MARANHA-Y 03, MAIO DE 2023 - Revista de História(s) do Maranhão

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MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE” REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536 NÚMERO 03 – maio – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923

CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

UM PAPO

Devido às mudanças ocorridas na plataforma que utilizo para as publicações sobre o Maranhão, fui obrigado a suprimir da REVISTA DO LÉO – Revista Lazeirenta – o material referente à História(s) do Maranhão e à Literatura Ludovicense/maranhense. Daí, também limitada à 50 páginas, máximo que permite o ISSUU para postar gratuitamente, damos início à esta nova publicação, com os colaboradores de sempre.

Mãos à obra

SUMÁRIO EXPEDIENTE 2 EDITORIAL 3 SUMÁRIO 4 A EDUCAÇÃO FÍSICA NA UFMA 5 "RAID NEW YORK - RIO DE JANEIRO", A PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DAS AMÉRICAS. 15 A FORCA E O PATÍBULO DE MANUEL GUNTHARDT BECKMAN 16 PADRE VIEIRA: O IMPERADOR DA LÍNGUA PORTUGUESA E O BRASIL. A Terra de Santa Cruz 17 RELÍQUIA DE SÃO BONIFÁCIO EM TERRAS MARANHENSES Flaviomiro Silva Mendonça 21 VINHAIS VELHO, SÃO LUÍS - MA, DATA DESCONHECIDA 23 QUINTA DA VITÓRIA(???), MORADA DO POETA SOUSÂNDRADE, BAIRRO JENIPAPEIRO/REMÉDIOS, SÃO LUÍSMA, ANO DE 1938 25 BALAIADA - A POVOAÇÃO DAS FRECHEIRAS DA LAMA E O BRAÇO ARMADO DA PROVÍNCIA DO CEARÁ - 18391841 JOÃO BOSCO GASPAR 27 O PRÍNCIPE GASTÃO DE ORLÉANS NO MARANHÃO DIOGO GUAGLIARDO NEVES 30 ALGUNS ANTIGOS SÍTIOS DA ILHA DE SÃO LUÍS, A QUEM PERTENCERAM E O QUE SÃO HOJE: 34 AS PRIMEIRAS FAZENDAS JESUÍTICAS EM SÃO LUIS DO MARANHÃO: AS ESTRATÉGIAS INACIANAS NOS MEIOS DE AQUISIÇÃO E ALGUNS LITÍGIOS INICIAIS. SÉCULOS XVII E XVIII. RAIMUNDO MOREIRA DAS NEVES NETO 35

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA UFMA

from REVISTA DO LÉO - Revista Lazeirenta - 76 - agosto 2022

(DIMAS, Entrevistas). - "Quando eu levei a minha primeira equipe de ginástica olímpica para o JEB's, nessa época o governo militar, com a criação dos JEB's houve um... surgiu um grande dilema, só três ou quatro Estados do centro-sul ganhavam tudo [São Paulo, Rio, Minas Gerais e Paraná, e Rio Grande do Sul às vezes disputando o terceiro ou quarto lugar], tinham destaque em tudo e os outros Estados eram um fracasso total... "Então o que acontece, era um desnível fabuloso... até hoje; então, os dirigentes sentiram a necessidade de reciclar e dar incentivo para os Estados, foi a melhor coisa que existiu para a Educação Física do Brasil, que eu considero, foi a criação dos JEB's, porque ai eles abriram o curso a três por quatro, para a melhoria do nível técnico pedagógico dos professores dos Estados; "então, todo ano tinha curso de handebol, de basquetebol, de ginástica olímpica - só eu fiz cinco cursos nacionais de ginástica olímpica, todo ano eu fazia um -; eu estou adiantando um pouco para depois voltar um pouco -, quando foi criado o primeiro curso de ginástica olímpica lá em Brasília, que eu fui convocado por ter levado uma equipe para os JEB's, lá encontrei... Simei Ribeiro Bilho, maranhense - inclusive tinha sido Miss Maranhão anteriormente -, professora de Educação Física e estava também fazendo este curso, no Rio de Janeiro... não... este primeiro curso de ginástica olímpica foi em Belo Horizonte, depois houve no Rio de Janeiro -, e eu me reencontrei com Simei, porque a gente não se conhecia antes, ela era uma grande amiga de Ary1, que era contemporâneo dela; o Ary Façanha Sá, que era coordenador e sempre estava envolvido nesses cursos todos, e eu fiz essa amizade com ela, lá no curso, isso tudo para chegar lá na Universidade - na criação do curso na Universidade -, então quando a Lei tornou obrigatória a prática de Educação Física no terceiro grau, nossa Universidade teve necessidade de - eu não sei precisar bem a data - [a Lei 69.450 é de 72] -... então para implantação do curso a Universidade nossa, aqui, mandou buscar...

O ingresso na UFMA - "o Reitor solicitou do MEC que mandasse uma pessoa para fazer implantação aqui, e para a minha alegria foi a Simei - era maranhense, e que eu acredito até ter sido mandada pelo Ary Façanha, ela veio fazer a implantação; como nós já éramos conhecidos, já tínhamos feito curso juntos, e ela jáconhecia minha história, ela me convocou para ajudar na implantação. Eu entrei na Universidade logo na implantação, junto com a Simei, apenas com um contrato... para a implantação das práticas de Educação Física obrigatória, não o curso... ainda não era o Departamento, era só implantação, o Departamento veio depois. Ela veio, foi feita a implantação, ela ficou aqui uma temporada, nós começamos as primeiras aulas no Jaguarema, as primeiras aulas que nós demos foi lá, e eu já estava contratado nessa época... (DIMAS, Entrevistas).

Os primeiros professores concursados - "Quando ela foi embora, que deixou implantado abriu o concurso para três professores, então prestou concurso, eu, professora Cecília2, e professor Rinaldi Maia, foram os três primeiros concursados; e entramos apenas para atender as práticas desportivas... (DIMAS, Entrevistas).

Sidney Zimbres fala da contratação dos demais professores, em 1981, já para atender o Curso de Educação Física:

"Ai depois a criação da SEDEL, em 81 eu era Técnico da SEDEL, tinha 40 horas na SEDEL, e trabalhava 20hs como professor substituto, colaborador horista na UFMA, dando aula; ai em 81 aconteceu o Concurso, eu fiz o concurso, fui aprovado, na época foi aprovado o Moacir, Demóstenes, eu, Laércio, Paschoal, Isidoro; Ulisses ficou em quinto lugar, mas não entrou; eram cinco vagas, ele ficou em sétimo, por causa do Currículo,

1 Trata-se de ARY FAÇANHA DE SÁ, maranhense de Guimarães, um dos maiores atletas brasileiros, tendo participado de três Olimpíadas (anos 50). Formou-se em Educação Física, pela Escola Nacional, da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Trabalhou no Ministério do Educação, sendo um dos idealizadores dos Jogos Estudantis Brasileiros – JEBs, coordenador do Convenio BrasilAlemanha (década de 70) para desenvolvimento do esporte brasileiro. Contemporâneo de Dimas, a quem encontrou no Rio de Janeiro, já atleta consagrado, nos anos 50. Pelos depoimentos, observa-se que foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do esporte escolar maranhense, nos anos 70, mandando cursos e professores para o Maranhão. Nunca teve o reconhecimento de sua terra... Refere-se ao Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 1953, e que encerrou suas atividades em 1994.

2 CECÍLIA MOREIRA, professora de Ginástica; foi chefe do Núcleo de Esportes e Coordenadora do Curso de Educação Física por vários anos; foi Secretária de Desportos e Lazer, já falecida.

emboratenhaficado em segundolugar naclassificação das provas, elecaiu parasexto ousétimo, parao sétimo lugar por causa do currículo e ai foi quando nós ficamos efetivados como professores da Universidade; foi quando eu pedi demissão da SEDEL e fiquei com dedicação exclusiva na Universidade, a partir do Concurso em 81.” (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas)3 .

O Departamento de Saúde Pública, o Núcleo e o Departamento "... nós pertencíamos ao Departamento de Saúde Pública, éramos agregados ao Departamento de Saúde Pública, depois é que foi aumentando a quantidade de alunos e nós não estávamos mais dando conta, aí é que veio a criação do Núcleo de Educação Física, começaram as instalações, e a criação de Departamento de Educação Física; e aí começaram a entrar já novos professores - que eram os paulistas -, que já estavam aqui; aí eles fizeram o concurso também para preencher mais vaga - na época foi Laércio, Demóstenes, Moacir [Moacir veio depois, já em 1979], Lino, Zartú [veio depois], eles já estavam aqui no Maranhão... "esses professores vieram em função dos JEM's, todos esse vieram em função de JEM's e de JEB's... agora eu já estou falando nesses que já estavam aqui, que foram aproveitados para ir para a Universidade, então aí eu estou nesse ponta já... os três primeiros ...- Paschoal - ....eu estou falando de quando o Departamento foi criado...O Curso de Educação Física foi criado em 84...". (DIMAS, Entrevistas).

“Tínhamos um corpo discente muito bom e um corpo docente muito fraco" “... eu não te garanto, mas até acredito que seja realmente, tanto que o nosso curso, você bem sabe como ele começou devagar, teve uma época que nós tínhamos um corpo discente muito bom e um corpo docente muito fraco, porque os alunos não conseguiam passar no vestibular [refere-se à concorrência do Curso de Medicina, ou quando passavam logo depois que terminavam o ciclo básico pediam transferência para Medicina, Odontologia, Farmácia]... “o curso não tinha assim uma grande aceitação, então eram poucos candidatos, mais ex-atletas [que só se dedicavam aos esportes, e não tinham uma boa base educacional, não conseguiam passar porque concorriam com o pessoal de Medicina como segunda opção]... então aconteceu numa época em que o número de alunos que passava era tão pequeno, que tinha até dificuldade de funcionar o curso, porque o básico de nosso de Educação Física, da área médica era todo igual, Medicina, Odontologia, Farmácia, Educação Física4, era tudo a mesma coisa, depois que mudou um pouco, ainda tem... mudou um pouco, isso tudo para te dizer se tivesse outro curso realmente não tinha, não tinha lógica de ter dois cursos de Educação Física naquela época5 . “Só completando, mudou completamente, agora o curso de Educação Física tem uma aceitação muito boa, tem um número de candidatos concorrendo muito grande; eu estive olhando o número de vagas, estão todas preenchidas, os alunos que estão entrando agora, todos são alunos com base teórica, o que ocorreu uns anos atrás foi o inverso, o corpo docente foi que caiu muito, muitos professores foram embora, outros foram fazer mestrado e não voltaram mais, outros se aposentaram e outros morreram, então caiu muito, o corpo docente uns anos atrás, agora é que já está melhorando um pouco mais. A gente tem que reconhecer que já houve uma melhoria, alguns que estavam mestrado, doutorado, já voltaram, está um pouco melhor agora". (DIMAS, entrevistas).

3 MOACIR MORAES DA SILVA, paulista, mas não daquela equipe trazido por Claudio Vaz; chegou aqui em 1978, trabalhando como professor contratado. Professor de Atletismo, já aposentado.

DEMÓSTENES MANTOVANI, professor de Judô, já aposentado.

SIDNEY FORGIERI ZIMBRES, um dos paulistas trazidos por Claudio Vaz; Mestre em Educação Física.

LAÉRCIO ELIAS PEREIRA, paulista, daquela equipe do Claudio Vaz, o grande responsável pela evolução da educação física e dos esportes maranhense, responsável pela vinda de todos os outros; criando do Centro Esportivo Virtual – www.cev.org.br Doutor em Educação Física. Hoje, um dos mais respeitáveis pensadores da educação física brasileira, junto com o Lino Castellani Filho. Ambos, viveram por quase 30 anos no Maranhão, contribuindo pela formação de várias gerações de esportistas, professores, dirigentes. Estão a merecer um justo reconhecimento por seu trabalho..

4 Segundo pesquisa que o Autor fez, de 79 até 82, em que eram 25 vagas, preenchiam as 25 vagas, mas ao término do primeiro período havia apenas 15 alunos, 10 já tinham migrado para Odontologia ou Medicina; quando terminava o ciclo básico, ficavam quatro ou cinco alunos que efetivamente queriam Educação Física, os outros já tinham todos sido transferidos para os outros cursos. Lembra que teve um ano, que ficaram dois ou três semestres letivos sem ter um único aluno que tenha concluído o curso, isso até recentemente, até três anos atrás [1988/89], lembrando que Sidney Zimbres dava Didática a um único aluno, no oitavo período de Educação Física; isso ocorreu até que se desvinculou aquela segunda opção, e o aluno de Educação Física, só faz opção por Educação Física, não tendo mais a opção de mudar para outro curso.

5 Aqui, refere-se àquele curso da FESM, que não chegou a funcionar, embora criado antes do da UFMA.

Sidney esclarece melhor essa fase do Curso de Educação Física, ao falar da administração da Profa. Cecília quando coordenou o Curso de Educação Física: "Minha relação com Cecília foi essa eu tive alguns atritos com a professora Cecília era uma pessoa também muito séria, eu tive alguns atritos acadêmicos com ela; eu separo a Cecília como mulher, como mãe, como profissional; eu vejo que a professora Cecília atrasou muito a Educação Física dentro de Universidade Federal do Maranhão, ela tinha uma visão de Educação Física, ela tinhaumaformadelacoordenarocurso,formadeadministrar,muitocentralizada,eladificultoumuito,lembro que o curso chegou uma época, um período que os cursos de Licenciatura da Universidade, como Educação Artística, Matemática e tal, estavam entrando no Vestibular, um, dois alunos por semestre, no Curso de Educação Física; o curso todo chegou a ficar numa época com uma faixa de sessenta alunos, uma média de sessenta alunos, o curso todo, o que estava entrando a cada semestre um, dois, três alunos, “eu cheguei a dar uma aula para uma turma de um aluno, aula de didática 120hs para um aluno por semestre... Oitavo Período, que dizer, oito aulas por semana para uma aluno, foi até o Mauro Santiago, então foi o problema, ela achava que o curso de vestibular devia ser bem difícil e só poderiam entrar aqueles que realmente tinham condições, por que isso iria engrandecer o curso, aí quando ela saiu houve uma mudança no vestibular, a gente mudou a área, mudou o peso, aumentou o número de vagas, e hoje o curso conta com quase seiscentos alunos ou mais. "Teve um período, isso também acontecia além de entrar poucas pessoas, também acontecia isso, o curso de EducaçãoFísica,eutenhotambémumtrabalhodepesquisaqueeu fazia,comaprimeiraturma,queeutambém dou caracterização profissional, eu aplicava um questionário para traçar o perfil do aluno e numa das perguntas, perguntava qual o interesse, se ele tinha interesse em ficar ou passar para outro curso e uma boa parte dos alunos respondiam que tinha interesse de pular, houve uma época que eu era coordenador, que a Pró-Reitora de Graduação era? (Margarida Leal) que foi um escândalo, dentro da Universidade, foi até chamado de O TREM DA ALEGRIA, houve uma transferência de dezessete alunos dos cursos, vários cursos, entre eles Educação Física parece que foram cinco alunos do Curso de Educação Física e do Curso de Medicina, foi em escândalo na época, isso foi parar no Conselho e rolou, como a Universidade vivia na época em clima de opressão um clima de, o reitor era o Cabral, ele não havia essa, o Conselho não tinha muita força, passou isso mudou depois, depois que o Cabral saiu entrou o reitor Jerônimo Pinheiro, aí acabou isso daí, houve conselho, e proibiu essa transferência de um curso para outro, mas isso acontecia muito." (ZIMBRES, Sidney. Entrevista).

José Maranhão Penha, hoje professor de Educação Física do CEFET-MA, lembra dessa época, como aluno do Curso de Educação Física, quando de sua entrevista foi dito que Dimas havia colocado que o grupo de alunos era muito bom, com o pessoal vindo de uma carreira esportiva muito grande; já o corpo docente, tinha seus problemas: “... Porque, na realidade era isso que acontecia, a maioria desses alunos foram para Universidade só para legalizar a sua situação porque, a realidade era essa, todo mundo, tinha uma experiência de atleta muito grande, não tinha a parte didática, mas a parte de vivência muito grande, tanto é que tinha professor que dava aula e virava aluno dos próprios alunos, né, o Pascoal, perguntava para o Reinaldo se estavam certas as atividades do Basquete; o Moacir tirava muita dúvida comigo, no Atletismo, na hora das demonstrações dos arremessos; tem muita fotos, por sinal, das aulas; que foram tiradas... se quiser, até posso mostra alguma coisa, a gente tem; mas é isso mesmo, a turma era muito boa, muito experiente, essa turma; seriam os alunos maduros também, em termo de idade, era uma turma acima de vinte, vinte e dois anos, Jorge Luís, Jorge Luís Ferreira; Rubem Goulart Filho pegou algumas cadeiras, Rubem passou na terceira turma; ... Reinaldo - Reinaldo Conceição Cruz, que hoje é professor de Basquetebol; Dionete, Silvana Cintra, Liana Fiquene; Reinaldo Estrela, que era professor da Universidade; Viché veio depois; Paulão veio depois; Paulinho, que hoje é mestre, Paulo Neres, Doutor, terminando Doutorado, professor da Universidade; Braide Ribeiro, hoje é Técnico de Futebol, na Túnisia; Tem o Reinaldo, que era funcionário da Polícia Rodoviária, também não atuou na área não, era funcionário da Polícia Rodoviária e tinha uma frota de caminhão que puxava óleo dos postos de combustíveis, esse não trabalha na área, deixa eu ver quem mais ... só eu vendo...eu tenho na fotografia..." (PENHA, José Maranhão. Entrevista).

A Educação Física na UFMA, Parte II - o Curso de Educação Física

Sidney Zimbres contesta Laércio Pereira quando afirma, em sua entrevista, que o mérito do curso ter vingado seja de Dimas, Domingos Salgado ou de Cecília Moreira. Em sua entrevista esclarece como foi a fundação do Curso de Educação Física da UFMA:

“... Mas ai que entra a questão, quando ele [Laércio] coloca que [o curso] foi criado por Cecília, Dimas e Rinaldi, os três não tiveram participação efetiva na criação do curso, tiveram uma participação mínima na criação do curso... "Eu tenho a impressão - eu fui do curso do ITA, eu fui o coordenador do curso do ITA,

então eu tinha uma relação muito íntima com Terezinha [Rego], de trabalho; a gente trabalhava muito junto, conversamos muito e eu tenho a impressão que a Terezinha estava torcendo para que se criasse um curso na UFMA... ela tinha interesse que o curso da UFMA fosse criado, porque ela já estava com interesse de vender ou passar o ITA; e isso aconteceu; ela alugou a sala lá do 3º andar, eu lembro bem disso, ela alugou para o Márcio que fezum cursinho,o Márcio depois foi... vendeuo2ºgrau,eumelembroatéhojequando eleassinou um cheque lá e pagou para ela, comprar o 2º grau, ai ela foi passando, foi e vendeu tudo para Márcio, ele acabou adquirindo o ITA e transformou em MENG, ela mesma tinha interesse que esse curso passasse... "... eu [já] estava dando aulas de Prática Esportiva na UFMA; teve uma pessoa que foi fundamental para a criação do curso de Educação Física na UFMA, essa coisa que passou assim, a história apaga... Houve um envolvimento do Laércio; eu, conversando lá no Centro nós éramos lotados em Educação Física, nessa época a Educação Física era lotada no Departamento de Saúde Pública; o diretor do Centro, que ficava lá no CCS, lá atrás da Igreja da Praça Gonçalves Dias, era um prediozinho que ficava ali atrás da Igreja, funcionava o Departamento de Saúde Pública, junto com o Departamento de Saúde Pública, CCS - Centro de Ciências da Saúde -; o Diretor do CCS era o Carlos Borges, o Dr. Carlos Borges, médico, que tinha um grande poder político dentro da Universidade, era muito bem conceituado naquela época, e a companheira dele era Glória Leitão, que eram uma enfermeira, tinha um cargo até de chefia como diretora, muito forte; e Glória Leitão, talvez por questões pessoais, que encabeçou a criação do curso de Educação Física... ela, se não fosse política dela, não teria sido criado o curso, e ela foi assessorada por duas pessoas para montar o currículo: por mim e pelo Lino; e nessa época, o Lino não era professor da UFMA; ele era técnico da UFMA; o Lino, ele entrou não como professor... "então a criação do curso se deve a Glória, ao Lino e a mim, então nós trabalhamos o currículo todinho; o Dimas, a Cecília e o Rinaldi - Rinaldi nem aparecia, era um professor meio tímido, meio calado, que trabalhava com o futebol fora da Universidade. então ele não teve participação nenhuma... Era professor da UEMA, era técnico do Ferroviário, às vezes pegava o Sampaio, o Moto e então, ele não tinha nenhuma afinidade com isso, ele não gostava disso; "... o Dimas também, não tinha nenhuma afinidade com currículo, não tinha nenhuma experiência; a Cecília também ficava ali, ela não tinha nenhum conhecimento sobre o assunto, então fui eu... até gostaria de ressaltar, o curso da UFMA só saiu, só foi em frente, porque teve um padrinho muito forte que foi a Glória Leitão, que era esposa, a companheira, do Dr. Carlos Borges, queeraumchefãodentrodaUniversidade;"...eai começouoprocesso,ocursofoifundadoem1978,começou a primeira turma... isso eu me lembro bem, que a gente fez o currículo mínimo, que era ainda aquela resolução 69/69 do currículo mínimo; o curso era curso de licenciatura em Educação Física e Técnicas Esportivas; a Legislação só cabia para isso, então a pessoa fazia o curso e no final um esporte e se especializava entre aspas porque não seria especialização como hoje, em futebol, basquete; essa foi a origem do curso de Educação Física... Praticamente Dimas não participou, ele chegava lá, olhava e tal, mas ia embora, também a Cecília fazia a mesma coisa, pouco participava, porque também não entendia nada sobre o assunto, currículo é uma coisa... Hoje eu tenho bastante conhecimento, por que eu venho trabalhando há muito tempo, mas na época, era uma coisa muito diferente, estranha". (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas)

Dimas tece alguns comentários sobre o Curso de Educação Física e o difícil início: "Olha o nosso curso teve muitos altos e baixos, como eu comentei antes, no início, nós tínhamos um corpo docente muito bom - você conhece a maioria deles todos -, e nós tivemos infelizmente... aliás, não podemos mudar que nas primeiras turmas tivemos bons alunos, esta aí a Denise31 que foi das primeiras turmas... e tivemos bons alunos, a Silvana, posso dizer que as minhas três filhas foram boas alunas6, elas tinham conteúdo, e saíram boas profissionais, haja vista que a Silvana hoje é uma professora de lá muito credenciada - ela quando fez seleção para o Mestrado, foi primeiro lugar dentre todos os alunos, ela estava fazendo na área de educação e foi classificada em primeiro lugar e tem um conceito muito bom, é estudiosa, é competente, eu reconheço, não é pelo fato de ser minha filha, ela seguiu os meus passos, até as minhas disciplinas ela assumiu quando eu sai, ela foi professora de ginástica olímpica, de recreação, hoje ela tem outras ... "então, nós tivemos bons alunos no começo, depois eu acho que caiu um pouco e agora novamente está entrando uma leva muito boa de alunos, isso eu falando em nível de discente, então estivemos bons no começo, teve uma queda e agora novamente tem bons alunos, as últimas turmas que eu ensinei eu tive oportunidade de constatar alunos de nível muito bom, de conhecimento geral, técnica de aprendizagem, meninos de conteúdo bom... "mas houve uma época

6 DENISE MARTINS DE ARAÚJO, Professora de Educação Física, graduada pela UFMA; Sócia-propretária e Diretora Pedagógica da Escola de Natação Viva Água; uma das maiores especialistas brasileiras em natação para bebês; filha de Dimas. SILVANA MARTINS DE ARAÚJO, Professora de Educação Física, graduada pela UFMA; Mestre em Educação; Professora do Curso de Educação Física da UFMA; filha de Dimas.

que o nosso corpo docente estava um desastre, não só pela saída dos primitivos, como pela entrada de alguém que chegou como que se diz assim, veio do inferno para nós... então aquela época foi um desastre, esse pessoal - volto a dizer -, veio do inferno para infernizar nosso departamento, felizmente eles foram embora, nós conseguimos nos libertar deles [embora] ainda tenha um restinho, mas já não têm mais força, porque o Departamento teve uma época que... tinha uma divisão muito forte, entre nós os primitivos, os que carregavam e vestiam a camisa e nós éramos considerados por eles os radicais, os pelegos, os atrasados e eles é que eram os donos da verdade, e eles é que estragavam tudo, eles eram que estragavam tudo, eles eram os vermelhos, os comunistas vermelhos que vieram aqui para "bagunçar o coreto", então ficou uma época em que para conseguir ir numa Assembléia Departamental, ter mando, ter predominância nas resoluções, era uma luta muito grande, porque eles tinham uma força muito grande, eles conseguiram... manipulavam os alunos, alguns alunos ingênuos, mais a proporção que eles foram indo embora, as reminiscências foram perdendo força, perdendo força, e o que tem agora acho que já não pesa mais, então foi a proporção que os nossos próprios alunos - nossos primeiros alunos, que hoje são professores - foram assumindo e foram ficando do lado da terra, pode se dizer - e eu até que acho que hoje eu perdi um pouco contato, não tenho indo muito -, mas eu acho, que pelo o que eu converso com a minha filha, melhorou... "... melhorou o corpo discente, está muito bom, e o corpo docente está melhor, pelo menos tem mais harmonia, não tem muita briga, uma coisa que se falava era que nós éramos só licenciados, poucos eram, eram... Pós-graduados - por sinal eu ainda não falei na minha pósgraduação em Manaus, ainda falta a gente falar nisso -, "então isso era uma crítica muito grande que a gente sofria, mais a partir de um tempo vários nossos professores foram fazer mestrado e doutorado, então esse nosso corpo docente hoje está bem melhor, temos ai já.". (DIMAS, entrevistas).

Sidney também se refere a essa fase negra do Curso de Educação Física da UFMA:

"Esse foi a maior desgraça que aconteceu para a Educação Física aqui no Maranhão. Aí eu tenho uma parte uma parcela de culpa... foi uma época em que o Maranhão estava carente de professores; o professor Lino tinha ido embora, o Laércio tinha ido embora, tinha um pessoal saindo e aí eu pensei; eu era Coordenador eu falei: - olha temos que trazer pessoas de fora, com Mestrado, para dar uma levantada. Aí por indicação de um professor que o conhecia, o professor Tarcísio - ele tinha muita relação com o Tarcísio porque ele foi o seu orientador - ele estava trabalhando na Vale do Rio Doce, lá na serra do Carajás, então ele sempre ligava para mim, ele fez um concurso aqui, ficou em segundo ou terceiro lugar, quando ele vinha para cá, ele ficava hospedadoàsvezesnaminhacasa,eaíquandoteveaqueleconcursoTarcísiojáeraprofessordodepartamento, aí entrou, se inscreveram o Mauri, entrou o Adriano, entrou a Cássia ... "aí explodiu o departamento, porque eles entraram com uma visão, a filosofia deles era desobediência, desordem e guerra civil, então eles achavam que, dentro de uma visão marxista, comunista... da linha Albanesa, você só poderia construir, se você destruísse primeiro, primeiro você tem que fazer a revolução, destruir o que existe, para depois construir de novo, então eles queriam destruir tudo, fizeram coisas absurdas. "... destruíram tudo, inclusive chegaram a destruir até o material do departamento como quadro de giz, quebraram televisão, vídeo cassete, riscaram meu carro várias vezes. "... eu abri todos os processos contra o Mauri, por tentativa de agressão, e por agressão verbal, abri um processo dentro da Universidade e um processo na Polícia Civil; o Moacir abriu um processo também contra ele, pois ele ameaçava mesmo. “... Eu tenho esses documentos todos guardados comigo até hoje, ele era uma pessoa completamente desequilibrada, eu considero o Mauri assim, uma pessoa esquizofrênica, um paranóico, uma pessoa altamente agressiva, que na segunda ou terceira palavra que você nãoconcordassecomele,partiaparaporrada,aconteceuumavezumaAssembléiaeucontestei,educadamente, academicamente, com todo cuidado, ele levantou para mim me dá uma porrada, foi agarrado, aquela coisa toda, foi horrível, eu tive que sair do departamento, porque eu era agredido verbalmente, diariamente por ele, nos corredores, na sala de aula; "... o que mais me entristece, era que alguns professores, inclusive um que eu tinha amizade, desde quando cheguei aqui, que foi o Vicente [Calderoni], ficou da mesma forma, ficou do lado dele chamando ele de pai. "Ficou doido, está totalmente desequilibrado, uma pessoa que tem uma dificuldade muito grande para elaborar uma teoria, para pensar, para ler, é uma pessoa muito limitada. "É um "trenero",vocêvêtécnico dehandebol, mas fica nisso, umapessoa que não conseguelerum capítulo e resumir e fazer uma critica do capítulo, uma pessoa limitadíssima acadêmica, eu falo isso porque eu morei com o Viché muitos anos, convivi muito com ele é um excelente técnico, mas como professor universitário é muito limitado; e o Viché, hoje, se acha que é um intelectual, um grande revolucionário, ele é um, com todo respeito aí a gravação; um idiota, totalmente idiota, hoje dá pena de ver, tá lá totalmente isolado, para você ver a extensão da gravidade, desse Mauri, depois que ele fez isso tudo aqui, ele voltou algumas vezes aqui, participou do Congresso Latino Americano, agrediu um professor peruano que estava na mesa, ele na platéia

fez uma crítica, para o professor, o professor respondeu a crítica dele, e quando terminou o debate que o professor saiu, ele deu um tapa na cara do professor, lá fora, num caso, desse, a APRUMA a ASSUMA o sindicato deveria tomar uma decisão firme, aí pelo cooperativismo acoberta, porque ele faz parte; não deixa para lá. Para você ver o grau de loucura desse Mauri e como ele foi embora daqui, quando ele viu os processos que haviam contra ele, quando ele ia acabar numa demissão por justa causa, ele conversou com o reitor e fez um acordo com o reitor, ele fez um concurso lá em Vitória do Espírito Santo, na Universidade Federal e havia sido aprovado, e fez um acordo com o reitor ... Para se livrar, que acho que foi um erro, acho que ele deveria levar até o final, liberou o Mauri, e ele foi embora, e ele tirou todos os processos, que haviam dentro da Universidade, foi apagado dos computadores se você for hoje no computador não tem nada, eu tenho esses documentos todos mas apagaram dos terminais, todo esse processo contra ele, foi uma coisa interessante isso, com uma semana no departamento, lá em Espírito Santo ele brigou com o chefe do departamento, ele quebrou o braço do chefe do departamento. ... Pois é, com uma semana; então uma pessoa dessa não pode ser normal, a poucos tempos atrás talvez uns oito meses atrás, ele deu cinco tiros num orientando dele, o orientando foi se concursar, quando conseguiu voltar, não morreu, acusou, é a última informação que eu tive agora recente, faz dois dias atrás, que o Mauri estava preso, um aluno do curso que estava dependente da nota dele ligou lá para ele ver se podia resolver o problema da nota, falou com a esposa dele, o Abelardo Teles, eu vou até confirmar isso com ele, e a esposa disse que ele estava preso, eu acho que finalmente ele encontrou o lugar certo dele." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

Lino também se refere a esse momento da criação do Curso de Educação Física: "Quando eu entro em 78, na Universidade nessa função de técnico nós estávamos já envolvidos na criação do curso, tinha a Cecília, o Dimas...diriaqueomovimentodecriação, aconstruçãodas instânciasorganizadoras, construtoras do material do processo necessário para a criação junto às instâncias Federais do curso, o envolvimento foi o Laércio, que era a pessoa mais antiga e com mais influência. Isso aí em 75, não é? O Sidney fazia parte desse grupo, eu fazia parte de outro grupo eu não saberia dizer quem se envolveu mais, quem se envolveu menos. Naquela época o que mais ficou na minha memória foi o sentimento de trabalho colegiado, trabalho coletivo, trabalho em equipe, resistência por parte de Dimas e de Cecília, nunca explicitada, não é porque aquele receio dos "paulistas" ocuparem o espaço dos maranhenses, muito comum, numa postura muito regionalista, não é? E a gente apontando aquilo ali, como seria bom para o desenvolvimento da Educação Física, para o Maranhão, para a própria São Luis e para o interior, e que aquele medo não tinha sentido, não é? mas eu diria que foi o esforço dessas pessoas aí, não saberia dimensionar ou quantificar, mais ou menos o esforço (...). “Ficou faltando eu falar do papel do Domingos Salgado. O Salgado já estava na Universidade com a prática desportiva, antes da nossa chegada, mas ele foi um personagem muito controvertido e polêmico, ele não se envolveu nesse processo de criação desse curso, não saberia dizer exatamente quais os motivos, não senti atrapalhando, certamente ele não ajudou, eu não saberia dizer se ele atrapalhou. Eu não me lembro, não tenho notícias de presença dele impedindo, dificultando o trabalho. Mas, logo depois ele saiu do País e se afasta da Universidade, e ele criou, deixou uma imagem ruim para a Educação Física, por algumas coisas que ele desenvolveu lá dentro que nós tivemos que, devagarzinho, construindo outra imagem e tal; principalmente é isso que dificultou um pouco mais ainda a assimilação de outros paulistas, não é? mas eu também não saberia dizer até que ponto isso influenciou muito; eu sei que o trabalho foi feito, eu me tornei docente do curso só praticamente na época de eu sair da Universidade para o mestrado e tudo mais; desenvolvi na Universidade um projeto dedesportouniversitário,me envolvi norefortalecimento da FederaçãoAcadêmica,tinha oprojeto de criação das atléticas; criei as Atléticas para os Centros Estudos Básicos, de Saúde, de Ciências Humanas, aquela coisa toda. “Fui chefe de delegação universitária maranhense em 77, para Natal; em 78, para Curitiba; em 79, para João Pessoa; em 80, para Florianópolis; e fui o coordenador geral dos XXX Jogos Universitários Brasileiros e foi minha última ação articulada nesse setor de desporto universitário. “Em 83, eu me afastei para o mestrado; eu legitimei minha presença na Universidade a ponto do Reitor não colocar obstáculos na minha saída para o mestrado, na condição de Técnico; não era docente, e eu saí com todo respaldo do Cabral na época, pelo trabalho desenvolvido nesse setor; os jogos foram um sucesso, conseguimos recursos federais para fazer o restaurante, que até hoje está lá, Universitário. Recurso para construir o Complexo do Castelão, também veio por conta dos jogos universitários. Lá, o Ginásio, a pista, a piscina, isso em 82; e foi uma experiência esportiva muito valiosa naquela época.". (CASTELLANI FILHO, Lino. Entrevista).

Aqui, em seu depoimento, há um equivoco do Prof. Dr. Lino Castellani Filho. Os recursos para a construção do Complexo Social e Esportivo de São Luís – chamado de Castelão pelo povo – foi inteiramente recurso do

Tesouro estadual. Havia um projeto de construção de um estádio de futebol; havia um projeto elaborado pela construtora SEEBLA, de Minas Gerais, inclusive com maquete. E havia o interesse do Governador, João Castelo, em escrever seu nome numa obra monumental. Havia criado a SEDEL. Fora de São Luis, a capital, não haviapraticamentenadaem relação àeducaçãofísica,aos esportes e ao lazer, anãoseralgumas iniciativas em algumas poucas cidades, como Imperatriz, Caxias, Bacabal, Carolina. Pista de Atletismo, por exemplo, havia duas em São Luis – a do 24 BC, com cerca de 300 metros, e a da Escola Técnica, com 250 metros. Em Imperatriz havia uma de tamanho oficial, no 50 BIS. Só. Ginásio de Esportes, o Costa Rodrigues e o da Escola Técnica, o do SESC; isso em todo o estado do Maranhão... Algumas quadras poliesportivas em algumas cidades interioranas, em alguns poucos colégios, a sua maioria particulares. Esse era o retrato. Havia um dinheirodisponível,cercade U$2milhões,para a terraplanagem do terreno...Mas não havia o terreno...Então o Secretário de Desportos, o Sr. Elir de Jesus Gomes, um dia me chamou e disse estar com um problema, pois o Governador exigia uma solução. Levou-me até a sede da SEEBLA, num prédio por traz do Casino Maranhense, na Beira-Mar e lá vi o projeto, a maquete e conversei com o engenheiro responsável. Era apenas um estádio de futebol... Falei das experiências do Paraná, em que se construíam instalações esportivas aproveitando-se de encostas de morro, para evitar gastos com terraplanagem, e depois erguer-se o prédio; nas encostas, cortavam o morro, e aproveitavam essa terra para fazer a base, nivelada, e os cortes, as arquibancadas; ate mesmo a cobertura era facilitada, pois feita entre as duas encostas em arco, levava menos tempo, menos material e custava menos... Dei exemplo de Paranavaí... Ficou de ir lá verificar. Nesse tempo, fui encarregado, junto com o Coordenador-Geral, Dr. Olimpio de Sousa Guimarães, de encontrar uma área para alocar a obra. Ouvi falar da Chácara Barreto, que era do Estado e havia sido cedida em comodato à Prefeitura para construção de um novo estádio de futebol. Foi o Prof. José Maranhão Penha quem me disse isso, e o Prof. Reinaldo Conceição da Cruz não só confirmou como me levou ao local. Comentei com o Dr. Olimpio, que verificou ser verdade. O Sr. Elir e o Dr. Olimpio foram à Prefeitura. Não houve acordo com o Prefeito – não lembro se era o Roberto Macieira ou o Mauro Fecury -; então acionaram um assessor parlamentar – o então Deputado Nan Sousa, para anular o ato oficial junto à Assembléia Legislativa, que concedia a área à Prefeitura. O terreno fora cedido com prazo determinado para uso e já se passara quase dez anos e nada fora feito. Lembro que a anulação da Lei cedendo a área foi anulada em menos de um mês, graças a atuação do Nan. Tínhamos a área... O engenheiro da SEEBLA retorna; fora ao Paraná, vira a técnica de construção. No Barreto havia um morro, alto, que o levantamento planialtimetrico demonstrou ser suficiente para construção do Estádio. Utilizando o corte das encostas, em forma de escada e a terra retirada, para o nivelamento do solo. O projeto foi refeito. Os custos baixaram consideravelmente... A idéia inicial era apenas de se construir as arquibancadas do lado do morro, sem fechar o perímetro, que teria que ser em concreto. Ampliamos o projeto, pois haveria sobra de dinheiro. Foi planejado outro ginásio de esportes, o Castelinho; a Piscina Olímpica, junto otanque de saltos ornamentais; e um kartodromo... Ai me ‘rebelei’; ‘exigia’ uma Pista de Atletismo... Seria mais útil e serviria para toda uma população do entorno do Barreto, não apenas para um grupo de empresários brincarem de piloto. Tanto que o projeto da pista foi feito depois... E ainda sobrou dinheiro, e o Governador mandou, então, construir a parte da arquibancada que faltava. Depois de o projeto pronto,oComplexoplanejado,aisim,aSEED/MECseinteressou,epraticamenteexigiuparticiparcomalgum recurso. Com a construção do Complexo, nos habilitamos para os JUBs e para os JEBs. Ai entrou mais dinheiro, não para a construção, mas para equipamento...

Fui fiscal da obra, discutindo com os engenheiros das diversas empresas contratadas detalhes técnicos de construção esportiva, sempre com os livros de regras nas mãos, quanto às medidas exatas, recomendadas, e quanto ao material. Especialmente a Pista de Atletismo. Trazíamos os dirigentes máximos das confederações esportivas para ver a obra e dar palpites na construção. Deve-se louvar aqui o posicionamento do Dr. Olimpio – responsável pela construção, presidente da Comissão de Obras, e do Sr. Elir. Sempre que nós, um de seus técnicos, dizíamos que alguma coisa não estava correta, mandava parar e só prosseguir quando tirássemos nossas duvidas e fosse feito da forma que achássemos melhor, pois nos éramos os professores e os técnicos da área e que iríamos nos utilizar daquele espaço. Um detalhe: a não ser na época da construção, nunca entrei no Castelão... Lembro que o Sr. Elir me telefonava lá pelas 10, 11 horas da noite. Avisava que o Governador queria ir ver a obra. Ele passava em minha casa, íamos ate o Complexo, e aguardávamos o Governador. Devia ficar a disposição para algum detalhe, alguma explicação... Lá pelas três, quatro da manhã, terminada a inspeçãodaobra, estávamosliberados,oSr.Elir, oDr.Olimpio,oDr.João Rodolfo(SecretáriodeTransportes e Obras Públicas, sempre chegava com o Governador). Algumas vezes, o Gafanhoto acompanhava... Sempre tinha um ou dois deputados juntos, Nan sempre...

Pós-graduação

Em 84,85, a UFMA ofereceu dois cursos de especialização: Ciências do Esporte - que não terminou, faltando duas disciplinas -, e outro, Recreação e Lazer, em que apenas um aluno terminou: "Que foi você, o único que apresentou monografia, todos terminaram o conteúdo, o de Recreação o conteúdo todo foi dado, mas monografia quem apresentou foi só você." (DIMAS, Entrevistas).

Sidney dá maiores detalhes sobre esses cursos promovidos pela UFMA: "... foram dois os cursos, inclusive eu participei da coordenação dos dois, um foi sobre Ciências dos Esportes. Laércio começou depois eu continuei; o outro foi Lazer e Recreação, que começou com Dimas, eu acabei terminando a coordenação. O que aconteceu? Aquilo foi, na época que foram feitos os cursos, pouquíssimos, acho que dois alunos que terminaram com a monografia, um foi você. "... eu lembro que eu fechei a coordenação, me entregaram a coordenação no final eu fechei, teve um que o Paulinho terminou, acho que foi o único aluno; é o outro foi você, não foi?... Foi você por quê? Porque não tinha quem orientasse, não havia tradição aqui dentro da Universidade, não tinha ninguém, com mestrado, não tinha ninguém com Doutorado, então essa foi a dificuldade, falta de orientação e tradição dentro da Pesquisa, agora uma coisa, interessante, porque que não tem mais curso de especialização? É uma pergunta que eu fico até um pouco revoltado. “... Com tantos mestres, porque quando a gente adotou essa política, até a criação do Prata da Casa, foi na UFMA, a idéia era a seguinte: o grande problema aqui na Educação Física, é que nós não temos mestres e doutores suficientes, então é preciso criar essa elite, para que possa desenvolver a Educação Física, aí se criou o Prata da Casa para fazer isso, não só com a Educação Física, mas em outras áreas; o Prata da Casa, é um projeto da Universidade Federal do Maranhão, que pega os ex-alunos brilhantes da Universidade, e os coloca em várias universidades para fazer mestrado. E aí saíram vários professores daqui, que foram fazer mestrado; Paulo fez Mestrado e Doutorado, a Silvana Moura, a Silvana, filha do Dimas, fez o mestrado aqui na Educação; hoje temos, o departamento tem vários mestres: o Zartú, está fazendo Doutorado, só que o Departamento nunca mais fez um Curso de Especialização. Eu pensei que hoje, com esse Corpo Docente, o departamento teria obrigação de tr, no mínimo, dois cursos de especialização permanentes, um na área de esporte, outro na área escolar; deveria ter além desses dois cursos, e permanentes, deveria ter uma revista, deveria ter pelo menos um Congresso ou Simpósio Estadual, e o departamento não faz absolutamente nada disso; é uma pergunta que a gente deve fazer a essas pessoas, porque essas pessoas, hojeestãoàfrentedessesdepartamentos, comooPaulofoichefedodepartamento,porque,queodepartamento não faz isso?" (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

DimaseSidneyreferem-se,ainda,aum cursodeespecialização -oprimeiro -em queparticiparam professores do Maranhão: "Agora, o primeiro curso para docente, que nosso Departamento fez, foi em Manaus; esse curso foidado para todaa Região,doCentro-Sul eNorte-Nordeste; foifeito um no sul, eoutrono norte; entãofomos daqui eu, Moacir [Moraes da Silva, professor de Atletismo], Isidoro [Cruz Neto, professor de Voleibol], Cecília [Moreira, coordenadora do Curso de Educação Física, professora de Ginástica], Rinaldi Maia [professor de Futebol]... nós fomos os primeiros que fizemos o curso a nível de Especialização, em Didática da Educação Física; esse curso nós fizemos em dois módulos, então fomos nós os primeiros, deve ter sido em 82, 83 - depois eu posso te dar esta data. Depois disso é que os outros começaram a fazer, começaram a sair para fazer mestrado, que você já falou, que a maioria deles só ia [Laércio Elias Pereira, em 82 fazer mestrado em Educação Física; em 83, foi Lino Castellani Filho, que levou 6 anos para terminar o mestrado na PUC] ... se ele não foi, não apresentou monografia, nem Demóstenes [Mantovani], mas a partir daí os que têm ido tem cumprido...". (DIMAS, entrevistas).

Sidney lembra das condições em que foram para Manaus, fazer a especialização, e a convivência com os colegas, especialmente Rinaldi Maia, à época, chefe do departamento: "... quando nós fizemos esse curso de especialização em Manaus, nós ficamos juntos, nós alugamos um apartamento, o pessoal do Maranhão alugou um apartamento com exceção da Cecília e o Dimas que ficaram morando no... a Cecília ficou num Hotel, e o Dimas no apartamento de um amigo; eu, Isidoro, Moacir mais um pessoal de Goiás, ficamos num apartamento juntos, durante algum tempo, o professor Rinaldi Maia, foi quando o conheci bastante, a gente conviveu durante dois meses morando juntos, uma pessoa muito integra, uma pessoa muito séria, talvez o infarto dele tenha sido por causa disso, por que ele era uma pessoa muito integra, e não aceitava uma série de coisas. É professor de futebol, foi a experiência que eu tive dele, sempre jogava Basquete na Escola, Eu já peguei o Rinaldi já com uma idade bastante já, na época eu tinha 28, ele já devia ter uns 55, 60 anos, não me lembro." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

A Produção Intelectual

Uma das coisas que chama muita atenção, na Universidade Federal do Maranhão, é a produção intelectual de seu corpo docente. Há uns anos atrás - 1995 - quando se fez a III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, em que se tratou sobre a produção intelectual da Educação Física no Maranhão, o que se notou, foi que não havia produção nenhuma, ninguém escrevia, ninguém fazia pesquisa. Encontrou se apenas uma pesquisa do Sidney Zimbres; outra de Tânia Biguá quando ela não tinha saído da Universidade ainda, sobre menarca de atleta; o Isidoro Cruz Neto, com a eterna pesquisa dele sobre o negro no esporte; Demósthenes Mantovani sobre avaliação física.

Lembro que em 1980 foi realizada a I Conferência sobre Documentação e Informação Esportiva na América Latina, na Colômbia. Participou, representando a SEDEL, o Prof. Laércio Elias Pereira, então professor da UFMA. A segunda Conferência seria realizada em 1982, em São Luís do Maranhão. Mas o que apresentar ? Qual era nossa produção científica ? A SEDEL, com sua Divisão de Estudos e Pesquisa não estudava nada e não pesquisava nada, embora contasse com um quadro de funcionários lotados; a UFMA estava ainda se debatendo com a formação de seu quadro de professores. Partiu-se então, para produzir alguns trabalhos que pudessem ser apresentados naquele evento. Surgiu, então, na área da documentação, o "Índice da Revista Brasileira de Educação Física e Desportos", do Prof. Laércio Pereira, publicado pelo MEC em 1983; o "Índice da Revista Stadium", dos Prof. Leopoldo G. D. Vaz e Laércio Pereira, publicado pela SEDEL, em microficha, em 1984; o Prof. Sidney Zimbres iniciou uma pesquisa sobre aptidão física de jogadores de voleibol; a Profa. Tânia Araújo, sobre menarca de atletas; o prof. Demóstenes, sobre aptidão física; o Vicente Calderoni - era acadêmico à época, começa a resgatar a história do Handebol maranhense. Também em 1980 apareceu a "Revista Desportos & Lazer", editada pela SEDEL, tendo o Prof. Sebastião Jorge como Editor-Chefe e o Laércio Pereira como responsável - ambos professores da UFMA. Durou nove números, apenas (foi publicada até 1983), mas teve uma boa repercussão a nível nacional, com inúmeros trabalhos de pesquisa divulgados. O primeiro trabalho de pesquisa publicado foi o do Prof. Sidney Zimbres; apareceu o no. 2, janeiro/março de 1981, p. 20-23 - "Futuros campeões do voleibol passam pela análise científica". Ainda em 1980 foi realizado em São Luís o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte - Região Norte/Nordeste, no período de 10 a 13 de setembro; trabalhos de pesquisa foram apresentados: Isidoro Cruz Neto (Ascensão social do negro através dodesporto);LinoCastellaniFilho(Análisedos aspectosdodesenvolvimentopolítica/desporto,faceaosXXII Jogos Olímpicos); Demóstenes Mantovani (Prescrição de treinamento aeróbio levando em consideração somente a distância percorrida); Sidney Zimbres (Voleibol infanto-juvenil do Maranhão: características das qualidades físicas, dados antropométricos e aspectos gerais). Pode-se estabelecer como o ano de 1980 como o do início das atividades de pesquisa científica no âmbito da UFMA, da SEDEL e da então Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje CEFET-MA." 735

Sidney Zimbres também concorda com essa data, quando perguntado porque a Divisão de Estudos dos Desportos, da SEDEL, não funcionou, haja vista que ele, Sidney, foi o primeiro coordenador e já atuava na UFMA:

"Olha, por um motivo simples: a Educação Física na época, não tinha... nós professores de Educação Física, não tínhamos tradição em pesquisa, isso era uma coisa nova, porque eu não defendi minha tese de mestrado? Porque quando eu entrei no mestrado em 81/82 – as primeiras turmas do mestrado, a primeira turma entrou em80,aturmadoLaércio,parecequefoiem80/81,euentreiem82 -,entãoasprimeirasturmas,nos cinco/seis anos, isso tem até um trabalho, numa revista do CBCE, quase 70; 80% de quem fez o mestrado ninguém defendeu tese, porque não havia tradição de pesquisa dentro da área de Educação Física. “O mestrado era novo, professores de fora, de outros países, não havia orientação; nós tínhamos dificuldades para realizar, então não havia tradição em pesquisa, a pesquisa era feita, era muito ligada à questão biológica, menarca da criança, estudos de qualidade física; foi a época da criação dos Laboratórios de Fisiologia, então era uma coisa assim, não havia essa tradição de pesquisa, “Mas trabalhos de pesquisa na divisão, foram feitos trabalhos de pesquisa, eu fiz um trabalho, foi até publicado naquela revista, você até divulgou, houve um trabalho interessante que não foi levado ao final, porque eu acabei saindo da divisão, ficou para outra pessoa, que ficou

7 35 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Produção do Conhecimento em Educação Física e Desportos no Nordeste Brasileiro. In REVISTA MOVIMENTO HUMANO & SOCIEDADE, São Luís, v. 2, n. 5 ...ANAIS DA III

JORNADA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995. São Luís : NEPAS, 1995, p. 14-21

na divisão, mas não tocou isso em frente, foi um trabalho, um levantamento dos dados antropométricos, feitos pelo Osmar Rio, da UNB, de Brasília; ele tinha um trabalho que fazia sobre a caracterização, tipo do atleta em relação ao esporte (o entrevistador interrompe e lembrando sobre o JEM’s e o JEB’s) se pegou a seleção, houve um trabalho enorme todo tabulado todo em cima do, foi feito pelo Osmar Rio, só que não foi levado ao fim, foi quando eu acabei saindo da divisão, ficou esse trabalho, ficaram esses dados na divisão, quem entrou depois na divisão eu acho até que foi até.... [Tânia]. Acho que deve ter sido ela. [Demóstenes fez outro sobre] Condicionamento Físico; e não havia tradição como tem hoje, esse é o grande problema da Educação Física, foi esse." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

Perguntado, se chegou a escrever alguma coisa, produzir alguma coisa, Dimas respondeu: "Não, eu participei de uma banca, foi a respeito de recreação; mas eu não apresentei como trabalho de pesquisa, apresentei como trabalho pelo lado da experiência, que por sinal foi muito bem aceito, a professora que veio na época, eu não me lembro o nome dela, ela gostou das minhas colocações; esse - eu já tinha feito três ou quatro cursos de recreação conforme eu te disse, naquela época eu fiz cinco cursos nacionais de Ginástica Olímpica; fiz quatro na área de recreação; fiz dirigente esportivo; fiz a primeira vez que Kennet Cooper veio no Brasil, sobre o método dele, e sobre condicionamento físico em geral; fiz sobre handebol; "com esse embasamento todo que eu adquiri e à proporção que eu fui me dedicando também para recreação, porque ultimamente eu fui deixando os esportes de competição e fui me concentrando... eu ainda fui professor de Ginástica Olímpica na Universidade, as primeiras turmas eu era professor, depois, quando eu saio, passei para Silvana, que ela tinha sido minha atleta e monitora, e não tinha outra pessoa, até chegar o Molusco [José de Ribamar ?] que foi meu atleta e tem até especialização em Ginástica Olímpica, então ele é que é atualmente. "Recreação é que se tornou sendo a minha disciplina predileta no final da minha carreira... eu me aposentei em..., eu estou péssimo agora para datas viu, mas você sabe que existe uma coisa impressionante, a memória recente e a memória primitiva, as coisas da minha infância eu me lembro muito melhor que as coisas mais recentes, então essas ultimas datas assim, eu estou com uma deficiência muito grande de precisar as datas, eu me lembro de todos os fatos, mais até ano que eu me aposentei...". (DIMAS, entrevistas).

"RAID NEW YORK - RIO DE JANEIRO", A PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DAS AMÉRICAS.

São Luís, Dezembro de 1922. Amerissa, na Praia do Caju, o hidroavião Sampaio Corrêa II, que fazia o "Raid New York - Rio de Janeiro", a primeira travessia aérea das Américas.

A tripulação era formada por 4 americanos e um brasileiro, Euclides Pinto Martins, natural de Camucim-CE. Os aviadores permaneceram na cidade durante 5 dias, marcados por várias cerimônias oficiais e festividades.

Pinto Martins, maçom, é recebido no dia 15 de Dezembro em sessão na centenária Loja Renascença Maranhense, onde lhe foi concedido o título de Membro Honorário. O obreiro Carlos Humberto Reis, na ocasião, lê um poético discurso em homenagem ao intrépido aviador:

"Salve o venturoso legionário do espaço que, empunhando o estilete mágico da ciência rompeu, pela vez primeira, a rasgos de heroísmo, sob o batismo loiro do "solis velarium" nupcial dos céus virgens do Maranhão (...) Ave, glória infinita da Pátria!"

Dois anos depois, Pinto Martins faleceu, aos 32 anos.

Fotos sentido horário:

- Hidroavião Sampaio Corrêa II amerissado na Praia do Caju;

- Homenagem da União dos Chauffeurs aos aviadores;

- Euclides Pinto Martins.

A FORCA E O PATÍBULO

DE MANUEL GUNTHARDT BECKMAN (nome completo) foram erguidos, segundo Rubem Almeida, no exato local da foto em 1685, ao final do Beco da Trindade onde, em 1910, foi inaugurado esse obelisco chamado de Pirâmide de Beckman. A região foi aterrada durante a construção do Cais da Sagração (inaugurado em 1841) e, já no séc. XX, foi urbanizada e loteada, sendo chamada de Parque XV de Novembro.

O obelisco foi colocado, exatamente, onde o Bequimão foi enforcado. O local primitivo ficava onde hoje é a calçada de pequenos pontos comerciais e o monumento, atualmente, se encontra metros à frente, para onde foi deslocado tempos depois dessa foto.

Pesquisa: Ramssés Silva

Foto: Acervo Antonio Guimarães De OLiveira Guimarães

PADRE VIEIRA: O IMPERADOR DA LÍNGUA PORTUGUESA E O BRASIL.

A Terra de Santa Cruz

Antônio Vieira (1607-1697) é a maior fonte qualificada para a história e literatura do Brasil e de Portugal durante o século XVII. O epíteto de imperador da língua portuguesa foi-lhe atribuído por um dos grandes poetas da língua portuguesa: Fernando Pessoa. Deve ser lido com olhar crítico, a luz da perspectiva histórica e das ideias dominantes em sua época. Há um ditado corrente entre seus estudiosos que “Vieira é para a vida inteira”. Tal a extensão e complexidade de seu legado. Ninguém menos do que o historiador inglês Charles Boxer, autor de livros fundamentais sobre a história do Brasil e de Portugal, refere-se a Antônio Vieira como um dos maiores nomes da história ocidental e não apenas do Brasil e de Portugal.

Antonio Vieira nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro de 1608. Chegou em Salvador, com a família, em 1614, onde seu pai fora nomeado escrivão.

Entrou para o Colégio dos Jesuítas na Bahia aos 15 anos, formou-se noviço em 1625, e ordenou-se sacerdote, em 1634, em Salvador.

Em 1640, pela segunda vez, os holandeses tentaram penetrar na Bahia. Foi em meio a grande alvoroço, e a uma iminente invasão dos ‘‘hereges’’ que o Padre Antônio Vieira pregou, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda.

Motivado pelo firme propósito de tentar impedir o jugo holandês, o Padre Antônio Vieira constrói seu sermão intitulado "Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda" e dirige-o ao povo que fomentou o projeto expansionista, povo católico, impregnado de religiosidade, fiéis dominados pelas virtudes da fé, em nome da qual ampliavam suas conquistas e, conseqüentemente, suas riquezas.

Vieira elabora um confronto entre o texto bíblico e os grandes feitos ou às proezas e conquistas dos portugueses, das quais o Brasil é uma conseqüência. Ele atribui a Deus todas as vitórias de Portugal, o que remete a uma comparação com as conquistas que os antigos israelitas empreenderam para se estabelecerem na Terra Prometida: ‘‘Vossa mão foi a que venceu e sujeitou tantas nações bárbaras, belicosas e indômitas, e as despojou do domínio de suas próprias terras... e estendeu em todas as partes do mundo, na África, na Ásia, na América’’.

Desta forma, é possível deduzir que, na visão de Vieira, foi Deus quem colaborou o tempo todo com os portugueses e, por conseguinte, foi Ele quem auxiliou Portugal a expulsarem os mouros da Península Ibérica; foi Ele quem contribuiu para que Portugal conquistasse Ceuta, a Ilha de Madeira, Açores, Cabo Bojador, Guiné, Calicute... e o Brasil ‘‘a miserável província do Brasil’’. É a idéia de que Deus ofereceu Portugal ao mundo, para que esse concedesse ao mundo o próprio Deus.

Em síntese, o Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, é uma espécie de incitação, um convite para que o povo combata os infiéis holandeses, discorrendo sobre os horrores e depredações que os protestantes fariam caso invadissem a Bahia. Avalia-se, portanto, que o efeito moral deste Sermão produziu efeitos muito positivos nos ânimos de seus ouvintes.

Na casa dos 20 anos dá início à produção de seus sermões, que marcaram a literatura Portuguesa e que até hoje são estudados e reinterpretados. Um dos primeiros e mais importantes é o denominado da XIV do Rosário.

Vieira o prega em um engenho próximo a Salvador, exortando os escravos a suportar os infortúnios da escravidão, em benefício da salvação eterna:

"Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel.

A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo.

Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.”

Vieira era sobretudo um agente da coroa, da cruz e da espada, embora em muitas circunstâncias tenha exposto sua própria vida na defesa dos indígenas e em outros enfrentamentos com autoridades e colonos. Referia-se por exemplo aos bandeirantes, como “aquela canalha de São Paulo”.

Em 1640, com arestauraçãoportuguesa, Vieira foi paraPortugal ondedesempenhouimportantepapel nacorte do Rei D. João IV. Em suas novas funções, Vieira se ocupou de missões diplomáticas e políticas com o intuito de obter um acordo vantajoso à coroa na questão da ocupação dos holandeses de grande parte do Nordeste brasileiro, bem como outras de caráter comercial e sucessório.

A morte de D. João IV determinou a saída de Vieira de suas funções na administração do reino. Retornou ao Brasil e foi compor a recém-criada missão jesuítica do Maranhão. Desenvolveu intenso trabalho missionário, em conflito permanente com os colonos adeptos da escravização do indígena. Depois de quase 10 anos sua presença passou a representar risco de vida. Assim se pronunciou em seu famoso Sermão de Santo Antônio aos Peixes, três dias antes de partir:

"Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!”.

Após nove anos no Maranhão Vieira retorna a Portugal. É então alvo da inquisição em função de seus escritos, especialmente um denominado “Esperanças de Portugal”, onde previa um futuro redentor para a nação portuguesa, baseado nos escritos de velho testamento e nas profecias de Bandarra, um sapateiro português que viveu um século antes. Dois de seus livros mais importantes, História do Futuro e a Chave dos Profetas são impregnados de um messianismo fortemente enraizado na cultura lusitana.

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Vieira combatia a crueldade da escravidão africana, mas concordava sob o argumento de que ela era indispensável para à colonização. Defendia os índios, mais assentia que aqueles aprisionados em “guerras justas” eufemismo para justificar o aprisionamento, se tornassem escravos. Da mesma forma que combatia o papel genocida das bandeiras paulistas e das “guerras justas” aos índios, defendeu a destruição do Quilombo dos Palmares, sob o argumento que se isso não ocorresse a escravidão se extinguiria.

Indiscutivelmente, António Vieira pode ser apontado como ponto de partida e de reencontro do país que fez mundos novos para o Mundo, de acordo com a dialética camoniana, núcleo de uma comunhão intercontinental e sem quaisquer ressentimentos colonialistas, porque não os havia no tempo do que chamamos “Profeta do Novo Mundo”. O historiador João Lúcio de Azevedo, um dos seus principais biógrafos, declarou que António Vieira foi “um filho genial da raça lusa, singular em tudo e, pelo que de sua vida pertence ao Brasil, quase mais lá que da pátria nativa”, enquanto o ensaísta Hernani Cidade o retratou como ” homem de acção por imperativo da própria natureza e por orientação educativa como orador ou epistológrafo, havia necessariamente de utilizar a palavra falada ou escrita como instrumento de acção. ‘,

SÃO BONIFÁCIO: RELÍQUIA DE UM SANTO MEDIEVAL NA MISSÃO DOS JESUÍTAS EM TERRAS

MARANHENSES

Flaviomiro Silva Mendonça (Historiador)

Antes de iniciarmos nosso objeto de estudo, devemos: 1) resaltar a importância das imagens (e relíquias, também) para a propagação do cristianismo dentro da metodologia da Igreja Católica, e; 2) a significação das relíquias dentro da cultura religiosa medieval. Durante muitos séculos, dentro do cristianismo, foi discutida a utilização ou não das imagens no seu ritual litúrgico. De um lado existiam defensores de ícones e do outro, os contrários assim denominados iconoclastas. Somente com o II Concílio de Nicéia, no ano de 787, foi justificado “o culto dos ícones tanto de Cristo, quanto de Maria, dos anjos e dos santos”(CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1997: 560). O Catecismo esclarece que: “A honra prestada às santas imagens é uma veneração respeitosa, e não uma adoração, que só compete a Deus” (Id ibid: 561). E acrescenta que: “A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra (Id ibid: 326).

De uma forma sensata foram condenados tantos aqueles que recusavam quanto aqueles que exageravam a utilização das mesmas em seu culto, conforme relata Duby: “Foram condenados tanto o iconoclasmo, quer dizer, a destruição e a recusa das imagens, como a indulia, adoração de imagens (DUBY, 1994: 45).

Mas como ao longo dos anos, personagens excepcionais dentro do cenário cristão foram ganhando destaque? Para entendermos melhor o assunto em discussão Duby afirma que os heróis da antiguidade pagã foram substituídos pelos novos heróis, que são os mártires, que “nos primeiros séculos da cristianização, consiste em dar sua vida para o Deus dos cristãos” (id ibid: 41).

Assim, a veneração aos santos tornou-se muito popular e com medo de sua banalização, o papa Inocêncio III, no ano 1199, determinou algumas condições para que o cristão fosse canonizado. Deveria ser provada “obras de piedade em vida e manifestação de milagres após a morte” (FRANCO JÚNIOR, 2001: 103).

Paralelamente à veneração dessas pessoas santificadas, foram também veneradas suas relíquias, que podem ser partes do corpo ou objeto que estiveram em sua posse. Franco Júnior (2001) aponta que no imaginário das pessoas, as relíquias representam a principal espécie de amuleto cristão e “Sendo fragmentos materiais do mundo divino, as relíquias protegem seus possuidores, sacralizam o local em que se encontram, atraem conforme sua importância multidões que vão venerá-las (peregrinação)” (p. 258).

Esse ato de veneração de relíquias também foi algo de discussão durante o Concílio de Latrão, em 1215, que determina que a veneração tem que ter autorização do papa “fosse elas conhecidas há muito ou descobertas recentemente” (Id ibid: 104).

Também devemos considerar que: “O culto das relíquias levou a promoção de lugares de relíquias célebres. Foi no caso de São Martinho de Tours e, sobretudo, o dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma. O culto das relíquias gerou peregrinações e ligou as populações do extremo ocidente entre elas, mas sobretudo, foram organizadas em etapas e em redes” (LEGOFF, 2007: 44).

As relíquias também faziam parte da cerimônia dos laços feudo-vassálicos que eram estabelecido em três atos: “O primeiro era a homenagem, o ato de um indivíduo tornar-se ‘homem’ de outro. O segundo era a fidelidade, juramento feito sobre a bíblia ou relíquias de santos e muitas vezes selado por um beijo entre as partes. O terceiro era a investidura pela qual o indivíduo que se tornava senhor feudal entregava ao outro, agora vassalo, um objeto (punhado de terra, folhas, ramo de árvore etc.) simbolizar do feudo que lhe concedia” (FRANCO JÚNIOR, 2001: 125).

Ainda no final do século X, a igreja promoveu a Paz de Deus, onde os guerreiros faziam juramentos diante de relíquias que respeitassem as igrejas e o clero, assim como os bens das pessoas humildes (Id ibid: 99).

A crença a relíquias de santos, alguma vezes chegava aos extremos como no caso de São Romualdo e Santa Isabel da Hungria:

“Por volta no ano 1000, os camponeses da Itália Central pensaram e matar São Romualdo para se apoderar de seus ossos santos. No começo do século XIII, enquanto Santa Isabel da Hungria não era enterrada, a multidão cortou seu cabelo, unhas e partes do corpo e da roupa, para obter assim as sempre desejadas relíquias” (Id ibid: 212).

BONIFÁCIO, SANTO E MÁRTIR

Filho de uma família abastada, Winfrid nasceu em 672, Credition, Inglaterra. Entrou na vida clerical contra a vontade do pai. Recebeu o nome de Bonifácio (aquele que faz o bem) e foi enviado à Germânia, uma parte da Europa até então considerada bárbara, com a missão de evangelizar e organizar a Igreja Católica.

No ano de 723 derrubou um carvalho considerado sagrado a Thor, filho de Odin, deus da mitologia nórdica, e da extração de sua madeira construiu uma capela. Esse ato foi considerado como o início formal da cristianização na Germânia.

Morreu no dia 05 de junho de 754, aos 84 anos, por pagãos. Ele é tanto venerado pela Igreja Católica Romana quanto pela Ortodoxa.

FlaviomiroSilvaMendonça(Historiador)

Os jesuítas fizeram várias tentativas malsucedidas de se fixar na região amazônica durante a primeira metade do século XVII. ARENZ e SILVA(2011) nos mostra que:

“O primeiro grupo de religiosos, que aportou em São Luís, no dia 23 de novembro de 1652, contou com onze missionários, entre os quais os padres Francisco Velloso e João Souto Maior. Mas somente a partir do dia 16 de janeiro de 1653 – data da chegada do padre Antonio Vieira -, a Missão do Maranhão começou a ser efetivamente reativada” (p. 21)

Meireles (2001), relata o episódio da chegada dos jesuítas em 1652, quando Baltazar de Sousa Pereira, governador da Capitania de São Luís em:

“ (...) mais de 15 dias de governo (...) teve que emprestar o prestígio de sua autoridade à magnífica solenidade da transladação, de bordo para a igreja dos jesuítas, dos ossos dos mártires santo Alexandre e são Bonifácio trazidos de Lisboa pelo padre Sottomayor, e os quais haviam sido mandados de Roma, pelo papa Urbano VII, para que fossem enviados, como relíquias, a cada uma das capitanias do Grão-Pará e Maranhão, respectivamente. Os restos de são Bonifácio ficaram com os jesuítas até 30 de julho de 1699, quando foram transferidos para a Igreja de N. Sra. Da Luz, não sabendo ao certo o seu paradeiro atual” (p. 99)

A relíquia, que é um fragmento de um osso de São Bonifácio está no peito de uma imagem relicário do mesmo santo, de madeira policromada e do tamanho de 66 cm. A sua veste é de soldado, apesar do santo nunca ter exercido tal função. Provavelmente, uma alusão ao combate espiritual, onde o paganismo é o inimigo.

Pelas mãos dos próprios padres Jesuítas, esta imagem chegou até a Baixada Maranhense para contribuir na difusão do cristianismo na Missão de Nossa Senhora da Conceição do Maracu (que mais tarde seria elevada a categoria de Vila de Viana em 1757). ARENZ e SILVA (2011) deixam evidente que: “Ao fundar um aldeamento, os jesuítas optaram geralmente por um lugar estratégico na região de várzea, às margens de um rio navegável e próximo à floresta, condições ideais para a coleta de drogas do serão, a produção extensiva e a troca de produto” (p. 34).

Durante cinquenta anos, a imagem ficou exposta no altar mor da capela da Fazenda de São Bonifácio, de propriedade desses religiosos, às margens do Igarapé do Engenho (Viana). Essa fazenda, de criação de gado, em 1730 foi a principal fonte de receita do Colégio de São Luís.

Já no final do século XIX, a imagem do santo já se encontrava em Penalva, e permaneceu até 2007, sob a guarda carinhosa do monsenhor Wilson Cordeiro. Ao saber dos misteriosos desaparecimentos de obras sacras da Diocese de Viana, o padre se dispôs a proteger a peça dentro de um caixote, debaixo de sua cama, durante 33 anos. Algumas pessoas afirmam que o próprio bispo da década de 1970, Dom Adalberto estaria envolvido em tráfico de obras sacras raras.

RELÍQUIA DE SÃO BONIFÁCIO EM TERRAS MARANHENSES

No dia 05 de junho de 2007, no seminário de Viana de mesmo nome do santo, localizado a Praça da Bíblia, em São Luís foi celebrada uma homenagem a São Bonifácio. Na oportunidade desta celebração, a Diocese de Viana (titular da imagem), o Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural, Paisagístico e do Meio Ambiente de Viana, a Academia Vianense de Letras, a Secretaria de Estado da Cultura e o Museu Histórico assinaram um termo de comodato para a guarda da imagem, que ficou sob a responsabilidade do Museu, em período determinado no contrato. Hoje está completamente restaurada e se encontra no Museu de Arte Sacra do Maranhão.

BIBLIOGRAFIA

ARENZ, Karl Heinz; SILVA, Diogo Costa. “Levar a luz de nossa santa fé aos sertões de muita gentilidade”: fundação e consolidação da Missão Jesuita na Amazônia Portuguesa (século XVII). Belém: Editora Açaí, 2012.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 9ª ed. Edições Loyola Petrópolis, RJ: Edições Loyola: 1998.

CAZUMBÁ, São Luís, nº 51, jul./2008, p. 11.

DUBY, Georges. As três ordens ou o Imaginário do Feudalismo. 2ª edição. Lisboa: Editora Estampa: 1994.

LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. 3ª edição atualizada. São Paulo: Editora Siciliano, 2001.

SILVA F., Olavo Pereira da. Arquitetura Luso-brasileira no Maranhão. 2 ed. Belo Horizonte: 1998.

VINHAIS VELHO, SÃO LUÍS - MA, DATA DESCONHECIDA

Aqui vai mais duas fotografias de valor bem raro que pode ser importante para a pesquisa arqueológica. Essas fotos são do arquivo do IPHAN sobre prováveis(ou não) ruínas de construções jesuíticas na área denominada Vinhais Velho, no bairro Vinhais. Vinhais Velho é uma denominação recente sobre o antigo Sítio ArqueológicoondeexistiaaaldeiaindígenadeUçaguaba–Eaussoup,áreaquejáteveapresençadosfranceses e dos jesuítas da Companhia de Jesus. O mais interessante é a primeira fotografia que no verso disse que se tratade "ruínas deum poçona épocada Companhiade Jesus" masno escrito temumainterrogação,denotando dúvida sobre essa veracidade. Vale lembrar que a Ana Jansen foi proprietária de poços d'água no Vinhais que servia para o abastecimento da cidade, esse poço da primeira foto pode ter sido propriedade dela. Essas fotos nos geram mais perguntas do que certezas, mas a maior certeza é sobre essas antigas pesquisas arqueológicas em lugares da ilha, não só na área do Pindaí que foi o primeiro bem tombado no Maranhão.

- Arquivo Geral IPHAN(@iphangovbr)

QUINTA DA VITÓRIA(???), MORADA DO POETA SOUSÂNDRADE, BAIRRO JENIPAPEIRO/REMÉDIOS, SÃO LUÍS - MA, ANO DE 1938

Uma imagem bem interessante que diz ser a Quinta da Vitória, antiga moradia do poeta Sousandrade(1833-1902) maranhense nascido em Guimarães-MA, autor da obra Guesa Errante, ele foi formado em Letras pela Sorbonne na capital francesa, depois viveu um bom tempo nos Estados Unidos, onde trabalhou no periódico Novo Tempo. No fim do Império, Sousândrade voltou para o Maranhão, ele era republicano convicto, tentou se articular com o novo Regime(República) quando foi proclamada no fim de 1889.

Sousandrade faleceu em 1902, morreu pobre, esquecido e isolado na sua Quinta da Vitória, uma antiga construção que ficava às margens do rio Anil, próximo ao Largo dos Remédios e da antiga via férrea da Estrada de Ferro São Luís Teresina.

Essa imagem de 1938 mostra aspectos de um casarão, um caule de árvore e uma canoa, na legenda da foto diz ser a Quinta da Vitória, mas será que é? Porque tem um imóvel pertencente a Marinha que reivindica que é a Quinta da Vitória, tem até uma placa, mas há controvérsias, pois alguns moradores afirmam que é um equívoco que o imóvel da Marinha seja a Quinta da Vitória. Pois é, paira um misterio que não se tem plena certeza sobre a Quinta da Vitória, até mesmo essa foto pode não ser a Quinta.

- O Malho, Ano XXXVII, 13/10/1938, número 280, pag 30 via BN Digital

São Luís Memória

ARQUIVO RECUPERA INVENTÁRIO DE D. EUSEBIA MARIA DA CONCEIÇÃO

O Arquivo do Tribunal de Justiça recuperou e restaurou o inventário de D. Eusebia Maria da Conceição (Brejo, 15.11.1841). Dona Cabana, como ficou conhecida, foi proprietária de escravos na Ribeira do Parnaíba e foi assassinada pelos Balaios em 13.05.1839, no lugar Gameleira (Piauí), enquanto tentava fugir, após ter sua fazenda invadida.

Trata-se de importante fonte para os estudos sobre a Balaiada e as relações entre senhores e escravos no Maranhão.

Eusebia Maria da Conceição foi sogra do Comendador Severino Alves de Carvalho e, ainda hoje, é lembrada no imaginário coletivo dos camponeses de todo o Baixo Parnaíba, tendo sido citada na historiografia por Mathias Röhrig Assunção, em sua obra “De caboclos a bem-te-vis: formação do campesinato numa sociedade escravista: Maranhão 1800-1850”.

Bens:

- RAIZ:

1. Meia légua de terras no lugar São Bento;

2. Uma légua de terras na Fazenda das Melancias, além do Rio Parnaíba;

3. Uma casa na praça da Vila de Brejo;

4. 180 palmos de chão na Vila de Brejo.

-ESCRAVOS:

1. Patricio, 34 anos, cafuz;

2. Manoel, 34 anos, cafuz;

3. Caetano, 38 anos, cafuz;

4. Carlos, 32 anos, cafuz;

5. José Antonio, 28 anos, mulato;

6. Appolinario, 26 anos, crioulo;

7. Serafina, 70 anos, africana;

8. Florença, 33 anos, crioula;

9. Eufrazia, 44 anos, cafuza;

10. Narciza, 40 anos, cafuza;

11. Angelica, 42 anos;

12. Maria da Conceição, 22 anos, mulata;

13. Clarinda, 21 anos, mulata;

14. Ignacia, 28 anos, crioula;

15. Cida, 16 anos, mulata;

16. Darcia, 24 anos, mulata;

17. Severina, 40 anos, crioula (fugida).

#PARA TODOS VEREM

Imagens do inventário de Eusebia Maria da Conceição após ação de restauro.

Genealogia Maranhense (História, Genética e Nobiliarquia)

BALAIADA-APOVOAÇÃODASFRECHEIRASDALAMAEOBRAÇOARMADODAPROVÍNCIADO CEARÁ-1839-1841:

JOÃOBOSCOGASPAR.

OabastadofazendeiroDomingosFerreiradeVeras(onovo),umdosherdeirosdograndecabedal deixadopelos“decujus”DiogoAlvesFerreiraeThomáziaFerreiradeVeras,seusavós,pagouumalto preçoporliderarnaflorescentepovoaçãodasFrecheiras,termodaViladeParnaíba,omalogrado “MovimentodaBalaiada”,umarevoltapopularocorridanasprovínciasdoMaranhão,PiauíeCeará,entre osanosde1839e1841.

AnotávelpovoaçãodasFrecheiras,cujooragoéNossaSenhoradoRosário,possuiumdostemplosmais belosdonortedoPiauí,licenciadoparaconstruçãonoanode1781,apedidodomestredecampoDiogo AlvesFerreiraesuaesposa.Comoésabido,DiogoeThomázia,estãoinclusosnoroldoscolonizadores luso-pernambucanosestabelecidosnapovoaçãodaCaiçara(Sobral),naprimeirametadedoséculoXVIII. Poisbem.Sefoi,daantigapovoaçãodaCaiçara(Sobral)quevieramosedificadoresdaflorescente povoaçãodasFrecheiras,foi,também,daCaiçara,queveioo“castigo”parapuniraricapovoação piauienseeseufilhoamotinado,peladesastrosaadesãoaomovimentodabalaiada.

ProcedemdaCaiçaraosdoislíderesmilitaresqueimprimiramasmaioresderrotasaopovoadorebelde, ocoronelJoaquimRibeirodaSilvaeocapitãoJoaquimFerreiradeSousaJacarandá.Essesdoishomens tornaram-seosalgozesdeDomingosFerreiradeVeras,olíderrebeldeque“simbolizava”apovoação dasFrecheiras,omaiorredutodosbalaiosnonortedoPiauí.

AnarrativadaprimeirainvasãodasFrecheiras,ocorridaemagostode1839,édopróprioDomingos: “DizDomingosFerreiradeVeras,moradornaprovínciadoPiauhyedepresenteexistentenestaVilla [Granja],queparabemdeseudireitoselhefazprecisojustificarositensseguintes:1º-queosuplicante emdiasdeagostomaisoumenosde1839,pormotivospolíticos,tevederetirar-sefugitivo,eleeseu falecidopai,desuasmoradasnasFrexeiras,termodoPiauhy,pornotíciasdevirprendê-loumatropa comandadaporJoaquimRibeirodaSilva,comoveio.2º-quetendoosuplicanteeseufalecidopai deixadocaseirosemsuasmoradasparaguardadoqueneladeixavam,viram-seosmesmoscaseirosna duranecessidadedeabandonaremascasasdosuplicanteedeseufalecidopai,deixandodentrodas casasàdiscriçãodatropaouantesdoseucomandante,mantimentos,roupas,ouro,prata,louça,vidros emaistrastesdesuaserventia,ficandoalémdomais600$00quetinhaosuplicantedentrodeumbaú deroupa,todoemmoedadeprata.3º-quelogoqueentrounasFrexeirasomencionadoJoaquim Ribeirocomatropadeseucomando,foramroubadasnãosóascasasdosuplicanteedeseufalecido pai,comotodasasmaisqueexistiamnaquelelugar.4º-quenaretirada,omencionadoJoaquimRibeiro levoudasfazendasdosuplicanteedoseufalecidopaimuitasreses,assimcomovariascavalgaduras, entrandoumoudoismachos.PedeaoSr.Juizmunicipalsedigneadmitirosuplicanteajustificaro deduzidonapetiçãoereceberáamercê.Autuada,justifique.Granja,provínciadoCeará(assinado) DomingosFerreiradeVeras”.

Comoésabido,DomingosFerreiradeVeraseseupaiJoséAlvesFerreiradeVeras,evadiram-seda fazendadasFrecheirasantesdachegadadocoronelJoaquimRibeiro,evitando,assim,aprisão.Oslíderes balaiosfugiramparaoCearáeforamacolhidosnafazendadotenente-coronelJoãoPorfíriodaMotta, chefedaGuardaNacionaldaVilladeGranja.ApósamortedeJoséAlvesFerreiradeVeras(paide Domingos),ocorridaduranteoseuexílionaGranja,DomingosFerreiradeVerasvoltaaoscamposdas Frecheirasparaapoiaracausadosbalaios,emaisumavez,obraçoarmadodaprovínciadoCeará,

através do capitão Joaquim Ferreira de Sousa Jacarandá, pesousobre os ombros do herdeiro das Frecheiras.Vejamos:

“Otenente-coronel,viuentrarnestavila[Viçosa],cobertodelouros,hoje[14deoutubrode1840]pelas seishorasdamanhã,acolunaquesobocomandodocapitãoJoaquimFerreiradeSousaJacarandá, haviaseguidoosséquitosdosrebeldesAntôniodeSousaCabral,intitulado“animoso”,eDomingos FerreiradeVeras.Eparaquereconheçamosserviçosqueessacolunaacabadeprestaremfavordo TronodeSuaMajestadeImperial,passaotenente-coroneladescrevê-los:Depoisdecaminhar7léguas, quesecontamdaLagoaCocal,asfazendasdeJoséAlves,nomunicípiodeParnaíba,provínciadoPiauí, encontrouosrebeldesemumOlhod’Água,nasmatas(...);ealicomeçouumregíssimofogodeambos oslados,tornando-serenhidaaquestão,portrêsquartosdehora,masacolunadocapitãoJacarandá ganhouocampoinimigo,tendoumsoldadomorto,umcaboequatrosoldadosferidosgravemente,e umsoldadolevemente.Doinimigo,14rebeldesmortos,bemcomoumprisioneiro,dezmulheres,quatro meninos,umescravoeumaescrava,ambosvelhos,dofinadoJoséAlvesFerreiradeVeras[paide DomingosFerreiradeVeras].OcapitãoJacarandátomoutodaabagagemdoinimigo,quesecompunha de58cavalgaduras,muitascangalhas,grandenúmerodecaçuásdecouro,algumasselasvelhas,algum chumboebalas,umcaçuádearrozeoutrodefeijão,umclavinote,umbacamarte,cincoclavinaseduas cargasdesal(...).Teveaindaumtiroteiopequeno,quemuitoconcorreuparaocompletodebandamento dosrebeldes,poisqueosdoisinfameschefes,[DomingosFerreirade]Verase[AntôniodeSousa]Cabral, aconselharamaorestantedaspessoasqueosacompanhavam,procurassemseurumo(...)”.

Dessavez,DomingosFerreiradeVeraspreferiufugirparaoMaranhão,“atravessandoorioParnaíba apósmandarfurtarnovocavalo;seguiudafazendadasAlmasdistantedoLongáoitoléguas”.

Fontes:JustificaçãoJudicialdacomarcadeGranja-CEeHDB.Por

IMAGEM DA PROCISSÃO DE SÃO JOAQUIM DO BACANGA, NA VILA MARANHÃO, SÃO LUÍSMA

foto tirada em 1939. A fotografia foi tirada em frente a Igreja de São Joaquim do Bacanga. A Igreja de São Joaquim do Bacanga data do século XVII, quando os jesuítas fundaram na localidade um aldeamento para catequese dos índios. No Século XIX, com a criação da Freguesia de São Joaquim do Bacanga, a igreja começou a ser reconstruída em 1848, durante as obras do futuro Canal do Arapapaí.

Dizem as narrativas que a imagem de São Joaquim chegava todos os anos de barco pelo Rio Bacanga, depois continuava em terra firme em carro de boi até a Igreja por meio da procissão. A atual estrutura da Igreja é do Século XIX, feita de pedra e cal, datada de 1868.

Fonte da imagem: Athenas - A Revista do Maranhão Para o Brasil, acervo da @fmrb.ma //IPHAN

Fonte do texto: IPHAN

O PRÍNCIPE GASTÃO DE ORLÉANS NO MARANHÃO DIOGO GUAGLIARDO NEVES

No próximo dia 24 de junho se relembra os 134 anos da chegada do Príncipe Gastão de Orléans, o conhecido Conde d’Eu, a São Luís.

Marechal do Exército e esposo da Princesa D. Isabel, a subscritora da Lei Áurea – que somava pouco mais de um ano de sua entrada em vigor

foi o único membro da Família Imperial então reinante a conhecer o Maranhão.

A maior vítima da divulgação de fake news em sua época, é, ainda, uma das mais desconhecidas personalidades do período imperial brasileiro. Foi batizado como Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston d'Orléans, neto do então Rei da França, Luís Felipe. Nasceu em Neuilly-sur-Seine, a 28 de abril de 1842.

Desposou D. Isabel, a princesa herdeira do trono brasileiro, a 15 de outubro de 1864. Com apenas 27 anos de idade, a 22 de março de 1869, assumiu o posto de comandante-em-chefe das forças aliadas na Guerra do Paraguay, onde teve destacado papel na reorganização do Exército, punindo oficiais acusados de saques nos territórios ocupados e participando dos combates quase na linha de tiro.

Depois do conflito, passou a ser o alvo preferencial da “Propaganda” republicanista, que o acusava de ser “estrangeiro”, andar mal vestido, falar mal o português, e, supostamente, estar envolvido na cobrança de alugueres em cortiços no Rio de Janeiro. Ignorando tudo, em meio à crise da Monarquia no primeiro semestre de 1889, empreendeu uma excursão de promoção do aguardado Terceiro Reinado às chamadas “Províncias do Norte”, todas aquelas a partir da Bahia e até o Amazonas. O Maranhão figurava como uma das escalas. Passavado meio-diadeumasegunda-feiranublada emormacenta,depois de chuvas fortes.Ovapor“Alagoas” cruza a barra do Maranhão sob salvas da guarnição do fortim de Santo Antônio, respondidas pelo toque demorado da sirene da embarcação. Bandeira imperial desfralda e tremulando.

Os passageiros de pé pelos bordos observam e acenam ao cortejo improvisado de cúteres, bianas e canoas, com suas velas de vivos matizes pontilhando a desembocadura comum do Bacanga e Anil. Ao fundo, a cidade dos sobradões pombalinos cujas ruas descem ao mar turvo. Janelas abertas e sacadas ocupadas. A multidão se apertano Cais daSagração,quasetomandoarampadePalácio. Desdea alvoradaoespocar contínuoderojões. Era São João.

O escaler provincial foi ao Alagoas buscar Sua Alteza.

Ao pisar a acentuada ladeira que ligava o porto aos altos da cidade, deram-se muitos aplausos e aclamações aoimperador,àD.Isabel enquanto“Redentora”,eaelepróprio:“[...]foioalvoroçodapopulaçãomaranhense, saudando o Conde d’Eu [...]. Os enthusiasticos vivas, que irrompiam espontaneos, do seio da população manifestaram belissimos sentimentos [...]”, conforme narrado pela publicação católica “Civilização”. Segundo a “Tribuna Liberal”, folha do partido de mesmo nome e que circulava na capital do Império, “O povo em massa reunido no cais de desembarque, em número superior a 4.000 pessoas, saudou freneticamente o augusto viajante [...], percorrendo em seguida a cidade, sempre festejado pela população”.

Os principais celebrantes são os libertos da lei de 13 de maio de 1888, que não conheciam diretamente as letras, nem participavam do núcleo decisório do país, mas que sabiam quem era quem no jogo do poder, especialmente na cidade. E, ali, eram eles os vitoriosos. Por enquanto, ao menos, pois também tinham a exata consciência de que essa não era uma questão resolvida. Poderia não tardar, inopinada, a desforra nutrida de ódios eressentimentos dos proprietáriosdas senzalas fechadas ematrículas deescravos canceladas por decisão do governo imperial.

A reescravização era um cenário possível.

Gastão caminhava ao som da banda marcial do 5º Batalhão de Infantaria e do grupo musical da Casa dos Educandos Artífices, rumo à sede do governo maranhense, cercado pelo préstito acompanhados das gentes. Bandeirolas auriverdes em cordames pretendiam alegrar a estreita e íngreme via.

Ele ficaria hospedado no atual “Palácio dos Leões” (que ainda não tinha esse apelido), mas o prédio estava em reforma: “[...] o principe consorte foi recebido em pardieiro, velho que se chama palacio, o qual, além de

tudo está em obras, cheio de andames [sic.], cipós, barro, cal, etc.!...”, como noticiou as páginas antimonárquicas do jornal “O Novo Brazil”.

O Conde d’Eu adentrou o Palácio ladeado pelo Barão de Grajaú, no alto de seus 74 anos, pelo presidente Moreira Alves, cuja substituição já estava agendada para os próximos dias. Foram junto as patentes militares da ativa, alguns veteranos locais da Guerra do Paraguay e as autoridades católicas, todos trajados ao rigor e calor da moda. Mas, as manifestações principais tinham cara e cheiro de povo, que aguardava apinhado na porta a saída e continuação das visitações.

Depois das orações na Igreja da Sé – o Príncipe era um católico praticante -, a próxima parada era o Liceu Maranhense, então instalado nos baixos do Convento do Carmo. Mas uma terrível surpresa os aguardava: pequenos inconfidentes haviam arquitetado um motim.

Antes de completados os degraus que iam até o templo e ao colégio, enquanto a figura de cerimonia subia, um molequesemeteunomeioegritou aplenospulmões:“VivaaRepública!”EraManoelNina,ou,simplesmente “Maneco”, que apenas começava suas peripécias. Outros dois discentes responderam da mesma forma e vaiando. A confusão estava posta. Troca de urros, alguns se empurrando com braços e bengalas. Correria. Aluísio Porto e Antônio Lobo haviam prometido entre si o feito e “[...] cumpriram a palavra empenhada”, como lembrou depois Dunshee de Abranches nas suas memórias de “O Cativeiro”.

Passaram os insurgentes rindo para o interior do prédio, escapando por hora dos cascudos e puxões de orelha. Lá haviam pendurado uma bandeira dos Estados Unidos e riscada em letras grandes uma paredes com equivalentes exclamações. Não tinha acabado, porém. No protocolo estava agendada a ida à Biblioteca Pública, uma das primeiras do país, título esse que ostentava somente pela antiguidade. Para acessá-la, era preciso passar por dentro da escola. Por ali estava acoitado um dos rapazotes, à postos para a nova investida: “Ao sahir o principe, da biblioteca, Maneco toma de dois cófos de maravalha, ali deixados pelos operarios da marcenaria e os derrama todos sobre a cabeça do principe, dizendo: ‘Flores, flores! Viva a Republica!’”, caso relembrado em curiosa biografia sobre o Maneco Nina, aparecida muitos anos depois.

Gastão, indiferente, ao contrário dos demais que proferiam insultos e clamavam desforra, com sua luva bateu a serragem do chapéu e da casaca, pedindo que nada fizessem contra Maneco e seus colegas.

De qualquer maneira, “[...] a república pregada pelos fedelhos do Liceu [...]”, no dizer indignado do deputado João Evangelista de Carvalho, padre da Paróquia de São João, como relembra Dunshee de Abranches, encerrava ali suas atividades sediciosas, com os paladinos asilados entre os muros do educandário. Eles não seguiram o cortejo que partiu para a igreja da Imaculada Conceição na rua Grande, hoje desaparecida. Os jovens corriam sério risco de serem linchados pelos libertos da lei de 13 de Maio de 1888.

Por fim, naqueles meados de 1889, a pauta pela República não ecoava entre os setores populares, especialmente os maranhenses beneficiados diretos da Lei Áurea, que viam no Príncipe Gastão de Orléans a própria figuração de sua esposa, a representante da liberdade contra a possibilidade de reescravização. E estariam prontos para morrer pela causa, como aconteceria dali a poucos meses...

O FAZENDEIRO E MAIOR PROPRIETÁRIO DE ESCRAVOS DA BAIXADA MARANHENSE

Sede da Fazenda Maravilha de Ignácio Facundo Cutrim, falecido em 1795, era casado com D. Joana Maria Pereira da Silva. No seu inventário aparecem 109 escravos, o que faz dele um dos maiores proprietários de escravos de toda a Baixada no século XVIII. Seus herdeiros casaram-se com membros da família Maciel Parente.

Como suas principais atividades na época estão roças de mandioca, engenhos de cana e alambiques. A grande mansão nos faz voltar no tempo, onde a quantidade de escravos era fator determinante para geração de riqueza.

Povoado Maravilha. Município de São João Batista. Estado do Maranhão. Brasil.

Ramssés De Souza Silva

Esse casarão não é o original de Ignácio Facundo Cotrim. A sede primitiva já deve ter ruído há séculos e essa atual não fica no local de origem! Esse lugar aí é propriedade privada e não será demolido só pra obedecer pautas atuais de desconstrução.

Os próprios que estão reclamando são descendentes de escravagistas, quer queiram, quer não. Basta fazer uma análise genealógica e uma análise genética. Discussão sem sentido. Cada época tem seu contexto e devemos sempre relembrar pra não cometermos os mesmos erros.

ALGUNS ANTIGOS SÍTIOS DA ILHA DE SÃO LUÍS, A QUEM PERTENCERAM E O QUE SÃO

HOJE:

✓ Sítio Pedreira - Ana Jansen: Bairros São Francisco e Renascença I

✓ Sítio Itamacaca - Ana Jansen: Bairro da Liberdade

✓ Sítio Barreto - José Maria Barreto (Barão de Anajatuba): Bairro do Barreto

✓ Sítio Bom Gosto - Manoel Antônio de Carvalho e Oliveira Sobrinho: Hospital Sarah Kubitschek

✓ Quinta das Laranjeiras - José Gonçalves da Silva (o Barateiro): Bairro do Apicum

✓ Sítio Cavaco - Manoel Marques Pinheiro: Bairro de Fátima

✓ Quinta do Bessa - Amaranto Bessa: Vila Bessa

✓ Sítio Veneza - Dr. Silva Maia / Francisco de Paula Gomes: Blitz Urbana

✓ Sítio Paraíso - Luís Manoel Fernandes: Conjunto Alto Paraíso (Alemanha)

✓ Sítio Itapicurahyba - vários sítios conjugados: Bairro do Anjo da Guarda

✓ Sítio Tamancão - Domingos José Maia: Bairro Alto da Esperança

✓ Quinta da Vitória - Sousândrade: Porto do Jenipapeiro

✓ Sítio Britânia - Edmund Compton: área contígua ao Hospital Psiquiátrico Nina Rodrigues

✓ Sítio Cutim do Padre - vários sítios conjugados: Bairros do Cutim e Santa Cruz

✓ Sítio Batatan - Manoel Pedro de Almeida: Reserva do Batatã

✓ Sítio Arapapahy - Victorino José Rodrigues: Povoado Arapapaí

✓ Sítio Tajaçuaba - Sérgio Antônio Vieira: Povoado Tajaçuaba

Pesquisa: Ramssés Silva

Fonte: Hemeroteca Digital

FAZENDAS JESUÍTICAS

EM SÃO LUIS DO MARANHÃO: AS ESTRATÉGIAS INACIANAS NOS MEIOS DE AQUISIÇÃO E ALGUNS LITÍGIOS INICIAIS. SÉCULOS XVII E XVIII. RAIMUNDO MOREIRA DAS NEVES NETO*

Durante o século XVII, no Estado do Maranhão e Grão Pará, a Companhia de Jesus logo compreendeu que era necessário adquirir algumas propriedades que dessem subsídio ao seu apostolado catequético. Sendo assim, por meio de inúmeros estratagemas, ela não apenas conquistou suas primeiras fazendas, como também as defendeu quando dos primeiros pleitos que as envolveram. Tal é a matéria que o presente artigo intentará analisar.

Comecemos pelo sítio de Anindiba, em São Luis do Maranhão, propriedade tão recorrente nos escritos jesuíticos, pois, conforme nos diz o cronista jesuíta Bento da Fonseca “foi a primeira fazenda de raiz que teve a Província do Maranhão e por isso mais estimada” 8 .

Assim como tantas outras propriedades, ela foi conquistada por doação, nesse caso feito pelo casal Pero Dias Moreno (artilheiro) e sua mulher Apolônia Bustamante (cigana), ambos vindos de Pernambuco na companhia do Capitão Alexandre de Moura que fora encarregado pelo General de Pernambuco Gaspar de Souza para debelar a presença francesa em São Luis e, nesta mesma cidade, conceder uma légua de terra em quadra ao dito casal. Conforme nos atesta o cronista jesuíta Pe. Domingos de Araújo, daquelas terras o futuro colégio de Nossa Senhora da Luz passaria a ter “farinha, legumes, e outras coisas, que mui bem servem ao mesmo colégio”.

Ainda segundo Pe. Araújo, o Pe. Luis Figueira mandou logo demarcar tal terra, e, sendo assim, Demarcaram-se com efeito por autoridade pública, assistindo na demarcação e posse o Pe. Luis Figueira com muitos portugueses e índios com os seus principais; entre os quais estava com outros velhos Gregório Mitiguaya.

Destas mesmas terras houve depois o colégio nova data e confirmação, que se guarda no seu cartório9 .

Pelo descrito anteriormente podemos abstrair a grande preocupação da Ordem em confirmar suas terras que, por mais que fossem fruto de doação de devotos, logo eram pedidas em sesmaria aos governadores. De fato, no cartório jesuítico da Torre do Tombo encontramos alguns documentos nesse sentido. Assim, por exemplo, em 25 de abril de 1678, o governador do Maranhão Inácio Coelho da Silva atende ao pedido do então reitor do colégio de Nossa Senhora da Luz Pe. João Felipe Bettendorff para que tal légua fosse confirmada (tratava-se de uma nova carta de sesmaria para a mesma terra, e não confirmação)10

Novamente em primeiro de dezembro de 1694 o governador Antonio Albuquerque Coelho de Carvalho concede nova data de sesmaria ao reitor daquele colégio Pe. Diogo da Costa. Em verdade tais terras já haviam sido doadas anteriormente pelo governador Francisco Coelho de Carvalho e posteriormente, como já visto, por Inácio Coelho da Silva11.4

Mas então o que fazia os jesuítas pedirem tantas datas para a mesma propriedade, Anindiba? Há duas possíveis respostas. Antes de tudo vale ressaltar que o governador do Estado tinha o poder de dar uma sesmaria. Todavia, cabia ao Rei confirmar a dita posse, dentro de três anos. Para que a dita terra fosse confirmada era necessário que seus possuidores pagassem os dízimos dos gêneros que produzissem nela; não os pagando, a terra não seria confirmada e, assim, perdia-se a posse dela.

É que a Companhia quase sempre se negava a pagar tais tributos, o que em tese deveria impedir a confirmação de suas fazendas. Ela, todavia, utilizava-se do estratagema de sempre: pedir novas datas de sesmaria para uma mesma propriedade, para assim ter um novo prazo para confirmá-la e, por conseguinte, não perder sua posse. Entretanto, tal artifício não foi a motivação para tantos requerimentos de datas referentes à Anindiba. É que as terras jesuíticas tidas como “propriedades de fundação”, a exemplo desta fazenda, eram isentas de pagar dízimos. Destarte, outra é a resposta à nossa indagação.

É que um tal João Monteiro Cabral, foreiro daquelas terras por beneplácito dos padres jesuítas, intentava tomar posse, ilegalmente, de parte delas. Além de tal caso, há outros que punham em risco o pleno domínio inaciano daquela

8 . 1 FONSECA, Bento da, SJ. “Apontamentos para a chronica da Companhia de Jesus no Maranhão”. Biblioteca Nacional de Portugal, Reservados, códice 4516, f.60.

9 2 ARAÚJO, Domingos de, SJ. “Chronica da Companhia de Jesus da missam do Maranham”. 1720. Biblioteca Pública de Évora, códice CXV/2-11, f.106-106v. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011

10 2 ARAÚJO, Domingos de, SJ. “Chronica da Companhia de Jesus da missam do Maranham”. 1720. Biblioteca Pública de Évora, códice CXV/2-11, f.106-106v. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011

AS PRIMEIRAS
11

propriedade, o que levava os padres a pedirem, incessantemente, novas datas que o atestassem. Antes de adentrarmos especificamente no caso de João Monteiro será válido analisar sumariamente a postura da Companhia de Jesus naquilo que tange a prática do arrendamento.

O historiador Paulo de Assunção ao analisar principalmente as propriedades inacianas na América portuguesa alega que o “arrendamento era uma solução econômica viável. Um contrato de locação, por tempo determinado, garantia aos jesuítas a propriedade e a obtenção de renda” (ASSUNÇÃO, 2004: 339).

De fato, a prática mostrou-se recorrente não só entre os jesuítas das conquistas de Portugal, mas também das terras de Castela, a exemplo dos colégios de Salta e Buenos Aires, analisados por Nicholas Cushner, que explica que neles os foreiros pagavam as suas rendas em gêneros, notadamente em trigo (CUSHNER, 1983:76).

Referindo-se ao Colégio de Buenos Aires, Beatriz Franzen lembra que os colégios da Companhia não podiam ficar na dependência exclusiva das esmolas e, como saída, o arrendamento era uma boa alternativa. Ao aludir a Carta ânua elaborada pelo Pe. Lozano, adverte que o mesmo colégio havia construído dois grupos de casas para aquela função (FRANZEN, 2003: 111).

Todavia, não raras vezes, esse simples e eficaz método de maximização financeira veio a gerar muitos embaraços aos padres. A inadimplência no pagamento das quantias das terras arrendadas e a falta de conhecimento sobre a pessoa que as iriam arrendar, por vezes, faziam de tal prática algo não recomendado. A questão é complexa e constituiu o que Herman Konrad batizou de a “primera crisis de conciencia en la Nueva España”.

É que a Companhia de Jesus havia se divido entre as alegações de administrar diretamente ou arrendar as terras da fazenda de Santa Lucía, no México Colonial, pertencente ao Colégio de São Pedro e São Paulo (KONRAD, 1989: 49). Segundo o autor, de um lado estavam os padres favoráveis à administração direta da fazenda, declarando que o cultivo de diversos gêneros e a atividade pecuária renderiam mais lucros; enquanto que seus opositores defendiam a tese de que tais atividades “non eram fácilmente compatibles con los conceptos de los jesuitas acerca de sus servicios como missioneros [...] y corrían el riesgo de invitar al escândalo” (KONRAD, 1989: 56).

O assunto dominou o debate na primeira Congregação Provincial da Companhia, no México Colonial, ocorrida entre 5 e 15 de outubro de 1577. Nela o Provincial Sánches defendeu intensamente o imperativo de recursos financeiros que se impunha ao Colégio Máximo, o que só poderia ser equacionado através da administração inaciana direta de suas propriedades. Sánches foi além da argumentação referente à fazenda de Santa Lucía ao declarar que “la hacienda de Jésus del Monte habría de producir mayores ingresos por medio de la administracíon directa que por medio de los contratos de arrendamiento ordinários” (KONRAD, 1989: 51).

Nada obstante, o autor nos informa que “los provinciales nunca daban paso sin consultar con las autoridades locales”, e que naquele assunto as mesmas autoridades desaconselharam ao provincial sobre o arrendamento das terras devido aos inúmeros pleitos que a cobrança dos rendimentos ocasionava (KONRAD, 1989: 59).

Por seu turno, o Historiador Luis de Bivar Guerra é enfático ao expor que “verifica-se uma preferência pela administração direta dos padres, recorrendo-se ao arrendamento das propriedades apenas quando estas se situavam para além de uma área acessível à sua vigilância” (GUERRA, 1953: 169). Parece ter sido o caso da fazenda à qual se referia Paulo de Assunção, a fazenda de Santa Cruz, já que a mesma lá pelos idos de 1654 havia sido ampliada através de uma nova aquisição (uma permuta com terras vizinhas), ficando ela com 10 léguas ao total. Além disso, o historiador pondera que “a distância entre as fazendas e o colégio do Rio de Janeiro, no Morro do Castelo, era significativa” (ASSUNÇÃO, 2004: 339).

Em sua célebre obra Cultura e opulência no Brasil, o jesuíta João Antonio Andreoni (de pseudônimo André João Antonil) adverte que “na escritura do arrendamento, se hão de pôr as condições necessárias (...) para que algum deles [rendeiros], mais confiado, de lavrador não se faça logo senhor” (ANTONIL, 1982: 78).

Eis o caso da fazenda de Anindiba, da cidade de São Luis. Sendo assim, após a explicação dos parágrafos anteriores, deixemos de lado tanto a América espanhola quanto o Estado do Brasil e voltemos ao Maranhão e Grão Pará, ao caso da dita fazenda.

Certa vez o foreiro Monteiro Cabral resolveu pedir parte dela por data e sesmaria ao governador Inácio Coelho da Silva, alegando estar devoluta a terra requerida. O governador resolveu consultar o provedor da Fazenda Real Dom Fernando Ramires que deu parecer favorável para que as terras fossem concedidas ao tal João Monteiro. Terras que pertenciam à fazenda de Anindiba e, por conseguinte, ao colégio jesuítico de Nossa Senhora da Luz!

De imediato o superior da missão Pe. Pero Luís enviou o reitor do colégio da Luz, Pe. Bettendorff, ao Pará, onde estava o governador acompanhado do provedor-mor (BETTENDORFF, 1990 [1698]: 330-31).

Graças à rápida ação dos padres, as terras voltaram para a Companhia de Jesus através de uma carta de confirmação de data e sesmaria passada pelo mesmo governador. Vejamos em detalhes como se deu a embrulhada. Lembremos, conforme vimos, que antes de conceder as terras a João Monteiro Cabral o governador consultou o provedor sobre o assunto, que por seu turno foi consultar o próprio requerente. Concessão feita, Companhia de Jesus prejudicada, faltava a explicação. Assim, o provedor Dom Fernando Ramires, em um despacho de 13 de maio de 1680, alegou que havia chegado há pouco tempo do Reino, não tendo conhecimento exato do Estado do Maranhão. Assim, ele havia confiado nas palavras de João Monteiro Cabral, pois sendo ele escrivão das datas e sesmarias não havia de faltar com a verdade. Em seu despacho, o provedor condenava severamente a atitude do foreiro com a seguinte sentença: E condeno ao impetrante embargado [João Monteiro Cabral] em vinte cruzados para os embargantes [os padres do Colégio de Nossa Senhora da Luz], e em 400 réis por dia desde a hora em que eles embargaram a dita provisão, até o dia em que realmente se meteram de posse da dita légua de terra em quadra pacificamente; e o hei por suspenso do cargo do ofício de escrivão das datas, e sesmarias, visto usar tão mal dele, e o não poderá servir jamais, salvo por mercê de S.M., que Deus guarde, digo, de S.A., que Deus guarde. Dom Fernando Ramires expunha ainda que a carta de sesmaria passada ao embargado estaria nula por duas razões. Em primeiro lugar, o governador teria passado aquela carta de sesmaria com “palavras inclusas nela” que deixavam claro que a sua vontade “foi dar as sobras não prejudicando a terceiros”, fórmula, aliás, freqüente nas cartas de data e sesmaria.

Em segundo lugar, explicava o provedor, “bastava a posse de trinta anos para que os embargantes tivessem adquirido legítimo domínio, e título verdadeiro, como é comum em direito”. Nada obstante, e de acordo com as testemunhas da Companhia de Jesus, ouvidas pelo provedor, a Ordem estava naquelas terras desde o governo de Jerônimo de Albuquerque, no início da conquista do Maranhão, havendo “Sentença s.e a legoa de terra de Anhandiba, que antigam.te se chamava de Carnapijó”. 13 de maio de 1680. DGARQ/TT, CJ, maço 82, doc. 31. também alguns foreiros, como Tomás Beckman, Manuel Rodrigues Lobato e Domingos Dias, que Confessam serem foreiros, e como tais lavradores da dita légua de terra em quadra por faculdade, e consentimento dos embargantes [Companhia de Jesus], o que tudo calou o embargado [João Monteiro], e com simulação fingida impetrou a provisão embargada

O provedor prossegue alegando que João Monteiro sustentou seu pedido Com várias razões frívolas, e nuas de justiça, por cuja causa os embargantes recorreram ao governador, e capitão general (…) que visto o embargado ter calado a verdade, e circunstâncias que devia exprimir, havia a dita provisão por nula.

Anindiba é conhecida por seus inúmeros conflitos. Segundo o cronista Bento da Fonseca (que foi também procurador da Ordem) a única solução para evitar tais demandas era confirmar as terras dos colégios. A cada nova oportunidade, como já foi visto anteriormente.

Diz o cronista sobre Anindiba que apesar de tantas confirmações “nunca se acabaram as contendas”. Anindiba longe estava de ser uma grande propriedade, como as fazendas de Ibirajuba e Jaguarari, no Pará. Todavia fora aforada. Em tal caso, ao menos para partes de suas terras, o Colégio de Nossa Senhora da Luz achou por bem não intervir diretamente com cultivo ou atividade criatória. Os motivos não nos são expressos nos documentos analisados. Contudo, tal episódio nos serve para ponderarmos a ação dos reitores na defesa do patrimônio da Ordem, como foi o caso do reitor Pe. Bettendorff, logo acionado pelo superior da Missão para equacionar o pleito, do qual logrou êxito. Anindiba, como vimos, foi uma fazenda legada pelo casal Pero Dias Moreno e Apolônia Bustamante. Todavia, não apenas com doações de devotos o patrimônio da Companhia de Jesus foi amealhado no Maranhão. Por inúmeras vezes a Ordem teve de recorrer a compras diretas, método valorizado por motivos que mais a frente analisaremos. Esse foi o caso de duas propriedades, estrategicamente vizinhas: a Ilha de São Francisco e as terras de São Francisco foi uma ilha comprada da Santa Casa da Misericórdia de São Luis, em fevereiro de 1660, pelos padres Antônio Vieira e Ricardo Careu.

As terras de São Marcos, sua vizinha, foram compradas por 600 varas de pano (que valeriam cento e vinte mil réis) pelo Pe. João Felipe Bettendorff à senhora Maria Sardinha. Diz-nos o cronista que na Ilha de São Francisco havia: Umas trinta ou mais cabeças de gado pertencentes a casa [colégio de Nossa Senhora da Luz] (...) e como esta ilha estava falta de água para o dito gado [...] tratei de comprar as terras de São Marcos a Dona viúva Maria Sardinha e seus herdeiros; porém estavam ocupados por um curral de gado que ali tinham os reverendos padres das Mercês, que as tinham aforadas à razão de pastos e águas para o seu gado (BETTENDORFF, 1990 [1698] :263).

Aquele “porém” fez toda a diferença entre uma compra dita pacífica e o litígio que a mesma veio ocasionar. Pelo interesse de ambas as ordens religiosas, fica clara a utilidade daquelas paragens para criação de gado, com pastos e águas necessárias. Logo que tomaram ciência do intento do jesuíta Pe. Bettendorff, os padres de Nossa Senhora das Mercês exibiram um “escritinho” que teria lhes sido dado por um procurador de Dona Maria Sardinha e no qual esta senhora prometia lhes vender as suas terras. Não satisfeito ao ver seus intentos malograrem, o jesuíta buscou falar

com a dita senhora. Ela alegou que nunca houvera aquele compromisso, a não ser o do aforamento e que, portanto, a propriedade estava sem impedimento para venda. Também teria afirmado, segundo o padre Bettendorff, que “se as viesse vender seria aos padres de Nossa Senhora da Luz” (BETTENDORFF, 1990 [1698]: 264).

Apesar da oposição mercedária, o padre Bettendorff resolveu pagar o preço avaliado da propriedade, 120 mil réis, “os quais logo lhe mandei pagar em seiscentas varas de pano de algodão”. Todavia, com o intuito de embaraçar aquela compra, os padres das Mercês, por meio do “seu comendador frei Luís Pestana, meteram logo petição ao juiz ordinário, que era então Bartolomeu de Berreiros, para se proibir aos escrivães de fazer escritura”. De tal feita, a venda das terras de São Marcos não poderia ser concretizada. Entretanto, como Dona Maria Sardinha estava mesmo disposta a vender as suas terras, logo “fez outra petição de queixa ao ouvidor-geral, o qual deu uma repreensão ao juiz por ter procedido incivilmente e mandou que todos os escrivães pudessem fazer a escritura que eu [Bettendorff] quisesse sobre as terras de São Marcos” (BETTENDORFF, 1990 [1698]: 264-65).

De fato, conseguimos encontrar na Torre do Tombo a escritura de compra e venda feita em 29 de maio de 1676 Constata-se que a Ilha de São Francisco fora adquirida antes do que as terras de São Marcos já que aquela fora comprada pelo Pe. Vieira, sendo esse expulso do Maranhão no ano de 1661. Conta-nos Bettendorff que concretizada a compra, logo confirmada por carta de sesmaria, os padres mercedários não se conformaram e “armaram-nos pleitos para mostrarem ser nula a venda e compra daquelas terras”. Continua dizendo que como foram “vencidos sempre em todas as instâncias (...) e para não se tirarem de tudo daquela banda, compraram uma sorte de terras junto a Casa de Nossa Senhora da Luz (…) mas logo a venderam ao Colégio, sendo eu pela terceira vez dele reitor” (BETTENDORFF, 1990 [1698]: 265).

Ora, podemos intuir o grande interesse de ambas as ordens religiosas em tal terreno. Patente fica que o mesmo era muito proveitoso para a atividade pecuária. Todavia, parece faltar uma maior explicação para tamanho empenho da Companhia de Jesus nesse caso. É, mais uma vez, Serafim Leite quem vem complementar tal informação num brevíssimo histórico das terras de São Marcos e Ilha de São Francisco.

Diz-nos o autor que em São Marcos, ainda no XVII, fora erguida uma olaria “à qual, no período de construção intensa do século XVII, se veio juntar outra, dentro da própria cidade” (LEITE, 1943: 139). Construção intensa...

Não podemos duvidar da importância estratégica de uma olaria num período no qual não apenas a Missão jesuítica, como também todo o resto da região, estava alicerçando suas primeiras construções. Nada obstante, para a Companhia era muito conveniente adquirir São Marcos, já que era tão próxima à Ilha de São Francisco, esta conhecida por suas salinas que, segundo Serafim Leite, só em 1670 haviam rendido 1.500 alqueires de sal (LEITE, 1943: 139).

Trata-se, portanto, também de centralizar a administração de propriedades que viriam trazer lucros à Ordem. Tanto é que o próprio Bettendorff, ao se referir às duas propriedades com as salinas e olaria, expressa o modo como ambas eram pensadas de forma simultânea tanto por ele quanto pelo Irmão Manoel da Silva. Diz o cronista: Finalmente fiz pôr em via a olaria e salinas e fazer corrente tudo o mais para o bem do Colégio, à custa da indústria e trabalho do irmão Manoel da Silva, a quem muito se deve pelo que obrou em obras da ilha e todas suas anexas (BETTENDORFF, 1990 [1698]: 455).

Passemos agora a falar mais cuidadosamente da Ilha de São Francisco, que conforme vimos, fora comprada da Santa Casa da Misericórdia de São Luis, em 1660, pelos padres Antonio Vieira e Ricardo Careu. Pela propriedade os jesuítas pagaram um “ornamento de tela branca, e vermelha com sua franja, e franja de ouro, e seda o qual consta de frontal (…) casula forrada de tafetá carmesim com a sua estola”.

Tal ilha viria a ser alvo de grande pleito, graças a sua posição privilegiada para a defesa da cidade de São Luis. É que ela era vizinha de uma dita fortaleza que ficava “nas pontas” de João Dias. Tal construção apresenta um longo histórico de problemas desde o século XVII, sendo, portanto, tal centúria o período de gestação do conflito maior que, no início do século XVIII, envolveria a Companhia de Jesus. Como a fortaleza vinha tendo a sua estrutura prejudicada pela correnteza do rio que, ano a ano, não só punha em risco a construção militar, como também arrastava boa parte do terreno do seu entorno, passou-se a pensar em várias soluções: reforma, construção de nova edificação no mesmo local ou em local distinto. Com as cartas que escrevem o Governador e o engenheiro do Estado do Maranhão, sobre o estado em que se acha a fortaleza da ponta de João dias”.

Todos esses documentos revelam o estado de constante ruína no qual se encontrava a fortaleza. Contudo, tratam de problemas internos, sem fazer menção à sua ilustre vizinha ilha de São Francisco, propriedade da Companhia de Jesus.Uma das saídas propostas foi a construção de uma nova fortaleza justamente na Ilha de São Francisco, que era contígua à fortaleza em ruínas. Para este propósito foram consultadas inúmeras pessoas, entre elas o capitão da fortaleza, um engenheiro do Maranhão e até o engenheiro-mor do Reino. Como se vê, várias instâncias foram consultadas. Muitas, menos a proprietária da Ilha de São Francisco, a Companhia de Jesus. Com o desígnio de decidir

o assunto da fortificação foram ouvidos dois engenheiros. O primeiro, Custódio Pereira, foi consultado por ordem dada, em 1713, pelo Governador do Maranhão Cristovão da Costa Freire. Em resposta, alegou que a ilha era boa para uma fortaleza, pois estava mais segura da ação das águas. Todavia, pelo fato de a antiga fortaleza entrar mais no rio, defenderia melhor aquela região. Parece que o Governador não se tinha satisfeito, posto que em 1714 havia enviado ao mesmo engenheiro uma carta do Rei na qual indagava sobre dois pontos: “o primeiro se se podia com uma estacada reparar a ruína da fortaleza. O segundo era sobre a mudança da fortaleza da ponta da área para São Francisco”. Novamente as respostas foram contra a dita mudança de região. O monarca chegou a dar ordem ao Governador para que antes da mudança de localidade fosse primeiramente tentada a solução das estacas, ao que foi acatado. Porém, o reparo não logrou êxito. Sendo assim, a despeito do parecer contrário do engenheiro Custódio Pereira, mas em consonância com o que dizia àquela altura o cosmógrafo-mor do reino, Manuel Pimentel, em 1716 Sua Majestade passava ordem para a ereção da nova fortaleza na Ilha de São Francisco.

Aquela decisão real veio a ser contestada pelo Reitor do Colégio da Luz. Mas o caso envolveu boa dose de diplomacia jesuítica, posto que a ereção da nova fortaleza era um intento do monarca. Assim, com comprovada aptidão, o Pe. José Vidigal alegava que sua Majestade só tinha tomado aquela decisão, pois estava “com informação menos verídica”, já que não sabia “o dito senhor que a dita ilha era de domínio e patrimônio do 13 “Traslado de documentos pedido pelo padre José Vidigal sobre a fortaleza”.

“O Governador do Estado do Maranhão dá conta em que se acha a fortaleza da barra da cidade de São Luis e de ser conveniente mudasse para o sítio chamado de São Francisco, e vai a carta, e informação que se acusam” [que inclui a decisão de 1716 em se fazer nova fortaleza].

Buscando solucionar o caso o mais diplomaticamente possível, partiu da premissa da união entre igreja e estado. Expunha ao Rei: “quando Sua Majestade que Deus guarde novamente informado de tudo haja por bem de seu real serviço que com efeito se erija a dita fortaleza em o dito sítio fará o colégio espontânea oferta dele para o dito efeito”. Oportuno ressaltar que, antes de tão prestativa declaração, o mesmo reitor ponderava a ineficácia de tal construção, baseado no parecer do engenheiro, que muito convenientemente pediu por traslado. Contudo, enquanto o rei não se manifestava em relação ao fato daquela terra ser da Companhia, ela logo tratou de embargar a dita obra.

Em um dado momento várias autoridades se reuniram na ponta da ilha de São Francisco “para o efeito de delinear o terreno para a fortaleza que S.M. (…) ordena se faça no dito sítio”. Entre as autoridades, estavam o governador Cristovão da Costa Freire, o “capitão maior desta praça” Francisco Manuel da Nóbrega de Vasconcelos, o engenheiro Custódio Pereira, o provedor da Fazenda real Gregório de Andrade da Fonseca, e o procurador da Coroa e Fazenda José Barbosa Maciel. Todos reunidos, quando “aí pareceu presente o reverendo padre João de Avelar da Companhia de Jesus procurador geral do Colégio e o reverendo padre reitor José Vidigal como constou da procuração que apresentou”. A questão agora tinha uma reviravolta, pois o padre Vidigal apresentou um requerimento ao governador e ao provedor Dizendo e requerendo o dito padre procurador que em nome do dito colégio impugnava a dita medição que se pretendia fazer no dito sítio pertencente ao dito colégio, e embargava a posse que se intentava tomar do dito terreno até segunda resolução de S.M. tudo na forma que se continha no dito requerimento protestando juntamente (…) o direito do dito colégio de que se lhe passasse certidão para ressalva de seu direito, o qual mandou o dito Provedor se lhe passasse.16 A demanda ainda teria novos capítulos, não obstante o embargo movido conjuntamente tanto pelo reitor quanto pelo procurador do Colégio da Luz. Todavia, agora a proprietária do terreno em questão, a Companhia de Jesus, era mais que manifesta. Sendo assim, o monarca resolveu consultar um novo engenheiro, o engenheiromor do Reino Manoel de Azevedo. Ele, em seis de janeiro de 1721, concedia parecer semelhante ao do engenheiro Custódio Pereira (datado, como visto, de 1714) quando este alegava que “ficará a fortaleza [a nova] de algum modo condenada, valendo-se os inimigos do sítio [da antiga fortaleza] que se largar na entrada do rio para daí a bater”. Entretanto, dessa vez, o engenheiro-mor era ciente de todas as forças em questão, o que incluía o colégio da Luz. Assim, ressaltava que o diploma régio de julho de 1716, que ordenava a construção da nova fortaleza na ponta da ilha de São Francisco, “se não tem dado à execução”, pois a Companhia de Jesus tentava “controverter esta questão”. De tal feita ele propunha uma nova solução: Me parece se faça a fortaleza de novo no mesmo sítio da antiga, mas mais entrada que a primeira 200 pés (…) também me parece que à nova fortaleza se lhe dê maior altura de alicerces (…) e a cantaria para seu revestimento vá deste reino [devido] ser a daquele estado [de] curta duração, como todos afirmam.

Sai o Governador Cristovão da Costa Freire, assume o Estado Bernardo Pereira de Berredo e a pendência prossegue. Expunha Dom João em carta régia, de 17 de fevereiro de 1721, ao novo Governador, que o Pe. José Vidigal havia lhe representado que a construção da nova fortaleza seria em “supérfluo dispêndio da Real Fazenda” e “prejuízo que resulta ao colégio”. De tal feita, o monarca ordenava à Berredo que “vos informeis com o seu parecer neste requerimento fazendo toda a reflexão do que insinua o dito engenheiro mor do reino, para que nesse particular possa eu tomar a resolução que for mais conveniente” 18. Parece que, de fato, a obra foi em “supérfluo dispêndio da fazenda

real”, já que, segundo um documento elaborado por um tal João Gomes Pereira, no qual expunha os desmandos dos padres em alcançar terras por meios ilícitos em prejuízo dos moradores do Maranhão, percebemos que sua majestade havia gasto certa quantia naquela empresa.

Ao listar uma por uma as propriedades jesuíticas, apontando as irregularidades na conquista de cada uma delas quando tal existia, João Gomes se refere à Ilha de São Francisco do seguinte modo: “a ilha de São Francisco onde Sua Majestade mandou fundar fortaleza, e se gastou de sua fazenda quinze mil cruzados, que por ser em terras dos padres tem impedido continuar a obra”. No corpo documental que consultamos não encontramos mais informações sobre o episódio. Pleito de fácil resolução foi o caso da Ilha de São Francisco, já que o colégio de Nossa Senhora da Luz pôde garantir sua posse baseado no documento de compra e venda da mesma. Todavia, a despeito desse episódio, nem todos os métodos de aquisição de terras no Maranhão asseguravam a mesma tranqüilidade aos padres, como são os casos das doações que, vez e outra, eram ameaçadas por herdeiros do benfeitor. Todavia, conforme salienta o jesuíta Antonil, não sem maiores cuidados a compra direita haveria de ser procedida. Pelo contrário, era imprescindível uma série de precauções no sentido de evitar litígios posteriores.

Assim o jesuíta sugere ao comprador que: Nem conclua a compra, antes de ver com seus olhos que é o que compra, que títulos de domínio tem o vendedor, e se os ditos bens são vinculados ou livres, e se têm parte neles órfãos, mosteiros ou igrejas (...) Veja também as demarcações das terras, se foram medidas por justiça, e se os marcos estão em ser, ou se há mister aviventá-los, que tais são os co-heréus a saber, se amigos de justiça, de verdade e de paz, ou pelo contrário, trapaceiros desinquietos e violentos; porque não há pior peste que um mau vizinho (ANTONIL, 1982: 77-78) Enquanto exímio conhecedor do nordeste açucareiro, o que talvez tenha lhe favorecido à condução às posições de reitor do colégio da Bahia e provincial do Brasil, Antonil pensava como um bom administrador de engenhos. Muito astutamente alegava que tais critérios para uma boa compra direta eram imperativos para “evitar demandas e pleitos que são uma contínua desinquietação da alma e um contínuo sangrador de rios de dinheiro que vai a entrar na casa dos advogados” (ANTONIL, 1982:78).

Mais que justificável é a preocupação de Antonil quando de compras diretas. Contudo, se tal método era passível de equívocos, o que dizer então das tão conhecidasrelação das fazendas e terras da referida Companhia, na cidade do Maranhão, bem como lista de testemunhas”. A data do documento dista bastante do contexto do pleito, o que nos faz pensar que o denunciante ou lembrava ou tomava nota dele por via de outras pessoas. doações? Mais ainda: como os jesuítas agiam em brigas que envolviam outros herdeiros? Suas estratégias? Por vezes, dada a complexidade da embrulhada, eles simplesmente preferiam largar a demanda. Por exemplo, no século XVII, em São Luis do Maranhão, apesar de tantos esforços inacianos para manter o usufruto do engenho de Itapecurú, foi o próprio Pe. Antonio Vieira quem aconselhou o afastamento do Colégio da Luz em tal questão.

Todavia, graças a complexidade analítica que envolve a doação do engenho de Itapecurú, benesse que ocorreu no grave contexto da dominação holandesa em São Luis, ficará para outro artigo esse célebre caso. Por hora basta percebemos, por meio dos casos atrás ponderados, as estratégias que a Companhia empregava tanto na conquista de suas fazendas, quanto nos pleitos que as envolveram ainda no século VXII, início de seu apostolado no Estado do Maranhão e Grão Pará.

Bibliografia

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ANTONIL, André João [João Antônio Andreoni S.J.]. Cultura e opulência do Brasil. 3º ed. Belo Horizonte / São Paulo: Ed. Itatiaia/Ed. da Universidade de São Paulo, 1982.

BETTENDORFF, João Felipe, SJ. Crônica da missão dos Padres da Companhia de Jesus no Maranhão [1698]. Belém: SECULT, 1990. Fontes manuscritas Crônicas jesuíticas:

ARAÚJO, Domingos de, SJ. “Chronica da Companhia de Jesus da missam do Maranham”. 1720. Biblioteca Pública de Évora, códice CXV/2-11.

FONSECA, Bento da, SJ. “Apontamentos para a chronica da Companhia de Jesus no Maranhão”. Biblioteca Nacional de Portugal, Reservados, códice 4516.

Direção Geral dos Arquivos\Torre do Tombo – Cartório Jesuítico. (Portugal) MAÇO 82 Nº 17: “Confirmaçaõ de hua legoa de terra [p.r] o g.or Ign.co Coelho da Silva do Coll.o de N.a S. da Luz do Maranham &. que he a de Anindyba”.

Nº “Traslado das datas, e escripturas das terras do Coll.o de N.a S.a da Luz do Maranham” [Escritura da terra de São Marcos. 29 de maio de 1676]. Nº 31: “Sentença s.e a legoa de terra de Anhandiba, que antigam.te se chamava de Carnapijó”.

MAÇO 83: Nº 3: “2ª carta de Cismaria da terra de Anhindiba”.

MAÇO 86: Nº 129: “Sobre a fortaleza da barra na ilha de S. Marcos”. Nº 130: “Papel assinado pelo Engenheiro Manuel de Azevedo”.

Nº 131: “Traslado de documentos pedido pelo padre José Vidigal sobre a fortaleza”. Arquivo Histórico Ultramarino. Consultas do Maranhão.

Códice 274: “Com as cartas que escrevem o Governador e o engenheiro do Estado do Maranhão, sobre o estado em que se acha a fortaleza da ponta de João dias”. 2 de abril de 1691. Arquivo Histórico Ultramarino [AHU], f. 75. “Com as cartas que escrevem o Governador e o engenheiro do Estado do Maranhão, sobre o estado em que se acha a fortaleza da ponta de João dias”. 1691. ff.81-81v.

“Sobre o que escreve o Governador do Maranhão acerca da fortaleza da ponta de João Dias estar acabada, e guarnecida com peças de artilharia, e gente, e da necessidade para sua defença”. 28 de novembro de 1693. ff.96-96v. “O Governador e Capitão General do Estado do Maranhão e Provedor da Fazenda do Pará dão conta de se oferecerem os padres da Companhia a fazer a sua custa umas casas de pedra e cal para servirem de alfândega em que se despachem e recolham as fazendas”.

Maio de 1715, ff. 242-242v. “O Governador do Estado do Maranhão dá conta em que se acha a fortaleza da barra da cidade de São Luis e de ser conveniente mudasse para o sítio chamado de São Francisco, e vai a carta, e informação que se acusam [que inclui a decisão de 1716 em se fazer nova fortaleza]”. 17 de julho de 1717. ff. 247v-248. Instituto de Estudos Brasileiro/Universidade de São Paulo – Coleção Manuel Lamego.

Códice 43, nº 16: “Denúncia apresentada por João Gomes Pereira ao Provedor-Mor da Fazenda Real sobre irregularidades na aquisição de terras por parte dos padres da Companhia de Jesus. Acompanha-se a relação das fazendas e terras da referida Companhia, na cidade do Maranhão, bem como lista de testemunhas”.

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