MAIS SOBRE A CAPOEIRAGEM EM SÃO PAULO

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A CAPOEIRAGEM EM SÃO PAULO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Centro Esportivo Virtual Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Professor de Educação Física – Mestre em Ciência da Informação

Logo após publicar “’Cada quá no seu cada quá’: quando a Capoeiragem começou...”1 comecei a revisão do texto, incluindo novas informações que, na primeira versão, ficaram de fora, por falta de paciência para investigar mais à fundo... aos poucos, na medida em que navego pela nuvem, vou encontrando mais material para complementar o que já foi divulgado. Assim, damos continuidade, recuperando a memória, agora, de São Paulo: sirvo-me de Reis 20132:

Recuamos de 1833 para

1829:

Os primeiros documentos datam de 1829, quando um professor de francês da recém-formada Academia de Direito, foi repreendido por um aluno por jogar capoeira em um chafariz com um grupo de negros Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 2 (O Farol Paulistano, 05/08/1829: 6). Esta e outras situações envolvendo capoeiras na cidade de São Paulo, por volta de 1830, ajudam a compreender porque a Câmara Municipal criou uma postura, em 1833, proibindo tal jogo “ou qualquer outro gênero de luta” em locais públicos (ATAS da Câmara Municipal de S. Paulo, 1833:79-823). PEDRO FIGUEIREDO A. DA CUNHA. CAPOEIRAS E VALENTÕES EM SÃO PAULO: MEDO E PERSEGUIÇÃO NO PÓS-ABOLIÇÃO. In Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 20114

SAMPAIO FERRAZ ERA PAULISTA

Estudada por pesquisadores da capoeira no Rio de Janeiro, a perseguição mobilizada pelo chefe de Polícia do então Distrito Federal, João Batista Sampaio Ferraz, entrou para a história pelo teor violento de sua campanha. Nascido na fazenda cafeeira de Santa Maria, em Campinas, em 1857, Sampaio Ferraz fez seus estudos preparatórios em Itu e, em 1878, formou-se na Faculdade de Direito de São Paulo Ocupando o cargo de promotor público da corte, entre 1881 e 1888, acabou sendo demitido em virtude de suas tendências republicanas. De volta a São Paulo, fundou e redigiu o Correio do Povo, primeiro jornal paulista a trazer a legenda “Órgão Republicano”. Pela tribuna e pela imprensa, empenhou-se na campanha em favor do novo regime político. Assim, ao ser instituído no cargo de chefe de Polícia do Distrito Federal, com carta branca do presidente Deodoro da Fonseca, não poderia ter uma atuação diferente (MELLO, 1954: 213)5

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CADA QUÁ EM SEU CADA QUÁ: QUANDO A CAPOEIRAGEM COMEÇOU... por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ por Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Issuu

CADA QUÁ NO SEU CADA QUÁ: QUANDO A CAPOEIRAGEM COMEÇOU... VOLUME II, por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - p by Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Issuu

2 OJogodeIdentidadesnaRodadeCapoeiraPaulistana(openedition.org)Referênciaeletrônica.LetíciaVidordeSousa Reis,«O JogodeIdentidadesnaRodadeCapoeiraPaulistana», Ponto Urbe [Online],13 |2013,postoonlinenodia 31dezembro2013, consultado no dia 12 janeiro 2023. URL: http://journals.openedition.org/pontourbe/748; DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe.748

2011_PedroFigueireidoAlvesdaCunha_VCorr.pdf (usp.br)

3 2011_PedroFigueireidoAlvesdaCunha_VCorr.pdf (usp.br):

4 1307902116_ARQUIVO_comunica_Anpuh-2011_Pedro-Cunha_capoeiras-SP.pdf

5 Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. MELO, Luís Correia de. Dicionário de autores paulistas. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954.

MAIS
SOBRE

O mapa da capoeira

O mapa retrata apenas os casos de capoeira em São Paulo, noticiados nos jornais e que apresentavam a localização exata

A Capoeira nas ruas de São Paulo nas primeiras décadas do século XX - Capoeira Contemporânea (capoeirahistory.com)

DEFINIÇÕES

PERNADA - É uma simplificação da capoeira; é o bate-coxa das Alagoas. Ainda Edson Carneiro (Dinâmica do Folklore, 1950) informa ser o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo.

Pernada de Sorocaba – Em Sorocaba, a Pernada era praticada nas rodas de samba do clube 28 de Setembro ou no campo de futebol de chão de terra batida da Água Vermelha, próximo da Igreja de João de Camargo. A pernada, diferente da capoeira, era apresentada durante os desfiles de carnaval, acompanhando os blocos que saiam às ruas. Ao invés do berimbau, a pernada era jogada ao som de samba tocado por instrumentos de percussão como pandeiro, reco-reco e zabumba. O movimento acontecia em Sorocaba, é derivante das lutas e jogos afro-brasileiros trazidos para o Brasil pelos negros no tempo do Brasil colônia, assim como o bate-coxa de Alagoas, o passo do frevo em Pernambuco, o samba de aboio em Sergipe, a tiririca na capital paulista e a também chamada pernada do Rio de Janeiro. Na década de 70, com a chegada das escolas que ensinavam a capoeira baiana, o movimento foi se perdendo e caindo no esquecimento. (ver crônica do folclorista Carlos Cavalheiro, em que faz uma análise da relação entre danças-luta (pernada, tiririca etc) com a Capoeira no interior Paulista. In http://www.capoeira.jex.com.br/ )

Capoeira, Pernada e Tiririca in Crônica sobre Capoeira, com algumas informações sobre a Pernada de Sorocaba e a Tiririca da capital paulista, ambas uma espécie de "capoeira primitiva" do Estado de São Paul, por Miltinho Astronauta, in Jornal do Capoeira Edição AUGUSTO MÁRIO FERREIRA - Mestre GUGA (n.49) de 13 a 19 de Novembro de 200, disponível em www.capoeira.jex.com.br

Tiririca, Capoeira & Barra funda, por Elaine Muniz Pires, sobre a história dos bairros paulistanos, em especial a Barra Funda, onde acontecia a Tiririca, uma espécie de Capoeira Primitiva, disponível em www.capoeira.jex.com.br

SÃO PAULO - 1829

1831, dois grupos de africanos escravizados foram protagonistas de uma disputa singular na freguesia do Brás, em São Paulo. Um deles, dizendo-se "paulistas" e identificados como capoeiras, pretendiam mostrar sua "pimponesa" aos rivais, considerados "cariocas". Estes e outros conflitos causados por capoeiras e valentões na capital talvez tenham levado a Câmara a aprovar uma postura municipal, em 1833, proibindo o "jogo denominado de capoeira ou qualquer outro gênero de luta" 6

1833 os vereadores da cidade de São Paulo editaram uma Postura Municipal proibindo a prática da Capoeira. Atendendo a uma representação do presidente da província, Coronel de Milícias Rafael Tobias de Aguiar, aprovou, em 24 de Janeiro de 1833, uma postura mandando que qualquer pessoa que praticasse a capoeira em lugar público, sendo livre seria presa por três dias e pagaria multa de um a três mil réis, sendo cativa seria presa por vinte e quatro horas com a pena de 25 a 50 açoites7 .

1850 Carlos Carvalho Cavalheiro, folclorista da cidade interiorana de Sorocaba (SP), um dos mais empenhados historiógrafos de algumas das Capoeiras praticadas no Estado de São Paulo, tem encontrado alguns documentos (registros!) preciosos referente à presença da capoeira a partir de meados do século XIX (1850) em solo paulista. É dele a descoberta da existência de Posturas Municipais de Sorocaba, datada de 1850 que proibiam o jogo da capoeira; reeditadas nos anos de 1865 e 1871, mantiveram a proibição;

1860 Um capoeira de nome Diogo – Dioguinho – em sua infância, praticava capoeira com negros nas proximidades da Igreja de São Benedito (in Bernardo, Moacir. A vida bandida de Dioguinho. Ed. Do Autor, 2000, p. 13, conforme informa Carlos Cavalheiro em correspondência pessoal).

1889 em São Paulo, a 11 de fevereiro, o “Jornal Província de São Paulo” (hoje, O Estado de São Paulo) colocava em foco o problema de “conflito entre raças” questionando a posição desses novos cidadãos libertos, dentro os quaia encontra-se os capoeiras: “(...) que elementos são esses que concitam a raça negra ao crime e a prórpia desgraça? Quando no futuro escrever-se a história acidentada do fim do segundo reinado, há de ser não pelas navalhadas dos capoeiras que há de se aferir a cooperação da reça negra”. (Reis, 1997, p. 62)

12 de janeiro de 1889, o jornal Província de São Paulo reproduz uma nota divulgada por políticos de Piracicaba, três dias antes, rejeitando a ideia de se formar uma Guarda Negra na cidade. No manifesto, é destacado que: Um jornal dessa capital noticiou em telegramma a organização da guarda negra nesta cidade. [...] Piracicaba ainda não está tão aviltada a ponto de produzir semelhante planta, a qual só póde medrar na Côrte, onde para ella existir bastou a homens sem patriotismo e sem respeitabilidade mudarem o nome aos capoeiras e dirigirem os instinctos ferozes destes contra os republicanos. [...] Só na côrte existiam capoeiras, só na côrte póde haver guarda negra, e só na côrte existem Patrocinios e Valadares para organizal-a e arremessal-a contra seus concidadãos. Fora da côrte, se quiserem impedir aos republicanos o sagrado direito de propaganda, será preciso que os monarchistas commettam o crime por si, e não por mandatarios assalariados e illudidos. (Província de São Paulo, 12/01/1889)

1890(?) João Amoroso Neto, em livro sobre o bandido Dioguinho da luta deste com um negro capoeira na cidade de Mato Grosso de Batatais, hoje Altinópolis, região de Ribeirão Preto. (in AMOROSO NETO, Alceu. Dioguinho, São Paulo, 1949, conforme informa Cavalheiro em correspondência pessoal). (Ver ainda Cavalheiro, 2007, http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm)

- um historiador de Porto Feliz (SP), mas natural de Tatuí (SP) de nome João Campos Vieira disse conhecer tradição oral que o Dioguinho era bom capoeira e navalhista, usando a navalha no pé para dar seus golpes. (Cavalheiro, em correspondência pessoal; e in Cavalheiro, 2007, http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm)

- tem-se notícias de um capoeira chamado Mané, carioca é desterrado para Botucatu (SP) nas perseguições de Sampaio Ferraz; aparece depois em 1927 ensinando capoeira (in ARAUJO, Alceu Maynard. Folclore Nacional, 1964).

1892 - Em março houve um confronto entre os “morcegos” (praças da polícia fardada) e soldados do exército paulista que eram capoeiristas, ocasionando distúrbios na cidade de São Paulo (Fonte: http: //www.institutocariocadecapoeira.hpg.ig.com.br/historico.htm acessado em 31.01.2004.

(189?) na obra de Alceu Maynard Araújo entitulada "Folclore Nacional" (1964), relata que foi encontrada capoeira no interior paulista entre o final do século XIX e início do século XX. Trata-se de levas de capoeiras soltas nas pontas dos trilhos da Sorocabana, que tinha como destino final a cidade de Botucatu. Na verdade eram capoeiras desterrados do Rio em consequência do Código Penal de 1890.

1900 - Em 28 de maio, o jornal Correio Paulistano apresenta em algumas linhas na coluna de Vida Diária, junto a outras notícias de agressões e roubos,: a notícia de que “Candido Elias Gonçalves, que se gaba de ser o melhor capoeira

6 Capoeira em São Paulo: da disputa entre africanos à tiririca - (sescsp.org.br)

7 HISTÓRIA LICENCIATURA: História da capoeira (hid0141.blogspot.com)

dessa terra, hontem à noite fazia bonito passando rasteiras nos menores que assistiam a retreta no jardim do palácio, gritando oh ferro, nunca vi tanto aço!”

- A notícia de 15/01/1900 no Estado de São Paulo revela um pouco mais sobre a organização em grupos: É bem conhecido, por todos quanto costumam passar pela várzea do Carmo, nos domingos, do meio dia em diante, o originalíssimo espetáculo que oferecem os desocupados das ruas Vinte e Cinco de Março e Santa Rosa, de uns combates a pedradas travados no aterrado do gasômetro. …as autoridades do Brás conseguiram apurar que os desocupados da rua de Santa Rosa têm três partidos formados, que disputam com outros três da rua Vinte e Cinco de Março, havendo em cada um delles uma bandeira diferente e os respectivos chefes, que são vagabundos adestrados no jogo da funda, capoeiras e navalhistas, que se impõem aos companheiros e subordinados pela força e pela brutalidade de que dão provas nas investidas da várzea.” (Grifos Nossos. Nota: Jogo da funda seria o ato de arremessar pedras à distância com a ajuda de uma corda, uma arma de arremesso medieval)

1903 - Em 06/12/1903, o Correio Paulistano traz a seguinte nota: CAPOEIRA – A cafetina Maria Luiza, teve hontem uma questão na sua casa, à rua senador Feijó, com Carolina Vieira e Guilhermina da Silva. Depois de longa troca de palavras insultuosas, Maria Luiza começou a jogar capoeira. Appareceu, porém naquella ocasião uma praça que prendeu Maria Luiza, à ordem do dr. Pedro Arbues Junior 2º delegado.” (Grifos Nossos)

1907 - Segundo matéria do Correio Paulistano de 26/11/1907, que reproduz uma ata da Câmara Municipal de São Paulo de 1907, desde o começo daquele ano, juízes da capital proferiram sentença em 673 processos referentes à capoeiragem, vagabundagem, jogos e apostas, uso de armas proibidas, e crimes contra o trabalho. Todos esses são crimes relacionados à população marginalizada. São formas de repressão, controle e exclusão de suas atividades que não se enquadravam na sociedade do trabalho em formação na São Paulo do início do século XX.

1913 - Na rua Vergueiro o preto Alfredo Eugênio, de 22 anos de edade, morador da alameda Ribeiro da Silva n. 57, jogava a capoeira hontem às 2 horas da tarde com diversos companheiros. Um destes, exasperado por ter cahido a uma rasteira de Alfredo, vibrou-lhe uma navalhada no lado direito do maxilar inferior. O agressor evadiu-se em seguida e a victima foi medicada na Polícia Central.” (Correio Paulistano, 2 de julho de 1913. Grifos nossos)

1914 - Estado de São Paulo, em 08/02/1914, mostra novamente um agrupamento de capoeiras e, não à toa, numa região ocupada historicamente por negros: Pedem-nos que chamemos as vistas da polícia sobre agrupamento de indivíduos que todas as tardes até altas horas da noite dão lições gratuitas de capoeira na rua Conselheiro Carrão, no trecho compreendido entre a esquina da rua Ruy Barbosa e Treze de Maio. As famílias não podem por ali transitar, porque é demais audaciosa e desrespeitadora a atitude de semelhante gente.” (Grifos nossos)

1926 - A caricatura de um capoeira, publicada em 12/02/1926. O jornal humorístico O Sacy brinca no final da legenda com a suspeita, que existia na época, de que o próprio presidente Washington Luiz fosse um capoeira. Quem o vê assim gordete não calcula que capoeira, que cabra bom no porrete, que cabra bom na rasteira. Confirmando o que se diz, que o diga Washington Luiz…”

1927 O folclorista Alceu Maynard Araújo (in Folclore Nacional, 1964) registrou a presença da prática e do ensino da Capoeira na cidade de Botucatu, em algum momento após o Código Penal de 1890 e o ano de 1927. O autor não deixa claro, com precisão, qual o momento em que ele detectou a chegada dos capoeiras na cidade, mas afirma que no ano de 1927 um capoeira carioca chamado Mené ensinou alguns jovens estudantes no Clube Pedrotibico Orfeu. O próprio Maynard declara que ele fez parte daquela turma de "alunos";

Década de 1930 - A pratica da "Tiririca" na capital paulista, décadas de 30(?), 40 e 50, era um tipo de capoeira primitiva, praticada sem a presença do berimbau, mas acompanhada pelo ritmo do samba paulistano. Acredita-se na tese de que algo possa ter sido registrado sobre a prática na cidade de Bom Jesus do Pirapora, uma vez que diversos sambistas e praticantes da Tiririca frequentemente deixavam a capital para sambar nas festas que por lá tomavam corpo;

Década de 1940 - É recente o estudo sobre a capoeira antiga no Estado de São Paulo, embora haja algumas informações esparsas sobre a sua prática em diversas localidades do solo paulista. Segundo o professor Rubini essa prática ocorria na década de 1940 a 1950, na cidade de Porto Feliz. O professor Olivério Rubini informa, por exemplo, que

praticava a pernada a qual "era uma brincadeira que antecedia a chegada de todos, onde algumas crianças procuravam derrubar outras com rasteiras. Talvez a diferença com a capoeira era a espontaneidade e a ausência de regras e acompanhamento musical". A pernada parece, então, ser a capoeira primitiva. O local onde se praticava a pernada portofelicense era um terreno baldio usado como campo de futebol e que hoje é a avenida Capitão Joaquim de Toledo, ao lado da Escola Monsenhor Seckler. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in La Insignia, 2007. Carta ao autor datada de 04 maio 2006, disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

1944 AMADO, Jorge. Bahia de todos os santos (1º Edição). 21a. edição revista e atualizada. São Paulo: Martins, 1971. O livro foi publicado pela primeira vez no ano de 1944. Como todas as obras de Jorge Amado, esta também vem sendo reeditada constantemente e lançada em várias outras línguas pelo mundo afora. A partir da 22º edição, entretanto, um substancial e revelador parágrafo foi suprimido. Justamente o que menciona uma visita de Mestre Bimba ao Rio de Janeiro onde foi surpreendido pela alta eficácia da capoeira carioca. Especialistas em Bimba e em Amado defendem que o trecho foi apenas uma fantasia do grande escritor. (Lace Lopes, 2005)

1946 Outra informação sobre a capoeira em Porto Feliz é o relato do senhor José Aparecido Ferraz, conhecido por Zequinha Godêncio. Desde o ano de 1946 ele acompanhava as brincadeiras de capoeira. Aos vinte anos, por volta de 1951, começou a participar das brincadeiras e treinar a capoeira. Havia em Porto Feliz um capoeirista conhecido por Toninho Vieira. Vendo esse capoeirista treinar e jogar, Zequinha começou a praticar imitando-o. "O professor foi só mais ver...", afirmou. (Carlos Carvalho Cavalheiro, in La Insignia, 2007. Carta ao autor datada de 04 maio 2006, disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

1948-1949 - Mestre Bimba veio para São Paulo para apresentar suas habilidades, nas lutas combinadas, para o povo paulistano. Foi a sensação daquele momento, “lotando Pacaembus” (Estádio do Pacaembu) e chamando a atenção de toda a imprensa. Mestre Damião, Perez e Garrido fizeram parte daquela equipe de jovens aventureiros - com relação à capoeira regional baiana, a documentação até agora angariada nos dá conta de ter chegado a São Paulo por volta de 1948/49 e ter seu ensino formalizado em academia a partir de 1950.

1949 "Os capoeiristas estão brilhando em São Paulo". A Tarde, Salvador, 25 fevereiro. Embora - agora já sabe - os resultados fossem combinados, mesmo assim houve uma razoável divulgação da capoeira regional baiana no evento foco da notícia.

- "Regressou Mestre Bimba". A Tarde, Salvador, 7 março: não concordando, mas também não proibindo lutas combinadas, Mestre Bimba voltou a Salvador demonstrando satisfação com os resultados alcançados.

Década de 1950 Outra informação interessante de Zequinha Godêncio diz respeito a perseguição policial à prática da capoeira, embora nessa época já não constasse mais no Código Penal. A mesma reclamação fez um capoeirista de Sorocaba, conhecido por Chiu, que disse que por volta da década de 1950 a polícia ainda perseguia quem praticasse a capoeira. Zequinha informou que havia um bar de um "turco" onde se reuniam os capoeiristas e ficavam jogando. O delegado, Barreto, prendia os capoeirista. "No outro dia cedo ele soltava e elevava ao Porto do Martelo. Chegava lá tinha que lutar com ele. Se a gente jogava ele dentro d'água, saía. Não voltava pra cadeia". O delegado, segundo Zequinha, gostava de desafiar os capoeiristas para uma luta. Aqueles que levassem a melhor poderiam ir. Caso contrário, ficariam mais alguns dias na cadeia. Zequinha lembra alguns nomes de capoeiristas de Porto Feliz: Orides, Pedro (sobrinho de João Xará), Faísca. Também informou que a capoeira era brincada sem acompanhamento musical. "A gente só ia gritando: Aeh!, olha lá, Ah!, Opa! Ia gritando e dando giro". O pessoal de Porto Feliz, na década de 1950, costumava vir a Sorocaba onde no bairro da Árvore Grande brincavam a capoeira com os sorocabanos. "Era lá na Árvore Grande. De lá tinha um chamado Aparecidinho. Tinha Aparecido, um chamado Paulinho. Era os mais chegados". (Carlos Carvalho Cavalheiro, in La Insignia, 2007. Entrevista concedida em 02 nov 2006, disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

- Ainda sobre a capoeira antiga de Porto Feliz, o colecionador Rubens Castelucci informa que havia um pessoal que brincava no largo da Laje, antiga rua da Laje. Segundo Rubens, o prefeito Lauro Maurino promovia muitas apresentações de capoeira e congada em comícios políticos e em festas. Vinham pessoas de Capivari para auxiliar o grupo de Porto Feliz nas apresentações. (Cavalheiro, 2007, http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm)

- No ano de 50 e 51, Mestre Damião ministrou primeiro curso oficial de Capoeira que em São Paulo se registrou, na academia de Kid Jofre; Waldemar Zumbano da CBP atestou. (ASTRONAUTA, 2004).

1950/51 de setembro de 1950 a maio de 1951, funcionou em São Paulo a primeira Academia de Capoeira (Luta Regional Baiana)..." (SANTOS, 1996). Para Cavalheiro, a despeito de, no futuro, surgir qualquer outra informação diferente desta, o que se deve considerar é que o fato de Mestre Damião ter ensinado capoeira regional baiana em São Paulo, em academia - portanto, de maneira formal - está amplamente documentado. Entretanto, isso não

exclui a existência da prática da capoeira (em suas formas e vertentes) em solo paulista antes do final da década de 1940 ou início de 1950

1956 Última Hora, São Paulo, 25 abril de 1956: "Neste mundo cada vez mais dependente do marketing, parece que só existiu e que só existe quem está todos dias na mídia. Mídia paga ou não. Daí a ignorância sobre a extraordinária Capoeira de Sinhozinho de Ipanema. Outro bom exemplo, ou melhor, outra boa injustiça pode ser registrada em relação ao Sr. Antenor dos Santos, mineiro, vice-presidente da Portela e um 'animador da capoeira' ". Nas décadas de 1940/1950 o Senhor Santos coordenava um grupo de bons angoleiros, na prática, comandados por Joel Lourenço do Espírito Santo.

DÉCADA DE 1960 – migram para São Paulo, no decorrer da década, vários mestres de capoeira baianos em busca de melhores condições de vida (Reis, 1997)

Entre o começo da década de 1960 e o princípio dos anos de 1970, vários mestres de capoeira e capoeiristas baianos migram para a cidade de São Paulo e formarão a primeira geração de capoeiristas paulistanos. Neste artigo, estabeleço uma comparação entre três diferentes concepções sobre a identidade da capoeira paulistana: a da Federação Paulista de Capoeira, a qual a vê como uma “arte marcial brasileira”, a do Grupo de Capoeira Capitães d’Areia que a representa como “arma dos oprimidos” e a do Grupo de Capoeira Cativeiro que a representa como “uma forma de expressão negra”. Tais representações sociais determinarão a forma de graduação de cada um deles. A Federação Paulista de Capoeira adotará as cores da bandeira nacional, o Grupo de Capoeira Capitães d’Areia tomará como base a história do negro no Brasil e Grupo de Capoeira Cativeiro se baseará nas cores dos orixás.(Reis, 2013)

[...] Durante a década de 1960, dirigem-se da Bahia para a metrópole paulistana os que mais tarde seriam lembrados como a primeira geração da capoeira de São Paulo. Chegam aqueles da vertente da capoeira Angola: Ananias, Valdemar Angoleiro, Brasília, entre outros. E vêm também os da vertente da capoeira Regional: Joel, Suassuna e, já na virada para os anos de 1970, vêm, entre outros, Onça e Acordeon. Algum tempo depois, virão os que comporão a segunda geração de capoeira do estado, da qual farão parte alguns que depois se tornariam muito conhecidos na capoeira da metrópole, entre eles: mestre Almir das Areias, futuro líder do grupo Capitães d’Areia e mestre Miguel, futuro líder do grupo Cativeiro.(Reis, 2013)

- informa Hamilton Jackson Dias (hamiltonjackson@walla.com) que nos anos 1960 via muitas pessoas que brincavam de capoeira nas ruas mesmo não existindo academias em Sorocaba. “...eu vi Zé Jaú, vi Luizão, João Pantera, Maurinho Meia Lua e tantos outros que brincavam de capoeira aqui em Sorocaba antes de 1970”. (ver box)

1967 - os mestres Brasília e Suassuna abrem juntos a “Academia de Capoeira Cordão de Ouro” num bairro central. Ainda conforme mestre Almir das Areias unia-se a técnica da Regional, característica da formação de Suassuna, descendente da linhagem do baianomestre Bimba, à malemolência da Angola, presente no jogo manhoso de Brasília, formado de Canjiquinha (mestre baiano de capoeira Angola).

1969 é fundada a Associação São Bento Pequeno, uma parceria dos mestres Pinatti, Paulão e o saudoso Paulo Limão, tem endereço certo: Rua do Vergueiro, 2684, próximo ao metro Ana Rosa O Mestre Djamir Pinatti é um dos veteranos da capoeira paulista. Ao lado de Paulo Limão, Paulo Gomes, Suassuna, Silvestre, Brasília, Joel, Gilvan, Grande e tantos outros, fez com que a capoeira adentrasse no seleto cardápio cultural e desportivo da Terra da Garoa, principalmente nos idos dos anos 60 e 70. Em seu acervo particular mantém documentos preciosismos da História da Capoeiragem paulista e paulistana. Será impossível, apenas para dar pequeno exemplo, conhecer a história completa da Federação Paulista de Capoeira (FPC), fundada em 1974, sem recorrer a seu acervo.

1969 Historicamente, desde pelo menos o final dos anos 60, a Capoeira está na Universidade, senão como disciplina, está pelo menos como atividade cultura e desportiva. Na USP (Universidade de São Paulo), Capital, Butantã, os mestres Eli Pimenta e Gladson são os precursores. O primeiro por dar aulas aos alunos e funcionários, com atividade de lazer (1969), e o segundo por ter inserido a capoeira no currículo escolar da Usp (1970/71). Mestre Eli Pimenta, que iniciou Capoeira com Mestre Suassuna, depois passou pelo Cativeiro (de Mestre Miguel Machado), deu aulas na USP entre os anos de 1969 à 1982 (não sei precisar se houveram interrupções nos treinos de capoeira). Uma das fases de Mestre Eli na USP foi no antigo "Barracão", posteriormente demolido.

DÉCADA DE 1970 – iniciou-se a fundação das federações Estaduais de Capoeira, sob a jurisdição da CBP. E nesta mesma década começa a expansão da Capoeira por todo o país, a qual antes estava limitada a poucas iniciativas e localizações. Neste estágio, passam a convergir e se consolidar vários suportes para o desenvolvimento da Capoeira tais como a institucionalização da luta (livros e publicações, gestão por federações, etc.); multiplicação de mestres (imigração entre regiões do Brasil e para o exterior, festivais de grupos renomados, etc.); melhoria do conhecimento (pesquisa,, ensino em universidades, etc.); e reconhecimento público do seu valor cultural e esportivo (Vieira, 2005)

1970/71 - O enfoque eminentemente biologizante, tecnicista e instrumental da Educação Física dessa época foi apontado por Castellani Filho (1988). Em virtude da concepção tecnicista de educação que norteou a publicação da Lei de Diretrizes e Bases 5692 de 1971, a Educação Física verá reforçado seu caráter instrumental de cuidar da reprodução da força de trabalho do país. O artigo que regulamenta a inclusão curricular dessa disciplina em todos os níveis de ensino fundamenta-se numa concepção que a destitui de qualquer reflexão teórica, restringindo-a meramente à “educação do físico”. Conforme o autor, a mesma concepção biologizante informa a legislação esportiva do período já que, em 1975, afirmava-se como um dos objetivos básicos da política nacional de Educação Física e Desportos o “aprimoramento da aptidão física da população” (FILHO, 1988, pp. 108-109). Portanto, será dentro deste contexto histórico que a capoeira se tornará oficialmente um esporte. No entanto, para expandir sua prática no nível nacional, antes era preciso homogeneizá-la. Tal movimento de normatização nacional teve como principais líderes alguns mestres de capoeira da metrópole paulistana. Além da nomenclatura unificada dos golpes e da regulamentação para a competição, o intuito homogeneizador que orienta a ação do Estado em relação a essa prática prevê ainda a criação de uma estrutura administrativa centralizada numa confederação. Burocratiza-se a capoeira e federações de capoeiristas são instituídas em diversos estados do país. Em 1974, funda-se a Federação Paulista de Capoeira

- A Capoeira é introduzida por mestre Galdson no currículo escolar da USP. Mestre Gladson continuou seu trabalho no CEPEUSP - Centro de Práticas Esportivas da USP - onde ensina até hoje. Sobre a história da capoeira na USP, temse conhecimento dos trabalhos ali desenvolvido por diversos mestres, contramestres e professores como Gladson de Oliveira Silva, Pingüim (Luis Antônio Nascimento Cardoso), Vinícius Heine, João Sarará (João Luis Uchoa Passos), Thiaguinho (Thiago Uchoa Passos), Nego Folha (Márcio Custódio de Oliveira), o grupo Nzinga (M.Janja); o pessoal do Abada e da Malungos.

1971 inaugurada a primeira sede da Academia e Grupo de Capoeira Capitães d´Areia, situado no bairro da Barra Funda; em seguida, o grupo mudou-se para o Bom Retiro e depois para o Brás; abriu-se uma filial nos Campos Elíseos

Em 1971, surge em São Paulo o grupo de capoeira Capitães d’Areia e, neste mesmo ano, inaugurase a primeira sede da Academia e Grupo de Capoeira Capitães d’Areia, situada num bairro da zona oeste da capital. Este grupo era composto por cinco mestres (sendo quatro baianos e um carioca) formados pelo mestre Almir das Areias, criador da Academia e Grupo de Capoeira Capitães d’Areia e responsável pelo trabalho técnico ali desenvolvido. Na própria escolha de seu nome, os Capitães já sinalizam com uma proposta para a capoeira que a identifica com as classes populares. No romance homônimo de Jorge Amado, os capitães de areia formam um grupo de menores abandonados que moram nas ruas de Salvador e, instruídos pelo afamado capoeirista Querido-de-Deus, fazem uso dessa luta quando se envolvem em assaltos ou escaramuças com grupos de meninos rivais. Os Capitães, na pessoa de mestre Almir das Areias, participam da primeira reunião para a criação da Federação Paulista de Capoeira. No entanto, logo depois, afastam-se da mesma por julgarem que a orientação “marcializante”, ali predominante, ia contra os princípios libertários da capoeira. Assim, em São Paulo, os novos capitães de areia, migrantes baianos da década de 1970, formam o grupo Capitães d’Areia, como um sinal de distinção que assinala sua identidade de migrantes pobres e oprimidos.(Reis, 2013)

1972, durante a vigência do regime militar no país, acontece algo significativo quanto às relações entre a capoeira e o Estado, quando esta será reconhecida oficialmente como esporte, conforme portaria expedida pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), iniciando-se então um processo de institucionalização e burocratização que visa promover sua homogeneização em todo o país. Assim, procede-se à organização de torneios, à elaboração de regras e à unificação dos golpes e contragolpes, além da uniformização do método de graduação dos alunos com base nas cores da bandeira brasileira.

1974 Fundação da Federação Paulista de Capoeira, precursora no País (Reis, 1997)

Preocupado com a legitimação da capoeira, mestre Onça será o principal articulador da Federação Paulista de Capoeira, aberta em 1974, e seu primeiro presidente. Os capoeiristas em geral aderem à proposta, radiantes frente à possibilidade de melhorar a aceitação social do esporte, o que facilitaria sua divulgação. As associações fundadoras foram: K’Poeira, São Bento Pequeno, São Bento Grande, Cordão de Ouro, Quilombo dos Palmares, Vera Cruz, Ilha de Itapuã e a dirigida por mestre Zé de Freitas. As academias filiadas adotam como forma de graduação o padrão oficial, baseado nas cores da bandeira nacional.(Reis, 2013)

No processo de legitimação da capoeira observa-se um esforço para desapropriá-la de sua herança negra, representando-a como nacional. Mestre Almir das Areias, que acompanhou de perto todo o processo de formação da Federação Paulista, enfatiza: ‘Como dirigentes da Federação Paulista de Capoeira, esses mestres tinham o objetivo de “limpar o nome da capoeiragem” do seu “negro passado”, ascendê-la socialmente, afiá-la como arma, promovê-la como esporte nacional e transformá-la na arte marcial brasileira, em contrapartida à invasão e a proliferação das lutas estrangeiras. Enfim, transformá-la no kung-fu brasileiro’. (DAS AREIAS, 1983, p.77).(Reis, 2013)

1975 ARAÚJO, Alceu Maynard. BRASIL - Histórias, costumes e lendas. São Paulo: Ed. Três. Levantamento sobre cultura popular brasileira, com destaque para danças e jogo, e com menção da capoeiragem, permite perceber a

existência de íntimo parentesco do batuque, com o bambelô (Rio Grande do Norte), o caxambú (Minas Gerais), o bate-coxa (Alagoas), o jongo, o côco ou zambê, a chula e a pernada carioca. (Lace Lopes, 2005)

1979 apresentação de um projeto de lei, encaminhado à Câmara Federal, por um mestre de São Paulo, propondo a mudança de “capoeira” para “luta nacional” (Projeto-lei 2.249-A, folheto da Associação de Capoeira Iuna) (Reis, 1997)

DÉCADA DE 1980 em princípio da década, surge o Grupo de Capoeira Cativos, em São Paulo (Reis, 1997)

O Cativeiro formou-se num contexto histórico de redemocratização e afirmação das diferenças. Entre fins da década de 1970 e início da década de 1980, começavam a despontar na sociedade brasileira movimentos sociais organizados. Renascia o movimento negro, denunciando o racismo presente no país, ao mesmo tempo em que se iniciava também um processo de reafricanização de algumas manifestações de origem negra (PRANDI, 1991). Em 1978, funda-se em São Paulo o Movimento Negro Unificado (MNU), uma organização de âmbito nacional. Esses grupos organizados lutando, cada um a seu modo, pela “tomada de consciência” dos negros em relação à opressão racial e social, assumirão uma identidade negra, construída sob a égide da resistência. Assim como os Capitães, o Cativeiro chama a si próprio de grupo e não se filia à Federação por discordar de sua orientação “marcializante”. A proposta para a capoeira paulistana que o Cativeiro traz acentua a diferença étnica, afirmada a partir da reelaboração de materiais simbólicos da cultura afro-brasileira representados pelo panteão dos orixás do candomblé de Angola e Keto. Na própria escolha do nome do grupo, que vincula a luta diretamente à escravidão, já está contida essa perspectiva enegrecedora, também contemplada em sua Apostila, onde se acentua que “a capoeira deve ser entendida como forma de expressão de uma raça” (1982).O grupo iniciou suas atividades em fins da década de 1970, na cidade de Ribeirão Preto (SP). Ali, mestre Miguel, migrante originário de Itabuna (BA) e principal liderança do grupo, ensinava capoeira e, em 1980, transferiu-se para a capital do estado e ali abriu a primeira escola de capoeira do Cativeiro, situada na região central da cidade. O Cativeiro resultou da união de seis mestres descontentes com a “marcialização” e a pobreza técnica e metodológica que, em sua opinião, a Federação Paulista de Capoeira impunha à prática. Segundo eles, o confronto indireto no jogo de capoeira fora substituído pelo embate direto, onde os lutadores “mostravam os movimentos”, isto é, deixavam transparecer sua intenção.

1988 havia 36 academias filiadas a Federação Paulista de Capoeira, 12 delas pertencentes a capital

- mestre Alcides funda o Centro de Estudos e Aplicação da Capoeira - CEACA. Ambos formam-se mestres em 1992, pelas mãos de Mestre Eli Pimenta. Já em 1969 integra-se ao grupo de capoeiras o jovem Alcides de Lima, hoje Mestre Alcides. Pouco depois (1971) chega também o Dorival dos Santos - Mestre Dorival

DÉCADA DE 1990

1993 realização do Primeiro Congresso Técnico Nacional de Capoeira, na cidade de Guarulhos-SP. Objetivo: padronização de procedimentos técnicos, culturais e esportivos (Vieira, 2005)

1995 SANTOS, Esdras M. dos. Conversando sobre capoeira.. São Paulo: JAC. Livro emocionado, desassombrado e extremamente informativo. Preciosa fonte de informações e esclarecimento sobre a trajetória da Capoeira Regional. (Lace Lopes, 2005)

- em 1995 sua prática foi reconhecida oficialmente como esporte de alto nível passando a ter representação no Comitê Olímpico Brasileiro.

1995 é fundado o primeiro grupo feminino de Capoeira, pelas professoras Cenira Briz, Viviane Briz e Cristiane Briz (Mãe e filhas, respectivamente), quando criaram uma filial da Associação de Capoeira Ginga Almada Santos de Mestre Ananias Tabacou. Cinco anos mais tarde, no ano de 2000, elas desligam-se do "Almada Santos" e fundam sua "Escola de Capoeira Ginga dos Ventos".

1997 Organização do Segundo Congresso Técnico Nacional de Capoeira (Vieira, 2005)

1999 realização do Terceiro Congresso Técnico Nacional de Capoeira e Primeiro Congresso Técnico Internacional de Capoeira, na cidade de São Paulo. Aprofundamento das padronizações técnicas e difusão para o exterior.

- Fundação da Federação Internacional de Capoeira, em São Paulo.

- Fundação da Associação Brasileira de Árbitros de Capoeira, em São Paulo (Vieira, 2005)

SÉCULO XXI

2002 introdução da Capoeira como modalidade oficial nos Jogos Regionais e Abertos do Interior dos Estados de São Paulo e de Goiás.

2003 No programa Terra Paulista, foi citado que na cidade de Bananal, Vale do Paraíba, ainda se praticava uma "capoeira diferente". (Cavalheiro, 2007, http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm)

2006 Mestre Gladson, professor do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), realizará um Curso de Difusão Cultural: Aspectos Pedagógicos da Capoeira, dias 10 e 11 de Junho de 2006, com carga horária de 20 horas

- o Grupo Nzinga promove o "Primeiro Encontro de Angoleiras de São Paulo".

2013 - O Jogo de Identidades na Roda de Capoeira Paulistana - Letícia Vidor de Sousa Reishttps://doi.org/10.4000/pontourbe.748 - Entre o começo da década de 1960 e o princípio dos anos de 1970, vários mestres de capoeira e capoeiristas baianos migram para a cidade de São Paulo e formarão a primeira geração de capoeiristas paulistanos. Neste artigo, estabeleço uma comparação entre três diferentes concepções sobre a identidade da capoeira paulistana: a da Federação Paulista de Capoeira, a qual a vê como uma “arte marcial brasileira”, a do Grupo de Capoeira Capitães d’Areia que a representa como “arma dos oprimidos” e a do Grupo de Capoeira Cativeiro que a representa como “uma forma de expressão negra”. Tais representações sociais determinarão a forma de graduação de cada um deles. A Federação Paulista de Capoeira adotará as cores da bandeira nacional, o Grupo de Capoeira Capitães d’Areia tomará como base a história do negro no Brasil e Grupo de Capoeira Cativeiro se baseará nas cores dos orixás.

2014 - - Museu da Pessoa - História da Capoeira Paulista História de: Mestre José de Freitas

Nascido na cidade de Macaquinhos (BA), em 29 de abril de 1926, Jose de Freitas começou a treinar capoeira em 1946 com Mestre Caiçara, que depois de algum tempo o apresentou para o inesquecível Mestre Waldemar Rodrigues da Paixão (o Poeta), virando assim seu discípulo. Mestre Ze de Freitas foi um pioneiro da capoeira em São Paulo. Veio para terra da garoa ainda no final da década de 50, e começou suas atividades na capoeira (ainda proibida nessa época) num pequeno corredor de pensão de mais ou menos 3mt x 2mts, no bairro da Mooca. Teve uma passagem no Clube CMTC, onde realmente deu-se inicio a trajetória da capoeira paulista. Junto com outros grandes mestres, onde originou-se a capoeira que vemos hoje no centro sudeste de São Paulo. Trajetória essa que levou o Mestre Zé de Freitas a outro rumo, que a olhos de outros capoeiristas a complexa. Mestre Zé de Freitas formou capoeiristas que hoje também fazem parte da história de nossa capoeira como: Mestre Pinatti, Mestre Joel, Mestre Mello, Mestre Serginho e Mestre Dulcidio (que hoje junto com seus professores representam o grupo Associação de Lutas Unidas Capoeira, fundada pelo Mestre Zé de Freitas). Sua ultima vinda à São Paulo foi em junho de 2007, para participação de documentário chamado Reunião dos 9, onde tentam resgatar a história da Capoeira Paulista. O mestre Zé de Freitas teve acompanhamento o tempo todo de seu eterno aluno e amigo Mestre Dulcidio. Mestre Zé de Freitas se encontra hoje em Alagoinhas com seus quase 90 anos, mas por problemas de saúde não está puxando treinos em sua academia. Mestre Freitas também participou de novelas; trabalhou como segurança de Manoel da Nóbrega, o principal humorista da Praça da Alegria; foi um dos treinadores do jogador Pelé para o filme "A marcha de Chico Bondade", de 1972. Também em São Paulo fundou sua academia, a Associação de Lutas Unidas Capoeira Freitas, no bairro da Sapopemba, que hoje encontra-se na responsabilidade do seu eterno aluno e amigo Mestre Dulcidio. Hoje, aos 88 anos, completados em abril, Mestre Zé de Freitas já não ensina por conta de problemas com a visão.

2015 - Livro: Capoeiras e valentões na história de São Paulo | Portal Capoeira

2021 - A Capoeira nas ruas de São Paulo nas primeiras décadas do século XX - Capoeira Contemporânea (capoeirahistory.com)

História da capoeira de São Paulo grande Mestre GUILHERMÃO MESTRE JAIR E C MESTRE PEPEU CAPOEIRA - História da capoeira de São Paulo grande Mestre GUILHERMÃO MESTRE JAIR E C MESTRE PEPEU CAPOEIRAYouTube

A Capoeira na praça e o pioneirismo do Mestre Zumbi – Expresso Periférico (expressoperiferico.org)

Capoeirista de Suzano: conheça a história do mestre Amaro, um dos pioneiros da capoeira paulista - Agência Mural (agenciamural.org.br)

2022 - Capoeira, Roda de Samba e muita cultura, aqui em São Paulo! (spcity.com.br)

Mestre de Capoeira.indd (unesp.br)

Situação atual CAPOEIRAGEM

A Capoeira com cantoria e ritmo, nos dias presentes, pode ser encontrada no mundo inteiro. Apresentada, na maioria das vezes, em palco, em conjunto com danças e rituais afro-brasileiros adaptados para show - maculelê, samba de roda, dança de orixás, puxada de rede etc. Já a Capoeiragem do Rio Antigo parece ser uma prática em extinção, com os mestres mais velhos aposentados e uns poucos mestres mais jovens migrando para outras lutas similares, como Muay Thay, Caratê ou Box Tailandês. Não sendo de se desprezar, entretanto, alguns esforços que estão surgindo no sentido de revitalizar este tipo de capoeira, como, por exemplo, o Projeto Capoeira Arte Marcial (ver neste particular a parte final do livro "Capoeiragem no Rio de Janeiro, Sinhozinho e Rudolf Hermanny", Lace Lopes, 2003, p. 267). Em termos de fontes, e de acordo com pioneira pesquisa realizada pela Federação Italiana de Capoeira, já existem mais de 500 trabalhos sobre capoeira, sobretudo, sobre sua parte rítmica e cantada. Estando incluídos neste levantamento, não apenas CDs, mas gravações em vinil, K-7, vídeos-tapes e filmes técnicos ou romanceados. Em dezembro de 2003, no Rio de Janeiro, foi editado um CD especificamente sobre Agenor Sampaio, Sinhozinho: "Homenagem aos Bambas do Rio Antigo". Neste particular, cabe mencionar, a primeira gravação, ainda em vinil, do CD "Curso de Capoeira Regional", uma vez que, o libreto que acompanhava o disco, mencionava outras lutas (ver BIMBA, 1963). Mais informações podem sr obtidas no capítulo de Capoeira neste mesmo volume. (Lace Lopes, 2005)

CAPOEIRA

Após três décadas de expansão no Brasil e no exterior, a capoeira tornou-se uma das principais práticas esportivas do país, contando um total estimado de seis milhões de praticantes em cerca de 35 mil núcleos de ensino em todas as regiões brasileiras. Há também 24 federações estaduais e 92 ligas regionais e municipais, vinculadas à Confederação Brasileira de Capoeira. Por sua vez, a Federação Internacional de Capoeira já soma sete federações nacionais (Canadá, Argentina, Portugal, Holanda, França, Alemanha, e Austrália), além de identificar a presença da luta em outros 156 países (Vieira, 2005)

FONTES:

ASTRONAUTA, Miltinho - Capoeiras do Vale do Paraiba e Litoral Norte - Ed. do Autor - 2004 RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, São José dos Campos-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)

CARNEIRO, Edson. Capoeira. In CADERNOS DE FOLCLORE 1. Rio de Janeiro: MEC/FUNARTE, 1977

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho in RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, São José dos Campos-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Capoeira em Porto Feliz. in La Insignia, 2007 disponível em http://www.lainsignia.org/2007/julio/cul_037.htm).

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho - Cantadores - o folclore de Sorocaba e região (encarte de CD) - Linc - 2000 DIAS, Maria Odila Leite da Silva - Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX " Brasiliense " 2001 PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005 REGO, Waldeloir. CAPOEIRA ANGOLA – ENSAIO SÓCIO-ETNOGRÁFICO. Salvador, Itapuã, 1968. p. 298-313

REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR – A CAPOEIRA NO BRASIL. São Paulo: Publisher Brasil; FAPESP, 1997 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993).

REIS, Letícia Vidor de Sousa. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, São José dos Campos-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados)

VIEIRA, Luiz Renato; ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. Mitos, controvérsias e fatos: construindo a história da capoeira. In ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS, 34, dezembro de 1998, p. 82-118

VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 39-40.

Origens da Capoeira no estado de São Paulo - Grande parte dos estudiosos da Capoeira insiste na tese de que o Estado de São Paulo só conheceu essa manifestação afro-brasileira a partir de meados do século XX, quando capoeiristas baianos como Mestre Ananias, Mestre Esdras Santos, Mestre Suassuna e outros fundaram seus grupos e academias na capital paulista. À luz da análise de documentos e pela analogia dos fatos históricos essa afirmação parece insustentável. Primeiro, porque o número de escravos negros no Estado de São Paulo foi relevante, especialmente nos séculos XVIII e XIX. Segundo, é fato notório e conhecido que após a proibição do tráfico negreiro (que coincide com a expansão cafeeira) a mão-de-obra escrava da lavoura paulista será buscada na importação do escravo de outras regiões brasileiras em que o ciclo econômico esteja em decadência, como foi o caso da cultura açucareira do Nordeste e a exploração de minérios em Minas Gerais.

A presença da cultura africana e afro-brasileira no Estado de São Paulo é antiga. Mas, isso seria suficiente para autorizar, por analogia, a declaração de que em São Paulo já se tinha notícia da capoeira antes do século XX?

1833 Posturas Municipais da cidade de São Paulo, que a requerimento do Presidente da Província, Cel. Rafael Tobias de Aguiar, sorocabano de escol, foi apresentado no dia 24 de janeiro de 1833 e aprovado pelo Conselho Geral em 1º de fevereiro do dito ano e publicado a 14 de março. Rezava parte da Postura que: "Toda pessoa que nas praças, ruas, casas públicas ou em qualquer outro lugar também público, praticar ou exercer o jogo denominado de capoeira ou qualquer outro gênero de luta, (...). (...).” (Fonte: Briand, Pol – Anotações em ficha de estudo. O pesquisador buscou tais informações na tese de doutorado de Paulo Coelho de Araújo, Porto (Portugal), 1996.)

É preciso ter claro na mente como se desenvolveu a capoeira e separar em dois momentos históricos: o da informalidade e o da formalidade dessa prática. Primeiramente, devemos entender que a mesma apareceu entre os negros escravos de Angola e os primeiros registros dão conta de que se tenha desenvolvido entre os quilombolas de Pernambuco. Posteriormente, essa luta encontrou em todos os rincões do Brasil suas formas regionais: a capoeira Angola e a pernada no Rio de Janeiro, a punga no Maranhão, o bate-coxa em Alagoas, o cangapé ou cambapé no Ceará, a tiririca ou pernada em São Paulo, a capoeira de Angola (e posteriormente a Regional Baiana) na Bahia. O fluxo de escravos de uma região a outra, depois da proibição do tráfico negreiro, e atendendo as demandas econômicas de cada localidade, deram a capoeira à possibilidade de eficazmente se difundir por várias partes do Brasil, sempre mantendo algumas características básicas como o jogo de pernas, alguns golpes e a música como elemento rítmico e dissimulador da belicosidade. Essa forma de capoeira era informal, ou seja, não se aprendia em academias (até porque desde 1890 estava proibida pelo Código Penal, pena que perdurou até 1937).

Notícias diversas também se têm do pessoal da pernada, a capoeira paulista simplificada. Em São Paulo, segundo Nenê da Vila Matilde e Geraldo Filme, era conhecida por tiririca. É a mesma pernada carioca. Sebastião Bento da Cunha, conhecido por “Carioca”, residente no Bairro Santa Terezinha em Sorocaba, alega que conheceu esse jogo com o nome de samba-de-roda, praticado em Valença e Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. No Maranhão é conhecida por punga e está ligada ao Tambor de Crioula. Marcelo Manzatti fala da tiririca como sendo forma primitiva de Capoeira ou Pernada, praticada ao som do Samba, sendo os golpes desferidos em meio aos passos da dança. Na capital paulista, especialmente na Praça da Sé, se praticava a tiririca. Os mais destacados nessa brincadeira foram Caco Velho, Germano Mathias, Geraldo Filme, Inocêncio Thobias, Pato N’Água, Osvaldinho da Cuíca, Sinval Guardinha, Perdigão entre outros. Esse pessoal acompanhava os blocos e cordões carnavalescos, protegendo o grupo dos rivais. (Carlos Cavalheiro)

1890 O delegado de polícia de São Paulo e escritor João Amoroso Neto, na biografia do célebre bandido Dioguinho, publicada em 1949, afirma, comentando sobre fato ocorrido por volta de 1890, que “O delegado de polícia de Mato Grosso de Batatais (região de Ribeirão Preto) estava furioso, porque os soldados haviam deixado fugir um preto capoeira que se metera numa briga”. Disso se depreende que a capoeira já era conhecida no Estado de São Paulo no século XIX e mesmo em 1949, ano da publicação referida, era manifestação conhecida, eis que com naturalidade foi citada sem que nem mesmo houvesse a necessidade de explicação em nota. Portanto, não há como imaginar que a capoeira tenha aparecido em São Paulo somente na década de 1960. Em outro livro sobre o mesmo Dioguinho, encontramos referência a capoeira praticada na cidade de Botucatu, em meados do século XIX: “Dioguinho... Freqüentava assiduamente as rodas de capoeira no largo da Igreja São Benedito, onde se tornou um exímio capoeirista, um dos melhores lutadores dessa luta-arte da cidade e região [14]”. (Fontes: Amoroso

EM SOROCABA-SP - 1833

Netto, João. – História Completa e verídica do famoso bandido paulista Diogo da Rocha Figueira, mais conhecido pelo cognome de DIOGUINHO, por um delegado de Polícia – Oficinas Gráficas da Rua do Hipódromo – SP – 1949; Bernardo, Moacir – A vida bandida de Dioguinho – ed. do autor – 2000 – pág. 13.)

1892 Em março houve um confronto entre os “morcegos” (praças da polícia fardada) e soldados do exército paulista que eram capoeiristas, ocasionando distúrbios na cidade de São Paulo (Fonte: http: //www.institutocariocadecapoeira.hpg.ig.com.br/historico.htm acessado em 31.01.2004.

1923 o escritor Monteiro Lobato escreveu o conto “O 22 da ‘Marajó’” em que denota a familiaridade com termos típicos da capoeira, afirmando mesmo que “Antes do futebol, só a capoeiragem conseguiu um cultozinho entre nós e isso mesmo só na ralé”. Mais adiante revela a intimidade com a gíria dos capoeiras: “ Só uma besta destas dá soltas sem negaça...”. (Fonte: Lobato, Monteiro. – A onda verde – Ed. Brasiliense – SP – 9ª ed. – 1959.)

1927 O folclorista Alceu Maynard Araújo informa que nessa época aprendeu capoeira com um dos desterrados cariocas, chamado Menê, na cidade de Botucatu / SP. No mesmo ano o jornal Cruzeiro do Sul publica nota em que dois capoeiras se ferem mutuamente durante a brincadeira da capoeira.

1930/1950 Com a fundação de academias de capoeira, em fins dos anos 1930 e início de 40, pelos Mestres Bimba e Pastinha, surgiu aí o modelo baiano de prática formal da capoeira. Antes, era brincadeira de rua, aprendida nos becos e nos quintais, escondida. A partir das primeiras academias muda-se o paradigma. E essa capoeira formal, baiana, esse modelo de prática é que vai ser exportado para São Paulo a partir de fins da década de 1940 a início de 1950.

VILA DE SOROCABA – Em Sorocaba, embora não fosse atingida pela expansão cafeeira, antes, possuía economia esdrúxula para a época, calcada no comércio de tropas, o número de escravos era relativamente grande, embora concentrados nas mãos de poucos proprietários.

1778/1836 A Vila de Sorocaba no período 1778 a 1836: verificou-se um rápido crescimento no número de fogos, o que denota expansão proporcional da Vila, na qual se evidenciou uma variada atividade, tanto agropecuária como de comércio e serviços; apesar do grande número de escravos ali existente, a maioria dos fogos não contava com os mesmos”. (in Luna, Francisco Vidal. Posse de Escravos em Sorocaba (1778-1836). Primeiro Seminário do Centenário da Abolição do Escravismo: Da Época Colonial à Situação do Negro na Atualidade, São Paulo, FEA/USP-IPE, 1986, 21 p.) Não há como negar, portanto, a presença marcante do escravo negro na história de Sorocaba. Luiz Mott, pesquisando os arquivos da Torre do Tombo, encontrou mesmo documentos referentes à prisão do escravo João Mulato, em 1767, pelo Tribunal da Inquisição, que estava em visita Pastoral a Sorocaba. A prisão do escravo foi pelo motivo do mesmo portar uma “bolsa de mandinga”, ou seja, um patuá. Esse amuleto é conhecido por sua fama em “fechar o corpo” de quem o carrega. Dessa forma protege-se de agressão física produzida por quaisquer instrumentos.

Com relação à cidade de Sorocaba, inúmeros documentos demonstram o conflito entre senhores e escravos, desmentindo a lenda de que nessa cidade os escravos eram pacíficos porque eram “bem tratados e quase todos domésticos”.

1832 no dia 27 de junho, Bento, escravo do Padre Reverendo João Vaz de Almeida, agrediu numa luta a Manuel José de Campos, ferindo-o com uma facada.

1833 Francisco, escravo do alferes Bernardino Jozé de Barros respondeu a processo crime por desferir uma pancada em Manoel Antonio de Moura.

1835 o escravo Salvador, de propriedade de José Joaquim de Almeida, foi ferido a espadada por Thomaz de Campos, depois do escravo cobrar uma dívida[18]. O fato ocorreu no dia 12 de agosto de 1835.

1836 no dia 06 de abril, Salvador, escravo de Manoel Claudiano de Oliveira resistiu a voz de prisão do Comandante e dos praças da Patrulha, mesmo depois de desarmado da faca que carregava, tendo mesmo lutado com os soldados e disparado com arma de fogo contra os mesmos.

1875 o escravo Generoso desferiu um tiro alvejando e matando o seu senhor Tenente Coronel Fernando Lopes de Sousa Freire.

Escravos valentes, lutadores, fortes. As crônicas judiciárias da cidade de Sorocaba estão recheadas de informações a esse respeito. Reporte-se ainda ao caso dos escravos Antônio, Roque e Amaro que foram enforcados depois de condenados pelo Júri de Sorocaba por terem matado o senhor Joaquim Rodrigues da Silveira, no dia 14 de novembro de 1850. É interessante notar que dos depoimentos colhidos à época dos fatos, soube-se que Antônio era natural de Pernambuco, Vila de Catolé, e que Roque “viera vendido da Bahia”. Não só reforça a afirmativa de que para cá vieram escravos vendidos do nordeste, bem como os dois estados dos quais eram naturais os escravos são tradicionalmente terras em que se deu a gênese da capoeira!

Portanto, em que pese as diferenças regionais (Mestre Bimba mesmo nomeou o seu estilo como Capoeira Regional Baiana), não é impossível que elementos que conheciam a capoeira em seus estados natais tivessem sido vendidos para o sudeste e continuado aqui sua prática. Aliás, é mais que provável.

1850 Em 26 de agosto, a Câmara Municipal de Sorocaba enviou ao Presidente da Província um ofício anexando a este o Código de Posturas Municipais de Sorocaba, com a finalidade de ser aprovado, o que de fato ocorreu no dia 07 de outubro de 1850. No Título 8º desse Código de Posturas, no artigo 151 está explícito: “Toda a pessoa que nas praças, ruas, casas públicas, ou em qualquer outro lugar tão bem público praticar ou exercer o jogo denominado de Capoeiras ou qualquer outro gênero de luta, sendo livre será preso por dois dias, e pagará dois mil reis de multa, e sendo cativa será preso, e entregue a se o senhor para o fazer castigar naquela com vinte cinco açoites e quando não faça sofrerá o escravo a mesma pena de dois dias de prisão e dois mil réis de multa”.(Código de Posturas da cidade de Sorocaba – 1850 – Arquivado na Divisão de Acervo Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Documento encontrado por Dainis Karepov a pedido do Deputado estadual Hamilton Pereira.)

- As leis municipais de Sorocaba repressivas à prática da capoeira continuaram sendo editadas nas Posturas Municipais durante as décadas subseqüentes:

1865 o tópico referente à proibição da capoeira figurou no artigo 127: “Toda e qualquer pessoa que em praças, ruas, ou outro qualquer lugar exercer o jogo denominado capoeiras, ou qualquer outra luta, será multado em 4$ e dois dias de prisão". (Fonte: CÂMARA MUNICIPAL DE SOROCABAPosturas da Câmara Municipal da cidade de Sorocaba acompanhadas do regulamento par o cemitério da mesma cidade - Tipografia Imparcial - SP - 1865.)

1871 o artigo 73 do Código de Posturas da Cidade de Sorocaba apresenta o seguinte texto: "Jogar capoeiras ou qualquer gênero de luta em publico: penas, 4$ de multa e 2 dias de prisão". (Fonte: CÂMARA MUNICIPAL DE SOROCABACódigo de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Sorocaba - Tipografia Americana - Sorocaba - SP - 1871.)

1882 o termo "capoeiras" deixa de figurar no texto legal: “Art. 72. É proibido jogar pelas ruas e lugares públicos qualquer espécie de jogos ou luta, os infratores incorrerão na multa de vinte mil réis e cinco dias de prisão". (Fonte: CÂMARA MUNICIPAL DE SOROCABA - Código de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Sorocaba com regulamentos para a Praça do Mercado e Cemitério, Annexos. - Tipografia Americana - Sorocaba - SP - 1882.

1887 Uma notícia interessante, colhida no Diário de Sorocaba, em 1887, diz: CARTEIRA DA POLÍCIA - Á ordem do Sr. delegado de polícia, foi a 16 do corrente recolhido à cadeia João de Almeida, vulgo Brizolla, por provocar desordens. "Á mesma ordem, no mesmo dia e pelo mesmo motivo foi recolhido o preto Antônio José da Silva, que trouxe mais agravante de, no corredor do mosteiro de S. Bento fazer um grande rolo. Ah está no que dão os valentões. (Fonte: Diário de Sorocaba, 18 de outubro de 1887 - pág. 03). NOTA: A palavra rolo, que os dicionários atuais apresentam como sendo sinônimo de confusão ou perturbação da ordem, era, no século XIX, comumente associada a tumultos provocados pelos capoeiras ou por suas maltas.

1907 as notícias sobre a capoeira em Sorocaba aparecem com mais clareza, informando, com alguns detalhes, sobre a existência do jogo e da prática dessa luta. Uma das publicações nos jornais sorocabanos alerta para a existência de um barbeiro no início do século XX, cujo salão estava localizado na Rua Direita (hoje Boulevard Dr. Braguinha), e que seria um "capoeira ‘desconjuntado’". É esta a nota: MEUS REPAROS - Assisti aos festejos do 13 de Maio. Estiveram assim... Parabéns ao Daniel de Moraes, a quem se deve o não ter ficado "em branco", a data. Vendo passar os manifestantes, conduzidos pela palavra do Ramiro Parreira, vieram-me á mente cenas dos 13 de Maio de alguns anos atraz, uns 20 talvez, época em que tínhamos aqui diversos oradores fogósos entre os homens de côr. Destes o mais entusiasmado e verbo trhagico era o popular Benedicto Gostoso, mulato escuro, physionomia viva, cabelo encaracolado e repartido "de banda", capoeira "desconjuntado" e barbeiro de profissão. Era proprietário de um salão ali na rua Direita (...) Mas se o Gostoso era hábil no desbastar uma gaforinha, os seus maiores êxitos eram numa tribuna popular a 13 de Maio. Ante a multidão ávida dos seus arroubos oratórios, tomava attitudes empolgantes e "soltava o verbo": "Os escravos, meus senhores, vinham para o Brasil em grandes ‘trasatraticos’". Mais adeante: "O dr. Antônio Bento, senhores, era um homem tão importante, mas tão importante mesmo, que nem devia ser "doutor" mas sim ‘coronel da Guarda Nacional’". E por ahi seguia. K.D.T. O articulista acima, que assina por iniciais, reportou-se a fato ocorrido cerca de 20 anos antes, o que nos remete a data aproximada de 1907. Benedito Gostoso era residente e estabelecido em Sorocaba. É provável que outros capoeiristas tenham sido seus contemporâneos nessa mesma cidade. (Fonte: Cruzeiro do Sul, 18 de maio de 1927 - nº 6151 - 2ª página.)

1909 Dentre as notícias de portadores de navalha, como arma, há a de um soldado "indisciplinado" que foi preso em Sorocaba. Eis a notícia: “Indisciplinado - Ontem, pelas 4 e 45 da tarde o praça do destacamento local de nome Francisco Cândido dos Santos, n. 111, da 4ª Companhia do 3. batalhão, sendo repreendido pelo Comandante,

revoltou-se contra este e, puxando por uma navalha, desafiou a todos que o prendessem. O Comandante, então, ordenou sua prisão o que foi conseguido a muito custo. O soldado Marcos Antônio Moreira foi ferido com uma navalhada pelo soldado indisciplinado. O sr. dr. Delegado fez lavrar auto de prisão em flagrante e vai instaurar o competente processo”. (Fonte: Cruzeiro do Sul, 29 de julho de 1909 - 2ª página. Notícia encontrada pela historiadora Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro)

1914 é veiculada na imprensa sorocabana uma nota ligando a capoeira com a prática de desordens, ou, em outras palavras, a capoeira como prática comum de desordeiros: Notas policiais (...). Foram presos hoje as 10 ½ por estarem promovendo graves desordem na Rua do Votorantim, os incorrigíveis valentes, Olympio Monteiro e Antônio Francisco da Silva (vulgo Grão de Bico) sendo que este armado de uma enorme pernambucana tentou ferir o primeiro. Mas Olympio num zig-zag de verdadeiro capoeira soube desviar os golpes contra ele dirigidos e em sua defesa descascou no "purungo" do "Grão de Bico" a cacetadas.” (Fonte: Diário de Sorocaba, 21 de janeiro de 1914 - nº 10 - 1ª página.)

DÉCADA DE 1920 Ainda sobre a década de 1920 mais duas notícias da imprensa escrita autorizam a afirmação da inquestionável existência de capoeiras em Sorocaba. Uma delas trata de um sutil comentário do jornalista acerca de fato policial de ordem doméstica: FATOS POLICIAIS NO BOM JESUS - Jovita da Silva levou á autoridade do distrito, queixa seu marido, que a esmurra. Jovita declarou á autoridade que, por sua vez, enfrenta o marido, passando-lhe rasteiras. Se é assim, não há de que zangar-se a Jovita, que se diverte em capoeiragem com o inexperto marido...”. (Fonte: Cruzeiro do Sul, 03 de abril de 1927 - nº 6116 - 1ª página.);

- A outra notícia é mais esclarecedora, fornecendo alguns outros dados, a despeito de ter redação parcimoniosa: Delegacia Regional

BRINCADEIRA DESASTRADA - No páteo da estação Sorocabana os operários Joaquim Diniz Costa e Orlando di Fogni brincavam de "capoeira", cada qual empunhando sua faca, quando por uma rasteira errada ambos cairam, ferindo se também cada qual com sua faca. A polícia teve conhecimento do fato. (Fonte: [13] Cruzeiro do Sul, 08 de fevereiro de 1927 - nº 6072 - 4ª página.)

1934 – Segundo testemunho da senhora Thereza Henriqueta Marciano, 71, nascida em Tietê e residente em Sorocaba desde 1934, seu pai, o senhor João André era praticante dessa arte, a qual aprendeu com José André, seu pai, na fazenda Parazinho em Tietê. Da época em que viveu em Sorocaba, ou seja, a partir de 1934, João André sempre brincou de capoeira e de maculelê (dança de paus, como disse dona Thereza). João André era negro e nasceu em 1889. Além da capoeira e do maculelê, conhecia o tambú, ou samba caipira. Faleceu em Sorocaba em 1965, aos 74 anos de idade. (Fonte: Entrevista de dona Thereza Henriqueta Marciano cedida a Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro e a Carlos Carvalho Cavalheiro em 14.12.2003.)

DÉCADA DE 1950 - Em Sorocaba, o pessoal da pernada também acompanhava os cordões. José de Campos Lima se lembra do famoso Zé Jaú, negro esguio, alto (cerca de 1,90 metros de altura), magro, e muito bom de pernada. Era ágil e ninguém podia com ele. Foi o mais famoso e valente negro da pernada sorocabana. Isso lá pelos idos de 1950. Seu nome completo era José de Barros Prado e nasceu em Tietê por volta de 1927. Segundo o cururueiro Daniel Araújo, que trabalhou com Zé Jaú nas Indústrias Barbéro, a partir do ano de 1955, a pernada era um “tipo de capoeira, com bastante agilidade”. Quem praticava a pernada conseguia lutar com relativa facilidade com três ou quatro oponentes. Apesar de não ser praticante da pernada, Daniel Araújo foi muito amigo de Zé Jaú, antes mesmo de trabalharem juntos, e presenciou várias brigas em salões de baile envolvendo o pessoal da pernada. Era chute, cabeçada, rasteira... (Fonte: Cavalheiro, Entrevista cedida por telefone dia 14.12.2003, às 21 horas.)

- Em Sorocaba ou nas cidades da região em que houvesse baile, lá estava o pessoal da pernada. Também nos blocos carnavalescos como no Cordão dos Farrapados, nas escolas de samba 28 de Setembro, Terceiro Centenário, Estrela da Vila. Era o carnaval sorocabano da década de 1950, quando quem não possuía dinheiro para comprar lança perfume (permitido na época) jogava água com pó de café num eufemismo de entrudo. Zé Jaú morou no bairro do Vergueiro e era filho de Chico Gato. Casou-se com Luzia Arruda e foi morar na Rua Santa Rosália. Faleceu em 1964. Ainda pequeno veio para Sorocaba. Fazia parte do pessoal da pernada em Sorocaba ainda o Mula, o Vadeco, o Luizão entre outros. (Fontes: Entrevista feita por Carlos Carvalho Cavalheiro com Daniel Araújo e sua esposa Inês, realizada no dia 21.02.2004; Sobre o Zé Jaú: entrevista com Luzia Arruda no dia 20.02.2004 feita por Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro e entrevista com Daniel Araújo e sua esposa Inês, realizada no dia 21.02.2004 por Carlos Carvalho Cavalheiro e Adilene Ferreira Carvalho Cavalheiro. Ainda, entrevista por telefone com Maria José Lima no dia 20.02.2004 feita por Carlos Carvalho Cavalheiro.)

1953 Luizão (Luiz Gonzaga Rodrigues), nascido em Cesário Lange, em 1938, chegou a Sorocaba em 1953, tendo contato com o samba e a pernada com o pessoal da Escola de Samba Guarani, por volta de 1965. Era passista, ou seja,

pertencia a ala do pessoal da pernada. Para ele a pernada “...é o tipo de movimento de quem pudesse mais chorava menos. Então era, propriamente para mim, uma capoeira que a gente fazia com um tipo mais simples, não tinha assim um preparo mesmo para dizer: “− Você dá assim e eu saio...”, tipo combinado, não. Se errasse, caia mesmo. Era pernada, tinha rabo de raia, tinha um chute de pé, chute de lado, valia cotovelada, cabeçada, não interessa... E o sujeito tinha que bancar bem a rasteira, né”. Luiz Gonzaga Rodrigues se lembra de mais alguns nomes do pessoal da pernada: Lamparina, Ardano, Pedro Fuminho, Tavinho, Tião Preto, Lazinho, Nardo, Dito Vassoura, Darci Branco, Maurinho Meia Lua, Vartinho, Sapatão... (Fonte: [33] Entrevista realizada em 03.03.2004 com Luiz Gonzaga Rodrigues por Carlos Carvalho Cavalheiro.)

1958 Josias Alves, conhecido por Chiu, foi outro capoeirista que, nascido na Fazenda Lulia em Maristela, passou a residir em Sorocaba a partir de 1958. Alega que brincava capoeira na fazenda e em Sorocaba, juntamente com um grupo de negros capoeiras, no clube 28 de setembro, entre os anos de 1958 a meados de 1960. As brincadeiras eram acompanhadas por um berimbau e um pandeiro. Chiu informou que a capoeira era reprimida pela polícia, mesmo em 1958 (anos depois de ser tirada do Código Penal). Não era perseguição a capoeira em si, mas a qualquer reunião festiva de negros, segundo sua concepção. Aliás, os rituais afro-brasileiros também eram vistos com muitas reservas, conforme seu depoimento. Depoimentos similares apontam para a perseguição policial aos sambistas e jogadores da tiririca em São Paulo. Geraldo Filme chegou a afirmar: “A tiririca é o jogo da pernada. Naquela brincadeira, na época, não podia fazer samba na rua em São Paulo. Quem fazia samba ia em cana”. (Fonte: Cavalheiro, Carlos Carvalho. – Folclore em Sorocaba – Prefeitura Municipal de Sorocaba – 1999.)

DÉCADA DE 1960 - No início da década de 1960 apareceu em Sorocaba o capoeirista Dorival Dutra. Nascido em 19 de setembro de 1926 em Cosmópolis / SP, viveu muitos anos em Sorocaba. Teve alguns problemas com a justiça por motivos de agressão. Era conhecido pelo apelido de Cuíca. Em meados da década de 1960 já estava em Sorocaba Pedro Feitosa de Almeida, que, embora criança aprendesse capoeira no nordeste com o capoeirista Zuza.

1969 No final da década de 1960 e início da de 1970 surge a primeira academia de capoeira de Sorocaba, de propriedade do empresário Jorge Melchíades de Carvalho Filho. Já não era mais a capoeira informal, mas o modelo de formalidade criado pelos baianos. Jorge Melchíades realizou apresentações de capoeira, incluindo a de 1970, no programa Cidade contra Cidade, apresentado por Sílvio Santos na TV Tupi. Essa academia durou poucos anos. (Fonte: “Em 1969 trouxe pela primeira vez espetáculos de capoeira e montou academia onde a ensinou alguns anos”. Carvalho Filho, Jorge Melchíades. – Seja feliz já. Onde? Como? – Ed. Martin Claret – 1998 –pág. 177 – Sobre o autor.)

DÉCADA DE 1970 -

1976 ou pouco mais, um professor conhecido por Sabugo (Luiz Carlos Rafaldini) abriu na cidade de Sorocaba uma filial da Academia Nova Luanda, do Mestre Valdenor. Em pouco tempo a academia fechou. Consta que antes disso Sabugo formou-se mestre. (Fonte: Cavalheiro, in Santos, Valdenor Silva dos. – Conversando “nos bastidores”com o capoeirista – 1ª ed. – 1996.)

1978 Pedro Feitosa de Almeida e Luiz Sabugo abriram a academia “Netos de Luanda”. Testemunha desse fato é o hoje mestre Jeová, que iniciou a prática da capoeira naquela época. (Fonte: Entrevista por telefone com Mestre Pedro Feitosa de Almeida no dia 20.02.2004; Entrevista com Jeová Silva Nascimento (Mestre Jeová) no dia 04.01.2000 por Carlos Carvalho Cavalheiro.)

DÉCADA DE 1980 -

1981 Mestre Pedro Feitosa traz para Sorocaba a filial do Grupo Cativeiro. Em 10 de julho de 1981, Eduardo Alves Santos, o Mestre Fálcon, registra a sua Associação de Capoeira Ginástica Nacional (antiga filial da Cordão de Ouro do Mestre Suassuna), na Rua Miguel Giardini, nº 72[39]. Mestre Fálcon continua com seu trabalho a frente da Associação Nacional e é o atual presidente da ASCA (Associação Sorocabana de Capoeira). (Fonte: Cavalheiro, Carlos Carvalho. – Folclore em Sorocaba – Prefeitura Municipal de Sorocaba – 1999; Declaração de contribuinte do imposto sobre serviços de qualquer natureza da Prefeitura Municipal de Sorocaba – documento registrado em 08.08.1984. Ver também publicação no DOE, em 28.05.1981, pág. 19.)

DÉCADA DE 1990 – Mestre Pedro saiu do Grupo Cativeiro, o qual passou a ser comandado pelo Mestre Cuco (Manoel Troiano dos Santos), e em 1994 fundou a Associação de Capoeira Liberdade. (Fonte: Cavalheiro, Carlos Carvalho. – Folclore em Sorocaba – Prefeitura Municipal de Sorocaba – 1999. Ver também “Jornal da Capoeira” – nº 03 –junho de 2000, página 02.)

SÉCULO XXI

2002 Mestre Pedro deixou o comando da Associação de Capoeira Liberdade para os Mestres Cupim, Jeová e Jaime; para fundar a Associação Cultura Brasileira de Capoeira Angola.

INÉDITAS DA HISTÓRIA DE SOROCABA...

(enviado por correio eletrônico por Hamilton Jackson Dias, domingo, 25 de novembro de 2007 18:34, aos autoreshamiltonjackson@walla.com)

Gosto da coluna do Marvadão, especialmente quando ele trata da memória de Sorocaba, quando ele publica as histórias contadas pelo povo, as histórias que não estão nos livros, aqueles aspectos pitorescos que nenhum historiador se preocupou em registrar.

Esses dias, porém, me deparei com alguns escritos assinados por um senhor chamado Jorge Melchiades e por outro chamado Wellington Figueredo numa coleção de jornais com o nome "Nossa Posição" e descobri coisas interessantíssimas da história de Sorocaba. E não só isso: descobri através desses dois expertes "PHDs" o que é e o que não é história. Não é história, por exemplo, o que não foi escrito no passado por nenhum historiador e também não é história o que é recolhido em depoimento, mesmo que as pessoas tenham sido as únicas testemunhas de um fato. Fiquei muito intrigado porque já escrevi para a Folha Nordestina de Sorocaba afirmando o que vi na década de 1960, que muitos brincavam de capoeira na rua mesmo não existindo academias em Sorocaba. Mas esses senhores disseram que quem diz isso está delirando, ou é bêbado ou louco ou sei lá. Tudo porque sustentam que o primeiro a saber capoeira em Sorocaba foi o tal do Jorge Melchiades! Isso em 1970! Antes dele ninguém.

Ai eu aprendi sobre a História de Sorocaba: A) Havia uma porteira nas entradas da cidade impedindo que escravos que soubessem capoeira entrassem em Sorocaba; B) Os negros de Sorocaba eram incapazes de desenvolver capoeira porque ainda não havia nascido o senhor Jorge; C) Os baianos e nordestinos que vieram para Sorocaba, especialmente na década de 1950, eram mandados embora para sua terra se soubessem capoeira; D) Tudo o que contaram sobre a capoeira aqueles que a viram antes do Jorge é mentira; E) Os baianos que comercializavam na época dos tropeiros com os sorocabanos não podiam saber capoeira porque senão eram mortos, porque ninguém poderia saber capoeira antes do Jorge nascer; F) Todas as citações, fotos, relatos que existirem sobre capoeira em Sorocaba antes do Jorge são pura mintira.

Fico indignado como para prevalecer a sua mentira alguém pode desmoralizar as outras pessoas, desqualificando elas, dizendo impropérios, chamando-as de bêbadas. Pois eu vi Zé Jaú, vi Luizão, João Pantera, Maurinho Meia Lua e tantos outros que brincavam de capoeira aqui em Sorocaba antes de 1970. Então tudo o que vi é mentira? Não posso admitir tanto preconceito com relação aos negros de Sorocaba! Afirmar o que se está dizendo é o mesmo que dizer que os negros daqui foram incapazes de desenvolver a capoeira e que precisou de um branco para que isso acontecesse. E isso não tem cabimento.

Hamilton

FONTES:

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. FOLCLORE EM SOROCABA. Sorocaba: Prefeitura Municipal de Sorocaba – 1999.

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA CAPOEIRA EM SOROCABA . disponível em http://www.jornalmundocapoeira.com/?pg=noticia&id=486

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. - Apontamentos para a história da capoeira em Sorocaba in: A NOVA DEMOCRACIA nº 18 - RJ - Maio de 2004.

CAVALHEIRO, Carlos Carvalho NOTAS PARA A HISTÓRIA DA CAPOEIRA EM SOROCABA (1850 – 1930). Disponível em http://www.jornalmundocapoeira.com/?pg=noticia&id=495

BOX 1– REVELAÇÕES
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