MARANHA Y - Revista de História(s) do Maranhão 4 - junho 2023

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“ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE” REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536 NÚMERO 04 – JUNHO – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y
MARANHAY

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923

CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

UM PAPO

Devido às mudanças ocorridas na plataforma que utilizo para as publicações sobre o Maranhão, fui obrigado a suprimir da REVISTA DO LÉO – Revista Lazeirenta – o material referente à História(s) do Maranhão e à Literatura Ludovicense/maranhense. Daí, também limitada à 50 páginas, máximo que permite o ISSUU para postar gratuitamente, damos início à esta nova publicação, com os colaboradores de sempre...

Isso, foi mês passado... este mês, a novidade que o limite de publicações sem pagamento para tal, é de cinco ao ano... cota já completada. Assim, deixo de utilizar aquela plataforma, a partir deste número, fazendo a distribuição da revista via correio eletrônico, a quem interessar...

Eram cerca de 25 mil acessos ao mês, das três publicações...

Isso, sem contar a dificuldade de se conseguir matéria para o conteúdo das revistas, haja vista que o esporte amador maranhense deixa de ter importância aos meios de comunicação, desaparecendo o jornalismo esportivo.

Mãos à obra...

FAZENDA PALMELA - VIANA (SÉC. XVIII

BRASÃO DE ARMAS DA FAMÍLIA COELHO DE CARVALHO QUE FICAVA NO FRONTÃO DA CAPELA DE NOSSA

SENHORA DO LIVRAMENTO NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA-MA.

UM CÉLEBRE CODOENSE RECONHECIDO INTERNACIONALMENTE.

OS JARDINS DO SOBRADO N. 500 DA RUA DE SÃO JOÃO

ACONQUISTADAAMAZÔNIA

RAMSSÉS DE SOUZA SILVA

CÍCERO CENTRINY

DIOGO GUAGLIARDO NEVES

VASCO MARIZ

A CONQUISTA DO MARANHÃO E AS DISPUTAS ATLÂNTICAS NA GEOPOLÍTICA DA UNIÃO IBÉRICA (1596-1626)

ALÍRIO CARDOSO

HABITANTES DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. AQUARELAS DE JOAQUIM CÂNDIDO GUILLOBEL, 18201822.

BOI PASSA FOGO

VOCÊ SABE QUEM FOI HENRY AIRLIE?

DIOGO GUAGLIARDO NEVES

ÁUREO MENDONÇA

DIOGO GUAGLIARDO NEVES

SUMÁRIO EXPEDIENTE 2 EDITORIAL 3 SUMÁRIO 4 BRASÃO DE ARMAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO 5 O CICLO DO ALGODÃO DO MARANHÃO Jacob Portela 6 OZIMO DE CARVALHO, UMA LENDA VIANENSE NONATO REIS 8

O antigo Brasão de Armas de São Luís do Maranhão concedido pela coroa portuguesa em 1647, anos após a expulsão dos colonizadores holandeses pelos próprios moradores de São Luís.

Este brasão significa que o Jus (Direito) Português sobre a terra pesou mais que o Vis (vigor, força) dos franceses e holandeses, e por causa disso, a cidade voltou ao poder Português duas vezes

Nas Memórias do Estado do Maranhão diz o Padre José de Morais “que pesou mais o jus, ou a justiça das armas de Portugal, que o vis ou a fôrça das de França e Holanda, com imortal desempenho do valor português, e não menor glória da valentia daqueles ilustres moradores do Maranhão”.

No dia 25 de novembro de 1641, uma poderosa esquadra holandesa, sob o comando pelo Vice-Almirante João Corneles Lichthardt formada por dezenove navios, dois mil soldados, invadiram a Ilha de São Luís.

ParafugirdoalcancedaartilhariadoforteSãoFelipe,LichthardtentranaembocaduradorioBacangaedesembarca na praia do Desterro com cerca de mil soldados e sobem até o altiplano onde estava localizada a ermida Nossa Senhora do Desterro que é saqueada pelos invasores. Em seguida, casas dos moradores são invadidas e roubadas em várias ocasiões. O saque, a pilhagem e a profanação de templos, foi uma marca desses primeiros dias de invasão flamenga. Muitos moradores fogem para as matas da ilha e até para o Continente.

Após essas primeiras hostilidades, as tropas do Coronel Koin Anderson, finalmente, marcham para a fortaleza portuguesa que é ocupada sem resistência por parte do governador Bento Maciel Parente, até porque não tinha forças para tal. A partir daí, a ilha de São Luís passa a estar sob as ordens do Príncipe Maurício de Nassau, ampliando os holandeses o seu domínio para o Norte. Depois de conquistarem a Ilha de São Luís, os holandeses partem para o interior, em direção ao Vale do Itapecuru, tomam o forte do Calvário e ocupam os cinco engenhos de açúcar dessa região.

Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa.

Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio. Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Sucessivamente derrotados por Antônio Muniz Barreiros e Antônio Teixeira de Melo , os holandeses abandonam o Maranhão em 1644

BRASÃO DE ARMAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

O CICLO DO ALGODÃO DO MARANHÃO

O ciclo do algodão se refere ao período em que este produto teve grande destaque na economia brasileira, em especial no Maranhão, entre meados do século XVIII e o começo do século XIX.

Em 1621, a Dinastia Filipina criou o Estado do Maranhão, compreendendo os atuais territórios do Maranhão, Ceará, Piauí, Pará e Amazonas,subordinando-se diretamente à Coroa Portuguesa. As principais atividades econômicas dessa região eram a lavoura de cana e a produção de açúcar, o cultivo de tabaco, a pecuária (para exportação de couros) e a coleta de cacau.

Em 1755, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, a qual deveria garantir a vinda de escravizados africanos para a colônia, com monopólio da navegação e comércio exterior, além de fornecer crédito para os produtores locais e a introdução de melhores técnicas agrícolas. Posteriormente, o Marquês também promoveu a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas.

Em 1772, Marquês de Pombal dividiu o Estado em duas unidades administrativas: Estado do Maranhão e Piauí (com sede em São Luís); e Estado do Grão-Pará e Rio Negro (com sede em Belém).

Com a crescente demanda do algodão, matéria-prima fundamental para a indústria têxtil inglesa, bem como a interrupção da exportação norte-americana, em razão da Guerra de Independência dos Estados Unidos, declarada em 1776, a colônia experimentou forte crescimento econômico. Outro importante comprador do algodão maranhense era a França.

Desde 1661, se têm registro de produção de algodão no Maranhão, porém estava voltada ao abastecimento interno.

Entre 1760 e 1771, as exportações de algodão no Maranhão aumentaram de 651 para 25.473 arrobas. A movimentação anual de navios em São Luís aumentou de três para vinte e seis, em 1788.

A expansão da cultura algodoeira se deu no vale do rio Itapecuru, alcançando as cidades de Caxias e Codó (cerca de dois terços da produção) e Coroatá. A produção era transportada pelo rio Itapecuru até o porto de São Luís. Outras regiões produtoras eram no rio Mearim, em Alcântara e em Guimarães

Em 1818, aeconomiamaranhense atingiu um milhãodelibras emovimentou155navios, sendoaquartamaior economia brasileira. Nesse período, São Luís era a quarta cidade mais populosa no Brasil. O apogeu econômico deste período pode ser representado com a construção dos casarões do Centro Histórico de São Luís e de Alcântara.

O algodão representava cerca entre 73% e 82% das exportações do Maranhão no final do século XVIIIe início do século XIX. A exploração da mão-de-obra escravizada foi um dos fatores preponderantes para ciclo do algodão maranhense, ocasionado uma forte mudança demográfica e social na região.

Por volta de 1798, os escravizados representavam 47% da população, número que subiu para 55%, na segunda década do século XIX, enquanto a população branca representava 16%. No vale do Itapecuru, o número de escravizados chegava a 80%

A partir de 1820, com o retorno dos Estados Unidos ao mercado internacional, com maior produtividade e técnicas mais avançadas, a economia maranhense perde força, com a queda dos preços em cerca de 70%. Nas décadas seguintes, o café vai tomando força na economia brasileira e ganhando destaque nas exportações

CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS - LOCALIZADO NA ILHA DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO, FOI TOMBADO PELO IPHAN, EM 1974

A Cidade é um exemplo excepcional de adaptação às condições climáticas da América do Sul equatorial, e tem conservado o tecido urbano harmoniosamente integrado ao ambiente que o cerca. O conjunto delimitado pelo perímetro do tombamento federal, com cerca de mil edificações, possui imóveis de grande valor histórico e arquitetônico, a maioria civil, construídos do período colonial e imperial com características peculiares nas soluções arquitetônicas de tipologia, revestimento de fachadas e distribuição interna.

Foi reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco, em 1997, por aportar o testemunho de uma tradição cultural rica e diversificada, além de constituir um excepcional exemplo de cidade colonial portuguesa, com traçado preservado e conjunto arquitetônico representativo. Por se tratar de uma cidade histórica viva, pela sua própria natureza de capital, São Luís se expandiu, preservando a malha urbana do século XVII e seu conjunto arquitetônicooriginal.Emtoda a cidade,sãocerca dequatromil imóveistombados:solares,sobrados,casastérreas e edificações com até quatro pavimentos.

São conjuntos homogêneos remanescentes dos séculos XVIII e XIX, quando o Estado do Maranhão teve participação decisiva na produção econômica do Brasil, como um dos grandes exportadores de arroz, algodão e matérias-primas regionais. Nessa época, São Luís foi considerada a quarta cidade mais próspera do Brasil, depois de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Os mais representativos exemplares da arquitetura de São Luís datam, sobretudo, da segunda metade do século XIX - sobrados de fachadas revestidas em azulejos portugueses que estão entre os aspectos mais peculiares da expressão civil maranhense.

Por meio do estilo tradicional português, criou-se uma arquitetura única, pela generosidade dos materiais construtivos utilizados e soluções ambientais adotadas. A arquitetura histórica da cidade prima pela adequação ao clima, com o aproveitamento máximo da sombra e da ventilação marítima. O centro mantém o seu tecido urbano preservadocomtodososelementosqueocaracterizamelheconferemsingularidade.Destacam-seousodoazulejo, entreoutrosaspectos,easdimensõesquetransmitemsua importância noprocessode ocupaçãoterritorialda região. Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/346/

O

OZIMO DE CARVALHO, UMA LENDA VIANENSE NONATO REIS

Viana deve a Ozimo de Carvalho mais que a colocação de um busto em praça pública e o batismo de logradouros com o seu nome. Farmacêutico de formação, foi na prática o médico de toda uma vasta região, numa época em que médico era coisa rara. Com a sua apurada técnica de manipulação de remédios, a partir do aproveitamento de ervas, folhas e raízes medicinais, curou enfermidades e salvou a vida de meio mundo. Como esquecer o Amargo Digestivo, de difícil ingestão, mas obrigatório para os males do estômago e do fígado? Ou ainda o intragável Necatol, porém indispensável para vermes e demais parasitas? De tão onipresente, Ozimo era quase uma figura divina. Suas fórmulas tinham uma credibilidade que extrapolavam o campo do conhecimento e alcançam o universo místico. Mesmo quando havia médicos na cidade, situação quase surreal, as receitas que prescreviam tinham que passar pelo crivo do farmacêutico, sem o qual o paciente não as aceitava.

Ai daquelequeOzimodespachasse!Equivaliaaum atestadodeóbito.Eufui um dessesdesafortunados, porém sortudo, por desafiar o seu diagnóstico. Castigado por impaludismo, meu fígado vivia aos pandarecos. Minha mãe já havia visitado o laboratório do farmacêutico um sem-número de vezes e comprado dezenas de remédios, que eu tomava como se fosse placebo. Nada fazia efeito. Até que Ozimo, já farto daquele ritual, resolveu dar um basta. Fitou minha mãe com ar grave e declarou. “Não tenho mais o que receitar para o seu filho. Procure um médico em São Luís. Aqui ele não fica bom”.

Minha mãe perdeu o chão. Em prantos reuniu a família e comunicou a sua decisão. “Vou lutar pela vida do meu filho até o fim. Levo-o para São Luís. Farei o que puder para salvá-lo”. E assim foi. Escapei da morte, mas não da presença do farmacêutico. Eu tinha pavor de injeção. Um dia, castigado por uma ferida no calcanhar que não sarava de jeito nenhum, meu pai me levou até a sua Fharmácia Brasil. Antes teve o cuidado de me prometer que eu não tomaria injeção de jeito nenhum. “Meu filho, fica tranqüilo, seu Ozimo vai só passar uma pomada. Não vai ter injeção. Eu garanto”.

Entre desconfiado e nervoso, me vi diante daquele velhinho corcunda, levemente inclinado para frente, camisa de mangas compridas abotoadas nos punhos, cabelos impecavelmente penteados e divididos ao meio. Ozimo falava manso e pausadamente, como se ditasse uma ordem. As pálpebras, em face do peso dos anos, caiamlhe sobre os olhos, fazendo com que ele fitasse o interlocutor como quem procura localizar um objeto minúsculo.

Ele ouviu pacientemente o relato do meu pai e, por fim, fez a pergunta que eu temia ouvir. “Ele já tomou injeção?”. Diante da negativa do meu pai, calou-se e deu meia volta na direção do laboratório, que ficava no andar superior do sobrado Canto Grande, suntuoso casarão, em cujos salões Duque de Caxias fora homenageado no século anterior, e que servia agora de estabelecimento comercial e de residência do farmacêutico.

Vendo a minha aflição, e tentando minimizar a situação, meu pai falou-me ao ouvido: “Meu filho, é só uma injeçãozinha de nada, não vai doer. Prometo!”. Eu não disse uma palavra. Entendi que se quisesse salvar a minha pele tinha que agir rápido. Então retirei as sandálias dos pés e, num instante de relaxamento da vigilância paterna, saí em disparada no rumo da Gurgueia, um imenso brejo situado na saída da cidade, formado de pés de algodão, salsas e orelhas de veado. Dois moleques foram escalados para me agarrar, mas eu sumi rápido entre os arbustos, não dando qualquer chance de resgate.

O pai só foi me encontrar horas depois, quando já me encontrava em casa, refeito do susto. Então me contou que, ao saber do espetáculo patrocinado por mim, seu Ozimo sorriu baixinho, e comentou, a voz quase sumindo. “Mas quem disse que eu ia aplicar injeção?” Depois entregou uma latinha de pomada de uso tópico, cujo nome não me recordo, para que fosse aplicada na lesão três vezes ao dia, após a assepsia do local. Como se diz no interior, foi tiro e queda.

Sobre Ozimo de Carvalho corriam muitas estórias, algumas engraçadas. Como a que envolve os comprimidos Melhoral, um dos mais antigos medicamentos, ainda fabricados nos dias atuais. Seu lançamento, no final dos anos 40, foi acompanhado de ampla campanha publicitária, cujo jingle dizia o seguinte: “Melhoral, melhoral,

é melhor e não faz mal”. A propaganda, veiculada maciçamente no rádio, caiu no gosto popular. Quase todo mundo a conhecia. Um sujeito da zona rural chegou na Fharmácia Brasil, para comprar o remédio, mas não se lembrava do nome. Então assoviou a música da propaganda do remédio no ouvido do seu Ozimo, que, imediatamente, identificou o produto. “Já sei. O senhor quer é o Melhoral!”.

Durante a sua existência, Ozimo de Carvalho esteve por trás das iniciativas mais brilhantes para a cidade de Viana. Foi vereador por diversas legislaturas, tornou-se prefeito por duas vezes, criou as condições para a implantação da primeira biblioteca pública do município, articulou a criação da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Viana. Também fundou o semanário A Época que, por dois anos, manteve informada a sociedade vianense dos acontecimentos políticos e econômicos do Maranhão e do País. No bicentenário de transformação da Aldeia de Maracu em Vila de Viana, em 1957, presenteou a cidade com o livro “Retrato de um Município”, uma das obras mais importantes sobre Viana.

Personagens como Ozimo de Carvalho, pela sua dimensão social e humana, merecem mais que a simples inscrição do nome em logradouros públicos. Devem ser estudados na grade curricular da educação básica, discutidos em fóruns acadêmicos, para que as novas gerações compreendam o seu legado à história e ao desenvolvimento da terra que lhes serviu de berço. Ozimo não foi apenas farmacêutico, político e visionário, porém o arquiteto de uma época que marcou a imagem da cidade como berço de inteligência e conhecimento.

Crônica publicada no Jornal Pequeno, em 2013.

FAZENDA PALMELA - VIANA (SÉC. XVIII)

Ramssés De Souza Silva compartilhou uma lembrança com o grupo "Genealogia Maranhense (História, Genética e Nobiliarquia)"

Era, primitivamente, uma fazenda dos jesuítas para a criação de gado chamada Nossa Senhora da Conceição doMaracu.Apósaexpulsãodosjesuítasdascolôniasportuguesas emmeadosdosanos1700,passaapertencer à Coroa. O Marquês de Pombal, então primeiro ministro, nomeia seu primo José Feliciano Botelho de Mendonçajuntamente com omestre-de-campo JoséNunes Soeiroparaadministrarafazendaque, então, passa a se chamar Palmela, em homenagem à região dos seus antepassados em Setúbal, Portugal.

José Feliciano Botelho de Mendonça, o "Adão do Pindaré", assim como José Nunes Soeiro, deixou muitos descendentes na região da baixada e Maranhão afora, essencialmente no município de Viana. Os descendentes de Feliciano são os parentes de Pombal no Maranhão, alguns figuras ilustres localmente e Brasil afora.

A fazenda Palmela pertence ainda à família Mendonça, que estão lá naquelas terras há pelo menos 250 anos. Fotos: Sálvio Mendonça (anos 60), Rubem Brito (anos 70).

BRASÃO DE ARMAS DA FAMÍLIA COELHO DE CARVALHO QUE FICAVA NO FRONTÃO

DA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA-MA

RamssésDeSouzaSilva

Antônio Coelho de Carvalho foi o primeiro donatário de Alcântara, quando esta era o centro administrativo da antiga Capitania de Cumã, no séc. XVII. Ele mandou erigir a capela na ilha após membros de sua família e governo salvarem-se de um acidente marítimo em sua chegada à Vila, dando origem ao primitivo Festejo de Nossa Senhora do Livramento.

O Brasão, em pedra de lioz, encontra-se hoje exposto à visitação pública no Museu Casa Histórica De Alcântara Mcha e a capela, em ruínas. Ruínas estas que podem ser visitadas com ajuda de Dona Mocinha, única moradora e mantenedora da ilha.

UM CÉLEBRE CODOENSE RECONHECIDO INTERNACIONALMENTE.

Cícero Centriny

Trata-se do codoense Francisco Antônio Brandão Júnior, filósofo, doutorando em Sciêcias Natures na Universidade de Bruxellas na Bélgica, autor do livro Escravatura no Brazil e escreveu vários artigos sobre a agricultura e a colonização escravagista no Maranhão.

Antônio Brandão Júnior era filho de uma das destacadas famílias de Codó, a dos Brandão, que mantia um grande plantel de escravos em suas posses, e era detentora de uma das cinco grandes glebas de terras das quais Codó foi dívida na sua formação, saiu desse município maranhense ainda na sua adolescência para estudar medicinanaEuropa, em marçode1865 publicouem Bruxelasolivro"AEscravaturanoBrasil", quepropunha no seu trabalho a libertação gradual do escravo.

A obra de Francisco Brandão não foi muito bem acolhida pelos interesses da sociedade escravocrata e fidalga do Maranhão na época.

COMISSÃO DA VERDADE DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL.

CONFEDERAÇÕES ABOLICIONISTAS NO MARANHÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉC. XIX (1870-1888)

WELLINGTON BARBOSA DOS SANTOS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito para obtenção do grau de licenciado em História. Orientador: Prof. Ms. Yuri Michael Pereira Costa - São Luís 2008

Nascido em Codó, Francisco Antonio Brandão Junior formou-se em Ciências Naturais na Universidade de Bruxelas, onde publicou, em março de 1865, “A escravatura no Brasil”, além de um artigo sobre a agricultura e a colonização no Maranhão. Em sua obra, o referido autor faz severas críticas ao Brasil por ainda manter “vergonhosamente” a instituição escravista. Contudo, mostrou-se desfavorável a qualquer iniciativa repentina de libertação dos escravos, o que certamente arruinaria a aristocracia, além de atentar contra o tão propalado direito de propriedade.

Brandão Júnior apresenta um projeto para a superação do “problema” de maneira gradual, visando diminuir os danos tanto aos escravos quanto aos senhores. O primeiro passo seria libertar os cativos, mas não totalmente, ligando-os ainda à terra onde trabalhavam.

Em seguida, deveria ser pago um salário, ao agora “servo da gleba”, proporcional a seu trabalho, até que o mesmo pudesse acumular o suficiente para pagar por sua alforria.

Sabendo o cativo que o ordenado recebido seria convertido em prol de sua libertação, trabalhariam eles mais, aumentando seu pecúlio e, consequentemente, a produção, o que seria bom para o escravo e para seu senhor.

Visivelmente moderado, mesmo assim o projeto de Brandão Junior teve repercussão extremamente negativa no meio aristocrático, como podemos observar, em carta de sua irmão.

Lamento assim como meus pais, que o primeiro trabalho que publicaste, tenha tido por objetivo granjear-te grande número de inimigos logo no inicio de tua carreira, e que os enormes sacrifícios feitos por nosso Pai para a tua educação, queiras pagá-los com a ruína da fortuna dele, lançando à miséria a sua família. Que satisfação seria a nossa ver-te estudar para te tornares depois o apoio de nossa família e dar-nos o prazer de ver nosso Pai fazer brilhante figura no país: mas com a leitura de teu trabalho, todas essas belas esperanças se esboroaram , e hoje não vemos em ti mais do que um homem que, achando-se na situação de viver à custa dos deus estudos, nem ao menos olha para a família e atira-a à miséria, contanto que o seu nome apareça como reformador do Brasil!!!... Não podias escolher mais detestável assunto – está é a opinião até mesmo de teus amigos. Havia tantas coisas belas que podiam servir-te de motivo para exibir os teus talentos: mas, tal é a nossa desgraça, havias de escolher o que havia de pior pra escrever e hoje és tido como um louco, um utopista! – Sinto, o mais possível, a celeuma que aqui se levanta contra ti: teu trabalho foi condenado por todo mundo e deves lembrar-te de teu Pai, de tua Mãe e de tuas irmãs, que perderão a mais bela porção de sua fortuna, e não deves ser um ingrato e egoísta, porquanto podes viver do teu trabalho, enquanto nós não o podemos senão através dos nossos escravos, e se eu viesse a perder a minha fortuna, diria: Meu irmão lançoume à miséria. (apud LINS LINS, Ivan. História do Positivismo no Brasil. 2ª. edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.

DIOGOGUAGLIARDONEVES

O palacete, dos mais bonitos da cidade, entrou para sua história como o local do “Crime da Baronesa”, onde Ana Rosa Viana Ribeiro, esposa do chefe político Carlos Fernando Ribeiro, futuro barão de Grajaú, matou uma criança escravizada de nome Inocêncio.

A edificação, à semelhança do chamado “Palácio Cristo Rei”, na praça Gonçalves Dias, possuía um vasto e monumental jardim, talvez mesmo o maior de São Luís, tomando todo um canto de quadra, entre as ruas de São João e do Sol.

Essa verdadeira praça privada era guarnecida por uma grande estátua de louça ao centro, proveniente das oficinas de artesanato do Porto, vielas de cascalho e muitas plantas, nativas e exóticas (imagem 01).

Povoadodepalmeirinhas esamambaias,eralugardecontemplaçãodosmoradores,comonoregistrodeEmília de Lima Furtado, irmã de Lúdce Furtado Neves, esposa de Euclides Mathias de Souza Neves, filho dos proprietários (imagem 02).

Os proprietários do palacete, Manuel Mathias das Neves Filho e sua esposa, Celeste de Souza Neves, ali recebiam amigos, como no caso do registro fotográfico em que ela (à esquerda) está com uma amiga. A parede de vãos tampados, tem a rua de São João por fundo (imagem 03).

O jardim foi barbaramente demolido nos anos 1990, quando de uma reforma de gosto duvidoso que arrancou o piso de ladrilho hidráulico externo, demoliu colunas e apagou as trilhas. A ideia do governo do Maranhão era integrar o Museu de Arte Sacra, instalado em suas dependências, ao Museu Histórico e Artístico do Maranhão, fronteiro.

Infelizmente, o Palacete, aqui retratado no começo do século XX (imagem 04), nos dias presentes, apesar de sua alta relevância para a capital maranhense, é subutilizado como reserva técnica e biblioteca do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, não possuindo uma destinação própria, condigna do que representa.

OS JARDINS DO SOBRADO N. 500 DA RUA DE SÃO JOÃO

VOCÊ SABIA

QUE

A

PRIMEIRA APARIÇÃO DO PAPAI NOEL NO BRASIL FOI EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO?

DIOGOGUAGLIARDONEVES

Estamos o mais distante do Natal, seja o do ano passado, seja o deste ano. Mas, você sabia que o principal símbolo comercial do Natal, oPapai Noel, apareceunoBrasil pelaprimeira vezem SãoLuís, capital doEstado do Maranhão? Ele foi montado por Maria Bárbara de Andrade, filha do poeta Sousândrade, e que morou com ele nos EUA

E, por pouco, sua aparição não terminou em tragédia. Era por volta de 1890, quando, terminada a cela de Natal, os parentes e amigos da jovem professora se reuniram em torno da árvore para trocar presentes e cantar madrigais. De repente, entrou pela janela um homem gordo, de barbas brancas, ceroula e touca vermelhosangue, botas e cinto pretos um ameaçador saco às costas e emitindo sons de "Ho! Ho! Ho!".

Que diabo era aquilo? Susto, pânico, correria. Ali havia velhos, mulheres e crianças. Um dos presentes sacou um trabuco e o apontou para o intruso, com a intenção de crivá lo. O homem, súplice e balbuciante, rendeuse tremendo com os braços para cima e deixou cair o saco cheio de embrulhos. E, então, a dona da casa colocou-se entre a arma e o alvo. Alçou a testa e proclamou: "Não o matem! É o Papai Noel. Só ali, a jovem Maria Bárbara de Andrade, filha do excêntrico poeta local Joaquim de Sousa Andrade, vulgo Sousândradeexplicou. Ela e seu pai tinham morado por 20 anos em Nova York. Foi onde, em criança, ela conheceu e se apaixonou por aquela figura que se tornara nos EUA o simbolo do Natal.

O homem de roupa vermelha e barbas brancas com um saco às costas fora uma criação do ilustrador Thomas Nast para a revista Harper's Weekly em 1863 e, pelos anos seguintes, fixara-se no coração das crianças americanas. Mas ninguém o conhecia por aqui. Para apresentá-lo ao Brasil, Maria Bárbara contratara um senhor gordo e o maquiara e fantasiara de acordo. Os convidados, aliviados, relaxaram. Abraçaram o Papal Noel e lhe serviram vinho (não, não ofereceram Coca-Cola). Adaptado do texto de Ruy Castro.

A conquista da Amazônia

Por Vasco Mariz | História Viva Graças ao Tratado de Madri, de 1750, Alexandre de Gusmão, o barão do Rio Branco do século XVIII, assegurou à Coroa portuguesa e ao que se tornaria o Brasil vastos territórios ao sul do país e sobretudo na Amazônia. Seus feitos hoje são pouco conhecidos, bem como os dos misteriosos padres matemáticos italianos trazidos à América para determinar os limites da Amazônia portuguesa.

Alexandre, nascido em Santos em 1695, era filho do cirurgião-mor de um presídio daquela cidade. Teve numerosos irmãos e um deles ficou célebre em Portugal bem antes dele: Bartolomeu de Gusmão, o “padre voador”, o inventor da passarola, modelo de aeróstato de ar quente. Bartolomeu mandou trazer do Brasil o irmão Alexandre, de 15 anos e já destacado em seus estudos de ciências matemáticas. O rapaz alto, de olhos pequenos, sempre polido e sem afetação, agradou a D. João V, que o mandou estudar em Paris, onde serviu como secretário da embaixada portuguesa. Gusmão frequentou cursos de matemática e jurisprudência, conheceu personalidades e estudou francês. Ali passou cinco anos e em 1720 regressou a Lisboa.

Gusmão frequentou cursos de matemática e jurisprudência, conheceu personalidades e estudou francês. Ali passou cinco anos e em 1720 regressou a Lisboa. Aos 25 anos, já gozava de suficiente prestígio para ser enviado pelo rei a Roma a fim de tentar destrinçar questões pendentes que Portugal tinha com a Santa Sé. O papa Benedito XIII gostou tanto do jovem Alexandre que lhe deu o título de “príncipe romano”, do qual ele declinou. Só regressou a Lisboa em 1729, com 34 anos.

D. João V, então, elevou-o a “fidalgo da casa real” e “escrivão da puridade” e o encarregou dos negócios com o Vaticano e, pouco depois, também daqueles do Brasil. Em 1735, ampliou sua área com os problemas europeus. Em 1743 foi nomeado conselheiro e ministro do famoso Conselho Ultramarino, onde realizaria notável trabalho na administração portuguesa no Brasil. Incentivou a emigração dos Açores e da ilha da Madeira e colonizou os estados do sul do país com grupos de 60 casais de agricultores.

Camilo Castelo Branco definiu Gusmão como “o mais avançado espírito do seu século”. Essa era a personalidade que D. João V escolheu para negociar com o mundo espanhol os diversos problemas pendentes das fronteiras do Brasil, ao norte e ao sul. Os resultados seriam espetaculares. Se as negociações do barão do Rio Branco nos deram quase 900 mil km² de novos territórios, Gusmão nos legou mais do que o triplo dessa área.

OBrasil dasuaépoca, de acordocom alinhadeTordesilhas, começavanaalturadeBelémdoParáeterminava em São Francisco do Sul (SC). Graças ao Tratado de Madri, Gusmão conseguiu empurrar nosso território na Amazônia até as faldas dos Andes. Ao sul, criou uma fórmula realista para solucionar a questão da Colônia do Sacramento, alargando consideravelmente as províncias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, apesar de não gostar pessoalmente de Gusmão, talvez enciumado, teve a clarividência de apoiar firmemente quase todas as medidas por ele previstas.

Logo após a assinatura do Tratado de Madri, D. João V veio a falecer e seu sucessor D. José I trouxe para o poder o eficientíssimo, mas temível, marquês de Pombal. O prestígio de Gusmão era notável na época, e isso não devia agradar muito ao vaidoso primeiro ministro. O choque entre os dois não tardou a acontecer e Alexandre foi afastado e até perseguido. Ele tentou defender-se com seu documento Impugnação, mas o poder de Pombal era tal que o esmagou. Um incêndio suspeito em sua casa destruiu o prédio e lá faleceu sua esposa, Maria Teixeira Chaves, queimando-se a sua preciosa biblioteca. Um ano depois, pobre e em quase completa desgraça, Gusmão faleceu, em 30 de dezembro de 1753. Tinha 58 anos apenas.

Bem antes de Madri, o governo português já vinha utilizando padres matemáticos e astrônomos para fixar a verdadeira posição das terras portuguesas no Brasil em relação ao meridiano do Tratado de Tordesilhas. Em 1729, os padres Domenico Capassi, napolitano (1694-1736), e Giovanni Battista Carbone (1694-1750) foram contratados por D. João V para trabalhar em Lisboa, onde criaram um observatório astronômico, e depois vieram para o Rio de Janeiro para melhor ordenar as cartas geográficas. Construíram um observatório astronômico no morro do Castelo e fizeram um útil levantamento da costa sul do Brasil. A seu lado, estava o também sacerdote Diogo Simões, lisboeta.

Os padres trabalharam nada menos que 18 anos, em várias partes do Brasil, com a sistemática finalidade de fazer estudos preparatórios para delimitar a soberania política entre os dois impérios, português e espanhol, emeventualnegociação. Aoprepararadocumentaçãoparaadefesadasteseslusas,Gusmãoguardoucompleto segredo sobre os trabalhos realizados por aqueles sacerdotes matemáticos.

Os mapas dos matemáticos eram segredo de Estado. Por ordem de el-rei, havia sempre duas versões: a verdadeira e a que se deixava filtrar para os espanhóis. A elaboração desses mapas tinha óbvio propósito político a médio prazo. Na época sabia-se muito bem que a Colônia do Sacramento estava muito longe do meridiano de Tordesilhas, o que dificultava bastante as pretensões portuguesas. Jaime Cortesão afirmou que até as vésperas do Tratado de Madri, os jesuítas do Paraguai sabiam da missão dos padres matemáticos, mas ignoravam seu resultado. A posição exata do meridiano de Tordesilhas era ciosamente ocultada

Durante as negociações do Tratado em Madri, a delegação lusa se esforçou, sobretudo, por encontrar uma solução definitivaparaa ColôniadoSacramento, últimobastiãoportuguês nafozdoriodaPrata,bem defronte aBuenosAires.AfortalezalusaeraumverdadeirodesafioaopoderioespanholnoPrataefontedecontinuadas escaramuças militares. Na realidade, os portugueses tinham pouca serventia para aquela praça-forte, mas insistiam em mantê-la como moeda de troca para assegurarem a tranquilidade no Uruguai e nas províncias do sul, sempre vulneráveis a investidas espanholas. Comerciantes portugueses e brasileiros menos escrupulosos utilizavam a colônia como centro de contrabando. O momento era oportuno porque em 1746 falecera o rei espanhol Felipe V e seu filho e herdeiro do trono, Ferdinando VI, era casado com a infanta portuguesa D. Maria Bárbara, que exercia muita influência sobre o marido. Segundo Cortesão, “se o seu real esposo era doente e inepto e ela era mais capaz. Bárbara de Bragança apoiou Alexandre de Gusmão com prudência, sensatez e moderação”.

As negociações foram iniciadas e Gusmão sempre teve o apoio da rainha portuguesa da Espanha. Ele aconselhava seus delegados a mostrar que “Portugal não procurava ganhar terreno, mas só regular os confins por balizas conspícuas e indubitáveis, para evitar dissensões no futuro”. Segundo Cortesão, o diplomata “deixava entrever nas negociações com os espanhóis, com prudentes negaças, o engodo da cedência da Colônia do Sacramento”.

As relações entre os dois países melhoravam rapidamente e na época ambas as partes estavam cansadas das disputas sobre a colônia, sempre com gastos consideráveis e sangue derramado. Nas negociações houve muita objetividade das duas Coroas. Gusmão em Lisboa assumiu a direção do litígio, adotando atitude completamentediferente decomo eraantestratada aquestão.Ele aceitavaa entregadaColôniadoSacramento em troca de concessões substanciais dos espanhóis. Ele visava sobretudo à posse de territórios imensos ocupados esparsamente por missões religiosas, bandeirantes e aventureiros nas regiões de Goiás, Mato Grosso e Amazonas, e suas ambições chegavam aos vales dos rios Negro, Branco e Japurá, ao norte da Amazônia. O neto do barão, Miguel do Rio Branco, descreve os preparativos: “Gusmão trabalhava entre os mapas e as informações recebidas dos governadores dessas regiões, das missões carmelitas e de todo e qualquer funcionário que lhe pudesse enviar algo de positivo. De Lisboa, ele bombardeava o embaixador português com sucessivas cartas, minutas e propostas” (Alexandre de Gusmão e o Tratado de 1750, Fundação Alexandre de Gusmão, 2010).

Em relação à Amazônia, Gusmão assim se manifestou nos documentos iniciais. “No país que corre entre os rios Amazonas e Orinoco há muitos carmelitas portugueses pelo rio Negro acima e por outros que nele desaguam, oito missões. (…) Tornamos a propor que fiquem os limites pelas vertentes das águas que dividem a sobredita serrania para o Amazonas e para o Orinoco, sem embargo de tocar à repartição da Espanha tanto maior porção de terras desocupadas, quanto vai da mesma serrania até as primeiras missões espanholas da banda setentrional do Orinoco, o que é um vasto território”.

Gusmão jogou sempre com a preocupação básica da Coroa espanhola de que a Colônia do Sacramento era uma ameaça permanente à sua soberania sobre o vale do rio da Prata, essencial para a tranquilidade da exportação da prata da Bolívia pelo porto de Buenos Aires. Ele tentou fazer com que as disposições de Tordesilhas se voltassem contra os espanhóis, pois eles haviam superado amplamente, do outro lado do mundo, nas ilhas Molucas e Filipinas, a linha estabelecida pelo papa em 1494. Pelo Tratado de Utrecht, a Espanha deveria devolver as Filipinas a Portugal, mas isso era impensável para Madri. A esperteza foi tentar convencer os espanhóis de que era vantajoso para eles que Portugal abrisse mão das Molucas e das Filipinas em troca das áreas desocupadas de Goiás, Mato Grosso e da Amazônia. Jaime Cortesão, no livro citado, nos

traça um quadro preciso dessas extraordinárias negociações em que Alexandre convenceu os espanhóis a aceitar o chamado “Mapa das Cortes” como base das negociações.

Recentemente a historiadora Júnia Ferreira Furtado fez uma pesquisa na Biblioteca Brasiliana de Robert Bosch, de Stuttgart, que resultou em livro interessante que bem ilustra os meandros da preparação do Tratado de Madri, de 1750. Em O mapa que inventou o Brasil, Júnia relata ainda as atividades de outro personagem que contribuiu bastante para o êxito das negociações: o embaixador português D. Luís da Cunha, que serviu Portugal com muita curiosidade e eficiência na França, Países Baixos e na Inglaterra. Dele partiu a noção de que a informação cartográfica seria um grande trunfo para as discussões sobre os limites das possessões das duas Coroas na América.

O tratado finalmente foi assinado em Madri em 13 de janeiro de 1750 pelo visconde Tomás da Silva Teles, em nome do rei de Portugal, e por D. José Carbajal y Lancaster, em nome do rei da Espanha. Ambos reconheciam tervioladoTordesilhas eacabavam com suavigência – umaespéciedemea-culpacomum. Como escreveu Miguel do Rio Branco, “chegamos aqui à norma mais importante e mais revolucionária do tratado: a transferência para o direito público da aplicação, até então reservada ao direito privado, do princípio do uti possidetis (segundo o qual, quem ocupa o território tem direito sobre ele), que um século e meio mais tarde o barão do Rio Branco faria triunfar em julgamentos internacionais”.

Pelo artigo XIII do tratado, Sua Majestade Fidelíssima cedeu à Coroa da Espanha a Colônia do Sacramento e todo o seu território adjacente na margem setentrional do rio da Prata, bem como a navegação nesse importantíssimo rio, o qual passava a pertencer inteiramente à Espanha. Madri obtinha assim o que mais a preocupava, mas o preço que Gusmão a fez pagar por isso foi enorme. Os próprios espanhóis não avaliavam bem o que perdiam. Eles não tinham a noção exata das distâncias na América do Sul, mas Gusmão sabia. Por sua vez no artigo XIV a Espanha entregava a Portugal as regiões do Amazonas, da margem do rio Guaporé e, ao sul, dos chamados Sete Povos das Missões, devendo as aldeias dos índios ser trasladadas da margem oriental do rio Uruguai para “aldear em outras terras de Espanha”. Tal decisão criaria gravíssimos problemas no futuro próximo, mas essa é uma outra estória. Foi fixado o prazo de um ano para efetuar as cessões que iriam “establecer una sólida y durable armonia entre las dos coronas”. Não seria bem assim, mas logo a demarcação da Amazônia seria posta em prática por Pombal, selando seu destino como parte do território brasileiro.

VASCO MARIZ é diplomata e historiador

A CONQUISTA DO MARANHÃOE AS DISPUTASATLÂNTICASNA GEOPOLÍTICA DA UNIÃO

IBÉRICA (1596-1626)

Alírio Cardoso

Resumos

Este artigo analisa os projetos existentes para a ocupação ou exploração econômica do antigo Maranhão, antes de 1626. Tais projetos - francês, inglês e holandês - concorrem com o plano luso-espanhol de ocupação da fronteira entre o norte do Estado do Brasil e as Índias de Castela entre os séculos XVI e XVII. Assim, a conquista do Maranhão (1615) será discutida com base em duas questões: 1. A disputa por espaços de atuação nesta parte do Atlântico; 2. As grandes mudanças ocorridas no universo luso-brasileiro com a União Dinástica (1580-1640).

Estado do Maranhão; União Ibérica; século XVII

This article analyzes the projects for the occupation or economic exploitation of the old Maranhão before 1626. French, English and Dutch projects competed with the Luso-Spanish plan for the occupation of the border between the North of Brazil and the Indies of Castile in the sixteenth and seventeenth centuries. Thus, the conquest of Maranhão (1615) will be discussed in relation to two questions: 1. Competition for spaces of action in this part of the Atlantic. 2. The major changes in the Luso-Brazilian universe following the Dynastic Union (1580-1640).

State of Maranhão; Iberian Union; seventeenth century

MARANHÃO OU MARAÑÓN?

No início do século XVII, o Maranhão gozava de relativa notoriedade a julgar pela documentação diplomática espanhola. De fato, constam informações sobre essa região em pareceres de importantes autoridades hispanolusas, a exemplo de d. Diego Sarmiento de Acuña, embaixador espanhol na Inglaterra; d. Iñigo de Cardenas, embaixador espanhol na França; d. Juan de Ciriza, conhecido secretário do rei Felipe III (1598-1621), e também d. Diogo de Menezes, então governador-geral do Estado do Brasil. Além disso, a situação dessa zona de fronteira é amplamente debatida em diversos outros documentos produzidos pela burocracia castelhana, disponíveis hoje no Archivo General de Simancas, e também no Archivo General de Indias. Essas fontes, ao mesmo tempo em que ajudam a definir melhor o que era chamado de 'Maranhão' antes de possuir formalmente definição de 'Estado', também fornecem dados importantes para uma reflexão sobre o papel reservado ao norte da América Portuguesa no contexto da União Ibérica (1580-1640).

A conquista do Maranhão pelos portugueses ocorre 35 anos depois do início da união político-dinástica entre portugueses e espanhóis. Nessa ação militar participaram homens que já haviam circulado por outros lugares do império, inclusive castelhanos (ver Quadro 1). Por sua situação de fronteira, essa região acaba experimentando as mudanças ocorridas no universo português ao longo do período Habsburgo.2 O domínio sobre esse território, já amplamente visitado por diversas nações europeias, deve ser entendido a partir de um quadro geral de interesses castelhanos em áreas portuguesas atlânticas, entre os séculos XVI e XVII. Esse processo não é distinto das estratégias espanholas de intervenção, direta ou indireta, em lugares como São Paulo, Rio de Janeiro, Angola, ou Reino do Congo.3 De fato, uma análise exaustiva da documentação espanhola aponta para a ideia de que a ocupação portuguesa do Maranhão fazia parte da construção de uma rede defensiva contra os inimigos de Castela, e agora também de Portugal, cuja abrangência atingiria o extremo setentrional do Estado do Brasil, sobretudo, as novas áreas ligadas à Capitania de Pernambuco. Como se sabe, a chamada União Ibérica ocorre após a crise dinástica iniciada com a morte do rei d. Sebastião de Portugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis, d. Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono feita pelo rei espanhol Felipe II (1555-1598), bem respaldado por seu exército sob o comando do duque de Alba (1507-1582), tem início a maior 'união de reinos' da história moderna. Durante 60 anos, Portugal e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica, controlando além das possessões europeias, grandes áreas ultramarinas na América, África e Ásia. Assim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispano-lusa era assegurar a posse das

imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França, Inglaterra, e principalmente Holanda. No caso do Estado do Brasil essa política iria traduzir-se na criação de novas unidades administrativas que desembocariam na criação do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621.

Assim, a criação dessas novas unidades faz parte de uma política mais ampla levada a cabo principalmente no reinadodeFelipeIII(1598-1621).Além disso,nãodeixadeserrelevanteofatodeque,nos60 anosde governo Habsburgo, houve um aumento sem precedentes na distribuição de títulos nobiliárquicos e cargos, em comparação com a discreta política de nobilitação dos Avis, do período anterior. Não por acaso, em pleno impacto do dezembro de 1640, início da 'rebelião' portuguesa contra Castela, já existia o temor de um contragolpeporpartedas elitesportuguesas castelhanizadas, temerosas das grandes perdas quepoderiam advir de uma mudança radical no governo. Esse quadro se torna mais complexo, ainda, em função da estratégia filipina de promover a circulação dessa nobreza portuguesa em diferentes lugares do império.4

Antes de 1621, quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'. Na representação da 'América do Sul', feita no final do século XVI pelo cartógrafo Arnoldus Fiorentinus, o Maranhão aparece como uma região completamente integrada ao Vice Reinado do Peru, separada fisicamente do Estado do Brasil.5 É possível dizer, assim, que o Maranhão era concebido como uma 'entidade geográfica', que fazia parte do império hispano-luso, mas ainda não havia sido dominado militar e politicamente. Na própria cartografia do século XVI, o nome Marañón é utilizado para definir o limite das terras luso-brasileiras ou para nomear o rio que faz essa divisão. Essas fontes confundem o rio Marañón, na bacia do Vice Reinado do Peru, com o rio Amazonas, às vezes chamado de 'Mar Dulce' ou 'rio de Orellana'.6

Não se fala ainda claramente sobre um 'Maranhão português', diferente de um 'Marañón español'. Entretanto, sabemos que cronistas como Carvajal, Lopez de Gómara, Cieza de León, Oviedo y Valdés e, ainda, António Herrera, entre outros, já tinham informações sobre a ligação entre as 'Indias' e o Atlântico, feita através de uma região portuguesa localizada entre o Vice Reinado do Peru e o Estado do Brasil. Além disso, o nome Marañón, mesmo designando algo impreciso, passará a ser comum nas crônicas da época.7 O Maranhão já aparece em 1535 como uma das 'capitanias donatárias', criadas pelo rei d. João III para incrementar a defesa e aproveitamento produtivo da costa luso-brasileira. Originalmente o Maranhão faria parte de uma tríplice seçãodeterras quedeveriaseradministradaporJoão deBarros, famoso historiadorda Índiaportuguesa, Ayres da Cunha, antigo capitão-mor de Malaca, e ainda Fernando Álvares de Andrade. Apesar de algumas tentativas de ocupação, organizadas por esses donatários, o Maranhão permanecerá como região virtualmente desconhecida até a época de Felipe III (1598-1621).

Nas últimas décadas do século XVI, esse território era quase sempre identificado como zona de transição, nem propriamente parte formal do Estado do Brasil, nem ainda Índias de Castela. Mesmo sem definição formal, estamos falando de uma área que corresponderia mais ou menos aos atuais Estados 'brasileiros' de Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Tocantins, Piauí, Maranhão e Mato Grosso (ao Norte do paralelo 16º). Além disso, em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

Essa enorme região se encontrava dividida em duas 'Capitanias Reais': a 'Capitania do Maranhão', cuja capital será a cidade de São Luís, tomada aos franceses em 1615; e a 'Capitania do Grão-Pará', cuja sede será a cidade de Belém, fundada pelos portugueses em 1616, num desdobramento das ações militares de tomada do Maranhão. A fronteira natural entre o Estado do Brasil e o Maranhão seria a serra de Ibiapava, localizada no atual Ceará. Entretanto, a fronteira natural entre o Maranhão e as Índias espanholas sempre foi motivo de diversas especulações, gerando dúvidas sobre os limites entre os rios Amazonas e Marañón.

Existem poucos trabalhos acerca do impacto da União Ibérica sobre a conquista do Maranhão. Os textos existentes identificam quase sempre a conquista como uma resposta automática e improvisada à presença de franceses nailhadoMaranhão,apartirde1612.Porém, umapartedahistoriografia especializada,já fazalgum tempo, tem concordado em que esse período significou para o Estado do Brasil aumento do complexo burocrático, reforço da hierarquia militar, incremento da construção de fortes.8 Entretanto, como em muitos

temas referentes ao extremo norte da América Portuguesa, apesar do esforço atual de jovens pesquisadores de várias universidades, este ainda é um campo que reclama mais estudos.9 Assim, o objetivo principal deste artigo é discutir os projetos hispano-lusos de ocupação do antigo Maranhão, e seu oportuno embate com outros projetos: o francês, o inglês e, mais tarde, o holandês. Também analisaremos como aprópriaconquistadoMaranhãosevêfavorecidaporumapolíticadeocupaçãoprodutivodefensiva da faixa equatorial do Atlântico,10 empreendida entre os governos de Felipe II e Felipe III, com objetivo de reforçar os vínculos comerciais, políticos e militares entre as partes do império, de modo a organizar melhor a defesa contra o assédio de outras nações europeias, mas também desenvolver um mercado inter-regional, a partir do contato entre as experiências 'maranhenses', 'peruanas' e 'brasileiras'.

A CONCORRÊNCIA ATLÂNTICA

Desde o final do século XVI, portugueses e espanhóis sabiam da existência de outros projetos europeus para a América Portuguesa, com ênfase sobre o norte do Estado do Brasil. Tais projetos tinham potencial suficiente para concorrer com as iniciativas hispano-lusas. As autoridades da Península Ibérica conheciam esses 'planos' através de diversos documentos que informam sobre o avanço militar, o comércio oceânico, e as tentativas de implantação de pequenas fortalezas e entrepostos comerciais em zonas de fronteira. Após 1580, o quadro não faz mais que agravar-se, e o topos da ameaça dos concorrentes europeus ganha uma dimensão bem maior na documentação luso-espanhola.

Esses concorrentes na guerra pelo domínio do comércio atlântico são principalmente identificados como: 'invasores' (franceses), 'piratas' e traficantes (ingleses e irlandeses), 'rebeldes' (holandeses) e, ainda, 'aventureiros' (italianos). Para as autoridades hispano-lusas todas essas categorias tinham seu nível específico de perigo, de acordo com certas circunstâncias internacionais. Assim, se nas últimas décadas do século XVI os informes falam bem mais sobre a ameaça inglesa e francesa, a partir, sobretudo, das primeiras duas décadas do século XVII, o grande perigo a ser extirpado será a presença holandesa.11 Esse medo manifesto não era novidade nas possessões ultramarinas. Vitorino Godinho já havia dito que a cultura militar hispano-lusa, sobretudo a portuguesa do século XVII, sempre cultivou certo temor em relação à 'pirataria'.12 No caso específico da costa norte do Estado do Brasil, chegavam notícias alarmantes a Madri sobre a suposta formação de uma Junta General de protestantes, uma espécie de liga de Estados composta por Holanda, Inglaterra e Irlanda, que supostamente estariam planejando um ataque coordenado ao norte da América Portuguesa.13 No mesmo período, também existiram especulações sobre outros acordos envolvendo franceses, ingleses e holandeses. Em 1615, o embaixador espanhol na França, d. Iñigo de Cárdenas, escrevendo ao rei Felipe III, imaginava já um quadro preocupante, em que franceses e ingleses poderiam, segundo diz, "apretar la garganta de las Índias".14 Por isso, nos primeiros anos do século XVII existe uma grande preocupação das autoridades hispano-lusas sobre a capacidade defensiva de áreas portuguesas próximas às rotas comerciais peruanas e caribenhas. Esses avisos também informam, por vezes, sobre o medo de uma grande invasão holandesa à região ao norte de Pernambuco, incluindo aqui Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, antes mesmo de 1624. Rapidamente, com o aumento das especulações sobre o interesse estrangeiro, começariam os planos para tomada do próprio Maranhão.

Antes da tomada definitiva do Maranhão existem importantes viagens prévias, realizadas com ou sem a permissão expressa de Madri. A mais conhecida foi a jornada feita pelo capitão e alcaide do Ceará, Martim Soares Moreno. Esse capitão português tinha grande fama de especialista em línguas indígenas e experto em navegação pelo litoral norte da América Portuguesa. Em 1613, Martim Soares realizou, por ordem do governador do Estado do Brasil, Gaspar de Sousa, uma viagem de reconhecimento da costa do Maranhão. Sua pequena frota experimentou o grande problema da navegação entre o Estado do Brasil e o Maranhão: os fortes ventos contrários dessa parte do Atlântico. Levados pelas correntes, que sopravam na direção do Mar do Caribe, a viagem termina em agosto de 1613 na cidade de Santo Domingos. Martim Soares se apresenta às autoridades locais como navegador com ordens de Sua Majestade. Por isso, seu navio foi consertado com custode230ducados,quedeveriamserpagospela Casa de Contratación deSevilha,comoavisamos diversos informes existentes sobre a jornada.15 Esse tipo de missão de reconhecimento servia, também, para registrar os principais grupos de piratas e corsários que andavam pelo Maranhão. Antes de abordarmos os projetos de conquista propriamente hispano-lusos, cabe fazer um resumo da atividade dos principais grupos não ibéricos nessas terras.

INGLESES E IRLANDESES

As informações acerca de projetos ingleses e irlandeses no Maranhão são abundantes, embora às vezes não passassem de pura especulação. Talvez a primeira notícia verossímil a esse respeito seja um informe, enviado aCarlos Vpelo veneziano SebastiánCaboto (1484-1557),em novembrode 1553.Naverdade,Caboto alertava o soberano acerca de um projeto anglo-francês de tomada de parte do rio Amazonas, organizado pelo duque de Northumberland, e pelo diplomata francês Senhor de Boisdauphin. No final do século XVI, o interesse inglês por essa região seria alimentado, ainda, pela viagem de sir Walter Raleigh (1552-1618) ao rio Orenoco, em 1595. Na relação chamada The Discoverie of the large, rich and bewtifull Empyre of Guiana (1596), Raleigh não só reconhece a imensa capacidade de navegação dos rios da região, como também trata de aumentar as expectativas sobre a existência de lendárias riquezas na cidade dourada de Manoa.

A obra de Raleigh teve boa receptividade, ganhando uma segunda edição já em 1599. Não tardaria muito para que outros ingleses seguissem o exemplo, tal como fez John Ley que, em 1598, teria atingido o Baixo Amazonas, chegando até o rio Xingu. Por volta de 1608, já encontramos o inglês William Davies navegando por essas terras a serviço do duque da Toscana, Fernando I (1587-1609), realizando aquilo que foi a primeira navegação anglo-italiana dahistóriadaAmazônialuso-brasileira.Em 1610,outraexpedição sairiadeLondres, capitaneada por sir Thomas Roe, que tinha como objetivo central confirmar a existência, mais uma vez, da terra dourada de Manoa. O próprio Raleigh ajudou a financiar esta última expedição que contaria com um navio de 200 toneladas e 124 marinheiros, e que teria conseguido subir mais de 320 quilômetros pelo Amazonas. Em 1620, o capitão Roger North, com um número reduzido de 120 ingleses e irlandeses, tentou construir um forte na bacia do Amazonas, para comercializar canela e tabaco, entre outros produtos nativos. No mesmo período, também circulavam notícias sobre a expedição de um jovem irlandês chamado Bernard O'Brien,quechegouàregiãoem companhiado capitãoRogerNorth. O'Brienteriasubidomais 65quilômetros o rio Amazonas, fazendo amizade com índios de fala Aruak e, mais tarde, prosseguindo de maneira independente da jornada de North. Esse irlandês teria possivelmente atingido o rio Trombetas, depois chegando ao Suriname. De modo geral, alguns dos mais importantes projetos ingleses para o norte do Estado do Brasil estariam mais tarde associados à criação da Guiana Company, em Londres (1627), que inicia projetos mais organizados envolvendo o Maranhão.16

À medida que avançamos os primeiros anos do século XVII, cada vez mais as preocupações hispano-lusas se concentram nos holandeses. E, no final das contas, existiam muitos motivos para tanto, já que à diferença dos ingleses os 'rebeldes de Holanda' tinham melhor organização, além de maior estrutura bélico-naval, e projetos mais específicos a respeito do Atlântico Sul. Entretanto, parece claro que o objetivo central de ingleses e irlandeses na região estava mais inclinado para a organização de pequenos entrepostos comerciais, com pretensões relativamente limitadas. O caso holandês era, em muitos sentidos, diferente.

HOLANDESES E ZELANDEZES

Em 1620, d. Diego de Cárcamo, que havia sido escolhido previamente para ser o primeiro governador do Maranhão, mas que jamais chegaria a assumir efetivamente o cargo, já alertava a respeito do risco da presença batava na região do atual Estado do Amapá.17 Como se sabe, na primeira metade do século XVII começa uma guerra global entre Espanha e as Províncias Unidas Holandesas.18 A conquista do Maranhão coincide exatamente com a mudança de cenário dessa guerra, passando dos territórios europeus, sobretudo o Norte da Europa, para ações militares mais objetivas em várias partes da América, Ásia e África, convertendo-se num conflito de proporções globais.

Apesar da trégua, estabelecida desde 1609, entre a nova 'República' e o Reino da Espanha, durante toda a primeira metade do século XVII os chamados Confederados de Utrecht criaram uma política bastante agressiva em relação aos domínios ultramarinos hispano-lusos. Para o Atlântico, as investidas se tornaram cada vez mais claras e organizadas, principalmente após a fundação, já em 1621, da West-Indische Compagnie (WIC). Para piorar o quadro geral, a partir de 1605, as Repúblicas Holandesas ganhavam o controle de parte considerável das rotas comerciais asiáticas.19

Esse é o quadro geral a partir do qual começam a circular informações sobre a presença holandesa na costa norte do Estado do Brasil. Os primeiros informes verossímeis sobre holandeses na Amazônia Brasileira datam da segunda metade do século XVI. É provável que naus holandesas e zelandesas estivessem explorando a fronteira entre os rios Orenoco e Amazonas, entre 1598 e os primeiros anos do século XVII. Nessa época, as Consultas do Conselho de Portugal, como veremos, já admitiam claramente os interesses dos 'Estados de Holanda' na região do Maranhão, sendo já favoráveis à implantação de providências defensivas. Em 1616, por exemplo, o capitão português André Pereira afirma que os holandeses já estariam nessas terras, tendo nelas

construído um forte com trezentos homens bem armados, localizado nas proximidades do rio Gurupá, com auxílio indígena. De fato, uma das grandes preocupações em relação ao Maranhão dizia respeito exatamente à enorme quantidade de índios potencialmente aliados, que poderiam ser cooptados pelas forças 'inimigas'.20

Outros informes alertavam o Conselho de Portugal acerca dos perigos de uma completa adesão tupinambá à causa holandesa, em função da falta de cuidados dos portugueses. Em 1631, por exemplo, um irlandês chamado 'Gaspar Chilan', que segundo diz "sabe por cosa cierta que los holandeses y otras naciones van poblando cada dia el rio y tierras de los Amazonas y costa de Guiana", propõe ao rei Felipe IV (1621-1640) levar irlandeses católicos para ajudar a proteger o Maranhão contra os tais 'hereges' e assegurar, assim, a fidelidade dos índios dessa região.21

Apesar da gravidade dessas notícias teremos de esperar até o final da União Ibérica para ver uma tentativa eficaz de invasão holandesa ao Maranhão. Essa ação militar, há muito temida, só ocorre em novembro de 1641, sob o comando do almirante Jan Corneiliszoon Lichthardt, e ficará praticamente restrita à ilha de São Luís, pouco atingindo a capitania do Grão-Pará, por exemplo.22 Em 1644, os holandeses já combalidos internacionalmente abandonavam definitivamente o Maranhão, naquilo que foi umas das primeiras rebeliões anti-holandesas da América lusa.

Em parte, as notícias a respeito dos projetos batavos para o Maranhão, anteriores à própria invasão de 1641, devem ser entendidas como parte de um processo global de reconhecimento de oportunidades econômicas por parte das Províncias Unidas de Holanda, que começavam a objetivar áreas de fronteira entre o Mar do Caribe, o Vice Reinado do Peru e o Estado do Brasil. Anos antes, por volta de 1613, começavam a chegar informações muito mais concretas sobre outro projeto 'estrangeiro' para o Maranhão, conhecido mais tarde como a 'França Equinocial'.

OS FRANCESES

Dentre todos os projetos não luso-castelhanos para o Maranhão, a ocupação francesa foi a que mais obteve a atenção da burocracia hispano-lusa na primeira década do século XVII. Diferentemente de ingleses e holandeses, que nos primeiros anos montam pequenos complexos comerciais e feitorias às margens dos rios, os franceses organizaram uma ação que, mesmo com limitadas proporções, implicava uma ocupação militarcivil, entre 1612 e 1615. Por conta disso, a França Equinocial também foi o projeto que mais se cristalizou na memória historiográfica local, muitas vezes exagerando certos aspectos dessa ocupação. Entretanto, muitos outros trabalhos, mais recentes, tentam compreender esse projeto com base também em suas falhas, mitos e contradições internas, utilizando já a documentação francesa disponível a respeito.23

A França, como se sabe, fez pouco mistério sobre o projeto de ocupação parcial do Maranhão, deixando vários documentosemfrancês, portuguêseespanhol,incluindoasrelações escritaspelospadresClaudedeAbbeville, e mais tarde, Yves D'Evrex.24 Também é razoavelmente conhecida a documentação diplomática, logo posterior à tomada do Forte de São Luís pelos portugueses (1615), com as primeiras negociações francoespanholas levadas a cabo por d. Iñigo de Cárdenas, embaixador espanhol na França. Além disso, é necessário levar em consideração que bem diferente do caso holandês, a França tinha relações diplomáticas mais estáveis com a Monarquia Católica. Apesar disso, os franceses estabelecem uma política agressiva no Atlântico Sul. No final do século XVI, entre 1596 e 1597, navegadores daquele país já tentavam construir fortificações ao norte da Capitania de Pernambuco, travando batalhas com portugueses no Rio Grande do Norte e da Paraíba. Em 1604, os franceses já iniciam atividades de exploração na região da atual Guiana Francesa, liderados pelo general Daniel de La Touche, o mesmo militar que liderou a ocupação do Maranhão em 1612.

De modo geral, o projeto da França Equinocial só começa a ser efetivado a partir do relatório feito por um dos navegadores que transitavam pelo Norte de Pernambuco, chamado Charles De Vaux. De Vaux, que esteve anos perdido entre os índios da nação tupinambá, na sua volta à França teria convencido Henrique IV a iniciar os planos para a ocupação desta parte da América Portuguesa. Em 1611, a Regente francesa Maria de Médici passa instruções gerais para a efetivação do projeto. A frota de três navios e cerca de quinhentos homens saiu do porto de Cancale, na Bretanha, em março de 1612, fazendo uma primeira escala na ilha de Fernando de Noronha, depois na Capitania do Ceará. Os franceses chegam ao Maranhão em julho de 1612, ocupando uma das ilhas menores (Santa Anna) e logo passam à Ilha Grande, onde fundam imediatamente uma fortificação. Em outubro de 1612, o governo espanhol já recebera informações seguras acerca das atividades francesas na ilha do Maranhão, apressando os projetos - já existentes - de conquista desse território. De fato, no mesmo período,Felipe IIIpassainstruções aogovernador do EstadodoBrasil,GaspardeSousa,autorizando ajornada

de conquista do Maranhão. Como se sabe, a expulsão de franceses da região só ocorreria em 1615, numa ação militar realizada por soldados luso-pernambucanos, e com extensa ajuda indígena. Não obstante, tempos depois, a burocracia hispano-lusa alimentou o temor de uma reedição da França Equinocial, desta vez com auxílio holandês. Na mesma época, começam a circular informações sobre um possível acordo entre Daniel de La Touche e as Províncias Unidas. Segundo uma das versões, La Touche, já considerado um dos principais especialistas em navegação 'maranhense', queria retornar ao Maranhão com o apoio militar e logístico dos batavos, oferecendo a eles sua experiência nos negócios da região. Assim afirma um aviso anônimo, enviado ao Conselho de Portugal:

Aviso

Hace tenido aviso que Mos. de La Rabardier que es el capitán francés que trajeron preso a Lisboa del Marañón ofrece a los Estados de Holanda de volver con gente y vasallos a fortificarse en el Marañón y representa grandes utilidades de esta jornada y les asegura el buen servizo en ella por el descuido que ve de España y también se ha entendido que algunos particulares de San Malo y la Rochela están de acuerdo con Rabardier y le ofrecen algunos vasallos pero el busca mayores fuerzas en Holanda y se entiende que se la darán.25

A referência, já na década de 1620, aos holandeses era mais do que suficiente para chamar a atenção de portugueses e espanhóis, funcionando como poderosa força retórica na busca por mais investimentos na região. Não obstante, no início dessa década o clima de medo foi consideravelmente agravado em função dos informes sobre motins indígenas no Maranhão e no Grão-Pará, cuja máxima expressão foi o grande Motim Tupinambá de Cumã (na parte continental, oposta à ilha do Maranhão), ocorrido no final de 1617. O medo hispano-luso era compreensível. De fato, as autoridades envolvidas sabiam que aqueles que obtivessem o apoio das nações indígenas, no Maranhão e no Grão-Pará, conquistariam com facilidade essas terras. No sentido de evitar os possíveis danos de uma ação franco-holandesa, ou ainda pior, franco-holandesatupinambá, as autoridades em Lisboa tratam de retardar ao máximo a libertação de La Touche, prisioneiro dos portugueses desde 1615, apesar dos protestos que começavam a chegar da França. O marquês de Alenquer chega a considerar seriamente a possibilidade de contratar os serviços de La Touche, como forma de manter o general francês longe da influência holandesa. Estava claro que, nesse clima de medo, favorecido pelas iniciativas holandesas em outras partes do mundo, o navegador com mais experiência sobre a região do Maranhão deveria estar isolado e contido. Autoridades hispano-lusas, como o marquês de Alenquer, o secretário Juan de Ciriza ou o embaixador d. Iñigo de Cárdenas, tinham em conta que, além de grande experto em Maranhão, La Touche era um dos conquistadores da Guiana Francesa, e teria supostamente aliados entre as nações indígenas da região.

ESPANHÓIS E PORTUGUESES NA CONQUISTA DO MARANHÃO

A conquista efetiva do Maranhão foi planejada na administração do conde de Ericeira, d. Diogo de Menezes (1608-1612), e concluída por d. Gaspar de Sousa (1612-1617), ambos governadores do Estado do Brasil. Antes disso, houve certas consultas ao embaixador espanhol na França, d. Iñigo de Cárdenas, para averiguar a gravidade da ocupação francesa à ilha de São Luís.26 Entre outubro e novembro de 1612, d. Gaspar de Sousa ganha autorização real para mudar temporariamente a capital do Estado do Brasil para Pernambuco, de modo a poder coordenar as ações de conquista a partir de um centro gestor mais próximo ao Maranhão. Na verdade, Felipe III esperava que o próprio Gaspar de Sousa viajasse ao Maranhão para, assim, dirigir as ações militares pessoalmente. Algumas Cartas Régias de Felipe III são bastante elucidativas sobre o projeto hispano-luso de conquista dessa região, revelando certas expectativas sobre como deveria ser feita a tomada do novo território. Em outubro de 1612, o soberano passa instruções para que a conquista seja feita por mar, e que seria conveniente irem mais de seiscentos soldados arcabuzeiros, acompanhados de mil índios flecheiros de Pernambuco. Também deveriam ir, segundo Felipe III, oficiais mecânicos de 'todos os ofícios', e até 'homens nobres' e de 'cabedal' que pudessem fabricar engenhos e iniciar comércio nas novas terras.27

Porém, do ponto de vista geopolítico, a incorporação dessa região ao império ajudaria a resolver alguns dos problemas do governo de Felipe III. A ocupação do Maranhão faz parte da política de construção de uma linha de defesa no litoral norte do Estado do Brasil. Sobre o tema, três questões estão sempre presentes nas fontes disponíveis:

1) A expulsão imediata dos franceses;

2) As providências para travar o avanço de ingleses e holandeses pelo litoral;

3) A possibilidade de integração comercial entre o Maranhão e as Índias de Castela, sobretudo com o ViceReino do Peru.

Desde o início do projeto, o rei Felipe III tem muito claro que deve ouvir certos conselheiros privilegiados, especialistas em Maranhão. Essa comissão era composta por navegadores, como Martim Soares Moreno; oficiais, como Diogo de Campos e Alexandre de Moura; membros do Conselho Real, como Gaspar de Sousa; ou nobres titulares, como o marquês de Alenquer e o duque de Lerma. A importância desses conselheiros nas 'cousas do Maranhão' não se resume à conquista em si. Felipe III dependerá desses pareceres na tomada de decisões sobre proteção militar, definição política, ou opções econômicas apropriadas às novas terras. Em diversas Cartas Régias, Felipe III também incentiva publicamente a cooperação espontânea dos vassalos. De fato, o soberano tinha claro que a incorporação do Maranhão ao império deveria ser feita com o máximo empenho pessoal dos portugueses, até mesmo com investimento financeiro privado.

De fato, a conquista do Maranhão vai se realizar a partir de investimentos particulares, efetivados por uma fração da burocracia luso-pernambucana que buscava nas novas terras honras e cargos. Houve uma verdadeira transferência burocrático-militar de lugares como Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará para a conquista do Maranhão. Essa transferência também diz respeito às famílias políticas luso-brasileiras, como os Sousa, os Albuquerque Coelho, ou os Castello-Branco. Na prática, a conquista foi não só a resposta a um 'chamado real', mas também a visualização, por parte desses grupos políticos, de diversas vantagens na construção de outra oligarquia, independente das do Estado do Brasil.

Todas as regiões ao norte de Pernambuco teriam um papel na tomada do Maranhão. Assim, foram reunidos índios aliados no Rio Grande do Norte e Paraíba; o Ceará seria um ponto estratégico para abastecimento da frota; e os principais oficiais eram luso-pernambucanos. Apesar disso, a ocupação do Maranhão a partir de Pernambuco não era a única possibilidade, também existiam outras soluções em vista. Em 1615, após as primeiras informações sobre o andamento do conflito franco-português, o conde de Salinas, embebido no clima de covassalagem favorecido pela União Ibérica, defende outra proposta de socorro das novas terras: Con una consulta del Consejo de Portugal, el cual refiere que respecto de haber entendido que en la Rochela se prevenían dieciocho navíos para socorrer los franceses que están en el Marañón avisa el Consejo ordenando al Virrey de Portugal que despachase a Gaspar de Sosa que es Gobernador del Brasil que con suma brevedad se partiere a acabar esto del Marañón antes que se imposibilitase, y por ser esta materia de tan gran importancia para ambas Indias pone el Consejo en consideración si convendrá que por la Corona de Castilla se acuda también a él con navíos y gente o con los 1000 hombres que han de ir a Chile.28

A ideia de enviar ao Maranhão soldados castelhanos destacados para ir ao Chile vai ser discutida pelo Consejo de Portugal, sempre baseada no pressuposto de que o Maranhão estaria mais próximo às Índias Castelhanas, e mais distante em relação ao Estado do Brasil. Ao final, o Conselho avalia ser inconveniente o envio dos ditos soldados, por deixar um caminho aberto ao avanço holandês nas partes do sul, com a saída de tantos homens dessa região. Estava claro que, para o conde de Salinas, a tomada do Maranhão fazia parte de uma ampla preocupação defensiva contra os inimigos de Castela. De fato, existe uma boa aceitação da fórmula filipina de intervenção internacional armada no processo de conquista. Não por acaso, a ideia original para a integração do Maranhão ao império incluía a participação ativa de espanhóis.

Embora a confirmação do decreto de criação do 'Estado do Grão-Pará e Maranhão', autônomo em relação ao Estado do Brasil, seja de 1621, sabemos que desde o final de 1612 já existia uma disposição favorável em relaçãoaessasolução.Noanode1618,acriaçãodeumanovaunidadepolítico-administrativaeraumadecisão plenamente constituída. Para esse novo governo, Felipe III tinha já um candidato, era o espanhol d. Diego de Cárcamo. Anos antes de o luso-pernambucano Francisco Coelho de Carvalho assumir aquele novo Estado (1626), o primeiro governador eleito do Maranhão foi um espanhol.

D. Diego de Cárcamo era um antigo funcionário real que fora secretário de d. Antonio, Prior do Crato, com atuação importante nas primeiras negociações entre Portugal e Espanha, em agosto de 1580.29 No início do ano de 1620, já em idade avançada, o virtual governador já fazia exigências para assumir a nova conquista, entre elas: a garantia de ter escravos africanos, investimentos em segurança, investimentos na construção de engenhos de açúcar,além deum empréstimo de10 mil cruzados quedeveriam sairdogovernode Angola.30 D. Diego de Cárcamo também faz vários pareceres sobre diferentes temas relativos ao governo do Maranhão, a exemplo da negociação com a Corte francesa, ou sobre a ameaça holandesa. A identificação que o velho

castelhano ainda matinha com os Avis teria sido, ao que parece, uma das causas que impediram Cárcamo de assumir definitivamente o novo governo.

As fontes disponíveis sobre a conquista do Maranhão não nos permitem saber quantos castelhanos integraram efetivamente a jornada. Entretanto, sabemos que houve a participação ativa de conhecidos oficiais espanhóis, como o andaluz Juan de Salinas ou Francisco de Beça, possivelmente do reino de Castilha. A presença de oficiais e soldados espanhóis não era uma novidade, em função da grande circulação de homens pelo império. Defato, sabe-sequeduranteaUnião Ibérica aparticipação de castelhanos nessetipodeviagem eratão comum quanto a presença portuguesa nas carreiras comerciais castelhanas.31

A conquista do Maranhão também chamou a atenção de outros covassalos de Felipe III. Gaspar de Sousa, por exemplo, escreve ao rei comunicando que um oficial do Reino de Nápoles chamado Constantino Paolo Garrafa, 'bem nascido', e que já tinha servido ao soberano na Guerra de Flandres, pedia para ir ao Maranhão como Capitão de Artilharia. Sousa estava inclinado a enviar o dito capitão napolitano em função da necessidade de 'gente' nessas terras, e por "não ser ele dos estrangeiros proibidos".32

De fato, o 'chamado real' para o serviço nas novas terras teve rapidamente resposta. Muitos portugueses que já haviam circulado por outras partes do império começam a pedir cargos para ir à conquista do Maranhão. Há vários exemplos a respeito. Simão Carvalho (da cidade do Porto) pede o cargo de Alferes no Maranhão, por ter participado da expulsão dos franceses, e da proteção da terra contra os holandeses. Agostinho Ferreira (natural de Lisboa), que já havia servido a Felipe II na Bretanha, pede o cargo de Sargento-Mor para servir no Maranhão. Outro português, Andre Soares, que servia em Sevilha, diz que foi 'voluntariamente' à conquista do Maranhão com mulher, filhos e 'escravos', e que lá 'vive a lei da nobreza', pede a Felipe IV o cargo de Escrivão da Câmara de São Luís. De fato, umas das questões mais emblemáticas sobre a conquista do Maranhão é a adesão voluntária à fórmula de covassalagem oferecida pela União Dinástica. No mesmo sentido, as referências à conquista do Maranhão aparecem, muitas vezes, em processos de habilitação para as trêsOrdensMilitares,mesmoapósofinaldaUnião Ibérica.OcapitãoAyres deSousaChichorro,porexemplo, pede o Hábito de Cristo, ainda em 1650, alegando ter participado da jornada do "rio das Amazonas quando se mandarão desalojar os holandeses e ingreses que nele estavam fortificados, como no tempo que a cidade de São Luis esteveocupada dos mesmos holandeses, eoutrosreencontrosque ouvecom os inimigos estrangeiros, e naturais da terra".33 Portanto, a memória das ações militares filipinas ainda estava fresca no governo dos primeiros Bragança após a Restauração de 1640.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Numa direção bem diversa da interpretação nacionalista do início do século XX, nos últimos anos os estudos sobre a União Dinástica têm enfatizado muito mais os processos globais, transoceânicos e transfronteiriços, que pressupõem intercâmbios econômicos, políticos e culturais entre as partes do império. Tais estudos têm avaliado as dinâmicas que permitiam que portugueses e espanhóis, muitas vezes alheios às decisões palacianas, buscassem estratégias para agregar seus mútuos interessesnas diversas partes do Mundo. Demodo geral, esses novos estudos vêm tentando avaliar o impacto global da Monarquia Hispânica, muito além do próprio território europeu.34 Outra característica desta nova fase são os muitos estudos comparativos que começam a traçar um perfil mais verossímil sobre o fenômeno dos 'impérios conectados'.35 Além disso, a própria historiografia luso-brasileira tem redimensionado certos lugares-comuns do estudo da União Dinástica, abordando de maneira dinâmica e inovadora o problema das mudanças institucionais e culturais, favorecidas pela conexão entre os dois reinos.

No caso da conquista do Maranhão, estava claro não existir contradição entre os projetos imperiais e os interesses particulares de homens que simplesmente buscavam riquezas, novas oportunidades, cargos e mercês. Desse modo, se faz necessário fugir à explicação clássica que compreende a conquista da 'Amazônia' como uma resposta automática à invasão francesa ao Norte do Brasil, a partir de 1612. A conquista do Maranhão não foi uma simples operação militar para afastar 'piratas' da costa norte do Estado do Brasil, foi parte de um projeto hispano-luso de proteção e integração comercial na fronteira entre a América Portuguesa e as Índias castelhanas. A condição de fronteira dessa região é tema constante em todos os informes, crônicas e memoriais da época, deixando claro a abrangência do tema.

Porém, é importante enfatizar que a conquista do Maranhão não foi uma ação isolada, desconectada dos grandes temas da época. Como vimos, as informações sobre essa região de fronteira já circulavam na época de Carlos V e Felipe II, alimentando especulações sobre a necessidade e fidelidade da Linha de Tordesilhas.

Na época de Felipe III, a fronteira maranhense rapidamente se insere num debate mais geral sobre o aproveitamento comercial da faixa norte do litoral da América Portuguesa, incluindo Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. É preciso ter em mente que a mesma estratégia havia sido pensada, em 1608, para as capitanias do sul do Estado do Brasil (Rio de Janeiro, São Vicente, Espírito Santo), as quais ganham um governo separado, com a nomeação de d. Francisco de Sousa para o cargo. Por isso, já existia a expectativa de que Felipe III optasse pela separação política também do Maranhão.

A conquista do Maranhão também representou a possibilidade de obtenção de vantagens, pessoais e coletivas, para uma parte ociosa da burocracia luso-pernambucana. A ideia de que portugueses do Maranhão pudessem tirar vantagens da União Dinástica contradiz a noção clássica de que a 'União' foi um projeto exclusivo das camadas mais altas da sociedade hispano-lusa, ou um jogo limitado aos altos Conselhos de Estado. Assim, ao longodosprimeirosanosdeconquistacomeçamacobrarinteresseaspropostas,feitaspelaprimeiraburocracia luso-maranhense, de aproximação comercial entre portugueses e castelhanos, principalmente entre a região do Maranhão eo ViceReinadodoPeru.Nessesentido,aadesãoàCasadeÁustriaparecemuito menosseletiva do que se costuma pensar.36 Porém, esse processo de adesão voluntária aos benefícios da 'União' não foi exclusivo da conquista do Maranhão. Graça Ventura demonstrou que o interesse geral dos portugueses nas terras 'peruanas', já existente em períodos anteriores, aumenta consideravelmente após 1580.37 Portanto, a burocracia hispano-lusa que participou da conquista do Maranhão integra um movimento mais amplo de postura pragmática em relação à confusa situação política criada com a ascensão de Felipe II de Espanha. Por fim, o projeto hispano-luso de ocupação do Maranhão não era exatamente a construção de um 'novo Potosí', apesar de essa ideia estar presente no período (Marques, 2009, p.317-319; Reis, 1978; Magalhães, 1978, p.14). Os projetos hispano-lusos para o Maranhão inclinavam-se na direção de uma 'economia de fronteira', aproveitando o melhor do Estado do Brasil (o açúcar), e o melhor das Índias (circulação de metais emercadorias, exploração comercialde'drogas daterra').OEstadodoBrasil,consideradodistantefisicamente do Maranhão, deveria garantir seus primeiros passos na direção da autonomia política e econômica. No futuro, o Maranhão deveria reforçar as relações entre as partes portuguesa e castelhana do império. No final das contas, muitas dessas ideias e intenções tinham como pressuposto a continuidade da União Ibérica. E, como sabemos, muitas dessas propostas sobre o que deveria ser o Maranhão, e também o Estado do Brasil, teriam de ser (em parte) repensadas após 1640.

NOTAS

• 2 Sobre algumas dessas mudanças estruturais no universo luso-brasileiro, com ênfase na União Dinástica, ver: CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e os primeiros Bragança. Hispania, v.LXIV, n.216 (jan.abr. 2004), p.117-156;

• VALLADARES, Rafael. El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación de Portugal (1640-1668). Cuadernos de Historia Moderna, Madrid, n.4, p.151-172, 1993;

• MARQUES, Guida. L'Invention du Bresil entre deux monarchies: gouvernement et pratiques politiques de l'Amérique portugaise dans l'union iberique (1580-1640). Tese (Doutorado) - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Paris, 2009;

• SCHAUB, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640). Lisboa: Livros Horizonte, 2001.

• Para um estudo de conjunto: FRAGOSO, João; GOUVEA, Maria de Fátima; BICALHO, Maria Fernanda (Org.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

• 3 Para o estudo dessas regiões, ver: RUIZ GONSALEZ, Rafael. São Paulo na Monarquia Hispânica São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio, 2004;

• TEJERINA, Marcela. Luso-brasileños en el Buenos Aires Virreinal: trabajo, negócios e intereses en la plaza noviera y comercial. Bahía Blanca: Ed. Universidad Nacional del Sur, 2004;

• CORTÉS LOPEZ, José. Felipe II, III y IV, reyes de Angola y protectores del Reino del Congo (1580-1640). Studia Historica, historia moderna, v.IX, p.223-246, 1991.

• 4 VALLADARES, Rafael. La rebelión de Portugal, 1640-1680: guerra, conflicto y poderes en la monarquía hispánica. Valladolid: Junta de Castilla y León, 1998, p.39-40.

• 5 LANGEREN, A. F. van. Map of South America [1595]. In: BAGROW, Leo. History of Cartography New Brunswick; Oxford: Transaction Publishers, 2009 (2.ed. ampliada), p.103.

• 6 A famosa crônica de Carvajal já inicia essa tendência. CARVAJAL, Gaspar de, fr., Relación que escribió fr. Gaspar de Carvajal, fraile de la Orden de Santo Domingo de Guzmán, del Nuevo descubrimiento del famoso Rio Grande que descobrió por muy gran aventura el capitán Francisco de Orellana, desde su nacimiento hasta salir a la Mar, con cincuenta y siete hombres que trajo consigo y se echó a su aventura por el dicho rio, y por el nombre del capitán que le descubrió se llamó el Rio Orellana. Madrid: Consejo de la Hispanidad, 1944.

• 7 REIS, Arthur Cezar Ferreira. Limites e demarcações na Amazônia brasileira: a fronteira com as Colônias Espanholas. Belém: Secult, v.1, 1993, p.26.

• 8 Ver, entre outros: WRIGHT, Antônia Fernanda P. de Almeida; MELLO, Astrogildo Rodrigues de. O Brasil no período dos Filipes. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, tomo I, v.1, 1997, p.181;

• LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Administração Colonial Luso Espanhola nas Américas Rio de Janeiro: Cia. Brasileira das Artes Gráficas, 1952;

• _______. Processo Administrativo Ibero-Americano (aspectos sócio-econômicos - Período Colonial) Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1962;

• MAGALHÃES, Basílio de. Expansão Geográfica do Brasil Colonial Brasília: INL; São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1978;

• FRANÇA, Eduardo D'Oliveira. Portugal na época da Restauração São Paulo: Hucitec, 1997.

• 9 RUIZ-PEINADO ALONSO, José Luis; CHAMBOULEYRON, Rafael (Org.). T(r)ópicos de história: gente, espaço e tempo na Amazônia (séculos XVII a XXI). Belém: Açaí/Centro de Memória da Amazônia/PPHIST-UFPA, 2010;

• SANTOS PÉREZ, José Manuel; PETIT, Pere (Org.). La Amazonia Brasileña en Perspectiva Histórica Salamanca: Ed. Universidad de Salamanca, 2006;

• PRIORE, Mary Del; GOMES, Flávio dos Santos (Org.). Os senhores dos rios: Amazônia, margens e histórias. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

• 10 CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII). Revista Brasileira de Historia, São Paulo, v.26, n.52, 2006, p.79-114.

• 11 Ver uma síntese em: PUNTONI, Pedro. As guerras no Atlântico Sul: a ofensiva holandesa (1624-1641). In: BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno Severiano. Nova História Militar de Portugal Lisboa: Círculo de Leitores, v.2, 2000, p.255-267.

• 12 GODINHO, Vitorino Magalhães. As incidências da pirataria no sistema português do século XVI. In: _______. Mito e Mercadoria: utopia e prática de navegar. Séculos XIII-XVIII. Lisboa: Difel, 1990, p.460-475.

• 16 Sobre essas informações, ver entre outros: LORIMER, Joyce. English and Irish Settlement on the River Amazon, 15501646. London: The Hakluyt Society, 1989, p.1 e 133.

• 18 Ver síntese em: EBBEN, Maurits A. De Republiek der Zeven Verenigde Provinciën tot Omstreeks 1650/A República das Sete províncias ate aproximadamente 1650. In: WIESEBRON, Marianne (Org.). Brazilië in Nederlandse Archiven / O Brasil em arquivos neerlandeses (1624-1654) Leiden: CNWS, 2004, p.30-80. (ed. bilíngue).

• 19 DEN HEIJER, H. The Dutch West India Company, 1621-1791. In: POSTMA, J.; ENTHOVEN, V. Riches from Atlantic Commerce: Dutch Transatlantic trade and shiping, 1585-1817. Leiden; Boston: Brill, 2003, p.97-100.

• 20 "Relatório que fez o capitão André Pereira sobre o rio das Amazonas e terras circundantes, 1616". Annaes da Biblioteca e Archivo Publico do Pará, Belém, tomo 1, 1968, p.5-8. Sobre o tema ver: PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Edusp; Fapesp; Hucitec, 2002. Para uma visão de conjunto sobre a questão, ver: MONTEIRO, John M. Tupis tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. Tese (Livre-docência) - Universidade Estadual de Campinas. Campinas (SP), 2001.

• 22 MEIRELLES, Mário. Holandeses no Maranhão (1641-1644). São Luís: Ed. UFMA, 1991, p.87;

• CARDOZO, Alírio. Notícias do norte: primeiros relatos da presença holandesa na Amazônia brasileira (século XVII). Nuevo Mundo Mundos Nuevos, Paris, v.8, 2008, p.43703.

• Disponível em: nuevomundo.revues.org/index43703.html. Para um estudo de conjunto, ver entre outros: SANTOS PÉREZ, José Manuel; CABRAL DE SOUZA, George F. (Org.). El desafío holandés al dominio ibérico en Brasil en el siglo XVII. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2006;

• BOXER, Charles. The Dutch Seaborne Empire, 1600-1800 London: Hutchinson & co, 1965;

• ISRAEL, I. J. La República Holandesa y el Mundo hispánico, 1606-1661 Madrid: Ed. Nerea, 1997;

• MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada: guerra e açúcar no Nordeste, 1630-1654. Rio de Janeiro: Forense Universitária; São Paulo: Edusp, 1975;

• _______. Rubro Veio: o imaginário da Restauração Pernambucana. 2.ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997;

• MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida a na cultura do norte do Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Ed. Massangana; Instituto Nacional do Livro, 1987.

• 23 OBERMEIER, Franz. Documentos sobre a Colônia francesa no Maranhão (1612-1615). As partes censuradas do livro de Yves D'Evreux Suitte de L'Histoire In: COSTA, Wagner Cabral. Historia do Maranhão: novos estudos. São Luís: Ed. UFMA, 2004, p.33-50;

• DAHER, Andréa. O Brasil francês: as singularidades da França Equinocial, 1612-1615. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007;

• LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A fundação Francesa de São Luís e seus mitos São Luís: Lythograf, 2002;

• COUTO, Jorge. As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projeto da França Equinocial. In: VENTURA, Maria da Graça M. A União Ibérica e o Mundo Atlântico Lisboa: Colibri, 1997, p.171-194.

• Para uma comparação com o projeto da chamada França Antártica, ver: LOPEZ, Adriana. Franceses e tupinambás na terra do Brasil São Paulo: Ed. Senac, 2001.

• 24 D'ABBEVILLE, Claude. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão [1614], Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975;

• D'EVEUX, Yves. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614. São Luís, 1874 [1615]

• 29 SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O reinado de D. António Prior do Crato (1580-1582), v.1, Coimbra, 1956, p.81.

• Sobre a relação entre a oposição antifilipina e as disputas atlânticas do período, ver: MARQUES, Guida. La dimension atlantique de l'opposition antonienne et l'enjeu brasilien (1580-1640). Anais de História de Além-Mar, v.IV, 2003, p.213246.

• 31 PEREZ-MALLAINA, Pablo Emilio. La Carreira de Indias: incovenientes y ventajas del sistema español de comunicaciones transatlánticas. In: VENTURA, Maria da Graça. Viagens e Viajantes no Atlântico quinhentista Lisboa: Colibri, 1996, p.23.

• 34 VALLADARES, Rafael. Castilla y Portugal en Ásia (1580-1680), declive imperial y adaptación. Louvain: Leuven University Press, 2001;

• CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e os primeiros Bragança. Hispania, v.LXIV, n.216, ene.-abr. 2004, p.117-156;

• MARQUES, 2009; VENTURA, 1997; RUSSELL-WOOD, A. J. R. Centers and Peripheries in the Luso-Brazilian World, 1500-1808.In: DANIELS,Christine; KENNEDY, Michael V. Negotiated Empires: centreand peripheries in theAmericas, 1500-1820. New York: Routledge, 2002, p.105-142;

• MOLHO, Anthony; RAMADA CURTO, Diogo. Les réseaux Marchands à l'époque moderne. Annales. Histories, Sciences Sociales, Paris, n.3, mai-juin 2003), p.569-579;

• GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde: histoire d'une mondialization. Paris: Éd. de Martinière, 2004.

• 35 ELLIOTT, John H. España, Europa y el Mundo de Ultramar (1500-1800) Madrid: Taurus, 2010;

• GRUZINSKI, Serge. Le mondes mêlés de la Monarchie Catholique et autres 'connected histories'. Annales. Histories, Sciences Sociales, Paris, n.1, jan.-fév. 2001, p.85-117;

• SUBRAHMANYAN,Sanjay. Holdingtheworldinbalance:theconnectedhistoriesoftheIberianOverseasEmpires,15001640. American Historical Review, v.112, n.5, Dec. 2007, p.1359-1385.

• 36 STELLA, Roseli Santaella. O Domínio Espanhol no Brasil durante a Monarquia dos Filipes (1580-1640) São Paulo: Centro Universitário Ibero-Americano, 2000.

• 37 VENTURA, Maria da Graça Mateus. Portugueses no Peru ao tempo da União Ibérica: mobilidade, cumplicidades e vivências. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, v.II, 2005, p.15-24. 1

Este artigo é o resultado parcial da pesquisa de doutorado desenvolvida na Universidad de Salamanca (Espanha), que conta com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes-Brasil), e apoio do Departamento de HistóriadaUFMA.OautoragradeceaosprofessoresdoutoresJoséManuelSantos Pérez(Universidad deSalamanca),PedroCardim (Universidade Nova de Lisboa), Rafael Chambouleyron (UFPA) e Silvia H. Lara (Universidade Estadual de Campinas).

Sobre algumas dessas mudanças estruturais no universo luso-brasileiro, com ênfase na União Dinástica, ver: CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e os primeiros Bragança. Hispania, v.LXIV, n.216 (jan.-abr. 2004), p.117-156; VALLADARES, Rafael. El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación de Portugal (1640-1668).

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L'Invention du Bresil entre deux monarchies: gouvernement et pratiques politiques de l'Amérique portugaise dans l'union iberique (1580-1640). Tese (Doutorado) - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Paris, 2009; SCHAUB, Jean-Frédéric.

Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640). Lisboa: Livros Horizonte, 2001. Para um estudo de conjunto: FRAGOSO, João; GOUVEA, Maria de Fátima; BICALHO, Maria Fernanda (Org.).

O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

Para o estudo dessas regiões, ver: RUIZ GONSALEZ, Rafael.

São Paulo na Monarquia Hispânica. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio, 2004; TEJERINA, Marcela.

Luso-brasileños en el Buenos Aires Virreinal: trabajo, negócios e intereses en la plaza noviera y comercial. Bahía Blanca: Ed. Universidad Nacional del Sur, 2004; CORTÉS LOPEZ, José. Felipe II, III y IV, reyes de Angola y protectores del Reino del Congo (1580-1640).

Studia Historica, historia moderna, v.IX, p.223-246, 1991.

VALLADARES, Rafael.

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La rebelión de Portugal, 1640-1680: guerra, conflicto y poderes en la monarquía hispánica. Valladolid: Junta de Castilla y León, 1998, p.39-40. 5

LANGEREN, A. F. van. Map of South America [1595]. In: BAGROW, Leo. History of Cartography. New Brunswick; Oxford: Transaction Publishers, 2009 (2.ed. ampliada), p.103. 6

A famosa crônica de Carvajal já inicia essa tendência. CARVAJAL, Gaspar de, fr., Relación que escribió fr. Gaspar de Carvajal, fraile de la Orden de Santo Domingo de Guzmán, del Nuevo descubrimiento del famoso Rio Grande que descobrió por muy gran aventura el capitán Francisco de Orellana, desde su nacimiento hasta salir a la Mar, con cincuenta y siete hombres que trajo consigo y se echó a su aventura por el dicho rio, y por el nombre del capitán que le descubrió se llamó el Rio Orellana. Madrid: Consejo de la Hispanidad, 1944. 7

REIS, Arthur Cezar Ferreira. Limites e demarcações na Amazônia brasileira: a fronteira com as Colônias Espanholas. Belém: Secult, v.1, 1993, p.26.

Ver, entre outros: WRIGHT, Antônia Fernanda P. de Almeida; MELLO, Astrogildo Rodrigues de. O Brasil no período dos Filipes. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (Org.).

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Processo Administrativo Ibero-Americano (aspectos sócio-econômicos - Período Colonial). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1962; MAGALHÃES, Basílio de.

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Ver uma síntese em: PUNTONI, Pedro. As guerras no Atlântico Sul: a ofensiva holandesa (1624-1641). In: BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno Severiano.

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GODINHO, Vitorino Magalhães. As incidências da pirataria no sistema português do século XVI. In: _______.

Mito e Mercadoria: utopia e prática de navegar. Séculos XIII-XVIII. Lisboa: Difel, 1990, p.460-475. 13

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"Lettres de D. Inigo de Cardenas su les affars de Marañon et le Indy". Madrid, 13 nov. 1615. Archivo General de Simancas, Estado K (Francia), 1611. Sobre a ocupação inglesa no Atlântico e seus conflitos com a Coroa espanhola, ver entre outros o clássico ROWSE, A. L.

The Expansion of Elizabethans England London, 1955. 15

"CARTA del presidente de la Española con testemunio de informacion del Capitan Marti Soarez Moreno, que fue a examinar el Rio Marañon, por orden del Gobernador del Brasil".

Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, v.26, 1905, p.151-154. 16

Sobre essas informações, ver entre outros: LORIMER, Joyce. English and Irish Settlement on the River Amazon, 1550-1646. London: The Hakluyt Society, 1989, p.1 e 133.

8

"Carta de Don Diego de Carcamo a Juan de Ciriça". Lisboa, 1 mar. 1620. Archivo General de Simancas, Estado K (Francia), 1477.

18

Ver síntese em: EBBEN, Maurits A. De Republiek der Zeven Verenigde Provinciën tot Omstreeks 1650/A República das Sete províncias ate aproximadamente 1650. In: WIESEBRON, Marianne (Org.).

Brazilië in Nederlandse Archiven / O Brasil em arquivos neerlandeses (1624-1654). Leiden: CNWS, 2004, p.30-80. (ed. bilíngue).

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DEN HEIJER, H. The Dutch West India Company, 1621-1791. In: POSTMA, J.; ENTHOVEN, V. Riches from Atlantic Commerce: Dutch Transatlantic trade and shiping, 1585-1817. Leiden; Boston: Brill, 2003, p.97-100.

20

"Relatório que fez o capitão André Pereira sobre o rio das Amazonas e terras circundantes, 1616".

Annaes da Biblioteca e Archivo Publico do Pará, Belém, tomo 1, 1968, p.5-8. Sobre o tema ver: PUNTONI, Pedro.

A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Edusp; Fapesp; Hucitec, 2002. Para uma visão de conjunto sobre a questão, ver: MONTEIRO, John M. Tupis tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. Tese (Livre-docência) - Universidade Estadual de Campinas. Campinas (SP), 2001.

21

"Dize lo que ofrece en la propuesta que haze Gaspar Chillan para poblar el rio y tierras de los Amazonas y costa de Guiana en las indias occidentales". 22 ago. 1631. Archivo General de Simancas, Estado (Holanda), 2045.

22

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Holandeses no Maranhão (1641-1644). São Luís: Ed. UFMA, 1991, p.87; CARDOZO, Alírio. Notícias do norte: primeiros relatos da presença holandesa na Amazônia brasileira (século XVII).

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The Dutch Seaborne Empire, 1600-1800 London: Hutchinson & co, 1965; ISRAEL, I. J.

La República Holandesa y el Mundo hispánico, 1606-1661. Madrid: Ed. Nerea, 1997; MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada: guerra e açúcar no Nordeste, 1630-1654. Rio de Janeiro: Forense Universitária; São Paulo: Edusp, 1975; _______.

Rubro Veio: o imaginário da Restauração Pernambucana. 2.ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997; MELLO, José Antônio Gonsalves de.

Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida a na cultura do norte do Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Ed. Massangana; Instituto Nacional do Livro, 1987.

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O Brasil francês: as singularidades da França Equinocial, 1612-1615. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; LACROIX, Maria de Lourdes Lauande.

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D'ABBEVILLE, Claude.

História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão [1614], Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975; D'EVEUX, Yves.

Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614. São Luís, 1874 [1615] .

"Avis anonyme - Nouvelle de Portugal". 28 abr. 1621. Archivo General de Simancas, Estado K (de Francia) 1431, A42, n.116-143.

"Philippe III a Inigo de Cardenas. Rive Marañon". San Lorenzo, 30 jul. 1614. Archivo General de Simancas, Estado K (Francia), 1453, A 59.

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"Instrução para Gaspar de Sousa, governador do Brasil, sobre a conquista do Maranhão". Lisboa, 9 out. 1612. In: Cartas para Álvaro de Sousa e Gaspar de Sousa (1540-1627). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática, 2001, doc. 58, p.159-160.

"28 de mayo de 1615". Archivo General de Simancas, Estado (Portugal), 260. "Avis du Conseil D'Etat au Roi. Inclusa una consulta del de Portugal sobre lo de Marañon"

Madrid, 4 jun. 1615. Archivo General de Simancas, Estado K (Francia), 1429, A 40.

SERRÃO, Joaquim Veríssimo.

O reinado de D. António Prior do Crato (1580-1582), v.1, Coimbra, 1956, p.81. Sobre a relação entre a oposição antifilipina e as disputas atlânticas do período, ver: MARQUES, Guida. La dimension atlantique de l'opposition antonienne et l'enjeu brasilien (1580-1640).

Anais de História de Além-Mar, v.IV, 2003, p.213-246. 30

"Do consº da Fazenda sobre hua petição de Dom Dioº de Carcamo g. or do Maranhão"

4 fev. 1620. AGS, Secretarias Provinciales, 1474, flº 84. Ver também: "Responde ao que se lhe escreveu sobre cousas do Maranhão". 4 abr. 1620, Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1552, flº 128. 31

PEREZ-MALLAINA, Pablo Emilio. La Carreira de Indias: incovenientes y ventajas del sistema español de comunicaciones transatlánticas. In: VENTURA, Maria da Graça.

Viagens e Viajantes no Atlântico quinhentista. Lisboa: Colibri, 1996, p.23. 32

"Sobre Constantino Paulo Carrafa". 30 mayo 1620. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1552. flº. 290. 33

As informações contidas nesse parágrafo podem ser encontradas nos seguintes documentos: "Do Conselho de Portugal". 15 mar. 1624. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1467, flº. 27; "Andre Soares casado e morador no Maranhão". 15 mar. 1624, flº 30. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1467, flº 30; "Ayrez de Souza Chichorro". Lisboa, 7 dez. 1650. Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Registro Geral de Mercês, Portarias do Reino, livro II, flº 318.

VALLADARES, Rafael.

Castilla y Portugal en Ásia (1580-1680), declive imperial y adaptación. Louvain: Leuven University Press, 2001; CARDIM, Pedro. O governo e a administração do Brasil sob os Habsburgo e os primeiros Bragança. Hispania, v.LXIV, n.216, ene.-abr. 2004, p.117-156; MARQUES, 2009; VENTURA, 1997; RUSSELL-WOOD, A. J. R. Centers and Peripheries in the Luso-Brazilian World, 1500-1808. In: DANIELS, Christine; KENNEDY, Michael V. Negotiated Empires: centre and peripheries in the Americas, 1500-1820 New York: Routledge, 2002, p.105-142; MOLHO, Anthony; RAMADA CURTO, Diogo. Les réseaux Marchands à l'époque moderne.

Annales. Histories, Sciences Sociales, Paris, n.3, mai-juin 2003), p.569-579; GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde: histoire d'une mondialization. Paris: Éd. de Martinière, 2004.

ELLIOTT, John H.

España, Europa y el Mundo de Ultramar (1500-1800) Madrid: Taurus, 2010; GRUZINSKI, Serge. Le mondes mêlés de la Monarchie Catholique et autres 'connected histories'.

Annales. Histories, Sciences Sociales, Paris, n.1, jan.-fév. 2001, p.85-117; SUBRAHMANYAN, Sanjay. Holding the world in balance: the connected histories of the Iberian Overseas Empires, 1500-1640

American Historical Review, v.112, n.5, Dec. 2007, p.1359-1385.

STELLA, Roseli Santaella.

O Domínio Espanhol no Brasil durante a Monarquia dos Filipes (1580-1640). São Paulo: Centro Universitário Ibero-Americano, 2000.

VENTURA, Maria da Graça Mateus.

Portugueses no Peru ao tempo da União Ibérica: mobilidade, cumplicidades e vivências. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, v.II, 2005, p.15-24.

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HABITANTES DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO.

Aquarelas de Joaquim Cândido Guillobel, 1820-1822.

DIOGOGUAGLIARDONEVES

O desenhista, aquarelista, topógrafo e cartógrafo Joaquim Candido Guillobel (1787-1859), lisboeta desembarcado no Brasil em 1808 desenhista do Arquivo Militar a partir de 1811, registrou as figuras por ele avistadas na então capital do Império Português e, pouco depois, no Maranhão. Diversas de suas aquarelas, ao tentarem dar conta do "tipo" comum de transeuntes encontrados nesses espaços, mostram escravas com os seios nus e escravos com modestas bermudas. Para ter uma ideia da relevância de tais figuras sob sua ótica, das cinco aquarelas presentes em seu Usos e Costumes de Alguns Habitantes da Cidade do Maranhão Copiados do Natural por J. C. Guillobel, em 1820, quatro tratam de Escravos.

O trabalho escravo foi trazido para o Maranhão aproximadamente em 1661, onde boa parte dos escravos era advinda do Guiné e da Angola

ÁUREO MENDONÇA

Neste dia 28 de junho de 2023 a cidade histórica de Viana vive a expectativa de uma das mais tradicionais expressão cultural o Boi Passa Fogo, que após a reza o Boi sairá pelas ruas estreitas da cidade de Viana onde as luzes se apagam e iniciam os fogos lançados sobre o Boi mantendo uma tradição que este ano completa 141 anos de existência.

A brincadeira teve início entre uma disputa entre os moradores do Moquiço e da Rua da Ponta onde o grupo da Rua da Ponta se armou com fogos na tentativa de tomar o Boi dos moradores do Moquiço que também possuíam várias munições e ao se encontrarem no Canto Grande iniciou-se a guerra dos fogos (carretilhas e busca-pés).

Uma multidão de vianenses e também turistas que estarão na cidade irão participar do ritual do “Boi Passa Fogo”, essa tradição cultural é certificada pelo IPHAN - Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional como mérito cultural.

OBoi PassaFogo ficou alguns anos sem seapresentareZédeBetroneresgatou abrincadeira,outros vianenses entre eles o "Catarrinho" também teve grande contribuição no Boi passa fogo. Várias famílias estiveram no comando do tradicional Boi Passa Fogo, atualmente está com a família Oliveira, o jovem Júnior Oliveira é quem comanda e continua com o legado deixado pelo seu pai Zé de Betrone e sua avó dona Francisca Oliveira e mantém viva essa tradição. A passagem do fogo terá cobertura das emissoras de TV.

No início dos anos 1900 os grupos de bumba-meu-boi disputavam e aquele que resistia até se esgotarem os fogos levava um barril de cachaça. E nos anos 1940 durante o boi passa fogo a turma cantava: "Botafogobotafogo eu quero vencer".

BOI PASSA FOGO

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VOCÊ SABE QUEM FOI HENRY AIRLIE? DIOGOGUAGLIARDO

NEVES

Nascido em Glasgow, Escócia , chegou ao Maranhão em 1865. Prosperou como comerciante na capital, e foi um grande incentivador da indústria na cidade, sendo um dos fundadores da Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil, no bairro de mesmo nome, onde funcionou a escola CINTRA - Centro Integrado Rio Anil e atualmente IEMA Rio Anil. Era membro da Igreja Presbiteriana, cuja origem é escocesa. Henry Airlie foi cônsul do Reino Unido no Maranhão

Casou-se com a maranhense Maria José da Cunha Lisboa (filha do escritor João Francisco Lisboa, que por sua vez dá nome à praça do Centro) e morreu em São Luís, no início do século XX, sendo sepultado inicialmente no desaparecido “Cemitério dos Ingleses”, na rua de São Pantaleão.

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Na primeira imagem, óleo sobre tela de Henry Airlie. Acervo do Museu Histórico e Artístico do MaranhãoMHAM @museuhistoricoeartistico . Na segunda imagem, “Fábrica Rio Anil”, Álbum do Maranhão, 1908. Conheça os museus de São Luís

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