All em revista volume 1 numero 1 março 2014

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

NÚMERO ATUAL - V. 1, N. 1 2014 ISSN SÃO LUIS – MARANHÃO - MARÇO – 2014


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ALL EM REVISTA

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras

COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Leopoldo Gil Dulcio Vaz Presidente Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Dilercy Aragão Adler Presidente Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler Leopoldo Gil Dulcio Vaz EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” . Art. 2º, do Estatuto Social. Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-se as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Estudo de Ana Luiza Almeida Ferro Para o Brasão da ALL

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ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR - Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1 2014 (janeiro/março) –

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ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo DIRETORIA PRESIDENTE

ROQUE PIRES MACATRÃO

VICE PRESIDENTE

DILERCY ARAGÃO ADLER

SECRETARIO GERAL

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

1º SECRETARIO

ÁLVARO URUBATAN MELO

2º SECRETARIO

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

1º TESOUREIRO

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

2º TESOUREIRO

CLORES HOLANDA SILVA

CLORES, CAMPOS, ANA LUIZA, DILERCY, MACATRÃO, ÁLVARO, LEOPOLDO CONSELHO FISCAL MEMBRO

ALDY MELLO DE ARAUJO

MEMBRO

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM

MEMBRO

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

CONSELHO DOS DECANOS

DECANO CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 WILSON PIRES FERRO - 30.07.1936 + 20.01.2014 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

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APRESENTAÇÃO A Academia Ludovicense de Letras – ALL – apresenta sua Revista, neste primeiro momento, eletrônica. A ideia é publicá-la trimestralmente - quatro edições ao ano. Esta primeira - v. 1, n. 1 - corresponde ao primeiro trimestre de 2014; Na sequencia da numeração - de 1 a 4 - correspondentes às edições dos trimestres – a sair em março, junho, setembro, e dezembro, de cada ano; quando se iniciará, então a sequencia dos Volumes... Somente agora, em dezembro, conseguimos aprovar o Estatuto e eleger a primeira Diretoria. Neste numero está contida nossa memória; as reuniões para a fundação, e outras mais para estabelecer os Fundadores, escolha dos Patronos e respectivas Cadeiras, elaborar o Estatuto, e eleger a primeira Diretoria... Nem bem regularizada, e já perdemos um dos idealizadores: o Prof. WILSON PIRES FERRO. Falecido em 20 de janeiro, após longa batalha contra um câncer, deixanos a certeza de que, afinal, não somos imortais... Neste número inaugural de nossa ALL EM REVISTA prestamos as honras devidas. Efetivamente iniciamos o fazer literário; nossos primeiros Membros Fundadores começam a cumprir o Calendário estabelecido, com os primeiros “ELOGIO AO PATRONO”; Os confrades Leopoldo e Álvaro se apresentaram em Janeiro; Aldy, em fevereiro. Mais ninguém, neste trimestre, previstas seis alocuções... Começamos a delinear as sessões que terá: “ALL NA MÍDIA” conterá as contribuições de nossos Membros – quando assim identificados – que aparecerem nas diversas mídias, em especial a impressa, replicadas, quando pertinentes, assim como notícias sobre a ALL. “CRONICAS, CONTOS & OPINIÕES” registra a contribuição efetiva da ALL no fazer literário, preferentemente inéditos, isto é, primeira publicação em nossa Revista – naturalmente que aqui caberão aqueles escritos aparecidos em redes sociais, como exemplo do Facebook. Quando tivermos palestras, ou eventos literários, as exposições daqueles que não pertencem à Academia, também terão guarida em nossa ALL em revista... Afinal, ela se destina a divulgação, difusão, registro, compartilhamento dos fazeres literário... Uma sessão dedicada somente à “POESIA”, haja vista que teremos o construir de uma Antologia a cada ano; Começamos pela homenagem ao nosso querido Wilson Ferro, com uma ‘apresentação’ da Dilercy quando de sua ultima participação em um evento poético, e as poesias de sua preferência, selecionadas pela sua filha, a Confreira Ana Luíza. Cotejamento e réplica de algumas poesias divulgadas via redes sociais facebook, de autoria de nossos membros... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR

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SUMÁRIO EXPEDIENTE DIRETORIA APRESENTAÇÃO SUMÁRIO CALENDÁRIO 2014 ICNOGRAFIA LEI Nº 4.916 DE 15 DE JANEIRO DE 2008 - INSTITUI A SEMANA MUNICIPAL DO LIVRO E DO AUTOR MARANHENSE, NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Prefeitura Municipal de São Luís IN MEMORIAM – WILSON PIRES FERRO OUTRAS PALAVRAS Dilercy Aragão Adler – Cadeira 8 HOMENAGEM PÓSTUMA A WILSON PIRES FERRO Ana Luiza Almeida Ferro – Cadeira 31 FALTA UMA ACADEMIA Wilson Pires Ferro – Cadeira 7 FALTAM ACADEMIAS Wilson Pires Ferro – Cadeira 7 ELOGIO AO PATRONO FRAN PAXECO – Cadeira 21 Leopoldo Gil Dulcio Vaz - Fundador DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – Cadeira 23 Álvaro Urubatan Melo - Fundador JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO – Cadeira 32 Aldy Mello de Araújo - Fundador ALL NA MÍDIA OUTONO EM NOVA YORK Antonio Augusto Ribeiro Brandão – Cadeira 4 SOBRE ESPORTE, FUTEBOL & LITERATURA – e os 150 anos de Coelho Neto Leopoldo Gil Dulcio Vaz – Cadeira 21 COPA DO MUNDO NO BRASIL - ENTRE PROTESTOS E COMEMORAÇÕES Antonio Noberto – Cadeira 1 CRONICAS, CONTOS, OPINIÕES NOVA ORDEM ECONÔMICA Antônio Augusto Ribeiro Brandão – Cadeira 4 CAMPO DE PERIZES OU DE PERIS? Antonio Noberto - Cadeira 1 LIÇÃO DE VIDA Aymoré de Castro Alvim – Cadeira 16

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4 6 7 9 10 12 13 18 19 24 26 28 29 57 72 83 85 92 104 112 113 115 116


POESIAS WILSON PIRES FERRO: um estudioso e grande amante das letras Dilercy Aragão Adler – Cadeira 8 POESIAS SELECIONADAS Wilson Pires Ferro – Cadeira 7 OS TEMPOS SÃO OUTROS Aymoré de Castro Alvim – Cadeira 16 O DIA ACABOU Clores Holanda Silva, Cadeira 30 DIA INTERNACIONAL DA MULHER - POESIAS Dilercy Aragão Adler – Cadeira 8

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ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS CALENDÁRIO DE ATIVIDADES 2014 MÊS

DIA 20 25

JANEIRO 31

FEVEREIRO

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MEMBRO FIM DE RECESSO REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Elogio ao Patrono ALVARO URUBATAN MELO - Elogio ao Patrono REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA ALDY MELLO DE ARAUJO - Elogio ao Patrono

LOCAL Cristo Rei – 09 hs Cristo Rei – 10 hs Palácio Cristo Rei – 18:30 hs Palácio Cristo Rei – 18:30 hs C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs C.C. ODYLO – 11 hs

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REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

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REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA AYMORÉ DE CASTRO ALVIM - Elogio ao Patrono SANATIEL PEREIRA - Elogio ao Patrono REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA JOÃO ERICEIRA – Elogio ao Patrono

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

MARÇO

ABRIL

31 MAIO

JUNHO

28

26 JULHO

REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Elogio ao Patrono

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C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs C.C. ODYLO – 11 hs C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS CALENDÁRIO DE ATIVIDADES 2014 10 30 AGOSTO

27 SETEMBRO

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FUNDAÇÃO DA ALL REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA ARQUIMEDES VIEGAS VALE - Elogio ao Patrono MICHEL HERBERTH - Elogio ao Patrono REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA SEMANA DE SÃO LUIS

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs CONGRESSO LITERATURA (?)

JOÃO FRANCISCO BATALHA - Elogio ao Patrono 25 OUTUBRO 22 29 NOVEMBRO

17 DEZEMBRO

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REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA FELIS (?) DILERCY ADLER - Elogio ao Patrono ANDRÉ GONZALEZ - Elogio ao Patrono REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA ANTONIO NOBERTO - Elogio ao Patrono ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - Elogio ao Patrono WILSON FERRO – IN MEMORIAM REUNIÃO DA DIRETORIA PLENÁRIA INICIO RECESSO FINAL DE ANO CLORES HOLANDA SILVA - Elogio ao Patrono

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C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs

C.C. ODYLO – 09 hs C.C. ODYLO – 10 hs


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PREFEITURA DE SÃO LUÍS SECRETARIA MUNICIPAL DE GOVERNO LEI Nº 4.916 DE 15 DE JANEIRO DE 2008 INSTITUI A SEMANA MUNICIPAL DO LIVRO E DO AUTOR MARANHENSE, NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. O PREFEITO DE SÃO LUÍS, Capital do Estado do Maranhão. Faço saber a todos os seus habitantes que a Câmara Municipal de São Luís decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º. Fica instituído, no Município de São Luís, Estado do Maranhão, a Semana Municipal do Livro e do Autor Maranhense, com o objetivo de promover, divulgar, integrar, os livros e seus autores maranhenses, contemporâneos ou não, com o público leitor, com ênfase aos jovens leitores nas escolas, e em outros locais da cidade. Art. 2º. A Semana Municipal do Livro e do Autor Maranhense acontecerá, anualmente, do segundo ao terceiro domingo, no mês de julho, e terá sua primeira versão no ano de 2008, devendo usar, antes da sua denominação, numeral ordinal para identificá-la, conforme o ano e sua realização. Art. 3º. Os estabelecimentos que comercializam livros de autores maranhenses em São Luís, em acordo com seus autores ou detentores de direitos autorais, deverão adotar preços promocionais para esses livros, durante a semana prevista no artigo 2º desta Lei, e divulgar essa promoção em suas dependências. Parágrafo único. Incluem-se entre esses estabelecimentos as livrarias de ruas, de shoppings, de centros comerciais, de supermercados, drogarias, farmácias, sebos, bancas de revistas e lojas de conveniências. Art. 4º. O Poder Executivo Municipal divulgará a Semana Municipal do Livro e do Autor Maranhense, incluindo-a no Calendário Cultural do Município, e, promoverá, através da Secretaria Municipal de Educação e da Fundação Municipal de Cultura, interação entre o aluno da escola municipal, livros e autores maranhenses, no ambiente da escola e em outros locais da cidade, onde estiverem acontecendo eventos comemorativos. Art. 5º. A programação de eventos da Semana Municipal do Livro e do Autor Maranhense será desenvolvida, conjuntamente, pela Fundação Municipal de Cultura, pela Secretaria Municipal de Educação, pela Academia Maranhense de Letras, pela União dos Livreiros de São Luís e pela União ou Associação dos Escritores Maranhenses. Art. 6º. O poder Executivo Municipal deverá incluir em sua previsão orçamentária para os exercícios subsequentes, a partir de 2008, recursos financeiros para realização da semana prevista no artigo 2º desta Lei, e para a compra de livros de autores maranhenses para acervo das bibliotecas municipais. Art. 7º. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 8º. Revogam-se as disposições em contrário.

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IN MEMORIAM

WILSON PIRES FERRO Coroatá, 30 de julho de 1936 – São Luís, 20 de janeiro de 2014 Nasceu a 30 de julho de 1936 em Coroatá, cidade maranhense. Possuía formação em Contabilidade, Bacharelado e Licenciatura em Geografia e História e pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento. Exerceu o magistério nos níveis médio e superior. Era professor aposentado da Universidade Federal do Maranhão, onde desempenhou os cargos de Coordenador do Curso de História, Chefe do Departamento de Geografia e História, Administrador do Campus Universitário, Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Diretor do Centro de Estudos Básicos (CEB). Foi Assessor perante o Gabinete do Reitor da UFMA (1983-1985). Era também aposentado do Banco do Brasil. Foi um dos idealizadores e fundadores da Academia Ludovicense de Letras – ALL.

Ocupou a Cadeira 7, tendo como Patrono Gonçalves Dias. Pertencia ao Conselho dos Decanos. No IHGM, foi indicado para ocupar a Cadeira 4, patroneada por Simão Estácio da Silveira.

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Escreveu “São Luís e Alcântara” (Florianópolis-SC, 1977); A educação e os desportos como indicadores do desenvolvimento de uma nação (Rio de Janeiro-RJ, 1983); Versos e anversos, em coautoria, obra que reúne poesias, entre as quais a série “Históricas”, desde o Descobrimento do Brasil até a sua Independência (Belo Horizonte-MG, 2002); Espelhos de São Luís, de artigos e crônicas (São Luís-MA, 2005); Depois que o Sol se põe, de contos para a juventude (São Luís-MA, 2007); Quando eu era pequenino, de histórias infantis (São Luís-MA, 2007); e Sombras da noite, igualmente de contos para a juventude (São Luís-MA, 2010). É também autor de vários artigos do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários (São Luís-MA, 2012), organizado por Antonio Noberto. Colaborou com os jornais Estado de Minas, O Imparcial e, sobretudo, O Estado do Maranhão, onde publicou artigos por vários anos. Foi agraciado com a medalha Comemorativa do Jubileu de Prata, da UFMA (1991), e a Comenda Gonçalves Dias (2013). Era associado da União Brasileira de Escritores (UBE). Faleceu em 20 de janeiro de 2014. OBRAS DO AUTOR

VERSOS E ANVERSOS1 São três livros em um só, porque escrito por três autores, e nele podem ser encontradas poesias de estilos variados. Há as de estilo antigo e as de feição mais contemporânea. Dedicado ao homem do campo, há o “Poema Caboclo” e, com inspiração em “Os Lusíadas”, há uma tentativa de narrar os principais eventos da História do Brasil, em homenagem aos 500 anos do Descobrimento. Temas distintos, como a natureza, a violência, o amor, a fugacidade da vida, o sonho, o culto à tradição, a criança abandonada, entre muitos outros, testemunham as andanças e vivências dos autores e compõem uma sinfonia inacabada, cujas notas afloram d’alma. ESPELHOS DE SÃO LUÍS2 Este livro pretende preencher uma lacuna, narrando os fatos da história ludovicense sem obedecer rigidamente à ordem cronológica tradicional. Compõe-se de artigos e crônicas, alguns deles escritos de forma recorrente, em face das polêmicas levantadas na 1 http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=970 2 http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=970

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imprensa, como a fundação da cidade de São Luís pelos franceses. Outro tema que mereceu maior atenção foi o dos bondes, pitorescos veículos que outrora circularam na cidade. Procura estabelecer comparação entre a cidade antiga (colonial e imperial), com seu casario de até três séculos de existência, e a moderna, com seus edifícios de muitos andares. Outros assuntos abordados foram as igrejas e conventos, as fontes, os palácios e paços, as praças, largos e parques, as ruas e becos, as lendas, mitos e mistérios, as revoltas e agitações, a imprensa, o ensino superior, os folguedos juninos, o relevo e o mar de São Luís, entre outros. DEPOIS QUE O SOL SE PÕE3 Trata-se de livro de contos para a juventude, em número de trinta e três, inspirados em sonhos, na experiência de vida, em acontecimentos ocorridos no âmbito da própria família, na violência do dia-a-dia, no testemunho de fatos verificados neste e em outros países, nas lutas político-religiosas que há mais de meio século travam judeus e palestinos, no drama vivido por brasileiros nas regiões áridas do Nordeste, nas lendas e superstições, nos mistérios do sobrenatural, mesclados com referências e recordações dos eventos passados, registrados na História. É depois que o Sol se põe que as pessoas realizam sua última refeição do dia e relaxam vendo um programa de televisão, um filme, ouvindo músicas, deleitando-se nas páginas de um romance, nos versos de uma poesia, reconfortantes para a alma, e na leitura instigante de um conto. É depois que o Sol se põe que a noite se apresenta, uma névoa escura cobre todo o firmamento, como um imenso cobertor, pontilhado de estrelas, e a Lua começa a emitir sua luz prateada. É depois que o Sol se põe que os casais se unem em seus ninhos de amor, que os namorados se encontram em ambientes acolhedores para extravasarem todo o seu romantismo. É, finalmente, depois que o Sol se põe que se formam os contos e acontecem os romances. QUANDO EU ERA PEQUENINO4 Cuida-se de livro ilustrado, direcionado ao público infantil, com histórias nas quais desfilam meninos travessos, alunos criativos, um bom velhinho, um príncipe e uma bruxa, um anão e um gigante, animais inspiradores, na melhor tradição de Esopo, como o macaco, o jabuti, a onça, o rato e a formiga, entre outros personagens fascinantes. As histórias parecem aflorar melodiosamente dos lábios de uma simpática avó, para embalar os sonhos do neto, na hora de dormir, sob o manto aconchegante da noite, com seus mistérios e fantasias... SOMBRAS DA NOITE5 Este livro reúne trinta e três contos, sendo concebido sob o signo das sombras que, nascendo da interceptação da luz, povoam a noite e a natureza humana, ziguezagueando pelas ruas com os bêbados, acompanhando os assassinos pelas estradas da vida, confundindo-se com os fantasmas, movendo ambições desmedidas, testemunhando, silenciosa e passivamente, grandes alegrias e tristezas humanas e, não menos relevante, inspirando a imaginação das almas sensíveis. Em meio a essas sombras, do coração ou 3 http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=970 4 http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=970 5 http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=970

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do asfalto, da mente ou do mato, debatem-se personagens tão diferentes entre si e, ao mesmo tempo, tão assemelhadas, pela sua própria condição humana - ou, eventualmente, sobre-humana -, como o Major José Cândido, os pichadores, o vigia apavorado, os assassinos de casais, os gêmeos palestinos, os três irmãos, o Zetiquirinha, entre outros de extensa galeria, e, é claro, os fantasmas, em busca de vingança ou de justiça ou, simplesmente, da felicidade de seus entes queridos. O sobrenatural, nesse contexto, é um elemento de reforço, e não de negação da realidade. É também um importante recurso estilístico de semeadura de mistério, na conhecida tradição de Edgar Allan Poe. SÃO LUÍS E ALCÂNTARA (Contribuição para um melhor conhecimento do patrimônio histórico e artístico, dignos de preservação). In: SIMPÓSIO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE HISTÓRIA, 9, 1977, Florianópolis. Anais do IX Simpósio Nacional da Associação dos Professores Universitários de História. O homem e a técnica. São Paulo: [ANPUH], 1979. v. 4, p. 1374. Respostas às intervenções dos simposistas. FRANÇA EQUINOCIAL PARA SEMPRE 6 Com o título França Equinocial, uma história de 400 anos em textos, imagens, transcrições e comentários, o livro traz textos dos pesquisadores Ana Luiza Almeida Ferro, José Claudio Santana, Wilson Pires Ferro, Vasco Mariz e do francês Lucien Provençal, além de Antonio Norberto.

6 FRANÇA E SÃO LUÍS EM EXPOSIÇÃO - Por Carla Melo, Publicado originalmente em O Estado do Maranhão – 15/08/2012

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IHGM - OCUPANTES DE CADEIRAS. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos (organizadores) – São Luís: IHGM, 2013. – 551 páginas – 2 VOLUMES CADEIRA 04 OCUPANTE ATUAL - CARLOS ALBERTO SANTOS RAMOS OCUPANTES Raimundo Clarindo Santiago

Alfredo Bena

Clodoaldo Cardoso

Wilson Pires Ferro

Maria dos R. B. C. Magalhães

PATRONO: SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA

WILSON PIRES FERRO - Por Ana Luiza Almeida Ferro Nasceu em Coroatá, Maranhão, em 30.07.1936, sendo filho de João Meireles Ferro e Isabel Pires Chaves Ferro. Possui formação em Contabilidade, Bacharelado e Licenciatura em Geografia e História e pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento. Exerceu o magistério nos níveis de ensino médio e superior. É Professor aposentado da Universidade Federal do Maranhão, onde desempenhou os cargos de Coordenador do Curso de História, Chefe do Departamento de Geografia e História, Administrador do Campus Universitário, Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Diretor do Centro de Estudos Básicos (CEB). Foi Assessor perante o Gabinete do Reitor da UFMA (1983-1985). É também aposentado do Banco do Brasil. Escreveu “São Luís e Alcântara” (Florianópolis, 1977); A educação e os desportos como indicadores do desenvolvimento de uma nação (Rio de Janeiro, 1983); Versos e anversos, em coautoria, obra que reúne poesias, entre as quais a série “Históricas”, desde o Descobrimento do Brasil até a sua Independência (Belo Horizonte, 2002); Espelhos de São Luís, de artigos e crônicas (São Luís, 2005); Depois que o Sol se põe, de contos para a juventude (São Luís, 2007); Quando eu era pequenino, de histórias infantis (São Luís, 2007); e Sombras da noite, igualmente de contos para a juventude (São Luís, 2010). É um dos autores do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários (São Luís, 2012), organizado por Antonio Noberto. Colaborou com os jornais O Imparcial e Estado de Minas e atualmente escreve artigos para O Estado do Maranhão. Foi agraciado com a medalha Comemorativa do Jubileu de Prata, da UFMA (1991). É membro da União Brasileira de Escritores – UBE. Contribuição na Revista do IHGM FERRO, WILSON PIRES. SÃO LUÍS, HERDEIRA DA FRANÇA EQUINOCIAL. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 137. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012

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OUTRAS PALAVRAS Prezados e Prezadas, Estou sentindo muito o falecimento do nosso querido confrade Wilson Ferro. Nos últimos meses do ano passado, estreitamos as nossas relações, juntamente com a Ana Luiza Ferro, sua filha. Ele foi um participante atuante dos eventos do Liceo Poético de Benidorm- Espanha, Delegação do Maranhão. A partir do seu artigo sobre a “necessidade de mais Academias”, é que pensei em colocar dentro da Programação dos “Mil poemas para Gonçalves Dias”, a criação da Academia Ludovicense de Letras-ALL, à qual muitos outros foram aderindo. Nos primeiros dias, discutimos várias questões prévias, inclusive sobre o nome da Casa, que ele tinha proposto Mário Meireles e eu, como tinha recentemente entrado em contato com a história e a obra de Maria Firmina dos Reis argumentava que era a hora de uma mulher, ainda mais por ser mulata e “bastarda” (como diz a sua biografia) ser agraciada com essa honraria e a apresentava como candidata. Ele, muito gentilmente, cedeu às minhas argumentações, sem demonstrar qualquer traço de insatisfação. E assim, já levamos a proposta para aprovação dos demais membros da comissão. Do pouco que convivi com ele, o vi como alguém que sabe trabalhar em grupo, tanto atuando ativamente, com paixão, como cedendo em momentos polêmicos. Ele batalhou muito por nossa ALL nos meandros da sua criação. E, dentre seus trabalhos, uma pesquisa consistente sobre os candidatos a Patronos: foi aberta a indicação para quem quisesse, antes da relação e pesquisa feitas por ele. Poucos indicaram, creio que além do confrade Leopoldo, poucos fizeram indicações. No dia da votação, alguns confrades quiseram acrescentar nomes, o que foi aceito, e a votação aconteceu num clima tranquilo e caloroso. Ele fazia, argumentava, ouvia e cedia quando necessário. Que o seu exemplo sirva para todos nós como firme referência. Lamento muito a sua ausência corpórea na nossa Casa, embora ele já seja duplamente imortal (ALL e IHGM) e conviverá conosco espiritualmente e o seu trabalho na Casa de Maria Firmina dos Reis, nossa Casa, está firmado, de modo que jamais será esquecido! Rendo a ele esta homenagem de todo o meu coração e que Deus o tenha em sua magnanimidade e dê conforto aos seus familiares. Com afeto, Dilercy Adler (Vice-Presidente da ALL)

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HOMENAGEM PÓSTUMA A WILSON PIRES FERRO7

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti John Donne. A 20 de janeiro deste ano, após 77 anos de navegação pelos mares, ocasionalmente serenos, frequentemente bravios, da vida terrena, o historiador, escritor, poeta, professor universitário e bancário aposentado Wilson Pires Ferro, que tantas vezes seguira para desbravar terras e países longínquos, do Nepal à Noruega, da China ao Canadá, embarcou em uma nau especial, guiada pela mão divina, para a sua derradeira viagem, rumo à eternidade. Sua figura permanecerá indelével na lembrança daqueles que com ele labutaram nas trincheiras do magistério e do mister bancário; dos membros da Academia Ludovicense de Letras (ALL), fundada em 10 de agosto do ano pretérito, da qual ele foi um dos idealizadores e fundadores; dos que algum dia ou por muito tempo tiveram o privilégio de privar de sua honestidade, de sua sinceridade, de sua lealdade, de sua inteligência, de seu amor pela vida e pela sua família; de seus ex-alunos, testemunhas de sua paixão pela História; de seus numerosos leitores, seja de seus poemas, seja de seus artigos, seja de seus contos para a juventude, seja de suas histórias infantis; enfim, e sobretudo, de sua família, por suas excepcionais virtudes como esposo, pai e irmão, dentre outras. Oficialmente, ele nasceu em Coroatá, no dia 30 de julho de 1936, em uma família humilde, capitaneada pelo ferroviário João Meireles Ferro e pela dona de casa Isabel Pires Chaves Ferro. Há, entretanto, a informação de que era, na verdade, filho de Codó. Era o mais velho dos seis filhos sobreviventes do casal caxiense, já que outros quatro 7 Elogio feito por sua filha Ana Luiza na Missa de 7º Dia, Igreja do São Francisco, 10 h.

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pereceram ainda infantes. Não teve brinquedos prontos em sua infância; ele próprio os fazia, pela falta de condições econômicas da família. Dos pais herdou, entre outros traços de personalidade, a notável integridade e a grande dedicação aos seus. A profissão do pai imprimiu-lhe na alma a fascinação pelos trens, mais tarde estendida aos bondes. Esta estrofe do poema “Ode a São Luís” atesta essa sua preferência: “Destes, só lembranças passadas,/quando o futuro parecia alvissareiro,/os trilhos sob as ruas asfaltadas,/hoje nem bonde nem passageiro.” Após a morte do pai, assumiu, ainda jovem, o timão da família, em apoio à mãe, cuidando zelosamente de concluir o encaminhamento dos irmãos pela vida, os quais se formariam todos: José Ribamar, Waldemar, Mário, Salvador e Gracinha. Filho exemplar, venerava a mãe, matriarca de inúmeras qualidades, o que está especialmente refletido no seu poema “Mãe-Bela”: Quando menino eu te chamava de Mãe-Bela, mas Bela... bela é a tua história, sorriso meigo, inocência no olhar, mente cansada, já ofusca a tua memória. Sofrimentos, privações então passaste, não esqueço, recordo a todo instante, para ter os filhos bem formados, tua luta sempre foi uma constante. [...] Nas doenças acometidas na infância, não raras noites, indormidas, tu passavas, junto ao meu leito velavas, muito aflita, melhor remédio era o carinho que me davas. Latas d'água carregavas na cabeça, longe para suprir nosso sustento, as cidades cada qual a mais carente, escassez de água, luz e alimento. [...] Quando exalares o teu último suspiro, teus olhos se fecharem em sono profundo, quero fitar-te, bem fixar a tua imagem, escolher-te minha mãe em outro mundo.

Em São Luís, encontrou na figura de um parente ilustre um segundo pai: o historiador Mário Meireles. Estudou na então Escola Técnica. Foi auxiliar de escritório da extinta Casa Bancária Francisco Aguiar Ltda. Possuía formação em Contabilidade, Bacharelado e Licenciatura em Geografia e História e pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento. Exerceu o magistério nos níveis de ensino médio e superior. Era professor aposentado da Universidade Federal do Maranhão, onde desempenhou os cargos de Coordenador do Curso de História, Chefe do Departamento de Geografia e História, Administrador do Campus Universitário, Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Diretor do Centro de Estudos Básicos (CEB). Foi Assessor perante o Gabinete do Reitor da UFMA (1983-1985). Era também aposentado do Banco do Brasil. Amante das letras, cultor do saber, deixou uma rica e variada bibliografia. Escreveu “São Luís e Alcântara” (Florianópolis, 1977); A educação e os desportos como indicadores do desenvolvimento de uma nação (Rio de Janeiro, 1983); Versos e

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anversos, em coautoria, obra que reúne poesias, entre as quais a série “Históricas”, desde o Descobrimento do Brasil até a sua Independência (Belo Horizonte, 2002); Espelhos de São Luís, de artigos e crônicas (São Luís, 2005); Depois que o Sol se põe, de contos para a juventude (São Luís, 2007); Quando eu era pequenino, de histórias infantis (São Luís, 2007); e Sombras da noite, igualmente de contos para a juventude (São Luís, 2010). Também concluiu os originais de seu terceiro livro de contos, ainda inédito. É um dos autores do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários (São Luís, 2012), organizado por Antonio Noberto. Foi, aliás, um ferrenho defensor da atribuição da fundação de São Luís aos gauleses. Por curiosidade, registro que ele foi professor do Colégio Batista Daniel de la Touche. Colaborou, por meio de artigos sobre diversos assuntos, muitos dos quais sobre a História de São Luís e do Maranhão, com os jornais Estado de Minas, O Imparcial e, amiudamente, O Estado do Maranhão. Foi agraciado com a medalha Comemorativa do Jubileu de Prata, da UFMA (1991), e a Comenda Gonçalves Dias (2013). Era membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, ocupando a Cadeira nº 7, patroneada por Gonçalves Dias, como antes o seu mentor Mário Meireles ocupara a Cadeira nº 9 da Academia Maranhense de Letras, tendo o mesmo insigne vate como patrono. Era, ainda, membro da União Brasileira de Escritores – UBE. Apreciava a arte da declamação e os saraus de poesias. Conquistou o primeiro e o terceiro lugar no II Concurso Literário da AAUFMA, respectivamente com as poesias “A França Equinocial em versos” e “São Luís quatrocentona”. Cantar a cidade de São Luís era, a propósito, um de seus temas favoritos: “Extensas praias, sol e maresias,/povo alegre, sofrido, mas feliz,/cantores ensaiam melodias,/gorjeiam sabiás e bem-tevis,/poetas declamam poesias,/hinos de louvor a São Luís” (Versos e anversos, “Ode a São Luís”) Mesmo fragilizado pelo câncer, participou das duas edições da leitura poética global promovida pelo Liceo Poético de Benidorm, da Espanha, na capital maranhense, em 2013. Era um homem de posições firmes e coerentes, de caráter irreprochável, leal, solidário, sábio e inteligente. Não se preocupava em ser politicamente correto; preferia ser simplesmente ético e professar opiniões que representassem fidedignamente os seus elevados padrões morais e as suas convicções. Assim, defendia a família e o casamento tradicionais, o sistema de mérito, o Estado de Israel, a História factual, a luta empreendida pelo regime militar no Brasil contra a implantação do comunismo, que ele tanto abominava. Não tinha vergonha de se colocar mais à direita do espectro político. Horrorizavam-lhe a deterioração dos valores, a disseminação da corrupção e a cultura de permissividade e impunidade no país, o crescimento da violência e o culto à personalidade, de inspiração stalinista. Também propugnava pela justiça social, mas não acreditava no assistencialismo como meio para promovê-la. Era um homem justo, com fome e sede de justiça, como pede o Sermão da Montanha. Jamais conheci alguém mais honesto do que ele. Não era perfeito, e nem poderia sê-lo, como qualquer ser humano, mas foi sempre um farol a iluminar a vida de seus familiares e amigos. Seu título maior não estava nas obras que publicou, nem na cadeira que ocupou na Academia Ludovicense de Letras. Seu maior título não era o de historiador, nem o de contista, nem o de poeta, ou tampouco o de Acadêmico, mas sim o de professor, dos que foram e dos que não foram seus alunos, professor de uma vida coerente, proba e laboriosa, professor de uma rica história profissional e pessoal. No campo profissional, lecionou na universidade, por exemplo, as disciplinas Teoria da História, História do Brasil, Sociologia da Educação, História Medieval, História Antiga, História da Cultura,

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História Política e Socioeconômica, História Antiga e Medieval, História Moderna e Contemporânea e Estudos de Problemas Brasileiros. Nem sempre usufruiu o devido reconhecimento como um dos pioneiros da Universidade Federal do Maranhão, antes Universidade do Maranhão, e homem destacado das letras ludovicenses, mas sempre fez por merecer o que lhe foi reconhecido. Fazia de tudo um pouco em casa. Era um homem verdadeiramente prendado: um pouco eletricista, um pouco carpinteiro, um pouco pintor, um pouco jardineiro. Era ele quem armava a Árvore de Natal todos os anos. Ela ainda está bonita como ele a deixou. Era ele quem originalmente cuidava do pequeno jardim do apartamento, antes de a doença limitar-lhe as atividades. Seus belos quadros em tapeçaria decoram as paredes de nosso apartamento. Devoto de Nossa Senhora chamava carinhosamente a sua dileta esposa, Eunice, minha mãe, de Rainha, com quem adentrou com galhardia os férteis campos das Bodas de Ouro. Eu era a sua Princesa, o seu filhote, a sua ararinha azul e, confesso, aquele apelido de que eu menos gostava, a sua curica. Meu leãozinho querido, se outras vidas eu tivesse, escolher-te-ia sempre, se me fosse dado o privilégio, como meu pai, meu paiotão. Foste, para mim, a personificação do que significa ser pai, o melhor pai que uma filha poderia desejar; foste e serás sempre o meu melhor amigo; eras o meu último revisor e o meu primeiro leitor e maior incentivador. Apresentaste-me ao deslumbrante mundo dos livros, especialmente os clássicos. Ora recorro ao que eu disse no discurso de posse na Cadeira nº 36 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 26 de agosto de 2011, na parte dos agradecimentos: Aos meus pais, Wilson Pires Ferro e Eunice Graça Marcília Almeida Ferro, meus eternos anjos da guarda, meus mestres de todas as horas, que não me deixam perder o leme ou soçobrar e que me deram asas para voar e tentar repetir o voo de Dédalo: nem tão perto do mar, que me faça negligenciar a grandeza e as alturas do sonho; nem tão perto do sol, que me faça olvidar as águas frias da realidade e a pequenez da condição humana. Vós sois o meu Velo de Ouro, o meu Santo Graal, o meu tesouro inesgotável de certezas, amor, carinho, apoio e orientações, em meio às incertezas da vida. Vós sois os meus heróis, os meus oráculos, em uma época de falsos profetas e falsos deuses.

Por quem os sinos dobram? Eles dobram por minha mãe e por mim, que perdemos, respectivamente, um esposo dedicado e um companheiro de toda uma vida e um pai amoroso e o maior amigo; eles dobram por meus tios Waldemar, Mário, Salvador e Gracinha, que perderam um irmão deveras devotado à família; eles dobram por seus familiares em geral e por seus amigos, que não mais poderão usufruir a sua companhia. A tua morte, pai, nos diminui a todos. Fica uma imensa saudade. Mas essa perda, pai, é efêmera. Tua nau partiu e atingiste o porto seguro dos domínios divinos: Numa visão infinita, num ponto muito distante, o encontro do céu com o mar, é a linha do horizonte. Longe, sobre as águas, deslizando vem ligeiro, rompendo vagas e ondas, um barco com seu remeiro (Versos e anversos, “A praia”).

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Habitas agora a terra dos poetas e dos sonhadores, estás na companhia de meus avós João e Isabel e do Professor Mário Meireles, teu mentor. Deus te abrigará para sempre das dores da vida. Um dia, todos nós faremos a mesma viagem para além do horizonte terreno. Até lá, estarás vivo em nossos corações, nos livros que escreveste, nos exemplos de vida que deste. Lembremos da lição do poeta Henry Longfellow: “As vidas dos grandes homens lembram-nos/Que podemos tornar sublimes nossa vidas,/E, ao partirmos, deixar atrás de nós/Pegadas nas areias do tempo.” Footprints on the sands of time. Nossos agradecimentos a todos os familiares e amigos aqui presentes. Obrigada, Senhor, pelo privilégio de ter Wilson Pires Ferro como meu pai. Ana Luiza Almeida Ferro

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FALTA UMA ACADEMIA WILSON PIRES FERRO Artigo publicado em 2012 no jornal O Estado do Maranhão.

Nos dias atuais, conquanto queiramos afirmar que o Maranhão não venha apresentando um crescimento socioeconômico compatível com o seu potencial – configurando um quadro ainda preocupante, assim considerando os vergonhosos indicadores apresentados nos campos da educação, da saúde, com a carência de leitos hospitalares e a precária estrutura sanitária como um todo, do tratamento das vias públicas e do transporte para o povo, do patrimônio histórico e artístico, que é valioso –, o mesmo não podemos dizer em relação ao seu desenvolvimento cultural. É bem verdade que o estado ainda não atingiu o destaque cultural do passado, quando tivemos Gonçalves Dias, Coelho Neto, Viriato Correia, Aluízio e Artur Azevedo, dentre outros proeminentes vultos de nossas letras, todavia, vem apresentando um promissor crescimento literário, o que pode ser atestado com a quantidade de autores e de obras publicadas a cada ano, apesar de não contarem com o apoio necessário das autoridades governamentais. Exemplos dignificantes são os êxitos alcançados pelos eventos culturais realizados periodicamente nesta capital São Luís e em cidades do interior do estado. Animado e motivado por esse movimento de Renascimento Literário que vive o Maranhão, um elenco apreciável de munícipes criou entidades com a missão precípua de difundir a cultura nas comunidades interioranas, e, mercê desse esforço, já podemos sentir o desempenho e a contribuição das Academias de Letras de Caxias, São Bento, Viana, Brejo, Imperatriz, dentre outras, com destaque para a da primeira cidade, a da Princesa do Sertão. Em um censo realizado em 1910, dois anos após a criação da Academia Maranhense de Letras, em 10.08.1908, data do 85º aniversário do maior poeta da terra, Antônio Gonçalves Dias, a cidade contava com cerca de 44.268 habitantes. Decorrido, portanto, mais de um século de criação da mencionada entidade cultural, que, na teoria, contempla os vultos literários do estado, esta se tornou pequena para acolher tantos talentos. Acrescentemos também que a nossa cidade, apresentando, hoje, mais de um milhão de habitantes, com maior expressão cultural em relação às outras cidades do estado, não dispõe de sua academia de letras. Ao ensejo da efeméride da passagem dos quatro séculos de sua fundação, tomamos a liberdade de sugerir ao Exmo. Senhor Prefeito Municipal João Castelo e à nossa Câmara Municipal o incentivo à criação da nossa Academia Ludovicense de Letras (ALL ou ALULE), como poderia ser oficialmente chamada, ou mesmo de uma entidade de maior abrangência cultural, que contemplasse talentos de maior expressão no campo das ciências, artes e letras – a Academia Ludovicense de Ciências, Artes e Letras (ALCAL) ou a Academia Ludovicense de Artes, Letras e Ciências (ALALC). Tomaria ainda a liberdade de sugerir, para presidente da entidade que viesse a ser criada, o nome de Antonio Noberto, competente historiador, pesquisador e turismólogo, pelo seu talento, coragem e determinação, qualidades demonstradas na organização da Exposição França Equinocial para Sempre, aberta no dia 15 de agosto, no Palácio Cristo Rei, e no lançamento do livro França Equinocial. Outros nomes ligados à literatura maranhense, como Bento Moreira Lima, José Neres, Luís Bulcão, Nauro

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Machado, Arlete Nogueira, apenas a título exemplificativo, também seriam bemsucedidos e teriam os nossos aplausos na honrosa missão de dar forma à instituição cultural. A sede da entidade poderia ser em um dos casarões antigos localizados no centro histórico da cidade. A nossa querida São Luís e seus munícipes muito agradeceriam pelo presente de 400 anos de fundação da cidade.

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FALTAM ACADEMIAS WILSON PIRES FERRO Artigo publicado em 24 de janeiro de 2013 no jornal O Estado do Maranhão.

Nos dias atuais, conquanto o Maranhão ainda não haja atingido um nível de crescimento socioeconômico compatível com a sua história, as suas tradições e o seu potencial, particularmente nos campos da educação, saúde, transportes e preservação do patrimônio histórico e artístico, o mesmo não podemos dizer em relação ao seu desenvolvimento cultural. É bem verdade que ainda não alcançou o destaque cultural do passado, quando tivemos Gonçalves Dias, Coelho Neto, Viriato Correia, Aluísio e Artur Azevedo, dentre outros proeminentes vultos de nossas letras, todavia, vem exibindo um promissor crescimento literário, o que pode ser atestado com a quantidade de autores e de obras publicadas a cada ano, apesar de não contarem com o apoio necessário do Poder Público. Exemplos dignificantes são os êxitos alcançados pelos eventos culturais realizados periodicamente nesta capital São Luís e em cidades do interior do estado. Animado e motivado por esse movimento de Renascimento Literário que vive o Maranhão, um elenco apreciável de munícipes criou entidades com a missão precípua de difundir a cultura nas comunidades interioranas, e, mercê desse esforço, já podemos sentir o desempenho e a contribuição das Academias de Letras de Caxias, São Bento, Viana, Brejo, Pinheiro e Imperatriz, dentre outras, com destaque para a da primeira cidade, a da Princesa do Sertão. Entretanto, não entendemos o motivo pelo qual cidades como Coroatá e Codó, apenas como exemplo, que ostentam um desenvolvimento sociocultural mais dinâmico do que alguns municípios que já dispõem de suas academias, ainda não se motivaram para também criar as suas. Acreditamos que tais entidades culturais teriam também o mérito de contribuir para um maior desempenho do setor educacional. Da mesma forma, não entendemos o que acontece com a nossa São Luís, outrora cognominada Atenas Brasileira. Em um censo realizado em 1910, dois anos após a criação da Academia Maranhense de Letras, em 10.08.1908, data do 85º aniversário do maior poeta da terra, Antônio Gonçalves Dias, a cidade contava com cerca de 44.268 habitantes e nenhuma instituição de ensino superior, visto que as Faculdades de Direito e de Odontologia só surgiriam em 1918 e 1922, respectivamente. Decorrido, portanto, mais de um século de criação da mencionada entidade cultural, que, na teoria, contempla os vultos literários do estado, esta se tornou pequena para acolher tantos talentos. Acrescentemos também que a nossa cidade, contando, hoje, com mais de um milhão de habitantes, quando se multiplicam as universidades, as unidades isoladas de ensino superior e os cursos de letras, todos grandes propulsores da produção do conhecimento e do saber, formadores de mentes, portanto com maior expressão cultural em relação às outras cidades do estado, não dispõe de sua academia de letras ou de uma instituição própria que abrigue talentos nas ciências e nas artes.

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Ao ensejo da efeméride da passagem dos quatro séculos de fundação de nossa cidade pelos franceses, ainda recente, tomamos a liberdade de sugerir às nossas autoridades municipais e aos vultos literários de nossa terra, que são muitos, que desfraldem a bandeira da criação da nossa Academia Ludovicense de Letras (ALL ou ALULE), ou mesmo de uma entidade de maior abrangência cultural que contemplasse talentos também das ciências e artes, a qual poderia denominar-se Academia Ludovicense de Ciências, Artes e Letras (ALCAL) ou Academia Ludovicense de Artes, Letras e Ciências (ALALC). Temos absoluta certeza de que não faltarão talentos para preencher os quadros da excelsa instituição que fosse criada. Apenas como um exercício de divagação, poderíamos lembrar os nomes de Bento Moreira Lima, José Neres, Antônio Noberto, Sebastião Jorge, Fernando Braga, Luís Augusto Cassas, Nauro Machado, Raimundo Viana, Antônio Augusto Brandão, Luís Bulcão, Arlete Nogueira da Cruz, Ana Luiza Ferro, Maria Thereza de Azevêdo Neves, Lenita Sá, Aurora Almeida, Dilercy Adler, dentre outros que passam pela memória, todos detentores de invulgar competência cultural, que dignificariam qualquer entidade que viesse a ser criada. A instituição que viesse a ser criada poderia ser Casa de Mário Meireles e a sua sede poderia ser em um dos casarões antigos localizados no Centro Histórico da cidade. A nossa querida São Luís e os seus munícipes muito agradeceriam. Talvez fosse o presente mais significativo que a cidade receberia nos seus 400 anos de fundação. Mesmo com um pouco de atraso, porém ainda em tempo.

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ELOGIO AO PATRONO

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ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA 21

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MANUEL FRAN PAXECO 9

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FUNDADOR É de praxe fazer-se o Elogio ao Patrono quando se ingressa em uma instituição cultural ou mesmo científica. Não fugimos à regra. Ao assumir a cadeira 21 da Academia Ludovicense de Letras – ALL, da qual sou fundador – escolhi Fran Paxeco dentre os nomes disponíveis; cabe prestar-lhes as homenagens devidas.

8 Fonte: VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXCO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. 9 Pronunciamento feito no dia 31 de janeiro de 2014, no Palácio Cristo Rei, em sessão Plenária Extraordinária Pública

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Mas o que dizer do biografado? Vieira da Luz (1957) 10 já quase que esgotou o assunto; Itapary Filho11 avançou muito nas lacunas que ficaram especialmente da infância deste ilustre português. Eu mesmo me ocupei de meu Patrono em alguns escritos, apresentados no IHGM e em alguns eventos científicos dedicados a educação no Maranhão, recentemente12. Da chegada de Fran Paxeco ao Maranhão, Humberto de Campos faz referencia em sua obra “Memórias Inacabadas”13: Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária. [...] Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol. O diretor de uma das folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido oficial, reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos trabalhos de alistamento eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de defunto. O comércio era quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em Lisboa. As vantagens que ele trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam, aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos superiores fora do Estado, saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado era, todo ele, nervos e cérebro. Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração, até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo.

10 VIEIRA DA LUZ, 1957, obra citada. 11 ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10 de outubro de 2008. 12 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. PALESTRA proferida no Ciclo de Estudos e Debates do IHGM no dia 20 de fevereiro de 2013. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 44, março de 2013, p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44_-_mar_o_2013 RESUMO - Registra-se a participação de Fran Paxeco na introdução da Educação Física no Maranhão, nos primeiros anos do Século XX. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. In VII EPCECEN – Encontro Pedagógico do CECEN: Multidimensionalidade da prática docente. São Luis, 3 a 5 de setembro de 2013. Anais... São Luis, UEMA, apresentação de trabalhos de pesquisa – 04/09/2013 – Ciências Humanas e Sociais – Interdisciplinar. 13 CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Géia, 2009. SAMUEL, Rogel. Fran Paxeco segundo Humberto de Campos. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011, disponível em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos, entre-textos, 86963. html

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Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão; de Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado14, para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos, o de secretário particular do Presidente da República, o mesmo Bernardino Machado, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914). A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro. Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Como cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa. No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática, onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais sairia. É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer. 1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e, paralítico, perde as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era. Seu nome se encontra presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo.

14 Bernardino Luís Machado Guimarães (Rio de Janeiro, 28 de março de 1851 — Famalicão, 29 de abril de 1944). Recebeu no baptismo o nome próprio do avô materno, Bernardino de Sousa Guimarães, capitalista estabelecido em terras brasileiras. Passou a infância no Brasil até aos nove anos, quando a família se estabeleceu em Joane, concelho de Famalicão. Em 1866 inscreveu-se na Universidade de Coimbra, em Matemática, tendo optado depois por Filosofia. Foi um brilhante aluno, tendo-se doutorado em Coimbra, onde foi professor. Em 1872 atingiu a maioridade e optou pela nacionalidade portuguesa. Foi presidente da República Portuguesa por duas vezes. Primeiro, de 6 de agosto de 1915 até 5 de dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, obrigando-o a abandonar o país. Mais tarde, em 1925, volta à presidência da República para, um ano depois, voltar a ser destituído pela revolução militar de 28 de maio de 1926, que instiuirá a Ditadura Militar e abrirá caminho à instauração do Estado Novo. Primeiro Ministro dos Negócios Estrangeiros da República, de 5 de outubro de 1910 até 3 de setembro de 1911 e o primeiro Embaixador de Portugal no Brasil (1913). Foi duas vezes presidente do Ministério, de 9 de Fevereiro até 12 de Dezembro de 1914, e desde 2 de Março até 23 de Maio de 1921. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Machado

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A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome 15. É uma área compreendida entre a rua do Trapiche (Rua Portugal), o Beco da Fluvial (Travessa Boa Ventura) e a Feira da Praia Grande, tendo surgido a partir do aterramento do pântano outrora existente no local e onde foi erguida a Casa das Tulhas (Feira da Praia Grande). Situa-se no centro nervoso da antiga área comercial da cidade. Em suas proximidades ocorreram as primeiras reuniões dos comerciantes que, mais tarde, constituíram a Associação Comercial do Maranhão, uma das mais antigas do Brasil. Em 28 de janeiro de 1953, teve seu nome mudado para Praça Fran Paxeco, em homenagem ao cônsul português no Maranhão e um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras. Descaracterizada ao longo dos anos, com a implantação do Projeto Reviver foi recuperada em seu traçado original, inclusive contando com arborização e bancos de pedras de cantaria. Permanece conhecida por seu nome original (Praça do Comércio). Hoje, a maior parte dela, é um grande estacionamento localizado na Praia Grande (Projeto Reviver) (grifos meu)16.

Em correspondência eletrônica – datada de 13 de dezembro de 2013 - sua neta, Dra. Rosa Machado, informa, lá de Portugal, o seguinte: Não me tenho lembrado de comentar: sobre a placa de bronze que estava na Praça Fran Paxeco, que entretanto voltou ao nome antigo (será por causa da falta da placa???), disseram-me que está guardada numa casa lá na Praça. Seria interessante encontrar a placa e depositá-la num Museu, ou na Fundação do Convento das Mercês, já que a cidade nada faz por voltar a dar o nome à Praça. Se eu não tivesse ido a São Luís, continuaria convencida que a Praça tinha o nome de Fran Paxeco....

15 http://wikimapia.org/10070131/pt/Pra%C3%A7a-do-Com%C3%A9rcio-Reviver 16 Praça do Comércio - Praça de muitas histórias. Segundo os pesquisadores, no ano de 1868, comerciantes da Praia Grande fizeram da praça um palco de grande confusão. Muitas pessoas foram presas sob suspeita de uso de cédulas falsas no comércio. Conhecida como Largo do Comercio, esta praça é portal de entrada do centro histórico de São Luis para quem chega por mar ou por terra. Também recebeu vários nomes como Fran Paxeco e Praia Grande. Como centro do comércio local, a Praia Grande em São Luis, durante os século XVIII e XIX, quando a cultura do algodão era o motor do desenvolvimento da cidade, colocando a cidade em contato permanente com a Europa. Aqui também se mantinha o comércio de escravos oriundos da África, para atuarem na lavoura do algodão e em serviços domésticos. Porém a partir da década de 30 houve redução da atividade econômica e outras opções de mercado surgiam com tecnologias mais avanças e crescia a infraestrutura de estradas e industrial em outras regiões do país. Mesmo com a decadência, permanecera, seus casarões intactos e com toda sua baliza arquitetônica, em estilo colonial português, fachadas revestidas de azulejos, pedra de cantaria. http://nossomaranhao.wordpress.com/2010/01/23/historias-dos-nomes-das-ruas-e-pracasde-sao-luis-parte-ii/

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Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes.

Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal17. Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos. Pertenceu a várias Associações Científicas: Sociedade de Geografia de Lisboa; Sócio correspondente, admitido em 1 de Fevereiro de 1897. Academia Maranhense de Letras, de que foi sócio fundador; Academia Alagoana de Letras; (sócio correspondente); Academia Piauiense de Letras; (sócio correspondente); Société Académique d'Histoire Internationale; Medalha de Ouro. Paris, 27 de Junho de 1912. Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano; Sócio correspondente, eleito em 24 de Novembro de 1913. Academia de Ciências de Portugal; (sócio correspondente) eleito em 13 de Janeiro de 1915. Associação de Imprensa do Amazonas; Associação de Imprensa do Pará; Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (São Paulo); Grémio Literário e Comercial Português, hoje, Grêmio Literário e Recreativo Português, Belém do Pará; Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Sócio Honorário,eleito em 12 de Maio de 1920. Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Sócio correspondente, investido em 20 de Novembro de 1925. 17 http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php

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Liga Portuguesa de Repatriação; Belém do Pará: Sócio Benemérito, eleito em 26 de Junho de 1925. Sociedade Portuguesa Beneficente; Belém do Pará: Sócio Benfeitor, eleito em 26 de Março de 1925. Associação Dramática Recreativa e Beneficente; Belém do Pará: Sócio Beneficente, eleito em 5 de Julho de 1927. Instituto Histórico de Pernambuco; Instituto Histórico do Piauí; Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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Quero registrar que o nome oficial do Patrono desta Cadeira 21 é “MANUEL FRAN PAXECO” 18, conforme Diário do Governo no. 268, de 25 de novembro de 1905. Informação prestada por sua neta, a Dra. Rosa Machado em correspondência eletrônica particular...

Também recebemos da Sra. Rosa Machado, de Portugal, uma cópia de diploma dada a seu avô, o cônsul de Portugal no Maranhão, Fran Paxeco19, o que nos suscitou

18 O nome Manuel Francisco Pacheco foi alterado oficialmente para Manuel Fran Paxeco (Cf. o Diário do Governo n.º 268, de 25 de Novembro de 1905). In CARVALHO, Marcos Antônio de. BEBENDO AÇAI, COMENDO BACALHAU: PERFIL E PRÁTICAS DA SOCIABILIDADE LUSA EM BELÉM DO PARÁ ENTRE FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Tese de doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto como requisito para obtenção do título de Doutor em História. Orientação: Profa. Doutora Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. 2011. http://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/63200/2/TESEDOUTMARCOSCARVALHO000161479.pdf 19 VAZ, VAZ, 2013, obra citada. VAZ, VAZ, 2013b, obra citada, p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44_-_mar_o_2013 VAZ, VAZ, 2013c, obra citada.

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saber mais desse intelectual, por seu envolvimento com a Educação e, em especial, a Educação Física.

Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco20 nasceu em Setúbal, 9 de Março de 1874 e faleceu em Lisboa, a 17 de Setembro de 1952; foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região 21. Joaquim Salles de Oliveira Itapary Filho22 informa que a época do nascimento do escritor Manuel Francisco Pacheco - 1874 - a Cidade de Setúbal, situada na margem do Rio Sado, bem próxima à capital lusitana, tinha então cerca de 30 mil habitantes. Fran Paxeco inicia seus estudos – primário – em um colégio de Jesuítas, lá mesmo em Setúbal; depois seria transferindo para o curso secundário na Casa Pia de Lisboa, destinada a órfãos. Retorna em seguida a Setúbal e em 1890, contando apenas 16 anos de idade, funda um jornal, intitulado “Elmano”. Começava assim a aventura intelectual de uma das mais instigantes personalidades da cultura luso-brasileira. Com pouco mais de vinte anos, 20 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco 21 VIEIRA DA LUZ, 1957, obra citada. 22 ITAPARY FILHO, 2008, obra citada.

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Francisco Pacheco já exercia atividades regulares na imprensa de sua cidade natal e havia cumprido o serviço militar obrigatório, passando aos quadros da reserva do exército. (ITAPARY FILHO, 2008) 23

Jovem jornalista de vinte anos escreveu artigo que seria considerado ofensivo à honra e à majestade do ocupante do trono português24. O texto representaria, ainda, um desacato ao comandante das forças armadas: O jornalista escreveu no jornal A Vanguarda uma nota sobre o Rei D. Carlos que foi considerada injuriosa e deu origem a um processo judicial. O caso não teria gravidade de maior, não fosse o facto de Fran Paxeco se encontrar nessa altura sob jurisdição militar, já que pertencia ao quadro das reservas do exército, o que significava que um acto normalmente classificado como delito de imprensa seria tratado, em conselho de guerra, como indisciplina militar. (ALDEIA, 2006) 25

Tendo deixado o exército em 1894, as autoridades alegaram, então, a sua condição de reservista do exército e, portanto, sujeito à jurisdição dos conselhos de guerra. Tais argumentos foram adotados como fundamento para procedimentos judiciais punitivos previstos nas leis e nos regulamentos militares. Acatando recomendações de bons advogados lisbonenses, Pacheco decidiu retirar-se de Portugal, diante da certeza de inapelável condenação à prisão por tempo dilatado: cerca de 10 anos de masmorra, na melhor das hipóteses. Como ele mesmo narra: [...] roupas enlaçadas, livros cintados, sob o codinome de Viegas Guimarães, Francisco tomou o primeiro navio que lhe apareceu e rumou para a Espanha, donde, também sem perda de tempo, escapou rumo ao Brasil. Aportou no Rio de Janeiro a 8 de maio de 1895, com 21 anos de idade, e empregou-se no comércio. Com pouco tempo no Rio, em dezembro daquele ano, seria despedido do emprego por haver fundado um jornal chamado “A República Portuguesa”. Nesse mesmo mês, sem perda de tempo, embarcou-se para o Pará, onde saltou a 17. Já em Belém, associou-se na publicação de um jornal intitulado “Folha do Norte”, cujo primeiro número sairia menos de um mês após a sua chegada, exatamente no dia 1º de janeiro de 1896. Fran Paxeco (Que passou a abreviar nome de Francisco e grafar o sobrenome com x) era um dos redatores. Em 96, 97 e 98 trabalhou em jornais daquela cidade, onde também organizou a biblioteca do Grêmio Português, lecionou em escolas privadas e, em março de 1898, expôs à venda o seu primeiro livro: “Sangue Latino”.

O Sangue Latino, de 1897 é, em parte, um livro de viagens, aonde Fran Paxeco vai retratando as terras por onde passou, e particularmente Sevilha. Mas é igualmente um livro de reflexão política sobre Portugal.26 23 ITAPARY FILHO, 2008, obra citada. 24 Influenciado por idéias de renovação política e cultural que se alastravam em toda a Europa, difundindo-se em Portugal principalmente a partir de Coimbra, adepto de correntes de pensamento contrárias à monarquia decrépita, segundo Itapary Filho, 2008. 25 ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014 26ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014

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Encontramos uma primeira referencia a Fran Paxeco – já assinalado assim seu nome – no jornal “O Pará”, edição de 18 de dezembro de 1897, como um dos responsáveis pela “A Revista”:

Pertencia também, já a essa época, à “Mina Litterária”, grupo de jovens literatos conforme se depreende de noticia veiculada nesse mesmo jornal a 27/12/1897, em que se anunciava, além da ordem do dia, o lançamento de “A Revista”:

No ano seguinte, 1898, prosseguiam as reuniões literárias da Mina – e dos mineiros, como eram chamados seus membros (O Pará, 11/01/1898). Segundo o “O Pará”, de 19 de março de 1898, haveria a recepção aos novos associados; Fran Paxeco não se fez presente, justificando a ausência por achar-se adoentado. Membro da comunidade lusitana em Belém fazia parte da Comissão do Centenário Indiano, em comemoração aos 400 anos da descoberta do Caminho para as Índias.

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Em março de 1898 (O Pará, 08/03) saia o segundo numero de A Revista, com a colaboração de Fran Paxeco, escrevendo sobre Teófilo Braga:

Na edição seguinte, aparece nota sobre seu aniversário e anunciado o lançamento de seu primeiro livro – Sangue Latino, no Pará

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Em “O Pará” edição de 19 de março de 1898, Fran Paxeco propõe a mudança de nome de “Mina Literária” para “Centro Litterário Paraense”.

Seu livro recebeu algumas críticas, desfavoráveis ao autor, como se vê na coluna Livros, de “O Pará”, edição de 20 de março de 1898, escrita por Arthunio Vieira. Nessa mesma edição, na Coluna CATURRICES Ambrosio de Jesus e Paiva também o critica por querer mudar o nome da “Mina Literrária”; Fran Paxeco continuava nos quadros da Mina, participando ativamente de seus saraus, e pronunciado palestras, como se pode ver nesta nota de 05 de junho de 1898; O “Diário do Maranhão”, edição de 06 de março de 1899, dá-nos conta de Fran Paxeco residindo ainda em Belém, em reunião da Mina Literária, ao mesmo tempo que são anunciados novos números de A Revista, com a colaboração de Fran Paxeco.

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Em O Pará de 11 de fevereiro de 1899 consta que ainda residia em Belém, quando do lançamento do “Álbum Amazônico”, de autoria de Arthur Caccavoni, que teve a tradução do italiano para o português por conta de Fran Paxeco.

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Na edição de O Pará de 03 de março, Emilio Zoilo ao comentar artigo sobre regras ortográficas do português refere-se ao estilo de escrita de Fran Paxeco.

No mês de abril, em O Pará edição do dia 18, é descrita mais uma reunião da Mina Literária, na qual Fran Paxeco teve ampla participação. As propostas de Fran Paxeco foram aceitas e encaminhadas através de oficio às autoridades; ele passou a fazer parte das comissões que se estavam formando, para se comemorar o descobrimento do Brasil. Propunha ele que se desse o nome de Pedro Álvares Cabral a uma rua, ou a uma praça, em Belém do Pará; e mais, que fosse feito um congresso nacional comemorativo aos 400 anos do descobrimento.

Em 04 de maio, Fran Paxeco estava às voltas com os preparativos do Centenário do Descobrimento, ainda em Belém do Pará. O jornal “Commercio do Amazonas” em sua edição de 21 de junho de 1889 publica uma crítica assinada por J. Brandão sobre o “Sangue Latino”, de Fran Paxeco

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No Diário do Maranhão, edição de 31 de julho de 1897, era informado que Fran Paxeco assumira a direção do jornal amazonenses “Diário de Notícias”; e já em agosto, começa a polemica com Arthunio Vieira, ex-redator daquele jornal (Diário do Maranhão, 02 de agosto).

Em setembro (O Pará do dia 18) uma nota sobre o que se passava em “Manaus”, envolvendo novamente Arthunio Vieira e Fran Paxeco; tratava o colunista sobre a questão do Acre.

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Em A FEDERAÇÃO (08 outubro), órgão oficial do Partido Republicano Federal, e no Commercio do Amazonas (10/10) informa-se que o colaborador do Jornal Diário de Noticias encontrava-se enfermo.

No dia seguinte (em O Pará de 09 de outubro) novamente Arthunio Vieira assaca contra Fran Paxeco, em sua coluna “Manaus” (publicada a 03 de outubro). Deve-se ressaltar que Fran Paxeco tivera intensa participação na vida literária de Belém antes de assumir a função de redator do Diário de Notícias, em Manaus; esses artigos publicados em Manaus eram replicados em Belém pelo “O Pará”.

Em nova publicação (O Pará, 21 de outubro), Arthunio Vieira novamente se refere à Fran Paxeco, em sua coluna; embora datada de 15 de setembro, chega à redação d´O Pará somente a 20 de outubro (nota da redação). Nesta nova publicação, Arthunio refere-se ao fato de há um ano Fran Paxeco o substituira na redação do Diário de Noticias.

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Não obstante os ataques entre os redatores do Diário de Notícias de Manaus – o atual (Fran Paxeco) e o ex (Arthunio) – vamos encontrar Fran Paxeco envolvido na constituição da Associação de Imprensa amazonense, atuando como secretário da assembleia de fundação (A FEDERAÇÃO, 07/11/1899).

No dia seguinte, uma nota sobre noticia publicada em outro jornal, envolvendo Fran Paxeco (A FEDERAÇÃO, 08/11); E a 10/11/1899, outra nota. O que teria havido? Segundo o jornal “Commercio do Amazonas”, edição de 07 de novembro de 1899 um funcionário da casa Souza & Cia – Almeida Pimentel – tinha agredido a Fran Paxeco. O motivo? No-lo sabemos...

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Em 20/12/1899, Fran Pacheco começa a escrever, em Manaus, notas sobre escritores e filósofos portugueses, e de brasileiros que se destacam em Portugal. A Pacotilha de 03 de janeiro de 1900 registra a publicação desses artigos:

Na edição de 09 de julho de 1900 do Diário do Maranhão aparece a “estreia” de Fran Paxeco num evento literário em São Luis, na primeira palestra realizadas no salão do Centro Caixeiral, conforme anunciado. Presentes, Sousândrade, Pedro Nunes Leal, José Maria Correia de Frias, e o Major Sergio Vieira. Tomou a palavra o Sr. Firmino Saraiva, e após Antonio Lobo; a seguir Fran Paxeco fez seu pronunciamento; igual registro faz o jornal “A Pacotilha”

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A palestra de Fran Paxeco repercutiu na imprensa maranhense, merecendo várias citações, elogiando a erudição do mesmo e a forma como expos seus pensamentos. Especial atenção que dedicou às senhoritas elegantes, presentes ao salão do Centro Caixeiral...

A segunda palestra seria realizada a 12 de julho, tendo por tema O teatro brasileiro e Artur Azevedo:

A Pacotilha aparece longa crítica ao pronunciamento de Fran Paxeco, com um resumo da mesma e elogiando sua erudição;

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em outra coluna aparace o anuncio de uma revista da qual Fran Paxeco seria um dos responsáveis:


A segunda palestra seria realizada a 12 de julho, tendo por tema O teatro brasileiro e Artur Azevedo. Na edição de 13 de julho de “A Pacotilha” aparece longa crítica ao promunciamento de Fran Paxeco, com um resumo da mesma e elogiando sua erudição; em outra coluna parace o anuncio de uma revista da qual Fran Paxeco seria um dos responsáveis. Nas edições de 25 e 28 de julho é anunciada nova palestra de Fran Paxeco nos mesmos salões, ocasião em que seria inaugurada um retrato de Teofilo Braga. Também bastante elogiada, como se vê nos jornais dos dias seguintes. Em “A Pacotilha” de 31 de julho de 1900 aparece longo texto de Fran Paxeco rebatendo algumas criticas que recebera de sua palestra sobre Teofilo Braga... estava se iniciando, tal como em Manaus, debates através da imprensa sobre a participação de nosso biografado nas lides literárias...

Aparece novo anuncio de palestra, desta vez abordando a via e obra de “Eça de Queiroz e o romace portugues” (Diário do Maranhão, 1º agosto 1900); também merecendo aplausos, por parte dos presentes e da imprensa. Fran Paxeco aparece entre doadores de livros à Biblioteca Pública Benedito Leite... A 7 de agosto aparece noticia de que Teofilo Braga, instado por Fran Paxeco, publicaria as obras completas de João Lisboa Na edição do Diário do Maranhão de 31 de agosto de 1900 um “A.A”.27 escreve que recebera correspondencia de Fran Paxeco enviada ‘de seu saudoso Maranhão’ em que este comunicava que aproveitava o ócio da convalescença de molestia que há seis meses o acometia e, em São Luis, estava tão agradavel que pensava mesmo em lá permanecer: “sou-me tão grato que estou quase que capaz de me deixar ficar aqui”, escrevia. Mais, que aproveitando o tempo, estava a escrever um volume de 200 paginas sobre Silvio Romero e a literatura portuguesa. Se refe às palestras que vinha ministrando junto com “um inteligente rapaz, o Antonio Lobo, Diretor da Biblioteca Pública”:

27 Em correspondência eletrônica (13/12/2013), a Dra. Rosa Machado, neta de Fran Paxeco informa: “O AA que escreve sobre Vôvô julgo ser Alfredo de Assis (p 36). Davam-se muito bem; casou com uma prima de Vóvó, de nome Filomena. Faleceu com muita idade, e correspondia-se com minha Mãe e meu Pai.”

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Em 29 de outubro 茅 noticiado que Fran Paxexo estava de volta ap贸s viagem ao litoral do Norte. E a 14 de dezembro aparece o livro sobre Silvio Romero:

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Na edição de 31 de dezembro de 1900 do “Diário do Maranhão”, por ocasião das homenagens ao Coronel Manoel Dias Vieira que deixava a presidencia da Camara dos Vereadores, Fran Paxeco pede a palavra e ressalta que não estranhassem um estrangeiro falar naquela ocasião, mas se pronunciava para agradecer a acolhida que recebera do homenageado, quando chegara a São Luis. O que se nota que esses pronunciamentos nas mais diversas ocasiões, sejam homenagens, saraus literários, encontros, apareciam publicados na imprensa, em forma de livretos, e distribuidos aos mais diversos públicos, em especial encaminanhados aos jornais, que fazima a divulgação de que os mesmos estavam a disposição do grande público; Fran Paxeco começa a ter seus trabalhos publicados no Maranhão:

Parece-nos que Fran Paxeco fixa-se mesmo em São Luis. Tendo vindo passar uma temporada, conforme ele mesmo afirma, para se restabelecer de doença, após seis meses na cidade já pensava em deixar-se ficar por aqui. Sua aceitação por parte dos intelectuais maranhenses, e os constantes convites para se pronunciar nos diversos eventos literários que ocorriam na cidade, constituiram motivo para tal.

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Nosso Patrono continuava a participar das mais variadas sociedades literárias que apareciam em São Luis – assim como colaboração nas revistas literárias, como exemplo a Revista do Norte - , conforme anuncio de mais uma palestra, desta vez na Associação Cívica Maranhense, durante posse de novos ‘funcionários’ eleitos. Em abril de 1902 Fran Paxeco publica uma serie de artigos – “Comunicado: o catão Bethencourt”, sobre uma polemica surgida entre o ilustre –e vetusto – professor e AntoNio Lobo, na qual Fran saiu em defesa deste. Há inclusive, uma carta esclarecendo uma briga que houvera em um dos bondes da cidade, com agrassões mutuas, a qual Fran presenciara – sem se envolver. Em 26 de junho de 1902 é anunciado uma serie de artigos intitulados “O Maranhão e seus recursos”.

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Fran Paxeco estava já integrado à vida maranhense... Encerro por aqui, buscando esclarecimentos sobre a vida de Fran Paxeco nos anos em que chegou ao Brasil, tendo residido em Belém e Manaus, antes de se fixar no Maranhão... Obrigado... BIBLIOGRAFIA CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Géia, 2009. CARVALHO, Marcos Antônio de. BEBENDO AÇAI, COMENDO BACALHAU: PERFIL E PRÁTICAS DA SOCIABILIDADE LUSA EM BELÉM DO PARÁ ENTRE FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Tese de doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto como requisito para obtenção do título de Doutor em História. Orientação: Profa. Doutora Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. 2011 http://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/63200/2/TESEDOUTMARCOSCARVALHO0001614 79.pdf Diário do Governo n.º 268, de 25 de Novembro de 1905. ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10 de outubro de 2008. SAMUEL, Rogel. FRAN PAXECO SEGUNDO HUMBERTO DE CAMPOS. In publicado em 20/11/2011, disponível em ENTRE-TEXTOS, http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos, entre-textos, 86963. html VAZ, Leopoldo. AINDA SOBRE FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. In CEV/Comunidade Educação Física no Maranhão - Ponto de Encontro dos Profissionais, Estudantes e Pesquisadores em Educação Física e Esportes no Maranhão; quarta-feira, 17 de outubro de 2012 às 11h25min, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/ainda-sobre-fran-paxeco-eeducacao-fisica-maranhao-1/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. Palestra proferida no Ciclo de Estudos e Debates do IHGM no dia 20 de fevereiro de 2013. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 44, março de 2013,

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p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44__mar_o_2013. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO. In VII EPCECEN – Encontro Pedagógico do CECEN: Multidimensionalidade da prática docente. São Luis, 3 a 5 de setembro de 2013. Anais... São Luis, UEMA, apresentação de trabalhos de pesquisa – 04/09/2013 – Ciências Humanas e Sociais – Interdisciplinar. VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXCO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php http://hemerotecadigital.bn.br/ jornal “O Pará” – 1890 a 1889 jornal “Diário do Maranhão” – 1890 a 1910 jornal “Commercio do Amazonas” – 1890 a 1889 jornal “A Federação” – 1890 a 1889

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ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA 23

DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES28

ÁLVARO URUBATAN MELO MEMBRO FUNDADOR Dr. Domingos Quadros Barbosa Álvares foi, incontestavelmente, um dos brasileiros que mais dignificaram o Maranhão; um dos maranhenses que mais honraram o seu município - São Bento. Vitorioso em quase tudo que empreendeu; acatado nos cargos que exerceu, tornou-se um expoente nos campos da cultura, social, político, jornalístico e administrativo. Com intensa volúpia, amou ardorosa, igual e intensamente a ambos os torrões natais - o Maranhão e São Bento. Um verdadeiro Ateniense, merecedor de todas as glórias que o nosso Estado lhe tributa. 28

Pronunciamento feito no dia 31 de janeiro de 2014, no Palácio Cristo Rei, em sessão Plenária Extraordinária Pública

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Nasceu a 28 de novembro de 1880. Filho do Dr. Manoel Barbosa Álvares Ferreira e dona Hortência Quadros Barbosa Álvares. Ele, natural de Estância, Estado de Sergipe. Era na época, juiz Municipal e de Órfãos da comarca de São Bento, para qual fora nomeado a 4 de outubro de 1873 e assumiu a 27 de abril de 1874. Concluído o quatriênio, foi reconduzido sob aplausos gerais, para o novo mandato, via nomeação de 4 de maio de 1878, empossado a 31 de maio desse ano e deixou o cargo a primeiro de junho de 1882. Nesse ínterim, assumiu em substituição, o Juizado de Direito. Deputado provincial na legislatura 1884/1885. Transferido para outras comarcas, achava-se em Imperatriz quando se candidatou ao 1º. Congresso Estadual Constituinte, eleito a 11 de maio de 1891. Magistrado, foi Inspetor da Instrução Pública, depois nomeado desembargador do Superior Tribunal do Estado. Faleceu em São Luís, a 13 de abril de 1904. Ela, sua mãe, viúva do Sr. João Pedro Colares Moreira, casou-se em 2ª núpcias. Do primeiro matrimônio, teve os filhos Drs. Artur Quadros Colares Moreira e Alexandre Colares Moreira Neto, ambos governadores do Maranhão. ESTUDANTE Fez com brilhantismo seus estudos no Colégio Alfredo Gomes, no Rio de Janeiro. Voltou para o Maranhão e continuou no Seminário das Mercês e no Liceu Maranhense. Ingressaria na Marinha de Guerra do Brasil, pretensão que renunciou, devido aos apelos de sua mãe. Com a instalação da Faculdade de Direito de S. Luís, a 16 de abril de 1918, submeteu-se ao curso de Direito, quando prestou os exames orais a 26 de dezembro de 1919, com notas dez nas matérias do 1º ano: Filosofia do Direito, Direito Constitucional e Direito Romano. JORNALISTA Com fortes pendores ao jornalismo, profissão que lhe daria, tão cedo, merecida consagração, como tão cedo a iniciou, com apenas 11 anos de idade, quando fundou o jornal “A Violeta’, impresso a escova. Logo depois, em companhia de Godofredo Viana, João Vieira e Costa Gomes, outro jornal, dessa vez “O Estudante’, que publicou seus primeiros versos”. Aos 16 anos, quando saiu do Liceu e enquanto aguardava os oito meses da viagem para ingressar na Marinha de Guerra do Brasil, para não ficar desocupado nesse interregno, começou a escrever, diariamente, junto com Agostinho dos Reis, versos em o “Federalista’, jornal do Partido Republicano, chefiado pelo seu amigo Dr. Benedito Pereira Leite, então presidente do Poder Legislativo, que o convidou, em 1899, para os serviços de redação e resumo dos debates do Congresso Maranhense, sendo este seu primeiro emprego. Tornou-se redator de “Os Anais’, revista mensal, também do Congresso Maranhense, trabalho que publicou entre 1910 a 1913”. Esses Anais, digno de elogios, encontram-se no Arquivo Público e na Biblioteca Benedito Leite. Redigiu a Revista bimestral “Ateneide”. Em seguida, durante anos, foi redator de “O Jornal”, responsável pela coluna dial “A Esmo”, em que comentava assuntos diversos, com ênfase aos nordestinos e atos do presidente da República. Foi nesse espaço, na croniqueta de 1º de fevereiro de 1917, que propôs a criação da Associação de Imprensa do Maranhão, ideia abraçada no dia seguinte pelo grande jornalista Nascimento de Moraes, com o artigo “Vamos a isso”. Nesse jornal, o D.B. como assinava seus escritos, aparecia, frequentemente, na seção ‘Homens e Cousas’, a qual concluía com trovas, a moral do assunto. “Colaborou em “O Diário da Manhã”, “ O Pacotilha”, o ‘’ Imparcial”, as Revistas “do Norte “e “Atenas ‘’. o almanaque a “A Fita, de Lemos Viana, esta no ano de 1926. Fora do

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Maranhão, brilhou no Rio de Janeiro, ao escrever em o “Jornal do “Comércio”, “Correio da Manhã”, “O País”, “A Vanguarda”, e o “Jornal do Brasil”, no qual publicava, assiduamente, assinadas com as iniciais de seu nome - D.B. , pequenas crônicas, tamanho que costumava dar aos seus artigos”. Não é à toa que foi considerado um dos melhores mestres da pena, um dos vultos mais respeitados na Imprensa de seu tempo. TABELIÃO Aprovado em concurso público, para as funções de Tabelião de Notas da Capital, solicitou ao governador, demissão da secretaria e obteve a resposta abaixo. “Acuso recebido vosso ofício de 5 de agosto deste ano, em que me comunicais haverdes deixado o cargo de Governo, em consequência de terdes assumido na mesma data, as funções de Tabelião de Notas da capital, no qual fostes providos vitaliciamente”. Agradecendo-vos a fineza da comunicação, sirvo-me da oportunidade para, salientando os bons serviços prestados ao estado no cumprimento daquele cargo, louvar-vos pela inteligência, lealdade e dedicação com que no mesmo sempre me proveste. Permaneceu na titularidade do cartório, então localizado na Rua de Nazaré, n.º 60, até o ano de 1906, quando se licenciou para disputar o cargo eletivo de deputado estadual. Reassumiu em 1932, após perder o último mandato de deputado federal, extinto pela Revolução de 1930. Nos anos seguintes, esteve em constante gozo de renovadas licenças. Esse cartório mudou-se para Fontes da Pedra, n.º 21 e depois Rua da Madre Deus, n.º 30. Funcionou na Rua Formosa, atual Afonso Pena, prédio dos Diários Associados. TENENTE - CORONEL. Com a criação de Brigadas da Guarda Nacional, em São Luís, pelo Decreto n.º 57.770, de 1904, foi nomeado em novembro de 1905, com apenas 25 anos, tenentecoronel, quando assumiu o comando do 102º Batalhão de Infantaria. DELEGADO de POLÍCIA Aos 18 anos, no desabrochar de sua juventude, enfrentou e venceu o primeiro e grande desafio, ao aceitar o convite feito pelo senhor governador, para exercer o espinhoso cargo de delegado geral de Polícia do Estado, nomeado em maio de 1899. SECRETÁRIO de GOVERNOS Em consequência a de sua boa atuação à frente da Delegacia de Polícia foi nomeado pelo governador João Gualberto Torreão Costa, a 3 de janeiro de 1900, secretário de Estado, e permaneceu por 6 anos, até 5 de maio de 1906, quando pediu demissão por haver sido aprovado em concurso público para as funções de Tabelião de Notas da Capital. No cargo de secretário de Estado, serviu a dois governadores e três vices, haja vista que em 1904 foi mantido pelo vice-governador Alexandre Colares Moreira Júnior e continuado com a posse do novo governador, seu

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amigo, Dr. Benedito Leite. Anos mais tarde, no governo do Dr. Urbano Santos, voltou a ocupar Secretaria do Interior. Antes, na gestão do governador Luís Domingues recebeu o convite para assumir uma secretaria, da qual declinou, ao preferir as lides jornalísticas, a direção do Diário Oficial. OLÍTICO - DEPUTADO ESTADUAL. Política para ele não era coisa estranha. Nasceu vivendo a efervescência dessa arte, praticada em São Bento, no próprio lar, nas reuniões e acordos secretos, dirigidos pelo pai que militava na Monarquia, correligionário de Gomes de Castro. Depois, já na República, elegeu-se deputado, já acima mencionado. Se do lado paterno havia tendência, imaginem as origens maternais, do clã dos Colares Moreira - era uma religião. Envolvido por esse sentimento ou imposição, foi eleito a 9 de dezembro de 1906, deputado estadual, pelo Partido situacionista, P.R., em 5º lugar. O deputado Domingos Barbosa nesse mandato, destacou-se pelos seus feitos parlamentares, com apresentação de dois projetos: o primeiro, com outros subscritores, isentava de tributos estaduais, durante 10 anos, tubos de grei e as telhas preparadas pela moderna olaria de José Pinto Barbosa; o segundo regulamentava as substituições de promotores públicos e juízes de Direito no Estado. Eleito presidente da Comissão de Redação e Leis, manteve atualizado os serviços do setor e ultimou seu funcionamento. Em 1908, membro da comissão de Constituição e Poderes, Justiça, Estatística e Divisão Territorial e componente da Comissão de Câmaras Municipais, Redação e Instrução Pública, eleito para ambas com 23 votos. Sua forte atuação na tribuna ocorreu ao combater, violentamente, o projeto de reforma eleitoral, referente à proposição de tirar da Assembleia a obrigação de apurar as eleições, em que alegava que exporia os magistrados ao exercerem essa atribuição. Lembramos que a apuração era feita pelos deputados meses depois do pleito. Teve como tarefa, por designação da Assembleia, ser um dos membros da Comissão para representar essa Casa, nas dolentes exéquias do monarca lusitano Rei Dom Carlos de Portugal e seu filho, o príncipe real, mortos no atentado do “Terreiro do Paço”. Não compareceu por estar em gozo de nojo. A 28 de fevereiro de 1907, fora convocado para compor a comissão de visitas às solenidades de fundação da Sociedade do Centro Caixeiral. 2º MANDATO. Reelegeu-se no pleito de 31 de agosto de 1909, para o triênio 1910/12, novamente em 5º lugar. Nessa legislatura foi sempre o 1º secretário da Mesa. Tornouse um ferrenho defensor da lisura das eleições no Estado, quando solicitou a formação de uma comissão de deputados para apurar as fraudes eleitorais, denunciadas em 5 municípios: Flores, Curralinho, Matões, São João dos Patos e Santo Antônio de Balsas. A 20 de maio de l911, renunciou o mandato ao haver sido nomeado diretor do Diário Oficial, quando, também, reassumiu o Cartório. Recebeu na sua despedida, dos funcionários da Secretaria da Assembleia, a mais calorosa recepção, homenagem que contou com a presença de todos, que lhe entregaram um mimo, destacando-se a de seu conterrâneo o Dr. Waldemiro Lobato Viana. Nessa legislatura na sessão de 24 de março apresentou projeto nº. 24, autorizando o Governo do Estado, adotar letra para o hino maranhense, abrindo concorrência pública, com prêmio de um conto de réis para o vencedor.

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(Foi transformado em Lei n.º 562, de 30 de março de 1911). Antes só havia música no hino. Nesse mandato, em 1910, integrou como secretário, o Centro de Propaganda PróMarechal Hermes Rodrigues da Fonseca e Venceslau Braz Pereira. Nesse grupo propagandista, esteve na qualidade de membro, o tenente Luso Torres Fecham-lhes à porta dos Leões. Devido às divergências ocorridas nas hostes governistas, com o lançamento de candidatos a prefeito de São Luís, que resultou na vitória humilhante do Dr. Clodomir Cardoso, candidato das Oposições, sobre o adversário, Dr. Raul Machado, que não teve o apoio do grupo Colares Moreira, que ficou literalmente na dissidência. Na eleição seguinte para Assembleia Legislativa, excluído da simpatia palaciana, apenas conseguiu incluir seu nome, entre os 6 candidatos da Oposição, não logrando eleger-se, por mais uma vez os poderosos rasgaram as leis, isto porque, como de praxe, em obediência à Constituição Federal que garantia a presença da minoria nas Assembleias Legislativas, e a Constituição do Estadual regulamentou esse mínimo de 20%, razão porque os eleitos eram cartas marcadas, de vez que a cúpula governista indicava somente os 24 preferidos e as Oposições, seis. Só que nesse pleito o governo apresentou os 30 candidatos, elegeu e diplomou todos. Massacrado pelo poder dominante, traídos pelos chefetes interioranos, representados pelos senhores coronéis que só votavam nos candidatos impostos pelo governador. Após um período de ostracismo político, ingressou no Partido Republicano Maranhense fundado em 1916, liderado por Urbano Santos, Herculano Parga e presidido por Leôncio Rodrigues o que ocasionou sua reintegração às hostes governistas, quando foi nomeado em abril de 1919, oficial de gabinete do governador, e logo após, tornou-se secretário, todo poderoso, convidado pelo governador Dr. Urbano Santos, esse grande estadista, filho de Guimarães, que fez seus estudos primários em São Bento, no famoso colégio de seu padrinho Dom Luís de Brito, com quem morou, e que depois de formado, retornou como magistrado para servir nessa Terra que lhe preparou para vencer na vida, o que é peculiar aos que nela iniciaram a caminhada. DEPUTADO FEDERAL. Com a morte de Dr. Urbano Santos, um sonho foi desfeito. O de ser em 1922 o prefeito de São Luís, quando deveria substituir ao Sr. Raimundo Silva, conforme compromisso firmado entre ele e o falecido governante. Com a vacância de uma cadeira na Câmara Federal, ocasionada pela morte do extraordinário e grande orador maranhense Dr. Luís Domingues, de quem era amicíssimo, foi indicado e eleito nesse mesmo ano de 1922, deputado federal, pelo Partido Republicano Maranhense, com 9.918. Sobre a amizade dele com o Dr. Luís Domingues, reproduzimos o que escreveu o famoso escritor Josué Montello em crônica o nosso romancista em seu livro “Janela de Mirante” - ( conta que Domingos Barbosa, ao sabê-lo enfermo, ia visitar o deputado todas as tardes). E todas as tardes, à hora em que Domingos Barbosa devia visitá-lo, Domingues vestia-se com esmero, como se fosse sair. E explicava-se, vencendo as dores que o laceravam: É só para o Mingo Barbosa pensar que eu estou melhor). Equivocou-se o respeitável romancista ao mencionar que Domingos Barbosa era suplente de Domingos Barbosa, pois nessa época não havia suplentes.

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Com a vacância da morte do Dr. Luis Domingues foi ele eleito o primeiro deputado federal são-bentuense. Soube dignificar a representação maranhense e destacou-se como tribuno defensor intransigente das reivindicações do seu Estado, sobretudo pela construção da ferrovia Tocantins, conforme eloquente e fundamentado discurso proferido no dia de sua posse, a l9 de fevereiro de. 1922, pronunciamento esse publicado em jornais de São Luís e no hebdomadário “O Imparcial”, de São Bento. Sobre o traçado São Luís – Caxias, um trecho – ....“Citarei, para ilustrar o meu discurso, dois episódios interessantíssimos, que levam – um, a impropriedade da localização da estrada; o outro, o exagero do seu custo .... ( Estava ainda à estrada em construção, quando um caboclo, um rude homem do povo, um honesto homem do trabalho, chegando para um dos engenheiros fiscais, meu amigo, o Dr. Haroldo de Figueiredo, perguntou, apontando para uma locomotiva, se “aquilo é que era submarino” Risos. Retrucou-lhe o engenheiro que não, explicando-lhe, bondosamente, em linguagem ao alcance da sua inteligência inculta, que submarino é um navio que anda por baixo d’água – - Pois é isso mesmo, Sr. Doutor – respondeu o caboclo – porque quando vier outra enchente, esse bicho anda por baixo d’água, ou então não anda nunca – Risos. O caboclo acertou, pois todos os anos com a enchente do Rio Codozinho a estrada ficava interrompida. No dia seguinte, 20 de fevereiro, o jornal “Gazeta de Notícias”- Rio comentou na primeira página. “Domingos Barbosa no discurso de ontem, revelou-se um tribuno fluente, seguro, conhecedor do idioma que os seus íntimos asseveram convictamente. 2º MANDATO. Pela sua irreprimível presença no Parlamento, foi reeleito a l7 de janeiro de1924, pelo Partido Republicano, em 4º lugar.. Nessa legislatura, em julho de 1924, ao ocupar a tribuna para defender o governador Godofredo Viana dos constantes ataques do adversário deputado Marcelino Machado, teve por este, seu discurso incessantemente interrompido com longos apartes, que não o deixava concluir seu raciocínio, quando o deputado Domingos Barbosa, dono da palavra interpelou-o, com a frase: V. Ex.ª dar licença para que interrompa o seu discurso com os meus apartes. (Risos). Ainda nessa legislatura, conforme entrevista a o “Imparcial’ de 23.02.1927, lutou pelo reencentamento da construção da Tocantins, do Porto de São Luís - Itaqui, do novo edifício da Alfândega, novas instalações de Telégrafos e uma comporta na Vala Conduru. Na liderança foi vigilante e profícuo defensor do Governo, contra as denúncias feitas pelos deputados que romperam com o Sr. Governador. 3º MANDATO Reelegeu-se a 24 de fevereiro de 1927 para o novo triênio, novamente em 4º lugar, julho de 1928, tornou-se líder de sua bancada. Numa irrefutável prova de seu prestígio junto aos seus pares, foi lançado à sua revelia, candidato a 2ª vice-presidência da Câmara e eleito com 121 votos dos 122 votantes, exceto o do deputado Raul Sá. Nessa legislatura, ainda ocupou a titularidade da Secretaria da Mesa.

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4º MANDATO. Para renovação de seu mandato, às eleições de 1º de março de 1930, chegou a São Luís no dia 2 de fevereiro 1930. Novamente vitorioso. Com o fechamento das casas legislativas no Brasil, fruto da revolução de outubro de 1930, que colocou Getúlio Dornelles Vargas no poder, nosso ilustre Mingo Barbosa encerrou sua atividade política e reassumiu o Cartório em 1932. O seu nome voltou a ser especulado quando da escolha do substituto do Interventor Martins de Almeida, às eleições de 1934, quando os jornais da Oposição, não sabemos se por intriga ou para ver o circo pegar fogo, noticiavam a lembrança de seu nome por parte de amigos, no entanto, não acreditava na consumação do fato, em virtude de tratar-se de um intelectual, homem independente, de vontades próprias, que não se sujeitaria aos caprichos grupais. Recolhido na sua residência, em Botafogo, jamais deixou de atender as solicitações do governo maranhense, para representá-lo aonde se fizesse necessário. DIRETOR DIÁRIO OFICIAL Com intensa determinação assumiu a diretoria da Imprensa Oficial do Estado, cargo que muito o apaixonou, ao ponto de renunciar o mandato de deputado estadual e recusar o convite do governador Luís Domingues para assumir uma secretaria de Estado. Preferiu o encargo de modernizar e dinamizar o Diário Oficial, e o fez ao reformar seu estilo, dar-lhe feição lítero-noticiosa, ampliar a tiragem e mandar circular até fora do Estado. O IMORTAL. Ao lado de Antônio Lobo, Godofredo Viana e outros intelectuais, um dos líderes na fundação da Academia Maranhense de Letras, ocorrida no histórico 10 de agosto de 1908, aniversário do Poeta dos Timbiras. Fundou e ocupou a Cadeira nº. 2, patroneada por Aluisio de Azevedo. Para maior glória, foi sucedido pelo famoso literato médico Dr. Fernando Ribamar Viana, de descendência são-bentuense, pois seus pais, irmãos e familiares todos nasceram em São Bento, terra em que ele considerava sua e lá passou quadras de sua vida. Tem como ocupante atual, mantendo o mesmo brilho, o escritor, romancista e poeta Dr. Waldemiro Bacelar Viana, filho do antecessor. Dr. Domingos Barbosa sempre dedicadíssimo a esse Sodalício não mensurou esforços em labutar para engrandecê-lo e consolidá-lo. Preocupou-se em fortalecer o quadro social, ao formular convites e indicações aos vultos da maior expressão cultural. Sem mandato eletivo no ano de 1916, dedicou-se com mais frequência e entusiasmo, quando na sessão de 23 de julho de 1916, foi eleito 1º secretário. Nesse mesmo dia, propôs o nome do Dr. Justo Jansen Ferreira para membro efetivo e fundador desse Sodalício, aceito unanimente. A 28 de agosto desse ano, apresentou proposta para sócios correspondentes: no Rio Janeiro, Coelho Neto e Graça Aranha e no Piauí - Higino Cunha. No ano seguinte, aos doze dias de maio foi o recipiendário do escritor Raimundo Lopes, e a 11 de janeiro de 1919, do Dr. Almeida Nunes. Foi ele quem propôs a 20 de agosto de 1917, a eleição do Dr. Benedito Barros de Vasconcelos para membro efetivo.

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Em nome da Academia, a qual representou tantas vezes, encerrou a primeiro de janeiro de l918, série de discursos das solenidades de entrega do monumento da estátua de João Francisco Lisboa. Juntamente com Dr. Godofredo Viana e Fran Pacheco, fez parte da Comissão da AML para resolver as bases ortográficas no Boletim da Academia, constituída na sessão de 21 de fevereiro de 1918. Nessa Casa, coube-lhe, ainda, a missão de receber, na sessão de 11 de janeiro de 1919, realizada na Assembleia Legislativa, o novo imortal, Dr. José de Almeida Nunes. OUTRAS MISSÕES Dono de inegável competência exerceu importantes tarefas, das quais: professor do Liceu Maranhense, diretor da Instrução Pública, da Biblioteca Benedito Leite e delegado regional de Seguros (interino); delegado federal no Maranhão de Estatística. Em 20.07.1912, nomeado inspetor do Teatro S. Luís. Em 1935 foi colocado pelo Interventor Federal do Maranhão, Antônio Martins de Almeida, por solicitação do Senhor Ministro de Educação e Saúde Pública, à disposição desse Ministério, em vista de ele está exercendo o cargo em comissão, na função de Inspetor Secundário no Distrito Federal. Fundou um Instituto de Instrução primária, denominado Internato Antônio Lobo, o qual, juntamente com Luís Viana, dirigiu por alguns anos, quando contou com a colaboração no quadro docente, do professor Luso Torres. (três meus conterrâneos) Na qualidade de intelectual de primeira grandeza, esteve presente em quase a totalidade dos grandes eventos culturais e sociais do Maranhão, fazendo-se ouvir eloquentes discursos e conferências. Foi coordenador e um dos oradores das solenidades do fim da 1ª Grande Guerra Mundial, na recepção aos heróis maranhenses. Com residência no Rio de Janeiro, na Rua Voluntário da Pátria, 198, esteve sempre a serviço dos amigos e do Estado. Convidado por telegrama do Interventor Paulo Ramos representou o Maranhão em o 9º Congresso Brasileiro de Esperanto, realizado no Palácio Itamaraty, de 12 a l7 de novembro, sobre o patrocínio do Senhor Presidente da República. OBRAS. TEATRÓLOGO - Escreveu algumas peças de teatro, das quais “O Prêmio”, apresentada a 24 de janeiro de l917, durante o jubileu sacerdotal de Dom Francisco de Paula e Silva. ASSOCIAÇÃO de IMPRENSA - Idealizador da comissão fundada na reunião convocada para o dia 22 de março de 1917, da qual fez parte da Comissão Organizadora para redigir os Estatutos, juntamente com os jornalistas Nascimento de Moraes e Antônio Barros. Foi o presidente da 1ª diretoria provisória eleita, composta na Secretaria por Nascimento de Moraes; Tesouraria - Adelmam Corrêa e Alcides Pereira e Antônio Bona, como membros. Quando da eleição da diretoria definitiva, realizada a 10 de abril de 1917, permaneceu na Presidência, com Antônio Lopes, 1º vice; Agostinho Reis - 2º vice; Nascimento de Moraes na 1ª Secretaria e Alcides Pereira, na segunda; Domingos Perdigão - bibliotecário e Adelman Corrêa - Tesoureiro. Suplentes - Xavier de Carvalho, Alfredo de Assis, Antônio Bona, Lemos Viana e Artur Paraíso. A ideia

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dele, de constituir essa agremiação foi fortalecer os profissionais dessa área, órgão já existente noutras unidade da Federação. Atuante defensor da classe prestou importantes serviços como membro da Academia de Imprensa do Brasil. OFICINA DOS NOVOS - Um dos integrantes e membro efetivo da “OFICINA dos NOVOS’, fundada em 1909”. Até mesmo na fase de inatividade, continuou por ela interessado visto que foi ele quem a 14 de fevereiro de 1917, data do ressurgimento dela, fez a entrega aos novos membros. - Membro da Universidade Popular teve a companhia de Luís Viana, na qual dos dois foram escolhidos entre os oito conferencistas. - Para enriquecimento da vida literária, pertenceu à Sociedade Brasileira de Homens de Letras. Muitas foram suas obras publicadas e outras inéditas, hei-las: - Gonçalves Dias, em 1904, com 27 páginas; - O Dominó Vermelho - Contos, em 1907, com 111 páginas; - Mosaicos, composto de 12 contos, prefaciado por Antônio Lobo, publicado em São Luís, pela Tipografia Teixeira - 1908; - As Cruzadas - Conferências, em 1909 - com 19 páginas: - Silhuetas (a preferida de Josué Montello) publicada em São Luís, 1911, com 102 páginas; - Contos de Minha Terra - 1911, com 231 páginas ( enaltecidos por José Veríssimo) - O Tocantins - publicado pela Imprensa Nacional - 1923, com oito páginas; - O Ouro Maranhense - publicado pela Folha do Norte, Belém - 1904. - A Vida de Alusivo de Azevedo - Jornal do Comércio - Rio de Janeiro - 1937; - Os Irmãos Azevedo “Artur, Alusivo e Américo”- Conferências - Rio de Janeiro 1937. INÉDITOS. - Os tipos Eçanianos - “Henrique Leal”- ‘A ESMO” - Crônicas. “O Lucas Sampaio”“Sinhá”- Romances e “Jardim Zoológico ‘- Fabulário. Deixou ainda discursos, poesias e relatórios do Governo, quando Secretário Geral. REFERÊNCIAS. Antônio Lobo - “O peregrino artista dos Mosaicos e dos Contos da Minha Terra”. Tasso Coelho - “ O nome de Domingos Barbosa constitui hoje um justo orgulho para o Maranhão, pelas fulgurações de talento fecundo, que um grande esforço e esmerado cultivo, puseram em brilhante destaque na tribuna, na imprensa e muitos livros de contos mimosos”. Lucília Wilson Coelho de Sousa - “Ao tribuno eloquente cuja palavra mágica emociona profundamente os corações dos que ouvem - e arrebatam na sua caudal todas as almas, presas aos cintilantes períodos que borbulham dos seus lábios inspirados, vaticina os mais duradouros triunfos, em mais larga esfera, onde seu peregrino talento fulgura como estrela de 1ª grandeza”.

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Roberto Gonçalves “- “ Domingos Barbosa é o burilador escrupuloso da palavra”. Espírito investigador e analítico das cousas. Penetra com argúcia na alma humana escalando o véu sinistro que envolve o mistério insondável da dúvida, banhando-a de esperanças, fortificando-a de uma nova vida. “As Cruzadas,” “O Dominó Vermelho”, “Mosaicos “Contos de Minha Terra”, são verdadeiros primores de arte, um punhado de pérolas’”. Georgiano Gonçalves - “ Tribuno - domina multidões, tem palavra fluente, mágica sonora. Quando fala - tem leões, na mente; águias no coração”. Josué Montello que lhe dedicou uma crônica no seu livro Janela de Mirante - “Na sua geração literária, nos quadros da província natal, ninguém mais brilhante do que ele. Dele se dizia que era um excelente tribuno. Para isto, além da voz cheia, tinha o físico do papel, com a figura alta, certa imponência pessoal, a palavra fluente, com o gosto e o desembaraço da tribuna parlamentar. Ao não reeleger-se deputado estadual, os jornais a partir do ano de 1915, aproveitaram a data do seu natalício par assim se manifestarem: Jornal do Brasil - apreciou-o como brilhante prosador, tribuno e poeta; Gazeta de Notícias - mencionou ser ele um dos mais belos espíritos da moderna geração literária; Lanterna - é uma figura inconfundível no jornalismo maranhense e um dos maiores CONTEURS brasileiros. Adiantou que o escritor de “Mosaicos” pela sua cultura e destinação conquistou a admiração de todo o Brasil. Já o “O JORNAL” de 28.11.1916, artigo do Desembargador Domingos Perdigão, tópicos. “é o mais simpático dos representantes do Maranhão intelectual, um dos mais vibrantes de todos os oradores, o mais empolgante dos nossos cronistas, talento fulgurante, reduzido pela irrisão da sorte a viver escrituras, procurações e reconhecer firmas. Descendente de uma das mais ilustres famílias deste Estado, tendo seu nascimento na antiga Vila de São Bento. O POETA. Iniciou sua atividade literária versejando. Houve quadras na sua vida de muita produção, uma das quais o ano de 1898, quando nas páginas de o “FEDERALISTA”, na coluna Literatura, publicou várias poesias, do gênero Trioletes, dedicadas a amigos e Amada A.., sua grande paixão desse momento. Eis algumas: BORBOLETA – oferecida a Agostinho dos Reis (uma retribuição) Borboleta dos amores / Que voas de rosa em rosa,/ Pára na dália formosa / Da qual queres hoje o mel. / Vê si ao menos um momento / Borboleta, tu consegues / Da vida errante que segues / Parar o leve batel / Já basta de correr tanto / Borboleta doudejante: / Pára sequer um instante /Perante a flor em botão / Em torno da qual voltitas / E vai nessa flor de neve / N”um gesto rápido e breve, /Depor o teu coração. Vai toca de leve os lábios / N”uma pét”la cetinosa / Da casta flor perfumosa / Que há pouco desabrochou / E em breve as que tu beijaste, / Dirão que a uma vaidosa /Borboleta a mais formosa / Das dálias escravizou.

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Eu também fui borboleta, /Adejei por entre as rosas, / Entre as boninas formosas, / Que tem do val através; /Percorri prados floridos, / Longos campos vicejantes, / Cujas folhas verdejantes / Fariam inveja aos vergéis. Finalmente, um dia eu vejo, / Cheio de vida e frescura, / Uma flor; era a mais pura / Do que o puro malmequer / E as asas eu fui batendo / Para junto da flor casta, / Que tinha dourada e basta CABELEIRA DE MULHER. Mulher?! . .. Oh não! era um anjo, / E sem atrever a tocá-la / Fiquei logo a contemplá-la / Do lugar onde inda estou / E as flores que beijei tanto / Inda me dizem: a vaidosa / Borboleta, a mais formosa / Das flores escravizou Triolets – para A ... Para A ... Casta e meiga sensitiva / Porque tu foges-me em vão? / Eu vejo-te fugitiva, / Casta e meiga sensitiva / Embora fugas, flor viva / Te segues meu coração, / Casta e meiga sensitiva / Porque tu foges-me em vão. Para A... Na tua trança doirada, / Que julgo feita de luz, / Consente, criança amada, / Na tua trança doirada, Tão perfumosa, anelada / Mergulhe o meu lábio a flux, / Na tua trança doirada, / Que julgo feita de luz! Si um beijo na trança é nada, / O orvalho da vida à flor; / Assim criança adorada, / Si um beijo na trança é nada, / O pranto da madrugada / A flor da dá vida e frescor./ Si um beijo na trança é nada, /O orvalho da vida à flor. Dentre seus sonetos, julgo o MAR o melhor. As seguintes foram todas produzidas no fértil ano de 1898. VENDO A ... Envolta na brancura do vestido / Mais branco do que a pura neve, / corpo teu grácil e leve / N’uma aureola de luz solto, perdido.

Eu vi-te; o

No teu olhar, ó flor, vi-me envolvido, / E uma sonata que se não descreve, / A minh’ alma entoou cândida e breve / Gritos de um peito que ama dolorido! Eu vi-te mulher, com os olhos d’ alma / / Que tem das brancas nuvens através. E minh’ alma voou deste meu peito, / amor – foi se prostrar junto a teus pés.

Como que solta na mansão da calma

Para ir te vender um culto, um preito /

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De


SONHO Sonhei. A fresca tarde ia-se embora, / Doirando as campinas os verdores / E nós, a relembrar nossos amores / Íamos sós pelos vergéis afora. E tu, desta existência alheia às dores / Bailada inda branda do que aurora / Vibravas. Os teus lábios, onde mora / O nácar, tremulavam como as flores. Depois, a mais cruel realidade / Mostrou-se-me e envolto na verdade / Eu disse: Adeus, oh! Sonho que te vais... Depois, ainda, eu contemplei, já mudo, / Em vez da tarde, da balada, tudo, / - A minha desventura e .nada mais. NOITE A lua – branca e pálida donzela / No azul do firmamento vai boiando / E as estrelas de prata vão chispando / E tremendo na lúcida umbela No mar plácido e calmo, sem procela, / As vagas de vagar se vão beijando / prece de amor vão murmurando, / Da lua a claridade doce e bela.

E uma

A terra dorme; dormem as mariposas, / As virgens castas, puras, amorosas; / Parece que até dorme a própria flor... Só meu peito por ti vela cantando / Baixinho e docemente vai vibrando / A melodia esplêndida do amor.

A TI (Federalista – 02.08) Como um bando de garças dispersadas, / As minhas ilusões partiram ao vento / Do infortúnio, que foi-se lento e lento, / Em tristes, gemedoras revoadas. As primaveras cândidas, doiradas, / Se foram me deixando o desalento; / As minhas ilusões partiram ao vento /Como um bando de garças dispersadas. Se partiram bem cedo as primaveras, / Dourados sonhos vãos, - loiras quimeras, / Tudo qual vento que se foi, passou. Eu quando do meu peito bem no fundo, / Riqueza sem igual, maior do mundo: / Teu olhar não se foi, teu rir ficou. REVENDO o PASSADO - Federalista – 15.08. O Dr. Domingos Quadros Barbosa Álvares é o autor do primeiro hino municipal Pedreiras - Ma. (Uma página de ontem, de Nascimento de Moraes, sobre a vida de Domingos Barbosa, artigo publicado em “O Globo”, de 29 de dezembro de 1945.) O escritor, jornalista, administrador, contista, parlamentar, advogado, tabelião, poeta, novelista, tribuno, conferencista e orador de largos recursos, faleceu no Rio de Janeiro, no dia 25 de dezembro de 1945. Deixou os filhos; comandante José Domingos Barbosa - Oficial da Armada; Dr. Manuel Barbosa, funcionário dos Correis e Telégrafos; Dr. Henrique Barbosa - funcionário do DASP e Dr. José Barbosa, do

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Ministério da Fazenda. Casou-se com D. Laura Barbosa em 18 de janeiro de 1901. Era irmão materno de Dona Michol Barbosa. Avô do compositor Carlos Lira. Muitos foram seus admiradores, incluindo entre eles, o Príncipe dos Prosadores brasileiro, o escritor maranhense Coelho Neto, que se aproveitou de uma estada do jovem contista no Rio de Janeiro, em junho de 1912, quando este foi apresentar seu 3º livro “Contos da Minha Terra”, reuniu os mais famosos nomes da intelectualidade presente na Cidade Maravilhosa, fim apresentar e homenagear o novo vulto, cuja fama já varava os arredores da Atenas Brasileira. O SÃO-BENTUENSE sempre teve um imenso apego à terra que lhe serviu de berço, o que lhe servia de um orgulho, exposto, claramente, em suas manifestações, sem nada cobrar do povo que nada lhe deu. Julgava-se, apenas, um devedor, por nela haver nascido. Vejamos, em carta de 3 de novembro de 1923, dirigida ao Dr. Urbano Pinheiro, tão logo assumiu a Cadeira de Deputado Federal. - “que não fui, nem sou, nem serei jamais surdo ao seu nobre apelo e aos meus deveres de são-bentuense, contraídos desde a hora abençoada em que nessa terra nasci, e ratificado pelo amor sincero que a ela tenho”. BENEFÍCIOS Quando secretário de Estado foi parciário do deputado Joaquim Ribeiro Gonçalves, na defesa dos benefícios para São Bento, nos casos: Lei nº. 361, de 30 de março de 1905, que elevou a Vila de São Bento à categoria de cidade; Lei 369, de 14 de abril de 1905, que autorizou o governo a auxiliar a Intendência de São Bento com a quantia de cinco contos de réis, para o levantamento de uma comporta ou barragem nos campos de São Bento, com o objetivo de solucionar o mais antigo e angustiante problema do município - o Porto - aspiração carcomida e sepultada pelo passar dos anos, que pese o imenso sacrifício de poucos; Decreto n.º 59, de 26 de fevereiro de 1906 que criou o grupo escolar, para o qual foram nomeados uns dos primeiros professores normalistas no interior do Estado, Laura Guterres de Sousa e o famoso mestre Luís Viana Lobato Viana, que retornava à terra de seu nascimento, diplomado com apenas dezesseis anos, com a honrosa distinção de ser o primeiro e mais novo educador maranhense a obter o diploma de professor normalista. Na Câmara Baixa do País, conforme prometera em correspondência abaixo, conseguiu que a obra da Comporta na Vala, fosse iniciada em setembro/1927, com a chegada do pessoal e comissão de engenheiros. Embora quando de sua morte vários jornais tenham feito as melhores referências e reconhecido o seu valor, com destaque ao artigo “Um página de ontem”, do Professor Nascimento de Moraes, publicado em “Globo” de 29 de dezembro de 1945. Com toda essa grandeza, seu nome estaria praticamente esquecido, não fosse o da viela que começa na Rua Antônio Rayol, quem sobe o Mercado Central. E em São Bento? Sua terra que tanto amou, cantou e defendeu-a, publicamente. Nela, nada? Houve um Departamento Cultural, na União Operária Sambentuense, que tivemos a honra de tê-lo criado e que funcionou intensamente em nossas gestões, com as Escolas: Pré-Primária e Primária “Luís do Vale”; Cortes e Costuras - Kiola Costa e

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de Datilografia, Professor Urbano Pinheiro. Esse Departamento ministrou em convênio com o PIPMO e LBA, utilíssimos cursos de aperfeiçoamento de mão de obra. Para compensar o olvidamento de nossa Terra com ele, outros municípios o fizeram, como em Perimirim (Macapá) foi homenageado a 8 de novembro de 1.922, quando colocaram o seu nome na rua que era chamada de Dr. Luís Domingas; em Viana, há também, o registro de seu nome numa de suas artérias, numa prova eloquente do reconhecimento da grandeza desse ilustre imortal. Ele sabia disso, pois escreveu em o “O Jornal” na sua coluna “A ESMO”. ‘Nós cá no Maranhão - é uma verdade dura de dizer, mas que precisa ser dita embora sejamos, a valer, qualquer coisa aproveitável, só nos convencemos de que somos depois que, fora daqui, diga alguém que somos mesmos. Em conferência no Rio de Janeiro, sobre Dom Luís de Brito, ao descrever a beleza de sua Terra, extraímos estes maravilhosos trechos. “ainda não houve pincel que se atrevesse a pintar e palavra que pudesse dizer as maravilhas fartamente espalhadas no campo dos Peris após as primeiras chuvas” Pela estiagem é ele um largo trato de terra acinzentada, onde se ergue, em montículos, as casas das fazendas, alvejando por entre o verde do arvoredo. Na água quieta da “Vala Conduru”, que dá acesso às embarcações que demandam a cidade, a luz se reflete como em aço polido. Aqui e ali, cortam-no as “puídas”- caminhos que os pés dos homens, a andadura dos animais e a roda dos carros de boi abriram, pulverizando e acamando as “torroadas”, em que a ardência do sol comburente converte, no verão, a terra encharcada. “Vêm, porém, as chuvas, e logo o campo se transmuda num lago imenso, que dá a impressão dum mar. Os montículos, os “tesos”- como lhes chama a pinturesca linguagem regional - se tornam em ilhas. A vegetação aquática desponta com as lanças flébeis das canaranas e com os pendões do arroz bravo. Pululam os ninhos. E os “cascos” em que os caboclos singram as águas do campo, levantam, de todas as frondes, revoadas de aves, sem conta, que às tontas, ziquezagueiam no ar, grazinando e matizando-o numa policromia, cuja riqueza ninguém imagina. Soror Joana Angélica. Para trás! Para trás, nem mais um passo à frente! / Que ódio vos conturba o coração e a mente, / A tal ponto que nem vos tolhe aquela cruz?! / Recordai-vos de que soldados portugueses, Esses sabres terçastes tantas vezes / Por espalhar a Fé, por defender Jesus! Aqui dentro, a rezar, vive um frágil rebanho / Do qual Nosso Senhor me confiou o amanho, E o qual defenderei sozinha, se mister! / As armas abaixai, que é torpe a vilania Apontá-las assim, quando o que as desafia, / Coberta de estamenha, é um peito de mulher! Entretanto, atirai, se, vilões e covardes, / Quiserdes profanar o aprisco. mas ao entrardes

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Já que forças iguais não tenha a vos opor / Vos tereis que pisar o meu corpo sangrento, Que este pobre redil, este humilde Convento, / É a terra do Brasil, a casa do Senhor. Dr. Domingos Quadro Barbosa Álvares, homenageado pela Academia Sambentuense é o patrono da Cadeira 14, fundada e ocupada pelo poeta Welligton Matos. Do livro São Bento – um jardim de Academus, autoria do pesquisador Álvaro Urubatan (Vavá Melo), da Academia Sambentuense,

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ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA 32

JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO

ALDY MELLO DE ARAUJO MEMBRO FUNDADOR Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhoras e Senhores Acadêmicos, Este é um ato de brilho e simbolismo, pois se repetirá em cada mês nesta Casa das Letras, com ou sem a presença dos sinais honoríficos, tendo em vista que honorífico é e será sempre o elogiado. Não de trata apenas de um espaço de Memória, onde se expõe o elogio ao patrono da cadeira ocupada. As palavras aqui pronunciadas e o sentimento aqui expresso ficam inscritos e creditados nos anais da Academia.

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Elogiar Josué Montello é praticar um ato com efeito de prazer e infinita alegria. Procurarei honrar esta missão e cumpri-la é uma grande satisfação. Minhas palavras são muito pobres, diante da riqueza e iluminação que é o nome de Josué Montello e sua trajetória literária, neste país, pelas qualidades de caráter, seu estilo de vida e sua inteligência, como personalidade marcante na literatura brasileira, distinguindo-se no território nacional e no estrangeiro. Difícil é muito mais elogiar um homem que, como Leonardo Da Vinci, foi tão eclético como jornalista, professor, romancista, cronista, ensaísta, orador, teatrólogo e memorialista. Sinto-me gratificado em traçar o perfil desse lídimo representante da literatura brasileira, especialmente maranhense, nascido com a certeza de quem foi e sempre será iluminado pelas e para as letras, com suas obras evocativas dos mais simples, dos mais singelos personagens e seus escritos construídos sob uma beleza formal. Josué Montello não foi Aristófanes nem nasceu em Atenas em 445 a.C. Foi maranhense, nascido em São Luis. Sua vida foi cheia de retidão, sua obra demonstrou a formação requintadas que teve. Sua mania de conservador não lhe impediu de revelar a hostilidade que tinha às coisas irreais, embora seus romances agradassem a todos que os liam. Mesmo conservador defendeu os valores democráticos a sua maneira, os desmandos da corrupção de seu tempo, era sofisticado e gostava da convivência com políticos, filósofos, escritores famosos e cientistas – enfim, os ricos. Josué Montello exerceu as atividades de professor desde os 18 anos, tendo como companheiros do trabalho no ensino particular Durval Paraíso e Bernardo Silva ensinando línguas como Português, Francês, Inglês, além de Literatura, Geografia e História da Civilização, mas desde muito cedo já era consciente de que a atividade intelectual era sua grande vocação. O notável romancista “não tardaria a encontrar na prosa (ficção, ensaio, crônica, oratória) o caminho de sua verdadeira e consagrada realização literária, naqueles tempos que ainda sonhava com a poesia”. “Mesmo romancista, José Montello compôs tantas várias poesias que poderiam ser reunidas em um livro se fossem publicadas.” Morou em Belém do Pará, onde teve ativa vida literária, apesar de bastante novo que era. Na capital paraense, colaborou em vários jornais e revistas. Fez o curso primário na Escola Modelo Benedito Leite e curso secundário no Liceu Maranhense, destacando-se como primeiro aluno de sua turma. Colaborou nos principais jornais maranhenses, notadamente, A Tribuna, a Folha do Povo e O Imparcial. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, logo Integrou o grupo intelectual que fundou, o Dom Casmurro, colaborando assiduamente com esse semanário literário. Assinou os suplementos dominicais de A Manhã, O Jornal, O Correio da Manhã, o Diário de Notícias e o Jornal do Comércio. Tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo na revista Manchete. Seu estilo como o de tantos outros escritores de seu tempo era sofisticado, preciosista e, às vezes, pedante. Embora não tenha trazido em suas obras um determinismo vidente como Euclides da Cunha, soube muito bem descrever a saga do negro brasileiro, suas lutas pela sobrevivência e seus dramas. Josué é dono de uma linguagem rebuscada, muito humor, com fortes figuras de linguagem e sabedoria com identidades, em maior parte das vezes regionais. Em toda a sua obra ele dedica referências especiais a São Luis.

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Josué Montello é um romancista clássico que nasceu na época de Balzac. Clássico na linguagem narrativa, deixando-se guiar, como Guimarães Rosa, pelos imperativos da memória involuntária e sentimental, disse Wilson Martins. Como romancista que foi, ele teve a oportunidade de dizer o que realmente é um romance. Disse ele: “não obstante a sua condição de gênero popular ou por isso mesmo, vai muito além do simples escopo de lazer ou passatempo, é, sobretudo, espelho da vida, como testemunha ou denúncia na sua tentativa para penetrar no mistério da própria vida do ser humano.” Veio de suas atitudes literárias aquilo que a história chamou de Saga Maranhense, que consistia nos livros que se situavam em Alcântara e São Luis, onde nasceu o romancista. Foi de Josué a seguinte frase: “As memórias nada mais são do que aquilo que nos restou de nossos esquecimentos.” Sentia muito bem a cidade onde nascera. O texto é de Josué: “Agora, quando as noites se fechavam, estilhaçando-se em estrelas por cima da cidade adormecida, ouvia-se o som compassado dos zabumbas, das matracas e dos maracás, madrugada a dentro, por cima do baticum ritual dos tambores da Casa das Minas. Vinham de vários pontos da Ilha, sobretudo da Maioba, do Turu, de Vinhais, do Anil e do Matadouro, e não se limitava à percussão dos instrumentos, porque trazia consigo a toada dos cantadores, nos ensaios do bumba meu boi .”

Essa era uma das maneiras originais de Josué Montello sentir a cidade onde nasceu – através de seus tambores. Josué, como bom maranhense, soube muito bem falar de São Luis, sua terra, destacando seus movimentos políticos e religiosos, suas conquistas através do tempo, e o mais importante a forma simples de viver dos ludovicenses com sua vocação lúdica. São Luis para o famoso romancista era um território livre com seus ventos embalados nos sons dos tambores trazidos pelos bois de São José de Ribamar, da Maioba, do Maracanã ou da Fé em Deus. Tudo lembrava os negros e suas lutas em busca da liberdade. A Casa de Cultura Josué Montello, instalada na Rua das Hortas, 327, em São Luis, órgão da Secretaria de Cultura do Estado, criada por lei estadual e agora com 31 anos de existência, possui uma importante biblioteca sobre o romancista e suas obras constituindo-se o melhor de pesquisas e consultas sobre o escritor. Josué Montello faz uma narrativa tão romântica, como lhe é peculiar, ao Jornal Pequeno, lá no chamado Canto Pequeno onde se falava muito da vida alheia, através das rodas de vadios, com o diz o autor. Diz ainda Josué Montello que deve ter sido o Canto Pequeno que inspirou Ribamar Bogéa a criar o seu jornal e chamá-lo de Jornal Pequeno. A Rua Formosa ou Rua Afonso Pena é tradicional e lá também morou por muito tempo o escritor João Mohana, residindo num antigo sobrado até hoje ocupado pela sua família. Diz ainda o escritor que o Canto Pequeno era um local onde mais se dava apelidos aos governantes da época. Em um de seus livros, que teve Paris como cenário, Josué Montello fala do “pipilar dos pardais” no Bulevar Saint Germain, comparando-os aos bem-te-vis de São Luis. Para o autor, eram os mesmos bem-te-vis que cantam em 11 romances da sua obra. Ouvir os bem-te-vis da sua terra natal era uma forma de valorizar as lembranças, sempre que a saudade surgia, aguçando as recordações da ilha onde nasceu- São Luis do Maranhão.

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Sabia receber elogios e não deixava também de galantear famosos e importantes vultos das letras brasileiras. Sobre Machado de Assis disse Josué Montello: “Ao longo das crônicas com que acompanhou a vida política, a vida social, a vida cultural do país, comentando, discutindo confrontando, sempre fugindo à controvérsia e à polêmica, Machado de Assis soube ser a seu modo o espelho da vida brasileira, a que não faltou a reflexão sobre a política internacional.”

Também deu suas impressões sobre o poeta francês: “Victor Hugo não se limitou a escrever poemas eloquentes, em que o verso dá a impressão de sugerir a gesticulação do tribuno – escreveu também poemas para serem ditos em voz baixa, próprios para as confidências e a meditação.” Sobre Gentil Homem de Almeida Braga, o nosso Gentil Braga, escreveu: “O mais de sua atividade, no plano intelectual, restringe-se a estas três inclinações: o jornalismo, a tradução e a poesia. Teve vida curta, como quase todos os poetas românticos. Nascido em São Luis, em 1835, tinha pouco mais de 40 anos quando faleceu, também em São Luis”. Quando se refere ao Prêmio Nobel de Literatura, Josué deixa transparecer certo ressentimento, talvez, por não o ter recebido, ficando claras suas posições sobre a Academia Sueca, referindo-se aos critérios usados: “Assim como ocorre o critério ético, ocorre também o critério social e político, com o reconhecimento de que o prêmio recomenda a obra”. Josué Montello é dono de uma produção literária diversificada. Em seus 120 livros ele foi o mesmo no conto, na novela e no romance, aqui onde se concentra o apogeu de obra literária. Sua fama igualmente se estende aos ensaios e na crítica, deixando ao mundo uma biografia literária de alto quilate. Josué tem um caminho luminoso e suas obras expandem luzes que não deixarão a escuridão dominar a mente e os corações daqueles que leem suas ideias. Do romance ao teatro, do artigo jornalístico ao ensaio histórico, é dono de uma prosa elegante. Tem uma formação intelectual sólida, o que é observado em toda a sua obra. Segundo o crítico Wilson Martins, a obra de Josué Montello está na linha de Machado de Assis e Eça de Queiroz, expoentes da literatura brasileira e portuguesa. Janelas Fechadas foi o romance de estreia de Josué Montello, publicado em 1941. Esse romance de ficção da época, onde a trama narrada pelo autor demonstrava um ambiente tranquilo e sossegado como bem diz a crítica, não agradou o autor, por isso não foi reeditado. Mas nele já se notava “o poder evocativo de uma das mais límpidas e harmoniosas prosas da língua portuguesa.”. Em 1948, Josué lançava a Luz da Estrela Morta utilizando-se de um velho relógio de pêndulo, objeto que acompanhou a vida de várias gerações e teve expressivo significado na vida de seu personagem – o Eduardo. É esse homem que reage aos acontecimentos do tempo. Escritor, romancista renomado no Brasil e no exterior, o homem público Josué Montello exerceu vários cargos públicos, participou de colegiados nacionais e foi agraciado, ainda em vida, por inúmeros órgãos, entidades e governos. Dos cargos exercidos, destacamos: Inspetor Federal do Ensino Comercial, no Rio de Janeiro, em1937; Diretor Geral da Biblioteca Nacional, em 1947;

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Secretário Geral do Estado do Maranhão, em 1946 - na intervenção de Saturnino Belo; Subchefe da Casa Civil da Presidência da República,em 1956 ; Diretor Geral do Museu Histórico Nacional; Presidente do Conselho Federal de Cultura , de 1967 a 1968; Conselheiro Cultural da Embaixada do Brasil em Paris, de 1969 a 1970; Embaixador do Brasil junto à UNESCO, de 1985 a 1989; Presidente da Academia Brasileira de Letras, de 1994 a 1995. Em Labirinto de Espelhos, publicado em 1952, seus personagens eram uma viúva rica e seus herdeiros, no Maranhão, esperando um testamento. Marta, a viúva, via-se cercada de herdeiros interesseiros, que aguardam sua morte. Dessa situação, a viúva tem plena consciência do caráter de todos e sabia que todos os herdeiros estavam interessados em sua fortuna. A Décima Noite foi seu livro publicado em 1959. Este romance fala do amor. Conta a história de Abelardo que, regressando a São Luis, pretende adquirir a casa onde outrora residiam seus pais. Apaixonou-se pela filha do novo dono da casa, pois via nela a imagem de sua já falecida mãe. Casados, sem que a esposa apoiasse seu desejo obsessivo, passou a lutar pela anulação do casamento por considerar ter sido a esposa a mulher errada, apegando-se às normas do Código Civil. São Luís é o cenário de seu novo livro – Os degraus do Paraíso. Este livro trata de uma crítica feita ao fanatismo e puritanismo religioso, onde Josué, narrando uma epidemia da gripe espanhola, fala da morte física e espiritual. Esse romance trata em demasia da morte, quando quase todos os personagens Ernesto, Cristina, Cipriana e Dr. Luna morrem. Como dizem os críticos, não há efetivamente degraus para se chegar ao paraíso. Existe, sim, um meio: a morte, o único passaporte para se subir os degraus do paraíso e se chegar à felicidade eterna. Em uma de suas frases Josué chegou a dizer: ”A morte não é a tortura final; é a grande anistia.”. Em 1971, foi publicado uma das mais importantes obras de Josué Montello: O Cais da Sagração. Essa obra retrata bem a vida do porto de São Luis e mostra como viviam, no litoral nordestino, especialmente em São Luis, os barqueiros. Seu personagem principal é Severino, um barqueiro desenganado pelo médico de coração e que representa a vida levada pelos barqueiros e como lidam com seus sonhos, seus amores, seus ódios e suas vinganças, como bem analisa o acadêmico Eduardo Portela. É um romance de lirismo. Os Tambores de São Luis encarna a tragédia libertadora da negritude brasileira, tendo sido editado em 1975, quatro anos após o sucesso de Cais da Sagração. Josué Montello foi um novelista universal para Tristão de Athayde. Foi o melhor romance do autor e o mais completo. Josué Montello tinha uma excepcional qualidade de escritor. A penetração desse romance no social com uma abordagem literária incomum, fez dessa obra a mais cientifica de suas obras. Ele é o romance da servidão como afirmam vários críticos. Para os franceses, era Les tambours noirs, publicado pela editora Flammarion, em Paris. Josué foi ainda: Membro do Conselho do Patrimônio Histórico; Membro da Comissão Diretora da Biblioteca do Exército Membro do Conselho Federal de Educação,

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Membro do Conselho Federal de Cultura, Membro efetivo da Academia Brasileira de Letras; Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Membro da Academia Maranhense de Letras; Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro da Academia Internacional da Cultura Portuguesa; Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa; Membro da Academia das Ciências de Lisboa; Membro da Academia Portuguesa de História; Catedrático Honorário da Universidade Nacional Maior de São Marcos (Lima, Peru); Sócio benemérito da União Brasileira de Escritores; Membro honorário da Academia Pernambucana de Letras; Membro da Academia Venezuelana de Letras; Membro da Academia Espanhola de História; Sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Uruguai. Em 1978, Josué publicou Noite sobre Alcântara. Com a abolição da escravatura e a proclamação da república brasileira, Alcântara que era um centro da aristocracia maranhense entrou em declínio e tornou-se quase morta. O romance dá-se em Alcântara, e Josué expressa a sua noção de decadência, explicando como Alcântara é conduzida ao seu atraso social e econômico. É uma produção romanesca de Josué que fixa seu verdadeiro pensamento social. Na sua Coroa de Areia expõe com muito humanismo a rebeldia maranhense e a revolução brasileira como disse Franklin de Oliveira. Foi assim que o próprio Josué se manifestou nessa obra: “Com as revoltas, as perplexidades e os anseios de minha geração, furtei vidas e associei destinos, procurando espelhar uma época de confrontos de que fui testemunha.” Para ele, João Maurício, que é seu personagem principal no livro, era maranhense e estudante de Direito no Rio de Janeiro. Enfrentou a Polícia Militar nas passeatas políticas e pegou armas em 1922, 1924 e 1930, participando de movimentos revolucionários. Quando foi indicado para dirigir uma luta armada no Maranhão, em 1935, recusou. Era de uma geração que lutava contra o poder, mas não estava preparada para assumi-lo. Diz o escritor Wilson Martins que Coroa de Areia é um exemplo soberbo da obra de Josué que não abdicou de sua condição romanesca. A obra não cientificou os aspectos de criação linguística e artística Mas Josué Montello resolve entrar no ramo policial com seu livro O Silêncio da Confissão, publicado em 1980, narrando a intriga que leva ao fim o relacionamento entre Madalena e Benício. Fala ainda do amor que existe entre os dois, narrando os encantos e desencantos que ocorrem no Rio de Janeiro, em pleno regime militar, na década de 60. Benício era da direita, fiel aos princípios da doutrina que levou à caça aos comunistas. Josué Montello continua com seus personagens simples e de vida comum, fazendo de seus romances um grande passa tempo. Em 1981, lança O Largo do Desterro. Nesse romance, ele conta a história do major Ramiro Tobarda que conhecera D. João VI e Getúlio Vargas. Trata-se de um livro divertido e reflexivo. O tema idade é abordado, pois o autor expõe seus personagens vivendo a evolução dos tempos. O Major Ramiro andou de carruagem, de automóvel e viveu a evolução dos tempos dos vestidos fechados ao biquíni.

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Em 1982, Josué publicou seu novo livro chamado Aleluia, onde conta a história de um discípulo que acompanha Cristo, vendo nesse gesto o agradecimento pelos milagres do Mestre. O livro tem a forma de um monólogo. Retrata essa obra um verdadeiro mito cristão na literatura, pela primeira vez abordada por um romancista brasileiro. Outros escritores abordaram esse tema como Fernando Sabino, em 1994, e Armando Avena em 2002. Pedra Viva é um romance publicado em 1983. Aqui Josué Montello aborda a paixão e a aventura. O autor concilia nessa obra o romance moderno com o romance tradicional, utilizando os recursos dos dois. É uma obra de narrativa poética que leva o leitor a refletir sobre a vida, o amor, a velhice e a morte. Em 1984, Josué Montello publicou o livro Uma Varanda sobre o Silêncio que igualmente trata do amor, mais o amor materno. É uma triste história que leva a mãe, no caso Luciana, a procurar o filho desaparecido, esbarrando nos mistérios do terrorismo no Brasil e nas ações praticadas pelo próprio governo. É uma história comovente de busca e espera do filho Mário Júlio, escrita sob o mérito melodramático usado pelo autor. Josué lança um novo livro, em1985, Perto da Meia-Noite. Relata nesse livro suas aventuras de colégio. Dando vida a sua Saga Maranhense, volta São Luis, precisamente ao Liceu Maranhense, para viver seu encontro e falar da convivência com Glorinha, que parece ter sido sua namorada de juventude, seu personagem imaginário. Apresentando o livro, é ele mesmo quem diz “... assim como há pessoas de nosso convívio, há também personagens. Fazem parte de nosso mundo, como algo de familiar na sua frequência e na usa intimidade.” Josué Montello é um homem premiado. Recebeu inúmeros prêmios de destaque no Brasil e no exterior: Prêmio “Sílvio Romero” de Crítica e História, da Academia Brasileira de Letras, Prêmio “Artur Azevedo” de Teatro, da Academia Brasileira de Letras, Prêmio “Coelho Neto” de Romance, da Academia Brasileira de Letras Prêmio “Paula Brito” de Romance, da Prefeitura do Distrito Federal, Prêmio “Fernando Chinaglia” de Romance, da União Brasileira de Escritores, Prêmio “Intelectual do Ano”, da União Brasileira de Escritores e da Folha de S. Paulo, Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília, Prêmio de Romance da Associação Paulista de Críticos de Arte, Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro, Prêmio “Personagem Literária do Ano 1982”- da Câmara Brasileira do Livro, de São Paulo, Prêmio Brasília de Literatura para conjunto de obra, da Fundação Cultural do Distrito Federal, Grande Prêmio da Academia Francesa, Prêmio Guimarães Rosa, de prosa, do Ministério da Cultura, Prêmio Oliveira Martins, da União Brasileira de Escritores, Prêmio Ivan Lins (Ensaio) da Academia Carioca de Letras Antes que os Pássaros acordem foi o próximo livro do autor, em 1986. Josué, pela sua obra, coloca-se no primeiro plano dos grandes romancistas brasileiros, chegando a ser universal, quando propicia uma reflexão sobre certas angústias e perplexidades do tempo atual em se tratando dos valores universais.

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Em a Última Convidada, em 1989, Montello conta a história de um triângulo amoroso: Patrícia, Rodrigo e Simone. Fala de obsessão e amor, Rodrigo casa-se com Patrícia, mas mantém um caso de amor com Simone. Após vinte anos, Simone e Patrícia se encontram quando aquela comemora 40 anos. Ela, a Simone, não foi convidada, pelo que se queixa. É uma história também de remorsos. Era 1989, quando Josué Montello lançou mais um romance, desta vez Um Beiral para os Bem - te - vis. Nesse livro Josué narra a história de uma jovem que vai de um lugar a outro da mesma cidade, nua e à noite, na garupa de uma moto. Lendo a obra, sabe-se que Josué fala das relações com a família da jovem onde, depois do fato, muita coisa volta ao passado de harmonia, assim como os bem-te-vis voltam ao beiral, quando passa o mal tempo. No estilo de Ágata Christie, Josué publica O Camarote Vazio, em 1990. Aqui Montello torna-se um romancista do suspense. Narra a história de um homem que vai a Santos, em São Paulo, para receber uma herança de família (joias preciosas), de sua parenta. Retornando-se, ele e as joias desaparecem, mas o camarote permanece intacto. O episódio acontece na véspera do Carnaval. Em 1992, Josué Montello publicou o livro O Baile da Despedida, onde expõe uma verdade histórica que se soma a sua imaginação romanesca como dizem os críticos. O Baile da Ilha Fiscal acontecia enquanto se preparava a proclamação da república brasileira. A monarquia nem imaginava que aquela era a última oportunidade para se despedir do poder. Muitas foram as medalhas e condecorações que Josué Montello recebeu pelas suas obras: 12 condecorações de Grande Oficial de Ordens; 7 Grã Cruz de Ordens; 4 títulos de Comendador; 13 medalhas de Mérito e 8 diplomas de reconhecimento. Destacamos: Grande Oficial da Ordem Militar da Espada e de Portugal; Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, de Portugal; Grã-Cruz da Ordem Andrés Bello, da Venezuela; Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, de Portugal; Grã-Cruz da Ordem do Mérito de Brasília; Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra da República Francesa; Comendador da Ordem do Mérito Naval, do Brasil; Comendador da Ordem do Mérito Grão Pará; Comendador da Ordem do Congresso Nacional; Comendador da Ordem “Al Mérito por Servicios Distinguidos”, Peru; Medalha da Imperatriz Leopoldina do Instituto Histórico de São Paulo; Medalha Marechal Hermes, do Ministério da Justiça; Medalha Anchieta, do Distrito Federal; Medalha Companheiros da Aliança, do Ministério das Relações Exteriores; Medalha Timbira, do Estado do Maranhão; Medalha do Mérito Cultural Acadêmico Austregésilo de Athayde da Academia de Letras e Artes Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Maranhão. Janela de Mirante foi o livro lançado por Josué Montello em 1993. Aqui o romancista reúne um conjunto de crônicas sobre o Maranhão, resultado do seu trabalho jornalístico. No prefácio de seu próprio livro Josué Montello fala da importância de São Luis: “O que sou, como romancista, como escritor, eu devo à minha terra. Ao meu

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torrão. À minha cidade... Quem não dispõe de uma província, no íntimo de seu ser, para associá-la às mais puras recordações da infância e da juventude, não pode entender a Canção do Exílio...”. Em 1997, Josué Montello publicou mais um livro A Condição Literária, com o selo do UNICEUMA. Nessa obra ele fala de figuras, fatos e figurões que foram importantes na literatura brasileira. Fala de Machado de Assis, de Anatole France, de Monteiro Lobato, de Camilo Castelo Branco e outros figurões da literatura brasileira e internacional. Fala ainda das vicissitudes e grandezas do Prêmio Nobel de Literatura e do esplendor e decadências dos prêmios literários. Em síntese, as obras de Josué Montello. ROMANCES – 25: Janelas fechadas; A luz da estrela morta; Labirinto de espelhos; A décima noite; Os degraus do paraíso; Cais da sagração; Os tambores de São Luís; Noite sobre Alcântara; A coroa de areia; O silêncio da confissão; Largo do desterro; Aleluia; Pedra viva; Uma varanda sobre o silêncio; Perto da meia-noite; Antes que os pássaros acordem; A última convidada; Um beiral para os bem-te-vis; O camarote vazio; O baile da despedida; A viagem sem regresso; Uma sombra na parede; A mulher proibida. In Romances escolhidos; Enquanto o tempo não passa. ENSAIOS -27: Gonçalves Dias; Histórias da vida literária; O Hamlet de Antônio Nobre; Cervantes e o moinho de vento; Viagem ao mundo do Dom Quixote; Fontes tradicionais de Antônio Nobre; Ricardo Palma, (clássico da América); Artur Azevedo e a arte do conto; Estampas literárias; A oratória atual do Brasil; Caminho da fonte; O presidente Machado de Assis; Santos de casa; Uma palavra depois de outra; Un maître oublié de Stendhal; Estante giratória; A cultura brasileira; Os caminhos; Lanterna vermelha; Alcântara; Janela de mirante; O modernismo na Academia; O tempo devolvido; Fachada de azulejos; Condição literária; Memórias póstumas de Machado de Assis. HISTÓRIA - 4: História dos homens de nossa história; Os holandeses no maranhão; História da Independência do Brasil. Introdução, planejamento e direção geral, 4 vols; Pedro I e a Independência do Brasil à luz da correspondência epistolar. HISTÓRIA LITERÁRIA -5: Pequeno anedotário da Academia Brasileira. (Anedotário dos fundadores); Na Casa dos 40; Anedotário geral da Academia Brasileira; Aluísio Azevedo e a polêmica d'O Mulato; A polêmica de Tobias Barreto com os padres do Maranhão. NOVELAS -6: O fio da meada; Duas vezes perdida; Numa véspera de Natal; Uma tarde, outra tarde, seguida de um rosto de menina; A indesejada aposentaria; Glorinha. TEATRO – 9: Precisa-se de um anjo; Escola da saudade; O verdugo; A miragem; Através do olho mágico; O anel que tu me deste; A baronesa; Alegoria das três capitais; Um apartamento no céu. LITERATURA INFANTO-JUVENIL -8: O tesouro de Dom José; As aventuras do Calunga; A viagem fantástica; Conversa do Tio Juca (1947-48); A cabeça de ouro (1949); As três carruagens e outras histórias; Fofão, Antena e o Vira-Lata inteligente; O carrasco que era santo. Josué de Sousa Montello foi reitor da Universidade Federal do Maranhão, no período de 1972 a 1973 na qualidade de Reitor Pro-Tempore. Sua gestão deu-se em pleno regime militar, com a indicação do Ministro da Educação Jarbas Passarinho de quem Josué era grande amigo. Dentre as suas ações, destacam-se a aquisição de dois

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importantes prédios históricos de São Luis – o Palácio Cristo Rei e o Palacete Gentil Braga, na Rua Grande. Durante sua administração, Josué não esqueceu a Saga Maranhense. Foi ele mesmo que disse: “Na minha obstinação de ser útil à minha terra, cheguei a pensar em fazer da Praia Grande, em São Luis, o campus da Universidade Federal do Maranhão, levando em conta a magnífica localização do seu conjunto arquitetônico, quase todo de importantes sobradões de azulejos.” Josué Montello foi o quarto ocupante da Cadeira nº 29, eleito em 4 de novembro de 1954, na sucessão de Cláudio de Sousa e recebido em 4 de junho de 1955 pelo Acadêmico Viriato Corrêa, chegando a ser presidente dessa Academia em substituição a Austregésilo de Athayde, em 1993, assumindo a posição de decano. Recebeu os Acadêmicos Cândido Mota Filho, Evaristo de Moraes Filho, José Sarney, José Guilherme Merquior, Evandro Lins e Silva e Roberto Marinho. Josué fez de seus discursos acadêmicos verdadeiras obras literárias. São todos eles dotados de um traço comum: a elegância da frase, o estilo ameno, as citações eruditas. Às vezes respinga ironias e anedotas, mas sempre tendo em mente a importância da alocução para a história da academia e do acadêmico. Na recepção de José Sarney ressaltou o orgulho de receber o conterrâneo e fez uma primorosa comparação entre as atividades políticas e literárias do novo acadêmico, mostrando acima de tudo a identidade de atuação e de pensamento. Seu estilo de discursar é sempre castiço e com leves ironias. Senhor Presidente, senhoras e senhores acadêmicos, O elogio a Josué de Sousa Montello, patrono da 32ª cadeira dessa neo Academia Ludovicense de Letras, não termina aqui. Sua glória e sua fama estão incorporadas à vida intelectual dos brasileiros e dos maranhenses. Josué Montello é galardoado pelo mais famoso processo literário nacional e dono de uma consagração literária infinita. Mas aqui fico repetindo o que disse Machado de Assis: “Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.”. Muito Obrigado!

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1.

Plenária; 2. Plenária; 3. Elogio; 4. Elogio; 5. Apresentação; 6. Apresentação; 7. Foto Oficial: André Cruz, Ana Luiza A. Ferro; Dilercy Adler; Arquimedes Viegas; Raimundo Campos Filho; Clores Holanda; Aldy Mello; Roque Macatrão; Álvaro Melo; João Ericeira; Leopoldo Vaz; Antonio Brandão

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ALL NA Mテ好IA

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OUTONO EM NOVA YORK Crônicas publicadas no "O Estado do Maranhão", nos dias 29/12/13, 05/01/2104, 26/01/2014, 02/02/2014

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO 29 Esta foi à terceira vez que fui à Nova York, cidade com a qual mantenho ligações afetivas desde a juventude. É que me acostumei a ver os filmes musicais do Cine Rex, em Caxias, e ouvir os discos rodados do “Cinema do ar Lever” dos auto-falantes da Praça Gonçalves Dias. Assim, logo da primeira estada, em 1980, reconheci facilmente diversos locais e quis ver os astros do cinema daqueles anos 40, como foi o caso do Mickey Rooney e da Ann Miller, no Mark Hellinger Theatre, na Broadway. No outono é quando tudo acontece em NYC. No início da Estação, há uma melancolia nas árvores com seus fortes tons avermelhados como fogo e, à medida que o tempo avança, as ruas vão ficando forradas de folhas secas; as temperaturas são baixas e o frio, intenso. Como não poderia deixar de ser, tive a sensação de que os espaços aos quais retornei não eram mais os mesmos, pois antes ocupados por um corpo que não está mais aqui; o tempo era outro, havia passado. Essa ausência física foi muito sentida principalmente por mim. Suporto bem as viagem áreas de longa distância (essa durou mais de 9 horas), numa rota a dez mil metros de altura sobre o mar do Caribe, ao largo da República Dominicana, passando pelas Bahamas, até chegar a Nova York, com o fuso horário “economizando” duas horas em relação a São Paulo. Na televisão, durante o vôo, vejo filmes escolhidos e acompanho a rota do avião; durmo e ando quando é permitido. Irrita-me, entretanto, a burocracia dos aeroportos, na saída e na chegada, as escalas e conexões, e os inevitáveis atrasos. Dizem que sou um bom “correspondente” das viagens que faço ao exterior. Tem gente que não gosta, mas também não viaja; apenas fica incomodada. Porém, tem um amigo de longas datas e viaja muito, e aprecia o que é bom, que chega a comparar-me àqueles que fazem o programa Manhattan Connection, que era comandado (ou ainda é?) pelo Lucas Mendes, com notícias permanentes de Nova York. A verdade é que gosto de compartilhar os bons momentos vividos em viagens com familiares e amigos, e ilustrálos com fotos inclusive postadas no Facebook. Comer uma pizza de forno a lenha, no John’s Pizzeria Times Square (existe desde 1929), logo depois da chegada e instalação no Millenniun Broadway Hotel (recomendo a todos os amigos, pois fica bem perto do centro de atrações da Cidade, entre as 6ª e 7ª 29 Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras.

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avenidas, além de ter um ótimo custo-benefício), foi um programa aprovado por todos. E lá fomos nós ao John’s, a fim de apreciarmos desde a comida à arquitetura clássica do seu interior: excelente ambiente, bons vinhos, boas conversas. Quando não se está “batendo pernas”, o metrô de Nova York é o melhor meio de locomoção para quem anda em grupo; é que os motoristas de lá não gostam de passageiros ao seu lado, limitando a ocupação do táxi ao banco traseiro. Mas a circulação dos trens é muito complicada: existem inúmeras linhas que se cruzam e, às vezes, para passar de um lado a outro de uma mesma plataforma, seguir no rumo certo, é preciso voltar ao nível da rua, atravessá-la, e, por outra entrada, descer à mesma estação; mesmo assim, compramos um “passe” válido à nossa permanência na cidade, e andamos o que foi possível. Sempre gostei muito de ouvir rádio. Nos meus tempos de juventude era o que mais se fazia. Quando fui morar no Rio de Janeiro, frequentei diversas vezes o estúdio da Rádio Nacional, para assistir “Quando os maestros se encontram”, de preferência. Por isto, na grande Cidade, a Rádio City recorda esses tempos, embora seja um Music Hall. O Christmas Spectacular “é um espetáculo mágico de Natal para toda a família [...] e o show, que estreou em 1933, tornou-se uma verdadeira tradição de Natal de Nova York [...]”; as Rochettes, iguais em tudo, permanecem harmônicas, melódicas e rítmicas nos quadros em que músicas natalinas são o destaque. Imperdível! Depois do show fomos degustar as delícias do restaurante Buddakan (75 9th Avenue), de cozinha predominantemente asiática, chinesa. Havíamos reservado lugar desde São Luis, pois, sem esse requisito, a espera é considerável. Muito frequentado, oferece um espaço amplo e discreto, decoração exótica. “A atmosfera surreal [...] combina a serenidade da Ásia com a extravagância do século XVI em Paris. O menu apresenta interpretações fantasiosas de pratos chineses e encanta até mesmo os paladares mais exigentes”. Recomendo a quem gosta de experimentar diversidade culinária e, às vezes, enfrentar surpresas na hora de pagar a conta. Como não poderia deixar de ser, partimos para as compras no grande varejo, no Woodbury Commom Premium Outlet (498 Red Apple Court Central Valey, NY), a cerca de 50 minutos de Times Square; possui 220 lojas vendendo marcas famosas e de luxo, e outras mais tradicionais, que não se encontram em nenhum outro outlet, e é possível comprar peças com descontos atrativos. O local tem uma configuração de quatro conjuntos de lojas, com espaços a percorrer, ao ar livre, entre esses conjuntos; chovia muito nesse dia em que fomos lá e foi difícil transitar nesses espaços. Mas acabamos tendo uma compensação: ao fim do dia, caíram pequenos flocos de neve anunciando o que ocorreria, de forma intensa, na semana seguinte, em diversos Estados americanos. Fui fotografado em pose: ”Singing in the rain”! OUTONO EM NOVA YORK (PARTE II) Um pouquinho de história da “Big Apple”, pesquisada na página da Wikipédia, que ajuda a compreender o porquê da cultura decorrente e fez dessa cidade “a capital do mundo”. Os primeiros documentos da cidade de Nova York foram feitos por Giovanni da Verrazano, no comando do navio francês La Dauphine, em 1524. Nomeou a área da atual cidade de Nouvelle-Angoulême, em homenagem a Francisco I da França. A colonização europeia começou em 3 de setembro de 1609 com o inglês Henry Hudson, a serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Seguiu-se a fundação de

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colônias holandesas de comércio no Novo Mundo, entre elas Nova Amsterdã, que se tornaria a cidade de Nova York. Após a Guerra Revolucionária americana, os britânicos passaram a ocupar a cidade, em setembro de 1776. Nova York foi a capital dos Estados Unidos até 1790, nos tempos em que George Washington foi o primeiro presidente americano. A cidade começou a modernizar-se em 1898 e cresceu em termos econômicos após a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. “Ao longo de sua história, a cidade de Nova York tem servido como o principal porto de entrada para muitos imigrantes e suas influências culturais e econômicas tornaram dela uma das mais importantes áreas urbanas nos Estados Unidos e do mundo”. Ao longo do tempo as cidades crescem e se desenvolvem, mas podem, vez por outra, sofrer retrocessos. Quando estive em Nova York, pela primeira vez, em 1980, a área de Times Square estava completamente degradada por conta do jogo, tráfico de drogas e prostituição! A gente era aconselhada andar em dupla e, mesmo assim, tomar cuidados; ir para os lados da rua 42, então, nem pensar. E aí veio o milagre: foi eleito o 107º prefeito da cidade, Rudolph Giuliani, em 1993, descendente de imigrantes italianos, que implementou um programa de “tolerância zero” contra criminosos e proporcionou o desenvolvimento do comércio e da educação. Hoje, NYC é considerada pelo FBI a “mais segura das grandes cidades norte-americanas”, que assim viu crescer o seu número de turistas, com nós que curtimos esse final de estação outonal. “Quando você for a Nova York, não deixe de ir ao Carmine’s, um restaurante de comida italiana tradicional, bom e com preço justo”, que tem uma localização privilegiada: Broadway, na 44th Street, quase esquina com a 7th Avenue. A decoração tem fotos antigas, lustres, quadros... meio anos 1920, “uma verdadeira cantina italiana, no coração da cidade. Fomos lá duas vezes. Fica muito cheio antes e depois dos espetáculos de teatro, e é conveniente fazer reserva. Na última quinta-feira de novembro, dia 28 em 2013, os nova-iorquinos comemoram o “Dia de Ação de Graças”, com as famílias reunindo-se para um jantar. A 7th Avenue fica livre do trânsito e cede lugar ao grande desfile patrocinado pela famosa Macy’s; balões enormes de personagens também famosos enfeitam a Parada, que parte da 77th e vai até a 34th Street, endereço principal da Loja. Valeu a pena ver! Fomos visitar um dos maiores símbolos do capitalismo mundial: o Rockefeller Center (30, Rockefeller Praza, NYC), um dos arranha-céus mais altos do mundo, concluído em 1933, nos estilos Art déco, arquitetura moderna. Quando a gente chega, ainda no “hall” de entrada, um filme é projetado contando a história dessa construção monumental; membros da família Rockefeller participantes da empreitada fazem depoimentos; operários trabalham nas alturas no entrelaçar das vigas de aço. Subir até o “Top of the rock”, do Rockefeller Plaza Building (cuja entrada principal fica na 50th Street, entre a 5th e 6h Avenue), depois do Empire State é uma opção imperdível para ver a cidade do alto e descortinar o Central Park, aquela imensa área de lazer preservada no meio da grande “selva-de-pedra”! Uma curiosidade: “a subida muito rápida do elevador também é uma atração à parte; ao fechar a porta as luzes se apagam e vídeos são vistos no teto! Deve ser para distrair quem tem medo de altura. A Saint Patrick’s Cathedral, que fica no cruzamento da 5th Avenue com a rua 50th, está em reforma. Custa crer que, ocupando uma área altamente valorizada, tenha resistido à especulação imobiliária durante todo esse tempo! Aliás, atualmente há muitas

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obras em Nova York, revelando a dinâmica que a cidade voltou a experimentar após a crise da “bolha”, e os monumentos históricos têm a preferência nessa retomada. Mesmo sendo cuidada é possível visitar a Igreja em estilo neogótico, que contrasta com os edifícios modernos da área, contraste comum na Cidade, o que lhe dá uma composição arquitetônica única; sendo uma Paróquia, Saint Patrick sedia a Arquidiocese de Nova York: sua construção durou longos 136 anos, com algumas interrupções, e, a partir de 1976, é considerada um Marco Histórico Nacional. Visitar a Catedral é uma experiência muito rica, com seus altares deslumbrantes, seus espaços e, se tiver sorte, seus consertos de órgão musical. OUTONO EM NOVA YORK – III A denominada e famosa “Sexta-feira Negra” é uma consolidada prática do comércio varejista dos Estados Unidos, para batizar a grande venda anual que acontece, sempre, na última sexta-feira de novembro, após o feriado de Ação de Graças; em 2013, foi no dia 29 coincidindo com a nossa presença, em Nova York. Nesse dia, na Macy’s, por exemplo, consumidores em filas enormes contornavam o quarteirão ocupado pela maior e mais conhecida loja de departamentos do território americano, a fim de aproveitarem os atrativos descontos oferecidos evidenciando a evidente recuperação da economia. A história registra que a “Black Friday” é uma denominação que teria surgido na Filadélfia, na década de 60 do século passado, quando a data abria o período de compras para o Natal. Houve tempo em que o termo também foi sinônimo de crise financeira, em 1869; tornou-se popular a partir de 1975, quando o noticiário passou a divulgar a histeria consumista coletiva. A partir de 2010, o Brasil importou a prática de um dia em homenagem aos consumidores caracterizados em uma das suas necessidades básicas descritas pela microeconomia. A melhoria das condições de renda da população brasileira, ainda que mal distribuída e à custa de transferências e incentivos, fez surgir uma “nova” classe média ajudada pela expansão do crédito. Há controvérsias. Um dos pontos turísticos mais visitados, em NYC, palco inclusive de diversas cenas do cinema (os “Intocáveis”, lembram-se?), o Grand Central Terminal é uma estação construída entre 1903-1913, no “auge do transporte ferroviário”; fica na Park Avenue, em Manhattan. “É um grande edifício Beaux-Arts, que serve como um hub de transporte conectando trem, metrô, carro e tráfego de pedestres em uma maneira eficiente [...]”. Considerada a maior estação ferroviária do mundo, tem 44 plataformas distribuídas em dois níveis; mais de 120 mil usuários transitam por lá, diariamente. A Apple, cujas lojas estão espalhadas pela Cidade, tem “a maior do mundo” no grande espaço da Estação, expondo e vendendo o que há de mais moderno em instrumentos da tecnologia da informação. A mais luxuosa de todas, “um cubo de vidro transparente e vazio, de 8 metros de altura (a loja fica no subsolo), é uma espécie de paraíso para apreciadores das criações eletrônicas de Steve Jobs” e fica no 767 5th Avenue. Estivemos nas duas lojas e ainda voltamos à primeira, por causa dos iMacs, iPods e i-tudo. Sonhos de consumo sonhados e realizados. A noite desse final de outono de folhas caídas e secas forrando o chão, que já foram vermelhas e tornaram-se um amarelado escuro, em meio ao frio cortante e alguma chuva a anunciar a nevasca próxima, teria que ser especial. Aniversariava (dia

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29 de novembro) meu filho caçula, Antônio Brandão Neto, que nos acompanhava nessa terceira estada, na “Grande Maçã, juntamente com outro filho, noras, genro e neto (Márcio, Karla, Fernanda, Fábio Lúcio e Hugo). Fomos jantar em comemoração à data, no Sardi’s, que fica na 234 W 44th St. “Localizado no coração de Times Square [...], possui uma decoração interessante: as paredes são ladeadas por caricaturas de pessoas famosas relacionadas com o showbusiness de Nova York”. Foi inaugurado em 1927 pelo proprietário Vicent Sardi, inspirado no Joe Zelli’s, um clube de jazz, em Paris; as caricaturas foram feitas pelo pintor russo Alex Gard, especialmente contratado. São mais de 700 caricaturas de celebridades da Broadway. Dezenas de filmes foram locados dentro do Sardi’s. O ambiente por si só já vale a pena; o atendimento é cordial e os pratos, além de bem servidos, são saborosos. Chegou o fim de semana. Apesar do frio, o Central Park fica cheio de turistas de todas as idades, para visitar o Zoo, conversar com os amigos, sentar nos bancos, ler jornal, andar de bicicleta, patinar no gelo e circular nas tradicionais carruagens coloridas e enfeitadas a percorrer suas alamedas, tradição que o prefeito recém eleito quer acabar! É a implacável especulação imobiliária, lá como aqui, potencial geradora de “bolhas” recessivas. Mas não vão conseguir, certamente. O Central Park, dentro de NYC, inaugurado em 1857, possui uma área de 341 hectares, aproximadamente 3,4 km2, e está localizado no distrito de Manhattan; “é considerado um oásis dentro da grande floresta de arranha-céus existente na região”. Ficamos lá quase toda manhã; depois fomos visitar mais uma loja da Apple, perto do Parque e do edifício Dakota (onde residiu o beatle John Lennon), de frente para o Hotel Plaza, um dos mais “vips” da cidade, e depois fomos almoçar na Serafina Osteria. A Serafina (existe em outros locais de NYC) fica na 38 E 58th St, entre a Madison e a Park Avenue, Midtown East, e é uma espécie de cantina daquelas que existem na Itália, como em Florença. As avaliações desse restaurante, que foi fruto da promessa de dois velejadores que se encontravam em dificuldades, e se salvaram, são favoráveis tanto quanto a comida, ao “ambiente moderno e aconchegante, custo-benefício e ótima comida”. Aprovamos. Após o almoço, fomos visitar a Saks Fifth Avenue, “um grande e refinado lugar para fazer compras. A Saks é “uma das mais tradicionais e elegantes redes de lojas de departamento dos Estados Unidos”. Cenário de inúmeros filmes do cinema, “evoca a elegância dos maiores e mais renomados estilistas americanos e europeus [...]”. Essa loja da 5ª Avenida foi inaugurada em 1924. Na Saks, comprei gravatas, que dei de presente a dois fraternos amigos de São Luís. OUTONO EM NOVA YORK – IV (Final) Sábado, 29 de novembro. É noite. Times Square está fervilhante de gente que vai e vem, e para em aglomerados. Faz muito frio. As luzes dos letreiros luminosos de publicidade da NASDAQ, de redes de televisão e seus estúdios, de peças de teatros, chamam a atenção de todos. A “grande praça ou largo, composta por vários cruzamentos e esquinas, está localizada na junção da Broadway com a 7ª Avenida, entre as ruas 42 e 47 oeste, na região central de Manhattan”. É lá que acontecem as famosas

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comemorações de passagem de ano; “recebe mais turistas do que a Estátua da Liberdade”. Muitas fotos acontecem, antes que procuremos alguma coisa para comer. Entramos em vários locais e todos muito cheios: já sentados, no balcão do bar ou na fila de espera, o pessoal aguarda pacientemente. Resolvemos voltar ao John’s Pizzaria (260 w. 44th Street), bem em frente ao Majestic Theatre, para comer pizza de forno a lenha, conforme comentei no texto inicial desta série de crônicas. Uma delícia! Essa pizzeria abriu suas portas ainda em 1920, em um prédio construído em 1888, depois reconstruído; sua decoração tem “cúpula de vidro manchado do que foi outrora o Tabernacle Church Gospel”. Depois, fomos ao “Blue Note” Jazz Club (131 West 3rd Street), em Greenwich Village, um dos mais importantes de Nova York, dos mais tradicionais e bem conhecido dos brasileiros. Mantém filiais no Japão e na Itália. Vários cantores nossos (as) já se apresentaram lá e há, sempre, turistas na plateia. “O clube foi aberto em setembro de 1981 [...] e é considerado um dos mais famosos locais de jazz no mundo, o mais conhecido e mais caro”; o ambiente é pequeno, mas acolhedor, permitindo uma ampla e próxima visão do palco. Desde São Luís, havíamos reservado lugar para o show do maestro, arranjador, compositor e cantor Freddy Cole, nascido Lionel Frederick Cole, em temporada comemorativa naquele clube de jazz. Tínhamos uma curiosidade a respeito desse artista: irmão mais novo de Nat King Cole, que embalou alguns dos nossos sonhos da juventude, e tio de Natalie Cole, filha do Nat, seu timbre de voz assemelha-se ao do irmão mais velho; apresentou-se ao piano, acompanhado por um trio composto por guitarra, contrabaixo e bateria. Correspondeu à nossa expectativa. Freddy Cole, cuja carreira já dura mais de 50 anos, no palco, sabe dosar os dotes que possui; sua voz está um pouco mais timbrada, grave. Sentado ao piano ou de pé, cantou músicas tradicionais do seu repertório e do irmão, até samba! Quem conhece jazz sabe valorizar os solos às vezes prolongados de cada instrumento, nas variações diversas que o ritmo permite. E foram muitos, sob aplausos. Chego a pensar que ele, enquanto o irmão famoso vivia, inexoravelmente manteve-se mais discreto diante das circunstâncias; agora, embora veterano, consegue expandir todo seu valor. A imprensa especializada relembra que ele “foi ídolo norteamericano do jazz nas décadas de 1950 e 1960”. Em 2008, fez duas apresentações no Brasil, no Rio e em São Paulo, quando “cantou algumas músicas eternizadas na voz do seu irmão. Foi atencioso comigo quando, ao final, fui cumprimentá-lo e dizer-lhe que havíamos apreciado o show. Ele perguntou-me de onde éramos e, ao saber, demonstrou satisfação. Já ouvira falar de São Luís. Concordou em posar comigo, foto que o amigo PH publicou na sua prestigiosa coluna. Domingo, 1º de dezembro. Faz sol e ainda muito frio nessa manhã. No Bryant Park (entre a Quinta e Sexta Avenidas, e entre as ruas 40 e 42), em Midtown Manhattan, um dos oásis de NYC entre os arranha-céus da grande cidade, muitos se divertem no ringue de patinação, outros apreciam a grande árvore de Natal anunciando a magna data que se aproxima. Nosso grupo familiar está dividido, pois alguns foram ver a Estátua da Liberdade, subir ao observatório do Empire State, enquanto outros vieram ao Parque, como nós. “O Bryant Park é inteiramente construído sobre uma estrutura subterrânea que abriga os arquivos da New York Public Library, cujo edifício data de 1899. O Parque é

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de 1686, quando a área ainda era um deserto [...]. O quadrado (este o seu formato) foi utilizado para exercícios militares durante a Guerra Civil Americana. Foi modificado em 1933/34; a partir da década de 1970 sofreu grave degradação, mas foi recuperado e reaberto, em 1992. Fomos almoçar no restaurante do Parque, que fica fronteiriço ao prédio da Library. Boa comida e bom serviço. À noite fomos à Broadway, para cumprimento de uma agenda adredemente preparada. Lembrei-me muito, por razões pessoais, do mesmo programa feito em 2011, com a Conceição, minha esposa, quando assistimos ao espetáculo de “O Fantasma da Ópera”, peça teatral que continua em cartaz após mais de vinte anos de imenso sucesso. Desta vez, eu e familiares, fomos apreciar “Mamma Mia”, peça que também vem obtendo muito sucesso. Mamma Mia é um musical “baseado nas canções do grupo pop sueco ABBA [...], que inclui, na trilha sonora, seus grandes sucessos”, destacando-se “Money, Money, Money”, além da canção título. A peça trata de um “livro-musical” encomendado pelos compositores de um dos sucessos do ABBA, que “conta a história de uma garota, prestes a se casar, que vive com a mãe, dona de um pequeno hotel na ilha de Calicos, na Grécia, e que não conhece seu pai. Achando o diário da mãe, descobre que ela teve um relacionamento com três homens diferentes, num curto período de tempo, meses antes do seu nascimento e que pode ser filha de qualquer um dos três. Resolve descobrir qual deles é seu verdadeiro pai, que nem a mãe sabe ao certo [...]”. São muitos os sucessos do Grupo cantados ora pelos protagonistas principais, ora por todos no palco, fazendo dessa peça, de uma historinha bem simples e à medida que se desenvolve, um musical digno dos melhores filmes da época de ouro do cinema. Mamma Mia estreou, em Londres, em 1999, depois esteve no Canadá, em 2000, e estabeleceu-se em Nova York, a partir de 2001. Já foi encenado ao redor do mundo inclusive em São Paulo, em 2011. Doravante, ora dos preparativos e de dirigir-se ao aeroporto JFK, ainda pela madrugada, para embarque de volta do Brasil, na manhã do dia 2.

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SOBRE ESPORTE, FUTEBOL, E LITERATURA…

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – MEMBRO FUNDADOR DA CADEIRA 21 – patroneada por FRAN PAXECO Ao receber alerta do Confrade Carvalho Junior, de Caxias, sobre a proximidade dos 150 anos de Coelho Neto, publiquei em meu Blog uma pequena biografia, com a contribuição desse ilustre maranhense para com o esporte – em especial a Capoeiragem -; tema de meus estudos, Memória do Esporte, Educação Física e Lazer no/do Maranhão. Antes, havia replicado alguns artigos 30 sobre esse tema – esporte & literatura. A seguir uma revisão desses três artigos – retirando as repetições -, encerrando com a homenagem a um de nossos Patronos; em 2009 já havia me referido a Coelho como Capoeira: CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ALL; IHGM DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense” Resumo Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História Abstract

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http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/10/02/sobre-esporte-futebol-e-literatura/, Leopoldo Vaz • quarta-feira, 02 de outubro de 2013 às 09:10 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/10/02/mais-sobre-esporte-e-literatura/, Leopoldo Vaz • quarta-feira, 02 de outubro de 2013 às 09:25 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/?s=coelho+neto, Leopoldo Vaz • segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014 às 17:24 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/12/19/coelho-neto-era-capoeira/, Leopoldo Vaz • sábado, 19 de dezembro de 2009 às 08:13

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Through the rescue and the registration of sportive cultural manifestations in brasilian literature, one tries to reconstruct the history of sport, leisure and physical education in Brazil. From the example of what happens in France, Italy, Spain and Portugal it is proposed to gather in our country, with the construction of a brazilian anthology of sport texts. Key-words: Physical Education. Sports. Literature. History. INTRODUÇÃO Em 1994, o Ministério da Educação e do Desporto – MEC – constituiu Grupo de Trabalho (MEE/INDESP, 1996) para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura, iniciando-se, no Brasil, uma discussão sobre “Esporte de Criação Nacional”. Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a ideia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc., o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996). SILVA (1987), ao levantar a questão da perda dos valores culturais e da identidade cultural, afirma que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística: “Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral. “Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação. “Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado…”. (p. 20-21) Considera, ainda, que a perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros, com o que concordam DIECKERT; KURZ & BRODTMANN (1985) quando afirmam que no Brasil deve haver uma educação física brasileira e critica o modelo internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. DIECKERT (1987) destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu. Da mesma forma, Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1985), ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”. Para SILVA (1987), a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fosse objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos

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ginástico-desportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente. O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte e por lazer, dada a abrangência dos termos. Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997). O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos: “Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto… foi Píndaro o primeiro” (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d: 9). Depois dele, muitos outros. “E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural”. Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. VIEIRA E CUNHA & FEIO (s.d.) justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do senso-comum que se tem dessa manifestação, não se resume a “uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura” (p. 7). Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um “fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana” (p. 8): “Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e… defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências Lógico-Dedutivas…” (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8). Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994).

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A ATENAS BRASILEIRA Na literatura dos viajantes, ABBEVILLE (1975:236) foi quem primeiro registrou, no Maranhão, as atividades dos primitivos habitantes da terra. Para esse autor é por não terem ambições materiais que os índios da Ilha do Maranhão têm na dança o primeiro e principal exercício; além da dança, têm como exercício a caça e a pesca. Já SPIX e MARTIUS afirmam serem os Jês hábeis nadadores, havendo o registro de serem também grandes corredores: “… timbiras de canela fina (corumecrãs)… famosos pela velocidade na corrida, esses índios enrolavam suas pernas com fios de algodão que acreditavam afinar-lhes as pernas e proporcionar-lhes leveza para correr…” (citados por CALDEIRA, 1991:77-78). A literatura maranhense tem início com o surgimento da imprensa. RAMOS (1986), escrevendo sobre o seu aparecimento no Maranhão registra, no período colonial, que “… jornalista era o magnífico João Tavares com sua ‘Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão’…”. No período imperial registra-se o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados entre 1821 e 1860, 183 jornais (RAMOS, 1986, 1992), a grande maioria de caráter político. Os jornais com objetivo de recrear – de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo – foram: a “Folha Medicinal”, de 1822; o “Minerva”, de 1827; “A Bandarra”, 1828. Apenas esses dois últimos, dos 21 jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa (RAMOS, 1986). RAMOS (1992) ainda registra o aparecimento em 1831, do “Atalaia dos Caiporas”; em 1839, do “O Recreio dos Maranhenses”; 1840, de “A Revista”; “O Jornal Maranhense” aparece em 1841. Periódico oficial, trazia como epígrafe uma frase de Tímon: “a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais”. De 1842, são o “Museu Maranhense”, ” O Publicador Maranhense”; de 1845, o “Jornal de Instrução e Recreio”,. “O Almazém”; de 1846, “O Arquivo Maranhense”, contando com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: “Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser – a Instrução e o Recreio -…” (RAMOS, 1992: 121). De 1849, a “Revista Universal Maranhense”. O “Jornal de Tímon”, publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992), “revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa” (p. 189). Ainda desse ano de 1852, “A Marmotinha”. Nos anos seguintes aparece “A Violeta” (1853); “O Botão de Ouro” e “A Sentinela” (1854); de 1855 é o “Diário do Maranhão”; em sua edição de 23.10.1855, número 41, é informado que “tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado “A Saudade”, dedicado ao belo sexo maranhense”. (RAMOS, 1991: 213). De 1857 é “A Estrela da Tarde”; de 1858, o “Jornal do Comércio. O “Verdadeiro Marmota”, jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: “reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província…” (citado por RAMOS, 1992:237). Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias 2 mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura. O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o “Liceu Maranhense”, dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia

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comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988). No entender de Dunshee de Abranches, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira. DOIS AUTORES MARANHENSES Dunshee de Abranches - João Dunshee de Abranches Moura nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista. Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelo “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993). Em “A Setembrada”, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô e Frederico Magno de Abranches, seu tio. Referindo-se ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que: “… Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHEE DE ABRANCHES, 1970:31). GRIFI (1989), ao se referir aos jogos de bola, encontrou que Galeno, “o famoso médico grego”, recomendava tal prática para fins higiênicos e até mesmo escreveu um tratado específico sobre “o jogo da pequena bola”. Mas os jogos de bola, na Grécia, já aparecem nos poemas homéricos (p. 68). Mais adiante, afirma que nos séculos XIV, XV, e XVI destacou-se mais que os outros os jogos da bola, que se se fundiu às manifestações folclorísticas, no novo contexto das estruturas renascentistas: “Na França, particularmente, a bola (de dimensões maiores da normal), nascido no tardo-medievo, como instrumento de contenda incruenta, tornase momento lúdico e agonístico, aberto a todos. Os jogos mais conhecidos são a paume, o pallone, a soule, a crosse, aos quais seguiram-se, na Itália, o calcio-fiorentino, o pallone al bracciale, a pallacorda, a palla al vento, a palla-maglio, o tamburello (…) A paume (jeu de paume) consiste em bater a bola com a mão e substituiu os ludus pilae cum palma romano; conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis. “ (p. 188). O “O Captiveiro”, não é apenas um livro de memórias. Escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trava-se, na verdade de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993). Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a “Arcadia Maranhense”, e de uma sua dissidência, a “Aurora Litteraria”. Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado “Aurora Boreal”: “… só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e

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assim seríamos governados por nós mesmos”. (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de ABRANCHES (1941) em suas memórias: “E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (…) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos … Apezar de só ter uma filha, agasalhava na sua hospitaleira residência uma parentella basta e jovial, em que superabundava o sexo frágil. Não faltavam pianistas, violinistas, e cantores nesse grupo variegado de moças casadeiras e gentis. Os saraus ali se succediam desde as novenas de N. S. dos Remédios á véspera de Reis. Era que, todos os annos, a família Travassos armava um presépio. Os ensaios das Pastorinhas iniciavam-se desde fins de Outubro; e, depois delles fatalmente seguiam-se dansas até á meia-noite…”. (p. 187-188). Nessa mesma obra, Dunshee de ABRANCHES (1941) lembra que o “Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís” (p. 155), mantinha em sua barbearia – a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo – um bilhar, onde “ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias…”. (p. 157). Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993), deparamo-nos como uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993). Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província: “… Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio… Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne… o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação… Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais…”. (p. 16-17). Aluísio de Azevedo - Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879 “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja

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(1990); O Cortiço (1890); Demônios (1893); A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996). Aluísio Azevedo, em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: “era brincar, estabelecendose entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade”. Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância: “Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas.” (citado por MÉRIEN, 1988: 47). Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça um perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, cujo papel reservado era apenas o de mãe. Compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava “o ócio dos padres que viviam do trabalho de pessoas honestas e crédulas” (MÉRIEN, 1988:158), sendo estes, os padres, também “culpados pelo atraso da instrução pública” (p. 159). Aluísio considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher: “Do procedimento da mulher (…) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (…) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar… “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, “O Pensador”, São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166, 167). O mesmo tema é retomado quando da publicação de “O Mulato”, criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Aluísio tinha consciência que parte dos leitores em potencial era constituída pelas mulheres da pequena burguesia portuguesa e maranhense da cidade e pelas filhas dos fazendeiros que encontravam na leitura uma diversão contra o tédio que pesava sobra a vida cotidiana e ociosa que tinham. No entender de MÉRIEN (1988), os discursos de Raimundo sobre a condição feminina, o papel da esposa e da mãe na educação das crianças, são dirigidos mais a elas do que a Manuel Pescada: “O senhor tem uma filha, não é verdade? Pois bem! Logo que essa filha nasceu o senhor devia ter em vista prepará-la para vir a ser útil… dar-lhe exercícios, alimentação regular, excelente música, estudos práticos e principalmente bons exemplos; depois evitar que ela fosse como é de

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costume aqui, perder nos bailes o seu belo sono de criança…”. (Aluizio AZEVEDO, O Mulato, 1881). Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo – Antonieta (carta a Julia, “Diário do Maranhão”, São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, “Pacotilha”, São Luís, 9.6.1881), respectivamente – falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara” sobre a condição de vida de Ana Rosa, que lembrava a vida que as mocinhas maranhenses levavam (MÉRIEN, 1988:291). Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, “lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio” (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, “a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses” (p. 290). A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender científicamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em “O Mulato”, faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance: “As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel.” (p. 9). MAIS SOBRE ESPORTE E LITERATURA… Na postagem anterior31 publiquei sobre Esporte, Futebol, e Literatura; a propósito da ampla cobertura de nossa mídia sobre o lançamento de livro de jornalista de outras plagas, sobre Futebol e Literatura. Ao mesmo tempo em que se está lançando livro sobre a memória do esporte maranhense – o qual não saiu uma única linha em nossa imprensa especializada -, embora desde semana passada enviado matéria aos nossos jornalistas especializados, e aqui mesmo, neste canal… Ênfase ao que vem de fora, que é bom… o jornalista em questão é conceituado, vem dar palestra e promover sua obra, o que é muito bom. Vamos ver se consigo, após o lançamento do Atlas do Esporte no Maranhão, ir até a Escola de Arquitetura da UEMA assistir à palestra do ilustre jornalista, sobre Futebol e Literatura… enquanto isso, mais um capitulo sobre o esporte maranhense na literatura dos escritores maranhenses. Ah sim, esse material já foi publicado em anais de congressos dedicados, os de História do Esporte, Lazer e Educação Física…

ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Mestre em Ciência da Informação – IHGM; ALL DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Especialista em Metodologia do Ensino – CEM “Liceu Maranhense”

31 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/10/02/sobre-esporte-futebol-e-literatura/

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[...] - Alguns autores maranhenses Vaz e Vaz (2000) apresentaram uma proposta e algumas contribuições para a “construção de uma antologia de textos esportivos da cultura brasileira” durante o VII Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança, realizado em Gramado. Abordaram a contribuição de dois autores maranhenses: João DUNSHEE DE ABRANCHES Moura e ALUÍSIO Tancredo Gonçalves DE AZEVEDO. Agora, trazem outros autores maranhenses que trataram do esporte em sua obra: Domingos VIEIRA FILHO em seu “Breve História das ruas e praças de São Luís” traça a história da Rua dos Apicuns, e dá-nos notícias de ser local frequentado por “bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público”, os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do ‘Eco do Norte” contra a folgança dos negros que, dizia, ‘ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever… ’ (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís.” O famoso Canto-Pequeno, situado na Rua Afonso Pena, esquina com José Augusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e ruidosos. VIEIRA FILHO (1971) afirma que ali alguns domingos antes do carnaval costumavam um magote de pretos se reunir em atordoada medonha, a ponto de, em 1863, um assinante do “Publicador Maranhense” reclamar a atenção das autoridades para esse fato. JOSUÉ MONTELLO em seu romance “Os Degraus do Paraíso”, em que trata da vida social e dos costumes de São Luiz do Maranhão, na passagem do século XIX para o século XX, conforme relato de Mestre Eli Pimenta: “… encontrei uma passagem interessante que fala da Capoeira naquela cidade e naquela época. O autor fala da inauguração da iluminação pública de São Luiz com lampiões de gás, ocorrida em 1863, e comenta as modificações na vida da cidade com as ruas mais claras durante a noite: ‘Ninguém mais se queixou de ter caído numa vala por falta de luz’. Nem recebeu o golpe de um capoeira na escuridão. Os antigos archotes, com que os caminhantes noturnos iluminavam seus passos arriscados, não mais luziram no abandono das ruas.”. Eli Pimenta (Capoeira em São Luiz do Maranhão. In JORNAL DO CAPOEIRA, acessado em 26 de abril de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/) comenta que essa alusão à Capoeira encontrada em Os degraus do Paraíso nos passa a ideia de que capoeiristas perambulavam pelas ruas de São Luiz na primeira metade do século XIX, e não deixa de ser uma pista promissora de pesquisa para aqueles que querem descobrir a origem da Capoeira no Brasil. DEJARD Ramos MARTINS aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877. Considera que tenha sido praticada antes, trazida pelos escravos bandu-

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angoleses. Fugitivos, os negros a utilizavam como meio de defesa, exercitando-se na prática da capoeira para apurarem a forma física, ganhando agilidade. “JOGO DA CAPOEIRA “Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes”. (MARTINS, 1989, p. 179) NASCIMENTO DE MORAES em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (2000, p. 95); em outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, em que é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”. Henrique Maximiano COELHO NETTO - Ver artigo a seguir, sobre os 150 anos de Coelho Neto...

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32 Fonte: (http://panorama-direitoliteratura.blogspot.com.br/2011/12/coelho-neto-vastidao-docaminho.html) Imagem (Coelho Neto – 150 anos): Produção Carvalho Junior.

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“Coelho Neto continua, no silêncio do seu túmulo, muito mais vivo do que os vivos que se comprazem em passar-lhe atestado de óbito literário”. Josué Montello ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO 33 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CEM “Liceu Maranhense” [...] Henrique Maximiano COELHO NETTO Nasceu em Caxias, Maranhão no dia 20 de fevereiro de 1864 faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 1934. Foi para o Rio de Janeiro com dois anos de idade; estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos cursos. Em 1885 relacionou-se com José do Patrocínio, que o introduziu na relação da Gazeta da Tarde; nesse jornal deu início à sua Lista Abolicionista e Republicana. Em 1891, foi publicada sua primeira obra “Rapsódias”, um livro de contos. Dedicou-se a literatura com entusiasmo, publicando obras atrás de obras. Escreveu algumas peças teatrais, mais de cem livros e cerca de 650 contos. Foi também um orador de grandes recursos; em 1909 foi catedrático da mesma matéria. Foi deputado na Legislatura de 1909 a 1911; esteve em Buenos Aires como Ministro Plenipotenciário, em Missão Especial. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. De sua extensa obra literária, destacam-se: “A Capital Federal”, “Fruto Proibido”, “O Rei Fantasma”, “Contos Pátrios”, “O Paraíso”, “Mano”, “As Estações”, “Sertão”, “Mistério do Natal”, “Fogo Fátuo” e “A Cidade Maravilhosa”. Também poeta, escreveu um soneto que se tornaria famoso: “Ser Mãe”; Coelho Neto é o exemplo de fidelidade e dedicação às letras. Em várias de suas crônicas, tratou dos esportes; na revista “O Bazar”, em 1922, escreveu sobre a capoeira, em uma crônica intitulada: “O NOSSO JOGO”: ““… Concordamos in limini com o que diz o articulista, valho-me da oportunidade que me abre tal escrito para tornar a um assunto sobre o qual já me manifestei e que também já teve por ele a pena diamantina de Luiz Murat. “A capoeiragem devia ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa pessoal superior a todos 33 Por Leopoldo Vaz • segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014 às 17:24 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/?s=coelho+neto

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quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar. (negrito do Editor) “Todos os povos orgulham-se dos seus esportes nacionais, procurando, cada qual dar primazia ao que cultiva. O francês tem a savate, tem o inglês o boxe; o português desafia valentes com o sarilho do varapau; o espanhol maneja com orgulho a navalha catalã, também usada pelo “fadista” português; o japonês julga-se invencível com o seu jiu-jitsu e não falo de outros esportes clássicos em que se treinam, indistintamente, todos os povos, como a luta, o pugilato a mão livre, a funda e os jogos d`armas. Nós, que possuímos os segredos de um dos exercícios mais ágeis e elegantes, vexamo-nos de o exibir e, o que mais é, deixamo-nos esmurraçar em ringues por machacazes balordos que, com uma quebra de corpo e um passe baixo, de um “ciscador” dos nossos, iriam mais longe das cordas do que foi Dempsey à repulsa do punho de Firpo. “O que matou a capoeiragem entre nós foi… a navalha. Essa arma, entretanto, sutil e covarde, raramente aparecia na mão de um chefe de malta, de um verdadeiro capoeira, que se teria por desonrado se, para derrotar um adversário, se houvesse de servir do ferro. “Os grandes condutores de malta” guaymús e nagôs, orgulhavam-se dos seus golpes rápidos e decisivos e eram eles, na gíria do tempo: a cocada, que desmandibulava o camarada ou, quando atirada ao estomago, o deixava em síncope, estabelecido no meio da rua, de boca aberta e olhos em alvo; o grampeamento, lanço de mão aos olhos, com o indicador e o anular em forquilha, que fazia o mano ver estrelas; o cotovelo em ariete ao peito ou ao flanco; a joelhada; o rabo de raia, risco com que Cyriaco derrotou em dois tempos, deixando-o sem sentidos, ao famoso campeão japonês de jiu-jitsu; e eram as rasteiras, desde a de arranque, ou tesoura, até a baixa, ou bahiana; as caneladas, e os pontapés em que alguns eram tão ágeis que chegavam com o bico quadrado das botinas ao queixo do antagonista; e, ainda, as bolachas, desde o tapa-olho, que fulminava, até a de beiço arriba, que esborcinava a boca ao puaia. E os ademanes de engano, os refugos de corpo, as negaças, os saltos de banda, à maneira felina, toda uma ginástica em que o atleta parecia elástico, fugindo ao contrário como a evitá-lo para, a súbitas, cair-lhe em cima, desarmando-o fazendo-o mergulhar num “banho de fumaça”. “Era tal a valentia desses homens que, se fechava o tempo, como então se dizia, e no tumulto alguém bradava um nome conhecido como:Bocaqueimada, Manduca da Praia, Trinca-espinha ou Trindade, a debandada começava por parte da polícia e viam-se urbanos e permanentes valendo-se das pernas para não entregarem o chanfalho e os queixos aos famanazes que andavam com eles sempre de candeias às avessas “Dessa geração celebérrima fizeram parte vultos eminentes na política, no professorado, no exército, na marinha como ” Duque Estrada Teixeira, cabeça cutuba tanto na tribuna da oposição como no mastigante de algum paróla que se atrevesse a enfrentá-lo à beira da urna: capitão Ataliba Nogueira; os tenentes Lapa e Leite Ribeiro, dois barras; Antonico Sampaio, então aspirante da marinha e por que não citar também Juca Paranhos, que engrandeceu o título de Rio Branco na grande obra patriótica realizada no

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Itamaraty, que, na mocidade, foi bonzão e disso se orgulhava nas palestras íntimas em que era tão pitoresco. “A tais heróis sucederam outros: Augusto Mello, o cabeça de ferro; Zé Caetano, Braga Doutor, Caixeirinho, Ali Babá e, sobre todos o mais valente, Plácido de Abreu, poeta comediógrafo e jornalista, amigo de Lopes Trovão, companheiro de Pardal Mallet e Bilac no O COMBATE, que morreu, com heroicidade de amouco, fuzilado no túnel de Copacabana, e só não dispersou a treda escolta, apesar de enfraquecido, como se achava , com os longos tratos na prisão, porque recebeu a descarga pelas costas quando caminhava na treva, fiado na palavra de um oficial de nome romano. “Caindo de encontro às arestas da parede áspera ainda soergue-se, rilhando os dentes, para despedir-se com uma vilta dos que o haviam covardemente atraiçoado. Eram assim os capoeiras de então. “Como os leões são sempre acompanhados de chacais, nas maltas de tais valentes imiscuíam-se assassinos cujo prazer sanguinário consistia em experimentar sardinhas em barrigas do próximo, deventrando-as. “O capoeira digno não usava navalha: timbrava em mostrar as mãos limpas quando saia de um turumbamba. “Generoso, se trambolhava o adversário, esperava que ele se levantasse para continuar a luta porque: “Não batia em homem deitado”; outros diziam com mais desprezo: “em defunto”. “Nos terríveis recontros de guaiamus e nagôs, se os chefes decidiam que uma questão fosse resolvida em combate singular, enquanto os dois representantes da cores vermelha e branca se batiam as duas maltas conservam-se à distância e, fosse qual fosse o resultado do duelo, de ambos os lados rompiam aclamações ao triunfador. “Dado, porém, que, em tais momentos, estrilassem apitos e surgissem policiais, as duas maltas confraternizavam solidárias na defesa da classe e era uma vez a Força Pública, que deixava em campo, além do prestigio, bonés em banda e chanfalhos à ufa. “O capoeira que se prezava tinha oficio ou emprego, vestia com apuro e. se defendia uma causa, como aconteceu com do abolicionismo, não o fazia como mercenário. “O capanga, em geral, era um perrengue, nem carrapeta, ao menos , porque os carrapetas, que formavam a linha avançada, com função de escoteiros, eram rapazolas de coragem e destreza provadas e sempre da confiança dos chefes. “Nos morros do Vintém e do Néco reuniam-se, às vezes, conselhos nos quais eram severamente julgados crimes e culpas imputados a algum dos das farandulas. Ladrões confessos eram logo excluídos e assassinos que não justificassem com a legitima defesa o crime de que fossem denunciados eram expulsos e às vezes, até, entregues a policias pelos seus próprios chefes. “Havia disciplina em tais pandilhas. “Quanto às provas de superioridade da capoeiragem sobre os demais esportes de agilidade e força são tantas que seria prolixa a enumeração.

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“Além dos feitos dos contemporâneos de Boca queimada e Manduca da Praia, heróis do período áureo do nosso desestimado esporte, citarei, entre outros, a derrota de famosos jogador de pau, guapo rapagão minhoto, que Augusto Mello duas vezes atirou de catrambias no pomar da sua chacarinha em Vila Isabel onde, depois da luta e dos abraços de cordialidade, foi servida vasta feijoada. Outro: a tunda infligida um grupo de marinheiros franceses de uma corveta Pallas, por Zé Caetano e dois cabras destorcidos. A maruja não esteve com muita delonga e, vendo que a coisa não lhe cheirava bem em terra, atirou-se ao mar salvando-se, a nado, da agilidade dos três turunas, que a não deixavam tomar pé. “A última demonstração da superioridade da capoeiragem sobre um dos mais celebrados jogos de destreza deu-nos o negro Cyriaco no antigo Pavilhão Paschoal Segreto fazendo afocinhar, com toda a sua ciência, o jactancioso japonês, campeão do jiu-jitsu. “Em 1910, Germano Haslocjer, Luiz Murat e quem escreve estas linhas pensaram em mandar um projeto a Mesa da Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da capoeiragem nos institutos oficias e nos quartéis. Desistiram, porém, da idéia porque houve quem a achasse ridícula, simplesmente, por tal jogo era… brasileiro. “Viesse-nos ele com rótulo estrangeiro e tê-lo-íamos aqui, impando importância em todos os clubes esportivos, ensinado por mestres de fama mundial que, talvez, não valessem um dos nossos pés rapados de outrora que, em dois tempos, mandariam um Firpo ou um Dempsey ver vovó, com alguns dentes a menos algumas bossas de mais. “Enfim… Vamos aprender a dar murros ” é esporte elegante, porque a gente o pratica de luvas, rende dólares e chama-se Box, nome inglês. Capoeira é coisa de galinha, que o digam os que dele saem com galos empoleirados no alto da sinagoga. “É pena que não haja um brasileiro patriota que leva a capoeiragem a Paris, batisando-a, com outro nome, nas águas do Sena, como fez o Duque com o Maxixe. “Estou certo de que, se o nosso patriotismo lograsse tal vitória até as senhoras haviam de querer fazer letras, E que linda seriam as escritas! Mas, se tal acontecesse, sei lá ! muitas cabeçadas dariam os homens ao verem o jogo gracioso das mulheres”. Ainda encontramos referencias a Coelho Neto quando se fala da Capoeiragem no Brasil: segundo o REGULAMENTO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA: Artigo 18- A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto – 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha

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Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. COELHO NETO ERA CAPOEIRA… Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um escritor, político e professor brasileiro, e um EXÍMIO CAPOEIRA (VAZ, 2009):

O lançamento do livreto do Roberto Pereira (2009; 2010) ainda vai dar muito trabalho… O tempo despendido à espera que a cerimônia de lançamento iniciasse foi (muito) bem gasto em conversas com diversos Mestres: Marco Aurélio, Nelsinho, Índio do Maranhão, Bamba, e Patinho, dentre outros… Em um dado momento, falando sobre os capoeiras antigos, referi-me a Coelho Neto – sim, o ‘nosso’ Coelho Neto, o escritor… Lembrei que fora exímio Capoeira, que escrevera muito sobre esportes, e sobre a Capoeira… ante o que os presentes à “roda de papoeira” mostraram-se surpresos; mais ainda, quando disse que é reconhecido pela FICA como um dos precursores, na descrição e nominação dos movimentos… Artigo 17- A Nomenclatura de Movimentos de Capoeira está estabelecida em duas partes: ANomenclatura Histórica; BNomenclatura Oficial. A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas (Artigo 18). No Parágrafo 3° aparece o que se considera o Legado de Coelho Neto – 1928: Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto – 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Chamo atenção para a denominação ‘cocada’, pois Roberto, em sua fala, disse que aprendera um golpe novo, com o Velho Diniz, a cocada…

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CONCLUSÃO A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer. Buscaram-se em autores maranhenses trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975. ABRANCHES, Dunshee de A SETEMBRADA – A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1831 EM MARANHÃO – romance histórico. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1970. ABRANCHES, Dunshee de. O CAPTIVEIRO (MEMÓRIAS). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941 ABRANCHES, Dunshee de. A ESFINGE DO GRAJAÚ (MEMÓRIAS). São Luís: ALUMAR, 1993. AZEVEDO, Aluísio. O MULATO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, (s.d.). AZEVEDO, Aluísio. O CORTIÇO. 29 ed. São Paulo: Ática, 1996. CALDEIRA, José de Ribamar C. O MARANHÃO NA LITERATURA DOS VIAJANTES DO SÉCULO XIX. São Luís : AML/SIOGE, 1991. COELHO NETTO, Henrique Maximiano. O nosso jogo. In O BAZAR, 1922, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/ DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, cultura brasileira e imaginário social. in REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 18 (2), janeiro 1997, p. 98-102 DIECKERT, Jürgen; KURZ, Dietmar; BRODTMANN, Dietmar. ELEMENTOS E PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985. DIECKERT, Jürgen. A educação física no Brasil.. A educação física brasileira. (in) ESCOBAR, Micheli & TAFFAREL, Celí N. Z. METODOLOGIA ESPORTIVA E PSICOMOTRICIDADE. Recife: Gráfica Recife, 1987, p. 2-19. ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836. FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque, O espaço PROEDES: memória, pesquisa, documentação. IN GOLDFABER, José Luiz (org.). ANAIS DO IV SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. Belo Horizonte: FAPEMIG; São Paulo: Anna Blaume: Nova Stella, 1994. P. 100-103. GASPAR, Carlos. DUNSHEE DE ABRANCHES. São Luís: (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre : D.C. Luzzatto, 1989. HUIZINGA, Johan. HOMO LUDENS: O JOGO COMO ELEMENTO DA CULTURA. 2a. ed. São Paulo : Perspectiva, 1980. MARTINS, Dejard Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís : SIOGE, 1989 MÉRIAN, Jean Yves. ALUÍSIO AZEVEDO VIDA E OBRA (1857-1913) – O VERDADEIRO BRASIL DO SÉCULO XIX. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Banco Sudameris Brasil; Brasília: INL, 1988.

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COPA DO MUNDO NO BRASIL - ENTRE PROTESTOS E COMEMORAÇÕES

ANTONIO NOBERTO Turismólogo, escritor, membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL, e sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Publicado no Jornal Cazumbá

Confesso que vi bom pedaço de mim, quando as multidões ocuparam as ruas do país reivindicando direitos em meados do ano passado. Aquilo foi mágico, quase não acreditei. Parecia a concretização de um sonho distante, que imaginava impossível. Minha rebeldia acadêmica (infelizmente desacompanhada de indignação), gerada pela desassistência e indiferença do poder público, estava ali na rua e na boca do povo, nos protestos contra o “inimigo” número um, o governo. Aquela turba com cartazes e palavras de ordem, cobrando mais probidade, saúde, segurança e educação me dizia, entre outras coisas, que eu precisava rever meus conceitos sobre os brasileiros, pois – como é do conhecimento geral – os nacionais só ocupavam as ruas para comemorar a vitória do time do coração, curtir a parada gay ou pular carnaval. Tudo aquilo ocorreu no período da Copa das Confederações, que foi uma espécie de prévia da Copa do Mundo. E agora, chegado o período de realização do grande evento, não são poucas as promessas de novos protestos. O problema é que o idealismo de todos nós pode ser sucumbido pelo interesse político-sectário infiltrado nos protestos originalmente pacíficos, vez que o evento acontecerá neste ano eleitoral. Somado a isto estão os bandidos que se misturam à multidão e tiram proveito realizando roubos e saques. Os protestos começaram na capital paulista por inimagináveis vinte centavos majorados nas passagens do transporte urbano. O que gerou frases criativas do tipo “Pega os vinte centavos e enfia no SUS”. E o “tumulto” se espalhou pelo país. Agora, alguns manifestantes são contra os gastos ditos excessivos na infraestrutura do evento e a corrupção, outros pedem mais investimento em setores essenciais como saúde e educação, que também deveriam ter “... padrão FIFA”. E por aí vai! Nada mais justo igualar a qualidade da saúde e da educação ao que tem de melhor. Mas a conta não é tão fácil... É a velha e sempre atual frase do “cobertor curto”. Se puxar aqui descobre ali. Enfim, tudo reflexo de uma geração mais conectada e com demandas diferenciadas, que sabe que é preciso atitude para mudar o cenário secular. Por outro lado, se doravante nada mais puder ser construído no Brasil pelo risco de corrupção, o país vai ficar “devagarzinho quase parando”.

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Protestos e manifestações são importantes e até imprescindíveis para o funcionamento mínimo da estrutura estatal do país. Ficamos adormecidos por tempo demais. É preciso marcar presença e dizer que discordamos de tantas mazelas acumuladas em séculos de (má) colonização e administração ao avesso. Além do mais, as gerações recentes são herdeiras dos sonhos das gerações anteriores, que nunca deixou de aspirar um mundo melhor e nunca desistiu da busca do paraíso além do horizonte. Mas é preciso raciocinar sem o ímpeto dos hormônios para obtermos o resultado ideal porque o óbvio às vezes não é tão óbvio. A oposição à Copa do mundo no Brasil faz lembrar uma passagem bíblica do Novo Testamento. No capítulo 12 do evangelho de São João, existe uma cena que faz um paralelo ao nosso tema. Em Betânia, lugar onde Jesus havia ressuscitado a Lázaro, Maria Madalena lavou os pés do Senhor com um precioso bálsamo e os enxugou com os próprios cabelos. O odor agradável encheu a casa onde estavam. Judas, movido pela ambição e porque era “ladrão e cuidava da bolsa tirando dela o que queria”, atalhou: “Porque não se vendeu esse unguento por trezentos denários e não se deu aos pobres?”. Jesus, conhecendo o coração do discípulo que o haveria de traí-lo, disse: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura ela guardou isto. O pobre sempre os tende convosco, mas a mim nem sempre”. Os problemas do país como saúde, segurança e educação sempre existirão. Ainda que todo o dinheiro investido na construção e reforma de estádios e de infraestrutura fosse investido na construção de hospitais, escolas, etc., sempre faltarão outros hospitais, outras escolas, creches, estradas, pontes, praças, etc., pois dificilmente se chega ao estágio ideal. Quem nunca preparou a casa ou fez uma festa e convidou parentes e / ou amigos!? Mesmo as pessoas mais simples já fizeram isso. Não são as demandas caseiras cotidianas, como a substituição de uma janela avariada, uma calçada quebrada, trocar parte do telhado, adquirir uma cerca elétrica, comprar um móvel novo, contratar um jardineiro ou a necessidade de fazer qualquer reparo doméstico que nos impede de investir em uma festa ou em um evento que consideramos importante. Se alguém perguntar aos que condenam a realização da Copa do mundo no Brasil se eles nunca fizeram um investimento desta natureza, ou mesmo se nunca deram um up grade no visual ou no armário certamente se certificará que poderiam ser mais generosos. E já que estamos falando de grandes eventos... Um professor norte-americano ficou feliz com a escolha do Rio de Janeiro para sede das Próximas Olimpíadas. Ele defende que a cidade dele, Chicago, perderia se tivesse sido a escolhida para sediar o evento, pois o montante é demasiado e “não compensaria” o investimento. O desabafo pode mostrar uma realidade, mas é preciso contemplar o outro lado. Chicago é um destino turístico consolidado, como Estados Unidos. O Rio, por sua vez, apesar das levas de visitantes, ainda patina nos graves problemas estruturais e conjunturais. Problemas, aliás, verificados em todo o país. Mas o maior ganho com eventos de grande porte são em longo prazo. Erra quem pensa que o Brasil é bem conhecido no exterior. Nosso país, infelizmente, carrega a pecha de terra distante e, portanto, desconhecida, além de muitas outras. Mas o que considero maior ganho é o fato de podermos sair do lugar comum. É a possibilidade de mostrarmos que o Brasil não é só agronegócio (que vive dando pressão no governo para obter empréstimos e outras vantagens). Copa do mundo e Olimpíada é a chance de dizermos que não somos apenas celeiro, sótão, quintal, ruralistas e produtores de grãos. Podemos ser jardim, terraço, sala e vitrine. Os grandes eventos são boas oportunidades de sinalizarmos que podemos oferecer serviços de qualidade, turismo, lazer, tecnologias e entretenimento. É preciso uma visão maior,

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mais aberta e generosa para compreendermos que a bola está na marca do pênalti e a torcida, quase toda a favor, esperando soltar o grito de gol. A hora tão esperada chegou! Quase esqueço a moral... Um grande evento sem protestos não tem a menor graça.

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CRONICAS, CONTOS, OPINIÕES

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NOVA ORDEM ECONÔMICA

ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO O autor é Economista. Membro das Academias Caxiense e Ludovicense de Letras.

“O pânico não destrói capital; ele meramente revela a extensão em que ele foi previamente destruído pelo seu uso em atividades irremediavelmente improdutivas”. John Mills, empresário britânico do século XX.

A recente crise ocorrida na economia mundial, a partir de 2007 e ainda não resolvida, com reflexos maiores ou menores nos Estados Unidos, na Zona do euro e sua periferia, e principalmente nos países emergentes, sugerem conclusões de que a teoria econômica vigente está à deriva em nome de uma “nova” ordem econômica. Os fins justificam os meios? Merece destaque a política de afrouxamento monetário ou “Quantitative Easing (QE)” praticada pelo Federal Reserve, o Banco Central americano, em nome do auxílio à liquidez do mercado e a fim de evitar um novo “crash”. Essa política, entretanto, não conseguiu estimular os investimentos conforme esperava, mas manteve o fluxo de recursos necessários ao ainda discreto crescimento do PIB; pelas circunstâncias do mercado americano, conseguiu isso sem impactos inflacionários, que ocorrem quando os meios de pagamento são maiores do que os bens e serviços disponíveis. A coisa funcionou tanto que, agora, praticam o “tapering”, isto é, fazem o caminho inverso retirando do mercado, em dois meses, 20 bilhões de dólares de um total que já foi 85 bilhões. E aí, com a valorização do dólar, os países emergentes estão sofrendo, como o Brasil, com o retorno dos capitais então aplicados e em busca de maiores remunerações. Enquanto o fluxo de dólares foi favorável, mais aqui e menos ali, não souberam ou não puderam aproveitar os seus benefícios, um dos lados da moeda: câmbio valorizado facilitando as importações, que ficaram mais baratas, mas dificultaram as exportações, que ficaram mais caras. No momento em que os dólares ficam escassos e se valorizam, o efeito no câmbio é inverso, importações mais caras e exportações mais baratas; as exportações, todavia, precisam de algo mais, de maior volume demandado e de preços competitivos. É isso aí: são dois lados da mesma moeda. Esse é o panorama macroeconômico mais relevante e visto dentro de um contexto maior e mais dinâmico.

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Em termos mais específicos e inerentes aos países emergentes, devem ser mencionadas as questões pendentes da relação Dívida/PIB; a economia que os países fazem para o pagamento dos juros dessa dívida, o Resultado primário; a política de juros como instrumento de política monetária; a ação dos bancos centrais e suas intervenções no mercado de câmbio; a diversidade e inovações dos tipos de títulos e valores mobiliários; a expansão do crédito principalmente através dos bancos públicos, uma alavancagem fora dos padrões tradicionais de risco; as transferências de renda em programas sociais, que deveriam ter tempo certo; a política de incentivos fiscais e as desonerações, de efeitos transitórios; os preços administrados, aumentados ou represados pelo governo; a inflação estrutural de custos e de demanda, uma “velha senhora”, sempre, de volta. Mesmo assim os economistas pensam no longo prazo. “As rendas provavelmente serão muito maiores em todo o mundo, impulsionadas pelo aumento da produtividade [...]; daqui a cem anos, as pessoas mais pobres do mundo poderão viver como vivem hoje americanos de classe média”, diz Ignacio Palacios-Huerta, em “In 100 Years Leading Economists Predict the Future”, citado por Simon Kuper, do Financial Times. “O ajustamento dos mercados às novas condições monetárias não é um jogo de Lego, que se arma e desarma”, diz Luiz Gonzaga Belluzzo (“Opinião”, artigo no “Valor econômico” do dia 4/2/2014), a propósito do “tapering” do FED, reduzindo o “QE”, cujo impacto nas moedas dos países emergentes referimo-nos anteriormente. “Essas políticas monetárias melhoraram as perspectivas domésticas nos países avançados, mas acentuaram os dilemas que se apresentam diante de muitas economias emergentes”, segundo Mohamed A. El-Eriam, executivo-chefe da Pimco, aspecto que também já abordamos. “Tome-se o caso do Brasil. O país tem grandes reservas internacionais, más há anos tem também uma inflação e um déficit externo elevados. Com a queda dos preços das exportações, a desvalorização cambial, e a alta dos juros longos, o país necessita reduzir a demanda doméstica”, opinião de Armando Castelar Pinheiro (jornal “Valor Econômico” dos dias 7,8 e 9/2/2014), objeto de nossas observações neste artigo. “O que Keynes faria em 2014”, pergunta John Wasik, da Reuters (“Análise”, mesmo jornal e dias acima). Para quem não sabe, além de economista famoso e mais influente do século XX, Keynes ganhou muito dinheiro no mercado de capitais administrando fundo de ações. Alguns dos seus conselhos: ignore o ruído; seja “do contra”; prefira ações a títulos para superar a inflação; commodities podem ser perigosamente voláteis; dividendos são desejáveis; pare de suar. Keynes foi partidário de programas intervencionistas liderados pelo poder público; políticas monetárias e fiscais para enfrentar os ciclos econômicos; níveis de renda afetando o nível de pleno emprego; a taxa de juros como prêmio à liquidez; a importância das expectativas supondo que o presente estado de coisas continuará indefinidamente, a menos que haja razões específicas para esperar mudanças. Precisamos de um novo Keynes, para, além dos seus conselhos ao sucesso no mercado de capitais, seguirmos suas teorias de amplo sucesso na economia.

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CAMPO DE PERIZES OU DE PERIS? ANTONIO NOBERTO Quando se digita no Google imagem as palavras “Campo de Perizes” o que se vê são inúmeras fotos de engarrafamentos e acidentes de trânsito. Carros completamente destruídos, pessoas mortas e feridas, polícia, bombeiro e coisas do gênero. São problemas provocados por “erros” de construção cometidos em outros tempos. A rodovia foi feita colada ao trilho da antiga Rede Ferroviária Federal S.A – RFFSA, o que se tornou uma anomalia na via, sem acostamento no sentido crescente. E para o (des)serviço ficar completo, com os dois lados prejudicados, foi colocado um outro problema, a tubulação do sistema Italuís na outra margem. Tudo isso aliado à falta de duplicação (que só agora está acontecendo) tem-se o cenário perfeito para algumas das tragédias verificadas no lugar. Mas a primeira vítima a agonizar no Campo é o vernáculo, pois o nome correto do lugar não é Campo de Perizes, como comumente citado, inclusive pela mídia. A Expressão carece de melhor atenção, de um revisionamento. O Campo faz parte da Baixada maranhense, formada por grandes planícies baixas, alagadas no primeiro semestre do ano, o que resulta em uma espécie de pântano setentrional do Brasil, refúgio de diversos animais e aves migratórias, que aqui descansam, alimentam-se e reproduzem-se. A Baixada é formada por duas dezenas de municípios e possui quase vinte mil quilômetros quadrados, que reúnem um dos mais belos conjuntos de lagos e lagoas naturais do país. Lago Açu e o Lago de Viana se destacam na produção regional de pescado, de onde são retiradas anualmente muitas toneladas de diversos peixes. Além do manguezal, existe uma vegetação típica nos campos alagados, um capim alto ou junco próprio de terreno pantanoso, o Peri. Daí o termo que designa o famoso Campo que margeia os dezenove quilômetros da BR 135 na circunscrição do município de Bacabeira/MA. Peri é o substantivo primitivo de onde deriva a discrepância Perizes. A origem do termo equivocado é desconhecida. Muito provavelmente foi extraída de outro erro: Periz, com “z” no final. Se o termo inicial é Peri, então, segundo a gramática brasileira, forma-se o plural acrescentando-se “s” (e não “z”), resultando, então, o termo Peris. Estaria justificada, assim, a pronúncia Campo de Peris, expressão já usada por muitos. Resolvido o problema de número, resta ainda observar um detalhe: o termo é de origem tupi e deve ser grafado com dois “i”, resultando em piri, que deu nome a lugares como Piripiri, no Piauí, Peri Mirim (que quer dizer capim ou junco pequeno) e Peritoró, no Maranhão. A forma mais correta, portanto, deveria ser Campo de Piris. Pronunciar e escrever Campo de Peris já seria um bom começo. O que não dá é para continuar a agressão à gramática com a utilização do termo Perizes, pois muita gente o faz pensando se tratar de alguma ave, como perdiz. Pronunciando o termo correto, Piris, ou sua variante aportuguesada (digamos) aceitável, Peris, estaremos prezando pela língua e cultivando uma das mais ricas línguas da América, o tupiguarani. Continuar pronunciando e escrevendo Campo de Perizes é negar que em São Luís se fala ou se falou o melhor português do Brasil ou que algum dia existiu uma Atenas nestas plagas de escritores e poetas. Se no próximo ano vamos melhorar a fluidez do trânsito no Campo a partir da duplicação da BR 135, então, nada melhor que nos anteciparmos com a correta escrita e pronúncia do termo. Salve o vernáculo, viva o tupi e o Campo de Piris ou de Peris.

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LIÇÃO DE VIDA AYMORÉ ALVIM Hoje pela manhã, recebi um telefonema de um amigo que me fez lembrar uma conversa que tive com um colega, há poucos anos, quando, então, ele me disse: - Professor, eu tenho muita vontade de entrar para a Academia Maranhense de Medicina, mas lá vocês só querem velhos. - Velhos, não. Pessoas mais experientes ou mais vividas. Estas acumulam mais sabedoria, são mais comedidas, se desprendem com mais facilidade de laços ideológicos, sociais e religiosos. São pessoas mais abertas, mais ponderadas e reflexivas, livres para voar com mais facilidade. Um dia, você chegará lá. Esta lembrança me trouxe outra de um fato que vivenciei, no início da década de 1960 ou, mais precisamente, em julho de 1962. Estávamos de férias, em Pinheiro, eu e os colegas que também estudavam aqui em São Luís. Em um dos nossos encontros, decidimos fundar uma sociedade cultural que recebeu a denominação de Associação Cultural e Recreativa dos Estudantes de Pinheiro – ACREP, cujas finalidades o próprio nome já expressava. No mês de outubro, já em São Luís, incentivados pelo Dr. Eloi Coelho, Secretário de Educação, pelo Dr. José Ribamar Seguins que presidia uma Associação de Ginásios gratuitos, pelo padre José de Ribamar Carvalho e o professor Luís Rêgo fundamos o Ginásio Comercial da ACREP, o primeiro ginásio fundado por estudantes, no Maranhão, talvez no Brasil. Queríamos proporcionar oportunidades aos jovens pinheirenses que não podiam vir estudar em São Luís nem frequentar as aulas matutinas e vespertinas do Ginásio Pinheirense porque tinham de trabalhar durante o dia para o seu sustento ou porque os pais não dispunham das necessárias condições. Com isto esperávamos também dar a nossa contribuição ao desenvolvimento cultural e intelectual da nossa terra. O Ginásio transformado depois na Escola Comercial da ACREP funcionou até bem pouco tempo, isto é, por quase cinquenta anos com significativos resultados para os nossos jovens vencedores, hoje espalhados por diferentes Estados do Brasil e para o desenvolvimento do nosso município. Foi um desafio. O professor Luís Rêgo, como Inspetor Federal, foi a Pinheiro, no início de março de 1963, fazer o exame de admissão. Foram aprovados 92 alunos. Tudo lhes era gratuito até livros e fardas. Saíamos no comércio de São Luís pedindo ajuda. Com o tempo, quando nos olhavam de longe, gerentes e donos de estabelecimentos comerciais, principalmente, da Rua Grande, já diziam: Ih! Lá vem a turma de Pinheiro, digam que não estou. Eles pedem demais. Em Pinheiro, não conseguíamos nada. Os políticos achavam que queríamos entrar na política e derrubá-los. Os comerciantes, por seu lado, diziam que éramos um bando de comunistas e que estávamos instruindo seus empregados para tomar o que era deles. Os padres entendiam que o nosso movimento era para acabar com o Ginásio da Prelazia. Como vêm, a empreitada era muito difícil, então, a única saída era pedir em São Luís. Quando da formatura da primeira turma, convidamos os nossos amigos incentivadores e patronos da Escola, mas só o padre Ribamar pode ir.

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À noite, na solenidade realizada em praça pública, os primeiros Auxiliares de Comércio receberam o seu diploma. Eu disse diploma, não certificado. A certa altura da sessão solene, os formandos prestaram sua grande homenagem aos seus professores, esses valorosos pinheirenses e amigos que acreditaram em nossos propósitos e nos deram a grande ajuda de que precisávamos. Logo, a seguir, falou o padre Ribamar. Em dado momento da sua oração, ele se dirigiu aos novos Auxiliares de Comércio e lhes disse: “A diferença entre uma pessoa mais nova e outra mais velha é que a mais velha quando cai tem mais dificuldade para levantar, mas não se envergonha de ter caído. Aproveita o período enquanto se levanta para refletir sobre a causa da queda para não voltar mais a cair. Isto é sabedoria, prudência. A mais nova cai cem vezes e cem vezes levanta. Ela tem vergonha de cair, daí a pressa em se levantar, o que não lhe dar tempo para pensar, refletir para não voltar a cair. Isto é impetuosidade, é imprudência. Na vida, há muitas armadilhas que vocês após acumular experiências com a vivência interpessoal, com a leitura e o trabalho terão mais sabedoria para transpô-las”. Ao término do seu belo discurso, foi bastante aplaudido, mas eu guardei essa parte que achei muito interessante: Uma verdadeira lição de vida.

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POESIAS

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WILSON PIRES FERRO: um estudioso e grande amante das letras DILERCY ADLER

Wilson Pires Ferro

No dia 22 de janeiro fiquei sabendo do falecimento, no dia 20 do mesmo mês, de Wilson Pires Ferro, ilustre ocupante da cadeira 07, patroneada por Antônio Gonçalves Dias, da recém-criada Academia Ludovicense de Letras - ALL Uma grande perda para a ALL, para a cidade de São Luís, para o Estado do Maranhão. Não me encontrava em São Luís e ainda fiquei uns dias sem internet, de modo que quando soube do ocorrido fui tomada por profunda tristeza. É fato que eu não tinha muito contato com Wilson Pires Ferro, o via às vezes quando ia ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, acompanhando a filha, Ana Luiza, e sempre ao lado da bela Eunice, sua companheira de muitos anos, à qual chamava de rainha, fato que tomei conhecimento na última homenagem da sua filha na sua missa de sétimo dia. Homenagem essa, cheia de amor e emoção, que me fez tomar conhecimento das minúcias da vida de um homem culto, grande amante da poesia, que batalhou muito na sua vida na direção de vários objetivos, os quais grande parte conseguiu realizar. Entretanto, os nossos destinos se cruzaram, de forma mais consistente, dentro das atividades do Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”. Foi um dos primeiros (juntamente com a sua filha Ana Luiza) a aderir ao projeto participando com quatro poesias. E a partir daí o nosso contato ficou mais amiúde. Nesse período ele escreveu um artigo: “Faltam Academias” (O Estado do Maranhão, 24.01.2013), no qual sugeria a criação de uma Academia de Letras para a cidade de São Luís. Em 2012 também já tinha escrito outro artigo com esse teor “Falta uma academia”, também no jornal o Estado do Maranhão. A seguir as suas poesias em homenagem a Gonçalves Dias, que estão na antologia “Mil poemas para Gonçalves Dias”:

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ODE A CAXIAS Wilson Pires Ferro Terra adorada de meus diletos pais, de filhos ilustres, talentosos estetas, caudal fluente de invulgares criaturas, berço notável de escritores e poetas. Há meio século, ainda criança, percorri suas ruas, longas andanças, nem a ausência dos anos passados ofuscou da mente as gratas lembranças. No percurso do centro à Tresidela, a pitoresca ponte da Passagem, do alto o vale do Itapecuru, descortina dali bela paisagem. O progresso necessário, inevitável, destruiu, apagou o belo recanto, a cidade cresceu, desenvolveu-se, não perdeu seu charme, seu encanto. Vi os cultos repousando no panteão, li seus contos, recitei suas poesias, a Canção do Exílio, o Canto do Piaga, recebi do imortal Gonçalves Dias. No tempo, mergulhei no passado, recordei os anos lá vividos, visitei, revi seus monumentos, muitos deles, pelo tempo, esquecidos. Ouvi o barulho incessante dos teares, do formoso largo da Matriz, a Manufatora, a Sanharó e outros mais, outrora promissores centros fabris. Hoje, são solenes monumentos, o passado de pujança e glórias, tão presentes, fixados no consciente, guardam eventos, revelam suas memórias. Andei, percorri longos caminhos, os mesmos que trilhei quando estudante, recantos próximos, outros mais distantes, recordando minha infância a cada instante. Estação e armazém ferroviário, solitários, nem trem, nem passageiro, só sombras, ruínas do passado, quando o futuro parecia alvissareiro. Olvidar os tempos idos, impossível, olhar triste, alcançando o horizonte,

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lembrar-se dos mananciais que existiram e das piscinas naturais do bairro Ponte. Veios d'água, com os anos sucumbiram, outros resistem, conformando a natureza, logradouros, da cidade bem distantes, águas saudáveis da fonte da Veneza. Belas igrejas emolduram suas praças, sacrossantos locais de devoção, guardam estilos de uma época mais remota, singelos templos da Princesa do Sertão. Ruas estreitas confluem em vários pontos, praças cuidadas, admiradas pelo encanto, árvores frondosas, palmeiras bem vistosas, p'ra ouvir do sabiá o terno canto. Caxias, acolhedora e humana, muitos feitos realçam sua história, edificações lá do morro do Alecrim, presenças vivas do passado sem memória. Eu quisera fazer o tempo volver, ver a cidade como era antigamente, o trem passar o Buriti Corrente, emergirem locais, renascer toda sua gente. GONÇALVES DIAS Wilson Pires Ferro De mãe mestiça e pai português, Caxias foi sua terra natal, Gonçalves Dias, poeta consagrado, gênio criador da literatura nacional. Graduou-se em Direito em Portugal, em versos levantou o indianismo, foi teatrólogo, professor e jornalista, consolidou, no Brasil, o romantismo. Diplomata, percorreu o estrangeiro, crônicas elaborou para os jornais, dos primeiros a defender a ecologia, escreveu romances e peças teatrais. Saudoso da terra que deixou, retornou, cá viria exaltar o seu encanto, contemplar as palmeiras, a natureza, delas ouvir, do sabiá, o belo canto. Já doente, o destino ceifou-lhe a vida, não poupou o poeta, ignorou sua cultura, o vapor em que viajava soçobrou, o oceano foi sua digna sepultura.

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ADEUS, POETA Wilson Pires Ferro Gonçalves Dias, poeta nacional, de imaginação fértil e fecunda, não mais viu a sua terra natal, traído por sua saúde moribunda. O poeta já fraco, sem energia, sem forças p’ra se levantar, no seu leito de longa agonia, sem adeus se deixou afundar. A sua saúde debilitada sequer respeitou sua cultura, transformou o tudo em nada; o oceano foi sua sepultura Não avistou mais as palmeiras, nem mais ouviu o sabiá cantar as suas canções derradeiras, levou-as p’ro fundo do mar. LAMENTO INDÍGENA Wilson Pires Ferro Timbiras, tupis e tamoios, índios de qualquer lugar, ausente o poeta, sem apoios, vivem tristes a lamentar. Nas tabas e nos seus terreiros, atormentados por Anhangá, não são tão bravos guerreiros, silenciaram o seu maracá. Nos seus encontros festeiros, sem o poeta a exaltar, celebram deuses arteiros, sempre a dançar e cantar. Os arcos e flechas ligeiras deixaram-se aposentar, outras armas mais certeiras, eles passaram a adotar. O pajé, hoje desfigurado, o poder que tinha não tem, as curas que fez no passado quem faz é Tupã, deus do bem. Vive o bravo guerreiro tupi sem embates nem guerras, “Ó Guerreiros, meus cantos ouví” não se ouve nos vales, nas serras.

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Só resta a lembrança nas aldeias, Gonçalves Dias não mais vai voltar, foi cantar para as sereias, nas águas profundas do mar.

O projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias” previa, além do lançamento das antologias, incentivar outras atividades culturais, entre elas a criação de entidades e organizações culturais. Após a leitura desse último artigo (2013) do Prof. Wilson Pires Ferro sobre a necessidade de mais Academias, reacendeu em mim uma ideia antiga: de fundar a Academia de Letras de São Luís, a exemplo de outros intelectuais e escritores maranhenses que também desejavam realizar esse feito. Somado a esse fato, outro de igual importância, diz respeito à criação da AML; a qual se deu no aniversário de 85 anos de Gonçalves Dias. Assim, compreendeu-se a grande oportunidade de também homenagear o poeta criando a Academia Ludovicense de Letras no bojo do Projeto a ele dedicado. A ideia logo foi compartilhada com Ana Luiza Almeida Ferro (que tinha me enviado o artigo do pai) e a partir daí foi divulgada a intenção e compartilhada com outros membros da comissão do projeto “Mil poemas para Gonçalves Dias”. Assim, a partir desse momento passei a privar mais da presença do ilustre escritor e testemunhar o seu intenso amor às letras. E com quanta paixão declamava as suas poesias!!! O seu trabalho na criação da Academia contou também com uma exaustiva pesquisa biobibliográfica de candidatos a patronos das cadeiras da Academia, a qual seria apresentada, analisada e votada numa Assembleia Geral Ordinária. Esse trabalho totalizou setenta nomes, incluindo vinte e nove conterrâneos ludovicenses e quarenta e um intelectuais do Maranhão e de outros Estados do Brasil e outras nacionalidades, dos quais foram escolhidos trinta e nove para patronear as cadeiras da ALL (apenas um patrono selecionado não se originou da sua pesquisa). Esse estudo foi efetivado num período em que a sua saúde estava bastante fragilizada, condição que não o impediu de debruçar-se sobre livros e artigos, jornais e outras fontes para concluir a tarefa para a qual se tinha disponibilizado com grande dedicação.

Wilson Ferro declamando no evento “Leitura Poética Mundial: 100 mil poetas para a mudança"

Contudo, 2013 nos fez ainda compartilhar de mais atividades literárias, entre elas as do Liceo Poético de Benidorm- Espanha. Fui convidada para ser Delegada no Estado do Maranhão em agosto, e, em setembro, já estávamos nos engajando e organizando a 1ª participação do Maranhão no Projeto do Liceo Poético de Benidorm: " Leitura Poética Mundial: 100 mil poetas para a mudança", realizado no dia 28 de setembro, às 16 horas, na Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo. E Wilson Pires Ferro

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lá estava com a filha e a esposa participando do evento com todo entusiasmo, declamando as suas poesias com a costumeira paixão.

Evento “Leitura Poética Mundial:100 mil poetas para a mudança"

A segunda atividade do Liceo Poético de Benidorm- Espanha-Delegação do Maranhão aconteceu no dia 13 de novembro de 2013, também na Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo e às 18h realizamos a nossa "Leitura Poética Global: Pela materialização da Justiça Social". Nesse evento contamos com a presença marcante e memorável de Wilson Ferro mais uma vez: declamando poesias, assistindo a outros poetas, doando livros e entregando-os aos premiados.

1Wilson Ferro e Dilercy; 2- Vanda, Dilercy, Eunice, Wilson, Ana Luiza, Clores, Álvaro e atrás Paulono Evento: “Leitura Poética Global: Pela materialização da Justiça social"

Confesso que me tornei sua admiradora como intelectual e como pessoa. Admiração construída em pouco espaço de tempo - o que lamento – mas, em contrapartida muito sólida e afetuosa, a ponto de eu indicar o seu nome para a Presidência da ALL. Reafirmo que a ALL deve a sua criação, no momento em que foi fundada, em grande parte a ele, pois foi a partir do seu artigo “Faltam academias” que despertou em mim a ideia de, também, num aniversário de Gonçalves Dias, se criar a ALL. Lamento muito não ter tido o tempo que gostaria para privar da sua amável companhia e me pergunto de quantas tantas outras pessoas deixamos de nos aproximar e estreitar laços e solidificar mais as amizades, a exemplo do que coloquei na contracapa do meu livro “Desabafos... Flores de plástico... Libidos e Licores liquidificados” (2008):

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[...] o poeta, alma sensível e sonhadora, trabalha no sentido de um desobstaculizar coletivizado dos encontros... Quem sabe assim mais encontros aconteçam entre as pessoas e a vida possa seguir Seu rumo, pleno de amor e de paz!...” Wilson Ferro, a exemplo de Moisés, caminhou pelo deserto, chegou a entrar na “terra prometida” (o que Moisés não conseguiu), mas ficou tão pouco que nem deu tempo de apresentar o elogio ao seu patrono, o nosso querido Gonçalves Dias. Solidarizo-me à dor da sua família e tenho certeza de que ele, onde quer que esteja, está gozando da Paz e do Bem que sempre permearam a sua vida! Dedico a ele a minha poesia Velejando: VELEJANDO Dilercy Adler Um dia eu vou dormir não vou sonhar contigo com nada que mais amo nem acordar vazio... um dia eu vou dormir e não ver mais a lua nem vou sentir a chuva ... cheiro de terra molhada... um dia eu vou dormir o sono – eterna noite – sem medo sem veneno sono sereno cheio de paz velejo! In: GENESES IV Livro, p. 36, 2000.

Evento: “Leitura Poética Global: Pela materialização da Justiça social"

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POESIAS SELECIONADAS WILSON PIRES FERRO A NOITE DE NATAL Há muitos anos passados cumpriam-se as profecias, anunciavam as Escrituras a vinda do Messias. Todos os povos do Mundo, nos clãs, tribos e nações, aguardavam o Salvador, contritos em orações. Guiados por uma estrela, levados pelo destino, iam os Três Reis Magos adorar o rei menino. Despido de trono e coroa, era um rei bem diferente, que, por sua simplicidade, iria cativar toda a gente. Em uma simples manjedoura, na mais humilde condição, nasceu o Filho de Deus, o agente da salvação. Junto ao seu rústico berço, transbordantes de alegria, só uns poucos visitantes, e seus pais José e Maria. Ouvem-se suaves acordes, contagiando a natureza, trazendo-nos bons momentos, afastando a tristeza. Repicam os sinos nas igrejas, anunciando o Natal, há uma alegria incontida, muito além do natural. O evento é marco histórico, alegra toda a cristandade, por um momento esquecemos a violência e a maldade. Sem distinção de cor e raça, a confraternização é geral, todos vivem o feliz momento nesta noite de Natal. Versos e anversos (Belo Horizonte: Mandamentos, 2002), São Luís-MA, 24.12.1989

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LUAR DO MEU SERTÃO Vem surgindo de mansinho de onde o horizonte se encerra, espargindo luz suave no solo da minha terra. Luz branca e prateada, esperada com emoção, de uma beleza sem par, é o luar do meu sertão. A noite torna-se clara, já não há escuridão, a cidade mais alegre, há luz em profusão. Nas ruas e nas esquinas, muitos casais, muitos amores, os violeiros afinam suas violas, inspirando os trovadores. Fazia gosto de ver a alegria da criançada, cirandas, brincadeiras de roda em noite enluarada. Um feliz congraçamento nas portas e nas calçadas, vizinhos se encontravam, contavam estórias e piadas. Ah, se o gênio criador, o tempo retroceder, volver aqueles momentos, e eu morrer e renascer. Versos e anversos (Belo Horizonte: Mandamentos, 2002), São Luís-MA, 21.06.1994.

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A HISTÓRIA, A MEMÓRIA NUM MEMORIAL Manhã clara, de sol flamejante, leve brisa que sopra do mar, céu límpido de azul radiante, raios de sol banhando o solar. A praça defronte é tudo silêncio, no seu centro, a estátua, o altar, contempla o poeta, há tristeza no olhar, a mais notável testemunha ocular. De repente, irrompe o incêndio, tem início no segundo andar, atinge o mirante, se propaga em minutos, não há força humana que o faça parar. O prédio resiste, o fogo incessante, o vento que sopra ajuda o gigante, destrói documentos, livros e atas, é a desolação, é o inferno de Dante. A Reitoria vai sendo consumida, desaba o mirante, há o lamento, o pesar, as chamas se instalam, implantam o terror, que o Deus Hefestos não quis aplacar. Seus amantes acorrem, lastimam, do belo prédio só resta a história, um olhar triste, uma triste lembrança, o sinistro evento não ofusca a memória. O fogo devastou e cessou, e o que restou: o pouco, o nada, o geral, muitas idéias, uma genial, preservar a história, a memória, num Memorial. A triste lembrança alimenta a esperança, levantam-se vozes, anima-se a grei, papéis tostados, queimados, tudo é vida, acervo histórico do Memorial Cristo Rei. Versos e anversos (Belo Horizonte: Mandamentos, 2002), São Luís-MA, 10.11.1996.

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ODE A SÃO LUÍS Na baía de São Marcos, de um perfil soberano, uma ilha grande, formosa, num golfão do oceano.

Ruas estreitas, estreitas calçadas, em aclives e declives, as ladeiras, escadarias, charmosas escadas, nas praças, vistosas palmeiras.

Upaon-Açu dos nativos, colônia dos portugueses, habitada por primitivos, fundada pelos franceses.

Nas ruas, pitorescos transportes, os condutores, gentis motorneiros, veículos confortáveis, bem fortes, percorriam fascinantes roteiros.

Terra de escritores e poetas, amantes, afeitos à literatura, berço de talentosos estetas, celeiro invulgar de cultura.

Destes, só lembranças passadas, quando o futuro parecia alvissareiro, os trilhos sob as ruas asfaltadas, hoje nem bonde nem passageiro.

Na economia realçou o algodão, matéria-prima para os tecidos, várias fábricas na sua confecção, um ciclo nos tempos perdidos.

Não se ouve o apitar do trem, uma atração constante, diária, a cidade já teve, mas não tem, a estação não é mais ferroviária.

Fase de prosperidade evidente, a capital cresce, se expande, a nobreza, a classe emergente, ricas moradas na Praia Grande.

Igrejas embelezando ruas e praças, repletas de fiéis em sublime oração, de joelhos, nos altares, buscam graças, templos sagrados de fervor e devoção.

Inúmeros, centenários casarões, a cidade, a Lisboa assemelhada, palacetes com amplos salões, azulejos revestindo as fachadas.

São repositórios de eventos na memória, guardam estilos de épocas já distantes, patrimônio cultural de muita história, recordando o passado a cada instante.

Miragem de sinuosos telhados, arqueados, graciosos beirais, a beleza de antigos sobrados dos áureos tempos coloniais.

Ao tempo, resistem os monumentos, lembram feitos dos heróis e bravos, os alegres e tristes acontecimentos, a Cafua, o mercado de escravos.

Sobradões de poucos andares, no interior, artísticas escadas, ambiente de discretos olhares, debruçadas, solarengas sacadas.

Lendas envolvem o seu passado, tempos lembrados em cada canto, muitos fatos ainda não contados, a cidade admirada pelo encanto.

Imponente, no último andar, um soberbo, altivo mirante, uma visão da praia, do mar mirando longe o horizonte.

Extensas praias, sol e maresias, povo alegre, sofrido, mas feliz, cantores ensaiam melodias, gorjeiam sabiás e bem-te-vis, poetas declamam poesias, hinos de louvor a São Luís.

Notável expressão do Romantismo, em uma coluna no centro da praça, em poesias, exaltando o indianismo, Gonçalves Dias, o poeta da raça. Olhos d'água fluindo de minas, mananciais em aprazíveis locais, fontes de águas puras cristalinas, do Ribeirão, do Bispo, outras mais.

Versos e anversos (Belo Horizonte: Mandamentos, 2002), Belo Horizonte-MG, 08.09.2001.

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A FRANÇA EQUINOCIAL EM VERSOS Bulas papais, o mundo repartiram, Países ibéricos, os preferidos, Terras ignotas, que não descobriram, Reinos cristãos, da partilha excluídos.

A União Ibérica ainda existia, Os gauleses instalados no continente, A Espanha, preocupada, exigia Expulsar do Maranhão aquela gente.

Os gauleses, inconformados, protestaram, A Cúria Romana ignorou a pretensão, Navegantes e corsários se animaram, Confrontar os lusitanos, a solução.

Combates ocorriam com frequência, Os gauleses, atacados, resistiam, Forças ibéricas com maior eficiência, Seus soldados bem postados insistiam.

O Atlântico, o cenário das expedições, Heróis, navegantes portugueses, Os espanhóis em frequentes ações, Presentes os marinheiros gauleses.

Os gauleses ocuparam a enseada, Jerônimo de Albuquerque, em golpe de esperteza, As linhas francesas, pelos flancos atacada, Derrotadas pelo ataque de surpresa.

Alvo predileto, o Brasil português, Investidas francesas ao seu litoral, No Maranhão, numa ilha do oceano, Eles fundaram a França Equinocial.

Os comandantes trocaram cortesias, Juntos, discutiram um armistício, Entre ambos, acordadas as garantias, A conquista do Maranhão teve início.

La Touche, Razilly e toda a tripulação, Cristãos, de fé inabalável em Jesus, Desceram a terra em sublime missão, Entoaram cânticos, chantaram uma cruz.

Perdida a luta, abatidos os perdedores, Inda com forças p’ra tentarem a vitória, Negociaram a rendição com os vencedores, Heroico feito luso que entrou para a história.

Viajaram na baía algumas milhas, Dos índios obtiveram assentimento, Alcançaram Upaon-açu, a maior das ilhas, Erigiram casas, fortalezas e convento.

Quatro séculos do episódio são passados, Um povo alegre, sofrido, mas feliz, Todos celebram os tempos recuados, O nascimento da formosa São Luís.

Nos franceses, renascida a esperança, A sede da colônia já escolhida, Solenemente fincaram armas da França, Uma feitoria na terra esquecida.

1º lugar no II Concurso Literário nos Gêneros de Poesias e/ou Crônicas “São Luís, minha cidade” (2013)

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OS TEMPOS SÃO OUTROS.

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM Os tempos são outros Não são mais aqueles Estão diferentes Dos tempos d’outrora A gente estudava A gente brincava Só não se gostava De ir pra escola. Criança beber? Não bebia. Criança fumar? Não fumava. Criança brincava E se divertia. E na hora da escola Chorava mas ia. Ninguém se importava Em fazer uma lei Que, então, proibisse Bebida comprar. O pai proibia Nenhum bar vendia A lei era essa E ponto final. Não tinha maconha Nem coca, nem craque, Nem LSD Nem droga nenhuma. Por isso não havia Nem roubo ou assalto E a vida corria Segura e tranquila.

Beber e fumar? Só adulto fazia. Fumavam Astória E também outras marcas. Bebiam conhaque Cerveja e cachaça Com um bom tira-gosto Que vinha de graça. E mesmo que fosse Em dias de festa, Na frente dos pais Ninguém se atrevia. Podia ter barba Cavanhaque e bigode Quem quer que ousasse O couro descia. Ficar como hoje? Quem é que ficava? Um beijo na boca Era grande ousadia A gente podia Ter muita vontade Porém se tentasse O tapa tinia. Eu já rapazinho Ainda me lembro De como era bom A gente dançar. Mas só afastado Com o braço estirado Porque se colasse Ela logo empurrava.

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A mulher se vestia Com muito recato Era tanto pano Que ela usava. Calçola e corpete E muitas anáguas Por cima o vestido Forrado na saia. Mas os tempos de agora São tão diferentes Há coisas que a gente Nem imaginava Até se almoçava Com os pais da menina Mas ficar pra dormir, Quem é que ficava? Porém se o sujeito O sinal avançasse Podia esperar Que ele casava. E se não casasse A polícia prendia E o relho descia. No lombo do cabra. Assim era a vida Nos tempos de outrora Se alguém se recorda Pode, então, confirmar. Se era melhor Te digo eu não sei, Mas que ela era boa, Quem pode negar?


O DIA ACABOU

CLORES HOLANDA Em 24 de fevereiro de 2014

O dia acabou e o meu olhar se perdeu no sol que saiu de mansinho. A noite surge resultante das sombras que devoram as luzes. O vento sopra exalando o perfume de mato queimado depois de um dia tão lento. O cheiro forte invade o meu quarto. Saudade das “queimadas” das roças da minha terra natal! Que depois preparava o solo para plantação. Transformando a safra produzida em “ganha pão”. O pão da vida que alimentava o irmão. Ó lua, ó lua! Onde estás que não responde? Vejo o céu com nuvens escuras a espera do brilho da primeira estrela. Como é estranho prédios se transformarem em caixas gigantescas de luz artificial. O meu céu brilha a luz dos meus sonhos na esperança de outro amanhecer. O forro de minha casa impede que eu aprecie o céu. Ó noite, ó noite, ó noite! Uma noite sempre é uma noite. Basta que você consiga perceber as coisas lindas que a vida pode te oferecer.

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DIA INTERNACIONAL DA MULHER

DILERCY ADLER ESPAÇO FEMININO Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço... inusitado das normas do corpo do sexo do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar a boca a dentro do homem! MULHER Corpo desnudo sob lençóis de cetim pele sedosa e incandescente contornos perfeitos sob medida para a gratificação de olhos ávidos braços vigorosos e boca sedenta de paixão!

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FRAGMENTOS DE MULHER Ser mulher é antes de tudo ser gente! não é ser apenas mãe abnegada doce e sem defeitos imagem imaculada não é ser apenas mártir aquela que sofre no paraíso do lar doce lar entregando-se sem qualquer retribuição não é ser apenas a pecadora aquela que tentou Adão com o fruto proibido e assumindo toda culpa não é ser apenas o braço direito do homem sendo nada mais que um membro a mais do macho não é ser apenas a santa copiada da figura de Maria a pureza personificada assexuada não é ficar apenas atrás do homem sendo sua sombra que o empurra para a ascensão ou ainda para a falência... ser mulher é antes de tudo ser gente! um indivíduo completo com mil desejos e aspirações de toda ordem com conflitos defeitos virtudes e anseios com força e fraqueza concomitantes com sexualidade e candura... gente enfim não restos de ser humano ou um ser inacabado ou ainda mutilado mas um ser completo perfeito e plenamente potente!

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