Revista do IHGM, n. 42, setembro de 2012

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pacífico a origem lusitana da cidade. Evocando os frades cronistas franceses que aqui estiveram em 1612, diz o seguinte: Cláudio d’Abbeville, descrevendo que o lugar em que os franceses construíram o forte, mais tarde nominado São Luís, é tão preciso nas suas palavras, que admira como, em face do seu testemunho presencial, haja quem, conhecendo a ilha de São Luís, alimente dúvidas a respeito da posição escolhida pelos invasores para a montagem de sua fortaleza. (GODÓIS, 2008, p. 100) Os franceses são, portanto, vistos pelo autor, não como fundadores, mas como meros invasores. A cerimônia do 8 de setembro de 1612, entre franceses e tupinambás, na ilha de Upaon-açu, foi por Barbosa de Godóis ( 2008, p. 101), descrita assim: [...] fizeram construir uma grande cruz de madeira, para ser em procissão transportada ao forte, onde deveria ser levantada como símbolo da tomada de posse do território, no interesse da religião do Crucificado, e da aliança entre indígenas e a mesma religião. Em seu livro “Cerimônias de Posse na Conquista Européia do Novo Mundo”, a historiadora inglesa Patrícia Seed, corrobora com a idéia de Godóis. Faz uma acurada análise de todas as cerimônias das principais metrópoles européias ao desembarcarem na América entre 1492 e 1649. No caso do Maranhão, ela se refere assim à procissão do 8 de setembro de 1612: Após quase seis semanas dessas demonstrações de aprovação nativa, os franceses encenam o primeiro de dois rituais de posse política. Como naquela miniatura de cerimônia de chegada na pequena ilha de Sainte Anne, os elementos centrais foram uma procissão e a colocação de uma cruz. (SEED, 1999, p. 64, grifo nosso) É importante ressaltar que a visão aqui explicitada de Barbosa de Godóis, em 1904, sobre a fundação de São Luís, não representa uma leitura nova sobre o tema, ao contrário, expressa a visão tradicional, desenvolvida desde os séculos XVIII e XIX, portanto, já consolidada. Era a visão corrente até esse início de século XX. A FUNDAÇÃO FRANCESA, UMA TRADIÇÃO INVENTADA A mudança da visão tradicional a respeito da fundação da cidade passa a ganhar outra versão a partir dos artigos e depois do livro “Fundação do Maranhão”, respectivamente entre os anos de 1911 e 1912, escritos pelo historiador maranhense, Ribeiro do Amaral, autor de vários estudos sobre a história do Maranhão, membro fundador da Academia maranhense de letras, professor do Liceu maranhense e diretor da Biblioteca Pública É esse autor que muda completamente a tradição historiográfica sobre a fundação de São Luís que vinha sendo aceita até 1904. Em 1911, Ribeiro do Amaral, numa coluna do Diário Oficial do Estado do Maranhão, publicada às sextas-feiras, intitulada “O Maranhão Histórico”, onde discorria sobre temas relativos à história do Estado, escreveu dois artigos, desconsiderando toda a tradição historiográfica sobre a fundação da cidade. Suscitando uma nova versão. No primeiro artigo, escrito em 17 de novembro de 1911, comparando as ocupações holandesas e francesas, diz o seguinte: “Os franceses levantaram, os holandeses derrubaram; os franceses deram começo à fundação da cidade e à construção dos


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