REVISTA DO LÉO 88 - AGOSTO 2023

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REVISTA DO LÉO

NÚMERO 88 – AGOSTO – 2023

MIGANVILLE – MARANHA-Y

“águas revoltas que correm contra a corrente”

LAZEIRENTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536
REVISTA

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 8328 2575

CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 20 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

E começam os Jogos...

Vê-se notícias de muitos municípios maranhenses de que os Jogos Escolares, fase municipal, já iniciaram... assim como outras seletivas, como os Paralímpicos, e os JUBs... mas também se observa os pedidos de ajuda, de atletas, para participar de eventos regionais e nacionais, com a realização de rifas, de cotas, enfim...

Por outro lado, observamos a participação de atletas maranhenses em vários eventos nacionais e mesmo, internacionais, com bons resultados. Todos sem ajuda do Estado...

Equipes utilizando oprogramadeesportes daSEDEL,masamaioriados atletas,defora; doMaranhão, apenas o dinheiro e a camisa...

Atletas maranhenses fazendo sucesso fora do estado, e mesmo do País, pois aqui, não encontram mais incentivo para permanecer...

Os campeonatos, antes com um calendário definido, não se houve mais falar...

O que está acontecendo? Leigos, políticos sem expressão, e que perderam eleições, são colocados, tal qual jabuti em árvore, na SEDEL – estado e municípios – como compensação... dá nisso...

Mas vamos falar do CEV – Centro Esportivo Virtual – que, segundo o Laércio, seu idealizador e fundador, estaria completando 27 anos de atividade... só que não!!!

Na minha modesta opinião, o CEV nasceu em 1979... junto com a SEDEL!!! Ou apesar da SEDEL... uma iniciativa para agregar os vários entes que faziam o esporte maranhense àquela época: a própria SEDEL, a UFMA/EF, a UEMA/EF, e a então ETFM/EF...

A ideia era – e ainda é!!! – a disseminação da informação!!! A internet estava começando a dar seus primeiros passos. Textos – escritos – apareciam em uma ou outra revista especializada – e eram tão poucas... então “informação sobre a informação” era crucial. Em um estudo realizado naquela época – 1980 – dava conta de que um artigo científico sobre esportes levava, pelo menos, cinco a oito anos para aparecer em língua portuguesa – do Brasil -; de sua concepção pelo autor – pesquisa, digamos -, até a sua publicação, pelo menos dois anos: isso, em língua inglesa ou francesa...; sua tradução para o espanhol, cerca de dois anos mais; e depois, a tradução para o português, cerca de mais três anos, ou mais... e dai, sua publicação...

Era essa a defasagem que tínhamos, em relação ao que acontecia no resto do mundo... Esse mesmo prazo, da concepção à publicação, no Brasil, dois anos, mais dois anos ou mais... funcionava mais a comunicação interpartes, via “colégio invisível” ou mesmo “gatekepers”. Os encontros davam-se nos raros congressos e seminários que aconteciam... Os Correios eram o meio mais rápido de comunicação, depois do telefone...

Aí, nesse ambiente, que surge o CEV... onde está a informação de que necessitamos? Como colocar as partes

o produtor do conhecimento com o consumidor desse conhecimento – em contato...

ContávamoscomaSBPC,fundadaem 8dejulhode1948,quandoumgrupo decientistas,reunidono auditório da Associação Paulista de Medicina, decidiu fundar uma Sociedade para o Progresso da Ciência, nos moldes das que já existiam em outros países. Era um momento da história da humanidade marcado pelo fim da segunda guerra mundial, e por todo o planeta as nações tomavam consciência da necessidade imprescindível de incentivar a ciência para promover o desenvolvimento social e econômico. Os primeiros anos de existência da SBPC coincidem com o reconhecimento e a institucionalização da ciência no Brasil, com a criação pelo governo federal de organizações como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 1951), e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, 1951). São essas organizações, aliadas a uma rede de instituições de ensino superior que se estruturava, e ao fortalecimento da comunidade científica, que aos poucos permitiram ao País demonstrar a capacidade de produzir e utilizar conhecimento científico e tecnológico.

UM PAPO

Em 1974, tivemos a fundação do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, que reúne profissionais da área da educação física, medicina, nutrição, fisioterapia e demais áreas afins, com o propósito de fomentar a pesquisa, disseminar o conhecimento e formar recursos humanos na área das Ciências do Esporte, Atividade Física e Saúde.

Criado em 1978, o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) é uma entidade científica que congrega pesquisadores/as ligados/as à área de Educação Física/Ciências do Esporte. Organizado em Secretarias Estaduais e Grupos de Trabalhos Temáticos, liderados por uma Direção Nacional, o CBCE possui representações em vários órgãos governamentais. Afiliado à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o CBCE está presente nas principais discussões relacionadas à área de conhecimento. O seu evento científico nacional, o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), realizado a cada dois anos, está entre os principais do país. Além disso, são realizados periodicamente congressos estaduais e ou regionais, bem como encontros dos Grupos de Trabalho Temáticos, sempre de relevada importância e contando com ampla participação da comunidade acadêmica. Nos últimos anos, a estrutura administrativa de nossa entidade foi profissionalizada e suas ações tornaram-se cada vez mais visíveis. Com tudo isso, convidamos você a ser associado do nosso Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.

Para quem estava fora do circuito Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais-Paraná e Rio Grande do Sul, participar dos eventos era por demais difícil, demandando horas e horas em ônibus, e/ou muito dinheiro em avião...

E a Educação Física & Esportes sempre foi o ‘patinho feio’ dessa área, visto estar ‘colocada’ na área das ‘ciências da saúde’...

Numa manhã de 1979 – um domingo!!! – decidiu-se que a Educação Física se fazia da área da Antropologia – do estudo do Homem – e não da Saúde!!! Havia sido criado um colegiado das Ciências do Esporte!!! Ainda ligado à área médica – Fisiologia do Esforço -, dominado por médicos, desde a criação da SBPC, da qual se derivou...

Era uma posição pessoal!!! Do criador do CEV...

A visita de professores portugueses – Manuel Sérgio, Jorge Bento – que falavam em Motricidade Humana, os estudos franceses sobre Psicomotricidade, e a vinda de Augusto Listello – francês -, mudaram o pensamento, criando-se uma ‘crise’ – até hoje existente – na Educação Física & Esportes brasileira...

Os primeiros cursos de pós-graduação surgem por essa época, pois em março de 1977, a USP dava início a um curso de mestrado na área de educação física, destinado à capacitação de docentes para o ensino superior e à produção de conhecimentos por meio da qualificação para a pesquisa. Pioneiro na América Latina, o programa de pós-graduação ganharia também um doutorado em 1989. A ‘criação’ de um pensamento tupiniquim, ora fortemente influenciado – até hoje – pela Medicina, ora voltado por aspectos Socioantropológicos. Aaproximação com as Ciências Sociais e Humanas através da obra de dois sociólogos despontam por terem se debruçado e produzido sobre o fenômeno esportivo: o francês Pierre Bourdieu e o alemão Norbert Elias, que são referências nas pesquisas no Brasil.

Estávamos numa fase de transição...

A criação de uma secretaria voltada para os esportes e o lazer, no Maranhão, foi, também um marco... Deixávamos o programa ‘Esporte para Todos’ para entrar na área do Lazer... no seu aspecto mais amplo!!!

Surge então, a ideia do CEV... desse cadinho...

E eu estava lá!!!

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor

27 ANOS DO CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL

O PROTESTO DOS POBRES É A VOZ DE DEUS

NAVEGANDO COM JORGE BENTO COLUNA DO PRIMO

JOSE MANUEL CONSTANTINO DE IMPERATRIZ PRO MUNDO

MANUEL SÉRGIO

DAVI HERMES BRILHOU MAIS UMA VEZ NO MEETING BRASILEIRO DE NATAÇÃO CDBI 2023

SÃO RAIMUNDO, DOS MULUNDUNS - QUEM – OU O QUÊ – FESTEJAR?

SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUNS, “O FALSO SANTO DO MARANHÃO”

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

SUMÁRIO EXPEDIENTE 2 EDITORIAL 3 SUMÁRIO 4

O PROTESTO DOS POBRES É A VOZ DE DEUS (ARTIGO DE MANUEL SÉRGIO, 383)

Por Manuel Sérgio.

Em A Bola, 2023.

Quando, em 1983, visitei, pela primeira vez o Brasil, a convite do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), não esperava passar por uma experiência tão profunda, tão inesperada, como a que vivi, na pátria dos meus queridos Lino Castellani Filho e Laércio Elias Pereira, que foram esperar-me, em São Paulo, ao aeroporto e que assim me acolheram, num sorriso amplo, fraterno: “Nas nossas humildes pessoas, é o Brasil que o abraça”(sic). Um país que, digo já, me proporcionou a revelação de mais latas dimensões da vida. Lino Castellani Filho e Laércio Elias Pereira continuam figuras respeitadas e prestigiadas da Educação Física brasileira e a eles devo o meu primeiro agradecimento pelo muito e belo e avassaladoramente humano, que aprendi no Brasil. Não, não foi a vertigem da novidade, a curiosidade continuamente estimulada, os sentidos abertos, como pétalas frementes, de um certo erotismo. Eu levava na minha mala o resultado das minhas leituras de Michel Foucault, onde se me tornara evidente que a educação física nasce, como disciplina médica, no século XVIII, o século áureo do racionalismo, e sofrendo do dualismo antropológico cartesiano. A Razão era a imagem imperial do pensamento, a que o corpo, simples matéria, deveria subjugar-se. Mas o que, francamente, me surpreendeu foi o trabalho tão religioso, como social e político, de toda a Igreja latinoamericana. A Igreja Católica era (é) a “Igreja dos Pobres”, assim o pensam e o dizem os vários episcopados da América do Sul. “O fundamento da própria opção preferencial pelos pobres e da própria solidariedade com os indigentes, descobre-o a Igreja no misterioso plano salvífico de Deus, revelado no exemplo de Jesus, que anuncia o reino aos oprimidos e marginalizados, nos quais a imagem divina se acha obscurecida e também

escarnecida. Deus ama particularmente os pobres e defende-os. Eles são os primeiros destinatários da missão, porque a sua evangelização foi sinal e prova da missão de Jesus” (Brotéria, Novembro de 1985, p. 390).

A D. Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, ouvi eu esta frase que nunca esqueci:”O protesto dos pobres é a voz de Deus”. Ora, quando o Papa Francisco foi eleito, advindo da América Latina, logo me veio à mente a “Igreja dos Pobres”, quero eu dizer: uma eclesiologia humilde, fraterna, de comunhão, intencionalmente diaconal e carismática, que fazia sua a luta dos pobres, dos marginalizados pela sociedade injusta, em prol da sua libertação social e política. A Igreja era pensada e sentida como missionária, como evangelizadora, mas o seu anúncio do Evangelho significava também compromisso com um “povo de Deus” concretamente condicionado por uma economia liberal que em si comporta princípios de exclusão e desigualdade crescentes”. E quando o Papa Francisco proclama, logo no início do seu pontificado, que… “esta economia mata”; quando fez de Francisco de Assis o seu patrono, tomando o nome do Santo de Assis; quando deixou de viver nos faraónicos aposentos papais, para fazer seus os poucos metros do quarto de um colégio; quando o destino dasuaprimeiraviagem, forado Vaticano,em Julho de2013,foiailhaitalianadeLampedusa onde desaguavam, diariamente, milhares de refugiados africanos, alertando, então, emocionado, para a “globalização da indiferença”; e muito mais poderia lembrar, neste momento – tive a nítida sensação que a responsabilidade social da Igreja diante de situações económicas e sociais e políticas de extrema desigualdade, pois que uma reduzida minoria, na América Latina e no mundo todo, possui a esmagadora maioria dos recursos, tendo em conta as exigências do bem comum: seria o objetivo primeiro (não o essencial) do seu pontificado. Aliás, à imitação de Jesus Cristo que multiplicava, milagrosamente, os pãos e os peixes, para alimento das multidões que O queriam escutar…

É evidente que este Papa o que pretende dizer, sobre o mais, é que a Boa Nova de Jesus Cristo corresponde às aspirações mais profundas e universais da natureza humana e portanto, para ela, é também pecado a fome e todas as situações de violência e de miséria e de injustiça económica e social. O que este Papa pretende dizer, sobre o mais (assim o penso eu) é que não se é cristão se não se é exemplarmente humano. Todos temos defeitos (cheguei ao fim da minha vida e reconheço e lastimo os meus). Fiz a peregrinação pelas grandes escolas filosóficas, mormente do Iluminismo até hoje, e cheguei a descrer no Deus que os meus queridos pais me ensinaram a crer e a amar. Cheguei a descrer do Deus… em que, hoje, profundamente, quero crer! Para mim (e digo o mesmo o que Jean Guitton já o disse, antes de mim) negar-se a existência de Deus é um absurdo assim como afirmar a existência de Deus é referir um mistério. Não acredito no “acaso criador” de algumas teorias científicas. Toda a aventura da vida me parece orientada por um princípio organizador. Como estudei em Ilya Prigogine, a vida repousa sobre “estruturas dissipativas” que permitem a emergência de uma nova ordem, ou um nível superior de organização. Leio La nouvelle alliance, de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, editado pela Gallimard: “O que é espantoso é que cada molécula sabe o que as outras moléculas farão ao mesmo tempo que ela e a distâncias macroscópicas: nossas experiências mostram como as moléculas se comunicam. Todo o mundo aceita essa propriedade nos sistemas vivos, mas ela é no mínimo inesperada nos sistemas inertes”. Portanto, para mim (e não estou só) o universo tem uma história que não se explica por mero acaso. Para mim, Deus existe. Mas quem é Deus – verdadeiramente não se sabe. No entanto, o atual Papa, eleito na noite chuvosa de 13 de Março de 2013, afirma e reafirma “urbi et orbi”, convictamente, que Deus nos ama…

“Quem antes de Francisco esperaria ver um Papa dirigir-se a uma jovem transsexual tal como fez no passado dia 25, durante um podcast (popecast, no caso, produzido pela Rádio Vaticano) dizendo-lhe que Deus a ama tal como ela é?. Isto mostra o quanto a atenção de Francisco às periferias vai muito além da geografia. Abarca os casais “irregulares”, os que abortaram, os homosexuais. Afinal, como este Papa foi repetindo ao longo dos anos, não compete aos padres o papel de fiscais da fé”. (Público, 2023/7/31). Mas… quem é este Deus de que nos fala o Papa Francisco? É (continuo a dizer: se bem penso) o Deus de Jesus de Nazaré, que nos quer pobres para podermos ser irmãos! Mas, para o Papa Francisco, esta pobreza não significa miséria. “A pobreza é o permanente esforço para remover posses e interesses de qualquer tipo, para que daí resulte a verdadeira imediatez da fraternidade. Ser radicalmente pobre para poder ser plenamente irmão: este é o projeto de Francisco, no que diz respeito à pobreza” (Leonardo Boff, Francisco de Assis e Francisco de Roma, Pergaminho, Rio de Janeiro. 2014, pp.79/80). Lembro o Papa Francisco: “A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como trata os marginalizados”. Mas, no Parque Eduardo VII, o Papa ergueu esta certeza: “Não transformem a Igreja numa alfândega”. Na Igreja, cabem justos e pecadores, bons e maus. E acentuou: na Igreja, cabem “todos, todos, todos”. E meio milhão de pessoas repetiu: “todos, todos, todos”. Perguntava António Barreto, no Público (2023/8/5): “De onde vem o carisma formidável deste Papa?”.

Permito-me avançar uma resposta: a sua fé inabalável no Deus de Jesus Cristo e porque, defensor de uma ecologia integral, se considera irmão de todas as criaturas. Não aceita, por isso, que o tratem por “Sua Santidade” pois que não é mais do que “irmão entre irmãos”. Rejeita, terminante, o luxo dos aposentos papais, mais próximo dos palácios dos imperadores romanos do que da gruta de Belém e da humilde casa de Jesus, em Nazaré.

Opodermonárquico-hierárquico, absolutistaedogmático,dos papas fezesqueceraopapadoeàprópriaIgreja, no seu todo, que os grandes representantes de Cristo, neste mundo (Mt. 25,45) são os pobres, os sedentos, os famintos e os que sofrem. Por Cristo, há lugar na Igreja para a profecia, visando um mundo de Amor e de Paz. Vale por isso a pena estar dentro dela, com todos os defeitos que encontremos nalguns dos seus representantes “oficiais” (e incluo aqui a pedofilia) como estavam S. Francisco ce Assis, D. Helder Câmara, João XXIII e tantíssimos mais e… como está o Papa Francisco – o Papa Francisco que partiu da perceção nítida, insofismável de que a Igreja Católica, como ele a visionou do alto da sua cátedra, era uma Igreja sem saída e aqui e além até motivo de escândalo. Por outro lado, o catecismo ensina as crianças que a Igreja nasceu pronta, inalterável, acabadadavontadedeJesus. Ora, como tudo oqueéhumano,também aIgrejaétempo, é processo e cabe-nos (a nós, católicos) com fé, com a fé cristalina do Papa Francisco, corporizar uma evangelização de todos e para todos – todos, todos, todos! Na Jornada Mundial da Juventude, ele repetiu, com vigor: “Não tenham medo”. Que o mesmo é dizer: Não tenham medo de ser diferentes… porque amais os outros como a vós mesmos! Os outros, ou seja, todos, todos, todos! É verdade que o que venho de escrever não é especificamente desportivo. No entanto, para mim, mão há jogos, há pessoas que jogam. E, se há pessoas, o que o Papa Francisco disse, na JMJ, é para o Desporto também.

NAVEGANDO COM

JORGE OLIMPIO BENTO

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido.

Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

Realizou-se ontem a sessão comemorativa da inauguração do IPPB. Na ocasião foi-me dada a oportunidade de uma intervenção, a qual fica aqui resumida.

Portugal está na União Europeia. Mas esta não basta para alimentar o nosso destino e fado. Até porque entrou em autofagia, por ser subserviente de interesses de outrem; e por se agarrar a um passado que não volta e requer sublimação. Não podemos nem devemos ir ao fundo com esse desvario.

António Sérgio formulou a missão que nos reserva esta hora: “Fadados à sina de transpor limites, tivemos um carácteruniversalistapelanossaaçãonomundofísico:estánaíndoledanossahistóriaqueotenhamos também no mundo moral (…) Só é profundamente português o que for como tal um cidadão do mundo.”

Eis a nossa maior descoberta: a viagem tornou-nos universais! O nosso agro e verbo são a humanidade inteira. Assumamos esta naturalização e a obrigação de apurar a visão ética do decurso do mundo. Se não formos assim e não ouvirmos as dores e gritos dos outros, então traímos a história, não estamos à altura de nós mesmos, afundamo-nos na insignificância.

Também Miguel Torga indica o caminho: “A missão dum português culto de hoje, além da obrigação concreta de criar o futuro, é compreender o sentido do que fez outrora. Realizar as façanhas que o momento exige, e dar volta ao mundo com o pensamento. Ora nas estações desse itinerário mental, a mais demorada deve ser o Brasil. É ele o maior troféu do nosso adormecido espírito de aventura; e é ele que deve ser o pendão das possíveis aventuras do nosso espírito acordado.”

Esta casa é um cais. E todo o cais, disse Fernando Pessoa, “é uma saudade de pedra”.

Prossigamos a viagem por mares e lugares já navegados e aportados, desta vez com os anéis e vestes da fraternidade e solidariedade, como primus inter pares. Honremos a áurea de marinheiros, emigrantes e errantes, ciosos do testemunho do lusitano Rafael Hitlodeu, o visionário da Utopia de Thomas More; como ele, exijamos melhores formas de governação do mundo.

Aparelhemos as caravelas, desfraldemos as velas dos abraços e rumemos para o Largo, o Sul, o Ocidente e Oriente, com alma inquieta, o relativo por longe e o infinito por perto. À corte de Bruxelas enviemos, como embaixador, o Padre António Vieira, para que nela pregue aos corifeus da desarmonia o Sermão de Santo António aos Peixes. O clarividente hermeneuta não se coibirá de lhes anunciar o que os espera: “As varas do poder, quando são muitas, elas mesmo se comem, como famintas sempre de maiores postos!”

Das janelas, portadas e varandas da Casa de Pernambuco sonhamos e fitamos o amanhã no gerúndio, acontecendo, caminhando, progredindo, cantando e sorrindo.

Votos de boas férias!

Para vós, que manteis vivas a alegria, a confiança e esperança dos alunos na escola e na educação.

Aniversário do Instituto Pernambuco – Porto – Brasil

Para vós, exponentes de ideais, princípios e valores que constituem marcos miliares dos caminhos da civilização.

Para vós, ensinadores da Palavra e da sua formulação, do Verbo criador e da beleza da expressão, que não deixais empobrecer o vocabulário da identidade e da liberdade, do pensamento e da razão, do fascínio pelo rigor da medida e pela tecedura da emoção.

Para vós, sustentáculos da Verdade de que o Ser Humano ganha altura em cima do chão. Para vós que mereceis e lutais pela partilha do vinho e do pão.

Invasão do Território: esclarecimento

Venho dirigir-me aos Ex-Estudantes e Professores de Educação Física e Desporto. Em 8 de junho passado postei aqui um texto de estupefação e protesto no tocante ao ‘Curso de Prescrição do Exercício’, criado pela FMUP e “destinado a licenciados ou detentores do Mestrado Integrado em Medicina”.

Levei o assunto ao conhecimento de Professores da UP e de outras universidades e IES, visando sensibilizar as pessoas e instituições da área para a tomada de uma posição. No dia 11 de junho enviei ao Senhor Reitor daUP o email que exaro abaixo. Este não teve respostaaté hoje,o que não surpreende,dada anorma educativa em vigor. No entanto, a Faculdade de Desporto surge agora, no prospeto do curso, como parceira na organização do mesmo, mantendo-se os destinatários iniciais (?!).

Ficam assim prestadas contas do labor desenvolvido. Aproveito a oportunidade para lhes desejar as melhores férias possíveis.

“Senhor Reitor da Universidade do Porto:

A FMUP - Faculdade de Medicina da Universidade do Porto tornou público o Curso de Prescrição do Exercício, “destinado a licenciados ou detentores do Mestrado Integrado em Medicina”. Tive conhecimento do facto, há alguns dias.

O curso, com a duração de 48 horas e o custo de 600 euros, tem o objetivo, conforme o edital de divulgação anexado no fim desta exposição, de “desenvolver as competências e conhecimentos necessários para que, através de uma boa prática, o profissional de saúde possa prescrever exercício aos seus doentes numa perspetiva de prevenção e tratamento.” Mais, “o curso assenta num regime presencial e a distância (blearning), possibilitando aos estudantes o acesso às aulas através da combinação de 3 vias (presença em sala de aula, videoconferência e aula gravada).”

Não me quero pronunciar sobre as modalidades das aulas, embora sejam questionáveis em função do objetivo enunciado. Não posso, porém, deixar de afirmar que aprender, em 48 horas e até sem requerer a presença dos aprendizes, a passar uma receita de prática desportiva ou de exercício físico, bem como a respetiva base científica e técnica, constitui obra de monta e envolve um preço baixo, tão extraordinário é o prodígio. Compreendo a necessidade das Faculdades recorrerem à oferta de cursos para suprir as dificuldades orçamentais. Todavia, estranho que a visão comercial se sobreponha à tradicional missão institucional. Ademais, estranho, sobretudo, o silêncio da Faculdade de Desporto perante a invasão do território, a exclusão dos seus licenciados e mestres da frequência do curso, e a não participação dos seus docentes na lecionação do mesmo, sendo a saúde assunto interdisciplinar. Como é sabido, há na FADEUP programas de extensão, linhas de pesquisa e um Centro de Investigação em Exercício e Saúde, cursos de mestrado e doutoramento na área, com suporte financeiro da FCT e avaliação da A3ES. Sem falar na diversidade de cadeiras da Licenciatura atinentes à matéria aqui em apreço. Tudo isto perfaz um relevante capital e património de experiência e saber que não pode ser desconsiderado. Ou será que, afinal, também na Universidade impera a lei do mais forte e ela se sobrepõe à razão epistemológica e ética?

Agradeço a atenção de V. Exa e apresento os melhores cumprimentos.”

Evocação do ‘Diário de Anne Frank’

Anne começou a escrever o Diário em 12 de junho de 1942, dia em que perfez 13 anos de idade; e terminou-o, com 15, em 1 de agosto de 1944.

A narrativa dá a conhecer o dia-a-dia vivido por ela, pela família e outros judeus forçados a esconder-se durante a ocupação nazi de Amesterdão. Revela os dramas e atritos de pessoas fechadas num abrigo secreto. E certifica a extraordinária evolução intelectual de um Ser sujeito a duríssimas circunstâncias e a maneira como as foi superando.

A obra é um retrato profundo e comovente da alma humana, tão fascinante que obriga a questionar como foi possível a uma adolescente escrevê-lo. A resposta à interrogação está expressa no Diário: a enorme variedade de livros e assuntos estudados por aquela criatura de aparência frágil e de visão deveras apurada. Ao longo das cartas endereçadas à querida Kitty, alter Ego de Anne, esta edifica e percorre uma alta escada de degraus do pensamento e da sua formulação. Ora isto convida a ponderar o descaso do livro e a instrução funcional, hoje vigentes na escola e universidade. As sequelas são gravosas para os jovens: abaixamento do nível do intelecto, pobreza vocabular e concomitante redução da liberdade e da capacidade de compreender o mundo e a si mesmo. A última carta, redigida três dias antes da polícia assaltar o refúgio e os residentes serem enviados para os campos do extermínio, 04.08.1944, constitui uma reflexão eloquente sobre o “feixe de contradições” com que a autora se debate. No relato de 15 de julho, o antepenúltimo, tinha tratado a questão dos valores e ideais que, tantas vezes, opõem os adultos e os mais novos. Após explanar o que a afasta dos juízos dos pais, da irmã e dos outros ocupantes do esconderijo, conclui deste modo fulgurante e esperançoso:

“É completamente impossível para mim construir a minha vida sobre uma fundação de caos, sofrimento e morte. Vejo o mundo a ser lentamente transformado num deserto, ouço o trovão que se aproxima e que, um dia, nos destruirá também a nós, sinto o sofrimento de milhões de pessoas. E contudo, quando ergo os olhos para o céu, tenho a sensação de que tudo vai mudar para melhor, de que esta crueldade acabará também, de que a paz e a tranquilidade regressarão novamente. Entretanto, tenho de me agarrar aos meus ideais. Talvez chegue o dia em que poderei realizá-los!”

Esse dia não veio para a Anne. Virá para nós, nesta era trágica? Não desistamos dele!

Vinda de Deus

O Papa Francisco desceu da cadeira de Roma, veio ao encontro dos jovens em Lisboa e trouxe Algo sumamente valioso com ele. Não o deus dos brocados e dos pálios com as varas transportadas pelos mesários da ostentação e vaidade, mas o Deus da Humildade e Verdade, da Empatia e Sinceridade, Aquele que visita as periferias e anda no meio de nós vestido de Simplicidade. Francisco não se contenta em soltar pela boca palavras de fé, esperança, fraternidade e paz abstratas, sem raiz na vontade e no coração; reclama políticas de erradicação da pobreza e de concretização da solidariedade, condena todos (e não só um) os promotores das guerras e põe ao léu a hipocrisia de muitos católicos que, na ação cívica e no posicionamento político, contradizem o sentido dos Evangelhos de Cristo. É preciso ouvi-lo: não há Humanidade sem visão ecuménica e compaixão, sem partilha e comunhão universal do vinho e do pão. Habemus Papam!

Francisco na Universidade Católica

O Papa visitou ontem a Universidade Católica Portuguesa. No cumprimento do seu magistério, denunciou as aberrações do capitalismo selvagem. A UCP e as outras deviam aproveitar a mensagem do Pontífice como um espelho para nele se apreciarem; e para examinarem o rumo e as orientações que têm seguido. Ficava bem e seriam coerentes com a sua missão de Casa de cultura do intelecto, da ciência, da espiritualidade e da transcendência, se pusessem termo à dissimulação ideológica e fizessem mea culpa do facto de serem caixa-de-ressonância, ampliação, difusão e envernizamento daquilo que Francisco critica, o ultraliberalismo devorador da Humanidade civilizada.

Do Caminho Cristão

No início, o cristianismo chamava-se ‘Caminho’. Havia diversos grupos que discutiam as modalidades de balizar e andar essa via. Quando Constantino o despenaliza, em 313, e Teodósio o declara, em 380, religião oficial do império romano, o grupo próximo do imperador arroga-se ser dono da certeza, dita a obediência obrigatória aos seus pontos de vista e obtém os meios políticos para perseguir e oprimir os cristãos divergentes. Assim tem agido desde então a elite dita cristã. Para ela o Papa Francisco é um perigoso herege, pela ousadia de propor a discussão e renovação dos caminhos de fidelidade ao espírito dos Evangelhos e à Palavra de Jesus; pela lucidez de indicar e atualizar a missão da Igreja e de tentar salvar esta, colocando-a no rumo que sempre devia ter seguido.

Hiroxima

Realizou-se ontem, no Parque Memorial da Paz em Hiroxima, a cerimónia de evocação do lançamento,há 78 anos, da bomba atómica sobre aquela cidade e a de Nagasáqui. Nem os dirigentes japoneses, nos seus discursos, nem o

Secretário-Geral da ONU, na sua mensagem, referiram o país que praticou tal holocausto; fizeram bem. Em vez disso, nomearam a ameaça nuclear que, segundo eles, a Rússia representa no presente. Será esta a melhor maneira de alimentar a aspiração e esperança de paz no mundo? Oxalá o apocalipse seja surdo e nunca venha!

Vida seca

Nos tempos da minha infância, adolescência e juventude, nas ladeiras pedregosas e singelas do nordeste transmontano cultivava-se centeio. Os solos mais mimosos estavam destinados ao cultivo do trigo. A ceifa ou segada, debaixo do sol escaldante de julho, era braçal e feita pelos homens. O crescendo da emigração, no decurso dos anos 60, originou a falta de segadores e obrigou as mulheres a assumir a tarefa, tal como mostra esta fotografia tirada em 1965 numa encosta da aldeia de Vilas Boas, perto de Vila Flor, com o santuário de Nossa Senhora da Assunção lá no alto. O trabalho áspero e suado mal dava para o sustento; era mesmo 'tripalium', um instrumento causador de sofrimento.

Acusação

Acidadania nuncaestá deférias.Nasalturassagradasde Trás-Os-Montes,ondese toca oCéuecontemplaomundo inteiro, ergo-me dorido perante Deus e o Supremo Tribunal da Humanidade. Assumo a obrigação de acusar o sistema mediático do hediondo crime de encobrimento das centenas de milhar de mortos na guerra da Ucrânia. Acuso-o sobretudo pela monstruosidade da sua finalidade: manipular a opinião pública para que ela apoie a continuação da barbárie. Tão cruel como esta é o silêncio de quem conhece os factos e números.

Idas a Bragada

O pássaro só aprende a voar saindo do ninho. Gastar a existência na terra natal é como permanecer dentro das cancelas de um redil. É preciso sair dela para o intelecto usufruir oportunidades de crescer e se alargar. Porém, na distância, a alma corre o risco de estiolar e ficar ressequida. Necessitamos, pois, de idas frequentes ao rincão original, para renovar as raízes. Lá moram memórias e sinais que a refrescam e ajudam a seguir com afinco a estrada da vida.

Quando Bragada está demasiado tempo longe dos meus olhos, a melancolia e a nostalgia tomam conta de mim. O chão desaparece debaixo dos pés; e equilibro-me numa corda bamba.

Duendes do nordeste transmontano.

Altos ou meãos eram secos de carnes; tinham o rosto lavrado por rugas e as palmas das mãos floridas de calos. Cobriam a cabeça com um chapéu surrado. Tiravam-no quando encontravam alguém merecedor de saudação; e serviam-se dele também para colher nas fontelas a água com que matavam a sede no calor do verão. Exerciam o ofício de demiurgos e oráculos. Fitavam o céu e na imagem e posição da Lua liam as contingências do tempo, a vinda da chuva e do sol. Sabiam a altura certa para as plantações e sementeiras, para a poda das plantas, para os amanhos e lavouras da terra. E conheciam inúmeras ervas, mezinhas e benzeduras para todos os males. Ai, que saudade! Não dos corpos mirrados e das histórias de vida impressas nas suas feições. Mas da alma, da sabedoria e coragem que os preenchiam por dentro e mantinham eretos por fora. Aguardam que se faça justiça e lhes seja concedido o título de heróis levantados do chão. Continuam nestas paragens, disfarçados de duendes protetores dos que preservam o seu legado.

Duendes do nordeste transmontano.

Altos ou meãos eram secos de carnes; tinham o rosto lavrado por rugas e as palmas das mãos floridas de calos. Cobriam a cabeça com um chapéu surrado. Tiravam-no quando encontravam alguém merecedor de saudação; e serviam-se dele também para colher nas fontelas a água com que matavam a sede no calor do verão. Exerciam o ofício de demiurgos e oráculos. Fitavam o céu e na imagem e posição da Lua liam as contingências do tempo, a vinda da chuva e do sol. Sabiam a altura certa para as plantações e sementeiras, para a poda das plantas, para os amanhos e lavouras da terra. E conheciam inúmeras ervas, mezinhas e benzeduras para todos os males.

Ai, que saudade! Não dos corpos mirrados e das histórias de vida impressas nas suas feições. Mas da alma, da sabedoria e coragem que os preenchiam por dentro e mantinham eretos por fora. Aguardam que se faça justiça e lhes seja concedido o título de heróis levantados do chão. Continuam nestas paragens, disfarçados de duendes protetores dos que preservam o seu legado.

Do chão dos Bentos

Imerso na quietude de Bragada e na onda das lembranças, vagueio pela lonjura, desfio e rezo memórias. Percorro o mar do tempo e naufrago na saudade. Vejo nítidas a infância, as figuras dos meus pais e irmãos e de quantos sobrepujaram as circunstâncias do nascimento. Revivo o caminho andado e as barreiras que o balizaram.

Este é o anfiteatro de mulheres e homens moldados pela resistência e procura do seu lugar na Terra, sem ceder à fatalidade e cair nos braços do medo e da indignidade.

Hoje é um dia de encantamento, de reunião da família dos Bentos, dispersos por esse mundo afora, alguns vindos do outro lado do oceano. Muitos não se conheciam; outros não se viam há largas décadas. Fito-os com jubilosa emoção; capto sinais e oiço vozes que me transmitem uma intimação: há que seguir em frente com o fervor de uma oração.

Quem aqui nasceu fica para sempre atado a este chão. Nele estão os alicerces sobre os quais fincou a condição. Honra-o,quandoseapartae continuaem comunhão,recebendodelealimentoparaaalmae osentidodasuamissão.

Macedo de Cavaleiros

Venho amiúde a este santuário da minha peregrinação. Quando chego, um cisco entra-me nos olhos; e lágrimas furtivas soltam-se para amassar a farinha da bola-sovada de azeite e saudade, alimentícia da memória de um território da infância e de dias determinantes do destino.

Saio daqui sem vontade de partir e com o desejo falante de regressar. Macedo tem sabor de aconchego familiar e de manjar no trato recebido nos cafés, na pastelaria Sol Doce, no restaurante D. Antónia e nos demais, no hotel Muchacho e nas lojas comerciais. Tudo configura uma culinária de requintado paladar. Aqui sempre hei de voltar, sabendo que a caminhada é cada vez mais curta e ignorando quanto falta andar.

Dá-me um cibinho!

Recordo a cena, como se tivesse ocorrido agora mesmo. Galgava as escaleiras e entrava em casa todo esbaforido; e a minha mãe recebia-me deste jeito:

- Bô, então fugiste das aulas, seu joldreiro?!

- Tenho fome, vim buscar um cibo de pão - reagia de pronto, com receio de levar um par de taponas do auxiliar pedagógico de cinco pontas.

Mal tinha o carolo de centeio nas mãos, saía a correr para a rua em direção à escola, situada menos de 100 metros acima. Não tardava a ouvir um pedido: dá-me um cibinho!

Naquele tempoera o pão de centeio, sem mais nada,que matava a fome na aldeia.E nem todas ascriançaso tinham à medida da sua precisão. Era tão escasso que, quando algum bocadinho caía ao chão, apressávamo-nos a pegar nele e soprar-lhe, a beijá-lo e levá-lo à boca. A nós, os pobres, a educação e a necessidade ensinaram-nos, desde tenra idade, que o pão é sagrado. Não se nega, nem, muito menos, rouba a ninguém.

Simplicidade

Valem tão pouco as giestas e estevas da serra, das encostas, dos montes e das margens dos caminhos! Mas servem para acender o lume e o forno onde se coze o pão; e para os pássaros pequenos nelas fazerem os ninhos. E as suas flores contêm pólen precioso com que as abelhas fabricam um mel dourado e fino. Desprendidas e simples são, pois, de enorme valia.

Amoras bravias

No verão, nas beiras dos caminhos transmontanos, crescem as silvas. E estas carregam-se de amoras que matam a fome de doçura dos passantes... e das abelhas e dos melros. Extasio-me com o seu sabor de ambrosia, comida imperecível dos deuses do Olimpo. Olho para o alto e ao redor e dou então conta de que o céu é tingido de azul anil; e as pessoas têm a alma e a face caiadas de sol. Se dúvidas houvesse, elas desfazem-se: Deus mora aqui, nos locais mais recônditos desta terra da promissão e sublimação.

O maior rio do mundo

A ribeira da minha aldeia é o mais caudaloso e extenso rio do mundo. Nela aprendi a nadar; obviamente, sem técnica e proficiência, apenas como modalidade de esbracejar e espernear, de treinar a travessia, a resistência e sobrevivência.

No verão a ribeira de Bragada some-se por debaixo da areia para não ser inteiramente bebida pelos pássaros. Fica então à vista um leito seco e mirrado. Mas nunca desiste de tentar correr para o mar, que banha o universo todo; e de porfiar em levar para o outro lado do oceano um navio carregado de sonhos.

Lições do sobreiro

A cada 9-10 anos o sobreiro está pronto para largar a cortiça, a pele que, pouco a pouco, foi engrossando e escurecendo. Com o ente vegetal podemos aprender duas lições.

A primeira é a da necessidade de cuidar e renovar a apresentação. A aparência induz a essência; as cores e a forma do visível pintam o quadro da pessoa e da vida por dentro. Eis um exercício diário e inconcluso, porquanto “viver não é preciso”.

A segunda, deveras importante nesta era de exacerbado consumismo, diz-nos que a modificação com sentido não é um constante e frenético desfazer e deitar fora; requer tempo e implica a conservação do sólido e durável. Trocase a casca e o superficial, mas não as raízes e o essencial.

Do chão dos Bentos

Imerso na quietude de Bragada e na onda das lembranças, vagueio pela lonjura, desfio e rezo memórias. Percorro o mar do tempo e naufrago na saudade. Vejo nítidas a infância, as figuras dos meus pais e irmãos e de quantos sobrepujaram as circunstâncias do nascimento. Revivo o caminho andado e as barreiras que o balizaram.

Este é o anfiteatro de mulheres e homens moldados pela resistência e procura do seu lugar na Terra, sem ceder à fatalidade e cair nos braços do medo e da indignidade.

Hoje é um dia de encantamento, de reunião da família dos Bentos, dispersos por esse mundo afora, alguns vindos do outro lado do oceano. Muitos não se conheciam; outros não se viam há largas décadas. Fito-os com jubilosa emoção; capto sinais e oiço vozes que me transmitem uma intimação: há que seguir em frente com o fervor de uma oração.

Quem aqui nasceu fica para sempre atado a este chão. Nele estão os alicerces sobre os quais fincou a condição. Honra-o,quandoseapartae continuaemcomunhão,recebendodele alimentoparaaalmae osentidodasuamissão.

Ambição desmedida

Queria possuir luz nos olhos, na boca e nas palavras, nos dedos e gestos. Isso equivaleria a ter em mim a sombra de Deus, parafraseando Albert Einstein. Não me atrevo a pedir tanto. Basta-me a insuperável riqueza de sentir necessidade do Outro e do melhor que há nele, torná-lo meu, para edificar e ser o Quem do Eu. O mundo é um vergel de manhãs e noites fluorescentes. O que falta são videntes. Posso requerer que os acrescentes?!

Profissional de experiências diferentes e com vivência profunda nas áreas de Gestão de Pessoas e Educação. Movido a desafios e resultados tenho trabalhado em empresas que me ofereceram as condições para que a motivação me levasse a superar limites. Durante período de 7 anos trabalhei como consultor de empresas onde adquiri vivência em ramos diferentes de negócio, do comércio ao industrial. Em 2003 comecei a trabalhar como professor universitário vindo a exercer cargos de gestão como diretor de faculdade, pró-reitor de ensino presencial e reitor do Grupo Uniasselvi. Atualmente o desafio está no cargo que ocupo como Secretário de Educação de Indaial. Também executei trabalho em Cuba, onde atuei na implantação da área de Gestão de Pessoas na fábrica Brascuba Cigarrillos, subsidiária da Souza Cruz.

França, de Macron, e seus infernos!

A França tem tudo para se transformar no primeiro país muçulmano da Europa. Seus costumes e sua cultura passam por rápidos processos de mudanças impostos pelos migrantes, que impõem usos e costumes de suas regiões de origem.

Na África, de 54 países, pelo menos 15 têm governos autoritários e, muito disto, é fruto do sistema colonialista que não se preocupava em desenvolver, mas de explorar as riquezas locais. A França foi um destes colonizadores; agora vem a cobrança.

O Golpe militar ocorrido no Níger, com a deposição do primeiro governo eleito democraticamente, coloca a França em difícil situação. O Níger é um grande produtor de urânio e abastece as usinas nucleares francesas. Os militares que assumiram o poder são pró Rússia e já declararam seu afastamento da União Europeia; aliás, tendência que toma corpo no continente africano.

Enquanto Macron quer ensinar o Brasil, com a aquiescência de Lula, a como cuidar da Amazônia, a França se desmancha como país da Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

COLUNA DO PRIMO
Por Prof. Ozinil Martins de Souza Escola Superior de Cerveja e Malte e Faculdade Épica Brusque, Santa Catarina, Brasil

Qual o futuro das escolas?

"As mudanças geradas na sociedade até aqui são apenas o começo de um processo de mudança avassalador que mudará nosso jeito de viver"

No mundo antigo – Grécia – o ensino era praticado em espaços livres, sem preocupação de séries e outros que tais; as escolas, como as conhecemos, surgiram no século XII a partir de entidades católicas que ensinavam a ler, escrever e fazer contas, com alunos nas carteiras e professor em sala de aula.

A primeira faculdade surge em Bolonha, Itália, em 1158 e é fundada por Frederico Barba Ruiva, Imperador do Império Romano-Germânico. No Brasil, em 1549 é fundada, por Jesuítas, a primeira escola em Salvador; em seguida, criam a escola que gerou a fundação de São Paulo em 1554. Ensinavam, nestas escolas, a ler, escrever, fazer contas e a doutrina católica. Em 1792 é criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho que, em 1920, passa a ser a atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1808, na Bahia, é fundada a primeira faculdade do Brasil – Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1827 são criadas, concomitantemente, as faculdades de Direito de Olinda e do Largo de São Francisco em São Paulo e em 1912 é criada a primeira Universidade com este status – Universidade Federal do Paraná. A partir deste resumo histórico nasce a Educação formal no Brasil. Os dados informados foram obtidos da revista Superinteressante. De lá para cada pouca coisa mudou. Apesar das mudanças sociais ocorridas e do desenvolvimento tecnológico as escolas continuaram a ter o mesmo formato de séculos passados. Acrescente-se a isto o acesso das crianças e jovens às tecnologias e a má formação dos professores para os tempos atuais e tem-se o cadinho perfeito para o desinteresse que nossos jovens devotam ao processo de aprender.

Há tempos pesquisas vêm mostrando, que pela primeira vez na história da humanidade, a geração atual tem um QI menor que a geração que a antecedeu. Em vídeo divulgado pelo Prof. Pier L. Piazzi sobre pesquisas feitas, por amostragem, na Inglaterra, Japão e Brasil sobre o QI, mostram os seguintes resultados: os ingleses com resultado de 100, os japoneses com 113 e os brasileiros com 87; segundo o professor isto mostra a importância do processo educacional e indica a eficiência do sistema educacional japonês e o desastre do sistema brasileiro.

Fácil entender porque muitos pais estão assumindo o estudo de seus filhos, na modalidade “homescholling”, garantindo a qualidade do processo educacional e evitando que seus filhos sejam expostos aos “professores doutrinadores” que atuam no sistema educacional brasileiro e distorcem, profundamente o processo ensino –aprendizagem.

O que vou escrever agora é um exercício de imaginação. Se a inteligência Artificial está em processo de evolução permanente, se já substitui o ser humano em uma série de tarefas e deve continuar neste processo a partir do momento em que começa a pensar por si própria, se o conhecimento esta, todo ele, disponível nos meios existentes, se a tecnologia disponível já permite aos estudantes acesso remoto a estes meios, qual a finalidade da existência das escolas e dos professores? Muita gente vai responder que o processo de socialização passa pelas escolas, mas o que vemos, com exceções é óbvio, é um processo de desarticulação da sociedade e da implantação da agressividade.

As mudanças geradas na sociedade até aqui são apenas o começo de um processo de mudança avassalador que mudará nosso jeito de viver. O fim do dinheiro de papel, edifícios construídos por impressoras digitais, pessoas sendo operadas por robôs, carros voadores, pessoas atingindo cem anos ou mais são consequências do processo iniciado e que, ninguém, pode dizer aonde chegará. E as escolas continuarão com o mesmo formato do século XII?

Por que é difícil gerar empregos formais no Brasil?

"O Brasil tem 202 milhões de habitantes e sua população economicamente ativa gira ao redor de 80 milhões"

As notícias que nos chegam mostram que em junho de 2023 o país criou 157 mil empregos formais. Isto significa um número 45% menor do que o mesmo mês do ano passado. A pergunta que não quer calar é: por que é tão difícil gerar empregos formais no Brasil? Claro que não é possível ser simplista e apontar, apenas, uma causa para o problema; ele é complexo e difícil de ser solucionado. Uma comparação simples pode apontar algumas causas.

Os Estados Unidos da América têm uma população de 340 milhões de pessoas e sua população economicamente ativa é de165milhõesde pessoas com umataxadedesempregode 3,7%daPEA. Importante salientar que este dado é recente e pós- pandemia. O PIB per capita no país é superior a U$ 70 mil.

O Brasil, segundo o censo recém-concluído, tem 202 milhões de habitantes, sua população economicamente ativa gira ao redor de 80 milhões e tem uma taxa de desemprego de 8,8%. O PIB per capita no país é de U$ 7.5 mil.

Por que a diferença é tão gritante em termos de taxa de desemprego?

Uma resposta simplista seria: gerar empregos no Brasil, em função de sua legislação trabalhista, é muito caro e impede os empresários de aumentarem seus quadros sem a certeza que a economia vai responder aos novos investimentos. Uma análise primária nos mostra as principais diferenças.

A jornada de trabalho nos EUA é de 40h semanais e de 8 h diárias; caso a jornada passe de 8h o acréscimo da hora extra é de 150%, mas se a carga horária semanal não ultrapassar às 40h, mesmo que tenha sido trabalhado um dia de hora extra, estas não serão pagas. Apesar da legislação americana não prever férias, as empresas costumam negociar, em seus contratos coletivos de trabalho e, conceder duas semanas de descanso. A legislação americana também não regula os feriados, deixando a critério de cada empresa sua administração. Importante ressaltar que não existe FGTS, aviso prévio, não há obrigatoriedade de pagar o 13° salário e a licença maternidade é de 12 semanas. Estas são as principais diferenças entre os EUA e o Brasil e explicam, em parte, a geração rápida ou não de empregos nos dois países.

Importante salientar que, nos EUA, os servidores públicos não têm estabilidade e que os Estados têm o direito de estabelecer seu salário-mínimo, que é firmado em termo de hora trabalhada e não mensal.

Lógico que todos os penduricalhos existentes na legislação trabalhista brasileira fazem os empresários pensarem muito antes de gerarem um novo emprego por mais simples que seja e, em tempos de Inteligência Artificial, é mais simples automatizar, robotizar do que empregar alguém.

Este é apenas um dos muitos problemas que impedem o país de crescer na geração de empregos e o governo, sempre que possível, ajuda a complicar. Agora seu foco é transformar os autônomos do Uber em empregados celetistas. Visão retrógrada que nos remete ao passado. Só falta tentar ressuscitar a estabilidade para os empregados da iniciativa privada.

Com o avanço da InteligênciaArtificial e ageração deempregos qualificados os perfis dos novos profissionais exigirão pessoas altamente preparadas e educadas e, nosso sistema educacional está anos luz de atender as exigências futuras. Tempos complicados nos esperam!

CICLONE DOS TEMPOS!

Será que a tecnologia aprofundará as diferenças sociais entre os países?

A mudança sempre foi um componente a conviver com a humanidade. Só que há momentos em que a humanidade é confrontada com a velocidade das mudanças que traz intranquilidade e medo. Hoje, vivemos tempos assim!

Há um descompasso entre as mudanças e a capacidade da maioria dos habitantes do planeta em acompanhar este processo. Enquanto na África existem, segundo o Presidente da África do Sul – Cyril Ramaphosa – , 600 milhõesdepessoassem acesso àeletricidadeatecnologianos permiteenviarnaves aoutrosplanetaseasondar o universo em busca de informações que interessem à humanidade. A tecnologia que para alguns é a extensão de sua inteligência, para outros sequer existe. O maior paradoxo que vive a humanidade, em tempos de InteligênciaArtificial, relaciona-seacomo desenvolveras pessoasparaacompanharas mudanças queocorrem a cada dia com sua capacidade de qualificar-se para se utilizar desta tecnologia.

Será que a tecnologia aprofundará as diferenças sociais entre os países? Entre pobres e ricos trazendo como consequência maior concentração de riqueza? Eliminará empregos através da substituição do Homem pelo uso da automação, robotização e virtualização? Perguntas de respostas difíceis, pois quem deveria estar interessado em buscar soluções parece, na maioria dos países, que não tem competência para tratar de temas de tamanha magnitude.

Vale lembrar que a humanidade já passou por mudanças, guardadas as proporções, tão importantes quanto as que se vivem hoje; basta lembrar que o automóvel foi construído em 1886 por Karl Benz, em 1879 Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica, em 1914 Henry Ford criou a linha de montagem e acelerou todo um incipiente processo industrial. Foram mudanças estruturais e que mudaram a convivência entre as pessoas, criaram as relações de trabalho, entre outras profundas mudanças e, nossos antepassados saíram-se muito bem neste processo tanto que chegamos até 2023. Sabe qual era a população do mundo em 1900? 1,6 bilhão de pessoas habitavam o planeta.

Neste ponto reside a principal diferença entre o que vivemos hoje e o que viveram nossos antepassados. Hoje habitam nosso planetinha 8 bilhões de pessoas com crescimento da população em 1 bilhão de pessoas a cada 10 anos. A previsão para 2050 é de 10 bilhões de pessoas.

Como preparar estas pessoas para a evolução em andamento? Se usarmos o Brasil como exemplo, os números assustam; analfabetismo funcional em crescimento permanente e constante, estudantes abandonando o ensino médio (apenas 7 em 10 completam os estudos), 11 milhões de jovens entre 14 e 39 anos nem estudam, nem trabalham, 8 milhões de desempregados e quase 40 milhões de trabalhadores na economia informal. Estas pessoas não têm preparo para encarar o mundo que está sendo construído e as consequências já estão acontecendo e são perceptíveis ao bom observador.

O preço a ser pago pela incúria com que se tratou a Educação por anos e anos será alto e todos pagarão a conta!

Minimalismo: Um novo estilo de viver!

Segundo a WWF, para manter o padrão de consumo atual, seria necessário 1,7 planeta Terra

Você sabia que a WWF criou, a partir de estudos realizados, o Dia da Sobrecarga da Terra? Neste dia o planeta realiza seu balanço ambiental e constata que os recursos naturais demandados pela humanidade, cada vez com menores intervalos de tempo, superam a capacidade do planetinha em supri-los ou renová-los. Pois neste ano de 2023 esta data chegou mais cedo: 02 de agosto! A partir deste dia passamos a usar o “cheque especial” contra o Banco da Natureza! Os próximos meses serão de consumo desigual por parte dos 8 bilhões de habitantes do planetinha; enquanto uns continuarão consumindo muito, outros nada terão para consumir. Segundo a WWF, para manter o padrão de consumo atual, seria necessário 1,7 planeta Terra.

A guerra da Rússia e Ucrânia continuará dilapidando o patrimônio da humanidade, a África, provavelmente, criará novos conflitos afetando os miseráveis que lá vivem, terras produtivas serão desperdiçadas pelo mau uso, florestas serão destruídas em nome de qualquer coisa, 100 milhões de brasileiros (muitos nem sabem) continuarão poluindo rios com seus esgotos não tratados, os ares refrigerados da Terra continuarão se descongelando elevando o nível dos mares e expulsando moradores para outros espaços e assim caminha a humanidade; destruindo seu habitat sem sequer saber que o estão fazendo!

Mas, surge no horizonte um movimento interessante e que merece ser apoiado. Minimalismo é o nome do novo jogo! O minimalismo surgiu nos anos 60 do século passado através de um grupo de artistas que resolveu simplificar suas manifestações artísticas, livrando-se dos excessos que caracterizam as apresentações teatrais em termos de roupas, linguagem simples e limitar-se ao básico da vida. De uma expressão artística a fazer parte da realidade dos precursores foi, apenas, um átimo de tempo. A adesão pelo novo estilo de vida foi e está crescendo paulatinamente. De maneira simples minimalismo é se livrar dos excessos da vida, o oposto do consumo excessivo, trazido pela revolução dos costumes a partir da industrialização mundial.

Enquanto, por um lado, trabalha-se para manter a engrenagem do consumo produzindo e rodando cada vez com mais velocidade, por outro lado, há uma preocupação com a dilapidação dos recursos naturais fornecidos pelo planeta e, por extensão, só se consome aquilo que for essencial. A mensagem passada pelo minimalismo nos diz para consumir apenas aquilo que é essencial; dispensar o excesso, a ostentação; o acúmulo de coisas que não usamos é uma forma de viver poupando o planeta de um consumo exagerado.

Hoje é muito comum encontrar pessoas vivendo sós; em 2021, segundo o IBGE (Pnad Contínua) 10,8 milhões de brasileiros moravam sozinhos e por consequência as construtoras principiaram a construir imóveis menores e extremamente funcionais. São apartamentos que têm entre 27 e 45 m². As pessoas não querem viver em espaços que demandem muito serviço ou que seja de manutenção cara. O planeta agradece!

Por outro lado, vez por outra, nos deparamos com imóveis de mais de 1.000 m², carros que custam verdadeiras fortunas, roupas que, em função da grife , cobram valores impossíveis de imaginar para pessoas comuns. O excesso que agride o planeta e compromete o futuro!

Para concluir vamos aos Estados Unidos da América; desde o fim da Segunda Grande Guerra os americanos ostentam um altíssimo padrão de vida se comparados aos outros povos. Estudos mostram que se todos tivéssemos o mesmo padrão seriam necessários 5 planetas Terra – WWF. Para refletir!

Em um mundo sem empregos…

É fundamental preparar os atuais empreendedores e os jovens para que obtenham seu sustento a partir de seu trabalho

Nos anos 90 do século passado dois autores alertaram a humanidade para o que viria a acontecer com os empregos originários da industrialização em função do avanço tecnológico que revolucionaria a maneira de produzir e trabalhar; Jeremy Rifkin com o livro “Fim dos Empregos” e Willian Bridges com “Um Mundo Sem Empregos” mostravam o avanço da tecnologia e as modificações no mercado de trabalho e no perfil dos trabalhadores.

Há algum tempo outros autores já vinham tangenciando o tema e alertando sobre suas causas e consequências. Peter Drucker, Alvin Toffler, John Naisbitt e o jornalista Thomas Friedmann alertavam os dirigentes políticos sobre as mudanças necessárias para qualificar as populações para os empregos futuros, ou seja, os empregos na área analítica – simbólica.

Na última quinta-feira acompanhei, com muita atenção, a entrevista do Prof. Mangabeira Unger no programa Pânico da Jovem Pan. Falava ele sobre o marasmo que tomou conta do Brasil, da apatia que se abate sobre a população brasileira e tocou em dois pontos que, segundo ele, devem ser trabalhados pelos governos em todos os seus níveis. Desenvolver o empreendedorismo e mudar a Educação no país; estas são as indicações do Professor.

Com um contingente de trabalhadores na economia informal ao redor de 40 milhões é fundamental preparar, os atuais empreendedores e os jovens, que serão alijados do mercado formal de trabalho pelas exigências tecnológicas impostas, para que obtenham seu sustento a partir de seu trabalho. Ensinar aos jovens, desde a mais tenra idade, em escolas públicas ou privadas, o que é empreendedorismo, como obter sucesso a partir de uma ideia e como fazer a gestão da sua pequena empresa é primordial. O Sebrae tem um belo projeto de desenvolvimento de jovens para o empreendedorismo que é desenvolvido nas próprias escolas em paralelo ao ensino formal. Basta os professores terem a humildade de reconhecer que hoje preparamos os jovens para uma sociedade industrial que não mais existe; mudou o nome do jogo, hoje, é sociedade do conhecimento, da nova economia. Na sociedade industrial os jovens deveriam ser obedientes, hoje têm que ser criativos, inovadores. Projetos existem e bons; basta os gestores públicos se interessarem de fato pelo preparo dos jovens e pelos serviços que serão demandados em seus municípios. Com a palavra governadores e prefeitos!

No tocante à Educação o Professor foi extremamente feliz, ao lembrar que ela continua igual ao de sempre e que o objetivo atual continua a ser a preparação para o vestibular. Criticou o modelo centrado na “decoreba” e não em um modelo ativo que ensinaria os alunos a pensar e a serem produtores de conteúdo. Como é bom ouvir isto de um homem que leciona em Harvard! Mas, será que o elefante branco chamado Ministério da Educação, sentado sobre mais de mil funcionários, regiamente pagos, fará algum movimento neste sentido? Transformar as escolas do século XVIII para os tempos atuais exige sair da inércia, movimentar-se, trabalhar, ser criativos e basta também ver o que está sendo feito em outros países, como Finlândia, Polônia, Coreia do Sul e até o Vietnã.

Quebrar a estrutura da sala de aula, desenvolver o sistema educacional por projetos, ensinar a criatividade e trabalhar conceito de equipe devem ser alternativas para gerar pessoas mais cooperativas e menos competitivas. Hora de acordar e parar de pensar que a evolução vem um dia após o outro, pois atualmente, ela vem aos saltos!

Aqueles que dizem que não dá para fazer que saiam da frente dos que estão fazendo!

JOSE MANUEL CONSTANTINO

ESCOLHAS I. Quem pensa e cuida dos mais fracos? Dos mais necessitados? Dos mais desprotegidos? Dos que têm menos atenções? Imagino que o tema esteja presente na visita do Papa. E que iremos ouvir apelos a uma sociedade menos desigual. Mas será sempre sol que pouco dura se a quem cabe corrigir assimetrias sociais, desde logo não acentuando as existentes e, na medida do possível, atenuando-as, não cumprir as suas obrigações. Cabe ao Estado essa responsabilidade. É dos governos a sua operacionalização. Ela começa quando se escolhem as agendas e os temas da ação governativa. Quando se fazem escolhas. Aquilo a que se dá atenção e aquilo que se esquece. Aquilo que merece destaque e o que se deixa andar. Quem se elogia e quem nunca recebe sinais de apoio. Quem se trata de forma reverente e quem é tratado a despachar. A política é feita de sinais. Uns que revelam sinceras preocupações sociais, outros a sua ausência.

BACALHAU com NATAS I Enjoei o bacalhau com natas. E procurei saber porquê! Se gosto de bacalhau cozido, de bacalhau à Brás, de bacalhau assado, de bacalhau à espiritual, de açorda de bacalhau, de arroz de bacalhau, de pastéis de bacalhau, de pataniscas de bacalhau, de caras de bacalhau, de ovas de bacalhau, de línguas de bacalhau, de bacalhau no forno, de bacalhau à Zé do Pipo, de bacalhau à Gomes de Sá, porquê o enjoo ao bacalhau com natas?Pedi ajudaà ciência(?)que éum recursosempredisponívelquando uma questão nos persegue e não temos a resposta pronta.

Freud fala de recalcamento, de trauma, de desejo oculto. Escolhi o trauma. Pareceu-me o mais adequado. E escolhi bem. Perscrutei o passado, o que não é propriamente tarefa simples, revi coisas e situações que já havia

esquecido e penso que descobri. Digo penso, porque, mesmo com o conhecimento científico, temos de ter algumas cautelas.

Para a minha geração, o final dos anos setenta foi marcado pelo divórcio. Era uma espécie de marca do tempo. Desfizeram-se casamentos que deram lugar a casos, casos que se transformaram em uniões e uniões que acabaram em casamentos. Tudo se fazia, desfazia e refazia como as ondas na praia. Passei por essa fase.

Ao fim de semana, mulher que convidasse homem para ir a casa jantar, invariavelmente, preparava bacalhau com natas. Ele levava o vinho (na altura ainda não havia o hábito do ramo de flores ou, se havia, eu desconhecia). O bacalhau com natas ocupava um lugar tão ou mais distinto que aquele que, anos mais tarde, veio aocupar,porordem decrescente,ofondue,obifenapedraeapicanha. Eraumamodacomo, antigamente, se ia a Badajoz comprar caramelos e pirexes e depois se passou a ir à República Dominicana ou à Serra Nevada.

Recordo-me, com os limites que essa recordação impõe em termos de divulgação pública, que aceitei nuns casos, fiz-me convidado em outros, alguns desses convites. Aí está! Enjoei. Não os convites, mas o bacalhau com natas.

MILAGREouBLASFÉMIA?I.OPapalembrouSaramago.Nemmilagre,nemblasfémia.Masatoque, presumo,nãoterásidoapreciadoportodososqueoescutavam.Umportuguêsquefoiproscritopela IgrejadoseupróprioPaís.Nãoseiquantosacompanharamestasposições.Imaginoqueumapartesem nuncaterlidoSaramago,entreosquaisseencontramosqueafirmamqueSaramagoescreviasemusar pontuação.Masporquenãogostavamdapessoaporforçadassuasposiçõespolíticas.Masnãoé necessárionãoapreciarassuasposiçõespolíticas,parapoderapreciarasuaqualidadecomoescritor. CitarSaramagojuntamentecomoutrosgrandesescritores,poetaseartistasportugueses-Fernando Pessoa,Camões,Amália,Almada,PadreAntónioVieiraouSofia-,foiumatodecoragem.Invocar,como jáli,ocardealTolentinocomoautordoescritoparadesvalorizaraatitudedoPapaéacusá-lodeque ignoravaoqueestavaaafirmar.Queforamanipulado.OPapanãoomerece.

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ACONTECENDO

DE IMPERATRIZ PRO MUNDO

O atleta de judô imperatrizense, Italo Mazili, de 25 anos, está representando o Maranhão e o Brasil nos Jogos Mundiais Universitários de Verão, na cidade de Chengdu, na China. A cerimônia de abertura começa na noite de hoje (28), às 23h.

Cerca de 10 mil atletas de 150 países vão participar do evento que conta com 18 modalidades esportivas. Boa sorte, Italo!

Por Vanessa Carvalho

OnossocampeãoDaviHermesbrilhoumaisumaveznoMeetingBrasileirodeNataçãoCDBI2023,que aconteceuentreosdias04e06deagosto,noCentroParalímpicoBrasileiro,emSãoPaulo.Davi conquistounadamenosqueseismedalhasdeouroeumadepratanasseteprovasquedisputou,além debaterorecordebrasileirodos100mborboleta,comotempode1:09.23. Daviéumexemplodesuperação,talentoededicação,enósda@vivaaguatemosmuitoorgulhode apoiaresseatletaquelevaonomedoMaranhãoparaomundo. Parabéns,Davi!Vocêéumvencedor

Depois de perder o jogo 1, Sampaio Basquete reagiu, deixou decisão em 1 a 1, e vai jogar a terceira partida em São Luís.

IMIRANTE.COM

Sampaio Basquete bate o SESI Araraquara e empata série na final da LBF 2023 - Imirante.com

PARTIU, PARIS

O maranhense, Bruno Lobo, já está com a vaga garantida na Fórmula Kite, modalidade que irá estrear na vela em Paris 2024. está na flotilha ouro em nono lugar, o que já garante sua vaga na final.

@sailingenergy

#BrunoLobo #Vela

Trajetória esportiva

Bruno iniciou sua trajetória esportiva na natação desde muito novo, foi diversas vezes campeão maranhense em sua categoria, competindo provas regionais e nacionais, integrou seleção brasileira de natação. Aos 15 anos migrou para o triathlon, no qual foi campeão brasileiro 16-17 anos, 3x campeão maranhense e integrou a seleção brasileira na disputa para vaga nas Olimpíadas das juventude, em meio algumas lesões, ingressou na faculdade de medicina e iniciou no kitesurf em 2010, conciliando os treinamentos com os estudos, foi campeão brasileiro de fórmula kite em 2016, atualmente 5x Campeão Brasileiro. Em 2017 formou-se em medicina.Em 2019, o atleta conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, na classe Formula kite. Ele completou a competição com 21 pontos perdidos, após 18 regatas classificatórias e 3 regatas da medalha, tendo vencido um total de 16 regatas.[2][3] Em 2020 Terminou especialização em ortopedia e traumatologia, aprovado na prova da Sociedade brasileira de ortopedia. Segue em preparação para realizar campanha para as Olimpíadas de Paris 2024 onde o kitesurf estreará como modalidade olímpica.

Bruno Lobo – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Bruno Lobo (São Luís, 26 de julho de 1993), é um velejador brasileiro que é campeão dos Jogos PanAmericanos.

Na última semana, o nosso atleta participou da Semana Olímpica Francesa de vela(SOF), campeonato importante nesse último ano de campanha para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Para mais informações sobre o campeonato, acesse a nossa matéria ROLOU A SEMANA OLÍMPICA FRANCESA DE VELA.

No segundo dia da SOF, Bruno acabou se envolvendo em um acidente com outro velejador durante uma das regsatas. Dada a situação, convidamos ele para falar sobre o ocorrido e sobre a importância de utilizar os equipamentos de proteção para a prática do kitesurf (EPIs – Equipamentos de Proteção Individual).

. LKB: Bruno, semana passada você estava em Hyéres, na França, disputando a Semana Olímpica Francesa de Vela e, infelizmente, você sofreu um acidente em uma das regatas, você consegue contar para nós um pouco de como foi o campeonato e a situação do acidente?

Bruno: “Participei da SOF, copa do mundo de vela, competição muito importante e estava me sentindo bem preparado e confiante para fazer um bom resultado já que vinha de Palma tendo boas sensações, primeiro dia de competição foram em condições extremas com vento offshore, misturado com rajadas de mais de 30

ENTREVISTA COM BRUNO LOBO - O KITESURF É PERIGOSO? - LKB (lkbsports.com)
Atleta: @brunolobo31 / @trofeosofia content O Bruno Lobo é o principal atleta brasileiro na cena do kitesurf olímpico, ele é atleta de FORMULA KITE e carrega os títulos de campeão Pan-Americano e hexa campeão brasileiro.

knots. Infelizmente comecei tendo problemas nas primeiras regatas, no qual na primeira o bridle do meu kite quebrou e não completei, na segunda entrei com kite zero que colapsou na segunda regata, consegui ganhar a terceira regata e na quarta sofri uma queda forte. Diante dessa situação me encontrei em uma condição difícil para classificar para gold fleet, já que o número de descartes foram poucos.”

. LKB: Você estava utilizando equipamentos de proteção nesse acidente? Qual importância eles tiveram?

Bruno: “No segundo dia a previsão de vento foi de ventos ainda mais fortes, e só foi realizada uma única regata. Nesta regata, já no último gybe há 100m da chegada, o atleta italiano realizou um gybe pegando meu kite que estava a sotavento, um movimento perigoso e no qual não havia possibilidade dele me passar naquela situação já que stavamos muito próximos da marca de sotavento, as linhas foram de encontro ao meu rosto, quebrando a linha do meu kite e causando ferimentos no rosto. Estava utilizando capacete, balaclava que uso para proteção do sol, colete, óculos e luva. A balaclava ajudou a amenizar os ferimentos, as linhas também cortaram parte do meu capacete, neoprene e plástico do óculos.”

. LKB: Quais as principais diferenças no perigo entre o kite surf de alta performance e o freeride?

Bruno: “Cada modalidade do kite tem seus riscos específicos, durante as regatas as velocidades alcançadas são altas e os atletas andam muito próximos, riscos de colisões contras os hydrofoils e tangles (enroscos) com as linhas são altos. Já no freeride e tiwin tip, os saltos podem causar traumas principalmente nos membros inferiores. Nessas situações o risco de sofrer uma lesão seria que impossibilitem a capacidade de estar na superfície da água pode ser fatal.”

. LKB: Os equipamentos de proteção devem ser utilizados por todos ou só é necessário para quem é profissional?

Bruno: “Nunca sabemos quando precisaremos do equipamento de proteção, mas basta um descuido que as consequências podem ser muito sérias, recomendo uso de colete sempre, sou ex-nadador conseguiria perfeitamente nadar do alto mar para a beira, mas como falei, mas há um risco de sofrer um acidente que lhe impossibilite de nadar, por exemplo. Uso de faquinha, no litoral há redes e linhas de pesca, no hydrofoil o capacete é fundamental. Fora esses utilizo luva, balaclava e óculos para proteção contra o sol devido os raios UV e risco de câncer de pele e envelhecimento precoce.”

. LKB: Para você, quais os 3 principais equipamentos de segurança para os praticantes de kitesurf?

Bruno: “Colete, capacete e faquinha; porém uso mais ainda óculos, balaclava, luva e tenho sempre um apito no colete em caso de necessidade”

A LKB agradece a disponibilidade do Bruno Lobo em participar dessa entrevista e reitera a importância da utilização dos equipamentos de proteção sempre!

LKB LIVE#8 -Bate-papo com

Bruno Lobo: Ouro No Kitesurf Pan 2019

Bruno Lobo

Clubes da Federação Maranhense de Voleibol

NOME DO CLUBE

SOC. ESP. CENTRO DE TREINAMENTO PROF. GERALDO MAGELA - CTGM

ASSOCIAÇÃO ATLETICA BANCO

DO BRASIL - AABB

ASSOCIAÇÃO ATLETICA BANCO

DO BRASIL - AABB

ENDEREÇO

Paula Duarte 11 : Rua 09; : Loteamento Filipinho; : Quadra 12 - Filipinho - São Luís MA (98) 3232-4940

Imperatriz Av. Babaculandia - Parque Sanharol, Imperatriz - MA, 65907-230

São Luís/MA Av. dos Holandeses, 8Calhau, São Luís - MA, 65071-380

MARANHÃO ATLÉTICO CLUBEMAC Rua Valério Monteiro - Cohama e Cohaserma - São Luís - MA

MOTO CLUB DE SÃO LUÍS – MCSL Moto Club Rua Ubatuta, nº 55 C.T. Dr. José Pereira dos Santos

SAMPAIO CORRÊA FUTEBOL CLUBE – SCFC

Sampaio Av. General Arthur Carvalho, Turu Velho - São Luís-MA

Nomes históricos

-

CONTATO

https://imperatriz.aabb.com.br/

https://saoluis.aabb.com.br/

http://maranhaoatleticoclube.com/

https://motocluboficial.com.br/

https://www.sampaiocorreafc.com.br/

A História do Vôlei no Maranhão - 1023 Palavras | Trabalhosfeitos

Maranhão Vôlei » planteis :: Volleybox Feminino

• Maranhão Vôlei/Cemar2014/15 - 2014/15

• Maranhão Vôlei/CTGM2013/14 - 2013/14

• Vôlei

(Foto:Reprodução)

O vôlei chegou ao Maranhão na década de 30, não havendo, portanto, registro anterior. Em 1932 foi criado o Grêmio 8 de maio por estudantes do Liceu Maranhense, liderado por Tarcísio Tupinambá Gomes.

A primeira competição oficial foi realizada em 8 de maio de 1937 ao lado da Igreja da Sé. As escolas foram as primeiras instituições a adotarem o voleibol na década de 40. Nas décadas de 50 e 60 ocorreram as primeiras olimpíadas estudantis, onde o esporte teve seu impulso.

O primeiro clube de São Luís a possuir uma quadra de voleibol foi o Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 3 de fevereiro de 1953, pelo Dr. Orlando Araújo. A Federação Maranhense de Voleibol foi oficializada em 1972 tendo como primeiro presidente Júlio César Aboud Nagen. Hoje é presidida por Edvaldo Pereira da Silva, “Biguá”.

São Luís: o esporte e seus precursores | O Imparcial

VOLEIBOL MARANHENSE

Breve Histórico do Voleibol no Maranhão!

Esse post foi retirado do trabalho de Monografia do Professor Telesfóro de Sousa .

O voleibol chegou ao Maranhão na década de trinta. Para fazer esta afirmação foi feito uma pesquisa através da história oral com alguns dos atletas de São Luís. Depoimentos longos e minuciosos, fotos e acontecimentos, nos permitiram uma descrição do início do voleibol em solo maranhense.

Tudo começou num terreno baldio que existia ao lado da praça Gonçalves Dias (praça pública localizada no centro da cidade de São Luís-MA), onde atualmente funciona a reitoria da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, prédio que sediava a antiga Escola Normal. “…eu ia assitir aos jogos que aconteciam ali…” afirma Paulinho Carvalho, ex-atleta, 81 anos de idade, numa entrevista feita em 03/05/1998. Os jogos que ocorriam ali a que a afirmação acima se refere eram algumas partidas que aconteciam entre equipes formadas pela Marinha, que por aqui trabalhavam ou estivessem de passagem e pelos sócios do Maranhão Atlético Clube.

Se reuniam na praça e começavam a praticar o voleibol nos finais de tarde e aos fins de semana. Logo depois surgiram as duas primeiras equipes de voleibol. O Olimpico, formada só por militares e o Maranhão Atlético Clube formados por sócios na sua maioria. Alguns nomes foram destaques como os professores Bonifácio e Adolfo, por serem grandes atacantes de voleibol naquela época. Posteriormente surgiu uma equipe formada praticamente pelos irmãos mais velhos de Raimundo Vieira da Silva. Estes acontecimentos datam entre os anos de 1933 e 1934.

Depois dessa fase, em 1935 e 1936, um grupo de amigos, estudantes do ginásio tendo a frente Tarcísio Tupinambás Gomes, resolveram fundar no Liceu Maranhense (Colégio Estadual do Maranhão, localizado no Parque Urbano Santos em São Luís-MA), o Grêmio 8 de Maio, que ressalvamos aqui, não tinha nenhuma conotação com a data do dia da vitória da II Guerra Mundial, foi mera coincidência.

O Grêmio 8 de Maio, do Liceu Maranhense, foi fundado visando tratar exclusivamente de interesses da classe estudantil, como reuniões, lições, biblioteca e outras coisas relacionadas aos estudantes. Depois é que surgiu o interesse pelos esportes basquete e voleibol. O primeiro time de voleibol do Grêmio 8 de Maio do Liceu Maranhense era composto por Tarcísio, Zilmer, Zé Maria, Almir Canavieira, Délio Lima, Paulinho e outros alunos da escola, isto nos anos de 1935 e 1936.

obs.: ainda restam muitos fatos a serem postados, em breve e com tempo hábil estarei colocando os finalmentes. O professor Leopoldo Gil também já descreveu fatos recorrentes ao início do voleibol no Maranhão em seu bog no imirante.com, passem e vejam.

O MELHOR DO VOLEIBOL ESCOLAR E AMADOR

HVIS EN BEDRIFT ØNSKER Å STØTTE EN STAVANGER JENTE SOM SPILLER I ELITEN I

FREDRIKSTED, SÅ LEGG INN ET BUD FOR NAVN/REKLAME PÅ DRAKTEN HENNES

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NASCIDA

HANDEBOL

ATLETA EM PARAIBANO-MA

Nanoitedessaquarta,23,emSãoLuís-MAa@basquetecbbmostroumaisumavezsuafaltade autonomiaepodersobreaadministraçãodobasquetebrasileiro.Issoporquea@lbf.oficial,detentora dechancelada"principal"competiçãoadultofemininadopaís,escalou,certamentesemconsultara CBB,oficiaisdemesadeumaLiganãoreconhecidapela"navemãe"dobasquetenacional,ouseja, umaligapirata!Aaçãofereveementementedoisdocumentos,ocontratoqueaLBFeCBBpossuem, queversasobreaobrigatoriedadedeoficiaisregistradosparaatuaçãonaLBF,assimcomoo RegimentoInternodeArbitragemdaCBBquetratadaescaladeoficiaisdemesacomo responsabilidadedasfederações.Repudiamoscomvigorestefato,masnãonossurpreendemoscomo descasoefracassoquetantoaLBFquantoaCBBtêmalcançadonobasquetenacional.Valelembrar queaLBFtemapenas8equipeseissoporsisójárepresentaumdesastreeagora,mostrandoquenão respeitacontratos,vaiaCBBcontinuarcomosolhosfechadosouquestionaraligatalqualfezcoma @nbb?Éaguardarprasaber!

SÃO RAIMUNDO, DOS MULUNDUNS - QUEM – OU O QUÊ –FESTEJAR?

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Poética Brasileira

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras

O Dia do Vaqueiro é 29 de agosto (Lei Federal 11.797/2008). No terceiro domingo de julho é comemorado o Dia Nacional do Vaqueiro Nordestino O vaqueiro é responsável por realizar o tratamento de pastos e outras plantações para ração que alimentam o gado, também realiza ordenha e mantém todos os cuidados com o animal Dia Nacional do Vaqueiro - 29 de Agosto - Calendário 2023 (calendario.online)

Já no Maranhão, o festejo de São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro, protetor e padroeiro dos vaqueiros, é um novenário – de 22 a 31 de agosto, dia em que ele faleceu (ou foi encontrado morto?), na antiga fazenda, hoje povoado, Mulundus, a 30 km de Vargem Grande (MA).

A ORIGEM DOS MULUNDUNS

Para o austríaco Ludovico Schwennhagen, o Maranhão existia, como a república dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. Os sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) eram a capital federal, isto é, o lugar, onde se reunia todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús.

Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás.

Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo os anos os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro da grande reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde veem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás. Ludovico Schwennhagen

A região que compreendia Itapecuru Mirim, Vargem Grande, Chapadinha, Brejo, Anajatuba, Manga do Iguará (Nina Rodrigues), Araioses, Cantanhede e outras existia grandes fazendas de gados o que justifica as centenas de vaqueiros devotos do Santo espanhol, que segundo a lenda, enquanto fazia suas orações a Virgem Maria esta enviava um anjo para guardar os rebanhos sob os seus cuidados, daí a ter um “representante” conterrâneo melhor ainda.

Muito propícia a criação de gado que eram comercializados no Arraial da Feira atual Itapecuru Mirim ou transportada para São Luís via rio Muni As crianças desde muito cedo começavam a aprender o mister de vaqueiro, que era a função de maior status entre os escravos. A profissão de vaqueiro passava dos pais para os filhos.

O FESTEJO DE SÃO RAIMUNDO NONATO DOS MULUNDUS

Mas, qual ‘Raimundo Nonato’??? O Vaqueiro, morto, e reverenciado como santificado? O filho da fazendeira, curado por intercessão do Santo (vaqueiro)? Ou o santo espanhol?

RAIMUNDO NINA RODRIGUES, O FILHO DA PROMESSA

O filho da promessa, Raimundo Nina Rodrigues o mais ilustre filho da terra, foi médico legista, psiquiatra, professor e antropólogo. Faleceu em 1906.

O pequeno Raimundo nasceu no dia 4 de dezembro de 1862, porém foi uma criança com a saúde frágil e mais uma vez Dona Luiza recorreu ao Santo pedindo proteção e saúde ao filho e em troca prometeu fazer vir da Espanha uma imagem autêntica confeccionada na oficina sacra da terra natal de São Raimundo. Quando o filho atingiu a juventude a imagem foi encomendada. A trajetória da imagem foi difícil. Ela foi enviada à Portugal de lá foi feito o translado de navio para a capital, São Luís, depois foi levada de barco a vapor até Itapecuru –Mirim quando as autoridades locais e eclesiásticas a transportaram até a igreja de São Sebastião e depois à Mulundus. A chegada da imagem ocorreu no penúltimo quartel do século XIX. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

Por volta dos anos 30 do século XIX, o tenente-coronel Antonio Bernardino Ferreira Coelho adquiriu o Engenho Primavera que outrora pertencera a madrinha do vaqueiro Raimundo Nonato. Na constância do cargo de Deputado Provincial Antonio Bernardino transferiu a Vila de Olho d’Agua para Vargem Grande em 1845. No final dos anos cinquenta o deputado vendeu o Engenho Primavera ao coronel Francisco Solano Rodrigues. Ao comprar as terras adquiriu também a escravatura dos antigos proprietários com todos seus costumes e crendices. No local se estabeleceu com a família depois do casamento com a senhora Luíza Roza Nina Rodrigues, onde tiveram sete filhos: Djalma, Joaquim, Raimundo, Themístocles, Antônio, Saul, e Maria da Glória. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

Dona Luíza figurou como responsável pela festa durante muitos anos sendo seguida por seu filho o capitão Saul Nina Rodrigues que mesmo residindo no Engenho São Roque em Anajatuba, gerindo os negócios da família mantinha negócios em Vargem Grande tendo continuado como Mordomo da festa. Dona Luiza faleceu em 17.12.1911.

O tenente- coronel Francisco Solano Rodrigues, foi juiz de direito, Comandante Superior da Guarda Nacional, da Vila de Vargem Grande, deputado constituinte, Presidente da Câmara de Anajatuba e grande benfeitor de Vargem Grande, tendo cedido uma das suas casas para servir de cadeia pública à Vila.

Desde o início do Século XX, começaram as campanhas pela imprensa, pelos moradores e principalmente pelos comerciantes para a transferência da festa para a sede de Vila de Vargem Grande. O povoado de Mulundus, era desprovido de estrutura adequada para a celebração da festa que havia se tornado muito grande.

Porém os tradicionalistas resistiam, por achar que a festa deveria permanecer no local onde iniciou. Foram anos de negociações para solucionar o impasse. Somente em 1953, na gestão do arcebispo Dom José Medeiros Delgado, houve a transferência da festa para Vargem Grande, passando a ter uma maior projeção. Os conservadores, no entanto, inconformados continuaram celebrar São Raimundo Nonato em Mulundus, que em consenso a igreja fixou a data do evento no povoado para o mês de outubro e assim respeitando a religiosidade popular. A festa reúne féis de todo o Maranhão também de outros Estados, em pagamentos de promessas.

O SANTO ESPANHOL, SÃO RAIMUNDO NONATO

Foi um doutor da igreja, um grande Bispo e mártir da fé católica. Roga por nós, São Raimundo! (em catalão: Ramon Nonat, em castelhano: Ramón Nonato) é um santo católico romano que viveu no século XIII e se rebelou contra a escravidão, que na época era tida como natural. Raimundo recebeu a alcunha de Nonato ("não nascido") porque foi extraído do ventre de sua mãe, já morta antes de dar-lhe à luz, ou seja, não nasceu de uma mãe viva, mas foi retirado de seu útero, algo raríssimo à época. São Raimundo Nonato - Diocese de São José do Rio Preto/SP (bispado.org.br)

Por isso é festejado, no dia 31 de agosto, como o patrono das parteiras e obstetras. Em 1224 entrou na Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que era dedicada a resgatar os cristãos capturados pelos muçulmanos levados para prisões na Argélia. Mas ele não queria apenas libertar os escravos, lutava também para manter viva a fé cristã dentro deles. Capturado e preso na Argélia, converteu presos e guardas, mas teve a boca perfurada e fechada por um cadeado para não pregar mais. Após sua libertação, foi nomeado em 1239 cardeal pelo papa Gregório IX, todavia no início de seu caminho a Roma padeceu violentas febres pela qual morreu. Servilio Conti. O santo do dia.- 10. ed revisada e atual - Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Raimundo Nonato – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Em “A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus”, a professora Dolores Mesquita diz que Mulundus era uma fazenda de “umas brancas da família Faca Curta”, ricas e donas de muitos escravos. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

O fato: Raimundo Nonato, com outros vaqueiros, caçava uma rês desgarrada e sumiu. Dois dias depois foi encontrado morto: o corpo conservado e exalando um perfume! O povo entendeu que virara um santo. Não houve enterro. O corpo sumiu! É um mistério! Segundo os escravos Raimundo, Secundio, Quirino, Martiniano, Macário, Zé Firino, Militão e José Cabral, os padres levaram o corpo para Roma. Mistérios e farsas sobre são Raimundo Nonato dos Mulundus | O TEMPO

No local do acidente foi feita uma capela de palha (depois o santuário de são Raimundo dos Mulundus, hoje em ruínas), e, chefiados por Macário Ferreira da Silva, criaram um novenário, que se encerrava no dia de sua morte, 31 de agosto. “Isso pelos anos de 1858, mais ou menos” (Dolores Mesquita).

Em 1858, já era rezada a novena, e havia uma capela de palha para o santo vaqueiro, a partir da qual foi erguido o Santuário de são Raimundo Nonato dos Mulundus, de rara beleza; e entre 1901 e 1908, o padre Custódio José da Silva Santos, de Vargem Grande, celebrava a festa em Mulundus “Apesar do abandono em que vive, o altar onde celebram as solenidades religiosas permanece firme, sendo resistente ao sol e à chuva; diz o povo que não cai porque são Raimundo protege aquele santo lugar”. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

Muito religiosa Dona Luiza, quando chegou já encontrou a capelinha em Mulundus que fazia parte da propriedade da família. Passou a fazer a manutenção e incentivar o culto a São Raimundo Nonato. Em 1862, enquanto gestava um dos seus filhos se sentiu muito doente então fez promessa, que se tivesse um bom parto, o filho receberia o nome do Santo, porque além de protetor dos vaqueiros é invocado como patrono e protetor das parturientes e das parteiras, porque durante o seu nascimento a sua mãe faleceu e ele foi extraído vivo. Após a Proclamação da República (1889), Mulundus foi comprada pelo coronel Solano Rodrigues, cuja mulher, dona Luíza, em pagamento a uma promessa ao santo vaqueiro, mandou fazer em Portugal uma imagem dele que custou 1 conto e 700 réis, pela cura da pneumonia de seu filho Saul Nina Rodrigues, advogado, irmão do médico Nina Rodrigues.

Até 1908, os padres celebravam missa no santuário de Mulundus. Em 1930, o arcebispo de São Luís proibiu o festejo, alegando ser profano! As perseguições do oficialato católico ao santo vaqueiro beiram a insanidade e a ganância. O povo manteve a devoção, sem padre e sem missa.

Em 1954, o arcebispo dom José Delgado, acoitado pela polícia, “mudou”, como se fosse dono de uma obra popular, o Santuário de Mulundus para Vargem Grande, dando-lhe novo nome: Santuário de São Raimundo Nonato, bispo espanhol da ordem dos mercedários (1204-1240), santificado! Os romeiros não arredaram de Mulundus!

A arquidiocese decidiu disputar com Mulundus e dividir a fé do povo: “Comprou 180 hectares da fazenda Paulica, a 7 km de Vargem Grande, e fez uma capela para onde os romeiros em procissão conduzem a imagem de são Raimundo Nonato (o bispo espanhol) no dia 22 e a trazem de volta para a igreja no final do dia” (professora Dolores Mesquita).

O VAQUEIRO RAIMUNDO NONATO

Para Marcus Ramusyo de Almeida Brasil, A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus está envolta em narrativas de mistério, fé e devoção, no contexto das crenças populares e das práticas performáticas socio-culturais que as engendram. São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro: travessias da religiosidade em movimento | Domínios da Imagem (uel.br):

Raimundo Nonato Soares Cangaçu nasceu em 31 de outubro de 1700, no povoado de Vargem Grande. Veio a falecer no dia 31 de agosto de 1732. Revela a memória coletiva que o vaqueiro Raimundo Nonato estava cavalgando em velocidade pelas matas quando bateu com seu cavalo em uma árvore. Tanto ele quanto seu cavalo ficaram combalidos, ali pereceram e morreram. No entanto, ao entrar em estado de decomposição, em vez de feder e ser comido pelos vermes, o corpo de Raimundo Nonato se santificara, emanava, então, perfume de flores. Nasceu, ali, linda vegetação. O local de sua morte tornou-se lugar de peregrinação com o passar do tempo. Seu nome se manteve forte no imaginário popular do sertanejo da região, vindo a se tornar o santo protetor dos vaqueiros e daqueles que vivem nos rincões do Maranhão profundo, através de quase 300 anos de tradição. (MELO, 2016, Nágela Mila de. São Raimundo Nonato dos Mulundus em Vargem Grande – MA: uma experiência estética. Licenciatura em Artes Visuais –Departamento da Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Centro Histórico, 2016. Monografia em Artes Visuais.)

SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUNS, “O FALSO SANTO DO MARANHÃO”

Academia Ludovicense de Letras

O MARANHÃO. REPÚBLICA DOS TUPINAMBAS

Mas o Maranhão existia, como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) eram a capital federal, isto é, o lugar, onde se reunia todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O CONGRESSO DO MULUNDÚS

Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús. Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo Os anos os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegado de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande reunião do povo.Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde veem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás.

Ludovico Schwennhagen

ORIGEM FENÍCIA?

[...] Subindo o rio Mearim, no Estado do Maranhão, na confluência dos rios Pindaré e Grajaú, encontramos o lago Pensiva, que outrora foi chamado Maracu. Neste lago, em ambas as margens, existem estaleiros de madeira petrificada, com grossos pregos e cavilhas de bronze. O pesquisador maranhense Raimundo Lopes escavou ali, no fim da década de 1920, e encontrou utensílios tipicamente fenícios. [...] (grifado) 1 .

1 Portal São Francisco (http://www.portalsaofrancisco.com.br/)

Informa Pablo Villarrubia Mauso (2010) 2 que teoria da “origem das cidades perdidas do Maranhão” foi levantada pelo explorador austríaco Ludwig Schwennhagen, que esteve no Brasil no princípio do século 20. Teriam sido sacerdotes cários, povo da Ásia Menor, que mil anos antes de Cristo viajavam em embarcações fenícias que chegaram às costas brasileiras

Para Ludwig, as pegadas nas pedras existentes na região da Chapada das Mesas eram representação do grãosacerdote Sumer, cujo nome teria sido modificado para Sumé. Ludwig Schwennhagen fala em seu livro Antiga História do Brasil, de 1100 a.C. a 1500 d.C. (1928) que os fenícios tinham escolhido a ilha de São Luís como ponto de entrada para uma segunda onda de imigrantes.

Chamaram-na de Tuapon, que significava “cidade de Tupã” – uma das divindades dos índios tupi –, onde fundaram várias aldeias, das quais 27 ainda existiam na época da chegada dos primeiros europeus. De lá, atravessando pequenos rios, foram navegando até onde hoje está a cidade de Belém do Pará. O nome Maranhão derivaria de Mara-Ion, dado pelos fenícios. Tudo isso teria acontecido por volta de 1100 a.C., ou seja, muito antes do descobrimento do Brasil pelos portugueses3

Durante o curto período de ocupação francesa da costa do Maranhão, o frei e cronista Claude d’Abbeville escreveu um diário de viagem no qual falava sobre os avançados conhecimentos astronômicos dos índios tupinambás do Maranhão. Ludwig atribuiu esse conhecimento às influências trazidas pelos sábios da antiga Caldéia, situada na Mesopotâmia, que vinham a bordo das embarcações fenícias4

Os restos mais palpáveis dos fenícios no Maranhão estariam no Rio Pinaré, onde o Lago Maracu mostra restos petrificados que pertenceriam aos estaleiros daquele povo, além de outros portos fluviais situados em três lagos que existem na confluência dos rios Mearim, Pinaré e Grajaú. Nas margens dos rios Gurupi e Ireiti, os fenícios exploraram minas de ouro e tinham como base a aldeia de Carutapera (segundo Ludwig, “taba dos carus”, sendo carus o nome que os indígenas davam aos fenícios). À chegada dos portugueses, o local ainda existia como uma aldeia dos tupis, que conheciam bem a existência das minas de ouro5 .

Schwennhagen ainda dizia que na península situada em frente à cidade de São Luís, possivelmente em Alcântara, foram encontrados restos de antigas muralhas cuja origem não pôde ser comprovada no tempo dos europeus. Na ilha de Troína, também no Maranhão, os navegantes ainda hoje avistam grandes blocos de pedras provenientes de muralhas de uma praça forte e alta6 .

Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), de autoria de Ludovico Schwennhagen é publicado artigo com o seguinte título:

MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO

O labirinto subterrâneo de S. Luis – O congresso dos Mulundús

O prof. Ludovico Schwennhagen, que ora se acha no Ceará, em pesquisas arqueológicas iniciou, com Raimundo Lopes, o estudo da pré-história maranhense.

2 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

3 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

4 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

5 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

6 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

Os seus originais pontos de vista, que se destinguem pelo imprevisto das hipóteses, busca o erudito professor firma-se em argumentos tirados de factos que ele põe em relevo e cujo interesse e torna patente.

Hoje, um excelente estudo recapitulativo, aborda o nosso colaborador as origens do Maranhão e as possíveis relações entre os antigos habitantes do solo e os navegantes fenício. (A Pacotilha, 30 de maio de 1925).

Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios:

Sustento a tese de que a cidade hoje chamada S. Luis, foi fundada por navegadores fenícios, 1.000 anos antes de Cristo, ao mesmo tempo que era levantada, na foz do rio Parnaíba, a de Tutóia, cujo nome antigo era Tu-Troia (terra de Tróia). O nome da capital da ilha do Maranhão era Tupã. As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara no Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis –fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú:

OS FENICIOS E OS TUPIS

Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Asia.

Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano. Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Troia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram TuTroia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis). (SCHWENNHAGEN, 1925).

Ludovico Schwennhagen traz como indícios da presença dos fenícios em Tupaón – Upaon-Açú – os subterrâneos e labirintos existentes; embora a crença popular diga que foram os jesuítas os responsáveis pela construção:

OS SUBTERRANEOS

Essa origem de Tupaón explica também a existencia dos subterrâneos e do labirinto desta cidade. A questão dos subterrâneos do Maranhão não fica resolvida pela crença popular, de que foram os jesuítas que fizeram tudo isso. O nosso amigo e bem conhecido artista Gregório pega no seu quintal, na rua do Sol, muito peixe, que traz cada maré grande, pelo corredor subterrâneo, que liga a praia com aquela parte da cidade. Ali nõ andavam os padres.

Em baixo da praça de Alegria existe um amplo salão, que tem duas entradas por corredores que vêem da praia de Desterro e e Santa Amelia.

O centro do labirinto está embaixo do Largo do Carmo, onde existem um grande tanque de água e salas de amplas dimensões.

Um corredor passa embaixo do antigo cemitério da igreja, ligando as salas subterrâneas com o Ribeirão.

(SCHWENNHAGEN, 1925).

A ocultação desses labirintos parte de Roma; saberiam os jesuítas de algo, que ocultaram?

Esse corredor recebeu um revestimento de tijolos, pelos frades italianos, até o Ribeirão, e seria como comunicação entre o convento e a cidade baixa.

Agora, está ele tapado, por ordem de Roma, na curva entre o teatro e a nova Faculdade de Direito. A tapagem é feita com pedras toscas comuns; mas os frades deixaram um estreito, como para a saída de água. Sem tal passagem, a água destruiria os alicerces da igreja e do convento.

Do outro lado do largo do Carmo passa um corredor sob a casa Lobão, onde existiu mais dois quartos subterrâneos; depois desce o corredor para a muralha da antiga alfândega. O salão central, na colina do antigo Forte, quer dizer do palácio e da Sé, tem quatro entradas, uma vinda da rampa de Campos Melo, a segunda da rampa do Palácio, a terceira de baixo a Biblioteca, a quarta do Ribeirão.

O subterrâneo de Santo Antonio tem três entradas e o corredor central comunica com a praça da Alegria.

Existe também uma comunicação entre a praia do Desterro e a de Campos Melo. Quando, por exemplo, no Desterro desaparecem um porco e não volta à noite, o dono vai a Campos Melo e espera ali a chegada do animal, no outro dia. Os moradores do Desterro contam que, há dois anos, entrou no corredor subterrâneo um homem, munido duma pequena saca de farinha, duma garrafa de cachaça e de algumas velas, para procurar qualquer tesouro. Ele ficou três dias, percorrendo a diversas galerias, e trouxe alguns objetos misteriosos. Disse que as velas não eram suficientes para perlustrar toda a extensão, e que dormiu num salão bem limpo e enxuto. O homem foi embora, numa canoa, para o interior, dizendo que voltaria com companheiros, para continuar suas explorações. Tudo isso passa-se em plena S. Luis, chamada Atenas brasileira, embelecida pelos melhoramentos dos senhores Ulen e Brightman ( em português: Coruja e Homem Largo). Porque não podemos reconstruir também as glorias do antigo Tupaón; Porque o coronel Antonio Bricio hesita ainda em eterniza seu nome como descobridor do grande labirinto de Tupaon, construído provavelmente por um dos bisnetos o rei Minos de Creta. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O FESTEJO DE SÃO RAIMUNDO NONATO DOS MULUNDUS

O festejo de São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro, protetor e padroeiro dos vaqueiros, é um novenário – de 22 a 31 de agosto, dia em que ele faleceu (ou foi encontrado morto?), na antiga fazenda, hoje povoado, Mulundus, a 30 km de Vargem Grande (MA).

A região que compreendia Itapecuru Mirim, Vargem Grande, Chapadinha, Brejo, Anajatuba, Manga do Iguará (Nina Rodrigues), Araioses, Cantanhede e outras existia grandes fazendas de gados o que justifica as centenas de vaqueiros devotos do Santo espanhol, que segundo a lenda, enquanto fazia suas orações a Virgem Maria esta enviava um anjo para guardar os rebanhos sob os seus cuidados, daí a ter um “representante” conterrâneo melhor ainda.

A região era muito propícia a criação de gado que eram comercializados no Arraial da Feira atual Itapecuru Mirim ou transportada para São Luís via rio Muni As crianças desde muito cedo começavam a aprender o mister de vaqueiro, que era a função de maior status entre os escravos. A profissão de vaqueiro passava dos pais para os filhos.

Por volta dos anos 30 do século XIX, o tenente-coronel Antonio Bernardino Ferreira Coelho adquiriu o Engenho Primavera que outrora pertencera a madrinha do vaqueiro Raimundo Nonato. Na constância do cargo de Deputado Provincial Antonio Bernardino transferiu a Vila de Olho d’Agua para Vargem Grande em 1845. No final dos anos cinquenta o deputado vendeu o Engenho Primavera ao coronel Francisco Solano Rodrigues. Ao comprar as terras adquiriu também a escravatura dos antigos proprietários com todos seus costumes e crendices. No local se estabeleceu com a família depois do casamento com a senhora Luíza Roza Nina Rodrigues, onde tiveram sete filhos: Djalma, Joaquim, Raimundo, Themístocles, Antônio, Saul, e Maria da Glória. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

Muito religiosa Dona Luiza, quando chegou já encontrou a capelinha em Mulundus que fazia parte da propriedade da família. Passou a fazer a manutenção e incentivar o culto a São Raimundo Nonato. Em 1862, enquanto gestava um dos seus filhos se sentiu muito doente então fez promessa, que se tivesse um bom parto, o filho receberia o nome do Santo, porque além de protetor dos vaqueiros é invocado como patrono e protetor das parturientes e das parteiras, porque durante o seu nascimento a sua mãe faleceu e ele foi extraído vivo.

O pequeno Raimundo nasceu no dia 4 de dezembro de 1862, porém foi uma criança com a saúde frágil e mais uma vez Dona Luiza recorreu ao Santo pedindo proteção e saúde ao filho e em troca prometeu fazer vir da Espanha uma imagem autêntica confeccionada na oficina sacra da terra natal de São Raimundo. Quando o filho atingiu a juventude a imagem foi encomendada. A trajetória da imagem foi difícil. Ela foi enviada à Portugal de lá foi feito o translado de navio para a capital, São Luís, depois foi levada de barco a vapor até Itapecuru –Mirim quando as autoridades locais e eclesiásticas a transportaram até a igreja de São Sebastião e depois à Mulundus. A chegada da imagem ocorreu no penúltimo quartel do século XIX. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

O filho da promessa, Raimundo Nina Rodrigues o mais ilustre filho da terra, foi médico legista, psiquiatra, professor e antropólogo. Faleceu em 1906.

Dona Luíza figurou como responsável pela festa durante muitos anos sendo seguida por seu filho o capitão Saul Nina Rodrigues que mesmo residindo no Engenho São Roque em Anajatuba, gerindo os negócios da família mantinha negócios em Vargem Grande tendo continuado como Mordomo da festa. Dona Luiza faleceu em 17.12.1911.

O tenente- coronel Francisco Solano Rodrigues, foi juiz de direito, Comandante Superior da Guarda Nacional, da Vila de Vargem Grande, deputado constituinte, Presidente da Câmara de Anajatuba e grande benfeitor de Vargem Grande, tendo cedido uma das suas casas para servir de cadeia pública à Vila.

Desde o início do Século XX, começaram as campanhas pela imprensa, pelos moradores e principalmente pelos comerciantes para a transferência da festa para a sede de Vila de Vargem Grande. O povoado de Mulundus, era desprovido de estrutura adequada para a celebração da festa que havia se tornado muito grande. Porém os tradicionalistas resistiam, por achar que a festa deveria permanecer no local onde iniciou. Foram anos de negociações para solucionar o impasse. Somente em 1953, na gestão do arcebispo Dom José Medeiros Delgado, houve a transferência da festa para Vargem Grande, passando a ter uma maior projeção. Os conservadores, no entanto, inconformados continuaram celebrar São Raimundo Nonato em Mulundus, que em consenso a igreja fixou a data do evento no povoado para o mês de outubro e assim respeitando a religiosidade popular. A festa reúne féis de todo o Maranhão também de outros Estados, em pagamentos de promessas.

O Santo Espanhol, São Raimundo Nonato foi um doutor da igreja, um grande Bispo e mártir da fé católica. Roga por nós, São Raimundo! (em catalão: Ramon Nonat, em castelhano: Ramón Nonato) é um santo católico romano que viveu no século XIII e se rebelou contra a escravidão, que na época era tida como natural. Raimundo recebeu a alcunha de Nonato ("não nascido") porque foi extraído do ventre de sua mãe, já morta antes de dar-lhe à luz, ou seja, não nasceu de uma mãe viva, mas foi retirado de seu útero, algo raríssimo à época. São Raimundo NonatoDiocese de São José do Rio Preto/SP (bispado.org.br)

Por isso é festejado, no dia 31 de agosto, como o patrono das parteiras e obstetras. Em 1224 entrou na Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que era dedicada a resgatar os cristãos capturados pelos muçulmanos levados para prisões na Argélia. Mas ele não queria apenas libertar os escravos, lutava também para manter viva a fé cristã dentro deles. Capturado e preso na Argélia, converteu presos e guardas, mas teve a boca perfurada e fechada por um cadeado para não pregar mais. Após sua libertação, foi nomeado em 1239 cardeal pelo papa Gregório IX, todavia no início de seu caminho a Roma padeceu violentas febres pela qual morreu. Servilio Conti. O santo do dia.- 10. ed revisada e atual - Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Raimundo Nonato – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Cristo coroando São Raimundo Nonato (Museu do Prado) São Raimundo Nonato - Santo do Dia (comeceodiafeliz.com.br)

Em “A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus”, a professora Dolores Mesquita diz que Mulundus era uma fazenda de “umas brancas da família Faca Curta”, ricas e donas de muitos escravos. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

O fato: Raimundo Nonato, com outros vaqueiros, caçava uma rês desgarrada e sumiu. Dois dias depois foi encontrado morto: o corpo conservado e exalando um perfume! O povo entendeu que virara um santo. Não houve enterro. O corpo sumiu! É um mistério! Segundo os escravos Raimundo, Secundio, Quirino, Martiniano, Macário, Zé Firino, Militão e José Cabral, os padres levaram o corpo para Roma. Mistérios e farsas sobre são Raimundo Nonato dos Mulundus | O TEMPO

No local do acidente foi feita uma capela de palha (depois o santuário de são Raimundo dos Mulundus, hoje em ruínas), e, chefiados por Macário Ferreira da Silva, criaram um novenário, que se encerrava no dia de sua morte, 31 de agosto. “Isso pelos anos de 1858, mais ou menos” (Dolores Mesquita).

Em 1858, já era rezada a novena, e havia uma capela de palha para o santo vaqueiro, a partir da qual foi erguido o Santuário de são Raimundo Nonato dos Mulundus, de rara beleza; e entre 1901 e 1908, o padre Custódio José da Silva Santos, de Vargem Grande, celebrava a festa em Mulundus “Apesar do abandono em que vive, o altar onde celebram as solenidades religiosas permanece firme, sendo resistente ao sol e à chuva; diz o povo que não cai porque são Raimundo protege aquele santo lugar”. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

Após a Proclamação da República (1889), Mulundus foi comprada pelo coronel Solano Rodrigues, cuja mulher, dona Luíza, em pagamento a uma promessa ao santo vaqueiro, mandou fazer em Portugal uma imagem dele que custou 1 conto e 700 réis, pela cura da pneumonia de seu filho Saul Nina Rodrigues, advogado, irmão do médico Nina Rodrigues.

Até 1908, os padres celebravam missa no santuário de Mulundus. Em 1930, o arcebispo de São Luís proibiu o festejo, alegando ser profano! As perseguições do oficialato católico ao santo vaqueiro beiram a insanidade e a ganância. O povo manteve a devoção, sem padre e sem missa.

Em 1954, o arcebispo dom José Delgado, acoitado pela polícia, “mudou”, como se fosse dono de uma obra popular, o Santuário de Mulundus para Vargem Grande, dando-lhe novo nome: Santuário de São Raimundo Nonato, bispo espanhol da ordem dos mercedários (1204-1240), santificado! Os romeiros não arredaram de Mulundus!

A arquidiocese decidiu disputar com Mulundus e dividir a fé do povo: “Comprou 180 hectares da fazenda Paulica, a 7 km de Vargem Grande, e fez uma capela para onde os romeiros em procissão conduzem a imagem de são Raimundo Nonato (o bispo espanhol) no dia 22 e a trazem de volta para a igreja no final do dia” (professora Dolores Mesquita).

Apesar das artimanhas, o Dia do Vaqueiro é 29 de agosto (Lei Federal 11.797/2008).

Para Marcus Ramusyo de Almeida Brasil, A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus está envolta em narrativas de mistério, fé e devoção, no contexto das crenças populares e das práticas performáticas socio-culturais que as engendram. São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro: travessias da religiosidade em movimento | Domínios da Imagem (uel.br):

Raimundo Nonato Soares Cangaçu nasceu em 31 de outubro de 1700, no povoado de Vargem Grande. Veio a falecer no dia 31 de agosto de 1732. Revela a memória coletiva que o vaqueiro Raimundo Nonato estava cavalgando em velocidade pelas matas quando bateu com seu cavalo em uma árvore. Tanto ele quanto seu cavalo ficaram combalidos, ali pereceram e morreram. No entanto, ao entrar em estado de decomposição, em vez de feder e ser comido pelos vermes, o corpo de Raimundo Nonato se santificara, emanava, então, perfume de flores. Nasceu, ali, linda vegetação. O local de sua morte tornou-se lugar de peregrinação com o passar do tempo. Seu nome se manteve forte no imaginário popular do sertanejo da região, vindo a se tornar o santo protetor dos vaqueiros e daqueles que vivem nos rincões do Maranhão profundo, através de quase 300 anos de tradição. (MELO, 2016 MELO, Nágela Mila de. São

Raimundo Nonato dos Mulundus em Vargem Grande – MA: uma experiência estética. Licenciatura em Artes Visuais – Departamento da Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Centro Histórico, 2016. Monografia em Artes Visuais.)

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