REVISTA DO LÉO 79 - NOVEMBRO 2022

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REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536 NÚMERO 79– NOVEMBRO – 2022 MIGANVILLE MARANHA-Y “águas revoltas que correm contra a corrente”

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 Recanto de Vinhais 65070 580 São Luís Maranhão (98) 3236 2076 98 9 8328 2575

CHANCELA

Nasceu em Curitiba Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF MA, desde coordenador de área até Pró Reitor de Ensino; e Pró Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 405 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21 MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017 2019), hoje MARANHAY Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Tenho, como local de publicação, MIGANVILLE localizada mais junto à aldeia de Uçaguaba no Maranha y... Traduzindo: na terra antes do tempo... e que significa, na língua geral, ‘“águas revoltas que correm contra a corrente”. Miganville fora a povoação que precede à ‘fundação’ da França Equinocial, em 1612; existia, já, em 1594 instalada, a feitoria, por Jacques Riffault, Charles DesVaux, e Davi Migan daí, Miganville.

Quando da retomada da terra pelos portugueses, chegam os primeiros jesuítas, e Uçaguaba/Miganville passa a ser denominada “Aldeia da Doutrina’, base das catequizações de toda a região que hoje conhecemos como Amazonia Legal e mais território da Ilha de Upaon Açú até o Mucuripe Estado Colonial criado já em 1621... A ideia dos jesuítas era de criar um estado teocrático, na qual eles governassem, tal qual tentaram com os Sete Povos das Missões, sobrepondo se ao domínio português... Lembrando que, no período de que estamos falando, entre 1580 e 1640 as duas coroas ibéricas Espanha e Portugal estavam sob uma mesma coroa: a espanhola... mas a América portuguesa subsistiu sob a administração lusa...

Continuamos correndo contra a corrente...

Jorge Bento me manda, lá de Portugal, um sítio que descreve a ‘luta do pau’ origem de nosso maculelê? ; aproveito e busco outras lutas tradicionais portuguesas e incluo algumas brasileiras... muitas semelhanças...

E aproveito para fazer uma revisão e novas inclusões de ‘quando começou a capoeiragem’...

Rafinha volta a colaborar com a Revista, assim como Cassas... Reproduzimos uma entrevista com o Laércio dado ao CEME, que esclarece muita coisa, destacando as referências ao Maranhão... onde tudo começou... Zartú me manda um material riquíssimo sobre a A.D. Mirante; não consigo falar com os demais técnicos alguns, já morreram, outros, não respondem... é preciso recuperar essa memória...

Sanches se pergunta por que o maranhense abandona (OU ATÉ DESCONHECE) SEUS GRANDES VALORES UNIVERSAIS?, dando destaque às conquistas esportivas, de antes e de hoje...

Revisando a Capoeiragem: “quando a Capoeiragem começou ” tras novas revelações do inicio dessa atividade física no Brasil vamos buscar a memória de todos os estados brasileiros, agora,; começamos pelo Acre, revisamos Alagoas, levantamos alguma coisa do Amazonas, reeditamos o Ceará, e vimos o que aconteceu no Espírito Santo... nos próximos números, daremos continuidade ...

UM PAPO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor

ESPORTE(S) & EDUCAÇÃO FÍSICA & LAZER 5

RAYSSA LEAL É CAMPEÃ DO MUNDO MARANHENSES LEVAM OURO E BRONZE NO KARATÊ NOS JOGOS ESCOLARES BRASILEIROS A LENDA DA CAPOEIRA x JIU JITZÚ MARA ANTONIA FARIAS DA SILVA

JOGO DO PAU, A MAIS ANTIGA ARTE MARCIAL PORTUGUESA OUTRAS LUTAS TRADICIONAIS PORTUGUESAS JOÃO PAULO MARQUES

LUTAS BRASILEIRAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

DO “PAU” PARA “CACETE” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

O “PARTIDO CAPOEIRO” NO MARANHÃO novas evidencias NINA RODRIGUES | Atletas Alcançam Feito Histórico nos 'Jogos Escolares Brasileiros' CARLOS NETO E JOSÉ MANUEL CONSTANTINO

A CAMINHO DE UM OUTRO DESPORTO ALDIR DANTAS

STJ DECIDE: FISIOTERAPEUTA E TERAPEUTA OCUPACIONAL PODEM DAR DIAGNÓSTICO NERES PINTO

TALENTO NEGRO NOS ESPORTES DO MARANHÃO

RAFAEL CASTELLANI

ACOPADOMUNDODE FUTEBOLE UMALIÇÃONÃOAPRENDIDA: OQUE SIGNIFICAACONVOCAÇÃODODANIELALVES? KATIA RUBIO

SE O CORPO FALA, É PRECISO OLHAR PARA ESCUTAR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ QUANDO A CAPOEIRAGEM COMEÇOU...

ATLASDOESPORTENOMARANHÃO

AINDA A A.D. MIRANTE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

São Luís: o esporte e seus precursores | O Imparcial PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS LAÉRCIO ELIAS PEREIRA (depoimento) 2016 AINDA OS CLUBES MARANHENSES NAVEGANDO, COM JORGE OLIMPIO BENTO ACONTECENDO: POR QUE

EDMILSON

NATAN

FERNANDO BRAGA FRAN PAXECO: MEMÓRIAS & RECORTES números publicados

SUMÁRIO
EXPEDIENTE 2 EDITORIAL 3 SUMÁRIO 4
ATÉ DESCONHECE) SEUS GRANDES VALORES
O MARANHÃO ABANDONA (OU
UNIVERSAIS?
SANCHES HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO ANTROPONÁUTICA, CINCO DÉCADAS DEPOIS, OU PARECE QUE FOI ONTEM
LUÍS AUGUSTO CASSAS 50 ANOS DO MOVIMENTO QUE MUDOU A HISTÓRIA LITERÁRIA NO MARANHÃO: ANTROPONÁUTICA
CASTRO EXCERTOS... MEMÓRIAS... ALGUMA PARTE...

ESPORTE(S) & EDUCAÇÃO FÍSICA & LAZER

Faleceuoex atleta,exárbitroeex treinadordeBasquetebol,JoãoSousaBezerraNeto,tendo dirigidoequipesdeváriasescolasdacapital,ex.ColégioDivinaPastora,ColégioMaristas,poronde conquistouváriostítulospeloJEMsetambémdirigiuváriasseleçõesmaranhenses,tantonosJEBs quantonoscampeonatosBrasileirospromovidospelaCBB.Váempazmeuamigo,queonossoPaido Céu,orecebaemsuamoradaéqueosamigosquenosantecederamoajudemnasuachegadaanova morada.Amém!

RAYSSALEALÉCAMPEÃDOMUNDO

Maranhenses levam ouro e bronze no karatê nos Jogos Escolares Brasileiros

Os maranhenses Tarcio Jean Borges e Everton Lorran Bastos, ambos do karatê, garantiram um local no pódio dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs). O primeiro levou o ouro na série prata, na categoria menos 63kg. Já o segundo, garantiu a medalha de bronze na categoria mais 63kg, na série prata.

Tarcio Jean Borges e Everton Lorran Bastos garantiram um local no pódio dos Jogos Escolares Brasileiros (Foto: Divulgação)7/11/2022

A LENDA DA CAPOEIRA x JIU-JITZÚ

(FONTE: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física CEFET MA Mestre em Ciência da Informação)

A lenda da capoeira x jui jítzu | grupo de capoeira pau brasil araraquara (apedroso708.wixsite.com)

Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina. Esses estudantes de medicina insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o Jiu Jitsú (Sada Miyako, campeão japonês).O evento ocorreu no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente “rabo de arraia”, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo uma versão jamais comprovada de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale tudo é vale tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória.

Vejam a notícia original escrita no jornal do Rio de Janeiro "A Pacotilha" de segunda feira, 14 de junho de 1909, que teve por título "JIU JITZÚ"

"Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. Essa observação do oficial general foi ouvida com indiferença. A curiosidade pelo jiu jitzú chega a tal ponto que o empresário do "Pavilhão Nacional", em Niterói, contratou, para se exibir no seu estabelecimento, um campeão do novo jogo, que veio diretamente do Japão. Há alguns dias esse terrível jogador vem assombrando a plateia daquela casa de diversões com a sua agilidade indescritível, com os seus pulos maquiavélicos. Todas as noites o campeão japonês desafia a plateia a medir forças com ele, sendo que, logo nos primeiros dias de sua exibição, se achava na plateia um conhecido "malandrão". Feito o desafio, o "camarada" não teve dúvidas em aceitar, subindo ao palco. Depois de tirar o paletó, colete, punhos, colarinho e as botinas, o freguês "escreveu" diante do campeão, "mingou" abaixo do "cabra"; este assentou lhe a testa que o japonês andou amarrotando as costelas no tablado. A coisa aqueceu, o japonês indignou se, quis virar "bicho", mas o brasileiro, que não tinha nada de "paca" foi queimando o grosso de tal maneira que a polícia teve que intervir para evitar... o japonês...

O jornal “A Folha do Dia” publicou o seguinte: “Diversos frequentadores do Pavilhão Nacional vieram ontem a esta redação apresentar o Sr. Ciríaco Francisco da Silva dizendo ter o mesmo senhor vencido o jogador japonês, que se exibe atualmente naquela casa de diversão. O Sr. Ciriaco é brasileiro, trabalhador no comércio de café e conseguiu vencer o seu antagonista aplicando lhe um "rabo de arraia" formidável, que no primeiro assalto o prostrou. O brasileiro jogou descalço e o japonês pediu que não fosse continuada a luta. Ficam assim cientes os que se preocupam com o novo esporte, que ele é deficiente. Basta estabelecer o seguinte paralelo: no jiu jitzú a defesa é mais fácil que o ataque; na capoeiragem a grande ciência é a defesa, a grande arte é saber cair. Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que “o brasileiro sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta".

No dia 15 de maio de 1909, a revista "O Malho" publicou uma reportagem sobre o acontecimento que transformou Ciríaco numa celebridade. Nas palavras do próprio Ciríaco, eis o desenrolar da contenda: ”Cheguei em frente com ele, dei as minha cuntinença e fiz a primeira ginga, carculei a artura do negrinho, a meiada das perna, risquei com a mão p’ra espantá tico tico, o camarada tremeu, eu disse: então? Como é? Ou tu leva o 41 dobrado ou tu está ruim comigo, pruque eu imbolá, não imbolo. O japonês tremeu, risquei ele por baixo, dei o passo da limpeza gerá, o negrinho aturduou, mexeu, mas não caiu”. Durante a luta, Ciríaco percebeu as reações do público ao seu favor e continua no relato: “Eu me queimei e já sabe: tampei premero, distroci a esquerda, virei a pantana, óia o hóme levando com o rabo de arraia pela chocolateira. Deu o ar comprimido e foi cumê poeira. Aí eu fiz o manejo da cumprimentação e convidei o hóme p’ro relógio de repetição, mas o gringo se acontentou com a chamada e se deu por sastifeito”.O êxito na luta

resultou em “dezoito mil réis” jogados pela plateia, entrevistas a jornais e demonstrações para estudantes do Rio de Janeiro.

JOGO DO PAU, A MAIS ANTIGA ARTE MARCIAL PORTUGUESA

MARA ANTONIA FARIAS DA SILVA

Jogo do Pau, a mais antiga arte marcial portuguesa Viver Bem Portugal

A esgrima lusitana tem sua origem no Minho. Mantém se viva atualmente e faz parte do calendário de eventos em Portugal

O jogo do pau, é uma arte de combate genuinamente portuguesa. Originou se da necessidade de defesa dos pastores. Assim, para se defender, eles andavam com um pau, o qual os protegiam contra animais como lobos.

Ainda no século XX, o jogo do pau era frequente por Portugal inteiro, com destaque para o norte do país, em feiras e romarias. Por vezes, aldeias inteiras envolviam se em rixas, outras vezes as lutas eram individuais, ou de um jogador contra vários. Os jogadores do Norte chamavam se “puxadores”. Enquanto que “varredores” eram os melhores e mais conhecidos jogadores que se deslocavam às feiras e romarias para desafiarem outros.

Jogo do Pau na cidade de origem Fafe

Este jogo nasceu na região entre Fafe e Guimarães. Em virtude da sua popularidade, acabou expandindo se para a região de Trás os Montes. E depois para o sul do país, alcançando as zonas de Lisboa e do Ribatejo. O jogo do pau generalizou se e seu manuseio foi sendo ensinado para todos, até atingir as gerações seguintes.

Em meados do século XX, esta luta entrou em decadência devido às condições sociopolíticas da época. No entanto, algum tempo depois, vários grupos começaram a se organizar em muitas regiões do país, buscando reviver uma tradição de seus antepassados.

O Jogo do Pau na Literatura

Na literatura portuguesa há muitas referências ao jogo do pau: “Malhadinhas”, de Aquilino Ribeiro, “Memórias do Cárcere”, de Camilo Castelo Branco, ”O senhor Ventura”, de Miguel Torga. Da mesma forma, aparecia nas crônicas de costumes de Eduardo Noronha.

Ilustração Portuguesa” 19 de Setembro de 1904.

“Um dia, porém, uns marinheiros americanos, de passeio, deram cabo daquela felicidade. Entraram, começaram a carregar no Porto, embebedaram se, e às tantas insultaram o minhoto. Sem saberem, coitados, que o Pereira, além de ser bom cozinheiro, sabia jogar o pau.” Miguel Torga

No Brasil, o Jogo do Pau foi eternizado na literatura através da obra “O Cortiço”, de Aloísio de Azevedo. Assim, neste livro é relatada a luta entre um personagem que sabe jogar o pau contra um capoeirista brasileiro.

Definições e características do Jogo do Pau

O jogo do pau é uma arte marcial portuguesa de origem popular tradicional. Em outras palavras, este jogo é como a esgrima, porém, com características diferentes. A principal delas é utilizar uma vara de madeira. Este jogo respeita a tradição e procura ser fiel à sua autenticidade e à forma ritual.

Este jogo apresenta algumas diferenças de estilo: no norte do País, o jogo é mais rude, denotando combate, enquanto no sul se evidencia mais a forma de exibição esportiva.

Em alguns lugares do país são adotadas faixas para denotar o grau que cada combatente conquistou. São elas:

1ª faixa amarela (ao começar)

2ª faixa verde

3º faixa vermelha

4ª faixa preta (de 1 a 5 estrelas)

5ª a faixa roxa

Porém, em muitas escolas a faixa na cintura não é adotada, porque isso pode atrapalhar os movimentos. Logo, a “faixa” é sinalizada pela cor impressa na camiseta, na altura do ombro.

Regras e segurança do Jogo do Pau

A vara ou pau constitui o instrumento de prática do jogo do pau. O seu comprimento varia em relação à altura do jogador. Assim, é considerado normal que a vara tenha no mínimo a medida que vai do solo ao nível do nariz.

Diversos são os tipos de madeira usadas para fabricação das varas usadas no combate. Entre elas temos o freixo, o bambu e o marmeleiro. Entretanto, atualmente, são as varas de madeira de castanho ou Iodo são as mais utilizadas.

Há diversas regras de segurança, para que os jogadores mantenham a integridade física sua e dos colegas. Hoje em dia até as crianças podem praticar jogo do pau sem risco de se machucarem. Isto se deve à utilização de novos paus e bastões muito flexíveis, em substituição aos antigos paus de madeira. Além disso, em algumas escolas, o jogo do pau já adotado como matéria alternativa no programa de educação física. Pois, além de ser um esporte que exige muito do físico, é muito divertido para as crianças e ainda resgatam uma tradição cultural.

Outras regras definidas para a prática do jogo do pau envolvem orientações para a pega da vara, os deslocamentos e demais situações de ataque e defesa durante o combate.

O jogo do pau é um exercício bastante completo, pois, além de treinar todo o corpo, desenvolve a postura, dá noções de distância e tempo e exige muita concentração e rapidez de raciocínio durante o combate.

Eventos em Portugal

Demonstração do combate pela Associação Desportiva e Cultural do Jogo do Pau em um dos eventos de turismo em Portugal.

Em maio acontece o 9º Encontro Internacional de Jogo do Pau em Fafe (distrito de Guimarães). Estarão presentes 12 escolas de artes e tradições de manejo do Pau de Portugal. Além de grupos da Espanha, Itália, Venezuela e Índia. Nesta oportunidade, os grupos irão desfilar pelas ruas do centro da cidade e fazer demonstrações da mais antiga arte marcial portuguesa.

Definição de jogo do pau: arte marcial portuguesa de origem popular tradicional, o jogo do pau consiste numa forma de esgrima de características específicas, utilizando uma vara de preferência de madeira.

Definição de jogos tradicionais: pertencem tanto à história das ideias e das mentalidades como à das práticas sociais. São como que um espelho que reflete uma civilização. Os nomes dos jogos evocam, por si mesmos, as suas características e regras principais. Respeitam a tradição, procurando ser fiéis à sua autenticidade e à forma ritual.

OUTRAS LUTAS TRADICIONAIS PORTUGUESAS

Artes marciais portuguesas

As artes marciais portuguesas englobam todos os desportos de combate desenvolvidos e praticados em Portugal, com base nas regras desportivas e num código moral específico.

Surgidos na Antiguidade, e enriquecidos ao longo dos séculos, especialmente durante a Reconquista, depois durante a expansão e o Império Português, alguns deles visam inicialmente a autodefesa em áreas urbanas e rurais. Alguns, como o jogo do pau, também são praticados na Galiza, no noroeste da Península Ibérica .

De entre as tradicionais artes marciais portuguesas e desportos de combate reconhecidos e actualmente listados como tais:

• o Jogo Do Pau, ou “esgrima Lusitana” provavelmente a arte marcial portuguesa com maior projeção internacional, a esgrima é um bastão de autodefesa, relacionado com o combate de cana francesa, praticado pelo menos desde o final da Idade Média até Portugal;

• a luta galhofa, “luta tradicional de Trás os Montes ”, é uma antiga luta tradicional praticada no Norte de Portugal, no distrito de Bragança . Está relacionado com a luta greco romana ;

• o gauruni ou "luta lusitano tradicional", ex lutador relacionadas com galhofa Luta praticada pelo menos desde o XIX th século no concelho de Sabugal ;

Entre os desportos de combate portugueses apresentados como de origem ancestral pelos seus órgãos oficiais, mas que são, sem dúvida, de concepção recente :;

• o pombo ou “luta lusitana” é um desporto de combate livre e autodefesa português, próximo das artes marciais mistas hoje;

Entre os desportos de combate portugueses contemporâneos :;

• o contacto total português notavelmente abrangente, ou contacto total militar, arte marcial e desporto de autodefesa portuguesa, desenvolvido no seio das forças armadas durante as guerras coloniais portuguesas ;

• o artdo, ou artdo policial, arte marcial portuguesa contemporânea que sintetiza várias técnicas de artes marciais, ensinada às forças policiais em Lisboa ;

• o TDCU ou Técnicas de Defesa e Combate urbano, é um desporto de combate e autodefesa urbano português.

AS 10 ARTES MARCIAIS OU DESPORTOS DE COMBATE PORTUGUESES

1 ESGRIMA LUSITANA ou JOGO DO PAU: uma luta com um pau de cerca 1,50m de longo (jogo do pau, adaptado a meios rurais) ou com um bastão de uns 80cm de longo (bastão de combate, adaptado a meios urbanos), a esgrima lusitana considerada como uma arte marcial de defesa pessoal, pois tem uma esgrima muito eficaz e harmoniosa! (mestre Nuno Russo).

2 GALHOFA, É uma luta tradicional do Norte de Portugal que era praticada pelos homens (jovens) durante as festas, pratica se com umas calças resistentes e em tronco nu. Como a maior parte das lutas tradicionais, na galhofa são proibido dar murros ou pontapés; A galhofa, talvez no futuro venha se tornar numa luta desportiva! (professor José Bragada).

3 POMBO ou LUTA LUSITANA (combate total português), segundo afirmam os seus praticantes, trata se uma forma de combate completa: de defesa pessoal e de combate livre, alguns afirmam que o Pombo é uma luta antiga de muitos séculos e o descendente " do antigo Pankration grego " (José da Silva).

CONTATO

TOTAL

MILITAR

ou CONTATO TOTAL

PORTUGUÊS, síntese de várias formas de combate, fundado durante a guerra colonial portuguesa (fundador e mestre Adriano Silva).

5 ARTDO, síntese de varias artes marciais, praticado por alguns corpos policiais (fundador e mestre Victor Duarte).

6 JINHA KENPO, estilo português de kenpo (kempo), (fundador e mestre Jorge Soares Jinha).

7 ALEX RYU JITSU, sÃntese de várias artes marciais, (fundador e mestre Alexandre Carvalho).

8 T.D.C.U. (técnicas de defesa e combate urbano cujo fundador foi o mestre João Botelho).

9 RUY SAN RYU (ou KUNG DO TE que foi posteriormente rebatizado RUY SAN RYU, o mestre atual é José Marques, tendo sido fundador desta arte marcial o falecido mestre Ruy de Mendonça).

10 ARTE MARCIAL LUSITANA (KINGIUTARI: combate com diversas armas / TARAREINE: combate com pau / GAURUNI: luta lusitana); 3 estilos de artes marciais, muito antigos e com origem lusitana, que hoje em dia, pouco a pouco, começar novamente a ser praticados na " região originaria do povo lusitano " (centro de Portugal e actual Estremadura espanhola), desconhece se o seu fundador.

GALHOFA

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Galhofa (também denominada maluta, na freguesia do Soito, do município do Sabugal) é um estilo de luta tradicional da região portuguesa de Trás os Montes, que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas.

Regras

O objectivo deste jogo é derrubar e imobilizar o adversário, mantendo lhe as costas e os ombros assentes no chão. Quaisquer movimentos mais violentos, como puxões, murros ou pontapés, não são permitidos. A luta começa e termina com um abraço cordial. Outra regra é jogar descalço e de tronco nu, ou usar camisolas justas ao corpo para dificultar ao adversário que se agarre e calças de ganga ou de outro material robusto.

História

Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar em currais cobertos com palha.[10]

O historiador português, João Coutinho de Oliveira, revê na luta galhofa as reminiscências portuguesas das técnicas de luta corpo a corpo, mencionadas por D. Duarte, na obra «Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela». Esta forma de combate corpo a corpo, em que o objectivo é derrubar o adversário, imobilizando o ou neutralizando o, generalizou se entre os cavaleiros e espadachins do período tardomedieval, pelo que as técnicas, que ainda hoje sobrevivem na galhofa portuguesa, encontram paralelos nas técnicas de abrazzatura ou abrazzare italianas, mencionadas por Fiore dei Liberi, na obra «Fior di Battaglia» ou no ringen alemão, descrito pelo mestre esgrimista Hans Talhoffer, no manual de esgrima renascentista «Fechtbuch»

Em 21 de Setembro de 1825, o Bispo de Bragança e Miranda, indignado com a ferocidade dos jogos da galhofa encetados pelos rapazes de Miranda, por ocasião e em honra dos santos populares, lançou uma acção pastoral aos fiéis da região, repudiando a galhofa.[13][3] Com efeito, o Abade de Baçal, que cronicou esta ocorrência, explica que a ferocidade destes jogos, à época, era tal que os participantes muitas vezes se feriam ou ficavam incapacitados para o trabalho.

Presentemente, a galhofa foi integrada no currículo das licenciaturas em Desporto e Educação Física variante ensino, da Escola Superior de Educação em 2008.

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O pombo, “luta lusitana” ou “luta total portuguesa”, é uma arte marcial e um desporto de luta portuguesa, misturando golpes, articulação chave, luta, luta ao solo, etc. Esta arte marcial portuguesa, uma mistura de combate livre e legítima defesa, é actualmente praticada em Portugal e no estrangeiro. Notavelmente completo, seria o resultado de uma mistura entre as técnicas de luta trazidas pelas diferentes ondas de migração e invasores que constituíram o povo português, com influências berberes muito fortes. Apresentando uma contrapartida esotérica muito forte, o pombo é organizado segundo uma estrutura e hierarquias complexas, com três correntes espirituais, o Pai ( o Pai ), a Mãe ( a Mãe ) e o Filho ( o Filho ). O pombo teria, segundo seus praticantes e seus atuais dirigentes, origens pré romanas. No entanto, não há referências orais em tradições populares e documentos de arquivo que atestem sua existência antes do período contemporâneo. E existem dúvidas muito sérias sobre suas origens antigas, e sobre a continuidade e o enriquecimento multimilionário de suas práticas de combate.

Se se baseia num conjunto de técnicas milenares, é muito provável que o pombo, tal como é praticado hoje, seja um desporto de combate de concepção recente, procurando sintetizar todos os desportos de combate relacionados com as culturas que influenciaram e contribuíram para dar nascimento da cultura portuguesa. A história oficial do pombo, apresentada pelos actuais órgãos de gestão da disciplina, seria portanto em parte uma criação folclórica artificial destinada a dar uma forma de base histórica e mitológica ao seu desporto, de forma a facilitar a sua divulgação. É no entanto revelador da grande ambição, em termos técnicos, desta arte marcial contemporânea, próxima das actuais artes marciais mistas .

Hoje, o pombo português é considerado como tendo características muito próximas das artes marciais tunisinas, em particular o grech (ou mousaraa ), e a luta livre das Canárias.

O
POMBO

LUTAS BRASILEIRAS

JOÃO PAULO MARQUES

Lutas brasileiras: conheça 7 modalidades, suas origens e características (todoestudo.com.br)

As lutas brasileiras são manifestações corporais cujas características que as constituem representam diferentes faces da história do Brasil e da cultura de suas etnias.

As lutas são importantes manifestações da cultura corporal e da história de diferentes povos e civilizações. Entre as diversas manifestações de lutas existentes se encontram as lutas brasileiras. Assim, esta matéria apresenta as origens e as principais características de 7 lutas brasileiras. Acompanhe. Índice do conteúdo:

Capoeira; Jiu Jitsu brasileiro; Tarracá; Luta Marajoara; Huka Huka; Kombato; Vale tudo; Videoaulas

1. Capoeira

A capoeira teve origem no Brasil Colônia, criada pelos negros escravizados por portugueses ao serem proibidos de praticar qualquer tipo de luta, que eram entendidas como expressão de rebeldia ou afronta. Assim, ao mesclar elementos como instrumentos musicais, canto e dança, a prática da capoeira era permitida, pois, era entendida pelos colonizadores como um momento lúdico dos escravizados, e não como uma prática de arte marcial.

Relacionadas

Jiu jitsu

O jiu jitsu é uma modalidade esportiva de combate disputada em tatame entre dois lutadores. Judô

O Judô é uma arte marcial japonesa, praticada no Brasil e no mundo como um esporte de combate.

Luta greco romana

A luta greco romana é um estilo de combate milenar, sendo considerada a modalidade mais característica das lutas olímpicas.

Características

Organiza se em duas vertentes: Angola e Regional. Tais vertentes decorrem dos estilos atribuídos aos dois principais mestres da história da capoeira: Mestre Pastinha e Mestre Bimba, respectivamente;

É composta principalmente pelos instrumentos musicais: berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco reco. Além disso, a música e as ladainhas entoadas por quem toca o berimbau e acompanhada pelos demais ditam o ritmo e o estilo de jogo da roda de capoeira; A roda de capoeira é um círculo constituído por uma bateria (instrumentos) e pelos capoeiristas que jogarão uns com os outros;

A ginga é a movimentação base da capoeira, a partir da qual os golpes são deferidos. Entre os golpes mais comuns estão a cabeçada, o aú, a rasteira, a armada, o martelo, o rabo de arraia e a meia lua.

2. Jiu-Jitsu brasileiro

As origens do Jiu Jitsu brasileiro remetem à família Gracie e aos ensinamentos do jiu jitsu japonês transmitidos pelo Grão Mestre Mitsuyo Maeda, vindo ao Brasil em 1914. Com adaptações de técnicas feitas pelos filhos de Gastão Gracie, alunos de Maeda, o jiu jitsu ganhou uma nova roupagem e foi testado e difundido em campeonatos ao redor do mundo, constituindo se como um estilo específico. Veja a seguir algumas de suas principais características.

Características

A luta se inicia com os lutadores em pé, mas tem como intuito levar o combate para o solo, já que o objetivo dessa luta é derrubar e dominar o oponente, pressionando o contra o solo e o imobilizando; Prioriza o uso do peso (próprio e do oponente) e o controle corporal em relação à força e rapidez na execução dos movimentos. Além disso, os movimentos são aplicados na forma de alavancas, de modo a potencializar a força empreendida nos gestos/golpes; Os golpes visam imobilizar e neutralizar o oponente. Desse modo, são aplicadas técnicas de desequilíbrio, projeções/quedas ao solo, torção de articulações e imobilizações de membros ou partes estratégicas do corpo do oponente.

3. Tarracá

Tarracá é uma luta com origens na região de Pindaré, no interior do Estado do Maranhão, no nordeste brasileiro. Essa luta decorre da mistura de tradições indígenas, europeias e africanas e tem como principal figura representante o lutador Casimiro Nascimento Martins, mais conhecido como Rei Zulu, lutador de vale tudo.

Características

É uma luta agarrada, ou seja, caracterizada pela agarrada, forma de pegada cujo intuito é favorecer a derrubada do oponente com as costas no solo;

Sua prática é popular entre peões negros, caboclos e cafusos, que praticam o tarracá (“atarracar”, “atracar”) em currais ou margens de rios ao final de um dia de trabalho nas fazendas;

As formas de golpes permitidas são o agarre, a suspensão, a imobilização, o empurre, o desequilíbrio e a projeção/derrubada do oponente. Não são permitidos golpes como chutes, socos ou chaves de braços.

4. Luta Marajoara

Há certa imprecisão quanto à origem da luta marajoara. Algumas hipóteses sinalizam que seu surgimento remete à tribo Aruã, a povos africanos escravizados, a inspirações na luta de búfalos e a confrontos amistosos realizados entre vaqueiros. Contudo, ambas as hipóteses situam seu surgimento no Arquipélago de Marajó, localizado na região Norte do Brasil.

Características

Com formato e golpes similares aos do tarracá, a luta marajoara visa a derrubada do oponente de costas para o solo;

O confronto entre os praticantes pode ocorrer em areia, grama, terra ou lama, sendo a lama de currais um local comum entre os praticantes dessa manifestação;

As principais técnicas de golpes aplicadas nessa luta recebem nomes que aludem à cultura local, como: espalhada, baiana, escora, lambada, cabeçada, desgalhada, recalcada, recolhida, espalhada;

A luta marajoara é considerada uma manifestação cultural tradicional da região do Arquipélago de Marajó. Além de vincular se à religiosidade desse local, essa luta foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 2013, como elemento cultural imaterial tradicionalmente vinculado à festa do Glorioso São Sebastião, realizada anualmente na região.

5. Huka Huka

Essa luta foi criada pelos povos indígenas Bakairi e Xingá, que se situavam no Estado do Mato Grosso, no centro oeste brasileiro. Ela compõe os Jogos dos Povos Indígenas, campeonato esportivo e de integração entre diferentes etnias, realizado desde 1996.

O objetivo da luta huka huka é levantar o oponente para, em seguida, levá lo ao chão, de modo que suas costas toquem o solo. Apesar desse objetivo, uma luta pode ser encerrada caso algum dos lutadores toque a mão atrás do joelho do oponente;

Essa luta é praticada de joelhos, além de composta por vários elementos ritualísticos, como a vestimenta, as pinturas corporais, a escolha nominal dos oponentes pelo “dono da luta” (homem chefe) e o giro circular realizado pelos oponentes antes do início da luta, por exemplo;

A luta tem duração média inferior a um minuto, sendo observada pelo dono da luta;

Entre as etnias que praticam essa luta não há premiação para o vencedor, e sim o reconhecimento e o respeito entre a comunidade. Assim, os lutadores devem reconhecer a vitória, a derrota e o empate de modo a promover a cultura da paz, estimulando atos de hospitalidade, generosidade e partilha.

6. Kombato

O kombato é entendido como um método de treinamento para defesa pessoal desenvolvido a partir do aprimoramento de técnicas de diferentes artes marciais no contexto militar. Esse estilo de luta foi desenvolvido na década de 1990 por um grupo de mestres graduados em diferentes artes marciais e que buscaram fundar um método de autodefesa baseado em situações de conflitos urbanos e guerras.

Características

A defesa pessoal no kambato é treinada a partir da utilização de todas as partes do corpo e da simulação de situações reais de conflito e agressão. Assim, facas, bastões, armas de fogo e objetos cotidianos, como cadeiras, garrafas e canetas, fazem parte dos treinamentos;

Além de técnicas de confronto direto, o kombato também realiza estudos da linguagem corporal, a fim de identificar potenciais agressores e/ou situações de violência e, com isso, evitar e/ou minimizar danos; O objetivo do kombato é preparar os praticantes para se adaptarem rapidamente a situações de risco considerando ameaças do tempo presente. Para isso, propõe se um método com técnicas de combate que simulam situações de violência e agressão em diversos locais, como bares, restaurantes, carros, elevadores, entre outros, podendo ou não se utilizar de objetos como armas.

7. Vale tudo

O vale tudo teve origem com os “desafios dos Gracies”, em que lutadores de diferentes modalidades eram convidados a lutarem no mesmo evento. Ela é realizada em um ringue de boxe e recebe esse nome por ser permitido que diferentes golpes sejam aplicados durante a luta. Desse modo, atletas de diferentes modalidades, como jiu jitsu, capoeira, boxe, podem disputar entre si sem precisarem, necessariamente, treinar ou aplicar golpes da mesma modalidade.

Características

Essa luta é dividida em rounds, podendo durar no máximo três. Cada round dura três minutos e tem um minuto para descanso entre eles; A vitória na luta livre pode ocorrer por nocaute do oponente, por maior pontuação a final dos três rounds, por desistência de um dos lutadores, por decisão do juiz ou por decisão do médico de um dos lutadores; Os golpes permitidos no vale tudo são variáveis, incluindo chutes com o pé ou com a canela, socos nas pernas, no corpo ou na cabeça, joelhadas nas pernas ou no rosto, entre outros. Contudo, são proibidos golpes que atinjam a coluna do oponente, bem como chutes no rosto em situações em que o oponente esteja no chão.

Características

Saiba mais sobre as lutas brasileiras

Veja a seguir vídeos complementares ao conteúdo apresentado nesta matéria a respeito das lutas brasileiras. Neles você confere um pouco mais sobre as características das lutas brasileiras, além de outros aspectos, como a diferença entre luta e briga, demonstrações de golpes e ritos de algumas das principais lutas do Brasil, entre outros. Assista para saber mais!

Lutas brasileiras

Confira nesse vídeo da professora Fran Sylos algumas características das principais lutas brasileiras: a capoeira, a luta marajoara e o huka huka. Nesse vídeo a professora também comenta sobre a diferença entre lutar e brigar, apresentando alguns elementos que distinguem essas duas ações. Além disso, ela apresenta também algumas atividades de lutas que podem ser praticadas em casa e aspectos corporais desenvolvidos por essas práticas. Não deixe de assistir.

Golpes da luta marajoara

Veja nesse vídeo alguns dos principais golpes da luta marajoara. Como comentado na matéria, s golpes dessa luta recebem nomes relacionados à cultura local. Nesse vídeo são apresentados nomes e demonstrações da execução de cada golpe. Não deixe de conferir para saber mais sobre essa luta.

Luta huka huka

Nesse vídeo a professora Gi Furtado comenta a respeito da luta huka huka, apresentando algumas características dessa manifestação, bem como da cultura dos povos indígenas que a praticam. Além disso, o vídeo apresenta golpes, posturas e movimentos que integram a luta, e também ritos de preparação da luta e dos lutadores. Assista para conferir!

As lutas do Brasil são um importante conteúdo a respeito da cultura do corpo e do país trabalhado nas aulas de Educação Física. Sendo assim, esta matéria apresentou 7 lutas brasileiras, comentando a respeito de suas origens e características, para você conhecer um pouco mais sobre essas manifestações. Continue seus estudos sobre práticas corporais que compõem as lutas conferindo a matéria a respeito dos esportes de combate

Referências

Associação Japonesa de Karatê (On line) Disponível em: https://www.jkabrasil.com.br/. Acesso em: 19 de jan. de 2021. Comitê Olímpico do Brasil (On line) Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/. Acesso em: 19 de jan. de 2022.

Confederação Brasileira de Jiu Jitsu (On line) Disponível em: https://cbjj.com.br/. Acesso em: 14 de jan. de 2022.

Currículo da Rede Estadual Paranaense (On line) Disponível em: https://professor.escoladigital.pr.gov.br/crep. Acesso em: 19 de jan. de 2022. Festividades do Glorioso São Sebastião na Região do Marajó (On line) Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/86/. Acesso em: 19 de jan. de 2022. Luta Marajoara: uma luta genuinamente brasileira (On line) Disponível em: https://revistaproativa.com.br/luta marajoara uma luta genuinamente brasileira/. Acesso em: 19 de jan. de 2022.

Professor de Educação Física graduado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestrando em Práticas Sociais em Educação Física (PEF UEM/UEL). Pesquisador integrante do Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade (GPCCL/UEM/CNPq) e do Grupo de Estudos Foucaultianos (GEF/ UEM/CNPq).

Como referenciar este conteúdo MARQUES, João Paulo. Lutas brasileiras. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/educacao fisica/lutas brasileiras. Acesso em: 09 de November de 2022.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira

Professor de Educação Física (aposentado IF MA; Mestre em Ciência da Informação

E Jorge Bento me manda um interessante artigo sobre o “Jogo do Pau”, de Mara Antonia Farias da Silva (Jogo do Pau, a mais antiga arte marcial portuguesa Viver Bem Portugal). O jogo do pau é uma arte marcial portuguesa de origem popular tradicional. Em outras palavras, este jogo é como a esgrima, porém, com características diferentes. A principal delas é utilizar uma vara de madeira. Este jogo respeita a tradição e procura ser fiel à sua autenticidade e à forma ritual, apresentando algumas diferenças de estilo: no norte do País, o jogo é mais rude, denotando combate, enquanto no Sul se evidencia mais a forma de exibição esportiva.

No Brasil, o Jogo do Pau foi eternizado na literatura através da obra “O Cortiço”, de Aloísio de Azevedo. Assim, neste livro é relatada a luta entre um personagem que sabe jogar o pau contra um capoeirista brasileiro.

Vieira (2004) ensina nos que, de acordo com os melhores cronistas, que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’, na época do Vice Rei, Marques do Lavradio. Em texto de Hermeto Lima, que se alinha se alinha com o de Macedo cerca de 1770 que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés.” (Grifo meu).

A capoeira como luta aparece nas fontes de forma massiva a partir da segunda década do século XIX, justamente depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. A palavra “capoeira” era usada tanto para designar uma prática, quanto para um grupo de pessoas. Capoeira se referia então a um conjunto de técnicas de combate que envolvia tanto o uso de uma grande variedade de armas (facas, sovelões, navalhas, cacetes, estoques até pedras e fundos de garrafa) quanto o uso de golpes com as pernas ou a cabeça. (Vieira e Assunção, 1998).

Em artigo de A PACOTILHA, de 20 de agosto de 1883, consta que “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”

Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?”: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus. Afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847:

A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava se na casa do chefe....(Grifos meus).

DO “PAU” PARA O “CACETE”

MELLO, 2016

O que nos leva ao uso de Capoeiras cacetistas por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento sessão de junho , proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento.

Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram se por atos de inaudita violência.

Achava se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc.

... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos).

VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira fica.org/ “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por Vieira, 2004)

In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136 149, tratando do sistema eleitoral de 1847

MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103 205.

O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107.

AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM TE VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141 150.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 Edição Eletrônica, p. 65 70.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012, Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas

ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293 295,

NO MARANHÃO

– novas evidencias

A relação entre Capoeiras e Eleições no Maranhão, com a formação de ‘maltas’ que ora defendiam um ou outro partido, no período imperial é evidenciada com o uso de Capoeiras cacetistas por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento sessão de junho , proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão

Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?” 1: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus2 .

Mario Meireles (2012)3 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697 1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos do Bispo e do Prior cruzando se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira4 . (p. 98).

Quando da Confederação do Equador, que reuniria os estados do Ceará e Maranhão, em sua lei magna constava em seu artigo 2º a divisão dos poderes políticos em Executivo e Legislativo, havendo um terceiro, Poder Capoeiral, no caso, Judiciário. No capítulo 4º , que tratava das eleições, para ser candidato a deputado, antes de revolucionário, deveria comprovar ser capoeira:

1 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103 205.

2 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107.

3 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697 1702). In Historia de São LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93 99

4 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem...

O “PARTIDO CAPOEIRO”
Edição 00015 (1)

Jeronimo de Viveiros5 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847:

A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... Os cacetistas armava se na casa do chefe...6.(Grifos meus).

Pois bem, nas eleições de 1856, conforme notícia publicada na Bahia, o Partido Capoeiro já se fazia presente:

Ano 1856\Edição 00025 (1) 19 de setembro, em O Constitucional : Folha Politica, Litteraria e Commercial (BA) 1851 a1864

5 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136 149, tratando do sistema eleitoral de 1847

6 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM TE VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141 150.

Registra se também a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 7, em São Vicente de Ferrer, relatado em sessão do Senado8 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 9:

Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento.

Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram se por atos de inaudita violência.

Achava se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará.

“lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos).

7 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 Edição Eletrônica, p. 65 70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas

8 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293 295, 9 http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false

Percebe se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX.

UPAON-AÇÚ VOLEI CAMPEÃ MARANHENSE 2022

NINA RODRIGUES | Atletas Alcançam Feito Histórico nos 'Jogos Escolares Brasileiros'

Os três atletas naturais de Nina Rodrigues/MA que participaram dos Jogos Escolares Brasileiros (JEB's) alcançaram um feito inédito e histórico para o município berço da Balaiada. Conforme mostramos, Adriano Silva, Henderson Davi e Glenda Silva embarcaram para o Rio de Janeiro, onde competiram na modalidade esportiva Karatê.

Diante dos maiores karatecas do Brasil, os três Ninenses conquistaram medalhas na competição mais importante do karatê educacional no país. Adriano Silva foi vice campeão na série ouro, a mais difícil da competição; Henderson conquistou o segundo lugar na série prata; Glenda Silva ficou com o terceiro lugar na série bronze. Todos fazem parte do Projeto Karatê Educacional e contam com total apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Educação de Nina Rodrigues.

Também nos JEB's 2022, outro jovem de Nina Rodrigues fez história no Rio de Janeiro: João Lucas, estudante da U.I. Joselina Elice Costa, conquistou o título de campeão da série bronze nos 150 metros do Atletismo.

ChapadinhaSite.blogspot.com.br: NINA RODRIGUES | Atletas Alcançam Feito Histórico nos 'Jogos Escolares Brasileiros' Chapadinha (MA) Sexta Feira, 11.Novembro.2022

CARLOS NETO E JOSÉ MANUEL CONSTANTINO

A caminho de um outro desporto (dn.pt)

Não sei se ainda iremos a tempo de, um dia, compreender como é possível combater o sedentarismo das crianças e dos jovens e, simultaneamente, ser adepto e promover os jogos eletrónicos que são, em parte, um dos motivos mais marcantes do próprio sedentarismo infantojuvenil.

Torna se difícil aceitar o número de horas que crianças e jovens passam sentadas e capturadas frente aos écrans, com um bombardeamento sensorial e percetivo intenso (narrativas simbólicas poderosas e artificiais) e sem oportunidades de fazerem outras experiências lúdicas, motoras e desportivas, em contextos naturais e construídos.

Não sei se ainda vamos a tempo de, um dia, compreender como é possível defender o valor educativo da prática do jogo e do desporto e a sua importância na promoção de uma vida ativa e saudável e, ao mesmo tempo, promover os jogos eletrónicos.

Mas não precisamos de viver muito mais tempo para perceber que os jogos eletrónicos são um dos setores comercialmente mais lucrativos da indústria do entretenimento, ultrapassando o cinema, a televisão, a música. E são também o tipo de aplicação de telemóvel mais popular e lucrativa. Não é por isso de estranhar que todo o seu poder financeiro mova interesses políticos que pressionem as autoridades desportivas a aceitarem pacificamente, e, em alguns casos acriticamente, a sua integração no universo das práticas desportivas.

Esta situação não se pode imputar apenas aos efeitos do tempo e das mudanças sociais ocorridas. Ela decorre também de uma deserção do campo doutrinário de quem deveria salvaguardar os conceitos e os respetivos usos ao permitir que o conceito de jogo e de desporto se tenha transformado num território ilimitado.

O certo é que esta erosão do conceito de jogo e de desporto, ao adquirir uma carga semântica muito mais ampla do que aquela que originariamente o marcava, tem consequências que, em muito, se projetam para além de uma simples disputa ou imprecisão terminológicas circunscritas a círculos restritos.

O debate contemporâneo, tal como se processa e é percebido pela opinião pública, e em torno do qual se legitimam tomadas de decisão em políticas públicas e associativas, está contaminado pelas lógicas consumistas e mercantilistas que animam e controlam esta nova área de negócio.

Não estamos sós. Mas são poucos os que concordam connosco. Temos, por isso, poucas esperanças que este seja um assunto reversível. São poucos aqueles que parecem interessados em saber quais as consequências do uso compulsivo deste tipo de dispositivos e eventuais comportamentos aditivos que estimula e se isso é compatível com uma narrativa que o jogo infantil e o desporto sempre invocou de ser um elemento formativo ao serviço do desenvolvimento humano.

A CAMINHO DE UM OUTRO DESPORTO

A desesperança não nos resigna. Aprendemos a invocar o valor educativo do jogo e do desporto, a sua dimensão cultural e a sua importância na saúde pública. E não desistimos. E, por ela, nos bateremos. Enquanto pudermos.

Carlos Neto é Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Motricidade Humana

DIAGNÓSTICO

25 de novembro de 2022 Aldir Dantas

Com a decisão, a 1ª turma reformou seu entendimento anterior de que caberia exclusivamente ao médico a tarefa de diagnosticar, prescrever tratamentos e avaliar resultados. A 1ª turma do STJ, por unanimidade, concluiu que é permitido ao fisioterapeuta e ao terapeuta ocupacional diagnosticar doenças, prescrever tratamentos e dar alta terapêutica. Decisão se deu em julgamento de embargos de declaração no REsp 1.592.450.

Com essa decisão, o colegiado reformou seu entendimento anterior de que caberia exclusivamente ao médico a tarefa de diagnosticar, prescrever tratamentos e avaliar resultados, enquanto o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional, diferentemente, ficariam responsáveis apenas pela execução das técnicas e dos métodos prescritos.

Atribuições privativas

Na origem do processo, o Simers Sindicato médico do Rio Grande do Sul ajuizou ação para impugnar resoluções e outros atos do Coffito Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional que, supostamente, teriam invadido a esfera privativa dos médicos e estariam colocando em risco a saúde e a vida das pessoas.

O TRF da 4ª região considerou legais as normas editadas pelo Coffito, afirmando que elas não ultrapassam o âmbito de atuação do conselho nem interferem nas atribuições dos profissionais da medicina.

No STJ, a 1ª turma entendeu, em um primeiro momento, que as resoluções do Coffito teriam invadido a esfera de prescrição de tratamentos reservada aos médicos. Com isso, o colegiado decidiu que os fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais poderiam praticar as atividades de acupuntura, quiropraxia e osteopatia, mas não diagnosticar, prescrever tratamentos e avaliar resultados.

O Crefito da 5ª região e o Coffito, em embargos de declaração, sustentaram que o acórdão foi omisso, uma vez que não analisou os vetos da Presidência da República ao dispositivo legal que define as atividades privativas dos médicos art. 4º da lei 12.842/13 e deixou de apreciar as razões de tais vetos.

Discussão anterior

Segundo o relator do recurso, ministro Gurgel de Faria, a mensagem de veto de trechos da lei 12.842/13 indica que um dos incisos vetados no art. 4º previa como atividades privativas do médico a formulação do diagnóstico nosológico e a respectiva prescrição terapêutica.

Nas razões do veto prosseguiu o ministro , a Presidência da República considerou que o inciso, da forma como estava redigido, impediria a continuidade de inúmeros programas do SUS que funcionam a partir da

STJ DECIDE: FISIOTERAPEUTA E TERAPEUTA OCUPACIONAL PODEM DAR
STJ decide: Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional podem dar diagnóstico (aldirdantas.com)

atuação integrada dos profissionais de saúde, contando, inclusive, com a realização do diagnóstico nosológico por profissionais de outras áreas que não a médica.

Para Gurgel de Faria, as razões do veto indicam que o acórdão anterior da 1ª turma errou ao entender que o ordenamento jurídico impediria o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional de diagnosticar ou indicar tratamentos, ao fundamento de que sua função seria apenas executar métodos e técnicas prescritos pelos médicos.

“Assim, mantendo se fidelidade ao raciocínio desenvolvido no acórdão recorrido, mas promovendo interpretação sistemática e histórica de toda a legislação supracitada, inclusive das razões de veto, entendo que o Judiciário deve prestar deferência às discussões que já foram desenvolvidas na via própria, durante o processo legislativo, e que melhor refletem valores democráticos”, concluiu o ministro ao acolher os embargos declaratórios para sanar a omissão e negar provimento ao recurso especial do Simers.

Informações: STJ.

TALENTO NEGRO NOS ESPORTES DO MARANHÃO

NERES PINTO

O histórico de atletas negros que marcaram época em todos os esportes é muito amplo.

A destacada participação dos negros e negras é muito fácil de perceber em todos os esportes, no Brasil e no exterior. Nos últimos 50 anos eles marcaram brilhantemente suas passagens pelo basquete, atletismo, automobilismo, tênis, boxe, e principalmente no futebol.

O histórico de atletas negros brasileiros que marcaram época em todos os esportes é muito amplo, mas apesar das conquistas incontestáveis, em pleno Século XXI os esportistas de pele escura continuam sofrendo diversas formas de discriminação no Brasil e em vários outros países.

Consagrado como Rei do Futebol em todo o mundo, Pelé, tricampeão mundial, não escapou de xingamentos e muitas vezes foi chamado de “macaco” em seu próprio país de origem. Na Espanha, o atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira passou por maus momentos nesta temporada, por ser negro e bom de bola.

No Brasil, foram várias denúncias registradas, inclusive em jogos do Campeonato Brasileiro terminado recentemente. Há leis que qualificam esse tipo de comportamento como crime, mas as punições aplicadas têm sido brandas e acabam servindo de incentivo para que essa prática vá se alastrando cada vez mais. Na Semana da Consciência Negra, que se encerra neste dia 26 de novembro, o debate sobre a igualdade racial ganhou mais força devido aos registros cada vez maiores de preconceitos que provocaram inclusive a violência contra pessoas de pele escura, notadamente, em território brasileiro.

Negros que se destacaram no Maranhão

A lista é imensa desde que os esportes começaram a ser praticados no Maranhão, mas as gerações dos últimos 50 anos certamente não esqueceram destes atletas negros que se destacaram e fazem parte de uma história de muitas glórias nos gramados aqui, no cenário nacional e no exterior. Alguns até vestiram a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira.

Fausto dos Santos foi um volante de rara qualidade técnica. (Foto: Reprodução)

FAUSTO, A MARAVILHA NEGRA

Nascido em Codó MA, Fausto dos Santos (1,86m) foi um volante de rara qualidade técnica habilidade, muita disposição e chute forte , que jogava com elegância. Também tinha muita precisão no toque de bola. Foi eleito o melhor jogador de sua posição nas décadas de 1920 e 1930.

Na Copa do Mundo do Uruguai, em 1930, recebeu o carinhoso apelido de “Maravilha Negra” pela crônica esportiva daquele país, devido às suas brilhantes atuações. Oriundo de uma família pobre que deixou o interior maranhense em busca de melhores dias no Rio de Janeiro, ele defendeu o Bangu, mas foi no Vasco no início de 1929 que se projetou.

Depois foi contratado pelo Barcelona da Espanha, Young Fellows, da Suíça, Nacional do Uruguai e Flamengo. Morreu precocemente em razão da tuberculose, aos 34 anos, no dia 28 de março de 1939.

JOSÉ CARLOS MOREIRA

Mais conhecido como Codó, José Carlos destacou se na modalidade mais rápida do atletismo (100 metros rasos). Brilhou nas semifinais do revezamento 4×100 metros dos Jogos Pan americanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro, onde o Brasil conquistou a medalha de ouro. Em Pequim (2008) participou dos Jogos Olímpicos e fez parte do quarteto brasileiro que conquistou a medalha de bronze.

ADRIELE

A melhor jogadora de Beach Soccer do mundo é maranhense. No dia 4 deste mês de novembro, a atacante nascida em Tutóia foi eleita em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Já havia sido indicada outras quatro vezes.

Nesta temporada de 2022, Adriele, 25 anos, venceu o Mundial Feminino com o Lady Grumbach, da Polônia, e também foi escolhida a craque do torneio.

CANHOTEIRO

José Ribamar de Oliveira (o Canhoteiro) era considerado o Garrincha do lado esquerdo do ataque. Nascido no Maranhão, brilhou no América de Fortaleza, foi destaque no time do São Paulo em 1955 e enlouquecia seus marcadores com dribles desconcertantes.

Esteve três vezes na Seleção Brasileira, participou de 16 partidas e atuou no Sul Americano Extra de Lima, na Taça Oswaldo Cruz e na excursão preparatória para a Copa do Mundo de 1958. Só não foi ao Mundial da Suécia por opção tática do técnico Feola, que preferiu Zagalo.

BACABAL E JUCA BALEIA

Nas décadas de 50 e 60, Raimundo Nonato Barros de Abreu (Bacabal) foi o goleiro que fechou o gol do Moto Club e da Seleção Maranhense, onde sagrou se campeão do Norte em 1962.

Outro goleiro, Juvenal Marinho dos Santos (Juca Baleia) ficou famoso a partir da década de 70, quando revelado pelo Expressinho acabou estendendo sua fama ao vestir as camisas de Moto, Maranhão e Sampaio Corrêa, onde teve suas maiores conquistas.

Em 92 ganhou destaque nacional ao enfrentar o Palmeiras na Copa do Brasil e encantar a imprensa paulista com grandes defesas.

CLAYTON

Na década de 90 surgiu no Moto Club outro lateral esquerdo. José Clayton Menezes Ribeiro, mais conhecido como Clayton ganhou fama ao vestir a camisa rubro negra e acabou se transferindo para a Bélgica. Continuou crescendo e foi parar na Tunísia. Defendeu em 94 o Étoile Sportive, daquele país. Naturalizou se e disputou a Copa do Mundo. Mais tarde foi negociado com o Bastia, da França.

NEGUINHO E NEGÃO

Na década de 60, o MAC tinha na sua defesa Neguinho (lateral direito) e Negão (zagueiro central). Sem dúvida, uma dupla que marcou época pela seriedade com que jogava. Campeões pelo Quadricolor, inclusive em torneios interestaduais, despertaram o interesse de vários clubes, mas preferiram ficar em São Luís. Neguinho passou ainda por Moto e Sampaio Corrêa. No Tricolor foi campeão do Brasileirinho em 72 e ganhou fama ao cobrar cinco penalidades e converter todas, contra o Campinense PB, na decisão.

GOJOBA E OUTROS

José Raimundo Silva Moraes (Gojoba), volante, campeão do Brasileirinho em 72 pelo Sampaio, atuou em vários clubes do Nordeste, acumulando títulos pelo Moto, Sport PE e Ceará. Walter Cruz (Barrão) foi um dos maiores meias do futebol maranhense, assim como Raimundinho, Wálber (Corinthians e Seleção Brasileira) Jackson (MAC, Palmeiras, Cruzeiro, Internacional, Paulista, Gama, Coritiba, Emirates Club, Ituano, Vitória, Santa Cruz e Seleção Brasileira, Paulo Sérgio (ex Moto, Sampaio Corrêa, São Paulo, Flamengo e Guarani SP) e Wamberto, revelado pelo Sampaio e destaque do Ajax da Holanda, pai de Wanderson, hoje no Internacional-RS.

BACABAL E KLÉBER PEREIRA

Bacabal (MAC, Moto, Sampaio, Tuna PA, River PI e Matsubara PR) é o maior artilheiro da história do Castelão, com 115 gols. Também foi no estádio do Outeiro da Cruz que ele fez sete gols numa só partida, diante do Tocantins, em 1983.

Kleber Pereira, natural de Peri Mirim, destaque do futebol do Anil, projetou se ao vestir a camisa do Moto nos anos 90. Artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1998, disputando a Série C, com 25 gols, destacou se também no Atlético Paranaense, onde fez 124 gols, depois foi para o México.

OLIVERRÁ

Luís Airton Barroso Oliveira, conhecido como Oliverrá depois que foi para o exterior, destacou se no time do Tupan, no final dos anos 80. Transferido para o futebol belga (Anderlecht), naturalizou se e disputou a Copa do Mundo de 98 na França.

Também jogou na Itália pelo Cagliari, formando um trio de ataque com o argentino Gabriel Batistuta e o brasileiro Edmundo, no Bologna, Como, Catania, Foggia, Venezia e Lucchese. No ataque o futebol maranhense teve ainda, Zezico, Pelezinho, Nabor, Laxinha, Riba e Dario, entre tantos outros que se destacaram nas décadas de 70 a 90.

TIÃO, O REI DO HANDEBOL

Sebastião Rubens Pereira, Tião (1957 2005), foi um dos maiores destaques do handebol masculino do Brasil. Chegou a ser chamado de “Pelé do Handebol”, pela sua habilidade e técnica capazes de desequilibrar os jogos em sua época.

Em 1976, Tião foi considerado o melhor jogador de handebol do país e pela Seleção Maranhense levantou o título de campeão na categoria adulto. Também brilhou na Seleção Brasileira de Handebol na função de armador central. Em Nice, na França, era chamado de Maravilha Negra pelo jornal L’Equipe.

Atuou no Tigres, Veracruz, América e Necaxa. De volta ao Brasil, brilhou com a camisa do Santos SP em 2007.

IZIANE CASTRO

Ludovicense, moradora do bairro Liberdade, estrela do basquete, Iziane destacou se nas categorias de base do Osasco SP, e em 2002 jogou pelo Miami Sol da Flórida, sendo a mais jovem da Women’s National Basketball Association, aos 21 anos.

Depois de uma trajetória vitoriosa em diversos países, inclusive da Europa, mostrou seu enorme talento pela Seleção Brasileira, onde se tornou campeã da Copa América em 2001 e terminou na quarta colocação nos Jogos Olímpicos de 2004 e Mundial de 2006. Com a camisa do Brasil fez 870 pontos em 71 jogos.

ANA PAULA

Uma das mais talentosas atletas de handebol do mundo, Ana Paula Rodrigues hoje atua na Europa.Vestiu a camisa da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008, 2012, 2016 e 2021. Conquistou o Mundial em 2013 na Sérvia. Nasceu em São Luís e começou a praticar esportes no bairro da Liberdade. Também foi campeã em vários clubes europeus: Áustria, França, Rússia e Romênia.

REI ZULU

Casemiro de Nascimento Martins, conhecido popularmente como Rei Zulu, destacou se como brilhante lutador de vale tudo brasileiro. Durante 17 anos, foi o grande nome desse esporte no Brasil, conquistando 151 vitórias em 200 lutas.

Sua fama o levou a viagens por vários estados e pelo mundo. Desafiou lutadores famosos, inclusive o também invicto Rickson Gracie. Zulu é pai de Zuluzinho, outro grande lutador maranhense que ainda está em atividade.

Racismo é cada vez maior no futebol

Um dos maiores goleiros do futebol maranhense que se destacou a partir da década de 80, Juca Baleia conta que sofreu dupla discriminação quando atleta, por ser negro e pesado. “A maior manifestação de racismo que enfrentei foi em 85 ou 86 quando era goleiro do MAC e disputava o Campeonato Brasileiro.

Aconteceu no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, numa partida contra o Ferroviário. A torcida gritou alto e me chamou várias vezes de macaco e negão. Não dei ouvidos e aquilo só me incentivou, pois fui o melhor do jogo que ganhamos por 3 a 2”.

RAIMUNDINHO

Raimundinho disse que não se sente ofendido quando o chamam de negro a não ser que seja em sentido pejorativo, com o intuito de passar a imagem de um ser inferior. “Se o cara me chamar de branco, aí sim, me ofendo, porque sei que ele está debochando”.

KLEBER PEREIRA

Kleber entende que as pessoas ao se sentirem ofendidas devem denunciar os ofensores. “Graças a Deus, nós nascemos com esse dom de jogar futebol. É nossa profissão e precisamos ser respeitados. Acho que as pessoas discriminadas têm mais é que denunciar esse tipo de comportamento”, recomenda.

MUNDO DE FUTEBOL E UMA LIÇÃO NÃO

APRENDIDA: O QUE SIGNIFICA A CONVOCAÇÃO DO DANIEL ALVES?

RAFAEL CASTELLANI

A Copa do Mundo de futebol e uma lição não aprendida: o que significa a convocação do Daniel Alves? Universidade do Futebol com prioridade

Em 2014, duas Copas do Mundo atrás, após a pior derrota da seleção brasileira em Copas do Mundo (7×1 contra Alemanha), publiquei um texto no Centro Esportivo Virtual, cujo título foi “Um dia de lições para o futebol brasileiro”. Dentre as lições que esperava que tivéssemos aprendido, está a falta de preparo psicológico da equipe e a ausência de um psicólogo do esporte como integrante da comissão técnica, e não para fazer um trabalho pontual e limitado. Nossa seleção brasileira, convocada por Tite dias atrás, está de malas prontas para o Catar, mas novamente não temos na comissão uma psicóloga do esporte. Novamente, mesmo diante de todas as lições que poderíamos ter aprendido das derrotas anteriores e das vitórias também, afinal, elas também nos trazem ensinamentos , vamos à Copa do Mundo sem a devida intervenção de um(a) profissional da psicologia esportiva.

O trabalho da psicologia do esporte continua sendo desacreditado, desvalorizado e não incentivado. Continua sendo marcado pelo preconceito. Por que, apesar de tantos discursos favoráveis à psicologia esportiva, esse campo de intervenção profissional permanece em segundo plano (às vezes em terceiro ou em plano algum)? Por que tanto preconceito? O que pode significar a presença de uma psicóloga do esporte na comissão técnica de uma equipe de futebol? Vários são os motivos que poderíamos trazer para análise, mas buscaremos responder essas respostas em outros textos.

Voltemos à Seleção Brasileira e à convocação dos atletas que nos representarão na Copa do Mundo.

O foco deste texto não é questionar as escolhas do treinador. Mas sim o motivo apresentado pelo treinador para convocar um jogador específico. À esta altura, já deve supor sob qual jogador me refiro: o lateral direito Daniel Alves.

Ao justificar a opção pelos seus convocados, o treinador da seleção brasileira, Tite, elenca três principais critérios: Qualidade técnica individual, aspecto físico e o aspecto mental. Qualidade individual ele tem? Sim! Vem nos mostrando essa qualidade técnica e vive um “bom momento” na atualidade? Não, afinal, sequer jogando ele vem. Nem clube para jogar ele tem. Será que a justificativa para convocação de um jogador de 39 anos é seu vigor físico? Acredito que não (mesmo o preparador físico afirmando que ele está em boas condições físicas). Afinal, não pela sua idade, mas o atleta em questão vem de uma lesão, fato que o afastou dos treinamentos por um bom tempo, e ultimamente vinha treinando com o time B do Barcelona, sem disputar partidas oficiais. Nos resta, o aspecto mental. E aqui, voltamos ao debate sobre a psicologia do esporte.

Tite seria mais coerente, e claro, se justificasse sua convocação pela confiança que tem no jogador. Pelo que o jogador representa para a seleção brasileira e para o grupo. Pela sua importância no âmbito da coesão de grupo (coesão social e coesão da tarefa). Pela sua liderança. Pela capacidade que esse jogador tem em mobilizar o grupo para a tarefa. Pela sua força mental. Se eu fosse treinador e tivesse um atleta capaz de suprir todas essas necessidades, minhas e da minha equipe, sem dúvidas o convocaria!

Mas como argumentar no sentido de justificar esses motivos, todos de ordem psicológica, sobretudo de funcionamento grupal, se nem mesmo um(a) profissional da psicologia do esporte ele fez questão de ter em sua comissão técnica? E não digo “ter por ter”. Mas confiar na importância deste trabalho para o

A COPA DO

sucesso da seleção e inclui lo, de fato, na sua comissão técnica. Em realizar um trabalho periodizado. Planejado. Sério. Consistente. Vamos para mais uma Copa do Mundo sem um trabalho sério com a psicologia do esporte. E, dessa vez, pelo jeito, caberá ao Daniel Alves contemplar minimamente as questões de ordem emocional e grupal. Pelo jeito, não aprendemos a lição!

SE O CORPO FALA, É PRECISO OLHAR PARA ESCUTAR

Blog da Katia Rubio 2022. Brasil. Katia Rubio Corpo Futebol Psicologia

Quem me conhece sabe que não sou muito dada a cuidar de futebol. Há muitas, inúmeras pessoas e profissionais que dão conta disso. As razões do meu desamor são várias e não vem ao caso aqui falar sobre elas. Sendo assim, com uma boa mesóclise digo que ater me ei a um fato (que encerra em si mesmo outros tantos) ocorrido no primeiro e único jogo da seleção canarinho da Copa do Catar até aqui, que é o instantâneo capturado por um fotógrafo, cuja identidade não me foi revelada, e segue abaixo.

Óbvio que quem nomeou a foto conhece de perto a obra do francês Pierre Weil, um dos pais da Psicologia Transpessoal, que adotou o Brasil logo depois da II Guerra Mundial e por aqui ficou até 2008, quando veio a falecer. Foi aluno dos maiores psicólogos de seu tempo e talvez essa seja a razão do impacto produzido pelos seus estudos. É dele, juntamente com Roland Tampakow, o livro “O corpo fala”, cujo sub título é “a linguagem silenciosa da comunicação não verbal”.

Neste livro os autores discutem a comunicação não verbal, ou seja, os gestos e posturas corporais que denunciam aquilo que não é explicitado pela fala. Gestos e atitudes são sinais, estilizados ou não, de sentimentos, percepções e sensações que envolvem as pessoas em relacionamentos com outras pessoas e o mundo. Em um planeta midiático como o que vivemos, onde equipamentos são capazes de capturar mínimos detalhes de nossa gestualidade, a teoria de Weil é por demais atual e oferece as condições para interpretar uma cena como essa.

Os meses que antecederam o mundial do Catar foram particularmente intensos para brasileiras e brasileiros, como aliás foram os últimos 4 anos, quando a discussão das questões sociais e políticas invadiram a intimidade dos pequenos grupos, deixando de ser tema dos doutos e letrados. Seria maravilhoso se isso tivesse acontecido com critério, com fundamento tão caro às ciências humanas e não com o fel que brota do fígado daqueles que fomentam o ódio.

E o esporte mais uma vez vem provar o quando anda de mãos dadas com essas questões maiores da sociedade. Sim, fenômeno de grande alcance social ganhou placa de patrimônio secular com a máxima “esporte e política não se misturam”, afirmação que serve aos interesses daqueles que durante décadas dominaram as instituições esportivas e consequentemente determinaram a vida de quem faz o esporte de fato acontecer, os atletas. Tratados como joguetes nas mãos daqueles que definiam times, seleções e escalações esses seres habilidosos, protagonistas daquilo que se acostumou chamar de espetáculo esportivo, aprenderam junto com as técnicas e táticas do esporte, ouvir e praticar as normas, sem necessariamente assimilar seu conteúdo latente.

Como 10 mandamentos da lei esportiva, cedo a cartilha deve ser rezada por uma juventude habituada a obedecer às regras, com ou sem fair play, e a crer que isso levará aos lugares sagrados e consagrados do esporte mundial. Fossem mandamentos como amar ao próximo, não matarás, não roubarás seria até compreensível, dado a força da cultura judaico cristã no nosso meio. Mas, não. Entre os 10 mandamentos esportivos estão obedecerás às normas sem questionar, calarás sempre que o controverso favorecer ao outro, buscarás resguardar os próprios interesses ainda que isso desfavoreça a maioria, não olharás para o próximo que não estiver em campo. Sim, esporte é uma espécie que envolve uma espécie de fé.

Por isso, aqueles que questionam e quebram essas normas ganham espaço. Ah, como é bom fugir da mérdia. E se o subversivo esportivo ainda for habilidoso há uma soma de boas atitudes com bons resultados o que torna qualquer tipo de retaliação uma tarefa difícil para algozes prometeicos.

Richarlison é um desses personagens raros em um mundo dominado pelos detentores do poder da força da grana que ergue e destrói coisas belas. Não gosto de solo de violinos para acompanhar a descrição de uma infância sofrida, que normalmente ganha audiência sobre histórias de vida dramáticas. Prefiro ressaltar os feitos já na fase seguinte quando superada essas dificuldades um cidadão/atleta decide optar pelo caminho da defesa das grandes causas ciente da força de sua imagem. E Richarlison é um desses. Um bravo. Um gigante. Um ídolo de causas que transcendem as linhas de um gramado onde rola da bola do esporte bretão. Sem negar suas origens, e sem precisar usar do seu passado de precariedade para ganhar o reconhecimento da superação de dificuldades, usa a força da sua imagem para transformar o mundo. Afirma a ciência com ações que vão da defesa da vacina ao apoio material à pesquisa no combate à pandemia. Coisa que muitos letrados poderiam ter feito, mas preferiram o silêncio. Dono de um patrimônio digno dos grandes craques da bola doou oxigênio para a cidade de Manaus quando inúmeras pessoas morriam asfixiadas pela falta desse recurso no auge da pandemia. Quanta gente mais rica que ele poderia ter feito o mesmo? E a virtude maior: se expressa de forma clara, objetiva e contundente quando tem diante de si microfones de todo o mundo para falar não apenas sobre o jogo que aconteceu ou acontecerá e não se cala diante dos temas que não necessariamente estão vinculados à competição.

Isso sim é um craque.

E não bastasse isso joga muito, mas muito mesmo, sem precisar dizer que faz isso ou aquilo. Simplesmente entra em campo, assume sua posição e usa sua habilidade, profissionalmente.

Ah, Richarlison. Que prazer gritar gol quando a bola alcança a rede pelos seus pés. Como nós precisávamos disso depois de tanta falta de oxigênio sentida nesses últimos anos.

E se uma boa equipe esportiva é a relação entre os valores do grupo e não apenas a soma de craques, é tempo de se entender que líder não se decreta. Se impõe. E não apenas pela vontade, mas por atitude. E a foto que ilustra esse texto diz isso. Os corpos que nela aparecem, falam. Espero pelos próximos jogos para soltar a voz novamente. Que Richarlison continue a nos encantar pelo que faz com os pés, com a cabeça e com sua voz.

4067757.pdf Arquivo

LEOPOLDO GIL DIULCIO VAZ

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual

Professor de Educação Física (aposentado) IF MA; Mestre em Ciência da Informação

Tenho colocado que a Capoeiragem, no Maranhão, é tão antiga quanto às do Rio de Janeiro, Bahia, ou Recife... Fato contestado por alguns Capoeiras... Diz o ditado: “mata se a cobra e mostra se o pau”; prefiro mostrar a cobra morta...

Venho trazendo ao conhecimento dos estudiosos da área várias evidências de que desde o princípio dos 1800 já se falava e se praticava a capoeiragem por estas bandas. De acordo com Mario Meireles (2012) 10 até antes, referindo se à chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697 1702) homem intolerante , e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas: “[...] enquanto os escravos de ambos do Bispo e do Prior cruzando se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira.” (p. 98). Claro que o Mestre se enganou quanto à prática da capoeiragem nessa época... 1577 Primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 11 . 1640 Com o advento das invasões holandesas, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Tende se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 12 .

1712 Segundo Coelho (1997, p. 5) 13 o termo capoeira é registrado pela primeira vez com a significação de origem linguística portuguesa (1712), não se visualizando qualquer relação com o léxico tupi guarani. 1757 é encontrada primeira associação da palavra capoeira enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. (OLIVEIRA, 1971, citado por ARAÚJO, 1997, p. 5) 14 .

1769/1779 As primeiras notícias sobre a Capoeira/Capoeiragem aparecem, já, no SÉCULO XVIII 15: na década de 1769 1779, Joaquim Manoel de Macedo, em sua crônica “Memórias da Rua do Ouvidor”, relata fatos que aconteceram durante a administração do vice rei, o Marques do Lavradio; nelas, relata a famosa história do tenente Amotinado, capoeirista que teria servido de auxiliar nas aventuras eróticas do vice rei. Considera se ser esta a primeira referência sobre a capoeira no Rio de Janeiro; provavelmente Macedo se aproveitou de memória oral de seu tempo (1820 a 1882), assim como de pasquins e cantigas que se fez a respeito na época. Em sua referência direta à capoeira, Macedo

10 MEIRELRES, Mário. ‘A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697 1702)”. In HISTORIA DE SÃO LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93 99

11 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39 40. 12 in www.capoeira fica.org 13 ARAÚJO, 1997, obra citada. 14 ARAÚJO, 1997, obra citada, 15 Onde não está indicado o estado/cidade, refere se a fatos ocorridos no Município da Corte Rio de Janeiro.

QUANDO
A CAPOEIRAGEM COMEÇOU...

(1988, p. 37) apenas comenta que “talvez fosse o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente a espada, a faca, o pau e ainda e até de preferência a cabeçada e os golpes com os pés”. (Vieira e Assunção, 1998).

1770 a mais antiga referência da capoeira enquanto forma de luta surge neste ano, vinculado ao tempo do Vice Rei Marquês do Lavradio no Rio de Janeiro, em que já havia o sentido de ‘amotinados’ aos seus praticantes (Edmundo, 1938, citado por Vieira, 2005) Afirma Hermeto Lima: “[...] segundo os melhores cronistas, data a Capoeiragem, de 1770, quando para cá andou o Vice Rei Marques do Lavradio. Dizem eles também que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por 4 ou 5 homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando os e desdobrando os em outros dando a cada um o seu nome próprio. Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam se por meio da ‘Capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores” (Lima, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por Vieira, 2004)

1788(?) as maltas dos capoeiras já inquietavam os cidadãos pacatos do Rio de Janeiro e se tornavam um problema para os vice reis (Carneiro, 1977)

1789 12 de abril primeiro aparecimento da palavra capoeira escrita no registro da prisão de Adão, pardo, escravo, acusado de ser capoeira. [Nireu Cavalcanti, O Capoeira, Jornal do Brasil, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]. (texto disponível em www.capoeira palmares.fr/histor)

E no Maranhão:

1820 Para Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel), desde os anos de 1820 têm se registros em São Luís do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. Esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).16

Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161 165) descreve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRILIMINARES

Partindo do entendimento de que a Capoeira é uma prática cultural no sentido mais dinâmico possível do termo, o que é a Capoeira?17 Como podemos defini la? Esse entendimento é essencial, para podermos interpretar o surgimento e o entendimento do que se referia ao utilizar o termo, na imprensa, ao longo do tempo...

Tenho encontrado as mais variadas respostas: capoeira é luta; capoeira é esporte; capoeira é folclore; outros dizem que é um lazer; é uma festa; é vadiação; é brincadeira; é uma atividade educativa de caráter informal. Não me conformo com essas classificações simplistas e reducionistas; compreendi que a Capoeira é tudo isso... Assim, compreender a Capoeira como sendo uma prática cultural representa um salto qualitativo para

16 [Jornal do Capoeira] http://www.jornalexpress.com.br/

17 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão afinal, o que é Capoeiragem? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675

além das visões essencialistas, que, por vezes, apelam para um mito de origem reivindicando a pureza ou a tradição de certo antigamente da Capoeira.

Quero chamar a atenção para o entendimento de que as práticas culturais, como a Capoeira, não estão paradas no tempo e, por isso mesmo, a transformação constante é inevitável. As necessidades e os problemas dos (as) Capoeiras de outrora não são os mesmos de hoje. A cada dia se joga uma Capoeira diferente. A Capoeira de hoje é diferente da Capoeira de ontem e da de amanhã esse exemplo de constante transformação demonstra suficientemente bem que a cultura está em permanente mudança18 .

Para Viera (2017) 19:

Não podemos perder a perspectiva de que Arte se relaciona com técnica e que muitas modalidades esportivas de lutas são consideradas como "Artes" Marciais. Neste contexto a Federação Internacional de Capoeira é fundadora da União Mundial de "Artes" Marciais (WOMAU) e que a modalidade, enquanto atividade física e esporte é bicampeã mundial de Artes Marciais.

Para Mestre Tuti (2011)

20:

A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de análises em seus diversos aspectos teórico, técnico, didático, tático, filosófico etc. e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um trabalho (entenda se: Mestre, Professor, Instrutor etc.).

Até aqui, vemos a fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a estabilização dos conhecimentos. Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira.

Assim, práticas culturais são aquelas atividades que movem um grupo ou comunidade numa determinada direção, previamente definida sob um ponto de vista estético, ideológico etc.21. A arte apresenta registros documentais e iconográficos desde o século XVIII22 .

O que é ‘capoeira’? Vernaculizarão do tupi guarani caá puêra: caá = mato, puêra = que já foi; no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 23 Por Capoeira deve se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? conforme a conceitua Araújo (1997) 24 ao se perguntar “mas quem são os capoeiras? e por capoeiragem como: [...] a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com

18 CORTE REAL, Márcio Penna. A Capoeira na perspectiva intercultural: questões para a atuação e formação de educadores(as). 2004

19 VIERA, Sérgio. Correspondencia pessoal via correio eletrônico, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 07 de setembro de 2017

20 Mestre Tuti in CHAMADA NA ‘BENGUELA’ 17/11/2011) To: capoeiranaescola@googlegroups.com Sent: Saturday, September 17, 2011 1:04 AM Subject: Chamada na 'Benguela’

21 COELHO, T. DICIONÁRIO CRÍTICO DE POLÍTICA CULTURAL. São Paulo: Iluminuras, 1999

22 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871

ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008.

23 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39 40

24 ARAUJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO ANTROPÓLIGAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA de uma actividade guerreira para uma actividade lúdica. (S.L.): PUBLISMAI Departamento de Publicações do Instituto Superior Maia (Porto), 1997.

fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado? (p. 69); e capoeirista, como sendo: os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva? (p. 70).

Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79), em nota registrando Decisão de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152 153; “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores (ARAÚJO, 1997).

Nos jornais pesquisados, em dado momento surge o termo ‘capoeira de galinhas’ certamente se referindo espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves, conforme Rego, 1968 25: [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam se jogando capoeira. (Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79) 26 .

Encontrei na correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão Pará e o Ministro de D. José I. Marcos Carneiro de Mendonça27 em “A Amazônia na era Pombalina”, carta de Mendonça Furtado28 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas,

25 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007

ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982

26 LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007.

27 MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49 C.

28 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado

ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008.

por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo por a terra em perturbação grande:

[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...] (p. 300). (grifos do texto).

Ou devemos entendê la, a Capoeira, como:

[ ] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira) 29; assim como Capoeira, em termos esportivos, refere se a [...] um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco reco). Enfocado em sua origem como dança luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39 40) 30 .

“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388)31

“Carioca” Uma briga de rua, portanto capoeiragem (no sentido apresentado por Lacé Lopes) outra denominação que se deu à capoeira, enquanto luta praticada no Maranhão, no século XIX e ainda conhecida por esse nome por alguns praticantes no início do século XX 32 Para Câmara Cascudo (1972) 33, Capoeira:

[...] jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos.

29 Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira FICA ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001.

30 PEREIRA DA COSTA, Lamartine. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Belo Horizonte: SHAPE, 2005, VIEIRA, Sérgio Luis de Sousa Capoeira http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf;

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf

LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/escolher_linguagem.php;

31 LOPES, André Luis Lacé. Capoeiragem http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf também disponível em http://www.confef.org.br/arquivos/atlas/atlas.pdf

32 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD R (pré print).

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão afinal, o que é Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, disponível em www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=379

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O que é a Capoeira ? In www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticias=675

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC

33 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.

Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical.

No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e o batuque boi. Refere se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (CÂMARA CASCUDO, Dicionário do Folclore) 34 .

Para a Capoeira, apresentam se três momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte.

CAPOEIRA ANGOLA a proposta explícita da capoeira Angola é tradicionalista, no sentido de manter, o quanto possível, os “fundamentos” ensinados pelos antigos mestres. Está intimamente ligada a figura de Mestre Pastinha Vicente Ferreira Pastinha ; aprendeu a capoeira antes da virada do século XIX (nasceu em 1889) com um velho africano.

CAPOEIRA REGIONAL é a partir do final da década de 1920 que Mestre Bimba Manoel dos Reis Machado desenvolveu na Bahia a sua famosa capoeira Regional, que, apesar do nome, foi a primeira modalidade de capoeira a ser praticada em todo o Brasil e no exterior. Bimba partiu de uma crítica da capoeira baiana, cujo nível técnico considerava insuficiente, sobretudo se confrontado com outras lutas e artes marciais, que começavam a ser difundidas então no Brasil.

CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA o panorama da capoeira no Brasil e no exterior se tornou de tal maneira complexa que é impossível, atualmente, distinguir apenas a capoeira Angola e a Regional, pois surgiram estilos que se pretendem intermediários e que têm sido denominados de “Contemporânea” ou mesmo “Angonal”:

CONTEMPORÂNEA é a denominação dada por Mestre Camisa a capoeira praticada no Grupo Abadá, com sede no Rio de Janeiro;

ANGONAL neologismo que representa uma tendência na capoeira atual que funde elementos da Capoeira Angola com a Capoeira regional, criando um estilo intermediário entre essas duas modalidades; é, também, o nome de um grupo, do Rio de Janeiro Mestre Boca e outros;

ATUAL denominação que seria usada por Mestre Nô de Salvador, para designar esta terceira via (Vieira e Assunção, 1998) 35

Do Atlas do Esporte no Brasil:

Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional.

35 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82 118

34 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.

Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco reco). “Enfocada em suas origens como uma dança luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando se, de modo geral, como uma atividade lúdica. (VIEIRA, 2006) 36

Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal. 37

Seguindo a justificativa do IPHAN, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. 38

Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afrodescendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. 39

Consideram que já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país.

Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira.

A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. 40 Assim, em 1937:

[...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua.

Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia.

“A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas.

36 VIEIRA, Sergio Luiz De Souza. Capoeira. In DaCosta, Lamartine (Org.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio De Janeiro: CONFEF, 2005, p. 1.44 1.45) DaCOSTA, 2006, , obra citada. p. 1.44 1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br

37 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871

38 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39 40.

39 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39 40.

40 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39 40.

“Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios.

“A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo. 41

Na linha do tempo estabelecida pelos estudos do IPHAN, uma grande leva de capoeiristas chegou ao Rio por volta de 1950 oriundos da Bahia [a diáspora da capoeira baiana, no entender de Lacé Lopes]. O mais importante deles foi Mestre Arthur Emídio, que trouxe um estilo de capoeira diferente, de movimentação veloz e marcialmente eficaz, mas que mantinha orquestração musical. Ainda na década de 50 a capoeira passou a ser retratada e divulgada por artistas como Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, entre outros. Nos anos seguintes, entre 60 e 70, ganhou espaço também nas produções artísticas do Cinema Novo, Tropicália e Bossa Nova.42

Para os estudos do IPHAN, foi a partir de 1970 que a capoeira se expandiu em larga escala pelo Brasil. A Angola deve sua recuperação, em grande parte, à atuação de Mestre Moraes, aluno de Pastinha, a partir de 1980, com a fundação do Grupo Capoeira Angola Pelourinho, que fortaleceu sua prática na Bahia e a disseminou pelo centro sul do país e no exterior. 43

Temos que concordar com a Profa. Lurdinha44, quando fala da “Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística”: [...] a professora elenca o que ela denomina de “furadas turísticas” e coloca a Capoeira figurando nessa lista, assim como o Carnaval fora de época, o Fortal, os Resorts etc. Afirma que quando se apresenta um grupo de Capoeira, divulga se a Bahia e não o Ceará. Em verdade, pensa se a Capoeira como sendo baiana, talvez pela divulgação da Capoeira que se tem hoje ter sido realizada em grande parte por mestres baianos. Porém, como já foi supracitado, o próprio Dossiê realizado pelo IPHAN não a reconhece como prática oriunda da Bahia e o Governo Federal a reconhece como Patrimônio Imaterial do Brasil. Também é verdade que a Capoeira desenvolvida no Ceará é muito jovem. Poucas ou quase nenhuma cantiga de Capoeira faz referência ao Ceará, mesmo já havendo uma produção cearense divulgada fora do Estado. Dizer que a Capoeira, praticada aqui, é da Bahia é um ledo engano, ou melhor, desconhecimento do assunto. Até porque, existem grupos oriundos do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília etc. e que trazem inúmeras características desses Estados. Em qualquer bairro da cidade de Fortaleza percebe se essa manifestação cultural como prática em ambientes fechados ou em praça pública. Essa cultura que é desenvolvida no Estado é bastante conhecida no exterior por ser uma capoeira solta, estilizada e cheia de floreios45 .

Para encerrar essas considerações iniciais sobre que capoeira estamos falando e não falamos da baiana, por certo, e concordando com a professora citada acima, que cada estado ou região tem a sua história, inclusive da “sua capoeira”, e, concordo com Almeida e Silva (2012) 46, para quem a história da capoeira é marcada por inúmeros mitos e “semiverdades”, conforme nos esclarece Vieira e Assunção (1998)47. Esses mitos e estórias dão base às tradições que se perpetuam e proporcionam a continuidade de um passado tido como

41 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD R. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD R (pré print).

42 VIEIRA, 2005, obra ciatada, p. 39 40.

43 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39 40.

44 MACENA, Maria de Lourdes. Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística. In I Fórum IOV Ceará de Folclore e Artes Populares. Fortaleza CE. 2011.

45 In I FÓRUM DE FOLCLORE E ARTES POPULARES NA CIDADE DE FORTALEZA IOV Ceará, Internacionale Organisation für Volkskunst/Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, 18 e 19 de março de 2011

46 ALMEIDA, Juliana Azevedo de; SILVA, Otávio G. Tavares da. A CONSTRUÇÃO DAS NARRATIVAS IDENTITÁRIAS DA CAPOEIRA. Vitória; UFES. REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE vol.34 no. 2 Porto Alegre Apr./June 2012. e mail: julazal@yahoo.com.br

47 VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82 118

apropriado. Na capoeira, a narrativa oral das suas “estórias” adquiriu uma força legitimadora tão forte que, por muitas vezes, podemos encontrar discursos acadêmicos baseados nelas48 . Mestre Gavião, maranhense, já viajou por muitos estados brasileiros à procura de capoeira, e sempre buscou manter suas raízes, só absorvendo o que achava interessante para enriquecer sua capoeira. Certa vez, um mestre em um evento em São Paulo, o viu jogando e perguntou: “Oh Mestre, essa sua capoeira é africana?”. Poderia ou deveria! ter respondido: “Não, é Capoeira do Maranhão, de São Luís, ludovicense!!!”.

É a “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, assim denominada pelos Mestres Capoeiras partícipes do Curso de Capacitação dos Mestres Capoeiras do Maranhão, adeptos da denominada ‘capoeira mista’, após os estudos realizados, passando de ora em diante a assim denominar seu estilo de luta, conforme correspondência pessoal, via Facebook, de Mestre Baé, em 28 de setembro de 2017.

Pois bem, a capoeiragem praticada no Maranhão é a CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. Temos a “nossa capoeira”, diferente da soteropolitana, baiana, carioca, ou qualquer outra que seja denominada49 .

48 Vieira e Assunção (1998) apontam esse fato no seu artigo. VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82 118

49 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Alunos do Curso Sequencial de Educação Física turma C, da Universidade Estadual do Maranhão UEMA. Capoeiragem No Maranhão. Parte I. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no Maranhão Parte II Afinal, O Que É Capoeiragem? In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem no Maranhão Parte IV Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte V Capoeira regional". IN In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeiragem No Maranhão. Parte VI A Capoeira "CARIOCA". In JORNAL DO CAPOEIRA, http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE": Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 43: 15 a 21 de Agosto de 2005, EDIÇÃO ESPECIAL CAPOEIRA & NEGRITUDE, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notas sobre a Punga dos Homens Capoeiragem no Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, 14/08/2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+punga+dos+homens+ +capoeiragem+no+maranhao

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Qual Capoeira? JORNAL DO CAPOEIRA http://www.jornalexpress.com.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PUNGA DOS HOMENS / TAMBOR DE CRIOULO (A) “PUNGA DOS HOMENS”. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. Volume 09, Número 02, jun/dez 2006

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Capoeira nos Congressos de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança. JORNAL DO CAPOEIRA, Edição 73 de 14 a 20 de Maio de 2006, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO: MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS. Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira, aluno do Curso Seqüencial de Educação Física, da UEMA, em trabalho apresentado à Disciplina História da Educação Física e dos esportes, ministrada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, 2006.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, JORNAL DO CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 de 05 a 11/Mar de 2006 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster Esportivo de São Luis do Maranhão, 1860 1910. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, 2.7. http://cev.org.br/biblioteca/cluster esportivo sao luis maranhao 1860 1910/

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Punga dos Homens e Capoeira no Maranhão. In DaCOSTA, Lamartine PEREIRA. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006 disponível em WWW.atlasdoesportebrasil.org.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Pungada dos Homens & A Capoeiragem no Maranhão MESTRE BAMBA, do Maranhão. JORNAL DO CAPOEIRA http://www.jornalexpress.com.br

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira no/do Maranhão http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A CARIOCA. in BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD R (pré print).

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A Guarda Negra. Palestra proferida no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em agosto de 2009, publicado no BOLETIM DO IHGM, no. 31, novembro de 2009, edição eletrônica em CD R (pré print).

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CADA QUÁ, NO SEU CADA QUÁ A PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR DE CRIOULA

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CHRONICA DA CAPOEIRA(GEM) REVISITANDO A PUNGA: “QUENTADO A FOGO, TOCADO A MURRO E DANÇADO A COICE”

Perguntamos aos Mestres Capoeira do Maranhão EXISTE UMA CAPOEIRA GENUINAMENTE MARANHENSE? O QUE A CARACTERIZA? EM QUE É DIFERENTE, POR EXEMPLO, DA ANGOLA, REGIONAL E/OU CONTEMPORÂNEA? Ao que responderam:

GRUPO 1. Todos concordam que ‘sim’; se caracteriza pela forma de jogar, de se adaptar e não se define por ‘estilo’; a maior diferença da Capoeira Maranhense para a Angola, Regional, ou Contemporânea é a metodologia de ensino tradicional praticada no Maranhão, com suas influencias da cultura do Maranhão; exemplos: Bumba meu boi, Tambor de Crioula, Punga.

GRUPO 2. A principal característica era o jogo solto, com floreios e movimentos oscilantes com jogo alto e rasteiro obedecendo ao toque do berimbau.

GRUPO 3. Sim; seu jogo executado nos três tempos (embaixo, no meio, e em cima); musicalidade e o seu espírito de jogo

GRUPO 4. Existe a Capoeira Maranhense, e tem uma característica própria, pois a mesma é jogada de forma diferenciada, sempre seguindo os toques executados. A Capoeira Maranhense é diferente da Angola, Regional, e Contemporânea porque ela é jogada de forma diferente, não seguindo as tradições da Angola, regional e Contemporânea.

GRUPO 5. Sim, Capoeira Ludovicense, praticada na Ilha de São Luís, caracterizada pela ginga e aplicação de golpes e movimentos diferenciados da Capoeira Angola tradicional, da Capoeira Regional, e da Capoeira Contemporânea, por exemplo: não se tinha ritual, nem formação de bateria, eram usados toques da capoeira Angola, são Bento Pequeno de Angola, São Bento Grande de Angola e samba de roda.

GRUPO 6. Existe; se diferencia porque é jogada em três tempos (ritmos): Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande; o que a diferencia são as influencias muito fortes da mossa cultura e da nossa região.

VAZ, Leopoldo y VAZ, Delzuite. A Carioca. Actas del III Simposio de Historia do Maranhão Oitocentista. Impressos no Brasil no seculo XIX. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), São Luís, 2013. Extraído el 15 de marzo de 2015 dehttp://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/34.pdf

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL; IHGM, 2013. Em CD.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Livro Álbum dos Mestres Capoeiras do Maranhão, ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014, em DC

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: edição do autor, 2013; 2015 (2ª Ed. Revista e atualizada), 2015 disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao ; issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_ _leopoldo_g

Acre é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Localiza se no sudoeste da Região Norte, fazendo divisa com duas unidades federativas: Amazonas ao norte e Rondônia a leste; e faz fronteira com dois países: a Bolívia a sudeste e o Peru ao sul e a oeste. Sua área é de 164 123,040 km² Essa área responde inferiormente a 2% de todo o país. De acordo com os geógrafos, se trata de um dos estados com menor densidade demográfica do Brasil e foi o mais recente que os brasileiros povoaram de maneira efetiva. Nele localiza se a extremidade ocidental do Brasil. A cidade onde estão sediados os poderes executivo, legislativo e judiciário estaduais é a capital Rio Branco Outros municípios com população superior a trinta mil habitantes são: Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Madureira e Tarauacá. Somente em 1877 teve início no Acre que naquela época pertencia à Bolívia a chegada da quase totalidade dos migrantes que, oriundos do Nordeste do Brasil, mais precisamente do Ceará, colonizaram a região para buscar a borracha que se encontrava na Floresta Amazônica. Nas últimas décadas do século XIX, moravam cinquenta mil brasileiros na região. Os seringueiros, lutaram com as tropas para realizar a ocupação da região e, em 1903, ao lado do último líder da Revolução Acriana, o gaúcho Plácido de Castro, foram os autores da proclamação do Estado Independente do Acre Então, a região foi ocupada militarmente pelo governo brasileiro e depois o Brasil estabeleceu diálogo diplomático com a Bolívia. Em consequência, o Brasil assumiria o controle do Acre. O governo brasileiro decidiu criar o Território Federal do Acre em 1904. Por força da lei federal n.º 4.070, o presidente do Brasil João Goulart elevou o Território Federal do Acre à categoria de Estado em 1962. Acre Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

1904 Prata Preta: Um capoeira desterrado por KK Bonates Luiz Carlos de Matos Bonates Prata Preta: Um capoeira desterrado Capoeira Contemporânea (capoeirahistory.com)

Em 10 novembro de 1904, ocorreu nas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, uma série de manifestações populares que contestavam a obrigatoriedade da vacinação contra varíola e que resultaram em confrontos com as forças de segurança que perduraram até o dia 16 de novembro e, para conter a revolta popular, foi decretado o estado de sítio e revogada a obrigatoriedade da vacinação.

Essa convulsão social recebeu o nome de Revolta da Vacina ou Quebra Lampiões e teve como saldo oficial 30 pessoas mortas, 110 feridas e 945 presas na Ilha das Cobras, que foram posteriormente deportadas, se estrangeiras, ou desterradas para o norte do país, se brasileiras, principalmente para o Acre, à época, território federal recém incorporado ao Brasil.

Uma das figuras de destaque nesta revolta foi o estivador e capoeira Horácio José da Silva, o Prata Preta, reconhecido por muitos pela liderança em um dos principais redutos da resistência popular, a barricada Porto Arthur, localizada no Bairro da Saúde, assim denominada em referência à violenta batalha ocorrida na guerra russo japonesa (1904 1905).

O desterro dos socialmente indesejáveis para a Amazônia, um lugar distante, fronteiriço e rústico, data da época do Brasil Colônia estendendo se até as primeiras décadas da República. O perfil da grande maioria destes indesejáveis era caracterizado pela pobreza, pelo crime ou por promoverem desordem social.

Em geral, o tratamento dado aos indesejáveis “canas graúdas”, ou seja, aos da burguesia, tais como militares de alta patente, políticos influentes e jornalistas era diferenciado do tratamento dos “canas miúdas”, estes provenientes das classe subalternas. Via de regra, o “cana graúda” era processado, continuava no seu lugar de origem, sendo primeiro preso, depois anistiado e em seguida, retornava à vida pública.

O embarque dos desterrados de 1904 para o Acre deu se através de navios denominados paquetes, conhecidos como Itas, movidos a vapor e pertencentes à Companhia Nacional de Navegação Costeira e foram alugados pelo Governo Federal para o transporte dos desterrados.

NOTAS PARA O ATLAS DA
CAPOEIRAGEM NO ACRE

Os prisioneiros eram alocados nos porões em condições de promiscuidade, sem direito de subir ao tombadilho e vigiados por forte contingente de militares.

Três paquetes foram responsáveis por transportar os desterrados de 1904 Itaipava, com duas viagens, Itaperuna e Itapacy, com uma viagem cada.

O trajeto entre o Rio de Janeiro e Belém do Pará levava, em média, 11 dias, e entre Belém e Manaus, 5 dias. Quando em Manaus, os desterrados eram transferidos para barcos regionais de menor calado, os “gaiolas” ou “batelões”. Estes barcos então seguiam rumo ao Território do Acre e, dependendo do seu destino, poderiam navegar por três tributários do Rio Amazonas, os rios Madeira, Purus e Juruá. Se o porto de destino era Pennapolis (antiga Vila Empreza , atual Rio Branco) ou Senna Madureira, o tempo médio da viagem era de 15 dias. Para Cruzeiro do Sul, sede do Departamento do Alto Juruá, cerca de 20 dias.

Prata Preta, um indesejável “cana miúda”, foi preso em 17/11/1904, às 9 horas da manhã, fora das trincheiras de Porto Arthur. Portava consigo dois revólveres, uma faca e uma navalha e seu corpo estava marcado de contusões causadas por espada. Reza a lenda que comandava em torno de 2.000 revoltosos. Foi levado com outros 96 presos para a Ilha das Cobras para serem posteriormente embarcados para o Acre.

Não há muitas informações bibliográficas ou orais sobre Prata Preta. O pouco que se tem está em notícias de jornais, revistas e almanaques do período, que, dependendo da linha ideológica da imprensa (monarquia, república ou anarquismo), afirmam ou negam sua liderança popular, elegendo o ora como um herói, ora como anti herói ou vilão, como exemplificado a seguir.

Prata Preta é um homem de 30 anos presumíveis, alto, de compleição robusta, completamente imberbe. A sua fama de homem valente e rixento não foi desmedida, pois ele era visto nos pontos mais perigosos das trincheiras e barricadas, atirando de carabina nas forças atacantes…Ao que parece, Prata Preta era considerado o general Stoessel de Porto Arthur, da Saúde..”

A Notícia, 16 e 17/11/1904, XI, n 271, p 1. A grande custo ele foi conduzido para a Repartição Central de Polícia, sendo antes desarmado…deu o nome de Horácio José da Silva e foi metido em uma camisa de força, recolhido ao xadrez. Esse crioulo tem a alcunha de “Prata Preta” e, pela sua conhecida bravura como famoso desordeiro, fora proclamado chefe dos sublevados da Saúde.”

Jornal do Commercio, 17/11/1904, n 521, p 2. (…) um negro terrível, um verdadeiro demônio. Este negro, alto, musculoso, forte entre os mais fortes, tomou logo certa supremacia, assumindo as funções de chefe dos porões. Armado de um grosso pedaço de cabo, entrou logo a surrar bestialmente, ferozmente seus companheiros de infortúnio, só os abandonando quando o sangue rubro esguichava das feridas.”

Jornal do Brasil, 28/12/1904, p 2. Tudo era mentira, mas ainda existia o Prata Preta alí…à preta! Fomos então saber da história do celebrado Prata. Ora, o Prata também é pilheria. Não se sabe até agora o personagem que mais se salientasse nos famosos distúrbios. Prata Preta costuma parar nos jaburus das ruas da Conceição e S. Jorge. Em geral, é um pai d’agua, quebra água, mata o bicho, embebeda se. Os últimos conflitos tinham no excitado, como excitou as mulherinhas das rótulas, fazendo as gritar mata! Em acessos histéricos. Nosso Prata Preta nunca tinha sido valente.”

Gazeta de Notícias, 18/11/1904, “A última ilusão”, p 2. Sobre o desterro de Prata Preta para o Acre encontramos algumas referências em noticiosos que apenas citam o fato, mas, devido ao uso partidário e/ou ideológico do nome Prata Preta pela imprensa e na falta de documentação comprobatória plausível, o que

resta são pistas, indicativos e evidências de que Prata Preta foi mesmo desterrado e retornou ao Rio de Janeiro anos depois.

A respeito das pistas, indicativos e evidências, citamos a crônica O K. Abrahão, de Armando Sacramento, e a descrição de um carro alegórico no carnaval de 1905, que teve como tema a barricada Porto Arthur, do Bairro da Saúde.

Ainda perseguido pelo homem dos óculos, um dia quase o K. Abrahão foi levado para o Acre juntamente com o Prata Preta. Depois das explicações foi posto a rua e desde então, para evitar outra embrulhada idêntica, não mais saiu de cena.”

O Rio Nu, 4/3/1905, edição 695, p 2. O Porto Arthur, da Saúde, é mais um carro de crítica. Sobre uma carroça a que se lê a inscrição Hospital de sangue, há um grande canhão …tapado. Do lado direito uma flamula vermelha indicava o espírito guerreiro de façanhudos desordeiros sob a chefia do intrépido Prata Preta. Lampiões quebrados cercam o carro, em espirituosos democráticos eram sublimes de verve. Guarda de honra de acreanos, transportando o machado e a caneca que os hão de regenerar na terra da borracha.”

Gazeta de Noticias, 4/3/1905, “Pepinos Carnavalescos”, edição 63, p 2.

Por fim, Silva (2013) informa, sem maiores detalhes, que Prata Preta foi desterrado para o Acre no dia 25 de dezembro de 1904 e embarcado no navio Itaipava, com outras centenas de desterrados desconhecidos.

Segundo Bonates (2016) e Bonates & Cruz (2020) o registro documental mais antigo da presença da capoeira no Estado do Amazonas, até a data deste ensaio, data de 1899, contudo, evidências indicam comportamentos sociais relacionados com a cultura da capoeira ou ação de capoeiristas em datas anteriores, podendo se retroagir até a época da Revolta da Cabanagem (1835 1840).

Intrigante é o fato de a raridade do registro de capoeiragem nos noticiosos amazonenses ser quebrada a partir dos festejos carnavalescos de fevereiro de 1905, portanto, logo após a chegada dos desterrados. Os registros aumentam até 1920, quando ocorre a derrocada do Ciclo Econômico da Borracha, e só voltam a crescer a partir ano de 1972, com a vinda de Julival do Espírito Santo, o mestre Gato de Silvestre, em pleno Ciclo Econômico da Zona Franca de Manaus.

Pelo exposto, três perguntas se fazem pertinentes:

Prata Preta teria retornado ao Rio de Janeiro?

Prata Preta teria estado ou permanecido algum tempo em Manaus?

A passagem e/ou a presença de desterrados teriam contribuído para a intensificação de notícias na imprensa sobre capoeiragem no Amazonas no período de 1905 a 1920?

Consideramos que as respostas são positivas para as três perguntas, desde que se aceite para a primeira pergunta a possibilidade de Prata Preta ter sido mesmo desterrado. Apresentamos alguns fatos que podem colaborar para a aceitação dessas hipóteses:

Notícias em jornais cariocas informam a prisão ou ação de um indivíduo ou de indivíduos com a alcunha Prata Preta, nos anos posteriores à Revolta da Vacina (1909 e 1910) . Embora o nome conhecido de Prata Preta aqui referenciado seja Horácio José da Silva, e o da citação abaixo seja Honório Manoel Leandro, deve se considerar que aqueles que já estiveram às voltas com a polícia se valiam do expediente de documentos de identificação e endereços falsos para esconder sua verdadeira identidade. Também foi preso o conhecido desordeiro da saúde Honório Manoel Leandro, vulgo Catta Preta ou Prata Preta. Esse tipo vinha acompanhado desde a Central por um agente, sendo preso quando desembarcava em Campo Grande.”

O Paiz, 31/1/1909, “Eleições Federais”, p 2 Solidário, político, amigo inseparável, o moralista Dr. Barbosa Lima, como o amigo político de Prata Preta, José do Senado, Camisa Preta, os heroicos cabos eleitorais de um deputado que tem horrorizado o espírito público com os maiores crimes.”

O Paiz, 3/11/1910, “Carta Aberta”, p 3. Não vale a pena voltar a fazer considerações acerca do fato de terem os incorruptíveis e austeros magistrados apurado a eleição realizada na Biblioteca Nacional, cujos votos

continuam encerrados na urna lacrada e depositada na polícia, arrebatada das mãos ensanguentadas do cidadão, galopim eleitoral, que acode a sugestiva alcunha de Prata Preta.”

O Paiz, 20/11/1909, “Conselho Municipal”, p 1. Aí está a que fica reduzido todo o programa em torno do caso do Conselho, eleito pela junta de pretores, que secundou com notável elevação e patriotismo, os esforços do Prata Preta e da honrosa entourage do glorioso deputado Irineu Machado, empreiteiro mor da mazorca civilista que virá regenerar os nossos costumes políticos e moralizar o sufrágio universal.”

O Paiz, 07/01/1910, “Água na Fervura”, p 1. Honório Prata Preta perigoso indivíduo viciado, penetrou ontem no botequim n. 67, da rua D. Clara e pediu Paraty ao caixeiro Raul Santos. Como na véspera Prata preta tivesses bebido e não quisesse pagar, o caixeiro Raul negou lhe a bebida. Valeu lhe isso levar uma valente cacetada na cabeça , vibrada pelo desordeiro, que, após o delito, bateu em retirada.”

Gazeta de Notícias, 18/09/1911, “Valente Cacetada”, p 1. Quando aportados em Manaus, os desterrados eram transferidos para barcos regionais de menor calado, os “gaiolas” ou “batelões”. Essas transferências poderiam levar alguns dias, dependendo do número de desterrados e da logística do transbordo, entre outras, o que poderia aumentar o tempo de permanência em Manaus e elevar a possibilidade de uma fuga de prisioneiros dos navios para a cidade;

A primeira cidade portuária com navios aptos para o retorno ao Rio de Janeiro era Manaus e em seguida Belém. Como as condições de vida social, trabalhista e econômica nos seringais eram péssimas, podemos inferir que muitos dos desterrados ao partirem do Acre para Manaus estariam em condições de penúria e, por conseguinte, com grande dificuldade para conseguir trabalho e dinheiro suficiente para sua subsistência e concretizar seu retorno ao Rio de Janeiro. Essas circunstâncias, possivelmente, forçaram que muitos dos desterrados optassem por ficar em Manaus ou Belém.

Temos assim, que o governador Silvério Nery em sua mensagem proferida na abertura da 2ª sessão ordinária da 5ª legislatura, em 10/06/1905, reclama da presença de capoeiras enviados para o Amazonas pelo governo federal numa tentativa de transformar o Estado em presídio.

A ação da capoeiragem no Amazonas, principalmente em Manaus, não pode ser mais despercebida e faz com que o governador do Estado do Amazonas, Pedro Alcântara Bacelar, em 1/10/1917, em plena derrocada do Ciclo Econômico da Borracha, sancione a Lei número 920 que promulga Código do Processo Penal do Estado do Amazonas. Nesta lei, no Capítulo VI que trata do Processo das Contravenções, reza nos artigos 251 e 252 o seguinte:

Quando o delinquente for condenado como vadio ou capoeira, a sentença obrigá lo á assinar termo de ocupação dentro de quinze dias, contados do cumprimento da pena.” (artigo 251).

Se o termo for quebrado, o delinquente será novamente processado na forma do presente Código do Processo Penal. (artigo 252).

Embora tenha feito uma pesquisa basilar para o estudo dos desterrados para o Acre, Silva (2013) comenta que pouco se sabe sobre as desventuras das pessoas desterradas para as regiões do Acre na primeira década do século XX. Comenta ainda que não se encontram muitos rastros documentais ou testemunhais.

Em consonância com Silva, Patrícia Sampaio (2011) informa que a pesquisa da presença da cultura da capoeiragem no Amazonas não pode ser mais ignorada. Concordamos com esses autores e almejamos que essa frente de pesquisas se concretize e que seja extensiva a região norte como um todo e enfatize, quantitativa e qualitativamente, a contribuição cultural e econômica dos degredados e de outros migrantes na Amazônia.

O nome Horácio José da Silva e a alcunha “Prata Preta” parecem ser comuns para a época da Revolta da Vacina e são encontrados entre 1901 1911 nos jornais do Rio de janeiro referindo se a pessoas brancas ou negras, a oficial de justiça e a ladrão de galinha, a navalhista e a secretário de bloco carnavalesco, a testemunha de agressão física e a capitão e ainda, a assassino.

Os fatos aqui narrados mostram que a controversa imagem do personagem Horácio José da Silva, o Prata Preta, estivador, capoeirista e homem preto, considerado por muitos como um herói da cultura das ruas, merece esclarecimentos da historiografia, tanto no detalhamento de sua ação na Revolta da Vacina, quanto a sua vida no desterro e seu possível retorno ao Rio de Janeiro. A memória da capoeiragem e das lutas populares no Brasil agradecem se isto for feito.

KK Bonates: Mestre da Escola de Capoeira “Matumbé”, Manaus, AM. kkbonates@yahoo.com.br

Bibliografia

Bonates, L.C.M. 2016. A Capoeiragem no Amazonas (1905 a 1980) In: Capoeira em múltiplos olhares: estudos e pesquisas em jogo / Organizado por Antônio Liberac Cardoso Simões Pires e outros Cruz das Almas: EDUFRB; Belo Horizonte. Fino Traço. Coleção UNIAFRO :13. & Cruz, T.S. 2020. CAPOEIRA: o patrimônio gingado do Amazonas e sua salvaguarda. Conselho de Mestres da Salvaguarda da Capoeira do Amazonas/IPHAN, Manaus, 148p. Sampaio, P.M. 2011. O fim do silêncio: a presença negra na Amazônia. Belém: Editora Açaí; CNPq 298p. Silva, F.B. 2013. Acre, a Sibéria tropical: desterros para as regiões do Acre em 1904 e 1910. Manaus: UEA Edições, 326p

Municipio (AC) - 1910 a 1937

Ano 1913\Edição 00129 (1) 13 de março

Ano 1914\Edição 00172 (1) 11 de janeiro

Ano 1914\Edição 00173 (1) 18 de janeiro

O
-

Commercio do Acre : Orgam Independente (AC) - 1915 a 1918 - Ano 1917\Edição 00116 (1) 17 de agosto

O Acre (AC) - 1929 a 1972 - Ano 1944\Edição 00737 (1) 12 de março

O Jornal (AC) - 1974 a 1982 - Ano 1978\Edição 00080 (1)

O Acre (AC) - 1929 a 1972 - Ano 1982\Edição 00072 (1)

INSTITUIÇÕES E AGENTES DE CAPOEIRA DE RIO BRANCO (AC) Maria do Socorro Craveiro de Albuquerque; Rejane Marcelina Ribeiro; Eliana de Oliveira Cavalcante; Valéria Mendes dos Santos Ferreira Hoje, doze grupos estão, em parte, organizados formalmente na Liga Acreana de Capoeira. Realizam batizados anuais e contam em média com duzentos alunos. Efetuam ainda trabalhos em diversos bairros por meio de projetos (Leis de incentivo à Cultura e ao Desporto/Estadual e Municipal), bem como atendendo diversas secretarias em projetos setoriais, e também de forma voluntária em escolas, hospitais, presídios, parques, praças e associações de moradores, consolidando de forma permanente sua inserção cultural e contribuição social. Na cidade de Rio Branco. A capoeira se constituiu em Rio Branco, principalmente, a partir da vinda de professores

formados em outros Estados brasileiros contando dentre esses professores um acreano que procederam a sua implantação a partir de cinco núcleos geradores dos doze grupos que atualmente configuram a área de conhecimento da cultura de capoeira no Acre: 1. Grupo Candeias (Professores Falcão, Saci e Graduado Riquinho); 2. Grupo Cordão de Ouro (Mestre Xandão); 3. Grupo Capoeiracre (Mestre Olho de Peixe); 4. Grupo Mameluco (Mestre Moreno); 5. Grupo Abadá (Professor Urubu, Janaú); 6. Grupo Guanabara (Professor Cobra Papagaia); 7. Grupo Senzala (Professores Cancão e Pavão); 8. Grupo Besouro Mangangá (Professor Caju); 9. Grupo Axé (Professor Malvado e Roda); 10. Grupo Viva Capoeira (Professor Adalcides); 11. Grupo Acre Brasil (Professor Caboclinho); 12. Grupo Acre Capoeira (Professores Juvenil e Bou).

1973 O primeiro Mestre de Capoeira a abrir uma Roda em Rio Branco, foi Mestre Baiano quando da construção da Ponte Metálica, na década de 1970. A primeira roda de capoeira que teve em Rio Branco foi feita por baianos que vieram contratados para a construção da ponte metálica.. Trinta e sete baianos chegaram ao Acre, em 1973, para trabalhar na construção da ponte Coronel Sebastião Dantas (ponte metálica). Neste grupo incluía se Natálio Miranda dos Santos, o Baiano como era conhecido. Aluno de mestre Caiçara da Bahia organizou junto com seus conterrâneos a primeira roda de capoeira, com instrumentos e ladainhas, em Rio Branco. Passaram, assim, a fazer apresentações na Escola de Samba “Unidos do Bairro Quinze” e Bairro Seis de Agosto. As autorizações para as apresentações em espaços públicos, “um grande problema da época”, eram concedidas pelo Secretário de Segurança e Polícia Civil (SILVA24, 2005, p. 30).

1975/ 1980 No período que vai de 1975 ao início da década de 1980, as rodas de capoeira deixaram de acontecer (SILVA, op. cit.). Não se conhecem os motivos desse refluxo, no entanto, pode se especular que isso tenha acontecido em virtude da conclusão da ponte, quando esses trabalhadores, “os baianos”, teriam retornado à sua terra natal. A capoeira retorna com “força total em 1982 com Rodolfo, primeiro mestre a chegar ao Acre”

1982 No entanto, a primeira escola de capoeira foi aberta por Mestre Rodolfo, em 1982, onde funcionava o Grupo de Teatro Horta, em seguida transferido para o Clube Vasco da Gama, depois para o Clube Juventus, e se transferindo definitivamente para a sede do SESC, até sua detenção em 1987.

O Jornal (AC) 1974 a 1982 Ano 1980\Edição 00135 (2)
Ano 1980\Edição 00140 (1)

1982 Mestre Rodolfo institui a capoeira em Rio Branco a partir do desenvolvimento de trabalho em Clubes e Academias, trazendo ao Acre mestres de renome nacional. Seus alunos viajavam para treinar no Sudeste devido ao seu reconhecimento no meio esportivo da capoeira. Sua trajetória é contada nos seguintes termos: Rodolfo era um profissional da aviação e trabalhava como piloto. Foram encontradas drogas ilícitas no avião que ele pilotava, e Rodolfo foi preso por tráfico. Mandado para um centro de reabilitação na cidade de São Paulo, o mestre de capoeira realizou trabalhos sociais e educacionais com os detentos (SILVA, 2005, p. 30).

Ano 1982\Edição 00096 (1) – 03 de setembro

Ano 1982\Edição 00103 (1)

Diário do Acre (AC) - 1982 a 1984- Ano 1982\Edição 00134 (1)

Diário do Acre (AC) - 1982 a 1984 - Ano 1983\Edição 00213 (2)

Repiquete (AC) - 1984 a 1985 - Ano 1985\Edição 00027 (1) 29/07 a 06/08

Repiquete (AC) - 1984 a 1985 - - Ano 1985\Edição 00028 (1)

1987 Antonio Domingos, batizado na capoeira como Cobra Papagaia, deu continuidade ao trabalho iniciado por Mestre Rodolfo após sua detenção em 1987 fundando o segundo núcleo de capoeira de Rio Branco, na época ligado ao Grupo Senzala. Posteriormente desligou se desse grupo e filiou se ao Grupo Mareja. Atualmente Papagaia dirige um trabalho ligado ao Grupo Guanabara. O professor Papagaia “enfrentou muito preconceito por causa de seu mestre, que fora preso recentemente, e por causa da marginalização que a capoeira continuava sofrendo” (SILVA, 2005, p. 31). Em entrevista o professor

Papagaia nos reafirma o entendimento de outros professores e mestres: “o mestre Rodolfo é que foi, na realidade, o introdutor da capoeira aqui no Estado”.

1991 O terceiro núcleo é iniciado com a vinda, em 1991, de Guilherme Henrique Caspary Ribeiro Filho para o Acre. Mestre Olho de Peixe era ligado ao Grupo Senzala, na época, depois filiou se ao Grupo Capoeira Brasil. atualmente o grupo denomina se Capoeiracre e conta, inclusive, com núcleos na Austrália e Alemanha.

1992 O processo de implantação da capoeira em Rio Branco deu se, ainda, a partir de duas outras iniciativas, que ajudaram a difundir e criar adeptos dessa manifestação cultural. A primeira delas foi a inclusão da capoeira nas escolas do Sistema Estadual de Ensino a partir de 1992; ). Tal iniciativa se constituía em um novo projeto onde as aulas de educação física contavam com três sessões semanais, e a possibilidade do educando optar por uma aula complementar de xadrez, capoeira ou ginástica rítmica desportiva.

O quarto núcleo formou se a partir da chegada do professor Índio a Rio Branco. Natural de Recife (PE) iniciou seu trabalho nos anos de 1990, com o Grupo Abadá, denominado atualmente Grupo Viva Capoeira. Em 1997 viaja para os Estados Unidos deixando como responsável pelo grupo o professor Adalcides e reside atualmente no Canadá, onde fundou um novo núcleo, vindo, no entanto, periodicamente a Rio Branco

E quinto núcleo, foi formado pelo acreano Francisco Alexandre Silva de Almeida, o mestre Xandão que retornara em 1991 para Rio Branco, vindo de Cuiabá onde recebeu sua formação e foi batizado por Mestre Mato Grosso no Grupo Conceição da Praia. Mais tarde filia se ao Grupo Maculelê, e atualmente seu trabalho é filiado ao Grupo Cordão de Ouro de mestre Suassuna.

Na segunda metade da década de 1990 os grupos de capoeira passaram por um período de rivalidades, que ocasionavam “brigas internas, regionais e até nacionais” (SILVA, 2005, p. 31).

1997 posteriormente, desde 1997 na Universidade Federal do Acre. A primeira iniciativa foi implantada e implementada pela Coordenação de Educação Física, do Ensino Fundamental (SEE/ACA segunda iniciativa consistiu na realização de dois Projetos de Extensão de capoeira que foram sediados no Departamento de Educação Física e Desporto (DEFD) da UFAC.

1997/1998 O primeiro, denominado Núcleo de Estudos e Prática de Capoeira da UFAC), foi realizado durante 1997 e 1998.

2000 os professores de capoeira decidem criar a Liga Acreana de Capoeira. Segundo mestre Xandão: A idéia da liga partiu de uma discussão entre eu, Moreno, Cláudio Matias e Papagaia. Nesse momento entendeu se que deveríamos criar uma entidade formalizada da capoeira no Acre, e chamamos todos os capoeiristas para realizar essa iniciativa.

2004/2005 , Estudando e praticando Capoeira, foi efetivado de 2004 a 2005. Atualmente, o projeto é coordenado pelo professor Leandro Ribeiro Palhares e conta com ajuda do voluntário Ademir José de Oliveira. Todavia, o primeiro núcleo de capoeira formalmente aqui instalado foi conduzido por mestre Rodolfo e era denominado Cativeiro. Segundo relato do professor Bruno Camelo Derze

2007 Acre: Uma proposta social de capoeira ByLuciano Milani21 de Março, 2007 Manifestação da cultura afro brasileira como instrumento para a inclusão social e para uma vida saudável: Contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o projeto “Uma Proposta Social de Capoeira”, realizado pelo Mestre Xandão, propõe a acesso a uma vida mais saudável e produtiva por meio da prática da capoeira. O projeto acontece a 15 anos, com uma história bem próxima à história da capoeira no Acre, construído em função de comunidades carentes, envolvendo principalmente adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. A Proposta Social de Capoeira consiste na promoção de aulas de capoeira, cursos, encontros e outros meios de formação a fim de difundir manifestações da cultura afro brasileira e proporcionar aos envolvidos a capacitação para geração de renda a partir da cultura. Acre: Uma proposta social de capoeira | Portal Capoeira

2010 Acre: “Eu

o

do

ByLuciano Milani3 de Dezembro, 2010 Projeto existente há dez anos leva o esporte para a periferia de Rio Branco: Aconteceu nessa quarta feira, 1, o lançamento do projeto “Eu Pratico o Melhor Esporte do Mundo: Capoeira”, na Paróquia Cristo Libertador. O projeto existe há cerca de 10 anos e possui um grande legado de capoeiristas, todos oriundos da periferia de Rio Branco. A iniciativa foi financiada pela Fundação Garibaldi Brasil e cerca de 80 alunos serão contemplados pelo projeto. O objetivo do projeto é proporcionar aulas de capoeira três vezes por semana para jovens e adultos da comunidade, além de contribuir no processo educacional, religioso e cultural do público alvo, trabalhando valores sociais a esta prática popular, como cidadania, coletividade, solidariedade, parceria, afetividade, respeito, disciplina, organização e responsabilidade. Os alunos também serão contemplados com uniformes e incluídos no batizado.

Pratico Melhor Esporte Mundo: Capoeira” 2019 PLANO DE SALVAGUARDA DA CAPOEIRA miolo DIGITAL 01.indd (iphan.gov.br)

ALAGOAS”

PALMARES muito embora sem fundamentos, diz se que nos Palmares já se praticava ‘Capoeira”, como a entendemos hoje; o que não é correto afirmar se. A expressão ‘negro de capoeira”, esta sim, podemos dizer que vem desta época.

1640 Início das invasões holandesas. Desorganização social no litoral brasileiro. Evasão dos escravos africanos para o interior do Brasil. Aculturação afro indígena. Organização de dezenas de quilombos. Surgem as expressões: ‘negros das capoeiras’, ‘negros capoeiras’, e ‘capoeiras’. (Vieira, 2004, 2005). Com o advento das invasões holandesas, na Bahia e em Pernambuco, principalmente a partir de 1640, houve uma desorganização generalizada no litoral brasileiro, permitindo que muitos escravos fugissem para o interior do país, estabelecendo se em centenas de quilombos, tendo como consequência o contato ora amistoso, ora hostil, entre africanos e indígenas. Tende se a acreditar que o vocábulo, de origem indígena Tupi, tenha servido para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, posteriormente, como “negros capoeiras” e finalmente apenas como “capoeiras”. Cabe ressaltar, que nunca houve nenhum registro da Capoeira em qualquer quilombo. Sendo assim, aquilo que antes etimologicamente designava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (Vieira, 2005) 50 .

Informa José Antonio Gonsalves de Mello em “Tempos dos Flamengos” 51 que foi durante o período da dominação holandesa que tiveram condição para se desenvolver vários quilombos. Desde 1638 há referência a quilombos que se constituía uma grave ameaça para as populações e os bens dos moradores. Havia, também, pequenos aldeamentos ou bandos de negros que roubavam e matavam pelos caminhos: os boschnegers, contra os quais eram empregues capitães de campo brasileiros, já que os holandeses eram considerados incapazes para tal função. Vários capitães de campo foram empregados a soldo dos holandeses (Dag. Notule de 19 de dezembro de 1637; idem de 30 de dezembro de 1637; de 21 de setembro de 1638, em nota de pé de página de Mello, 2005(?), p. 192 193).

O “Diário da viagem do capitão João Blaer aos Palmares em 1645” (in Mello, 2005(?), p. 193), dá nos informes interessantes a respeito de alguns quilombos. Fica se sabendo que, nas imediações do quilombo que Jan Blaer destruiu, tinham existido anteriormente mais dois outros. Nas palavras do autor do relatório, houve um “velho Palmares” que os negros tinham abandonado por estar situado em “local muito insalubre” e do qual se passaram para o “outro Palmares” ou “grande Palmares”, destruído por Reolof Baro e seus tapuias. Deste transferiram se eles para o “novo Palmares”, que Blaer atacou... (p. 193).

Outros documentos informam a respeito dos Palmares ... desde 1638, um deles causava sérias apreensões aos moradores de Alagoas, dos quais os quilombolas roubavam escravos e incendiavam as casas. O capitão Lodij foi encarregado de persegui los, com mosqueteiros holandeses e com índios. Do resultado, nada consta dos documentos (Dag. Notule de 26 de fevereiro de 1638, em nota de pé-de-página de Mello, 2005(?), p. 193).

Em 1642, preparou se nova expedição, desta vez chefiada por Manuel de Magalhães, pessoa conhecedora da região e respeitada pelos moradores portugueses, morador nas Alagoas. Concedeu se lhe autorização para a expedição, mas sobre o que posteriormente ocorreu, nada informam os documentos (Dag. Notule, de 20 de fevereiro, em nota de pé de página de Mello, 2005(?), p. 193).

Dois anos mais tarde, em 1644, Roelof Baro parte em expedição ao interior do país. Levava uma tropa de índios brasilianos (tupis), e os holandeses, inclusive Baro, eram quatro. Os documentos não dão pormenores, mas o caso é que os índios se amotinaram e Baro desistiu de prosseguir. Reuniu à sua gente uns cem tapuias e resolveu atacar o que ele chamou de “pequeno Palmares”. Ouçamos o escrito de Mello (2005 (?), p. 194, com base no Dag. Notule de 2 de fevereiro de 1644 e Gen. Missive ao Conselho dos XIX, datada de Recife, 5 de abril de 1644) sobre o episódio:

in www.capoeira fica.org

MELLO, José Antonio Gonsalves de. TEMPO DOS FLAMENGOS. Rio de Janeiro: Topbooks; Recife: Instituto Ricardo Brannad, 2002

DO ATLAS DA CAPEIRAGEM “NAS
50
51

A 2 de fevereiro o conde de Nassau recebia notícias de Baro, por carta datada de Porto Calvo de 25 de janeiro de 1644.Contava ele que, pretendendo atacar o ‘pequeno Palmares’, achou se imprevistamente em frente ao ‘grande Palmares’ que investiu em seguida. A luta pela posse do quilombo foi dura, tendo Baro contado cem negros quilombolas mortos. De seu lado houve um morto e quatro feridos. O sítio foi incendiado, tendo sido feitos ali 31 prisioneiros, entre os quais sete índios tupis (brasilianos) e alguns mulatinhos (mulaetjens). O quilombo estava cercado por duas ordens de estacas, e ‘era tão grande que nele moravam quase 1.000 famílias, além dos negros solteiros’. Em volta da estacada ‘havia muitas plantações de mandioca e um número prodigioso (wonderbaer) de galináceos, embora não possuíssem qualquer outro animal de maior vulto’, sendo que ‘os negros viviam ali do mesmo modo que viviam em Angola’. (p. 194).

Estas são as informações que Baro transmitiu ao Conde e que os documentos conservam... Outros quilombos surgiram no período da dominação holandesa, mas são poucas as informações sobre eles. Um estava situado na “Mata do Brasil” e os seus elementos corriam a região, em bandos, roubando e matando. O governo holandês castigava exemplarmente os que conseguia capturar: eram enforcados ou queimados vivos (Carta do Conselho de Justiça do Brasil ao Conselho dos XIX, datada do Recife, 1º. De outubro de 1644 e outras, in Mello, 2005(?), p. 195). Nassau atacou os Palmares!

BATE COXA manifestação das Alagoas, uma dança ginástica: “a dança do bate coxa não se confunde com a capoeira. Os praticantes são da mesma origem, descendentes de escravos”. Acredita Câmara Cascudo52 que o bate coxa seja mais violento, onde os dois contendores, sem camisa, só de calção, aproximam se, colocando peito a peito, apoiando se só nos ombros, direito com direito. Uma vez apoiados os ombros, ao som do canto de um grupo que está próximo, ao ouvir se o “ê boi”, ambos os contendores afastam a coxa o mais que podem e chocam se num golpe rápido. Depois da batida, a coxa direita com a coxa direita, repete a esquerda, chocando se bruscamente ao ouvir o “ê boi” do estribilho. A dança prossegue até que um dos contendores desista e se dê por vencido.

Como dissemos, nas Alagoas, o termo capoeira aparece, na imprensa, desde o final de 1870, mas com a conotação, primeiro, de mato rasteiro e depois, de cesto para carregar/transportar galinhas e outras aves, assim como termo pejorativo. Como jogo/luta a primeira referência data de 1834 Conforme GUSTAVO BEZERRA BARBOSA, em sua Dissertação de Mestrado com o título UMA POSSÍVEL “SIMBIOSE”: VADIOS E CAPOEIRAS EM ALAGOAS (1878 1911, ao citar Marques (2013), que faz menção em sua pesquisa a uma documentação recolhida no acervo da Biblioteca Nacional, na qual se destaca o pedido de “providências a respeito dos [...] pretos e capoeiras que depois do anoitecer forem encontrados com armas ou em desordem” (p. 45)53. O documento citado é datado de 1834 MARQUES, Danilo Luiz. Sobreviver e resistir: os caminhos para liberdade de africanas livres e escravas em Maceió (1849 1888). Dissertação (Mestrado em História) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.

1875 No Jornal do Pilar, edição de 30 de janeiro:

Pedimos ao snr. fiscal que por amor a hygiene publica faça desaparecer o tal brinquedo de laranginhas de muito ja caduco nos logares cevilisados e prohibido por uma postura da Camara Municipal, si não nos trahe a memoria. Sobre ser anarchronico semilhante divertimento, é fatalissimo á saude. Olhe, snr. fiscal, de um passeio ao pateo do Rozario, por occazião das novenas, que V. Mª se admirará de ver a aluvião de taboleiros desses incommodos objectos com que se diverte meia duzia de capoeiras [...] (Jornal do Pilar, 30 de janeiro de 1875, p.1).

1881 Em O ORBE54, falando sobre os criados que se contratava para serviços domésticos, há o diálogo entre duas senhoras, em que um serviçal é identificado como praticante de capoeira:

52 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.

53 MARQUES, Danilo Luiz. Sobreviver e resistir: os caminhos para liberdade de africanas livres e escravas em Maceió (1849 1888). Disseratação (Mestrado em História) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013. (file:///C:/Users/LEOPOLDO/Downloads/Uma%20possivel%20201csimbiose201d%20vadios%20e%20capoeiras%20em%20Ala goas%20 1878 1911 %20.pdf

54 O Orbe (AL) 1879 a 1900 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=260959&pesq=capoeira

1884 Em O Orbe55, edição de 28 de setembro, um leitor dirige carta à redação, comentando notícia publicada anteriormente, sobre acontecimentos em uma das cidades do interior, em que se envolveu uma alta autoridade, agredindo outra, e diz ser, a agressora, a bem de verdade, um praticante de capoeira:

55 O Orbe (AL) 1879 a 1900
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=260959&pesq=capoeira

Em O Orbe, edição de 12 de dezembro, novamente distúrbios públicos, por ocasião de exames escolares, comparados como atos de capoeiras

1885 Em O Orbe, edição de 28 de janeiro, anuncia se a partida para a corte dos deputados geraes eleitos, conservadores, em que eram comparados, seus inimigos/adversários, como responsáveis por vários atos desabonadores, como se praticantes de capoeira:

-

Em O Orbe, edição de 30 de janeiro, sob o título Variedades, e tema Segurança individual, dirigido a Carlos Rodrigues, o autor, Cypriano de Barros, fala de um atentado sofrido, tendo reagido:

Em O Orbe, de 11 de fevereiro: No domingo último, á tardinha, em plena rua do Conselheiro Sinimbú, fomos testemunha occular de mais um facto que bem denota o progresso que sob os auspícios da policia da actualidade vae se transplantando da Côrte para as ruas da nossa modesta capital. Eis o facto: Dous capoeiras, d’sses que tão bons serviços hão prestado, e talvez á esta hora estejão prestando nos arredores da cadeia velha com selectos auxiliares do governo das duplicatas na campanha do terceiro escrutinio, esmurravão se, a bom esmurrar, quando um dos taes heroes, já exausto de forças e vendo gotejar lhe o sangue de um ferimento que na lucta recebera, dá as de villa diogo, e n’uma carreira precipitada, perseguido pelo victorioso combatente, agarra se, suplicante, com o senhor alferes

pharmaceutico Anisio Gomes, que n’essa occasião passava. Aturdido com o inesperado abraço, ao qual o valiente contendor não queria respeitar, a muito custo poude o digno pharmaceutico militar desvencilhar se de ambos, e continuar o seu trajecto. E a policia? Nem por sombra se mostrou! Dorme, dorme, oh! beatifica policia!... (O Orbe, 11 de fevereiro de 1885, p. 1 2).

1886 O Orbe, edição de 26 de outubro, sob o título Jurisprudência, arroladas as testemunhas, consta a da terceira:

em O GUTENBERG56, edição de 24 de novembro, acerca de uma briga

1887 O Gutemberg, edição de 06 de outubro, consta:

56 Gutenberg : Orgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros Mutuos (AL) 1881 a 1911 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809250&pesq=capoeira

1899 na edição de 14 de novembro de O Gutemberg, acerca de festejos religiosos acontecidos:

1891 In Jornal do Penedo57, 30 de maio, é publicado o novo Código Penal, de 1890, onde se criminaliza a prática da capoeira:

57 Jornal de Penedo (AL) 1875 a 1890 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=111589&pesq=capoeira

No Jornal Cruzeiro do Norte58 também é publicado o Código Penal, na parte em que se refere aos capoeiras como infratores da lei

1892 No Jornal Cruzeiro do Norte59, edição de 10 de fevereiro, aparece a seguinte quadrinha

Apresentados à Polícia, presos, diversas pessoas, dentre eles, um capoeira, conforme A PATRIA60, de 23 de abril

1893 Em O CRUZEIRO DO NORTE, edição de 17 de fevereiro há referência a um médico, que seria capoeira, pelas atitudes que demonstrava, com acusações de roubos de bens públicos, assim como de insultos às autoridades:

58 Cruzeiro do Norte : Publica se ás quartas, sextas e domingos (AL) 1891 a 1893 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira

59 Cruzeiro do Norte : Publica se ás quartas, sextas e domingos (AL) 1891 a 1893 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira eader/DocReader.aspx?bib=809420&pesq=capoeira

60 Patria (AL) 1891 a 1892, http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=843806&pesq=capoeira

1896 Em O TRABALHO61, edição de 06 de junho, jornal de Penedo, destaca discussão de dois membros do Congresso do Estado, num xingamento comum naquelas épocas, quando se queria destratar o adversário, chamando o de capoeira:

1905 No Gutemberg, edição de 14 de outubro:

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809896&pesq=capoeira

61 O
Trabalho (AL) 1882 a 1898

19 de outubro, em O Gutemberg, noticia de prisão de uma capoeira: 24 de novembro:

1909 Junho, 15 artigo escrito por Barreto Cardoso, um intelectual, acadêmico, e cronista, que publicara seus textos em uma seção intitulada “Bosquejos”, publicada no jornal Gutenberg.

Eis aqui um chronista atrapalhado, leitor, a cata de assumptos para os seus mal acabados escriptos. As ampulhetas da semana deixaram vazar toda a areia dos seus recipientes, sem que algo de novo apparecesse, nem uma nota siquer de sensação, um facto por mais trivial que fosse, mas capaz de deixarse margem á bisbilhotice e á analyse dos chronistas aos de suicidios por amor, esmagamentos, assassinatos, etc, de todos esses factos que, embora por si só nada valham nem sejam considerados novidades, entanto, trabalhados por mãos de jornalistas, com os seus titulos em lettras garrafaes, ainda conseguem mover a piedade nas almas sensiveis. Isto quanto á parte sensacional, apenas, que é, quasi sempre a dos escandalos mundanos, cujos personagens se nos apresentam, ora de saia demitraine e chapéo Dreadnought, ora de pés descalços, brandimdo punhaes e navalhas ou esfolando a cara de algum freguez com um rabo de arraia certeiro (Gutenberg, 15 de junho de 1909, p. 1).

1917 Em O DIÁRIO DO POVO62, edição de 02 de março,

1979 em Penedo, havia um grupo de capoeira liderado pelo Professor Toinho, onde o hoje Mestre Inácio se iniciou

DÉCADA DE 1980 Em União dos Palmares, a capoeira chega na década de 1980, com Lizanel Cândido da Silva, o Mestre Jacaré, alagoano de Palmeira dos Índios, mestre de capoeira residente em Maceió/AL, início o primeiro grupo de capoeira em terras palmarinas, a Associação de Capoeira Palmares, sendo esse o único grupo na cidade durante aproximadamente uma década. Com o passar do tempo, sendo União dos Palmares uma cidade com forte potencial histórico e cultural que desperta o interesse de vários segmentos da cultura, sobretudo a capoeira, outros mestres, contramestres e professores de capoeira instalaram aqui seus grupos, e hoje chega a um total de 11 grupos de capoeira, são eles: Associação de Capoeira Palmares; 2. Grupo Abadá capoeira 3. Grupo Candeias; 4. Grupo Essência; 5. Grupo Guerreiros do Quilombo; 6. Grupo Legião Brasileira de Capoeira; 7. Grupo Muzenza; 8. Grupo Negaça; 9. Grupo Raízes de Zumbi 10. Grupo Tradição; e 11. Grupo de Capoeira Gameleira https://www.facebook.com/lbcnaterradezumbi/posts/breve hist%C3%B3ria da capoeira em uni%C3%A3o dos palmarespor roberto martins barbosaestag/457892900989483/

1981 Chegaram em Arapiraca os Mestres Lira e Bahia formandos de Mestre Grande, do grupo Dois de Ouro, de São Paulo. Mestre Inácio se matricula nessa associação, formando se em 1984

1984 Mestre Inácio, em 5 Junho funda a Academia Dragão de Capoeira; dentre seus alunos Samuel, Nó Cego, Ernandes, Catrepilha e Chapinha, Charuto e Jean Espirro, pegaram a corda de aluno graduado; Jean Espirro e presidente da Associação Arte Capoeira e Charuto e presidente da Associação Arte Brasileira. De Samuel saiu Sapulha hoje mestrando e presidente do Arte Brasil Capoeira e também saiu Hemem hoje mestre e presidente do Grupo Águia Negra e presidente da Federação Alagoana de

62 Diario do Povo : Orgão do Partido Republicano Conservador (AL) 1916 a 1917 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=215414&pesq=capoeira

Capoeira, Gato Preto também foi aluno de Mestre Inácio, dele saiu Jaminho (Vulcão), de Vulcão veio Azulão e ai por diante.

1989 GRUPO ÁGUIA NEGRA CAPOEIRA O mestre “Rimem” como é conhecido na capoeira, se trata do nosso colega Aldo, que desde os seus 12 anos vem na prática deste esporte. Aldo nasceu em Taquarana AL, em 1989 adotou Marechal Deodoro como sua cidade e desenvolveu aqui a Capoeira. Transferiu sua academia de Arapiraca que levava o nome de Associação de Capoeira Pele Negra, para o nosso município. Logo após, mudou para o nome GRUPO ÁGUIA NEGRA CAPOEIRA , como é conhecida ainda hoje, na época era localizado no prédio do antigo Alpendre Bar, passou também pela sede do Grêmio na Rua Dr. Ladislau Neto e chegou até a funcionar no pátio do Museu de Arte Sacra, lá Aldo deu muitas aulas nas práticas de defesa pessoal e assim, foi reconhecido pela sociedade Deodorense. Hoje já tem sua própria sede localizada na Rua Prefeito Júlio Lobo. O mestre “Rimem” Aldo, trouxe muitos capoerista de outras localidades para nosso município e aqui fez muitos eventos, adquirindo ainda mais experiência e conhecimento mais profundo na Capoeira, foi Vice Presidente, e hoje é o atual Presidente da FALC Federação Alagoana de Capoeira. http://www.marechalnoticias.com.br/colunas/osmar junior/surgimento da capoeira em marechal deodoro/

2000 Mestre Inácio passa a ser vice presidente da Associação Raízes de Capoeira, sendo graduado mestre. Foi grã mestre do Arte Brasil capoeira onde o presidente e o mestrando Sapulha.

2008 em homenagem a Mestre Inácio foi fundada a Associação Cultural Inácio Capoeira, na qual é grão mestre e presidente.

2011 JUNHO, 11 ASSEMBLEIA GERAL DA FEDERAÇÃO ALAGOANA DE CAPOEIRA, PRESTAÇÃO DE CONTAS DE TUDO QUE FOI REALIZADO PELA FALC DURANTE ESTA GESTÃO, ALEM DA MUDANÇA DE PRESIDENTE. A ASSEMBLEIA FOI MARCADA PALA DESPEDIA DO ATUAL PRESIDENTE (CONTRA MESTRE MARCO BAIANO) QUE FOI TRANSFERIDO PELA EMPRESA EM QUE TRABALHA PARA SÃO PAULO, FATO QUE IMPOSSIBILITOU SUA PERMANENCIA A FRENTE DA FEDERAÇÃO.

2014 Discutir a promoção e preservação da roda e dos mestres tradicionais de capoeira de Alagoas. Esse é o principal objetivo do Seminário Rota de Capoeira Palmares que levará para Maceió e União dos Palmares/ AL, nos dias 18 e 19 de novembro, importantes representantes dessa expressão que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música. O evento faz parte da programação que a Fundação Cultural Palmares (FCP MinC) preparou para as comemorações para o 20 de novembro Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Na noite do dia 18 de novembro o presidente do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho (GCAP), Mestre Moraes, e a representante do grupo Ilé Axé Legioniré Nitó Xoroqué, Mônica Carvalho, participam de um debate sobre as raízes culturais que influenciaram a capoeira, na mesa “Roda de Sotaque Candomblé, Capoeira e Samba: Um giro pela história e cultura negra no Brasil”.

2017 GUSTAVO BEZERRA BARBOSA defende sua Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pósgraduação em História da Universidade Federal de Alagoas, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História. Orientador (a): Prof. Dra. Irinéia Maria Franco dos Santos com o titulo UMA POSSÍVEL “SIMBIOSE”: VADIOS E CAPOEIRAS EM ALAGOAS (1878 1911). A pesquisa tem por objetivo investigar vadios e capoeiras em Alagoas, mais particularmente em Maceió, durante o período 1878 a 1911. Para tanto, tem como foco principal os códigos criminal (1830) e penal (1890), as posturas municipais de Maceió de 1878 e 1911, os relatórios dos presidentes da província e as informações presentes nos jornais publicados na capital alagoana nos anos finais do Império até os anos iniciais da República. A pesquisa foi feita a partir de documentação de diversas proveniências e de uma abordagem de análise qualitativa, por entendermos que esta nos permite perceber as diferentes interações sociais presentes nos contextos onde vadios e capoeiras se inserem historicamente. Toma se como hipótese nesta pesquisa a existência de uma “simbiose” entre vadios e capoeiras, observada na documentação analisada. O caminho para o desenvolvimento e análise desta questão tem como referência o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg. Através desse método efetuou se um estudo do material documental, possibilitando a aproximação da realidade pertinente à experiência de vadios e capoeiras. Por outro

lado, o método também nos ajuda a indagar as estruturas invisíveis dentro das quais, vadios e capoeiras estavam inseridos.

Amazonas é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado na Região Norte, A área média de seus 62 municípios é de 25 335 km², Sua capital é o município de Manaus. Seus limites são com o estado do Pará ao leste; Mato Grosso ao sudeste; Rondônia e Acre ao sul e sudoeste; Roraima ao norte; além da Venezuela, Colômbia e Peru ao norte, noroeste e oeste, respectivamente. A Região Metropolitana de Manaus, com população superior aos 2,7 milhões de habitantes, é sua única região metropolitana.[15]

O descobrimento da região hoje formada pelos estados do Amazonas e Pará foi de responsabilidade do espanhol Francisco de Orelhana. A viagem foi descrita apontando as belezas e possíveis riquezas do local, com os fatos e atos mais prováveis de chamar a atenção da coroa espanhola. Durante essa expedição (ocorrida à época 1541 1542), os espanhóis teriam encontrado as mulheres amazonas guerreiras as Icamiabas, sobre as quais há muita fantasia, mitos e folclores. Em 1850, no dia 5 de setembro, foi criada a Província do Amazonas, desmembrada da Província do Grão-Pará. Os motivos que levaram à criação da Província do Amazonas foram muitos, em especial, a grandíssima área territorial administrada pelo Grão Pará, com capital em Belém, e as tentativas fracassadas do Peru em ampliar suas fronteiras com o Brasil, com o apoio dos Estados Unidos. Amazonas Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Em primeiro, gostaria de salientar que, no período colonial, fora criado o Estado Colonial do Maranhão e Grão Pará, que se estendia desde o Mucuripe Ceará até as Guianas e Suriname; do Atlântico até os contrafortes dos Andes, incluindo parte do hoje Mato Grosso. Da correspondência do então Governador do Estado do Maranhão e Grão Pará e o Ministro de D. José I, Marcos Carneiro de Mendonça63 em “A Amazônia na era Pombalina”, traz nos carta de Mendonça Furtado64 a seu irmão, o Marques de Pombal, datada de 13 de junho de 1757, dando conta da desordem acontecida no Arraial do Rio Negro, com as tropas mandadas àquelas paragens, quando da demarcação das fronteiras entre as coroas portuguesa e espanhola. Afirma que os dois regimentos que foi servido mandar para guarnição eram compostos daquela vilíssima canalha que se costuma mandar para a Índia e para as outras conquistas, por castigo. A maior parte das gentes que para cá era mandada eram ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes, que principiavam logo pôr a terra em perturbação grande:

“[...] que estava uma capoeira cheia desta gente para mandarem para cá [...] sem embargo de tudo, se introduziram na Trafalha, soltando se só do regimento de Setúbal, nos. 72 ou 73 soldados, conforme nos diz o Tenente Coronel Luis José Soares Serrão, suprindo se aquelas peças com estes malfeitores [...] rogo a V. Exa. queira representar a Sua Majestade que, se for servido mandar algumas reclutas (sic), sejam daqueles mesmos homens que Sua majestade, ordenou já que viesse nestes regimentos, e que as tais capoeiras de malfeitores se distribuam por outras partes e não por este Estado que se está criando [Capitania do Rio Negro] [...]” (p. 300). (grifos do texto).

63

64 Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700 1769) foi um administrador colonial português. Irmão do Marquês de Pombal e de Paulo António de Carvalho e Mendonça. Foi governador geral do Estado do Grão Pará e Maranhão de 1751 a 1759 e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre 1760 e 1769. http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier_de_Mendon%C3%A7a_Furtado

NOTAS PARA O ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO AMAZONAS
MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A AMAZONIA NA ERA POMBALINA. Tomo III. Brasilia: Senado Federal, 2005, volume 49 C.

Matos e Cruz (2021)65 Fazem uma revisão crítica dos 49 anos de “capoeira com berimbau” no Amazonas. Temos, como produto sociocultural desta, 81 mestres radicados, 90 aparelhos difusores de capoeira, relações com mais de 40 categorias sociais, artísticas e científicas e com mais de 100 instituições públicas e privadas. A capoeira difundiu se em todas as classes sociais e faixas etárias, possui representantes nacionais e internacionais, dá origem a publicações acadêmicas, assim como a diversos tipos de mídia, e dispõe de representações de classe. Hoje, apesar de ser considerada patrimônio cultural imaterial do Amazonas, não possui uma efetiva política pública de salvaguarda. Analisando se comparativamente a formação de capoeiristas e mestres e as gerações subsequentes, foi possível interpretar os desdobramentos da capoeira na sociedade local e, assim, situá la num quadro interpretativo de sua contribuição histórica e antropológica para a afirmação da cultura popular no Amazonas.

Ciclo da Borracha (de 1880 a 1912 e de 1942 a 1945) 1899 Até a presente data, o registro mais antigo da capoeira no Amazonas é o da “capoeira sem berimbau”, em 18 de junho de 1899, data inserida no Ciclo da Borracha.

Encontramos uma primeira referencia à capoeiragem em 1872: Amasonas (AM) - 1866 a 1900 - Ano 1872\Edição
(1) Ano 1878\Edição 00211 (1) – 04 de dezembro
(AM)
1875
1888 Ano 1877\Edição 00184 (1) 23 DE MAIO
00429
Jornal do Amazonas
-
a
65 MATOS, Luiz Carlos de; CRUS, Tharcísio Santiago. A capoeira em Manaus Amazonas (1969 2021), IN Revista Entrerios, Vol. 4, n. 2, p. 15 34, (2021)
Ano 1878\Edição 00235 (1) 14 de abril
Amasonas (AM) - 1866 a 1900 - Ano 1883\Edição 00847 (1)
Jornal do Amazonas (AM) - 1875 a 1888 - Ano 1885\Edição 01031 (1)
de Manáos : Propriedade de uma Associação (AM) - 1890 a 1894
1891\Edição 00052 (1)
Diario
Ano
O Imparcial (AM) 1897 Ano 1897\Edição 00047 (1) 04 DE MAIO

A Federação : Orgão do Partido Republicano Federal (AM) - 1895 a 1900- Ano 1899\Edição 00396 (1)

1º de agosto

Commercio do Amazonas (AM) - 1870 a 1912 Ano 1899\Edição 00486 (1)

Correio do Norte : Orgão do Partido Revisionista do Estado do Amazonas (AM) - 1906 a 1912 - Ano 1906\Edição 00139 (1)

Correio do Norte : Orgão do Partido Revisionista do Estado do Amazonas (AM) - 1906 a 1912 - Ano Ano 1911\Edição 00642 (1) 13 de março

A Lanceta (AM) - 1912 a 1915 Ano 1912\Edição 00027 (1)

Ano 1914\Edição 00067 (1)

A Capital (AM) - 1917 a 1918 - Ano 1917\Edição 00094 (1)

O Madeirense : orgão dos interesses do municipio (AM) - 1918 a 1919 Ano 1918\Edição 00030 (2) Humaitá, 29 de setembro

Imparcial (AM) – 1918 - Ano 1918\Edição 00154 (1) 02 de junho

Zona Franca de Manaus (de 1967 até a atualidade) foram criados e estabelecidos em comum acordo pelos três entes federativos como ações desenvolvimentistas que visavam à ocupação do “grande vazio demográfico” da Amazônia. A capoeiragem já estava presente na região Norte do país desde a época do Império e nas primeiras décadas da República (principalmente em Belém e Manaus), consolidando se primariamente como uma modalidade de rebeldia social no formato da “capoeira sem berimbau” (BONATES, 1997, 2011, 2016). Entende se como “capoeira sem berimbau” a capoeira cuja técnica e cujo treinamento visam somente à briga de rua e/ou à defesa pessoal, com ou sem o emprego de armas.

1969 a Fundação de Cultura do Amazonas traz a Manaus, para apresentações de capoeira no Teatro Amazonas, o famoso capoeirista e lutador de vale tudo: o baiano Waldemar Santana, ou Leopardo Negro (também conhecido como Pantera Negra), com sua companhia formada pelos capoeiristas Pombo de Ouro, Tarzan (Sansão), Bando e Berimbau.

1972 A “capoeira com berimbau”, instituída a partir do ano de 1972, é a capoeira regida pelo berimbau, que atua como instrumento rei e de comando. Seu principal momento é a roda de capoeira, objetivando a ludicidade. É também conhecida como “capoeira baiana”. Cruz (2021) informa que a abrangência da “capoeira com berimbau” no estado do Amazonas atinge, desde os anos 1980, a longínqua região denominada Alto Solimões.

1972 Waldemar Santana retorna a Manaus, onde passa uma temporada de três meses. Ele realiza apresentações de capoeira na sede do Nacional Fast Clube e em excursões turísticas, ministra aulas de vale tudo na sede do Atlético Rio Negro e participa de algumas lutas.

Bonates (2011) afirma que o ano de 1972 é um divisor na história da capoeiragem no Amazonas. Justifica tal afirmação informando que, no início do segundo semestre de 1972, induzido pelo fluxo migratório causado pela Zona Franca de Manaus, o jovem goiano, aventureiro e capoeirista Julival do Espírito Santo, o Mestre Gato de Silvestre desembarca em terras manauaras e introduz de forma definitiva a capoeira comandada pelo berimbau. Inicialmente, Mestre Gato de Silvestre cria provisoriamente um nome para seu trabalho, intitulando o de Grupo de Capoeira Zumbi dos Palmares (GCZP), que se torna o primeiro núcleo de ensino de “capoeira com berimbau” no Amazonas, tendo como local de treinamento a sede do Grêmio Náutico Portugal, situada na região central de Manaus, na confluência do início da Avenida Sete de Setembro com a Rua Visconde de Mauá. O Clube Náutico Portugal era presidido pelo senhor José Brás Ferreira, o professor Brás, conhecido lutador de luta livre, boxe e outras artes marciais, que mantinha, além da prática do remo, uma academia de lutas. O filho do professor Brás, Édson Colyer Brás da Silva, o “Spartacus” (12/7/1951 11/11/1977), lutador de vale tudo e catch as catch can, levou o Mestre Gato de Silvestre para ministrar aulas de capoeira no Náutico Portugal, tornando se o seu primeiro aluno em Manaus. Logo depois, se matricularam Américo Omena, Fernando Lopes (delegado de polícia), os irmãos Marcos, Maurício e Almir Dantas, o lutador Carrasco Cearense, Magriça, Paulinho, Marcolino Salgado, Fernando Lemos de Almeida, Newton Ferreira Filho, os irmãos Wallace e José Wilson Cavalcante, entre outros.

Mestre Gato de Silvestre viveu sua pré adolescência em Goiânia, onde aprendeu capoeira regional. Depois de excursionar por várias cidades brasileiras, passou a treinar na Associação de Capoeira Vera Cruz, na capital São Paulo, com o baiano Silvestre Vitório Ferreira, o Mestre Silvestre, que em Salvador (BA), na década de 1960, era conhecido como Ferreirinha. Mestre Silvestre aprendeu capoeira, na segunda metade da década de 1950, com os Mestres Waldemar da Liberdade e Caiçara, e era frequentador do Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Foi um dos componentes do grupo que Mestre Caiçara levou para São Paulo para gravar o LP Academia de Capoeira de Angola São Jorge dos Irmãos Unidos do Mestre Caiçara 1973, Mestre Gato de Silvestre então transferiu suas aulas de capoeira para a Rua Barroso, 267, situada na área comercial da Zona 3   No dia 2 de fevereiro de 1973, Mestre Gato de Silvestre inaugura festivamente, no antigo Palacete dos Epaminondas, a primeira Academia de Capoeira do Amazonas, a Zumbi dos Palmares.4 No espaço dessa academia, o alagoano Edgar Francisco da Chaga (Mestre Chaguinha) e os amazonenses Luiz Carlos de Matos Bonates (Mestre KK Bonates) e Ivanildo da Silva

Corrêa (professor Baixinho Chiburita) deram continuidade aos seus treinamentos de capoeiragem e iniciaram se na “capoeira com berimbau” com o Mestre Gato de Silvestre

1975, tendo como núcleo gerador a Academia de Capoeira Zumbi dos Palmares, foram criados vários grupos, associações e núcleos de capoeira em Manaus. Primeiramente pelos alunos Chaguinha, KK Bonates e Ivanildo Baixinho, que contribuíram com o Mestre Gato de Silvestre, tanto de forma individual quanto coletiva, para a expansão de um modelo baiano de capoeira reconfigurado no Sudeste, introduzido pelo mestre. Com o passar dos anos, o referido modelo de capoeira dividiu se em dois grandes segmentos, denominados pela comunidade local de segmento contemporâneo e segmento tradicional, os quais detalharemos mais adiante. Houve a abertura de novos espaços de ensino de capoeira em Manaus e no interior do estado a partir da segunda metade da década de 1970 e na primeira metade da década de 1980, pela ordem de fundação: “Unidos de Nagô”, fundado por Chaguinha e Baixinho; “Oxumaré” (de curtíssima vida), fundado por Chaguinha e KK Bonates; “Bantus de Angola”, fundado por Chaguinha, Washington Maguila, Roberto Banana e Marcos Dentinho; “Alma Negra”, fundado por KK Bonates

1980, uma segunda geração de difusores alunos da primeira geração e capoeiras vindos de outros estados – deu continuidade ao processo de propagação do ensino da capoeira no Amazonas, tanto na capital quanto no interior, e, nacional e internacionalmente. Esse processo se deu de forma desordenada e sem critérios comunitariamente estabelecidos, resultando, em muito, na perda ou no distanciamento da proposta pedagógica inicial de capoeira ensinada por Mestre Gato de Silvestre 49 anos de existência da “capoeira com berimbau” no Amazonas, é possível apontar como produto cultural e social: 81 mestres radicados no Amazonas, 90 aparelhos difusores da capoeira (academias, associações, escolas e grupos), relações com mais de 40 categorias sociais, artísticas e científicas e com mais de 100 instituições públicas e privadas. Registra se a presença de alguns mestres de capoeira não radicados no Amazonas, baianos ou não, que aqui deixaram sua contribuição para o enriquecimento cultural da capoeiragem no Amazonas, tanto para o segmento contemporâneo quanto para o segmento tradicional:

a) Segmento contemporâneo: Gato da Senzala, Juanito Baiano, Profeta, De Menor, Jelon, Camiseta, Nagô, Carioca, Rodolfo, Almir das Areias, Marcos Alabama, Squisito, Índio, Albino, Suassuna, Romão, Mão Branca, Beto “Boneco” Simas, Barrão, Kall, Niltinho, Escorpião, Huck, Cuité, Negro Ativo, Luiz, Tiroteio, Sabará, Cobrinha, Porrada, Nem, Museu, Beija Flor, Aranha, Macula, entre outros.

b) Segmento tradicional: Silvestre Ferreirinha, João Pequeno, Augusto Demolidor, Boca Rica, Lua de Bobó, Moa do Katendê, Nhô Plínio Garoa, Zequinha de Piracicaba, Dinelson, Djop Corta Capim, Jogo de Dentro, Cobrinha Mansa, Valmir, Jurandir, Renê Bitencourt, Decânio, Vermelho 27, Vermelho Boxel, Miguel Preto, Nenel Machado, Preguiça da Filhos de Bimba, Hélio Xaréu, Boinha Boaventura, Pombo de Ouro, Itapoan, Onça Negra, Deputado, Saci de Bimba, entre outros.

BONATES, Luiz Carlos de Matos. “A capoeiragem na tribo dos manaós”. O Muhra Secretaria de Cultura, Esportes e Estudos Amazônicos, ano I, (1), 1997, n. p.

BONATES, Luiz Carlos de Matos. “A capoeiragem baré”. In: SAMPAIO, Patrícia Melo (org.). O fim do silêncio: presença negra na Amazônia. Belém: Açaí/CNPq, 2011. pp. 79 102.

BONATES, Luiz Carlos de Matos. “A capoeiragem no Amazonas (1905 a 1980)”. In: PIRES, Antônio Liberac Cardoso Simões et al. Capoeira em múltiplos olhares: estudos e pesquisas em jogo. Cruz das Almas: EDUFRB; Belo Horizonte: Fino Traço, 2013. pp. 163 182. (Coleção UNIAFRO).

BONATES, Luiz Carlos de Matos. Visibilidade da palavra capoeira enfatizada como luta nos jornais do Amazonas no período de 1852 a 1999. Relatório de pesquisa (termo aditivo ao termo de doação número 15/2015). Programa de Apoio às Artes, Secretaria de Cultura do Amazonas, 2018.

BONATES, Luiz Carlos de Matos; CRUZ, Tharcísio Santiago. Capoeira: o patrimônio gingado do Amazonas e sua salvaguarda. Manaus: IPHAN, 202

CRUZ, Tharcísio Santiago. A capoeira no Alto Solimões: corpo, identidade e interação social. Tese de Doutorado. PPGAS, Universidade Federal do Am

ALGUMAS NOTAS SOBRE A CAPOEIRAGEM NA BAHIA –PARA O ATLAS DA CAPOEIRAGEM

Ano 1849\Edição 00082 (1) Correio Mercantil : Jornal Politico, Commercial e Litterario (BA)1836 a 1849

Ano 1851\Edição 00077 (1) A Verdadeira Marmota : Do Dr. Prospero Diniz (BA) - 1851 a 1852

Ano 1851\Edição 00090 (1) 19 de novembro

Ano 1856\Edição 00025 (1) - 19 de setembro

O Constitucional : Folha Politica, Litteraria e Commercial (BA) - 1851 a1864

00001 (1)
(BA) - 1873 a 1887
12 de agosto
Ano 1876\Edição
Annaes da Assembléa Legislativa Provincial da Bahia
Ano 1877\Edição 00115 (1)
Correio da Bahia : O Correio da Bahia é propriedade de uma Associação (BA) - 1871 a 1878
Ano 1878\Edição 00191 (1) 20 de janeiro O Monitor (BA) - 1876 a 1881 Ano 1881\Edição 00001 (1) - O Encouraçado : Vida com honra ou morte com gloria (BA) 1881 -

Ano 1885\Edição 00245 (1) 31 de outubro Gazeta da Bahia : A "Gazeta da Bahia" é propriedade de uma Associação (BA) - 1879 a 1886

Ano 1890\Edição 00099 (1) 03 de junho Pequeno Jornal (BA) - 1890 a 1893

Ano 1890\Edição 00199 (1) 4 de outubro Pequeno Jornal (BA) - 1890 a 1893

Ano 1891\Edição 00267 (1) 03 de janeiro

Ano 1891\Edição 03352 (1) ornal de Noticias (BA) - 1891 a 1898

Ano 1897\Edição 00305 (1) 30 de dezembro Cidade do Salvador (BA) - 1897 a 1899

Ano 1898\Edição 00005 (1)

Ano 1889\Edição 00044 (1) 24 de fevereiro Diario da Bahia : O Diario da Bahia é propriedade de uma Associação (BA) - 1882 - 1889

Ano 1904\Edição 00036 (1) - Gazeta Médica da Bahia : Publicada por uma Associação de Facultativos (BA) - 1867 a 1905

Ano 1912\Edição 00036 (1) 13 de outubro Gazeta de Noticias : Sociedade Anonyma (BA) - 1912 a 1914

Ano 1914\Edição 00037 (1) A Noticia : Nosso Programma - nossa rota, nosso escopo (BA) - 1914 a 1915

Ano 1919\Edição 00006 (1) A Hora : Diario Vespertino - Politico e Independente (BA) – 1919

Ano 1919\Edição 00046 (1) – 03 de março

Ano 1920\Edição 00130 (1) 18 de setembro - A Manhã : Propriedade da Sociedade Anonyma "Diario de Noticias" (BA) 1920 a 1921

Ano 1929\Edição 00079 (1) c. (BA) 1929 a 1934

Ano 1929\Edição 00134 (1)

Ano 1932\Edição 00196 (3)
Ano 1932\Edição 00196 (3)

Ano 1935\Edição 01394 (1) O Imparcial : Matutino Independente (BA) – 1935

Ano 1935\Edição 01491 (1) – 24 de outubro O Imparcial : Matutino Independente (BA) 1935

Ano 1935\Edição 01498 (1) – 31 de outubro O Imparcial : Matutino Independente (BA) 1935
Ano 1935\Edição 01504 (1) 06 de novembro O Imparcial : Matutino Independente (BA) – 1935
Ano 1935\Edição 01538 (1) 10 de dezembro

Ano 1948\Edição 00776 (1) O Momento (BA) - 1948

Ano 1950\Edição 0011 0012 (1) Unica : quinzenario illustrado : mundanismo, esportes, cinema, actualidades (BA) - 1925 a 1953

Ano 1951\Edição 0003-0004 (1)

DE CAPOEIRAGEM NO CEARÁ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

RESUMO

A Capoeiragem no Ceará, como em quase todos os estados brasileiros, tem sua origem obscura, incerta. Busca se desvendar esta memória/história, contribuindo com a revelação dos primeiros indícios, tendo por base fontes primárias, registradas nos primeiros jornais e seus registros sobre a atuação dos capoeiras alencarinos.

[...] Os capoeirista cearenses se destacam no cenário mundial da Capoeira, mas muitos de sua gênese, em Terra Alencarina, está obscura. Sabe se que essa manifestação cultural tem origem incerta, seu primeiro aparecimento em vários pontos do Brasil, sobretudo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Mais recentemente tem se apontado para a possibilidade de outros estados estarem envolvidos em sua gênese, ainda não é o caso do Ceará, não há registro nesse sentido, apenas meras conjecturas. In “HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO CEARÁ” disponível em https://fundacao axe dende.webnode.com/historia da capoeira no ceara/

Outro dia, pedi para entrar na Roda e desafiei Mestre Pezão, que refugou. Ao anunciar evento de Capoeira em Tianguá, postei uma história da Capoeira no Piauí, e Pezão disse não ter sentido, a publicação. Disse lhe, então, que era para servir de exemplo, para o resgate da memória da capoeira no Ceará e, quem sabe, a construção do Atlas da Capoeira no Ceará este o desafio!!! Em resposta, mandou me uma lista de Mestres, que poderiam constituir o Livro Álbum dos Mestres Capoeiras do Ceará, a exemplo do que se faz no Maranhão66 ...

Na construção do Atlas do Esporte no Brasil67, o termo Capoeira(gem)68 aparece referenciado; no Atlas do Maranhão69, também.

Pois bem, apresento uma primeira contribuição, para ver se surte efeito a provocação. Busco as referencias em jornais da época, disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional70, utilizando me da busca pelo local no caso: CE; e em todos os periódicos e todas as datas em que foram publicados, utilizando o termo de busca ‘capoeira’; encontrou se:

Nome

709506

Descrição

Páginas Ocorrências

O Cearense (CE) 1846 a 1891 24325 84

103950 Gazeta do Norte : Orgão Liberal (CE) 1880 a 1890 9174 21

229865

216828

Libertador : Orgão da Sociedade Cearense Libertadora (CE) 1881 a 1890 5378 20

Pedro II (CE) 1840 a 1889 12594 17

66

234702

A Lucta (CE) 1914 a 1924 2406 11

A Ordem : Trabalho e justiça (CE) 1916 a 1933 3746 11 720763

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. Disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_ _issuu

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE. Inédito’

67 O Atlas do Esporte no Brasil é a maior base de dados de acesso gratuito em língua portuguesa, com resumos em inglês, abrangendo a Educação Física, esportes e atividades físicas de saúde, lazer e turismo. Os dados são produzidos como serviço à comunidade, sem remuneração, por autores voluntários, por iniciativa do Conselho Federal de Educação Física e Conselhos Regionais de Educação Física. Disponível em www.atlasesportebrasil.org..br ; http://www.atlasesportebrasil.org.br/index.php ; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/1.pdf

68 http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf 69 http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf ; http://cev.org.br/biblioteca/atlas esporte maranhao/

70 http://memoria.bn.br/DocReader/docmulti.aspx?bib=%5Bcache%5D228670.6326852.DocLstX&pesq=capoeira

INDÍCIOS

801399

235334

764450

A Republica : Fusão do Libertador e Estado do Ceara (CE) 1892 a 1897 5836 10

A Constituição (CE) 1863 a 1889 6830 6

A Razão : Independente, Politico e Noticioso (CE) 1929 a 1938 11784 6

O Ceará (CE) 1928 2759 6 168092

765198

A Cidade (CE) 1899 a 1904 1836 4 144843

Revista Trimensal do Instituto do Ceará (CE) 1887 a 1900 4030 3 231894

Jornal do Ceará : Politico, Commercial e Noticioso (CE) 1904 a 1911 3425 3

706752

Imperio do Brasil: Diario do Governo (CE) 1823 a 1833 4420 3

O Sol: jornal litterario, politico e critico (CE) 1856 a 1898 742 3 720631

709450

O Jornal (CE) 1932 a 1935 444 3 714380

Gazeta do Sobral : Orgão Imparcial (CE) 1881 a 1888 209 2 166693 Patria (CE) 1910 a 1915 1159 1

166731 Revista da Academia Cearense (CE) 1896 a 1901 1460 1 180238

A Nota (CE) 1917 a 1921 2266 1 215473

Maranguapense : Jornal Litterario, Commercial e Noticioso (CE) 1874 a 1875 184 1

247111

404098

494712

701700

721255x

766275

770507

770558

778451

800015

800040

814741

815209

817295

Gazeta Official : A Gazeta Official do Ceara (CE) 1862 a 1864 737 1

O Commercial : Jornal dos Interesses Commerciaes, Agricolas e Industriaes (CE) 1845 a 1860 728 1

Ipu em Jornal : Castigat Ridendo Mores (CE) 1957 a 1962 340 1

O Juiz do Povo (CE) 1850 a 1851 226 1

O Rebate : jornal independente (CE) 1907 a 1913 1140 1

Pyrilampo (CE) 1874 79 1

A Pilheria : Jornal Critico (CE) 1897 8 1

O Retirante (CE) 1877 a 1878 151 1

O Tagarella : jornal livre, critico e noticioso (CE) 1865 124 1

Mensagem Apresentada á Assembléa Legislativa (CE) 1936 a 1960 1408 1

Diario da Manhã (CE) 1929 541 1

José de Alencar : Orgão da Sociedade Litteraria José de Alencar (CE) 1892 a 1893 8 1

O Republicano (CE) 1895 a 1896 52 1

Almanach Administrativo, Estatistico, Mercantil, Industrial e Literario do Estado do Ceará (CE) 1896 a 1902 2091 1

Nome Descrição
Ocorrências
Páginas

No jornal cearense “Pedro II”, do ano de 1852, edição 1090, aparece como se referindo a uma localidade, Capoeira do Araújo, a mesma que aparece por essa época em vários jornais, quando da construção de uma estrada. Aparece também em diversos folhetins de Camilo Castelo Branco, referindo se a mato rasteiro, e este abaixo, transcrito da edição de 26 de janeiro de 1872, de um folhetim de José da Silva Mendes Leal, em que explica o termo ‘capoeira’ como sendo mato rasteiro, várzea:

Temos que concordar com a Profa. Lurdinha71, quando fala da “Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística”:

[...] a professora elenca o que ela denomina de “furadas turísticas” e coloca a Capoeira figurando nessa lista, assim como o Carnaval fora de época, o Fortal, os Resorts etc. Afirma que quando se apresenta um grupo de Capoeira, divulga se a Bahia e não o Ceará. Em verdade, pensa se a Capoeira como sendo baiana, talvez pela divulgação da Capoeira que se tem hoje ter sido realizada em grande parte por mestres baianos. Porém, como já foi supracitado, o próprio Dossiê realizado pelo IPHAN não a reconhece como prática oriunda da Bahia e o Governo Federal a reconhece como Patrimônio Imaterial do Brasil. Também é verdade que a Capoeira desenvolvida no Ceará é muito jovem. Poucas ou quase nenhuma cantiga de Capoeira faz referência ao Ceará, mesmo já havendo uma produção cearense divulgada fora do Estado. Dizer que a Capoeira, praticada aqui, é da Bahia é um ledo engano, ou melhor, desconhecimento do assunto. Até porque, existem grupos oriundos do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, etc e que trazem inúmeras características desses Estados. Em qualquer bairro da cidade de Fortaleza percebe se essa manifestação cultural como prática em ambientes fechados ou em praça pública. Essa cultura que é desenvolvida no Estado é bastante conhecida no exterior por ser uma capoeira solta, estilizada e cheia de floreios72 .

MEMÓRIA DA CAPOEIRAGEM NO CEARÁ73

71 MACENA, Maria de Lourdes. Valorização dos grupos folclóricos, dos artesãos e artistas populares cearenses na divulgação turística. In I Fórum IOV Ceará de Folclore e Artes Populares. Fortaleza CE. 2011. 72 In I FÓRUM DE FOLCLORE E ARTES POPULARES NA CIDADE DE FORTALEZA IOV Ceará, Internacionale Organisation für Volkskunst/Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, 18 e 19 de março de 2011 73 https://www.youtube.com/watch?v=E0QF4QR fHQ

Ao se resgatar a Memória da Capoeira no Ceará, aqui proposta e espero podermos dar continuidade à ela podemos afirmar que a capoeira cearense é herdeira da capoeiragem tradicional maranhense?

Pois conforme afirmam seus memorialistas e pesquisadores, a cearense é diferente da baiana, embora tenha bebido da mesma fonte, a partir da diáspora dos mestres baianos nos anos 1960, e a procura de mestres de vários estados, já pesquisados, pela capoeira praticada na Bahia, em especial as de Bimba e Pastinha. Para Silva (2013) 74, poucos são os trabalhos científicos que abordam a história da capoeira cearense. Cita três obras elaboradas na contextura do universo acadêmico da cidade de Fortaleza Barroso (2009) 75 , Câmara (2010) 76 e Albuquerque (2012) 77 .

A primeira obra trata se de uma publicação do Museu Histórico do Ceará, enquanto a segunda e a terceira são textos dissertativos submetidos à avaliação dos programas de pós graduações strictu sensu da Universidade Federal do Ceará. Ambas as dissertações destinam a essa temática um capítulo, em que se referem à origem da História da Capoeira no Ceará abordando teorias sobre o início da prática no Estado. Barroso (2009) aponta que a capoeira chegou à década de 1960 ao Ceará, e que essa informação foi proferida por capoeiristas cearenses, assim como capoeiristas baianos teriam mencionaram o mesmo dado durante o encontro Capoeira Viva, realizado na cidade de Salvador em 2007. O autor também informa que a capoeira foi trazida por cearenses recém formados em Direito e Medicina da Universidade Federal da Bahia. Posteriormente menciona que a Capoeira Angola foi trazida ao estado por um médico nomeado mestre Andrezinho, aluno de mestre Bimba. De imediato, não faz o menor sentido tal informação, já que mestre Bimba é criador e maior símbolo da Luta Regional Baiana, popularmente conhecida como Capoeira Regional. Mestre Bimba foi um crítico ferrenho do estilo angoleiro de jogar capoeira. (de acordo com SILVA, 2013).

Silva (2013) fala ainda de evidências das origens do ensino da capoeira no Ceará foram relatadas em Albuquerque (2012), páginas de 37 a 40.

Dentre os fatos mais antigos, foi mencionada a participação de José Sisnando Lima, cearense que realizara estudos na Faculdade de Medicina da Bahia, na criação da Capoeira Regional na década de 1930. A passagem de mestre Bimba em Fortaleza para apresentar o espetáculo Uma noite na Bahia no Teatro José de Alencar em 7 de fevereiro de 1955, evento em que foi mostrado também a capoeira regional. E a afirmação de que o primeiro professor de capoeira no estado a formar discípulos que deram continuidade ao ensino dessa prática em território cearense teria sido José Renato de Vasconcelos Carvalho. De acordo com Albuquerque (2012) não existem levantamentos estatísticos acerca da quantidade de grupos de capoeira no Estado do Ceará, fato que comprova uma grande difusão dessa manifestação cultural na atualidade.

Ainda Silva (2013), ao analisar o trabalho de Câmara (2010), que tem como foco de estudo o Grupo de Capoeira Angola do Ceará, traz um esboço da história de vida de Mestre Zé Renato.

https://www.youtube.com/watch?v=TaOugpBkeSQ http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/ie camara/cultura/lancamento de livro que conta historia da capoeira ce nesta quarta 22/ http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/6035/1/2013 DIS SCSILVA.pdf

74 SILVA, Sammia Castro.. PROTAGONISTAS NO ENSINO DA CAPOEIRA NO CEARÁ: relações entre lazer, aprendizagem e formação profissional. Dissertação submetida à Coordenação do Programa de PósGraduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: História e Memória da Educação. Orientador: Prof. Pós Dr. José Gerardo Vasconcelos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO FACED PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA/ MESTRADO NÚCLEO DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO. FORTALEZA (CE) 2013

75 BARROSO, Oswald. Folguedos afro brasileiros no Ceará: uma aproximação com a capoeira no Ceará. In: HOLANDA, Cristina Rodrigues (org.). Negros no Ceará: história, memória e etnicidade. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secult/ Imopec, 2009.

76 CÂMARA, Samara Amaral. Práticas educacionais transmitidas e produzidas na capoeira angola do Ceará: história, saberes e ritual. Dissertação de Mestrado em Educação Brasileira Núcleo de História e Memória da Educação. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010.

77 ALBUQUERQUE, Carlos Vinícius Frota de. Tá na água de beber: Culto aos ancestrais na capoeira. Fortaleza, 2012. Dissertação (Mestrado em Sociologia) Programa de Pós Graduação em Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará.

Dentre as afirmações mencionadas, é possível deduzir primordialmente o estilo angoleiro do jogo desse mestre, além de também ser reafirmada a importância do 55 repasse de conhecimentos e saberes da capoeira na década de 1970. O protagonismo de José Renato no ensino da capoeira mostra se de grande relevância, contribuindo para a crescente popularização da prática. Nesse trabalho são citados os quatro mestres que Zé Renato formou, porém a história da capoeira na perspectiva desses mestres não foi abordada em nenhum momento. Isso ocorre porque eles não possuem relação direta com o grupo de capoeira estudado, conferindo ineditismo a este texto. A partir desse momento iniciaremos maior aprofundamento sobre o protagonismo no ensino da capoeira cearense. Como já dito, o foco desta pesquisa se restringe aos quatro mestres formados por José Renato de Vasconcelos Carvalho, José Ivan, Jorge Negão, Everaldo Ema e João Baiano. Procuraremos, entretanto, elucidar brevemente o questionamento de alguns capoeiristas mais antigos sobre a hipótese de a capoeira cearense haver se manifestado anteriormente pela orla marítima de Fortaleza.

Para Ricardo Nascimento (2017)78, utilizando as pesquisas disponíveis sobre as origens da capoeira no Ceará, diz ser possível afirmar que, seu início, ocorreu nos anos 70 com José Renato de Vasconcelos Carvalho, conhecido na capoeira como Mestre Zé Renato, considerado, desse modo, o precursor da capoeira no estado (SILVA, 2013).

Esta pesquisa revela ainda que, nos anos setenta, quando teve início o ensino da capoeira no Ceará, destacou se o Centro Social Urbano Presidente Médici, em Fortaleza, onde ensinava o Mestre Zé Renato, lugar também onde teriam sido iniciados e formados outros quatro importantes mestres: José Ivan de Araújo (Mestre Zé Ivan), João de Freitas (Mestre João Baiano), Everaldo Monteiro de Assis (Mestre Everaldo Ema) e Jorge Luiz Natalense de Sousa (Mestre Jorge Negão). Coube a tais mestres, nas décadas que se seguiram, a tarefa de difusão da prática da capoeira na capital cearense, bem como em outras partes do estado.

A principal referência, hoje, e recente, da capoeira cearense é Mestre Zé Renato, que ainda na década de 1960 retorna ao Ceará, após haver aprendido capoeira na Bahia, embora já tivesse contato com a mesma, de sua infância, em Fortaleza: Silva (2013) nos traz o seguinte relato: José Renato de Vasconcelos Carvalho, conhecido por mestre Zé Renato protagonista no cenário da capoeira cearense, natural de Crateús CE é filho primogênito, dentre os sete que Joaquim Severiano Ferreira de Carvalho e Vicência Vasconcelos Carvalho criaram. Conheceu o universo da capoeiragem, aos dez anos de idade. Protagonista no ensino da capoeira no Ceará narra o cenário do primeiro contato que teve com a capoeira na cidade em que nasceu. Por volta de 1960, chegaram a Crateús muitos militares para o 14 Batalhão de Engenharia de Construção. Entre esses, havia Cipolati, sargento gaúcho que havia residido na Bahia por longa temporada, pai de Carlos e Evandro e ex-aluno de um famoso capoeirista, mestre Bimba. Cipolati foi o responsável por iniciar Zé Renato na prática da capoeira. A capoeira fazia parte das atividades em família do sargento Cipolati, pois esse treinava após o regresso do trabalho junto aos filhos. Ao ver a capoeira pela primeira vez, José Renato apaixonou se e iniciou seus treinos com determinada família.

Carvalho Filho (1997) conta que:

[...] um militar que chegara à cidade [Fortaleza] vinha da Bahia e trazia consigo a arte da capoeira. O Mestre muito curioso fazia perguntas sobre a cidade do baiano, encantara se com a ginga e com a habilidade do mesmo. Depois de terminado o primeiro grau, atual ensino fundamental, o Mestre inicia suas viagens pelo mundo da Capoeira, vai para a Bahia e conhece o famoso Mestre Bimba. Mestre Zé Renato terminou o Segundo Grau, atual Ensino Médio, em Ilhéus, onde jogava Angola na praia. Todo final de semana estava em Salvador para jogar na capital. Em 1967, retorna à sua terra natal. Mas com seu espírito inquieto, vai ao Rio de Janeiro, onde treinou com Mestre Leopoldina, grande nome da capoeira carioca.

[...]Zé Renato defronta se com a saída da família Cipolati da cidade, em decorrência de deslocamento militar. Desse modo procura novos companheiros de treino e, apesar da

78 NASCIMENTO, Ricardo. Políticas e performances: Um estudo de caso sobre o processo de patrimonialização da capoeira do Ceará. IN ACENO, Vol. 4, N. 7, p. 65 82. Jan. a Jul. de 2017. ISSN: 2358 5587. Cultura Popular, Patrimônio e Performance (Dossiê).

insistência em tentar convencer amigos a treinar, mestre Zé Renato passou a treinar sozinho. [...] aquilo ficou dentro de mim e por outra sorte, que eu digo que foi sorte, eu tinha um tio que também era sargento do exército, sargento Carvalho, passou a servir o exército lá em Crateús e certo tempo foi mandado pra Bahia. Ele tinha um filho, e pedi para ele pedir o meu pai pra eu ir com ele. Porque eu pensei, Bahia! Capoeira né! (CARVALHO, 2012).

Depois de retornar, em 1967, volta a procurar novas referencias, indo para o Rio de Janeiro e, em 1971, está no Maranhão!!!

Silva (2013) nos conta, ao dar continuidade a trajetória de José Renato, que é importante ressaltar que nesse período que passou na Bahia adquiriu uma meta na vida, que era partir para o Rio de Janeiro e posteriormente para o Maranhão:

De volta a Crateús e à família, porém permanece por quase um ano na terra natal, para logo em seguida partir para o Rio de Janeiro, aos 18 anos de idade, devendo ter ficado nesse Estado por volta de três anos. No Rio, foi jogar capoeira na Central do Brasil com o famoso mestre Leopoldina. Conhecido por Ceará e pelo jogo diferenciado, Zé Renato dedica se ao aprendizado da capoeira em solo carioca, adquirindo sempre novos conhecimentos.

Ainda seguindo Silva (2013), pouco tempo depois, ao surgir uma oportunidade de trabalho no Maranhão, na área de topografia, o jovem José Renato ficou tentado atingir mais outra meta na vida que era a de conhecer o “berço de negros”, como ele mesmo diz: As experiências do Maranhão pelos idos de 1970 gravitavam ao redor de práticas de capoeira Angola, Tambor de Crioula e de todas as manifestações de que pôde participar. Amante das artes popularescas, Zé Renato defendeu a ideia de que naquela época os praticantes viam capoeira como arte, apenas isso.

Mestre Sapo é a principal referência, renovando a capoeiragem maranhense, com uma fusão dos estilos, pois pertencera a um grupo folclórico que se apresentava pelo Nordeste. Ao se estabelecer no Maranhão, encontra uma capoeira jogada na rua capoeiragem de há muito existente, pelo menos desde a década de 1820. Ao misturar os estilos baianos, Angola e Regional, conforme o opositor, e misturá la aos ritmos e balanceios do folclore maranhense, em especial do tambor de crioulo(a), onde acontecia a Punga dos Homens espécie de capoeira primitiva , criando um ‘estilo’ próprio, que vai se consolidar com seus discípulos, em especial Patinho.

Já em Brasília, para onde se mudara, e após observar a capoeira praticada naquela cidade, declara:

[...] ter tomado conhecimento de que o estilo regional estava sendo popularizado e praticado em Fortaleza [...] ele ressalta a importância da união entre o jogo baixo angoleiro e do jogo alto da regional e descreve que a sucessão de movimentos da capoeira se torna, desse modo, um movimento em onda com maiores possibilidades de ataque, defesa e malícia.

Os pesquisadores cearenses, que se dedicam ao resgate da sua memória confirmam que ela, a capoeira, praticada no Ceará é ‘cheia de floreios”... não teria sido influência de Sapo?

A Capoeira cearense é uma prática cultural, onde a luta e o espetáculo se misturam. Fortaleza, cidade praiana, é um cenário ideal para a prática de acrobacias que são aprendidas sem técnicas específicas nas praias aos domingos ou nos campos de futebol da cidade. Os movimentos acrobáticos, ou floreios, como são chamados pelos capoeiristas são utilizados para transformar o jogo em um espetáculo aos olhos de quem o vê. São movimentos de equilíbrio e flexibilidade como saltos, bananeiras e giros onde o capoeirista desafia seus limites corporais mostrando uma imensa capacidade sinestésico corporal. O capoeirista executa esses movimentos também na intenção de enganar o outro jogador e de se movimentar de um lado para o outro da roda.

É o próprio Zé Renato que inclui a influência do samba de gafieira, atividade tradicional que acontece de forma autêntica na região da Barra do Ceará desde meados da década de 50 do século XX: Pouca gente vai

entender agora, mas um dia quando eu partir é que vão descobrir que o gingado cearense tem um diferencial dos outros, vem da gafieira [...] Mestre Armandinho que é uma pessoa de fora observou que nossa capoeira é diferente... Essa ginga trouxe esse diferencial. (CARVALHO, 2012).

Em 1972, Mestre Zé Renato regressa a Fortaleza, e começa o processo de implantação da capoeira no Estado. Ensinou nas Escolas Oliveira Paiva e Castelo Branco. Apresentou se na TV, divulgando a cultura afro brasileira. Teve como primeiro aluno Demóstenes. Devem ser também lembrados por serem cofundadores Jorge Negão, Everaldo, João Baiano, Márcio, Sérgio, Zé Ivan, George, Juarez, Datim, Antônio Luiz.79

Nas décadas de 1980/90, em Fortaleza só havia dois grupos de capoeira, Senzala e Zimbi80. Neste apareciam nomes como Espirro Mirim, Geléia, Jean, Soldado, Lula, Ulisses, figura como Paulão, Canário, Dingo, Gamela, Araminho, Gurgel.

José Olímpio Ferreira Neto, em sua dissertação intitulada “A HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO

CEARÁ

NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 ATRAVÉS DA MEMÓRIA E ORALIDADE” 81 nos traz que o ponto de partida é a participação do cearense Cisnando na constituição da Capoeira Regional de Mestre Bimba:

Ele era um jovem que foi estudar Medicina na Bahia, pois na época não havia tal curso no Ceará. Lá conheceu Manoel dos Reis Machado, o famoso Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional. No documentário Mestre Bimba: A Capoeira Iluminada de 2007, o Mestre de Capoeira, Doutor Decânio fala sobre Cisnando e o início da Capoeira Regional. Referindo se a história da Capoeira de Bimba, ele diz: “A história começa para mim, quando Cisnando chega na Bahia. Ele corre aos capoeiristas, só encontrou um que ele respeitou, que era um negão, que era carvoeiro na Liberdade, que era Bimba” (sic).

Cisnando foi um capoeirista que contribuiu para a história da Capoeira, mas infelizmente não desenvolveu trabalho no Ceará e até onde se sabe não formou discípulos.

Em 1997, é publicada em Fortaleza, a história do Mestre Zé Renato através de um cordel de autoria de José Bento de Carvalho Filho, vulgo Zelito. O referido autor conta através de versos a história do Mestre Zé Renato, relatada pelo mesmo e confirmada pelos capoeiristas e alunos que conhece tão admirável nome que inicia a caminhada da Capoeira na Terra da Luz: Em vinte e quatro de maio, / De cinqüenta e um nasceu,/ Em Crateús e cresceu / Na arte fazendo ensaio, / Para brilhar como um raio,/ O artista Zé Renato; / Mestre

79 CARVALHO FILHO, José Bento de. Capoeira: a história do Mestre Zé Renato. Literatura de cordel. Fortaleza CE, 1997.

80 QUEIROZ, Robério. Mestre Ratto. Disponível em: acessado em 30/05/2011.

81 Disponível em http://www.uece.br/eventos/encontrointernacionalmahis/anais/trabalhos_completos/52 5434 26082012

FOTO: Bimba y Cisnando FUENTE: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp020539.pdf
231518.pdf

em artesanato/ E também em capoeira,/ Essa luta brasileira/ Feita por negros no mato . (CARVALHO FILHO, 1997, p. 1)

Além do Mestre Zé Renato outro mestre que contribuiu para o início do desenvolvimento da Capoeira cearense foi o Mestre Esquisito. Ele trouxe o estilo Regional ao Estado. Onde tem atualmente o Grupo Terreiro que contou em seu elenco com os saudosos Mestres Soldado e Samurai. Este último deu uma contribuição para o ingresso na Capoeira no meio acadêmico. (CARVALHO FILHO, 1997).

A Associação Zumbi do Mestre Everaldo tem entre seus Mestres associados, Lula, Ulisses, Júnior, Jean, Geléia e Wladimir. Este último mora no exterior, divulgando a capoeira do Ceará. O Mestre Lula atua na Prefeitura de Fortaleza ajudando capoeiristas, de qualquer grupo, a desenvolverem projetos na cidade. (CARVALHO FILHO, 1997).

O Mestre Ulisses atua no Centro Social do Bairro Henrique Jorge. Os demais também dão sua contribuição através de aulas e rodas. (CARVALHO FILHO, 1997).

Carvalho Filho (1997) não deixa de citar também o Mestre Paulão do Ceará que na década de oitenta divulgou bastante a Capoeira no Estado, indo para o exterior no início dos anos 1990. Ele teve discípulos como os mestres: Ratto, Zebrinha, Ferrim, Picapau, Envergado, dentre outros que formaram seus grupos. E outros como Kim, Cibriba, Marcão, Juruna que continuam a divulgar a Capoeira do estado no Brasil e no Exterior

Para Ferreira Neto (?) 82, outro nome que é destaque mundial é o Mestre Espirro Mirim. Ele iniciou na Capoeira em 1979, com o Mestre Everaldo, do Grupo Favela, que mais tarde mudou o nome para Grupo Zumbi. Em uma matéria de uma revista especializada em Capoeira o Mestre Mirim (2001, p. 25) diz o seguinte: “Em 1984, fui formado pelo Mestre Everaldo, porém eu não parei de treinar […] resolvi viajar para o Rio de Janeiro […] onde treinei no grupo Palmares com os Mestres Branco e Gomes”. Lá quiseram colocá lo para dar aulas, mas ele queria aprender mais, então foi para São Paulo, onde se identificou com o Mestre Suassuna com o qual está até hoje. Em 1988, Espirro Mirim formou se professor pelo Grupo Cordão de Ouro, ano em que trouxe o grupo para Fortaleza e começou seu trabalho. Em 1991, ele recebeu o título de Mestre, depois de pouco mais de uma década de treino. O Mestre Espirro Mirim inicia sua carreira internacional em 1992 quando vai para São Francisco nos EUA, através do Mestre Caveirinha, para ministrar cursos para os americanos, retornando diversas vezes. Em 1996, foi para Israel também através do Mestre Caveirinha. Realiza seu primeiro encontro internacional em 1999 trazendo diversos nomes da Capoeira mundial como o Mestre Caveirinha e o capoeirista e ator César Carneiro que trabalhou no filme Desafio Mortal, ao lado de Van Damme; e Esporte Sangrento, ao lado de Mark Decassos. Continuando com esse pesquisador, apresenta nos: Robério de Queiroz, conhecido como Mestre Ratto, fundou o Centro Cultural Água de Beber. O mesmo atua através desse centro cultural composto por vários alunos em diversas frentes da capoeira. Ofereceu um curso de Capacitação e Formação de Profissionais de Capoeira com certificado emitido pela UFC, em 2009 e no mesmo ano a segunda etapa do curso, dessa vez com apoio da Faculdade Católica, Governo Federal e Banco do Nordeste.

O Mestre Chitãozinho, por sua vez, fundou o Grupo Negaça Capoeira, publicou quatro livros, oferecendo uma contribuição bibliográfica ao mundo da capoeira e em especial ao estado cearense. Seu primeiro livro foi Capoeira sob uma nova visão, seguido de O ABC da Capoeira, Consciência Capoeirística e A morte de Besouro. Todos produzidos por sua iniciativa pessoal sem grande apoio.

Carlos Magno Rodrigues Rocha (2006)83 afirma que “Diferentemente da Capoeira de rua praticada até hoje em Salvador, a Capoeira de Fortaleza caracteriza se por ser ensinada e festejada em ambiente fechado, como clubes, academias e

82 FERREIRA NETO, José Olímpio. A HISTÓRIA DA CAPOEIRA NO CEARÁ NAS DÉCADAS DE 1980 E 1990 ATRAVÉS DA MEMÓRIA E ORALIDADE (Direito UNIFOR) jolimpioneto@hotmail.com História, Memória e Oralidade

83 ROCHA, Carlos Magno Rodrigues. A CAPOEIRA NO CEARÁ. Monografia apresentada ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais. Orientadora: Profa. Dra. Simone Simões Ferreira Soares. Fortaleza Ce, 2006

residências, e de uma maneira mais pontuada nas praças e nas praias, geralmente motivadas por eventos ou datas comemorativas”

Continuando com Nascimento (2017), este autor traz duas outras hipóteses da introdução da Capoeira: [...] outras narrativas existentes, alimentam a ideia de que, os primórdios da prática da capoeira do Ceará teve início com o retorno de cearenses, formados em Direito e Medicina nas universidades baianas, que teriam aprendido capoeira naquele estado com Mestre Bimba, criador da capoeira Regional baiana (Neto, 2012). De volta ao estado, após o término dos seus respectivos cursos, alguns destes ex alunos de Bimba, teriam dado aulas e iniciado alguns neófitos na arte da capoeiragem. Uma terceira narrativa, mais remota, argumenta que existiam escravizados ou negros libertos nos munícipios do Ceará que saberiam e utilizavam formatos gestuais da capoeira e que, estas referências estariam presentes em alguns relatos de passagens em livros locais.

Essa é a história da capoeira cearense relatada em diversos trabalhos acadêmicos... Mas ela é muito mais antiga!!! O que ocorreu na década de 1960, também ocorreu em diversos estados do Brasil, quando a capoeira baiana com a diáspora de seus mestres “invadiu” outras terras, sufocando as capoeiras primitivas, já existentes.

Ao se estudar as origens das capoeiras no Brasil, verifica se esse fenômeno. Mas ela surgiu, quase que no mesmo período, com variações de alguns registros de anos, ou mesmo décadas, em diversos locais, não apenas Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Verificamos que no Ceará aparece, já, na década de 1830, com a prisão de ‘um capoeira’, conforme consta do Diário do Império, edição de 1832, seção correspondente aos acontecimentos no Ceará, certamente referentes às estatísticas do ano anterior:

A primeira referência com a palavra ‘capoeira’ no Jornal ‘O Cearense” circulou de 1846 a 1891 data de 1847; na edição de 04 de janeiro de 1952 de número 20, refere se à mato rasteiro, em uma poesia, que não

identificamos o autor. As referências seguintes também tratam de mato rasteiro... São 84 referencias nesse jornal, sendo a primeira, de capoeira como individuo praticante de uma luta, data de 1852 “O Cearense”, edição de 17 de dezembro, n.588-, aparece nota sobre o alferes João Torres, que teria sofrido ataque de “um capoeira”:

Na edição de 13 de setembro de 1853, refere se à artigo publicado em outro jornal, “Pedro II” circulou de 1840 a 1889 como era normal naquele tempo , rebatendo notícia veiculada, referindo se à ‘capoeira’, no seu sentido de denegrir outrem, como facinoroso:

No ano de 1858, edição de 28 de novembro, a nota editorial do jornal, defendia se do sr. João Silveira de Souza, publicada, também, no jornal “Pedro II”, chamando o de ‘pobre capoeira”:

Em “O SOL”, de 05 de maio de 1859

‘O CEARENSE’, em sua edição de 28 de outubro de 1862, publica carta de um leitor, da cidade de Santa Quitéria, relatando os acontecimentos políticos, refere se a um cidadão a quem acusa ser ‘capoeira’, pelas injurias que assacava:

Novamente em ‘O Cearense’, na edição de 10 de novembro de 1863, consta:

Já na “GAZETA

OFFICIAL DO CEARÁ”, edição de 18 de novembro de 1863, consta o seguinte:

Em 24 de novembro, em ‘O Cearense”, há uma resposta, com o mesmo título, à nota da “Gazeta Official, de 18 de novembro (acima),

Em “O Tagarella”, em sua edição de março de 1865 traz nos:

Em “A Constituição” circulou de ‘863 a 1889, de 23 de outubro de 1865 a referencia também é de malfeitor:

Voltamos a “O Cearense, edição de 12 de janeiro de 1866, em nota ‘de repudio’, contra o que fora publicado em outro jornal, pelo sr. Francisco Manoel Dias, taxando o de ‘capoeira’

Nesse mesmo ‘O Cearense, edição de 22 de novembro de 1868, noticia de um assassinato em Indaiá:

Na edição de 12 de outubro de 1869, noticiado o assassinato de um capoeira, por sua mulher:

Esse crime continua repercutindo na cidade, sendo que no relatório dos crimes do mês, também aparece, como Maria Mussu tendo assassinado a José Capoeira, no bairro do Livramento, da capital. Na edição de 16

de dezembro de 1869 dá se mais detalhes, informando se que José capoeira chegara recentemente do Paraguai:

23 de julho de 1871, publicado o seguinte diálogo, em O Cearense:

E derrubam se ministros por meio de rasteiras e cabeçadas, conforme a edição de 30 de maio de 1872, d’ O Cearense, sobre boatos publicados em A Reforma:

Em “O Pyrilampo”, de 15 de março de 1874, pedia se que se ensinasse capoeira a alguns jornalistas:

“O Cearense”, em sua edição de 24 de junho de 1874 publica anúncio de fuga de um escravo, oferecendo se recompensa; uma das características, era o andar de capoeira:

16 de janeiro de 1876, em O Cearense, em correspondência da cidade de Ipu, Arthedouro Burgos de’Oliveira acusa ao juiz da cidade de o haver agredido, utilizando se de golpes à moda de capoeira:

A 13 de abril de 1876, também em O Cearense, em todas a pedido, do interior, um juiz, em suas decisões, contrariando interesses políticos, é comparado à ‘um capoeira”:

Desta vez, e não é a primeira, um padre é chamado de ‘capoeira’, dada a sua truculência em tratar de seus paroquianos, também por divergências políticas, conforme o Cearense de 27 de agosto de 1876:

No jornal “A Gazeta do Norte”, do ano de 1880, edição 74, circulou de 1880 a 1890 aparece pela primeira vez o termo de busca ‘capoeira’, referindo se à mato raso. Na edição de 07 de dezembro, n. 149, já se refere a facínoras,

Em “O Libertador” órgão da Sociedade Cearense Libertadora, com edições de 1881 a 1889, na sua publicação de 17 de março de 1881, em sua sexta edição, ‘capoeira’ significando malfeitor e vagabundo. Temos a identificação de um capoeira, Júlio de Vasconcelos, português, de cor branca, preso por ser vagabundo e capoeira, embora redator de um jornal rival, O Cruzeiro:

Como já

apontamos mais acima, no jornal “Pedro II”, do ano de 1852, edição 1090, aparece como referindo se a uma localidade, Capoeira do Araújo, a mesma que aparece por essa época em vários jornais, quando da construção de uma estrada. Notícias de crimes associavam o uso de facas à capoeiras, como malfeitores, aparecem em sua edição 84, de 1881:

Em A GAZETA DO NORTE, edição de 28 de abril de 1881, um delegado de polícia desafia os presos a jogar capoeira:

O “Pedro !!” em sua edição de 27 de novembro de 1881 traz os instrumentos utilizados na capoeira o cacete:

N’A GAZETA DO NORTE, edição de 7 de fevereiro de 1882, em resposta, novamente a designação de ‘capoeira’ a indivíduo sem caráter:

Em O Libertador de 12 de abril de 1886, ao noticiar a prisão de um Cearense, como era conhecido José Francisco das Chagas, de 20 anos de idade; é apresentada sua ficha criminal, com várias prisões, por vagabundagem, embriaguez e furto. Algumas dessas prisões, pelo exercício de capoeiragem, ou por capoeira:

1883

O Libertador, na edição de 18 de fevereiro de 1887, caracteriza um capoeira:

O CEARENSE de 20 de julho de 1887 anuncia o recebimento do número 13 de A Quinzena, e ao apresentar o sumário, um dos temas é ‘Capoeira”:

No “Constituição” de 10 de fevereiro de 1888, mais uma nota policial, envolvendo um capoeira:

O jornal “José de Alencar”, órgão do grêmio literário do mesmo nome, em sua edição de 16 de outubro de 1892, traz nos umas memórias “do Torres”, escrito por Jubas Coréa; ao descreve lo:

Em “A República” fusão de O Libertador e Estado do Ceará, editado de 1892 a 1897, em sua edição de 28 de maio de 1893, refere se a um tal de “Domingos Capoeira”:

N´A Republica de 10 de março de 1895, outra nota de uma agressão, sendo um dos contendores, um capoeira:

Jornal “O Republicano”, de 28 de dezembro de 1895:

No “Jornal do Ceará, edição de 03 de agosto de 1904, também se refere à mato; na edição de 26 de agosto, noticia de um crime, ocorrido em Acaraú Mirim:

O REBATE, de 1907 traz:

No jornal “A Nota”, em sua edição de 30 de julho de 1921,

No “O Ceará”, de 30 de março de 1928, com o sentido de mato; na de 04 de abril, refere se à navalha de um capoeira:

Em “A Razão” publicado de 1929 a 1938, na edição de 02 de outubro de 1930, refere se à luta:

Verifica se que a maioria das referências se trata de mato rasteiro, ou a ‘capoeira de galinhas, de patos, perus, e mesmo de maracujá.’. Mas há muitas indicações da “capoeira” como confronto, seja físico, através de lutas e/ou ataques a pessoas, seja como tentativa de qualificar as pessoas, na sua maioria, uma autoridade ou seu preposto, denegrindo o, chamando o de ‘capoeira’, ou fazendo uso de ‘capoeira’ como forma de se manifestar, e a sua maioria, nesse caso, de xingamentos entre jornalistas e redatores dos diversos jornais... Nada diferente do ocorrido naqueles estados em que já se fez esse resgate da memória...

O Espírito Santo é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na região Sudeste. Faz divisa com o oceano Atlântico a leste, com a Bahia ao norte, com Minas Gerais a oeste e com o estado do Rio de Janeiro ao sul. Sua área é de 46 095,583 km². Sua capital é Vitória, porém Serra é o município mais populoso. O Espírito Santo é, ao lado de Santa Catarina, um dos únicos entre os estados do Brasil no qual a capital não é o município mais populoso de seu estado. O gentílico do estado é capixaba ou espírito santense.

1535, os colonizadores portugueses chegaram na Capitania do Espírito Santo e desembarcaram na região da Prainha. Naquela época, teve início a construção do primeiro povoado que recebeu o nome de Vila do Espírito Santo. Por causa dos índios terem atacado a Vila do Espírito Santo, o líder Vasco Fernandes Coutinho fundou outra vila, naquela vez em uma das ilhas. Esta vila passou a ser chamada de Vila Nova do Espírito Santo, atual Vitória. Enquanto isso, a antiga recebeu o nome de Vila Velha.

1715 a anexação do Espírito Santo à Bahia. Então, a capital da extinta Capitania do Espírito Santo passou a ser Salvador

1809 A Capitania do Espírito Santo somente recuperou sua autonomia da Capitania da Bahia em 1809. Com a proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, o seu status foi alterado para província, permanecendo assim até a Proclamação da República Brasileira, em 15 de novembro de 1889, quando se transformou no atual estado do Espírito Santo.

Atualmente, a capital Vitória é um importante porto exportador de minério de ferro. Na agricultura, merecem destaque os seguintes produtos econômicos: o café, arroz, cacau, cana de açúcar, feijão, frutas e milho. Na pecuária, há criação de gado de corte e leiteiro. Na indústria, são fabricados produtos alimentícios, madeira, celulose, têxteis, móveis e siderurgia. O estado também possui festas famosas. Entre elas podemos citar: a Festa da Polenta em Venda Nova do Imigrante, a Festa da Penha em Vila Velha e o Festival de Arte e Música de Alegre. O Vital (carnaval fora de época, em novembro) foi extinto.

ATLAS DA CAPOEIRAGEM NO ESPÍRITO SANTO
Ano 1868\Edição 00022 (1) O Estandarte : Jornal Politico, Litterario, e Noticioso (ES) - 1868 a 1873
Ano 1873\Edição 00044 (1) O Estandarte : Jornal Politico, Litterario, e Noticioso (ES) - 1868 a 1873

Ano 1873\Edição 00256 (1) 23 de agosto O Espirito - Santense (ES) - 1870 a 1889

Ano 1876\Edição 00008 (1)

Ano 1878\Edição 00051 (1) – 31 DE JULHO - A Actualidade : orgão do Partido Liberal (ES) - 1878

Ano 1879\Edição 00052 (1) O Espirito - Santense (ES) - 1870 a 1889

Ano 1882\Edição 00052 (1) O Cachoeirano : Orgão do Povo - Columnas francas a todas as intelligencias (ES) - 1877 a 1923

Ano 1883\Edição 00103 (1) 22 DE SETEMBRO O Horizonte (ES) - 1880 a 1885

Ano 1883\Edição 00104 (1) 25 DE SETEMBRO

Ano 1883\Edição 00078 (1) O Espirito Santense (ES) 1870 a 1889

Ano 1884\Edição 00062 (1) Ano 1884\Edição 00062 (1)

Ano 1884\Edição 00690 (1) 25 DE DEZEMBRO A Provincia do Espirito-Santo : Jornal consagrado aos interesses provinciaes, filiado à escola liberal (ES) - 1882 a 1889
Ano 1885\Edição 00694 (1) 06 DE JANEIRO
Ano 1885\Edição 00940 (1) 12 DE NOVEMBRO A Provincia do Espirito-Santo : Jornal consagrado aos interesses provinciaes, filiado à escola liberal (ES) - 1882 a 1889 Ano 1885\Edição 00956 (1) 1º DE DEZEMBRO
00033 (1) - O Constitucional
01327 (1) 25 DE MARÇO A Provincia do Espirito-Santo
Jornal consagrado aos interesses provinciaes, filiado à escola
(ES) -
1889
Ano 1885\Edição
: Orgão do Partido Conservador (ES) 1885 a 1889 Ano 1887\Edição
:
liberal
1882 a
Ano 1887\Edição 00067 (1) O Espirito - Santense (ES) - 1870 a 1889 Ano 1888\Edição 00045 (1) O Cachoeirano : Orgão do Povo - Columnas francas a todas as intelligencias (ES) - 1877 a 1923
Ano 1889\Edição 00002 (2)
Ano 1889\Edição 00171 (1) O Constitucional : Orgão do Partido Conservador (ES) - 1885 a 1889

Ano 1886\Edição 00314 (1) 8 DE OUTUBRO A Folha da Victoria (ES) - 1883 a 1888

Ano 1887\Edição 00454 (1)

Ano 1890\Edição 02168 (1) 28 de fevereiro - O Estado do Espirito Santo : Ordem e Progresso (ES) 1890 a 1911 Ano 1892\Edição 02861 (1) - O Estado do Espirito-Santo : Ordem e Progresso (ES) - 1890 a 1911 Ano 1893\Edição 03187 (1) 18 de agosto O Estado do Espirito Santo : Ordem e Progresso (ES) 1890 a 1911 Ano 1895\Edição 00020 (1) O Cachoeirano : Orgão do Povo - Columnas francas a todas as intelligencias (ES) - 1877 a 1923

Ano 1897\Edição 00120 (1) 11 de junho O Estado do Espirito-Santo : Ordem e Progresso (ES) - 1890 a 1911

Ano 1900\Edição 00003 (1) 05 de janeiro O Estado do Espirito-Santo : Ordem e Progresso (ES) - 1890 a 1911

Ano 1900\Edição 00225 (1) O Estado do Espirito-Santo : Ordem e Progresso (ES) - 1890 a 1911
00293 (1) O
:
(ES) -
a 1911
Ano 1901\Edição
Estado do Espirito-Santo
Ordem e Progresso
1890
Ano 1901\Edição 00033 (1) O Estado do Espirito-Santo : Ordem e Progresso (ES) - 1890 a 1911

Ano 1893\Edição 00983 (1) 22 de setembro Commercio do Espirito Santo (ES) - 1892 a 1910

Ano 1896\Edição 00056 (1) 05 de março - Commercio do Espirito Santo (ES) - 1892 a 1910

Ano 1897\Edição 00011 (1) 14 de janeiro Commercio do Espirito Santo (ES) - 1892 a 1910

Ano 1897\Edição 00263 (1) Commercio do Espirito Santo (ES) - 1892 a 1910

Ano 1910\Edição 00036 (1) Commercio do Espirito Santo (ES) - 1892 a 1910 Ano 1910\Edição 00284 (1) Diario da Manhã : Orgão do Partido Constructor (ES) - 1908 a 1937
Ano 1930\Edição 00214 (1) Vida Capichaba (ES) - 1925 a 1940
Ano 1931\Edição 00262 (1)
Ano 1932\Edição 00308 (1)
Ano 1949\Edição 00119 (2) 24 DE MAIO A Época (ES) - 1946 a 1949

Ano 1952\Edição 00012 (1) - Folha do Povo : O vespertino do Espirito Santo (ES) 1952 a 1953

Ano 1957\Edição 01083 (1) Folha Capixaba : Defesa da Terra e do Povo do Espirito Santo (ES) 1945 a 1961

DÉCADAS

DE 40/50

A HISTÓRIA DA CAPOEIRA MODERNA NA GRANDE

VITÓRIA ES Lorrana Xavier Juliana Azevedo de Almeida [...] Antigamente havia em Vitória, o hábito de se encerrarem rodas nas portas dos bares, nas favelas, onde dois homens se degladiavam e apostas era feitas. Não havia, no entanto, a presença de música, nem técnica específica, e, ao contrário do que poderia esperar, tais lutas não eram reprimidas pela polícia, que, ao contrário as incentivava. Correm boatos também,

nas décadas de 40 e 50, que um baiano, reconhecido com um dos mais importantes nomes da CAPOEIRA no Brasil, Mestre Vicente Ferreira Pastinha, organizou rodas na cidade de São Mateus. Infelizmente não foi possível ir mais fundo na pesquisa destes fatos, para reconhecê-los como verdadeiros e documentá los. TCC Lorrana FINAL 02 07.docx (doctum.edu.br)

1964 O Mestre Odilon chama a atenção para a presença da capoeira desde 1964, ensinada por Coelho (em Jucutuquara, e também ligada ao samba). Mas é a versão contada pelo mestre Luiz Paulo que encontra mais escuta: O capixaba Nerci Cardoso foi o pioneiro que teve contato com a capoeira no Rio de Janeiro, e em 1970, de volta ao Espírito Santo, participou do desfile de carnaval da Escola Unidos da Piedade, que teve como tema a Bahia, ele e seu amigo Salomão representaram a capoeira. A escola venceu, e algumas pessoas passaram a ter interesse em aprender a capoeira. Esses primeiros capoeiristas tiveram influência do livro de Lamartine Pereira da Costa, “Capoeira sem Mestre”. Por fim, Nerci se afastou da capoeira e Julimar Ferreira Lopes, conhecido como Binho, deu continuidade ao seu trabalho (FILGUEIRAS, 2003 apud OLIVEIRA, 2019, p. 57).

1968 1968. Mestre Luiz Paulo alegava ser o mestre mais antigo em atuação no Espírito Santo e dizia ser o maior detentor de documentos sobre a capoeira do ES desde a década de 60 do século XX até os dias atuais. Ele acusava que qualquer outro mestre que dissesse que era o mais antigo, estava mentindo

Em 1968, o Sr. Necir Cardoso, capixaba do Morro do Moscoso, mudou se para o Rio de Janeiro, onde aprendeu com Paulo Bandeira, de Bonsucesso a CAPOEIRA e logo se apaixonou pela arte. Quando em 1970 retornou ao (sic) [do] Rio, seu irmão, o sambista já falecido Mário César Cardoso, estava inserido na organização da Escola de Samba Unidos da Piedade para o carnaval. O tema escolhido para aquele ano tinha sido a Bahia, e, por conselho de Orlando Bonfim, baiano, não poderia faltar uma ala de candomblé e outra de CAPOEIRA. Candomblé era fácil, mas como conseguiria formar a ala da CAPOEIRA, se na cidade não existia? Foi quando Mário César lembrou se que seu irmão dominava a arte e o convidou. Necir a princípio recusou, dizendo que não sabia nada de CAPOEIRA e não seria capaz de arcar com tal responsabilidade. Mas acabaram por convencer Necir a sair na Escola. Só que sozinho ninguém joga CAPOEIRA, então Necir convidou um amigo, Anildo apelido Salomão, para juntos treinarem e formar a tal ala. Assim foi feito. Esta história aí é minha! Quem escreveu isso tudo e viveu e vi isso! E não escrevi o que me falaram não... Mas acrescentaram algumas coisas. Essa história fui eu. A primeira história, quem escreveu isso fui eu. Eu fiz essa matéria num jornal em 1976. Eu tenho esse jornal aqui. [...] Eu que lancei essa primeira história. Que até aí nem se falava da história da capoeira do Espírito Santo. Eu que fiz esse relato todinho. Tudo que eu botei aí, Diabo Louro, Binho... Eu tenho isso aqui (conversa informal entre a orientadora e mestre Luiz Paulo, via whatsapp, no dia 23 de março de 2021).

1973, chegou em Vitória o baiano Lourival Araújo dos Santos, o Mestre Diabo Louro. Segundo contam, Mestre Louro teria fugido de Salvador por ter atingido um adversário com um golpe mortal, e chegou a cidade “com uma mão na frente e outra atrás”. Zé da Máfia o conheceu e se apressou em levá lo na roda do Grupo Berimbadu, que nessa época era na Cabana do Clube Rio Branco. Apresentou se como “um baiano bom de briga”, e logo fez se à roda para tirar a prova. Mestre Louro então mostrou uma CAPOEIRA muito superior que a do Grupo e venceu a todos. A amizade estava selada. Apresentaram se a Orlando Bonfim, que o hospedou em sua casa e conseguiu um barracão no Morro do Bonfim para ele dar aula. Binho notando que ainda faltava muito para aprender, entregou a Academia do Praia Tênis Clube a Diabo Louro, que a batizou de Centro de Cultura Física Regional, tornando se seu aluno e grande amigo. Foi a partir dessa época, em 1974, que a CAPOEIRA começou a ser melhor vista pela nossa sociedade, embora o preconceito exista até hoje. Com a ajuda da imprensa que escreveu algumas matérias a respeito, a CAPOEIRA conseguiu atingir a pessoas de diversas idades, sexo e condição social. A semente lançada por Necir começa a germinar. Em território capixaba [Diabo Louro] apresentou as duas vertentes difundidas na Bahia: a capoeira Angola e a Regional. Segundo dados históricos, Diabo Louro deixou a cidade em 1976, no seu lugar assume seu aluno mais graduado: Binho, que ministrava suas aulas e treinos no bairro Jucutuquara e também para a elite capixaba no clube Praia Tênis (2019, p. 60).

Nosso documento de referência conta que muitos outros grupos começaram a surgir em Vitória. Ele cita nomes de alguns desses e bairros onde acontecia a prática da capoeira: [...] em Fradinhos (Grupo Bangalô), Maruípe, Gurijica, Santo Antônio, Jardim da Penha (Grupo Gexá), e diversos outros bairros. Mestre Louro frequentava todas essas rodas onde sempre se sobressaía diante de qualquer adversário, provando ser o único Mestre de Vitória em sua época. Alguns desses grupos se extinguiram por mera falta de incentivo do governo e da população.

Embora esses tenham sido nomes de destaque, segundo Mestre Luiz Paulo, a capoeira no Espírito Santo teve 3 raízes: mestre Diabo Louro, mestre Caio Resende e mestre Odilon (FILGUEIRAS, 2003).

1977 Mestre Caio Resende, da cidade de Muqui ES, voltou do Rio de Janeiro em 1973, começando a ministrar a capoeira em terras capixabas somente em 1977. Suas influências para a capoeira eram provenientes da Federação de Capoeira do Rio de Janeiro, conforme nos conta Filgueiras (2003). Ele fundou, então, o grupo Quilombo do Queimado, que ficou sob a responsabilidade do seu aluno Bininha, após sua morte em 1995.

Em 1973 Caio chega em Vitória (ES) com intuito de morar na cidade e mostrar seu trabalho. Tão pouco era divulgado a CAPOEIRA, que ele só veio saber da existência de outros CAPOEIRISTAS quase um ano depois que já dava aula. Foi numa roda na feira dos municípios, que ele manteve contato com Mestre Diabo Louro (Baiano, aluno de Mestre Ezequiel, que chegou em 1972 no ES), Binho (seu aluno), Odilon (Berimbazu) e o grupo Gexá de Jardim da Penha. Descobrindo que não estava sozinho na cidade, foi estimulado a continuar sua luta contra o preconceito e as dificuldades da época. Durante muitos anos Caio e Binho levaram a capoeira sem incentivos oficiais, sozinhos, acreditando estar em suas mãos, a sobrevivência desta arte em Vitória. Em 1976 Caio voltou ao Rio de janeiro, onde treinou um ano intensivo com Mestre falcão e Mestre Poeira, que o formaram. Retornando à Vitória em 1977, já formado, deu aula em diversas escolas e comunidades da grande Vitória, entre elas a Choupana no Bairro Colorado (V.V), com o nome Místico: “Grupo de Capoeira Feitiço”; por volta de 1976 mudou o nome para “Grupo Quilombo do Palmares”, permanecendo este nome ate 1978. Por já existir grupo com este nome Mestre Caio resolveu trocar somente para “Palmares”; mais tarde este nome veio a ser mudado, o Grupo se chamaria “Associação de Capoeira Caio Cesar Rezende”. Mas, vendo ele que isto se tornaria muito otimista de sua parte, resolveu escolher outro nome para sua instituição, daí veio a ideia de dar o nome do último “Quilombo do estado do Espírito Santo”, mais específico na Serra. Daí veio o nome de “Associação de Capoeira Quilombo do Queimado” no qual se predomina até hoje.

Caio Resende e seus discípulos tiveram como referência a capoeira carioca. Já Binho, teve como base a capoeira baiana de mestre Diabo Louro. No entanto, Filgueiras (2003) conta que, em 1976, depois que Diabo Louro foi embora do ES, Binho não deu continuidade ao trabalho e seus alunos Rogério Medeiros (mestre Capixaba Rogério Sarlo de Medeiros Filho foi formado mestre pelo grupo ABADÁ Capoeira. Este grupo surgiu da cisão do grupo Senzala em 1988) e Luiz Paulo (mestre Luiz Paulo Luiz Paulo Lima Nunes foi formado mestre pelo grupo Senzala) foram buscar conhecimento no Grupo Senzala do Rio de Janeiro.

Já mestre Odilon Odilon Dias Vieira, nascido em 1951, na cidade de Alegre ES e formado mestre pelo grupo Beribazu de Brasília nos conta que aprendeu a capoeira regional em Brasília, na década de 70, com mestre Zulu. Este mestre funda o grupo Beribazu em 1972 (FILGUEIRAS, 2003) e, em 1973, Odilon volta para o Espírito Santo e começa a dar aulas de capoeira em Colatina.

1978 Mestre Fábio (Fábio Luiz Loureiro, nascido em 1965 na cidade de Vitória ES. Formado mestre pelo grupo Beribazu em 1992) conta que a primeira vez que viu uma roda de capoeira foi na Feira dos Municípios, em 1978, no Clube Álvares Cabral. Ele diz que a roda era “tensa” e se lembra de alguns capoeiristas capixabas já participantes nessa roda: Caio, Bininha, Carlos Henrique e Odilon. Cabe destacar, novamente, o aspecto de violência existente nas rodas da década de 70 e 80. Mestre Fábio nos contou que, por vezes, a capoeira jogada nas rodas que aconteciam nas ruas era agressiva, com caráter de luta, no entanto, havia uma camaradagem entre os capoeiristas. Odilon e Fábio deixam claro que os praticantes não eram inimigos, mas quando se encontravam na roda e tocava o São

Bento Grande, “o pau quebrava”. Essa situação gerava uma certa representação social para capoeira capixaba que reverberou por muito tempo em sua aceitação pela população da Grande Vitória. Tanto mestre Odilon quanto mestre Fábio, narram que a capoeira não era bem vista pela sociedade da época, tanto por sua história antiga ligada à escravidão negra, quanto por esse aspecto violento que ela, por vezes, apresentava. Mestre Fábio também lembra que a época ainda era de ditadura militar no Brasil e que, em muitas rodas, eles percebiam o olhar vigilante da polícia. Ainda que se lembre de alguns fatos da década de 1970, Fábio iniciou sua prática na capoeira em 1980 no projeto de extensão da UFES. Seu mestre era o Carlos Henrique, irmão de Odilon e Iris que também praticavam capoeira pelo grupo Beribazu

1979, mestre Odilon para de dar aulas de capoeira para se dedicar mais à sua profissão e seu irmão, Carlos Henrique, prossegue com o trabalho de capoeira na UFES até 1986. Mestre Odilon diz que nunca parou a capoeira, mas hoje, ele não frequenta mais rodas e prefere manter se como pesquisador desta arte. Deste modo, corroboramos com Filgueiras (2013), Oliveira (2019) e Almeida (2020) que a capoeira na Grande Vitória teve maior influência da capoeira do Rio de Janeiro. Inclusive, até o grupo Beribazu recebeu influências do Rio, pois mestre Zulu (o fundador do grupo) foi aluno do grupo Senzala de Brasília (FILGUEIRAS, 2013). Consequentemente, o grupo Beribazu de Vitória possui traços dessa capoeira carioca.

1992 Valter Pereira do Rosário, ou para muitos, o Mestre Cabelim, tem a história da sua vida entrelaçada a história de João Neiva. Desde 1992 levando o esporte aos moradores do município, Cabelim rodou por alguns lugares até encontrar aquele que seria o local de crescimento pessoal e profissional. Nascido em 1968 no município de Afonso Cláudio, sul do Espírito Santo, Valter mudou se para Baixo Guandu ainda muito novo. Mas foi aos 20 anos, através de Arindo Furtado Lima, o Mestre Lima, que o jovem teve seu primeiro contato com a capoeira, no município de Aimorés, no Lorena Clube. O jovem, desde o início mostrou que tinha talento para a capoeira e conquistou sua primeira graduação com apenas 45 dias treino. Fato esse que se leva em torno de 6 a 9 meses.

Em 1992, aos 25 anos, Cabelim passa a morar em João Neiva e tem sua primeira turma oficial de capoeira, com cerca de 80 alunos pagantes, no Clube Vila Nova. Mostrando trabalho e talento, logo surge a oportunidade do atleta levar sua turma para Centro Comunitário da cidade, ganhando mais 10 alunos de um Projeto Social bancados pela Prefeitura. Neste mesmo ano, Cabelim monta seu próprio grupo de capoeira, o Jogo Livre, que ao longo dos anos formou muitos alunos e também tomou proporções maiores. O grupo desenvolve seus trabalhos em municípios como Ibiraçu, Fundão, Santa Maria de Jetibá e Aracruz, e também fora do Estado, no município mineiro Alvarenga. Se engana quem acredita que a vida de Cabelim foi tudo fácil, o capoeirista chegou a passar dificuldades, chegando a morar com sua família em um pequeno cômodo alugado nos fundos de uma borracharia. No ano de 2001, Cabelim chegou a tão sonhada graduação de Mestre, passando a ter ainda mais notoriedade entre os capoeiristas do Espírito Santo. A luta diária não fez o atleta desistir. O Mestre conseguiu sair do aluguel e comprar sua casa própria e aos poucos transformar o local não apenas na sua moradia, mas também em sua academia, onde dá aulas e treina. Atualmente, Mestre Cabelim atua no projeto Crubixá J.H.J, em que dá aulas de capoeira há mais de 11 anos e também, na Pestalozzi de João Neiva em que ensina a prática há mais de 12 anos aos alunos da instituição. Com 51 anos de vida e 31 deles dedicados a capoeira, Cabelim atende cerca de 100 alunos semanalmente e ainda treina para suas competições. Perguntado sobre sua aposentadoria, o mestre disse que está em seus planos, mas que ainda não tem data definida.

2018 Capoeira do Espírito Santo para o Mundo Dizem que a capoeira engravidou na África e nasceu no Brasil. Mas viajou o mundo e hoje é falada com muitos sotaques. Um grupo surgido no Espírito Santo, A.C.A.P.O.E.I.R.A., faz parte dessa história de expansão. Com núcleos no exterior, o grupo criado pelo Meste Capixaba já realizou diversos eventos junto com outros grupos em vários países, mas pela primeira vez, prepara o Encontro Europeu A.C.A.P.O.E.I.R.A., de 2 a 5 de novembro, exclusivo para integrantes do grupo. O local é a cidade de Frankfurt, na Alemanha, onde os trabalhos de capoeira são coordenados por Mestre Arisco, um alemão formado por Mestre

Capixaba que coordena as atividades por lá há cerca de 20 anos. O encontro vai reunir cerca de 300 capoeiristas de núcleos do grupo na Alemanha, Suécia, Suíças e Grécia, além de convidados do Brasil. O Espírito Santo estará representado por Mestre Capixaba e Mestre Jeffinho, de Cariacica. Outros convidados são MestreGororobaeprofessoraPriscila (RS)e formando Kiduro (SP).

TCC Lorrana FINAL 02 07.docx (doctum.edu.br)

EDITAL Nº002/2020 Seleção de Ações de Salvaguarda da Roda de Capoeira e Ofício de Mestres de Capoeira

ANEXO 1. Listagem de grupos praticantes da Roda de Capoeira e do Ofício de Mestres de Capoeira no estado do Espírito Santo.

Região Município Grupos Metropolitana Cariacica Cativeiro A.C.A.P.O.E.I.R.A Associação São Salvador Águias Acrobatas Projeto Capoeira Preparando para a Vida Escola Aberta Vitória Camarada Camaradinha Liberdade Reza Forte Candinheiro Raízes da Bahia Irmãos Caramuru Capoeira Tribal Aliança Dendê Moruô Ginga do Corpo Berimbazu Equipe Mestre Paulista A.C.A.P.O.E.I.R.A Sapeba Capoeira Cativeiro Metadoarte Capoeira Angola Volta ao Mundo Vila Velha Raiz da Arte CECAC ABRACAR Filhos da Princesa do Sul Quilombo do Queimado Leões da Tribo Serra Associação Aliança Capoeira Aliança Força Negra Irmandade Caramuru Capoeira Doberimbau Palmares Sul São José de Calçado Cultuarte cafeeira Castelo Grupo Baobá Muqui Grupo Baobá Mimoso do Sul Capoeira filhos de Guerreiro Apiacá Capoeira filhos de Guerreiro Cachoeiro de Itapemirim Filhos da Princesa do Sul Navio Negreiro Agogo de Nizambe Mocambos Capoeira Libertação Norte e Noroeste Conceição da Barra A.C.A.P.O.E.I.R.A/ Capura Raça Ecoporanga Senzala do Patrimônio dos Pretos Jaguaré Escola de Capoeira Lutando Pela Mesma Arte João Neiva Cordão Vermelho Linhares Abolicionismo Pandeiro de Ouro ACR ENFICAM Capoeira Maré Arte Capoeira Renovada Reza Forte Força Negra Nova Venécia A.C.A.P.O.E.I.R.A Sagaz Capoeira Pedro Canário Semente da Terra Montanha_Acapoeira Canários da Senzala Filhos da Reza Pinheiros Semente da Terra São Mateus Capoeira Dendê Abadá Capoeira Kricaré Berimbazu Capura Raça Guerreiros da Força Iê Capoeira Sagaz Capoeira Agogo de Nizambe Pé da Capoeira São Gabriel da Palha Ierê Capoeira Sooretama Toca do Lobo Aracruz ACARBO 100% Capoeira Vila Valério Ierê Capoeir

ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO SEGUNDA EDIÇÃO – REVISTA E ATUALIZADA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA (ORGANIZADORES/EDITORES)
2022

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

E eis que Zartu Giglio Cavalcante liga e nos dá mais informações sobre a A.D. Mirante, complementando as informações do Joaquim Haickel, com a trajetória do Vôlei: a origem, vamos dizer assim, da AD MIRANTE foi o TUPAN de Mário Cella. Por isso, ele me manda fotos e matérias com a sua trajetória.

1924 A Sociedade Esportiva Tupan e é originário do Tupan Sport Clube fundado em 23 de dezembro de 1924; começou a disputar o campeonato Maranhense em 1926, depois disputou o ano de 1930, foi campeão maranhense em 1932, bicampeão maranhense em 1935, e tri campeão maranhense em 1938.

1958 No dia 23 de dezembro de 1958 um grupo de amigos da Madre Deus reativou o Tupan Futebol Clube, tendo o escudo a cara do índio, as cores oficiais azul, amarelo, verde e branco. Disputou os campeonatos da 1a divisão em 1976.

1978 Em 1978 mudou o nome para Sociedade Esportiva Tupan e novas cores Azul, branco e vermelho. Segundo o informativo a mudança do nome foi para abranger novos esportes. Disputou os campeonatos até 1994, com exceção ao ano de 1991. Hoje é um clube social e de esportes amadores de São Luís. O clube revelou jogadores que se destacaram no futebol nacional e internacional, pode citar se como exemplo o goleiro Clemer e o atacante Luís Oliveira, que disputou a Copa do Mundo de 1998 pela Bélgica. Com 38 participações no Campeonato Maranhense (21 como Tupan Sport Club e 17 como Sociedade Esportiva Tupan), é o quinto clube que mais jogou a competição. Sua última participação foi em 1994, quando ficou em 8º lugar entre 13 equipes.

2020 Após 26 anos de ausência do futebol profissional (jogava torneios amadores em São Luís), o Tupan voltou à ativa em 2020[1] , disputando uma seletiva para definir os 2 classificados para a Segunda Divisão.

2021 disputou a Pré Série B com 4 vitórias em 4 jogos, venceu Araioses 2 vezes pelo placar de 1 a 0 e o Expressinho por 2 a 0 e 3 a 0 chegando a fase de grupos terminando e 5º lugar. (Sociedade Esportiva Tupan Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org); Tradicional SE Tupan retorna ao futebol profissional maranhense ~ O Curioso do Futebol)

O Tupan volta se para a disputa dos esportes amadores, a partir das intervenções de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, a partir dos anos 1970. Com a vinda de diversos técnicos, principalmente paulistas, naqueles anos, e, posteriormente, com a criação da SEDEL MA (1979), o esporte maranhense se reestruturou, fundando se diversas federações especializadas, dentre elas, a de Voleibol.

Lembrando que, até então, tínhamos a presença da eclética FMD, mas que só tratava quase que exclusivamente de futebol; havia os departamentos de esportes amadores, que tratavam dos demais campeonatos. Com a reestruturação do esporte brasileiros, a FMD passou à FMF, e abriu se campo para a criação das outras modalidades. A esse tempo, apenas a Federação de Basquete fundada nos primórdios dos anos 1950 e a Atlética FAME também dessa época; a de Handebol, embora fundada, não estava legalizada.

Mário Cella então toma a frente do Tupan, abrindo espaços para as demais modalidades. Segundo Zartu, em 1978 fora convidado pelo jornalista J. Alves para formar a equipe do Tupan:

AINDA
A.D.
A
MIRANTE
1980 Primeira equipe de Voleibol campeã brasileira, base do Tupan

1986 foi quando Joaquim Haickel o procurou, para estruturar a equipe da AD, oferecendo melhores condições de trabalho. Então, a equipe do Tupan passou para a Mirante, já em 1985:

São Luís: o esporte e seus precursores | O Imparcial

Os registros das primeiras manifestações datam do ano 1679, na chegada do primeiro bispo ao Maranhão.

Bilhar Francês é um jogo praticado numa mesa revestida de feltro verde, limitada por tabelas e sem buracos, contendo 3 bolas de marfim, sendo uma vermelha e duas brancas. As bolas são impelidas por um taco. (Foto: Reprodução)

Por: Neres Pinto, com informações do Atlas Esporte

A prática de diversos esportes na cidade de São Luís é antiga. Os registros das primeiras manifestações datam do ano 1679, na chegada do primeiro bispo ao Maranhão, segundo o Atlas do Esporte no Maranhão, organizado pelo professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz

A publicação revela que nas festas promovidas, fizeram se várias representações de encamisadas a cavalo jogando se, as canas e o argolinha. As encamisadas constituíam se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices.

“Mais tarde surgiu uma variedade de esportes, muitos ainda praticados nos dias atuais e outros que já não são mais disputados em competições oficiais ou amistosas”, enfatiza o professor Leopoldo.

Tendo como principal fonte o Atlas do Esporte no Maranhão, vamos destacar quando surgiram outros esportes, quais foram seus maiores incentivadores e praticantes na capital maranhense nos últimos séculos.

Bilhar Francês

Instalado no Teatro União, em 1822 e em bares da cidade. Há notícias de vários 1826 e entre os anos de 1838 e a Proclamação da República, frequentado pelos alunos do Liceu Maranhense.

O Café Richie, desde 1902 até seu fechamento mantinha mesas, onde se realizavam campeonatos e torneios de bilhar francês, no Clube Euterpe, fundado em 1904 e em outros clubes fundados após essa época também eram instaladas mesas para sua prática, como no Fabril Atletic Clube FAC em 1907. Ainda hoje é praticado nos clubes sociais da cidade.

Capoeira

Os primeiros indícios de sua prática já em 1829, confirmada por notícia de jornal de 1835. Em 1855 e anos seguintes, é proibida pela Polícia. No ano de 1874, aparece sua proibição no Código de Posturas da cidade de Turiaçu, identificada também com o nome de Carioca.

Cumpre ressaltar que a Capoeira praticada no Maranhão é “sui generis”, e a partir da década de 70, do século passado, teve um incremento e foi introduzida, nos anos 80, nos Jogos Escolares Maranhenses e reintroduzida em 1990 .

Esgrima

Coube a Manoel Dias de Pena, em 1841, ensinar a esgrima em São Luís. Com a criação da Escola de Aprendizes Marinheiros, em 1861, este esporte fazia parte da instrução militar dos alunos, prosseguindo até seu fechamento.

Os Aprendizes Marinheiros costumavam se apresentar nos eventos esportivos promovidos pelo FAC (fundado em 1907) e em outros clubes , participando como de combates com armas brancas (baioneta, espada, florete).

Ginástica

Em 1841 apareceu o primeiro anúncio de apresentação de ginástica no Teatro de São Luís, por um discípulo de Amóros. Nos anos de 1870, na casa dos Abranches, foi montada uma academia de ginástica com pesos onde os companheiros do Liceu de Dunshee de Abranches iam se exercitar.

A partir de fins dos anos 1880 a elite maranhense praticava a ginástica sueca. Também no ano de 1910, Miguel Hoerhan começa a prestar seus serviços como professor de Educação Física da Escola Normal. Ele funda também o Club Ginástico Maranhense que foi o pioneiro do boxe no Estado do Maranhão.

Ciclismo

Ainda no ano de 1900, outra modalidade começou a ganhar força em São Luís: a 2 de setembro, eram iniciadas as atividades da “União Velocipédica Maranhense”, com seu velódromo instalado no Tívoli Bairro dos Remédios, no local onde era o Colégio de São Luís, até pouco tempo.

Como de outras tentativas de introdução de uma modalidade esportiva, durou pouco, também até o final dos anos 20. Com a criação da Secretaria de Esportes e Lazer, em 1979, sua prática voltou a ser incentivada, e sofreu um incremento com a sua introdução nos JEMs, a partir de meados dos anos 80.

Futebol

(Foto: Reprodução)

Em 1907, Joaquim Moreira Alves dos Santos – mais conhecido como Nhozinho Santos , introduziu o futebol no Maranhão, juntamente com outras modalidades esportivas, quando da fundação do FABRIL ATHLETIC CLUB no dia 27 de outubro daquele ano. Além do “football association”, o “cricket”, o “crockt”, o atletismo, volta se a jogar o tênis, agora em sua versão moderna.

Atletismo

Em 1915, o vice cônsul inglês no Maranhão, Mr. Charles Clissold, um grande amante dos esportes, com apoio dos dirigentes do FAC, incentivou a prática de vários esportes, entre os quais, o atletismo.

Muitos jovens fizeram suas inscrições, com o clube revivendo seus grandes dias e sendo oferecidas várias modalidades, como salto em altura simples, com vara, distância; corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos; lançamento de peso, de disco e do martelo.

A primeira competição de atletismo no Maranhão foi disputada oficialmente em 27 de outubro de 1907. Na corrida, saíram vencedores Joaquim Belchior e M. Lopes. No ‘place kick’ E. Dobler tirou o primeiro lugar, ficando Jasper (Moon) em segundo.

Basquete

O Basquete no Maranhão surgiu em 1910 com a fundação do clube Onze Maranhense em São Luís, que, além do futebol, desenvolvia outras atividades esportivas: tênis, crockett, basquetebol, bilhar, boliche, ping pong (tênis de mesa), xadrez, e a luta livre, esta última introduzida por Álvaro Martins.

Em 1916 o clube FAC de São Luís, ampliou a oferta de esportes, introduzindo, inclusive, o basquetebol. Simão Félix maranhense de Grajaú, onde nasceu em 3 de maio de 1908 , foi um dos um dos grandes atletas do passado em São Luís, que praticava o basquetebol e outras modalidades esportivas. A melhor fase do basquetebol no Maranhão ocorreu nesta década até meados dos anos 1960.

Tornaram se populares no Estado, os jogadores Rubem Goulart, Raimundinho Vieira da Silva, Ronald da Silva Carvalho, Raul Guterrez, os irmãos Mauro e Miguel Fecury, Fabiano Vieira da Silva (filho de Raimundinho), Canhotinho, e Zé Reinado Tavares

Vôlei

(Foto: Reprodução)

O vôlei chegou ao Maranhão na década de 30, não havendo, portanto, registro anterior. Em 1932 foi criado o Grêmio 8 de maio por estudantes do Liceu Maranhense, liderado por Tarcísio Tupinambá Gomes

A primeira competição oficial foi realizada em 8 de maio de 1937 ao lado da Igreja da Sé. As escolas foram as primeiras instituições a adotarem o voleibol na década de 40. Nas décadas de 50 e 60 ocorreram as primeiras olimpíadas estudantis, onde o esporte teve seu impulso.

O primeiro clube de São Luís a possuir uma quadra de voleibol foi o Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 3 de fevereiro de 1953, pelo Dr. Orlando Araújo. A Federação Maranhense de Voleibol foi oficializada em 1972 tendo como primeiro presidente Júlio César Aboud Nagen. Hoje é presidida por Edvaldo Pereira da Silva, “Biguá”.

Handebol

Em 1960, o Ministério da Educação e Cultura MEC promoveu cursos e Exames de Suficiência em Educação Física, em São Luís, habilitando então professores da disciplina para o Sistema Escolar do Estado do MA

Este estágio coincidiu com apresentações de handebol na capital e possivelmente pela primeira vez no Maranhão pelos professores Luiz Gonzaga Braga e José Rosa, ambos da Escola Técnica Federal do Maranhão ETFM, do Ensino Médio local.

Credita se também a Antônio Maria Zacharias Bezerra de Araújo o Prof. Dimas a introdução do handebol no Maranhão, após assistir a competições da modalidade nos Jogos Estudantis Brasileiros JEBs de Brasília. Ao retornar a São Luís ele introduziu a modalidade no Festival Esportivo da Juventude FEJ / Jogos de Handebol no Maranhão, 1960 1974.

Natação

A primeira notícia que se tem sobre natação no Maranhão, praticada por brancos, foi datada de 1851 e se refere a banho de mar na Praia do Caju hoje, Av. Beira Mar, em São Luís. José Ferreira do Vale, morador da casa de número 1, oferecia “um grande banheiro seguro, a todas as marés a 40 rs por pessoa”. O primeiro professor de natação que dava suas aulas nas casas com tanques foi Dimas, como era mais conhecido Antônio Maria Zacarias Bezerra de Araújo. Nas décadas de 1960 1970 a prática de aulas de natação em piscinas de casas particulares continuaram durante todo este período.

Denise Martins Araújo filha de Dimas começou a acompanhar o pai, aos 12 anos, em suas aulas naquelas piscinas particulares, cuidando dos alunos de menor idade e em 1983 surge a primeira escola de natação de São Luís com piscina própria a “Viva Água” pelos professores Denise Martins de Araújo e Oswaldo Telles de Sousa Neto

Turfe

Em 1880 houve uma tentativa de implantar o Turfe, pelo inglês Septimus Summer, fundador do “Racing Club Maranhense”, em 9 de agosto de 1881. Esse clube durou até dezembro daquele ano. Em janeiro de 1893, por iniciativa de Virgílio Albuquerque, no bairro do João Paulo, ergueu se o Prado Maranhense Decorridas umas dez programações, foi realizada a última corrida a 28 de maio de 1893. Na década de 1950, Amélio Smith e outros criadores, tentaram promover práticas hipódricas, sendo realizados alguns “pegas” corridas livres em um estirão preestabelecido apenas para divertimento. Chegou a ser criada uma associação para difundir a atividade, mas também não foi adiante.

Remo

Em 1900, os desportistas maranhenses tentaram implantar o chamado “esporte do muque” utilizando se dos rios Anil e Bacanga. É fundado o “Clube de Regatas Maranhense”, por Alexandre Collares Moreira Nina. Sua prática, com alguma dificuldade, foi até 1929.

Tênis ou jogo da Péla

Surgiu em 1827 e deu origem ao law tennis, praticado durante todo o século XIX; o law tennis aparece desde 1907, quando da fundação da FAC e de outros clubes da elite maranhense.

Ainda hoje o tênis é praticado nos clubes sociais. O jogo da péla – jeu de paume – consiste em bater a bola com a mão e substituiu os “ludus pilae cum palma” romano. Na França, a bola, nascida no tardo medievo como instrumento de contenda incruenta, torna se momento lúdico e agonístico, aberto a todos.

Em Portugal, no início do século XVIII, foi introduzido o uso francês de jogar com raquetas. Conhecido já no século XII, foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis.

ESPORTE

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS

LAÉRCIO ELIAS PEREIRA (depoimento) 2016

O entrevistado realizou algumas alterações após a leitura da entrevista transcrita. Entrevista realizada para a produção da pesquisa de Christiane Garcia Macedo intitulada Centros de Memória da Educação Física e dos Esportes nas Universidades Federais. O Centro de Memória do Esporte está autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, este depoimento de cunho documental e histórico. É permitida a citação no todo ou em parte desde que a fonte seja mencionada.

Entrevista com Laércio Elias Pereira a cargo da pesquisadora Christiane Garcia

Memórias do Centro de Memória do Esporte. sobre a sua formação, desde quando entrou na Educação Física.

para

E.P. Eu sou de São Caetano do Sul , onde todo mundo trabalha na General Motors na juventude. Eu era ferramenteiro, fiz Senai , esse tipo de coisa, trabalhei seis anos na indústria automobilística e fui fazer vestibular para sociologia. Durante o vestibular eu fiquei sabendo que tinha Educação Física, eu nem sabia que existia, aí lembrei dos meus professores ótimos do ginásio: Valderbi Romani, do Senai, Renato no Senai de Santo André e Millher , o Tuta , no Senai do Brás, e achei o máximo ser professor de Educação Física. Dai sarou a minha gastrite automobilística e eu estou até hoje. Fiz USP , eu sou um 68, eu fiz o primeiro ano em 1968, fazia o jornal da faculdade, acho que aí entra a documentação. Eu fazia um jornalzinho chamado Opinião, acho que a polícia até invadiu a faculdade por conta do jornal [risos]. Tive que fugir algum tempo e tal, ainda estudante... A sede do Exército era bem em frente à escola, então, a gente era muito visto. E aí fiz graduação, sempre trabalhei... Comecei a trabalhar com handebol, fui técnico de handebol. Daí, fui para a olimpíada , fui ser voluntário na Olimpíada de Munique, onde foi a primeira vez o handebol, assim que eu me formei. Quando voltei comecei a minha peregrinação por um monte de escolas, então, fui para o Maranhão salvar a humanidade. Daí trabalhei em um monte de lugar, trabalhei em Mossoró, trabalhei na Paraíba, na UDESC, na Serra Gaúcha aí perto, Brasília, São Paulo várias vezes, fui professor da UNICAMP também. Numa época ótima, porque também estava o Manuel Sergio e o Medina e foi muito legal, foi um time muito bom na UNICAMP, é uma felicidade boa, essa época.

C.M. Na universidade você entrou quando?

E.P. Eu entrei para a universidade, 1968.

C.M. E para ser professor?

E.P. Então, já em 1968 eu fui. Porque teve a Olimpíada de 1968, e uma professora foi para a Olimpíada e eu fiquei no lugar dela. E aí eu comecei a trabalhar desde o primeiro ano, e aí em seguida tive muita sorte, porque eu arranjei um trabalho para surdo e cego que o meu amigo da classe perguntou se tinha braço e perna, eu achei interessante [risos]. É uma gozação, como é que trabalha com surdo e cego, mas foi a primeira escola de surdo e cego da América Latina, bem legal, aprendi muito. E tive sorte de começar a trabalhar no Ginásio vocacional, que depois a ditadura mandou fechar. Era uma escola integral, era muito boa, minha escola para você ter uma ideia tinha quatro quadras, tinha vestiário para professores, tinha um teatro dentro da escola, eram oito horas por dia, era o dia todo. E a primeira aula do dia, o professor que tivesse a primeira aula lia os jornais do dia para os meninos. A líder desse movimento foi a professora Maria Nilde Mascelani, que é hoje o movimento do ginásio vocacional. Em São Paulo muitas lideranças saíram depois, eram oito ginásios vocacionais, foi uma experiência tão boa que fecharam. Mas aí eu sempre segui meio experimental, eu gostei... Daí conheci, eu sou um cara anarquista de baixos teores, então, caminhei sempre... a Summerhill, eu gosto, atualmente eu sigo a Lumiar, Escola da Ponte, fico agoniado que a Educação Física não presta atenção nessas coisas. E eu sei do valor da escola experimental, porque eu trabalhei nisso, não é uma invenção ou utopia talvez. Dentro desse processo, eu fiz graduação, a minha luta no centro acadêmico, no jornal e tudo, foi para Educação Física ir para a USP, deu certo. Fui da primeira turma a receber o diploma pela USP, era uma escola isolada, a gente participou de um monte de assembleia na época. E era uma época que duas pessoas conversando já podia ser considerado um ato subversivo, então, foi bem emocionante. Depois que

CENTRO
DE MEMÓRIA DO
Macedo o Projeto Garimpando

eu fui para o Maranhão, em 1973, aí voltei da Olimpíada, era cheio de curso e desempregado, fiz um monte de curso, não adiantou nada. Fui vender livro e tal, nessas de vender livro eu fui dar curso de handebol, e aí enrosquei no Maranhão e fiquei por boa parte da vida no Maranhão, na verdade. Em 1977, fui fazer o mestrado na USP, a primeira turma também, voltei para o Maranhão, passei pela UNICAMP. Aí fiquei rodando, porque também tem essa história de atuação, minha militância é associação. Então, assim eu ajudei a fundar a Associação de Professores da Universidade do Maranhão, a APRUMA, e aí era uma perseguição danada [risos], porque o reitor era um coronel cruel. Eu acabei indo parar na UNICAMP com licença do Ministério também, fui assessor do Ministério porque o ministro me salvou, Marco Maciel me salvou. E aí o reitor conseguiu mais um mandato, uma jogada lá e, eu continuei mal na universidade, porque eu era secretário regional da SBPC e, esse reitor que era um coronel, o primeiro ato que ele fez foi colocar na ilegalidade todos os diretórios acadêmicos e associação docente. A gente tinha uma sede dentro da Universidade e perdemos tudo, telefone e tal. E aí eu estava organizando uma reunião regional da SBPC, bem legal, oitocentas pessoas participaram, só que o reitor foi vaiado quinze minutos na abertura, ou seja, eu fiquei com a minha cabeça a prêmio, só não fui mandado embora porque a direção da SBPC me segurou. Devo essa ao professor Warwick Kerr, que estava passando uma temporada como professor lá na época. Mas daí ficou impossível de continuar no Maranhão, foi aí que eu fui parar no Ministério, o reitor pegou uma carona de recondução, eu fui para a UNICAMP, a convite do João Tojal e, depois da UNICAMP voltei para o Maranhão, depois voltei para o doutorado, do doutorado eu me envolvi com a escola do futuro, por conta... Escola do Futuro da Comunicação e, o meu doutorado começou na comunicação, Ciência da Informação. E aí no meio do doutorado o reitor caiu e o pessoal me chamou de volta para o Maranhão. E eu falei para o meu orientador Frederic Litto, morrendo de pena, que eu ia abandonar o doutorado para retomar a Universidade do Maranhão, ele me apoiou e depois mais tarde eu voltaria, depois de aposentado eu voltaria para terminar esse doutorado. Já agora na UNICAMP, o Fred Litto como coorientador e o João Tojal como orientador. E foi o Centro Esportivo Virtual, que faz vinte anos que está no ar [risos], essa é a história.

C.M. O mestrado foi sobre o que Laércio?

L.P. Mulher e esporte.

C.M. Foi em que época?

L.P. Foi o primeiro mestrado, 1977. Mas eu acabei no último minuto do segundo tempo, que foi... E demorei oito anos, que eu voltei do Maranhão, terminei na praia e tudo. Mas aí nesse mestrado foi bem legal que eu era representante discente, então, eu fiz muitos contatos com os outros cursos, então eu fiz disciplinas de sociologia na Educação, conheci o Litto na Comunicação. Então, assim a minha função era tentar sair do curso horrível que era a Educação Física, era um curso de graduação cheio de alemão e, eu tentava que tivesse mais ligação com Ciências Humanas. E aí como eu tinha sido ferramenteiro, eu queria fazer alguma coisa de Educação Física do trabalhador, eu estava fazendo a disciplina com Celso Beisiegel, que é o Paulo freiriano da USP na Educação, daí eu cheguei e pedi uma audiência com ele [risos], eu sempre treinei time feminino, eu falei: “Olha, tem a Carlos Chagas, que está fazendo um movimento para apoiar pesquisa sobre mulher e eu estou tentando fazer uma sobre trabalhador. O que o senhor acha do ponto de vista sociológico?”. Na verdade, eu acabei fazendo isso mesmo, sobre socialização da mulher no esporte. Tinha uma professora, minha amiga, que estava nos Estados Unidos, fazendo doutorado sob a orientação da Janet Teeple, que mais tarde seria presidente da Sociedade Escola do Futuro, ligada à Escola de Comunicação e Artes da USP de Sociologia do Esporte Americana, mais para frente ela foi isso, esqueci o nome. Mas ela tinha um questionário sobre a socialização das mulheres no esporte, a professora me ajudou a traduzir, foi bem legal. Essa professora depois ela foi editora do Research Quartely, é uma pesquisadora importante. Eu não consegui trabalhar com ela porque... Meu inglês é ruim também, eu estava no Maranhão também e ali eu estava com outras coisas, perdi uma grande chance na Sociologia do Esporte nessa possibilidade. E aí o que aconteceu eu fiz uma dissertação naquele jeito, na praia e, a banca queria... Eu entreguei no último minuto e a banca queria me reprovar [risos]. E aí um professor da USP resolveu que eu não deveria passar, eu fiquei em pânico, mas por sorte na minha banca estava uma professora da Faculdade de Educação, Zilda Augusta Anselmo, com quem eu tinha feito a disciplina Teorias da Aprendizagem, ela falou: “Não, minha nota é dez” e aí teve uma briga de meia hora entre os dois. Resultado, eu me defendi, meu orientador em vez de me dar a nota maior ficou entre os dois, entre o seis e o dez e, acabei passando, umas notas assim, passei. Mas eu escondi a tese e sai do tema. Muitos anos depois no CONBRACE do Espírito Santo, uma minha amiga do Maranhão, minha ex estudante falou: “Olha, eu soube da tua

tese pela Fúlvia Rosemberg” para você ter uma ideia a Fúlvia Rosemberg é uma mulher que estuda mulher, da Fundação Carlos Chagas. Então, eu falei: “Pelo amor de Deus, a mulher leu o meu trabalho”. Eu escondi e tal: “lá vem mais chumbo” [risos]. E aí foi naquele período da Elaine Romero, não sei se você acompanhou, a Elaine escreveu sobre mulher e esporte e, a Fúlvia fez uma revisão bibliográfica. E aí ela escreveu que o melhor trabalho que tinha sido feito no Brasil até o momento era a dissertação do Laércio, olha só [risos]. Tirei cópia e fiquei com vontade de mandar para o professor da USP que queria me reprovar, mas aí perdi o pique. Mas também eu já tinha saído desse tema, já tinha ficado mais na Comunicação e, acabei não levando a frente. De vez em quando alguém estudando mulher no esporte conversa comigo sobre o que eu fiz e tal, tem a gentileza de me citar no trabalho, no bom sentido, mas é legal, fiquei por aí. E nesse mestrado que eu fiquei conhecendo o Litto, foi o grande homem da minha formação acadêmica, Frederic Litto. Que é um especialista da Escola do Futuro, eu estava com ele na criação da Escola do Futuro na USP e, até hoje é meu grande amigo, a gente conversa toda semana. Ele é presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, ele fez uma palestra para a gente em Belo Horizonte, sobre Educação Física e Educação à Distância. Ele me acompanhou, quando eu fui falar que eu desisti do doutorado, em vez de ele me dar bronca, ele me deu incentivo, eu falei para ele: “Ó, vou abandonar o doutorado. Vou voltar para o Maranhão que a minha turma tomou o poder lá”. Daí como ele é doutor em teatro, ele falou que tinha um sujeito chamado Grotowsky, que morava na capital e depois ele foi para o interior e fez um dos melhores trabalhos do teatro do século XX. Então, ele me incentivou a voltar para o Maranhão. E depois eu retomei o trabalho e, quando eu fui fazer o CEV36 contei com ele de novo, ele foi da banca, bem legal, e foi isso. Falei muito, nossa mãe.

C.M. Não, está ótimo Laércio.

L.P. Vai puxando aí, porque senão eu viajo.

C.M. Laércio, você poderia falar sobre o CEDEFEL do Maranhão?

L.P. Então, o CEDEFEL foi uma criação da Secretaria de Esporte, no começo da década de 1980. Quando eu me transferi, com o meu automóvel e meus livros para a Paraíba e deixei um monte de documento que a gente tinha que era da Secretaria de Educação, que a gente tinha que criar uma Secretaria de Esportes e tal. Daí o pessoal ligou da Paraíba, aquelas histórias abriram concurso para a Paraíba, eu fiquei na casa do João Freire incomodando três meses, fiquei treinando o time de handebol e já era um paraibano, quando o pessoal diz: “Volta que criaram a secretaria e, você precisa trabalhar na ideia que você ajudou a criar”. Daí eu peguei meu carro velho, enchi de livro de novo e voltei para o Maranhão. Daí quando eu cheguei lá, como eu cheguei nessa circunstância do cara que ajudou a criar, eu pude fazer bastante coisa, eu fui para a assessoria do secretário direto, e aí puxei a história da documentação, informação e tal, e ele deu toda a força, aí que foi o CEDEFEL. A gente, Leopoldo Gil Dulcio Vaz e eu, criamos uma sessão dentro da secretaria que daria apoio ao CEDEFEL, para você ter uma ideia o Research Quarterly, que era a maior revista da época de Educação Física, pesquisa e tal, a gente comprou a coleção inteira para o Maranhão, o único lugar que tem esse periódico. Estava tudo em microfilme, a gente comprou o microfilme desde 1930. Assim... sumiu depois, mas para você ter uma ideia eles me apoiaram na ida para a Colômbia, para esse encontro de documentação esportiva, foi a secretaria que me apoiou. E aí escrevi no telex, eu lembro de escrever lá de Medelin39 ... “Olha, pode ser a segunda aí no Maranhão?” e o Jota Alves da Comunicação falou: “Falei com o secretário, pode assumir aí, que a segunda conferência vai ser em São Luís”. Mas aí tem mudança política, já não era mais o secretário, não consegui dar continuidade. Mas lá foi legal que eu conheci bastante gente da IASI40, que hoje eu ainda estou. Para você ter uma ideia, essa reunião da IASI que eu consegui fazer no Brasil, em 2006. Vinte e seis anos de batalha [risos], desde essa época que eu tentei levar para o Maranhão, eu vinha batalhando e não tinha jeito, para ver se eu fazia a reunião no Brasil, só consegui fazer isso em 2006. Que eu já te contei que foi um desastre a reunião etc., etc. Mas foi legal, foi um quarto de século de luta [risos].

C.M. Laércio, como que começou seu envolvimento com o CBCE?

L.P. Então, eu sou amigo do Victor Matsudo, de juventude, sou de São Caetano43 como ele. Eu admiro muito o Victor, tem isso. Para você ter uma ideia a importância do Victor, quem foi o grande idealizador do CBCE foi o Victor. Quando a gente fez o mestrado na primeira turma todos os estrangeiros que vinham, e eram pessoas importantes dentro das áreas, eles achavam que o mestrado era em São Caetano. Eles não sabiam, eles falavam: “Não, como USP? Não é São Caetano?”. E eles davam aula e corriam para São Caetano para ver o banco de dados de São Caetano. A gente tinha lá, tem até hoje, o CELAFISCS , o que era: eu era o diretor do SESI45 na época, bem no

começo... Eu era diretor do SESI e eu fiz com o Victor, ajudava o Victor a fazer uma olimpíada colegial. Essa olimpíada colegial foi crescendo, a gente fazia o Simpósio de Esportes Colegiais de São Caetano, era um grande simpósio e tal, ao mesmo tempo... era ditadura, lembra... Era difícil de se reunir e o pessoal que a gente chamava, que era os torturadores, isso é intriga [risos], se reuniram na Federação de Medicina Esportiva [risos], e aí o que acontecia o pessoal de São Caetano era.... E os amigos da volta, o pessoal que era do Rio46 que iam para São Caetano, que conhecia, São Caetano produzia muito e, nos Congressos de Medicina Desportiva quem produzia era o pessoal da Educação Física. E aí o que aconteceu? A gente falou: “Olha, não podemos nem ser sócio e a gente está dando força para esses caras da federação, vamos encarar”. E aí teve a reunião que eu já contei, não sei se você chegou a ver o vídeo que eu contei como foi a reunião, não sei se falo aqui...

C.M. Se você puder falar, por favor.

L.P. Então, o que aconteceu, em 1976 ia ter um Simpósio de Esportes Colegiais, a gente chamou o presidente da Federação de Medicina Esportiva, a ideia era assim: vamos dar uma prensa, que o professor de Educação Física apresenta a maioria dos trabalhos e não pode nem ser sócio. E aí estávamos nós cinco, que aí consideramos fundadores do Colégio, que é o Victor Matsudo, o Paulo Chagas do Rio de Janeiro, eu, o Cláudio Gil e a Fátima Duarte que está hoje em Santa Catarina. Chamamos o presidente para a reunião, dentro do Simpósio de Esportes Colegiais, e aí quando começou a reunião o presidente já sabia que a gente ia fazer isso, para a nossa surpresa, ele começou disse: “Olha, eu sei que vocês apresentam os trabalhos, vocês são o máximo, não sei o que, mas quero dizer que a partir de hoje vocês vão poder ser sócios da Federação de Medicina Desportiva”. Aí deu aquele branco geral: “Uau, e agora?”. E aí eu me considero o arremessador da pedra fundamental do Colégio, porque eu perguntei assim: “Bom, legal, nós vamos ser sócios, como nós somos maioria o próximo presidente da Federação de Medicina Esportiva vai ser um professor de Educação Física, o que o senhor acha?”. Quando eu falei isso ele levantou, derrubou a cadeira, fez uma esculhambação geral. Foi legal, nós cinco saímos para outra sala, o Victor já estava preparado com a criação do colégio, falou: “Então está bom, o presidente da Federação acaba de fundar o Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte”. E aí formamos logo.... Isso foi em São Caetano, depois fizemos uma reunião oficial em Londrina50, onde a gente pegou todo mundo que tinha se reunido também. Fizemos algumas reuniões na casa do Victor, em São Sebastião, tem umas fotos históricas da criação, e aí oficializamos em Londrina e, daí para frente foi... o Victor foi o presidente, o Claudio Gil, a turma que estava lá mesmo, o Claudio Gil foi vice e eu fui o vice de Educação, não sei como se chamava na época, mas foi para a Educação. E foi isso, começou a primeira gestão, foi essa turma que estava conversando lá com o presidente, desse acidente. Sempre me envolvi, nunca deixei de participar... Fui do Colégio desde sempre, significa desde o primeiro dia, ajudei a fazer Revista51, ajudei a levar para a UNICAMP, fui presidente depois em 1985. Porque nos primeiros anos eu fiquei muito, que eu fui vice presidente da Educação, depois uma gestão do Cláudio Gil que ia para o Rio de Janeiro eu não fiquei, mas eu voltei como presidente eleito do Osmar, eu fui presidente eleito na gestão do Osmar. E aí quando eu assumi, a gente achou... Foi um desastre, isso acho que você sabe, foi um desastre essa história do Cláudio Gil, porque tem sempre essa briga horrorosa Rio São Paulo, e aí o que aconteceu o Claudio Gil era presidente eleito na gestão do Victor, e virou presidente. Quando ele quis eleger a diretoria, São Paulo se rebelou, e fez uma diretoria de São Paulo, daí o Claudio Gil começou a administrar, ele também não é muito paciente, você ou alguém deve ouvir a opinião dele... [risos] E aí o que aconteceu, ele renunciou e o Osmar assumiu antes da hora, mas ficou claro que essa história de presidente eleito tinha esse perigo, um presidente com uma diretoria em outro lugar, não é possível isso. Então, a gente decidiu que na minha gestão acabaria a história do presidente eleito, como não tinha ainda o estatuto antigo, a Celi era vice presidente, era presidente eleita, ela renunciou assim que assumiu e criou a coordenação das secretarias regionais, que era a grande mobilização que a gente queria fazer e realmente fez, fez muitos pontos de difusão e foi bem legal. E assim, normalmente ela foi depois a presidente, porque ela era a presidente eleita tinha esse acordo tácito, ela inclusive tinha ido para o doutorado na UNICAMP, como eu era professor da UNICAMP tinha uma sede do Colégio na UNICAMP, e ela fazendo o doutorado.

C.M. Nessa época que você estava na presidência, desde 1985 até mais para frente, tinha pesquisas das humanidades dentro do Colégio?

L.P. Então, isso é o mito. Na verdade, eu não sei por que, a gente brigou tanto com os médicos no começo, “porque eles eram os torturadores, eles eram a favor da...” Para você ter uma ideia, quando eu assumi... Foi assim, quando foi a democratização, 1985, então, foi em 1985, eu fiz 1985 a 1987, 1983 a 1985 eu fui presidente eleito,

mas eu morava no Maranhão ficava longe, mas aí em 1985 eu comecei a ir para São Paulo de novo. Então, esse mito contra os médicos, por causa da fama do Victor também, porque o pessoal falava: “ O Colégio do Victor Matsudo”, por conta de ele ser o fundador. E aí as pesquisas do laboratório, era de laboratório, tipo dobra cutânea e tal, era tudo isso, e o pessoal que eram revolucionários, autoproclamados, ficavam falando isso. Mas na verdade, eu tenho que restabelecer uma coisa, na primeira gestão do Colégio eu fui o vice presidente de educação, tinha educação desde o primeiro dia, além de mim tinha a Maria Isabel de Souza Lopes que é socióloga, hoje ela mora em Curitiba, ela foi pró reitora depois de Maringá. Ela escreveu naquela época já sobre Sociologia e Educação Física e ela está na primeira gestão do colégio, então assim, tinha humanidades desde o primeiro dia. Eu te falei agora, não sei se eu falei para você da Maria Nilde Mascelani, do vocacional. Eu trabalhei no vocacional, isso eu te falei, trabalhei no vocacional, a grande mentora do vocacional era Maria Nilde Mascelani, que aí se puder anotar... A Maria Isabel de Souza Lopes era assessora e parceira da Maria Nilde, então assim, quando eu vi ela vindo para o Colégio eu falei: “Uau, a socióloga”. Ela dava aula de Sociologia do Esporte na Fefisa54 , na Faculdade de Santo André, então assim, ela era uma professora universitária na Educação Física, socióloga, ela não é da Educação Física. A ligação dela com o esporte é que ela foi jogadora de basquete da seleção brasileira, isso foi ótimo, porque eu tinha resistência dos dois lados, eu tinha resistência do pessoal das biológicas e o pessoal da Educação Física e tal. Então, eu lembro da primeira reunião quando eu apresentei a Maria Isabel, eu falei assim: “Essa aqui Maria Isabel de Souza Lopes, socióloga”. Daí o pessoal torceu o nariz “socióloga, o que ela está fazendo aqui, deve ser uma comunista”, sabe aquele papo de Educação Física, você conhece. Daí eu falei: “Olha, ela é a Ziza, da seleção brasileira de basquete” abriu o ambiente, todo mundo: “Ah, uma pessoa que usou short, camiseta e jogou bola”. Pronto, daí foi legal [risos]. Aí chegou a Maria Isabel. Lembra, o primeiro dia de reunião, não é a questão que depois as humanidades, não tem nada disso, não, teve desde o começo. Não foi forte, porque a nossa área é do jeito que você sabe, mas que o esforço e o espaço no colégio para a sociologia desde o primeiro dia, das humanidades. Então alguém tem que dizer isso, porque fica a ideia: “Não, depois do Laércio, depois do Laércio teve a guinada”. Não, não teve guinada não, já era.! Nem depois com a Celi, já era, tem que quebrar isso, não sei como. Mas, embora a gente não seja ingênuo, não seja nada disso, não seja bonzinho, o pessoal tenta me descartar assim, mas já tinha.

C.M. E na área de Educação Física, entre os professores, essas pesquisas de humanidades, fora do CBCE, já existiam também?

L.P. Tinha... A Maria Isabel, ela escrevia alguma coisa nas reuniões da SBPC. Eu tenho SBPC no meu DNA, assim, eu sou o cara da SBPC e tal. O Hugo Lovisolo, desde que o Hugo Lovisolo veio para o Brasil, ele escreve na SBPC e uma das coisas que eu ainda não consegui fazer no CEV, mas faz vinte anos que está na fila, é resgatar todos esses trabalhos de Educação Física, corpo, lazer, dança, que já foram apresentados na SBPC e o pessoal esquece isso. Já tinha isso, já tinha. Durante o movimento... Eu lembro a Maria Isabel apresentou trabalho na SBPC sobre o movimento estudantil da Educação Física, que contestava um monte de coisa e tal, porque na época da ditadura o Lamartine 56 tocava o Esporte Para Todos, e a grande adversária do Esporte Para Todos era a Maria Izabel [risos]. Ela dizia assim: “Passeio a pé pode, fazer passeata não” [risos]. Criamos o Colégio, colegiado, médicos, professores e tal, depois é que eu digo que foi aparelhado pela Educação Física e perdeu a noção. Porque eu venho com DNA da SBPC e foi o colegiado, porque eu imaginava que seria o grande colegiado das Ciências do Esporte, são dezenove Ciências do Esporte, a gente já falou isso e tal, mas o pessoal aparelhou para a Educação Física e perdeu um pouco, perdeu muito na verdade. O primeiro lance desse foi... Tínhamos muito estudante no Colégio, a gente tinha mais sócio no Colégio em 1985 do que hoje, o dobro, esse é o ponto. Quando o país tinha uma porcentagem pequena de habitantes ele já tinha o dobro de sócio, porque eram todas as áreas, de muitos estudantes. Daí começaram a fazer mestrado e doutorado, os doutores, eles resolveram na UNESP , porque eles começaram a fazer um Simpósio Paulista de Educação Física. O Colégio era na UNICAMP... Aí talvez tenha um aspecto... estou lembrando disso agora, o Simpósio Paulista era na UNESP, e sempre teve uma disputa entre as universidades paulistas, e aí o que aconteceu? A UNESP resolveu criar outra sociedade, Sociedade Brasileira para o Progresso da Educação Física. Recebi o convite, eu era presidente do Colégio, mas eu recebi como mestrando na época, ou mestre e tal, daí eu fui para o congresso, para a reunião de fundação, eram todos... Daí tudo que os homens falavam eu já dizia assim: “Olha, isso já tem no Colégio. O Colégio é para isso, ...”. Mas resultado, eu fui o único voto contra a criação do negócio [risos], e aí eu fui ver a ata, eu recebi todas as atas depois, que morreu essa sociedade, eu recebi todas as atas e, não tem justo a primeira ata em que eu me coloco contra a criação. E eu quero que alguém resgate isso, porque eu estava na reunião e fui contra. Mas aí teve até uma estratégia minha, ingenuidade, eu em vez de pedir para falar primeiro, eu falei por último, quando todo mundo já tinha votado, eu votei. Aí o pessoal veio assim: “Se

você tivesse falado primeiro, teria resolvido”, mas aí foi uma estratégia, ingenuidade minha, errei. Mas eu tenho todos os documentos, eu vou publicar essas atas todas. Depois foi a Suraya59 que é da UNESP que assumiu, a Ana Maria que foi... Que liderou esse movimento da criação da Sociedade, que teve várias publicações, foi a Ana Maria Pellegrini e o Alfredo Faria Júnior60. Aí ficou depois na mão da Suraya, na mão do Helder Guerra de Resende, que foi quem me passou as atas para eu ver o que vou fazer, mas eu estou com essa batata quente na mão aí, para mostrar e para registrar a história, falta muita gente... Por isso que eu fiquei alegre quando você estava puxando esse assunto, porque é impressionante, têm mil pessoas fazendo, quinhentas mil pessoas fazendo monografias, ninguém conta essas histórias, a graduação, mestrado, trinta programas, ninguém conta. Então alguém precisa ir lá, entrevistar o Helder, entrevistar o Faria, ver o que eles queriam disso, porque não deu certo, porque eles criaram apesar do colégio, essa é a pergunta que não quer calar [risos], porque eles criaram uma sociedade em vez de dar força para a sociedade que os estava promovendo esses pesquisadores, chamava para mesa redonda.

C.M. Laércio e sobre as pesquisas de História em Educação Física, o que você via na década de 1970 e 1980?

L.P. Então... Não tinha muito no colégio, não. Eu não sei, eu preciso rever os anais aí, eu precisava ver o que aconteceu. No CEV eu posso te dizer, porque a primeira lista de discussão que a gente criou, a segunda lista, tinha uma geral. A primeira lista específica foi de História com o Victor Melo, então, a gente sentia falta de que precisava quando o Victor topou: “Vamos, porque a gente precisa puxar isso”. Isso foi já na década de 1990. Quando eu estive na UNICAMP em 1986, o Ademir Gebara liderou um grande movimento de história, ele fez aqueles anais, que eu ainda vou conseguir digitalizar e esse movimento do Ademir foi muito bom. Mas o Ademir nunca foi muito próximo do Colégio... Ele liderou muitos trabalhos interessantes de história na UNICAMP, entrevistou muita gente eu lembro que ele fez uma série de entrevistas históricas com pessoal que já morreu e essa documentação em áudio se perdeu, sumiu, não está mais na UNICAMP [risos]. Meu orientador mesmo, do mestrado, que foi o Boaventura63 que tem uma história importante na Educação Física, ele deu entrevista para o Ademir Gebara e a gente nunca conseguiu recuperar essa história. Mas a minha referência foi só até aí, hoje o Coriolano64 , que administra a Comunidade História, o Victor continua porque eu insisto, mas ele não tem muito tempo, mas eu acho que ele é um ícone da história, eu me nego a mandar ele embora do CEV [risos].

C.M. Ótimo. Você foi para a UNICAMP quando? Em 1985?

L.P. 1986.

C.M. E nessa época o pessoal que estava na UNICAMP fazendo mestrado era na Educação Física? Mestrado, doutorado.

L.P. Não tinha ainda mestrado em 1986, não tinha ainda. A gente dava um curso de especialização preparando para o mestrado. E era isso, depois é que teve o mestrado, mas foi um movimento bem interessante. Eu cheguei tarde na UNICAMP porque, por conta da SBPC, eu sabia que um curso sendo criado em 1985 ele não deveria ser de graduação, ele tinha de ser pós graduação direto, esse foi um bom exemplo do ITA. No ITA quando surgiu a informática todo mundo achava que o ITA ia criar um curso de graduação, e eles criaram o mestrado, sem ter graduação e essa foi uma grande sacada, porque criar uma graduação você gasta 90% do tempo com burocracia e você se cria uma pós graduação em uma universidade de nome, como a UNICAMP, você reunia o pessoal melhor do Brasil inteiro na UNICAMP, sem ter o problema de ter a graduação. Mas aí eu cheguei tarde [risos], de qualquer maneira, o Tojal66, que criou o curso, ele fez uma coisa bem legal, ele não tinha quadros, e aí por uma circunstância ele fez uma coisa bem interessante, ele falou: “Onde tem gente da Educação Física?” Daí ele foi buscar a Beatriz67 que estava no doutorado ainda, no exterior, foi buscar o Ademir Gebara que estava fazendo história na Inglaterra, ele pegou o João Freire que estava na Paraíba, o Lino que estava no Maranhão, depois me chamou do Maranhão Na verdade, ele fez, assim, um serpentário, um zoológico muito legais, que trouxe gente de todo o lugar, isso foi uma novidade na Educação Física, porque o costume é a endogenia. A UNICAMP deu um choque importante e eu tenho muito orgulho de ter passado por lá, depois foi Manuel Sérgio, isso quando não estava Manuel Sérgio, Medina, João Freire, o Lino, Marcelino69, Bramante70 , foi algo que marcou época.

C.M. Nessa época na UNICAMP tinha gente fazendo mestrado e doutorado em outras áreas? Gente da Educação Física fazendo mestrado, doutorado em outras áreas?

L.P. Em 1986, eu estava fazendo na Comunicação. Não sei se o Lino já tinha entrado na Educação... O João Freire fazia Psicologia na USP... O Lino foi fazer na PUC, acho que ele fez doutorado depois na UNICAMP e um pessoal ligado a UNIMEP. Como os professores originários da UNICAMP, antes da gente chegar eram de Piracicaba, eles entram no mestrado lá e teve um grande movimento da Educação Física dentro do mestrado de Educação de Piracicaba.

C.M. Acho que o Amarílio fez essa época, da UFES, na UNIMEP.

L.P. Eu não sei onde o Amarílio fez o dele. Na UNIMEP também? Porque assim o vicediretor, que era o cara... Porque o Tojal que cuidava da parte administrativa bem, ele tinha um bom relacionamento com o reitor. Na parte científica quem fazia era o Wagner, eu conversei com o Lino esse fim de semana, ele me reavivou isso que eu não sabia, foi o Wagner que fez o grande movimento de trazer o pessoal, ele ajudava o Tojal nessa parte. Então, quem se aproximou do Colégio trouxe os pesquisadores foi o Wagner Moreira, foi o catalisador desse movimento, que eu não sabia, soube esse fim de semana, eu imaginei que era mais colegiado o negócio, mas parece que foi o Wagner que tomou a frente dele. Então, o Wagner deve ter bastante coisa para dizer nesse sentido. Todos trabalhavam sob a direção e o pique do Tojal, que fazia acontecer.

C.M. Como você se envolveu com...?

L.P. Você leu aquelas páginas que eu te falei da tese... Minha trajetória, desde o jornalzinho, parará... Do centro acadêmico.

C.M. Não, essa não. Eu vi a do pioneirismo como o Leopoldo .

L.P. Leopoldo escreveu. Então, na minha tese eu fiz uma cronologia disso, pessoal, para justificar porque eu entrei no tema. Então se eu for te falar agora eu vou esquecer alguma coisa, eu vou te lembrar algumas coisas, mas você deve conferir a cronologia daquele tempo com a tua crítica. Eu até te falei que eu não tive coragem de reler porque cometi muitos erros [risos], sim. Mas assim quando eu entrei para a Educação Física, já quando eu fiz o vestibular para Sociologia eu já comecei a escrever com a turma do cursinho, depois quando eu entrei na Educação Física eu fazia o jornal, esse Jornal Opinião que deu polícia, e me envolvi sempre com associação, fazia revista APEF78. Quando eu entrei no mestrado eu tentei ressuscitar a revista Esporte e Educação, acho que foi um número marcante, primeiro e último. Mas a matéria de capa era “chegou o mestrado”, eu imaginava que a turma da USP ia alimentar a revista. Mas assim tem esse número da Revista Esporte e Educação, número 44 de 1997, e foi bem legal, porque foi a primeira publicação brasileira que publicou os direitos da criança, foi bem legal, foi esse número. O Victor Matsudo fala de pesquisa, umas coisas legais, e contou a história de como marcou a história do primeiro mestrado, como ele começou. E eu sempre fiquei envolvido, quando eu fui para o Maranhão, eu te falei agora que o secretário deu força, a gente fez uma revista chamada Desportos e Lazer, aí já comecei a trabalhar com o Leopoldo que é um trator, Leopoldo é um tratorzasso, e a gente fez com Leopoldo... Fizemos o índice de um monte de revista, nossa, Boletim da FIEP, revista do Colégio. O computador estava começando, a gente guardou tudo em disquete e perdeu [risos]. Mas esse movimento foi aí. Quando eu me envolvi com o Litto também já foi em Ciência da Informação, aí eu me envolvi com a IASI desde 1980, nesse congresso da Colômbia. Depois do congresso no CEV, que não tinha, achei incrível, eu fui buscar os anais agora na UNICAMP, que eu tinha dado de presente para a UNICAMP e eu pus agora no CEV, o primeiro encontro latino americano. E aí eu vi a programação, realmente eu conheci a turma da IASI lá e é legal. A Renate Sidermann , isso você precisa anotar aí, não sei se você já escreveu sobre ela.

C.M. Renate?

L.P. Renate Sindermann. Ela é pioneira, uma das pioneiras da documentação e informação no Brasil. E ela estava programada, ela não conseguiu viajar, mas ela estava no programa desse congresso da Colômbia, então, ela é uma das pioneiras da documentação e informação. A Maria Alice Bastos que é diretora do SIBRADID, ela tinha uma ideia do SIBRADID, e eu criei junto com ela. Porque eu era do Ministério, nessa época eu estava no Ministério, daí a gente jogou fora um milhão e meio de dólares na UFMG, cruel né. Essa história nem precisa contar, nunca... Eu fui depois trabalhar na UFMG, nunca consegui escrever a história e os diretores fugiam de mim, porque eu estava perguntando sobre isso, eles deixaram o SIBRADID morrer e ninguém conta a história. Hoje eu estou falando bastante com a

Meily, eu quero ver se eu motivo alguém lá. No grupo da Meily tem o vice diretor da Escola de Ciência da Informação.

C.M. O Adalson?

L.P. O Adalsson. Eu estou tentando convencer o Adalson para escrever a História SIBRADID. Eu já estava conversando com uma professora lá e ela me passou o Adalson, quando eu fui agora visitar a Meily, me surpreendi, eu não tinha prestado atenção, que Adalson está no Centro de Memória também. Então, ficou legal, acho que a gente vai contar um pouco dessa história aí.

C.M. O SIBRADID ele começou... Por que foi para a UFMG?

L.P. Então, eu fui assessor do Bruno Silveira. O Bruno Silveira foi o primeiro civil que cuidou da Educação Física no Brasil, sempre era um coronel. Eu estava na APEF São Paulo na época, a revista Corpo e Movimento, a gente fez uma entrevista com ele na revista Corpo e Movimento. E aí me identifiquei com o Bruno, primeiro: ele era o filho do socialista mais preso do Brasil que era o Breno Silveira. Aí eu me insinuei e ele me convidou, eu fui ser assessor dele no Ministério da Educação da SEED MEC. E aí o que aconteceu? Quando a gente chegou era só coronel para tudo, era o coronel do esporte para todos, o coronel da gestão, coronel não sei o quê, dali juntou todo mundo... A gente não conseguiu mudar a estrutura, juntou todo mundo e falou: “Quais são as questões do Brasil em Educação Física e esporte, hoje?” Aí numa reuniãozona ele listou tudo, e eu fiquei com informação e com crianças. Cada um que assumia um tema, independentemente de ser subsecretário, assessor tal, ele ia tocar o tema, e eu fiquei de tocar o tema informação. E aí encontrei a Maria Alice, não lembro como agora, mas encontrei a Maria Alice, ela tinha um centro de documentação o CEDOC, Centro de Documentação em Educação Física. E ela tinha na cabeça a ideia de um sistema, aí eu fui falar com ela, escalei uma funcionária para ir comigo e a gente foi, ela era de Belo Horizonte. A ideia da Maria Alice Bastos foi criar um sistema brasileiro de informação esportiva. A minha luta no Ministério, foi que o pessoal do Ministério, os coronéis que ainda restavam, eles queriam criar o sistema na Escola do Exército, aí chegando na tua pergunta. E a minha luta foi política: “Não, tem que ir para a UFMG”, e aí qual foi o argumento: a Maria Alice Bastos, ela era da IASI na época, onde eu estou hoje, e a Biblioteconomia a UFMG era o melhor curso do Brasil, então assim, ao juntar o melhor curso de Biblioteconomia do Brasil e uma pessoa com tomada internacional na IASI, eu ganhei argumentação de que devia ir para a UFMG. Por sorte o coronel, que era diretor da Escola, também achava legal, apoiou a Maria Alice, a gente fez um movimento aí, deu certo por conta disso. Não foi só minha vontade, não foi só o Bruno, o coronel que era da Escola, controverso o coronel, diga se de passagem, ele lutou por isso, ele acreditava na documentação, dava força, ele foi importante, nesse ponto. Para não ir para o exército, foi bem legal, “então vai para o Coronel Elos88”. A Maria Alice se desentendeu, foi um problema, ela se desentendeu com Biblioteconomia, e aí a gente comprou um computador de quinhentos mil dólares, invés de ir para a universidade foi para a Educação Física, enferrujou o computador, essas coisas que acontecem nas universidades. C.M. E como é que tudo isso chega ao CEV?

L.P. Juntei essas andanças em revistas e sociedades científicas e, intrigado com a gestão da UFMA, fui para o doutorado em Ciência da Informação na ECA USP. O projeto era O fluxo de informação técnica e científica em Educação Física no Brasil. Interrompi o doutorado na ECA pra voltar para o Maranhão e, aposentado, retomei o projeto no doutorado em Educação Física na Unicamp, onde eu tinha sido professor e o Tojal me recebeu como orientando. O Litto também foi como coorientador. Eu comecei o doutorado fazendo um CD ROM, eu trabalhava com microfilme, sempre seguindo na Escola de Comunicações e Arte da USP, trabalhei com microfilme, filmei um monte de coisa, depois comecei a fazer CD. A minha ideia quando eu cheguei em 1995 no doutorado, vou fazer um CD para o professor lá do interior do Maranhão receber o CD com todas as informações. Porque a gente recebia em papel vindo de navio pela Venezuela, demorava para chegar, era uma coisa assim cruel. E aí quando eu retomei o doutorado na UNICAMP, que eu fui para o núcleo de informática biomédica, no tempo em que eu era professor em 1987, eu era ainda presidente do Colégio, a gente fez um congresso de informática em Educação Física e esporte, o 1º Simpósio Brasileiro de Informática, quem abriu esse Simpósio foi o Sabatini90, que era o Diretor do NIB, Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP. Quando eu voltei para fazer o doutorado, eu fui trabalhar com ele, porque ele já conhecia desde o primeiro congresso, está no CEV esse congresso, essa palestra do Sabatini. O Sabatini ministrava um treinamento de verão no NIB e eu fui fazer ainda pensando no CD. Quando ele explicou o Hospital Virtual vi que seria possível fazer o Centro Esportivo Virtual aproveitando a coorientação dele. Mudei o projeto para

Centro Esportivo Virtual, um recurso de informação em Educação Física na Internet. O Litto e o Tojal toparam e deu certo. O CEV foi um dos oito projetos do NIB. Eu falei: “Não, invés de CD porque não um Centro Esportivo Virtual”. E aí foi um dos projetos do núcleo de informática, o CD que era inicialmente virou, por conta da internet que estava crescendo, virou o Centro Esportivo Virtual, essa criação foi nesse ponto. E o Litto que é professor emérito da USP, foi para a coorientação, que ele não queria ser orientador.

C.M. Esses eventos que tiveram sobre a documentação científica, como você fica sabendo do Centro de Memória?

L.P. Então, eu encontrei com a Janice, e ela estava criando um núcleo de pesquisa em história com um nome meio complicado e eu sugeri: “Centro de memória”. Para a minha surpresa ela trocou e pôs Centro de Memória, então assim, eu ajudei a batizar o Centro de Memória e eu não sei se foi o primeiro o CEME, ou se teve outro, mas eu acho que o nome Centro de Memória que eu ajudei a Janice, aí você deve confirmar com ela, que eu ajudei a batizar, parece que pegou e virou Centro de Memória em outros lugares também.

C.M. Essa ideia do Centro de Memória, você lembra se veio de algum lugar ou porque Centro de Memória?

L.P. Por que chamou ou porque foi feito?

C.M. Por que você deu essa ideia do nome ser Centro de Memória?

L.P. Porque eu já conhecia alguns Centros de Memória, como o da UNICAMP. Gosto de ajudar a criar nomes. Quando começamos a parceria do CEV com Uberlândia a Rossana93 chamava de Nubraditefe. Ela aceitou o meu palpite e ficou Nuteses94. Mais recentemente, quando trabalhei com a Celi e o Ailton no Diagnóstico Nacional do Esporte propus a mudança de apelido de Diagnesp para Diesporte95 e também aceitaram.

C.M. Você acompanhou algo da Rede CEDES96 ou da Secretaria para o Desenvolvimento do Esporte e do Lazer que auxiliou a consolidação dos Centros de Memória?

L.P. Chegamos a ter um grupo de discussão da Rede CEDES no CEV no começo. Mas a turma do Ministério parece que não gostou. Tínhamos tido um grupo dos autores do Atlas do Esporte do Brasil com mais de 400 participantes, que funcionou muito bem, coordenado pelo professor Ailton Oliveira.

C.M. Depois disso você acompanhou alguma coisa dos Centros de Memória?

L.P. Apenas os eventos e o que conversaram na Comunidade História do CEV.

C.M. E o último assunto, sobre o Congresso de Documentação Esportiva de 2006, como ele foi idealizado?

L.P. Foram pouco mais de vinte anos na luta pela realização de uma reunião da IASI no Brasil. Os participantes da reunião, dirigentes de centros de documentação pelo mundo, vão por conta própria e, geralmente, levam projetos de parceria. Aproveitamos a vinda desses especialistas para a realização do CONBIDE97. Temos que registrar o empenho do Secretário Nacional Lino Castellani no apoio do Ministério ao congresso.

C.M. Esses congressos se preocupavam com a preservação da Memória?

L.P. O CONBIDE está todo no ar. Tem gente da história e da documentação e informação. A Silvana Goellner98 falou dos Centros de Memória.

C.M. Laércio, deseja acrescentar algo mais sobre a formação dos Centros, a preservação da memória do esporte no Brasil ou sobre documentação?

L.P. Começamos a caminhar com o Atlas Nacional do Esporte e o Diagnóstico Nacional do Esporte DIESPORTE. Há uma aproximação ainda tímida com o IBGE99 e com as Associações de Museus. Mas, falta muito. O pessoal dos Centros de Memória deveria formar uma associação.

C.M. Então Muito obrigada! Foi uma honra. [FINAL DA ENTREVISTA]

AINDA OS CLUBES MARANHENSES

2008 O Instituto de Administração de Projetos Educacionais Futebol Clube é um clube de futebol, da cidade de São Luís, no estado do Maranhão. Foi fundado em 10 de agosto de 2008, e manda suas partidas no Estádio Nhozinho Santos. Suas cores são azul e amarelo.

2011, disputou dois jogos da Copa do Brasil com o Atlético Mineiro. No primeiro jogo, conseguiram marcar dois gols, mas o Atlético venceu por 3 a 2. No segundo jogo, o Canário da Ilha sucumbiu ao Galo.

2020, o IAPE voltou com uma nova administração junto com o DFG Sports, investindo nas categorias de base e o profissional.

Escudo do antigo Babaçu

1996, foi fundado o Clube Atlético Babaçu em São Luís do Maranhão O time se destacava nas competições de base, conquistando a vaga para a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2015 e de 2019 O Clube Atlético Bacabal foi um clube de futebol, da cidade de Bacabal, no estado do Maranhão. Suas cores eram verde, amarelo e preto. O clube, quando se chamava Clube Atlético Babaçu, já chegou a mandar seus jogos em Viana e em São Mateus do Maranhão, e passou a mandar jogos em Bacabal quando alterou seu nome. Atualmente, o Tuntum Esporte Clube da cidade homônima utiliza o CNPJ do clube para disputar as competições da Federação Maranhense de Futebol.

2005 No profissional, o time fez sua estreia na Segunda Divisão do Campeonato Maranhense em 2005, já mandando os jogos na cidade de Viana até 2007 quando anuncia a parada do futebol profissional.

2014 - Depois de um período de recesso, voltou a disputar em São Luis para a disputa da Segunda Divisão em 2014, mas na edição seguinte passou a mandar os jogos na cidade de São Mateus do Maranhão até se licenciar novamente após essa disputa.

2019, após firmar uma parceria com a prefeitura de Bacabal, o clube muda de nome para Clube Atlético Bacabal (ou simplesmente Atlético Bacabal) e passa a mandar os jogos na cidade para os anos de 2019 e 2020.

2021, o Atlético Bacabal dá lugar ao novo clube Tuntum Esporte Clube para a disputa do Maranhense Série B, que passa a utilizar o CNPJ do CAB para poder entrar na disputa, dando fim a história do CAB.[5]

2021

O Tuntum Esporte Clube é um clube de futebol, da cidade de Tuntum, no estado do Maranhão. O clube teve sua fundação e apresentação em 1 de junho de 2021 e com o apoio da prefeitura da cidade, que fica a 365 km de distância da capital, São Luis. Sua primeira competição profissional foi o Maranhense da Segunda Divisão, entrando na disputa utilizando o CNPJ e a vaga do Clube Atlético Babaçu, que entre 2019 e 2020 era conhecido como Clube Atlético Bacabal, sendo absorvido definitivamente pelo Tuntum Esporte Clube. Já na sua primeira participação, o time já garante o acesso inédito a primeira divisão do Campeonato Maranhense[4] e se torna vice campeão, ao perder a final para o Cordino Com esse resultado, o time também garante vaga na disputa da Copa Federação Maranhense de Futebol de 2021. Em dezembro de 2021, o clube conquista seu primeiro título profissional: a Copa FMF, ao vencer o Juventude, de São Mateus do Maranhão, por 1 a 0 na ida e empatar por 1 a 1 na volta em casa [6][7] Com o título, optou pela vaga na Copa do Brasil de 2022, deixando a vaga pra Série D para o Juventude Samas.

2022 foi rebaixado no Campeonato Maranhense.

2007 O São José de Ribamar Esporte Clube é um clube de futebol, da cidade de São José de Ribamar, no estado do Maranhão. Suas cores são verde, azul e amarelo, Em 2007 o clube subiu para a primeira divisão do maranhense como o vice campeonato da segunda.

2008 o time obteve uma ótima atuação na Taça Cidade de São Luís ficando em 3º lugar eliminado grandes clubes como Moto Clube e Maranhão.

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido.

Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

DIÁRIO DE BORDO

Fazendofénomodismomediáticoeemmuitodoqueselêevênasredessociais,nãoénormalqueocão urinenoposte;anormahodiernaimpõequeoposteurinenocão.

O panorama geral não é melhor. Vivemos um intervalo, com a mortalidade a flutuar, num lugar que não nosreconhece.Écomoseasabedoria,adecênciaelucidezvoassempelajanela.Todavia,nofundodomeu íntimo mora a convicção de que o ser humano volta sempre às necessidades de beleza, verdade e discernimento.Naescrita,noensinoeaprendizagemsóperduraoqueobedeceatrêscritérios:esplendor éticoeestético,forçaintelectual,sapiência.Maséumacrençadesmentidapelaconjuntura.

EsteéotempodeDomQuixote:intimaabeiraratranscendênciaefavoreceosucumbiràfrustração,como se apenas nos fosse possível alcançar a apoteose no silêncio amargo daderrota e resignação. Aceitemos, pois,oslimitesdaspossibilidades,àluzdaspalavrasdorabinoHilel(c.60a.C. c.09):“Ondenãohouver Homens,esforçai vosparaagircomoumHomem”.Ninguémobrigaarealizarestaobra,mastampouconos dispensadela.Ademais,LudwigWittgensteinnãodásossego:“Eunãoseiporqueestamosaqui,mastenho a certeza de que não é para nos divertirmos”. É para subir a ladeira íngreme dos princípios e ideais civilizacionaiseuniversais.

Estádifícilmantervivasasconvicçõesganhasnumtrajetoesforçadoesuado.Nasnoitesediasdadúvida opressorailumina nosoclarãodeMárioQuintana:“Avidasãodeveresquetrouxemosparafazeremcasa”. Para os guardar e cumprir, mesmo sabendoque caíram em desuso. A consciência acordada põe sobre os ombrosuma pesadacarga detrabalhos. Aumentam, por isso,osdissimuladosque ignoramasobrigações ínsitas na nossa matriz ética, e pautam a conduta por contratos explícitos, como se não houvesse, para presidiraosatos,valoresimplícitos,semprecisãodeformulação.

Socorro medoescarmentadoMiguelTorga:“Aparelheiobarcodailusão/Eforceiafédomarinheiro./Era longe o meu sonho, e traiçoeiro/O mar.../Mas corto as ondas sem desanimar./Em qualquer aventura,/O queimportaépartir,nãoéchegar.”Sigo,pois,ocaminhotraçado,paranãocairnafarsaementira,ciente docastigoqueatingeosfalsosementirosos:seroquesãoenãooquedeviamepodiamser;nãosãonada, porlhesfaltaridentidade.Teimoempassardecaraerguidaporentreamultidãodesfigurada. Assim, persisto em preferir a dificuldade dorida do fruto porfiado à vantagem indevida do dever contornado.Atéporqueoindivíduoqueadornãoeducounãopassadeumacriança.Adortorna nosmais fortes,experimentadoseconhecedores,emboratambémmaiscéticos,pessimistasesolitários. Hoje, Dia de Todos os Santos e véspera dos Fieis Defuntos, outrora dia de magustos de castanhas em Bragada, lembro me dos ancestrais e das gentes da minha terra, do seu esforço titânico para dobrar o destinoearudezadascircunstâncias.Dou mecontadequenãopodemossertodosiguais;otelurismodo localdenascimentoecrescimentocondicionaaessênciadascriaturas,agrandezaelimpidezdaalmaea autenticidadeeternuraquesederramamnaface.

Isto leva me a considerar irrelevante oteor deste texto. Talvez o devesse deitar fora e escrever de novo. Eisumasugestãoeconviteparaalgoabrangente:pararecomeçaraescritadavidaereinventarasmargens queoseucursodeveseguir.Afinal,elaéumaviagem;énestaqueaexistênciaaconteceeapessoagermina, floresce e amadurece. O saber vem nos do sabor que o caminhar oferece. Estamos e somos em trânsito, nummarsalgadoefundodeencantamentoedesilusão.

CADÁVERES INSEPULTOS

OcorpodarainhaIsabeldaInglaterraandou,váriosdias,embolandas,semdesceràsepultura.Parafestim doscanaisdetelevisãoedosagentesdaalienação.

Há cadáveres que superam as normas do protocolo real inglês. Morreram duas vezes, em 2 e 30 de outubro; e só vão ter funeral definitivo no primeiro de janeiro de 2023. É tempo excessivo, dado não existiremprodutosqueevitemainsalubredecomposiçãoeocheiroapodridão.

Taiscadáveresnãoosãonosentidofísico.Massão nomoralmente.ForamabatidosnoBrasilpelosvotos dos que conservaram a memória dos corpos dos mortos. Os votantes aprenderam a lição dos gregos, expressa na tragédia Antígona (de Sófocles); decidiram não permitir que os matadores continuassem a matar a morte, a fazer escárnio desta e a persistir no ódio e aviltamento do Outro. Uma sociedade, que aceitacomolegítimomatarduasvezesalguém,perdetodooteorético,torna seumconúbiodeassassinos semescrúpulosearrependimentoedevítimassemindignaçãoerevolta;logo,nãotemdireitoaexistir.

Os vencedores são o que sobrou da destruição sistemática da alma brasileira, levada a cabo por cavernícolasinomináveis.Faceàinsanidadequeseapoderoudemuitosvivos,foinecessárioressuscitaros mortos. A evocação destes revelou se salvífica. Com ela o Brasil edificará a partir dos escombros, para salvaçãosuaedomundo.

30.10.2022(23,00horas)

Jorge

DECOMPOSIÇÃO DA EUROPA

Urgeromperaneblinaeverparaalémdacortinaqueelapõediantedosolhos.AUniãoEuropeiatornou se uma procuradoria dos EUA, com a Úrsula, o Carlos Miguel e o Borrell investidos no papel de cabos de ordens. O euro encontra se ajoelhado face ao dólar. Macron discorda, mas não assume; e diverge do chanceleralemão,porqueestesevoltaparaaChinaembuscadematérias primasbaratas,semasquaiso poderio industrial da Alemanha entra em declínio. Na Inglaterra a democracia evaporou se: para ser primeiro ministronãosãoprecisaseleições.Ademais,osinglesespermitem sesabotargasodutosnoMar Báltico, nas águas e barbas de putativos aliados. Em vários paíseso governo caiu nas mãos de gente que nãotemomínimorebuçoemcelebrarosduendesfascistas.OautocrataPutinéodiaboemfiguradegente; e por isso mesmo um excomungado. Resta Zelensky; promovido a liberal, é o novo herói idolatrado. A Europaapodrecelentaeinexoravelmente;oarfede,sónãoosentequemfechaasnarinasdainteligência.

DIA DE FINADOS

Recordemos os entes queridos e os amigos que já partiram. Recordemos, sobretudo, as alegrias e aprendizagens que nos proporcionaram, os sorrisos que connosco trocaram, os momentos e o pão e o vinhoque partilhamosesaboreamosem conjunto, asbênçãosque nosderam,aquilodeque seprivaram em nosso benefício, a saudade que deixaram. Deste jeito eles não são finados ou anónimos. Continuam vivosecomnomeentrenós.

SUPERPOTÊNCIAS PARA QUÊ?

O mundonãoprecisadenenhuma superpotência daameaçae da guerra. Doque precisaurgentemente é demuitassuperpotênciasdapaz.

É imperioso que a força das palavras, em vista da paz, se sobreponha à força das armas que matam e queimam pessoas na fogueira da guerra. Temos políticos e pagamos-lhes bem para isso; para evitar guerrasenãoparaasalimentarenosenredareperdernessedesvarioinumano.

NO FINALZINHO DO DIA…

Opôr do soljádesceu.Chegouahoradocrepúsculo.Aluzvai seextinguindo,poucoapouco.Éotempode chamaramemóriaesopesarosnossospassos.

Não te lembras do sujeito com bigode e das tragédias que desencadeou? Não foi posto no poder pelas forçasarmadas;foipelopovo,eestealistava seorgulhosamentenasmilíciasnazisesaudavaefusivamente

o desfile delas, as bandeiras com a cruz suástica e as barbaridades que cometiam. A razão viu se totalmente obliterada pela selvajaria. Na Itália de Mussolini sucedeu o mesmo. Ora, réplicas de ambos andamporaí,comoutrosnomeseemváriospaíses.Apologistasdemonstrosetorturadoressãoeleitose seguidosporgentealucinada.Ahquãomedonhaéadegradaçãodaspessoasemrebanho! Também não recordasascândidasafirmaçõesde AugustoPinochet:“Não souditador. Tenhoapenasum arcarrancudo.”Apenasisso,comoficousobejamentecomprovadopelosseuscrimes.Se,naaltura,aIURD eoutrasseitasdomesmojaezpontificassemnoChile,eletinhasidoinvestidoembispo,taleraasantidade dacriatura.

Dava jeito que a memória funcionasse, mas nem com ajuda de desenhos funciona. Sinto um arrepio de angústia. Pode ser que o inevitável não aconteça, mais uma vez, por obra e graça da mão invisível que agarraaHumanidadeenãoadeixacairnofundodoabismo.

REINO TRANSMONTANO

Voltei a esta terra enrugada e empinada, com horizontes alongados até ao infinito. Estendida, encheria o mundocomodeslumbramentodasencostas,ribeirasevales,ecomasacralidadedoscumesquetocama varandadocéu.Sobramaindaasestrelasquepovoamasnoites;eosduendesquevigiampelapreservação da memória, escondidos nos carvalhos e castinheiros seculares, símbolos da resistência e padrões dos caminhos. Constitui uma nação esculpida pela teimosia da vontade, e um evangelho de poemas escritos commãoscalosaseversosdepedrassublimadas.

OURO TRANSMONTANO

EmTrás Os Monteshámuitasespéciesdeouro.Odemaisfinoquilatesãoaspessoas.Nãovoufalardelas, por razõesóbvias, embora devesse.Da suabocajorram palavrasque pesam e obrigamà reflexão. Etudo quanto sai das suas mãos calejadas equivale a peças de ourivesaria. Osprodutos surgidos do amanho da terraeasfrutascolhidasnocuidadodasárvores,osqueijosdecabraeovelha,oazeite,opãoeovinho,as postasdevitelaeolombodeporco,opresuntoeosenchidos,oarroz doce,aaletria,ofolar,abolasovada, osdoceseconómicoseumnuncamaisacabardeesculturasehinosdeexaltaçãodopaladarrepresentama transformação da simplicidade em sublimidade. Aqui todo o sabor é um tratado de saber, toda a pedra contémpepitasauríferas.

OS MEUS HERÓIS

Feitos do frágil húmus da terra, tropeçam e caem com frequência. Levantam se do chão, recuperam o equilíbrio,retomamopercursoe,quandonecessário,emendamospassos. Conheçoessecaminhoárduo,osmontesedepressõesqueéprecisoatravessar,acordaásperaparasubira vida a pulso, o vento frio que é obrigatório enfrentar, a míngua que dá sabor à carestia de pão, o solo pedregoso e ressequido que é imperioso amanhar com suor copioso para colher algum fruto. Os ‘meus’ heróisprovêmdaíeformamumaelite.Cheiosdecontradições,escolheramlutarpelossagradosvaloresda Humanidade.Nãosendosantosoubeatos,sãoinconfundíveiscomosembuçadosnacapadafalsidade.

DEMOCRACIA DESACREDITADA

Ademocraciacarecedereinvenção,afimdefazerjusaospropósitosínsitosnasuadesignação.Oslíderes europeus, ditos democratas, não estão em condições de a restaurar, nem de dar lições de moral aos políticos da extrema direita. Têm uma folha de serviços, eivada de cinismo, falsidade, hipocrisia e corrupção, e de esbulho dos mais fracos, que escancara as portas do cenário à entrada e avanço dos neofascistas. Matam e enterram diariamente a democracia. O resto é poeira. Quem oscensura érotulado de'radical';com razão,porque denuncia esteambiente demerda, aceite pela maioria doscidadãos. Eiso problema!

Aspalavrasferemematamcomobalas.Todososgenocídiosemassacres,cometidospelomundoaforano passado e no presente, são antecedidos por discursos ateadores e disseminadores de ódio ao outro, ao diferente. É, por isso, imperioso ter noção clara da linguagem escrita e falada na escola e em todas as instâncias de educação e formação, bem como dos sentimentos que ela induz. A linguagem, em voga nos documentos e pronunciamentos, assenta nos pilares da competitividade e dos rankings e gera atitudes condizentes:ensinaaencararodivergenteeoponentecomoinimigo. Urgeprocederaumexamedesteambiente,dasconsequênciasedanossapassividade.Nãoédecente que continuemosafecharaconsciênciaaofactodeosadolescentesejovensestaremasersocializadosnuma novilíngua virulenta, carregadadeagressividadee hostilidade, deindiferença aosdramasdosemelhante, comescassezdepontesparaaempatia,odiálogoeaconvivialidade.Overboescolhidodeveconstituirum instrumentoparaaprenderaviverempaz,harmoniaecoesãosocialeuniversal.

A TENTAÇÃO DO MURO

Atravessei várias vezes o muro de Berlim, quer em Checkpoint Charlie (automóvel), quer na Friedrichstrasse (comboio). O ambiente era de cortar à faca, inaceitável pela razão e indigerível pela emoção.Quandocaiuem9denovembrode1989,havianomundo16aventesmasassim;agorahámaisde 70!

Não sei em que ponto ficou a construção do muro entre os EUA e o México, projetada por Trump. A Lituânia, país da UE e da NATO, ergueu recentemente uma barreira de 550 quilómetros ao longo da fronteiracomaBielorrússia.TambémaPolóniavaiinstalarumacercaemtornodeKaliningrado. Écrescenteatentaçãodomuro,talcomoadeisolarpaísesepovos.Aondelevaestafalsaefatídicailusão desegurança?Nãoseouvemvozesdeestranhezaeincómodo.Estarábemassim?

FALSIFICADO E FRUSTRADO

Ésprofessorenãolutaspelaescolaepelaeducação.Aovoltarascostasaoteucampo,recusaslutarporti. Buscasoequilíbrioemcimadomuro;nãoarriscastomarposição.Falta teoselodaautenticidade;ésmais um produto da falsificação. Levas a vidinha, afundado na arteirice e na contradição, renegando a tua missão. Cuidas que iludes a traição, passando por entre a chuva, procurando agradar a toda a gente, praticando os truques da enganação. Na cara dissimulas sorrisos, mas por dentro sentes viva e doridamente o aguilhão da frustração. Posso aconselhar te? Contrai um empréstimo de coragem e muda deprofissão.Adefutriqueiroassenta tecomoluvanamão.

Ó FANFARRÃO DO SUCESSO!

És um deslumbrado e alucinado pela ‘sucessoína’. Sim, sei bem que vieste lá do fundo ou do meio da escada e galgaste os degraus do sucesso com inteiro merecimento. Mas cometes um enorme equívoco. Julgasquetodososdatuaoriginalcondiçãopodemetêmque fazeromesmocaminho;ecensurasosque nãoconseguem.Cuidasquetensosolhosabertos,porémamenteestáfechada.Seosoutrosfizessemum percursoigualaoteu,issoseriaaregraenãoaexceção,etunãoseriascredordelouvoreadmiração. Quandovirasascostasaogrupodondeprovénsejuntasavozàdaelitedosprivilégiosherdadosedasua perpetuação, apoucas a tua história, anulas a distinção, fazes figura de parvo, cais na teia da ilusão e naufragasnatraição.

DO PERIGO DO RISO

Numapassagemdaobra'ONomedaRosa',deUmbertoEco,ummongecegoperguntaaofradefranciscano William de Baskerville, investigador das mortes ocorridas no convento beneditino, situado no norte da Itália:′′Oqueprocuraisverdadeiramente?"

Baskervilleresponde:′′Olivrogrego,aqueleque,segundovós,nuncafoiescrito.Umlivroquetratasóde comédia,equeodiaistantoquantoosrisos.Provavelmenteéoúnicoexemplarconservadodeumlivrode poesiadeAristóteles.Existemmuitoslivrosquetratamdecomédia.Porqueéprecisamenteesselivrotão perigoso?"

Omongenãohesitanaresposta:"PorqueédeAristótelesevaifazerrir."

Baskervillereplica:′′Oquehádeperturbadornofatodeoshomenspoderemrir?"

Omongeesclarece:′′Orisomataomedo,esemmedonãopodehaverfé.Aquelequenãotemeodemónio nãoprecisamaisdeDeus."

A PROPÓSITO DO MUNDIAL DE FUTEBOL NO CATAR

Souapaixonadopelofutebol,talcomomuitagente.Apaixãoésalutar,conquantoestejaabertaàrazão.O equilíbrioentreambasépossíveleimperativo,sobpenadeaprimeirasetornardoentia.

Há poucas habilidades tão difíceis de executar, com elevado índice de perfeição, como as inscritas numa bola de futebol. Não é fácil realizar com os pés as destrezas das mãos. Talvez seja por isso que o futebol nos fascina. Esse feitiço requer a avaliação apurada do contexto. Não raras vezes, o grande jogo é usado para mascarar arealidadeousuavizar aperceção dela,inclusiveatentadosaosDireitosHumanos.Assim, osfinsdodesportosãopervertidosecolocadosaoserviçodepropósitoshediondos.

A seleção nacional apurou se para estar no Catar, motivo de justificado contentamento. Isto não deve cegar noseimpedirdequestionararealizaçãodoeventonoemiratodoMédioOriente.Oassuntodáque falar. Parece tarde e a más horas, como sói dizer se; porém é sempre tempo de denunciar a maldade. Nestes dias circula pelo mundo uma petição que, no essencial, afirma o seguinte: Mais de 6 mil escravos contemporâneos podem ter morrido na construção das infraestruturas. Outros tantos ou mais recebem um mísero dólar por hora. A FIFA irá arrecadar milhares de milhões de dólares; e recusa compensar, de mododecente,ostrabalhadoresouassuasfamílias.

Como se sabe, a atribuição do torneio ao Catar envolveu uma teia de subornos e práticas afins. Dos 22 membros do Comité Executivo da FIFA 16 foram apeados do pedestal ou acusados de corrupção. A esta junta se o esmagamento dos direitos laborais, de resto crescente nos últimos anos em toda a parte. Os operários viram se sujeitos a condições inumanas, num país que nada em dinheiro, agride acintosa e ostensivamenteprincípioscivilizacionaisediscriminanegativamenteasmulheresegruposespeciais.

Em breve acontecerá o jogo inaugural. A FIFA, os poderes mediáticos e outros estavam cientes do esclavagismoedoatropelodevaloresfundamentais.Fecharamosolhos.Enós?Vamosembebedarmo nos com o sangue que empapa os estádios onde decorrerá a competição? Será finalidade do futebol a de anestesiar o intelecto? Vamos assistir ao espetáculo, sem um arrepio na alma? Vamos aplaudir criaturas milionárias, avessas a tomar posição a favor das causas da Humanidade, e useiras e vezeiras a driblar a honra e negar o conceito de ‘atleta’? Se calarmos estas inquietudes, então admitimos que, no negócio da bola,valetudo.Poucoapouco,afundamo nosnaindignidadeevilania.

REGIME MAIS TOTALITÁRIO DE SEMPRE

Não houve até hoje, na história da humanidade, um regime tão totalitário como o do neoliberalismo atualmente vigente. Pouco ou nada escapa a este totalitarismo que reduz o viver a existência funcionalizada, a uma sobrevivência condicionada em todas as dimensões e instâncias. A máquina apoderou sedenós,atalpontoquesomosuma.Elaimpõeoritmoeavelocidade,formataasubjetividade, odesligamentoeodeslaçamentodarealidade,oafastamentodoSeredaAlteridade,induzumalinguagem depauperada, dita o modo uniformizado de agir e calcular, empobrece a espiritualidade, o intelecto e e intimidade, embota a memória, apaga a apetência crítica e rebaixa a capacidade de avaliação e ideação. Concomitanteeconsequentementecerceiaaliberdade.

Não sabemos parar nas estações da contemplação, observação e reflexão, da admiração e saboreio da caminhada, da convivialidade e fraternidade. Suprimida a sensibilidade à dor física e psíquica, vergamo nosàmaximizaçãodoesforço,dalaboraçãoeprodução,àsobrecargadacomunicação,dahiperatividadee hiperatenção,àaceleraçãoconstanteeàcorridadesenfreadaparaoprecipício,atéqueocorpoeamente rebentam. Assim se esvai e consome a vida nesta sociedade pós imunológica, onde a violência assume foros de positividade e se torna mais funesta do que a de outras eras, porquanto é desprovida de visibilidadeeavançasemdefesasimunitárias.

Nãoobstanteoestadodedesolação,deesgotamentoeexaustão,temosumasensaçãobêbedaeeufóricade libertação ilimitada. A razão é simples: participamos, de maneira ativa e conivente, na construção do abrangente erefinadosistema prisional. Somosnósquem coloca a prisãonascostase cadeadosna alma, nos olhos e na boca. Estamos bem informados de que há agências fabricadoras desta trama bem urdida; porém,tomamosapropagandacomoverdadegarantida.

REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO

Devidoaofactode,nestaaltura,nãohavernadaderelevanteparafazernopaís,oPSeoPSDacordaram proceder a uma revisão constitucional. Considero a iniciativa deveras boníssima e importantíssima. Por isso vou enviar lhes esta proposta, com a fundada convicção de que vai ser bem acolhida: Ponham fim à existência dos sindicatos (e das greves)! As vantagens são tão óbvias que só não as vê e percebe quem nasce destituído das aptidões da visão e do entendimento. Muito, muitíssimo obrigado, caríssimos e generososrevisores!

DOS OLHOS E MODOS DE VER O MUNDO

Compete à escola assumir a primazia na edificação da melhor versão de nós mesmos; mas está proibida (por coação externa e ou autoimposta) de cumprir essa missão por inteiro. Aos canais de televisão e jornais,maisaosprimeirosdoqueaossegundos,foientregueaincumbênciadenormatizarosolhoseos modos de ver, ler e interrogar o mundo. A norma impõe a fixação no imediato e perto e a ignoração do abrangente, causal e distante. Assim, a maioria dos indivíduos vê e estranha, porém aceita, a subida de preçosdosbensdeconsumo;sóumaminoriaínfimaconsegueenxergarequestionarascausaseojogode interessesdaguerra,quemganhaeperdecomela.

ELIXIR DA JUVENTUDE

Querescontinuarjovem?Comacosméticaconseguesdisfarçaraidade,masnãochegasàprofundidade;e elaédeeficáciapassageiraecustoelevado.Apráticadaexercitaçãocorporalébastantemaisconfiável;o labornaaparênciainduzaessência.Porém,omeioideal,paranãoconsentirqueavelhiceseentranheem nós,éaleituradelivrosetextosdifíceis,comoosdeJoséSaramago.Sim,aquelescujaspáginasdemoram vários minutos a ler, sem ser imediata e inteiramente entendidas. O milagroso elixir dajuventude reside no esforço intelectual, por manter acesa, indagativa e insatisfeita a curiosidade juvenil e a chama existencial. É assim que conhecemos e vivemos muitas vidas, renovamos constantemente a nossa e conservamosdespertaeestreladaaalma.

QUEIMAS DE LIVROS

Osfanáticoseostiranossempresederammalcomosaberebemcomaignorânciaeoobscurantismo.Por issoahistóriaéfartaemrelatosdequeimasdelivros(epessoas).

Lembremos alguns casos sobejamente conhecidos. São Paulo, fundador do cristianismo, exortou os discípulos,emÉfeso,aatearfogoaosescritosheréticos.QuantoaoincêndiodaBibliotecadeAlexandria,a versãomaisplausívelsitua onoanode385eatribui oaofanatismodobispoTeófilo,patriarcadacidade sob o domínio do imperador Teodósio. Em 1501, o cardealCisneros ordenou a incineração de opúsculos islâmicos,emGranada.Osmanuscritosastecasnãoescaparamaofervordosinvasoresespanhóisem1560 Asfogueirasdelivrosanimaramem1933váriascidadesalemãs,sobasordensdosnazis.Nadécadade50

doséculopassado, osenador McCarthymandouabrasar aspublicaçõesde teormarxista,nosEUA. Como bom discípulo,Pinochetcondenouàscinzas, em1973, asobrasjulgadassubversivaspor elee pelosseus émulos.Igualsortetiveramos‘livrosímpios’descobertospeloEstadoIslâmiconaBibliotecadeMossul,em 2015. Também o governo ucraniano, elogiado por defender os valores ocidentais, mandou recentemente queimar100milhõesdelivros,deautoresrussos.

A lista podia parar por aqui, mas a sanha persecutória assume hoje outras formas, não menos devastadoras da civilização e do intelecto; está viva e sem pressa de chegar ao fim. Até em instituições incumbidasdamissãodecriar,divulgarepreservarosaber!

MUNDIAL DA VERGONHA

O custo é monstruoso. “São mais os mortos do que os minutos de jogo” ou “milhares de mortos por um campeonato do mundo”, afirmavam dois dos muitos cartazes exibidos pela claque do Borussia de Dortmund,apelandoaoboicote.Esteficoupelocaminho.ComeçahojeafasefinaldoCampeonatoMundial de Futebol, no Catar. A bola vai rolar em relvados regados com sangue; e os espectadores presentes vão aplaudir,cantaresentar seemcimadecadáveres.Entraassimemcenaummacabrocapítulodoextenso livrodeinsultosàCivilização,àHumanidadeeaoDesporto.

Oeventodesnudaabarbáriedosistemaideológicoque,nasúltimasquatrodécadas,arrastaomundopara a podridão. Com efeito, constitui uma concretização exemplar do paradigma da ‘liberdade económica’, à frente e desconsideradora de todas as outras, imposto e aplaudido pelos hipócritas e inumanos que se intitulam ‘liberais’ e pervertem a noção de ‘liberalidade’. Não foi por acaso que os governos de vários paíseseuropeus,entreelesaFrançaeSarkozy,exortaramcidadãosseus,compoderdeliberativonaFIFA, aentregaraoemiratoaorganizaçãodacompetição.

UmapetiçãorecenteetardiasolicitaàFIFAquecompense,demododecente,asfamíliasdosmilharesde operários explorados até à morte na construção das infraestruturas.Não é, obviamente, possível reparar as vidas sacrificadas, dado que a vida não tem preço. Mas seria minimamente decente, embora não suficiente, impedir a FIFA de obter qualquer lucro do escabroso negócio. E obrigá la a pagar prémios de presença a todas as seleções qualificadas para o torneio, forçando a também a cancelar a realização do mesmo.Oraistonãovaisuceder.Pormaisagudosquesejam,osgritosdosmortosnãoconseguemacordar osvivos;resta,comosoluçãosalvífica,trocarestesporoutros.

A PORTA QUE ABRIL ABRIU!

É apresentado hoje, em Lisboa, o número 146 de ‘O Referencial’, Revista da Associação 25 de Abril. O editor honrou me com oconvite para um depoimentosobre a influência davindadademocracia na área do Desporto e EducaçãoFísica. Passo a transcrever o texto, com o intuito de recordar ou dar a conhecer factosdeterminantesdaevoluçãodequefuitestemunha.

“Odia3dedezembrode1975nãopodecairnoesquecimento.NessadatafoipublicadooDecreto Lein.º 675/75, aprovado em Conselho de Ministros, assinado pelo Almirante José Pinheiro Azevedo (Primeiro Ministro), pelo Major Vítor Alves (Ministro da Educação e Cultura), pelos Ministros Francisco Salgado ZenhaeVascoLeoteAlmeidaCosta,epromulgadopeloGeneralFranciscodaCostaGomes(Presidenteda República).

O documento extingue o Instituto Nacional de Educação Física e as Escola de Instrutores de Educação FísicadeLisboaedoPorto,criaosInstitutosSuperioresdeEducaçãoFísicaeintegra osnaUniversidade Técnica de Lisboa e na Universidade do Porto. Institui assim uma fronteira entre o passado e o futuro, inaugura uma era renovadora da Educação Física e abre as portas do ensino universitário ao Desporto, bem como à inscrição da prática desportiva no elenco dos direitos fundamentais, consignados na Constituição da República. Não há exagero algum nesta conclusão: o referido diploma outorga carta de alforriaantropológica,axiológica,culturalecientíficaàsditasáreaseaosseusagentes. Obviamente, não foi um começo a partir do nada. O INEF, então reformado, tinha sido alfobre de nomes com elevado escopo intelectual e com obra sobejamente conhecida. Entre os ‘professores de ginástica’ (expressão eivadademenosprezoepreconceito) abundavampessoasciosase alçadorasdapromoçãodo campo profissional, para além de sobressaírem pelo compromisso cívico com a Pólis. A integração da

formação de quadros na Universidade aproveita esse fermento e enterra definitivamente os estigmas antigos. As novas Escolas passam a ostentar o estatuto e a orgânica conformes às outras entidades da texturauniversitária,comacargasimbólicaqueistorepresentavanonossopaís.Elastornam se,poucoa pouco, sedes de formação de licenciados, de mestres e doutores; e os seus docentes são obrigados a respeitar asexigênciaseprestar asprovasdacarreira académica geral, para aceder aostítulosinerentes aolequeprofessoral.

A reconversão não se aquietouno plano meramente formal. Os ISEFs deLisboa e Porto, insuflados pelos ventos e pelo espírito da mudança, alteram a breve trecho a designação e adotam a de ‘Faculdade’, almejando uma imersão total no contexto universitário. As nomenclaturas adotadas (Faculdade de Motricidade Humana e Faculdade de Desporto) decorrem das distintas visões epistemológicas das suas figurasproeminentes;alargamoespectrodeolhareseocupaçõesdohorizonteprofissional,estendem sea terrenos antes ignorados e até hostis, assumem a responsabilidade de resposta a necessidades emergentes.NocasodaFaculdadedeDesportodaUniversidadedoPorto,énotórioumentendimentodo desportocomofenómenopolissémicoepolimórficoecomorealidadeplural;atradicionalEducaçãoFísica integra-senesseuniversomaislatoeabrangente.

A afirmação das Escolas de Lisboa e Porto originou que outras universidades criassem instituições congéneres.OmesmosucedeucomosInstitutosPolitécnicos.OPaíspassouacontar,apartirdadécadade 90, com uma vasta rede deIES conferentesdeformaçãoe realizadorasde investigaçãonoDesportoe na EducaçãoFísica.

O desenvolvimento das novas agremiações foi realmente fulgurante, com repercussões não apenas no plano interno, mas igualmente no cenário internacional, com destaque para o mundo lusófono. A internacionalizaçãotraduziu seemprotocolosdecooperaçãocomacademiasdeinúmerospaíses,detodos os continentes, bem como na mobilidade de docentes e estudantes. Neste capítulo merece particular destaque o facto de as Escolas portuguesas terem colaborado ativamente na consolidação de entidades afinsdospaíseslusófonos,queratravésdaformaçãodosrespetivosdocentes,quermediantealecionação nos seus cursos.Diga se, como testemunho do labor desenvolvido,que atinge muitas centenaso número de indivíduos oriundos do espaço da CPLP (sobretudo do Brasil, Moçambique e Cabo Verde) que obtiveram os graus de mestre e doutor nas Faculdades nacionais. Esta dimensão encerra uma valia inestimável,contribuinteparaaremissãodaimagemevocaçãodePortugalnomundo. Enfim, quando se aprecia e celebra o ponto onde chegaram as IES da Educação Física e Desporto, é imprescindível avivar a memória das circunstâncias donde elas vieram; não surgiram espontaneamente, nem foram uma dádiva caída dos céus. Abril e a missão de redenção e sublimação, que o inspirou, fecundaram o nascimento, o crescimento e o florescimento daquelas instituições, de outro País e outra Universidade. O movimento desencadeado por Abril restaurou e oxigenou a Universidade, franqueou a entrada desta a jovens e objetos de estudo com origens populares, profanas e aumentadoras da incumbênciasocial.Aementaacrescentouàescassavisãoelitistaefechadaumaofertacomrelevânciano presente e futuro: Arquitetura, Belas Artes, Educação e Psicologia, Alimentação e Nutrição, Desporto e EducaçãoFísica,MedicinaDentária.

No tocante à área qui em apreço, os seus quadros acedem hoje, com naturalidade e sem estranheza, ao desempenho de funções políticas e académicas, outrora inimagináveis; tal como a panóplia de misteres queagoraexercem.Oscursoseoâmbitodaformação,oníveldasinstalaçõesedoslaboratórios,osmeios e as linhas de investigação, a solidez e diversidade de conhecimentos e saberes, o reconhecimento e o prestígio usufruídos fora dos muros disciplinares, aquém e além fronteiras pelas Escolas, pelas pessoas que nelas pontificam e pelos especialistas delas saídos (por exemplo, nos domínios da pesquisa, do pensamento, do treinamento, da organização e gestão), a quantidade e qualidade das publicações produzidas, o vasto leque das possibilidades de realização pessoal, enfim, tudo isto constitui uma impressionante realidade, impensável quando o Decreto Lei n.º 675/75 conheceu a luz do dia. Esta é, portanto, uma hora de lembrar, de agradecer, de cantar e exaltar a generosidade dos clarividentes visionários de outrora. Consequentemente, rendo a minha sentida homenagem ao Espírito de Abril e renovoojuramentodelheserfielegratoatéaofim.”

JORNALISMO MILAGREIRO

Era atoleimado, caricato, esgrouviado, palerma, risível, sem qualidades. Por promover o Brexit, abrindo assimumalargabrechanaUE,tornou seumsujeitonãorecomendável.

Agora é um guru merecedor de veneração e convite para advogar a necessidade de prolongar a guerra. Esta é um maná para o negócio mediático. Manifestamente, Voltaire exagerou, quando afirmou haver jornalistasquevivemdaimundícieedoveneno.

COBARDIA E OMISSÃO

É o que mais há: gente que tem muitas ideias e vontades, mas estas não possuem língua, nem braços e pernas. Nãoadmira queaquelasfiquem mudasequietas. Equeasatitudese açõesnão correspondamàs intenções.Nadaafazer.Cadauméparaoquenasce;trazodestinoagarradoasienemtodosconseguem mudá lo. Por isso não são poucos os que cumprem a vocação da cobardia, como promessa feita a uma divindaderasteira.

Primoscarnaisdestessevandijassãoosomissos.Asuamemóriaéfraca,propensaaoolvido.Assemelham se a generais garbosos que, depois da batalha, sacam das espadas, antes dormentes nas bainhas; e aos clarinsquesoltamnotasestridentes,caladasdentrodoinstrumentoquandohavianecessidadedeastocar eescutar.

POR DETRÁS DA BOLA

ConvidoalerumtextoínsitonojornalPúblicodeontem.Oconvitedirige se,sobretudo,amuitagenteque frequentagrémios(AcademiaOlímpicaePanathlon,p.ex.)eparticipaemcampanhasondeaproclamação daéticaedosvaloresdodesportoestáconstantementenaordemdodia.Porémomite seepactuacomo sistemadoneoliberalismoeconómico financeiroquepredaomundoelevaodesportoàputrefação.Atua assimcomoinstrumentodebanalizaçãodomal.

Obviamente,tomarposiçãocontraaimundícieédesconfortável.Dámaisnotoriedadeeganhoscumpriro papeldeadereçoecastiçalnamesadaindecência.

POR QUEM ME POSICIONO?

Ser ou não Ser? Eis a interrogação imperecível, colocada por Shakespeare na boca de Hamlet. Não se destinava apenas a este, mas a todos os membros da Humanidade. Nela somos questionados acerca do cumprimentododeveredireitodeSer.

Terei hoje tempo, energias e vontade para responder? As circunstâncias aconselham a desistir de Ser. Estou como o jornalismo cansado: entrego me à veneração do Senhor Mercado, das alienações, coisas e objetos do seu impériosagrado. Sou um ente jacente, metido na cápsula da egolatria; não vivo, só existo emestadoamortalhado.O‘quê’põeo‘quem’delado.

ROSTO HUMANO

Este rosto feminino e envelhecido não é uma pintura. É a face de uma mulher, esculpida pelos duros trabalhos e agruras da vida. Provavelmente foi mãe e avó, teve filhos para criar e netos para mimar. Também provavelmente não desfrutou de férias e outras oportunidades de lazer. As rugas denunciam carências,privaçõesesofrimentos.Enosolhosháobrilhodeumaalmaindagativa.Aexpressãoétodaela de dignidade. Estamos perante alguém que ressuma Humanidade, o pódio mais alto reservado a quem sublimaobarroeexaltaahumildade.

DO ESTADO DA LUCIDEZ

A lucidez tem dias, uns de glorificação e outros de crucificação. Os primeiros são raros; os segundos frequentes.

ComodisseAgustinaBessa Luís,nomundodoscegos,avessosàluz,quecomacegueirasecomprazeme contemplam a si mesmos e ao curso da realidade, a lucidez é sentada no banco dos réus e declarada culpadaecondenada.Eisoquelheacontecenestaera.

POR QUE O

MARANHÃO

ABANDONA (OU ATÉ DESCONHECE) SEUS GRANDES VALORES UNIVERSAIS?

EDMILSON SANCHES

Nota do Editor: o Padre Francisco João de Azevêdo inventou uma máquina protótipo de escrever, através de teclas e a mostrou durante a grande Exposição Nacional no Rio de Janeiro, de 1861. Mas um americano o persuadiu a levar a invenção para os Estados Unidos afirmando que lá, poderia industrializá la. E aí ianque Chritistofer Sholes levou a fama e a patente. Em março de 1973 Sholes apresentou como seu, um protótipo igual ao do padre. Logo depois mostrou aos armeiros Remington e a partir daí, todo mundo conhece. O padre entrou para a galeria brasileira dos inventores injustiçados. Mas, e quando as pessoas são reconhecidas como desbravadores, inovadores, dentro e fora do país, todavia quase desconhecidos em sua terra de origem, onde nasceram? É essa a história que Edmilson Sanches conta, abaixo:

POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEUS MAIORES VALORES?

Se o Brasil fosse o mundo, o Maranhão seria a França.

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Se o Maranhão saísse do Brasil, a economia do Brasil perderia menos de 1,5% [um e meio por cento]. Mas se o Maranhão saísse do Brasil, o País perderia mais de 30% de sua História e Cultura

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Recentemente, em longa conversa em um café de grande Livraria no Rio de Janeiro, o poeta Salgado Maranhão, meu conterrâneo caxiense, contou me que ouviu um palestrante dizer, no curso de sua fala:

“ Se o Maranhão saísse do Brasil, a economia do Brasil perderia menos de 1,5% [um e meio por cento]. Mas se o Maranhão saísse do Brasil, o País perderia mais de 30% de sua História e Cultura”. Tal é a grandeza histórico cultural de nosso Estado.

Como costumo dizer, em termos histórico culturais, se o Brasil fosse o mundo, o Maranhão seria a França e, nesta França, Caxias seria Paris...

Reproduzo de memória a frase e substituí o percentual da Economia, com inclusão de dados oficiais, com base no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e do Maranhão em 2019, quando o País totalizou R$ 7 trilhões 389 bilhões e o Maranhão, R$ 97 bilhões.

Edmilson Sanches

Por mais que seja difícil quantificar um percentual de participação histórico cultural de um estado na formação e existência de um país, ainda assim é válido, ilustrativa e simbolicamente, realçar a grandeza maranhense na formação brasileira.

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Nosso Estado, o Maranhão, pelo talento e esforço de diversos de seus filhos, deu uma gigantes contribuição ao Brasil e ao mundo.

Assim, “en passant”, podemos afirmar que eram maranhenses quem criou a Bandeira do Brasil (cujo dia é daqui a pouco, em 19 de novembro) e quem deu ou fortaleceu a ideia de o Hino Nacional ter uma letra, que foi Coelho Netto, à época deputado federal, em 1909 e 1917.

Ou seja, os dois maiores símbolos do Brasil têm a presença maranhense, incluindo se também os versos de Gonçalves Dias em estrofe do Hino (“Nossos bosques têm mais vida” / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”).

Por sua vez, a cidade maranhense de Caxias é um raríssimo caso de município que está presente três vezes no Hino e Bandeira brasileiros: o criador da Bandeira do Brasil, Teixeira Mendes, é caxiense, e caxienses são também Coelho Netto e Gonçalves Dias

Maranhenses também são o criador do Ministério da Agricultura (e presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura);

...o primeiro dramaturgo negro do Brasil, criador do Teatro Profissional do Negro, cujo nome foi dado ao ano de 2018 pelo Governo Federal; ...o primeiro tradutor de Shakespeare para a Língua Portuguesa; ...o introdutor do cinema seriado no Brasil; ...o idealizador do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; ...o maior governador do Amazonas; ...o primeiro poeta brasileiro a ser publicado em página do maior jornal dos Estados Unidos; ...o autor da primeira música sertaneja gravada no Brasil; ...o criador da primeira companhia imobiliária do País; ...os idealizadores do primeiro banco brasileiro, muito antes de Dom João 6º chegar ao Brasil; ...o inventor do “stent” (nanotubo que se introduz em artérias para regular fluxo sanguíneo para o coração); ...o fundador dos bairros Grajaú no Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Maranhenses são o redator da Lei do Ventre Livre; ...o autor da Lei que permitiu a liberdade de crença e culto (com a separação da Igreja do Estado); .o autor do primeiro livro científico de Odontologia no Brasil e dentista pioneiro no uso de anestesia, considerado “Glória da Odontologia Brasileira”; ...o patrono da Medicina Legal brasileira (junto com o médico e escritor baiano Afrânio Peixoto); ...o criador da Antropologia Criminal; ...o inspirador da criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio); ...o pioneiro nas lutas pelas leis de proteção à mulher trabalhadora, ao menor trabalhador, ao doente mental e ao índio; ...o introdutor do Indianismo na Literatura Brasileira; ...o introdutor do Parnasianismo; ...o introdutor do Naturalismo;

um dos criadores do Concretismo e do Neoconcretismo na Literatura Brasileira; ...o introdutor do Modernismo nas Artes Plásticas brasileiras; ...o precursor do romance policial no Brasil; ...o professor e dramaturgo que é considerado “A Pedra Angular do teatro Paranaense” (e que estudou com grandes nomes do Cinema e Teatro mundial, como Federico Fellini, Roberto Rossellini, Michelangelo Antonioni, Laurence Olivier, Luchino Visconti...).

São maranhenses o responsável pela elevação da capoeira no Brasil, como esporte, arte, técnica, dança, luta digna;

...o escritor três vezes indicado ao Prêmio Nobel; ...o introdutor do cinema seriado no Brasil, precursor das novelas e séries atuais; ...os autores do primeiro livro de autoria coletiva do Brasil; ...o precursor da Tradução Criativa no Brasil; ...o médico que é considerado o maior matemático da História brasileira e um dos maiores do mundo; ...o patrono da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras; ...o pioneiro no estudo do Folclore no Brasil; ...o responsável pela reabilitação do violão como instrumento musical digno no Brasil; ...a sacerdotisa de culto afro brasileiro e última princesa da linhagem direta fon (estudada por escritores, sociólogos e antropólogos brasileiros e estrangeiros); ...o professor considerado “Mestre dos Mestres” em São Paulo.

Também são maranhenses um campeão internacional de hipismo (inclusive recentemente); ...o pioneiro no estatuísmo (“estátuas vivas”) no Brasil; ...o pioneiro em organização de Cerimonial & Relações Públicas no País; ...um dos fundadores da União Nacional dos Estudantes; ...um aviador herói da 2ª Guerra Mundial; ...a “mãe dos pobres” de São Paulo (capital); ...os primeiros músicos brasileiros a subirem ao palco do primeiro “Rock in Rio” (janeiro de 1985); ...o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia do país; ...o escritor mais lido do Brasil em sua época; ...o primeiro presidente do Conselho Brasileiro de Fitossanidade; ...o dramaturgo, poeta, contista e jornalista e compositor, considerado entre os primeiros letristas profissionais da música popular brasileira.

Também são maranhenses o escritor e jornalista que iniciou a “revolução” gráfica na Imprensa brasileira; ...o antropólogo, veterinário e ictiólogo que foi um dos primeiros pesquisadores mestiços de reconhecimento científico internacional, fundador da Academia Amazonense de Letras, com placa e álea com seu nome no Jardim Botânico do Rio de Janeiro; ...o prefeito exemplar de capital no Sul Sudeste, autor literário reconhecido em diversos países; ...o autor do primeiro livro de gramática da Língua Portuguesa no Brasil; ...o fundador da primeira tipografia de São Paulo; ...o jornalista e escritor que, bem antes de Euclides da Cunha, foi o primeiro a chegar a Canudos e a escrever e publicar livro sobre a “Guerra de Canudos”, na Bahia (1896 1897); ...o responsável pela primeira contagem populacional (recenseamento) do Brasil, em 1872; ...o primeiro presidente do Banco do Brasil; ...a cantora, compositora, multiinstrumentista, professora e folclorista, considerada a “Rainha do Acordeom” e a segunda maior compositora brasileira em número de músicas gravadas, que com menos de 15 anos já se apresentava no exterior, teve composições gravadas em outros países e por grandes nomes da música brasileira, como Nara Leão, Fagner, Clara Nunes, Marlene, Dóris Monteiro, Inesita Barroso, Marinês e Sua Gente, Carlos Galhardo e Zé Ramalho; ...o músico considerado, na sua época, o melhor violinista do Brasil; ...os poetas considerados, na época de cada um, o maior poeta vivo brasileiro; ...a banda militar maranhense que é a segunda criada na história do Brasil;

...e outros maranhenses e ocorrências que foram/são destaques nacionais e internacionais na Ciência & Tecnologia, nas Artes e Cultura (Música, Literatura, Pintura etc.), Meio Ambiente, Educação, Medicina & Saúde, Administração Pública e Empresarial etc.

E o que, maximamente, é tema recorrente na Imprensa brasileira sobre o Maranhão? Que somos o pior ou um dos piores em indicadores socioeconômicos. Quando eu era menino, comprava todo ano o “Almanaque Abril”, desde a primeira edição. Sofregamente, ia logo ver o capítulo sobre os Estados brasileiros para ler o

texto sobre o Maranhão. Decepção. Geralmente começava assim: “O Maranhão, estado mais pobre / mais atrasado do Brasil [...]”.

Autoridades maranhenses e mesmo o mundo empresarial, se já não tivessem outros deveres, também têm a obrigação chamam na de “responsabilidade social” de proporcionar aos maranhenses o conhecimento sistêmico e sistemático, orgânico e organizado dessas informações. Informações que tanto poderiam dar conhecimento quanto, também, ser motivo de inspiração e sadio orgulho para os mais jovens e, por que não?, para todos nós.

Com base nessa exaustiva e ainda assim curta lista de grandes nomes maranhenses (que compõem o projeto “Enciclopédia Maranhense”, que elaborei), faça uma reflexão sobre o fato de nosso Estado, repito, ser conhecido “lá fora” apenas por indicadores socioeconômicos péssimos (que devem ser combatidos, revertidos), mas esquece, nosso Maranhão, de divulgar para o Brasil e para além o que de bom a História registra que foi feito por nossos Conterrâneos de antanho.

O Maranhão não se assenhoreia desse verdadeiro tesouro, desse potencial de Economia Criativa / Economia da Cultura. Relega, bane, expatria ou despreza o pioneirismo, os esforços, o resultado do talento e lutas de seus próprios filhos, que, no passado e até presentemente, contribuíram verdadeiramente para formar, fixar e ampliar a Identidade Brasileira e ajudar a tornar melhor nosso País nas diversas áreas.

Quer saber mais outras dezenas senão centenas de “coisas” em que o Maranhão e maranhenses são bons ou pioneiros etc.? Quer conhecer, apoiar ou associar se ao projeto “Enciclopédia Maranhense”? Quer uma oportunidade de ser terno com sua terra e eterno com seu nome? www.edmilson sanches.webnode.page.

HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

ANTROPONÁUTICA, CINCO DÉCADAS DEPOIS, OU PARECE QUE FOI ONTEM

LUÍS AUGUSTO CASSAS

1972. Tinha 19 anos. Amava os Beatles, Drummond, Caetano, Gullar e os Rolling Stones. E queria mudar o mundo pela poesia.

O nome Antroponáutica, título de um dos mais belos poemas de Bandeira Tribuzi encerrado com o antológico “o infinito maior é o próprio homem”) foi a senha que nos agrupou (eu, Valdelino, Fontenele, Viriato e Chagas Val) em torno de objetivo comum: derrubar os falsos moinhos de vento da velha ordem que pretendia restabelecer o caos e o atraso quando se comemorava o cinquentenário da Semana de Arte Moderna. E, claro, vender o nosso peixe lírico atômico assado nas brasas interiores.

Ademais, Tribuzi tinha cada de guerrilheiro zen. Trazia na travessia coimbrã de retorno à urbe a memória da revelação do sol português e repovoava a nossa imaginação com a encarnação moderna de outro grande incompreendido que comera o pão que o diabo amassou: Antonio Gonçalves Dias. Poeta, jornalista, consultor econômico de programas governamentais, esse perfil não o cindira da provedoria doméstica. Era comum cruzarmos com ele, na travessia para o Liceu Maranhense, retornando do mercado, trazendo em uma das mãos um côfo de legumes, e na outra, uma galinha viva. Essa simplicidade franciscana exibia rico simbolismo: era um mestre em repartir a luz.

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O ambiente de 1972 era tóxico, mas alegre. Éramos felizes, mas não sabíamos. Erasmo Dias arranchado nos Apicuns, chorava desolado no enterro de Natasha Trupskaia, gata vadia que Erasmo proclamava de elite e Sérgio Brito,retrucava, afirmando que transava com todos gatos vagabundos dos telhados. Carlos Cunha em verve hecatômbica deixara empenhado o filho, Carlos Anaxímenes, no Bar Athenas e demorara resgatar o vale, o que valeu choro e ranger de dentes dos clientes. O velho sábio Rubão Almeida desanovelava aos ventos, a bola branca com cinco carreteís de linha zero, que alavancava os “bodes” de Zezé Caveira, até depositá los no colo de Deus.

Era questão de modernidade ou morte. A nossa juventude todos estávamos no vintenário exigia posição a altura. Afinal, tínhamos o necessário: duas mãos e o sentimento do mundo. Mas estávamos mais para desbunde poético tropical que movimento, essa coisinha andróide, com manifesto, programação, parecendo pré-vestibular acadêmico. Éramos na anti-rotação da ordem, um contra-movimento. Nossa sede eram os bares da vida.

Fontenele e Viriato, mais afoitos, passaram O comunicado de guerra aos jornais. Valdelino, era o public relation da guerrilha. Eu e Chagas Val nos especializamos em bastidores, operações especiai e profecias de bar. Todas deram certo. Depois, seguidos pelas mulheres, seguimos adiante para as nossas milionárias carreiras solo. O IML não registrara nenhum cadáver passadista. Na verdade, já estavam mortos. O que fizemos foi cuspir o último gole na cova. 3

50 anos depois, releio a Antologia Poética do Movimento Antroponáutica (lançada pelo Departamento de Cultura do Estado,em 72),com capa do compositor César Teixeira. E um frio saudoso percorre me a espinha. Tribuzi, o patrono virou adubo de rosas. Valdelino foi brincar de boi no céu. Chagas Val pulou nas águas do encantamento. O tempo que converte tudo em elegia, desfalcou nos do “técnico” e “torcedor de bar”, José Ribamar Estrela Vasquez, que nos legitimava pela maturidade da presença etílica, compensando nossa jovialidade. 4

Refletindo na poesia os nossos enigmas, estigmas e paradigmas o louco, o filosófico, o palhaço, o visionário, vivendo e anti vivendo nossa ira de ser, a lembrança do Antroponáutica sempre foi um

sinalizador do menino interior. Cincoenta anos depois, através de mergulho na psicoterapia, ascese do azul, cavalgado os portais do manicômio e paraíso, redescobrimos a essência do real, a poesia.

Em 1972, éramos poucos. Agora somos muitos. Arrependimentos?. Deveríamos ter amado mais, ousado mais, errado mais, e ter cumprido a promessa feita a Tribuzi, no poema “Compromisso”, de “ República dos Becos.” Tocar fogo nessa Academia. Teria prestado serviço de utilidade às gerações vindouras.

Em 1972, minha utopia era mudar o mundo pela poesia. Hoje, véspera de emplacar 70, nos idos de março, única certeza é que o mundo só poderá mudar pela poesia.

Antroponáutica: éramos 5,em 1972. Valdelino Cécio, Chagas Val, Raimundo Fontenele,Viriato Gastar e Luis Augusto Cassas, este que vos escreve. 50 anos depois e duas baixas, Chagas Val e Valdelino Cécio, numa foto comigo em final da década de 90, o Antroponáutica retorna às bocas. Eis o meu depoimento.

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50 ANOS DO MOVIMENTO QUE MUDOU A HISTÓRIA

LITERÁRIA NO MARANHÃO: ANTROPONÁUTICA

NATAN CASTRO

Original em:http://literaturalimite.blogspot.com/2016/02/movimento-antroponautica-atitude-e.html

A poética do Movimento Antroponáutica, em São Luís. Depoimento completo do Antroponauta Raimundo Fontelene.

No início dos anos 1970 cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Já vivíamos a segunda metade do século XX e por aqui ainda eram perceptíveis traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas. Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luis Augusto Cassas, todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência.

Por volta de 1971 começaram os encontros num bar no Canto da Viração no centro de São Luís, as reuniões eram regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense. A princípio o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, o que foi alcançado logo

Poetas antroponáuticos Foto: Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luís Augusto Cassas.

depois que nomes como João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. O reconhecimento devido foi buscado ferrenhamente pelos cinco, quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas, como muita luta começaram as publicações no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um crítico de cinema o José Frazão que também acolheu muito bem as novas ideias do pessoal. Após tanto esforço, de fato o primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos como novos nomes da literatura maranhense. Logo em seguida saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica e logo depois foram convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê.

O lançamento do livro "Às Mãos do Dia", do Antroponauta Raimundo Fontelene

A seguir a narração detalhada do inusitado lançamento nas dependências da Biblioteca Pública Benedito Leite, pelo próprio Raimundo Fontenele, em entrevista dada a este que vos escreve.

R Vocês sabem. A história é feita de fatos, episódios, circunstâncias, eventos, mil acontecimentos distantes um do outro, mas que por esta força grandiosa que é a marcha da vida e da história se conjugam tudo e todos num momento único para deflagrar a coisa, seja revolucionária ou evolucionária, de reforma ou de acomodação. E por essa época aconteceu o lançamento do meu segundo livro individual, o Às Mãos do Dia, que era para ser uma coisa puramente pessoal, mas acabou transcendendo o particular e inseriu se nessa paisagem do instante que vivíamos: a ditadura militar em todo o seu reinado e esplendor. Querendo fugir daquelas noites de autógrafos costumeiras, que achávamos até enfadonhas, decidimos que o lançamento do meu livro seria diferente. Aí a gente juntaria artes plásticas e música, e lembro do César Teixeira, do Josias, do Sérgio Habibe, do Jesus Santos, do Ciro, Ambrósio Amorim, Lobato, Tácito Borralho, tanta gente. E o lançamento aconteceu na Biblioteca Pública Benedito Leite. Na noite anterior, após tomarmos algumas cervejas, eu, Viriato, Valdelino e outros ficamos na escadaria da Biblioteca Pública conversando e só, de sarro, planejando o lançamento, e cada um saía com a ideia mais louca. Tipo: no lugar de cadeiras para as autoridades íamos colocar vasos sanitários; colocaríamos uma árvore de Natal com ratos pendurados, etc.; íamos convocar mendigos, loucos, os despossuídos para tomarem as escadarias da Biblioteca quando as autoridades e convidados fossem chegando. Ah, e no coquetel no lugar de bebida alcoólica serviríamos leite, mas não em taças e sim em penicos. Novos, claro. Naquele tempo a autoridade maior dos estados era sempre o militar mais graduado, no nosso caso o Comandante do 24 BC. Alguém nos ouviu falar aquelas bobagens e levou a sério. O certo é que o Governador foi acordado pelo Comandante do 24 BC que lhe ordenou visse do que se tratava pois algo de muito grave ia acontecer. Fui chamado às pressas no gabinete do Secretário de Educação (que havia permitido que eu fizesse lá na Biblioteca, órgão da SEC, o lançamento do livro), à época o saudoso Professor Luís Rêgo, um homem boníssimo. Quando entrei em seu gabinete levei um susto, pois ao seu lado estava um Major do Exército. Pálido e trêmulo, ali sentei e o professor Luís Rêgo passou a me interrogar acerca do lançamento e do que estava programado. Neguei tudo. Disse que era mentira. Jamais faríamos uma coisa daquelas e tal. Despachou me dali, mas me recomendando prudência, e cuidado com o que ia acontecer, pois estavam de olho. Pela cara do oficial do exército nem precisava de me dizer mais nada. Pois, mais tarde enquanto estava na Biblioteca em companhia do poeta Viriato Gaspar, ultimando os preparativos do lançamento, eis que nos aparece um agente da Polícia Federal. E dirigindo se a mim diz que estava a minha procura, e porque nada mandara o livro para a Censura, e cadê o livro e tal e coisa, e nos colocou em sua viatura fomos até onde eu residia, pegamos um livro, e enquanto eu lia, o motorista nos levou até a sede da Polícia Federal, naquela época ali na Rua Grande na altura do Ginásio Costa Rodrigues. Novo interrogatório pelo delegado de plantão. O Viriato saiu se bem nas respostas. E quando o delegado quis saber dos mendigos (olha a subversão) que íamos levar, o Viriato disse que não tinha nada a ver, aquilo era uma peça de teatro que estávamos escrevendo e tão logo ficasse pronta levaríamos lá no Serviço de Censura. O certo é que à noite a Biblioteca lotou. Talvez até curiosos, além de meus convidados, muitas autoridades se

fizeram presentes. Secretário de Educação, o Prefeito Haroldo Tavares, e lá atrás de uma daquelas colunas reconheci o agente da PF de nome Mateus, esperando que eu saísse da linha no meu discurso para me grampear. Mas o resultado prático da repressão, que é o cerne desta pergunta, é que nós, os jovens (falo dos jovens em geral e não especificamente do nosso grupo), tomamos rumos diferentes: uns foram para o comodismo da vida privada, outros foram para luta armada, e no meu caso, no primeiro momento, abandonei tudo e embarquei numa carona com os hippies e fiquei vagando pelo país uns três a quatro meses, metido no universo da Contracultura, cujo estímulos vinham da geração beat, e era uma época rica e enriquecedora, chegávamos ao desregramento de todos os sentidos, na vida e na arte, aquilo que o poeta Arthur Rimbaud profetizara um século antes. E a nossa geração foi importante porque abriu caminho para todos vocês que vieram depois de nós. É o ciclo da vida, quer reconheçamos ou não. Ele existe. Ele é.

O Maranhão desde Gonçalves Dias deu início a uma tradição literária que continua até os dias atuais, do Romantismo para cá apresentamos ao país e ao restante do mundo, uma quantidade satisfatória de grandes literatos, para não citar outros gêneros da arte. A geração da Antroponáutica que hoje nos parece quase esquecida pelos tais entes da cultura do Estado, possui um papel relevante, quando o assunto é a renovação dessa brilhante tradição. Os cinco jovens poetas buscaram espaço devido, sonharam com as mudanças e ao conseguir colocaram heroicamente seus nomes na história da arte e da cultura do Maranhão. Tudo isso num período em que a náusea artística era vista como algo peçonhento e altamente prejudicial ao poder estabelecido.

FERNANDO BRAGA

E assim a vida corria a me levar com ela, e eu com ela seguia também sem saber ainda que o homem é ele e suas circunstâncias, como mais tarde aprendi com a genialidade de José Ortega y Gasset. Minha mãe contratou aulas particulares de inglês, ministradas pelo professor Germano, cuja figura não poderia deixar de falar nesta minha narrativa. O professor Germano morava na Rua do Outeiro, antigo “tabocal”, num pequeno bangalô, arrumadinho e sempre à sombra devido a um caramanchão de flores que envolvia todo terraço.

Era seu vizinho, juntamente com sua família, o Desembargador Bento Moreira Lima, uma criatura tanto elegante como bonachão, pois o velho magistrado se dava ao luxo de conversar com a gente, pobres e mortais moleques, sobre tal filme passado na noite anterior no cine Rialto. O Desembargador Bento era o chefe de um clã aristocrático e numeroso; dentre seus filhos, estava o Brigadeiro Rui Moreira Lima, herói da Segunda Guerra Mundial e conhecido por ter comandado a esquadrilha de bombardeiros conhecida por “Centa a Pua”. Pois bem, o Brigadeiro quando vinha visitar a família, procedente do Rio de Janeiro, onde era o Comandante da Base Aérea de Santa Cruz, chegava geralmente à tardinha, a pilotar um Caça da FAB e ficava a sobrevoar São Luís e a dar voos rasantes em cima da casa de seu pai, senha que depois vim saber pelo próprio Desembargador que era para mandar o carro pegá lo na Base Aérea. Esse acontecimento me ficou na lembrança; quando se via aquele caça a sobrevoar aquele “nosso pedaço”, se sabia: O Comandante Rui chegou!

Voltando o fio à meada, morava, o preceptor, em companhia de uma mulher de cor negra, estatura e compleição pequenas chamada Rosa e conhecida, devido a seu aspecto miúdo, pelo abrandamento afetivo de Rosinha, que o professor dizia ser sua governanta; Rosinha usava vestidos estampados e ao pescoço vários colares multicoloridos, conhecidos por guias, utilizadas em cerimônias rituais de umbanda. Rosinha gostava de beber uns tragos de água ardente e, às vezes, sempre em um bar na Rua do Passeio, defronte do Cinema Rialto, ela extrapolava os limites, momentos em que se punha a “receber espíritos”, a dançar e a cantar “pontos de cabôcos”.

Sempre que Rosinha se encontrava nesses transes, bipartidos em cachaça e espíritos, o professor Germano era informado e ia buscá la, colocando a ao ombro como se a desventurada Rosinha fosse uma simples toalha de banho. Diziam os mais antigos que ela já muito tinha feito por ele, o que agora se invertiam os papéis. Por ser o professor muito introvertido e Rosinha ignorante, nunca pude clarear como tentei aquele mistério o qual, por isso, nunca pude desvendá lo.

O mestre Germano que se dizia chamar se Hermínio, era alemão, falava o português correto, mas com acentuada pronúncia, alto e forte, sempre de terno, com chapéu à cabeça e sem o uso da gravata; tinha um andar lento, quase preguiçoso, como a disfarçar, possivelmente, uma lesão na perna; não conversava com ninguém e nem mesmo com os vizinhos, e a mim, seu aluno mais próximo da redondeza, quando por mim passava, apenas maneava a cabeça com um cumprimento discreto; ia e vinha a pé, em tardes alternadas, ao Palácio dos Leões, onde ministrava aulas a uma filha do Governador Eugênio Barros e a ouros alunos mais próximos do centro da cidade. Eu como morava pertinho é que ia à sua residência nas manhãs de sábado; à noite o professor Germano dava aulas de alemão para outras turmas também em sua casa.

Não aceitava convites para almoços e nem recebia presentes como lembranças. O professor Germano foi uma das criaturas mais estranhas que conheci; fora essas esquisitices, não sei se propositais, ou por uma simples questão de temperamento, mas era cordial e afável na intimidade de suas aulas.

Confesso que não cheguei a aprender o que minha mãe sonhara, porque minha atenção relacionada ao aprendizado ausentava se de mim a viajar no fantástico imaginário, e nesse transporte via o mestre

EXCERTOS... MEMÓRIAS... ALGUMA PARTE...

Germano como um pacato judeu alemão fugitivo de algum campo de concentração, chegado como clandestino à América do Sul, que por alguma circunstância foi parar no Maranhão. Essa alternativa, sinceramente, não tinha muito crédito nas fantasias que criava, porque se tal fosse o professor, até por uma questão natural de vítima, e pelo instinto de adaptação ao meio, far se ia mais extrovertido mesmo que seu temperamento tivesse de lutar e muito com o outro seu lado invisível. E que, na Ilha, com a guerra acabada, ficara a dar aulas para subsistir.

Outro tipo de visão que me caia no imaginário, essa com total possibilidade, até mesmo pelo estado misterioso que o professor transmitia, era em vê lo fardado de oficial da SS, com aquela águia no peito, que para São Luís fora disfarçado a cumprir alguma missão e que lá chegou em algum avião suspeito a driblar as forças aliadas acantonadas na Base Aérea do Tirirical, ou ainda num avião anfíbio que o deixou nalguma praia das largas costas maranhenses... e que depois da derrocada do eixo (Alemanha, Itália e Japão), ficou literalmente ilhado sem mais poder voltar, a valer se dos seus conhecimentos, aliás, vastos, para ministrar aulas como meio de sobrevivência;

Essa hipótese era a mais viável de todas, associadas à sua chegada que, pelos fatos precisos e cientificamente aqui ditos, é a de que o professor Germano tivesse embarcado como tripulante do submarino U 99 que partira do porto de Cuxhaven, a 100 quilômetros a Oeste de Hamburgo, sob o comando do Capitão Hans Kurt Öyster, encarregado de manter o Führer e sua mulher, Eva Brow, protegidos e isolados em lugar seguro e desconhecido.

Sabe se, contudo que o U 99 passou pela Linha do Equador, adentrando o Hemisfério Sul às 22 horas dia 3 de agosto de 1944, estacionando no dia seguinte ao meio dia a 2° 07’ 57 de Lat. S e 44° 36’ 04 de Long. W Coordenadas geográficas de Guimarães, no Maranhão, conforme textualiza o escritor maranhense Joaquim Itapary no seu fantástico livro Hitler no Maranhão ou o Monstro de Guimarães.

Essa, pelos dados técnicos apresentados, é a mais provável chegada ao Maranhão do professor Germano ou Hermínio, dados esses que meu imaginário nunca pode alinhavar, mesmo porque só cheguei a conhecer esses detalhes cinquenta anos depois (1961 2011), quando tive a felicidade de ler esse extraordinário livro, o qual, também, nesse período, nem por longe, creio, tivesse passado pelos surtos ficcionais e pela fantasia cinematográfica do seu autor.

Levado pelos acertos e desacertos, pelos encontros e desencontros, quando saí de São Luís, já não mais tinha nenhuma notícia do professor Germano e de Rosinha. Foram apenas momentos que se passaram pela minha vida, assim, de repente, sem me terem ditos como chegaram e sem me terem ditos quando partiram...

85 ANOS DO FALECIMENTO DE APOLÔNIA PINTO, A MAIOR ATRIZ BRASILEIRA DO SEGUNDO REINADO

DIOGO GALHARDO

Nascida na capital maranhense a 21/06/1854, nas dependências do então “Theatro São Luiz”, atual “Teatro Arthur Azevedo” (1854 1908), outro maranhense contemporâneo a ela e teatrólogo. A mãe de Apolônia era atriz portuguesa, e o camarim onde ocorreu o parto é hoje designado como o “Camarim n. 1”.

Estrearia em 1866, na mesma casa de espetáculos onde nascera. No começo de 1870, estreou na Corte Imperial com a peça “A Morgadinha de Val Flor”. Nesse mesmo ano interpretou Margarida, em “O Fausto”.

Encantando a capital do Brasil Imperial, alcançou fama entre 1872 e 1877, executando vários papéis, dentre eles o de Luísa em “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, Suzana, em “A Cavalaria Rusticana”, Mercedes, em “O Conde de Monte Cristo,” de Alexandre Dumas.

Excursionaria pelo Norte do Império em 1879. Em 1882, organizou sua primeira empresa no Rio de Janeiro, no “Theatro Lucinda”. Foi primeira atriz nas companhias mais importantes do país, além de se apresentar no exterior.

Mesmo idosa, continuava atuando, como em “Flores e Sombra”, de 1930. O compositor conterrâneo Catullo da Paixão Cearense (1863 1946) escreveu a valsa “Apolônia Pinto”, em sua homenagem. Foi casada com o ator Germano Alves.

Passou seus últimos dias no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, e faleceu a 24 de novembro de 1937, aos 83 anos. Seus restos mortais foram transferidos para o Teatro Arthur Azevedo, onde há um memorial.

O historiador Diogo Guagliardo Neves acredita ser uma injustiça histórica que o teatro onde nasceu e onde estão seus despojos não leve seu nome, privilegiando um homem, apesar de importante, nada ter a ver com ele. Mais correto era ser designado de “Teatro Apolônia Pinto” (nome de um pequeno palco no Museu Histórico e Artístico do Maranhão, que nenhuma relação guarda com sua trajetória).

FRAN PAXECO: recortes & memórias

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VOLUME 1 OUTUBRO DE 2017

https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_ _1_ _outubro_2017
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