MARANHA-Y - 8 - Outubro de 2023

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MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE”

REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536

NÚMERO 08 – OUTUBRO – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923 CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


UM PAPO

Dia de colocar a revista no ar... Atualmente, edito quatro revistas: esta, dedicada à(s) História(s) do Maranhão, onde busco dados e informações sobre o desenvolvimento do Maranhão – e de sua cidade São Luís -, com as publicações de diversos atores (vixe!!!) que colocam suas descobertas – ou atualizações – nas várias redes sociais e, que um dia, poderão se perder, pois não há como resgatar dos facebuques da vida e instagrans... São muitos os que se dedicam à esse mister... sempre que identificados os autores, seus créditos lhes serão dados... Boa leitura...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO DNA CANTANHEDE: DESCOBRE TÚMULO DE LUZIA PERPÉTUA CARNEIRO HOMEM DE SOUTO MAIOR (BACELAR) – UMA DAS MAIS INFLUENTES PERSONAGENS DA HISTÓRIA IMPERIAL. MOINHO DE VENTO BOA VISTA FLAVIOMIRO MENDONÇA ENGENHO CENTRAL DE PINDARÉ PEDRO BERTOLDO O SANGUE NÃO DERRAMADO E O DESEJO DE LIBERDADE Ramssés Silva CRÔNICA DO VINHAIS VELHO E SUA IGREJINHA DE SÃO JOÃO BATISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CASA GRANDE/SEDE DO SÍTIO DO FÍSICO OU SÍTIO SANTO ANTÔNIO DAS ALEGRIAS. A FEBRE DAS DISCOTECAS NA CAPITAL PEDRO TEIXEIRA, O PORTUGUÊS QUE CONQUISTOU A AMAZÓNIA MÁRCIO MAGALHÃES ELIZABETHO CARVALHO DR. NETO GUTERRES CARTAS DE URQUISO ALVES VIANNA A DOROTHEU CARREIRO VARÃO E A AMARO PEREIRA DE SÁ. ODAIR VIANA A SESMARIA DE HEYTOR CORREIA DE MIRANDA, NO “RIO DOS MATTOS”, ANO DE 1724. HEYTOR CORREIA É UM DOS LEGATÁRIOS DO PATRIMÔNIO DE NOSSA SRA. DO CARMO DA PIRACURUCA. JOÃO BOSCO GASPAR. A SESMARIA DOS ÍNDIOS ANAPURUS, VIZINHA AO “ARRAYAL” DO FALECIDO MESTRE DE CAMPO, BERNARDO CARVALHO DE AGUIAR. JOÃO BOSCO GASPAR. GERSON ANTUNES SINÉSIO BARRETO JAMES McCABE - MISSIONÁRIO EM VARGEM GRANDE SINÉSIO BARRETO MIGUEL MATTAR – DO MARANHÃO SINÉSIO BARRETO “RIO DO MARANHÃO”... UMA ENTIDADE GEOGRÁFICA JOÃO BOSCO GASPAR. A Terra de Santa Cruz · O CUNHADISMO: COSTUME INDÍGENA QUE DEU ORIGEM AO POVO BRASILEIRO MARANHÃO - Barão de Santa Rosa HOMENAGEM AOS PILOTOS DO SAMPAIO CORRÊA II (1922)

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DNA CANTANHEDE: DESCOBRE TÚMULO DE LUZIA PERPÉTUA CARNEIRO HOMEM DE SOUTO MAIOR (BACELAR) – UMA DAS MAIS INFLUENTES PERSONAGENS DA HISTÓRIA IMPERIAL. Começo com a resposta de um e-mail que acabo de abrir – uma recompensa de uma pesquisa de mais 5 anos. Boa tarde Em resposta ao solicitado e após consulta nos nossos registos informamos que foi encontrado o registo de óbito de LUZIA PERPÉTUA CARNEIRO SOUTO MAIOR, natural do Maranhão, falecida em 24/10/1860, com 84 anos de idade, e encontra-se inumada no Jazigo particular nº. 2579 do Cemitério dos Prazeres. Com os melhores cumprimentos, Gabinete da Chefe de Divisão Câmara Municipal de Lisboa Direção Municipal de Ambiente Urbano Departamento de Higiene Urbana Divisão de Gestão Cemiterial Avenida 24 de Julho, 171 C 1399-021 LISBOA T. geral (+351) 213 912 699 www.cm-lisboa.pt |dmau.dhu.dgc@cm-lisboa.pt Luiz Perpétua Carneiro Homem de Souto Maior (Bacelar) era filha do coronel colonizador de Cantanhede/MA, Aires Carneiro Homem de Souto Maior, que chegou ao Maranhão em 1772 e se instalou na foz do Peritoró, onde edificou a fazenda Barbados. Luzia Perpétua foi uma colecionadora de poderes. Casou-se a primeira vez com Luís Carlos Serra Negra, governador do Piauí e uma dos homens mais ricos do Nordeste na época. Luzia Perpétua casou-se pela segunda vez com o governador do Maranhão Tomaz de Meses, que era por ironia do destino trineto do Marquês de Marialva da Cantanhede de Portugal. Luzia Perpétua foi tão influente no Brasil Imperial que foi acusada de ter tido um filho com Dom João IV. Uma de sua artimanhas, foi fazer com que a cora portuguesa sequestrasse todos os bens do ex-marido Luís Carlos Serra Negra e fosse para ela repassados. Luzia Perpétua também deixou sua marca na caridade, foi uma das fundadoras da Associação dos Aflitos de Lisboa, que até hoje funciona atendendo mulheres vítimas de abandono e violência sexual.


MOINHO DE VENTO BOA VISTA FLAVIOMIRO MENDONÇA Criada em 1755, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi um empreendimento que transformou radicalmente a estrutura econômica do Maranhão, que passa a ser mais efetivo dentro do modelo agroexportador atrelado ao sistema colonial. À companhia foi concedido o monopólio de navegação, do comércio externo e do tráfico de escravizados africanos. Dentre suas ações, podemos citar algumas: o melhoramento no processo da cultura do algodão; a introdução do arroz de carolina (o branco), substituindo o nativo arroz vermelho; e novas ferramentas máquinas de descasque de arroz. Diante desse cenário econômico, diversas fábricas foram implantadas na cidade de São Luís, em especial às margens dos rios Anil e Bacanga, com o total de 6 catalogadas até o final do período colonial. Dentre elas, destacamos o Moinho de Vento Boa Vista, localizada em uma ilhota, entre o bairro Sá Viana e a Barragem do Bacanga, pertencente à Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Os moinhos de vento ou d’água, foram aprimorados e muito difundidos durante a Baixa Idade Médio na Europa Feudal, contribuindo consideravelmente para o beneficiamento de grãos, em especial, o trigo. No Maranhão eles se adaptaram à realidade maranhense beneficiando o arroz que provinha dos interiores, a destacar a Baixada Maranhense e o Vale do Itapecuru, prontos a serem exportado para a Europa. Hoje, muito arruinado pela ação do tempo, o Boa Vista, era estruturado por um moinho de 3 pavimentos em formato arredondado, um cais, um poço e uma área descampada, possivelmente utilizada para secar o arroz antes deste ser socado.



ENGENHO CENTRAL DE PINDARÉ Os moradores do município de Pindaré-Mirim encontraram no Rio Pindaré objetos que podem ser datados do período imperial. Os pesquisadores do Centro Cultural Engenho Central de Pindaré, fizeram uma expedição no rio para coletar e analisar os objetos, e segundo eles, elas devem fazer parte de peças de maquinários da época em que o Engenho Central funcionava como uma usina de açúcar.

Os pesquisadores do Centro Cultural estão trabalhando junto com o Departamento de Turismo da cidade, para analisar e catalogar os objetos encontrados para futuramente transformar a área em um ponto turístico para que as pessoas possam ter o contato com essas memórias do passado. Por Pedro Bertoldo



O SANGUE NÃO DERRAMADO E O DESEJO DE LIBERDADE RAMSSÉS SILVA Em julho de 1867, houve uma grande insurreição de escravos na Vila de Viana, Vila Nova de Anadia (entre Matinha, Olinda Nova e Pedro do Rosário) e localidades próximas. Os negros se "aquilombaram" e perpetraram os planos de invasão a diversas propriedades. Saídos do Mocambo (termo usado à época para designar quilombo) de São Benedito do Céu, que ficava na margem esquerda do Rio Turyassu, distante a 3 dias de caminhada de Viana, entre 400 e 500 insurretos partiram para a luta armada. Entre as propriedades invadidas estava a Fazenda Santa Bárbara (atual povoado de Santa Barbara em Viana) e o Engenho Timbó, que pertencia ao casal José Caetano Borges (então falecido) e sua viúva D. Thereza Ignacia de Moraes Borges. Foi nessa invasão ao Timbó que o escravo Daniel, um dos líderes da revolta, ameaça cortar o braço de uma neta de Thereza Ignacia com um facão, e diz a célebre frase, citada no livro de Mundinha Araújo: “Quero ver se o sangue dela é diferente do meu”. Daniel não cortou o braço da criança, mas suas palavras transcenderam o tempo… Daniel, assim como diversos outros insurretos, foi levado a Júri. Foi julgado na Seção do Júri de 11/03/1879, em Viana, sendo condenado à pena de ferros ao pescoço por 6 meses e mais 100 açoites. A escravidão é uma triste página da nossa história e todo um sistema econômico era pautado nessa lamentável relação social. Temos que analisar os atores e fatos históricos sob uma ótica contextualizada e não com os valores que permeiam a nossa sociedade atual. O tenente José Caetano Borges, proprietário da Fazenda Santa Bárbara, não presenciou o levante pois já era falecido. Ele é tetravó da minha esposa Lidiane Borges Lidiane Nascimento e trisavô da minha sogra Dilane Borges e, assim como muitos dos ancestrais de todos nós, era um escravocrata, fruto desse trágico panorama de época. Nas imagens, as assinaturas do Conselho de Sentença que condenou o escravo Daniel, o livro de Mundinha Araújo, a carneira na igreja matriz de Viana onde está sepultado o Tenente José Caetano Borges, a morada inteira no centro histórico de Viana construída por seus descendentes e um mapa da localização da fazenda Santa Bárbara. Texto: Ramssés Silva Créditos: Christoffer Melo





INVENTÁRIO DO PADRE BRÁS PEREIRA SOARES (1813) Transcrito por Luciano Canuto de Oliveira Brás Pereira Soares, padre. …..”para não incorrer nas penas da justiça e bens sossegados de pagar mercado? aos Órfãos seus Irmãos, daquilo que xxxxx ocultar, constam bens, declarar, o dia, mês e ano em que o seu falecido o dito seu Pai, igualmente declarar as dívidas que a ele se devam, como as que ele dever, e se fizera testamento/partimento?, ou sem ele e que antes filhos lhe haviam ficado, seus nomes, idades, e sendo pelo dito inventariante recebido o dito juramento, disse que seu Pai havia falecido no dia 12/07/1812, e que fizera testamento e que os filhos que havia ficado eram os próprios declarados no rosto deste inventário, e que os bens que haviam ficado no decurso deste inventário os iria declarado, o que sendo ouvido pelo dito Juiz mandou fazer este Auto em que assinou como inventariante e eu João Severo Tavares, Escrivão que escrevi. Antonio Soares Godinho.

Termo do juramento aos avaliadores, Logo no mesmo dia, mês e ano declarado no Autuamento, nesta Fazenda do Soares?, Ribeira de Carateús, termo da Vila de Marvão, onde se achara o Juiz Ordinário Estevão xxxxx. comigo Escrivão do seu cargo, ao diante nomeado e sendo, se foram presentes os Avaliadores nomeados Manuel Felício de Oliveira e Manuel Francisco de Oliveira, aos quais o dito Juiz lhes deferiu o juramento dos santos evangelhos em um livro deles, e lhes encarregou que bem, fiel e verdadeiramente avaliarem todos os bens que foram dados e declarados ao presente inventário, dando-lhe o seu devido valor e estimação, e recebido por eles o dito juramento em que


puseram suas mãos direitas, e assim o prometeram fazer e cumprir, e guardar, de que para constar mando mesmo Juiz fazer este termo em que fiz e assinou eu João Severo Tavares, escrivão que escrevi. Manuel Francisco de Oliveira e Manuel Felício de Oliveira. Descrição dos bens. Dinheiro: nada. Ouro: nada. Prata: - 10 colheres de prata de 123 oitavas no valor de 12$350 réis. - 11 garfos de prata com 118 oitavas de prata 11$750 réis. - 1 faca pequena aparelhada 6$000. - 1 par de fivelas de prata com peso de 32 oitavas 3$350 - 1 par de fivelas de peso de 17 oitavas 1$700. - 1 cabo de chicote de prata 1$600 - 1 xxx de ferrar? pesando 48 oitavas 1$800 - 1 xairel de couro e prata pintada com sua espiguilha de ouro 5$000 - 1 xairel de onça tigre 2$000 Cobre - 1 tacho velho 3$000 Latão -1 candeeiro velho 1$600 Estanho: nada Ferro -1 espingarda 3$200 -1 outra espingarda velha 2$200 - 1 serrote velho $400 - 2 marcas de ferrar $640 Louça - 6 seis casais de pratos brancos $600 - 1 copo de vidro $240 -1 copo de vidro $160 - 1 um salim (selim/saleiro?) velho comprido e estribos de latão 4$000 -1 jogo de caixas cobertas de sola com pregos 10$000 - outro jogo de caixas pelo mesmo teor de 10$000 - outro dito jogo velho $800 - uma caixa velha 1$000 Roupa - 1 casaca de pano caxo? velho $800 - 1 casaca azul velha 3$000 - 1 jaqueta de botão 1$600 - 2 ceroulas de pano de linho 1$600 - umas calças e colete de fustão? $500 - 1 chapéu de Braga 1$000 - 1 frasqueira com 5 frascos 1$200 - 3 garrafas $3000 Livro - 4 breviários em bom uso, 10$000 - 1 Prazódia velha 1$280 Latão - 1 palmatória de latão velha $240 Cangalhas - 4cangalhas 1$600 Escravos - 1 negro por nome João Caetano Nugolo, de idade de 30 anos, 85$000 - 1crioula por nome Bernarda mulher do dito negro de 50 anos, 60$000


- 1 negro da nação Congo por nome Joaquim de 30 anos, 90$000 - 1 cafuzo por nome José de 15 anos, 80$000 - 1 crioulo chamado João de 9 anos, 100$000 - 1 crioulinho chamado Benedito, de 4 anos de idade, 30$000 - 1 outro crioulinho chamado Caetano de 5 anos, 35$000 - 1 negro chamado José de nação Angola de 60 anos, 30$000. Gado vacum - 150 cabeças de gados de toda sorte, 450$000 - 3 bois mansos 15$000 Gado cavalar - 20 cavalos mansos, novos e velhos, 160$000 - 15 poldros de 2 anos, 82$500 - 40 éguas entre novas e velhas, 240$000 - 20 poldras entre maiores e menores 90$000 - 9 poldros deste ano, 27$000 Gado cabrum - 60 cabeças de cabras de toda sorte 12$000 - 30 cabeças de ovelhas de toda sorte 7$200 - 1 sela? de fio pintada velha 1$000 -1 tintão de dita velho $600 Terras - Meia légua de terras neste lugar denominado Soares de criar, 160$000 - 1 morada de casas de telha com 11 portas e 4 janelas, com uma mesa, um banco, um estrado, e outro banco, 100$000 - 2 casas velhas neste lugar do Sítio do Soares, sendo uma velha de telha, 2$000 - 1 casa velha desbaratada $640 - 1 sítio de terras com casa de telha, bolandeira e com aviamentos de fazer farinha, na Serra Geral (ou Serrinha, anotado do lado) 80$000 Dívidas que se devem ao falecido. - Declarou o invariante devera seu pai à viúva Ana Rosa da Silva 220$000 - Devera ele inventariante a seu pai 120$400 - Devera a seu pai, Manuel Soares 32$740 - Deve seu irmão Manuel Pereira 26$410 - Deve seu irmão José Soares 5$450 - Deve ele inventariante a quantia de 18$000 - Deve seu irmão Serafim José Soares a seu pai 204$700 - Deve seu irmão Serafim José, 10 vacas ou 60$000 - Deve a seu pai, seu cunhado Matias Alves 60$000. Dívidas que o falecido devia - Declarou o inventariante deve o seu falecido pai aos herdeiros do falecido José Pereira de Melo 40$000. - Devia seu pai a Joaquim Coelho de Sousa por obrigação 95$000 - Devia seu pai a seu irmão José Soares Godinho 4$040 Dívidas que ainda se devem ao seu pai - Estevão José da Silva deve 20$000 Declarou o mesmo inventariante ter o dito seu Pai no termo do Piancó, capitania da Paraíba do Norte, mais bens móveis e de raiz, e que aqui, se acham seus cunhados e irmãos que os vejam para os dar e declarar a inventário, e serem avaliados com os mais , e que sendo visto e ouvido pelo dito Juiz, mandou que se desse juramento ao dito seu irmão para dar a descrição deste inventário os bens que naquele termo possui o falecido, de que fiz este termos em que assinou o inventariaste com o dito Juiz e eu escrivão. Termo de juramento a Serafim José de Jesus Soares. Aos 12/10/1813 nesta Fazenda do Soares, Ribeira do Carateús, termo da Vila de Marvão, sendo Juiz Ordinário dos Órfãos Estevão Alves Ferreira, deferiu o juramento a Serafim José de Jesus Soares (assinatura). Descrição dos bens: Disse que seu pai no termo do Piancó:


Gadum - 80 cabeças de gado de toda sorte, situadas no Sítio do Cavalete, avaliados em 256$000 - 4 cavalos velhos no mesmo sítio 25$600 Escravos - 1 negra da nação Angola de idade de 19 anos, doente de erisipela, 70$000 - 1 negro de 14 anos sem doenças, 85$000 Terras - 1 légua e meia de terras do Sítio denominado Minador?? que ... 250$000 - 1 casa de telha ereta no mesmo sítio 20$000 - 1 posse de terra no Sítio Cavalete 12$000 - 40 cabeças de gado de toda sorte no Sítio de Dentro, 125$000 - 1 cavalo velho 5$000 - 1 besta velha 4$000 - 1 sítio de terras chamado Roça de Dentro de criar 120$000 - 1 casa de telhas no mesmo sítio 20$000 - 1 outro sítio de terras denominado do Paulista 125$000 - 2 bois mansos 10$000 - 3 bois mansos 15$000 - 8 ovelhas entre novas e velhas 1$920 E por esta forma, disse o herdeiro Serafim José e o testamenteiro Antonio Soares Godinho, ao Juiz Ordinário que lhes haviam dado e declarado a este inventário todos os bens que haviam ficado por falecimento de seu pai, que aqui existiam e juntamente ao do termo do Piancó, que lhes haviam lembrado, e que prometiam que se lembrando de outros quaisquer bens pertencentes ao seu dito pai, de os vir declarar a este inventário a todo tempo. E declararam mais 1 negrinha chamada Caetana de 8 anos, 40$000. Notificado ao co-herdeiro Matias Alves de Figueiredo para estar a colação do inventário a 12/10/1813. Termo de colação do co-herdeiro Matias Alves de Figueiredo cc Antonia Cordeiro de Sousa, assinado no mesmo dia e local. (assinatura). Descrição dos bens: - Dinheiro: recebeu 100$000. - 1vara de colar e 1 relicário 20$000 - 1 par de cadeados com pedras verdes 2$000 - 1 par de fivelas de prata 3$000 - 2 garfos de prata 1$280 - Recebeu de seu sogro 20 vacas 60$000 - 4 poldras 20$000 - 1 cavalo manso, 1 poldro 14$000 - 1 escrava por nome Narcisa de 34 anos, 65$000 (e assinou) Notificação do co-herdeiro Caetano de Figueiredo Rocha, por cabeça de sua mulher Balbina. Aos 11/10/1813 no mesmo local e termo da Vila de Marvão do Piauí, a quem o juiz deu juramento e assinou. Descrição dos bens: - Dinheiro 100$000 - 1 crucifixo de ouro pequeno e uma vara e meia de colar 27$000 - 1 par de cadeados de pedra azul 4$000 - 1 par de fivelas de prata de sapato 2$200 - 1 escrava por nome Francisca, doente da madre e surda, de 29 anos, 60$000 - 20 vacas 60$000 - 4 poldras de 20$000 - 2 poldros de 14$000 - 5 colheres de latão $600 - 6 pratos brancos grossos $600 - 5 xxxx $160 Notificação ao co-herdeiro José Pereira da Cruz a descrever os bens e dar colação ao inventário de seu sogro Brás Pereira Soares.


Descrição dos bens: - Dinheiro: 120$000 - 1 vara e meia de cordão de ouro 10$000 - 6 palmos de colar e 1 redonda? 12$000 -1 rosário de ouro 8$000 - 1 brinco de ouro 3$000 - 1 pente de prata 2$000 - 1 escrava de Angola por nome Maria de 18 anos, 80$000 - 20 novilhas 60$000 - 6 pratos brancos $300 - 6 colheres de latão $600 - 1 caixa de canastra usada 1$000 - Meia légua de terras no lugar Curimatã 90$000 - 1 mesa em bom uso 2$500 Termo de conclusão Aos 13/10/1813 na mesma Fazenda do Soares, ribeira do Carateus, termo da Vila de Marvão do Piauí, onde o juiz pede ao avaliadores na falta de um deles, aparece um novo Antonio Euzébio Tiago Durão e Manuel Felício de Oliveira, somem os bens e valor para serem repartidos aos filhos legítimos do falecido… Fazenda Pelo Sinal, 15/10/1813. (assinaturas). No mesmo dia e lugar assinou e jurou o Curador, Matias Alves de Figueiredo. Aos 16/10/1813 na fazenda Pelo Sinal, ribeira do Crateús, termo da Vila de Marvão, comarca da cidade de Oeiras, capitania de São José do Piauí, onde o juiz, escrivão e avaliadores somaram os bens do falecido reverendo Brás Pereira Soares, o qual antes de se ordenar, foi casado com Antonia Cordeiro de Sousa, de cujo matrimonio tiveram filhos. E logo pelos partidores soma do Monte-mor 4.904$990 réis, retirando as dívidas de 146$040, fica o Monte-menor 4.758$950 réis. Tirando a terça de 1.386$316 réis, fica a quanta do Monte-partível 3.172$634 réis. Herdeiros Manuel Pereira Soares José Soares João Serafim José Antonia Cordeiro de Sousa e seu marido Matias Alves, pai do inventariante Antonio Soares Godinho. Balbina por seu marido Caetano de Figueiredo Rocha Fulana por seu marido José Pereira da Cruz. Traslado do Testamento do Reverendo Brás Soares Pereira. Em nome da santíssima trindade, filho e espirito santo, 3 pessoas distintas e um só D-us Verdadeiro xxx. Saibam quantos este público instrumento de testamento “sedicta conducto”? ou como em Direito melhor em que haja, e dizer se possa virem que sendo no ano de nascimento de nosso senhor jesus cristo de 24/10/1812, nesta Fazenda do Pelo Sinal onde eu sou Capelão da Religiosa Santa Ana “adenacele amor”? termo da Vila de Marvão da Capitania de São José do Piauí, eu o Padre Brás Pereira Soares, estando são em meu perfeito juízo e temendo-me da morte por ser um fim certo para todos, não sabendo ao dia nem a hora em que D-us será servido chamar-me a contas, e desejando por a minha alma no caminho da salvação, faço e ordeno este testamento na forma seguinte. Primeiramente encomendo a minha alma à santíssima trindade que a criou e rogo ao padre eterno pela morte e paixão de seu unigênito filho, assim como recebeu a sua estando era morrer no Monte da xxxx? da fora? cruz xxx xxxx cristo peço e rogo pelas suas divinas chagas que ….. a Santa Ana, S. José e Sta. Barbara e Sta. xxza? e mãe do Povo, Sto. Agostinho…. Peço e rogo aos meus filhos Antonio Soares Godinho, a Manuel Soares Godinho e a Manuel Pereira, moradores nesta freguesia de nossa senhora do desterro da vila de Marvão, que por serviço de D-us e me fazerem mercê queiram ser meus testamenteiros, sendo que meu falecimento seja nesta freguesia, onde é minha presente residência, e sendo na freguesia do glorioso Santo Antonio do Piancó, termo da Vila de Pombal, a meu filho natural Serafim José de Jesus Soares,


a meu compadre Domingos da Cunha Freitas, ao meu confessor Manuel Pinto de Sousa, queiram na mesma forma serem meus testamenteiros. Meu corpo seja sepultado na Capela Mor na Matriz ou Capela que ficar mais próxima ao lugar de meu falecimento, envolto nos paramentos e vestes sacerdotais e sendo que se não achem meios próprios, se tomarem a igreja para se comprarem, e pagarão da minha fazenda, será acompanhado pelos reverendo sacerdotes que se acharem e se poderem convocar dos lugares mais próximos…. Declaro que sou legitimamente ordenado sacerdote secular do hábito de S. Pedro, filho legítimo do Alferes José Soares Godinho e de sua mulher Balbina Nunes Pereira, ambos já falecidos, natural da freguesia dos Apóstolos S.Pedro e S. Paulo de Mamanguape. Declaro que antes de me ordenar de sacerdote fui casado na forma do sagrado concílio tridentino e constituições do bispado com Antonia Cordeira de Sousa, de cujo matrimonio tivemos 8 filhos que são: João, José, Antonio, Manuel Soares, Manuel Pereira, Antonia, Balbina e Maria. Declaro que a minha filha Antonia casado com Matias de Figueiredo Rocha já é falecida e deixou filhos Declaro que no estado de solteiro tive um filho natural de Maria de Oliveira, mulher branca solteira, chamado Serafim, o qual como tal tomou de sua mãe, criou e constituiu por instrumento por meu legítimo herdeiro. Os ditos filhos de legítimo matrimonio assim declarados em qual parte, e se além deste aparecer e que diga ser mais filho que estes, e queira se habilitar, ou se habilite, não será admitido na herança, porque não tive nenhum filho natural além de Serafim. Declaro que por falecimento de minha mulher não fiz inventário e partilhas, por não haverem mais bens que 2 escravas chamadas Narcisa mestiça, e Francisca mestiça, ambas então pequenas que ainda existem na herança das quais entrará meu filho Serafim na parte que me corresponder, porque não é minha intenção prejudicar os legítimos. Declaro que os bens que possuo nesta Ribeira onde estou residindo são os seguintes: - 12 colheres de prata - 12 garfos de prata - 1 faca pequena aparelhada de prata do meu uso - 2 pares de fivelas de prata de sapatos - 1 par de esporas de prata do meu uso - 1 tacho de cobre ….seu escravo João o qual vulgarmente chamam de Caetano, mas seu verdadeiro nome é João de nação Angola com sua mulher Bernarda crioula e 3 filhos menores João, Caetano e Benedito, e um mulatinho de 13 para 14 anos chamado José de nação Angola e outro José Angola e já idoso. Declaro que o meu escravo João a quem chamam o sobredito Caetano, o comprei por 110$000 réis a meu compadre Manuel Pinto de que me passou pertencia? a um jadram? por nome João Francisco a parecer de seu legítimo senhor João de Abreu Barcelar, morador na praça de Pernambuco, o mandei comprar e me vendeu por 110 mil réis, de que tenho papeis de venda, possuo uma parte de terras com 3/4 de comprido, uma légua de largura no Riacho que vem do xxbeira denominado da Fazenda do Soares, comprados xxxxx…. 80 bezerros, e de cavalar que dá 40 poldrinhos e um pequeno rebanho de ovelhas….30 e tantos cavalos, 200 e tantos bois, alguns velhos, um velho que mandei refazer em Piancó na Fazenda Cavalete comprados como meus de uso, adquirido com exercício das minhas ordens, contudo tudo se achar do meu ferro. Declaro mais que estes gados de açougue se vai rendendo para minha côngrua sustentação, e da minha família. Declaro que na Fazenda dos Cavaletes onde tenho uma porção e posse de terras, Ribeira do Piancó, possua uma parte de gados situado que dará 50 bezerros e porque já teve diminuição da sua, será o que dizer o criador que é Serafim José meu dito filho natural, e constar do rol das partilhas, e alguns cavalos que disser o dito Serafim José , possui mais na Ribeira do Piranhas outra fazenda chamada Roça de Dentro no Riacho do Paulista com gado situado que dará 40 e tantos bezerros. e mais o que disser o criador que é Matias de Figueiredo Rocha, possuo mais na Fazenda do Paulista uma sorte de terras da igreja para baixo, compradas com meu dinheiro, e passada escritura com meu genro Matias Alves de Figueiredo, cuja escritura foi passada pela viúva do capitão José Teles Machado, as quais terras por eu não estar de presente, foi passada ao sobredito meu genro e na verdade são minhas.


Declaro que o capitão José Teles Machado já falecido morador que então era na sua Fazenda do Paulista, ribeira das Piranhas debaixo deve em dinheiro de contar 50$400 réis que lhe emprestei de que tenho recibo que serve de obrigação. Deve-me mais os emolumentos paroquiais de que tem Reverendo falecido Victoriano José de Anchieta. Declaro que casando minha filha Antonia lhe dei uma escrava mulata de 20 anos chamada Narcisa, 20 vacas e 4 bestas, com 100 mil réis em dinheiro e ouro que seu marido Matias Alves de Figueiredo, houve de dote e que já é falecida e de lembrança só tinha um colar de ouro, uma bola de âmbar também de ouro e um par de fivelas de prata. Declara que casando minha filha Balbina lhe dei de dote uma escrava mestiça chamada Francisca de 18 anos, 20 vacas, entrando algumas novilhas, 4 bestas, 2 cavalos, 100 mil réis em dinheiro e um colar de ouro com crucifixo pequeno de ouro, cadeados de ouro e fivelas de prata. Declara que sacado a filha Maria lhe deu de dote uma escrava Angola por nome Maria, que comprou a Serafim José por 111 mil réis, 20 vacas, 4 bestas, 2 cavalos, 100 mil réis. Declaro que casando meu filho Antonio lhe dei 100 mil reis em dinheiro. Declaro que a meu filho natural Serafim José, 100 mil reis em dinheiro, 10 vacas, os quais 100 mil réis o dito gastou em conta deles, já recebi uma rede de varandas por preço de 6$000 réis, recebi mais um capote inglês por preço de 20 patacas descontadas. Declara mais alguns benzinhos que estão com seus mais filhos por partilhas. Declara que deixa uma escrava de nome Caetana de 16 anos, forra e liberta por esmolas, e por a ter criado em meus braços e querer-lhe bem, e valer 40$000. Declara mais que minha crioulinha passem carta de liberdade, sendo da idade de 4 anos, cuja carta está lançada no cartório de Marvão. Declaro que pela minha alma, de mandar dizer uma missa na Capela de missas com esmola de 6 contos e 40 cada uma, ditas pelo Rev. Cónego Manuel XXX de Lima, morador na cidade de Olinda, ditas no convento de S. Francisco e mais 25 missas pelas almas do purgatório… e defuntos cativos por esmola….na capela do santíssimo sacramento e na de nossa senhora do desterro e nossa senhora do rosário, da gloriosa santa ana, no patriarca são josé, na senhora virgem e martir santa barbara, a são gabriel, s. miguel, e são rafael.e meia para seu pai e sua mãe. Declaro que é minha vontade, por me conformar com meu espírito que meus escravos Caetano e Bernarda se não apartem, mas que sejam dados a um só herdeiro. Declaro que meu filho Serafim José herde na minha terça parte. Declaro que deixo a meu irmão José Soares Godinho 55 mil reis em dinheiro em recompensa de me ter dado. Declaro deixo mais duas esmolas a minha irmã Balbina 50 mil réis por ser muito pobre e velha, deixou mais 25$000 às filhas do defunto meu compadre Albano Vieira. A meu compadre Francisco Ferreira Barbosa que escrevesse comigo Pe. Brás Pereira Soares e Francisco Ferreira Barbosa. Testemunhas do inventário Gonçalo Antunes Brandão, Manuel Vieira da Silva, Manuel José Gonçalves, Joaquim Cavalcanti de Albuquerque, Manuel Francisco de Oliveira. Raimundo Alves Barbosa tabelião. Justificações Diz D. Ana Teresa Leal, como testamenteiro e filha herdeira de seu pai José Ferreira de Melo que o falecido Pe. Brás Pereira Soares devia 40$000 de empréstimos. (assinatura do padre) Testemunhas: aos 15/10/1813 Antonio Ferreira de Melo, branco, casado, m. na Fazenda Jatobá, vaqueiro de 44 anos. Manuel Soares Godinho, branco, solteiro, m. n Fazenda do Soares, que vive de xxxx, de idade de 28 anos (n. 1785).


Manuel Pereira Soares, branco, casado, morador na Fazenda do Pelo Sinal, que vive de seus bens de 26 anos (n. 1787). Testemunhas José Soares Godinho, branco, solteiro morador na Fazenda do cavalete termo da vila de Pombal, comarcas da PB, que vive de seus bens, de idade de 34 anos (n. 1779). Serafim José de Jesus Soares, branco, casado, m. na freguesia de Piancó comarca da PB do norte, que vive de seus bens, de idade de 49 anos (n. 1764). José Pereira da Cruz, branco, casado, morador na Fazenda São Pedro do Piancó, Comarca da PB do Norte, que vive de seu negócio de idade de 32 anos (n. 1781). Justificação Diz Joaquim Coelho de Sousa, que o falecido Pe. Brás Pereira Soares lhe era devedor de 95$000 réis de sua obrigação Devo que pagarei ao Senhor Joaquim Coelho de Sousa, a quantia de 94$640 réis procedido de outros tantos que era devedor o falecido meu pai, e que seja pago de meus bens. Antonio Soares Godinho. Caetano Figueiredo Rocha, casado e m. na Ribeira do Piancó, cc Balbina Pereira Nunes. José Pereira da Cruz cc Maria Soares, ambos filhas legítimas do padre Brás.


CRÔNICA DO VINHAIS VELHO E DE SUA IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA – MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

A palavra “crônica”, do latim chronica, refere-se a um registro de eventos marcados pelo tempo cronológico. Do grego khronos, significa “tempo”. Crônica Histórica: marcada por relatar fatos ou acontecimentos históricos, com personagens, tempo e espaço definidos. Aproxima-se da crônica narrativa. Crônica: características, tipos e exemplos - Toda Matéria (todamateria.com.br) Esse nome Maranhão1 De onde vem esse nome – Maranhão ? – recorramos ao Padre Antônio Vieira, que em seu sermão da Quinta dominga da quaresma, do ano de 1654, servindo-se de uma fábula, afirma que: “... caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e, sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (LISBOA, 1991) 2 SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão” 3, escrito em 1624, afirma que "... a terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”.

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LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON II – Apontamentos, notícias e observações para servirem à História do Maranhão. São Luís: ALUMAR/AML, 1991 vol. I e vol. II VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. Inédito. BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 2 LISBOA, João Francisco. JORNAL DE TÍMON II – Apontamentos, notícias e observações para servirem à História do Maranhão. São Luís: ALUMAR/AML, 1991 vol. I e vol. II 3 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/SIOGE, 1979


(Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois, in História do Maranhão, 1904; e Berredo, in Anais Históricos)4. Marañon era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar ? e o outro responde: Non. Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, MairAnhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Mara-munhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (TAVARES, 1724; SILVEIRA, 1976; BERREDO, 1988; MEIRELES, 1980)5. A Vila Velha do Vinhais é o núcleo habitacional mais antigo do Maranhão. Referimo-nos à ocupação por brancos, pois os Tupinambás ocupam aquele espaço há mais tempo, provavelmente desde 80 anos antes da chegada dos Franceses de La Ravediére. O que nos leva a essa afirmação são documentos que estão vindos à luz por pesquisas recentes, com base em informações obtidas em diversos arquivos e interpretação e uso de fontes as mais diversas. Para Antonio Noberto (2011) 6 em matéria do Jornalista Evandro Júnior sobre A história de fundação da cidade de São Luís 7: “O que essas informações nos trazem de novidade é exatamente a existência de duas fortalezas no Maranhão antes da fundação de São Luís. E tudo converge para que uma dessas seja o Forte do Sardinha. Primeiro porque existia desde o último quartel dos anos 1500 uma linha quase que regular de navegação entre Dieppe e a Costa leste do Amazonas. Upaon-Açu era o principal ponto de comércio da região[...] O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido - já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 – Edição facsimilar 4 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988 5 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. Inédito. SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/SIOGE, 1979 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COUSAS DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 – Edição facsimilar BERREDO, Bernardo Pereira de. ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Rio de Janeiro: Tipografia Ideal, 1988 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 6 Segue interessante matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão no último dia 18.12.11. A proposta da matéria foi do acadêmico da AML Salvio Dino, que gentilmente me convidou para também contribuir no trabalho, dedicado ao resgate da história do Forte Sardinha. Abraço. 7 Matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitalede-la-france.html


Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757 8. Isso ocorreu durante o consulado pombalino (1755-1777), quando o Marques de Pombal9 expulsou os jesuítas da metrópole e das colonias (Setembro 1759), confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus 10 agia como um poder autônomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio. Credita-se a Cristóvão Colombo a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492 e a Pedro Álvares Cabral o “achamento” do Brasil em 21 de abril de 1500. Mas quem “descobriu” o Maranhão ? 11

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ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975 D’ÉVREUX, Yves de. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL – feita nos anos de 1613 a 1614.São Paulo: Siciliano, 2002. PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SECMA; Rio de janeiro: Alhambra, 1968. MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977. MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970). MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 CARVALHO, Jacinto. CRÔNICA DA COMPANHIA DE JESUS NO MARANHÃO. São Luís: ALUMAR, 1995. 9 Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, (Lisboa, 13 de Maio de 1699 — Pombal, 8 de Maio de 1782) foi um nobre e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (17501777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa. Representante do Despotismo esclarecido em Portugal no século XVIII, viveu num período da história marcado pelo iluminismo, tendo desempenhado um papel fulcral na aproximação de Portugal à realidade económica e social dos países do Norte da Europa, mais dinâmica do que a portuguesa. Iniciou com esse intuito várias reformas administrativas, económicas e sociais. Acabou na prática com os autos de fé em Portugal e com a discriminação dos cristãos-novos, apesar de não ter extinguido oficialmente a Inquisição portuguesa, em vigor "de jure" até 1821. No tempo de D.João V foi embaixador nas cortes inglesa e austríaca. Era ministro do reino de Portugal. A sua administração ficou marcada por duas contrariedades célebres: o primeiro foi o Terramoto de Lisboa de 1755, um desafio que lhe conferiu o papel histórico de renovador arquitectónico da cidade. Pouco depois, o Processo dos Távoras, uma intriga com consequências dramáticas. Foi um dos principais responsáveis pela expulsão dos Jesuítas de Portugal e das suas colônias. Após a sua morte, na noite de 11 de Maio de 1782, o seu cadáver foi conduzido num coche puxado por três parelhas para a igreja do convento de Santo António da vila de Pombal. Contava o Marquês de Pombal com 82 anos, quando os seus restos mortais ali foram depositados. http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_Melo,_marqu%C3%AAs_de_Pombal 10 A Companhia de Jesus (em latim: Societas Iesu, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas, é uma congregação religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540[1]. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional. http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus 11 FONSECA, Aldeneiva Celene de Almeida. O descobrimento que não houve. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 16 de fevereiro de 1998, Caderno Opinião, p. 4 MOREIRA, Rafael. Foi o Maranhão descoberto antes do Brasil? In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 15 de fevereiro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 7 REIS, Flávio. O Maranhão bárbaro e sua miséria historiográfica. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de setembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 SÁ, Décio. Brasil pode ter nascido no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Cidade, p. 3 O ESTADO DO MARANHÃO. História passada a limpo. São Luís, 15 de novembro de 1998, domingo, Caderno Alternativo, p. 3 (continuação) CORREA, Larissa. Maranhão, alvo de disputas. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 22 de abril de 2000, sábado, Caderno Alternativo, p. 4 MEIRELES, Mário M. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR OCEANO. São Luis: AML, 1999 MEIRELES, Mário M. JOÃO DE BARROS – PRIMEIRO DONATÁRIO DO MARANHÃO. São Luis: ALUMAR, 1996 LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. Cronistas do Maranhão colonial. In JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 03 de novembro de 2002, domingo, Caderno Alternativo, p. 6


Diogo de Teive, em 1452 ? Gonçalo Fernandes Távire e João Vogado, em 1453 ? João Coelho, se verdadeira sua viagem, em 1493 ? com certeza, sabe-se que os ESPANHÓIS chegaram antes que os PORTUGUÊSES, pois ALONSO DE OJEDA, com Juan de Las Casas e Américo Vespúcio estiveram por aqui em 1497; ou com Juan de Vergara e Garcia de Ocampo, em 1499; há registro de que VICENTE PINZÓN visitou o Maranhão em janeiro de 1500 – e vendo-se aquém da Linha de Tordesilhas, portanto em terras portuguesas, retorna; e DIOGO DE LEPE também visita-nos em Março de 1500. Em qualquer hipótese, o Maranhão já era conhecido antes do pretendido descobrimento casual do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Mas o Maranhão passou todo o século XVI praticamente fora da história política de Portugal. (MEIRELES, 1980)12. No século XVII, a populaçõa indígena do Maranhão era formada por aproximadamente 250.000 pessoas, pertencente a cerca de 30 etnias, a maioria delas, hoje, não existindo mais: “Povos indígenas como os Tupinambá que habitavam a cidade de São Luis, os Barbados, os Amanajós, os Tremembé, os Araioses, os Kapiekrãs, entre outros, foram simplesmente exterminados ou dissolvidos social e culturalmente [...] São notórias as causas do desaparecimento de cerca de 20 povos indígenas no Maranhão: as guerras de expedição para escravizar, as doenças importadas, a miscigenação forçada, a imposição de novos modelos culturais, entre outras”. 13 Bandeira (2013) 14 traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luís, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Tratam-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

ARAÚJO, Antonio Martins de. O sonho de João de Barros no Maranhão. In Jornal O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 08 de janeiro de 2002, terça-feira, Caderno Alternativo, p. 6 12 MEIRELES, Mário Martins. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 13 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004, p. 2 14

BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013.


1.000/2.000 a.C - vestígios dos antigos assentamentos humanos no Vinhais Velho demonstraram que os primeiros povoadores chegaram nessa região entre 2.600 anos até 3 mil anos atrás, sendo que tal território permaneceu ocupado até a chegada dos primeiros colonizadores europeus, com pelo menos três momentos de ocupação distintos (BANDEIRA, 2013, 2014, 2015). Os primeiros povoadores foram associados aos Sambaquis e à cerâmica da tradição Mina. Eles viviam da pesca e da coleta de frutos do mar e permaneceram na região até 1.950 anos atrás, quando outros grupos humanos chegaram ali (BANDEIRA, 2014).

1.100 D.C - Em torno de 1.840 anos atrás, a região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos sambaquieiros. Tratava-se de agricultores e ceramistas, que manufaturavam objetos cerâmicos com traços amazônicos, denotando relações desses grupos com outros povos da floresta tropical amazônica. Corroboraram com essa interpretação a presença de terra preta oriunda do cultivo de alimentos, que era complementada pela caça, pesca e coleta (BANDEIRA, 2014).


A última ocupação humana existente no Vinhais Velho em tempos pré-históricos ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. A documentação escrita auxiliou a arqueologia na compreensão do modo de vida dos índios Tupinambá nesse período (BANDEIRA, 2015).

Os Tremembé, originalmente nômades, viviam num território que se estendia nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Esses habitavam a Aldeia de Uçaguaba.


Os tremembés eram originalmente nômades não tupis que viviam num território que se estendia do sul do Maranhão até ao Rio Acaraú, no atual estado do Ceará. Exercem por dois séculos trocas comerciais com muitos europeus que atracavam na costa brasileira a fim de manter controle sob o seu território. No século XVIII foram aldeados pelos Jesuítas nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão), Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia). Nos tempos coloniais, os Tremembé viviam na região desde a foz do rio Gurupi, no Maranhão, até a Serra de Ibiapaba, no Ceará. Viviam principalmente da pesca e do comércio de estrangeiros. Eram corajosos e resistentes aos ataques dos colonizadores Os Tremembé foram citados em documentação histórica e em diversas obras do período colonial, tendo sido aldeados em certas missões, tanto no Maranhão como no Ceará, muitas vezes convivendo e fundindo-se a outras etnias também aldeadas pelos religiosos.


A partir do meado dos anos 1500, o Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha, não era respeitado pela França, que contestara de maneira mais veemente a divisão do mundo. Em termos de expansão marítima, os franceses, mesmo perdendo a corrida, buscaram terras sem colonização para poder explorar. Corsários recebiam apoio do governo francês, com financiamento, para explorar as riquezas das Américas, fazendo contrabando, principalmente de pau-brasil e muitas outras madeiras, além de pássaros silvestres, macacos, e de até mesmo de tabaco. 1503 - A presença de traficantes de pau-brasil no litoral brasileiro, remonta ao ano de 1503 e é aceito como o do início das incursões francesas na costa norte-rio-grandense e 1516 como o momento em que traficantes e corsários vindos da França agiam na Costa dos Potiguares, como era então conhecido o território habitado por aqueles silvícolas, dele fazendo parte o atual Rio Grande do Norte.


1504 – Corsários franceses visitam as costas do Maranhão 1513 - Diogo Ribeiro terá chegado ao Golfo Maranhense, a ele dever-se-à o nome de Trindade dado à Ilha de São Luís 1516/26 - Várias expedições foram enviadas por Portugal, visando reconhecer toda costa brasileira e combater os piratas e comerciantes franceses. As mais importantes foram as comandadas por Cristóvão Jacques (1516 e 1526), que combateu os franceses. 1524 vamos encontrar Guérard e Roussel, corsários de Dieppe, visitando o Maranhão15. 1531 - Diogo Leite, por ordem de Martin Afonso de Sousa, reconhece o litoral N. do Brasil, chegando à foz do Gurupi, a ele se atribuem os nomes de São José e São Marcos, baías que formam o Golfo Maranhense 1532 - Martim Afonso de Sousa combateu a pirataria francesa. Da mesma forma, ele instalou em São Vicente, a primeira povoação dotada de um engenho para produção de açúcar. 1534 - D. João III divide o Brasil em capitanias Hereditárias; o actual Maranhão, do Paraíba ao Gurupi, fica integrado nas duas mais setentrionais: Fernão Alvares de Andrade e João de Barros

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MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982; LIMA, Carlos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO - A COLÔNIA. São Luís: GEIA, 2006, p. 172-173


Inicio da colonização do Brasil. A colonização do Brasil tem seu início em 1534, quando D. João III16 intenta a conquista de suas novas terras "descobertas" pela expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500, dividindo-as entre seus vassalos, pois estava preocupado com a presença de corsários franceses que navegavam por estas costas desde 1504. Estabele o sistema de Capitanias Hereditárias (Regimento Castanheira). O Maranhão atual, por sua extensão litorânea do Paraíba ao Gurupi, está compreendido nas duas mais setentrionais, dentre elas: a de Fernão Alvares de Andrade17, com 70 léguas de costa contadas da foz do Mundau (Camocim) aos Mangues Verdes (Golfão Maranhense) e uma segunda, de João de Barros18, com 50 léguas, dos Mangues Verdes à foz do Gurupi. João de Barros e Fernando Álvares de Andrade associam-se a Aires da Cunha19, na tentativa de apossarem-se dela, sem resultado. Eram lotes enormes, de cerca de 350 km de largura, até à linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, interior a dentro: "Dez anos depois de criadas, as desordens internas, as lutas com os índios e a ameaçadora presença dos franceses acabaram provocando o colapso do sistema que o rei e seus conselheiros haviam optado por aplicar ao Brasil" (BUENO, 1999)20. 1535, os donatários e o associado Aires da Cunha à frente de uma frota de 10 navios, com 900 homens, vão tentar a conquista e colonização do Maranhão. Chegando a seu destino, a esquadra desaparece em um naufrágio, mas uns poucos sobreviventes conseguem fundar a povoação de Nazaré. O Rei D. João III consciente da importância das dimensões e dos vultosos investimentos a ser movimentado por aquele projeto colonial, tratou de conceder aos donatários associados vantagens adicionais, além daquelas que já lhes tinham sido asseguradas pelos respectivos forais e no processo de partilha do Brasil. A esses três homens coubera quase todo o vasto território que se prolongava desde a Baia da Tradição na Paraíba, até a Ilha de Marajó no Pará. Os três lotes concedidos aos donatários associados perfaziam 225 léguas de costa que abrangia todo o litoral setentrional do Brasil, embora a extensão das terras fosse enorme, havia um grave problema logístico, pois, aquelas capitanias ficavam na região chamada de Costa LesteOeste, uma porção menos conhecida do litoral brasileiro e a que apresentava as maiores dificuldades náuticas para os homens dispostos a percorrê-la nos tempo da navegação a vela. Os donatários já sabiam disto, mas sabiam também que a partir de seus lotes, seria possível tentar a conquista do Peru.21 “Fernão Álvares de Andrade, embora fosse muito rico, não se lançou sozinho em suas aventuras brasileiras, ele decidiu se associar com João de Barros que havia sido agraciado com duas donatarias em parceria com Aires da Cunha, sendo que um dos seus lotes tinha 50 léguas de extensão que se iniciava no extremo norte do Brasil, no chamado Cabo de Todos os Santos e ao sul era estabelecido pela foz do Rio Gurupi na chamada Abra de Diogo Leite e o outro lote mais tarde conhecido como Capitania do Rio Grande que ficava bem mais ao sul e tinha 100 léguas de larguras que começava na ponta de Mucuripe e ia até a Baia da Tradição na Paraíba e entre os lotes de João de Barros e Aires da Cunha existiam duas outras capitanias, uma que mais tarde passou a se chamar de Maranhão que fora entregue a Fernão Álvares com 75 léguas de costa que principiava na foz do Rio Grande e ia até a foz do Rio Paraíba, e em Novembro de 1535, com Aires da Cunha no comando da expedição, pois Fernão Álvares de Andrade e João de Barros haviam permanecido na corte, onde alias os seus serviços

16 D. João III de Portugal (Lisboa, 6 de Junho de 1502 — Lisboa, 11 de Junho de 1557) foi o décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua devoção religiosa. Filho do rei Manuel I de Portugal, sucedeu-o em 1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de África, Índia, Malásia, Ilhas do Pacífico, China e Brasil. Continuou a política centralizadora do seu pai. Para fazer face à pirataria iniciou a colonização efectiva do Brasil, que dividiu em capitanias hereditárias, estabelecendo o governo central em 1548. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_III_de_Portugal 17 "Fernão Álvares de Andrade - No ano de 1535 o Rei D. João III concedeu para Fernão Álvares de Andrade, o mais poderoso e importante dos agraciados com terras no Brasil que era fidalgo descendente dos Condes de Andrade, Tesoureiro Mor de Portugal e membro atuante do Conselho Real e o principal conselheiro do rei http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 18 João de Barros que era Feitor da Casa da Índia, Tesoureiro das Casas das Índias e de Ceuta. 19 Aires da Cunha navegador e militar experiente afeito às agruras da vida no mar e `a conquista em terras estrangeiras. 20 BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999 21 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm

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eram indispensáveis ao bom funcionamento dos negócios ultramarinos, que na oportunidade João de Barros foi representado pelos seus filhos Jerônimo e João”. (RIBEIRO) 22

1536 – Chegada ao Maranhão dos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha. Até hoje se discute o local do desembarque desses sobreviventes: se na Ilha Grande (Trindade, São Luís) ou na Ilha Pequena (Sant' Ana) ou na do Boqueirão (do Medo) onde teriam erigido a aldeia de Nossa Senhora de Nazaré. Outros a localizam em terras de Cumã (Alcântara) ou mesmo há quem afirme que ela nunca tenha existido. [...] Aires da Cunha zarpou com sua frota para as terras de Fernão Álvares de Andrade acompanhando a linha da Costa até dobrarem o Cabo de São Roque onde entraram na traiçoeira Costa Leste-Oeste onde as correntes corriam paralelamente à costa conduzindo os navios em direção ao Caribe; por este motivo a frota foi levada bem mais à oeste na zona dos chamados Lençóis Maranhenses e foi justamente 22 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm

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ai que a frota de Aires da Cunha perdeu o auxilio inestimável da fusta que a acompanhava, que fora empurrada por ventos contrários, com isto essa pequena embarcação sumiu e se desgarrou da armada. Sem o insubstituível apoio do barco de reconhecimento a tragédia logo se abateu sobre a frota de Aires da Cunha, pois a nau capitaneia foi tragada pelos Corais do Parcel de Manoel Luiz, porém os navios da frota chegaram até a uma ilha junto ao Rio Maranhão onde ao desembarcarem foi bem recebida pela gente que ali viviam, a ilha foi batizada como Ilha da Trindade e nela ergueram uma povoação e edificaram uma fortaleza que recebeu o nome de Nazaré. Porém o desanimo e a anarquia se abatera sobre os sobreviventes e os nativos indígenas Tremembé que a principio tinham recebido bem os forasteiros, se rebelaram queimando as plantações e sitiando a Vila de Nazaré e ao longo de dois anos, isolados no remoto litoral maranhense os sobreviventes ainda perseveraram, mas sem a energia e o comando de Aires da Cunha e sem deparar com o ouro nem preciosidade e cercados pelos índios, eles decidiram renunciar aos sonhos de grandezas, e aos poucos foram iniciando a melancólica jornada de retorno para Portugal “(RIBEIRO) 23 Assim, os náufragos da expedição se abrigaram na então conhecida como Ilha de Trindade, onde hoje está a cidade de São Luís. Por sorte, não foram hostilizados pelos nativos. Com o pouco que havia restado e auxiliados pelos índios, levantaram fortificações provisórias e algumas casas. Enquanto uns tentavam a lavoura, outros tratavam de explorar o sertão. A aliança com os indígenas resultou até em casamentos que geraram os primeiros portugueses mestiços. Mas essa convivência cordial não tardou a se transformar em revolução social: os índios queimaram as casas dos portugueses e destruíram suas plantações. De fato, não seria ainda daquela vez que as selvagens terras do Maranhão seriam conquistadas. A grande expedição transformou-se num grande fiasco; e aos dois donatários que ficaram em Portugal, restaram apenas as dívidas com a coroa. João de Barros, assim que soube da tragédia, empenhou-se em resgatar seus dois filhos. Em 1538, sem o apoio da corte e com a moral em baixa, os malogrados colonos deixaram o Maranhão num regresso desolador, embarcando em três caravelas e seguindo para as Antilhas. Um barco seguiu para São Domingos e os outros dois chegaram a Porto Rico, com 140 índios (entre escravos e livres) e somente 45 dos náufragos a flotilha de Aires da Cunha. Barros pagou apenas parte dos compromissos obtidos junto ao tesouro português - mais tarde, D. Sebastião perdoou o restante do "papagaio real” (RIBEIRO) 24 Quanto à Nazaré, não vingou. Bernardo Pereira de Berredo, nos "Anais Históricos do Estado do Maranhão"25, estranha que, decorridos apenas oitenta anos, a expedição de Jerônimo de Albuquerque não haja encontrado vestígios desse sítio, o que não impede que estudiosos do assunto afirmem ainda ser verídica sua existência, esposando a tese de ter São Luís26 origem lusa e não francesa. O embaixador de Carlos V em Lisboa, Luis de Sarmiento escreve em 15 de julho de 1536 que assim aquela armada (João de Barros e Aires da Cunha) foi dar ao Maranhão e saltaram em uma ilha junto ao rio e dizem que foram bem recebidos da gente que ali habitava e pusera-lhe nome, à dita ilha, de Trindade e empregaramse a edificar um lugar e um castelo e puseram nome àquele lugar Nazaré 27. Simão da Silveira, em sua "Relação Sumária das Coisas do Maranhão", publicada em 162428, dá o testemunho de ter visto na ponta do Bonfim, na ilha de São Luís, as ruínas de um forte que teria sido construído para a defesa dessa povoação. 23 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 24 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia do Atlântico" - Do Livro de Bordo A Caminho de São Luís. Disponível em http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 25 BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Estado do Maranhão. Rio de Janeiro : Tipografia Ideal, 1988. 26 O nome da cidade é uma homenagem dada pelos franceses ao Rei da França Luís IX também chamado de São Luís. O rei Luís IX ficou popular porque durante seu reinado, a França teve um excepcional poder político, econômico, militar e cultural, conhecido como o "o século de ouro de São Luís". Houve um grande desenvolvimento da justiça real, passando o monarca a representar o juiz supremo. Assim os franceses em homenagem a este rei puseram o nome São Luís na nova cidade. http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_(Maranh%C3%A3o) 27 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 28 SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO dirigida aos pobres desse reino de Portugal. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1976 – edição fac-similar SILVEIRA, Simão Estácio da. RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO. 7 ed. São Luis, UFMA; SIOGE, 1979


Para Frei Vicente do Salvador (2010)29, tanto nos comentários de Capistrano de Abreu (p. 120-121) quanto no Capitulo XIII, p. 159-160 “Da terra e capitania que el-rei D. João terceiro doou a João de Barros”: “Deste naufrágio escapou muita gente, com a qual os filhos de João de Barros se recolheram a uma ilha, que então se chamava das Vacas, e agora de S. Luís, donde fizeram pazes com o gentio tapuia, que então ali habitava, resgatando mantimentos e outras cousas que lhes eram necessárias. E chegou o trato e amizade a tanto que alguns houveram filhos das tapuias, como se descobriu depois que cresceram [...] “Donde se colige que não era o Maranhão a terra que el-rei deu a João de Barros, como alguns cuidam senão esta outra que demarca pela Paraíba com a de Pero Lopes de Sousa; porque, se fora a do Maranhão havendo seus filhos escapado do naufrágio e chagado à do Maranhão com quase toda a sua gente, e achando a da terra tão benévola e pacífica, que causa havia para que não a povoassem? Prova-se também porque todas as que se deram em aquele tempo foram contíguas umas com outras, e os donatários eram uns dos outros pela ordem que vimos nos capítulos precedentes. E finalmente se confirma porque a do Maranhão foi dada a Luís de Melo e Silva, que a descobriu (...) e não devia el-rei de dar o que tinha dado a outro. Nem o mesmo João de Barros, em a primeira Década, livro sexto, capítulo primeiro, onde fala da sua capitania, faz menção do Maranhão, mas só diz que, da repartição que el-rei D. João Terceiro fez das capitanias na província de Santa Cruz, que comumente se chama Brasil, lhe coube uma [...] E daí (depois do naufrágio...) mandou depois em outros navios buscar seus filhos [...]” 1539 - João de Barros, arruinado, não desistiu de imediato do Brasil, pois em 1539 ele enviou o fidalgo Luiz de Melo para instalar-se no Maranhão, mas sua sorte foi uma vez mais desastrosa e fugidia, pois Luiz de Melo também veio a naufragar nos tenebrosos baixios da costa maranhense e em três anos após a este novo fracasso os portugueses tiveram que amargar outra vitória dos castelhanos, pois Francisco de Orelhana partindo de Quito no Equador em Junho de 1541, em companhia do frei dominicano Gaspar de Carvayal havia chegado em 26 de Agosto de 1542 ás águas do Atlântico, e se tornando como o primeiro homem a ter navegado da nascente à foz do maior rio do mundo o qual ele batizou com o seu próprio nome, porém ele ficaria conhecido como o Rio das Amazonas30. 1556 - João de Barros em cujas capitanias se localizavam a foz do Amazonas, ainda levaria alguns anos para desistir da conquista da região. Embora financeiramente arruinado pelos fracassos de suas expedições anteriores, tornou a enviar Jerônimo e João, seus dois filhos, para novas tentativas de instalarem-se na Costa Leste-Oeste. Com uma expedição partindo de Lisboa em 1556, mas ao tentar fundar uma colônia na donataria os dois irmãos foram novamente rechaçados pelos índios Potiguar e por seus aliados franceses. Velho, empobrecido e fatigado João de Barros desistiu definitivamente de seu lote no Brasil. Ao contrário de João de Barros o Tesoureiro-mor, Fernão Alvares de Andrade, que também perdera muito dinheiro na tentativa de ocupar o Maranhão, manteve-se como um dos principais incentivadores do projeto de investir no Brasil. 31 Vamos seguir Ribeiro32, ao perguntar: qual era a verdadeira missão de Aires da Cunha? Quando a costa brasileira foi tocada pela primeira vez por Pedro Álvares Cabral, em 1500, os portugueses mal imaginavam qual a extensão exacta da "Terra Brasilis". Os métodos cartográficos eram muito rudimentares e os mapas, muito vagos. Assim, o "descobrimento" ainda estava apenas começando. Tanto que muitas regiões só foram colonizadas décadas depois da chegada de Cabral. A história do Maranhão ilustra bem a dificuldade dos descobridores e, até hoje, guarda em seus arquivos a mal explicada história do navegador Aires da Cunha - um personagem misterioso e pouco explorado pelos livros.

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SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 2010

30 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 31 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm 32 RIBEIRO, Carlos Leite (Ed.). "A Travessia http://www.caestamosnos.org/viagem/SLuis03.htm

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Qual era, de fato, o intuito da viagem de Aires da Cunha? Lembremos que por mais de 30 anos após o descobrimento, o Maranhão foi totalmente desprezado pelos portugueses. Acredita-se que o primeiro navegador a avistar o litoral maranhense tenha sido o espanhol Vicente Yañes Pizón, que em 1500 percorreu o nordeste brasileiro de Pernambuco até a foz do Rio Amazonas. Em 1524, os franceses começaram a visitar aquelas praias. Somente em 1530 o rei D. João III começou a se preocupar com as intenções francesas em fundar por aqui a França Equinocial, e enviou para cá o administrador colonial Martim Afonso de Sousa que, por sua vez, um ano depois mandou Diogo Leite explorar o norte da terra descoberta. Só então Portugal tomou conhecimento do que realmente havia por lá. O desinteresse real pela Ilha do Maranhão (hoje Ilha de São Luís) durou até 1534, quando o desprezo pela região foi trocado por um súbito (e grande) interesse. Naquele ano, para facilitar a colonização, D. João repartiu o Brasil em nove capitanias hereditárias. O Maranhão foi dividido em dois lotes (Itamaracá e Pará): o primeiro foi doado a Fernão Álvares de Andrade e o segundo ao historiador João de Barros e Alves da Cunha, que já conhecia a colônia, pois participou do descobrimento como membro da expedição de Pedro Álvares Cabral. Repentinamente, as capitanias de Itamaracá e Pará passaram a ser consideradas como as mais nobres de toda a colónia, pela grandeza de seus rios, fertilidade das terras, abundância de animais e, o mais importante, devido aos boatos sobre a riqueza de suas jazidas de ouro. Assim, uma grandiosa expedição foi organizada, com todo o apoio da corte, através de muitas concessões financeiras da coroa portuguesa, que adiantou aos donatários muitas armas e munições, além de prometer condições especiais para a exploração das minas - caso elas fossem realmente encontradas Como Fernão Álvares e João de Barros não podiam deixar a corte, a missão de comandar a expedição foi entregue ao experiente Aires da Cunha. Junto com ele, embarcaram também os dois filhos de João de Barros e um delegado de confiança de cada donatário. Em outubro de 1535, o navegador zarpou do Tejo, com 10 caravelas muito bem armadas, tripuladas por 900 homens e, também, 113 cavalos. A armada de Aires da Cunha atravessou o Atlântico sem grandes surpresas e foi directo para a capitania de Pernambuco, onde o comandante foi acolhido com grande atenção pelo donatário Duarte Coelho, que havia recebido muitas recomendações da coroa para dar à expedição tudo o que fosse necessário. A frota brasileira recebeu mantimentos, batedores práticos da costa e do sertão, intérpretes de línguas indígenas a até embarcações para sondagem das baías. Meses depois de chegar ao Brasil, a expedição seguiu para o norte, em busca do almejado ouro do Amazonas - na época, o Rio Maranhão era confundido com o Rio Amazonas, tamanha a falta de uma cartografia eficiente". 33 1548 - O sistema de Governo Geral foi criado pela Coroa, com o objetivo de organizar a administração colonial. O primeiro governador foi Tomé de Souza (1549 a 1553), que recebeu do governo português, um conjunto de leis a serem aplicadas na colônia. Estas determinavam as funções administrativas, judicial, militar e tributária do Governo Geral. O segundo governador geral foi Duarte da Costa (1553 a 1558) e o terceiro, Mem de Sá (1558 a 1572). 1554 - Luís de Melo da Silva estivera por aqui e tenta retornar em 1573. quando naufraga no Mar-Oceano sua nau-capitânea "São Francisco" que tinha Luis da Gamboa como comandante. No Capítulo XIV “Da terra e capitania do Maranhão que el-rei D. João Terceiro doou a Luis de Melo e Silva”, Frei Vicente de Salvador (2010, p. 161-162) descreve “o Maranhão” como uma grande baía que fez o mar, entre a ponta do Pereá e a do Cumá, tendo no meio a ilha de S. Luis, onde esteve Aires da Cunha, quando se perdeu com a sua armada e os filhos de João de Barros (capítulo precedente): “[...] No tempo que se começou a descobriri o Brasil, veio Luis de Melo da Silva, filho do alcaidemor de Elvas, como aventureiro, em uma caravela a correr esta costa, para descobrir alguma boa capitania, que pedir a el-rei e não podendo passar de Pernambuco, desgarrou com o tempo e água e se foi entrar no Maranhão, do qual se contentou muito, e tomou língua do gentio, e depois na

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Margarita de alguns soldados que haviam ficado da companhia de Francisco de Orelhana, que como testemunhas de vista muito lhe gabaram e prometeram haveres de ouro e prata pela terra adentro. “Do que movido Luís de Melo se foi a Portugal pedir a el-rei aquela capitania para a conquistas e povoar e, sendo-lhe concedida, se fez prestes em a cidade de Lisboa partiu dela em tres naus e duas caravelas, com que chegando ao Maranhão se perdeu nos parcéis e baixos da barra, e morreu a maior parte da gente que levava, escapando só ele com alguns em uma caravela, que ficou fora de perigo, e dezoito homens em um batel, que foi ter à ilha de Santo Domingo [...] “Depois de Luís de Melo ser em Portugal se passou à Índia, onde obrou valorosos feitos e, vindo-se para o Reino muito rico e com a intensão de tornar a esta empresa, acabou na viagem em a nau S. Francisco, que desapareceu sem se saber mais novas dela. Não houve quem tratasse mais do Maranhão, o que visto pelos franceses lançaram mão dele, como veremos em o livro quinto”. Frei Vicente do Salvador informa, ainda, que seu pai esteve nessa viagem de Luís de Melo: “se embarcou então para o Maranhão e depois para esta baia, onde se casou e me houve e a outros filhos e filhas” (p. 162): “João Rodrigues Palha, escudeiro fidalgo da geração dos Palhas do Alentejo, emigrou por desgostos domésticos, à procura de melhor fortuna, por ser pouco grão para sustentar a família. Seu compatriota Luís de Melo da Silva armava uma expedição para as terras brasílicas, aonde lhe fora doada uma capitania. Nela alistou-se, partiu em junho de 1554 e naufragou dia de S. Martinho, 11 de novembro, nas espacéis e baixos do Maranhão. Das três naus, duas caravelas da armada salvaram-se apenas uma caravela e um batel, em que dezoito pessoas aportaram a São Domingos. Foi uma delas. [...] Como se saiu da ilha ignoramos [...] devia ter tornado à pátria [...] afrontou novamente os mares, deu consigo na Bahia de Todos os Santos, estabeleceu-se em seu reconcavo, casou, teve tres filhos. Chamou-se o mais velho de Vicente Rodrigues Palha, o nosso autor. [...]” (p. 35, Nota Preliminar de J. Capistrano de Abreu). 1555 - A invasão francesa , quando conquistaram o Rio de Janeiro, fundando ali a "França Antártica", sendo expulsos em 1567. 1570-72 Ao descrever as migrações dos Tupinambá34, Caeté e Potiguar do litoral de Pernambuco e da Bahia para o Maranhão, Fernandes (1989), argumenta que ao fugirem dos portugueses que ocupavam estas regiões, estes grupos se aliaram e no trajeto percorrido a partir de 1570-72, ocuparam diversas áreas do interior e litoral “A composição dessas migrações é perceptível na distribuição dos emigrantes nas terras do Maranhão e do Pará, conquistadas aos Tapuias, seus antigos senhores. Os Tupinambá abandonaram a zona do Ibiapaba, e localizaram-se na Ilha do Maranhão. Os Potiguar continuaram a viver ali. Em virtude do rompimento dos laços de solidariedade, os dois grupos tribais tornaram-se inimigos designando-se reciprocamente como Tabajara.” (1989, p. 43, grifos nossos). Em virtude disso, os grupos que se fixaram na serra da Ibiapaba ficaram conhecidos nos registros históricos como Tabajara. Nesta região, viviam ainda inúmeros grupos tapuias, tais como Tacarijú, Quitaiaiú, Ocongá, Caratiú, Reriiú (Areriú), Acriú, Anacé, Aconguassu (Acoanssu), que eram de certa foram subordinados aos Tabajara. 34

CUNHA, Manuela Carneiro da. (org.) História dos índios no Brasil, 2ª ed., São Paulo: Cia. Das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1998 OLIVEIRA, João Pacheco de (org.). A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: Contracapa. 1999. DANTAS, Beatriz Gois (Orgs.). Documentos para a história indígena no nordeste : Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. São Paulo : USP-NHII/FAPESP, 1994. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Aldeias indígenas e povoamento no Nordeste no final do século XVIII : aspectos demográficos da "cultura do contato". (Trabalho apresentado no GT "História Indígena e do Indigenismo", no XVI Encontro Anual da ANPOCS, Caxambú-MG, 1992)


1572, depois da morte de Mem de Sá e de seu sucessor Dom Luís de Vasconcelos, o governo português dividiu o Brasil em dois governos cuja unificação só voltou em 1578: Governo do Norte, com sede em Salvador; Governo do Sul, com sede no Rio de Janeiro 1580 - "A União Ibérica, que ocorreu entre 1580 e 1640, foi a unificação das Coroas espanhola e portuguesa a partir da crise sucessória do trono português. Essa crise de sucessão decretou o fim da Dinastia de Avis e coroou o rei Filipe II, da Espanha, como rei tanto de Portugal quanto da Espanha.

Retrato do rei Filipe II da Espanha, nomeado rei de Portugal em 1580 O rei de Portugal, D. Sebastião, desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir contra os mouros no Marrocos, em 1578. Como o rei não havia deixado herdeiros para sucedê-lo, quem assumiu foi seu tio-avô, D. Henrique. No entanto, D. Henrique acabou morrendo dois anos depois e, como também não possuía herdeiros diretos, foi iniciada uma crise de sucessão do trono português.

Retrato do rei D. Sebastião, por Cristóvão de Morais

Após a morte de D. Henrique, três pretendentes alegaram parentesco com D. Sebastião e lançaram-se na luta pelo trono. Entre os pretendentes, estava o rei espanhol, Filipe II, que possuía grande apoio entre os membros da nobreza portuguesa. Depois de invadir Portugal e vencer pequenos conflitos contra um dos pretendentes ao trono, chamado Antônio, o rei Filipe II foi coroado como rei de Portugal.


Durante seu reinado, Filipe II manteve os portugueses nos cargos relacionados à administração de Portugal e das colônias portuguesas, sobretudo no Brasil. Essa ação do rei foi tomada para evitar qualquer tipo de desgaste com os portugueses, assim, minimizando o risco de que rebeliões acontecessem em Portugal. Portanto, percebe-se que a Espanha não assumiu controle sobre a colônia brasileira, deixando-a a cargo dos portugueses. O historiador Thomas E. Skidmore afirma que a grande mudança determinada pela Espanha no Brasil foi “a regularização dos procedimentos administrativos e judiciários, incluindo o desenvolvimento de novos códigos civil e penal em 1603”|1|. Além disso, foi decretada pelos espanhóis a divisão do Brasil em duas partes: uma chamada de Estado do Maranhão, que agrupava Maranhão, Ceará e Pará e cuja capital era a cidade de São Luís, e a outra chamada de Estado do Brasil, que permanecia com a cidade de Salvador como a capital. Essa divisão foi estabelecida pelos espanhóis a partir de 1621." Veja mais sobre "O que foi a União Ibérica?" em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/oque-foi-uniao-iberica.htm Essa divisão durou até 1774, quando o Marquês do Pombal decretou a unificação. 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Ralegh conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio. 1590 - Barreto (2006; 2012) 35, ao narrar a história de Viçosa do Ceará, diz que, por volta de 1590, franceses provenientes do Maranhão estabeleceram-se na Grande Serra, firmando suas bases junto às principais lideranças Tabajaras. Esses franceses, em número de 16 milicianos, tinham no comando o seu compatriota de nome Adolf Montbille (Adolphe de Montville). Lideravam os nativos o índio Jurupariaçu e o irmão de nome Irapuã, também conhecido por Mel Redondo, se bem que o primeiro tivesse suas possessões no reduto de Biapina ou Ibiapina (p. 12). Atraídos por notícias de existência de ouro, o reduto transformou-se em verdadeira cidade, com cerca de 12 mil indivíduos, incluindo rabinos, calvinistas e católicos se confundindo em suas batalhas de pregação (p. 14). Por 14 anos os franceses estiveram ali, quando chega Pero Coelho, em janeiro de 1604, acompanhado de cerca de cinco mil indivíduos, entre militares, índios validos, velhos, mulheres e crianças. Ao cabo de seis meses os lusos triunfam; os franceses, aprisionados e algemados, são conduzidos a Pernambuco. Antonio Noberto apresenta-nos o quadro ‘O Potengi e o Rifoles”, quadro idealizado por ele, após pesquisa, e pintado em espátula pelo grande artista plástico Rogério Martins. Retrata a região da foz do rio Potengi por volta de 1594, onde alguns anos depois foi fundada Natal, a capital do Rio Grande do Norte. No detalhe do canto inferior direito, observa-se o Rifoles, ancoradouro onde atracavam as naus do capitão francês Jacques Riffault, de onde partiu para começar a colonização do Maranhão.

BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. 35


Fonte: Reportagem sobre a França Equinocial nos 403 anos de São Luís. https://www.youtube.com/watch?v=kQ-SpiIYRwo 1590, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luís, no Maranhão. É dele a primeira ideia de ocupação do Maranhão. Em 1594, animado pelas boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a outros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro36 1593 - Para Bueno (2012)37, Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84). Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: já fazia viagens regulares à região havia alguns anos, e perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua tripulação. De acordo com o sitio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 159010. 1594 - Fracassadas novas tentativas de colonização do Maranhão, levadas a cabo por Luís de Melo da Silva (1554), pelos filhos de João de Barros (1555) e por Luís de Gamboa (1573), o golfo Maranhense tornase abrigo de piratas normandos; entre eles, Jacques Riffault tenta convencer a Coroa da possibilidade de ali instalar uma colóNIA definitiva; 1594 - O dia era 26 de julho, o ano 1594, o local, a Ilha de Sant’ Ana: Sr. Redactor, amigo. – Começo esta n´um dia memorável para a província: o em que Jacques Rifault e Charles dês Vaux, primeiros franceses vindos ao Maranhão, chegaram à nossa ilha de Sant’ –Anna, nome que lhe pozerão, com seus quatro capuchinos, no dia desta santa.38 Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança39. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas” 40. Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França.41 A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.42 1594 – O capitão Jacques Riffault, que se estabeleceu na Ilha Grande, retorna à França, deixando um seu imediato, de nome Carlos, Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine. De acordo com o sitio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 1590. Animado pelas boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, 36

INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E MARANHÃO http://www.ahimtb.org.br/confliext2.htm BUENO, Eduardo. BRASIL, uma História. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro: Leya, 2012 38 DIÁRIO DO MARANHÃO, 7 de agosto de 1881. Secção Geral – Victória. Mearim, 26 de julho de 1881 39 http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html 40 http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 41 http://planeta-brasil-turismo.blogspot.com.br/2010/05/maranhao-historia.html 42 A invasão francesa no Maranhão. http://deywison3d.blogspot.com.br/2009/04/invasao-francesa-no-maranhao.html 37


se associou a outros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro. - Jacques Riffault é personagem constante em nossa história. Desde 1594 estabelecera em Upaon-açu (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles - Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine -, que havia conquistado a amizade dos silvícolas, e tinha inclusive o domínio da língua nativa43 . Capistrano de Abreu (in Salvador 2010, servindo-se de Abbeville) 44 conta que Riffault partiu com tres navios para o Brasil em 159445, disposto a fazer conquistas com o auxílio de Ouirapiue, Pau Seco. Seu principal navio encalhou; dissensões e desarmonias privaram-no do outro; reduzido a um só, abaixou muitos companheiros em terra e voltou para França. Por sua vez Feliciano Coelho anuncia apenas que dera a costa um navio de Rifoles. Devia ter sido seu companheiro o língua Migan, morto na batalha de Guaxinduba depois de ter escapado quatorze vezes das mãos dos portugueses. Jacques Riffault Comerciante y aventurero de origen normando. Fue el primero en formular un proyecto para la ocupación francesa del norte de Brasil. El 14 de mayo de 1594 partió al mando de tres naves con el objetivo de efectuar las primeras conquistas de dicha ocupación. Consiguió llegar a Maranhão, pero "dois dos seus navios se perderam nos baixios de Upaon-Mirim (ilha de Santa Ana)". Debido al contratiempo, el capitán regresó a Francia, manteniendo su proyecto todavía pero sin llegar a culminarlo, pues murió poco tiempo después. Sin embargo, los supervivientes de las dos naves naufragadas fueron acogidos por los tupinambás: participaron junto a ellos en la guerra contra los tabajaras, aliados de los portugueses. Entre los náufragos se encontraba Charles de Vaux, quien volvió a Francia y se convirtió en "um grande propagandista das potencialidades da região maranhenses, que possuía algodão e pimenta, bem como condições para o cultivo da cana-de-açúcar, além de contar com a predisposição dos tupinambás". (COUTO, 1997: 188)46 Navegante francés, "De Vaux, que esteve anos perdido entre os índios da nação tupinambá, na sua volta à França teria convencido Henrique IV a iniciar os planos para a ocupação desta parte da América Portuguesa. Em 1611, a Regente francesa Maria de Médici passa instruções gerais para a efetivação do projeto. A frota de três navios e cerca de quinhentos homens saiu do porto de Cancale, na Bretanha, em março de 1612, fazendo uma primeira escala na ilha de Fernando de Noronha, depois na Capitania do Ceará. Os franceses chegam ao Maranhão em julho de 1612, ocupando uma das ilhas menores (Santa Anna) e logo passam à Ilha Grande, onde fundam imediatamente uma fortificação". (CARDOSO, 2011, p. 326; CARDOSO, 2012, p. 128) - Meireles (1982, p. 34) 47 traz que David Migan, natural de Vienne, no Delfinado, há tanto já vivia em Upaon-Açú. Vamos encontrar Jacques Riffault na hoje Alcântara, cuja ocupação remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado "Tapuitapera" ("casa dos Tapuias") à época de sua chegada. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos48, esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612).49 Os tradutores, os “truchements“, podiam ser em número suficiente para contatos de comércio, porém, para a fundação de uma colônia duradoura, os franceses levaram ao Brasil crianças que deveriam aprender a língua indígena nas aldeias: 43

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o SALVADOR, Frei Vicente do. HISTÓRIA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, 2010, p. 254 45 Wehling e Wehling (1994) afirmem que sua chegada teria ocorrido em 1584. WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José C. de. FORMAÇÃO DO BRASIL COLONIAL. Rio de Janeiro: Nova Fonteira, 1994, p. 75 46 Couto, Jorge, "As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projecto da França equinocial" en Ventura, Maria da Graça Mateus (coord.), A União Ibérica e o Mundo Atlântico. Lisboa: Edições Colibri, 1997, pp. 171-194. 47 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 48 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975. 49 http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_S%C3%A3o_Sebasti%C3%A3o_de_Alc%C3%A2ntara 44


O melhor “truchement“ da colônia foi David Migan de Dieppe (para o prenome ver Abbeville Historia, 32 r.), um marinheiro que vivia no Brasil desde o tempo da sua juventude (“qui dés son enfance avoit tousiours demeuré dans ce païs” Claude, Histoire,153 v.). Migan foi o seu nome verdadeiro, talvez um pouco alterado para se pronunciar como “mingau“, produto conhecido na colônia (“bouillie de farine”, ver Yves d’Évreux Suitte, 4 r./Denis 12). Ele foi chamado nos momentos de conflitos entre índios e europeus (Suitte 150 v./Denis 151 r. seguintes) e pôde restabelecer a autoridade dos franceses. Voltou com o Padre Claude à França, sendo provavelmente quem, com os índios, apresentou uma dança para Marguerite de Valois. Malherbe fala dessa dança em uma carta de 15.04.1613, citada em Leite de Faria (1961, p. 192193). Essa dança é também ilustrada numa folha volante de que falaremos depois. Sabemos que Migan morreu na batalha entre portugueses e franceses, em 1615. O segundo tipo social do “truchement” é representado por Charles des Vaux, que esteve no Brasil em 1594, com uma expedição do capitão Riffault, no Maranhão, da qual fala Abbeville no início do seu livro. Ele ficou ali e vivia como os índios, segundo os seus costumes “se façonnant tousiours aux moeurs e coustumes du païs” (Abbeville, Histoire, 13 r.) Voltou à França para convencer a corte de fundar uma colônia na região. De volta ao Brasil, foi capturado nas guerras com os portugueses e morreu na cadeia em Portugal. Foi um outro tipo de “truchement“: pode ter sido o segundo filho de uma família nobre sem esperança de herdar o domínio e queria fazer fortuna na América. (OBERMEIER , 2005) 50.

Para Rubem Almeida (1923) 51, esta se constitui a terceira etapa da conquista do Maranhão: a segunda foi a das tentativas malogradas, ocorridas entre 1539 e 1594: Mais afortunado, porém, foi o Frances Riffault, a quem as próprias tespestades (sic)– diz-se – aos portugueses tão inimigas, vieram atirar ao littoral onde dominava a forte nação dos Tupinambás, iniciando assim, a terceira etapa – a do Maranhão preza que franceses, holandezes e verdadeiros donos vão disputar... É daí, parece-nos razoável affirmar, que verdadeiramente começamos a ter história. A colonização é obra, ora de leigos, fidalgos alguns como Ravaediére, piratas outros, como de Vaux, ora de missionários que se entregam à catechese. Miganville, como chamava os europeus, foi a única povoação durante muito tempo entre o Rio Grande do Norte, onde havia o Forte dos Reis Magos e o Maranhão. Ao longo dos anos, os povos que ali habitavam, construíram um patrimônio histórico que existe até os dias de hoje. Merece destaque a Igreja de São João Batista (construída em 1.612, data da fundação da comunidade e de São Luís) e seu entorno, como, poços de água, dentre eles os de Dona Jansen, que abastecia a cidade, o cemitério que servia também os vilarejos, como, o Anil, Angelim e Tabocal. 1602 - Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière com o navegador Jean Mocquet parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto.

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OBERMEIER, Franz. Documentos inéditos para a história do Maranhão e do Nordeste na obra do capuchinho francês Yves d’Évreux Suitte de l’histoire (1615). BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI, sér. Ciências Humanas, Belém, v. 1, n. 1, p. 195-251, janabr. 2005. 51 ALMEIDA, Rubem. No decorrer de 424 anos – ligeira synthese histórica do Maranhão. IN DIÁRIO DE SÃO LUIS, 28 de julho de 1923.


1603 - Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Guérard 52. Meireles (1982, p. 34) 53 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Guérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. 1603 – Açorianos no Maranhão S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não. “SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi, sobretudo, na Ilha Terceira onde se generalizou a sua tradição. Tudo leva a crer que o seu nome original seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário seria um navio que andava entre as Ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa nos baixios do Maranhão... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”. Muito embora haja informação que esse naufrágio se deu nos meados dos 1700, a presença açoriana no Maranhão é bem anterior – cerca de 150 anos antes -, e as comemorações dos 400 anos da migração para estas bandas também não contempla as primeiras presenças, que vem desde 1603... 1604 - O primeiro ataque holandês deu-se contra a cidade de Salvador, primeira capital do Brasil. O objetivo dos holandeses era conquistar a capital, mas fracassaram. Após isso, entre 1609 e 1621, Portugal e Holanda mantiveram trégua, mas, a partir de 1621, a hostilidade entre os dois países retornou. 1605 - Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho: “Luis, a todos os que virem a presente. Saúde.O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai [...] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade [...] 54 Em 1605, Henrique IV nomeou La Ravardière “tenente-general do rei para as terras da América, desde o rio das Amazonas até a ilha de Trinidad”, região descoberta pelos espanhóis, na qual haviam tentado algumas vezes se estabelecer, especialmente em Caiena, onde se situavam as terras compreendidas entre o Vicente Pinzón e o Amazonas, reivindicadas pelos portugueses e ocupadas, nessa data, em vários pontos, por ingleses e holandeses. Mas foi encarregado, logo em seguida, de verificar no 52 (MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982) 53 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 54 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982


Maranhão dos portugueses o que havia de verdadeiro nos relatos de Charles des Vaux a propósito das riquezas do país e das excelentes intenções dos índios, que, dizia Des Vaux, queriam “receber o Cristianismo” e pediam ao rei da França que lhes “enviasse alguma pessoa de qualidade para defendêlos de todos os inimigos”. Ao voltar, La Ravardière desistiu de sua concessão na Guiana e “solicitava outras Cartas patentes para fundar uma colônia ao sul da linha equinocial. As cartas lhes foram concedidas em 1º de outubro de 1610, com a condição expressa de ocupar apenas cinquenta léguas de cada lado do primeiro forte que construísse. Foi então que, extrapolando seus poderes, empreendeu a “grande tentativa frustrada de uma França equinocial” (C. da Silva, § 34). A companhia que devia arcar com as despesas da expedição só pôde ser organizada em 1612, com o apoio da família Razilli. Numerosos cavaleiros alistaram-se. La Ravardière, François de Razilli e Nicolas de Harlay de Sancy foram nomeados “tenentes-generais do rei nas Índias Ocidentais e nas terras do Brasil” pela regente Maria de Médicis, que lhes concedeu ao mesmo tempo estandartes e divisa. IN Questões de Limites Guiana Francesa

1607 Em 1607 - ou 1609 - Carlos Des-Vaux retorna à França cansado de esperar por Riffault, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis55. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault: 55 Filho de Henrique IV, tinha apenas oito anos de idade quando o pai morreu. A nobreza pensou em assumir o trono mas a rainha mãe Maria de Médicis assumiu a regência em nome do filho até que ele completasse a maioridade. No ano de 1624 foi nomeado o cardeal Richelieu como primeiro-ministro com o apoio da rainha mãe Maria de Médicis. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande


“[...] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento [...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”. 56

Le pays des Amazones : l'El-Dorado, les terres à caoutchouc : Santa-Anna Nery, Frederico José de, 1849-1902 : Download gratuito, empréstimo e streaming : Internet Archive

1608 - Segundo o sócio do IHGM Antonio Noberto, é confirma a presença de franceses pelo Padre Luis Figueira, em sua Relação do Maranhão (de 1608): "Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão". 57 1609 - Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis58. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault:

56 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 57 conforme Antônio Noberto original deste documento está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904. 58 Filho de Henrique IV, tinha apenas oito anos de idade quando o pai morreu. A nobreza pensou em assumir o trono mas a rainha mãe Maria de Médicis assumiu a regência em nome do filho até que ele completasse a maioridade. No ano de 1624 foi nomeado o cardeal Richelieu como primeiro-ministro com o apoio da rainha mãe Maria de Médicis. http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_Moderna#Henrique_IV.2C_o_Grande


“[...] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento [...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”. 59 De acordo com Moreira (1981) 60 essa concessão foi uma farsa dos franceses, pois na verdade eles não tinham credencial nenhuma e tanto é verdade, que Maria de Médicis, que reinava em nome de seu filho, ainda menor, Luís XIII, estava há muito tempo negociando o casamento dele com a princesa Ana d’Austria, filha de Felipe III, que era portador das coroas Espanha e Portugal. Nutria esse desejo de muito tempo e por isso, não iria autorizar um aventureiro e conhecido pirata Daniel Ravardiere, inimigo da sua religião, a invadir terras que eram da coroa portuguesa, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI, há 118 anos, isto é, antes da descoberta do Brasil. La-Ravardière, associa-se a Francois de Razilly, Senhor de Razilly e Aunelles, ajudante de ordens do Rei, gentil homem de sua câmara, aparentado com o cardeal de Richelieu; Nicolas de Harlay, Senhor de Sancy e Barão de Molle e Gros-Bois, membro do Parlamento e do Conselho do Rei; além deles conseguiu o apoio e a proteção do Senhor de Dampulho, Almirante de França e Bretanha, primo do Rei, e do abastado Auber de Claumont. As "vantagens" de colonização do Maranhão eram propagadas desde 1594, quando alguns náufragos franceses liderados por Jacques Riffault se estabeleceram na região. Charles des Vaux, aprisionado no Ceará, regressou à França e difundiu a ideia de que se criasse uma colônia francesa no litoral.61 Em “A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927, de Fulgêncio Pinto o que segue62 – Um conto de Natal: “Era o ano de 1609, em Saint Malo, ilha de França, cidade dos corsários. Numa taberna reuniam-se muitos homens a gritar, a falar alto.” [...] De repente surge um cavalheiro de olhos azues, porte esbelto e fidalgo, vestindo um gibão scarlate, trazendo sob a cinta de couro de serpente, um punhal de cabo de prata. Ele chegava de longe, de outras terras, de lugares desconhecidos. - De onde vem? - Quem será ele? - Para onde irá? - Parece-me que o conheço!... - Creio que fazia parte da tripulação de Jacques Riffault. - Não estás enganado? - Por Deus, que não. Não me são estranhos, este roto e esta voz. Eram estes os commentarios em torno d figura simpatica daquele homem que ali entrara, pedira um copo de cidra, e o esquecera em cima da mesa, entretendo-se a examinar um velho mapa. Ele havia chegado em companhia de alguns indios, dois dias antes numa das naus que ali estavam ancoradas no porto.

59 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 170-171, nota de pé-de-página; MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 60 MOREIRA, José. Fundação Da Cidade De São Luís. In Jornal o Estado do Maranhão, 1981, p. 6 61 http://www.infoescola.com/historia/franca-equinocial/ https://books.google.com.br/books?id=vZ1DayOctt4C&pg=RA1-PA30&lpg=RA1PA30&dq=jacques+riffault+%2B+maranh%C3%A3o&source=bl&ots=ewVavOAMv&sig=E9q4gaga6KTIoI7i1pdioEAUyGo&hl=ptBR&sa=X&ved=0CCEQ6AEwATgKahUKEwiT3Pv85bfHAhUBEpAKHbfxA1U#v=onepage&q=jacques%20riffault%20%2B %20maranh%C3%A3o&f=false 62 PINTO, Fulgêncio. Um conto de Natal. In A PACOTILHA, São Luis, 27 de novembro de 1927


Ali viam-e homens de todos os aspectos, de todas as raças, de todas as nacionalidades, de todas as cores, desde os mais ferozes até os mais pacíficos. Misturavam-se as línguas; ora ouviam dialetos sonoros, ora idiomas duros e quasi imperceptíveis. A fumaça dos cigarros diluindo-se no éter deitava uma iaca enjoativa, acre, misturando-se com o cheiro de alcatrão e da maresia. Aquela velha casa onde se reunia tanta gente, era a taberna cuja porta encimava garbosamente este letreiro’Au rendez vous dês corsaires’ sobre uma grossa chapa de ferro. Em frente desdobrava-se uma paizagem marítima, banhada pela margem do oceano aformoseando o horizonte, quer nas manhãs magníficas quer nas tardes silenciosas, quando o sol com seus aparatos de riquezas sumiam-se no mundo do sonho e do nada. Quatro mesas enormes estavam cercadas de bancos de carvalho. Apesar da grita o homem que entrara ha pouco, esquecia-se da cidra e continuava a estudar o mapa com muita atenção. - Diabo! Quem será aquele cavalheiro? Gritou um corsário. - Não o incomodeis berrou Tricon, pronto para fazer calar com um murro, o curioso. A’ porta da taberna assomaram mais dois cavalheiros. Um era François Dupré, filho único de um rico armador de Saint Malo, que havia conquistado nome e fortuna no Corso; o outro Raul Renaud, antigo professor em Paris, na Universidade de Sorbona, conhecido como sábio em sciencias naturaes. Entram e sem dirigir palavras aos demais que ali se embebedavam, tomam assento justamente, diante do desconhecido que lia o mapa. - Carlos Des Vaux!... Vós aqui! Já vos tínhamos como morto!... gritou admirado Dupré. O homem, espantado ouvia-lo o seu nome levantou a vista, e reconhecendo no jovem, o pequeno Dupré, o garoto que deixara ainda imberbe quanto partira para as suas correrias pelo oceano, pozse de pé e estendeu-lhe as mãos entusiastamente. - Bravo Dupré! Estaes um perfeito homem. - Onde andaveis vós? - Cruzando os mares – responde o pirata. - O que tanto vos prende a esse papel - Um sonho, pequeno. - De amor? - Não, de conquista. - Que papel é esse Des Vaux?, Um mapa? - Sim, um mapa. - E que sonho de conquista será esse? Dupré apresentou-lhe o seu velho amigo e mestre Raul Renaud. -Ouçam-me o grande sonho – pediu Des Vaux. Contentes achegaram os bancos de carvalho, e debruçados da mesa, quedaram-se sobre o mapa que Carlos Des Vaux tinha entre as mãos, apontando-lhes ali, num belo discurso, os encantos de uma terra prodigiosa e moça, para la do oceano, em que ele havia havia habitado por muito tempo entre os índios. Quinze anos eram decorridos, desde o naufrágio de Jacques Riffault num dos baixios ao norte do Brasil, nas proximidades da costa do Maranhão. Quinze anos aquele homem de olhos azues, cor bronzeada, pele queimada pelo sol caustigante dos trópicos, que ali estava a conversar animadamente, errara pelas matas da formosa terra moça pelos litoraes, pelos ínvios sertões, e depois de haver alcançado Victoria brilhantes ao lado dos índios nos conflitos de Hibiapaba, resolvera fixar residência no ponto mais pitoresco numa ilha arborizada, seguro da amizade dos Tupinambás, tornando-se o homem de confiança de toda a tribo, que lhe adirava a bravura e a bondade do coração.


Era ali a formosa ilhados Tupinambás, ilha d sol, vivendo na exuberância da sua luz, tecendo magníficos cortinados nas franças dos arvoredos selvagens, cheia de mistérios e explendores, flora maravilhosa, vales rumorosos, que ao revelhar-lhes os encantos, o pirata, sentia uma certa transfiguração de espirito, e o cérebro embriagava-se de sonhos magníficos. Era ali que Japiassú grande amigo e aliado de Des Vaux, era chefe, principal, irradiando o seu alto poder, de Juniparan, a aldeia mais notal de quantas existiam na ilha. Terminada a narração ele o pirata explicou aos amigos que voltava à pátria afim de oferecer à sua magestade cristianíssima Henrique IV, rei de França e senhor de Navarra, não só a posse do território fertilíssimo como também a amizade e obediência dos Tupinambas. Os três homens esquecidos do tudo quanto os cercava, confabularam em armar uma expedição, em demanda da terra previlegiada, expedição que mais tarde foi levada a efeito auxiliada pelo conde de Sulley, então governador da Bastilha, conselheiro de sua majestade Henrique IV, sob o comando do senhor de La Ravardiere, que foi ali fundar uma cidade em honra a Luis XIII, na regência de Maria d Medicis. [...] onde fica essa formosa terra tão linda, tão moça de Carlos dês Vaux. [...] essa formosa terra moça e previlegiada é S. Luis é o Maranhão [...] - É Maranhão!... - E quem era Carlos Des Vaux? Era um Frances, amigo do Maranhão que sacrificara tudo, para fundar aqui a França Equinocial! Beatriz Perrone-Moisés (2013, citada por Faleiros, 2013, em "Franceses no Maranhão: história de intérpretes”) 63 , retoma a trajetória de Charles des Vaux, jovem nobre responsável pela ideia da fundação da França Equinocial no século XVII, assim como a história de David Migan, jovem intérprete francês que viveu entre os índios tupi. O centro do argumento de Beatriz Perrone-Moisés é que "Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter". Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da França Equinocial, a antropóloga lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista ainda pouco visíveis para a historiografia oficial: Depois de serem expulsos pelos portugueses da Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os franceses se voltaram para a região do Maranhão. Embora não atingida pela colonização portuguesa, ela já havia sido brevemente explorada por Aires da Cunha, Diego Nunes e Luís de Mello, a serviço do rei de Portugal. (FALEIROS, 2013). Vamos a outros textos: Comerciante y aventurero de origen normando. Fue el primero en formular un proyecto para la ocupación francesa del norte de Brasil. El 14 de mayo de 1594 partió al mando de tres naves con el objetivo de efectuar las primeras conquistas de dicha ocupación. Consiguió llegar a Maranhão, pero "dois dos seus navios se perderam nos baixios de Upaon-Mirim (ilha de Santa Ana)". Debido al contratiempo, el capitán regresó a Francia, manteniendo su proyecto todavía pero sin llegar a culminarlo, pues murió poco tiempo después. Sin embargo, los supervivientes de las dos naves naufragadas fueron acogidos por los tupinambás: participaron junto a ellos en la guerra contra los tabajaras, aliados de los portugueses. Entre los náufragos se encontraba Charles de Vaux, quien volvió a Francia y se convirtió en "um grande propagandista das potencialidades da região 63

PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013. FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S010340142013000300020.


maranhenses, que possuía algodão e pimenta, bem como condições para o cultivo da cana-deaçúcar, além de contar com a predisposição dos tupinambás". (COUTO, 1997: 188) COUTO, JORGE, "AS TENTATIVAS PORTUGUESAS DE COLONIZAÇÃO DO MARANHÃO E O PROJECTO DA FRANÇA EQUINOCIAL" en Ventura, Maria da Graça Mateus (coord.), A União Ibérica e o Mundo Atlântico. Lisboa: Edições Colibri, 1997, pp. 171-194. http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/1916 França Equinocial - Os Franceses no Norte e Nordeste Por Alexandre de Souza Costa* No início do século XVII, ainda havia pontos do litoral brasileiro mais frequentados pelos corsários franceses do que pelos portugueses, como era o caso do Maranhão. Em 1594, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Alguns anos depois, um dos tripulantes, Charles des Vaux, conseguira voltar a França, e este fizera uma intensa propaganda aos proprietários dos armadores da Normandia e Bretanha (Norte da França) para que se criasse uma colônia francesa no Maranhão. Essa ideia foi aceita com entusiasmo por Daniel de la Touche, Senhor de La Ravardière, que já havia andado pelo litoral da atual Guiana, em viagem de exploração em 1604 com Jean Mocquet. http://www.geocities.ws/o_caicara/edicao_06/mat_06_07.htm Antes da "descoberta" de Natal pelos portugueses, havia nesta cidade caravanas de corsários fazendo contrabando, principalmente de pau-brasil e muitas outras madeiras, além de pássaros silvestres e de até mesmo de tabaco. [...] Dentre os corsários que por esses lados estiveram, estava Jacques Riffault que, com o passar do tempo o local onde ele ancorava a sua nau passou a ser chamado de Refoles ou mesmo Rifoles. [...] Jacques Riffault, depois de Natal foi para São Luis, no Maranhão. http://nataldeontem.blogspot.com/2009/02/jacques-riffault-refoles.html Brasil Colônia 1594 à 1682 - Revisão de História: Brasil Colônia 1594 à 1682. Os franceses Jacques Riffault e Charles Vaux instalam-se no Maranhão depois de naufragar na costa da região. O governo francês os apoia e incentiva a criação de uma colônia no território, a França Equinocial. Bittencourt (2008, p. 64)64 informa que Jacei, filha do cacique Japiaçu era casada com Guérard, e que a outra filha, Aracei, casada com o intérprete Sebastien. Des Vaux era casado com “Lua Cheia”, também filha de Jupiaçu. Para Noberto (2016): […] O Forte Sardinha, edificado em local estratégico, elevado e fronteiro ao porto de Jeviré, dava proteção a este ancoradouro (onde atualmente acontece desembarque de quem chega de Alcântara), à feitoria implantada pelo capitão Jacques Riffault e pelo imediato Charles d’Esternou des Vaux, e à povoação onde residia o tradutor e parente do governador de Dieppe, David Migan, no atual Vinhais Velho. E vigiava também a entrada do rio Anil, principal via aquática para o interior […] O nome Ilhinha, aliás, sugere o óbvio, que toda aquela região formava uma pequena ilha, pois margeada por um lado pelo Igarapé da Jansen, que no início dos mil e seiscentos ficou conhecido como rio da Olaria, que se juntava a Lagoa, ao Renascença e ao Jaracati, até se encontrar com o rio Maioba ou Cutim, que mais tarde receberia o nome de rio Anil, ao pé da ponte Bandeira Tribuzzi. A pequena ilha era o abrigo ideal contra invasões, pois enquanto dificultava qualquer ataque inimigo, permitia escape para o interior da Ilha Grande em direção à aldeia de Uçaguaba, que se tornou a Miganville do tradutor francês David Migan, primeira povoação europeia do Maranhão e de toda a região. 64

BITTENCOURT, Joana. ITAGIBA o braço de pedra da França Equinocial. São Luis: Grafic Aquarela, 2008


FORTE DO SARDINHA, QUE PROTEGIA MIGANVILLE (NOBERTO, 2011, 2018)


“[...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan” (NOBERTO SILVA, 2011)65.

Detalhe do plano da barra do Maranhão datado de 1789. Carta nº 182 do catálogo: Mapas e planos manuscritos relativos ao Brasil colonial (1500 - 1822);

ANTONIO LOPES NAS ANTIGAS RUINAS DO FORTE SARDINHA

65 NOBERTO DA SILVA, 2011, disponível em . http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011


vista atual do Porto da Ponta da Areia, antigo Jeviré, a partir da elevação onde existiu o forte Sardinha imagem aproximada).


Índios, farinha e os franceses nos primórdios de São Luís - Ed Wilson Araújo

1612 - 24 de julho, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant' Ana; - 6 de agosto, a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capito Gerard.


- 12 de agosto, sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram missa. - 08 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia. Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D'Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de UpaponAçú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha. “(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114). EUSS-OUAP (EUSSAUAP) – Onçaquaba; Oçaguapi; Uçagoaba; UÇAGUABA - composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107). Das 27 aldeias existentes na Ilha, Eussauap possuia quatro principais "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire". Du Manoir, Riffault, dês Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos66.

66 LIMA, Calos de. HISTÓRIA DO MARANHÃO – A COLONIA. São Luis: Geia, 2006, p. 174.


Através de práticas nômades, de constantes mudanças de localização, os povos Tupinambás desenvolveram distintas práticas alimentícias, que, no entanto, estavam pautadas principalmente em frutos do mar, pois estes escolhiam viver margeando os litorais. Silva (2014, p. 71), , faz um levantamento sobre as contradições do desenvolvimento urbano em São Luís e aponta para a o Vinhais Velho, tendo como descrição a habitação de povos Tupinambás em suas práticas e relações com os franceses. Em Uçaguaba – assim como outros logradouros da então Ilha do Maranhão – esse longo processo de integração com o ambiente fez com que os tupinambá desenvolvessem diferentes hábitos, aprimorassem a sua destreza na agricultura, caça e pesca e diversificassem a sua alimentação. Graças a esse meio e ao grande conhecimento adquirido, os tupinambá e as demais nações indígenas tinham grande variedade de caça, pesca e de extrativismo vegetal de onde tiravam o seu sustento e elaboravam a sua culinária. Caranguejos, assim como diversos frutos do mar, faziam parte de seus hábitos alimentares, reflexo de sua longa permanência pela costa litorânea brasileira. Para além disso, tinham a seu dispor grande abundância de caça. Animais como pacas, peixes-boi e capivaras compunham a sua dieta. Cultivavam roças, de onde extraíam boa parte de seus mantimentos, com boa variedade de frutos, legumes e tubérculos. A mandioca era uma parte importante em sua dieta, da qual faziam a farinha, base de sua alimentação e que despertava também grande interesse nos colonizadores. (SILVA, 2014, p. 71) Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Magestade67, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére 67

João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_velho


deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno68 durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011)69. Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. “[...]Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan” (NOBERTO SILVA, 2011)70.

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Diogo de Campos Moreno (Tânger? 1566? – 1617?) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de Sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno

69 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011 70 SILVA, Antonio Noberto. In Blog de Antonio Noberto O Maranhão francês sempre foi forte e líder. http://antonio.noberto.zip.net/, publicado em 03/11/2011


Antônio Noberto mostra mapa que foi construído a partir dos registros de Claude d’Abbeville. Foto: Honório Moreira

MIGAOVILLE/UÇAGUABA/ALDEIA DA DOUTRINA Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34.


12 – Uçaguaba – Vinhais

MIGANLLE Ou UÇAGUABA

Fonte: ANTONIO NOBERTO – correspondência pessoal


Continuemos com Antonio Noberto: [...] tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia)[...] “Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Outra observação é que em hora nenhuma e em nenhuma narrativa se vê que La Ravardière tenha construído tal forte. Percebe-se que ele já existia. “ 71 Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuíam dois; 1 possuía três. Eussauap possuía quatro: "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: Tatu-Açu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e Tapire-Evire".

71 Matéria do jornalista Evandro Junior publicada no Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11: Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida, disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louiscapitale-de-la-france.html O original deste documento, conforme Antônio Noberto está nos arquivos da Ordem de Jesus Claudio Aquaviva, Maison d'Etudes, Exaten, Baaksen, Limburgo Hollandez. Estas informações estão no trabalho do Barão de Studart Documentos para a história do Brasil especialmente a do Ceará - 1608 a 1625, publicado em Fortaleza em 1904.



É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco, 80 anos antes (cerca de 1835). Araújo 72 às páginas 65-71, no capítulo “O duro desabafo de Mamboré-uaçu” onde os moradores da também espaçosa aldeia de Eussauap, com a presença do honrado católico senhor de Pézieux como hospede do principal Tatuaçu pensavam ter um dos padres capuchinhos ali residindo, [...] era implorada a permanência de um religioso na igrejinha, construída com esse fim. A comissão pastoral, por sua vez, lamentava a impossibilidade de atendê-los de imediato, pois um dos quatro missionários retornaria em breve para a França. Com a perda irreparável ocasionada pela morte recente do padre Ambrósio de Amiens73, restavam dois: um servindo Juniparã e o outro assistia a francezada, ao lado do Forte. “À tarde, após a rotineira fincada da cruz, seguida de uma concorrida missa dominguiera ainda pela manhã, se achegaram d´Razilly com o interprete Des Vaux e d´Abeville, acompanhados pelos principais e comunitários locais e da redondeza, para uma reunião na casa Grande. [...]”(p. 6566). Louis de Pézieux (Delfinado, ? - Maranhão, 19 de novembro de 1614), também referido como Luís de Pizieu, Pezieu ou Pisau, foi um fidalgo francês e um dos mais notáveis integrantes da expedição de Daniel de La Touche (Senhor de La Ravardière) ao norte do Brasil. No contexto da implantação da França Equinocial, participou da fundação da cidade de São Luís, em 1612. Era primo de Carlota Margarida de Montmorency, Princesa de Condé, e ocupou o posto de tenente-general das tropas de Ravardière durante a ocupação do Maranhão. Participou da Batalha de Guaxenduba como comandante dos índios aliados dos franceses em terra. Nesse confronto, ocorrido em 19 de novembro de 1614, foi morto enquanto tentava escapar a nado pela Baía de São José. Por ser católico e pertencer a uma família tradicional, teve sua morte lamentada inclusive pelos inimigos portugueses. Louis de Pézieux – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Mais adiante, sob o título “embaixadores muito loucos’ (p. 95-106), o autor nos dá notícias do embaixador da aldeia de Uçaguaba à França. Carypyra, de idade entre 60 e 70 anos, conforme afirma d´Abeville; estava entre aquele que morreram quando da chegada: “creio tr-lhe escrito que tínhamos aqui seis tupinambás. Um morreu há dois dias, tinha 80 anos [...] todavia pode-se dizer que morreu jovem [...] há ainda dois doentes [...]. (MALHARBE, 1971, p. 558 apud PIANZOLA, 1991, p. 22)74”.

ARAUJO, Joseh Carlos. CRONICAS DE SÃO LUIS – 1612: a fundação da cidade sob o olhar tupinambá. Imperatriz: Ética, 2012. 73 O padre faleceu a 09/10/1612 de uma paralisia com febre ardente que o devorava a partir do final do mês anterior. Foi sepultado na igrejinha junto ao Forte de São Luis, considerado o primeiro óbito notável decorrido no Maranhão. 74 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS: os franceses na conquista do Brasil (século XVII). São Luis: Alhambra, 1991. 72


“[...Tratava-se de um tabajara que fora batizado com o nome de Françoise em homenagem a de Razilly, seu padrinho. Morrera em 29 de abril, de uma catarreira acompanhada de febre e inflamação dos pulmões [...]”

Para Araújo (2012) os três nativos, considerados embaixadores, foram vítimas do frio boreal europeu, com infecção pulmonar: “Caririra, entre 60 e 70 anos de idade, pertencia à nação Tabajara. Respeitado guerreiro, venceu mais de 20 batalhas. Viajou a França recomendado pelos seus pares de Uçaguaba (atual Vinhais Velho). Com o nome cristão François foi o primeiro a falecer (29/04/1613) em solo gaulês.[...] sepultado no Convento dos capuchinhos, em Paris.” (. 117). Cesar Marques (1970)75, em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. ... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).

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MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).


Fica a curiosidade da origem do nome dado à nova vila, criada em função do esbulho das propriedades dos jesuítas, expulsos de toda Portugal – e suas Colônias – pelo Marquês de Pombal. Era comum darem-se nomes às vilas e cidades do Maranhão o mesmo nome de vilas e cidades existentes em Portugal. Vinhais76 é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves. A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas.

Esta antiguidade é reiterada pelo Abade de Miragaia: O chão desta vila e desta paróquia foi ocupado desde tempos remotíssimos, como se infere da lenda ou história da igreja de S. Facundo, que a tradição diz ter sido fundada no tempo dos Godos. (...) Também por aqui se demoraram os Romanos, pois ao norte da vila, no monte da Vidueira, se encontraram em 1872 muitas moedas romanas bem conservadas (...). Perto de Vinhais foi encontrada uma lápide com a seguinte inscrição: JOVI / O.M. / LOVIIS / IAIIX / VOTO / LAP (Lovesia dedicou por voto e com generoso ânimo ao grande Júpiter). Em meados do século XIII surgiu, pela primeira vez, a referência a Vinhais, num documento de doação ao mosteiro leonês de São Martinho da Castanheira: “in villa que vocitant Villar de Ossus in territorio Vinales”. Nesta época, Vinhais não era um topónimo, mas sim um coronómio, visto que designava uma região, um território e não um lugar determinado. Pensa-se que a primeira povoação de Vinhais foi construída num outeiro, próximo da margem direita do rio Tuela, mais a norte do sítio atual, ou no monte da Vidueira, ou, ainda, no monte Ciradela ou Ciradelha, na Serra da Coroa. Estas suposições justificam-se pelo aparecimento de moedas romanas, vestígios de edificações da antiga cidade romana de Veniatia e da estrada militar romana que ligava Braga a Astorga (Asturica Augusti). Vinhais foi, primitivamente, um castro de povoamento galaico, transformado pelos romanos em castro galaico-romano, com a sua fortaleza (oppidum). Certamente, os suevos ou os visigodos cercaram a localidade de muralhas e, com a expulsão dos muçulmanos, Vinhais ficou arrasada, tendo sido repovoada na época da dominação dos reis de Castela e Leão (D. Sancho II e D. Afonso VI). Este repovoamento foi continuado pelos primeiros reis portugueses, nomeadamente com D. Afonso Henriques, D. Sancho I (O Povoador), D. Afonso II e D. Sancho II. Recebeu foral de D. Afonso III, no dia 20 de Maio de 1253, o qual foi outorgado pelo monarca D. Manuel I, em 4 de Maio de 1512. Quando D. João I de Castela invadiu Portugal, em 1384, devido à crise de sucessão suscitada pela morte de D. Fernando, o

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhais_(vila)


castelo de Vinhais foi um dos muitos que hastearam a bandeira castelhana, recusando, assim, obediência ao Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal. No século XVII, Vinhais sofreu bastante com a Guerra da Restauração, devido à sua localização geográfica, tal como conta Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno: Em 1666, achando-se em Lisboa o III conde de S. João da Pesqueira (futuro 1º Marquês de Távora, criado por D. Pedro II Regente, de 7 de Janeiro de 1670), governador de Entre Douro e Távora (...). entretanto, o general galego D. BALTAZAR PANTOJA, pôs a ferro e fogo a província de Trás-osMontes. Em 1 de Julho 1666 entrou por Montalegre, no dia 13 de Julho caíu sobre Chaves, no dia 14 de Julho os lugares de Faiões e Santo Estêvão, defendidos pelo sargento-mór ANTÓNIO DE AZEVEDO DA ROCHA, cometendo barbaridades. Recolhendo-se D. BALTAZAR PANTOJA a Monterey, praça galega ao Norte de Verim, e passados poucos dias volveu sobre Portugal, entrando por Monforte, veio pôr cerco a Vinhais, cercando com o seu exército o castelo, que era defendido pelo governador ESTÊVÃO DE MARIS, com os habitantes da vila e mais 50 auxiliares. 1 Este acontecimento ficou eternizado numa inscrição que, ESTÊVÃO DE MARIS, GOVERNADOR DES / TA VILA DE VINHAIS, Fº DE Rº DE MORAIS DE TIO / ZELO, MANDOV FAZER ESTAS CASAS / NA E. DE MDCCVI (?) QUANDO PANTOXA / G L DO EXÉRCITO DE GALIZA COM O / MAIOR Q. SE VIO NESTA PROVÍNCIA / E LHE DEFENDEO A MURALHA CÕ / A GENTE NOBRE DA VILA E POV / QVA MAIS DE GRÃ E CÕ PERDER MVTÃ / LEVANTOU O SITIO E QUEIMOU AS / CASAS QUE FICAVÃO FORA DA MVRALHA. 1612 - Outra de autoria de JOSEH CARLOS ARAUJO77 nos traz à página 65-71 o capitulo “O duro desabafo de Mamboré-uaçu” onde os moradores da também espaçosa aldeia de Eussauap, com a presença do honrado católico senhor de Pézieux como hospede do principal Tatuaçu pensavam ter um dos padres capuchinhos ali residindo, “ [...] era implorada a permanência de um religioso na igrejinha, construída com esse fim. A comissão pastoral, por suavez, lamentava a impossibilidade de atendê-los de imediato, pois um dos quatro missionários retornaria em breve para a França. Com a perda irreparável ocasionada pela morte recente do padre Ambrósio de Amiens78, restavam dois: um servindo Juniparã e o outro assistia a francesada, ao lado do Forte. “À tarde, após a rotineira fincada da cruz, seguida de uma concorrida missa dominguiera ainda pela manhã, se achegaram d´Razilly com o interpetre Des Vaux e d´Abeville, acompanhados pelos principais e comunitários locais e da redondeza, para uma reunião na casa Grande. [...]”(p. 65-66).

ARAUJO, Joseh Carlos. CRONICAS DE SÃO LUIS – 1612: a fundação da cidade sob o olhar tupinambá. Imperatriz: Ética, 2012. 78 O padre faleceu a 09/10/1612 de uma paralisia com febre ardente que o devorava a partir do final do mês anterior. Foi sepultado na igrejinha junto ao Forte de São Luis, considerado o primeiro óbito notável decorrido no Maranhão. 77


1613 - “embaixadores muito loucos’ (p. 95-106), o autor nos dá notícias do embaixador da aldeia de Uçaguaba à França: Carypyra, de idade entre 60 e 70 anos, conforme afirma d´Abeville; estava entre aquele que morreram quando da chegada: “creio ter-lhe escrito que tínhamos aqui seis tupinambás. Um morreu há dois dias, tinha 80 anos [...] todavia pode-se dizer que morreu jovem [...] há ainda dois doentes [...]. (MALHARBE, 1971, p. 558 apud PIANZOLA, 1991, p. 22)79”. “[...Tratava-se de um tabajara que fora batizado com o nome de Françoise em homenagem a de Razilly, seu padrinho. Morrera em 29 de abril, de uma catarreira acompanhada de febre e inflamação dos pulmões [...]” Para Araujo (2012) os três nativos, considerados embaixadores, foram vítimas do frio boreal europeu, com infecção pulmonar: “Caririra, entre 60 e 70 anos de idade, pertencia à nação Tabajara. Respeitado guerreiro, venceu mais de 20 batalhas. Viajou a França recomendado pelos seus pares de Uçaguaba (atual Vinhais Velho). Com o nome cristão François foi o primeiro a falecer (29/04/1613) em solo gaulês.[...] sepultado no Convento dos capuchinhos, em Paris.” (. 117). 1614 - Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58)80. A residência dos jesuítas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com CAVALCANTI FILHO (1990) a missão jesuítica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 31). O sócio do IHGM, Turismólogo Antonio Noberto refez o mapa do português João Teixeira Albernaz, de1615 - provavelmente baseado naquele de Daniel de LaTouche -, e teve a gentiliza de me fornecer uma cópia, ‘reeditada’ por ele: A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com Cavalcanti Filho (1990)81 a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo 79

PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS: os franceses na conquista do Brasil (século XVII). São Luis: Alhambra, 1991. 80

MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987.

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CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL. São Luís: SIOGE, 1990.


indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 31). Cesar MARQUES (1970), em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. ... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).

1616 - Afirma GAIOSO (1970) que a cidade de São Luís só seria fundada em 1616, por Jeronimo de Albuquerque, em torno da fortaleza do mesmo nome, e iniciada sua povoação naquela ocasião: "Livre o Maranhão n'aquelle dia de toda a sugeição franceza [9 de janeiro de 1616, quando Alexandre de Moura se fez a vela para Pernambuco levando consigo o senhor de la Ravardieire] , aplicou Jeronimo de Albuquerque todo o seu cuidado na fundação de huma cidade n'aquelle mesmo sitio; dentro de pouco tempo adiantou consideravelmente a povoação, e reduzindo a sua nova fundação á regular forma de republica, debaixo da proteção de Maria Santissima com o augusto titulo de N. Sra da Victoria, em memoria da que tinha alcançado sobre os Francezes, lhe declarou a invocação de S. Luiz, ou porque estando já tão conhecida aquella ilha pela participação da sua fortaleza, ou porque não quiz confundir o nome com a mudança delle, ou finalmente porque se lisongeava na conservação da mesma memoria, segurar melhor as suas recomendaçoens na posteridade. E como destes dias por diante se entrou a intitular a fortaleza com o nome de S. Felipe, he de presumir o fizessem por lizonja á Majestade de Felippe II, a quem então obedecia a monarquia Portugueza." (p 73), O que é confirmado por CONDURÚ PACHECO (1968), quando afirma que o Forte de São Luís é transformado na cidade de São Luís pois “... Repartidas as terras pelos portuguêses, o Capitão-mór


Jerônimo de Albuquerque formou logo o seu Govêrno e mandou que mudassem aqueles tugurios em mais agradáveis edifícios, construindo ‘uma bem regulada cidade’ (Moraes, História da Companhia de Jesus no Maranhão, p. 75)....”(p. 10). Na “Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão”, Jacinto de Carvalho afirma ser Jerônimo de Albuquerque, livre a influência de Alexandre de Moura, o fundador de São Luís: “... deu princípio a uma cidade em o mesmo sítio em que os franceses tinham o seu forte e reparos, por ser sítio muito acomodado, assim para a defesa de inimigos, como por ter bom porto e ancoradouro seguro para navios; fica entre dous rios, dominando a ponta em que está o forte uma espaçosa enseada que faz o mar entre a terra e aponta de Nossa Senhora da Guia e a terra da Ponta da Areia e ilha de São Francisco, a mais abundante de peixes e mariscos que se tem achado em todas a costa do domínio de Portugal”. (p. 90). 1621, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais (West-Indische Compagnie, em holandês), empresa responsável pelo desenvolvimento de um empreendimento colonial holandês nas Américas. O grande objetivo dessa empresa era controlar a produção de açúcar no Brasil e os postos de comércio de escravos na África. Com isso no horizonte, a primeira invasão holandesa foi realizada em 1624. Nessa ocasião, os holandeses voltaram-se novamente contra Salvador, conseguindo conquistar a cidade após 24 horas de batalha. 1621, a América portuguesa encontra-se então dividida em duas grandes unidades administrativas, o Estado do Maranhão, ao norte, cuja capital era a cidade de São Luís, e o Estado do Brasil, ao sul, cuja capital era a cidade de Salvador. Estas duas unidades políticas eram independentes entre si. O Estado do Maranhão também estava dividido em duas capitanias reais, Capitania do Maranhão e Capitania do Grão-Pará, conquistadas por ordem direta de Filipe III. Existiam outras capitanias particulares, criadas por mercê real e cujas mais importantes eram: Tapuitapera, Cametá, Caeté, Ilha de Joanes e o Cabo do Norte (este último, mais ou menos equivalente ao atual Estado do Amapá).

→→→ Os portugueses saindo de Recife/PE, expulsaram os franceses de São Luis do Maranhão, em 1615. Ocuparam a foz do rio Amazonas, em 1616. E subiram o rio Amazonas em 1637 estabelecendo os limites Oeste entre as posseções espanholas e portugueses, no rio Nepo. Fonte: VAZ e VAZ 2011, obra citada, VAZ, 201182

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Fundação Do Maranhão São Luis/Vinhais. In II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES Mesa-redonda: Comemorações Históricas: São Luís 400 anos: Ciência, Arte e Humanidades 30/05/2011


Fonte: VAZ e VAZ 2011; vaz 2011, obras citadas

A Carta Régia de seis de agosto de 1653 repartiu-o em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; GrãoPará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém. Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do GrãoPará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí. Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão. 1624 - invasões holandesas no Brasil se deram durante o período em que Portugal e o Brasil estavam sob o domínio espanhol, está relacionada com as relações diplomáticas que envolviam Portugal, Espanha e Holanda. Pode-se dizer que o acontecimento fundamental para isso foi a União Ibérica, unificação das coroas espanhola e portuguesa que se estendeu de 1580 a 1640. Essa união foi consequência da crise sucessória que atingiu a dinastia de Avis, no final do século XVI. A Bahia, sede do Governo Geral do estado do Brasil, foi invadida, mas a presença holandesa durou pouco tempo (1624-1625). 1625 - Os holandeses permaneceram na capital por um ano e nunca conseguiram estender seus domínios para além dela. Os homens-bons (que possuíam proeminência social e poder econômico) juntaram-se, nos arredores de Salvador, e impediram a expansão holandesa. Reforços foram enviados dos diferentes domínios espanhóis e expulsaram os holandeses de Salvador em 1625. 1627 – Os holandeses retornaram em 1627, mas só para saquearem a cidade de Salvador. 1630, a capitania de Pernambuco, o maior centro açucareiro da colônia, foi invadida por tropas holandesas. 1637 - A conquista foi consolidada, com a chegada do governante holandês o conde Maurício de Nassau. Ele conseguiu firmar o domínio holandês em Pernambuco e estendê-lo por quase todo o nordeste do Brasil. A cidade do Recife, o centro administrativo, foi urbanizada, saneada, pavimentada, foram construídos pontes, palácios e jardins. O governo de Maurício de Nassau chegou ao fim em 1644, mas os holandeses só foram expulsos em 1654. As invasões holandesas foram motivadas pelo interesse holandês em tomar controle do negócio açucareiro e por conta da rivalidade entre Portugal e Holanda, e desta com a União Ibérica.

Com 32 anos, Maurício de Nassau assumiu a função de governador-geral da colônia holandesa.


1640 - Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula "Super Universas Orbis Ecclesias", muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão: "Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N. S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia - Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poções, antiga aldeia da Doutrina ...". (MEIRELES, 1977, p.127)83.

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MEIRELES, Mario M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA / SIOGE, 1977.


1641/44 - a invasão holandesa ao estado do Maranhão muito embora para historiadores como Mário Meireles a invasão se iniciaria com a tomada do Ceará em 1637. Os holandeses, instalados em Pernambuco já algum tempo, no seu projeto de ocupação e ampliação dos seus domínios no Nordeste, resolveram também ocupar o estado do Maranhão, visando sua produção açucareira, além de uma porta de entrada para a região amazônica. Como disse Josué Montello em Os Holandeses no Maranhão (1946): “[...] essas causas em nada foram a finalidade altruística de plantar a civilização neste pedaço do mundo. Foi na realidade um pesado fator econômico que armou as naus flamengas.” 1641 - 25 de novembro, a poderosa esquadra comanda pelo Vice-Almirante João Corneles Lichthardt, surge na baía de São Marcos, para fugir do alcance da artilharia do forte São Felipe, entra na embocadura do rio Bacanga e desembarca na praia do Desterro com cerca de mil soldados e sobem até o altiplano onde estava localizada a ermida Nossa Senhora do Desterro que é saqueada pelos invasores. Em seguida, casas dos moradores são invadidas e roubadas em várias ocasiões. O saque, a pilhagem e a profanação de templos, foi uma marca desses primeiros dias de invasão flamenga. Muitos moradores fogem para as matas da ilha e até para o Continente. Após essas primeiras hostilidades, as tropas do Coronel Koin Anderson, finalmente, marcham para a fortaleza portuguesa que é ocupada sem resistência por parte do governador Bento Maciel Parente, até porque não tinha forças para tal. A partir daí, a ilha de São Luís passa a estar sob as ordens do Príncipe Maurício de Nassau, ampliando os holandeses o seu domínio para o Norte. Depois de conquistarem a Ilha de São Luís, os holandeses partem para o interior, em


direção ao Vale do Itapecuru, tomam o forte do Calvário e ocupam os cinco engenhos de açúcar dessa região. 1642 - em 30 de setembro - após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio. Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. - 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz que em placa de mármore já desgastada, possui a seguinte inscrição: A TRADIÇÃO POPULAR CONSAGROU ESTE/ MONUMENTO À MEMÓRIA DOS BRAVOS QUE/ AO MANDO DE MONIZ BARREIROS E/ TEIXEIRA DE MELLO EXPULSARAM/ OS HOLANDEZES DA CAPITANIA. 30-IX-1642/21-XI-1642/26-I-1643/28-111644. 1645 – Franz Post

1647 - Informa Eloy Abreu - em seu “O Senado da Câmara de São Luís e as festas públicas” (2010)2 – que no dia 07 de julho de 1647 é registrado no Livro de Acórdãos da Câmara de São Luís a ausência dos habitantes desta cidade – e das vilas próximas – às festas públicas que se organizavam, e que os cidadãos não a estavam acudindo, isto é, não estavam contribuindo para a sua realização, quer em dinheiro, quer em sua organização, quer no acompanhando das procissões: “Acordamos e mandamos que todo cidadão desta cidade de São Luís de qualquer qualidade que seja que a Câmara celebre festas e procissões estando residente na cidade ou duas léguas ao redor não acudir as ditas festas e procissões para acompanhá-las nos postos que lhe forem ordenados paguem mil reis de pena as obras do conselho.” (p. 237) (grifamos). A obrigação de participar das festas públicas incluía, além dos moradores da cidade, os que habitavam as vilas de índios do Vinhais e do Paço do Lumiar, ambas localizadas no interior da


ilha e distantes da cidade duas léguas, pois as festas religiosas também funcionavam como um veículo de catequização dos nativos84. 1684 - Revolta de Beckman, no Maranhão 1690 - Ainda constam, da antiga Vila, a Igreja de São João Batista, o Cemitério, de 1690, e o Porto de embarque e desembarque, construído em 1860, além dos poucos vestígios da presença indígena, evidenciados em pesquisas arqueológicas 1750 No Livro de Acordão da Villa de Vinhais, um documento importante registra a falta de “homens bons” para assumir os cargos administrativos da recém-formada Vila: Aos trinta dias do mês de (“dezbrº”, dezembro) de mil cete sentos e sencoenta (?) nesta (“Vª”, Villa) de Vinhais de (“S”, São) dos Reis (“Pª”, Para) o efeito de proceder na fatura de Pilouro (“Pª”, Para) (“Offas”, Oficiais) que hajão de servir o anno próximo futuro na La (?) da mesma Villa, e por alcançar, e se bem proferio (“q”,que) os moradores dela ainda não se achão sevi lizados e com a aptidão (“pª”, para) formal, e legalmente proceder na Eleição dos ditos (“offos”, officios) tomou o Expediente de ouvir a cada hum dos (“q”, que) atualmente servem p/ mesma camera e a outros (?) moradores deferendo a todos o (“juramento”, juramento) dos (“Stos”, Santos) Evangelho (“Pª”, Para) de bayxo deles votarem nas pessoas mais capazes hajão de servir de Juizes, Vereadores, e Procurador, o anno próximo.Nesta Villa de Vinhais Comarca de São Luis do Maranhão.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 30.12.1750, fl. 2A). - Em meados do século XVIII, a Vila do Vinhais começou a prosperar em virtude da presença da Companhia de Comércio Grão Pará-Maranhão e do investimento estatal: A dita porção de terra que se acha entre Aureliano Jozéda Costa e Thomas de Aquino que he a frente trinta braças de fundo: a que atendendo a informação da Camara da dita villa de vinhais hei por bem concederlhe licença em quinze braças de fundo que He o do estillo reservando fontes e pedreiras para o serviço público de sua Alteza Real não prejudicando a terceiros e com a condição de fazer nelles casas de pedra e cal, dentro de anno e dia, em frente desta hum competente cais para o serviço publico, pena de ficar esta licença de nenhum efeito e o terreno devoluto [...] (MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 07.12.1810, fl. 162). A Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão ou Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão foi uma empresa privilegiada, de carácter monopolista, criada pelo Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII, em Portugal. Confirmada pelo Alvará Régio de 7 de junho de 1755, destinava-se a controlar e fomentar a atividade comercial com o Estado do Grão-Pará e Maranhão, fortalecendo a prática do mercantilismo no reino. Diante da proibição da escravidão indígena no Estado do Grão-Pará e Maranhão, a Companhia teve a sua origem numa petição, encaminhada em 1752 pela Câmara Municipal de São Luís do Maranhão ao governador e capitão-general, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para que fosse criada uma sociedade autorizada a explorar o comércio de importação de escravos africanos. O governador acolheu de bom grado a ideia e, após ter conseguido o apoio dos cidadãos mais influentes de Belém do Pará, encaminhou-a com sua aprovação ao seu meio-irmão, o Marquês de Pombal. No Reino, no âmbito da vasta reestruturação administrativa que promovia à época, Pombal atraiu, para a ideia, grandes comerciantes das praças de Lisboa e do Porto. Desse modo, fundava-se a Companhia, a 7 de Agosto de 1755, com um capital social de 1 200 000 cruzados 1751 - D. Felipe Condurú Pacheco (1968)85 informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às 84

ABREU, Eloy Barbosa de. O senado da Câmara de São Luís e as festas públicas. In CORRÊA, Helidacy Maria Muniz; ATALLAH, Cláudia Cristina Azevedo (Org.). ESTRATÉGIA DE PODER NA AMÉRICA PORTUGUESA: dimensões da cultura política (séculos XVII-XIX). Niterói: PPGH-UFF / São Luís: UEMA / Imperatriz: Ética, 2010, p. 219-251 85 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968


numerosas propriedades dos demais religiosos, “[...] os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’ de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia [...]”. (p. 50). 1757, a então Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada neste mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757 (VAZ e VAZ, 1994).Ela gozava de certa liberdade com um corpo administrativo próprio, em função das medidas projetadas pelo Marquês de Pombal, com o intuito de minar a atuação da Companhia de Jesus o que, de fato, culminou com a expulsão dos jesuítas e a chegada do primeiro pároco para a Vila de Vinhais, sendo ele, Antônio Filipe Ribeiro. 1757 - Coelho (1990)86 em seu "Política indigenista no Maranhão Provincial", ao analisar "o lugar do índio na legislação: a questão da terra", afirma que " a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações" e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a "[...] elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes". Cita, dentre outros exemplos, que " a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais". 1757 - Em “A Amazonia na era pombalina”, de Marcos Carneiro de Mendonça (edições do Senado federal, volume 49-C, Tomo III, Brasília, 2005) em correspondência de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao Governador da Capitania do Maranhão, do dia 15 de maio de 1757, referindo-se à atuação dos jesuítas fomentando a rebelião entre os moradores, contrários à libertação do cativeiro dos índios: “Por cujos fundamentos V. Sa. elegerá a Vila, aquela povoação chamada Doutrina, entregando aos Padres os escravos pretos e filhos das pretas somente, e todos os mais moradores devem ficar naquela povoação [...]” (p. 261). 1757 - Em carta ao “Comissário Provincial ou quem suas vezes fizerem no Comissionarato de Sto. Antonio do Maranhão”, datada de 15 de maio de 1757, referindo-se ao Alvará com força de lei de 7 de junho de 1755, manda remover da administração temporal os Regulares deste Estado [do Maranhão], que se diziam proprietários das terras das aldeias indígenas: “[...] nenhuma Religião pudesse ter aldeias de índios forros de administração [...]; e devendo compreender-se nela as Doutrinas que os religiosos Cartuchos conservavam em uma e outra Capitania [...] não eram as ditas Doutrinas mais do que umas Aldeias de Índios forros, que os sobreditos Religiosos administram; me foi remetido um requerimento que fez ao Governador desta capitania o Pe. Guardião desse Convento Frei Miguel do Nascimento, tão irreverente, absoluto e escandaloso [...] pretendendo embaraçar a execução das reais leis do Soberano [...] até se esqueceu de que era Religioso, alegando a favor do seu Convento, que possuía as terras em que estava situada a referida Doutrina, por título oneroso de compra e venda, quando na Sagrada Religião de S. Francisco não há mais Patrimonio que a Santa Pobreza e a Caridade dos Fiéis.” (p. 262). 1758 - D. Felipe Condurú Pacheco (1968)87 , ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, - “[...] no meado do século XVIII, conta de 1758,... distante da cidade ... Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos[...]”. (p. 61). De acordo com Barbosa de Godói (1904)88, o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário”.

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COELHO, Elizabeth Maria Beserra. A POLÍTICA INDIGENISTA NO MARANHÃO PROVINCIAL. São Luís: SIOGE, 1990 PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 88 BARBOSA DE GODOIS. Antonio Baptista. HISTÓRIA DO MARANHÃO – para uso dos alumnos da Escola Normal. Maranhão: Typ. Ramos d´ Almeida & Suc., 1904, tomo I e II 87


Meireles (1964)89, conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida - a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” - costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocá-los, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irrequieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeia da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida...

Buscamos uma vez mais em Cesar Marques (1970)90 outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções.[...] [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. [...] “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633). Ainda às páginas 632 do referido Dicionário ..., César Marques informa que no referido termo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonçalo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juiz-de-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do Grão-Pará em 10 de fevereiro de 1757: “Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”.

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MEIRELES, Mário M. SÃO LUÍS, CIDADE DOS AZULEJOS. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970).


“O padre provincial do Carmo, Frei Pedro da Natividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeu que não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado não havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, ficando assim excluída da ordem de Sua Magestade. “No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade. “Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633) 1760 foi criada a Vila de Vinhais, com a delimitação de suas fronteiras: José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: Em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de . . . . . . . . . . . . . . . . nele à fl. 87 verso achei o traslado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Por ser conforme as reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer a vossas mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no Porto do Angelim sobre a foz do rio Anil -, que fica pertencendo ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Revdo. Cônego Manuel da Graça, ficando pertencendo ao distrito dessa vila a estrada Pública, que do dito Porto do Angelim vai para a fazenda da Aníndiba e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da parte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manuel da Graça para a parte do norte, correrá em direitura a costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide esta cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito Porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreendem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antonio desta cidade como também a capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fazendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, do Padre José Pimenta, de José de Sousa Rapôso, de Manuel Jorge, de Manuel Rodrigues, de Domingos Fernandes e ultimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficiente para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. (MARQUES, 2008, p. 623).


1760 (1806)- contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente naquele período ao Convento de Santo Antônio (MARQUES, 2008, p. 633): Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para inviolávelmente observarem, registrando este nos livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. –Deus guarde a Vossas Mercês –Maranhão. –Gonçalo Pereira Lobato e Sousa. Senhores Juízes, e oficiais da Câmara da vila do Vinhais: certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. –Manuel de Jesus Pereira. Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. –Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. –José Inácio Pereira. 1763 –


A falta de remuneração dos serviços continuava sendo praticada: 1773 - Os moradores (“q”, que) assim se servirem com os Indios sejão obrigados a Replo-los nas Povoações a que Tocarem emmediatemente que acabarem o tempo porque forão concedidos pena de que ñ o fazendo como Aqui Se determina Serem castigados. Aos forros ou alforriados que igualmente são. A Directorias Ordena tão bem que nenhuma pessoa de qualquer qualidade e condenção (“q”, que) Seja se Possa Servir deles Sem permissão minha por excrito sob pena de Serem Castigados.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, fl.20).Nesta Villa deVinhais Comarca de São Luís do Maranhão. Informe o Director (“Mam”, Maranham) 89 de Illustrissimo (“Snr”, Senhor) (“Janno”, Janeiro) de 1773. 1773 - O Director ñ consista q mais Indio algum entre o [Rossar] nas Terras do (“Supte”, Suplente) e se alguns emtentar no Remeterã logo prezo.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 01.01.1773, fl. 23). 1775 - Em vários outros documentos da Secretaria do Governo, a exemplo do Livro 3 (1770-1778), consta a utilização de mão de obra indígena na Vila do Vinhais: o Governador e Capitão-general do Estado do Maranhão a Sua Majestade, através do secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, encaminhando mapa dos carregamentos de arroz e algodão saídos de São Luís durante o ano; expondo seu temor pela perda da grande produção de arroz existente, em razão da grande falta de dinheiro na Companhia “para pagar os miseráveis índios que trabalham” descascando o produto, obrigando-o a assistir-lhes com farinha necessária; informando o valor da dívida consolidada com os trabalhadores das fábricas de Vinhais, Alcântara e de São Luís. (MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 28.07.1775, fl. 80) 1775 - Apesar da proibição da servidão indígena pelos colonizadores, o tratamento dispensado aos nativos era de total desprezo, sendo que nas relações de trabalho a mão de obra indígena não era remunerada: [...] Porem eu tinha tido mayor disgosto conhecendo que este estabelecimento se aminguará pela grande falta que lha desde na companhia pois nem pela fé pagão aos mizeraveis indios que trabalhão no descasque, deste o há de sorte que à Fabrica de Vinhais se devem sinco mil e tantos cruzados à de Alcantara quatro e a dezta cidade douz, não podendo a mizeria destes Indios suportar este impate. Eu lhe tenho feito assistir ao menos com farinha para comer, detendome das rossas das outras povoaçoens a quem se esta devendo. (...) [28 de julho de 1775] (MARANHÃO. APEM. Livro de Registros Gerais, nº 11, fl. 81). 1779, a Vila de Vinhais contava 630 ‘almas”; a cidade de São Luís, 13.000, a Vila do Paço do Lumiar 808, conforme registro na Biblioteca da Ajuda. (Notícias de todos os governadores e populações das provincias do Brasil. Documento no. 2001, 54 – v. 12 no. 5)91.

In CAMPOS, Marize Helena de. SENHORAS DONAS – economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (17551822). São Luís: Café & Lápis; FAPEMA, 2010, p. 327 91


Mappa das Cidades, Villas, e Frequezias das Capitanias do Maranhão e Piauhy, no Governo de Jozé Telles da Silva, em 17 de dezembro de MDCCXXXVIII, com detalhe para Vila do Vinhais.

De acordo com BARBOSA DE GODOIS (1904), o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário. 1780 No decorrer do século XIX, muitos autores citaram o Vinhais Velho em suas obras,a exemplo de Raimundo José de Souza Gaioso em seu Compêndio Histórico Político dos Princípios da Lavoura do Maranhão, produzido entre 1780 e 1808: A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes. (GAIOSO, 1970, p. 110). 1782, se queixou o índio Manuel Ribeiro através do vigário da Igreja de São João Batista de Vinhais, como vemos na transcrição abaixo: Do presente Vigário da Villa de S. João de Vinhais. A todos que a presente certidão virem que he verdade ter o suplicante Manoel Ribeiro cinco filhos, e ser lavrador em terras suas próprias e ser bem procedido, temente a Deus, cabido da Igreja, e lhe terem tirado da sua companhia, em grave detrimento de sua casa, para trabalharem no serviço da roça do Sargento-Mor Antônio José de Brito; não obstante ter servido o dito na Câmara da dita Villa, e por ser todo o referido verdade o juro aos Santos Evangelhos, Villa de São João Batista de Vinhais, aos vinte e três de junho de 1790. Pe. Timotheo de Santa Rita e Serra (AHU, Manuscritos diversos, Cx. 68, D. 5933, grifos meus) 1783 - a falta de remuneração aos serviços prestados pelos indígenas na Vila do Vinhais acirrava os conflitos:


Senhora, he vossa Magestade servida mandar ouviro meu parecer na queixa que forma o juiz da Villa de Vinhais Calisto Arnaut, de seu diretor Luis Liconti, e do General que me sucedeu no governo do Maranhão. Só quem viesse agora daquela terra poderia verdadeiramente informar da queixa que faz o suplicante, eu o que posso dizer lhe, é que a Villa de Vinhais era muito populoza no meu tempo, que por ser um bom porto de mar, e perto da cidade, estabeleci nella uma boa Fabrica de arroz em que os Indios tinhão os mais avultados interesses, e não os empregava em outro serviço por ser interessante o de Vossa Magestade o da cultura e descasque de arroz, que por isso não havia nesta Villa rossa do comum. Sempre fiz conservar aos Indios os seus privilégios para ser assim maior a porção de dinheiro para se poderem manter (...) agora o suplicante se queixa de que a três annos lhe não pagão, isto me paresse impossível, porque não tendo os indios outra fonte de rendimento, possão subsistir sem lhes pagar a tanto tempo. (...) [11 de março de 1783]. (AHU, Cx. 59, doc. 5452). (BOSCHI, 2002). 1786 -no livro 5 (1784 –1787), em documento do Secretário de Governo, que solicita a mão de obra indígena da Vila de Vinhais: Conta o Governador e Capitão-general do Estado do Maranhão a Sua Majestade, através do secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, comunicando a prisão de Manoel Gomes Viana, ajudante de ordens do governo, por agressão ao diretor da vila de Vinhais, em virtude deste não ter providenciado a remessa de alguns indígenas solicitados pelo governador. (MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 11.06.1786, fls. 138v –140). 1790 - Nessa vila eram produzidos muitos gêneros alimentícios para abastecer São Luís, inclusive com a presença de olarias e soques de cereais para aproveitamento dos indígenas que lá ainda habitavam. No final do século XVIII, alguns documentos se referiram a esses negócios e registram o crescimento da produção de gêneros manufaturados na localidade: O juiz da Villa de Vinhais, Calisto Arnout, Indio nacional da capitania do Maranhão, na qual disse que ele servia a Vossa Magestade naquella Villa havião quatorze annos com boa satisfação e sendo a mais populosa de quantas se crearam na dita capitania a mais abundante de gêneros, e fértil em todas as suas produções, sempre se governaram em paz, e os indios dela perceberam os seus interesses repartidos a seu tempo, conforme as Reais Ordens de Vossa Magestade, conservando se nos seus Privilegios. Que tomando porem posse do Governo D. Antonio de Sales Noronha, tudo tinham sido inquietações, prejuízos, injurias e castigos que se fazião naquella Villa (...) [Posterior a 20 de setembro de 1790]. (AHU, Cx. 76, doc. 6518).(BOSCHI, 2002 1800 - Em ofícios, ordens, cartas, atos e licenças dos governadores e capitães-generais do Maranhão, a Vila de Vinhais e os seus habitantes indígenas permaneceram sendo referenciados, a exemplo do Livro 4 (1798 –1800): Portaria do governador e capitão-general do Estado do Maranhão ordenando fornecer ao negociante José Gonçalves da Silva mantimentos para 14 índios da Vila de Vinhais, postos à disposição para o serviço de abertura da “Cachoeira de Cima”, do rio Munim.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 17.12.1800, fl. 161v.). 1803 - Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446). 1806 - Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila


de Vinhais e, para dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa: “José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de ... nele à fl. 87 verso achei o translado ... Por ser conforme às reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer de vossas mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no pôrto do Angelim sobre a foz do rio – Anil -, quer fica pertencente ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Rvdo. Cônego Manuel da Graça, fincado pertencendo ao distrito desta mesma vila a estrada pública, que do dito porto do Angelim vai para a fazenda da Anindia e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da parte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manual da Graça para a parte do norte, correrá em direitura à costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide a cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreedem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio desta cidade como também a Capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fazendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, de Domingos Fernandes e últimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficiente para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. “Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para inviolávelmente observarem, registrando este nos livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. – Deus guarde a Vossas Mercês – Maranhão. – Gonçalo Pereira Lobato e Sousa” “Senhores Juízes e oficiais da Câmara da vila do Vinhais. “Certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. – Manuel de Jesus Pereira. “Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. – Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. – José Inácio Pereira”. (gruifos nosso). 1810 - A movimentação em torno da posse da terra na Vila do Vinhais ficou evidente com a compra e venda irregular de muitos lotes, inclusive com a intervenção dos cartórios: Os emrredos, as trapaças e todos os delictos que pela Maior parte promovem a dissenção das famílias as tranquilhas do foro e as penalidades do governo procedem menos da ignorância do que da malicia de muitos tabelions e contrahentes de varias partes que o selebrão por Escriptura sem as declarasions necessárias a propriedade e a doação quando os proprietários e donatários gozão tais adquiricioins sem exigirem os tittullos primordiais que autorizão os vendedores, e do antes os Reiteirados Requerimentos que no são dirigidos e acompanhados dos mencionados títulos são outros tantos abonados desta minha [...]. Dos povos cuja furtuna ou desgracia não deve estar digo está sogeira as caprichosas alternativas que sofrem a proporção que socedem os governos ou as magistraturas. Faça Vossa Merce desta comarca para que nunca mais celebrem escriptura dos referidos contratos sem terem presentes os sobreditos títulos no cazo porem de obrarem o contrario os juízes ficaram responçaveis conivência e omição com que se houverem portado vindo


para isso emprazados ante o corregedor porsedendo em todo o cazo contra o tabelião que para não ignorar este dever desde a datta em que for poblicada na respectiva Camara esta determinação o fará tão bem registrar nos cartórios de seus officios ou ainda nos livros de notas sendo possível.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 19.10.1810, fl. 162). 1811 - Officio ao Diretor de Vinhais para se não castigarem os Indios com palmatórias a assoites. Sendo nos representado com justíssimo calmor por huns mizeraveis Indios a indiscrição e crueldade com que forão pelo seu respectivo Diretor castigados com relho e palmatória; assinalidos tam escandalozamente seos direitos de liberdade estabelecida e tão recomendada pelas Angustias Leis dos nossos Augustos Soberanos declaramos a Vossa Excelencia que nenhum Diretor ou outra qualquer Authoridade incubida de seu Governo tem direito de punir e flagelar os Indios (de ambos os sexos) com asoites ou palmatuadas pois que não devem passar por outros castigos que não sejam aqueles a que por Leis esta sujeito o Homem Livre Social, o qual não tem maiores privilégios do que o Indio metido na Sociedade civil a quem as Leis conferem amplamente a todos os nacionais desta Villa. São estes castigos meramente compatentes a atuação de escravo e mesmo modo muito moderado para a correção da mocidade so neste segundo cazo pode ter uso com doçura e com fraternidade de Christão no ensino de rapazes aonde não devão aparecer sinal de aspereza e muito menos no sexo feminino em que há indecente o castigo de asoutes e so pode permitir a seus paiz ou a quem os reprezente a paternal educação e abrigo com que os cria e alimenta. Deos guarde a Vossa Excelencia São Luis do Palacio do Governo 26 de setembro de 1811 Juiz Bispo de Maranhão= Filipe de Barros Vasconcelos= Bernardo Joze da Gama= Senhor Diretor da Vila de Vinhais= N. B. forão iguais ao do Paço do Lumiar, Da Tutoia, Vianna, Monção, S. Miguel, Guimarães, Brejo, Araiozes. [26 de setembro de 1811]. (MARANHÃO. APEM. Livro de Registro daCorrespondência da junta governativa com as autoridades locais, do Piauí, da Côrte e lugares fora destas Capitanias, n. 56, fls. 33 -33v). 1811 - Portaria da Junta Governativa da Capitania do Maranhão nomeando Brás Antônio dos Reis o principal dos índios da Vila de Vinhais por haver falecido o ocupante do cargo, sendo obrigado a todos os índios da mesma vila reconhece-lo como tal, cumprir e guardar suas ordens. (MARANHÃO. APEM. São Luís do Maranhão, 16 de outubro de 1811, fl. 38). 1813 - Inicia-se com isso um processo oficial de expulsão dos índios dessa região, situação que perdurou por todo o século XIX e foi regulada pela prática do aforamento, descrita em vários documentos do Livro de Acordão da Villa de Vinhaes: Termo de Afforamento Aos onze dias do mes de Agosto de mil e treze nesta villa de vinhais apareço prezente a senhora donna Anna Joaquina de Incarnação e me entregou hum seu Requerimento despachado da Camara da mesma em vereação do dia, mes e anno asima declarado pelo qual se lhe aforou por sima do rumo do realendo que comprara de Antonio Furtado, e dos mais rialengos ao Nascente athe a Estrada ou Caminho Velho que vai para o porto do Angelim ficando obrigada a pagar o foto de custume por cada hum anno e para constar fiz este termo de mandado pelo despacho da Camara em que assignou comigo a dita foreira. Eu José Ignacio Pereira Escrivão Interino que escrevi. Anna Joaquina da Encarnação (MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 –1812, 11.08.1813, fl. 137). 1814 - Termo de Afforamento Aos vinte seis dias do mes de Janeiro de mil oitocentos e catorze me entregou Francisco Rodrigues Campanha hum Seu Requerimento despachado pella Camara que asine Termo de Afloramento somente de de hum citio despachado que assinasse Termo não fazendo prejuízo o foreiro nem o índio e se fizer ser Expulço o qual termo hé o prezente e para contar fiseste Termo que assinou comigo o dito foreiro ou José Ignacio Pereira escrivão. Sinal do foreiro Francisco Rodrigues Campanha.(MARANHÃO. Livro de Acordão da Villa de Vinhaes, 1758 – 1812, 26.01.1814, fl. 12).


1818 - Gaioso (1970)92, ao identificar as cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania, afirma que na ilha de São Luís do Maranhão - em 1818 -, tem a cidade deste nome e: "A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes." (p. 110)

Sobre a igreja existente em Vinhais, Moraes (1989)93 lembra que a capela de São João de Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757. 1819 - Arquivo Público do Estado do Maranhão – APEM – do CATÁLOGO DOS REGISTROS GERAIS – registros de Atos e da Correspondência do Reino e do Governo do Maranhão 1754-1828, vol. 1 (2009) 94 : 2872 Patente de capitão-mor da vila de Vinhais a Ricardo Henrique Leal. Rio de Janeiro, 21 de abril de 1819 Maranhão, 24 de novembro de 1819 Fls. 25v-26, do Livro 20 (1818-1828).

1820 - Antônio Bernardino Pereira Lago, em Itinerário da Província do Maranhão, publicado pela primeira vez em 1820, informou que haviam, na Província do Maranhão, povoados nas áreas urbana e rural, indo da cidade até a Estiva, na margem do rio Mosquito, 6 e 3/4 de léguas, estrada boa e acompanhada sempre por terra, atravessando apenas o rio das Bicas ou o Bacanga, subindo parte deste rio:

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GAIOSO, Raimundo José de Sousa. COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO.Rio de Janeiro : Livros do Mundo Inteiro, 1970. 93 MORAES, José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 94 MARANHÃO, Secretaria de Estado de Cultura – Arquivo Público. CATÁLOGO DOS REGISTROS GERAIS – registros de Atos e da Correspondência do Reino e do Governo do Maranhão 1754-1828. São Luis: SECMA, 2009, vol. I, p. 362


Da cidade para o norte vai-se à vila de Vinhais, de índios, que consta de 994 almas: há duas estradas, seguindo de terra são 3 ½ léguas e 550 braças, mas pelo rio Anil ½ légua e 600 braças; daqui a Araçagi, 3 ½ léguas, em parte muito mau caminho, e que deve ser bom pela necessidade que pode haver de por ali se fazer marchar algum socorro; a terceira estrada, e mais frequentada, é a chamada Caminho Grande, pela qual se vai primeiramente à Vila de índios do Paço do Lumiar, de 1600 almas; a 4 ½ léguas daqui ao chamado simplesmente lugar,também de índios, cuja população se inclui na Vila do Paço a ½ légua; daqui à ponta de S. José, 1 légua e 600 braças [...]. (LAGO, 2001a, p. 14) 1822 - Lago, Estatística histórico-geográfica da Província do Maranhão, de 1822, o autor destacou que a Província do Maranhão possuía nesse período 12 vilas, um julgado e 19 aldeias (LAGO, 2001b). Sobre o antigo aldeamento, o oficial da Coroa Portuguesa revelou que “a Vila de Vinhais (de índios civilizados) tem câmara e juiz ordinário do civil, crime e órfãos; criada no 1º de agosto de 1757 consta de 300 almas e três fogos” (LAGO, 2001b, p. 36). 1822 - Do mesmo CATÁLOGO DOS REGISTROS GERAIS – registros de Atos e da Correspondência do Reino e do Governo do Maranhão de 1822-1885. São Luis: SECMA, vol. II (2012) 95: 3263 Confirmação de alferes da Companhia Avulsa, novamente criada na vila de Vinhais, a André Ferreira da Silva Porto. Lisboa, 7 de dezembro de 1822 Maranhão, 16 de junho de 1823. F.29v – 30 (do Livro 21 (1822-1847) Registros de confirmação de patentes, decretos, alvarás imperiais, carta de data e sesmarias, diplomas, portarias e patentes. Embora conste do Índice Toponímico (p. 507-527) sob o verbete Vinhais duas entradas, no local indicado da segunda, L-26, p.182-183 (p. 342) consta ser 5664 – titulo de recondução de conselheiro a presidente da Relação de São Luis (p. 182); 5665 – titulo de nomeação de juiz municipal e órfãos nos termos de Viana (p. 182-183); 5666 – titulo de nomeação do oficial de escrivão da Provedoria de Capelas e Resíduos da província do Maranhão (p 183). 1824 - A presença indígena na Vila do Vinhais foi documentada até o primeiro quartel do século XIX: [...] declarou que a mesma Camara ao Indio Antonio Raymundo de Abreo para estar prompto para todo e qualquer mandado que for percizo assim como bater qualquer diligencia que aqui vier e pedir passagem ao guia para qualquer parte como tão bem para qualquer diligencia para prender [...].(MARANHÃO. Livro de Vereação da Câmara de Vinhais, 1824 –1828, fl.14) 1827 - Outra obra lançada pelo APEM em 2012 dá-nos mais informações sobre a Vila Velha: REPERTÓRIO DE DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO 1754-184096: 1444 Oficio do comandante geral da vila do Paço do Lumiar ao ajudante de ordem do Governo participando ter mandado dois capitães do mato, deste distrito, a explorar as matas dos Vinhais, por ter notícias da existência de muitos negros fugidos; foi encontrado um negro que resistiu à prisão e entrando em luta com um capitão, ambos fugiram e o negro, para não ser apanhado, matou-se. Quartel da vila do Paço do Lumiar, 29 de abril de 1827. Cx. 0174, maço 00961.

1829 - Farol Maranhese (MA) - 1827 a 1831 Ano 1829\Edição 00058 (1)

MARANHÃO, Secretaria de Estado de Cultura – Arquivo Público. CATÁLOGO DOS REGISTROS GERAIS – registros de Atos e da Correspondência do Reino e do Governo do Maranhão 1754-1828. São Luis: SECMA, 2009, vol. II, p. 14. 96 MARANHÃO, Secretaria de Estado de Cultura – Arquivo Público. REPERTÓRIO DE DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO 1754-1840. São Luis: SECMA, 2012, vol. I, p. 238; 272. 95



1829 - A diminuição da população indígena consolidou a presença portuguesa na Vila do Vinhais, e o marco dessa presença foi a edificação de uma nova igreja, em 5 de maio de 1829: Solicita ao seu presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arruinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas, não havendo qualquer resposta. (MARQUES, 2008, p. 153). Sobre o mesmo assunto, o autor comentou: Em 5 de maio de 1829 a Câmara “pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas”. (MARQUES, 2008, p. 632-633 1831 - REPERTÓRIO DE DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO 1754-1840971626 Oficio do juiz de paz suplente da vila dos Vinhais informando a recepção do seu ofício, pelo qual determina aos oficiais de quarteirões, desta vila, realizarem a vigilância em sítios, 97

MARANHÃO, Secretaria de Estado de Cultura – Arquivo Público. REPERTÓRIO DE DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO 1754-1840. São Luis: SECMA, 2012, vol. I, p. 238; 272.


fabricas, e nos desembarques, que costumam trazer os contraventores do Tratado do Comércio dos Escravos desta província. Jaguarema, 07 de junho de 1831. Cx. 0526, maço 03368

1834, existiam na Província do Maranhão apenas treze municípios e somente o da Capital, São Luís, tinha sede com status de cidade. Os doze restantes eram sediados em vilas: Vinhais, Paço do Lumiar, Alcântara, Viana, Guimarães, Itapecuru-Mirim, Icatu, Caxias, Brejo, Tutóia, Pastos Bons e São Bernardo 98. 1835 – Extinção da Vila de Vinhais. Como a vila de Vinhais não apresentou qualquer desenvolvimento, foi extinta pela Lei Provincial no. 7, de 20 de abril de 1835, passando a pertencer a freguesia à comarca da capital, formando o 5º distrito de paz, e tendo uma subdelegacia de Polícia, um delegado da Instrução Pública e uma cadeira pública de ensino primário para o sexo masculino. Suas terras eram excelentes, baixas, próprias para a plantação da cana-de-açúcar. Achando-se estabelecidas aí pequenas roças de arroz, mandioca e mais gêneros. Calculava-se o número de seus habitantes em 1.020, sendo 887 livres e os mais escravos99.

1838 - A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista de Vinhais, que mandara reedificar: 98 99

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_do_Mearim MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. São Luís: Tip. do Frias, 1870. (Reedição de 1970), p. 633


“Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como sesejava um santo Bispo de Milão, se não me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164)100.

1849 - No ALMANAK DO MARANHÃO101 para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. No século XIX A prosperidade no Vinhais foi registrada por Pedro Miguel Lamaignere que, segundo Mota (2007), possuía muitos bens, como terras aforradas, sítios, realengos. Havia um farol e um canhão na aldeia, remanescente de uma antiga fortificação, “diz o Padre José de Morais, pelo repetido dos tiros dava notícia à cidade do número de vasos, que pretendiam cometer a sua barra”. Após a expulsão dos jesuítas, o canhão serviu para telégrafo marítimo (MARQUES, 2008). O livro de Vereação da Câmara de Vinhais registrava os atos da Vila do Vinhais em período posterior ao da Independência do Brasil, tratando-se dos primeiros registros do Vinhais no período Imperial. Em um dos documentos, o comércio informal entre os ocupantes desse local é citado, quando pessoas solicitavam “licença para poder vender em sua caza toudo o gênero de molhados” (MARANHÃO. LIVRO DE VEREAÇÃO DA CÂMARA DE VINHAIS, 1824-1828, fl. 21). 1851 - Correio D'annuncios : E Semanario Commercial do Maranhão (MA) - 1845 a 1851 19 de setembro Ano 1851\Edição 00068 (1)

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PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968 101 REGO, A. ALMANAK DO MARANHÃO COM FOLHINHA PARA O ANNO DE 1849 (2o. anno). São Luís: Typografia Maranhense, 1848. (Edição fac-similar da AML, 1990).





1854 - D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” - “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “... Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. ‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta... “... a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 234235)102. 1860 Ainda constam, da antiga Vila, a Igreja de São João Batista [...]] E o Porto de embarque e desembarque, construído em 1860, além dos poucos vestígios da presença indígena, evidenciados em pesquisas arqueológicas 1876 - À época da nomação do 19o. Bispo do Maranhão, D. Antonio de Alvarenga - 1876 -, era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos. Ana Jansen, em meados do século XIX, monopolizava o abastecimento de água de São Luís, utilizandos-e de aguadeiros, seus escravos, que se abasteciam nas fontes do Apicum e Vinhais, transportando suas pipas para o centro da cidade, vendendo o caneco por vinte réis, de acordo com Viveiros.103 1876 - Jornal da Lavoura : Orgão Especial da Lavoura do Maranhão (MA) - 1875 a 1876 Ano 1876\Edição 00019 (1)

1883 - Gazeta de Noticias : Publicação Diaria (MA) – 1883 Ano 1883\Edição 00044 (1) 102 103

PACHECO, D. Felipe Condurú. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA DO MARANHÃO. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1968

COSTA, Yuri; GALVES, Marcelo Cheche (org.). MARANHÃO – ENSAIOS DE BIOGRAFIA E HISTÓRIA. São Luis: Café & Lápis; Editora UEMA, 2011, p. 65


1886 - Catarina Mina – Catharina Rosa Ferreira de Jesus – uma escrava que amealhou grande fortuna com o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva do Maranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 - e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos –sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b)104. (Grifos nossos). 1890 - A REPUBLICA – 13 DE ABRIL DE 1890

104

BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In REVISTA TJ MARANHÃO, São Luís, setembro/outubro 2002. BARBOSA, Helena. História Do Maranhão No Arquivo Do Judiciário. In LIMA, Félix Alberto (org.). MARANHÃO REPORTAGEM. São Luís : Clara, 2002, p. 173-181


1892 - O Deputado Francisco Antonio Brandão Junior, em 1892, apresenta projeto de criação de uma cadeira de “primeiras letras” em Vinhais. Essa, deve ser a origem da nossa Escola Oliveira Roma...105

1915 - Pacotilha (MA) - 1910 a 1938 19 de outubro Ano 1915\Edição 00246 (1)

1916 - Pacotilha (MA) - 1910 a 1938 18 de dezembro Ano 1916\Edição 00297 (1)

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FARIA, Regina Helena Martins de. BRANDINDO ESPERANÇAS E FANTASIAS: o controvertido Francisco Antonio Brandão Jr. In COSTA, Yuri; GALVES, Marcelo Cheche (org.). MARANHÃO – ENSAIOS DE BIOGRAFIA E HISTÓRIA. São Luis: Café & Lápis; Editora UEMA, 2011, p. 78-101


1916 - O Jornal (MA) - 1916 a 1923 10 DE JANEIRO Ano 1916\Edição 00341 (1)

Esse anuncio – Vida Relijiosa – repete-se todos os anos seguintes, inclusive anunciando que, em algumas das festas, não haveria danças, fojos, e jogos; em outro ano, 1917, fora adiada para a semana seguinte 1917 - O Jornal (MA) - 1916 a 1923 30 DE MARÇO Ano 1917\Edição 00716 (1)


1955 - Ano 1955\Edição 00198 (1) – JOGO DE FUTEBOL entre o Time dos Gráficos excursionam à Vila de Vinhaes, e conseguem dois empates, com o time local. Em novo jogo, em 1956, o Ferrográfico é derrotado por 3x2 pelo Vinhais. Ainda em 1956, era anunciado um torneio de futebol promovido pelo Vinhaes Esporte Clube, esperando-se grande público, como sempre


1957


DÉCADA DE 1970 – 1970 –A decisão nacional de implantar em São Luís, grandes “projetos especiais” tais como a fábrica de alumínio da Alumar, o porto exportador do Itaqui e a ferrovia Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce – que atraíam inúmeras empresas prestadoras de serviços –, contribuíram para consolidar a idéia de uma iminente explosão habitacional e levaram a Prefeitura a preocupar-se com a organização do espaço urbano106.

Gleba do Rio Anil, onde o Vinhais Velho se insere: Decreto nº 66.227/70: O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 81, item III, da Constituição e tendo em vista o disposto no artigo 1º do Decreto-lei n.º 178, de 16 de fevereiro de 1967, DECRETA: Art. 1º. Fica o Serviço do Patrimônio da União autorizado a ceder gratuitamente, sob regime de aforamento, ao Estado do Maranhão e independentemente das formalidades previstas no Decreto-lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946, os terrenos que constituem as áreas denominadas Itaqui-Bacanga e Rio-Anil, com 7.210 e 3.690 hectares, aproximadamente, excluídas da primeira as áreas destinadas ao Banco Nacional de Habitação e Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, tudo de acôrdo com os elementos constantes do Processo protocolizado no Ministério da Fazenda sob o nº 47.258, de 1968. Art. 2º. Os terrenos referidos no artigo anterior se destinam à execução do plano de desenvolvimento urbanístico da área metropolitana, tornando-se nula a cessão, sem direito a qualquer indenização, inclusive por benfeitorias, se ao terreno vier a ser dada, no todo ou em parte, utilização diversa, ou ainda se houver inadimplemento de cláusula do contrato a ser lavrado em livro próprio da Delegacia do Serviço do Patrimônio da União. Art. 3º. Fica o Estado do Maranhão isento do pagamento do fôro enquanto o imóvel permanecer ao seu patrimônio, bem como de laudêmio nas transferências que vier a efetuar. Art. 4º. Competirá ao Estado do Maranhão promover sob sua inteira responsabilidade a desapropriação dos terrenos regularmente aforados a terceiros ou detidos por fôrça de títulos hábeis, indenizar benfeitorias daqueles meramente ocupados e, bem assim, responder judicial e extrajudicialmente sôbre quaisquer reivindicações que venham a ser invocadas objetivando os terrenos constantes do artigo 1º do presente Decreto.

106

ver Biblioteca Digital de Monografias: A RESTRIÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE NA GLEBA RIO ANIL: A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA COBRANÇA DA TAXA DE OCUPAÇÃO, DO FORO E DO LAUDÊMIO. (ufma.br) discorre sobre as razões que fundamentam a inconstitucionalidade da cobrança do foro, do laudêmio e da taxa de ocupação na Gleba Rio Anil, após a Emenda Constitucional 46/2005. Para isso, aborda toda questão da dominialidade de terras no Brasil, fazendo um percurso nas Constituições Brasileiras e nas legislações afetas ao tema. Do mesmo modo, expõe os posicionamentos jurisprudenciais mais recentes entre os órgãos julgadores que lidam com a matéria, analisando a tendência ao qual se inclinam e a divergência entre eles. Ademais, traz à baila os argumentos utilizados pela União como forma de manter sua propriedade nos imóveis insertos na gleba, para que, posteriormente, sejam refutados individualmente. Por fim, analisam-se os principais dispositivos da Lei 13.240/2015, dada a sua atualidade e importância, na medida em que simboliza um novo posicionamento do Estado frente à sua política de uso e concessão de seus bens dominicais.


Art. 5º. O Estado do Maranhão se obriga a iniciar no prazo de dois anos a execução do plano de desenvolvimento a que se propõe e a restituir, sempre que necessário, terrenos para instalação de órgãos federais e contidos nas áreas cedidas por fôrça do presente Decreto. Após assegurar a transferência da posse das terras da União para o município (Administração do prefeito Haroldo Tavares, 1975), providencia-se a regulamentação do espaço urbano. Através da proposta de Lei de Uso, Ocupação e Parcelamento do Solo, o Plano Diretor de 1977, elaborado por escritório do sul do país (Wit-Olaf Prochnik, Arquitetura e Planejamento S.L.C.), zonifica o território, decretando o perfil socioeconômico dos futuros usuários.


Lá habitam cerca de 600 famílias, num contingente populacional de aproximadamente 3 mil pessoas, em área remanescente de aldeamento indígena. Parte das famílias complementa sua renda com atividades como pesca, extrativismo de caranguejo e coleta de frutas. Lá encontra-se a secular Igreja de São João Batista (com quase 4 séculos de existência), o Cemitério do Vinhais Velho (datado do século XVIII), um porto (construído no Governo Newton Belo, 1961-1966), a Escola Municipal Oliveira Roma, diversas fontes naturais que abastecem a comunidade (além de servir como atrativo turístico) e reservas naturais com mangues, juçarais e


ipês entre outras. Entre os anos de 2013 e 2014, parte das casas do bairro foram desapropriadas para a construção de uma avenida na área, o que gerou protestos dos moradores da região. from 'MARANHA-Y 03, MAIO DE 2023 - Revista de História(s) do Maranhão'

Aqui vão fotografias de valor bem raro que pode ser importante para a pesquisa arqueológica. Essas fotos são do arquivo do IPHAN sobre prováveis (ou não) ruínas de construções jesuíticas na área denominada Vinhais Velho, no bairro Vinhais. Vinhais Velho é uma denominação recente sobre o antigo Sítio Arqueológico onde existia a aldeia indígena de Uçaguaba – Eaussoup, área que já teve a presença dos franceses e dos jesuítas da Companhia de Jesus. O mais interessante é a primeira fotografia que no verso disse que se trata de "ruínas de um poço na época da Companhia de Jesus" mas no escrito tem uma interrogação, denotando dúvida sobre essa veracidade. Vale lembrar que a Ana Jansen foi proprietária de poços d'água no Vinhais que servia para o abastecimento da cidade, esse poço da primeira foto pode ter sido propriedade dela. Essas fotos nos geram mais perguntas do que certezas, mas a maior certeza é sobre essas antigas pesquisas arqueológicas em lugares da ilha, não só na área do Pindaí que foi o primeiro bem tombado no Maranhão.



1979 - Vinhais Velho é um dos lugares que tem uma importância histórica enorme para o Maranhão, é um dos sítios arqueológicos que precisa a proteção do Estado, das instituições e o zelo dos moradores. A História do Vinhais Velho vai desde antes da colonização e continua até hoje com os descendentes dos antigos moradores: Os indígenas. Na década de 1970, já havia matérias em jornais que exigia do poder público um olhar mais atento para a região do Vinhais Velho, coisa que só viria muito tempo depois. Em 2012, há dez anos atrás, a população do Vinhais enfrentava uma das suas maiores lutas e mobilização em pró da preservação do Vinhais Velho na época da construção da Via Expressa. Vinhais Velho poderia ter desaparecido, mas resistiu e hoje é um dos sítios Arqueológicos de suma importância para o Maranhão. Vale visitar o Largo, a Igreja e o memorial onde estão os achados Arqueológicos. Imagem: Diário do Povo, 1979




1984/85 iniciou-se um movimento dos moradores para reabertura da Igreja, sua recuperação física, para que houve condições de receber um padre. Sede de paróquia desde 1757 estava sem titular com os fiéis tendo que se dirigir, à época, para a Igreja da Cohama; esta assistia quando possível aos moradores da Vila Velha; Mas a igreja já estava sem condições de uso, com o teto em ruínas. Foram quase dez anos de trabalho, para a reconstrução da Igreja, não só a física... Finalmente tínhamos padre fixo – Padre Dr. Raimundo Gomes Meireles, 1995 - Muito embora conste do “Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados”, do Ministério da Cultura, que em 1995 tenha sido restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histório e Paisagístico (MinC, 1997) – recurso de R$ 8.000,00 (oito mil reais) – isso nunca


se deu; desde 1985, todas as intervenções físicas se deram com recursos arrecadados junto à comunidade, sem qualquer interferência de qualquer poder público – seja nacional, estadual, ou municipal...

Fonte: Departamento de Patrimônio Histório e Paisagístico (MinC, 1997)

1997 a sede da paróquia passara a ser a Igreja de Nossa Senhora aparecida da Foz do Rio Anil, localizada no bairro do Cohafuma, recém-construída...


1997 – Começa a luta para que a sede de paróquia retorne à Igreja de São João Batista. O que só vai acontecer em 2012, quando da celebração dos 400 anos da primeira missa. ABAIXO-ASSINADO NÓS, moradores da área do Vinhais Velho – Vila Velha do Vinhais, Recanto dos Vinhais, Conjunto dos Ipês (CVRD), Residencial Vinhais III, Condomínios Cannes, Conjunto das Palmeiras, Conjunto dos Colibris, Condomínio Mar Del Plata, Comjunto Portal do Vinhais – ainda indignados com as matérias veiculadas na imprensa escrita e televisiva acerca da construção da escola comunitária ao lado de “nossa” Igrejinha de São João Batista do Vinhais, vimos requerer a consideração das autoridades envolvidas na questão revisão de suas decisões de embargo – e possível – demolição da obra em referência. A construção da obra atende aos anseios das comunidades envolvidas, haja vista que se destina a construção de uma escola profissionalizante destina aos jovens carentes da Vila Velha dos Vinhais e das invasões que já tomam todo o entorno da área do Vinhais Velho; esses jovens, sem prespectivas de estudo e/ou emprego dispendem seu tempo em atividades do que se denomina de “lazer negro” – uso de bebidas e drogas -, formando, já, ganges em cada uma das comunidades alternativas – favelas – que se erguem ao redor e que se veem debatendo entre si pelo domínio dos espaços abertos urbanos ainda existente na área em questão, chegando, já, a haver mortes entre esses jovens marginalisados – duplamente, quer pelas condições financeiras de suas famílias (daí, viverem em favelas construidas sobre o mangue) quer por falta de perspectivas de um futuro melhor do que os de seus pais, por falta de escolaridade e profissão ... Cabe esclarecer que TODAS as iniciativas tomadas até o momento pela comunidade não tiveram qualquer intervenção dos poderes públicos constituídos, numa total omissão para com seus deveres – exceto o embargo de obra física quase concluída, com base numa suposta “denúncia” de uma pessoa que se diz “historiadora” e se indignou com a “intervenção” no Patrimônio Histórico ... Ainda, essa pessoa não pertence a comunidade, não frequenta as reuniões constantes de membros dessa comunidade, que buscam soluções para os problemas de roubos, crimes, brigas, invações, favelização que vem ocorrendo, enfim, problemas que afetam a vida de todas essas comunidadee, e nos quais os poderes públicos, repetimos, permanecem omissos. Fê-lo, afirma em entrevista em jornal, porque se sentiu incomodada, quando de UMA VISITA ... Incomodada com quê ? Sobre a Igrejinha do Vinhais


Em texto apresentado por dois moradores de nossa comunidade, ambos professores de escolas públicas - estes sim, pesquisadores, estudiosos, historiadores de nossa comunidade - por ocasião dos 388 anos da Igrejinha do Vinhais (comemorados no ano 2000), é-nos relatado que desde o ano de 1985, os moradores do "Vinhaes Velho" - hoje compreendendo os bairros da Vila Velha do Vinhais, Recanto dos Vinhais, Portal do Vinhais, Alameda dos Sonhos, Conjunto dos Ipês (Vale), Residencial Vinhais III, Conjunto dos Colibris - A ESTÃO RECONSTRUÍNDO - pela quinta vez, nesses quase 400 anos. Por muitos anos abandonada, tendo deixado de cumprir sua função de unir pela fé católica seus moradores, estava novamente em ruínas. Desde que o conjunto Recanto dos Vinhais foi construído, há 17 anos, seus moradores tentam, junto com os residentes da Vila Velha do Vinhais, ter um Padre rezando missa. Estamos em campanha permanente para a recuperar físicamente ... A histórica igrejinha precisa de sua ajuda. 2011, o governo estadual anunciou a construção da Via Expressa (MA-207 ou Avenida Joãosinho Trinta), com 10 quilômetros, ligando o bairro do Jaracaty ao Ipase, em comemoração aos 400 anos da cidade. Um trecho da obra passaria pelo bairro, com a construção de uma ponte, e levaria a desapropriações de casas e à mudança nos hábitos de vida da comunidade, que seria dividida ao meio pela via. Também foi criticada pela destruição da vegetação do Sítio Santa Eulália. O fato resultou na mobilização dos habitantes do Vinhais Velho e de diversos movimentos sociais para preservação do patrimônio histórico e cultural, levando a disputas judiciais e à suspensão das obras. Também foram realizados protestos, ocorrendo intervenção das forças policiais. Nesse período, o IPHAN realizou um processo de coletas de objetos, tendo sido encontrados: machadinhos, pontas de lanças, vasos em cerâmicas, dentre outros, num total de 715 objetos. Além disso, foram encontrados três sambaquis, com datação possível de até 9 mil anos. Apesar das disputas judiciais, foi dada continuidade à obra, havendo uma inauguração parcial da via em 2012 (conforme data inicial de previsão) e outra em 2014, embora continuasse a sofrer com críticas com relação à infraestrutura. Envolveu a construção de cinco pontes e dois viadutos, num total de 9 km de via e investimentos da ordem de R$ 125 milhões. Também foram realizadas escavações pelo IPHAN e descobertos diversos objetos antigos, que foram colocados em um memorial construído na igreja do bairro.


PATRIMONIO AMEAÇADO PELA CONSTRUÇÃO DA VIA EXPRESSA

VINHAIS VELHO AMEAÇADO PELA VIA EXPRESSA Profa. Dra. Antonia da Silva Mota – Dep. De História UFMA A comunidade de Vinhais Velho passou por todos os momentos da história das Américas. Foi terra indígena, em que grupos semi-nômades viviam da caça e da pesca; coletando e plantando, no intuito de se manter, criar seus filhos e enterrar seus mortos. Até que, no final do século XVI, tais grupos pertencentes à grande nação Tupinambá foram conquistados pelos franceses com quem iniciaram trocas de produtos regionais por quinquilharias. Atestam pesquisas recentes que, por esta época, carregamentos de mercadorias chegavam ao porto de Dieppe vindos das “Terras do Maranhão”. O retorno lucrativo das transações encorajou a nação francesa a fundar uma colônia, a França Equinocial, designando uma missão composta de generais, capitães e religiosos para concretizar a empreitada. Em 1612, A Missão Francesa, depois de fundar um forte e as primeiras construções civis, saíram em visita pela Ilha, quando então conheceram Eussauap, que em passagens diversas do relato do padre Claude d’Abeville conta que era a segunda comunidade indígena em população na Upaon Açu. Segundo o capuchinho, neste lugar foi erguida pelos índios uma capela, com uma grande cruz, devidamente benzidas pelos padres capuchinhos na ocasião da visita. (2002, p. 107) Mais tarde, em 1615, como resultado de articulações diplomáticas, os franceses foram convencidos a deixar o território aos portugueses, que iniciaram o processo de colonização. Sobre o espaço onde estava Eussauap, organizou-se um aldeamento missionário, como nos informa o historiador César Marques: Na armada de Alexandre de Moura vieram os jesuítas Manuel Gomes e Diogo Nunes. Quando principiaram a estabelecer missões de índios a primeira que fundaram foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios que tinham trazido de Pernambuco, e como esta houvesse de ser a norma das mais aldeias, nela estabeleceram todos os costumes que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificação aos estranhos [...] foi chamada aldeia da Doutrina, e hoje se chama Vinhais. (1970, p. 394 e 632)

A comunidade indígena de Eussauap tornou-se Uçagoaba, depois Aldeia da Doutrina, no trabalho de catequese dos jesuítas. Como sabemos, nas áreas sob influência dos padres muito se construía, logo erigiam uma capela, cemitério, escola, oficinas para ensinar ofícios, casas para os


índios aldeados, plantações, algumas possuíam olarias, fazendas de gado, engenhos de cana-deaçúcar etc. Os índios também eram estimulados a coletar as “drogas do sertão”, que eram exportados pela Companhia de Jesus sem pagar impostos na alfândega. Os aldeamentos missionários agrupavam grandes contingentes de nativos, impondo-lhes fainas agrícolas e artesanais contínuas intercaladas com momentos de lazer e oração, projeto missionário cuja tônica era mais civilizacional do que religiosas. (VAINFAS, 200, p. 327)

Os grupos indígenas reunidos em um só lugar eram obrigados a “sedentarizar-se por meio do trabalho agrícola, a adotar costumes cristãos. Desta forma, as Missões “desarticulavam as culturas indígenas, ao fixar populações semi-nômades e alterar radicalmente seu modo de vida”. (VAINFAS, 2000, p. 22 e 327). Importante desmistificar as impressões superficiais dos Jesuítas como defensores dos Índios. Os estudiosos não chegaram a um acordo sobre o que efetivamente significou mal maior às populações indígenas: se as armas e a escravização dos capitães-generais ou a catequese dos missionários. Ambas significaram um desastre biológico e cultural para milhões de ameríndios. Em quase um século e meio, alimentada pelo trabalho compulsório dos índios aldeados, as Missões Jesuíticas se espalharam pelo então Estado do Grão-Pará e Maranhão. A Coroa portuguesa, percebendo tal ameaça determinou a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, em 1759 e 60. Os bens da ordem foram confiscados e os aldeamentos missionários elevados à categoria de vilas, com Casa de Cadeia e Câmara. Nova Lei concedendo liberdade aos índios foi promulgada, tornando os mesmos súditos da coroa. O controle dos povoamentos passou ao controle do Estado português, notadamente dos governadores, a quem coube a tarefa de indicar Diretores, intermediários entre os índios e os colonos. Ante a importante missão de “civilizar” os índios, aos diretores foi dado o poder de repartir a mão-de-obra disponível nas aldeias conforme as necessidades de obras públicas ou interesses particulares, mas mediante o pagamento de um “jornal”, um salário. Em 1757, a aldeia da Doutrina passou a se chamar Vila de Vinhais, com casa de Cadeia e Câmara, sendo eleitos vereadores e nomeados juízes. O arquivo público do Maranhão guarda tanto os registros ligados à capela de São João Batista de Vinhais, com seus livros de batismos, casamentos e óbitos, como as atas e Livros de Registro de seu Conselho Municipal, que passou a funcionar em um sobrado. (MARQUES, 1970, p. 632). A comunidade existente na antiga Eussouap era tão próspera neste período, segunda metade do séc. XVIII, que o governador Joaquim de Melo e Póvoas fundou ali uma “fábrica de soque de arroz”, onde foram empregados os outrora índios missioneiros. As “fabricas” para beneficiar o arroz eram comuns nos arredores de São Luís, uma vez que o Maranhão era grande produtor e exportador de arroz no período. Tais empreendimentos estavam localizados nas margens dos igarapés, aproveitando a força das águas para mover seus engenhos. Existem registros sobre várias destas fábricas nos arredores do porto de São Luís, a partir da então Praia do Caju, passando por Santo Antônio, Remédios, Genipapeiro, Camboa, até chegar a Vila de Vinhais. Com a decretação do Diretório (1757-58), os índios passaram a ser súditos da coroa “com privilégios”, como a doação de terras e promessa de escolas para educar os nativos, de “civilizálos”, afinal. Neste processo acelerou-se a perda de identidade cultural das populações nativas, pois a língua portuguesa tornou-se obrigatória, os ritos e crenças indígenas foram considerados condenáveis, a bigamia perseguida e os casamentos mistos incentivados. (VAINFAS, 2000, p. 186/187) Hoje sabemos que a liberdade e assalariamento dos descendentes das populações indígenas ficaram apenas na letra escrita. Logo os abusos contra as populações indígenas tornaram-se mais intensos, sendo fartamente documentados através dos requerimentos enviados por lideranças indígenas ao Conselho Ultramarino. Neste sentido foi que, em 1782, se queixou o índio Manuel Ribeiro através do vigário da Igreja de São João Batista de Vinhais, como vemos na transcrição abaixo: Do presente Vigário da Villa de S. João de Vinhais. A todos que a presente certidão virem que he verdade ter o suplicante Manoel Ribeiro cinco filhos, e ser lavrador em terras suas próprias e ser bem procedido, temente a Deus, cabido da Igreja, e lhe terem tirado da sua companhia, em grave detrimento de sua casa, para trabalharem no serviço da roça do Sargento-Mor


Antônio José de Brito; não obstante ter servido o dito na Câmara da dita Villa, e por ser todo o referido verdade o juro aos Santos Evangelhos, Villa de São João Batista de Vinhais, aos vinte e três de junho de 1790. Pe. Timotheo de Santa Rita e Serra (AHU, Manuscritos diversos, Cx. 68, D. 5933, grifos meus)

Pelo conteúdo das denúncias torna-se claro que os diretores nomeados pelos passaram a cometer inúmeros abusos, uma vez que “as comunidades indígenas passaram a ser vistas como exército de trabalhadores”, ocorrendo uma nova espécie de servidão. Neste mesmo ano, 1782, ao Conselho Ultramarino, encarregado dos negócios de ultramar no Império marítimo português, foi enviada uma “representação do juiz da Vila de Vinhais Calisto Arnaut, e do escrivão dos Armazéns Reais, Valério Xavier Campelo para rainha D. Maria I, solicitando medidas de proteção para os índios que vivem em estado de cativeiro.” (AHU, Cx. 58, doc. 5397) Melo e Póvoas, governador durante décadas do antigo Estado do Maranhão, foi consultado sobre as sucessivas queixas que vinham da colônia e respondeu nos termos abaixo: Senhora, He Vossa Magestade servida mandar ouvir o meu parecer na queixa que forma o Juiz da Villa de Vinhais Calisto Arnaut, de seu diretor Luís Liconti, e do General que me sucedeu no Governo do Maranhão. Só quem viesse agora daquela terra poderia verdadeiramente informar da queixa que faz o suplicante, eu o que posso dizer lhe, é que a Villa de Vinhais era muito populoza no meu tempo, que por ser hu bom porto de mar, e perto da cidade, estabeleci nella huma boa Fábrica de arroz, em que os Indios tinhão os mais avultados interesses, e não os empregava em outros serviços por ser interessante ao de Vossa Magestade o da Cultura e Descasque de Arroz, que por isso não havia nesta Villa rossa do comum. Sempre fiz conservar aos índios os seus privilégios para ser assim maior a porção de dinheiro para se poderem manter [...] Agora o suplicante se queixa de que a três annos lhe não pagão, isto me paresse impossível, porque não tendo os Índios outra fonte de Rendimento, possão subsistir sem lhes pagar a tanto tempo. Queixa o Suplicante de que os Indios são obrigados a hir trabalhar nas Rossas que o Diretor tem no Rio Mony, Cumã, e Tury, o que He inteiramente contrario a novíssima Ley do Directório, que prohibe aos Directores o terem Rossas, nem gênero algum de comércio, da mesma sorte o Diretório manda que quando se vão com as Portarias buscar os Índios às Povoações se deixe nella o salário do tempo por que vão servir, o qual fica no cofre da Villa, para se lhe entregar quando a Ella se Recolham, e faltando-se a todos esta circunstância está inteiramente prevertida a boa ordem do Governo dos Índios, o que se não espera de nenhum General cordato, por que o seria arruinar-se totalmente o Estado. E como os ouvidores tem obrigação de conhecerem nas correições, dos Directores, por este Ministro pode Vossa Magestade saber, se he ou não certo o de que se queixa o suplicante... Isto He o que me paresse Vossa Magestade mandará o que for servida Paço do Lumiar, a 11 de Março de 1783, (AHU, Cx 59, doc. 5452)

O parecer do capitão-general mostra o que ocorreu no antigo estado do Grão-Pará e Maranhão após a saída dos jesuítas. Sob o biombo de leis protecionistas, a população indígena ficou à mercê dos interesses dos colonos, ávidos de terras e mão-de-obra para produzir gêneros comercializáveis. A comunidade da Vila de Vinhais, que o capitão general ressaltou ser no seu tempo “populoza e prospera”, localizada muito próxima da sede da capitania, foi presa fácil dos interesses voltados para a agroexportação. Em 1787, denúncias mais graves chegam a Lisboa, como segue: “requerimento do Juiz da vila de Vinhais, Calisto Arnaut, que se queixa das violências praticadas contra os índios pelo diretor desta vila, Luís Liconte. Por isso, solicita uma devassa ao seu procedimento”. Extratos do texto são transcritos abaixo: O Juiz da Villa de Vinhais, Calisto Arnaut, Indio nacional da capitania do Maranhão, na qual disse que ele servia a Vossa Magestade naquella Villa havião quatorze annos com boa satisfação, e sendo a mais populosa de quantas se crearam na dita capitania, a mais abundante de gêneros, e fértil em todas as suas produções, sempre se governaram em paz, e os índios dela perceberam os seus interesses Repartidos a seu tempo, conforme as Reais Ordens de Vossa Magestade, conservando-se nos seus Privilégios. Que tomando porem posse do Governo D. Antônio de Sales Noronha, tudo tinham sido inquietações, prejuízos, injúrias, e castigos que se fazião naquela villa....(AHU, Caixa 76, Documento 6518).


Historiadores e antropólogos são unânimes em afirmar que a partir daí as populações indígenas foram submetidas a uma servidão disfarçada, sendo expulsos das terras mais férteis e seu trabalho usado para enriquecer funcionários régios e particulares. Pela farta documentação depositada nos arquivos, acreditamos que durante todo o século XIX se consolidou o processo de expulsão das populações nativas e ocupação de suas terras pelos fazendeiros. Em poucas décadas fez-se a ruína da Vila de Vinhais, tanto que seus não puderam impedir o desabamento da capela de São João Batista, sendo o pedido de reconstrução feito por seus vereadores em 1857. (César Marques, 1970, p.632) Na segunda metade do século XIX, inúmeras fontes se referem aos negócios movimentados por Ana Jansen em Vinhais, onde inúmeros poços d’água eram explorados para abastecer o núcleo urbano próximo, São Luís. Outra importante figura feminina maranhense tem sua presença ligada à vila de Vinhais, trata-se de Catarina Mina. A alforriada que adquiriu alguma fortuna em vida deixou uma esmola para que se continuasse a fazer o famoso festejo de São Pedro, realizado com festas no antigo aldeamento jesuítico. Com a queda dos preços do algodão e do arroz, a agroexportação deixou de ser o eixo econômico da região. Desde a segunda metade do século XIX as famílias de comerciantes e proprietários rurais enriquecidos no período colonial buscaram novas alternativas de negócios. Em Vinhais Velho, algumas poucas famílias descendentes da extinta nação Tupinambá, resistiram em torno da capela em ruínas. Passaram a sobreviver nas terras próximas ao igarapé, estas agora sem nenhum valor comercial. Os jovens do bairro que chegavam à idade produtiva eram mandados por seus pais para trabalhar em serviços subalternos, as famílias complementando sua renda com pescados e frutos da região. Seu Olegário, descendente do índio Manuel Ribeiro, aquele que se queixou das violências feitas aos índios à rainha D. Maria I, conta que ainda rapazote foi trabalhar com a família de César Aboud, proprietário de fábricas de tecidos em São Luís. Segundo relata, só vinha em casa a cada quinze dias, mas acompanhava de perto a sobrevivência do lugar. Em suas conversas lembra que foi batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, demolida na época dos bondes e que deu lugar à construção do primeiro edifício de São Luís, o Caiçara... Quando já no século XX, a partir da década de 70, grandes avenidas rasgaram a capital, a antiga Vila de Vinhais continuou isolada, os poucos moradores utilizando canoas para se locomoverem, sendo utilizada também a estrada do Anil para chegar ao centro de São Luís de carro. Na década de oitenta, os quintais que circundavam a antiga comunidade passaram a ser ameaçados pela especulação imobiliária, que buscava novos espaços para se expandir. Inúmeros conjuntos habitacionais e condomínios fechados foram “comendo” as áreas verdes no entorno do antigo povoamento. O isolamento do lugar, que passou por todo aquele processo histórico comunidade indígena, missão jesuítica, vila de Vinhais e depois bairro periférico -, preservou a cultura tradicional, seja na memória dos anciãos como nas práticas de seus moradores. Finalmente, agora a Via Expressa ameaça passar por cima da comunidade, expulsando famílias que sempre viveram no lugar, que mantiveram com seu esforço pessoal as tradições herdadas de seus ancestrais. Uma das lideranças da comunidade é Dona Ulbaldina, hoje com oitenta e cinco anos, que desde sua mocidade zela pela igreja secular. Dedicação que vai além do cuidado com o templo, mantendo as tradições do catolicismo popular, com seu calendário litúrgico composto por várias festividades, incluindo rezas, cânticos, ladainhas e procissões. Tragicamente, a família de seu Olegário, d. Ubaldina e de Maria Vitória, anciãos na faixa dos oitenta anos, cujos filhos e cônjuges, netos e bisnetos, totalizando mais de cinqüenta pessoas, que até agora viviam mansamente nas propriedades deixadas por seus ancestrais, tiveram parte de suas moradias condenadas para passagem da Via Expressa. No processo de “desapropriação a bem do serviço público” as casas da família Ribeiro foi avaliada em torno de trinta mil reais pelos engenheiros da Caixa Econômica, acionados pela Secretaria de Infra-estrutura do Estado do Maranhão. São residências simples, mas com grandes quintais contendo reservas de mata nativa e nascentes de águas cristalinas. Trata-se de uma injustiça


muito grande, pois com o valor das indenizações jamais conseguirão comprar imóveis na área, hoje supervalorizada. Importante ressaltar que Vinhais Velho não se constitui num caso isolado. O interior do Estado do Maranhão e as áreas periféricas da ilha de São Luís vêm passando por este processo desde a década de setenta do século XX, quando grandes projetos expulsaram de suas terras comunidades tradicionais. No interior da ilha inúmeras comunidades foram expropriadas para a implantação da Alumar e da Companhia Vale do Rio Doce. Nos últimos anos, as obras financiadas pelo PAC, novamente ameaçam comunidade tradicionais, que se vêem obrigadas a se alojar de qualquer forma nos bairros de ocupação ilegal. A luta das famílias sob ameaça de despejo é pela permanência na área, pois ninguém é mais merecedor do que eles, que descendem das populações ameríndias que milenarmente ocupavam estas terras. Também lutam para que as comunidades tradicionais sejam respeitadas, seus espaços de vida preservados. Finalmente, a comunidade de Vinhais Velho reivindica que este espaço, de grande valor arqueológico e histórico, seja estudado pelas instituições de pesquisa e ensino, em especial neste ano em que São Luís completará 400 anos. REFERÊNCIAS D’ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. D’EVREUX, Yves. Viagem ao Norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. São Paulo: Sciliano, 200.

MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, l970. SILVA FILHO. Olavo Pereira da Silva. Arquitetura Luso-brasileira no Maranhão. 2ª ed. Belo Hor izonte: Formato, 1998 PORTUGAL. ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO. Manuscritos avulsos relativos ao Maranhão. VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.

2011 – PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTA DE VINHAIS - COMISSÃO DE COMEMORAÇÃO DOS 400 ANOS São Luís-Maranhão, 28 de novembro de 2011-11-28 Excelentíssima Senhora Governadora do Estado do Maranhão SRA. ROSEANA SARNEY MURAD E.M. Senhora Governadora Roseana


Vimos perante Vossa Excelência, e reportando-nos a reunião havida entre esta Comissão de Comemoração dos 400 anos da Igreja de São João Batista - e da Vila de Vinhais Velho e a Sra. (??), de sua Assessoria, reunião corrida em __/__/2011, em que se tratou das necessidades desta Comunidade para registrar o Quarto Centenário, a acontecer no ano de 2012, em 20 de outubro: DOCUMENTÁRIO SOBRE A VILA DE VINHAIS VELHO E SUA IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA Com recursos angariados junto às Comunidades do entorno da Igreja de São João Batista, localizada na Vila Velha de Vinhais, produziu-se um Documentário - roteirizado por pesquisadores residentes no Recanto dos Vinhais, produzido e dirigido pelo cineasta Murilo Santos – contando a História da Vila e de sua Igreja, o modo de vida de seus moradores e seus atrativos; pretende-se, agora, produzir CD-Room – pelo menos 5.000 (cinco mil exemplares), com encarte, para ser colocado à venda e arrecadar fundos para as obras sociais da Igreja. VIVA VINHAIS VELHO Desde a administração anterior de Vossa Excelência temos notícias da implantação de um “VIVA” em nossa Comunidade; o que esperamos que se concretize nesta administração e o seja como a obra marcante, comemorativa aos 400 anos. Mas pensamos num novo conceito, mais amplo. Não apenas a urbanização do espaço, e aqui deixamos a sugestão que seja na área verde existente na entrada do Recanto de Vinhais, que poderá comportar outros equipamentos. Nossa solicitação é que se de a implantação de uma Praça da Juventude e/ou de Saúde, em convênios com os Ministérios de Esportes e da Saúde, com quadra coberta, para a prática de esportes de salão; uma biblioteca, anfiteatro, brinquedoteca, ambulatório médio-odontológico – e aqui, implantação de um PSF, com equipe multidisciplinar de profissionais da área de Saúde. Um auditório, com capacidade para 250 pessoas, em que se possa programar conferencias e palestras educativas, cine-vídeo, devidamente equipada com material de som e audiovisual, e sirva também para as assembleias das diversas associações de moradores existentes no entorno do Vinhais Velho; sede para essas associações, composta desse espaço sugerido, sala de reuniões com capacidade para 30 pessoas, uma secretaria, que possa atender a todas as referidas associações, e a sede da AMOREV, que ficaria responsável pela administração do espaço. 2012 -


2014 - REQ 250/2014 - Requerimento

PROJETO DE LEI Nº 140/2014, QUE CONSIDERA PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DO MARANHÃO A HISTORIA DO BAIRRO VINHAIS VELHO, EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO. Autor: Bira do Pindaré Localização Atual: Diretoria da Mesa Situação: Proposição aprovada Última Ação: APROVADO EM 19/11/2014. - Em: 26/11/2014 Norma Jurídica Vinculada: Não há



2019 – por qual motivo o Memorial foi desativado em meados de 2019 e ainda não foi reativado para contemplação da própria Comunidade e, até mesmo, para pessoas que fossem de fora desta? Será que as peças realocadas no Memorial têm de fato importância para a Comunidade? Pois, observando de fora, percebo que outros fatores foram mais influentes negativamente dentro daquela pequena Comunidade, do que a inserção de um Memorial, com artefatos arqueológicos datados de séculos passados. Ademais, qual é o resultado da presença de um espaço voltado a uma historicidade arqueológica? Tendo em vista o fato da Comunidade Vinhais Velho não ter realizado a ação dela própria construir e criar um espaço para contar e expressar sua história, realço nesta pesquisa a diferença que há entre o Memorial presente no Vinhais Velho, construído pelo Estado e uma possível implantação de um Centro de Ciências e Saberes, este que será abordado no decorrer da pesquisa. Não se havia conhecimento pelos membros da Comunidade até então de que haviam artefatos arqueológicos de povos Tupinambás naquele lugar e que, por anos, isso estava “escondido”, mas que já fazia parte da história da Comunidade. Não foram os moradores quem ergueram as paredes do memorial, nem tampouco “guardaram” as peças arqueológicas, mas percebe-se que há uma relação, ainda que não tão profunda, a respeito de tal memorial. VINHAIS VELHO: identidade, história e memória marcadas por impactos socioculturais resultantes da construção da Via Expressa em São Luís – MA; ARIÉLE DUCARMO SANTOS BOÁS

2021 – A Vila de Vinhais Velho – e bairros adjacentes – pertencem à Gleba Rio Anil, adquirida pela União em 1970/73 - DECISÃO: Suspensa decisão que considerava indevida a cobrança de taxa de ocupação, foro e laudêmio de imóvel situado no Rio Anil (MA) 28/10/21 17:20


A 7ª Sétima Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) suspendeu a sentença que impedia a cobrança pela União da taxa de ocupação, foro e laudêmio, de um imóvel situado no Rio Anil, no município de São Luis, capital do estado do Maranhão. A União interpôs apelação contra a sentença, sob a alegação de que o domínio do imóvel foi anterior à publicação da Emenda Constitucional (EC) 46/2005, que retirou da União o domínio de bens imóveis situados em ilhas costeiras, sede de municípios. Ao julgar o recurso, o relator, desembargador federal Hercules Fajoses, afirmou que a orientação do Supremo Tribunal Federal (STF), em repercussão geral, é que a EC 46/2005 “não alterou o regime patrimonial dos terrenos de marinha, tampouco dos potenciais de energia elétrica, dos recursos minerais, das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e de nenhum outro bem arrolado no artigo 20 da Constituição Federal”. O magistrado destacou em seu voto que, de acordo com os documentos apresentados nos autos, “destaca-se que o imóvel caracterizado como ‘Nacional Interior’, desmembrado da área denominada Rio Anil, foi objeto de aforamento transcrito em registro imobiliário em 13/03/1973, ou seja, em data anterior à vigência da Emenda Constitucional 46/2005”. Desta forma, considerou legítima a exigência da taxa de ocupação, foro e laudêmio. A 7ª Sétima Turma do TRF1, por unanimidade, deu provimento à apelação, nos termos do voto do relator. Processo: 1004993-95.2019.4.01.3700 Data do julgamento: 28/09/2021 Data da publicação: 05/10/2021


CASA GRANDE/SEDE DO SÍTIO DO FÍSICO OU SÍTIO SANTO ANTÔNIO DAS ALEGRIAS.

O Sítio do Físico foi um complexo industrial muito importante no período colonial/imperial, sua construção data de fins do século XVIII e início do XIX, situada à margem direita do rio Bacanga. Era de propriedade do físico-mor da então Capitania Geral do Maranhão, Antônio José da Silva Pereira. Sua importância está relacionada ao fato do local ter abrigado a primeira indústria da região, com o beneficiamento do couro, arroz e ainda a fabricação de cera e cal. Além disso, após a morte do físico em 1817, passou a fabricar fogos de artifícios. Suas ruínas encontram-se entre os mais preciosos Sítios Arqueológicos do país. Em 1976, foi feito o “Relatório de Pesquisa Arqueológica-Histórica e História sobre o Sítio Santo Antônio da Alegria (Sítio do Físico)”. Através desse trabalho inúmeras informações foram levantadas, como os vários padrões de azulejos, do período pombalino. O Sítio do Físico antes do seu tombamento na década de 1980, já era bastante conhecido pelo IPHAN mas foi reconhecido tardiamente como patrimônio, até a década de 1970 ainda existia a Casa Grande, mas desapareceu, o que restou foram as ruínas do complexo industrial. Antes da década de 1970, aliás, muitos sítios antigos do interior da cidade foram registrados por fotos pelo IPHAN, mas boa parte não foram tombados e consequentemente alguns sumiram como Sítio Paraíso, Sítio Britanhia, por exemplo.

Imagem: Base do texto: Ipatrimônio.Org

@iphangovbr


A FEBRE DAS DISCOTECAS NA CAPITAL

A febre das discotecas na capital teve seu ápice no final dos anos 70 e se solidificando nos 80, quando fez surgir várias casas com este tipo de entretenimento para a juventude ludovicense da época e em diferentes bairros. Destaque para a "Discotheque Krokodilhu's" na Camboa que conforme matéria, era a mais nova a oferecer tal serviço em um local por si desfavorecido social e negligenciado culturalmente. Que a partir destas dificuldades de aceitação, compreensão e de se autoafirmar como parte deste processo cultural, o jovem idealizador deste empreendimento (foto 2) afirmou ter vencido os obstáculos. Curiosidade 1: A periferia fazia-se presente nesta onda e que não ficava apenas nos bairros ditos privilegiados, Retiro Natal é um exemplo. Curiosidade 2: O nome "204" era referente a unidade no bairro e veio antes do famoso "Clube da Cohab", que era na verdade a sede da associação daquele conjunto residencial. Curiosidade 3: Na antiga sede administrativa e que foi também social do Litero, a parte superior era transformada nos finais de semana em pista de dança, que iniciou no final da década de 70 até os 80. Curiosidade 4: O Casino, por alugar ou arrendar os salões, foi talvez o mais "eclético" neste seguimento, pois funcionou em diferentes períodos de 2 décadas, duas discotecas muitos populares. Fontes: Diário do Povo. 1978. Via @bpbloficial O Imparcial. 2017.



PEDRO TEIXEIRA, O PORTUGUÊS QUE CONQUISTOU A AMAZÓNIA É CONSIDERADO O CONQUISTADOR DA AMAZÓNIA POR TER DESBRAVADO E TOMADO POSSE DE MUITAS TERRAS PARA A COROA PORTUGUESA NO BRASIL.

MÁRCIO MAGALHÃES

Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia Existem muitos portugueses que ficaram ligados a alguns acontecimentos históricos relevantes. Ao longo de quase 900 anos de história não se consegue reunir todos num só artigo, mas podemos dedicar a nossa atenção a um feito por artigo. Pedro Teixeira é o nome que hoje iremos dar a conhecer, pois este homem foi o conquistador da Amazónia. Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia

Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia Pedro Teixeira (1585-1641)


Muito se desconhece sobre a família ou sobre os primeiros anos de vida de Pedro Teixeira. Ele nasceu na Vila de Cantanhede em 1585, numa vila que se encontra a cerca de 20 km a Nordeste de Coimbra. Desde cedo revelou-se muito forte, o que contribuiu para que, em fase adulta, apresentasse uma compleição invejável. Uma robustez que o tornou particularmente talhado para a vida agreste. Tinha apenas 22 anos quando o português partiu para o Brasil, em 1607. Homem de armas Pedro Teixeira distinguiu-se no momento em que participou na campanha para expulsar os franceses de São Luís do Maranhão, que fica no litoral nordeste do Brasil. Depois de Pedro Teixeira ter participado na expedição comandada por Francisco Caldeira Castelo Branco que ancorou na baía de Guajará, ele terá fundado o núcleo da atual cidade de Belém do Pará. Ele também mostrou o seu valor no comando dos portugueses contra as tentativas de ocupação holandesa e inglesa, em batalhas ocorridas ao longo da margem esquerda do rio Amazonas.

Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia Território Pedro Teixeira revelou-se decisivo para a definição do território do Brasil, ao subir o rio Amazonas até Quito, no Equador. Assim, este português contribuiu para a definição do maior país da América Latina. O Brasil é o único da América que tem o português como língua oficial. Momentos memoráveis A participação na campanha que levou à expulsão dos franceses do Maranhão em fins de 1615.


O Governo nacional determina o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, tendo como objetivo consolidar a sua posse sobre a região. Pedro Teixeira, enquanto alferes, era um subalterno de uma das três companhias da força expedicionária lusa. A tropa entrou na Baía de Guajará no dia 12 de janeiro de 1616. Depois de desembarcar numa ponta de terra firme, logo foram iniciadas as obras de instalação e de defesa. Num local, foi erguido o Forte que tomou o nome de Presépio. Foi a origem da atual cidade de Belém. Pedro Teixeira chefiou a expedição que, em 1637, partiu do Maranhão com 70 soldados, 45 canoas, 1200 “flecheiros” e remadores indígenas. O percurso realizado foi a subida do curso do rio Amazonas até Quito, no Equador. Para delimitar as terras de Portugal e de Espanha, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, ele fundou o povoado da Franciscana, na confluência do rio Napo com o Aguarico, no alto sertão.

Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia Entre os anos 1637 e 1639, Pedro Teixeira realizou uma expedição pelos rios Amazonas e Negro, que permitiu incorporar várias terras ao território. O reconhecimento pela sua obra foi tal que ele foi agraciado pelos 25 anos de profícuos serviços ao Rei de Portugal. A lista de serviços prestados na conquista da Amazónia brasileira era extensa. Por isso, foi justamente agraciado com o cargo de capitão-mor da Capitania do Grão-Pará, local onde Pedro Teixeira veio a falecer, mais precisamente em 1641. Pedro Teixeira viu a sua viagem ser registada pelo jesuíta Cristóbal de Acuña. O momento foi colocado numa obra que foi editada em 1641. Pedro Teixeira é o Conquistador da Amazónia, conhecido e reconhecido por ter desbravado e tomado posse de muitas terras, pois ao longo do século XVII ele contribuiu para o aumento de territórios da Coroa Portuguesa no Brasil.


Estátua de Pedro Teixeira em Cantanhede, Portugal. O contributo do português Por muitos defeitos que tenha tido, Pedro Teixeira foi uma pessoa de extrema importância. Foi um nome emblemático para os portugueses, mas também para os brasileiros. Este português foi responsável por incorporar no território brasileiro cerca de cinco milhões de quilómetros quadrados!


ELIZABETHO CARVALHO

Natural da cidade de Floriano-PI, chegou em Pinheiro no início do século passado, para exercer o cargo de Juiz de direito deste município, más trazendo consigo a predestinação de transformar para melhor, a vida do povo que aqui vivia. Quem o visse, alto, magro, fisionomia triste, longe estaria de imaginar que aquele homem iria amar tanto esta terra, abraçando-a como sua. As primeiras e principais ruas e avenidas de Pinheiro, parecem haver sido planejadas por técnicos, más não, deve-se a engenharia de AMOR de Elizabetho por este torrão. Neste sentido, o seu primeiro trabalho foi de conquista, e graças ao seu espirito de liderança, em pouco tempo já tinha a simpatia, a amizade e a confiança dos pinheirenses, interessando-se pelos seus problemas e procurando ajudá-los na medida do possível. Solicitava aos proprietários que construíssem suas casas em alinhamento, próximas uma das outras, e que fizessem o possível para reboca-las e cobri-las com telhas. Orientava os comerciantes, mostrando-lhes a necessidade de ampliação do comércio para conseguir mais lucros, a renovação do estoque, enfim, ele era o mestre e o conselheiro, que orientava e guiava uma população que tanto almejava o progresso. Muito preocupado com a cultura, promovia reuniões, palestras, festas, teatros. Fundou uma Escola Normal, uma Biblioteca e até uma Loja Maçônica. Amante das letras, fundou o jornal "Cidade de Pinheiro", que por muitos anos foi o nosso principal meio de informação. Em pouco tempo Elizabetho Carvalho tornou-se líder político de grande prestígio neste município, orientando e estimulando a cada prefeito que assumia. Casou-se com uma pinheirense, mas cedo viu-se privado da convivência do grande amor da sua vida, pois a mesma veio a falecer prematuramente. Mesmo com este triste acontecimento, não o fez abandonar a sua querida Pinheiro. Galgou os mais altos postos da Magistratura Maranhense, ocupou algumas vezes os mais importantes cargos do Governo Estadual, sempre sem vaidade, nunca usufruiu do seu prestígio em benefício próprio. Ao se aposentar, escolheu Pinheiro para viver os últimos anos da sua vida. Foi então, que o povo pinheirense o elegeu Prefeito Municipal em 1960, tendo falecido logo após o término do seu mandato. O corpo do Grande Elizabetho Barbosa de Carvalho, descansa para sempre no cemitério no centro da cidade de Pinheiro, onde numa lápide de mármore, mostra o seu último gesto de amor por este município. Pinheiro MA, 20 de junho de 2022 José Raimundo Barros Fonte: Escritora Graça Leite


FAMÍLIA COELHO DE SOUZA Sepulturas do Sr. Elisipo Coelho de Souza e de sua esposa Benedita Maria de Araújo (filha do capitão José Antônio de Araújo e Raimunda Benedita de Araújo). Fica na Fazenda Barrinha, antiga Vila de Grajaú, atual município de Formosa da Serra Negra. Sepultamento da primeira metade do séc XX.

A família Coelho de Souza, a mesma do litoral ocidental do Maranhão (Guimarães), também foi desbravadora do centro-sul do Maranhão. Vídeo gravado por Orlan Coelho . Créditos: Dr. Marcio Costa Portilho Coelho Ossian Doralino


DR. NETTO GUTERRES.

O Ilustre Luís Alfredo Netto (ou Neto) Guterres, maranhense de Alcântara, veio ao mundo em 1880. Estudou no Liceu Maranhense, onde obteve a sua formação básica, e seguiu para o Rio de Janeiro, então capital da República, e ingressou na Faculdade de Medicina. Formou-se no ano de 1905, trabalhou na Santa Casa e foi assistente do famoso pediatra Dr. Cândido Barata Ribeiro, de quem teria recebido convite para permanecer na Capital Federal. O médico Cândido Barata Ribeiro depois se tornaria o primeiro prefeito do Rio de Janeiro. Netto Guterres voltou para São Luís em 1906. Segundo o seu colega Clarindo Santiago, citado pelo historiador Carlos de Lima, “falou-lhe mais alto o sangue na voz celular do amor aos que lhe cercaram a infância”. Em terras ludovicenses, logo o grande alcantarense se revelou um apóstolo da medicina. Consta que atendia a ricos e pobres, sem distinção de raça, cor ou posição social, não só no seu consultório, que funcionava num anexo de uma farmácia localizada no Canto da Viração, mas até na via pública. Mais: São Luís do Maranhão era, naquela época, uma cidade pequena e ele percorria as ruas a pé, quando saía para algum atendimento em domicílio. Um profissional muito ativo. Foi médico do Exército Brasileiro, da polícia estadual e do serviço de prontosocorro. Participou dos trabalhos para instalação da enfermaria de parturientes da Santa Casa de Misericórdia (Sala Marques Rodrigues) e, segundo a historiadora Maria de Lourdes Lacroix, “trabalhou exaustivamente e sem nenhuma remuneração extra para debelar as epidemias de varíola, de gripe espanhola e de peste bubônica, além de uma de carbúnculo que, veiculada pelas carnes oriundas do Matadouro Municipal, ameaçava a população consumidora”. Segundo o historiador citado, a dedicação do Dr. Netto Guterres à prática da caridade era uma espécie de instinto. Não foi por acaso que ele se tornou conhecido como o “Médico dos Pobres”. A sua trajetória entre nós não foi, porém, das mais longas. Vítima de uma infecção, provavelmente adquirida enquanto executava um ato cirúrgico, ele deixou o mundo físico em 1934. Eram transcorridos apenas seis anos desde a descoberta da penicilina por Sir Alexander Fleming. Vivemos numa época em que a tecnologia vai substituindo, aos poucos, a sensibilidade do médico. Somos, porém, - e sempre seremos -seres humanos. O sofrimento faz, - e sempre fará-, parte da nossa condição animal. Netto Guterres mostrou como lidar com essas coisas. O antigo Largo do Hospital Geral, em São Luís do Maranhão, tem hoje o seu nome. * Médico, membro da Sociedade Maranhense de História da Medicina e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES Fontes: In Memoriam do seu neto o ilustre Dr Luiz Alfredo Netto Guterres Soares, Historiadores Carlos de Lima, Maria de Lourdes Lacroix e o também ilustre José Marcio Soares Leite.


CARTAS DE URQUISO ALVES VIANNA A DOROTHEU CARREIRO VARÃO E A AMARO PEREIRA DE SÁ. ODAIR VIANA

Estas duas cartas, de igual teor, foram escritas por meu trisavô Urquiso Alves Vianna, respectivamente em 30 de abril e 30 de outubro de 1912. Ele morava no povoado Pacas, município de Mirador, Maranhão. As cartas revelam um costume da época, ligado à conduta moral familiar. Pelo visto, uma filha de Urquiso Alves Vianna, cujo nome era Joanna, havia ficado viúva ainda jovem. A mesma tinha fugido com um tal de Raimundo Honorato da Silva e fora morar nos povoados das redondezas. Em seus esforços por preservar a reputação e o bom nome da família, Urquiso escreveu primeiramente uma carta para Dorotheu Carreiro Varão, em 30 de abril de 1912, que era Capitão possuidor das terras do povoado Soledade e adjacências. Ele solicitava informações sobre os procedimentos de sua filha. Seis meses depois, em 30 de outubro de 1912, ele escreveu outra carta para o cidadão Amaro Pereira de Sá, possuidor das terras do povoado Cocos, em busca de informações de Joanna. Ambos responderam as solicitações nos próprios documentos manuscritos e assinaram os mesmos. Assim como Urquiso Alves Vianna, que é meu trisavô por parte de minha linhagem paterna, o cidadão Amaro Pereira de Sá também é meu trisavô por parte da linhagem materna. Depois de mais de um século os descendentes desses três grandes proprietários de terra entrelaçaram-se entre si e constituemse nos milhares de indivíduos que habitam a região e imediações até hoje. Amaro Pereira de Sá e Dorotheu Carreiro Varão constam na Lista de Votantes de Pastos Bons, de 1876. Estou em busca de maiores informações sobre Urquiso Alves Vianna, que veio de Tamboril, Ceará. Ele estudara para ser padre por doze anos. Depois de abandonar o seminário, migrou para o Maranhão e lá casou-se com Firmina Fernandes de Mello, suscitando uma numerosa descendência de doze filhos.


A SESMARIA DE HEYTOR CORREIA DE MIRANDA, NO “RIO DOS MATTOS”, ANO DE 1724. HEYTOR CORREIA É UM DOS LEGATÁRIOS DO PATRIMÔNIO DE NOSSA SRA. DO CARMO DA PIRACURUCA. JOÃO BOSCO GASPAR.

“Joao' da Maya da Gama [sinal público] Faço Saber aos que esta minha Carta de datta e [sismaria] virem que a mim me enviou a dizer por Sua petição Heytor Correa de Mir.da morador na Capitania do Piauhy destricto da Jurisdiçao' do Governador geral deste Estado do Maranhão, que elle Suplicante muito a Custa de Seu trabalho, e despeza de Sua fazenda povoasse hum Citio a que chamao' de Sao' Joao' do Reacho chamado dos Mattos na dita Capitania o qual estava dezerto e devoluto fazendo nelle cazas para Sua Vivenda e plantando Curraes de Gado Vacum, e algum Cavallar para Cituaçao' dos quaes necesitava o Suplicante de tres Legoas de terra de Cumprido, e hua' Legoa e meya de Largura por todo o dito Cumprimento fazendo piao' no mesmo Citio em que o Suplicante tinha fundada a Sua Caza, e tinha possses e Cabedaes Sufficientes para continuar a Cultura da dita terra que esperava aumentar Com a multiplicaçao' dos ditos Gados, e por Ser em utilidade publica tanto da Real fazenda, Como do bem comum da dita Capitania povoaremsse, Cutivaremsse as terras dezertas pelos Livros que Rezervarao' aos direitos Reaes, Correndo a dita ssesmarias de Norte a Sul, me pedia fosse Servido Concederlhe as ditas tres Legoas de terra de Cumprido, e Legoa e meya de Largura em todo o Comprimento no Lugar, e Com as Confrontaçoens nesta declaradas, mandando Se lhe paçasse Carta de datta e sismaria da dita terra, e Citio na forma do Estillo: E attendendo as Rezoes que allegou, Como tambem ao que Respondeo o Doutor Provedor mor da fazenda Real a quem mandei informar. Hey por bem conceder em nome de Sua Majestade que Deos Guarde por Carta de datta e sismaria ao dito Heytor Correa de Miranda tres Legoas de terra de Cumprido, e hua' Legoa de Largo por todo o Comprimento na Capitania, do Piauhy no Citio que chamao' de Sao' Joao' no Reacho Chamado dos Mattos, Correndo do Norte para o Sul para que as haja Logre e pesssua Como Couza pRopRia, e todos Seus Erdeiros Ascendentes, e descendentes Sem pença'o, nem tributo algum, mais que o Dizimo a Deos nossso Senhor dos fructtos que nella tiver, a qual Concessao' lhe faço, nao' pRejudicando a terceiro, e Rezervando os pao's Reaes que nellas houver para Embarcaçoens', Com declaraçao' que mandara' Confirmar esta Carta por Sua Magestade dentro de tres annos pRimeiros Seguintes, e cultivara' as ditas terras de maneira que dem fruttos, e dara' Caminhos publicos e particulares aonde forem necesssarios para pontes, fontes, portos, e pedreiras, e Se demarcara' ao tempo da possse por Rumo de Corda e braças Craveiras Como he estillo, e Sua Majestade manda, E outro Sim nao' poderao' nellas


Suceder Relligioes' por nenhum tittollo, e aContecendo possuhillas, Será Com o encargo de pagarem dellas Dizimos a Deos Como Se fossem possuidas por Secullares e faltandosse a qualquer destas Clauzullas sse haverao' por devolutas, e Se darao' a quem as denunciar Como o dito Senhor Ordena. Pello que mando ao Doutor Provedor mor da fazenda Real maes Menistros, e pesssoas a que tocar que na forma Refferida, e Com as condiçoens' declaradas, deixem ter possuhir as ditas tres Legoas de cumprido, e hua de Largo nas partes ja mencionadas ao dito Heytor Correa de Miranda, para elle, e todos Seus Erdeiros ascendentes, e descendentes, Como Couza pRopria: CumpRam, e guardem esta Carta tao' inteiramente Como nella Se Conthem, a qual lhe mandey passsar por mim aSinada e Sellada Com o Sinette de minhas armas, que Se Regisarâ aonde tocar, e Se passsou por duas vias. Dada nesta Cidade de Sao' Luiz do Maranhão aos vinte e Sinco de Abril. Anno do Nascimento de Nossso Senhor Jezus Christo de mil Sette Centos e vinte e quatro. Jozeph Duarte Cardozo Secretario do Estado a fes [sinal público] Joao' da Maya da Gama”. Fonte: Livros de Sesmarias do Estado do Maranhão, nº 01, documento nº 110.


A SESMARIA DOS ÍNDIOS ANAPURUS, VIZINHA AO “ARRAYAL” DO FALECIDO MESTRE DE CAMPO, BERNARDO CARVALHO DE AGUIAR. JOÃO BOSCO GASPAR.

“João de Abreu Castello Branco, do conselho de Sua Majestade governador, e capitam general do Estado do Maranham [sinal público]. Faço saber aos que esta minha carta de Datta, e Sesmaria virem que os Indios Fran.co X.er Capitam da Nasção Anapurú Mirim, e Ambrozio de Souza, capitam dos cabocllos me Representarão que eles com os mais índios seus parentes se achavão situados nas margens da Ribeira da Parnahiba na parte chamada o Brejo, e Arrayal que Cituou o [falecido] Mestre de Campo Bernardo de Carv.o e Aguiar, cujo alojamento estabelecerão desde o tempo da sua Converssão ao grêmio desta Madre Igreja em cuja Obdiência vivem, e também como vassalos de Sua Majestade debaixo de Sua Real proteção fabricão suas Lavouras; e porque na cultura destas Se achavão perturbados por se lhe entremeter pello distrito da Sua, Aldeya o Cappitam Miguel de Carv.o e Aguiar [filho do felecido Bernardo Carvalho de Aguiar], que com os pretextos da Fasendas de Gados Se quer Senhorear das terras que aos supplicantes forão destinadas para Sustento de Sua Aldeia, na forma de Ley, e ordem de Sua Magestade me pedião foce Servido Conceder-lhe em nome do mesmo Senhor por Datta, e Sesmaria três legoas de terra de Comprido, e huma de Largo, nas mesmas partes e lugares aonde os supplicantes; e mais índios moradores daqueles distritos Cultivão suas Lavouras (...)”. Fonte: Livro de Datas e Sesmarias do Estado do Maranhão e Gram Pará, nº 10, fls. 77, Título nº 104, data 28 de julho de 1741.


ANCESTRALIDADES ·

Para além dos colonos portugueses, no povoamento dos Açores teve parte importante um grande número de colonos oriundos da Flandres, região muito urbanizada e desenvolvida no século XV, mas que estava a sofrer os efeitos da Guerra dos Cem Anos, vivendo a sua sociedade condições favoráveis à emigração. A casa real portuguesa teve, desde o início da dinastia, uma forte ligação com a casa de Borgonha. O Regente D. Pedro mantinha uma relação estreita com a sua irmã D. Isabel, casada com Filipe o Bom, cuja família detinha o Ducado de Borgonha e o Condado da Flandres desde 1348. Para além de um intenso intercâmbio comercial entre Portugal e a Flandres desde o séc. XIII, os laços familiares entre as duas casas tiveram influência no envio dos muitos colonos flamengos para os Açores, alguns deles fidalgos próximos de D. Isabel. Em 1468, dois anos após ter sido autorizado a povoar a ilha do Faial, um destes fidalgos, Josse Van Huertere (ou Hurtere) foi nomeado capitão-donatário do Faial e do Pico, embora já se encontrassem colonos no Faial à data da sua chegada, vindos da Terceira. Van Huertere fixouse no vale dos Flamengos, mantendo dois grupos de colonos perto do mar, um na baía de Porto Pim e outro na Conceição. A cidade da Horta cresceu entre estes dois pontos iniciais de povoamento. O número de colonos flamengos nos Açores foi de tal modo significativo que até ao século XVII o arquipélago era conhecido como Ilhas Flamengas , surgindo o Faial e o Pico por vezes na cartografia como Nova Flandres. No entanto, no século XVII a população flamenga já tinha sido absorvida pela população portuguesa, através de casamentos e, devido ao ensino do português nas ilhas, por Franciscanos e Jesuítas, desde o final do século XV, a língua flamenga deixara de ter uma presença significativa. Na foto, apenas a fachada principal da igreja de Nossa Senhora da Luz do Vale dos Flamengos. A primitiva igreja foi saqueada e incendiada pelos corsários ingleses em 1597. É reconstruída em 1606, pela acção de Jerónimo de Utra Corte Real, e novamente, em 1736, pela acção do vigário Manuel Brum da Silveira. Aquando do Sismo de 31 de Agosto de 1926, quase todas as casas da freguesia foram destruídas, incluindo a igreja. Novamente reconstruída, veio a arder completamente em 1938, perdendo-se um importante recheio. Foi novamente reconstruída em 1942, edifício mais moderno e de agradabilíssima traça arquitectónica. Sofreu danos com o sismo de 23 de Novembro de 1973, mas é com o Sismo de 9 de Julho de 1998, que ficou novamente em risco de derrocada. ( fonte : Wikipédia ) Infelizmente, devido a tantos sismos ocorridos na região praticamente nada restou do núcleo original dos povoadores flamengos...


GERSON ANTUNES

SINÉSIO BARRETO

Gerson Antunes nasceu em 06 de agosto de 1889, em Caxias, estado do Maranhão. De família pobre, talvez descendente de escravos, tudo indica que teve acesso a alguma instrução, pois, às vezes, escrevia para um jornal de sua cidade e tinha um bom conhecimento musical. Tocava pistão. De sua família sabemos apenas que deixou, no Maranhão, duas irmãs. Ainda bem jovem, teve que deixar sua cidade, pois ousara escrever um artigo, em um jornal local, contra um juiz que fraudara uma eleição. Para não ser preso, fugiu para São Luís, capital do estado. Não se sentindo seguro ali, tomou um “Ita do Norte”, que era um tradicional navio, e foi para Salvador, Bahia. Com poucos recursos, aceitou o emprego numa barbearia, onde não se adaptou, haja a vista sua falta de habilidade com as mãos. Deixando o emprego, ficou a perambular, pelas ruas de Salvador, acabando por se ajuntar a um grupo de músicos boêmios. E, nas serenatas, foi acostumando-se com a bebida, chegando mesmo a viciar-se com álcool. Vivia da generosidade dos companheiros de boemia e de alguma coisa que ganhava quando tocava seu pistão nos bares da cidade. Assim sendo, ficou numa situação bem difícil; roupas em mau estado, sapatos furados, caminhando para se tornar mais um mendigo na cidade de Salvador.


Às vezes, quando se lembrava dessa fase de sua vida, dizia, comovido: “Cheguei a catar ponta de cigarro nas ruas para fumar”. Assim, neste estado deplorável, ia andando pelas ruas, bebendo de botequim em botequim, pois não faltava alguém que lhe pagasse uma dose. Num domingo à noite, passando já bastante embriagado por uma rua, ouviu o cântico de uma melodia. Como era grande apreciador de música, procurou ver de onde partia aquela canção. Era uma Casa de Oração, onde um coral cantava um hino. Foi convidado e lhe deram um lugar para sentar. Naquele momento, só pode apreciar a música, pois o álcool não lhe permitia entender direito o que estava sendo dito. Atraído pela música e pela maneira como foi tratado, voltou. Agora, já não tão embriagado, pôde ouvir e entender a pregação. Quem estava pregando era o irmão Edward Percy Ellis. Falava sobre Elias e os profetas de Baal, fazendo a leitura de 1 Reis, 18. O pregador falou sobre o versículo 21, onde é feita a pergunta: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal é deus, segui-o.” Estas palavras o sensibilizaram, não lhe dando mais sossego. Depois de alguns dias de reflexão, respondeu à pergunta, entregando-se ao Senhor Jesus para seguiLo e servi-Lo pelo resto de sua vida. Deus usou o cântico de um coral para transformar aquela vida que estava caindo na mais negra perdição; perdição da vida física e, o que é mais terrível, perdição da alma. Ele dizia: “Tirou-me do mais profundo abismo”. Por isso, apreciava tanto corais, organizando bons corais em alguns lugares onde morou. O Sr. Ellis se interessou por ele, vendo que, apesar de ter caído tanto na vida social, era uma pessoa inteligente e de bons princípios. Sr. Ellis tinha uma representação de produtos farmacêuticos em Salvador e empregou Gerson Antunes em seu estabelecimento. Por volta de 1918, ou 1919, o Sr. Ellis transferiu-se para o Rio de Janeiro, trazendo em sua companhia Gerson Antunes como seu funcionário. Em 1920, o Sr. McNair, morando na zona rural de Conceição de Carangola, MG, promoveu ali a terceira Escola Bíblica, dando oportunidade a vários moços crentes de estudarem a Palavra de Deus e também receberem alguma instrução. Ali tiveram o privilégio de receber ensinamentos de grandes conhecedores da Palavra de Deus, dentre eles, o renomado Harold St John, que além de muito erudito, era, acima de tudo, um consagrado e piedoso servo do Senhor.


No final do período escolar que durou quatro meses, os alunos da Escola Bíblica receberam uma carta de Joaquim Paulo de Oliveira solicitando uma visita a Barreiros, onde o Evangelho estava se iniciando. Gerson Antunes e Joaquim Alves Mafra se dispuseram a fazer a visita. O Evangelho no município de Itaperuna e região, teve início em 1913, com a colaboração do irmão Alfredo Gonçalves Filgueiras. Nessa localidade iniciou um trabalho Evangélico que logo se estendeu com a conversão de Virgílio Tinoco Machado, que era proprietário de uma fazenda em Barreiros, Valão e indo até à cidade de Itaperuna. Com a visita a Barreiros, Gerson ficou conhecido dos crentes dessa região. Logo que terminou o período da Escola Bíblica, Gerson Antunes voltou para o Rio de Janeiro. Algum tempo depois, o irmão Ellis acabou com o comércio, pois precisava dedicar-se mais à obra do Evangelho que crescia naquela cidade, ficando o irmão Gerson sem emprego. Como mostrava habilidade como professor , foi convidado, por volta de 1927, por Joaquim Paulo de Oliveira, a lecionar para seus filhos e outras crianças da fazenda e de vizinhos. Assim Gerson Antunes foi para essa região. Ministrava os ensinos seculares e cooperava com a obra do Senhor, pregando o Evangelho e ensinando as doutrinas Bíblicas para aqueles que desejavam ingressar na Obra. Casou-se em 1928 com Herondina Bastos, filha de um colono de uma fazenda onde lecionava. Em janeiro de 1929 nasceu o primeiro filho, Eleazar. Teve mais três filhas: Tirza (que morreu na infância), Milca e Naltina. Em 1930, com a crise do café, muitas famílias, principalmente da região do Valão, mudaram-se para o Rio de Janeiro ou para a região do Rio Doce, escasseando o número de alunos. Como em Barreiros havia melhores condições de vida, e portanto maior número de alunos, ele optou por mudar-se para lá. Abriu uma escola em frente à sede da Fazenda, junto a casa em que residia.

Com a mudança do Sr. Mc Nair para Teresópolis, em 1933, a Associação das Casas de Oração ficou com a propriedade que o mesmo havia adquirido no morro que fica atrás da casa de Oração, onde foram construídos uma residência e um galpão para moradia de obreiros itinerantes e uma sala de Estudos Bíblicos. Ali, Gerson Antunes passou a residir, lecionando um curso básico para as crianças da região e também organizando o Instituto Evangélico, onde muitos moços vieram estudar não só, e principalmente, as verdades Bíblicas, mas também as bases da língua para melhor desempenhar o Trabalho do Senhor. Ali trabalhou até 1934, cooperando com a Igreja nos ensinamentos da Palavra e na evangelização. Formou, como já havia feito no Valão, um grande coral, levando a mensagem cantada a muitos lugares. Em 1935, os diretores do Instituto Evangélico acharam conveniente transferi-lo para Carangola, MG. Sendo o professor Gerson o diretor, mudou-se em janeiro deste ano para lá. A Associação adiquiriu ali uma chácara de uns três alqueires de terra onde havia uma casa de morada bem grande. Construíram alojamentos para alunos internos, um refeitório e uma cozinha e um salão para aulas. Essa propriedade ficava a dois quilômetros do Centro da cidade. O Instituto Bíblico de Carangola funcionou até 1939. Com o desencadear da 2ª Guerra Mundial, em setembro deste ano, houve a necessidade de muitos alunos voltarem aos seus lugares de origem e também os recursos para a manutenção da organização ficaram mais difíceis.


Como o Professor Gerson, apesar de autodidata, era um bom conhecedor de línguas, dominando bem o inglês, o irmão Alfredo GonçalvesFilgueiras, que era o diretor proprietário da Academia de Comércio de Vitória, ES, convidou-o para lecionar inglês em seu estabelecimento de ensino. Assim, ele transferiu-se para Vitória-ES, no princípio de 1940. Lá trabalhou lecionando e cooperando com o trabalho dos irmãos que estava se desenvolvendo naquela cidade.

ESCOLA SUPERIOR DE COMÉRCIO - VITÓRIA-ES Sua esposa adoeceu e ele, que há algum tempo vinha sofrendo de hipertensão, teve seu estado de saúde agravado. Com o agravamento de sua doença e a de sua esposa, ele escreveu para o irmão Joaquim Alves Mafra, com quem tornou-se muito amigo, para que fosse busca-lo. Assim, em março de 1943, o irmão Joaquim Mafra foi à Vitória e os levou para Itaperuna. Foi alugada uma casa para sua esposa Herondina, que já estava em fase terminal, ficando ela em companhia de sua mãe, Dona Rita, e mais uma pessoa que cuidava delas. O professor Gerson ficou na casa de Joaquim Mafra. Ele já estava cego, com dificuldade para andar, falar e até engolir. Mesmo com todo o sofrimento físico e emocional, pois tinha que ficar separado da esposa, jamais reclamou e, nos momentos em que as dores aliviavam, se mostrava alegre, procurando, mesmo com dificuldades, passar algum ensinamento para os que o assistiam. Um ex-aluno escreveu para ele dizendo que “ficava perguntando por que um servo tão dedicado sofria tanto?” Então ele, que já não podia mais escrever, pediu que respondesse a carta dizendo: “Não pergunte porque, mas para que.” Herondina faleceu em junho de 1943, três meses após ter chegado em Itaperuna. Professor Gerson ficou na casa do irmão Joaquim Mafra até agosto deste mesmo ano, quando foi levado para Barreiro, onde ele dizia ser o lugar onde queria morrer. Lá ficou na casa de Jaime Tinoco Resende, onde veio a falecer em 09 de setembro de 1943. Foi um grande conhecedor das Escrituras e tinha um dom especial para transmiti-las. Foi também um servo fiel. Viveu sempre no desejo de servir ao Senhor, procurando passar, especialmente para a mocidade, aquilo que aprendia no Estudo da Palavra de Deus. Hoje, temos certeza, ele já recebeu do Senhor... “Bem está o servo bom e fiel.. entra no gozo do teu Senhor.” Da obra de Gerson Antunes poderemos destacar a composição de alguns hinos e a tradução de outros. Dentre eles estão, no Hinário Hinos e Cânticos, compostos por ele: Eternidade (nº 106); Jesus o Senhor (nº 397); Maravilhoso Senhor Jesus (nº 443) e é a sua tradução dos hinos: Os meu pecados todos (nº 387); A Beleza de Cristo (nº 756) e de um hino avulso: Um Dia no Calvário.


A Maioria do texto foi extraído de recordações de: DÉBORA MAFRA PINTO, ex-aluna de Gerson Antunes


JAMES McCABE - MISSIONÁRIO EM VARGEM GRANDE por

SINÉSIO BARRETO

Sr. McCabe retornou ao Brasil sozinho por um período, e estabeleceu o serviço em Vargem Grande, no Maranhão. James McCabe nasceu em 12 de abril de 1874, em Keady, uma vila no condado de Armagh, na Irlanda do Norte. Filho de James McCabe e Ellen Thompson McCabe, foi membro de uma assembleia em Dublin. O ano de 1896 representou um marco para a igreja em Dublin, que de uma só vez, recomendou quatro missionários para o campo, são eles: William James Clifford, George Langran com sua esposa Margaret Langran e James McCabe. Todos foram enviados para a Argentina, desembarcando em Buenos Aires, chegando em Córdoba no dia 10 de novembro, onde fixaram residência. Alugaram uma casa para o casal Langran e um quarto próximo para os Srs. Clifford e McCabe. Dali, por estes obreiros, o serviço missionário foi estendido para Tucumán e Rosário, onde em 1899, foi convertido um padre jesuíta espanhol que atuava no Brasil.


Missionários em Córdoba, Argentina. 1898 A partir da esquerda, em pé: Sr. Bathgate; Sr. James Clifford; Sr. Torre (em visita); Sr. W. Payne e o último não identificado. Sentadas no meio: Sra. Torre; Sra. Payne e Sra. Langran. Sentados no chão: Sr. Langran; Madge Payne e Sr. James McCabe. Momento precioso na vida do Sr. McCabe foi quando, em abril de 1904, se casou com Mary Emma, que se uniu a ele no serviço missionário. O casal então, foi despertado para o serviço missionário no Brasil, cuja escassez de obreiros era muito grande devido ser o único país no Continente Americano de língua portuguesa, e os missionários britânicos, porém, em sua maioria, se preparavam para os países de língua espanhola. Em 1904, chegaram ao Brasil, em Recife. Podemos dizer que o Sr. James e Mary Emma McCabe foram os primeiros missionários do movimento dos “irmãos” enviados por uma Missão ao Brasil, considerando que os Srs. McNair e George Howes, que já atuavam no país, nunca se associaram a nenhuma missão. O casal foi ricamente abençoado com o nascimento da filha Sophie, no dia 30 de dezembro de 1904. Precisou de alguns poucos meses para que a filha brasileira ficasse forte o suficiente, para que em maio do ano seguinte, a família se transferisse para Montevideo, a fim de cobrir a ausência do Sr. Percy Moore, que precisou licenciar-se indo para a Inglaterra. Em 1908 retornaram ao Brasil, onde o Senhor estava direcionando-os. Desta vez, fixaram residência em Belém, no Pará. Ali, no dia 17 de julho, nasceu o segundo filho do casal. A igreja providenciou um quarto anexo junto ao salão de reunião para que a família pudesse se instalar com mais conforto. O Evangelho estava progredindo lentamente, até que no ano seguinte, a cidade foi duramente castigada pela malária, o que muito afetou o ajuntamento da igreja, incluindo a família, onde o Sr. James ficou por um bom período em estado febril, assim como as crianças, onde o filho mais novo com apenas 1 ano correu sério risco de vida, do qual, muitos pensaram que não escaparia. Ainda assim, no auge dessa epidemia, houve cinco batismos. Em 1910, a família mudou para Recife, e ali, alugaram uma casa e iniciaram um trabalho num salão com capacidade para 40 pessoas na Rua dos Prazeres, 15. Sendo que, num domingo à noite, a assistência chegou a 60 ouvintes. Dali, o Sr. McCabe estendeu seu ministério para Olinda, e em 1912, foi morar em Alagoas. Os filhos do casal estavam constantemente doentes, e o casal decidiu que a Srª Mary, juntamente com os filhos, deveria passar um tempo na Inglaterra para se recuperarem. E assim foram para lá em 1913. Sr. McCabe retornou ao Brasil sozinho por um período, e estabeleceu o serviço em Vargem Grande, no Maranhão. Dali, estendeu para Alagoinhas e Santo Antônio de Jesus, na Bahia. Sempre provendo trabalhos evangelísticos e implantando pontos de pregação. Em 1917, Sr. McCabe passa alguns meses no Rio de Janeiro, onde conheceu novos irmãos. Dali estendeu seu serviço evangelístico, através da linha férrea, passando por Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Bemposta. Em 1919, visita Carangola, em Minas, onde leva uma pequena contribuição na Escola Bíblica, promovida por McNair e Harold St. John.


Segunda Escola Bíblica em Conceição de Carangola - Sr. McNair; James McCabe; Harold St John; Ella St. John e o aluno João Francisco de Assis no meio. Ainda 1919, teve uma passagem por alguns meses pela na cidade de Recreio, Minas Gerais. Ali promoveu um grande trabalho evangelístico, sendo numa reunião ao ar livre, com mais de 200 ouvintes. Em 1920, fixou residência na cidade mineira de Aymorés, onde continuou pregando, evangelizando e batizando também nas cidades próximas, até o ano de 1923. Naquele ano de 1923, por diversos problemas de saúde na família, Sr. McCabe deixou o campo missionário, e antes de regressar ao Reino Unido, visitou por alguns meses as regiões onde residiu e trabalhou, como Recife e Maceió, até que em 1924 partiu para a Europa em definitivo. D. Mary Emma partiu para o Senhor em 30 de abril de 1935, em Bath, Inglaterra. Sr. James McCabe, foi chamado à presença do Senhor aos 83 anos de idade, quando estava internado em um hospital de Londres, no dia 23 de outubro de 1957.



MIGUEL MATTAR – DO MARANHÃO Por

SINÉSIO BARRETO

Extraí três páginas do meu livro: McNair, uma vida, que fala sobre duas idas ao Maranhão, e conta um pouco sobre o Sr. Miguel Mattar. Eu vou analisar os detalhes dos relatórios dele se tem algo sobre o Maranhão, para te enviar. Vou te enviar ainda detalhes do Sr. Miguel Mattar, que era sírio e dono de uma fábrica no bairro do Anil.


Do Editor A Campanha : Orgão de interesses populares (MA) - 1902 a 1904 Ano 1902\Edição 00039 (1)

Ano 1918\Edição 00982 (1)

Diario do Maranhão (MA) - 1855 a 1911 Ano 1902\Edição 08714 (1)


Ano 1909\Edição 10645 (1)


Correio da Tarde : Folha Diaria (MA) - 1909 a 1911 Ano 1911\Edição 00578 (1)

Pacotilha (MA) - 1910 a 1938 Ano 1910\Edição 00044 (1)


“RIO DO MARANHÃO”... UMA ENTIDADE GEOGRÁFICA JOÃO BOSCO GASPAR. – DESCRIÇÃO FEITA EM 1615 pelo padre Manuel Gomes, da Companhia de Jesus: “(...) Fosse em Pernambuco uma armada, por ordem de Sua Majestade, para lançar aos franceses do Maranhão. Com clareza, darei uma breve notícia do Rio Maranhão, ou Amazonas, ou Orellana, que estes três nomes lhes dão as histórias. Chama-se Maranhão ou Orellana, tomando estes nomes dos primeiros espanhóis que por ele navegaram, Francisco Orellana, outro Antônio Maranhon; chama-se das Amazonas por correr pelas terras das Amazonas . Com nossos portugueses, usando do nome do gentio lhe chamamos, Pará, que quer dizer, Mar. (...). Oitenta léguas está uma ilha, na boca destes Rios chamados Muni, Itapuerte, Meari, os quais antes de se meterem no mar, se ajuntam em um, formando-lhe a ilha, a que agora chamamos Maranhão (...). Fonte: Carta (trecho) do padre jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil – O padre Manuel Gomes fazia parte da Armada de Alexandre de Moura, na conquista do Maranhão em 1615. Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal. Link: ( https://purl.pt/15266 ). Por João Bosco Gaspar.


A Terra de Santa Cruz · O CUNHADISMO: COSTUME INDÍGENA QUE DEU ORIGEM AO POVO BRASILEIRO

As uniões e os matrimônios mistos foram comuns e estiveram presentes nas relações interétnicas desde os primeiros encontros e contatos entre índios e não índios no Brasil. Mas índios e portugueses valoravam e instrumentalizavam de modo diverso os casamentos mistos. Os tupinambás, por exemplo, incorporaram os primeiros europeus à sociedade nativa segundo seus próprios interesses, respeitando a geopolítica de suas alianças de guerra e de matrimônio. O Cunhadismo era uma instituição indígena que consistia na prática de se dar uma moça índia como esposa. Com isso, se estabelecia mil laços que ligavam o estrangeiro com todos os membros do grupo. Em sua função civilizatória, o cunhadismo fez surgir a numerosa camada de indivíduos mestiços que ocupou efetivamente o Brasil. Nesse sentido, funcionou como um criatório de gente miscigenada nas regiões onde “náufragos” e “degradados”, vindos da Europa, se assentaram. Sem a prática do cunhadismo, era impraticável a criação do Brasil. Os povoadores europeus que aqui vieram ter eram uns poucos náufragos e degredados, deixados pelas naus da descoberta, ou marinheiros fugidos para


aventurar vida nova entre os índios. Por si sós, teriam sido uma erupção passageira na costa atlântica, toda povoada por grupos indígenas. Foi nesse período que surgiram as primeiras biografias conhecidas de mulheres indígenas do Brasil, filhas dos caciques aliados, chamadas pelos portugueses de "Princesas", como Maria do Espírito Santo Arco Verde, de Pernambuco, Catarina Paraguassu, da Bahia, e Bartira, filha do cacique Tibiriçá, de São Paulo Um terceiro núcleo de importância relevante foi o de Pernambuco, em que vários portugueses, associados com os índios Tabajara, produziram quantidade de mamelucos. Inclusive o célebre Jerônimo de Albuquerque, grande capitão de guerra na luta da conquista do Maranhão ocupado pelos franceses. Em um conflito com os índios Tabajara, Jerónimo foi feito prisioneiro por eles, nas proximidades de Olinda, Recolhido a "ocara" guardado pelas virgens da tribo, enquanto, com os companheiros, esperava o momento do sacrifício, segundo a tradição local despertou a paixão de Muira Ubi, filha do cacique Arco Verde, que por êle intercedeu conseguindo sua liberdade e a dos demais prisioneiros . Jerônimo de Albuquerque se uniu a Muira Ubi que recebeu, no batísmo, o nome de Maria do Espírito Santo Arco Verde, trazendo para a Capitania a valiosa adesão de Arco Verde e de tôda a nação tabajara . Êsse acontecimento não teve entre nós o relêvo que merece, mas é idêntico ao acontecido na América do Norte com o inglês John Smith e a índia Pacahontas, fato alí sempre lembrado, inclusive em monumentos públicos qual a estátua, no Capitólio, do colonizador britânico. “Da união com a pricesinha tabajara, como a menciona Gilberto Freire, teve Jerônimo vários filhos, entre êles Jerônimo, primeiro Capitão-Mor do Rio Grande do Norte, construtor do Forte dos Reis Magos, fundador de Natal, vencedor de La Ravardière e conquistador do Maranhão, de onde expulsou os franceses ali instalados havia vinte anos . Jerônimo nasceu em Olinda em 1548 e faleceu em São Luís como Capitão-Mór do Maranhão em 1618. Por ter expulsado os franceses do território brasileiro, recebeu o sobrenome "Maranhão" do Rei Filipe III de Espanha. Da união de Maria com Jerônimo de Albuquerque nasceram oito filhos, entre eles Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que expulsou os franceses do Maranhão e Catarina de Albuquerque, que se casou com o fidalgo florentino Filippo Cavalcanti. Da Linhagem de Filippo e Catarina descende o primeiro cardel na América Latina, Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, mais conhecido como Cardeal Arcoverde O primeiro e principal desses núcleos é o paulista, assentado muito precocemente na costa, talvez até antes da chegada de Cabral. Centrava ao redor de João Ramalho, que mais tarde, após ter filhos e uniões com várias mulheres nativas, se casou na Igreja com Bartira pelo Padre Manuel da Nóbrega. Da união de mais de 40 anos, tiveram nove filhos juntos, e dessa união descendem inúmeras das mais tradicionais famílias paulistas atuais entre elas os Antunes Maciel , os Sousa Campos , os Freitas Vale , os Aranha , os Teixeira, os Nogueira os Pinto Bandeira, e os Lopes de Almeida (Filhos: Antonia Quaresma, Joana Ramalho, André Fernandes Ramalho, Margarida Ramalho, Victorino Ramalho, Antonio de Macedo, Marcos Ramalho, Jordão Ramalho e Isabel Ramalho) Outro núcleo pioneiro, de importância essencial, foi o de Diogo Álvares, Caramuru, pai heráldico dos baianos. Ele se fixou, em 1510, na Bahia, também cercado de numerosa família indígena. Conseguiu manter certo equilíbrio entre a indiada com que convivia cunhadalmente e os lusitanos que foram chegando. Converteu-se, assim, na base essencial da instalação lusitana na Bahia. Ajudou até mesmo os jesuítas e legou bens a eles em seu testamento junto de sua esposa Catarina Paraguassu, chamada de "Matriarca do Brasil" sendo o primeiro casamento cristão conhecido no Brasil. Catarina Paraguacu foi uma figura histórica; representou a uniao das duas culturas e sua vida deu origem a inumeras imagens criadas ern torno desse processo civilizatório, especialmente por autores do seculo xix. Algumas destas representações permaneceram no imago da cultura brasileira, como a imagem da mulher indigena que, ao as cristianizar, ingressou na civilizacio ocidental. Consolidou-se na memoria construida em torno das mulheres indigenas como uma das mães do povo brasileiro. Sua vida foi longeva, sobrevivendo a seu companheiro Caramuru por muitos anos. Viveu tempo suficiente para promover bons casamentos entre seus filhos e membros influentes da Corte.


Paraguaçu teve quatro filhas, que deram origem as mais antigas famílias da Bahia: Ana Álvares, casada com Custódio Rodrigues Correia, de Santarém, Portugal; Genebra Álvares, casada com Vicente Dias de Beja, do Alentejo, Portugal; Apolônia Álvares, esposa do Capitão João de Figueiredo Mascarenhas, da cidade portuguesa de Faro, no Algarve, e Grácia Álvares, casada com Antão Gil, de Évora, Portugal. Genebra Álvares era mãe de Diogo Dias, que se casou com Isabel D'Ávila, filha de Garcia D'Ávila, dando origem ao maior latifúndio que se tem notícias no Brasil. Faleceu, em 26 de janeiro de 1583, e foi sepultada na sua Igreja, doada por ela aos beneditinos do Mosteiro de São Bento. Até hoje, a Igreja da Graça permanece subordinada ao Mosteiro, que guarda o testamento original de Paraguaçu. Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, considerou o elemento indígena como importante formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros séculos de contato com os europeus, atribuindo um papel essencial às "cunhãs", as mulheres nativas: "Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Brasil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da Índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebeia, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do norte, que se estabeleceria na América um domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente europeu. A transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhia de Jesus salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão" Eram chamadas de temirecô igualmente as mulheres que se uniam (amancebavam) aos portugueses. De acordo com Fernanda Saloum de Neves Manta, 33% dos brasileiros brancos, da classe média, descendem de uma ancestral indígena pela linhagem materna. Nenhum deles descende de índios pela linhagem paterna. Isso confirma que o homem indígena deixou poucos descendentes no Brasil, enquanto a mulher indígena foi importante na formação da população brasileira: Outra pesquisa informou que os brasileiros, brancos, pardos ou negros, apresentam um grau uniforme de ancestralidade indígena, normalmente abaixo dos 20%. Existe, contudo, discrepância regional. Enquanto que na amostra de Manaus, capital no Amazonas, 37,8% da ancestralidade da população é indígena, em Santa Catarina é de apenas 8,9% Para Varnhagen, os índios não desapareceram em virtude de “verdadeiro e cruel extermínio”, mas por “cruzamentos sucessivos”. O processo brasileiro se apresentava, aos olhos do visconde do Porto Seguro, como análogo ao português: uma raça civilizada (os romanos) conquistou uma nação valente, porém bárbara (os lusitanos) e de sua miscigenação nasceu o povo português, do qual o brasileiro é uma continuidade lógica e necessária


MARANHÃO - Barão de Santa Rosa

Joaquim Raimundo Nunes Belford, primeiro e único barão de Santa Rosa, (São Luís, ? — ?) foi lavrador e tenente-coronel da Guarda Nacional. Filho do capitão Joaquim Raimundo Nunes Belfort e de Cândida Rosa Ribeiro. Casou-se com Maria Madalena Viana Henriques. _____ SANTA ROSA. (Barão de) Joaquim Raymundo Nunes Belfort Nasceu em S. Luiz, Província de Maranhão. Filho do Capitão Joaquim Raymundo Nunes Belfort e de sua mulher D. Candida Rosa Ribeiro. Casou com D. Maria Magdalena Vianna Henriques Belfort, filha do Commendador Luiz José Henriques, e de sua mulher D. Maria Appolonia Vianna Henriques. Tenente-Coronel da Guarda Nacional. BRAZÃO DE ARMAS: Em campo azul, um leão de oiro rompente; chefe de prata carregado de uma rosa de vermelho entre duas estrellas de cinco pontas, do mesmo. CORÔA: A de Barão. CREAÇÃO DO TITULO: Barão por decreto de 24 de Março de 1883. FONTE: https://pt.wikisource.org/.../Santa_Rosa_(Bar%C3%A3o_de) _____ No início da década de 1880, o lavrador da região do baixo Itapecuru, Joaquim Raimundo Nunes Belford, descendente de uma das mais tradicionais e abastadas famílias do Maranhão, não só passou carta de alforria de todos os seus escravos, como também legou, por documento cartorial, suas terras aos libertos. Até recentemente, o povoado original era conhecido como "Santa Rosa do Barão", assim chamado pelos antigos escravizados e seus descendentes, em memória do feito de Nunes Belford. No entanto, nos dias correntes, indivíduos vinculados à movimentos sociais têm se esforçado para modificar a cultura vinculada ao nome daquele lugar para "Santa Rosa dos Pretos". O ato de Nunes Belford, em sua época, foi observado pela Princesa Isabel que, em meio ao auge da campanha abolicionista, promoveu-lhe a outorga do título de "Barão de Santa Rosa".


HOMENAGEM AOS PILOTOS DO SAMPAIO CORRÊA II (1922)

Os pilotos Walter Hinton (estadunidense) e Pinto Martins (brasileiro) na Câmara Municipal de São Luís em Dezembro de 1922 sendo homenageados pelo Raid (travessia aérea) Nova York - Rio de Janeiro, com escala na capital maranhense. O hidroavião Sampaio Corrêa II pilotado por eles, amerrissou na Praia Grande, na região então conhecida como Praia do Caju (imediações do Casino Maranhense). Era o 1º avião a passar por aqui! Entre os milhares de curiosos que assistiram ao espetáculo, estavam alguns peladeiros do Lira que utilizaramse do nome do hidroavião pra criar o que viria a ser, meses depois, o clube futebolístico do Sampaio Corrêa Futebol Clube ! Créditos: Ramssés De Souza Silva 2013


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