Jornal Maranduba News #12

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Jornal MARANDUBA News

Chove chuva, chove sem parar! CAMILO DE LELLIS SANTOS

Se o mundo se preocupa com a futura falta de água em nosso planeta. Nós, ubatubenses, não podemos reclamar, pois esse elemento da natureza está em abundância em nossa terra. Alguns gostam, entretanto a maioria se incomoda por ter de ouvir sempre o jargão “ubachuva”. Mas será que sabemos explicar aos conterrâneos e turistas a razão de tanta chuva? Em entrevista, a adorável e atenciosa doutora Luci Hidalgo Nunes, coordenadora do Laboratório de Estudos Climáticos do Instituto de Geociências e professora da UNICAMP, especialista em mudanças climáticas, eventos atmosféricos extremos e desastres naturais ocasionados por condições climáticas, nos apresentam informações sobre o clima de nossa cidade. Para quem pensa que Ubatuba é a cidade mais chuvosa do litoral paulista está enganado. A primeirona é a cidade de Bertioga, ou para os engraçadinhos “bertiágua”. Sua média anual de precipitação de chuva é de 4500 mm, enquanto que Ubatuba apresenta aproximadamente 2600 mm o que significa que a cada ano chove o suficiente para encher 26 caixas d’água de 1000 litros em cada metro quadrado de nosso município. Sem dúvida, nossa cidade está entre as 10 cidades mais chuvosas do país. A impressão de que chove tanto é devido às precipitações de chuva ser mais constantes ao longo do ano. Enquanto que em outras cidades 72 % das chuvas se concentra no período primavera-verão.

O fato de nossa cidade ter alta umidade e ser quente (o que significa ter constante energia) propicia o excesso de chuva. Mas devemos lembrar de um fator que contribui enormemente para esse clima, a Serra do Mar. Quem conhece o litoral paulista, observou que a cidade de Ubatuba está muito próxima da Serra do Mar, enquanto que cidades como Santos e São Vicente estão mais distantes. A Serra do

Mar é uma barreira, que favorece a grande quantidade de chuva por impedir a distribuição de umidade e frentes de chuva para o interior. Em São Luiz do Paraitinga que é nosso vizinho chove muito menos, pois está atrás da barreira. Entretanto para que chova não basta ter somente nuvens, é necessário à presença de núcleos de condensação (micropartículas, tais como pólen, microorganismos, sal marinho, etc). Imagine que com o calor do dia o vapor d’água vai se acumulando, o ar quente é mais leve e portanto sobe, o ar frio mais pesado desce. A Serra do Mar

impede que esse “sobe e desce do ar” se disperse para o interior, e a Mata Atlântica fornece pólen e microorganismos e o Oceano Atlântico o sal marinho. Essas micropartículas vão para o ar e as gotículas de água, que são levinhas e incapazes de cair, vão se juntando nessas partículas, até que quando várias gotículas se juntam nesses núcleos de condensação, ficam pesados e cai a chuvarada. Graças a isso é que possuímos a mais exuberante paisagem do litoral paulista. Nossa Mata tem sua biodiversidade tão importante por conta do clima. Aqui podemos observar por todos os cantos bromélias e orquídeas. Além disso, se não chovesse tanto para encher nossos reservatórios de água, a cidade viraria um caos incontrolável durante a temporada de verão, quando a população do município aumenta muito. Contudo, o excesso de chuva, tem ações negativas, pois favorece o escorregamento de encosta e facilita o surgimento de criadouros de mosquito da dengue. Resta lembrar que convivemos com a chuva e que ela permanecerá nas gerações futuras. Cabe a nós sabermos tirar proveito dela, enxergá-la como algo positivo que contribui para beleza de nosso paraíso, e impedir ações destruidoras do homem. Como diz a professora Luci, “A chuva é a deflagradora (dos fenômenos de escorregamento de encosta e do acúmulo de água), a culpa é do processo de ocupação.”. Camilo de Lellis Santos é biólogo

01 Agosto 2010

“Preto não pode contá!” Conta à lenda de uma filha de um capitão chamado Manuel Fernandes Correia o qual era proprietário de uma fazenda na Praia Dura. Um dia sua filha Alice resolveu fazer um passeio e embrenhando-se na mata acabou perdendo-se. Como premio o pai de Alice prometeu ao escravo que a encontrasse, liberdade imediata. Pedro um escravo forte conseguiu encontrá-la após uma longa procura trazendo-a carregada de volta. Alice fora encontrada no alto do Corcovado. No dia seguinte o escravo foi açoitado por não poder trabalhar devido ao cansaço pelo esforço despendido na procura de Alice. Esta sabendo do acontecido pediu ao pai que cumprisse o prometido, ou seja, libertar o escravo que a encontrara. Pedro beijou a mão da moça e partiu sem destino, para os lados do Corcovado e lá instalou sua choça ao lado de uma cascata murmurante, próxima a escarpa misteriosa. Pedro vinha sempre a Ubatuba trocar canudos de Taquaruçu, cheios de grãos de ouro por fumo, cachaça, gêneros e etc. Esta noticia chegou também na fazenda do Capitão Correia, que, em uma noite acompanhado de um grupo armado foi a choça de Pedro, capturando seu ex-escravo levando-o para sua fazenda. Lá chegando, Pedro foi forçado a contar como e onde descobriu aquele fabuloso tesouro. O escravo suplicava para não forçá-lo a falar, pois não podia. Após novos sofrimentos, chico-

tadas, etc., Pedro resolveu falar: “Estava morando no Corcovado, numa choça perto da cascata, quando soube da morte de Alice. A note não conseguia dormir parecendo-lhe ouvir a voz cristalina da moça. Numa canção de amor. De repente a casa do casebre tremeu e escancarou-se, penetrando por ela um vulto de mulher! Era Alice! Ele a reconheceu. Como que agarrado por mãos invisíveis, não pode mover do lugar onde estava, mais ouviu perfeitamente a visão dizer: “Pedro tu foste um dia o meu salvador. Deite-te a liberdade, mas sei que tu sofres, neste exílio maldito, onde te arrojou a impiedade de meu pai. Não te assuste e ouve-me. Não muito longa daqui, nas entranhas destas montanhas, existe uma grande mina de ouro. Ela será tua, sob a única condição de nunca revelares a ninguém esse lugar cobiçado. Se isto tentares, a vingança do gênio protetor da mina cairá sobre a tua cabeça, ouviste? Cuidado, e segue os meus passos.” Negro maldito! Gritou o capitão - Não retardes a revelação! Onde está o tesouro? Sinhô... tá pra banda do... e o ruído do baque de um corpo encheu a sala da casa grande. Pedro caíra morto, fulminando, antes de revelar o sitio misterioso de tão cobiçado tesouro, que até jaz nas proximidades do Corcovado. Pedro bem dizia: “Preto num pode contá!”

Extraído do Livro “Ubatuba Lendas e Outras Estórias” de Washington de Oliveira, “Seo” Filinho


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