REVISTA DO LÉO - Revista lazeirenta - NOVEMBRO DE 2023

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REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536

NÚMERO 91 – NOVEMBRO – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y “águas revoltas que correm contra a corrente”


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 8328 2575 CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 20 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


UM PAPO Uma revista lazeirenta!!! Dedicada ao Lazer, na sua acepção mais ampla: esportes, turismo, educação física... movimento... lúdica... resgate da memória dos esportes – também em sua acepção mais ampla – do/no Maranhão!!! Sim, esportes do Maranhão, pois temos algumas atividades lúdicas aqui nascidas, como a Capoeiragem Tradicional maranhense, o “Tarracá”, de Zulu – objeto de documentário sendo produzido pela GloboPlay -, da Corrida de Toras, além de inúmeras brincadeiras e jogos infantis, de origem indígena, ou adaptadas, vindas de outras plagas, mas que são praticadas apenas aqui... A partir do final dos 1800, começam a aparecer as atividades físicas e esportivas – lúdica – de origem europeia... educação física, turnen, passeios pela cidade e pelo campo, e a partir dos 1900, jogos esportivos, como o futebol, tênis, crockt, crickt, ping-pong, voleibol, basquetebol, e mais, recente, o handebol... tivemos ampla participação da juventude escolar/estudantil, com ótimos resultados tanto em nível regional, quanto nacional e, alguns, internacional... Alguns de nossos atletas se destacaram, nacional e internacionalmente, em várias modalidades, começando pelo atletismo, com Ary Façanha de Sá, e nos últimos eventos internacional, alguns atletas participando de várias seleções brasileiras, em disputas sul-americanas, panamericanas e eliminatórias olímpicas... Quase todos competindo por outros Estados, pois aqui, o Esporte já acabou... os destaques têm que se retirar para outros Estados, ou mesmo Países, para terem alguma chance de continuar a competir...


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO JB PRIMO

O QUE HÁ PARA LER RECORTES DA IMPRENSA OS HERÓIS DO BI CAMPEONATO Áureo Mendonça LOBÉ O MAIOR GOLEIRO DA BAIXADA MARANHENSE DE TODOS OS TEMPOS (*) Áureo Mendonça JOÃO EVANGELISTA BELFORT DUARTE (BELFORT DUARTE) NASCEU EM SÃO LUIS A HISTÓRIA DE BELFORT DUARTE, A REFERÊNCIA DO FUTEBOL BRASILEIRO QUE TRANSFORMOU O AMERICA Emmanuel do Valle BELFORT DUARTE, O MAIOR ‘ESQUECIDO’ DA HISTÓRIA DO FUTEBOL BRASILEIRO Claudio Henrique @comentaristadofuturo


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO "As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.


Utopia redentora Talvez a foto em baixo seja montagem. Não sei. Seja como for, o fotógrafo ou criador da imagem merece aplauso, porquanto foi movido por uma utopia sublimadora. Será ela um mito? E se for? Nunca se vive sem mitos. Logo a pergunta, que hoje devemos colocar e responder, é esta: qual é o mito em que vivemos e nos revemos? Se, na verdade, queremos continuar a acreditar que somos e permanecemos humanos, face aos problemas deste tempo, então é melhor não deitar fora os mitos exaltantes da humanidade e tentar viver na altura e conformidade das suas mensagens. Não valerá a pena sonhar a realidade que projetam? Custa-nos assim tanto gostar dela e dar passos nessa direção? És uma bruxa! Não reajas com irritação, movida pela recordação das desconsiderações e perseguições no passado. Venho transmitir-te a noção que tenho de ti. No idioma sânscrito - a língua sagrada da Índia - ‘bruxa’ significa ‘mulher sábia’. E no latim o termo quer dizer ‘larva de borboleta’. Ora, somando os dois significados, ‘ser bruxa’ é possuir a sabedoria e o condão de se transformar numa melhor configuração. Saúdo todas as ‘bruxas’, porquanto, seguindo a intuição ou sexto sentido, convertem as situações ruins numa fonte de aprendizagem e saem delas voando! Dos vivos e dos mortos Celebro os mortos que vivem e florescem na lembrança e evocação. Metem pena muitos sujeitos que julgam estar vivos; e não estão, não! Canto os que têm a coragem de se erguer, para dar voz e asas à indignação. Pintam o céu na terra, e o sol no rosto e nos olhos com as tintas da exaltação. Reclamam a Paz e o Pão, semeiam no vento proclamações e trovas de alteridade e fraternidade com palavras que rasgam a escuridão. Mas há tanta gente que prefere andar açaimada, curvada, vergada, acuada, com a vista sempre voltada para o chão! Morre um pouco todos os dias, sem dar conta, esmagada pela comiseração. É da sua cobardia que se alimentam os energúmenos e a opressão. Perguntando por Deus Não tenho visto Deus, nem imagino por onde andará. Estamos entregues, pelo menos, a duas guerras e não dá sinais de Si. Na primeira caem bombas sobre pessoas com pele muito branca; sobejam as indignações. Na segunda as bombas atingem gente com pele não tão branca; sobejam as omissões. Quando encontrarmos Deus, vamos ter que Lhe prestar muitas e pesadas contas; mas Ele também tem que prestar algumas a nós. São mortes e sofrimentos a mais. Para que quer Ele no céu tantas mães e crianças martirizadas? A busca da completude Em ‘O Banquete’ Platão expõe a ficção de que, nos primórdios da humanidade, a terra era habitada por andróginos. Estes congregavam num mesmo ser faculdades masculinas e femininas. Por isso julgaram-se detentores de uma perfeição igual à dos deuses; o que os levou a reivindicar os poderes divinos. Zeus não achou graça ao desafio nem esteve com contemplações; tratou de desfazer a androgenia e criar dois géneros. Assim surgiu a incompletude e igualmente a necessidade de os humanos, sucessores dos andróginos, procurarem a parte perdida. A quimera platónica inspira a luta desenfreada da humanidade, visando a completude em todos os planos. Para tanto são inventados outros mitos ao longo dos tempos. Por exemplo, na Idade Média apareceu o do Paraíso Perdido e o do El Dorado, existentes no mundo até então desconhecido pelos europeus. Lá tudo seria perfeito. As aventuras dos Descobrimentos seguiram nessa peugada. Na Modernidade e na contemporaneidade as fábricas de fantasias afins continuam ativas; e também as de viajantes incumbidos de as buscar. Epistemologia Da realidade temos algum conhecimento. Mas, se nos fecharmos no reduto do que julgamos conhecer, voltamos as costas à busca do que devemos e precisamos imaginar e saber. E então a suposta claridade torna-se denso crepúsculo. Epistemologia


Cancelas, cercas, barreiras e muros servem para delimitar o terreno do rebanho e contê-lo dentro do redil. Fora desse perímetro mora o perigo da luz e da ousadia. Da realidade possuímos algum conhecimento. Mas, se nos fecharmos no reduto do que julgamos conhecer, voltamos as costas à busca do que devemos e precisamos imaginar e saber. E então as supostas claridade e liberdade tornam-se denso crepúsculo e invisível prisão. OCIDENTALISMO O Humanismo e o Iluminismo assumiram princípios, valores e visões universais. Ao invés, o ‘ocidentalismo’, hoje em voga, tem pretensões imperiais. Dominique de Villepin, antigo primeiro-ministro da França, define bem a insanidade dos que querem manter-se como gestores exclusivos do mundo, impor a este os seus interesses e pontos de vista e ser polícias dele. Reivindicam para si todo o protagonismo; não aceitam outros atores. O ocidentalismo assassina, assim, a participação positiva do ocidente na construção do futuro.

Demónios e porcos Conta o Evangelho de S. Lucas que, certa feita, Jesus tirou demónios de um homem. Os mafarricos pediram-Lhe que os deixasse entrar numa vara de porcos que pastavam no monte. Jesus atendeu o pedido. Então os porcos precipitaram-se do alto do desfiladeiro num lago; e afogaram-se. Muito antes deste episódio, Homero relata, na Odisseia, uma cena em que os humanos, marinheiros de Ulisses, perdem a memória e, consequentemente, a consciência. Por via disso convertem-se em porcos; ninguém os salvou da degradação. O apoderamento dos indivíduos por demónios e a metamorfose em porcos atravessam a civilização; ocorrem em todos os tempos e o nosso não é exceção. Mas agora não há taumaturgos que nos valham; estamos por nossa conta e risco. Retrato à la minuta Indignamo-nos com a crueldade em Mariupol. Chamamos a esta a nova Guernica. Em Gaza fechamos os olhos e a boca; não poucos cidadãos e dirigentes políticos desculpam e até proclamam justificações para a barbárie. Das cinzas, onde deviam estar enterrados para todo o sempre, renascem o antissemitismo e a islamofobia. O complexo de culpas em relação ao holocausto leva à cumplicidade com o horror. A União Europeia compra o sossego da consciência com a caridade: vai entregar mais alguns milhões de euros aos palestinos. O Ocidente põe-se a jeito para ser retratado com exatidão, sem necessidade de disfarce e maquilhagem. O retrato corre o mundo. Desalento A ‘democracia do mercado’ é, asseveram os seus pregadores, a melhor fórmula política que o génio humano consegue inventar. Não há outra que a possa igualar e, tampouco, superar. Temos, pois, que agradecer aquilo que nos veio assegurar: a liberdade de sofrer a corrupção generalizada e a obrigação de a aceitar e sublimar. São tantos os casos que já atingimos a imunização do rebanho. Afinal, em que instituições podemos confiar? Na Justiça para garantir a decência? Na Presidência da República para representar o bem comum? Na comunicação social para nos informar? Ah, que bom é ser imbecil e deixarse manipular, viver nesta ‘democracia’ dos interesses e negócios sujos e ocultos, com ela dormir e filhos criar! A americanização do desporto Nestes dias várias formas da violência desabam dobre nós e de um modo tão estrondoso que desviam a atenção de coisas graves a acontecer ao nosso redor. Felizmente, há quem esteja desperto e não suspenda a reflexão. O artigo do Presidente do COP, inserido no jornal Público de ontem, expõe, de maneira simples e por isso mesmo eloquente e sábia, a desconstrução axiológica em curso no desporto. Se podemos ver, temos a obrigação de reparar em mais uma das perversões do neoliberalismo, insaciável e mortífero.


Há 100 anos! A primeira tentativa de tomada do poder pelos nazis alemães aconteceu em Munique, no dia 8 de novembro de 1923. Na altura fracassou, mas não demorou muito tempo a lograr os seus intentos. Depois foi a tragédia, que se sabe, até à derrota na segunda Guerra Mundial. Todavia, como disse Mussolini, a alma fascista e nazista nunca morre; faz-se adormecida e morta à espera de uma oportunidade para se manifestar. A tragédia está novamente a tentar entrar em cena. Do perdão Faltam-nos nesta era líderes políticos com a grandeza necessária para assumir culpas e praticar a remissão. Não temos Willy Brandt que, em 7 de dezembro de 1970, foi ao Ghetto de Varsóvia e, dois dias depois, a Auschwitz, ajoelhou e pediu perdão; não temos Yasser Arafat e Yitzhak Rabin que, em 13 de setembro de 1993, assinaram na Casa Branca o acordo da paz, negociado em Oslo, e apertaram a mão. Percebemos o desafio que nos colocam estas atitudes de expiação? O perdão é uma libertação da sordidez da vingança. Perdoar é deitar fora a raiva que envenena o coração. Hino à alegria O Hino ou Ode à Alegria, tocado no quarto movimento da Nona Sinfonia de Beethoven, integra um poema (Ode an die Freude) de Friedrich Schiller. O texto e a música elevam-nos para as alturas da comoção e sublimidade. O poeta e o compositor compartilhavam uma visão da raça humana como irmandade. A utopia encontra expressão magnífica na obra poética e na peça musical. O hino devia, nestes dias, ecoar nas praças de todo o mundo, durante 24 horas.


Necessitamos desesperadamente de alegria. Se algum de nós a sentir, não deve hesitar em exteriorizá-la e reparti-la com todos. Só ela possui o condão de redimir a ruindade em que somos fartos, e salvar a bondade em que somos escassos. Talvez, assim, o júbilo deixe de ser migalha local e adquira amplitude de pão universal. Talvez encontremos o oxigénio salvífico deste quotidiano opressor. Talvez, a vida se renove e multiplique. Talvez o amor venha e nos realizemos em plenitude. Talvez o sol e a lua brilhem em toda a terra e ponham termo à trágica escuridão. Talvez a alegria e a música se tornem um bem tão público e comum que não precisemos mais de deuses e anjos. De Bragada a Maputo Venho de Bragada. Foi lá que começou a minha vida repleta de milagres improváveis. O andarilho olha pelo retrovisor, mede o trajeto palmilhado e observa ao redor. Fica incrédulo com tantas bênçãos que o contemplaram. Comovido e com o olhar fito no Céu, cita e reza um provérbio africano: “Quem quer ir rápido, vá sozinho; quem quer ir longe, vá acompanhado.” O caminhante tem andado em boas companhias; dá, por isso, graças a Deus e ao espírito humano que habita o mundo e mostra os caminhos de elevação e sublimação. Dia Mundial da Filosofia Em que consiste o filosofar? Temos sentidos e somos entes ciosos de compreender e saber o ignorado. Isso obriga-nos a apurar a curiosidade e a sensibilidade, o olhar e o ouvir, a modalidade de interrogar, apreciar e ponderar o escutado, o lido e observado. Inquietos e acordados, valemo-nos da indagação e reflexão para alargar a visão, afinar a noção e avaliação e não ficar conformados a um só lado. Assumimos, deste jeito, o fado de transformar a estranheza do desconhecido e impensado na beleza do percebido e revelado. Berço da independência moçambicana A antiga capela da paróquia presbiteriana de Nhlamamkulu, em Maputo, foi um dos berços da nacionalidade moçambicana. Vários dos seus membros foram presos pela PIDE e sofreram os horrores dos inquéritos e do cárcere. Entre os prisioneiros conta-se o reverendo Zedequias Manganhela, então pastor da paróquia e igualmente Presidente do Conselho Sinodal das Igrejas Presbiterianas de Moçambique; foi assassinado nas masmorras daquela polícia. Nesta capela esteve também em janeiro de 1961 o Dr. Eduardo Mondlane, funcionário na ONU. Na altura usou uma parábola africana na sua pregação e declarou, à numerosa população congregada no local, que a águia da liberdade ia levantar voo e havia de voltar ao ponto de partida. O Dr. Eduardo Mondlane faleceu em Dar es Salaam, em 3 de fevereiro de 1969, vítima de uma carta armadilhada; não regressou, mas a águia da liberdade cumpriu a promessa. Em sinal de reconhecimento, o Estado Moçambicano atribuíu ao local o estatuto de património público. Foi com muita emoção que visitei o lugar na companhia do fraterno Amigo Joel Libombo e da esposa, crentes e zeladores fervorosos deste sítio sagrado. Demos as mãos e pedimos aos céus e às pessoas de boa vontade que façam tudo o possível para tornar o presente e o futuro uma sublimação do passado. Na hora da partida A participação em congressos e as vindas a Moçambique proporcionam-me sempre uma vivência com dois sabores: . o doce e jubiloso encontro de pessoas maravilhosas que me envolvem com atenções e mimos; . a amarga e triste hora da despedida, resultante da convicção de que possivelmente não voltarei a reencontrar a maioria dessas bondosas criaturas. Hoje é mais uma vez assim, no final da estadia na Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Pedagógica de Maputo. O vento lusitano da nostalgia entra pelos olhos e torna a boca seca de palavras. Resta-me levar, imorredoiro na lembrança e na gratidão, quem me tratou tão bem nesta abençoada terra moçambicana. Desejo a todos vida longa e semeada da promessa de colheita da felicidade. Até sempre, queridos e fraternos amigos!


Olhares A estadia em Moçambique proporcionou-me novamente a confirmação do óbvio. Durante séculos o Ocidente europeu e, mais tarde, o norte-americano impuseram o seu olhar ao Sul. Hoje, este tem uma visão própria e não vê o mundo e os graves problemas desta era com os olhos ocidentais. O tempo não volta para trás. Seria bom que a realidade fosse percebida e aceite; e gerasse diálogo e negociação. Sem eles não há entendimento, conciliação e convergência; antes se alarga o fosso da divergência, do confronto e da perdição. Da Consciência Humana Comemora-se hoje no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. A celebração é assaz importante, na perspetiva de redimir o passado. Todavia o mundo precisa sobretudo e urgentemente que, em todos os dias, se afirme e exalte, cada vez mais, a Consciência Humana, seja ela a dos brancos, dos índios, dos mestiços, dos negros e amarelos. A pele da Humanidade não tem cor. Ditado africano Há um sábio ditado africano que se aplica à guerra na Ucrânia. Reza assim: “Quando os elefantes lutam, quem mais sofre é o capim.” Quem são os elefantes? Os EUA e o dito ‘ocidente alargado’, por um lado, e a Rússia, por outro. E quem é o capim? A Ucrânia, manifestamente. A União Europeia tarda em perceber o seu trágico engano e destino: julgando-se paquiderme, em vez de incentivar a paz, preferiu atiçar a luta; resta-lhe ver-se como capim amassado e recuperar a postura perdida ao serviço de outrem.

XXI Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa TEMA: Discriminação na Educação Física e Esporte: perspectivas de diferentes olhares O Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa tem uma longa história, permeada pelo interesse inicial de dois importantes atores, conforme nos relata Bento (2018). Segundo ele, o evento teve seu impulso inicial a partir do interesse dele próprio, Jorge Olímpio Bento, naquele período docente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e do professor Alfredo Gomes Faria Junior, do Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IEFD-UERJ). Nos informa ainda que, embora não se conhecessem pessoalmente, naquela altura, marcaram um encontro na cidade do Porto, no qual discutiram a criação de um movimento lusófono para debater questões afetas à área. Foi aí o nascedouro do I Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, que ocorreu no Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IEFD-UERJ), Rio de Janeiro, Brasil, em 1989, com a temática central “A aula de educação física”. Daquele período até 2023 foram realizadas dezenove edições do evento, abordando temáticas diversas e sendo sediado em três países lusófonos e em uma região da Espanha cuja língua tem relação com o português, a Galícia, a saber: 9 vezes no Brasil, 6 em Portugal, 3 em Moçambique (uma delas virtual durante a pandemia) e 1 na Espanha. No último evento, realizado em Coimbra, estiveram presentes diferentes países que tem o idioma português como uma de suas línguas oficiais. O evento de carácter científico e profissional é organizado a cada dois anos (como mostra a breve história recapitulada nesta introdução) e destina-se a professores(as), educadores(as), estudantes, treinadores(as) e técnicos(as) de


exercício físico, bem como a académicos(as) na área das Ciências do Desporto e Educação Física, oriundos(as) do espaço da lusofonia. O esforço do evento nestes quase 32 anos foi de promover e facilitar o intercâmbio entre os diferentes países e as diferentes instituições de ensino superior, no espaço da Lusofonia, promovendo e facilitando a cooperação, a formação académica e profissional bem como o estabelecimento de pontes para a cooperação e para a investigação na área das Ciências do Desporto e Educação Física, em língua portuguesa. Nesta edição a temática eleita trata da discriminação, tomado diferentes marcadores sociais como: raça, gênero, classe social, nacionalidade etc. Neste sentido, tomamos a ideia de Almeida (2019) especificamente sobre o racismo, para argumentar que toda discriminação é estrutural. Para o autor o racismo estrutural é plasmado na sociedade de modo a se manifestar na vida social, na política e na economia de forma naturalizada. Desta forma, quando discutimos a discriminação a entendemos como plasmada também na sociedade e naturalizada em todos os campos, dentre eles a prática corporal e o esporte. Assim, efetivamente precisamos de análises críticas que desnaturalizem a discriminação. Todas as dimensões epistemológicas são legítimas e válidas no percurso histórico e científico para esta empreitada. Porém, o que não pode mais ser tolerado no processo de avanço civilizatório é a dominação de discursos e formas de viver que sejam excludentes, desiguais, autoritárias. Neste sentido, o tema do evento evoca e convoca o intenso debate que diferentes correntes teóricas vêm empreendendo no sentido de construir um olhar crítico sobre a discriminação e o fortalecimento dos(as) historicamente discriminados(as).

Datas • •

Data do evento: 19 a 21/Março/2025 Submissão e aprovação de trabalhos: 2º semestre/2024 Mais informações em breve!


Honra ao mérito! Fomos companheiros de curso no INEF. Aprendi então a admirar a inteligência e elevação do seu discurso e a coerência e nobreza das suas atitudes. A amizade e a cumplicidade nunca faltaram nos caminhos da nossa vida. Realizou uma carreira ímpar na administração pública do desporto e, em paralelo, uma notável obra intelectual. Com toda a naturalidade, a UP concedeu-lhe, em 2016, por decisão unânime do Conselho Científico da Faculdade de Desporto e do Senado da Universidade, o título de Doutor Honoris Causa. Hoje é a vez da Faculdade de Motricidade Humana, herdeira do valioso património do INEF, o homenagear da mesma maneira. Lá nos encontraremos e saborearemos o feliz regresso à Escola-Mãe.


Do original e da cópia Após a criminosa agressão do HAMAS, os EUA apressaram-se a confirmar a sua condição de suporte número um do Estado de Israel e a dar luz verde às ações desencadeadas por este. Todavia, estão igualmente envolvidos na procura e no estabelecimento do acordo de tréguas entre os beligerantes. Mas a União Europeia, que em tudo deixou de ter uma linha política autónoma e se tornou seguidista da visão norte-americana, não figura entre os negociadores. A razão é simples: podendo escolher o original, ninguém escolhe a cópia. É assim no caso presente e também o será quando chegar a hora de pôr fim à guerra na Ucrânia. Exame no outono Errar é um auxiliar da aprendizagem. Ao longo da vida, errei muitas vezes, porém sem ter aprendido o suficiente para corresponder às premências da existência. Por exemplo, nunca me senti plenamente formado para o desempenho da função de professor. No meu currículo não faltam aulas mal preparadas; algumas redundaram em fiasco. Salva-me a convicção de não haver cometido traição, nem às pessoas, nem à missão. Entreguei a elas e aos ofícios o melhor que sabia e podia. Perdi amigos no trajeto, com pena, mas sem mágoa, porquanto não me recordo de trair a amizade. Em contrapartida, ganhei outros, autênticos e cúmplices na defesa de causas maiores do que nós. Quanto aos estudantes, amei-os de um jeito exigente: desejava o seu bem e considerava ser minha obrigação alertá-los contra os perigos das promessas do sucesso fácil que nunca me foi familiar; movia-me o zelo de os premunir para que não caíssem nas esparrelas dos impostores com trânsito franqueado nos caminhos viscosos da capciosa alienação. No tocante aos funcionários não docentes, sempre lhes reconheci o estatuto e labor de esteios fundamentais da instituição. Agora resta-me honrar as memórias e a infinda saudade, dialogar com as circunstâncias, não faltar à defesa da decência, dignidade e liberdade, visitar novos livros, contemplar as árvores despidas e as folhas que atapetam o chão, absorver os fugidios raios do sol, procurar estrelas na escuridão, lançar à terra sementes de esperança e ilusão, encarar serenamente as transformações, ciente de que a velhice não vem só.


Dia da Cultura Científica Celebra-se hoje o Dia Mundial da Ciência. Prefiro a designação ‘Dia da Cultura Científica’, usada em Portugal, porquanto subentende a ciência como um caminho e uma atitude e obrigação para andar e cultivar constante e esforçadamente. Tal como as restantes formas da criação artística, a ciência é uma maravilhosa invenção da imaginação humana; está ao serviço do aprimoramento desta e da razão, visando compreender melhor o universo, quem e como somos e damos sentido exaltante, ético e estético à vida. Ajuda a livrar das grilhetas da superstição, que jamais será vencida em definitivo; em cada época ressurge sob ardilosos disfarces. Se prestarmos atenção à novilíngua do ultraliberalismo, percebemos, ao nosso redor, a voz alienante e ululante dos ídolos, mitos e comportamentos tribais, ou seja, os muitos e preocupantes pretextos hodiernos para não descurar o labor científico. Hipócrates (460-370 a.C.), o Pai da Medicina, foi claro: “há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe reside a ignorância.” É nessa crença que se enreda a esterilidade dos papers em voga. Saber é meta difícil de alcançar e até de abeirar dela, um feito notável conseguido por poucos. Já a ignorância não precisa de se mover, procurar e reinventar; basta-lhe repetir e mimetizar o que nada acrescenta ou inova. Eis nisto um convite para sermos atletas apostados em visar o pódio da clarividência! Desporto e poesia (Dedicado a José Manuel Constantino) O desporto e a poesia são dois modos de expressão assaz distintos. Porém perseguem a mesma finalidade: alargar os limites da sensibilidade e arrancar, do nosso íntimo e até do vazio, sentimentos, sonhos, desejos, angústias, aspirações que se materializam em atos simbólicos, sejam estes versos ou gestos. Na poesia e no desporto caminha-se para a criação e formação, a exaltação e harmonia, a liberdade e magnificência da alma e do corpo. Esgota-se o campo do possível e reduz-se o impossível ao nada, com a ajuda de uma dada tecnicidade. Ser poeta não é apenas escrever poemas; é descobrir e propor novas maneiras de viver. O mesmo faz o desportista. Bem vistas as coisas, poetas e desportistas são românticos. Por causa disso não têm vida fácil; sofrem as dores próprias e alheias, tornando-a ainda mais difícil. Creio que nos roubam a ilusão de que ela pode ser feliz; ou então sugerem-nos que a bem-aventurança se atinge pela via da maceração e renúncia, da sujeição a exigências e a normas desafiantes do apuramento do estilo e do Ser. Talvez consigamos assim expulsar da existência as hidras e serpentes, os medos e traumas, as angústias e constrições que nos amargam o dia-a-dia. Porventura, ainda, é através desta purga que ficamos leves para levantar voo para outra galáxia, para outra consciência, para outra forma, para as alturas da ética e estética. Porque a modalidade de dizer e cumprir a vida rege-se pela medida escolhida; é esta que possui e determina quem a diz e configura. No fundo, poesia e desporto são realização exemplar de uma dialética de contrários, do descontentamento e contentamento, do estoico e hedonista; um aviso de que é ilusório visar a plenitude e autenticidade, sem andar no caminho da observância de obrigações, princípios e ideais. Eis nisto afirmada a convergência de dois tipos de ação aparentemente diferentes, mas afinal tão sintonizados um com o outro. O mito é o mesmo, o agonismo preside a ambos, a coroa de louros tem o mesmo preço, ambos comem o mesmo pão, bebem da mesma taça e saboreiam o mesmo vinho. No papel abúlico e passivo, que se oferece ao labor da caneta, e no corpo inábil e plástico, que se submete aos métodos do treino e da exercitação e aos cerimoniais sagrados da competição, ficam impressos arrebatamentos e devaneios da imaginação e ousadias da vontade. Como manifestações da aventura e dos rituais que a cada um, poeta e desportista, cumpre assumir. Desporto e poesia convidam-nos a olhar para dentro, a conhecermo-nos e pôr termo ao descaso e à indolência que levam à desumanização. Ambos surgem, de mãos dadas, aos meus olhos céticos e cansados de tanto buscar e esperar que a paixão perdure e a quase felicidade aconteça. Mundo hostil às crianças Já se sabia que o mundo se tornou paulatinamente incompatível com o crescimento alegre e sadio das crianças, com as suas brincadeiras, fantasias e ilusões, com os seus devaneios, sonhos e sorrisos. Mas não se conhecia bem o grau da ameaça; as últimas semanas incumbiram-se de o revelar de maneira brutal:


além de inamistoso, também as mata, sem dó nem piedade, perante a indiferença e o silêncio de não poucas criaturas, ditas tementes a Deus, e com filhos e netos. Educação moribunda O vazio não existe; quando algo desaparece, outrem ocupa o lugar vago. Ora, há uma modalidade da educação que está a definhar e ceder a vez a outra assaz diferente. A mais longa e simbólica viagem da Humanidade e dos seus membros é a da descoberta de si mesmos e da sua identidade. Homero elucida-a, de modo clarividente, na Odisseia, ou seja, na árdua peregrinação de Ulisses entre a destruição de Troia e a chegada a casa. O herói enfrenta perigos, dúvidas e agruras descomunais, resiste a infindas ciladas e tentações, tem dificuldade em encontrar o rumo, familiariza-se com o desconhecido, recebe auxílio e hospitalidade do estrangeiro, e atinge o destino sonhado, após driblar os inúmeros e tormentosos cabos surgidos na caminhada para Ítaca. Odisseu é o sujeito versátil, de inteligência ampliada e experimentada, vocacionado para a ousadia e o sofrimento. Aventureiro e sensual, atormentado pela nostalgia e lavado em lágrimas, vagueia no mar e corta as ondas fundas e marulhantes. No fim da errância, possui muito para contar e encantar, pode dormir em paz, esquecido de quanto sofrera, e avançar na idade com leveza no coração. A educação, assente no livro, na estranheza, copresença e convivência, no contacto e diálogo de pessoas tão distintas, professores e alunos, inspira-se na ficção de Homero e subentende uma romagem semelhante à de Ulisses, visando ancorar em idêntico porto. Ao invés, o abuso da parafernália tecnológica e audiovisual adultera o sentido, processo e resultado da empreitada educativa. A perversão cresce com a imposição da ideologia da egolatria, do individualismo e do sucesso, ínsita na linguagem de socialização e nas métricas de avaliação. Pouco a pouco, desponta a criatura conforme aos criadores. As máquinas são prenhes de conhecimento e informação, porém áridas e desidratadas de sensibilidade, afeição e proximidade humanas; não possuem saber nem sabor. Parece-vos bem isto?!


COLUNA DO PRIMO

Por Prof. Ozinil Martins de Souza

Escola Superior de Cerveja e Malte e Faculdade Épica Brusque, Santa Catarina, Brasil Profissional de experiências diferentes e com vivência profunda nas áreas de Gestão de Pessoas e Educação. Movido a desafios e resultados tenho trabalhado em empresas que me ofereceram as condições para que a motivação me levasse a superar limites. Durante período de 7 anos trabalhei como consultor de empresas onde adquiri vivência em ramos diferentes de negócio, do comércio ao industrial. Em 2003 comecei a trabalhar como professor universitário vindo a exercer cargos de gestão como diretor de faculdade, próreitor de ensino presencial e reitor do Grupo Uniasselvi. Atualmente o desafio está no cargo que ocupo como Secretário de Educação de Indaial. Também executei trabalho em Cuba, onde atuei na implantação da área de Gestão de Pessoas na fábrica Brascuba Cigarrillos, subsidiária da Souza Cruz.


SE VOCÊ NUNCA ERRA O ALVO, ELE ESTÁ PERTO DEMAIS! A frase de Tom Hirshfield nos obriga a pensar. Por que a maioria das pessoas, seja individual ou coletivamente, estabelece, ao longo da vida, objetivos e metas que serão facilmente alcançáveis? Pensar pequeno dá tanto trabalho quanto pensar grande! Grandes desafios pautarão os próximos passos da humanidade, entre eles, o excesso populacional, as mudanças tecnológicas, ocupação de espaços, a extinção de espécies, o fim dos empregos como os conhecemos; cada um de nós é parte do problema, mas temos dificuldades em pensar nas soluções. Pode parecer apocalíptico, mas os fatos estão aí para comprovar os alertas recebidos dos mais variados meios. Somos todos, parte do problema e da solução; a humanidade bateu a marca de 8 bilhões de habitantes com o mundo mais convulsionado do que nunca. Guerras, as mais estúpidas possíveis, colocam em cheque, não só os povos envolvidos, mas toda a humanidade. Bom lembrar que, tanto a primeira como a segunda guerra mundial, iniciaram em função de pequenos atos e, transformaram-se em hecatombes ceifando milhões de vida. O meio-ambiente está pedindo socorro! Todos os dias somos informados de fenômenos da natureza que têm sua origem em atos produzidos pelas próprias vítimas. São furacões, secas, enchentes, temperaturas extremas, poluição, destruição dos corais e perda da capacidade dos oceanos de produzir oxigênio e, vamos parar por aqui porque a lista é longa. De outro lado o desenvolvimento tecnológico alcança níveis nunca vistos. Passamos da automação para a Inteligência Artificial em questão de poucos anos. A consequência mais visível é a transformação do mercado de trabalho exigindo profissionais com um novo perfil que, nenhuma escola ou universidade está ofertando ao mercado. As empresas buscam competências e habilidades, as escolas e universidades entregam diplomas e, a incompatibilidade está posta. Urge que a Educação, em qualquer nível perceba o que acontece e busque novos caminhos. O aumento populacional, em países mais pobres, associado ao desenvolvimento da tecnologia e a migração de povos gera um problema, potencialmente, explosivo. Há países em que sua cultura está sendo modificada radicalmente. As soluções para os problemas do mundo não são fáceis, mas têm que ser buscadas e, isto cabe, não só aos governantes, mas a todos que vivem no planeta. Porém, voltando ao início da coluna, estabelecer objetivos, não só pessoais como coletivos, parece não ser preocupação das pessoas; hoje, vive-se como se não existisse amanhã. A melhor definição que já ouvi sobre o problema é a de que a maioria das pessoas vive, ainda, na idade reptiliana em que a preocupação está em comer, repousar e reproduzir-se. Enquanto a maioria das pessoas não entender que é parte do problema não haverá solução para os problemas que afligem a humanidade. Foto:Freepik A cantora que esqueceu a letra do hino nacional me lembra de comentar sobre a execução do hino em estádios de futebol. Pouco tenho assistido futebol pois entendo que ele perdeu todo seu encanto que anteriormente atraía os torcedores, mas algo tem me chamado a atenção: a execução do hino antes das partidas. O que vejo é uma total falta de respeito ao símbolo da pátria. Jogadores continuam a fazer seus aquecimentos, torcedores cantam seus refrões clubísticos e, com exceções, o hino nacional é anarquizado. Penso que seria de bom senso eliminarem a execução do hino para preservação de seu sentido pátrio. Talvez isto remeta a um raciocínio de que ainda não somos um povo!!! Terminei de ler a biografia de Steve Jobs. 600 páginas de aprendizagem. Gestão inovadora, liderança, provocar as pessoas em busca do melhor de cada um, inovar sempre, simplicidade. Leitura obrigatória para quem é professor e gestor.


Em uma das passagens que mais me chamou a atenção, o autor da biografia cita que "os generais romanos, depois de grandes vitórias, ao entrarem em Roma, aplaudidos pela multidão, tinham ao seu lado um escravo falando intermitentemente - Memento Mori - (lembras que vai morrer)." Se os estúpidos que colocam a vaidade, a presunção, a grosseria, o dinheiro acima de tudo lembrassem como a vida é efêmera, talvez o mundo fosse mais civilizado e houvesse menos injustiça.


A construção da mediocridade! Qual a importância para o país e também para o seu futuro? De há muito os demógrafos comentam sobre o bônus demográfico. É óbvio, que pelo estágio educacional que o país se encontra, a maioria das pessoas nunca ouviu falar sobre o tema. Apesar de já ter escrito e comentado em minhas aulas sobre o bônus vamos explicar o que é e sua importância para o país e seu futuro. O Brasil vive desde algum tempo o fenômeno chamado de Bônus Demográfico. Esse fenômeno que acontece nos países apenas uma vez em sua história é decorrência da concentração das pessoas em idade de trabalho na parte mediana da pirâmide de idade dos países (entre 16 e 60 anos de idade). Pois bem, o Brasil vive esse momento em sua plenitude. Quando se analisam os dados demográficos do IBGE vemos que a hora de transformar o Brasil em um país rico é agora, pois em 2050 seremos uma população envelhecida com 25% da população acima de 60 anos. A janela do bônus encerra-se em 2034. Com o fechamento da janela previsto para 2034 restam-nos alguns anos para acumular a poupança que garantirá um futuro de qualidade aos brasileiros. Mas, o que vemos e, os primeiros dados divulgados pelo IBGE a partir da divulgação do censo de 2022 confirmam, é um rápido envelhecimento da população com uma série de problemas que tornam o futuro incerto. A PEA – População Economicamente Ativa – situa-se ao redor de 100 milhões de brasileiros, porém existem quase 40 milhões de brasileiros na informalidade onde garantem seu sustento, mas não acrescentam riqueza ao país, nem garantem contribuições para sua aposentadoria. O total do índice de desemprego situase ao redor de 7%, isto é, ao redor de 7 milhões de brasileiros não têm renda para garantir sua subsistência. Como a previsão de encerramento do bônus será em 2034 o tempo torna-se um carrasco implacável. Bom saber que há países que já passaram por este fenômeno e saíram-se muito bem. O exemplo de como isto pode ser feito com sucesso vem do Japão. As pessoas vivem, em média, 84 anos e, mais de 70 mil japoneses ultrapassaram a casa dos 100 anos; sua taxa de natalidade está em queda (em 2022 – 1,1 filhos por mulher) e não garante sequer a reposição da população ao nível atual. Em algumas de suas localidades as casas desabitadas estão sendo vendidas ao equivalente a R$5, e há um bônus de R$30.000, para aqueles que desejam adquiri-las. Tudo para garantir a ocupação de espaços por japoneses e descendentes. O Bônus Demográfico japonês ficou no passado, mas o trabalho realizado garante a seus habitantes um país com infraestrutura moderna, desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, educação de qualidade inquestionável, um dos países mais tecnológicos do mundo onde a robotização é um fato real e um sistema primoroso de atendimento aos idosos, principalmente porque muitos vivem sós. O respeito aos idosos no Japão é exemplar e, os que vivem sós, são monitorados a distância para acompanhamento de suas atividades físicas e médicas. Aqui, no sementário da incompetência, é importante preparar-se para um difícil período que se avizinha rapidamente.


Qual será o futuro do futebol? "Surpreendo-me ao confessar meu total desinteresse pelo futebol atual" Em 2020 a Associação dos Clubes Europeus contratou pesquisa para monitorar o interesse dos jovens europeus pelo futebol. O resultado mostrou o seguinte quadro: 13% dos jovens entre 16 e 24 anos disseram odiar o futebol, enquanto outros 27% disseram não ter nenhum interesse pelo esporte. As razões capituladas pelo desinteresse vão desde a preferência por esportes eletrônicos até a falta de emoção nos jogos e a duração das partidas. Em pesquisa conduzida pelo Datafolha, em janeiro de 2018, 41% dos brasileiros disseram não ter mais interesse por futebol; em 2010 a mesma pesquisa apurou que este índice era 10% menor, logo, o desinteresse pelo futebol vem em um crescendo. Óbvio que o resultado preocupou os “stakeholders” ingleses. Se o melhor futebol do mundo é praticado na Inglaterra, se lá se encontram os melhores jogadores do mundo, se é o campeonato que mais gera dinheiro para os clubes, o comprometimento do futuro fica claro pela diversificação do interesse de seu público potencial no futuro. Importante discutir por que o futebol perde interesse. Confesso que como acompanhante do futebol desde tempos remotos (em 1954, com 8 anos, acompanhei pelo rádio a Copa do Mundo da Suíça) até as encantadoras seleções de 1970 e 1982 surpreendo-me ao confessar meu total desinteresse pelo futebol atual desenvolvido por clubes brasileiros e pela própria seleção. As últimas apresentações da seleção brasileira mostram jogadores desmotivados, sem interesse, preocupados muito mais em viver seus minutos de fama do que jogar futebol. Hoje, para os jogadores, é mais importante a cor das chuteiras, como vai estar o colorido dos cabelos do que o resultado final da partida. O jogo das vaidades ganhou do resultado da partida. Parece-me que o problema do futebol brasileiro começou com o fim dos campos de várzea, engolidos pela especulação imobiliária e pelas escolinhas de futebol. Os jovens pobres e que transformaram o futebol brasileiro em celeiro da produção de craques, sumiram; as escolinhas engessaram o futebol e, ensinando, táticas e posicionamentos, acabaram com o improviso e a criatividade. Este problema veio para ficar e a tendência é agravar-se. Os Pelés e Garrinchas que nasciam nos campos de pelada em Bauru e Pau Grande desapareceram. Pessoas simples e humildes foram substituídas por jovens prepotentes que, transformados em ídolos, por uma imprensa sequiosa em criar craques, criaram um futebol chato e cheio de amarras em que, um pequeno choque se transforma em um espetáculo circense, a marcação de um pênalti em uma maratona de reclamações. O futebol ficou chato, muito chato! Arrisco-me a enviar um recado ao técnico Fernando Diniz, que reputo como exceção na mediocridade dos técnicos que por aí perambulam: nos próximos jogos das eliminatórias convoque só jogadores que atuam no Brasil. Deixe fora os jogadores que atuam no exterior, pois estes estão cheios de dinheiro e enfastiados de jogar. A matemática é simples: classificam-se 6 países em 10 disputantes e o 7 disputa com a Ásia a última vaga; é impossível não classificar-se com a concorrência de Bolívia, Peru e Paraguai. Até o Íbis se classificaria!


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1955




Equipe maranhense de handebol feminino é campeã dos Jogos Escolares Brasileiros A equipe do Barbosa de Godois irá representar o Brasil no sul-americano que será realizado em Santiago, no Chile de 4 a 9 de dezembro.

A equipe de handebol feminino da escola Barbosa de Godois (BGH) conquistou o título inédito dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) em 2023. (Foto: Reprodução) Por: Da Redação08 de Novembro de 2023 A equipe de handebol feminino da escola Barbosa de Godois (BGH) conquistou o título inédito dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) em 2023. As representantes do Maranhão venceram a equipe paulista do Mogi pelo placar de 30 a 28. PUBLICIDADE Agora a equipe irá representar o Brasil no sul-americano que será realizado em Santiago, no Chile de 4 a 9 de dezembro. O BGH teve um jogo difícil contras as paulistas, no tempo normal o jogo terminou empatado em 25 a 25. Na prorrogação, a equipe maranhense obteve uma vantagem de 2 gols, placar que seguiu até o fim da partida.



Natural de Santa Luzia, no Maranhão, a jogadora Eudimilla Rodrigues, de 22 anos, foi convocada para a seleção brasileira durante os amistosos de novembro e vai participar de jogos contra o Japão e a Nicarágua, até o final deste ano. Eudimilla era atacante da Associação Ferroviária de Esportes Guerreiras Grenás, e foi convocada para defender a Seleção Brasileira Feminina na mesma posição. Os dois jogos contra o Japão vão acontecer nos dias 30/11 e 3/12. E contra a Nicarágua, no dia 6/12. Por Virna Águida












OS HERÓIS DO BI CAMPEONATO Áureo Mendonça (*) Com a contribuição dos amigos, esses são os jogadores campeão do torneio intermunicipal de futebol 1967 pela seleção de Viana, alguns ainda estão vivos e merecem serem homenageados pelo que fizeram em prol do futebol vianense. Catarrinho, Coquinho, Nágua Velha, Vavá, Chucho, Marreco, Lobé, Lanchão, Carmelito Rocha e Pedro de Constantino. Na foto 1 somente 10 jogadores. Infelizmente não se sabe onde se encontra o troféu desse titulo, assim como do título anterior. Se a cidade tivesse um museu para expor suas relíquias provavelmente estaria no museu. As fotos originais se encontram em Pedro do Rosário MA. As fotos foram gentilmente cedida pela amiga. Catiane Aragao. (*)é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV.



LOBÉ O MAIOR GOLEIRO DA BAIXADA MARANHENSE DE TODOS OS TEMPOS (*) Nas décadas de 1960 e 1970 o futebol na baixada maranhense era bastante competitivo, a rivalidade entre as seleções de Viana e Penalva era muito grande dentro das quatro linhas e também entre os torcedores, época de celeiro de craques em ambas as seleções, se Viana tinha, Picirica, Zé Melo, Marreco, chucho, Dario, Lanchão entre outros, Penalva tinha Lobé, Florindo Melo o Caco Velho, Nágua Velha, Quarenta e três e Micuim e muito outros. Viana foi Bi campeã em 1966 e 1967 e já tinha sido vice- campeã em 1965. Penalva foi vice-campeão do Torneio Intermunicipal de Futebol em 1972. A seleção de Viana contratou 2 excelentes jogadores em Penalva para reforçar o elenco em busca do Bi campeonato de futebol intermunicipal, Expedito Cunha Mendes o Lobé maior goleiro da baixada maranhense e do futebol penalvense de todos os tempos e João Batista Lopes Furtado o Nágua Velha que foi um dos melhores jogadores do futebol penalvense. Os dois foram campeão do torneio intermunicipal pela seleção de Viana em 1967, quando Viana sagrou-se Bicampeã. Lobé nasceu na cidade de Penalva em 13 novembro de 1940, seu nome era Expedito Cunha Mendes, nome dado pela sua mãe Lacy Cunha, em homenagem a Santo Expedito, o santo das causas impossíveis. O apelido Lobé, é que o mesmo gostava muito de comer. Desde criança tinha aptidão pelo futebol, e aos 16 anos já estava como titular da seleção penalvense. Foi campeão do torneio intermunicipal jogando pela seleção de Viana em 1967, Penalva tinha dois grandes goleiros Gereba que foi o titular na decisão contra Pedreiras e Lobé que foi reserva na decisão e vice campeão do torneio intermunicipal de 1972, Lobé também jogou pela seleção de Pedro do Rosário. Lobé passou a residir em Pedro do Rosário, cidade fundada pelo seu irmão Pedro Cunha e Maria do Rosário. O jogador de futebol Expedito Cunha Mendes que foi goleiro conhecido como Lobé o maior goleiro de futebol penalvense e da baixada maranhense de todos os tempos. Em 1956 aos 16 anos de idade já era titular da seleção de Penalva e na época do torneio intermunicipal a rivalidade entre as seleções de Penalva e Viana era bastante acirrada. Se Viana tinha o craque Chucho maior goleador da seleção de Viana e da baixada maranhense que foi Bicampeão do torneio intermunicipal de futebol, Penalva tinha Lobé o maior goleiro da baixada maranhense de todos os tempos e também foi campeão pela seleção de Viana. Lobé tinha uma elasticidade incrível, pois pegava a bola com as mãos na costa, esse grande goleiro Lobé já na década de 1960 já fazia o que o goleiro colombiano Rene Higuita fez anos depois em copa do mundo, ou seja, segurar a bola com as mãos pelas costas.Tempos depois o goleiro Lobé foi contratado e atuou também pela seleção de Viana. Lobé mudou-se para o município de Pedro do Rosário onde foi um dos primeiros moradores na época que ainda era um povoado se tornando comerciante e uma grande liderança política. Foi eleito vice-prefeito do município de Pedro Rosário na chapa com o prefeito Adailton Martins no período de 2005 a 2008. Lobé faleceu em 20 de dezembro 2022 aos 82 anos de idade e foi sepultado na cidade de Pedro do Rosário MA, deixando eternas saudades aos familiares, amigos e a população do município de Pedro do Rosário. (*) Áureo Mendonça é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV Fotos: Zitevaldo Saraiva e Catiane Aragão. Na foto 1 Lobé está de camisa amarela e na foto 2 é o sétimo em pé.


























JOÃO EVANGELISTA BELFORT DUARTE (BELFORT DUARTE) NASCEU EM SÃO LUIS Nascimento 27/11/1883 Falecimento 27/11/1918 27 de novembro de 1883 e 1918

Nasceu nesta data e faleceu na mesma data do seu nascimento, João Evangelista Belfort Duarte (Belfort Duarte).Nasceu em São Luis e faleceu em Campo Belo (MG). Começou como médio e depois foi defensor, seu primeiro clube foi o Mackenzie, onde foi fundador deste clube, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1907, e foi jogar no América. Disciplinador e exigente, proibia atletas beberrões e fumantes, sendo que em 1908 trocou a camisa, então rubro-negra (de 1906 a 1908), pela atual vermelha. Foi Belfort quem abriu as portas do America aos atletas negros, e tinha tanto amor pelo clube que passou a viajar pelo Brasil, para divulgar o clube rubro e fundar novos "Americas" onde fosse possível. Foi Campeão pelo América em 1913, Belford Duarte foi quem traduziu as regras do futebol do inglês para o português. Também pregava a disciplina e o cavalheirismo no futebol brasileiro, uma delas foi a saudação as plateias dos jogos. O Prêmio, instituído pelo Código Brasileiro de Futebol em 1945 e oferecido a partir de 1946, previa a entrega de uma medalha de prata para o jogador profissional, ou de ouro, para o amador que passasse dez anos sem ser expulso, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais. O atleta recebia também um diploma e passava ser reconhecido por seus relevantes serviços prestados ao futebol. Teve uma morte trágica, foi assassinado, o motivo teria sido uma disputa de terras no pequeno sitio que morava.


A HISTÓRIA DE BELFORT DUARTE, A REFERÊNCIA DO FUTEBOL BRASILEIRO QUE TRANSFORMOU O AMERICA

Emmanuel do Valle A história de Belfort Duarte, a referência do futebol brasileiro que transformou o America (trivela.com.br)

Até há algum tempo, o termo “homem da Renascença” costumava ser usado para designar aqueles que, pelos seus inúmeros talentos e interesses, destacavam-se em diversos ofícios. Em sua trajetória no futebol, nos primórdios do jogo no Brasil, Belfort Duarte foi jogador, capitão, técnico, dirigente, por vezes árbitro e até uma espécie de relações públicas. Em suma, foi símbolo. Na mesma data, esta terça-feira, comemoramse 135 anos de seu nascimento e um século de sua morte, ele que foi e é um personagem histórico do America carioca e nome fundamental para colocar o clube entre as potências do futebol do Rio na década de 1910. Nascido em São Luis (Maranhão) em 27 de novembro de 1883, João Evangelista Belfort Duarte era filho de família influente: seu pai fora o primeiro governador republicano daquele estado e, mais tarde, embaixador brasileiro em Londres. Nos primeiros anos do novo século, o jovem seguiu para São Paulo, onde estudou no prestigioso Mackenzie College e conheceu Gabriel de Carvalho, com quem jogou pelo time do educandário, um dos mais fortes do futebol paulistano, atuando inclusive no primeiro jogo oficial de futebol no Brasil, contra o Germânia, em 1902. Mais tarde, diplomado em Engenharia, Belfort Duarte mudou-se para o Rio, então capital federal, onde logo arranjou um emprego na Light, a companhia de eletricidade da cidade, e também reencontrou Gabriel de Carvalho. O maranhense pretendia seguir jogando futebol e ingressar no Fluminense, então o clube mais


poderoso do futebol carioca, mas o amigo conseguiu persuadi-lo a entrar para o clube que defendia, embora este enfrentasse sérias dificuldades. A revolução no America Belfort se associou ao America em dezembro de 1907, num momento crítico para o clube, que havia rompido com a Liga de Football do Rio de Janeiro – do qual havia sido um dos fundadores, dois anos antes. Sem dinheiro e sem estrutura, por pouco não foi dissolvido. Mas o novo sócio arregaçou as mangas e se pôs a trabalhar: na noite de Ano Novo, ele organizou uma reunião de confraternização, tendo também como objetivo uma discussão de ideias para reerguer o clube. Foi o que deu ao America um impulso decisivo para sobreviver. Em retribuição, logo nos primeiros dias do ano seguinte, Belfort foi escolhido o capitão do time em Assembleia Geral na qual também foi eleito o presidente do clube para aquele ano. Um mês depois, o America era um dos clubes a assinarem a ata de fundação da Liga Metropolitana de Sports Athleticos (LMSA), a nova entidade que regularia o futebol carioca. E a revolução pela qual passava o clube tijucano não ficaria nisso: ele ganharia uma nova e indissociável identidade.

Pouca gente sabe, mas o America já foi alvinegro e rubro-negro. Da sua fundação, em 1904, até 1906, vestiu camisa inteiramente preta. No ano seguinte, por uma contingência, usou uma versão vermelha e preta com listras horizontais, semelhante à do Flamengo. A grande mudança se deu em 12 de abril de 1908. Foi nesse dia que se aprovou a sugestão de Belfort Duarte, por inspiração em seu velho Mackenzie, da mudança das cores do clube para vermelho e branco. Foi quando nasceu a clássica camisa rubra, que identificaria o clube dali por diante. A influência do jogador maranhense na história do clube não se encerra aí. Naqueles primeiros anos enquanto se reerguia, vagando pela Tijuca atrás de uma sede e um campo, o America chegou a se abrigar no porão da casa de Belfort. E só saiu de lá mais uma vez por intermédio decisivo do capitão, juntamente com o também sócio Luiz Carneiro de Mendonça, que acertaram a fusão com o Haddock Lobo, o qual entregou aos rubros o seu “ground” da Rua Campos Sales, 118 – onde até hoje se encontra a sede social do clube. Resolver a questão do campo de jogo era um desejo antigo de Belfort: em 1908, ele chegou a propor a construção de um “ground” central na cidade, para que as equipes – especialmente as da Zona Norte, frequentemente subjugadas à influência dos clubes da Zona Sul – tivessem um local onde pudessem se enfrentar em igualdade de condições. A proposta não foi adiante, mas dali a pouco mais de 40 anos, nasceria, nos mesmos moldes, o Maracanã.


Um modelo de disciplina Além do pioneirismo e da visão, Belfort Duarte também se destacava dentro de campo como um símbolo de disciplina. Era o primeiro a levantar o braço, antes mesmo da marcação do árbitro, para se acusar quando cometia uma infração. Seu conhecimento e sua devoção pela regra do jogo era tamanha que, em dado momento, insatisfeito com as interpretações díspares das leis, mandou buscar cópias do regulamento na Inglaterra e, com a ajuda da esposa, traduziu-as de próprio punho, no que seria a primeira versão das regras em língua portuguesa.

Era ainda um esportista gentil: foi por sua influência que pela primeira vez um time saudou a sua torcida e o adversário ao entrar em campo. Mas também não deixava de ser um jogador vibrante, que se empenhava até o fim pelas vitórias e chorava nas derrotas, bem como um líder exigente e enérgico quando preciso: não tolerava bebida e cigarro e, certa vez, em um amistoso, tirara de campo seu amigo Gabriel de Carvalho por ele ter se excedido em firulas desnecessárias. Dizia Mário Filho que Belfort era “o primeiro técnico – técnico mesmo – do futebol brasileiro. O time jogava como ele queria. Se alguém desobedecesse, estava barrado”. Os frutos desse rigor e dedicação foram colhidos em breve. O America passou a fazer campanhas mais consistentes e adquirir prestígio. Em agosto de 1911, fez seu primeiro jogo fora do Rio, a convite do Paulistano, campeão de São Paulo, no Velódromo. Em outubro do mesmo ano, tornou-se o primeiro time carioca a jogar em Belo Horizonte, onde venceu o Yale por 1 a 0. O primeiro título Para marcar a afirmação definitiva do America como um dos grandes clubes da cidade, só faltava mesmo o título. E ele viria em 1913, com Belfort Duarte na zaga, além de outros nomes que se tornariam históricos nos primeiros tempos do clube. Eram os casos do goleiro Marcos Carneiro de Mendonça, do ponta-direita Guilherme Witte (o “homem de borracha”), do meia Gabriel de Carvalho (o amigo de Belfort) e do centroavante chileno Fernando Ojeda. O campeonato começou com a participação de dez equipes, das quais três seriam eliminadas do returno. E o America largou arrasador, goleando o Americano do Rio (não confundir com o de Campos) por 9 a 1, o


Mangueira por 5 a 0 e o São Cristóvão por 7 a 1. Em seguida, bateu o Fluminense nas Laranjeiras por 3 a 1 e arrancou uma difícil vitória por 1 a 0 sobre o Rio Cricket, clube “dos ingleses de Niterói”, em Campos Sales. A primeira derrota veio na sexta partida, para o Botafogo em General Severiano (2 a 0). Mas o time se recuperou e fechou o turno vencendo o Bangu (3 a 0), o Paissandu (3 a 0) e o Flamengo (1 a 0), jogando sempre em Campos Sales. O campeonato foi então interrompido durante o mês de setembro devido à visita da seleção do Chile, que fez quatro partidas na cidade, uma delas contra o America, naquele que seria o primeiro jogo internacional da história do clube.

Na primeira partida do returno, o time voltou a vencer o Fluminense, agora em Campos Sales, por 5 a 4. Em seguida voltou a perder para o Botafogo, novamente em General Severiano (1 a 0), antes de ganhar os pontos do jogo com o Paissandu pelo não comparecimento do adversário. Na rodada seguinte, mais uma difícil vitória sobre o Rio Cricket, desta vez em Niterói (2 a 1), e em seguida, a terceira derrota, 1 a 0 para o Flamengo. Mesmo com o revés diante dos rubro-negros, o America chegou ao seu último jogo – uma partida adiada com o São Cristóvão – precisando apenas do empate para levantar a taça. Mas o time, muito desfalcado, perdeu por 1 a 0, terminando empatado em pontos com Flamengo e Botafogo. Dois dias depois, no entanto, soube-se que o clube cadete colocara em campo um jogador não inscrito na liga, fazendo-se passar por seu irmão (este sim inscrito). A questão foi para o conselho da liga, o qual decidiu, por 8 votos a 2, pela anulação do jogo, que foi remarcado. A crise em meio à glória Os desfalques na partida anulada se deveram a algo que o America voltaria a enfrentar muitas vezes ao longo de sua história: uma crise política e institucional que atingiria o elenco bem no meio de um bom momento do time. Acontece que o ano de 1913 já se desenhava turbulento em razão do processo sucessório da diretoria, e que tinha Belfort Duarte (então acumulando o cargo de tesoureiro) como um dos personagens centrais. A enorme influência do maranhense no clube incomodava e por muitas vezes conflitava o próprio presidente do clube, Alberto Carneiro de Mendonça, que renunciaria ao cargo em agosto. Em outubro, uma eleição é convocada e aponta Guilherme Medina como novo mandatário, mas ele também renuncia quase imediatamente, buscando uma conciliação entre as chapas, o que não ocorre. Um mês depois, em novo pleito, Medina é novamente eleito, o que provoca uma ruptura interna, com a saída de vários sócios, em especial a família Carneiro de Mendonça.


É nesse contexto de deserção, inclusive de jogadores (que também eram associados), que vem a derrota para o São Cristóvão. E com a anulação da partida, há uma pacificação temporária: pelos jornais, Belfort anuncia que deixará seu cargo de dirigente caso os desertores aceitem voltar para a partida decisiva. O grupo retorna e, com time completo, o America bate o São Cristóvão por 1 a 0, gol de Guilherme de Carvalho, e enfim comemora seu primeiro título. Logo em seguida, no entanto, os dissidentes deixam o clube de modo definitivo. A perda mais sentida seria a de Marcos Carneiro de Mendonça, que se transferiria para o Fluminense, onde se sagraria tricampeão carioca ao fim da década e ainda entraria para a história como o goleiro da primeira partida oficial da Seleção Brasileira, em 1914. Além dele, também deixaram o America seu irmão Luiz Carneiro de Mendonça (que atuava na zaga ao lado de Belfort Duarte), o trio de médios Mendes, Jonatas e Lincoln e o ponta-esquerda Aleluia. O fim da carreira e da vida Para repor as perdas com a saída dos dissidentes, o America trouxe reforços de peso para o campeonato de 1914: chegaram o goleiro Casimiro do Amaral, da seleção paulista, o zagueiro chileno Héctor Parras, o médio-direito Badu, do Mangueira, e os irmãos uruguaios Augusto e Juan Carlos Bertoni. Mas o time não conseguiu superar o Flamengo – que levantou seu primeiro título carioca – e terminou com o vicecampeonato. Seria ainda o último campeonato completo com a presença de Belfort Duarte no centro da defesa americana. Em abril de 1915, antes do início da temporada regular, o America recebeu um combinado de jogadores alemães radicados em São Paulo para a disputa de um amistoso em benefício da Cruz Vermelha. Venceu com facilidade por 6 a 1. Mas, durante a partida, Belfort lesionou-se com gravidade e teve de deixar o campo. Em meio às infrutíferas tentativas de se recuperar, ainda disputou as primeiras partidas do campeonato daquele ano – a última delas diante do Flamengo, numa vitória rubro-negra por 4 a 2, pela quinta rodada, em 11 de julho.


Penduradas as chuteiras aos 31 anos, Belfort ainda participaria por algum tempo da vida do clube, mas aos poucos se afastaria. O America agora já era outro, e sua influência havia diminuído. Naquele ano de 1915 começaria o quadriênio de Fidelcino Leitão na presidência, no qual o clube registraria um notável crescimento em termos de organização e estrutura. E o segundo título carioca, em 1916, veio confirmar a colocação do clube entre os grandes da cidade. O afastamento gradual de Belfort significou deixar até mesmo a capital federal. Mudou-se com a família para um sítio em Campo Belo, distrito de Resende, no estado do Rio. E lá morreria de forma trágica, numa triste ironia pelo que representou em vida: seria assassinado em meio a uma disputa de posse de terra, no dia de seu aniversário de 35 anos. Segundo sua filha, Belfort morreu vestindo a camisa do America. Entre outras homenagens, o clube decretou luto oficial de 30 dias, com bandeiras hasteadas a meio mastro. Apaixonado pelo clube rubro, o maranhense acreditava ter como missão espalhar novos Americas pelo Brasil e chegou a visitar dezenas de cidades do país para incentivar a fundação de clubes inspirados nos tijucanos, sendo quase sempre bem-sucedido. Após sua morte, chegou a receber homenagens até de clubes com os quais nunca tivera relação: em 1932, o Coritiba recebeu o America para a inauguração de seu estádio na capital paranaense, que levava o nome de Belfort Duarte até ser rebatizado como Couto Pereira em 1977. Mas talvez o maior reconhecimento de sua carreira e de sua defesa do jogo limpo foi a criação do Prêmio Belfort Duarte pelo Conselho Nacional do Desporto (CND), em 1946 (e vigente até 1981). O jogador que permanecesse dez anos sem ser expulso de campo, tendo completado pelo menos 200 jogos entre partidas nacionais e internacionais, recebia um diploma, uma medalha e uma carteirinha que lhe dava livre acesso a todos os estádios do país.


Belfort Duarte, o maior ‘esquecido’ da história do Futebol Brasileiro Cronista vai a último jogo do lendário zagueiro e revela a leitores de 1915 que até o estádio que ganhará o nome dele chegará em 2022 rebatizado Por Claudio Henrique @comentaristadofuturo Atualizado em 15 de nov, 2022, 17:17 - Publicado em 15 de nov, 2022, 17:14

Felizes aqueles que estiveram ontem, como eu, no campinho da Rua Campos Sales, na Tijuca, onde, pela quinta rodada do Campeonato Carioca em curso, o Flamengo derrotou o América por 4 x 2. E digo isso não porque tenhamos testemunhado, entre os seis tentos da peleja, mais alguma inesperada e fascinante jogada no cada vez mais querido e empolgante esporte que trouxemos há 20 anos da Inglaterra e parece caminhar a passos largos para superar o Remo na preferência dos brasileiros. Deu-se ontem no estádio que há quatro anos pertence ao alvirrubro carioca um marco na história do nosso Futebol: a despedida do zagueiro Belfort Duarte, indiscutivelmente um dos mais relevantes responsáveis pela consagração deste jogo por aqui e referência incontestável de fibra, liderança e conduta nos gramados. Como sou um ‘Viajante do Tempo’, creiam-me, é com tristeza que revelo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1915, que no próximo século os amantes da Mundo da Bola no Brasil (e no mundo!) terão semelhante ou ainda menor percepção sobre o valor e a importância deste jogador, referência tão inigualável como esquecida pelas décadas que estão por vir. Anotem: o caráter deste jogador o fará batizar um futuro prêmio nacional, que será concedido a jogadores de melhor comportamento nas disputas, e até um estádio – mesmo isso sendo muito pouco diante de sua grandeza. Mas em 2022, de ‘quando’ venho, nenhum dos dois mais existirá. Assim como sequer uma estátua fará jus ao atleta e também treinador e dirigente do América. Felizes aqueles que não se iludem com o reconhecimento eterno, pois ele não existe. Para os que ainda não sabem, registro aqui que foi Belfort Duarte quem traduziu as regras do Futebol para o Português, fundou o primeiro clube genuinamente nacional (só com jogadores brasileiros), o Mackenzie College, em São Paulo, trouxe o primeiro time de fora do país (chileno) para jogar em nossas terras, criou em 1909, num jogo contra o Botafogo, o ritual de jogadores saudarem a torcida ao entrar em campo e, seu maior legado, demonstrou em campo a nobreza e importância de valores como Disciplina e Honestidade. Mesmo impetuoso e obcecado pela vitória, Belfort era o primeiro a levantar a mão se acusando aos juízes por alguma falta que cometera, até em penalidades máximas, não enxergando glória em triunfos que não sejam conquistados com lisura e respeito às regras.


Vigoroso, mas extremamente leal, cometeu pouquíssimas faltas em sua carreira, e por isso vai inspirar o lançamento da tal premiação que já adiantei nesta resenha, oficialmente conferida, a partir de 1946, a atletas que venham a passar 10 anos sem serem punidos por violência em campo – no futuro, excessos serão penalizados com expulsão do agressor. Triste saber que daqui a 107 anos o que será inapelavelmente derrubado é a memória e o reconhecimento a este gigantesco desportista. Ok, vá lá, em 2022 existirão três ruas em cidades brasileiras chamadas Belfort Duarte, São Paulo, Foz do Iguaçu e Fortaleza, no Ceará. Mas vocês sabem como é: como grande parte dos nomes em placas de rua, o pessoal não vai ter a menor ideia de quem se trata o ilustre cidadão. O fim da gloriosa trajetória do zagueiro nos gramados teve início há poucas semanas, em partida beneficente do América para angariar fundos à Cruz Vermelha. Jogando contra um time de alemães radicados em São Paulo, o clube alvirrubro não teve dificuldades para alcançar a vitória (6 x 1), mas seu capitão (e também treinador) levou uma forte bolada no peito, dando início a uma incômoda e persistente dor que o levará a tomar a decisão de pendurar as chuteiras depois de ontem. A boa notícia é que não se afastará do esporte, seguindo como dirigente do América carioca e também de sua ‘filial’ paulistana, como técnico da equipe (com a qual ano que vem conquistará o segundo título estadual do clube) e juiz – foi dele, inclusive, o apito na primeira partida oficial, em 1912, de uma agremiação muito popular no futuro, o Flamengo. Predestinado, este Belfort. O maranhense João Evangelista Belfort Duarte, nascido na capital São Luís, ainda criança veio para São Paulo, onde iniciou seu contato e o amor pelo Futebol. Mudou-se para o Rio há nove anos, em 1906, e já se entregando de corpo e alma ao América, nova paixão. Dois anos depois, já demostrava sua personalidade forte ao convencer todos e trocar as cores do clube (de ‘preto e branco’ para ‘vermelho e branco’, inspirado no Mackenzie) e a bandeira, que tornou-se semelhante à do Japão (branca, com círculo vermelho e as letras AFC). Começou jogando de ‘médio’, logo passando a zagueiro, mas pouco importava sua posição pois sempre foi onipresente no clube, seja como capitão, diretor-geral, tesoureiro… É também mérito seu a abertura das portas do América a jogadores negros, outro avanço significativo e muito aguardado no esporte. Filho do ex-governador do Maranhão Francisco de Paula Belfort Duarte, Belfort formou-se em Engenharia Civil (no Mackenzie), é culto e detentor de eloquência encantadora, a mesma que vem distribuindo pelo país em sua obsessão de abrir muitos ‘Américas’ pelo território nacional. Em 2022, anotem, ainda existirão ao menos 7. “O América não recebe nada de graça; tem de lutar para viver”, será sua frase mais lembrada. Ou melhor, mais esquecida.

Prêmio Belfort Duarte Incansável, cedeu duas casas em que morava para servir de sede do clube: uma em Vila Isabel; a segunda na Tijuca (essa, em 2022, pelo que vi, permanecerá em pé). Sempre buscando fortalecer a entidade frente aos “privilégios’ concedidos aos clube da Zona Sul da capital federal, com planos, inclusive, de construir um


estádio na área Norte da cidade – o que, revelo a vocês, acabará acontecendo, daqui a 35 anos, quando surgir aquele que chamaremos de ‘Maracanã’, como o rio vizinho. Primeiro a chegar aos treinos, Belfort Duarte é do tipo ‘mandão’. Um importante jornalista e escritor do futuro, Mário Filho, sempre dirá que Belfort foi “o primeiro técnico – técnico mesmo – do futebol brasileiro”. O time sempre jogou ‘como ele queria’. E ai de quem desobedecesse… Os incessantes gritos com os companheiros e também as ‘cadeiras’ largas de seu corpo lhe renderam um apelido no mínimo debochado: “Madama” – mas que ninguém profere a sua frente, claro. Foram muitas as vezes em que acabava visto em lágrimas após derrotas do seu amado clube, e já adianto aos amigos e detratores que o adeus nos campos não o afastará do cotidiano americano. A partir de hoje, até cartas escritas do próprio punho serão comuns chegando ao Onze da Zona Norte carioca, com orientações e conselhos do ‘paizão’. E também aparições inesperadas em treinos e partidas, muitas vezes no intervalo, indo ao vestiário dar os seus ‘pitacos’. A palavra de Belfort Duarte se manterá tão importante que será ela que, em breve, vai dar sinal positivo para a venda de um terreno em São Paulo ao Palestra Itália (‘Nota da Redação da Placar em 2022: antigo nome do Palmeiras’), que lá construirá seu estádio. Mas nada se compara à principal influência e herança de Belfort Duarte nas próximas décadas: a criação do Prêmio com seu nome, reforçando no país um conceito que, apresento a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1915, no futuro chamaremos com o anglicismo ‘Fair Play’ (‘Jogo Justo’) – expressão criada em 1896, nas Olimpíadas de Atenas, pelo Barão de Coubertin, organizador dos Jogos, que disse a célebre frase: “Não pode haver jogo sem fair play. O principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta”. No futuro, uma entidade mundial que reunirá todos os países que praticam o Futebol (serão praticamente todos), a ‘FIFA, lançará campanhas e distribuirá premiações à equipes com mais ‘Fair Play’, mas isso somente daqui a 63 anos. O Prêmio Belfort Duarte será lançado no Brasil, atenção, 30 anos antes! O primeiro jogador a receber a medalha será um ‘half-direito’ de um time do Paraná (‘Nota da Redação da Placar em 2022: Antonio Motta Espezim (1914–2010), o Tonico do Coritiba E. C., agraciado em 25 de junho de 1948), curiosamente a mesma agremiação que, daqui a 17 anos, dará o nome de Belfort ao seu novo estádio – homenagem que se prolongará apenas até 1977. Importantes craques do futuro ganharão a honraria inspirada no zagueiro. Anotem alguns nomes e podem me cobrar: Castilho, Didi, Evaristo, Telê, Félix, Pepe e Vavá. Mas infelizmente, assim como o nome do estádio no Paraná, a premiação também será extinta, em 1981. Virão duas tentativas de reeditá-lo, mas sem sucesso. Qualquer iniciativa a favor do ‘Fair Play’ será sempre benvinda, é claro, mas a triste verdade que trago do Amanhã, leitores e leitoras de 1915, é que não conseguiremos transformar o Futebol em um convento de irrepreensíveis devotos da Honestidade. Até gol com a mão teremos numa Copa do Mundo (competição que passará a reunir seleções de todo o planeta). E o autor do tento, nada ‘santo’, o batizará de “La Mano de Díos” (‘A mão de Deus’).

O time do América na década de 1910


Mas teremos sim bons exemplos no Brasil e no mundo, inclusive, já no Século 21, de um também zagueiro, de nome Rodrigo Caio, que em 2017, num confronto entre São Paulo e Corinthians, surpreenderá a torcida brasileira, desacostumada com atitudes assim, ao se denunciar ao árbitro e reverter uma punição ao atacante adversário. Cinco meses depois, porém, este mesmo oponente inocentado fará um gol de mão e se manterá ‘caladinho, caladinho…’ Na Europa, cinco anos antes, assistiremos a um emblemático caso de “falta de Fair Play’, quando um jogador brasileiro, Luiz Adriano, se aproveitará de a defesa dinamarquesa do Nordsjaelland estar parada, aguardando uma previsível e obrigatória devolução da bola, para avançar e marcar um gol pelo Shakhtar Donetsk. Ao menos será punido por isso (suspensão de 1 jogo). Teremos no Brasil um também defensor que, nos anos 1970, vai proferir curiosa e polêmica ‘pérola’: “Zagueiro que se preza não ganha o Belfort Duarte”. (‘Nota da Redação da Placar em 2022: Moisés, o ‘Xerife’, que atuou por Bonsucesso, Botafogo, Vasco, Flamengo, Fluminense, Paris Saint Germain e Bangu). O tal ‘Fair Play’, adianto a vocês, nunca será unanimidade. Para finalizar, gostaria de ‘dar uma de Belfort’ aconselhando o próprio a não se mudar para Resende (RJ) – coincidentemente a cidade Natal do outro zagueiro citado acima – ou ao menos não se enervar com discussões com vizinhos, e mais não digo. (‘Nota da Redação da Placar em 2022: Belfort Duarte seria assassinado com tiros no peito três anos após a despedida dos gramados, em 27 de novembro de 1918, mesma data de seu aniversário. Estava completando 35 anos. A família conta que no momento do crime ele vestia uma camisa do América-RJ). Para compensar meu sigilo, revelo a todos vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1915, que essa quinta edição do Campeonato Carioca de Futebol será vencida pelo Flamengo, no primeiro título invicto de sua história. Em Recife, saibam, outro Flamengo, inspirado no clube carioca, se sagrará este ano campeão da primeira edição do Campeonato Pernambucano. Mas em 2022 a agremiação já terá sucumbido ao Tempo. Assim como a obrigatória e merecida reverência que todos devemos ter ao gigante chamado Belfort Duarte. Obrigado, Capitão!

PARA VER LANCES DE FAIR-PLAY (e ‘falta de’) NO FUTEBOL https://www.youtube.com/watch?v=_DB4V263_7o&ab_channel=DNAFutebol https://www.youtube.com/watch?v=DdNRhiEyjU0&ab_channel=Desimpedidos https://www.youtube.com/watch?v=GwPFjfKyC48&ab_channel=InfoBall FICHA TÉCNICA FLAMENGO 4 x 2 AMÉRICA-RJ Competição: Jogo válido pela 5ª Rodada do Campeonato Carioca de 1915, 1º Turno, a Taça Colombo Data: 11 de julho de 1915 (domingo) Local: Estádio América Football Club, na Rua Campos Salles (Tijuca, Rio de Janeiro) Público: Desconhecido Árbitro: Flávio da Silva Ramos FLAMENGO: Cazuza, Píndaro e Nery; Curiol, Lawrence e Gallo; Baiano, Sidney Pullen, Borgerth, Riemer e Raul Técnico: ‘Ground Committee’ liderado por Emmanuel Augusto Nery AMÉRICA-RJ: Ferreira, Paulino e Belfort Duarte (capitão); Paula Ramos, Jônatas e Badu; Witte, Gabriel Carvalho, Ojeda, Álvaro e Haroldo Técnico: João Evangelista Belfort Duarte Gols: Primeiro Tempo: Raul, aos 8′; Sidney Pullen, aos 42’; Segundo Tempo: Riemer, a 1′; Gabriel Carvalho, aos 7′; Riemer aos 8′; e Ojeda, aos 33’



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