Jornal Maranduba News #88

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Maranduba, Setembro 2016

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Disponível na Internet no site www.jornalmaranduba.com.br

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Ano 7 - Edição 88 Foto: Roberto “Pituí” - PROMATA

Caçandoquinha

Um paraíso que resiste ao tempo


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Sindicato dos Agricultores Familiares oferece cursos e atendimento O STTR oferece aos associados e pessoas interessadas o atendimento ao agricultor ,na Sede do Promata, ao lado da Igreja Católica no Sertão da Quina todas as segundas-feira das 14 as 17 horas. Estão abertas as incriçôes para o curso de Produção de Cachaça Gratuito para associa-

dos e interessados que acontecerá nos dias 19 ao 23 de setembro vagas limitadas para maiores de idade, inscrições na sede do Promata as terças-feira das 15 as 17 horas. Para mais informações tel (12) 99606.9908 Jaqueline Martins Delegada Sindical da Região Sul de Ubatuba

Semana de Senhora das Graças – Sertão da Quina Dia 05/09 – segunda-feira – Tríduo (missa as 19:30 hs com o frei Vitório Infantino). Dia 06/09 – terça-feira- Tríduo (missa as 19:30 hs com Padre Manoel Leite). Dia 07/09 – terça-feira- Tríduo (missa as 19:30 hs com Padre Daniel Inácio). Dia 08/09 – Santo Terço 19 hs – missa com o Bispo diocesano Dom José Carlos Chacorowski Festa Social Dias 09 (sexta) e 10/09 (sábado) no Morro do Emaús – Várias atrações

Participem e tragam sua família!

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Editado por: Litoral Virtual Produção e Publicidade Ltda. Fones: (12) 3884.0913 (12) 99714.5678 e-mail: jornal@maranduba.com.br Tiragem: 3.000 exemplares - Periodicidade: mensal Editor: Emilio Campi Jornalista Responsável: Ezequiel dos Santos - MTB 76477/SP Colaborador: Pedro dos Santos Raymundo - MTB 0063810/SP Consultor Jurídico - Dr. Robson Ennes Virgílio - OAB/SP 169.801 Consultor Ambiental - Fernando Novais - Engº Florestal CREA/SP 5062880961 Colaboradora: Adelina Fernandes Rodrigues Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da direção deste informativo


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Caçandoquinha: um paraíso que resiste ao tempo Depois da Caçandoca, sentido sul do município, existe um pequeno paraíso que resiste ao tempo. No passado, quem não conhece a história, foi palco de grandes festas e atividades culturais, religiosas e comunitárias em seu interior. Acima no morro o Bairro Alto, com casas, roças e casas de farinha. Em seu entorno, uma vida movimentada pelos bananais e pesca. Gente subindo e descendo sem imaginar quão concorrido seria o pequeno espaço de praia que ainda resiste limpa, bela e apaixonante. De fato parece uma pintura, coisa que só se alcançaria através das mãos de artistas. Mas ela ainda está lá, cuidada por moradores e alguns turistas que respeitam o lugar. As frondosas árvores denunciam o movimento do passado, as ruínas abaixo da grama e por entre a vegetação mostram que a tradição oral tinha razão. Poucos lugares no planeta oferecem tal interação: floresta, animais, aves, peixes e água num mesmo lugar e ao mesmo tempo. No passado,

Fotos: Roberto “Pituí” - PROMATA

embora movimentada foi respeitada por conta dos ciclos naturais. Hoje , infelizmente, continua explorada em temporadas e feriados e que seu tempo de

recuperação e descanso não acompanha o mesmo ritmo. Saindo da praia central, é possível acessar uma trilha, inicialmente pelas pedras, que se falasse tinha muito que contar.

O que conforta é saber que, mesmo com os que só querem explorá-la, existem os que querem cuidá-la, assim o lugar resiste e as vezes proporciona imagens lindíssimas na tentativa, quem sabe, deste paraíso nos dizer que: “Olha! Estou aqui, me respeite, veja o que lhe dou, lhe ofereço! Por favor

cuidem de mim! Seus filhos e netos precisam ver isso também”. Quem entender que o conforto e o prazer que o lugar nos oferece é uma forma de agradecer aos que de fato gostam e a respeitam, por isso cuida. Como diz o ditado: “Quem ama cuida”.


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Caiçarada 2016 movimentou Ubatuba

Premiação de viola, apresentações culturais tradicionais, corrida de canoa, mostra de artesanato local e Barraca da Tainha garantiram sucesso da 11ª edição da festa

Barraca da Tainha movimento cerca de 400 quilos de tainha e sororoca nesta 11a. edição da Caiçarada

Mostra de artesanato local na Casa Caiçara

COMUNICAÇÃO PMU O 11º Festival da Cultura Popular Caiçara – Caiçarada 2016 - realizado entre os dias 26 e 28 de agosto, na Ilha dos Pescadores, no centro de Ubatuba, foi mais uma vez sucesso de público e de crítica. O evento contou com apresentações da cultura tradicional caiçara, como o fandango, as congadas, o maracatu e a viola, além de bandas locais e contação de causos. Teve também corrida de canoa

locais além de provar doces e pratos diferentes, como talharim de pupunha e salgados e doces à base de biomassa de banana. Para Diva e Mário, turistas de São Paulo, foi uma grata surpresa conhecer a festa: “A tainha é excelente. Além de saborosa, o preço é muito bom. E o acolhimento que recebemos de todo mundo que trabalhou na festa soma ainda mais pontos. Vocês estão de parabéns!”

caiçara no domingo cedo. Além das apresentações culturais, o espaço da Casa Caiçara mais uma vez ofereceu aos turistas e moradores a degustação de café com melaço, paçoca batida no pilão, batata-doce e banana assadas no forno à lenha, típicos das comunidades tradicionais de Ubatuba. Já a Barraca da Tainha foi o principal ponto de encontro de quem buscou saborear a culinária local. Tainha assada,

O presidente da Fundart, Paulo Motta, entrega a Mauro Gonçalves Leite e Pablo Bernardo Monteiro o prêmio de melhor música inédita: “Balançando o Brasil”

bobó de camarão e azul marinho, além de porções diversas, foram alguns dos pratos preparados pelas pescadoras e pescadores que atuam no local. Jerri Morais, presidente da Colônia Z-10 de Pescadores, conta que foram comercializados cerca de 400 quilos de tainha e sororoca nesta edição da Caiçarada. Quem foi ao evento ainda teve a oportunidade de adquirir o artesanato indígena e de grupos de economia solidária

Diva e Mario, turistas de São Paulo, elogiam o acolhimento dado pelo presidente da Colonia Z-10 de Pescadores, Jerri Morais (ao centro), e todos os que trabalharam na festa.

Congada da Lagoinha foi uma dos grupos tradicionais a se apresentar na festa


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Manguezal: Berço ameaçado!

Força tarefa realiza 3º expedição na região

No último dia 27, uma mega força tarefa realizou com sucesso a 3ª expedição “in loco” dos manguezais de Ubatuba. Desta vez as atividades ocorreram na Caçandoca. Foram vários os atores que participaram do evento. A comunidade participou em peso. O evento contou com a III Corrida de Guaiumum, coleta de lixo, placas e faixas explicativas, imagens dos locais, levantamento de aves, amostras, busca de dados técnicos, entre outras ações. O resultado agradou a todos e firmou ainda mais os laços na busca dos objetivos propostos pelo projeto. Preocupados com o futuro das espécies, a equipe técnica e comunitária multidisciplinar empenhou-se ao máximo para recolher os dados necessários para a

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proteção e manutenção desse ecossistema tão sensível e tão importante a vida, também para os possíveis projetos futuros e o mais importante o conhecimento da comunidade sobre a situação atual do mangue próximo de onde vivem, moram e trabalham. A expedição ainda tem vários pontos do município a percorrer e todos estão a postos. Foi disponibilizada a equipe um mapa com o trajeto antigo do rio em comparação ao atual, o que ajudará muito no entendimento do histórico ocorrido com o mangue nas últimas décadas. Além dos trabalhos sérios, foi um grande encontro entre amigos e comunidade para uma necessidade recorrente e importante na preservação da cultura, da história e do meio ambiente.

Tribunal de Justiça em Brasília suspende portaria unilateral do Ministério do Meio Ambiente que trata da proibição da pesca No último dia 31, o Tribunal Regional da Primeira Região em Brasília – DF suspendeu os efeitos da Portaria MMA n° 445/2014, criada em 17 de dezembro de 2014, que tinha como finalidade proibir a pesca amadora e comercial e posterior proteger 475 espécies consideradas ameaçadas de extinção dada a falta de controle na captura, causando a diminuição dos estoques. A decisão foi tomada pela juíza federal Hind Ghassan Kayath que observou haver vício de forma na edição da portaria - pois foi editada unilateralmente e não em conjunto com ao Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA. Também da inobservância no que ressalta a Lei – tratamento diferenciado quando se tratar de recursos pesqueiros, devendo o poder público conciliar a sustentabilidade do recurso pesqueiro com a obtenção de melhores resultados econômicos e sociais conforme legislação vigente. No pedido foi destacado que o MMA havia alterado portarias relacionadas ao tema duas vezes sem o atendimento da lei que trata de tomada de decisão e ações conjuntas com o MPA quando se trata dos recursos pesqueiros, além ausência da atualização dos estudos que sustentem a portaria. Pedido O pedido foi realizado pelo Conselho Nacional de Pesca e aqüicultura – CONEPE, em parceria com a Federação de Engenheiros de Pesca do Brasil – FAEO/BR e a Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores – CNPA, já contestada no período da edição da

portaria. O processo, total de 564 páginas, encontra-se muito bem fundamentada cujo questionamento não esta na proteção das espécies e sim a falta de estudos e dados científicos atualizados sobre os estoques pesqueiros. Também sobre a ausência do Ministério da Pesca na época a discussão e elaboração da portaria, conforme pede a lei. Pescadores, cientistas e profissionais ligados a área alegam que alguns dados não se encontram com a realidade da pesca, existe muita informação desencontrada, tanto nas espécies que deveriam possuir uma recategorização no intuito de maior proteção quanto as que deveria ser liberada a pesca, o que é comum as pessoas que tomam decisões em salas com ar condicionado, dizem. Outro problema da decisão tomada unilateralmente foi o aumento da indústria das multas e apreensões, que causaram danos irreparáveis a atividade, ao pescador e suas famílias, principalmente as tradicionais, de subsistência e pequeno porte, além da falência de 3,5 milhões

de postos de trabalho direto e indireto no setor. Lista A lista já foi proibida e em 2015 foi liberada, depois proibida novamente e agora liberada. Isso causa um embaraço em quem vive da profissão, realmente a lista é extensa e muitas espécies não possuem o nome popular da descrição, assim o pescador fica a mercê das palavras difíceis e nomes estranhos que sequer sabe pronunciar. A orientação é sempre, antes da pesca, procurar a espécie que pretende capturar e verificar se o nome científico consta em alguma lista de proibição, e que, agora liberado, se de fato há a necessidade de sua captura. Outra preocupação é com os órgãos fiscalizadores e repressores que, por vezes, sem uma orientação técnica, costumam segundo pescadores, constranger e dar prejuízos econômicos, morais, culturais a profissionais do setor. A decisão poderá ser acompanhada através do link http://www.sindipi. com.br/arquivos/repositorio/ files/Suspens%C3%A3o%20 445%20Agosto%202016.pdf


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Zoneamento Ecológico Econômico, ou Econômico Ecológico?

Jéssica dos Santos O Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE do Litoral Norte foi regulamentado pelo Decreto Estadual nº 49.215/04, é um instrumento que o governo do estado dispõe para determinar e organizar o uso dos recursos naturais das regiões costeiras. Este instrumento deve ser revisto de 10 em 10 anos, visando à ampla participação pública - que será a mais afetada com as mudanças. O objetivo é de melhorar a qualidade de vida da população e a proteção do seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural. Região sul não foi ouvida Esse processo participativo não ocorreu no município de Ubatuba, e principalmente na região sul. A proposta do governo do estado está em revisão desde 2014. Apenas no dia 26 de agosto de 2016, através de oficio da comunidade, é que foi realizada uma reunião na região sul de Ubatuba com moradores interessados e o Sr. Juan Blanco Prada, Secretário do Meio Ambiente de Ubatuba para esclarecimentos das dúvidas levantadas. Foram dois anos de desinformação para a total ignorância referentes às mudanças em discussão sobre as propostas em andamento ou já finalizadas. Apenas pelas redes sociais é que se percebeu o tamanho do problema para o futuro da região. Com a participação de moradores foi cobrado as informações essenciais. Marca e desmarca O secretário municipal havia marcado uma reunião na região, na mesma semana desmarcou. Isso desarticulou todo um plano de trabalho feito jun-

to aos interessados na região. Após a reunião de 26 de agosto, onde algumas dúvidas foram elucidadas, foi possível reunir lideranças de cada bairro e região para discutir o mapa proposto. Representados estavam os bairros do Sertão da Quina, Maranduba, Araribá, Lagoinha, Guias de Turismo de Ubatuba, PROMATA e usuários da Barra do Rio Maranduba. Mapa Segundo o mapa proposto pelo estado, áreas como barra do Rio Maranduba, Sertão da Quina, Araribá e Vila Santana se tornariam Z5, que é o zoneamento mais permissivo, uma área que considera assentamentos urbanos consolidados, supressão de ecossistemas e inclusive atividades industriais, o que muitos moradores e turistas, estudiosos e simpatizantes, cada uma a seu jeito e disponibilidade, vem trabalhando para que não aconteça. Nesses bairros moram predominantemente caiçaras tradicionais, famílias que residem a mais de 100 anos no local, e que mantém um estilo de vida próprio, inclusive garantido pela constituição federal e os acordos internacionais assinados pelo Brasil. Ainda possuem áreas com sítios remanescentes preservados e roças totalmente produtivas e outras em produção.

Exemplos Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras rurais de Ubatuba (STTR) estão cadastrados por volta de 100 agricultores na região. No Sítio Lama Mole, localizado no Araribá, a PROMATA, associação de renome da região, atua com educação ambiental e observação de aves e manutenção da cultura com as crianças das escolas locais. O Sitio Recanto da Paz (Gengibre) que também fica no Araribá é um dos maiores exportadores de Gengibre da região, e também faz turismo de base comunitária e educação ambiental com escolas e turistas, O sítio do Sr Miguel que recebe alunos e professores, além de interessados em entender a roça caiçara, além dos vários guias profissionais de turismo e simpatizantes do meio ambiente saudável, cultura, história e tradições. É totalmente inadmissível que uma região com essas características se transforme em Z5. Z4 já atende a demanda Na Barra da Maranduba encontra-se a maioria dos pescadores de nossa região, um dos poucos espaços que ainda sobrevive a especulação imobiliária danosa recorrente em nossa cidade, que conseguem sobreviver da cultura caiçara da pesca. Z4 atende total-

mente as necessidades dessa comunidade, que seria, por exemplo, construir uma fábrica de gelo para auxiliar no resfriamento dos pescados, além de estruturas condizentes com a profissão e a preservação do lugar. O Rio Maranduba sofre um forte assoreamento na Barra, o que impossibilita muitas vezes a passagem dos barcos dos pescadores e de veranistas. Isso é o resultado da falta de cuidado e o menosprezo na manutenção das matas ciliares e manguezais existentes no entorno de toda extensão do rio. Uma área de Z5 em regiões tão sensíveis e já parcialmente degradadas, ainda que seja área de APP, não condiz com os objetivos da Lei proposta pelo Gerenciamento Costeiro. Segundo o secretário, o município não abrirá mão de uma área em Z5 na região sul, pois precisa atender a demanda de uma estação de tratamento de esgoto e para Coleta e Tratamento de Resíduos Sólidos. Dessa foi proposta em ofício para a SMMA (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) um novo mapa onde pequenas áreas afastadas dos bairros e comunidades tradicionais próximas a BR 101 e que já tem certa degradação e uso, possam atender essa demanda.

Pauta: cobrança e união Importante neste momento é a união de moradores da região sul para serem ouvidos para que possam cobrar uma melhor postura dos órgãos oficiais. Essa mudança - de zoneamento - trará impactos negativos a vida de todos em nossa região, como aconteceu na abertura da rodovia décadas atrás, somando ainda a duplicação prevista na SP 55, o estilo de vida caiçara corre perigo de extinção! Precisamos nos informar, adquirir conhecimento e entender que o “progresso” chegará com força total, porém deve ser ordenado e organizado e priorizando a preservação de nossa cultura. Um grupo de moradores esteve no último dia 29 procurando argumentar junto aos conselheiros municipais, depois de ouvidos conseguiram uma vitória parcial, algumas alterações ao menos foram ouvidas. Nos dias 31/08 e 1/09, todas as propostas de zoneamento do litoral norte serão definidas e votadas no município de Caraguatatuba na Secretaria Municipal de Educação, Avenida Rio de Janeiro, 860 – Indaiá. A presença maciça de pessoas é muito importante. A proposta montada pelos moradores tem que ser discutida e aprovada pelos nossos representantes. A proposta também precisa do maior numero de assinaturas possível para que seja validada. Para os interessados em ajudar, o abaixo assinado estará do supermercado Villa Flor, ou entrar em contato com Jéssica dos Santos (12)996-254460. Atenção! O futuro de todos está em jogo.


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Moradores alteram, no último dia, proposta de revisão do Zoneamento Ecológico-Econômico da região sul de Ubatuba

*Consórcio de Moradores Um grupo de moradores, ativistas, profissionais do turismo, da pesca, da agricultura, representantes de comunidades tradicionais, associação de moradores e interessados nas causas em defesa da comunidade e meio ambiente sadio de Ubatuba conseguiu alterar a proposta de revisão do ZEE-LN levantada pela prefeitura de Ubatuba no último dia da reunião. Sem a devida consulta a comunidade a proposta encontrava-se diferente da vontade popular. As reuniões aconteceram dias 31/08 e 01/09 em Caraguatatuba com o Grupo Setorial de Coordenação do Gerenciamento Costeiro, organizado pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, que, segundo informa a secretaria estadual, vem trabalhando há seis anos com discussões técnicas sobre os ajustes necessários para garantir o desenvolvimento sustentável da região. Eduardo Trani, coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente, conta que foram realizadas diversas reuniões técnicas e consultas nos municípios para se chegar à proposta que será submetida, nos próximos 40 dias, a consulta pública para receber críticas e sugestões de toda a sociedade. A revisão vai proporcionar mais segurança para o licenciamento de atividades e a fiscalização ambiental na região, explica Trani. Comunidade contesta e articula A reclamação foi geral no que trata da discussão – ou falta dela- sobre o tema com as várias comunidades que se

O clima esquentou por varias vezes quando comunidades não se sentiram representadas em sua vontade

sentiram prejudicadas, tanto no seu respeito quanto a participação do processo quanto no que vai acontecer com suas vidas futuramente. O próprio grupo setorial, um órgão colegiado composto por representantes do Estado, prefeituras e sociedade civil dos municípios do litoral norte informa que vem trabalhando desde junho do ano passado para formatar tal proposta, porém com desconhecimento das comunidades. Na última semana apenas é que as comunidades tomaram ciência da gravidade se mobilizando e articulando propostas robustas que vem de encontro às realidades locais sobre o ponto de vista da sustentabilidade, manutenção da cultura e do meio ambiente, turismo sadio, qualidade de vida e ao tratamento digno as pessoas. Trocando em miúdos, segundo os reclamantes, “a teoria não se aplicava a pratica, também que existiam outros interesses ainda não bem ex-

plicados no processo e que não havia proposta alguma de acordo com a vontade de pessoas que vivem nos locais, “coisas para inglês ver”, que não houve explicações sobre o zoneamento a população, reuniões marcadas em cima da hora para esvaziar o processo, conselho por vezes com intenções duvidosas, encenação para que os governos estadual e municipal cumpram apenas o protocolo”, dentre outras dizem. Desta vez o processo foi mais aberto já que ministério público estadual e federal acompanhou. Os promotores de justiça, segundo moradores, comentaram que o processo não era participativo da forma que foi conduzido e que o grupo setorial é quem tinha que ir as comunidades e não as comunidades se deslocarem para se defender e opinar. Realização de oficinas e mostra do que se tratam tais discussões também foram elencadas como ferramenta democrática

de entendimento. “Que não são as comunidades que teriam que se adequar ao zoneamento e sim o zoneamento que teriam que se adequar as comunidades”, comenta um dos promotores. Bastidores A articulação mostrou força, mesmo tendo alguns membros de comunidades recebido ameaças por defenderem seu patrimônio frente aos interesses meramente imobiliários e econômicos. As redes sociais colaboraram nas decisões oferecendo acessos rápidos a parceiros e especialistas no assunto no momento da discussão. O Fórum de Comunidades Tradicionais também interviu questionando o processo da mudança de zoneamento e a legitimidade da representação da sociedade civil no conselho. Ao Ministério Público Federal - MPF foi entregue um ofício solicitando garantias às comunidades que não sentiram contempladas – prazo de 30 dias

para formatarem uma proposta que adéqüe suas exigências junto a secretaria estadual dentro do mapa. Estão previstas três audiências: uma no sul, uma no centro e uma no norte do município. Local onde quem se sentir prejudicado terá sua vontade respeitada. A falta de georreferenciamento, de laudos, as decisões unilaterais, interesses outros que não as dos moradores, zonas de amortecimento, questões dos mangues, da avifauna, da produção sustentável, da proteção dos patrimônios materiais, imateriais e ambientais, do crescimento ordenado, entre outros foram os que pesaram na mudança dos mapas. Porém o mais crítico foi à falta de participação das comunidades nestes debates e tomada de decisões. O mapa que trata a região sul ficou menos agressivo e com possibilidades de recuperação em outras áreas, porém a mancha que indicava o que tudo pode diminuiu drasticamente para aquelas que podem com planejamento e respeito. A emoção também tomou conta em dado momento do evento, as comunidades se uniram e trabalharam juntas na defesa dos interesses reais a qualidade de vida de quem vive nos locais. Nos bastidores já se articulam reuniões e encontros para a próxima empreitada – as audiência públicas. *Consórcio de moradores – conjunto de informações em regime de parcerias entre especialistas das diversas áreas e participantes do processo do ZEE-LN que trata do território de Ubatuba.


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De norte a Sul de Ubatuba num stand up

Entre os últimos dias 4 a 7 de agosto, uma equipe de aventureiros resolveu remar da última praia de Ubatuba – Camburi - até a praia do Centro de Caraguatatuba em cima de um Stand Up. Foram meses de preparação e ansiedade. A equipe saiu da região sul de carro e foi até o Camburi, na bagagem muita vontade de vencer o desafio e ter história pra contar. Participaram os caiçaras Elias José da Silva e Roberto de Oliveira (PROMATA), o caiçara “adotado” Renato Soares também se juntou a equipe. O carro foi conduzido por Silvio Rodrigues Vieira da equipe de apoio. O objetivo foi testar a qualidade das pranchas confeccionadas pela Makalu, de propriedade de Elias José, um dos aventureiros. A equipe empreendeu dois ritmos: uma lenda próxima as praias e ilhas e outra em mar aberto. A saída foi as 7:30 da manhã depois de um café da manhã. A cada duas horas eles se reuniam para um lanchinho, água e conferir equipamentos. No Camburi a equipe realizou um belo registro de uma prancha ao lado de um avo do stand up confeccionado em um tronco só – uma bela canoa caiçara. CAMBURI-ITAGUA Neste trecho foram percorridos 42 kms e contaram com a ajuda de um vento de leste, que empurrou o grupo mais pro centro. Para este trajeto utilizaram uma mochila com lanches, chocolate, amendoins entre outras “bobagens”. No caminho avistaram barcos de pesca, canoas, veleiros, aves marinhas e até golfinhos. Esta remada foi sem equipamentos de camping já que a parada foi no Itaguá. Chegaram as 16:30hs. e fo-

Uma parada pra tomar agua, folego e conferencia. Ao fundo Pico do Corcovado

ram recebidos pelos moradores Caio e Simone Iartelli e Queli Lúcio, esposa de Caio. Lá repuseram suas baterias - dormiram e se alimentaram - além de receberem incentivos, receberam apoio para organizar a segunda etapa do trajeto.

Muita gente os chamou de loucos, mas como diziam “faz parte do processo” (risos). A saída no Itaguá foi mais demorada tendo em vista o aumento da carga extra para a dormida e alimentação que teriam que preparar no caminho. Partiram.

Com a cara e a coragem Renato, Roberto e Elias vencem obstaculos e seguem remando

Na Ilha do Tamanduá dava para ver caragua ao fundo, no mesmo dia o tempo muda

No Itagua os preparativos para um acampamento

Acampamento no Cedro, cuidado com o lugar


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Aventureiros fazem percurso de antigos moradores

par na vida, ver o continente pelo ângulo dos pescadores e mestres é algo a ser lembrado”, comentam. As imagens e o vídeo não cabem neste jornal, mas fica aos leitores o gostinho desta aventura de sucesso e muita história pra contar realizada por três “loucos” por natureza.

ITAGUA-PRAIA DO CEDRO Na saída do Itaguá foi possível sentir as pranchas mais pesadas. Este trecho pegou mar aberto com pequenas marolas lá fora. Ao passarem próxima a Ilha Anchieta registraram outros seres, como o peixe-morcego e aves marinhas. A “caminhada” desta vez foi de 23 kms. No Cedro levantaram acampamento, lá fizeram um sopão com muito legume cozido, com batata, cenoura, inhame e gengibre, tudo preparado pelo “chef” Elias. No café da manhã leite em pó, coco, chá, pão integral, água e café. A margarina, por exemplo, haviam esquecido no Itaguá, daí comeram pão com “puff”, ao colocar um pão sobre o outro faz “puff”. A saída foi pelas 7 da manhã depois de uma trabalheira para conferir trajeto, plano de segurança, equipamentos e limpeza do local onde pousaram. Foi uma noite tranqüila e agradável no paraíso. CEDRO ILHA DO TAMANDUÁ Este trecho aguardou uma grata surpresa – um barco chi-

que ofereceu um café de rico. O mestre Renato de Oliveira e seu auxiliar Renato Vaz prepararam a equipe um “desjejum” de dar inveja. Tudo a bordo de uma lancha de 60 pés – cerca de 20 metros de comprimento. “Impanturrados até o tampo” seguiram viajem até a Ilha do Tamanduá, lá chegaram cedo e puderam fazer as coisas sem pressa. Levantaram outro acampamento e o “chef” do dia foi o Renato: arroz, atum em conserva, salame, cebola assada com molho shoyo e gengibre, suco e desta vez uma cervejinha pra comemorar o feito. Porém o mau tempo impediu que continuassem o trajeto até a praia do Centro de Caraguatatuba. Um vento sudoeste atrapalhou a empreitada, que poderá seguir outro dia. O vento chegou a levantar a barraca que estava fixada no chão, as árvores não paravam quietas e o mar dava sinal de ruindade. A equipe então seguiu para a Praia da Tabatinga dando fim a expedição. Segundo os expedicionários “foi uma experiência im-

Uma aventura que ficará na lembrança para sempre

Lugares paradisíacos onde a natureza ainda permanece intocada

Antes da saida um comparativo, stand up ao lado de seu avô - uma canoa caiçara


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I MotoRock contra a fome na Praia da Lagoinha Nos últimos dias 26 e 27, os motoclubes Kardume do Asfalto, Dose Letal, Dorme Sujos e Barbados do Asfalto se reuniram em evento na Praia da Lagoinha para realizarem importante ação social. O evento, que além de reunir as pessoas dos clubes teve um foco na arrecadação de alimentos e ajuda social. È comum os motoclubes aderirem a movimentos desta natureza. O evento ofereceu café da manhã, camping gratuito, expositores, praça de alimentação, shows de Rock e Zoeira Tô Fora. Os ingressos variaram entre R$ 5 ou 2 kg de alimentos não perecíveis. O tempo colaborou muito com o evento e foi sucesso de público e critica. Bem organizado o evento

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Quilombolas realizam reparo e manutenção dos patrimônios

A satisfação do dever cumprido e a alegria da união no reparo da Casa de Artesanato estimulam os trabalhos comunitarios

chamou a atenção tanto de quem estava na praia quanto aqueles que passavam pela rodovia. Os apaixonados por motocicletas também puderam

curtir as máquinas que lá estavam. Muitos já estão com saudades deste tipo de evento, principalmente os que foram beneficiados com a ação dos motoclubes.

Matando a saudade: Praça do Sapé em 1950

No último dia 27, quem passou pela estrada da Caçandoca, já chegando ao núcleo de moradores quilombolas, pode observar mudanças substanciais no reparo e manutenção do centro comunitário e da casa de artesanato que há tempos necessitava de melhorias. Os trabalhos foram realizados com força total e que todos os sábados seus integrantes se reúnem para os trabalhos comunitários. Alexandre Gaspar, o mais jovem presidente da associação, com grandes planos, é o responsável por esta força tarefa que mostra resultados práticos já no começo de sua gestão. Em regime de “bitirão”, “dijutório”, foram várias as mãos que entenderam a necessidade de se manter os laços unidos e os

patrimônios reparados. O Centro Comunitário Flávio Firmino foi o mais trabalhoso, porém com sabor doce da conquista da melhoria. Destaque também para a reforma da Casa de Artesanato importante para a manutenção da cultura e história local e nacional. A comunidade vem recebendo doação de materiais de construção e conta com a ajuda de voluntários. Qualquer um pode participar e doar material, basta procurar a diretoria da associação no centro comunitário ou na comunidade mesmo. Este é o resultado conjunto de esforços positivos com resultados práticos, bom para quem ajuda e bom para quem precisa. O resultado fez a diferença na comunidade e fora dela.


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Observação de aves na Semana Técnica do Tancredo

No último dia 25, a PROMATA participou de importante semana técnica promovida pelo colégio Tancredo de Almeida Neves no centro da cidade. O evento contou com os mais variados atores dos segmentos de turismo para que os alunos pudessem aprimorar seu conhecimento. O convite partiu da professora de Educação Ambiental e Ecoturismo Mariana Pavani. Ela conta que o objetivo é aproximar os alunos com áreas que possuam relação com seus estudos. Fala ainda que, há tempos, planeja levar a temática da observação de aves ao conhecimento de seus alunos. Aves, cultura, história e respeito juntos O evento foi bastante concorrido, uma diversidade de atividades e interesses chamou a atenção dos alunos. A semana começou com uma roda de conversa com ex-alunos que atuam como guia de turismo, depois assuntos rela-

cionados ao Turismo de Base Comunitária, observação de aves e palestras com os gestores do Parque Estadual da Serra do Mar e Ilha Anchieta. Aos alunos foi passada um histórico da PROMATA, sua formação e uma apresentação sobre a iniciação ao curso de observação de aves, - uma mostra do panorama geral da atividade. Também foi falado do sistema em que a associação de observadores de aves da região sul trabalha – o segmento de Turismo de Base Comunitária. Conquistas O Colégio Tancredo é a única instituição de ensino em Ubatuba que oferece o Curso Técnico de Turismo Nacional que credencia profissionais em áreas do turismo para o Brasil, América do Sul, Atrativos Naturais, histórico cultural e regional São Paulo. Para Mariana, foi importante a vinda da PROMATA ao evento porque os alunos ainda não

possuíam contato com este setor do turismo e preservação da cultura e do meio ambiente. A professora fala que o retorno da palestra foi positivo, foi, segundo ela, o dia que eles mais gostaram. “As explicações propiciaram um olhar

Na semana do dia 14 a 21 de agosto a comunidade católica da região sul esteve em festa. Fiéis, convidados e até turistas participaram da Semana Nacional da Família da pastoral familiar. Foi uma semana de intensa programação, visita e manifestação de fé no matrimonio. O tema desta vez foi: Misericórdia na família – dom e missão. O objetivo desta semana na paróquia foi a de testemunhar a credibilidade no sacramento do matrimonio, onde, segundo os organizadores, os fiéis são chamados a presenciar tal testemunho cuja semana é tratada de forma diferenciada

dos demais dias da paróquia. A semana foi agitada. Foram carreatas, buzinaço, visitas as comunidades, caminhadas, muita oração e até trilha foi realizada para alcançar o objetivo da semana. Mais do que movimentar é celebrar e testemunhar o amor pela família e como igreja sair em missão, conforme o desejo do Pároco Pe. Daniel e do Vigário Pe. Manoel. Foi uma intensa semana onde o foco foram os setes dias para celebrar a família e refletir sobre temas importantes à base familiar. Padre Daniel levou os fiéis a refletirem sobre a importância da casa de cada um, cada família,

onde ela tem que ser melhor que a rua. A cada tema todos foram levados a descobrir o amor misericordioso de Deus, dizem os organizadores. “Passamos por várias comunidades, uma semana em que percebemos a alegria de ser igreja e com nossos pastores testemunhar que vale a pena acreditar no sacramento do matrimonio alimentando-nos do evangelho e da eucaristia para fortalecer a nossa igreja doméstica”, contam Ana e Cajé, coordenadores da Pastoral Familiar, que aproveitam a oportunidade para agradecer a todos pela participação e pedir que Sagrada Família que rogue por nós.

A video-aula e os sons das aves facilitou o entendimento sobre a atividade

diferenciado ao que eles – alunos – conheciam sobre observação de aves. Importante também a roda de conversa e o turismo de base comunitária no evento”, conclui a professora. O colégio também conquistou a oportunidade de levar

o curso de monitoria das UCs em Ubatuba (Picinguaba e Ilha Anchieta) para sua grade curricular. Quem sai ganhando são os moradores de Ubatuba que podem trabalhar e atuar no município que moram. Falta agora agendar uma saída de campo.

Paroquianos participam da Semana da Família

O sorriso dos organizadores nesta foto reflete o sucesso da Semana da Familia


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Setembro 2016

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“Chacina na Ilha Anchieta - Tiroteio na invasão e retomada da Ilha” Parte 29

Jornais da época enviaram seus melhores repórteres para descrever a maior rebelião do planeta que aconteceu em nossa região, sobreviventes ajudam a contar a história.

Ezequiel dos Santos “Lendas & Outras Histórias - Seu Filhinho. A partir da pagina 106 deste livro o autor – Washington de Oliveira – continuando suas narrativas ao qual pouco se fala sobre o inicio do presídio. Alegando ser o custo da manutenção da estrutura na ilha ser muito alto, as autoridades da época resolveram transferir a colônia para Taubaté em 1916. Diziam que era muito difícil manter a Colônia na ilha, as comunicações eram penosas, onde em dez em dez dias havia um navio que servia a ilha sem data regular, não dispunham de barcos motorizados, a ligação com a Praia da Enseada, mais próxima da ilha era feita por canoas, utilizadas por caiçaras para pesca e transporte. O abastecimento de comida era precário, na falta de algum produto era difícil seu suprimento imediato, se ventava forte e o mar se agitasse tudo ficava pior. Na época, diz Filhinho, que o pão era fabricado em Ubatuba e o transporte era diário, se o mar estivesse ruim, não chegava o alimento. Com a mudança da Colônia Correcional, alguns funcionários foram levados, outros preferiram servir no Carandiru, boa parte pediu demissão e buscou alternativas. Neste ínterim a estrutura ficou abandonada, o mato tomou conta do lugar. Apenas alguns moradores do continente, que vezes ou outras iam lá pescar, é que “tomavam” conta do lugar sem nada alterar, subtrair ou danificar o que fora construído com dinheiro publico.

Desembarque dos politicos para vistoriar o local - 1919

Preocupados, perceberam que moradores haviam falado a verdade

Estes moradores, segundo relatos da época, eram verdadeiros e eficazes vigilantes daquele patrimônio. Tão eficazes que percebendo o interesse do empresário Agostinho Rossi, que havia arrendado a ilha para uma indústria de pesca e agricultura, temeram que o lugar fosse depilado a exaustão se mobilizaram e avisaram às autoridades de Ubatuba que deram ciência a estadual imediatamente. A reclamação deu resultado. Em 1919, o então presidente do estado, Altino Arantes, desembarcou na Ilha, lá pode ver o que de fato haviam reclamado. O bem estadual estava sendo destruído, com tudo que viu e ouviu determinou a rescisão. Para que isso acontecesse, o delegado de Ubatuba teve que se dirigir com policiais para tomar posse novamente da ilha fazendo retira-se o arrendatário Agostinho Rossi. No ano seguinte, 1920, chega a ilha o Dr. Oscar Dutra e

Silva, para instalar ali um posto de atendimento a sanidade do rebanho pastoril do estado, seriamente ameaçado naquela ocasião. O Dr. Dutra trouxe com ele o Sr. Armando Meira Bohn, que continuou, após o encerramento do posto, como zelador da ilha. Com ele havia uma verba anual, ao qual em vez de desembolsar, contratou vários caiçaras para manter o local e o patrimônio construído em ordem. Armando acabou casando-se e falecendo em Ubatuba. Em 1926, agenciadores paulistas foram a Europa a busca de imigrantes para trabalhar em terras cafeeiras paulistas. É a outra parte da história do Brasil e da Ilha Anchieta que poucos conhecem – a dos Bessarabianos (Búlgaros e Gagaúzos) com livro publicado e escrito por Jorge Cocicov, descendente deste povo que nesta obra compilou importante parte da histórica migração mundial em 746 paginas.

Em direção a casa do Diretor e ao quartel, nenhum lugar ficou sem ser vistoriado - 1919

Comitiva de Altino Arantes vistoriando a Ilha depois da denuncia de moradores


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Aves da nossa rica Mata Atlântica: Choquinha-lisa Pequena, ágil, costuma proporcionar alguma emoção aos observadores de aves por sua velocidade quando na busca de um bom ângulo para um registro. O seu canto remete os antigos moradores a várias boas lembranças, principalmente os de infância. Ainda do período das “coivaras”, do ciclo rotacionado das roças, por entres os “taquaruçus”, esta pequena ave e outras se movimentavam num balé frenético em busca de pequenos insetos movimentados pela ação do homem natural. Corajoso e arisco, é possível também, mais ouvi-los do que avistá-los, nas brenhas de taquaras e cipós à beira dos “carreiros”, trilhas, caminhos e até estradas. Embora difíceis de serem avistados, para quem conhece seu canto, basta fazer silencio e ouvir o som da natureza, ela vai estar lá. Conhecida como Choquinha-lisa (Dysithamnus mentalis) esta é uma ave Passeriformes da família Thamnophilidae, também chamada em alguns lugares do país como xorró-de-rabo-curto. O curioso é a descrição de seu nome científico, que significa: do (grego) duö = plumagem; e thamnos = arbusto; e do (latim) mentalis, mentum = referente ao queixo, queixo, então temos “Pássaro do arbusto com plumagem no queixo”. Genericamente falando ele é o cara que não faz a barba. Por sorte, sua classificação no quesito “Estado de Conservação” encontra-se como “pouco preocupante”, ainda. Porém basta lembrar que com a diminuição das roças e das áreas vegetadas diminui drasticamente o seu meio de vida, consequentemente seu avistamento vai sendo cada vez mais difícil. No Brasil ainda

é possível ocorrer do leste do Pará ao Rio Grande do Sul, por enquanto. Costuma viver tanto na floresta primária quanto na secundária em matas secas e úmidas. O registro desta ave, um macho da espécie, para esta matéria foi realizado no quilombo Caçandoca, na trilha que vai até o saco das Bananas, local ainda preservado, tanto ambientalmente, quanto culturalmente. Não foi fácil fotografá-la, mas com paciência foi possível. Pequena no tamanho e grande na importância, esta ave mede cerca de 11,5 cm de comprimento e pesa 12,5 g. O macho possui a parte superior cinza-escuro e a inferior cinza-esbranquiçado, enquanto a fêmea possui o alto da cabeça de cor canela, a parte superior amarronzada e a inferior cinza-olivácea. Vive geralmente em casais aos pares- pulando vagarosamente em busca de pequenos insetos. Quando vê algo diferente, como a presença de humanos, se torna ágil e veloz. Faz ninho em forma de xícara, em arbustos. Põe dois ovos esbranquiçados, manchados de marrom-arroxeado. Constrói seu ninho utilizando fibras vegetais, fibras mais finas como linhas de costurar, com isto, providencia uma espécie de “amarração”, digna de um alfaiate, para fixar o ninho entre dois pequenos galhos. Depois o ninho é camuflado com líquen para enganar os predadores. Dois a três ovos brancos com pequenas machas marrom serão chocados neste ninho. Curiosamente, como costumamos supor, é a fêmea, que choca os ovos, na maioria das espécies de aves, neste caso parece que o macho tam-

Foto: Aguinaldo José/PROMATA

bém ajuda nesta tarefa! Agora é prestar atenção e observar, se você avistar uma pequena ave que não fica parada de jeito nenhum, pode ser que

você esteja próximo a uma Choquinha-lisa, de chance a ela para te conhecer, quem sabe você pode vê-la por inteiro, até fotografar e admira-la

sem que ela se preocupe com você humano. Fonte: PROMATA, Ubatubabirds, Coaves, WikiAves, natadaserra.com.br


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Setembro 2016

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O homem do barranco

Pé de manacá florido na porta da sala da casa da Praia Dura onde meu avô morou até ser vítima da ganância imobiliária denunciava época de festas. Como não havia capela no bairro, as comemorações do padroeiro São Pedro aconteciam sempre na sala do festeiro escolhido no ano anterior. Os preparativos iam de vento em popa. A novena do Santo já estava acontecendo. Mulheres, homens e crianças se colocavam em alerta para ajudar a descascar mamão para o doce, fazer melado, puxa-puxa e reforçar no forneio da farinha. A tainha seca (quinhão do santo) aguardava sobre o fumeiro o momento certo para ser preparada com abóbora, sem falar na panelada de pedaços de galinha gorda para zerem cozidas no feijão. Agulhas e linhas davam o retoque final das roupas a serem exibidas. Os cabelos tratados com chá de alecrim. Acima do barranco, atrás da referida casa, passava a estrada. Quero dizer, a estrada passa ali até hoje, a casa é que não está mais lá. Tem uma reta seguida de uma cur-

va, subida para quem vai de Ubatuba para Caraguá, e é obvio, que descida para quem vem e lá. Segunda-feira era comum as lavadeiras, com as saias amarradas na lateral do corpo, perto das coxas, batiam as roupas na tábua cheia de espuma de sabão de cinza. As galinhas comiam mandioca socada na pedra e as crianças alvoroçadas, brincavam no quintal. De repente, ouviu-se um barulho ensurdecedor abatendo a rotina do bairro. Todos os que ali estavam, ouviram. Pensaram que era o fim do mundo. Meu avô que remendava rede perto da janela largou tudo e correu para o possível local do barulho para saber o que realmente estava acontecendo. Um caminhão, vindo da cidade, perdeu o controle e capotou junto ao barranco na perigosa curva. O motorista veio a falecer. Não suportou os ferimentos. Naquele tempo era tudo muito difícil. O inspetor de quarteirão, sempre admirado por sua presteza e coragem, tivera que usar as suas atribuições e tomas as providências cabíveis.

O dia da festa chegou. Apesar da sua nova mulher (meu avô havia casado novamente) pedir, implorar para que ele não fosse à festa, pois ela estava grávida e não querida ficar sem ele por perto. Não houve jeito. Meu avô não lhe deu ouvidos. Ia ter ciranda, xiba, cana verde a noite toda. É ruim de ele perder! Além disso, uma autoridade do bairro, igual a ele, sempre tem a presença obrigatória. E lá foi ele para a festa de São Pedro. Dançou até quebrar o tamanco de pau de laranjeira. A lua esbranquiçada caia para o meio do céu. Colocou o chapéu na cabeça e foi-se embora. No caminho ao se aproximar do fatídico barranco, percebeu alguém encostado. Sentiu-se petrificado quando percebeu que o homem encostado era o mesmo que fora vítima do acidente ocorrido dias antes. E estava sorrindo para o meu avô. A disparada foi total que o inspetor de quarteirão chegou em casa sem o seu querido chapéu. Fatima de Souza Livrro Arrelá Ubatuba

Paroquianos realizam terço nas Capelas da região

No último dia 3, um grupo de paroquianos realizou um sábado de “terço itinerante” percorrendo as capelas da região. Ainda estava escuro quando partiram para missão. A atividade começou pela capela do Sertão do Ingá, Praia Grande do Bonete, Fortaleza, Praia Dura, Lagoinha, Sape, Caçandoca, Arautos do Evangelho, Tabatinga, Rio da Prata, Araribá e finalizou no Sertão da Quina. A equipe enfrentou trilhas e praias para alcançar seus objetivos, pessoas de todas as idades compuseram a equipe que realizou firme e forte a missão. Qualquer um pode participar e engrossar o coro da fé e da cultura local através da reza do terço. Participem!


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Coluna da Adelina Fernandes

Cecília Meireles A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores. Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende. Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro

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Primavera raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz. Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não

se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação. Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se enten-

deu e amou. Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor. Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera. *

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Texto extraído do livro “Cecília Meireles - Obra em Prosa Volume 1”, Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

1ª semana de setembro movimentada por atividade religiosa e social em comemoração a N. Senhora das Graças

As 3 meninas em 1925 na ocasião da chegada da imagem oficial da Santa conforme descrição da época

Ezequiel dos Santos Entre os próximos dias 5 a 10 de setembro, no bairro do Sertão da Quina, a comunidade paroquial Nossa Senhora das Graças, da Diocese de Caraguatatuba apresenta um série de atividades em comemoração a padroeira local. O evento, composto por ações religiosas e social, agora é centenário, já que em 2015 completou um século de atividades. A festa, que nos primórdios desta história, era tão somente um movimento de moradores para acolher os milhares de fiéis que vinham em busca de conversão e curiosidades sobre o aparecimento da Virgem em 1915 cresceu vertiginosamente, hoje atrai um numero substancial de fiéis, visitantes, turistas e curiosos. Os dias seguem com Tríduo e celebrações. O ponto alto é o dia 8 onde é realizado o santo terço, a procissão e a celebração que desta vez será presidida pelo Bispo Diocesano Dom José Carlos Chacorowski.

A comunidade conta ainda com a participação de Frei Vitório Infantino, um convidado mais do que especial, o idealizador de um projeto de vida em comunhão ao qual, como prova física, surgiu à Casa de Emaús há décadas atrás. Histórico Desde meados da década de 1910, onde segundo a tradição, uma jovem moça apareceu para quatro meninas (Iria Rosa, Benedita Januária, Maria Joana Félix e Maria Aparecida que viu apenas uma vez). Tudo aconteceu na Casa do Capelão Luiz Félix, de onde hoje é a parte da capela local. Embora haja a festa social, o que une ainda os paroquianos é o forte apelo aos sentidos e costumes religiosos da comunidade, sustentando vínculos com a identidade cultural e religiosa local e mantendo a tradição dos encontros de gerações das famílias no intuito de assumir e tomar posse deste acontecimento agora centenário.



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