REVISTA IHGM, N. 41, JUNHO 2012

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REVISTA

DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

Número 41 – JUNHO DE 2012

ISSN 1981-7770

CULTURA

Comissão de Comemorações dos 400 anos de Fundação de São Luís PORTARIA 03/IHGM, de 15/12/2010

COLETÂNEAS DO CICLO DE ESTUDOS/DEBATES

A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS 2011 – 2012 SEMINÁRIO III – 25 de ABRIL de 2012

Maranhão REPUBLICANO – AS OLIGARQUIAS

Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/


Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, DEZEMBRO DE 2011. n. 41, junho de 2012. Edição eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/ ISSN: 1981-7770 1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos p. 410 CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21


ISSN 1981 – 7770 REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO NO 41 – JUNHO – 2012 EDIÇÃO ELETRÔNICA Rua de Santa Rita, 230 – Centro Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assinadas são de responsabilidade dos respectivos autores. ENDEREÇO DAS EDIÇÕES ELETRÔNICAS

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http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm-30

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http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm__32_-_mar_o_2010

http://issuu.com/leovaz/docs/revista_33_-_junho_2010


http://issuu.com/leovaz/docs/revista_34_-_setembro_2010

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APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 40 Na Gestão 2010/2012 da Chapa Antonio Vieira, tendo a frente a Professora Doutora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo manteve-se a periodicidade da Revista do IHGM; ao priorizar o formato eletrônico, o IHGM se coloca na vanguarda do processo de dissiminação do conhecimento, em que novas formas de se apresentar a produção do trabalho do historiador - antes restrito apenas aos textos e aos livros, ainda que não excluindo os mesmos nem tampouco negando sua importância. Assim, concordamos com Murray Phillips (2012) 1 que em recente evento de história, chama-nos a atenção para o que denominou de e-history, argumentando que com o tempo, esses novos meios estarão cada vez mais estabelecidos, e os historiadores precisam se preparar para essas mudanças. Defende que os historiadores devem se aproximar mais da ferramenta Wikipédia, conhecendo melhor seus mecanismos e assim suplantando as suspeitas e as ressalvas inicialmente impostas ao sitio. Considera essas novas questões sobre a produção da história, sua forma, autoria e conteúdo, como importantes pontos a serem debatidos e repensados. Desde a gestão da Profa. Eneida Vieira da Silva Ostria de Cañedo foi publicada, em formato eletrônico, 13 revistas – incluindo-se este no. 41, além da no. 1, edição escaneada: Edições na Gestão da Profa. Eneida: http://issuu.com/leovaz/docs/revista_01_-_1926b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_29_dez_2008 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm-30 http://issuu.com/leovaz/docs/ihgm_31_novembro_2009 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm__32_-_mar_o_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_33_-_junho_2010

Iniciada em agosto de 2010 e encerrada nesta edição de junho, foram oito números, mantendo-se a periodicidade trimestral, pela primeira vez desde que o IHGM foi fundado e sua Revista instituída. Edições na gestão da Profa. Telma http://issuu.com/leovaz/docs/revista_34_-_setembro_2010 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_35_-_dezembro_2010/1 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_36_-_mar_o_2011b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011b http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_jun_2012

Outros mecanismos de dissiminação da informação foram introduzidos, como o Blog do IHGM, alimentado pelo Confrade Euges Lima: http://ihgm1.blogspot.com.br/ 1 PHILLIPS, Murray. ―Storying the Sporting Past in the Digital Age: Multiple Histories of the Paralympic Movement‖ (Contando o passado esportivo na era digital: histórias múltiplas do movimento parolímpico). In XL Convenção Anual da Associação Norte-Americana de História do Esporte NASSH – North American Society of Sport History, Berkley, California, 1 a 4 de junho de 2012, citado por Maurício Drumond in http://historiadoesporte.wordpress.com/


e a página no Facebook; http://www.facebook.com/people/IhgmMaranhao/100003343278385#!/groups/324308197653931/ e a página de Grupos: https://groups.live.com/P.mvc#!/ihgm/ Deu-se continuidade às Palestras que caracterizaram o IHGM, na discussão de atos e fatos histórico-geográficos, incluindo-se nessas discussões as ‗novas‘ ciências sociais; assim, instituído o Ciclo de Palestras/Debates propôs-se um calendário anual, e neste ano de 2012 desvinculado das Assembléias Gerais Ordinárias – AGO – visando maior participação do público; o que ainda não se conseguiu, por falta de maior divulgação. Espera-se que a próxima gestão consiga tornar mais visível essas atividades. Como ponto alto fez-se realizar o Seminário “A Cidade do Maranhão – uma História de 400 anos‖, dividido em dois eixos: a formação do Maranhão, com três seminários; e a fundação própriamente dita, de São Luis, com as questões levantadas, nos últimos anos, de ser francesa, ou não. Também serão três seminários... O Projeto “Gonçalves Dias‖, ‗infiltrado‘ nessa efeméride, deve ter seu final apenas no próximo ano, quando – e se – se chegar aos ―1.000 poemas para Gonçalves Dias‖; até o momento se fizeram três ‗Encontros Gonçalvinos‘, em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias-MA, e a Academia de Letras de Caxias. Em agosto, teremos o quarto encontro... Concordamos com Arno Wehling (2012) 2 nosso Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) quando se refere ―serem múltiplos os objetivos de uma instituição como o IHG, sendo o que mais se evidencia ser a produção do conhecimento veiculada na Revista e em outras publicações‖. Mais, como Wehling, não podemos esquecer ―o papel do IHG como academia - não no sentido universitário -, e sim, em sua acepção renascentista do termo, como local em que se reúnem pessoas que refletem e discutem sobre determinados temas e questões, acentuando o traço de convivência com a pluralidade de pontos de vista característico de uma atitude humanista‖. Lembrando que o IHG também é ―uma instituição de memória, o que remete à questão da identidade‖; que se preocupa com a ―preservação do patrimônio cultural, sobretudo hoje em dia, quando o patrimônio puramente material foi acrescido do imaterial‖. A partir do próximo numero estaremos sob nova administração. A eleição deverá ocorrer na primeira quinzena de julho com a posse em 28 de julho – comemorativa à ―adesão do Maranhão‖ à Independência, uma das Datas Magnas. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR DO PRESENTE NÚMERO

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WEHLING, Arno. ENTREVISTA: consciência crítica. In REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro, ano 7, n. 80, maio de 2012, p. 50-55


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SUMÁRIO

PLANO EDITORIAL DO IHGM Diretoria – Gestão 2010 – 2012 SÓCIOS EFETIVOS PLANO DE TRABALHO CALENDÁRIO DE EVENTOS PARA 2012 AGENDAMENTO DO CICLO DE PALESTRAS PARA 2012 OS CÓDICES DE ALCÂNTARA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ OS CÓDICES DE ALCÂNTARA DANIEL RINCÓN CAIRES HOMENAGEM ÀS MULHERES MEMBRO DO IHGM É ENTREVISTADA PELA REVISTA HISTÓRIA EM CURSO

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POSSES

HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 09, BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO EDEN DO CARMO SOARES APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR ALDY MELLO DE ARAUJO CADEIRA 45 – IHGM, 27/04/2012 JOSETH COUTINHO DE FREITAS DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO NO MARANHÃO - DIA 27/04/2012 ALDY MELLO DE ARAUJO APRESENTAÇÃODE JOSÉ AUGUSTO E MARIA HÉLIA COMO MEMBROS EFETIVOS DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM 04DE MAIO DE 2012 CÉLIO VAZ SARDINHA DISCURSO DE POSSE MARIA HELIA CRUZ DE LIMA DISCUR SO D E PO SSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (04/05) JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE JOSEH CARLOS ARAUJO ÁLVARO URUBATAN MELO DISCURSO DE POSSE DO ESCRITOR JOSEH CARLOS ARAUJO NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO JOSEH CARLOS ARAUJO DISCURSO DE APRESENTAÇÃO AO IHGM DO HISTORIADOR E PROFESSOR DA REDE PUBLICA DO ESTADO E MUNICIPIO - EUGES SILVA DE LIMA TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO

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DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA DE N.º 22, COMO SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO EUGES SILVA DE LIMA DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DA PROFA. ASSIR ALVES DA SILVA NA SUA POSSE NA CADEIRA 27 PATRONEADA POR RAIMUNDO LOPES DA CUNHA TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 27 PATRONEADO POR RAIMUNDO LOPES DA CUNHA ASSIR ALVES DA SILVA

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XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL

SAUDAÇÃO DO GRÃO MESTRE OSVALDO PEREIRA ROCHA AOS PARTICIPANTES DO XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA OSVALDO PEREIRA ROCHA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL - alguns apontamentos para sua História LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O PROFESSOR NECESSÁRIO PARA O SÉCULO XXI DILERCY ARAGÃO ADLER ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA OSVALDO PEREIRA ROCHA CARTA DE SÃO LUÍS OSVALDO PEREIRA ROCHA ANTONIO DO CARMO FERREIRA EDENIR JOSÉ GALTIERI LUIZ GONZAGA DA ROCHA ÉLIO FIGUEIREDO

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NA MÍDIA

VILA VELHA DE VINNHAIS – MAIS QUE 400 ANOS! LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ALCANTARENSES DEPOIS SÃO-BENTUENSES ÁLVARO URUBATAN MELO UM DIA NO QUILOMBO - Com dois pesquisadores estrangeiros ANTONIO NOBERTO A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA. ALEXANDRE FERNANDES CORRÊA VALORIZAR O PASSADO PARA COMPREENDER O PRESENTE NATALINO SALGADO FILHO PADRE DAVI TOGNI, O BOM SACERDOTE ÁLVARO URUBATAN MELO A ILHA DO CIRURGIÃO ANTONIO NOBERTO A ARTE DE CURAR – O PAJÉ AYMORÉ ALVIM

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SEMINÁRIO DO IHGM DISCUTIRÁ SOBRE O DOMINIO DAS OLIGARQUIAS NO MARANHÃO IGREJA DO DESTERRO – UMA HISTÓRIA DE JOSÉS JOANA BITTENCOURT IGREJA DO DESTERRO: TERIA SIDO TEMPLO MAÇÔNICO? JOÃO FRANCISCO BATALHA DÉCIO SÁ JOAQUIM NAGIB HAICKEL ESTRADA DA MORTE JOÃO FRANCISCO BATALHA HISTÓRIAS COINCIDENTES DE LUTAS E CONQUISTAS NATALINO SALGADO FILHO DISCURSO REFERENTE AO RECEBIMENTO DO TÍTULO DE CIDADÃO PINDAREENSE NATALINO SALGADO FILHO O DOMINGO DAS MÃES. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM ÀS VEZES O BOM NASCE DO RUIM JOAQUIM NAGIB HAICKEL SETE DE SETEMBRO EM SÃO JOÃO BATISTA EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA JOSÉ ANGELO DA SILVA - UM LEGADO PARA A EDUCAÇÃO NO MARANHÃO ANTONIO NOBERTO 81º ANIVERSÁRIO DO ROTARY CLUB DE SÃO LUÍS OSVALDO PEREIRA ROCHA A IMPORTÂNCIA DOS FRANCESES NA FUNDAÇÃO DE BELÉM DO PARÁ JOANA BITTENCOURT A FERROVIA DO TOCANTINS MARANHENSE ADALBERTO FRANKLIN O FUTSAL NO MARANHÃO - ÍCONES E LEMBRANÇAS LEOPOLDO GIL DÚLCIO VAZ CORPUS CHRISTI: TEMPO DE RECORDAR PARA VALORIZAR NATALINO SALGADO FILHO O PRIMEIRO CONVENTO CAPUCHINHO DO BRASIL ANTONIO NOBERTO OS PRIMEIROS CONVENTOS FRANCISCANOS NO BRASIL MARIETA BORGES MESMO DESTINATÁRIO, OUTRO REMETENTE JOAQUIM NAGIB HAICKEL DIVERSIDADE LOCAL COMO SOLUÇÃO GLOBAL NATALINO SALGADO FILHO EU SELVAGEM? ANTONIO NOBERTO CAFÉ COM MEMÓRIA JOAQUIM NAGIB HAICKEL

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A VISITA DO INTERVENTOR AYMORÉ ALVIM

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INÉDITOS

OS DESAFIOS DA ESCOLA INCLUSIVA NO CENÀRIO ATUAL CLENIA DE JESUS PEREIRA DOS SANTOS A PEDRA DA MEMÓRIA E A COROAÇÃO DO IMPERADOR EUGES SILVA DE LIMA COLETÂNEAS DO CICLO DE ESTUDOS/DEBATES A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS - 2011 – 2012 25 DE ABRIL DE 2012

DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE OCUPAÇÃO ATÉ A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA TERRA – CRONOLOGIA – TERCEIRO PERÍODO: 1640 a 1750 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ A PRESENÇA DOS FRANCESES NO NOVO MUNDO, NO BRASIL E NO MARANHÃO DO SÉCULO XVI AO INÍCIO DO SÉCULO XVIII ANA LUIZA ALMEIDA FERRO SÃO LUÍS 400 ANOS: O PODER DOS MITOS ALEXANDRE FERNANDES CORRÊA 400 ANOS DE MEDICINA NO MARANHÃO. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM O MARANHÃO REPUBLICANO – AS OLIGARQUIAS DR. JOSÉ MARIA RAMOS MARTINS ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO

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PALESTRA MAGNA

O MARANHÃO NA REPÚBLICA – AS OLIGARQUIAS MÁRCIO COUTINHO

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DEBATES

O MARANHÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA: UM PANORAMA RAFAEL AGUIAR DOS SANTOS “REDES DE PODER”: UMA ANALISE SOBRE A OLIGARQUIA DE VICTORINO FREIRE NO MARANHÃO (1940 – 1970) RODRIGO DE CASTRO VEIGA BOLETA “O DIREITO DE DISCORDAR”: REABERTURA POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DA PROPAGANDA SARNEÍSTA NAS ELEIÇÕES DE 1984. DANIEL BRUNO DE JESUS FERREIRA JOYCE OLIVEIRA PEREIRA

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EXPOSIÇÃO ORAL

DAS LÁPIDAS ÀS CATACUMBAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CEMITÉRIO DE SÃO BENEDITO E AS MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NAS ATITUDES DIANTE DA MORTE E DOS MORTOS NA CIDADE DE ALCÂNTARA – MA DANIEL RINCON CAIRES SÃO LUÍS, PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE: UMA BELEZA DE GEOMETRIA ELVYS WAGNER FERREIRA DA SILVA PROJETO GONÇALVES DIAS – ENCONTRO GONÇALVINO

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“PLANO EDITORIAL DO IHGM”

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―I – O Plano Editorial do IHGM é destinado, exclusivamente para os seus associados, no sentido de: a) Defender e velar o patrimônio histórico e cultural do Maranhão; b) Estimular o estudo e cooperar na publicação prioritariamente, de questões sobre História, Geografia e Ciências afins referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; c) Cooperar com os Poderes Públicos nas medidas que visem ao engrandecimento científico e cultural do Maranhão. II – O Plano Editorial usará o seu órgão especial – a REVISTA – para as publicações trimestrais de trabalhos previamente selecionados. III – Os Associados poderão usar o PLANO EDITORIAL nas publicações de outros gêneros como romances, peças teatrais, ensaios, críticas, versos, novelas, crônicas, contos e monografias, quando os referidos assuntos forem previamente escolhidos em concursos e promoções realizadas pelo IHGM. IV – Será estabelecido premio anunciado com antecipação, além de medalha de ‗honra ao mérito‘, apoio e cobertura da solenidade de lançamentos da obra. V - As inscrições serão feitas de 1o. a 15 do primeiro mês de cada trimestre, com apresentação de original inédito, titulo da obra do nome do autor. VI – A Diretoria do IHGM designará anualmente por portaria três (3) membros de seu quadro de sócios efetivos com três (3) suplentes para comporem a Comissão de Leitura, sendo o julgamento por votação com parecer escrito considerado irrevogável. Os suplentes serão, automaticamente, convocados pela ordem, quando houver impedimento de quaisquer dos membros efetivos da mencionada Comissão. VII – Os casos omissos serão decididos de comum acordo pela Diretoria do IHGM e pela Comissão de Leitura e, em ultima Instancia pela Assembléia Geral do IHGM. São Luís, 05 de outubro de 1984 JOSÉ RIBAMAR SEGUINS Presidente do IHGM.

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SEGUINS, José de Ribamar. Plano Editorial do IHGM. In Rev. IHGM, São Luís, ano LIX, n. 07, dezembro de 1984, p. 83-84


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Fundado em 20 de novembro de 1925, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996 Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007 GESTÃO 2010/2012

Presidente de Honra: JOSÉ DE RIBAMAR SEGUINS CHAPA ANTONIO VIEIRA

Presidente: TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Vice-Presidente: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 1º. Secretário: RAIMUNDO GOMES MEIRELES 2º. Secretário: ANTONIO NOBERTO 1º. Tesoureiro: DILERCY ARAGÃO ADLER 2º. Tesoureiro: AYMORÉ DE CASTRO ALVIM Diretor de Patrimônio: ÁLVARO URUBATAN MELO Diretor de Divulgação: MANOEL SANTOS NETO

CONSELHO FISCAL Titulares: JOSÉ RIBAMAR SEGUINS JOSÉ RIBAMAR FERNANDES ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Suplentes: OSVALDO PEREIRA ROCHA ESTERLINA MELO PEREIRA RAUL EDUARDO CANEDO VIEIRA DA SILVA Editor da Revista do IHGM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ


SÓCIOS EFETIVOS CADEIRA 1 CLAUDE D’ABBVILLE

CADEIRA 2 YVES D’EVREUX

CADEIRA 3 DIOGO DE CAMPOS MORENO

CADEIRA 4 SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA

DILERCY ARAGÃO ADLER Psicóloga

JOSEMAR BEZERRA RAPOSO Advogado

RAIMUNDO CARDOSO NOGUEIRA

CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS Oficial de Marinha

CADEIRA 5 LUÍS FIGUEIRA

CADEIRA 6 ANTONIO VIEIRA

CADEIRA 7 JOÃO DE SOUSA FERREIRA

CADEIRA 8 JOÃO FELIPE BETTENDORF

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO Contabilista

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Historiadora

IVA SOUSA DA SILVA Historiadora

OSVALDO PEREIRA ROCHA Advogado

CADEIRA 9 BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO

CADEIRA 10 JOSÉ XAVIER DE MORAES DA FONSECA PINTO

CADEIRA 11 SEBASTIÃO GOMES DA SILVA BELFORT

CADEIRA 12 FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO

ÉDEN DO CARMO SOARES Odontólogo

ALEXANDRE FERNANDES CORREA A TOMAR POSSE

MANOEL DOS SANTOS NETO Jornalista

NATALINO SALGADO FILHO Médico

CADEIRA 13 RAIMUNDO DE SOUSA GAYOSO

CADEIRA 14 ANTONIO BERNADINO PEREIRA DE LAGO

CADEIRA 15 JOÃO ANTONIO GARCIA DE ABRANCHES

CADEIRA 16 FRANCISCO DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES

Sofiane Labidi (TOMAR POSSE

JOSÉ MARCELO DO ESPÍRITO SANTO Arquiteto

JOSÉ MARCIO SOARES LEITE Médico

ADALBERTO FRANKLIN (TOMAR OSSE)


CADEIRA 17 CUSTÓDIO ALVES DA PUREZA SERRÃO

CADEIRA 18 JOÃO FRANCISCO LISBOA

CADEIRA 19 CANDIDO MENDES DE ALMEIDA

CADEIRA 20 ANTONIO GONÇALVES DIAS

PAULO OLIVEIRA Procurador de Justiça

CLORES HOLANDA SILVA Historiadora

CÉLIO GITAHY VAZ SARDINHA Engenheiro

ELIMAR FIGUEREDO DE ALMEIDA SILVA Procuradora de Justiça

CADEIRA 21 ANTONIO HENRIQUES LEAL

CADEIRA 22 CÉSAR AUGUSTO MARQUES

CADEIRA 23 LUIS ANTÔNIO VIEIRA DA SILVA

CADEIRA 24 ANTONIO ENES DE SOUSA

JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA

EUGES SILVA DE LIMA Historiador

JOÃO FRANCISCO BATALHA Economiário

PAULO SÉRGIO CASTRO PEREIRA Historiador

CADEIRA 25 CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES

CADEIRA 26 LUIS FELIPE GONZAGA DE CAMPOS

CADEIRA 27 RAIMUNDO LOPES DA CUNHA

CADEIRA 28 RAIMUNDO NINA RODRIGUES

AYMORÉ CASTRO ALVIM Médico

MARIA HÉLIA CRUZ DE LIMA JORNALISTA

ASSIR ALVES ARAUJO HISTORIADORA

CLENIA DE JESUS PEREIRA DOS SANTOS Pedagoga

CADEIRA 29 JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL

CADEIRA 30 JUSTO JANSEN FERREIRA

CADEIRA 31 ANTONIO LOPES DA CUNHA

CADEIRA 32 AQUILES DE FARIAS LISBOA

ANTONIO RUFINO FILHO

ILZÉ VIEIRA DE MELO CORDEIRO Procuradora de Justiça

RONALD PEREIRA DOS SANTOS Procurador de Justiça

JOÃO MENDONÇA CORDEIRO Sociólogo


CADEIRA 33 CRISTOVÃO LISBOA

CADEIRA 34 WILSON DA SILVA SOARES

CADEIRA 35 DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO

CADEIRA 36 ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA

TEREZINHA DE JESUS ALMEIDA SILVA RÊGO Botanica

JOSÉ JORGE LEITE SOARES A TOMAR POSSE

CÂNDIDO JOSÉ MARTINS DE OLIVEIRA Juiz de Direito

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça

CADEIRA 37 JOSÉ CONSTANTINO GOMES DE CASTRO

CADEIRA 38 ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODÓIS

CADEIRA 39 FRANCISCO GAUDÊNCIO SABBAS DA COSTA

CADEIRA 40 JOÃO DUNSHES DE ABRANCHES MOURA

MADALENA MARTINS DE SOUSA NEVES Geógrafa

ROQUE PIRES MACATRÃO Advogado

CADEIRA 41 JOSÉ DOMINGUES DA SILVA

CADEIRA 42 ANTÔNIO DO RÊGO

CADEIRA 43 AUGUSTO TASSO FRAGOSO

CADEIRA 44 TEMISTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA

RAUL EDUARDO DE CANEDO VIEIRA DA SILVA Advogado

NYWALDO GUIMARÃES MACIEIRA

ANTONIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA Turismólogo

ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO Geógrafa

Raimundo Nonato Palhano Silva (TOMAR POSSE)

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física


CADEIRA 45 MANOEL NOGUEIRA DA SILVA

CADEIRA 46 FRANCISCO DE PAULA E SILVA

CADEIRA 47 JOAQUIM DE MARIA SERRA SOBRI

CADEIRA 48 FRANCISCO SOTERO DOS REIS

ALDY MELO DE ARAÚJO

MARIA ESTERLINA MELO PEREIRA Historiadora

JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL Advogado

MÁRCIO AUGUSTO VASCONCELOS COUTINHO Advogado

CADEIRA 49 JOÃO DA MATA DE MORAES

CADEIRA 50 ANTONIO PEREIRA

CADEIRA 51 RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA

CADEIRA 52 JOAQUIM GOMES DE SOUSA

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES Advogado

CLAUBER PEREIRA LIMA Sacerdote

EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Advogado

JOSEH CARLOS ARAUJO

CADEIRA 53 JOSÉ NASCIMENTO DE MORAES

CADEIRA 54 FELIPE BENITO CONDURÚ PACHECO

CADEIRA 55 JOSÉ RIBEIRO DE SÁ VALE

CADEIRA 56 JERÔNIMO JOSÉ DE VIVEIROS

SALOMÃO PEREIRA ROCHA Médico

ÁLVARO URUBATAN MELO

JOSETH COUTINHO MARTINS DE FREITAS Filósofa

JOANA MARIA BITENCOURT. Teatróloga

CADEIRA 57 JOSÉ EDUARDO DE ABRANCHES MOURA

CADEIRA 58 JOÃO PARSONDAS DE CARVALHO

CADEIRA 59 OLÍMPIO RIBEIRO FIALHO

CADEIRA 60 JOSÉ DE RIBAMAR CARVALHO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO A TOMAR POSSE

WASHINGTON MACIEL CANTANHEDE Promotor de Justiça

ELIZABETH PEREIRA RODRIGUES Historiadora

RAIMUNDO GOMES MEIRELES Sacerdote


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO SÓCIOS EFETIVOS Presidente de Honra: José Ribamar Seguins CADEIRA 01 - PATRONO: CLAUDE D‘ABBEVILLE Ocupante Atual: Dra. Dilercy Aragão Adler. Endereço: Rua da Física, Ed. Micherinos, Apt. 301 – Cohafuma CEP: 65.074-210 Telefones: (98) 3246 – 2018 / Cel.: 8161 – 2361 ou 8826 - 5798 E-mail: dilercy@hotmail.com CADEIRA 02 - PATRONO: YVES D’EVREUX Ocupante Atual : Prof. Josemar Bezerra Rapôso Endereço: Rua Cel. Eurípedes Bezerra nº. 333 – Turú CEP: 650.66-260 Telefone: 3082-3200 / Cel. 8136-2707 E-mail: ldnmajr@gmail.com CADEIRA 03 - PATRONO: DIOGO DE CAMPOS MORENO Ocupante Atual: Dr. Raimundo Cardoso Nogueira Endereço: Av. Holandeses, Q.30-Ed. Portal da Enseada-Ponta D‘Areia Apt.602 Cep:65075650 Telefone: 3235 –1684/ 81342941 E-mail: nogueiraocita@hotmail.com CADEIRA 04 - PATRONO: SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA Ocupante Atual: Carlos Alberto Santos Ramos Endereço: Rua dos Narcisos, Qd – 11 casa 13 – Renascença II Cep: 65065-600 Telefones: 3227 – 2877 Cel: 9144-6819 / 8723-0465 / 2107-0128 CADEIRA 05 - PATRONO: LUÍS FIGUEIRA Ocupante Atual : Raimundo Nonato Serra Campos Filho Endereço: Rua Jupter n, 1 Q, 16 - Ed Bella vista ap 1103 - renascença II CEP: CEP: 65075-045 Telefones: 9971-1090 / 8115-6610 / 3227-2837 E-mail: composoueu@gmail.com CADEIRA 06 - PATRONO: Pe. ANTONIO VIEIRA Ocupante Atual: Profª Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo Endereço: Rua dos Professores, Qd – 14 nº 10, conj. Cohafuma – Cohafuma Telefones: 3246 – 2218 / 3217 – 8332 / Cel: 8845-4831 E-mail: telma.bonifacil@yahoo.com.br CADEIRA 07 = PATRONO: JOÃO DE SOUSA FERREIRA Ocupante Atual: Iva Souza da Silva End.: Rua I, Casa 01 – Altos do Calhau CEP: 65066-170 Telefone: 3252-3035 E-mail: ivafjnl@hotmail.com CADEIRA 08 - PATRONO: JOÃO FELIPE BETTENDORF Ocupante Atual : Dr. Osvaldo Pereira Rocha Endereço: Rua Portinari – Qd. 08 - Casa 07 - Maranhão Novo CEP: 65.061-390 Telefones: 3236-2387 / 9971-1443 E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br

CEP: 65.078


CADEIRA 09 - PATRONO: BERNADINO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO Ocupante Atual: Éden do Carmo Soares Endereço: Rua das Cegonhas, Qd. 14, Casa 12 – Cond. Portal do Atlântico – Olho d‘Água CEP: 65065-100 Telefone: 8413-3597 E-mail: edendocarmosoares@hotmail.com CADEIRA 10 - PATRONO: PE. JOSÉ DE MORAES Ocupante Atual: Alexandre Fernandes Corrêa (TOMAR POSSE) Endereço: Rua das Mitras, nº 06, apto 402 – Renascença II CEP: 65075-075 Telefone : 3227-8734 / 8818-4360 E-mail: alexfcorrea@gmail.com CADEIRA 11 - PATRONO: SEBASTIÃO GOMES DA SILVA BELFORT Ocupante Atual: Manoel dos Santos Neto Endereço: Rua Senador Pompeu, 20 – Vila Isabel CEP: 65080-190 Telefone: 3228-4201 / 9971-4832 E-mail: masantosneto@gmail.com CADEIRA 12 - PATRONO: CEL. FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO Ocupante Atual: Dr. Natalino Salgado Filho Endereço: Rua dos Angelins, Qda 10 nº 30 São Francisco CEP: 65.076-030 Telefone: Res: 3227-4072 / 3235-5888 Hospital–3219-1002 / 3231-3938 / 3222-5508 / 99086110 CADEIRA 13 - PATRONO: RAIMUNDO DE SOUSA GAYOSO Ocupante Atual : Sofiane Labidi (TOMAR POSSE) Endereço: Palácio La Ravardière - Praça D. Pedro II, s/n - Centro CEP: 65010-904 Telefone: 8831-0807 / 3212-3697 CADEIRA 14 - PATRONO: ANTONIO BERNADINO PEREIRA DE LAGO Ocupante Atual : Dr. José Marcelo do Espírito Santo Endereço: R-Ipanema, Q-R nº 02 – Sítio Campinas – São Francisco Cep: 65001-970 Telefones: 9971-7200 / 9961-6253 / 3235-2008 / 8198-1818 E-mail: jmesanto@hotmail.com CADEIRA 15 - PATRONO: JOÃO ANTONIO GARCIA DE ABRANCHES Ocupante Atual : Dr. José Marcio Soares Leite Endereço: Rua do Farol, nº 10 , Edifício Flor do Vale Aptº 1302 – Ponta do Farol Telefone: 3235-0279 / 8877-6010 CEP: 65077-450 E-mail: josemsoaresleite@gamil.com CADEIRA 16 - PATRONO:FREI FRANCISCO DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES Ocupante Atual : Adalberto Franklin (TOMAR POSSE) Endereço: Rua João Pessoa, 1000, Casa 7 – Bacuri. Telefones: (99) 9133-1995 CEP: 65916-200 – Imperatriz – MA


CADEIRA 17 - PATRONO: FREI CUSTÓDIO ALVES SERRÃO Ocupante Atual: Dr. Paulo Oliveira Endereço: Rua 03 Qda G Casa 12 Cohabiano II – Cohatrac CEP: 65075-500 Telefone: 3265-1053 E-mail: pauliver2007@hotmail.com CADEIRA 18 - PATRONO: JOÃO FRANCISCO LISBOA Ocupante Atual: Clores Holanda Silva Endereço: Lagos do Amores, 351 - Palácio Cristo Rei (Praça Gonçalves Dias) - Centro CEP: 65042-240 Telefone: 3301-9651 E-mail: cloresholanda@yahoo.com.br CADEIRA 19 - PATRONO: CANDIDO MENDES DE ALMEIDA Ocupante Atual: Célio Gitahy Vaz Sardinha Endereço: Rua das Paparaúbas Qda 13 Casa 29 São Francisco CEP: 65076-000 Delegacia de Icatú Telefone: 3227-2751 / 8117-3611 E-mail: amahsardinha@ibest.com.br / cgvsardinha@bol.com.br CADEIRA 20 - PATRONO: ANTONIO GONÇALVES DIAS Ocupante Atual : Elimar Figueredo de Almeida Silva Endereço: Rua dos Magistrados Nº 18 Olho D‘Água CEP: 65065-240 Telefone: 3248-0382 / 3248-4959 / 8825-4959 CADEIRA 21 - PATRONO: DR. ANTONIO HENRIQUE LEAL Ocupante Atual : José Augusto Silva Oliveira Endereço: UEMA CEP: 65055-310 Telefone: 3245-5461 E-mail: j.augusto@elo.com.br CADEIRA 22 - PATRONO: CÉSAR AUGUSTO MARQUES Ocupante Atual: Euges Silva de Lima Endereço: Rua Enrique Leal, 128 – Praia Grande – Centro CEP: 65010-160 Telefone: 3221-4694 CADEIRA 23 - PATRONO: LUIS ANTÔNIO VIEIRA DA SILVA Ocupante Atual: João Francisco Batalha Endereço: R- dos Jambos, Q-65 – C-3 Renascença I CEP: 65075-210 Telefone: 3227-3793 / 32271434 / 9972-3369 / 8127-8915 E-mail: batalha@elo.com.br CADEIRA 24 - PATRONO: ANTONIO ENES DE SOUSA Ocupante Atual: Paulo Sérgio Castro Pereira Endereço: Rua do Norte, Qd. A, nº 9ª – Novo Cohatrac São José de Ribamar CEP: 65011-000 Telefones: 3265-0536 / 9131-1516 E-mail: professorhistoria-paulo@hotmail.com


CADEIRA 25 - PATRONO: CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES Ocupante Atual: Dr. Aymoré Castro Alvim Endereço: Av. Sambaquis,Q-14 Nº 06 – Calhau CEP: 65071-390 Telefones: 3227-2654 (R) / 9974-5398 E-mail: aymore@elo.com.br CADEIRA 26 - PATRONO: LUIS FELIPE GONZAGA DE CAMPOS Ocupante Atual: Maria Hélia Cruz de Lima Endereço: Rua das Paparaúbas, Qd. 13, Casa 29 – São Francisco CEP: 65076-000 Telefones: 3227-2751 E-mail: amahsardinha@ibest.com.br CADEIRA 27 - PATRONO: RAIMUNDO LOPES DA CUNHA Ocupante Atual: Assir Alves Araujo Endereço: R. Cel. Euripedes Bezerra, 2-Cond. Aririzal Residence, bl. 04, apto 05 - Turu CEP: 65000-000 Telefone: 8845-9767 / 8122-3147 E-mail: CADEIRA 28 - PATRONO: RAIMUNDO NINA RODRIGUES Ocupante Atual: Clênia de Jesus Pereira dos Santos Endereço: Rua 04, Qd. 07, Casa 37 – Jardim São Cristovão Telefones: 9615-5413 / 3244-9939 CEP: 65000-000 CADEIRA 29 - PATRONO: JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL Ocupante Atual: Antonio Rufino Filho Endereço: Rua dos Pinheiros Qda 15 Casa 13 São Francisco CEP: 65076-250 Telefone: 3227-1285 E-mail: rafaelrufino00@hotmail.com CADEIRA 30 - PATRONO: JUSTO JANSEN FERREIRA Ocupante Atual: Profª. Ilzé Vieira de Melo Cordeiro Endereço: Rua do Castelo (lago), nº 07 – Praia do Araçagi CEP: 65070-000 Telefone: 9972-9605 E-mail: ilzecordeiro@elo.com.br CADEIRA 31 - PATRONO: ANTONIO LOPES DA CUNHA Ocupante Atual: Ronald Pereira dos Santos Endereço: Duque Bacelar, Qd. 61, Casa 03 – Jardim Eldorado CEP: 65066-300 Telefones: 9114-6781 / 3226-3164 E-mail: ronps67@yahoo.com.br CADEIRA 32 - PATRONO: ACHILLES DE FARIA LISBOA Ocupante Atual: Dr. João Mendonça Cordeiro Endereço: Av. Tupinambás, 01 – Ap 1304 Ed. Toweer – Ponta da Areia CEP: 65277-135 Telefone: 3226-0735 / 9971-6834 CADEIRA 33 - PATRONO: FREI CRISTOVÃO LISBOA Ocupante Atual: Drª. Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo Endereço: Av. Sambaquis Qda 09 nº. 33 Calhau CEP: 65071-390 Telefone: 3235-0130 / 3217-8524 (Herbário Campus) / 9973-1278


CADEIRA 34 - PATRONO: WILSON DA SILVA SOARES Ocupante Atual: José Jorge Leite Soares (TOMAR POSSE) Endereço: R. Caetés, Qd. 22, Casa 09 – Calhau CEP: 65071-610 Telefone: 3248-3332 / 8882-5002 E-mail: zecadejorge@gmail.com CADEIRA 35 - PATRONO: DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO Ocupante Atual : Cândido José Martins de Oliveira Endereço: Av. Principal – Cond. Praias Belas – Ed. Calhau, Apt. 302 – Jardim Primavera – Cahajap. CEP: 65000-000 Telefones: 9971-2882 / 3246-7450 E-mail: cjmo@oi.com.br CADEIRA 36 - PATRONO: ASTOLFO DE BARROS SERRA Ocupante Atual: Ana Luiza Almeida Ferro Endereço: R. Eng. Rui Ribeiro de Mesquita, 6 – Ed. Don Gabriel, apto. 901 – Ipem Calhau CEP: 65071-395 Telefones: 3235-4953 / 9974-1712 E-mail: alaferro@uol.com.br CADEIRA 37 - PATRONO: JOSÉ CONSTANTINO GOMES DE CASTRO Ocupante Atual: Madalena Martins de Sousa Neves Endereço: Av. Getúlio Vargas, nº 04 – Monte Castelo CEP: 65025-001 Telefones: 3218-9042 / 3218-9001 / 8139-2141 / 9944-2714 CADEIRA 38 - PATRONO: ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODÓIS Ocupante Atual: Roque Pires Macatrão Endereço: Rua das Limeiras, Qd. A, nº 06 – Renascença CEP: 65075-260 Telefones: 3235-5010 E-mail: ermacatrao@elo.com.br CADEIRA 39 - PATRONO: FRANCISCO GAUDÊNCIO SABBAS DA COSTA Ocupante Atual: Raimundo Nonato Palhano Silva (TOMAR POSSE) Endereço: Rua 39, Qd. 30, Ed. Portobello, apto 602 – Ponta D‘Areia CEP: 65077-370 Telefones : 3227-1399 / 8725-8876 E-mail: rpalhano@uol.com.br CADEIRA 40 - PATRONO: JOÃO DUNSHES DE ABRANCHES MOURA Ocupante Atual: Leopoldo Gil Dúlcio Vaz Endereço: Rua Titânio, 88 – Recanto dos Vinhais Cep: 65070-580 Telefone: 3236-2076 / 8119-1322 E-mail: leopoldo@elo.com.br / leopoldo@mirante.com.br CADEIRA 41 - PATRONO: JOSÉ DOMINGUES DA SILVA Ocupante Atual: Dr. Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva Endereço: Rua Parintins Qda B, Nº. 04 – Parque Amazonas Telefone: 3222-6660 CADEIRA 42 - PATRONO: ANTÔNIO DO RÊGO Ocupante Atual: Dr. Nywaldo Guimarães Macieira Endereço: Rua Miragem do Sol Nº. 27, Residencial Broadway Apt. 1002 Bela Vista – Renascença II Telefone: 3082-2911 / 8162-0713


CADEIRA 43 - PATRONO: TASSO FRAGOSO Ocupante Atual: Antonio José Noberto da Silva Endereço: Rua dos Pinheiros, 15 – Residencial Vitória Régia - Araçagi Telefones: 3226-9175 / 9116-4130 CADEIRA 44 - PATRONO: TEMISTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA Ocupante Atual: Profª. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Endereço: Rua Parintins Qda B nº. 04 Parque Amazonas Telefone: 3222-6660 CADEIRA 45 - PATRONO: MANOEL NOGUEIRA DA SILVA Ocupante Atual: Aldy Melo de Araújo Endereço: Av. dos Holandeses, 3670 – Ed. San Juan, apto. 901 – Ponta D‘Areia CEP: 65075-560 Telefones: 3227-3789 CADEIRA 46 - PATRONO: D. FRANCISCO DA PAULA E SILVA Ocupante Atual: Profª. Maria Esterlina Melo Pereira Endereço: Av. Newton Bello, Nº. 240 – Monte Castelo CEP: 65035-430 Telefones: 3232-8218 / 3222-8143 Cel: 9124-3646 CADEIRA 47 - PATRONO: JOAQUIM DE MARIA SERRA SOBRINHO Ocupante Atual: Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel Endereço: Rua São Geraldo, 42 – Olho d‘água CEP: 65065-450 Telefone: 3216-5767 / 8121-9868 / 8171-0079 E-mail: jnhaickel@hotmail.com / jnhaickel@gmail.com CADEIRA 48 - PATRONO: FRANCISCO SOTERO DOS REIS Ocupante Atual: Marcio Augusto Vasconcelos Coutinho Endereço: Rua das Sucupiras, Qd. 49, Casa 22 – Renascença II CEP: 65075-400 Telefones: 3235-2336 / 9114-1811 E-mail: Marcio@coutinhoeconsultores.adv.br CADEIRA 49 - PATRONO: JOÃO DA MATA DE MORAES Ocupante Atual: Dr. José de Ribamar Fernandes Endereço: Av. São Marcos Nº. 02, Ponta do Farol CEP: 65077-000 Telefone: 3227-2101 E-mail: netofernan@bol.com.br CADEIRA 50 - PATRONO: PADRE ANTONIO PEREIRA Ocupante Atual : Padre Clauber Pereira Lima Endereço: Igreja Santo Antônio, Praça Antônio Lobo, nº. 04 - Centro Telefones: E-mail: clauberlima@gmail.com CADEIRA 51 - PATRONO: RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA Ocupante Atual: Dr. Edomir Martins de Oliveira Endereço: Av. do Vale Qd. 21, Lote 11, Edf. Florença Apt 501 – Renascença II CEP: 65075-660 Telefones: 3235-4117 / 3235-1417 / 9971-2512 / 9114-4448 / 8871-2512 CADEIRA 52 - PATRONO: JOAQUIM GOMES DE SOUSA Ocupante Atual: Joseh Carlos Araújo Endereço: Rua Júpiter, 16, Ed. Montreal, apto 1303 – Renascença II CEP: 65075-045 Telefones: 3227-2055 / 8881-8051 E-mail: jcara@elo.com.br


CADEIRA 53 - PATRONO: JOSÉ NASCIMENTO DE MORAES Ocupante Atual: Dr. Salomão Pereira Rocha Endereço: Rua dos Timbós – Casa 29 Qda 102 – Renascença I Cep:65.075-410 Telefones: 9112-3782 / 3222-6570

CADEIRA 54 - PATRONO: DOM FELIPE CONDURÚ PACHECO Ocupante Atual: Prof. Álvaro Urubatan Melo Endereço: Rua Andorinhas, nº. 03, Qd. 11, Renascença CEP: 65075-050 Telefones: 3235-1881 / 9606-0960 E-mail: alvarourubatan@ig.com.br CADEIRA 55 - PATRONO: JOSÉ RIBEIRO DE SÁ VALE Ocupante Atual : Profª. Joseth Coutinho Martins de Freitas Endereço: Rua de Santaninha, nº. 627 – Centro CEP: 65010-580 Telefones: 3232-0261 / 9992-2036 E-mail: josethcmf@hotmail.com CADEIRA 56 - PATRONO: JERÔNIMO JOSÉ DE VIVEIROS Ocupante Atual: Joana Maria Bittencourt Endereço: Rua 07, Qd. H, Casa 01 – Jardim Bela Vista – Cohama CEP: 65073-200 Telefones: 3236-7078 / 8815-5570 E-mail: betobonequeiro@yahoo.com.br CADEIRA 57 - PATRONO: JOSÉ EDUARDO DE ABRANCHES MOURA Ocupante Atual: Arthur Almada Lima Filho Endereço: Av. Colares Moreira, Qd. 19, nº 15 – Calhau CEP: 65075-440 Telefone: 3235-5870 / 3227-3389 CADEIRA 58 - PATRONO: JOÃO PARSONDAS DE CARVALHO Ocupante Atual: Washington Luís Maciel Cantanhede Endereço: Rua 08, Qd. 03, Casa 22 – Planalto Vinhas II CEP: 65074-191 Telefones: 3246-3057 / 8841-2894 E-mail: wlmcant@terra.com.br CADEIRA 59 - PATRONO: OLÍMPIO RIBEIRO FIALHO Ocupante Atual: Profª. Elizabeth Pereira Rodrigues Endereço: R. das Alpercatas, Qd. 22, N 14, Ed. Leonardo da Vinci, Apt. 301 – Calhau CEP: 65071-630 Telefones: 84037475 (res.) / 8121-7953 (cel.) Dom Bosco: 4009-7070 E-mail: elizabethdbosco@gmail.com CADEIRA 60 - PATRONO: CONÊGO JOSÉ DE RIBAMAR CARVALHO Ocupante Atual : Padre Raimundo Gomes Meireles Endereço: Igreja Santo Antônio – Praça Antônio Lobo, nº. 04 - Centro Telefones: 8804-9424 E-mail: seleriem.mei@uol.com.br


PLANO DE TRABALHO 1. Rever a situação do quadro societário, aplicando as recomendações da Comissão formada para tal, ainda na administração anterior – 2. Incentivar os sócios ao retorno das atividades inerentes ao IHGM, especialmente a produção de estudos acadêmicos nas áreas da História, Geografia, e Ciências afins – 3. Dar mais visibilidade às ações do IHGM junto aos próprios sócios, à sociedade, à mídia, e aos entes acadêmicos – 4. Elaborar o Regimento Interno 5. Completar o quadro de sócios 6. Buscar soluções para a acessibilidade às instalações do IHGM 7. Organizar a Biblioteca 8. Buscar outras fontes de recursos financeiros para sustentação do IHGM 9. Buscar meios para publicação, em papel, da Revista do IHGM; melhorar a edição eletrônica – 10. Criar comissão para as comemorações dos 400 anos de São Luís, em 2012.


CALENDÁRIO DE EVENTOS PARA 2012 1. Reuniões de Diretoria – Hora: início 16:30 horas 2. Ciclo de Palestras – 19:00 horas 3. Assembléia Geral Ordinária - Hora: início 16:30horas 11 ABRIL

12 a 14 25 27 04

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

09 11 23 25 30 13 15 20 27 11 18 (27?) 28 08 06 a 13 15/08 a 15/09 29 05 12 19 26 10 24 31 07

Reunião de Diretoria ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA SEMINÁRIO 400 ANOS Posse ALDY MELLO DE ARAUJO Posse MARIA HELIA CRUZ DE LIMA Posse JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA Reunião de Diretoria Posse JOSEH CARLOS ARAUJO CICLO DE PALESTRAS Posse de EUGES SILVA DE LIMA ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria Posse ASSIR ALVES ARAUJO CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL

Osvaldo Rocha e Francisco Batalha

Palácio Cristo Rei Auditorio Arquitetura/UEMA Auditorio Arquitetura/UEMA Auditório Museu Aymore de Castro Alvim

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Revista 41 Washington Cantanhede SÁBADO Data Magna

Reunião de Diretoria MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS exposição - FRANÇA EQUINOCIAL PARA SEMPRE SEMINÁRIO 400 ANOS SEMINÁRIO 400 ANOS SEMINÁRIO 400 ANOS Reunião de Diretoria ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS ASSEMBLÉIA GERAL Reunião de Diretoria

20

ASSEMBLÉIA GERAL

28

CICLO DE PALESTRAS

03

ASSEMBLÉIA GERAL

12 20

Reunião de Diretoria CICLO DE PALESTRAS

Dilercy Adler/Álvaro Mello (Comissão IHGM Antonio Noberto (Curador) – Clores Holanda; Joana Bittencourt

Revista 42 Washington Cantanhede

TERÇA-FEIRA Aniversário do IHGM Elisabeth Rodrigues SEGUNDA-FEIRA – Aniversário do IHGM Confraternização Natalina Revista 43


AGENDAMENTO DO CICLO DE PALESTRAS PARA 2012 MES

DATA

ABRIL 12 a 14 25 MAIO

23

JUNHO

20

JULHO

18

AGOSTO

06 a 13 29 05

SETEMBRO

OUTUBRO

24

NOVEMBRO

28

DEZEMBRO

20

AGENDAMENTO Expositor: Osvaldo Rocha/Francisco Batalha (Comissão IHGM) Tema/Título ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA SEMINÁRIO 400 ANOS – Maranhão Republicano Expositor: AYMORÉ DE CASTRO ALVIM Tema/Título- 400 anos de Medicina no Maranhão Expositor: Leopoldo Gil Dulcio Vaz Tema/Título: A Vila do Vinhais Velho e a Igreja de São João Batista – Documentário Expositor: WASHINGTON CANTANHEDE Tema/Título: A Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré como matriz do povoamento da Ribeira do Mearim Expositor: Dilercy Adler/Álvaro Mello (Comissão IHGM Tema/Título: MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis não foi fundada por franceses SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis foi fundada por franceses SEMINÁRIO 400 ANOS – São Luis foi fundada por quem? Conclusões possíveis Expositor: WASHINGTON CANTANHEDE Tema/Título: A contribuição do Programa Memória do Ministério Público do Maranhão para a historiografia Expositor: ELISABETH RODRIGUES Tema/Título Expositor: Tema/Título


INSTITUO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO CALENDÁRIO 2012 CICLO DE ESTUDOS E DEBATES

23 DE MAIO DE 2012 Departamento de Patologia / UFMA,

19 horas (Prédio atrás do Hospital Geral, em frente à Igreja de São Pedro, no fim da rua São Pantaleão, na Madre Deus)

AYMORÉ ALVIM “400 ANOS DE MEDICINA NO MARANHÃO” PREPARATÓRIO PARA O 17º CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA MEDICINA Comissão do IHGM: Aymoré Alvim; José Márcio Leite; Natalino Salgado; Salomão Rocha


CADEIRA 25

CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES – Promotor de Justiça. Poeta. Penalva 11/11/1849 – São Luis 09/06/1879 conhecido como Celso de Magalhães, foi um escritor brasileiro e o pioneiro do estudo do folclore no Brasil, adotando uma metodologia que lançou as bases do folclorismo nacional. Seu trabalho focou especialmente a poesia popular, mas ele incursionou por outras áreas como o teatro, a poesia, a ficção e a crítica. OCUPANTES 1 Antonio Lopes de Cunha – Patrono da Cadeira 31 2 Odilon da Silva Soares – Médico. São Bento 01/01/1902 – São Luis 08/07/1958 AYMORÉ CASTRO ALVIM – Médico Empossado em: 07 de dezembro de 2007 E.mail: aymore@elo.com.br PATRONO

Graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Maranhão (São Luís – MA, 1966); Cursos de Pós-Graduação: Curso de Especialização em Epidemiologia (UFMA/DSP/CCS – São Luís – MA); Curso de Aperfeiçoamento em Parasitologia (UFMA/FESP/CAPES/DAU - São Luís – MA); Curso de Especialização em Patologia Tropical (MEC/UFMA - São Luís – MA); ); Curso sobre Diagnóstico e Profilaxia em Esquistossomose e Filariose (Instituto de Medicina Tropical de Berlim – Alemanha Ocidental); Curso de Especialização em Biologia Parasitária (UFMA/DEPAT - São Luís – MA). Professor Adjunto de Parasitologia para os Cursos de Medicina, Farmácia, Enfermagem, Nutrição e Odontologia da Universidade Federal do Maranhão. Professor de História da Medicina para o Curso de Medicina, tendo desenvolvido as seguintes atividades científicas: Coordenador de vários Projetos de Pesquisas e de Extensão Universitária desenvolvidos, na área da Parasitologia e Medicina Tropical; Autor de vários trabalhos científicos, no campo da esquistossomose mansônica e de parasitoses intestinais, em Revistas Científicas e em Anais de Jornadas e de Congressos; Orientador de vários Projetos de Monografias para conclusão de Curso, na área da saúde, na Universidade Federal do Maranhão; Membro de Bancas Examinadoras de Concurso para Docentes e para defesa de Monografias de conclusão de Curso/UFMA; Professor orientador de bolsistas de Iniciação à Pesquisa Científica; Membro Assessor de Comitês Assessores de Ciências da Vida e da Saúde – Convênio UFMA/CNPq; Conferencista, Expositor e Palestrante em Mesas Redondas, Painéis, Cursos e Seminários, em diferentes eventos científicos locais e nacionais. No campo administrativo exercer as funções de: Chefe do Departamento de Patologia; Membro Conselheiro do Colegiado do Centro de Ciências da Saúde; Membro Conselheiro do Colegiado do Curso de Medicina; Membro Conselheiro do Projeto Ensino Integrado;


Membro Conselheiro do Conselho Universitário; Membro Conselheiro do Conselho de Administração; Chefe de Gabinete do Reitor; Pró-Reitor de Graduação; Membro Conselheiro do Conselho de Ensino e Pesquisa; Presidente da Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE; Chefe do Laboratório de Parasitologia Humana do DEPAT. Membro fundador e diretor da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão; Ex-Membro Conselheiro e Diretor do Conselho Regional de Medicina; Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Parasitologia; Sócio fundador da Fundação SOUSÂNDRADE de Apoio ao Desenvolvimento da UFMA e Membro do Conselho Consultivo para o período 2000/2003. Atualmente, membro do Conselho Curador; Autor de vários artigos publicados no jornal Cidade de Pinheiro; Membro fundador e diretor da Academia Maranhense de Medicina; Membro efetivo da Sociedade Brasileira de História da Medicina; Membro fundador e Diretor da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências; Medalha Simão Estácio da Silveira da Câmara Municipal de São Luís – Decreto Legislativo nº 04/2003; Distinção Honorífica Palmas Universitárias concedida pela UFMA, 2008; Diploma de Honra ao Mérito Médico Nacional conferido pela Federação Brasileira de Academias de Medicina. Florianópolis-PR, julho de 2006; Certificado de Reconhecimento por relevante contribuição concedido pelo Conselho Curador da Fundação Sousândrade, dezembro de 2006.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO CALENDÁRIO 2012 CICLO DE ESTUDOS E DEBATES

20 DE JUNHO DE 2012 AUDITÓRIO DO IHGM Rua de Santa Rita, 230 – 3º. Andar Ao lado das Lojas Americanas - Centro

A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTÁRIO


O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido - já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757 Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha: "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (D'ABBEVILLE o que é confirmado, também, por Noberto, quando afirma que após a implantação da França Equinocial, Uçaguaba / Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Pianzola, em sua obra ―OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‗traduzidos‘ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola. Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro: "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco, 80 anos antes (cerca de 1835). Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso "haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado". Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi rezada a missa. Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58) Em 1985, os moradores da Vila velha do Vinhais pedem ajuda aos moradores do Conjunto Recanto dos Vinhais para a reconstrução da Igrejinha ... o telhado estava no chão, mais uma vez ... A primeira pessoa que, nessa época estendeu a mão, foi uma médica, que mandou reconstruir o telhado. Depois, alguns moradores reuniram-se e resolveram ajudar, criando uma comissão – informal – pró-reconstrução da Igreja... A Vila Velha de Vinhais possui uma história paralela à de São Luís. É um lugar que representa um passado, ainda vivo na memória de seus moradores, resgatado por


pesquisadores residentes nos bairros que se instalaram em seu entorno e, trazem uma história anterior ao período colonial, que até o momento não recebeu atenção dos órgãos responsáveis por essa preservação. Assim, pede-se que a Vila Velha de Vinhais – ou o Vinhais Velho como também é conhecida – seja tombada em todo seu conjunto, como PAISAGEM CULTURAL BRASILEIRA, estendendo-se o de sua Igreja, ampliando-se o ‗entorno‘, inclusive aos bairros formados recentemente à sua volta. O Documentário foi realizado em 2009, e ainda está em processo de edição final, com novos informes, e agora se está visando a transformação da Vila de Vinhas velho em ‖Paisagem Cultural Brasileira‖ - ―uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores‖. CADEIRA 40 PATRONO

JOÃO DUNSHES DE ABRANCHES MOURA Advogado. Historiador. Sociólogo. Crítico. Romancista. Jornalista. Professor. Parlamentar. Internacionalista São Luis 02/09/1867 + Petrópolis 11/03/1942 Autorm de Garcia de Abranches, o Censor; Aesfinge do Grajaú; O Cativeiro; A Setembrada;

OCUPANTES 1 José Ribamar Ferreira – Advogado São Luis 03/01/1910 + São Luis 25/07/1985 2 Pedro Rátis de Santana – Geógrafo. Historiador. São Luis 26/04/1906 + São Luis 16/01/1990 3 Carlos Thadeu Pinheiro Gaspar – Empresário. Viana 05/12/1939 - Posse em 28/07/1992 – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Vice-Presidente do IHGM gestão 2010-2012 - empossado em Setembro de 2008 R- Titânia, 88 – Recanto dos Vinhais - Cep: 65070.580 Telefone: 3236-2076 # 8119-1322 E-mail: vazleopoldo@hotmail.com http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/ http://twitter.com/leopoldovaz http://lattes.cnpq.br/2105898668356649

Nasceu em Curitiba-Paraná, em 23 de julho de 1952, filho de Loir Vaz e Rachel Dulcio Vaz (ambos já falecidos) Possui Licenciatura Plena em Educação Física e Desportos, pela Escola de Educação Física e Desportos do Paraná (1975); Especialização em Metodologia do Ensino Superior (UFPR/UFMA, 1978); Especialização em Lazer e Recreação (UFMA, 1986); e Mestrado em Ciências da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1993); concluiu os créditos do Doutorado em Ciências Pedagógicas (ISTEP-Cuba) Professor de Ensino de 1o. e 2o. Graus - Classe Especial - do Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Maranhão, de onde se aposentou em abril de 2009, após 30 anos de exercício efetivo do magistério. Nesse período ocupou várias funções: Coordenador do Art. 7º (Educação Física, Educação Moral e Cívica, Ensino Religioso, Filosofia; Sociologia); Coordenador de Atividades Formativas; Coordenador de Ensino; Diretor de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão; Coordenador de Ensino de 2º. Grau; sem jamais ter deixado a sala de aula. Exerceu ainda o magistério em Curitiba-PR, no Instituto Nossa Senhora do Rosário (estagiário de educação física); Professor de Atletismo do Clube Duque de Caxias. Já no Maranhão, a partir de 1976, foi Assessor para a Área de Educação do Campus Avançado da Universidade Federal do Paraná/Fundação Projeto Rondon (maio de 1976 a abril de 1977 - PROFIX); Professor de Educação Física da Escola Santa Teresinha (Imperatriz – 1976-1978); Centro de Ensino de 2º. Grau Graça Aranha (Imperatriz – 1977-1978); Faculdade de Educação de Imperatriz – cursos de licenciatura curta em Ciências, Letras, e Estudos Sociais – Professor Titularem de Educação Física (19771979). Em São Luís, desde 1979, foi professor de Educação Física do CEM Liceu Maranhense, à disposição da então Secretaria de Desportos e Lazer, onde exerceu várias funções (janeiro de 1979 a 1982); retornando á Secretaria de Educação, foi Assessor do Sr. Secretário de Educação (1982); Professor Titular de Educação Física da então Federação das Escolas Superiores do Maranhão – FESM, hoje UEMA – nos Cursos de Medicina Veterinária; e Agronomia (1979 a 1989). Foi professor de Metodologia do Trabalho Científico dos Cursos de Especialização em Qualidade e Produtividade. Professor convidado do Curso de Turismo da UFMA, disciplina Sociologia do Lazer. Áreas de Atuação: ensino de educação física e esporte curricular; Produção em C, T & A: Livros publicados/organizados ou edições: 5; Capítulos de livros publicados: 31; Artigos completos publicados em periódicos: 84; Textos em jornais de notícias/revistas: 24; Trabalhos completos publicados em anais de congressos: 22; Resumos expandidos publicados em anais de congressos: 3; Resumos publicados em anais de congressos: 22; Demais tipos de produção bibliográfica: 5; Softwares sem registro de patente: 1; Trabalhos técnicos: 13; Demais tipos de produção técnica: 17. Total: 233


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COMISSÃO DE COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DE FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PORTARIA 03/IHGM, de 15/12/2010 CICLO DE ESTUDOS/DEBATES –

A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS 2011 – 2012

exposição

FRANÇA EQUINOCIAL PARA SEMPRE de 15 de agosto a 15 de setembro PALÁCIO CRISTO REI

CURADORIA: ANTONIO NOBERTO


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COMISSÃO DE COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DE FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PORTARIA 03/IHGM, de 15/12/2010 CICLO DE ESTUDOS/DEBATES –

SEMINÁRIOS 4 e 5 - 29 DE AGOSTO DE 2012

A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS 2011 – 2012 SEMINÁRIO 4 – SÃO LUÍS FOI FUNDADA POR FRANCESES SEMINÁRIO 5 – SÃO LUÍS NÃO FOI FUNDADA POR FRANCESES 29 DE AGOSTO DE 2012 – PALÁCIO CRISTO REI

Brasão de João de Barros Brasão de Aires da Cunha

Brasão de La Ravardiére

PALESTRAS & DEBATES - CONFIRMADOS: JOSÉ CLAUDIO PAVÃO SANTANA; RAFAEL AGUIAR; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ANTONIO NOBERTO; EUGES LIMA; ALEXANDRE FERNANDES CORREA INSCRIÇÃO DE TRABALHOS: ATÉ 15 DE AGOSTO DE 2012 PESQUISADORES – EXPOSIÇÃO ORAL – TEXTO COM ATÉ 25 PÁGINAS ACADEMICOS – APRESENTAÇÃO DE POSTER – RESUMO COM ATÉ 5 PG. PUBLICAÇÃO NA REVISTA DO IHGM – No. 41, setembro de 2012


29 de agosto de 2012

PALÁCIO CRISTO REI – 08:00 ÀS 12:00 HORAS SEMINÁRIO 4 – SÃO LUÍS FOI FUNDADA POR FRANCESES 08:00 – Abertura 08:15 - Conferencia Magna JOSÉ CLAUDIO PAVÃO SANTANA "AS LEIS FUNDAMENTAIS DO MARANHÃO: DENSIDADE JURÍDICA E VALOR CONSTITUINTE. A CONTRIBUIÇÃO DA FRANÇA EQUINOCIAL AO CONSTITUCIONALISMO AMERICANO". 09:15 – Intervalo (café) 09:15 - Sessão de Pôsteres 09:30 – Debatedor(es) ANTONIO NOBERTO - IHGM 12:30 – Debate com a plenária

JOSÉ C. P. SANTANA

ANTONIO NOBERTO

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA Doutor em Direito do Estado - Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Mestre em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, da Universidade Federal de Pernambuco Menção Distinção. Professor do Curso de Mestrado em Direito da Universidade Federal do Maranhão; Professor Adjunto IV do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão. Subprocurador Geral do Estado do Maranhão, tendo sido o primeiro Procurador Geral de carreira É membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas; Membro do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional.; Membro do Instituto Maranhense de Direito Eleitoral. Foi membro do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, por dois biênios, na classe de jurista. É autor de: "O PRÉ-CONSTITUCIONALISMO NA AMÉRICA", obra individual pela Editora Método: SP; "Pré-Constitucionalismo na América: Uma abordagem acerca das manifestações constitucionais nas terras do Maranhão no Século XVII". EDICEUMA: MA;CONSTITUIÇÃO: ENTRE O CONTRATADO E O DESEJADO": Letras Contemporâneas: Florianópolis; "CONSTITUIÇÃO: SENTIMENTO E CONSCIÊNCIA". Saraiva: SP. É articulista de vários jornais Conferencista em eventos internacionais e nacionais. http://www.facebook.com/joseclaudio.pavaosantana / # http://claudiopavao.blogspot.com.br/


29 de agosto de 2012 PALÁCIO CRISTO REI – 14:30 ÀS 18:00 HORAS SEMINÁRIO 5 – SÃO LUÍS NÃO FOI FUNDADA POR FRANCESES 14:30 – Abertura 14:45 - Conferencia Magna RAFAEL AGUIAR – Historiador 15:45 – Intervalo (café) 15:45 - Sessão de Pôsteres 16:00 – Debatedor(es) EUGES LIMA - IHGM 17:30 – Debate com a plenária

RAFAEL AGUIAR

EUGES LIMA


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COMISSÃO DE COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DE FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PORTARIA 03/IHGM, de 15/12/2010 CICLO DE ESTUDOS/DEBATES –

SEMINÁRIOS 6 – 05 de setembro de 2012

A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS 2011 – 2012 SEMINÁRIO 6 – SÃO LUÍS FOI FUNDADA POR QUEM? CONCLUSÕES POSSÍVEIS 05 DE SETEMBRO DE 2012 – PALÁCIO CRISTO REI

Brasão de João de Barros Brasão de Aires da Cunha

Brasão de La Ravardiére

PALESTRAS & DEBATES - CONFIRMADOS: ANA LUIZA FERRO; ALEXANDRE FERNANDES CORREA INSCRIÇÃO DE TRABALHOS: ATÉ 15 DE AGOSTO DE 2012 PESQUISADORES – EXPOSIÇÃO ORAL – TEXTO COM ATÉ 25 PÁGINAS ACADEMICOS – APRESENTAÇÃO DE POSTER – RESUMO COM ATÉ 5 PG. PUBLICAÇÃO NA REVISTA DO IHGM – No. 41, setembro de 2012


05/SETEMBRO/2012 PALÁCIO CRISTO REI – 08:00 ÀS 18:00 HORAS SEMINÁRIO 6 - SÃO LUÍS FOI FUNDADA POR QUEM? – CONCLUSÕES POSSÍVEIS 08:00 – Abertura 08:15 - Conferencia Magna ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – IHGM - A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS: fatos e mitos 09:15 – Intervalo (café) 09:15 - Sessão de Pôsteres 09:30 – Debatedor(es): ALEXANDRE FERNANDES CORREA – IHGM; UFMA/CRISOL - A FUNDAÇÃO MÍTICA DE CIDADES: o caso São Luís 400 anos. 10:30 – Debate com a plenária 14:30 as 18:00 HORAS – EXPOSIÇÃO ORAL SEMINÁRIOS 4, 5, E 6 Sessão de Pôsteres

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

ALEXANDRE FERNANDES CORREA


OS CÓDICES DE ALCÂNTARA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ No ultimo 28 de junho de 2012, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – representado pela sua Presidente a Dra. TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO, acompanhada pelos sócios efetivos Prof. Aldy Mello, Antonio Noberto, Assir Alves da Silva, e Leopoldo Vaz -, esteve na cidade de Alcântara para fazer a entrega solene de três Códices do Senado da Câmara daquela cidade.

Karina Waleska Scanavino Costa, diretora do Museu Casa Histórica de Alcântara; Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, Presidente do IHGM; Tenente Lima – Representante do Centro de Lançamentos de Alcântara – CLA -; Vereador Heliosmar Martins Ferreira – Presidente da Câmara Municipal de Alcântara

Os Códices se encontravam no IHGM provavelmente desde os anos 1930, doados por Antonio Lopes da Cunha – fundador e secretário perpétuo do IHGM. Autor de ―Alcântara: subsídios para a história da cidade‖, edição do Ministério da Educação e Cultura/DPHAN, publicação n. 19, de 1957. Em seu prefácio (p. 9-10), o apresentador da obra se refere às ―[...] fontes manuscritas utilizadas, confirmando-se o pressentimento pessimista que consta que o velho Varnhagen manifestou numa nota de péde-página de sua História Geral, ao se reportar a ‗Livros antigos (dois) da Câmara de Alcântara, com documentos importantes, e que oxalá não se hajam perdido‘. Nos arquivos da municipalidade alcantarense Antônio Lopes não encontrou mais nem esses livros mencionados pelo ilustre Visconde de Porto Seguro, nem quaisquer outros que lhe fossem de préstimo, ainda mesmo para elucidação da vida de cidade dutrante o período imperial [...‖. Os pressentimentos do velho Visconte se concretizaram, pois... Mas apenas em parte, pois na cidade de Viana, localidade distante de Alcântara, em sua casa paterna


Antonio Lopes achou um códice do Senado da Câmara, que talvez seja um dos aludidos por Varnhagen. Antonio Lopes extraiu dele o que continha de mais aproveitável e o doou, depois, ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Pergunta-se: que destino terá tido o restante do arquivo municipal de Alcântara? Aparecerá ainda algum dia, como o livro antigo que chegou ao poder do Autor de ―Alcântara: subsídios para a sua histõria‖? Terá sido queimada a biblioteca do Colégio dos Jesuítas de São Luís? O historiador Daniel Ricón Caires, do Instituto Brasileirode Museus – IBRAM -, lotado na Casa Museu de Alcântara, de posse dessas informações contidas no aludido livro de Antonio Lopes procurou, ano passado, o IHGM. Buscava informações sobre os livros doados por Antoniom Lopes... Desconhecendo os fatos apresentados, a Presidente autorizou-o a revirar os arquivos a procura do material; encontrou-os!!! Deixou documento de identidade e os levou para fotocopiar. Precisava das informações ali contidas para prosseguir seu trabalho junto ao Museu Casa de Alcantara. A partir daí, começaram entendimentos entre os dois entes, visando à devolução dos Códices a municipalidade alcantarense. Finalmente, em Assembléia Geral Ordinária de abril de 2012, após inúmeras discussões, decidiu-se pela restituição dos livros, colocando-os sob a responsabilidade do IBRAM, que se encarregaria de sua restauração, dado o estado em que se encontravam. Ah sim, foram encontrados três Códices, cobrindo o período de 1778 a 1868... O período final da Colonia e parte do Império... Redigida a minuta de um termo de doação, nossos sócios Washington Cantanhede, Ronald Pereira dos Santos e Ana Luiza Almeida Ferro – a quem a Diretoria pediu uma análise do documento encaminhado pelo IBRAM - alertaram que não poderíamos doar aquilo que não nos pertencia. Mas, decisão tomada pela AGO de restituir àquela cidade e ao Museu Casa de Alcantara deu-se nova redação ao documento, ficando ―termo de cessão de guarda, responsabilidade e restauração‖. Marcada a data da cessão, então, lá estivemos. Reunimo-nos às 11 horas da manhã, de um belo dia de sol, presentes à cerimônia: Tenente Lima – Representante do Centro de Lançamentos de Alcântara – CLA -; Vereador Heliosmar Martins Ferreira – Presidente da Câmara Municipal de Alcântara, e de parte do IBRAM: Karina Waleska Scanavino Costa, diretora do Museu Casa Histórica de Alcântara – MCHA – e os servidores Liz Renata Lima Dias, Maize Daniela Resende, e Daniel Rincon Caires. Cabe aqui registrar a emoção da diretora do Museu Casa Histórica de Alcântara, Karina Costa, ao receber das mãos da Profas. Telma os livros; enquanto se assinava o termo de cessão, apresentamos os livros ao Presidente da Câmara, que também se emocionou, não acreditando que os livros estavam recuperados e voltando para Alcantara; em seu discurso, manifestou acertada a decisão do IHGM, em fazer a devolução, e que fosse ao Museu, pois este teria condições de recupera-lo e mante-los expostos à população e aos visitantes. Só pediu uma cópia, depois de restaurados e digitalizados... Como dito, assinado o Termo de Cessão de Guarda, cópias foram entregues à Camara dos Vereadores, e encaminhada á Promotoria Pública, para conhecimento. Após a cerimônia, visita ao Museu Casa de Alcantara, um almoço comportalhado pelos sócios do IHGM e direção do Museu – inclusive a conta... Retorno a São Luis as 13:30 horas. A seguir, transcrevemos o discurso do Historia Daniel Rincón caíres, na abertura do evento:


OS CÓDICES DE ALCÂNTARA

DANIEL RINCÓN CAIRES Ao contrário de biólogos, médicos ou agricultores, os historiadores não podem ter acesso direto ao objeto de seu trabalho. Ocupados em compreender e explicar os movimentos e transformações das sociedades ao longo do tempo está frequentemente voltados para o passado. Mas o passado não existe concretamente: o que resta dele são impressões, opiniões, vestígios parciais e incompletos, que são a matéria-prima do seu trabalho. O historiador deve empregar muita argúcia e intuição, e deve se amparar numa profunda tradição intelectual, formada pelas contribuições que milhares de indivíduos deram ao longo dos séculos, para refinar seus métodos e produzir trabalhos relevantes e úteis para a sociedade. Tudo aquilo que foi criado pelos nossos predecessores tem grande valor para os historiadores. Imagens, objetos, construções e textos são os suportes que guardam as ideias, os conceitos, os comportamentos, os desejos e as formas de viver das pessoas que estiveram aqui antes de nós. Hoje é um dia histórico. Hoje, a cidade de Alcântara recebe de volta, depois de quase 100 anos, três livros que poderão ajudar a compreender melhor sua trajetória no tempo. Esses três livros, escritos pelas mãos de alcantarenses que viveram há mais de 200 anos, voltam para casa depois de muitas peripécias. De maneira misteriosa, estes livros foram levados para a cidade de Viana, distante muitos quilômetros de Alcântara, e lá foram encontrados por Antônio Lopes, nos anos 1930. Antônio Lopes utilizou estes livros para escrever uma obra sobre a cidade de Alcântara, e depois os doou para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), do qual o mesmo Lopes foi fundador. O IHGM cumpriu a importante tarefa de abrigar estes livros durante mais de 70 anos, salvando-os do desaparecimento, destino que fatalmente teriam se permanecessem em mãos de particulares. Agora, os sócios do IHGM completam sua missão, demonstrando compromisso com a construção da história do Maranhão. Ao devolverem estes livros para a cidade de Alcântara os membros do IHGM contribuem para o fortalecimento da identidade alcantarense. Quem sabe através destes livros possamos reavaliar as interpretações sobre a trajetória da cidade, que tem sido descrita como decadente, como uma pálida lembrança de um passado idealizado...


Nós, do Museu Casa Histórica de Alcântara, nos esforçaremos para sermos merecedores da confiança demonstrada pelos sócios do IHGM. Desejamos não só abrigar estes livros, mas também encaminhá-los para que sejam restaurados. Desejamos, principalmente, divulgar seu conteúdo para um grupo maior de pessoas, através da digitalização de suas páginas e também da transcrição e publicação de seu conteúdo. Queremos que as informações contidas nestes livros sirvam para pesquisadores, professores, estudantes. As atividades necessárias para atingir estes objetivos serão iniciadas imediatamente. Esperamos ter resultados concretos nos próximos meses. Desejamos, enfim, dar prosseguimento ao importante trabalho iniciado por Antônio Lopes e sustentado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ao longo das últimas décadas. Afinal, compartilhamos o mesmo objetivo: todos trabalhamos pelo fortalecimento cultural de nossa região.


HOMENAGEM AS MULHERES

No dia 28 de março, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão homenageou as mulheres, pela passagem do seu dia internacional, 8 de março. O Instituto hoje, é presidido por uma mulher (profa.Telma Bonifácio) que sucedeu outra, a professora Ineida Vieira da Silva, a primeira mulher a presidir o IHGM. Nos últimos anos, muitas mulheres tem ingressado e fortalecido esta sociedade, são professoras, promotoras, historiadoras, enfim, das mais variadas áreas. O IHGM vive atualmente, um dos melhores momentos da sua história e devemos acreditar no seu futuro e capacidade, como sempre fez o prestigioso Antônio Lopes. Não podemos também se esquecer de homenagear aqui, a professora Carlota Carvalho, autora de "O SERTÃO", de 1924, a primeira mulher a integrar os quadros do Instituto, considerada sócia fundadora.


POSSE DE ALDY MELO – CADEIRA 45 – 27/04/2012

POSSE DE EUGES LIMA – CADEIRA 22 – 25/05/2012


MEMBRO DO IHGM É ENTREVISTADA PELA REVISTA HISTÓRIA EM CURSO

A Dra. Ana Luiza Almeida Ferro é uma das entrevistadas da revista História em Curso, da Editora Minuano, deste mês. Em sua matéria de capa a revista aborda o tema "Gangstes: os 14 mais poderosos da história". A autora estudou "As organizações criminosas no mundo", tema de um de seus trabalhos de Doutorado intitulado "Crime Organizado e as organizações criminosas: Conceito, características, aspectos criminológicos e sugestões político-criminais". Ana Luiza Ferro é Doutora e Mestra em Ciências Penais – UFMG; Promotora de Justiça/MA; Professora do Uniceuma; Coordenadora de Pesquisa e Professora da Pósgraduação da ESMP/MA; membro efetivo do IHGM, da AMLJ e membro de Honra da SBPJ. Escreveu os livros: O Tribunal de Nuremberg, Escusas absolutórias no Direito Penal, Robert Merton e o Funcionalismo, O crime de falso testemunho ou falsa perícia e Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely e Crime Organizado e as organizações criminosas.


HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 09, BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO EDEN DO CARMO SOARES Cadeira nº 09 - IHGM Exma. Sra. Professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Confrades e confreiras, Senhoras e Senhores, Nunca vi faltar em acontecimentos desta natureza, como o que transcorre agora, uma substância tão forte e tão de dentro da alma humana como é a emoção. É, pois, com este distintivo, em mim tão crescido, que segue a primeira e mais considerável nota deste meu discurso. A segunda será alegria. Contida, entretanto, pelo dever de compromisso que tomo com esta venerável Instituição, resguardada pelos ilustres confrades do presente; resguardada pela memória dos nossos sábios confrades extintos. Mais imperfeita seria esta minha fala, se postergasse o meu aprazimento de ser recebido, neste Sodalício, por um dos meus mais distintos companheiros, menção que faço a Washington Luís Maciel Cantanhêde, considerado por quantos o conhece: seja pela conduta exemplar de cidadão comum; seja pelo desvelo e nobreza com que exerce a função Ministerial; e seja pela verve literária que o eleva a categoria de fecundo e bem documentado historiador. Foi esse anfitrião quem dirigiu os olhos sobre mim, cogitando méritos para associar-me a este eminente Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Além de ideais que me aproximam de Washington, há também um liame ancestral que nos revela uma linhagem de parentesco bastante próxima, fato, aliás, ricamente dissertado em seu majestoso discurso que se findou com aplausos. Edificadas às margens do Mearim, celebrizado por sua história e por sua natureza, as convizinhas Vitória do Mearim e Arari, a minha terra-berço e aquela a do meu anfitrião, guardam um vínculo incontestável sobre a sua História e sobre o seu domínio geográfico, tão bem revelado pelos adornos da Baixada Maranhense, uma indisfarçável parte do corpo deslumbrante da Amazônia Brasileira em terras do Maranhão. Há milhares de anos, quando o rio Mearim escavava o seu leito, ali abriu fissura para fluírem suas águas até a baía de São Marcos, nas proximidades da ponta meridional da ilha dos Caranguejos, estimada como a maior reserva botânica contínua de manguezal no Brasil, consumando 30 mil hectares. Quando as suntuosas chuvas do Maranhão fartam o leito do Mearim, é sobre a pele da Baixada Maranhense que ele esparge o seu conteúdo excedente hídrico, provocando grandes enchentes. No entanto, tem essas inundações um significado importantíssimo para o equilíbrio ecológico da região: terras, flora e fauna. O corpo metamorfizado da Baixada Maranhense é formosura sempre: ora a imagem de campos tapizados de gramíneas virescentes que fartam rebanhos, ora à guisa de espelhos d‘água a perderem-se de vista. Aí, então, peixes de múltiplas linhagens nadam em rumorosa excitação, por águas escuras dos igarapés sombrios, até aqueles


lagos temporâneos para celebrarem a sua festa genésica, piracema – flagrante perseverança da língua tupi na fala brasileira. Fundado o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em 1925, por um grupo de onze homens notáveis da cultura maranhense, à frente dos quais avulta para sempre a figura ímpar do polígrafo vianense Antonio Lopes da Cunha, sobrinho do grande literato, jurista e folclorista Celso Magalhães e irmão do renomado geógrafo Raimundo Lopes, tinha a entidade, em seus albores, por previsão estatutária, um quadro de trinta membros efetivos. Não eram identificados como ocupantes de cadeiras numeradas e tampouco sob o patronato de vultos históricos da ciência no Maranhão. Foi em 1941 que esse quadro passou a ser composto por cadeiras, numeradas de 1 a 30, com respectivos patronos, afinal aumentado, mediante reforma estatutária, para cinquenta em 1951, e para sessenta em 1979. A cadeira número 9, criada, portanto, em 1941, ficou sob o patronato de Bernardo Pereira de Berredo e Castro e seu primeiro ocupante foi Ruben Ribeiro de Almeida, eleito em 8 de maio de 1943. Escritor, jornalista, historiador, poeta e professor de toda a vida, concentrado em Língua Portuguesa e Direito Civil, Ruben Ribeiro de Almeida foi membro da Academia Maranhense de Letras, diretor do Liceu Maranhense e da Biblioteca Pública Benedito Leite, além de presidente deste Instituto Histórico e Geográfico, entre outros cargos e posições que ocupou. Faleceu em 9 de abril de 1979, um mês antes de completar 83 anos de idade. Sua importantíssima obra publicada, esparsa, encontra-se, principalmente, nos jornais de São Luís, nas revistas deste Instituto e do Diretório Regional de Geografia. Seu mais volumoso livro foi publicado postumamente, em 1982, pela Secretaria de Cultura do Maranhão sob o título Prosa, poesia e iconografia de Ruben Almeida. Reformado o estatuto do IHGM em setembro de 1979, com a elevação do número de cadeiras da Casa, de 50 para 60, Rubem Almeida foi alçado à condição de patrono da Cadeira 51. Vaga a Cadeira 9 em decorrência da morte de Ruben Almeida, foi eleita para ocupá-la Rosa Mochel Martins, agrônoma e geógrafa, professora do ensino médio e universitário, com diversas obras publicadas sobre agricultura, geografia, biografias de ilustres desaparecidos e folclore do Maranhão, além de poesias. Faleceu a 2 de fevereiro de 1985, aos 66 anos de idade. Seu nome é anualmente lembrado como a fundadora da Festa da Juçara, no Maracanã, lugar da zona rural de São Luís, quando exercia o cargo de Secretária Municipal de Educação e Cultura do Município na primeira metade dos anos 1970. Compulsando as revistas do IHGM, verifica-se na Revista Nº 12, publicada entre março de 1986 e dezembro de 1987, a substituição do nome de Rosa Mochel pelo de Sebastião Barros Jorge como ocupante da Cadeira 9, o que permanece até a Revista Nº 19, de 1997. Daquele ano em diante, desparecem as nominatas dos sócios da publicação oficial do IHGM, somente na Revista Nº 25, publicada entre 2001 e 2002, voltando a figurar a referida relação. É quando se vê que para a Cadeira 9 fora eleito um novo ocupante, a tomar posse, o professor universitário Antonio José de Araújo Ferreira. Nas revistas seguintes, nova lacuna na publicação das nominatas e nenhuma referência à posse do eleito para a citada cadeira. Tudo autoriza a conclusão de que o desligamento do jornalista Sebastião Jorge, fecundo pesquisador da história do jornalismo maranhense e que continua em plena atuação, dos quadros do IHGM ocorreu entre 1997 e 2001; e que o eleito para sucedê-lo não chegou a tomar posse. Cabe a mim sucedê-lo, portanto, neste momento marcante da minha vida.


Ilustres Confrades e Confreiras, Senhoras e Senhores, Dispõe o Estatuto do IHGM, em seu artigo 11, que, ao tomar posse solene em uma das cadeiras da Casa, o novo sócio efetivo da entidade deve fazer o elogio ao seu patrono. Usualmente, contudo, o elogio vem-se estendendo aos predecessores ocupantes da cadeira. Ocorre que, dentre meus predecessores na Cadeira 9, Ruben Almeida é hoje patrono da Cadeira 51 deste sodalício e, nessa condição, será, com certeza, melhor louvado nos discursos dos ocupantes do referido assento. Material para tanto não lhes faltará, desde os próprios escritos daquele sábio até a mais recente homenagem que lhe foi prestada, precisamente pelo professor Edomir Martins de Oliveira, nosso confrade nesta Casa, com o importante livro A Águia e o Rouxinol (elegia ao Professor Ruben Almeida), publicado no ano de 2011, passando, por exemplo, pela entrevista realizada pelo jornalista Jorge Nascimento com o homenageado no final dos anos 1970, intitulada Ruben Ribeiro de Almeida, Sábio de Atenas, texto inaugural do livro Universo Maranhense (reportagens poéticas), publicado em 1983. Ocorre também que pretendo louvar minha predecessora Rosa Mochel em trabalho à parte, justa homenagem à minha professora de Geografia na Escola Técnica de Comércio do Maranhão, texto que almejo seja publicado em um dos próximos números da Revista do IHGM. E, quanto ao jornalista Sebastião Jorge, sua laboriosa atividade no passado e na atualidade, de méritos assaz conhecidos, dispensa comentários em um trabalho como este, voltado, aliás, para o elogio de ilustres desaparecidos. Dito isto e fixados, pouco antes, os extratos biográficos de Rubem Almeida e Rosa Mochel, peço vênia aos confrades para cumprir à risca a norma estatutária, passando, assim, ao elogio propriamente dito do Patrono da Cadeira 9 do IHGM, lacuna, por sinal, visível na bibliografia disponível a respeito de tão destacada figura do Maranhão Colonial, exceto nos escritos de César Marques, outro importante nome de outrora, precisamente do Maranhão Imperial. Diletos Confrades e Confreiras, Senhoras e Senhores, O patrono da Cadeira 9 deste sodalício, Bernardo Pereira de Berredo e Castro, foi um fidalgo da Casa Real Portuguesa, capitão de cavalaria do exército, governador e capitão-general do Estado do Maranhão de 1718 a 1722, autor dos famosos Anais Históricos do Estado do Maranhão, escritos a partir de 1723 e publicados em 1749. Pertenceu ao Conselho de Sua Magestade. Foi também governador da Praça-forte de Mazagão, no Marrocos, de 1734 a 1745. Descendia de família portuguesa muito antiga, que tomou o nome da quinta de Berredo, na freguesia de Santo Estêvão de Geraz, concelho de Lanhoso. Natural da Vila de Serpa, no Alentejo, foi nomeado governador do Maranhão por El-Rei Dom João V, que, na carta patente respectiva, de 21 de janeiro de 1718, declara, como motivação para o ato, o respeito aos serviços que prestara o dito Bernardo Berredo a Sua Majestade na praça de Moura e principado de Catalunha, entre 1706 e 1712, destacando-se por denodo, coragem e bravura nas campanhas de que então participou contra os inimigos de Portugal. Provisão Régia de 19 de junho ordenaria, ainda, como reafirmação dos méritos e das necessidades do novo governador, que lhe fosse paga uma ajuda de custo anual, além dos soldos, atendendo-se ―ser ele um filho segundo da casa de seus pais, destruída na guerra próxima passada pela invasão dos castelhanos nos termos de Serpa e Moura, onde tinha todas as suas fazendas, mas


também pela circunstância especial das grandes despesas que fez na dita guerra, achando-se em toda a Espanha, onde serviu com todo o zelo e honra, como testemunhavam as muitas e perigosas feridas que recebera nelas.‖ Com efeito, registra o editor e panegirista de Berredo, Francisco Luís Almeno, em Advertência na abertura dos Anais Históricos, aludindo à atuação do intrépido militar na guerra da Catalunha: ―(...) onde principalmente se distinguiu foi na batalha de Almenara, ganhada pelos Aliados em 17 de julho de 1710; no choque de Penalva em 16 de agosto do mesmo ano, carregando com um esquadrão, que comandava, mais de duzentos cavalos inimigos até os meter dentro da sua infantaria; e vendo-se cortado da dita cavalaria, que ali se refez, retirou, do meio dela, pelejando, o seu esquadrão, fazendo-lhe a retaguarda com quatro cavalos, tomando ainda alguns aos inimigos, sem mais perda que a de um tenente, que depois de ferido lhe fizeram prisioneiro; e ultimamente na batalha de Saragoça ganhada também pelos Aliados a 20 do mesmo mês, e ano, se distinguiu de sorte o seu valor, que contendendo com muito maior número de cavalaria inimiga, depois de perder a maior parte do seu esquadrão no combate, se chegou a ver só no meio dos inimigos, pelos quais rompeu sem que pudessem rendê-lo, estando já com oito feridas, duas na cabeça, uma no rosto, três nos peitos, de que ficou passado, e duas no braço direito, sendo algumas mui perigosas‖. Sucedendo a Cristóvão da Costa Freire, Berredo tomou posse no governo do Maranhão, perante a Câmara de São Luís, em 18 de junho de 1718. Encontrou na Capital um clima de animosidade intenso entre autoridades, criado durante o governo do antecessor. Em julho, dirigiu-se ao Pará, onde também tomou posse a 1º de agosto, recebendo o bastão do governo das mãos do seu antecessor. Ali permaneceu até o final do ano, andando pelo interior da Capitania e estudando suas necessidades. Retornando ao Maranhão, permaneceu na Capital até agosto de 1719, rumando em seguida para o interior, onde permaneceu até dezembro, marchando pelas ribeiras do Icatu, do Itapecuru e do Mearim, à frente de uma tropa, contra o gentio barbado, embora tivesse a Câmara, debalde, pedido, em setembro, que não fosse, ―já pela grande falta que fazia à capital, e já pelo grande perigo que corria a sua pessoa‖. O Governador era um homem afeiçoado à guerra e, por isso, certamente, não atendeu ao apelo. No início de dezembro, estava no Mearim, donde retornou a São Luís, chegando no penúltimo dia do ano. Ainda em setembro de 1719, a Câmara elogiava-o, em ofício para Lisboa, dizendo ―que o seu recolhimento era tão notório que ele só queria ouvir os homens nos negócios, e os não admitia para passatempo, assegurando também que era limpo de mãos‖. Em 1720, contudo, o bacharel Vicente Leite Ripado, ouvidor-geral e provedormor da fazenda da Capitania do Maranhão, um dos inimigos de Cristóvão da Costa Freire, lançou-se à continuação das desavenças. Dirigindo-se a Sua Majestade, acusou Berredo de várias irregularidades. Acusou-o de acoitar Francisco Cavalcante, um dilapidador da fazenda real, réu em processo, ajudando-o a esquivar-se ao alcance da Justiça, por tê-lo feito cabo do presídio do Mearim, sem patente, pretendendo, na verdade, que o dito indivíduo, tido como dono de uma fazenda naquela ribeira, cuidasse da propriedade, que não seria dele, mas do próprio governador. Acusou-o de fazer


guerra injusta aos índios do Mearim, maltratando os soldados na campanha e matando, barbaramente, índios guajajaras mansos e pacíficos, aprisionando muitos outros, dos quais teria tomado 24 para si, como jóia, e distribuindo os demais entre afilhados e protegidos. Acusou-o de ter seduzido uma moça donzela do Mearim, ―das melhores da terra, que aí vivia em companhia de sua mãe e irmãos‖, com a qual passou a viver na Capital ―em notória publicidade e geral escândalo‖. Acusou-o de mandar ferir o próprio secretário, por ter visitado a casa de sua amásia à noite. Acusou-o de mandar soltar os presos, desrespeitando os juízes que tinham ordenado a prisão. Acusou-o de ter-lhe feito públicas ameaças de prisão. Acusou-o de prender e sentar praça em homens velhos, fracos e doentes. Acusou-o de prender e maltratar, por muitos meses, João Mendes de Aragão, ex-ouvidor-geral do Pará, sob a vaga acusação de que seria orgulhoso e perturbador, com o que dava escândalo ao povo, mas satisfazendo, na verdade, os caprichos de Gregório d‘Andrade, sogro de Francisco Cavalcante e inimigo rancoroso de Aragão. E acusou-se, finalmente, de ser, além de insolente, déspota e autoritário, muito vaidoso, a ponto de aspirar às honras de príncipe e dizer publicamente que jamais errava no governo, desafiando que aparecesse algum religioso mais escrupuloso do que ele em matéria de liberdade e de justiça. O litígio, que não se estabeleceu somente com autoridades do Maranhão, mas também com algumas do Pará, foi objeto de apreciação e decisões da Metrópole, entre 1720 e 1722. Berredo recebeu ordem para soltar João de Aragão. Foram-lhe negados poderes iguais aos do Desembargo do Paço e dos regedores da justiça, como pedira, a fim de processar o ouvidor Ripado, a quem acusara de excessos praticados contra os moradores. Foi mandado tirar devassa dos cativeiros injustos dos índios por um ministro isento. Berredo recebeu ordens para não se imiscuir em assuntos da Justiça, pois seu regimento não lhe dava poderes para tanto; e também para abster-se de criar, abusivamente, postos ―fantasmas‖ de coronéis, tenentes-coronéis, sargentos-mores etc. – forma de pagamento, na verdade, de serviços particulares que lhe eram prestados, como, aliás, também tinham feito seus antecessores, razão pela qual ficavam todas essas nomeações sem efeito. Registre-se que, em junho de 1720, o Governador mandou prender o Ouvidor, por entender que este exorbitara de suas funções durante correição em Alcântara, suspendendo o capitão-mor da Vila. O Ouvidor, assustado, refugiou-se no Convento de Santo Antônio, no mês seguinte, abandonando seus cargos. Por Carta Régia de 17 de fevereiro de 1723, Berredo obteria a aprovação do seu procedimento no caso. A despeito das denúncias de enriquecimento no exercício do cargo, o Governador escreveu à Corte, no mesmo mês, reclamando que, para não sair do Maranhão pedindo esmola ou não ser enterrado por caridade, era preciso aumentar-lhe o ordenado e dar-lhe uma comenda ―em justo e devido prêmio de 26 anos de serviços seus e 40 de seu pai, sempre com zelo, honra e préstimo, não tendo o prêmio correspondido aos seus serviços, tendo arruinado a sua saúde, fazenda e passado incômodos, ficando sempre estacionado no mesmo posto militar‖. Mas, a essa altura, convém indagar: e o principal denunciante das arbitrariedades do Governador, o ouvidor e provedor da fazenda Vicente Leite Ripado, era um homem justo? Já em 1717, os oficiais da Câmara de São Luís e os homens da nobreza da terra haviam denunciado o referido ministro perante El-Rei como desidioso, odiento, orgulhoso, perseguidor, fraudador da Fazenda Real pela qual deveria zelar, comparsa do ex-ouvidor João Mendes Aragão, que morava em sua casa, sentenciando, na prática, em favor das partes para as quais advogava. O Conselho Ultramarino, embora entendendo


que era caso de deposição, oportunizou-lhe defesa, mas, haja vista a demora das viagens entre a Metrópole e a Colônia, Ripado ainda teve tempo para muitas querelas, inclusive prendendo pessoalmente o juiz dos órfãos Gregório de Andrade da Fonseca, levando-o, em plena manhã, ―em trajes menores e de chinelos, para a enxovia em que só se prendiam ladrões e assassinos, além de prender, afrontosamente, ao vereador Manoel Scar, que era o juiz ordinário da Câmara, por questões de somenos importância‖. Fora do cargo já em 1721, após o decreto de prisão expedido por Berredo, a Corte finalmente o exonerou. Em verdade, tanto um quanto o outro, foram homens do seu tempo, ministros d‘El-Rei na colônia distante, exercendo seus cargos sob o manto do absolutismo então vigente, ciosos da prevalência de sua autoridade como estratégia de sobrevivência, ainda que para atingir objetivos pessoais, no mais das vezes econômicos. Findo o triênio de governo de Bernardo de Berredo, a Corte deu por encerrada sua missão oficial no Maranhão. Entregou o bastão do governo a João da Maia da Gama, na cidade de São Luís, em 19 de julho de 1722 e, na cidade de Belém, em 1º de outubro do mesmo ano. A falta de monção obrigou-o a permanecer no Maranhão, o que aproveitou para ―revolver e examinar com os seus próprios olhos todos os arquivos, com o fim de angariar materiais para escrever a história dos vastos domínios portugueses que foram confiados aos seus cuidados‖. Nesse trabalho consumiu perto de um ano, e então em Lisboa concluiu o seu escrito intitulado Anais históricos do Estado do Maranhão, em que se dá notícia do seu descobrimento e tudo o mais que nele tem sucedido desde o ano em que foi descoberto até o de 1718, oferecidos ao augustíssimo monarca D. João V, Nosso Senhor – é o que nos diz César Augusto Marques no seu Dicionário Histórico Geográfico do Maranhão, obra da qual colheu-se a maior parte dos subsídios utilizados até aqui, com achegas extraídas de Ouvidores-Gerais e Juízes de Fora: livro negro da justiça colonial do Maranhão, obra de Mílson Coutinho; do Dicionário das Famílias Brasileiras, de Almeida Barata e Cunha Bueno; e dos próprios Anais Históricos de Berredo. Bernardo Pereira de Berredo e Castro, filho de Antonio Pereira Berredo de Lacerda e D. Maria Eugênia de Portugal, descendia de D. Afonso, Duque de Bragança, e de D. Brites Pereira, filha do infante D. João, condestável de Portugal, que morreu em 1442. Ante de vir para o Maranhão, Berredo casara-se em Portugal com D. Catarina d`Avalor. Aqui chegando, uniu-se a D. Maria de Melo, filha de Diogo Froiz de Brito com a filha de Antonio Teixeira de Melo, o governador comandante da expulsão dos holandeses em 1644. A mãe da mulher maranhense de Berredo, assim como esta, também tinha o nome de Maria de Melo. A família Berredo do Maranhão descende da união de Bernardo Berredo com a referida Maria de Melo, pelo filho do casal, Antonio Pereira de Berredo. Um dos trinetos de Bernardo Pereira de Berredo e Castro, herdando deste a verve de historiador, é o autor da mais importante obra de referência em história antiga e geografia do Maranhão: o grande César Augusto Marques, citado anteriormente. Este, a quem a descoberta de sua ancestralidade custou muitas fadigas ao longo de dois anos de penosas investigações, foi recompensado com o reconhecimento da nobreza que por sangue lhe pertencia e deixou grafado para a 2ª edição de seu Dicionário, que só recentemente veio a lume, em 2008, 138 anos depois da primeira edição, estas palavras:


―Descendente de Berredo, o calor de seu sangue, que gira em nossas veias, não arrefeceu a imparcialidade de nossa pena. Aproveitamos os seus defeitos. E era razão que lhe fizéssemos também justiça, mormente sendo nós, depois dele, por decretos insondáveis da Providência, o continuador dos seus escritos, o único que em tão largo espaço ampliou e levou mais longe a história do Maranhão, senão com talento, ao menos com muito cuidado, insano trabalho e preito à verdade sem amor e sem ódio, fazendo justiça a todos, destinando-se assim sem remorsos os dias de nossa tão trabalhosa existência, que consagramos a Deus, à Pátria e aos amigos, como se lê na legenda, pendente dos brasões, que herdamos de Berredo, como acabamos de mostrar, e que nos foi outorgada pela Carta Régia de 26 de julho de 1875, por S. M. Fidelíssima o Senhor D. Luís 1º de Portugal.‖ Em 1749, morto Berredo no ano anterior, saiu, em Lisboa, sua magnífica obra, os Anais históricos do Estado do Maranhão, construídos ao longo de 26 anos, entre 1723 e 1748. Sobre os Anais diz seu autor no Prólogo da obra, escrito pouco tempo antes de morrer, em verdadeira lição de zelo com que se deve haver o historiador, assim ontem como hoje: ―(...) tomei a empresa de ocupar-me todo em juntar matérias para o edifício de uma história que mostrasse bem a todo o mundo o quanto se dilatam os vastos domínios portugueses: no que continuei com uma exação tão escrupulosa, e tão cheia de zelo, que não deixei arquivo que não examinasse com os meus próprios olhos; e dos sucessos militares, ou achei as notícias nas originais atestações dos seus comandantes, ou nos registros das patentes dos postos, [em] que serviram as mesmas pessoas de que falo. (...) Neste trabalho tão custoso gastei perto de um ano, que me dilatei naquele Estado, depois de aliviado do governo dele: e restituindo-me a Lisboa, entrei então em maiores fadigas; (...) Há muitos anos que me persuadem algumas pessoas das da primeira representação a que entregue esta obra à utilidade pública pelo benefício da estampa; mas por mais que empenharam os honrosos argumentos para convencerem as minhas justas desconfianças, têm sido elas poderosamente desapaixonadas, que desse tempo a esta parte a tenho posto quatro vezes em limpo, e outras tantas reduzido a borrões com as muitas emendas, sendo a correção, que me instruíram novos estudos, de tal severidade, principalmente nas transições frequentes, e diferentes gêneros de estilos, ainda entre os cuidados de uma contínua guerra no meu longo governo do presídio de Mazagão, que o exemplar último dos primeiros dez livros, que se acha nas mãos de um grande ministro, se concorrer hoje com o presente original, se desconhecerá pela dessemelhança. Não sou contudo tão vaidoso que me persuada a que cheguei a encher o elevado caráter de historiador; porém, sem que me cegue o amor-próprio, poderei afirmar que esta é obra das mais verdadeiras, e das de mais exata cronologia, que saíram ao mundo; (...)‖ Em dedicatória da obra a El-Rei, o editor, Francisco Luís Almeno, registrou:


―A elegância com que está escrita, a judiciosa averiguação dos fatos, que nela se referem, a farão digna da estimação de todos os eruditos; mas o que certamente a faz mais estimável é ser a primeira que se tem escrito do Estado do Maranhão, que sendo uma nobre porção dos vastos domínios de Vossa Majestade na América, dele não havia história alguma particular.‖ O padre jesuíta Bento da Fonseca, então procurador-geral da Companhia de Jesus no Maranhão, em carta ao editor, publicada no início da obra, também assestou: ―(...) é louvável que seu autor Bernardo Pereira de Berredo, no meio dos cuidados dos governos do Maranhão e de Mazagão, que ambos os fez com grande acerto e rara prudência, tivesse uma aplicação tão profícua à República, como digna da sua capacidade, que mostra nesta obra, quando a sua profissão e aplicação parece que toda se empregava na arte militar, que com notório brio e valor exercitou em ambos os seus governos. No do Estado do Maranhão tive a fortuna de o conhecer, sendo governador e capitão-general dele. No de Mazagão é bem público neste reino o brio e valor que em repetidas ações exercitou contra os turcos, sendo mui poucas as gazetas em que não víssemos proezas suas.‖ Todavia, no século seguinte, da pena dos maranhenses Antonio Gonçalves Dias e João Francisco Lisboa viriam as primeiras críticas aos Anais Históricos de Berredo. Gonçalves Dias, em introdução à segunda edição da obra, entre 1850 e 1851, reprovando por inoportuna a escolha dos modelos que o autor adotou – os romanos Tácito e Tito Lívio –, admite, contudo, que conseguiu imitá-los. Censura-o, entretanto, pela preferência que deu aos assuntos portugueses em detrimento dos americanos e indígenas, escrevendo ―não a história do Maranhão, mas uma página das conquistas de Portugal‖. César Marques, todavia, considerou excelente essa introdução crítica ―escrita pela hábil pena do nosso infeliz compatriota‖. João Lisboa, na introdução aos seus Apontamentos, Notícias e Observações para Servirem à História do Maranhão (Jornal de Tímon), ao fazer um balanço da historiografia maranhense mais importante até então conhecida (anos 1860), dedica a metade do texto à análise da obra de Berredo, considerada entre cinco que destacou. Diz: ―A de Berredo, que é a mais importante delas, não passa de uma simples crônica de acontecimentos militares, religiosos e políticos, se excetuarmos umas abreviadas notícias que logo no primeiro livro nos dá acerca da geografia e população do Estado (...). No que escreveu, devemos confessá-lo, parece que buscou sempre ser exato e imparcial, procurando a verdade em todas as fontes em que podia bebê-la; mas o estilo é tão pedantesco, e a narração tão minuciosa e difusa, que o autor, sobre enfastiar-nos, afoga-nos em uma torrente de palavras empoladas, e de fatos insignificantes, onde, se não se perdem inteiramente de vista, só à força de atenção se podem rastrear e descobrir as cousas que mais importa saber hoje em dia. Escrevendo a crônica de uma pobre colônia, nascente e obscura, assentou de si para si este soldado escritor que devia elevar-se ao tom da grande história, e ainda da epopéia (...).‖ Entretanto, admite Lisboa:


―(...) os defeitos que lhe arguimos não são seus próprios, senão do século em que viveu, e a cujo mau gosto pagava um tributo quase inevitável.‖ E, contestando a censura de Gonçalves Dias sobre a preferência de Berredo pela temática portuguesa, ou pelo seu lusocentrismo: ―Berredo tinha razão. E por que motivo, em verdade, soldado e escritor português, pertencente à raça e sociedade portuguesa, como todos nós lhe pertencemos, pelos usos, costumes, linguagem e idéias, havia ele de preterir os assuntos pátrios para se ocupar com a história dessa pretendida Judéia do novo mundo, criada só pela imaginação poética e fantasiosa do nosso crítico? Que mais interesse podiam oferecer essas obscuras e sanguinolentas guerras de tribos, seguidas de banquetes de carne humana, de danças burlescas, e de brutal embriaguez? Por que é enfim que a história da civilização europeia, em seu nascimento e nos seus progressos, se há de ter como cousa mais somenos que a história de povos selvagens, da sua decadência e extinção?‖ César Marques, após referir que João Lisboa afirmou ter Berredo apenas compilado, e compilado mal, ―desfigurando não poucas vezes a história por omissões inexplicáveis, por ignorância, curteza de vistas, afetação e pedantismo‖, condena o rigor crítico do conterrâneo para com o primeiro historiador da terra maranhense e, ―conquanto ele tivesse cometido faltas inerentes a todos os escritores, mormente os que vão buscar a luz nas sombras do passado, não merecia por certo ser tachado de ignorante e de vistas curtas‖. De fora do Maranhão, valioso é o juízo de outro grande historiador, Francisco Adolfo de Varnhagen, no 2º volume da sua História Geral do Brasil, classificando os Anais Históricos de Berredo como ―um dos mais preciosos livros que acerca da nossa história possuímos‖, acrescentando que o autor ―era de espírito nobre, grave, e geralmente caridoso‖, embora enganoso e falaz pela afetação – com o que, aliás, concordou César Marques. Quanto a mim, Caríssimos Confrades e Confreiras e Distinto Auditório, filho da Ribeira do Mearim, apaixonado por sua Geografia e estudioso deste genuíno rio maranhense, passo ao largo dessas apreciações e contento-me, por exemplo, em reconhecer na obra de Berredo, primeiro livro de História do Maranhão, uma fonte rica de saberes sobre princípios deste estabelecimento até 1718: sua História e sua Geografia. É surpreendente e afagoso, ao mesmo tempo, que tendo o intrépido militar, Governador BERREDO, expedicionado durante quase 6 meses pelo interior do PARÁ, parte do Estado do Maranhão como também era o Amazonas naquele tempo, com uma vastidão de rios e florestas exuberantes; bichos incomuns, mamíferos adaptados ao mundo das águas e ictiofauna incomparável, sufragar e anotar em sua soberba obra que ―O príncipe soberano de todos os Rios do Maranhão é o celebrado MEARIM‖, aludindo as suas águas, as suas marés de sizígias que levantam Pororocas, o seus baixios e seus meandros inumeráveis. Eis aqui, Dileta Assistência, o que reuni sobre o meu Patrono. Cavei fundo, mas não cheguei à exaustão. Não me equiparei aos grandes panegiristas e, talvez, nem aos pequenos. Não fui copioso, ao contrário, fui singelo para ouvir a lição do grande historiador Gaioso: ―De mais quem não sabe que hum estilo simples he o mais


favoråvel aos progressos de qualquer obra? Quem fala dos interesses da humanidade, deve procurar que todos o entendam‖. Muito Obrigado!


APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR ALDY MELLO DE ARAUJO CADEIRA 45 – IHGM, 27/04/2012 JOSETH COUTINHO DE FREITAS CAD. 55 É com imensa alegria, mais uma vez, apresentarmos um intelectual de renome para ocupar uma Cadeira de Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Estamos falando do Prof. Aldy Mello de Araujo, que ocupará a Cadeira Nº 45, patroneada por Manoel Nogueira da Silva e ocupantes anteriores a professora e poetisa Dagmar Desterro e Silva e o Engenheiro José Pinheiro Marques. Inicialmente, em respeito ao empossando e aos convidados devemos esclarecer pequeno acidente de percurso que alterou esta solenidade. Tradicionalmente e por dever estatutário, dois Sócios Efetivos propõem candidato à detarminada Cadeira e o primeiro proponente é o responsável pelo discurso de apresentação. No Caso atual, o confrade Josemar Bezerra Rapôso seria o orador, porem, ausente de São Luís em tratamento de saúde, coube-nos substituí-lo. Não fomos avisados com a devida antecedência, havendo apenas o dia de hoje para consultar o curriculum vitae do professor Aldy. Pela manhã contatamos com o amigo Aldy pondo-o a par da falta de tempo para escrever um discurso sobre alguém de grande fluência, competência, orador nato, profissional da mais alta envergadura e professor. Inteligente e conhecedor de idiomas estrangeiros – francês, inglês, espanhol, ampliou sua cultura visitando 31 países e em alguns fazendo cursos da mais alto valor. Feitas as devidas referências, leremos a síntese do seu excelente curriculum vitae traçando sua invejável trajetória profissional. Contando com a benevolência de todos, aqui estou, cumprindo a honrosa missão. Maranhense de Tutoia, ali estudou seus primeiros anos do Fundamental; vindo para São Luís estudou na Escola Técnica Federal do Maranhão e na Faculdade de Direito, graduando-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Maranhão, onde o conheci acadêmico. Jovem, lecionava Língua Portuguesa no Seminário. O prof. Aldy soube escolher o caminho do saber, sempre retornando ao torrão natal; qualificou-se nas melhores Instituições educacionais e científicas. Ouvia, assimilava e aplicava tudo que iria enriquecer seu conhecimento e cumprindo seu projeto de vida. Convites para atuar nunca lhe faltaram, mas não possuía o dom da ubiquidade para atendê-los. O novel consócio ostenta em sua excelente qualificação profissional cursos universitários da mais alta valia, a saber:


Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Católica de Louvain – Bélgica; Especialista em Administração universitária pela Organização Universitária Internacional – OUI – Canadá; Especialista em Metodologia da Pesquisa social, Portland State University, Oregon – Estados Unidos; Professor Emérito da Arkansas State University – Estados Unidos; Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Maranhão. CARGOS NA UFMA Coordenador do Curso de Comunicação Social. Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantis. Vice-Reitor. Reitor – 1992 / 1996 Aposentado como professor da UFMA foi convidado para Diretor da Faculdade Euro Americana, em Brasília. Deixando a Capital Federal retornou a São Luís como Reitor do Centro Universitário do Maranhão – UniCeuma. MEMBRO E Funções Membro Titular do Conselho Diretor da Instituição Universidade Federal do Maranhão, representando a Presidência da República. Membro do Conselho de Ciências e Artes da Câmara Brasileira de Cultura, na área de Ciências Sociais na Cadeira Gilberto freire, São Paulo. Conselheiro da Câmara Brasileira de Cultura de São Paulo. Consultor do Grupo Euro Americano, em Brasília. Presidente do Corpo Editorial do UniCeuma. Membro do Conselho de Desenvolvimento Tecnológico do Estado do Maranhão Vice Diretor da Faculdade Euro Americano, em Brasília. Vice Superintendente de Pesquisa e Pós – Graduação do CEUMA. Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. Chefe da Assessoria Especial do Governo do Maranhão TÍTULOS HONORÍFICOS E CONDECORAÇÕES Medalha do Prêmio Sapiens concedido pela Associação Brasileira de Incentivo à Qualidade, São Paulo. Medalha do Mérito Profissional da Educação – Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, São Paulo. Palmas Universitárias – UFMA. Colar do Mérito Acadêmico e Profissional – Academia Brasileira de Arte, Cultura e História - SP Comendados – Colar da Ordem do Mérito Social e Cultural – Associação Brasileira de Cultura – São Paulo Cruz do Mérito Filosófico e cultural – sociedade Brasileira de Filosofia, Literatura e Ensino – São Paulo. Guará da Amizade – Troféu associação dos Amigos da UFMA – AAUFMA, São Luís – MA. Collier de Saint Paul Apôtre dans Le degré Chevalier – Ordre Souberaine de Saint Paul, Paris França.


Cruz do Mérito Acadêmico e Profissional – Câmara de Cultura, São Paulo. Cruz de Reconhecimento Social e Cultura no Grau Grão Colar – Câmara Brasileira de Cultura – São Paulo. Colar D. Pedro I, Imperador do Brasil, comendador – Ordem do Mérito Dom Pedro I, Imperador do Brasil, São Paulo. Conselheiro da Câmara Brasileira de Cultura, São Paulo. Membro da Academia de Ciências e Artes, São Paulo. Medalha do Mérito Timbira – Governo do Estado do Maranhão. Medalha Sousândrade do Mérito Universitário – UFMA. Medalha do Mérito Militar – Polícia Militar do Maranhão. Grande Oficial da Ordem dos Timbiras – Governo do Estado do Maranhão. Título de visitante Ilustre – Prefeitura de Jerusalém, Israel. Dentre outros títulos. O prof. Aldy cada vez mais se dedica à Educação, inclusive escrevendo excelentes livros, como uma versão preliminar de Educação Superior (no Brasil), A Universidade Esquecida etc. Confreiras, confrades do IHGM, amigos obrigada pela cortesia de suas presenças. Aldy Mello de Araujo, o mais novo confrade, assuma o seu lugar, a Cadeira nº 45 o aguarda sedenta de sua competência e compromisso assumido e sua conhecida capacidade. Seja bem vindo, confrade Aldy...


DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO NO MARANHÃO DIA 27/04/2012

ALDY MELLO DE ARAUJO

Exma. Sra., Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo MD Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Sr. Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz Vive-Presidente Magnífico Reitor da UFMA Professor Natalino Salgado Professora Joseth Coutinho Senhoras Confreiras e Senhores Confrades, Senhora e Senhores Convidados. Sou maranhense de Tutoia. Concluí o Ensino Médio na Escola Técnica de Comércio do Maranhão e o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Maranhão. Minha pós-graduação aconteceu na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, tendo ingressado na Universidade Federal do Maranhão, em 1972, como professor do urso de Comunicação Social. Voltei a me especializar em Teoria e Técnicas de Comunicação, em 1977, e concorri a uma bolsa de estudos em Técnicas de Pesquisa Social. Na Universidade de Portland, no Estado do Oregon, nos Estados Unidos, como bolsista da LASPAU. Em 1991, especializei-me em Administração Universitária no Canadá. Assumi a Pro - Reitoria de


Extensão e Assuntos Estudantis, durante nove anos e logo depois a Vice-Reitoria da Universidade Federal do Maranhão, onde também exerci o cargo de Reitor, no período de 1992 a 1996. Fui Diretor da Faculdade Euro-Americana, em Brasília, durante dois anos e Reitor do Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, durante 4 anos. Por onde estive, e onde exerci cargos, sempre tive em mente que a Universidade não é apenas uma instituição onde ocorre o ensino, a pesquisa e a extensão. Ela é um lugar especial onde se produz e reproduz a interpretação especifica do mundo. Este palácio Cristo Rei, que vi sob cinzas e que depois foi o locus onde tomei várias decisões como reitor, testemunhou um passado não muito distante de nossas aspirações, angústias e dissabores, mas tudo isso significava sonhos... e de sonhos não se desiste nunca!!! Falando das cinzas, a tragédia ocorreu exatamente no dia 21 de outubro de 1991, quando a UFMA completava seus 26 anos de existência. Um ano após, o reitor Jerônimo Pinheiro, de saudosa memória, abria as portas do Palácio, fazendo funcionar nele a sede da reitoria, mesmo sem estar totalmente recuperado. Contudo foi no dia 21 de outubro de 1993 que a UFMA abriu definitivamente seu palácio reconstruído ao completar 27 anos de fundação, contando com uma extensa programação comemorativa, incluindo-se a criação e implantação do Memorial Cristo Rei. Mas as nossas aspirações e os nossos sonhos não viraram cinza. Nossa chegada como reitor deu-se num momento em que a crise das Universidades federais se gravava mais. Os reitores naquela época teriam de buscar soluções aos problemas do dia a dia que viviam as instituições. A luta nacional das Universidades públicas federais era aumentar seus orçamentos para fazer face as suas despesas e garantir o crescimento. Da mesma forma e com os mesmos ideais que, naquela época assumia o cargo de reitor, ingresso hoje no seleto quadro de sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Quero ser ativo sócio nos estudos, debates e divulgação das questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referentes ao país e especialmente ao Maranhão. Quero trazer a minha colaboração ao Instituto no seu papel de cooperador dos poderes públicos, de defensor intransigente no nosso patrimônio cultural e histórico. Desejo, ainda, ser um sócio estimulador dos estudiosos da geografia e da história maranhenses. Assim como procurei ser um reitor inquieto que tinha certeza de que a Universidade precisava avançar mais, procurarei ser um sócio atuante diante do desafio público que deveria ser compartilhado com todos os membros do Instituto. Lutaremos para fazer emergir uma nova Instituição de cultura, juntamente com o esforço dos atuais dirigentes, buscando meios que possam transformá-lo em uma Casa de Cultura e Pesquisa comprometida com a sociedade maranhense, sendo realista, sem perder sua essência, e competente sem deixar de ser útil. Não é preciso recorrer à nenhuma metalinguagem para dizer que Manoel Nogueira da Silva, patrono da Cadeira Nº45, é uma figura muito pouco conhecida no meio cultural e histórico do Maranhão. Desta feita, é nossa intenção recordar em breves palavras que Manoel Nogueira da Silva, não obstante ter sido um escritor e historiador apaixonado pela poesia de Gonçalves Dias, destacou-se, sobretudo, durante as comemorações do centenário de morte do poeta maranhense. Foi cercado de boas


companhias e viveu em importantes círculos intelectuais. Seus dotes e sua inteligência são responsáveis e fatores importantes para a contribuição que deu para o conhecimento de Gonçalves Dias, descobrindo aspectos interessantes de sua biografia, passos decisivos em sua caminhada na vida de poeta e intelectual de seu tempo, mas dedicando-se principalmente à poesia gonçalvina. Suas considerações e reflexões sobre o grande poeta, hoje arquivadas na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, fizeram-nos conhecer e melhor compreender sua alma, portanto, nos levaram a um maior aprofundamento da poesia romântica do final o século XIX e início do século XX Através da obra de Manoel Nogueira da Silva, um pesquisador dedicado às coisas do Maranhão, tivemos e temos o conhecimento de uma escalada de dificuldades pelas quais passou Gonçalves Dias para ser hoje, homenageado como um dos maiores poetas brasileiros e o maior do Maranhão,suas angústias, seus sonhos e seus desenganos. Manoel Nogueira da Silva nos mostra um Gonçalves Dias amante de muitas mulheres, apaixonado pela poesia e pelo Maranhão. Mostra-nos, esse patrono, que Gonçalves Dias pertenceu à primeira geração de poetas e, ao lado de outros como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu, integrou a geração dos grandes poetas românticos, morrendo, como todos sabemos, em naufrágio no navio Vila de Boulogne, em 1864, após ter embarcado em Havre. Para o pesquisador Manoel Nogueira da Silva, Gonçalves Dias conseguiu juntar os três gêneros da poesia – o lírico, o épico e o dramático. Ele ressaltou a capacidade do poeta maranhense em casar o pensamento com o sentimento e a idéia com a paixão, dando a tudo isso um colorido com a sua fértil imaginação. Diz o pesquisador que a poesia de Gonçalves Dias harmonizou a profunda nostalgia do poeta com seus amores contrariados. Foi um poeta amantes da poesia e das mulheres, como já disse. Estas foram muitas em sua vida: Eugênia, filha da dona da pensão onde viveu em Portugal; Leontina, a alemã; Eugenie, a francesa; Céline, a belga; Ana Amélia, a maranhense, o grande amor de sua juventude. Manoel Nogueira da Silva ingressou como Sócio Correspondente, neste Instituto, em 20 de novembro de 1925, em sua primeira assembleia geral. Esta cadeira, que tem o nº 45, foi ocupada unicamente pela Professora Dagmar Desterro e Silva, poetiza maranhense de renome e figura expressiva culturalmente em nossa sociedade. A minha antecessora, quero prestar a mais expressiva homenagem. Que as imagens e símbolos que traduzem a grandeza dessa cerimônia continuem a fazer desse Instituto uma verdadeira Casa de Cultura e de Pesquisa, pois é ele histórico porque tem a sua própria história e a história de cada um de seus integrantes. Não foi a toa que eles ingressaram em suas fileiras. O destino lhes reservou um lugar na vida dessa conceituada instituição. Uns pelas suas experiências profissionais de vida, outros pela imortalidade de seus feitos, outros ainda pelo destaque que foram na sociedade maranhense, Não importa que alguns tragam os arrobos de sua juventude, enquanto outros possam contribuir com seus passos já câmbios. Todos, sem exceção, são homens e mulheres que dignificaram suas missões e bem souberam cumprir seus deveres de cidadãos do país. Todos condenam um estado que não seja de direito, um poder que não seja democrático, uma vida que não seja pautada na solidariedade e na felicidade. Finalizando, quero agradecer a oportunidade de ingressar no seleto convívio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, integrando o seu competente quadro de sócios efetivos. Quero agradecer essa oportunidade ao Confrade Jozemar Bezerra Raposo e à confreira Joseth Coutinho Martins de Freitas que se assumiram como os meus padrinhos. Estendo os meus agradecimentos a todos os integrantes da Assembléia Geral do Instituto que acolheram o meu nome para integrar o competente quadros de


sócios efetivos dessa entidade, devotada às ciências sociais, como a história e a geografia, às artes e à cultura geral dos homens que fazem a boa história do Maranhão Quero ser um membro desta Casa, continuando a prestar serviços à cultura de meu estado e ao país, deixando gravado o meu compromisso de que saberei honrar essa distinção. Quero cumprir os estatutos da Casa, mesmo não sendo pombalinos, como são os da Universidade de Coimbra, mas representam a conduta correta e a ordem daqueles que molduram com seus exemplos de vida essa Casa de Cultura e de Pesquisa. Esse dever cumpro-o com alegria e prazer, juntando-me a ilustres personalidades que já convivem no Instituto. Quero registrar, ainda, nos anais dessa Casa, os meus agradecimento e de minha família, aqui testemunhada pela minha esposa e meu filho, pelos meus irmãos e irmãs, a todos que contribuíram para que esse momento ocorresse. Aqui, fica o meu credo de fé no ideal maior dessa Entidade e de todos aqueles que colaboram em prol das ciências e das artes neste grande estado. Manoel Nogueira da Silva produziu várias obras sobre Gonçalves Dias, o pensamento brasileiro no centenário do poeta dos Timbiras, contendo vários artigos, conferências, palestras, tópicos sobre a vida e obra literária de Gonçalves Dias, podendo-se ressaltar: Gonçalves Dias e Castro Alves; O pressentimento da morte em Gonçalves Dias; Gonçalves Dias e sua influência na poesia brasileira; Notas sobre a Canção do Exílio de Gonçalves Dias. Em seus escritos, ele deu valor a tudo que os biógrafos escreveram sobre Gonçalves Dias. Fortaleceu a posição que a poesia gonçalvina sempre teve no seio da poesia brasileira, como bem reconheceu Tristão de Ataíde quando diz: ―Houve poetas no Brasil, antes de Gonçalves Dias. Mas não houve poesia verdadeiramente brasileira. Gonçalves Dias foi o verdadeiro iniciador da poesia brasileira. Ele foi o nosso Homero‖. Muito obrigado


APRESENTAÇÃODE JOSÉ AUGUSTOE MARIA HÉLIACOMOMEMBROS EFETIVOS DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM 04DE MAIO DE 2012

CÉLIO VAZ SARDINHA Excelentíssima Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, profa. Doutora Telma Bonifácio dos Santo Reinaldo; dileta confreira, na pessoa de quem saúdo todos os demais ilustres confrades e confreiras, sócios deste egrégio sodalício; Magnífico reitor da Universidade Estadual do Maranhão, Prof. MSc. José Augusto Silva Oliveira; Magnífico Reitor da Universidade Federal do Maranhão, Prof. Doutor Natalino Salgado Filho; Excelentíssimos Senhores ViceReitores, Pró-Reitores, Diretores,Professores, Servidores e Alunos dessas Universidades e demais Instituições de ensino, que se fazem presentes, abrilhantando esta magna cerimônia; Autoridades e representantes civis, militares e eclesiásticos, que especialmente nos honram em comungarem conosco deste momento tão significativo; minhas Senhoras e meus Senhores: Inicialmente, agradeço sensibilizado, a excelentíssima Senhora Presidente desta Academia, Profa. Doutora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, pela especial deferência ao escolher-mepara proferir a apresentação dos ilustres empossandos deste sodalício nesta ocasião, lisonjeando com tão honrosa missão, especialmente em se tratando de pessoas tão caras para mim e detentoras de predicados apreciáveis e raros, ante a conjuntura que vivenciamos nos tempos hodiernos. Trata-sedo Prof. e Reitor José Augusto Silva Oliveira, que ocupa doravante a Cátedra 21 deste Instituto, patroneada pelo imortal ANTÔNIO HENRIQUES LEAL e a escritora, poetiza e jornalista, MARIA HÉLIA CRUZ DE LIMA, que doravante ocupa a Cátedra 26, patroneada pelo não menos imortal,


LUÍS FELIPE GONZAGA DE CAMPOS, patronos esses maranhenses notáveis que constituem marcos de uma época e orgulho do Maranhão. Obedecendo a ordem numérica natural das cátedras, principiaremos pela cátedra 21, patroneada por ANTÔNIO HENRIQUES LEAL, discorrendo sobre a personalidade marcante, o perfil antropológico e o― curriculum vitae‖ do nosso mais novo confrade, o amigo, educador e Reitor JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA, que nos brinda doravante, com sua amável presença no nosso convívio fraternal do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Filho de Manoel Quadros de Oliveira e Maria de Lourdes Silva Oliveira, nosso confrade nasceu em São Luís/MA, em 14 de abril de 1952, formando-se em Engenharia Agronômica, pela Escola de Agronomia do Maranhão; Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa/MG; Especialista em Planejamento e em Comercialização Agrícola desenvolveu suas atividades profissionais como Coordenador, junto à Comissão Estadual de Planejamento Agrícola do Maranhão, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura, no período de 1975 a 1987; Representante da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural do Maranhão, durante o período de1985 a 1989. Exerceu as funções de Assessor-Chefe da Secretaria de Agricultura do Maranhão, de 1987 a 1991 e deu início às atividades do Magistério na Universidade Estadual do Maranhão, em 1977, como Auxiliar de Ensino da Escola de Agronomia do Maranhão; exerceu a chefia do Departamento de Economia Rural por dois mandatos, 1980/81 e 1987/88, ocupando a suplência da Chefia no período de 1990/91; Eleito Diretor, coordenou a Unidade de Estudos de Agronomia, de 1991 a 1994, passando a Diretor do Curso de Agronomia no período de 1994/95; Exerceu a Direção do Centro de Ciências Agrárias no período de 1995/96, oportunidade em que instalou na UEMA, o Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, com o Curso de Mestrado em Agroecologia, reconhecido pelo MEC; Conselheiro do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/MA, no período de 1992 a 2000, representando o Curso de Agronomiada UEMA; Exerceu, no período de 1996 a 2002, as funções de Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da UEMA; Foi Presidente do Conselho Editorial da UEMA, DE 1996 A 2002;Foi eleito e nomeado Vice-Reitor da UEMA, iniciando suas funções emprimeiro de janeiro de 2003, tendo exercido o mesmo cargo até 31 de março de 2006; Atualmente, é Professor Adjunto da UEMA, lotado no Departamento de Economia Rural; É membro efetivo dos Órgãos Colegiados Superiores da UEMA, desde 1991 e também membroefetivo e fundador da Academia Maranhense de Ciências, com vários trabalhos publicados. Exerce atividades de voluntariado como membro do Rotary internacional e integra o quadro social do Rotary Club São Luís – Praia Grande, como sócio Representativo. Foiempossado em 31 de março de 2006, assumindo o cargo de Reitor da UEMA. Eleito e nomeado Reitor da UEMA, iniciou suas funções em primeiro de janeiro de 2007, exercendo o cargo até 31 de dezembro de 2010. Reeleito, foi nomeado Reitor da UEMA, iniciando suas funções em primeiro de janeiro de 2011, para o mandato de 2011 a 2014. Além da vasta e rica folha de serviços prestados ao mundo acadêmico o ilustre confrade JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA, é detentor de um perfil de educador nato, equilibrado e sereno,voltado para as questões educacionais e sociais


mais relevantes, bem como, primacomo gestor pelo idealismo e perseverança em expandir a UEMA para todo o Maranhão. Ao longo da história mais recente, o nosso confrade JOSÉ AUGUSTO, vem cultivando amiúde, uma aproximação mais estreita e amiga com este sodalício, tornando-o merecedor de nossa admiração e estima. Cabe ressaltar sua personalidade humana, humilde, otimista, atuante, resignada e compreensiva, mesmo nas horas mais difíceis, comohá pouco diante da perda irreparável que sofreu de sua querida e idolatrada genitora, Dona Maria de Lourdes, além do irmão que o deixaram, mas vivificam para sempre em suas lembranças os paradigmas benfazejos dos valores do bem, da honra e da retidão, que norteiam sua existência. É, pois, com justificado orgulho de maranhenses, satisfação e apreço que apresentamos e recebemos nesta feliz cerimônia, o confrade JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA, efetivo ocupante da cátedra 21 deste sodalício, passando a têlo, além de tudo, como um fiel companheiro de trabalho e luta em prol do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, da nossa terra e da nossa gente.Parabéns! Professor JOSÉ AUGUSTO e seja benvindo a sua nova casa. Levados pela mesma emoção, sentimentos e palavras, que brotam do coração, passamos agora a externar, com especial carinho, as características peculiares dailustre confreira, empossanda, doravante ocupante da cátedra 26 deste sodalício, patroneada por LUÍS FELIPE GONZAGA DE CAMPOS, a poetiza, escritora e jornalista, MARIA HÉLIA CRUZ DE LIMA, cujo perfil curricular passamos a expor: MARIA HÉLIA CRUZ DE LIMA, natural do Ceará, é a terceira filha do casal Raimundo Nonato Cruz e Francisca Acy Rabelo Cruz; diplomou-se professora primária pelo colégio Nossa Senhora da Conceição, em Fortaleza, Ceará, profissão que exerceu com afinco e amor em sua terra natal, São Francisco de CANINDÉ no Ceará e em BURITÍ DE INÁCIA VAZ, no Maranhão, onde morou por longos anos, por ter-se casado com o maranhense Domingos José de Lima, Excombatente e herói da Força Expedicionária Brasileira, durante a segunda guerra mundial. Em Buriti de Inácia Vaz, berço natal de seus filhos, dona Maria Hélia e seu esposo, ambos funcionários públicos do DEPARTAMENTO DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, imbuídos do propósito maior e da sagrada responsabilidade de pais devotados em oferecerem melhores oportunidades educacionais e culturais para seus filhos e toda a família, decidiram pela transferência de todos para São Luís, consumando-se a mudança. Porém, logo que aqui chegaram, foi vitimado por uma cruel ocorrência, um desastre, que culminou com a morte de seu filho Raimundo Nonato de Lima, dor que flagelou toda a família e somente foi superada em parte, pelos caminhos da vida, graças a fé inquebrantável em DEUS, nosso Criador, em seus desígnios maiores, proporcionando-lhes no trabalho, na lida diária e no aconchego dos amigos, o lenitivo para tanto sofrimento que tiveram de enfrentar resignadamente. Na década de sessenta, os Correios passaram de Departamento Federal, para Empresa pública, então, dona Maria Hélia optou por sua saída daquela Empresa, ingressando, em seguida, no Ministério da Fazenda, ondedesempenhou diversas funções voltando-se para as atividades de tributarista, cursandovárias especializações, exercendo esse mister até aposentar-se.


Simultaneamente, levada pelos sentimentos humanitários e religiosos, que tão bemlhe fazem agir, dedicava-se amissões de cunho social em benefício dos mais carentes, como seja, sua efetiva participação na implantação do bairro da VILA EMBRATEL, criação da Igrejadaquele bairro e de outros, como por exemplo, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no COHAFUMA, e tantas outras motivações humanitárias, religiosas e sociais, que preencheram sua vida dinâmica, irrequieta e vontadosa em promover o bem ao próximo, realizando assim seus princípios religiosos e maternais. Instigada a educar-se cada vez mais e a seus filhos, submeter-se-ão exame vestibular para Jornalismo, na Universidade Federal do Maranhão, logrando aprovação, formando-se epós- graduando-se na mesma Universidade. Apesar de tantas atividades acadêmicas e laborais, dona MARIA HÉLIA voltou-se também paraa produção literária, passando a escrever versos, prosas e peças teatrais, nos primórdios do Laborarte no Teatro Arthur Azevedo. Assim, produziu nas categorias: teatro, romance, literatura infantil e poesias. Obras de cunho ético, familiar e religioso, externando sempre seus sentimentos telúricos-nativistas de profundo amor pátrio ao Nordeste brasileiro e ao povo de sua região de origem. Em seus escritos, procura enlevar os valores morais e culturais autóctones, evocando desde sua infância em SÃO SERAFIM, sertão agrestecearense, até os longínquos rincões maranhenses onde residiu, trabalhou e iniciou sua carreira. No dia 23 de novembro de 1979, seu esposo faleceu, vítima de acidente de trânsito em Brasília, tornando-se ainda mais pesadas suas cargas obrigacionais. Mesmo combalida pelos reveses da vida, dona HÉLIA, continuou sua missão de mãe devotada, esteio da família eincansável educadora, pois, todos os seus filhos receberama serenidade de seus aconselhamentos e a firme educação herdada de seus pais e aprimorada peloseu esforço pessoal, ao longo de sua intensa existência. Com todas as adversidades que a vida lhe impôs, foi obstinada em sua missão de mãe educadora e formou todos os filhos, conseguindo ainda tempo e meios para publicar, por conta própria, sua produção literária, que hoje em alguns exemplares, integra o acervo bibliográfico deste IHGM. PARABENS! Confreira MARIA HÉLIA, benvinda a nossa academia. Por derradeiro, minhas senhoras e meus senhores, percebemos a similitude e as coincidências de perfis dos dois novos membros que temos a honra de apresentare que ora tomam posse neste sodalício: ambos são educadores natos e voltados para humanidades, ciência e arte em prol do bem-estar do ser humano, através do equilíbrio do corpo e da mente.Sacerdotes fiéis aos valores edificantes do ser humano, mais do que nunca essenciais à sociedade hodierna, efervescente,vibrante, em ebulição, porémpermeada de riscos reais e virtuais, onde as premolições geniais de RUY BARBOSA a cada instante se confirmam, levando o homem até a envergonhar-se de ser honesto.Nessa trama de inversões de valores, garimpar e encontrar duas gemas preciosas de formação de caráter e firmeza deprincípios comoo confrade e a confreira que vos apresento, é uma dádiva e um privilégio que o nossosodalício recepcionaem forma de presente de aniversário ao completar seus oitenta e sete anos de fundação. E ao transcurso dosquatrocentos anos denossa São luís, muito mais história, ciência, prosas e versos, haveremos de produzir, mercê de tantos ilustres nomes de confrades e confreiras que passam a integrar esta douta Academia.


Ante as personalidades marcantes e decididas dos dois ilustrese exímios educadores que vos apresentamos, a integrar o quadro de sócios efetivos deste sodalício, há que se rememorarem dois pensamentos lapidares sobre a educação, proferidos por dois cientistas sociais consagrados pela história recente, que nos ensinam: ―O HOMEM NÃO É NADA ALÉM DAQUILO QUE A EDUCAÇÃO FAZ DELE COMO SER PENSANTE‖. Immanuel Kant ―EDUCAR É PREPARAR O HOMEM PARA A VIDA‖ José Martí Perez Sejam, portanto, bem-vindos caríssimos confrade JOSÉ AUGUSTO e confreira MARIA HÉLIA e fazei desta casa o centro de vossas produções científicas e artísticas. PARABENS! FELICIDADES! Extensivas a todas as Mães aqui presentes pelodia das Mães que se aproxima a 13 de maio vindouro, também consagrado a nossa Mãe-Maior, Nossa Senhora. PARABENS! Emuito obrigado a todos.


DISCURSO DE POSSE

HÉLIA LIMA BOA NOITE, CONFRADES, CONFREIRAS, SENHORES ESENHORAS. Em primeiro lugar, parabéns ao Instituto Histórico Geográfico do Maranhão pelo zelo com que guarda e consolida a memória do Maranhão e a louvável honradez com que homenageia os valorosos maranhenses que empenharam seus esforços no sentido de engrandecer o Maranhão e sua gente, como também, nosso querido Brasil. É louvável o reconhecimento dos méritos de Luís Felipe Gonzaga de Campos, nascido em SãoLuís, em 21 de junho de 1856, um maranhense de arrojado espírito de iniciativa, inteligência, e amor ao trabalho; diplomado como Geólogo na Escola de Minas da cidade de Ouro Preto- MG, no ano de l879, desbravou as áreas de Geologia, Mineralogia e Fitogeografia.É até hoje considerado o maior geólogo mineralogista do Brasil, por exercer grandes e constantes atividades como geólogo, mineralogista. Entre outros feitos, integrou a Comissão Geográfica e Antológica de S. Paulo a convite do professor Orville Derby, onde foram notáveis seus trabalhos sobre cartografia e geologia. Com a morte de Orville Derby ocorrida em 27 de novembro de 1915, Luís Felipe Gonzaga de Campos foi nomeado Diretor do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Pesquisou jazidas carboníferas e de diamantes em várias regiões do País. Integrou o Serviço geológico e mineralógico do Brasil, tendo chegado a sua direção. Deu início às primeiras sondagens para a pesquisa de petróleo e de outras jazidas do País. Patrocinou o estudo metódico e prático das quedas d água. O significativo esforço, feito no Brasil, para integrar o movimento internacional de criação de áreas naturais protegidas, foi obra sua. Luís Felipe Gonzaga de Campos, contando com pouco tempo, quase nenhuma tecnologia, transportes obsoletos e dificílima comunicação, em 1913, junto a um grupo de geólogos, publicou estudos fragmentários sobre a geologia do Maranhão, do que muito pouco se sabe. Teve melhor atuação noutros pontos do País, talvez pela dificuldade de obter o necessário para tal desenvolvimento na sua terra natal. Com autoridade em fitogeografia, em 1911, organizou e editou o Mapa Florestal do Brasil com escala 1:5.000,000, hoje clássico para a flora brasileira e sua distribuição.


Advindo dessas informações criaram-se trinta e cinco Parques Nacionaisvinte e três reservas biológicas, seis reservas ecológicas, vinte e uma estações ecológicas e outras particulares chegando a mais de quinhentas. O importante livro intitulado ‖Mapa Florestal do Brasil‖, que como o nome sugere, é acompanhado de um Mapa das matas e campos do Brasil. Propugnou pela elaboração de lei de minas mais amplapara o Brasil, o que foi alcançado em 1925. No mesmo ano em que o eminente maranhense morreu, no dia 9 de junho. Altruísta, ajudava no desenvolvimento das pessoas que careciam de seus esclarecimentos, tirando-lhes dúvidas, oralmente, pois não tinha tempo para escrever todas assuas valiosíssimas revelações. Preocupado por força dasbelezas e riquezas mineralógicas do nosso solo e belezas naturaisdasnossas fauna e flora, antes de sua crescente destruição para o desenvolvimento humano, influenciou o primeiro parque nacional de Yellow, em Montana nos Estados Unidos. Em decorrência da publicação do Mapa Florestal do Brasil, até hoje, existente e clássico, na mesma época, foram publicados pela Presidência da República brasileira, dois parques nacionais no ACRE. Porém, tão grandes feitos eram tão avançados na época, que os decretos caíram no total esquecimento eos parques, embora com imenso prejuízo para a nação, nunca foram implantados. A não consolidação do empenhado esforço de Luís Felipe Gonzaga de Campos é tão grave que essas áreas chegam a ser designadas ―PARQUES DE PAPEL‘‘A partir da promulgação da Constituição de 1988, estabeleceu-se obrigação do Estado, – Proteção da biodiversidade brasileira. O Sistema de Unidade de Conservação Brasileira é de enorme valor cultural, econômico e científico com suas áreas protegidas e suas belezas naturais. Porém, somente, viemos ter nosso primeiro parquenos anos 30: O Parque Nacional de Itatiaia-Serra da Mantiqueira, divisa dos Estados Rio de Janeiro e Minas Gerais, hoje,a ser considerada a primeira área nacional a ser protegida no Brasil. Então, melhor ilustrando, temos aqui um Trecho dodiscurso do Geólogo Luís Felipe Gonzaga de Campos, proferido aos formandos do Curso de Engenharia da Escola de Ouro Preto, em Minas Gerais. Pela importância técnica e oportuna de suas palavras, o tema foi destaque do Jornal ―Correio da Manhã‖ do Rio de janeiro, na edição de 13 de agosto de 1917.no dia 28 de agosto de 1917,a Câmara dos deputados esteve reunida a respeito do assunto e no mesmo ano, o carvão nacional pulverizado ganhava notoriedade no País. Ouçamos: ―Habituados com a importação do uso do melhor carvão do mundo, temos tido de lutar com todos os óbices do costume, dos interesses comerciais e da rotina, para fazer a implantação do nosso combustível, carregado de impurezas e portanto de menor poder calórico. Entretanto hoje, diante da necessidade premente de poupar os recursos naturais,vai o mundo buscar o maior rendimento útil no emprego racional de combustíveis: purificando-os, gaseificando ou extraindo os produtos líquidos de combustão mais econômica. Raras são por toda parte as jazidas de carvões nobres e ricos como os do Sul da Inglaterra, a que nos afeiçoamos. Ali mesmo são comuns os combustíveis com 20 e mais


percentuais de cinzas. Na França e na Alemanha, principalmente depois da guerra, levava-se a poupança das energias até disposições quase proibitivas de queimar o carvão sobre gralhas e tal como sai das minas. Os recursos aconselháveis são os gasogênios, a purificação e o emprego dos produtos da destilação dos alcatrões em motores de combustão interna de muito mais rendimento. Pode-se dizer que se busca aproveitar é o espírito do carvão, a energia calorífica,ou química com o seu máximo rendimento. Nas nossas jazidas no Sul de Santa Catarina, trabalhando em galerias , a média é de uma tonelada por dia de operário. Nas jazidas do Rio Grande do Sul, em camadas bem mais espessas , e onde começam a empregar cortadeiras mecânicas, varia de uma a uma meia tonelada por dia e por mineiro.(...) Grande desenvolvimento terá por certo o seu emprego nos fornos de outras indústrias , bem como na geração de energia por vapor , quando gaseificado Também nas estradas de ferro, bem como nas indústrias do cobre e do cimento , será muito valioso como combustível pulverizado ― Hoje, na nossa realidade com o significativo desenvolvimento da tecnologia, da telecomunicação e outros, temos chance de nos lançarmos em busca de tantas descobertas, como por exemplo, no Brasil, buscamoso Pré - sal, prenunciado por Luís Felipe Gonzaga de Campos. Na realidade atual, as altas fortunas, no exterior, já ambicionam a extração de metaispreciosos em asteroides no espaço! Havemos, pois, que proferir a importante luta do I H G M nolabor em prol do engrandecimento do Maranhão e de sua gente, evocando o exemplo do esforço de valorosos Maranhenses como incentivo ao estudo ,ao trabalho e o altruísmo para a juventude maranhense. Preiteando a ocupantes da cadeira 26 do IHGM, registramos AlcindoCruz Guimarães nascido em 25 de julho de 1900, na Cidade de Caxias –MA, filho de José Ferreira Guimarães e Corina Cruz Guimarães, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Engenheiro civil, industrial Foi Deputado Estadual em 1948, orador fluente, no mesmo ano, Presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão.Em Caxias, em face da nãoconservação do Quartel Militar do Morro da Taboca, edifício que, apesar de tosco era verdadeira relíquia da lutas para a independência .Alcindo Cruz Guimarães colocou sobre sapata de alvenaria, uma antiga peça de artilharia, lá encontrada, plantando ao lado, um mastro de bandeira e um poste com foco de luz elétrica, espécie de lâmpadavotiva aos heróis de um passado de lutas gloriosas . Eis, porque, vale ressaltar o empenho dos confrades e confreirasdeste sodalício em preservar a memória dos feitos de tão valorosos maranhenses, bem como, outros beneficiadores desta associação científica e cultural do Maranhão. Eu, Maria Hélia Cruz de Lima, filha de Raimundo Nonato Cruz e Francisca Rabelo Cruz, já apresentada pelo confrade ,Dr. Célio Sardinha, tenho Deus por testemunha que, de coração, agradeço e estahonrosa confraria minha inserção nos seus quadros e sua distinta atenção. No ensejo, quero enfatizar,o imenso valor literário, para a cultura e até para formação do bom caráter humano, quando bem administrado pelo leitor, principalmente na infância. A poesia nos seus diversos gêneros, exige percepções,


análises e reflexões que avivam sentimentos e emoções sobre fatos decorrentesdo bem e do mal: faculdades adquiridas que se impulsionam na prática de ver, sentir, interpretar e de se versejar.Na sua maioria, minhas obras poéticas em versos,ou prosa, são obras significativas porque trazem traços da vivência de um povo nas diversas épocas e diversos lugares, bem como, lições de vida, mesmo que estejam contidas no entendimento do autor. É mesmo uma pena não haver mais espaço para apresentações dessas peças culturais, tanto nos eventos escolares, como também como exercício escolar para nossas crianças. Minhas obras sustêm um forte cunho religioso, pátrio e familiar, porque não consigofugir do meu eu. Sou refém dos pecadilhos normais da pessoa humana, porém, desde minha infância sempre fui fiel amiguinha da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa... Deus, na sua infinita misericórdia, concedeu-me o prêmio de uma família fiel ás leis e ao amorde Deus e assim, eu pude observar o sagrado dever familial, e chegar a uma boa velhice. Gostaria que minhas pobres palavras tivessem a devida força para render meu orgulho e sinceros agradecimentos aos confrades e confreiras que em mim depositaram sua confiança. Espero fazer o que estiver ao meu alcance para merecer tão preciosa consideração. Penhoradamente agradeço ainda a presença e atenção de todos. Termino homenageando o amor pátrio desta confraria, com o Poema ―Quatrocentos anos de São Luís, de minha autoria. QUATROCENTOS ANOS HÉLIA LIMA São Luís! Mãe gentil, doa-te a teus filhos com venturas mil e privilégios que agradecemos a Deus! Vês as dádivas que, em ti, caem dos céus... És belo suporte de poesia e de amor céu azul, manso mar, mangue, e muita flor... Também, crateras, pântanos, trilhas escuras tudo incita popularizações futuras! Do teu mar, mansa brisa traz consolação. Gorjeiam aves espalhando mansidão, brilham estrelas perenizando a luz histórica obtida na fé da cruz.... Salve teu povo, teu chão, teu mar, São Luís! Fundado por Lavardiere, tu, São Luís, tiveste libertação pelo brasileiro Jerônimo Albuquerque, fiel guerreiro... De arautos estrangeiros, a constelação de desbravadores chegou ao Maranhão.... De São Luís, se apossaram os franceses, por dom divino, venceram os portugueses São Luís, teu preito de amor ao herói que glorioso para tua existência foi, tornando-te inquebrantável e feliz....


Em tua soberania, ouve: Teu chão te diz: QUATROCENTONA São Luís, inda és criança... Próspera e rija cidade em crescimento... Há no status de tua gente, esperança e na tua criança, futuro promitente. Tem harmonia teu mar, teuscéus, São Luís... Teu povo alegre e irmanado, é feliz... Teu luar, de paz, plenifica o coração invade-nos a alma , a poesia do teu chão, berço de heróis, tumba de fidalga gente. Tua mocidade alegre e inteligente para outras plagas, migra....Infelizmente, noutros chãos, buscando chance, humildemente! Temos fé desde o início de nossa história, na Virgem Mãe, Nossa Senhora da Vitória! No seu amor , São Luís, há de florescer... Mãe, São Luís, te ama! VEM NOS PROTEGER! FIM.


DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

JOSÉ AUGUSTO SILVA OLIVEIRA Excelentíssimos Senhores Professores Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo e Leopoldo Gil Dulcio Vaz, respectivamente presidente e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), por intermédio dos quais saúdo as autoridades aqui presentes e à Mesa Diretora desta Sessão Solene. Referencio a presença da Doutora Olga Maria Lenza Simão, digníssima Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, nesta cerimônia, representando a Excelentíssima Senhora Doutora Roseana Sarney Murad, Governadora do Maranhão. Confrades e Confreiras, Senhoras e Senhores recebam, também, as minhas fraternais saudações. Saudações que estendo, de um modo muito particular, ao amigo e companheiro de militância,Professor Gustavo Pereira da Costa, Vice-Reitor da Universidade Estadual do Maranhão, aqui presente; aos amigos e colegas Pró-Reitores, Diretores de Centros de Ciências e de Estudos Superiores, Diretores de Cursos, Chefes de Departamentos e demais gestores; aos professores e servidores da nossa tão valorosa Universidade Estadual do Maranhão. Aos seletos convidados aqui presentes. Senhoras e Senhores. Estar aqui entre vós, membros deste nobre Instituto que produz, cultua e veicula a historio(geo)grafia, é para mim das mais gratas satisfações já experienciadas na minha vivência/convivência acadêmica e também o mais honroso júbilo. ―Você vê coisas e diz: por quê? Eu sonho coisas e digo: por que não?‖


Um tanto quanto extasiado,reconheço-me nesta frase de George Bernard Shaw (1856-1950). E é deveras reconhecido, que elevo a mente aos céus, num gesto de gratidão que não tem como se conduzir pelo estreito estuário das palavras. Agradeço, portanto, a Deus, pela vida e pelas inúmerosmomentos de felicidades com que me tem agraciado. Deus, a quem consagro este momento solene, em todas as suas honras elauréus, alegrias e satisfações. E assim, com a devida vênia de todos os que me ouvem, evoco, também agradecido e em atitude de consagração deste honroso mérito, a minha família, em todos os meus ascendentes e descendentes – meu pai Manoel Quadros de Oliveira (falecido em 1986) e muito carinhosamente minha amada mãe Maria de Lourdes Silva Oliveira, recentemente chamada de volta à Casa do Pai, juntamente com os meus caros e diletos irmãos Pedro José Fernandes de Oliveira Neto e Manoel Quadros de Oliveira Filho. Dentre os meus ascendentes, não poderia deixar de evocar, também, o saudoso tio Monsenhor Clodomir Brandt e Silva, o ―Pe. Brandt de Arari‖, pároco naquele município, por 50 anos, uma referência, como clérigo e intelectual na minha família, pessoa sublime, que sempre plantou, na minha alma, a pródiga semente da ESPERANÇA e profetizou sonhos realizáveis na vida deste seu sobrinho em quem tanto apostava – como o vir a ser Reitor da Uema e membro deste ilustre Instituto do qual teve a honra de sersócio-correspondente. E eis que hoje, aqui e agora, está a se realizar mais uma de suas profecias... Sou, deveras, imensamente grato a esse grande educador maranhense. Seu vulto perpassa-me sobre os ombros e senta-se ao meu lado, nesta hora, nutrindo-me com o seu exemplo memorável e sua força inexaurível, na magna tarefa que me aguarda. Consagro, ainda, este momento aos meus irmãos Antonio José, José de Ribamar e José Cláudio e a minha irmã Maria da Conceição Silva Oliveira aqui presentes; a minhaesposa Aidê Duarte Oliveira; a meus queridos filhos Pedro Henrique e Marcus Rogério Duarte Oliveira; a minhanora Luciana Marques Vieira da Silva Oliveira e, em especial, à minha primeiraneta, recém-nascida, Maria Eduarda Vieira da Silva Oliveira – impossibilitados de estar aqui, nesta hora, por forçadas contingências e de compromissos indeclináveis na capital do País, onde ora residem. Enfim, saúdo, homenageio e consagro, também, este momento, aos confrades e confreiras que me concederam a unanimidade dos seus votos, em assembleia geral, realizada a 25 de janeiro deste ano de 2012, aos quais também agradeço, penhoradamente, a honra desta investidura e, ainda, aos valorosos companheiros e companheiras do Rotary Club International (presentes e/ou ausentes a esta celebração), com os quais, também, divido a minha alegria nesta noite inesquecível. Assim, invocando a proteção do Pai Altíssimo e a favorável acolhida dos homens de boa vontade, assumo, hoje, a Cadeira de nº. 21, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, patroneada por ANTÔNIO HENRIQUES LEAL, realimentando o meu espírito com os indumentos da humildade e da coragem, virtudes que, nos jardins de minha devoção mais íntima, passeiam de mãos dadas, como irmãs inseparáveis. É uma grande honra que se conjuga a uma responsabilidade imensa, um enorme desafio, portanto, o ter sido escolhido para integrar o quadro de sócios desta importante e proficiente instituição cultural e sócio-acadêmica. Refletindo um pouco mais, admito ter sido uma ousadia, aceitar esta minha indicaçãoe foi com agradável surpresa, que recebi a Carta nº 004/2012 (de 26/01/2012), informando-me de minha aprovação para ocupar a já referida cadeira, neste Instituto, sendo eu carente de afirmação entre os que fazem da história, da geografia, da


antropologia e da etnografia, objeto de seus estudos e preocupações.E só direi palavras, neste momento – e estas só se justificam – até o ponto em que possaexplicar, a mim mesmo, antes de tudo, o sentido primeiro de tamanha generosidade desta Casa. Não obstante, porém, as minhas limitações, prometo que tudo farei para dignificar e engrandecer esta instituição, à qual estou a me consorciar. Tenho a exata noção de que empresas, como o IHGM, constroem-se no tempo, pelas obras de seus integrantes, pelo respeito a sua imagem pública. Empreendimentos como este crescem, em razão de atitudes sociais e culturais definidas, ainda que divergentes. Instituições como o IHGM (ao qual passo a pertencer), têm fundamentos, projetos de futuro, exigemfrequência habitual, sócios convergentes, em torno de ideais e produção acadêmica. Quero externar o meu sentimento de rara felicidade, porestar sendo recebido como sócio efetivo, neste 04 de maio que, de hoje em diante, converter-se-á num marco memorável na minha história pessoal. Muito me honra ocupar a Cadeira de nº 21, patroneada por Antônio Henriques Leale que teve como primeiro ocupante, fundador, portanto, o Major José Luso Torres,eminente figura literária do nosso Maranhão, que a uma primorosa cultura humanística e ao brilho sem jaça do talento, soube adicionar exemplar probidade na vida privada e ardoroso devotamento cívico na vida pública, o que lhe granjeou o respeito e a admiração dos seus coevos.Rendo-me, também, em reverências, ao Dr. José de Ribamar Seguins, honorável Promotor de Justiça – hoje, decano do IHGM, meu antecessor imediato. A ele, minhas homenagens! Posso dizer, Senhoras e Senhores, que esta minha alegria ora experimentada, intensifica-se, mais ainda, por estar ingressando neste Sodalício, neste ano da graça de 2012, quando a nossa excelsa São Luís comemora os seus 400 anos de história e trajetória. Alegria que até se me reveste de orgulho por entrar nesta egrégia associação científico-cultural, tendo como patrono uma das mais insignes personalidades maranhenses, um dos mais firmes baluartes no processo de formação da nossa cultura, sobretudo na vertente histórico-literária, que tanto enriquece as nossas tradições culturais. É parte intrínseca da missão, que ora desempenho, discorrer sobre a figura ilustre de ANTÔNIO HENRIQUES LEAL – aquele que mereceu, nesta terra, o honroso cognome de Plutarco Maranhense, por ter-se dedicado,intensamente, à Literatura, como biógrafo, publicistae historiador literário de seus conterrâneos/contemporâneos, tendo compilado e editado as Obras Completas de João Lisboa e de Gonçalves Dias, além dos quatro tomos do Pantheon Maranhense, contendo as biografias póstumas de 19 intelectuais desta terra, pretendendo, assim, fundar umaMonumenta maranhense, projeto que se concretizou, legando ao nosso Estado considerável e expressivo referencial, sobretudo no que tange aos intelectuais formadores do Grupo Maranhense. Procedente de uma casta de bem situados produtores rurais, filho de Alexandre Henriques Leal e Ana Rosa de Carvalho Reis, nasceu Antônio Henriques Leal no lugarejo outrora conhecido por Candibas(e então pertencente ao Município de ItapicuruMirim) hoje Cantanhede, município independente, em 24 de julho de 1828, tendo falecido noRio de Janeiro, a 29 de setembro de 1885. Na terra natal, viveu a sua infância, seguindo, na adolescência, para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de onde regressa ao Maranhão, decorridos seis anos,diplomado em Medicina, para exercer tão nobre profissão em sua terra – num tempo em que São Luís figurava, no contexto nacional, como uma grande cidade, a quarta mais importante, em todo o Império (perdendo apenas para Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo).Mário Meirelles (2001, p. 23) refere-se à ocorrência, nestes termos:


Um dia, porém, ele desceria pela mesma correnteza do rio em que frequentemente vira passar aquelas enormes barcaças pejadas de sacos de algodão e dearroz e,seguindo o mesmo rumo que os levava, chegaria, ele também, a São Luís, a capital da província, de onde, concluídos seus primeiros estudos, prosseguiria,por mar e em uma longa viagem, até a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Corte, de onde só regressaria, meia dúzia de anos decorridos e já homem feito, portando um diploma de doutor demedicina. E aqui, já se pode falar em um novo tempo, para o nosso Estado – agora descortinando novos horizontes, num panorama diverso daquele vislumbrado no período colonial. São Luís, ostentando um novo cenário, não é mais ―[...] um burgo podre em que as pessoas andavam mal vestidas, em camisões de algodão bruto tingido de preto, como se todos portassem permanente luto por sua miséria[...]‖ (id. ibid.). O século XIX, pois, que deu à luz o insigne maranhense, afigura-se como uma época de crescimento econômico, advindo do grande latifúndio, tendo no algodão, no arroz e no açúcar, os produtos que alavancaram tal desenvolvimento. Como se pode notar, o percurso cronológico/existencial do nobre Plutarco Maranhense perfaz uma travessia que se estende da primeira (segundo quartel) para a segunda metade do século XIX, indo até quase ao final da penúltima década da centúria. É quando a bela Província que, instada por Manuel Beckman, investe contra a política da primeira Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão, passa a contar, entre os seus habitantes, proprietários de casarões ricamente mobiliados e revestidos com azulejos portugueses. Casarões, em cujo interior,as mulheres enfeitam-se com joias finas, usam os melhores perfumes, adquiridos de representantes comerciais franceses e ingleses. É ―[...] a São Luís aristocrática/escravocrata do século XIX, cujo perfil nos é retraçado por Aluísio Azevedo, n‘O Mulato, por Nascimento de Morais em Neurose doMedo e Vencidos e Degenerados, Dunshee de Abranches em O Cativeiro, A Setembrada e A Esfinge do Grajaú, por Jerônimo deViveirosem História do Comércio doMaranhão [...]‖(Corrêa, 2008, p. 82). A propósito, o norte-americano Daniel P. Kidder 4, que visitou nossa cidade nos anos 40, desse mesmo século, a descreve nestes termos: São Luís [...] é a cidade do Maranhão [...] de melhor construção que qualquer outra no Brasil. Apresenta ela, ao visitante, um aspecto de progresso que raramente se nota em outras cidades do Império. Além disso, são poucas choupanas e casebres. Nenhuma de suas igrejas é de grande porte ou por demais suntuosa; entretanto, muitas residências são de fina construção, estilo elegante e aparência sólida. As paredes são fortes, construídas de pedra britada e cimento. Conquanto o casario não seja denso, a cidade espalha-se por uma grande área. [...]. E ainda acrescenta, o visitante: Os maranhenses alegam possuir, e não sem razão, um grau de desenvolvimento intelectual e moral comparável ao de seus patrícios das maiores cidades do Império. Se perseverarem em seusesforços, continuarão amereceraadmiração e o respeito de seus concidadãos como dos estrangeiros5.

4 5

- apud. CORRÊA, 2008, p.83. -id. ibid.


Vale ressaltar que São Luís, à época, já conta com o ancestral Teatro União (posteriormente Arthur Azevedo), fundado em 1º de junho de 1817, ―em cujo palco se apresentam companhias líricas trazidas diretamente e com exclusividade de Lisboa‖ (Meireles, 2001, p/p.23-04); e com uma Tipografia, onde logo desponta um primeiro jornal (1821), dotando a cidade de uma significativa atividade editorial; com uma BibliotecaPública (1836); e ainda com um Liceu (1839).Ressalte-se, ainda que, a essas alturas, os filhos desta terra já estão podendo ir estudar no Reino, na famosa Universidade de Coimbra ou mesmo em outros grandes centros de ensino da Europa, sobretudo França e Inglaterra, de onde voltavam aqueles muitos bacharéis e doutores, formados em leis, em cânones, em medicina, em matemáticas, em pontes-e-calçadas, em filosofia, em teologia, e acabassem por se congregar, com poetas e escritores outros, em não poucas sociedadesliterárias e culturais, enquanto acidade ia crescendo no número de sobradões senhoriais, de fachadas recobertas de azulejos coloridos e de janelas ornamentadas por arcadas de ferro rendilhadas(MEIRELLES, 2001, p.54). Outro aspecto da São Luís do século XIX é a constante presença lusa. A propósito, muitos dos comerciantes e proprietários rurais da época eram portugueses – que emigravam para a colônia, no sonho de fazer fortuna e voltar à pátria de origem em outra situação econômica. Outros se acostumavam à terra e por aqui iam ficando. Assim, não é de se estranhar a tardia adesão do Maranhão à República... Nessa São Luís próspera, reflexo do grande êxito da agricultura maranhense... Sociedade elitizada, que deu à luz o famoso Grupo Maranhense (1832) – primeiro estágio da nossa literatura – viveu e conviveu Antônio Henriques Leal. Cidadão deveras considerado e respeitado, seja pela sua posição social, seja pela sua competência profissional, como jornalista, político e médico, Antônio Henriques Leal pode exercer, com muita credibilidade e dignidade, a medicina, entre os seus conterrâneos, sempre integrado à sociedade local, atuante no circuito intelectual das agremiações literárias – membro que foi (e um dos fundadores) do Instituto Literário Maranhense, do Gabinete Portuguêsde Leitura (do qual foi sócio honorário), do Ateneu Maranhense e da Associação Tipográfica doMaranhãoeainda:sócio-correspondente do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro, da Sociedade Auxiliadora daIndústria Nacional e da Sociedade de Ciências Médicasde Lisboa. E, não só na intelectualidade, brilhou o nosso Henriques Leal. Na política, também, foi de uma liderança comprovada, como Vereador, Presidente da Câmara Municipal (1865-1866) e Deputado Provincial (1866). De sua vida pública, ainda há registros de que exerceu, no Maranhão (ainda que apenas por um mês), o cargo de Auxiliar da Junta de Higiene Pública (1855 – por nomeação do Presidente da Província) e, no Rio de Janeiro, o de Regente do Colégio Pedro II e Diretor doInternato (1860-1865) dessa tão conceituada instituição de ensino, modelo educacional então seguido em todo o País. Como jornalista, estreou em periódicos de teor político, como O Progresso, do qual foi colaborador (1847-1848) e redator (1861), passando para A Imprensa (que fundou, ao lado de Fábio Alexandrino de Carvalho Reis e Antônio do Rego – 1857/1861), para o Publicador Maranhense,como redator (1864-1865), e paraA Conciliação, como devotado colaborador. O jornalismo cultural e literário exerceria um tanto quanto mais tarde, em periódicos como O Arquivo, Jornal de Instrução e Recreio, Semanário Maranhense e


ainda na Revista UniversalMaranhense, até vir a se dedicar, decidida e definitivamente, à prática da Literatura, ao afastar-se, por questões de saúde, das atividades políticas, transitando, pois, do jornal para o livro, para consagrar-se como publicista, historiador, biógrafo e crítico literário. Como literato, iniciou com os Apontamentos Estatísticos da Província do Maranhão (1860) e com um Calendário Agrícola, até dar a publico os seus primeiros estudos sobre a História da Província do Maranhão. Em 1862, produziu uma Introdução para a História daIndependência da Província do Maranhão (de autoria do Visconde Vieira da Silva). Em 1864, é a vez da Nota Biográfica, anexa ao primeiro volume das Obras deJoão Francisco Lisboa(de que foi editor, em parceria com Luís Carlos Pereira de Castro). Em 1866, sob o pseudônimo de Judael de Babel-Mandeb, tornou-se coautor do romance coletivo A Casca da Caneleira, publicado nesse mesmo ano, por iniciativa de Belarmino de Matos. Em 1867, traduziu as Cartas de Jules Liebig (sobre Química) e compôs o Prólogo às Obras Póstumas de Antonio Gonçalves Dias, de que se fez, também, editor (Gráfica Belarmino de Matos, São Luís,1868-1869). O melhor de sua produção literária, entretanto, foi aquela que ficou a maturar, em silêncio, numa gestação a eclodir, saudável e robusta, na década de 70 (Sec. XIX), para enriquecer a memória e o cânone literário maranhense. É quando, paradoxalmente, a saúde física se lhe vai minando, que vem a público, editado pela Imprensa Nacional de Lisboa (1873-1874), odestacável e valiosoPantheon Maranhense (composto em quatro volumes, contendo estudos biográficos sobre os mais tradicionais representantes das nossas Letras que, pelo brilhantismo de suas obras, conferiram ao Maranhão o epíteto de Athenas Brasileira), seguindo-se os Apontamentos para a História dos Jesuítas noBrasil(em dois volumes), do volume único em que reuniu suas Lucubrações(pequenos ensaios versando sobre medicina, história e literatura), e a Biografia deAntônio Marques Rodrigues (1875). É no Pantheon Maranhense, que encontramos, magistralmente biografados, muitos dos nossos mais insignes homens de Letras, bem como representantes políticos. O primeiro volume, por exemplo, traz Manuel Odorico Mendes(latinista e helenista, tradutor de a Eneida de Virgílio, autor do Hino à Tarde que, publicado em 1832, no Rio de Janeiro, serve de marco inicial do famoso GrupoMaranhense); FranciscoSotero dos Reis (professor, jornalista, latinista, gramático e historiador literário); José Cândido de Morais e Silva (jovem paladino da liberdade de imprensa); João Inácio da Cunha (o Visconde de Alcântara, chanceler da Casa da Suplicação, ministro do Superior Tribunal de Justiça, Chefe de Polícia na Corte, senador e ministro do Império); Antônio Pedro da Costa Ferreira (o Barão de Pindaré, constituinte às Cortes de Lisboa, deputado provincial e geral, senador do Império e presidente da Província). O segundo, apresentadez biografados, cinco destes, senadores, ou conselheiros do Império, dentre os quais se destaca o Chefe Militar e Brigadeiro Feliciano Antônio Falcão. O terceiro volume é todo dedicado ao poeta Gonçalves Dias.O quarto, ao jornalista e historiador João Francisco Lisboa, ao poeta Antônio Marques Rodrigues e ao naturalista Frei Custódio Alves Serrão. Como ainda o atesta Mário Meirelles(2002, p. 56): [...] o Pantheon é assim como um abrangente retrato de grupo, que o autor, como se fora um fotógrafo ou pintor, tentou reunir e preservar, para o conhecimento dos coevos e para a memória dos pósteros, a imagem de cada um daqueles seus


conterrâneos e contemporâneos que, já falecidos, elejá conhecera eadmirara, e osquais, por sua inteligência, por seu talento, por sua cultura, por seu serviço, por suas obras, haviam sido – e disso ele era testemunha, os responsáveis primeiros de a província natal ter, quase instantaneamente, se transformado do Maranhão Velho, pobre e inculto, da Colônia, ao Maranhão Novo, enriquecido e admirado do Império, e que ele podia testificar porque antes já lhe estudara e escrevera a História. Assim, numa visão panorâmica da vida cultural e literária do Maranhão do Século XIX,PantheonMaranhense foi o último trabalho de Henriques Leal, a bem dizer o Canto de Cisne deste ícone da nossa historiografia literária que, lutando contra a saúde debilitada, deixa, dos idos dos anos 80, do século em referência, um como que documentário, da vida cultural e literária do nosso Estado, àquela época. Senhora Presidente, nobres confrades e confreiras: A homenagem, senhoras e senhores, também é um dever de justiça. Permitam-me, a esta altura, incluir nesta minha oração, os nomes de todos os ocupantes destas Cadeiras, patroneadas por vultos de exaltada glória e dignificadas por quantos se inscreveram como sócios do IHGM. Por certo, nossos antecessores, com discernimento, clareza e liderança, souberam manter a força e o encantamento da organização e garantir-lhe o seu elevado sentido. Em verdade, tão eméritos sãoos nomes que compõem este Instituto, que não posso negar o justo orgulho de, a partir de agora, dele fazer parte.Aos eminentes membros da Comissão de Admissão, instância que corresponde à própria Assembléia Geral deste Instituto, manifesto o meu especial e profundo reconhecimento pela benevolência que me confere o galardão que ora recebo, nele vendo um claro estímulo para incursionar pela pesquisa das ciências sociais ou, simplesmente, como espaço privilegiado para professar a minha fé inabalável na Ciência e na Cultura como instrumentos de promoção do homem a patamares de vida plena e fecunda. Com especial emoção, agradeço as palavras com que me recebeu, representando o Colegiado, o meu estimado amigo e companheiro de universidade, Prof. Célio Gitahy Vaz Sardinha, atribuindo as gentilezas que por ele me foram dirigidas, à sua conhecida e costumeira generosidade. Digo, pois, ao IHGM, que estou pronto para ajudá-lo, como um operário dos seus sonhos e de suas mais vivas aspirações.Proclamo, então, com muita honra e orgulho, que me incorporo, a partir de hoje, à coorte privilegiada dos cidadãos e cidadãs ocupantes das cadeiras deste Sodalício. A emoção imprime-se no fluxo de minha exposição e perpassa por minhas mãos e meus lábios, extravasando, no ritmo borbulhante e na entonação de minha voz, ao pronunciar cada sílaba, nesta hora de minha louvação primeira ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. E louvar o IHGM, caros ouvintes, é enaltecer o Estado do Maranhão, por tê-lo como patrimônio do seu povo. Fundado em 20.11.1925, no primeiro quartel do século XX, o IHGM segue seu desiderato nos dias de hoje, em busca de seus objetivos primordiais, que são, entre outros, os de estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; e cooperar com os Poderes


Públicos nos projetos e ideais que visem ao engrandecimento científico e cultural do Estado. Sob a égide de um Instituto que mantém acesa a flama de nossa rica memória, reverencio, portanto, os intelectuais (expressivas figuras das Letras Timbiras) que, apoiando a idéia do Prof. Antônio Lopes da Cunha, fundaram, há quase 87 anos, uma ―associação científica para o estudo e difusão do conhecimento da história, geografia, etnografia, etnologia, arqueologia do Maranhão‖, que, no dizer do seu idealizador e fundador, ―foi criado para cultuar a tradição, venerar o passado, estudar o Maranhão‖. Só o desvelo de seus dirigentes (atuais e do passado) e de seus sócios, fundadores ou sucessores, foram e são capazes de fazer a Casa de Antônio Lopes chegar até aos dias de hoje, prestando relevantes serviços ao nosso Estado, expressão viva da nossa cultura. Experimentando esta emoção tão nova, semelhante a tantas outras situações e ao mesmo tempo tão diferente, por ser só minha, pessoal e intransferível – emoção como a de quem ganha de presente um livro novo, torna a ver velhos amigos, firma um compromisso de noivado ou troca alianças de indissolúvel matrimônio – almejo que o IHGM progrida e se afirme, cada vez mais, como um marco de referência positiva no Maranhão e no mundo. Compreendam, pois, minhas senhoras e meus senhores, e sintam comigo, a alegria que avassala o meu ser, nesta culminância de minha humana caminhada. Serei humilde, porém, o bastante, para reconhecer-me devedor a uma legião de servidores da Causa Comum, dos quais, vassalo em prontidão, reconheço-me, hoje, elevado à torre mais alta. Refiro-me, agora, a minha Universidade! A nossa Universidade Estadual do Maranhão. Julgo que universidades e associações científicas e culturais são entidadesafins, que lutam por ideais comuns, que trilham árduos caminhos a serviço da educação e da ciência, e marcam suas presenças, ao longo do tempo, num intenso e valioso compromisso com o conhecimento científico e com a tradição cultural, cabendo-lhes a missão intransferível de preservar a identidade daquilo que é o maior patrimônio de um povo: a sua cultura. Ao longo dos seus trinta anos de existência, a Universidade Estadual do Maranhão vem formando cidadãos, preparando profissionais para a vida e exercendo, neste Estado, o indiscutível papel de vanguarda, na produção, na crítica e na difusão do conhecimento. A Uema, que é hoje, reconhecidamente, a principal alavanca para o desenvolvimento sustentável do Maranhão, oferece o Ensino Superior, nos seus mais longínquos municípios, levando àquelas populações a esperança de dias melhores e a liberdade ilimitada que o saber proporciona. Por seu turno, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ora completando o seu 87º aniversário, cultua, preserva, estuda e divulga questões sobre História, Geografia e Ciências afins,no cenário maranhense ebrasileiro. Esta egrégia Instituição guarda a memória daqueles que marcaram sua existência, consolidando posições e possibilitando novos rumos aos acontecimentos e à história deste Estado. Ambas instituições, Uema e IHGM, têm o compromisso de conciliar o social, o econômico e o cultural, com a prática do humanismo, da justiça e da liberdade, esteios da democracia plena. A elas, cabe incentivar ações pertinentes ao cumprimento de seus objetivos, pelo que se faz necessário, não só investir na pesquisa científica, na inovação


tecnológica, mas também nas artes, na literatura, na pesquisa histórica, na defesa do patrimônio histórico, artístico e cultural. O Instituto de História e Geografia do Maranhão foi criado para cultuar a tradição, venerar o passado, estudar o Maranhão. E aqui vale lembrar José Ortega y Gasset(18831955), um dos maiores filósofos espanhóis, que diz, com muita propriedade: ―Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo‖. Caros e ilustres ouvintes, espero não os ter extenuado. Mas se o fiz, perdoemme:o significado desta ocasião me é, deveras, especialíssimo. Sinto-me extremamente grato e honrado emlhes dirigir estas palavras e me confesso privilegiado por esta cerimônia que me distingue comosócio efetivo desta nobre Associação. Um mundo novo e melhor sempre poderá ser criado. De fato, o futuro só é possível porque o presente sempre se renova, dia após dia. O futuro está no nascente, onde há luz nova e muitas auroras que ainda não raiaram. Lá está o futuro dos nossos sonhos, sonhos que podemos construir. Mãos à obra. Guardarei, na minha memória individual e afetiva, este momento. Jamais esquecerei esta experiência que estou vivendo e que só posso defini-lavalendo-me do pensamento do imortal Fernando Pessoa, ao expressar: O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Porisso,existem momentos inesquecíveis, fatos inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Que a paz esteja sempre presente em nossos dias, que a luz da bondade continue a nos mostrar o verdadeiro caminho e que as palavras do Cristo, em seu Sermão da Montanha, continuem a ser o nosso principal Evangelho. Que Deus nos abençoe. Esta é a mensagem sincera que transmito às ilustres personalidades aqui presentes, amigos, convidados e familiares, que dão a esta noite, para mim, especial colorido. A todos, devo o incentivo que me faz subir este importante degrau na escada da cultura – aspiração das mais nobres de um cidadão. Muito obrigado. REFERÊNCIAS CORRÊA, Dinacy Mendonça. Augusto César dos Reis Rayol: do rio do esquecimento para a nossa memória literária. In: FURTADO, Maria Sílvia Antunes. Coletânea de artigos e ensaios linguísticos e literários. São Luís: Uema, 2008. ___________________________(orientadora). COSTA, Eduardo Monteiro (orientando).Teares da Literatura Maranhense: O grupo Maranhense. Projeto de Pesquisa-BIC Uema/Fapema. São Luís: Letras/Cecen/Proexae/Uema, 2006 (inédito). LEAL, Antonio Henriques. Pantheon Maranhense. Tomo I. Editora Alambra, 1987. MARQUES, César Augusto.Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão (3ª. ed.). Rio de Janeiro: Cia Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. MORAES, Jomar. Apontamentos de Literatura Maranhense. São Luís: Sioge, 1976. MEIRELLES, Mário Martins. Panorama da Literatura Maranhense. São Luís: AML s/d. VIEIRA FILHO, Domingos. Breve História das Ruas e Praças de São Luís (2ª. ed. revista e aumentada). Rio de Janeiro: Gráfica Olímpiaa Editora Limitada, 1971.


DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE JOSEH CARLOS ARAUJO ÁLVARO URUBATAN MELO CADEIRA 54.

Ilmª Sra. Presidente do Instituto Professora Doutora Telma Bonifácio.

Histórico

e

Geográfico

Ilmª Senhor Doutor Evandro Chagas, representante Professor Doutor José Augusto Silva Oliveira.

do

do

Maranhão,

Magnífico

Reitor

Ilm°s Confreiras e confrades. Meus Senhores e senhoras. Dr. Joseh Carlos Araújo. ―Quão bom e tão salutar louvar as coisas e a gente do sertão da Minha Terra.‖ Escreveu nosso ex-sócio seu conterrâneo, José Ribamar Sousa dos Reis; ―Todos cantam a sua terra/Também vou cantar a minha‖, frase lembrada pelo nosso confrade, seu exaluno Magnífico Reitor Professor José Augusto Silva Oliveira. Essas referências estão exaradas na orelha e apresentação de seu livro ―Timbiras – uma pérola do Itapecuru. Concedam-me o vosso beneplácito, para citar o famoso escritor russo Leon Tolstói – ―se queres ser universal, escreve sobre tua aldeia‖. É o que faz nosso novo recipiendário. ―Não fosse ele o autor das elogiáveis obras, ainda inéditas: Crônicas dos Cocais, Crônicas dos Tupinambás, mais os romances Quilombo da Sardinha e Buona Terra Nossa‖, apenas ―Timbiras – uma pérola do Itapecuru‖, pela sua abrangência histórica, geográfica, social seria o aríete intelectual suficiente para romper os portais do nosso sodalício, e levá-lo, com fez, a subir garbosamente suas escadas, sob ovações dos que o esperam, para tomar assento e honrar a cadeira do gênio Gomes de Sousa, ele que se sentou em tantas cadeiras neste magnífico solar – palco desta posse. Significativa escolha. Mas, quem é este tão esperado sócio que chega precedido de boa reputação de exímio poeta, romancista, cronista, professor e renomado engenheiro agrônomo. Chama-se Joseh Carlos Araújo e sua primeira distinção começa pela ortografia de seu nome Joseh com H final. Nasceu a seis de setembro de 1941, nas terras de seus cantos e encanto, na qual viveu seus primeiros seis anos, tempo suficiente para guardar no íntimo de sua exuberante memória, na lucidez de sua retina as mais apaixonantes reminiscências, típicas das criaturas que não se desvinculam do cordão umbilical. Lá José Carlos foi coroinha da igrejinha, passarinhou,banhou no Itapecuru, percorreu suas várzeas, perambulou na estação ferroviária. Cenários marcantes. Foram seus pais Francisco Pereira da Silva (Chico Escrivão) e Raimunda Araújo (Dona Raimundinha). Seus estudos começaram em Timbiras, continuaram em Codó e Pedreiras. O científico, fez no Colégio São Luís e Liceu. Dividimos com o nosso confrade, o Dr. Raimundo Nogueira, o prazer de sermos os signatários de sua proposta ao quadro de admissão à Casa de Antônio Lopes,


e o fizemos com plena convicção de suas virtudes. Dr. Nogueira foi seu mestre, quem melhor o avaliaria? Nós, estribados numa amizade que dista de junho de 1959. Iniciada quando jovens imberbes, ao adentramos os umbrais do 24° Batalhão Caçadores, para cumprirmos o dever cívico de brasilidade. Ficamos lotados na 2ª Companhia. Lembrome daquela data, perfilados, chamou-me a atenção um garoto inquieto, olhar vivo. Um dos menores da Companhia, dos mais novos. Ele, Josué e Miécio Campos. Estes, nunca mais os encontrei. Lembras-te. Formamos um grupo: Arlindo Raposo (de saudosa memória), Serra, Furtado, Falcão e o bom e querido Catarino (meu conterrâneo de São Bento). Essa afinidade robusteceu: José Carlos, o soldado Araújo, 434; eu, Urubatan, n° 400, tivemos o mesmo beliche. Ele, na cama de baixo. Ingressamos no curso de Cabo, quando pude avaliar nele, a fertilidade intelectiva. Às vésperas de uma prova acertamos estudar. Após o toque de silêncio descemos para a quadra de esportes. Confesso-lhes que pela minha trajetória de estudante considerava-me um bom decoreba. Ele leu o ponto, o fiz depois, quando o releu: disse eu já sei e repetiu. – E tu, mentir. Também. - Repete. - Não gosto. Subimos e ao notar que ressonava, desci e foi consolidar os estudos. Nunca mais o convidei para estudar. Nesse convívio descobrir ser ele um bravo e solidário ser humano. Um sábado, a descansar no alojamento, desrespeitando a máxima de que soldado de folga no quartel quer trabalho ou cadeia, surpresa: toca o alarma, seguem-se as instruções e cada um faz suas suposições. Na carroceria do caminhão, vamos ao desconhecido; no caminho dois carros pipas do Corpo de Bombeiros no prego. Chegamos ao Caratatiua. Dramática cena – homens trepados em suas casas de palha, com beiral já descoberto, com latas d‘água nas mãos, protegem-se do fogaréu que se aproxima. Os soldados munidos de maços de folhas verdes, tentam debelar as chamas – José Carlos era o mais ativo e afoito. Intrépido parecia defender seu único bem, foi o último a sair. Rosto tostado e a túnica a mais riscada de todas pelos galhos queimados. Recordo-me, nos possíveis fins de semana, com sua valise ia esperar o Maria Fumaça para levá-lo ao Povoado Pedrinhas, casa de sua irmã Delzuita (Zuzu). Na caserna senti ser nosso novo confrade um determinado. Desfile de sete de setembro, trajeto Quartel a Avenida Pedro II, marchando ao meu lado, mostrou-me a marca do fuzil em seu punho, mas só mudaria no final. E cumpriu. Determinado sim, seu desiderato primordial era Arquitetura, curso universitário inexistente em São Luís, o que o levou a optar por Agronomia, o qual não se arrepende por haver gostado e exercida com zelo. Bacharelou-se pela Faculdade de Belém, mestrado e doutorado na USP – Piracicaba; especialidade em Viena. Por isso não se entusiasmou em fazer concurso para ESA e do Banco do Brasil, como outros colegas realizaram. Demos baixa, eis que de súbito nos reencontramos na UMES, exatamente no quarto 14, lá no porão. Ele preferiu subir. Moradores do Quartel, pagávamos o rancho com as faxinas, comandadas pelos sargentos Ribeiro e Patrício e outros exigentes cabos. Parecia ser sina. Na primeira semana fomos escalados para limpeza do salão da Casa dos Estudantes, passada a cera parquetina, solicitamos panos para o brilho. Surpresa, nós que havíamos vivido os últimos meses, praticando culto aos símbolos nacionais, recebemos para missão uma velha bandeira nacional. Quem rasgaria? Explicamos ser crime. Que devia ser remetida ao Exército para incineração no dia da Bandeira.


Na União Maranhense dos Estudantes Secundários, UMES, José Carlos começou sua paixão pelo magistério. Em companhia de Doutor Alvanir, que com sua presença ilustra esta cerimônia, fundou o curso de Exame de Admissão ao ginásio, que se tornou famoso. Em Belém sentiu o gosto pela política universitária, e pertenceu ao diretório acadêmico, em algumas gestões. Nosso confrade teve outros irmãos, Sebastião, Manuel, falecidos. É o único remanescente da família. Casado com dona Lena Santos Jacinto Dominice, pais da princesinha Isabel, tesouro do casal. Em sua vitoriosa carreira de engenheiro agrônomo, trabalhou na SUDENE, na área do Noroeste do Maranhão. Foi um dos fundadores da Escola de Agronomia do Maranhão, titular a Cadeira de Solo, professor por 35 anos da Universidade Estadual do Maranhão, representante da Embrapa, secretário adjunto do Meio Ambiente, assessor da Reitoria da Universidade Estadual do Maranhão. Convictos de que esta é mais esta noite memorável, rejubilamos pela nossa contribuição para consolidar o quadro social desta Casa, ao patronearmos os ilustres pares Antônio Noberto, Joana Bitencourt, Roque Macatrão, Márcio Coutinho; agora apadrinhamos Josh Carlos, com absoluta certeza que será como os demais, um sócio assíduo, participativo, que com o fulgor de sua inteligência, a disposição de servir, integrará esta imbatível legião disposta a manter nosso IHGM nos pícaros da glória, zelando, cumprindo e ampliando suas obrigações estatutárias. Nós te parabenizamos. Pode abancar-se. Doravante a Cadeira é sua, honra quem a ocupa. Imensa sua obrigação, porém, é menor do que sua capacidade.


DISCURSO DE POSSE DO ESCRITOR JOSEH CARLOS ARAUJO NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (11/05/2012)

Senhora professora Dra.Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; colega professor dr. Evandro Ferreira das Chagas, representando neste ato o Magnífico Reitor da Universidade Estadual do Maranhão; confrade e padrinho neste ato acadêmico Álvaro Urubatan Melo, presidente das Federações das Academias de Letras do Maranhão e presidente da Academia Sãobentuense de Letras; demais confrades, familiares e convidados presentes. A escolha do Museu Histórico e Artístico do Maranhão para um evento do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão não foi por acaso. O museu ocupa o casarão colonial estilo barroco, o qual foi antigo domicílio da família Sousa, que deu ao mundo o gênio Joaquim Gomes de Sousa, patrono da cadeira nº 52 do Instituto, acima citado; e que no ato presente (11/05/2012) passa a ser ocupada por este autor, com muita honra. Durante a cerimônia devo, por incumbência, mostrar algumas passagens da biografia desse personagem impar – marcada por certa irreflexão, pressa durante sua efêmera existência terrena. Nasceu em 15 de fevereiro de 1829, numa das décadas turbulentas do Brasil colônia que tentava se equilibrar depois da difícil conquista de sua independência, sete anos antes (1822), dos grilhões portugueses – por extensão, dos próprios europeus -, e que anunciava tempos mais árduos ainda por vir. Duas décadas após, o maranhense florescia, juntamente com pelo menos dois nordestinos, o cearense José de Alencar e seu próprio conterrâneo Gonçalves Dias, como figuras geniais das ciências exatas e literárias. E que, de igual forma, viriam provocar reboliços no abismado mundo europeu em breve. Poder-se-ia dizer que eles contribuíram para que o país vivesse como aqueles do hemisfério norte, o seu período considerado iluminista durante o século dezenove. Aquele século também correspondeu ao apogeu do algodão no Maranhão - abastança da aristocracia rural conservadora, com as fazendas confortáveis, em Itapecuru-Mirim (berço de Sousinha, como era conhecido) e em Caxias, onde nasceu Gonçalves Dias, ou ainda em Mercejana, berço do cearence. Entretanto, dos três garotos Gomes de Souza parecia ter o gênio mais aguçado - melhor desempenho em várias áreas, como define o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda.


Aos 14 anos, em 1843, matriculou-se na Academia Militar, no Rio de Janeiro, já com a sua assombrosa precocidade devidamente monitorada por intelectuais da época. Dois anos depois desistiu da praça fortificada, ingressando na Faculdade de Medicina na capital do país. Daí, após outros dois anos fez o inverso; desistiu desta, em 1847, para prestar exames nas demais disciplinas do antigo curso militar (inicialmente negado, como era a praxe neste caso). Aceito o pedido, no ano seguinte bacharelou-se em ciências físicas e matemática; também recebeu o primeiro titulo de doutor em matemática da citada Academia, com a tese sobre O modo de indagar novos astros sem auxilio das observações diretas (publicada no Rio de Janeiro, em 1848, pela Tipografia Teixeira & Cia). Ao retornar aos estudos de medicina, nova desistência. Desta vez o motivo foi desgaste do seu frágil físico, com 19 anos de idade – voltou aos ares da Fazenda Conceição, em Itapecuru-Mirim. Aproveitou para estudar línguas, direito constitucional e economia política. Em 1849, novamente na Corte carioca, ocupou o cargo de professor substituto (concursado) na sua antiga Academia Militar, onde também fez pesquisas sobre física e matemática e teve seus trabalhos impressos ali. O maranhense ainda jovem (com 20 anos), incentivado pelo amigo Gonçalves Dias (com 27 anos), ao mesmo tempo escrevia na Revista Guanabara tribuna na qual arderam fortes polêmicas dado seu temperamento assim fora do ponto. Viajou para a Europa, em 1854, a pedido de D. Pedro II para se dedicar a uma reforma do sistema carcerário brasileiro. Desincumbido da missão, numa estada em Londres, submeteu seus trabalhos matemáticos à Royal Society de Londres. No ano seguinte, na França onde, igualmente, apresentou à Académie des Sciences as memórias originais: determinação de funções incógnitas sob o sinal de integral definida, outra sobre um teorema de cálculo integral e uma terceira, teoria da propagação do som. Matriculado na Faculdade de Medicina de Paris, concluiu o ensino médico (iniciado no Brasil), doutorando-se em 1856. Esse foi o periodo ao mesmo tempo mais romântico do físico matemático maranhense, com 26 anos. Resultado de contatos frequentes com o poeta Gonçalves Dias em Dresde e Leipzig, Alemanha, concluiu a inusitada obra Anthologie Universelle: choix des meilleures poésies lyriques de diverses nations dans les langues originales (editada em 1859, por F.A. Brockhaus, cidade de Leipzig). Um volume dessa raridade, de 950 páginas com as melhores poesias em 17 línguas, foi doado à Universidade Estadual do Maranhão pelo professor Francisco M. Mont‘Alverne Frota, numa solenidade de outorga de medalhas do mérito universitário ―Gomes de Sousa‖ (quando o professor proferiu discurso sobre o gênio, em 16/12/2011). No final da década de 1850 regressou ao Brasil para assumir um cargo político deputado imperial eleito pelo Maranhão, já casado com a inglesa Rosa Edith, filha de um pastor anglicano. Em seu discurso de posse (25/06/1857) mostrou a que viera: denunciou um seu futuro colega e ex-ministro da Justiça ―[...] por crime de traição por haver tentado contra o livre exercício dos poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império e (ter) aposentado com metade de seus vencimentos dois desembargadores de Pernambuco [...]‖. No cargo político imperial, uma abnegação desmedida na tribuna e na zona rural pelo seu povo, agrafo e em extrema pobreza, de locais ermos. Por fim, sua produção científica (e também política) entrou em declínio, semelhante a ascendência, digamos, exponencial. Em 1860 faleceu sua esposa, e dois anos depois seu filho, ambos no Maranhão, vitimados por uma infecção não identificada. Com a saúde deteriorada fixou residência no Rio de Janeiro. No clima ameno de Santa Teresa, viúvo casou-se novamente, com sua enfermeira Paulina Guerra, em fevereiro de 1864. No mês seguinte, com o quadro complicado, viajou para a Inglaterra em busca de melhores recursos de cura. Faleceu em 1º de junho de 1864, com apenas 35 anos. No inicio do mês seguinte, a noticia chegou à Câmara imperial


brasileira, que suspendeu a sessão com pesar pelo falecimento de ―um vulto majestoso que não encontrará substituto, porque àquele molde não são vazados muitos homens. Era um gênio, e os gênios são raríssimos‖. Em São Luís, o necrológico do jornal O Paiz ―Lamenta o Maranhão a perda de mais um filho ilustre, talvez a inteligência mais elevada que esta terra tenha produzido o Dr. Joaquim Gomes de Sousa‖. As conclusões do excelente ensaio de 2004 sobre a importância de Souzinha na ciência e na política brasileira, do professor da PUC-São Paulo Ubiratan D‘Ambrosio, dá a medida certa da inocência do Brasil colônia do século 19 e de sua frustração, até hoje, pelo esquecimento da valiosa obra desse prodígio maranhense. A produção científica, acima de tudo até pouco rebuscada dado a precocidade do autor, foi recebida com reservas pela crítica européia. Tanto os ortodoxos da Royal Society inglesa – por exemplo, o trabalho completo, submetido ao físico George Stokes, nunca obteve uma resposta definitiva; semelhante apatia também na Académie des Scienses de Paris, onde os pareceres de quatro membros indicados para avaliação das memórias do iluminado eram contraditórios, sem resposta definitiva; O professor da PUC menciona ainda que um importante texto encaminhado jamais foi encontrado. Muitos intelectuais têm se debruçado sobre os dados biográficos do cientista Gomes de Sousa. São exemplos ilustres intelectuais maranhenses, Antônio Henriques Leal, Humberto de Campos, Sebastião Moreira Duarte, Lino Raposo Moreira e outros. Contudo, o maior destaque é dado, segundo o próprio Sousinha, a uma história e filosofia geral das ciências, que considera sua obra maior. Diz ele: ―O meu trabalho de predileção que eu preparo com o título de Leis da natureza, código de legislação em que, passando em revista o universo inteiro, pretendo expor as leis fixas, gerais e invariáveis que presidiram à sua organização [...]‖. Seria um trabalho hercúleo para seu estilo abreviado, de 3.500 a 4.200 páginas (inferidas de D‘Ambrosio) assim distribuídas: 1ª parte, os três reinos da natureza (2 v); 2ª parte, espírito humano (3v) e 3ª parte, história (2v). Antonio Henriques Leal diz em capitulo do Pantheon Maranhense, de 1873: ―Acharamse-lhe [sic] apenas as memórias sobre matemáticas puras que havia lido nas Academias de Ciências da Inglaterra e no Instituto de França, e que começara a imprimir em Leipzig; a importantíssima obra sobre ciências naturais, sociais e filosóficas, a que só faltavam a introdução e a conveniente redação. É o gênero do cosmos de Humboldt, e havia por certo de produzir muita sensação no mundo científico, atentas as luzes que derramariam sobre si [...]‖. Cabe-lhe, sem contestação, o titulo de primeiro físico-matemático brasileiro. Francisco Gomes de Sousa, um legítimo cidadão do mundo. Bem, nas letras, demorei a sair do armário – já na segunda infância, a provecta; portanto, tenho pressa comparada, modestamente, ao Sousinha, aqui louvado com mérito. Com este evento, que muito me honra, estarei avante com os demais confrades deste importantíssimo instituto, retrato da historiografia maranhense. Fundado em 1925, o IHGM completa, no próximo 20 de novembro, 87 anos de árduo labor nos cenários historiográficos maranhense, em franca sintonia com o IHG Brasileiro, fundado pelo imperador D. Pedro II no Rio de Janeiro em 1838. Identificado, merecidamente, como a Casa de Antonio Lopes, um de seus fundadores, abrigou no seu quadro neste período os mais ilustres intelectuais da terra gonçalvina, a começar honrando os europeus Claudio D‘Abbeville, patrono da cadeira nº 1, seguido do companheiro Yves D‘Evreux, na de nº 2 e Diogo de Campos Moreno, com a seguinte. Os dois padres capuchinhos franceses e o militar português formam a base historiográfica do episodio equinocial maranhense, como os autênticos cronistas dos cenários tanto da fundação francesa de São Luís como sua expulsão pelos portugueses (16121615).


Outro exemplo do seu grande valor. Olhando o mapa geográfico da America Latina impressiona os vastos contornos do Brasil (ex-colônia portuguesa), com uma vizinhança fragilizada em pelo menos 12 ex-colônias espanholas; pequeninos países falando em idioma diferente do nosso e até raivosos com o mundo, orquestrados pelo aforismo da poetisa chilena Gabriela Mistral: ―O que nos une, na America hispânica, é o nosso belo idioma e a desconfiança nos Estados Unidos‖. Mais uma reflexão: como seria imaginar o nosso país sem a Amazônia. A fronteira norte seria limitada à exata metade do Maranhão, pois a outra grande porção – a amazônica - seria francesa. A história sempre se volta ao assunto, especialmente agora que a capital maranhense comemora com orgulho os 400 anos de sua fundação – sem dúvida francesa. Mas apenas o ato; de Upaon-açu... Agora, a presença da Coroa portuguesa aqui, a partir de 1808, foi fundamental. D. João VI foi o único soberano a pisar em terras americanas em mais de quatro séculos, e de forma comprovada foi quem transformou a imensa colônia em um país unificado e independente – sem ceder a alguém um só metro quadrado. Se hoje alguns chegam até a ironizá-los, esquecem que devemos a eles e seus antepassados de sangue quente, isso mesmo, toda a façanha gloriosa de garantir a imensa parte da Amazônia só para nós. Fatos em que se sobressai a história, conectada ao espaço geográfico – as duas ferramentas manejadas sabiamente pelo IHGM, tão bem dirigido pela professora Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, e que ora me abraça como sócio efetivo. Muito obrigado.


DISCURSO DE APRESENTAÇÃO AO IHGM DO HISTORIADOR E PROFESSOR DA REDE PUBLICA DO ESTADO E MUNICIPIO - EUGES SILVA DE LIMA

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Instituições centenárias ou a caminho de um centenário como o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão possuidor de uma identidade bem estabelecida nos parecem um tanto estranho, estranhamento este no sentido de que são poucas as instituições que alcançam este estágio. Bem organizadas, com tarefas previamente estabelecidas, rotineiras, funcionam como se fossem preservadas dos males da sociedade dos mortais. Para instituições assim, nos sugere Hegel, ― a maior felicidade é não ter história, assim como as nações consideram como os mais felizes os períodos que não são históricos6 Nesses casos, cada ano vindouro conservaria o mesmo interesse do tempo da fundação, a guardar e ratificar o sabor de sua origem. Em outro momento, três anos depois, Hegel reafirma: ―A maior sorte de um estabelecimento é não ter história, apenas duração7. Não temos essa sorte, nem a queremos. É, afinal, um traço nosso ter bastante história, e mesmo já de uma longa duração. É verdade que o lema do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão aponta para a tarefa de preservar por meio da tradição a história local, nacional e pessoal de seus entes. Isso, porém, em situações de rotina, não seria suficiente para nos definir uma identidade ou um estilo próprio, para além da diversidade dos projetos, da provisoriedade do tempo e a quase simbólica trajetória de nossa constituição, da pressa de alguns gestos dos fundadores, da dispersão de forças por eles desprendida, que, não 6

Discurso de encerramento do ano letivo de 1810 no ginásio de Nuremberg, in HEGEL, G. W. F., Discursos sobre Educação, Lisboa, Colibri, 1994, p. 41. 7 Discurso de encerramento do ano letivo de 1813 no ginásio de Nuremberg, in HEGEL, G. W. F., Discursos sobre Educação, p. 71.


obstante, sugeriu uma unidade, esboçou uma harmonia, entre o valioso pluralismo e a indesejável fragmentação. Em momentos como este, em uma cerimônia de posse, em que a comunidade se volta a si mesma, a tradição costuma ser o alvo. E não nos furtamos em retomá-la, mas não como causa ou consequência, e sim como fonte de sentido. Desse modo, tradição não precisa ser simples passado. Tradição pode ser escolha e reinvenção das origens. Afinal, lembra-nos Walter Benjamin, ― articular historicamente o passado não significa apenas conhecê-lo tal como ele foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência tal como ela relampeja no momento de um perigo 8. Nesse sentido, recuperar o passado é também esquecer muitas coisas e saber escolher os fatos, dando voz até aos projetos que ainda não se cumpriram. Preparar por meio da tradição intelectual pessoas para desenvolverem as atividades da alta cultura, patrioticamente. Mas a nossa instituição nunca foi monolítica. Nossa tradição sempre se fez do que afirmamos e do que recusamos. Na segunda metade do século XVIII, Georg Lichtenberg escreve: ―Na república dos sábios cada um quer mandar. Lá não há nobres. Isto nos parece mal. Todo general, por assim dizer, precisa esboçar seu próprio plano, montar sentinela, varrer a guarita, buscar água. Ninguém quer cooperar nesse trabalho com o outro 9···, decididamente, nosso modelo não pode ser esse. Somos parte de uma instituição de 86 anos, podendo ser dita como uma bem consumada república de sábios que também se alimenta da energia dispersiva e competitiva de eventuais pesquisadores ou grupos em favor de sua unidade e sentido. Ela, todavia, não se mede por resultados, mas, sobretudo por um modo de chegar a certos resultados — para nós, esse resultado é um modo singular de articular os conceitos ‗pesquisar‗, ‗colidir‗ e ‗ preservar‗, o que nos dá um sentido próprio, uma cor local, e nos projeta uma unidade. Como já repetimos tantas vezes, citando um trabalho coordenado por Pierre Bourdieu10: ―A produção intelectual é um lugar, talvez o único lugar de confrontação crítica entre as gerações, um lugar de experiências múltiplas, afetivas, de qualidade exatamente pelas pesquisas que desenvolve e pela relação singular e orgânica que estabelece com a comunidade. Assim, como instituição pública e democrática o IHGM se caracteriza por produzir conhecimento, mantendo uma necessária relação com a sociedade em que se insere, de sorte que tal laço indissolúvel entre pesquisa e preservação deve ser bem mais que uma simples bandeira. Tal traço nos define. Desse modo, dada sua natureza, seu compromisso com a produção de conhecimentos e sua interação com a sociedade, o IHGM torna-se lugar natural de concorrência entre saberes e também de crítica e de reflexão, sendo forte e necessária sua resistência ao que porventura possa ameaçar seu espírito crítico e cívico – espírito mediante o qual pode distinguir, por exemplo, os interesses de longo prazo da sociedade dos interesses imediatistas do mercado. 8

BENJAMIN, Walter, ―Sobre o Conceito de História‖, in BENJAMIN, W., Obras Escolhidas, São Paulo, Brasiliense, vol. 1, 1985, p. 224. 9 LICHTENBERG, G. Chr., Aphorismen, Stuttgart, Reclam, 1984, p. 84. 10 BOURDIEU, Pierre, Quelques diagnostics et remèdes urgents pour une université em péril, Paris, Raisons d‗Agir, 1997, p. 120-121.


Ora, em uma instituição com essa natureza singular, lugar de preservação e de produção, lugar de agregação universal de saberes que não podem fragmentar-se e tampouco devem ser isolados da comunidade, é evidente a importância e mesmo a centralidade de nosso sodalicio. Assim, por sua história e por seu trabalho, ele deve continuar a ter o dever de exercitar, no conjunto de sua obra, a prerrogativa distintiva de receber cada vez mais pessoas da estirpe de nosso empossando de hoje – Euges Silva de Lima, capaz de se voltar criticamente às atividades acadêmicas de toda monta e de, em grande parte, questionar-lhe o sentido, afinal, não pode haver instituição autêntica sem o aporte crítico das ciências humanas, aporte que não pode ser circunscrito a atividades separadas do conjunto da dinâmica acadêmica, como se nossa pesquisa e nossa ação não fossem de extrema relevância e não devêssemos antes influir nos projetos mais amplos e de mais longo prazo de nossa Instituição. EUGES SILVA DE LIMA nasceu no dia 23 de agosto de 1973, em Paranaíba-PI, porém, sua família era maranhense e residia em Tutóia - terra do Poeta Almeida Galhardo - cidade vizinha ao Estado do Piauí. É o quarto filho do casal ANTONIO SALUSTIANO DE LIMA FILHO, funcionário público aposentado do Fisco Estadual, natural de Brejo e de MARIA JOSÉ SILVA DE LIMA, tutoiense. Viveu com sua família em Tutóia até os oito anos de idade, lá estudou as primeiras séries do então primário no Grupo Escolar Casimiro de Abreu. No início dos anos de 1980, veio com os pais morar em São Luís, em busca de melhores condições de estudo. Aqui, estudou nas Escolas Públicas, Estado do Piauí, no Monte Castelo, Arnaldo Ferreira, Cohab e Almirante Tamandaré, também na Cohab, onde concluiu o Curso Técnico em Contabilidade, em 1991. Apaixonado pelo conhecimento histórico, desde a época de ensino fundamental, em meados da década de 1990, escolheu ser professor de História e então passou no vestibular para o Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, que estava dando seus primeiros passos, sendo aluno fundador desse curso. Graduou-se em 2000, defendendo o trabalho monográfico: ―A Formação do Sarneísmo no Maranhão‖, nesse mesmo ano ingressa no magistério, onde ministrou aulas no Curso de Capacitação de Docentes (PROCAD) da UEMA, trabalhando as disciplinas de História da América e História Moderna. Quando as informações sobre a nossa história regional eram praticamente inexistentes na internet, em 2001, criou o primeiro site sobre história do Maranhão, denominado História do Maranhão na Net, onde divulgava, através de artigos e textos, informações sobre a história do nosso Estado. Entre 2001 e 2002, voltou aos bancos da Universidade Estadual do Maranhão para se especializar em Teoria e Metodologia para o Ensino da História, cuja monografia defendida foi: ―Franceses e Tupinambás no Maranhão Seiscentista‖. Trata-se de um trabalho que buscou estudar o período de ocupação francesa no Maranhão no início do século XVII, abordando principalmente como se deram essas relações francotupinambá, no período da chamada ―França Equinocial‖. Em 2002, ingressou através de concurso público como professor de História do ensino médio na Rede Pública Estadual de Educação Básica do Estado do Maranhão. Trabalhou nas escolas Almirante Tamandaré e Bacelar Portela. Também é professor da Rede Pública Municipal de São Luís, desde 2003, exercendo suas funções na Escola UEB Prof. Mata Roma, Cidade Operária. Foi


fundador do Conselho Municipal do FUNDEB de São Luís, sendo seu primeiro presidente, na gestão 2007 a 2009. Exerce forte militância na categoria do magistério municipal de São Luís, onde ajudou a liderar vários movimentos em defesa de melhores condições de trabalho, melhorias salariais e por uma educação pública de qualidade. Além de professor de História, Euges Lima, atua também como sindicalista da sua categoria, luta a qual vem se dedicando nos últimos anos. Atualmente é Secretário de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica Pública do Estado Maranhão, o SINPROESEMMA, onde exerce com muito afinco, junto com seus companheiros, uma luta incessante em prol de melhorias para a categoria dos profissionais da educação básica estadual. É membro do Conselho Estadual do FUNDEB e faz parte da Comissão do SINPROESEMMA que discute com o Governo do Maranhão a elaboração de um novo estatuto para os trabalhadores em educação, o chamado ―Estatuto do Educador‖. Euges Lima estará ocupando a Cadeira 22, durante toda a sua trajetória profissional participou de diversos cursos de extensão e de formação de professores que lhe abalizarão para estar nesse momento adentrando a este sodalício, possui diversas publicações em jornais locais e revistas especializadas, autor de artigos na área de educação e História, bem como é participante assíduo de congressos, simpósios e conferencias nacionais e internacionais, além de fóruns sobre educação e profissionalização docente. Todo esse conjunto de predicados são comprovados em seu curriculum, que embora seja de um jovem estudioso, já lhe permite iniciar segundo os confrades e confreiras que o indicaram e posteriormente analisarão e aprovaram seu assento neste recinto. Sua trajetória Euges neste sodalício será certamente primorosa no sentido de agregar sabedoria, garra e destemor para ESTUDAR, PRODUZIR E PUBLICAR a nossa história através do IHGM. Seja bem vindo, Confrade Euges Silva de Lima!


DISCURSO DE POSSE DO PROFESSOR EUGES SILVA DE LIMA, NA CADEIRA DE N.º 22, COMO SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO.

Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professora Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo; Convidados, Profissionais da Educação, Senhores e Senhoras; Confrades e Confreiras. É com júbilo que assumimos hoje, nesta prestigiosa e tradicional associação, a cadeira de número 22, patroneada pelo célebre historiador maranhense do século XIX, César Augusto Marques e que teve como último ocupante, o historiador Carlos de Lima. Sinto-me bastante honrado em adentrar neste sodalício, na casa de Antônio Lopes, nesse seleto grupo de estudiosos do Maranhão. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, o IHGM, é uma instituição de longa existência, por aqui passaram grandes nomes da nossa historiografia e intelectualidade, é uma agremiação precursora nos estudos da história do Maranhão, geografia, arqueologia, etnologia e etnografia, verdadeiro guardião de nossa cultura e memória. Completará no dia 20 de novembro próximo, 87 anos de atividades contínuas. Quantas entidades, no nosso país e em particular, no nosso Estado, comemoram essa marca? Pouquíssimas. É razoável que uma entidade com esse tempo, com essa trajetória, tenha passado por várias fases, momentos de ascensão e estagnação, faz parte da própria dinâmica histórica, mas uma característica se destaca nesse longo percurso do IHGM até aqui, a sua grande capacidade de superação e sua vontade em permanecer. Fundado em 1925, chega até os dias atuais revigorado, ativo, atuante e fiel a seus objetivos. Busca se adequar às necessidades do século XXI, sem, no entanto, perder de vista suas tradições e fins.


Parece-nos assim, que o sonho de Antônio Lopes, sonhador impenitente, como ele mesmo dizia, idealizador e fundador desta associação, se realizou. Por ocasião do vigésimo primeiro aniversário do Instituto Histórico, dizia ele em tom profético: Grava-se esta tertúlia como um testemunho da nossa fé em que ele viverá muito e muito e vencerá um dia plenamente a indiferença que mata [...], as associações literárias, artísticas e científicas. (LOPES, 1973) A propósito, gostaria de registrar nos anais desta casa a passagem dos 123 anos de nosso patrono, Antônio Lopes, a qual rendo aqui, minhas homenagens. Ele nasceu na histórica cidade de Viana, no dia 25 de maio de 1889, no apagar das luzes da monarquia, há exatos 123 anos. Antes de nos ater de forma mais pormenorizada ao patrono da cadeira de número 22 e fazer seu elogio, conforme estabelece o imperativo estatutário desta entidade, no seu artigo 11, gostaríamos de fazer um breve resgate dos ocupantes que nos antecederam. Foram quatro os meus antecessores, são eles, Domingos de Castro Perdigão, Fernando Eugênio dos Reis Perdigão, Raimundo Nonato Travassos Furtado e Carlos Orlando Rodrigues de Lima, nomes que ao seu tempo, contribuíram sobejamente para produção historiográfica, cultural e intelectual do Maranhão, deixando assim um importante legado. Invertendo a ordem cronológica, começaremos pelo último ocupante da cadeira, o historiador Carlos de Lima, que nos deixou recentemente, há pouco mais de um ano, deixando uma grande lacuna na produção historiográfica sobre o Maranhão. Autor de uma vasta e variada obra, passeou por vários gêneros, começou como folclorista, onde iniciou sua carreira como escritor, em 1968, com o livro ―Bumba meu boi‖. Foi também cronista, contista e especialista em cultura popular maranhense. Dentre os vários livros que publicou, podemos destacar, História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís, 2002 e Lendas do Maranhão, 2006. Carlos de Lima foi um infatigável pesquisador da história regional e sua cultura, teve uma vida longa, morreu aos 91 anos de idade, boa parte deles dedicados à pesquisa histórica. Sua principal obra é certamente, ―História do Maranhão‖, que numa segunda edição, revista e ampliada, publicada pelo Instituto Geia, dividida em três volumes, monarquia(2006), império(2009) e república(2010), constitui-se numa importante fonte de informações e referências da história do Maranhão. Carlos de Lima, com sua ―História do Maranhão‖ acabou entrando para própria história da historiografia maranhense, igualando-se a autores consagrados e entrando para o restrito rol dos historiadores que se aventuraram a escrever uma história do Maranhão, como Barbosa de Godóis (1904) e Mário Meireles (1960). Raimundo Nonato Travassos Furtado, era vianense, nasceu em 1912 e faleceu em São Luís, em 1990. Foi um atuante jornalista, trabalhando em diversos jornais de sua época, como a Folha do Povo, O Combate, A Tribuna, Diário do Maranhão e o Diário do Norte. Foi Deputado Estadual por dois mandatos, primeiro pelo PR, depois pelo PSD. Era também poeta, escreveu ―No Mundo Encantado da Trova‖ e ―Poema das Estrelas‖. Pertenceu a diretoria deste sodalício, sendo diretor de divulgação.


O segundo a ocupar esta cadeira foi Fernando Eugênio dos Reis Perdigão, nasceu em São Luís, em 1908 e faleceu no Rio de janeiro, em 1990. Sucedeu seu pai no IHGM, Domingos de Castro Perdigão, sobre quem falaremos mais adiante. Formou-se na Faculdade de Direito do Maranhão, onde depois se tornou Catedrático de sua sucessora, a Faculdade de Direito de São Luís. Exerceu vários cargos públicos durante sua vida, tanto em São Luís, como no Rio de Janeiro, onde foi diretor jurídico dos Diários Associados. Foi também jornalista e escreveu em vários jornais de São Luís, inclusive o Imparcial. Escreveu o livro ―Contribuição do Maranhão à Cultura Jurídica Brasileira‖ e pertenceu a Academia Maranhense de Letras. Em São Luís, há uma escola publica estadual de ensino médio, localizada à Avenida Castelo Branco no bairro do Monte Castelo batizada com seu nome. O primeiro a ocupar esta cadeira, foi Domingos de Castro Perdigão, pinheirense, nasceu em 1.º de novembro de 1872, seus pais eram Domingos Tomaz Valez Perdigão e D. Maria Rita de Castro Perdigão. Pertenceu à geração de Antônio Lopes, os chamados ―Novos Atenienses‖ que sucederam a geração do Grupo Maranhense, formada por Gonçalves Dias, João Lisboa, Odorico Mendes, Sotero dos Reis, entre outros. Foi fundador da Faculdade de Direito do Maranhão, em 1918, um dos fundadores do IHGM, é patrono da cadeira de número 35. Fundador da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Maranhão, em 1922. Foi Diretor durante vários anos da Biblioteca Pública do Estado, entre 1914 a 1923. Designado por Bendito Leite, então Governador do Estado, representou o governo do Maranhão, no Rio de Janeiro por ocasião da Exposição Nacional de 1908, comemorativa do primeiro centenário da abertura dos portos do Brasil. Presidiu a Comissão responsável pela Exposição comemorativa do Tricentenário de Fundação de São Luís, em 1912. Publicou entre outras obras, ―O Maranhão na Exposição Nacional de 1908‖, 1910; ―Álbum do Tricentenário, 1913‖; ―A Biblioteca Publica do Estado do Maranhão em 1914‖. Faleceu em São Luís, no dia 5 de janeiro de 1929. Por fim, é hora de biografar o patrono desta cadeira. César Augusto Marques nasceu na cidade de Caxias, Maranhão, no Largo do Poço, em 12 de novembro de 1826, filho de Augusto José Marques e da caxiense Maria Feliciana Marques. O pai era boticário, oriundo de Caldas da Rainha, Portugal que se estabeleceu em Caxias, em 1814. César Marques teve três irmãos, o Comendador Augusto César Marques, Adelaide Maria Marques e Guilhermina Maria Marques. Tinha ancestralidade na nobreza portuguesa, descendia dos Berredos de Lacerda e do famoso cronista colonial do Maranhão, Bernardo Pereira de Berredo e Castro, autor dos Anais Históricos do Estado do Maranhão. Em 1844, com dezoito anos, César Marques foi para Portugal, fazer Matemática em Coimbra, mas após dois anos, foi obrigado a interromper os estudos e retornar ao Maranhão, pois a Universidade foi fechada em conseqüência das convulsões políticas que ocorriam em Portugal naquele momento. Depois de um período de três anos que estava de volta ao Maranhão, resolve retomar seus estudos, dessa vez na área médica e em 1849 vai para Bahia, cursar medicina na Faculdade de Salvador. Conclui o curso em 1854, obtendo o grau de doutor em medicina com a tese ―Breve memória sobre clima e moléstias mais freqüentes da província do Maranhão‖, daí ser conhecido como Dr. César Marques, devido sua formação médica.


Na Bahia, casa-se com Maria Joaquina Regis, dessa união nasceu uma filha, Eugênia Laura Evangelina Marques. Nessa província deu início a sua carreira profissional entrando para o corpo médico do Exército Imperial, assumindo a patente de alferes, em seguida veio servir no Maranhão, sendo transferido em 1856 para Manaus, onde lecionou matemática no Liceu amazonense. No ano seguinte retorna novamente ao Maranhão, assumindo vários cargos ligados à saúde pública, como Provedor da Saúde do Porto e Secretário da Comissão de Higiene Pública. C om a segunda esposa, Rita de Cássia Marques, teve mais dois filhos, Augusto José Marques e João Batista Augusto Marques. Em 1858, o Dr. César Marques é transferido novamente, dessa vez para a província do Piauí, a partir daí o vai e vem das transferências e o pouco tempo de permanência pelas várias províncias do norte, por força de sua condição de militar, acaba cansando-o, e ele então pede baixa da corporação militar. É nesse momento, quando de sua saída do Exército Imperial, fixando residência em São Luís, com mais tranqüilidade, começa a se dedicar com mais afinco à pesquisa acerca da história do Maranhão, sempre conciliando as obrigações de médico com o ofício de historiador. Como médico, trabalhou no Seminário das Mercês, na Guarda Nacional e na Casa dos Educandos Artífices. Também foi professor de história no Seminário da Companhia dos Aprendizes de Marinheiros, mordomo da Casa dos Expostos e Delegado Literário da Freguesia de N. S. da Vitória. Sua produção literária é vasta, começa quando ainda era acadêmico de medicina, em Salvador, lá, publicou em 1852, duas traduções do francês, ―Provas da existência do outro mundo, fundadas sobre a natureza, história, filosofia e religião‖ e ― Conquistas da Religião Cristã‖, de M.V. Robert. Em São Luís sua produção historiográfica começa a tomar corpo a partir de 1861, quando publica o ―Almanaque Histórico de Lembranças Brasileiras‖, o primeiro de uma série de três, publicando os outros nos anos subseqüentes. Em 1862, lança ―Breve memória sobre a introdução da vacina no Maranhão‖. Dois anos depois, em 1864, já com certa bagagem em termos de pesquisas históricas sobre o Maranhão, César Marques, publica os ―Apontamentos para o Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico da Província do Maranhão‖, uma espécie de ensaio para sua obra mais importante, o Dicionário Históricogeográfico da Província do Maranhão de 1870. A idéia de se publicar um dicionário histórico-geográfico sobre o Maranhão era algo que acompanhava César Marques desde a época da faculdade de Medicina, em Salvador. Segundo ele, fora sugerido por dois amigos, o Arcebispo da Bahia, D. Romualdo Antônio de Seixas, Marquês de Santa Cruz e o Coronel Inácio Acioli de Cerqueira e Silva, que constantemente insistiam em cobrá-lo tal empreendimento. Sobre isso, assinala Marques (1970): Dada a palavra, buscamos logo satisfazê-la, e por isso julgamos prudente estudar, e estudar muito a História Pátria. A publicação do Dicionário Históricogeográfico da província do Maranhão, pela Tipografia do Frias, 1870 e mesmo sua primeira versão, na forma de apontamentos, 1864, representou algo inovador na época, pela abrangência da obra e totalidade como busca tratar a história do Maranhão. Tivera uma recepção elogiosa na imprensa, rendendo a seu autor muito prestigio como historiador, dentro e fora da província, recebendo importantes condecorações, tais como Cavaleiro da Real Ordem Militar


Portuguesa de Nosso Senhor Jesus Cristo, concedida pelo Rei de Portugal e a Imperial Ordem da Rosa, conferida por D. Pedro II. César Marques publicou ainda, ―Aos meus meninos, contos úteis‖, 1872; ―Discurso que por ocasião de colocação da pedra fundamental para a edificação do prédio, onde deve funcionar a escola pública da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição‖, 1873. Traduziu no mesmo ano, 1874, pela primeira vez para o português, os dois livros dos capuchinhos franceses, ―História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças de Claude D`Abbeville,1614 e Viagem ao Norte do Brasil feitas no ano de 1613 a 1614 de Yves D`Evreux, 1615, além de inúmeros artigos publicados em jornais e revistas. Foi membro de diversas sociedades literárias e científicas regionais, nacionais e estrangeiras, sócio correspondente de praticamente todos os Institutos Históricos provinciais de sua época, fundados a partir de 1862 e 1863, como o pernambucano e o baiano respectivamente. Participou da fundação do primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão no século XIX, a exemplo do que ocorria nas demais províncias do país, principalmente as do norte. Nesse sentido, afirma Nicolau Dino, no seu livro ―O Visconde de Vieira da Silva‖ (1974): Em 28 de julho de 1864, Luiz Antônio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. César Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Tolentino Rêgo, Pedro Guimarães e Frei Caetano. (grifo nosso) Segundo Raimundo Nonato Cardoso, na apresentação da segunda edição do Dicionário Históricogeográfico (1970), César Marques já se encontrava no Rio de Janeiro em 1875, ocupando o cargo de Reitor do Internato do imperial Colégio Pedro II, ficando no cargo até 1880, quando foi sucedido por seu comproviciano Antônio Henriques Leal. Na capital do Império, publicou ―A província do Maranhão, breve memória‖, 1876 e ―Dicionário histórico, geográfico e estatístico da província do Espírito Santo‖, 1878, resultado de uma encomenda feita pelo presidente dessa província. Tendo livre acesso ao rico acervo do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, o IHGB, do qual era membro, assim como aos demais arquivos do Império na Corte, tendo consultado talvez os famosos documentos da Câmara de São Luís do período colonial, levados para Corte por Gonçalves Dias em 1851, em missão do governo imperial, César Marques continuo no Rio de Janeiro suas pesquisas sobre o Maranhão e trabalhava numa segunda edição revista e ampliada do seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, cuja publicação estava prevista para 1882 e que acabou não ocorrendo. O Dicionário Históricogeográfico só foi ter sua segunda edição, em 1970, patrocinada pela então SUDEMA (Superintendência do Estado do Maranhão). Em 2009, ganhou uma terceira edição, revista e ampliada pelo escritor Jomar Moraes, expresidente da Academia Maranhense de Letras. Continua a ser ainda hoje, obra valiosa, fundamental e de referência para todos aqueles que estudam e pesquisam qualquer assunto sobre a história do Maranhão. César Marques morreu aos 73 anos, em 5 de outubro de 1900, na casa do filho João Batista, no Rio de Janeiro. Muito Obrigado!


DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DA PROFA. ASSIR ALVES DA SILVA EM SUA POSSE NA CADEIRA 27 PATRONEADA POR RAIMUNDO LOPES DA CUNHA

TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO

ASSIR ALVES DA SILVA nasceu em 12 de setembro de 1950, no Lugarejo Pontes, município de Parnaíba no estado de Piauí, Eram 4 horas da manhã e a Dona Aldorica Bezerra Alves chama seu esposo para apressar a viagem pois era necessário chegar a Parnaíba o quanto antes afim de dar a luz sua filha que já apressava para chegar ao mundo e distancia era, grande, assim as 16 horas a menina nascia sob as pressas do pai seu Chico Amâncio que as parteiras do local e providenciou um local no barracão onde estava sendo armazenado o feijão pois era época da colheita nas vazantes na beira do rio Parnaíba, local esse forrado com uma esteira (piaçaba) de folhas de palmeiras para que sua esposa desse a luz, a parteira foi Dona Maria Firmina e assim nasceu Assir filha de Aldorica Bezerra Alves Maranhense de Araioses e Francisco Porfiro Alves, cearense de Tianguá. Seu Chico Amâncio era comerciante, proprietário de uma barca que transportava mercadorias de Floriano a Parnaíba. Assir fica órfã de Pai aos 8 meses de idade. E depois sua mãe contraiu novas bodas pela 4ª vez, com Olavo Pereira Magalhães, posteriormente por problemas da seca e das enchentes a família se muda para Porto do Marruaz – Piauí, onde teve sua primeira professora Dona Edite. Em novembro de 1964 período da ditadura militar Dona Aldorica se muda para Chapadinha das Mulatas no Maranhão, onde Assir passou a estudar na Escola Paroquial e depois no Ginásio Prof-―Mata Roma‖ onde concluiu seus estudos Ginasiais 1969. Em dezembro de 1969 Assir vem para São Luís e vai morar na casa de amigos na Vila Ivar Saldanha, nesse período arranjou emprego e o primeiro salário ela se matriculou na Escola Técnica de Comércio do Centro Caixeiral, onde se formou em Técnico em Contabilidade. Assir morou a Rua do Caratatiua 556- juntamente com seus quatros irmãos.


Assir prestou vestibular na UFMA em 1973 para Direito e no segundo semestre para Economia sem êxito e 1976 casou-se com José de Ribamar Campelo da Silva, desse enlace nasceram dois filhos Jassyara Alves da Silva e Jayro Alves da Silva, este filho lhe deu dois netos Italo Gabriel Ivo da Silva e Jammilly Gabrielle Ivo da Silva. Em 1992 prestou vestibular na UEMA sendo aprovada cursou História, formando-se em 1997 Assir é neta de Manoel Bezerra do Espirito Santo e Maria de Nazaré Vieira da Cruz, pelo lado materno e neta pelo lado paterno de Porfiro de Sousa Vieira e Francisca Pereira de Sousa. Pelo lado de Manoel Bezerra do seu avô, bisavô- Francisco Bezerra do Espírito Santo e Emiliana Maria da Conceição Santos. Bisavó pelo lado da avó Maria de Nazaré Severo Leal dos Santos e Mariana Vieira dos Santos. Avós Paternos – Porfiro de Sousa Vieira e Francisca Pereira de Sousa Assir tem ainda dois irmãos a Profª Abianci Alves de Melo e Augusto Bezerra Pereira Magalhães e Saudosa memória Profª Ada Bezerra Alves, Francisco Porfiro Alves Filho e Alcebíades Bezerra Pereira dos Santos. Na vida profissional Assir prestou provas de títulos, sendo contratada pela Prefeitura municipal de São Luís, 1985 e posteriormente 1988 passa para o quadro efetivo. Assir foi professor nomeada por duas vezes após ser aprovada em concurso publico pela secretaria de Estado da Educação. Ficou viúva em 2003 após 27 anos de casada e nesse período trabalhava como professora do curso de História da UEMA, Universidade na qual a mesma se formou através do Programa de Capacitação do Docentes- PROCAD. Posteriormente iniciou o curso de Direito no CEUMA, o qual está trancado por motivos familiares em Novembro de 2010 contraiu novas bodas com José Ribamar Araujo. O Currículo Profissional de Assir é longo e rico de cursos, encontros, conferencias, lendo-o encontramos 15 cursos de Média duração 70 de curta duração, além de 02 Pós Graduações lato Sensu, 01 Teoria e Metodologia do Conhecimento Histórico na área de História na qual É licenciada pela UEMA, a outra na área de Educação –Docência do Ensino Superior – pelo IESF – Instituto de Ensino Superior Franciscano, Quando ao exercício profissional já trabalhou em 8 instituições privadas e 4 públicas. Participou como examinadora de bancas da monografia e projetos de pesquisas, além de ter orientado outras tantas na sua área de especialidade, produziu duas monografias de conclusão e curso de graduação e pós-graduação, além de ter participado da elaboração de projetos pedagógicos e algumas instituições de ensino nesta cidade e no interior do estado. Teve também participação em projetos sociais e voluntariados e pronunciou algumas conferencias em unidades de ensino da capital. Assim como vemos Assir Alves da Silva tem um vasto currículo que a habilita a fazer parte deste sodalício para continuar produzindo e contribuindo para a cultura maranhense, além de tudo que já anunciei, a ex aluna e colega de trabalho é uma pessoa muito amiga, companheira, boa mãe,excelente professora, evangélica e temente a Deus, sendo por isso uma vencedora em sua trajetória de vida. Nesta noite memorável como tantas outras entronizo e parabenizo a nova confreira do IHGM ocupante da Cadeira de nº 27 patroneada por Raimundo Lopes da Cunha, figura histórica deste recinto que posteriormente será homenageado pela sua ocupante, é com prazer eu te digo. Seja bem vida Assir Alves da Silva


DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 27 PATRONEADO POR RAIMUNDO LOPES DA CUNHA

ASSIR ALVES DA SILVA Exmª . Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo Exmº Senhor Vice Presidente Leopoldo Vaz Senhores Confrades Senhoras Confreiras A plêiade dos Pastores presentes Estimados Professores e Professoras Queridos Ex. Alunos da UEMA Familiares- esposo, filhos, netos, irmã, sobrinhos e sobrinhas e demais presente A princípio peço vênia a esta seleta mesa para um especial agradecimento ao Senhor nosso Deus, pelas possibilidades em oportunizar esse momento sublime, toda honra e glória sejam dadas, ao nosso Pai Celestial, pela sua soberania, que excede todas as coisas, pois é a razão de nossa existência. Ingressar no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ainda que tardio, mas propício, pois me sinto lisonjeada em tornar-me sócia efetiva, desta magnífica instituição, momento em que acreditava não haver mais nada a fazer, pois, a sensação do dever cumprido ressoava mais alto, decorrido anos a fio contribuindo com o saber no Maranhão, ajudando a construir a cidadania e conhecimento, pois tive oportunidades ímpares de atuar em todos os níveis da educação em minha trajetória profissional, atuando da Educação Infantil,Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior, desenvolvendo capacidades, habilidades e competências nos educando tendo clareza que só através do conhecimento há possibilidades de ultrapassar as barreiras do indiferentismo. Ressurge uma nova oportunidade de mostrar que ainda há muito que fazer.


Portanto é com aquiescência brotando no meu ser, invadindo minha alma e o saltitar das emoções no meu coração, com a humildade que tem sido peculiar ao longo da minha vida espero poder continuar com minha pequena parcela de contribuição para o fortalecimento da História do Maranhão e meu País. HUME, afirma que “O caminho mais doce, e inofensivo da vida passa pelas avenidas da ciência e do saber, e quem quer que possa remover quaisquer obstáculos desta via ou abrir uma nova perspectiva, deve ser considerado um benfeitor da humanidade” HUME, tinha razões sobejas quando se expressava dessa maneira, pois, aceitar desafios e vencer os obstáculos são atitudes que conduzem o ser humano a construção do pleno conhecimento e realização pessoal, por mais que as pesquisas possam sobrecarregar ou parecer insuportável, e por vezes fatigantes, a busca incessante do conhecimento é compensador, e no final colhe-se resultados valorosos, o que para muitas pessoas parece um fardo doloroso, para o intelectual é prazeroso. Somos o que somos: fruto de nossas ações e atitudes (grifo nosso) Aos 14 anos vim para o Maranhão, e aos 19 anos cheguei à São Luís, que abraçou-me como filha nativa dessa terra abençoada por Deus, que aprendi amá-la com a mesma intensidade como se fosse minha, pela sua hospitalidade alvissareira e acolhedora, que ao longo desses anos de convivência, cumplicidade e amistosidade e que presenciou o meu desenvolvimento sócio cultural, intelectual e econômico financeiro etc... TORO, 2002, faz ênfase que se torna imperativo a ―formação de cidadão para o mundo, formar alunos com consciência democrática e internacional é a única maneira de garantir a construção de um mundo de justiça e paz‖ Na sua concepção quando essa criança tornar-se ―jovem seu mundo não será mais o bairro ou a cidade será o mundo‖ Nessa perspectiva não posso eximir-me de expressar a minha satisfação, quando soube que por indicação da Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, sócia efetiva e Presidente do IHGM, em Assembléia Geral, que o meu nome havia sido aprovado, ao mesmo tempo o comunicado que iria ocupar a cadeira 27 dessa Instituição Patroneada por Dr. Raimundo Lopes da Cunha, tendo sido fundada pelo mesmo e que seus últimos ocupantes foram: Tasso de Morais Rego Serra e Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta. Em tempo hábil eu Assír Alves da Silva, quero deixar registrado nos anais desse Instituto, que é gratificante e de enorme relevância, por se tratar de uma celebridade do meio sócio cultural e científico, personagem extraordinária do cenário:maranhense, brasileiro e mundial, que soube ousar, empreender, fazendo a diferença no meio científico, num breve espaço de tempo de convivência que Deus permitiu-lhe de sua vida, nesse torrão brasileiro. Outra atenuante é que 1997 tive meu primeiro contato com Dr. Raimundo Lopes da Cunha e sua obra, quando das minhas pesquisas monográficas, desde aquela época não pude conter meu fascínio, pois o mesmo conduz o leitor a situar-se no contexto das espacialidades e territorialidades ambientais naturais e culturais, por ele abordadas, temas esses que ao longo da vida fizeram parte das minhas inquietudes no meu cotidiano, considerando as minhas origens interioranas, portanto sinto-me como tenha recebido um prêmio. Dr. Raimundo Lopes da Cunha, membro desse Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, fundando a cadeira 27, membro da Academia de Letras, fundou a cadeira, 21,e membro da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, membro do Conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,enquanto etnólogo e naturalista


desenvolveu um bom trabalho científico ao lado de Roquete Pinto, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, segundo consta a sua participação como um dos fundadores da Folha Estudantil, escrevendo no Diário da Manhã e na Pacotilha. É o que PERRENOUD, 2004, afirma “Quanto mais qualificado for o meu profissional, maior deverá ser a capacidade de enfrentar o impossível. Isso se aprende” Senhores e Senhoras Dr. Raimundo Lopes da Cunha, nascido na baixada maranhense, na cidade de Viana, a 28 de setembro de 1894, falecido no Rio de Janeiro em 08 de setembro de 1941, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista, Antropólogo, Sociólogo, Geógrafo, Etnólogo, Historiador, Crítico, Pesquisador do Museu Nacional, Professor das disciplinas Geografia e História do Brasil, no Liceu Maranhense, Polígrafo de vasto conhecimento científico, descendia de uma família ilustre do Maranhão, era filho de Dr. Manoel Lopes da Cunha, e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha, seu pai bacharel pela Faculdade de Olinda foi o segundo governador do Maranhão, no século XX, sucessor do Dr. João Gualberto Torreão da Costa, que governou de 1898-1922. Dr. Raimundo Lopes da Cunha, descendente em linha direta pelo lado paterno, era tetraneto do Capitão-Mor José Feliciano Botelho de Mendonça, bisneto de Manuel Lopes Magalhães, Médico e Neto de José Mariano da Cunha, cavaleiro da Ordem da Rosa e Quitéria Magalhães da Cunha. Pelo lado materno seus avós eram Horácio Franklin de Sousa e Juliana Adelaide da Luz e Sousa, educadores de prestígio e influência relevante no ensino tornando-se referencial para sucessiva gerações que tiveram a oportunidade de freqüentar suas escolas, naquela região da baixada em Viana, onde a família ali era representada pelos Sousa. Dr. Raimundo Lopes era sobrinho de Celso Tertuliano da Cunha Magalhães, por sua vez jornalista, poeta, e romancista, de renome que inovou colocando-se contra o romantismo e posicionando-se favorável aos ideais republicanos, o seu talento contribuiu com marcas visíveis e profundas refletindo na intelectualidade de Dr. Raimundo Lopes da Cunha e seu irmão Antônio Lopes, o fundador do IHGM que estiveram a serviço da cultura do Maranhão. Certa feita na cidade de Recife, Celso Magalhães, em 1869 questionara “E pode um homem ser escravo? Dessa maneira Celso fugira do sentido de uma escravidão a qual aprisionara seus sobrinhos, pois os mesmos tornaram-se escravos do estudo, à pesquisa, do saber, até à morte. Dr.Lopes, saiu da Cidade de Viana aos 6 anos de idade, seus pais o matricularam na Escola Modelo Benedito Leite, em São Luís. Ele estivera no Rio de Janeiro passando apenas dois anos, o tempo suficiente para ser preparado pela mineira a Profª. D. Eunice Tostes de Alvarenga, para ingressar no Liceu Maranhense, que na idade mais tenra segundo sua irmã D. Dolores Lopes da Cunha Borgneth, já eram visíveis as tendências do menino vianense, para o conhecimento científico. Isso nos conduz a uma reflexão sobre a mera coincidência ou similaridade em termos da cientificidade e intelectualidade esmerada existente entre Lopes da Cunha e Blaise Pascal, que em idade precoce enviara uma ―demonstração matemática para apreciação de René Descartes, o famoso pensador ficou convencido de que o trabalho havia sido feito pelo pai dele. Havia um refinamento que não poderia - pelo menos aos olhos de Descartes- ter partido de um rapaz de 16 anos‖. Esse jovem cientista que aos 19 anos tornou-se o precursor dos primeiros computadores, no seculo XVII, e através de seus experimentos consegue comprovar que o vazio na natureza era uma possibilidade bem concreta, teve sua participação fundamental no desenvolvimento da teoria das probabilidades etc...


Dr. Raimundo Lopes da Cunha, retornando em 1915, ao Rio de Janeiro, aos 21 anos, levou consigo os manuscritos de seu primeiro Livro 'O Torrão Maranhense, considerado um ensaio de Geografia Humana, que havia escrito aos 17 anos, ainda no esplendor de sua adolescência, em que desabrochava para a vida, e para a plenitude de seus conhecimentos científicos, publicado em 1916, aos 22 anos de idade. Dr. Raimundo Lopes da Cunha, no Rio de Janeiro após cursar o primeiro ano na Escola Politécnica, e na impossibilidade de concluir o curso de Direito tendo cursado apenas até o 4º ano, entretanto conseguiu concluir o bacharelado em Letras, assim sendo resolveu dedicar-se às pesquisas atuando em áreas diversificadas; à Etnografia, Etnologia, Arqueologia, à História, e Sociologia Dr. Raimundo Lopes, contraiu matrimônio com a Sra. Graziella Rabelo da Costa, no dia 27 de junho de 1930, aos 36 anos, passando chamar-se Graziella Costa Lopes da Cunha a, que segundo D. Heloísa Alberto Tôrres, do Museu Nacional, a sra, Graziella, o teria completado e disciplinado; desse enlace matrimonial nasceram: as filhas Yara Graziella e Maria Cecília, ambas com formação artística pela Escola Nacional de Música, talentos e não lhes faltaram quanto ao pai. Cecília casada com o engenheiro químico Eduardo Burlamaqui Simões Bonna, interrompeu o curso de Engenharia devido os sete filhos, mas posteriormente retoma. A sra. D. Graziella Costa Lopes da Cunha, certa ocasião comentara que seu esposo era um homem nobre, pois o desprendimento do mesmo era notável, posto que se não fora a questão da sobrevivência, seria capaz de trabalhar sem visar qualquer remuneração. Ele não ambicionava nada a não ser no âmbito do conhecimento, enquanto estudioso, apenas o que satisfizesse o seu ego. Dr. Raimundo Lopes, pertencia a família da Sra. D. Tereza Luiza de Mendonça e Melo, genitora do Marquês de Pombal, teve cinco filhos: Sebastião o marques, Paulo, o cardeal, Maria Luísa e Maria Madalena, Feira e Francisco Xavier, o mais moço. A ilustre senhora na certeza de não ter deixado descendentes diretos no Maranhão, mas deixou muitos parentes, tanto seus como do seu marido, Manoel Carvalho de Ataíde, falecido em 1720. Desses o mais notável foi Joaquim de Melo e Póvoas, o mais dinâmico, de todos os governadores que o Maranhão teve no século XVIII. Como afirmação dessa afinidade, sobretudo da sua importância na família, existente na carta publicada por Dr. César Marques, o mais belo, mais sábio documento que se tem visto como expressão dos sentimentos do marquês de Pombal. A genealogia escrita por Manoel de Carvalho de Ataíde, pai de Pombal, muito antes de ser notável em decorrência ao prestígio do filho, preocupara com as origens das famílias portuguesas, escrevendo bastante possibilitou melhor conhecimento sobre as origens dos Mendonças, dos Ataídes, dos Melos e dos Furtados, da família do marquês no Brasil e particularmente no Maranhão, de onde surgiram os Botelhos de Mendonça de cujo ramo se destacou o Capitão-mor José Feliciano Botelho de Mendonça, tetravô de Raimundo Lopes . Existe razão cabíveis, que o capitão era parente próximo ou provavelmente filho de D. Luísa Benedita de Mendonça, de quem consta uma documentação com informações de grande relevância na Biblioteca Nacional, comprobatória, que a mesma era viúva de Antônio Pinheiro da Silveira Botelho desde fins de 1799. Existem fortes indícios de que o jornalista e escritor português Matias Pinheiro da Silveira Botelho de Mendonça, falecido em Lisboa entre 1844 e 1862, aos 70 anos, seria parente próximo do Capitão-Mor José Feliciano Botelho de Mendonça, possivelmente irmão. Os últimos descendentes da família foram aparecendo nas bibliografias,


posteriormente a fundação da Fazenda Palmela, no antigo engenho São Bonifácio do Maracu, que havia sido dos jesuítas. Essas pessoas eram de grande expressividade representando a família Mendonça naquela Localidade após a permanência do Governador e Capitão General, a partir dia 6 de junho de 1751, a presença desse cidadão em Viana favoreceu para que o mesmo fosse nomeado Diretor da Vila Viana, pela portaria assinada por D. Diogo de Sousa, em 17 de janeiro de 1799, final do século XVIII, na Vila Viana, José Feliciano Botelho de Mendonça, considerado como o Adão do Pindaré, Dr. Raimundo Lopes da Cunha, no limiar do Século XX, ressurge de uma geografia resvalada no bucolismo e descritiva, para uma Geografia reflexiva dando arrancada a Geografia nova, enquanto naturalista e paisagista nato soube dar os encaminhamentos necessários para a ampliação e o rompimento das fronteiras de uma geografia local, regional, nacional e mundial. Dr. Raimundo Lopes, foi precursor com estilo e bom gosto que lhe era peculiar, a sua contribuição à Geografia inovadora, foi de essencial relevância no contexto das mudanças sociais, culturais, transculturais e científicas de nosso país, para as gerações posteriores. Ressalta-se o grande legado Cultural deixado por Lopes, com a publicação ―O Torrão Maranhense‖ e sua ampliação denominada de ―Uma Região Tropical‖, provavelmente influenciado por Euclides da Cunha, move seu olhar para regionalização da geografia do seu estado com sensibilidade enfatiza as características naturais e históricas e a sua complexidade, na realidade percebe-se que houve o fortalecimento das idéias, ele conclama a comunidade científica para o despertar da cientificidade na Geografia, pois não poderia continuar no ostracismo contentando-se com meras repetições de fatos científicos, mas uma Geografia que contemplasse o estudo da etnogeografia, geo- arqueologia baseando-se na reflexão das investigações, inclusiva sobre as populações indígenas históricas fazendo a inter-relação com as jazidas arqueológicas e a paleontologia humana, uma Geografia, questionadora levando em consideração a contextualização histórica e geográfica repensando os interesses do ser humano, isso demonstra o espírito evolucionista desse cientista. Não restam dúvidas que Dr. Lopes da Cunha, ousou aceitando os desafios mais inusitados: retratando os ecossistemas, os estuários, os biomas, os sambaquis, a preciosidades raras existentes no entorno dos mesmos arqueologicamente falando de valor cultural imensurável, pois são indícios de vidas que por aqui passaram e conviveram em comunidades, os monumentos culturais, demonstra uma verdadeira preocupação com a preservação do meio ambiente e em torná-los conhecidos, as ―estearias‖ lacustres, os monumentos naturais etc... Quanto ao seu livro Antropogeografia, originário das inúmeras Palestras proferidas na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro atualmente Rádio Difusão do Ministério da Educação e Cultura, Dr. Raimundo Lopes da Cunha, preocupado com seu estado de saúde, que agravara constantemente em decorrência da grave doença que o abatia gradativamente, pois já havia interrompido suas atividades e na eminência de ser surpreendido a qualquer momento, inquietado com futuro e segurança da família prosseguiu em caráter de urgência com a organização de seus manuscritos, suas anotações e selecionando suas palestras, realizadas na referida Rádio. Essas rádio aulas eram de grande relevância científica, devido a preciosidade rara do valor cultural, e a sua pretensão era reunir em um livro para fixação integral, a sua meta intelectual, mesmo não sendo possível, pois suas limitações agravam-se entretanto prosseguia com


as anotações e reformulações necessárias até próxima entrar em coma, sugerindo pontos que seriam de fundamental importância para apresentação da matéria. Sendo assessorado por Graziela sua esposa, secretária com esmerada dedicação, inteligencia, e atribuições específicas e fazendo os acréscimos necessário, juntamente com sua amiga Heloísa Torres, do Museu Nacional, conseguiu concluir o livro um dia anterior a sua morte. Lopes autorizou seu irmão Antônio Lopes da Cunha, a revisão geral dos manuscritos que efetivou de 1941 a 1956, quando da publicação (Oficial gráfica da Universidade do Rio de Janeiro. O livro Antropogeografia, traça um perfil das pesquisas fisiográficas e arqueológicas, as estearias lacustre e laterias e os sambaquis permitiram perceber uma seriação paleogeográfica e a classificação dos fenômenos antropogeográficos e suas bases Naturais, as origens humanas e o povoamento da terra, as estearias lacustre do Cajuru e do Pericumã ( Encantado), e a maior parte do rio Turi, – a estearia do Lago do Souza - os artefatos de pedras, a cerâmica do cemitério do Cutim do Padre, era análoga à cerâmica Tupi, os sambaquis da Maiobínha apresentava uma espécie de ralador de pedra lascada quartzito, achado na Maiobinha, uma cabeça de animal, observou que as cerâmicas dos sambaquis maranhenses, do Pindaí, Maiobinha, eram de uma técnica rudimentar que diferenciava da maioria das estearias ou das Tupis históricas, enterratório com suas respectivas urnas. Ao retornar ao Maranhão Dr. Raimundo Lopes, escreveu outras obras importantes Os Fortes Coloniais de São Luís, O Ciclo da Independência, A Origem da Cidade Antiga e As Regiões Brasileiras. Em 1931 ainda no Rio de Janeiro, escreveu sucessivos ensaios, Entre a Amazônia e o Sertão, A Civilização Lacustre do Brasil, em decorrência as suas investigações no Lago Cajari, O Homem em Face da Natureza, Ensaio Etnológico sobre o Povo Brasileiro, Curso de Filosofia e Letras, Ouro Preto e Conjuração Minheira, Os Tupis do Gurupi, Os Índios e a Paz do Chaco, Gonçalves Dias e a Raça Americana, A Natureza e os Monumentos Culturais, Pesquisa Etnográfica sobre a Pesca Brasileira no Maranhão, Brasilidade e Primitividade, A Pesca no Note do Brasil, As Barras do Parnaíba, Culturais dos Andes, O Guêsa de Sousândrade, Mapa Fitogeográfico, Mapa Etnológico do Brasil, O Cemitério do Tamarindeiro, o romance Peito de Moça, e Antropogeografia seu último livro, editado em 1956 e reeditado em edição FAC-SMILAR, comemorativa do Centenário de Fundação da Academia Maranhense de Letras, era um desejo da Sra. Graziela Costa da Cunha Lopes, esse livro fosse divulgado e utilizado nas Universidades, Ensino Médio e outras instâncias necessárias. Torna-se necessário traçar comentários sobre os últimos ocupantes cadeira 27 patroneada por Dr. Raimundo Lopes da Cunha, a começar pelo Major Tasso de Morais Rego Serra, nasceu na cidade de São Luís, a 22 de abril de 1900, falecido em 28 de abril de 1998, filho de Bento Morais Rego Serra e Graziela Morais Rego Serra, tendo iniciado sua formação militar em Barbacena em Minas Gerais, A partir de 1940, sendo major do Exército Brasileiro, serviu no Maranhão, assumindo o comando do 24º Batalhão dos Caçadores, a posteriori teve oportunidades de servir nos estados do Amazonas e Para, em sua trajetória da carreira militar alcançou a última Patente a de General. No Rio de Janeiro, o capitão do Exército Brasileiro exerceu a função de secretário da Comissão Diretora da Biblioteca Militar da Guerra, motivos de comentários traçados por José Mesquita, em1941. Em relação a segunda ocupante dessa cadeira, ressalta-se que Raimunda Nonata


Fortes Carvalho Neta, professora de Artes, bióloga, pesquisadora, Professora atuando na UFMA, UEMA e UNICEUMA . Aos 14 anos ainda cursando o Ensino Médio, na escola Frei Cezar Gavazzi em Açailândia- Ma. Teve uma tomada de decisão sobre sua vida acadêmica ao concluir o ensino médio. O que acontecera posteriormente em 1995 ingressou em dois cursos de graduação Licenciatura plena em Educação Artística: Artes Plásticas, UFMA, e Licenciatura em Ciências: Biologia na UEMA. Pós graduada em 2001, concluiu a Especialização em Avaliação Educacional n a UFMA, 2004- defendeu sua tese de mestrado na UFMA, intitulada, Fauna dos peixes estuarino da Ilha dos Caranguejos: aspectos ecológicos e relação com a pesca artesanal, doutorado na área de Biotecnologia Algumas publicações- Leitura Visual: uma experiência interdisciplinar no estudo das Artes Plásticas, 2001, A Obra escultória de Newton Sá 2001, Os ―descobertos' e os descobridores do Brasil: da visão pictórica européia do século XVI ao registro escultórico maranhense do século XX 2001, a arte maranhense: produção e ensino 2005, e organização em parceria a professora Zafira Almeida, do Livro Elasmobrânquios da Costa Maranhense, 2006.Exposição Sentimentos e Símbolos 1997, Contingente: uma intencionalidade em cada traço 1998, Tensão e Contradição 1998, Signos e Significados 1999, Da Linha ao Pixel 2000, Perspectiva interna 2002, Simbologias I 2005, e Simbologia II, 2006. UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA SE FAZ, quando fui prestar o vestibular, a minha opção era Geografia, ao ser classificada no ato da matrícula a coordenação do setor comunicou-me que apesar de ter sido aprovada para Geografia, iria cursar História pois as pessoas aprovadas para o curso de minha opção, eram insuficiente para formar uma turma de 30 alunos, senti um grande impacto pois a Geografia, sempre me fascinou pelo fato de sua relação com a natureza, meio ambientes, fauna e flora. Não podendo conter a insatisfação diante do impasse, mas a coordenadora retrucou alegando que inicialmente me reencontraria, identificando-me com a História, no que foi providencial ou fenomenal, pois como sempre tive oportunidades e possibilidades, abracei a causa, pois parecia justa. Mas! Acredita-se que isso foi possível em decorrências de ter encontrado bons professores, principalmente uma pessoa mais que especial a digníssima Profª e Dra. Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo, que naquela época deixou profundas marcas positiva, pois a mesma, não somente fez sua aluna gostar da História, mas desenvolveu capacidades , habilidades e competências, que a partir de então interagia com maior eficácia na sua prática pedagógica fazendo a diferença. Naquele momento inicial do curso foi de grande significância e valia; nas disciplinas Introdução à História, História Antiga e História Econômica, possibilitando ampliar minha visão de mundo, outro momento interessante foi na pós- graduação agindo e interagindo tornando-se um verdadeiro exemplo para os pós- graduandos, que estavam sob sua coordenação, portanto passem anos jamais esquecerei sinto-me orgulhosa por esse relacionamento de amistosidade, o meu muito obrigada ! Minha estimada e querida Professora!! Á minha querida filha a Profª. Jassyara Alves da Silva, amiga, companheira de lutas, nas horas certas e incertas, em toda minha trajetória acadêmica e profissional, apoiando-me de forma extraordinária com desvelo e afetividade irrestrita, por vezes possessiva até demais, com sua maneira de ser e amar; a quem dedico esse momento impar de minha vida. Ao meu filho Jayro Alves da Silva, pelo carinho e dedicação e pelos netos que me proporcionou tê – los juntamente com Laura de Oliveira Ivo, netos: Ítalo Gabriel Ivo da Silva, carinhoso, amoroso, preocupa-se comigo. A minha neta Jammyly Gabrielle Ivo da


Silva, pela ternura, amor e gratidão, costuma-se dizer que ela é pequena, mas! É uma grande mulher pelas suas ações e atitudes, as vezes me surpreende, com idéias e posicionamentos. Ao meu esposo José Ribamar Araujo, pela solidariedade e companheirismo À minha irmã Profª. Abianci Alves de Melo, a missionária, pelo carinho dedicação e zelo em preocupar-se com o meu crescimento espiritual. Às sobrinhas e sobrinhos, pelo carinho, afetividade e dedicação em especial Ednilson pelo sorriso lisonjeiro esboçado quando nos encontramos. Em tempo senhores e senhoras gostaria de registrar que para vir morar em São Luís, contei com a solidariedade de quatro pessoas que foram de fundamental importância para me estabelecer em São Luís : a amiga Maria de Jesus Dutra e seu irmão Sebastião Dutra, que a pouco tempo, os conheci na cidade de Urbano Santos-Ma, que ora moravam em São Luís, sabendo da minha intenção de morar nesta cidade, Maria de Jesus intermediou junto à sua patroa, residente e domiciliada no bairro Ivar Saldanha, à rua Emiliano Macieira, para que eu ficasse em sua residência, e no 23 de dezembro de 1969, cheguei em São Luís, que abriu não somente suas portas mas, seus portais. AGRADECIMENTOS IN MEMORIUM Á minha avó Maria de Nazaré Souza Araujo, por ter incutido desde a idade mais tenra, elementos da cultura popular em minha vida, apesar de não ter uma educação formal era detentora de um grande legado cultural. À minha mãe Aldorica Bezerra Alves, como grande empreendedora pela credibilidade investindo no futuro dos cinco filhos através, do conhecimento sistematizado com otimismo e determinação, conseguindo formar as três filhas professoras a nível superior, duas com pós-graduação. Acredita-se que se a mesma estivesse viva sentir-se-ia orgulhosa desse momento em minha vida que é o ingresso neste Instituto. Ao meu padastro o senhor Olavo Pereira Magalhães, a esse cearense que empenhou-se com total desvelo investindo na educação de cinco filhos, contribuindo assim com a nossa formação e construção da cidadania. À minha irmã a Profª. Ada Bezerra Alves, pelos incentivos levando-me em sua companhia à UFMA, para participar de inúmeros seminários, congressos, simpósios, e semanas de artes e de educação artística, oficinas, laboratórios de músicas, visando a construção do conhecimento e crescimento intelectual e sócio cultural, primando também pelo meu ingresso e permanência no Curso de História da UEMAUniversidade Estadual do Maranhão. À José Ribamar Campelo da Silva, pai dos meus filhos, por tornar-me a mulher que sou, pelo apoio dedicação, amor, carinho, demonstrado ao longo de vinte e sete anos de convivência e cumplicidade, oportunizando o meu conhecimento e crescimento intelectual e sócio cultural. Ao casal Maria Madalena Maia de Sousa e seu esposo Francisco Henrique de Sousa, saudosa memória; por abrirem as portas de sua casa, a esse e essa senhora a minha eterna gratidão pelo acolhimento, pois tratavam-me como filha. Tenho dito!


XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL

SAUDAÇÃO DO GRÃO MESTRE OSVALDO PEREIRA ROCHA AOS PARTICIPANTES DO XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA AUTORIDADES NÃO MAÇÔNICAS PRESENTES OU REPRESENTADAS; SOBERANOS GRÃO-MESTRES, PRESIDENTES DE ENTIDADES MAÇÔNICAS, ACADÊMICOS, HISTORIADORES, ESCRITORES, JORNALISTAS, VENERÁVEIS MESTRES E DEMAIS IRMÃOS MAÇONS QUE NOS HONRAM COM SUAS PRESENÇAS; QUERIDAS CUNHADAS, SENHORAS E SENHORES CONVIDADOS ESPECIAIS, Boa noite. Graças ao Grande Arquiteto do Universo, estamos reunidos nesta noite de 13 de abril de 2012 para participar desta solenidade de abertura do XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURAL MAÇÔNICA. A todos e a todas sou grato pelo comparecimento e para os visitantes de outros Estados da Federação Brasileira e do Distrito Federal, lhes dou as boas vindas, em nome da Maçonaria Unida do Maranhão. Durante o dia de amanhã, estaremos, todos nós, maçons, participando dos trabalhos do aludido Encontro Nacional, que a programação prevê atividades a partir das 08:00 horas, abordando, os Palestrantes, o tema central A Educação Pública no Brasil e seus desdobramentos. Livros sobre temas maçônicos serão lançados a preços módicos pelos respectivos escritores. Trabalhos escritos sobre Responsabilidade com a Educação serão apresentados e defendidos pelos respectivos autores e os selecionados poderão compor livro a ser editado brevemente pela Editora A TROLHA Ltda. Dirijo-me neste momento especialmente aos visitantes, para lhes dar boas vindas e lhes falar um pouco sobre nossa querida São Luís do Maranhão. Meus Irmãos e minhas Cunhadas, Sejam bem vindos a esta nossa São Luís, Cidade Cultural, Patrimônio da Humanidade, capital do nosso querido Estado do Maranhão, neste ano do seu 4º centenário! Nossa capital foi fundada em 08 de setembro de 1612. Localiza-se na ilha homônima (Upaon-açu, na antiga denominação dada pelos índios tupinambás e traduzida como ―Ilha Grande‖), no Atlântico Sul, entre as Baías de São Marcos e São José de Ribamar.


É a principal cidade da Região Metropolitana Grande São Luís. Única cidade brasileira fundada pelos Franceses, e é uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas (as outras são Florianópolis – SC e Vitória – ES). Sua história No local da cidade habitavam nativos de uma aldeia Tupinambá até a chegada de franceses, em 1612, comandados por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que construíram um forte e o nomearam São Luís, em homenagem a Luís XIII. Os franceses se aliaram aos tupinambás na resistência aos portugueses e, 03 anos depois, em novembro de 1615, foram expulsos, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, que se tornou o primeiro capitão-mor do Maranhão. A curta estada francesa, por não terem construído a cidade (construíram um forte) traz discussões sobre a fundação de São Luís, se foi feita pelos portugueses ou pelos franceses. São Luís também esteve sob o controle holandês no período de 1641 a 1644. Somente depois desses ataques ou ocupações, o governo colonial decidiu fundar o estado do Grão-Pará e Maranhão, independente do resto do País. Nessa época, a economia era baseada na plantação, e depois exportação de cana-de-açúcar, cacau e tabaco. Houve um tempo, na geografia do Brasil, em que o Maranhão não era Nordeste, e quanto o foi, integrava o chamado Nordeste Ocidental. Meio-Norte, o Estado do Maranhão, em verdade, nem é nordeste, sendo um pouco integrante dessas duas regiões. A rigor, o Maranhão é Maranhão, com especificidades que o fazem único em todo o mapa do nosso País. Aqui está a maior variedade de ecossistemas do Brasil, isto é, o mar e o sertão; a floresta tropical; os manguezais; o cerrado, lagos e dunas; rios e igarapés. Com as pessoas, tivemos uma miscigenação generosa e sem hesitações, um sincretismo de fazer inveja ao mais tolerante de todos os humanistas. São Luís é uma ―ilha rebelde‖ por muitas razões. As suas igrejas ecoam o verbo candente do Padre Antonio Vieira, pregando para os peixes a verdade que os homens se negavam a ouvir. As suas praças testemunham o sacrifício de Manoel Beckman – o Bequimão – o verdadeiro proto-mártir de nossa Independência – eternizando seu grito ‗pelo Maranhão morro feliz!‘. À noite, ninguém se espante! Passa a carruagem de Ana Jansen, a Rainha do Maranhão, rainha que não foi Baronesa; carruagens puxadas por cavalos sem cabeça, tendo às rédeas um negro também decapitado. Ana Jansen, a mulher que, em pleno século XIX, teve coragem para enfrentar o patriarcalismo dominante na sociedade maranhense. A riqueza do nosso povo está, sobretudo, em sua imaginação, se é verdade o que todos dizem, ou seja, ―nos labirintos da vida, só a imaginação é que nos abre o caminho da saída‖. Uma serpente encantada habita os subterrâneos desta Cidade Cultural, Patrimônio da Humanidade, beirando seus 400 Anos de História. Sua cauda está na Igreja de São Pantaleão, a barriga na Igreja do Carmo e a cabeça na fonte do Ribeirão. No dia em que a serpente morder a própria cauda, esta cidade desaparecerá no oceano, diz a lenda.


Por aqui se repete a lenda messiânica do Rei Dom Sebastião, ―o encoberto‖, que aparece na Praia dos Lençóis sob a forma de um touro negro, com uma estrela na testa, e ressuscita, a cada ano, na coreografia dos nossos brincantes do bumba-meu-boi, a festa incomparável do nosso povo. Nesta cidade de enraizadas tradições católicas, Nossa Senhora foi uma Santa Guerreira, que transformou areia em pólvora, para ajudar os portugueses a expulsar o invasor holandês. Em meio ao catolicismo maranhense, há lugar para os cultos que os nossos irmãos africanos trouxeram de sua Mãe-Pátria e por causa da cultura africana temos o tambor de mina, o tambor de crioula, o terecô, o cacuriá, a dança do lelê, os inumeráveis terreiros de encantados. E por causa dos negros africanos e lusitanos, temos culinária, doçaria e bebidas, que são, também, dos visitantes. Esta é a cidade dos poetas e são muitos os poetas da cidade! Muitas foram as figuras de ilustres maranhenses que aqui viveram e aqui deixaram luminoso rastro na vida intelectual, a exemplo de Odorico Mendes, o patriarca das letras clássicas; João Francisco Lisboa, a expressão que transformou o jornalismo e a história em gêneros da literatura; Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade); Antonio Henrique Leal; Nina Rodrigues; Arthur Azevedo, no Teatro e Aluísio de Azevedo, no romance. E como ícone e epítome de tudo, o que mais auto-engrandeceu o Maranhão no plano das realizações imateriais, Antonio Gonçalves Dias, poeta, pesquisador, antropólogo, dicionarista, botânico, pesquisador da história. Proclamar a grandeza desses nomes é uma dessas tarefas mínimas que cumprimos como preito de gratidão. Maçonaria Tem sido luminoso o caminho da nossa Sublime Ordem neste rincão maranhense, com a Maçonaria Unida do Maranhão (Tratado de União, Reconhecimento e Amizade, firmado em 20/08/1999, pelos então Grão-Mestres Francisco José Ramos da Silva, Heli Lopes de Morais e Plínio Ferreira Marques, da Grande Loja Maçônica do Estado do Maranhão – GLEMA, Grande Oriente do Brasil no Maranhão – GOB-MA e Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM, respectivamente), sendo seus atuais GrãoMestres os Irmãos Bolivá Marques Vieira, José de Jesus Billio Mendes e Osvaldo Pereira Rocha, respectivamente, Maçonaria que proclama a prevalência do espírito sobre a matéria e pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade. Aqui ela não é diferente. Seus fins supremos são a LIBERDADE, a IGUALDADE e a FRATERNIDADE. Liberdade de praticar tudo aquilo que não é proibido por lei; igualdade em direitos e deveres, respeitando-se os irmãos pelos cargos que exercem e fraternidade com amor ao próximo, unindo-se como irmãos, sem dar esmolas. E as principais de nossas missões são praticar a virtude e combater o vício. Pela Maçonaria Unida Maranhense foram fundadas e estão em pleno funcionamento as entidades culturais Academia Maçônica Maranhense de Letras – AMML e o Instituto Histórico da Maçonaria Maranhense - IHMM. São seus presidentes


atuais o Eminente Irmão Raimundo Ferreira Marques e o Respeitável Irmão Wellington Santana da Silva, do GOAM e da GLEMA, respectivamente. Sejam bem vindos a São Luís do Maranhão meus Irmãos e minhas Cunhadas! E que este XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA obtenha o êxito esperado, segundo a vontade do Grande Arquiteto do Universo! Grato a todos e a todas pela paciência de me ouvirem. Boa noite!


XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL – alguns apontamentos para sua História

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Gostaria de agradecer ao Confrade Osvaldo Pereira Rocha o convite para estar junto aos Senhores neste dia. Tenho me dedicado ao resgate da memória dos Esportes, Educação Física e Lazer no/do Maranhão; e dentro dessa área de pesquisa, a Educação surge naturalmente; tenho escrito algumas coisas sobre a educação maranhense e, em especial, devido à minha atuação profissional nos últimos 34 anos como professor de educação física do hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IF-MA.


Participando de evento promovido pela Maçonaria, com a temática ―Educação Pública no Brasil‖, procurarei desenvolver o tema fazendo cotejamento da importância da Maçonaria para a Educação brasileira. Seguiremos Silva e Soares (s.d.), então, quando estes pesquisadores afirmam que, no final do século XIX e início do XX, as lojas maçônicas funcionavam como importantes espaços de sociabilidade e convívio, influindo no cotidiano tanto das cidades pequenas quanto nas maiores. Nelas, os grandes temas que mobilizavam a sociedade brasileira do período eram discutidos e novas práticas culturais eram aprendidas. Através da imprensa e dos debates parlamentares, os maçons procuravam se apresentar como herdeiros das ―luzes‖ e como membros de uma organização filantrópica dedicada à causa do progresso. Apresentavam uma imagem da Maçonaria como escola onde se ensinava e aprendia virtudes que consideravam como fundamentais: a liberdade de pensamento, a independência da razão, o auxílio mútuo. (Mansur, 1999). A Maçonaria torna-se instrumento importante, mas não o único, na defesa da escola leiga, não relacionada à religião e função do Estado. Entre outras acusações, mas principalmente pelo posicionamento para a educação, a Ordem Maçônica foi objeto de violentas reações do poder dos estados, bem como, de bulas papais de condenação. O medo dos poderosos não é tanto pela forma esotérica das reuniões dos maçons, mas principalmente pelo fato de pela educação natural libertar o pensamento do cidadão, conscientizando-o de seu papel na sociedade e no Universo. A ordem maçônica não concorda com posicionamentos radicais ou de concentração de poder, e isto lhe rendeu poderosos inimigos. A vingança de insidiosos perseguiu maçons; miríades morreram para manter a ação de educar o homem do povo em direção à liberdade. ((Mansur, 1999, Boller, 2011) Esse discurso que difundia o ideal liberal republicano afirmava que somente por meio da educação o indivíduo poderia ser transformado em cidadão produtivo e consciente de seus direitos e deveres. Também colocava em evidência a situação educacional do final do Império, que possuía uma rede escolar primária precária, com um corpo docente predominantemente leigo e uma escola secundária freqüentada por alunos que pertenciam a uma classe econômica mais favorecida. Em todos os níveis da organização escolar brasileira ministrava-se um ensino com um conteúdo desligado da vida, não havendo preocupação filosófica ou cientifica e que alfabetizava alguns indivíduos, formava poucos conhecedores de latim e grego e pouquíssimos ―doutores‖. (Silva E Soares, s.d.) Para esses Autores, durante a segunda metade do século XIX, a questão da educação também era discutida pelos maçons brasileiros, usando como instrumentos para a divulgação de suas idéias, a construção de uma rede de escolas, criação de ―aulas noturnas‖ e bibliotecas. Diante dos problemas relativos à fragilidade do sistema educacional e do fato que apenas uma pequena parcela da sociedade tinha acesso a esse sistema, a Maçonaria participou de ações práticas para a questão, intervindo nessa realidade. (Silva E Soares, s.d.) Na visão da maçonaria, a sociedade brasileira deveria entrar definitivamente na modernidade. Em conjunto com outros atores sociais, defendia o progresso econômico e social do Brasil, acompanhado de um ensino de qualidade, laico e em condições de servir a maioria da população. As escolas maçônicas foram criadas principalmente para


alfabetizar os adultos pobres, de acordo com a idéia de ―educar para libertar‖, lema adotado da maçonaria. (Silva E Soares, s.d.) Assim, desde o começo do século passado, o desenvolvimento do sistema educativo brasileiro foi marcado por relações conflitantes entre diferentes grupos sociais (Akkari, 2001). Numa pesquisa histórica sobre a penetração protestante norte-americana no Brasil, Mesquida (1994) explicou como as elites intelectuais e políticas da região do Sudeste (maçons, republicanos, anticlericais, positivistas) sustentaram a igreja metodista na sua tentativa de instalar um ensino alternativo ao fornecido pelas escolas católicas e públicas, consideradas como passadistas, rígidas e pouco propensas a impulsionar o desenvolvimento econômico. Para Moraes (2006), o ideário liberal maçônico e republicano, era de que só através da educação era possível transformar o indivíduo em cidadão produtivo e consciente de seus direitos e deveres cívicos, capaz – portanto – de exercer a liberdade propiciada pela cidadania. A luta contra o analfabetismo e pela difusão da instrução ao povo obedecia a objetivos políticos precisos: o alargamento das bases de participação política no país, a conformação da cidadania, indispensáveis a legitimação do Estado Republicano. A grande campanha pela instrução do povo foi deflagrada pela Maçonaria republicana e, posteriormente, pelos clubes republicanos. As Lojas Maçônicas foram as primeiras a criar, na Província, escolas ou aulas noturnas para alfabetização de adultos, trabalhadores livres ou escravos. (Moraes, 2006). Nos anos antes do final do Império, parte da Maçonaria apoiava a proclamação da República como solução para muitos dos problemas da nação e as iniciativas dos maçons na área da educação visavam à formação dos trabalhadores, principalmente da nova classe operária. Os integrantes de Lojas Maçônicas que simpatizavam com os ideais republicanos defendiam uma escola laica, científica e positiva. Segundo Silva (2007), é preciso levar em contar não apenas a questão da filantropia, mas também os interesses políticos e econômicos que estavam sendo defendidos por determinado grupo social. Para Barbosa (2006), com a proclamação da República, houve um aumento das escolas patrocinadas pela maçonaria, cuja proposta era instruir os analfabetos em um curto espaço de tempo, ensinando-os a ler, escrever, contar e conhecer aspectos históricos e geográficos do Brasil. Apesar dos cursos serem de curta duração, os alunos deixavam de freqüentá-los assim que aprendiam o que consideravam como necessário, principalmente, em virtude das dificuldades financeiras enfrentadas pelos alunos que freqüentavam essas aulas noturnas. No resgate da instrução pública maranhense vou me ater até o princípio do século passado, quando o hoje IF-MA se consolidou; antes uma rápida passada nos períodos principais na história da educação (pública) brasileira. Ainda seguindo Akkari (2001), esse autor distingue quatro períodos principais na história das lutas em prol da escola pública no Brasil. O primeiro (1934-1962) é marcado, nos anos 30, pela discussão entre católicos e leigos quanto às orientações gerais da política educativa no país (Libaneo, 1985). Nos anos 50 e 60, o debate articulou-se em torno do conflito entre os defensores da escola particular e os da escola pública. Os primeiros, agrupados em torno da igreja católica, defendiam uma concepção religiosa e humanista do ensino; reclamavam até um financiamento público para a educação particular, de modo a garantir a ―liberdade de escolha‖ dos pais. Os segundos,


animados por movimentos progressistas e leigos, estimavam que apenas a escola pública estaria apta a garantir as mesmas chances educativas para todos os cidadãos brasileiros. No plano pedagógico, esse primeiro período corresponde à introdução do pensamento pedagógico liberal no Brasil, principalmente por meio do engajamento dos pedagogos liberais em favor de uma melhor resposta à demanda social crescente por educação. Esse movimento culminou com o lançamento, em 1932, do manifesto dos pioneiros da escola nova, o qual preconizava uma universalização do ensino pelo desenvolvimento de um sistema de educação público. Esse documento considerava o ensino como uma função eminentemente social e pública (Azevedo et al., 1932). Da mesma forma, cabe assinalar a influência preponderante, no plano pedagógico, da Escola Nova com a contribuição central de Dewey. (Akkari, 2001) O primeiro período acabou com a promulgação, em 1962, pelo Congresso brasileiro, de uma legislação completa sobre a educação (Lei de Diretrizes e Bases). Apesar de reforçar a escola pública no plano legislativo depois desse primeiro período, essa lei não constituiu um avanço sensível na construção do sistema público de educação. As comunidades desfavorecidas e as populações rurais permaneceram afastadas da escolarização maciça. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) O segundo período, muito breve, corresponde ao surgimento do movimento de educação popular que se desenvolveu entre 1962 e 1964, graças, em particular, ao trabalho pioneiro do movimento de educação básica (MEB) e à atuação do pedagogo Paulo Freire. O debate deslocou-se, na época, do campo escolar para o da alfabetização de adultos e da educação popular num contexto político marcado por múltiplas lutas sociais. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) O terceiro período teve início em 1964 com o advento do regime militar, que interrompeu brutalmente as expectativas suscitadas no país pelas campanhas de alfabetização popular. Esse regime tentou implementar uma política educativa tecnicista, centrada nos conceitos de racionalidade, eficiência e produtividade. Essa orientação, inspirada principalmente pelos acordos entre o Ministério da Educação e a Agência Americana de Ajuda ao Desenvolvimento (US-AID), foi combatida pela maioria dos educadores brasileiros, que não hesitaram em recusar o caráter autoritário do regime e de sua proposta pedagógica (Saviani, 1992). O quarto período começa no início dos anos 80 com o retorno progressivo à democracia. O debate girou, na época, em torno da democratização do ensino e da permanência das crianças desfavorecidas na escola. Várias medidas legislativas em prol da escola pública foram votadas, como a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996. (Saviani, 1992; Akkari, 2001) INSTRUÇÃO PÚBLICA NO MARANHÃO11

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito; VAZ, Loreta Brito. INDÍCIOS DE ENSINO TECNICO/PROFISSIONAL NO MARANHÃO: 1612 – 1916. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.34, p.97-107, jun.2009 - ISSN: 1676-2584, p. 97-107 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão: esboço histórico. In REVISTA “NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA‖ v. 2, n. 1 – jul.-dez. 1998 –, disponível em www.cefetma.br/revista


No Maranhão, o ensino técnico/profissional comemora este ano, 400 anos de sua implantação; inicia-se com a chegada dos franceses, em 1612. (Pianzola, 1992; Meireles, 1989). Em sua ―Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614‖, Ives D‘Evreux (2002) diz ser fácil civilizar os selvagens à maneira dos franceses e ensinar-lhes os ofícios que havia em França. Após descrever as habilidades do Ferrador, índio do Mearim, afirmando que exerciam outros ofícios, além de ferreiro: tanoeiro, carpinteiro, marceneiro, cordoeiro, alfaiate, sapateiro, tecelão, oleiro, ladrilhador e agricultor. Esse Padre, que passou mais de dois anos em Maranhão, propõe ao Soberano francês a criação de um seminário onde se devem educar os filhos dos selvagens, única esperança da firmeza da religião naquele país. E São Luís é Fundada – 1616 Das ordens dadas por Alexandre de Moura a Jerônimo de Albuquerque, consta a construção de uma cidade - São Luís - no entorno do Forte de São Felipe: ―[...] deverá restaurar e aumentar a fortaleza segundo as plantas do engenheiro Frias‖. (Pianzola, 1992:265). Para tanto, devia se utilizar dos artesãos franceses que ficaram na Ilha. A CHEGADA DOS JESUÍTAS E A FUNDAÇÃO DO COLÉGIO - 1618 A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial européia (Cavalcanti Filho, 1990). Em 1618, os jesuítas instalam-se no Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho). Em 1622, fundam o Colégio e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé), além de diversos estabelecimentos de ensino. Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. (Souza, 1977). Pellegrini (2000) localizava naquele Colégio a Biblioteca, as escolas para os filhos dos colonos e as oficinas de carpintaria, serralharia, pintura e estatuaria, onde eram formados os mestres-de-obras, carpinteiros, entalhadores, e douradores responsáveis pela edificação de igrejas, confecção de altares e das imagens utilizadas pelos jesuítas no trabalho de evangelização. Foram as oficinas da Companhia de Jesus que instauraram uma 'escola maranhense' de arte. Trabalhando lado a lado com entalhadores europeus, aprendizes locais desenvolveram-se como artistas. Seriam esses trabalhadores indígenas? Pelo regimento 1611 é novamente autorizada a escravização indígena, consagrando-se o sistema de aldeamento. Nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas (Alencastro, 2000). 1622 – PRIMEIRAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS

Os primeiros engenhos de açúcar que tivemos foram instalados na ribeira do Itapecurú, em 1622, por Antônio Muniz Barreiros. Quem eram os operários que o faziam funcionar? De onde aprenderam os ofícios? Estariam entre aqueles quarenta casais, do contrato de Antônio Ferreira Betancor, de 1621? Atendendo à cada de Garcia D'Ávila - os desbravadores do Piauí e da região dos Pastos Bons, no Maranhão – o Governador-Geral autorizara remeter ao Estado do Maranhão seis mestres de fazer açucares. (Coelho Netto, 1979). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, Educação tecnológica: origens e pressupostos. In FORUM DE AVALIAÇÃO DOS CURSOS SUPERIORES DE LICENCIATURA DO CEFET-MA, I, São Luís, 1995.


Para Alencastro (2000), faz falta um estudo sistemático dessas diversas atividades e, em particular, da construção naval, pois em tempos de piratas, corsários e batalhas marítimas, o trabalho indígena ajudou a recompor as frotas. Ao lado da indústria canoeira havia uma construção naval de porte fornecendo embarcações para o tráfico atlântico de africanos. Boa parte do corte, transporte e preparo do madeirame, da carpintaria, coragem, mastreação e velame produzidos nessas diversas oficinas navais repousavam sobre o trabalho dos índios públicos. O COMÉRCIO E O ENSINO DE ARTES MECÂNICAS ENTRE OS INDÍGENAS Como dito, nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas, assim como esses índios - dos aldeamentos - só podiam ser utilizados mediante salário, nos termos de lei de 1611. Renôr (1989), ao divulgar alguns documentos raros da história do Maranhão investigando sobre o cativeiro dos índios (1723), apresenta-nos, dentre as testemunhas arroladas para depor diante do Ouvidor Sindicante, alguns oficiais artesãos: oficial de sapateiro; oficial de ourives; oficial de carpinteiro. João Renôr esclarece que o regime de trabalho assalariado entre os índios do Maranhão foi introduzido por Xavier de Mendonça Furtado. O antigo sistema de remuneração não era definido e não havia salário em dinheiro. Pagavam-se os salários dos carpinteiros, dos índios e de todos os tipos de artesãos em peças de pano. A partir da ordem de Mendonça Furtado todos passam a receber salários ou por mês ou por dia. Os vários ofícios exercidos pelos índios – e os respectivos salários eram: de serviços ordinários, os sem qualificação profissional, e recebiam a quantia de 400 réis por mês; os índios especializados eram Pilotos que operavam nos ―Ofícios das Canoas‖, recebiam quatro tostões por mês correspondendo ao velho pagamento de 4 varas de pano; os proeiros passaram a receber a quantia de três tostões por mês, correspondendo ao valor de três varas e uma terça de pano; e os oficiais mecânicos (artesãos) que na época eram chamados por ―Oficiais dos Ofícios Mecânicos‖ eram diaristas na razão de sessenta réis por dia e o ―decomer‖ (a bóia) por conta do patrão. Se o referido Oficial Mecânico quisesse trabalhar ―a seco‖ (sem a bóia do patrão) recebia por dia de serviço a quantia de cem réis. OS NEGROS E OS TRABALHADORES LIVRES Como Corrêa (1986), se pergunta se os escravos transformavam-se em concorrentes dos artistas, nas atividades de prestação de serviços mecânicos e liberais? Nesse autor buscamos a respostas, que afirma que a princípio, preservado o instituto jurídico da escravidão, como os afamados escravos de ganho dos senhores, que perambulavam pelas cidades como esmoleres e/ou como trabalhadores, recebendo o treinamento e a habilitação minimamente compatíveis com a prestação de serviços diversificados – e portadores, entretanto, da característica comunitária de renderem uma contrapartida em dinheiro, na qual o dividendo majoritário pertencia ao proprietário de quem trabalhava.

Portanto, há a confirmação de que o crescimento da concorrência aos artistas tinha raízes sociais no declínio da escravidão, com a habilitação de escravos urbanos e domésticos para os ofícios liberais como os de rendeira, costureira e alfaiates e os de pedreiro, sapateiro e carpinteiro. Os artistas liberais e mecânicos ficaram circundados pelo consórcio da concorrência do mercado de trabalho (Corrêa, 1986). AULA DE FORTIFICAÇÃO


Em 1699, era recomendado que se abrisse, em São Luís, uma aula de fortificação para até três alunos, que receberiam, enquanto durasse o curso, uma diária de Rs$ 0,50. Essa recomendação se dá pelo fato de haver em Maranhão, três engenheiros, que poderiam ministrar essa aula. Não se tem notícia de que essa aula chegou a funcionar (Meireles, 1995:55; Pacheco, 1924?). O ARSENAL DA MARINHA Através da Carta Régia de 16 de outubro de 1798, o governo português criou o Arsenal de Marinha para dar sustentação às ações mercantis e apoio logístico à Real Armada Portuguesa. O Arsenal de Marinha foi durante mais de quatro décadas um Centro de Profissionalização direcionada ao trabalho marítimo no Maranhão. Além de formar a mão-de-obra para esse trabalho e quadros para a Armada, fazia concertos de navios em suas oficinas, bem como barcos e outros meios de transporte flutuantes. Segundo Leandro (2002), o trabalho marítimo absorvia um considerável número de trabalhadores e escravos de forma direta e indireta, todos como características bem distintas. Dentre esses trabalhadores havia operários estratégicos para a segurança do Estado: carpinteiros e calafates. Os carpinteiros e calafates eram os operários que embarcavam nos navios da Armada, e o arsenal formava operários nas diversas categorias profissionais, inclusive criando companhias de operários formadas por índios. Sendo um centro de formação profissional tinha como preparar os gentios ensinando-lhes uma profissão, promissora à época (Leandro, 2002). Com a criação da Escola de Máquinas da Marinha, e de acordo com o Decreto no. 252, de 03 de março de 1860, a instituição recebia menores egressos, com formação, das oficinas dos Arsenais (Leandro, 2002). Ressalta Leandro (2002) que o curso de máquinas era oferecido pela Marinha para os menores no momento em que o Brasil era um país meramente produtor de matériasprimas. Isto colocava a Marinha em destaque, como uma instituição moderna do Império que estava transformando os menores abandonados e carentes em profissionais engajados na política de modernização da Marinha e conseqüentemente no meio social. Com o fim da Marinha a vela, e com os novos navios de ferro, comprados no exterior (Inglaterra, França e Estados Unidos), inicia-se um processo de modernização da Armada, exigindo homens mais qualificados e instruídos para operarem os novos navios de guerra. Criam-se escolas para formar esse pessoal qualificado, sendo a primeira - fora da Corte -, a Escola de Aprendizes de Marinheiros do Pará, que serviu de referencia para as demais instaladas em outras Províncias. Em 1861, a Marinha cria na Província do Maranhão a Companhia de Aprendizes Marinheiros pelo Decreto no. 2.725, de 12 de janeiro de 1861, quando Ministro da Marinha o Conselheiro Francisco Xavier Pais Barreto. Foi comandado pelo 1 º Tenente da Armada, José Francisco Pinto, imediatamente subordinada ao Capitão do Porto. O seu pessoal é de 218 praças, a saber, um comissário, um escrivão, um contramestre, dois guardiões, um mestre de armas, oito marinheiros de classe superior, e duzentos aprendizes, sujeitos às disposições do Regulamento que acompanhou o Decreto no, 2003, de 24 de outubro de 1857. (Marques, 1970; Leandro, 2002). APRENDIZES DAS ARTES MECÂNICAS

Nos primórdios da tipografia no Maranhão – a primeira data de 1821 – junto com os primeiros prelos, vieram os primeiros tipógrafos – mestres que transmitiam suas artes -, como informa Frias (2001):


―Depois dos tipógrafos que vieram do estrangeiro, nos primeiros anos do estabelecimento da tipografia entre nós, e que ensinaram o que sabiam, e era o que então se usava na Europa, jazeram os que com eles aprenderam e os discípulos destes, na ignorância dos inventos que de dia em dia se introduziam lá fora na tipografia‖. (p. 19).

O que é confirmado pelo aviso publicado em ―O Conciliador do Maranhão‖, em que: ―Na Typographia Nacional se admitem Alumnos e Aprendizes das Artes de que ellas se compoem; começando com o vencimento a 160 a 240 que se lhe aumentará conforme se adiantarem. Quem pretender occupar-se em alguns desses lugares procure o Director, assiste nas cazas unidas à mesma Typographia‖. (O CONCILIADOR DO MARANHÃO, Quarta-feira, 05 de dezembro de 1821, n. 42, p. 108).

Em 1859, aparece uma revista dedicada às artes e à indústria, denominada ―O ARTISTA‖, sob a direção dos engenheiros Fernando Luís Ferreira e seus filhos, Drs. Luís Vieira Ferreira, e Miguel Vieira Ferreira. Publicação interessante e de muita utilidade, sustentou porfiada luta em favor das classes operárias. Nas notas, Joaquim Serra (Ignotus) revela que: ―Na verdade, O Artista, de início, ‗jornal principalmente dedicado às artes

mecânicas‘, e, a partir do no. 12, ‗dedicado à indústria e principalmente às artes‘, veio à luz da imprensa a 21 de maio de 1862.‖ (Serra, 2001). Na antiga Companhia de Navegação Maranhense eram ensinadas as artes mecânicas, tão necessárias à manutenção dos navios, conforme informa Eurico Teles de Macedo (2001), em seu ―O Maranhão e suas riquezas‖, quando recorda que, em 1906, ainda alcançara a velha companhia. Com o título ―instrução profissional‖, o jornal ―O Artista‖ dá-nos mais notícias dessa escola de aprendizes mecânicos, funcionando na Casa de Fundição da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão (O ARTISTA, Maranhão, 15 de março de 1868, n. 3, Segunda série) O Sr. Antonio Joaquim, em seu Relatório, fala das dificuldades que vinha enfrentando no funcionamento da escola, em especial a freqüência dos alunos aprendizes às aulas: ―O tempo para os offícios de carpinteiro e ferreiro será de 5 annos, e para os offícios de modellador, fundidor e machinista de 7 annos, e para caldeireiro a vapor de 6 annos. Os dous primeiros annos para quaisquer dos offícios será sem vencimentos. Este tempo sem vencimento é meramente de experiência para que o administrador possa conhecer melhor a intelligência, comportamento moral, e assiduidade na freqüência das officinas, e só depois d‘este tirocínio é que começarão a vencer um pequeno jornal, não excedente de 1$000 rs. na último anno. Todo aprendiz é obrigado a freqüentar as aulas noturnas de instrucção primária e mechanica aplicada, sob pena de ser demitido se não o fizer. Passados os dous primeiros annos, então será lavrado o contracto contando-se para isso o tempo que servirão sem vencimentos sugeitando-se o pai, mãi, ou tutor do aprendiz, a uma multa de 150$000 se antes de acabar o tempo o aprendiz deixar o estabelecimento por qualquer motivo a não ser doença incurável. Não se admitem aprendizes menores de 12 annos e mais de 14 por consideração alguma. Nos dous primeiros annos sem vencimentos o aprendiz será obrigado a fazer todo o serviço da casa que lhe for ordenado. ―Fundação em 23 de abril de 1868 - Antonio


Joaquim L. da Silva‖ (O ARTISTA, Maranhão, n. 9, 26 de abril de 1868). (Grifos nossos). AS AULAS DE COMÉRCIO

No Maranhão, a primeira aula de comércio que se teve foi aberta em 1811. Ensino eficiente do Comércio só se teve no período da Regência Permanente Trina, em que foi criada, pelo Decreto de 2 de agosto de 1831, uma cadeira. Foi seu lente, por concurso público, Estevão Rafael de Carvalho, que fizera o curso de matemática na Universidade de Coimbra. (O PUBLICADOR OFICIAL, n. 22, Quarta-feira, 04 de janeiro de 1832). Mais tarde, em 1838, quando Vicente Tomaz Pires de Figueiredo Camargo, pela Lei de número 77, de 24 de junho, cria o Liceu Maranhense, a cadeira de Rafael de Carvalho passou a fazer parte do Curso de Comércio daquele estabelecimento. Em 1893, é criada a Cooperativa dos Artistas e Operários Maranhenses, sob a liderança de Manoel Godinho e Francisco Trossa. As classes laborais promoveram a Escola Operária, dirigida pelo professor Joaquim Alfredo Fernandes, que funcionava às segundas, quartas e sextas-feiras, na Rua da Mangueira, 44. Consagravam, na verdade, o antigo raciocínio de que sem ilustração, não haveria libertação. Depois do Centro Artístico Eleitoral, houve o aparecimento dos Partidos Operário Brasileiro e Operário Federal no Maranhão. Do primeiro partido, consta de seu programa promover ―[...] a instrução primária, technica e secular gratuitas e obrigatórias‖ (art. 10 º) e no art. 33: ―creação de estabelecimentos profissionais technicos, a expensas dos municípios, dos Estados e da união para aprendizagem e regularisação de aptidões, por commissões peritas de operarios‖. (in Corrêa, 1986: 133) A CASA DOS EDUCANDOS ARTÍFICES

A instalação da Casa dos Educandos Artífices data de 23 de agosto de 1841, pela lei número 105. O então Presidente da Província, Dr. João Antônio Miranda, envia à Assembléia Legislativa mensagem criando-a, com os objetivos de desviar os jovens dos caminhos dos vícios e oferecer à Província trabalhadores e artífices. Ali se formavam os quadros profissionais de alfaiates, pedreiros, carpinteiros, charuteiros em razão de o estabelecimento ter oficinas preparadas para o ensino prático dessas profissões. Em 11 de janeiro de 1842, no JORNAL MARANHENSE, é publicado o Regulamento da Casa dos Educandos: ―[...] casa de educação de artífices para onde serão recolhidos os meninos pobres e desvalidos de toda a Província, que o mesmo Presidente julgar aptos a aprender todos os ofícios mecânicos, tendo com tudo preferência os Expostos da Santa Casa de Misericórdia[..]‖. [Em seu artigo terceiro] [...] a Casa garante aos Educandos a instrução de primeiras letras, e princípios religiosos, o ensino de um ofício mecânico, e o exercício militar a uma Guarda Nacional [...]; [no artigo quarto], [...] As Primeiras Letras e princípios religiosos são ensinados pelo próprio Diretor ou por um mestre de escolha do Governo; os ofícios aprendem-se no Arsenal e obras públicas e particulares; a instrução militar é dada imediatamente pelo diretor e pedagogo dos Educando [...]; [e mais adiante, quando é tratado do Regime da Escola, sabe-se que o dia de estudo/trabalho começava às 5 horas da manhã (artigo 18), com] [...] formatura e competente revista, para se verificar se não faltou algum, se há doentes, se estão vestidos com aceio e regularidade [...]; [após o que], [...] se dirigirão ao Oratório, ou à melhor sala, e farão as orações. [Findo o ato religioso, (art. 19)], [...] se encaminharão à sala de escholla, que durará até às


07:30 hora‖; [concluída a lição (art. 20), e] [...] anunciado o fim dos trabalhos pelo toque de sineta [...], [irão todos para] [...] a sala de rancho, onde a pé almoçara‖. [Concluído o almoço (art. 21)] [...] e separadas as classes correspondentes às diferentes oficinas, serão expedidos os Educandos para os respectivos trabalhos. [No artigo 22, consta que, recolhidos à Casa ]― [... ] serão servidos do jantar à uma hora, findo o qual se dirigirão à seus ofícios. [Às 7 horas, a ceia deverá estar pronta (artigo 23)]. [Após esta haverá orações, como pela manhã e] [...]ir-se-ão deitar, sendo todos estes e os subsequentes atos anunciados por sineta. [No artigo 24, consta a permissão] ― [...]a cada um empregar-se no trabalho, que lhe parecer, durante a noite [...] [sem que atrapalhem o repouso dos demais]. (JORNAL MARANHENSE, terça-feira, 11 de janeiro de 1842, n. 52).

No advento da República, em 13 de dezembro de 1889, com quase meio século de existência, fechava suas portas. A Casa dos Educandos Artífices foi extinta em 1900. Informa Meireles (1995), que com a Proclamação da República, a Junta que assumiu, demonstrando um republicanismo exagerado e ridículo, determinou a destruição e recolhimento aos depósitos de todos e quaisquer vestígios materiais do antigo regime: "Dentro desse espírito, por certo, é que foi demitido o funcionalismo público, visto como, vindo do Império, só poderia ser monarquista e que se extinguiu, sem razão plausível, a útil e modelar instituição de ensino que era a Escola de Aprendizes Artífices."

No dizer de Lima (2001), o estabelecimento ministrou ensino profissionalizante por mais de trinta anos em oficinas de alfaiate, sapateiro, carpina, marceneiro e pedreiro, além de coronheiro, espingardeiro e surrador de cabedal (couro, manufaturado, sola); aulas de primeiras letras, aritmética, álgebra, geometria, desenho, escultura, geografia, francês, música. (p. 104). A ESCOLA PRÁTICA DE AGRICULTURA

Em 1851, a Assembléia Provincial teve a coragem de rejeitar uma primeira proposta para a criação de uma Escola de Agricultura Prática. Uma segunda proposta, feita em 1856, foi aprovada, transformada em lei de no. 446, de setembro desse mesmo ano, só vindo a ser regulamentada por ato de 10/09/1858, pelo então Presidente da província Conselheiro João Lustosa da Cunha Paranaguá, segundo Meireles (1995:61). Para Marques (1970:263) a Escola Prática de Agricultura foi criada em 07 de abril de 1859, tendo por fim o seguinte: "[...] 1º - ensinar à mocidade da Província a agricultura prática e teoricamente; 2º Instituir uma série de experiências e ensaios concernentes ao melhoramento do sistema atual de nossa lavoura, criando ao mesmo tempo um centro de observação e demonstrações práticas para a instrução dos lavradores; 3º - Transplantar para a Província os métodos e progressos agrícolas, cuja proficiência houver sido abonada por uma esclarecida e constante experiência dos países estrangeiros mais adiantados [...]". (p. 263).

Conhecida como Escola do Cutim, por sua localização na ilha de São Luís, Meireles considera que não fosse, a rigor, um estabelecimento de ensino superior, e sim, um instituto de grau médio, profissionalizante, para a formação de técnicos agrícolas, pois tinha por objetivo primordial ensinar prática e teoricamente a profissão de lavrador: "[...] mas, por outro lado, deveria fazer pesquisas e experiências que levassem ao aperfeiçoamento do sistema de lavoura usado na terra e visando trazer, para o Maranhão, os métodos e processos agrícolas mais atuais e que já houvessem aprovados em países estrangeiros[...]". (Meireles, 1995:61).


A escola foi aparelhada com diversos instrumentos agrícolas: arados, semeadeiras, descaroçadores de algodão, e outros mais. Vieram para a escola, dos Estados Unidos, sementes selecionadas dos diversos gêneros cultivados na Província. Da Europa, foram trazidos cabeças de gado vacum de raças superiores, além de livros para formar sua Biblioteca. Ainda dos Estados Unidos, foi contratado o técnico – francês - Louis Clement, onde administrava estabelecimentos rurais. Para ministrar aulas nessa Casa foi autorizada a ida para Europa de três jovens, que deveriam estudar agricultura, e, ao retornarem, ensinar nessa escola. Com o fim de ainda ensinar na Escola, dois jovens, que já estudavam na Europa Ciências Naturais, a expensas da província, receberam ordens para se dedicarem aos estudos agronômicos (Cabral, 1984, p. 62). Outra escola de agricultura existente foi o ―Aprendizado Agrícola Cristino Cruz‖, instalado na administração de Francisco de Assis Lopes Júnior (1910-1912), no Município de Guimarães, nas imediações de Capitua. O projeto inicial figurava uma obra de extraordinária importância para o Município e para o Estado. Funcionou durante pouco tempo, com escolas de profissionalização para aprendizes de vários ofícios, onde se destacavam as avançadas técnicas no setor agrícola bem como da industrialização de madeira, através de requintados móveis. Ozório Jorge de Melo Anchieta foi um dos professores da referida escola. Na gestão de Otávio Augusto Coelho de Souza (1913-1915), com o advento da I Guerra Mundial, em 1914, o Aprendizado foi desativado, com as instalações a mercê do vento, do sol, da chuva e das mãos desonestas, posto que grande parte do material desaparecesse do local. Em 1916, por determinação do Governador Herculano Nina Parga o que sobrou do Aprendizado foi transferido para São Luís, ainda com o nome original – Aprendizado Agrícola Cristino Cruz – cuja escola transformou-se na atual ―Escola Agrotécnica Federal de São Luís‖, instalada no Maracanã. (Oliveira, 1984). ―A INSTRUÇÃO DO OPERÁRIO É UM CAPITAL PRECIOSO‖ - A CLASSE OPERÁRIA VAI PARA A ―ESCHOLLA‖... Aparece em ―O PUBLICADOR OFICIAL‖ aviso em que ―Fernando Luz Ferreira propõem-se a dar aulas de Desenho em sua casa na Rua do Giz no. 9, das 4 as 6 da tarde pelo preço de 6$000. Dá também lições de Aritmética e Geometria‖ (O PUBLICADOR OFICIAL, 12 de abril de 1834, no. 252).

Em 1845, a Sociedade Philomática Maranhense faz publicar, através de seu Secretário, um anúncio no seu ―JORNAL DE INSTRUÇÃO E RECREIO‖ onde: ―[...] se faz público aos habitantes desta província e especialmente desta Cidade que a mesma sociedade deliberou que se fizessem, para ilustração do Povo, Cursos elementares de Sciencia, os quais fossem públicos e gratuitos: Curso Elementar de Geometria e suas aplicações – feito nas 5as. Feiras às nove horas da manhã, pelo sócio Doutor Alexandre Theóphilo de Carvalho Leal; Curso Elementar de Physica e Mecânica aplicada, feito aos domingos às onze horas da manhã pelo sócio Doutor Júlio Bayer; Curso Elementar de Chimica aplicada e de Mineralogia feito aos domingos às dez horas da manhã pelo sócio doutor José da Silva Maia, e preparada pelo sócio Luiz Bottentuit; Curso Elementar de Botânica e Zoologia, feito as 5ª ao meio-dia, pelo sócio Doutor Tibério Cesar de Lemos‖

Em 1870, é funda a ―Escola Onze De Agosto‖- recebeu esse nome porque foi fundado nesse dia naquele ano - pelos bacharéis João Antônio Coqueiro, Antônio de


Almeida e Oliveira, Martiniano Mendes Pereira, Manuel Jansen Pereira. Era uma sociedade criada com o fim de estabelecer cursos noturnos para as classes operárias. Essa Escola, segundo Corrêa (1986), tinha por finalidade possibilitar a educação noturna às classes operárias, ―[...] de sorte que contava com o beneplácito dos poderes estabelecidos, interessados na captura e no controle dos segmentos trabalhadores, exercidos pelo patronato humanitário sob a chancela de Gomes de castro, Presidente da Província, consultado para a aprovação definitiva dos estatutos do educandário proletário.‖ (p. 69).

No dia 04 de julho de 1872, é publicado anúncio em "Publicador Maranhense Jornal do Commércio, Administração, Lavoura e Indústria": "CURSO DE CONSTRUÇÃO PRÁTICA - Esta aula, de grande utilidade para os carpinas e pedreiros que se acha encarregado o Dr. Agostinho Autran começará a funccionar na escola popular Onze de Agosto Terça-feria 9 do corrente às 7 da noite". (PUBLICADOR MARANHENSE, Maranhão, Quarta-feira, 4 de julho de 1872, n. 79, p. 4, NOTICIÁRIO).

Nesta mesma edição, e logo abaixo, aparece outro anúncio de um: "CURSO DE GEOMETRIA APPLICADA ÀS ARTES - ―O Dr. Emílio Autran começará a explicação dessa matéria na mesma escola popular, hoje a 7 horas da noite". (PUBLICADOR MARANHENSE, Maranhão, Quarta-feira, 4 de julho de 1872, n. 79, p. 4, NOTICIÁRIO).

Joaquim Vieira da Luz, em seu festejado "Fran Pacheco e as figuras maranhenses", lembra que Frank Lorain Kirk - Mestre Frank, de nacionalidade norteamericana - homem de idade provecta, corpulento, de poucas palavras e muita ação, "[...] na precária oficina da E.F. de Caxias a Cajazeiras [construída na primeira década dos anos 1900], formou sucessivas turmas de artífices - torneiros, serralheiros, mecânicos, que se tornaram mestres de outras gerações; sem ser engenheiro, montou, em prazo muitos meses mais curto que o contrato, a ponte sobre o rio Itapecurú, em Caxias, (da E.F. São Luís-Teresina), dirigindo, ele próprio, uma das pesadas locomotivas que foram colocadas em toda extensão da ponte para comprovar a solidez da obra". (p. 112)

ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES DO MARANHÃO No dia 27 de outubro de 1909, no "Jornal do Commercio", editado na cidade de Caxias, era noticiado: "ESCOLA PROFISSIONAL - O Governo cedeu a antiga casa dos educandos para nella funcionar a escola profissional que o governo federal projecta criar aqui". (JORNAL DO COMMÉRCIO, 1909).

Esse mesmo jornal noticia, em 11 de novembro de 1909, a criação da Escola de Aprendizes Artífices do Maranhão, nos seguintes termos: ‖ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES - É do teor seguinte o decreto n. 7.566, de 23 do corrente, de parte da Agricultura, que creou nas Capitaes dos Estados da República, escolas de aprendizes , para o ensino profissional primário gratuito: 'O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, em execução da lei número 1.606, de 20 de dezembro de 1908:Considerando:[...]" (JORNAL DO COMMÉRCIO, 1909).

Instalada em 16 de janeiro de 1910, com o objetivo de formar operários e contramestres, contou com uma matrícula inicial de 74 alunos, sendo que apenas 56 a


freqüentaram em seu primeiro ano de funcionamento. Foi seu primeiro Diretor, José Barreto da Costa Rodrigues. Dejard Martins (1989), em seu "Esporte, um mergulho no tempo", informa que: "A 16 de janeiro de 1910, inaugurou-se a Escola de Aprendizes Artífices, que se instalou na Praça da República, onde hoje funciona a Delegacia do Ministério da Agricultura. Essa instituição tinha como objetivo primordial, o desenvolvimento de cursos de primeiras letras, desenho, profissão de sapateiro, marceneiro, alfaiate e ferreiro. Bons mestres asseguravam o êxito do empreendimento: Almir Augusto Valente, Vicente Ferreira Maia, Hermelina de Souza Martins, Cesário dos Santos Véras, Alberto Estevam dos Reis, Alexandre Gonçalves Véras, Alexandre Gonçalves Nunes, Eduardo Souza Marques e Nestor do Espírito Santo. A criação da Escola despertou, entre os alunos, o interesse pelas práticas desportivas e, como não podia deixar de ser, pelo futebol." (p.317)

Em 1915, o ensino industrial sofre uma alteração, quanto à sua organização, dando-se autonomia às Escolas de Aprendizes Artífice. Na edição do dia seguinte, é anunciada a abertura dos do ano letivo de 1915, apresentando-se o quadro de alunos e os problemas que a Escola enfrentaria, devido à Portaria baixada pelo Ministro da Agricultura: "A ESCOLA DE ARTÍFICES - Reabre-se, amanhã, 16, as aulas deste estabelecimento profissional. Dos 316 alunos matriculados neste estabelecimento, 4 terminaram o curso; foram eliminados por falta de freqüência, 147 e 1 por falecimento, passando para 1915, l64 alunos. Este ano foram matriculados 131, atingindo a marca total de 265. ―Da portaria do ministro da agricultura de 7 do corrente, foram dispensados os adjuntos de professor Jerônimo José de Viveiros, Fernando Cardozo, Elvira Magalhães de Assis, Gilberto Maia Costa, Cleomar Falcão, José Piracicaba de Moraes Rego, Antonio Bernardino Sales, e Venâncio Erico Fernandes. "Essa rezolução vem atropelar grandemente a marcha do ensino do instituto aos olhos a impossibilidade de um só professor lecionar 295 alunos e um só mestre ensinar 80 aprendizes, em cada oficina". (O JORNAL, 15 de janeiro de 1915).

Em 05 de fevereiro de 1916, o governador Herculano Parga apresentou mensagem ao Congresso Legislativo do Estado demonstrando interesse pela organização e desenvolvimento do ensino profissional e técnico no Estado. Em sua mensagem, cita como "[...] exemplo frisante da poderosa Allemanha e da florescente república da América septentrional como provar de modo incontestável que não são apenas as sciências puras, mas, sobretudo as sciências applicadas, o ensino profissional e technico, que prepraram os luctadores mais temidos, quer nos momentos pacíficos, quer em attitudes belligerantes". (O ESTADO, 1 º de maio de 1916). Afirma que não basta a Escola de Aprendizes Artífices, um primeiro passo, e apela aos senhores deputados para a criação de um internato onde "... possão receber diffundido o organizado, por esta, o ensino os desprotegidos da fortuna, residentes nesta capital e no interior do estado". Em seu discurso, refere-se ao ato impensado da primeira junta governativa republicana, que fechou a antiga Escola dos Educandos, que "[...] incontestáveis serviços prestou e que remodelada de accordo com a evolução pedagógica, ainda hoje estava produzindo fructos abundantes e proveitosos", pois: "Já vão rareando os artistas competentes nas diversas manifestações de trabalhos manuaes, outrora tão numerosos e procurados - a nossa honra, o nosso orgulho -


applaudidos e victoriosos, onde quer que se apresentassem, e isso porque são hoje limitadas as fontes em que lhes seja facultada haurir orientados e receber os preparos indispensáveis". (O ESTADO, Segunda-feira, 1º de maio de 1916)

A TÍTULO DE CONCLUSÃO Concordamos com Ferreira (2002), quando afirma que rebuscar o legado imperial/ escravocrata se constitui na atividade primeira de quem se propõe a investigar o nascedouro do ensino (profissional/industrial) no Brasil. Sob o signo do castigo, da prisão e da subordinação se articulou todo um processo marcado por relações de produção em que o trabalho e coerção andavam sempre de braços dados. Assim como Cunha (1984, citado por Ferreira, 2002:37), para quem a vigência de relações escravistas de produção, desde os tempos da Colônia funcionava como desincentivo para que a força de trabalho se orientasse para o artesanato e a manufatura. Aquele autor aponta – justificando sua tese – que: ―[...] a subordinação do trabalhador e a inclinação exagerada dos senhores/empregadores de ver todo produtor/subordinado como ‗coisa sua‘, podendo ser esta uma das razões pelas quais as corporações/ irmandades de ofício não tiveram, no Brasil Colônia, o desenvolvimento experimentado por outros países. Demonstra ainda que, desde os tempos coloniais, o Estado coagia homens livres a se transformarem em operários.‖. (p. 37).

O Estado não fazia isto com quaisquer homens livres, mas com aqueles que social e politicamente não estavam em condições de opor resistência. Procedimento semelhante era adotado para com os menores, os órfãos, os abandonados, os desvalidos em geral - os que não podiam opor resistência, portanto -, que eram encaminhados pelo Estado através dos juízes e das Santas Casas de Misericórdia, aos arsenais militares e de marinha, onde eram internados e submetidos à aprendizagem de ofícios manufatureiros. (Cunha, 1984; Cabral, 1984; Turazzi, 1989; Ferreira, 2002). Observam-se, também, na gênese das escolas de aprendizes artífices múltiplos laivos de preconceito, tais como: (a) contra o despreparo do trabalhador nativo; (b) frente ao trabalhador imigrante; e (c) em relação às atividades de caráter manual – destinados aos ―desvalidos da fortuna‖. (Ferreira, 2002:38). A criação dessas escolas – uma iniciativa tímida e cheia de ambigüidades – foi estribada mais na preocupação de oferecer uma resposta às pressões da sociedade do que, propriamente, atender à demanda de mão-de-obra do mercado de trabalho, na época praticamente insipiente na grande maioria dos Estados contemplados com aquelas escolas, salvo São Paulo e Rio de Janeiro, que possuíam indústrias e empresas suficientes para, em tese, absorver pessoal qualificado de nível inicial (Turazzi, 1989; Ferreira, 2002). Esse sobrevôo rápido pelas condições históricas da constituição do sistema educativo maranhense e brasileiro revela os principais debates ideológicos contemporâneos no país. Quase monopólio das ordens eclesiásticas nos seus primórdios, a educação formal foi progressivamente organizada pelo Estado imperial e, em seguida, pela república, para acompanhar o desenvolvimento econômico e a modernização. A forma de atuação dos maçons - desde sua introdução no Brasil até a primeira década dos 1900, período a que nos reportamos - refere-se a esforços para fortalecer a própria organização maçônica, através da ampliação da quantidade de lojas e de políticas de formação dos membros da maçonaria. (Mansur, 1999)


O ideário maçônico recebeu ampla divulgação: nos debates parlamentares, com a edição de boletins de circulação restrita, com a criação de pequenos jornais destinados ao público em geral, além das inúmeras contribuições de maçons na ―grande imprensa‖. Ao mesmo tempo, diversas iniciativas concretas são efetivadas, com destaque para as que resultaram na criação de instituições de auxílio mútuo, de beneficência e de educação. Se as instituições de auxílio mútuo eram restritas ao ―povo maçônico‖, as de beneficência (asilos, hospitais e orfanatos) e as educacionais estavam, entretanto, destinadas a todos os homens, fossem maçons ou ―profanos‖. (Mansur, 1999) Para Alexandre Mansur (1999), de todas essas iniciativas, a que apresentou melhores resultados foi a construção de uma ampla rede de escolas primárias e de bibliotecas, com aulas diurnas e noturnas, para os filhos dos maçons e para as classes populares, atendendo tanto aos homens quanto às mulheres. As escolas criadas e mantidas pelas lojas propunham-se a difundir a instrução para promover o progresso e alargar a civilização, disseminando os princípios democráticos e a defesa da liberdade, principalmente a liberdade de consciência. Dessa forma, a universalização do ensino laico transformou-se na principal bandeira de luta contra os conservadores. As lojas assumiram uma função pedagógica, ao promover a formação política na mais ampla acepção do termo. Na batalha que se travava entre as ―luzes‖ da ciência, do progresso e da civilização em oposição às ―trevas‖ da ignorância, da intolerância e do atraso, os maçons atuavam discretamente, nas ―sombras‖. A estratégia maçônica voltava-se para os setores populares, através da ampliação quantitativa das escolas leigas, em oposição à estratégia da Igreja católica, centrada na educação das elites. A maçonaria assumiu um papel primordial no enfrentamento da ―questão social‖, através da busca da harmonização entre capital e trabalho, com a adoção de uma estratégia de incentivo à formação de associações operárias e a ampliação do número de escolas voltadas para o operariado. (Mansur, 1999) Já o Estado brasileiro nunca quis ou pôde controlar o conjunto do processo de escolarização de massa ao longo do século XX. O ensino particular constituiu-se progressivamente como a única opção para os filhos da elite social. Apesar de uma legislação e de um discurso político onipresentes, a rede pública padece de numerosas fraquezas qualitativas e quantitativas. O resultado atual é um sistema educativo fragmentado, organizado em redes disparates, dificilmente comparável entre si. (Saviani, 1992; Akkari, 2001). Vou elencar alguns problemas da escola, hoje, tendo por base entrevista com uma diretora de escola pública 12: Gerenciamento equivocado - falta apoio estrutural para a escola desempenhar seu serviço: "Um dos maiores problemas da educação é um gerenciamento equivocado. As escolas estão sem apoio estrutural para desempenhar o seu serviço. Esse problema não é só em função do serviço público. Acho que a sociedade também, junto com a administração, não ligam para ele. 12

Entrevista: Maria Tereza Veneziani Sbrana, FOLHA ONLINE, http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/educacao/te2406200522.shtml

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Responsabilidade de educar está em cima apenas da escola: ―No meu ponto de vista, a educação é uma obrigação da escola (Estado), do trabalho das empresas, da igreja, de todo mundo. E está sobrando só para a escola fazer isso. Devido a tantas mudanças que estão acontecendo na sociedade e na própria civilização, a escola não está tendo condições de desempenhar bem esse papel. Porque sozinha ela não dá conta. É muita coisa contra." "Outro problema que acho da escola hoje é que o aluno não tem mais obrigação de estudar. Se ele quer ser alguém ele faz por conta. E nós aqui fazemos um esforço tremendo para que ele tenha interesse, pois se a população é pobre, ela tem que ser ainda mais exigida, para ver se eles encontram outras alternativas." A formação de professores é deficiente; "Além do problema de falta de investimento em recurso humano, acho também que há muita interferência externa. Remuneração para professores desestimula: "Os recursos que o governo oferece são suficientes. Em termos materiais acho que dá. O problema é o recurso humano, que é desvalorizado. A remuneração é muito ruim e não estimula ninguém a se interessar." Muita interferência externa - leis são muito permissivas: professor pode faltar muito; ―Há muita falta de professor amparada por lei. Essa lei não ajuda o desempenho da escola. Há muita permissividade legal. O professor só faz isso porque a lei permite. Nós cumprimos o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas trata-se de um estatuto que está sendo muito mal interpretado e aplicado. Ele dá muita permissividade. O aluno não tem limite. Recebemos reclamações quando tentamos pôr limites eles, mas ainda assim os pais gostam das escolas, pois acham que elas estão pondo limites em seus filhos." Na escola pública, por tudo depender do governo, as iniciativas às vezes são tolhidas A principal diferença na administração de escolas públicas e privadas é que na privada, você pode fazer qualquer iniciativa desde que ela não seja proibida por lei. Já na pública, você só pode fazer o que está previsto na lei. Isso tolhe um pouco a questão das iniciativas." Diferenças na educação pública atual e a de tempos atrás: "Está diferente porque a população é diferente. É um problema de gerenciamento antigo, não é de agora. A formação de professores é deficiente. A popularização do ensino universitário não foi acompanhada de qualidade. É muita vaga no ensino particular para uma educação que não é selecionada." "A escola pública era mais valorizada antigamente, pois eram poucas. A seleção para entrada nessas escolas era muito rígida. Muito difícil entrar. Também não tinha quem ficasse sem escola, pois a demanda não era tão grande como hoje." Participação dos pais:


"A participação dos pais na escola é mínima. Escola ideal: "A escola ideal seria onde o aluno tivesse a atenção possível, onde ele pudesse ter as aulas possíveis. Não é necessário muito recurso tecnológico. Felizmente ou infelizmente, a forma de aprendizado é a mesma através dos tempos. Podemos usar recursos de vídeo ou técnicas mais modernas, mas isso não é o fundamental, segundo minha experiência. Se o professor é bom, ele dá conta com o quadro e o giz na mão." Até brinco dizendo que faz tempo que quero lançar o projeto ‗Pró-Aula‘, que é dar aula um mês inteiro seguido sem interferência, sem tirar o professor da classe, sem chamá-lo para videoconferência, nem palestra... É para o aluno ter aulas, simplesmente aulas. Para encerrar, deixo a seguinte questão: "MAS O QUE É A ESCOLA?"; sigo Gabriel Perissé, autor dos livros ―Literatura & Educação‖ e ―Os sete pecados capitais e as virtudes da educação‖ 13: "A escola não é ilha isolada no oceano social. Não é lugar para guardar crianças, ou reformá-las, embora possa ajudar, orientar e até alimentar. A escola não é paraíso na terra. Nem o inferno entre nós. Nem o purgatório. A escola não está aí por acaso. A escola salvará a sociedade se a sociedade salvar a escola. ―Os professores, na escola, não são mágicos, não são heróis (embora heroísmo não falte a muitos deles), não são gênios (muito menos da lâmpada...), não são mercenários, não são santos, não são famosos, não são poucos, não são suficientes, não são muitos, não são o que pensamos que são. ―Os professores são pessoas cuja profissão é ajudar na humanização de outras pessoas, os alunos. E que, por isso, devem ser tratados não como funcionários apenas, ou técnicos, ou ‗aplicadores‘ de conteúdos apostilados. Devem ser compreendidos e tratados como seres humanos livres, críticos e criativos. Como profissionais que ocupam um lugar único na vida social, profissionais de quem muito se espera. ―Cabe aos professores avaliarem os alunos. Avaliação não é punição. Não é acusação. Não é vingança. Não é fatalismo. Não é perseguição. Não é condescendência, tampouco. Tampouco é um fechar os olhos para lacunas e preguiças. ―Cabe aos pais acompanharem os filhos. Conversar com os filhos sobre a escola. Conversar com a escola sobre os filhos. Conversarem pai e mãe entre si sobre a escola que os filhos freqüentam. Seja escola pública ou privada. ―Cabe aos alunos entenderem a escola. Cuidarem dela. Defendê-la. A escola não é apenas um espaço físico. A escola não é ponto de tráfico de

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PERISSÉ, Gabriel. Os sete pecados capitais e as virtudes da educação, in JORNAL VIRTUAL PROFISSĂO MESTRE - Profissăo Mestre – Ano 6, nº 85 – 17/09/2008


drogas. A escola não é a sede do tédio. A escola não é escola de samba. Não é apenas lugar de encontro. Mas o que é a escola mesmo? A escola não é uma idéia vaga. Não é um lugar onde haja ou não vagas. A escola não é vagão de trem onde entramos e do qual saímos quando chega a próxima estação. A escola não é a sua quadra de esportes (abandonada ou ampliada), não é um conjunto de salas de aula (sufocantes ou arejadas), não são suas paredes (sujas ou limpas), janelas (abertas ou fechadas), portas (com cadeados ou não), armários (vazios ou cheios), escadas (perigosas ou seguras), computadores (novos ou obsoletos), bibliotecas (reais ou fictícias). A escola não é o que vemos. A escola não é arquivo morto. A escola não é cabide de empregos. Não é moeda de troca política. Não é campo de batalha. Não é um curso de idiomas. Não é empresa competitiva. A escola não é clube, não é feira, não é igreja, não é partido." E o que é essencial do ponto de vista da qualidade da escola? (Mezomo, 1994): - De que adianta concentrar esforços na transmissão de conhecimentos "acabados" se o que o aluno precisa é "aprender a aprender"? - O que adianta concentrar esforços na capacitação técnica dos alunos, para torná-los "mão-de-obra" qualificada, se não se lhes indicam as dimensões éticas e sociais do conhecimento e do trabalho? - O que adianta cumprir um calendário escolar se o essencial, a aprendizagem, não foi garantida e, às vezes, nem possibilitada? - O que adianta, também, "avaliar" a escola por índices que não medem sua qualidade, mas apenas a quantidade de sua produção: número de professores, titulados ou não; regime de dedicação; relação professor-aluno; relação custo/aluno; teses ou trabalhos publicados, e coisas do gênero? - O que adianta aprimorar a estrutura, se os processos não são avaliados e redesenhados e se os resultados não são confrontados com a missão da escola? Evidencia-se a necessidade de se "reeducar" a escola para o essencial, para aquilo que a diferencia para aquilo que a valoriza, para aquilo que lhe dá sentido e legitimidade e para aquilo que lhe garante a otimização de resultados. A "reeducação da escola" importa na substituição de suas "certezas" e do "conhecimento acabado" pela busca permanente de novas respostas às suas "dúvidas" sem, contudo ter a pretensão de esgotá-las de forma definitiva (Mezomo, 1994). A escola que é preciso inventar é aquele que possibilita uma formação tecnológica, humanista e ética e que educa as pessoas para a aprendizagem permanente e interminável. Como afirma Mezomo (1994), "nada, portanto,... de desânimo diante da crise, que nada mais é do que um tempo de aprendizado, de experiências e de reformas" (in UNIVERSIDADE, v. 5, p. 258). Mas então o que é a escola?


E sabe a escola nos dizer o que ela é, a que veio, para que existe? Alguém sabe? A escola é um problema insolúvel. A escola é uma probabilidade. A escola é uma experiência. A escola é uma esperança. Obrigado. BIBLIOGRAFIA

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RESUMO DAS BASES DE NOVOS CONTRATOS PARA OS APRENDIZES DA FUNDIÇÃO DA COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO A VAPOR DO MARANHÃO. IN O ARTISTA, Maranhão, n. 9, 26 de abril de 1868; n. 15, 07 de junho de 1868, Segunda série.


XVII ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL

O PROFESSOR NECESSÁRIO PARA O SÉCULO XXI

DILERCY ARAGÃO ADLER Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, Especialista em Pesquisa em Psicologia e Especialista em Sociologia. Sócia do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM- Cadeira nº 01. E-mail:dilercy@hotmail.com

INTRODUÇÃO A preocupação com a reflexão acerca do professor necessário para o século XXI, que está entrando na sua segunda década, de fato procede. Mas, concomitantemente, é mister a atenção com a preocupação que se tem com o novo, com o inédito, em detrimento do que já foi dito, do que existe. No entanto, apesar de ser aceito, e até seguido por alguns poucos, fica esquecido na prática da maioria. No que diz respeito à construção do saber, o homem é considerado um ser livre e criador, mas as ideias consideradas inovadoras, ao mesmo tempo que são incorporadas à cultura geral da sociedade também são advindas do capital cultural já existente e consolidado pelas gerações anteriores. Nessa perspectiva, segundo ADLER (1977), a sociedade se torna, dessa forma, a mediadora entre os homens no processo de criação e transmissão da cultura, no qual consiste a educação e o saber enquanto elaboração, incorporação e transmissão de conhecimentos, valores, ideias, crenças, torna-se mediador entre uma ação (fazer) que supõe a posse de um saber anterior. Nesse contexto as instituições pedagógicas são organizadas e constituídas com o objetivo precípuo de difundir as concepções de mundo de uma dada sociedade ou de uma parcela dessa mesma sociedade. Ainda segundo ADLER (2006), todo sistema de ensino existe em perfeita consonância com o sistema social no qual tem sua origem e ao qual serve de instrumento de reprodução das condições de sua existência.


Em um sistema social, marcado pela desigualdade, torna-se pertinente o mascaramento dessa desigualdade e, para tal, faz-se necessário que a grande maioria da população não tenha acesso ao saber reflexivo e crítico para não desmontar a ordem social estabelecida. Por outro lado, torna-se indispensável uma elite de tecnoburocratas que sirva ao sistema, legitimando-o e imputando à população em geral e ao segmento profissional, formado pela escola, desse mesmo sistema, a crença de sua incompetência. Este artigo busca demonstrar que a escola que se tem hoje, apesar de ter nascido marcada pela hierarquização e desigualdade econômica, apresenta desde a mais remota época pensadores que, ao mesmo tempo que são considerados visionários pela não contaminação ideológica da necessidade de dominação, também apresentam marcas do pensamento das gerações passadas, já que a educação primitiva era única e igual para todos. GRANDES EDUCADORES DA HUMANIDADE

JESUS- O Sermão da montanha Inicia-se a apresentação de alguns grandes educadores da humanidade com Jesus que ensinava os seus discípulos, através de parábolas, além dos diversos e profundos diálogos. As parábolas são histórias destinadas a ilustrar uma verdade. É uma narração alegórica, na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.

SÓCRATES apontando para o alto, sereno, no leito de morte Jacques-Louis (1787) O método socrático consistia na utilização de um discurso caracterizado pela maiêutica (levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida).


MATTHEW LIPMAN Matthew Lipman apud Zanello (2007), insatisfeito com o Sistema Educacional norte- americano da década de 60, denominado por ele de: paradigma padrão da prática normal elaborou, em contraposição, o paradigma reflexivo da prática crítica. Este se concretiza através de um ensino de filosofia que possa suprir principalmente as dificuldades de seus alunos, relativas à capacidade de ler, interpretar, inferir, construir sentenças e fazer julgamentos. O Programa apresenta aos alunos um recurso didático chamado de novelas filosóficas que consistem em obras, com situações e personagens fictícios, escritas de maneira simples em que são contempladas discussões em torno de vários temas e termos filosóficos, tais como: verdade, justo, bom, belo. Essas novelas funcionam como iscas filosóficas para a criança, com o objetivo de captar a sua atenção e provocá-la a discutir e debater temas filosóficos .

CARL ROGERS - A APRENDIZAGEM CENTRADA NO ESTUDANTE As ideias de Rogers apud Adler; Coppe (2003), sobre a educação são frutos de sua vivência dentro de seu próprio consultório entre terapeuta e paciente, que ele chama de cliente. A sua terapia é chamada de Terapia não diretiva. Suas ideias têm como suporte o enfoque Humanista, que tem suas bases na filosofia existencialista e na fenomenologia e se estabelece como uma terceira força em oposição ao condutismo e à psicanálise. A teoria humanista privilegia a criatividade, o amor, o altruísmo e outras manifestações do afeto e respeito mútuo. Rogers considera o ser humano ativo, responsável e capaz de autodeterminar-se. Compreende que o meio deve permitir ao sujeito liberdade e respeito à individualidade. Tanto no consultório como na educação, as ações do terapeuta ou professor devem basear-se em um relacionamento interpessoal, afetuoso e de interesse de ambos. A


educação, nessa perspectiva, deve propiciar um aprendizado significativo. Um aprendendo com o outro, todos os dias. O facilitador da aprendizagem deve apresentar autenticidade, apreço, admiração e confiança pelo aprendiz como ser humano imperfeito, dotado de muitos sentimentos e possibilidades. Desse modo, numa relação pedagógica humanista deve haver um clima de aceitação e respeito ao aluno. O professor deve ser autêntico, congruente e demonstrar aceitação incondicional: ser afetivo, capaz de enfatizar. Enfim, propiciar liberdade com responsabilidade.

BUBER O filósofo judeu, Martin Buber (1878-1965), sugere que os professores ensinem os jovens a conviver com o próximo. Aplicou à Pedagogia os conceitos que usava em defesa da paz. Para ele, o processo educativo deve privilegiar a conversa e a cooperação entre as crianças e saber se relacionar é mais importante do que ser individualmente bem-sucedido. Ainda a relação ―eu-tu‖ é um ato essencial do homem, atitude de encontro entre dois parceiros na confirmação mútua.

PAULO FREIRE PAULO FREIRE e a Educação Libertadora Paulo Freire afirma que "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda―. Ele dá muita importância à palavra no sentido de dizer o mundo, de interpretá-lo. Não é possível pensar em linguagem, em leitura de mundo ou em leitura da palavra sem ideologia e sem poder em se tratando de uma sociedade estratificada (dividida em camadas superpostas hierarquicamente, no caso do capitalismo, as classes sociais). No contexto de uma sociedade marcada pela desigualdade, Paulo Freire afirma que o objetivo maior da educação experienciada nessa sociedade deve objetivar a conscientização do aluno, ou seja, contribuir para a emersão da sua consciência crítica, levando as parcelas desfavorecidas da sociedade a entender a sua situação de oprimidas


e agir em favor da própria libertação. Seu principal livro é ―Pedagogia do Oprimido‖ e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra. Para Paulo Freire (1983), a educação pode ajudar o homem a ser sujeito. Não qualquer educação, mas uma educação crítica, dirigida à tomada de decisões e à responsabilidade política. Nesse propósito, não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, cujo método seja, na verdade, materializado em procedimentos e atos que conduzam à emersão das consciências e em cuja prática educador e educando sejam sujeitos cognoscentes. CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DA PALESTRANTE

DILERCY ARAGÃO ADLER A contribuição da palestrante a estas argumentações dá-se através da apresentação da construção de uma estratégia metodológica para o fortalecimento dos valores morais, que foi objeto da sua tese de doutorado, em Ciências Pedagógicas apresentada ao Instituto Central de Ciências Pedagógicas em Havana-Cuba e apresentada à Universidade Nacional de Brasília-UnB, com vistas à revalidação no Brasil. A motivação da escolha desse objeto de estudo deveu-se à constatação da função política e social da escola e, nesse contexto, o entendimento de que o professor deve, na sua prática, ter uma compreensão real da sociedade para que possa agir, transformando e participando de mudanças da sociedade na qual vive. Ainda como motivação, a clara visão de que não se pode mudar o que não se conhece e esse conhecimento deve ser científico, mas não basta ser científico, tem que ser um conhecimento científico crítico. Foram eleitos como eixos norteadores: 1. Conhecimento profundo da própria realidade social, com respaldo teórico-crítico, indispensável para uma apreensão da essência - além da aparência - dessa realidade. Lembrando que é essencial, nessa perspectiva, uma capacidade de abrir-se ao mundo, aceitando-o ou negando-o para transformá-lo. 2. Autoconhecimento, também profundo, lembrando que a singularidade de cada ser social tem um vínculo com o seu coletivo. Ainda, que o desconhecimento dessa imbricada conexidade ―indivíduo-sociedade‖ emperra, muitas vezes, os avanços dos projetos coletivos consubstanciados pela bem engendrada ideologia dominante reproduzida com esse fim. 3.

Elevação da autoestima e da fé no potencial criador dos alunos, associada à conscientização da necessidade de empregar esses talentos a serviço do


bem comum, da coletividade, estimulando o espírito de equipe, a solidariedade e a honestidade. 4. Compreensão da importância do papel do professor como mediador no processo de fortalecimento dos valores morais honestidade e solidariedade. 5. Compreensão da necessidade de utilizar estratégias reflexivas que permitam elevar o nível de consciência crítica dos alunos nas dimensões axiológicas de um modo geral e, em especial, dos valores honestidade e solidariedade. 6. Compreensão, também, de que a felicidade é o estado natural do ser humano, a qual, por sua vez, é incompatível com a preocupação do ―Ter‖ em detrimento do ―Ser‖ e que o progresso individual só é viável no progresso social, no bem-estar coletivo e não apenas na de uma parcela da sociedade. 7. Vivência do amor como pilar de sustentação da vida intra e interpessoal dentro de um contexto social e histórico mais amplo. A GUISA DE CONCLUSÃO Embora se saiba que as considerações finais de um estudo devam contemplar as respostas às interrogações introdutórias, ao invés de respostas, finalizar-se-á com mais interrogações no que diz respeito ao delineamento do perfil do professor necessário para o século XXI, a partir de uma ação pedagógica humanizadora, a saber, Adler (2005): Como fazer para, a escola capitalista, levar alunos e professores a uma convivência democrática sustentada pela solidariedade, honestidade, liberdade e amizade? Como fazer para que haja a compreensão de que a autoafirmação de um não leva à negação do outro? Como aceitar que um indivíduo não é a antítese do outro, mas ambos constituemse como sujeitos contraditórios com positividades e negatividades e nessa contradição reside a possibilidade do seu crescimento, já que somente na relação com o outro esse desenvolvimento se processa? Por fim, sabe-se que toda produção humana carrega em si, de forma explícita ou implícita, intensa ou subjacente, a contribuição de inúmeros pensadores e intelectuais que anteriormente ao tempo presente buscaram respostas às suas indagações, disponibilizaram ao coletivo humano saberes, técnicas, procedimentos e pressupostos teóricos etc. Compreender, pois, a história de cada teoria, de cada teórico, de cada ciência materializa a possibilidade de trazer do passado aspectos importantes que podem ter escapado às respostas veiculadas no presente. Ratifica-se, assim, o que já foi afirmado por muitos: ―O passado e o futuro fundem-se no presente‖. A partir dos questionamentos explicitados e da breve explanação dos pressupostos teóricos dos estudiosos da educação apresentados, espera-se contribuir com respostas e práticas que levem a uma educação, de fato igualitária e democrática, na qual o professor desempenhe um papel importante na mediação da concretização desse objetivo.


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ENCONTRO NACIONAL DA CULTURA MAÇÔNICA OSVALDO PEREIRA ROCHA Grão-Mestre do GOAM. E-mail rocha.osvaldo@uol.com.br / blog www.portalaquibrasil/blogosvaldo.com.br / site www.osvaldopereirarocha.com.br (Grande Inspetor Geral da Ordem, 33º, REAA)

Teve lugar em São Luís do Maranhão, Cidade Cultural, Patrimônio da Humanidade, que em 08 de setembro de 2012 completará 400 Anos de História, no Brisamar Hotel, o XVII Encontro Nacional da Cultura Maçônica, um acontecimento que passa para a História da Maçonaria Brasileira. Os trabalhos foram abertos na noite do dia 13 e encerrados no final da tarde do dia 14 pelo Grão-Mestre do Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM, Soberano Irmão Osvaldo Pereira Rocha, que coordenou o referido Encontro Nacional Maçônico e, para tanto, contou com a colaboração de valorosos irmãos como Carlos Craveiro Pessoa, Edson Tabet Ahid, Jonilson Bogéa, Joaquim Farias de Oliveira, Ivan Lima Verde, Lúcio Silva Carneiro e João Nicolau de Moraes Costa, além de outros; e das Cunhadas Odete, Isabel, Alice, Amélia, Marly e outras, na recepção e passeios com as cunhadas visitantes. Os aludidos trabalhos foram divididos em painéis, presididos pelos idealizadores a seguir nominados, ou seja, Associação Brasileira da Imprensa Maçônica – ABIM, presidida pelo Soberano Irmão Antonio do Carmo Ferreira, Grão-Mestre do Grande Oriente Independente de Pernambuco – GOIPE; do Instituto Brasileiro de Pesquisas Maçônicas ‗Fernando Salles Paschoal‘, presidido pelo Respeitabilíssimo Irmão Edenir José Galtiere, Editor da Revista A TROLHA; Associação das Academias Brasileiras Maçônicas de Letras – AABML, presidida pelo Respeitabilíssimo Irmão Luiz Gonzaga da Rocha e pela União Brasileira de Escritores Maçons – UBRAEM, representada pelo Eminente Irmão Antonio de Brito Dantas, Grão-Mestre de Honra do Grande Oriente Independente do Estado do Rio Grande do Norte – GOIERN. Na oportunidade, a Maçonaria abriu discussão sobre a educação pública brasileira, com palestras de alto nível dos Professores Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Dilercy Aragão Adler, César Pires e Marise Rocha Aranha, debatedores e moderadores Maçons maranhenses de destaque na Maçonaria Unida do Maranhão, como Raimundo Ferreira Marques, Presidente da Academia Maçônica Maranhense de Letras – AMML e Presidente de Honra da COMAB; Plínio Ferreira Marques, também Presidente de Honra


da COMAB; Raimundo Benedito Aires, Grão-Mestre ―Ad Vitam‖ do GOAM; Ubiratan João de Castro, Grão-Mestre Adjunto da GLEMA; João Soares Filho, Representante do Eminente Grão-Mestre do GOB-MA; José Raimundo Nogueira dos Anjos, Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Maranhão dos Graus 44º ao 33º do REAA; José Ribamar Monteiro Segundo, Venerável Mestre da ARLS Guardiã da Fraternidade e José Ribamar Fernando, Acadêmico da AMML. O Eminente Irmão José Batista da Luz, Presidente da Poderosa Assembleia Legislativa Maçônica do GOAM, esteve presente, e os Respeitáveis Irmãos João Francisco Batalha, coordenador adjunto do aludido encontro e Sebastião Mariano Laranjeira representaram os Secretários Estaduais de Educação, João Bernardo Bringel e de Turismo, Eminente Irmão Jurandir Ferro do Lago Filho, respectivamente. Houve calorosos debates durante todas as exposições e, ao final, foi expedida a Carta de São Luís, lida pelo Sereníssimo Grão-Mestre Adjunto do GOAM, com as conclusões do histórico Encontro Nacional da Cultura Maçônica, para qual se dará a maior divulgação possível, além de fazê-la chegar ao conhecimento das autoridades, para os devidos fins. Aconteceram lançamentos de livros maçônicos, dentre os quais o deste GrãoMestre do GOAM, sob o título ‗MAÇONARIA E MAÇONS – Um Pouco de História‘, e apresentação de trabalhos, sob o tema ‗Responsabilidade com a Educação‘, atividades estas a cargo do Respeitabilíssimo Irmão Ronaldo Pinto de Moraes (Moura), Gerente da Revista A TROLHA. Estiveram ainda presentes dezenas de Irmãos Maçons do GOAM, da GLEMA e do GOB-MA, além de cunhadas e outros familiares. Publique-se que, como parte das comemorações dos 400 anos de São Luís do Maranhão, o supracitado Encontro Nacional teve parceria com o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM que, inclusive, cedeu dois de seus Ilustres membros como Palestrantes, ou seja, o Professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz e a Professora Dilercy Aragão Adler. O cerimonial foi feito pelo Jornalista José Ribamar Silva, Riba Um. As fotos anexas dizem mais sobre o supracitado grande encontro cultural maçônico brasileiro.


CARTA DE SÃO LUÍS DE 14 DE ABRIL DE 2012 A Maçonaria, reunida em São Luís, Estado do Maranhão, em seu XVII ENCONTRO NACIONAL. DA CULTURA MAÇÔNICA, realizado nos dias 13 e 14 de abril de 2012, sob os auspícios do Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM, através das suas associações formadoras de opinião, INBRAPEN, ABIM, AABML e UBRAEM, à luz debates levados a efeito no citado conclave, vem a público manifestar sua preocupação com os graves problemas que afetam a qualidade do ensino público no Brasil, e para convocar o Povo Brasileiro para decidir sobre I – Erradicação do analfabetismo; II – Melhoria da Educação Básica; III – Construção de uma nova vertente para a universidade e o ensino técnico profissionalizante para o Brasil; IV – Aprovação do Plano Nacional de Educação 2011/2020 e V – Aprovação da Lei de Responsabilidade Educacional. Dados estatísticos recentes indicam que existem no Brasil cerca de 27 milhões de analfabeto, sendo crível se afirmar ser possível erradicar o analfabetismo em dez anos mediante a implantação de um novo Plano Nacional de Educação, com um maior aporte financeiro em favor da educação, do aprimoramento e ampliação do número de docentes, e da construção de mais escolas, especialmente as voltadas para o ensino técnico profissionalizante em regime de tempo integral. A Maçonaria, preocupada com este estado de coisas, tem se reunido e apresentado aos poderes constituídos da Nação sugestões e ações visando à superação das dificuldades que têm impedido a erradicação do analfabetismo e uma melhor qualidade do ensino público, por entender que o desenvolvimento do País passa obrigatoriamente por um ensino voltado para a formação do jovem, seja no ensino fundamental, seja no conhecimento de novas tecnologias, seja, por fim, no embasamento técnico e científico que lhe permitirá ingressar no mercado de trabalho e alcançar a cidadania que a Constituição Federal, em seu artigo 1º, inciso I, assegura a todos os brasileiros, em consonância com o art.205, que estabelece ser a educação ―direito de todos e dever do Estado e da família‖; para isto contando com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Entendem os Maçons que somente com a aprovação do Plano Nacional de Educação para o decênio 2011/2020, que se encontra em tramitação no Congresso Nacional, e aprovação do Projeto de Lei que altera dispositivo da Lei nº 7.347/85, disciplinando a ação civil pública de responsabilidade educacional, bem assim com o aporte financeiro para o seu financiamento, é que será possível ter o País uma educação de qualidade. Assim, vem a Maçonaria, por intermédio das Associações abaixo signatárias, exortar a população e o Poder Público Brasileiro com vistas à aprovação das propostas em tramitação no Congresso Nacional, por entender ser esta a única forma de se


alcançar a plena erradicação do analfabetismo no País e de propiciar educação de qualidade em todos os níveis de ensino a todos os brasileiros. São Luís (MA), em 14 de abril de 2012. OSVALDO PEREIRA ROCHA Coordenador do XVII E N C M ANTONIO DO CARMO FERREIRA Presidente da ABIM EDENIR JOSÉ GALTIERI Presidente do INBRAPEM LUIZ GONZAGA DA ROCHA Presidente da AABML ÉLIO FIGUEIREDO Presidente da UBRAEM


VILA VELHA DE VINHAIS – MAIS QUE 400 ANOS!!! LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

A Vila Velha de Vinhais é o núcleo habitacional mais antigo do Maranhão. Referimo-nos à ocupação por brancos, pois os Tupinambás ocupam aquele espaço há mais tempo, provavelmente desde 80 anos antes da chegada dos Franceses de La Ravediére. O que nos leva a essa afirmação são documentos que estão vindos à luz por pesquisas recentes, com base em informações obtidas em diversos arquivos e interpretação e uso de fontes as mais diversas. Para Antonio Noberto (2011) 14 em matéria do Jornalista Evandro Júnior sobre A história de fundação da cidade de São Luís 15: ―O que essas informações nos trazem de novidade é exatamente a existência de duas fortalezas no Maranhão antes da fundação de São Luís. E tudo converge para que uma dessas seja o Forte do Sardinha. Primeiro porque existia desde o último quartel dos anos 1500 uma linha quase que regular de navegação entre Dieppe e a Costa leste do Amazonas. UpaonAçu era o principal ponto de comércio da região[...] Quando Felipe II anexou Portugal e suas colônias à Espanha (1580) percebeu o abandono que estaria ocorrendo em regiões que correspondem hoje ao Norte e Nordeste do Brasil. Entretanto, a situação agravante era a permanência de povos franceses. Por isso, duas Cartas Régis, a primeira em 1596 e a segunda em 1597, determinaram de fato a expulsão francesa, além da construção de um forte e a fundação de uma cidade na capitania do Rio Grande. A Capitania do Rio Grande constituiu o segundo lote doado a João de Barros e a Aires da Cunha, da foz do rio Jaguaribe a norte, até à Baía da Traição, a sul. Tendo o empreendimento de ambos sido direcionado ao primeiro lote (a Capitania do Maranhão), devido às dificuldades ali encontradas em 1535, este segundo lote permaneceu abandonado 16. O principal porto frequentado pelos franceses na Capitania do Rio Grande era o rio Potengi, onde também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos reparos necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas ("refrescos"). De acordo com Frei Vicente do Salvador17, no Rio Grande os "[...]franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a roubar os navios que iam e vinham

14 Segue interessante matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão no último dia 18.12.11. A proposta da matéria foi do acadêmico da AML Salvio Dino, que gentilmente me convidou para também contribuir no trabalho, dedicado ao resgate da história do Forte Sardinha. Abraço. 15 Matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html 16 http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitania_do_Rio_Grande 17 SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Edição revista por Capistrano de Abreu. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010.


de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem [...]". O topônimo "Refoles" (outrora "nau de Refoles"), coincidente com o trecho do Potengi onde atualmente se ergue a Base Naval de Natal, recorda a presença na região, do francês Jacques Riffault 18, corsário que pirateava pelas costas brasileiras ao tempo do rei francês Henrique, o Grande 19. Jacques Riffault é personagem constante em nossa história. Desde 1594 estabelecera em Upaon-açu (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles - Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine -, que havia conquistado a amizade dos silvícolas, e tinha inclusive o domínio da língua nativa20 . Capistrano de Abreu (in Salvador 2010, servindo-se de Abbeville) 21 conta que Riffault partiu com tres navios para o Brasil em 159422, disposto a fazer conquistas com o auxílio de Ouirapiue, Pau Seco. Seu principal navio encalhou; dissensões e desarmonias privaram-no do outro; reduzido a um só, abaixou muitos companheiros em terra e voltou para França. Por sua vez Feliciano Coelho anuncia apenas que dera a costa um navio de Rifoles. Devia ter sido seu companheiro o língua Migan, morto na batalha de Guaxinduba depois de ter escapado quatorze vezes das mãos dos portugueses. Meireles (1982, p. 34) 23 traz que David Migan, natural de Vienne, no Delfinado, há tanto já vivia em Upaon-Açú. Vamos encontrar Jacques Riffault na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado "Tapuitapera" ("casa dos Tapuias") à época de sua chegada. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos 24, esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612).25 Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitãomor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava:

18

http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil

19 Fundador da Dinastia Bourbon. Em 1572, tornou-se rei de Navarra. Sua família era uma das mais importantes do país. Seu principal momento na vida política foi a assinatura do Edito de Nantes (1598), documento que dava liberdade religiosa para católicos e protestantes. Foi um rei que mereceu o título de restaurador e libertador do Estado. Morre em 1610, assassinado por um fanático religioso. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande 20

21 22

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 2010, p. 254

Wehling e Wehling (1994) afirmem que sua chegada teria ocorrido em 1584.

WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José C. de. FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL. Rio de Janeiro: Nova Fonteira, 1994, p. 75 23 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 24 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 25 http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_de_Alc%C3%A2ntara


"[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Integravam a expedição Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda, à frente de oitenta e seis europeus e duzentos indígenas. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603, antes de prosseguir para combater os franceses de Jacques Riffault na Ibiapaba. (BARRETTO, 1958, p.82-83). 26 Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto. Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: ―Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai [...] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade [...] 27 Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard28. Meireles (1982, p. 34) 29 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. Segundo o sócio do IHGM Antonio Noberto, é confirma a presença de franceses pelo Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608): "Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão". 30

26

BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 27 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 28 (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982) 29 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 30 Conforme Antônio Noberto original deste documento está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no


Em 1607 - ou 1609 - Carlos Des-Vaux retorna à França cansado de esperar por Riffault, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis 31. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault: ―[...] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento [...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.‖, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas‖. 32 De acordo com Moreira (1981) 33 essa concessão foi uma farsa dos franceses, pois na verdade eles não tinham credencial nenhuma e tanto é verdade, que Maria de Médicis, que reinava em nome de seu filho, ainda menor, Luís XIII, estava há muito tempo negociando o casamento dele com a princesa Ana d‘Austria, filha de Felipe III, que era portador das coroas Espanha e Portugal. Nutria esse desejo de muito tempo e por isso, não iria autorizar um aventureiro e conhecido pirata Daniel Ravardiere, inimigo da sua religião, a invadir terras que eram da coroa portuguesa, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI, há 118 anos, isto é, antes da descoberta do Brasil. La-Ravardière, associa-se a Francois de Razilly, Senhor de Razilly e Aunelles, ajudante de ordens do Rei, gentil homem de sua câmara, aparentado com o cardeal de Richelieu; Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy e Barão de Molle e Gros-Bois, membro do Parlamento e do Conselho do Rei; além deles conseguiu o apoio e a proteção do Senhor de Dampulho, Almirante de França e Bretanha, primo do Rei, e do abastado Auber de Claumont. A 24 de julho de 1612, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant' Ana e a 6 de agosto a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capito Guerard. Os franceses atravessam o braço de mar, indo se trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904. 31 Filho de Henrique IV, tinha apenas oito anos de idade quando o pai morreu. A nobreza pensou em assumir o trono mas a rainha mãe Maria de Médicis assumiu a regência em nome do filho até que ele completasse a maioridade. No ano de 1624 foi nomeado o cardeal Richelieu como primeiro-ministro com o apoio da rainha mãe Maria de Médicis. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande 32 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 33 MOREIRA, José. Fundação Da Cidade De São Luís. In Jornal o Estado do Maranhão, 1981, p. 6


fixar em um promontório onde, a 12 de agosto, uma sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia. Du Manoir, Riffault, dês Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos34. O historiador Antonio Noberto continua: ―Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia)‖. Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Pianzola, em sua obra ―OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34)35 apresenta decalque de mapa datado de 1627 ou 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade36, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno37 durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‗traduzidos‘ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, MigaoVille, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola:

34 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 174. 35 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968 36 João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_velho 37 Diogo de Campos Moreno (Tânger? 1566? – 1617?) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de Sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno


―[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem ―s‖ mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o ―chefe dos negros‖ (índios) e ―parente do governador de Dieppe‖. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011)38.

39

Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34

38 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011 Evandro Junior, in Jornal O Estado do Maranhão, 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-lafrance.html 39 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968


Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. ―[...]Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com ―duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas‖. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan‖ (NOBERTO SILVA, 2011)40. Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba41/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia 42.

40 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011 41 Capistrano de Abreu esclarece que: ―EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". (ABBEVILLE, Claude d‘. HIASTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975, p.107). 42 Evandro Junior, in Jornal O Estado do Maranhão, 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-lafrance.html


ALCANTARENSES DEPOIS SÃO-BENTUENSES ÁLVARO URUBATAN, VAVÁ MELO Pesquisador, membro da Academia Sambentuense e sócio efetivo do IHGM Dos mencionados no capítulo anterior, o primeiro personagem é o notável Dr. Raimundo Felipe Lobato. Comprovadamente ele, seu irmão, o arcediago Antônio Lobato de Araújo, e, provavelmente, os outros manos nasceram na Fazenda Mato Grosso, de seu pai, o português Filipe Neri Lobato, situada em território, hoje, de Palmeirândia. Essa propriedade e terras da Malhada, em 1861, já pertenciam ao filho deste, Carlos Guilherme Lobato. Em Portugal onde foi estudar, matriculou-se em 23 de dezembro de 1818, no curso de Direito da Universidade de Coimbra. Bacharelou-se em Leis a 22 de junho de 1822, e em Cânones, a 26 de julho do mesmo ano. Formado retornou para a pátria amada, nomeado Ouvidor na Província da Paraíba. Cumprida a missão, voltou para o Maranhão, ingressou na política, vitorioso com trinta votos, em décimo quinto lugar, integrou o primeiro Conselho Geral da Província do Maranhão, empossado em primeiro de dezembro 1829. Com a instituição das Assembléias Legislativas Provinciais, pela Lei n.º 16, de agosto de 1834, denominada Ato Institucional elegeu-se em novembro de 1834, no décimo primeiro lugar, entre os vinte e oito deputados da primeira Assembléia Provincial, com posse em fevereiro de 1835. Por falta dos seis vice-presidentes da Província, nomeáveis pelo Imperador, o Conselho decidiu elegê-los nas sessões de 17, 18 e 19 de fevereiro. Na composição da Mesa foi votado para a segunda presidência. Nesse cargo de segundo vice-presidente (primeiro - José Lopes de Lemos), assumiu, interinamente, a presidência do Maranhão, de 5 de março de 1834 a 30 de outubro desse ano, quando apresentou esta correspondência de renúncia. Raimundo Felipe Lobato achando-se na precisão de retirar-se temporariamente para a vila de Alcântara em conseqüência de moléstia que padece a fim de restabelecer-se, não podendo pessoal e particularmente despedir-se de todos os seus amigos e concidadãos, o que tem obsequiado, recorre a este meio, pelo qual se despede dos seus amigos e concidadãos, cuja despedida queiram benevolamente aceitar, por não poder de outro modo ser: vai assas penhorado pelo acolhimento que encontrou durante o seu Governo, como vice-presidente, de todos os honrados habitantes desta Cidade e Província. Maranhão, 8 de novembro de 1834 Já o ECHO, n.° 34, de primeiro de novembro de 1834, publicou o oficio de 27 de outubro de 1834: ―Como me acho doente, e seja preciso a conselho do facultativo entrar em uso de medicamento, e por isso impossibilitado de continuar na administração da Província, e sendo V. S.ª o Conselheiro mais votado entrego o Governo da Província na conformidade da lei, visto o meu impedimento. Deus Guarde a V. S.ª. Maranhão, em 27 de outubro de 1834‖. Raimundo Felipe Lobato, vice-presidente.


Em Alcântara assumiu o juizado de Direito, e em 1844, o Juizado de Direito Criminal de São Luís. Promovido desembargador da Relação do Maranhão tomou posse 20 de agosto de 1845. Por duas vezes, 5 de maio de 1845 e 20 de junho de 1846, respondeu, interinamente, pela Chefia de Polícia da Província. Nesse corrente ano retornou à política, sufragado deputado para a 6ª legislatura 1846/47. Segundo Desembargador Milson Coutinho, em Memória da Advocacia no Maranhão, página 180, consta: ―escreveu Princípios ou primeiras noções direito primitivo, Pernambuco, 1830, 308 p;in 4°. O autor estuda os princípios de jurisprudência ou direito, dividindo-os em três classes: relações familiares, relações civis, ações; princípios estes sempre combinados com a razão natural, etc‖. Casou-se a 25 de fevereiro de 1827, na igreja Matriz de São Bento, com dona Maria Custódia Costa Leite, filha do tenente Miguel Arcângelo Costa Leite. Foram filhos do casal Raimundo Felipe Lobato Júnior, Atauhalpa Franklin, Miguel Huascar, Luís Raimundo e o poeta, romancista, magistrado, teatrólogo, promotor público, juiz municipal, procurador fiscal João Climaco Lobato, nascido em São Bento, em 6 de agosto de 1829. A família Lobato, das mais antigas e tradicionais da região, pelos seus descendentes tornou-se grande latifundiária, com forte presença na vida econômica, social, política e intelectual, esta ainda com grande reflexo. Alcançaram a imortalidade da Academia Maranhense de Letras os bisnetos Emilio Lobato Azevedo e os irmãos: Luís Lobato e Fernando Viana; os trinetos Alfredo Luis Viana(falecido), Waldemiro Viana e Américo Lobato Azevedo. No mundo das letras sobressaem-se as escritoras Maria Thereza Azevedo Neves, Marita Gonçalves, a artistas Iara Brenha Lobato a Maria de Lourdes Lobato França, a boa memória de Nélio Botelho Lobato e outros, com especial ressalta ao renomado jornalista Victor, fundador de a Pacotilha e exdeputado constituinte do primeiro congresso republicano. Raimundo Felipe Lobato foi o décimo quarto mandatário do Maranhão e o primeiro são-bentuense a galgar o posto de governador do Maranhão, seguido de outros. No exercício da deputação estadual, apresentou projetos favoráveis a São Bento.


UM DIA NO QUILOMBO Com dois pesquisadores estrangeiros ANTONIO NOBERTO O Baixo Parnaíba é guardião de bom pedaço da história do Movimento da Balaiada, deflagrado em 1838. O início da revolta aconteceu na então Vila da Manga do Iguará, atual município de Nina Rodrigues, a nove quilômetros de Vargem Grande. Àquele tempo, este era apenas um distrito da Vila da Manga. Ainda hoje a memória oral conserva alguns lugares do importante evento: o morro localizado na barra do rio Iguará, em Nina Rodrigues; o mercado público de Vargem Grande; o povoado Olho d‘Água; o morro do Arrebentado; povoados Trincheiras e Cosmo; a Cadeia Velha de Itapecuru Mirim, etc. A Prefeitura Municipal de Vargem Grande já discute a possibilidade de criação de um memorial que abrigue a história de tão marcante evento. A história do negro na região, por outro lado, não se destaca apenas por ter sido o marco inicial do Movimento encabeçado por Negro Cosme, Raimundo Gomes e Manuel Balaio, vez que abriga muitas das mais de quatrocentas comunidades remanescentes de quilombos existentes no Maranhão. Nesta primeira semana de abril, mais precisamente no dia três, solicitado pelo francês Thierry e pela pesquisadora italiana Regina, que pretendiam conhecer algum quilombo do Maranhão, fomos às comunidades Rampa e Pequi da Rampa, localizadas a menos de trinta quilômetros do perímetro urbano de Vargem Grande - MA. Regina faz doutorado em uma universidade da Espanha e realiza pesquisa sobre educação em comunidades remanescentes de quilombo e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra visando defender tese sobre o assunto. A escolha dos dois lugares não foi aleatória, posto que, no caso do povoado Rampa – comunidade pioneira da região –, o nome já sugere resistência, pois para chegarmos ao mesmo faz mister subir uma íngreme ladeira, uma verdadeira rampa, que nem todos os veículos conseguem transpô-la. Nós o fizemos com a ajuda do experiente e veterano guia Otacílio, recomendado a dedo por ser um comerciante de gado e, portanto, exímio conhecedor de povoados, caminhos e veredas do município. No Pequi da Rampa, distante catorze quilômetros da Rampa, percebe-se considerável nível organizacional. A comunidade negra vive, em pleno século vinte e um, uma inimaginável espécie de socialismo. Com a ajuda da Prefeitura Municipal de Vargem Grande, do Governo do estado do Maranhão e da União a comunidade mantem projetos agrícolas onde cultiva couve, repolho, pepino, maxixe, quiabo, abóbora, mandioca, macaxeira, dentre outros, vendidos no próprio município e também exportados para Chapadinha, São Benedito do Rio Preto, Anapurus e vários outros. A comitiva, depois de demorada entrevista ao professor e morador da comunidade, Raimundo ―Raí‖ Fernandes, ao presidente da Associação Juarez Fernandes, à agente de saúde Maria Rosete e ao membro-sócio Ivanilson, se dirigiu ao campo de plantação e pode literalmente ―provar‖ in loco alguns dos produtos cultivados. Entre uma mordida na melancia e outra no mamão papaia, o grupo caminhava na roça, observava as estufas e ouvia dos produtores os relatos pródigos da fartura, oriunda do incansável trabalho dos moradores do Pequi da Rampa e da parceria com o governo nas três esferas. Existe um brejo próximo à lavoura, que, no entanto, a água escasseia no verão, por isto o governo do estado está construindo um açude no local para suprir definitivamente qualquer


carência. Enquanto uns cuidam e cultivam o campo, outros selecionam e encaixotam os produtos, e existem outros ainda que viajam e fazem o serviço de promoção e venda. A arrecadação vai para a associação de moradores que, por sua vez, divide proporcionalmente aos moradores. Na comunidade, vale dizer, não existe comércio, os mantimentos são comprados na cidade. Não existe sequer um bar ou uma bilhar, coisa facilmente encontrada em qualquer outra comunidade. A diversão são as festas – fomos convidados para a próxima, dia 31 de maio –, as partidas de futebol no campinho, que fica no centro da comunidade, e uma cerveja ou cachacinha no fim do dia para aquecer o corpo, a final ―ninguém é de ferro!‖. Os índices de criminalidade, segundo o associado e membro do Conselho, Wilson Fernandes, é praticamente zero. As raríssimas ocorrências são de motivação externa, praticadas por alguém de outro lugar. Os problemas do povoado, ao contrário de qualquer outra comunidade, não vão desaguar na polícia, são resolvidos entre eles, pelo Conselho comunitário. Outra curiosidade é que se alguém vai embora do povoado não pode vender a casa (todas são de telha e tijolo), pois é propriedade da comunidade. Outro morador ocupá-la-á. O líder comunitário é eleito de dois em dois anos, com direito a apenas uma reeleição. Após a visita ao campo, a comitiva foi gentilmente convidada para um delicioso almoço na casa de Wilson Fernandes. No cardápio, galinha caipira (do próprio quintal, é claro!), e toda sorte de guloseimas produzidas na comunidade: farinha d‘água sequinha, pepino, couve, pimenta, maxixes (enormes, os maiores que já vimos), quiabo, etc. Detalhe: tudo sem agrotóxico, pois os produtos utilizados na borrifação da lavoura são feitos por eles mesmos a partir de plantas e ervas cultivadas no próprio local. A exceção à mesa ficou por conta do arroz e da Psiu cola, que são produzidos fora. Ao final, o anfitrião não aceitou pagamento do farto almoço e ainda nos ofertou alguns produtos da lavoura. Pagamento, nem pensar! Faz jus ao modelo do lugar, pois ali ―não existe comércio‖. Thierry lembrou que esteve na Costa do Marfim e Cabo Verde e lá aconteceu a mesma coisa. Foi um dia muito feliz para a comitiva e para a comunidade, pois quase tudo no quilombo Pequi da Rampa lembrava um pouco da magia e da generosidade do africano. A comunidade saiu da condição de mero consumidor com o incentivo inicial da organização humanitária da igreja Católica Cáritas Brasileira. Hoje é um belo modelo exportador. Em fins do ano de 2010, outros dois franceses, os etnólogos Jean-Yves Loude e a esposa Viviane, estiveram visitando alguns dos quilombos do estado. Jean-Yves é escritor e publicará uma obra sobre a resistência no Brasil. Ele reserva um capítulo ao Maranhão, onde abordará a história da Balaiada, os quilombos, a abolicionista Maria Firmina dos Reis, dentre outros. Para tal, viajou diversos municípios pesquisando a história das comunidades, incluindo Frechal em Mirinzal, Damázio em Guimarães, Santana dos Pretos em Alcântara, além de realizar diversas entrevistas com líderes comunitários e pesquisadores de Itapecuru Mirim, Vargem Grande e Nina Rodrigues.


A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA. ALEXANDRE FERNANDES CORRÊA http://teatrodasmemorias.blogspot.com.br/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html

(O geógrafo ao tempo em que escreveu 'O Torrão Maranhense') RESUMO Um breve texto sobre a obra etno-geológica de Raimundo Lopes. Memória da Etnologia no Maranhão e no Brasil. Intelectual maranhense da primeira metade do século XX, herdeiro da tradição antropogeográfica de Friedrich Ratzel, Emmanuel Martone, assim como do grande autor brasileiro Euclides da Cunha. Palavras-chave: Etnologia Brasileira – Memória etnológica – Antropogeografia maranhense. ABSTRACT A brief essay about the ethno-geologic work of the Raimundo Lopes. The memory of the ethnology in Maranhão and Brazil. The local intellectual of the beginning century XX. Legatee of the tradition anthropogeographic of the Friedrich Ratzel, Emmanuel Martone, as well as the Brazilian great author Euclides da Cunha. Key Words: Brazilian ethnology – Ethnologic memory – regional anthropogeography.

Resenha de livro raro: 'Uma Região Tropical', de Raimundo Lopes Paulo Avelino avelino@roadnet.com.br http://fla.matrix.com.br/pavelino ICQ# 53760772 LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2.

As viagens de turismo talvez sejam a maior ilusão desses tempos de ilusões. Tem os problemas de sempre, como os prefeitos achando que a gente tem o dever de visitar suas cidades embora eles não preservem a história nem recolham o lixo. Tem os guias de turismo, uma categoria de gente sorridente que se convenceu de que seus clientes são uns imbecis e os trata como tal. Mas o principal problema não são esses. É que – a terra existe, o povo existe. São perceptíveis a nosso olho e demais sentidos. Quando viajamos estamos lá: nosso olho e o mundo, cara a cara. Mas uma das desgraças de ser humano é que o mundo nunca se nos apresenta integral. O mundo em estado de nudez não é apreendido por nós. Sempre precisamos de uma mediação. Um rio é só um rio – até que sabemos que ele era usado como refúgio de piratas, que uma organização está realizando eventos para arrecadar dinheiro para preservá-lo e que houve um quilombo de escravos nas suas margens cujos descendentes ainda estão por lá – o rio ganha uma outra dimensão. Uma casa velha é só uma casa velha – até que sabemos que foi feita com óleo de baleia pois não havia


cimento na época. Quando ganhamos conhecimento o próprio mundo muda – daí a proposição do filósofo Ludwig Wittgenstein os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo. Se viajamos sem conhecimento o mundo muda muito pouco – aquele lugar visitado não entra em nosso mundo, apenas o roça – como uma sombra que lembramos vagamente. Quando visitei o Maranhão em dezembro de 2001 o estado estava em voga – a governadora era a candidata conservadora de plantão. Eu ia para os Lençóis Maranhenses. Mas ao desembarcar do avião e antes de pegar o ônibus corri a um sebo na rua Sete de Setembro em São Luís, perto do Teatro Artur Azevedo. E foi aí que pela primeira vez ouvi falar em Raimundo Lopes da Cunha. Raimundo Lopes foi uma dessas verdadeiras mentes brilhantes, só que sem necessidade de mercadologias ruliúdianas. Escreveu seu primeiro livro, ―O Torrão Maranhense‖, considerado pelos especialistas o primeiro bom livro de geografia sobre a região. Só que o escreveu quando a maioria das pessoas está pensando em outras coisas que em teorias geográficas – ele o escreveu aos dezesseis anos. E o publicou no ano seguinte, 1916 (nascera em 1899). Pouco depois entrou para a Academia Maranhense de Letras, e uma de seus pontos altos, segundo quem leu (eu não tive acesso a tal texto) foi o elogio a Maranhão Sobrinho. Esse era um poeta então recentemente falecido e com uma poética moderna. Anos depois o concretista Augusto de Campos o homenageou com o ensaio Stefânio Maranhão Mallarmé Sobrinho. Nos anos vinte Raimundo Lopes fez escavações pelo interior do estado, e disso resultaram descobertas responsáveis por duas das três menções ao seu nome que existem na Internet. Uma é a estearia do lago Cajari, no município de Penalva, no vale do grande rio Pindaré. Estearias ou cacarias eram os nomes que o povo da região dava ao que o quase menino (tinha pouco mais de vinte) professor de geografia descobriu que eram na verdade vestígios de uma aldeia de palafitas de pessoas que habitavam aquele mesmo lugar, sobre a superfície daquele mesmo lago, cerca de dois mil antes de Cristo. Foi uma descoberta importante. Eram as primeiras habitações lacustres encontradas em todo o mundo fora da Suíça. As primeiras no continente americano. Pesquisadores do Museu Nacional e do exterior louvaram esse feito. Depois ele realizou outra descoberta, o sítio cadastrado como MA-SL-4, também chamado de Sambaqui da Maiobinha. Sambaquis são pilhas de conchas, peixes e outros vestígios de povos que viviam á beiramar. Esse é bem próximo da capital, na estrada entre São Luís e a cidade-dormitório de São José de Ribamar, sítio que o próprio IPHAN classificou como relevância Alta. Na década de trinta começaram a sair no Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio os capítulos sucessivos do livro que comprei no sebo, Uma Região Tropical. Tempos depois, no final dos sessenta, a SUDEMA – Superintendência do Desenvolvimento do Maranhão – escolheu alguns livros clássicos sobre o estado. E reeditou este livro, que é uma ampliação d´‖O Torrão Maranhense‖ ou, como diz o anônimo autor da notas de introdução, ―o alargamento, o aprimoramento ou o fortalecimento das idéias e das análises do seu primeiro livro‖. Foi esse o livro que me serviu de companhia enquanto eu adentrava o estado em uma rodovia nova com paradas de ônibus imundas. As rodovias novas se explicavam: a candidata conservadora estava querendo mostrar que sabia fazer estradas, e que suas idéias provavelmente não eram diferentes das de Washington Luís, o tal que dizia que governar é abrir estradas. As paradas imundas e a sujeira de plástico e lixo em geral perto das cidades também eram tristemente lógicas: estava rumando para uma região que sempre foi paupérrima dentro de um estado que já foi rico e hoje é pobre.


Foi com Raimundo Lopes que eu descobri que o Maranhão é historicamente como quatro dedos espalmados, sendo cada dedo um rio. Da esquerda para a direita, o Pindaré, o Grajaú, que é afluente do próximo, o Mearim, e o Itapecuru. Todos convergindo para a Baía de São Marcos, onde está São Luís. Foi nos vales desses rios, caudalosos rios, que se instalou mais uma onda de civilização do açúcar em meados do século XIX. Os barcos dos latifundiários subiram esses rios queimando matas, cortando árvores e fazendo um mar de cana. Posteriormente o algodão, quando a guerra civil americana empurrou para cima os preços do produto. O mais importante era o Itapecuru, um rio polvilhado de cidades na sua margem, com navegação a vapor e depois ferrovias. Sua principal cidade, Caxias, deu origem ao título que um personagem importante do Império recebeu. Em 1872 quando do primeiro censo São Luís tinha um produto bruto maior que São Paulo capital. Era a época dos casarões de quatro andares. A região para a qual eu ia não tinha nada disso. Pelo contrário, como dizem os prospectos para turistas, os Lençóis Maranhenses ―são o único deserto brasileiro‖. São uma sucessão de dunas salpicadas de lagos em forma de meia-lua que se enchem durante a estação chuvosa. Essa morraria (é assim que o povo a chama) se estende de forma absolutamente uniforme no sentido do sudoeste, o sentido do vento. A cidade mais próxima, Barreirinhas, era uma espécie de oásis porque é contada por um rio, o Preguiças. Segundo a ―Enciclopédia dos municípios brasileiros‖ de 1959 era um refúgio dos negros fugidos. A cidade sofreu muito com a Balaiada, na década de 1830. Seu rebanho de gado foi todo dizimado, a enciclopédia não diz se por vingança ou por que os exércitos que passavam se alimentavam dos bois. Curiosamente a falta de terreno para a agricultura que fez com a região ficasse abandonada hoje é sua grande atração – os turistas vêm ver o areal. E com o declínio dos preços do algodão e pouco depois com a abolição da escravatura – os escravos eram os que trabalhavam para valer – o Maranhão teve sua indústria e prosperidade desmanteladas. Raimundo Lopes não viveu muito. Na década de 1930 dava radioaulas na Rádio MEC sobre geografia, que depois foram coletados por um seu irmão e publicados sob o nome ―Antropogeografia – suas origens, seu objeto, seu campo de estudo e tendências‖. Este livro é responsável pela terceira e última menção a Raimundo Lopes da Cunha existente na Internet. Morreu em 1941, com apenas quarenta e dois anos de idade, quando trabalhava no Museu Nacional. Anos depois a SUDEMA pediu permissão a sua viúva Graziella Costa Lopes da Cunha, residente no Rio como toda a família, para a publicação de Uma Região Tropical, que anos depois fui encontrar num canto dum sebo de São Luís. Alguma coisa que restou de uma mente brilhante, que me deu linguagem para que eu pudesse ver além das praias e folhetos. Raimundo Lopes na Internet: http://www.iphan.gov.br/bancodados/arqueologico/mostrasitiosarqueologicos.asp?CodS itio=5431 http://www.iphan.gov.br/bancodados/arqueologico/mostrasitiosarqueologicos.asp?CodS itio=5434 http://acd.ufrj.br/museu/bibliote/revimn96.txt


VALORIZAR O PASSADO PARA COMPREENDER O PRESENTE NATALINO SALGADO FILHO Publicado em O Estado do Maranhão em 08/04/2012

Por uma dessas coincidências da vida sobre as quais muitas vezes não temos explicações, deparei-me recentemente com a descoberta do artigo de dom José Medeiros Delgado, intitulado A Cidade Universitária, publicado no Jornal do Maranhão, em 7 de agosto de 1960. A coincidência é o fato de que, em 29 de janeiro de 2012, publiquei, aqui mesmo em O Estado do Maranhão, um texto justamente intitulado Cultura Universitária x Cidade Universitária, no qual tratava do momento auspicioso que vive a Universidade Federal do Maranhão, renovada em seus ideais de bem servir a comunidade na qual está inserida, entendida hoje no conceito real de Cidade Universitária. Quando da publicação de meu artigo, discorri sobre o aumento dos cursos de graduação, especialização, mestrados e doutorados; ainda sobre a política atuante de interiorização dos cursos em parceria com o governo do Estado e prefeituras, reconhecendo a vocação de cada região desse nosso grandioso Maranhão; o incremento nas obras físicas no Campus e nos Campi, bem como o crescente número de eventos, parcerias, projetos realizados e, com especial destaque para a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, que será realizada de 22 a 27 de julho de 2012, em São Luís, como parte da programação dos 400 anos de fundação da cidade, que adotou como tema Ciência e Cultura: Saberes Tradicionais para enfrentar a pobreza. Para aqueles que ainda não conhecem a figura emblemática de dom José Medeiros Delgado, trata-se de um homem visionário, apaixonado pelas letras e pelas ciências e que veio para cá em 1951, quando assumiu o Arcebispado e aqui ficou até 1963, quando foi transferido para Fortaleza. Dom Delgado figurou entre os mais importantes intelectuais da época que lutaram para que o Maranhão tivesse sua universidade. Muitos são os seus feitos e seu legado de dedicação e desvelo em prol do conhecimento. Para um reconhecimento ainda maior, informo que estamos trabalhando para resgatar essa história e assim prestar uma justa e merecida homenagem a pessoas que, como ele, abraçaram a causa do conhecimento e sonharam um dia em legar uma universidade às outras gerações. Ao ler o artigo de dom Delgado, pude vislumbrar ecos proféticos, principalmente quando ele afirma que ―A Cidade Universitária (...) terá de consumir uns 50 anos de trabalho. Alguns Arcebispos passarão pelo Maranhão. Isto a terceira geração, a contar d‘agora, virá contemplá-la realizada‖. Em 2012, passados 52 anos de suas palavras, a profecia alcança seu real cumprimento, pois a Cidade Universitária é hoje uma feliz realidade para milhares de pessoas que um dia entraram por aquelas portas e saíram graduados, mestres, doutores e para aqueles que ainda estão trilhando esse caminho. E isso sem contar com diversas ações empreendidas para a melhoria e engrandecimento da sociedade maranhense. Dom Delgado, à sua época, também enfrentou diversas dificuldades e oposições, mas preferiu falar de fé e perseverança, numa lição que se sobrepõe a qualquer época ou


geração, como ele mesmo destaca: ―Para os Bispos, dignos dêste nome, o imediatismo não é a grande fôrça. A História os mede pela perseverança. Nenhum deles vive exclusivamente do presente, crescem alimentados pela esperança. O futuro instala-se dentro de seus corações, comunicando-lhes um poder que os descrentes desconhecerão e os sonhadores apenas vislumbram. É daí que vem a fôrça dos que não possuem armas materiais‖. Talvez dom Delgado sequer imaginasse como o sonho iria realizar-se ou qual seria sua exata dimensão. Ao falar de Cidade Universitária, apontava para algo que à época poderia ser entendido por um mero devaneio, mas que ele escolhera como missão de vida, sem, contudo deixar de se questionar dos espinhos da árdua tarefa: ―Quantos adubarão a terra com a ruína de corpos mortais até que tanto se faça? Quais os que morrerão espiritualmente durante a peleja? Quem escolherá imortalizar-se por feitos gloriosos na execução do magnífico projeto? Só Deus saberá responder a tais indagações (...) O filho de Deus deve sonhar inclusive com a Cidade Universitária‖. Com certeza inspirado pelo mandamento bíblico dos evangelhos que afirma que ―Tudo é possível ao que crê‖, dom Delgado estimulou gerações de homens e mulheres a atenderam ao chamado de construir a Cidade Universitária. Essa menção a esse episódio é importante, pois valorizar o passado também é uma forma de compreender o presente. O desafio de sonhar algo inovador nunca foi fácil e mais difícil ainda trabalhar na realização desse sonho, mas com determinação e coragem é possível transpor todos os obstáculos. Que a voz profética de dom Delgado nos inspire a continuar na busca da perfeição e que outras gerações não apenas conservem o que já conquistamos, mas trabalhem na evolução dessa conquista.


PADRE DAVI TOGNI, O BOM SACERDOTE ÁLVARO URUBATAN MELO Em São Bento dos meus encantos, cujas glórias não me extenuam em louvá-las, nem os méritos quaisquer que sejam os personagens, amigo ou mero conhecido, inibem-me de exaltá-los. Esse meu agir, nenhum cidadão conhecedor das minhas publicações, que tenha um mínimo escrúpulo é capaz de refutar. Oxalá que muitas autoridades tivessem esse olhar de apreço aos vultos de outras plagas, desprovidos de interesses exclusos, que se dedicaram honesta e carinhosamente seus esforços em prol da comunidade, e os fazem até mais do que muitos filhos. No entanto, há outros que fazem menos, ou nada fazem, recebem todos os galardões pelas suas atividades profissionais. Refiro-me àqueles que se escondem no manto de sua modéstia; que fogem dos encômios porque seus feitos são deveres ou vocações. Eis um, entre os merecedores do grato aplauso comunitário - o Padre Davi Togni. Não sei se lhe dispensaram ou vão fazê-lo, na grandeza de que faz jus. A Academia Sambentuense, o seu presidente, têm a obrigação e a alegria de agradecê-lo por tudo que efetuou em benefício de São Bento, em todos os ramos que atuou. Padre David o talentoso artista – pintor -, o educador, o operário, sacerdote dos sermões objetivos, escorreitos. O operoso Padre David, sacerdote tradicional, deixa a paróquia depois de servi-la com seriedade e extrema dedicação. A batina - indumentário inseparável os distingui entre todos. Desconheço neste Maranhão outro que a use. À véspera de completar meio-século vivido em São Bento, de haver oferecido toda a sua juventude a esse chão que o fez seu, amou e zelou; de considerar-se sãobentuense por opção; cumprida sua proveitosa missão sacerdotal e humana, quando pensávamos que viveria conosco seus últimos dias, decidiu retornar ao torrão natal, ao seio familiar. Ele nasceu a 1° de setembro de 1931 (dez anos antes do querido mano Pretinho), na comuna de Roé Volciano, Província de Bréscia, região da Lombardia, ao norte da Itália, aos pés dos belos Alpes italianos. Foram-nos seus pais Ângelo Togni e Caterina Silvestri. Estudou o primário na Escola Elementare de sua terra. O ginásio e filosofia fê-los no Seminário Sagrado Coração, na cidade de Maderno Del Garda. Teologia cursou no Seminário Diocesano de Bréscia. Ordenou-se na Catedral dessa Província, a 20 de julho de 1959. No dia seguinte, celebrou a primeira missa, no Instituto Artigianelli, Casa mãe da Congregação Sagrada Família de Nazaré. Recebeu obediência do Superior Geral e foi para Tavona de Castel Gandolfo. Em 31 de agosto teve audiência particular com o Papa João XXIII. A 3 de setembro de 1962 recebeu a missão de viajar para o Brasil. Partiu a 20 de setembro. Depois de passar dias em Recife, Fortaleza e São Luís, chega a São Bento em 20 de outubro de 1962. Deram-lhe por missão sublime catequizar crianças da zona rural, comunidades do Olho D‘água, Santa Rosa, Barros. Sororoca, Campinho, Belém, São Raimundo, povoados que pelos relevantes trabalhos é queridíssimo.


Suas virtudes serão lembradas pela pintura do teto da Matriz, como competente mestre das oficinas do Ginásio Industrial, professor de Desenho Geométrico desse ginásio e da Escola Normal. Recordado sentado no cair da tarde, no batente da Casa Paroquial. Padre David deixa-nos em dia histórico, 19 de abril, data da criação do município de São Bento, ano de 1833, mas seu carinho e suas lembranças do tempo morado e mourejado em nossa cidade o acompanharão. Nós o agradecemos e sentiremos sua falta, desejando-lhe Paz e Saúde. O chão que guarda o umbigo o chama. O atavismo é forte e natural. No caminho da volta ninguém se perde – dizia o poeta José Américo de Almeida. Antes de agradecer ao Amigo Professor Antônio Castelin pelas valiosas informações, alusivas ao homenageado, o fazemos ao Padre David, em nome da Academia Sambentuense e da família Ribeiro Melo, nosso reconhecimentos. Seu nome e sua passagem pela terra do arcebispo Dom Luis de Brito e do bispo Dom Felipe Conduru, ficará exarado nas páginas de nossa história como um de seus benfeitores. . O futuro, implacável e justo, o louvará.


A ILHA DO CIRURGIÃO ANTONIO NOBERTO O quadricentenário de São Luís poderá não ser o mega evento que os maranhenses esperavam, mas com certeza será um momento de muitas descobertas e revelações sobre a história do Maranhão. E isto, como era de se esperar, muito mais por conta do vírus da curiosidade que acomete o bom pesquisador, do que da burocrática disposição governamental. Não faz dez anos o ator francês e apaixonado pela história do nosso Estado, Jean Marie Collin, nos apresentou o brasão do fundador de São Luís, Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, encontrado um ano antes gravado na pedra de uma igreja na cidade natal deste, Berthegon, na região do Poitou. Collin mandou refazer o símbolo heráldico e presenteou o governo do estado, cerimônia que tive o privilégio de participar.

A historiadora francesa Claudine Doreau também nos ofertou uma importante obra de sua autoria: Daniel de La Touche: grand navigateur, son histoire, trabalho que conta com uma modesta contribuição nossa e, por outro lado, uma grande homenagem a minha pessoa. Esta obra, que entre outras coisas mostra o local de nascimento, sepultamento e toda a trajetória do nosso ilustre navegador, deverá ser lançada no Maranhão, em português, até o final deste ano. Tudo por esforço particular, não governamental. Uma exposição sobre a França Equinocial também deverá ser realizada próximo ao oito de setembro deste ano. Temos visto o interesse das emissoras de televisão em produzir extensas matérias sobre o assunto que, certamente, nos trarão muitas novidades. A título de informação, sabemos que a Mirante, afiliada da Rede Globo, e a TV Praia Grande, ligada ao Grupo Bandeirantes, por exemplo, já iniciaram faz tempo os preparativos das suas respectivas matérias. E nós continuamos com nosso arsenal de informações sobre este belo, porém, ainda obnubilado, primeiro capítulo da história do Maranhão. Não raro enfrentando a crítica injusta e pouco fundada dos galófobos e, por outro lado, agradecendo aos incentivos daqueles – a imensa maioria – que, lúcidos, entenderam que a história dos franceses no Maranhão é, além de uma questão de justiça, uma maiúscula oportunidade de incremento da economia local através da atividade turística. E com isto fazem coro comigo e com o estimado ator global Paulo Autran, que certa vez disse: ―Sempre haverá discordância entre quem faz e quem critica. Eu, todavia, prefiro quem faz.‖. E vamos


continuar fazendo, tentando desmistificar aquilo que a história do vencedor luso, motivada pelos interesses políticos e econômicos, promoveu nestes quatro séculos contra brasileiros e estrangeiros, mostrando este singular capítulo da nossa história, que traz consigo um pouco do sonho e da história de cada um de nós. Falemos então sobre a Ilha do Cirurgião. O valente conquistador Jerônimo de Albuquerque, em 13 de dezembro de 1614, do Forte de Santa Maria, do outro lado da Baía de São José, enviou seu parente, Gregório Fragoso de Albuquerque, a Paris, levando ao embaixador da Espanha na França, um relato infernal dos franceses no Maranhão. Entre as muitas denúncias dizia ele: ―Que o Senhor de La Ravardière tem dado terras, e índios a fidalgos e soldados seus, os quaes vivem fazendo fazendas, e as possuem como suas nas terras de El-Rei de Hespanha...‖. E não é sem razão este relato do capitão, líder dos portugueses na batalha de Guaxenduba, vez que observamos consideráveis doações na Ilha Grande e no continente. Uma destas é a atual Ilha do Curupu, então batizada de Ilha Daniel de La Touche. E outra, tão importante quanto, é a Ilha do Cajual – que atualmente pertence ao município de Alcântara –, então cedida ao primeiro médico e cirurgião do Maranhão, Tomas de Lastre. Alguns historiadores o consideraram o primeiro cirurgião do Brasil (nessa época a população branca no país era diminuta, estimada em menos de trinta mil. Albuquerque nesta mesma carta diz que ―tem mais de três mil portugueses‖), fato aparentemente pouco crível. Verifica-se, inclusive, que, antes de De Lastre, o Maranhão já recebera outra visita ilustre de um médico francês, o boticário do rei Henrique IV, Jean Mocquet, o ―guardião do gabinete das singularidades‖ do rei de França, que viera com La Ravardière em sua viagem à Guiana e ao Maranhão em 1604. Talvez tenha sido a primeira viagem destes dois últimos ao Maranhão. Mocquet, em sua última viagem oficial (ele fez ao menos cinco), desta feita à Palestina, trouxe mudas que foram plantadas no Jardim do Palácio do Louvre, hoje museu. Em tempos tão primitivos, ainda com forte influência medieval, ter um cirurgião experiente em uma expedição era algo um tanto raro. A marca de De Lastre, por sua vez, não ficou apenas na competência na arte de curar, destacou-se também no profissionalismo e na humanidade, vez que, recomendado por La Ravardière, não julgou por usurpação socorrer o próprio filho de Jerônimo de Albuquerque, na conhecida Batalha de Guaxenduba, ao se deslocar às trincheiras inimigas a fim de tratá-lo de ferimentos provocados por tiros de arcabuz. Foram atitudes nobres desta natureza que fizeram com que o papa Paulo V, em audiência ao Reverendo Padre Provincial dos capuchinhos de Paris, em 1631, chamasse a missão francesa no Maranhão de ―tão santa empresa‖ (si sainte enterprise). O bom exemplo dos franceses foi referendado pelos próprios portugueses que ficaram no Maranhão, que não pouparam elogios aos gauleses. As poucas vozes dissonantes eram aquelas de motivação política dos vencedores que, algumas vezes, tentaram pinchar de piratas e ambiciosos os colonos da França Equinocial. Depois da saída de De Lastre, o pajé e a rica flora continuariam sendo os únicos salvadores nos momentos de enfermidades de índios e brancos, além, é claro, dos saberes femininos que preparavam as alquimias, que, por conseqüência, muitas mundo afora foram levadas para fogueira sob a injusta acusação de bruxaria. Na segunda


metade daquele século, no Maranhão, o Padre Antonio Vieira reclamava que ―existia muita falta de medicamentos, como de médicos, que não havia‖. A Ilha do Cirurgião aparece como uma incógnita na obra de Simão Estácio da Silveira, Relação sumária das cousas do Maranhão, dirigida aos pobres deste Reino de Portugal, publicada em Lisboa em 1624, onde descreve o céu saudável, as águas puras e o chão fértil da terra. Nela encontramos a descrição do território do Maranhão e de suas principais ilhas, onde se lê: ―a Ilha de São Luís tem vinte e duas léguas de comprido, (...) a de Santa Ana, (...) a de La Touche, (...) [e] uma que se deu a um cirurgião, que terá quatro léguas...‖ e outra chamada das Pacas, de que Sua Majestade me fez mercê, que será de até duas léguas (2001: p. 38). A Ilha do Cirurgião Tomas de Lastre aparece claramente no mapa dado por La Ravardière a Diogo de Campos Moreno, depois repassado ao cosmógrafo do rei de Portugal, João Teixeira Albernás, que o arrematou de forma cirúrgica (sem querer fazer alusão ao título deste texto). O mapa, publicado pela primeira vez na obra Livro que dá razão do Estado do Brasil, por volta de 1616, de autoria creditada a Diogo de Campos Moreno – aliada às descrições feitas por Estácio da Silveira na citada obra –, não deixa dúvidas quanto a Ilha do Cirurgião.

Mas o que levaria De Lastre a optar por aquele pedaço terra (esquecido até aos dias de hoje)? Conversando com dois amigos arqueólogos, eles afirmaram que, entre os achados paleontológicos, encontraram ossos de animais pré-históricos ―à flor da terra‖. Será que os nativos o avisaram da existência de tais achados? Ou será que a escolha se deu apenas pela exuberante riqueza da fauna e da flora do lugar? Talvez a revoada dos milhares de guarás tenha favorecido na escolha do nosso primeiro médico, cirurgião e cientista do Brasil setentrional. A população da Ilha do Cajual ainda vive no medievalismo, não obstante a proximidade com a capital maranhense. Lá não existe comércio. A população é reduzidíssima e isolada a ponto de existir muitas pessoas com deficiência física, provavelmente pela inexistência de novos moradores, o que desfavorece a circulação de novos genes. A população de Santana dos Pretos (comunidade remanescente de quilombo) parece ainda viver o medo do ―homem branco‖, que raramente vai lá. O acesso até a Ilha é muito complicado.


O bom de toda essa história é que tanto a Ilha do cirurgião, com seus muitos guarás e descobertas paleontológicas, quanto à própria cidade de Alcântara continuam seduzindo muitos turistas e visitantes a descobrir um pouco mais da história e da natureza do município. O turismo pode sim reverter o medievalismo da Ilha do Cajual, aliás, do Cirurgião!


A ARTE DE CURAR – O PAJÉ AYMORÉ ALVIM http://www.facebook.com/groups/312091345499416/permalink/374024945972722/

Os índios do Maranhão, segundo narrativa de d‘Abbeville, eram fortes e gozavam de boa saúde. Tinham à sua disposição uma dieta farta e variada. As patologias, embora identificadas apenas pelo quadro sintomatológico apresentado, se restringiam a uma nosografia pouco expressiva. Sugestionável e místico, o índio atribuía a origem das suas doenças à vontade das divindades nas quais acreditavam ou à ação de inimigos através de feitiços. É nesse mágico universo que emerge a força xamanística do pajé, uma espécie de médico, feiticeiro, líder espiritual que desfrutava, até certos limites, do respeito e consideração de todos da tribo, pois assim como podia curar podia também lançar maldições cujos efeitos negativos influenciavam bastante a sugestionável mente desses aborígines. A formação de um jovem para substituir o velho pajé exigia todo um procedimento ritualístico de iniciação. Submetia-se a prolongado jejum, comia alimentos exóticos, ingeria poções secretas, se inteirava das relações com o sobrenatural além do aprendizado para saber usar a rica flora local. Temido, a ele todos recorriam em busca de benzeduras e talismãs para mal olhado ou para encomendar alguma poção para seus males. Aplicava massagens, fazia sangrias e sob efeito de alucinógenos dizia entrar em contato com entidades superiores que lhe revelavam ou lhe permitiam vaticinar a causa de uma doença ou a medicação indicada. Cobrava pelos serviços prestados. Quando desenganava um paciente, este era abandonado à própria sorte pelos familiares para morrer ou o matavam para aliviar suas dores. Mas se falhasse nos seus vaticínios ou não obtivesse sucesso na sua medicação seu trabalho era ridicularizado pelos parentes do doente e, não raras vezes, morto. Físicos, cirurgiões, barbeiros eram profissionais desconhecidos na região. Nem mesmo nas expedições empreendidas por franceses ou mesmo pelos portugueses para reintegração de posse, esses profissionais se faziam presentes apesar dos perigos decorrentes das guerras que travavam. Não raras vezes lê-se que nas expedições portuguesas para desalojar o invasor havia reclamação dos comandantes pela falta de pelo menos barbeiro e mezinhas (medicamentos) em face dos riscos que corriam. Moreno relata que ao longo dos preparativos para a conquista do Maranhão aos gauleses houve protestos pela falta desses profissionais e de mezinhas considerando que S. Majestade já havia instruído a presença dos mesmos nas naus que partiam dos portos portugueses para essas jornadas de extremo perigo. Como exceção, há referências, em Cunha e Meireles, sobre o Monsieur Thomas de Lastre, médico-cirurgião de La Ravardière que veio na sua expedição trazendo mezinhas. Movido pela solidariedade ao inimigo atendeu à solicitação de La Ravardiere para prestar assistência aos soldados franceses feridos em batalha. Esse médico, ao iniciar seu exercício de profissional assim que chegou ao Maranhão, em 1612, é o marco histórico dos 400 anos de medicina no Maranhão.


SEMINÁRIO DO IHGM DISCUTIRÁ SOBRE O DOMÍNIO DAS OLIGARQUIAS NO MARANHÃO Entrevista concedida ao Jornalista Waldemar Terr do Jornal Pequeno Do Blog do Manuel Santos (http://www.jornalpequeno.com.br/blog/manoelsantos/)

O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) realizará, na próxima quarta-feira (25), o terceiro seminário da série que vem realizando para discutir a fundação do Maranhão e de São Luís, por conta do 4º centenário da capital maranhense. Nesta nova etapa será tratado o tema ―Maranhão Republicano – as oligarquias‖. O vice-presidente do IHGM e um dos organizadores do evento, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, conta que haverá uma série de palestras, com destaque para a do professor Márcio Coutinho, que tratará justamente do Maranhão Republicado – as oligarquias. ―Este é o terceiro seminário; já discutimos a chegada dos europeus – período colonial -, o período imperial, e agora chegou a hora de discussões sobre a República, a era das Oligarquias. Este é o destaque: por que nesse período republicano a ‗forma de governo‘, vamos dizer assim, foi a oligárquica. Está dividida em três períodos: República Velha – da Proclamação da República até a Revolução de 30; o período de 30 até meados dos anos 60, com Paulo Ramos e Vitorino Freire; e o atual, do Maranhão Novo ao Novo Maranhão‖, informa o vice-presidente do IHGM. Vaz afirma também que ―o que caracteriza este período da História é que todo ele teve um personagem forte, vamos dizer assim, o ‗macho dominante‘, que ditou os rumos político-administrativos do Estado, influenciando no Governo e, principalmente, na Governabilidade‖. Eis a entrevista concedida a Waldemar Terr: JORNAL PEQUENO – O que levou o IHGM a partir para a realização dos seminários sobre a Fundação do Maranhão e de São Luís? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – O momento das comemorações do 4º centenário de São Luís. Havia uma cobrança de que nada estava sendo organizado, principalmente pelos entes devotados ao estudo da memória/história do Maranhão. Daí que ainda em 2010, em dezembro, foi constituída uma comissão formada pelo Washington Cantanhede, Raimundo Meireles, Telma Bonifácio, e eu para apresentar uma proposta de ação do IHGM. O resultado foi o Ciclo de Estudos e Debates, com a realização de seis Seminários. JP – O que merece ser destacado nesse período?


LGDV – Este é o terceiro seminário; já discutimos a chegada dos europeus – período colonial –, o período imperial, e agora chegou a hora de discussões sobre a República, a era das Oligarquias. Este é o destaque: por que nesse período republicano a ‗forma de governo‘, vamos dizer assim, foi a oligárquica. Está dividida em três períodos: republica velha – da proclamação da republica até a revolução de 30; o período de 30 até meados dos anos 60, com Paulo Ramos e Vitorino Freire; e o atual, do Maranhão Novo ao Novo Maranhão. JP – Quais os tipos e importâncias dos trabalhos já inscritos; e como se dará a apresentação? LGDV – Temos quatro momentos, sendo uma conferência magna, introdutora do tema – e o deste seminário é o período republicano – e a seguir uma mesa de debates, com três expositores, cada um abordando cada período em que dividimos essa fase de nossa história, seguida de um debate entre os quatro e o plenário; os outros dois são dedicados a professores-pesquisadores, e acadêmicos das várias ciências que constituem a área das ‗sociais‘, também em dois formatos: apresentação oral e poster. JP – Qual o motivo de ter sido adotado como um dos temas, ―Maranhão Republicano – as oligarquias‖? LGDV – Porque o que caracteriza esse período da História é que todo ele teve um personagem forte, vamos dizer assim, o ‗macho dominante‘, que ditou os rumos político-administrativos do Estado, influenciando no Governo e, principalmente, na Governabilidade. Basta ver a sucessão de crises desse período… JP – Quais os principais palestrantes, com seus devidos temas, e outros convidados para o evento? LGDV – No primeiro seminário tivemos um dos maiores especialistas brasileiro em Brasil Colônia, o presidente do IHGB Arno Wehling; no segundo, um dos expoentes do estudo da História no Maranhão, Marcelo Cheche Galves; e agora Márcio Coutinho. JP – Pode ser destacado mais um algum evento da agenda? LGDV – Sim, junto a este seminário, estamos dando continuidade ao projeto Gonçalves Dias, com a reunião dos participantes em seu segundo encontro de planejamento; ocorrerá no período da tarde e noite. JP – O que vem a ser Projeto Gonçalves Dias com a participação de várias entidades? LGDV – O desafio de realização do evento foi feito pela Confreira Dilercy Adler; poetisa, esteve no Chile participando de um evento em homenagem a Pablo Neruda; os poetas do mundo ali reunidos resolveram, então, replicar esse evento em diversos países da América Latina; daí que a Dra. Dilercy trouxe a idéia de homenagear nosso poeta maior: Gonçalves Dias, com uma antologia ‗MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS‘. Estamos empenhados na realização, além do IHGM, a FALMA, a Sociedade de Cultura Latina, o IHG de Caxias, a AL Caxias, a AML, a UFMA/Palácio Cristo Rei, UEMA/Caxias, UFMA/Caxias… JP – Na opinião do senhor, o que pode ser destacado na formação de São Luís nesses 400 anos? LGDV – Primeiro a discussão que se abriu: ser ela francesa ou não; daí que os temas dos próximos Seminários serem estes; São Luís foi fundada por franceses; não foi fundada por franceses; e foi fundada por quem? Conclusões possíveis. Esse o desafio lançado ao IHGM. Aproveitamos as discussões internas, quando da elaboração do


programa, para discutir se foi ‗fundação‘ do Maranhão, ou fundação de sua cidade; daí que há dois eixos: formação do Maranhão (seminários 1 a 3) e fundação de São Luís (seminários 4 a 6); possivelmente faremos um único evento, apenas mais um seminário, desta vez em três dias, com cada dia respondendo a uma questão destas que estão colocadas. JP – Qual o tamanho da culpa das oligarquias na pobre formação do Maranhão? LGDV – Primeiro, o Maranhão é maior de que seus dirigentes, tanto que sobreviveu e sobrevive; um povo culturalmente rico, com uma historia singular, mas que teve uma herança maldita; basta olhar para trás. Segundo, é um Estado rico, com um povo miserável, miséria causada pela incúria de seus dirigentes, ao longo desses quase quatrocentos anos. Tivemos alguns momentos de grandeza, logo apagados pela classe dirigente que aí foi mandada, e que ainda mantém essa herança cultural. Mas tem jeito. As eleições se aproximam mais uma vez, e sempre resta essa esperança. JP – É possível recolocar o Estado nos trilhos? LGDV – Sempre resta uma esperança… JP – Algo mais a acrescentar? LGDV – Só agradecer a divulgação que o jornal tem dado aos eventos do IHGM. Obrigado.


IGREJA DO DESTERRO – UMA HISTÓRIA DE JOSÉS JOANA BITTENCOURT Pesquisadora, Membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências – APLAC, cadeira nº 09 e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão –IHGM - cadeira n° 56.

No início da colonização, existia no bairro do Desterro, uma pequena capela de frente para o mar, dedicada a Nossa Senhora do Desterro, que foi profanada e destruída pelos holandeses, quando invadiram a Ilha de São Luís em 1641. A capela foi reconstruída ainda sob o nome de Nossa Senhora do Desterro, desta vez, de frente para a Rua da Palma, de onde partem os becos do Precipício, do Desterro e do Caela. Em 1832, esta segunda capela caiu por terra. Foi então que um morador simples e humilde – o negro José Lé, tomou para si a tarefa de reerguê-la. Contando com ajuda de poucos amigos, para ali carregou pedra, barro, cal, madeira e outros materiais; e praticamente sozinho lançou-se à construção. José Lé não pôde ver sua Igreja terminada, pois morreu quando já havia erguido as paredes mestras. A tarefa da conclusão do templo coube a outro morador das imediações, o escrivão José Antonio Furtado do Queixo, que com esmolas dos fiéis, concluiu a obra em 1839, desta feita sob a invocação de São José do Desterro. Após o falecimento do escrivão José Antonio, a igreja entrou em abandono e começou a deteriorar-se gradativamente; tanto que, em 1865, a Câmara Municipal de São Luís solicitou ao Bispo permissão para arrasar a igreja, a fim de construir no local uma praça e um mercado de peixes. Esse polêmico projeto serviu para despertar a população para o zelo e preservação daquela obra de importante valor histórico. Aí sim, foi formada uma comissão com a tarefa de reconstruir a igreja, tendo à frente a pessoa do Cônego Maurício Fernandes Alves, secretariado por César Marques. Foi então que senhoras da sociedade, beatas e comerciantes cristãos e não cristãos, colaboraram com a empreitada; e em 21 de novembro de 1869, finalmente, tocaram os quatro sinos benzidos com os nomes de São José, São Luís, Santa Bárbara e São Jerônimo. Era o badalo do dever cumprido – a igreja edificada! E José Lé? Aquele cujos braços eram tão fortes como a fé? Aquele que cultuou Deus em suor? Sua edificante história foi cantada em ―Os Canhões do Silêncio‖, por outro José – o Chagas, que assim se referiu a José Lé: ―Passou-se o tempo e José Foi desterrado da vida A sua igreja hoje é


Toda de azul construída. Uma igreja que está fora Do bairro e do nosso alcance A irradiar uma aurora Vista por trás da distância. Mas a igreja que no bairro Ele não pôde acabar É esta que o vento vai, Romeiro do próprio ar, Anunciar pela voz Dos sinos de José Lé Que a igreja veio até nós Por força de sua fé.‖


IGREJA DO DESTERRO: TERIA SIDO TEMPLO MAÇÔNICO? JOÃO FRANCISCO BATALHA Jornal O HISTORIADOR, edição do dia 13 de abril de 2012

A igreja do Desterro, marco histórico de São Luís, é o mais antigo espaço da capital maranhense dedicado à fé cristã. Existe desde os primórdios da colonização maranhense. Sua primeira construção data de 1618. Fora destruída pelos holandeses em 1641 quando estes invadiram São Luís, sob o comando do almirante Jon Lichthardt, a mando de Maurício de Nassau. O comandante Koin Anderson teria saqueado o santuário da Igreja para levar peças sacras em ouro e prata, para a Europa. Outros bens sagrados da Igreja, também de valor, teriam sido roubados e vendidos. Em 1832, quando sua edificação foi desmoronada pela segunda vez, devido à ação do tempo, o negro José de Lê, morador de suas imediações, dedicou-se a reconstruí-la. Falecendo antes de concluir seus sonhos, coube José Antônio Furtado do Queixo concluí-la em 1863. É a única igreja do Brasil que apresenta traços de estilo bizantino. Correntes orais dão conta que a edificação teria sido Loja Maçônica. Talvez apenas tenha servido de local para encontro entre maçons, ou reconstruída por Mestres da Arte Real. Em seu interior são encontrados símbolos decifrados como maçônicos, o que não significa que tenha sido uma Loja Maçônica. E não é estranho quando sabemos que antigamente os maçons eram detentores dos segredos da arquitetura. Igreja e maçonaria andaram de mãos dadas por longos anos. A quase totalidade das Igrejas e mosteiros era construída por pessoas iniciadas na maçonaria e só um Mestre Maçom podia ser um Mestre de Obras. Foi a instituição maçônica a maior responsável pela expansão das igrejas no Brasil e desta incorporara influências e ritos. Nada estranho encontrar igrejas católicas com símbolos maçônicos. Em sítios arqueológicos ou escavações é normal encontrar-se tijolos com simbologia maçônica. Os símbolos encontrados no interior da Igreja do Desterro podem, também, serem, símbolos bíblicos antigos. O simbolismo se cruza nas diversas instituições seculares.


Não só a maçonaria, mas também, outras organizações ditas secretas nasceram na igreja. O esquadro e o compasso usados nas Lojas Maçônicas também já foram utilizados na Igreja católica como referência a Deus e são vistos com freqüência em prédios públicos e bandeiras de estados e nações. Símbolos estes, existentes no interior da igreja do Desterro que fica no largo e bairro do mesmo nome, em São Luís. As fotos constantes deste trabalho são créditos que fiz pessoalmente. Os símbolos maçônicos estão cravados em posição superior ao altar-mor da Igreja. O assunto merece melhor e aprofundado estudo nos contextos social, político, religioso e filosófico, para que não fiquemos a divulgar incertezas como evidências.


DÉCIO SÁ JOAQUIM NAGIB HAICKEL http://colunas.imirante.com/platb/joaquimhaickel/, 29/04/2012

Confesso que não sei por onde começar esse texto. Não sei o que dizer, ou melhor, não sei o que dizer primeiro. Em verdade nem sei se quero dizer alguma coisa neste momento. Não me sinto distanciado o suficiente dos fatos e poderia acabar por dizer coisas que possam não traduzir verdadeiramente os sentimentos que tomaram conta de mim desde que recebi o telefonema do jornalista Zeca Soares dando conta do assassinato de nosso amigo, Décio Sá. Estava fora de São Luis. Trabalhava no documentário que venho fazendo já algum tempo sobre o padre Antonio Vieira. Acordei como faço sempre às seis da manhã e vi a ligação. Achei que algo muito sério havia acontecido. Retornei pra Zeca que me deu a notícia absurda de forma acachapante. Não acreditei no que estava ouvindo. Parecia que estava sonhando. Mas não era sonho. Depois que acabei de falar com Zeca, apareceram algumas mensagens de texto em meu celular dizendo a mesma coisa: ―Décio Sá foi assassinado‖. No apartamento em que eu estava hospedado não conseguia acessar a internet e saí imediatamente em busca de sinal para saber mais detalhes. A história estava em todos os sites e blogs. Li tudo o que foi publicado sobre o assunto. Li o que Décio havia publicado em seu blog nos últimos dias. Li o que havia sido publicado em todos os blogs de nossa cidade nos dias que antecederam aquele covarde assassinato e garantolhes que quem fizer o que eu fiz tenderá a acreditar que, aparentemente, no próprio blog de Décio se encontram as pistas para a solução de seu ultrajante assassinato, mas é a policia quem deve apurar este caso, prender o assassino e seus cúmplices e a justiça quem deve julgar não só o assassino mas principalmente o mandante, devendo essas instituições fazer isso de forma urgente e indubitável, sob pena de se perder para o banditismo, o controle de nossa sociedade. Mas como já disse antes, não gostaria de falar disso agora, não quero falar do crime. Gostaria de falar de Décio Sá, do jornalista, do amigo, sobre o que conhecia dele, de minha amizade com ele, de seu trabalho, de sua importância no panorama jornalístico do Maranhão. Conhecia Décio desde que ele começou a trabalhar cobrindo os trabalhos da Assembleia Legislativa, onde eu era deputado. Naquela época ele e Marco D‘éça formavam uma espécie de dupla dinâmica do novo jornalismo político de nosso Estado. Com Walter Rodrigues (já falecido), Lourival Bogéa, Roberto Kenard, Luis Cardoso, e alguns poucos outros, eles compunham um grupo de interlocutores privilegiados do setor ao qual se dedicavam. Com o advento da internet e a possibilidade dos blogs, alguns jornalistas de jornais diários, em papel, passaram a ter seus espaços no jornalismo virtual, canal de comunicação mais direta e mais efetiva entre eles e seus leitores, sem ter como intermediário, um jornal, um patrão. Isso transformou alguns jornalistas em estrelas tão brilhantes quanto os personagens de quem eles davam notícias. Décio em pouco tempo passou a ser o blogueiro mais lido de nosso Estado. O estilo literário não era o aspecto mais forte de seu jornalismo. Muitas vezes disse isso a ele, ao que me respondia que a rapidez da notícia prejudicava seu texto. Às


vezes lhe ligava fazendo um comentário e ele dizia ―já vou consertar‖, e nunca o fazia, pois uma outra notícia aparecia e ele já postava. Seu forte era mesmo a notícia. A notícia gostava dele, o procurava, de certa forma o perseguia. Ele construiu uma sólida e confiável rede de fontes de notícia e sabia ler como poucos as entrelinhas das informações que lhe eram passadas, sabendo separar o que era notícia boa e legítima das que eram falsas, facciosas e vinham recheadas de segundas, terceiras e quartas intenções. Não é porque ele morreu que vou endeusá-lo. De modo algum. Em que pese ser um repórter brilhante, o mais competente de seu tempo, muitas vezes discordava dele, da mesma forma que faço em relação a vários outros jornalistas amigos e não amigos meus, que praticam em alguns casos o jornalismo partidário. Sou daqueles que acreditam que os jornalistas devem dar a notícia mostrando todos os ângulos e expondo todos os pontos de vista dela. Acredito que as opiniões pessoais devam ser expressas em artigos, crônicas, ensaios e coisas parecidas, não através de reportagens ou publicações correlatas, pois o leitor comum tende a acreditar no que lê e nem sempre tem o senso critico de separar fato de opinião. Como disse, em pouco tempo Décio criou em torno de si uma rede de interlocutores das mais diversas procedências, das mais improváveis facções políticas, ideológicas e sociais, consolidando-se como o mais bem informado jornalista maranhense. Não foram poucas as vezes que eu liguei para ele para perguntar-lhe sobre assuntos de meu interesse. Não foram poucas as vezes que ele me ligou para confirmar alguma notícia ou checar alguma informação, saber de algum detalhe sobre o regimento da Assembléia Legislativa ou sobre a aplicabilidade de alguma norma constitucional. Trabalhei com ele algumas vezes fazendo cobertura de apurações de eleição e vi de perto como ele trabalhava, vi que a notícia lhe interessava a qualquer custo, pouco importando se ela iria causar polêmica, mal estar ou prejuízo a alguém. Décio cultivou com sua forma de ser, poucos amigos e muitos desafetos e isso fez com que covardes mandassem assassiná-lo. Ele era um sujeito que mantinha uma vida social comum. Regularmente nos encontrávamos em shows de música, festas de carnaval, restaurantes. Nos finais de semana o peixe pedra e o caranguejo do Mirante do Araçagy eram sagrados. Estou aqui escrevendo e ainda não consigo acreditar que essa tragédia tenha realmente acontecido. Às vezes paro com um nó na garganta e os olhos embaçados e então respiro fundo e volto ao texto. Acabei de acessar o blog de Décio e constatei que vou sentir muita falta de seu trabalho. Vou sentir falta dele, pois era uma rica fonte de informação e um bom e querido amigo. Em sua homenagem continuarei acessando diariamente a sua página e sugiro que o Sistema Mirante crie um blog que se chame ―Blog do Décio‖ onde sejam publicadas matérias em defesa das liberdades, principalmente da liberdade de expressão e contra todas as formas de intolerância e de violência.


ESTRADA DA MORTE JOÃO FRANCISCO BATALHA batalha@elo.com.br Jornais FOLHA DA AVL, de 21.04.12, e O ESTADO DO MARANHÃO, de 28.04.12.

Importante corredor de transporte rodoviário que tem início em São Luís e termina em Belo Horizonte, interligando a capital maranhense ao resto do país, a rodovia federal BR-135 no trecho Estreito dos Mosquitos/Bacabeira (Km 22 a 48) está sendo chamada de ‗Estrada da Morte‘. Seus altos índices de acidente ocorrem, sobretudo, no contorno dos Campos de Perizes e, principalmente, aos sábados, domingos e feriados prolongados, quando o tráfego se torna caótico e assustador. O fato tem contribuído (no meu caso em particular) para a redução das viagens que gostaria de fazer a Arari e Vitória do Mearim nos finais de semana, não obstante dirigir sempre cercado de cautela. As notícias de desastres neste trecho, com consequencias graves, que levam a acidentes com morte, lesões, fraturas e mutilações ou incidentes menores causados por batidas, que provocam o estrangulamento do trânsito se tornou rotina. Quando, no mínimo, engarrafamento, tráfego lento e elevado risco que causam temor e tensão aos viajantes. Provocados pelo sentimento de revolta, os usuários acusam os representantes políticos, principalmente os parlamentares, de ausentes junto aos órgãos federais, a quem cabe providências para a imediata duplicação dos primeiros 130 quilômetros desta, que é a rodovia de acesso de maior utilidade para São Luís. Mesmo sabendo-se de sua importância, a esperança de solução vem se arrastando por anos. Os 18 quilômetros dos Campos de Perizes, já estão sendo chamados de ‗Campo da Morte‘. Palco de tragédias é o trecho mais perigoso dos mais de dois mil quilômetros desta rodovia. E o fato tende a se agravar pelo crescimento de número de veículos e pela evolução do cronograma de implantação da refinaria Premium. Em outras oportunidades, já cobrei das autoridades competentes a duplicação desta BR até o Km 130, em Miranda do Norte, no entroncamento com a BR 222. Quando fui assessor parlamentar na Assembléia Legislativa do Estado, preparei indicação, que, apresentada pela então Deputada Maura Jorge e submetida à casa legislativa, foi aprovada por unanimidade, através da qual pedia não apenas a duplicação desta BR no trecho mencionado, mas, também, a construção de uma estrada que, partindo de Bacabeira, em linha reta, alcançasse a BR 222, próximo a Arari, cortando os municípios de Santa Rita e Anajatuba cruzando com a MA-339 à altura do povoado Olho D‘água. A medida beneficiaria não apenas uma vasta região de campos nativos, carnaubais e terras mistas, mas encurtaria, também, o percurso de quem vem da Baixada Maranhense ou pela BR-222, a partir da cidade de Arari, em 50 quilômetros, aproximadamente. Mesmo assim, não despertou o interesse dos parlamentares para levá-la em frente. Soube até que alguns políticos de Anajatuba teriam contestado nossa intenção, alegando que um cruzamento rodoviário próximo àquela cidade a levaria ao desassossego e à tensão social. Prejudicaria, também, a proliferação de caranguejos e de


abelhas nativas dos manguezais próximos, com sérios prejuízos ao ecossistema do município. Sobre essa visão tenho pensamento diferente: Primeiro - o traçado de tal projeto passaria bem distante dos manguezais que margeiam a orla periférica do Rio entre o Afoga, Porto das Gabarras e confluência Mearim/Pindaré, e não os afetaria. Segundo - seria de grande importância para a prosperidade local, gerando expectativa de progresso e desenvolvimento para aquela cidade. No tempo em que a indicação recebe o desinteresse das autoridades e o repúdio dos anajatubenses, e o projeto de duplicação engatinha nas gavetas de DENIT, a rodovia continua levando perigo diário aos motoristas e pânico aos usuários que dela necessitam. Embora sendo uma obra indispensável e de grande interesse, e sabendo-se da importância e da urgência de sua duplicação até Miranda do Norte, o DENIT permite que seu projeto caminhe a passo de cágado. Enquanto isso, o problema se agrava dia-adia na estrada da morte. Anuncia-se, agora, que no próximo mês de junho terá início a duplicação de 26 quilômetros, que liga o Estreito dos Mosquitos a Bacabeira. Aguardemos para ver se começa!


HISTÓRIAS COINCIDENTES DE LUTAS E CONQUISTAS NATALINO SALGADO FILHO Publicado no Jornal ―O Estado do Maranhão‖ em 29/04/2012.

Neste ano de 2012 serão comemoradas uma série de datas significativas para São Luís e para o Maranhão: ao mesmo tempo em que a capital festejará o seu quarto centenário em setembro, a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Maranhão, completa oito décadas de uma história cheia de conquistas neste mês de abril. A Universidade Federal do Maranhão orgulha-se em participar dessa comemoração por ser ela mesma o berço da grande maioria de conceituados juristas que dela saíram e sairão para servir aos seus concidadãos na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática. Coincidentemente, em abril de 1918, precisamente na manhã do dia 28 - numa iniciativa nobre de Fran Paxeco e Fernando Perdigão e numa assembleia que contou com a presença de diversos outros ilustres maranhenses – foi estabelecida a Faculdade de Direito, por meio de uma Associação, como nos lembra Sálvio Dino, autor de um dos mais destacados trabalhos que resgatam a história do Curso de Direito no Maranhão (intitulado A Faculdade de Direito do Maranhão). O curso nascia em meio a um clima de profunda efervescência cultural, e logo tornou possível aos jovens maranhenses a realização do sonho de cursar Direito sem precisar se aventurar em outras terras. O ano de 1918, prossegue Sálvio Dino, também foi marcado pela festa comemorativa dos cursos jurídicos no Brasil, em 11 de agosto, e somado a esse evento, o cinquentenário da vida literária de Rui Barbosa, motivos que ensejaram a realização de uma solenidade no então Teatro São Luís (hoje Teatro Arthur Azevedo). O Curso de Direito recebeu sua autorização pelo Decreto nº 17.558, de 10 de janeiro de 1945, e seu reconhecimento se deu através do Decreto nº 24.135, de 28 de novembro de 1947. Em 26 de outubro de 1966, precisamente pela Lei 5.152, a Faculdade de Direito foi integrada à Fundação Universidade do Maranhão. O professor João Batista Ericeira, em artigo publicado na última quarta-feira, dia 25, no jornal O IMPARCIAL, com o título 80 anos da OAB-MA, também traçou um cenário político-cultural do surgimento do Curso de Direito da UFMA, apontando nomes importantes na construção dessa história. Transcorridos 94 anos de fundação, o curso de Direito da UFMA alcançou sua própria dinâmica, e os resultados são excelentes: desde a formação de muitos profissionais que se destacaram não apenas no Maranhão, mas também nacionalmente nas mais diversas carreiras jurídicas, passando pela realização de eventos internacionais, jornadas, seminários e, como vitória mais recente, a aprovação pela CAPES do Mestrado acadêmico de Direito da UFMA, que somado aos demais, totalizam 26 mestrados oferecidos atualmente pela Instituição. Também está em franco progresso o processo de restauração e de requalificação do Fórum Universitário Fernando Perdigão, situado na Rua do Sol, no centro de São Luís, o qual está sendo reformado para atender aos princípios de preservação do patrimônio histórico, com adaptações e melhorias que vão permitir que o prédio abrigue os Cursos de Pós-Graduação de Direito da UFMA. O


prédio faz parte de uma área de tombamento e abrigou, até 1976, a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Maranhão. E como se tantos fatos positivos não bastassem, eis que no último dia 19, em Brasília, tivemos a alegria de ter os cursos de Direito dos Campi de São Luís e de Imperatriz entre os 89, que foram reconhecidos pela OAB nacional com o Selo de Certificação OAB 2011. Àquela solenidade, fizemo-nos presentes ao lado do coordenador do Curso de Direito de Imperatriz, Prof. Gabriel Araújo Leite, e dos professores José Agenor Dourado e José Carlos Sousa Silva, na qualidade de representantes do corpo docente, estando presentes também à solenidade o presidente da OAB, seccional maranhense, Dr. Mário Macieira, e o Juiz Federal Ney Bello, ambos pertencentes ao quadro de professores do Departamento de Direito da UFMA. Acredito que mais esse reconhecimento seja resultado de uma série de investimentos da Instituição para garantir melhoria na qualificação do corpo docente e, como consequência, o aperfeiçoamento da qualidade de ensino na graduação e pósgraduação. Nas palavras do presidente da OAB nacional, Dr. Ophir Cavalcante, a formação educacional deve transcender ao desejo de oferecer uma boa técnica profissional, pois o foco deve estar na formação de verdadeiros cidadãos, enfatizando o quanto a OAB leva a sério o desafio permanente de zelar pela qualidade do ensino aos cidadãos que vão fazer e administrar a Justiça em nosso país. Tal reconhecimento também alcançou a UNDB, instituição distinguida com a mesma honra naquela solenidade e representada pela sua diretora, Professora Ceres Murad. Num país que hoje contabiliza 1.240 cursos de Direito em funcionamento, é uma honra para a Universidade Federal do Maranhão ser alcançada e distinguida com o reconhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil. Esta mesma Ordem, que tem na seccional maranhense uma guardiã dos valores mais caros da sociedade, em seu papel de defender os direitos humanos, de proclamar a justiça social, de dar voz e oportunidade a tantos quantos se sentem ameaçados e perseguidos. De parabéns estão o Curso de Direito da UFMA, por legar ao Maranhão profissionais aptos para atuar nas mais diversas áreas da Justiça, e a OAB-MA, a segunda casa dos egressos desse curso, que abraçam a advocacia como um sacerdócio, uma missão de vida.


DISCURSO DO DR. NATALINO SALGADO FILHO REFERENTE AO RECEBIMENTO DO TÍTULO DE CIDADÃO PINDAREENSE É com sentimento de alegria e gratidão que hoje me encontro em Pindaré-Mirim, que, de todas as cidades do Maranhão – Estado de tanta diversidade cultural –, carrega, pode-se dizer, a essência da alma do povo maranhense, representado pelo seu tão afamado Boi de Pindaré, cujas melodias enchem de alegria tanta gente, especialmente nas festividades juninas. Preservar este legado é uma arte que deve ser valorizada, pois uma expressão cultural nada mais é que nossa história cantada e vivenciada em sua forma mais alegre e festiva. Ao ser alçado pela distinção que a Casa do Povo de Pindaré-Mirim hoje me concede – que é a de me tornar também filho desta terra –, estou a partir de hoje irmanado com outros homens e mulheres bravos e valentes, o que enche de orgulho e responsabilidade o meu coração. Gente trabalhadora que, como diz seu hino, regou com suor este chão, fecundando-o de vida desde o final do século XIX, quando aqui chegaram seus primeiros moradores, os quais deixaram suas marcas, como se pode ver neste monumento ao espírito aguerrido daqueles pioneiros, cujo símbolo é o Engenho Central. Desde o ápice da navegação, nos idos dos anos 70, no rio Pindaré até à efervescência dos afazeres em torno da rodovia, da Avenida Presidente Getúlio Vargas e da Rua Elias Haickel, tudo nesta cidade inspira um legado de coragem e disposição, que convivem em equilíbrio com a tranquilidade e a hospitalidade de seu povo. A paisagem natural de trechos de rios para banhos e a belíssima vegetação da Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense, que cobre 28% do território municipal, revelam que Pindaré-Mirim é uma cidade única. Talvez aqui muitos não saibam, mas sou filho originalmente de Cururupu, e minha ligação com Pindaré se deu através do meu irmão, o prefeito Henrique Salgado, que veio até aqui como resultado da paixão por Aparecida, filha do nosso nobre Manoel Pezão, liderança política que todos conheceram. Aqui ele se casou, construiu sua família, laços de amizade, e seu trabalho o credenciou a gerir os destinos deste município. Lembro-me de que, numa das primeiras oportunidades que tive de me dirigir ao povo de Pindaré, pedi voto para meu irmão que, na ocasião, era candidato a prefeito. Disse que, se ele não construísse o hospital da cidade, nunca mais votassem nele. Não o fiz porque queria impressionar, mas porque falo naquilo em que acredito. O resultado é que o Hospital foi inaugurado, e ele foi reeleito. O poeta Carlos Drummond de Andrade disse que preparava uma canção que fizesse acordar os homens e adormecer as crianças. Eu não fiz canções ou poesias, mas procurei colocar à disposição da sociedade minha vontade de servir à causa pública. O maior exemplo recebi, em casa, do meu próprio pai, que se aposentou como Auditor da Receita Federal, com uma trajetória ímpar de seriedade no trato com o bem comum, e que fez questão de repassar aos seus 8 filhos preciosas lições de ética, respeito ao próximo e valores cristãos. ―O sonho que se sonha só é apenas sonho, mas o sonho que se sonha junto vira realidade‖, já dizia Raul Seixas. E, como nenhuma vitória se consegue sozinho, sei


reconhecer que devo a Deus e à minha família, por quem nutro a mais sincera gratidão, por todas as conquistas alcançadas. Também devo o lugar onde hoje estou à dedicação que desde cedo ofereci aos estudos e ao processo do conhecimento. Desde que me formei em Medicina, fiz a opção de trabalhar no serviço público. Dediquei tempo para diversas especializações, mestrado e doutorado, além da participação em cursos, simpósios, jornadas e também para a produção de artigos e textos científicos, sempre na intenção de colaborar com o meu aprendizado na formação de outros. Assim, quando fui chamado para assumir o desafio de dirigir o maior hospital do Maranhão – o Hospital Universitário Presidente Dutra –, aceitei, amparado pela minha trajetória, e em especial pela soberana mão de Deus, pela compreensão e pelo carinho de minha família, minha esposa e meus filhos e também por aqueles que acreditavam na missão que abracei. O trabalho que lá desenvolvi até hoje rende bons frutos e tenho certeza, como disse Rubem Alves, de que os grãos que lá plantei serviram de sombra e alimento para milhares de maranhenses que ali vão em busca de um atendimento médico de qualidade. Quando fui chamado ao desafio de ser reitor da Universidade Federal do Maranhão, também priorizei a educação em todas as suas vertentes, e a interiorização foi alvo de especial atenção em nossas gestões. Por isso mesmo, quero destacar o que está sendo realizado mediante a formação de pessoas qualificadas que farão diferença no desenvolvimento desta cidade e região. Nessa direção, a Universidade Federal do Maranhão, em parceria com a Universidade Holandesa de Wageninge, por meio do Programa Capes/Wageningen, desenvolve o projeto de pesquisa Bacia do Pindaré: ferramentas para conservação e manejo integrado dos recursos naturais, Maranhão, Brasil, coordenado pela professora Larissa Nascimento Barreto, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA. Também oferecemos ao Município o Programa de Formação de Professores para a Educação Básica – PROEB, com os cursos de licenciatura em Filosofia, Educação Física e Ciências Exatas (com habilitação em Química, Física e Matemática). Quero destacar, como forma de reconhecer o trabalho de todos os professores e técnicos envolvidos neste grande desafio, o trabalho da Assessora de Interiorização, professora Cenidalva Teixeira. A Universidade que mais cresce com inovação e inclusão social assume desta forma seu papel no contexto da educação no nosso Estado e o compromisso em expandir com responsabilidade, proporcionando educação de qualidade. A educação, senhoras e senhores, é o caminho pelo qual necessariamente deve trilhar toda cidade, estado ou país que quer alcançar uma nova dimensão e proporcionar um melhor legado para suas futuras gerações. Rubem Alves prega que a cultura forma sábios; a educação, homens. Anísio Teixeira, um dos maiores educadores brasileiros, afirma que o que aprendemos refaz e reorganiza nossa vida. E Paulo Freire, considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos, assevera que, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda. Precisamos valorizar, incentivar e estimular nossos jovens para que abracem a educação como forma de instrumento de transformação. Há muito a ser feito, mas se cada um de nós assumirmos essa tarefa, seja aqui em Pindaré, seja em qualquer outra parte do mundo, aos poucos conseguiremos transformar nossa realidade. Permitam-me agora, senhoras e senhores, mais uma vez agradecer neste momento a iniciativa que partiu tanto dos edis que compõem esta Câmara Municipal como também dos professores e alunos que, de forma unânime, acordaram em convidar-me a ostentar o nobre título de cidadão desta terra. Acredito que ser acolhido como filho de


uma cidade como Pindaré é uma enorme responsabilidade que me instiga a cultivar as admiráveis qualidades inerentes aos seus filhos. Dito isto, consolidarei ainda mais os meus compromissos com este torrão. Ao lado de outros títulos de cidadania que recebi, como o de Codó, São Luís e de Grajaú, renova em mim a convicção de que estou no bom caminho na condução da Universidade Federal do Maranhão. Portanto, meus agora conterrâneos, esta cerimônia na qual sou agraciado com o título de cidadão pindaresense é um desses momentos em que somos tomados de boas lembranças e que nos dão a grata certeza de que uma trajetória de serviço e dedicação à comunidade nunca é em vão. Como disse o poeta Mário Quintana, ―o nosso lar é onde somos honrados‖. Saberei honrar e merecer tão elevada distinção e, sobretudo, reconhecer a generosidade da sua gente. Não precisarei perguntar o que devo fazer para retribuir a amizade e a consideração dos pindareenses, pois o sentimento que, a partir de hoje nos irmana, me faz ter a certeza de que também bate no meu peito um coração pindareense. Muito obrigado.


O DOMINGO DAS MÃES. AYMORÉ DE CASTRO ALVIM. IHGM, AMM e APLAC. No domingo, 13 de maio, será celebrado, em todo o Brasil e em diversos países do mundo, o Dia das Mães. O reconhecimento ao trabalho que executa, à vigilância que exerce, ao ensinamento que orienta e ao amor que dispensa sem nada exigir em troca são as razões que fazem dessas sublimes mulheres merecedoras da nossa homenagem, não somente, nesse dia, mas em todos os dias do ano. Ser mãe é saber dosar com extrema sensibilidade e ternura a repressão que coíbe e a liberdade necessária, mesmo nos conturbados e conflitantes tempos em que vivemos, mas indispensáveis ao crescimento e à formação da criança e do jovem, numa conjunção perfeita de desvelo e amor, no exercício da maternidade responsável, de forma a assegurar-lhes o equilíbrio psicológico e moral que os conduzirão, ao longo da vida. Essa é a missão dessas mulheres que tiveram o privilégio de ser Mãe. Mãe, sim, não Genitora. De há muito, estes dois vocábulos não guardam entre si qualquer sinonímia. A genitora é a mãe biológica; aquela que gera e que, nos dias atuais, com os recursos da moderna biotecnologia e da tecnologia da clonagem que estão aí, nem mais o é. Ao longo da história da humanidade e da evolução da família, em muitas culturas, nem sempre a genitora exercia o papel de mãe, cabendo tal tarefa a outras mulheres. Mas se as duas condições se conjugam, na mesma pessoa, tanto melhor. Logo, ser mãe não é apenas gerar. Há fatores que implica uma postura mais profunda como a do acompanhamento, do proteger, do ajudar a crescer, da dedicação ao aleitamento, do orientar, do preparar e fazer de cada filho um cidadão apto ao exercício de suas funções, na sociedade. Tais responsabilidades são ainda maiores, nos lares privados da presença paterna, desde que esta possa servir de referencial, na condução e como auxílio, aos cuidados maternos. É essa mulher o centro das nossas reverências, neste segundo domingo de maio. Não importa se mãe de família, mãe solteira, desquitada, divorciada ou prostituta. A dignidade da mulher mãe está no cumprimento da missão que lhe foi destinada. Não há, pois, adjetivo que a qualifique. Ser mãe é tudo e isto basta. É, portanto, com toda justiça que em diferentes países, o segundo domingo de maio é dedicado ao culto da mulher mãe. Ela é a fonte, é a causa, é a origem da vida que move que constrói que impulsiona as sociedades humanas. Enganam-se quem imagina que o dia dedicado às mães tenha sido um puro jogo de mercado, criado apenas para incrementar as vendas das indústrias de presentes e do comércio. Sobre as homenagens prestadas a elas por diferentes civilizações, a história nos remete à Grécia antiga onde o culto à deusa Rhea, mãe de todos os deuses, fazia parte dos festejos da primavera. Entre os babilônios, egípcios e romanos encontram-se celebrações em honra à deusa da fertilidade, numa manifestação de reconhecimento às entidades femininas que geram, criam e protegem.


Há referências históricas, de que ao longo do século 17, as homenagens prestadas, na Inglaterra, às mães, geralmente, ocorriam no quarto domingo da Quaresma. Posteriormente, com o avanço do Cristianismo pela Europa, as festividades que marcavam essas celebrações passaram a ocorrer conjuntamente com as honras que eram tributadas à Mãe Igreja. No continente Americano, o culto às mães teve início, na cidade de Boston, quando, em 1872, Júlia Ward Howe propôs e organizou a primeira celebração do Dia das Mães, nos Estados Unidos. Anos depois, no início do século passado, Ana Jarvis lutava. na cidade de Filadelfia, nesse mesmo país, para criar um dia nacional em homenagem às mães, o que por fim conseguiu. Em 1914, o Presidente Woodrow Wilson proclamou, oficialmente, a celebração do Dia das Mães, no segundo domingo de maio, em homenagem ao aniversário de falecimento da mãe de Ana Jarvis, a grande lutadora pela causa que então se concretizava. A partir de então, o Dia das Mães passou a fazer parte do calendário de vários países como o nosso, embora, em muitos outros, o dia seja celebrado em datas diferentes. Portanto, regozijemo-nos com elas e por elas, no seu dia, pois grande é a sua missão e dignificante o papel que desempenham, na estrutura e na manutenção da organização da família, célula primeira, na formação das sociedades.


ÀS VEZES O BOM NASCE DO RUIM JOAQUIM NAGIB HAICKEL Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO 12/05/2012

Essa crônica já começa me custando uns mil reais*. Explico: É que o fato que me levou a escrevê-la custou-me esse valor, mas em compensação deu-me além de um novo amigo, a impagável comprovação de que nossa cidade, que agora tem mais de um milhão de habitantes, de certa forma, ainda mantém algumas das boas características de cidade pequena. Deixe-me explicar melhor. Voltava pra casa depois de um cansativo dia de trabalho e resolvi que facilitaria a vida de meu motorista deixando-o no retorno da Cohama, embaixo do viaduto, para que ele pegasse o ônibus e fosse mais cedo e mais comodamente para casa. Acontece que algo um tanto imponderável estava para acontecer. Como o trânsito encontrava-se congestionado, os carros quase não se movimentavam, resolvi que pegaria logo ali, onde nos encontrávamos, a direção do veículo, liberando o motorista ainda mais cedo. Porém ao abrir a porta, e olha que só entreabri a porta, nem cheguei a escancará-la; ao abri-la acabei por atingir e ser atingido por uma motocicleta que resolveu passar pelo lado direito do meu carro, o que além de ser proibido era um tanto improvável que acontecesse, já que o espaço entre o carro e o meio fio era quase nenhum. O certo é que ao abrir a porta fui atingido e atingi a motocicleta que, depois fui saber, era pilotada pelo Roberto. Até hoje não sei seu sobrenome. O susto que eu levei foi enorme. Imagine o susto que sofreu o Roberto, sendo que além de susto ele também levou um tombo, tendo machucado um dedo da mão esquerda e o joelho do mesmo lado. Durante intermináveis segundos Roberto não disse palavra. Apena segurava o joelho com as mãos. Fui logo procurando se havia algum sangramento e não havia. Observei que ele estava de capacete e isso garantia que a cabeça não havia sofrido nenhum trauma, mas até ele ter falado eu fiquei preocupado. Quando ele falou, eu relaxei. A dor que ele sentia era visível e o inchaço no joelho foi instantâneo, ele disse que já havia tido problema com aquele joelho, jogando bola. Ele ficou sentado no chão durante bastante tempo e enquanto isso eu fiquei ao seu lado. Perguntei o seu nome e lhe disse o meu. Ele falou ao telefone com três pessoas, avisando o que havia ocorrido. Pedi que ele anotasse meus números telefônicos, o que ele fez. Conversamos um pouco e ele me contou que naquele dia ele havia mandado colocar em sua moto exatamente as peças que quebraram no acidente. Eu não estava nem um pouco preocupado com os prejuízos matérias, minha preocupação era unicamente com o estado físico dele, que nada tinha de grave, mas preocupava pela dor no joelho já anteriormente machucado.


Em momento algum o acidente gerou agressividade, fúria ou raiva. Desde o início tanto eu quanto ele, reconhecemos que ambos fizemos coisas que não deveríamos ter feito. Mesmo que fosse improvável que viesse alguém pela minha direita, eu deveria ter olhado para me certificar disso, enquanto ele jamais poderia ter feito aquela manobra, que além de proibida era arriscada. Durante todo o tempo estávamos tranquilos, mesmo que eu estivesse preocupado e ele dolorido. Tudo aquilo deve ter durado uns 30 minutos, e desde o momento do acidente pelo menos uma dúzia de pessoas que passavam pelo lugar paravam e perguntavam se estava tudo bem, se estávamos precisando de ajuda. Primeiramente parou um rapaz que passava andando pelo local, depois um outro numa bicicleta e logo depois um conhecido em uma moto. Devido à hora e à má iluminação, em que pese a favor, a pouca distância, e contra, a ―vista cansada‖, não pude identificar nenhuma das muitas pessoas que passaram oferecendo ajuda. Fico imaginando se aquilo tivesse ocorrido em outra cidade onde o trânsito é muito mais intenso, se as pessoas teriam a mesma atitude. Essa peculiaridade de nossa gente, esse jeito de ser um tanto provinciano se comprova não apenas pela forma solidária de agir de nossos cidadãos, mas pela incrível agilidade de como voam as notícias, pois dez minutos depois do acidente, meu amigo Vadequinho me ligou querendo saber se estava tudo bem, se eu estava precisando de alguma coisa. Achei incrível que ele já soubesse. Ele então disse que uma amiga passou pelo local do acidente e ligou para ele, avisando. Alguns podem dizer que isso acontece em todo lugar, outros podem afirmar que faz parte da natureza humana e outros ainda que isso seja exatamente coisa da província, mas não no que ela preserva de melhor e sim em sua forma mexeriqueira de se comportar. Para mim, em que pese o ocorrido, ficou a clara percepção da solidariedade de nossa boa gente. Chamei então o motorista de minha mulher para que, na camionete em que trabalha, levasse a motocicleta de Roberto até sua casa. Depois recomendei que o motorista levasse Roberto a um hospital, o que ele recusou, dizendo que iria no dia seguinte ao Socorrinho que há em seu bairro. Talvez não volte a encontrar o Roberto, mas tenho certeza que apesar de termos nos conhecido em circunstância ruim, mesmo sem ter sido dito, ficou de ambas as partes uma sensação de civilidade, urbanidade, respeito e compreensão. *Os mil reais acima citados foram gastos no conserto da moto do Roberto e da porta de meu carro


SETE DE SETEMBRO EM SÃO JOÃO BATISTA EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA Sócio efetivo IHGM – cad. 51 Nunca é demais lembrar que o 7 de Setembro é data significativa por tudo que representa para o nosso País. E foi com esse espírito de comemorações à data, que visitando o Município de São João Batista, no interior do nosso Estado, vieram-me a lembrança, que lá pelos idos de 1980, o grande líder político do Município, Francisco Ferreira Figueiredo, o popular Chiquitinho, então Prefeito Municipal do Município de São João Batista, dava um especial destaque à data, preparando com alegria e muito orgulho, e com inusitado esmero, palanque, desfile, onde escolas do Municipio com alunos desfilando garbosamente, todos fardados, com uniforme fornecido pelo Município, desfilavam em homenagem a Pátria. Houvera chegado ao meu conhecimento que os belos tempos de outrora, hoje ocupavam espaços só na lembrança de todos os munícipes. Veio-me então a pergunta que dirigi a diversos moradores do Município: Como têm sido as comemorações da data, após a morte do grande Prefeito do Município, Chiquitinho Figueiredo, de liderança inconteste e que exerceu quatro mandatos de Deputado Estadual e dois de Prefeito Municipal? Com tristeza os 50 depoimentos que colhi, apontavam para que hoje o Município não tenha mais os belos desfiles de outrora. Alunos fardados, desfilando pelas ruas da cidade, professores conduzindo com orgulho seus alunos, tudo ficou no passado. As quatro últimas administrações municipais ignoram a data. Não há mais desfile. Não se fala em tambores, cornetas e outros instrumentos musicais que dão mais entusiasmo à data por parte nesta hora sublime de todos os alunos.. Disseram-me os pesquisados com imensa tristeza para mim, que os alunos não cantam mais o hino nacional, não cantando porque não lhes é ensinado, e os poucos alunos que sabem a letra do hino, assim mesmo, é porque foram ensinados pelos pais. Com imensa tristeza indagando a alguns alunos o que para eles representava o hino nacional brasileiro, encolhiam os ombros como resposta e abanavam as mãos nada acrescentando, deixando-me outra indagação: se não sabem o hino nacional brasileiro, será que sabem ao menos da existência de um hino do Maranhão? Ante a proximidade do centenário de nascimento do guerreiro Chiquitinho, que tanta cidadania levava ao município e particularmente, aos alunos que estavam constituindo a nova geração municipal, registro a ocorrência e deixo a denúncia destes tristes fatos, como advertência aos administradores municipais, ao tempo em que lhes faço um apelo: ajudem a formar novas gerações que tenha consciência do dever cívico, aprendendo que um povo como o nosso será sempre altaneiro e respeitado, quando tiver o censo de brasilidade, o amor a escola, aos desfiles em homenagem à Pátria, ao hino nacional e a tudo que lhe diz respeito.


JOSÉ ANGELO DA SILVA Um legado para a educação no Maranhão ANTONIO NOBERTO Existem pessoas na vida da gente que simplesmente passam, sem nada somar ou acrescentar, outras, no entanto, deixam sua marca, seja pelo que empreenderam e fizeram a nosso favor ou a favor da coletividade ou mesmo pela forma carinhosa com que se relacionaram conosco e com os demais. Faz muitos anos, muitos anos mesmo, mais de duas décadas que conheci o amigo José Angelo da Silva. Aquele homem baixinho, pequenininho, com um largo sorriso nos lábios, vindo do serrado goiano, nos dava uma sensação de paz, felicidade e até intimidade com o Mestre dos mestres. Tais características logo me chamaram a atenção e me aproximaram dele, do ―pastor José Angelo‖, como o chamava. Na verdade, toda a família dele, com quem dividimos parte da adolescência e juventude na igreja evangélica Congregacional do Angelim, sempre nos foi muito agradável e simpática. José Angelo veio para a terra timbira em busca de saúde, depois de um grave acontecimento que o vitimou quando estava de serviço na Polícia Federal no Centro Oeste. Com a esposa Antonia Duarte e a ajuda dos filhos e demais parentes, fundou um dos mais importantes centros de ensino da Cidade Operária, o Educandário Ágape, além de uma livraria naquele mesmo bairro da capital. Suas pregações recheadas de exemplos e parábolas, seus oportunos aconselhamentos eram frutos da boa eloqüência e desenvolvimento no falar. Ainda assim seu maior diferencial foi a prudência, não aquela que nada arrisca, mas aquela da ―palavra dita a seu tempo‖. Aqui chegado, a partir da década de oitenta, passei a ajudá-lo no processo de interiorização no Maranhão, vez que ainda não era muito conhecedor dos sertões do estado. Assim, visualizando a expansão do trabalho de evangelização, abriu a primeira igreja evangélica Congregacional do interior, em Vargem Grande. Os constantes revezes da sua saúde, por outro lado, não permitiram a continuidade do trabalho, que teve de ser repassado à igreja Batista, que continua até os dias de hoje. Aproveitando o conhecimento daquela região, José Angelo adquiriu uma propriedade no povoado Salva Terra, distante alguns quilômetros daquela cidade e, depois, uma outra, próxima ao povoado Barro Vermelho, quase na divisa com Chapadinha. A recomendação médica era expressa, precisava se ocupar cada vez menos com atividades que pudessem trazer qualquer tipo de estresse. Desde então, passou a se dedicar ao manuseio da terra, com a agricultura e com a criação de animais. A humildade dele era tamanha que certa vez, em uma barreira policial na rodovia, ficou preocupado ao perceber que havia esquecido a habilitação em casa. E, ao mesmo tempo, envergonhado de se identificar como policial federal, vez que não fazia uso do status que detinha. José Angelo foi um misto de fé e razão, e faleceu no dia 28 de novembro de 2011. Deixou aos maranhenses, familiares e amigos um legado de trabalho educacional, carinho e disciplina. Abaixo segue um depoimento de uma de suas filhas, Quezia Duarte.


JOSÉ ANGELO DA SILVA Nascimento: 10/10/1926 Falecimento: 28/11/2011 85 anos completos ―Ele foi um grande homem, apesar dos seus 1,50m. Era divertido, contava piada e dizia para todos ao entrar num recinto: "Como vai, vai bem?". São lembranças que não podemos esquecer. Apesar de não ter completado a Educação básica, era um homem arrojado, gostava, aliás, amava os livros. Sempre tínhamos muitas coleções completas, literatura brasileira, livros diversos e música, muita música pela casa. Ainda me lembro de seu acordeon... Quando ele chegava do trabalho, no Gama, depois de algumas noites sem dormir, saíamos correndo, os quatro, apostando pra ver quem abria primeiro o portão e principalmente pra atacar os bolsos do paletó, sempre cheios de bombons. Quando nos mudamos para o apartamento no Cruzeiro Novo, em Brasília, eu sempre queria chegar em casa, no terceiro andar, nos seus braços. Além de serem os braços do meu pai, eu enxergava o mundo de cima, o que pra mim era o máximo, pois só tinha 5 anos de idade. Não posso me esquecer de falar de nossas viagens. Ele era um verdadeiro aventureiro... No início da década de 70, colocava a mamãe e seus filhos na Rural novinha, cheia de colchões, comida e muita alegria. Acho até que meu amor pelas ciências geográficas começou destes momentos familiares. Na fazenda, em Brasília, bastava uma chuva para ele cavar logo um buraco e ficar me divertindo, enquanto pulávamos na lama, morrendo de sorrir ao som das reclamações da mamãe: ―José Ângelo, tire os meninos da chuva!!" mesmo assim, continuávamos lá, cobertos de lama. Este engraçado moço amava tanto a Deus, que decidiu bravamente, junto com sua esposa, abrir uma igreja em Goiânia, abrir uma escola, aqui em São Luís, pastorear e construir outra igreja, esta aqui, enfim, era um empreendedor, com garra, coragem, era um grande homem. O sonho dele era ter um filho doutor, e eu lamento tanto, o fato dele não estar aqui, quando eu defender a minha tese, mas eu sei que Deus sabe de todas as coisas, sabe que ele precisava descansar e realmente é um grande conforto saber que ele está nos braços do Pai! Assim como você e eu, ele tinha defeitos; era zangado, duro, teimoso, severo, mas junto com mamãe, criou 5 filhos, 12 netos no temor do Senhor e levou mais tantos aos pés de Cristo. Por tudo isto, só podemos louvar e agradecer à Deus por todos os dias que vivemos juntos. Beijos meu pai...‖ Quésia Duarte da Silva


81º ANIVERSÁRIO DO ROTARY CLUB DE SÃO LUÍS OSVALDO PEREIRA ROCHA Fundado em 20 de maio de 1931, o Rotary Club de São Luís, o Clube mais antigo do Nordeste Brasileiro, comemorou seus 81 anos de profícua existência no dia 29/05/2012, na sede da Associação dos Rotarianos de São Luís, situada na Ponta d‘Areia, nesta capital, com uma reunião – almoço bastante prestigiada por seus sócios efetivos e honorários e por visitantes de outros clubes de Rotary da Grande São Luís e, ainda, por convidados e convidadas especiais. Foram destaques pessoais, na oportunidade, as visitantes presidentes dos Rotary Club São Luis Praia Grande, Companheira Divana e São Luís Anil, Companheira Nenzinha; a Governadora Assistente Célia das Neves; o Governador Eleito do Distrito 4490, do Rotary International, Pedro Ivo de Carvalho Viana, que se fez acompanhar de sua esposa, a também rotariana Conceição de Maria Viana; os ex-governadores distritais Raimundo Medeiros Lobato e José Ribeiro Quadros e os convidados especiais Osvaldo Pereira Rocha, Grão-Mestre do Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM, que esteve acompanhado de sua Maria do Socorro Nascimento de Oliveira. A primeira mulher presidente de Rotary Club (primeira presidente do Rotary Club de São Luís), Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas, amiga deste articulista, foi a palestrante do dia, discorrendo sobre a história do Clube, com conhecimento de causa e foi vivamente aplaudida. Como homenageado do dia, o Vereador de São Luís, José Joaquim Guimarães Ramos, recebeu o título de Sócio Honorário do RC aniversariante, sob muitos aplausos e, em seguida, efusivos abraços de cumprimentos. Outro fato importante que ocorreu foi o cântico, por todos, de pé, do Hino Rotário, que tem em destaque a estrofe ―Somos do Rotary companheirismo internacional; somos do Rotary rotarismo pra paz mundial; somos do Rotary comunidade em atenção; Com respeito e amizade divulgamos a compreensão‖. A estrofe ―A ética conclamamos, da maneira exemplar, Paul Harris nós lembramos, pra sua meta alcançar, temos no trabalho a nossa vocação, no servir o nosso coração‖ foi, igualmente, destacada no cântico do Hino Rotário. O companheiro Douglas Pereira de Pinho, Diretor de Protocolo, foi dinâmico em sua atuação e a Presidente Jacira Figueiredo se houve com serenidade tendo, ao final dos trabalhos, agradecido as presenças de todos e de todas. E, finalmente, também merece ser destacado, o almoço de muito bom gosto. Parabéns, Rotary Club de São Luís, pelos seus bem vividos 81 anos!


A IMPORTÂNCIA DOS FRANCESES NA FUNDAÇÃO DE BELÉM DO PARÁ JOANA BITTENCOURT Em 1914, dois anos antes do tricentenário de fundação da cidade de Belém, era formada uma comissão para preparar todo o evento daquela data magna dos paraenses. O Diretório do Comitê Patriótico tinha muitas vertentes, dentre elas a Comissão Literária, coordenada pelo intelectual Dr. Inácio Batista de Moura, amigo do maranhense escritor/pesquisador, professor José Ribeiro do Amaral. E foi por conta do vasto conhecimento sobre a nossa história pátria que o professor Ribeiro do Amaral, recebeu convite para elaborar, nada menos que a memória histórica relativa à jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco, do porto do Maranhão (dezembro de 1615) para a fundação de Belém (janeiro de 1616). O convite fora feito em julho de 1915 e logo em dezembro daquele ano, era enviada àquela douta Comissão, o trabalho, árdua e prestimosamente elaborado pelo ilustre Dr. Ribeiro do Amaral, pautado em cuidadosa pesquisa, devidamente comprovado com farta documentação, enfim, tudo que nosso renomado pesquisador pôde buscar ―nas escassas, apagadas e, sobretudo, muitíssimo incompletas‖ notícias da jornada empreendida pelo fundador de Belém. O manuscrito desse valioso documento histórico, por longo tempo, esteve de posse da Biblioteca Municipal de São Luís, depois entregue à família do historiador e finalmente, passado às mãos do Senador José Sarney, que mandou editá-lo em 2004, através do Conselho Editorial do Senado Federal, trazendo valiosa contribuição à história de Belém do Pará e do Brasil. Trata-se do volume 31, intitulado de ―Fundação de Belém do Pará – Jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco em 1616‖, por Ribeiro do Amaral. Este preâmbulo faz-se necessário para louvar o trabalho do historiador Ribeiro do Amaral e através dele, trazer a lume, fatos que passariam despercebidos ou ocultados, não fosse o relato imparcial, onde o historiador atribui aos franceses, significativa importância, na empreitada da jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco à Belém do Pará. Logo após a rendição dos franceses em 1º de novembro de 1615, na Ilha do Maranhão, Alexandre de Moura tratou de por em prática as determinações do Governador Geral do Brasil, Gaspar de Sousa: a conquista do Amazonas! Para tanto, os portugueses contaram com o precioso auxílio do francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que lhes forneceu informações, já que estivera no Amazonas, há mais de um ano, acompanhado de cerca de setenta pessoas, em expedição de reconhecimento e possivelmente para fundar povoações e construir fortificações na conquista das terras do Norte do Brasil. Esta expedição dos franceses ao Amazonas foi interrompida pela notícia da aproximação dos portugueses na Ilha do Maranhão, ocasião em que La Ravardière deixou por lá uns vinte homens, armas e munições sob a responsabilidade do francês De Blanjantiere. La Ravardière entregou também ao Sargento-Mor português Diogo de Campos Moreno, após a Batalha de Guaxenduba (novembro de 1614), os mapas indicativos dos roteiros seguidos naquela viagem. Tal oferta se deu por ocasião da visita do Sargento-Mor ao Forte de São Luís, durante a trégua, em que este anotava e desenhava no livro de memórias, e que segundo seu próprio relato, La Ravardière lhe disse: ―Vejo-vos tão curioso, que me parece, para vos livrar de trabalho, que vos hei de dar o desenho que fiz de tudo isto até o Pará, em que me aventurei e trabalhei muito...‖


Munido, portanto de fartas indicações, incluindo uma carta/certidão assinada por La Ravardière, contendo as informações do que havia naquelas paragens, o trato com os nativos, o modo de navegar, os barcos apropriados, etc., Alexandre de Moura tomou as deliberações necessárias à expedição portuguesa ao Pará. Seus pilotos, no entanto, não se atreviam a empreender tal aventura, por isso Alexandre de Moura ―mandou chamar os pilotos franceses, que para esse efeito tinha mandado ficar no Maranhão (...) e porque para isto também tinha prestes mãos de Des Vaux, francês grande língua (...) e outro piloto francês, os quais com navios pequenos se atreviam a levar lá a gente...‖ (O outro piloto francês é o soldado Rabeau). Em todos os momentos, Charles Des Vaux é citado como guia daquela expedição, fazendo o roteiro que o piloto português Antonio Cochado seguia, e até mesmo nas recomendações de Alexandre de Moura a Francisco Caldeira, quando escreveu os ―Regimentos‖ da viagem, acrescenta: ―... que chegando ao Cumã, procurasse ter fala daquele gentio e reduzi-lo à dominação portuguesa por ordem de Des Vaux, de quem ele, Francisco Caldeira, deveria fazer muita conta, com as cautelas devidas e necessárias, a fim de que, assim, viesse a conseguir melhor o que pretendiam.‖ Pelos serviços dos franceses, prestados, antes, durante e após a viagem que redundou na fundação da cidade que chamaram de Nossa Senhora de Belém, em janeiro de 1616, e por todas as evidências, nosso magnânimo historiador maranhense Ribeiro do Amaral, não hesita em afirmar: ―aos franceses, notadamente a La Ravardière e a Des Vaux, deveu Francisco Caldeira, o bom êxito de sua jornada: a La Ravardière, pelas informações leais e cavalheiramente prestadas (...) a Dex Vaux, porque grande língua, prático na terra e muito conhecido em toda ela, foi de parceria com outro piloto francês, o único que se arriscou a levar a bom termo a expedição‖. Afirma ainda com mais ênfase, o nosso historiador, que a navegação foi exclusivamente dirigida por Charles Des Vaux e que aos franceses, os portugueses devem a abertura das portas da Amazônia! A jornada de Francisco Caldeira saiu do porto do Maranhão no dia de Natal de 1615, desembarcando na baía de Guajará a 12 de janeiro de 1616. Diz-se que foi uma viagem sem incidentes e o local para a fundação da cidade foi estrategicamente escolhido: uma península, com o pântano de um lado, evitando ataques vindos do interior por terra, e a baía do outro, com visualização para incidentes advindos por água. Quem sabe, teria sido mais uma indicação do nosso estrategista francês Charles Des Vaux (chamado de Itagiba pelos Tupinambás), com mais este serviço prestado aos portugueses para a fundação da ―Terra das Mangueiras‖, nossa bela vizinha Belém do Pará!


A FERROVIA DO TOCANTINS MARANHENSE ADALBERTO FRANKLIN Bem antes que políticos e comerciantes maranhenses começassem a discutir a ligação ferroviária com a região tocantina, os paraenses haviam colocado em execução um ousado projeto de ligar Belém ao cobiçado médio Tocantins, por meio de um sistema misto de transporte que deveria por fim superar os seculares obstáculos à livre navegação do grande rio – as corredeiras e cachoeiras de Tauiri, Itaboca e Santo Antônio. A ideia de construção de uma ferrovia margeando o Tocantins em suas áreas mais críticas de navegação era antiga; remonta à década de 1870, após as frustradas tentativas de Couto de Magalhães de torná-lo navegável aos grandes vapores, removendo os obstáculos das grandes cachoeiras e abrindo um canal de comunicação e comércio entre a foz do Amazonas e a do Prata. A essa ousada ―empresa de tanta utilidade ao país‖, o governo do Pará concedeu, no primeiro ano, uma subvenção de 30 contos de réis, quando o presidente da Província do Pará, Abel Graça, apresentava os primeiros resultados desse investimento, anunciando efusivamente que ―o alto Tocantins mais adiantado fará este ano uma exportação de cerca de 250 contos de réis‖. Nos relatórios apresentados à Assembléia Provincial em 1871 e 1872, porém, Abel Graça informa que a navegação do Tocantins e Araguaia não vinha conseguindo manter a regularidade desejada, ao mesmo tempo em que reconhecia que o jovem brigadeiro Couto de Magalhães – de apenas 34 anos, mas já herói da Guerra do Paraguai e ex-presidente das províncias de Goiás, Pará e Mato Grosso – ―não poupa sacrifícios para cumprir fielmente a espinhosa missão que generosamente aceitou‖. Ainda no relatório de 1872, o presidente do Pará dá informação de que o governo imperial enviara dois engenheiros para ―explorar os mencionados rios e construir uma estrada, com o fim de melhorar e facilitar a navegação entre esta província e a de Goyaz‖. Entretanto, não demoraria muito para que Couto de Magalhães se rendesse às dificuldades e aos prejuízos que lhe impuseram seu visionário projeto. Dez anos depois, e enormes prejuízos contabilizados pelo empreendedor e pelo governo paraense, apresenta-se novamente a alternativa de se fazer a ligação de Belém com o alto Tocantins através de uma via mista, fluvial e ferroviária. Nascia assim o projeto da Ferrovia Tocantins-Araguaia, ou ―Estrada de Alcobaça‖ (atual Tucuruí), apresentado na ―Fala‖ do então presidente do Pará, general barão de Maracaju, em 15 de fevereiro de 1883: Em sua exposição à Assembléia Provincial sobre as vantagens dessa ferrovia, o barão de Maracaju revelou que, no ano anterior, um projeto de subvenção dessa estrada fora apresentado à Câmara dos Deputados, dispondo que o governo imperial pagasse 10 contos de réis por quilômetro a quem se encarregasse dessa construção, que deveria partir de Alcobaça e terminar no lugar Anastácio, acima das grandes cachoeiras do Tocantins; e a ―conceder privilegio por 60 annos á quem fizer o prolongamento da estrada sem subvenção até Boa-Vista ou Goyaz‖. Mais que isso, o projeto dos governantes paraenses previa que fosse posteriormente atravessado todo o médio e alto Tocantins, alcançando-se a capital de Goiás depois de passar pelas imensas áreas


pastoris do Maranhão e Goiás, com o que estabeleceria domínio e monopólio comercial de toda essa região em franco desenvolvimento. Construir uma linha férrea de Alcobaça – de onde os grandes vapores navegavam livremente para Belém – até Boa Vista, superando os obstáculos de Itaboca e Tauiri, no Pará, e de Santo Antônio, acima da Vila da Imperatriz, no Maranhão, significava tornar finalmente livre a navegação do Tocantins e atrair toda a nascente riqueza produzida desde o Planalto Central brasileiro até a foz do Amazonas. Seria assim possível realizar o frustrado projeto de Couto de Magalhães, de ligar Belém à bacia do Prata, porque pouco restaria de estrada rodoviária para chegar-se aos rios do Mato Grosso. Certamente vislumbrando essa possibilidade, o barão de Maracaju, nessa mesma fala, disse que acreditava ser ―por falta de conhecimento oficial das variadas riquezas que possui esta zona, não está já em andamento essa ferrovia‖. A extensão de trilhos prevista, de Alcobaça a Boa Vista, era de 391 quilômetros. A concessão foi dada a José Negreiros de Almeida Sobrinho, em 1895, para todo o trajeto, desde Alcobaça até Boa Vista. Formara-se, em 1890, a Empresa de Viação Férrea e Fluvial do Tocantins e Araguaia, capitalizada para esse empreendimento, com subvenção do governo do Pará. No entanto, oito anos depois pouco havia realizado a concessionária da ferrovia, mesmo tendo recebido largos subsídios dos governos federal e do Pará, que, a partir de 1896, concedeu empréstimo de 15 contos por quilômetro à empresa, vantagem assegurada até que fossem construídos os primeiros 184 quilômetros. A incúria da concessionária provocou a reação do governador José Paes de Carvalho, que em mensagem ao Congresso do Estado do Pará, em 1898, declarou que esses auxílios haviam chegado ao limite e que a empresa não mais inspirava confiança. Por quase 70 anos, através de várias outras empresas e de muito investimento público, essa obra foi finalmente abandonada sem ter alcançado o Maranhão e Goiás. Quase cem anos depois das tentativas de Couto Magalhães ligar a foz do Amazonas ao Planalto Central, foi que essa comunicação se estabeleceu; não por via fluvial, mas através da Rodovia Belém–Brasília, em 1960, pelo presidente Juscelino Kubitschek. E a sonhada e tentada estrada de ferro Alcobaça-Boa Vista, que tanto tempo, esperanças e recursos roubaram dos governos e do povo, ainda caminha a passos lentos, agora com o nome de Ferrovia Norte-Sul, rumando para o Planalto Central, onde a esperam há mais de um século. (Condensado do livro ―Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz‖, do mesmo autor)


O FUTSAL NO MARANHÃO - ÍCONES E LEMBRANÇAS LEOPOLDO GIL DÚLCIO VAZ HTTP://WWW.JORNALPEQUENO.COM.BR/2012/6/10/O-FUTSAL-NO-MARANHAO---ICONES-ELEMBRANCAS-200111.HTM

Futebol de Salão - FUTSAL - apareceu oficialmente em 1955, embora alguns exatletas, em seus tempos de colegiais, informem em suas memórias, que foi na década de 40 que o Futebol de Salão teve início em São Luís. Na realidade, jogava-se com bola de futebol, nos pátios dos colégios, e, somente em 1955 aconteceu a introdução, seguindo-se as regras e com material oficial. Quando o professor de física do Liceu Maranhense, Pedro Lopes dos Santos, fundou a equipe do Próton, - primeira equipe formada por alunos daquele estabelecimento de ensino - e a do Elétron, - segunda equipe - trouxe a primeira bola e as regras da nova modalidade. Jogavam no Próton, além de Januário Goulart, como atacante, Rogério Bayma, Chico Tetê, Rui, Nonato Cassas, Ernani Cantanhede. No primeiro jogo interestadual disputado na quadra do Liceu -, contra o América, de Fortaleza/CE, houve empate de 2 x 2. Nessa época, nome também muito importante foi Nilson, nascido em 1940, filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos. Foi um dos fundadores do Sparta, outro time que marcou época. Nilson, daquele grupo que estudava no Liceu, viu nascer o Futsal. Outro nome de destaque foi João Pinheiro Cunha - o Manga - craque dessa mesma época. Para ele, daquele grupo que jogava futebol, o único selecionado foi Nonato Cassas. Desse primeiro grupo, na primeira formação do Próton, além de Nonato Cassas, figuravam Rogério Bayma (goleiro), Chico Tetê, Ruy Poxo, Ernani Catinga. Quando entrou para o Liceu Maranhense teve contato com o pessoal das peladas, jogadas na hora do recreio e após as aulas (1954): Vilenô, Nonato e Elias Cassas, Nonato Sabock, Guilherme Saldanha, Mota, Januário Goulart, Silvinho Goulart, José Reinado Tavares, César Bragança, Nerval e Nilson Santiago, Milson Cordeiro, e outros. GERAÇÃO DE 53 - O principal nome, sem dúvidas, é o de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, e seu irmão Janjão. Junto com eles destacam-se outros irmãos, como os Fecury, os Cassas, os Goulart, os Carvalho, os Itapary, os Santiago, os Tavares, os Baldez, os Rosa, os Vieira da Silva, os Pfluegger, os Lamar... Adolescentes que tinham na ―Geração dos ERRES‖ - da década de 40: Rubem Goulart, Ronald Carvalho, José Rosa, Rinaldi Maia, Raul Guterres, Djard Ramos Martins, Raimundinho Vieira da Silva, dentre outros - como exemplo e com quem começam a se envolver nos esportes, notadamente o Voleibol e o Basquetebol e viram surgir o Futebol de Salão (Futsal, hoje). Dessa Geração de 53 destacavam-se também: César Bragança, Palmério César Maciel de Campos (Poé), Gedeão Matos, João Pinheiro Cunha, Aziz Tajra, Cleon Furtado, Jaime Santana, Roberto Babão, Alim Maluf, Wilson Bello, Raimundinho Sá, Denizar Almeida, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Sá Valle, Henrique Moreira


Lima, Márcio Viana Pereira, Rogério Baima, Chico Tetê, Rui Poxo, Ernani Cantanhede (Catianga), Airton, Paulinho, Miguel Arcanjo Vale dos Santos (Paru), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, Rogério Bayma, Mozart Sá Tavares, Benedito Moraes Ribeiro (Biné), Murilo Gago, Enemêr, Luís Portela, Walber, Vavá, Zé Augusto Lamar, Benito Neiva, Cauby, Gracco Bolívar, Luiz Soares de Sousa (Luizinho) e seu irmão João Carlos Soares de Sousa (Cabeça), Nega Fulô, Salim Lauande, Osmário de Ribamar Raposo (Esmagado); Alcir Zeni, Dílson, João Botão, José de Ribamar Lobão Filho (Lobão); José Antonio Ferreira e Silva (Manteiga)... Incentivando esses jovens, havia aqueles que eram professores, técnicos, radialistas, enfim, os mais velhos e que organizavam os diversos torneios e campeonatos, como Jafé Mendes Nunes, Nagib Haickel, Samuel Gobel, Heitor Heluy, Carlos Alberto (Bebeto) Barateiro de Costa, Albino Travincas, Márcio Matos Viana Pereira, Carlos Alberto Alves, Dimas, Manoel Andrade, Joaquim Casanovas Anglada, José Antonio Almeida e Silva (Anjinho)... JOACY FONSECA GOMES - outro que escreveu o nome nos anais do Futsal Maranhense, nascido em Cururupu em 12 de junho de 1938. Em 1953, então com 15 anos, veio para São Luís, onde fez o ginásio e o científico no Liceu Maranhense, destacando-se no futebol, indo jogar no Flamengo do Monte Castelo. Em 1958, estava disputando o campeonato de Futebol de Salão, em uma competição organizada pela Liga que havia sido fundada por João Rosa Filho e pelo jornalista Jafé Mendes Nunes; jogava pelo T8 (Tê Oito). Os clubes de futsal que se destacavam eram: Spartakus (Nilson Santiago, Ribarco e Paru); Graça Aranha (Albino Travincas, Canhoteiro, Wallace e Jafé); Santelmo (Cleon Furtado, Poé, Mozart, Biné, Murilo Gago); Rio Negro; Vitex (Enemêr, Luís Portela, Walber, e Vavá); Drible (dos irmãos Saldanha, Zé Augusto Lamar, Manteiga, Mota); SAELTIPA (a companhia de água); e América; depois, veio Próton, Saturno, Cometas, Flamengo do Monte Castelo. Os jogos eram disputados nas quadras do Lítero e do Casino. Havia uma rivalidade muito grande entre as equipes de Futebol de Salão do Liceu (Marinaldo, Guilherme Saldanha, Josenil Souza, e Jacy) e Atheneu (Mota e companheiros); havia o grupo do Colégio São Luís (Biné, Chedão, Jaime Tavares) e dos Maristas (Garrincha, e os irmãos Nonato e Cury Baldez). Outro que se destaca é LUÍS CARLOS MOTTA, considerado até hoje, um ―mestre do futsal‖. Estudante do Colégio Ateneu de 1952 a 1956 (ganhou uma bolsa de estudos, pela sua habilidade com a bola), passou para o Liceu Maranhense, foi sete vezes campeão do Campeonato Maranhense de Estudantes - tetra pelo Ateneu, e tri pelo Liceu. Sua habilidade técnica como pivô valeu um convite para ingressar no Drible (1959), time dos irmãos Saldanha, recém-inaugurado (1958). Em 1961, deixa o Drible e passa para o Santelmo, sagrando-se campeão naquele ano; retorna ao Drible (1962), após uma temporada, conquistando diversos títulos, como o de campeão invicto do Torneio Carneiro Belfort (62); do Torneio do Jaguarema (63); além dos Torneios Major Mota e do ―3º aniversário do Elmo‖ (65). Pelo Drible, foi ainda, hepta-campeão - 66 a 72 -, ano em que o Drible encerrou suas atividades. Motta, em 1974, abandona os esportes, devido a um acidente - foi atropelado por um ônibus.


PALMÉRIO CÉSAR MACIEL DE CAMPOS - Poé - Aos 16 anos (54) a família transferiu-se para São Luís, onde fez contato com o esporte. Jogou Futebol de Campo, Futebol de Praia, depois Futsal e Basquete, sempre se destacando como craque de bola... 1957 - passa a jogar futsal pelo Santelmo - recém-criado -, convidado por Cleon Furtado e João Rosa e que contava, ainda, com Raul Guterres, Murilo Gago, Biné (Benedito Moraes Ribeiro), Mozart (de Sá Tavares), Ivaldo. Com esse time, foram campeões de 1958 e 1959. A final do campeonato desse ano foi entre o Santelmo e o Próton, decidida em melhor de cinco pontos; a primeira partida, disputada no Casino, o Próton venceu por 5 x 2; o segundo jogo, na AABB (sede da Rua Grande, depois vendida aos Maristas), o Santelmo saiu vencedor, por 3 x 0; e a terceira partida, também no Casino, empate em 2 x 2; e a quarta e última, disputada no Lítero, 5 x 1, para o Santelmo. O Santelmo conquistou o tetra-campeonato - 58, 59, 60, e 61. 1962 - Santelmo e o Próton foram extintos, fundando-se o Cometas, formando uma verdadeira seleção: Poé, Lobão, Enemê (goleiro) Dunga, Nonato e Elias Cassas, Coronel Márcio (Matos Viana Pereira), Luisinho, Canhotinho, César Bragança, Murilo Matos, e Vavá. Essa formação jogou de 62 a 66 sem conquistar nenhum título. No final de 66, deixa de jogar futsal. Os times da época eram bons demais: Graça Aranha, Atenas, Drible, Sampaio. Segundo Poé, o futsal viveu duas fases: a primeira foi da espontaneidade, onde tudo era nativo, não existindo tática, só técnica; a segunda iniciou depois que o time cearense Francisco Lorda passou por aqui e ensinou tática. Juntaram técnica e tática. Em 1955 surge a Sociedade Esportiva Sparta, dos irmãos Ferdinand (Ferdic) e Constâncio Carvalho; jogavam ainda: os irmãos Nilson e Nervalzinho Santiago, os irmãos Bira e João Abreu, Paulista, Piauí (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Enésio, Roberto Babão. Ainda em 1955 surge o Saturno, de Samuel Gobel, Zequinha Goulart e Heitor Heluy, contou com Nilson Ferreira, César Bragança, Januário, Almeida, Marcio Viana Pereira, Hamilton, e o técnico era o capitão Medeiros. LUIZ SOARES DE SOUSA, o ―canhão da Vila Beira-Mar‖. Jogava como ala esquerda, iniciando-se no esporte jogando futebol, junto com os irmãos Inácio e João Carlos, na Rua da Saavedra e na crôa formada na Beira-Mar. 1954 - com 13 anos, entra no Liceu Maranhense, e passa a jogar pelo Próton, time da escola fundado pelo Prof. Pedro Santos. Após o Próton, onde só jogou uma temporada, ingressou no Rio Negro, time de Rodolfo Rosa (irmão de João Rosa Filho, também filho de João Rosa); jogavam: Esmagado (Osmario de Ribamar Raposo); Cabeça (João Carlos Soares de Sousa, irmão de Luizinho); Pula-Pula, dentre outros. O Rio Negro - como tantas outras equipes de então, teve vida curta, como também o Vitex, fundado pelo Dr. Vazquez. Ao sair do Rio Negro, Luizinho vai para o Saturno, de grego Samuel Gobel. 1960 - passa a jogar pela equipe do 24º BC, pois se alistara para servir ao Exército. O treinador era o major Medeiros. NILSON FERREIRA SANTIAGO - filho de Nerval Lebre Santiago, secretário do Liceu por 42 anos. Foi incentivado pelo pai a praticar futebol e acabou no futsal de salão. Um dos fundadores do Sparta, time que marcou época. Jogava futebol - de rua quando fundou junto com o Irmão Nerval Filho, Bogéa, Caracol, Monteiro, Zé Diniz,


Daniel, Índio, Quebrado e outros, a Sociedade Esportiva União. Jogou também Basquete, pelo Cisne Branco, de José Gonçalves da Silva, o Zéquinha, treinador do MAC e árbitro; após a desativação do time, ainda jogou pelo Moto Club. Estava naquele grupo em 1955, que estudava no Liceu e viu nascer o futsal, trazido pelo professor de Física, Pedro Lopes dos Santos, que fundou o Próton, formado inicialmente por Chico Tetê, Ernani Coutinho, Nonato Cassas, e Rogério Bayma. Nessa época, aqueles que se descobria que não podiam jogar futebol de campo, iam para a quadra, jogar salão. Logo, surgiram outras equipes. Os irmãos Ferdinand (Ferdic) Carvalho e Constâncio Carvalho Neto fundaram a Sociedade Esportiva Sparta; além dos dois, jogavam ainda Nilson, os irmãos Bira e Juca Abreu, Airton, Paulinho, Nervalzinho, Paru (Miguel Arcanjo Vale dos Santos), Milson Cordeiro, Ruibasco (Ribasco), Inésio e Roberto Babão. Mais grupos foram surgindo, como o Saturno (de Samuel Goberl, Zequinha Goulart, e Heitor Heluy), e Nilson passou a jogar nele, ao lado de César Bragança, Januário Almeida, Márcio Viana Pereira, Hamilton, tendo como técnico o Capitão Medeiros. SÉRGIO PATELO SALDANHA - Chedão, Shedão, Xedão - 1956 funda o Guanabara, junto com o irmão Roberto e os amigos Mauricio, seu Riba, Costa, Jayron Guimarães, Klauss e Herberth Pflüegger, Zé Roberto e Zé Augusto Lamar, Manteiga (José Antonio Ferreira e Silva), Nascimento e Tobias; para jogar futebol de campo na várzea; em maio de 1957 o Guanabara muda o nome para Drible; Klauss Pflüegger, um dos jogadores, representava essa marca de material esportivo em São Luís e doou uma equipagem para a equipe, com a condição de divulgar a marca; surge a mais emblemática equipe de futebol de salão do Maranhão, que sobreviveu até 1972; a formação - só de fundadores, era: Pangaré, Chedão e Schalcer, Manteiga e Guilherme; Roberto era reserva; mais tarde, juntaram-se Mota, Luisinho e Lobão (José de Ribamar Lobão Filho); o maior adversário do Drible foi o Cometas, derrotado na conquista do primeiro título, em 1966.


CORPUS CHRISTI: TEMPO DE RECORDAR PARA VALORIZAR NATALINO SALGADO FILHO

A semana que se encerrou ontem foi marcada pelo fato de que na quinta-feira, como em todos os anos passados, houve o feriado religioso de Corpus Christi. O Brasil, o maior país de tradição católica portuguesa, continua cultivando o hábito de enfeitar as suas ruas, praças e casas para a procissão alusiva a este feriado. Algumas cidades, especialmente as históricas do interior de Minas Gerais, Goiás e Permambuco, mantêm autênticas obras de arte nas ruas, realizando procissões com todos os seus rituais e liturgias, na manutenção de um catolicismo devocional secular que atravessa os tempos num verdadeiro congraçamento popular. Arte religiosa sim, porém não desprovida de beleza e expressão viva de uma fé que se renova anualmente num ato individual de cada um. Mas poucos sabem a importância de lembrar a data. Corpus Christi é uma expressão latina. Em tradução literal significa: Corpo de Cristo. É um dos pontos altos das comemorações religiosas cristãs, embora, em nossos dias, passe quase despercebida, ainda que carregue em si um significado vital para a fé. De fato, não existiria sentido para fé sem um objeto, neste caso o Corpo de Cristo que, segundo as Escrituras, é o Pão Vivo que desceu do céu (Evangelho segundo S. João 6.51). A festividade Católica remonta ao século XIII. Iniciou em Liége (Bélgica) e em 1264 foi oficializada no calendário católico sob a determinação do Papa Urbano IV. Desde então, é realizada sempre às quintas-feiras, sessenta dias após a Páscoa. Mas de onde vem esta expressão Corpo de Cristo? Os Evangelhos registram que na quinta-feira – daí a festividade ser comemorada sempre neste dia da semana – Jesus se reuniu com os discípulos para a última ceia. Em dado momento, ele toma o pão partido e o apresenta aos discípulos presentes com as palavras: ―Tomai, comei, isto é o meu corpo‖ (Evangelho segundo S. Marcos 14.22). Este ato, ensinam-nos os Evangelistas e S. Paulo, é ordenança do Nosso Senhor para sua memória (1 Co 11.24,25). Memória à qual voltamos sempre que celebramos a Eucaristia, palavra de origem grega que evoca as ações de graça e de reconhecimento. A partilha do pão não apenas nos une, nos irmana e também nos torna participantes do dom da fé e da salvação. O Corpo-Pão é o alimento da alma, o maná que nos dá força para seguir na travessia do grande deserto da vida. Deserto, porém, não é lugar de ruína ou de perda. É lugar de encontro, de silêncio, de construção de uma fé relacional com o Deus que provê cada dia o sustento, a direção e o livramento do mal como nos recorda a oração do Pai Nosso. É espaço de peregrinação desde um lugar de sofrimento para aquele onde se realizará o grande encontro com o Senhor. É, portanto, no Corpo do Senhor que converge nosso olhar em busca de referência que se torna interna, plena de amor e verdade. Esta não se arroga diante do outro, ela se oferta. O amor é o meio. O Corpo de Cristo nos faz recordar, nós, seres históricos, temporais, que nossa salvação não se dá num vazio, mas mediada pelo Cristo humanizado, aquele que palmilhou estradas, sentiu sede e fome, amou, irou-se, ofereceu-se como Cordeiro em sacrifício.


São Paulo explica a encarnação por meio de uma frase que contém mais mistério do que nossa mente pode apreender: ―Mas esvaziou-se a si mesmo (Cristo), tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;‖ (Carta aos Filipenses 2:7). Cristo assumiu uma forma, um corpo, assemelhou-se a nós, nisto se completa plenamente o nome que lhe deu o profeta Isaías (7.14): Emanuel, que significa ―Deus conosco‖ ou ―Deus está conosco‖. Celebrar o Corpus Christi é, mesmo num tempo de religiosidades voláteis e circunstanciais ou mesmo de alheamento da fé, um ato de encontro consigo, com o outro, com Deus. Neste momento, devemos estar despidos, numa espécie de desamparo das coisas mundanas e passáveis, e ser apenas reflexo da Graça que é o dom gratuito do Senhor para uma vida plena. Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC.


O PRIMEIRO CONVENTO CAPUCHINHO DO BRASIL ANTONIO NOBERTO Em um texto anterior falamos sobre ―A Ilha do Cirurgião‖, atual Ilha do Cajual, primeira doação oficial de terra no Maranhão, oferecida por Daniel de La Touche de La Ravardière ao primeiro médico-cirurgião vindo com o general francês à época da França Equinocial, em 1612. A doação consta no primeiro mapa do Maranhão, sendo este produzido a partir dos desenhos entregues por La ravardière ao sargento-mor do Brasil Diogo de Campos Moreno, que por sua vez, os repassou ao cosmógrafo do rei de Portugal, João Teixeira Albernaz. Continuando a temática Franceses no Maranhão, que, por ocasião da aproximação do quadricentenário de São Luís, vem atraindo a atenção de muitos maranhenses, nacionais e estrangeiros, vamos explorar um dos tesouros mais fascinantes legado pelos gauleses, que atravessou séculos e chegou aos nossos dias com um enorme potencial turístico e acadêmico, le Couvent Saint-François – o convento São Francisco –, primeiro convento capuchinho do Brasil. A edificação se deu no lugar onde hoje se encontra o seminário Santo Antonio, no Centro de São Luís. Nosso primeiro cronista, Claude Abbeville, na obra História da missão..., nos informa que ―Em distância de mil ou mil e duzentos passos há um bonito lugar de recreio, onde existe uma fonte (atualmente Fonte do Ribeirão), especial pela limpidez e bom gosto de sua água viva e clara que dela jorra, e corre para o mar (...) Neste delicioso lugar os índios tupinambás derrubaram grande número de árvores e um pouco acima da fonte construíram uma grande e espaçosa casa para habitarmos, e outra mística, apara a celebração do santo sacrifício da missa, servindo de capela. Demos a este lugar o nome de Convento de São Francisco‖. (Siciliano. 2002, Pp. 83 e 84). A escolha do lugar para a edificação de convento e igreja não foi sem razão. Os quatro capuchinhos: Yves d‘Evreux (superior da missão), Claude Abbeville, Ambroise d‘Amiens e Arsene de Paris, ao se distanciarem do forte objetivavam a segurança, e maior proteção de possíveis ataques inimigos vindos do mar. O simples fato de ―se embrenharem no mato‖, por si só demonstra a despreocupação com o nativo e uma confiança na boa relação com este. O convento, na verdade, era a verdadeira representação da boa convivência entre autóctones e alógenos e do espírito evoluído dos frades capuchinhos de São Francisco, pois nele os filhos dos franceses e as crianças tupinambás aprendiam juntos os ensinamentos seculares e cristãos. O espaço religioso possuía considerável área. A primeira fonte, narrada acima por Abbeville, foi descoberta nos primeiros dias da colonização e abastecia favoravelmente o convento. Note que a construção arquitetônica da Fonte do Ribeirão é de fins do século XVIII. Obra realizada pelo governador Antonio de Noronha. No ano seguinte, 1613, chegados mais trezentos colonos franceses – arregimentados por François de Razilly – vieram mais onze capuchinhos, comandados pelo frei escocês, convertido do protestantismo, Arcângelo de Prembock, que, do outro lado da habitação dos capuchinhos, descobriu uma segunda fonte ―próximo à cerca do convento‖. Esta fonte parece-nos se tratar daquela em frente ao Palácio dos Esportes, próximo à Rua da Mangueira e do Pespontão, hoje bem modificada pela ação antrópica e do tempo. Chegamos a esta conclusão fazendo um passeio no Centro de São Luís com o amigo, escritor e confrade do IHGM (in memorian) Carlos de Lima.


Inicialmente construída em madeira, palha e barro, os fundamentos do convento e igreja de São Francisco logo seriam alterados para uma maior solidez, vez que o Cardeal de Joyeuse, o mesmo que batizou Luís XIII, coroou Maria de Médici, intermediou em Roma a separação de Henrique de Navarra da perversa rainha Margot e quase chegou a ser papa, ele mesmo doou o dinheiro necessário para a construção em pedra do hospice capuchinho, que, apesar das paredes levantadas, não chegou a ser totalmente finalizado em razão do desencadeamento da batalha de Guaxenduba. Sobre a construção deste prédio transcrevemos a declaração de um dos trabalhadores do dito lugar, o francês Jean Pachet, oficial mecânico preso na Batalha em novembro de 1614. Os relatos foram assim anotados pelo escrivão de Jerônimo de Albuquerque, Francisco de Araújo de Moura: ―(...) chegados trataram de construir um convento para os frades, o qual começaram de taipa de pilão e de pedra como se faz na França‖. O convento capuchinho, então, é também, a primeira construção em pedra do Maranhão. Jerônimo de Albuquerque, durante o período de trégua com os franceses – novembro de 1614 a outubro de 1615 –, denuncia ao embaixador da Espanha na França o incentivo dado pelo Cardeal François de Joyeuse ao projeto de colonização dos franceses na Ilha Grande. A primeira reforma do convento, já em mãos portuguesas, aconteceu em 1626. A igreja, segundo a tradição oral e escrita, é a atual Capela dos Navegantes. Convento e igreja são lugares destacados em razão da rica história verificados nestes quatro séculos. Foi no dito lugar que foi sepultado oficialmente o primeiro europeu no Maranhão, o capuchinho Ambroise de Amiens; o conhecidíssimo padre Antonio Vieira escreveu os seus Sermões aos peixes; Manuel Beckman concertou a primeira tentativa brasileira de separação de parte do Brasil em relação a Portugal, em 1684, na famosa Revolta de Beckman; lá também foi palco de um dos eventos mais intrigantes a desaguar no judiciário brasileiro, o processo das formigas, quando os frades ―levaram as formigas ao banco dos réus‖; na citada Capela dos Navegantes se encontram os túmulos de pessoas ilustres, que fizeram a história do estado, entre as quais Ana Jansen, ―a rainha do Maranhão‖ (ela foi inumada inicialmente no Cemitério dos Passos, sendo trasladados os restos mortais por ocasião da construção do Estádio Nhôzinho Santos); Barbosa de Godois (escritor que, entre outros, compôs o hino do Maranhão – a música é de Antonio Rayol), Antonio dos Santos Jacintho (médico que fez autópsia nos famosos casos dO Crime da baronesa e do caso Pontes Visgueiro. É o ascendente no Maranhão da numerosa família Santos Jacintho), dentre muitos outros. A maiúscula história do lugar ainda está longe de ser devidamente explorada. O grande evento do quadricentenário pode ser o melhor momento de fazermos valer tanta riqueza cultural. *Turismólogo, escritor e sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão


OS PRIMEIROS CONVENTOS FRANCISCANOS NO BRASIL MARIETA BORGES BLOG: www.marietaborges.com sexta-feira, 22 de junho de 2012

Recebi, do escritor Antônio Noberto, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, um interessante trabalho sobre o mais antigo convento capuchinho do Brasil – o Convento São Francisco, em São Luiz (le Couvent Saint-François), edificado em 1612 onde hoje se encontra o Seminário Santo Antonio, no Centro da capital maranhense, Quatro capuchinhos acompanhavam Daniel de la Touche naquela viagem: Frei Yves d‘Evreux (superior da missão), Frei Claude Abbeville, Frei Ambroise d‘Amiens e Frei Arsene de Paris. Mais tarde, em 1613, viriam mais 11 capuchinhos, para viverem nessa casa conventual, construída de taipa de pilão e de pedra ―como se fazia na França‖ tornando-se mais sólida, com o uso posterior de outros materiais construtivos. Ler sobre isso despertou-me dois desejos: 1º: falar de um outro convento também franciscano, erguido em Olinda, em 1585: o Convento de São Francisco da Ordem dos Frades Menores, o mais antigo do Brasil daquela congregação; 2º: falar sobre Frei Claude d´Abeville, integrante da expedição que se dirigia ao Maranhão mas que, aproximando-se do Brasil, sentiu necessidade de parar em um arquipélago encontrado na sua rota marítima, para se abastecer. O convento franciscano de Olinda é muito conhecido pelos devotos de São Francisco e muito visitado pelos turistas que chegam à 1ª capital pernambucana. Erguido numa colina suave, a caminho do Alto da Sé (a Catedral do Arcebispado), no coração do sítio histórico da Cidade Patrimônio Mundial, foi invadido pelos holandeses no século XVII, abandonado à sua própria sorte por muitos anos, reconstruído, ornamentado com azulejos portugueses, preciosas talhas douradas, pinturas que trazem a natureza para enfeitar o interior do conjunto – mostrando folhas e frutos - e figuras de anjos com traços fisionômicos índígenas, entalhados em jacarandá. Ali nasceu o Mamulengo, expressão criativa de usar-se o boneco feito em mulungu, para a catequese dos índios e escravos, usada pelos franciscanos da primeira hora. Ali vive – desde aquele tempo - a comunidade de Frades Franciscanos Menores, em terras doadas por Dona Maria da Rosa, a 1ª franciscana secular, que fez nascer


daquela casa, desde 1577, a mais antiga e Venerável Ordem Terceira Franciscana secular do País, núcleo tradicional de religiosos que chegam até os nossos dias. Frei Claude d´Abeville, um de dos companheiros de La Touche, conquistador do Maranhão, como seu escrivão na expedição, escreveu uma bela obra: ―História da Conquista do Maranhão e Terras Circunvizinhas‖ e nela incluiu um capítulo ―Fernando de Noronha‖, no qual descreve o arquipélago com riqueza de expressões e de detalhes, do que seria a esplendorosa natureza que descobriu - ao parar por 15 dias na ilha principal do arquipélago - onde quis deixar plantada a força da fé católica, improvisando uma paliçada sob a qual celebrou a 1ª Missa naquelas paragens. Esse feito é contado também na coleção ―História da Igreja no Brasil‖, do Pe. Arlindo Rupert, ao referir-se aos frades capuchinhos franceses que andaram pela nossa terra. Detalhes da uma grande história que se construiu aos poucos, mas que deixou sólidas informações e nos ajudam a resgatar o passado, seja em Pernambuco, seja no Maranhão, com gosto de eternidade!


MESMO DESTINATÁRIO, OUTRO REMETENTE JOAQUIM NAGIB HAICKEL http://colunas.imirante.com/platb/joaquimhaickel/ 17/JUNHO/2012

Meu caro Daniel, Já lá se vão 400 anos e se por um lado as coisas por aqui não mudaram em muito, por outro mudaram radicalmente. Não há mais rastros de seus amigos Tupinambás. Sumiram com todos. De seus conterrâneos normandos restaram apenas a Casa França/Maranhão, e a Aliança Francesa, difundindo o ensino da língua dos Luíses. Há também os turistas que insistem em vir para ver o que poderia ter sido a França Equinocial. Albuquerque, Moreno e Moura se foram para outras aventuras. Os velhos portugueses e açorianos, seus sucessores, também se foram deixando por aqui uma cidade que começou comandada por Japiaçu, passou aos cuidados do senhor de La Ravardière, para em seguida ser entregue a Jerônimo de Albuquerque que posteriormente a passou aos cuidados de Simão Estácio da Silveira, instituidor do Senado da Câmara da cidade de São Luís do Maranhão. Poderia até tentar em uma dúzia de laudas resumir o que aconteceu por aqui nos últimos quatro séculos, mas não vou. Seria perda de tempo, pois nem o melhor dos missivistas seria capaz de resumir em tão pouco espaço e tempo os fatos mais significativos de nossa história, por isso vou apenas me ater a um fato que considero relevante e a outro, por acreditar que seja absurdo. O primeiro fato diz respeito ao abandono em que se encontra o centro histórico de nossa cidadela. Depois que você foi levado preso para a Torre de Belém, em Lisboa, o engenheiro-mor Francisco de Frias fez um traçado, moderno para a sua época, delimitando o núcleo inicial do que viria a ser a cidade que herdaria o nome do forte que você e seus companheiros gauleses haviam fundado naquele 08 de setembro de 1612. Pois bem, os lusitanos construíram no lugar uma belíssima cidade de porcelana, bordada pelos mais belos azulejos barrocos que o dinheiro do açúcar e do algodão podiam pagar. Mas o tempo foi passando, o poderio econômico mudando de mãos como feliz ou infelizmente é a regra do jogo da vida, o que foi fazendo com que a bela cidade de porcelana fosse sendo negligenciada, abandonada, esquecida, ao ponto de terem se transferido para o que no século XVII era área conhecida como Jeevirée e pouco depois, ponta de São Francisco, hoje área residencial dos ricos e poderosos de nossa terra, parte noroeste da Upaon-Açu de outrora. Os grandes comerciantes há muito já se foram, as indústrias não perduraram, os governos não tiveram a visão de implantar no centro histórico o seu núcleo gerencial e ele com o passar do tempo foi se tornando um amontoado de prédios abandonados, caindo aos pedaços, redutos da marginalidade não apenas no que diz respeito a traficantes e punguistas, mas aos excluídos sociais que buscam refúgios em áreas como esta.


Algo precisa ser feito com urgência sob pena de perdermos um dos mais preciosos bens que possuímos, o nosso patrimônio arquitetônico, a nossa identidade enquanto agrupamento humano e urbano, enquanto polis. Ainda sobre isso, devo ressaltar que temos uma guerreira que empunha a bandeira dessa causa. Kátia Bogéa faz o que pode em defesa de nosso patrimônio histórico, mesmo que as regras do órgão que ela dirige, o IPHAN, algumas vezes atrapalhem mais que ajude. O outro assunto querido amigo, chega perto de ser uma piada. Deve-se ao fato de ter visto recentemente uma entrevista de um cidadão que já foi quase tudo no cardápio político de nossa época, sempre colocado nesses lugares por uma espécie de príncipe moderno, e agora, tendo ele, se rebelado contra seu antigo senhor arvora-se de paladino dos fracos e oprimidos. O tal compareceu ao programa de televisão de um amigo nosso para justificar a sua função de chefe de gabinete do alcaide, o mesmo que ele combateu ferozmente nos últimos anos quando estava sob as ordens do mestre, a quem hoje combate. Mas o pior foi ouvir os aconselhamentos políticos do dito cujo. Imagine alguém que sempre cumpriu ordens sem pestanejar, soldado obediente e de nenhuma iniciativa própria, se passando por formulador de políticas, de teorias, postulando conceitos e arquitetando ações. Seria o mesmo que tal Felipe Janout, estafeta de sua confiança, ter se rebelado depois de anos de obediência cega, depois de uma vida toda se beneficiando de sua proteção e apropriando-se de parte de seus despojos, resolvesse se juntar aos portugueses seus adversários e o que é pior, tentar se tornar um dos chefes, querendo ser um estrategista melhor que o próprio mestre Charlex de Vaux, ou mais hábil na arte do rastreio de pegadas ou no uso das palavras nativas que Davi Migam, O Língua. Analogias à parte, o que o homem está sugerindo por aqui é que um novo aspirante ao lugar do velho príncipe tome atitudes, movimente-se pelo cenário de guerra, aja da mesma maneira que eles imaginam que agiria o atual Kaiser. Veja só isso! Querer mudar as coisas, tomar o poder, agindo exatamente como ele diz que faz quem o detém, da mesma forma que eles dizem repudiar e combater. Pregando a omissão como ação, como tática, no intuito de eximir-se da obrigação de apresentar-se no campo de batalha e enfrentar seus adversários em comum, como faria um covarde ou na melhor das hipóteses como faria um comandante que valoriza muito pouco a palavra empenhada e a vida de seus parceiros. Que líder será esse no futuro, se no presente se portar assim, abandonando seus camaradas e não valorizando a palavra empenhada? Já não sou mais um jovem, já não tenho os mesmos sonhos, já não sou dado aos mesmos arroubos dos 20 anos, por isso posso até concordar que a estratégia sugerida seja a correta… Se e unicamente se o personagem a quem os conselhos são dirigidos estiver tentando manter-se no poder. Para quem quer conquistá-lo, agir dessa forma, covardemente, será o mesmo que dizer a todos que as coisas talvez até mudem no começo, mas estará implícito que depois que conquistar o poder, que se tornar o novo príncipe, com o passar do tempo, o jovem líder se tornará igual ao velho Leão que ora caça, e a todos os outros que o antecederam. É também verdade que isso mais cedo ou mais tarde vai acabar por acontecer, inexoravelmente, mas seria melhor que fosse muito mais tarde do que cedo. Sem mais para o momento, despeço-me respeitosamente…


DIVERSIDADE LOCAL COMO SOLUÇÃO GLOBAL NATALINO SALGADO FILHO Publicado em O ESTADO DO MARANHÃO’ em 17 de junho de 2012

O Brasil está servindo de cenário para um dos mais importantes eventos deste início de século: a conferência Rio + 20, realizada na cidade do Rio de Janeiro, reunindo representantes de 194 nações. Essa conferência acontece exatos 20 anos mais tarde, após a realização da ECO 92, que foi o primeiro grande evento das sociedades contemporâneas a pensar o meio ambiente como um assunto totalmente global. As centenas de atividades do evento estão abordando temas que nortearão o futuro do planeta e, por consequência, da humanidade, e que deverão fundamentar um novo paradigma de desenvolvimento sustentável, baseado no conceito de economia verde, que envolve a preocupação com a redução dos índices de pobreza. São temas atuais, que despertam calorosas discussões entre as nações pobres e ricas, pela diversidade de opiniões sobre a tradicional relação entre o capital e o trabalho. Temas estes que pretendem trazer soluções para problemas, que envolvem todas as nações, como o aquecimento global, escassez de água, produção de alimentos, explosão demográfica e, ainda, o aumento do padrão de consumo material e energético dos países emergentes como o Brasil. O que está em jogo, em todas essas questões, é como manter o crescimento do planeta, com a consequente qualidade de vida das pessoas, e, ao mesmo tempo, garantir o desenvolvimento econômico dos países. Atendendo a esse chamado de oferecer soluções, é que a Universidade Federal do Maranhão se insere no contexto de incentivo à produção e disseminação de conhecimentos, em especial a partir do estudo da diversidade natural em nosso Estado. Poderia apontar inúmeros exemplos, mas quero destacar, neste artigo, o papel desempenhado pelo Campus Universitário da UFMA em Chapadinha, que, por meio do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), oferece os cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Zootecnia. O Campus de Chapadinha está estrategicamente localizado numa região que faz parte do cerrado maranhense, segundo maior bioma que se espalha por oito estados e ocupa cerca de 24 % da superfície do nosso país. Essa área representa, por suas características climáticas, topográficas e de solo, a mais explorada pela agricultura nacional ou o chamado agrobusiness. Em particular no município de Chapadinha e região, essa área vem apresentando um desenvolvimento acelerado nos últimos anos, com a implantação de grandes lavouras de soja e milho, além do incremento da produção agropecuária. Isso reforça a decisão acertada de interiorização da Universidade Federal do Maranhão de ocupar estrategicamente as microrregiões que possuem grande potencial, mas que, até há pouco tempo, careciam de conhecimento técnico especializado para sua exploração. Foi a partir da constatação da diversidade e da riqueza natural da região que a pesquisadora Maria da Cruz Chaves Lima Moura, do curso de Agronomia, do CCAA, elegeu como fonte importante de pesquisa uma fruta tipicamente maranhense, o bacuri (Platonia insignis Mart, Clusiaceae), que tem sido fonte de sustento para muitas famílias que dela sobrevivem pela coleta extrativista e processamento da polpa, principalmente. Esse esforço de catalogação de informações sobre o Bacuri permite, por exemplo, antever um grande potencial econômico que pode vir a ser explorado pela economia verde.


A pesquisa da professora informa que das sementes é possível extrair o óleo para fins medicinais, fabricação de sabão com características antifúngicas e antibactericidas; da casca dos frutos, é possível a produção de doces, geleias, sucos, licores, sorvetes e outros produtos que já possuem valor de mercado no Brasil e em outros países; da madeira, é possível extrair material para obras hidráulicas e carpintaria. Além disso, há um grande potencial para uso do produto na fabricação de cosméticos e, possivelmente, uso farmacêutico ainda inexplorado. Tudo isso está sendo pensado, tendo como base a manutenção das áreas nas quais a planta surge naturalmente como mata nativa, o que, portanto, diminui o desmatamento, combate a pobreza e fortalece a pequena agricultura familiar ou cooperativista. Essa pesquisa alia, evidentemente, o conhecimento tradicional ao científico, agora registrado na pesquisa mencionada, já que aponta para uma multiplicidade de usos dessa planta, que se sobrepõe à sua principal utilidade, isto é, uma fruta de consumo extrativista. Esse conhecimento é outro patrimônio que precisa ser ainda mais valorizado para que dele se possa partir para novas descobertas científicas, sem o desmerecimento do conhecimento tradicional. Nesse sentido, uma pesquisa americana aponta que a utilização do conhecimento das comunidades nativas economiza em 400 % o tempo entre a pesquisa, os testes, as matérias, os equipamentos e os salários de cientistas envolvidos. A geração de novas oportunidades de emprego, o desenvolvimento e as divisas para o Brasil passa, necessariamente, por esse tipo de conhecimento catalogado com repercussões importantes para o debate sobre a nossa biodiversidade, uma das maiores do mundo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estima que esse patrimônio genético valha cerca de U$$ 2 trilhões. Outras nações e a rica indústria cosmética e farmacêutica têm se utilizado de plantas e animais de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, na produção de diversos produtos que movimentam um mercado de bilhões de dólares por ano. Guardando-se as devidas proporções, pode-se afirmar que o estudo do Bacuri e de dezenas de outras plantas com igual potencial pode ajudar a realizar as metas de um desenvolvimento sustentável – à semelhança daquelas discutidas na Rio + 20 – e contribuir para soluções que afetarão positivamente não somente nossas comunidades, como também outras similares em nosso país. Afinal, uma terra só pode ser considerada próspera se aqueles que nela habitam forem igualmente prósperos. O equilíbrio entre os tipos de conhecimentos – o tradicional e o científico – é o que pretendemos debater à exaustão na 64ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, que acontecerá de 22 a 27 de julho de 2012, na UFMA.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC.

Publicado em O Estado do Maranhão em 17/06/2012


EU SELVAGEM? ANTONIO NOBERTO Faz dez anos que o consagrado escritor Luiz Gonzaga Goddoi Trigo, em uma edição do Congresso Brasileiro de Turismo, realizada no centro de Convenções do Recife, proferiu as palavras críticas sobre a visão do estrangeiro sobre nosso país: ―Uma imensa floresta verde habitada por semi-selvagens, com o corpo coberto de puro hormônio‖. Alguns, com certeza, acharam-na um grande exagero. Mas será que o estrangeiro tem alguma razão? Não é de hoje que repetimos que a nossa sociedade é fruto da união do privilégio branco, da magia africana e da indolência indígena. Negros e índios não possuíam cultura escrita e, por conta disto, o primeiro foi facilmente escravizado e, o segundo, dizimado. O colonizador branco passou a reinar absoluto, praticamente sem concorrência, o que gerou muito das nossas mazelas atuais. A indolência citada não é sinônimo de preguiça, mas de sustentabilidade – o oposto à ganância –, vez que o nativo não acumulava, só retirava da natureza aquilo que necessitava para o sustento imediato. O difícil resgate desta virtude indígena é entendido por muitos como uma das premissas para salvar o planeta terra da degradação e do abismo. O índio também nos legou parte considerável do vocabulário que compõe o português brasileiro. Vale lembrar que até meados dos anos mil e setecentos a língua mais falada no Brasil era o tupi-guarani, proibida nessa época pelo primeiro ministro de Portugal, o Marquês de Pombal. Muitos dos nossos usos e costumes também são legados daquele período inicial. A rede de dormir é um maiúsculo exemplo. Mas voltemos ao primeiro questionamento... Talvez não seja exagero dizer que muitos dos programas televisivos e reality shows sejam milimetricamente pensados para manter os expectadores sob um regime passivo, sem opinião, reproduzindo comportamentos que interessam apenas aos que ganham com o caos. Tais programas semeiam o que o ser humano tem de mais primitivo: curiosidade, hormônios, sexualidade, etc., transformando o expectador em um neo-selvagem. Os antigos objetos de troca do período colonial: espelhinhos, machados, foices, facas, anzóis, etc., foram apenas substituídos por tecnologias mais sofisticadas: celulares, GPS, notebooks, tablets, TVs por assinaturas, programas televisivos, veículos (caríssimos, que lotam ruas e avenidas transformando o dia a dia do brasileiro um grande caos, enquanto o transporte coletivo permanece sem qualidade), e uma infinidade de produtos chineses que nos seduzem cada vez mais. Em outro texto, publicado ano passado, falamos sobre ―A contribuição de cada um para um Brasil selvagem‖. Nele destacamos comportamentos pouco civilizados, como dirigir buzinando atrás de outro veículo, bate-boca no trânsito, falta de cortesias, jogar lixo em qualquer lugar, a valorização da violência (em muitos países a imprensa quase não dá espaço a bandidos), semear intrigas, culto a banalidades, desprezo à leitura, etc. Tudo isto contribui para uma sociedade conflitante, irracional e longe da civilidade. Por outro lado, o respeito e a valorização do outro, a busca por uma mente coletiva, positiva, a generosidade, são características que nos tornam mais humanos e nos aproximam do sucesso pessoal e profissional. Um estágio civilizado, por sua vez, requer um honesto e propositivo autoentendimento da necessidade de transposição de barreiras e (maus) hábitos seculares, de uma cultura menos individualista, vale dizer, que sempre nos desfavoreceu, mas que traz ganhos aos que sabem tirar proveito do caos que eles mesmos semeiam entre nós


através da produção televisiva e da mídia em geral. Um dos vetores deste caos é o bairrismo exagerado semeado na mente do brasileiro. Achar que ―o meu é o melhor‖, sem uma análise real da situação e dos fatos, é um verdadeiro fracasso, pois não nos permite ver o óbvio, não nos deixa crescer, amadurecer. Sem a autocrítica ficamos sempre à mercê da cobiça alheia, dos que inflam o ego dos brasileiros e passam a (des) informação de que ―você não precisa mudar, deste jeito está ótimo‖. Estes são os mesmos que dão às pessoas aquilo que elas querem e não o que elas verdadeiramente precisam. É a repetição da política romana do ―pão e circo‖. E assim as coisas não mudam mesmo. A educação, a capacitação e a autocrítica são as ferramentas que nos permitirão os grandes avanços. Só elas podem nos tirar da idade da repetição e do consumo e nos alçar ao degrau mais alto da criação e da produção. Estas premissas revolucionarão as nossas vidas e nos libertarão de nós mesmos e dos nossos excessos, redundando, automaticamente, sem guerras ou outros conflitos maiores, em ganhos de civilidade, como impostos menos injustos, custo das ligações telefônicas menos estratosférico, produtos mais acessíveis e mais em conta, serviços de qualidade, etc. O atual momento, quando o país vem galgando espaços político-sócioeconômicos cada vez mais considerados, é o tempo certo de cada um de nós refletirmos se somos realmente civilizados ou se estamos nos deixando levar – (sem perceber), pelo meio e pelo ópio das produções televisivas e da mídia em geral – a um estágio semiselvagem, que não nos interessa e não nos favorece, mas por outro lado, traz enormes ganhos a poucos, em detrimento da coletividade. O caminho rumo a civilidade exige um pouco de abnegação e de renúncia às muitas banalidades, mas o Mestre dos mestres sempre nos ensinou que é no sofrimento que alcançamos o amadurecimento, pois ―O grande conquistador não é aquele que domina o mundo, mas quem domina a si mesmo‖. É o ganho da disciplina. Ser um selvagem – naquilo em que devemos ser – é uma virtude, algo até invejado por outras culturas, mas isto quando traz consigo o bom perfume da civilidade e de comportamentos sustentáveis. Façamos uma autocrítica antes de respondermos ao título deste texto. A gente se vê!


CAFÉ COM MEMÓRIA JOAQUIM NAGIB HAICKEL O Estado do Maranhão, dom, 24/06/12 http://colunas.imirante.com/platb/joaquimhaickel/ Fui convidado por minha querida amiga Ceres Costa Fernandes para participar como palestrante de um de seus Cafés Literários, abordando a importância da preservação da memória através de meios audiovisuais. Para quem não sabe o Café Literário é o evento promovido pelo Centro de Criatividade Odylo Costa, filho no intuito de movimentar o cenário cultural de nossa terra. Nele a população se reúne com escritores, professores, artistas, jornalistas que possam contribuir para o engrandecimento do conhecimento, discussão e difusão de temas ligados às artes e à cultura de modo geral. Na última terça-feira, dia 19, fui conversar com as pessoas que lá compareceram. A casa estava lotada. Olha que concorríamos com os shows de João Bosco no TAA e de Erasmo Dibel no SEBRAE, com o festival Lume de cinema, com as festas juninas que se espalham pelos terreiros da cidade, e mesmo assim a nossa plateia foi grande em quantidade e em qualidade. Fiquei muito satisfeito e espero que as pessoas tenham gostado. Vou aproveitar esse mote para conversar aqui com você sobre o mesmo tema, propagar as ideias das quais tratamos naquela ocasião. Primeiramente falamos sobre a memória. E o que é mesmo memória? Parece uma pergunta tola e imaginamos que a resposta seja fácil. Não é bem assim. Posso lhe garantir que memória não é simplesmente lembrança. Lembrança é apenas um ingrediente da memória, uma vigésima parte dela. Memória é muito mais. Mas afinal de contas o que é memória. Memória é a capacidade que temos de adquirir, armazenar, consolidar e lançar mão de informações, de conhecimentos, e colocá-los à nossa disposição, à disposição de todos. Existem dois meios onde a memória se efetiva. No meio biológico, a memória interna e no meio artificial, a memória externa. O objeto de nosso interesse frutifica na fronteira entre as duas. Falo do uso da memória biológica para a construção de uma memória artificial que possa ser transformada em biológica em outras pessoas, e assim sucessiva e eternamente. Para que se tenha comprovação do que digo, basta analisarmos a importância de conhecermos os desenhos rupestres da era paleolítica e de sabermos das histórias contadas através da tradição oral, dos contadores de histórias, comuns em todas as culturas e em todas as épocas. O que nós queremos é preservar o mais que pudermos, em meios audiovisuais. Primeiramente adquirindo, armazenando, catalogando, consolidando, recuperando, para que possamos lançar mão, não só nós, mas as gerações futuras. Essa é a proposta do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão – Mavam, pertencente à Fundação Nagib Haickel, que, além disso, se dedica à produção e a difusão da educação, da arte, da cultura, do esporte, da preservação de nosso patrimônio


histórico, arquitetônico, cultural e ambiental e deselvolve ações de inclusão social e de cidadania. Outra etapa desse mesmo trabalho é ―produzir‖ nossa memória contemporânea que amanhã já será passada. Fazemos isso realizando filmes que possam servir como as paredes das cavernas para os arqueólogos do futuro. Existem perguntas que automaticamente aparecem nessas discussões: A quem pertence essa memória e quem devem ser seus detentores? Pertence a todos nós, individualmente, mas devemos compartilhá-las entre nós, de forma que nossas memórias individuais passem a formar um patrimônio comum, onde todos e cada um de nós se façam representar. Outra pergunta que se impoe é como preservar essa memória. Devemos procurar quem tenha conhecimento e competência para fazer isso ou, de forma amadora, digitalizarmos nossos acervos, como por exemplo, os álbuns fotográficos de família, as fotos tiradas nos jogos de futebol, os álbuns de casamento… É bom que se diga que mesmo arquivos digitalizados, transpostos para HDs ou BRs ou DVDs ou CDs, são passíveis de serem perdidos e em alguns casos, quando isso acontece, o prejuízo é muito maior. A mídia mais confiável até hoje disponível, é a fita LTO e mesmo assim precisa de constante manutenção e checagem, necessitando ser refeita num prazo de 30 anos. Depois passamos a falar do projeto de iniciativa da Academia Maranhense de Letras, intitulado, Academia da Memória – Homens & Imortais que irá realizar documentários sobre alguns de seus membros. O presidente da AML, o jornalista e historiador Benedito Buzar, tem dado apoio irrestrito e acompanhado de perto esse projeto. A princípio serão realizados docs sobre os 12 fundadores da Academia e sobre outros 12 imortais, totalizando 24. Depois da palestra foi exibido o primeiro deles. Trata-se do filme ―Palavrador‖ que retrata a vida e a obra do poeta José Chagas. Quem viu achou maravilhoso. A obra foi roteirizada pelo poeta Celso Borges, dirigida pelo cineasta Beto Matuck e montada por Alberto Greciano. A produção é da empresa Play Vídeo que conta com uma dezena de profissionais de alto nível para a realização desse projeto, entre eles o cineasta Francisco Colombo, os produtores Joan Carlos e Marcos Araujo e o fotógrafo Manoel Martins. Naquela noite, depois da palestra, uma senhora me chamou de lado para me parabenizar e dizer de como ela estava orgulhosa de que um maranhense tivesse tido uma ideia dessas, algo tão extraordinário e eu disse a ela que essa ideia não é minha, que existem muitas outras experiências similares como os Museus da Imagem e do Som e Museu da Pessoa. Os MIS são voltados basicamente para o registro das artes que envolvem o som e a imagem. Seu objeto é a arte, por mais documental que possa ser, tem sempre uma visão artística da obra. O Museu da Pessoa é um museu virtual de histórias da vida, aberto a participação gratuita de todo aquele que queira compartilhar sua história a fim de democratizar e ampliar a participação de todos na construção da memória social. Não estamos inventando nada, estamos tentando, ao nosso modo, dentro de nossas possibilidades, desenvolver um trabalho de preservação e de construção de nossa memória, para que ela não fique apenas na lembrança.


A VISITA DO INTERVENTOR AYMORÉ ALVIM. APLAC, IHGM, AMM. Corria o ano de 1940. O Prefeito local, major Jerônimo Fernandes Ramalho ou major Ramalho comunicou à sociedade que o Interventor Federal do Estado visitaria Pinheiro no mês de dezembro desse ano. O povo eufórico com a notícia começou a se preparar para o grande evento. Obras públicas, pinturas de prédios, limpeza das principais artérias e praças fizeram parte dos concentrados esforços para receber o Interventor, Dr. Paulo Martins de Sousa Ramos. A Rua das Flores que corta a cidade no sentido leste-oeste foi renomeada por decreto municipal para Avenida Paulo Ramos. Portanto, tudo caminhava dentro das expectativas. No dia 10 de dezembro, assumiu a prefeitura municipal e o Posto Médico de Pinheiro, por nomeação do Interventor Estadual, Dr. Antônio Euzébio da Costa Rodrigues mais conhecido como Dr. Costa Rodrigues. E o dia 13 de dezembro chegou. Era uma sexta-feira. O povo acordou desde a madrugada se preparando para a festa de recepção. Uma grande alvorada ao som dos sinos da matriz, música na praça principal e muitos foguetes anunciavam o acontecimento. Logo bem cedo, um grupo de cavaleiros atravessou o campo indo até a fazenda do Engenho Queimado onde ficou aguardando o ilustre visitante e sua comitiva que haviam pernoitado, na fazenda Tijuca dos Souza. Por volta das sete horas se encontraram. Após as apresentações de praxe seguiram para Pinheiro onde as autoridades locais e uma grande multidão os aguardavam, em frente ao palacete de Albino Paiva, onde os visitantes ficariam hospedados. Quando chegaram, o povo irrompeu numa salva prolongada de palmas enquanto os sinos repicavam e os foguetes pipocavam por toda parte. Dr. Costa Rodrigues juntamente com o Dr. Raul Porciúncula de Moraes, promotor público, padre Newton Pereira, pároco local e outras pessoas gradas se aproximaram para cumprimentar o Interventor e os membros da sua comitiva dentre os quais destacamos o Dr. Helvídio Martins, Dr. Tarquínio Lopes Filho e Dr. Jayme Brito. Em breve discurso, Dr. Costa Rodrigues deu as boas vindas ao Dr. Paulo Ramos e demais acompanhantes, expressando-lhes a satisfação do povo pinheirense em recebêlos. A seguir, a menina Diana Leite entregou, em nome das crianças, um buque de flores ao ilustre visitante. Nesse momento, o Prefeito se vira para os músicos e diz: - Toquem o hino Nacional. - Não ensaiamos. - Então o hino Maranhense. - Não sabemos.


- Ora, toquem qualquer coisa. Uma marcha, um dobrado. Aí a turma ―tascou‖ a marchinha que fez sucesso no carnaval desse ano: ―É China pau, china pau como quê. É China pau, china duro de roer‖. Paulo Ramos, segundo diziam, não suportava essa marcha porque o povo de São Luís cantava fazendo alusão à sua feiúra e à dureza com que tratava os adversários. - Costa Rodrigues, manda suspender isso. Houve um mal estar geral. Imediatamente, Dr. Costa mandou parar. - Vocês não ensaiaram nenhum dobrado? Então começaram a tocar ‖Cisne Branco‖, um hino da Marinha. O mal-estar foi arrefecendo. O homem riu, bateu a mão para o povo. O povo responder com mais palmas e, assim, todos já eufóricos iniciaram a passeata pelas principais ruas da cidade.


OS DESAFIOS DA ESCOLA INCLUSIVA NO CENÀRIO ATUAL CLENIA DE JESUS PEREIRA DOS SANTOS

RESUMO Este trabalho apresenta uma análise crítica sobre o papel da escola, frente aos desafios da inclusão, a partir de uma realidade não correspondente. Faz uma análise crítica do currículo no cenário atual. Apresenta indicadores que estão muito mais propícios à exclusão do que à inclusão do aluno no campo escolar. Apresenta o papel dos profissionais da educação frente à escola inclusiva. Pontua o compromisso da escola frente ao cenário de inclusão. Apresenta sugestões relevantes que coadunam com a perspectiva de uma escola inclusiva, cidadã, democrática e autônoma. Palavras-chave: Currículo. Inclusão. Autonomia. Cidadania. ABSTRACT This work presents a critical analysis on the paper of the school, front to the challenges of the inclusion, starting from a reality no corresponding. It makes a critical analysis of the curriculum in the current scenery. It presents indicators that are much more favorable to the exclusion than to the student's inclusion in the school field. It presents the professionals' paper of the education front to the inclusive school. It punctuates the commitment of the school front to the inclusion scenery. It presents relevant suggestions that combine with the perspective of an inclusive school, citizen, democratic and autonomous. Keywords: Curriculum. Inclusion. Autonomy. Citizenship.

INTRODUÇÃO No âmbito da produção de conhecimento na educação, alguns temas têm sido privilegiados, abrindo horizontes para discussões e análises dos profissionais da área, divisando relevantes problemas investigativos. Moreira (1999) aponta entre eles, uma preocupação fundamental hoje no que se refere à formação de professores e o currículo como objeto e instrumento do trabalho docente, considerando a complexidade das novas configurações sociais presentes na escola. Assim, seja para professores ou formadores, as abordagens sobre a formação inicial e continuada em atendimento às complexas tarefas da função docente no contexto atual, voltam-se para as vertentes e concepções que trazem a reflexão na ação e o desenvolvimento profissional como dimensões de crucial importância, que demandam aprofundamentos e análises criteriosas de seus aspectos constitutivos. No âmago dos questionamentos sobre esses temas, um se destaca e aponta para a busca de respostas em torno do preparo, atuação e desenvolvimento dos professores: a diversidade, como compreensão oposta aos propósitos da homogeneização histórica da educação formal, como impossibilidade humano-social na escola e na sala de aula, a ser verificada na realidade da prática escolar. Propõe-se nesta abordagem, portanto, discutir as questões da diversidade no sentido de situar as possibilidades e opções no trabalho e formação docente, a partir de reflexões e discernimentos sobre as idéias de inclusão e multiculturalidade que levem à busca de uma atitude intercultural na complexa tarefa da formação humana hoje.


ANÁLISE CRÍTICA DO CURRÍCULO NO CENÁRIO ATUAL Falar de currículo numa perspectiva atual, não prescinde a necessidade de situar a educação no contexto socioeconômico e cultural, haja vista as mudanças nos setores sociopolítico, econômico e cultural da sociedade. Portanto, faz-se necessária uma retrospectiva rápida da história da estrutura e da organização do sistema de ensino no Brasil. A história da estrutura e da organização do ensino no Brasil reflete as condições socioeconômicas do país, mas revela, sobretudo, o panorama político de determinados períodos históricos. A partir da década de 80, por exemplo, o panorama socioeconômico brasileiro, segundo Libâneo (2003), indica uma tendência neoconservadora que acenava para a minimização do estado, o qual se afastava de seu papel de provedor dos serviços públicos, como saúde e educação. Atualmente, esse modelo está instalado paradoxalmente às alterações da organização do trabalho, resultantes, em grande parte, dos avanços tecnológicos, que solicitam da escola um trabalhador mais qualificado para as novas funções no processo de produção e serviços. É evidente que, dentro desse panorama, o currículo se organiza para formar esse perfil. Iniciar esta discussão, não prescinde a retomada de um questionamento feito por Filomena Moita, quando indaga: ―Como o currículo, afinal, tem sido concebido?‖ Para responder a este questionamento, convém situá-lo nas tendências que têm representado as mudanças na educação, frente às mudanças da sociedade. Neste sentido, Filomena Moita recorre a Silva (2001) e faz um esboço breve e simplificado das visões de currículo e teoria curricular: a) a visão tradicional, dentro de uma perspectiva humanista, de cultura conservadora [estável e fixa] e do conhecimento como fato, como informação, visão conservadora de escola e de educação; b) a visão tecnicista que, em alguns aspectos, é semelhante à tradicional, mas enfatiza as dimensões instrumentais e econômicas da educação; c) a visão crítica de orientação neomarxista, baseada numa análise da escola e da educação, como instituições voltadas para a reprodução das estruturas de classe da sociedade capitalista: o currículo reflete e reproduz essa estrutura; d) finalmente, uma visão pós-estruturalista vem enfatizar o currículo como prática cultural e como prática de significação. Diante da exposição supramencionada, convém fazer um mapeamento das intenções de cada teoria e as perspectivas curriculares. Segundo Filomena Moita, no artigo ―Currículo, Conhecimento e Cultura‖, [...] as teorias tradicionais privilegiam no currículo: ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos, onde fica visível a preocupação com questões de organização, enquanto que nas teorias criticas o currículo privilegia: ideologia, reprodução cultural e social, poder, classes sociais, capitalismo, relações sociais, libertação e currículo oculto (MOITA, 2001, p. 06).


Isso implica analisar que a educação sempre esteve a serviço da sociedade e que o currículo é um representante paradigmático de cada cenário, conforme a época e as circunstâncias. Lisete Bampi (1999, p. 08), referenciando Silva, diz que ―a teoria do currículo não deixa de estar envolvida na fabricação de sujeitos particulares e na busca da melhor forma de produzi-los‖ (SILVA, 1966, p 163). Neste sentido, pretende-se com este ensaio fazer uma análise da inclusão social tão abordada nos documentos legais, uma vez que o currículo que constrói a identidade de um povo traz no seu bojo intenções ocultas que atendem aos interesses de uma classe, em detrimento de outra. Precisa-se aqui encaminhar respostas para a indagação do problema deste artigo, como por exemplo: onde está o currículo que contribui para a construção de uma educação inclusiva? Carlinda Leite (1997) diz que não se pode ignorar o que é privilegiado na escola e a forma como esse saber é dispensado Partindo do pressuposto de que o currículo não é elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social, Carlinda Leite (2001, p 12) afirma que afirma que a escola coloca em situação de desvantagem as crianças oriundas de determinados grupos sociais. Pontua ainda que o modo como a sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia o conhecimento educacional formal, reflete a distribuição do poder e os princípios de controle social. Na opinião de Carlinda Leite, as conseqüências ou resultados que o desenvolvimento de um determinado currículo provoca, [quer as ideologias e valores que o orientam, quer as características e os contextos onde ocorre a formação], têm de passar pela análise do que se ensina e pelas realidades de quem se deseja ensinar. Nessa perspectiva, pretende-se dar um novo significado à palavra ensinar ou seja, defini-la como construção coletiva do saber. Nesse processo, pressupõe-se um professor implementado segundo Ben-Peretz, citada por Carlinda Leite. É mister conclamar um professor que substitua a mentalidade fragmentada do conhecimento por uma mentalidade interdisciplinar. Subjaz uma escola onde os diferentes tenham direito de serem diferentes, principalmente por se compreender que a tentativa de homogeneizar a cultura remete a um caráter injusto e empobrecedor a que esta perspectiva transporta. É o que Carlinda Leite diz no seu artigo Uma análise da dimensão multicultural no Currículo: O reconhecimento pela escola de diferentes manifestações e comportamentos culturais tem repercussões em nível das auto-estimas dos elementos dos grupos minoritários, gerando confiança e predisposição para a aquisição de outros saberes. (LEITE, 2000, p. 3) Dessa forma, enquanto formadores de opiniões e profissionais da educação, precisa-se acreditar nessas premissas a fim de que se possa vencer o fatalismo do insucesso escolar e contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática. O que se pretende mostrar neste trabalho é a maneira como a escola organiza os seus referenciais curriculares? A que público atende? Como tem garantido a inclusão no seu bojo, se todos os artefatos culturais canalizam para a valorização da cultura dominante em detrimento da diversidade cultural? Ao longo deste trabalho, serão pontuados alguns indicadores que encaminham possíveis respostas para tais indagações.


O PAPEL DA ESCOLA CIDADÃ FRENTE AOS DESAFIOS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO A Constituição Federal institucionaliza a educação como o direito básico de todos e se estende aos diferentes segmentos da sociedade. Para alguns, viabiliza a cidadania; para outros e por interesses específicos, significa instrução. Mesmo que se tente realçar esta última concepção, cada vez mais se tem claro que a instrução não é a meta básica para a educação. Num plano macro, compete à educação possibilitar o desenvolvimento de uma massa crítica, capaz de definir os rumos de qualidade de vida, pautada no respeito, na dignidade e, principalmente, na plena cidadania? O atual conceito de autonomia da escola, enraizado no processo dialógico de ensinar vem dos primórdios da filosofia grega. Grandes pensadores [como Sócrates, por exemplo], já preconizavam o conceito de educar quando o definiam como a capacidade de potencializar o educando, levando-o a buscar respostas de suas perguntas, isto é, formar para a autonomia. No ideal de Sócrates, a escola seria o campo organizado com o objetivo de favorecer a autonomia do aluno, para que, a partir de seu método, o diálogo, o aluno descobrisse a verdade. Portanto, se a educação é auto-educação, escola autônoma seria aquela que se autogoverna. Mas não foi esta a escola que se perpetuou na historia da humanidade, visto que não existe uma autonomia absoluta: ela depende das circunstancias e é relativa e determinada historicamente. Ao longo da história, tem-se notícias de várias influências que propiciaram o desejo de uma escola moderna e anti-autoritária. Convém referenciar Moacir Gadotti, quando cita alguns precursores dessa escola como, por exemplo, Helter (1378-1448); François Rabelais (1495-1553); Montaigne (1533-1592); John Locke (1632-1704); Jean Jacques Rousseau (1712-1778) e Comenius (1592-1617), todos comungavam da importância da ação e da auto-atividade do aluno. Muitas foram as influências para a gestação da escola autônoma. Mas foi a escola nova que levantou mais alto essa bandeira da autonomia da escola, entendendo-a como livre organização dos estudantes e autogoverno. Consubstanciado nesse entendimento, muitas foram às experiências pedagógicas feitas nesse sentido. Porém, as implicações desse feito enfatizaram muito mais a autonomia como fator de desenvolvimento pessoal, do que como fator de mudança social. Foi a partir da segunda metade do século XX, com as criticas à educação como fator de reprodução social e debate da autogestão, que o tema da autonomia foi associado a uma concepção emancipadora de educação. Dentro desse pressuposto, exigiu-se uma escola autônoma, capaz de gerenciar as suas ações, como diz Moacir Gadotti, ―com poder de decisão sobre seus objetivos e sobre suas formas de organização que se mantêm relativamente independentes do poder central e administram livremente recursos financeiros‖ (GADOTTI, 2004, p. 72). Assim, as escolas podem traçar o próprio caminho envolvendo toda a comunidade escolar, de forma que possa tornar os seus participantes responsáveis pelo êxito da instituição. Desse modo, o campo do debate torna-se instância educadora, espaço de aprendizagem. Mas, afinal, o que seria uma escola cidadã? Segundo Moacir Gadotti, (2004), seria uma escola pública popular, integrante de um sistema único de educação pública popular e descentralizada. Consubstanciado nessas interrogações, há de se fazer um passeio rápido na história, para que se possa compreender esse enigma da escola cidadã. Quem primeiro


inaugura essa concepção é Rousseau, fazendo oposição à escola tradicional, alegando que essa pervertia a criança nascida boa. Émile Durkheim (1858-1917), muito contrário a essa concepção, sustentava que só a sociedade podia tornar cooperativa e altruísta uma criatura nascida egoísta. Outra concepção que convém mencionar é a de Dewey, que propõe a síntese entre essas duas posições, aproximando escola e vida para formar democratas, cidadãos atuantes na sociedade. Gramsci subscreve a tese deweyana, mas o objetivo é outro: formar governantes, o verdadeiro sentido, para ele, da preparação para a vida. Esse conjunto de artefatos está sendo construído passo a passo, para contextualizar a proposta da escola cidadã, o que constitui o cerne deste diálogo. A proposta seria, desde o princípio desse entendimento, a possibilidade de uma escola unificada, igual para todos e, principalmente, que respeite as diferenças locais, regionais, enfim, a multiculturalidade que, segundo Gadotti, é uma idéia cara e fundamental à teoria da educação popular. Ainda referenciando Gadotti, quando ele escreve o decálogo da escola cidadã, presume que ―a escola autônoma cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela leitura e pela produção de texto, escrito ou não. A aprendizagem é criativa e não mecânica. Propõe a espontaneidade e o inconformismo‖ (GADOTTI, 2004, p. 78). Imbuída desse perfil, a escola cidadã garante a permanência do aluno no seu interior, isto é, garante a inclusão. Sem perder de vista o otimismo pedagógico, apesar do paradoxo existente entre teoria e prática, discurso e ação, é mister citar Gadotti, quando diz: ―Essa nova escola já está sendo construída na resistência concreta de muitos educadores, pais, alunos e funcionários. Escola onde as crianças estão sentindo prazer em ir, prazer em estudar, prazer em construir a cultural elaborada‖ (GADOTTI, 2003, p. 80). Gadotti (2003) citando Geoges Snyders, diz ainda que ―essa escola não será abandonada pelas crianças, porque ninguém larga, ninguém abandona o que é seu ou o que gosta‖ (GADOTTI, 2004, p 80). A concepção de educação, enquanto propiciadora da cidadania está alicerçada na conscientização e se dá por um processo globalizado e dialético, em que os homens, através de sua reflexão e ação sobre o mundo, passam a compreendê-lo e a transformálo. No que tange à lei, esta determina que todas as crianças tenham o direito a um atendimento educacional especializado, tendo, preferencialmente, os seus espaços de aprendizagem em classes normais, ao lado das demais crianças, para que possa ser evitada qualquer modalidade de segregação. Países como a Itália e Canadá trabalham com o conceito de escolas ―inclusivas‖, ou seja, estabelecimentos normais de ensino que contam com um programa especial para as crianças com necessidades especiais. Isso porque está comprovado que elas rendem mais quando convivem com crianças normais. Infelizmente, a ―inclusão‖ é um tema ainda novo no Brasil, restrito à área acadêmica. Secundando Moacir Alves Carneiro, o tema da inclusão ganhou grande expressão nos últimos tempos, sobretudo, nos documentos do Governo. A idéia da inclusão consubstancia-se no legado de que a escola é o lugar onde todos devem estar juntos exatamente porque ela [a escola] é de todos. Isso, na opinião do autor [Moacir Alves Carneiro], chama-se educação inclusiva e tem como ponto de partida o direito à diversidade. Em 2001, foi editado o Decreto nº. 3.956 que promulgou a convenção interamericana para eliminação de todas as formas de discriminação contra portadoras


de necessidades especiais. A partir dessa convenção, todas as pessoas passaram a ter os mesmos direitos humanos e as mesmas liberdades fundamentais. A inclusão, ao lado da integração, constitui um processo através do qual se concretiza o princípio da normalização. Moacir Alves Carneiro, citando Bengt Nirge, diz que esse princípio, operacionalmente entendido, ―significa colocar ao alcance dos portadores de deficiência, modos e condições de vida diária, os mais parecidos possíveis com as formas e condições de vida do resto da sociedade‖ (CARNEIRO, 1998, p. 49). Conforme Moacir Alves, ―para ratificar a preocupação do Ministério da Educação, no que se refere ao atendimento público, estatísticas revelam os números consideráveis de matriculas dos alunos especiais em classes consideradas normais‖ (CARNEIRO, 1998, p. 49) Apesar desses dados operacionalizados, faz-se uma análise de práticas evidenciadas, que contradizem a otimização desse feito. A título de informações locais, no Maranhão, por exemplo, as condições das escolas e a qualidade do profissional que gerencia as ações pedagógicas, estão distantes no que se refere ao atendimento dessas crianças, principalmente porque, apesar dos documentos legais expressarem tal exigência, percebe-se o quanto esses profissionais não estão preparados para esse tipo de atendimento. São profissionais que se angustiam porque se vêem obrigados a lidar com determinadas situações e porque não tiveram qualificação para responder os anseios. O que se percebe de fato são crianças incluídas num processo e ao mesmo tempo marginalizadas por não serem atendidas dentro de suas necessidades, pela carência tanto da escola quanto dos profissionais. Depara-se, portanto, com a exclusão dentro da inclusão. Outro fato é com relação às instalações físicas das escolas, que se apresentam sem a menor estrutura. Nas escolas visitadas, foi contatado que em algumas delas sequer existem rampas para os portadores de necessidades físicas. Este é só um exemplo do paradoxo desse panorama. Carlinda Leite, referenciando Forquim (1989), enfatiza que o princípio da escola para todos ainda está muito longe de ser atingido, quando parte da idéia que o pensamento pedagógico contemporâneo não se pode esquivar de uma reflexão sobre a questão da cultura e dos elementos culturais dos diferentes tipos de escolhas educativas. POR UM CURRÍCULO QUE POSSIBILITE A MATERIALIZAÇÃO DA ESCOLA POSSÍVEL Nunca se discutiu tanto a possibilidade de uma escola que construa o cidadão, quanto nas últimas décadas. E quando se fala em cidadania, lida-se com o termo cidadania em construção, mas não se deve permitir que esta cidadania fique limitada à construção de um sujeito idêntico preconizado pelo sistema. É necessário que dentro desse campo sejam construídos cidadãos conscientes do seu papel, com todos os seus direitos assegurados no que se refere aos princípios de liberdade, igualdade, fraternidade e alteridade, onde estes princípios estejam disponibilizados de forma interdisciplinar com a vida, que é uma das gerações dos direitos humanos. Segundo William E. Doll Jr., deve-se usar o conceito transformação como central no currículo, transformando assim os materiais, processos, idéias e participantes do currículo. Isso significa que os professores e alunos precisam ser livres, encorajados,


obrigados a desenvolver seu próprio currículo numa interação conjunta uns com os outros. A discussão que se pretende desenvolver aqui é do que deve se ocupar o currículo para efetivar a escola possível. Para isto, precisa-se enriquecer o diálogo com respeito às diferenças. A discussão sobre o direito à diferença e à cidadania cultural, embora tenha sido intensamente debatida a partir dos anos setenta, nos Estados Unidos e no Canadá, intensificou-se nas últimas décadas, devido aos efeitos da globalização, isto é, a integração mundial das economias, dos meios de comunicação de massa e das políticas governamentais. Neste mundo globalizado, uma antiga concepção de nação, vista como culturalmente homogênea [uma só língua, uma só história, uma só cultura, uma só raça etc.] deixou de fazer sentido. No meio desse debate está também uma visão de cidadania, formada a partir de dois movimentos históricos, políticos e culturais importantes: O iluminismo e a Revolução Francesa, os quais lançaram uma série de idéias fundamentais e que estão presentes no meio da sociedade. Uma delas é a de que todo ser humano é um individuo naturalmente livre e igual a todos os outros. Consubstanciada na discussão acima, convém indagar: Será que essas concepções que influenciaram a educação na formação do homem ainda são adequadas no cenário atual? São capazes de satisfazer os desejos de homens e mulheres de diferentes regiões do planeta? Será que essa noção de cidadania [de que somos todos livres e iguais] é suficiente para fundamentar nossa prática pedagógica? Convém referenciar a idéia de que se tinha de cidadania até bem pouco tempo. Para isto, observa-se o currículo que a escola constituía e a noção de indivíduo, pautado numa informação a partir da herança cultural européia, reelaborada pelo contato com ―outros‖ povos, no caso, índios e negros. Ainda hoje se perpetua essa visão no Brasil, em razão da comemoração dos 500 anos da ‖descoberta do Brasil‖. Como exemplo disso, alguns comerciais de televisão apresentavam a imagem de que o Brasil era um país mestiço, ou seja, formado por raças e culturas diferentes. Uma jovem nação com ―apenas 500 anos‖ criou inúmeros heróis que, em comparação com outros povos, os cidadãos nela vivem em paz e harmonia. Entretanto, nos últimos 25 anos do século XX, surgiram novos movimentos sociais urbanos e rurais, que têm questionado essa imagem idílica do país. Vários grupos têm reivindicado uma política de reconhecimento, tanto das suas diferenças, das suas várias identidades, como de suas desvantagens e desigualdades sociais, decorrentes da discriminação social de gênero, raça, orientação sexual e origem regional. Mas essas reivindicações não têm ocorrido apenas no Brasil.Trata-se de um movimento mundial. Um exemplo disso é que, nos últimos anos, vários conflitos bélicos têm se espalhado pelo mundo, tendo como causa fundamental diferenças étnicas. Na Europa, mais precisamente na Espanha, uma das tensões acontece. Estado multinacional, resultado de anexação de vários povos por parte dos reis de Castela e de Aragão no século XV, a Espanha enfrenta há décadas ação terrorista, seqüestro, assaltos, explosões de bombas em lugares públicos, atos promovidos auto denominado ETA, sigla em basco para ―pátria basca e liberdade‖. Na região da antiga Iugoslávia, principalmente no Kosovo, lutam entre si sérvios e albaneses. Em Ruanda, no continente africano, confrontam-se tutsis e butus. Trata-se de uma série de guerras, guerrilhas, massacres que espalham a dor, medo e sofrimento que atingem muita gente. Esses conflitos


evidenciam que, por toda parte do planeta, povos, maiorias e/ou minorias, têm exigido o reconhecimento de suas especificidades culturais, de suas desigualdades sociais. Isso exige que instituições públicas e políticas públicas levem em conta o múltiplo modo de ser e estar no mundo que caracteriza essas populações. Como alternativas de luta em favor de suas especificidades culturais, diferentes instituições vêm procurando desenvolver ações conhecidas por multiculturalismo. Os documentos legais, por exemplo, têm evidenciado bastante em sua literatura a importância e a necessidade de a escola trabalhar o seu currículo, levando em consideração a diversidade cultural do aluno. Essa diversidade expressa o direito de ser escutado, o direito de ser diferente. O cerne desta discussão está voltado exatamente para este propósito: que na prática se efetive o direito de ir e vir, de livre manifestação de opinar. Desse modo, garante-se a cada indivíduo o direito de se situar no mundo, isto é, expressar a sua cultura, a sua peculiaridade. Portanto, é mister que o Estado democrático, através da escola pública e única, desenvolva política voltada para o conhecimento da diferença, que não passem por cima das particularidades. Convém referenciar uma pesquisa realizada pelo professor Luís Alberto Gonçalves, numa escola pública de Minas Gerais (2001). Ao perguntar aos docentes sobre a presença de desigualdades e prática de exclusão, ouviu de seus interlocutores quase sempre a mesma resposta, ou seja, que na escola não existia racismo, e que todos os alunos eram tratados da mesma forma. Aqui surge uma interrogação: Será que a questão é tratar todos os alunos como ―iguais‖? Ao longo da investigação para produzir este trabalho, viu-se que a perspectiva multiculturalista aponta para o conhecimento e para o respeito pela diferença. O que se quer pontuar aqui é que a política de reconhecimento não pode continuar ―cega‖ às diferenças entre os cidadãos. O direito à diferença freqüentemente redefine a nãodiscriminação, ou seja, exige que as distinções sejam à base de um tratamento diferencial. Nessa perspectiva, a cidadania não pode pretender ser uma identidade geral, constituída sob o princípio de que todos são iguais. Cada pessoa é única; um indivíduo é criativo e criador de si mesmo e, ao mesmo tempo, transmite cultura que difere de acordo com as referências e identificações passadas e presentes; cada pessoa é resultado das relações que estabelecem com os outros. Em outras palavras, a identidade humana se forma em resposta às novas relações e inclui os diálogos que se tem com quem se convive. O currículo, nesta perspectiva, deve está imbuído no principio de que não se está sozinho, exilado dentro da própria cabeça. Descobrem-se individualidades à medida que se interage no mundo com outras pessoas e com outras formas de vida. Isso implica no processo de aprendizagem à medida que o dialoga toma lugar na sala de aula, e que o educador perceba que só é possível esse ato se houver essa relação mútua aluno X professor e aluno X aluno. PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FRENTE Á ESCOLA INCLUSIVA Tendo como objetivo o desenvolvimento de uma massa crítica, o professor deveria utilizar estratégias que levassem os alunos a selecionar o uso lingüístico mais adequado a uma determinada situação. Para atingir essa meta, é relevante que o trabalho do professor esteja vinculado a um projeto maior, que tenha de fato interesse na construção do sujeito critico.


Para isso, presume-se que o professor seja também um sujeito critico, e que sua linha de pensamento faça justiça a uma sociedade igualitária, onde as diferenças e preconceitos sejam debatidos nas escolas. Isso, por seu turno, alargaria visão de mundo do aluno. A ênfase que se dá ao papel do professor e a importância da formação deste sustentam-se na LDB e nas exigências de mercado. Com as reformas educacionais, muitas foram as alterações para a vida do profissional. A escola, é local de trabalho dos professores, assume com a reforma educacional a função de ser espaço de formação docente, o que pode trazer uma nova identidade ao professor, uma vez que a formação em serviço e continuada se faz em ambiente coletivo de trabalho. (LIBÂNEO, 2003, p. 272) A resolução nos artigos 61 a 67 que faz referência aos profissionais da educação, estabelece as finalidades e os fundamentos dessa formação. Como está expresso nos artigos supracitados, o profissional da educação, para atuar no nível médio, tem exigência de formação superior, com Licenciatura Plena; para as 1ª séries iniciais e Educação Infantil, formação mínima [nível médio]. A lei ainda faz exigência para que a prática de ensino no curso de formação de professor seja de, no mínimo, 300 horas. A exposição destes indicadores remete para a responsabilidade que se deve ter na formação do professor, o que não é suficiente, levando-se em consideração a construção desse profissional em serviço, mediante os desafios originados pela prática. Com base nesta informação, as instituições superiores precisam voltar seus cursos de formações para alunos reais, que terão como clientela também alunos reais, com dificuldades de aprendizagem diversas, culturas diversas, dentro de um cenário real. Essa chamada é oportuna porque o que se tem presenciado ao longo dos anos, enquanto professora de universidade, é um paradoxo muito grande no que se refere à proposta de formação da universidade e à realidade oferecida pelas escolas da Educação Básica. Causa a impressão de que os acadêmicos do Curso de Formação de Professores estão sendo qualificados para uma escola utópica. A análise que se pretende fazer com este artigo é a seguinte: Que professores as universidades estão formando? Qual a linha de atuação desses professores? Qual a diferença no desenvolvimento do trabalho desse professor? Será que a universidade tem conseguido formar esse sujeito crítico, capaz de fazer uma ponte entre os saberes, evitando ao máximo a fragmentação desse saber nas suas ações pedagógicas? Na opinião de Libâneo (2003), os professores têm várias responsabilidades profissionais, como: conhecer bem a matéria, saber ensiná-la, ligar o ensino à realidade do aluno e ao seu contexto social, ter uma prática de investigação sobre seu próprio trabalho, incluindo-se nessa responsabilidade a tarefa de participar de forma consciente e eficaz nas práticas de organização e de gestão da escola. Pressupõe-se também que, além da competência de dirigir uma classe, os docentes são membros de uma equipe de trabalho, onde discutem, tomam decisões e definem forma de ação, de modo que a estrutura e os procedimentos da organização e da gestão sejam constituídos conjuntamente pelos que nela atuam. O professor que corresponde às exigências da escola possível, precisa estar apto a estabelecer relações entre as decisões do sistema escolar e as decisões tomadas na


escola; desenvolver conhecimentos, habilidades, atitudes de valores em relação à organização e à gestão da escola, tais como: identificar necessidades e problemas na própria situação de trabalho e buscar, conjuntamente, soluções e práticas inovadoras; pesquisar e pôr em prática idéias, saberes experiências e modos de agir, para o aprimoramento das condições de aprendizagem dos alunos. Outro ponto relevante é com relação ao espaço garantido na escola. Este deve ser um ambiente educativo, isso é, um espaço de formação e de aprendizagem, constituído por seus componentes; um lugar propício à tomada de decisões e de aprendizagem. Esse entendimento leva a acreditar que a aprendizagem não está restrita apenas à exclusividade do professor, podendo envolver todos os atores da escola no processo de educação. Referenciando Libâneo, ―a aprendizagem está presente no atendimento aos pais, efetuado pela secretaria, na distribuição da merenda, nas reuniões pedagógicas‖ (2003, p. 295). As relações de poder podem estar presentes ou ausentes nessas relações, dependendo do modo como é conduzida cada ação. Com efeito, diz Libâneo: ―As escolas são, pois, ambientes formativos [...] isto é, podem criar ou modificar os modos de pensar ou agir das pessoas‖. Libâneo, citando Amiguinho e Canarinho (1994), diz ainda. ―Os indivíduos e os grupos mudam, mudando o próprio contexto em que trabalham‖ (2003, p. 296). Contudo, as políticas, as diretrizes curriculares e as formas de organização do sistema de ensino estão carregadas de significados sociais e políticos, que influenciam fortemente as idéias, as atitudes, os modos de agir e os comportamentos de professores e alunos, principalmente, as práticas pedagógicas, curriculares e organizacionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tomando o eixo central da discussão deste trabalho, que é o lugar do currículo na construção da escola inclusiva, retomam-se alguns pontos, para tentar emitir algumas idéias e sugestões aproximadoras do pensamento inclusivo. Ao longo da história, muitos imaginam que a exigência de respeito à pluralidade cultural significa, antes de tudo, o desenvolvimento de ações específicas voltadas, no caso brasileiro, para a incorporação dos grupos minoritários. O problema desse tipo de posição é que entende o respeito à diversidade como mera somatória ao currículo tradicional, de uma série de assuntos que dizem respeito aos ―outros‖. Dessa forma, não se tem enfocado em questão este ―nós‖ ocultos, que tem norteado as práticas pedagógicas no cotidiano escolar. Cria direta dos ideais iluministas, a escola se vê como instrumento civilizador. Logo, considera sua tarefa transferida aos alunos, uma série de conhecimentos considerados universais. Acontece que, sobre a capa do universalismo, a escola assimila o modo de vida das elites urbanas européias e o transforma em modelo civilizatório válido para os grupos humanos, como se todos fossem noruegueses. Assim, uma política de reconhecimento da diferença não pode se limitar à política de classificação, controle e fiscalização de Referenciais Curriculares, uma política de tolerância e conservação, mas deve constituir-se em um esforço de satisfação de demandas sociais e políticas, que mobilizam os indivíduos nos termos de uma identidade ética. Isso implica trazer para o debate um novo termo: hegemonia, ou seja, as relações de dominação atravessam todas as dimensões do viver social, portanto, uma política


multicultural no campo da educação institucional. Não se trata apenas de reconhecer o ―outro‖, mas de desbancar, igualmente, a pretensão etnocêntrica das culturas das elites brancas brasileiras, de se constituírem numa referência normativa, a partir da qual todos os outros valores culturais possam ser julgados. Também não basta introduzir conteúdos afro-brasileiros nas disciplinas curriculares, ou mesmo pensar uma educação bilíngüe para as crianças nativas americanas. É preciso sim, colocar em questão a totalidade do currículo e das práticas cotidianas que constituem a escola como um espaço fundamental de formação do indivíduo. É preciso questionar as ideologias nacionalistas, racionalistas e assimilacionistas. É necessário exercitar práticas comprometidas com a construção da identidade, minimizando as diferenças. Para finalizar, é importante ressaltar que não há mais espaço para a heterogeneidade da vida complexa e paradoxal, marcada por antagonismo, mas, igualmente, por solidariedade e por trocas culturais que renovam experiências herdadas e expressam a capacidade individual e coletiva de criar a nós mesmos, em um diálogo [nem sempre fraterno] com todos os seres que habitam o mundo onde vivemos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítica – compreensiva: Artigo a artigo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. DOLL JR, William E. Currículo: Uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. FONSECA, Vitor de. Educação Especial. 3. ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. FORAUSN, T.C. Escola e Cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. 4 ed. São Paulo: Cortez: instituto Paulo Freire, 2004. HUXLEY, Aldo. Regresso ao Admirável Mundo Novo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia Ltda, 2000. LEITE, Carlinda. As palavras mais do que os actos? O Multiculturalismo no Sistema Educativo português. Tese (Doutoramento) Porto: FPCE da UP (no prelo) 1997. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: Políticas, estrutura e Organização. São Paulo. Cortez, 2003. MOITA, Filomena. Currículo, conhecimento, cultura: Estabelecendo. diferenças, produzindo identidades. Universidade Federal da Paraíba. 2003. MOREIRA, A. F. et al. (Org.). Currículo: políticas e práticas. Campinas: Papirus, 1999. PARRILLA, A. L. La Formación de los Profesionales de la Educación Especial y El Cambio Educativo. Educar, Barcelona, v. 21, p. 39-65, 1997. SANTOs, José Luiz dos. O que é Cultura? 15 ed. São Paulo: Brasileense, 1984. SILVA, Nelson Fernando Inocêncio. Consciência Negra em cartaz. Brasília: editora Universidade de Brasília, 2000. SILVEIRA, Elizabeth. O aluno entende que se diz na Escola? Rio de Janeiro: Dunya. 1997.


A PEDRA DA MEMÓRIA E A COROAÇÃO DO IMPERADOR EUGES SILVA DE LIMA43 Pesquisando na internet, achei um artigo sobre o Instituto de História e Geografia do Maranhão44, publicado em junho de 2011, na Revista Eletrônica ―Patrimônio e Memória‖ do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), com o título: ―INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO (IGHM) 45: PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E HISTÓRIA COMO PRINCÍPIOS DE PERPETUAÇÃO DA IMAGEM DE UM MARANHÃO GRANDIOSO, de autoria do professor José Henrique de Paula Borralho, doutor do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). O autor discute a fundação do IHGM, em 1925, mostrando que a mesma não ocorre de forma isolada, mas situada num contexto, no bojo do surgimento de várias outras agremiações culturais, que vão aparecer em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, como a Oficina dos Novos(1900), a Academia Maranhense de Letras(1908), a Faculdade de Direito(1918), entre outras, e que há elementos comuns entre elas e surgimento do IHGM. Um deles é que todas essas entidades foram fundadas basicamente, com algumas variações, pelo mesmo grupo de intelectuais, pela mesma geração, os chamados ―Novos Atenienses‖ e que possuíam, portanto, os mesmos objetivos: Todos eles eram signatários da idéia de perpetuação das tradições do Estado, proclamada primeiro pela Oficina dos Novos, depois Academia Maranhense de Letras, Faculdade de Direito, Sociedade Musical Maranhense e finalmente, Instituto de História e Geografia. (BORRALHO, 2011, p. 22) O perfil traçado pelo professor Borralho sobre o IHGM e sua fundação é interessante, nos ajuda a entender mais sobre a história dessa instituição, o contexto histórico de seu nascimento e seus significados subjacentes. Não existe divergência quanto a sua abordagem, pelo menos no que concerne ao IHGM, não obstante, não é exatamente sobre isso que queremos discorrer, é sobre um aspecto em particular do texto, que nos chamou atenção, nesse ponto, sim, há divergências. Trata-se das referências à ―Pedra da Memória‖, atribuídas pelo autor. Ao citar certo levantamento promovido por membros do Instituto, acerca da história e condições dos monumentos da cidade de São Luís, assevera Borralho(2011, p.23):

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Professor de História da Rede Municipal de Educação de São Luís e Rede Estadual de Educação do Maranhão. Especialista em Teoria e Metodologia para o Ensino da História (UEMA), Secretário de Cultura do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública Básica do Maranhão (SINPROESEMMA) e membro efetivo do IHGM. 44 Em discurso feito por Antônio Lopes, em 1946, por ocasião do vigésimo primeiro aniversáriodo IHGM, já se observa a denominação atual dessa associação, isto é, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Sobre isso, ver LOPES, Antônio. Estudos Diversos. São Luís: Sioge, 1973, p. 104. 45 A sigla correta seria IHGM.


O primeiro monumento pesquisado e arrolado no relatório foi a ―Pirâmide da memória46‖. Tal monumento foi erguido para comemorar a coroação de D. Pedro I (grifo nosso), inicialmente erguida no Campo d‘Ourique, centro da cidade, cuja simbologia continha as armas do império, tendo sido iniciada em 15 de setembro de 1841 e concluída em 28 de julho de 1844.

Observa-se no trecho acima que o autor confunde os homenageados, troca o filho pelo pai, Pedro II por Pedro I. Atribui o erguimento da Pedra da Memória que ele chama de ―Pirâmide da memória‖ à coroação do Imperador D. Pedro I, quando na verdade, sabe-se que tal monumento foi erigido para comemorar a Sagração do Imperador D. Pedro II, ocorrida em 18 de julho de 1841 no Rio de Janeiro47. Estranha-me esse equívoco, pois é uma informação relativa à história do Maranhão bastante elementar, quase que notória, principalmente para historiadores regionais. Quais seriam então as fontes do autor para fazer tal afirmação? A Pedra da Memória é talvez o monumento mais antigo do Maranhão, projetada em 18 de agosto de 1841 pelo Tenente Coronel, José Joaquim Rodrigues Lopes, do Imperial Corpo de Engenheiros e concluída em 28 de julho de 184448. Constitui uma importante fonte de pesquisa desse período e felizmente, foi preservada, está lá, intacta49, em um dos semicírculos da Avenida Beira Mar, o fortim de São Damião, conhecido também como meia laranja, próximo às muralhas do Palácio dos Leões. Para se ter certeza sobre a qual memória as autoridades da época queriam guardar para posteridade e a qual a coroação ela faz alusão, se de D. Pedro I ou D. Pedro II, basta fazer uma pesquisa in loco, e então vamos ver de primeira mão, grifada no próprio monumento a seguinte inscrição: A MEMORIA DA COROAÇÃO DE S.M.I. OS. D. P. 2.º I. C. P.D.do B ERIGEM ESTE MONEMENTO OS MEMBROS DO EXERCITO QUE NA PROVINCIA ESTÃO 46

Durante o século XIX, a Pedra da Memória era conhecida como Pirâmide. Segundo César Marques (1970, p. 430), depois de seu erguimento no Campo de Ourique, a parte da frente do então Quartel (atual Biblioteca Pública Benedito Leite), passou a se chamar de Largo do Quartel e a de trás, Campo de Ourique ou Largo da Pirâmide, numa referência ao monumento. 47 Sobre as cerimônias e solenidades da Coroação e Sagração de D. Pedro II, ver SCHWARCZ, Lilia Moritz. AS BARBAS DO IMPERADOR: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 48 Quando da conclusão da Pirâmide ou Pedra da Memória, o presidente da Província do Maranhão era o Dr. João José de Moura Magalhães. Em nossas pesquisas não encontramos a data exata de sua inauguração. O 28 de julho, geralmente é citado como data de inauguração do monumento, a rigor, é a data da sua conclusão, não necessariamente inauguração, ver MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970, p. 431. 49 Em 1943, com o loteamento do Campo de Ourique, o escritor Joaquim Vieira da Luz liderou um movimento para não deixar a Pedra da Memória ser destruída, conseguiu transferi-la para o atual local,nas proximidades do Cais da Sagração, na Avenida Beira Mar. Em 1950, nas administrações Sebastião Archer (governador) e Costa Rodrigues (prefeito),o monumento passou por uma restauração. Em 2011, a Pedra voltou a ser restaurada, sendo incluído um sistema de iluminação.


SENDO PRESIDENTE O ILL.mo e Ex. o Sr. DOUTOR JOÃO ANTONIO DE MIRANDA. 18e41. COM me. DAS ARMAS O ILLmo Sr. CORONEL FRANCISCO JOZE MARTINS. 1841. César Marques (1970, p.430-431), em seu Dicionário Históricogeográfico da Província do Maranhão, no verbete ―LARGO DO QUARTEL ou CAMPO DO OURIQUE‖ cita a inscrição acima. Mário Meireles (1964, p. 30), na obra, ―São Luís, Cidade dos Azulejos‖, também a cita, mas comete alguns erros na transcrição: À memória da coroação de S.M.I. o Sr. D. Pedro II, I. C. e P.do B., erigem este monumento os membros do exército, que na província estão, sendo présidente o ILm.º Sr. Coronel Francisco José Martins. (grifo nosso)1841. Verifica-se em Meireles, uma citação da inscrição da Pedra da Memória, muito semelhante à feita por César Marques, com a mesma grafia e traduções de algumas siglas, como por exemplo: S(Sr.) e P(Pedro). No entanto, Meireles, suprime trechos e erra ao trocar o nome do presidente da província(1841). Em vez de atribuir a presidência a João Antônio de Miranda, confunde-se e cita como presidente o comandante de armas, Coronel Francisco José Martins. Ao analisar ao vivo a inscrição na Pedra da Memória, ainda antes da restauração de 2011, realizada pela Prefeitura de São Luís, as pichações no monumento atrapalhavam um pouco a visualização. As siglas contidas na inscrição, de repente, também, poderiam lançar algumas dúvidas, então realizei uma pesquisa bibliográfica e em jornais de época para traduzir literalmente o que aquelas siglas realmente significam. De início, a possibilidade de ser um monumento em homenagem a Coroação de D. Pedro I fora logo descartada, os autores acima citados, entre outros, são bem categóricos quanto à identidade do homenageado e o motivo da comemoração. Percebemos que poucos citavam o que estava escrito no monumento para fundamentar suas informações, salvo os já mencionados, e mesmo esses, não se preocuparam em fazer uma tradução pormenorizada das siglas. Sendo assim, o ―enigma‖ pôde ser decifrado e a tradução completa da inscrição fica assim: A MEMORIA DA COROAÇÃO DE SUA MAGESTADE IMPERADOR O SENHOR DOM PEDRO 2.º IMPERADOR CONSTITUCIONAL PERPETUO DEFENSOR do BRASIL(grifo nosso) ERIGEM ESTE MONEMENTO OS MEMBROS DO EXERCITO QUE NA PROVINCIA ESTÃO SENDO PRESIDENTE O ILL.mo e Ex. o Sr. DOUTOR JOÃO ANTONIO DE MIRANDA.


18e41. COMMANDANTE DAS ARMAS O ILLmo Sr. CORONEL FRANCISCO JOZE MARTINS. 1841. ―Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil‖, era um título comumente utilizado por D. Pedro II50 ou quando se fazia referência a ele, visto junto à sua assinatura, em vários documentos oficiais. A priori, poderia até se pensar que o equívoco de Borralho, fosse apenas um mero erro de digitação, um lapso, caso se tratasse de uma afirmação única, isolada, mas com a continuidade da leitura do texto, observa-se, claramente, repetidas vezes, a reafirmação do autor, no sentido de considerar D. Pedro I como o homenageado: Há uma série de questões a serem levantadas nessas pequenas informações. A primeira diz respeito à referência ao homenageado, D. Pedro I. (grifo nosso) (BORRALHO, 2011, p. 23) Importante observar que o autor a partir da informação equivocada de que D. Pedro I é o homenageado da Pedra da Memória, levanta uma série de questões, estabelece conexões com outros períodos da história do Maranhão e formula hipóteses. Nesse sentido, estabelece relação com o contexto histórico da ―adesão‖ do Maranhão à Independência do Brasil e seus desdobramentos regionais. Conexões que poderiam até fazer algum sentido, caso o homenageado não fosse D. Pedro II, portanto, inserido num contexto histórico diferente daquele sugerido pelo autor, não se tratando assim, de ―um esforço de (re) criação da memória‖. Borralho, também relaciona a construção da Pedra da Memória com a Balaiada. Segundo ele, a eclosão dessa revolta coincide com o lançamento da pedra fundamental do monumento em 1841. De fato, é perfeitamente plausível fazer uma ligação entre esses dois episódios, há um sentido nessa relação, principalmente no que diz respeito à idéia de unidade e ordenamento nacional que o monumento poderia estar representando, ambos se dão no mesmo momento histórico, no período inicial do Segundo Império no Maranhão, todavia, dizer que a Balaiada eclode em 1841, talvez não seja o caso. Geralmente, o período adotado pela historiografia sobre esse movimento, se dá entre 1838 e 1841, portanto, o lançamento da pedra fundamental do monumento, está mais para o fim da Balaiada que de sua eclosão, no sentido de início, surgimento. Para Borralho (2011, p. 24), ―erigir um monumento em homenagem a D. Pedro I, em plena Balaiada, era um esforço de criação da memória [...]‖. Seria, se o homenageado fosse D. Pedro I, o que observamos que não era. Há, sim, com a inauguração da Pedra, uma tentativa de preservação de uma memória para a posteridade, mas não a apontada pelo autor, ou seja, os anos vinte do século XIX e a coroação de D. Pedro I. Assim, acabam por se tornarem inválidas, as premissas e hipóteses levantadas por ele. A memória que a Pedra pretendia realmente guardar era a da Coroação de D. Pedro IIe de tudo que ela representava e simbolizava, inclusive, no Maranhão pós Balaiada, haja vista que esse monumento somente é concluído em 1844. É preciso notar que o ano de 1841 é o ano da Sagração de D. Pedro II, como Imperador do Brasil, na Capital do Império, marcada por grandes cerimônias e

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Ver ALMANAK DO MARANHÃO [1849]. São Luís: Edições AML, 1990. p 49.


solenidades, com muita pompa e circunstância, digna das coroações das grandes monarquias européias e que provavelmente repercutiu em todas as províncias do Brasil. No Maranhão, a chegada da notícia sobre a coroação do Imperador gerou três dias de festejos e comemorações, dias 14, 15 e 16 de setembro de 1841, principalmente em São Luís51, verdadeira festa cívica, comandada pelo presidente da província, João Antônio de Miranda, culminando com a criação de orfanato, lançamento de obras públicas e monumentos. Escrevendo para o Sr. Cândido José de Araujo Viana, Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império, descreveu assim o lançamento da Pedra da Memória, o presidente da província: Na tarde do dia 15 houve nova e magnífica parada no campo de Ourique, para onde ainda concorrerão as pessoas mais gradas da capital, e immenso povo, ahi tive a honra ainda de lançar a pedra fundamental para uma Pyramide, que a corporação Militar inaugurou á Sagração de S. M. o Imperador. (JORNAL MARANHENSE, anno I, n. 27, 1841, p. 1) Como parte dessas homenagens feitas no Maranhão à Coroação do Imperador que se inicia a construção do Cais da Sagração no dia 14 de setembro de 1841 e a aprovação da lei pela Assembléia Provincial que cria a Casa dos Educandos Artífices, uma espécie de orfanato profissionalizante para órfãos e menores abandonados, inspirada na Casa dos Educandos do Pará. É no contexto dessas comemorações quarentista que são lançados os fundamentos da Pedra da Memória e que se explicam as razões de sua homenagem a D. Pedro II.

REFERÊNCIAS ALMANAK DO MARANHÃO (1849). São Luís: Edições AML, 1990. ARANHA E SILVA, Celeste Amancia e BRAGA, Maria de Jesus Martins. Jornais Maranhenses (1821-1979). São Luís, 1981. BORRALHO, José Henrique de Paula. Instituto de História e Geografia do Maranhão (IGHM): patrimônio, memória e história como princípios de perpetuação da imagem de um Maranhão grandioso in Revista Eletrônica Patrimônio e Memória – UNESP, v. 7, n. 1, p. 19-37, jun. 2011. Disponível: http://www.cedap.assis.unesp.br/patrimonio_e_memoria/patrimonio_e_memoria_v7.n1/ home.html. Acesso: 07/01/2012. GEOGRAPHIA E HISTÓRIA: Revista Trimensal do Instituto de História e Geografia do Maranhão. Anno I. Num. 1, S. Luiz: Typ. Texeira, 1926. JORNAL MARANHENSE. Anno I, n. 2, n. 5, n. 7, n. 15-18, n. 20-28, n. 35-39, 1841. LIMA, Carlos de. História do Maranhão: a monarquia. 2. Ed. São Luís: Instituto Géia, 2008. LOPES, Antônio. Estudos Diversos. São Luís: Sioge, 1973.

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Embora a maioria das comemorações à Coroação de D. Pedro II no Maranhão, tenha se concentrado em São Luís, verifica-se também em outros lugares da província, sinais dessas homenagens, como é o caso da vila de Brejo.


MEIRELES, Mário Martins. Guia Turístico: São Luís do Maranhão (1612-1962). São Luís, s/d. ____________. São Luís: cidade dos azulejos. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy Ltda, 1964. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. RAMOS, Albani e DUARTE, Sebastião Moreira. São Luís: alma e história. São Luís: Instituto Geia, 2007. REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos et al. APOSTILA DE ESTUDOS SOCIAIS: apontamentos sobre São Luís do Maranhão. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. São Luís: Lithograf, 1993. SANTOS, Waldemar. Fragmentos da História do Maranhão. São Luís, 1982. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Comissão de Comemorações dos 400 anos de Fundação de São Luís PORTARIA 03/IHGM, de 15/12/2010

CICLO DE ESTUDOS/DEBATES

A CIDADE DO MARANHÃO – UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS 2011 – 2012 SEMINÁRIO 3 25/ABRIL/2011

O MARANHÃO REPUBLICANO – AS OLIGARQUIAS

PROGRAMA – ONE DAY SEMINAR 08:00 – Abertura 08:15 - Conferencia Magna 09:15 – Intervalo (café) 09:15 - Sessão de Pôsteres 09:30 – Exposição e debate 12:30 – Debate com a plenária 13:00 – Intervalo para almoço 14:00 – Sessão de Exposição Oral 18:00 – Encerramento


COMISSÕES COMISSÃO INSTITUIDA PELA PORTARIA 03/2010 TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO – Presidente JOSÉ MARCELO DO ESPIRITO SANTOS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ RAIMUNDO GOMES MEIRELES WASHINGTON LUIS MACIEL CANTANHEDE COMISSÃO DE HONRA ARNO WEHLING Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão NATALINO SALGADO FILHO Reitor da Universidade Federal do Maranhão LUIS BULCÃO Secretário de Estado de Cultura do Maranhão ANTONIO JULIO GOMES PINHEIRO Presidente do Sindicato dos Professores do Estado do Maranhão

COMISSÃO CIENTÍFICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTONIO NOBERTO COMISSÃO DE RECEPÇÃO E TRANSPORTE ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO JOANA BITENCOURT COMISSÃO DE APOIO E LOGÍSTICA CLORES HOLANDA SILVA – UFMA/PALÁCIO CRISTO REI KEYLE FREITAS VALE MONTEIRO – ASCOM/UFMA APOIO E PATROCINIO

CULTURA


CICLO DE ESTUDOS/DEBATES A CIDADE DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA DE 400 ANOS –

DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE OCUPAÇÃO ATÉ A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA DA TERRA – CRONOLOGIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM - Cadeira 40 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM “LICEU MARANHENSE” TERCEIRO PERÍODO - 1640 A 1750 – O ESTADO DO MARANHÃO 1640 Uma forte armada luso-espanhola, comandada pelo Conde da Torre, falhou em sua intenção de desembarcar em Pernambuco e sofreu uma derrota estratégica ante a armada holandesa. Com a Restauração portuguesa, Portugal assinou uma trégua de dez anos com os Países Baixos. Nassau conquista os centros fornecedores de escravos africanos de São Tomé e Príncipe e de Angola Restauração Portuguesa - Restauração da Independência é a designação dada à revolta iniciada em 1 de Dezembro de 1640 contra a tentativa de anulação da independência do Reino de Portugal por parte da dinastia filipina, e que vem a culminar com a instauração da Dinastia Portuguesa da casa de Bragança. Com a Restauração portuguesa, Portugal assinou uma trégua de dez anos com os Países Baixos. Nassau conquista os centros fornecedores de escravos africanos de Cabo Verde e de Angola. Gedeon Morris entrega ao governo do Recife plano de invasão do Maranhão, fato que aconteceu em 25 de novembro de 1641. Gedeon Morris havia vivido por quase uma década no Brasil, prisioneiro dos portugueses no Maranhão, era fluente na língua tupi e um homem experimentado no trato com os índios. Mesmo através de suas cartas, dá a viva impressão de ter sido um homem carismático, enérgico e eloqüente. Algumas destas cartas são citadas por praticamente todos os estudiosos do Brasil Holandês. Sua chegada ao Ceará é acompanhada por um frenesi de atividades. De algum modo, com uma mistura de pagamento, coerção e convencimento, eleleva os índios do Ceará a explorarem salinas na margem direita do rio Jaguaribe, a reformar o Forte de São Sebastião, construir um segundo fortim em Camocim, ampliar a cultura de mandioca e a criação de gado que provia o sustento alimentício da guarnição, cortar madeirade tinturaria e até mesmo, segundo as suas palavras, a plantar cana-de-açúcar. Além disso, ele leva contingentes militares de índios do Ceará para combater no Maranhão em duas ocasiões. Essas desastrosas expedições militares ao Maranhão resultam em muitos índios mortos, sejanos combates ou, mais freqüentemente, de fome e das doenças que grassavam no acampamento da WIC. O acampamento da WIC do Maranhão é também um antro de maus tratose desmandos contra os seus próprios aliados indígenas, situação repetidamenteinformada pelo próprio Gedeon Morris de Jonge para o Conselho Supremo no Recife, sem maiores conseqüências. Um oficial inglês a serviço da Companhia, Johan Maxwell, chega a levar cerca de vinte índios do Ceará, aliados da Companhia, num barco para o Caribe e os vende como escravos lá. Para piorar, uma praga de ―bexigas‖ atinge o Brasil em 1640-1641 e causa alta mortalidade entre os índios do Ceará. O resultado desses três anos de furiosa atividade e mortandade é a revolta indígena que põe fim à vida do


Commandeur Gedeon Morris de Jonge e dos soldados sob o seu comando. Não se sabe como os índios atacaram a guarnição, ou mesmo quais índios tenham sido os responsáveis diretos pelo ataque. Há certa confusão se o fortim do Camocim teria sido atacado primeiro do que o forte no rio Ceará. Não sobraram testemunhas do lado europeu para registrar o evento, todos foram mortos. O que se sabe é que índios em Camocim e no rio Ceará, muito provavelmente os mesmos que haviam estado aliados com os neerlandeses até aquele momento e que os haviam chamado ao Ceará em 1637, destruíram a guarnição dos fortes e atacaram pelo menos dois navios que atracaram na costa cearense, matando diversos marinheiros. Ficava abundantemente claro que a WIC enfrentava sua primeira grande revolta indígena no Brasil. MARTINS, Guilherme Saraiva A revolta indígena de 1643-44 no Ceará: Alianças e conflitos no Brasil Holandês. Trabalho Apresentado no XXV Simpósio Nacional de História, Simpósio Temático 36: Os Índios na História, 13-17 de julho de 2009. http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Guilherme.pdf

1641 Firmado um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva entre Portugal e a República Holandesa, porém o tratado não é cumprido por ambas as partes e em consequência não tem efeito nas colônias portuguesas sob domínio neerlandês no Brasil e na África. O Marques de Montalvão, governador geral do Brasil de 1640 a 1641, avisado em 15/02/1641 da assinatura do armistício, cuidou de transmitir (2/3) a noticia a Mauricio de Nassau por mãos próprias, o qual com presteza lhe respondeu (12/3) comunicando que fizera comemorar solenemente em Mauricéia (Recife) o acontecimento e que para provar sua satisfação estava, com a resposta, lhe devendo onze prisioneiros de guerra (Meireles, Mario. Holandeses no Maranhão, 1991, p. 73) Jorge de Mascarenhas, marquês de Montalvão, foi um fidalgo e administrador colonial português. Foi governador de Mazagão (1615-1619), de Tânger (1622-1624) e do Algarve. No contexto da Dinastia Filipina, tendo caído em desgraça o conde da Torre (sucedido por uma Junta Governativa tríplice), Mascarenhas foi nomeado por Filipe IV de Espanha como 1º vice-rei do Brasil (1640). Este era um título honorífico, de caráter pessoal, e não somava autoridade. Segundo explica o escritor brasileiro Vivaldo Coaracy em sua obra «O Rio de Janeiro do século XVII», página 103, «só em 1714 foi o governo do Estado do Brasil elevado à categoria de vice-reino. Antes disso, porém, por circunstâncias especiais, excepcionalmente, tiveram dois governadoresgerais o título de vice-reis: o marquês de Montalvão em 1640 e o conde de Óbidos em 1648.» Desembarcou em Salvador, na capitania da Bahia, a 16 de abril de 1640, iniciando o seu governo a 26 de maio. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_de_Mascarenhas

O forte francês teve mudado seu nome para de São Miguel (Anjo Custódio do Reino), após ter sido de São Felipe (1615) e Saint-Louis (1612) Maio – o capitão inglês Thomas William, vindo da Ilha de São Miguel, aporta em São Luís, e avisa que os Holandeses do Brasil se aprestavam para invadir o Maranhão, agora na própria capital do Estado. Os Holandeses já estavam fazendo incursões ao Maranhão, invadindo as capitanias menores do ceará, Gurupá, Cametá, e Cabo do Norte, não ousando atacar São Luis, capital do Estado, nem Belém, capital do Grão-Pará. 1641 – 1644 – OS HOLANDESES – a Holanda, no século XVII era o primeiro estado comercial e a primeira potencia marítima. Durante muito tempo deteve o domínio dos mares e conquistou colônias portuguesas na Ásia, na África e nas Américas (Lima, 2006, p. 285-299). A conquista de Olinda em 1630 por forças da Companhia das Índias Ocidentais (WIC) da República dos Países Baixos deu início àquilo que ficou conhecido como o Brasil Holandês. O empreendimento floresceu depois da nomeação do Conde Johann Moritz von Nassau-Siegen em 1636 como Governador Geral pelo conselho dirigente da WIC, os Heeren XIX (Senhores XIX). Recife tornou-se o centro administrativo de uma área que se estendia de Alagoas ao Maranhão. A insurreição de uma parte grande da população portuguesa em1645, um ano depois da partida de Nassau, transformou Recife


numa fortaleza assediada que se rendeu com todas as outras posses da WIC no Brasil no dia 26 de janeiro de 1654. http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rh/n154/a04n154.pdf) Depois de terem invadido a maior parte do território do Nordeste da Colônia portuguesa na América, os holandeses dominaram as terras da Capitania do Maranhão. Desembarcaram em São Luís com o objetivo de expandir a indústria açucareira com novas áreas de produção de cana-de-açúcar. Após a invasão de São Luís do Maranhão, os neerlandeses expandiram-se para o interior da capitania, verificandose choques com os colonos já em 1642. As lutas para expulsão do invasor estenderam-se até 1644, nelas tendo se destacado Antônio Teixeira de Melo. Invasão holandesa é o nome normalmente dado ao projeto de ocupação do nordeste brasileiro pelos Países Baixos durante o século XVII. Na verdade, tendo sido intentado pelos Países Baixos, o nome correto deveria ser "Invasão neerlandesa". http://www.mundovestibular.com.br/articles/1146/1/INVASAO-HOLANDESA-NOBRASIL/Paacutegina1.html

22 de novembro – a frota holandesa se encontrava na enseada do Araçagi; sua passagem é comunicada pelos índios do Periá 25 de novembro – invasão do Maranhão pelas tropas holandesas; dois mil soldados, vindos em 18 naus, sob o comando do almirante João Cornellizoon Lichthardt, comandante-em-chefe das forças navais, e do coronel Koin Anderson, das terrestres, mil desembarcaram na praia do Desterro (Igreja era conhecida como de São Jorge) e saquearam a cidade, ―povoação muito acanhada e miserável‖. Da capitania passaram para o interior – Tapuitapera e Itapecuru – onde se apossaram do pequeno forte do Calvário, que reedificaram. Colocaram soldados nos engenhos do Itapecuru. (Lima, 2006, p. 285-299). 31 de dezembro - Lichthardt e Koin retornam a Pernambuco, deixando quatro navios e seiscentos soldados; leva Bento Maciel Parente como prisioneiro. Pieter Bas, por alcunha O Político, assume o governo.

http://drummerman.sites.uol.com.br/ocupacao.htm


No Pará - o capitão-mor Francisco Cordovil Camacho 52 recebe noticias da ocupação do Maranhão, transmitindo-a aos capitães-mores de Camutá – Cipriano Maciel Aranha -, e do Cabo do Norte – João Velho do Vale -, sobrinhos de Bento Maciel; não socorreram a capitania, como deviam. Bento Maciel Parente - (Caminha, 1567 — Recife, Fevereiro de 1642) foi um explorador, sertanista e militar português. Foi veterano das guerras da Paraíba e do Rio Grande, onde participou da construção do Forte de São Filipe e da Fortaleza dos Reis Magos. Participou da Campanha do Salitre, sendo mandado ao interior da Bahia, 80 léguas sertão adentro. Em 1609, serviu como Capitão de Entradas e Descobrimentos em São Vicente, no Maranhão e no Pará. Durante o período da União Ibérica, Bento Maciel Parente fez parte da vitoriosa campanha de Alexandre de Moura, sendo enviado numa expedição que partiu da Capitania de Pernambuco com a finalidade de expulsar os franceses do Maranhão, fazendo brilhante campanha, obrigando o invasor a capitular no dia 1 de novembro de 1615. Com a ascensão de Jerônimo de Albuquerque ao governo do Estado do Maranhão, em Janeiro de 1616, foi nomeado Capitão de Entradas. Durante esta década, explorou os rios que desembocam na baía de São Marcos, por baixo de São Luís, o rio Mearim e o rio Pindaré. Seguindo os exemplos e processos dos bandeirantes, construiu o Forte da Vera Cruz do Itapecuru. A construção do Forte do Presépio e a fundação da cidade de Santa Maria de Belém, por Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616, seriam os pontos de apoio de que Pedro Teixeira e Bento Maciel Parente necessitavam para dar combate aos neerlandeses e ingleses invasores nos anos que se seguem. Bento Maciel Parente foi um dos eleitores das primeiras eleições para Câmara municipal de São Luís, em 1619, quando chegaram ao Maranhão os primeiros açorianos. Em julho de 1621, o rei de Portugal nomeou-o Capitão-Mor do Grão-Pará. Durante o seu governo, Bento Maciel fortificou o Forte do Presépio e ordenou investida contra os invasores holandeses, com objetivo de expulsá-los da colônia. Em maio 1623, junto com Luís Aranha de Vasconcelos, Aires de Souza Chichorro e Salvador de Melo, conquistou dos holandeses os pontos fortificados de Muturu e Mariocái, próximo á foz do rio Xingu, também chamado de Paranaíba, fundando no lugar do Forte de Mariocai, o Forte de Santo Antônio de Gurupá, fazendo dele a base de apoio para as suas arrancadas, expulsando nos anos seguintes os neerlandeses do Baixo Xingu e do rio Tapajós. A ação realizada no Forte de Mariocai foi um grande feito. Liderando cerca de 70 soldados e aproximadamente mil índios em canoas nativas, o Capitão-mor do Pará investiu contra os invasores holandeses, que não impediram o ataque luso-brasileiro à fortificação. Parente, buscando ludibriar a guarnição holandesa, manobrou rumo ao Forte de Orange, na parte leste do Baixo Xingu, provocando a debandada dos invasores fugindo rumo à selva. O desfecho português na derrota da força dos neerlandeses e aliados, foi alcançado no Forte de Nassau, 67 km acima do Xingu, uma vez que a fortaleza capitulou sem luta. Em 1625, Bento Maciel Parente, Capitão-mor do Pará, foi responsável pela criação do Escudo das Armas e da bandeira da cidade de Belém, com provimento de D. Luis de Souza. A idéia era colocar o escudo no Forte do Castelo, simbolizando a coragem, a tradição e o pioneirismo dos portugueses. O governador recebeu auxílio de Pedro Teixeira, Aires de Souza Chichorro e Francisco Baião de Abreu. Em 1630, a capitania de Pernambuco foi invadida pelos neerlandeses. Bento Maciel foi consultado, e, logo depois, enviado para a luta. Participou de várias fases da resistência. Em 1634, por seus feitos foi elevado a fidalgo, sendo que desde 1625 já recebera o hábito de cavaleiro de Santiago. Em 1636, com a morte de Francisco Coelho de Carvalho, governador do Estado do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha assumiu interinamente. Finalmente, em junho de 1637, Bento Maciel Parente foi nomeado para seu antigo sonho, governar o Maranhão. Durante o período em que governou o Estado, Bento Maciel continuou a repelir as várias incursões de ingleses e holandeses. Em 1637, em reconhecimento aos seus muitos serviços, obteve a mercê do foro de Cavaleiro do hábito de Cristo e a de perpétuo Senhor e a donataria da Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, por doação de Felipe III de Portugal, com a honrosa cláusula, de que todos seus herdeiros e sucessores na Capitania se chamariam Macieis Parentes. A doação foi registrada no livro Segundo da Provedoria do Pará. 52

Francisco Cordovil Camacho foi um administrador colonial português. Foi capitão-mor da capitania do GrãoPará, de 26 de maio de 1641 a 15 de setembro de 1642. http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Francisco_Cordovil_Camacho


Noticiada no Maranhão a ocupação do Ceará, pelos neerlandeses, Bento Maciel Parente enviou tropa ao Cabo Norte, pois entendiam que, por se localizar no extremo do Amazonas, estaria vulnerável tanto aos ataques de ingleses, franceses, holandeses e, mesmo, espanhóis que poderiam vir do Peru ou Equador por rio ou por mar. Obtendo a ciência e a evidencia da ameaça holandesa, o Governador criou uma estratégia para enfrentar os invasores com os recursos que possuía. Para fazer face ao inimigo, distribuiu três frentes de ataques: uma ficaria no Forte de São Felipe, outra estaria de prontidão na Praia Grande e a última foi mandada para confirmar no Araçagi os boatos dos nativos, que logo retornou com a noticia que se tratava de navios holandeses, de gente amiga e sabedor do Tratado de Trégua. Portanto o Governador do Maranhão não se preocupou com as naus, homens e armas holandesas. Em novembro de 1640, uma esquadra holandesa de 19 embarcações, mandada por Mauritz van Nassau-Siegen, que desde 1637 era governador-geral da Nova Holanda, com sede em Pernambuco, aproximou-se de São Luís. Como era do cotidiano de nações amigas, a esquadra holandesa fora acolhida com uma salva de canhões do Forte São Felipe. Os holandeses não corresponderam às boas vindas, o que ocasionou a advertência, sendo realizados novos disparos reais contra a frota. Os batavos voltaram e prosseguiram para o sul da cidade, ancorando onde hoje é conhecido como portinho. No encontro dos holandeses e luso-brasileiros, o comandante da frota, Joan Cornellizon Lichthart, ratificou o Tratado de Trégua, lavrando um entendimento em "Termo", pelo qual o governador poderia continuar no seu cargo. Solicitou, ainda, um local da ilha para que sua tropa pudesse acampar até vir de Portugal a decisão definitiva do Tratado. Contudo, o batavo não cumpriu sua parte do acordo, saqueando e ocupando a cidade. O ―Termo‖ de entendimento antes assinado pelos respectivos representantes das nações foi substituído por um novo denominado de Capitulação. Houve a substituição das bandeiras e no mastro passou a tremular a bandeira da Companhia das Índias Ocidentais. Os holandeses intimidaram os poucos habitantes que não fugiram a prestar juramento de fidelidade aos Estados Gerais das Províncias Unidas ao mesmo tempo em que embarcavam todas as tropas portuguesas para serem repatriadas para Portugal. O Governador Bento Maciel Parente foi feito prisioneiro e mandado por Nassau para a Fortaleza dos Reis Magos. Mas faleceu a caminho, em fevereiro de 1642. Os holandeses ocuparam o Maranhão, não passando ao Grão-Pará. Dez meses depois, Antônio Muniz Barreiros a partir do Itapicuru, com reforços de Pedro Maciel Parente, Capitão-mor do Grão-Pará, e de seu irmão João Velho do Vale, comandaram um levante contra os invasores. Durante algum tempo ainda resistiram os holandeses, até que, em fevereiro de 1644, partiram, deixando a cidade em destroços. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_Maciel_Parente

um

navio holandês, comandado por Jacques Vandiquier, e em que viajava Pedro Maciel, fundeou no lugar Mosqueiro (Pará). Cristóbal de Acuña (século XVII), padre jesuíta espanhol, escreveu, a obra intitulada "Nuevo Descubrimento Del Gran Río de Las Amazonas" que fornece detalhes preciosos sobre a viagem de Pedro Teixeira ao rio Amazonas. A obra teve a sua primeira edição publicada em Madrid, pela Imprensa del Reyno. 1642 Os colonos, insatisfeitos com a presença holandesa, começaram movimentos para a expulsão dos holandeses do Maranhão, sendo o primeiro movimento contra a dominação holandesa. As lutas só acabaram em 1644 e nelas se destaca Antônio Teixeira de Melo como um dos líderes do movimento. Deve-se aos holandeses a primeira vista panorâmica de São Luís, desenhada pelo pincel de Franz Post e a primeira planta que dela se conhece. Nesta, a vila se mostra repartida em três setores distintos. A cidadela, cujos muros cingiam o núcleo original francês; o setor urbano em que terá sido obedecida a traça de Frias de Mesquita, estendido da cidadela para o sul, até o Desterro, marginando o Bacanga ao longo da chamada Praia Grande; e o setor suburbano que já começara a crescer para o interior da ilha, rumo ao nascente, por trás da antiga colina de Santa Bárbara, onde desde 1627 se construíra o chamado Convento do Carmo novo.


Dez meses já durava o domínio holandês quando o Padre Lopo do Couto começa a instigar os moradores à revolta; os insurgentes têm como comandante o sobrinho do padre, Antonio Muniz Barreiros, que já fora capitão-mor do Maranhão no período de 1622 a 1625, e era dono de dois dos engenhos ocupados. Antonio Muniz Barreiros, que já fora capitão-mor do Maranhão no período de 1622 a 1625, voltando a governar de 1642 a 1643, quando faleceu. Em 1622 já havia construído no Itapecuru os primeiros engenhos de açúcar no Maranhão. Além dos padres Lopo de Couto e Benedito Amodei, Antonio Muniz, Teixeira de Melo, Paulo Soares de Avelar e os chefes indígenas, entre os quais Joaçaba Mitagai foram os autores da revolta que resultaria na expulsão dos batavos. (Lima, 2006, p. 285-299). ANTÔNIO MUNIZ BARREIROS - Militar e senhor de engenho, nasceu em Olinda, em fins do Século XVI, filho de um português de mesmo nome. Em 1622 (20 de abril), chegou ao Maranhão, onde foi governador e fundou os dois primeiros engenhos de açúcar daquela região. A 03 de setembro de 1625, passou o governo da capitania e permaneceu no Maranhão, cuidando dos seus engenhos. Foi um dos mais célebres comandantes de tropas que lutaram contra a Invasão Holandesa ao Maranhão. Morreu em combate, em São Luís, a 16 de janeiro de 1643. http://www.peaz.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1025&Itemid=135

30 de Setembro – o primeiro golpe deveu-se a 50 homens que acometeram os engenhos do Itapecuru, até o ultimo dos cinco – dois de Muniz Barreiros, dois de dois filhos de Bento Maciel e um de Antonio Teixeira de Melo. 1º de outubro - Guiados por dois holandeses, atacaram o forte do Calvário, matando os que estavam nele. O Forte da Vera Cruz do Itapecuru, também conhecido como Forte do Calvário, localizava-se na margem esquerda da foz do rio Itapecuru, antiga Calvário do Itapecuru, hoje município de Rosário. MARQUES (1970) refere uma disputa política como pano de fundo para a fundação deste forte, apoiado em BERREDO ("Anais Históricos"), que refere a chegada de Bento Maciel Parente à cidade de Belém do Pará, e "ardendo nos desejos de ocupar o governo da Capitania, intentou lograr as suas esperanças pelos meios ilícitos das alterações do sossego público; mas o Capitãomor Pedro Teixeira, que era tão valoroso como acautelado, desenganou de sorte as suas pretensões, que se recolheu logo ao Maranhão, onde fundou um forte no rio Itapicuru". Completa a informação referindo que o forte foi erguido em 1620, para defesa contra os ataques indígenas, que embaraçavam o cultivo da cana-de-açúcar (op. cit., p. 284). No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654), este forte foi ocupado quando da conquista neerlandesa de São Luís (25 de novembro de 1641). As versões para o fato são diferentes:http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_da_Vera_Cruz_do_Itapecuru


Pedro Teixeira (Cantanhede, 1570 ou 1587 — Belém, 4 de Julho de 1641) foi um explorador, sertanista e militar português. Pouco se conhece sobre a sua família ou os seus primeiros anos de vida. No contexto da Dinastia Filipina participou com Jerônimo de Albuquerque, na campanha para expulsar os franceses de São Luís do Maranhão, no litoral nordeste do Brasil. Após a expulsão destes, em fins de 1615, a Coroa Portuguesa determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região. Uma expedição de três embarcações, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, foi enviada, nela seguindo o então alferes Pedro Teixeira. A 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancoraram na baía de Guajará onde, numa ponta de terra, foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém do Pará. Em 1625 lutou contra os neerlandeses que estavam em um forte no rio Xingu e os ingleses ao longo da margem esquerda do rio Amazonas. Em 1626 subiu o rio Tapajós atrás dos Tupinambás para o comércio de escravos. Em 1627, frei Vicente do Salvador, na sua obra "Historia do Brazil", destacou a sua atuação. Em 25 de Julho de 1637, chefiou uma expedição partindo do Maranhão, com 45 canoas, setenta soldados e mil e duzentos flecheiros e remadores indígenas subindo o curso do rio Amazonas, buscando confirmar a comunicação entre o oceano Atlântico e o Peru, rota percorrida no século anterior por Francisco de Orellana. Seu destino final foi Quito, no Equador. Fundou Franciscana na confluência do rio Napo com o Aguarico, no alto sertão, para delimitar as terras de Portugal e Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas. A viagem foi registrada pelo jesuíta Cristóbal de Acuña em obra editada em 1641. Como reconhecimento por sua extensa lista de serviços prestados na conquista da Amazônia brasileira, foi agraciado com o cargo de capitão-mor da Capitania do Grão-Pará. Tomou posse em fevereiro de 1640, mas a sua gestão foi curta, tendo durado apenas até Maio de 1641, vindo a falecer em Julho desse mesmo ano.

21 de novembro no Outeiro da Cruz o capitão escocês Sandalin perdeu a vida a frente de 120 holandeses, derrotados pelas forças de Teixeira de Melo. Peter Bas, cercado no forte de São Felipe, ainda tentou impedir a vinda de reforços aos portugueses, enviando para o Pará uma cópia da trégua assianda entre Portugal e Holanda, no ano anterior. 1643 – janeiro – a 02, chegam do Pará Pedro Maciel com 113 soldados (130, dee acordo com Lima) e 700 indios para reforço de Antonio Muniz; e de Pernambuco, em 15, Koin Anderson com 770 soldados e copioso numero de silvicolas, sob o comando de Gedeon Morris, para os holandeses. Rompem o cerco, obrigando os portugueses a voltarem para suas posições no Carmo. Os combates não foram favoráveis aos portugueses; Muniz Barreiros morre – segundo alguns, de doença (Bettendorf), perigosa enfermidade (Berredo) e não morto na luta, em consequencia de uma flexada, conforme afirmam alguns. Estabeleceu-se um impasse, com essas escaramuças, entre o forte e a colina do Carmo; Teixeira de Melo resolve deixar a área, voltando para o Cutim, fora da cidade, onde se ocultou. 17 de janeiro ANTONIO TEIXEIRA DE MELO assume o governo da Capitania do Maranhão, até 17 de junho de 1646 25 de janeiro – Teixeira de Melo, faltando munição, resolve levantar acampamento, e retira-se para o Outeiro da Cruz. 25 de março Convite do comandante holandes aos portugueses de Tapuitapera para que voltassem a São Luis sob promessa em carta assianda por Mauricio de Nassau de governa-los sem dependencia alguma, oferecendo o governo a Teixeira de Melo. Pedro de Albuquerque 53, novo governador da Capitania chega de Portugal (13 de junho) trazendo socorro a Antonio Teixeira, supondo-o em Cumã e para lá se dirigiu, naufragando antes de chegar a Belém; foi acudido por Pedro da Costa Favela, salvando-se o governador e sua família, o sargento-mor Francisco Coelho 53

PEDRO DE ALBUQUERQUE brasileiro, natural de Pernambuco, fidalfo da casa real e cavaleiro do Habito de Cristo; nomeado governador do Maranhão por carta patente de 1642, por D. João IV; tomou posse no Pará em 13 de julho de 1643. Em Pernambuco havia se destacado na guerra contra os holandeses.


de Carvalho, frei Pedro de madalena, com outros dois missionários, tres jesuítas dos 14 que vinham a bordo e 40 dos 200 soldados que trazia. Os demais morreram, inclusive o padre Luis Figueira, que vinha como superior da Companhia de Jesus; foram devorados pelos Aruanãs, da Ilha de Joanes (Marajó), conforme informa Meireles, 1960, p. 92. Governa o Estado do Maranhão até 6 de feveiro de 1644, quando faleceu; está sepultado na capela-mor da Igreja do Carmo.. É em seu governo que Inacio do Rego Raposo, ex-provedor mor escreveu ao Rei sobre a existencia de minas de ouro e outros metais no Rio das Amazonas. 28 de maio – chega a Tapuitapera um esquadra de oito belonaves holandesas, cujo comandante pede para parlamentar com teixeira de Melo, dizendo trazer ordens de Pernambuco para po-lo no governo do Maranhão, se quisesse com eles colaborar. Diante da recusa, a esquadra recolheu-se a São Luis 13 de junho – ouve-se o disparo de um canhão na banda do mar, de navio que trazia o novo governador do estado, Pedro de Albuquerque; como não houve resposta, dirigiu-se para Belém, onde naufraga. 1643/1644 barcos pertencentes à Companhia das Índias Ocidentais Holandesa (Westindische Compagnie, ou WIC) que partiam de São Luís do Maranhão em direção à Recife, começaram a ser atacados no litoral do Ceará, onde comumente os barcos que faziam esse trajeto paravam para se reabastecer de comida e água. Além da notícia da derrota das forças da WIC pelos colonos luso-brasileiros no Maranhão, esses barcos traziam outra notícia, igualmente perturbadora: os índios do Ceará haviam massacrado a guarnição neerlandesa daquela capitania e encontrava-se em revolta aberta contra a WIC. A notícia causou certo mal-estar no Conselho Supremo que governava o Brasil Holandês, que imediatamente começou a procurar explicações e bodes expiatórios para aquele fracasso da política indigenista da Companhia 54. 1644 Os holandeses são expulsos de São Luís por Antônio Teixeira de Melo (28/02), que sucedera, por morte, a Antônio Muniz Barreiros no comando da resistência contra os invasores. Quando da contra-ofensiva portuguesa de 1644 na capitania de Pernambuco, Antônio Muniz Barreiros, reforçado por tropas de Antônio Teixeira de Melo, atacou o Forte de São Luís do Maranhão (Fevereiro de 1644), mas foi rechaçado, vindo a perecer. Teixeira de Melo recuou e tomou o Forte do Calvário (1 de Outubro de 1644), que se encontrava guarnecido por um destacamento de setenta homens, artilhado com oito peças. Após a conquista, essa artilharia foi retirada para tomar parte na reconquista de São Luís (GARRIDO, 1940:38-39). Teixeira de Melo prosseguiu fazendo uma campanha de emboscadas, até que, fortalecido, marchou sobre São Luís, conquistando-a, e expulsando os neerlandeses. Antonio de Deus, do Pará, chegou em auxilio dos portugueses, logo após a retirada de Pedro Maciel e João Velho para Tapuitapera, seguindo para o Pará; os portugueses voltam à Ilha obrigando os holandeses a ficarem retidos na cidade e fortaleza, até que se tornou insustentável a situação, apesar dos reforços trazidos em oito navios; os invasores fugiram no dia 28 de fevereiro de 1644 em três navios, após 27 meses de ocupação, deixando a cidade em lastimável estado de ruína. Foram expulsos com os próprios recursos dos colonos a quem a metrópole abandonou de todo, ou ajudou frouxamente.

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MARTINS, Guilherme Saraiva A revolta indígena de 1643-44 no Ceará: Alianças e conflitos no Brasil Holandês. Trabalho Apresentado no XXV Simpósio Nacional de História, Simpósio Temático 36: Os Índios na História, 13-17 de julho de 2009. http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Guilherme.pdf


Quando Gideon Morris e sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, são mortos numa emboscada organizada pelos próprios índios. Com a emboscada, o Fortim de São Sebastião55 também foi destruído. 14 de maio – o Conselho Ultramarino consultou o Rei sobre a inconveniência de irlandeses irem povoar o Maranhão; assunto voltou a baila em 14 de outubro de 1647, com o pedido de suspensão da ordem dada ao capitão Guilherme Brum, com o mesmo fim.

O Fortim de São Sebastião localizava-se na margem direita da foz do rio Ceará (atual bairro de Barra do Ceará em Fortaleza), no litoral do estado brasileiro do Ceará.

Pormenor do mapa da costa do Ceará de 1629 (Albernaz I), no qual se destaca o forte

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortim_de_S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o

1646-1648 Governo de Francisco Coelho de Carvalho, o Sardo; para diferencia-lo do tio, primeiro Governador do Maranhão; era filho bastardo de Antonio Albuquerque Coelho de Carvalho; veio para o Maranhão como sargento-mor do Pará, de onde passando ao Maranhão reecebeu o governo do Senado da Camara de São Luis em 17 de junho; serviu no Brasil por 24 anos. Faleceu em 15 de fevereiro de 1648 Governava a capitania do Pará (que, com a do Maranhão, compunha o Estado) o capitão-mor Sebastião de Lucena de Azevedo, que expulsou os holandeses de Bandergus do sítio de Maricari, próximo à foz do rio Amazonas. 55

Devido a necessidades da reconquista do Maranhão, Martim Soares Moreno veio ao Ceará. No mesmo local que Pero Coelho construiu o Fortim de São Tiago, este ergueu, a 20 de janeiro de 1612, o Fortim de São Sebastião. Em 1613, Jerônimo de Albuquerque visitou este fortim e convidou Soares Moreno a participar da expedição contra os franceses no Maranhão. De volta ao Ceará em 1621, Martins Soares Moreno encontrou o forte em ruínas, mas reconstruiu-o tratando de apaziguar os indígenas, distribuiu sementes, mudas de cana-de-açúcar e gado, procurando lançar as bases da prosperidade da Capitania. Este Permaneceu na terra ate 1631, quando teve de mudar-se para Pernambuco lutar contra os holandeses. No comando do fortim ficaram no comando Domingos da Veiga Cabral e Bartolomeu de Brito Freire. Em 26 de outubro de 1637, em estado precaríssimo, o fortim foi tomado pela expedição de George Gartsman e Henderick Huss, ficando sua guarda sob a responsabilidade do tenente Van Hans, posteriormente substituído por Gedeon Morris. Deste período exite um mapa holandês de 1640, no qual é mostrado a planta do forte, caminhos e a natureza ao redor. Em 1644, foi o forte assaltado e destruído por índios revoltados. Nesta revolta Gedeon Morris e sua tropa são mortos. Quando os holandeses estiveram no Ceará, estes fizeram mapas que mostra como era o forte e as construções ao redor deste. Já no mapa de 1649, esta descrito os nomes dos riachos Igcatu e Piraocai que desaguam no rio Ceará, bem como nomes alguns moradores, como o Velho Carajá e Francisco Aragiba, que tinham suas habitações próximo ao forte. http://pt.wikipedia.org/wiki/Barra_do_Cear%C3%A1


1648-1649 – Governo de Manuel Pita da Veiga 1648 A população de São Luís, que o capitão holandês Gedeon Morris, estimara em 700 habitantes, reduzira-se a 480, que viviam em casas rústicas, cobertas de palha a maior parte. 15 de fevereiro –Falecimento do governador Francisco Coelho de Carvalho Sentindo-se à morte, e para prevenir perturbações à administração do Estado, determinou o governador que, ficando as duas capitanias independentes, seriam, provisoriamente, governadas por Aires de Souza Chichorro, a do Pará, e Manuel Pita daVeiga, a do Maranhão. 22 de dezembro - No governo despótico e arbitrário de Pita da Veiga, foi a aldeiade Tapuitapera, cabeça da capitania de Cumã, elevada à categoria de vila, com o nome de Alcântara, homenagem de seu Donatário ao ilustre taumaturgo Santo Antônio de Lisboa e Pádua, e às boas lembranças que tinha de sua quinta real, nos arredores de Lisboa TAPUITAPERA - Não se pode precisar a fundação de Alcântara, mas o certo é que em 1612 já havia um aglomerado de aldeias das quais ela fazia parte com o nome significativo de Tapuitapera (terra dos índios). Com a vinda da expedição de Daniel de La Touche, senhor de La Lavadière, e a constante infiltração de franceses nas tribos indígenas, estabeleceram-se relações amistosas com aqueles. Pouco depois, batizava-se o primeiro alcantarense com o nome de Martinho Francisco. Em sua taba, ergueu-se uma capela, e conta-se ter sido celebrada aí a primeira missa em terras de Alcântara. Após a expulsão dos franceses, firmou-se o domínio português, mas a importância da aldeia não foi diminuída. Entre 1616 e 1618, começou a colonização portuguesa em Tapuitapera, com um pequeno presídio que os índios destruíram mais tarde. Com a subdivisão das capitanias do Maranhão e do Grão-Pará, Tapuitapera passou à condição de cabeça da capitania de Cumã, doada pelo 1.° Governador do Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho, ao seu irmão Antônio Coelho de Carvalho. a 19 de março de 1624. Entretanto, não parece ter o donatário dado rápido desenvolvimento à capitania, pois em 1641, ao tempo da invasão holandesa. foi ela abandonada após breve período de ocupação. O progresso da aldeia só foi observado em 1648, quando elevada à categoria de vila, com o nome de Alcântara, sob a invocação do apóstolo São Matias. A essa época já existia uma igreja de pedra e cal dedicada a São Bartolomeu, e já estavam erguidos os primeiros engenhos de açúcar. http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/maranhao/alcantara.pdf

1649-1652 Governo de Luís de Magalhães – assumiu em 17 de fevereiro de 1649; fidalgo da casa real e comendador de Santiago da Cunha, famoso soldado e ex-governador de Cacheu. 23 de abril – consulta do Conselho Ulttramarino que noticia a D. João IV a chegada ao Maranhão dos casais enviados por Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho das ilhas açorianas de Santa Maria e São Miguel 24 de agosto - Assumindo o governo (17 de fevereiro), Luís de Magalhães ordenou ao capitãomordo Grão-Pará, Inácio do Rego Barreto, que fizesse partir de Belém uma expedição àprocura do famoso El-Dorado, fantástica região do rio do ouro ou do lago dourado, que ensandecia portugueses e espanhóis. 28 de agosto - Num engenho de Antônio Muniz Barreiros, entregue por doze anos ao usufruto dos inacianos, ocorreu o massacre pelos índios tapuia uruati de três membros da Companhia: Padre Francisco Pires, Padre Manoel Moniz e o Irmão Gaspar Fernandes (SERAFIM LEITE, 1950). Tal acontecimento interrompeu a atividade dos jesuítas no Itapecuru e em todo o Estado, somente reiniciado com a chegada do Pe. Antônio Vieira. Daí em diante os Jesuítas cresceram na sua missão de defesa do índio e alheios ao negro escravizado. 1650 Março – carta do ouvidor-geral do Maranhão, Antonio Figueira Durão, para o Conselho Ultramarino remetendo copia do auto de posse que o capitão Pedro Teixeira tomou do rio do Ouro e confins do Maranhão vis-a-vis às Índias de Castela 1651 Chega à fortaleza de Santo Antônio do Gurupá (Pará) a bandeira do mestre-decampo Antônio Raposo, vinda de São Paulo.


Antonio Raposo Tavares, dito o Velho (São Miguel do Pinheiro, concelho de Mértola e distrito de Beja 1598 — São Paulo, 1659?) foi um português, possívelmente de origem em parte judaicoportuguesa, bandeirante paulista, que expandiu as fronteiras brasileiras às custas dos domínios espanhóis. Muito serviu a D. Francisco de Sousa, e por isso foi por ele armado cavaleiro da Casa Real, no alvará de 20 de maio de 1601 por seus serviços. Teve diversos cargos na vila de São Paulo e foi ativo sertanista. Chegou ao Brasil em 1618 com o pai, Fernão Vieira Tavares, antigo partidário de António Prior do Crato, tesoureiro da Bula da Cruzada e moço da câmara do Rei, designado capitão-mor governador da capitania de São Vicente em 1622. A mãe era Francisca Pinheiro da Costa Bravo. António Raposo, aliás, nunca perderia contacto com os interesses da Coroa. Morto o pai (1622), transferiu-se para o planalto de Piratininga, fixando-se na vila de São Paulo, onde logo se entusiasmou em participar nas expedições destinadas a aprisionar índios. Estivera em Portugal em 1647, sendo "encarregado de uma missão em grande parte secreta". A sua última expedição foi chamada a Bandeira de Limites ou a grande bandeira aos "serranos", os limites do Peru: "Embrenhou-se com algumas dezenas de homens no território mato-grossense, atingindo, pelo Madeira, o Amazonas, remontado até às terras de Quito e depois descido até Belém do Pará." (Ensaios Paulistanos, p. 634.) Considerada a primeira viagem em torno do território brasileiro, partiu em maio de 1648 do porto de Pirapitingui, em São Paulo, descendo o rio Tietê rumo aos sertões do baixo Mato Grosso. Contava com brancos, mamelucos e mais de mil índios. Um de seus principais auxiliares foi Antônio Pereira de Azevedo, baiano. Oficialmente destinava-se à busca de minas, sobretudo as de prata. Afirma Jaime Cortesão em seu livro "Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil" que a parte oficial era descobrir metais preciosos, mas a outra parte, secreta, seria conhecer melhor o Brasil para identificar os interesses de Portugal na região. Em novembro de 1648 Antônio Raposo ordenou decisivo ataque a destruição das reduções do Itatim, combatendo 200 paulistas e mil índios mansos, e seu auxiliar ainda foi o velho, sexagenário, Capitão André Fernandes (que morreria no início da ação, em 1649, em local tão oposto ao sertão do Sabaraboçu onde sempre desejara e prometera ir). Ficaram destruídas as reduções jesuítas da serra de Maracaju e Terecañi, e depois Bolaños, Xerez e outras. O ataque produziu êxodo, mas partiu de Assunção um exército tão grande que os paulistas resolveram abandonar a província. A bandeira se dividiu em duas companhias. Na companhia comandada por Raposo, era alferes Manuel de Souza da Silva. A outra era chefiada pelo baiano Antônio Pereira de Azevedo. Iniciou assim em 1648 a famosa volta que duraria até 1651, subindo o rio Paraguai, descendo o rio Mamoré e o rio Amazonas. Teria subido pelo rio Itatim e pelo rio Paraguai até a nascente, internando-se de tal modo que se encontrou com os castelhanos no Peru, depois desceu em jangadas o rio Guaporé, o rio Mamoré e o rio Madeira, entrando no Amazonas. Deteve-se na fortaleza de Gurupá, no Pará. André Fernandes pereceu no sertão com toda sua tropa, da qual apenas dois índios retornariam a São Paulo. A expedição percorreu mais de 10.000 quilômetros em três anos, tendo usado o curso do rio Paraguai, do rio Grande, do rio Mamoré, do rio Madeira e do rio Amazonas. Ao chegar à foz do Amazonas, em Gurupá, no Pará, a tropa estava reduzida a 59 brancos e alguns índios. Da cidade de Belém do Pará, os sobreviventes à épica travessia da floresta Amazônica, retornaram a São Paulo, aonde o bandeirante viria a falecer. Poucos registros históricos ainda mencionam Raposo Tavares depois de sua última expedição. A maioria dos historiadores supõe que ele morreu entre 1658 e 1659. http://pt.wikipedia.org/wiki/Raposo_Tavares

1652 25 de fevereiro por Carta Régia, extinção do Estado do Maranhão Pela carta régia desta data é extinto do Estado do Maranhão e criadas as capitaniasindependentes do Grão-Pará e de São Luís. Vê-se, pois, como eram contraditórias as ordensdo Reino, ora reunindo as capitanias sob um só governo, ora tornando-as independentes e autônomas. CAPITANIA DO MARANHÃO 1652/1655 17 de novembro Assume o governo de São Luís o capitão-mor Baltazar de Souza Pereira, e logo resolve fazer executar a ordem que trazia de por em liberdade todos e quaisquer índios que até então fossem escravos, contando para isso com o apoio do padre Antônio Vieira. Amotinou-se o povo, instigado pelo camarista Jorge de São Paio; o governador pôs a tropa nas ruas e, afinal, por intercessão dos jesuítas, ficou acordado mandar-se à Lisboa procuradores para tratar do assunto, junto à Coroa.


BALTASAR DE SOUSA PEREIRA era cavaleiro processo da ordem de Cristo, e se havia distinguido nas guerras contra os castelhanos. Recebeu o gobverno das mãos de seu antecessor, Luis de Magalhães.

1653 17 de janeiro – Chega ao Maranhão o Padre Antônio Vieira. PADRE ANTÔNIO VIEIRA (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador (Bahia), 18 de julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente exigem sua leitura. Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta. Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios. Diz o Padre Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes". "Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!" 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís, no estado do Maranhão, o padre António Vieira partiu para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, carregado de açúcar, o religioso chegou finalmente ao destino, em novembro de 1654. 1655 Antes de retornar às missões do Estado do Maranhão, em Abril, prega na Capela Real, em Lisboa, durante a Quaresma: abre com o "Sermão da Sexagésima" e fecha com o "Sermão do Bom Ladrão". 1657 Prega o "Sermão do Espírito Santo", no Maranhão. 1659 Visita cinco aldeias da etnia Nheengaíba. No regresso a Belém do Pará, encontrando-se doente em Cametá, redige o seu primeiro tratado futurológico "Esperanças de Portugal, V Império do Mundo". 1661 Em resultado do seu combate à escravidão dos índios, Vieira e os seus companheiros jesuítas são expulsos do Estado do Maranhão e embarcados para Lisboa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira

17 de outubro – Determinou o Rei que as Câmaras de Belém e de São Luís, com a assistência do desembargador João Cabral de Barros, examinassem caso a caso para apurar a legalidade do cativeiro, reconhecido como resultado de justa guerra, o que, na prática, redundou na escravização em geral, com a autorização das entradas de resgate Fundação da Irmandade da Misericórdia, por iniciativa do Pe. Vieira, início daconstrução do Hospital. No rio Pindaré a catequese jesuítica foi iniciada entre os índios Guajajaras, pelos inacianos Francisco Veloso e José Soares. Foi na aldeia Seregipe ―ou melhor‖ Sirigipe, a antiga Sirigi do tempo dos franceses, por volta de 1661, que se estabeleceu a primeira missão jesuítica na capitania do Cumã, da qual se tem notícias. 1654 Junho – O padre Vieira prega em São Luís o célebre Sermão de SantoAntônio, conhecido como o ―Sermão aos Peixes‖, no qual faz severas críticas aoshabitantes gananciosos, como neste trecho, referindo-se naturalmente à Praia Grande:― Vêdes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele subir e descer as calçadas, vêdes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de


comer, como se hão de comer ‖, e acrescenta, falando aos peixes, mas dirigindo-se aos homens: ―Não só vos comeis uns aos outros,senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastará um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. ‖ Vieira parte para Lisboa, retpornando dez meses depois (16/05/1665) com a Provisão de 09/04/1655, só permitindo a escravisação em caso de guerra por impedimento da pregação do Evangelho, restabelecendo o governo espirtual dos jesuítas Os freis Marcos da Natividade e João da Silveira fundam o primeiro Convento das Mercês, desaparecido. 25 de agosto – Pela Resolução Régia desta data são as duas capitanias reunidas outra vez e restaurado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, passando o Piauí a pertencer à Bahia. O padre Vieira, consultado, respondeu ao Rei: ―Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificuldades serão de achar dois homens de bem, que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos, para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam, um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores, em que se repartiu este governo. Baltazar de Souza não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a necessidade, se a cobiça.‖ O Piauí passa para a jurisdição da Bahia, onde fica ligado até 3 de março de 1701, quando voltou ao Maranhão – regulamentada pela carta Regia de 11 de janeiro de 1715. É nomeado André Vidal de Negreiros para Governador; Fidalgo da Casa Real e Comendador de São Pedro do Sul, Alcaide-mor das Vilas de Marialva e Moreira. Assumiu suas funções em 11 de maio de 1655

Retrato anônimo de André Vidal de Negreiros. Século XVII, Museu do Estado de Pernambuco. André Vidal de Negreiros (Capitania da Paraíba, 1606 — Goiana, 3 de fevereiro de 1680) foi um militar e governador colonial português nascido na então colónia do Brasil. Filho de Francisco Vidal, nascido em Santa Rita e falecido em Paraíba, e de sua mulher Catarina Ferreira, nascida em Porto Santo.No contexto das invasões holandesas do Brasil (1624-1654) lutou contra os holandeses quando da invasão de Salvador na Bahia (1624), voltando a se envolver no conflito participando de todas as fases da Insurreição Pernambucana (1645-1654), quando mobilizou tropas e meios nos sertões nordestinos. Um dos melhores soldados de seu tempo, tomou parte com grande bravura em quase todos os combates contra os holandeses. Foi nomeado Mestre-deCampo, notabilizando-se no comando de um dos Terços do Exército Patriota, nas duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649. Comandou o sítio de Recife que resultou na capitulação holandesa no ano de 1654. Encarregado de levar ao rei D. João IV (1640-1656), a notícia da expulsão dos holandeses, foi condecorado pelo soberano. Por seus feitos foi sucessivamente nomeado Governador e Capitão-Geral da Capitania do Maranhão (1655-1656), da Capitania de Pernambuco (1657-1661), de Angola (1661-1666), e, novamente, de Pernambuco (1667).O


historiador Veríssimo Serrão, complementa:"Dirigiu as operações de guerra até 1654, sendo, na opinião de Varnhagen, o grande artífice da expulsão dos holandeses. A Coroa utilizou depois deu valimento como governador das Capitanias do Maranhão (1656-1666) e de Pernambuco (16571661 e 1667), mandando-o também governar o Estado de Angola (1661-1666). Embora o considere um valente cabo-de-guerra, Charles R. Boxer limita o papel de Negreiros na chefia do movimento, por considerar que foi João Fernandes Vieira o principal herói da reconquista de Pernambuco." (in: História de Portugal (v. V), p. 114). http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Vidal_de_Negreiros

1655 24 de março Inácio Barreto morre subitamente, sem tempo para designr seu substituto, assumindo o governo do Grão-Pará o sargento-mor Pedro Correia, que morre dois meses depois, sendo entregues as chaves da fortelza ao capitão de infantaria Domingos Machado. 11 de maio André Vidal de Negreiros; Assumindo o governo, faz André Vidal construir os fortins de Mosqueiro (Belém) e da ilha de Tatuoca, e uma atalaia em Salinas; prossegue visitando sua jurisdição, passando a capitania de Joanes, regressando a Belém em Dezembro; Designa Feliciano Correa para suceder a Luis Pimenta de Morais como capitão-mor do Grão-Pará; Construção do definitivo Convento das Mercês. 16 de maio - Chega a São Luís, vindo de Portugal, o padre Vieira, trazendo nova Provisão Régia, datada de 9 de abril – em substituição daquela de 17/10/1753, que, modificando-a restringindo vantagens dos colonos, foi posta em execução sem grandes problemas. Manda o governador os capitães Agostinho Correa e Pedro da Costa Favelaguerrear os índios aruã que, anos antes, haviam devorado os náufragos da expedição de Pedro de Albuquerque; essa expedição é chefiada por Agostinho Correa e Pedro da Costa Favela; tinham a incumbência de levara apaz com os iguaibas. No Ceará o capitão-mor Alvaro de Azevedo enfrentava temerosa rebelião, sendo despachados os jesuítas Antonio Ribeiro e Pedro Pedrosa, que entraram em acordo com o famosos Amaniú, que trazia em sobressalto toda a região do Camocim56. 56

A área na qual Camocim localiza-se é um território de uma rica história de intercâmbio e conflítos entre os povos indígenas nativos - tais como os Tremembé, Tabajara, Jurema, Jenipaboaçu, Cambida e europeus - franceses, holandeses, ingleses e portugueses. Os franceses já negociavam, o chamado escambo, com os povos nativos dessa região antes mesmos das primeiras expedições portuguesas. A Capitania Hereditária do Maranhão, por sua extensão litorânea do Paraíba ao Gurupi, está compreendido nas duas mais setentrionais, dentre elas: a de Fernão Alvares de Andrade, com 70 léguas de costa contadas da foz do Mundau (Camocim) aos Mangues Verdes (Golfão Maranhense) e uma segunda, de João de Barros, com 50 léguas, dos Mangues Verdes à foz do Gurupi. Os portugueses chegaram nestas bandas, a partir da segunda metade do Século XVI, com diversos intuítos: um reconhecimento completo da região a partir de Tutóia 56 no Maranhão aos limites finais entre Ceará e Rio Grande do Norte ou como base de apoio para a ocupação do litoral, bem como base de apoio para confrontos militares com os franceses que ocupavam o Maranhão. Deste momento histórico existem várias cartas topográficas datadas dos séculos XVII, que já descrevem a barra do rio Camorim, que foi catografada com o nome de Rio da Cruz. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Integravam a expedição Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda, à frente de oitenta e seis europeus e duzentos indígenas. Em obediência ao Regimento, iniciou, na foz do rio Jaguaripe, uma fortificação em 10 de agosto de 1603, antes de prosseguir para combater os franceses de Jacques Riffault na Ibiapaba (BARRETTO, 1958, p.82-83). Como se vê, em 1604, Pero Coelho de Souza, passou nestas bandas com rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e


Mapa do costa do Ceará em 1629 20 de julho as Câmaras do Maranhão e Pará receberam a Provisão Régia na qual a Coroa, em reconhecimento à reconquista do Estado aos holandeses, concedeu aos maranhenses os privilégios de infanção57, o mesmo de que gozavam os cidadãos do Porto, muito embora o padre Vieira achasse que o território não tivesse valido a pena o custo e o esforço da retomada. contas o franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barreto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654), um reduto de campanha neerlandês defendia o porto do Pote (atual Camocim), remontando, provavelmente, a 1641 quando o governador neerlandês da capitania do Ceará, Gedean Morris, viajou pelo norte da capitania a título de exploração. Sua pequena guarnição foi trucidada por indígenas, liderados pelo chefe Ticuna, a 28 de fevereiro de 1644. Comunicadas do feito pelos próprios indígenas, o reduto foi ocupado por forças portuguesas do Maranhão, por ordem de Antônio Teixeira de Melo (1644). O chefe Ticuna seria recompensado mais tarde, pela Coroa portuguesa, por serviços prestados (1659). Depois da segunda metade do século XVII, depois da saídas dos neerlandeses do Brasil, os jesuítas tinham o Camocim como porto e porta de entrada para a Ibiapaba. Dessa época surgiu ainda por parte dos portugueses o projeto de construir o Forte em Camocim com a intenção de proteger os assentamentos portugueses dos ataques dos índios e impedir que outros povos europeus fizessem escambo com os nativos indígenas, porém este projeto não foi adiante. A região do Camocim era o centro de apoio para as ações militares e religiosas por parte dos portugueses. Barreto (1958) complementa que, em 1656, o governador da capitania do Maranhão, André Vidal de Negreiros (1606-1680), a quem a Capitania do Ceará se subordinava, ordenou guarnecer o Camocim com vinte e cinco homens e um ajudante, artilhando-o com quatro peças de 6 libras, com a mesma função do Fortim de Jericoacoara: apoiar e proteger as comunicações por terra do Ceará com o Maranhão. Em 1687, nada mais restava da estrutura (op. cit., p. 92-93). Garrido (1940)56 acredita que o Forte de Camocim tenha sido levantado em 1659 para desaparecer em 1696. SOUZA (1885)56 refere que existiam vestígios de seus muros, à época (1885), no local. A Barra do Camocim como núcleo urbano vai consolida-se com a traferêcia da Missão de Tabainha. Um empreendimento do padre Ascenço Gago, com o intuíto de aldear os Tremembé e outra etnias. A partir de 1792, chegam a Barra do Camocim, famílias oriundas de Tutoia, as quais inplementaram a agricultura e pecuária na região. Em 1868, foi criado o distrito policial e desta forma Camocim consolida-se como núcleo urbano. E o que vai definitivamente consolidar Camocim como centro urbano e econômico é a construção da Estrada de Ferro de Sobral-Camocim56 a partir de 1879 e do porto. 57

Infanção Título de nobreza inferior ao de rico-homem, em Portugal, que conferia ao possuidor privilégios, direitos, isenções, etc.


1656 23 de setembro – Sendo nomeado governador de Pernambuco, Negreiros viajou para lá, deixando o sargento-mor Agostinho Correa como governador interino da Capitania Geral do Maranhão. Agostinho Correa – 1656/1658; Sargento Mor do Estado do Estado, tirando o restante do triênio de Vidal de negreiors. 25 de setembro – organiza três expedições para resgate de indígenas; a primeira para as terras dos Pacajás, sob as ordens do sargento-Mor João de Sousa Soleima e assistência dos jesuítas João de Souto Maior e Salvador do Vale 6 de novembro – Falece D. João IV, passando a governar, como Regente, a rainha D. Luísa Francisca de Gusmão, na menoridade do filho Afonso VI. O Ceará esteve integrado ao Estado do Maranhão até 13/7/1656, quando passou a Pernambuco; essa separação foi efetivada de direito pela carta regia de 25/2/1680. 1657 – Segunda expedição ordenada pelo sargento-mor Agostinho Correa, pelo rio Amazonas acima até a confluência do Negro, sob a chefia do Capitão Vital Maciel Parente, com a assistência dos jesuítas Francisco Veloso 1658 - Segunda expedição ordenada pelo sargento-mor Agostinho Correa, sob a direção de Paulo Martins garro, capitão do Gurupá, para a bacia do Tocantins, nos domínios dos inheiguara e tupinambás, indo o jesuíta Manuel Nunes como assistente religioso 16 de junho – D. Pedro de Melo 1658/1662; fidalgo de origem, Comendador das Ordens de Cristo, de Santa Maria de Anchete e de Gulfar; veio de Portugal, junto, Marçal Nunes da Costa, Cavaleiro da Ordem de Cristo, provido no c argo de Capitão-mor do Grão-Pará, assumindo a 19 de setembro seguinte. Durante o governo de D. Pedro fizeram-se muitas entradas para resgate e descimento de índios, sob a direção do Pe. Vieira. Como a entrada de resgate de João velho do vale, capitão-mor do Gurupá, às terras dos Jurunas, tendo o jesuita Manuel Nunes como coadjutor; a do cabo Domingos Monteiro, o Pocu, Amazonas acima, as terras dos tupinambaranas, dos aruaquizes e dos conduizes, com o jesuíta Manuel de Sousa e Manuel Pires; a bacia tocantina, a do cirurgião Pedro Biscainho e o jesuíta Francisco Veloso, de onde trouxeram para a Ilha do Sol 1.200 tupinambás; o jesuíta Gonçalves de São Luis desceu mais de 600 indigrnas do Rio Negro. Vieira consegue pacificar os ferozes aruan de Marajó Reclamavam os colonos que as aldeiasdos jesuítas não eram missões e sim colônias, acusando os padres de serem donos de quase todos os escravos resgatados nas missões e de não cumprirem a promessa ―de que não haviam de tirar lucro dos índios forros, nem com eles fabricar fazenda, nem canaviais, e só tratariam da doutrina espiritual‖. Mais uma vez os ânimos se exaltaram, o povo (sempre o povo, este ser indefinido e sem rosto?!) ―invadiu à força bruta o Colégio dos Jesuítas, insultou-os e, arrancando-os dos seus próprios cubículos, lançou-os fora de sua habitação usual.‖ Isto em São Luís, porque em Belém, após a procissão do Anjo Custódio, também o povo invadiu o Colégio de Santo Alexandre, prendeu o padre Vieira e obrigou-o, com seus irmãos, a embarcar para o Maranhão. Pedro de Melo, ―governador apenas no nome‖, nada fez, e o procurador da Câmara de S. Luís, encarregado de prender os missionários refugiados em Gurupá, acabou preso ele mesmo. Outra vez o povo libertou o procurador, conduzindo os padres para Belém e mandou-os numa caravela para Portugal. Assim acabou o governo de Pedro de Melo, ―perdendo muito o Estado do Maranhão na docilidade de seu gênio‖, segundo Berredo. 1659 – os colonos, por falta de braços para suas lavouras, reclamam inutilmente ao Pe. Vieira contra o execesso de autoridade


1661 Paz de Haia58: os Países Baixos reconhecem formalmente a perda do Nordeste do Brasil; 1662 – a população de São Luis era estimada em 600 almas 26 de março - Rui Vaz de Siqueira 1662/1667 – militar e político já aprovado no serviço real, Comendador de S. Vicente da beitra na ordem de Cristo; em sua companhia veio Francosco de Seixas pinto, Cavaleiro da Ordem de Cristo, no cargo de Capitão-Mor do Grão-Pará, tomandom posse a 16 de abril. Rui Vaz veio com especiais recomendações para acabar com a crise existente entre os Senados das camaras de Belém e São Luís e os jesuítas; conseguiu o retorno dos jesuítas, limitados ao governo espiritual dos silvícolas, concedendo ampla anistia pelos excessos cometidos (29/05)

"Maranhão na América do Sul ao oeste do Brasil" (Johannes Vingboons, 1665). http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_do_Maranh%C3%A3o

Uma epidemia de varíola surgida em São Luis alastrou-se pelas capitanias vizinhas, fazendo grande estrago entre os indios

58 Tratado de Haia (também conhecido como a Paz de Haia) foi um tratado de paz firmado entre Portugal e a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, assinado na Haia em 6 de Agosto de 1661. Com a assinatura do tratado, os territórios conquistados pela Holanda no Brasil, renomeados como Nova Holanda (ou Brasil Holandês) foram formalmente devolvidos a Portugal em troca de uma indenização de quatro milhões de cruzados. Após a reconquista pernambucana de Nova Holanda e com o fim da Primeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a República Holandesa exige a colônia de volta em maio de 1654. Sob ameaça da frota marinha neerlandesa, Portugal cede à exigência da República Holandesa. Porém, Johan de Witt não concorda por achar o comércio mais importante do que a possessão de territórios. Por este motivo é assinado um tratado de paz em 6 de Agosto de 1661 na Haia pelo qual a Nova Holanda foi vendida à Portugal por oito milhões de florins (equivalente a 63 toneladas de ouro). Esta quantia foi paga anualmente por Portugal em parcelas ao longo de quatro décadas e sob ameaça de invasão de Lisboa e da região Nordeste do Brasil.[1] Ademais, Portugal cedeu o Ceilão (actual Sri Lanka) e as Malabar à República Holandesa e concedeu privilégios sobre o comércio açucareiro. Em troca a República Holandesa reconheceu a soberania portuguesa sobre o Brasil e a Angola. O tratado foi ratificado em 24 de maio de 1662 pelos Estados Gerais e em 3 de novembro de 1662 pelo Reino de Portugal. Apesar disso o tratado foi violado pela conquista holandesa de Malabar e por esta razão a paz foi definitivamente selada em 1663


Primeira cultura de tabaco mandada fazer no Maranhão, no Itaqui, onde os jesuitas haviam aldeado os guajajaras descidos do Pindaré Construção da Igreja de São João Batista, em São Luis 23 de junho – ascesão de Afonso VI ao trono, e queda da corte de D. Luisa de Gusmão, culminando com o desterro de Vieira para o porto D. Afonso VI de Portugal e II de Bragança (Lisboa, 21 de Agosto de 1643 - Lisboa, 12 de Setembro de 1683) foi o 2.º Rei de Portugal da Dinastia de Bragança. Nascido apenas como infante de Portugal, D. Afonso não estava destinado a reinar nem foi preparado para tal, em virtude do herdeiro da coroa ser o seu irmão mais velho, o brilhante príncipe D. Teodósio de Bragança. A sua formação foi pouco cuidada, à semelhança dos restantes irmãos, o que se confirma quando D. Catarina parte para a Inglaterra, em virtude do seu casamento com o rei Carlos II, quase sem saber falar inglês. Ao contrário dos seus irmãos, Afonso passou a sua infância e juventude em Lisboa, num ambiente tenso e mergulhado em preocupações políticas, governativas, militares, entre outras. Com 3 ou 4 anos de idade, atinge-o uma «febre maligna» que lhe afecta o lado direito do corpo e que se repercutirá na sua vida em variados aspectos, desde políticos a familiares e sexuais. Uma doença do sistema nervoso central, pensa-se hoje, talvez uma meningoencefalite, uma doença de foro nervoso, como propõe Montalvão Machado. A morte do irmão, D. Teodósio, sucede-se a 13 de Maio de 1653 e, a 17 de Novembro do mesmo ano, falece D. Joana. Passa Afonso para a ribalta como novo herdeiro do trono de Portugal. http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_VI_de_Portugal Luísa Maria Francisca de Gusmão (Sanlúcar de Barrameda, 13 de Outubro de 1613 — Lisboa, 6 de Novembro de 1666), pelo seu casamento com João, duque de Bragança em (12 de Janeiro de 1633) veio a ser a primeira rainha de Portugal da quarta dinastia. No testamento do esposo, D. Luísa foi nomeada regente durante a menoridade de D. Afonso VI, aclamado no Paço da Ribeira em 15 de novembro de 1656, aos 13 anos. Era voz corrente que D. Afonso sofria de grave doença, pelo que chegou-se a pensar no adiamento da cerimónia. A regente procurou organizar o governo de modo a impor-se às facções palacianas em jogo. Nomeou D. Francisco de Faro e Noronha, conde de Odemira, para aio do monarca e manteve os ofícios da casa real nas mãos dos que os exerciam no tempo do marido. Os negócios públicos continuaram com os secretários de Estado e Mercês, Pedro Vieira da Silva e Gaspar de Faria Severim. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADsa_de_Gusm%C3%A3o

08 de setembro – confirmadas pela Coroa a anistia dada pelo Governador, os padres da Companhia de jesus retornam ao estado 12 de setembro – nova Provisão, com a determinação de os missionários religiosos não terem jurisdição no governo temporal dos indigernas e que o espiritual coubesse não exclusivamente aos jesuitas, mas aos padres e frades das demais pordens, sem distinção. 1662 - Foram feitas, no Governo de Rui Vaz, várias entradas a de Manuel Carvalho a cata de ambar na serra de Ibuiapaba, e que redundou na extinção da missão jesuítica de S. Francisco Xavier pelos selvagens chefiados pelo cacique D. Simão 1663 – a do Sargento-mor Antonio Arnau Vilela com o mercedário Fr. Raimundo, que quase foi destruida em uma emboscada dos tapuiais, caboquenas e guanavenas no rio urubu, sendo sorocxorrida pelo Alferes João Rodrigues Palheta que vingou de modo cruel a morte de Arnau Fevereiro – nova epidemia de varíola, atingindo os mais pobres e desprotegidos índios 20 de julho – o governador escrevia a Corte acerca da conveniencia de recuperar a capitania do Ceará para o Maranhão; ainda tratou do levante dos indios tabajaras 1664 – nova entrada do capitão Pedro da Costa Favela no mesmo Rio Urubu, ainda em vingança contra os caboquenas e guanavenas; nesse mesmo ano o proprioo goverrnador dirigew expedição com destino an fortaleza de Gurupá, cuja chefia passou ao Sargento Mor Antonio da Costa, que incendiou trezentas aldeias, matando cerca de setecentos guerreiros e tyrouxe uns 400 catvos a Belém


O Maranhão e o Grão-Pará compreendiam 6 capitanias , com 700 moradores portugueses, cuja riqueza se media pelo numero de escravos que possuiam. 1667/1671 - ANTONIO D´ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO, O VELHO 1667/1671 – Comendador de S. Maria da Vila de Ceia e de S. Martinho das Moitas na Ordem de Cristo, donatário das capitanias de Cametá e tapuitapera, no Maranhão. Era filho de primeiro governador do estado, Francisco Coelho de Carvalho e já fora governador da Beira-Baixa e da Praça de Olivença.; assumiu o governo em 22 de junho de 1667, era tido como violento e autoritário. Trazia a solução dada pela Corte às restrições feitas a lei de 1664, sobre o cativeiro dos indigenas Mandou construir a Fortaleza de Macapá, no Cabo do Norte, que cairia em mãos dos franceses de Caiena em 1697 O Forte do Macapá localizava-se numa ponta de terra à margem esquerda do rio Amazonas, na antiga Província dos Tucujus, atual cidade de Macapá, no estado brasileiro do Amapá. No local onde, desde 1738, estava sediado um pequeno destacamento em seu reduto (Reduto do Macapá), agora sob o comando de Manuel Pereira de Abreu, o governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1751-1759), fundou a povoação do Macapá (BARRETO, 1958:55). Obedecia assim às ordens recebidas em Lisboa a 31 de março de 1751 de José I de Portugal que, através de instruções "públicas e secretas", determinava como Mendonça Furtado deveria pautar a sua administração no Estado do Grão-Pará e Maranhão. No bojo dessas instruções consta uma recomendação especial sobre a defesa do território do Amapá, a instrução nº 28, que estabelecia: "(...) e especialmente sobre a fortaleza que, em 8 de Março de 1749,[1] se me propôs ser precisa na costa de Macapá, examinando logo qual ella deva ser, de que força e os meios mais fáceis, e promptamente se podem aplicar a esta obra; e vos advirto que tanto esta fortaleza como as demais, que se fizerem para a defesa e segurança deste Estado, se hão de fazer de forma e modo que não pareça receio de nossos confinantes, havendo ao mesmo tempo a cautela precisa, para que elles não nos surprehendam, para que pêlos meios de facto não renovem as preterições antigas, e não queiram impossibilitar-nos, para lhes disputarmos em todo o tempo por força." Chegando ao Pará em fins de Setembro de 1751, já na primeira quinzena de Dezembro do mesmo ano, organizava uma expedição, sob o comando do sargento-mor João Baptista do Livramento, para fundar a nova povoação e fortaleza de Macapá, conduzindo colonos açorianos, mantimentos, utensílios e ferramentas. Em Julho do ano seguinte (1752) fez nova visita ao local, agora em auxílio à população vítima de uma epidemia de cólera. Em 1753 chegaram a Belém do Pará dois Regimentos vindos de Lisboa, um destinado a guarnecer a praça de Belém e outro a guarnecer a fortaleza do Macapá assim que construída. (OLIVEIRA, 1968:750) Mendonça Furtado seguiu insistindo na construção da mesma (1754), a fim de manter os franceses na margem esquerda do rio Oiapoque. Nesse meio tempo, a povoação do Macapá foi elevada à categoria de vila (4 de fevereiro de 1758), com o nome de São José do Macapá, em solenidade assistida pelo governador Mendonça Furtado, quando em viagem para o rio Negro (BARRETO, 1958:55). Em 1761, o governador e capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Manuel Bernardo de Melo e Castro, instruiu o Capitão Engenheiro Gaspar João Geraldo de Gronfeld a desenhar a planta de um forte de faxina e terra, a ser construído em São José do Macapá. Aprovada a planta, iniciaram-se as obras sobre uma ponta de terra onde, em 1738, havia sido erguido o primeiro reduto, concluídas em 31 de julho de 1761 (BARRETO, 1958:55-56). Esse forte foi substituído definitivamente, a partir de 1764, pela Fortaleza de São José do Macapá. A Fortaleza de São José de Macapá localiza-se numa ponta de terra à margem esquerda do rio Amazonas, na antiga Província dos Tucujus, atual cidade de Macapá, no estado do Amapá, Para suceder os redutos de 1738 (Reduto do Macapá) e de 1761 (Forte do Macapá), e dar solução definitiva à fortificação da barra norte do rio Amazonas, o Governador e Capitão-general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Fernando da Costa de Ataíde Teive, dirigiu-se à vila de São José do Macapá, onde, a 2 de janeiro de 1764, em companhia do Sargento-mor Engenheiro Henrique Antônio Galucio, examinou o terreno e aprovou a planta geral da nova fortaleza (SOUZA, 1885:63; GARRIDO, 1940:26-27). Meses mais tarde, a 29 de junho nesse mesmo ano, foi lançada a pedra fundamental da fortaleza, no ângulo do baluarte sob a invocação de São Pedro, na presença do governador, do Coronel Nuno da Cunha Ataíde Varona, comandante da Praça, do Sargento-mor Galucio, do Senado da Câmara e das demais autoridades civis e religiosas da vila (BARRETTO, 1958:56). A sua construção empregou, além de oficiais e soldados, canteiros, artífices e trabalhadores africanos


e indígenas. Eram pagos 140 réis diários aos primeiros contra apenas quarenta réis para os segundos (BARRETTO, 1958:57). Os trabalhos distribuíram-se entre as pedreiras da cachoeira das Pedrinhas, no rio Pedreiras, a cerca de 32 quilômetros de distância de Macapá (extração e cantariação), os fornos de cal, as olarias (tijolos e telhas), a logística (transporte fluvial e terrestre), além do próprio canteiro de obras em Macapá. O Sargento-mor Galucio veio a falecer de malária durante as obras, a 27 de outubro de 1769, tendo assumido a direção dos trabalhos o Capitão Henrique Wilckens, até à chegada do Sargento-mor Engenheiro Gaspar João Geraldo de Gronfeld (GARRIDO, 1940:27). Comandava a praça, à época, o Mestre de Campo do 1º Terço de Infantaria Auxiliar de Belém, Marcos José Monteiro de Carvalho (BARRETTO, 1958:57). OLIVEIRA (1968) aponta como primeiro comandante da praça o então Sargento-mor Manuel da Gama Lobo D'Almada, nomeado em 5 de setembro de 1769 e que permaneceu no cargo até 1771, tendo retornado em 1773 e permanecido até 1784 (op. cit., p. 751).No primeiro semestre de 1771 estavam concluídos os trabalhos internos, demorando-se os acabamentos exteriores até depois de 1773 (GARRIDO, 1940:27). http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_do_Macap%C3%A1; http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortaleza_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_do_Macap%C3%A1

1667- 24 de janeiro – pede ao rei que mande casais dos Açores e da madeira, e alguns presos, para povoar o Maranhão Em Portugal as cortes reunidas mudaram o governo obrigando à renuncia Afonso VI; seu irmão, o Infante D. Pedro assume o governo em 1º. De janeiro de 1668, com o titulo de D. Pedro II D. Pedro II de Portugal (Lisboa, 26 de Abril de 1648 — Alcântara, 9 de Dezembro de 1706). Foi Rei de Portugal de 1683 à sua morte, sucedendo ao irmão Afonso VI, vindo já exercendo as funções de regente do reino desde 1668, devido à instabilidade mental do irmão, D. Afonso VI. Está sepultado no Panteão dos Braganças em São Vicente de Fora. Morreu na Quinta de Alcântara, ou Palácio da Palhavã, de apoplexia. Tinha 58 anos e estava doente apenas há quatro dias. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_de_Portugal

1668 – 14 de janeiro –Manuel Beckman presta juramento ao tomar posse no Senado da Câmara de São Luís Manuel Beckman (Lisboa, 1630 — São Luís do Maranhão, 2 de novembro de 1685) foi um senhor de engenho e revolucionário português radicado no Brasil. É considerado por alguns autores como um "protomártir" da Independência, muito antes da figura de Tiradentes. O sobrenome Beckman, de origem germânica, é freqüentemente grafado em sua forma aportuguesada, Bequimão. Filho de pai alemão e mãe portuguesa, que ainda muito jovem viera para a região, veio a tornar-se senhor de engenho na região do rio Mearim, no Estado do Maranhão, com o irmão Tomás, advogado. Manuel foi vereador da Câmara Municipal de São Luís. Os registros da Inquisição de Lisboa referem um inquérito sobre os irmãos Beckman (Manuel e Tomás), acusados de judaísmo (IAN/TT, IL – CP, livro 255, f. 52 (1675)). Manuel teria sido deportado, por dois anos, para o Forte de Santo Antônio de Gurupá. Os irmãos envolveram-se nas divergências entre proprietários locais e religiosos da Companhia de Jesus, com relação à escravização do indígena, culminando, na noite de 24 de fevereiro de 1684, durante as festividades de Nosso Senhor dos Passos, numa violenta reação contra o estanco (monopólio) da Companhia Geral de Comércio do Maranhão, envolvendo de sessenta a oitenta dos chamados "homens-bons" da região. A revolta foi debelada no ano seguinte, com a chegada de tropas sob o comando do tenente-general Gomes Freire de Andrade a São Luís (15 de maio). Gomes Freire expediu ordem de prisão contra Manuel Beckman, que fugira, oferecendo por sua captura o cargo de Capitão das Ordenanças. Para obtê-lo, Lázaro de Melo, afilhado e protegido de Manuel, traiu o padrinho e entregou-o preso. Entretanto, empossado no cargo, os seus comandados repudiaram-lhe o gesto vil, recusando-se a obedecer-lhe as ordens. Queixando-se disso ao governador, afirma-se que Gomes Freire teria lhe respondido: ―Nada tenho que fazer. O que o governo prometeu, cumpriu. Obrigar os subordinados a aceitar o seu comando está fora dos poderes do governo, ou melhor, já não é de minha alçada. Faça por ser obedecido.‖ Apontados como líderes da revolta, Manuel Beckman e Jorge de Sampaio de Carvalho receberam como sentença a morte pela forca. Os demais envolvidos foram condenados à prisão perpétua. A execução pública de Beckman e de Sampaio ocorreu a 2 de novembro de 1685 (10 de novembro, segundo outras fontes), na chamada praia do Armazém. Tendo os seus bens dos Beckman sido seqüestrados e ido a hasta pública, Gomes Freire arrematou-os todos e devolveu-os à viúva e filhas do revoltoso. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Beckman


1669 – Feliciano Correia foi investido no governo do Pará, tendo Paulo Martins Garro se licenciado para se passara a Portugal - Gonçalo Pires e Manuel Brandão descobrem a canela-de-cheiro (Ocotea apifera M.) no Tocantins, produto muito bem cotado na Europa 1670 – 30 de maio – o Conselho Ultramarino comunica ao príncipe regente D. Pedro o descobrimento no Maranhão do Lago Dourado 1671/1678 - PEDRO CESAR DE MENEZES assumiu o governo em 9 de junho de 1671, Mestre-de-Campo, bastardo de linhagem nobre e soldado de fama. 1673 – notícias de correrias de bandeirantes na bacia do Tocantins, indo o Capitão Francisco da Mota falcão para apurar; encpontrou nas terras dos guarajus os homens do Mestre-de-Campo Pascoal Pais de Araujo. Consulta do Conselho Ultramarino a D. Pedro sobre a petição dos moradores e oficiais da Camara de São Luis no sentido de introduzir escravos de Angola, Guiné e Caxéu no Estado do Maranhão Angola foi uma antiga colónia de Portugal, com o início da colonização no século XV, e permaneceu como colónia portuguesa até à independência em 1975. O primeiro europeu a chegar a Angola foi o explorador português Diogo Cão. A sua capital e a maior cidade é Luanda. O nome Angola é uma derivação portuguesa do termo bantu N‘gola, título dos reis do Reino do Ndongo existente na altura em que os portugueses se estabeleceram em Luanda, no século XVI. Os habitantes originais de Angola foram caçadores Khoisan, dispersos e pouco numerosos. A expansão dos povos Bantu, vindos do Norte a partir do século X a.C, forçou os Khoisan a recuar para o Sul onde grupos residuais existem até hoje, em Angola, na Namíbia e no Botsuana. Os macunheros eram agricultores e caçadores. Sua expansão se deu em grupos menores, que se relocalizaram de acordo com as circunstâncias político-económicas. Entre os séculos XIV e XVII, uma série de reinos foi estabelecida, sendo o principal o Reino do Congo que abrangeu o Noroeste da Angola de hoje e uma faixa adjacente da hoje República Democrática do Congo, da República do Congo e do Gabão; a sua capital situava-se em M'Banza Kongo e o seu apogeu se deu durante os séculos XIII e XIV. Outro reino importante foi o Reino do Ndongo, constituído naquela altura a Sul/Sudeste do Reino do Congo. No Nordeste da Angola actual, mas com o seu centro no Sul da actual República Democrática do Congo, constituiu-se, sem contacto com os reinos atrás referidos, o Reino da Lunda. Em 1482 chegou na foz do Rio Congo uma frota portuguesa, comandada pelo navegador Diogo Cão que de imediato estabeleceu relações com o Reino do Congo. Este foi o primeiro contacto de europeus com habitantes do território hoje abrangido por Angola, determinante para o futuro deste território e das suas populações. A partir do fim do século XV, Portugal seguiu na região uma dupla estratégia. Por um lado, marcou continuamente presença no Reino do Congo, por intermédio de (sempre poucos mas influentes) padres cultos (portugueses e italianos) que promoveram uma lenta cristianização e introduziram elementos da cultura europeia. Por outro, estabeleceu em 1575 uma feitoria em Luanda, num ponto de fácil acesso do mar e a proximidade dos reinos do Congo e de Ndongo. Gradualmente tomaram o controlo, através de uma série de tratados e guerras, de uma faixa que se estendeu de Luanda em direcção ao Reino do Ndongo. Este território, de uma dimensão ainda bastante limitada, passou mais tarde a ser designado como Angola. Por intermédio principalmente do Reino do Ndongo e do Reino da Matamba, Luanda desenvolveu um tráfico de escravos com destino a Portugal, ao Brasil e à América Central que passou a constituir a sua base económica. Os holandeses ocuparam a Angola entre 1641 e 1648 e procuraram estabelecer alianças com os estados africanos da região. Em 1648, Portugal retomou Luanda e iniciou um processo de conquista militar os estados do Congo e Ndongo e terminou com a vitória dos portugueses em 1671, redundando num controle sobre aqueles reinos. Entretanto, Portugal tinha tentado estender a sua presença no litoral em direcção ao Sul. Em 1657 estabeleceu uma povoação perto da actual cidade de Porto Amboim, transferida em 1617 para a actual Benguela onde se tornou numa segunda feitoria, independente da de Luanda. Benguela assumiu aos poucos o controle sobre um pequeno território e norte e leste, e iniciou por sua vez um tráfego de escravos, com a ajuda de intermediários africanos radicados no Planalto Central da Angola de hoje. http://pt.wikipedia.org/wiki/Angola Guiné - A Guiné-Bissau, oficialmente República da Guiné-Bissau, é um país da costa ocidental de África que se estende desde o cabo Roxo até à ponta Cagete. Foi uma colónia de Portugal desde o século XV até proclamar unilateralmente a sua independência, em 24 de Setembro de 1973,


reconhecida internacionalmente - mas não pelo colonizador. Tal reconhecimento por parte de Portugal só veio em 10 de Setembro de 1974. Antes da chegada dos Europeus e até o século XVII, a quase totalidade do território da Guiné-Bissau integrava o reino de Gabu, tributário do legendário Império Mali, dos mandingas, que florescera a partir de 1235 e subsistiu até o século XVIII. Os grupos étnicos eram os balantes, os fulanis, os mandayakos e os molinkes. O primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa da actual Guiné-Bissau foi o português Nuno Tristão, em 1446. A colonização só tem início em 1558, com a fundação da vila de Cacheu. A princípio somente as margens dos rios e o litoral foram exploradas. A colonização do interior só se dá a partir do século XIX. No século XVII, foi instituída a Capitania-Geral da Guiné Portuguesa. Mais tarde, durante o Estado Novo de Salazar, a colonia passaria a ter o estatuto de província ultramarina, com o nome de Guiné Portuguesa. A vila de Bissau foi fundada em 1697, como fortificação militar e entreposto de tráfico de escravos. Posteriormente elevada a cidade, tornar-seia a capital colonial, estatuto que manteve após a independência da Guiné-Bissau. Cacheu é uma região da Guiné-Bissau. Atravessada pelo rio Cacheu, tem capital na cidade de mesmo nome. Foi "a fonte principal do comércio de Cabo Verde", na terra firme da Guiné, "onde os navios portugueses vinham obter escravos e drogas da região", de acordo com Veríssimo Serrão ("História de Portugal", v. V, p. 284), que acrescenta: "Havia a recear a ameaça dos franceses do Senegal que, por intermédio de Bissau, pretendiam instalar-se na costa da Guiné". Portugal "teve de salvaguardar esse tráfico, maneira de garantir a ação dos missionários. Por mais, o régulo Bocampolco permitira em 1692 a fundação de uma capitania em Bissau, cujo terreno foi comprado em 1698 com a autorização do novo régulo Incinhate". Em 1675 foi fundada a Companhia de Cacheu, "que a 19 de maio de 1676 viu os seus privilégios confirmados por seis anos. Tinha o direito de tráfico na costa da Guiné e no arquipélago de Cabo Verde, assim como de escravos para a Metrópole, os domínios do Ultramar e a América espanhola". Quinze anos mais tarde viria a ser refundada com a designação de "Companhia de Cacheu e Cabo Verde". A companhia tinha como primeira ocupação a escravatura. "Por não ter conseguido um largo apoio dos moradores de Cabo Verde e da Guiné, não tardou a Companhia em dar prejuízo", refere Veríssimo Serrão na mesma obra, "o que levou a Coroa em 1703 a não renovar o contrato". A falta de comércio levou ao abandono de Bissau em 1707, sendo o forte arrasado.

Julho – o Governador muda sua residência para Belém, atraído pelo ganância do comercio 1674 – se organiza nova expedição para coibir as ações dos bandeirantes na região, quando chega Antonio Raposo Tavares, vindo de Lisboa, com a incumbência de descobriri tesouros na bacia do Tocantions, com a ajuda dos paulistas, conhecedores da região; quando lá chegou encpontrou apenas noticias da morte de Pais de Araujo Domingos Afonso, o Mafrense chega aos sertões do Piauí, vindo das margens do São Francisco, se apossando de vastas áreas na margem direita do Parnaíba Domingos Afonso Mafrense, conhecido também como Domingos Afonso Sertão, foi um sertanista português do estado brasileiro do Piauí. Era reinol de Torres Vedras, vindo para o Brasil com seu irmão Julião Afonso Serra por volta de 1670, pois já em 12 de fevereiro de 1674 ambos obtiveram sesmarias no sul da Bahia. Unidos aos Ávilas, de quem foi o principal rendeiro, Domingos Afonso foi sertanista de grande ação, devassou todo o sertão a oeste do rio São Francisco. Tendo-se estabelecido em Fazenda que denominou Sobrado, a 40 léguas ao sul de Juazeiro, com seu irmão foi o companheiro do Capitão Francisco Dias de Ávila, nomeado por patente de 1674 para ir conquistar o gentio gurgueia. Dirigiram a bandeira para a serra dos Dois Irmãos e em terras do Piauí encontraram Domingos Jorge Velho, o cabo paulista. Domingos Afonso e seus companheiros entraram então a devassar o rio Piauí e o rio Canindé, indo até o rio Parnaíba e sertões do Ceará. Nessas terras fundou mais de 30 fazendas ou currais de criar gado, obtendo sesmarias nas margens do rio Gurgueia em 1676, no rio Tranqueira em 1681 e 1684, no rio Parnaiba em 1686. No século 17, Domingos Afonso Mafrense ocupou, com cartas de sesmarias da capitania de Pernambuco, algumas terras na margem do rio Gurgueia, visando a expandir sua pecuária. Foi o mais promissor colonizador da região. Conforme determinou, após sua morte as terras passaram às mãos dos padres da Companhia de Jesus, que as administraram com relativo sucesso e contribuíram para o desenvolvimento da pecuária do Piauí, que, no século 18, abastecia o Maranhão, todo o nordeste e algumas províncias do sul do Brasil. Em 1760, após a expulsão dos jesuítas, as fazendas passaram ao patrimônio da Coroa portuguesa — com o nome de Fazenda


Real Fisco — e entraram http://pt.wikipedia.org/wiki/Domingos_Afonso_Mafrense

em

decadência.

1676 – chega a Belém leva de colonos açoreanos, vindos de Feiteira, ilha de Faial; eram 150 casais, num total de 234 pessoas localizados no sitio da Campina, batizado com o nome de São Vicente 1677 – aviso de que se tramava uma revolta contra o Governador O Ministério decide estabelecer o primeiro estanco, chamado de Estanco da Fazenda Real, Entradas ao tempo de Pedro Cesar De Antonio de Oliveira, ao Amazonas, com os padres João Maria e Manoel Pires; De Baltazer Fernandes ao Mearim, com o padre Pedro Luis; De Afonso Rui, com o mesmo padre Pedro Luis e o irmão Antonio Ribeiro; De Vidal Maciel Parente ainda com este padre e o irmão João Almeida, no Paraguaçú (Parnaiba), com caráter punitivo contra osn taramembeses. Fundação de um estabelecimento à margem do rio Cotim (Anil) de uma primeira fábrica de anil, trazendo de Poertugal um operário anileiroe mandara buscar 50 negros em Angola Inicio da exploração do comercio de baumilha, recomendada pela Coroa por carta de 19/06/1676 30 de Agosto – A Diocese de São Luís do Maranhão foi ereta pelo Papa Inocêncio XI, por meio da bula Super universas orbis Ecclesias, como sufragânea do Patriarcado de Lisboa, abrangendo toda a Amazônia. Frei Antonio Santa Maria, capuchinho de Santo Antonio eleito o primeiro Bispo, renunciando à Mitra se ao menos tomar posse. Eleito Dom Gregório dos Anjos, da Congregação dps Cônegos de São João evangelista, era Bispo titular de Malaca e fora reitor do Convento de Évora INÁCIO COELHO DA SILVA – 1678 A 1682 – Capitão de Couraças, Fidalgo da Cara Real e ex-capitão-mor da Paraíba, sucedeu em data de 17/02/1678 a Pedro Cesar de Menezes, como Governadpor e Capitão-General do Estado. 1678 – durante os cinco primeiros meses permaneceu em São Luis, indo a 20/07 residir em Belém. Deixando no governo da Capitania-Geral do Maranhão Vidal Maciel Parente, donatário da capitania do Cabo do Norte ; Manoel Bequimão se opôs a sua nomeação, em função da devisão de 1643 de exclusão dos descendentes de Bento Maciel dos cargos públicos do estado; Bequimão foi desterrado para o Gurupá Ensaia-se um chamado Estanco da Fazenda Real mediante p´revio assentimento do clero, nobreza e povo. Consistia o negócio , explica João Lisboa, em fazer a coroa por sua conta o fornecimento de todo aço, ferro, facas e velórios, necessários para o provimernto do Estado e comércio de resgate, recebendo em pagamento as drogas e produtos do país (apontamentos para a história do Maranhão, in JORNAL DE TIMON). Companhia do Maranhão - Conforme Roberto Simonsen ―... O segundo empreendimento visando à exploração do comércio colonial foi a Companhia do Maranhão, derivada do contrato negociado em 1678 e 1679, entre o governo português e um grupo de acionistas, para a exploração do tráfico comercial entre o Pará, o Maranhão e a Metrópole." Um alvará de 12 de junho de 1682 confirmou esse acordo. Essa companhia, também conhecida por "Estanco do Maranhão", tinha o monopólio completo do comércio no Maranhão e Pará, mas o seu principal negócio era o tráfico de escravos africanos. Os seus créditos eram cobrados executivamente, como se fossem da Fazenda Real. Tão draconiano era o sistema que, em 1684, estourou a revolta liderada por Beckmann. Embora sufocado o movimento, o estanco, segundo Simonsen, teria sido logo abolido. Há opiniões divergentes. Rodolfo Garcia discorda e afirma que o monopólio perdurou ainda por vários anos. César Augusto


Marques, em seu Dicionário, informa que, em 1677, por acordo entre o governo e a população, se estabelecera um monopólio de certos produtos, especialmente manufaturas de ferro e aço, usadas nos "resgates" com os índios. Esse empreendimento teve o nome de "Estanco da Fazenda Real". Dois anos depois, o Governador do Maranhão propôs a abolição do estanco, em razão dos avultados prejuízos, sugerindo que ele fosse substituído por contratadores particulares. A Coroa aceitou a proposta e, em 1682, o alvará já citado confirmou o assento do Estanco do Maranhão, avençado, junto com o contrato do Cacheu, com Manuel Pedro Valdez, Pedro Alvares, Pascoal Pereira Jansen e outros comerciantes da Metrópole. Segundo Marques, a rebelião de Beckmann não resultou na extinção imediata do estanco, tanto que, em 1686, se abria devassa contra os que reclamavam contra ele. (FONTES: BUESCU, Evolução Econômica do Brasil, 65 - GARCIA, Ensaio sobre História Política e Administrativa do Brasil, 119/121 - MARQUES, Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, 265/266 - PRADO JR., História Econômica do Brasil, 54 - SIMONSEN, História Econômica do Brasil, 358). http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/administracao/reparticoes/colonia/companhias.asp

1679 – 24 de janeiro – a Coroa, através de carta Régia, considera conveniente a mudança da capital para Belém o Capitão Vital Maciel organizou poderosa expedição contra os teramembezes do Paraguaçú (Parnaíba), por trazem em continuo assalto a foz do rio, mas na verdade para resgate de âmbar; a tropa era composta de 150 soldados e 500 indigenas; aproveitou para ir descobrir a nascente do Parnaíba, conforme recomendação de 1667 11 de julho - tomou posse o primeiro bispo do Maranhão, Dom Gregório dos Anjos. Doutor em Teologia, orador sacro. Instala-se a diocese do Maranhão, criada por bula de 30/08/1677. Por esse decreto papal São Luís, cuja população é nele estimada em 2.000 almas, foi erigida cidade. 1680 – 25 de fevereiro - por Carta Regia a Capitania do Ceará foi desligada do Estado do Maranhão e Grão-Pará e subordinada ao governo de Pernambuco 30 de março – a Coroa mais uma vez alterou o regime de cativeiro dos índios, dando ao Bispo a atribuição de repatir os escravos, uma parte para as aldeias, outra para os serviços dos colonos, e uma terceira para os missionários; atribuiu a si próprio 300 cativos que empregou na lavoura do cravo O Governo propôs a abolição do Estanco por que não dera os resultados esperados, com o Conselho Ultramarino recomendando que se contratasse outro, desta vez com particulares interessados; Pedro Alves Costa organizou uma sociedade de assentistas – Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará e contratou o negócio com o Governo Metropolitano pelo prazo de 12 anos, através do Alvará de 12/02/1682. 1682 – maio – INÁCIO COELHO DA SILVA foi substituído por Francisco de Sá de Menezes FRANCOSCO DE SÁ E MENEZEZ – 1682 – 1684 assumiu o governo em 27 de maio; Capitão-general, formado em leis, servira como secretário do embaixador português junto a Oliver Cronwell. Em sua companhia trouxe Pascoal Jansen Pereira. Demorou-sem em São Luis até outubro, quando passou a Belém, deixando no governo da capitania-Geral do Maranhão, no cargo de Capitão-mor, o SargentoMor Baltazar de Sousa Fernandes Oliver Cromwell (Huntingdon, 25 de Abril de 1599 — Westminster, 3 de Setembro de 1658) foi um militar e político britânico, conhecido como um dos líderes da Guerra Civil Inglesa, movimento que derrubou Carlos I e levou à instauração de uma república puritana na Grã-Bretanha. Cromwell governou com o título de Lord Protector ("Lorde Protetor") da Inglaterra, Escócia e Irlanda, de 16 de Dezembro de 1653 até sua morte, a qual se crê ter sido causada por malária ou por envenenamento.


Quando a guerra civil teve início, Cromwell constituiu uma tropa de cavalaria, que se tornou a base dos seus Ironsides, assim chamados em alusão ao apelido dado pelo Príncipe Rupert a Cromwell, após a Batalha de Marston Moor (1644), na qual o príncipe fora derrotado. Como líder da causa parlamentar e comandante do New Model Army, Cromwell desempenhou um papel fulcral na derrota das forças leais a Carlos I, pondo fim ao poder absoluto da monarquia britânica. http://pt.wikipedia.org/wiki/Oliver_Cromwell

1682, a Coroa Portuguesa decidiu criar a Companhia de Comércio do Maranhão. Tal Companhia tinha o dever de enviar ao Estado do Maranhão um navio por mês carregado de escravos e alimentos como azeite e vinho. Assim, Portugal pretendia aumentar o comércio da região. Mas a estratégia não dera certo. A Companhia abusava nos preços e, por vezes, atrasava os navios. Isso somado às péssimas condições de vida na época fizeram com que entre os colonos se criasse um clima de hostilidade contra a Metrópole. Liderada por Manuel Beckman (Bequimão) em 1684, começa uma revolta nativista conhecida como a Revolta de Beckman. A Companhia do Comércio do Maranhão, também referida como Companhia do Estanco do Maranhão, foi uma empresa privilegiada, de carácter monopolista, criada sob o reinado de D. Pedro II (1667-1706), em Portugal. Fundada em 1682 em carácter de exclusivo comercial, destinava-se a fomentar a agromanufatura de açúcar e o cultivo de algodão, através do fornecimento de crédito e de escravos africanos aos produtores da região, assegurando o transporte em segurança daqueles géneros em segurança para a Europa. Entre os privilégios de que beneficiava, além do monopólio do comércio com o Estado do Maranhão por 20 anos, destacavam-se a isenção de impostos, um juízo privado, a via executiva para a cobrança de suas dívidas e a liberdade de descer do sertão maranhense os indígenas que desejasse para tê-los ao seu serviço. A Companhia foi acusada de desvalorizar os géneros que deveria adquirir, cobrando em excesso pelas mercadorias da metrópole, além de não disponibilizar os escravos africanos conforme acordado. As reclamações levaram à eclosão da Revolta dos irmãos Beckman (1684) e à posterior extinção da própria Companhia (1685). http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_do_Com%C3%A9rcio_do_Maranh%C3%A3o

Durante o governo de Francisco de Sá de Menezes, o Forte da Vera Cruz, ou Forte do Calvário, foi reedificado à custa de João de Souza Soleima, com a intenção de levantar uma Casa-forte para defesa dos ataques indígenas, sob a invocação do Santo Cristo da Serra de Semide (Forte do Santo Cristo), da qual não restam vestígios (MARQUES, 1970:284). 1683 a primitiva aldeia, denominada Capitiba, foi transferida para o lago Maracu, passando a chamar-se de N. S. da Conceição sobre a proteção de São Bonifácio que, em 1730, abrigava 404 índios. Esta aldeia era uma grande fonte de receita para as missões jesuíticas do Estado. Uma nova missão dos Guajajaras no rio Pindaré, consta no catálogo de 1732: a Aldeia de São Francisco Xavier do Carará, (Monção) a qual em 1730, tinha 779 índios, dos quais 326 eram catecúmenos (SERAFIM LEITE, 1950). 1684 Liderada por Manuel Beckman (Bequimão) começa uma revolta nativista conhecida como a Revolta de Beckman. Os revoltosos queriam o fim da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos jesuítas, pois a Companhia de Jesus era contra a escravidão indígena (principal fonte de mão-deobra na época). Os revoltosos chegaram a aprisionar o Capitão-mor de São Luís e outras autoridades, e expulsaram os jesuítas, mas foram derrotados pelas forças da Coroa. Manuel Beckman foi condenado à morte e enforcado em praça pública, apesar de seu irmão, Tomás Beckman ter ido à Portugal para falar diretamente ao rei o motivo da revolta.O movimento conseguiu fazer com que a Companhia fosse extinta mas não foram atendidos sobre a expulsão dos jesuítas. Revolta dos Beckman: arrebenta (23/02) a revolta chamada Bequimão, contra o monopólio do Estanco estabelecido pela Companhia de Comércio. Deposto o Governador, organiza-se uma Junta dos três Estados, em que São representados


paritariamente o Clero, a Nobreza e o povo. É a primeira vez que o Povo ascende ao Governo; mas o movimento termina com o sacrifício, na forca (10/11/1655) de Manuel Beckman e Jorge de São Paio. Os revoltosos queriam o fim da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos jesuítas, pois a Companhia de Jesus era contra a escravidão indígena (principal fonte de mão-de-obra na época). Os revoltosos chegaram a aprisionar o Capitão-Mor de São Luís e outras autoridades, e expulsaram os jesuítas, mas foram derrotados pelas forças da Coroa. Manuel Beckman foi condenado à morte e enforcado em praça pública, apesar de seu irmão, Tomás Beckman ter ido à Portugal para falar diretamente ao rei o motivo da revolta. O movimento conseguiu fazer com que a Companhia fosse extinta mas não foram atendidos sobre a expulsão dos jesuítas.

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_39ephwOkYhQ/TIrHtrnZNYI/AAAAAAAAAsg/7vMrdNlUDlE/s1600/Revolta%2Bde%2BBeck man.jpg&imgrefurl=http://imagohistoria.blogspot.com/2010_09_01_archive.html&h=309&w=450&sz=66&tbnid=5YmiZ8PlcQn0AM:&tbnh=90&t bnw=13 1&prev=/search%3Fq%3DManuel%2BBeckman%26tbm%3Disch%26tbo%3Du&zoom=1&q=Manuel+Beckman&docid=LUyuGOSGm-H9MM&hl=ptBR&sa=X&ei=ADVmTtrwGqjE0AGY49CdCg&ved=0CEEQ9QEwBg&dur=1875

A REVOLTA DE BECKMAN, também Revolta dos Irmãos Beckman ou Revolta de Bequimão, ocorreu no então Estado do Maranhão, em 1684. É tradicionalmente considerada como um movimento nativista59 pela historiografia em História do Brasil. O sobrenome Beckman, de origem germânica, também é grafado em sua forma aportuguesada, Bequimão. http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Beckman Antecedentes - O Estado do Maranhão, em 1621, compreendia também os atuais territórios de Ceará, Piauí, Pará e Amazonas. Essa região subordinava-se, desse modo, diretamente à Coroa Portuguesa. Entre as suas atividades econômicas destacavam-se a lavoura de cana e a produção de açúcar, o cultivo de tabaco, a pecuária (para exportação de couros) e a coleta de cacau. A maior parte da população vivia em condições de extrema pobreza, sobrevivendo da coleta, da pesca e praticando uma agricultura de subsistência. Desde meados do século XVII, o Estado do Maranhão enfrentava séria crise econômica, pois desde a expulsão dos Holandeses da Região Nordeste do Brasil a empresa açucareira regional não tinha condições de arcar com os altos custos de importação de escravos africanos. Neste contexto, teve importância a ação do padre Antônio Vieira (1608-1697) que, na década de 1650, como Superior das Missões Jesuíticas no Estado do Maranhão, implantou as bases da ação missionária na região: pregação, batismo e educação, nos moldes da cultura portuguesa e das regras estabelecidas pelo Concílio de Trento (1545-1563). Posteriormente, pela lei de 1º de abril de 1680, a Coroa determinava a abolição da escravidão indígena, sem qualquer exceção, delimitando, mais adiante, as respectivas áreas de atuação das 59

A classificação da Revolta de Beckman como nativista obedece antes a critérios de sistematização que propriamente a uma motivação verdadeiramente nativa, na opinião de alguns historiadores, influenciados pelo economicismo. Seria, antes, um movimento "isolado e não contestou a dominação metropolitana, mas apenas um de seus aspectos: o monopólio" (SILVA, Francisco de Assis - História do Brasil, Moderna, S. Paulo, 2ª ed.). Os fatos, porém, dão outra dimensão, menos simplista: o pedido de apoio ao Pará, e a própria declaração de Beckman, por exemplo, colocam efetivamente este movimento dentre os primeiros onde já se esboçava um verdadeiro sentimento nativista, claramente desencadeado por razões econômicas. A partir de 1650, o Maranhão enfrentou uma grande crise econômica e faltou mão de obra indígena para a lavoura.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Beckman


diversas ordens religiosas. Para contornar a questão de mão-de-obra, os senhores de engenho locais organizaram tropas para invadir os aldeamentos organizados pelos Jesuítas e capturar indígenas como escravos. Estes indígenas, evangelizados, constituíam a mão-de-obra utilizada pelos religiosos na atividade de coleta das chamadas drogas do sertão. Diante das agressões, a Companhia de Jesus recorreu à Coroa, que interveio e proibiu a escravização do indígena, uma vez que esta não trazia lucros para a Metrópole. Para solucionar esta questão, a Coroa instituiu a Companhia do Comércio do Maranhão (1682), em moldes semelhantes ao da Companhia Geral do Comércio do Brasil (1649). Pelo Regimento, a nova Companhia deteria o estanco (monopólio) de todo o comércio do Maranhão por um período de vinte anos, com a obrigação de introduzir dez mil escravos africanos (à razão de quinhentos indivíduos por ano), comercializando-os a prazo, a preços tabelados. Além do fornecimento destes escravos, deveria fornecer tecidos manufaturados e outros gêneros europeus necessários à população local, como por exemplo o bacalhau, os vinhos e a farinha de trigo. Em contrapartida, deveria enviar anualmente a Lisboa pelo menos um navio do Maranhão e outro do Grão-Pará, com produtos locais. O cacau, a baunilha, o pau-cravo e o tabaco, produzidos na região, seriam vendidos exclusivamente à Companhia, por preços tabelados. Para obtenção da farinha de mandioca necessária à alimentação dos africanos escravizados, era permitido à Companhia recorrer à mão-de-obra indígena, remunerando-a de acordo com a legislação em vigor. Graças à intercessão do Governador Francisco de Sá de Meneses, apenas os jesuítas e franciscanos ficaram livres do monopólio exercido pela Companhia. Sem conseguir cumprir adequadamente os compromissos, a operação da Companhia agravou a crise econômica e fez crescer o descontentamento na região: os comerciantes locais sentiam-se prejudicados pelo monopólio da Companhia; os grandes proprietários rurais entendiam que os preços oferecidos pelos seus produtos eram insuficientes; os apresadores de indígenas, contrariados em seus interesses, reclamavam da aplicação das leis que proibiam a escravidão dos nativos; a população protestava contra a irregularidade do abastecimento dos gêneros e os elevados preços dos produtos. A Companhia passou a ser objeto de acusações de não fornecer anualmente o número de escravos estipulado pelo Regimento, de usar pesos e medidas falsificados, de comercializar gêneros alimentícios deteriorados e de praticar preços exorbitantes. Esses fatos, somados às isenções concedida aos religiosos conduziria a uma revolta. http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Beckman Consequências - A situação de pobreza da população do Estado do Maranhão perdurou no decorrer das primeiras décadas do século XVIII. Na segunda metade desse século a administração do Marquês de Pombal (1750-1777) tentou encaminhar soluções para as graves questões da região. A administração pombalina, dentro da política reformista adotada, criou, entre outras medidas, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Aproveitando-se oportunamente de situações externas favoráveis - a Revolução Industrial que ocorria na Inglaterra e a Guerra da independência das treze Colônias inglesas na América - a Companhia, em meados do século XVIII, estimulou o plantio do algodão no Maranhão, financiando esta atividade. A exportação do produto cresceu significativamente naquele contexto. Entretanto, quando a Inglaterra reatou relações com a sua antiga Colônia, a produção maranhense entrou em declínio. Estas situações, entre outras dificuldades, levaram à extinção do Estado do Maranhão em 9 de julho de 1774. As suas antigas capitanias ficaram subordinadas ao Vice-rei do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a expulsão dos Jesuítas, promovida por Pombal, fez desorganizar a atividade da coleta das drogas do sertão na Amazônia.

1685 – 25 de março – parte do Tejo o novo Governador e capitão-general do Maranhão e Grão-Pará, Gomes Freire de Andrade, soldado famoso, com 150 homens dee armas e ordens para dominar a rebelião; em sua companhia vinha o Dezembargador Manuel Nunes, para tirar devassa da sedição e Tomaz Bequimão 15 de maio – chega a São Luis. Gomes Freire de Andrade (c. 1650 - depois de 1687), governador do Maranhão (15 de Maio de 1685 - Julho de 1687). Fidalgo de linhagem e soldado de fama; veio com o posto de Tenente-General da Cavalaria da Provincia da Beira, em que se reformara; após restabelecer a ordem na capital do estado, cuidou de fazer omesmo nas demais provinciais; restitui as camaras os privilégios usurpados por seus antecessores, reprimiu os abusos da nobreza e equilibrou as finanças públicas; reincorporou aos domínios reais a Capitania de Vigia, cuja colonização


fracassara o capitão-mor Jorge Gomes Alemó; fez fundar no Mearim a povoação de Santa Maria. Mandou fazer o descobrimento, pelo sertão a João Velho do Vale a descobrir o caminho para a Bahia, enquanto para o Tocantins despachou o Capitão Hilário de Sousa d´Azevedo, contra os aruaquizes e os carapitonas; passando-se a Belém, deixou no governo da Capitanila-Geral do maranhão o Capitão Baltazar de Seixas Coutinho; a 14 de julho de 1687 regressa à metrópole, passando o governo a seu substituto Artur de Sá e Menezes 1685 - Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho governador do Grão-Pará até 1690, e em 1690 governador do Maranhão, até 1701. 1686 – carta Regia de 24 de novembro proibia o corte de árvores cravo por dez anos 1687 - ARTUR DE SÁ E MENEZES – 1687 a 1690; toma posse no Governo do Estado dia 14 de julho de 1687; Capitão de infabntaria, membro do Conselho de Sua Majestade, Comendador de São Pedro de Folgosinho na Ordem de Cristo e de Santa Maria de Meimoa, na Ordem de Aviz. Em seu Governo fez edificar nova igreja na Vila de Capitania de Icatu, para onde despachou capitão-mor e vigário; nessa capitania havia diversos engenhos e, dizia-se, nas cabeceiras do Munin, jazidas de cristais, minas de prata e de pedras preciosas O Forte de Santa Maria de Guaxenduba localizou-se a nordeste da ilha de São Luís, na baía de São José, à margem direita da foz do rio Munim, na vila velha do Icatu. O forte português, ainda em construção, foi atacado pelas forças de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, à frente de sete patachos e quarenta e seis canoas de indígenas flecheiros, montando um efetivo de duzentos franceses e cerca de dois mil indigenas. Apesar da desvantagem numérica, as tropas de Jerônimo de Albuquerque e do Sargento-mor Diogo de Campos Moreno resistiram e repeliram com sucesso este efetivo, a 19 de Novembro de 1614 (SOUZA, 1885:71). Em carta desta data, dirigida a Jerônimo de Albuquerque, La Ravardière designa-o como Forte de São Simão (MARQUES, 1970:281). A 27 de Novembro foi assinado um armistício de um ano entre as partes, para que as duas Coroas - espanhola e francesa -, encontrassem uma saída diplomática. Para isso, o navio francês "Regent" retornou à Europa com emissários portugueses e franceses a bordo, embora não se conheçam os resultados desse esforço diplomático. Este forte encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Mapoteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro). Ao redor desta fortificação desenvolveu-se uma pequena povoação, o arraial de Santa Maria de Guaxenduba. Elevada a vila com o nome de Vila d'Águas Boas, criado em 1688; Depois de São Luís e Alcântara, é a mais antiga localidade do Maranhão. posteriormente foi transferida para as margens do rio Munim, onde no final do século XIX se erguia a Vila (hoje cidade) do Icatu. A antiga povoação era, então, designada como Vila Velha do Icatu (MARQUES, 1885:141-157). http://pt.wikipedia.org/wiki/Icatu ; http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Santa_Maria_de_Guaxenduba

No Governo do Capitão-Mor do Grão-Pará Antonio d´Albuquerque Coelho de Carvalho, os jesuitas estabeleceram-se na ilha de Camunizari, na Capitania do Cabo do Norte, onde fundaram uma residencia; em setembro, perde a vida o Padre Antonio Pereira, maranhense, orador sacro e teólogo conhecido, e seu companheiro o Padre Bernardo Gomes, trucidados pelos ferozes tapuias aguaracas, do morubixaba Canaria e da nação dos maracurios. 26 de novembro – através de carta Régia é firmada paz com os taramambeses, com o objetivo de enfrentar os hoklandeses que teimavam em piratear no Nordeste. 1688 – uma entrada sob o comando do Capitão André Pinheiro subiu o Amazonas até o Rio Negro, resgatando grande quantidade de indigernas, sendo descoberta uma mina de ouro no rio Urubu e uma de prata no Jatuna; o que fez com que o ouvidor-geral Miguel da Rosa Pimentel estabelesse em belém uma fundição para esses metais.


– chega noticias de que chegara ao cabo do Norte o Cavaleiro Pierre de Ferolle, de ordem do Governador La barre, para reclamar que as instalações portuguesas estavam em terras de sua jurisdição e deicara notificação escrita a ser transmitida ao Capitão-mor do Grão-Pará Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho era capitão-mor do Pará e governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará. Em 25 de junho tomou posse do cargo e combateu os índios arauaques. Realizou uma viagem pela Amazônia que o fez adoecer, pedindo licença para voltar a Lisboa, curar-se das doenças contraídas. Tinha repelido com força uma tentativa dos franceses de Caiena de ocupar um local no estuário do Amazonas 1690 – a 17 de maio assume o governo ANTONIO D´ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO, O MOÇO - 1690 a 1701; Capitão-mor do Grão-Pará foi empossado como Governador do Estado, assumindo nsuas funções em Belém, passando-se imediatamente para São Luis, deixando como capitão-mor Hilário de Sousa Azevedo. Em seu governo foi edificada a fortaleza da Ponta de João Dias (Ponta d´Areia), assim como outras fortificações em outras capitanias, como a de Joanes e Gurupá Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (Lisboa, 1655 — Angola, 1725) foi governador do Rio de Janeiro no início do século XVIII. Foi comendador de Santa Maria de Cea na Ordem de Cristo e de Santo Ildefonso de Val de Telhas na Ordem de Avis, alcaide-mor de Sines, donatário de Couto, de Ouil e de Santo Antônio de Alcântara, no Maranhão. Batizado na igreja de Santa Engrácia em 14 de setembro de 1655, era filho do fidalgo do mesmo nome e de certa Inês Maria Coelho. O pai, chamado «o Velho» pelos historiadores, nascera no Brasil e fora capitãogeneral do Maranhão de 22 de junho de 1667 até 9 de junho de 1671. Esteve no Maranhão de 1667 a 1671 e retornou a Portugal. Voltou ao Brasil em 1678 (quando acompanhou Inácio Coelho da Silva, nomeado governador do Maranhão) e aqui permaneceu até 1701. A família tinha propriedades em Santa Cruz de Camutá. Nomeado em 1685 governador do Grão-Pará, até 1690, e em 1690 governador do Maranhão, até 1701. Em 1688 era capitão-mor do Pará e governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará. Em 25 de junho tomou posse do cargo e combateu os índios arauaques. Realizou uma viagem pela Amazônia que o fez adoecer, pedindo licença para voltar a Lisboa, curar-se das doenças contraídas. Tinha repelido com força uma tentativa dos franceses de Caiena de ocupar um local no estuário do Amazonas, e em 1697 feito a extensa viagem pela Amazônia, subindo mesmo o rio Negro. Recebeu a autorização em 1700, embarcando em 1701. Em sua patente se dizia que « servira com grande valor na guerra da Grande Liga, sargento-mor de batalha, governador da Beira Baixa e da praça de Olivença. Na metrópole, foi comendador de Santa Maria de Cea e Vila Cova na Ordem de Cristo e do senhorio do Couto de Outil, alcaide-mor de Sines, comenda de Santo Ildefonso do Val de Telhas na Ordem de Avis, diversas mercês e ainda a donataria das capitanias de Santo André de Alcântara e de Santa Cruz de Camutá, com 50 léguas de costa no Estado do Maranhão. No Brasil, teve de uma parda da terra (filha de branco com escrava) um filho ilegítimo batizado com o mesmo nome: ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE COELHO. Este, em 10 de março de 1700 recebeu alvará de Fidalgo Escudeiro e Fidalgo Cavaleiro, no Livro 13 das Mercês de D. Pedro II folhas 210: Diz ser dado a «Antônio de Albuquerque Coelho, natural do Maranhão, filho natural de Antônio de Albuquerque Coelho, Fidalgo da Casa de Sua Majestade e neto de Antônio de Albuquerque Coelho.» Casou depois de 1701 com D. Luisa de Mendonça, nascida em 1686, 5ª filha de D. Francisco de Melo e neta de D. Pedro José de Melo, antigo governador e capitão general do Maranhão. Francisco era destinado a maltês, mas largou o hábito para casar com D. Joana de Abreu e Melo. Eram irmãs de Luisa: Maria Josefa de Mendonça, abadessa de Lorvão; Josefa, soror Maria Margarida, freira no Sacramento de Lisboa e ainda D. Mariana Josefa, que morreu recolhida em Lorvão. 1 - Francisco de Albuquerque Coelho de Carvalho, em 1732 casado com Teresa de Lencastre, filha de Diogo Correia de Sá e D. Inês de Lencastre, 3º visconde de Asseca. De certa Angela Barros, ou Angela de Azevedo, natural do Gurupá e moradora da vila de Santa Cruz de Camutá, teve por volta de 1682 seu filho mais famoso, ilegítimo: 2 - António de Albuquerque Coelho, figura importante de Portugal em Macau e Timor. Este Antonio de Albuquerque Coelho teria um ivro publicado sobre sua viagem a Macau, de onde foi governador. João Tavares de Velez Guerreiro (falecido em 1718) escreveu «Jornada que Antonio de


Albuquerque Coelho, Governador e Capitão General da cidade de Macau na China fez de Goa até chegar à dita cidade no ano de 1718», que pode ser consultado na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (cota BACL 11 67 18). Angela era filha de Manuel da Mata e Barros, pernambucano, filho de um branco e de uma escrava de Angola, com Maria de Azevedo, pernambucana, filha de um mulato e de uma «índia da terra». A saúde, prejudicada na Amazônia piorou com a Guerra da Sucessão da Espanha, em que tomou parte pequena, mas cheia de honra como comandante em chefe da Beira Baixa, com patente de sargento-mor. Foi governador de Olivença, de 1708 a 1709. Falava-se que em 1708 seria nomeado governador do Rio de Janeiro, mas só veio nomeado em março de 1709 como governador da Repartição do Sul, e em 1710 seria governador de São Paulo e Minas de Ouro, território recentemente separado do Rio de Janeiro. Foi capitão geral das Minas Gerais e depois de Angola, 1721-1725, onde morreu. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_de_Albuquerque_Coelho_de_Carvalho

"Plano do Reducto de S. Antonio da Barra da Cidade do Maranhão..." (post. 1750). FORTALEZA DA PONTA DE JOÃO DIAS (PONTA D´AREIA) – O Forte de Santo Antônio da Barra de São Luís localiza-se na ponta de João Dias, atual ponta da Areia, a sudoeste do Forte de São Marcos, dominando a barra do canal de acesso ao porto de São Luís. A estrutura primitiva desta forticação é atribuída aos franceses, durante os combates de 1614 (SOUZA, 1885:70), sendo lícito presumir que, de campanha, tenha sido erguida em faxina e terra. A seu respeito CERQUEIRA E SILVA (1833), deixou registrado: "Na manhã seguinte [1 de Novembro de 1615] desembarcou Alexandre de Moura na ilha de S. Francisco, pouco mais d'um tiro de canhão distante da fortaleza de S. Luiz, levantando ali uma fortificação de pau-a-pique, a que se deu o nome do forte da [sic] Sardinha, guarnecendo-o Bento Maciel Parente com a equipagem do seu navio, e passou a sitiar por mar os Franceses, que desanimando contra a expectativa de Ravardière, fizeram com que este se rendesse, passando à ilha assinou logo um termo da entrega da colônia e evacuação da fortaleza, passando à Europa em três navios, que aprontou Alexandre de Moura, mais de quatrocentos franceses, ficando porém outros, que por estarem casados com Índias não quiseram acompanhá-los, e seguindo Ravardière para Pernambuco com Alexandre de Moura, a 9 de Janeiro de 1616." (op. cit., p. 184-185). MARQUES (1970) ratifica esse entendimento ao referir que se tratava de estrutura de pau-a-pique erguida pelo Capitão-mor da capitania de Pernambuco, Alexandre de Moura, quando desembarcou em 1 de Novembro de 1615, e onde, no dia seguinte, os franceses teriam assinado a capitulação (op. cit., p. 282). O mesmo autor conclui ser o "Sardinha", nome pelo qual este forte ficou conhecido (Forte do Sardinha), um dirigente das suas obras, citando um trecho de uma carta escrita pela Câmara Municipal de São Luís ao Sargento-mor Antônio de Barros Pereira, onde se refere: "(...) Sobre os índios que Vmcê. aponta se faça toda a diligência por se conduzirem à ponta de João Dias [para o trabalho na construção do forte], porque conforme a informação do Sardinha, os que haviam trabalhavam na pedra e haviam ido com Vmcê. (...)" (carta de 12 de Fevereiro de 1689. apud: op. cit., p. 282). Por ela se percebe ainda que as obras estavam paradas carecendo de mão-de-obra,


embora, aparentemente os problemas fossem mais sérios. Dias mais tarde, a Câmara informou ao Governador: "As obras da fortaleza da ponta de João Dias, com as novas ordens de V. Sa., as largou por mão o Sargento-mor Antônio de Barros Pereira, não sabemos se foi ordem de V. Sa. ou moto-próprio, contudo ficamos de acordo em ir mandando carregar para ela pedra para que esteja ao pé da obra, e seguiremos no mais que V. Sa. ordenar." (18 de Fevereiro de 1689. apud op. cit., p. 283). Por Carta Régia de 8 de Outubro de 1691, consta que o Governador do Maranhão dera princípio a esta fortaleza, com muitas dificuldades devido à falta de engenheiro, pedreiros, índios de serviço, materiais e cal do Reino (op. cit., p. 283). O seu risco foi do Capitão Pedro de Azevedo Carneiro ("Planta do forte, que desenhei, e se fica fazendo na Ponta de João Dias, barra da cidade do Maranhão", 1692. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:46). A Carta Régia de 17 de Fevereiro de 1693 participou ao Governador a remessa, de Portugal, de quatro pedreiros de alvenaria e cantaria para a continuação das obras da fortaleza, vencendo cada um o jornal de 500 réis (MARQUES, 1970:283). No início do século XVIII, a propósito de consulta em 12 de Maio de 1715 sobre o Forte de Santo Antônio da Barra, a Coroa informou ao Governador e Capitão General Cristóvão da Costa Freire que, "como não era possível remediar a Fortaleza da barra de São Luís, situada na ponta de João Dias, conforme o exame feito pelo Capitão-mor da praça, Provedor da Fazenda e Sargento-mor de Engenheiros Custódio Pereira, e que só fazendo-se de novo e de cantaria vinda do reino poderia durar assim mesmo com dificuldade por causa da grande correnteza que ali faziam as águas, fosse tirando da dita fortaleza todas as armas e munições para se não perderem." (Carta Régia de 30 de Julho de 1716. apud: MARQUES, 1970:281). Chegou-se a projetar uma nova fortaleza para a barra de São Luís, da qual existem duas plantas sob o mesmo título ("Planta da fortaleza que se há de fazer na barra de São Luís do Maranhão", 1718. AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:46), que entretanto não saiu do papel. De acordo com o "Plano do Reducto de S. António da Barra da Cidade do Maranhão" (post. 1750. Biblioteca Nacional, Lisboa), ao centro, sobre o terrapleno, distribuíam-se as dependências de serviço em dois edifícios de alvenaria, de um pavimento. O Governador Gonçalo Pereira Lobato e Souza informou à Corte que "esta fortaleza se achava em grande parte abatida, porque sendo construída em terreno arenoso e alagadiço e sem firmeza, tendo por alicerces uns paus, que apodrecendo com o tempo lhe ocasionaram o abaterem-se-lhe os muros da parte do mar e barra, formou-se destas mesmas ruínas um recife." (27 de Fevereiro de 1755. apud: MARQUES, 1970:283). O Governador Joaquim de Melo e Póvoas informou à Corte "que intentou fazer esta fortaleza em 1762, e chegou a dar princípio desmontando as muitas ruínas que ali haviam". Não continuou a obra por ver que as cortinas por duas vezes vieram abaixo (MARQUES, 1970:283) (Ofício de 21 de Janeiro de 1777, do Governador Joaquim de Mello Póvoas ao Sr. Martinho de Mello e Castro, dando conta da castelaria?). O Relatório de 21 de março de 1797 sobre as fortalezas de São Luís, pelo Ajudante de Ordens Luís Antônio Sarmento da Maia para o Governador da Capitania, D. Fernando Antônio de Noronha (1792-1798), informa: "O reduto de Santo Antônio, fortificação passageira, mandada fazer por V. Exa., é o mais vantajoso posto por todas as razões, porque além de estar tão próximo à barra para a poder defender com muita vantagem, tem também a de não poderem os inimigos atacá-lo com grande frente por terra, e seria sem dúvida a máxima defesa desta cidade, se o dito reduto, em lugar de fortificação de campanha ou passageira, passasse a ser construído de pedra e cal, com o mesmo risco, que já teve, o qual era um paralelogramo romboidal, oferecendo um dos seus maiores lados para a entrada da barra e um ângulo obtuso para dentro do canal. O atual reduto tinha cinco canhões de calibre 18, dois de calibre 12, dois de calibre 9, tudo artilharia de ferro e em muito mau estado." (MARQUES, 1970:283). Em 14 de Julho de 1824, o Tenente de Artilharia Manuel Joaquim Gomes liderou uma revolta contra o governo do Presidente da Província, Miguel Inácio dos Santos Freire Bruce (18241825), formando uma "Junta Temporária", que se instalou na fortificação. No dia 17, por ordem da Presidência da Província os fogos cruzados do Forte de São Luís do Maranhão e do Forte de São Marcos, após causar o incêndio da Casa da Pólvora, sufocaram a rebelião, afugentando os revoltosos (MARQUES, 1970:234). Desarmado à época do Período Regencial (1831-1840) (GARRIDO, 1940:37), foi avaliado em 20:291$660 réis (22 de Janeiro de 1840). Na década de 1870, o forte, em alvenaria de pedra e cal, apresentava planta no formato circular com 23 braças de diâmetro, muralha com 29 palmos de altura, acima do alicerce, 14 de grossura e 9 de parapeito, sendo o terrapleno calçado de pedra e a plataforma de lajes de Portugal. Sobre o terrapleno erguiam-de duas edificações, Casa do Comandante / Quartel da Tropa, e Casa da Palamenta / Paiol da Pólvora. Estava artilhada com sete peças de ferro de calibre 32, treze de 12 e uma de 9 de calibre de bala, todas montadas (MARQUES, 1970:284). O Aviso Ministerial de 24 de Agosto de


1871 dispensou o seu comando, ordenando que fosse vigiado pelo funcionário encarregado do Laboratório Pirotécnico do Exército que ali funcionava (SOUZA, 1885:70). Conhecido como Forte da Ponta da Areia, encontra-se tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional desde 1975, sediando, atualmente, um grupamento do Corpo de Bombeiros. http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Santo_Ant%C3%B4nio_da_Barra_de_S%C3%A3o_Lu%C 3%ADs

1692 – fundado um pesqueiro real na Ilha de Marajó Chegada a Iguapeba – Ceará a bandeira paulista comandada por Francisco Dias de Siqueira; por uma Carta Regia de 1693 recomendava-se que se impedisse tais entradas em terras de sua jurisdição Francisco Dias de Siqueira foi sertanista, cabo na conquista e guerra contra os índios no Rio Grande e Ceará Grande no comando de Matias Cardoso de Almeida. Filho de Francisco Pires de Siqueira e Helena Dias, casado com Joana Correia, sua família é descrita por Silva Leme em sua «Genealogia Paulistana», volume II, página 41. Era apelidado o Apuçá. Ele e outros cabos da conquista passaram à conquista do Piauí, quando terminou a guerra contra os índios na Bahia, e como capitão-mor, teve auxílio contra os índios das nações Precatez, Cupenhares, Curatez e Capapuruz, conquistados até 1701. Capitão-mor desde 1º de fevereiro de 1677 com patente dada pelo Governo Geral porque reduzira à paz os índios guacupés e ananás dos confins do sertão do São Francisco, cabeceiras do rio Maranhão e rio de Paranaguá. Estabeleceu-se em terras do Piauí, mantendo um arraial com muitos tapuias cristãos frente às terras dos alongazes, entre os rios Sâo Vitor e Canindé, que era o eixo do povoamento do Piauí. 1691 - Em 23 de julho o governadorgeral D. Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho nomeou Francisco Dias de Siqueira tenente-coronel das minas «de ouro, prata, pedraria e pérolas que há na serra e lagoas pelos sertões interiores do Rio Grande, Ceará e confins do Maranhão. » Como imediato do coronel, seu sobrinho o coronel João Raposo Bocarro. A frente de uma tropa varou os sertões indo 1692 até São Luis. Em carta datada de 19 de julho de 1692 o mesmo governador escreve ao rei sobre as extorsões que cometera Francisco nas aldeias de índios reduzidos no Maranhão: «Os paulistas saem de sua terra e deitam várias tropas por todo o sertão e nenhum outro intento levam mais que cativarem o gentio da língua geral, que são os que já estão domesticados, e não se ocupam do gentio de corso porque lhes não servem para nada; assim que o intento destes homens não é o serviço de Deus nem o de Vossa Majestade e com pretextos falsos, passam de uns governos para outros e se lhes não fazem mostrar as Ordens que levam. Enganam aos governadores, como este capitão Francisco Dias de Siqueira fez ao governador do Maranhão Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, dizendo-lhe que ia a descobrir aquele sertão por minha ordem, que tal não houve nem tal homem conheço, e com este engano pedem mantimentos, armas e socorro e depois com elas vão conquistar o gentio manso das aldeias e o gado dos currais dos moradores. Com que estes homens são uns ladrões destes sertões e é impossível o remédio de os castigar, porque se os colherem, mereciam fazer-se neles uma tal demonstração que ficasse por exemplo para se não atreverem a fazer os desmandos que fazem. Assim que me parece inútil persuadi-los a que façam serviço a Vossa Majestade porque são incapazes e vassalos que Vossa Majestade tem rebeldes, assim em São Paulo, onde são moradores, como no sertão, donde vivem o mais do tempo; e nenhuma Ordem do governo geral guardam, nem as leis de Vossa Majestade.» Uma carta real de 2 de novembro de 1693 ordena, em resposta à carta de 19 de julho, anteriormente citada, que os oficiais da Câmara de São Paulo reprendessem severamente o Apuçá. Mas este, havendo baixado à Bahia, morrera, deixando uma filha única e enorme fortuna que, segundo conta Pedro Taques, foi remetida a Lisboa, ao Tribunal da Mesa da Consciência e Ordens. Silva Leme conta a história no volume II de sua «Genealogia Paulistana», página 41 http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Dias_de_Siqueira

1695 – nova epidemia de variola trazida a São Luis por um navio negreiro; estendeu-se até Cumã, Caeté, Joanes, e Grão-Pará; fez mais de 200 vitimas - registrada entrada de castelhanos, descidos das cabeceiras do Amazonas para as terras dos cambebas, na jurisdição do Maranhão, sendo despachadas contra eles tropa comandanda poelo Capitão Antonio de Miranda 1697 Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho faz extensa viagem pela Amazônia, subindo mesmo o rio Negro.


08 de maio – chega a São Luis o seu teerceiro Bispo, D. Frei Timoteo do Sacramento, religioso eremita de S. Paulo da Serra da Ossa, transferido do Bispado de São Tomé e Príncipe; em seu Bispado ocorreu a Questão Religiosa 1700 João Lisboa, em seus "Apontamentos", diz que, no transcurso do século XVII para XVIII, a cidade apresentava todos os sinais de decrepitude, acrescentando que, conforme ofício do então Ouvidor-Mor João Francisco Leal (19/11/1700), seus subúrbios se estendiam além da Igreja de São João. Isto é, continuavam nos limites que lhe foram dados na planta de 1642. 1701 pela Carta Régia de 03/03 o Piauí volta a se integrar ao Maranhão– regulamentada pela carta Regia de 11 de janeiro de 1715. Entradas realizadas no Governo de ANTONIO D´ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO, O MOÇO - 1690 a 1701: do Capitão João Seixas aos dom´pinios dos tapajós e irurizes; do Capitão João de Moraes Lobo atéx os rios Negro e Madeira; do Capitão Faustino Mendes as terras dos abacaxis; do Sargento-mor Francisco dos Santos que, indo pelo sertão, entregou a D. João de Lencastro, Governador da Bahia, 19/04/1695, a carta que lhe levara de Aqbntonio de carvalho, datada de 15/12/1694; do Capitão-mor Hilário de Sousa, contra os maraguazes; e a dele proprio contra os caicaizes, que assolavam toda a zona do Munin ao mearim, e contra os amanajus e tacanhapes. FERNÃO DE CARRILHO – 1701 a 1702 – recebeu o cargo de Antonio de Carvalho, de licença para o reino, sem perda do cargo, em 11 de julho de 1701; Tenente de Marinha; Capitão de Ordenanças em Sergipe na luta contra mocambos de negros fugidos, e Capitão-mor do Ceará; sua interinidade durou um ano, até julho de 1702, quando passou o cargo a D. Manuel Rolim de Moura. Promoveu cruenta perseguição aos aruans da Ilha do Marajó, por terem trucidado os missionários franciscanos Frei José de Santa Maria e Frei Martinho da Conceição; extinguiu um mocambo de escravos negros nos sertões de Turiaçu. Criou a Ouvidoria da Capuitania do Grão-Para (1700) Fernão Carrilho (1640?-1703?) foi um administrador colonial brasileiro. Foi governador da capitania do Maranhão, de junho de 1701 a julho de 1702. Não há registros do nascimento nem da morte de Fernão Carrilho. As últimas informações sobre ele datam de 1703, desconhecendo-se o que aconteceu a ele depois disso. Mas como se supõe que ele tinha cerca de 60 anos quando deixou o governo, é possível que tenha nascido por volta de 1640 http://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Carrilho

1702 - D. MANUEL ROLIM DE MOURA - governador de 1702 a 1705 – recebeu o cargo da mão de seu antecessor em São Luis a 8 de julho de 1702, passando-se a Belém; cedo entrou em desentendimento com o Ouvidro-Geral por motivos de arrecação; volta a São Luis e daqui vai para Portugal, sendo afastado por D. Catarina, regente, mandndo que as entregasse interinamente ao capitão-mor do grão-Pará João Velasco de Molina Manuel Rolim de Moura Tavares foi um administrador colonial português. Foi governador geral da capitania do Maranhão, de 1702 a 1705. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Rolim_de_Moura_Tavares

1705 - JOÃO VELASCO DE MOLINA – 1705 a 1707 – assumiu interinamente o cargo de Governador e Capitão-General do Estado em 13 de setembro João Velasco de Molina foi um militar e administrador colonial português. Foi capitão-mor governador da capitania do Espírito Santo, de 23 de março de 1690 a 5 de julho de 1695 e depois outra vez, de setembro de 1716 a 1 de janeiro de 1721. Quando Antônio Rodrigues Arzão, varando


pelo rio Doce, foi até Vitória e lhe apresentou as três oitavas, fez duas Memórias das quais uma ficou com Molina. Foi também capitão-mor do Grão-Pará de 1698 a 1707. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_velasco_de_molina

1707 – CRISTOVAM DA COSTA FREIRE – 1707 a 1718 – nomeado por decreto de 11 de dezembro de 1705, só tomou posse em 12 de janeiro de 1707; Senhor de Pancas, Mestre dee Campo da Infantria Auxiliar de Lisboa; quis dar execução a Caerta regia de 6 de dezembro de 1705 que recomendava a libertação do gentio, encontrando forte resistência dos colonos, voltando atrás; expediu uma tropa de resgate ao Amazonas, sob o comando de Capitão Inacio Correra de Oliveira - Recebe ordens de expulsar de seus dominiods os missionários castelhanos da província de Quito que dse haviam estabelecido entre os Cambebas no Amazonas 1710 – Carta Régia de 14 de janeiro concede aos nobres maranhenses a mercê de organizarem uma Companhia de Privilegiados 1712 Em seu primeiro centenário, a cidade, segundo o testemunho do Pe. Jacinto de Carvalho em sua "Relação do Maranhão" (1719) era muito formosa por causa das muitas árvores; e, segundo Berredo, que governou o Estado de 1718 a 1722, tinha pouco mais de 1.000 vizinhos ("anais"). 1713 os frades capuchinhos movem um processo contra as formigas que lhe invadiram a dispensa 1715 Assinatura do Tratado de Utrecht, entre Portugal e Espanha São chamados tratados ou paz de Utrecht (ou de Utreque) os acordos que, firmados na cidade de Utrecht (ou Utreque), nos Países Baixos, (1713-1715), puseram fim à guerra da sucessão espanhola (1701–1714), na qual entraram em conflito interesses de várias potências europeias. O trono da Espanha era pretendido por Filipe d'Anjou, neto do rei francês Luís XIV, e por Carlos, da casa da Áustria. As negociações se abriram em 29 de Janeiro de 1712, mas só em 11 de Abril de 1713 foram assinados os principais acordos, dos quais o último é de 1714. Os opositores da disputa eram, de um lado, a França, em apoio a Filipe d'Anjou; do outro, a Grande Aliança, contra Luís XIV e a favor do príncipe Carlos, formada por Grã-Bretanha, República Neerlandesa, Prússia, Portugal e a casa de Sabóia. A Grande Aliança perdeu força quando Carlos foi eleito imperador do Sacro Império Romano-Germânico, com o nome de Carlos VI da Germânia, pois para os britânicos não convinha que o príncipe austríaco centralizasse tanto poder. Após negociações entre ingleses e franceses, foi realizado um congresso em Utrecht, sem a participação da Áustria, e foram assinados os tratados. O imperador austríaco Carlos VI julgou que não poderia prosseguir em sua luta sem os aliados e aceitou os termos dos tratados de Rastatt e Baden, em 1714. A questão da sucessão na Espanha foi solucionada em favor de Filipe V, que conservou a coroa da Espanha (1700-1746) e as respectivas colônias, mas renunciou ao direito de sucessão ao trono francês. A integridade do território francês foi preservada e a Inglaterra recebeu importantes bases marítimas - Gibraltar, Minorca, Terra Nova (Newfoundland), Acádia - e obteve o direito de abastecer as colônias da América Espanhola com escravos negros. A Inglaterra ganhou da França, além da Terra Nova, a baía de Hudson e St. Kitts e o reconhecimento da sucessão hanoveriana. O sul dos Países Baixos, Milão, Nápoles e Sardenha passaram à Áustria. A França restituiu conquistas recentes, mas manteve tudo o que fora conseguido na Paz de Nijmegen, em 1679, além da cidade de Estrasburgo. O duque de Savóia ganhou a Sicília e aumentou as fronteiras do norte da Itália. Os holandeses asseguraram, junto ao governo austríaco, o direito de guarnecerem fortalezas no sul dos Países Baixos. A dominação francesa encontrava-se em situação difícil, mas a França ainda era uma grande potência. A Inglaterra obteve conquistas navais, comerciais e coloniais significativas, assumindo posteriormente um papel preponderante no que diz respeito às questões de ordem mundial. As negociações conducentes à assinatura deste tratado foram iniciadas em 1712, tendo representado nelas, para Portugal, o conde de Tarouca, João Gomes da Silva, e D. Luís da Cunha. Em 1713 foi reconhecida a soberania de Portugal sobre as terras da América Portuguesa, compreendidas entre os rios Amazonas e Oiapoque. Em 1715 acordou-se a restituição aos portugueses da Colônia do Sacramento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Utrecht


Alegoria da Paz de Utrecht Piauí volta a se integrar ao Maranhão– regulamentada pela carta Regia de 11 de janeiro de 1715. - segunda expedição de resgate comandada pelo próprio Governador 1716 – terceira expedição de resgate sob o comando do Sargento-mor Francisco Cavalcanti d´Albuquerque, despachado Itapecuru acima; retrocede para a Casa Forte do Iguará A Casa-forte do rio Iguará localizou-se na margem esquerda do rio Iguará; No contexto da Revolta de Mandu Ladino (1712-1719) 60, esta estrutura defensiva foi erguida em 1712 pelo Mestre-de-Campo Antônio da Cunha Souto Maior. Tinha como função servir como base de operações contra o bando de Mandu Ladino, um indígena Cariri educado por padres jesuítas, que 60 A chamada Revolta de Mandu Ladino foi um conflito que opôs os indígenas do interior da então capitania do Piauí aos colonizadores portugueses, tendo se estendido de 1712 a 1719. Nasceu em São Miguel do Tapuio (Altos-PI), era um índio Arani e ficou órfão de pai e mãe aos 12 anos de idade, e que fora recolhido ao aldeiamento cariri do Boqueirão, a 70 léguas de Recife, para estudar e ser cristianizado pelos religiosos da Ordem dos Capuchinhos, logo fora batizado. Sem esconder o ódio aos brancos que haviam exterminado a sua família e seu povo, seu sentimento se tornaria ainda maior quando presencia os mestres que o educavam queimarem os ídolos, vestimentas e outros objetos de adoração de seu povo, após isso, fugiu do aldeiamento e uniu-se a vários indígenas cariris que buscavam o vale do Longá, no Piauí, no meio do caminho foi aprisionado e vendido como escravo para um criador de gado que com o passar do tempo conquista a sua confiança trabalhando muito tempo como escravo-vaqueiro. Como condutor de boiadas, conhece várias tribos da região, até que em uma de suas viagens de rotina, no ano de 1712, se revolta ao presenciar uma índia sendo brutalmente morta por soldados portugueses. Inconformado com essa cena, ele consegue reunir vários índios, retornando ao local, exterminando toda a guarnição militar. A partir daí inicia-se sua fase de liderança indígena. A pecuária desempenhou papel importante na economia colonial, pois além da carne utilizada na alimentação humana, os bovinos também forneciam o couro aproveitado de diversas maneiras, além de servirem como meio de transporte nas zonas mineradoras. Mas uma carta régia de 1701 proibiu a criação do gado numa faixa de 10 léguas a partir do litoral, já que as extensas áreas destinadas à pastagem seriam mais lucrativas se utilizadas na cultura de cana, matéria-prima na produção açucareira. Com isso as fazendas de gado se multiplicaram pelo interior, invadiram os férteis terrenos marginais do rio Parnaíba, no Piauí, provocando assim, e mais uma vez, a expulsão das nações indígenas. O movimento iniciou-se pelo assassinato do fazendeiro Antônio da Cunha Souto, pelos indígenas, revoltados com a crueldade dele. A partir daí, o movimento contra os fazendeiros, liderado por Mandu Ladino, da tribo dos Cariris, batizado e educado pelos jesuítas na capitania de Pernambuco, ganhou fôlego, estendendo-se pelo sertão do Maranhão, do Piauí e alcançando o do Ceará. Muitos portugueses morreram e muitas fazendas foram arrasadas nessas regiões. Com o auxílio dos aldeamentos jesuítas da região da serra da Ibiapaba, onde predominavam os Tabajaras, os fazendeiros portugueses organizaram uma grande expedição contra os revoltosos. Desse modo, partiu do Maranhão, em 1716, uma expedição chefiada por Francisco Cavalcante de Albuquerque à qual se uniu o Mestre-de-Campo da capitania do Piauí, Bernardo de Carvalho Aguiar. Mandu Ladino, entretanto, logrou escapar a estas forças, que entretanto, chacinaram os Aranis. O movimento extingui-se com a morte por afogamento, nas águas do rio Parnaíba, do seu líder. http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_de_Mandu_Ladino


por sete anos assolou a região da foz do rio Parnaíba aonde, foragido, veio a falecer por afogamento (SOUZA, 1885:72).

- aniquilamento dos Iorás, do Madeira pelo Capitão João de Barros Guerra - povoamento da margem direita do Parnaíba, apo´s a derrota e expulsão dos aranhis 1717 – assume o Bispado do Maranhão D. Frei José Delgarte, o quarto pela ordem, até 14 de dezembro de 1724, quando faleceu 1718 – BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO – 1718 a 1722 – fidalgo da Cara Real e Capitão de Cavalaria, recebendo o cargo do Senhor de Pancas em 1º. De agosto de 1718; contra seus desmandos e arbitrariedades houve mais de uma representação à Corte, dentre elas o de haver ocupado a tropa de linha na construção de um engenho particular no Mearim e manter injusta guerra aos nativos; ordenou quatro entradas: - a primeira, sobre seu comando aos sertões do Icatu, Itapecuru e Mearim para castigar os tapuias barbados; - segunda, contra os guanarés que haviam trucidado o jesuita João de Avelar; - terceira, as ordens do capitão Diogo Pinto da Guia, ao Tocantins, e subindo o Araguaia 180 léguas a cata de ouro Bernardo Pereira de Berredo e Castro foi um historiador e administrador colonial português. Pertenceu ao Conselho de Sua Magestade. Foi governador do Estado do Maranhão, de 1718 a 1722, e da Praça-forte de Mazagão, no Marrocos, de 1734 a 1745. Obra Annaes historicos do estado do Maranhaõ: em que se dá noticia do seu descobrimento, e tudo o mais que nele tem sucedido desde o ano em que foi descoberto até o de 1718 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_Pereira_de_Berredo_e_Castro

- criação da capitania de São José do Piauí, subalterna da do Maranhão, cujo governo só seria efetivamente provido em 1758 No começo do século XVII, fazendeiros da região do rio São Francisco procuravam expandir suas criações de gado. Os vaqueiros, vindos principalmente da Bahia, chegaram procurando pastos e passaram a ocupar as terras ao lado do rio Gurgueia. Em 1718, o território, até então sob a jurisdição da Bahia, passou para a do Maranhão. O capitão Domingos Afonso Mafrense, ou capitão Domingos Sertão, como era conhecido, foi um dos sesmeiros que ocuparam essas terras; possuía trinta fazendas de gado e foi o mais alto colonizador da região, doando suas fazendas após sua morte - aos padres jesuítas da Companhia de Jesus. A contribuição dos padres jesuítas foi decisiva, principalmente no desenvolvimento da pecuária, que, em meados do século XVIII, atingiu seu auge. A região Nordeste, o Maranhão e as províncias do sul eram abastecidas pelos rebanhos originários do Piauí até a expulsão dos jesuítas (período pombalino), quando as fazendas foram incorporadas à Coroa e entraram em declínio. Quanto à colonização, esta se deu do interior para o litoral. Em 1811, o Piauí tornou-se uma capitania independente. http://pt.wikipedia.org/wiki/Piaui

1720 quarta entrada, contra os Juruás no alto Solimões em vindita a morte de carmelita Antonio de Andrade o Grão-Pará foi tirado da jurisdição episcopal do Maranhão, elevado a Bispado pelo papa Clemente XI, através da Bula Copiosus in misericórdia, datada de 04 de março de 1719 1722 JOÃO DA MAIA DA GAMA – 1722 a 1728 – Capitão de Fragata da Aramda Real e ex-Governador da Paraíba, no Brasil; tomando posse a 19 de julho; João da Maia da Gama, como ensina Charles Boxer em «The Golden Age of Brazil» página 365, nasceu em Aveiro, estudou filosofia na Universidade de Coimbra mas abandonou o curso para se


alistar na frota da Índia com o vice-rei Conde de Vila Verde, que partiu do Tejo em março de 1692. Nomeado governador da Paraíba, ali serviu de 1708 a 1717. Depois foi nomeado governador do Maranhão, de 1722 a 1728. Voltando a Lisboa, manifestou apoio aos Jesuítas daquela província, contra os que intrigavam contra eles na Corte. Morreu subitamente em 11 de novembro de 1731. Tinha-se casado com uma moça de Azurara nos arredores de Vila do Conde, de quem teve um filho e quatro filhas. Foi descrito como alto, bem feito, com pele morena, rosto alongado, olhos negros e um grande nariz. Foi sempre homem honrado e muito capaz. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_da_maia_da_gama

Entradas no Madeira, Branco e Negro, no Amazonas, e Mearim no Maranhão Mandsou restaurar a estrada que ligava o Maranhão ao Pará, que fora aberta um século antes por Pedro Teixeira, a mando de Bento Maciel 1724 – falece o Bispo do Maranhão D. Frei José Delgarte, em 14 de dezembro Passa a responder pelo Bispado D. Bartolomeu do Pilar, bispo do grão-Pará, até 1738, quando é nomeado novo Bispo para o Maranhão 18 de agosto – por Edital é regulado o tamanho dos panos de tecido, pois os novelos de algodão eram utilizados como moeda, e estavam sendo fraudados no peso 1727 Introdução do cafeeiro, a partir da Guiana Francesa, no Pará, por Francisco de Melo Palheta FRANCISCO DE MELO PALHETA (Belém do Pará, 1670 — cerca de 1750) foi um militar luso-brasileiro, responsável pela introdução do cultivo do café no Brasil e em Portugal. O café foi primeiro introduzido na América do Sul através do Suriname. De lá, passou para a Guiana Francesa, por iniciativa do Governador de Caiena que conseguiu, de um francês chamado Morgues um punhado de sementes, tendo-as semeado no pomar de sua residência. No século XVIII, o café, devido às suas qualidades estimulantes, era um produto consumido de forma sôfrega na Europa e nos Estados Unidos da América. Os países que possuíam as mudas do Cafeeiro (os Países Baixos, a França e as suas colônias) guardavam-nas a sete chaves: elas eram preciosíssimas, pois o café era um produto muito valorizado no mercado internacional. A missão secreta de Palheta - Portugal ainda não as possuía quando, em 1727, por determinação do Governador e Capitão-general do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, o Sargento-mor Francisco de Melo Palheta dirigiu-se para a Guiana Francesa com a missão de restabelecer as fronteiras fixadas pelo Tratado de Utrecht de 1713, violadas, Possuía, entretanto, uma outra missão, secreta: a de conseguir sementes do cafeeiro. Em Caiena, Palheta buscou aproximar-se da esposa do Governador da Guiana, Madame d'Orvilliers, acabando por conquistar-lhe a confiança.Palheta,que já estava de partida do país ficou muito decepsionado com si mesmo,pensava que ao ter conquistado o coração da jovem , estaria garantido que a semente de café estaria em suas mãos.Decepcionado no acento do trem,veio de ultima hora o entregador real,deixando para Palheta um vaso com compridos troncos,na qual Palheta não se importou,e quando,com a mais mera decepsão.,olhava o vaso florido,resolveu, mexer nas flores ,foi quando encontrou uma pequena muda de café.Não estava tão decepsionado e reconheceu sua vitória. O militar retornou no mesmo ano a Belém do Pará, onde as mesmas foram semeadas, introduzindo-se a espécie na colônia. Devido ao fato de que, como a saída de mudas ou sementes do Cafeeiro era estritamente proibida pelo governo francês, ainda hoje se discute se é "lícito pensar que o aventureiro português recebeu não só os frutos, mas favores mais doces de madame, uma escrava." http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Melo_Palheta


ALEXANDRE DE SOUSA FREIRE – 1728 a 1732 – Mestre de Campo de Auxiliares e do Conselho de Sua Majestade, recebendo o cargo a 14 de abril de 1728; nada de notório em sua gestão, a não ser entrada que mandou realizar pelo Amazonas, seguindo ao roteiro de Pedro Teixeira de 1637 1728 José Miguel Aires instalou uma fábrica para a preparação do anil, conforme autorização de 15 de maio 1730 realizada por um padre carmelita uma vacinação contra a varíola, que novamehte grassava não Estado 1721 JOSÉ DA SERRA – 1732 a 1736 – Chefe de Esquadra da Aramada freal e do Conselho de Sua majestade, recebendom o governo em 16 de julho, em São Luis; foi o primeiro governante que deixou de parte a preocupação primordial de entradas, ocupando-se com a moralização dos costumes. Faleceu em 30 de março de 1736, assumindo interinamente o governo o Capitão –mor João Alves de Carvalho 1736 JOÃO ALVES DE CARVALHO – 1736 a 1737 – 1737 JOÃO D´ABREU CASTELO-BRANCO – 1737 a 1747 - fidalgo da Casa real, comendador de Colos na Ordem de Santiago, era Governasdor na Ilha da madeira; toma posse em São Luis no dia 29 de agosto de 1737 João de Abreu Castelo Branco foi um administrador colonial português. Foi governador geral da Ilha da Madeira, de 21 de abril de 1734 a 6 de junho de 1737, do Maranhão, de 1737 a 1745], e do Grão-Pará, de 1737 a 1747 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Abreu_Castelo_Branco

Verificaram-se graves conflitos entre maranhenses e brasileiros, na região do Tocantins, motivado por choques de interesses na exploração de minas de ouro em são Feliz e natividade; a questão vinha desde o governo de Sousa freire, no ano de 1731 1739 –instalação do Cabido da Sé, criado por Alvará de 17 de abril, e que compreendia quatro dignidades: arcediago, arcipestre, chantre e mestre-escola, com doze cônegos, oito benediciados, dezesseis capelões e dois mestres de cerimônia. Era Bispo D. Frein Manuel da Cruz (1738 a 1747). Dom Frei Manuel Ferreira Freire da Cruz O. Cist. (Ordem (Lousada), 5 de fevereiro de 1690 — Mariana, 3 de janeiro de 1764) foi um prelado católico português, bispo das dioceses de São Luís (1739-1747) e de Mariana (1748-1764). Doutor em teologia pela Universidade de Coimbra em 1726, foi nomeado lente da mesma em 1728, por Dom João V. Foi mestre de noviços do Real Mosteiro de Alcobaça até ser nomeado para a diocese do Maranhão. Nomeado para a diocese de Mariana, sua viagem até as Minas Gerais para assumir a prelazia durou um ano e três meses, de barco, a cavalo e a pé, perfazendo quatro mil quilômetros. Essa jornada ficou celebrizada pelo


livro Aureo Throno Episcopal, de autoria provável do cônego Francisco Ribeiro da Silva, que o fez editar. http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_da_Cruz

Manda explorar o Rio Branco, pelo capitão Francisco Xavier de Andrade 1743 La Condamine com outros sábios e astronomos franceses e espanhóis percorre o Amazonas em viagem de objetivo científico, vindos do Peru. A 19 de Setembro chega a Belém do Pará, onde permanece durante algum tempo fazendo observações astronómicas e informando-se sobre o uso da borracha. Partindo por via marítima para Cayenne, chega àquele porto a 25 de Fevereiro de 1744, tendo de aí permanecer por cinco meses por falta de uma embarcação que o conduzisse à Europa. Charles-Marie de La Condamine (Paris, 27 de Janeiro de 1701 — Paris, 4 de Fevereiro de 1774) foi um cientista e explorador francês que realizou diversas viagens de exploração no Norte de África, no Médio Oriente e na América do Sul. Foi o primeiro cientista a descer o curso do rio Amazonas, publicando na Europa um conjunto de descrições da geografia, fauna e flora da bacia amazónica que em muito contribuíram para despertar o interesse da comunidade científica pelo seu estudo. Também se lhe deve a primeira comunicação científica sobre a interligação entre os rios Orinoco e Amazonas através do canal do Cassiquiare. Poliglota fluente em várias línguas europeias, dedicou-se também à matemática, à astronomia, à geodesia e à física. http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Marie_de_La_Condamine#A_expedi.C3.A7.C3.A3o_ao_Per u_e_.C3.A0_bacia_amaz.C3.B3nica_.281735-1744.29

1745 João de Abreu Castelo Branco passa-se a Belém, deixando no governo do Maranhão o Sargento-Mor Domingo Duarte Sardinha (13 de agosto) 1747 FRANCISCO PEDRO DE MENDONÇA GURJÃO – 1747 a 1751 – Cavaleiro da Ordem de Cristo, conmo seu antecessor, também governador da Ilha da Madeira; tomou posse em 14 de agosto em Belém. Conservou o Sargento-mor Domingos Duarte Sardinha no Governo da Capitania do Maranhão.; dedicou-se a colonização e catequese dos índios; também em seu governo começou a circular no estado dinheiro amoedado, em substituição aos novelos de algodão e varas de pano; houve uma violenta epidemia de sarampo, fazenjdo maior numero de vitimas entre os escravos e índios Francisco Pedro de Mendonça Gorjão (Roliça, baptizado a 4 de novembro de 1686 — 3 de agosto de 1767) foi um militar e administrador colonial português. Nasceu em Roliça, na Quinta da Roliça, e está sepultado na sua capela da Quinta de São Lourenço, no Peral. Foi capitão-mor da capitania da Paraíba, de 1729 a 1734, do Maranhão, de 1747 a 1751, e do Grão-Pará, de 1747 a 1751. Foi também governador e capitão general da Ilha da Madeira, de 1737 a 1747. Após dez anos como governador e capitão general da Ilha da Madeira, foi nomeado governador do Maranhão e capitão general do Maranhão (carta patente de 23 de abril de 1747, posto em que permaneceu até 24 de setembro de 1751) e governador do Grão Pará (então com patente de capitão general, tendo exercido as funções entre 14 de agosto de 1747 e 24 de setembro de 1751). Espantosamente, ou talvez não, também aqui vai substituir João de Abreu Castelo Branco, a quem já havia sucedido na Paraíba e na Madeira. Não é decerto fácil proceder à descrição e análise do seu governo no Maranhão e no Pará, para a qual seria necessário ter acesso à realidade política, social e cultural da época, bem como à documentação histórica relativa à época, da qual pouco se conhece, com a limitada mas importante excepção que constitui o acervo do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, onde se podem encontrar dezenas de documentos emanados da Coroa ou do Governador Geral. Após a cessação das suas funções no Maranhão e Pará, terá sido nomeado governador de Pernambuco, cargo que não aceitou.

Descoberto o curso do Rio Tapajós, por João de Sousa de Azevedo, que saira do Mato grosso, no Brasil, a procura de minas de ouro 1749 comemorado em todo o Estado com brilhantes festejos a concessão do título de Fidelissimo dado ao rei de Portugal D. João V, e seus sucessores, pelo papa Benedito XIV


1751 em 24 de setembro Mendonça Gurjão, em Belém, transmite o exercício do cargo a seu sucessor FRANCISCO XAVIER DE MENDONÇA FURTADO, que vinha com o título de Governador e Capitão-General do Esatdo do grãoPará e Maranhão, passando a capital definitivamente e de direito a Belém, perdendo o Maranhão a hegemonia que sempre tivera na administração da Colobnia. O Maranhão desce a condição de Capitania subalterna, sendo nomeado para governador Luis de Vasconcelos Lobo Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 — 1769) foi um administrador colonial português e fundador da cidade de Soure (Pará), capital da Ilha de Marajó. Irmão do marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado


A PRESENÇA DOS FRANCESES NO NOVO MUNDO, NO BRASIL E NO MARANHÃO DO SÉCULO XVI AO INÍCIO DO SÉCULO XVIII ANA LUIZA ALMEIDA FERRO61 A França, do mesmo modo que a Inglaterra e outras nações europeias, tardou, em relação aos portugueses e espanhóis, a ingressar na era das grandes navegações e descobrimentos e das conquistas ultramarinas. 62 Entretanto, o Brasil foi, sem dúvida, um dos primeiros alvos das iniciativas gaulesas. Lembremos que a França não reconhecia a exclusividade conferida aos ibéricos para a exploração e usufruto das terras descobertas ou ainda por serem descobertas no Novo Mundo, isto é, não aceitava a tese do mare clausum, estabelecida no Tratado de Tordesilhas (1494) e em seguidas bulas papais de partição do MarOceano. Não é surpresa, portanto, que os franceses, muitos deles normandos e bretões, que se aventuraram pelo litoral brasileiro no limiar do século XVI ou quiçá antes disso para atividades de pirataria e comércio, a exemplo do pau-brasil, 63 contassem com os ouvidos moucos de sua Coroa ante as constantes reclamações dos lusitanos, que se sentiam lesados, pois consideravam o Brasil uma possessão do Reino português, com alegado direito ao monopólio comercial dos produtos da terra. De começo, vale lembrarmos a possibilidade, advogada por uns e ardorosamente combatida por outros, de que Jean Cousin, de nacionalidade francesa, haja sido o verdadeiro descobridor do Brasil. Mário Meireles é um dos que duvidam da hipótese,

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Promotora de Justiça-MA, Mestre e Doutora em Ciências Penais (UFMG), Professora do UNICEUMA e da ESMP/MA, Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (Cadeira 36), Membro efetivo da Academia Caxiense de Letras, Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica e integrante da Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público do Estado do Maranhão. Autora de vários livros, entre os quais O Tribunal de Nuremberg e Crime organizado e organizações criminosas mundiais. 62 Embora a Marinha gaulesa tenha sido fundada ainda no reinado de Filipe IV, o Belo (1268-1314), com o delineamento de um núcleo permanente das forças navais à disposição da Coroa, e tenha se beneficiado de várias inovações técnicas que iriam preparar e facilitar a era dos descobrimentos marítimos, como a bússola, o astrolábio e o aumento da tonelagem das naus, a França ―permanece à parte e em atraso no seio deste grande movimento e, na história marítima do Renascimento, a Marinha francesa, malgrado ações brilhantes, somente desempenha um papel episódico ou auxiliar.‖ LEGOHÉREL, Henri. Histoire de la Marine française. Paris: Presses Universitaires de France – PUF, 1999. p. 5; 12. (Tradução nossa). Este é o comentário do autor na língua original: ―[...] reste à l‘écart et en retard au sein de ce grand mouvement et, dans l‘histoire maritime de la Renaissance, la Marine française, malgré des actions brillantes, ne joue qu‘un rôle épisodique ou auxiliaire.‖ 63 Eduardo Bueno ressalta quão rentável era a atividade do tráfico de pau-brasil para os franceses, em detrimento do comércio luso: ―O pau-brasil recolhido pelos ‗entrelopos‘ era vendido em Rouen por 1,2 ducado o quintal, a metade do preço praticado pelo grupo liderado por Fernando de Noronha (que era de 2,5 ducados o quintal). É natural, portanto, que as viagens dos traficantes franceses tenham causado grandes prejuízos financeiros a Portugal, diminuindo consideravelmente sua exportação de pau-brasil para a França.‖ Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. p. 100.


preferindo a explicação de que, na verdade, Jean Cousin e Juan de la Cosa teriam sido a mesma pessoa: Os franceses, ou melhor dito os bretões e normandos com seus afamados marujos, embora antes corsários, ou mesmo piratas, que descobridores, foram desde o início, mais ou menos concorrentes dos portugueses e espanhóis, e mesmo dos genoveses, venezianos e napolitanos, predecessores daqueles, nas aventuras preliminares sobre o Mar Tenebroso, chegando mesmo a defender a pretensão de ter sido um dos seus, Jean Cousin, o primeiro a chegar a terras do Brasil, o que no entanto a História não sanciona pela carência de elementos comprobatórios; crê-se, antes, que esse nome, na versão francesa, seja simples deturpação, através de lendas, do nome do famoso Juan de la Cosa, Piloto-mor da Casa da Contratação de Sevilha. Mas que estiveram eles ativos sobre as ondas do Atlântico desde os primeiros instantes, não há dúvida; foram os criadores da legendária, mas verídica, figura do roulier de la mer.64 Vasco Mariz e Lucien Provençal, por sua vez, dividem em três períodos a presença dos gauleses por estas plagas: Desde 1503, os marinheiros franceses eram atraídos pelo Brasil. Vamos classificar o período em três fases: a) aventureiros e negociantes até meados do século XVI, b) colonizadores até o ano 1614, c) corsários até 1712.65 Como registro inicial, Binot Paulmier de Gonneville, do Havre, no ano de 1503, foi encarregado de comandar uma nau bem aparelhada, chamada de L‘Espoir, providenciada por seis armadores de Honfleur, dispondo de 60 marinheiros e quatro canhões. Velejando para as Índias, não chegou, todavia, a contornar o Cabo da Boa Esperança e, como os pilotos lusos contratados em segredo houvessem se perdido em alto-mar, desviou-se da rota e atingiu um rio do sul brasileiro, supostamente na hoje Baía de São Francisco, em Santa Catarina. Aportando na região em janeiro de 1504, ele e seus liderados lá ergueram uma grande cruz e travaram amizade e conviveram por cerca de seis meses com os índios locais, os carijós. Binot Paulmier partiu de retorno à França em julho de 1504, levando consigo um jovem filho do morubixaba Arosca, de nome Essomericq, sob promessa de regresso, para que este aprendesse artilharia na Europa. Contudo, a nau foi atacada e posta a pique por piratas ingleses à altura do Canal da Mancha, causando a ruína de Gonneville, que logrou voltar a Honfleur em 1505, em companhia de apenas 29 sobreviventes, para jamais navegar novamente. Mas adotou Essomericq, o qual viveria na França mais de 50 anos, lá desposaria uma parenta de seu ―protetor‖ e faleceria em idade avançada no ano de 1583, sem haver podido regressar ao Brasil. 66 A viagem do navio L‘Espoir não goza de unanimidade no meio acadêmico. 67 64

MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. 2. ed. São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. p. 26-27. Ver também MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. São Luís: Tipografia São José, 1962. p. 16-17. 65 MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. La Ravardière e a França Equinocial: os franceses no Maranhão (1612-1615). Rio de Janeiro: Topbooks, 2007. p. 20. 66 Para Maurice Pianzola, Essomericq se tornou o primeiro brasileiro a se estabelecer na França. Os papagaios amarelos: os franceses na conquista do Brasil. Tradução de Rosa Freire d‘Aguiar. São Luís: Secretaria da Cultura do Estado do Maranhão; Brasília: Alhambra, 1992. p. 45.


Eduardo Bueno, que não contesta a viagem de Gonneville, fala da importância dessa iniciativa para os futuros empreendimentos comerciais dos franceses em terras brasileiras: Embora a viagem de Gonneville tenha redundado em sua própria falência, ela abriu novos e estimulantes horizontes comerciais para os navegadores bretões e normandos. Quando se soube que o território que ele visitara era repleto de pau-brasil, uma explosiva equação articulou-se nos portos de Rouen, Dieppe e Saint-Malo, misturando uma longa tradição de pirataria com a crescente demanda por corantes naturais provocada pela indústria têxtil da França – cujo centro era justamente naquelas cidades portuárias. A partir de então, armadores e comerciantes franceses – contando com o apoio formal ou com a dissimulada omissão de seu rei, Francisco I – passaram a enviar um fluxo constante de expedições ‗ilegais‘ ao Brasil. Como não vinham com disposição de instalar-se permanentemente na nova terra, nem com planos de colonizá-la, os ‗entrelopos‘ logo puderam estabelecer uma aliança altamente vantajosa com nações indígenas que ocupavam a costa do Brasil – em especial com os Caeté, os Potiguar e os Tamoio. Várias zonas do litoral brasileiro – principalmente a Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará, partes de Pernambuco e, mais tarde, o Rio de Janeiro – tornaram-se regiões sob controle quase absoluto dos franceses, nas quais os navios portugueses raramente podiam se arriscar. 68 Vicente Tapajós confirma a proliferação das incursões gaulesas à costa brasileira na primeira metade do século XVI, com fins comerciais, pondo em perigo o próprio domínio lusitano sobre o extenso achado cabralino e obrigando a Coroa portuguesa a adotar medidas crescentemente enérgicas: Pouco depois, chegavam a Portugal notícias de que súditos do rei de França – chamados de ‗maíres‘ pelos indígenas – tentavam apossar-se do litoral brasileiro, onde plantavam feitorias. Para combatê-los, teve o rei de Portugal de organizar as expedições guarda-costas, confiadas a Cristovão Jaques, e, depois, a expedição de Martim Afonso, com a qual se iniciou a colonização do Brasil.69 O referido Eduardo Bueno, a propósito, defende que, em pelo menos duas oportunidades, ou seja, em 1530, ano em que D. João III enviou ao Brasil a expedição chefiada por Martim Afonso de Sousa, e em 1548, ano no qual a Coroa lusitana instituiu o sistema de Governo-Geral nesta terra, e antes das experiências declaradamente colonizadoras da França Antártica, no Rio de Janeiro, e da França Equinocial, no Maranhão, ―a América portuguesa esteve em vias de se tornar, mesmo que momentaneamente e em parte, um território francês‖, visto que, no primeiro caso, tornou-se necessária ―a repressão aos traficantes franceses de pau-brasil‖, os quais ―haviam tomado e se instalado em uma feitoria portuguesa localizada na ilha de Itamaracá (Pernambuco)‖, enquanto, no segundo, a motivação maior para a reação lusa

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―Estudo recente e inédito de Fernando Lourenço Fernandes, intitulado No rastro de L‘Espoir, desacredita completamente essa viagem de Gonneville.‖ MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 20. 68 BUENO, Eduardo. Brasil: uma história: cinco séculos de um país em construção. São Paulo: Leya, 2010. p. 80. 69 TAPAJÓS, Vicente. História da América. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956. p. 145.


foi a renovação do perigo gaulês, ―que se estendia então ao Rio de Janeiro, ameaçando a própria sobrevivência da capitania de São Vicente‖. 70 Porém, a América austral era somente uma das zonas de interesse dos franceses. O ano de 1506 testemunharia a experiência de Jean Denis, de Honfleur, que alcançou a Terra Nova e explorou a foz do Rio São Lourenço, no Canadá, tendo como piloto um certo Gamart. Como relevante saldo da viagem, anotam Vasco Mariz e Lucien Provençal, destaca-se um mapa trazido pelos expedicionários, no qual apareciam nomes de acidentes geográficos e lugares, como Fernambuk (Pernambuco), os cabos de Santo Agostinho e de Todos os Santos, Cabo Frio, o Maranhão e o Rio da Prata, fato que ―prova sua presença nesses locais‖, no pensamento dos autores.71 O mesmo Jean Denis estaria envolvido em atividades de pirataria no Brasil treze anos depois. Em sequência, no ano de 1523, o florentino Giovanni da Verrazzano, contratado pelo monarca francês Francisco I, partiu para a América do Norte, onde – seguindo os passos de Giovanni Caboto, outro navegador italiano que, anos antes, atingira o que era possivelmente a Terra Nova, a serviço de Henrique VII, da Inglaterra – explorou a costa leste dos Estados Unidos e do Canadá, da foz do Hudson até a Nova Escócia (Acádia) Em abril de 1534, Jacques Cartier zarpou de Saint-Malo no comando de dois navios e, insistindo no novo itinerário, percorreu o indigitado Rio São Lourenço, desembarcando na região onde hodiernamente se situa a cidade de Québec, Stacadona, de que tomou posse em nome de Francisco I e que denominou ―Nova França‖, além de, entre outras coisas, estabelecer as bases de Montreal, em Hochelaga. Esta região reuniria um dos mais importantes núcleos da colonização francesa na América setentrional. Ernst Samhaber sublinha não apenas essas incipientes explorações do território canadense, mas também a relação geralmente amistosa firmada com os indígenas, em contraste com o tratamento dos espanhóis aos nativos sul-americanos: A localidade de Stacadona, atual Quebec, revelou-se modesta aldeia de índios, mas o território, iluminado pelo fulgor setembrino do Canadá, arrebatou os franceses. Parecia haver abundância de tudo: solo fértil, frutas e nozes, peixes esplêndidos, no mar focas e baleias, na terra inúmeros animais. Os índios eram essencialmente caçadores, mas cultivavam milho, feijão e até tabaco. Continuaram os exploradores a subir o rio São Lourenço: no outono, os franceses chegaram a Hochelaga, atual Montreal; os índios haviam inùtilmente tentado deter o ulterior avanço dos estrangeiros, na esperança de se apoderarem do comércio das cobiçadas mercadorias européias. Por tôda parte os franceses eram acolhidos hospitaleiramente, festivamente até: ao contrário das relações totalmente diversas da América do Sul espanhola, a amizade com os nativos manteve-se também nos séculos seguintes.72 Cartier voltou à França para dar conta dos descobrimentos, levando consigo o chefe dos indígenas de Stacadona, cujo nome era Donnacona, ―que lá descreveu nas mais fulgentes côres o grande território de Saguenay com o seu ouro, prata e cobre‖, 70

BUENO. Brasil, p. 80. MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 20. 72 SAMHABER, Ernst. História das viagens de descobertas: as grandes viagens para o desconhecido. Tradução de A. Della Nina. São Paulo: Melhoramentos, 1965. p. 244. 71


relatos esses que ―abriram o apetite dos franceses‖.73 Em consequência, no ano de 1541, Cartier retornou ao Canadá, na companhia de seu representante militar Jean François de la Roque, Senhor de Roberval, tendo à disposição uma poderosa esquadra de oito navios. O resultado foi a fundação do forte de Québec, em Stacadona, na área dos Grandes Lagos, mas não foram encontrados minérios ou pedras de valor por esta expedição, apesar das expectativas levantadas. Em 1562 e 1564, Jean Ribaut e René de Laudonière, respectivamente, marcaram presença na Flórida, mas sem êxito, em decorrência da oposição firme de D. Pero de Avilés, Governador de Juana (Cuba). A despeito dos constantes insucessos e das relativas primeiras conquistas, a França, na opinião dos autores da História da civilização mundial, obra coordenada por Max Savelle, foi a ―primeira das nações do noroeste europeu a estabelecer uma cabeça de ponte na América‖, isto porquanto ―os franceses fizeram uma plantação em Port Royal, na Acádia, ou Nova Escócia‖, colônia essa iniciada em 1605, a qual ―precedeu de dois anos a primeira colônia inglêsa de sucesso, que se instalou em Jamestown, na Virgínia, em 1607‖. 74 Samuel de Champlain, célebre navegador, explorador e geógrafo francês, considerado o ―Pai da Nova França‖, que participara ativamente da fundação de Port Royal, primeiro assentamento europeu de caráter permanente ao norte da Flórida, foi igualmente, sob o reinado de Henrique IV, o fundador de Québec em 1608, que logo se tornaria ―o verdadeiro centro cultural da Nova França‖. 75 Objetivando combater os índios iroqueses, associados aos ingleses, Champlain aliou-se aos algonquinos e hurões. A colônia, cuja economia se baseou essencialmente, em seus tempos primevos, no comércio de peles, conheceu um primeiro impulso em seu crescimento a partir de 1627, quando o não menos famoso Cardeal de Richelieu, durante o governo do rei francês Luís XIII, organizou a Companhia dos Cem Associados ou da Nova França, visando à promoção do desenvolvimento dos territórios conquistados na América do Norte, para que se ombreassem com as colônias inglesas localizadas ao sul, de modo a contribuírem para a expansão do poderio francês; e um segundo, a partir de 1665, quando Luís XIV, o Rei Sol, por meio de seu ministro Colbert, transformou-a em um empreendimento de responsabilidade direta da Coroa, fomentando então a emigração em massa para a região da Nova França. Consigna Vicente Tapajós que o atual Canadá deve bastante à Companhia de Jesus, não apenas em virtude do trabalho de catequização dos nativos, mas também da promoção de expedições de cunho explorador, ―das quais resultou o aumento do império colonial francês no Novo Mundo‖, 76 estendendo-se para os Estados Unidos. René-Robert Cavalier, Senhor de La Salle, saindo de Québec, inspirado por uma expedição anterior conduzida pelo mercador de peles Louis Joliet e pelo jesuíta Jacques Marquette – os quais haviam cruzado o Lago Michigan, explorado os rios Fox e Wisconsin e percorrido parte do Rio Mississipi –, chefiou um grupo de missionários e colonos e, em um feito igualmente pioneiro, seguiu pelo mesmo Rio Mississipi até a sua embocadura no Golfo do México, aonde chegou em abril de 1682 e onde ergueu uma cruz, tomando posse de toda a região da bacia hidrográfica do Mississipi para a Coroa 73

Ibidem, p. 245. SAVELLE, Max (Coord.). História da civilização mundial. Tradução de Milton Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. v. 2, p. 495. 75 Ibidem, p. 495. 76 TAPAJÓS. História da América, p. 146. 74


francesa, dando ao vasto território o nome de Luisiana, em homenagem ao Rei Luís XIV. Não é à toa que seja muitas vezes conhecido como o ―Pai do Território da Luisiana‖. Graças aos esforços de Champlain, La Salle e outros, a França antecedeu a Inglaterra na reivindicação das terras do interior da América do Norte, considerando-se senhora de toda a bacia dos Grandes Lagos e da área concernente à bacia do Rio Mississipi. Por conseguinte, foi providenciado o estabelecimento de vários postos avançados no território em questão, entre os quais os de Forte Frontenac (1673), Detroit (1701), Nova Orléans (1718) e Mobile (1710), sendo que a recém-fundada cidade de Nova Orléans logo se tornaria a capital da Luisiana, o que se verificou em 1722. Enfim obtinha a França, lembra Tapajós, ―o que sempre desejara: ter duas frentes na América Septentrional – uma no Canadá, com Québec e Montreal, outra junto à foz do Mississipi, rio francês, com a Luisiana, agora realmente colonizada‖. 77 Tal estratégia teve como consequência o acirramento da rivalidade com a Inglaterra, com efeitos claramente negativos para a França, que acabou por ver substancialmente reduzidos o seu promissor império colonial e a sua influência no continente norte-americano, consoante evidenciam os autores da História da civilização mundial: Essa difusão do poderio francês pelo interior significou a criação de uma barreira, fechando as colônias inglêsas dentro da planície costeira atlântica, a leste dos Aleganis. Em vista da vitalidade expansiva das colônias inglêsas, o conflito era inevitável. O resultado, após uma série de guerras, foi a conquista de tôda a Nova França pelos inglêses, o que se deu em 1763. Após o triunfo inglês, quase todos os traços de influência francesa desapareceram do interior, exceto na região em tôrno de Nova Orléans. As povoações ao longo do São Lourenço, entretanto, permaneceram como um rebento da França, pois a língua do povo continuou sendo a francesa, assim como a sua religião e cultura.78 Depois de vários conflitos entre ingleses e franceses, foi assinado o Tratado de Paris no ano de 1763, firmando o que, para os últimos, seria ―a paz vergonhosa‖, porque estes, perdedores na Guerra dos Sete Anos, tiveram de abrir mão em favor daqueles, em caráter definitivo, do valioso território da Nova França (Canadá), entre outras concessões. A título de compensação pelo fato de que a sua aliada, a Espanha, perdera a Flórida para a Inglaterra, a França ainda renunciou à região da Luisiana em benefício dos espanhóis. O Tratado de Paris foi, sem dúvida, um golpe incontestável para os colonos gauleses em confronto com os ingleses na América setentrional, porém eles acabaram por reconhecer pacificamente a soberania inglesa nas áreas em causa, já que lhes foi permitida a manutenção de seus costumes e de seu idioma. 79 77

Ibidem, p. 148. SAVELLE (Coord.). História da civilização mundial, p. 498-499. 79 ―E, por se sentir o povo consciente de sua diferença da França – assim como desgostado com o flagrante desleixo da mãe-pátria para com a colônia no século XVIII – os colonizadores da Nova França não se perturbaram profundamente por sua separação da França em 1763. Uma vez que os inglêses deixaram claro que não influiriam na língua, religião e costumes dos colonos franceses, êstes aceitaram sem protesto o domínio inglês. Sua cultura, hoje florescente nas margens do São Lourenço, permanece como uma das distintas e significativas variantes da civilização ocidental na América.‖ Ibidem, p. 499. 78


Digna de nota é, igualmente, a fundação da cidade de St. Louis (ou Saint Louis) pelo comerciante de peles Pierre Laclède (Liguest), de nacionalidade francesa, juntamente com o seu jovem enteado René Auguste Chouteau, em 1764, nominando-a em homenagem a Luís IX, o Rei Cruzado da França ou São Luís de França, após subirem o Rio Mississipi, partindo de Nova Orléans. A cidade principiou como entreposto comercial. Ante a incapacidade espanhola de dispensar atenção a todo o seu imenso império colonial, a América insular, no Caribe, sobretudo as Antilhas Menores, também foi alvo das iniciativas dos franceses, os quais se estabeleceram, em primeiro lugar, na Ilha de São Cristóvão, por mérito de Pierre Bélain, Senhor d‘Esnambuc. Em sequência, vieram as conquistas de outras ilhas do arquipélago, tais como Martinica, Santa Lúcia, Granada, Guadalupe, entre outras. Nas Grandes Antilhas, os gauleses se fixaram na parte ocidental da Ilha Hispaniola ou de São Domingos, correspondente ao hoje Haiti, oficialmente cedida pela Espanha à França em 1697, por força do Tratado de Ryswick. Nessas ilhas, especialmente na de São Domingos, informa Vicente Tapajós, eles ―iniciaram a criação de gado, acabaram fundando o Haiti, promoveram a introdução de escravos africanos, desenvolveram igualmente a lavoura açucareira‖. 80 O Haiti viria a se tornar, no século XVIII, uma das colônias mais prósperas e ricas da América francesa, a ―Pérola do Caribe‖, de maneira que a sua significativa produção açucareira foi um dos fatores que concorreram para o declínio da monocultura canavieira no Brasil dos tempos coloniais. A atividade colonizadora não foi a única desenvolvida pelos franceses na região caribenha, a qual, durante um longo período, abrigou uma larga população de piratas, muitos dessa nacionalidade. Na expressiva lista de aventureiros, armadores, comerciantes, piratas, corsários e marinheiros que se dedicaram à conquista das riquezas das Índias, do Brasil e da América do Norte, Vasco Mariz e Lucien Provençal destacam a figura de Jean Ango, de Dieppe, com seus homens, entre os quais os capitães Jean Fleury, Jean Fain, Jacques de Saint Maurice e Jean e Raul Parmentier, além dos irmãos Verrazzano, salientando a capacidade e as virtudes destes, em descrição desmistificadora da estereotipada imagem negativa de piratas que lhes é atribuída: De origem viking, formado por Pierre Desceliers, o padre d‘Arques, e talvez por Jean Cousin, já citado, Jean Ango se lançou à conquista dos fabulosos tesouros da América. Visconde de Dieppe, animava uma rica associação de armadores. Renascentista erudito, confiaria os seus navios não só aos marinheiros mais intrépidos e hábeis, mas também a humanistas, unindo assim comércio, arte e guerra naval. Os portugueses e os espanhóis seriam suas principais vítimas. Podemos afirmar que todos os capitães de Ango freqüentaram o Brasil e lutaram contra os portugueses.81 Os confrontos entre Jean Ango e sua gente e os lusitanos foram muitos, gerando grandes prejuízos em especial para os últimos, conquanto não possam ser desprezadas, 80 81

TAPAJÓS. História da América, p. 148. MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 21. A título de curiosidade, um desses capitães, o normando Jean Fleury, de Dieppe, que se fez presente no litoral brasileiro por diversas vezes, tornou-se conhecido pela proeza de haver apresado dois galeões espanhóis transportando o tesouro azteca do México para a Espanha de Carlos V em 1522. E Jean Fain enfrentou os lusos amiúde na América austral.


igualmente, as perdas do primeiro. 82 A propósito, D. João III, em carta datada de 16 de janeiro de 1530, dirigida ao seu embaixador em Paris, João da Silveira, frisou que atingira o expressivo patamar de 300 o número de navios de súditos lusos capturados por piratas ou corsários gauleses. Enquanto no Canadá e nos Estados Unidos, os principais êmulos dos franceses no esforço de exploração e depois colonização da terra foram os ingleses, na América do Sul, como é natural, os seus mais encarniçados rivais foram os portugueses e espanhóis. Ao mesmo tempo em que investiam na conquista de parte do Canadá e dos Estados Unidos, os gauleses prosseguiam nas incursões pela América austral, particularmente pelo Brasil, ―em cujas costas já vinham livremente traficando, que de pouco os embaraçava o policiamento das naus portuguesas ou os protestos do monarca lusitano‖, como leciona Mário Meireles.83 Francisco I outorgou a Jean Ango, um dos alvos preferidos das queixas portuguesas, com quem mantinha relações próximas e proveitosas, as famosas cartas de marca ou cartas de corso nos anos de 1530, 1531 e 1533, as quais eram documentos pelos quais o titular, o corsário, na prática alçado à categoria de membro da marinha do país outorgante, era autorizado a atacar navios e bases de nações inimigas. 84 Como resultado, Ango foi responsável pelo afundamento de 300 naus, o que fez com que D. João III autorizasse o pagamento de uma indenização de 60.000 ducados em seu favor, objetivando o cessamento dos ataques aos navios lusos. E as ações gaulesas se sucederam no Brasil. Aos poucos, os filhos da França passaram da fase inicial de simples exploração da terra e estabelecimento de comércio cada vez mais intensivo com os índios para as etapas de estabelecimento e defesa de feitorias e de tentativa efetiva de colonização. Comentam os autores da História da civilização mundial que as expedições dos países situados no noroeste europeu, a exemplo da França e da Inglaterra, em comparação com as promovidas pelos ibéricos, foram peculiarizadas pela predominância do empreendimento privado sobre o patrocínio da Coroa: Essa onda de colonização pelas nações marítimas da Europa do Noroeste oferece agudo contraste com a da Espanha e Portugal. Em primeiro lugar, as aventuras colonizadoras dêsses países eram levadas avante por companhias particulares, organizadas para o fim de explorar o Nôvo Mundo para lucros privados, ao passo que as aventuras portuguêsa e espanhola haviam começado amplamente sob auspícios dos reis. Nas colônias das nações do noroeste, portanto, a iniciativa privada era mais importante do que a ação do govêrno nacional, que ordinàriamente limitava seu interêsse nas colônias à regulamentação mercantilista de seu comércio. 85

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―Os enormes prejuízos que causaram aos inimigos estão relacionados, em 1539, pelo jurisconsulto português Nunes no seu pedido de compensação ao rei francês. Por outro lado, Ango estimou em 250.000 ducados o seu próprio prejuízo causado pelas reações portuguesas.‖ Ibidem, p. 21. MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 27-28. Ver também MEIRELES. França Equinocial, 1962, p. 17-18. Ilustrando essa situação, Eduardo Bueno refere que ―Jean Ango obteve de Francisco I uma ‗carta de corso‘: ou seja, uma autorização legal para atacar navios portugueses e saqueá-los até obter botim equivalente a 200 mil cruzados‖. BUENO. Náufragos, traficantes e degredados, p.107. SAVELLE (Coord.). História da civilização mundial, p. 494-495. Estes autores apontam, em sequência, como fator de diferenciação entre as colonizações francesa e inglesa e as levadas a cabo


Nessa linha, Guérard e Roussel estiveram no Maranhão em 1523 para mercadejar com os indígenas. No ano de 1526, Cristóvão Jaques, chefiando uma expedição guardacosta para a Coroa portuguesa, afundou e capturou as guarnições de três navios bretões de Saint Pol de Leon na Baía de Todos os Santos, em episódio sangrento no qual teria sido perpetrado o morticínio de 300 franceses ou o oferecimento destes aos nativos, uns virando, inclusive, alvo para as flechas índias. Quatro anos depois, Jean Duperet, à frente da nau La Pélérine, sob as ordens de Bertrand d‘Ornezan, Barão de Saint-Blancard, almirante das galeras do Mediterrâneo, a serviço do mesmo Rei Francisco I, deixou Marselha com uma tripulação de 120 homens. No Brasil, atacou a feitoria de Igaraçu em Pernambuco, edificou um forte na Ilha de Santo Aleixo, cujo comando seria confiado ao Senhor De la Motte, e comerciou com os indígenas. A iniciativa teve final desastroso para os franceses. É o que assinala Francisco Adolpho de Varnhagen, em tom lusófilo: Em quanto Martim Affonso navegava pelo sul, fôra ter a Pernambuco uma náo de Marselha, com desoito peças e cento e vinte homens, denominada ‗La Pélérine,‘ e armada á custa do Barão de St. Blancard. Em logar da feitoria portugueza de seis homens, fez o capitão da Pélérine, Jean Duperet, construir uma fortaleza provisoria, que deixou guarnecida de setenta homens, e regressava á Europa, com uma carga, que (segundo as reclamações posteriores dos interessados, ás quaes nos cumpre dar algum desconto) montava a cinco mil quintaes de brazil, seiscentos papagaios, trez mil pelles de animaes, grande número de macacos e muitas bugiarias. Tanto a náo como a fortaleza franceza tinham de ser mui mal afortunadas. A primeira, entrando no Mediterraneo, se viu necessitada de arribar a Malaga; e, quando deste porto saía, foi apresada pela armada de guardacosta, que Portugal mantinha á bocca do estreito de Gibraltar, e que, pela mencionada arribada da náo, soubera como vinha ella do Brazil. – A fortaleza franco-pernambucana, ou porque Pero Lopes teve conhecimento de sua existencia, ou porque necessitava ir no porto em que ella estava fazer aguada, antes de atravessar o Atlantico, foi por tal forma pelo intrepido capitão combatida, durante desoito dias consecutivos, que se lhe rendeu.86 Com a queda da fortaleza, o Senhor De la Motte e seus homens não tiveram clemência: foram enforcados. A captura do navio La Pélérine provocou um protesto oficial e a represália do Barão de Saint-Blancard, esta na forma do apresamento de uma nau lusa.

pelos lusitanos e espanhóis, o tema da migração de colonos: ―Em segundo lugar, as colônias fundadas pelas nações do noroeste desenvolveram-se pela migração de massas de colonos europeus, que expeliram os nativos, num movimento irresistível que acabou poe expulsar do continente a maioria dos índios. Isto era inteiramente diverso do padrão espanhol e português de uma migração européia em escala relativamente pequena, produzindo uma colonização em que uma minoria européia dominava uma população muito maior de mestiços e nativos.‖ Ibidem, p. 495. 86 VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. Historia geral do Brazil. Madrid: Imprensa da V. de Dominguez; Rio de Janeiro: E. e H. Laemmert, 1854. v. 1, p. 58-59. Segundo Vasco Mariz e Lucien Provençal, a carga da nau consistia em ―5.000 quintais de madeiras, 300 de algodão, grãos diversos, 600 papagaios, 3.000 peles de onças e minérios de ouro‖. MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 23.


No ano de 1531, Pepin de la Joussardière, Julian Frottet e Hervé de la Touche, respectivamente das embarcações Croissant, Groeland e Petit Cerf, exploraram o litoral brasileiro. Poucos anos depois, Jean Bellanger de Bisserets, no comando do galeão Saint Philippe, em missão secreta determinada por Francisco I, rumou para o Brasil, onde obteve madeira e folhas de certa palmeira, para fins de cura do enfermo soberano francês. E em 1546 há registro de que 28 barcos franceses com destino ao Brasil sofreram perseguição de lusitanos, os quais, por essa época, conseguiram capturar três navios gauleses na Bahia. Francisco I, o mesmo que declarou ao Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico (Rei Carlos I, da Espanha), que gostaria de conhecer a cláusula do testamento de Adão que excluía a França da partilha do mundo, e a D. João III, de Portugal, que não era ele quem lhe fazia a guerra, e sim Jean Ango, com quem o monarca lusitano devia tratar de suas queixas diretamente, ao mesmo tempo em que, incentivado por sua irmã Margarida de Angoulême e pelo Duque de Montmorency, Anne de Montmorency, Condestável de França, distinguia os armadores e comerciantes franceses com providências em prol das atividades destes, conduzia uma política de dubiedade particularmente em relação a D. João III, caracterizada por acenos contidos e desfeitas tácitas, muita dissimulação e pouco afrontamento oficial na prática, política essa defendida pelo seu influente conselheiro Philippe de Chabot, Senhor De Brion, conhecido pela corrupção, e favorecida, a partir de 1530, pelo fato de que a segunda esposa do soberano gaulês, Leonor de Áustria, era viúva de D. Manuel I, Rei de Portugal, e irmã do Imperador Carlos V. 87 O interesse pelos negócios por estas plagas na França era tanto que Jacques Savary, capitão da embarcação Parfait, e Jean Cordier, integrante de um grupo financeiro de Rouen, cuidaram de elaborar dois tratados referentes ao modo de comerciar com os brasileiros. O piloto e hidrógrafo Guillaume le Saintongeois, matriz inspiradora, pelo seu destemor e habilidade, do personagem Xeromanes, de François Rabelais, percorreu a costa sul-americana do Cabo de Santo Agostinho ao Rio da Prata.

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―Face a todas estas iniciativas, na maioria particulares, e esses incidentes, qual foi a atitude dos reis da França? Apesar da declaração de Francisco I ‗desejar que comércio, marinha e indústria sejam origem de prosperidade pública‘, seu comportamento desmentiu muitas vezes essa declaração. Hesitante quanto à decisão a tomar nos conflitos com Carlos V, submetido à pressão contraditória dos seus conselheiros, estabeleceu relações ambíguas com seus inimigos, sobretudo com D. João III, pois a dissimulação foi a principal base de sua política. Lembramos que a segunda esposa de Francisco I era a viúva do rei D. Manuel e irmã de Carlos V. Se Marguérite d‘Angoulême, sua irmã, e Montmorency, o condestável, incitavam o rei a apoiar os armadores, seu favorito Chabot, sempre pronto a se corromper, o aconselhava à duplicidade. [...] Comandante supremo da Armada e dos portos mestres do comércio e da justiça marítima, beneficiando-se da décima parte das presas, resgastes e multas. Chabot chefiava uma administração excessivamente burocrática, corrupta e odiada pelos marinheiros. Alguns exemplos eloqüentes: tendo recebido 10.000 escudos de Ango pela obtenção das lettres de marque, Chabot recebeu outros 10.000 escudos e um tapete valioso do embaixador português Antônio de Ataíde para sua anulação. Até mesmo o rei fez um empréstimo de 40.000 cruzados a seu cunhado D. João III de Portugal. Os armadores estavam descontentes e os embaixadores portugueses em Paris, João de Silveira, João Monteiro e Antônio de Ataíde transmitiram as queixas ao rei e inundaram os portos de espiões. A situação só iria se esclararecer em 1540 quando Chabot enfim foi preso. Os dois partidos protestavam tão veementemente que, de 1531 até 1537, as reuniões de conciliação foram organizadas em Bayonne e Fontarabia, aliás sem nenhum resultado positivo, salvo relacionar as queixas recíprocas.‖ Ibidem, p. 25-26.


Mas foi após Henrique II se tornar o Rei da França em 1547, sucedendo a seu pai Francisco I, que o país de fato adentrou a etapa das genuínas experiências colonizadoras na América dita portuguesa, como a que seria chamada de França Antártica, iniciada em 1555. Um pouco antes, uma grande festa teve lugar na cidade de Rouen, na Normandia, em 1º de outubro de 1550, prestigiada pelo novo soberano e por sua esposa florentina, Catarina de Médicis, na qual índios trazidos do Brasil pelos navegadores, os quais seriam abrigados em castelo de Jean Ango, causaram sensação, aumentando o fascínio pela terra brasileira e o clima favorável para um real protagonismo francês no Novo Mundo. Em 1551, o cartógrafo Guillaume le Testu, navegador de talento, tendo em sua companhia o frade franciscano André Thevet, de Angoulême, versado cosmógrafo, a bordo do Salamandre, participou de uma bem-sucedida missão exploradora na costa leste brasileira, o que lhe rendeu inestimável conhecimento náutico e lhe permitiu o cumprimento do objetivo de reconhecimento da região para a sua retratação em um portulano. Não há dúvida de que uma das grandes contribuições dos navegadores franceses foi, conforme pontua Mário Meireles, o serviço prestado para o avanço dos conhecimentos na seara da Geografia universal, ―com o ‗Livro de Marinhagem‘ de Jean Cordier e o mapa-mundi de Desliens, ambos de 1541, com o planisfério de Descaliers, de 1546, com os portulanos de Le Testu, de 1551‖, além, mais tarde, dos ―mapas de Jacques de Vau de Clay, de 1582, e de Guilherme Levasseurs, de 1601‖.88 Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571), antes de se tornar protagonista da França Antártica, já possuía extensa folha de serviços à Coroa francesa, prestados em várias missões diplomáticas e militares, o que lhe valeu galgar a relevante posição de Vice-Almirante da Bretanha, festejado, entre outros feitos, como o herói que lograra raptar e levar para a França a então criança Maria Stuart, esquivando-se habilmente da vigilância inglesa. Imortalizada na obra homônima do poeta e dramaturgo alemão Friedrich Schiller (1800), Maria Stuart, Rainha da Escócia, desposaria anos depois o Delfim da França, o futuro monarca Francisco I, sucessor de Henrique II, e morreria executada em 1587, por decisão da não menos célebre Elizabeth I, Rainha da Inglaterra. Cavaleiro da Ordem de Malta, o erudito oficial naval, diplomata, escritor e navegador Villegagnon (ou Villegaignon, em grafia arcaica) esteve no ano de 1554, um tanto discretamente, na região de Cabo Frio, já bastante conhecida dos gauleses, onde teria sido bem acolhido pelos tamoios, negociado com estes e mantido contato com o monge André Thevet e o aventureiro alemão Hans Staden e reuniu preciosas informações sobre os movimentos lusos na costa, os portos mais protegidos, os lugares mais vulneráveis e, em particular, o fato de que ―os portugueses raramente saíam de suas capitanias e que os tamoios não gostavam de como eram tratados pelos colonos portugueses‖,89 bem como de que ―os portugueses preferiram adiar sua instalação na Guanabara porque temiam serem mal recebidos pelos numerosos índios tupinambás, que os detestavam‖,90 as quais o estimularam a pôr em prática o projeto de 88 89

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MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 28. MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. Villegagnon e a França Antártica. In: MARIZ, Vasco. Ensaios históricos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2004. p. 90.

MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. Villegagnon e a França Antártica. In: MARIZ, Vasco (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2006. p. 54.


estabelecimento de um núcleo colonial no Sudeste brasileiro, em ponto mais ao sul, exatamente na Baía de Guanabara, visando à instalação de uma base militar, naval e comercial estratégica, catalizadora dos interesses franceses no Brasil e facilitadora do comércio ultramarino, em especial com as Índias. Com tal escopo, desde o princípio, o almirante se preocupou em firmar um bom relacionamento com os nativos, no que foi sabiamente aconselhado pelo franciscano André Thevet. O fator surpresa tampouco pode ser desprezado, pois era importante agir enquanto os núcleos de colonização dos lusitanos no Brasil ainda eram pouco numerosos e desenvolvidos.91 Estavam preenchidas as condições para a implantação da primeira colônia francesa na América do Sul, como atesta Eduardo Bueno: Na metade do século XVI, depois de cinquenta anos percorrendo o litoral brasileiro, os franceses concluíram que era chegada a hora de armar uma expedição colonizadora para lançar as bases de um futuro império ultramarino no Novo Mundo. Durante cinco décadas, normandos e bretões haviam reconhecido e cartografado a maior parte do litoral do Brasil, e estabelecido com os indígenas um relacionamento mais rentável e, talvez, mais equilibrado que os portugueses – já que a escravização dos nativos nunca estivera entre seus principais objetivos.92 Novamente na França, para viabilizar a sua ambiciosa empreitada, Villegagnon procurou o patrocínio do rei católico Henrique II, convencendo-o das vantagens concernentes à iniciativa, supostamente depois de uma exposição superior a quatro horas, o qual lhe concedeu 10.000 libras, providenciou-lhe navios e entregou-lhe a chefia da expedição. Também contou com investimentos dos armadores de Dieppe, base do já referido Jean Ango, e com o apoio do Almirante Gaspard de Coligny, ainda católico, mais influente ministro do soberano, que se tornaria o grande e respeitado líder dos protestantes franceses, chamados de huguenotes, até a sua morte no massacre da ―Noite de São Bartolomeu‖ em 1572, no mais trágico episódio das guerras de religião que engolfariam a França na segunda metade do século XVI. Com o patrocínio real, tendo à sua disposição duas naus e uma naveta de mantimentos, originalmente tripulada por cerca de seiscentos homens, número excessivo em relação ao espaço disponível, desacompanhados de mulheres – o que se revelaria um grave problema –, a maioria de mercenários e desclassificados, muitos arregimentados em prisões do norte da França, Villegagnon zarpou do Havre em 12 de julho de 1555. Em decorrência de uma tormenta, teve de se refugiar em Dieppe, onde muitos dos tripulantes abandonaram a expedição, interpretando o mau começo como um aviso divino, sendo substituídos por outros. Finalmente, seguiu para o Brasil em 14 de agosto do mesmo ano e, depois de várias adversidades, atingiu a Baía de Guanabara em 10 de novembro de 1555, lugar selecionado em razão da notícia de que era evitado pelos lusitanos, face à presença de índios hostis aos seus interesses. Villegagnon não levou apenas aventureiros desclassificados para o Novo Mundo, embora eles constituíssem a maior parte da tripulação. Integravam o grupo, entre outras 91

―Lembramos que os três pontos iniciais da colonização portuguesa estavam em Pernambuco, na Bahia e em São Vicente, SP, e eram núcleos ainda incipientes, de fácil submissão por uma expedição numerosa e fortemente armada.‖ Ibidem, p. 54. Ver igualmente MARIZ; PROVENÇAL. In: MARIZ. Ensaios históricos, p. 89. 92 BUENO. Brasil, p. 81.


pessoas de valor, o seu sobrinho Boissy, Senhor de Bois-le-Comte, que tanto lutaria pela sobrevivência da França Antártica; o já mencionado André Thevet, que seria um dos principais cronistas da iniciativa; Nicolas Barré, conhecido por suas habilidades de piloto, o qual seria um importante colaborador e secretário do Vice-Almirante na colônia e escreveria sobre a experiência; e dois beneditinos, dotados de conhecimentos de botânica, que fariam um apreciável levantamento da flora da terra e seriam os fundadores da primeira escola católica na região. Igualmente viajaram com Villegagnon uma guarda pessoal de escoceses, que seria de grande relevância para a sua proteção nos dias que se sucederiam, e um índio da nação tabajara, na função de intérprete, acompanhado de sua esposa francesa, conquanto tal não fosse representar uma dificuldade na implantação do núcleo de colonização, dada a existência de diversos ―línguas‖ de origem normanda vivendo entre os indígenas na terra. Villegagnon e Thevet cultivaram uma amizade bastante profícua. O segundo, que já antes estivera naquela parte do Brasil e lá observara condições propícias à fundação de uma colônia, teria sido um dos maiores incentivadores do primeiro nesse empreendimento. A propósito, André Thevet alega ser aquele que batizou a França Antártica, a qual ―é de maior extensão, ela só, em si mesma contemplada, que a Ásia‖, pois ―é engano chamar Índias a estas terras‖, considerando que ―todo o país das Índias é Oriental, compreendido e encerrado apenas pelos dois rios a que os hindus chamam Bara-Indu e Ganga, quer dizer o Indo e o Ganges‖, 93 assim contribuindo para o triunfo da distinção entre a Índia atual e a América. E o militar e o monge trabalharam em parceria na elaboração de um sintético dicionário franco-tupi, o qual o calvinista Jean de Léry inseriria, de forma indevida, na edição de 1611 de sua obra História de uma viagem feita à terra do Brasil, também chamada América. Desafortunadamente, Thevet foi compelido a retornar à França em fevereiro de 1556, por motivo de saúde, no que foi acompanhado por Bois-le-Comte. Os franceses desembarcaram em alguma parte do Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, após uma acolhida calorosa dos tupinambás (ou tamoios, consoante a designação mais específica hoje assaz difundida). Logo se estabeleceram na Ilha de Serigipe, hodiernamente denominada de Villegagnon, onde está localizada a atual Escola Naval, perto do continente, defronte do lugar onde se ergue o Aeroporto Santos Dumont. O almirante aí fez construir em aproximadamente três meses o sólido Forte Coligny, batizando-o em tributo ao principal ministro de Henrique II, pelo apoio que lhe prestara. Impôs aos seus homens, muitos indisciplinados e detentores de antecedentes pouco recomendáveis, vários enfraquecidos pela viagem, troca de ares e precariedade sanitária, um severo ritmo de trabalho, sob baixos soldos, o que começou a provocar descontentamentos e deserções, de modo que foi fundamental para a conclusão da fortificação em tempo breve a colaboração dos índios, estimulados por pequenos agrados. Essa contribuição indígena se repetiria na edificação do Forte São Luís, que daria origem à futura capital maranhense, quando da instalação da França Equinocial no norte do Brasil em 1612. O Forte Coligny foi aparelhado com cinco baterias voltadas para a direção mais provável de investida naval do inimigo. Esse providencial auxílio nos primeiros passos da colônia foi possibilitado pelas boas relações de Villegagnon com o morubixaba Cunhambebe. No entanto, o apoio dos 93

THEVET, André. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei. Tradução e notas de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. p. 38-39. Ver igualmente THEVET, André. Les français en Amérique pendant la deuxième moitié du XVIe siècle: le Brésil et les brésiliens. Choix de textes et notes par Suzanne Lussagnet. Introduction par Ch.-A. Julien. Paris: Presses Universitaires de France, 1953. p. 24-25.


tupinambás nessa seara iria aos poucos diminuir, posto que eles, decorridos alguns meses, não mais se sentiam motivados com os modestos presentes que lhes eram oferecidos e passaram a se ressentir do volume de trabalho, até pelo fato de que era visível que os trabalhadores gauleses se esquivavam do serviço mais duro. Para piorar, a ilha em tela não ostentava fontes de água potável, situação que implicava a obtenção do precioso líquido no continente e que somente seria resolvida posteriormente com a escavação na rocha de uma cisterna suficiente para a manutenção de reservas apropriadas para uma resistência duradoura. Outro problema foi a crescente escassez de víveres. Não obstante os óbices, Villegagnon deu prosseguimento aos seus planos. Nunca deixou de tratar bem os nativos, os quais retribuíram com a preservação da aliança contra os lusos até o final. Necessitando estabelecer uma base no continente, o Cavaleiro de Malta fundou, no começo do ano de 1556, a ―primeira aglomeração urbana européia na Guanabara‖, idealizada ―como a futura capital da França Antártica‖: Henriville, 94 em homenagem ao monarca Henrique II, situada na foz do Rio Carioca, entre este rio, que, na atualidade, tem seu curso debaixo da Rua Barão do Flamengo, e o Morro da Glória, na Praia do Flamengo. Também aí a colaboração dos índios foi significativa, por exemplo, na construção de casas. Mas a povoação, onde franceses e indígenas teriam convivido, com suporte no cultivo de frutas e legumes, uma olaria teria funcionado, produzindo tijolos para uso nas construções na ilha e no continente, e jardins se estenderiam à beira-mar, não teve vida longa: foi totalmente destruída pelos lusitanos em 1560, sob a administração do terceiro Governador-Geral do Brasil, Mem de Sá. Alguns duvidam da existência, embora temporária, de Henriville, ante a ausência de localização de vestígios de sua breve vida e de seu marco de fundação, mas este não é o caso. O vilarejo foi objeto de registro em diversos mapas de então e de referência na carta de seu fundador ao Duque de Guise, datada de 30 de novembro de 1557. Nesta última, diz o almirante, após mencionar o Forte Coligny: ―Por isso, pude colocar em terra sessenta pessoas num forte de madeira que fiz à vista de meu castelo, ao alcance de minha artilharia, onde eles têm o cuidado de plantar e semear para viver de seu trabalho.‖95 Não por acaso, há historiadores que consideram Henriville o primeiro núcleo do Rio de Janeiro e Villegagnon o autêntico fundador da futura capital fluminense, em lugar de Estácio de Sá, o qual, para outros, provavelmente a maioria, em especial no meio historiográfico nacional, fundaria o Rio de Janeiro na Urca somente em 1º de março de 1565, alguns anos depois do desaparecimento de Henriville. Em tom conciliatório, Vasco Mariz, na Introdução do livro Cartas por N. D. de Villegagnon e textos correlatos por Nicolas Barré e Jean Crespin, admite a atribuição da glória da fundação da capital fluminense a ambos: ―Portanto, tal como Buenos Aires, o Rio de Janeiro teve de fato dois fundadores: Villegagnon em 1556, com a sua fugaz Henriville, que não teve continuidade, e Estácio de Sá, em 1565.‖96

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MARIZ, Vasco. Os fundadores do Rio de Janeiro: Vespucci, Villegagnon ou Estácio de Sá? In: MARIZ (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial, p. 79. 95 VILLEGAGNON, Nicolas Durand de. Cartas por N. D. de Villegagnon e textos correlatos por Nicolas Barré e Jean Crespin. Introdução e comentários de Vasco Mariz. Tradução de Norma Guimarães Azeredo. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. p. 37. 96 Ibidem, p. 27.


A realidade é que, além de não ter conhecido continuidade como núcleo de povoamento, Henriville está sepultada sob uma área hodiernamente semeada de prédios cariocas, que impossibilitam qualquer iniciativa de investigação de seus restos. Diferentemente, o núcleo fundado pelos franceses em 1612 com a construção do Forte São Luís na então Ilha do Maranhão jamais sofreria solução de continuidade, pois não seria deixado à própria sorte ou destruído pelos portugueses, quando da queda da França Equinocial em 1615, mas, ao contrário, ampliado e urbanizado, razão pela qual não há dúvida de que São Luís, capital maranhense, teria os gauleses, e não os lusos, como seus fundadores. Se o Rio de Janeiro principiou pela Urca, e não pela antiga Ilha de Serigipe, porque o Forte Coligny não passou de uma fortificação, conquanto formidável, ou pela Praia do Flamengo, porque Henriville não vingou, é fato que São Luís nasceria exatamente no lugar de implantação da fortaleza francesa que lhe deu o nome, cuja área alargada ainda hoje abriga o coração administrativo da cidade. Apesar de tudo, Henriville foi um passo importante na afirmação da França Antártica. Além do continente, acompanhando o litoral, os franceses fincaram pé em outras ilhas. A colônia, entretanto, carregava dois não desprezíveis vícios de origem: a baixa qualidade da mão de obra francesa, seja no aspecto moral, seja no disciplinar, e a carência de mulheres. O severo regime imposto por Villegagnon, ele próprio detentor de rígidos princípios morais e religiosos e cultivador das virtudes militares, não iria causar descontentamento entre seus homens somente em relação ao ritmo e volume de trabalho, mas também no atinente à regulação sexual. Contrário à prática do sexo sem casamento, o almirante exigiu que os gauleses convivendo maritalmente com as índias, sob o olhar condescendente dos indígenas, as desposassem sob as leis da França, diante do notário da frota, ou delas se separassem. Jovens em sua maioria, de natureza rude, muitos deles desertaram, escapando para a floresta e buscando refúgio entre os nativos, ou retornaram à Europa em navios mercantes, enquanto uns optavam pelo matrimônio de má vontade. Houve até aqueles que afrontaram a regra engajando-se em uma conspiração para assassinar o chefe dois dias após a partida de André Thevet e Bois-leComte, em fevereiro de 1556, frustrada pelo arrependimento de um cúmplice, membro da fiel guarda escocesa do Cavaleiro de Malta, resultando no enforcamento, precedido de julgamento pelo Conselho da Colônia, de dois dos 26 participantes da rebelião, a qual fora desencadeada por um marinheiro e intérprete normando que já vivia no Rio de Janeiro anteriormente à chegada de Villegagnon, inconformado por haver sido forçado a escolher entre contrair matrimônio ou se apartar da índia com quem convivia há aproximadamente sete anos. A inabilidade de Villegagnon para lidar com questões morais de fundo religioso na colônia igualmente provocaria rusgas com os indígenas. O almirante, ao invés de procurar convencer os índios gradativamente da perniciosidade do costume de comer prisioneiros derrotados ou capturados, passou a confrontá-los abertamente, inclusive discutindo acidamente com seu amigo Cunhambebe sobre o hábito, gerando certo malestar no meio tupinambá. Com o transcorrer dos meses e o acúmulo das dificuldades, entre as quais o decréscimo do número de franceses, Villegagnon percebeu a necessidade de apoio para a sobrevivência e desenvolvimento da colônia. Assim, pleiteou o envio de três a quatro mil soldados profissionais, com treinamento adequado, para a defesa militar contra possíveis ataques lusos, grande quantidade de mulheres aptas ao casamento e trabalhadores especializados que pudessem transformar Henriville num próspero núcleo populacional. Em busca de auxílio, endereçou cartas a João Calvino, de quem fora


colega na Universidade de Paris, ao Rei Henrique II, ao Almirante Coligny, ao Duque de Guise e a outras influentes figuras da Corte gaulesa. O monarca não pôde ajudá-lo, face à indisponibilidade de recursos ocasionada pela crise financeira que assolava o país. Coligny, ao contrário, já convertido ao protestantismo, viu na situação uma oportunidade para oferecer refúgio aos huguenotes, alvo, cada vez mais, de discriminações e perseguições na França, onde a tensão religiosa só aumentava. Destarte, Coligny e Villegagnon financiaram a viagem com os reforços, iniciada em 19 de novembro de 1556, sob o comando do mesmo Bois-le-Comte, empreendida nos navios Petite Roberge, Grande Roberge e Rosée, tripulados por cerca de 300 pessoas, entre as quais cinco mulheres destinadas ao casamento, colonos e missionários de Genebra, sendo 14 pastores calvinistas, liderados por Philippe de Carguilleray, Senhor Du Pont, e pelos ministros Pierre Richier e Guillaume Chartier, que aportaram na Baía de Guanabara em 7 de março de 1557. O jovem Jean de Léry também compunha essa frota, o qual se tornaria um dos maiores cronistas da França Antártica e dos costumes índios daquela região, ao lado de André Thevet. Além do caráter reduzido dos reforços, sem dúvida aquém das necessidades da colônia, a presença dos pastores no Rio de Janeiro, a princípio saudada pelo católico Villegagnon, logo se transformou em fator de dissensões, conflitos e discussões acaloradas, pela intransigência de ambas as partes, motivada por discordâncias religiosas, por exemplo, a respeito da materialização real ou simbólica do corpo e do sangue de Cristo na Eucaristia, culminando, oito meses depois, com a saída dos missionários calvinistas da ilha de localização do Forte Coligny ainda em 1557, de maneira que eles receberam o auxílio, para a sua subsistência, dos índios da Baía de Guanabara até o embarque de volta à França em 4 de janeiro de 1558, a bordo do velho navio Jacques, carregado de pau-brasil, pedras preciosas e outras coisas. Anteriormente, no mês de dezembro de 1557, Du Pont declarara publicamente que regressaria ao Rio de Janeiro em breve trazendo grande quantidade de protestantes para derrubar o almirante, o que chegou ao conhecimento de Villegagnon. Este não obstou a partida dos calvinistas, como lhe autorizava a sua posição, porém cinco deles não puderam seguir até a Europa, por falta de víveres no navio, e tiveram de retornar de certo ponto em um batel para a Guanabara, onde persistiram no desrespeito à autoridade do almirante, de feição que um logrou fugir e os outros quatro foram aprisionados e processados por traição e deserção na corte colonial, um dos quais foi absolvido, enquanto os demais, exmonges apóstatas, foram sentenciados à morte. Quanto aos protestantes que ficaram no navio, ao lograrem voltar à França e à Suíça, eles desencadearam uma feroz e sistemática campanha contra Villegagnon, imputando-lhe acusações em sua maioria não condizentes com a realidade dos fatos conhecidos e comprovados, como a de que ele primeiro se convertera ao calvinismo e depois traíra a fé reformada e a de que procedera indignamente com os missionários dessa religião. Tal campanha de cunho difamatório, à qual logo aderiram outras vozes do protestantismo, teve como peças-chave Jean de Léry, Pierre Richier, Calvino e Jean Crespin. Conquanto o ambiente na colônia tenha daí para frente se desanuviado sensivelmente, Villegagnon sabia que a França Antártica precisava de reforços mais substanciais. Outra coisa veio a preocupá-lo: as notícias sobre a campanha difamatória levada a cabo pelos calvinistas contra o almirante alcançaram a Guanabara via navios mercantes procedentes da França. Então o almirante, um tanto frustrado com as condições e perspectivas da colônia e os últimos acontecimentos, e não sem alguma


hesitação, decidiu embarcar para o seu país, a fim de se defender das acusações dos protestantes, fazendo-o em maio de 1559, a bordo de uma nau que também transportava variada carga, como pau-brasil, bichos e plantas medicinais, além de levar cinquenta tupinambás, deixando a França Antártica nas mãos dedicadas de seu sobrinho Bois-leComte, o qual, contudo, não se lhe igualava em prestígio militar, tanto que os portugueses somente se animaram a atacar os franceses na ausência do Cavaleiro de Malta. Na França, Villegagnon se deparou com uma triste nova: o falecimento do monarca Henrique II, seu protetor, em julho de 1559, em decorrência de ferimentos fatais adquiridos por acidente em uma justa com o capitão de sua Guarda Escocesa, Gabriel de Montgomery, fato constantemente evocado como objeto de uma das famosas profecias de Michel de Nostredame, ou Nostradamus, homem da mais estrita confiança de Catarina de Médicis, viúva do soberano e mãe do novo Rei Francisco II, de dois futuros reis, Carlos IX e Henrique III, e daquela que se celebrizaria como Rainha Margot, Margarida de Valois, esposa de Henrique IV. A trágica morte de Henrique II marcou o início de um tempo de instabilidade na sucessão dinástica e abriu as portas para o período mais sangrento do conflito entre católicos e protestantes, representado pelas guerras de religião. Por essa época, lembremos, o influente Coligny já abraçara a Reforma, vindo a se transmutar de protetor em inimigo de Villegagnon. Este, todavia, foi apoiado pela Ordem de Malta e por importantes personalidades, como o Cardeal de Lorena, o Duque de Guise, o Condestável de Montmorency e a Rainha Maria Stuart, sempre agradecida pelo grande serviço que ele lhe prestara no passado, entre outras. Os católicos, portanto, não deram crédito às denúncias dos calvinistas contra o respeitado Vice-Almirante da Bretanha. A partida de Villegagnon para a França foi o momento propício pelo qual ansiavam os portugueses para atacar os franceses instalados na Guanabara. Mem de Sá, terceiro Governador-Geral do Brasil, que sucedera a Duarte da Costa, obteve da Rainha Regente D. Catarina, viúva de D. João III, de Portugal, uma poderosa armada chefiada por Bartolomeu Vasconcelos da Cunha, composta por 26 navios, muita artilharia e munição e um contingente superior a 2.000 homens com treinamento adequado, que atingiu a Bahia em 30 de novembro de 1559 e a região da Guanabara em 21 de fevereiro de 1560. Os lusitanos optaram por uma investida de surpresa, por meio de impiedoso bombardeio naval, contra os gauleses, os quais, embora estivessem em franca desvantagem, pois dispunham de apenas um navio e 74 homens no Forte Coligny, auxiliados por aproximadamente 800 indígenas, ganharam o primeiro embate, com somente uma baixa, graças às temíveis e extraordinárias fortificações da ilha, em contraste com os 120 portugueses que pereceram. Como a fortaleza resistia, Mem de Sá decidiu-se pelo ataque ao incipiente povoado de Henriville, na hoje Praia do Flamengo, o qual foi arrasado e teve seus habitantes, já pouco numerosos, mortos. Finalmente, enfraquecido pelos bombardeios e abandonado por Bois-le-Comte e pela maioria de seus comandados – que viram a inutilidade da manutenção da resistência na Ilha de Serigipe e buscaram refúgio no continente, nos aldeamentos nativos amigos, mais precisamente em Paranapacuí e Uruçumirim, área do Morro da Glória (Mont Henri) –, o Forte Coligny, em meados de março de 1560, foi tomado pelos lusos, cujos aliados eram os índios temiminós e tupiniquins, inimigos dos tamoios, com a suposta colaboração do luterano francês Jean Cointat, ou João Bolès, o qual viera com os pastores de Calvino, casara com uma das francesas que chegara ao Brasil na mesma oportunidade, teria sido um dos que haviam contribuído para as dissensões religiosas entre Villegagnon e os calvinistas, não regressou à França com os últimos e ainda teria


revelado aos portugueses os pontos fracos das defesas gaulesas, viabilizando-lhes o acesso por mar. A maior parte dos franceses escapou ao aprisionamento quando da queda da fortaleza. Mem de Sá, no entanto, cometeu um erro tático, pelo qual seria censurado pela governante lusitana. Com muitos dos navios lusos danificados e sem pólvora e sem condições de guarnecimento do que fora conquistado, cuja destruição por tal motivo ordenou, resolveu se dirigir a São Vicente, buscando a recuperação da frota, e depois retornar à Bahia, ao invés de ir logo ao encalço de Bois-le-Comte e de seus homens. Com isso, os gauleses, ajudados por seus aliados indígenas, entregar-se-iam novamente ao lucrativo tráfico de mercadorias e à resistência e às hostilidades continuadas contra os lusos. Acolhendo os pleitos de Mem de Sá e entendendo a necessidade urgente de colonização do território do Rio de Janeiro para afastar decisivamente a ameaça francesa, D. Catarina encarregou Estácio de Sá, sobrinho do Governador-Geral do Brasil, da missão de expulsar os franceses da terra, o qual, à frente de uma esquadra de nove navios e 220 homens, desembarcou, em 1º de março de 1565, na área situada entre os morros Cara de Cão, atualmente São João, e Pão de Açúcar, na Baía de Guanabara, ―aí dando comêço à povoação de São Sebastião, simples acampamento militar a princípio‖.97 Estava fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, batizada em deferência ao monarca adolescente de Portugal, ainda sob regência. Helio Vianna descreve os primeiros tempos da povoação: Repelidos os primeiros assaltos, puderam os conquistadores tomar pé na língua de terra existente entre o Pão de Açúcar, o Morro Cara de Cão e o da Urca, construindo um baluarte de taipa de pilão, dotado de artilharia, protegido de cêrca e de algumas guaritas de madeira e taipa. Além das casas dos moradores, cobertas de telhas trazidas de São Vicente, construiuse a primitiva Capela de São Sebastião, padroeiro da nova cidade, assim denominada em homenagem ao Rei. Em roças, situadas fora da cêrca, plantaram-se legumes e inhames, para sustento da guarnição. Sendo, porém, insuficientes, assim como os recursos trazidos e posteriormente chegados, padeceram fome, algumas vêzes, os fundadores. Para minorá-la, assaltavam plantações de mandioca dos tamoios, de que também trouxeram ramas, para formação das próprias.98 97

VIANNA, Helio. História do Brasil: período colonial. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1965. v. 1, p. 93. 98 Ibidem, p. 94. Comenta Armando Souto Maior que a ―cidade‖ do Rio de Janeiro era então ―uma simples cerca de pau-a-pique protegendo casas de palha‖. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. p. 69. Veiga Cabral igualmente fala da precariedade dos primórdios do núcleo fundado por Estácio de Sá: ―‗Determinado o local para a povoação, cuidou-se antes de tudo, e afanosamente dos trabalhos de fortificações, roçando-se no alto e encosta da colina (de S. João) uma boa área, e construindo-se imediatamente alguma tranqueira provisória, de onde se desvendava grande parte da baía. Logo que as agressões dos francêses e Tamòios arrefeceram e deixaram aos ocupantes um pouco de calma, ordenou Estácio que se preparasse na várzea (entre o pico já fortificado e o Pão de Açúcar) um assento mais vasto para a cidade. Aplanado o terreno e derribadas as matas contíguas, ‗murou-se o recinto da cidade‘, e ‗fez-se um baluarte muito forte de taipa de pilão, com muita artilharia dentro, com quatro ou cinco guaritas de madeira e taipa de mão, tôdas cobertas de telhas trazidas de S. Vicente‘. Improvizaram-se ‗casas de madeira e barro‘, cobertas de palha (‗de umas palmas feitas e cavadas como calhas e telhas que é grande defensão contra o fogo‘). Também se construiu uma casa maior, que serviu de capela durante o tempo que ali se estêve, e sob cujo tôsco altar devia ser depois inumado o cadáver do nobre e inditoso capitão-mor. Assim se formou logo um arraial que tomava tôda a várzea, entre o S. João, do lado do mar, e a Urca e o Pão de Açúcar do lado da terra.‖ CABRAL, Mário da Veiga. História do Brasil: curso superior. 19. ed. Rio


Estácio de Sá defrontou-se com um rival pronto para novos combates: os franceses e os seus aliados nativos contavam agora com três sólidas paliçadas. Embora não houvessem feito ressurgir o Forte Coligny na Ilha de Serigipe, os gauleses já ocupavam novas partes ao longo da costa da região. E ainda tiveram suas posições revigoradas por reforços vindos de Cabo Frio. Em um dos confrontos, ocorrido em julho de 1566, que ficou conhecido como o ―combate das canoas‖, os portugueses estavam a ponto de serem vencidos, emboscados em uma reentrância da Baía de Guanabara pelos tamoios, com a participação dos franceses, quando um tiro desferido acertou um depósito de pólvora alocado dentro de uma canoa, gerando um incêndio que semeou medo e confusão entre os índios e reanimou os lusitanos. ―Em meio à fumaça, alguns portugueses julgaram ter visto a figura de São Sebastião combatendo ao lado deles contra ‗hereges e pagãos‘‖, noticia Eduardo Bueno.99 O sobrinho do governador-geral sustentou as suas posições como pôde durante quase dois anos, até que recebeu valioso auxílio de seu tio Mem de Sá, o qual, posto a par da situação de Estácio de Sá por José de Anchieta, tratou de conseguir reforços e voltou ao Rio de Janeiro em 18 de janeiro de 1567, acompanhado do Padre Manuel da Nóbrega, com uma respeitável frota de três galeões, seis caravelões e dois outros navios, transportando um efetivo superior a duzentos homens, sob o comando de Cristóvão Cardoso de Barros. Os portugueses decidiram investir, primeiramente, contra as fortificações gaulesas localizadas junto à foz do Rio Carioca, na hoje Praia do Flamengo, lugar onde se erguia a aldeia do cacique Ibiraguaçu-mirim, e no atual Morro da Glória. A vitória lhes sorriu, com a ajuda dos indígenas temiminós, liderados por Arariboia, (―Cobra Feroz‖, em tupi), e o reduto de Uruçumirim, no morro referido, foi conquistado após uma encarniçada batalha, travada durante o dia 20 de janeiro de 1567, na qual tombaram aproximadamente 600 tamoios e cinco franceses e foram aprisionados outros tantos, entre os quais dez gauleses, que foram enforcados no dia subsequente. Houve um preço amargo a pagar, entretanto: Estácio de Sá foi ferido no rosto no combate por uma flecha envenenada e faleceria no mês seguinte. Desta feita, os portugueses não iriam descansar até alcançarem o seu objetivo. Atacaram as fortes defesas da Ilha de Paranapuã, presentemente Ilha do Governador, que caiu após uma resistência de dois a três dias, resultando na rendição dos inimigos, na escravização de numerosos índios e na fuga de certo número de defensores franceses e nativos para os lados de Cabo Frio. Morria aí definitivamente o sonho da França Antártica, com baixas infinitamente maiores entre os índios do que entre os europeus. Além dos franceses que haviam desertado do Forte Coligny e permaneceram na Guanabara e dos sobreviventes que rumaram para Cabo Frio, outros procuraram abrigo em Pernambuco.

de Janeiro: Paulo de Azevedo, 1959. p. 82. O autor justifica, com razão, em nota de rodapé, que os portugueses, na definição do lugar para se estabelecerem, levaram em conta, primeiramente, as ótimas condições de defesa do sítio na Urca, pois é ―preciso não esquecer que a primeira condição do ponto que se escolhia tinha de ser a relativa às conveniências da defesa‖, considerando que tal ―gente vinha combater e o que antes de tudo lhe cumpria era prevenir-se contra ciladas e agressões‖ do inimigo, de modo que ―no outeiro de S. João o serviço de atalaia era perfeito; dali tem-se vasto horizonte para o mar e para o norte da baía, com a vantagem de ter o lado de terra guardado por montanhas‖, condições propícias essas não reunidas pela ―praia que se chamava pôrto de Martim Afonso ainda no tempo de Gabriel Soares (fins do século XVI) e que ficou depois conhecida por praia vermelha, onde se fundou a Escola Militar‖, motivo pelo qual descarta este último local como o ponto, defendido por alguns, ―em que fôra primeiro fundada a cidade‖. Ibidem, p. 82. 99 BUENO. Brasil, p. 84.


Derrotados os gauleses, como a célula originária do Rio de Janeiro fora estabelecida em lugar muito perto da Barra, por razões estratégicas, mas circunstanciais, Mem de Sá, após ouvir várias pessoas, deliberou pela mudança da sede da infante cidade para o interior da baía, mais exatamente para o Morro de São Januário, posteriormente chamado do Castelo, o qual, depois, foi demolido, onde hoje se encontra a Esplanada do Castelo, nas proximidades do Aeroporto Santos Dumont, em virtude da existência, na época, de uma fortificação no sítio. Arariboia, batizado como Martim Afonso de Souza, foi recompensado por seus relevantes serviços aos lusitanos: tornou-se cavaleiro da Ordem de Cristo e senhor de uma extensa sesmaria no Morro de São Lourenço, núcleo inicial de Niterói. Enquanto isso, na França, Villegagnon, tendo obtido recursos materiais e humanos suficientes, preparava-se para empreender nova expedição em apoio à colônia no Rio de Janeiro, com a aprovação da Regente Catarina de Médicis, quando correu a informação da queda do Forte Coligny em 1560. Uma frota de oito navios aparelhada por armadores normandos no Porto do Havre no ano seguinte, na qual seguiriam jesuítas gauleses, jamais partiria para o Brasil. A Coroa francesa protestou contra o ataque português à colônia da Guanabara, chegando, inclusive a autorizar a emissão de novas cartas de marca, mas nada conseguiu da Coroa lusitana, a não ser a promessa da possibilidade de soltura de eventuais prisioneiros, a qual ratificou a sua alegação de direitos de soberania sobre o território disputado e defendeu a tese de que estes haviam sido infringidos pela iniciativa de Villegagnon. Como consequência, o embaixador gaulês em Portugal, João Nicot, foi instruído a terminar a representação diplomática e deixar o reino luso, o que se tornou realidade em julho de 1561. Por outro lado, de maneira aparentemente contraditória, Portugal concedeu uma indenização ao Vice-Almirante da Bretanha, por reivindicação deste submetida ao embaixador lusitano em Paris, a título de ressarcimento pelas suas expressivas perdas no Brasil. É que o governo luso desejava afastar o perigo que representava um homem com a energia, a dedicação e as habilidades de Villegagnon nas terras brasileiras, com sua capacidade de organização militar e de manutenção de boas relações com os indígenas. De fato, este abriu mão do sonho da França Antártica. Villegagnon é, indubitavelmente, um rico personagem histórico, catalisador de controvérsias. O inglês Robert Southey, acolhendo o ponto de vista dos calvinistas, é extremamente crítico da figura de Villegagnon, em tom de carregado subjetivismo, perpetuando acusações hoje desmoralizadas ou nunca comprovadas. Diz, por exemplo, que ele ―era um vil traidor, e enganara Coligny‖, decretando que, ―se não fôra a traição de Villegagnon ao seu próprio partido, seria quiçá o Rio de Janeiro hoje a capital duma possessão da França‖, porém acabando por lhe reservar um elogio quase involuntário, pela pena do terceiro Governador-Geral do Brasil: [...] numa carta à sua côrte, exprimia Mem de Sá o receio que, se os franceses voltassem a ocupar a sua ilha, se realizasse a bravata. ‗Villegagnon (dizia êle) não trata como nós os gentios [.] É como êles generosos em excesso, e guarda-lhes rigorosa justiça; se algum dos seus comete um delito, é enforcado sem cerimônia, de modo que temido dêstes, é amado dos naturais. Mandou-o adestrar no uso das armas; aquela tribo é


numerosa e uma das mais bravas, pelo que poderá êle tornar-se em breve extremamente poderoso‘.100 Diversamente, Jonathas Serrano, sem deixar de reconhecer-lhe as falhas, admite que ele foi vítima de censuras imerecidas: Tornou-se Villegagnon odiado no seio de sua colônia. Apelidaram-no de ‗Caim da América‘. Não é possível negar os grandes defeitos e erros dêste chefe francês, contudo é justo dizer que muitas das acusações que lhe foram feitas eram falhas e não se deve olvidar a sua bondade e liberalidade para com os nossos índios.101 Por seu turno, Vasco Mariz, na Introdução da obra Cartas por N. D. de Villegagnon e textos correlatos por Nicolas Barré e Jean Crespin, faz uma apreciação equilibrada de suas virtudes e defeitos, absolvendo-o no tribunal da História: Afinal era Villegagnon um vilão ou um herói? Um de seus contemporâneos assim o descreveu: ‗audacioso como um francês, esperto como um inglês e dissimulado como um jesuíta espanhol‘. Sem dúvida, ele foi audacioso, valente e até imprudente em combate. Esperto também para superar as limitações de sua pequena nobreza. Dissimulado sim, e, como um jesuíta espanhol, foi sempre fiel a Deus, ao catolicismo e a seu rei. Os protestantes inventaram que no Brasil ele se havia convertido ao calvinismo e depois repudiado e perseguido ferozmente os calvinistas. Tudo mentira, mas essas mentiras foram repetidas durante séculos e danificaram a sua imagem de bom católico, homem honesto, competente, culto e valente. [...] Portanto, vilão certamente ele não foi. Como compará-lo aos conquistadores ávidos e sanguinários de sua época? Tampouco foi um pirata ou corsário. Era católico inflexível e intransigente, e, por isso, pagou com o desgaste pessoal e de sua fortuna. Seus atos sempre ocorreram dentro da mais total legalidade. Seu comportamento foi o de um soldado apaixonado pelas tarefas que lhe confiaram. Hábil diplomata e negociador, foi demasiado rígido em defesa de suas crenças religiosas. Bom advogado, escritor culto, não suportava divergências e reagia com violência. Por isso, alienou amigos, colaboradores e simpatizantes, e complicou sua vida. Tivesse ele realmente fraquejado em sua fé no Brasil, não teria sido depois altamente prestigiado pela Ordem de Malta e por toda a realeza católica da França. Foi ator e testemunha dos grandes acontecimentos do seu tempo, viveu uma existência fascinante e inconcebível para uma pessoa de sua origem relativamente modesta. A universalidade de sua atuação política e militar parece até inexplicável neste início do século XXI. Mas seria ele um herói? Sem dúvida, realizou feitos heroicos: o sequestro de Maria Stuart, sua atuação na batalha de Argel, na defesa da ilha de Malta, nos cercos de Rouen e da cidade de Sens. [...]

100

SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Tradução de Luiz Joaquim de Oliveira e Castro. 3. ed. São Paulo: Obelisco, 1965. v. 1, p. 282. 101 SERRANO, Jonathas. História do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., 1968. p. 91.


Seja como for, Villegagnon foi um homem bravo, culto e honesto, com lampejos de heroísmo. Por isso, merece ser lembrado e admirado quatro séculos e meio depois de sua morte. Teve fé no futuro do Brasil para a França, e, se tivesse tido melhor sorte e recebido o auxílio apropriado do rei Henrique II, talvez hoje estivéssemos falando francês no Rio de Janeiro.102 E o mesmo Vasco Mariz e Lucien Provençal, no livro La Ravardière e a França Equinocial, dão o seu veredito sobre as causas do fracasso da experiência da França Antártica: O que podemos concluir em relação a essa tentativa? Bem preparada e bem realizada, esta veleidade pacífica, baseada na coabitação com os índios, fracassou. A intransigência do chefe, a mediocridade do pessoal, a falta de recursos financeiros foram as razões principais, e as hesitações da corte da França diante da atitude firme dos portugueses foram outra causa. O que devemos pensar da inconsistência de Coligny, que enviara 14 pastores para reforçar um cavalheiro de Malta intransigente? O risco de uma discórdia era evidente e o pretexto seria a presença – real para Villegagnon e simbólica para os protestantes – de que o corpo e o sangue de Cristo estavam na Eucaristia!103 De qualquer maneira, o fim da colônia fundada por Villegagnon não encerrou a presença dos rouliers de la mer na costa brasileira, muito pelo contrário. Ainda em 1564, Guillaume Feré e Geoffrey Dupré estiveram no litoral do Nordeste, e em 1565, quatro navios de carga gauleses, desconhecendo que o Forte Coligny fora tomado, chegaram à Guanabara e foram repelidos pelos lusitanos a tiros de canhão, sendo que um capitão de nau foi enforcado. Cinco anos depois, no mês de julho, os corsários protestantes Jacques de Sorès e Jean Capdeville, como retaliação, afundaram a nau Santiago, matando 494 lusos, incluindo 40 jesuítas. Outro capitão de navio, Hector Dumesnil, foi enforcado em 1572, desta vez em Viana do Castelo, apenas pelo fato de haver visitado Cabo Frio, onde a presença francesa não era novidade. Sete anos depois, deu-se a destruição de quatro naus da Normandia em Pernambuco, além de outras de La Rochelle na Paraíba. Em sequência, mais quatro navios gauleses foram atacados no Rio de Janeiro. Outra fortificação erguida pelos gauleses, agora na Paraíba, foi atacada e arrasada sem perda de tempo em 1582. No ano de 1595, Jean Noyer, chefiando cinco naus da frota do Almirante de Villars, firmou associação com o corsário inglês James Lancaster e saqueou Recife, em Pernambuco. A reação lusitana foi vigorosa e Jean Noyer acabou tombando em combate. Em 1599, assediavam o litoral brasileiro Lecoq, na área do Nordeste, Postel, em Cabo Frio, e Poil de Mil, em Sergipe, porém sem sucesso no escopo de triunfo sobre os portugueses, ainda em reduzido número nessas regiões.

102

Ver VILLEGAGNON. Cartas por N. D. de Villegagnon e textos correlatos por Nicolas Barré e Jean Crespin., p. 31-33. Vasco Mariz ainda especula se a sobrevivência da França Antártica significaria um futuro melhor para o Rio de Janeiro: ―Seria isso garantia de que os cariocas estariam hoje mais felizes, mais educados ou mais prósperos? Tenho dúvidas. Afinal de contas, o modelo colonial francês não foi exatamente um sucesso. Só no Canadá teve êxito.‖ Ibidem, p. 33. 103 MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 28.


Enquanto isso, o Maranhão se tornou um dos destinos favoritos dos ―papagaios amarelos‖. Jacques Riffault, armador em Dieppe, audaz e experiente capitão do mar, é uma das figuras mais interessantes desse elenco. As numerosas viagens que fez à costa nordestina no século XVI, especialmente ao Potiiú (Rio Grande do Norte), a bordo daquela que seria largamente conhecida como ―Nau do Rifoles‖, lhe propiciaram, além do conhecimento sobre a região, o estabelecimento de ótimas relações com o cacique potiguar Ibirapi, Uirapive ou Ouvirapive, cujo nome se traduzia por ―Árvore Seca‖, o qual findou por convidá-lo a assentar-se com uma feitoria em seu território. Tão frequente era a presença de Riffault na área do Rio Potengi, comerciando com os indígenas, que existe lá na atualidade um lugar denominado Rifoles, corruptela de Riffault, onde se encontra a Base Naval brasileira. Assim, imbuído do intento de aceitar a dita proposta, o navegador francês, no comando de três navios, partiu de seu país em 15 de março de 1594 rumo ao Rio Grande do Norte, todavia, próximo de alcançar a sua meta, viu sua frota empurrada impiedosamente pelas condições de tempo e de navegação para o noroeste, chegando ao Maranhão, onde ficou sem sua nau capitânia perto de Upaon-mirim (Ilha de Sant‘Ana) e desembarcou com os sobreviventes em Upaon-açu (Ilha de São Luís). 104 Aí foi bem acolhido pelo tupinambá Japi-açu, o mais poderoso morubixaba da Ilha Grande, e instalou uma feitoria anterior à colônia que seria fundada por Daniel de la Touche e François de Razilly no ano de 1612. Além dos homens que pereceram no naufrágio, Riffault perdeu outros, os quais lograram atingir o continente e por lá se embrenharam, vindo, quatorze destes, a ser capturados por Francisco Coelho, Capitão-mor da Paraíba. A motivação de Riffault para regressar à França no único navio restante, deixando uma fração de seus homens em Upaon-açu, sob a liderança de seu principal colaborador, Charles des Vaux, ainda é fonte de divergência. Para Claude d‘Abbeville, a razão foi a contrariedade com a cizânia que acometeu os seus patrícios: Com seu valoroso apoio [do chefe Ouvirapive] e o de um verdadeiro exército de selvagens, Riffault, que era guerreiro intrépido, teria muito fàcilmente alcançado seus objetivos, não fôssem a desunião e a discórdia entre os franceses e o naufrágio do seu navio principal, cousas essas que de tal modo o surpreenderam e descoroçoaram que êle resolveu voltar para a França. Entretanto, não cabendo, na embarcação que lhe restava, todos os franceses que levara, viu-se obrigado a abandonar em terra boa parte dêles.105 Segundo outros, Riffault teria decidido, sob estímulo de Japi-açu, de quem conquistara a simpatia, firmar-se no Maranhão e não no Potiiú, conforme o plano inicial, representando a volta à pátria um esforço de consecução de recursos mais robustos.

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―Hipótese provável é que a perda tenha sido motivada pelo mau conhecimento dos canais de acesso à Ilha do Maranhão.‖ BONNICHON, Philippe. A França Equinocial: a invasão. In: GUEDES, Max Justo (Coord.). História naval brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1975. v. 1, t. 2, p. 528. 105 ABBEVILLE, Claude d‘. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Tradução de Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975. p. 22.


De uma forma ou de outra, a permanência do huguenote Charles des Vaux, originário de Turenne, entre os tupinambás por quase ou aproximadamente um quinquênio fez dele um valioso truchement (intérprete ou ―língua‖) e conhecedor dos costumes indígenas da região, cuja experiência seria de grande utilidade na iniciativa colonial de 1612. Mais do que isso, a própria ideia da França Equinocial teve uma de suas sementes aí, quando Charles des Vaux se apercebeu da prodigalidade da terra, da disposição dos tupinambás para abraçarem a fé cristã e se submeterem à autoridade da Coroa gaulesa e, sobretudo, das vantagens de instalação de uma verdadeira colônia sob o patrocínio real em lugar de outra mera feitoria, motivo por que, sem notícias do paradeiro do Capitão Riffault,106 retornou no final de 1607 ou de 1609 à França, onde tentou convencer o monarca de então, no caso Henrique IV, a adotar o seu plano, 107 o qual seria, de fato, concretizado, mas somente após a morte do grande rei. Um pouco antes, em 1604, não é demais recordarmos que Pero Coelho de Sousa desistira de seguir para o Maranhão quando enfrentara, na região montanhosa de Ibiapaba, a forte e obstinada oposição dos tabajaras chefiados por Mel Redondo, aliados em combate aos gauleses de Adolphe de Mombille, companheiro de Riffault. Quase paralelamente à aventura de Riffault e Des Vaux, no ano de 1596, Jean Guérard, possível descendente ou aparentado do outro Guérard, que aportara no Maranhão em 1523, aparelhou duas naus, a Le Dauphin e a Le Poste, cujos pilotos foram Michel e Nicolas Dupuis, a segunda das quais para viagens ao Maranhão, tendo daí para diante, como informa Mário Meireles, ―se estabelecido com relativa regularidade as visitas, à terra, de corsários mandados por armadores de Dieppe‖. 108 E ressalta Philippe Bonnichon que, ―a partir de 1596, data em que o Ministro Seignelay tomou como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionou uma linha quase regular de navegação entre Dieppe e a costa a leste do Amazonas‖. 109 Igualmente significativo é o fato de que Guérard, organizador dessa próspera conexão Porto de 106

O Padre José de Morais levanta hipóteses sobre o destino de Riffault: ―Despedido dos companheiros, largou velas ao vento, que foi o mesmo que largá-los ao seu esquecimento, para se não lembrar da volta, ou porque os ares de França o fizeram totalmente esquecer do clima do Maranhão, ou porque no mar, com ambição de ajuntar mais algum cabedal, acabaria talvez a vida no antigo exercício de pirata.‖ História da Companhia de Jesus na extinta província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Editorial Allhambra, 1987. p. 40. 107 ―Entre êstes se encontrava um sr. des Vaux, natural de Sainte-Maure em Turenne, que em companhia de outros franceses guerreou com os índios contra outras tribos e tão corajosamente se comportou que alcancçou notáveis vitórias. Conformando-se sempre com os usos e costumes do país, aprendeu a língua dos índios. Após êsses bravos feitos em diversos e perigosos combates e uma longa estada na região, observou êle a beleza e as delícias da terra, sua fertilidade e fecundidade em tudo o que o homem pode desejar tanto com referência ao prazer do corpo, em virtude da amenidade do clima, como em relação à aquisição de imensas riquezas suscetíveis de serem transportadas para a França. Obtendo por outro lado a promessa dos índios de se converterem ao Cristianismo, e vendo aceito o oferecimento de lhes enviar de França uma pessoa qualificada a fim de governá-los e defendê-los contra seus inimigos, porquanto julgavam o temperamento francês mais do que os outros semelhante ao seu, pela doçura das relações, o sr. des Vaux deliberou voltar à França. Aí chegando, após uma viagem feliz, narrou fielmente à Sua Majestade Cristianíssima, Henrique, o Grande, tudo o que lhe ocorreu na viagem e lhe mostrou a honra que caberia a Sua Majestade no empreendimento da conquista, além do proveito e da utilidade que dela tiraria a França, e da coroa de gloria que o céu infalível mente (sic) lhe outorgaria pela salvação de tantas almas que se jogavam em seus braços na intenção de se converterem à religião do verdadeiro Deus.‖ ABBEVILLE. História da missão dos padres capuchinhos..., p. 22-23. 108 MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 34. 109 BONNICHON. A França Equinocial: a invasão. In: GUEDES, Max Justo (Coord.). História naval brasileira, p. 526. Ver também RONCIÈRE, Charles de la. Histoire de la marine française: en quète d‘un empire colonial: Richelieu. Paris: Plon-Nourrit, 1910. v. 4, p. 348.


Dieppe-Maranhão, em memorando dirigido ao soberano francês Henrique IV, conforme destaca Lucien Provençal, aventou a possibilidade de uma implantação gaulesa de cunho permanente, o que se materializaria com a fundação da França Equinocial em 1612.110 Um nome costumeiramente associado ao de Guérard é o de Du Manoir, porquanto ambos mantiveram feitorias no Maranhão, precisamente na Ilha Grande. Prova disso é que Claude d‘Abbeville testemunha que Du Manoir se encontrava ―em Jeviree com muitos franceses, tanto de sua equipagem como da do capitão Gerard‖, em companhia de fidalgos e soldados da tripulação ―de quatro ou cinco capitães de Diepe‖, quando da chegada da expedição de Daniel de la Touche e de François de Razilly, apoiada pela Rainha Regente Maria de Médicis, e que ele ofereceu aos recém-vindos ―um banquete tão magnífico quanto poderia ser em França e no qual havia grande abundância de tôda espécie de caça e de carne, tudo preparado ao gôsto francês; e não faltou bom vinho; nem sobremesas‖.111 Da mesma maneira, Maillard e Moisset estiveram na Ilha do Maranhão. E não nos esqueçamos de David Migan (ou Mingau), experimentado intérprete de longa convivência com os tupinambás, ―desde a mais tenra infância‖,112 requisitado particularmente nas ocasiões de conflito ou desconforto entre estes e os seus compatriotas gauleses para reafirmar a autoridade dos últimos, personagem tanto da História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas, obra de Claude d‘Abbeville, 113 quanto da História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, livro de Yves d`‘Evreux.114 Em anotação ao texto do capuchinho Yves d‘Évreux, Ferdinand Denis traça um perfil do destacado intérprete: David Mingau era de Dieppe e, como tantos normandos do fim do século XVI, viera buscar fortuna entre os selvagens do Brasil. Os chefes da expedição encontraram-no estabelecido havia muitos anos em Juparanã, na ilha do Maranhão. Era, em toda extensão da palavra, um intérprete da Normandia e Deus sabe de que reputação gozavam aqueles intérpretes no que se chamava então o mundo civilizado. Chegava-se até a assimilá-los aos selvagens de cujos odiosos festins, segundo se dizia, eles participavam. David Mingauteve as honras do Mercure français [...]. Voltou à França com Razilly, a quem era especialmente ligado, pois só ele era capaz de bem traduzir para a rainha o longo discurso de Itapucu. Observamos, de passagem, que ele apôs sua assinatura na cessão de direitos que La Ravardière fez a François de Razilly. Isso indica, sem a menor dúvida, que ele gozava de uma consideração excepcional. O nome de Mingau, contudo, 110

Ver PROVENÇAL, Lucien. A França Equinocial: os franceses no Maranhão. In: MARIZ (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial, p. 88. 111 ABBEVILLE. História da missão dos padres capuchinhos..., p. 55-56. 112 Ibidem, p. 117. 113 Ver, por exemplo, ibidem, p. 117-118. 114 Ver, por ilustração, ÉVREUX, Yves d‘. História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614. Introduções de Ferdinand Denis (e notas), Gabriel Marcel e Mércio Pereira Gomes. Tradução de Marcella Mortara. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. p. 156. Ver também ÉVREUX, Yves d‘. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. Colaboração de Ferdinand Denis. Tradução de César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano, 2002. p. 111.


parece-nos ser um nome de guerra, essa palavra em tupi designa a espessa papa que se fazia com farinha de mandioca. Malherbe, que estava no palácio das Tulherias quando da apresentação dos índios, observa a habilidade desse homem. Havia outro intérprete chamado Sebastião que tinha sido designado para acompanhar Yves d‘Évreux.115 E Antonio Noberto sublinha o papel de David Migan e de outros ―línguas‖ em um período duradouro no qual a hodierna Ilha de São Luís abrigou um importante posto comercial francês, com o suporte dos indígenas, que atraía numerosos corsários, comerciantes e navegadores bretões e normandos, como o próprio Jacques Riffault, em meio ao imenso vazio da colonização portuguesa no norte do Brasil: Ainda nos anos mil e quinhentos, a Ilha Grande, então Upaon-Açu, era o principal porto e lugar de comércio do Brasil setentrional. Nativos e estrangeiros, principalmente franceses, comercializavam e patrocinavam uma linha quase regular de navegação ‗entre Dieppe e a Costa Leste do Amazonas‘. No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá [...]. Entre estes estava David Migan , o principal líder francês desta época. Ele era o ‗chefe dos negros‘ (índios) e ‗parente do governador de Dieppe‘. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville. Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do Natal, edificada em 1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerõnimo de Albuquerque. Todo o Brasil setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto, nas mãos de comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis, escoceses, dentre outros. [...] Os corsários franceses deste período não descansavam. Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, geralmente entre o Potengi e o Amazonas. O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa.116 Conquanto os empreendimentos privados, sob os olhares complacentes ou nitidamente aprovadores da Coroa gaulesa, hajam sido os mais numerosos, aqueles de planejamento oficial tampouco foram raros. Catarina de Médicis, regente após a morte de seu esposo Henrique II em 1559, jamais deixou de acalentar o projeto de assenhorear-se de uma parte do Brasil. Com tal intuito, atribuiu a seu primo Filippo Strozzi, a partir de 1576, sem alarde, a tarefa de promoção de missões por estas plagas, sob a direção de Jean de Coquigny e Jacques de 115

116

Ver nota de Ferdinand Denis em ÉVREUX. História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão..., p. 156. Ver igualmente anotação em ÉVREUX. Viagem ao norte do Brasil, p. 398. NOBERTO, Antonio. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Edição eletrônica, São Luís, v. 1, n. 39, p. 163, dez. 2011. Disponível em: <http://issuu.com/leovaz/docs/>. Acesso em: 26 fev. 2012.


Vaux de Claye, com o propósito de recrutamento de 10.000 indígenas. Assim, no indigitado ano de 1576, Jean de Coquigny e seus comandados da nau La Salamandre se apoderaram da aldeia de Ararouê, na tão cobiçada Baía de Guanabara, onde somente puderam sustentar a sua posição por três meses. Fosse a missão mais bem-sucedida, Catarina possivelmente teria tornado o seu parente o Vice-Rei de uma renovada França Antártica. Três anos depois, Jacques de Vaux, navegador e cartógrafo de Dieppe, viajou ao Brasil, oportunidade em que reconheceu a sua costa e fez mapas complementares aos de Desliens, Desceliers e Le Testu, um dos quais retratando o trecho litorâneo do Maranhão ao São Francisco, vindo a noticiar que no trecho entre Pernambuco e o Rio da Cruz os gauleses poderiam usufruir do auxílio de aproximadamente 10.000 índios contra os lusos. Igualmente explorou o Amazonas em 1582 e 1584. Em 1597, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Toussaint Conen de la Villaudoré, no comando de uma frota de sete naus, contando com um subsídio de 60.000 libras, já sob o reinado de Henrique IV, explorou o Rio Grande do Norte e a Paraíba, porém fracassou no propósito de tomar o Forte Cabedelo dos 20 lusitanos que o defendiam, não obstante a sua superioridade em termos militares. No ano de 1604, o huguenote Daniel de la Touche de la Ravardière, que seria, como sabemos, uma das duas figuras de proa da França Equinocial, esteve no trecho das Guianas até o Rio Oiapoque, no hoje Estado do Amapá, juntamente com o geógrafo Jean Mocquet, futuro encarregado do Gabinete das Singularidades do Rei Henrique IV, para efetuar o levantamento da área, em iniciativa aprovada pelo Almirante Charles de Montmorency, chefe da Marinha gaulesa. Mocquet observou os nativos e seus costumes, a fauna e a flora dos lugares visitados e deixou registro escrito dessa aventura. Daniel também fez suas anotações sobre os indígenas e as riquezas potenciais e tomou parte em guerras entre tribos. Na volta, La Ravardière levou para o seu país o cacique Iapoco, cujo nome é uma possível corruptela de ―Oiapoque‖, o qual atraiu atenção especial na Corte e, posteriormente, trabalhou como empregado da esposa do arrojado navegador. Finalmente, no ano de 1612, os franceses, liderados pelo mesmo Daniel de la Touche e pelo católico François de Razilly, sob as bênçãos da Rainha Regente Maria de Médicis, se instalaram na Ilha do Maranhão, outrora da Trindade, hoje de São Luís, onde fundaram a chamada França Equinocial, segunda experiência colonial gaulesa no Brasil, com o apoio dos tupinambás, a qual duraria apenas até 1615, mas legaria às futuras gerações a cidade de São Luís, nascida do forte do mesmo nome. Uma vez mais, os portugueses triunfaram e expulsaram os seus rivais do Brasil. Esta iniciativa encabeçada por La Ravardière e Razilly, tão fascinante, mas pouco abordada, em profundidade, pela historiografia brasileira e, menos ainda, pela historiografia francesa, merece um estudo específico, que deixamos para outra oportunidade. O norte da América meridional, com a fascinação exercida pelo Eldorado, permaneceu, todavia, uma obsessão dos franceses, os quais, em 1624, na Guiana, implantaram um núcleo comercial em Sinnamary e mais um em Caiena, fundada no ano de 1637, que foi conquistada pelos holandeses em sequência e retomada em 1664, quando o território voltou ao domínio gaulês, sob o comando de Joseph-Antoine Le Febvre de la Barre, nomeado Governador da Guiana, e os auspícios da Companhia da França Equinocial. Mesmo o célebre estadista Armand-Jean du Plessis, que passou à História como o Cardeal de Richelieu (1585-1642), imortalizado na obra Os três mosqueteiros (1844), de Alexandre Dumas, primeiro-ministro de Luís XIII de 1624 a 1642, não ignorou, sob


influência de Isaac de Razilly, o potencial oferecido pela terra brasileira, conferindo a Jacob Bontemps o monopólio dos negócios na região amazônica e no Orinoco em 1626, associado ao compromisso de transporte de 1.200 imigrantes. Seu protegido e sucessor, Jules Mazarin, o famoso Cardeal Mazarino ou Mazarin, italiano radicado na França, onde também ocupou a alta posição de primeiro-ministro, desde 1642 até o seu falecimento – durante a regência de Ana d‘Áustria e o início do governo de Luís XIV, o ―Rei-Sol‖ –, teria, por seu turno, sido aconselhado pelo Conde de Pagan, Blaise François – um dos mais reverenciados tratadistas gauleses, cego aos 38 anos quando já ocupava o posto de Marechal de Campo, mas visionário –, a promover a conquista do território amazônico com base em aliança com os nativos, entre os quais os tupinambás, como revela Ferdinand Denis em mais uma de suas notas críticas e históricas ao livro de Yves d‘Évreux, após salientar o prestígio na França da divulgação de experiências sobre o Rio das Amazonas, região do Eldorado, como as de Alphonse de Saintonge, Jean Mocquet e até La Ravardière: Todos esses relatos sobre o grande rio tinham deixado, na França, impressões tão duráveis que o conde de Pagan convidava Mazarino, 40 anos mais tarde, para retomar os projetos esquecidos. Para conquistar a Amazônia, deseja a união com os índios. Segundo ele, o cardeal deve buscar a aliança dos ilustres Omágua, dos generosos Iorimã e dos valentes Tupinambá. Nunca, com certeza, aqueles selvagens receberam tão pomposas denominações!117 Houve uma terceira tentativa, de menor porte e, portanto, menos conhecida, de estabelecimento de uma colônia francesa no Brasil, novamente no Maranhão, realizada pelos calvinistas que haviam deixado a França, após a derrota que lhes fora imposta pelas tropas católicas do soberano Luís XIII no sítio de La Rochelle nos anos de 1627 e 1628. Eles se juntaram aos holandeses, igualmente protestantes, quando da ocupação de São Luís em 1641, os quais foram expulsos pelos luso-brasileiros em 1644. Vasco Mariz e Lucien Provençal descrevem o episódio: Após a tomada de Pernambuco, aqueles franceses se separaram da frota holandesa, como previamente combinado, uniram-se aos batavos e participaram de um ataque a São Luís, encontrando apenas débil resistência. A pequena colônia luso-brasileira voltou parcialmente ao domínio francês com o nome de Saint Louis de Maragnon, embora as tropas holandesas mantivessem o total controle militar da cidade e da região. No Maranhão, os franceses eram chefiados pelo pastor Paquier e constituíram um distrito autônomo dos holandeses, também protestantes, mas sob a sua proteção. Não utilizavam a bandeira da flor de lis do rei católico e sim a bandeira azul e branca de La Rochelle, ao lado do símbolo da companhia holandesa de comércio. Os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais expulsaram os jesuítas portugueses e impuseram os costumes protestantes. A convivência com a população local não foi nada boa, pois os portugueses os consideravam heréticos e conquistadores. Os recémchegados se apoderaram das melhores propriedades sem indenização aos donos, ou passaram a residir juntamente com os antigos proprietários, que

117

Ver anotação de Ferdinand Denis em ÉVREUX. História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão..., p. 114. Ver também nota em ÉVREUX. Viagem ao norte do Brasil, p. 390.


se tornaram seus empregados. A situação ficou cada vez mais difícil e foi necessário reforçar a guarnição holandesa para manter a ordem.118 O projeto colonial gaulês no norte brasileiro nunca obteve êxito. Do sonho da França Equinocial, focado em uma base colonial que se estenderia do Maranhão à Guiana, alimentado, por mais de um século, por monarcas, armadores, comerciantes, militares, gentis-homens, políticos, corsários e aventureiros de toda espécie, somente restou o atual departamento ultramarino da Guiana Francesa. 119 Se o Maranhão e a parte setentrional do litoral brasileiro sempre despertaram o interesse dos franceses, que, por muito pouco, não se tornaram senhores da região, não é menos verdade que o Rio de Janeiro continuou a inspirar, pelo menos até o princípio do século XVIII, as investidas gaulesas no território brasileiro. No entanto, as ações dos corsários Jean-François Duclerc e René Duguay-Trouin foram traumáticas, nada guardando do propósito colonizador que moveu os protagonistas da França Antártica e da França Equinocial. Duclerc, ancorado no apoio de Luís XIV, chefiando uma respeitável frota de cinco naus com cerca de 1.000 tripulantes, zarpou de La Rochelle e atingiu a entrada da Baía de Guanabara em agosto de 1710 e enfrentou a resistência inicial dos lusitanos, optando por desembarcar nas imediações de Guaratiba, área de praia situada perto da Barra da Tijuca, penetrar um pouco no interior e desencadear um ataque à cidade via retaguarda, de madrugada, cujo porto servia de escoamento do ouro das Minas Gerais com destino a Portugal. Mas não foi bem-sucedido no confronto com o Governador Castro Morais, que triunfou com a ajuda de voluntários e estudantes. Duclerc teve 300 de seus homens mortos, foi capturado, juntamente com os sobreviventes, entre os quais 41 de seus oficiais, e, mantido prisioneiro em uma das melhores residências do Rio de Janeiro, morreu assassinado em abril de 1711 por dois indivíduos mascarados. Em setembro do mesmo ano, Duguay-Trouin, aparentemente motivado por vingança, porém, sem dúvida, também por cobiça, no comando de uma armada de 18 naus, com um efetivo de 5.764 homens, aparelhada com 740 peças de artilharia e 10 morteiros, apossou-se do Rio de Janeiro, demandou e conseguiu a quantia de 600.000 cruzados, além de 100 caixas de açúcar e 200 bois, como condição para preservar e não arrasar a cidade, aceita pelo governador referido, o qual viria a perder o cargo em decorrência de sua decisão de pagar o resgate. Se o desenlace não foi feliz para Castro Morais, o mesmo não vale para Duguay-Trouin, elevado à condição de chefe de esquadra pelo ―Rei-Sol‖, graças aos lucros da expedição, conquanto uma tempestade na viagem de volta haja arrastado para o fundo do mar dois dos navios, tripulados por 1.200 homens e carregados de dinheiro.

118 119

MARIZ; PROVENÇAL. La Ravardière e a França Equinocial, p. 131. ―No entanto, parece-nos necessário esclarecer que a denominação de França Equinocial foi dada posteriormente à Guiana. As companhias de comércio que se organizavam na França herdaram os direitos concedidos a La Ravardière. A companhia Rosée Robin, de Rouen, e outra dirigida por Jacob Bontemps receberam da Coroa o monopólio do tráfico entre os rios Amazonas e Orinoco, na atual Venezuela, inclusive a embocadura dos dois rios, o que nos interessa portanto. Os ministros franceses utilizaram as informações colhidas por La Ravardière, que lá estivera três vezes, para exigir a soberania daquela enorme região entre os rios Oiapoque e o Amazonas, criando assim um grave problema com os portugueses e depois com o Império brasileiro, impasse só solucionado pelo Barão do Rio Branco em 1900. No entanto, utilizando as palavras de Bonnichon, ‗Caiena pouco compensou os insucessos de Villegagnon e da França Equinocial‘‖. Ibidem, p. 137-138.


Ante as expressivas e seguidas derrotas nos campos das armas e da diplomacia, a França pouco conservou do pequeno império colonial que chegou a construir ou com o qual sonhou no Novo Mundo, consoante avalia Mário Meireles: Pouco sobraria aos franceses no Novo Mundo do muito que chegaram a possuir, depois de tantas e sucessivas perdas e da independência do Haiti (1/1/1804): a Guiana Francesa, na América do Sul, e os departamentos de Martinica e Guadelupe, na América Insular, este compreendendo, além da ilha que lhe dá o nome, mais as pequenas antilhas de Marie Galante, Las Santas, Petite-Terre, Deseada, Saint-Bartholomé e Saint-Martin (parte).120 REFERÊNCIAS ABBEVILLE, Claude d‘. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Tradução de Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975. 297 p. (Coleção Reconquista do Brasil, 19). BONNICHON, Philippe. A França Equinocial: parte I: a invasão. In: GUEDES, Max Justo (Coord.). História naval brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1975. v. 1, t. 2. BUENO, Eduardo. Brasil: uma história: cinco séculos de um país em construção. São Paulo: Leya, 2010. 480 p. BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. 200 p. (Coleção Terra Brasilis, 2). CABRAL, Mário da Veiga. História do Brasil: curso superior. 19. ed. Rio de Janeiro: Paulo de Azevedo, 1959. 612 p. ÉVREUX, Yves d‘. História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614. Introduções de Ferdinand Denis (e notas), Gabriel Marcel e Mércio Pereira Gomes. Tradução de Marcella Mortara. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. 468 p. (Coleção Franceses no Brasil, 4). Original francês. ÉVREUX, Yves d‘. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. Colaboração de Ferdinand Denis. Tradução de César Augusto Marques. São Paulo: Siciliano, 2002. 436 p. Título original: Nord du Brésil. LEGOHÉREL, Henri. Histoire de la Marine française. Paris: Presses Universitaires de France – PUF, 1999. 128 p. (Que sais-je? Collection Encyclopédique). MAIOR, A. Souto. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. 368 p. MARIZ, Vasco. Os fundadores do Rio de Janeiro: Vespucci, Villegagnon ou Estácio de Sá? In: MARIZ, Vasco (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2006. p. 79-86. (Biblioteca do Exército; Coleção General Benício, 425). MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. La Ravardière e a França Equinocial: os franceses no Maranhão (1612-1615). Rio de Janeiro: Topbooks, 2007. 231 p. MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. Villegagnon e a França Antártica. In: MARIZ, Vasco. Ensaios históricos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2004. p. 73-111.

120

19.

MEIRELES. França Equinocial, 1982, p. 29. Ver, ainda, MEIRELES. França Equinocial, 1962, p.


MARIZ, Vasco; PROVENÇAL, Lucien. Villegagnon e a França Antártica. In: MARIZ, Vasco (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2006. p. 51-78. (Biblioteca do Exército; Coleção General Benício, 425). MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. São Luís: Tipografia São José, 1962. 144 p. MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. 2. ed. São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. 126 p. MORAIS, Padre José de. História da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Editorial Allhambra, 1987. 386 p. NOBERTO, Antonio. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Edição eletrônica, São Luís, v. 1, n. 39, p. 163165, dez. 2011. Disponível em: <http://issuu.com/leovaz/docs/>. Acesso em: 26 fev. 2012. PIANZOLA, Maurice. Os papagaios amarelos: os franceses na conquista do Brasil. Tradução de Rosa Freire d‘Aguiar. São Luís: Secretaria da Cultura do Estado do Maranhão; Brasília-DF: Alhambra, 1992. 299 p. Título original: Les perroquets jaunes – Des Français à la conquête du Brésil (XVIIe siècle). PROVENÇAL, Lucien. A França Equinocial: os franceses no Maranhão. In: MARIZ, Vasco (Org.). Brasil-França: relações históricas no período colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2006. p. 87-110. (Biblioteca do Exército; Coleção General Benício, 425). RONCIÈRE, Charles de la. Histoire de la marine française: en quète d‘un empire colonial: Richelieu. Paris: Plon-Nourrit, 1910. v. 4. SAMHABER, Ernst. História das viagens de descobertas: as grandes viagens para o desconhecido. Tradução de A. Della Nina. São Paulo: Melhoramentos, 1965. 394 p. Título do original alemão: Knaurs Geschichte der Entdeckungsreisen. SAVELLE, Max (Coord.). História da civilização mundial. Tradução de Milton Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. v. 2. Título do original norte-americano: A History of World Civilization. SERRANO, Jonathas. História do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., 1968. 588 p. SOUTHEY, Robert. História do Brasil. Tradução de Luiz Joaquim de Oliveira e Castro. 3. ed. São Paulo: Obelisco, 1965. v. 1. (Coleção História do Brasil). Original inglês. TAPAJÓS, Vicente. História da América. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956. 463 p. (Biblioteca do Espírito Moderno, 57). THEVET, André. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei. Tradução e notas de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. 190 p. (Coleção Franceses no Brasil, 2). Original francês. THEVET, André. Les français en Amérique pendant la deuxième moitié du XVIe siècle: le Brésil et les brésiliens. Choix de textes et notes par Suzanne Lussagnet. Introduction par Ch.-A. Julien. Paris: Presses Universitaires de France, 1953. 347 p. VARNHAGEN, Francisco Adolpho de. Historia geral do Brazil. Madrid: Imprensa da V. de Dominguez; Rio de Janeiro: E. e H. Laemmert, 1854. v. 1. VIANNA, Helio. História do Brasil: período colonial. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1965. v. 1.


VILLEGAGNON, Nicolas Durand de. Cartas por N. D. de Villegagnon e textos correlatos por Nicolas Barré e Jean Crespin. Introdução e comentários de Vasco Mariz. Tradução de Norma Guimarães Azeredo. Rio de Janeiro: Batel: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. 194 p. (Coleção Franceses no Brasil, 1). Original francês.


SÃO LUÍS 400 ANOS: O PODER DOS MITOS ALEXANDRE FERNANDES CORRÊA http://teatrodasmemorias.blogspot.com.br/2012/02/o-poder-dos-mitos-ab-urbe-condita.html

No Teatro das Memórias sociais encontramos o poder do jogo simbólico dos mitos, operantes tanto nas sociedades arcaicas, quanto nas modernas. Jogo estrutural de alcance e força universal, na sua relação com as narrativas sobre os fundamentos de origem do mundo cósmico, social ou pessoal. De um modo sintético podemos dizer que os mitos funcionam e são ativados por oposições que têm sua infraestrutura mais profunda ancorada nas relações entre o sagrado e o profano, o puro e o impuro, o malígno e o benígno, assim por diante. Estas oposições e os jogos socioculturais que promovem e ativam, são subjacentes a diversas manifestações hodiernas. E podemos vê-las atuando exemplarmente no caso das comemorações dos IV Centenário de São Luís/MA, nesse ano de 2012. Destaca-se em todas as observações empíricas que estamos fazendo, nesses últimos anos, com entrevistas e pesquisas mais pontuais participando de eventos e reuniões públicas - a força que tem, e que faz movimentar, o discurso mítico na sociedade. E não poderia ser de outro modo, caso recuperemos da história outros exemplos eloquentes, tendo em mente antecedentes de alcance civilizatório de expressão universal. Como é o caso da fundação mítica da cidade de Roma. Ab Urbe Condita

Rômulo e Remo

Todos nós temos profunda atração pela formulação de discursos que invocam as origens de nossos núcleos urbanos antigos, especialmente os patrimonializados no século XX: "Desde a fundação da cidade...".


No caso de Roma, a cidade eterna, pergunta-se: quem a fundou, Rômulo ou Remo? Em busca dessa resposta, acabamos entrando no labirinto do maravilhoso reino da lenda! Diferentes versões já foram formuladas, em séculos de especulações, pesquisas arqueológicas e históricas na região do Lácio. É o mundo da Mitologia que não nos deixa escapar da imaginação, da fábula, dos sonhos e das quimeras. Sabemos que a lôba fabulosa criou os dois irmãos fundadores, que viveram em lutas e combates, e que terminariam por disputar o fatal embate fraticida. Rômulo assassina Remo; como nos narram Virgílio e Tito Lívio. Rômulo, o vencedor, funda a cidade de Roma... Mas, afinal, quem constrói Roma, os latinos ou os sabinos?! E para além dos latinos e dos sabinos, teriam sido os vênetos? Ou teve a participação dos umbros, oscos, tadiates, tadinates, ausônios, saminitas, lucanos, rútulos, picenos, bretões, etc.; ou ainda, os sículos, sicanos e elimos? Quem sabe a resposta mais verdadeira? O certo é que considerando o fato de todos terem formado um agrupamento socio-cultural denominado itálico, ou italiota, e de suas línguas ter derivado o latim, os futuros moradores da cidade eterna possuem origens comuns. Essas perguntas, que revelam essas oposições e polaridades, fazem funcionar e ativam o poder dos mitos. Em Roma, como em qualquer cidade, - assim como na fundação de narrativas sobre origens de - povoados, vilas, lugarejos, grupos, pessoas, etc., os mitos ocupam o lugar de articulação dos símbolos e do imaginário, recolhendose do real os signos adequados a sua movimentação.

Daniel de la Touche Em São Luís assistimos a mesma luta e disputa mítica, com a oposição de duas versões narrativas rivais. As duas invocando origens europeias; por que? Porque não se atribui a fundação da cidade aos indígenas, Tupinambás vindos da Bahia (tendo expulsado os Timbira/Tapuias para o continente); e nem se atribui aos africanos, pois ainda não havia ainda o tráfico de escravos, na região.


Jerônimo de Albuquerque Maranhão Resta para o embate teatral, e historiográfico, a alusão da presença do franceses e dos portugueses, representados pelo confronto das personagens heróicas de Daniel de la Touche, do lado franco; e Jerônimo de Albuquerque, do lado luso (-brasileiro). A Big-Festa Neo-Barroca Com a aproximação da data de comemoração do IV Centenário, vemos se excitar e ativar com força o poder dos mitos fundadores e a invocação de seus heróis. Com virulência e paixão inflamam-se os debates; sempre acirrados e eventualmente animados pela presença de algum nome ilustre da Ciência ou das Artes. Dos organizadores oficiais dos ritos comemorativos, ouvimos a promessa que realizar-se-á uma big-festa de expressão espetacular; que não será esquecida com facilidade! Veremos então mobilizar-se, com toda certeza, estruturas comemorativas tradicionais e barrocas, com arquiteturas e cenografias remanescentes do século XVII e XVIII, - em novas roupagens high tech -, incrementados com recursos midiáticos e teatralizados; lembrando o Triunfo Eucaristico de 1733, na cidade de Ouro Preto/MG. Modelo festivo e comemorativo colonial que atravessa os séculos, conforme defendemos em artigo recente publicado na Revista do IHGM: http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_36_-_mar_o_2011b. Mas, atenção! A Tradição não será festejada repetindo, ou reproduzindo, o mesmo significado histórico e cultural - como se diz nas academias: "re-siginificado" ou "reinventado". Nossa hipótese é outra. Percebemos que o discurso elaborado e articulado, para estas comemorações de 2012, rompem com as de 1962 e 1912. Mantém-se o modelo festivo e comemorativo num barroquismo sofisticado e incrementado tecnologicamente; num estilo neo-barroco pós-moderno marcante e significativo. Todavia, não é o mesmo sentido de festa que se repetirá. O modelo (estrutura/ arquitetura) permanecerá o mesmo do século XVIII, com o Triunfo Eucarístico servindo como ritual litúrgico de base. No entanto, apesar dessas aparentes e superficiais semelhanças, vamos testemunhar uma virada no processo de construção social e política da festa comemorativa, nesse início do século XXI. Uma virada capital, que abalará para sempre os vestígios e remanescências memoriais e patrimoniais, além de identitárias; sustentadas por estas estruturas comemorativas e festivas ritualísticas consagradas. Tal análise sobre as bases de fundação de um novo ciclo sócio-cultural de festividades e comemorações nas sociedades da modernidade tardia (pós-modernas) vamos apresentar no decorrer dessas crônicas. Fruto de nossas pesquisas sobre os ritos


comemorativos na atualidade, reunidos sob o título Teatro das Memórias II: mitanálise e ritanálise das festas comemorativas históricas na sociedade contemporânea. Esse trabalho avança na construção das bases teóricas e metodológicas, oferecendo subsídios para os estudos e pesquisas sobre o novo ciclo de festas e ritos comemorativos inaugurados na sociedade brasileira, desde as comemorações dos 500 anos (1992), até a efeméride dos duzentos anos de Independência do Brasil; coroada com os cem anos da Semana de Arte Moderna, em 2012. Essa linha de pesquisa sustenta a hipótese aqui apresentada, muito sumariamente, da ruptura e descontinuidade do longo ciclo festivo e comemorativo invocado, a partir da proliferação de mega-eventos recentes na sociedade brasileira, que indicam mudanças e variações no modelo colonial barroco herdado. Com a entrada na alta modernidade, observamos os impactos de novos elementos, transformando e abalando a gramática litúrgica convencional; para além das bases econômicas e sociais, que já sofrem recentes modificações estatísticas. Mega-eventos como Panamericano, Encontro Mundial da Juventude Católica, Olimpiadas, Copa do Mundo e outros, estão transtornando as bases de produção e re-produção desses rituais litúrgicos na atualidade. A Viragem Decisiva Para nos guiar nessa aventura interpretativa, no movimento de decifrar as particularidades e os sentidos da virada da produção atual de significados das festas públicas e ritos comemorativos históricos; vamos nos apoiar em Jean Baudrillard, especialmente no seu texto Simulacros e Simulação. E o parágrafo abaixo, em destaque, cai como uma mão na luva; ajudando a dissipar qualquer dúvida quando as transfromações virtuais nas quais estamos adentrando. Assim: "Quando o real já não é o que era, a nostalgia assume todo o seu sentido. Sobrevalorização dos mitos de origem e dos signos de realidade. Sobrevalorização de verdade, de objetividade e de autenticidade de segundo plano. Escalada do verdadeiro, do vivido, ressurreição do figurativo onde o objeto e a substância desapareceram. Produção desenfreada de real e de referencial, paralela e superior ao desenfreamento da produção material: assim surge a simulação na fase que nos interessa - uma estratégia de real, de neo-real e de hiper-real, que faz por todo o lado a dobragem de uma estratégia de dissuasão" (1991, p. 14). Levar a frente os alcances interpretativos dessa análise penetrante, não é fácil, no contexto em que estamos vivendo de recalcitrante resistência ao pensamento crítico. Reluta-se em compreender a importância desse processo de "sobrevalorização" dos mitos, dos signos, da verdade, da objetividade, da autenticidade... Trata-se de uma resistência subjetiva que configura um obstáculo epistemológico dificil de superar, sem um trabalho de escavação semiológica. É como estar diante do espelho e não acreditar no que se vê: é preciso dissimular, fingir, cindir... Estatégias de simulação e dissimulação, nos mínimos detalhes, nos discursos, nas ações, nas encenações. Como nos apontou Henri-Pierre Jeudy, estamos testemunhando a ativação do "princípio de reflexividade", enquanto base de todo um processo de patrimonialização das identidades. Espelhos das cidades, patrimônios, memórias e monumentos tornam-se simulacros; já não há mais tradição, real, objeto, substância.


Já não faz mais sentido agarrar-se na "historiografia" científica salvadora, garantidora da suposta "verdade histórica", respondendo cientificamente a pergunta angustiada: - quem fundou a cidade de São Luís: Daniel de la Touche ou Jerônimo de Albuquerque? "A história é o nosso referencial perdido, isto é, o nosso mito" (Baudrillard, 1991, p. 59). A empresa anunciada na rosa dos ventos, qual seja, desmitificar a fundação da capital do Maranhão, revelando a "verdade histórica e científica" de sua fundação, elegendo critérios "autenticos" de averiguação do ato fundador - carece de apelo à razoabilidade; em resposta, temos o riso, a ironia, a irrisão. Ao contrário, é o mito que invade, como conteúdo imaginário, a cena midiática, teatralizada e dessubstancializada; mas um capítulo na longa noite da nostalgia do referencial histórico perdido.


400 ANOS DE MEDICINA NO MARANHÃO.

AYMORÉ ALVIM IHGM, AMM e APLAC. Há algum tempo, lendo ―Jornada do Maranhão por ordem de sua Majestade feita no ano de 1614‖ de Diogo de Campos Moreno, encontrei uma informação que achei importante resgatá-la para a História da Medicina no Maranhão. Nessa época, 2007, estava buscando com outros colegas consolidar a disciplina de História da Medicina, no currículo do curso médico da Universidade Federal do Maranhão. Chamou a minha atenção a referência a um cirurgião-médico francês, Dr. Thomas de Lastre, na expedição colonizadora que fizera Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, ao Maranhão, em 1612. Interessante, prossegui na busca por mais elementos informativos e os encontrei em ―Papagaios amarelos‖ de Maurice Pianzola, nos ―Anais Históricos do Estado do Maranhão‖ de Bernardo Pereira de Barreto, em ―Jerônimo de Albuquerque Maranhão‖ de Maria de Lourdes Lacroix e História do Maranhão de Mário Meireles. Firmada a convicção, levantei, em reunião da Academia Maranhense de Medicina, a proposta de comemorarmos juntamente com o 4º centenário de fundação de São Luís e dos quatro séculos de evangelização neste Estado, os 400 anos de medicina no Maranhão. Esta proposta levei, ainda, em novembro de 2009, à Assembléia Geral da Sociedade Brasileira de História da Medicina, reunida em Manaus, que aprovou a realização do XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina, em São Luís, no período de 7 a 10 de novembro do ano em curso, como depois aceitou como tema principal do evento: 400 anos de medicina no Maranhão. Há, então, de se perguntar: por que só 400 anos de medicina? A arte de curar dos índios que aqui chegaram bem antes dos portugueses e franceses, também não é medicina? Claro que sim. Mas para melhor fundamentarmos a nossa resposta, recuemos no tempo e no espaço. O nosso tempo é 40.000 anos atrás e o nosso espaço é uma área que fica ao sudoeste da região europeia que compreende a atual França.


Dessa época, os estudos arqueológicos datam o aparecimento de um povo da espécie Homo sapiens, com características muito semelhantes às nossas, que foi denominada ―Homens de Cro-Magnon‖ devido ao nome da caverna onde esse povo marcou sua existência, nas pinturas ali deixadas (pinturas rupestres). O desenvolvimento da sua inteligência se manifestou através de uma produção artística, bastante sofisticada para a época, nos campos da música, da escultura e da pintura, fruto de pensamentos abstratos que lhe permitiam elaborar idéias sobre forças invisíveis, seres superiores ou divindades. Isto lhe propiciou dar início à criação de mitos, magia e ao desenvolvimento de um sentimento religioso. Outros elementos por ele deixados sugerem uma estrutura grupal mais organizada que a dos seus ancestrais com intensa vida participativa, ambiente favorável para manifestar aos companheiros sentimentos de solidariedade e compaixão. Sendo tais sentimentos a essência da arte de curar, é lógico concluir que foram os ―Cro-Magnons‖ os criadores do que mais tarde foi chamado de medicina. Fundamentado, nesses elementos, posso afirmar que arte de curar ou medicina evoluiu através de três vertentes: a medicina que alivia e consola que é uma expressão de altruísmo e deve ser exercida por qualquer pessoa, eticamente comprometida com o bem estar social. A segunda é a arte de prevenir e proteger que também pode ser exercida por qualquer cidadão, mas devido a sua complexidade e, às vezes, os elevados custos que a envolve, está mais adstrita à responsabilidade do Estado. E, por fim, a Medicina curativa ou a arte de curar propriamente dita que, desde essa época, vem sendo exercida, pelas peculiaridades que a envolvem, por grupos específicos da comunidade, devidamente preparados para tal mister. Inicialmente, por curandeiros, pajés, xamãs, sacerdotes, barbeiros, cirurgiões barbeiros e, enfim, por médicos. Essa estrutura começa a se consolidar com os babilônios, no início da civilização, e vai se aperfeiçoando até a Idade Média quando foram criadas as primeiras universidades, com cursos exclusivos para a preparação de médicos. Ao longo dos Períodos Moderno e Contemporâneo, o exercício do profissional médico, formado em curso superior regular, passou a ser regulamentado pelo Estado através de leis que também consideram curandeirismo, quando exercido por pessoas não autorizadas. Esta é, portanto, a razão de considerarmos o início do exercício da medicina no Maranhão com o Dr. Thomas de Lastre que a história no-lo indica como o primeiro cirurgião-médico, formado em curso superior, que desempenhou por aqui suas funções profissionais e humanitárias. A partir de então, quando os portugueses retomaram o Maranhão aos franceses, para melhor desenvolvimento do tema, dividimos a História da Medicina, ao longo dos quatro séculos seguintes, em três períodos. O primeiro, ―Medicina do Maranhão Colônia‖, teve início em 1612 com o Dr. Thomas de Lastre e se estendeu até 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil. Ao longo desse primeiro período, dominou uma medicina mágico-religiosa conduzida por pajés, feiticeiros e curadores, devido aos raros médicos que estiveram em São Luís. Na capital e em algumas localidades do interior, era exercida uma medicina empírica praticada pelos Jesuítas ou por pessoas de pouca instrução ou analfabetas como barbeiros, barbeiros-cirurgiões, parteiras que após um período de treinamento com um profissional mais velho e experiente eram autorizadas a praticar sangrias, aplicação de ventosas e clisteres, fazer pequenas cirurgias, partos, dentre outras atividades, por membros da Câmara ou por delegados de saúde do governo de Portugal


como os membros da Junta Real do Protomedicato e, posteriormente, pelos físicos e cirurgiões-mores. Nessa época, aterrorizavam bastante a população as epidemias de varíola que começaram a ser registradas a partir de 1616 e vinham acompanhadas por grande mortandade. Sem recursos médicos e terapêuticos, a única esperança era a graça de Deus a quem o povo recorria com orações, procissões, a assistência prestada pelos jesuítas ou, ainda, o uso de amuletos recomendados por curadores. O segundo se estende de 1808 a 1889, ano da Proclamação da República. Foi o período da ―Medicina do Maranhão Província‖ ao longo do qual as autoridades desenvolveram medidas de saúde públicas mais eficientes contra a varíola, com aplicações de pus vacínico sem eficácia e, por fim, da vacina a partir de 1820. Com a implantação de cursos de medicina e cirurgia por D. João, em Salvador e Rio de Janeiro, e com as melhorias das condições sócio-econômicas da Província, a partir de 1840, um número maior de médicos, formado por essas faculdades e na Europa, voltava para prestar aqui seus serviços. As epidemias de varíola começaram a ficar menos frequentes, mas surgiram as de sarampão, febre amarela, gripe e outras de menor expressão sanitária para a época. Como doenças endêmicas, tanto na capital quanto no interior, destacavam-se, no panorama epidemiológico da Província, a malária ou febre intermitente, a tísica ou tuberculose, a morféa ou hanseníase, febres tifóides, as hidropisias, ascites ou barriga d‘água, além de outras de menor expressão nosográfica. A medicina clínica estava, ainda, fundamentada nas teorias ―Humoral‖ dos gregos e na Miasmática. Esta se baseava na etiologia das doenças infecciosas, a partir de emanações ou miasmas do solo poluído por matéria orgânica em decomposição ou de coleções de águas estagnadas. O Terceiro teve início em 1889 e chega aos dias atuais. ―É a Medicina do Período Republicano‖. O desenvolvimento científico e tecnológico decorrente das duas Revoluções Industriais teve grande repercussão, nas áreas da Biologia e da Saúde. É da segunda metade do século XIX os trabalhos de Rudolf Wirchow, Caude Barnard, Pasteur, Lister, Florence Nightingale, John Snow, Semmelweis, Roentgen e muitos outros que deram suporte à medicina moderna. Por outro lado, essas Revoluções causaram profundas modificações sociais como o êxodo rural com pletora das grandes cidades. A falta de infraestrutura sanitária que pudesse dar boa qualidade de vida a esses novos citadinos que, por falta de melhor assistência se instalavam, no entorno dessas cidades, criou, também, os elementos indispensáveis à proliferação das doenças infecciosas e parasitárias, bem como, as resultantes de carências alimentares. É digno de nota os resultados do desenvolvimento científico e tecnológico decorrentes dos dois principais conflitos bélicos mundiais da primeira metade do século XX. Foram aprimoradas as técnicas de assepsia, anestesia e cirurgia. Tiveram, também, grande crescimento o controle e o tratamento de epidemias e endemias, graças aos trabalhos desenvolvidos por Gerhard Domagk, Paul Ehrlich, Alexander Fleming, Jonas Salk, Albert Sabin, e muitos outros. Todas as conquistas da medicina, nesse período, conseguiram melhorar a qualidade de vida das populações, dilargar os limites da vida mas, na contrapartida, aumentaram a prevalência de doenças mais comuns, na terceira idade, como as cardiovasculares e degenerativas.


O Maranhão, por sua vez, não deixou de se beneficiar desses recursos trazidos por aqueles maranhenses que se deslocaram para os centros mais adiantados para estudar medicina. Logo, para avaliar melhor esses benefícios, dividimos o Terceiro Período em duas fases. A primeira, que se estendeu até meados da década de 1950, e a Segunda que chegou aos dias atuais. Na última década do século XIX, teve inicio uma ampla reforma com modernização da Saúde Pública, na administração do então presidente do Estado João Gualberto Torreão da Costa. O foco principal das ações continuava sendo a erradicação da varíola. Foram criados um desinfectório e um Posto com uma linha de preparação de vacinas contra a varíola com bons resultados, de vez que conseguiu produzir o necessário para afastar, por alguns anos, a doença do Estado. A partir do quarto trimestre de 1903, a peste bubônica causou muitas vítimas em São Luís. Esta ocorrência levou o Presidente do Estado, Collares Moreira, a solicitar ajuda ao Serviço de Higiene de São Paulo e ao Instituto de Manguinhos do Rio de Janeiro que colaboraram com vacinas e com recursos humanos. Foi criado o Serviço Sanitário do Estado cujos trabalhos concorreram para abortar o mal no ano seguinte. Nessa época, o governo voltou também a sua atenção para o mal de Hansen, devido ao elevado número de ocorrências que vinha sendo registrado desde o século anterior por Nina Rodrigues. Prosseguiram os trabalhos de controle da doença com destaque para alguns especialistas na área como Sálvio de Mendonça, Marcellino Rodrigues Machado, Cássio de Miranda e, nas décadas de 1920 e 30, os esforços foram encetados por Aquiles Lisboa. No final da segunda década da centúria, na administração de Urbano Santos, foram criados, na capital, o Serviço de Combate às Endemias, o Serviço de Profilaxia Rural e Urbana e o Instituto Oswaldo Cruz com o objetivo de produzir soros e vacinas. A segunda fase tem início com a criação da Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, em 1957, atual curso de medicina da Universidade Federal do Maranhão, que foi o marco do desenvolvimento da atual medicina do Estado, principalmente, nas áreas de Saúde Pública, Genética, Cirurgia, Diagnóstico, e Medicina social. Embora não dispondo de recursos suficientes que lhe assegurem todos os benefícios decorrentes da pesquisa médica, devido a vários fatores impeditivos, o Estado vem contando com seus médicos que continuam se qualificando, em cursos de pós-graduação ―Lato e Stricto sensu‖, realizados aqui e em outros Estados mais adiantados na pesquisa médica, de forma a criar uma massa crítica e um corpo de pesquisadores responsáveis pela aplicação da medicina que todos esperam. É notável o progresso que vem sendo obtido, nas áreas de diagnóstico, intervenções cardiovasculares e neurocirurgias. Não obstante, devemos reconhecer que não somente no Maranhão, mas no Brasil e em outros países, a medicina aplicada não tem acompanhado o acelerado progresso da ciência médica, nos campos da pesquisa e da tecnologia. Isto, com certeza, é devido à elevada demanda pelos serviços oferecidos que não encontra oferta de ambiente adequado nem de recursos humanos para atendê-la, pela falta de eficazes políticas nos


setores da saúde e social, o que se reflete, negativamente, na relação médico-paciente tão importante para o êxito do pleno exercício da medicina.


O MARANHÃO REPUBLICANO – AS OLIGARQUIAS

PROGRAMA – ONE DAY SEMINAR 08:00 – Abertura 08:15 - Conferencia Magna MÁRCIO COUTINHO – IHGM O MARANHÃO REPUBLICANO – AS OLIGARQUIAS 09:15 – Intervalo (café) 09:15 - Sessão de Pôsteres 09:30 – Exposição e debate RAFAEL AGUIAR – UFMA República Velha BEDEDITO BUZAR – AML De Paulo Ramos a Vitorino Freire – o Vitorinismo JOAQUIM ITAPARY – AML Do Maranhão Novo ao Novo Maranhão – a Era sarney OBS. OS ACADEMICOS (AML) BENEDITO BUZAR E JOAQUIM ITAPARY – embora tenham confirmado a participação, convidados que foram desde junho de 2011 e confirmado em março de 2012, em reunião com o Presidente da AML- NÃO COMPARECERAM; o Acadêmico Benedito Buzar, soube-se depois, encontrava-se em São Paulo acompanhando familiar, com problema de saúde, SENDO SUBSTITUIDOS POR RODRIGO DE CASTRO VEIGA BOLETA “REDES DE PODER”: UMA ANALISE SOBRE A OLIGARQUIA DE VICTORINO FREIRE NO MARANHÃO (1940 – 1970) DANIEL BRUNO DE JESUS FERREIRA JOYCE OLIVEIRA PEREIRA “O DIREITO DE DISCORDAR”: REABERTURA POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DA PROPAGANDA SARNEÍSTA NAS ELEIÇÕES DE 1984. 12:30 – Debate com a plenária 13:00 – Intervalo para almoço 14:30 – Sessão de Exposição Oral – DANIEL RINCON CAIRES DAS LÁPIDAS ÀS CATACUMBAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CEMITÉRIO DE SÃO BENEDITO E AS MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NAS ATITUDES DIANTE DA MORTE E DOS MORTOS NA CIDADE DE ALCÂNTARA – MA - ELVYS WAGNER FERREIRA DA SILVA SÃO LUÍS, PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE: UMA BELEZA DE GEOMETRIA - Intervalo


PROJETO GONÇALVES – II ENCONTRO GONÇALVINO 16:00:

- Exposicão de Baners, Fotos e Telas - Entrega de documentos (Ficha de Matricula e Certidão de Idade), vindos de Coimbra-Portugal) - Banners com a antiga casa de Gonçalves Dias e Carta de Gonçalves Dias ARTHUR ALMADA LIMA FILHO-Presidente do IHGC VALQUIRIA ARAUJO - Secretária Municipal de Cultura e Turismo de Caxias MANOEL BEZERRA - IHGC CARVALHO JUNIOR - ASLEAM WYBSON CARVALHO- ACL MIRAMAR SILVA -IHGC

16:00: ERLINDA MARIA BITTENCOURT (UEMA-IHGC) AS MULHERES DE GONÇALVES DIAS 17:00 WYBSON CARVALHO - Membro da ACL GONÇALVES DIAS O DRAMATURGO 17:30: Apresentação do andamento do Projeto pelas Comissões de São Luís e Caxias. PARTE II (PRAÇA GONÇALVES DIAS-LARGO DOS AMORES) LOUVAÇÃO A GONÇALVES DIAS 18:00 Apresentação Musical do Grupo Chorinhos e Chorões 19:00 Apresentação Coral Madrigal 19:45 Performance Poético-Teatral -Companhia Beto Bittencourt 20:30 Leitura de poesia por Poetas de Caxias e São Luís Poesia: MISTURA NATIVA MANOEL BEZERRA IHG-CAXIAS Poesia: CANÇÃO DE UM FILHO CARVALHO JUNIOR -ASLEAM Poesia: DIAS DE FELIZES LEMBRANÇAS VALQUIRIA ARAUJO- Caxias Secretária Municipal de Cultura e Turismo de Caxias Poesia: PELOS CAMINHOS DO POETA - MIRAMAR SILVAIHGC 21:00 Encerramento: Apresentação da Banda da Polícia Militar




DR. JOSÉ MARIA RAMOS MARTINS ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO Cad. 44 Atualmente:   

Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Titular do Conselho Diretor da Universidade Federal do Maranhão; Membro do Conselho Estadual de Educação.

Hoje o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão presta homenagem ao seu Sócio Honorário mais ilustre, entre os que estão vivos e cujo aniversário ocorreu na data de 27 de março último. No decorrer desta homenagem certamente os que não o conhecem, há mais tempo, vão entender a causa da deferência especial. Antes de conhecê-lo já ouvia referências elogiosas a seu respeito. Minha tia Ana Augusta Bayma foi sua primeira professora em estabelecimento de ensino, na cidade de Flores (hoje Timon-MA), e o elogiava como criança de inteligência superior e altamente educada. Conheci o Dr. José Maria Martins, de forma mais próxima como Diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade do Maranhão em 1965. A proposta para minha contratação como professora Assistente da Cadeira: Geografia Humana já estava na Secretaria da Faculdade, com o falecimento do Cônego Antônio Bezerra Bonfim, ele havia assumido a Diretoria. Em janeiro de 1966 recebi a portaria nº 1, data de 24/01/66, e tomei posse, pois o Professor Titular estava em gozo de férias e havia uma aluna para prestar exame de segunda época na disciplina Geografia Humana. Essa portaria eu guardo com muito cuidado pelas valiosas assinaturas, de pessoas que passei a admirar e respeitar, prestaram relevantes serviços, durante muitos anos em prol da Universidade e pela Educação no Maranhão. As assinaturas, reconhecidas em cartório, exigência da época, são: Cônego José Ribamar Carvalho, Reitor; José Maria Ramos Martins, Diretor e Wladina Labre Castelo Branco, Secretária. Nessa época a Universidade era pequena, a convivência constante e fraterna. O tempo proporcionava oportunidade para consultas diretas aos dirigentes e receber orientações necessárias; as reuniões de trabalho enriquecedoras. A Faculdade de Filosofia era integrante da Universidade Católica, a exemplo das demais unidades contava com poucos alunos e professores. Quando da graduação do Bacharelado em Geografia e História, 1962, durante a cerimônia ocorrida na Associação Comercial, foram proferidos brilhantes discursos: o do Reitor Ribamar Carvalho e do então Diretor Cônego Antônio Bonfim, o primeiro orador citado a favor da federalização da Universidade e o segundo contra essa federalização.


Outro momento importante foi a cerimônia ocorrida no Teatro Artur Azevedo com a presença do visitante ex-Reitor e Ministro Calmon de Sá, grande orador e cujo brilhante discurso foi superado pelo Reitor Ribamar Carvalho, pois no momento em que proferia seu discurso a iluminação sofreu um apagão, ele não interrompeu, continuou falando brilhantemente até a restauração da iluminação. Isso deixou a plateia empolgada. Cabe ressaltar que as cerimônias da Universidade contavam com lotação completa, constituída das mais altas autoridades do Estado e de pessoas da sociedade, pois o corpo docente e discente era pouco numeroso. Lembro esses fatos para demonstrar que naquela época a Universidade já gozava de alto prestígio e relevância em todos os setores culturais e sociais. O professor José Maria Martins já participava, na qualidade de professor em comissões específicas para estruturação da Universidade, tendo em vista futura federalização e assim continuou como Diretor prestando papel atuante na elaboração do Estatuto e Regimento da UFMA. O Prof. José Maria Martins sempre se sobressaiu em todos os momentos de sua vida como estudante ou profissional. Durante seus estudos ora estava residindo em São Luís, Terezinha e até em Salvador/BA, quer nos exames de seleção para transferência ou exame para ingresso em etapas superiores, seguindo a legislação vigente, sempre era aprovado e merecia elogiosas referências dos examinadores. No livro: ―Memórias de Professores – História da UFMA e outras histórias‖ – de autoria dos Professores Doutores: Regina Faria e Antônio Monteiro, eles relatam muitos fatos de sua brilhante vida, e foi onde colhi muitos dados para essa homenagem. Nesse relato constatei que o Prof. José Maria com oito anos de idade, por motivo de saúde, a procura de tratamento, separado da família, em cidade diferente, estabelecimento de ensino com estatutos outros, conseguiu aprovação e reconhecimento dos professores. O mesmo quando prestou exame de admissão em outro colégio o Ateneu Teixeira Mendes. O exame de admissão daquela época criava o mesmo impacto do vestibular, banca examinadora de três professores e um fiscal federal, figura das mais assustadoras. Transferido para o Liceu do Piauí, depois seguiu para a cidade de Salvador – BA, onde cursou o pré-médico, colégio dos Irmãos Maristas. Nesse período perdeu a mãe e voltou para Teresina, lá definiu a carreira que seguiria e fez o Curso de Direito. Observando a trajetória do Prof. José Maria Martins verifiquei que as circunstâncias, desde os oito anos de idade, o obrigaram a mudar de direção muitas vezes, mas a inteligência privilegiada, a metodologia de ensino, a formação familiar e o senso de responsabilidade lhe proporcionaram o êxito e o reconhecimento para galgar a etapa seguinte. Demonstrou sempre a persistência própria das personalidades superiores capazes de enfrentar e superar situações difíceis e injustas e seguir adiante. Já graduado em Direito e funcionário público, com a abertura da Faculdade de Filosofia de São Luís, presta vestibular para o curso de Filosofia, em 1956 graduou-se com a 1ª turma. Foi logo contratado como professor do curso. Estudante de Filosofia submeteu-se ao Concurso da Faculdade de Direito para Professor da Cadeira de Introdução a Ciência do Direito, defendendo a tese: ―Da noção


do espaço ao fenômeno jurídico‖, 1955. Nesse ano não conseguiu a contratação, por injunções externas, comuns nas Universidades. No ano seguinte um professor completaria tempo para aposentadoria e incentivado pelos próprios examinadores e outros professores que assistiram ao exame anterior, candidatou-se a Cadeira de Direito Penal. Preparou nova tese com o título: ―Ciência e Crime‖. Aprovado recebeu elogios de todos pelo importante desempenho. Logo foi convocado para a função de Consultor Jurídico do Estado, Governo Matos Carvalho, depois em outros governos. No ano de 1965 assumiu a Diretoria da Faculdade de Filosofia da Universidade do Maranhão que continuava com os quatro cursos iniciais. Houve apenas desmembramento do Curso de Pedagogia para criação da Faculdade de Educação. A Faculdade de Filosofia passou a ter a denominação de: Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Maranhão. Criada a Universidade Federal do Maranhão, Fundação instituída pela Lei 5.152, outubro de 1966, com a fusão das Faculdades Federais, das Faculdades e Institutos integrantes da Universidade Católica. A UFMA passou por momentos próprios da transição com os reitores: Pedro Neiva de Santana, José de Ribamar Carvalho, Josué Montelo, até a eleição do Professor José Maria (1976-1979). Antecedendo a Reitoria militou como jornalista no ―Diário do Norte‖, ―da Tarde‖, quando estudante. Trabalhou como concursado do DASP – nos Correios e Telégrafos. Foi delegado SESC e depois do SENAC, Advogado da PETROBRAS por dez anos. Ocupou a Vice-Reitoria no período Josué Montelo. Foi eleito Reitor (1976-1979). Na Reitoria além das múltiplas atividades próprias do cargo, deu continuidade ao projeto de sua autoria como Vice-Reitor, ―Melhoria do planejamento e interiorização‖, iniciado, através do CRUTAC, nos municípios de Imperatriz, depois Bacabal, Pedreiras e Caxias. Deu destaque ao ―Projeto de Qualificação Docente‖ facilitando o afastamento do professor para cursar mestrado e doutorado. Nesse período, atendendo a legislação vigente, foram realizadas as progressões de professores: Assistentes e Adjuntos. Minha gratidão ao Dr. José Maria Martins, foi nesse enquadramento que eu passei ao cargo de Professor Adjunto. Praticamente toda minha carreira foi realizada nas administrações do Prof. José Maria Ramos Martins. Embora minha aposentadoria tenha ocorrido em dezembro de 1996, fui aposentada apenas no Cargo de Adjunto 4. Na administração José Maria não foi esquecido o espaço físico, mas ampliado com edificação de novos prédios e reformas dos mais antigos. Foi adquirido o Palacete Gentil Braga, esquina da Rua do Passeio com a Rua Grande. Todas essas atividades constituem uma pequena amostra das realizações do Prof. José Maria, pois a exiguidade do tempo não permite citá-las todas. Após o período reitorial continuou sua atuação como Professor da UFMA, depois a Pós-Graduação do CEUMA e na Escola Superior da Magistratura, além dos Colegiados Superiores já citados. Sem falar nas publicações, como exemplo cito: ―Discursos e Conferências‖ e ―Um Programa de Sociologia Jurídica‖.


Recentemente a Universidade reviveu um momento de glória. Dr. José Maria, na qualidade de membro Titular do Conselho Diretor da UFMA, ao dar posse ao reeleito Reitor Natalino Salgado Filho, pronunciou mais um brilhante discurso. Foram dois ―magníficos‖ discursos com o do empossado. Todo o realizado pelo Dr. José Maria Ramos Martins foi com inteligência, calma, dentro dos princípios da mais alta diplomacia e o mais importante, um alto senso de justiça, que até hoje é louvado por todos os servidores da Universidade do período de sua atuação. Casado, em 1947, com Maria do Ó Portela Martins, senhora altamente educada, estimada por todos que a conhecem, juntos em todos os momentos, formam um casal harmônico e feliz. Tem uma linda filha e netos, a quem estendo as felicitações. Por todo o exposto o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão agradece ao confrade, autor de todo esse trabalho pelo engrandecimento da educação no Estado do Maranhão. Parabéns Dr. José Maria por mais esse aniversário!


O MARANHÃO NA REPÚBLICA – AS OLIGARQUIAS

MÁRCIO COUTINHO IHGM cadeira 48 ―O político não constitui um vetor separado, é uma modalidade da prática social.‖ René Remond

Enquanto sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, fui incumbido de, nesse Ciclo de Palestras, tecer palavras a respeito das oligarquias maranhenses durante esses mais de cento e trinta anos de República no Brasil. Eis, portanto, um tema de muita profundidade e grande extensão, porquanto sujeito às mais variadas opiniões, pareceres, observações e paradigmas. Sem dúvida, o consenso será impossível. A leitura precisa do que tenha sido a manutenção episódica de um líder ou grupo no poder maranhense, a partir de um importante evento histórico - a Proclamação da República no Brasil - precisaria de mais tempo e de palestrante melhor talhado para se fazer mostrar minimamente compreensível. Os matizes, influências, causas e consequências, bem assim as infinitas derivações de fatos e ocorrências durante (e antes) o período republicano maranhense ainda estão a esperar melhor juízo e conceito. Nesse caminhar, mostra-se necessário afirmar que esse palestrante não elegeu o título do debate, mas foi escolhido para discorrer sob tema previamente definido que, muito embora tenha o condão de inspirar mensagens impregnadas das tintas da política partidária, aqui, será tratado com a isenção e o apuro científico que o presente evento exige e nossa responsabilidade impõe. O tema eleito é um tema político. E não reside aqui nenhuma crítica ou conceito pré-concebido pois, enquanto estudiosos da História, somos também analistas da Política. Não se pode desvincular a política da história, ou seja, ao considerarmos a política devemos fazê-lo mediante as diversas formas estruturantes da sociedade e o poder que a governa. Assim, no dizer de Voegelin: a conexão entre o histórico e o político resulta da própria natureza da sociedade, isto é, do conviver humano. 121

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VOEGELIN, Eric. A nova Ciência da Política, UNB, 1979, P.5


Cumpre-me de início trazer o significado, léxico e histórico, do que sejam os termos República e Oligarquia. República O termo República, que em inglês castiço pronuncia-se COMMONWEARLH, vem do latim, res (coisa) e publica (de todos), etimologicamente significa o ―bem comum‖, a coisa pública. Modernamente, a República é vista como um sistema de governo cujo poder emana do povo, uma evolução histórica do poder totalizador, findando a transmissão do poder por desejo divino ou por hereditariedade e colocando o povo como origem e destino da ordem política. No terreno da filosofia política, A República de Platão - a Politéia - no original, bem pode descrever esse conceito que encontra paradigmas no decorrer dos séculos e pode ser dividida em República Clássica, República Medieval, República Moderna. Em Roma, a República de Cícero, era retratada pelo Senado, Senatus Populusque Romanus, SPQR, como expressão da representatividade popular. Esse regime de representação da vontade do povo, mais ideológico do que fático, encontrou em Roma terreno fértil. E essa República cresceu e dominou boa parte do mundo conhecido, até declinar na corrupção, excessos e desmandos, fazendo surgir o poderoso Império Romano cujo mando e poder eram enfeixados nas mãos de um Imperador totalitário e num Senado como mero apêndice do governo, sem legitimidade e efetiva participação executiva. Nessa distorção, o poder voltava a ser centralizado e a coisa pública confundia-se com os desejos dos Césares de plantão. A República Antiga (ou Clássica) sofria mais revezes com a queda da maioria das cidadelas gregas, pela ambição e exércitos de Alexandre, o Grande, Imperador Macedônio. Nessa nova realidade de régulos poderosos e absolutos, a República Clássica sucumbia. Logo, a Monarquia iria encontrar assento num mundo de pouco conhecimento científico e muita carência institucional. Já na Idade Média, o Estado era o Rei. Depois, o Iluminismo colocou luz na chamada Idade das Trevas e o Constitucionalismo Francês, inspirando nações do mundo inteiro fez-se notar. Ressurgia a República como esperança de um Estado vocacionado para o bem comum, novo pacto social se estabelecia e a História seguiria firmemente para a chamada República Moderna. O dicionário Houaiss, de Língua portuguesa, bem define essa forma de governar: constituição do Estado de modo a atender o interesse geral do cidadão.122 Passados séculos, entre idas e vindas, avanços e recuos históricos, essa expressão ainda se mostra um grande ser ideológico, sem forma e conteúdo tangíveis no mundo real, um espectro em busca de um corpo que se materialize. Algo, enfim, ainda a ser construído pelos cidadãos, verdadeiros artífices e destinatários desse ideal de governo e de Estado. Oligarquia O vocábulo OLIGARQUIA, numa leitura literal, significa ―governo de poucos‖. Essa forma de governo caracteriza-se pela concentração do poder nas mãos de um 122

Dicionário Hoauiss de Língua Portuguesa, OBJETIVA, 2001, p. 2.434.


pequeno número de pessoas, ao longo de gerações. É a forma deturpada de aristocracia, governo dos melhores, porque, no ânimo de permanecer governando, acaba desviandose da meritocracia. É do Hoauiss também a melhor definição vernacular da terminologia: regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. A Política no Maranhão como consequência da política na Capital De início, considero que seja impossível dissociar os acontecimentos na Unidade Federativa do Maranhão daqueles eventos que ocorriam pelo Brasil. Não só porque a cultura política de então era disseminada em várias províncias, como e principalmente, porque os fatos históricos ocorridos no Governo Central acabavam por derivar em fatos e acontecimentos no estado do Maranhão. No Brasil, a historiografia convencionou associar o vocábulo oligarquia às primeiras décadas do regime republicano pátrio, entre 1894 e 1930. Isso em virtude da grande influência política exercida pelos proprietários de terra nesse período. Os mesmos latifundiários, donos de engenho e escravocratas que apoiavam o regime imperial vicejaram com desenvoltura durante a chamada República Velha. Isto é, a nova ordem institucional, muito embora dita como um sistema representativo e democrático, mantinha sua base de poder fortemente alicerçada nas práticas e matrizes do Brasil póscolônia. Assim, as mesmas forças dominantes do Império passariam a ditar os caminhos dos novos governos, residindo aí a raiz, o embrião da forma de distribuição de poder a influir na política, na partição do poder do Estado Brasileiro, nas décadas do porvir. É inconteste, o Império de D.Pedro I inauguraria o modo de condução dos negócios de governo da Nação, a partir da separação de Portugal, como uma questão de pragmatismo político. Isto é, mesmo antes do Dia do Fico, o distanciamento do cetro lusitano e a necessária autonomia administrativa brasileira estavam desenhadas como consequência lógica da marcha histórica, porém precisava a tal Independência se apoiar na rede de poder e influência vigentes naqueles tempos. Em verdade, as estruturas econômicas e políticas, representadas pelos latifundiários e comerciantes das grandes províncias, viam a Independência como interessante mecanismo de realinhamento de forças, a seu favor, obviamente. Outrossim, todos sabiam que o Grito do Ipiranga, de per si, não resolveria a questão. O gesto simbólico de D. Pedro era um chamado para a união e, então, as elites dominantes do Brasil fecharam questão em torno da separação de Portugal e o Monarca iniciou o processo de estruturação e consolidação do seu poder enquanto Imperador. Nascia o Estado Brasileiro de uma confluência de interesses. De um lado o Imperador e sua nobreza de brasileiros e, de outro, a força econômica de grandes latifundiários e ricos comerciantes. Em poucos anos, essa rede de influência e mando ganharia força e cristalizar-se-ia na cultura política da nova nação: divisão do poder, ainda que imperial e absoluto, com régulos ou líderes locais/regionais. Dom Pedro I inaugurou, mas seu sucessor, Dom Pedro II aprimorou habilmente esse sistema e, em meados do Século XIX, Liberais ou Conservadores alternaram-se no poder conforme a política no Palácio do Imperador lhe fosse favorável ou não.


Com o passar dos anos, mesmo com a habilidade de D. Pedro II, a rede de poder monárquico começou a ruir. O monarca envelhecia e a elite poderosa de donos de engenhos e os escravocratas descontentes já não sustentariam o status quo do Império. O Positivismo chegava ao seu clímax com a chamada Questão Militar que, a reboque dos acontecimentos mundo afora - o constitucionalismo francês e o sentido de ―coisa pública‖ da América do Norte, sobretudo – impuseram uma arrumação no Governo com a instituição de uma nova forma e sistemas de poder. A Abolição da Escravatura foi um duro golpe na economia e o recém criado Partido Republicano receberia forte reforço de antigos próceres do Partido Conservador. Com efeito, a República Brasileira não nasceu das massas, da vontade popular. Por óbvio, os escravocratas, donos de terras e engenhos, banqueiros e feitores já não poderiam ignorar a onda republicana mundial. Se moveram em definitivo e se aliaram às vozes de literatos e estudiosos após avaliarem os efetivos ganhos. A Proclamação da República viabilizou-se apenas com o apoio dos barões da economia pátria. Assim, essa mesma casta de barões e fidalgos que aplaudiam e se abasteciam da Monarquia foram os primeiros a aplaudir e beber das benesses da República. Quem mais monarquista do que Deodoro e Floriano Peixoto, primeiros Presidentes da República Brasileira? Pois é, mudava a forma de governar, mas permanecia a mesma estrutura e membros do poder. Com essa continuidade dos poderosos nas rédeas do Governo se mantinha, também, a mesma cultura política e filosofia governamental do Império. Os estratos de poder permaneciam inalterados e os hábitos e costumes políticos atravessariam os séculos de tal maneira que os senhores de engenhos e escravocratas da monarquia seriam os coronéis da República Velha. Espécie de cabeça de ponte, dos régulos e governantes que das Capitais tinha seus braços políticos nos sertões e grotões brasileiros. Eis o DNA, a gênese e matriz que indicariam o modelo e forma de articular o processo político no Brasil e, obviamente, no Maranhão. Esse caráter tradicional desembocaria no atual sistema de representação e intermediação de interesses populares, legítimos ou não. Fixou-se, destarte, as bases do clientelismo político. O Mandonismo no Maranhão A ideia, desde que o homem é homem, – de permanência no poder - calcou-se nesses primórdios de dominação patriarcal. No Maranhão, as demandas sociais não se organizavam ativamente para o alcance de seus interesses comunitários conquanto buscassem, para o bem ou para o mal, nos líderes locais o escoadouro daquelas demandas, fazendo desses líderes regionais a interlocução certa com o poder central. A liderança, por sua vez, se realimentava dessas ―demandas‖ de maneira a se perpetuar como intermediário do poder e, por conseguinte, ele mesmo representante não de sua comunidade mas sim do poder constituído. O poder no Maranhão vive dessa rede de influência culturalmente histórica e guarda, mesmo num regime democrático, cacoetes arbitrários no exercício do poder, herdados do Império e do caldo político-cultural já mencionado. Num estudo – ainda que superficial - de nossas primeiras Constituições, constatase a legalização do arbítrio, se assim se pode dizer. Em pleno ano de 1824, quando o absolutismo já parecia sucumbir ante a derrocada das maiores monarquias medievais,


vale trazer a Carta Imperial, alçada a categoria de Carta Política da Nação, a primeira Constituição do Brasil: Art. 94 – A pessoa do Imperador é inviolável e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade alguma. Noutro tópico da mesma Lei, a legitimação de mais uma benesse: Art. 46 – Os príncipes da Casa Imperial são Senadores por Direito e terão assento no Senado, logo que chegarem à idade de vinte e cinco anos. As primeiras Constituições Republicanas, Federal e dos Estados-Membros, muito embora cartas políticas do novo sistema de governo, ainda assim, mantiveram ou incluíram normas autoritárias de gestão, fazendo do Presidente da República e governadores verdadeiros ditadores, tal era o seu poder sobre o Legislativo e o Judiciário, como asseverou Milson Coutinho.123 Como exemplo elucidativo, o Decreto de 14.01.1881, do Governador Viana Vaz, encaminhando o anteprojeto da Constituição do Estado do Maranhão; [...] Considerando a necessidade de dar-se execução ao Decreto nº 802, de outubro de 1890, resolve PROMULGAR a Constituição deste Estado, que deverá ser submetida à aprovação definitiva do Congresso em sua primeira reunião. Aí se denota o arraigado hábito totalitário dos governantes. Uma proposta legal já nascia promulgada, antes do envio ao Poder Legislativo que, por sinal, sequer havia sido eleito e composto. E não uma proposta de Lei qualquer. Era exatamente a maior Lei Estadual, aquela que, no dizer do professor Alberto Tavares Vieira da Silva, deveria ser a declaração dos direitos universais e garantias que regem a vida dos cidadãos; as crenças e valores norteadores da sociedade; o conteúdo da ordem econômica, cultural, social e política; a organização da Justiça e a disciplina da demarcação do poder.124 A tentativa de manutenção do poder (o mais pleno possível) é um costume tipicamente monárquico que vem atravessando os séculos e continuando a impor, obviamente mitigado pelo tempo e evolução dos povos, o comportamento dos governantes e do modo de fazer política Brasil adentro e mundo afora. Nesse palmilhar, a transferência de liderança e revezamento do poder, nunca encontraram terreno propício, fazendo surgirem, aqui e alhures, as chamadas (ainda que impropriamente) oligarquias. Vale, portando passearmos por uma síntese dos acontecimentos históricos no Brasil e suas repercussões e consequências no Maranhão, de molde a melhor colacionarmos as ocorrências oligárquicas não como casos restritos ao nosso Estado, mas sim como derivação, endêmica e generalizada, dos eventos nacionais de relevância e, máxime, da cultura política pátria de pouca organização social e de muito aparelhamento estatal. Crise política na Novel República, Constituição do Estado de 1891 Em 1891, o Presidente da República, Deodoro da Fonseca, o Congresso Federal e o Vice-Presidente, Floriano Peixoto entraram em rota de colisão com o agravamento das 123 124

COUTINHO, Milson. Constituições Políticas do Estado do Maranhão, 2009, Nota Prévia. COUTINHO, Milson. Constituições Políticas do Estado do Maranhão, 2009, Prefácio.


desinteligências e desentendimentos iniciados ainda durante o processo de transição institucional. O presidente da nova ordem republicana que assumira pela mãos do golpe de 15 de novembro encontrava dificuldades em ser reconduzido ao poder, agora constitucional, vez que o Congresso Nacional se dividira entre o Presidente golpista e Prudente de Morais. Como solução, acabaram por eleger Deodoro presidente e Floriano, apoiado pela oposição, como seu Vice. O Congresso, simpático a Floriano, legisla e imputa duras responsabilidades ao Presidente da República. Deodoro veta a Lei e o Senado derruba o veto. Deodoro, com ânimo autoritário, fecha o congresso fazendo instala-se nova crise na imatura república brasileira. A Marinha se levanta em revolta e após, vinte dias de crise, o presidente Deodoro renuncia, assumindo Floriano Peixoto. O segundo Presidente da República do Brasil, reabre o Congresso mas, numa continuação dos arroubos de Ditadura, depõe todos os governadores que apoiaram o Marechal Deodoro da Fonseca. Eis o retrato de convulsão política no Brasil que, da Capital, fazia refletir a instabilidade e a repetição de golpes e contragolpes nas recém criadas unidades da Federação, as outrora Províncias. No Maranhão, o senador estadual, Costa Rodrigues batia-se com o Partido Católico. O coronel do Exército Joaquim Manuel de Medeiros, em obediência ao novo Presidente, depõe o vice-governador em exercício, desembargador Carlos Emílio Peixoto. Mas Peixoto já aderira ao governo de Floriano e, logo, o Coronel Medeiros devolve o poder ao desembargador! Não tardou e assume o Governo do Maranhão o capitão da Marinha Manoel Inácio Belfort Vieira. Outro que era partidário de Deodoro mas que logo se tornou defensor de Floriano. Continuava outra característica da política maranhense: o adesismo. Benedito Leite Após a queda de Deodoro e ascensão de Floriano Peixoto, o Estado do Maranhão fazia promulgar sua Constituição de 1892. Durante o processo constituinte, Benedito Leite e Urbano Santos notabilizaram-se como juristas competentes, logo seriam expoentes da política local. Benedito Leite assume a chefia do Partido Conservador quando Gomes de Castro resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro. De início o antigo partido receberia o nome de Partido Nacional, depois de Partido Federalista. Do outro lado, o antigo Partido Liberal mudava de nome para Partido Republicano, tendo a direção de Costa Rodrigues. O clima de instabilidade governamental permanecia no Maranhão, mesmo após a República, com o pêndulo do poder oscilando, em curto espaço de tempo, entre os dois partidos. Valendo repetir as palavras do professor Mário Meireles: [...] queremos ressaltar a falta de ideologia, a carência de princípios, dos responsáveis e filiados dos nossos partidos regionais, o Conservador do Império intitulando-se Federalista da República, objetivo aos quais antes se opusera; e parte dos antigos liberais, que haviam ajudado a solapar os


fundamentos da Monarquia, passarem-se para o outro lado por motivo de herança de postos de direção.125 E foi entre avanços e recuos e trocas de postos de poder entre os grupos concorrentes na política do Maranhão que, Benedito Leite começou a dominar a política local, nos idos de 1898. João Gualberto Torreão da Costa foi, de fato, o terceiro governador constitucional do Maranhão. Candidato do chefe do Partido Federalista, governou de 1898 a 1902 e deu início ao período de poder ou forte influência de Benedito Leite nos rumos do governo maranhense. Este hábil político e reconhecido jurista indicou também o sucessor de João Costa, Lopes da Cunha e ele próprio seria governador de 1906 a 1909. Benedito Leite ficou na historiografia como homem dotado de espírito de escol e estadista de larga visão. 126 Seu prestígio foi consolidado e o Maranhão recebeu a visita, pela primeira vez, de um Presidente da República, Afonso Pena, em julho de 1906. Historiadores repetem que Benedito Leite dominou a administração e a política do estado do Maranhão por quinze anos. E mais mandaria, não tivesse falecido durante viagem a França. Com sua falta, nova crise política sobreveio para o Estado e Urbano Santos e José Eusébio junto com Collares Moreira disputavam o poder no Maranhão. Urbano Santos Também hábil e respeitado político, Urbano Santos se fez notabilizar. Pacificou o partido assumido sua chefia e indicando Luís Domingues ao comando do Governo em 1910. Mais a frente, Urbano Santos, eleito vice-presidente da República, candidata-se e se elege ao Governo do Maranhão. Friso que seria, para Urbano Santos, a terceira eleição para o Governo do Estado, vez que em 1898, após ser eleito e reconhecido como governador, renunciou e, em 1914 repete o gesto, fazendo o poder chegar às mãos de Herculano Parga. Agora, ele pessoalmente exerceria a governança estadual, de1918 a 1922, onde se firmaria como líder inconteste do Estado. O Golpe de 1930 A historiografia registra que a República no Brasil chegou como resposta a crise política e institucional da monarquia no país mas que, para se sustentar, precisou fundar-se num sistema político indissoluvelmente ligado às demandas e à defesa de interesses econômicos, sociais e políticos de setores oligárquicos. Era o que Paulo Sérgio da Silva.127 chamou de íntimo intercâmbio entre o governo central e os interesses estaduais. A chamada política dos governadores, durante a Primeira República, dava estabilidade ao Presidente na medida em que um acordo tácito garantia ampla autonomia aos grupos dominantes (oligarquias) de cada Estado da Federação. Como moeda de troca os parlamentares dos Estados hipotecavam apoio ao poder central. 125

MEIRELES, Mário M. História do Maranhão, Editora Siciliano, 2001, P.272 MEIRELES, Mário M. História do Maranhão, Editora Siciliano, 2001, P. 289 127 SILVA, Paulo Sérgio. A Constituição Brasileira de 10 de Novembro de 1937. Editora UNESP, 1924, P. 29 126


Nesse período, a minguada oposição estava inoperante e a fraude eleitoral grassava livremente, aumentando a ausência do povo comum nas discussões políticas e decisões de governo. Os ―coronéis‖ eram cabos-eleitorais dos grupos hegemônicos nas Unidades da Federação, gozando, também de prestígio e influência nas suas regiões de controle e mando. Assim o poder era capilar e alcançava os grotões pelas mãos dos ditos coronéis, irrigando o sistema enquanto perpetuava os régulos regionais na chefia e controle de seus pequenos feudos ou currais-eleitorais. Essas oligarquias se sobrepunham, principalmente, nos estados de São Paulo e Minas Gerais, fazendo surgir a política café com leite, que nada mais era senão a alternância na Presidência da República de ilustres representantes da elite dominante de São Paulo e de Minas Gerais. Essa divisão do poder acabou por descontentar os demais estados e importantes setores ou grupos. Os militares mormente. Então rebeliões pipocam em várias regiões do país, à frente, pelotões de militares comandados por Tenentes, era o Tenentismo. A assunção do poder por Getúlio Vargas, um gaúcho, parecia quebrar esse acordo entre os dois poderosos estados e trazia a promessa da moralização dos costumes políticos e sociais. A Revolução de 1930 pretendia a extinção do voto de cabresto na tentativa de por fim a corrupção política. Tinha a ilusão de moralizar o processo de escolha dos dirigentes com o extermínio das famigeradas atas falsas, germinadas nos terrenos férteis dos currais eleitorais. O poder no Brasil era reformulado e a Revolução buscou apoio nos quartéis, nas camadas médias e em alguns setores tradicionais. Os interesses do setor cafeeiro, dominantes econômicos e políticos até então, ficavam fora dessa equação de divisão das cotas de poder. A representação política seria alterada e os domínios oligárquicos estaduais, o coronelismo local mudava de mãos com o surgimento de novos líderes identificados e associados ao novo poder central. O poder regional passou a ser transferido continuamente com a queda e ascensão de variados grupos políticos. O embate se dava entre os velhos grupos de domínio e os novos, recentemente alçados ao poder por força da nova ordem política nascida da Revolução. Impende dizer que essas ―novas forças‖ tinham base e origem no mesmo sistema feudal. Ora, os novos líderes eram também latifundiários, presos a terra, ao plantio, a criação de gado e empregadores de grande quantidade de mão-de-obra. Detinham, pois, os meios de produção e os votos dos seus dependentes. Eram nítidos currais eleitorais onde nasciam e mandavam os novos coronéis. Os comandos estaduais, e até federal, utilizavam dessa rede de influência de maneira que, embora o desejo de mudanças fosse legítimo, na verdade, o novo sistema se alimentava das velhas práticas. Vitorino Freire Como já dito, a monarquia caiu, a Velha República ruíu, a Revolução de 1930 chegava, mas a cultura política pouco se alterava. O mandonismo, como prática política,


vicejava no Brasil, sobretudo no Nordeste, onde uma estrutura sócio - econômica atrasada encarregava-se de produzir o coronelismo e os subprodutos dele decorrentes.128 A revolução de 1930 trouxe Vitorino Freire para o Maranhão. Em 1932, o interventor Martins de Almeida que conhecera Vitorino na Revolução Constitucionalista de São Paulo, trouxe o pernambucano para ocupar a Secretaria de Governo, órgão encarregado de conduzir a política estadual. Antes, Vitorino, integrara o gabinete do Ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida, do qual se aproximara por ocasião da Revolução de Trinta. Surgia Vitorino como fruto da Revolução mas não necessariamente dos seus ideários. Após Martins de Almeida e Aquiles Lisboa, que teria uma passagem curta de apenas um ano na Governadoria, Paulo Ramos é nomeado o novo interventor do Maranhão. O novo interventor, muito embora, de início, se declarasse avesso à política partidária, logo tratou de perpetuar-se no poder. Após o Golpe de Estado de Getúlio Vargas, que extinguiu todos os partidos políticos, Paulo Ramos foi mantendo-se na chefia estadual pela força e arbítrio, estribado no autoritarismo da Ditadura de Vargas. Assim reinou absoluto de 1937 a 1945. Contudo, Vitorino crescia em prestígio durante a Ditadura de Vargas enquanto oficial de gabinete do Ministério da Viação e Obras Públicas cujo titular era João Mendonça Lima. Oportuno e leal aos seus líderes, aproximou-se e estreitou amizade com o poderoso Ministro da Guerra, General Eurico Dutra. O estágio na Secretaria de Governo permitiu ao inteligente Vitorino um apurado conhecimento dos interesses, das lideranças e dos mecanismos políticos e eleitorais no Maranhão. De outra banda, proximidade com o poder da Capital Federal deu-lhe influência e a, partir da posse de Dutra na presidência, inquestionável poder decisório na política local. Em 1945 organizou o PSD para, em 1946, ser eleito Deputado Federal. Agora tinha um mandato e seu poder se alargaria. Passou a indicar os interventores do Maranhão. O empresário Saturnino Bello fora o primeiro, outros viriam e Vitorino Freire, pernambucano de personalidade forte e espírito aguerrido seria o corifeu do Maranhão por duas décadas. Iria impor sua forma de fazer política, lastreado no apoio dos Presidentes da República que se sucediam. Folclórico, determinado e corajoso, já se incorporou ao inconsciente político maranhense. Autor de frases como: ―quando meto o peito n’água, ou racha o peito ou quebro a onda‖; ou, "amigo meu não tem defeito, inimigo não tem virtude, se amigo meu tiver defeito eu tiro e se inimigo não tiver defeito eu ponho”; "Em rio que tem piranha, jacaré nada de costa". Vitorino Freire mandou na política estadual com força e energia, de 1945 a 1965. Para Caldeira, assim se poderia conceituar essa fase. ―O vitorinismo, com efeito, foi um coronelismo. Das suas formas de ação excluiu-se a propensão para a dominação econômica. Nesse caso (ao nível de Estado), essa dominação se processava de forma indireta, ou seja, por meio do apoio que dispensava às suas bases de sustentação, através da 128

BUZAR, Benedito. O Vitorinismo: Lutas Políticas no Maranhão de 1945 a 1965, LITHOFRAF, 1998, P. XXI


concessão de garantias específicas. No plano político propriamente dito – esfera exclusiva do interesse do vitorinismo – a sua ação se centrava em torno do controle dos partidos políticos e das sub-lideranças políticas com ele identificadas que, juntamente com os coronéis do estado davam a configuração real do vitorinismo‖.129 Com o golpe militar de 1964, o pêndulo do poder iria se inverter, fazendo surgir um novo líder, José Sarney. José Sarney Vitorino Freire e sua influência começaram a decair na proporção em que a população maranhense começou a se cansar dos costumes políticos onde, no dizer do próprio Sarney130, naqueles tempos, a busca pelo poder passava pela conquista da Força Policial e da Coletoria da Fazenda, como instrumentos de pressão e violência. Uma vez alcançado o Governo, essas ―instituições‖ eram mecanismos de controle para permanência do poder. A população simpatizava com a nova orientação política nacional, afinal, os militares tentariam afastar dos centros decisórios de alguns estados os tradicionais mandatários do PSD, Partido Social Democrático. Sarney encarnava o novo, a esperança de modernidade e, com competência, empunhou a bandeira da moralização da sociedade131. O surgimento dessa oligarquia (sarneísmo) correspondeu a condicionantes gerados pela luta política interna dos grupos pertencentes ao vitorinismo, oligarquia que antecedeu o sarneísmo, e a condicionantes externos, referidos ao interesse do Governo Federal em colocar no poder estadual um personagem com o perfil de Sarney, dentro da histórica dependência do poder local em relação ao poder central. Mas não se deve esquecer que as propostas de Sarney receberam forte apoio popular, por significar, ainda que ilusoriamente, um avanço em relação ao período vitorinista. Neste, o poder do Estado estava assentado basicamente em uma prática clientelista conjugada ao mandonismo aberto no qual não havia espaço para a modernização, agora prometida por Sarney e desejada pela população. Contudo, o sarneísmo se caracterizou por sucessivas dissidências desde o seu surgimento, em razão das contínuas tentativas de seus aliados de subordinarem ao seu próprio poder os processos políticos locais132. Guilhon, com precisão, resumiu a ascensão de Sarney, valendo complementar que a falência do grupo de Vitorino, por estafa e seguidas dissidências de seus líderes que, em brigas intestinas, foram minando a unidade e densidade do poder do antigo coronel. O próprio Sarney figurou no partido de Vitorino para logo desligar-se pela nítida incompatibilidade de estilos e de visão da política. O segundo era truculento e agressivo 129

CALDEIRA, José de Ribamar. Estabilidade social e crise política: o caso do Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 46, p. 55-101, 1978. 130 BUZAR, Benedito. O Vitorinismo: Lutas Políticas no Maranhão de 1945 a 1965, LITHOFRAF, 1998, Apresentação. 131 GUILHON. Maria Virginia Moreira. SARNEÍSMO NO MARANHÃO: os primórdios de uma oligarquia. Monografia. 132

Idem 11


e o primeiro educado e sutil. Vitorino era o espectro do cansaço da força tradicionalista dominante e Sarney o futuro, a perspectiva modernizadora e desenvolvimento do Maranhão, a exemplo do que ocorria com o sucesso do Sudeste capitalista. A Ditadura Militar, ao menos em seu discurso oficial, queria fortalecer o Estado Nacional, controlando as atividades dos setores público e privado e buscando a moralização no trato da coisa pública. Então, como atitude prática dessa filosofia de governo, no tocante ao Maranhão, os militares determinaram: a) A revisão eleitoral, coibindo a reconhecida fraude eleitoral no Maranhão (mais de 200 mil eleitores fantasmas foram expurgados das listas de votação); b) Envio de forças federais para fiscalizar as eleições e apuração dos votos; O povo desejava mudança. O Governo Central avalizava a moralização e o PSD de Vitorino diminuía com clivagens internas. Sarney, jovem, orador loquaz representava a transformação e acabou por romper a estrutura de poder vitorinista, elegendo-se governador com retumbante votação com o discurso de um ―Maranhão Novo‖. De fato, a eleição de José Sarney significou uma quebra na maneira de fazer política posto que, enquanto Vitorino e seu extenso grupo se apoiavam numa espécie de processo clientelístico de intermediação de interesses, Sarney personificava um líder modernizador e carismático.133 Tiramos de empréstimo, novamente, o entendimento da professora Guilhon: Conforme o slogan MARANHÃO NOVO indicava, Sarney desejava empreender um processo de reconstrução do Estado, definindo, por isso, como meta prioritária do seu governo a criação de uma infraestrutura econômica e social. O empreendimento desse esforço de reconstrução do Estado implicava em duas condições inter-relacionadas no campo da gerência das ações estatais: a adoção do planejamento enquanto base racionalizadora e de longo prazo à intervenção do Estado; e a constituição de um corpo técnico-administrativo com condições e competência para a realização do objetivo requerido pela proposta governamental. Sarney considerava que devia se encerrar o ciclo de administrações governamentais improvisadas – o planejamento deveria ser considerado um dos fundamentos básicos de qualquer decisor que deveria projetar ações internas articuladas e integradas aos objetivos dos Planos Nacionais e Regionais de Desenvolvimento. A proposição, inclusive, de abraçar a proposta de desenvolvimento nos moldes definidos pelo governo federal, levou a que este tivesse, a partir de então,uma maior e mais direta participação nos próprios destinos estaduais. Assim, a perseguição ao desenvolvimento tal como projetado nacionalmente e, conseqüentemente, o desafio de realizar mudanças internas estruturais requisitavam novas características ao estrato administrativo, relacionadas ao aperfeiçoamento burocrático para promover as mudanças desejadas pelo Governo. Dessa forma, a modernização burocrática (que inclui mecanismos de proteção social ao funcionário) estava também essencialmente vinculada ao projeto político-administrativo de Sarney.

133

Idem 11.


Sem dúvida, Sarney inaugurou nova prática na política maranhense, mercê das mudanças que também operavam no país. Importante, porém, percebermos algumas características desse novo momento no Estado. Primeiro, não podemos esquecer que se vivia uma Ditadura, com todos os quesitos e traquejos dos Estados de Exceção. A Constituição Federal outorgada (promulgada) em 1967 era autoritária e abusiva, contudo, José Sarney - que gostava de se dizer republicano e democrático – não confrontou os militares. Compreensível quando se avalia que a Ditadura dera apoio à sua candidatura; que governadores outros foram cassados arbitrariamente justamente porque se opuseram ao Regime (o que certamente Sarney não desejava para si) e, claro, haja vista o apoio que o povo do Maranhão (quase única exceção) dava ao Golpe Militar, em virtude do seu discurso e disposição de mudanças estruturais. Segundo, exatamente a Constituição Estadual de 1967, consequência lógicojurídica da Constituição Federal dos Militares, determinava que os Prefeitos de capitais e outros município de relevância seriam nomeados pelo Governador do Estado. Ora, o arcaico mecanismo oligárquico de distribuição de poder manteria a roupagem. Com efeito os mandatários dos municípios rezariam na cartilha do Governador, garantindo o enraizamento de sua política e mitigando as possibilidade de sobrevivência da oposição. Esses Prefeitos eram os antigos coronéis, agora, constitucionalmente empossados e emanados de poder, mas quase sempre após as bênçãos do Chefe do Governo do Estado. Terceiro, sistematicamente, praticamente todos os novos governadores apoiados por Sarney, após seu Governo, romperam com o líder, senão vejamos: Ainda em 1970, Sarney deixa o governo para candidatar-se ao Senado Federal. O Vice- Governador, Antônio Dino assume o Governo e logo se afasta das orientações políticas do ex-governador. Pedro Neiva de Santana, Governador de 1971 a 1975, dito como pertencente ao sarneísmo - inclusive fora Secretário da Fazenda no governo Sarney – toma medidas contrárias aos interesses do grupo de Sarney e também acabam rompendo. Em 1974, com a posse do General Geisel na Presidência da República, Osvaldo Costa Nunes Freire é indicado ao Governo do Maranhão. Parecia o retorno de Vitorino posto que o novo Governador era historicamente identificado com o antigo líder. Realmente a identificação existia, muito embora Nunes Freire não demonstrasse, inicialmente, preferência (ou obediência) a este ou aquele comandante. Vitorino, malicioso, tratou de se aproximar do governador, declarando-lhe apoio incondicional e explícito. Logo Sarney e seu grupo se afastavam de Nunes Freire sem entretanto o efetivo retorno da influência de Vitorino posto que o Governador ditava sua política com autonomia e independência. Por sua vez, o senador José Sarney sobressaía-se no plano nacional como um parlamentar atilado, cortês e preparado. A Arena, pivô mestre das políticas de governo e base de apoio da situação, era o ambiente onde o líder maranhense se abrigava, passeando com desenvoltura, competência e reconhecimento nas mais altas esferas da nova Capital da República. Apenas em 1979, Sarney voltou ao controle político do Estado com a indicação do então amigo e partidário, João Castelo, para o cargo de Governador.


Castelo assume atacando fortemente o seu antecessor, Nunes Freire, acusando-o de corrupto e incapaz, parecendo conciliar suas ações com o pensamento de Sarney. Mas não tarda e Castelo também rompe com Sarney, expressando uma característica que se mostraria constante, como ilustra Buzar: A tentativa dos ocupantes do executivo de constituírem posições autônomas e uma máquina política própria, independentemente daqueles que os promoveram134. José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney, nascido em Pinheiro, em 24 de abril de 1930, é eleito, indiretamente, para a Vice-Presidência da República. Com a morte repentina do titular, Tancredo Neves, Sarney assume o mais alto cargo da República, em abril de 1985 e seria o 31º Presidente do Brasil. Com um ministério herdado de Tancredo, enfrentando uma inflação absurda, temendo o retrocesso do processo democrático e equilibrando-se no poder, Sarney passou boa parte do seu mandato refém do MDB e do todo poderoso Ulisses Guimarães. Após o sucesso momentâneo da estratégia de controle inflacionário intitulado de Plano Cruzado, Sarney viveu o auge de sua popularidade, elegendo praticamente todos os governadores a quem apoiava. No Maranhão, Epitácio Cafeteria, elegia-se sob os auspícios do popular presidente da República para, no já costumeiro desenlace, também romper com Sarney. Depois do fracasso dos planos econômicos, Sarney deixaria a presidência desgastado com uma única conquista aparente, a estabilização da democracia no país após anos de ditadura militar, entregando ao Brasil a Constituição de 1988, a Constituição Cidadã que regularia as eleições diretas para Presidente da República. Fernando Collor de Melo, assume o poder com um discurso virulento contra Sarney para, não muito depois, ser acusado de corrupção e perder sua alta função com o impedimento histórico patrocinado pelo Congresso Nacional. Com a crise institucional que se anunciava, por sua experiência, traquejo e reconhecida capacidade conciliatória, Sarney voltaria ao cenário político nacional, fortalecido. Seria Presidente do Senado por várias vezes e seu poder se mantém até o presente momento. Conclusão Os termos República e Oligarquia estão, verdadeiramente, impregnados de ideologia. A República, enquanto poder emanado do povo e para o povo, tendo os negócios públicos vocação e destino exclusivamente coletivos, assemelha-se, num país, ainda a buscar a estabilidade de suas instituições e um melhor nível educacional de seu povo, a um ideário, algo a ser construído continuamente. Já Oligarquia, enquanto termo de conceito fechado, presta-se mais como discurso oposicionista, algo nocivo a se contrapor ao necessário revezamento do Poder. Alternância que irriga, ventila e alimenta a boa democracia, permitindo ao bom gestor público a sua recondução, mas não aceitando sua perenidade, mesmo que detentores de talentos e atributos. É, pois, outro ideário a ser perseguido. 134

BUZAR, Benedito. Discurso moralista do Maranhão - de Archer da Silva a Luís Rocha.Revista FIPES, São Luis: FIPES, 3 (1): p. 75-83, jan./jun. 1988


O Maranhão e seus líderes, quando comparados aos demais estados (nordestinos, sobretudo) não se diferenciaram em ação ou filosofia. O coronelismo, o clientelismo e o apego ao poder são características comuns a praticamente todas as unidades da Federação, quiçá de boa parte do mundo. Não se pode então, numa visão umbilical e estreita, simplesmente criticar negativamente os chamados oligarcas. Eles são ou foram, como cada um de nós, homens do seu tempo. Ao contrário, impossível não constatar em cada um deles as virtudes que moldam os grandes líderes. A República não foi melhor nem pior com esses líderes. Antes, foram consequências da gênese política e institucional de um imenso país em formação. Conturbados, as vezes críticos ou sinistros os acontecimentos históricos de um Brasil que passou por uma Independência, Abolição da Escravatura, Proclamação da República, Democratização, Golpes, Ditadura e Redemocratização em poucas duas centenas de anos. A República Federativa do Brasil é definitiva, cabendo o aperfeiçoamento do regime democrático como medida de melhor representação popular e de correção desta ou daquela propagada distorção política. A oligarquia inclusive. Mesmo enfrentando esses acontecimentos históricos mencionados, o Brasil, conquanto um país continental, manteve sua unidade territorial, unido por sua língua, seus valores e seus costumes. O Maranhão, por sua vez, também estremecido pelo caminhar de sua História, precisará do descortinar do tempo para melhor julgar o povo e suas lideranças.


O MARANHÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA: UM PANORAMA.

RAFAEL AGUIAR DOS SANTOS Graduado em História UFMA, Graduando em Direito UFMA, Pós-Graduando em Geo-História e Didática do Ensino Superior IESF, Professor da Educação Básica da Rede Privada de Ensino de São Luís do Maranhão. E – mail: raf_500@hotmail.com.br

RESUMO O presente artigo visa tecer um breve panorama político, econômico, social e cultural do Maranhão na Republica Velha (1889-1930). No campo da política problematizando os sucessivos processos de crise e de renovação oligárquica ocorrida na política maranhense durante o período. No âmbito econômico, analisando a reestruturação do setor produtivo maranhense que vinha se consolidando desde a abolição da escravidão (1888), com a constituição de um crescimento industrial ligado ao setor têxtil que começará a entrar em crise a partir da década de 1920 e a constituição no campo de um modelo de agricultura familiar do arroz, do algodão e do extrativismo, principalmente, da carnaúba e do babaçu. No âmbito social tecendo um breve panorama da sociedade maranhense no período da Primeira Republica. Já no âmbito cultural, refletindo criticamente sobre as transformações culturais ocorridas no Maranhão em meio à ascensão da ordem republicana e a reestruturação econômica no Estado, centrando nos intelectuais autodenominados Novos Atenienses Palavras Chave: Maranhão, Primeira República, oligarquias, novos atenienses. A POLÍTICA MARANHENSE NA REPUBLICA VELHA: CONFLITOS POLÍTICOS EM MEIO AO CONTEXTO INTRAOLIGÁRQUICO Com o fim da monarquia já em 1889 e a emergência do Regime republicano tivemos uma crise intra-oligarquica local pautada pela renovação dos antigos chefes políticos que haviam controlado o poder de estado no Maranhão durante o período Monárquico onde, A conjuntura de surgimento político dos maranhenses diplomados na faculdade de direito do Recife, inspirados pelo ateísmo, pelo abolicionismo


e pelo republicanismo, foi de acelerada decomposição de sedimentadas lideranças senhoriais: Silva Maia, velhíssimo; Vieira da Silva, no Cemitério; Gomes de Castro, republicano convicto. 135 Em meio a um contexto de renovação de lideranças, tanto dos antigos grupos ligados ao Partido Liberal quanto ao conservador e da queda do regime monárquico tivemos a reorganização das oligarquias e rearticulações das mesmas. No bojo desse processo surgiram novos lideres locais que dominariam o cenário maranhense nas décadas iniciais do período caracterizado pela Historiografia como Republica Velha Brasileira(1889-1930), sendo os principais desses lideres Benedito Leite, Manuel Bernardino da Costa Rodrigues e Urbano Santos da Costa. 136 No inicio do Regime Republicano, em meio a esse processo de recomposição de lideranças dois partidos políticos buscaram hegemonia no Maranhão: o Partido Federalista, liderado por Benedito Leite, e o Partido Republicano, sob a direção de Costa Rodrigues, cabendo a Benedito Leite papel de destaque dentro do controle da maquina política oligárquica maranhense nos primeiros anos republicanos, mas com a morte do mesmo em 1908, tivemos após uma crise de sucessão Oligárquica e a ascensão da figura de Urbano Santos da Costa. A década de 1920, será um período politicamente demarcado por três governos na presidência do Estado do Maranhão: os quadriênios de Urbano Santos (1918-1922), Godofredo Viana (1922-1926) e Magalhães de Almeida (1926-1930). Tendo inicio com Urbano Santos da Costa Araujo chefiando o governo maranhense em seu derradeiro mandato (1918-1922). Deputado Federal entre 1897 e 1905, senador entre 1906 e 1914 e vice presidente da República entre 1914 e 1918, ele foi um dos principais chefes políticos maranhenses durante a República Velha (1989-1930). Urbano Santos assumiu, após a morte de Benedito Leite em 1908, a liderança da oligarquia local. Mas, ainda assim, enfrentava oposições de grupos organizados contrários ao seu domínio sobre o poder de Estado no Maranhão. Em 1922, por exemplo, organizou-se a ―Reação Republicana‖, que em nível nacional lançou as candidaturas Nilo Peçanha e J.J. Seabra à presidência da República e vice respectivamente, representando os interesses de oligarquias menores como as do Rio de Janeiro e da Bahia, contrarias a política do Café-com-leite capitaneada por São Paulo e Minas Gerais; destinada a se opor à candidatura oficial de Arthur Bernardes, cujo vice presidente era Urbano Santos. 137 No Maranhão a reação republicana fez-se representar por nomes como Tarquínio Lopes Filho e o ex-governador Herculano Parga, que constituíam um movimento conhecido como a ―Quartelada do Palácio dos Leões‖, que por algumas horas chegou a derrubar o então governador Raul Machado, importante aliado de Urbano Santos, mas a Revolta acabou sendo reprimida. 138 Sobre o movimento, Mario Meireles escreve que: na madrugada de 26 de abril de 1922, o tenente Sebastião Corrêa, comandando a tropa, com que se solidariza o povo, ocupou militarmente o palácio. Raul Machado, convidado a renunciar, negou-se e ali ficou detido, enquanto uma junta Governativa, organizada de momento, assumiu o governo, sob a presidência do dr. Tarquínio Lopes Filho (...) Foi por demais efêmera a vitória porém (...) As 23h30 do mesmo dia 26, o tenente coronel 135

CORRÊA, Rossini. Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia, pref. De Bonifácio de Andrade. –São Luís: SIOGE, 1993, pp.156. 136 MEIRELES, M. História do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 268-293. 137 Ibidem, 311-312. 138 Ibidem, 293-298.


Cunha Leal, comandante do 24° Batalhão de Caçadores, cumprindo ordens do Governo Central, repôs o vice presidente. 139 Urbano Santos ainda indicou seu sucessor, Godofredo Viana, mas sua liderança no Estado findou após sua morte em maio de 1922. Godofredo Mendes Viana, juiz de direito federal, foi lançado como candidato pela situação para o exercício da presidência do Estado no quadriênio de 1922 a 1926, período de fundação do IHGM, sendo que o mesmo fora indicado a candidato para o governo dentro de uma prática comum de reprodução da ordem oligárquica Maranhense durante a República Velha, na qual o candidato escolhido pelo poder situacionista para o exercício futuro da presidência do Estado era previamente um senador, cargo que ocuparia até o período governamental em curso, quando se realizava uma troca, onde um assumia a Presidência do Estado e o outro a vaga no senado federal. 140 O quadriênio de Godofredo Viana foi demarcado por fortes invernos, principalmente em 1924, que ocasionaram a paralisação de vias férreas, o alagamento de campos, cidades e povoados, o que levou a perdas de safras, abalando as receitas fiscais do governo. Também tivemos a passagem da Coluna Prestes pelo Estado em 1926, que visitou 26 municípios maranhenses, o que obrigou o executivo estadual a despender recursos com forças de repressão à Comuna. Nesse período, o governo estadual também, devido a pressões populares e de setores de classe média urbana de São Luís, dotou a capital do Estado de algumas melhorias na infra-estrutura urbana, como a ampliação dos serviços de abastecimento de água, esgotos, luz à tração elétrica, sendo os serviços dados às empresas estrangeiras como à Brighton & Co. Inc, e financiados por empréstimo junto à empresa Norte Americana Ulen & Co. no total de 1.5 milhão de dólares. 141 O falecimento de Urbano Santos também representou a reestruturação do poder Oligárquico no Maranhão e a constituição de um processo de renovação interna dentro dos grupos que constituíam o poder de estado, como aponta Flavio Antonio Moura Reis: durante a década de vinte configura-se um novo processo de renovação interna da oligarquia, com o fim da geração nascida entre 1850 e 1860: Urbano Santos (1922), Luiz Domingues (1922), José Eusébio (1925), Costa Rodrigues (1929). 142 Reis também observa que esse processo de renovação interna oligárquica ampliou a margem de atrito entre as principais lideranças políticas locais, o que fragmentou a oligarquia e gerou uma crise política devido às dificuldades da mesma em controlar as pressões advindas da nova geração por maiores espaços no ambiente político: a ampliação da margem de atrito entre as lideranças; e um dos sinais de que ela pode resultar em crise política, geralmente expressa na fragmentação da oligarquia, é a dificuldade de controlar as pressões por ascensão vindas de uma nova geração. 143

139

Idem. REIS, Flávio Antonio Moura. Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão (1850/1930). Dissertação de mestrado (Ciência Política). UNICAMP/IFCH, 1992, p. 67. 141 MEIRELES. op.cit., p. 300. 142 REIS,1992. op.cit., p. 67. 143 Idem. 140


Essa renovação, ocorrida na década de 1920 no Maranhão, liberou as tensões represadas entre os agentes políticos locais e intensificou as insatisfações internas da oligarquia maranhense144, que resultaram na formação de três grupos políticos principais que constituíram uma luta aberta: Magalhãesistas, Marcelinistas e Tarquinistas.145 Campo de batalha em que o novo governador eleito, Godofredo Viana, e seu vice, o desembargador aposentado Francisco da Cunha Machado, também estavam inseridos. Três grupos políticos passaram a disputar a hegemonia política no Maranhão: os Magalhãesistas, que eram assim conhecidos por serem liderados por José Maria Magalhães de Almeida, Oficial da marinha e Presidente do Estado durante o quadriênio de 1926 a 1930, genro de Urbano Santos, considerado herdeiro político do mesmo; os Marcelinistas, que eram capitaneados por Marcelino Machado, genro de Benedito Leite (deputado federal, senador, presidente do Estado entre 1906 e 1909); os Tarquinistas, que tinham como principal representante o médico Tarquínio Lopes Filho.146 Sobre esses três grupos políticos, José de Ribamar Chaves Caldeira afirma que, o primeiro representava o grupo oligárquico dirigente do Estado, o segundo constituía as oligarquias oposicionistas e o terceiro representava os interessas de uma classe média urbana, identificada com o movimento tenentista e constituía oposição aos dois grupos anteriores: os primeiros pertenciam ao Partido Republicano Governista e constituíam o grupo dirigente; os segundos, eram a força de oposição oligárquica agrupada no Partido Republicano Oposicionista e os últimos pertenciam ao Partido Democrático Estadual e representavam no Maranhão, o grupo das Classes Médias identificados com o pensamento tenentista, além de constituírem a corrente de oposição aos grupos oligárquicos dos dois PRs.147 Os Magalhãesistas correspondiam aos integrantes do PR (Partido Republicano) governista maranhense, partido que ocupou a presidência do Estado durante quase todo período da República Velha, exceto no quadriênio de 1906 a 1910, período marcado pela liderança de Benedito Leite. Eram formados predominantemente por grandes proprietários rurais, comerciantes, agro-industriais, burocratas do Estado, profissionais liberais, como médicos, farmacêuticos e advogados, e alguns intelectuais cooptados mediante favores, como empregos na administração pública estadual. Mas a base de apoio do PR governista não se resumia apenas a esses grupos constituintes da elite local, o partido também tinha seus representantes junto a alguns setores do operariado do pequeno parque industrial do Estado. Na legislatura 1926/1930, por exemplo, foram eleitos pelo PR governista para serem representantes desses grupos do operariado urbano no congresso estadual o advogado Raimundo Valle Sobrinho e na câmara municipal de São Luís o operário João Procópio Ramos. 148 O PR aliava-se ao PRF (Partido Republicano Federal), liderado por Clodomir Cardoso, advogado e empresário, sócio da empresa Cândido Ribeiro & Cia, da qual faziam parte duas das mais importantes fábricas de São Luís na época, a Fábrica da 144

Ibidem, pp. 67-77. CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da UNICAMP. São Paulo:[s;n], 1981, p.25. 146 Idem. 147 Idem. 148 Ibidem, pp.25-26. 145


Camboa e o Cotonifício Cândido Ribeiro, ambas com centenas de operários, sendo que o PRF era constituído por integrantes que geralmente seguiam a mesma orientação do PR situacionista.149 Caldeira aponta que a prática política do grupo magalhãesista se caracterizava pela quase nenhuma extensão das benesses de Estado aos seus adversários políticos e a centralização política em torno dos principais dirigentes do grupo oligárquico, o que permitia reproduzir uma estrutura de mandonismo local, pautada pela reprodução da legitimidade política através da manipulação eleitoral das massas camponesas: caracterizava também a prática política do grupo magalhãesista a quase nenhuma extensão de benefícios ou concessão política aos seus adversários. (...) A Centralização do poder de Estado e da maioria dos municípios em torno dos integrantes do PR governista permitia a estes preservar o tipo de dominação mandonista, através da qual extraíam, sobretudo da massa camponesa dos latifúndios, o voto manipulado, que assegurava a ―legitimidade‖ e a continuidade daquele grupo no poder. 150 Além disso, os margalhãesistas realizavam a intermediação política entre os grupos dirigentes municipais e o poder federal, onde ambas as partes se beneficiavam, dentro da lógica estrutural da política dos governadores, exercendo de modo quase absoluto o controle sobre o aparelho de Estado no Maranhão, e contavam com apoio dos setores agrários constituídos por grandes proprietários, camponeses e posseiros que constituíam a maior parte da população maranhense. 151 Assim, ―o sistema de dominação política oligárquica se estruturava em instâncias diversas e articuladas em todos os níveis‖ 152, e com a utilização de práticas eleitorais comuns na cultura política da República Velha, como: (...) o voto de cabresto, o bico de pena, o falso alistamento eleitoral as atas falsas, praticadas em larga escala no interior do estado, de onde os governistas extraiam sua base de sustentação eleitoral. (...) Contudo, é verdade que não se pode imputar essas práticas apenas ao grupo dirigente, uma vez que também os oposicionistas recorriam aos mesmos procedimentos em seus redutos eleitorais. 153 Já os Marcelinistas agrupavam-se em torno dos setores integrantes do PR local oposicionista, constituído por setores da elite econômica e política local que criticavam o situacionismo vigente, e formado por grupos de latifundiários, comerciantes, funcionários públicos e profissionais liberais como professores, médicos e advogados. Mas, apesar de ser um partido controlado por grupos que podiam ser considerados de elite, recebia simpatia eleitoral de diversos setores populares de São Luís, como prestadores de serviços e operários, e da classe média baixa urbana, como pequenos funcionários públicos, graças a um discurso assistencialista. Mas, apesar do relativo prestígio na capital do Estado, o grupo de oposição encontrava dificuldades para expandir sua influência política no interior e nos pequenos municípios, dado o controle exercido pelos chefes políticos situacionistas locais integrantes do PR situacionista constituído pelos Magalhãesistas.154 149

Ibidem, p.27. Ibidem, p.28. 151 Idem. 152 Idem. 153 Ibidem, p.29. 154 Ibidem, pp.38-40. 150


Já na constituição do seu discurso, os Marcelinistas pontuavam a defesa da moralização das práticas e dos costumes políticos. Porém, diferente do movimento tenentista que se desenvolveu no Brasil durante a década de 1920, recusavam-se a aceitar qualquer alteração da ordem social vigente via luta armada. 155 O marcelinismo representara na década de 1920 o principal grupo organizado de oposição ao situacionismo no Maranhão, conseguindo arregimentar uma base de sustentação, principalmente entre setores das classes médias urbanas do Estado, mas não representava um projeto de ruptura política expressiva contra a ordem social oligárquica vigente no Estado do Maranhão, agindo dentro da mesma e das suas relações políticas.156 Os Tarquinistas, terceiro importante grupo que constituíra o cenário político maranhense na década de 1920, organizado em torno do PD (Partido Democrático) local, era liderado pelo médico Tarquínio Lopes Filho, e constituiu oposição aos dois grupos anteriormente citados, apresentava simpatia pelo movimento tenentista e era formado predominantemente por grupos de classe média do Estado. 157 De acordo com Caldeira, a principal característica do tarquinismo, contudo, era sua identificação ideológica com o movimento tenentista (combate a corrupção administrativa, centralização do poder ao nível federal, oposição a dominação política oligárquica, verdade eleitoral, independência da magistratura, etc.). Por outro lado constituía-se em corrente de oposição política tanto ao magalhãesismo e ao marcelinismo, por identificar-se nesses grupos a predominância dos interesses oligárquicos (...) Com efeito o PD Maranhense conseguiu forma-se e organizar-se com uma parcela bastante reduzida da burguesia e das classes médias dissidentes do marcelinismo. 158 Em meio à constituição de conflitos políticos de grupos relativamente heterogêneos com projetos próprios criando tensões, seja para a manutenção da ordem social vigente ou para a transformação em menor ou maior escala da mesma, a solução temporária acertada então entre os deputados, senadores e demais integrantes da oligarquia estadual, que visava conter a crise intra-oligárquica, foi a divisão interna do comando partidário local entre Cunha Machado, que ficou responsável pela orientação do Partido Republicano no Âmbito Federal, e Godofredo Viana, que dirigiria a cena estadual. Este, ao assumir o Governo oficialmente, em 1923, buscou apoio e alianças políticas tanto com integrantes dos grupos marcelinistas como com os magalhãesistas. Entretanto, como também aponta Reis, tratava-se de uma crise ampla que não foi resolvida apenas com um mero arranjo político, pois se inseriu em um vasto contexto de mudanças sociais com o crescimento da insatisfação urbana, principalmente da capital maranhense, receptiva a um discurso de moralização política, que se tornava sustentáculo de novos partidos, que, no fundo, eram representações das dissidências no poder oligárquico local. 159 Além disso, a década de 1920 também demarcou uma progressiva ruptura entre o corpo empresarial de São Luís, representado pela Associação Comercial enquanto 155

Ibidem, p.40. Ibidem, pp.38-51. 157 Ibidem, pp.51-55. 158 Idem. 159 REIS,1992. op.cit., 1992, p. 69. 156


entidade representativa de classe, e a categoria dos políticos em geral. Onde os grandes comerciantes e empresários da capital passaram não apenas a contestação dos agentes da oligarquia política presente no Maranhão enquanto legítimos representantes do Estado, mas também os acusavam de defenderem interesses individuais no âmbito da administração de Estado.160 Em meio a esse cenário, Reis ressalta que uma convergência de dois fatores acabara por determinar o colapso do sistema oligárquico maranhense da Primeira República na década de 1920: a) a crise da renovação interna e as dificuldades do arranjo existente em incorporar a participação de novos grupos, o que de qualquer maneira, implicava em aceitar um aumento da competitividade intra-oligárquica; b) o fortalecimento das relações de tipo corporativo entre a associação comercial e as instâncias de decisão política, tanto no nível federal como no estadual. 161 Marcelino Machado perdeu em 1925 a disputa dentro do Partido Republicano e formalizou seu rompimento com o mesmo em Abril de 1925. Em meio a esse turbilhão político, o então presidente estadual Godofredo Viana terminou o seu governo sustentado por uma aliança formada pelo trio dos três senadores maranhenses: Magalhães de Almeida, Cunha Machado e Costa Rodrigues. Uma vez consolidado o seu poder junto à sustentação do executivo estadual, Magalhães de Almeida e seu grupo político se fortaleceram, predominantemente no interior do Estado, sendo que o mesmo conseguiu a indicação de candidato do PR situacionista para a presidência do Maranhão no período compreendido entre 1926 e 1930, e ocupou a chefia política dos principais grupos da oligarquia local, até a Revolução de 1930. Marcelino Machado, por sua vez, organizou outro diretório do Partido Republicano, onde concorreu à presidência do Estado em 1925, mas teve frustrada sua tentativa de chegar ao executivo estadual, principalmente pela máquina situacionista, e a reeleição à câmara dos deputados em 1926, quando novamente não obteve êxito. A redefinição dos espaços políticos também resultou na organização de mais um partido, o PD Maranhense, formado por agentes políticos também desprestigiados junto ao núcleo de comando do poder oligárquico local. 162 Esse processo de crise da oligarquia, segundo Reis, vai se inserir ainda num amplo panorama de insatisfação popular, principalmente em São Luís, que dizia respeito diretamente às condições de vida da maioria da população urbana, altamente precarizadas.163 O que poderia ser notado na falta de habitação, carestia dos gêneros alimentícios, deficiência dos serviços públicos básicos. O Abastecimento de água, a iluminação a gás, e o transporte coletivo (bondes puxados por burros), desde o século XIX pertenciam a órbita municipal e eram efetuados por companhias organizadas pelos comerciantes locais. 164 Apenas na década de 1920, o Estado chamou para si a responsabilidade sobre esses serviços públicos com a ampliação e a contratação de empresas estrangeiras para a execução dos mesmos. Mas, ainda assim, ―os resultados frustraram as expectativas difundidas entre a população‖, pois ―São Luís continuava uma cidade suja, escura, a 160

Ibidem, pp. 70-71. Ibidem, p. 71. 162 Ibidem, pp. 71-72. 163 Ibidem, p.74. 164 Idem. 161


mercê das constantes epidemias‖ 165, o que fazia com que boa parte do eleitorado da capital ludovicense, que vivia essa realidade em seu cotidiano, como forma de protesto, resistisse a votar em candidatos da situação aos cargos públicos. As dissidências oligárquicas exploraram então esse descontentamento popular presente na população urbana. 166 Mas, apesar desses fatores, a liderança de Magalhães de Almeida se fortaleceu e consolidou durante o período em que o mesmo governou o Estado (1926-1930). Sua administração se caracterizou pela implementação de políticas que visaram à construção de estradas para o escoamento da produção, a tentativa de melhoramento da infraestrutura urbana da capital maranhense e do equilíbrio orçamentário do Estado 167, quanto às relações com seus adversários políticos, durante seu quadriênio à frente do executivo estadual: Magalhães de Almeida recusava-se a fazer-lhes quaisquer concessões, nem os contemplava com benefícios através de sua política administrativa (rigor na cobrança de impostos, dispensa de funcionários públicos partidários dos oposicionistas e etc.). Nesse sentido, mantinha-se dentro dos limites do código político dos governos oligarcas: lealdade para com seus partidários e hostilidade para com seus inimigos políticos. Freqüentemente, também recorria à violência policial contra alguns deles.168 A década de 1920 politicamente no Maranhão foi demarcada pela crise intraoligárquica entre os diversos grupos constituintes do poder político local, o que demarcou uma dinâmica disputa entre os diversos agentes constituintes da política estadual, reflexo direto das transformações sociais, culturais e políticas pelos quais passou a cidade de São Luís e o Estado do Maranhão durante a década de 1920. A ECONOMIA MARANHENSE NA REPUBLICA VELHA: CRISE DA INDÚSTRIA E REESTRUTURAÇÃO NO SETOR AGRÍCOLA E EXTRATIVISTA. A abolição da escravidão (1888) e a queda nos preços dos principais produtos maranhenses (arroz, açúcar e algodão) nas últimas décadas do século XIX desorganizaram as relações de produção existentes no Maranhão até então, o que levou a uma reestruturação econômica no Estado durante a República Velha (1889-1930). 169 A economia maranhense de então, segundo Bandeira Tribuzzi, acumulava fortemente a renda, porém a mesma não conseguia criar uma dinâmica que possibilitasse a criação de uma infra-estrutura de produção. O que impedia a formação de tecnologia aplicada à produção local, ou mesmo a formação de um mercado interno significativo, condicionando a realidade econômica maranhense ao mercado internacional, com surtos de crescimento ou depressão de acordo com as flutuações do mercado externo.170 Tribuzzi salienta que a economia do Maranhão: acumulava fortemente a renda; não criava infra-estrutura; impedia a elevação da tecnologia da produção e a formação de um mercado interno 165

Ibidem, pp. 74-75. Idem. 167 CALDEIRA. op.cit., 1981, p.31. 168 Ibidem, p.43. 169 MEIRELES. op.cit., pp. 306-310. 170 TRIBUZZI, Bandeira. Formação Econômica do Maranhão. São Luís: IPES, 1981, p.24. 166


significativo; condicionava o processo produtivo ao mercado externo (com a conseqüente propensão à monocultura), cujas exigências qualificativas não sabia, contudo, enfrentar; flutuava em ondas de prosperidade e depressão à mercê das conjunturas externas. 171 No período da Primeira República Brasileira, em meio à retração na agroexportação, intensificada pela crise no setor agrícola gerada pela falta de mão de obra e pela conjuntura externa desfavorável, tivemos a reorganização do modelo produtivo maranhense, o que refletiu no início da industrialização fabril, principalmente a têxtil, facilitada pela abundante matéria prima disponível na região (Algodão, Cânhamo), e pela tecnologia e maquinário encontrados no mercado externo. Industrialização essa, segundo Moacyr Feitosa, implantada nos principais núcleos urbanos da época, predominantemente em Caxias, Codó e São Luís, financiadas pelos comerciantes urbanos e agro-exportadores e constituídas sob a forma de sociedades anônimas. 172 De acordo com Jerônimo de Viveiros, a então elite econômica maranhense foi constituída na época principalmente por grandes proprietários rurais que, ―desiludidos com a lavoura, quiseram substituí-la como elemento básico da nossa economia, pela indústria têxtil. Sonhou-se transformar São Luís numa Manchester.‖ 173 Reis também aponta como aspectos condicionantes para a constituição da industrialização no Maranhão: a possibilidade de encontrar taxas de lucratividade maior e mais segura do que em outros setores ligados à produção agrícola, como o açucareiro; as mudanças na política econômica do governo federal, como a política do Encilhamento, que, com expansão da oferta de moeda, crédito fácil e uma nova legislação desburocratizando a criação de sociedades anônimas, facilitaram a reunião de capitais para a criação do setor industrial; e a probabilidade de alcançar os mercados do Norte e Nordeste Brasileiro.174 Em meio ao processo de consolidação e crescimento da industrialização, em 1921, já contávamos em São Luís com as seguintes fábricas no setor têxtil: MARANHÃO – FÁBRICAS DE TECIDOS SEGUNDO O NÚMERO DE TEARES DE FUSOS E DE OPERÁRIOS - 1921175 FÁBRICAS Número de Teares Número de Fusos Número de Operários Camboa 200 7.000 475 Fabril Cânhamo Anil Santa Amélia São Luís Industrial União Manufatora Manufatureira Sanharó 171

574 120 392 280 130 220 160 200 60

14.148 12.720 11.800 4.500 7.800 6.800 5.540 1.300

650 160 456 276 248 260 350 300 300 60

Idem. FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais e regionais. São Luís: Mestrado em políticas publicas da UFMA, 1998, p. 42. 173 VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896-1934. São Luís: Lithograf, 1992, p. 7. 174 REIS, 1992. op.cit., pp. 20-21. 175 PACHECO, Fran (1922:136). Apud: CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da UNICAMP. São Paulo:[s;n], 1981, p.60. 172


Com o crescimento do setor fabril, os produtos têxteis passaram a ganhar importância na pauta de exportações e também no abastecimento do mercado regional. O surgimento de fábricas que empregavam um grande número de pessoas propiciou em São Luís a constituição de diversos bairros operários nas áreas próximas as mesmas. 176 Como aponta Raimundo Moacir Mendes Feitosa, O Anil, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil; a Camboa, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses; o Fabril, em torno da Companhia Fabril Maranhense; o Madre Deus, em torno da Companhia de Fiação e tecidos Cânhamo, entre outros como o Cândido Ribeiro e São Pantaleão, que se localizavam nas imediações da fábrica Santa Amélia, da Companhia Progresso de São Luís, da Companhia de Fiação e Tecelagem São Luís e da Companhia de Lanifícios Maranhenses.177 O surto industrial provocou o surgimento de um operariado urbano ludovicense e intensificou o processo de urbanização e o crescimento demográfico da cidade, que chegou em 1920 a 52.929 habitantes.178 Mas o crescimento da produção fabril maranhense durou pouco tempo. Embora durante toda a década de 1920 os tecidos de algodão permanecessem como principal produto de exportação interestadual e importante fonte de receita para o Estado, chegando até mesmo a um aumento nominal no valor oficial das receitas de exportação interestadual dos mesmos de 5.467:250$020 em 1922 para 11.220:849$350 em 1926.179 A partir de 1927 já tivemos uma diminuição nominal das receitas de exportação dos tecidos de algodão maranhenses e um declínio da produção, motivados principalmente pela falta de créditos, as dificuldades de transporte, a não renovação tecnológica, a ingerência administrativa, a escassez de capital de giro, ―pelas dificuldades financeiras com que a conjuntura econômica do Estado sobrevivia‖ e pela concorrência ―dos tecidos ofertados pelas fabricas da Bahia e de São Paulo‖ 180, geralmente de melhor qualidade e menor custo de produção,o que aflorou uma crise no setor têxtil industrial maranhense que se intensificou ainda mais nas décadas seguintes. 181 Paralelo a morte do processo de consolidação da industrialização maranhense nas primeiras décadas da República Velha e a crise desse mesmo setor a partir da segunda metade da década de 1920 tivemos uma reestruturação produtiva no campo a partir do final da escravidão em 1888, que provocou o declínio e a crise no modelo de produção baseado no grande latifúndio monocultor, de mão de obra escrava, com produção em larga escala voltado para exportação. Essa crise da agrolavoura escravista, gerada principalmente pela escassez de mão de obra e a falta de capitais no meio agrário, significou para o Maranhão o abandono de muitas propriedades rurais em importantes municípios, como, por exemplo, Alcântara, e a desorganização imediata do trabalho nas 176

FEITOSA. op. cit., pp. 42-45. Ibidem, pp. 44-45. 178 Recenseamento da população do Brasil de 1920, Apud: CORRÊA, Rossini. Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia, pref. De Bonifácio de Andrade. –São Luís: SIOGE, 1993, p.191. 179 FERNANDES, Henrique Costa. Administrações Maranhenses 1822-1929. 2a ed. São Luís, Instituto Géia, 2003, pp.184-185. 180 FEITOSA. op. cit., pp.44-45. 181 Ibidem., pp. 44-49. 177


fazendas, refletindo em um processo de passagem do trabalho escravo para o livre182, de modo que segundo Rossini Corrêa, ―o senhor de escravos não foi substituído pelo empresário capitalista, mas pelo coronel municipal, agenciador do trabalho e do trabalhador integralmente subordinado‖ 183, o que propiciou, de acordo com o mesmo autor, uma realidade de decadência econômica na totalidade da sociedade maranhense, onde: - na infra-estrutura: a decadência do patrimônio de forças produtivas, acompanhada de traumatismos na organização do trabalho, resultando na diminuição da produção econômica; - na superestrutura: a substituição social do senhor de escravos pelo coronel de terras, que correspondeu na dimensão da consciência ao perecimento da visibilidade social dos senhores (na qual havia o extremo de figuras típicas serem cosmopolitas) e a emergência da visibilidade societal dos coronéis (na qual havia o costume de figuras típicas serem localistas).184 De modo progressivo, os antigos senhores de escravos, que continuaram ligados ao meio agrário, constituíram novas relações de dominação, diminuíram a área plantada e arrendaram terras aos pequenos lavradores, que, como forma de pagamento pela exploração da terra, destinavam parte da renda da área cultivada ao proprietário, criando um novo vinculo de subordinação e refletindo em uma produção ainda de baixa produtividade da terra, e ainda dependente das oscilações do mercado externo, tanto interestadual quanto internacional, o que resultou em um declínio da produção em diversos setores.185 Reis aponta para um declínio das grandes plantações, que foi acompanhado de modo progressivo pela multiplicação das pequenas unidades de produção familiar localizadas no interior das grandes fazendas ou nas vastas extensões de terras devolutas presentes no Estado.186 Como reflexo direto dessa reorganização, tivemos, ao longo das décadas que perpassaram a Primeira República no Maranhão, a reestruturação produtiva no campo, em um modelo econômico no qual através da concessão de terras de cultivo, a pecuária extensiva e a agricultura familiar camponesa tradicional passaram a predominar na maior parte do Estado. Modelo que tinha por base o extrativismo do babaçu, da andiroba e da carnaúba; o cultivo de arroz e a criação extensiva, geralmente de animais de pequeno e médio porte; a pesca e o uso dos recursos naturais para sua reprodução das áreas de uso comum, geralmente campos de cerrado, de onde eram extraídos madeiras, frutos, fibras, etc, em um sistema de exploração que geralmente era acordado pela tradição entre os moradores dos povoados, fazendas e das localidades próximas. 187 Em meio à constituição desse novo cenário ligado à produção agrícola, o crescimento da produção de arroz se intensificou durante toda a década de 1920, motivado por fatores como a ampliação da fronteira agrícola, devido à ocupação de um expressivo número de terras devolutas, localizadas às margens de importantes rios maranhenses, como Pindaré, Balsas, Tocantins e Mearim, e ao crescimento da migração para o Estado, predominantemente de pessoas vindas de outros estados nordestinos 182

MEIRELES. op. cit, pp. 306-310. CORRÊA. op. cit., p. 160. 184 Ibidem, p.161. 185 Ibidem, pp.161-162. 186 REIS, 1992.op. cit., p .19. 187 FEITOSA. op. cit., pp.50-65. 183


fugindo das secas. O arroz, produzido em um modelo de agricultura familiar e sem a utilização de muita tecnologia agrícola, se manteve como um dos principais produtos de exportação maranhense, tanto interestadual quanto internacional, durante toda a década de 1920, além de ser elemento agrícola de importante consumo interno do Estado. 188 Sobre esse cenário da economia maranhense Feitosa aponta que, a economia agrícola que se convencionou chamar de economia rízícola, dada a importância da produção de arroz, cresceu muito rapidamente, favorecida que fora pelo farto estoque de terras agricultáveis e de boa qualidade e pela força de trabalho autônoma do lavrador e de sua família, mesmo com seus instrumentos rudimentares de trabalho (foice, facão, enxada, gadanho, ciscador e outros). Passa-se de uma produção voltada para a subsistência a geração de significativos excedentes, capazes de permitir a integração da socioeconomia maranhense a divisão social do trabalho brasileiro.189 No ano de 1926, o arroz prefigurou nas pautas das exportações maranhenses com 2.064.684 kg pilado e 118.239 em casca, e com um valor oficial de 1.713:446$300 pilado e 67:355$862 em casca, constituindo-se como o terceiro produto de maior exportação do Estado, atrás apenas das amêndoas de babaçu e dos tecidos de algodão. No ano de 1927 tivemos um aumento nas exportações do arroz pelo Estado para 3.208.854 kg pilados e 507.257 em casca. 190 No extrativismo nesse mesmo período o principal destaque deu-se em torno da amêndoa do babaçu. O Maranhão possuía as maiores reserva de babaçuais do Brasil. Com o advento da I Guerra Mundial (1914-1918) intensificou-se a exploração e exportação do mesmo, que despontou como um dos principais produtos maranhenses, devido à demanda, intensificada pelo conflito. Paralelo, também, tivemos uma relativa ampliação da economia e do comércio maranhense na mesma época, com destaque para os tecidos de algodão e cânhamo, o arroz, o algodão e, predominantemente, o babaçu. 191 Crescimento esse que, segundo Maria Lourdes Lauande Lacroix provocou uma momentânea recuperação econômica no Estado e reequilíbrio nas finanças públicas estaduais: as dificuldades do início do século XX foram substituídas por uma rápida reativação da economia maranhense, originada no aproveitamento do babaçu, na expansão do mercado e subidas dos preços do algodão e dos tecidos da indústria local. A I Grande Guerra promoveu o aquecimento das atividades agrícolas, ampliando-se as exportações, nos primeiros anos da década de 20. O ciclo revitalizador foi suficiente para reequilibrar momentaneamente as finanças empresariais e públicas.192

A extração e a comercialização do babaçu se intensificaram ainda mais na década de 1920. De acordo com Viveiros, o babaçu chegou à casa dos 5603.200 quilos em exportação em 1919, e não desceu mais da casa dos milhões, tendo um papel de destaque na economia maranhense, com relevância nas finanças estaduais e inserindo-se no mercado internacional como principal bem primário maranhense de exportação na 188

Ibidem. pp.52-53. Ibidem, p.53. 190 FERNANDES. op. cit., pp. 176-177. 191 FEITOSA. op. cit., p.62. 192 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Campanha da Produção. São Luis: Associação Comercial do Maranhão, 2004, p. 18. 189


década de 1920, 193com 18.967.370 quilos da amêndoa exportada em 1926 e 21.283.113 em 1927. 194 Quanto aos transportes, em março de 1921 tivemos a conclusão da Estrada de Ferro São Luís-Teresina (EFSLT), o que aumentou o deslocamento entre as populações de baixa renda do estado e diminuiu os custos do escoamento da produção. Durante o governo Magalhães de Almeida (1926-1930), também houve relativo investimento nas estradas de rodagem do Estado, porém, o sistema de transporte no Maranhão durante a década de 1920 continuava precário e limitado.195 No âmbito dos setores comerciais, bancários e financeiros, em linhas gerais, o sistema econômico maranhense ainda era em grande parte dominado pelo chamado complexo exportador da Praia Grande, com grande presença do capital mercantil 196, que, segundo Reis, era caracterizado por (...) grandes casas comerciais comandando a acumulação, mas que combinava investimentos tradicionais da produção agrícola e extrativista com investimentos urbanos, principalmente a criação de fábricas (...). Os antigos proprietários rurais perderam na transição a sua capacidade de manter-se como grandes produtores, tornando-se agentes da comercialização interna, intermediando as relações entre as casas exportadoras e pequenos plantadores..197 Assim, tivemos no Maranhão, na Republica Velha, uma estrutura econômica relativamente diversificada, mas ainda profundamente dependente do mercado externo, com surtos de crescimento e decadência, baseada principalmente na exportação de bens primários agrícolas e extrativistas, e em uma incipiente produção fabril predominante nas grandes cidades do Estado, com uma produção econômica onde se destacavam as amêndoas de babaçu, a carnaúba, o algodão em pluma, o arroz, os tecidos de algodão e de cânhamo. Tendo, à época, São Luís como principal centro convergente da atividade comercial do Estado, principalmente dos produtos voltados para a exportação. PANORAMA SOCIAL: TRANSFORMAÇÕES, MODERNIZAÇÃO E EXCLUSÃO. Durante a República Velha (1889-1930), a sociedade maranhense passou por intensas mudanças e transformações, decorrentes de diversos fatores como: a crise do modelo econômico agro-exportador escravista, a reorganização produtiva dela resultante e a industrialização fabril no Estado; os processos de reorganização da política oligárquica vigente; a transformação do cenário urbano de São Luís com a implantação de fábricas têxteis e o surgimento e posterior crescimento de um contingente de operários urbanos, vivendo em condições precárias quanto ao trabalho, moradia e saneamento. Além disso, tivemos as mudanças nos níveis de sociabilidades dos habitantes de São Luís, reflexos das transformações ligadas à constituição de um projeto de modernização elitista, quanto aos aparatos urbanos da cidade. Com o processo de industrialização maranhense, intensificado nas primeiras décadas da República Velha, tivemos uma reorganização produtiva no campo a partir do 193

VIVEIROS. op. cit., p.218. FERNANDES. op. cit., pp. 176-177. 195 Ibidem, 345-346; 356-365. 196 REIS, 1992. op. cit., p .27. 197 Idem. 194


final da escravidão em 1888, o que refletiu em algumas transformações sociais no Maranhão, como o aumento demográfico da população da capital e o surgimento do parque fabril ligado principalmente a produção têxtil na mesma. Processos que trouxeram diversas transformações na vida cotidiana da capital ludovicense, pois a vida das pessoas também passou a ser influenciada pelas máquinas, pelo ritmo de trabalho contado através do tempo de produção, pelas relações de trabalho assalariadas e pelas condições precárias de trabalho.198 Surgiram também novos grupos sociais constituídos de operários urbanos e cresceram os bairros operários (Madre Deus, Fabril, Camboa e Anil) constituídos no entorno das fábricas localizadas na cidade. O que também demarcará uma expansão populacional pelo interior da ilha, fazendo com que a população ludovicense não se concentre mais apenas no Centro. 199 De acordo com Feitosa, houve um crescimento significativo da produção têxtil e passou-se, rapidamente, a viver o ânimo da retomada do crescimento. O setor chegou a empregar cerca de 3200 operários, dos quais aproximadamente 70% eram mulheres. (...) Essa força de trabalho era recrutada entre a população urbana empobrecida, não acostumada à rotina do trabalho fabril.200 A expansão fabril em São Luís também foi demarcada pela exploração do trabalho feminino e infantil, de modo altamente precarizado, com condições de trabalho insalubres, longas jornadas e baixos salários. As habitações das camadas pobres de São Luís também eram altamente precárias, sendo que os mesmos geralmente habitavam cortiços ou casas de cômodo nas áreas mais centrais ou casebres de palha e pau-a-pique nas áreas mais afastadas, residências profundamente insalubres.201 Segundo Maria da Gloria Guimarães Correia, ―nessa cidade o fausto convive com o fastio. Das janelas dos sobrados olham-se os cortiços, dos quais passam ao largo luxo e as francesias‖.202 As condições sanitárias na capital ludovicense também eram precárias, o que resultava em constantes surtos de doenças e epidemias na cidade. Tivemos, por exemplo, durante a República Velha, diversos surtos de doenças, entre os quais a epidemia de peste bubônica, que assolou a cidade entre 1903 e 1904, com repetições de ciclos em intensidades menores, em 1908 e em 1921.203 A ausência de serviços de água e esgotos adequados também contribuíam para a grande presença na ilha de epidemias de tifo, cólera, e disenteria, além de enfermidades que atingiam, sobretudo, as camadas subalternas, desprovidas de atendimento médico ou auxílio dos poderes públicos, como a tuberculose e o beribéri, e constituíam grandes números de mortes. 204 A expansão do setor fabril também transformou o espaço urbano da capital. Muitos dos antigos casarões, lares da elite do século XIX, se converteram, na passagem 198

FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. op.cit., pp. 42-44. Ibidem, pp. 43-44. 200 Ibidem, p. 43. 201 CORREIA, Maria da Glória Guimarães. Nos fios da trama: Quem é essa Mulher. Cotidiano e trabalho do operariado feminino em São Luís na virada do século. Dissertação de Mestrado. (História) Niterói; UFF, 1998, p. 22. 202 Idem. 203 Ibidem, p. 55. 204 MEDEIROS, Carlos Henriques Guimarães. PESTE BUBÔNICA EM SÃO LUÍS: Epidemia e perspectivas de reordenamento urbano. Dissertação de mestrado (Ciências Sociais).São Luís: UFMA, 2007, p. 23-25. 199


do século XIX para o XX, em pensões, hotéis e cortiços, servindo de morada aos novos indivíduos que chegavam à ilha com o processo de reorganização econômica do estado, o que constituiu por parte das elites projetos visando normatizar e disciplinar o espaço urbano.205 Segundo Marize Helena de Campos, Na virada do XIX, ainda que conservasse o aspecto colonial, traduzido nos suntuosos casarões azulejados de eiras, beiras, mirantes e pinhas de porcelanas, nos becos e ruas estreitas e tortuosas, a cidade de São Luís modificava-se em função do surto industrial. No redesenhar dos espaços, as casas-de-cômodo, hospedarias, hotéis, pensões e cortiços passavam a servir de morada aos indivíduos que chegavam. (...) Acompanhando aquele remodelamento, criavam-se Leis, Decretos e outras tantas normas que visavam à disciplina e à higiene social do novo viver urbano. 206

São Luís, assim como outras capitais brasileiras no período da República Velha (1989-1930), assimilara elementos europeus quanto à idéia de um projeto de modernização atrelado à idéia de ―progresso‖, compreendido como sinônimo do novo, do desenvolvimento e do futuro. Isso em meio a uma realidade concreta, na qual a cidade havia chegado ao século XX como uma das capitais brasileiras mais atrasadas em relação aos serviços públicos urbanos. A urbanização ocorreu de modo não organizado; estruturalmente eram inúmeras as reclamações em relação à cidade; o saneamento básico era limitado; a iluminação pública era realizada através de gás; o transporte público urbano ainda era feito mediante bondes puxados por burros; e o serviço de abastecimento de água era precário. 207 Sobre essa realidade, Raimundo Palhano aponta que, O descaso com saneamento básico, por exemplo, foi flagrante, acarretando a existência de um serviço de esgoto e de água restrito e de péssima qualidade. O mesmo podendo dizer da limpeza pública, dos logradouros públicos, da iluminação e do serviço de bondes.208 Fruto dessa perspectiva de modernização urbanística da cidade e devido à precária situação dos serviços públicos urbanos nos projetos políticos que se apresentavam, os conceitos de modernização, civilização e desenvolvimento passaram a ser enfatizados e colocados em prática. Assim, São Luís passou a receber algumas melhorias quanto à urbanização, principalmente a partir da década de 1920, o que refletiu em diversas reformas no espaço público, como a ampliação da rede elétrica na cidade, o que propiciou em 1924 a implantação da iluminação pública elétrica em substituição a antiga iluminação a gás, novo sistema de bondes também elétricos, também tivemos o aumento dos serviços de água, luz e esgotos. Mas esses mesmos serviços públicos permaneceram sob direção de uma empresa estrangeira, a norte americana (Brightman & Cia), e o Estado teve que contrair dívidas onerosas para a ampliação dos mesmos, com um empréstimo empreendido pelo então presidente estadual Godofredo Viana na casa de 1 milhão e quinhentos mil dólares. 209 Segundo Reis, Em 1923, Godofredo Viana assinou contrato coma empresa NorteAmericana Ulen & Co. para ampliação dos serviços de água e esgotos , 205

CAMPOS. Marize Helena de Campos. “Maripozas e Pensões: um estudo da prostituição em São Luís do Maranhão na primeira metade do século XX”. Dissertação de mestrado (Historia) São Paulo: USP, 2001, p.43. 206 Idem. 207 PALHANO, Raimundo. A produção da coisa pública; serviços e cidadania na Primeira República: república ludovicense. São Luís: Ipês, 1988, p. 341. 208 Idem. 209 FERNANDES. op. cit., pp. 136-147.


geração de energia elétrica para iluminação e transporte e uma nova prensa de algodão a ser instalada na Capital. Inicialmente, a administração dos serviços foi contratada com outra firma dos EUA, a Brigtmam & Co. Inc., mas, em 1926, a Ulen acertou um acordo atravs do qual tornava-se responsável pela parte administrativa, criando a subsidiaria Ulen Managmente Company. Os contratos envolveram empréstimos conseguidos com a intermediação da empresa junto a bancos americanos no valor de 1.5 milhão de dólares entre 1923 e 1.7 em 1926, garantidos por uma serie de impostos da receita estadual.210 Porém, entre os habitantes da cidade apenas um pequeno grupo de pessoas era beneficiado com as melhorias urbanas ao longo da década de 1920. Pois essas reformas se deram principalmente na área central da cidade, e apenas uma minoria que habitava as áreas da cidade consideradas nobres tinha acesso aos serviços locais de água encanada, esgoto, luz elétrica domiciliar, bondes, praças com bela arborização e ruas calçadas. Enquanto que a maioria da população – habitante dos bairros populares, operários e áreas mais afastadas da ilha – ainda convivia com a exclusão e a falta de infra-estrutura urbana adequada. 211 Palhano ressalta que, Naquele período, mais do que em qualquer outro, era restrito o consumo do serviço coletivo dos serviços públicos existentes. Os que haviam eram privilégios das elites econômicas e políticas, aqueles que habitavam o local que hoje compreende o seu centro histórico e seus bairros centrais, justamente o espaço que coincidia com a área de formação inicial da cidade.212 Assim, a São Luís da primeira republica constituía-se como uma cidade que desejava adentrar no cenário de ―progresso‖ associado à pretensa idéia de modernização, em meio à construção de um projeto de ampliação dos serviços públicos de infra-estrutura urbana profundamente elitista e excludente, que beneficiava apenas poucos setores, formados predominantemente por grupos que constituíam a elite econômica, social e política da cidade, e que também disciplinava os espaços urbanos, o que contribuía para a manutenção de uma realidade ainda permeada pela exclusão quanto ao acesso aos serviços coletivos para a maior parte da população. CULTURA: “OS NOVOS ATENIENSES”, DISCURSO NOSTÁLGICO DECADENTISTA E FUNDAÇÃO DE INSTITUIÇÕES O processo de crise econômica do sistema agro-exportador maranhense nas últimas décadas do século XIX, a reestruturação produtiva do Estado nas primeiras décadas do século XX e as transformações na política estadual em meio aos ajustamentos aos novos mecanismos de controle da ordem republicana nascente constituíram de modo traumático um profundo sentimento de decadência entre os grupos que constituíam a elite intelectual hegemônica no Estado do Maranhão durante a República Velha. Elite intelectual essa que constituíra uma geração chamada pela historiografia maranhense de ―Novos Atenienses‖ (1894-1932), em alusão aos dois

210

REIS, 1992. op. cit., p.74. PALHANO. op. cit., p. 142. 212 Idem. 211


grupos intelectuais que os antecederam durante o Império Brasileiro (1822-1889), o denominado Grupo Maranhense (1832-1868) e o grupo Ateniense (1868-1894). 213 Intelectuais geralmente caracterizados como decadentistas, quanto à construção do seu discurso, dos quais tiveram destaque nomes como: Antonio Lobo, Ribeiro do Amaral, Barbosa de Godóis, Astolfo Marques, Fran Paxeco, Antonio Lopes, Aquiles Lisboa e Domingos Perdigão. 214 Os Novos Atenienses, de acordo com Manoel Barros de Jesus Martins, formaram uma geração com um projeto de problematização da realidade maranhense, tanto através de obras especificas constituídas nos mais diversos campos do conhecimento quanto por meio da imprensa, da política ou da administração publica local, caracterizando o período como de fertilidade relativo à produção escrita. 215 Martins aponta que, A produção intelectual da elite letrada maranhense na Republica Velha teve como marca sonante a disposição para a reflexão sistemática sobre o Maranhão. Ao tempo em que visava elucidar especificidades da trajetória do torrão natal, essa atitude tinha por norte identificar e alicerçar imagens basilares e fundantes do Maranhão que fossem passiveis de utilização simbólica no processo de construção identitária, de sentido novo, reclamada naquela época prenhe de transformações. Para esses letrados o Maranhão deveria ser repensado desde suas entranhas mais profundas; nesse sentido, a eles competia realizar o mapeamento dos entraves paralisantes da vida ativa regional e indicar alguma projeção de futuro que engendrasse uma realidade estadual renovada, revigorada pelo influxo de tempos fáusticos, tomados de referencias imorredouras. 216 Já Meireles, ao escrever sobre o panorama cultural maranhense do primeiro período republicano, tece uma construção histórica permeada pela idéia da decadência local, tanto política quanto econômica e financeira, ainda reproduzindo o discurso decadentista e saudosista que esteve presente na obra dos Novos Atenienses. 217 De acordo com Meireles, Sobrevinda a República, e com ela o desequilíbrio e a decadência econômicas conseqüentes da abolição – estende-se do ultimo decênio do século XIX, para o século XX – o ciclo decadentista (1894-1932), em que o estado, vivendo das glórias daquele passado e dos poucos sobreviventes do segundo ciclo que ainda o representavam no Sul (e não só no campo das letras, como no da política, com o fazê-los geralmente seus representantes nas duas casas do Parlamento), apenas procura lutar porque não se apague a chama daquele ideal e se não perca a tradição que deu Glórias de Atenas do Brasil.218 Em meio à realidade social em que estavam inseridos, esses intelectuais constituíram um discurso sem perspectivas promissoras quanto ao presente, e formaram um modelo representacional do passado, especialmente do século XIX, como o momento áureo da economia e da produção cultural maranhense. O que reproduziu o 213

MEIRELES. op. cit., p.311. Idem. 215 MARTINS, Manoel de Jesus Barros. Operários da Saudade: os novos atenienses e a invenção do Maranhão. São Luís: Edufma, 2006, p.115. 216 Idem. 217 MEIRELES. op. cit., pp.310-312. 218 Idem. 214


mito da Atenas Brasileira, e também uma esperança de futuro que reconstruísse o passado, colocado com algum saudosismo como tempo de glórias, o que também alimentava a idéia do retorno imaginário a um esplendor transitório. 219 Sobre essa realidade do período, Correia escreve que, A experiência imediata da realidade maranhense começou a não mais antecipar perspectivas promissoras e, em conseqüência, a teologia timbirense frutificou multiplicada, como uma atitude devocional coletiva, esperançosa de reedificar o esplendor do passado, de ressonância econômica e cultural, no âmbito das circunstâncias negativas, experimentadas desde a abolição da escravatura, do senhorio e do monarquismo.220 Mas, apesar da construção discursiva na qual o Maranhão era colocado em um estado de letargia em meio à inauguração de uma situação econômico-financeira de decadência prolongada, também tivemos um período de forte tentativa de renovação cultural, e interessante produção, se destacaram a constituição de sociedades culturais e a realização de conferências literárias, que contribuíram para uma renovação do debate sobre o Maranhão. Esses círculos literários, embora restritos a pequenos grupos constituintes da elite letrada local, reuniram muitos dos principais escritores do período e tiveram relativa penetração e longitude na paisagem intelectual maranhense. Em meio a esse processo de intensificação das tentativas de problematização da realidade maranhense, surgiram também esforços no sentido de congregar essa elite letrada através da fundação de instituições, institutos e academias,221 que refletiu na tentativa de Renascimento Cultural maranhense. De acordo com Correia, A realidade maranhense declinava. Os esforços de congregação cultural resultariam na fundação da Academia Maranhense de Letras (1808: liderada por Antonio Lobo), na fundação da Faculdade de Direito do Maranhão (1918: liderada por Domingos Perdigão) e na fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (1925: liderada por Antonio Lopes e outros). (...) Em paralelo a juventude organizou numerosos periódicos sociedades culturais, em perfeita sintonia com os fundadores de instituições literárias e educacionais- havia, reunido a todos, o propósito comunitário de participar e de contribuir para o ressurgimento do passado de significação maranhense- com crescimento econômico e com ressonância intelectual. Na instância da cultura, o mecanismo adequado de intervenção a reversão da realidade pareceu a todos ser a organização de instituições, sob a perspectiva ilusória de que bastaria a fundação de um conjunto de sociedades, ao ressurgimento da sociodinamica da cultura, quando, na verdade, as possibilidades e os resultados da gestação artificial de organismos institucionais refletiriam, como refletiu, a situação da cultura no contexto social maranhense. 222 Meireles também aponta para o esforço da elite letrada do Estado, como produtora de um saber oficial, no âmbito da organização de academias e instituições oficiais no sentido de intensificar a produção intelectual maranhense nesse período. De acordo com o mesmo, ―arregimentados, apoiando-se mutuamente, lutando contra a descrença e a 219

CORRÊA. op. cit., p. 151. Idem 221 Ibidem, pp. 182-183. 222 Ibidem, p. 182. 220


falta de estímulo, cresceram em número e acabaram por se congregar numa Academia Maranhense de Letras, em 1908; depois fundaram o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (1925).‖223 Mas também devemos atentar que as fundações desses espaços institucionais de construção do saber literário, historiográfico ou científico também estavam inseridos em um dinâmico jogo de forças, uma vez que conferiam aos seus membros: status, espaço para publicação, reconhecimento e distinção social, em meio a um público letrado diminuto. A década de 1920, também foi perpassada por diversas transformações no Maranhão e no Brasil. Em nível nacional tivemos o avanço do tenentismo, a fundação do Partido Comunista Brasileiro (1922) e a instauração da semana de Arte Moderna (1922). Esta última demarcou uma profunda ruptura estética e crítica ao modelo cultural vigente no Brasil até então. Porém, as sociedades literárias e instituições que nasceram em São Luís, nas décadas de 1910 e 1920, eram destituídas de vínculo orgânico com o debate estético emergente no Centro Sul do País. Sendo a realidade cultural local profundamente marcada por comunidades preservacionistas e sem muita ressonância quanto ao movimento modernista.224 Quanto à associação dos intelectuais maranhenses do período com a política, tivemos diversos deles participando ativamente do meio político estadual, seja no exercício de cargos públicos eletivos ou mesmo na máquina burocrática do funcionalismo público, como, por exemplo, os deputados Humberto de Campos, Viriato Correia e Jerônimo de Viveiros. 225 Sobre essa realidade, Correia observa que, A tradição política de recompensar, com mandatos parlamentares, aqueles escritores maranhenses que tivessem conquistado a condição de renomados, permaneceu em vigência, mutuamente interessante, pois, ao tempo em que as oligarquias estaduais beneficiavam-se dos intelectuais circunstantes, inclusive pela manipulação política, os escritores desafogavam-se das aperturas materiais, no usufruto pecuniário da prestação de serviços aos políticos instituidores da proteção, da escolha e do parceiro parlamentar de celebridades literárias. 226 Quanto à imprensa Maranhense na República Velha, contávamos com um bom número de periódicos e publicações em geral, alguns de curta duração. Entre os principais jornais em circulação na capital ludovicense na época estavam o Diário do Maranhão, A Pacotilha, o Combate, À tarde, a Hora, Federalista. Os jornais e publicações da imprensa também se caracterizavam como espaços sociais para a divulgação das idéias dessa geração de intelectuais maranhenses da década de 1920, e também de debate e embates políticos e intelectuais. 227 Na Área educacional, durante a Primeira República Brasileira (1889-1930), tínhamos um modelo de educação descentralizado quanto às responsabilidades governamentais. O governo republicano central não assumiu a educação pública como uma prioridade ou responsabilidade sua, cabendo aos governos estaduais e municipais parte significativa da responsabilidade de construção do ensino público. Em meio à falta 223

MEIRELES. op. cit., pp. 311-312. CORRÊA, op. cit., p. 186. 225 Ibidem, p. 184. 226 Idem. 227 MARTINS. op.cit., p.169. 224


de recursos ou interesses dos governantes para investimentos no setor, a realidade local só poderia ser caracterizada como de precarização. 228 Essa difícil realidade educacional se fazia presente com poucas escolas, uma população com altas taxas de analfabetismo e pequeno público letrado. No âmbito do serviço público, no início da Primeira República algumas instituições foram reorganizadas ou reformadas, como, por exemplo, a Escola Normal (1890), o Liceu Maranhense (1893), A Escola Modelo (1896), a Biblioteca Pública (1898) e a Escola de Música (1902). As primeiras escolas de ensino superior maranhenses também surgiram nesse contexto e foram tardias em relação ao restante do país, estruturando-se nesse período, as Faculdades de Direito (28.04.1918), de Farmácia e Odontologia (12.03..1922).229 Durante a década de 1920 foram construídas algumas ações governamentais que visavam à ampliação e a melhoria do ensino no Maranhão. Durante a gestão de Godofredo Viana (1922-1926), tivemos alguns investimentos na expansão do ensino maranhense, com a colocação em prática, a partir de 1923, de um projeto de reforma da instrução pública, que, entre outras medidas, estabelecia três cursos para o ensino primário: o elementar (dos 5 aos 7 anos); o médio (dos 7 aos 12 anos); e o complementar (dos 12 aos 13 anos). Além disso, ampliou o número de escolas na zona rural. 230 Na administração estadual seguinte, de Magalhães de Almeida (1926-1930), tivemos ainda a construção de algumas dezenas de escolas primárias, principalmente nas áreas rurais, e auxílios às instituições particulares de ensino presentes no Estado. Mas, ainda assim, o ensino básico maranhense continuava restrito a um pequeno número de pessoas, contando o estado com apenas 652 escolas oficialmente registradas em 1929, entre públicas e particulares, em todas as modalidades de ensino, do ensino primário elementar ao superior, tendo um número total de alunos matriculados de 32.245.231 Número ainda pequeno face à população do Estado na época. Segundo Tatiane da Silva Sales, em 1929, somente 23% da população em idade escolar no Maranhão estudava232, o que demonstrava uma realidade educacional do Estado na Primeira Republica ainda era demarcada pela exclusão, com um público letrado diminuto em relação ao conjunto da sociedade. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da Ciência: por uma sociologia clinica do campo cientifico/ Pierre Bourdieu; texto revisto pelo autor com a colaboração de Patrick Champagne e Etienne Landais; tradução Denice Barbara Catani.-São Paulo: Editora UNESP, 2004 CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós-30. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da UNICAMP. São Paulo:[s;n], 1981. 228

SALES, Tatiane da Silva. BRECHAS PARA A EMANCIPAÇÃO: usos da instrução e educação feminina em São Luís na Primeira República. Dissertação de mestrado (História).UFBA, 2010, pp. 5961. 229 MEIRELES. op. cit., p.312 . 230 FERNANDES. op.cit., pp.264-265. 231 Idem, pp.267-277. 232 SALES, Tatiane da Silva. op.cit., p. 77.


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“REDES DE PODER”: UMA ANALISE SOBRE A OLIGARQUIA DE VICTORINO FREIRE NO MARANHÃO (1940 – 1970)

RODRIGO DE CASTRO VEIGA BOLETA Acadêmico de História – UFMA Introdução O presente artigo, intitulado ―Redes de Poder‖: análise sobre a Oligarquia Vitorinista no Maranhão (anos 1940 – 1970) pretende mostrar os tempos em que o político pernambucano Victorino Freire exerceu o comando da oligarquia no Maranhão, no período que compreende os anos 1940 aos anos 1970. Primeiramente mostrarei o que é oligarquia, o que ela significa. Depois mostrarei o que denominei de ―os primeiros tempos oligárquicos no Maranhão‖, mostrando como se deu a instalação da oligarquia no Maranhão, que se deu em dois períodos. O primeiro período da instalação da oligarquia fora marcado pelas lutas familiares, enquanto o segundo período fora marcado pela definição dos atores políticos. Veremos que é a partir dos anos 1850/1860 que teremos o começo da formação das oligarquias no Maranhão. Seu eixo de sustentação é marcado por uma centralização de recursos políticos e financeiros. Veremos que a(s) oligarquia(s) é (são) algo muito instável(eis) politicamente falando, dado as constantes mudanças de lados na disputa política. Flávio Reis irá dizer que na esfera municipal, as lideranças mudavam de lado ao sabor dos acontecimentos políticos, escolhendo o que fosse mais conveniente. Ao longo deste artigo se verá o caráter de mediador que a oligarquia possui segundo Flávio Reis. Depois teremos o tópico intitulado ―ascensão e formação do poder de Victorino Freire no Maranhão‖. Neste tópico minha intenção é mostrar como Victorino Freire veio parar no Maranhão, construindo uma verdadeira ―rede de poder‖ 233 no nosso Estado por cerca de trinta anos. Freire veio para o Maranhão no ano de 1933 ―quando foi nomeado secretário de governo do Capitão Martins de Almeida (interventor federal), com a incumbência de organizar o Partido Social Democrático (PSD) (...)‖ 234 local. 233

Grifo meu COSTA, Wagner Cabral da. A Raposa e o Canguru: crises políticas e estratégia periférica no Maranhão (1945 / 1970). Pág. 265, 2º parágrafo

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Além desta ―missão‖, Victorino Freire veio ao Maranhão a fim de acabar com os núcleos oposicionistas no Estado. Victorino não consegue seu intento, o de eleger o candidato do PSD ao governo estadual, e vai para o Rio de Janeiro exercer alguns cargos políticos. Retorna ao Maranhão com o declínio do Estado Novo, enfrentando a hostilidade do interventor Paulo Ramos. Após falarmos sobre como se deu a ascensão e conseqüente formação do poder oligárquico vitorinista no Maranhão, faz-se necessário a abordagem do declínio deste poder, que começa a ocorrer em meados dos anos 1960, com o golpe militar (1964) quando os militares derrubam o presidente João Goulart, mais conhecido como Jango. É isso que tentarei expor no tópico ―Declínio do poder oligárquico de Victorino Freire‖. O golpe militar de 1964, de fato, contribuiu para o declínio vitorinista, pois proporcionou a ascensão de uma de suas ―crias‖ mais ingratas: trata-se de José de Ribamar Costa. Talvez ninguém o conheça por esse nome, mas com certeza o conhecem pelo nome que resolveu adotar: José Sarney, que nas palavras do historiador Wagner Cabral da Costa é um verdadeiro ―canguru‖ enquanto Victorino é a ―raposa‖. Nas considerações finais pretendo fazer uma breve recapitulação sobre o que será mostrado no artigo e também uma ultima analise sobre o poder que Victorino Freire exerceu no Maranhão, menor talvez só que o poder que o ―canguru‖ José Sarney exerceu, ou melhor, exerce até hoje. O que é Oligarquia Comecemos este tópico com uma definição contida no livro do professor Flavio Reis ―Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão‖: ―(...) a oligarquia é mais do que o produto dos interesses desses núcleos, sendo também uma peça da construção do Estado brasileiro, cuja gestação foi favorecida pelo poder central‖ (REIS, pag. 10, 1º parágrafo) Esses núcleos mencionados pelo professor Reis referem-se aos núcleos familiares, que muito disputaram a hegemonia política nos Estados brasileiros, visando a constituição de um poder político predominante. De maneira suscita, Flávio Reis mostra que o termo ―oligarquia‖ serviu para por ênfase sobre as redes de poderio privado de base familiar sobre o aparelho estatal. Segundo o renomado jurista italiano Norberto Bobbio (Apud. COSTA. Do Maranhão Novo ao Novo Tempo: a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão) a oligarquia é definida quando o poder está sob as mãos de um grupo restrito. Foi o que aconteceu na época de Victorino Freire e acontece hoje com a oligarquia Sarney. Segundo o historiador Wagner Cabral da Costa, o conceito de oligarquia carrega, há muito tempo, um juízo negativo, significando ―um governo viciado, impuro e nocivo‖ 235. Citando Iberê Dantas, o historiador maranhense expõe alguns dos elementos considerados básicos de uma oligarquia, que seriam: o governo de poucos, a riqueza desses poucos, o famoso nepotismo e o exercício do poder sem atender a população. Se observarmos bem, veremos que a oligarquia é um grupo fechado, tendo dificuldades para absorver novas lideranças. Talvez esse fato se deva à algumas situações nas quais as oligarquias possuem certas dificuldades em manter suas ―crias‖

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COSTA, Wagner Cabral da. Do Maranhão Novo ao Novo Tempo: a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão. Pág. 1, 3º parágrafo.


sob seus comandos. Para manter o poder, as oligarquias se valem do uso patrimonial do Estado, ou seja, usam a maquina publica estadual para benefícios próprios. Flavio Reis, em seu já citado livro no inicio deste tópico, irá atribuir bastante o caráter de mediador às oligarquias, dizendo que elas funcionariam como uma ―ponte‖ entre o governo central e a províncias. ―A posição marginal significava uma dependência maior em relação ao centro, o que implicaria em interferências constantes nas disputas dos grupos políticos regionais‖ (REIS, pag. 22, 2º parágrafo) Os primeiros tempos oligárquicos no Maranhão O surgimento da oligarquia no Maranhão é comumente dividido em dois períodos: um que vai dos anos 1820 até os anos 1840 e outro que começa a partir dos anos 1850/1860. Nesse primeiro período temos o que Flávio Reis chama de fracionamento das facções políticas, que será expresso nas lutas familiares. Tais lutas serão uma verdadeira marca deste primeiro tempo da oligarquia no Maranhão. Este primeiro tempo da oligarquia maranhense fora marcado por verdadeiras convulsões políticas, como as guerras pela independência e a balaiada. O segundo período da formação oligárquica no Maranhão compreende o período que se inicia a partir dos anos 1850/1860. É nesse segundo período que parece que teremos uma efetiva formação das oligarquias no Maranhão, com a organização das disputas políticas no ambiente regional. É a partir daqui que teremos, também, o caráter mediador dado por Flávio Reis à oligarquia. A oligarquia maranhense foi, e é, marcada pelas disputas intra-oligarquicas, que tem como causas a intensificação nas lutas pelo poder. Após a instalação, de fato, da estrutura oligárquica no Maranhão, temos o inicio de verdadeiros confrontos políticos entre os partidos. Os mais destacados da época, se não os únicos, eram os partidos Conservador (―cabanos‖) e o Liberal (―bem-ti-vis‖). No final da balaiada, a fragmentação entre esses dois partidos parece ser bem maior. As famílias ―bem – ti – vis‖ mais importantes eram os Franco de Sá e os Jansen Pereira. Do lado ―cabano‖ a família mais importante eram os Viveiros. No ano de 1848, a política da Conciliação estava em vigor. Essa política representou um momento de embaralhamento das antigas lideranças partidárias, no qual houve um certo período de estabilidade. Nesse ano de 1848 os Liberais foram derrubados do poder pelos Conservadores, apesar da vigência dessa política de conciliação. Segundo Flávio Reis, um exemplo típico da administração dessa política foi a feita pelo conservador Eduardo Olimpio Machado. A política da conciliação fora de considerável importância para a superação da fase de fragmentação de grupos políticos, algo característico da primeira fase da instalação da oligarquia no Maranhão. Entre 1862 e 1868 há uma ascensão do grupo progressista, o que favoreceu os liberais. Já entre 1868 e 1871 há um domínio conservador. Por ai percebemos que entre os anos 1860 até o fim do império temos uma alternância mais clara entre os grupos políticos, que são mais definidos. Com uma nova subida dos conservadores ao poder estadual, tem-se o que acredito ser o inicio da cisão entre os cabanos. Gomes de Castro ascende cada vez mais ao poder, ameaçando a liderança de Silva Maia (líder do Partido Cabano). Isso acaba se agravando cada vez mais, gerando uma cisão dentro do partido Conservador, gerando dois ―subgrupos‖ dentro do partido: os ―maístas‖ e os ―castristas‖.


―As diferenças viriam à tona, como de costume, em período eleitoral‖ (REIS, pag. 23, 1º parágrafo). Isso tudo ocorrendo em 1877. No ano seguinte, os Liberais retornaram novamente ao poder e assim como o partido Conservador, também tiveram as suas divergências políticas internas. Essas diferenças ocorrem entre Nunes Gonçalves e Carlos Fernando Ribeiro e parece ser que elas ocorrem do mesmo modo que ocorreram no partido Conservador. Neste caso do partido Liberal, vemos que a disputa intra-oligárquica ficou cada vez mais acirrada com a ascensão de um aliado de Carlos Fernando Ribeiro, Felipe Franco de Sá, ao governo do Estado. Com isto, acaba ocorrendo a cisão do partido Liberal, que ficou dividido entre os ―marcelenistas‖ (aliados de Nunes Gonçalves) e os ―salinos‖ (liderados por Carlos Fernando Ribeiro). Nas eleições, tanto nacionais como provinciais e/ou municipais, os acordos entre grupos políticos começaram a não mais obedecer a uma fidelidade partidária e isso acabará gerando disputas INTRAoligárquicas ao invés de disputas INTER-oligárquicas, sendo expressas claramente nas cisões tanto do partido Conservador quanto do partido Liberal. Com o tempo, como percebemos até aqui, as disputas políticas deixam o âmbito familiar, característico do primeiro período de formação da oligarquia no Maranhão, e passam para o âmbito dos grupos políticos, como percebe-se no seguinte trecho: ―A transição do predomínio das disputas de famílias à organização de grupos políticos dependentes da utilização patrimonial do aparelho do Estado foi acompanhada pela diferenciação dos tipos de lideranças dos partidos‖ (REIS, pag. 67, 2º parágrafo) Uma coisa bem importante no período refere-se a posse de um diploma de curso superior, que criava uma certa distinção social. A maioria deles era do curso de direito da Faculdade de Direito do Recife. ―(...) no caso dos senhores rurais não funcionava como meio indispensável para o exercício de funções políticas no âmbito provincial‖ (REIS, pag. 68, 1º parágrafo) Ao que parece, a proclamação da república, em novembro de 1889, provocou uma intensificação nos processos de crise intra-oligárquica ―A mudança de regime acelerou o processo de renovação interna da oligarquia‖ (REIS, pag. 72, 1º parágrafo) Entre 1890 e 1892, temos o auge das disputas intra-oligárquicas, quando a luta pelo poder político é atrelada com a ingerência do governo. Com o advento da proclamação da república, deixa de existir os partidos Liberal e Conservador e em 1891 temos quatro ―novos‖ partidos: o Republicano, o Católico, o Nacional e o Constitucional. Esses três últimos partidos formavam o chamado ―Partido Federalista‖, que fazia oposição ao partido Republicano. Uma coisa a ser analisado é que talvez, pelo fato de haverem três partidos compondo a chapa da oposição, havia sempre certa divergência de interesses. Isso pode ser visto quando os ex-membros do partido Constitucional abriram uma dissidência dentro do partido federalista. Parece que a partir do trecho abaixo que podemos perceber a ―necessidade‖ do caráter de mediadora atribuída por Flávio Reis às oligarquias, uma mediadora entre o governo centra e o governo estadual e/ou provincial/municipal:


―Quase todos os Estados sofriam intervenções explicitas e as relações internas entre os seus grupos políticos nunca estiveram imunes às pressões do centro (...) (REIS, pag.86, 2º parágrafo) Outra coisa importante a ser observada é o fato de que eleger-se deputado pode se tornar um ―bom negócio‖ e permanecer na câmara e no senado era um ―negocio melhor ainda‖. ―A não renovação do mandato dava-se apenas nos casos de dissensão política ou nas situações em que os acordos entre lideranças implicavam em sacrifícios de nomes sem sustentação própria‖ (REIS, pag. 94, 2º parágrafo) Tirando isso, o candidato (principalmente do governo) ganhava com certa facilidade. Geralmente depois de cumprirem com os seus primeiros mandatos, os parlamentares se fixavam no Rio de Janeiro. Isso acaba, com o tempo, fazendo com que os políticos deixem ter algum laço com o Estado, voltando aqui somente no período eleitoral. Os três primeiros senadores do Maranhão, por exemplo, não possuíam nenhum vinculo político com o Estado. A oligarquia no séc. XX antes de Victorino Freire. Já no séc. XX, precisamente nos anos 1920, temos uma renovação na oligarquia local, com a ascensão de políticos como Urbanos Santos, Luis Domingues, José Eusebio e Costa Rodrigues. O governo de Urbano Santos, por exemplo, fora caracterizado pela violência aplicada e os mandos e desmandos praticados. Ele criou uma serie de medidas que, ao que parecem, interferiam diretamente na política legislativa maranhense, como está expresso abaixo: ―Em 1919 conseguiu aprovar uma reforma constitucional pela qual mudava a designação de chefe do executivo de ‗governador‘ para ‗presidente do Estado‘(...). A interferência direta no legislativo foi ainda secundada com o fim da eleição dos prefeitos, tornados agora ‗intendentes municipais‘, todos nomeados pelo chefe do executivo‖ (REIS, pag. 97, 2º parágrafo) No seu governo236, comarcas municipais perderiam alguns poderes, o que parece ter espalhado uma ―neurose do medo‖ 237 entre a população. O falecimento de Urbano Santos parece ter provocado um certo alivio, como percebe-se no trecho a seguir: ―O falecimento de Urbano Santos, em 1922, significou a liberação da válvula que mantinha represadas as insatisfações‖ (REIS, pag. 100, 2º parágrafo) Esses anos 1920 foram marcados pelo surgimento de varias dissidências políticas que se organizavam em partidos políticos. Quando chegava o período das eleições, quem ficasse fora do chamado ―pacto governamental‖ não tinha a mínima chance de ganhar as eleições. Essas dissidências políticas, que ocorreram não só no Maranhão, mas no Brasil inteiro, surgiram a partir da crescente insatisfação popular. Nesse período, o Estado passa a ser o responsável por serviços como água, esgoto, energia e transportes. Ascensão e formação do poder de Victorino Freire no Maranhão

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Governo de Urbano Santos REIS, Flávio. Pag. 99, 1º parágrafo


―Suas relações com a política maranhense se iniciam em 1933, quando foi secretario de governo do capitão Martins de Almeida (recém nomeado interventor federal), com a incumbência de organizar o Partido Social Democrático (P.S.D) (...)‖ (COSTA, pag. 36,1º parágrafo) 238 Com este trecho de Wagner Cabral da Costa iniciemos este tópico, dedicado a analise de como Victorino Freire instalou e consolidou sua ―rede de poder‖, por aproximadamente trinta anos. Victorino era pernambucano e, como o trecho mostra, veio ao Maranhão como secretario de governo, além de ter a missão de organizar o PSD local visando às eleições de 1934. Como foi visto na introdução, Victorino Freire não conseguiu cumprir seu objetivo e retira-se para o Rio de Janeiro, onde exercerá alguns cargos políticos. Mesmo com essa derrota, Victorino ainda ―gostaria‖ de influir na política local. Com o fim da ditadura do Estado Novo de Getulio Vargas, Freire volta ao Maranhão, enfrentando grande hostilidade por parte do interventor federal da época, Paulo Ramos. Só que Victorino Freire possuía uma ―vantagem‖ sobre Ramos: a sua hegemonia (de Victorino) deveu-se às suas alianças a nível federal. Victorino havia retornado ao Maranhão como sendo um articulador da campanha do ―amigo‖ Eurico Gaspar Dutra a presidência da república. Diante do aumento do poder vitorinista por causa de suas alianças políticas, Paulo Ramos acaba pedindo demissão do seu cargo. Nesse seu retorno ao Maranhão, Victorino Freire recebeu uma ―outra‖ missão: a de reorganizar o PSD local. Juntamente com seus aliados Genesio Rego e Clodomir Cardoso, a ―raposa‖ 239 Victorino fez com que o PSD brilhasse nas eleições de 1945. ―Com o tempo, o PSD/MA chegou a se confundir com o próprio vitorinismo‖ 240. O jornal ―Diário de São Luiz‖, pertencente ao grupo vitorinista, destaca o sucesso vitorinista nas eleições de 1945 ―(...) Vitorino Freire, figura das mais destacadas do PSD e elemento prestigioso nos círculos administrativos daquela metrópole, onde desenvolve acentuada atuação profissional. (...) Vitorino Freire estará de volta ao Maranhão para reencetar as suas atividades políticas, pela vitória do Partido Social Democrático, de cuja chapa à câmara federal é uma das mais destacadas figuras. O diário abraço-o cordialmente‖ (2 de Novembro de 1945) 241 Ainda com o ―Diário de São Luiz‖, vemos o telegrama enviado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra a um Afonso da Silva Matos, comentando a ―atitude‖ do eleitor maranhense em eleger Victorino Freire: ―(...) brilhante votação de nosso querido Vitorino, que é uma atitude nobre e justa do eleitorado maranhense para com o seu grande servidor (...) (1º de Janeiro de 1946) 242 Enquanto o ―Diário de São Luiz‖ apoiava o grupo vitorinista, por sua vez o jornal ―O Combate‖ era um jornal oposicionista, ligado ao PR 243. No trecho a seguir vemos uma declaração de ―O Combate‖ na qual percebemos algo bem comum nas oligarquias: 238

COSTA, Wagner Cabral da. Sob o signo da morte: o poder oligárquico de Victorino à Sarney. Expressão usada por Wagner Cabral da Costa no texto ―A Raposa e o Canguru‖ 240 COSTA, Wagner Cabral da. Sob o Signo da Morte: o poder oligárquico de Victorino à Sarney. Pag. 37, 2º parágrafo. 241 Jornal ―O Diário de São Luiz‖ 242 Idem 243 Integrante do grupo oposicionista conhecido como Oposições Coligadas, que irá dar bastante trabalho ao grupo vitorinista em eleições futuras 239


as cisões internas. No caso de Victorino Freire, há um rompimento entre ele e Genesio Rego/Clodomir Cardoso diante da continua contestação do poderio político de Freire: ―As hostilidades que o Sr. Vitorino Freire faz ao Sr. Clodomir Cardoso e ao Sr. Genésio Rego estarão a vista e os próprios vitorinistas já não fazem questão de encobri-las e nem querem mais adotar o despistamento de antes‖ (26 de Janeiro de 1946) 244 O maior partido da oposição à Victorino Freire era o PSP, que contava com o apoio político e financeiro do governador paulista e líder nacional do partido Adhemar de Barros. O PSP teve grande penetração popular. Essa penetração do PSP garantiu consideráveis votações a Adhemar de Barros no Maranhão nas duas vezes em que este se candidatou a presidência da república. Nos pleitos ocorridos entre 1950 e 1965, as Oposições Coligadas concorreram a praticamente todos os cargos disponíveis, tendo uma composição variada segundo as conjunturas políticas. O jornal do Povo, ligado ao PSP, era um jornal que parecia seguir a mesma linha de ―O Combate‖ e dos outros jornais oposicionistas, que era a de denunciar o ―gangster‖ Victorino Freire. Apesarem de nunca ter ganho as disputas com Freire, devido ao uso por parte deste da fraude eleitoral (Universidade da fraude), as Oposições Coligadas conseguiram eleger vários parlamentares. Através de seus jornais, a oposição fazia várias denuncias à Victorino, como a seguir, do jornal ―O Combate‖: ―(...) Vitorino Freire, sem consultar o diretório e sem dar satisfação a ninguém, consegue a nomeação de três (treis) amigos para a caixa econômica‖ (23 de Janeiro de 1946) 245 No período que compreende os anos de 1947 e 1951 há um fortalecimento de Victorino Freire, que culminou, como vimos, no pedido de demissão do interventor Paulo Ramos. Em 1946, Saturnino Bello torna-se interventor federal no Maranhão, ficando no cargo até o ano seguinte. O jornal ―O Diário de São Luiz‖ traz uma declaração de Victorino Freire sobre a nomeação de ―Satú‖ Bello, que na época ainda era seu aliado ―Estou amplamente satisfeito com a nomeação do srº Saturnino Bello para a interventoria do Maranhão, embora seja leviana a afirmação de que se trata de uma indicação pessoal minha (...)‖ (9 de Fevereiro de 1946) 246 Essa aliança ―Satú-Freire‖ acabará um pouco antes das eleições de 1950. Bello, não satisfeito pela sua não indicação ao governo do Estado por parte do grupo vitorinista, acaba rompendo com este, lançando-se candidato ao governo pelas Oposições Coligadas. O candidato do grupo vitorinista foi Eugênio Barros, do PST (uma legenda de ―aluguel). Essas eleições foram marcadas pelas sabotagens do governo nos comícios das Oposições Coligadas. Daí concluímos que essas eleições foram agitadas, despertando bastante interesse por parte da população. Se valendo da fraude eleitoral, expressa na chamada Universidade da fraude, Barros acaba sendo o vencedor do pleito de 1950. Diante de evidencias explicitas de fraude, a eleição do candidato vitorinista fora o estopim para o movimento conhecido como greve de 1951. Essa greve fora um movimento articulado pelas oposições contra a posse do ―vencedor‖ Eugênio Barros. Tal movimento fora visto como a primeira oportunidade das Oposições

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Jornal ―O Combate‖ Jornal ―O Combate‖ 246 Jornal ―O Diário de São Luiz‖ 245


Coligadas de derrubar o poderio político de Victorino Freire. É importante salientar que essa oposição à Victorino era totalmente heterogênea. A eleição de Eugênio Barros provocou uma verdadeira revolta popular. Tal revolta, como acabamos de ver, ficou explicita no movimento conhecido como greve de 1951. Tal greve fora dividida em dois momentos. O primeiro foi entre fevereiro e março e o segundo momento foi entre setembro e outubro, quando saiu a sentença definitva do TSE: o cargo era de Eugênio Barros. Oposição e governo travaram verdadeiras batalhas campais, em locais como a Praça da Liberdade. Num desses confrontos acabou falecendo o jovem João Evangelista de Sousa. Com sua morte, ―as oposições fabricaram seu primeiro herói e mártir (...)‖ 247. Em relação a morte de Evangelista, Wagner Cabral da Costa mostra que ―Governo e oposição trocaram acusações. No Diário de São Luis, os governistas atribuíram à oposição a responsabilidade dos acontecimentos por ter ‗açulado‘ o povo contra o jornal vitornista, afirmando que as balas que mataram João Evangelista e feriram inúmeras outras pessoas foram disparadas por revólveres oposicionistas (...)‖ (COSTA, pag. 42, 3º parágrafo) 248 Contrariando essa afirmação vitorinista, a oposição afirmava que o governo estadual estava com planos de matar Adhemar de Barros, do PSP. A greve de 1951 ficou conhecida como a revolução do Maranhão ou ainda a ‗balaiada urbana‘ ou até a ‗nova balaiada‘. Ela acaba gerando para São Luis a alcunha de Ilha Rebelde. Enquanto a disputa entre governo e oposição rolava solta, ocorreu um fato que mudaria totalmente o rumo desses acontecimentos: a morte de Saturnino Bello. A população que apoiava as Oposições Coligadas começou a culpa da morte de seu líder aos vitorinistas, já que o ataque cardíaco fulminante que matou Satú teria sido provocado, segundo a oposição, pelo desgosto causado pelas explicitas fraudes eleitorais nas eleições de 1950. Diante da morte de Satú não teria tido eleições suplementares tendo entre seus ―candidatos‖ um candidato morto. Por causa dessa situação o TRE maranhense não teve outra alternativa se não diplomar o candidato de Victorino Freire. É como o deputado Clodomir Millet disse, diplomava-se um candidato com o atestado de óbito do concorrente 249. Depois disso, Eugênio toma posse no governo do Maranhão e assim inicia-se de fato a ‗balaiada urbana‘, a ‗revolta do Maranhão‘, etc. ―Uma manifestação violenta da população de São Luis contra os excessos da corrupção eleitoral, então ostensivamente praticada no Estado‖ (COSTA, pag. 45, 1º parágrafo) 250 Os efeitos da greve de 1951 são imediatamente sentidos em São Luis: ―A insegurança, a perplexidade e o medo fizeram com que a indústria, os transportes urbanos, o comercio, os bancos, o porto – enfim, tudo permanecesse parado‖ (COSTA, pag. 46, 3º parágrafo) 251 Esta convulsão política por qual passava São Luis fez com que todo o Estado ganhasse destaque na impressa nacional e até internacional. Diante desta situação, Eugênio Barros estava, literalmente, isolado no palácio dos leões. O mesmo declarou 247

COSTA, Wagner Cabral da. A Raposa e o Canguru. Pag. 269, 2º parágrafo Ibid. Sob o Signo da Morte: o poder oligárquico de Victorino à Sarney. 249 Apud. COSTA, Wagner Cabral da. Ibidem. Pag. 44 250 Idem. 251 Idem. 248


que só sairia de lá caso a justiça eleitoral mandasse. Os jornais pelo Brasil comentavam a greve de 1951 e seus motivos. Para o jornal ―O Estado de São Paulo‖, Eugênio Barros seria ―um governador criado pela politicagem, por obra e graça de uma das facções políticas que aspiram ao domínio do Estado‖ (COSTA, pág. 273, 4º parágrafo) 252 Neste momento uma renuncia de Barros era algo bem improvável de ocorrer. Neste clima de tensão permanente, a ameaça de intervenção federal rondava o Maranhão. Só que alem dessa possível intervenção representar um possível retorno da ditadura varguista, Freire, através de seus laços políticos com o governador do Rio de Janeiro e genro de Vargas, Amaral Peixoto, fez com que essa ameaça fosse para longe. Ao que parece, na intenção de acalmar os ânimos, Eugênio Barros opta por tirar uma licença temporária do cargo; em seu lugar assumiria César Aboud, que apesar de ser ligado ao vitorinismo, tinha livre transito nos grupos oposicionistas. Formando um governo de coalização, isto é, mesclando governo e oposição no seu secretariado, Aboud governaria até a decisão final do TSE. A oposição já ―cantava‖ vitória antes da decisão final do TSE e esta acabou pondo por água abaixo as esperanças oposicionistas. O TSE confirmou a diplomação de Eugênio Barros e isso gerou a segunda fase da greve de 1951, que ocorreu entre setembro e outubro. Essa segunda fase da greve teve como característica principal os incêndios criminosos nos bairros operários ludovicenses. Por causa disto, a população foi forçada a estabelecer esquemas de vigilância para evitar a ação dos incendiários. ―(...) pessoas vigiavam as casas dia e noite, comendo e dormindo nas calçadas‖ (COSTA, pag. 59, 2º parágrafo) 253 Diante desta situação, Wagner Cabral da Costa conclui que: ―Diante do acirrado conflito entre facções locais, o maior perdedor seria o povo pobre e miserável da periferia, cujos apelos precisavam ser ouvidos pelos poderes constituídos da República‖ (COSTA, pag. 65, 2º parágrafo) 254

Como Victorino Freire conseguiu com que não houvesse a intervenção federal no Maranhão, a oposição acabou enfraquecendo. ―sem a intervenção federal, a continuidade do movimento oposicionista tornou-se insustentavrel‖ (COSTA, pag. 71, 1º parágrafo) 255 Já que o TSE confirmou a sua diplomação e a intervenção federal ficou só na ameaça, Eugênio Barros, tentando por um fim na greve de 1951, chegou a fazer um governo de coalizão, assim como fez César Aboud. Declínio Do Poder Oligárquico De Victorino Freire O poder oligárquico de Victorino Freire começa a cair quando os ares dos anos 1960 começam a surgir, quando algumas de suas ―crias‖ políticas começam a rebelar-se.

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COSTA, Wagner Cabral da. A Raposa e o Canguru. Ibid. Sob o signo da morte: o poder oligárquico de Victorino à Sarney 254 Idem. 255 Idem. 253


A principal talvez tenha sido José Sarney. A carreira deste fora marcada por idas e vindas entre governo e oposição. Ainda no comando da oligarquia maranhense, Freire ―indica‖ para ser seu candidato a governador nas eleições de 1960, Newton Bello. O PSD, nestas eleições, contará com o apoio da UDN de Sarney, que havia abandonado as Oposições Coligadas em troca de alguns cargos no secretariado de Bello. Tudo parece sair as mil maravilhas até que Jânio Quadros renuncia à presidência da republica. Neste momento, a relação PSD e UDN começa a ficar desgastada, pois o PSD começa a recuperar sua hegemonia nacional. Em 1962, Sarney anuncia o fim da aliança e o retorno da UDN as Oposições Coligadas. Em 1964, com o golpe militar, as disputas internas dentro do PSD começam a se intensificar, tendo de um lado Victorino Freire e de outro Newton Bello, algo que será expresso nas eleições de 1965. Para estas eleições, Bello indicou Costa Rodrigues e Victorino indicou Renato Archer. Só que este candidato teve seu nome vetado pelo governo militar. O resultado disto fora o inicio da cisão do vitorinismo, o que proporcionou uma esperança de vitória as Oposições Coligadas, que haviam lançado a candidatura de Jose Sarney ao governo. O golpe militar no Maranhão produziu alguns efeitos importantes, como: a reprensão a setores nacionalistas e esquerdistas, o fechamento de jornais considerados subversivos (como o jornal do Povo e o Tribuna do Povo) e a prisão de pessoas ―subversiva‖, como a médica Maria Aragão e o poeta Bandeira Tribuzi. Mas talvez o efeito mais importante do golpe militar no nosso Estado tenha sido a cisão dentro do PSD maranhense e, conseqüentemente, dentro do vitorinismo. Agora, uma das medidas mais importantes tomadas pelos militares no Maranhão foi a realização de uma ampla revisão eleitoral, visando combater a famosa Universidade da Fraude montada por Victorino. E o resultado, segundo o TSE (Apud. COSTA, pag. 290, 3º parágrafo) 256 fora espantoso: cerca de 40 % do eleitorado maranhense da época fora eliminado, isto é, 40% de um universo de pouco mais de 490 mil eleitores eram fantasmas. ―tantas e tão profundas mudanças introduzidas pelo regime militar na política maranhense surtiram o efeito desejado, proporcionando a vitória oposicionista em 3 de outubro de 1965‖ (COSTA, pag. 290, 4º parágrafo) 257

Pronto, finalmente as Oposições Coligadas conseguiram derrotar a máquina eleitoral fraudulenta comandada por Victorino Freire e a eleição de José Sarney ―sacramenta‖ isso, apesar de Victorino ter voltado a cena política maranhense com o apoio de Ernesto Geisel a candidatura de seu aliado Nunes Freire ao governo do Estado em 1974. Mas mesmo assim, o vitorinismo não tinha mais volta. Considerações Finais A oligarquia, como vimos, estabelece uma concentração de poderes muito ampla nas mãos de poucos, que em muitos casos, como o de Victorino Freire, se valeram de fraudes eleitorais (algo característico das oligarquias) para conseguirem seu(s) intento(s). Uma das principais características da oligarquia é o nepotismo, isto é, uma rede de proteção à familiares e amigos, na qual o oligarca põe algum familiar ou amigo em um cargo político. O exemplo mais nítido de nepotismo atualmente em nosso Estado

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COSTA, Wagner Cabral da. A Raposa e o Canguru. Idem.


é a nomeação de Ricardo Murad, irmão do marido da governadora Roseana Sarney Murad, para o cargo de secretario estadual da saúde. Vimos também que Victorino Freire chegou ao Maranhão como secretario de governo com a missão de montar o PSD local para as eleições de 1934. Apesar da derrota, Victorino não saiu abalado da disputa. Mesmo tendo se retirado para o Rio de Janeiro para exercer alguns cargos políticos que lhe valeram boa experiência administrativa, ainda desejava influir na política de nosso Estado. Freire retornou ao Maranhão em 1945, como articulador da campanha de Eurico Gaspar Dutra, seu amigo pessoal, para a presidência da republica. A partir daí, Victorino montou uma invejável ―rede de poder‖ por mais de trinta anos. Um expressivo momento durante o poderio político de Victorino Freire no Maranhão fora a greve de 1951, uma revolta popular ocorrida em São Luis contestando os resultados das eleições de 1950, que foram notadamente fraudadas. As Oposições Coligadas realizaram uma verdadeira satanização da imagem de Freire. Ocupando locais como o Largo do Carmo, considerado o termômetro político de São Luis na época realizou uma serie de comícios e passeatas denunciando a fraude eleitoral, mas parece que nada adiantou. A morte dos chamados ―mártires da libertação‖ Saturnino Bello, João Evangelista e José Ribamar Prado piorou a situação. São Luis virou um verdadeiro ―pandemônio‖, já que tudo estava parado e a cidade ficou desabastecida. A situação ficou ainda mais ―feia‖ quando o TSE confirmou, de uma vez por todas, a diplomação de Eugênio Barros no cargo de governador, gerando a segunda fase da greve de 1951, que fora marcado pelos incêndios criminosos nos bairros operários da cidade, fazendo com que a população armasse verdadeiras brigadas populares contra o fogo. Vimos ainda que o golpe militar de 1964 fora um dos principais motivos da queda do poder vitorinista no Maranhão, pois este golpe precipitou uma cisão interna tanto no PSD, que tinha sua liderança disputada entre Newton Bello e Victorino Freire, como no próprio vitorinismo, além de ter provocado uma ascensão política de José Sarney. Victorino Freire ainda ensaia voltar ao cenário político maranhense em 1974, mas a conjuntura histórica pela qual passava o Maranhão na época não mais permitiria uma nova ascensão do vitorinismo. Bibliografia COSTA, Wagner Cabral da. A Raposa E O Canguru: Crises Políticas E Estratégia Periférica No Maranhão (1945 / 1970). In: HISTÓRIA DO MARANHÃO: NOVOS ESTUDOS. São Luis – MA: Edufma, 2004. Pag. 265 – 293. COSTA, Wagner Cabral da. DO ―MARANHÃO NOVO‖ AO ―NOVO TEMPO‖: A TRAJETÓRIA DA OLIGARQUIA SARNEY NO MARANHÃO. Artigo para discussão no curso de formação política (CPT/CEDOC). Peritoró – MA, Março de 1997. Pag. 1 – 33. COSTA, Wagner Cabral da. SOB O SIGNO DA MORTE: O PODER OLIGÁRQUICO DE VICTORINO À SARNEY. Dissertação de Mestrado. São Luis – MA: Edufma, 2006. REIS, Flávio. GRUPOS POLITICOS E ESTRUTURA OLIGÁQUICA NO MARANHÃO. São Luis – MA (S.N), 2007. Pag. 9 – 23, 49 – 118 e 171 – 218.


FONTES Jornal ―O COMBATE‖. Ano: 1946. Jornal ―O Diário de São Luiz‖. Ano: 1945 – 1946.


“O DIREITO DE DISCORDAR”: REABERTURA POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DA PROPAGANDA SARNEÍSTA NAS ELEIÇÕES DE 1984.

DANIEL BRUNO DE JESUS FERREIRA (HISTÓRIA - UFMA) JOYCE OLIVEIRA PEREIRA (HISTÓRIA - UFMA) Resumo: A reabertura política defendida pelo governo militar devia ser gradual, lenta e segura para garantir que o país não caísse em mãos comunistas. Já a população defendia uma reabertura radical que levasse os militares para as funções de quartel e, ficassem longe da política. Como a aprovação das eleições diretas não aconteceu apesar do grande apelo popular. Para a eleição presidencial foi escalado Paulo Maluf como o sucessor dos militares, mas, o revés político acabou levando Tancredo Neves a ser eleito o novo presidente. Seu vice-presidente, José Sarney montou uma propaganda que o exaltava como intelectual experiente e agente de mudança no campo político. Palavras-chaves: Reabertura Política – Paulo Maluf –Tancredo Neves – José Sarney – Propaganda.

Só os burros não mudam de opinião Sarney citando Rui Barbosa. Introdução Engana-se quem pensa que o processo de redemocratização foi um movimento exclusivamente brasileiro, esses movimentos vinham ocorrendo em praticamente todos os países da America Latina envoltos no sombrio véu da ditadura militar em especial os países do chamado Cone Sul como Uruguai e Argentina. 258

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TEXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos. Crise da ditadura militar e o processo de abertura política no Brasil, 1974-19 In: O Brasil republicano. O tempo da ditadura: o regime militar e os movimentos sociais em fins do século XX. Org.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. p. 246.


No Brasil desde o início da década de 1970 vinha-se tentando articular a reabertura política. Em 1973 travou-se um conflito em torno da sucessão do presidente Médici: projeto de abertura versus oposição num novo momento político do país. A democratização através da derrubada dos militares culminou em fracasso como no caso das guerrilhas urbanas e das rurais e assim, a saída encontrada foi a articulação política onde o MDB enquanto oposição teve participação ativa: A luta em torno da sucessão do general Médici (1969-1974), organizada ao longo de 1973, foi sem duvida o primeiro ato de enfrentamento entre o projeto oficial de abertura e a oposição no novo contexto político do país. Supera-se no campo oposicionista, mais ou menos a esta altura, a idéia de uma democratização via a derrubada da ditadura militar, com a crise dos experimentos militarizados da guerrilha urbana e a paralisia da tentativa de uma guerrilha rural (que duraria, no Araguaia, de 1972 até 19750, ao mesmo tempo em que crescia a compreensão de que o espaço político, mesmo restrito, era, nas condições vigentes, o único caminho da mudança. Um certo desdém, e mesmo descrédito, que envolvia inicialmente o MDB, com oposição do regime, começa a ser substituído pela noção de um MDB, como oposição do regime, começa a ser substituído pela noção de um MDB autentico, com um projeto pacifico, parlamentar e democrático de transição para a democracia.259 As questões acerca da devolução da democracia brasileira geraram múltiplos debates e polêmicas sobre o tema. Surgindo assim defensores da redemocratização inclusive dentro do Exército Brasileiro como no caso do general Rodrigo Otávio Jordão que afirmava que a abertura política poderia ter ocorrido já em 1972, mas o impasse político foi agravado por conta da postura tutelar dos militares em relação ao Estado: A segunda idéia comporta uma crítica ao governo do general Garrastazu Médici, que, por razões protocolares, não é expressamente citado: ocasiões ―muito mais favoráveis (para abertura) foram perdidas no passado‖, isto é, antes de 1974, quando com a posse do general Ernesto Geisel, Gobery tornou-se superministro. Numa entrevista publicada em O Estado de São Paulo de 13-8-1980, duas semanas após conferência do general Gobery na Escola Superior de Guerra, o general Rodrigo Otávio Jordão desenvolveu a mesma idéia de maneira mais precisa e incisiva, afirmando que ―a democratização já era possível em 1972‖ e que por terem mantido uma ―posição de tutela‖ as Forças Armadas provocaram, ―sem necessidade‖, ―o agravamento do impasse político‖.260 Essa jornada de redemocratização no Brasil foi embalada por pressões exteriores, principalmente dos Estados Unidos da América na figura do então Presidente Carter e das políticas econômicas mundiais. Dessa forma Geisel e Golbery iniciam um projeto para fazer a transição para um Estado de direito. O projeto defendia que essa mudança ocorreria de forma lenta, gradual e segura, pois os militares ainda arragaidos pela onda anticomunista da Guerra Fria temiam que o país fosse comandado por simpatizantes do movimento comunista.261 259

Cf. ibid., p. 261. MORAES, João Carlos Kfouri Quatrim de. Liberalismo e Ditadura no cone sul. Campinas: UNICAMPI, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2001. p. 296. 261 ―... os militares reatualizaram, em contato com as forças americanas e sua ideologia de segurança nacional decorrente da guerra fria, e mais tarde na Escola das Américas e outros centros de 260


O projeto de abertura pensado pelos militares era limitado, pois, excluía a oposição real que lutava por uma abertura de cunho realmente democrático. Essa oposição real era um obstáculo a esses planos. A abertura que a oposição almejava era rápida e ampla. 262 A insatisfação com o regime dos militares na população já era evidente, mas, a pressão aumenta com o fim de regimes semelhantes na Grécia e Portugal na década de 1970. As lutas pela anistia, o movimento das Diretas-Já!263, a crise financeira do governo Figueiredo e a impunidade de militares que atuam nas áreas obscuras de espionagem, prisão e tortura são para a população motivos para expurgar esse modelo de governo.264 A abertura desejada pela população implicava na mudança de funções dos militares: passariam das funções governativas aos quartéis e os civis teriam de volta o exercício do poder de Estado e o abandono das atividades ‗subversivas‘. 265 Eleições para presidente: Maluf versus Tancredo Apesar de os militares alegarem estar fora do processo eleitoral de 1984, na verdade eles exerceram pressão sobre o Colégio Eleitoral. Isto demonstra ainda o poder de mando exercido pelas forças armadas dentro de um processo eleitoral que foi vendido como pleito de dois civis. 266 Maluf seria visto como a novidade quando a sua forma política diferente à que os militares exerceram durante o regime. Ele constituiria uma ‗nova direita‘. Mas, visto que ele era o candidato do consenso nacional, O Pasquim fez o povo dar-lhe as costas impedindo-o de continuar a política de abertura no momento de transição política: ―O semanário Pasquim observou na época com razão que Maluf era o candidato do consenso nacional. Uniu o país contra ela. Exatamente por isso, não constituiu a solução direta para a continuação da política de estabilização conservadora nas novas condições institucionais criadas pela abertura, mas o impasse criado pelos setores mais empedernidos da velha direita (os nostálgicos do governo Garrastazu Médici) na fase mais crucial treinamento, seus ideais de intervenção salvacionistas, agora diretamente vinculados ao clima de enfretamento Ocidente/ Oriente decorrente da guerra fria. Assim a pretensa continuidade histórica entre o caudilhismo e a ditadura militar mal encobre um certo preceito de caráter antiiberico, de tradição weberiana, ao opor um certo pendor democrático dos povos protestantes e de origem norte-européia a uma tradição ibérica do mando. Cabe ainda destacar que amplos setores do empresariado moderno, por todo o continente, viram nos militares um esteio para a estabilidade, o crescimento e a segurança de seus projetos econômicos‖. Cf. SILVA, F.C.T., op.cit., p. 248. 262 Cf. ibid., p. 263. 263 ―A proposta das Diretas-Já! Representava um rompimento radical com a abertura limitada e pactuada que o regime vinha implantando e levaria, através da eleição de um presidente pelo voto direto, com uma Constituinte, a uma ruptura constitucional extremamente desfavorável para as forças que implantara a ditadura militar no país‖. Cf. SILVA, F.C.T., op.cit., p. 273. 264 Cf. ibid., p.271-272. 265 MORAES, op.cit., p.298. ―A ‗volta aos quartéis‘ entendida como dedicação exclusiva às tarefas profissionais será em boa medida ilusória se estas tarefas continuarem a abranger a fixação das diretrizes políticas e ideológicas das ditas de ‗segurança nacional‘ que regem o destino histórico da Nação. Numa sociedade democrática, a função dos militares só pode ser a de assegurar a defesa nacional contra uma agressão externa. No plano interno, as Forças Armadas, enquanto instituição, devem ser politicamente neutras e, conforme o preceito do general De Gaulle, politicamente mudas‖. Cf. ibid., p.300. 266 Cf. ibid., p.299.


da transição liberal, quando se colocou concretamente a questão da alternância política. Donde a conclusão que soa com atenção: Maluf não foi capaz de ser o candidato da estratégia de abertura, vale dizer, não representou a continuação do processo iniciado em 1974 pelo general Ernesto Geisel e seu conselheiro Golbery, que redundou na obrigação do Ato 5 e abriu caminho para as medidas liberalizantes adotadas pelo general Figueiredo, notadamente a anistia e as eleições diretas para governador. 267 Tancredo Neves era importante na estratégia militar de abertura defendida pelos militares. Era ex-ministro da Justiça de Vargas.268Francisco Carlos Teixeira coloca que ele se tornou a linha auxiliar do projeto de abertura do governo: Tancredo Neves representava um papel-chave na estratégia de abertura gradual, lenta e segura preconizada por Geisel, Golbery e Petrônio Portella – interlocutor freqüente de Tancredo. A saída de Tancredo Neves do MDB, a grande frente de oposição, e a fundação do Partido Popular, o PP, em 1978, como interlocutor qualificado na ditadura, deram ao ex-ministro da Justiça de Getúlio Vargas a pecha de ―linha auxiliar do projeto governista‖. O PP reuniria não só a ala conservadora do ex-MDB, como ainda vários setores do PDS, ex-Arena, mal colocados no partido-base da ditadura em virtude da dificuldade e rivalidades locais, sem nada acrescentar ao ideário liberal da abertura. 269 Essa configuração dos partidos políticos só foi possível após a extinção do bipartidarismo em Novembro de 1979, assim a ARENA deu origem ao PDS e o MDB se dividiu em uma serie de outros partidos como o PMDB e o PP Tancredo Neves, este ultimo seria incorporado ao PMDB em 1981. O PDS que era o partido de direita foi presidido por José Sarney por mais de quatro anos, período compreendido de 28 de Fevereiro de 1980 a 08 de Agosto de 1984. Filiando-se ao PMDB em 13 de Agosto de 1984 foi indicado a concorrer ao cargo de vice-presidente nas eleições de 1985. “A sociedade quer mudanças”: A propaganda sarneísta Em Novembro de 1984 José Sarney lança um livreto sobre sua campanha eleitoral a vice-presidente pela Aliança Democrática. Em sua introdução ele faz uma breve descrição sobre a origem de Sarney e de sua atuação política e seu gosto por literatura e artes, tentando passando assim a imagem político atuante e culto: ―José Sarney nasceu em Pinheiro no Maranhão, em 24 de Abril de 1930. O humanismo, as letras e as artes sempre foram o seu ofício e paixão, apesar de sua brilhante carreira política‖. 270 Como projeção de sua visão intelectual, entra de corpo e alma na política. No campo da Oposição é um lutador indomável. Seus discursos, seus artigos, sua ação política correm todo o Estado. Rapidamente transforma-se no maior líder popular da historia política contemporânea do Maranhão. 267

Cf. MORAES. op.cit., p. 303. Getúlio Vargas até hoje é tido como um grande presidente. Tancredo tendo sido seu ministro retoma o aspecto popular de seu governo. 269 Cf. SILVA, op.cit., p.274. 270 ALIANÇA DEMOCRÁTICA. “O Direito de Discordar”. Brasília, Novembro de 1984 (folheto) Texto original publicado na Folha de São Paulo. 268


Sua preocupação é renovar, mudar a mentalidade de sua terra e enfrentar, com decisão, os problemas sociais271. Outro aspecto importante a ser abordado no livreto é a tentativa de demonstrar e justificar sua mudança de lado, passando de defensor da direita a representante da oposição, no texto ele expõe que esta do lado do povo e que ―Política não é ação entre amigos‖: A minha experiência, ao longo de tantos anos de vida pública, é a de quem conhece as duas margens do rio, a da oposição e a do governo. Agora o que me causa profunda estranheza é a aceitação e uso, pelos políticos que apóiam a situação devem sempre ser aquilo que o deputado Edson Vidigal chamou de ‗ as trombetas do amém‘. Assim, repetem que discordar é trair, concordar é obrigação moral. Ora, tal lei é a própria lei do amoralismo político. A política não poder ser ação entre amigos (...) Na política mais nada mais natural que discordar. E quando esta discordância não chega à raia de não aceitar uma decisão que violenta a consciência, o rompimento é a decorrência lógica desta atitude.272 Sarney segue em sua campanha exaltando sua qualidade de intelectual, membro da Academia Brasileira de Letras, e também do apoio de um grande numero de intelectuais de renome nacional como Jorge Amado, Josué Montello e Ferreira Gullar. ―Escritor que recriou apaixonadamente a vida e a realidade do povo maranhense, Governador e Senador eleito com grandes votações em eleições diretas. Sua designação (para vicepresidência) representa a consolidação da grande frente democrática que é a esperança maior do povo brasileiro‖273. Considerações finais No decorrer deste longo percurso de redemocratização vimos o quanto foi árdua essa batalha, prolongando-se por mais de vinte anos corroendo a sociedade brasileira que ansiava por liberdade. De um lado os militares temerosos por uma possível tomada de poder pelos comunistas e do outro o povo querendo escolher livremente seus representantes, e teve esse sonho frustrado pela não aprovação da Emenda Dante de Oliveira. Neste confuso cenário de indecisão quanto a eleição do primeiro representante civil após esse ciclo de militares, as disputas internas no PDS entre Maluf e Andreazza enfraqueceram ainda mais o partido de direita e fortaleceu o candidato Tancredo Neves da oposição, que obteve grande apoio popular no movimento Diretas Já. Para fortalecer a coligação política Tancredo teve que aceitar a indicação de José Sarney como candidato a seu vice-presidente. Para obter aprovação popular Sarney lançou mão de varias ferramentas para melhorar sua imagem, dentre elas o recurso da propaganda, que exaltava suas qualidades enquanto político e intelectual e estaria ele altamente preparado a assumir o cargo ao qual estava concorrendo. Se esse mesmo folheto fosse lançado hoje teria um ar meio cômico, pois em muito destoa da conduta do ex-presidente e atual senador José Sarney. 271

Cf. ibid. Cf. ibid. 273 ALIANÇA DEMOCRÁTICA. apud JOSUÉ MONTELLO. Ibid. 272


BIBLIOGRAFIA Impressos ALIANÇA DEMOCRÁTICA. “O Direito de Discordar”. Brasília, Novembro de 1984 (folheto). REVISTA VEJA. Nº 800. 04/01/1984. Livros MORAES, João Carlos Kfouri Quatrim de. Liberalismo e Ditadura no cone sul. Campinas: UNICAMPI, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2001. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Crise da ditadura militar e o processo de abertura política no Brasil, 1974-19 In: O Brasil republicano. O tempo da ditadura: o regime militar e os movimentos sociais em fins do século XX. Org.: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. Sites http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u491830.shtml acessado em 09/12/2011 as 21:00 hs.


DAS LÁPIDAS ÀS CATACUMBAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO CEMITÉRIO DE SÃO BENEDITO E AS MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NAS ATITUDES DIANTE DA MORTE E DOS MORTOS NA CIDADE DE ALCÂNTARA – MA

DANIEL RINCON CAIRES Especialista em História Museu Casa Histórica de Alcântara - MCHA Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Introdução A forma de encarar a morte e os mortos sofreu uma drástica modificação no Ocidente, a partir da segunda metade do século XVIII, num processo que se estendeu até as primeiras décadas do século XX. Muitos dos ritos, gestos e costumes que cercavam a etapa final do ciclo natural da vida foram substituídos ou desapareceram.A morte ―pública‖, no leito domiciliar cercado de familiares, vizinhos e conhecidos, anunciada com pompa pelos sinos, irmandades e músicos, os distintivos de luto e os enterramentos apudecclesiam desapareceram, dando espaço para um passamento privado, asséptico e silencioso. A concepção sobre os cemitériosse inverteu: de início locais socialmente repudiados, destinados aos desvalidos, desterrados, escravos abandonados, eles se tornaram o destino preferencial dos mortos. Instaurou-se um tabu discursivo, e o silêncio sobre a morte só é rompido através de uma linguagem eufêmica,atitudes que visam poupar os vivos do contato com a ideia do inevitável fim. Os objetivos deste artigo são modestos. Não se pretende aqui fazer uma reflexão exaustiva sobre a totalidade da produção deste vasto território da história das atitudes diante da morte. Tampouco se busca realizar um esforço explicativo generalista, que aponte as ―causas‖ dessas profundas mudanças culturais. As ―explicações‖, quando aparecem neste texto, derivam de observações de outros estudiosos, que se dedicaram ao problema em pesquisas mais amplas e prolongadas. O presente trabalho, essencialmente monográfico, destina-se a observar as atitudes diante da morte e dos


mortos e as mudanças e permanências nas sensibilidades e comportamentos a respeito deles na cidade de Alcântara – MA em alguns momentos ao longo do século XIX, especialmente entre as décadas de 1840 e 1860, com pequenas extrapolações para os períodos limítrofes. A escolha deste período específico se justifica pela percepção de que se trata de um momento de ruptura e transição, onde se delineia uma fronteira entre formas diferentes de lidar com a morte e os mortos.Tal empreendimento foi realizado à luz de uma documentação ainda pouco explorada para o local e o período (inventários e testamentos de alcantarenses, prestações de contas e outros papéis referentes às Irmandades, legislação municipal274), e agrega uma pequena pesquisa de campo nos antigos locais de enterramento de Alcântara. O desejo é que este trabalho, ainda que escasso em grandes revelações ou profundas reflexões, sirva como indicativo da manifestação regional de um fenômeno bastante estudado da sociedade ocidental, apontando as peculiaridades alcantarenses nas suas formas, marcos temporais e alcances conceituais. O Cemitério de Alcântara e os novos costumes funerários – 1842-1848 Para que se possa observar o processo de construção de um cemitério em Alcântara, episódio que marca o início da extinção dos enterramentos nas igrejas, é preciso que se tenha em perspectiva a trajetória das relações entre a sociedade e os mortos e dos homens com a morte.Por mais de dois milênios, persistiu uma tradição na forma de lidar com a morte que perpassou diversas culturas e eras: trata-se de uma relação de familiaridade e de convívio cotidiano. Philippe Ariès cunhou o termo mortedomada para se referir a esta modalidade de relação, querendo dizer com isto que a morte era ―ao mesmo tempo próxima, familiar e diminuída, insensibilizada‖, contrastando com a morte selvagem, que vige hoje, e que ―nos causa tanto medo que nem ousamos dizer-lhe o nome‖ (ARIÈS, 1981, p. 31). Da mesma forma, sobreviveu por muitos séculos uma relação de proximidade com os mortos que, como demonstra o mesmo Ariès, era também antiga, embora não tanto quanto a atitude tradicional diante da morte. Ela surgira por conta de modificações nas formas de pensar introduzidas pelo cristianismo, a partir do século V d.C., que permitiram a superação das antigas interdições e a admissão dos mortos nos espaços destinados aos vivos, abrigados, todos eles, ―por trás dos mesmos muros‖ (ARIÈS, 1981, p. 35). Neste processo foi fundamental a disseminação da crença na necessidade de dar um destino adequado aos corpos para assegurar a bem-aventurança das almas, primeiro alocando-os próximos às relíquias de santos, depois no interior das Igrejas - ad sanctos, apud ecclesiam (ARIÈS, 1981, p. 34-35). Dessa maneira, os mortos foram trazidos para dentro das Igrejas e passaram a se fazer presentes na vida cotidiana, numa proximidade tão grande que se naturalizou, beirando a indiferença. Entre o final do século XVIII e meados do século XX testemunhou-se o desvanecimento dessas formas tradicionais de lidar com a morte e com os mortos no Ocidente. Pode-se creditar esse processo à ascensão do cientificismo racionalista, de cunho secularista, que se manifestou de diversas maneiras, em diversas áreas do conhecimento humano, e influenciou os costumes, transformando-os. Uma de suas facetas resultou num novo conjunto de concepções a respeito do funcionamento dos organismos vivos, irradiada da Europa para o resto do Ocidente, que configuraria uma 274

Nas referências aos documentos, serão usadas as siglas CSOA para ―Cartório do Segundo Ofício de Alcântara‖ e APEM para ―Arquivo Público do Estado do Maranhão‖.


mentalidade rotulada ―higienista‖. Embebidos na tradição europeia, e em busca do ―homem higiênico‖, os médicos brasileiros se dedicaram a combater antigos hábitos, vistos como nocivos, e intervieram nas mais variadas atividades humanas, das formas de construir as casas à limpeza corporal, da organização das escolas aos ritos funerários, propondo ―uma verdadeira revolução cultural‖ (REIS, 2009, p. 249). Declararam guerra a entes etéreos, fluidos, invisíveis e imensuráveis: os miasmas. A crença era de que tais emanações pestilenciais causavam doenças e morte, e que se originavam de matéria orgânica em decomposição, tendo em pântanos, áreas recém-desmatadas, praias e locais de enterramento de cadáveres seus focos principais. Os ventos tinham papel importante nessa ―economia miasmática‖, podendo atuar como veículos de vapores pestilenciais ou dissipadores de ares perigosos. Embasados nessas crenças, os médicos iniciaram uma intensa e prolongada batalha pedagógica, objetivando inculcar nas mentes tais noções higiênicas (REIS, 2009, p.252). É esse o impulso cultural que explica a extinção dos enterramentos em igrejas e a circunscrição dos cadáveres ao espaço controlado dos cemitérios. É dentro deste quadro maior que deve ser observada a construção do Cemitério de São Benedito de Alcântara e a migração dos enterramentos das Igrejas para a nova necrópole. Trata-se de um momento singular, que delimita a fronteira entre duas formas distintas de pensar, e marca o abandono de tradições antiquíssimas e a introdução de novos hábitos. O fato de estar encravada no interior do Maranhão não implicou em uma introdução tardia dos enterramentos em cemitérios na cidade de Alcântara: em termos comparativos, a cidade tornou-se portadora de um cemitério no mesmo intervalo temporal que outras cidades ocidentais. O processo se deu de maneira pacífica, ao contrário do que ocorrera na Bahia, onde houve uma revolta contra a lei que determinava o enterramento em cemitérios, em 1835, conhecida como ―Cemiterada‖ (REIS, 2009, p. 13-22). Manifestações de repúdio aos novos costumes funerários ocorreram também em Portugal (REIS, 2009, p. 85-86) e no Rio de Janeiro (SILVEIRA, 2008, p. 40). A zona urbana de Alcântara é servida por único cemitério, cujo solo vem recebendo cadáveres há mais de 150 anos. Como ocorre em diversas cidades brasileiras, a criação deste cemitério se deve à ação de uma confraria leiga, a Irmandade de São Benedito de Alcântara275. É possível conhecer o processo de construção da necrópole alcantarense através da observação do desenrolar dos seus trâmites burocráticos. Tal análise aponta mudanças de rota sugestivas, opiniões coletivas sobre o contato com os mortos, e demonstra a coexistência de costumes funerários contraditórios no período de ereção do ―campo santo‖, entre 1842 e 1848. Data de 1842 a petição inicial da Irmandade de São Benedito às autoridades eclesiásticas para construção do cemitério; no documento, o procurador da confraria, Capitão João Nepomuceno da Silva, justifica seu pedido alegando que a irmandade vivia na necessidade de comprar sepulturas em outras Igrejas, o que lhes era penoso 276. Solicitavam o direito de edificar seu cemitério num terreno fronteiro à Igreja de Nossa 275

Jerônimo de Viveiros credita a construção do cemitério de São Benedito a um ato de filantropia do rico Comendador José Maria Correia de Souza, ―a quem Alcântara deve várias obras‖. Não encontramos nenhuma referência a isso nos documentos cartoriais analisados (VIVEIROS apud BOGÉA, et alii, 2008, p. 53). 276 Esse fato demonstra que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que abrigava a Irmandade de São Benedito, não era local de enterramentos. Em algumas obras, especula-se que ao lado desta igreja houvera um cemitério de escravos (BOGÉA, et alii, 2008, p. 38), mas à luz dos documentos analisados aqui, tal hipótese fica enfraquecida.


Senhora do Rosário, que abrigava a Irmandade de São Benedito. Inicialmente, pelo que se diz no documento, o intuito era que se enterrassem apenas os confrades naquele espaço. As autoridades eclesiásticas não se opuseram à obra, mas alertaram para a necessidade de obter anuência do poder público local, determinando que os irmãos submetessem seus pedidos à Câmara Municipal. (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f.3 e 3v.) Neste meio tempo, os planos sofrem uma modificação: a Irmandade decide substituir o local do novo cemitério, em vista de ter recebido do irmão José Antonio Cordial e de sua esposa, Antonia Rita da Silva a doação de terrenos mais afastados da cidade. Consta no termo de doação que a mercê é feita ao ― Senhor São Benedicto desta Cidade por elle o Procurador Geral da Irmandade do mesmo Senhor o Capitão João Nepomuceno da Silva‖(―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f.5). Note-se que a relação era direta com o santo, juridicamente reconhecido na transação, representado por alguém de carne e osso, e pela irmandade a ele consagrada. O procurador o é também do Senhor Santo, não somente da irmandade. O bem, ―um terreno de chão com seis braças de frente, e dezoito de fundo nesta cidade‖, localizado na rua da Caravela, ―indo para a Quinta que foi do finado Padre Antonio Custodio, da parte Direita fronteiro a quadra da Viuva Maria Paula Thomasia Teixeira‖, doado em 28 de abril de 1842, destinava-se expressamente à construção do cemitério que iria servir à mesma irmandade. (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f. 5-5v). Os terrenos doados, no entanto, eram ainda considerados exíguos para a construção do cemitério. O procurador da Irmandade buscou solucionar isso pleiteando à Câmara Municipal a concessão de alguns terrenos fronteiros aos que recebera em doação, considerados devolutos: mistico ao mmo terreno existe quatro Choens , q os Suppes os consideram estar de vuluto pr que seus donos a mtos annos não pagão os Competentes foros sendo estes terrenos o premeiro de Raimda preta forra q ja hé falescida o Segdo de Je Pereira, o terceiro de Ma Raimda o Quarto de Ant o Joaqm fo do ditto Je Pereira e como os dicttos foreiros não tem pago como Consta dos Livros desta Camera [...] os Suppes requerem a V.V.S.S. se sirvão concederlhe os dittos terrenos procedendo-se pa isso todas as formalides legaes‖ . (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f.6.) Os oficiais da Câmara acederam ao pedido, em sessão de 25 de abril de 1842. Em seu acórdão, eles afirmaram que concediam os terrenos devolutos ―querendo proteger a bem e augmento do Município o estabelecimento de um Cemitério nesta Cidade‖, e com a condição de que a Irmandade recolhesse à municipalidade os valores referentes aos foros em atraso devidos pelos expropriados, que importavam na quantia de 864 réis. (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f. 6v). Em seguida a esta concessão, que ampliou consideravelmente o terreno do futuro cemitério, realizaram-se os atos legais de demarcação da área, realizados pelo ―piloto‖ municipal, o português Ventura Henriques Ferreira, de quem voltaremos a falar mais adiante. Antes do início das obras, houve discussão na cidade sobre a conveniência do local a ser instalado o cemitério. É o que se apreende pela leitura de uma petição feita pelo procurador da Irmandade aos oficiais da Câmara. Nela, os irmãos solicitavam autorização para iniciar a construção: [...] querendo a mesma Irmandade dar princípio a ditta obra tem o encontro de não estarem satisfeitos varios abitantes desta Cidade por ser muito no meio della e assim vem os Suppes aprezença de V.V.S.S. para que


lhe aprovem o lugar agora pella mesma Irmandade obtido que hé na Rua que vai para a Quinta que foi do Pe Anto Custodio de Araujo cujo terreno fica aparte direita da mesma fronteiros a quadra do finado Vicente Sabino Pinheiro assima das ultimas casas que se axão em a ditta Rua e como hé lugar suficiente e mais remoto sem que cauze danno. (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f. 7). A reclamação a que se refere o procurador da Irmandade de São Benedito, atribuída a ―vários habitantes‖ da cidade, demonstra a assimilação das concepções miasmáticas entre os alcantarenses, que se ressentiam de uma proximidade vista como perigosa. Esta parece ter sido a única objeção feita ao cemitério em todo o seu processo de edificação, e não surtiu resultados que alterassem o andamento da obra: os oficiais acederam ao pedido do procurador, autorizando o início da construção, impondo apenas a condição de que o terreno do cemitério fosse cercado por um muro com no mínimo dez palmos de altura (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f. 7). Para auxílio da edificação do cemitério, a Irmandade de São Benedito foi beneficiada com a concessão do direito de promover duas loterias, de 10 contos de réis cada (Lei Provincial nº 141, 09/08/1844, APEM). Sabe-se que pelo menos uma dessas loterias foi efetivada, e que o governo provincial prorrogou por duas vezes a licença para o empreendimento (Leis Provinciais nº 209 de 29/07/1846 e nº 248 de 21/10/1848, APEM). Já em 1845 o cemitério era dado como pronto, e se requeria das autoridades eclesiásticas que se dignassem a mandar benzer o cemitério para que se iniciasse seu uso: O Juiz e Mezarios da Irmandade do Gloriozo Sam Benedito Colocada na Igreja do Rozario da Cidade de Alcantara, alcançando do antecessor de V. Exa Rma a Provisão junta, concedendo-lhes licença para Construção de um Cemeterio; e por que este ja esteja pronto, requerem a V. Exa Rma Se digne mandalo benzer pelo Vigario ou quem suas vezes fizer, daquella Freguezia‖ (―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, CSOA, f. 2) As autoridades, como se vê, eram favoráveis à construção do cemitério. Executivo e legislativo provincial proporcionaram formas de obtenção de rendas que garantiram a obra. As autoridades municipais agiram da mesma forma, emanando atos que harmonizavam com as novas atitudes diante dos mortos. Além do apoio oferecido à Irmandade na construção do cemitério, traduzido no acatamento dos diversos pleitos e na celeridade dos trâmites burocráticos, a Câmara de Alcântara tratou de criar um aparato legal que regulamentava as atividades funerárias, favorecendo o cemitério. No Código de Posturas municipais aprovado em setembro de 1848proibia-se ―[...] interrar, ou mandar interrar cadáveres nos adros das Igrejas, sob pena de pagar o infractor dez mil réis de multa, e o duplo na reincidência‖ (Lei nº 239 de 13/09/1848, APEM). Considere-se que o subsolo das Igrejas ―refletia a organização social dos vivos‖ (REIS, 2009, p. 176): o corpo dos templos era área nobre, e o adro, desprezado, local de enterramentos quase sempre gratuitos e simples de escravos e pobres. Esta determinação de 1848, portanto, ainda que não vedasse o enterramento nas igrejas, bania os desvalidos, provocando o direcionamento de seus cadáveres para o recém-inaugurado cemitério. Em 1866, novo Código de Posturas tornou ilegal o enterramento nas igrejas. No artigo 107, decretava que ―[f]ica absolutamente proibido o enterramento de cadáveres nas igrejas e capelas nesta cidade ou em outra parte que não seja no cemitério público. Pena de trinta mil réis de mulcta e quinze dias de prisão e o duplo na reincidência‖ (Lei nº 804, 21/07/1866, APEM). Note-se que a Câmara trata o cemitério como ―público‖, apesar deste estar sob a administraçãoda Irmandade de São Benedito,


entidade que auferia receitas com os enterramentos e serviços fúnebres.Desta vez, colocava-se na ilegalidade todos os enterramentos realizados fora do cemitério, banindo os mortos de qualquer condição das igrejas e capelas; veremos no segmento dedicado aos resultados da pesquisa de campo que a Lei nº 804 foi burlada dezenas de vezes. Ainda assim, ela provocou uma queda na proporção de enterramentos apud ecclesia, que acabariam por desaparecer. A lei de 1866 traz outras considerações sobre os atos funerários que traduzem um pensamento higienista. Determinava que os cadáveres fossem conduzidos ao cemitério em caixões, tumbas ou esquifes ―hermeticamente fechados‖ (Lei nº 804, 21/07/1866, Artigo 108, APEM); sobre os cadáveres dos que morressem em consequência de moléstias contagiosas, ordenava que fossem conduzidos imediatamente ao cemitério, e ali depositados até o momento do enterramento (Lei nº 804, 21/07/1866, Artigo 109, APEM). Cuidava ainda de regulamentar a profundidade das covas - que deveriam ter no mínimo sete palmos - e fixava o prazo mínimo de 3 anos para a reabertura das sepulturas (Lei nº 804, 21/07/1866, Artigos 111 e 112, APEM). Mais do que oferecer a simples narrativa dos acontecimentos, espera-se que este segmento tenha servido para demonstrar as concepções diante da morte que afloram nos documentos da contrução do Cemitério da Irmandade de São Benedito, o primeiro e único da cidade de Alcântara, num momento em que a sensibilidade diante da morte se modificava em toda parte, provocando reações variadas, violentas algumas, indiferentes outras, ouainda favoráveis. No caso alcantarense, articulam-se três instâncias -a irmandade, os poderes públicos local e provincial e a Igreja –que, apesar de terem objetivos diferentes, agem no mesmo sentido. Percebe-se que não se esboçaram reações à novidade, e que a única objeção encontrada, consubstanciada nos ―comentários‖ dos habitantes aludidos na petição reproduzida anteriormente, manifestava a expressão da mesma concepção higienista que amparava a disseminação dos cemitérios. A―voz popular‖ que se levantou não condenava o emprego dos cemitérios, mas sua proximidade com a cidade 277. Note-se que, uma vez construído, o cemitério será amplamente utilizado por pessoas várias, e não exclusivamente por irmãos, que na década de 1860 serão minoria entre os enterrados ali. Dessa forma, o cemitério da Ordem de São Benedito será assimilado pela cidade como um local de uso comum, mediante o reembolso pecuniário da Irmandade. O Cemitério será, pelo menos na década de 1860, a principal fonte de renda daquela confraria, tornando-a, nesse período, a mais rentável Irmandade da cidade de Alcântara, superando inclusive a poderosa Irmandade do Santíssimo Sacramento, local de congregação da elite econômica da cidade. De todo modo, analisar as forma de emprego do novo cemitério, os tipos e significados dos enterramentos produzidos ali, tarefa do próximo segmento deste texto, tem o poder de demonstrar permanências muito sugestivas nas estratificações sociais perante a morte, que sobreviveram a todas as modificações nos costumes funerários.

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Mais tarde, em 1870, o célebre médico e historiador maranhense César Augusto Marques se juntaria ao coro dos descontentes, condenando o local escolhido para a obra. Demonstrando ser partícipe da concepção miasmática, ele diria que o cemitério de São Benedito, colocado ―ao nascente da cidade‖, provocava ―as piores condições para a salubridade pública, porque em qualquer epidemia as exalações do cemitério, impelidas pelo vento, prejudicarão a vida ou a saúde dos habitantes da cidade‖ (MARQUES, 2008, p.97).


Os usos do cemitério: hierarquia funerária e morte como negócio Demonstraremos em seguida os modelos de enterramentos praticados no Cemitério de São Benedito, suas relações com os ritos funerários anteriores e a distribuição social dos mortos por tipo de enterramento. Tais informações foram obtidas através da análise das prestações de contas da Irmandade de São Benedito de Alcântara, datadas da década de 1860. Aparecem também dados relativos a outras irmandades da cidade, daquele período, para evidenciar a centralidade das receitas fúnebres para as confrarias alcantarenses. A Irmandade de São Benedito, que desde 1845 administrava o único cemitério da Cidade, tinha nas receitas com serviços fúnebres sua maior fonte de rendas. Uma análise das prestações de contas apresentadas em duas ocasiões na década de 1860 demonstra a natureza das receitas desta Confraria alcantarense: Tabela 1 – Receitas da Irmandade de São Benedito de Alcântara Natureza da receita Serviços funerários * Contribuições dos irmãos ** Aportes externos *** Total

04/1865 – 06/1866 (%) 653.700 réis (58,3) 382.500 réis (34) 86.290 réis (7,7) (100) 1.122.490 réis

06/1867 – 04/1868 (%) 402.600 réis (45,2%) 342.900 réis (38,5%) 145.480 réis (16,3%) (100) 890.980 réis

*Sepulturas, catacumbas, dobres e repiques de sinos, aluguel de caixão e de irmandade **Taxa de entrada, jóias dos juízes e mordomo, taxas anuais *** Donativos e importâncias apuradas no leilão Fonte: ―Prestação de Contas das Capelas Pertencentes a Irmandade do Glorioso S. Benedito‖, 1866; ―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖‖ – 1868. CSOA.

O leque de opções oferecidas mostra que a Irmandade de São Benedito se especializou na prestação de serviços funerários, disponibilizando vários tipos de ritos fúnebres, atendendo de maneira diferenciada a todas as classes sociais. Graças a ela, que respondia às demandas da própria sociedade alcantarense, os mortos não perdiam a marca de seu status após o passamento: mantinha-se rigorosamente a hierarquia do mundo dos vivos. Conforme asseverou José Luiz de Souza Maranhão, [...] o significado do fenômeno da morte não se esgota em sua dimensão natural ou biológica. Ela comporta, também, como qualquer fato da vida humana, uma dimensão social e, como tal, ela representa um acontecimento estratificado. Todos morrem – é certo -, contudo a duração da vida e as modalidades do fim são diferentes segundo as classes a que pertencem os mortos. (MARANHÃO, 1985, p. 21) Ou ainda, em outras palavras, os ritos fúnebres eram espaço para projeção de ―valores culturais, hierarquias sociais, ideologias políticas e religiosas‖ (REIS, 2009, p. 159).Os dois principais serviços funerários oferecidos pela Irmandade de São Benedito na década de 1860 eram o ―Enterro por bilhete impresso‖ e o sepultamento em ―Catacumbas‖. O primeiro era o tipo mais comum de sepultamento proporcionado por esta Irmandade no período analisado. No primeiro intervalo (abril/1865 – junho/1866), foi realizado 130 vezes; no segundo (junho/1866 – abril/1867), ocorreu 92 vezes. Precedido de cerimônias simples, culminava com o enterramento do cadáver no chão do cemitério. Era empregado, quase sempre, por escravos e pessoas pobres sem ligação com a Irmandade. Em oposição a este serviço, oferecia-se o sepultamento nas ―Catacumbas‖, modo como eram então denominadas as carneiras do Cemitério. Nesta modalidade, o cadáver era recolhido a um espaço privativo, longe de contatos


indesejados com a terra ou outros mortos de extração social mais baixa. O mecanismo que assegurava a separação entre ricos e pobres, na morte como na vida, era econômico: o sepultamento nas ―Catacumbas― custava 40 vezes mais que o ―Enterro por bilhete impresso‖. Dessa forma, no primeiro intervalo analisado, 12 sepultamentos em Catacumbas geraram para a Irmandade mais que o dobro de rendas que todos os 130 enterros por bilhete impresso. É importante que se reflita mais detidamente sobre esta divisão socioespacial fúnebre. A antiga etiqueta de delimitação social fúnebrese referia à posição do cadáver em relação ao espaço eclesiástico, onde quanto mais próximos dos altares-mores, e mais distantes dos repudiados adros, mais prestigiosos eram os defuntos. Esta noção, compartilhada pela sociedade alcantarense, foi transferida para o novo espaço de enterramentos, onde ainda se buscava manter algum mecanismo de diferenciação social:houve preocupação em permitir a continuidade de algum padrão reconhecível de estratificação social na nova necrópole. As catacumbas foram localizadas de maneira privilegiada no novo cemitério, posicionadas ao redor da Capela; ficavam ainda em nível mais alto que o resto do local, simulando a antiga relação entre mortos prestigiosos e altares-mores. Além destas modalidades de enterros, a Irmandade de São Benedito oferecia outros serviços fúnebres. Os sinos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que abrigava a Irmandade de São Benedito, geravam rendas que eram divididas entre ela e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Entre julho de 1867 e maio de 1868 soaram 22 dobres, 16 destinados a mortos livres, 3 a escravos. A morte de inocentes e recémnascidos era sinalizada com ―repiques‖, que soaram 19 vezes no mesmo período 278. (―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖ – 1868 – CSOA, f. 13v. e 16).A irmandade obtinha ainda rendas com o aluguel de caixão. Ele foi alugado 20 vezes entre junho de 1867 e maio de 1868, para uso no transporte de 17 escravos e 3 livres; todos eles tiveram seus enterros ―por bilhete impresso‖. Nenhuma criança, inocente ou recém-nascido usou o caixão, o que leva a crer que seus cadáveres eram transportados de outra maneira. (―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖ – 1868 – CSOA, f. 15v.). O padrão se repete entre 1865 e 1866, período em que o caixão foi alugado 18 vezes, 17 delas para transportar cadáveres de escravos (―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖, 1866 – CSOA, f. 33v.). A escassez de pessoas ricas e livres nesta categoria sugere que apenas os muito pobres e desligados de irmandades o empregavam, caso contrário familiares ou confrarias se encarregariam de providenciar o transporte do cadáver em esquife apropriado. O número elevado de escravos entre os que ocuparam oscaixões alugados indica ser esta a maneira mais barata e socialmente aceitável encontrada pelos senhores para lidarem com os cadáveres de seus escravos. O tal caixão, no entanto, não devia primar pela riqueza de ornamentos, e decerto fugia dos padrões de ―asseio‖ e ―decência‖ valorizados no período: foi só em março de 1868 que 278

Havia a ideia, especialmente entre os médicos, de que o som dos sinos, ao evocar sentimentos fúnebres e fazer lembrar a própria mortalidade, prejudicava a paz de espírito das pessoas, contribuindo inclusive para criar morbidades. As autoridades civis, afinadas com o discurso médico, tentaram regulamentar o toque dos sinos, criando legislações específicas que determinavam limites e interdições (REIS, 2009, p. 264-265). O código de posturas municipais de São Luís de 1866, por exemplo, proibia a qualquer igreja dobrar os sinos a defuntos, exceto na respectiva matriz e na Igreja de São Pantaleão, e mesmo nestas, determinava que fossem breves os toques (Lei nº 775, de 4/07/1866, art. 38, APEM). Os códigos de posturas alcantarenses não trataram deste tema, sugerindo que nesta cidade, para gáudio das irmandades e dos familiares dos mortos, dobres e repiques não foram cerceados.


a Irmandade providenciou a construção de uma ―meia água‖ no cemitério, ―para guardar o caixão e urnas que se achão no tempo‖ (―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖ – 1868 – CSOA, f. 16). Exposto desta forma à inclemência dos elementos, devia se assemelhar aos ―banguês‖ da Irmandade da Misericórdia de Salvador, utilizados para carregar mortos menos afortunados (REIS, 2009, p. 147). Finalmente, outro serviço funerário prestado pelos confrades de São Bendito era o ―Aluguel da Irmandade‖. Em cinco ocasiões entre Julho de 1867 e Março de 1868 a Irmandade se alugou para acompanhamento de funerais de pessoas de fora de seu círculo. (―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖ – 1868 – CSOA, f. 14v. e 15v.) O recurso a esse serviço mostra a importância da pompa nas ações rituais que cercavam o falecimento, sinalizada pela grande quantidade de pessoas presentes, da multidão organizada em torno de cerimônias, tudo em prol de uma boa morte. Ao mesmo tempo, mostra que o funeral era momento de reforçar a hierarquia, de exibir o sucesso social do morto, sua posição de destaque, coisa que podia muito bem ser atingida por meio dessa demonstração de riqueza e capacidade de mobilização de recursos279.O impulso mercantil que animava os serviços fúnebres da Irmandade de São Benedito de Alcântara, no entanto, não impediu que ela realizasse ações funerárias caritativas: entre 1865 e 1868, enterrou gratuitamente 86 pessoas pobres, 24,2% do total de enterros que realizou no período. A Tabela 2 demonstra a frequência das modalidades de sepultamentos e a distruibuição por situação do morto entre elas: Tabela 2 - Enterros realizados pela Irmandade de São Benedito por modalidade – 1865-1868 Tipo de enterro Por bilhete impresso Grátis para pobres Grátis para irmãos (*) Catacumbas Total

04/1865 - 06/1866 Escravos Livres 77 53 44 4 16 12 81 125

06/1867 - 04/1868 Escravos Livres 36 56 42 2 11 2 38 111

Total (%) 222 (62,5) 86 (24,2) 33 (9,3) 14 (4,0) 355

(*) Nesta categoria estão incluídos também os filhos de irmãos e os Irmãos de Nossa Senhora do Rosário, que também gozavam de gratuidade nos enterros. Fonte: ―Prestação de Contas das Capelas Pertencentes a Irmandade do Glorioso S. Benedito‖, 1866; ―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖‖ – 1868, CSOA.

Note-se o pequeno número de enterramentos em catacumbas no período analisado (realizado em 14 ocasiões, representando 4% do total), comparado à vultosa quantidade de enterramentos por bilhetes impressos e aqueles realizados gratuitamente (que ocorreram 341 vezes, constituindo 96% dos sepultamentos). Essa diferença numérica, aliada às observações de campo, demonstra que o recurso ao cemitério, na década de 1860, era uma solução ainda evitada pelos mais ricos, que continuaram a ser enterrados nas igrejas da cidade. Ainda que contassem com o claro mecanismo de diferenciação social fúnebre representado pelas carneiras do São Benedito, as classes abastadas, enquanto puderam, ainda recorriam a outros destinos fúnebres. 279

O aluguel da Irmandade podia ser agenciado pelos ―armadores‖, indivíduos especializados nos preparativos fúnebres de ornamentação do morto, do caixão, da casa e da Igreja onde se realizariam as exéquias. É o que se apreende em documento da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, onde se faz referência à dívida de 4.000 réis do armador Joaquim Thomaz Paes, referente ao ―Aluguel da Irmandade para acompanhamento do cadáver de Manoel Gomes da Costa‖( ―Ação de Cominação‖ 1862, CSOA, f. 8v)


As receitas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Alcântara, apresentadas nas prestações de contas pelos seus procuradores, mostram que, mesmo sem o privilégio de administrar enterramentos em cemitérios ou nas dependências de sua capela, a confraria obtinha nos ritos fúnebres parte expressiva de seus recursos. As rendas vinham de repiques e dobres de sinos, do aluguel de esquife e do ―aluguel da Irmandade‖ para acompanhamento de procissões fúnebres. No primeiro período analisado (fevereiro/1861 – setembro/1862), foram soados 7 dobres à razão de 3.200 réis cada e 1 repique, para ―hum anjo‖, pelo valor de 1.000 réis; o esquife fora alugado 5 vezes, à razão de 1.000 réis cada vez, sempre para o enterro de escravos, e a irmandade fora alugada para o acompanhamento de 14 féretros, serviço que era remunerado à razão de 4.000 réis por ocasião. Ainda que os recursos obtidos com serviços fúnebres fossem importantes, a Irmandade do Rosário sobrevivia principalmente das esmolas e legados deixados por fiéis da Santa, sua fonte principal de rendas. Nas palavras de seu procurador José Felippe Basson, em 1869, ―he ella sustentada e protegida pelos fiéis devotos e Irmãos da Irmandade‖ (―Prestação de Contas das Capelas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário‖, 1869. CSOA, f. 16v.). As contribuições dos Irmãos vinham na forma de ―anuais‖, taxas de entrada e jóias por ocasião da Festa. Os irmãos e fiéis contribuíam depositando valores na ―bolsa‖, oferecendo doações por ocasião dos cortejos esmoleres e por meio de legados em testamentos. Outra ocasião de proporcionar recursos para a Irmandade aparecia nos leilões que ocorriam durante as festividades. A análise das finanças da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário revela, ainda, que ela era a mais modesta entre as três Irmandades analisadas, contando com um volume total de recursos bastante inferior ao de outras duas, do Santíssimo Sacramento e a de São Benedito. A Tabela 3 mostra o tipo e a proporção das receitas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Alcântara em dois momentos da década de 1860: Tabela 3 - Receitas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Alcântara Natureza da receita 02/1861 - 01/1863 (%) 03/1868 – 01/1869 (%) Aportes de fiéis 143.750 réis (62,6) 55.100 réis (31,5) Serviços funerários 84.400 réis (36,7) 36.800 réis (21) Aportes de irmãos 1.500 réis (0,7) 83.400 réis (47,5) Total 229.650 réis (100) 175.300 réis (100) (Fontes: ―Ação de Cominação‖ 1862; ―Prestação de Contas das Capelas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário‖, 1869, CSOA)

A Irmandade do Santíssimo Sacramento de Alcântara era exceção nesse esquema de ―enriquecimento funerário‖. Composta pelas pessoas mais ricas da cidade, a ―nobreza local‖, ela tinha como fonte principal de seus recursos as doações dos irmãos, e não auferia lucros de atividades funerárias. A prestação de contas do ano de 1867 mostra o seguinte quadro Tabela 4. Receitas – Irmandade do Santíssimo Sacramento/Alcântara – 1867 Natureza da receita Proventos internos * Proventos externos ** Juros de empréstimos Total

Valor e porcentagem do total 624.240 réis (77,3%) 106.140 réis (13,9%) 80.000 réis (9,8%) 810.380 réis

* Jóias, anuais, taxas de entrada de irmãos **Esmolas, donativos, leilões (Fonte: ―Prestação de Contas do Procurador Antônio Manoel dos Reis da Irmandade do Santíssimo Sacramento‖, 1867, CSOA)


Note-se que, dos 624.240 réis oriundos das contribuições dos irmãos, 400 mil eram resultado de doações dos dois ―juízes festeiros‖, membros mais proeminentes daquela mesa, de quem se esperava jóias capazes de financiar as atividades da Irmandade. Note-se ainda a atividade creditícia da Irmandade que, funcionando como extensão da vida da elite local, não se furtava de apagar as fronteiras entre negócios e religião. Esperava-se um alto padrão de contribuição dos irmãos, algo que já aparecia no momento da admissão: para ser membro, além de passar pelo crivo rigoroso da mesa diretora, o candidato precisaria contribuir com uma taxa que era 4 vezes mais alta que aquela cobrada pela admissão na Irmandade de São Benedito. A boa morte Documentos alcantarenses permitem vislumbrar formas tradicionais de morrer, que vigoraram antes que a ascensão de novas sensibilidades tornasse a morte um ente selvagem. João José Reis chamou de ―barroca‖ essa forma de morrer, ―marcada por uma extraordinária mobilização ritual‖ (REIS, 2009, p. 91). Gestos, ritos e palavras, sons, aromas e imagens eram arregimentados para proporcionar a estrutura mortuária ideal. Preocupações espirituais se mesclavam com vaidades mundanas, e procurava-se aliar o bom encaminhamento da alma com a promoção do nome do morto e de sua família. Geralmente, como apontou Reis, ocorria um ―conflito de vontades‖, onde as preocupações do moribundo, expressas em seus testamentos, se concentravam na salvação da alma, enquanto que os familiares procuravam afirmar a riqueza do clã no momento das exéquias dos seus (REIS, 2009, p. 158).Observaremos a seguir alguns casos selecionados entre os documentos disponíveis para a cidade de Alcântara, relativos ao período analisado, buscando detectar costumes funerários tradicionais, surpreendendo a ―morte barroca‖ ainda em pleno funcionamento. Falecida em 14 de maio de 1838, Francisca Xavier de Jesus Viveiros era matriarca de uma das famílias mais ricas e tradicionais da cidade de Alcântara. Avó de Francisco Mariano Viveiros Sobrinho e de Mariana Francisca de Viveiros, futuros Barão e Baronesa de São Bento, ela registrou seu testamento em 1835, anotando rigorosamente as práticas fúnebres que desejava serem efetuadas por ocasião de sua morte. Declarouse ―Irmã professa nas duas ordens terceiras, do Carmo e de São Francisco, assim como de todas as confrarias desta Vila‖ ((―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1838, CSOA, f.2). Reis afirmou que, na hierarquia das irmandades no século XIX, as ordens terceiras, ligadas institucionalmente às ordens religiosas conventuais, eram mais prestigiosas (REIS, 2009, p. 49). Talvez tenha sido para demonstrar a posição de destaque dessas confrarias entre as outras comuns que ela tenha decidido nomeá-las explicitamente em seu testamento, o que, reciprocamente, ressaltou a própria condição nobre da testadora. Determinou que seu corpo fosse envolto com o hábito de Nossa Senhora do Carmo e Sepultado na Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos, que ficava num altar lateral da Igreja de Nossa Senhora do Carmo (―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1838, CSOA, f. 2 – 2v). Quanto aos sufrágios, declarou o seguinte: Meus testamenteiros mandarão também dizer três capelas 280de missas por minha alma, e sete capelas pelas almas do Purgatório.

280

―Uma capela‖ equivalia a 50 missas.


Quero que meus testamenteiros no terceiro dia depois do meu falecimento deem de esmolas aos pobres a quantia de duzentos mil réis, em fazendas ou dinheiro conforme a vontade do mesmo testamenteiro, e não será obrigado para a residência mostrar recibos dos que aceitarem pois confio dele. (―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1838, CSOA, f. 2v) Fez ainda mercê à capela onde seria enterrada, deixando cem mil réis para ―retificação‖ da mesma. Da mesma forma, deixou para a Irmandade do Santíssimo Sacramento ―a quantia de cem mil réis que meus Testamenteiros entregarão em cera ou em alguma Alfaia da igreja Pertencente à mesma irmandade‖ (―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1838, CSOA, f. 2v). Seu filho e testamenteiro Jerônimo José de Viveiros decidiu realizar um enterro completo, com toda a pompa e luxo possíveis. Francisca teve a sorte de poder morrer uma boa morte: registrou suas últimas vontades em testamento, recebeu todos os sacramentos no leito de morte e foi velada e enterrada com muita música, muitas libras de cera em velas e uma profusão de padres; da mesma forma, nas semanas seguintes à sua morte, copiosa quantidade de ofícios e missas foram sufragados em benefício de uma boa recepção de sua alma no pós vida. Seu funeral consumiu nada menos que 757.400 réis, valor equivalente ao de dois escravos em plena idade produtiva. A quantia foi repassada a Manoel Antônio dos Santos Júnior, um armador, que se encarregou de distribui-la entre músicos (rabecista, clarinetista e fagotista, à razão de 32 mil réis cada), para a compra de cera para velas (consumiu-se a impressionante quantia de 41,6 kg de cera, para ―altares, múzica e convidados‖, que resultou num gasto de 92 mil réis) e para a armação da essa e da igreja, atividade que consumiu a parte do leão: 500.000 réis. Esse recibo evoca a imagem de um rito funerário que se preocupou em impressionar os sentidos dos vivos: luzes, sons e ornamentos em profusão, abrindo os caminhos para a alma da falecida, ao mesmo tempo em que marcavam o status dos familiares que ficavam. Algumas semanas depois, ofereceram-se novos tratos à alma da falecida Francisca: em 12 de junho de 1838 o padre Raimundo da Conceição Lemos realizou um ofício solene no Convento do Carmo, que novamente contou com música, ao custo de 162.000 réis; em 22 de maio fez-se um ofício Paroquial na Igreja Matriz e, no Convento das Mercês, rezaram-se 50 missas a 500 réis cada pela alma da falecida. No total, gastou-se 964.400 réis com os ritos fúnebres de Francisca Xavier de Jesus Viveiros. Ela foi sepultada no local que determinou, na parte mais alta do piso da capela do Senhor Bom Jesus dos Passos. Seu jazigo proeminente é um prolongamento na morte da posição que ela sustentou em vida. As exéquias de Francisca Viveiros representam o tipo pomposo e opulento da―boa morte‖. A profusão de elementos é central: exagero no número de sacerdotes, de estímulos sensoriais - luzes e sons -, no número de pessoas acompanhando os rituais, de ofícios religiosos em sufrágio da alma da pessoa falecida e de seus próximos. A abundância é característica central desta modalidade de ritos funerários. Outra maneira de morrer, visando a bem-aventurança da alma por caminho inverso, é aquela marcada pela simplicidade. O testador, ao determinar os destinos de seus bens, de seu corpo e de sua alma, escolhe a via da humildade e da caridade, procurando fazer destacar-se pela exiguidade de elementos seu funeral. Um exemplo alcantarense desse formato de ritual pode ser apontado no caso do comerciante e ―piloto‖ português Ventura Henriques Ferreira, falecido em 1852. Radicado em


Alcântara havia mais de 20 anos, registrou seu testamento em 31 de maio de 1849. No documento, ele rogou à Virgem Nossa Senhora que fosse sua advogada, ―a quem peço me alcance o perdão das minhas culpas para que vá gozar da Bem aventurança‖ (―Testamento do falecido Ventura Henriques Ferreira‖, 1852, CSOA, f.4). O uso dessa terminologia jurídica traduz a ideia que o testador – e por conseguinte, muitas pessoas de seu tempo – fazia do julgamento da alma. Vovelle demonstrou que, com a emergência de novas estruturas na sociedade a partir do XVI, a imagem de um julgamento coletivo esmaeceu do imaginário coletivo ocidental, sendo substituída pela do julgamento individual. Nesta nova economia da salvação, ações e sufrágios de santos, anjos e dos vivos tinham capacidade de intervir e influir nos destinos da alma. (VOVELLE, 2010, p. 28). Nesta nova configuração, a alma era a ré, Deus era o juiz, santos e anjos eram advogados de defesa, e o demônio acusador (REIS, 2009, p. 221). O local de sepultamento escolhido por Ventura é sugestivo: ele desejava ser enterrado no cemitério de São Benedito da cidade de Alcântara. Estudiosos dos costumes fúnebres brasileiros são unânimes em apontar a ojeriza social que os cemitérios provocavam no início do século XIX. O Campo da Pólvora, em Salvador, por exemplo, era um local mais de depósito de resíduos indesejados e perigosos (no caso, os cadáveres de escravos abandonados por seus senhores), que um cemitério propriamente dito. Ser despejado ali era sinal de grande infortúnio, algo que se tentava evitar a qualquer custo. (REIS, 2009, p. 196). O mesmo ocorria na capital do Maranhão, onde o primeiro cemitério, construído em 1805, era relegado, nas palavras de João Francisco Lisboa, ―à gente mais humilde e desamparada da fortuna, os escravos a quem os senhores e parceiros não queriam e não podiam dar mais honrada sepultura‖; era reservado ainda ―para os pagãos ou pretos novos, que os traficantes da Costa d‘África nos traziam, então cada ano aos milhares, e que aos milhares também escapam à escravidão pela morte‖ (LISBOA,1991, p. 329). Além de decidir-se pelo enterramento no cemitério, Ventura rogou por um acompanhamento simples: Quero ser sepultado no cemitério do Senhor São Benedito desta cidade, conduzido no Esquife da irmandade de Nossa Senhora do Rosário por quatro irmãos pretos escravos a quem se dará a cada um a quantia de seiscentos réis, e do esquife a quantia de oito mil réis, acompanhado unicamente pelo vigário e sacristão, amortalhado em lençol de pano branco, e muito peço ao meu testamenteiro seja fiel em dar cumprimento exato desta verba. (―Testamento do falecido Ventura Henriques Ferreira‖, 1852, CSOA, f. 4v.) Comerciante rico, gozando de boa situação social e detentor de cabedal considerável de bens, Ventura abdicou espontaneamente do enterro pomposo que certamente poderia proporcionar para si mesmo. Escolheu ser conduzido no esquife de uma irmandade de negros, carregado por escravos. Suas decisões explicitam outra interpretação do conceito de boa morte, aquela que prezava a caridade e a simplicidade, que encontrava nas preces das pessoas pobres maior relevância espiritual, e que demonstrava desapego das pompas mundanas. Outro ponto interessante a se ressaltar em seu testamento se refere a uma antiga dívida que ele adquirira inadvertidamente, conforme narrou naquele documento: Declaro que a quinze anos mais ou menos veio a minha loja um cafuz de quinze a dezesseis anos de idade querendo comprar de meu caixeiro dois contos de chita para saia dando-lhe uma moeda de ouro de valor de seis mil e quatrocentos réis, exigia seis centos e quarenta réis de resto, fui chamado pelo


caixeiro que me perguntou quanto valia aquela moeda, e me referia à que acima fica dito, fiz modos de sair para fora do balcão, indagando quem era, disse-me ser escravo do Capitão Luis Antonio de Araujo Cerveira, e quando o quis segurar para o mandar com a moeda daquele senhor, o dito cafuz evadiu-se deixando o dinheiro que mandei pelo dito caixeiro àquele Capitão Cerveira, o qual respondeu negativamente, e fazendo eu este fato público nesta cidade não apareceu [...] indivíduo algum habilitado para lhe restituir, e conservou-se em meu poder até pouco tempo que dispus dessa moeda para fora deste Império, por isso meu testamenteiro tirará de minha fazenda a quantia de trinta e seis mil réis moeda corrente e mandará dizer com esta quantia sessenta missas em tenção de quem possa ser seu proprietário.‖ (―Testamento do falecido Ventura Henriques Ferreira‖, 1852, CSOA, f. 5v-6) Esse curioso registro patenteia a crença corrente naquele tempo de que ao morto que deixasse dívidas atrás de si seria negado o acesso ao reino dos céus. Por este motivo, é comum ver anotadas escrupulosamente nos testamentos as dívidas do testador, com instruções expressas para seu pagamento.De todo modo, os casos descritos acima exemplificam algumas das modalidades ideais de morte, modelos capazes de facilitar a tão desejada ascensão das almas. No segmento seguinte, veremos as maneiras pelas quais a boa morte se materializava, através da análise dos vestígios físicos deixados nos antigos locais de sepultamento de Alcântara. Locais de enterramento de Alcântara – Pesquisa de Campo Objetivando observar as manifestações materiais dos costumes funerários do passado alcantarense, foi realizada uma pesquisa de campo nos dois antigos locais de enterramento da cidade que resistiram à ruína, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara e o Cemitério de São Benedito. Aquela recebeu cadáveres até pelo menos a década de 1920; este, ainda se encontra em atividade, sendo até hoje o único local de enterramento da zona urbana de Alcântara. Os locais foram visitados em diversas ocasiões, e no dia 20/11/2011 procedeu-se o registro fotográfico das lápides e de outros vestígios fúnebres antigos localizados naqueles espaços. Diante do material encontrado, decidiu-se por uma tripla abordagem, considerando as inscrições encontradas nos monumentos, seus aspectos estilísticos e sua localização no interior dos espaços de enterramentos. É importante notar que os dois locais analisados na pesquisa de campo não eram os únicos espaços fúnebres da cidade de Alcântara. Testamentos do século XVIII, por exemplo, trazem determinações para enterramentos também na Igreja Matriz e na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, que desmoronaram no final do século XIX (MOTA, et alii, 2001, respectivamente páginas 98 e 259). A igreja das Mercês recebeu sepultamentos até pelo menos a década de 1860, conforme se vê em testamento daquele período (―Inventário e Partilhas Amigáveis de José Luis Gomes dos Santos‖, 1860, CSOA, f. 6v.). Havia ainda aqueles que determinavam o enterramento num local específico dentro das igrejas, junto a altares dedicados a santos patronos de irmandades. Era recorrente, por exemplo, que se escolhessea capela de Bom Jesus dos Santos Passos, localizada num altar lateral da Igreja do Carmo, como destino dos restos mortais. É o que fizeram o capitão Francisco José Mendes, em 1799 (MOTA, et alii, 2001, p. 300), e Francisca Xavier de Jesus Viveiros, em 1835 (―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1835, CSOA, f. 21). De todo modo, os únicos dois lugares que ainda permanecem


relativamente intactos são a Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara e o Cemitério de São Benedito, motivo pelo qual foram selecionados para este estudo. Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara Edificada no século XVI, a Igreja do Carmo era parte de um conjunto arquitetônico maior, conjugada a um convento e a outras estruturas que abrigavam a sede da ordem dos Carmelitas na cidade de Alcântara. Os negócios dos carmelitanos entraram em declínio no século XIX, o que implicou no arruinamento das estruturas arquitetônicas que lhes pertenciam. Em 1891 seus edifícios em Alcântara foram confiscados pelo poder público, e o convento foi demolido. A Igreja resistiu, e se tornou matriz da cidade de Alcântara, posto que ocupa até os dias correntes (BOGÉA, et alii, 2008, p. 29-30). Durante a pesquisa de campo, foram localizadas 54 lápides e um ossuário no interior da Igreja do Carmo, e um monumento funerário tumular em seu adro lateral. Por conta das frequentes intervenções que o edifício sofreu ao longo do tempo, tornou-se impossível realizar afirmações sobre a localização das lápides no seu interior, visto que elas foram deslocadas durante as restaurações. Na grande restauração realizada em 1986, sob a responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o piso original da nave, em campas (―pequenos retângulos independentes entre si‖ que permitiam o enterramento de pessoas), foi removido em função de problemas técnicos. Apenas as campas da Capela-mor e da Capela do Senhor dos Passos foram restauradas, mas ainda assim apenas ―aproximadamente de acordo com os originais‖ (BOGÉA, et alii, 2008, p. 32). Dessa forma, o que se pode observar hoje é apenas parte do cenário original, e ainda assim, em alguma medida modificado. A análise ressente-se das considerações que poderiam advir da observação da distribuição interna das lápides, que denotariam a economia espacial interna daquele local de sepultamentos. Ainda assim, foi possível realizar uma análise do teor das lápides que restaram. Quanto ao período dos enterramentos, foram encontradas lápides datando do intervalo que vai de 1828 a 1929; os 40 anos que cobrem as décadas de 1840 a 1870 concentram 42 dos 67 enterramentos localizados ali. Pelo menos 30 sepultamentos foram realizados após a promulgação da lei municipal que proibia enterramentos em igrejas, em 1866, o que demonstra que a Igreja continuou a ser procurada como local de sepultamento das pessoas ricas da cidade, mesmo contrariando a lei. A leitura das inscrições lapidares forneceu valiosas informações a respeito dos costumes sociais do período analisado. Além do nome da pessoa enterrada, frequentam as lápides os nomes daqueles que cuidaram do destino dos restos mortais do falecido. Viúvos e viúvas, filhos, sobrinhos e netos fazem-se presentes nos monumentos que – numa demonstração de poder senhorial -mandam erigir, protestando agir sempre por motivos afetivos como saudade, respeito, amizade, gratidão, estima etc.. O costume pode traduzir gratidão por deixas em testamentos e indica ainda o desejo de projeção pessoal e de reconhecimento social da relação próxima com o morto, além de se configurar num atestado de sentimentos cristãos e de acatamento das normas consuetudinárias sobre as relações familiares ideais. Faz-se referência com frequência às qualificações do morto. Aparecem patentes militares (capitães, tenentes-coronéis, alferes), ocupações civis (desembargador, negociante) e eclesiásticas (padre), títulos honoríficos (comendador, barão) e títulos acadêmicos (doutor em medicina). Às senhoras, distingue-se com o sinal de ―Dona‖. Procura-se também ressaltar a condição


de filho legítimo, quase sempre acompanhada dos nomes e qualificações dos pais. Além do dia, mês e ano do falecimento, aparecem outras datas consideradas importantes, como do nascimento e do casamento. Um exemplo desses costumes pode-se ver na transcrição abaixo: Nesta louza repouzão os restos mortaes das senhoras D. Francisca Eugenia Ferreira, e D. Mariãna Benedicta Ferreira, filhas legítimas do Capitão Manoel Ferreira dos Santos: aquella fallecida a 17 de fevereiro de 1849, com 62 annos de idade, e esta a 15 de Septembro de 1854, com 66 annos. Ambas morrerão donzelas; e pelas suas muitas virtudes forão dignas de subida estima. Seus sobrinhos José Antônio Ferreira de Lima e D. Maria Joaquina Trindade e Lima em testemunho do muito amor que sempre lhes tributarão, lhes dedicão esta lapida, e por prova de seus respeitos e eternas saudades. Oh pio leitor! Hum P.N. pelo repouso de suas almas. A súplica por orações pelas almas das falecidas, que encerra o registro acima, aparece muito pouco nas lápides da Igreja de Nossa Senhora do Carmo: em apenas três ocasiões. A baixa frequência deste tipo de pedido não deve impedirque se façam considerações sobre uma faceta importante da mentalidade do período. A crença na existência do purgatório alimentava uma verdadeira obsessão com os ritos, gestos e atos fúnebres, já que agir da maneira correta era garantia de redução de tempo no purgatório; orações votivas tinham o mesmo poder. Parte recorrente nos inventários do período era aquela que se dedicava a organizar a forma de distribuição das esmolas pela própria alma, e pelas almas de parentes, conhecidos e escravos. De todo modo, a observação sistemática das lápides que restam na Igreja de Nossa Senhora do Carmo leva a crer que naquelas últimas décadas do século XIX valorizava-se primordialmente os aspectos sociais dos enterramentos, a projeção social do morto e de sua família, a visibilidade de seus nomes, títulos e realizações, suplantando as preocupações espirituais. Na morte, as aristocráticas famílias alcantarenses se reafirmavam no espaço social, marcando sua posição e lembrando constantemente de sua presença e prestígio. Algo que iria se perpetuar no momento de transição dos enterramentos para o cemitério. A parte as inscrições encontradas nas lápides da Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara, igual valor historiográfico pode ser creditado aos seus aspectos pictográficos e estilísticos. À falta de conhecimentos mais sólidos no campo da história da arte e dos movimentos estéticos, este trabalho se apoiou nas considerações feitas pela arqueóloga Tânia Andrade Lima, num artigo em que ela analisa os aspectos materiais de cemitérios cariocas, concentrando-se no período que vai de 1850 a 1930 (LIMA, 1994, passim). Esta decisão se justifica pela detecção de padrões estéticos correlatos e semelhantes entre aqueles apresentados na obra da arqueóloga, especialmente aos que se referem ao que ela chama de ―padrão inaugural‖, que vai de 1850 a 1888, e os que se puderam verificar na pesquisa de campo nos locais de enterramento alcantarenses. Ainda que este não seja o padrão dominante, constatou-se a presença de símbolos escatológicos nos monumentos funerários alcantarenses: caveiras e ossos cruzados, ampulhetas dotadas com asas de morcegos, foices, fachos virados para baixo (Imagem 1). De acordo com Lima, tais elementos são típicos do classicismo romântico, estilo que conjugava influências clássicas (em um momento em que uma febre de escavações arqueológicas expunha ao século XIX os cânones estéticos das culturas antigas) e góticas. No classicismo romântico, a morte era representada de maneira ―escatológica, mórbida, macabra‖, (LIMA, 1994, p. 103). Esse estilo, ainda de acordo com a arqueóloga, tinha bastante aceitação entre a burguesia da Europa, mas foi perdendo


espaço durante o século XIX, a ponto de se tornar algo visto como ―provinciano‖ na segunda metade dos oitocentos. A adoção de tal padrão estético pela aristocracia rural carioca e fluminense, para Lima, representa uma busca por se aproximar da prestigiosa camada burguesa do Velho Mundo e, no plano simbólico, encontrava sintonia com a sociedade escravista, [n]essa sociedade em que poder e lucro foram obtidos através da violência e opressão explícitas, num regime de tirania e perversão, a morte foi escancarada nos espaços funerários, exibida aberta e frontalmente, sem sutilezas. Essencialmente escatológica, essa sociedade exerceu sem escrúpulos seus aspectos mais sombrios. (LIMA, 1994, p. 113-114) Talvez estas explicações da arqueóloga possam ser estendidas ao caso alcantarense, uma vez que se nota que os monumentos funerários encontrados ali se referem majoritariamente a membros da elite escravista da cidade. Não devemos, porém, deixar de creditar a adoção dos padrões do classicismo romântico a um forte impulso de seguir as modas da Europa, num momento em que o intercâmbio cultural dos filhos ricos da terra com o Velho Mundo era nada desprezível. Um dos enterrados ali, inclusive, faleceu em Paris, logo depois de concluir seus estudos em Medicina na Bahia, como aponta sua lápide, postada onde jaz Leandro Carlos de Sá filho legítimo do Te Cel Manoel Gonçalves de Sá e D. Rosa Joaquina Ribeiro de Sá. Nasceu em Alcântara a 5 de Março de 1831 e falleceu em Pariz a 21 de Maio de 1860. Tomou o grau de Dr. em Medicina pela Faculdade da Bahia em 18 de Dezembro de 1858. Em outro caso, o registro do nome e do endereço do fabricante da lápide, em Lisboa, comprova o fluxo de material funerário, e dessa forma, do estilo em voga ali, para o Brasil. Entre os 56 monumentos funerários encontrados na Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara, repete-se com maior frequência um padrão bastante singelo, que não conseguimos identificar a nenhum cânone estético. Trata-se de lápides em pedra clara emolduradas por um friso composto de elementos fitomorfos (Imagem 2). Este tipo se repete 20 vezes, constituindo-se no padrão dominante daquele templo. Tais objetos, marcados pela predominânciado baixo relevo, parecem ter sido produzidos com vistas a uma dupla função, de lápides e de piso, harmonizando-se com as necessidades funcionais do templo. Sua bidimensionalidade atesta que foram feitos para serem dispostos na posição horizontal, ao contrário das lápides inspiradaspelo classicismo romântico, cujas saliências impedem que se prestem a este fim, devendo ser alocadas exclusivamente nas paredes. Cemitério de São Benedito Em função de ter permanecido em atividade desde sua fundação até os dias que correm, o Cemitério de São Benedito tornou-se local de convivência entre estilos funerários muito diferentes: monumentos suntuosos datados da segunda metade do século XIX avizinham-se de lápides singelas erigidas no século XXI; o mármore nobre e antigo talhado por mãos de hábeis mestres artesãos convive com revestimentos cerâmicos produzidos quase que exclusivamente por máquinas no regime massificado das grandes indústrias modernas. A heterodoxia dos tipos de objetos encontrados naquele espaço demanda critério e cuidados num trabalho como este, em que se busca


observar as concepções funerárias do momento de transição entre formas distintas de se lidar com os mortos. A rotatividade dos espaços, que torna necessária a sobreposição para acomodar a demanda, certamente cobrou seu preço, apagando muitas construções antigas, fazendoas desaparecer. Poucos foram os monumentos antigos que sobreviveram às necessidades práticas. Os que restaram parecem pertencer a duas categorias: aqueles que, por sua suntuosidade e nobreza inspiraram a conservação, e aqueles que pertencem a famílias cujos descendentes ainda se fazem presentes na cidade, garantindo a permanência de seus locais funerários. Dos segundos, ressaltamos os jazigos das famílias Guimarães e Lobato. Entre aqueles enquadrados na primeira categoria, detectamos a presença de momumentos ligados a membros da elite alcantarense do século XIX, como os Franco de Sá, o Barão de Mearim e a família Viveiros. Desta última, ressalta o momumento funerário dedicado a D. Maria Rosa de Viveiros, cujas inscrições advertem que Aqui jaz D. Maria Rosa de Viveiros Corrêa filha do Commendador José Maria Corrêa de Souza e de D. Francisca Izabel de Viveiros Corrêa. Nasceo aos 21 de Fevereiro de 1826 e falleceo aos 7 do mesmo mez de 1852. Foi filha virtuosa, o que a tornou digna da geral estima e dos disvellos de seus pais que inconsoláveis lhe mandarão erigir este monumento como padrão de sua eterna saudade. O imponente túmulo da moça, talhado em elegante pedra branca, exibe elementos que o identificam ao classicismo romântico, ressaltando a ampulheta com asas de morcego e os fachos virados para baixo (Imagem 3). Numa das suas faces, exibe uma mensagem dos pais saudosos à alma da filha: ―Ó tú que existes lá na eternidade, no centro da ventura a mais perfeita. Se te he possível, feliz alma acceita provas d‘amor effeitos da saudade.‖ A morte não respeitava o que hoje se considera a ―ordem natural‖, levando frequentemente os filhos antes dos pais. Reforcemos aqui o que já foi dito alhures sobre a estratificação social nos espaços do cemitério de São Benedito. No momento de sua implantação, tomou-se o cuidado de criar um desenho que repetisse a economia espacial das igrejas, delimitando-se locais mais nobres, separando-os das áreas reservadas aos comuns. A proporção de espaço ocupada por estes setores simula a distribuição da riqueza na sociedade: o espaço privilegiado do cemitério de São Benedito, que servia a uma elite minúscula contrapondo-se à massa desvalida, é exíguo. Apesar de bem localizado, postado no entorno da capela, e em nível mais alto em relação ao resto do cemitério, tinha pequenas proporções; a maior parte do terreno do cemitério, ao rés do chão, era reservada para as pessoas pobres. É no espaço elevado que ficam as carneiras do cemitério, onde, como vimos pelos documentos de prestações de contas da Irmandade de São Benedito, eram enterradas as pessoas gradas da cidade, mediante altas tarifas. Esta é, afinal, a marca física mais nítida da estratificação social dos mortos no antigo sistema de enterramentos, que não foi apagada pela transferência dos cadáveres para o cemitério: a criação de espaços privilegiados à guisa de altares-mores, numa clara simulação no novo cemitério das formas tradicionais de segregar na hora da morte.


ANEXOS

Imagem 1: A morte sem disfarces, numa lápide encimada por caveira e ossos cruzados, típicos do classicismo romântico, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara.

Imagem 2: Exemplo de lápide do padrão dominante daIgreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara, em pedra clara, com moldura em elementos fitomorfos.


Imagem 3: Detalhe do túmulo de D. Maria Rosa de Viveiros, c. 1852; decorado com papoulas e ampulheta com asas de morcego, no Cemitério de São Benedito de Alcântara

Documentos cartoriais ―Ação de Cominação‖ 1862. Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Autos cíveis de residência e de instrumento de soma de Francisca Xavier de Jesus Viveiros‖, 1838, Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Construção do Cemitério de São Benedito‖, 1842, Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Inventário e Partilhas Amigáveis de José Luis Gomes dos Santos‖, 1860. Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Pedido de prestação de contas ao Procurador Ezechiel Francisco Barbosa da Irmandade de São Benedito‖, 1868. Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Prestação de Contas das Capelas da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário‖, 1869, Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Prestação de Contas das Capelas Pertencentes a Irmandade do Glorioso S. Benedito‖, 1866. Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. ―Prestação de Contas do Procurador Antônio Manoel dos Reis da Irmandade do Santíssimo Sacramento‖, 1867, Cartório do Segundo Ofício de Alcântara.


―Testamento do falecido Ventura Henriques Ferreira‖, 1852, Cartório do Segundo Ofício de Alcântara. Leis Provinciais Lei Provincial nº 239 de 13/09/1848, Arquivo Público do Estado do Maranhão. Lei Provincial nº 775 de 04/07/1866,Arquivo Público do Estado do Maranhão. Lei Provincial nº 804 de 21/07/1866,Arquivo Público do Estado do Maranhão. Bibliografia ARIÈS, Philippe. O Homem Diante da Morte – Vol. I. Tradução de Luiza Ribeiro. Rio de Janeiro: F. Alves Editora, 1981. BOGÉA, Kátia Santos;RIBEIRO, Emanuela Sousa; BRITO, Stella Regina Soares de.Arquitetura e Arte Religiosa no Maranhão.São Luís: 3ª Superintendência Regional/IPHAN, 2008. LIMA, Tânia Andrade. De morcegos e caveiras a cruzes e livros: a representação da morte nos cemitérios cariocas do século XIX (estudo de identidade e mobilidade sociais). São Paulo: Anais do Museu Paulista Nova Série, v. 2, 1994. pp. 87-150. LISBOA, João Francisco. Obras de João Francisco Lisboa – Vol. IV. São Luís: ALUMAR, 1991. MARANHÃO, José Luiz de Souza. O que é morte. São Paulo: Brasiliense, 1985 MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. São Luís: Edições AML, 2008. MOTA, Antônia da Silva; SILVA, Kelcilene Rose; MANTOVANI, José Dervil. Cripto Maranhenses e seu Legado. São Paulo: Siciliano, 2001. REIS, João José. A Morte é uma Festa – ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. SILVEIRA, Carlos Henrique Pinto da. A Irmandade da Misericórdia: disputas pelos ritos fúnebres e urbanização em São Luís na segunda metade do século XIX. In: Revista Outros Tempos, Volume 5, número 6, dezembro de 2008 - Dossiê Religião e Religiosidade. pp. 33-53. VOVELLE, Michel. As Almas do Purgatório ou O Trabalho de Luto. Tradução de Aline Meyer e Roberto Cattani. São Paulo: Editora UNESP, 2010.


SÃO LUÍS, PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE: UMA BELEZA DE GEOMETRIA

ELVYS WAGNER FERREIRA DA SILVA Universidade Federal do Maranhão RESUMO O interesse em desenvolver o projeto nessa temática tem como objetivo apresentar aos alunos a grande riqueza do acervo arquitetônico da cidade de São Luís e a partir disso, estudar a Geometria da cidade de São Luís, como um valioso instrumento para o ensinoaprendizagem dos conteúdos matemáticos voltados especificadamente para a Geometria. Nesse sentido, a tônica do projeto é o enfoque interdisciplinar nos campos da Matemática, História, Geografia e Artes, oportunizando aos alunos a vivência de uma Matemática prazerosa. Palavras-chaves: Centro Histórico; Matemática e Geometria. INTRODUÇÃO No geral a Matemática ensinada nas escolas é muito distante daquela que é utilizada na própria atividade cotidiana do aluno. Ensinar Matemática, não basta apenas dominar conteúdos, demonstrações, realizar cálculos enormes e difíceis. Ensinar Matemática requer ter compromisso em assegurar uma formação comprometida com o desenvolvimento humano e com as questões políticas e sociais, contribuindo para a formação de cidadãos. A Matemática ensinada no Ensino Fundamental deve ser uma Matemática prazerosa, onde os alunos possam sentir-se à vontade em aprender, vendo aquele conteúdo não como ‗coisa de outro mundo‘ mas algo que ele possa realmente aprender e utilizar em seu dia a dia. Nesse sentido, o interesse em realizar o projeto com essa temática, tem como objetivo apresentar aos alunos a grande riqueza arquitetônica da cidade de São Luís, fazendo com que os alunos mergulhem um pouco na história conhecendo os grandes casarões coloniais de fachadas azulejadas com seus mirantes imponentes, as belas


igrejas, as praças, as fontes, as ruas de pedras de cantaria, as escadarias e casas com grandes portas e janelas monumentais. São mais de 300 edificações restauradas em 107 mil metros quadrados tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. Inserir o estudo de Matemática nesse contexto histórico de São Luís, tem como grande objetivo estudar os conceitos básicos e fundamentais da Geometria aliando a Geometria viva de São Luís à Geometria estudada nos livros didáticos, favorecendo dessa forma a aprendizagem desses assuntos e aproximando os alunos ao estudo dessa área tão temida, que é a Matemática. Essa é a grande proposta do projeto, poder estudar a Geometria em sala de aula a partir da bela Geometria estampada e admirada desse majestoso acervo existente em São Luís. Nesse sentido, o projeto ter um enfoque interdisciplinar com o objetivo de oportunizar aos alunos a vivência de uma Matemática prazerosa diferente daquela que abrange apenas o rigor técnico e a resolução de problemas. Por isso mesmo é que, na ação investigativa, serviram de orientadores as seguintes indagações: a) Por que São Luís recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade? b) Em que sentido, conhecer o Centro Histórico de São Luís pode auxiliar no estudo de Matemática? c) Qual a relação existente entre o acervo arquitetônico de São Luís e a Geometria estudada em sala de aula? Portanto esse projeto foi realizado com alunos de 8ª séries do Ensino Fundamental da escola municipal U. E. B. Gomes de Sousa, Vila Maranhão, situada na zona rural de São Luís. REFERENCIAL TEÓRICO A Geometria é descrita como um corpo de conhecimentos fundamental para a compreensão do mundo e participação ativa do homem na sociedade, pois facilita a resolução de problemas de diversas áreas do conhecimento e desenvolve o raciocínio visual. Está presente no dia a dia como nas embalagens dos produtos, na arquitetura das casas e edifícios, na planta de terrenos, no artesanato, nos campos de futebol e quadras de esportes e até na grafia das letras. Em inúmeras ocasiões, precisamos observar o espaço tridimensional como, por exemplo, na localização e na trajetória de objetos e na melhor ocupação de espaços. A Geometria desempenha um papel de suma importância no ensino de Matemática, e na concepção de Lorenzato (1995) a Geometria tem função essencial na formação dos indivíduos, pois possibilita uma interpretação mais completa do mundo, uma comunicação mais abrangente de idéias e uma visão mais equilibrada da Matemática. Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no ensino fundamental, porque por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive. A geometria apresenta-se como um campo produtivo para o desenvolvimento da capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que é imediatamente sensível. Nesse sentido,


O estudo de Geometria é um campo fértil para trabalhar com situações-problema e é um tema pelo qual os alunos costumam se interessar naturalmente. O trabalho com noções geométricas contribui para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula o aluno a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar regularidades. (PCN – Matemática, 1998, p. 51) Segundo os PCN‘s, o ensino de Matemática procura desenvolver, no que tange ao pensamento geométrico: trabalhar primeiro as figuras espaciais ou tridimensionais, depois as figuras planas ou bidimensionais e, em seguida, os contornos de figuras planas ou unidimensionais; classificar as figuras, observando semelhanças e diferenças entre elas; construir representações planas das figuras planas; localizar pontos no plano cartesiano; trabalhar inicialmente de modo experimental (geometria experimental) para pouco a pouco, apresentar demonstrações (geometria dedutiva). A Geometria tem um papel de grande relevância dentro do processo ensinoaprendizagem em Matemática, tanto é que hoje os livros didáticos não trazem, mas esse conteúdo no final dos livros, mas sim intercalados e envolvidos com Álgebra, Aritmética e Estatística, por exemplo. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES O presente projeto foi realizado com alunos de 8ª séries do Ensino Fundamental, com o objetivo de relacionar a Geometria da cidade de São Luís a Geometria estudada em sala de aula. O projeto teve como principal característica a interdisciplinaridade, dessa forma, foi possível inserir as disciplinas Matemática, História, Geografia e Artes. A seqüência didática é composta por cinco momentos, que apresentamos a seguir. Os conteúdos matemáticos abordados no projeto Como o projeto, traz um leque de conteúdos matemáticos que podem ser inseridos nas aulas, contudo direcionamos o foco do projeto, contemplando, sobretudo, os conceitos básicos e fundamentais de Geometria. Mas vale ressaltar que na medida em que se trabalha um determinado conteúdo, é inevitável falar de outro, portanto, o conteúdo não está restrito a apenas o citado anteriormente, sentimos a necessidade de abordar outros assuntos, como por exemplo, razão, proporção, a idéia de perímetro e área, que já são tópicos que fazem parte das aulas. Tivemos nesse primeiro momento, a dedicação de algumas aulas pra falar um pouco das noções básicas de Geometria, um pouco da história, as principais figuras geométricas, os sólidos geométricos, o estudo de ângulos, ponto, reta, plano, arcos, círculos, quadriláteros, elementos presentes nas fachadas das edificações seculares de São Luís. Como um dos nossos objetivos era a confecção de maquetes, fez-se necessário abordar o conteúdo de razão e proporção, no que diz respeito a noção de escala, mostrando como se aplica a idéia de ampliação e redução. Pesquisa sobre o Centro Histórico de São Luís No segundo momento os alunos fizeram uma grande pesquisa sobre a cidade de São Luís, em livros de História do Maranhão, em sites, sobretudo, o do governo do estado, em catálogos de turismo, pois tínhamos alguns alunos que já tinham ouvido falar sobre o Centro Histórico, mas também, tínhamos uma boa parte dos alunos que desconheciam


o assunto. Sendo assim, tivemos que organizar esse momento de pesquisa e estudo, mergulhando na história local e também entender porque a cidade ganhou o título de Patrimônio da Humanidade. A partir dessa sensibilização foram realizadas sessões de vídeos com o intuito de aprofundamento do assunto e com a colaboração da professora de História discorrendo mais sobre o assunto em suas aulas. Um passeio pelos cantos e encantos do Centro Histórico de São Luís Após esse momento de sensibilização fizemos um passeio pelo Centro Histórico de São Luís, proporcionando aos alunos que pudessem observar de perto a grande beleza, o grande acervo arquitetônico da cidade. Pedimos que os alunos observassem também a grande riqueza de detalhes geométricos que estampavam as fachadas dos casarões, das fontes e das igrejas, observassem também os traçados das praças, os detalhes dos postes coloniais, dos azulejos, enfim, tudo em que a Geometria pudesse está inserida. Nesse passeio os alunos fizeram muitos registros fotográficos das ladeiras, com um traçado bem sinuoso, das escadarias, dos becos, dos casarões, das igrejas, das fontes, das praças, dos azulejos, dos telhados, que posteriormente foram analisados para serem revelados. Como o Centro Histórico é uma área muito grande, tivemos que organizar um roteiro do passeio para podermos visitar os pontos mais importantes da cidade, que são os mais visitados por turistas e pela população em geral. Assim, o passeio iniciou no Convento das Mercês, no bairro do Desterro e terminou na Casa do Maranhão, no bairro da Praia Grande. O roteiro do passeio foi o seguinte: 1. Convento das Mercês 2. Igreja do Desterro 3. Rua da Estrela 4. Centro de Criatividade Odilo Costa Filho 5. Rua do Giz 6. Praça Nauro Machado 7. Rua Portugal 8. Casa das Tulhas 9. Beco Catarina Mina 10. Igreja do Carmo 11. Praça João Lisboa 12. Teatro Arthur Azevedo 13. Fonte do Ribeirão 14. Praça Benedito Leite 15. Igreja da Sé 16. Palácio Episcopal 17. Praça D. Pedro II 18. Palácio La Ravardière 19. Palácio dos Leões 20. Casa do Maranhão


No dia seguinte, em sala de aula, fizemos a socialização do passeio, trocando idéias, compartilhando informações, indagando-os sobre o que eles acharam mais interessantes, enfim, deixamos os alunos à vontade pra falar do Centro Histórico na visão deles.

Figura 1 - Escadarias

Figura 2 - Fonte do Ribeirão

Confecção das Maquetes A partir da visita fizemos uma grande análise das fotos que tínhamos revelado para então definir, quais edificações iríamos reproduzir na forma de maquetes. Na confecção das maquetes, os alunos aplicaram as noções estudadas em sala de aula, como, razão e proporção, a noção de escala, a idéia de redução. Com as fotos que foram reveladas, iniciou-se o grande trabalho, a confecção das maquetes. As edificações escolhidas para confecção das maquetes foram a Fonte do Ribeirão, a Igreja do Carmo e a Igreja da Sé. Temos algumas fotos que apresenta o processo de confecção das maquetes. Os materiais usados não foram aqueles que normalmente os arquitetos e projetistas utilizam para confeccionar grandes maquetes. Utilizamos como principal material, o isopor nas suas mais variadas espessuras. Os alunos acima de tudo usaram mais a percepção, a comparação e a intuição, porque na verdade não tínhamos as medidas oficiais da Fonte do Ribeirão e nem das Igrejas da Sé e do Carmo, mas os detalhes foram criteriosamente contemplados pela genialidade dos alunos. Abaixo temos algumas fotos que mostram o processo de confecção das maquetes.

Figura 3 - Confeccionando Maquete

Figura 4 - Igreja do Carmo


Figura 5: Igreja da Sé

Figura 6 - Fonte do Ribeirão

Ao passo que os alunos confeccionavam as maquetes, eles percebiam curiosidades interessantes como por exemplo, que a Igreja da Sé (figura 5) é em estilo neoclássico, e que possui 2 torres quadrangulares e acima pirâmides octogonais. Enquanto que a Fonte do Ribeirão (figura 6) possui fachada em estilo colonial com 3 janelas retangulares que dão acesso a galerias subterrâneas e apresenta ainda 5 carrancas esculpidas de bronze recheada de detalhes geométricos. Apresentação do projeto a Comunidade Escolar O projeto foi apresentado na III Feira Sócio-Cultural da U.E.B. Gomes de Sousa e realizado com uma turma de 8ª série. O nome da equipe escolhida pelos alunos foi Encantos Arquitetônicos. Os alunos ambientaram a frente da sala de aula, com uma fachada de um casarão histórico, já que os mesmos tiraram uma foto de um azulejo e reproduziram cópias, pintando e produzindo uma bela fachada. Coisa de Artista! No dia da apresentação dos trabalhos, os alunos organizaram a turma, separando as apresentações em quatro áreas (Praia Grande, Desterro, Praça D. Pedro II e Largo do Carmo), cada uma com painéis informativos de cada área, falando da parte histórica, outros abordando os aspectos geométricos e um data show reproduzindo um slide, com fotos de todo o processo do projeto. Área 1: Largo do Carmo - compreendendo a Praça João Lisboa, o Convento e a Igreja do Carmo, o Teatro Arthur Azevedo e a Fonte do Ribeirão. Área 2: D. Pedro II – Compreendendo as Praças Benedito Leite e D. Pedro II, a Igreja da Sé, o Palácio Episcopal, os Palácios La Ravardière e dos Leões. Área 3: Desterro – abrangendo a Igreja do Desterro, o Convento das Mercês Área 4: Praia Grande – abrangendo desde a Casa do Maranhão, passando pelas Ruas Portugal, Estrela, Giz, Teatro João do Vale, Mercado da Praia Grande, Praça Nauro Machado, becos, como um dos mais famosos, o Beco Catarina Mina e escadarias. Abaixo apresentamos algumas fotos do dia da exposição dos trabalhos dos alunos.


Figura 7 - Fachada da Sala de Aula com azulejos

Figura 9 - Apresentação da maquete da Fonte do Ribeirão

Figura 8 - Apresentação da maquete Igreja da Sé

Figura10: Apresentação da maquete da Igreja do Carmo

CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente projeto foi embasado por alguns questionamentos, que ao longo do seu desenvolvimento ratificaram a relevância para sua fundamentação. Nesse sentido, dentre os questionamentos feitos do projeto, destacam-se: por que a cidade de São Luís recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade; em que sentido, conhecer o Centro Histórico de São Luís pode auxiliar no estudo de Geometria e qual a relação existente entre o acervo arquitetônico de São Luis e a Geometria estudada em sala de aula. O interesse em realizar o projeto com essa temática foi justamente, propor um trabalho interdisciplinar, aliando Matemática e História do Maranhão, com o objetivo de fazer com os alunos mergulhassem na história da cidade de São Luís e tendo como pano de fundo o conteúdo de Matemática, voltado especificadamente a Geometria, devido a singularidade de São Luís. Fizemos ‗literalmente‘ vários passeios, um pela magia da história e cultura da cidade, outro adentrando pelas ladeiras, ruas, igrejas, casarões, fontes e, por fim um passeio particular, interagindo detalhes arquitetônicos aos detalhes geométricos, fazendo assim uma ponte entre cultura local e o ensino de Matemática. Foi gratificante ver um trabalho de Matemática transcender as paredes da sala de aula e principalmente os muros da escola, pois pudemos falar de um assunto genuinamente maranhense, mas sem perder o foco da disciplina. Os alunos demonstraram serem grandes artistas, porque foi um trabalho que proporcionou a conhecer realmente um pouco da história e da grande importância arquitetônica da cidade mostrando a riqueza geométrica existente. Aproximar o estudo


de matemática aliando a cultura belíssima de são Luis, foi recompensador, como professor de alunos que precisam de projetos que estimulem a criar, por pra fora o talento que muitos tem, mas que se encontram adormecidos. Na medida em que a Matemática não pode ser considerada uma ciência desligada da realidade. Ao contrário, ela é e deve ser vista como algo presente nas mais variadas situações do nosso dia a dia, em fim, o projeto não se desprendeu dos objetivos propostos ao ensino de Matemática. Todavia valeu o esforço empreendido na realização deste projeto, tendo como atores principais os alunos da 8ª série mostrando que podemos investir no ensino de Matemática com propostas inovadoras e força de vontade pra fazer acontecer. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Diretrizes Curriculares Para os Cursos de Licenciaturas em Matemática. Brasília, 1999. FEITOSA, Antonio Cordeiro, TROVÃO, José Ribamar. Atlas Escolar do Maranhão: espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: Grafiset, 2006. LORENZATO, S. Por que não ensinar Geometria? In: Educação Matemática em Revista – SBEM 4, 1995, p. 3-13 SÃO LUÍS (MA). Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação. Proposta Curricular – Matemática – Ensino Fundamental – 3º e 4º Ciclos. São Luís, 2008. TROVÃO, José Ribamar. ―Ilha‖ Latifundiária na Amazônia Maranhense. São Luís: Edufma, 1979. www.ma.gov.br/maranhao


CONVITE “E o nosso nome voará de boca em boca – de pais a filhos – até às mais remotas gerações e o esquecimento não prevalecerá contra ele.”

Os Presidentes dos INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO-IHGM TELMA BONIFÁCIO DOS SANTOS REINALDO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO CAXIAS-MA-IHGC ARTHUR ALMADA LIMA FILHO

SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO-SCLMA DILERCY ARAGÃO ADLER

FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE LETRAS DO MARANHÃO-FALMA ÁLVARO URUBATAN MELO

Convidam para o “II Encontro Gonçalvino (São Luís-Caxias)” com a “Louvação a Gonçalves Dias”, evento preparatório do Projeto “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” Dia: 25/04/2012 Local: Palácio Cristo Rei - Parte I às 15h30min Praça Gonçalves Dia Parte II - às 18h PROGRAMAÇÃO Parte I (Palácio Cristo Rei) 15:30: Exposicão de Baners, Fotos e Telas Exposição de Banner - entrega de documentos (Ficha de Matricula e Certidão de Idade), vindos de CoimbraPortugal.) - Banners com a antiga casa de Gonçalves Dias e - Carta de Gonçalves Dias MANOEL BEZERRA Membro do Inst. Histórico e Geográfico de Caxias CARVALHO JUNIOR Poeta e Membro da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão WYBSON CARVALHO Membro da Academia Caxiense de Letras VALQUIRIA ARAUJO Secretária Municipal de Cultura e Turismo de Caxias DES. ARTHUR ALMADA LIMA FILHO Presidente do Inst. Histórico e Geográfico de Caxias MIRAMAR SILVA Membro do IHGC


16:30: Erlinda Maria Bittencourt (UEMA-IHGC) As mulheres de Gonçalves Dias WYBSON CARVALHO - Membro da Academia Caxiense de Letras GONÇALVES DIAS O DRAMATURGO 17:30: Apresentação do andamento do Projeto pelas Comissões de São Luís e Caxias. Parte II (Praça Gonçalves Dias) LOUVAÇÃO A GONÇALVES DIAS 18:00 Apresentação Musical do Grupo Chorinhos e Chorões 19:00 Apresentação Coral Madrigal 19:45 Performance Poético-Teatral - Companhia Beto Bittencourt 20:30 Leitura de poesia por Poetas de Caxias e São Luís

MANOEL BEZERRA IHG-CAXIAS - Poesia: MISTURA NATIVA CARVALHO JUNIOR Poeta e Membro da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão - Poesia: CANÇÃO DE UM FILHO VALQUIRIA ARAUJO Secretária Municipal de Cultura e Turismo de Caxias - Poema: DIAS DE FELIZES LEMBRANÇAS MIRAMAR SILVA Membro do IHGC - Poema: PELOS CAMINHOS DO POETA 21:00 Encerramento: Apresentação da Banda da Polícia Militar e soltura de balões.



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