do mainstream; temos vindo a fazer nós mesmos o nosso próprio caminho, tentando sempre encontrar o melhor para alcançar nossos objetivos como uma banda. Tentamos ser diferentes e únicos no nosso som, talvez um reflexo de já termos tido outros projectos quer no metal, quer fora dele... e também o facto de vivermos no interior do país. Como banda, queremos tocar a nossa música para um público crescente e realmente achamos que aqui em Portugal nós não o temos. Então, para evitar este contratempo estamos definitivamente mais abertos para o estrangeiro. Poderíamos passar toda a vida tentando alcançar algo aqui, embora já sabemos que esse algo só vem depois de se ficar conhecido lá fora. Para os portugueses o que vem de fora é sempre melhor do que o que temos aqui; é uma visão muito estreita do nosso ponto de vista!

Com os elogios que recolheram da

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crítica nacional, e até internacional, estão mais preocupados, ou entusiasmados para quando chegar a altura de compor o trabalho seguinte? Claramente que esse é um ponto assente na nossa ambição. Queremos acima de tudo, crescer de forma consistente e bem alicerçada, pois somente criando temas sem uma pressão adjacente é que estes se podem revelar uma mais-valia no final. Claramente as criticas merecem especial atenção da nossa parte, mesmos as mais más, se forem construtivas, mas não é com base nelas que construiremos um futuro registo. Para se conceber algo com qualidade é necessário manter uma certa distância de olhares críticos que podem contaminar uma boa criação.

E já começaram a compor temas para um próximo trabalho, quem sabe talvez um álbum? Definitivamente, faz parte dos planos da banda gravar um longa-duração e até já existem algumas bases musicais que podem vir a dar o mote para futuros temas. Queremos salientar que nesta fase não estamos nada preocupados com a direcção musical que esta pré-produção pode vir a tomar, pois a roupagem musical subjacente a essas bases é que ditará o conceito

a abordar. De momento estamos focados em absorver o máximo de influências várias e só após o concerto agendado para 3 agosto no Festival NortFest 2013, é que nos dedicaremos à préprodução desse eventual longa-duração. Tudo será feito de forma alicerçada e com a calma devida , onde a experimentação e fusão serão termos a explorar. É bom regressar à sala de ensaio depois de 3 anos de concertos sucessivos. Nada nos trará mais gozo do que poder ver crescer os esboço daquilo que nos próximos anos se poderá tornar um verdadeiro álbum à Venial Sin, como muitos anseiam a julgar pelas criticas! Resta-nos agradecer a quem nos tem apoiado e relembrar que estamos ao dispor de todos os fãs que queiram entrar em contacto, nomeadamente através das nossas plataformas electrónicas. Bem hajam e apoiem sempre em primeiro lugar o que é nosso.

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MB

https://www.facebook.com/TheVenialSin https://myspace.com/thevenialsin



So.MA

Com uma cumplicidade que remonta a experiências passadas em conjunto, nomeadamente nos extintos Madcab, os So.ma mostram o que é músculo sem sequer dobrar a manga da t-shirt, e o que é inteligência sem ter de fazer testes de QI, com uma fusão louvável de punk com post-rock cantado num português desembaraçado e inspirado, que se revelou uma das melhores surpresas do ano passado e, se eles assim desejarem - ou novas frustrações os inflamarem - poderá continuar a surpreender nos próximos tempos.

nível pessoal, profissional e musical. Julgo que, de certa forma, havia um certo “optimismo” no ar que não puxava muito ao Rock... agora estamos mais velhos, rabugentos e prestes a entrar na crise da meia-idade, faz todo o sentido algo mais cru e directo para desenjoar das complicações do dia-adia! Azevedo Silva: Para mim foi tudo o que eles disseram e o Kasparov.

Os So.ma nasceram “com um espírito punk que se encontrava adormecido”. Porque acham que esse espírito esteve adormecido durante o tempo que esteve? Nuno: Por uma série de razões mas sobretudo porque, à medida que fomos crescendo, física e mentalmente, fomos experimentando outras sonoridades menos rebeldes e menos barulhentas, e agora o espírito de fazer algo mais forte veio novamente à tona. Luís C: Acho que também tem muito a ver com as diferentes fases da vida, quando acabámos a nossa anterior banda (Madcab), há uns anos atrás, todos estávamos a começar novos projectos a

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Atrai-vos o oposto de estabilidade, e através da distorção pretendem atrair mais gente para o que descrevem como “caos ordenado”. É mesmo possível encontrar ordem no meio de algum tipo de caos? Nuno: Sim, claro! As músicas têm uma estrutura mas são compostas por riffs mais caóticos no sentido em que tentamos que sejam menos vulgares e despreocupados. Também ao vivo têm uma tendência para serem tocadas de uma forma mais livre. Azevedo Silva: Creio até que era José Saramago que dizia que o caos é uma ordem por decifrar.

No que diz respeito à política nacional também poderíamos traçar um paralelismo com uma situação de caos


que precisa de encontrar alguma ordem. Como vos parece que essa mesma ordem poderia ser atingida? Nuno: Essa pergunta dava pano para mangas. Acima de tudo, acho que o mundo inteiro precisa de mudar de paradigmas. Torna-se cada vez mais óbvio que cada vez funcionamos pior como cidadãos e algo precisa de mudar. O que cada um vai contribuir para essa mudança é uma resposta muito difícil de dar porque, pessoalmente, acho que estamos a funcionar muito na base da acção/ reacção. Se calhar só mesmo o caos é que vai possibilitar uma nova ordem. Azevedo Silva: Não temos saída. Já não há volta a dar. Tomámos como melhores estes modelos económicos e sociais. E se calhar são, não sei. Ninguém quererá o socialismo, se estiver consciente do que isso é. E o resto poderia ser uma utopia bonita que não irá acontecer. Dentro de 30 anos o planeta estará populado por mais 50% de habitantes do que tem actualmente. Portugal estará mais velho, com menos nascimentos e menos população activa. A menos que entendamos que temos de ter uma política de imigração nova, onde não existe o conceito de pessoas ilegais. Somos um país com o destino traçado mas ainda podemos ganhar um qualquer título desportivo, o que nos deixa sempre com alguma esperança. Ao menos isso. Mesmo assim, encaro tudo isto com um certo optimismo e por isso continuo a dar concertos. Luís C: Também há sempre a esperança que um asteróide choque contra a terra e resolva o problema por nós!

Vocês é que acabaram por atingir um (ou mais?) dos vossos objectivos com o lançamento do vosso primeiro EP - Fuga - , um dos mais inspirados lançamentos do ano passado sem dúvida. De que forma ficaram agradados com o resultado final do mesmo? Nuno: Para mim foi um processo muito diferente porque o input que o pessoal dos Blacksheep Estúdios me deu durante o processo de gravação, aliado a uma abordagem um pouco diferente dos riffs e dos sons dos instrumentos que estávamos a tentar atingir, acabou por dar um resultado inesperado. No entanto, acho que o crédito maior vai para os nossos compositores de serviço, Luís Costa e Azevedo Silva, pelos riffs e ideias novas e inspiradas. Luís C: acho que ficámos mais satisfeitos com este trabalho do que com qualquer outro que fizemos anteriormente,

foi muito recompensador. No passado preparámos sempre as gravações muito ao pormenor, quer antes de entrarmos em estúdio, quer durante todo o processo de gravação. Isso tem as suas vantagens mas é bastante mais desgastante, menos divertido e o resultado final é sempre mais “frio” e cerebral. Desta vez não perdemos muito tempo com planeamento e pormenores, foi tudo gravado em 3 dias e acho que isso se traduziu numa maior espontaneidade das músicas.

Num tempo em que já não faz sentido fazer qualquer tipo de saldo através do número de vendas de um cd, de que forma medem o alcance do que têm atingido com o Fuga? Nuno: O meu barómetro sempre foram as opiniões das pessoas mais perto de nós e que consideramos as mais sinceras. Luís C: Honestamente o feedback é muito pequeno se excluirmos a reacção das pessoas nos concertos. Não estamos propriamente a fazer um som da moda nem somos uma banda de gente famosa, por isso a exposição que temos nos media é muito reduzida. Ainda assim, as poucas críticas que tivemos ao EP foram muito positivas, não nos podemos queixar.

Para além da qualidade da composição, destaca-se também a forma clara como todos os elementos jogam no seu todo. Algo que tem a ver decerto com as condições de gravação pelas quais optaram. Onde e como se processou a gravação dos temas incluídos no EP? Nuno: Desta vez optámos por gravar nos Blacksheep Estúdios com o Makoto Yagyu e o Fábio Jevelim. Embora tenha sido um processo de gravação tipo EP - ou seja, já tínhamos as músicas compostas e praticamente prontas -, a ajuda deles foi crucial, nomeadamente ao encorajarem-nos para experimentar guitarras diferentes, efeitos


novos, etc. Isso teve um grande impacto no resultado final. Também queria mencionar o Gil Jerónimo que foi o autor da capa do EP e que fez um trabalho brilhante. E os ninjas Ren & Stimpy, claro. Luís C: Houve um factor muito importante na concretização deste EP que teve uma influência crucial no resultado final: a amizade e admiração entre todos os envolvidos. Gravámos nos Blacksheep porque foi lá que tínhamos gravado o álbum de Madcab e onde ensaiamos também com So.ma, e aquela malta já é quase como família. O Makoto, BB e o Jevelim são uma equipa extraordinária e com quem já partilhámos palcos várias vezes, por isso foi uma honra e privilégio podermos trabalhar novamente com eles. O Gil Jerónimo é outro amigo que conheci nestas andanças musicais há alguns anos e que já tinha feito a capa do meu último EP a solo, foi a nossa primeira escolha para este trabalho e o resultado final é a prova que foi uma excelente aposta!

O vosso método de composição passa um pouco pelo trabalho de uma dupla que consiste no letrista e compositor Azevedo Silva e do vosso baterista Luís Costa. Acaba por ser um método quase à flor da pele não é verdade? Nuno: Acima de tudo, eles funcionam bem juntos porque têm universos musicais muito parecidos e entendem-se de uma maneira extraordinária. Eu tenho sorte de privar com 2 excelentes compositores. Luís C: Não sei quem são esses compositores de quem o Nuno fala, mas também gostava de os conhecer!

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Fora de brincadeiras, toco com o Azevedo há mais de uma década e a química entre nós foi instantânea desde a primeira jam que fizémos, ainda na casa dos meus pais, com uma v-drums e uma guitarra acústica! Acho que complementamos muito bem as ideias um do outro, e foi bom ver que essa química não desapareceu nestes (poucos) anos em que não tocámos juntos. Mas o Nuno também é uma peça fundamental nessa química, já toco com ele há mais tempo até do que com o Azevedo e sempre foi a minha primeira escolha no que toca a baixistas, o estilo dele encaixa perfeitamente com o nosso.

Azevedo Silva também mantém uma carreira a solo que é, no mínimo, bastante diferente do que fazem nos So.ma. Para o compositor essa dispersão acaba por ser uma forma de equilibrar diferentes energias? Azevedo Silva: É um bom contraponto. A energia que esperam de mim é diferente nos dois projectos. Isso dá-me muito espaço para criar e interagir com os diferentes públicos. Acho que assim é mais saudável.


Assim que conseguir alinhar os meus chacras e meditar, talvez tenha de abandonar um desses projectos. Não voltará a fazer sentido seguir com ambos.

Apesar do nome, foi-vos subtraído um elemento, um até que chegaram já a referir que era dos mais animados em palco. Têm conseguido reproduzir o mesmo efeito sónico das vossas malhas a três? (a que tipo de recursos, por exemplo, têm recorrido para esse efeito?) Nuno: O Filipe faz imensa falta, tanto a nível sonoro como visual. Mantemos as mesmas bases mas foi necessário adaptar uma ou duas malhas. O efeito não é o mesmo mas acreditamos que os concertos valem a pena mesmo assim. Até porque existe uma magia qualquer em ver e ouvir um “power trio”. Luís C: O lado positivo é que é só mais uma frustração para descarregarmos na música!

Depois do lançamento, e respectiva revelação daquilo que fazem aos melómanos resistentes do rock, atiraram-se para a estrada. O que têm somado dessa aventura? Nuno: É muito fixe. Se pudesse fazia vida disto. Os concertos são muito porreiros e também o que nos leva a viajar. As viagens, embora cansativas, são sempre divertidas. Luís C: É certamente a melhor parte disto tudo. Graças à banda temos o privilégio de viajar de borla com as pessoas que mais gostamos, visitar fãs e amigos de longa data,

conhecer novas terras, etc. Depois de 5 dias fechados num escritório, sabe a mel. Azevedo Silva: Pegando no que disse o Luís, sou um tipo que durante a semana está confinado a um edifício com escritórios, luzes fluorescentes e PC’s, com os quais trabalho e jogo xadrez. Isso é uma loucura. Partir estrada fora, conhecer pessoas novas, viajar com amigos e, no topo da experiência, conhecer hotéis, é fantástico. Em Évora partilhámos um tema novo, com uma parte vocal que apela à voz de todos e a sala começou mesmo a cantar connosco, sem nunca antes ter ouvido aquela música. Quando um concerto corre bem, é difícil igualar essa sensação.

“A música na gaveta de hoje pode ser o sucesso de amanhã”, palavras de Fernando Matias recordadas por vós, do tempo de algumas gravações. Já viram isso acontecer com alguma música dos So.ma? Alguma que destaquem em especial? Nuno: Um bom exemplo disso seria a “Colosso” que já existe há uns bons anos e sobreviveu sem grandes mutações. Não sei se poderá ser considerada um sucesso mas o facto de algo que foi idealizado há tanto tempo ainda fazer sentido hoje já é, para mim, um grande feito. Luís C: Realmente, a “Colosso” e a “Fim” são o exemplo perfeito disso. Chegámos a tocá-las ao vivo nos últimos concertos de Madcab mas ficaram sempre em standby... até agora! A única coisa que mudámos foi simplificar algumas partes e tocar ao dobro da velocidade, claro.

E ao que parece estão também já a somar novas canções. As suficientes para um primeiro álbum? Já agora para quando poderemos esperar um novo registo dos So.ma? Nuno: O registo ainda não foi discutido e por essa razão creio ainda estar longe de acontecer. Mas os rapazes estão a produzir malha atrás de malha, por isso quem sabe? Luís C: Ainda é muito cedo para falarmos em datas, mas estamos a trabalhar em material novo, sim. Estamos agora prestes a mudarmonos para o nosso próprio espaço de ensaios e isso talvez acelere o processo, mas é demasiado cedo para se fazerem previsões. A única certeza é que vamos testar ao vivo estes temas novos à medida que forem ficando “apresentáveis”, o que é sempre uma excelente oportunidade para nos verem falhar redondamente - só por isso já vale a pena ir aos concertos!

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MB

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S SH HIT ITM MO OU UT TH H

qualquer O crescimento chega a itmouth a banda. No caso dos Sh tecer quase à maturidade está a acon punk hardcore velocidade das músicas . Já não lhes old school que debitam vai ficar, interessa quem cá não ama a arder apenas quem tem a ch dentro do peito. nos um pouco O vocalista João revelajovens músicos mais sobre a banda de se nunca que partem louça como isa na vida! tivessem feito outra co 22

Começaram há relativamente pouco tempo, mas já chegaram às orelhas de bastante gente. Começaram mesmo com a intenção de partir para a estrada e não mais parar? Sim. O Carlos (baterista) e Alex (baixista) já tinham/têm uma banda (Destruction Eve), eu não tinha nenhuma e sempre quis ter uma banda “a sério”. A mesma coisa com o Pedro (guitarrista) que sempre quis ter uma banda. Como o hardcore punk original é um estilo do


qual todos nós gostamos e como agora a maior parte do pessoal - muitos dos que começaram a ir a concertos recentemente -, têm uma ideia muita errada do que é hardcore, e com medo que o hardcore original entrasse em extinção, decidímos formar esta banda.

Nesses concertos que têm dado, já disseram muita coisa a muita gente, afinal são “4 putos que achavam que precisavam de dizer muita merda a certas pessoas mas decidiram pôr instrumentos por trás porque ficava mais bonito e dá para dançar.” Já cumpriram esse objectivo? Sim, isso já foi tudo dito e acho que maior parte das pessoas perceberam a mensagem.

Se algumas dessas pessoas estivessem do lado de lá destas páginas e ainda não tivessem ouvido/lido a vossa mensagem, o que aproveitavam para lhes dizer agora? Sinceramente, já nos preocupámos mais com esse pessoal. Agora não queremos muito saber, porque sabemos que daqui a um ano já bazaram da “cena”.

Quais apontariam como sendo as bandas de referência que vos inspiraram a aparecer com esta forma crua e directa de fazer punk hardcore? Bandas internacionais é, sem dúvida, Minor Threat, Black Flag, OFF, Circle Jerks, entre outras ... Bandas nacionais é, Skrotes, Mr. Miyagi, Killing Frost, e mais algumas; estas são as principais.

As vossas músicas raramente passam a fasquia de 1:30 minutos (cada). A ideia é dizer as coisas de forma directa, sem rodeiros e para que se ouça bem e à primeira? Isso é um dos motivos, mas quando fazemos músicas costuma ser como o seguimentos : versão-refrão-verso-refrão. Algumas têm bridge. Só depois de fazermos isso é que vemos quanto tempo tem a música, nunca acrescentamos música só para ter mais duração, acho que isso é já estares a forçar uma coisa e depois pode não sair tão bem.

Quer em videos que partilham com quem vos quer ouvir, quer nos cartazes de concertos ou na capa do disco The Revenge Of Hot Nuns, recorrem a uma estética visual bastante interessante (que consiste em freiras e a forma com estas se entregam a formas religiosamente pouco ortodoxas de prazer). Alguma intenção por detrás dessa imagética, para além de atrair a atenção dos melómanos mais rebarbados (risos)? Hehe, para além de chamar bastante a atenção àqueles que “julgam o livro pela capa”, e também para além da freira ser muito “elegante”, é uma controvérsia bastante grande, portanto acho que é uma coisa que pode “agradar á vista” e ser chocante ao mesmo tempo.

Bem pensado! Agora, fazer algo que dê para “dançar” é um objectivo que já há muito devem ter riscado como um dos

Vocês ainda são novos, mas algumas das bandas que vos serviram como referências não só já passaram da fasquia da idade sénior, como ainda continuam aí a rockar - Off ou Bad Brains, por exemplo. Imaginam-se a fazer este tipo de som por muitos mais anos? Sim, o futuro nunca é previsivel, mas estamos todos cheios de pica e acredito que essa “pica” ainda dure bastante tempo.

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objectivos cumpridos, tal a animosidade do público em alguns dos vossos concertos. Isso motiva-vos a levar a banda para a etapa seguinte, seja ela uma nova mensagem ou um novo concerto? Sim, ultimamente temos ficado mesmo contentes porque todos os concertos que temos dado no Porto têm sido alta destruição e também ficamos muito contentes porque em todas as datas da tour os concertos correram mesmo muito bem, sem excepções, e não sabíamos bem o que esperar visto que era a primeira vez

que estávamos a tocar naquelas cidades.

Há mesmo situações em concertos vossos em que há quem apele a que toquem “outra vez tudo!”, tal a velocidade a que as músicas e o concerto passa. Isso deve ser bom sinal, sinal que o pessoal estava a curtir e soube a pouco, certo? Sim, pedem sempre para tocar mais e em alguns casos para tocar tudo outra vez, mas só repetimos a nossa set inteira no nosso 1º concerto. Nos outros quando pedem, só costumamos tocar mais 2 músicas. Em Lisboa, foi quase a set inteira outra vez, mas não chegou a esse ponto, hehe.

Talvez uma boa solução para isso seja criar mais música nova; já têm mais algum lançamento planeado? Sim, entre Novembro e Dezembro vamos entrar em estúdio para gravar 4 músicas para um split com uma banda de hardcore punk francesa, a sair em Janeiro/ Fevereiro do próximo ano.

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MB

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Souq

Felizmente são cada vez mais os músicos a assumir a audácia e a desenlear-se das limitações que o tentador sucesso musical exige para que seja alcançado. Dentro deste corajoso lote, os Souq fazem tremer a fórmula do costume e apresentam a sua própria, dando os devidos créditos, mas não abrindo mão do seu direito a fazer rock de proporções sonicamente ambiciosas.

Para o nome da banda, Souq, foram-se inspirar nos mercados da tradição árabe, que em tempos antigos se situavam nos subúrbios, mas que eram o espaço onde tudo o que era de interesse a nível cultural acontecia. Sentem-se um pouco assim vocês também? Sim, essa metáfora aplica-se. Souq começou com uma única ideia bem definida, que era a de fazer a melhor música possível sem olhar ao que estivesse à volta. Nunca perdemos tempo a pensar onde nos iríamos integrar ou se existia um público-alvo, e na verdade é assim que todos os músicos começam, no quarto ou na garagem a fazer o melhor que sabem para gozo pessoal. E foi com essa atitude que mantivemos a sanidade mental durante o longo processo de construção deste edifício, trabalhando arduamente em cada pormenor para que o resultado final nos desse

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total satisfação, mas ao mesmo tempo com a descontração inerente ao facto de não estarmos a trabalhar para um mercado que iria exigir algo de nós. Ora, numa época em que todos os dias ouvimos dizer que os mercados exigem isto e aquilo ao mundo, porque não criar o nosso próprio mercado nos subúrbios e esperar que o mundo venha ao nosso encontro?

Podemos então partir do princípio que nem tudo o que se passa no Porto ou em Lisboa está na vanguarda realmente, e por vezes as coisas mais interessantes estão-se a passar mesmo debaixo do nariz dos mais distraídos? A metáfora do souq árabe era puramente musical e não geográfica, mas é claro que essa componente não é de desprezar. É natural que aquilo que se passa no Porto e em Lisboa seja alvo de maior atenção do que aquilo que se passa


nas cidades mais pequenas, da mesma forma que é natural que aquilo que se passa em Londres ou Los Angeles tenha maior relevo do que o que se passa em Lisboa e Porto. Não podemos fugir dessa realidade, mas estamos na era da internet e essas assimetrias estão a esbater-se rapidamente. Um sueco ou um tailandês que compram a nossa música online não fazem a mínima ideia se somos de Lisboa, Aveiro ou Madrid. Tal como o português que compra um disco dos Black Keys não quer saber se eles são de New York ou Akron, Ohio. Dito isto, há coisas a acontecer em Aveiro que muita gente nem sonha, tanto ao nível das artes (música de todos os géneros, teatro, vídeo, design, etc) como ao nível de empresas emergentes na área das artes e tecnologias da informação. Muita gente talentosa a trabalhar em conjunto, uns não param de ganhar prémios internacionais e outros para lá caminham. Está a ser uma época muito excitante na região e quem está fora nem sabe o que anda a perder.

Vocês próprios são exemplo de uma combinação pouco usual e que na prática resulta de uma forma impressionante. Quem diria que adicionar um trombone a uma banda rock - para além do, também intrumento de sopro, saxofone resultaria em algo tão forte? Abraçaram como missão provar que tal era possível, ou esta sonoridade é mesmo apenas uma feliz coincidência da fusão entre as várias coisas que gostam de fazer e ouvir? O trombone não é uma total novidade no rock, basta lembrar o trabalho do Bruce Fowler com o Frank Zappa ou o Captain Beefheart, mas é verdade que é muito pouco usual. Já o saxofone está muito presente em toda a história do rock, mas raramente da forma como o abordamos. Os sopros foram uma ideia presente desde o primeiro

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dia pois pretendíamos ter mais opções sonoras e harmónicas do que as que estão à disposição do tradicional quarteto de rock. Não só permite “brincar” com harmonizações e contraponto de uma forma que não seria tão fácil apenas com uma guitarra, como permite diferentes soluções de música para música. Concretamente, com instrumentos graves como o trombone baixo e o saxofone barítono, é possível tocar riffs a dobrar a guitarra e o baixo, tocar linhas em contraponto, ter o trombone a fazer a linha de baixo e libertar este para um papel de texturas, ter os dois sopros a tocar power chords e a guitarra a fazer contraponto, ligar os sopros a processadores de efeitos e criar ambientes e ruídos únicos... as opções nunca mais acabam, e isso ajuda a que tanto o disco como o concerto ganhem uma dinâmica diferente do habitual e com vários pontos de interesse. Respondendo concretamente à pergunta, temos sempre presente a intenção de que tudo soe coeso e forte, mesmo nos momentos de contraponto mais acentuado. Já quando tocamos frases em uníssono gostamos de pensar que o que se ouve é uma “guitarra gigante”!

O álbum At La Brava está mesmo, mesmo aí a sair. O que é que os melómanos mais curiosos poderão esperar encontrar nas músicas do álbum?

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Antes de mais, At La Brava é um disco de rock. Pode abraçar uma série de estéticas, abordagens e referências, mas no fim tudo desagua numa sonoridade rock. É um disco conceptual à moda antiga, com uma narrativa que liga os temas entre si, feito para o velho melómano que se senta com os auscultadores a ouvir o disco de uma ponta à outra e atento a todos os pormenores e texturas. Ao mesmo tempo, cada música tem uma personalidade e vive por si, por isso tem energia suficiente para provocar headbanging ou ancas a abanar quando aparece no shuffle do leitor de mp3 ou quando o DJ decide que a pista de dança precisa dos Souq, mas também tem momentos suficientemente introspectivos para servir de banda sonora a um fim de noite com o vinho certo. Acima de tudo esperamos que quem ouvir At La Brava tenha vontade de ver Souq ao vivo, que é onde a música ganha a sua verdadeira dimensão.

Todos vocês já estiveram (alguns ainda estão) ligados a bandas de renome, associadas aos mais distintos géneros musicais a dar cartas pelo país fora. Todos vocês se juntarem e acabar a convergir para esta coisa chamada rock, acham que é de alguma forma um regresso a um ponto comum que vos chamava à distância? Nós nunca regressámos ao rock porque na verdade nunca o abandonámos. Quando muito, ao longo dos anos o rock foi-nos “emprestando” a outros géneros aos quais fomos roubando ideias, abordagens e conceitos. É enriquecedor tocar a música de pessoas que respiram outras linguagens musicais e cada um de nós já percorreu muitos quilómetros. Depois, quando o rock decidiu reunir-nos aos seis, o que saiu foi isto que se vê e ouve em At La Brava. Talvez a esquizofrenia sónica dos Souq não seja apenas um acaso.

Apesar de a banda só agora começar a ser mais falada com o videoclip para “Desert Snake Catcher” e o lançamento do At La Brava, a banda já por aí andava, pelo menos desde 2009 não é verdade? O que foram fazendo entretanto, enquanto

a concretização deste álbum provavelmente nem vos passava pela cabeça? Na verdade começámos a gravar o álbum no final de 2009, com poucos meses de existência e apenas dois concertos dados, não imaginando a aventura em que nos estávamos a meter. Tínhamos os temas estruturados e, por qualquer razão inexplicável, achámos que isso era o suficiente e que a qualidade individual iria fazer o resto. Como é evidente, estávamos enganados e uma banda de rock não se fabrica no laboratório. Isso não é novidade, mas fomos lembrados disso da forma mais dura. Algo não soava bem e não percebíamos que era o facto de sermos 6 pessoas a tentar criar uma energia conjunta e uma identidade. O que aconteceu foi que, quase dois anos depois, decidimos gravar o disco de novo, apenas aproveitando das primeiras sessões alguns overdubs interessantes. A boa notícia é que valeu a pena e a “segunda versão” revela uma banda a sério que já sabe de onde vem e para onde vai. Por isso é que, apesar de 4 anos parecer muito tempo, para nós esses 4 anos passaram a correr.

Podemos arriscar dizer que os Souq são uma banda de palco, e que têm a intenção de trilhar estrada e cruzar-se com mulheres perigosas debaixo de fogo cruzado? Os Souq são, definitivamente uma banda de palco e é ao vivo que a música ganha dimensão e “respira” melhor, ganhando inclusivamente momentos de improvisação que não têm tanta razão de ser em disco. Como é evidente, queremos chegar ao maior número de pessoas e isso inclui mulheres perigosas, mas esperamos


que deixem as armas em casa. O mesmo se aplica aos homens potencialmente perigosos que as acompanharem. Queremos ter uma carreira longa.

De alguma forma esta é um bocado a ideia passada pelo vosso videoclip de estreia, para “Desert snake catcher”. Como se processaram os diferentes passos, desde a concepção da ideia até à concretização do mesmo para acabarem com este produto audiovisual com capacidade para fazer corar muita banda já estabelecida, inclusivamente a nível internacional? Antes de mais há que agradecer os elogios e reencaminhar para as pessoas certas, que são as que compõem a fabulosa equipa que se juntou à nossa volta. Tudo começou no Ricardo Miranda e no Paulo Moreira, respectivamente designer e fotógrafo, que a partir do conceito idealizado pelo Bruno Tavares (vocalista e letrista), criaram de forma brilhante todo o universo visual de La Brava. Depois foi deixar a genial dupla de realizadores Nuno Barbosa e João Guimarães transpor para o vídeo toda essa imagética, que era tarefa muito difícil mas que foi muito

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bem conseguida. E não podemos esquecer as óptimas performances do Ricardo Beja, da Nastya Zhyltsova e do Sr. Avelino Braga, que além de nos ceder o seu espaço nocturno para as filmagens ainda abrilhantou mais o vídeo com o seu carisma. “Desert snake catcher” abre o disco, é o primeiro vídeo e dá o mote para o que aí vem.

Música nova, um punhado de bocas ligadas à imprensa especializada aí atentas à banda... O que se avizinha por aí a caminho, no futuro, segundo os Souq? Trabalho duro, garantidamente. Vamos para a estrada tocar o máximo possível em todos os lugares onde nos quiserem ouvir, vamos promover o At La Brava e, simultaneamente, continuar a trabalhar no 2º álbum, para o qual já há conceito e alguma música. Souq é como um camião cheio de carga: barulhento; demorou a arrancar, mas agora vai ser difícil travar.

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MB

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As linhas com_ que se cosem a [“Apanha o avião”, dos Deserto]

MALHA

Quando Paços Coelho declarou o ano passado que a melhor solução para alguns portugueses desempregados seria a emigração, e que os portugueses não deveriam ser piegas (principalmente em relação a esta atitude por parte do desconcertante primeiro ministro) muitos ficaram chocados e outros acabaram por se render à sugestão. Contudo muito poucos devem ter considerado fazer uma música sobre o assunto. Os Deserto - que incluem na sua formação antigos membros dos ExVotos - acabaram por o fazer, e fizeram-no muito bem, na forma de “Apanha o avião“. Mas desengane-se quem pense que esta música é apenas uma crítica, ou uma malha desinteressante; sarcasmo acutilante e riffs com um groove mesmo contagiante justificam a nossa escolha. Para além da actualidade do tema, claro.

Como os membros da banda referem, “este tema destaca-se pela qualidade da letra que retracta muito bem a realidade [social e] política actual do nosso país, daí que talvez tenha havido logo uma empatia com a música” por parte de quem a ouviu. Contudo para os Deserto, quando comparado com os outros temas do recentemente lançado primeiro EP (homónimo) da banda, a malha em questão pode quase ser interpretada como “apenas um tema de música rock com uma letra bastante inteligente.” Tendo em conta o cariz reaccionário, que tanto lembra o espírito punk, e que a sonoridade particular da banda vai numa direcção diferente, bebendo mais a “Led Zeppelin, AC/DC, Aerosmith, e hard rock em geral” em vez dos suspeitos do costume da música de reacção e revolta, quase que poderíamos descrever este tema como sendo “punk noise 2013”, como eles ajudam a definir.

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Inveções de géneros - se por aí quisermos ir - acabam por ser sempre sinónimo de fusão e creatividade, algo que os membros da banda esclarecem de forma muito tranquila, referindo que “antes de músicos somos pessoas. É daí que vem a inspiração inicial - do que sentimos dentro de nós - e ao traduzir esse “click” com a forma de arte que nos apaixona e nos interliga com o mundo, podemos sentir o baixo corrido e pujante do punk, a bateria que nos leva da fusão do verso para a intenção do pontapé do rock do refrão, da guitarra que faz a parede disso tudo, a força da palavra que a letra joga p´ra frente! Podes-te sentir a viajar desde os acordes do Pat Metheny, às viagens dos King Crimson, à rudeza e rasgar dos Sex Pistols e acutilância dos Dead Kennedys!”

Mesmo com toda esta mistura numa só malha de forma bem condensada, a banda não deixa de afirmar que “Apanha o avião” é apenas uma entre as suas canções. Mais do que modéstia, é uma noção de pragmatismo a nível de enquadramento sonoro da banda. A mesma que os faz afirmar que mesmo nos concertos “o público canta o refrão, mas não existe essa inflamação do ambiente” que caracteriza alguns espectáculos rock. “O público aplaude e reage de forma natural. Os Deserto não são uma banda de intervenção política, apenas


este tema possui uma letra um pouco diferente dos outros temas que tocamos nos espectáculos.” Ainda assim “Apanha o avião” é um tema que teve um papel fundamental para a construção dos Deserto, uma vez que “a base do tema vinha de longa data com o pessoal, e serviu de motor de arranque para esta nova aventura”. Assim, tema e banda quase que tiveram uma génese paralela, onde “a temática veio dar o remate final para algo que já por si respirava tensão, vontade de dizer e fazer algo, e foi assim que fomos juntando todas as peças para o tema, com a situação económica, social e politica que nos afecta a todos.” Nesse sentido, os Deserto admitem que a malha em questão “tem um significado muito especial. É para todos nós na banda um ponto de viragem, o que a remete para uma das músicas que havemos de tocar por muitos anos! Nós somos o tipo de banda rock que trabalha muito em conjunto; vivemos muito dos ensaios, principalmente porque adoramos tocar música juntos, daí nos aturarmos há tantos anos - apesar de Deserto ser um projecto recente. Quando fizémos os primeiros ensaios com o Miguel (voz), esta música foi unânime no seu arranque, e foi toda reinventada num só ensaio. Sentímos todos logo no primeiro instante o seu potencial com o que estávamos a tocar. Mesmo a letra com o Miguel, que foi de encontro à situação em que se encontrava e foi instantânea!”

O vocalista Miguel, encarregue das palavras que a banda emite, é o responsável por este tiro certeiro. “Realmente foi das primeiras letras que o Miguel escreveu, e saiu-se muito bem, com um refrão excelente e muito potente baseado nas declarações do primeiro ministro”, esclarecem. No entanto não se pense que a motivação verbal sugiu antes da puramente musical, pois a banda é bastante elucidativa em explicar que “a música aproveitou a situação sarcástica do país e as declarações do primeiro ministro”, que viriam a acontecer apenas uns 10 anos depois dos primeiros acordes. “O instrumental foi construído em 2002. Era uma brincadeira que o Basílio, o Jo e Mj fizeram logo após terem saído dos Ex-Votos. Na altura o tema não tinha letra, nem linha de voz.” Aprofundando um pouco mais, contam que “quando surgiu a ideia de formar os Deserto o Basilio apareceu com algumas gravações dessa altura, que logo serviram de temas base para construir a partir daí. Como era preciso um vocalista, falámos com o Miguel, já nosso conhecido há mais de 15 anos”, que acabou por escrever os versos sarcásticos e intensos de “Apanha o avião”.

À questão complicada de se viram alguém tomar os passos que Paços aconselhou, os Deserto respondem afirmativamente: “Sim, conhecemos algumas. O jogo da emigração voltou ao que foi nos anos 70 e inícios dos 80, a geração dos nossos pais que se via obrigada sair do país por uma questão de sobrevivência. Nos últimos 20 anos a nossa geração via a emigração como opção e não como uma saída; víamos como algo que poderíamos fazer de diferente ou melhor. Agora torna-se uma das principais saídas para uma vida condigna.” Mas insistem em referir que antes de uma missiva pessoal, vêm este contexto como algo que afecta a todos e ao qual não dá para ficar indiferente: “Basta estar atento aos media para ver casos de pessoas, muitas vezes doutoradas, a sair do país para procurar uma melhor oportunidade de trabalho e de vida. Como também basta estar atento aos media para ver manifestações e protestos contra o convite do sr. primeiro ministro”.

Ao nível da reacção do público e fãs em geral à música, hoje em dia é inevitável passar pela questão das redes sociais, e a esse respeito a banda só tem a agradecer os comentários e a boa receptividade em geral, referindo que “basta aceder as redes sociais para se ver muitos ‘gostos’ e partilhas desta música.” Para terminar, e um pouco em jeito de celebração das coisas boas que este pontapé de saída conseguiu para a banda, os Deserto concedem que “principalmente por ser um tema que rodou muito na net, e (mais uma vez) proporcionado pela situação em que se encontra o nosso país, quem já conhece a música e percebe o que queremos dizer, percebe que não está só e que através da música podemos nos fazer ouvir e deitar cá para fora o que nos vai na alma! E nos concertos que demos foi bem sentida essa reação, não só com o “Apanha o Avião”, mas com outras das [nossas] músicas que têm o mesmo cariz social!” Dito isto, ainda bem que (como a banda já nos revelou) o primeiro álbum vem já a caminho.

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MB

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Raw Decimating Brutality - Obra ó diabo!!! (2011)

produção está exemplar e é caso para dizer que, ao lado de bandas como Grog ou Simbiose, estão entre as bandas dedicadas às formas extremas de explorar a selvajaria sónica do punk que fará todo o sentido mostrar não só cá dentro, mas também além fronteiras. Não que eles as pareçam ter, verdade seja dita.

Spectral Flood - Diving into a blind world (2013)

É poderoso o crust / grindcore deste grupo expelido pela aparente aridez da Beira Interior! Aparente, pois a verdade é que a zona é bastante frutífera no que à música de peso diz respeito, e os RDB são um dos seus exemplos mais extremos e eficazes. Com este Obra ó diabo!!! a banda não só defende bem a sua brutal reputação, como acaba por criar malhas que em alguns momentos convidam mesmo ao slam-dance, tal o groove conferido por alguns momentos mais balançados. Há compassos demonícos e viciantes em “O muro está mal pintado” que dão lugar a um groove frenético; há pormenores geniais de humor através da simulação de sons a condizer em “Limpei o cu a um saco de cimento”; riffs projectados como cocktails molotov à boa velha maneira dos Doom em “Andaime infernal” que acabam numa mistura furiosamente rápida e visceral; algo de Morbid Angel em “Chapar massa à talocha”; ou até mesmo uma voz que quase lembra os sons emitidos pelo personagem de filmes sci-fi Predador, na última “Estrume à bruta”. A par com composições que nos agarram pelo pescoço e nos penduram com vista a uma vertiginosa queda do andaime, a

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Para começar, e resumindo um pouco a opinião formada sobre esta meia dúzia de músicas, há nos Spectral Flood uma vocação inata para as melodias vocais que mais viciantemente encaixam em instrumentais já de si bastante pujantes. Acaba por ser difícil apontar referências à banda de forma realmente clara, mas se quizéssemos fazer a possível equivalência dentro do que se passa dentro de fronteiras, poderíamos dizer que os Spectral Flood serão possívelmente o improvável ponto de encontro entre a sonoridade dos portugueses Ashes (é ouvir “Rise” e escutar alguns dos pormenores melódicos) e a dos More Than a Thousand; nomes como A Perfect Circle ou Alter Bridge vêemnos à mente nos momentos mais rock (é ouvir o verso de “Fall from grace”, por exemplo), algo de pós-hardcore impulsionado por melodias imediatas também paira sobre a receita destes cinco reguenses, lembrando-nos também de algo como Bring Me The Horizon. A entrada logo a rasgar de “Dead and gone” quando a voz e o instrumental irrompem ao mesmo tempo, é uma das mais revigorantes lufadas de ar

fresco no que se tem ouvido vindo do nosso underground nos últimos dias, principalmente no que ao rock alternativo/ groove metal diz respeito; mesmo o momento em que se ouve os teclados a dar uma sonoridade mais épica acaba por vincar este como um dos melhores momentos do registo de estreia da banda. “Inside myself” chega-nos aos ouvidos quase como a concretização de um desafio. Se a melodia soa familiar, é porque provavelmente o é; qual músico ainda não se sentiu tentado em pegar no jingle das carrinhas da Family Frost ou numa melodia daqueles toques de relógio intemporais que toda a gente conhece mas ninguém sabe de onde vem, e adaptá-la numa música? A verdade é que a melodia inicial soa mesmo a uma dessas melodias, mas a banda consegue adaptar muito bem e até dar uma ambiência mais de passagem/ não passagem do tempo dentro de nós mesmos - bastante adequado até. Notam-se alguns pormenores a nível técnico que com o tempo pderão ser melhor limados, mas o talento para as composições dentro do enquadramento em que a banda da Régua se enquadra está lá. É deixá-los evoluir e ver como nos surpreenderão no futuro!

No Tribe - Deserta (2012)

Deserta está longe de ser o primeiro trabalho quer dos músicos que integram os No Tribe (o baixista David Pais, por exemplo, divide funções como vocalista dos Ashes..), quer da banda. Só por isso e por sabermos as capacidades destes músicos, as espectativas já estão ligeiramente acima do que esperar de uma


banda que não tenha uma máquina promocional por detrás. Partindo deste cenário é com agrado que nos apercebemos que este EP está à altura das espectativas nele colocadas com os No Tribe a não deixar os seus créditos por mãos alheias. Com o stoner rock/metal erguido bem alto, os No Tribe não se censuram a polvilhar as suas composições com elementos externos a esse mesmo género, com situações onde há lugar para o post-hardcore, nos ecoantes e sedutores ginchos da guitarra (“Leap of fate”), melodias vocais que evocam algo de áridamente mediterrânico adequado ao conceito de Deserta (“Propaganda”); o compasso viciantemente shoegaze em speeds à Refused em “Sleep Deprivation”, que conta com João Campos dos Rejects United... torna-se uma tarefa algo inútil estar a esmifrar todas as influências, que poderão ir de Sevendust a Electric Wizard, quando na verdade estamos apenas a deleitar-nos ao som da força destas músicas, que mais cedo ou mais tarde acabam por ter apontamentos melódicos de muito bom gosto a rematar com harmonias entre o já referido multi instrumentista David Pais e o vocalista Isi - o celebrado tema “Home” é mesmo o exemplo maior deste mesmo jogo de vozes com o seu viciante refrão. Ainda assim o maior trunfo destes lisboetas é a forma como sabem dosear bem a utilização dessa mesma veia melódica ao longo de Deserta, não dando demais, ficando sempre com mais um trunfo na manga, que só nos entregam ao som de mais uma, e mais outra escuta - uma após outra, vezes sem conta. Quando damos por ela, a desidratação a que nos tinham exposto resulta num mergulho profundo por este EP adentro e do qual é difícil voltar à superfície.

de estreia que não há idade para começar a espancar ouvidos com qualidade técnica e saber (um saber que neste caso até nos surpreende). Com um registo que se centra na sonoridade crossover - entre um thrash metal a puxar para o death metal de contornos melódicos e algo da nova geração de metalcore -, os jovens músicos apresentam-nos malhas como “Two steps above the crowd” onde um refrão viciante e um solo bem thrashado ombreiam numa composição que lembra Chimaira, mas também os Trivium dos primeiros tempos. Estes últimos acabam mesmo por ser o principal nome a vir-nos à cabeça quando ouvimos a fusão entre os riffs e os jogos de vozes contidos nestas cinco faixas. No entanto há bastante mais na sua fórmula, quer através de vozes à black metal, quer através de um solo de twin guitars à Iron Maiden na faixa que dá título ao EP, “Until our breath is over”, ou até mesmo com a originalidade do riff principal de “Broken silence”. Dado que estamos a falar de músicos com bastante tempo pela sua frente, quase que nos sentimos tentados a imaginar que com uns bons anos e experiência em cima, os Smashed Head não precisarão de muito mais para encontrar um som próprio, que venha a surpreender muitos melómanos de peso. Para já, é não ter receio e pegar neste EP e ouvir, e ouvir bem, pois tal como é cantado no penúltimo tema de Until Our Breath is Over, “You’ve got to learn to be afraid of nothing”.

The Fuzz Drivers - The Fuzz Drivers (2013)

Smashed Head - Until our Breath is over (2012)

verdadeiro estigma. Após todo o glam, revolta e alienação que caracterizaram as 3 décadas que nos precedem, fusões como a do rock com o blues não só deixaram de fazer sentido, como eram também vistas com um certo desprezo. Isto até a emancipação do stoner rock ter mudado as regras do jogo nos últimos tempos. É neste contexto que o riff de blues que já nos idos de 50/60 ganhou nova vida com a electricidade e assim progrediu, hoje renasce novamente das cinzas com muito mais nervo, e acompanhado por secções rítmicas do mais enérgico que há e vozes poderosas que entoam do que mais legítimo há nesta vida. Onde encaixam os The Fuzz Drivers em tudo isto? É simples: a banda lisboeta é provavelmente a melhor banda nacional a encarnar tudo o que referimos nas linhas anteriores. Ouça-se a progressão em estilo de balada à Led Zeppelin em “Carved time”, a emissão desenfreada de energia à The Who em “Eats me up”, tudo isto com a vantagem da distância do tempo entre esta nova geração e os clássicos, o que faz com que não se censurem a um dinamismo que permite a presença de momentos que, sem largar o contexto atrás referido, não hesita em dar um passo ao lado, como no caso da groovy “Mama told you” ou da contagiante “The poet and the thief”. Todas as músicas poderiam aqui ser referidas, mas indo directos ao assunto, basta abreviar que a cereja no topo do bolo são as melodias (e leia-se aqui também, certamente, melodias de voz!), e quer em “Discordia song”, quer em “Into the sun” (que inclui um soberbo e envolvente solo de guitarra) temos já o suficiente para afirmar que, dando a devida oportunidade aos The Fuzz Drivers(e continuando eles iluminados pela boa inspiração), temos aqui banda para surpreender, dar e vender nos tempos que se seguem!

Eu E Os Meus Onanismos - Draga não! (2012)

Os Smashed Head são ainda bastante novos, mas provam com este EP

Por vezes é preciso que certas modas surjam para que determinados pormenores sejam verdadeiramente valorizados e reconhecidos pela mais ligeira das maiorias. No que diz respeito à música rock isso sempre foi um

Se não fosse o sarcasmo e a ironia onde estávamos hoje no mundo da música? Muitas das barreiras do passado postas abaixo e que permitiram explorar novos caminhos na música começaram como piadas; simples exercícios de diversão que acabaram por cair no goto de uns quantos que ficaram deslumbrados e de outros tantos que acharam que aquilo merecia ser divulgado e

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de outros tantos que acharam que aquilo merecia ser divulgado e elevado a (mais um) exemplo a seguir. Neste sentido, arriscávamos a dizer que os Eu e os Meus Onanismos estão entre o mais agreste e maquinal do grind e a inspiração sarcástica e alarve dos Blood Brothers. Para além da produção do disco, ao nível do estatuo que teima em não sair da eventual cave a que provavelmente gostam de chamar ‘lar doce lar’, o outro factor que acabará irritar alguns críticos e publicações afins é o facto de uma boa percentagem (para não dizer a quase totalidade) dos temas tem por letra

(ou o que quer que se pareça mais com isso) apenas uma palavra, que parece ser “O-lá”. Reunir 25 músicas em 33 minutos não é propriamente novidade dentro do grind, mas usar beats que quase soam mais a groove electro de uma pista de carrinhos de choque, didgeridoo (“sonic terapy”, por exemplo) e abrir uma música com um ritmo propositadamente fora de tempo e todo tosco mesmo a meter nojo é, de facto, hilariante e um grande “fuck you” a muitas das coisas que minam a cena underground. Destaques para “Apoptose”, o tal tema de abertura com a abertura em aberto, “Princesa nua” que para além de ser das poucas com letraletra puxa por algo de doom para dentro do pote de influências, e para “Podolatria” como uma música com um riff que lembra algo de black metal ‘in your face’ a chamar bastante à atenção. Boa disposição e ideias qb a confrontar os clichées, de costas viradas para as regras do que se pode ou não fazer, arriscaríamos a

Identificas-te com a MöndoBrutal?

dizer que estes músicos merecem ser atirados para o saco (tal qual um cheio gatos à bulha) onde se tenta reunir toda a selvajaria com algo de inovador e raivosamente perigoso no que ao nosso panorama underground diz respeito. Tenham medo, porque se eles continuarem a desafiar limites nesta direcção podem muito bem chegar ao ponto de conseguir provocar demência no ouvinte logo à primeira audição!

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MB

A tua banda gravou 1a demo/cd/ep?

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Videoclube h9ISA

http://www.youtube.com/watch?v=v-ipWI

THE YEAR - “Suck My Teeth”

http://www.youtube.com/watch?v=HrpDDbLnMuo

GHOSTS OF PORT ROYALOT - “50.000 Dead Starfish”

” MIKE GHOST - “Paper Bones

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(clica e vê)

WOLF LIPS - “Hardcore”

http://www.youtube.com/watch?v=Peui2lzr3ek

z8njeb2Wd4

http://www.youtube.com/watch?v=Q


YouTube: http://www.youtube.com/user/hcnacionalpt Facebook: http://www.facebook.com/hardcorenacional Myspace: http://new.myspace.com/hardcorept E-mail: hc_nacional_pt@live.com.pt

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