Conto grandes ideias

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A Bruxa Grandes Ideias Há milhares e milhares de anos atrás, numa pequena e tristonha aldeia vivia uma bruxa muito sábia que se chamava Grandes Ideias. A pequena aldeia ficava no topo de uma árvore que a bruxa Grandes Ideias construiu à milhares de eras atrás, para salvar o seu povo. Os mais velhos contam aos mais pequenos que há muitos, muitos, muitos anos atrás, havia um monstro agigantado muito feio, de pele enrugada, com as unhas e com o cabelo compridos que atormentava as criançinhas que se aproximavam dos seus aposentos. O monstro vivia no cimo de um monte no meio da floresta. Ele passava as tardes em frente à lareira a olhar-se a um espelho prateado, lamentando o seu aspecto horrendo. Os mais vividos contam, que as crianças aventureiras fugiam da aldeia e vagarosamente se infiltravam no meio das árvores farfalhudas com a esperança de espreitarem pela janela e avistarem o monstro. Quando os pequenos se aproximavam do local proibido, tiravam silenciosamente os sapatinhos enlameados, para não pisarem as folhas secas que estavam espalhadas pelo chão e assim não acordar o monstro. Mas, infelizmente o monstro tinha umas orelhas enormes e um faro muito apurado. As pobres e inocentes crianças eram apanhadas por aquelas mãos enormes, cheias de calos sem mesmo que se apercebessem. Há quem diga, que os jovens eram aprisionados no seu casarão frio e mórbido, infestado de teias de aranhas e de pequenos ratos. Outros acreditam profundamente que o monstro era maléfico e que fazia delas seus pequenos escravos. Outros dizem ainda que o gigante os comia.... A bruxa Grandes Ideias exausta com as lágrimas e com a dor terrível daqueles que a rodeavam pela perda dos seus filhos adorados, decidiu pôr mãos à obra e encontrar uma solução para tal catástrofe. Passaram dias, meses e a bruxa sábia não se lembrava de nada para finalizar a angústia das pessoas que tanto amava. Um dia desatinada sentou-se no cimo de uma árvore centenária, para colocar as ideias no lugar e começou a observar carinhosamente a natureza, as borboletas a pairarem nas flores, as crianças alegres a correrem de lado para lado. Mas, esta serenidade era interrompida cada instante que Grandes Ideias inclinava paulatinamente o pescoço para a velha bica de água e deparava-se com rosto amargurado dos mais velhos, a zelarem pelos mais pequenos.


De repente o vento bateu-lhe levemente na cara e Grandes Ideias lembrou-se do aviso que a sua querida mãe lhe deu antes de falecer. Assim, fechou lentamente os olhos e dentro do seu coração ouviu uma voz muito doce “Grandes Ideias cada vez, que tiveres em apuros abre o Livro Magoga e lá encontrarás uma solução”. A bruxa Grandes Ideias com o apoio do seu primo Gomo começou a laborar dia e noite. Ao fim de três meses, conseguiu sem medo preparar uma receita antiga que estava alistada no livro Magoga. Com a ajuda dos seus pós, das ervas encantadas e das palavras mágicas “ Beringela, Beringela, Beringela” construiu uma magnífica árvore gigantesca para abrigar o seu povo. Todos ficaram muito gratos e partiram sem balbuciar. Quando chegaram ao novo lar, os aldeões ficaram afónicos e abismados com a beldade de tal árvore. Era uma árvore assombrosa, os seus ramos tinham o aparência de dois braços extensos, repletos de folhas brilhantes que acenavam constantemente como se estivessem a dar as boas vindas àquele povo sofredor. Repentinamente no meio daquela mudez absoluta, escutou-se uma voz rouca mas arrojada. - Olá, eu sou a Sombra! Sejam bem-vindos ao vosso novo lar! - Quem és? - perguntou um dos pequenos com a voz trémula que estava escondido por detrás da saia da sua mãe. - Eu sou o teu novo abrigo meu querido! Respondeu afectuosamente Sombra . Assim, Grandes Ideias assarapantada interrompeu de imediato o diálogo e explicou aos aldeães que a Sombra falava, para adverti-los cada vez que o monstro se aproximasse. A bruxa sábia de tão deslumbrada que estava, esqueceu-se de como iria transportar os habitantes para o topo da árvore. Encostou-se de mansinho ao tronco da Sombra, fixando o olhar num pequeníssimo calhau que estava coberto de terra e subitamente soltou um sorriso alucinante. A bruxa Grandes Ideias lembrou-se de pronunciar fortemente as palavras mágicas “Beringela, Beringela, Beringela”, e transformar aquela minúscula pedra numa concha gigante, de cor esbranquiçada. Amarrou-a com um cordel extenso feito de heras aos ramos da Sombra e esta vagarosamente debruçou-se, levantou cuidadosamente a concha e alongando os ramos elevou-a ao topo. Desde esse dia, na aldeia permaneceu a paz e a serenidade. A felicidade e o bem estar estampava-se no rosto de cada um até que um dia ..... Numa manhã de Primavera, avistava-se o orvalho em toda a região e o cheiro da terra molhada pairava no ar. Nessa aurora, as flores acordaram mais cedo, com as gotas de água a fazerem-lhes cócegas no nariz e quando se estavam a espreguiçar avistaram os dois pequenos mais traquinas da aldeia a caminharem vagarosamente em bicos de pés


em direcção à Sombra. A Alice e o Tomé exaustos com a aquietação daquele espaço decidiram partir da aldeia em busca de uma calorosa aventura. Assim, dirigiram-se até à Sombra, sentaram-se num dos seus longos galhos e muito baixinho começaram a sussurrar ao seu ouvido. - Sombra, acorda! Acorda! Acorda! Murmuraram os dois pequenos aventureiros. - Bom dia cachopos! Já acordados? - perguntou a Sombra a esfregar os olhos e a bocejar frequentemente. - Bom dia Sombra! A Grandes Ideias ordenou-nos que pela alvorada descêssemos até ao teu tronco para apanharmos umas ervas curandeiras. Sabes Sombra, essas ervas só existem lá em baixo e sem elas a Grandes Ideias não poderá realizar mais um dos seus milagres. - alegavam corajosamente os meninos. - Está bem! Mas, antes de pularem para a minha mão esquerda têm que me prometer que logo que colidirem com essas ervas regressarão imediatamente! - declarou a Sombra com ar de desconfiada. - Combinado! - retorquiram os dois jovens radiantes. A Sombra, receosa curvou-se pausadamente sem pronunciar uma única palavra, afastou as mãos e os dois amigos saltaram apressadamente para terra firme. Logo, que a Sombra se alteou Alice e Tomé com um brilho precioso nos olhos, caminharam em direcção à apavorante floresta sem que ela os avistasse. Tomé o mais novo, abarrotou os bolsos com pequenas pedras e cuidadosamente assinalava todo o caminho que percorriam como se fosse um labirinto confuso. Ao longo da digressão pelo bosque, os dois destemidos aventureiros cantarolaram alegremente, saudaram as aves, as árvores, as flores e construíram coroas e fios de rosmaninho. A Alice ao colher uma flor, tropeçou num galho seco e caiu num buraco bastante arredondado. Tomé desatou inconscientemente às gargalhadas, estendeu a sua pequeníssima mão à menina e ajudou-a a erguer-se cautelosamente. Abismados com aquela inexplicável pegada, instantaneamente o Tomé lembrou-se das histórias que escutou sobre um monstro, mas não proferiu nada sobre o assunto. Arrebatados com as misteriosas pegadas decidiram segui-las. Andaram, andaram até que se depararam com um enorme casarão coberto de trepadeiras, de urzes e de carumas secas. Amedrontados deram as mãos bruscamente, tomaram fôlego e aproximaram-se vagarosamente até uma gigante porta de madeira que estava entreaberta.

De mansinho, a arrastarem

pesadamente os pés, defrontaram-se com dezenas de estátuas de meninos alinhados com o corpo revestido de cera.


- Tomé vamos fugir daqui! - proferiu a Alice completamente assustada. Subitamente, ouviram-se uns passos tão fortes que estremeciam o chão. Uma voz agreste e grosseira entoava repetidamente nas paredes do casarão: - Tarde de mais! Agora são meus hóspedes! – exclamou o endemoninhado gigante. - Monstro, não nos faças mal! Somos ainda tão pe-que-nos! – disse o Tomé a gaguejar, soletrando agoniado as poucas palavras. Apavorado, fechou repentinamente os olhos, procurou coragem no seu coração e prossegui sem hesitação: - O que aconteceu a estas pobres crianças? - Durante algum tempo embelezaram

este casarão gélido, escutaram

minuciosamente os meus desabafos e acolheram-me de braços abertos como se fosse um deles. Desde esse dia, compartilhamos recordações fascinantes, mas com o decorrer do tempo começaram a envelhecer. Apavorado de ficar só e desamparado novamente, decidi cobri-las totalmente com pó de cera que guardo dentro daquele velho e fedorento escrínio descorado, para mantê-las rejuvenescidas e eternas. Todos elas estão meramente a dormir num sono demasiado profundo. - Como é que se quebra o encantamento, generoso monstro? – perguntou baixinho a Alice agarrando suavemente na mão frígida do gigante. - Para quebrar o encanto, basta destruir este frasco cristalino, onde está apreendida esta belíssima rosa vermelha! Assim, que o vidro se despedaçar a rosa eleva-se espontaneamente no ar e devolve-lhes a vida! - Então solta-os Senhor Gigante! - disse o pequeno Tomé constrangido. - Mas, depois vou ficar só! Desde o dia em que recusei dar estadia num tempestuoso dia de chuva, a uma criança em troca desta simples rosa vermelha, lançaram-me uma benzedura e tornei-me num mostrengo! - Mas tu agora, já gostas de crianças! Provavelmente se rebentares o frasco, o encanto desaparece! – aclamou a Alice convicta de um milagre. O monstro crente apertou agressivamente o frasco e os jovens desabrocharam. Enquanto isso, Tomé desatou a correr em direcção à aldeia seguindo as pedras que largou no chão gritando pela Grandes Ideias. A bruxa encantada por ver aquelas crianças abençoadas e abalada com o fado do deplorável gigante, pronunciou amorosamente as palavras mágicas “Beringela, Beringela, Beringela” e transformou o gigante num belo rapagão. Extenuados, regressaram alegres na vassoura da bruxa Grandes Ideias para a esplendorosa aldeia, onde os aldeães os esperavam ansiosamente.


Após esta extenuanante aventura, todos os habitantes da aldeia aprenderam a não julgar as pessoas pelo seu aspecto, mas sim pelo seu coração e que todos merecem carinho, respeito e atenção independentemente do seu aspecto físico. Assim todos os habitantes daquela pequena aldeia, a partir desse dia, passaram a ser mais felizes e unidos.


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