aprender melhor 13

Page 1

aprender melhor BOLETIM INFORMATIVO DO PROJETO FAZER MELHOR, APRENDER MAIS

Este boletim é uma adaptação do que foi editado em 2010 sobre o Dia Nacional ano II número 13 novembro 2015

da Cultura Científica. Este dia, que se celebra a cada 24 de Novembro de cada ano, foi instituído oficialmente em 1997 para comemorar o nascimento de Rómulo de Carvalho e divulgar o seu trabalho na promoção da cultura científica e no ensino da ciência. Rómulo de Carvalho/António Gedeão

A

firmando-se

assim uma carreira que se

em 1906, no dia 24 de no-

como afirmou por si própria na cul-

vembro. Criança precoce, aos

tornou-se

5 anos, escreveu os seus pri-

lentosos criadores do uma figura de referência in-

meiros poemas e aos 10 deci-

um dos mais brilhantes e ta- tura

portuguesa,

imaginário

diu completar "Os Lusíadas"

de Carvalho (António colectivo do povo português,

de Camões. A par desta incli-

Gedeão), respectiva- principalmente para toda a

nação para as letras, ao en-

mente, o professor, geração da "Pedra Filosofal".

trar para o liceu Gil Vicente,

século

XX,

Rómulo contornável

no

Poucos meses após ter

tomou contacto com as ciên-

dor da ciência, e o celebrado o seu 90º aniversá-

cias e foi aí que despertou

seu alter-ego literá- rio, assinalado pela homena-

nele um novo interesse. Em

rio, atravessou todas as con- gem que lhe foi prestada pelo

1931, licenciou-se em Ciên-

acontecimentos Ministério de Ciência e de Tec-

cias Físico Químicas pela Fa-

pedagogo e historia-

vulsões

e

marcantes

do

nosso século, que se reflectiram na formação de um espírito extremamente

marcado

pelo cepticismo e pela ironia, sempre presentes nos seus

poemas.

culdade de Ciên-

Máquina do Mundo O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma. Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea. Espaço vazio, em suma.

1932

conclui

Pedagógicas

Daí, que este arrepio,

o na

Faculdade de Le-

este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,

tras do Porto, pre-

esta fresta de nada aberta no vazio,

nunciando

deve ser um intervalo. António Gedeão

assim

qual seria a sua actividade

princi-

lho traduziu como ninguém a nologia, dirigido então pelo

pal daí para a frente e duran-

ciência para os leigos, des- Professor Mariano Gago, a sua

te 40 anos: professor e peda-

vendando segredos científicos morte, em 19 de Fevereiro de

gogo.

com a mesma simplicidade 1997, deixa-nos um legado Para conhecer melhor o projeto Fazer Melhor, Aprender Mais:

de do Porto e em curso de Ciências

O resto, é a matéria.

Rómulo de Carva-

cias da Universida-

Exigente

e

comunicador

para o futuro, numa socieda-

por excelência, para Rómulo

Lisboeta toda uma vida, de cada vez mais global onde uniu de forma exemplar, atra- a união entre Ciências e Hu-

de Carvalho ensinar era uma

vés da sua obra, a ciência e a manidades se tem tornado poesia, a vida e o sonho. Ape- cada vez mais uma necessida-

assim, além da colaboração

sar de só aos 50 anos ter de- de premente.

Física" a partir de 1946, con-

com que os exemplificava.

paixão e uma dedicação. E como director da "Gazeta de

Rómulo Vasco da Gama de

centrou durante muitos anos,

livro de poesia, inaugurando Carvalho nasceu em Lisboa,

os seus esforços no ensino,

cidido publicar o seu primeiro

aprender melhor


Rómulo de Carvalho/António Gedeão dedicando-se, inclusive, à elabora-

ção do Museu Maynense da Acade-

ção de compêndios escolares, ino-

mia das Ciências de Lisboa, sete

vadores pelo grafismo e forma de

anos depois de se ter tornado sócio

abordar

correspondente

matérias

tão

complexas

como a física e a química.

dessa

Academia,

função que desempenharia até ao

A partir de 1952, dedica-se à

fim dos seus dias. Quando comple-

divulgação científica a um nível

tou 90 anos de idade, a sua vida foi

mais amplo através da colecção

alvo de uma homenagem a nível

"Ciência Para Gente Nova" e muitos

nacional. O professor, investigador,

outros títulos, entre os quais "Física

pedagogo e historiador da ciência,

para o Povo", cujas edições acom-

bem como o poeta, foi reconhecido

panham todo aqueles que se inte-

publicamente por personalidades da

ressam pela ciência até meados da

política, da ciência, das letras e da

década de 1970.

música.

Nos anos 40, Rómulo de Carvalho publicou também livros de di-

para saber mais: Ciência Viva—Agência Nacional para

vulgação científica na Biblioteca Cosmos, diri-

Cultura Científica e Tecnológica Pavilhão do Conhecimento—Agência Nacional para Cultura Científica e Tec-

gida por Bento de Jesus

nológica

Caraça. Nesses livros, Rómulo

de

Carvalho

procurava captar o interesse e a curiosidade de toda a gente. Apesar

da

intensa

Programa Ciência Viva — Homenagem a Rómulo de Carvalho 1997 António é o meu nome — Página de Rómulo de Carvalho De Rerum Natura — Sobre a Natureza

actividade

científica, Rómulo de Carvalho nun-

das Coisas Museu Maynense — Academia das Ciências de Lisboa

ca esqueceu a arte das palavras e continuou sempre a escrever poe-

Museu Maynense — C.I.T.I.

sia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que ela nunca seria útil a ninguém, nunca tentou publicá-la, preferindo destruí-la. Só em 1956, após ter participado aos 50 anos, o seu primeiro livro de "Movimento

Perpétuo",

com o pseudónimo António Gedeão. Continuou depois a publicar poesia,

livros disponíveis na biblioteca: 

História dos balões

aventurando-se, anos mais tarde,

A Física no dia-a-dia

no teatro, no ensaio e na ficção.

Cadernos de Iniciação Científica

Nos seus poemas há uma simbi-

Poesias Completas

ose perfeita entre a ciência e a poe-

sia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coe-

Rómulo de Carvalho/António Gedeão Príncipe Perfeito Ciência Hermética

poemas musicados 

Pedra Filosofal

Lágrima de Preta

Em 1990, já com 83 anos, Ró-

Livre (não há machado que corte)

mulo de Carvalho assumiu a direc-

Dedicatória

xistiram esses dois interesses.

2

Lágrima de Preta Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar. Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado. Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente. Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais. Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume: nem sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) e cloreto de sódio.

Como será estar contente? Como será estar contente? Lançar os olhos em volta, moderado e complacente, e tratar com toda a gente sem tristeza nem revolta? Sentir-se um homem feliz, satisfeito com o que sente, com o que pensa e com o que diz? Como será estar contente?

Catedral de Burgos

num concurso de poesia, publicou, poemas

Poemas de António Gedeão

A catedral de Burgos tem trinta metros de altura E as pupílas dos meus olhos dois milímetros de abertura. Olha a catedral de Burgos com trinta metros de altura!

Dedicatória Se poeta sou Sei a quem o devo Ao povo a quem dou Os versos que escrevo Da sua vida rude Colhi a poesia Tentei quanto pude Dar-lhe a melodia E é nessa harmonia Entre a forma e o fundo Que eu desejaria Ver florir o mundo aprender melhor


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.