ALL EM REVISTA 9.4 - OUTUBRO-DEZEMBRO 2022

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EM REVISTA

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536 NÚMERO 9, VOLUME 4 – OUTUBRO - DEZEMBRO 2022 SÃO LUÍS DO MARANHÃO

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor

EXPEDIENTE

ALL EM REVISTA

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei

65020-060 – São Luis – Maranhão

ALL EM REVISTA

Revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras

Gestão 2022/2023

COMISSÃO EDITORIAL

CONSELHO FISCAL

COMISSÃO EDITORIAL

DIRETORIA PRESIDENCIA SECRETARIA TESOURARIA

Vez por outra, promovo uma mudança na forma de apresentação da Revista. Sessões, fotos, composição... Nesta, iniciamos com a presença de “Maria Firmina dos Reis na mídia”, buscando registrar quem, quando, onde e elementos de sua biobibliografia aparecem... muitas surpresas...

Registro de quem produziu o que: artigos, contos, memórias, poesias... na página de cada membro ativo... Devo utilizar a informetria para determinar a elite dos autores da ALL?

Informetria1 é o estudo dos aspectos quantitativos da informação em qualquer formato, e não apenas registros catalográficos ou bibliografias, referente a qualquer grupo social, e não apenas aos cientistas. A informetria pode incorporar, utilizar e ampliar os muitos estudos de avaliação da informação que estão fora dos limites da bibliometria e cienciometria2” .

Esse termo designa uma extensão recente das análises bibliométricas tradicional ao abarcar o estudo das modalidades de produção da informação e de comunicação em comunidades não acadêmicas. (VANTI, 2002)3 . A informetria se distinguiria claramente da cienciometria e da bibliometria no que diz respeito ao universo de objetos e sujeitos que estuda, não se limitando apenas à informação registrada, dado que pode analisar também os processos de comunicação informal, inclusive falada, e dedicar-se a pesquisar os usos e necessidades de informação dos grupos sociais desfavorecidos, e não só das elites intelectuais.

“... a informetria é um subcampo emergente da ciência da informação, baseada na combinação de técnicas avançadas de recuperação da informação com estudos quantitativos dos fluxos da informação” e encontra sua utilidade na administração de coleções em bibliotecas, no desenvolvimento de políticas científicas e pode ajudar na tomada de decisões em relação ao desenho e manutenção de sistemas de recuperação de informação. (VANTI, 2002)

A webometrics ou webometria consiste na aplicação de métodos informétricos à World Wide Web. Além do termo webometrics, também se encontra na literatura a expressão cybermetrics4

Em termos genéricos, estas são algumas possibilidades de aplicação dessas técnicas:

• identificar as tendências e o crescimento do conhecimento em uma área;

• identificar as revistas do núcleo de uma disciplina;

• mensurar a cobertura das revistas secundárias;

• identificar os usuários de uma disciplina;

• prever as tendências de publicação;

• estudar a dispersão e a obsolescência da literatura científica;

• prever a produtividade de autores individuais, organizações e países;

• medir o grau e padrões de colaboração entre autores;

• analisar os processos de citação e cocitação;

1 O termo informetria foi proposto pela primeira vez por Otto Nacke, 1979. Este termo foi adotado imediatamente pelo mesmo VINITI, na antiga URSS, instituição que impulsionou a criação de um comitê com este nome na Federação Internacional de Documentação: o FID/IM – Comitte on Informetry. Sua aceitação definitiva data de 1989, quando o Encontro Internacional de Bibliometria passou a se chamar Conferência Internacional de Bibliometria, Cienciometria e Informetria. Alguns autores apresentam tais termos como sinônimos, porém outros consideram que a informetria compreende um campo mais amplo que a cienciometria e que englobaria, também, a bibliometria. VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. IN CI. INF., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002, p. 152-162

2 “Cienciometria é o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica. A cienciometria é um segmento da sociologia da ciência, sendo aplicada no desenvolvimento de políticas científicas. Envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação e, portanto, sobrepondo-se à bibliometria”.

3 VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. IN CI. INF., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002, p. 152-162

4 que corresponde ao nome da revista apresentada oficialmente durante a VI Conferência Internacional de Cienciometria e Informetria, em Jerusalém, no ano de 1997. (VANTI, 2002)

EDITORIAL

• determinar o desempenho dos sistemas de recuperação da informação;

• avaliar os aspectos estatísticos da linguagem, das palavras e das frases;

• avaliar a circulação e uso de documentos em um centro de documentação;

• medir o crescimento de determinadas áreas e o surgimento de novos temas.

Voos (1974)5 enuncia que a relação entre o número de autores e o número de artigos publicados por esses, em qualqueráreacientífica, segueaLei doInversodo Quadrado1/n2: em um dado período,analisandoum número n de artigos, o número de cientistas que escrevem dois artigos seria igual a ¼ do número de cientistas que escreveram um. O número de cientistas que escreveram três artigos seria igual a 1/9 do número de cientistas que escreveram um, e assim sucessivamente.

A produtividade de autores pode ser verificada aplicando-se a Lei de Lotka,6, ou Lei do Quadrado Inverso7relacionada à produtividade de autores é fundamentada na premissa básica de que “alguns pesquisadores publicam muito e muitos publicam pouco -, aponta para a medição da produtividade de autores, mediante um modelo de distribuição tamanho-frequência dos diversos autores em um conjunto de documentos. Já a Lei de Bradford8, ou Lei de Dispersão9, permite, mediante a medição da produtividade das revistas, estabelecerem o núcleo e as áreas de dispersão sobre um determinado assunto em um mesmo conjunto de revistas.

O padrão de distribuição das leis e princípios bibliométricos segue a máxima conhecida como “Efeito Mateus na Ciência”, que diz: “aos quemais têm será dado em abundância e, aos quemenos têm até o quetêm lhes será tirado” 10. Trata-se de uma abordagem ao efeito Mateus mediante a análise de processos psicossociais, que afetam o sistema de avaliação e distribuição de recompensas científicas. Por exemplo: cientistas altamente produtivos, de universidades mais conceituadas, obtêm frequentemente mais reconhecimento que cientistas igualmente produtivos, de outras universidades11. No geral, os autores concordam que, para uma correta aplicação do modelo de Lotka, devem-se seguir as seguintes recomendações12:

a) Selecionar um campo específico de produção científica. Quanto mais específico o campo, melhor o resultado;

5 VOOS, H. Lotka and Information Science. Journal of the American Society for Information Science, v.25, n.4, p.270-272, 1974.

6 LOTKA, A. J. The frequency of distribuition of scientific productivity. JOURNAL OF THE WASHINGTON ACADEMY OF SCIENCES, v. 16, n.12, p. 317-323, 1926;

7 LOTKA, A. J. The frequency of distribuition of scientific productivity JOURNAL OF THE WASHINGTON ACADEMY OF SCIENCES, v. 16, n.12, p. 317-323, 1926, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica.

8 A Lei de Bradford, relacionada à dispersão da literatura periódica científica, enuncia que “se periódicos científicos forem ordenados em ordem decrescente de produtividade de artigos sobre determinado assunto, poderão ser divididos em um núcleo de periódicos mais particularmente dedicados ao assunto e em vários grupos ou zonas, contendo o mesmo número de artigos que o núcleo. O número de periódicos (n), no núcleo e zonas subsequentes, variará na proporção 1:n:n2 [...]

9 BRADFORD, S. C. Sources of information on specific subjects. ENGINEERING, [s.l.], v.137, p. 85-86, 1934. (BROOKES, 1969, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica.

10 MERTON, R. K. The Mathew effect in science. SCIENCE, [s. l.], v. 159, n. 3810, p. 58, Jan. 1968, citado por GUEDES, Vania L. S.; BORSCHIVER, Suzana. Bibliometria: uma ferramenta estatística para a gestão da informação e do conhecimento, em sistemas de informação, de comunicação e de avaliação científica e tecnológica;

11 ALVARADO, Rubén Urbizagástegui. A Llei de Lotka: o modelo Lagrangiano de Poisson aplicado à produtividade de autores. IN PERSPECT. CIENC. INF., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 188-207, jul./dez. 2003;

12 CAFÉ, Lígia; BRÄSCHER, Marisa. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E BIBLIOMETRIA. ENC. BIBLI: R. ELETR. BIBLIOTECON. CI. INF., Florianópolis, n. esp., 1º sem. 2008;

ALVARADO, Rubén Urbizagástegui. A Lei de Lotka: o modelo Lagrangiano de Poisson aplicado à produtividade de autores. IN PERSPECT. CIENC. INF., Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 188-207, jul./dez. 2003;

VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. IN CI. INF., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002, p. 152-162;

MOSTAFA, Solange Puntel. Citações epistemológicas no campo da educomunicação. COMUNICAÇÃO & EDUCAÇÃO, São Paulo, (24): 15 a 28, maio/ago. 2002;

WORMELL , Irene. Informetria: explorando bases de dados como instrumentos de análise. CI. INF., Brasília, v. 27, n. 2, p. 210216, maio/ago. 1998;

TESTA James, A base de dados ISI e seu processo de seleção de revistas. CI. INF., Brasília, v. 27, n. 2, p. 233-235, maio/ago. 1998

b) Selecionar uma bibliografia existente ou elaborar uma bibliografia sobre o campo específico cuja cobertura seja exaustiva. Quanto mais extensa e exaustiva melhor. Sugere-se que a cobertura dessa bibliografia seja maior ou igual a dez anos;

c) Contaraprodutividadedecada autor,considerando-setambém os coautores. Isso significaquesedeve adotar o método da contagem completa;

d) Ordenar os dados coletados em uma tabela de frequências para facilitar a visualização deles;

e) Selecionar o modelo estatístico mais adequadamente sugerido pelos dados tabulados;

f) Calcular os valores esperados ou teóricos, seguindo as especificações do modelo estatístico escolhido;

g) Estabelecer as hipóteses a serem testadas e a região de rejeição dessas hipóteses no nível de significância de a = 0.05;

h) Testar a qualidade do ajuste dos dados, usando-se o teste do quiquadrado ou Kolmogorov-Smirnov13 . Estou tentado a determinar a produtividade dos autores – elitismo - que aparecem na ALL EM REVISTA... Quem sabe? A dificuldade, é que a maioria dos membros da ALL não têm produzido nada, ultimamente... e nem contribuído para com os conteúdos da Revista...

13 TestesNP.pdf (uc.pt)

Flip 2022: Maria Firmina dos Reis será a homenageada; veja a programação completa

MARILÉIA DOS SANTOS CRUZ; ÉRICA DE LIMA DE MATOS; EDIANE HOLANDA SILVA

“EXMA. SRA. D. MARIA FIRMINA DOS REIS, DISTINTA LITERÁRIA MARANHENSE”:

SUMÁRIO Expediente 2 Diretoria 3 Editorial 4 Sumário 6 ACONTECEU 10 AGO DE OUTUBRO 10 INFORMES PARA O FINAL DO ANO - ALL 11 CONFRATERNIZAÇÃO 12 PRÊMIO LITERÁRIO ALL 18 CARTA DE AGRADECIMENTO AOS ACADÊMICOS DA ALL Por José Carlos Castro Sanches 23 AML DIVULGA SELECIONADOS DO PROJETO MOSTRA DA POESIA CONTEMPORÂNEA 24 NOSSO PROJETO ALL NAS ESCOLAS 25 Lançamento do livro 21 ou A Cidade, enquanto Azula o Tempo, do Poeta ludovicense Hagamenon de Jesus 26 LUIZA CANTANHÊDE, VENCEDORA DO PRÊMIO SAMUEL BARRETO DE POESIA! 29 LUIS AUGUSTO GUTERRES LANÇA O SEU "OS 7 SENTIDOS", EM EVENTO NA CIDADE DE SÃO LUÍS (MA) Mhario Lincoln 30 FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUIS 2022 34 A FELIS 2022 JÁ PODE RECEBER A EXTREMA-UNÇÃO 37 Grupo GELMA POR UMA NOVA FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS 37 LANÇAMENTOS 41 AML PLANEJA COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DE GONÇALVES DIAS PARA 2023 55 JOSÉ CARLOS CASTRO SANCHES MAGSON GOMES DA SILVA: ESCRITOR E POETA ROMÂNTICO 70 A 149 MARIA FIRMINA DOS REIS NA MÍDIA NúcleodepesquisadeImperatrizvenceprêmiodaIntercom MEMORIALDEMARIAFIRMINADOSREIS REVISTAFIRMINAS–PENSAMENTO,ESTÉTICAEESCRITA
FIRMINAIMAGINADA
CONTORNANDOOINVISÍVEL–
A NOTORIEDADE DE
PROFESSORA AFRODESCENDENTE NO SÉCULO XIX 15 ESCRITORAS E ESCRITORES NEGROS QUE DEVERIAM SER ESTUDADOS NAS ESCOLAS NATÉRCIA MORAES GARRIDO MARIA FIRMINA DOS REIS E NASCIMENTO MORAIS FILHO: ECOS DA FLIP 2022 CONTRIBUIÇÕES PARA A REVISTA 150 CADEIRA 02 - JOÃO BATISTA ERICEIRA NOTADEPESARPELOFALECIMENTODOPROF.JOÃOBATISTAERICEIRA 152 CADEIRA 03 – SANATIEL PEREIRA 154 CADEIRA 04 – ALEXANDRE LAGO 155 CADEIRA 08 – DILERCY ADLER 164 MARIA FIRMINA DOS REIS ENTRE AS ROSAS-DE-JERICÓ E OS PÁSSAROS SANKOFAS 166 "O PRAZER POÉTICO DE DILERCY ADLER" JOIZA COSTA 171 ÚLTIMO ADEUS MARIA FIRMINA
HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA FEMININA NO BRASIL- BREVE ENSAIO Dilercy Adler 182 CADEIRA 14 – OSMAR GOMES 194 A QUEM INTERESSA A POBREZA? 195 BEM -VINDO 5G 197 CAJARI DO FUTURO 199 ESQUECIDO DO MUNDO 201 VAI TE CATAR 202
UMA
DOS REIS E NÉLIDA PIÑON: DOIS ÍCONES DA

CADEIRA 36 - RAIMUNDO DA COSTA VIANA

CADEIRA 38 – JOSÉ NERES

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE

JOIZA COSTA SOBRE A OBRA DE JOSÉ NERES: "...PARA ALÉM DE UMA ESTRUTURA MÉTRICA IMPECÁVEL"

QUENTES NA PROSA MARANHENSE

NEURIVAN SOUSA – UM SEMEADOR DE PALAVRA

CADEIRA 39 – JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA

CADEIRA 40 – ROBERTO FRANKLIN

ARTIGOS

O METAVERSO CONSTITUCIONAL

FLANEUR

ILHA DESERTA

FOTOGRAFIA DE FRANKLINHO

UMA MÚSICA, UM TEMPO

FERNANDO BRAGA

WANDA CRISTINA DA CUNHA E SILVA

NATALINO SALGADO FILHO

KEILA MARTA

Antônio Carlos Lima

MHARIO LINCOLN

POESIA DE ONTEM

A PROSA GEOGRAFICAMENTE HUMANA NO HORIZONTE DA POESIA

A IGREJA NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA

ESTREIA LITERÁRIA: VANESSA CRISTINA FERNANDES BEZERRA"

HEMETÉRIO JOSÉ DOS SANTOS (1858-1939)

HEMETÉRIO, O PROFESSOR ABOLICIONISTA DE CODÓ

"QUANTOS PORES DO SOL O MAR DE SÃO LUÍS PRECISA PARA SER FELIZ?" - LIVRO: "UM MAR DE MIM", DE VITÓRIA DUARTE.

EDMILSON SANCHES

"A ÁGUA DESTE LIVRO É BOA; É DA MELHOR. ENTRETANTO, PARA BEBÊ-LA, NÃO BASTA TER SEDE"

EDMILSON SANCHES

JOAQUIM HAICKEL

O LIVRO, A BIBLIOTECA E O BIBLIOTECÁRIO

MEDALHA LUIZ PHELIPE ANDRÈS

BIOQUE MESITO, POETA, FALA SOBRE OUTRO GRANDE POETA: IMORTAL APB, PAULO RODRIGUES

LUÍS AUGUSTO CASSAS

NATAN CASTRO

ANTROPONÁUTICA, CINCO DÉCADAS DEPOIS, OU PARECE QUE FOI ONTEM

50 ANOS DO MOVIMENTO QUE MUDOU A HISTÓRIA LITERÁRIA NO MARANHÃO: ANTROPONÁUTICA

FERNANDO BRAGA

O SENSO ESTÉTICO DE OSWALDINO MARQUE

EDMILSON SANCHES

PUNHADOS DE 2022 203 CADEIRA 15 – DANIEL BLUME 205 "STAY AT HOME" - A CONNECTION BETWEEN MULTIPLE VOICES. 211
AYMORÉ DE
ALVIM HISTÓRIA DA MEDICINA 212 O MÉDICO E O PACIENTE 214 CADEIRA 21 – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 215 DO “PAU” PARA “CACETE” 215 O “PARTIDO CAPOEIRO” NO MARANHÃO – novas evidências 220 AINDA A A.D. MIRANT 239
FERNANDES 280 IMPRESSÕES DE VIAGEM EXPECTATIVAS MINGUANTES A LEPRA DAS CASAS DE PEIXES E SOLIDÃO
CADEIRA 16 –
CASTRO
CADEIRA 34 - CERES COSTA
O PROFESSOR
O
DEBATE
EMBATE, OPS...
PÁGINAS

SALGADO MARANHÃO, ESCRITOR CAXIENSE: INDO LONGE E PERTO. BEM LONGE E BEM PERTO

EDMILSON SANCHES

POR QUE O MARANHÃO ABANDONA (OU ATÉ DESCONHECE) SEUS GRANDES VALORES UNIVERSAIS

JOIZACAWPY COSTA

Aquiles Emir

UMA NOVA FORMA DE RESENHAR PROPOSTA POR MHARIO LINCOLN

ACADEMIA MARANHENSE DE CULTURA JURÍDICA, SOCIAL E POLÍTICA OUTORGA MEDALHA FRAN PAXECO A PROFESSORES DE DIREITO

FERNANDO BRAGA

POEIRA DOURADA

ACONTECEU AGO OUTUBRO

- Dia 24 de novembro - Lançamento do livro do confrade José Fernandes. Cancelado por motivo de doença;

- Dia 25 de novembro - Lançamentos dos livros do Confrade Aldy Melo, no Auditório do Ceuma, ( convite abaixo);

Dia 25 novembro - Entrega do título de Doutor Honoris Causa, ao poeta Salgado Maranhão ( convite abaixo);

- Dia 30 de novembro - Posse do novo confrade Vinicius Bogea;

- Do dia 5 ao dia 11 de dezembro, será a XV FELIS, este ano na UFMA. A Diretoria da ALL, votou pela não participação este ano no estande, mas daremos apoio e marcando lançamentos de livros no evento, a quem desejar. Lembrando que os lançamentos serão coletivos.

Dia 16 de dezembro - Confraternização dos acadêmicos e familiares da ALL. No Salão de Eventos do edifício da confreira Ceres Costa Fernandes.( endereço abaixo),

Obs:

Como não tivemos oportunidade de lançar o livro " Breve História dos Primórdios da Academia Ludovicense de Letras, um testemunho sobre a Casa de Maria Firmina dos Reis" de autoria da confreira Ana Luiza com a apresentação de Daniel Blume, porque quando conseguia espaço no auditório, a confreira estava viajando, resolvemos, antes da ceia de confraternização, criar um momento cultural de autógrafos. A obra é muito importante para todos os acadêmicos [10:21, 22/11/2022] +55 98 9994-3777: Rua das Verbenas, 01, edifício Pontal da Praia, ap 102. Última rua da Península.

Endereço da Confraternização.

INFORMES PARA O FINAL DO ANO - ALL:

CARTA DE AGRADECIMENTO AOS ACADÊMICOS DA ALL

Prezado(a) Acadêmico(a),

Cumprimentando-o(a), sirvo-me do presente para agradecer pela oportunidade de participar do processo sucessórioparaaCadeira18daAcademiaLudovicensedeLetras(ALL),patroneadaporHenriqueMaximiano Coelho Neto.

Sabedor da importância da ALL para a sociedade Ludovicense e por extensão para o Maranhão - como base de sustentação da reserva intelectual e literária - aspiro fazer parte desse seleto grupo, motivo que me inspira a buscar lugar nessa destacada e cobiçada instituição, que acolhe homens e mulheres de notável conhecimento e saber literário na aclamada Ilha do Amor, berço de intelectuais e fonte de inspiração para escritores e poetas. Em 03 de novembro de 2021, usei do mesmo expediente para agradecê-lo por 1 (um) voto obtido. No recente pleito de 30 de setembro de 2022, embora não logrando êxito na missão, fui agraciado com 2 (dois) votos de confiança, dentre os 33 possíveis, um avanço de 100% em relação à eleição anterior, certamente ampliando as possibilidades de sucesso no futuro.

Honra-me o privilégio de estar entre os candidatos que receberam votos para concorrer à Cadeira 18 da ALL. Certo de que a escolha do ilustre escritor Vinícius Bogéa tem o meu reconhecimento e felicitação pelo mérito literário.

ComodisseMachadodeAssis:“Agratidãodequemrecebeumbenefícioésempremenorqueoprazerdaquele de quem o faz”. Minha eterna gratidão aos(às) amigos(as) que depositaram os dois votos de confiança.

Como disse Aristóteles: “A esperança é o sonho do homem acordado”. Não dormirei sossegado enquanto não alcançar o meu objetivo. Só me basta a permissão divina para continuar a batalha e o seu voto para torná-la realidade.

Tenho muito orgulho da minha trajetória literária, das 30 (trinta) obras escritas: 08 (oito) publicadas, 04 (quatro) no prelo, 18 (dezoito) inéditas e das centenas de crônicas, poemas, contos, sátiras, trovas, artigos e textos sobre temas universais diversos que compartilho diariamente no site falasanches.com, na página Fala, Sanches (Facebook), Instagram, Linkedin, WhatsApp e outras mídias sociais – através destes, semeio a literatura por todos os recantos do mundo, buscando transformar vidas, propagar o amor, a paz, a esperança, o respeito, a ética, a integridade, a solidariedade e a fraternidade.

Hoje, são mais de 1400 (mil quatrocentas) publicações disponíveis no referido site a disposição dos leitores, admiradores, incentivadores e interessados por uma leitura instigante, reflexiva e transformadora.

Estou convicto de que ter assento na Casa de Maria Firmina dos Reis, é apenas uma questão de tempo e continuará a ser parte da minha missão como escritor, cronista, poeta e trovador maranhense. Com motivação, perseverança, foco centrado e resiliência lograrei êxito. Para tanto, dependerei da sua ajuda, mão estendida e coração aberto para acolher-me nesse sodalício. Peço que pare alguns segundos e reflita com carinho sobre o meu pedido. Quem planta colhe!

Como disse o ilustre poeta Gonçalves Dias: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos. Só pode exaltar”. Assim, lutarei até que a vitória chegue com galardão e eu possa ter orgulho de dizer que a obtive por mérito literário. Na certeza da sua atenção conto com seu voto de confiança numa futura oportunidade. “Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. ” Eu acredito!

Sem mais para o momento, renovo votos de elevada estima e distinta consideração.

Atenciosamente,

São Luís, 07 de outubro de 2022.

AMLdivulgaselecionadosdoprojetoMostradaPoesia Contemporânea

A Academia Maranhense de Letras (AML) recebeu nesta quinta-feira, 27 de outubro, a relação dos poetas selecionados para o projeto Mostra da Poesia Contemporânea do Maranhão 2022. Lançado pela AML em junho deste ano, o projeto recebeu mais de 70 inscrições e as poesias foram selecionadas por uma curadoria externa composta pelos poetas Antônio Ailton, Celso Borges, Eduardo Júlio, Fernando Abreu e Paulo Melo Sousa.

De acordo com o resultado, foram selecionados 16 poetas, aqui listados por ordem alfabética: Ana Liz, Bioque Mesito, Carla Sílvia, Carlos Denilson Tomé Cunha, César Henrique de Paula Borralho, César William, Evilásio Júnior, Luiza Cantanhede, Marcelo Chalvinski, Neurivan Sousa, Paulo Rodrigues, Pedro Lucas, Rafael Oliveira, Silvana Menezes, Terssio e Wanda Cunha.

Pelo regulamento anunciado pela AML, cada poeta poderia inscrever até dez poemas. O resultado apresenta variações de quantidade de poemas entre os poetas selecionados. Ao todo, foram 61 poesias escolhidas, todas inéditas, conforme requisito explicitado no regulamento.

Os escritores selecionados farão parte de um livro a ser publicado pela Academia Maranhense de Letras. O projeto foi renomeado pela AML como Mostra da Poesia Contemporânea do Maranhão. “É um processo mais democrático, aberto, continuado, diferentemente de uma antologia, que é algo mais definitivo e de crivo mais rigoroso”, informa o acadêmico Daniel Blume, um dos coordenadores do projeto.

Nosso projeto All
escolas
nas

Lançamento do livro

21 OU A CIDADE, ENQUANTO AZULA O TEMPO, DO POETA LUDOVICENSE HAGAMENON DE JESUS

7 de outubro de 2022, sexta feira 19h Palácio Gentil Braga Rua Grande, esquina com rua do Passeio São Luís do Maranhão

4 POEMAS DE HAGAMENON DE JESUS Carvalho Junior

Hagamenon de Jesus (São Luís/MA). Poeta e ensaísta brasileiro. É o autor do livro THE PROBLEM e/ou os poemas da transição. A presente seleção de poemas foi publicada no caderno/antologia QUIBANO: 15 poetas do Maranhão. (Org. Carvalho Junior & Antonio Aílton).

a flor do design

a flor do design é a mesma,

a flor do design, é terno furor é terna forma e cor (que jamais esperas do desespero)

a flor do design é sempre a mesma

Anúncios flor

Esfinge Desimportância [A um antigo Cabaret]

O amor também é uma possibilidade de ausência arranha as margens do que posso, do que sou

Ele singra este momento, esfinge desimportância, e desintegra, o padrão fashion dos ternos valentino o amor ainda é uma derrapada de ferráris, precisa ser.

O amor ainda

Anúncios faz do arbítrio uma sina ou (pelo menos) escorrega nas sarjetas o pé tardio que buscou consolo na Faustina

Coleção

Ao que fez de mim mulher colorida e aberta asa delta deixou de mim no seu quadro flores, e minha queda, cores espalhadas pelo chão.

E eis-me aqui, colorida e sem vida, borboleta de coleção.

Atualmente

lâminas Anúncios são a minha principal característica, todas elas:

a resposta, rápida

o sarcasmo, ríspido

o cartão

a faca

do bandido

a placa-mãe

do concorrente, do inimigo

lâminas estão agora no horizonte estão cortando os olhos, a fonte de toda forma terna e ardente, são mais do que giletes ou barbeadores de cabos transparentes

Anúncios são a nossa forma de ser gente.

LUIZA CANTANHÊDE, VENCEDORA DO PRÊMIO SAMUEL BARRETO DE POESIA!

EDITAL DE CONVOCAÇÃO N. 09/2022 -de10deoutubrode2022

Senhor (a) Acadêmico (a)

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, no uso das suas atribuições estatutárias, convoca os Senhores (as) Acadêmicos (as) a participarem, daAssembleiaGeralOrdináriaarealizar-senodia14deoutubrode2022,sextafeira, as17horas,tendoporlocalasaladereuniãodaALL,noPalácioCristoRei, sitoàPraçaGonçalves Dias,nº.351,SãoLuís-Maranhão,paratratardaseguintepauta:

ORDEM DO DIA:

1. Leitura da ata da AGO anterior;

2. Leitura das efemérides do mês de setembro e outubro de 2022;

3. Correspondências recebidas;

4. Calendário de eventos para os 3 últimos meses de 2022;

5. Informações do andamento do projeto “Prêmio Literário ALL”;

6. Situação da tesouraria;

7. Outros.

São Luís, 10 de outubro de 2022

Presidente da ALL

RayronLennon está em HarvardUniversity.

·Cambridge,EstadosUnidosdaAmérica ·

Dia 09 de dezembro irei coordenar o simpósio Aproximações a Conceição Evaristo @conceicaoevaristooficial , durante o Segundo Encontro Continental de Estudos Afro-latinoamericanos da Universidade de Harvard.Ummomentomuitoimportanteparasediscutirapoética deConceiçãoe,sobretudo,percebercomoainsubmissãonegro-femininaécapazdenosmovimentar eminúmerasdireções.Estarãopresentes,também, a maranhense Maria Firmina dos Reis eamineira CarolinaMariadeJesus,queem2019melevouatéláparafalarumpoucosobreolugardaperiferiae os discursos sobre raça, classe e gênero, via interseccionalidade, fazendo das palavras da Carla Akotireneasminhas,“Édamulhernegraocoraçãodoconceitodeinterseccionalidade”.

Como o próprio título do simpósio sugere “Aproximações”, é uma alegria perceber a visibilidade da literaturanegro-brasileiraatravésdasvozesecoantesdeConceição, Maria Firmina eCarolinaque,a partirdesuasestéticaspróprias,dãofôlegoatantasoutrasvozesqueestãoescrevendo,publicandoe sendolidasatualmente.

SeguenasfotosopoemaVozes-Mulheres,daConceição@conceicaoevaristooficial

@fapema_oficial

LUIS AUGUSTO GUTERRES LANÇA O SEU "OS 7 SENTIDOS", EM EVENTO NA CIDADE DE SÃO LUÍS (MA)

"Quando fico sem inspiração fito o arco-íris quadriculado,/ ou observo as abelhas azuis, sorvendo seiva dos vulcões. / Serve de expiração o galope dos unicórnios domesticados..."

15/10/2022 às 10h38Atualizada em 15/10/2022 às 10h56

Por: Mhario LincolnFonte: Mhario Lincoln/Augusto Guterres

MHL com o exemplar de "Os 7 Sentidos"

NE: Meu caro Luis Augusto Guterres. Como se ao seu lado estivesse nesse momento sublime do lançamento de seu Os 7 Sentidos

À Guisa de Prefácio

INSPIRAÇÃO/EXPIRAÇÃO

(E...se fez poesia!)

*Mhario Lincoln

Pierre Bordieu, aplaudido sociólogo francês, falecido há 20 anos, em uma de suas últimas aparições públicas, disse que o Sistema Educacional do Estado cometia grandes erros porque “não ensinava o aluno a pensar”, mas reproduzir conhecimento, “com a finalidade dos governos perpetuarem seus domínios”. E replicava: “cada um reproduz suas práticas, segundo o capital cultural aprendido”.

É exatamente com base nisso que ouso comparar este trabalho hercúleo de Luís Augusto Guterres Filho, neste novo livro de poesias, “Os 7 Sentidos”, com o que replicou Bordieu, aproveitando as palavras do poeta Guterres, em recente entrevista a mim concedida: ”(…) não só o talento. Mas a poesia para ser construída necessita de inspiração e expiração (…)”.

Isto é, o mesmo que inspiração, suor e lágrimas. “Todos precisam aprender a ir buscar conhecimento para pensar melhor”, diz, ainda, Bordieu. E é o que Augusto Guterres vem fazendo ao longo dos anos, mostrandose um poeta sábio e culto, resultado de muito estudo, conhecimento, experiência, vivência e talento. Tal fato revigorou suas inspirações, transformando-as em sentimentos reais ou fictícios, plurais ou singulares, conscientes e originais, explícitos em sua renovada arcádia poética.

Vamos aos exemplos:

Vide: “Haikai Autofágico: Devorar a mim por inteiro,/ Sentir teu gosto alcoviteiro,/ Beber meu sêmen com teu sabor./ Tudo isto é amor ou dissabor?”

Esse texto poético modernista, acima, não retrata somente a '‘inspiração’' de Guterres. Os versos, “in hermenêutica”, vão ‘de encontro’ ao normal parnasiano. E lembra, na história de 1922, as produções da Semana de Arte Moderna. Uma prova do capital cultural aprendido, como fala Bordieu.

Em outras ocasiões, o autor se debulha em conhecimentos específicos:

“Tudo passa veloz como a vida de uma libélula,/ aproveita o viver, transforma as horas desertas em oásis”. Nestes, referência direta ao epíteto histórico, carpe diem quam minimum credula postero, extraída de uma das Odes, de Horácio.

Vale arguir, então: só inspiração levaria a isso! Ou leitura, muita leitura?

Desta forma, este novo livro de Poesias e Haicais intitulado “Os 7 Sentidos” é um marco indelével na história do poeta e advogado Luís Augusto Guterres Filho. Aliás, tão marcante, que ele acrescentou outros sentidos às suas inspiro-expirações, suores e estudos, indo além do que Aristóteles elencou sobre os cinco sentidos, até hoje estudados: visão, audição, tato, olfato e paladar.

Augusto incluiu a “Percepção Visual Poética”, que faz o cérebro processar e interpretar impulsos visuais, por meio de comparações, com experiências e interpretações, podendo levar (ou não) às ilusões aédicas. Essa inclusão está claríssima nesses versos com belo efeito narrativo:

“Odeio a minha visão, ela nunca permitiu que eu visse quem realmente és, não enxergou tua alma, e, jamais, te fixou em minhas retinas.

Da mesma forma renego meu olfato, que desapercebeu os teus medos, ou meu paladar por não ficar insensível ao teu gosto, sôfrego ao degustar.

Abomino meu tato, sempre impulsivo na busca da tua pele e os meus ouvidos, obedientes à tua voz, deixando-me sem te fazer calar.

Apenas confio em meu instinto, este, sim, capaz de racionar”.

Em um segundo momento, para caracterizar um sétimo sentido, Luís Augusto somou ao trabalho o “Sistema Somatossensorial”, ou seja, o insight resultante da ativação de receptores neurais, espalhados por toda a pele, folículos capilares e outros, que, por um simples toque mágico, as sensações se revelam poesia forte e abundante:

“Teu fluido cervical é a minha seiva matinal/ Meu alimento é teu liquido menstrual, / Teu corpo é minha eterna sevícia / O sexo que nos une é mesmo que vicia”.

Isso faz do poeta sábio e culto, um ser animado diferente do humano comum. Sim e isso é real. Basta notar a fluência de um “eu lírico” falando por si só, dentro dos poemas, abaixo:

“Quando nada mais restar além corpo inerte/ e esteja bem longe a imagem outrora imberbe,/ o baú de lembranças será, apenas, um móvel usado/ vendido por lágrimas invisíveis de choro desabusado”.

Ou:

“Qual o epitáfio em meu túmulo?/ Aqui repousa uma criatura, que viveu só paixões/ Foi louco e insolente sem medo e sem razões?/ Escrevam, apenas, ‘não rasguem meus poemas’! (…)”.

Ou, ainda:

“Amor Concreto/ Um dia ela foi embora/ e levou um pedaço do meu Coração”.

São gritos latentes, que esse “eu personificado”, exuma da poética febril do titular.

Aí, eu volto a Aristóteles, na construção da poesia. Ele ensinou: “(…) o que constitui a poesia não é a escrita (o logos) de versos, mas a construção (o mythos) de uma estrutura poética de ação”.

Exatamente isso o que este “Os 7 Sentidos” nos impulsiona a ler e nos leva a acreditar que desde o primeiro, “As 7 Estações”, Augusto evoluiu em sua forma mais concreta, exercendo seu direito de criação mais didática, acrescida de vivência e de amadurecimento pertinente ao status quo lírico.

Tanto que Guterres consegue escrever entre o concreto e o pueril, tornando mágica e delicada a sua poesia. Brinca com nossas sensações.

“Pequenas estrelinhas nascidas justo no meu entardecer./ Libélulas de asas de mel, abelhinhas de sorrisos coloridos/ Renascimento de emoções adormecidas, transfiguração de renovado amor paternal”.

Portanto, caro poeta Luís Augusto, finco-me, como estaca, neste solo fértil onde é fácil encontrar frutos maduros de sementes plantadas, antanho, de forma a agricultar sentimentos acoplados às árvores da vida e morte, do amor e dor, do carinho e decepção, do concreto ao pueril, contudo, com a ideia básica de que em todo o canteiro de poemas neste livro, no fundo, contém mensagens otimistas do bom viver lírico.

Como sugere o título deste Prefácio, (Inspiração/Expiração), fica aqui meu Ode a um dos mais bonitos poemas que li em seu livro e que, a partir de agora, será meu Norte:

“Quando fico sem inspiração fito o arco-íris quadriculado, ou observo as abelhas azuis, sorvendo seiva dos vulcões. Serve de expiração o galope dos unicórnios domesticados, a música desafinada dos grilos afônicos e extintos. Busco poesia no balé dos pirilampos cegos, ou no estertor dos golfinhos voadores, Mas, tudo isso não me inspira, só me transpira para a solidão”.

Simplesmente, magnífico!

*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira

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A FELIS 2022 JÁ PODE RECEBER A EXTREMA-UNÇÃO

Tinha tudo pra ser um sucesso: uma patrona icônica, em seu centenário, um homenageado do quilate de Carlos Cunha, entre outros nomes da literatura maranhense, tudo prenunciava um grande evento. Mas bastam alguns minutos transitando pela FELIS e ela nos concede uma sensação análoga à de quem visita uma pessoa querida que se encontra nos estertores, sustentada por aparelhos, nem de longe lembrando a vitalidade de outrora. Na antessala,lamentações. Alguns chegama elogiaraboa aparênciae ânimo dapobre agonizante. Não por sinceridade, mas apenas pra tentar arrefecer o constrangimento, que é geral, já que a morte sempre acaba por nos constranger.

Nãosurpreendequetenhamchegadoaisso.Primeiro,ahesitaçãopermanenteemdefinir a data, que pulou de setembro para outubro, depois novembro e, enfim, chegou sem muita glória a dezembro, para uma competição, nesse caso quase suicida, com a Copa... Segundo, como se já não bastasse a data, escolheram um lugar de acesso difícil e deslocado do coração da cidade. Isso foi de um primarismo ímpar.

Mas para o desastre ser completo, esforçaram-se um pouco mais: suspenderam a participação de escritores nacionais e internacionais. Coisa fundamental em qualquer evento literário que se preza. Assim, nomes como Ignácio de Loyola Brandão, Itamar Vieira Júnior, Paulina Chiziane e Valter Hugo Mãe não puderam ser convidados. Imaginaram atrair público só com a “prata da casa”. Um caso inédito nessa espécie de evento. Nisso, pelo menos, São Luís pode se considerar pioneira. Sem falar na deselegância de “desconvidar” homenageado, sem ao menos lhe dar o benefício de ser informado do “desconvite”.

Fica a impressão de que alguém muito incapaz, sem a mais rudimentar noção de gestão, de política literária e sem intimidade com o mundo dos livros, vai acabar tirando os aparelhos da FELIS pelo mórbido prazer de observá-la perecer.

Caberessalvaemrelaçãoaospoucosabnegados,lideradospelaprofessoraRitaOliveira, que lutaram para que tudo fosse bem diferente. Mas foram vencidos pelos que podem mais. A solenidade de abertura, momento geralmente concorrido, parecia prenunciar o desastre. Diante de pavilhões vazios e um minúsculo auditório com pouca gente, bradavam “o sucesso do evento”, “o grande carinho pela Feira”, o “compromisso com a cultura”, louvores incompatíveis com o que se presenciava. Comportamento típico de quem quer impressionar chefe, que parece desconhecer a situação real.... Uma cena mambembe, que anunciou a agonia de uma jovem debutante, cuja cura necessita um verdadeiro e urgente milagre. Esperemos por ele.

CulturaTextos escolhidos

Grupo GELMA toma à frente e apela ao bom senso público para melhorar a FELIS

AFELISéaFeiradoLivrodeSãoLuís,emviasdecairnoostracismo.

13/12/2022 às 18h59Atualizada em 14/12/2022 às 06h48

Por: Mhario LincolnFonte: GELMA MARANHÃO

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VisãoParcialdaFELIS

PORUMANOVAFEIRADOLIVRODESÃOLUÍS

*Grupo GELMA

Há exatos 15 anos, em 2007, São Luís, a despeito de ser outrora denominada de Atenas Brasileira, passou a organizar anualmente a Feira do Livro, o maior e mais festejado evento literário da capital maranhense.

Nas primeiras edições, com investimentos do poder público, boas parcerias (como o SESC, por exemplo), houve uma programação atrativa para os professores, estudantes, pesquisadores e para o público em geral, com a participação de grandes nomes do cenário nacional, como Ariano Suassuna, entre outros, e grandes editoras. A participação dos estudantes era sempre comemorada pelas autoridades municipais e por professores.

No entanto, com o passar dos anos, a Feira do Livro foi perdendo investimentos do poder público e foi deixando de atrair editoras nacionais, a despeito do baixo volume de vendas de livros. Muitos livreiros locais passaram a protagonizar a feira, com estandes maiores e mais bem localizados; porém, logo se percebeu que a falta de grandes editoras e a falta de festejados nomes nacionais deixaria o evento com um público menor.

Para salvar de um fiasco de vendas, algumas edições contaram com vale-livros, dados a estudantes e professores para que pudessem adquirir livros nos estandes do evento.

Nesta edição, por ser feita em dezembro, o valor destinado a esse programa minguou drasticamente.

Há quem diga que o futuro da Feira do Livro de São Luís será o ostracismo, a tal ponto que não haverá mais necessidade de a Prefeitura Municipal arcar com seus parcos recursos para organizar o evento.

Antes que essa temeridade aconteça, urge que todos, poder público e sociedade, se unam para salvar o que consideramos ser o evento de maior referência à nossa tão profícua Literatura, representante de nosso patrimônio cultural.

Os nossos cronistas literários costuma(va)m dizer que a deusa do Maranhão é a cultura. É o nosso bem maior. É o nosso maior patrimônio. É o que temos de maior valor. Mas, se não acreditarmos que o Maranhão foi e é um centro produtor de cultura, nada adiantará que se produza literatura (e a cultura de modo geral) de qualidade. Como disse o narrador de O Segredo do Bonzo, conto de Machado de Assis, “os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e plantas bravias, e, se ninguém os vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador”. Assim será com a literatura. Sem leitores, morrerão todos os nossos autores, os nossos produtores de cultura. O que adiantará termos um Humberto de Campos, se não tivermos leitores? Que valor terão os poemas de um Maranhão Sobrinho, se ninguém os ler?

Diante desse cenário, o Grupo de Estudos em Literatura Maranhense – GELMA –, sediado na Universidade Federal do Maranhão, vem a público propor algumas sugestões para que a Feira do Livro de São Luís se transforme num evento de grande porte e de grande impacto cultural no Estado do Maranhão:

1. Propomos que a XVI FELIS – Feira do Livro de São Luís – seja realizada na Praça Deodoro. A Praça Deodoro tem, em seu entorno, uma série de prédios, com auditórios e salas, para abrigar palestras, cursos, oficinas, etc. São eles:

- A Biblioteca Pública Benedito Leite;

- O Liceu Maranhense;

- A Casa de Cultura Josué Montello;

- O SESC;

- A Biblioteca do SESC;

- O Palacete Gentil Braga.

- Outros.

2. Que a Feira do Livro conte com o financiamento tanto da Prefeitura de São Luís como do Governo do Estado, assim como é o Carnaval e o São João. Ninguém aceitaria que, num determinado ano, o governo do Estado decretasse que não investiria nenhum recurso no São João, porque isso seria de responsabilidade da prefeitura. Mas por que se aceita que aconteça isso com os livros?;

3. Que grandes nomes da literatura nacional sejam convidados para participar da Feira do Livro, assim como é na FLIP, em Parati, que atrai gente de todos os estados brasileiros e até do exterior. São Luís tem de longe um cenário literário muito superior à referida cidade do litoral fluminense, Parati, e atrai um público ínfimo;

4. Que as escolas públicas municipais e estaduais sejam convidadas, com apoio logístico, para a feira;

5. Que haja atrações culturais durante a noite, como cantores maranhenses, grupos de bumba meu boi, tambor de crioula, grupos de danças, recitais, etc. e que haja praças de alimentação, com barracas e quiosques, devidamente sorteados com antecedência;

6. Que a Feita do Livro se torne uma festa literária maranhense, para que todos nós, que somos da terra de um Gonçalves Dias, de uma Maria Firmina dos Reis, de um Aluísio Azevedo, de um Nauro Machado, entre tantos outros nomes, possamos nos orgulhar de pertencer a esta terra tão rica culturalmente;

7. Que haja ampla divulgação nos mais diversos veículos de comunicação;

8. Que haja um calendário definido pelo menos com 6 meses de antecedência;

9. Que haja concursos literários nas escolas, com premiação durante o evento;

10. Que os Cafés-Literários tornem-se uma atração festejada durante o evento;

11. Que, durante o ano letivo, as escolas municipais e estaduais sejam estimuladas a organizarem feiras culturais e que algumas atrações sejam selecionadas para que participem do evento literário;

12. Que haja incentivo para os autores locais, com compra de seus livros para as bibliotecas escolares e/ou doação aos professores municipais e estaduais. Isso fará com que nossos docentes conheçam a grandiosidade da nossa literatura;

13. Por fim, que haja uma ampliação dos vale-livros para os estudantes e professores das redes municipal e estadual do Maranhão e para os estudantes universitários.

Dessa forma, entendemos que a cidade de São Luís, que já teve tantos e nomes ligados à cultura, passará a ser chamada de CidadedasLetras, como outrora era chamada de Atenas Brasileira.

Precisamos fazer do livro um veículo de transformação da sociedade. Castro Alves já dizia, em O Livro e a América: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia.../E manda o povo pensar!”. Monteiro Lobato disse certa vez que “um país se faz com homens e livros”.

Que São Luís do Maranhão se torne a capital da literatura!

Viva a Literatura!

Viva o Livro!

Viva São Luís do Maranhão!

São Luís do Maranhão, 13 de dezembro de 2022.

Corrêa para a Cadeira 2 da instituição, vaga com o falecimento do poeta Fernando Braga. Rossini Corrêa obteve 24 dos 30 votos válidos.

José Rossini Campos do Couto Corrêa é maranhense, advogado, professor, poeta, pesquisador e ensaísta. É autor de vários livros, dentre eles “O modernismo no Maranhão”; “Gonçalves Dias e Ferreira Gullar: destinos da A Academia Maranhense de Letras (AML) elegeu nesta quinta-feira, 6, em primeiro escrutínio, o escritor Rossini poesia brasileira”; “Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia”; “Atenas brasileira”; e “Dois poemas dramáticos para vozes e violinos”.

RogérioRocha

·Querumlivroinfantilcheiodeinclusãoeconteúdoeducativo?

“HistóriadaLua”daautora@escritorasharleneserrafalasobreasdiferenças,habilidadeseque podemosbrilhardonossojeitinho!Cadaestrelatemoseubrilho,aparência,intensidadee sentimentos,todoselessãoimportanteseválidos!

Ensinarnossospequenosleitoresarespeitarasdiferenças,éumaformadeconstruirumasociedade melhorparatodosnopresenteenofuturo!

Sinopse:

Vocêjáolhouparaocéuesentiuobrilhodaluaedasestrelas?

Aoobservarcadaestrelanocéu,aLuasevêlencantadaemcomocadaumatemoseujeitodebrilhar.

"AhistóriadaLua"nosmostraquemesmocomasdiferençasesingularidades,todospodembrilhar comoumaestrelanocéu.

Vemconheceressahistórialinda!

WilliamAmorim

Hojetem,na@ameimais,oaguardadolançamentodoprimeirolivrodaMônicaBrandão].Conheçoaautoradesdeostemposde estudantenaUFMA.Otempoconfirmouaquiloqueàépocaelajámanifestava:seriedade,rigor,habilidadecomaescrita,competência etalento.Éumaalegriagrandepoderanunciaressasuaestreiacomoautora.Mônicasedeviaenosdeviaummomentocomoeste. ParabénsMônicaBrandão]!Quemuitagentepossadesfrutardasuaescritaedoseusensinamentos.

MESTRANDA EM LETRAS CONQUISTA SEGUNDO LUGAR

NO PRÊMIO EMÍLIO LANSAC TOHA 2022, COM O POEMA INTITULADO “O MAR DE VIDRO”

GabrielaLagesVeloso,discentedoProgramadePós-GraduaçãoemLetras(PPGLetras),ganhouosegundo lugardoPrêmioEmílioLansacToha,promovidopelaAcademiadeLetrasdeSãoJoãodaBoaVista(ALSJBV), emSãoPaulo,quefazpartedaPremiaçãodoXXXConcursodePoesiaeProsa–2022.Elaobteveaconquista nodia 1ºdeoutubro com opoema “O Mar deVidro”, nacategoria “Poesia 19a 39anos”,cuja publicação entrounaAntologiadoConcurso,emformatovirtual.“FiqueimuitofelizehonradaemrepresentaraUFMA, sobretudoasmulheresnordestinasnesteprêmio,poisfuiaúnicamulhermaranhensenapremiação.Quea nossaartecontinuealcançandonovosespaços”,comentou,comemoção.

A ludovicense Gabriela Lages, de 24 anos, é formada em Letras na Universidade Estadual do Maranhão (Uema)emestrandadoPPGLetras,nalinhadepesquisaem“EstudosTeóricoseCríticosemLiteratura”.Ela é poetisa, escritora, colunista da Revista Sucuru, editora do Núcleo Poético de divulgação feminina –SociedadeCarolina,alémdemembradoprojeto“EntreVasosyVersos”,quetemaparticipaçãodeescritores dediversasnacionalidades.Tambémjácolaboroucomcoletâneaserevistasnacionaiseinternacionais.

Aescritorafalouque“OMardeVidro”foiinspiradonasuaprópriapesquisademestrado,nomeada“Frente aosespelhosdeMachadodeAssiseJoséVeiga:entresímboloseressonâncias”,orientadapelasprofessoras do PPGLetras Rita de Cássia Oliveira e Émilie Geneviève Audigier. “Na pesquisa, eu estudo as diversas representaçõessimbólicasdoespelho,porissotenhofeitoumtipodemapeamentodessassimbologias,tal comoelassãoretratadasnaliteraturamundial.Logo,aminhapropostafoitransformarumacríticaliterária emumtextopoético”,explicou.

APRESENTAÇÃO - O I Seminário Poéticas do Contemporâneo - I SePOC -, com o tema “Olhares do contemporâneo, confluências e dissonâncias" é um evento promovido pelo Grupo de Pesquisa Formas e Poética do Contemporâneo - ForPOC (CNPq/ UFMA/ CCEL) e tem como propósito central criar um espaço para exposição da produção acadêmica dos pesquisadores e orientandos do grupo, bem como o diálogo com pesquisadores e estudantes de outras instituições, a partir das perspectivas em torno das quais o grupo se organiza, isto é, suas linhas centrais de pesquisa. O evento é marco inicial dos trabalhos do Grupo, estimulando projetos de pesquisas de seus membros integrantes, acadêmicos e professores da graduação. O Seminário será um evento virtual e gratuito, realizado através da plataforma Google Meet, com simpósios para exposição de trabalhos, além de mesas redondas e participação de escritores representantes da literatura atual.

COMISSÃO ORGANIZADORA - Prof. Dr. Ricardo Nonato Almeida de Abreu Silva (UFMA); Prof. Dr. Antonio Aílton Santos Silva (SEDUC-MA); Profª. Drª. Ana Érica Reis da Silva Kühn (UFU); Thais Rabelo de Souza (PPGL UFPE); Sergio Marcone da Silva Santos (PPGL/ UFPR)

PROGRAMAÇÃO 16/11

9h - Solenidade de abertura

9:30h - Palestra de abertura - Profª Drª Renata Barcellos (UNICARIOCA)

Mediador: José Neres

TARDE

14h - Mesa redonda - FORMAS ESTÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO - POESIA E OUTRAS LINGUAGENS

Mediador: Sergio Marcone da Silva Santos (PPGL/ UFPR)

Ana Érica (UFU)

Antonio Aílton (SEDUC/ MA)

Ricardo Nonato (UFMA)

16:30 - GT’s de comunicações acadêmicas

20h - Conversa com poeta Roberval Pereyr

17/11

9h - Mesa redonda - MODOS DE NARRAR - FORMAS CONTEMPORÂNEAS E SEUS DESLOCAMENTOS

Mediador: Antonio Aílton

Sérgio Marcone (PPGL/ UFPR)

Thaís Rabelo (PPGL/ UFPE)

José Neres (SEDUC - Ma)

15:h - PALESTRA - Luciene Azevedo (UFBA)

Mediador: Sergio Marcone da Silva Santos

17:00 - GT’s de comunicações acadêmicas

20h - (PALESTRA COM ESCRITORA) - Lindevania Martins

Mediador: Antonio Aílton (SEDUC/ MA)

EIXOS TEMÁTICOS

LITERATURA E INTERFACES

O simpósio quer acolher reflexões que procurem dar conta da relação entre a literatura e outras formas de produção e plataformas artísticas, tais como histórias em quadrinhos (HQs), a internet, o teatro, o cinema, a TV, dança, as fanfictions, as artes visuais de um modo geral, o slam etc., tencionando a discussão sobre as (não) fronteiras do objeto literário. Alguns desses produtos, nas palavras da crítica argentina Florencia Garramuño, tomam a forma de “frutos estranhos e inesperados, difíceis de ser categorizados e definidos, que, nas suas apostas por meios e formas diversas, misturas e combinações inesperadas, saltos e fragmentos soltos, marcas e desenquadramentos de origem, de gêneros – em todos os sentidos do termo – e disciplinas, parecem compartilhar o mesmo desconforto em face de qualquer definição específica ou categoria de pertencimento em que instalar-se” (GARRAMUÑO, 2014, p. 11-12). Tratam-se, ao que parece, de produtos novos que primam pelo diálogo e pela mistura com as mais diferentes interfaces, resultando em obras que podem se apresentar como “estranhas”. Desse modo, será de grande valia para o presente simpósio, o uso da transdisciplinaridade como modo de abordagem, uma vez que as discussões podem atrair o literário para parcerias teóricas dos mais diversos campos do saber, tais como a psicologia cognitiva, a sociologia, a antropologia, as ciências da computação, da linguagem, da comunicação e outros.

Palavras-chave: interface; literatura; artes; transdisciplinaridade

POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO

Entende-se contemporâneo como uma tessitura de experiências, temporalidades e mesmo reivindicações, que se atualizam num agenciamento de vozes não conformadas a si, mas pautadas por rupturas críticas, instabilidade, heterogeneidade e anacronia (AGAMBEN). Nas escritas poéticas do contemporâneo, como acolhimento das diferenças, nada é dispensável: não se descarta nem a irrupção da memória, nem os vestígios do real (GARAMUÑO, 2012), tampouco o pós-humanismo inscrito nos corpos dos ciborgues (HARAWAY; KUNZRU; TADEU, 2016) enquanto fluxos e agudezas culturais. Nesse contexto é que se tomam as mais diversas faces poéticas do presente, que não discriminam (ou não podem discriminar) nenhuma forma de manifestação, inscrevendo em seus corpos linguagens que vão desde as formas (inter)discursivas às verbivocovisuais, ou digitais, com suas interfaces, até os eventos do apoético (PUCHEU) e do antipoético (SCHOPF, 2002). Não podemos esquecer também que a poesia como tal se constitui continuamente num evento “em crise”, crítica de si mesma e do mundo (SISCAR, 2010), em contraposição com sua tradição lírica. É neste sentido que abrimos este eixo temático, para receber as mais diversas discussões que adentrem as problemáticas da poesia e das poéticas contemporâneas, em seu universo dinâmico e multifacetado.

FORMAS NARRATIVAS DO CONTEMPORÂNEO

O século XXI pode vislumbrar algumas formas narrativas emergentes. O momento parece privilegiar o retorno do eu, quando o autor se imiscui à história nas formas de auto ficção, do diário ou do testemunho. E em narrativas baseadas na cópia e no remix inspirado em DJs, além da chamada literatura digital, aquela produzida, divulgada e fruída inteiramente na Rede. Além disso, parece não ser mais possível dissociar as produções artísticas da performance que autores mantêm em blogs, colunas de jornais e revistas, festivais literários mainstream e em redes sociais. Nesse quesito, é importante lembrar

do cerceamento à figura pública engendrado pelo que se convencionou chamar “cancelamento”. Tomando tais características, este simpósio gostaria de acolher trabalhos que discutam as formas narrativas com as quais a literatura do século XXI se apresenta, sem prejuízo das discussões sobre autoria, obra, recepção, mercado editorial, críticas acadêmica e cultural etc.

LITERATURA, EDUCAÇÃO E PROCESSOS CRIATIVOS

A relação entre literatura e educação é tão antiga quanto a humanidade, a qual, em seus primórdios, se utilizou das suas narrativas e de sua poesia como instância coletiva de transmissão de saberes e experiências, e educação das gerações jovens. De lá para cá, essa relação tem se firmado através das questões suscitadas pela escrita literária, suas manifestações e gêneros e formas, bem como a produção de sentido, do uso didático, da interpretação e do uso criativo da literatura nas interfaces com a educação. Tanto no horizonte da leitura, da história entre o leitor e o texto literário, quanto horizonte da produção têm sido observado problemas que desde uma perspectiva metodológica incapaz de dar conta do objeto literário em suas relações com os sujeitos, pautada no historicismo, no gramaticalismo, na retórica (LEITE, 2011), ou, ultimamente, na linguística textual, sem a transcendência necessária para seu caráter afetivo e imaginário (JOACHIN, 2011), para pensar a relação entre a vida e o texto literário, a inclusão ou exclusão social (CANDIDO, 2012), as intersubjetividades, reivindicações e resistência (BOSI, 2002). Tratando, por exemplo, da presença da poesia em sala de aula e notando as claras deficiências no trabalho com ela, Elder Pinheiro diz o seguinte: “não podemos cair no didatismo emburrecedor e no moralismo que sobrepõe à qualidade estética determinados valores” (PINHEIRO, 2007). Há, portanto, uma multitude de pontos que dizem respeito tanto à educação no Ensino Básico quando no Ensino Superior. No que diz respeito aos seus processos criativos, a literatura suscita um campo aberto e inimaginável de possibilidades, não apenas da condução à produção criativa, quanto à geração de formas e produtos e ao engajamento cultural e coletivo, aspectos que têm sido concretizados, por exemplo, em projetos como o Experiências Criativas da UFMA/Campus Bacabal. Este eixo temático abrese, pois, para as discussões que envolvam literatura e educação em seus mais diversos aspectos e possibilidades, dos desafios contemporâneos, principalmente na efetividade dos processos criativos de produção e leitura, no meio do redemoinho da vida.

Submissões Prazo para submissão 20/09/2022 - 10/11/2022

I Seminário Poéticas do Contemporâneo (even3.com.br)

Instantâneosdaposse,ontemsexta-feira18,doescritorJoséRossiniCorreianacadeira2, anteriormenteocupadapelossaudososamigos,romancistasepoetas WaldemiroVianaeFernando Bragaque,eleito,nãochegouatomarposse.Namesa,comonovoacadêmico,opresidenteLourival Serejoeasecretáriadeeducaçãodomunicípio.Emoutrasfotos,momentosdedescontraçãoantes dosdiscursosdeposseerecepçãodoescritorLinoMoreira,comosconfradesMarialvaMont'Alverne Frota,JoseNeres,LourivalSerejoeLauraAméliaDamous.Festivaconsagração!

AescritoraConsueloTravassoslança,nopróximosábado,dia26/11,noauditóriodaAcademiaVianensedeLetras,o livro"Sintonia",umconjuntodepoemasmuitobemelaborados,queretratamasuarelaçãocomanaturezaeos mistériosdavida.Consueloéminhaprimapelosladosmaternoepaterno,jáquemeuspaiseramprimoslegítimose amboscarregavamosanguedeTravassos.Commuitahonraestareipresentenesselançamento,queassinalao ingressoformaldemaisummembrodafamílianouniversodasletras

PALAVRAALUSIVAAOS20ANOSDAACADEMIAATHENIENSESDELETRASÉARTES,AACADEMIA PRIMEIRADESÃOLUÍS.

ONucleodeEstudosdeHistoriografiaseLinguagens NEHISLINeaCasadasMinasconvidamtodaacomunidadeemgeralparaolançamentodolivrode autoriadeJudithleasonsobreNãAgontimé,intituladoemportuguês:

AGONTIMÉ E SUA LENDA: RAINHA NA AFRICA, MÃE DE SANTO NO MARANHÃO.

ORomance,originalmentepublicadoem1970e1974,nuncaforatraduzidoparaoportuguês. Romancehistórico,frutodeumapesquisaetnográfica,éinéditonoBrasil.Aobrafoitraduzidapor CarlosEugênio,organizadapelotradutoreporHenriqueBorralho.Olivroserálançadodia09de dezembro,às18h,nacasadasMinas,RuadeSãoPantaleão,857_a,centro,SãoLuísecontaracomas falasdeMundicarmoFerreti,EuzebioMarcos,dentrooutraspersonalidades. TodoodinheirodavendaserárevertidoparaacasadasMinas.Preçodelançamento:RS40.00.Serão aceitospixemnomedaCasadasMinas.Olivrofoitraduzido,publicadocomrecursosda @fapemaoficial,atravésdoeditalIECT/2017.Olivroéumacoedicão@editora.uema; @pitomba_livrosediscos

AML PLANEJA COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DE GONÇALVES DIAS PARA 2023

A Academia Maranhense de Letras (AML) realizará, no dia 17 de janeiro de 2023, às 17h, em sua sede, reunião extraordinária como ponto de partida das comemorações no Maranhão do bicentenário de nascimento de Gonçalves Dias, considerado por muitos críticos literários como o maior poeta romântico brasileiro.

Durante a reunião, que vai contar com a participação de representantes do Governo do Maranhão, da AssembleiaLegislativa,doTribunaldeJustiça,doMinistérioPúblico,deprefeituraseacademiasdeletras de São Luís e Caxias, de universidades e entidades da sociedade civil, serão apresentados pela AML o planejamento,ocronogramaeoorçamentodeeventossobreobicentenáriodeGonçalvesDiasparatodoo anode2023.

“Vamos apresentar um plano inicial de envolvimento de todos esses parceiros, com atribuição de responsabilidades, já que o poeta Gonçalves Dias é motivo de orgulho do Maranhão e de todos os maranhenses”,explicaopresidentedaAML,LourivalSerejo.

A programação do bicentenário prevê a realização de palestras, criação de selo, publicação de livros, exposiçãodeartes,espetáculosdedança,recitais,produçãodedocumentário,entregademedalhasemuitos outroseventos.

AntônioGonçalvesDiasnasceuemCaxias(MA),em10deagostode1823,efaleceuemnaufrágioem3de novembrode1864.Éopatronodacadeira15daAcademiaBrasileiradeLetrasepatronogeraldaAcademia Maranhense de Letras. Entre as suas principais obras estão “Canção do Tamoio”, “I-Juca-Pirama”, “Se se morredeamor”,“Aindaumavez-adeus!”e“Cançãodoexílio”.

Comprofundopesar,aAcademiaMaranhensedeLetrascomunicaofalecimentodoacadêmicoMagson GomesdaSilva,ocupantedaCadeira27,ocorridonamanhãdesábado,dia24. MagsonSilvatinha89anoseingressounaAMLem23deoutubrode1959.

Magson Gomes da Silva

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Magson Gomes da Silva (São Luís, 26 de maio de 1933) é um poeta maranhense. É membro da Academia Maranhense de Letras desde 1959, na sucessão do poeta Arnaldo Ferreira, e sendo recepcionado pelo também poeta Assis Garrido[1] .

Obras

• Inspirações (1957)

• Torrente (1961)

• O poeta Antônio da Costa Gomes (1967)

• O prosador João Quadros (1968)

• Magnólia (1984)

• Serões da fantasia (1988)

• Albores e luares (1991)

• Poemas galantes (1992)

• Versos à lua (1994)

• Aparências (2000)

• Presença do passado (2000)

• Porcelanas (2003)

Referências

1. ↑ «Magson Gomes da Silva» AML. Consultado em 8 de setembro de 2020

Nasceu em São Luís, a 26 de maio de 1933. Filho do bancário Edison Ferreira da Silva e da professora Magnólia Gomes da Silva. Fez o curso primário na Escola São Luís de Gonzaga, e o ginasial no Colégio Estadual do Maranhão (Liceu Maranhense). Ingressou no Banco do Brasil em 1953, e ali fez toda sua carreira, vindo a aposentar-se em 1983.

Temperamento retraído e até mesmo esquisito, nunca pertenceu a grupos ou movimentos literários, contando-se, entre suas raras amizades de motivação intelectual, o poeta Assis Garrido, que muito o estimulou e assistiu.

Poeta de filiação romântica, também dá a muitos de seus versos a roupagem parnasiana, sendo autor de elegantes e perfeitos sonetos. Costuma usar todos os metros em suas composições

MAGSON GOMES DA SILVA: ESCRITOR E POETA

ROMÂNTICO

Aprendizados, Crônicas, Frases, Histórias, Relatos Pessoais

Por José Carlos Castro Sanches

“Abelezaexisteemtudo– tantonobemcomonomal.Massomenteosartistasepoetassabemencontrála.” (Charles Chaplin)

Magson Gomes da Silva é Membro Efetivo da Academia Maranhense de Letras, ocupante da Cadeira 27, patroneada por Dias Carneiro. Sucedeu o poeta Arnaldo Ferreira.

As tentativas de conversa com Magson da Silva, iniciaram em 14 de outubro 2020, por meio do WhatsApp, eu enviava mensagens que eram visualizadas, mas não obtinha resposta. Em 23 de outubro recebi o primeiro sinal: “Bom dia, Sr. Sanches! Não estou em casa.

“Eu sou um escritor difícil Que a muita gente enquizila, Porém essa culpa é fácil De se acabar duma vez: É só tirar a cortina Queentraluznestaescurez.” (Mário de Andrade)

Insisti nas conversas até o dia 13 de novembro, sem retorno, apenas a certeza de que as crônicas, poemas e textos que enviava eram vistos. Então, decidi mudar de estratégia, liguei para o telefone residencial, quando

pela primeira vez, conversei com a esposa do ilustre acadêmico Magson da Silva, que educadamente me atendeu e recomendou que voltasse a ligar no dia seguinte pela manhã. Naquele momento fui informado que o telefone para o qual enviava as mensagens era do seu filho que normalmente não ficava em casa pelos compromissos com o trabalho, entendi perfeitamente o motivo e aguardei o dia seguinte.

“Omaisbelotriunfodoescritoréfazerpensarosquepodempensar.” (Eugène Delacroix)

Às 10:28 do dia 14, enfim consegui conversar com Magson Gomes da Silva, ludovicense, que fez carreira no Banco do Brasil até a aposentadoria. O escritor e intelectual demonstrou-se receptivo e moderado na fala, educado, simpático e objetivo.

Magson Gomes da Silva é autor de inúmeras obras, dentre elas: Inspirações; Torrente; O poeta Antônio da Costa Gomes; O prosador João Quadros; Magnólia; Serões da fantasia; Albores e luares; Poemas galantes; Versos à lua; Aparências; Presença do passado; Porcelanas. Sua produção é consistente e transcende o tempo presente.

“Umescritor,umpintor,queconseguiramfixarnumapáginaounumquadroumsentimentodascoisas do mundo, uma visão que durará para sempre, comunicam-me uma emoção profunda. ” (Federico Fellini)

Apresentei-me brevemente, comentei sobre a minha prática diária da escrita “Mania de Escrever” e publicar no site falasanches.com, Fala, Sanches (Facebook), Linkedin, Instagram e outras mídias, sobre os 6 (seis) livros publicados e outros 10 (dez), não publicados. Disse-lhe que pleiteava uma oportunidade na Academia Maranhense de Letras, e que estava inscrito para a Cadeira 32, do saudoso Sálvio Dino, motivo pelo qual conversava com cada um dos acadêmicos.

“Otalentosozinhonãoconseguefazerumescritor.Deveexistirumhomemportrásdolivro.“ (Ralph Waldo Emerson)

O nobre escritor e poeta romântico de versos com roupagem parnasiana e elegantes sonetos metrificados em suas composições, ouviu com atenção as minhas ponderações. Disse-me que tinha compromisso com outro candidato que me antecedeu no contato, entretanto, me incentivou a continuar a peregrinação junto aos demais colegas acadêmicos e nunca desistir do meu objetivo.

“Afelicidadedoescritoréopensamentoqueconseguetransformar-secompletamenteemsentimento, éosentimentoqueconseguetransformar-se completamenteempensamento.” (Thomas

Foram apenas 7 minutos de conversa com o escritor e poeta Magson da Silva, o suficiente para acendermos a chama da comunicação recíproca e abrirmos as portas para futuras oportunidades de convívio, neste período

de pandemia, usamos o telefone como meio seguro para nos comunicarmos, futuramente espero ter a oportunidade de conversarmos pessoalmente, certamente tenho muito a aprender com o notável beletrista.

QueridoMagson Gomes daSilvaagradeçopelaatenção e generosidade duranteobrevebate-papo, continuarei determinado a ocupar lugar de destaque na prestigiada Academia Maranhense de Letras – AML, se Deus permitir nos encontraremos na Casa de Antônio Lobo, para respirar os ares da literatura e da poesia com aqueles que conhecem a sua essência.

“Porissoéqueospoemastêmritmo– paraquepossasprofundamenterespirar.Quemfazumpoema salvaumafogado.” (Mario Quintana)

São Luis, 01 de dezembro de 2020.

José Carlos Castro Sanches

É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.

Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL

UFMA-Imperatriz:NúcleodepesquisadeImperatrizvenceprêmiodaIntercom,LuizBeltrão

ONúcleoInterdisciplinardeEstudo,PesquisaeExtensãoemComunicação,GêneroePesquisaMariaFirmina dos Reis – grupo de pesquisa vinculado ao curso de jornalismo da UFMA, Câmpus de Imperatriz, foi anunciadocomovencedordoPrêmioLuizBeltrão2022,nacategoriaGrupoInovador.Oprêmioéconcedido pelaSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicação(Intercom)eseráentreguedurante o45ºCongressoBrasileirodeCiênciasdaComunicação,eventopromovidopelaIntercom,queserárealizado naUFPB,emJoãoPessoa,noperíodode5a9desetembrode2022.

“O Prêmio é um gigantesco reconhecimento de um trabalho que vem sendo feito desde 2019 pelas pesquisadoras do Núcleo Maria Firmina. Um Núcleo jovem e cheio de energia que vem construindo um percursointerdisciplinarsólidodeestudo,pesquisaeextensão,dialogandoacomunicaçãocomasdiversas intersecções, especialmente, as de gênero, raça, classe, cidadania, sexualidade, entre outras. Estamos em êxtasetotal!”,comentaaprofessoraMichellyCarvalho,coordenadoradoNúcleo.

O Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação foi criado em 1997, com o objetivo de identificar anualmente pessoas, equipes ou instituições que realizam contribuições relevantes para o campo das ciênciasdacomunicaçãonoBrasil,reconhecendoaqualidadedotrabalhoacadêmicoeprofissionalrealizado nasuniversidades,valorizandoaatuaçãoindividual,grupaloucoletiva.

SaibamaisemnossaBio.

MARIA FIRMINA DOS REIS NA MÍDIA

Memorial de Maria Firmina Dos Reis - Este sítio reúne os materiais disponíveis sobre Maria Firmina dos Reis, dispersos em vários locais, de forma que estudantes, pesquisadores e interessados em geral possam explorar a riqueza da obra dessa escritora negra brasileira.

MEMORIALDEMARIAFIRMINADOSREIS

Publicação seriada, eletrônica, de acesso livre e gratuito.

FOCOEOBJETIVOS

A Revista Firminas – Pensamento, Estética e Escrita é uma revista focada na produção de artistas e intelectuais negras das diversas regiões do país e eventualmente de contextos internacionais e tem por escopo viabilizar produções deste corpo autoral presente e histórico. A iniciativa busca potencializar o ciberespaço como plataforma de enunciação, difusão e recepção que permita romper o silenciamento sistêmico que ainda atravessa a produção intelectual de mulheres negras, realidade que já acometia Maria Firmina dos Reis no século XIX.

Justamente por privilegiar o aporte das intelectualidades de mulheres negras, a revista eventualmente agregará também a participação de outros atores, dessa forma, nos alinhamos à perspectiva transversal do pensamento do feminismo negro, ancorado no projeto de construir mundos para todos, de refletir sociedades pluriversais, coletivas e realmente democráticas. Partindo deste horizonte epistemológico e ético, a revista preza pela presença da alteridade em seu arcabouço.

A Revista Firminas – Pensamento, Estética e Escrita está pautada no aporte de Maria Firmina dos Reis, que publicou poesia, prosa poética, romance, contos, novelas, crônicas, enigmas e charadas; em jornais, jornais literários, revistas, almanaques e livro; atuando também como folclorista, compositora musical e escritora de diário, além de dedicar-se à pesquisa e ao ensino. A diversidade de sua produção nos inspira a pensar nosso fazer intelectual múltiplo, nem sempre centrado unicamente na academia. Reverenciamos a diversidade de saberes e texturas e valorizamos a razão encruzilhada. São bem vindas contribuições em que o registro autoral se expanda e ultrapasse o formato único. Assim, convidamos as autoras a apresentarem suas reflexões em forma de ensaio e artigo analítico, podendo ser acompanhados de exercícios poéticos e de outras naturezas. Pretendemos valorizar a complexidade de nossa face intelectual, que é (pode ser) teórica e lírica; teórica e imagética; teórica e múltipla.

Ela poderá ser a primeira revista brasileira indexada com recorte específico na autoria de mulheres negras. Serão convidadas/aceitas autoras que queiram contribuir com a publicação de Artigos Originais, Artigos Publicados (a serem analisados), Ensaios, Entrevistas, Relatos de Experiência, Resenhas de Livros, Traduções, Textos Literários Inéditos.

As contribuições são abertas a pesquisadoras/res vinculadas/os a instituições acadêmicas diversas, a escritoras e artistas.

PERIODICIDADE

Semestral, sendo publicada em formato eletrônico PDF.

Editoria: Fernanda Miranda Luciana Diogo Marília Correia

• Bibliografia Firmina (8)

• Biografia Firmina (4)

• Estante de Obras Raras (7)

• Estante Imprensa no XIX (5)

• Estante Leia Mulheres Negras (6)

• Século XIX (3)

• Século XX (2)

• Eventos/Chamadas (1)

• Firmina na Escola (8)

• Alunas/os (4)

• No Vestibular (3)

• Professor/a (4)

• Firmina na Imprensa (19)

• Nos Livros do Século XIX (1)

• Nos Periódicos do Século XX (3)

• Nos Periódicos Século XIX (15)

• A Produção Avulsa (4)

• Gupeva/Cantos /Escrava (3)

• Outras Referências (3)

• Úrsula (4)

• História das Obras (1)

• Imagens (9)

• Artistas Plásticas Negras Brasileiras (1)

NOVOS DADOS BIOGRÁFICOS E NOVOS DOCUMENTOS DE FIRMINA

DADOSBIOGRÁFICOS

• Nascimento: 11 de março de 1822 (ADLER, 2017/2018).

• Filiação: Leonor Felipa – mulata forra, foi escrava do Comendador Caetano José Teixeira, comerciante e proprietário de terras da região (ADLER, 2017/2018); e João Pedro Esteves, homem de posses que foi sócio de Caetano José Teixeira .

• Parentes

• Martiniano José dos Reis (tio), irmão de Leonor (testemunha no processo de justificação da data de nascimento de Firmina), natural de São Luís, pardo, casado; declarou viver de suas lavouras, mas aparece nos jornais como sendo alfaiate, advogado, além de “Solicitador” em Guimarães(CRUZ; MATOS; SILVA, 2018, p.161);

• Filinto Elísio dos Reis (primo), filho de Martiniano, promotor público e Intendente Municipal da Comarca de Guimarães (CRUZ; MATOS; SILVA, 2018, p.161)

• Leonor Felipa (mãe), Amália Augusta dos Reis (irmã), Balduína Amália dos Reis (prima), Henriqueta Romana dos Reis (tia materna), constam como passageiras do vapor S. Luiz, com destino ao Pará, no dia 03 de janeiro de 1860. (CRUZ; MATOS; SILVA, 2018, p.161).

DOCUMENTOS

• Livro de Baptismo da freguesia de Nossa Senhora da Victória-igreja Catedral (Fundo Arquidiocese Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182) (ADLER, 2017/2018).

• Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, de 25 de junho de 1847, da Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 – Documento-autos nº 4.171; concluído no dia 13 de julho de 1847 (ADLER, 2017/2018).

• Autos cíveis de requerimento que faz D. Rosa Maria Seria Teixeira para cópia e rubrica dos papéis da sociedade que teve seu falecido marido, comendador Caetano José Teixeira, com João Pedro Esteves e outros. Fundo: Tribunal da Relação. Seção Juízes de Órfãos. Comarca de São Luís, 1820 (CRUZ; MATOS; SILVA, 2018, p.158).

FONTES:

• ADLER, Dilercy. “A mulher Maria Firmina Dos Reis: uma maranhense”. Editora Malê, 2018.

• ADLER, Dilercy Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor. Academia Ludovicense de Letras, São Luís (MA), 2017 (Para adquirir, envie solicitação para o e-mail amei.osfl@gmail.com).

• CRUZ, Mariléia dos Santos; MATOS, Érica de Lima de; SILVA, Ediane Holanda. “’Exma. Sra. d. Maria Firmina dos Reis, distinta literária maranhense’: a notoriedade de uma professora afrodescendente no século XXI”. CEMOrOc-Feusp / Univ. Autònoma de Barcelona, set/dez 2018, p.151-166.

POEMAS INÉDITOS DE FIRMINA

1880 - “O menino sem ossos” – O País (MA), 3/10/188 [Poema encontrado pelo pesquisador e escritor Sérgio Barcellos Ximenes (2017)].

1881 - “Nênia” – A Sentida Morte de Raymundo Marcos Cordeiro – “O País” (MA), 7/9/1881, ano XIX, número 202, página 2, quinta e sexta colunas, em “Guimarães”(CARVALHO, 2018, p.82; XIMENES, 2017).

1885 - “Prantos” – “Pacotilha”, 7/5/1885 (CARVALHO, 2018, p.82; XIMENES, 2017).

1908 - “Poesia recitada por ocasião das bodas do sr. Eduardo Ubaldino Marques”– Cumprimentos à minha querida Dolores – Pacotilha, 20/2/1908 (CARVALHO, 2018, p.82; XIMENES, 2017).

HÁ AINDA:

• O título de um poema, de texto desconhecido – “O Porvir”, 1885. (Diário do Maranhão, 11/5/1885, ano XVI, número 3512, página 3, primeira coluna.)(XIMENES,2017).

• Um poema, do qual não se conhece nem o título nem o texto (1901). [A única produção de Maria Firmina publicada fora do Maranhão, em vida (no Pará)]. Diário do Maranhão, 11/1/1901, ano XXXII, número 8211, última coluna. (XIMENES,2017).

FONTES: CARVALHO, Jéssica Catharine Barbosa de. Literatura e atitudes políticas: olhares sobre o feminino e antiescravismo na obra de Maria Firmina dos Reis. 128 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Piauí, 2018.

XIMENES, Sérgio Barcellos. A Arte Literária | Blog sobre a história da literatura e a literatura em geral – 04/12/2017.

AS APARIÇÕES DE ÚRSULA NOS PERIÓDICOS APÓS 1862

1867 - Semanário Maranhense, 3/11/1867, ano I, número 10, página 8, segunda coluna, penúltimo parágrafo.+

1871 - O Espírito-Santense, 4/11/1871, ano II, número 78, página 2, primeira coluna.+

1900 - Dicionário Bibliográfico Brasileiro, página 232, Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, Sexto volume, Rio de Janeiro, 1900.

HÁ DUAS MENÇÕES EM PERIÓDICOS NÃO DISPONÍVEIS NA INTERNET

• (A) Esperança

informado no O Espírito-Santense; (XIMENES, 2018)

• Publicador Maranhense, 16/12/1875 – segundo Morais Filho, informa que Maria Firmina doou um exemplar de Úrsula ao Ateneu Maranhense (sociedade literária).

CHARADAS

1861 “Logogrifo” – “O Jardim das Maranhenses”, 20/9/1861, ano I, número 23, página 4, segunda coluna.

• Decifração – “O Jardim das Maranhenses”, 30/9/1861, ano I, número 24, página 4, segunda coluna.

• “Charada” – “O Jardim das Maranhenses”, 30/9/1861, ano I, número 24, página 4, segunda coluna.

• Decifração – “O Jardim das Maranhenses”, ano I, número 25, 13/10/1861, página 4, segunda coluna.A resposta oferecida pelo jornal no número seguinte está errada. Ela se refere ao segundo jogo de palavras, intitulado “Conceito”.

• “Charada” – “O Jardim das Maranhenses”, 2/12/1861, ano I, número 28, página 4, segunda coluna.

• Decifração – “O Jardim das Maranhenses”, 13/1/1861, ano I, número 29, página 4, segunda coluna.

1863 “Charada” / continua -“Almanaque de Lembranças Brasileiras – 1863”, Cezar Augusto Marques, Segundo ano, páginas 32 e 33 (janeiro), São Luís, Maranhão, 1862.

1868 “Charada” / continuação – “Almanaque de Lembranças Brasileiras – 1868”, Cezar Augusto Marques, Terceiro ano, páginas 55 e 56 (fevereiro), São Luís, Maranhão, 1867.

• “Charada”/ continuação -“Almanaque de Lembranças Brasileiras – 1868”, Cezar Augusto Marques, Terceiro ano, páginas 126 e 127 (maio), São Luís, Maranhão, 1867.

REVISTA FIRMINAS – PENSAMENTO, ESTÉTICA E ESCRITA

REVISTA FIRMINAS

• 1 – Sobre a Revista (1)

• 2 – Equipe Editorial (1)

• 3 – Normas para publicação (1)

• 4 – Contato (1)

• 5 – Indexadores (1)

• 7 – Edição Atual (1)

• 8 – Sumário | #Firminas (1)

• Seções (38)

• Alinhavando mulheres em língua portuguesa (1)

• Arquivos Visíveis (1)

• Capa | 162 anos de "Úrsula" (7)

• Cartografando a escrita de autoras negras (1)

• Entrevistas (2)

• Especial (2)

• Firminas Queer (2)

• Homenagens (5)

• Insurgências e desafios (1)

• Leia Firminas (2)

• Leia Primeiro | Inéditos (7)

• Por dentro da sala de aula (1)

• Sarau (5)

• Traduções (2)

• Tramas íntimas da produção (1)

• Vídeos | Firminas (1)

A CIRCULAÇÃO DE CANTOS À BEIRA-MAR

• Publicador Maranhense, 2/1/1871, ano XXX, número 1, página 2, segunda coluna.

• O Espírito-Santense, 4 de novembro de 1871, ano II, número 78, página 2, primeira coluna.

• Pantheon Maranhense ─ Ensaios biográficos dos maranhenses ilustres já falecidos, Tomo III, página 386, Antônio Henriques Leal, Lisboa (Portugal), 1874.

• Diário do Maranhão, 22/6/1876, ano VII, número 864, página 3, primeira coluna.

ÚRSULA – EDITORA TAVERNA

APRESENTAÇÃO

Sem dúvidas, um dos primeiros romances femininos publicados no país, Úrsula(1859), de Maria Firmina dos Reis, torna-se, atualmente, uma obra extremamente necessária para entender o Brasil. Desde o ano passado, ano do centenário de morte da autora, a obra vem ganhando novas edições e ocupando as estantes das livrarias brasileiras.

De acordo com os editores da Taverna, as qualidades literárias e a biografia admirável da autora transformam também esta obra em registro histórico, que narra de forma inédita a situação dos negros escravizados e a opressão das mulheres. Em agosto, a Taverna lançou sua edição do romance.

SETEMBROS DE FIRMINA

01 DE SETEMBRO DE 1872 Um Artigo das Minhas Impressões de Viagem – Página Íntima / p. 2) (“O Domingo”, ano I,7/9/1872, número 31, páginas 126 e 127.)

TEXTOS LITERÁRIOS

EM ÁLBUM - “UMA LÁGRIMA SOBRE UM TÚMULO”

Era a hora do silêncio e do repouso, hora mágica ― misteriosa ― grande ― sublime ― majestosa como Deus! Triste, melancólica como a imagem do túmulo… porém que […] para a minha alma, por isso que minha alma ama a melancolia!!… E eu te saudava, hora mágica ― e sublime!!! E eu subia no cume do rochedo… E tu eras grande ― e misteriosa como o mesmo Deus!!!…

Doze horas soaram… A noite estava silenciosa ― e erma. E eu estava sobre o cume do rochedo. Era o silêncio dos túmulos que aí reinava!!! hora santa ― e respeitável, como a imagem de Deus ― eu te saudava!…

Ao longe Álcion [Alcíone, mulher transformada em pássaro por Zeus], gemia, gemia, sobre as águas ― e o mar mansamente beijava as cavidades do rochedo. Mas o rochedo estava imóvel porque a voz do Senhor ele se havia erguido: ― e esta voz que o erguera, brandamente soava no murmúrio da viração.

E eu chorava porque a meus pés estava um túmulo!!! E as estrelas que prateavam a abóbada celeste ― e o mar que alvejava no seu leito, ― e a brisa do Sul que me rociava as faces, ― e o verme, que se arrastava para a sua presa, ― e o orvalho que se pendurava das ramas ― estavam mudos e tranquilos. Só eu tinha o coração opresso por isso que a meus pés estava um túmulo!

E ninguém partilhava a minha dor!… E os raios da lua começavam a pratear as águas… e um branco sudário se desdobrava, sobre a tema ainda revolta da sepultura. Mas a lua passava e o sepulcro já era tudo sombras: ― e minha dor prosseguia, sempre ainda, sempre crescente!!

Oh! Sim!… E para sempre escondida aquela que eu tanto amara!… Eu chorava… No silêncio da noite, minha dor, tocava a desesperação. O mar desdobrava-se a meus pés, ― as estrelas cintilavam, sobre minha cabeça, ― a viração andava em torno de mim. Deus se me revelava em cada um daqueles objetos. Oh! eu amo a Deus porque Ele é justo, ― santo ― e onipotente.

No auge da minha desesperação, deixei o rochedo. Indignou-me ver tudo tranquilo ― tudo indiferente à minha dor. Deus! Ajoelhei sobre a terra ainda revolta do sepulcro, e meu espirito sentiu amarga consolação. Por quê? Porque Deus amerceou-se [compadeceu-se] de mim. Eu chorei sobre a sepultura, mas era um pranto já mais resignado…

Eu a tinha visto morrer, e não tinha desesperado. No auge da minha dor, soltei uma blasfêmia… mas o arrependimento apaga a nódoa do pecado ― e eu senti renascer em meu coração sentimentos mais dignos do meu Deus. Ele me havia perdoado.

E eu que tinha visto seu corpo fugir-me, atendendo à voz do sepulcro, que o reclamava… e eu que vira seu espírito abandonar-me porque à voz do Senhor… pude ver, e não desesperei?!!

Oh! Deus!… Deus… de Ti veio-me o bálsamo de resignação. Mas ao silêncio, sussurra a hora da arvorada ― e minhas lágrimas corriam mais suavemente. A resignação entrara em minha alma. O amargor estava ainda em meu coração, ― mas a hora que aprazia a minha alma já havia passado.

A noite já de todo havia desaparecido: ― as flores desabrochavam meigas, e risonhas, ― ao voluptuoso bafejo da manhã: eu já não tinha lágrimas, porque o Senhor as trocara pela resignação.

Então, entoei um hino ao Deus dos Exércitos… Minha alma exalou um suspiro de saudade, ― e circundei de flores o túmulo da que tanto amei!

A hora do silêncio tinha passado, e eu {que} por um instante duvidara da bondade eterna, consolidava já meu coração na crença do seu Deus.

E cessei de chorar porque o seu espírito estava em Deus!!!!

Maria Firmina dos Reis 20 de maio de 1853

“RESUMO DA MINHA VIDA” (1863)

De uma compleição débil e acanhada, eu não podia deixar de ser uma criatura frágil, tímida, e por consequência melancólica: uma espécie de educação freirática, veio dar remate a estas disposições naturais. Encerrada na casa materna, eu só conhecia o céu, as estrelas, e as flores, que minha avó cultivava com esmero, talvez por isso eu tanto ame as flores; foram elas o meu primeiro amor. Minha irmã [Amália Augusta dos Reis]… minha terna irmã, e uma prima querida [Balduína A. dos Reis], foram as minhas únicas amigas de infância; e nos seus seios eu derramava meus melancólicos, e infantis queixumes; porventura sem causa, mas já bem profundos.

II

Mas a infância passou, como passa para todo homem, e eu tive mais vigor e minha vida adquiria mais forças; meu coração como que expandiu-se um pouco, vívidos raios de sol da adolescência. A mulher é como a flor, esta sonha meiguices ao despertar do sol, porque o sol que surge há de afagá-la, sorrir-se […] de felicidade sem lembrar-se a pobrezinha que esse viver de deleites é dum momento, e que esse mesmo sol, que tão docemente a seduziu em seus transportes amorosos com suas faíscas ilusórias, vai-lhe roubando a vida e os encantos. Aquela no desabrochar da vida cisma um futuro radiante, e belo, belo como o céu. Eu experimentei já essa doce ilusão que mais faz amargar os últimos dias da existência. Era um débil e transparente véu que estava ante meus olhos, rasguei-o, vivi um deleitável paraíso, que me seduziu, e que me enlevou, que me transportou; da minha melancolia infantil, passei insensivelmente a um meigo olhar inocente de felicidades. Ah! por que tão depressa fugiste. Ah! por ela fugiste, idade única da vida, em que eu pude sonhar esse sonho que o poeta inveja, em que pude gozar esse gozo puro que assemelha, que arremeda a bem-aventurança dos anjos!…

Passou, e embalde, embalde anda a procuro. O que foi que tão depressa me fez esquecer os meus sonhos da adolescência, o meu gozar dos anjos? Quem se atreve de novo a cerrar sem piedade esse véu que débil, na infância, me ocultava o paraíso, e que agora ainda se tornou mais espesso, mais negro e compacto.

III

O mundo! Esse espelho impassível, cruel […] desfazer as nossas mais gratas, mais lisonjeiras esperanças! A sucessão dos anos apagou-me o fogo do coração, resfriou-me o ardor da mente, quebrou na haste a flor de minhas esperanças. Que porvir tão belo imaginava eu no doce delirar de minhas ideias! Nos meus sonhos mentirosos que futuro radiante se me antolhava [manifestava aos olhos]! Ah! Tudo, tudo uma cruel realidade. Destruí-o para sempre. Tudo: meu coração outrora tão ardente, hoje apenas sinto-o levemente estremecer no meio do gelo, que o circunda E os poetas dizem. “O amor vivifica os corações ― o Amor é a felicidade da vida, é a vida da nossa existência: talvez. Amei eu já acaso? Não sei. Amor ― acrescentarei eu, é uma paixão funesta ― é o amor quem espreme no mundo tanto fel, tanta amargura, é quem torna a vida peso insofrível, por demais incômodo. Amor que abre ao homem a senda do prazer e da vida é também quem cerra sobre ele a lousa da sepultura. Entretanto o amor é necessário ao coração do homem, quanto o ar é necessário à vida. Amor, amor, deixemos aos poetas esse dom celeste, e infernal, doce e amargurado, inocente e criminoso; não amemo-nos. As ilusões fugiram, fugiram as esperanças, que me resta pois? Uma mãe querida e terna, uma irmã desvelada e carinhosa. Ajudada por elas, arrastarei o peso desta existência até despenhar-se na sepultura. Porque me dás o sofrer, eu te bendigo, porque me permitiste a recordação de um passado mais venturoso! Oh! quantas vezes reclinada a fronte escandecida, sobre a mão gelada pela dor, eu lembro esses dias de infância que passei no regaço de minha mãe, e entre folguedos tecidos por mim, e por minhas duas amigas, folguedos, que começavam para mim com um magnético encanto, e que logo se iam tornando tristonhos e melancólicos, como minha alma, e que terminavam por um choro doído, suposto que sem causa. Meu coração sentia naquele chorar um amargo prazer, sentia uma dor, que ainda querendo, não o saberia explicar: inda assim eu era feliz! Ou então toda entregue a um profundo desalento, quanta vez, meu Deus, a mente vai buscar todas essas fases da vida por que tenho passado! Esses ligeiros anos de esperanças, e de gozo, e depois estes compridos e insofríveis anos de amarguras, de tédio, de

***

desgostos, de dores, não imaginárias como a infância; mas fundadas em outras dores, filhas de grandes e muitos sofrimentos. Vida!… Vida, bem penosa me tens sido tu! Há um desejo, há muito alimentado em minha alma, após o qual minha alma tem voado infinitos espaços, e este desejo insondável, e jamais insatisfeito, afagado e jamais saciado, indefinível, quase que misterioso, é pois sem dúvida o objeto único de meus pesares infantis e de minhas mágoas. Eu não aborreço [me aborreço com] os homens, nem o mundo, mas há horas, e dias inteiros, que aborreço a mim própria.

Que será pois o que sinto? Amo a noite, o silêncio, a harmonia do mar, amo a hora do meio-dia, o crepúsculo mágico da tarde, a brisa aromatizada da manhã; amo as flores, seu perfume me deleita: amo a doce melodia dos bosques, o terno afeto de uma mãe querida, as amigas de minha infância, e de minha juventude, e sobre todas estas coisas amo a Deus; e ainda assim não sou feliz, porque insondável me segue, me acompanho esse querer indefinível que só poderá encontrar satisfação na sepultura.

Sem data

“OQUEÉA VIDA”

O que é a vida? Será acaso a vida o respirar, o sorrir no trocar de cumprimentos banais e quantas vezes frívolos… o banquetear com aparatosa regularidade, com suntuoso luxo dos amigos, algumas vozes tão indiferentes, e alheios aos sentimentos de afeto, e de amizade que lhe votamos, e até estranhos à gratidão; por que, depois de termos colhido os nossos sinceros afagos vão cuspir sobre eles, seu sorriso de escárnio?… Será isto vida? Não. Ou será então o deslumbrante e sedutor aspecto de um salão dourado, cujo ambiente perfumoso pode encher o coração de mágicos transportes…? Será aí onde as flores de um buquê furta-se um beijo de leve, voluptuoso… será os sons de orquestra afinada, que arrebatando os sentidos enleados vai de envolta com um bruxulear de magníficos candelabros excitar desejo, despertar ideias, acender no coração um fogo, que logo abrasando-o rapidamente se esmorece, e morre ao último som da derradeira polca ― ao último luzir da reverberante iluminação da sala…?

Ou será a vaidade satisfeita pela posse de um rosto que a natureza adornou com a perfeita formosura dos anjos ― uns olhos onde se retrata toda a beleza da alma, uns olhos que falam de amores, desses que o mundo procura em vão conhecer e que parece que só devem existir em Deus, porque o mundo é assaz pequeno para contê-los ― uns olhos que são um orgulho de quem os tem, e a inveja viva de quantas a rodeiam? Será talvez tudo isso: ― mas eu o nunca vivi; ou se vivi, compreendi a vida por outros desvios, por outras sendas, por onde nem todos passam. Penso e sinto: meu sentir e meu pensar não os compreende ninguém; porque também a ninguém os revelo.

A vida para mim está nas lágrimas. Amo as que verto na amargura pungente de minhas ternas desventuras; com elas alimenta-se minha alma, elas acalmam o rigor do meu destino.

Lágrimas! Lágrimas… Elas despontam cristalinas e brancas no berço do recém-nascido, elas nos seguem amargas e pungentes no caminhar da vida ao túmulo; e ainda na derradeira agonia, nem uma lágrima silenciosa, como um adeus à vida serena a ardência das faces requeimadas pela febre da gangrena.

Eu amo as lágrimas…

Elas têm sido as companheiras da minha árdua e penosa existência; é nelas que tenho achado meu conforto, nelas é que me hei estribado para chegar ao breve termo da minha longa peregrinação… Amei-as na infância, porque elas embalavam-me docemente em ilusório sentir; eu as invocava por simpatia. Depois o amor ― e o amor ― não pode vigorar sem lágrimas.

Elas me sorriram nessa quadra poética da existência, que para mim passou tão breve! elas vinham dos olhos de seio, como a gota filtrada na rocha, doces e voluptuosas banhar-me o coração com sua inefável fresquidão.

***

E quando a mão de Deus mandou que esse amor tão belo cedesse ao sopro álgido da morte oh! essas antigas companheiras colocaram-se constantes ao meu lado; e como orvalho sagrado, elas de então para cá jamais cessaram de umedecer a estéril e poeirenta senda que tenho vagamente percorrido.

É então que fiz das lágrimas um sacerdócio, ― é quando conheci então que a vida está nas lágrimas… Triste do homem que não as tem…

Guimarães, 15 de junho de 1873

[1] Transcrição em forma de poema por: XIMENES, Ségio Barcellos. In: https://aarteliteraria.wordpress.com/2017/12/06/o-album-o-diario-de-maria-firmina-dos-reis/#K

Fonte: A Arte Literária | Blog sobre a história da literatura e a literatura em geral – Sérgio Barcellos Ximenes – 04/12/2017)

TRANSCRIÇÕES – PARTITURAS

PARTITURA 1: BOI CARAMBA

PARTITURA 2: VALSA G. DIAS

Valsa – Letra de Gonçalves Dias; Música de Maria Firmina dos Reis (cop. Zequita)

PARTITURA 3: HINO MOCIDADE

PARTITURA 4: HINO LIBERDADE ESCRAVOS

PARTITURA 6 E 7: CHAMADA DOS PASTORES E VALSA

PARTITURA 5: ROSINHA

OS PERIÓDICOS NÃO DISPONÍVEIS NA INTERNET –

Imagem da resenha de Úrsula publicada no jornal A Verdadeira Marmota, em 13/05/1861).

1861 A Verdadeira Marmota (maio a setembro)

• Oito poemas: “Minha vida” (13/5/1861); “Por ver-te” (20/5/1861); “A uns olhos” (27/5/1861); “Uma hora na vida” (19/8/1861); “Não me ames mais” (26/8/1861); “Saudades” (3/9/1861); “A Constância” (tradução –9/9/1861); “Dedicação” (cita Byron: “Je t’aime! je t’aime! Oh ma vie.” – 20/9/1861).

• Quatro charadas: (20/5/1861; 27/5/186; 18/11/1861; 2/12/1861). O poema “Uma hora na vida” foi publicado anteriormente no Publicador Maranhense, com uma dedicatória “à Exma. Sra. D. Thereza Francisca Ferreira de Jesus”).

1862 A Verdadeira Marmota (fevereiro a março)

• Dois poemas: “Amor perfeito” (6/4/1862); “Elvira – Romance contemporâneo” (26/2, 2/3/, 10/3 e 17/3/1862).

XIX

CATEGORIA:RELEITURAS

“BRASAS ARDENTESNA PONTA DOS DEDOS” –CONTODELENITA ESTRELA DESÁ INSPIRADONA VIDADEMARIA FIRMINA DOS REIS

“ÚRSULA,DEMARIA FIRMINA DOS REIS” –CORDELDEJOSÉFRANKLINDA SILVEIRA

CORDEL

VALSA ROSINHA –DEMARIA FIRMINA DOS REIS PORDIANA VILLALOBOS

PDF

CONTORNANDO O INVISÍVEL – FIRMINA IMAGINADA

Perfil representativo de Maria Firmina dos Reis Busto (1975). Flory Gama. Museu Artístico e Histórico do Maranhão. Pintura (2011). Martins, Rogério.

Registro de Maria Firmina dos Reis na biblioteca pública de São Luís/ MA.

Desenho a lápis (2014) para representar o rosto de Maria Firmina dos Reis – Exposição Mulher em Destaque.

Ilustração. Maria Benedita Bormann (1853-1895). In: “Mulheres Illustres do Brazil” (1899, p.193). Selo (2014). Homenagem aos 190 anos de nascimento de Maria Firmina. Ilustração (2015). Templo Cultural Delfos. Ilustração (2015). Jonilson Bruzaca. Comemoração aos 190 anos de nascimento de Maria Firmina, divulgada em 18/06/ 2015. Fonte: Geledés.org.br Imagem 10: Ilustração (2015). Revista Conhecimento Prático Literário. Desenho a pastel seco (2012). Alves, Tony Romerson. Xilogravura (2017). Pires, Gabriela. Imagem associada à Maria Firmina Capa do livro de Algemira Macêdo Mendes (2016) (Ilustração) André Valente – Maria Firmina dos Reis Via BBC Brasil Imagem do livro Extraordinárias – Mulheres Que Revolucionaram o Brasil (ilustração) Mestre Roberto – Maria Firmina dos Reis Fonte: Homenagem à Literatura Negra Brasileira (Facebook) (Aquarela) Amélia Lara – A força de Maria Firmina dos Reis Fonte: Homenagem à Literatura Negra Brasileira(Facebook) (Ilustração) Úrsula – Maria Firmina Fonte: O Feminino e o Sagrado – Heroínas do Brasil Maria Firmina dos Reis – patrona da 11ª FeliS, 2017. (Foto: Maurício Alexandre) Lançamento da Coleção Maria Firmina dos Reis – 28/11/2017 – Brasilia (DF)
Agenda (2018) – Associação dos Docentes da Universidade Estadual da Paraíba (Aduepb). • (Ilustração) Maria Firmina dos Reis (2018). “Tesouro Brasileiro” (homenagem Mulheres do Brasil / 08 de março). Fonte: Governo do Brasil no Twitter
• Rosto representativo de Maria Firmina para o concurso da Flup 2018. Ilustração de João Gabriel dos Santos Araújo, MG. • Ilustração de Maria Firmina apresentada pela Câmara dos Deputados, 2018.
• Imagem representativa de Maria Firmina. Luzinei Araújo – Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães (MA), 2018. • • • Ilustração de Maria Firmina. Nila Millen, 2019.

Flip 2022: Maria Firmina dos Reis será a homenageada; veja a programação completa

O Globo

13 de setembro de 2022 11:21

A maranhense Maria Firmina dos Reis (1822–1917) será a autora homenageada na 20º edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). No ano do seu bicentenário, a romancista terá seu legado discutido no evento.

A edição acontece de 23 a 27 de novembro de 2022, em Paraty. Conforme já foi anunciado, o evento este ano terá três curadores: a jornalista e editora Fernanda Bastos e os professores Milena Britto e Pedro Meira Monteiro.

Maria Firmina dos Reis não é alguém casual, alguém que estava na fila de homenageados da Flip. Ela tem a força da autoria individual, uma mulher negra no Maranhão do século XIX lutando pra ser reconhecida pela letra. Na escola, todos nós conhecemos Machado, Alencar, mas nunca ouvimos falar de Maria Firmina. Essa ausência é muito gritante e é com essa distorção que a gente está querendo mexer quando monta uma

programação como essa disse Pedro Meira Monteiro em coletiva de imprensa da Flip realizada nesta terça-feira (13).

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Moradas e Memórias: Casarões de São Luís do Maranhão

Aautoramaranhensedoprimeiroromanceabolicionistadopaís,Úrsula,lançadoem1859seráa grandehomenageadadaFestaLiteráriaInternacionaldeParaty(FLIP).Aescritoraeeducadora,sofreu como“apagamento”históricoevemsendoredescobertanoBrasilenoexterior.Publicoucontose poemasemjornais,compôsoHinodaLibertaçãodosEscravosefundouumaescolagratuitapara crianças.MariaFirminamorreuem1917,semqualquerprestígio.AescritorEquetambemera abolicionistaefeministasótevesuasobrasrevisitadasapartirdaspesquisardopesquisadorepoeta maranhenseNasvimentoMoraesFilhocomaimportanteobraMariaFirmina–fragmentosdeuma vida(1975).

NafotoaoladotrenósMoraesFilhoentrevistandoafilhaadotivadeMariaFirmina,juntoscomum religiosoeoutrasenhora.

Fontes:trechosdoJornalOEstadãoefotodoarquivodositewww.mariafirmina.org.br.

MARIA FIRMINA DOS REIS, PRESENTE!

A Flip (Festa Literária de Paraty) de 2022 vai homenagear Maria Firmina dos Reis, autora de "Úrsula" e uma das pioneiras do romantismo brasileiro. A obra de Maria Firmina vem sendo resgatada por uma nova geração de críticos e historiadores da literatura, reunidos em "A mente ninguém pode escravizar" - Maria Firmina dos Reis pela crítica contemporânea. Esta é a mais completa coletânea sobre a autora já publicada. Se você quer saber mais sobre a escritora negra que todos deviam conhecer, mas que o racismo e o machismo apagou ao longo dos anos, então este livro é para você.

“EXMA. SRA. D. MARIA FIRMINA DOS REIS, DISTINTA

LITERÁRIA MARANHENSE”: A NOTORIEDADE DE UMA

PROFESSORA AFRODESCENDENTE NO SÉCULO XIX

Mariléia dos Santos Cruz; Érica de Lima de Matos; Ediane Holanda Silva

Resumo: Maria Firmina, a primeira romancista brasileira que publicou no Brasil, foi professora régia da escola de primeiras letras da Vila de São José de Guimarães concursada em 1847. Era uma mulher mestiça, filha natural da mulata forra Leonor Felipa. O presente texto, fruto de pesquisa histórica de caráter indiciário, tem como objetivo refletir sobre o protagonismo da professora de primeiras letras Maria Firmina dos Reis, dando ênfase na análise sobre a representação ativa da mulher em seus romances e ao modo como ela era representada na imprensa maranhense do século XIX. Considera-se, também, a correção de informações correntes na bibliografia sobre a autora, as quais contrariam fontes primárias oficiais produzidas no século XIX.

Palavras Chave: Maria Firmina dos Reis; professora negra; romancista brasileira; protagonismo feminino

Discutindo informações históricas que contrariam fontes primárias oficiais sobre Maria Firmina dos Reis

A mestiça Maria Firmina dos Reis nasceu em 11 de março de 1822, embora todas as publicações consultadas até agora que se reportam a ela atribuam ao seu nascimento a data de 11 de outubro de 1825 (ABRANTES, 2004; ANDRETA, ALÓS, 2013; MENDES, 2006; MORAIS FILHO, 1975; MUZART, 2013; SILVA, 2011; OLIVEIRA, 2007). Com base em estudos que atribuem ao nascimento de Maria Firmina o dia 11 de outubro, o mesmo foi desde 1976, considerado o “Dia da Mulher Maranhense”, como uma homenagem à autora (Lei n. 3.754, de 27 de maio de 1976), o que só foi corrigido recentemente por força da lei 10.763, de 29 de dezembro de 2017 (MARANHÃO, 2017)

[...]

Caso o ano do nascimento de Maria Firmina tivesse sido 1825, ela teria sido nomeada para a função de professora da escola feminina de Primeiras Letras da Vila São José de Guimarães, em 1847, com apenas 22 anos, o que foi considerado algo ilegal em 1830, em razão da exigência de 25 anos para o exercício da docência (CASTANHA, 2013)6 . Em ofício, de nº 42, de 14 de julho de 1847, do Inspetor da Instrução Pública Francisco Sotero dos Reis ao Presidente da Província, consta um parecer negativo para a solicitação de inscrição de Maria Firmina dos Reis no concurso público da cadeira de primeiras letras da Vila de São José de Guimarães, alegando que ela não provava ser maior de 25 anos de idade.

De fato, o documento de batismo de Maria Firmina, registrado na f. 182, do livro de registro de batismo da freguesia de Nossa Senhora da Victória-igreja Catedral, não apresenta nem data, nem o local do seu nascimento, indicando apenas ter sido batizada em 21 de dezembro de 1825, na Freguesia de Nossa Senhora da Victória, em São Luís7 . Neste documento consta também o nome da sua mãe (Leonor Felipa), e de seus padrinhos (o capitão de milícia João Nogueira de Souza e Nossa Senhora dos Remédios)8 .

Neste documento não consta nenhuma indicação de paternidade, o que contradiz afirmação de que Maria Firmina teria sido registrada por João Pedro Esteves (MUZART, 2013), um homem de posses, que foi sócio do senhor de Leonor Felipa, Caetano José Teixeira9 . O estabelecimento comercial de Caetano José Teixeira, o qual João Pedro Esteves era um dos sócios, realizava grandes transações no período colonial e início do Império. É a certidão de óbito da escritora, redigido no dia 11 de novembro de 1917, que registra João Pedro Esteves como pai de Maria Firmina, algo que foi declarado por pessoa próxima da autora (MORAIS FILHO, 1975). Mesmo que ela não tenha crescido em um lar nos moldes tradicionais, com a figura de mãe e pai unidos pelo sacramento do matrimônio, parece que Maria Firmina e os demais do seu círculo familiar não ignoravam que João Pedro Esteves era seu pai, apesar da ausência da paternidade constar em seu documento de batismo.

[...]

Em 21 de julho de 1847, no ofício nº 45, o inspetor da Instrução Pública, declarou que a requerente ao concurso para a cadeira feminina da Vila de São José de Guimarães, Maria Firmina dos Reis, podia ser admitida ao concurso por ter provado ter nascido em 11 de março de 1822, sendo, portanto, maior de 25 anos, conforme a exigência para o exercício docente10

Notandum 48 set-dez 2018 CEMOrOc-Feusp / Univ. Autònoma de Barcelona

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO. Ofícios do Inspetor da Instrução Pública ao Presidente da Província, APEM, documentos avulsos, cx. 1844-1850.

De fato, a documentação de batismo de Maria Firmina só poderia deixar dúvidas sobre a sua origem e ano de nascimento, pois traz poucas informações. Pelo fato de não constar dia e ano de seu nascimento no registro de batismo havia necessidade de recorrer a outras formas de comprovação da sua idade, o que a levou a iniciar um processo junto à Câmara Eclesiástica visando à justificação da data do seu nascimento, originando, assim, os “Autos de Justificação do dia do Nascimento de Maria Firmina dos Reis”. Esse documento foi solicitado por ela no dia 25 de junho de 1847 e foi concluído no dia 13 de julho do mesmo ano. Conforme esta documentação, Maria Firmina teria nascido em 11 de março de 1822, sendo batizada apenas em 21 de dezembro de 1825, já que veio ao mundo acometida de uma enfermidade, permanecendo doente por um período que a impossibilitou de receber o sacramento antes dos seus três anos de vida11 . 11 Id. Autos de justificação do nascimento de Maria Firmina dos Reis. Arquivo da Arquidiocese/APEM: São Luís-MA. Manuscrito, doc. 4844, 1847. 12Segundo O Paiz, (23 abril, 1880, p. 2), o C

[...]

Outra questão sobre Maria Firmina que desperta curiosidades diz respeito à sua origem familiar, a qual é registrada pela historiografia como “prima pelo lado materno” do professor Francisco Sotero do Reis (ABRANTES, 2004, p. 158; MENDES, 2006, p.18; MUZART, 2013, p. 249) ou como “filha de uma portuguesa com um escravo africano” (CORREA, 2013), sem indicação precisa das fontes que levaram às constatações. No presente pode-se afirmar que a mãe de Maria Firmina, conforme consta nos autos de justificação do seu nascimento, era Leonor Felipa, uma mulata forra, que foi escrava do Comendador Caetano José Teixeira, conforme já adiantamos anteriormente [...]

Outra questão para a qual ainda paira dúvida é sobre a existência de parentesco entre Maria Firmina e Sotero dos Reis Até o presente não se identificou fonte que confirme se há uma relação consanguínea ou se é apenas uma coincidência do sobrenome. Fato é que Sotero do Reis, o renomado gramático, primeiro diretor do Liceu Maranhense e Inspetor da Instrução Pública Maranhense, nasceu em 22 de abril de 1800 e foi filho do português Balthazar José dos Reis, fazendeiro da região de Guimarães com D. Maria Thereza Cordeiro (LEAL, 1873). O trabalho realizado por Nascimento Morais Filho visando dar visibilidade à professora e romancista maranhense indica parentesco da professora com Sotero dos Reis quando registra a entrevista com uma descendente de Maria Firmina. No depoimento colhido pelo autor de Maria Firmina: fragmentos de uma vida consta que Sotero dos Reis teria sido primo dela, embora o grau fosse ignorado pela entrevistada, D. Nhanzinha Goulart que era neta de Balduina Amália dos Reis, prima da escritora (MORAIS FILHO, 1975).

[...]

Embora o senhor da mãe de Maria Firmina possuísse terras na região de Guimarães fica confirmado a naturalidade ludovicense quando se analisa o depoimento de uma das testemunhas da justificação do nascimento da referida professora. Trata-se de um tio, irmão de Leonor, Martiniano José dos Reis que declarou ser natural de São Luís, ser pardo, casado, ter trinta e oito anos e viver de suas lavouras. Declarou também que morava na casa da mãe de Maria Firmina quando ela nasceu, e que a mesma era natural da Freguesia de Nossa Senhora da Victória13 . [...]

No documento de justificação do nascimento da autora sua origem africana fica evidenciada pelos termos atribuídos a sua mãe (mulata e forra) e ao seu tio (pardo). Até agora, em nenhuma fonte identificada sobre Maria Firmina aparecem diretamente atribuídos a ela qualificativos indicativos de afrodescendência. Tal leva a inferir que a autora tenha desfrutado do conhecido atestado de “branquidade”16 , o qual permitia que características como cor, raça ou condição escrava passassem ignoradas conforme o nível de integração social atingido por pessoas de origem africana. Na qualidade de mestiça, é provável que Maria Firmina não possuísse fenótipos expressivos dos negros, o que pode ter contribuído para a sua aceitação e reconhecimento de méritos, confirmando o que Russel-Wood (2005, p. 86) nos informa sobre o assunto ao afirmar que “os mulatos ou os de pele não muito escura tinham mais possibilidade de ser assimilados pelo mundo branco do que o negro. Este grau de pigmentação podia ser mais importante para determinar a assimilação de uma pessoa de cor do que o fato de ter nascido livre ou escrava” (Gilberto Freyre exemplifica o conceito de branquidade quando relata que, quando um mulato escuro atingia determinado cargo ou grau de instrução elevado, passava a ser considerado como homem branco. Cf. FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento urbano. 16ª ed. São Paulo: Global, 2006. p. 727.) [...]

O que de fato pode-se inferir com os dados levantados é que nos últimos anos de trabalho sua escola feminina de primeiras letras não dispunha de avultado número de alunas. Variava entre 8 a 14 o número de discípulas de Maria Firmina na década de 186017. Pode-se inferir que sua turma não era grande, enquanto se percebe que a luta no ano anterior ao seu jubilamento estava centrada no descanso, e restabelecimento da saúde. Tais fatos permitem duvidar do pioneirismo

atribuído a Maria Firmina em relação a abertura de uma aula gratuita e mista em Guimarães, no ano de 1880 (ABRANTES, 2003; OLIVEIRA, 2007; MENDES, 2006; MUZART, 2013).

As ideias sobre aulas mistas passam a ser defendidas no Brasil no final da década de 1870, quando autoridades e intelectuais argumentavam sobre a possibilidade de professoras ministrarem o ensino misto com meninos de até 10 anos. Se fosse o caso de atribuir pioneirismo no assunto, dever-se-ia considerar o feito de outra Firmina, que foi a Sra. Herculana Firmina Vieira de Souza, professora pública de primeiras letras de Cururupu, que em 1862, aparece no Almanak de Belarmino de Mattos, com 42 discípulas e 12 discípulos menores de 16 anos18. Em 1866, Herculana Firmina consta como professora jubilada e em 1881, aparece na mesma relação de professores aposentados que inclui Maria Firmina dos Reis, publicada no jornal Publicador Maranhense (18 nov. 1881). Deve-se registrar que o funcionamento da aula mista da professora Herculana Firmina era algo ilegal, já que, conforme o Regulamento da Instrução Pública de 1855 (art. 68) estava vetado a presença de meninos na qualidade de alunos em escolas femininas, sendo proibido, inclusive, a presença de homens maiores de 10 anos como moradores na residência onde funcionasse a escola, com exceção do marido e do pai da professora (CASTRO, 2009).

ABRANTES, S. E. A Educação do “Bello Sexo” em São Luís na Segunda metade do Século XIX. In São Luís: COSTA, W. C. da (Org.). História do Maranhão: Novos estudos. São Luís/MA: Editora EDUFMA, 2004, p.143-173.

ANDRETA, B. L.; ALÓS, A. P. Voz e a Memória dos Escravos: Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Identidade! São Leopoldo-RS, vol. 18, n. 2, julho a dezembro, p194-200, 2013. Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/identidade/article/view/952 , Acesso em 13 de setembro de 2016

CORREA, J. S. Maria Firmina dos Reis, vida e obra: uma contribuição para história das mulheres e dos afrodescendentes no Brasil. Revista Feminismo. UFBA, Bahia, n. 1, vol 3, setembro-dezembro de 2013. http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/issue/view/4 Acesso em 29 de julho de 2016.

MENDES, A. M. Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da literatura brasileira: representação, imagens e memórias nos séculos XIX e XX. 2006. 282f. Tese (Doutorado em Letras)-Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS, 2006.

MORAIS FILHO, J. N. Maria Firmina: fragmentos de uma vida. São Luís: Imprensa do Governo do Maranhão, 1975. MUZART, Z. L. Uma pioneira: Maria Firmina dos Reis. Muitas Vozes, Ponta Grossa/MS, v2, n. 2, p. 247-260, 2013. Disponível em: www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/download/6400/pdf_146 Acesso em 14 de setembro de 2016.

OLIVEIRA, A. B. de. Gênero e etnicidade no romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte-MG, 2007. Disponível em: www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/.../disserta__o___revis_o.pdf?...1 Acesso em 14 de setembro de 2016.

SILVA, R. A. da. A mente, essa ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis e a escrita feita por mulheres no Maranhão. Leitura, teoria e prática. Campinas-SP: Editada pela ALB – Associação de Leitura do Brasil, v. 29, n. 56, p 11-19, julho de 2011. Disponível em https://ltp.emnuvens.com.br/ltp/issue/view/5/showtoc Acesso em 14 de setembro de 2016.

QUE DEVERIAM

SER ESTUDADOS NAS ESCOLAS REVISTA PROSA VERSO E ARTE

“O modelo cívico brasileiro é herdado da escravidão, tanto o modelo cívico cultural como o modelo cívico político. A escravidão marcou o território, marcou os espíritos e marca ainda hoje as relações sociais deste país. Mas é também um modelo cívico subordinado à economia, uma das desgraças deste país” – Milton Santos, em “As cidadanias mutiladas”. In______. O preconceito (vários autores). São Paulo. IMESP, 1996-1997, p. 135.

Uma pequena relação de autores negros conhecidos e ou pouco conhecidos do nosso imenso Brasil. É evidente que tem muito mais, são inúmeros que igualmente merecem nossa atenção e espaço. Os autores desta lista, são: Abdias Nascimento, Adão Ventura, Auta de Souza, Carlos Machado, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Cruz e Sousa, Elisa Lucinda, Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Milton Santos, Miriam Alves, Nina Rizzi, Solano Trindade, Paulo Colina, Salgado Maranhão e Lima Barreto Em cada breve apresentação existe um link que leva para uma biografia e bibliografia completa de cada autor. Boa leitura!

Abdias Nascimento – escritor

ABDIAS DO NASCIMENTO - Abdias Nascimento (artista plástico, escritor, teatrólogo, político e poeta) –Franca – SP, 14 de março de 1914 – Rio de Janeiro – RJ, 23 de maio de 2011 – nasceu em uma família negra e pobre da cidade de Franca, interior do Estado de São Paulo. A sua mãe se chamava Georgina, conhecida como dona Josina, e o pai se chamava José. Ambos eram católicos e tinham sete filhos. A avó materna de Abdias, dona Ismênia, havia sido escrava, e apesar do neto ter nascido no contexto pós-abolição, o racismo e as relações sociais que marcaram o Brasil na época dela ainda vigoravam com bastante força.

Literatura
15 ESCRITORAS E ESCRITORES NEGROS

Da infância vivida em Franca, Abdias absorveu os saberes dos afrodescendentes mais velhos, que eram repassados através da oralidade, em rodas de conversa. Aos nove anos, o garoto já trabalhava entregando leite e carne nas casas dos moradores mais ricos da cidade e assim ajudava a família financeiramente. Com o pouco que conseguia guardar para si, comprou orgulhoso o seu primeiro par de sapatos. :: Saiba mais AQUI!

Adão Ventura – poeta

ADÃO VENTURA - Adão Ventura Ferreira Reis, poeta e prosador conhecido por Adão Ventura, nasceu em 5 de julho de 1946 em Santo Antônio do Itambé, então distrito do Serro (MG), em 1946. Filho de Sebastiana de José Teodoro e de José Ferreira dos Reis, e neto de escravos, Adão Ventura viveu em péssimas condições, tendo mudado para Belo Horizonte, em busca de vida melhor, e conseguido se graduar em direito, pela Universidade Federal de Minas Gerais. :: Saiba mais AQUI!

AUTA DE SOUZA - Auta Henriqueta de Souza nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876, filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique Castriciano. Ficou órfã aos três anos, com a morte de sua mãe por tuberculose, e no ano seguinte perdeu também o pai, pela mesma doença. Sua mãe morreu aos 27 anos e seu pai aos 38 anos. Durante a infância, foi criada por sua avó materna, Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como Dindinha, em uma chácara no Recife, onde foi alfabetizada por professores particulares. Sua avó, embora analfabeta, conseguiu proporcionar boa educação aos netos. :: Saiba mais AQUI!

CARLOS MACHADO - Carlos Machado, nasceu em 1951, em Muritiba (BA). Jornalista, reside em São Paulo desde 1980. Cursou engenharia mecânica na UFBA e, em São Paulo, fez jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Edita na internet o boletim quinzenal poesia.net. Tem poemas publicados em revistas e jornais literários. Como jornalista especializado em informática, é também autor de livros técnicos publicados pela Editora Campus (RJ). :: Saiba mais AQUI!

Auta de Souza – poeta Carlos Machado – poeta

Carolina Maria de Jesus – escritora

CAROLINA MARIA DE JESUS - Carolina Maria de Jesus, moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo, é conhecida por relatos em seu diário, que registravam o cotidiano miserável de uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada. Foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, encarregado certa vez de escrever uma matéria sobre uma favela que vinha se expandindo próxima à beira do Rio Tietê, no bairro do Canindé; em meio a todo rebuliço da favela, Dantas conheceu Carolina e percebeu que ela tinha muito a dizer. Seu principal livro é Quarto de despejo (1960), no qual há relatos de seu diário. Também publicou Casa de Alvenaria (1961); Pedaços de fome (1963); Provérbios (1963); postumamente foram publicados Diário de Bitita (1982); Meu estranho diário (1996); entre outros. :: Saiba mais AQUI!

Conceição Evaristo – escritora

CONCEIÇÃO EVARISTO - A escritora brasileira Conceição Evaristo foi criada em uma favela da zona sul de Belo Horizonte. Em sua vida teve de conciliar os estudos com a vida de empregada doméstica, formando-se somente aos 25 anos. No Rio de Janeiro, passou em um concurso público para o magistério e estudou Letras (UFRJ). É mestra em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e doutora em Literatura Comparada (UFF). Atualmente, leciona na UFMG como professora visitante. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na antologia Cadernos Negros. Suas obras abordam tanto a questão da discriminação racial quanto as questões de gênero e de classe. Publicou o romance Ponciá Vicêncio (2003), traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007; Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011). :: Saiba mais AQUI!

Cruz e Sousa – poeta

CRUZ E SOUSA - João da Cruz e Sousa, também conhecido como Dante Negro ou Cisne Negro, foi o único poeta de pura raça negra, não tinha nada de mestiço, segundo Antonio Candido (grande estudioso da literatura brasileira e sociólogo). Era filho de escravos alforriados, mas recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. Aprendeu línguas como francês, latim e grego. Além disso, aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Seus poemas simbolistas são marcados pela musicalidade, pelo individualismo, pelo espiritualismo e pela obsessão pela cor branca. Publicou os livros Broquéis (1893); Missal (1893) Tropos e Fantasias (1885), com Virgílio Várzea; postumamente foram publicados Últimos Sonetos (1905); Evocações (1898); Faróis (1900); Outras evocações (1961); O livro Derradeiro (1961) e Dispersos (1961). :: Saiba mais AQUI!

Elisa Lucinda – foto: Acervo Lucinda

ELISA LUCINDA - Elisa Lucinda dos Campos Gomes é uma poeta brasileira, jornalista, cantora e atriz brasileira. É muito conhecida por suas atuações em novelas da Rede Globo, pelo prêmio que recebeu pelo filme A Última Estação (2012), de Marcio Curi, e pelos seus inúmeros espetáculos e recitais em empresas, teatros e escolas de todo o Brasil. Publicou inúmeros livros, dentre eles A Lua que menstrua (1992); O Semelhante (1995); Eu te amo e suas estreias (1999); A Fúria da Beleza (2006); A Poesia do encontro (2008), com Rubem Alves; Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (2014). “A nossa única revolução é educacional. Essa é que vai mudar tudo” – Elisa Lucinda :: Saiba mais AQUI!

Machado de Assis – escritor

MACHADO DE ASSIS - Joaquim Maria Machado de Assis quase dispensa apresentações, pois é considerado o maior nome da literatura brasileira. Além de seus tão conhecidos romances, publicou contos, poemas, peças de teatro e foi pioneiro como cronista. Publicou em inúmeros jornais e foi o fundador da Academia Brasileira de Letras, juntamente com escritor José Veríssimo. Machado de Assis foi eleito presidente da instituição, ocupando este cargo até sua morte. Escreveu mais de 50 obras, mas está para sempre imortalizado por causa das obras Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro, (1899) e O Alienista (1882). :: Saiba mais AQUI!

MARIA FIRMINA DOS REIS - A escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís – MA, rompeu barreiras no país e na literatura brasileira. Aos 22 anos, no Maranhão, foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária e, por isso, foi a primeira professora concursada do estado. Seu romance Úrsula (1859) foi o primeiro romance abolicionista brasileiro e, além disso, o primeiro escrito por uma mulher negra no Brasil. No auge da campanha abolicionista, publicou A Escrava (1887), o que reforçou a sua postura antiescravista. Publicou ainda o romance Gupeva(1861); poemas em Parnaso maranhense (1861) e Cantos à beira-mar (1871). Além disso, publicou poemas em alguns jornais e fez algumas composições musicais. Quando se aposentou, em 1880, fundou uma escola mista e gratuita. :: Saiba mais AQUI!

Maria Firmina dos Reis – escritora

Milton Santos – geografo e escritor

MILTON SANTOS - Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como a epistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros… :: Saiba mais AQUI!

MIRIAM ALVES - Miriam Alves poeta, dramaturga e prosadora, nascida em São Paulo, em 1952. Publicou os livros de poemas ‘Momentos de busca’ (1983), ‘Estrelas nos dedos’ (1985), a peça ‘Terramara’ (1988), em coautoria com Arnaldo Xavier e Cuti, o livro de ensaios ‘Brasilafro autorrevelado’ (2010), a coletânea de contos ‘Mulher Mat(r)iz’ (2011) e o romance ‘Bará na trilha do vento’ (2015). Integrou o movimento Quilombhoje Literatura de 1980 a 1989, e foi escritora visitante na Universidade do Novo México, na Escola de Português de Middelbury College em 2010, nos Estados Unidos, e participou de debates sobre a literatura afrobrasileira e feminina nas Universidades do Texas, na Universidade do Tennessee e na Universidade de Illinois. :: Saiba mais AQUI!

NINA RIZZI - Nina Rizzi (Campinas SP, 1983), historiadora, tradutora e poeta, vive atualmente em Fortaleza CE (Brasil). Tem poemas, textos e traduções publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014) :: Saiba mais AQUI!

Miriam Alves – poeta Nina Rizzi – poeta

Solano Trindade – foto: Acervo família Trindade

SOLANO TRINDADE - Francisco Solano Trindade (poeta, ativista político e artista múltiplo), nasceu em Recife, PE, em 24 de julho de 1908. Filho da quituteira Emerenciana e do sapateiro Manoel Abílio, viveu em um lar católico, apesar de seu pai incorporar entidades às escondidas.

“A minha poesia continuará com o estilo do nosso populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos” – Solano Trindade :: Saiba mais AQUI!

Paulo Colina – poeta

PAULO COLINA - Paulo Colina poeta, prosador e ensaísta, nascido Paulo Eduardo de Oliveira em Colina, estado de São Paulo, a 9 de março de 1950. Membro da geração fundadora dos Cadernos Negros e do coletivo Quilombhoje, estreou com o volume de contos Fogo cruzado (1980), ao qual se seguiram as coletâneas de poemas Plano de voo (1984), A noite não pede licença (1987) e Todo o fogo da luta (1989). :: Saiba mais AQUI!

SALGADO MARANHÃO - Salgado Maranhão (José Salgado Santos) – poeta, compositor e jornalista. Nasceu no povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias – Maranhão, em 13 de novembro de 1953, filho de Moacyr dos Santos Costa e Raimunda Salgado dos Santos. Ainda adolescente, mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina. Escreveu artigos para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972. Estudou Comunicação na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu. Inicialmente, teve seu nome vinculado em publicações como “Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis” (Ed. Civilização Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros. :: Saiba mais AQUI!

Lima Barreto, escritor.

LIMA BARRETO - Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho do tipógrafo João Henriques e da professora Amália Augusta, ambos mulatos. Seu padrinho era o Visconde de Ouro Preto, senador do Império. A mãe, escrava liberta, morreu precocemente, quando o filho tinha seis anos. A abolição da escravatura ocorreu em 1888, no dia de seu aniversário de sete anos, mas as marcas desse período, o preconceito racial e a difícil inserção de negros e mulatos na sociedade brasileira nunca deixaram de ocupar o centro de sua obra literária. Em 1900, o escritor deu início aos registros do Diário íntimo, com impressões sobre a cidade e a vida urbana do Rio de Janeiro. Lima Barreto começa sua colaboração mais regular na imprensa em 1905, quando escreve reportagens, publicadas no Correio da Manhã, sobre a demolição do Morro do Castelo, no centro do Rio, consideradas um dos marcos inaugurais do jornalismo literário brasileiro. Na mesma época, começa a escrever a primeira versão de Clara dos Anjos, livro que seria publicado apenas postumamente, e elabora os prefácios de dois romances: Recordações do escrivão Isaías Caminha e Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, livros que terminaria de redigir quase que simultaneamente, ainda que este último tenha sido publicado apenas em 1919. Recordações do escrivão Isaías Caminha sai em folhetim na revista Floreal, em 1907, e em livro em 1909. No romance, o jornal Correio da Manhã e seu diretor de redação são retratados de maneira impiedosa, e Lima Barreto tem então seu nome proscrito na grande imprensa carioca. O escritor passa a trabalhar e publicar crônicas, contos e peças satíricas em veículos como o Diabo, Revista da Época, Fon-Fon, Careta, Brás Cubas, O Malho e Correio da Noite. Colaborou também com o ABC, periódico de orientação marxista e revolucionária. Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio. Publicou ainda Numa e a ninfa (1915), Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Histórias e sonhos (1920). Postumamente saem Os bruzundangas e as crônicas de Bagatelas e Feiras e mafuás. Morreu no Rio de Janeiro, no dia 1º de novembro de 1922, aos 41 anos. :: Saiba mais AQUI!

Amanhã será lançado aqui no Rio, na livraria Blooks Botafogo, a partir de 17h, o livro A mente ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis pela crítica contemporânea (Alameda, 2022).

O livro reúne um série de textos sobre a autora maranhense, nascida em 1822, que tem merecido atenção de pesquisadores por todo o Brasil. Seu romance Úrsula é mostra das possibilidades de uma prosa em que se cruzam, na escrita, as condições de ser mulher, de ser negra e abolicionista no sofrido país escravista e patriarcal - coisas que marcam nosso dia a dia com tanta força mesmo agora, é de se imaginar no XIX... Maria Firmina dos Reis traz, no bojo de seu "ressurgimento", as questões pertinentes à rearrumação da história literária brasileira, para que possam caber em sua série as autoras mulheres - tantas escritoras em nosso XIX que não constam de nossos manuais -, os autores negros - alguns estão lá, cercados de certo silêncio quanto à questão racial, outros carregam tal questão como peso... É nosso dever, como pesquisadores da literatura brasileira (aqui falo eu, professora disso aí, para bem ou para mal), examinar a produção da autora e entender como ela modifica e complementa o seu contexto de escrita.

Os organizadores do volume que se lança amanhã, Anna Faedrich e Rafael Balseiro Zin, são especialistas no assunto. Eu participo um pouco de longe, como coordenadora, junto a Rafael Fava Belúzio, da coleção editada pela Alameda. Mas devo dizer que a publicação desse livro, em especial, me enche de alegria, porque Maria Firminha deve ter sido um dos primeiros nomes que me vieram quando começamos a conversar sobre uma tal coleção - daí já tinha na ponta da língua o nome da Anna, que convidou o Rafael, e o resto é história. Ver o livro pronto é uma emoção.

Vamos lá amanhã?

https://www.alamedaeditorial.com.br/a-mente-ninguem-pode-escravizar

A entrega do título de Doutor Honoris Causa póstumo a Maria Firmina, marcado pelo Reitor da UFMA para dia 25, foi antecipado para dia 11 de novembro, dia da morte de Maria Firmina.

Será no Auditório do Palácio Cristo Rei.

Contamos com a presença de todos!

https://www.youtube.com/watch?v=ejwzDBk0AQE

Escritora 'sem rosto', recorde feminino: Flip começa tomada por mulheres

uma incógnita

Imagem: Reprodução Cristina Fibe Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro 23/11/2022 04h00

A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) comemora 20 anos mais feminina do que nunca: a edição 2022, que começa nesta quarta-feira (23) e vai até domingo (27), elegeu uma autora negra como homenageada, a maranhense Maria Firmina dos Reis, primeira escritora brasileira e por muito tempo apagada pela história a ponto de não existir sequer imagem oficial de seu rosto. Além disso, o... –

Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/11/23/sem-rosto-apagada-pela-historia1-escritora-do-brasil-e-destaque-da-flip.htm?cmpid=copiaecola

Imagem Maria Firmina dos Reis recriada pelo artista João Gabriel dos Santos Araújo: rosto de escritora permanece

QUEM FOI MARIA FIRMINA DOS REIS; ABAFADA NA HISTÓRIA DA LITERATURA, SERÁ HOMENAGEADA DA FLIP 2022

Considerada a primeira romancista do Brasil e pioneira nas críticas antiescravistas, a escritora será destaque da festa literária

MaluMarinho

Quem foi Maria Firmina dos Reis; abafada na história da literatura, será homenageada da Flip 2022 (uol.com.br)

Acervo digital/Grupo de pesquisadores de Maria Firmina dos Reis

Em 11 de agosto de 1860, nas primeiras páginas do jornal A Moderação, anunciava-se o lançamento do romance Úrsula, assinado por Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães, município do estado do Maranhão.

Nascida em 1822, Firmina é considerada por muitos a autora do primeiro romanceabolicionista de autoria feminina da línguaportuguesa. Além disso, seu livro é considerado o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a AméricaLatina.

Apesar do atual prestígio, a escritora foi abafada pela história, como afirma a escritora, revisora e idealizadora da EditoraFeminas, Sandra Regina de Souza. "Estudei Letras na USP, e em todo o curso, nunca ouvi falar da Maria Firmina", conta em entrevista aositedaTVCultura

Nesteano, MariaFirminadosReis seráhomenageadapela FestaLiteráriaInternacionaldeParaty(Flip), além de ser tema de duas mesas na programação principal do evento e de ter sido parte de um ciclo de debates em parceriacom o Sesc,realizadoem outubrodesteano. A escritora,professoraehistoriadora,JoiceAziza, diz que esse trabalho de resgate tem muita relevância para a literatura nacional, sendo que "parece que não faz muito tempo, mas há tem 40 anos, com a retomada dos escritos feita pelo historiador José Nascimento Morais Filho, que vem sendo repercutido só agora", afirma.

A editora Sandra de Souza, faz um aparato dos escritos nacionais, relembrando Machado de Assis e outros autores, "vejo como a MariaFirmina foi excluída da literatura brasileira por muito tempo. E continua sendo, na verdade, não a estudamos, basicamente não estudamos mulheres, mulheres negras. Estive por muito tempo no ramo da editoria e é um mercado muito feminino, mas, ao mesmo tempo, não vemos elas sendo publicadas", comenta.

O contato de Firmina com a literatura começou cedo, em 1830, quando mudou-se para a casa de uma tia um pouco mais rica, na vila de SãoJosédeGuimarães, no Maranhão. Aos poucos, a jovem tomou contato com

ENTRETENIMENTO

referências culturais e outros de seus parentes ligados ao meio cultural, como SoterodosReis, um gramático popular da época, vindo assim o gosto pelas letras.

A editora Sandra de Souza comenta sobre a importância de ter figuras como MariaFirmina em um Festival como a Flip. “Eu me descobri negra quando aconteceu a morte da Marielle (...) Foi ali que pensei ‘poderia ser eu’, e me entendi como uma mulher negra. A literatura me ajudou muito nisso, foi esclarecedor”.

"Olha como o racismo é cruel, por causa dessa sistema tivemos o abafamento de uma mulher, que foi a primeira a criar uma escola mista, por exemplo. Em seu romance, ela conta a história de uma negra com famíliaestabilizada, onde os brancos eram 'vilões' e não faziam o que era bom aos olhos de Deus, isso era uma afronta", diz a historiadora Joice Aziza, e finaliza dizendo, "espero que a Flip seja um divisor de águas. Eu acredito que o festival vai fazer as pessoas lerem mais mulheres negras, ou é pelo menos isso que espero".

Ressaltando a importância de dar mais atenção a literatura feminina nacional, a editora Sandra de Souza comenta sobre seu novo projeto. "A ideia da editora Feminas, veio justamente em publicar mulheres. E estamos com o projeto Flores deBaobá (Dandaras), que diz respeito a essas escritoras negras, alavancar a vozdelas.Assimcomomedescobrimulherenegra,assimcomosempreestiveligadaà cultura,seiquemuitas mulheres também vão se identificar com essas autoras, e se aproximar de MariaFirmina".

O incentivo à literatura e a homenagem à escritora negra Maria Firmina na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) são temas da entrevista com Milena Britto no Giro Nordeste desta terça-feira (01). Baiana de Salvador, Milena é professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e curadora da Flip, além de atuar em políticas públicas com ações voltadas à difusão de leitura em diversos projetos culturais. Assista AO VIVO nesta terça (01), às 19:00, na TVE, YouTube e tve.ba.gov.br.

MariaFirminadosReisfoiagrandehomenageadada20ªFestaInternacionaldoLivrodeParaty-RJ,que ocorreude23a27denovembro.

Foramcincodiasdeencontrocomescritores,artistasepesquisadoresdoBrasiledomundointeiro. UmaComitivadeGuimarãesformadapeloprefeito,primeiradama,professores,membrosdoIHGG marcarampresençarepresentandoomunicípiodeGuimarãese,aomesmotempo,levandoavozdesta mulheredaterraondeviveupor70anos.Umamulherestrategistaevisionária,quedesafioupreconceitos equebrouparadigmasdeumaépocaemqueopatriarcalismoprevaleciaeaescravidãomanchavanossa história.

Legenda:fotostiradanaaberturadaFeiranaMesaSobreMariaFirminaecomoscuradoresdafeira.

Bom dia!! Ouvindo o Repórter Mirante dizendo que Guimarães é a terra natal de Maria Firmina.

Pelo que sei Maria Firmina trabalhou em Guimarães, mas não nasceu

Luna: nasceu em S. Luís. Creio que na Rua São pantaleão. Escreveu Úrsula na rua de Santana, onde tinha uma entrada da Mesbla.

Tinha uma placa comemorativa lá. Foi retirada É a curtura.

MARIA

FIRMINA DOS REIS E NASCIMENTO MORAIS FILHO:

ECOS DA FLIP 2022

Especial:NatérciaMoraesGarrido

Crédito:LuizaSaad- *Natércia Moraes Garrido

O ano de 2022 se encerra com chave de ouro para as letras maranhenses: celebramos o centenário de natalício do poeta Nascimento Morais Filho em 15 de julho e o bicentenário de Maria Firmina dos Reis (cuja data de nascimento real é 11 de outubro de 1825, portanto deve ser revista). A autora, em especial, conseguiu finalmente ter sua relevância e voz reconhecidas no âmbito internacional. Firmina tornou-se a primeira autora negra homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (RJ). Em sua 20a edição, tal fato constitui-se algo inédito e revolucionário, e por que não dizer, histórico por si só.

Falemos dos ecos da FLIP. O anúncio do nome de Firmina na mídia, ainda no início de setembro, causou orgulho e satisfação aos pesquisadores da autora de longa data, principalmente os que trabalham e publicam textos no eixo Sul/Sudeste. Logo em seguida, com a divulgação da programação oficial da FLIP, o orgulho deu lugar ao desconforto nos conterrâneos maranhenses da autora, pois a priori, a organização oficial da festa literária simplesmente ignorou a existência óbvia do Maranhão neste momento, como se aqui não existissem estudiosos competentes que pudessem compartilhar os painéis de conversa com nomes ilustres da literatura brasileira.

O mais grave, no entanto, foi a omissão do nome do descobridor de Maria Firmina dos Reis: o também poeta e intelectual maranhense Nascimento Morais Filho, que a resgatou literalmente dos porões da Biblioteca

Pública Benedito Leite. Percebi que todas as mini biografias de Firmina e resenhas literárias sobre sua obra que começaram a circular junto ao anúncio da FLIP em diversos espaços midiáticos patrocinados por editoras de grande a menor porte, começavam com as seguintes introduções: “não se sabe bem ao certo”, “sabe-se pouco sobre sua vida”, “sabe-se apenas que nasceu há 200 anos e publicou Úrsula, o primeiro romance abolicionistadaliteratura brasileira”etc.Enfim,textos vagos emal elaborados, denunciando afaltade preparo e leitura de jornalistas culturais.

Urgia montar um plano estratégico e levar também o nome de Nascimento Morais Filho à FLIP, junto com sua obra, temporariamente esgotada, Maria Firmina: fragmentos de uma vida (1975). Todos ali deviam conhecer a verdadeira história, restrita apenas no âmbito acadêmico e raramente verbalizada: que sem ele e todo o seu pioneirismo de pesquisa, Maria Firmina nunca teria chegado tão forte, em pleno século XXI, a nós, leitores contemporâneos.

Portanto fui em várias rodas de conversa de editoras, dei entrevistas antes, durante e depois da FLIP, divulgando todos os esforços de Nascimento Morais Filho os quais culminaram em uma pesquisa que é referência primordial para qualquer pesquisador dedicado à Firmina. É por causa de Maria Firmina: fragmentos deumavida(SãoLuís,1975)quesabemos queelanão deixou registrofotográfico,masquemesmo assim, devido a conversas com os dois filhos adotivos da autora bem como ex-alunos, Morais Filho conseguiu estabelecer um retrato falado minimamente satisfatório.

ÉporcausadeMaria Firmina: fragmentos deuma vidaque sabemos queelatambém foi compositorapopular, pois lá estão letra e música de um auto de bumba-meu-boi, por exemplo; que ela fundou a primeira escola mista do Maranhão; que ela é a primeira mulher a escrever um romance no Brasil, com seu Úrsula (1860), o qual contém o primeiro discurso abolicionista em um texto ficcional.

É por causa de Maria Firmina: fragmentos de uma vida que sabemos sua real data de nascimento bem como outros dados biográficos; que temos acesso aos contos Gupeva (1861) e A Escrava (1887) além de inúmeros outros textos, como poemas diversos, enigmas e trechos do famoso Álbum (o diário íntimo de Firmina).

Posteriormente – e por isso devemos agradecer e relevar os trabalhos de pesquisa de Nascimento Morais Filho – publicou-se Úrsula (1860) e Cantos à Beira-Mar (1871), como edições fac-similares em 1975 e 1976, respectivamente, sob supervisão de seu pesquisador e com apoio e verbas públicas do então governador da época no Maranhão, Osvaldo Nunes Freire.

Foi com todo esse discurso que fui à FLIP e participei de inúmeras rodas de conversa de editoras e canais de comunicação, a exemplo da Editora Conejo e do programa cultural carioca Bacellartes (conduzido pela Prof. Dra. Renata Bacelar), que também nos cederam espaços de fala. Em cada um desses momentos, os interlocutores diziam que não sabiam dessa história e perguntavam onde poderiam comprar Maria Firmina: fragmentos de uma vida, até porque mostrávamos o livro para fundamentar os discursos. Reforçamos agora o que dissemos na ocasião: Maria Firmina: fragmentos de uma vida terá sua 2a edição em 2023, pois é nesta data que celebraremos os 50 anos do grande descobrimento literário de Nascimento Morais Filho.

Natércia Moraes Garrido, na FLIP. (Divulgação).

Outro momento memorável da FLIP foi ter mediado o painel de conversa “Maria Firmina dos Reis: a trajetóriainspiradoradaprimeiraromancistabrasileira”,juntocom os pesquisadores AgenorGomes e Luciana Diogo, evento promovido pelo Instituto Da Cor ao Caso (plataforma maranhense) na famosa Casa de Cultura. Em tempo: a programação da Casa de Cultura faz parte da programação oficial da FLIP. Gomes, que também é natural de Guimarães, lançou em São Luís – e lá na FLIP também – o seu excelente livro Maria Firmina dos Reis e o cotidiano da escravidão no Brasil (São Luís: AML, 2022). Este livro, a partir de 2022, também deve constar nas referências obrigatórias sobre quem estuda tanto Maria Firmina dos Reis quanto quem estuda Nascimento Morais Filho. Durante o painel, Gomes fez referência em alto e bom som ao trabalho e ao nome de Nascimento Morais Filho, afirmando que para estarmos todos ali reverenciando Firmina, alguém teve que “abrir uma picada na frente primeiro.”

Oresultado do meutrabalho deformiguinhana 20aFLIP serviuparaangariarouvintes quedepois setornaram falantesmultiplicadores. PorqueMariaFirminaédopovo,édetodosnós,conformequeriaNascimentoMorais Filho. Mas o primeiro pesquisador de nossa ilustre e ousada escritora tem nome, sobrenome e luta, por isso esse nome tem que ser verbalizado e referenciado onde quer que Maria Firmina vá.

É justo e correto dizer que sem Nascimento Morais Filho, dificilmente uma voz feminina e negra do nosso passado histórico escravista teria alcançado tanto reconhecimento e tantas homenagens nos dias de hoje, ainda mais sendo nordestina e laborando como professora de primeiras letras na litorânea e inspiradora vila de Guimarães. O século XXI não aceita mais silêncios, omissões e principalmente, invisibilidades.

* Natércia Moraes Garrido é Doutoranda em Literatura e Crítica Literária (PUC-SP), professora, escritora e pesquisadora em literatura maranhense.

Dilercy, Paulo, e Osmar com a Comenda de Simão Estácio da Silveira outorgada, pela câmara, para Firmina.

O Tribunal de Justiça do Maranhão decidiu homenagear Maria Firmina com uma pintura na escadaria do Fórum de São Luís por onde transitam 5 mil pessoas diariamente. A arte é do pintor Gil Leros. A inauguração da pintura da escadaria contou com a presença do presidente e do Corregedir Geral da Justiça, do Comitê de Diversidade do TJ, do artista, magistrados, servidores e um coral de crianças de uma escola pública.

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E CULTURA RECEBE A COMENDA MARIA FIRMINA DOS REIS

APró-ReitoradeExtensãoeCulturadaUniversidadeFederaldoMaranhão,professoraZefinhaBentivi,foi umadasagraciadascomaComendaMariaFirminadosReis,entregueapersonalidadesquecontribuem comaliteraturaeaculturamaranhense.AhomenagemfoipromovidapeloInstitutoInternacionalCultura emMovimento(IICEM),aEditoraMundoCulturalWorld(MCW)eaAcademiaMaranhensedeCiências, LetraseArtesMilitares(AMCLAM).Asolenidadeocorreunodia21dedezembro,noauditóriodaLivraria AMEI,noSãoLuísShopping.

AentregadacomendaintegraacomemoraçãodobicentenáriodamaranhenseMariaFirminadosReis, primeiraromancistanegrabrasileiraeautoradoprimeiroromanceabolicionistadopaís:Úrsula.

SegundoZefinhaBentivi,seumamulherhojeconsegue,aindaquecomlimitações,terumlugarsocial,ter representatividade,deve-seaMariaFirminadosReis."Sou,aliás,somosherdeirasdeMariaFirminados Reis.OprotagonismodessamulherdoMaranhão,doBrasiledomundonosinspiraenosajudaaseguir lutandopordireitoseporrepresentatividade.Sinto-meprofundamentehonradaporterrecebidoessa comenda.

SaibamaisemnossaBio.

CONTRIBUIÇÕES PARA A ALL EM REVISTA MEMBROS EFETIVOS

CADEIRA 01 –

PATRONO: CLAUDE D’ABBVEVILLE

FUNDSDOR: ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA

CADEIRA 02

PATRONO - ANTONIO VIEIRA FUNDADOR: JOÃO BATISTA ERICEIRA - (Fundador)

NOTADEPESARPELOFALECIMENTODOPROF.JOÃOBATISTAERICEIRA

Amigos e familiares, É com imenso pesar que informamos o falecimento do meu querido pai, esposo amado e filho exemplar, Dr. João batista Ericeira. A partir das 8h, estaremos realizando o velório no Salvatore Jardim da Paz, na AV. Avicenia, Calhau, e o sepultamento às 16h no Cemitério do Gavião.

Desde já, a família agradece todas as mensagens de apoio, atenção e carinho nestes últimos dias de partida do João Batista Ericeira, crendo que o Senhor Deus tem nos consolado.

João Batista Ericeira Filho falecido, na madrugada desta segunda-feira (10/10), em consequência da ELA ou Esclerose Lateral Amiotrófica, doença que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva.

Natural de Arari, na região Mearim, o Professor João Batista Ericeira estava com 75 anos e residia em São Luís. Além de advogado, Ericeira era professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas e cronista de vários órgãos de imprensa.

Pela Ordem dos Advogados do Brasil, o professor Ericeira foi Diretor da Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Maranhão por três mandatos, onde atuou sempre como um

ferrenho defensor do ensino jurídico sempre declarando que “o advogado é um eterno estudante”. Homem de notável saber jurídico, Professor Ericeira quando esteve à frente da Escola Superior da Advocacia, trabalhou incansavelmente na promoção do ensino jurídico no Maranhão. Ele foi também Conselheiro Federal da OAB Nacional e vice-presidente da Comissão Nacional de Educação onde promoveu o projeto seminário “Diálogos Pelo Direito à Educação” que tinha por objetivo mobilizar os atores do processo educacional do Maranhão para enfrentar os problemas e desafios das políticas deste setor nos municípios maranhenses.

Professor João Batista Ericeira era Doutor Honoris Causa em Ciências Jurídicas pela Universidade NorteAmericana Emil Brunner e Mestre em Direito e Estado pela Universidade de Brasília, profissional nacionalmente respeitado e cultivador de notáveis conhecimentos. Foi professor da UFMA, articulista no jornal O Imparcial, foi Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, Vice-Diretor-Geral da Escola de Formação de Governantes do Maranhão, Vice-Diretor da Associação Brasileira de Advogados Eleitorais (ABRAE), Presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA/Seccional Maranhão), Presidente da Associação Maranhense de Advogados – AMAd. Era Sócio majoritário do escritório “João Batista Ericeira Advogados Associados”, bem como membro do Instituto dos Advogados do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Entre outras grandes atuações na área jurídica ao longo de décadas dedicado à advocacia.

O velório está acontecendo no Salvatore Jardim da Paz, unidade Calhau, e às 16h o sepultamento no Cemitério do Gavião, em São Luís”.

São Luís(MA), 10 de outubro de 2022.

CADEIRA 03

PATRONBO: MANOEL ODORICO MENDES

FUNDADOR: SANATIEL DE JESUS

CADEIRA 04

PATRONO: FRANCISCO SOTERO DOS REIS

FUNDADOR: ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – HONORÁRIO

1º OCUPANTE: ALEXENDRE MAIA LAGO

CADEIRA 05

PATRONO: JOÃO FRANCISCO LISBOA

FUNDADOR: RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

CADEIRA 06

PATRONO - CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA FUNDADOR: ROQUE PIRES MACATRÃO

CADEIRA 07

PATRONO: ANTÔNIO GONÇALVES DIAS

FUNDADOR: WILSONPIRESFERRO(FALECIDO)

1ºOCUPANTE:CLEONES CARVALHO CUNHA

CADEIRA 08

PATRONO - MARIA FIRMINA DOS REIS

FUNDADOR: DILERCY ARAGÃO ADLER

IISemináriodoGrupodePesquisasStudiaBrasiliensia(quepossui,entreseuspesquisadores, professoresdoCursodeFilosofiadoIESMA)temcomotema“Brasileiras:Mulheresdetodosostempos eespaços”eaconteceráentreosdias6e8deoutubrode2022,virtualmente.

MARIA FIRMINA DOS REIS ENTRE AS ROSAS-DE-JERICÓ E OS PÁSSAROS SANKOFAS

Neste texto objetivo homenagear Maria Firmina dos Reis neste seu Bicentenário de nascimento e a Nascimento Morais Filho, neste seu Centenário de nascimento, recorrendo a alegorias no sentido de: utilizar um tema artístico ou figura literária que permite representar uma ideia abstrata por meio de outras formas, podendo estas ser humanas, animais ou objetos

Assim, inicio esta minha sucinta narrativa servindo-me de uma lenda com ilustrações de amor, renascimento e esperança, então: Contam as “Lendas do Céu e da Terra:”

A Rosa-de-Jericó, também denominada flor-da-ressurreição, por apresentar a propriedade singular de murcharpara, depois, tornara florescer, tem sua origem na história do Cristianismo por uma interessante lenda citada por vários autores: Ao fugir de Belém com o Menino Jesus, a fim de livrá-lo da hedionda matança ordenada pelo rei Herodes, a Sagrada Família atravessou as planícies de Jericó. Quando a Virgem desceu descuidada do burrinho que montava, surgiu, a seus pés, uma florzinhamimosaedelicada

Mariasorriu para a pequenina flor, pois compreendeu que ela brotava, radiante, do seio da terra para saudaroMeninoJesus

Durante a permanência de Cristo na terra, as Rosa-de-Jericó continuaram a florir e a embelezar os campos, mas quando o Salvador foi supliciado e morto, -o termo mais adequado é assassinado na cruz-, todas elas secaram e morreram.

Três dias depois, reza a mesma lenda, quandoCristoressuscitou, as Rosas-de-Jericó voltaram a florescer e a irradiar suave perfume.

Também é contado que havia, nos antigos desertos de Alexandria no Egito e nos afluentes do Mar Vermelho, uma planta muito curiosa e que também é chamada “rosa”: é a Rosa-de-Jericó.

Totalmente diferenciada da rosa que conhecemos, essa planta tem uma propriedade muito curiosa. Durante longos períodos de tempo, essa planta, que vive em regiões desertas, cresce e se reproduz até o ambiente ficar desfavorável a ela. Então, as flores e folhas secas caem, as raízes se soltam e os galhos secos se encolhem, formando uma “bola” e permitindo que o vento a leve para onde quiser.

As Rosas-de-Jericó podem ser transportadas quilômetros e quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem uma única gota de água, durante muito tempo, até encontrarem um lugar úmido. Achando umidade, elas fincam as raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar!

A Rosa-de-Jericó é encontrada no Oriente Médio e na América Central. É possível comprar uma “bola seca” e depois, ajeitando-a num recipiente com um pouco de água, vê-la florescer na sua casa.(https://pt.aleteia.org/2016/02/17/cultura-crista-voceconhece-a-exotica-rosa-de-jerico-e-sua-lenda/).

Essa é a primeira analogia que constitui esta minha fala. No livro “Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor” (ADLER, 1917, pp. 65-66), registro:

DILERCY ADLER

O ano de 1975, foi o ano de verdejar para Maria Firmina, o marco que eu gostaria de intitular de “o seu ano Rosa de Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-daressurreição por sua impressionante capacidade de “voltar à vida.” As Rosas-de-Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo, e ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar!

Vejo muita semelhança entre Maria Firmina e a Rosa de Jericó, senão vejamos: a Rosa de Jericó, tem aparência frágil, mas, concomitantemente demonstra consistente defesa diante da situação adversa, neste caso, ausência total de chuvas. Nesse período as suas folhas caem e seus ramos se contraem, e se curvam para o centro, adquirindo uma forma esférica, capaz de abrigar as sementes e protegê-las da aridez dos desertos. Mesmo frágil e ressequida, ela continua como “peregrina”, devido à quase inexistência das suas raízes, o que facilita o seu deslocamento e como “viajante incansável”, deixa-se levar pelo vento do deserto, que tem a força de arrancá-la do solo e arrastá-la por áreas distantes. Nesse período ela permanece seca e fechada, aparentando estar totalmente sem vida por alguns meses. No entanto, basta algum contato com a umidade para a Rosa de Jericó estender suas folhas, espalhar suas sementes e retornar à vida, mostrando sua beleza

No tocante ao retorno de Maria Firmina ao cenário literário mostrando a sua beleza, a escritora personaliza a própria Rosa-de-Jericó.

No entanto, esse desvelamento não aconteceu de forma tão serena no meio literário, a exemplo do que cita Arlete Nogueira da Cruz, no seu livro Sal e Sol (2006, p. 265) fundamentando-se no trabalho intelectual de JaniltoAndrade, “ANação das Dobras da Ficção”, explicita:

[...] Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete.

No limbo Sob o tapete... Expressões que retratam não apenas rejeição, mas depreciação, o que não deixa de denotar alienação e falta de cortesia no trato com as pessoas e suas obras por parte de alguns outros intelectuais. (ADLER 2014, p.6).

Mas, antagonisticamente, outros maranhenses, a exemplo de Josué Montello, reconheceram a importância de Maria Firmina e a descoberta de Nascimento Morais Filho como registra em um artigo intitulado “A primeira Romancista Brasileira” e o publicou no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1975, e na Revista de Cultura Brasileña. Madrid, Embajada de Brasil, 1976, junho. Nesse texto se refere a outro maranhense,Antônio de Oliveira, e enfatiza o trabalho de Nascimento Morais Filho:

[...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento nas árvores da praça.

Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação em favor de Maria Firmina dos Reis.

Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às voltas com originais da escritora.Andava a recompor-lhe o destino recatado, revolvendo manuscritos, consultando jornais

antigos, esmiuçando almanaques e catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota de sangue.

E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido pioneira. (MONTELLO apud ADLER 2017, p. 68).

Isso posto, me refiro a Nascimento de Morais Filho: como um Sankofa, pássaro africano, principalmenteporter-se dedicadoincansavelmente,paradarnovosignificadoàMariaFirminadosReiscomo mulher, professora e como escritora, dando a ela o lugar que lhe era e é devido na literatura maranhense e brasileira.

Sankofa é um dos ideogramas utilizados pelo sistema de escritaAdinkra, que compunha as várias formas de expressão escrita existentes na antiga África. Adinkra é o nome de um conjunto de símbolos ideográficos dos povos Akan ou Acã, grupo linguístico da África Ocidental, que povoa a região que hoje abrange parte de Gana e da Costa do Marfim. Sankofa, um adinkra dentre os mais conhecidos, significa a sabedoria de aprender com o passado para construir o presente e o futuro.

O conceito de Sankofa (Sanko = voltar; fa = buscar, trazer) origina-se de um provérbio tradicional entre os povos de línguaAkan ouAcã da África Ocidental, em Gana, Togo e Costa do Marfim. Ele representa os conceitos de autoidentidade e redefinição.

Como um símboloAdinkra, Sankofa pode ser representado como um pássaro mítico que voa para frente, tendo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo, o futuro.Também se apresenta como um desenho similar ao coração ocidental.

Assim, Nascimento de Morais Filho é um Sankofa, um Sankofa maranhense, quando retornou ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro sobre o real significado de Maria Firmina dos Reis como mulher, como professora e como escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira, como já referido.

Estas analogias trazem à baila ocorrências arbitrárias de cancelamento, mas, antagonistamente, a possibilidade de validação ou (re)validação, conforme o caso, tanto na história, de um modo geral, como na historiografia literária maranhense e brasileira.

Apesar do silenciamento da expressão, principalmente o da fala feminina, muitas mulheres conseguiram burlar essa tentativa de invisibilidade, e, mesmo tendo sido excluídas do cânone literário, deixaram marcas inapagáveis que nas últimas décadas, como já referido, progressivamente, vêm sendo recuperadas.

Desse modo, torna-se premente a existência de muitos pássaros sankofas para que mais Rosas-deJericó possam verdejar, a exemplo de Nascimento Morais Filho (pássaro Sankofa) e Firmina (A Rosa-deJericó).

Éinegável quedesdeas últimas décadas do séculopassado,quantitativo razoável depesquisadores agregou-se à missão de consolidar a ressignificação de Maria Firmina na historiografia maranhense e brasileira, levada a termo por Nascimento Morais Filho, o Pássaro Sankofa Maranhense.

Faz-se ainda pertinente trazer a esta apresentação um pouco da biografia de Firmina. Esta ilustre maranhense é a primeira romancista brasileira e nasceu em São Luís do Maranhão/Brasil, no dia 11 de março de 1822, no Bairro de São Pantaleão (nas imediações da Igreja de São Pantaleão).

Filha de Leonor Felippa, mulata forra que foi escrava do Comendador Caetano José Teixeira. Foram Padrinhos o Tenente de Milícias João Nogueira de Souza e Nossa Senhora dos Remédios e João Pedro Esteves muito pouco é dito sobre ele.

Embora tenha nascido em São Luís, viveu grande parte da sua vida em Guimarães, onde produziu também a maioria das suas obras.

Maria Firmina, ao publicar o romance Úrsula, materializou um ato extremo de coragem e ousadia por efetivá-lo vinte e nove (29) anos antes da libertação dos escravos (1859 - 1888), ou seja, a Lei Áurea,

oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, foi sancionada em 13 de maio de 1888, e se firma como o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil.

Maria Firmina viveu 95 pródigos anos, vindo a falecer em 11 de novembro de 1917, na cidade de Guimarães no Maranhão e desses anos que viveu neste plano físico, conviveu 66 anos com a escravidão.

O conjunto da sua obra é de notável reconhecimento e bastante significativa, tanto em quantidade quanto em variedade de gêneros literários e vertentes das artes: romances, crônicas, contos, poesias, composições (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores entre outras.

Desde 2013, ano da fundação da Academia Ludovicense de Letras-ALL, em São Luís do Maranhão, e igualmente do Instituto Geográfico de Guimarães, em Guimarães/Maranhão, ambos Casa de Maria Firmina dos Reis, essa missão tem sido incorporada às finalidades das Casas.

A ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua.

Para finalizar esta minha homenagem à Maria Firmina dos Reis e a Nascimento Morais Filho um pouco da minha poesia:

CANTOSÀBEIRA-MAR

À Maria Firmina dos Reis DilercyAdler

Teus Cantos à beira-mar afogam com veemência as dores os dissabores que maculam toda a existência daqueles que apenas sonham com a igualdade e coerência em um mundo de fato melhor!...

ah! os teus Cantos à beira-mar levam todo e qualquer anseio que a brisa vinda do mar litoraneamente embala e acalenta em seu seio...

e os teus poemas me dizem: cuida!

entoa hinos em banzeiros que a vida lenta a passar se apressa como um agouro bem-vindo de augúrio sem par que existe quando se pensa que nada mais vale a pena... a pena de festejar!...

resiste!...

afoga as tuas mágoas nas crivas e cavas mais altas das longínquas vagas do mar!... e se ainda puderes sonha poemas e louva comigo mistérios e amores contidos

e canta-os todos à beira-mar!…

SANKOFA

ANascimento Morais Filho

DilercyAdler

Ó pássaro bendito! nos ensina a enxergar além do visível que aparece ensina ainda à nossa alma pecadora curvar o corpo e postar as mãos em prece!

é preciso ver o passado com os teus olhos sem o espelho que inverte a imagem só o exato do real que se esconde por trás do espelho com suas nobres vestes -nobres vestes que serão despidasnos vários tons que nelas se entrecruzam ver por fim a inteira tradução do mundo em verdades nuas! em verdades cruas!...

com alma aberta e olhos pro passado será possível o enxergar inteiro sem o escuso escudo - então despido!poder por fim ressignificá-lo!...

com um presente com perspectivas de futuro que diga a palavra sem sentença equivocada que puna o erro e eleve a verdade além de interesses e mediocridades por fim assim prevaleça o bendito o verdadeiro fato a veracidade nesta nossa frágil e gloriosa humanidade!!

ó pássaro africano venha a nós!...

REFERÊNCIAS

ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: Ontem, uma maranhense: hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014.

ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017.

CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIAFIRMINAFRAGMENTOS DE UMAVIDA. São Luiz: COCSN, 1975.

https://pt.aleteia.org/2016/02/17/cultura-crista-voce-conhece-a-exotica-rosa-de-jerico-e-sua-lenda/> Acessado em:24 de setembro de 2021.

"O PRAZER POÉTICO DE DILERCY ADLER"

ConvidadaespecialAcademiaPoéticaBrasileira. JOIZACOSTA

Dilercy&Joiza

Adentrar o universo poético de Dilercy Adler, é fazer uma verdadeira viagem por paisagens líricas intensas que nos aguçam o olhar e a sensibilidade.

Ela poetiza como quem conversa e traz no bojo de seus poemas profundidade de sentimentos, pensamentos que se alongam para além do simples ato de ler porque ela provoca o sentir. E nessa atmosfera de intensidade debulhada em poemas, Dilercy ganha o leitor de uma forma muito especial, ela faz com que ele mergulhe nas emoções ditadas pelo poema, e este acaba sendo uma extensão do sentir para quem os lê. É uma verdadeira comunhão entre escritor e leitor que em determinado momento se juntam e aí reside o ápice do fazer escrito quando escritor e leitor tornam-se um só, comungados pelas ideias, emoções e reflexões.

O sol invade janela adentro o meu quarto mas não aquece a minha alma e nem expulsa a minha solidão [...] Dilercy Adeler

meu trem partiu hoje cedo sem rumo sem direção cheios de intenções de ocupar espaços vazios não importa a estação [. . . ]

Poetizar é mais que fazer arranjos bonitos e melódicos, na verdade percebo a poesia como uma cachoeira de possibilidades que o poeta faz jorrar de sua fonte e Dilercy Adler é uma nascente e ao mesmo tempo fonte de saberes poéticos que se condensam num formato despojado que provoca emoções e pensamentos profundos naquele que a lê.

Ela traz a realidade de forma harmoniosa conduzida por um lirismo pertinente as suas composições, embalando o apreciador num misto de suavidade poética e força de expressão pensada, sentida, escrita. É uma escrita envolvente cheia de detalhes que povoam o pensamento, a fantasia, se estendendo para a realidade, tornando a leitura um verdadeiro ato de prazer de deleite mergulhado nas palavras versadas.

A beleza é fundamental nos olhos negros - qual pantera –nos castanhos azuis e verdes de tantos olhos amarelos de coloridas mulheres Pela aquarela do amor [...]

Dilercy Adler

É sobre esse fazer poético apurado profundo cuidadosamente escrito que falo. Uma escrita que transborda as linhas do papel ornada por uma beleza única e chega até o leitor cheia de possibilidades de mexer com as emoções, com a imaginação, com a reflexão de uma forma muito harmoniosa do jeito que a poesia merece.

ÚLTIMOADEUS DilercyAdler

Umcorpojaznasepultura...

-tristecena!

assimterminaacurtavida...

- amorteacenaumdolorosoritual -quedesventura!sonhoecarnesobaterrafriaedura!

Mesmoquealutasejahercúleaeárdua mesmoqueoamorestejaquasesempreemfalta aprimaverachegaeseimpõeirrefutavelmente aflorirabençoandotodaagente!

sei...

souumaerrantenainfinitaterra tambémamantedobomedoamor amoatudoquemeécaroemealenta eperdooquemnavidanuncaamou...

saberamareperdoaréimpositivo nãoétãofácilviversemoperdão... oamorcoloreavida-éaditivodandootomqueseprecisanelaentão! oarrependimentoetédioseanulam pranãodesceràterrafriasemilusão etersomentecomocompanhia apereneemerencóriasolidão!

SãoLuís,04deoutubrode2022

Entrega da obra de conservação da Pedra da Memória, na Av. Beira Mar. Monumento de grande importânciaparanossahistória,construídoentreosanos1841e1844emhomenagemàmaioridade deDomPedroIIesuacoroaçãocomoimperadordoBrasil.

CONCURSO INTERNACIONAL DE LITERATURA UBE RJ 2022

CATEGORIA ROMANCE: PRÊMIO JÚLIA LOPES DE ALMEIDA

Menção honrosa:.Retalhos - Wanda Cristina da Cunha e Silva –São Luís – Maranhão –

CONCURSO INTERNACIONAL DE LITERATURA UBE RJ 2022 CATEGORIA CONTO: PRÊMIO RUBEM FONSECA

2º Lugar: Rosas de Ferro - Wanda Cristina da Cunha e Silva –São Luís – Maranhão

CATEGORIA POESIA: PRÊMIO MARCUS VINÍCIUS QUIROGA

Menção Especial:

Plantação de Horizontes - Maria Luiza Cantanhêde Gomes -Mocambinho- Teresina – Piauí.

CATEGORIA TROVA: PRÊMIO LUIZ OTÁVIO

3º lugar – Meu primeiro livro de Trovas - Dilercy Aragão Adler - São Luís – Maranhão.

CATEGORIA INFANTIL: PRÊMIO STELLA LEONARDOS

Menção Honrosa:

As letrinhas birrentas - Wanda Cristina da Cunha e Silva – São Luís – Maranhão

Agora, pela manhã (08/12), na inauguração do Centro Cultural Cultive do povoado "Bom Lugar" de João Lisboa.

Abertura do III Encontro III Literario da APA 02 a 03 de dezembro Duque Bacelar.

Convite para falar de Maria Firmina, que para mim é uma "Missão de Amor",

EmVargemGranderecebendotítulodeMembroCorrespondentedaAcademiaVargem-grandense deLetraseArtes

MARIA FIRMINA DOS REIS E NÉLIDA PIÑON: DOIS ÍCONES

DA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA FEMININA NO BRASILBREVE ENSAIO

Dilercy Adler

1INTRODUÇÃO

Primeiramente me proponho elucidar os termos que definem o formato do subtítulo do trabalho: historiografia e ícone. O primeiro diz respeito ao registro escrito da História, ou ainda como sendo a arte de escrever e registrar os eventos do passado. O termo historiografia também é utilizado para definir os estudos críticos feitos sobre aquilo que foi escrito sobre a História.

Ícone, no sentido figurado, consiste em algo ou alguém que se distingue ou simboliza determinada época, cultura, área do conhecimento. No contexto popular, um ícone também pode ser uma pessoa muito importante e reconhecida na sua área de trabalho. Por exemplo, um ícone do mundo damúsica ou do esporte é uma pessoa cujo bom desempenho nessa área é reconhecido amplamente.

No tocante ao título, registro o nome de duas encantadoras mulheres. Encantadoras no sentido mesmo de cativante,que encanta,seduz,atrai, configurando um ato mágico; beirando o significadodefeitiço,a exemplo, de encantadores de cavalos, de serpentes. Foi assim que me senti ao entrar em contato com essas duas grandes escritoras.

Convém localizar de onde sai esta breve, mas, pertinente homenagem à mulher, na figura desses dois ícones do espaço feminino no mundo das artes. Assim, esclareço que é das […] Ladeiras, Escadarias, Mirantes, Telhados, Platibandas, Pedras de Cantaria onde se enroscam serpentes, Manguda, Palácio das Lágrimas, nascentes de água encantada a se derramar copiosamente por toda a Praia Grande, Rua Grande, Madre de Deus, e desembocam em praias de firmes areias e lençóis de águas cinza-claras e mornas que adornam e aquecem toda a ilha. Assim é São Luís! Sempre fazendo ecoar, ininterruptamente, pelos repiques dos seus tambores e vários sotaques que soam e saem vorazes por todos os cantos da ilha numa espetacular manifestação de amor e louvor à poética arte latina com suas raízes indígenas, africanas, europeias e orientais, transformadas em genuína raça miscigenadamente pura de humanidade ímpar! (ADLER, 2000, p. 3).

Se, por um lado, o ponto de partida é a terra de Maria Firmina, a afrodisíaca Ilha do Amor, São Luís do Maranhão, de outro, fica evidenciada na assertiva anterior a miscigenada pureza da humanidade ímpar da raça humana. De fato, todo o Brasil se apresenta e se construiu a partir de vários povos e nações com histórias de inserção distintas em seu território, a partir das nações indígenas, as primeiras a habitarem estas terras. Maria Firmina e Nélida Piñon têm ascendências distintas: a primeira tem as suas raízes na Mãe África e a segunda, na Galícia, concelho de Cotobade, na Espanha.

Algumassimilitudes eespecificidades dessasduas ilustres intelectuais, decaminhos construídosdistintamente convergiram para que eu as elegesse como dois ícones da Historiografia Literária Feminina no Brasil, neste breve ensaio.

2.SOBREMARIAFIRMINADOSREIS

Falar sobre Maria Firmina não é uma tarefa fácil, considerando as condições objetivas da época em que ela viveu. Tempo pródigo em escassez de fontes de registros.

No entanto, um dado incontestável é que Maria Firmina dos Reis nasceu no bairro de São Pantaleão, em São Luís do Maranhão/Brasil, e viveu a maior parte da sua vida em Guimarães/Maranhão.

O mesmo não acontece com a sua data de nascimento e com a origem étnica da sua mãe, as quais, nos meus primeiros trabalhos, com base nas fontes disponíveis à época, eu registrava a data de 11 de outubro de 1825, como a do seu nascimento e que a sua mãe, Leonor Fellipa dos Reis, era branca, de origem portuguesa. Mas, pesquisas recentes (ADLER, 2017) comprovam, com base em documentos da Câmara Eclesiástica/Episcopal, encontrados e disponíveis no Arquivo Público do Estado do Maranhão-APEM, que Maria Firmina dos Reis nasceu em 11 de março de 1822, foi batizada no dia 21 de dezembro de 1825, e a sua mãe era mulata forra, tendo sido escrava do Comendador Caetano José Teixeira. Quanto ao seu pai, em todos as fontes pesquisadas consta apenas o seu nome, João Pedro Esteves.

A imagem de Maria Firmina é outra fonte de querela, tendo reproduções das mais variadas formas, com adereços da época atual e que não condizem muito com os traços, que eu acredito sejam da sua personalidade. Ao lado disso, a preocupação maior é com a imagem da escritora Maria Benedita Câmara Bormann (Délia), cronista, romancista, contista e jornalista gaúcha, atribuída a Maria Firmina. Porém, no atual momento, esse equívoco vem sendo desfeito.

O Maranhão da época de Maria Firmina dos Reis apresentava peculiaridades, pois, como província, teve surgimento glorioso no cenário econômico da Colônia no século XVII, em plena vigência do Mercantilismo e encontrava-se inserido no mercado internacional, desde a expulsão dos franceses, em 1615 e em 1895, tendo chegado a ocupar o segundo lugar entre os estados industriais à frente da Capital Federal, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo. Por outro lado, cabe ressaltar que, segundo Charles Martin (1988), o primeiro romance brasileiro, Úrsula, de autoria de Maria Firmina dos Reis, teve pouca influência sobre outras obras e escritores, por ter sido publicado no Maranhão, longe dos centros culturais brasileiros mais importantes, dentre os quais, a Corte do Rio de Janeiro.

No caso de Maria Firmina, […] as barreiras a serem transpostas eram recrudescidas, pois, enquanto os homens brancos e ricos iam para a Europa estudar nas melhores faculdades, até meados do século XIX, poucas eram as mulheres educadas formalmente. A educação para mulheres, ainda de forma precária, foi iniciada no período imperial, com a chegada da família real ao Brasil (ADLER 2014, p. 9).

Maria Firmina, nunca saiu do Maranhão. Lobo, (2007, p. 363), na sua Conclusão do Autorretrato de uma pioneira abolicionista, expressa:

Como Sousândrade, Maria Firmina dos Reis viveu deslocada do eixo de poder da Corte. Contudo, ela difere radicalmente daquele que foi viajante dos grandes centros e do exterior, como Paris, Londres, Nova York e Rio de Janeiro, África e Américas. Ela não herdou terras, fazendas nem escravos. Passou a vida em Guimarães, com poucas travessias pela baía de São Marcos até São Luís. É um notável exemplo de abnegação e força de vontade de quem, vivendo numa pequena vila no interior maranhense, se dedicou à criação literária por meio da árdua profissão de professora pública primária.

Apesar do recrudescimento das barreiras a serem transposta, Maria Firmina construiu um legado artísticocultural de inestimável valor, tal como a sua obra mais conhecida e marcante, ÚRSULA (romance, 1859), que a colocou no Brasil, como a primeira romancista brasileira, além dos contos: Gupeva (romance de temática indianista, 1861) e A Escrava (conto antiescravista,1887) e seu livro de poemas, “Cantos à beira-mar" (poesia, 1871), dedicado à memória da sua mãe. Tem participação na Antologia Poética Parnaso Maranhense: coleção depoesias, editadapor Flávio Reimar yAntonio Marques Rodrigues (1861).Publicações em jornais literários, tais como: Federalista; Pacotilha; Diário do Maranhão; A Revista Maranhense; O País; O Domingo; Porto Livre; O Jardim dos Maranhenses; Semanário Maranhense; Eco da Juventude; Almanaque de Lembranças Brasileiras; A Verdadeira Marmota; Publicador Maranhense; e A Imprensa. Dentre as composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa, obra Gonçalves Dias e melodia de Maria Firmina dos Reis (ou como afirmam alguns: letra e melodia de Maria Firmina); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à Liibertação dos Escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor Estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação “à Praia de Cumã (letra e música) e Poemas avulsos: O meu Desejo; Uma tarde

no Cuman; Ah! Não posso; No Álbum de uma Amiga; Ela! Seu nome; Confissão; Donzela, tu suspiras-esse pranto; Meditação; Nas praias do Cuman; Solidão e A uma amiga.

Ainda, segundo Morais Filho (1975) apud Adler (2017, p. 77):

[…] manuscritos, cadernos de romances e poemas, que não se sabe se inéditos foram perdidos […] com base no depoimento de Leude de Guimarães, filho de uma das suas filhas adotivas, que um baú contendo documentos de Maria Firmina foi roubado numa pensão onde vivia em São Luís, mas que salvou uma parte do diário de Maria Firmina.

Vale ressaltar o papel da imprensa como importante veículo de comunicação à época das produções de Maria Firmina, visto que, segundo Morais Filho (1975), a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na Literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. No entanto, Maria Firmina foi vítima, posteriormente, de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas (Morais Filho apud Adler, 2014, p.12).

Apesar desse lamentável episódio da nossa historiografia literária, após longo período de hibernação, Maria Firmina voltou ao cenário das letras, e as suas obras foram reveladas, (re)descobertas, trazidas à luz, pelas abençoadas mãosdeNascimento Morais Filho,maranhense,eHorácio deAlmeida,paraibano(ADLER,2014, p.6).

Nascimento Morais Filho, como um Sankofa, pássaro africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro, que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo significado à Maria Firmina dos Reis como mulher e como escritora e professora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira.

Considero ainda o ano de 1975 ano do verdejar de Maria Firmina, o marco que eu intitulei de o seu “Ano Rosa-de-Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de “voltar à vida”. As Rosas de Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar! (ADLER, 2017, p.65).

Nesse ano, 1975, considerado então o do sesquicentenário do aniversário de nascimento de Maria Firmina, o governador Osvaldo da Costa Nunes Freire inaugurou o busto da escritora na Praça do Partheon, em São Luís; promoveu a publicação da edição fac-similar do romance Úrsula; também foi lançado o livro de Nascimento Morais Filho: Maria Firmina dos Reis, fragmentos de uma vida; foi instituída a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís; foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, com tempo determinado de utilização, destinada a difundir o trabalho de relevantes personalidades e instituições, destacando comumente o motivo, a legenda, a data e o local de sua emissão. Um detalhe digno de realce é que na parte inferior do carimbo consta um grilhão de ferro rompido, como marca significativa da Campanha Abolicionista que Maria Firmina empreendeu por meio da literatura, e eu acrescentaria, e por meio da música (compôs o Hino da Libertação dos Escravos (1988), além da própria postura que retratava a sua orientação político-ideológica.

Outro dado digno de realce é que Maria Firmina viveu num século abundante em mudanças políticas estruturais da sociedade brasileira: nasceu no ano da Proclamação da Independência do Brasil, 7 de setembro de1822; testemunhou a Libertação dos Escravos, por meio da Lei Áurea, oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888 e a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

Além disso, dos 95 anos que Maria Firmina viveu neste plano físico (11 de março de 1822 a 11 novembro de 1917), conviveu 66 anos com a escravidão. Isso torna pertinente brindar o leitor com o Hino, a letra e música, de autoria de Maria Firmina dos Reis, em louvor ao término da escravidão, pelo menos em termos legais:

HINOÀLIBERTAÇÃODOSESCRAVOS

MariaFirminadosReis

Salve Pátria do Progresso!

Salve! Salve Deus a Igualdade! Salve! Salve o Sol que raiou hoje, Difundindo a Liberdade!

Quebrou-se enfim a cadeia Da nefanda Escravidão! Aqueles que antes oprimias, Hoje terás como irmãos! (1888).

Maria Firmina também deixou grandes contribuições à educação. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária, tendo sido a única candidata aprovada nesse Concurso Público. Foi então nomeada professora de primeiras lettras do sexo feminino da Villa de Guimarães e, ao se aposentar, no início da década de 1880, fundou a primeira escola mista gratuita do estado do Maranhão.

O meu contato mais próximo com Maria Firmina deu-se em Guimarães, por ocasião da divulgação do projeto Mil poemas para Gonçalves Dias, na V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, promovida pelo Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção, no período de 26 a 30 de novembro de 2012. Nessa ocasião vi, ouvi e vivi Maria Firmina na voz e interpretação teatral dos alunos da escola e me encantei!!!

Nesse evento, além de Maria Firmina, foram homenageados grandes nomes da Literatura Maranhense, como Gonçalves Dias, Sousândrade, Raimundo Correia, Artur Azevedo, Aluísio de Azevedo, José Loureiro, Ferreira Gular, Maria Firmina dos Reis, Josué Montello, Bandeira Tribuzi além de músicos maranhenses.

Mas foi em Guimarães que nasceu a ideia de trazer Maria Firmina de volta a São Luís, de forma honrosa, para ocupar um nobre lugar na sua cidade natal; um lugar digno da primeira romancista brasileira, qual seja, o de Patrona da Academia de Letras de São Luís. O nome de Maria Firmina foi proposto por mim e por Ana Luiza Almeida Ferro, tendo sido aprovado por unanimidade. Assim é que Maria Firmina dos Reis tornou-se a Patrona da Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis.

3.SOBRENÉLIDAPIÑON

Sou taurina e meu ascendente é sagitário. Conjugação de terra e fogo. Será que me explica? Quantoaossonhos,elessãodiscretos. Talvez quisesse aprender a viver, a morrer. A manter a dignidade, a seguir considerandoacompaixãoea misericórdia sentimentosaltaneiros,indispensáveisparaoexercíciodanossa humanidade Será que falei demais?

Nélida Piñon (entrevista de Wagner Lemos:) (grifos meus),

Nélida Cuinãs Piñon, Nélida Piñon, nasceu, no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro, no dia 03 de maio de 1937. Seu pai, Lino Piñon Muíños, comerciante, e sua mãe, Olívia Carmem Cuíñas Piñon. O nome Nélida é um anagrama do nome do avô Daniel. Nas palavras de Nélida Piñon, em seu Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras: Carrego comigo a sensação de haver, eu mesma, desembarcado na Praça Mauá, no início do século, no lugar dos meus avós, em busca da aventura brasileira, a única saga que ainda hoje estremece meu coração. Eles vieram da Galícia, do concelho de Cotobade, na Espanha.

Desde criança foi estimulada a ler e já escrevia pequenas histórias. Com oito anos, diz Nélida, em entrevista a Wagner Lemos, proclamei-me escritora. Aos 10 anos fez a sua primeira viagem à terra de seus pais. Graduou-se em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1961, aos 24 anos, estreou na literatura com o romance “Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo”. Em 1965, aos 28 anos, viajou para os EstadosUnidos com abolsa“LeaderGrant”, concedidapelo Governonorte-americano. Em 1970,aos 43 anos, inaugurou e foi a primeira professora da cadeira de Criação Literária da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Entre1990e1996,foicatedráticadaUniversidadedeMiami,onde ministroucursos, realizou debates, encontros e conferências. Foi escritora-visitante da Universidade de Harvard, da Columbia, de Georgetown, de Johns Hopkins, entre outras.

Sua obra está traduzida para diversos países, entre eles, Alemanha, Espanha, Itália, Estados Unidos, Cuba, UniãoSoviéticaeNicarágua.Foiagraciadacominúmerosprêmiosliteráriosnacionaiseinternacionais.Dentre os internacionais: Juan Rulfo, do México; Jorge Isaacs, da Colômbia; Rosalia de Castro, da Espanha; Gabriela

Mistral, do Chile; Prêmio Puterbaugh, dos Estados Unidos; o Prêmio Menéndez Pelayo, da Espanha. Em 2005 recebeu o Príncipe de Astúrias, pelo Conjunto da Obra. Também foi contemplada com títulos de Doutora Honoris Causa das universidades: Poitiers, Santiago de Compostela, Florida Atlantic, Montreal, entre outros. Publicou: Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo (1961); Madeira Feita Cruz (1963); Tempos das Frutas: contos (1966); Fundador (1969); A Casa da Paixão (1972); Tebas do Meu Coração (1974); A Força do Destino (1977); O Calor das Coisas (1980); Sala das Armas (1983); A República dos Sonhos (1984); Canção de Caetana (1987); O Pão de Cada Dia (1994); Até Amanhã, Outra Vez (1999) A Roda do Vento (1998); Vozes do Deserto(2004);AprendizdeHomero:ensaio (2008);Coraçãoandarilho: memória(2009);Livrodas Horas: memória (2012); A Camisa do Marido (2014); Filhos da América (2016) e, em 2018, aos 81 anos, Nélida Piñon lançou Uma Furtiva Lágrima, que teve como motivação a experiência de sentir-se próxima da finitude, mas que, segundo ela, terminou fazendo com que se posicionasse diante da vida. Quanta força demonstra nessa etapa difícil da vida.

Foi eleita para a Academia Brasileira de Letras-ABL, em 27 de julho de 1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda, e recebida pelo Acadêmico Lêdo Ivo, em 03 de maio de 1990 (dia do seu aniversário de 53 anos). É a quinta ocupante da Cadeira nº 30, patroneada por João Carlos de Medeiros Pardal Mallet, que teve como Membro fundador Pedro Carlos da Silva Rabelo, sendo antecedida por Heráclito de Alencastro Pereira da Graça, Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima e Aurélio Buarque de Holand

Foi a primeira mulher a se tornar Presidente da Academia Brasileira de Letras, no biênio 1996-1997, e o Primeiro Centenário da ABL foi comemorado durante a sua gestão, em 1997.

Tiveagrandehonradeconhecer NélidaPiñontambémpormeiodaspalavrasdassuaspublicações,deimagens e enredo cinematográfico e, além disso, pessoalmente em Salamanca, em novembro de 2018, por ocasião do I Congresso Internacional de Literatura Brasileira Nélida Piñon en la República de los Sueños, promovido pela Universidade de Salamanca na Espanha, de 12 a 14 de novembro de 2018, e em sua homenagem, conformeficaclaronosubtítulo.Naocasiãoavi participandodas atividades dessememorável evento deforma entusiasmadamente amável. Na clausura do evento testemunhei a figura de uma frágil mulher, que me surpreendeu com o vigor físico e melodiosidade de sua fala, elegantemente de pé, por aproximadamente uma hora. Constatei então uma fragilidade aparente, pois, de fato, no auge dos seus mais de 81 anos, aquela nobre escritora apresentava um viço no semblante e uma veemência delicadamente doce na sua voz.

Convém esclarecer que o meu objetivo maior de participar desse I Congresso Internacional de Literatura Brasileira Nélida Piñon en la República de los Sueños foi exatamente levar Maria Firmina dos Reis nos livros, no coração e na fala para sugerir que ela fosse inserida no rol de estudos do importante Centro de Estudios Brasileños de Salamanca.

E as duas, Maria Firmina e Nélida Pìñon, se encontraram em Salamanca, quando da minha comunicação sobre Maria Firmina dos Reis: seus Cantos à beira-mar e o conto indianista Gupeva, livro peoduzido pela Academia Ludovincse de Letras, em 2017, quando estava como Presidente da ALL Naquela ocasião senti a anuência de Nélida Piñon, no tocante à divulgação do nome e obra de Maria Firmina dos Reis.

No momento desse encontro simbólico de Maria Firmina e Nélida, tive a certeza de que deveria escrever algo sobre as duas, também por ter visto que as semelhanças e as dessemelhanças entre diferentes pessoas resultam em formatos e respostas próximas com finalidades equivalentes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: DAS SEMELHANÇAS E DESSEMELHANÇAS DE MARIA FIRMINAENÉLIDA

Maria Firmina nasceu no século XIX e viveu até o início do século XX. Nélida nasceu na primeira metade do século XX e permanece produtivamente vibrante neste século XXI. Há um século entre as duas, mas, apesar dos valores vigentes de cada época, das condições materiais de existência agudizadamente diferentes, ambas se pronunciaram/pronunciam no mundo de forma harmoniosamente atrelada à existência de um mundo axiologicamente humano. As famílias de ambas atravessaram o Atlântico, mas em condições e objetivos bem distintos:

Maria Firmina relembra a diáspora africana, a vinda e chegada ao Brasil, por meio das memórias da preta Suzana:

Tinha chegado o tempo da colheita e o milho e o inhame e o mendubim eram em abundância em nossas roças. Era um desses dias em que a natureza parece entregar-se toda a brandos folgares, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não sabia a que atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha sorria-se para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim! Deixei - a nos braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah! nunca mais devia eu vê-la...

[…] Ainda não tinha vencido cem braças de caminho, quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo iminente, que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas.Eraumaprisioneira-eraumaescrava!Foiembalde que supliquei em nome da minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-sedasminhas lágrimas,eolhavam-mesemcompaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível... a sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaramdaqueleslugares,ondetudomeficava-pátria,esposo,mãeefilha,eliberdade! meuDeus!oquesepassouno fundodaminhaalmasóvósopudestesavaliar!…

[…] Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receioderevolta,acorrentadoscomoosanimaisferozesdasnossasmatas,queselevampara recreiodospotentadosdaEuropa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados efamintos! (REIS,1988, pp. 82-83) (grifos meus).

Enquanto Nélida, em seu Discurso de Posse na ABL registra a escolha do Brasil e a vinda dos seus avós, dizen A viagem dos seus avós é interpretada não somente como aventura, na busca da estrela, mesmo com a sacola da intranquilidade, mas também como ilusão, que sempre ajuda o ser humano a empreender novas descobertas, novo rumos.

Ambas têm uma vasta obra artístico-literária e trabalharam com pioneirismo na educação. Maria Firmina com a primeira escola mista; Nélida inaugurou e foi a primeira professora da cadeira de Criação Literária da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As condições objetivas de vida das duas são bem distintas: Maria Firmina, no Nordeste, pertencente a um estrato social sem grandes recursos econômicos, longe do circuito da Corte, época em que a educação para mulheres se apresentava de forma precária. No Maranhão, os homens brancos e ricos iam estudar na Europa nas melhores Faculdades. Apesar dessa realidade, Maria Firmina foi capaz de produzir uma vasta obra. Eu a considero autodidata, asuaprodução cultural demonstraerudição.Por outrolado,Nélidaviveu num ambiente rico de estimulações, entre livros, teatros, viagens e boas escolas.

Ambas ousadas e ambivalentemente serenas, contidas em algumas situações. Coincidentemente, ambas falam de seus trabalhos de forma tímida. No Prólogo do romance Úrsula: Maria Firmina o inicia declarando: [...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. ENélidaexpressa, em entrevista aWagnerLemos: A persistência em prosseguir, em jamais desistir de considerar meus textos imperfeitos. Sempre em busca do meu Graal que constiumento de equalização social a exemplo da questão da liberdade relativa à escravidão, da questão indianista e de gênero, dentre outras.Dentro desse contexto, um episódio que demonstra a sensibilidade e consciência política de Maria Firmina dos Reis diz respeito ao dia em que foi receber o título de nomeação para exercer o cargo de professora na Vila de Guimarães: Seus familiares queriam que fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravos) e ela recusou-se irrevogavelmente explicando: Negro não é animal para se andar montado nele. De forma

inteligente e verdadeiramente cristã, afirmava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo.

No tocante a retratar o outro, tenho a clareza de que corro sérios riscos em deixar escapar algum viés imprescindível, assim como ainda o meu olhar traduzir, de modo não tão fiel, aquilo que vê. A própria Nélida confessa, ao falar de si mesma, em entrevista a Wagner Lemos:

As aspirações humanas, afinal, se confundem entre tantos escombros. Sabemos tão pouco dos instantes que foram fazendo o nosso destino, a ponto de traçarmos uma biografia completa, que não colida com o tempo e o espaço interiores.

[...]Não saberia inventariar o meu passado, dar-lhe credibilidade, apontar razões determinantes de um quotidiano ultrapassado e já entregue à minha mitologia pessoal. (http://www.wagnerlemos.com.br/nelidapinon.htm)

Espero não ter me distanciado da fidelidade neste traçado breve do perfil de cada uma dessas importantes musas, que inspiram outras tantas mulheres. Com certeza, existem muitas outras mulheres escritoras, intelectuais e artistas brasileiras que possuem perfis de ícones, mas escolhi Maria Firmina dos Reis e Nélida Piñon por motivos especiais e pessoais, já referidos.

Cada uma dessas mulheres, no seu tempo, no seu espaço físico-geográfico e de forma peculiar, segundo as condições objetivas do seu contexto histórico-cultural (século XIX, século XX), se firmaram como ícones da Historiografia Literária Feminina no Brasil.

REFERÊNCIAS

ADLER, Dilercy Aragão (Org.). II COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO: Latinidade. São Luís:2000.

ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor, São Luís: ALL, 2017.

ADLER, Dilercy Aragão..ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor. São Luís: ALL, 2014.

MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA São Luiz: COCSN, 1975.

REIS, Maria Firmina dos. ÚRSULA. Organização e notas de Lobo; Introdução de Charles Martin. - 3ª ed. -Rio de Janeiro: Presença Edições: Brasília INL, Coleção Resgate/INL, 1988.

LEMOS, Wagner. Nélida Piñon entrevista com Wagner Lemos http://www.wagnerlemos.com.br/nelidapinon.htm

PIÑON, Nélida. Discurso de Posse Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/academicos/nelidapinon/discurso-de-posse

IRANDI MARQUES LEITE - 1º. Ocupante

09 - ANTÔNIO
HENRIQUES LEAL

PATRONO - JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE)

1º. Ocupante: MARIO DA SILVA LUNA DOS SANTOS FILHO

CADEIRA 10

CADEIRA 11

PATRONO - CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES

FUNDADOR: ANDRÉ GONZALEZ CRUZ

CADEIRA 12

PATRONO - JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL

FUNDADOR - MICHEL HERBERT ALVES FLORÊNCIO

CADEIRA 13

PATRONO - ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO

1ª. OCUPANTE - MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES

PATRONO - ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO

FUNDADOR - OSMAR GOMES DOS SANTOS

CADEIRA 14

A QUEM INTERESSA A POBREZA?

*Por Osmar Gomes dos Santos

Cresci como fruto da desigualdade. Desde minha tenra idade eu olhava sem entender bem o motivo de pessoas tão parecidas viverem em condições tão distintas na sociedade. Algumas tinham comida na mesa, outras amargavam com a dor da fome por dias; até que pudessem fazer uma refeição.

Estudar e trabalhar com fome, na vida dura da roça, era uma realidade cotidiana para muitos dos meus conterrâneos. Já adolescente, passei a entender melhor a vida, no entanto, ainda me inquietava o fato de ver tanta diferença de oportunidades em uma sociedade que se dizia do futuro, uma pátria para todos. Mas todos quem?

Quando olhava para minhas condições de “palafitado” e do que precisava fazer para colocar um pão na mesa, via que algo não estava certo no discurso oficial. Enquanto alguns apenas estudavam, eu vendi lanche, vigiei carro, bati massa como ajudante de pedreiro.

Pelas vielas da minha infância e adolescência, busquei sem nunca encontrar a tal da igualdade.

Entre eu e uma vida mais digna, havia um abismo da pobreza que teimava em me arrastar para o fundo.

Recentemente atribui-se a Chico Anysio a indagação: “Se é a pobreza que vota na esquerda, qual o interesse que a esquerda tem em acabar com a pobreza? Notadamente não há confirmação de que ele tenha dito isso, tratando-se, muito provavelmente, de uma informação falsa tal atribuição.

No entanto, isso me chamou atenção para algumas outras afirmações feitas por ele, a exemplo de ter deixado de ser de esquerda e virado um “realista”. Ou mesmo do absurdo em constatar que um país tão rico como o Brasil fosse tão pobre.

Sobre a tal riqueza, cuja possibilidade de gerar oportunidades para todos sempre foi real, não se pode entender o paradoxo de haver ainda quase metade da população em condição de pobreza e alguns outros milhões na deplorável condição de miséria.

Esquerda ou direita, fato é que o Estado brasileiro não conseguiu prover em igualdade de oportunidades os seus cidadãos. Esse problema é antigo e quase se confunde com a própria história da Terra Tupiniquim. Viu fracassar o modelo de capitanias; sucumbir uma monarquia e a negociação de uma independência às avessas. Testemunhou o fim de um regime escravocrata que nunca acabou, a dobradinha do café com leite e o populismo que se seguiu décadas depois.

O milagre econômico que não veio na mesma medida para a população, vindo a declinar na mesma proporção que ascendeu.

A desigualdade perpassou por constituições que prometiam com ela acabar, especialmente aquela dita “cidadã”, de 1988.

A pobreza, no entanto, segue consolidada. Protagonista nos discursos de palanques midiáticos, não passa de coadjuvante quando o assunto é tratar do problema com seriedade.

Mera retórica eleitoreira, dirão alguns. A pobreza é complexa e está relacionada com outros fatores, dirão outros. Fato é que ela está aí a acometer grande parcela da sociedade, e, só há um caminho como solução. Tal como uma doença, que precisa de remédio na dose certa para ser tratada, a pobreza precisa de ações sérias e efetivas para ser debelada. Bom que se diga, o Brasil tem pobreza, entretanto não é pobre e sim desigual.

Mas enquanto nos digladiamos nas redes sociais e nos espaços públicos, ela pede passagem e segue altiva. Ri da mediocridade de uma sociedade que prefere discutir seus políticos de estimação em vez de debater os problemas sérios que precisam ser enfrentados.

O debate precisa de senso crítico, naturalmente. Porém é algo que não falta ao pobre, que acorda cedo, que coloca o pé rachado na terra árida na esperança da chuva. Este sabe o que precisa e como alcançar, faltalhe os meios.

Urge sairmos desse estado de polarização e de entender que política, na melhor acepção aristotélica, era vista como um meio, jamais um fim, para se alcançar uma sociedade justa e fraterna.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense dela Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

BEM -VINDO 5G

*Por Osmar Gomes dos Santos

Nos últimos trinta anos temos assistido a avanços cada vez mais acelerados da tecnologia. Nossa vida é atravessada por aparatos que alteraram comportamentos e conduta, moldando uma nova forma de interagir que condiciona a sociabilidade contemporânea.

Na esteira dessas transformações, está a Tecnologia da Informação e Comunicação - TICs - que conecta pessoas e operações mundo afora. Dentro desse espectro, destaco a internet, bem como a possibilidade de transmissão de dados por inúmeras maneiras, para as mais diversas finalidades. Aqui, cabem os termos politicamente correto e politicamente incorreto; se bem utilizada, contribui com efeitos práticos e positivos nas mais discrepantes áreas sociais. Porém se mal utilizada, traz consequências danosas a toda sociedade. Fiquemos, portanto, com o lado bom advindo das TICs, notadamente o do mundo da internet.

Recentemente o Brasil adotou a tecnologia de internet 5G, que chegou em Brasília no mês de julho de 2022 e já se espalhou por dezenas de cidades. Trata-se da “última palavra” em transmissão de dados.

Não apenas a velocidade dos aparelhos de mão, nossos smartphones, o 5G vai permitir avanços significativos em áreas diversas de nossas vidas. Robótica, agricultura, medicina, indústria, serviços, educação, entretenimento, segurança e tantas outras.

Na agricultura será necessário aprimorar o sistema de mecanização, monitoramento das lavouras e melhor comunicação entre campo e cidade. A medicina deve avançar, especialmente no tocante a realização de procedimentos à distância, com mais e maior precisão.

Novos serviços surgirão no setor bancário, assim como no entretenimento, com atrações e jogos rodando em alta velocidade. O mundo corporativo vai ganhar em eficiência e eficácia com reuniões, processos mais dinâmicos, em tempo real.

Assim será a área da educação, que também ganhará novos formatos, plataformas mais robustas, funcionalidades bem mais atrativas e interacionais.

No entanto, ao passo que damos boas-vindas a tudo isso, é necessário reconhecer: há uma longa caminhada a ser percorrida. Como muita coisa que acontece em nosso país; o trem parece ter chegado antes dos trilhos! A título de esclarecimento, esta não é uma tecnologia que vaga no ar, cabendo tão somente ter um aparelho celular de última geração, por exemplo, para captar o sinal. Primeiramente é importante dizer, ele precisa estar disponível. Pois ainda está vigente o 4G, que apesar do tempo em uso, não alcançava todas as regiões do Brasil por igual. Ou seja, há que se correr contra o tempo para garantir a instituição ou adequação de leis no âmbito da municipalidade e a instalação de infraestruturas necessárias para levar o 5G aos quatro cantos do país.

Essa tecnologia necessita da instalação de infraestrutura peculiar, que não foi implementada anteriormente, perecendo em qualidade e escala. Faltam fibras, torres, expansão da malha, etc.

No entanto, há leis para que esses serviços de telecomunicações sejam prestados , e, na seara municipal, as normas ditam regras para instalação dessa logística em conformidade com planos diretores e urbanísticos. Um dos entraves se restringe à modernização da legislação para instalação de antenas, essenciais para instalação dos dispositivos que irão transmitir o sinal da nova “banda”.

Segundo dados do movimento Antene-se, que agrega entidades do setor, apenas 206 municípios brasileiros, cerca de 3% já possui adequação legislativa e podem receber o 5G.

A título de compreensão, nas cidades em que o 5G já chegou a diferença sentida por usuários ainda é pequena, mesmo com o uso de aparelhos mais modernos. Uma analogia rasa, consistiria em dizer que seria como comprar uma ferrari para trafegar em uma estrada de piçarra.

O 5G é bem-vindo, contudo o Brasil urge por avanços, sobretudo e, a priori na preparação do “terreno” que possibilitará usufruir desse universo de oportunidades advindas com a nova tecnologia. Continuemos no desejo de que essa estrutura chegue para nós o quanto antes.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

OSMARGOMESDOSSANTOS

Todo leitor sabe que escritores, especialmente os acadêmicos, volta e meia usam um pouco do lápis e papel que têm em mãos para rascunharem algumas palavras sobre sua terra natal.

Não à toa, dezenas de municípios maranhenses já foram protagonistas de narrativas apaixonadas. E assim, continuam sendo, enquanto houver literatos que guardam o saudosismo de reverenciar seu pedaço de chão. Por isso, algo sempre me remete àquele pequeno torrão da Baixada Maranhense, chamado Cajari. Cercado por lagos, abençoado pelo rio Maracú e cheio de riquezas naturais que proporcionam fartura durante todo o ano.

Para muitos, Cajari é apenas mais um pequeno município situado na região dos grandes lagos maranhenses. Não está na rota daqueles que viajam em deslocamentos entre outras cidades ou estados.

Fica em um “cantinho”, à esquerda de quem segue para Viana, um pouco depois de Vitória do Mearim. Mas acanhada mesmo só a localização, visto que seu povo alegre e caloroso recebe de braços abertos aqueles de fora ou que regressam.

Da mesma forma, como ocorreu com Maria Felix, minha eterna companheira. Uma cidade que a ela abraçou e que reciprocamente foi abraçada por ela.

É a primeira vez que falo de Cajari sem ela ao meu lado. Após 37 anos de convívio, apoio, superação, construção, amor, respeito. Daí porque a emoção ao falar de minha terra natal é dobrada.

Em outras oportunidades, já contei a história de Cajari. Da colonização ao crescente comércio; do valor de seu povo às dificuldades ainda enfrentadas; das minhas travessuras de infância pelas veredas de um horizonte infinito.

Entretanto agora, Cajari aos seus 74 anos que completarás no próximo dia 15, quero falar para ti com o olhar do futuro. Um futuro próspero e feliz, no qual sua gente não precise tomar rumos desconhecidos na esperança de uma vida melhor.

A esperança está em ti. A esperança que recentemente venceu o medo e vive em cada um cajariense, seja pelos laços de nascimento ou aqueles que só se constroem com o coração.

Um povo que recentemente teve provas de que é possível mudar, é possível sonhar, sobretudo é possível realizar. Gente de hábitos simples, mas que carrega a sinceridade e o desejo por uma vida melhor.

A valorização dos servidores públicos, aliada à melhoria da infraestrutura: estradas, ruas, praças, escolas, hospital, postos de saúde, reforça o caminho para a consolidação da tão desejada mudança.

Um certo filósofo grego, de nome Aristóteles, um dia disse que a política tem como fim a felicidade humana. Hoje, ouso dizer que não se trata de uma utopia, bastando a combinação de vontades entre governante e governados, em torno de pautas construídas conjuntamente.

Vejo com esperança que na Cajari de há pouco tempo, essa combinação pareceu ter saído do papel. O que nos faz crer em um município ainda melhor no futuro. Os feitos recém-deixados apontam para o acreditar de um caminho de realizações.

Nesse período, ao revisitar minha terra natal, era possível ver em cada rosto, em cada olhar a certeza de um povo que havia reencontrado seu caminho. Aprendeu a ser bem tratado, descobriu o valor da liberdade, do respeito e que ousa esperançar mais e mais, a cada dia. Desde já, parabéns, minha Cajari.

CAJARI
DO FUTURO

ESQUECIDO DO MUNDO

Se a vida me fez assim

Se um dia nunca fui nada

Se nada serei um dia

Que mal tem isso em mim?

Se não pude ser o que quero

Se sou aquilo que não queria

Por que a vida me fez assim?

Quando um dia se quebrar

O que fazer com a pedra

Que nenhuma culpa tem

A ferir meu pé descalço?

Se ela não é culpada

Por eu andar sem sandália

Nem culpa também ela tem

Por não ter tido o direito

De ser ou ter ou querer

Aquilo que desejava?

Por mais que pudesse ter

No pé descalço que tenho

A sandália não caberia!

O mundo me esqueceu

Não tenho um mundo meu

Queria só ser mais um

A viver com esperança

E um amor a ser

Só meu

Nos moldes para inglês ver, se deu a abertura do mundial de seleções do Catar. Muito brilho, um alto investimento, toda uma “parafernália” de luzes e efeitos. Isso, efeitos visuais, nada mais.

Em um mundo de fantasias, as imagens valem mais que um milhão de palavras, gestos, atitudes. Desde que esteja ali, nas telas, nas tv’s que pactuam com todo o jogo de bastidores, e, sigam um enredo discriminatório. A copa do Catar, me referirei ao evento com “c” minúsculo, pois mais que isso não merece, já dá péssimos exemplos ao mundo. Sob o regime dos petrodólares, os valores humanos são colocados de lado, vale o “money” e uma instituição ajoelhada às cifras.

Além das diversas restrições impostas em princípio, inventaram decisões de última hora, afrontando aquilo já pactuado previamente e gerando prejuízos a patrocinadores. Eu posso, eu mando, obedeça. É o patriarcalismo prevalecendo sobre o patriarcalismo. Do oriente ao ocidente.

Mas o maiorprejuízovisto,sem dúvida,éaqueleàespéciehumana.Énatural quecadapaís tenhasuas crenças, religiões, tradições. Entretanto nada pode se sobrepor aos direitos humanos universais.

O país da copa trata a homossexualidade como crime, pena de 8 anos de prisão, ou pode chegar à pena de morte, conforme as leis islâmicas que regem aquela nação. Também não é permitido defender ou propagar atos relacionados ao movimento LGBTQIA+, sob pena de até 10 anos de cárcere.

Onde está o fair play? Onde a entidade esqueceu que o futebol é linguagem universal que a todos une e que é um instrumento para quebra de barreiras?

Os direitos humanos são universais e indivisíveis, a dignidade cabe a todos e não a alguns, aqui ou no Catar. Jogadores de várias seleções, cientes de seu poder de representação perante o mundo, tentaram se expressar, porém foram duramente reprimidos, inclusive pela própria entidade promotora do espetáculo. Parabéns para a Alemanha que posou para foto com bocas tapadas. Censura!

No país da copa, além de cobrir-se da cabeça aos pés, mulheres precisam de autorização do homem para casar, estudar, trabalhar e viajar. É crime até ser vítima, isso mesmo! Uma mulher que sofre violência sexual pode chegar a pegar 100 chibatadas e até 7 anos de cadeia em razão da violência da qual foi vítima.

Isso mesmo. Exatamente o que ocorreu com Paola Schietekat, mexicana que estava morando em Doha, a serviço do governo na organização da copa de 2022. Ela denunciou ter sido vítima de violência sexual, mas, em vez do apoio, foi acusada de “sexo extraconjugal” e recebeu a pena máxima. Como alternativa ao não cumprimento da pena, foi dada a opção de se casar com o seu algoz. É de se pasmar, não?

Sobre a abertura? Sinceramente não tive “estômago” para assistir até o fim. Pregar a pluralidade, respeito e igualdade, onde? Sugerir que as nações vivem em comunhão? Ah, vai te catar!

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense drela Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

VAI TE CATAR!

ALGUNS CAEM DE PÉ, OUTROS....

*por Osmar Gomes dos Santos

Há uma expressão muito dita em disputas, sejam elas quais forem, que dignifica todo o esforço realizado pelo derrotado.Ela estárelacionadaaperderdecabeça erguidaapós ter envidado todos os esforços, utilizados todas as forças e meios morais possíveis, dentro das regras do jogo.

Como ainda estamos em clima de copa do mundo, não custa estender um pouco mais o assunto para refletir sobre um grande aprendizado que a competição traz, também, para nossas vidas. Sun Tzu já dizia nos ensinamentos milenares, acerca da guerra, que em um campo de batalha há dois requisitos básicos que se resumem na máxima: conhece-te a ti e a teu inimigo.

Longedos campos debatalhas propriamentedito, mastomandodeformafiguradaabatalhaquesetravadentro das quatro linhas, este paralelo cai bem para a análise proposta. A diferença é que do outro lado não há inimigos, mas tão somente adversários.

Sobre este tópico, não tem como não falar em Brasil. As maiores estrelas, jogadores badalados, atletas extremamente valorizados no mercado da bola. A seleção mais cara em valores atuais, mais de R$ 6 bilhões, somados os valores dos jogadores.

Há, inclusive, aqueles que tomavam o Brasil por comparação para dizer que a Amarelinha sozinha valia mais de uma dezena de seleções juntas. Acontece, como diz um ditado no futebol, que dentro do campo de batalha - nas quatro linhas - são onze contra onze.

Não adianta ter estrelas, oferecer tratamento vip, possuir contratos milionários, ser uma marca mundial. Para honrar uma camisa de tanta história é preciso ter comprometimento, dedicação, entrega e, sobretudo, amor à sua nação, algo passou foi longe.

Vimos um futebol apagado, sem emoção, com raros lampejos de técnica, logo associada a uma forma de jogar burocrática, cheia de táticas que amarram o time em um futebol horizontalizado e pouca profundidade. Esse foi o retrato da seleção brasileira, inclusive no segundo tempo daquele jogo contra a Coreia do Sul, que pode ter sido o melhor do nosso plantel.

Por algum motivo, ainda não entendo qual, o Brasil rumou ao país da copa como franco favorito, após uma fase eliminatória em que saiu invicto diante de adversários bem abaixo de sua qualificação técnica. Jogadores contestados, outros que mereciam estar relacionados e sequer marcaram presença em amistosos anteriores ou uma lista prévia de convocados.

Sendo muito sincero e em respeito à minha consciência, tomando pelo ângulo de que torcemos pelo nosso país, esta foi a copa mais sem emoção que já pude acompanhar. A Amarelinha já não parecia a mesma. Jogos sem emoção, sem “agressão”, sem efetividade, sem se impor.

A Amarelinha certamente sente saudades do suor, até a última gota, de jogadores como Ademir da Guia, Leônidas, Didi, Bellini, Nilton Santos, Junior, Gerson, Vavá, Rivelino, Amarildo, Sócrates, Djalma Santos, C. A. Torres, Tostão, Zagalo, Jairzinho, Zico, Garrincha, Bebeto, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Leão, Gilmar, Tafarel... Pelé!

Diferentemente dos temidos esquadrões anteriores, vimos em campo jogadores mais preocupados com o corte moderno, as luzes no cabelo, a unha bem feita, o estilo e grife da roupa. Ao contrário do que fazem nos clubes, muita “mídia” e pouca bola. Mas cabe voltar ao ponto inicial, para falar daquela queda em que se pode aplaudir.

Em uma copa são trinta e duas seleções, apenas uma sai vitoriosa. Cada jogo é uma batalha, que em alguns casos se estende pela prorrogação ou mesmo pênaltis. São disputas intensas, nas quais todos querem, com direito, ganhar. Porém, há derrotas que são dignas; outras, nem tanto.

Entre grandes seleções e aquelas as quais cabem papéis de coadjuvantes, muito futebol foi visto nesta copa. Dentro de seus limites, brilharam Coreia, Senegal, Gana e Japão. Destaque para Croácia, apesar do futebol mais defensivo. Mas o que dizer da excepcional "S"eleção de Marrocos. E que Seleção!

Apesar das baixas no elenco, lutou contra a poderosa França até o último minuto. Atacou, defendeu-se, foi aguerrida e mostrou valor em honrar um país, um continente. Em momento algum se acovardou. Em seu caminho a temida Bélgica, a badalada Espanha e a sempre pesada camisa de Portugal.

Marrocos alegrou o amante do futebol. Sucumbiu sim, mas “caiu de pé”, com graça, com raça, com honra, com glória. A nossa, em contrapartida, jogou um futebol que não mereceu sequer avançar às quartas. Para algumas, aplausos, paraoutras, melhormesmo fazerigual oseu comandante:viraras costase(tentar)esconder a vergonha.

*JuizdeDireito da Comarcada IlhadeSãoLuís.Membrodas Academias Ludovicensede Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

PUNHADOS DE 2022

Osmar Gomes dos Santos

O ano de 2022 está chegando ao fim e com ele acontecimentos que entraram para a história. Colocamos o pé direito no 1º de janeiro ainda desconfiados das reviravoltas que a pandemia ainda poderia dar.

Um misto de "perde e ganha" força, com cada nova variante que surgia. Um cenário de incertezas que aos poucos foi se tornando mais certo, com os efeitos mais leves e a menor letalidade da doença.

Na política, o ano foi de acirramentos globais. Uma polarização jamais vista e que veio para ficar, infelizmente, sob o prisma de que toleramos conviver opinião adversa. Aqui, nem o mais otimista esquerdista imaginava o retorno e a eleição do presidente Lula, após condenações e prisão em decorrência da lava-jato.

Êxito que veio depois de uma eleição marcada pela polarização e baixo nível dos debates. Mais uma vez, ficou de fora o projeto de país. A política ferveu em todo mundo, com eleições inesperadas e renúncias sucessivas, a exemplo do cargo de Primeiro Ministro da Inglaterra. Primeiro Boris Johnson, depois Liz Truss, apenas 44 dias no cargo.

No cotidiano, vimos a vida voltar ao normal. Restaurantes, shoppings, casas de shows, festivais voltaram a respirar gente. O povo voltou a lotar os aeroportos, fazendo aquecer a indústria do turismo em todo o Brasil. Vimos renascer o Carnaval e outras festas religiosas. Podemos reunir familiares no Dia das Mães e Dia dos Pais. Podemos sentir o calor da fogueira a acender os pandeirões da nossa cultura e dos nossos corações. Assistimos atônitos ao início de uma guerra insana (se é que já existiu sensatez em alguma guerra), até hoje com capítulos de atrocidade por um ser insensível. Os impactos foram muitos, inclusive com reflexos na cadeia de suprimentos, decorrentes da afetação das atividades dos países envolvidos no conflito.

Na economia, observamos empresas de tecnologia recuarem a um nível mais abaixo, após a pandemia. Demissões em massa marcaram “startups” de empresas como Meta, Twitter e outras.

O avanço tecnológico foi imenso nos últimos anos e não foi diferente em 2022. Só não conseguiu frear a avalanche de “fake news” gerada nas redes sociais. Acontece no virtual, mas tudo fruto de uma imaginação real, que busca interferir negativamente no equilíbrio da ordem social.

Ações extremistas, como as que vitimaram inocentes mundo afora, nas mãos de franco atiradores. Os Estados Unidos seguem a dianteira desse crime de ódio, mas precisamos abrir os olhos com os prenúncios em nosso solo.

Necessária a busca de solução para que a quantidade de mortos em comunidades pobres e pretas não continuem incrementando uma triste estatística. Mas é preciso atenção com profissionais das forças policiais, que não puxam sozinhos o gatilho e que também são vítimas de uma desastrada política de segurança.

Um ano que levou lideranças mundiais, como a Rainha Elizabeth e o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Inexorável destino que deixou-nos órfãos de figuras como Elza Soares, Gal Costa, Erasmo Carlos. Apenas para citar alguns.

Os desastres naturais marcaram presença no noticiário. Chuva, alagamentos, degelo, tempestades tropicais, terremotos, vulcões, estiagem, seca, calor extremo, queimadas. Vidas que se perderam para a abundância ou a escassez das intempéries climáticas.

Às tentativas de soterrar a democracia, o povo e as instituições responderam prontamente. Alguns diriam, até com certo exagero. Mas só quem viveu sob o regime da pólvora sabe o quão é valioso viver em um Estado democrático de Direito. Aplausos para todo o quadro de competentes profissionais do TSE e dos TREs, a exemplo do TRE-MA.

Em tempo, chamo atenção para o aumento da insegurança alimentar e da pobreza, no Brasil e no Maranhão, estado que segue amargando os piores índices.

Encerro falando da copa do mundo de futebol. Primeiro com a merecida crítica que o mundo direcionou a um país machista e que conserva uma cultura intolerante, sob o pretexto das escrituras sagradas. É difícil ser mulher, gay, crítico no país que “vendeu” uma falsa igualdade na abertura do mundial.

Segunda questão e ponto alto do mundial, foi a conquista merecida pelos “Hermanos”. Os deuses do futebol decidiram brindar um dos maiores jogadores de todos os tempos, Lionel Messi. A copa teve outros destaques, a exemplo da seleção do Marrocos, mas nada se compara ao triunfo do camisa 10 da Argentina.

O ano de 2023 está à espreita. Mas antes, no entanto, convido a aproveitar a semana que nos resta para refletir sobre aquilo que somos, o que queremos e o que podemos fazer no novo ano que se anuncia. As histórias que serão contadas ao final dessa jornada, são aquelas que ajudaremos a construir.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

CADEIRA 15

PATRONO - RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA

1º OCUPANTE - DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA

InternacionalTexto Internacional

"STAY AT HOME" - A CONNECTION BETWEEN MULTIPLE VOICES.

POR DANIEL BLUME

Artigo escrito com base na pesquisa de Mestrado em Direito Direito Civil e Administrativo Comparado, na Universidade Autônoma de Lisboa.

Nota do Editor: este é um trabalho técnico, portanto, está conforme o original. A diagramação foge um pouco ao rigor do conceito puramente jornalístico, mas assim foi feito, a fim de que nenhuma citação ou conceito, desfigurasse à feitura publicada anteriormente. É um recorte da pesquisa realizada na UAE, em Direito Civil e Administrativo Comparado, sob o título Omissão Legislativa e Covid-19: Responsabilidade Civil do Estado no Direito Português comparado ao Brasileiro . Versando sobre a Responsabilidade Civil do Estado Por Omissão Legislativa, a teoria sobre Responsabilidade Civil foi aplicada ao caos pandêmico que privou os cidadãos do ir e vir social, ecoando no mundo inteiro a ordem/ orientação Fica em Casa. Abaixo, a primeira parte desse aplaudido trabalho de Daniel Blume.

Daniel Blume Pereira de Almeida

FICA EM CASA” - UM ELO ENTRE MÚLTIPLAS VOZES1

"STAY AT HOME" - A CONNECTION BETWEEN MULTIPLE VOICES

Mestre em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa; Procurador do Estado do Maranhão; Conselheiro Federal da OAB; representante da OAB junto ao CNJ; Membro da Academia Maranhense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras - (danielblume@gmail.com)

Resumo: O presente artigo é um recorte da pesquisa realizada na UAE, em Direito Civil e Administrativo Comparado, sob o título Omissão Legislativa e Covid-19: Responsabilidade Civil do Estado no Direito Português comparado ao Brasileiro . Versando sobre a Responsabilidade Civil do Estado Por Omissão Legislativa, a teoria sobre Responsabilidade Civil foi aplicada ao caos pandêmico que privou os cidadãos do ir e vir social, ecoando no mundo inteiro a ordem/ orientação Fica em Casa. Primeiro porque o contato social colocava em risco o cidadão diante a iminência do contágio pelo Coronavirus; depois porque, contaminado que ele fosse, o sistema público de saúde não garantia atendimento, por causa do colapso de sua capacidade. A pesquisa colocou esse enunciado “Fica em Casa” no centro da análise metodológica, sob a ótica da Linguística Cognitiva, como método de análise.

Palavras-chave: Estado - Responsabilidade Civil – Direitos Humanos - Omissão - Cognição

Abstract: This article is an excerpt of the research carried out at UAE in Comparative Civil and Administrative Law, under the title Legislative Omission and Covid-19: Civil Liability of the State in Portuguese Law compared to Brazilian Law. Focusing on the Civil Liability of the State by Legislative Omission, the theory of Civil Liability was applied to the pandemic chaos that deprived citizens of social coming and going, echoing the Stay-atHome order / orientation worldwide. First, because social contact put the citizen at risk in the face of the imminence of contagion by the Coronavirus; secondly, because, in case the individual was contaminated, the public health system did not guarantee care, due to the collapse of its capacity. The research placed the Stay-at-Home statement at the center of the methodological analysis, from the perspective of Cognitive Linguistics, as a method of analysis.

Keywords: State - Civil Liability - Human Rights - Omission – Cognition

1Artigo escrito com base na pesquisa de Mestrado em Direito Direito Civil e Administrativo Comparado, na Universidade Autônoma de Lisboa, 2019/2021, com a pesquisa intitulada Omissão Legislativa e Covid19: Responsabilidade Civil do Estado no Direito Português comparado ao Brasileiro, sob a orientação do Professor Dr. Ricardo Pedro.

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1. SOBRE A METODOLOGIA DE ANÁLISE E OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS; 2. EXPOSIÇÃO ESQUEMÁTICA DA ANÁLISE; 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

A Pandemia do Covid-19, só agora, com a vacina, está sendo atenuada. Mas suas marcas, jamais. Falo de mortes e de seus reflexos. Ficar ou não em casa fazia parte das decisões rotineiras de cada pessoa e passou a fazer parte da condição diária de todos, em tempos pandêmicos, desde que se tornou um imperativo nos quatro cantos do mundo. Era 2020. Pesquisava na Universidade Autônoma de Lisboa a responsabilidade civil por omissão legislativa. O conceito de responsabilidade despertou meu interesse em analisar as vozes1 corresponsáveis por aquele imperativo, para, a título de identificá-las, investigar se havia, nessa

PARTE 01

ordem, a voz estatal no silêncio da legislação ainda não produzida. Segui por caminhos cognitivos para encontrar o fio da responsabilidade por omissão legislativa em tempos da pandemia do coronavírus. Apliquei o Modelo dos Espaços Mentais proposto por Fauconnier2 e analisei o enunciado “Fica em casa”, considerando-o sob o conceito de polifonia. Selecionei primeiramente os âmbitos com os quais seriam organizados os construtos pelo processo cognitivo para, aplicada a noção de domínios (conjunto de conhecimentos estruturados de forma estável) e de locais (espaços mentais da cognição), poder realizar a integração e a projeção entre eles.

SOBRE A METODOLOGIA DE ANÁLISE

“Fica em casa” sob a luz da cognição3 é a leitura desse enunciado sob muitas perspectivas intencionais: poderia ser enunciado em diálogos entre familiares, entre médico e paciente, entre amigos, entre casais; em caso de ameaça de chuva, para garantir uma surpresa e em tantas outras situações corriqueiras.

Neste caso específico de análise, há uma voz imperativa pública em situação de pandemia. Foram selecionados, a partir daí, dois âmbitos rumo à captura da responsabilidade, buscando a causalidade na integração do âmbito da saúde com o âmbito do Direito. Percebi que “Fica em casa”, um enunciado tão da ordem privada, poderia assumir outro patamar de sentido. Passar a ser analisado sob uma perspectiva sociopolítica.

E, no momento em que se fala de direito, por exemplo, mesmo com base no senso comum, se esse termo não estiver ancorado num determinado âmbito, o sentido é apenas um potencial, uma hipótese de existir. “Fica em casa” provocou a seguinte pergunta: de quem parte esse imperativo e para quem? É possível interpretá-lo sob o conceito de responsabilidade civil e de omissão legislativa? Onde se ouve a voz do Estado? Do Direito? Da sociedade? Do sistema de saúde? Da humanidade?

Neste artigo há o cruzamento dessas vozes no âmbito do Estado (responsabilidade civil), do Sistema de Saúde (responsabilidade pública de serviços de saúde), do cidadão (vitimizado), da humanidade (em crise), no universo pandêmico. “Fica em casa” passou a ser tratado como um enunciado, segundo Bakhtin (1981) sobre o conceito de dialogismo e polifonia: o elo em uma interminável cadeia de comunicação, a partir da qual infindáveis vozes podem ser ouvidas.

EXPOSIÇÃO ESQUEMÁTICA DA ANÁLISE

Apresento o processo de cognição, como síntese, em gráficos e suas interpretações:

Gráfico 1: A dimensão pública da ordem “Fica em casa”

Fonte: daniel Blume.

Para o âmbito social da saúde, tem-se o domínio estável, conjunto de conhecimentos estruturados sobre a pandemia da Covid-19: conceito, principais características do vírus, ou seja, dados do conhecimento disponibilizados pelas ciências biológicas e da saúde.

Sobre o domínio estável da Covid-19, a folha da OPAS/OMS informa que há sete coronavírus humanos (HCoVs), entre eles: o Sars-Cov da síndrome respiratória aguda grave; o Mers-Cov da síndrome respiratória do Oriente Médio, e o Sars-Cov-2 da doença Covid-19. Esta é a denominação da doença infecciosa causada pelo coronavírus, detectado inicialmente em Wuhan, na China, em dez. 2019. Seu período de incubação é de um a quatorze dias. Possui como sintomas febre, cansaço e tosse seca. Alguns podem ter dores no corpo, congestão nasal, coriza, dor de garganta ou diarreia. Outras pessoas são assintomáticas. Uma entre seis não desenvolve síndrome respiratória grave. Oitenta por cento dos acometidos pela Covid-19 se recuperam sem tratamento especial. A doença se espalha das pessoas que têm o vírus, por meio de pequenas gotículas do nariz ou da boca, quando alguém acometido tosse, espirra ou fala. Os pacientes precisam ser isolados até que dois testes tenham resultado negativado, em um intervalo de vinte e quatro horas.1

1 O conceito de vozes se inspira, para este artigo, em BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Ed. Forense-Universitária, 1981.

2 FAUCONNIER, Gilles – Mental Spaces. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. ISBN 978-05-2144499-6.

3 Cognição, conceito da Linguística Cognitiva, baseado em LAKOFF, George & JOHNSON, Mark.Universityof Chicago Press, 1980.

1 OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Folha Informativa Covid-19. Escritório da OPAS e da OMS no Brasil. [Em linha].Brasília,23 abr. 2020

BETWEEN MULTIPLE VOICES

(PARTE II)

Infelizmente, de início, ainda não havia medicamento nem vacina comprovada contra a doença Covid-19. Para prevenção, era indicado lavar as mãos com água e sabão, ou usar higienizador à base de álcool. Foi comum a utilização do álcool em gel e manter a distância de, pelo menos, um metro das outras pessoas, além de evitar tocar nos olhos, nariz e boca. As medidas foram as mesmas para prevenir problemas respiratórios, como usar máscaras, observando os cuidados necessários para eliminar os meios de transmissão.

Sobre os domínios locais da Covid-19, desde 30 jan. 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, considerando o surto do mais alto nível de alerta previsto no Regulamento Sanitário Internacional.1

Pouco tempo depois, em 11 mar. 2020, a Covid-19 foi caracterizada como pandemia pela mesma OMS, vez que atingiu 156 países, em sua maioria europeus, oportunidade em que o diretor-geral da OMS convocou um comitê de especialistas. Os casos confirmados no mundo, até 23 abr. 2020, atingiram o total de 2.544.792, com o acréscimo de 73.657 novos casos em relação ao dia anterior. Foram 175.697 mortes, com 6.689 novos óbitos em relação ao dia anterior. E tais números só aumentavam.

Com esteio nos domínios locais acima listados, especialmente no espaço mental da pandemia, passa-se a saber acerca da atual realidade mundial pela disseminação da Covid-19, conforme o gráfico a seguir.

Gáfico 2: Da realidade mundial pela disseminação da Covid- 19 até 2021

FICA EM CASA” - UM ELO ENTRE MÚLTIPLAS VOZES1 - "STAY AT HOME" - A CONNECTION

Fonte: Daniel Blume.

É importante observar que o esquema acima é um construto inicial limitado a um nível de cognição que mostra apenas o extraordinário do problema de saúde pública: exorbitante número de contaminados, de internados, de mortes, de covas, inferido pelo conhecimento prévio que se tem sobre pandemia de um vírus que provoca a doença Covid-19.

Só que, ao mesmo tempo, o termo pandemia opera, neste caso, como um gatilho (trigger) para referir-se a um alvo (target), localizado em outro espaço mental:2 a sociedade, não propriamente uma cidade, um estado, um país, uma comunidade transnacional, mas o mundo, o globo. A expressão problema social de saúde pública dispara tal gatilho para cidadão, Direito, humanidade, garantias, direitos fundamentais, responsabilidade e Estado, além de estabelecer a projeção entre duas áreas: a da Saúde Pública e a do Direito.

Gáfico 3: A projeção da Covid-19 entre a Saúde Pública e o Direito

Fonte: Daniel Blume. Caso o processo de cognição analisasse a pandemia do coronavírus apenas na saúde, o construto abarcaria os sintomas, o médico, o hospital, a gravidade da doença, a profilaxia, o risco de morte, o sofrimento das famílias, a perda, dentre outras. Como as mortes são em escalas assustadoras, não só pela doença, mas pela falta de leitos, de respiradores, de vacina, de medicamentos, de profissionais da área de saúde, de máscara, dentre outros, pressupõe-se que falta infraestrutura de toda ordem e que a responsabilidade passa a ser imediatamente exposta por um suposto não-fazer que repercute concretamente na pressuposição de um fato omissivo. Veja-se que para a responsabilidade civil ser capturada, o processo cognitivo precisa atravessar a omissão. Ou seja, o problema de saúde pública cobra a responsabilidade civil e desmascara a omissão: aquilo que o Estado não fez (ou fez insuficientemente), mas que produz efeitos. A análise articula o cenário social de crise à responsabilidade e retorna para o que não foi feito pelo Poder Legislativo, o que favoreceu não ter sido feito também pelo Poder Executivo, ocasionando, em hipótese, o quantum indenizatório pelo dano.

Fonte: Daniel Blume

Gráfico 4: O problema na saúde pública gera a responsabilidade civil estatal

O esquema acima manifesta quão central é a responsabilidade civil que pode ser ocasionada também pela omissão. O domínio estável desse conceito, que é do âmbito do Direito, onde a questão pandêmica é projetada, encontra-se em ALMEIDA (2021)3, publicação resultante da pesquisa de mestrado realizada na Universidade Autônoma de Lisboa. Ou seja, temas que versam sobre a constitucionalidade da responsabilidade civil do Estado e das entidades públicas, por ação ou omissão, quando do exercício de suas funções.

Aos serem buscados os domínios estáveis dessa relação entre os implicados na pandemia, observei que a mesma responsabilidade civil incide sobre a garantia dos direitos à dignidade humana nos domínios mais diversos da existência, precisando cada país manifestar constitucionalmente as prerrogativas da Declaração Universal dos Direitos Humanos4. Nesse documento está declarado, inclusive, que todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

Observando os incisos I e VI do artigo 19 da Constituição da República Portuguesa, por exemplo, o exercício dos direitos, liberdades e garantias apenas pode ser suspenso em caso de estado de sítio, ou de estado de emergência. Porém, em nenhuma hipótese, essa declaração do estado de emergência, que é o caso particular da pandemia do coronavírus, pode afetar os direitos à vida, à integridade pessoal, à identidade pessoal, à capacidade civil e à cidadania. Da mesma forma, não pode afastar a posterior responsabilização do Estado, se o futuro mostrar que as medidas estatais legislativas foram insuficientes ou insatisfatórias, até porque o estado de exceção tende a gerar danos.

Repisa-se que o legislador não pode eximir-se do dever de elaborar as normas pelas quais os direitos e as garantias constitucionais tornam-se exequíveis, em especial quando se fala de vida e saúde humanas. Portanto, na espécie, pode haver responsabilização estatal, se presentes os seus consabidos pressupostos, a saber: o fato jurídico consubstanciando em uma omissão legislativa relevante ou qualificada; a ilicitude legislativa por ofensa do dever de agir imposto pela Constituição ao legislador, em prejuízo de bens jurídicos protegidos por normas de direitos fundamentais, justamente por não ter o serviço público atuado para evitar a produção de danos ao longo da pandemia, dentro do razoável, exigível e possível; a culpa do legislador que deveria e poderia ter aprovado normas para atenuar ou mesmo contornar as consequências pandêmicas; o dano anormal que ultrapassa os custos próprios da vida em sociedade, ainda que em períodos de restrições excepcionais; e o nexo causal entre o dano e a omissão legislativa, se a promulgação da lei ausente (ou deficiente) evitasse (ou arrefecesse) o mal específico.

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1 OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Op. cit., ibidem.

2 MARINHO, Elyssa Soares; FERRARI, Lilian – Mesclagem conceptual em piadas curtas. Revista Linguística Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vol. 12, n. 1 (jan./jun. 2016), p. 147-160.

3 ALMEIDA, Daniel Blume Pereira de. Omissão legislativa e Covid-19: responsabilidade civil do estado no direito português comparado ao brasileiro. Lisboa: LEGIT EDIÇÕES, 2021.

4 ONU. Organização das Nações Unidas – Declaração Universal dos Direitos Humanos. [Em linha]. Rio de Janeiro, jan. 2009.

Para ler a PARTE I

Siga o link: https://www.facetubes.com.br/noticia/3081/qstay-at-homeq-a-connection-between-multiple-voices-por-danielblume

CADEIRA 16

PATRONO - ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS FUNDADOR - AYMORÉ DE CASTRO ALVIM

HISTÓRIA DA MEDICINA.

AymoréAlvim,AMM,ALL,APLAC.

Quemnãogostadesaberahistóriadasuafamília,doseutimedocoraçãooudocursoondeseformou?

Quemnãotemoprazerdecultivaramemóriadeseusantepassados?Senãootem,éporquedelesnão gostavaou,então,temvergonha.Assim,também,sãoosprofissionaiscomrelaçãoàsuaprofissão.Aqui merefiroaosmédicos.

AHistóriadaMedicinatemporumdosseusobjetivosmanter,namemóriadoprofissionalmédicoede outros profissionais que se interessam pelo assunto, a memória da origem da Medicina e de toda evoluçãoporquevempassando,aolongodascivilizações,paraestruturaressabasenaqual,noatual momento,vemsendo

construídaeconsolidadaumaMedicinacadavezmaisética,universalizadaemaisavançada,científica etecnológica.

Portanto, o médico que não cultiva a memória da sua profissão, com certeza não faz medicina, simplesmenteausa.

Omédicoquefazmedicinaserealizaemsipróprio.Elesecompletaao resgatar seu paciente para a vida, ao realizar um perfeito diagnóstico, a confortar e dar esperança àquelequeneleconfiaequeneleesperacomoasuaúltimaesperança.

Omédicoquefazmedicinaéaquelequefazasuahistória,àmedidaqueacumulasabereseexperiência quelegaráàsgeraçõesfuturascontribuindoparaodesenvolvimentodaboamedicina.

AHistóriadaMedicinaétambémmaisumajanelaqueseabreparaomédicodeformaapermitir-lhe sempreavaliarascondiçõescomqueserveàcomunidade.

Fazermedicinaésepreocuparantesdetudocomosocial.

Paraisto,paraestudaraHistóriadaMedicinaomédicodeveterpelomenosalgumainformaçãosobre História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Arqueologia para poder melhor entender os diferentes momentos em que essas diferentes áreas do conhecimento deram suporte a um melhor entendimentodaartemédica.

Se assim considerarmos, veremos que o estudo da História da Medicina propicia ampliar o campo cultural do médico, tornando-o, principalmente, um humanista, buscando fortalecer seu relacionamentocomoseupaciente,pautadonaéticadaprofissãoepreocupadonoentendimentodas questõessociaisemqueviveo

paciente,paraalcançaroêxitonoseutrabalho.

IstotudoéoquepropiciaoestudodaHistóriadaMedicina.Valeapenaounão?Arespostaésua.

OMÉDICOEOPACIENTE

AymoréAlvim,AMM,APLAC,ALL.

Jánãotevejo

Comooamigodeoutrora

Emquemeuconfiava

Eaquemtudoeudizia.

Comatenção

Epaciênciameouvias, Porquesomenteemti

Euconfiava.

Jánãomeouvesmais

Comoofazias.

Tampoucomedispensas

Teusorriso.

Jánãoconfiotanto

Noquedizes

Pormaisqueeuqueira Sempredesconfio.

Oquenosseparou, Diz-me, Foioprogresso, Quetrouxe,noseubojo, Atecnologia?

Seporumladoébom, Euteconfesso, Maspelooutroveio,também, Oqueeutemia.

Antigamente,eulembro, Comoeradiferente.

Comcompaixãoealtruísmo

Euexercia

Omeuofício

Paraobemdopaciente, Numarelaçãodeamor

Francaesadia.

Hoje,eutedigo

Quevejocomtristeza

Tudoistotransformado

Emlembrança.

QueMedicina,então,

Équeeuexerço

SenossaArte

Édeamoreesperança.

CADEIRA 17

PATRONO - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE FUNDADOR - RAIMUNDO GOMES MEIRELES

CADEIRA 18

PATRONO - HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO FUNDADOR - ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - (FALECIDO)

1º OCUPANTE - VINICIUS BOGEA

Senhor (a) Acadêmico (a)

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, no uso das suas atribuições estatutárias, convoca os Senhores(as) Acadêmicos(as) a participaremdaAssembleiaGeralExtraordinária, arealizar-senodia30denovembrode2022,sexta feira, as 18h30min, tendo por local a sala de reunião da ALL, no Palácio Cristo Rei, sito à Praça GonçalvesDias,nº.351,SãoLuís-Maranhão,paratratardaseguintepauta:

ORDEM DO DIA:

SolenidadedepossedoescritorAurélioViníciusCampeloBogéa,naAcademiaLudovicensede Letras-ALL,paraocuparacadeira18,patroneadaporHenriqueMaximianoCoelhoNeto,coma recepçãodoacadêmicoAntonioJoséNobertodaSilva.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO N. 10– 2022 de 12 de novembro de 2022 Presidente da ALL

É provável que este momento já estivesse reservado para mim desde o dia em que despertei, em longínquas estações, naimensabibliotecadomeu saudoso avô,RibamarBogéa, epuxei daestanteumaediçãodoTesouro da Juventude – enciclopédia inglesa icônica que embasou almas literárias e despertou paixões viscerais para o infinito mundo das letras.

Ainda posso lembrar, assim como sinto no ar a fragrância amadeirada daquelas páginas fatigadas pela impaciência do tempo. Um prólogo que pavimentou meu caminhar por hilares histórias, que fez brotar contos juvenis, adágios fortuitos e um desejo indubitável de ter a escrita como uma relíquia indivisível da minha existência.

Confesso que a vaidade não é capaz de me enebriar. Estar aqui, agora, nos salões da honorífica Academia Ludovicense de Letras, a casa de Maria Firmina dos Rei, é motivo de honra, sim, e não um recorte de qualquer egolatria fugas. Ocupar a cadeira 18, patroneada por Henrique Maximiano Coelho Neto, me remete a uma viagem astral até a cidade de Caxias, onde o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros” brotou para a vida, para a literatura, para a eternidade. A mesma Caxias que nos brindou com a essência de Arthur Almada Lima, meu antecessor - e por que não dizer

eterno ocupante desta tão lisonjeada cadeira?

Nada é por acaso. Tal desígnio tem uma razão de ser, e então, olho de soslaio para os caminhos venturosos da história e me vejo agraciado por tão altivas personalidades maranhenses, que dignificaram cada passo neste orbe terreno. Depois, as luzes, a imensidão das suas respectivas obras, a imortalidade.

POSSE DE VINICIUS BOGEA

E é nessa hora que os laços do destino me acolhem em seus braços e cobrem meus olhos com um imenso sudário de contemplação. Diante de gigantes, me sinto breve, terno, e meu coração indócil nem é capaz de definir o tamanho de tanto contentamento. Porque, quando visualizo rostos tão afetuosos à minha frente, percebo que, no fundo, não é por mim, não estou aqui para meu deleite, mas, sim, por cada sorriso que aquece a minha alma. É chegado o momento no qual me sinto de fato imortal.

Posso fechar os olhos e escutar Gonçalves Dias sussurrar “Amar é ter o coração em riso e festa”. É fácil acreditar em tão pueril epígrafe, que vagueia no tempo e nos encontra em qualquer estação. Afinal, somos esculpidos de sentimentos, como Coelho Neto recitou: “A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração”. Afago o meu patrono, e digo que jamais faltarão letras para preencher seu relicário errante, que guarda os mais variados tesouros de sua magnificente sabedoria. Afinal, “o braço constrói, o espírito eterniza”.

Revisitando a obra de Coelho Neto, volto a me impressionar com seu poder verbal, e encontro nas palavras de João Neves da Fontoura a dimensão exata do brilhantismo do patrono de tão honrosa cadeira [...] Havia no seu cérebro, como nos teatros modernos, palcos móveis para as mutações da mágica. É o exemplo único de repentista da prosa. [...] Dotado de um dinamismo muito raro, Neto foi um idólatra da forma”.

A definição perfeita de João Neves Fontoura reforça minha perspectiva sobre tão excelsos maranhenses; mentes como Coelho Neto eArthurAlmadaLimafazem ocálicedasabedoriatransbordar.Então,peço licença a Almada Lima, para me sentar nesta cadeira e dizer que somos confrades, irmãos de alma e de muitas páginas que escrevemos inconscientemente um para o outro.

Arthur Almada Lima é motivo de inspiração, porque viveu plenamente, porque se dedicou ao amor pela família, pelas suas obras e por um trabalho de reconhecido valor. Uma memória que permanecerá viva enquanto o mundo for capaz de existir. Um homem que fez dos seus 92 anos um verdadeiro legado para as mais variadas gerações.

E quando se fala em geração, é preciso que nomes como Coelho Neto e Almada Lima alcancem as hostes tecnológicas, as turbas que esqueceram os livros e abraçaram o universo das redes sociais com fervor. E não se trata de demonizar as inovações, porque a internet é um elemento neutro, até quando alguém resolve usála

para o bem ou para o mal.

Que vozes como Coelho Neto e Almada Lima sejam perpetuadas, lembradas em livros, páginas na internet ou em colóquios do cotidiano. Que sejam eternas, tal vida, tal morte. Que assim seja, como em um poema de Maria Firmina dos Reis:

“E a liberdade, ─ oh! poeta, ─ canta, Que fora o mundo a continuar nas trevas?

Sem ela as letras não teriam vida, Menos seriam que no chão as relvas: Toma por timbre liberdade, e glória, Teu nome um dia viverá na história”.

De repente, recorro ao início desta simplória narrativa para ratificar que sem os livros da biblioteca do meu avô Ribamar Bogéa, de fato, eu não estaria aqui. Perderia o sorriso fácil da minha avó Hilda e os olhos de contemplação dos meus pais, Adelaide e Lourival, assim como deixaria de fitar o olhar terno da minha esposa Rafaela e dos meus filhos, João Victor e Manuela, por quem até arrisco cantarolar, do alto da minha tão desafinada voz “Eternamente, te amo”.

Porque foi esse amor que me trouxe até aqui, e repito, não é por mim, é por vocês; irmãos, tios, sogro, sogra, cunhados, amigos e tantos corações que me visualizam lá do alto, no mais pleno firmamento. Eu estarei bem aqui.

Que a chama da escrita permaneça acesa, para dignificar a casa de Maria Firmina dos Reis com o fragor dos seus versos, e enaltecer seu heroísmo em estações tão deletérias. Não será esquecida, e eu, novo membro, prometo que honrarei a sua história.

Uma história que atravessou a fúria do tempo e desaguou no suntuoso Palácio Cristo Rei, onde, hoje, podemos reverenciar a valentia da nossa Rosa de Jericó.

Os versos vão chegando ao fim. A vontade de dizer algo mais é suplantada pelo desejo de abraçar cada um, agradecer pelo momento que já se tornou inesquecível, e correr para redigir tudo em páginas infinitas. É o que fica; as lembranças, o prazer de transformar tudo que vejo em letras, prosas, em arte. Sim, é o que vai ficar. São as árvores que plantei, os jardins que reguei, os amores que aqui me acolhem. Recorrendo ao aforismo de Hipócrates, popularizado por Sêneca, concordo com tudo que foi dito e deixo gravado em letras colossais “ars longa, vita brevis”.

Excelentíssima senhora Jucey Santos de Santana, presidente da Academia Ludovicense de Letras; Meus confrades e minhas confreiras desta egrégia Academia de letras da capital maranhense Caro escritor, empossando e amigo Aurélio Vinicius Campelo Bogéa Familiares e amigos de Vinícius Bogéa, Senhoras e senhores convidados, amigos da imprensa, funcionários da casa Muito boa noite.

Para tranquiliza-los informo que meus longos discursos diminuíram. Não são mais as 26 páginas de outrora, lá do início da minha vida acadêmica... Agora são só 25 laudas.

Caro Aurélio Vinicius Campelo Bogéa,

Você é um privilegiado... Por ter nascido, por estar vivo, porque tem uma família que te deu carinho, aconchego, norte e guarida... E por ter entrado em um seleto grupo daqueles que constroem castelos. É exatamente isto, “o escritor constrói castelos e quem lê vai morar dentro”. Dizem por aí que todo mundo deveria plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro. Você já fez tudo isto! Não nasceu em berço de ouro, mas também não nasceu na simplicidade de uma manjedoura. E se o fosse não existiria demérito na qualidade do berço. Vale lembrar que um dos reis mais amados do mundo, Henrique IV de Navarra, le bon roi (o rei bom), pai de Luis XIII, que emprestou o seu nome à nossa capital maranhense, Henri teve como berço um casco de tartaruga gigante, levado de Martinica ou Guadalupe para a cidade de Pau, na antiga Navarra, hoje sul da França próximo aos Pirineus.

A infância de Vinícius foi simples, nascido em Viana, na Baixada maranhense, no dia 24 de novembro de 1977, e com poucos meses de vida veio para São Luís. A sua primeira morada foi com a avó paterna, Dona Hilda Marques Bogéa, tendo a assistência do pai, Lourival Marques Bogéa.

AprimeiraescolafoioJardim deInfânciaBecassine, nalateral docolégioFrancoMaranhense,escolafundada pela francesa, minha amiga, Annick du Coin (já falecida). Depois fez o primário, ginásio e segundo grau no Dom Bosco, no Centro. Formou-se em jornalismo pela Faculdade São Luís, atual Estácio de Sá. O seu primeiro emprego foi como revisor do Jornal Pequeno, enquanto, paralelamente, trabalhou na Agência de Desenvolvimento do Turismo - ADETUR, que se tornou Secretaria de Estado de Turismo. Atualmente Vinícius continua trabalhando no JP e na assessoria de imprensa do Sampaio Corrêa, a nossa Bolívia querida.

Senhoras e senhores, nosso empossando já escreveu várias obras, sendo romances ou novelas.

1⁰ livro - Roubando sonhos, 2006;

DISCURSODOACADÊMICOANTONIONOBERTOEMRECEPÇÃOAOESCRITOR VINÍCIUSBOGÉA,NOVOOCUPANTEDACADEIRANº18,PATRONEADAPORHENRIQUE MAXIMILIANOCOELHONETO

2⁰ - Céu de ilusões - vencedor do Prêmio SECMA 2008 (Categoria novela);

3⁰ - Diário oculto, 2009. Romance. Prêmio Literário e Artístico Cidade de São Luís.

Além de outras obras: Belo maldito, 2014 (romance); Vendeta, 2018 (continuação de Diário oculto); Solidão de Aço, 2020 (romance); Letras fantasmas (ainda não publicado. Continuação de Vendeta).

Está com a biografia pronta do avô paterno, Ribamar Bogéa, “Guardião da liberdade”, a ser publicado em 2023. E falando em Ribamar Bogea, ele foi a inspiração de Vinícius, vez que a sua rica biblioteca particular foi o chama que o incentivou e o tornou escritor. Aos 13 anos já escrevia conto e levava livros para o colégio. Pena que tais escritos da adolescência se perderam. O primeiro livro que leu foi o clássico, O príncipe e o mendigo, de Mark Twain.

Vinícius é casado com Rafaela Lindoso Bogéa, tem um casal de filhos: João Victor (17 anos) e Manuela (10 anos). Ele e a esposa nunca se distanciaram de Viana, até porque os pais dela são daquela cidade da Baixada. E quem foi esse avô, inspiração do nosso noviço? O nome é figura batida na capital maranhense e em todo o estado: Ribamar Bogéa, o Zé Pequeno, nascido em São Luís em 1922, ano mágico da Semana de Arte Moderna,quandosecomemoravaumséculo daIndependênciadoBrasilem relaçãoaPortugal, eventocultural que marcaria a saída do país do extremo atraso colonial. O avô teve infância na rua do Coqueiro, no Centro Histórico. Em 1951 fundou o JP. Trabalhou junto com José Sarney no jornal O Imparcial, dando muito apoio para este se tornar governador do Maranhão (1966 - 1970) derrotando a oligarquia vitorinista, há vinte anos comandando o estado. Sarney eleito, começaram as desavenças que separaram os dois amigos e criaram uma briga ferina. Faz parte do anedotário ludovicense que no Maranhão o Sarney se tornou dono de tudo, inclusive do mar, e só não conseguiu comprar o Jornal Pequeno e a fábrica de Cuscuz Ideal. Vocês estão gostando, né? Tretas à parte... Ribamar Bogéa teve seis filhos, cinco homens e uma mulher, Josilda Bogéa, que faleceu em 2011. Os homens: Lourival, Gutemberg, Luís Antonio, Luís Eduardo, Ribamar Bogéa Filho.

Um dos filhos é exatamente Lourival Bogéa, nascido em 1957, na rua da Cerâmica, no João Paulo. É o atual timoneiro do Jornal. Tem oito filhos: o nosso empossando e mais sete.

Feitas as devidas apresentações, passo para um segundo momento do discurso, quando abordaremos a necessidade de manutenção da essência, do rito e das liturgias no seio acadêmico.

A academia não deve ser, evidentemente, uma casa de alienados, não deve ser uma passarela para desfiles e nem uma casa moderninha, que abraça com avidez o que de mais novo é apresentado pelas redes sociais ou mostrado nas novelas. E muito menos deve ser uma casa onde a política crava suas unhas feito uma ave de rapina que estrangula sua presa. Antes, a academia deve ser uma reserva de ética e de conhecimento crítico à disposição da sociedade, um local de paz, que valoriza o termo frater, que valoriza o companheirismo, posto que companheiro é aquele que compartilha do mesmo pão. A academia é uma balizadora para as novas gerações. E neste período pós pandêmico, quando o elo entre as gerações: o idoso e a sua experiência foram as grandes vítimas, a responsabilidade do acadêmico ficou cada vez maior.

A ética, caríssimos, é um conjunto de regras de conduta, é se perguntar se fazer algo é bom ou ruim para mim, para outrem ou para a sociedade. Importante não confundir ética com moral, tendo esta a ver com as leis, se é legal ou ilegal. A ética é superior, divina, pois nela não existe o dever de faze-lo, mas se é bom, ainda que se tenha uma perda, devemos faze-lo.

O tema ética é algo cada vez mais raro nos dias atuais. Quase todo mundo puxa brasa apenas para a sua sardinha e o interesse coletivo e a “res pública” ou a coisa pública e coletiva são colocadas de lado. O mundo está se perdendo e caminhando a passos largos para os tempos difíceis. Seria o “Princípio das dores” falado nos evangelhos pelo Mestre dos mestres?

Aqui peço vênia aos que vivem a ciência do direito, peço o beneplácito aos companheiros acadêmicos e peço a permissão e o consentimento para os demais presentes para mostrar, talvez brevemente, uma time line, uma linhado tempo datrajetóriadahumanidadeafim de mostraraimportânciadoritual paraoinício dacivilização. Mostrarei também a ascensão do império da ganância e da opressão.

Há cerca de cem mil anos um pouco mais, um pouco

menos quando vivíamos como animais, migrando de um lado para o outro fugindo das glaciações, do frio e do gelo extremos, nasceu o que chamamos hoje de civilização. E tudo começou com um gesto simples de amor, compaixão, zelo, carinho e misericórdia, que foi o sepultamento. Em lugar de abandonar o cadáver pelo caminho para ser devorado pelos animais, passou-se a

enterra-lo. Foi este simples ato, com as exéquias e a valorização da memória que nos fez diferenciar dos demais animais e nos tornou humanos. A morte e a memória, senhoras e senhores, nos permitiu conquistar o mundo. Muitos milênios depois começávamos a dominar o fogo, a polir a pedra, a trabalhar os metais, formar cidades como Ur e Uruk, na Mesopotâmia e na Caldéia, hoje Kwait e Iraque, terra de onde migrou Abraão, que seria o nosso Pai, segundo o Velho Testamento e a crença cristã.

Nos anos 1.100 d. C, a igreja teve uma grande sacada com a criação do purgatório. Foi ali o pontapé para o debacle ou declínio da Idade Média, vez que o acúmulo de riqueza na Itália em razão do estabelecimento da instituição do purgatório permitiu o Renascimento das artes na Europa. Desde então, os mecenas passaram a custear os artistas, que por sua vez transformaram a Europa em um celeiro artístico e de prosperidade. São nomes daquele período: Leonardo da Vinci (1452 1519), Caravaggio (1571 1610), Michelângelo Buonarroti (1475 1574), Rafael Sanzio (1483 1520), Donato di Niccoló di Betto Bardi, conhecido como Donatello (1386 1466), Sandro Boticelli (1445 1510), Jan Van Eyck (1390 1441) e centenas de outros grandes nomes daquele momento mágico de plena riqueza da história mundial. E aqui faço um adendo um pouco bairrista, pois não foi apenas o acúmulo de riqueza oriundo do purgatório que permitiu toda aquela maravilha tão presente e marcante principalmente nas grandes catedrais do Velho Mundo, o ouro dos incas, dos maias e dos astecas foi de suma importância para todo aquela glória chamada Renascimento.

Não percamos o fio da meada... Poucos séculos se passaram até atingirmos outro momento mágico, no século XVIII, o Iluminismo, das ideias, da valorização da razão em detrimento da fé ou da influência da igreja. Este império da razão foi coroado no último quartel do século seguinte, quando vivemos quarenta anos da Belle Époque, a Bela Época (1875 a 1915), da ciência que propiciou as grandes invenções, a exemplo do telefone, telégrafo sem fio, cinema, a bicicleta, o automóvel, o avião e uma variedade de engenhos que facilitaram e facilitamatéhojeavidadaspessoas. Eesteperíododaciênciafoipossívelporcontadaracionalizaçãoadvinda doRenascimentoe,principalmente,doIluminismo.Momentosqueimpulsionaram algonãomenosimportante para o mundo católico: a expulsão do defunto da igreja para o cemitério extramuros, fora da cidade. Éééé. Este tema você não vê nos bancos de escola. Avancemos...

No século XIX, quando as igrejas estavam abarrotadas de cadáveres e a salubridade não estava na pauta do dia, nem do mês e nem do século. Quando o incenso balançado pelos padres já não escondiam o odor fétido dos cadáveres e dos miasmas mefíticos dentro das igrejas, eis que os médicos e sanitaristas trazem o tema morte de volta a cena e uma grande revolução cemiterial aconteceu. A partir dos desdobramentos da Revolução francesa, no início daquele citado século, Napoleão Bonaparte autorizou em 1804 a criação de cemitérios extramuros, ou seja, afastados das cidades. A Inglaterra seguiu o mesmo rumo e em 1830, criou o High Gate, onde está sepultado Carl Marx. No Brasil, a expulsão do defunto da igreja para o cemitério começou em 1851, na necrópole de Santo Amaro, no Recife. A partir de então o mundo passou a cuidar mais da vida secular: da salubridade; das vacinas; vigilância sanitária; ruas e logradouros mais sadios; casas mais separadasumadasoutras;sistemasdeabastecimentodeáguanasprincipais cidades.Aexageradapreocupação com a morte e com o bem morrer saíram da cabeça e da alma das pessoas. Grandes cientistas surgiram a partir de então produzindo conhecimento, vacinais e outras maravilhas que chegaram aos nossos dias. Citamos apenas dois nomes: o francês Louis Pasteur, que produziu a vacina antirrabica e a pasteurização, e o brasileiro Osvaldo Cruz, infectologista e sorologista que enfrentou as pestes que assolavam a capital federal e algumas regiões do país, a exemplo da febre amarela, peste bubônica e varíola. No Maranhão são destaques Almir Parga Nina, Aquiles Lisboa e vários outros nomes do sanitarismo. Um caso interessante deste período de reformas sanitárias no nosso estado foi a mudança da cadeia pública de São Luís, situada desde a criação, em 1619 por Simão Estácio da Silveira, no prédio onde se encontra a Prefeitura Municipal, ao lado do Palácio dos Leões, no locus fundacional da capital, quando a reboque da onda reformista, a cadeia foi transferida para local afastado no ano de 1856.

Afastados da vida cotidiana, a morte e o cemitério se tornaram distantes de nós, longínquos. A preocupação com o bem morrer e com a garantia da salvação da alma cedia lugar a um ambiente físico mais saudável, salubre vale dizer. O mundo se tornava um lugar com mais qualidade e o ar viciado das igrejas deu lugar ao arejamento das ideias. Mas dizem que a distância que devemos ter da morte deve ser igual a distância que precisamos manter da sogra: nem tão perto que ela venha de havaianas e nem tão longe que ela precise vim trazendo as malas. O grande distanciamento com a morte e com a dor tem levado a humanidade a falta de resiliência ou resistência à frustração.

Ex nihilo nihil fit é uma expressão latina atribuída ao filósofo grego Parménides (530 a.C 460 a.C), que significa “nada surge do nada”. Apresento esta frase, caro Vinícius, porque uma boa, real e clara avaliação sobre este mundo não pode prescindir da perpectiva da ganância, manifesta por grande parte daqueles que o gerenciam. Qualquer avaliação sobre política e economia que despreze este motor propulsor afeto a grande parcela humana, não deve ser levado em conta. É a ganância e a cobiça que vem século após século degenerando a raça humana. Isto já era devidamente denunciado pelo nosso conterrâneo José Nascimento de Moraes, na obra Vencidos e degenerados, vencidos os negros e degenerada a sociedade que o escravizou. No século das luzes, destaca-se Jean-Jacques Rousseau que no seu afamado Contrato Social denuncia a exploração do homem pelo homem, onde o forte subjuga o fraco. Ainda sobre este tema, assisti uma palestra promovida para fundação Konrad Adenauer, ministrada por um consultor equatoriano, que disse: “Para que o hemisfério austral tenha a mesma qualidade de vida do hemisfério boreal é preciso mais dois planetas terra”. Chupa essa manga! Ops, a gíria não casa com o rito! Senhoras e senhores, se vocês entenderem isto, compreenderão o mundo em que vivem. É a ganância, quase sempre travestida de ovelha, que corrompe o ser humano, é ela que cada vez mais nos distancia do verdadeiro conhecimento legado pelos nosso antepassados, dos tupis-guaranis edos nativos africanos, queviviam uma real sustentabilidade,pois só retiravam da natureza aquilo que realmente precisavam. Ouçam este caso... Quando os holandeses invadiram o leste brasileiro em 1633 fizeram um recenseamento no Rio Grande do Norte e se espantaram quando descobriram vinte e uma mil cabeças de gado vacum pastando nos matos, campos e florestas do estado potiguar... Eram os bois e vacas que os índios potiguaras receberam dos franceses em trocas com os produtos da terra em fins dos anos mil e quinhentos. Era o gado levado pelo capitão francês Jacques Riffault, desembarcado no porto do Riffoles, onde se encontra atualmente a base naval do Natal. Os nativos não tinham noção de propriedade e deixavam os animais soltos para serem caçados e comidos nas festas coletivas e momentos apropriados. É o desejo desmedido de ter que vem estragando este mundo maravilhoso. Outros dois pilares da civilização e da humanidade que vem sendo destruídos pela ganância nos dizem muito respeito: a ética e o conhecimento. A ética nos conduz e nos mantem no melhor caminho. Com ela os códigos, as leis e as constituições se tornam pouco necessárias, vez que a lei natural a tudo sobrepõe. E o conhecimento tem sido vítima preferencial da cobiça desde meados do século passado, quando os belos tempos da Atenas Brasileira se passaram e todo aquele mundo cultural, das letras e do conhecimento passou a ser atacado ferozmente, especialmente, pasme, pelo mundo acadêmico universitário. Tudo o que nos remete àquele grande momento das luzes viraram vítima de quem pouco produz e muito destrói. A nossa bela foto de nascimento, a França Equinocial e a fundação de São Luís transformaram-nas em mito. E não somente isto, mas toda a presença estrangeira foi desmerecida e retirada de cena. O que seria do Maranhão sem o pioneirismo e presença francesa? O que seria do recife sem os holandeses de Maurício de Nassau. O que seria do Brasil sem o decreto português que abriu os portos às nações amigas; sem a Missão Artística Francesa de 1816, que criou a Escola Nacional de Belas Artes, trouxe o neoclássico, o Jardim Botânico, a nossa primeira constituição... O que seria do nosso país sem a contribuição inglesa, que nos permitiu o conforto através das maquinas e nos legou as cidades planejadas; o que seria do nosso país sem os braços e técnicas italianos... O que seria do nosso país sem os braços e pernas africanos; sem a expertise sírio-libanesa; sem as técnicas dos japoneses... Tudo isto vem perdendo valor nas últimas décadas, de fato, os ditames dos donos do mundo, catapultados pelos aplicativos, sistemas, redes sociais e demais engenhos tecnológicos então apregoados como bênçãos, se tornaram ferramentas perigosas para manipular e conduzir a humanidade para caminhos que nem sempre são bons. Ninguém se engane, a velocidade da informação enche os nossos olhos e nos seduz, mas o outro lado da moeda é que ela tem sido o cavalo alado montado pela ganância para se apropriar e conquistar o mundo. É ela que destruirá até a última coluna da sustentabilidade legada pelos antepassados tupis-guaranis e afros. Estamos entrando na geração 5G e o oriente já prepara a tecnologia 6G. Em pouco tempo o controle social será extremo e o homem será mais do que nunca uma máquina de produzir riquezas para os que detém a informação e limitam a nossa liberdade. No Brasil estamos vendo os dois lados da política emparedando um ao outro. E este estado de coisas só foi possível após a retirada gradual dos temas citados: a morte, a civilização, a ética e o conhecimento crítico. E por termos mordido a isca, por termos trocado a ética e o conhecimento verdadeiro pelo prazer, pela militância e pelo ativismo, tornamo-nos presas fáceis neste mundo em fim de feira, conforme podemos verificar nos profetas, no Apocalipse e na carta de Paulo aos Colossenses, quando ele fala que “O homem da iniquidade se sentará no trono de Deus e se julgará igual a Deus”. Neste momento de autoritarismo, alguém duvida que estamos vivendo tais tempos? A nossa disputa política tupiniquim também nos exorta que as liturgias e o rito nunca saem de moda e devem ser seguidos religiosamente, valorizando sempre a essência que é o conhecimento.

É por isso, confrades e confreiras, que a academia deve sempre um lugar de reserva de conhecimento, de princípios, de ética, onde não podemos abraçar o factual sem a devida crítica. E se todo o mundo exterior se degenerar, ainda assim devemos manter o rito, o conhecimento e o perseverar. Ainda que o navio sinalize que pode ir a pique, sejamos perseverantes como os músicos do Titanic, que, apesar da tragédia iminente, não paravam de tocar: “Mais perto quero estar, meu Deus de Ti (...) Ainda que seja a dor que me una a Ti (...) então me alegrarei, perto de Ti meu Rei. Perto de ti meu Rei, meu Deus de Ti”.

Confrades e confreiras, senhoras e senhores, muito mais teria a vos falar, mas poupá-los-ei de mais nhém nhém nhém... Agradeço a atenção de todos.

Vinícius Bogéa, seja bem-vindo á Academia Ludovicense de Letras. Muito obrigado!

CADEIRA19

PATRONO - JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA FUNDADOR - JOÃO FRANCISCO BATALHA

Eleição na AMML

Em eleição realizada nesta noite de 24 de outubro, na GLEMA, foi eleita a diretoria que regerá os destinos da Academia Maçônica Maranhense de Letras no biênio 2023/2024.

O pesquisador arariense João Francisco Batalha fez doação ao Arquivo Público do Estado, nesta quinta feira, 22 de dezembro, de uma coleção completa do jornal VANGUARDA (1964/1978).

Cadeira 20

PATRONO - JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA FUNDADOR: ARQUIMEDES VIEGAS VALE

CADEIRA 21

PATRONO - MANUEL FRAN PAXCO

FUNDADOR : LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

DO “PAU” PARA “CACETE”

LEOPOLDOGILDULCIOVAZ

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira

Professor de Educação Física (aposentado IF-MA; Mestre em Ciência da Informação

E Jorge Bento me manda um interessante artigo sobre o “Jogo do Pau”, de Mara Antonia Farias da Silva (Jogo do Pau, a mais antiga arte marcial portuguesa - Viver Bem Portugal). O jogo do pau é uma arte marcial portuguesa de origem popular tradicional. Em outras palavras, este jogo é como a esgrima, porém, com características diferentes. A principal delas é utilizar uma vara de madeira. Este jogo respeita a tradição e procura ser fiel à sua autenticidade e à forma ritual, apresentando algumas diferenças de estilo: no norte do País, o jogo émais rude, denotandocombate, enquanto noSul seevidencia mais aformadeexibição esportiva. No Brasil, o Jogo do Pau foi eternizado na literatura através da obra “O Cortiço”, de Aloísio de Azevedo. Assim, neste livro é relatada a luta entre um personagem que sabe jogar o pau contra um capoeirista brasileiro. Vieira (2004) ensina-nos que, de acordo com os melhores cronistas, que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’, na época do Vice-Rei, Marques do Lavradio. Em texto de Hermeto Lima, que se alinha se alinha com o de Macedo – cerca de 1770 - que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez omaisantigocapoeiradoRiodeJaneiro,jogandoperfeitamente,aespada,afaca, opaueaindadepreferência, a cabeçada e os golpes com os pés.” (Grifo meu).

A capoeira como luta aparece nas fontes de forma massiva a partir da segunda década do século XIX, justamente depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. A palavra “capoeira” era usada tanto para designar uma prática, quanto para um grupo de pessoas. Capoeira se referia então a um conjunto de técnicas de combate que envolvia tanto o uso de uma grande variedade de armas (facas, sovelões, navalhas, cacetes, estoques até pedras e fundos de garrafa) quanto o uso de golpes com as pernas ou a cabeça. (Vieira e Assunção, 1998).

Cunha (2013) chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria

na África Central denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira.

Assunção e Mattos (2009) nos trazem, em um DVD, o jogo do pau tal como era praticado no interior fluminense demonstra que nas fazendas e povoados do vale do Paraíba os escravizados e seus descendentes desenvolveram jogos de combate originais formados a partir de suas lutas ancestrais, das experiencias de cativeiro e das redes de sociabilidade no pós-abolição. Informam que além do jogo do pau, havia outros jogos de combate com cacetes, como o mineiro-pau e a caninha verde. Propõe a reconstrução do jogo do pau, com comparações com a capoeira e a pernada carioca.

Mineiro-Pau éumadança guerreiraporquenelase usaum bastãocomo arma deataqueedefesa em simulações de combate. Recebe ainda a denominação de Bateo-Pau-Mineiro. No grupo, formado por cerca de 25 componentes, os homens tocam e as mulheres cantam. Os homens vestem calça comprida e camisa e as mulheres, saia rodada e blusa, seguindo os enfeites o gosto do mestre. O acompanhamento musical se reduz geralmente a um acordeão no centro da roda, ao qual se juntam, por vezes, viola, violão ou violino, triângulo, pandeiro e tamborim. O solista (violeiro ou violinista) canta acompanhando a música com seu instrumento a fim de animar a dança, que começa com moças e rapazes formando um círculo de mãos dadas. A direção cabe ao mestre ou chefe, que comanda, com um apito, as evoluções, as batidas de bastão, o ritmo, a cantoria. A formação é em fileiras, círculos, pares, com ou sem dançador no centro. Os bastões, com cerca de metro e meio, de madeira roliça e resistente, permitem ao dançador um manejo firme e seguro. Os dançarinos voltamseoraparaadireita, oraparaa esquerda, enquanto sapateiam acompanhando o ritmo eocompassoda melodia. É uma das mais populares danças de pares soltos conhecidas no Brasil. Está associada ao ato de corte da canade-açúcar, por causa das viradas de um lado para o outro, ou ao Cateretê, por causa das batidas de palmas, ou ainda ao Batuque paulista, no qual se insinua a umbigada.

Em artigo de A PACOTILHA, de 20 de agosto de 1883, consta que “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)”

Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?”: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus. Afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847:

A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu

CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... O cacetistas armava-se na casa do chefe. .(Grifos meus).

O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869,emqueoSr.GomesdeCastroesclareceosacontecimentosocorridos noanoanterior,duranteaseleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão:

Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento.

Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudita violência.

Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará.

MELLO, 2016

“lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifosnossos).

1 VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/

1 “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por Vieira, 2004)

1 ASSUNÇÃO, Mathias R”orig; MATTOS, Hebe. Versos e cacetes: o jogo do pau na culturaa afro-fluminense. DVD, 37 minutos, 2009

Versos e Cacetes: O jogo do pau na cultura afro-fluminense (2009, legendas em português) - YouTube

1 Mineiro Pau | Mineiropau

1 Festas e espaços em transformação: a Caninha Verde em Vassouras-RJ (openedition.org)

SOUZA, Maria de Lourdes Macena de. Sem mar, sem lugar, sem mestre: Meu corpo como o território em que a Cana Verde do Ceará habita. Anais do 6º Congresso Científico Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição Virtual. Salvador: Associação Nacional de Pesquisadores em Dança – Editora ANDA, 2021. p. 3382- 3397.

1 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847

1 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São

Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205.

1 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107.

1 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150.

1 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER

1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012, Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas

1 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295,

O “PARTIDO CAPOEIRO” NO MARANHÃO – novas evidencias

LEOPOLDOGILDULCIOVAZ

A relação entre Capoeiras e Eleições no Maranhão, com a formação de ‘maltas’ que ora defendiam um ou outro partido, no período imperial – é evidenciada com o uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior,duranteas eleições deSetembro,em respostaapronunciamento –sessãodejunho -,proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão

Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?” 14: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus15 .

Mario Meireles (2012)16 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira17 . (p. 98).

Quando da Confederação do Equador, que reuniria os estados do Ceará e Maranhão, em sua lei magna constava em seu artigo 2º a divisão dos poderes políticos em Executivo e Legislativo, havendo um terceiro, Poder Capoeiral, no caso, Judiciário. No capítulo 4º , que tratava das eleições, para ser candidato a deputado, antes de revolucionário, deveria comprovar ser capoeira:

14 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205.

15 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107.

16 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702). In Historia de São LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99

17 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem...

Edição 00015 (1)

Jeronimo de Viveiros18 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847:

A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos e decididos... Os cacetistas armava-se na casa do chefe...19.(Grifos meus).

Pois bem, nas eleições de 1856, conforme notícia publicada na Bahia, o Partido Capoeiro já se fazia presente:

Ano 1856\Edição 00025 (1) – 19 de setembro, em O Constitucional : Folha Politica, Litteraria e Commercial (BA) - 1851 a1864

18 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847

19 ASATAS FALSASEO RECURSO DOS CACETES,AS REUNIÕESDOS PARTIDOS NOSDIAS DEFESTASNACIONAIS, DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150.

Registra-se também a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 20, em São Vicente de Ferrer, relatado em sessão do Senado21 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas

20 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas

21 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295,

no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 22:

Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento.

Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudita violência.

Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará.

“lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifosnossos).

“grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX.

Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’

http://books.google.com/books?id=WyBXAAAAMAAJ&pg=PA293&dq=capoeiro&hl=es&ei=l0A4TLa1D4m6jAfo3MWBBA &sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CEkQ6AEwBzgy#v=onepage&q=capoeiro&f=false

22

AINDA A A.D. MIRANTE

LEOPOLDOGILDULCIOVAZ

E eis que Zartu Giglio Cavalcante liga e nos dá mais informações sobre a A.D. Mirante, complementando as informações do Joaquim Haickel, com a trajetória do Vôlei: a origem, vamos dizer assim, da AD MIRANTE foi o TUPAN de Mário Cella. Por isso, ele me manda fotos e matérias com a sua trajetória.

1924 - A SociedadeEsportivaTupan e é originário do Tupan Sport Clube fundado em 23 de dezembro de 1924; começou a disputar o campeonato Maranhense em 1926, depois disputou o ano de 1930, foi campeão maranhense em 1932, bicampeão maranhense em 1935, e tri campeão maranhense em 1938.

1958 - No dia 23 de dezembro de 1958 um grupo de amigos da Madre Deus reativou o Tupan Futebol Clube, tendo o escudo a cara do índio, as cores oficiais azul, amarelo, verde e branco. Disputou os campeonatos da 1a divisão em 1976.

1978 - Em 1978 mudou o nome para Sociedade Esportiva Tupan e novas cores Azul, branco e vermelho. Segundo o informativo a mudança do nome foi para abranger novos esportes. Disputou os campeonatos até 1994, com exceção ao ano de 1991. Hoje é um clube social e de esportes amadores de São Luís. O clube revelou jogadores que se destacaram no futebol nacional e internacional, pode citar-se como exemplo o goleiro Clemer e o atacante Luís Oliveira, que disputou a Copa do Mundo de 1998 pela Bélgica. Com 38 participações no Campeonato Maranhense (21 como TupanSportClub e 17 como Sociedade Esportiva Tupan), é o quinto clube que mais jogou a competição. Sua última participação foi em 1994, quando ficou em 8º lugar entre 13 equipes.

2020 - Após 26 anos de ausência do futebol profissional (jogava torneios amadores em São Luís), o Tupan voltou à ativa em 2020[1] , disputando uma seletiva para definir os 2 classificados para a Segunda Divisão.

2021 - disputou a Pré Série B com 4 vitórias em 4 jogos, venceu Araioses 2 vezes pelo placar de 1 a 0 e o Expressinho por 2 a 0 e 3 a 0 chegando a fase de grupos terminando e 5º lugar. (Sociedade Esportiva Tupan – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org); Tradicional SE Tupan retorna ao futebol profissional maranhense ~ O Curioso do Futebol)

O Tupan volta-se para a disputa dos esportes amadores, a partir das intervenções de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, a partir dos anos 1970. Com a vinda de diversos técnicos, principalmente paulistas, naqueles anos, e, posteriormente, com a criação da SEDEL-MA (1979), o esporte maranhense se reestruturou, fundando-se diversas federações especializadas, dentre elas, a de Voleibol. Lembrando que, até então, tínhamos a presença da eclética – FMD, mas que só tratava quase que exclusivamente de futebol; havia os departamentos de esportes amadores, que tratavam dos demais campeonatos. Com a reestruturação do esporte brasileiros, a FMD passou à FMF, e abriu-se campo para a criação das outras modalidades. A esse tempo, apenas a Federação de Basquete – fundada nos primórdios dos

anos 1950 – e a Atlética – FAME – também dessa época; a de Handebol, embora fundada, não estava legalizada.

Mário Cella então toma a frente do Tupan, abrindo espaços para as demais modalidades. Segundo Zartu, em 1978 fora convidado pelo jornalista J. Alves para formar a equipe do Tupan:

1980 - Primeira equipe de Voleibol campeã brasileira, base do Tupan

1986 - foi quando Joaquim Haickel o procurou, para estruturar a equipe da AD, oferecendo melhores condições de trabalho. Então, a equipe do Tupan passou para a Mirante, já em 1985:

CADEIRA 22

PATRONO - JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS

ALBUQUERQUE MARANHÃO SOBRINHO

1º OCUPANTE - ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA

CADEIRA 23

PATRONO - DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES FUNDADOR - ÁLVARO URUBATAN MELO

CADEIRA 24

PATRONO - MANUEL VIRIATO CORRÊA DO LAGO FILHO

1º OCUPANTE - FELIPE COSTA CAMARÃO

CADEIRA 25

PATRONO - LAURA ROSA

1º OCUPANTE - MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO ANGELIM

CADEIRA 26

PATRONO - RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO

1º OCUPANTE JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO

Compartilhando algumas imagens da nossa participação, hoje pela manhã, numa roda de conversa com alunos do ensino médio da escola Newton Bello, em Trizidela do Vale, integrando a programação da II Semana Cultural Samuel Barrêto, da qual fui um dos idealizadores.

JOÃOZINHO RIBEIRO: POETA DA MÚSICA OU MÚSICO DA POESIA?

QUERO FAZER ESTA PERGUNTA PARA O ARTISTA QUE SE COMPLETA E NOS COMPLETA NESTAS LINGUAGENS QUE NASCERAM JUNTAS E NOS ACOMPANHAM AO LONGO DA HISTÓRIA. JOÃOZINHO RIBEIRO NOS TRAZ UM LEGADO

IMPORTANTE DA ARTE MARANHENSE E BRASILEIRA. PARCEIRO DE COMPOSITORES COMO ZECA BALEIRO E RITA BENNEDITTO,

PARA CITAR ALGUNS NOMES, TEM SEMEADO EM NOSSA CULTURA "MILHÕES DE UNS" E "PAISAGEM FEITA DE TEMPO". COM

PRESENÇA NACIONAL, O POETA REALIZOU TURNÊS COM SUA

OBRA POÉTICO- MUSICAL. A SUA DELICADEZA COM A MEMÓRIA E O TEMPO PRESENTE NOS EMOCIONA, QUANDO A SUA LINGUAGEM REFERE-SE À NOSSA ANCESTRALIDADE, AOS AFETOS

COMPARTILHADOS, À DENÚNCIA DA INJUSTIÇA E AO

VISLUMBRAR DE UM FUTURO DIGNO PARA TODOS. UM DE SEUS LIVROS DE POEMAS TRAZ O MENINO EMBEVECIDO COM A MAGIA DA CIDADE DE SÃO LUÍS, SUAS RUAS, BECOS, PERSONAGENS, QUE AJUDARAM A CRIAR O ARTISTA QUE HOJE REENCANTA A VIDA COM SUA PALAVRA POÉTICA E SUAS CANÇÕES.

SALVE O MARANHÃO DE FERREIRA GULLAR, LUÍS AUGUSTO

CASSAS, ZECA BALEIRO,NAURO MACHADO, GRAÇA ARANHA, JOSUÉ MONTELLO, MARIA FIRMINA, COELHO NETO E JOÃOZINHO RIBEIRO.

AGORA VAMOS CONVERSAR COM O POETA.

E TE ESPERAMOS LÁ!

HAMILTON FARIA

CANAL DO POETARIADO

CADEIRA 27

PATRONO - HUMBERTO DE CAMPOS VERAS FUNDADOR - JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

CADEIRA 28

PATRONO - ASTOLFO DE BARROS SERRA

1º OCUPANTE - BRUNO TOMÉ FONSECA

CADEIRA 29

PATRONO - MARIA DE LOURDES ARGOLLO MELLO (DILÚ MELLO)

1º OCUPANTE - AMÉRICO AZEVEDO NETO

CADEIRA 30

PATRONO - ODYLO COSTA, FILHO FUNDADOR - CLORES HOLANDA SILVA

CADEIRA 31

PATRONO - MÁRIO MARTINS MEIRELES FUNDADOR - ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

Ana Luiza Almeida Ferro

Quinta especial em SP. Conquistamos, pela seleção maranhense, o 3° lugar no Campeonato Brasileiro Interclubes - TMB Platinum, categoria Absoluto C Feminino.

AlgumasimagensdeminharecentepossecomoassociadacorrespondentenoInstitutoHistóricoe GeográficodeMinasGerais,emBeloHorizonte.Umeventomarcante.Minhagratidãoaosconfrades doIHGMGpelalindacerimôniaepelaacolhida,emespecialaopresidenteJoséCarlosSerufo,que conduziuasolenidade,eaoDr.AntonioCarlosdeAlbuquerque,quemesaudouembelodiscurso.

CADEIRA 32

PATRONO - JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO FUNDADOR - ALDY MELLO DE ARAÚJO

CADEIRA 33

PATRONO - CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA FUNDADOR - PAULO ROBERTO MELO SOUSA

CADEIRA 34

PATRONO - LUCY DE JESUS TEIXEIRA

1º OCUPANTE - CERES COSTA FERNANDES

IMPRESSÕES DE VIAGEM

Ceres Costa Fernandes

Estou de volta. E confesso que sou dos que partilham a opinião comodista de que o melhor da viagem é o regresso. Lembram aquele personagem do filme “O Turista Acidental” que, obrigado a viajar, procurava fazêlo como se não saísse de seu país, de sua cidade, enfim de sua casa? Essa é uma atitude extremada, mas não há como negar um paradoxal desejo do cotidiano, do familiar enquanto se busca o novo e o desconhecido. Talvez um modo de obtermos mais segurança ou de confirmar nossa identidade pátria em meio a culturas estranhas. É no terreno gustativo onde isso mais se evidencia. Aquela coisa do brasileiro querer tomar café com jeito e gosto de café brasileiro, e se pôr a reclamar do “chafé” que se serve por aí, com especial referência ao americano. Ou ensinar ao garçom que, de olhos arregalados, tenta compreender nosso linguajar, como se faz um bife de verdade: grosso, macio, tostado por fora e vermelho por dentro, em contraposição ao servido pelas europas, fininho, sem cor ou gosto definido.

Ficamos irritados com a mania dos povos do hemisfério Norte servirem qualquer prato com batatas, cozidas, fritas, assadas, sautés... E com um arrozinho, não vai nada? Vai daí, para não correr riscos, vão direto às casas de fast food. Ruim por ruim, pelo menos não terão surpresas. Nesse afã de conferir o conhecido – tenho uma amiga que, fora do Brasil, invariavelmente, pede banana como sobremesa. Vai-se a oportunidade de provar e descobrir o novo, que talvez traga boas e inusitadas sensações.

Deve haver uma relação com o retorno ao conhecido, ao passado idealizado, um fenômeno que ocorre nas grandes cidades: os points mais concorridos dessas metrópoles, o lugar cult de encontro , são justamente os que reproduzem o ambiente de pequenas cidades. Lugares de ruas estreitas, casas baixas, pequenos largos de igreja, que propiciam a convivência e o contato ausentes na pólis. O Convent Garden londrino é exemplo disso, suas ruelas e pracinhas fervilham à noite; da mesma forma que as vielas tortuosas de Bruxelas, próximas à Grand Place e os barzinhos empoleirados nas ladeiras do bairro de Alfama, na entrada de Lisboa. Montmartre, em Paris, é um bairro emblemático. Há séculos, artistas, escritores, intelectuais se refugiam em suas ladeiras, morando em pequenas casas ou estúdios, dando bom dia aos vizinhos, papeando com as comadres da redondeza e com o padeiro, como o faziam nas suas cidades de origem. E depois, quando essa praga que são os turistas permite, frequentam a Place de Tertre. Não deixa de ser paradoxal que pessoas abandonem suas cidades provincianas, cidades de muro baixo, em busca de maior privacidade, da anonimidade, e procurem esses núcleos reprodutores do cotidiano invasivo das pequenas comunidades para o lazer e moradia.

E continuamos na busca do próprio rosto. Se vamos a uma casa de fados, por exemplo, queremos ouvir – e reconhecer – aqueles mais cantados no Brasil. Explodimos em aplausos se o gajo canta “Teus Olhos Castanhos”, “Nem às Paredes Confesso” ou “Mouraria”, fartamente divulgados aqui, por meio de novelas, inclusive. Na verdade, aplaudimos menos o cantor que nossa capacidade de reconhecimento, congratulando-nos intimamente pela nossa sapiência e acuidade.

E agora uma pergunta e uma observação desvinculadas do capítulo “eu quero a minha mãe”. Quem alguma vez entrou de gaiato naquelas verdadeiras romarias a Veneza, Sant Michel e outras cidades famosas, em que pessoas percorrem ruas estreitas espremendo-se em intermináveis filas – uma indo outra voltando -, como gado num brete? Experimentaram observar a cara dos outros turistas? Pois é, então constataram que quase todos exibem uma cara de enfaro e um olhar bovino , como a dizer: “E eu com tudo isso”?..

Sobre esse enfaramento de quem cumpre uma obrigação “cultural”, mas não está entendendo nada, lembro-me de um grupo de turistas em Pompéia, da vez que lá fui com um grupo guiado – que ninguém percorre sozinho o labirinto de Pompéia, impunemente. Compunha o grupo um falante casal de novos-ricos paulistas, acompanhado do filho, um garotão armado de uma filmadora supermoderna a reclamar, a todo instante, que não ia gastar filmagem com aquele monte de velharias. Lá pelas tantas, chegamos a um lugar onde estão expostas reproduções famosas de moradores da cidade cujas formas foram preservadas pelos moldes de lava que recobriu seus corpos, permitindo, à moda dos fósseis, sua reconstituição. Diz o filhote, Olha quanta estátua de gente feia! Responde o sábio pai, Não diz besteira, menino. Não tá vendo que são múmias?

Depois dessa, resolvi deixar o grupo e gozar sozinha daquela cidade mágica. Não preciso dizer que me perdi. E pior, na volta, a correr para não perder o ônibus, recebi uma salva de palmas dos passageiros, já todos acomodados, o que, na linguagem do turismo organizado, equivale a uma bem dada vaia.

EXPECTATIVAS MINGUANTES

Ceres Costa Fernandes

Alguns chamam de sonhos, outros de planos ou desejos, eu acho mais adequado dizer expectativas. Expectativas, até os mais céticos e os chamados pés-no-chão não deixam de ter. Tempos atrás, desejávamos que nossos filhos crescessem educados, saudáveis, bons cidadãos, ingressassem nas careiras de profissionais liberais, industriais ou comerciantes, as mais cotadas, namorassem, noivassem e se casassem com moças ou rapazes igualmente educados e de futuro assegurado, saudáveis e bonitos para que os netos acompanhassem o padrão. E mais, cada filho deveria a sua própria casa e ser feliz para sempre com o companheiro, sem nunca se esquecer dos velhos pais, trazendo os netos para o nosso orgulho e gáudio.

E elas, as expectativas, foram minguando, minguando... Apenas estudar, em si, passou a ser suficiente. O curso? Ora o curso quem faz é o estudante. Aceitamos até os mais esdrúxulos, aqueles que nem os cursantes sabem bem o que vão fazer com eles. E, tem mais, se não cursarem coisa alguma e nem tiverem emprego, que continuem morando com os pais, que as estatísticas já revelam como o comportamento usual da maioria. Os netos? Ora, se não vierem, tem tanto pet por aí precisando de adoção...

As expectativas atuais resumem-se em desejar que os filhos não se tornem drogados nem marginais. Se quiserem estudar alguma coisa será lucro, mas não vamos aperrear os coitados, podem se estressar e piorar as coisas. E, convenhamos, arranjar emprego está tão difícil, com essa crise...

E ficamos nos herdeiros? Bom seria. O que esperamos hoje do Brasil, dos nossos governantes, dos nossos políticos? O mínimo: que não sejam ladrões, estelionatários ou, se o forem, que roubem pouco e realizem muito. Aceitamos que nossos parlamentares sejam condenados a 19 anos de prisão e que, aos dois anos cumpridos, já saiam de tornozeleira, o que, de resto, não envergonha mais ninguém. Em algumas classes, já configura status.

Dos nossos prefeitos, não esperamos grandes obras, nem obras mínimas de infraestrutura, mas que asfaltem as ruas, fechem os buracos, recolham o lixo de vez em quando, pintem as faixas de segurança, consertem os sinais e conservem os ônibus trafegando. Ah, também um tanto de esparadrapo e mercurocromo nos hospitais. Não mais estranhamos os engarrafamentos e atropelamentos diários de motociclistas. Transporte de massas moderno? Bonitos, o das outras capitais, né? A população também se acostumou a dormir nas filas de marcação de consultas, acha até normal. Já tem até emprego de guardador de lugar nas filas e o dos que vendem lugares bem na frente, emprego de aluguel de cadeira e venda de água e lanche. Nos tempos de hoje, não vale a pena desempregar mais pessoas. Do governo, consideramos suficiente que seus dirigentes e comandados paguem os ordenados em dia e não deixem faltar água e luz, embora a gente não se importe de comprar água de vez em quando, os carros-pipa fazem parte da nossa paisagem, não é? Segurança, isso a gente nem pensa que seja possível. Com tudo o brasileiro se acostuma. Não tem gente que mora em encosta de vulcão; perto da praia, onde, de vez em quando, sobe um tsunami; em lugar, onde a terra treme quase todo dia; em outros, que sofrem bombardeios diários até em colégios e hospitais? Vai morar na Ucrânia. Está se queixando de quê? De uns bandidinhos que entram em sua casa, lhes dão umas coronhadas e roubam tudo o que cabe no seu carro e em mais outro? Sorte sua se não matarem ninguém.

Aprendemos táticas de guerrilha, andar vigilante, não resistir, não deixar carro em lugar deserto, não sair com relógios, brincos, pulseiras, celulares, bem vestidos, tênis de grife, não tirar dinheiro em bancos – se tirar, fique algumas horas dentro do estabelecimento, para o motociclista da saidinha, que está lhe esperando, ficar de saco cheio e ir embora –, não voltar tarde para casa; não sair de casa naqueles horários em que os bandidos sabem que as pessoas vão ao trabalho ou deixar filhos e netos na escola. De preferência não sair de casa. Andar com cópias dos documentos e não ser aceito nos lugares em que é necessário apresentar os documentos originais. A lista é longa, não terminará. Enfim, quem não tem expectativas não se decepciona. Tá tudo bom. Amém.

Qual o seu conto de desfecho mais impressionante? Quanto a mim, marcou profundamente a minha mente de jovem leitora "O Barril de Amontillado", de Edgar Allan Pöe. Bem construído, o conto é narrado em suspense crescente até o clímax da história, coincidente com seu final - como deve acontecer em todos os bons contos -, um dos protagonistas, vítima de vingança, é emparedado vivo em uma adega. Essas histórias de emparedar gente, seja na ficção literária, sejam em outras histórias verídicas sempre me causaram forte impressão. Quando criança, sonhava entrar em canos estreitos ou caindo em poços profundos. É uma neura – juntamente com a de ter o pé preso em um trilho de via férrea, sem nunca ter morado perto de trilhos de trem.

Dia desses, descobri que o emparedamento não é uma tortura reservada apenas às pessoas, deparei com uma casa emparedada em plena Rua dos Afogados. Boquiaberta com a visão, parei na calçada em frente à casa. Foi vê-la e sentir, logo, a conhecida sensação de sufoco. O proprietário rodeou o imóvel – que é paredemeia com um pequeno edifício –, na frente e no lado livre com um muro muito alto, que ultrapassa o telhado. Só por uma pequena e acanhada porta de ferro, fechada por uma grossa corrente, têm-se acesso à casamata. Uma fortaleza ou será a torre de Rapunzel? Inacessível. Fiquei a matutar. Que tremenda culpa teria aquela pobre casa para merecer o castigo supremo de ser emparedada. Sofrer um tão completo isolamento como se fosse o foco irradiador de um terrível mal.

Depois de muito, entendi que a razão do isolamento poderia ser oposta à inicialmente considerada: seria o temor de que a casa contraísse o mal que anda a assolar os prédios vizinhos. Nessa mesma rua, bem próximo a ela, desabou um sobrado revestido de belíssimos azulejos, na esquina de Santaninha com Afogados. Mais adiante, uma outrora imponente casa que serviu, nos seus anos magros, de abrigo a estudantes universitários, reduziu-se a um monte de escombros. E como se não bastasse, subindo ainda um pouco a rua, já meio emparedada, está, cai não cai, uma meia-morada, com as janelas tapadas por tijolos, de modo a servir de sustento às paredes carcomidas. É de assustar. Talvez seja mesmo necessário emparedar as casas vizinhas antes do contágio fatal.

Mas ao invés do suposto vírus moderno, as casas de São Luís bem podem estar sendo acometidas de nossa velha e conhecida lepra.. E não pensem que invento coisas. Casas acometidas de lepra são fatos consabidos, desde a época de Moisés, e devidamente registrado no Grande Livro, mais precisamente no Levítico, Capítulo 14. Lá se trata da lepra das casas e também do importante modo de curá-las. Receita exclusiva dos sacerdotes de Israel. .

O primeiro sinal visível do contágio são as tabuletas de VENDE-SE ou ALUGA-SE pregadas nas portas. Tratase de um disfarce - sabemos que elas jamais serão vendidas ou alugadas. Estas tabuletas são como palimpsestos, nas quais, por detrás do anúncio, podemos entrever o aviso: AFASTE-SE, CASA CONDENADA.

Elas nos contam, de modo resumido, o drama da fuga dos moradores. Após muita relutância, esses moradores abandonaram as belas casas senhoriais, abrigo de suas famílias por gerações. Fugiram do perigo do isolamento das noites e dos finais de semana, que os impedia até de abrir a janela; da vizinhança de bocas de fumo que se instalam em escombros de casas próximas; do inferno das buzinas e dos engarrafamentos durante os dias ditos úteis.

Nas casas abandonadas, rapidamente instala-se o mal. Trepadeiras enroscam-se nos beirais de faiança e, mercê das chuvas, eles desabam junto com os telhados mal cobertos. Perdida a proteção maior, as paredes interiores de taipa grossa, umedecidas, começam a esboroar. As paredes exteriores de pedra-e-cal permanecem de pé. Se cobertas pelos preciosos azulejos, são despidas, num piscar de olhos, por mãos piedosas que não querem as pequenas peças de porcelana, assim, mal empregadas. Melhor conservá-las decorando as paredes de suas modernas casas. E, com os azulejos, vão-se as grades artísticas de ferro fundido, as portas almofadadas de madeira de lei, as bandeiras das portas com vitrais coloridos, os beirais de faiança, os portais de cantaria...

LEPRA
A
DAS CASAS

Ao fim e ao cabo, o cenário é de cidade bombardeada. Onde a guerra não noticiada? E assim, uns poucos moradores renitentes, que se recusavam a abandonar tão inóspito lugar, logo se vêem rodeados de escombros. E rendem-se, fugindo, eles também. Condená-los, quem há de?

Vai longe o tempo em que as residências das ruas dos Afogados, do Alecrim, do Sol, da Cruz, Pespontão, suas transversais e outras mais de endereço nobre eram disputadas pelas famílias de fino trato. Valorizava-as a brisa fresca do mar, a bela vista da baía de São Marcos, sempre à disposição das janelas dos mirantes. Contava também a proximidade com o comércio, repartições públicas, bancos, igrejas e logradouros importantes. Na São Luís de alguns anos atrás, morar fora desse núcleo, onde se alcançava tudo a pé ou em românticos bondinhos, era morar no arrabalde.

O Mal se propaga acelerado pelas casas do Centro Histórico desta São Luís tão bela, Patrimônio da Humanidade, uma das cidades mais singulares do Brasil. Urbanistas, engenheiros, autoridades, mães-desanto, empenham-se em debelá-lo. Debalde. Resta-nos contemplar as ruínas dos casarões como contemplamos as do Partenon, as do Palácio do Rei Midas, as de Alcântara, e reconstituí-las, em todo seu esplendor, com a nossa imaginação Ou recorrer, urgente, aos sacerdotes da tribo de Levi.

DE PEIXES E SOLIDÃO

Ceres Costa Fernandes

Quanta companhia nos faz um peixe? Nenhuma, dirão alguns; dentro d’água, nadando, traz tranquilidade, diriam outros; bastante mais do que a presença do meu marido, dirá a mulher desamada. Alguns glutões materialistas podem preferir a companhia efêmera, enquanto dura uma degustação, do peixe frito com arroz de cuxá. A resposta é complexa, envolve solidão, coisa fina e dorida. Difícil de lidar.

E, então? Qual a razão desta pergunta despropositada? Veio da leitura de umas cartas, alguém ainda escreve cartas, criatura? Nem os Correios se animam a entregá-las mais. Sabe aquela propaganda antiga que dizia: Os Correios entregam cartas nos endereços mais estranhos, assim: na Rua Direita, primeiro canto, dobrar à esquerda, atravessar três ruas e, defronte de um pé de caju, está o nº 13, da D. Ritinha. Pois sim, remeta uma carta sem CEP e veja o que acontece, nem o procuram na Internet. Devolvem a cuja cheia de carimbos, destinatário não encontrado. Em áreas perigosas, mesmo com o CEP, não vão lá. Carteiro-herói enfrenta cachorro, diz o folheto, mas bandido já é demais.

Penso que o gênero epistolografia se acabou. Que fariam, hoje, Abelardo e Heloisa, Fernando Pessoa e Ofélia, Sóror Maria Alcoforado, Carlos Drummond e Mário de Andrade? Penso que os casais enamorados e a freirinha ardente trocariam confissões manuscritas, tão frias, pelo celular. A voz aquece o amor. Trocariam emojis: um coração pulsando! O par de grandes escritores certamente pertenceria a um grupo de whatsaap de literatura. Não sobraria nada no baú para a posteridade bisbilhotar e editar.

Ora, estou a enveredar por caminhos outros. Que cartas são estas que eu li? Aquelas que as crianças escrevem para Papai Noel – mito perverso pra deixar criança pobre esperando brinquedos que não terá – e que são “respondidas” por pessoas dispostas a colaborar com os sonhos dessas crianças.

Os Correios promovem esse contato epistológrafo entre as crianças e adultos imbuídos, digamos, de espirito natalino. A mecânica é assim: as crianças escrevem para Papai Noel com o pedido e o endereço para entrega; as pessoas vão ao correio, leem e escolhem as cartas, deixam os pacotes dos presentes, identificados com os números das cartas, ao pé da árvore armada lá na agência. De lá, véspera de Natal, os funcionários, com muita pompa, levam os presentes em caminhões para a entrega.

Sentei e li algumas cartas. Muitas pedindo celular e jogos eletrônicos. Colaborar com a alienação? Huum, não. Ainda mais, querem Iphones e jogos caros. Não é para meu bolso. Algumas, mais factíveis, pedem helicópteros, bonecas, dinossauros, bolas de futebol. Melhor.

De repente, Joanilsson, 8 anos, pede um peixe, isso mesmo, um peixe. Para fazer companhia a ele e a sua avó, que moram sós. Puxa, não é um cachorro, um gato, mas um peixe. Obviamente dentro de um aquário. Ele não especifica. Fico com vontade de atender. E se alguma loja montasse o aquário na casa do menino? Quebra o sistema de entrega, é uma exceção. E a manutenção, alimento, luz, muito caros. E se o peixe morrer antes? Descartei o peixe.

Atendi a outros pedidos. Mas o peixe não me saiu da cabeça. Nem a solidão dos dois. Os pais morreram? Separaram-se? Abandonaram o menino? Hoje, cada vez mais, avós criam netos, cercando-os de muito amor e dedicam a eles o tempo que os pais não mais possuem. Os resultados são bons e desmentem a expressão pejorativa “criado(a) por avó”. Gostaria de saber se Joanilsson ganhou o seu peixe.

CADEIRA 35

PATRONO - DOMINGOS VIEIRA FILHO

1º OCUPANTE - JUCEY SANTOS DE SANTANA

CADEIRA 36

PATRONO - JOÃO MIGUEL MOHANA FUNDADOR - RAIMUNDO DA COSTA VIANA

CADEIRA 37

PATRONO MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD

1º OCUPANTE - JADIR MACHADO LESSA

CADEIRA 38

PATRONO - DAGMAR DESTÊRRO E SILVA 1º OCUPANTE - JOSÉ NERES

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O EMBATE, OPS... DEBATE

Bastaoeleitorouviralgunsminutosdo"debate"paraperceberque,nãoimportaquemganhe,oBrasil estará em boas mãos. Todos os candidatos têm ótimos projetos, excelentes planos de governo, são puros,refinados,educados,honestoenadatêmoqueesconderdoseleitores.

Mas...

Houvequemvociferasse.Houvequemfizesseposedegalã,Houvequemprometesseocéuequematé quisesse sabersobreoinferno. Houvequemapontasseodedoemriste. Houvequemimplorasse por um direito de resposta. Houve respostas que não respondiam. Houve dúvidas que se eternizaram. Houve dúvidas que viraram dívidas e dúvidas divididas que se multiplicaram ao infinito... Propostas rasasparatodososgostos..Houveprofundasfaltadesenso.Houvequemdecorasseumarespostade efeitocomtantoafincoque,aoserconfrontado,tivessequevoltaraocomeçoparalembrarpalavrapor palavraoquedeveriadizer,mesmosemacreditaremnemmesmoumadaspalavrasquesaltavamdos lábiosnervosos.

Houvequemfossechamadodeladrão,decorrupto,deaproveitador,etc.etc.etc.Mashouvetambém quesesentisseofendidoporterdetalhespúblicosdesuavidadevassadoselevadosàtela. Parece apenas pelo menos até onde vi, que por ali não passou o tal de respeito ao próximo, nem a chamadaempatia.Diantedascâmeras,cadaumprocuravaomelhorângulo,faziaamelhorinflexãode voz,mostravaorosnadomaisameaçadore...fugiadaperguntasfeitas.

Contudonãofugiamporacidente,massimcomoensaiadaestratégiaparanãoofereceremaindamais muniçãoparaosadversários.

Interessante... Todos ali eram extremamente capacitados, honestos, dignos, mas viam diante de si alguémincapaz,desonestoeindigno...Parecemqueseviamdiantedeumespelho...Semrefletir,reflito nooutrooquesou,oquefuieoqueserei.Reflexodeumhojeaserrefletidonoamanhã. Como diversão, o debate foi interessante. Vários esquetes de humor, terror, distopia e de vergonha alheiapreencheramumaprogramaçãovazia.Comoanedotafoiquasebom...Masparadecidirumvoto foiumaverdadeirainutilidade....edemalgosto...

Nofinal,todososcandidatoseseussimpatizantessesentiramvitoriosos.Caladinho,aquinomeucanto, sóconsigofecharosolhoserepetirmilvezes:"Pai,perdoai,elesrealmentenãosabemoquedizem"

JOIZA COSTA SOBRE A OBRA DE JOSÉ NERES: "...PARA ALÉM DE UMA ESTRUTURA MÉTRICA IMPECÁVEL"

convidada

JOIZA CAMPOS

A DOR SANGRA EM NOSSOS OLHOS

Joizacawpy Muniz Costa

José Neres com seu fazer poético em “A dor sangra em nossos olhos”, nos presenteia com uma poeticidade abundante, em estrutura de sonetos riquíssimos na costura poética de cada verso e de cada estrofe.

Para além de uma estrutura métrica impecável, Neres traz em forma de poema a realidade nua e crua que muitas vezes é desagradável. De um jeito sensível e atento ele sobrevoa todo um panorama da realidade social desigual, em especial a ludovisense, dispensando arranjos de “brilhos” trazendo a realidade que às vezes se mostra na fome, na orfandade, no que ele denomina de sub-viver.

“Fome inimiga e feroz mortal/Mercadoria que não se consome/Que não sai em coluna social/Famélicas crianças em orfandade/Social lutam pelo sub-viver/Mãos que pedem, roubam para comer/Restos de fétida sociedade...

O poeta externa toda sua indignação diante de um cenário social recheado de injustiça, traz para os versos um ar de revolta e denúncia. Evoca temas que muito são vistos, porém muito ignorados, principalmente por aqueles que devem resolver problemas de ordem social e humana. Mas para além dos que tem o compromisso oficial de resolver tais questões, traz também para nós cidadãos comuns momentos de reflexões sobre essas pequenas grandes responsabilidades e sobre nossas contribuições a essa sociedade ferida e marginalizada.

Para além desses aspectos de incômodo diante das duras realidades sociais, José Neres oferece nesse título outros aspectos com um fio de filosofia dentro de sua tessitura poética, onde o lirismo transborda o refletir.

“Na dura angústia em que me encontro/ Todo cheio de um vazio imenso/ Luto só por um pouco do nada/ para continuar vivendo.”

Onde cabe o entendimento da enchente do vazio? Ou o entendimento de um preenchimento pelo nada para continuar vivendo? Entendimento? Talvez algum, mas o aspecto filosófico é provocar indagações, e o autor o faz com maestria.

Em” A dor sangra em nossos Olhos”, cabe um pouco de tudo, sociedade, amor, mentira, desilusão, tudo cuidadosamente costurado por um lirismo elaborado da mais alta qualidade que o escritor tem a oferecer.

da Academia Poética Brasileira Joiza Costa e José Neres

PÁGINAS QUENTES NA PROSA MARANHENSE

JOSÉ NERES

Ignoradas por muitos, vista com desconfiança e/ou com preconceitos por outros, as obras literárias que valorizam as minuciosas descrições ou que pelo menos insinuam parte da intimidade das personagens são muitas vezes tidas como subprodutos literários. Sempre foram, contudo, consumidas na calada da noite ou mesmo por trás das diáfanas vestes de moralidade que constantemente ornamentam os diversos períodos de nossa sociedade.

Ao longo da história da humanidade, algumas obras foram consideradas obscenas e tiveram sua leitura desaconselhada para um público considerado muito jovem para ter sua inocência “corrompida” por autores que constantemente desrespeitavam a moral e os bons costumes. Obras como “Sonetos Luxuriosos” (Aretino), “Satíricon” (Petrônio), “Teresa Filósofa” (Autor desconhecido), “O Sofá” (Clébillon Fils), “120 dias de Sodoma” (Marquês de Sade), “Fanny Hill” (John Cleland), “O Decameron” (Giovanni Boccaccio), “Trópico de Câncer” (Henry Miller), “O Delta de Vênus” (Anaïs Nin), “A Vênus das Peles” (Sacher Masoch), “O Amante” (Marguerite Duras) e “História do Olho” (Georges Bataille), entre outros, divertiram e escandalizaram o público leitor e causam polêmicas que perduram até o presente momento.

A literatura brasileira também é farta de exemplos de obras consideradas obscenas por alguns leitores, como é o caso de “O Elixir do Pajé” (Bernardo de Guimarães), “A Casa dos Budas Ditosos” (João Ubaldo Ribeiro), “Tara” (Cassandra Rios), “O Comitê” (Adelaide Carraro), “Pornochic” (Hilda Hilst), “Bom Crioulo” (Adolfo Caminha), “A Carne” (Júlio Ribeiro) “O Amor Natural” (Carlos Drummond de Andrade) e “Poética na Política” (Glauco Mattoso). Essas e outras obras dividem opiniões e são, não obstante o sucesso alcançado por seus autores, constantemente questionadas ou vistas como trabalhos de qualidade duvidosa. Isso ocorre às vezes por desconhecimento ou talvez por um preconceito atávico que inibe o contato com textos considerados “impuros” ou desaconselhados para determinadas faixas etárias, o que em muitos casos é bastante compreensivo.

Conforme ocorre em todos os Estados da Federação, no Maranhão existem alguns autores e autoras em cujas obras podem ser encontradas cenas consideradas “quentes” demais. Em alguns casos, os livros são

verdadeiros clássicos com algumas pitadas de cenas picantes. É o acontece, por exemplo, em O Cortiço (Aluísio Azevedo) – impossível esquecer as cenas quem a sedutora Rita Baiana aparece e as peripécias de Pombinha, O Dono do Mar e Saraminda (José Sarney) – autor que descreve algumas cenas consideradas eróticas com grande maestria, e Noite sobre Alcântara (Josué Montello), onde o autor estimula o leitor a espiar pelas frestas de situações que podem até mesmo ruborizar os menos afeitos a algumas narrativas.

Mais recentemente, alguns autores têm reservado algumas páginas para apimentar a imaginação do leitor com cenas e descrições de corpos e de situações que oscilam entre a sensualidade e o erotismo. É o caso, por exemplo, de Bruno Azevêdo, que em “A Intrusa” e em “Breganejo Blues” discute temas como homossexualidade masculina e feminina, desejos carnais, fetiches e coloca suas personagens em uma infinidade de situações que tanto podem levar ao riso quanto à reflexão a respeito da sexualidade humana. Nessa mesma linha, entre o trágico e o riso, Joe Rosa, escritor mineiro há bastante tempo radicado no Maranhão, publicou os romances “O Gosto Amargo da Cereja” e “Sol para Quarto Mofados”, livros que trazem à tona discussões acerca de contágio por infecções sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids, preconceitos sociais, adultérios, sexo na terceira idade, violência sexual, vingança e psicopatologias ligadas às frustrações sexuais. Em uma linha mais delicada, a romancista Dorinha Marinho publicou a novela “As Diferentes Faces do Amor”, que trata das relações amorosas entre duas mulheres, enfatizando dúvidas, prazeres e percalços que podem advir de relações amorosas como a que é trabalhada no livro, mas sem remeter a julgamento de valores e sem incentivar preconceitos.

No entanto, quando se fala em páginas literárias “quentes” na literatura maranhense contemporânea, não se pode deixar de citar pelo menos quatro escritoras que, cada uma dentro de seu estilo, têm investido com mais intensidade nessa vertente. São elas: Eliane Morais, Ahtange Ferreira, Mônica Moreira Lima e Everlany Corrêa.

Autora, até o presente momento, de dois romances, “Comensais” (2014) e “Rol das Faces” (2019), Eliane Morais é uma premiada escritora que costuma trabalhar com personagens cosmopolitas e ambientar as narrativas em diversas partes do mundo. As mulheres de seus livros são geralmente fortes, decididas e sensuais. As descrições das cenas mesclam a delicadeza da paixão com o furor das entregas físicas. As descrições são detalhadas e costumam seguir uma sequência de começo, meio e fim, como se houvesse um ritual universal a ser inconscientemente seguido pelas personagens. As histórias são bem construídas e prendem o leitor ao longo de todo o livro.

Já em Ahtange Ferreira, autora de livros como, por exemplo, “Marcas Indeléveis – é possível recomeçar” (2012), “Psicopatia – o inimigo pode estar ao seu lado” (2013) e “Teu Olhar – uma mulher, dois homens e um desejo” (2015), a narrativa costuma correr em ritmo de bestseller. As tramas são minuciosamente elaboradas e as cenas eróticas beiram à sofreguidão, desenhando na mente do leitor cada detalhe da relação física, mas sem deixar de lado as implicações sociais e psicológicas que podem resultar dessas entregas. Ahtange não se limita a contar uma história, ela acaba tecendo uma rede de intrigas que serve também para alertar o leitor sobre algumas relações aparentemente banais, mas que podem ser perigosas.

A jornalista e escritora Mônica Moreira Lima é autora de dois livro de contos cujos títulos algumas pessoas preferem nem mesmo mencionar, por considerarem ofensivos: “Sexo para maiores de 18 (cm)” (2008) e “Pirocadas Avulsas” (2015). Em um estilo que prima pela brevidade e pela explicitação das intimidades das personagens, a autora consegue fazer o leitor rir das situações que são narradas. Os textos são curtos e certeiros, mas não são gratuitos. Deixam sempre alguma lição sobre temas que muitas vezes são vistos como intransponíveis tabus. Os contos de Mônica Moreira Lima são bem escritos e patrocinam bons momentos de leitura.

Por sua vez, a professora e escritora Everlany Corrêa, autora de “Diário de uma Separação” (2021), “Confissões de uma Amante” (2018) e “Amante para Casar” (2019) investe em uma literatura na qual a narradora apresenta um tom confessional, teoricamente fazendo um pacto autobiográfico com a autora, mas com trechos devidamente selecionados com a finalidade de causar a empatia com seu público-alvo. As histórias são geralmente narradas de uma forma cronológica e buscam manter uma coerência com relação

às obras anteriores. Ao longo dos textos, a autora discute violência, fetiches, relacionamentos abusivos, tudo mesclado com descrições de cunho erótico em narrativas sem primeira pessoa. Essas obras são geralmente voltadas para um público adulto. Algumas apresentam uma tessitura narrativa mais elaborada do que outras, mas todas podem oferecer bons momentos de entretenimento e até mesmo de aprendizagem. E, principalmente, seus autores e autoras merecem respeito, pois cada trabalho desse só chega às mãos dos leitores à custa de um grande investimento de tempo e de dinheiro por parte desses(as) escritores(as).

A literatura maranhense tem diversas facetas, e essas obras consideradas eróticas por muitos ajudam a compor nosso cenário literário. Vale a pena ler esses trabalhos.

NOTAS DO EDITOR

ELIANE MORAIS é escritora, poetisa e romancista. Lançou seu primeiro livro, o romance intitulado “Comensais”, em novembro/2014. Tem contrato assinado com a Chiado Editora de Lisboa / Portugal. Pertence a SOBRAMES MA (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores MA), membro correspondente da UBE RJ (União Brasileira de Escritores RJ). É participante ativa em congressos nacionais e internacionais, possui diversas poesias e contos em Anais e Antologias.

AHTANGE FERREIRA é imortal da Academia de Letras de Paço do Lumiar, palestrante e militante contra a violência doméstica, em Paço do Lumiar, coordena a campanha “Maria da Penha em Ação: Por um Paço sem violência”. Participou em 2015 do projeto Mochila Literária em Fortaleza, participou fazendo lançamentos nas bienais do Rio e de São Paulo, Feira do Livro de São Luís entre outros eventos no cenário literário. Dona de uma narrativa ágil, em que a constante movimentação das personagens se torna um imperativo para prender o leitor, a autora utiliza-se de diversos recursos para manter e compor sua narrativa. De acordo com Ahtange, ao mergulhar nas páginas de “Teu Olhar”, qualquer leitor estará diante de um livro que, apesar de algumas cenas mais próximas à estética neo-naturalista, prima por uma visão romântica da realidade, com uma divisão maniqueísta da vida, com o bem e o mal claramente delineado..

jornalista, escritora e radialista MÔNICA MOREIRA LIMA Aos 47 anos, ela se tornou líder de audiência no Maranhão e musa nas redes sociais. O motivo é um só: o jeito desinibido e provocativo com que trata de sexo no programa “Sem vergonha”, da TV Guará, afiliada da Record no Maranhão. Com 30 anos de carreira, Mônica sempre chamou atenção por sua fala enérgica e posicionamento contundente e até mesmo parcial em assuntos políticos ou mesmo em pautas policiais. Mas foi no comando do programa, criado especialmente por e para ela, que seu nome caiu na boca do povo.

EVERLANY CORRÊA - Escritora | Conteudista São Luís, Maranhão, Brasil - Professora efetiva, aprovada em concurso público pelo munícipio de Santa Helena-Ma. Escritora nata e por paixão; autora de "O mal do século", "Amor proibido", "Os encantos de Helena" e "Confissões de uma amante". Muitos amigos próximos e alguns conhecidos, me procuram bastante, já faz algum tempo, para que eu possa ajudá-los de alguma forma. Seja para fazer uma revisão de um texto, um artigo científico, uma simples mensagem de aniversário para um amigo ou namorado(a) e, por incrível que pareça, até um status para o Whatsapp.... então, devido a isso fiquei refletindo sobre quantas milhares de pessoas espalhadas por aí, têm essa mesma dificuldade e, foi pensando nisso que decidi criar um meio de ajudar a quem precisa, e, é claro, sendo remunerada por isso. Em suma, eu gostaria de oferecer o meu trabalho como FREELANCER, para executar revisões de textos, elaborar artigos para blogs, conteúdos para sites, mensagens exclusivas de aniversários de namoro, casamento, de reconciliação e até rompimento. O conteudo não importa. O cliente é quem diz.

NEURIVAN SOUSA – UM SEMEADOR DE PALAVRAS JOSÉ NERES

Imagem fornecida pelo autor. Como praticamente tudo no mundo, a literatura está sempre em processo de renovação. Novos livros e autores iniciantes convivem com obras consagradas e com nomes que são considerados referência nos vastos terrenos das letras tanto em prosa quanto em verso. Apesar de algumas pessoas ficarem presas ao passado e à tradição, é sempre importante observar o surgimento de novos valores, que nem sempre aparecem com o objetivo de desafiar um sistema literário hipoteticamente solidificado, mas sim como forma de oportunizar novas experiências de leitura para os admiradores da literatura.

Um desses talentosos escritores que vem conquistando espaço entre os leitores é o poeta Neurivan Sousa, que tem se dedicado à poesia e às obras voltadas para o público infanto-juvenil. Nascido no município de Magalhães de Almeida, quase na metade dos anos de 1970, quando o Brasil enfrentava um momento histórico bastante complexo, o jovem mudou-se para a cidade de Santa Rita, onde fincou raízes. Além de poeta e prosador, Neurivan Sousa é também professor e já participou de diversas antologias, tendo publicado os seguintes livros: “Polifonia do silêncio”, “Lume” (2015), “Palavras sonâmbulas” (2016), “Minha estampa é da cor do tempo” (2017) e “O pequeno poeta” (2015-2017) e “Ribamar: o menino peixe” (2020), voltados para o público infanto-juvenil, mas recomendados para leitores de todas as idades.

Desde seus primeiros trabalhos, Neurivan Sousa demonstrou uma criteriosa preocupação com a escolha das palavras. A construção de seus poemas evoca sempre um cuidado com as escolhas lexicais e com o conteúdo a ser transmitido. Não são poemas escritos com o objetivo de apenas preencher uma página ou de solidificar imagens poéticas sem profundidade. O que se percebe é que o poeta está sempre atento aos acontecimentos do mundo, seja com relação às questões sociais, seja nas incursões do ser humano em suas próprias angústias e (in)decisões.

Em “Lume”, no poema As palavras (pág. 42), ele leva o leitor a atentar para a ideia de que: as palavras não ditas se tornam fantasmas daqueles que um dia cortaram as suas asas.

Essa luta com as palavras, como diria Carlos Drummond de Andrade, é uma constante na poética de Neurivan Sousa, conforme pode ser visto no poema que dá título ao livro “Palavras sonâmbulas” (pág. 34), no qual é possível encontrar a seguinte estrofe inicial:

As palavras me vieram transversas e sonâmbulas, teimando em fazer ninhos na poeira de meus olhos.

A escrita parece fazer parte do metafórico cardápio essencial desse poeta que procura sempre as melhores soluções para condensar suas ideias nas páginas dos livros. Como faz parte de uma necessidade premente, o convívio com as palavras acaba servindo como uma espécie de válvula de escape para tudo o que atormenta o eu lírico, conforme pode ser visto no poema Móbil, na página 51 de “Palavras sonâmbulas”: Escrevo. Escrevo… para não morrer de silêncio. Afogar-me neste mar, onde as palavras sempre nadam para o fundo, para o nada, seria morrer inutilmente na exorbitância de ser eu. Logo no primeiro poema de seu livro “Minha estampa é da cor do tempo”, o poeta explicita sua relação com as palavras, que não são vistas como “espuma ou pétalas / Nem como aço ou brasas” (pág. 13), mas sim como um poderoso meio de transformação do ser humano normal em uma espécie de demiurgo capaz de desafiar até mesmo as mais poderosas forças do universo, “porque o oficio do poeta / é rivalizar com Deus” (pág. 13). Imbuído da concepção de que:

O poeta

É um sujeito

E-GO-ÍS-TA!

Não se sujeita

A cabrestos (pág. 42),

O poeta se permite dessacralizar imagens e palavras sem ser ofensivo ao dizer que:

Ser poeta é ouvir

O estrondo do trovão

E dizer dentro de si:

“Deus soltou um pum!” (pág. 43)

Para esse escritor, as palavras podem ser utilizadas de modos diversos. Às vezes, elas patrocinam experiências inefáveis, em outros momentos, elas podem servir como instrumento de denúncia social e como grito de desespero diante das injustiças do dia a dia. As palavras são capazes de reproduzir situações ou de reconstruir universos inteiros. Eliminam ou potencializam a sensação de alegria ou frustração. Constroem muros ou derrubam paredes. Servem como açoite a fustigar feridas ou como lenimento que alivia as dores do mundo. Podendo, inclusive, como aparece em seu mais recente livro – “No éter da voz” – ser um refúgio para as inúmeras batalhas internas que enfrentamos no dia a dia:

No útero da palavra me refugio de mim para desintoxicar o sangue das ideias (pág. 30)

Neurivan Sousa é um poeta consciente de que a palavra é sua matéria-prima e que ela pode (e deve) ser moldada e trabalhada para dali obter o melhor resultado possível. Mas ele não se contenta com essa matéria em forma bruta e passa o tempo a lapidar os versos até conseguir extrair as imagens poéticas que julga mais pertinentes. Em seus versos, mesmo o leitor menos atento ou menos afeito às lides com as metáforas acaba percebendo que a junção entre a melodia das palavras e o contexto onde elas estão empregadas pode trazer um novo e talvez inusitado sentido àquelas ideias que antes pareciam comuns e isentas de poesia.

Como as letras estão sempre em processo de renovação, é importante estar atento ao surgimento de poetas como Neurivan Sousa e muitos outros que despontam pelo Brasil afora. O tempo não para e está sempre pronto para trazer novidades a nossos olhos. Afinal de contas – conforme este escrito em “No éter da voz”:

As folhas do calendário não carregam pétalas ou pólen (…)

Porque sabem que a vida é vento Em semeadura circundante. (pág. 33)

Que venham muitos outros poetas nesta eterna semeadura de palavras. O mundo precisa de poesia!

O PROF. JOSÉ NERES E O VEREADOR MARCIAL LIMA, HOMENAGEADOS DO 50O. SARAU DE ATHENAS (ACADEMIA ATHENIENSE DE LETRAS E ARTES), COM O MÉRITO ATHENIENSE, POR SEUS RELEVANTES SERVIÇOS À CULTURA DE NOSSA CIDADE.

CADEIRA 39

PATRONO - JOSÉ TRIBUIZI PINHEIRO GOMES FUNDADOR - JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA

O METAVERSO CONSTITUCIONAL

outubro 6, 2022 por a pena do pavão, publicado em opinião

O METAVERSO CONSTITUCIONAL – A PENA DO PAVÃO (apenadopavao.com)

Ano 10 – n. 61/2022

Por volta de maio me deparei com esta temática e me pus a refletir sobre a influência desse novo conceito, pelo menos para mim, introduzido de forma maciça nas redes sociais.

Busquei informações e me indaguei: Onde, afinal, caberia falar de metaverso? Qual a sua utilidade no Direito e como, especialmente, eu poderia abordar o assunto no campo jurídico, particularmente, no Direito Constitucional?

A reflexão não chegou ao término, porque as ideias acadêmicas, quando comprometidas com a Ciência, demandam sobretudo a boa fé do estudioso, transitam pela neutralidade científica (alguns a negam), exigem imparcialidade de abordagem e, sob pena de se desconfigurar, devem desembocar na honestidade de propósito. Por isso, já afirmo que meu propósito é abordar o assunto apenas sob uma perspectiva sintética, dada a natureza do texto. Dito isto, que me seja permitido refletir.

Nesta data me deparei com uma declaração atribuída a um ministro do Supremo Tribunal Federal – no caso o ministro Gilmar Mendes – de que, ao se manifestar sobre os 34 anos de vigência da Constituição da República, destacando a “coragem dos ministros da Corte em proteger a democracia”, teria afirmado que quem achar que o STF interfere nos demais Poderes da República “vive no metaverso do mundo institucional”. Será mesmo?

É preciso considerar que não se exige “coragem” de nenhum servidor público que receba sua retribuição financeira para aplicar a Constituição da República. Não é ela norma de etiqueta que possa ou não ser afastada. Ao assumir o “munus” que lhe entrega a República o dever é de dar cumprimento ao compromisso, que não se mistura com promessas. Logo, o desempenho da função dispensa coragem e exige sentimento e fidelidade constitucional.

Ora, não preciso invocar números de processos, causas, “causos” e acontecimentos para considerar que a Corte já conseguiu colocar seu Regimento Interno sobre a Constituição, quando confundiu a extensão física do seu prédio com a abrangência da jurisdição territorial na aplicação do Direito vigente. Isto não é pouco, porque desafiou até mesmo a “GRUNDNORM” do memorável Hans Kelsen, tão decantado pelo decano. Mas posso relembrar fatos como o impedimento de nomeação de autoridades pelo Presidente da República, em que foram discutidas conveniência e oportunidade do ato. A reiterada concessão de prazos para explicações sobre fatos e motivações de viagens e deslocamentos do mesmo Chefe do Executivo, inclusive

quando, como Chefe de Estado, no exterior. A adoção de matéria jornalística desmentida para cercear a liberdade de manifestação assegurada pela Constituição. A instituição de pena sobre tipo penal inexistente para assegurar a sobrevida de uma investigação que, de tão atípica e teratológica, foi batizada por um dos membros do Tribunal de “Inquérito do Fim do Mundo”. A subtração de reconhecimento da legitimidade penal exclusiva do Minsitério Público. A limitação do exercício dos poderes do Presidente da Câmara sobre prerrogativas assesguradas pela Constituição, em função da inviolabilidade de mandatos de parlamentares. A desconstituição de medida legislativa de câmara de vereadores sem qualquer dimensão de sopesamento de princípios constitucionais, como no caso de Curitiba. As prisões de parlamentares, as buscas e apreensões e as prisões de jornalistas e advogados que perduram até hoje. Note-se: em muitos casos monocraticamente.

Tudo isto homenageou a Constituição da República? A resposta eu deixo com o leitor, porque da Ordem dos Advogados do Brasil, que ficou em silêncio sepulcral, quando não coonestou com algumas das medidas, nada mais posso esperar.

É habitual na Academia, no primeiro dia de aula, eu afirmar, com a liberdade de cátedra que ainda me é assegurada, que tentarei ensinar a Constituição da República de 5 de outubro de 1988, nenhuma das outras 11 existentes informalmente no Brasil. E por que digo isto? Bom, porque com mais de 30 anos lecionando Direito Constitucional jamais vi tanto ativismo judicial com os sutis rótulos de “mutação” (que suprime competência do Poder Legislativo), releitura constitucional, adaptação constitucional, construtivismo, concretização de normas, protagonismo edificante para enfrentar a fossilização da norma no tempo, e um “Aurélio” de substantivos e adjetivos que douram a violação aos artigos 2o. e 60, parágrafo 4o. da Constituição da República.

Quem está no metaverso? Os que criticam, no exercício moderado do direito de manifestação, com o propósito de defender o aperfeiçoamento institucional e democrático do Brasil?

Como defensor incondicional do sentimento constitucional eu celebro a releitura cívica da Constituição, onde o subjetivismo não ganhe espaços para subverter as decisões da Assembleia Nacional Constituinte que, em nosso nome, na impoluta figura do deputado Ulysses Guimarães, declarou que era um documento que deveria ser respeitado e cumprido.

É necessário celebrar, sim, os 34 anos da Constituição da República, já não tanto autêntica ou original quanto a que restaurou liberdades que, pelo visto nos últimos anos, tem sido alvo de ultrajes e até supressões.

A segurança jurídica é uma condição necessária e inafastável para que as instituições permaneçam sólidas, porque estáveis, em atenção à Constituição. Ela não é uma folha em branco entregue a nunhum dos Poderes da República. Mas para isto não deve haver espaço para criativismos judiciais que escrevam uma norma paralela, superior à que nos identifica como nação soberana perante a comunidade internacional.

O metaverso é um espaço virtual em 3D, de certa forma abstrato, em que uns poucos pretendem ressignificar operacionalmente a relação humana. É uma possibilidade de inteiração em ambiente virtual. Não é nada além disso. Apenas é uma alternativa onde a interrelação de pessoas pode ocorrer, com seus mesmos vícios. É na realidade cotidiana que as coisas acontecem e precisam obedecer, fielmente, as normas postas pelo legislador. No mais, só estaremos diante da realidade virtual do metaverso constitucional.

Viva os 34 anos da Constituição da República, até do metaverso, que não necessita de censura apelidada de regulação.

CADEIRA 40

PATRONO – JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS

1º OCUPANTE - ROBERTO FRANKLIN

FOTOGRAFIA DE FRANKLINHO

O poder que a fotografia tem, o que ela produz em nossas mentes, as lembranças, o tempo passado, pessoas que partiram, pessoas que foram importantes, tudo isso nos revela uma fotografia antiga quando abrimos, tem o poder de reaproximar pessoas que não convivem mais, a fotografia nos traz muitas lembranças e decepções, tem o poder de reunir outra vez, produz em quem está revendo, no caso de uma pessoa ou de uma paisagem um momento, ele nos enfeitiça, ela produz em quem está revendo uma dose excessiva de adrenalina, saudades ou não.

Isso aconteceu hoje quando me dirigir ao meu escritório, local que passo minhas manhãs, recebi um e-mail one drive avisando que teria fotos para recordações, ao abri deparei com várias fotografias do meu irmão que infelizmente já partiu e hoje está vivo em nossas lembranças, fotografias de 1995 em uma viagem que ele realizou com sua esposa Aída e seus dois enteados, pelo Nordeste. Uma foto chamou-me a atenção, ele estava sentado em uma cadeira num bar de praia, de chapéu de palha de calção de banho e o que mais me tocou, na foto ele mandava um beijo levando sua mão até a boca, esse era meu irmão Franklin, ou melhor Franklinho como nós o chamavam, uma pessoa alegre, gozadora, amava o Botafogo e o seu Corinthians, gostava de uma cerveja bem gelada. Ao visualizar a fotografia sentir-me beijado, com aquele beijo que no passado recebia, isso provocou uma dose exagerada de saudade e de boas recordações.

Franklin era boa praça, lembro-me que sempre nas noites de sábado, após saímos das casas de nossas namoradas nos juntávamos e geralmente íamos para um bar que agora não recordo o nome, ficava no bairro do Felipinho, assim com em determinadas boates de nossa ilha, lá encontrávamos os amigos que eram sempre dele, eu ia de gaiato, não trabalhava na época só estudava e ele era quem pagava sempre a conta.

Aos domingos íamos sempre para a saudosa praia do Olho d´água, saudosa pois agora não está mais como antes, tomávamos banho ele com a namorada e eu somente paquerava. Franklin juntamente com sua esposa eracativoaossábadosaquiemcasa.Quantaspartidas defutebol assistimosjuntosnoestádioNhozinhoSantos, quantas alegrias, quantas decepções tivemos juntos. No carnaval era outra festa, íamos para o querido Jaguarema, depois sempre ao final das festas íamos comer uma peixada ou lanchar em um dos abrigos da Praça João Lisboa, foram tempos de muito companheirismo e trocas de confidências. Esta foto me fez rolar lágrimas de umasaudade imensa.Quando soubequeele estavadoente,quandosoubequeele estavainternado, não tive a coragem de ir visitá-lo, Franklin era alegria, aquele lugar, não era o dele, tenho a certeza de que mesmo ali ele ria e gozava de todos. Não quis guardar uma imagem de Franklin numa cama de um hospital, preferi guardar a imagem igual à da foto, ele sentado alegre a mandar beijos para todos.

Franklin era alegria, as coisas que aparecem fazem-me lembrar de bons momentos, hoje meu irmão está longe, já não ouço mais a sua foz já não sinto mais seu sorriso, sua gozação, era uma expressão que ele gostava muito ele sempre dizia: “EU QUERO É SEGAR “, assim como gostava de cantarolar: “EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA”

Assim era meu irmão, que Deus te guarde e te reserve um bom lugar, MEU IRMÃO FRANKLINHO “.

UMA MÚSICA, UM TEMPO

Nestaquinta-feirapelamanhã,estavanoescritórioescrevendooquartocapítulodeumconto,baseado numa parte que publiquei na semana passada em minha página do Face, quando o amigo Sérgio AzevedomandouumamensagempeloWhatsApp.Amensagemmostravaumapessoadosexofeminino tocandonoacordeomumamúsicadabandaOsincríveis,quenanossaépoca,nãoeraumabanda,esim umconjunto,então,corrigindo,umamúsicadoconjuntoOsIncríveis.AmúsicasechamavaOMilionário, achoquelançadaem1967.Nesseanoeuestavacomosmeusdoze.Osucessofoitamanhoqueperdurou porumbomtempo.

VoltandoaovídeoqueoSérgiomandou,eujátinhaouvidováriasinterpretaçõesdamúsica,porémao somdeumacordeom(sanfona),não.Imediatamenteapósouviramúsica,fuilevadomaisumavezpara épocadajuventude,umaépocadeouro,umaépocadeingenuidade,emqueomáximoeravestircalça bocadesino,calçadetoureiroaqueladacinturaalta,botinhabuzolin,cintodecouro,tendocomofivela o emblema daVolkswagen, assim como anéisde carcará. Lembram oque era? Pois bem, carcará era aquele dispositivo que vinha nos fuscas para lavar o para brisa, agora não me perguntem como nós arranjávamosostaisacessórios.

Ao som da música, que embalava nossas tertúlias, fui levado para anos distantes, onde nós nos encontrávamoscomaquelas,sabe,asmeninasquepaquerávamosnocolégioenãotínhamosacoragem necessáriaparanosdeclarar.Poisbem,fizumaviagemnotempo,sentiogostomaravilhosodoponche... issomesmo,eranossabebidadaépoca,comumgraudeálcoolmuitobaixo,pareciamaisumrefresco. Eraservidoemumpodedevidrocomumaconcha,nósaenchíamosecolocávamosnocopo,aquiloera maravilhoso,podíamosbeberponche,eraumgrandemomento,comofaleianteriormente,umaépoca ingênua,emquenomáximotomávamosessabebida.Devodizerquetambémestávamoscomeçandoa fumar.Cara,eraomaiorlance,jáestávamosvirandoadultos!

AssimeranossajuventudeaosomdosIncríveis,RenatoeSeusBlueCaps,GoldenBoys,emuitosoutros, embalavamnossossonhos.Dançávamoscomasmãosentrelaçadaslevandoaopeito,rostocoladoaos das meninas, dava para sentir o perfume, acho que até hoje muitos ainda guardam a essência do perfumedasgarotascomasquaisdançávamos.

É isso quando recebi a mensagem, imediatamente falei para o Sérgio: “meu amigo, sou saudosista e sentimentalista,guardorecordaçõesdeépocas,defatosquevivi,demomentosingênuos,desituações quefazemocoraçãobaterforte,asmãossuameaslembrançasafloram.

Aosomdeumaúnicamúsica, estefatofoiobastanteparalevaraopassadoenelevoltarasentir-me jovem,escutandoasmúsicasquemarcaramminhavida.

RobertoFranklin-ALL,ALTO,AVLA,AMCL,SCLMA

ARTIGOS

FERNANDO BRAGA

Jornal‘OEstadodoMaranhão’,24.7.73.-Ilustração:fotodopoetaCarlosCunha,noSalãonobredaAcademia MaranhensedeLetras,aosaudar ‘SilêncioBranco’, livro deestréia deFernandoBraga, na noitede30de dezembro de 1967, vendo-se ainda o jornalista Elbert Teixeira [também de saudosa memória] que transmitiaoeventoparaaRádioTimbira.

POESIA DE ONTEM

Éfácilescrever-sealguma coisasobre poesias,principalmente quandoessaspoesiasnoschegam fáceise comforteconteúdodecomunicabilidade.Assim,sãoaspoesiascontidasnolivro‘PoesiadeOntem’,deCarlos Cunha[SãoLuis,18.5.1933-SãoLuis,22.12.1990].

Retireiolivrodaestante,comafetuosadedicaçãoamim,erelicomointeressedesempre,asmensagens rítmicasqueoautor,agoranãosóde’poesiadeontem’,masdehojetambém,conseguiu,comaprofundeza doseutalentoecomodesassombrodesuavocação,justificarumacausaeharmonizarumconflito.

Numadasmuitasopiniõessobreessetrabalhochega-seamergulhosmaisdensosnaconteudísticadopoeta, vezque“suapoesiatemsidoumacontinuocampodeangústia,produto,talvezdesuainfânciademenino pobre, de bairro pobre, pobreza que ele estendia pelo futuro incerto, como ele mesmo faz questão de acentuar.Suapoesiaé,ainda,comoqueoecoextravasadodesuaalma,temumgritorevoltadodeumpoeta emqueavidamalvadaaindaosufocapossivelmentecommedodasuapujançaedoseutalento.

CarlosCunhatrásnainquietudedosseusgestos,amarcaregistradadossofrimentosdeumavidaprenhede desilusões e fantasias inacabadas, válvula de escape para a criação de belas canções. E, foi assim, infelizmente,pelomemorialdetodavida...

VejamosopoetasetransportandoparaoMonteCastelo,antigobairrodoAreal,ondemajestosamentese erguiamas“barrigudas”**,depoiscortadaspelainsídiacostumeiradosgovernantesdaCidadedeSãoLuis, que deveriam ser mais poetas que políticos para melhor compreenderem as coisas do espírito; mas sim, retomando, para o velho Areal, seu bairro de origem, para envolver-se nesta bela irradiação formal: “Eu quisera de novo ser criança, / perdida nas ruas, / nas ruas cinzentas, sem cheiro de sangue / e muros, pintadosdemisérias./Euquiseradenovosercriança,/parabeijaraquelafacenova,/edepoistomarbanho dechuva./Masotempocorreu,/orostodemamãesetransformou/eeujamaisvoltareiasercriança!”Ou ainda num laivo de revolta ou desespero: “Menino pobre, menino do meu subúrbio, / Papai Noel não te quer...”

Emcancioneirodomeninogrande,CarlosCunhacomamesmatemáticaaproveita-sedapaisagemdistante, jáperdidanostemposparaelaborarcomgrandefelicidadeestepoema,umaconstanteemsuasrelíquiasde retrospecção:“Aindaescutoafaladomeupai,/iluminandoosilênciodetapeçaria,/denossacasadetelhado verde. / Um rio que lavava a ruazinha estreita/ não vegetava as mágoas. /Ainda escuto a canção de aurora/quetocavaohomemdorealejo/comseusolharesretos,eosorrisodeorvalho./SaudadesdeMaria, comseuolharumedecidodealvorada./Muitasvezes,muitas,percorriarua/carregandosonhosnasmãos inocentes,/brincandocommeusirmãos/quenessetempoeramapenasanjosdeporcelana,/numpaíssem memória./ Hoje Rominha tem outro nome e outras crianças que ali residem,/ a perspectiva das casas tornou-separalela./Deusestiranoscaminhamsobrealamaviva/eosjardinsquesorriamcomojanelassão denuvens”.[...]Eprossegue:Comoainfânciacorredepressanaterragrávidadotempo./Osmeuscastelos, já não são fantasiados de papoulas,/ mas castelos de vento./ Os meus sonhos agora, já não tem cor de gerânio/eosolquehavianomeuolhartornou-seumasaudadeancestral.”

CarlosCunhaéorepresentanteautênticodasuageração,surgiuporsuasestrídulasdeclamações[omaior declamadordeSãoLuis],mercadejandoversosemsarauspelaboêmiadacidade,queoouviaencantadae agradecida,pelarítmicaemdizerepelosgestoscomoventesquesaiamdeseuestartransfigurado...Eàhora eavezdessaliberdade,foidiantedaestupidezdamorte...Seufilhomorto,longedetantasCristinas:“Gritos anônimosdiluíram-senoespaçoporsuacausa-/ealuatornou-seimperfeitaeconfusaporsuacausa-/os homensserãopeixesepássarosporsuacausa-“Masnãoestancouaíessamotivaçãomaldita,opoetaainda precisavafazeraspazescomatragédia,para,infelizmente,enriquecerseuacervoliteráriodetristezas,bem

como de odes antológicas, o celeiro do Maranhão, berço de grandes poetas: “As rosas entreabriram-se magoadas,/quandoaplácidaTerezapassounosbraçosdamultidão./Velhosecrianças,homensemulheres choraram/naquelatristemanhãdeagosto,/sóeupermaneciimóvel/assistindoaoseuúltimopasseio./As luzesdavidaseapagaramedentrodemimmesmo,/semcravosevioletas,/meufuneralpassounosbraços doutramultidão!”

MeuDeus,estepoemadeCarlosCunhaforatimbradopeloestigmaepeladordapremonição...Algumtempo depois,morriaTereza,filhaeenlevomaiordopoeta,dentreasmuitasCristinas...

Achei em ‘O Caçador da Estrela Verde’, livro de memórias de Carlos Cunha, que me foi generosamente presenteado pela minha querida amiga, professora Moema de Castro Alvim, já falecida, proprietária da alfarrabia ‘Papiros do Egito’, uma carta do Cônego José de Ribamar Carvalho, professor de Cunha na Faculdade de Filosofia e seu grande amigo, tanto que foi seu recepiendário na Academia Maranhense de Letras,adizer,aele,Cunha,emcertaaltura,que“aPoesiaprecisasersentidaparasetornarpercebida.Não háinovações.Éasimplesaplicaçãodoaxiomaaristotélicodequevaiaointelectosemantespassarpelos sentidos.Eudissepoesia.Versoobedecealeisdeestéticasmaisoumenosrígidasouuniversalmentelivres, conformeogosto[dopoetaenãodocrítico].Quantoàaceitaçãodamensagempoética,dependemuitodo hermetismo em que é vazada e da maior ou menor capacidade de expressão”. E Carlos Cunha, tal qual o mestrelheensinara,obedeceraàrisca!

CarlosCunhae‘PoesiadeOntem’seidentificamcomcircunstânciasecoragem,comsofrimentoselirismo. Opoetaficarápresente[eficou]emnossasletras...Eraissomesmo‘poetinha’,issomesmoqueagoraescrevi, aquelasmesmaspalavrasquenumdiadechuvaegrogueeut’asdisse.

**“Barrigudas”eramosnomespopularesdadosaenormesárvores,detroncosartisticamentetalhados pelanatureza,erguidasemfrente,ahojeIgrejadaConceição,nobairrodoMonteCastelo,decepadaspela incúriaadministrativadaCidade.

CRISTINA DA CUNHA E SILVA

• A PROSA GEOGRAFICAMENTE HUMANA NO HORIZONTE DA POESIA

• RESUMO- O presente artigo visa a fazer uma análise teórico-literária do livro intitulado “Os mapas sinalizam ilhas submersas”, do poeta maranhense Franck Santos, observando a ideia do espaço íntimo, da fenomenologia da imaginação poética, trazida à baila por Bachelard e a ideia de ilha, preestabelecida na obra de “A Ilha deserta e outros textos”, de Gilles Deleuze. Este artigo também põe em debate o aspecto interdisciplinar da literatura, quando propõe uma análise do espaço poético dentro de uma visão geográfica e à luz da psicanálise. A proposta também é permitir a contemplação da Literatura do Maranhão, a partir de um olhar sob um poeta maranhense contemporâneo.

• PALAVRAS-CHAVE - Poética do Espaço, Gaston Bachelard; Ilha deserta e outros texto, Gilles Deleuze; Literatura maranhense; Teoria Literária; Poesia; Filosofia; Geografia. Desterritorialização.

• 01INTRODUÇÃO

• Este artigo tem como proposta fazer um estudo literário sobre o livro de poesias “Os mapas sinalizam ilhas submersas”, do autor maranhense Franck Santos. Trata-se de uma obra lançada pela Editora Penalux, Guaratinguetá, São Paulo, publicada em 2018, qualificada como prosa poética, com 122 páginas. A obra se divide em duas partes: Terra e Água, e vai ser analisada dentro de um diálogo entre a literatura e a filosofia, tendo como norte o pensamento de Deleuze, em sua obra “A Ilha deserta e outros textos”; a “Poética do Espaço”, de Gaston Bachelard; o “Espaço literário”, de Maurice Blanchot e “O demônio da Teoria”, de Antoine Compagnon.

• Escolheu-sefazeraanálisedocitadolivrodepoesia,paraevidenciarquãoimportantetemsidooestudo da filosofia, alinhada à geografia, para a linguagem literária, ao mesmo tempo em que demonstra como os escritores maranhenses da atualidade têm evidenciado a importância das paisagens e espaços dentro do seu fazer poético.

• A abordagem dos filósofos aqui selecionados dar-se-á pela noção com que esses autores desenvolveram suas teses voltadas para o espaço-geográfico e o espaço-literário.

• Por meio da obra de Deleuze, estudar-se-á a “Ilha deserta”, na qual a proposta do objeto é uma forma de recriação do mundo, a partir de situações provisórias de confinamento que a própria ilha oferece. Dentro desse contexto de imagem, observa-se-á o diálogo entre a literatura e a filosofia, em que também se descobre a dupla face etimológica da palavra Semiologia que, concomitantemente, é um ramo da medicina que cuida dos sintomas das doenças e a ciência geral que tem como objeto os sistemas de signos. Assim, trabalhar-se-á a filosofia deleuziana dentro do que ela se propõe, como um sistema “clínico” que perscruta os “sintomas” poéticos dentro do funcionamento da máquina do pensamento e da linguagem. Analisar-se-á, portanto, a tendência da poesia de Franck Santos dentro desse confinamento a que a ilha remete.

• Em contrapartida, a “Poética do Espaço”, de Gaston Bachelard contribuirá para a determinação de um estudo fenomenológico das imagens poéticas, uma vez que o filósofo cuida da análise dos espaços íntimos, trabalhando a relação afetiva e psicoemocional, de modo a reconstituir a subjetividade das imagens e medir a sua amplitude. Do pensamento bachelardeano serão extraídos conceitos relevantes para este estudo literário, mormente por trazer, no primeiro capítulo de sua obra, conceitos básicos do espaço da casa; do porão ao sótão; de cabana; conceitos esses que se iniciam dentro de contexto subjetivo a que ele denominou de microcosmo, para relacionar-se dentro do contexto universal (macrocosmo). Usando, metodologicamente, o pensamento de Bachelard para análise da obra de Franck Santos, analisar-se-ão também novos espaços microcósmicos levantados na “Poética do

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WANDA
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Espaço”, como as gavetas, armários, cofres nos quais se guardam a memória, bem como o ninho, a concha que suscitam a ideia de proteção e amor, bem observados na poesia de Franck Santos.

• Em relação à obra “O espaço literário”, de Maurice Blanchot, tem-se que ela contribuirá com este artigo, dados os conceitos trazidos à baila, como o de linguagem atinente à organicidade do mundo que o filósofo denominou de “palavra bruta”, linguagem do cotidiano, da comunicação diária, para contrapor-se à linguagem como palavra essencial, ou seja, a palavra literária; a primeira (bruta) não lapidada; a segunda (literária) como apresentação do próprio espaço discursivo, reportando-se a uma literatura que se refere a si mesma.

• Usar-se, também, como complemento de recursos metodológicos, a obra “O demônio da Teoria”, de Antoine Compagnon, para confronto daquilo que o autor chamou de “contraste entre teoria e senso comum”, observando as flexibilidades que transitam entre as correntes voltadas para a literariedade, a intenção do autor, a representação, a recepção, além de estilo, história e valor.

• 02DESENVOLVIMENTO

• Atualmente, tem sido comum usar-se a interdisciplinaridade para abordar aspectos interessantes dos fenômenos literários. A literatura tem sido alvo daquilo que os teóricos chamam hoje de geografia literária,abordando,porvezes,aquestãodosespaçospoéticos,comobemobservadonaobradeGaston Bachalard. É ele quem esclarece, de forma filosófica, o problema da imagem poética, ao conceituar a fenomenologia da imaginação: “Esta seria um estudo do fenômeno da imagem poética no momento em que ela emerge na consciência como um produto direto do coração da alma, do ser do homem tomado na atualidade” (BACHALARD, 1978, p. 184).

• A leitura do livro “Osmapassinalizamilhassubmersas”, do poeta maranhense Franck Santos, por seu turno, acabou contemplando a possibilidade de uma análise dentro dessa proposta bachalardeana, já que a obra produz esse diálogo com o coração, com alma, o ser do homem.

• Ademais, as ilhas submersas, a que Franck Santos se refere, também sinalizam o mapa de viagem das “Causas e razões das Ilhas desertas”, de Deleuze. Foi imediata a necessidade de encontrar, no filósofo, um sinal que levasse aos mapas do poeta, ou de criar uma nova relação entre a filosofia e a literatura. Buscou-se, pois, uma luz, no texto deulezeano, com a qual se pudessem clarear as ideias rasas e nebulosas para chegar às ilhas submersas. Não é todo dia que a poesia chega aos nossos olhos e alma com uma cara nova, de uma contemporaneidade que viaja a outros continentes por meio do mar.

• Deleuze explica que os geógrafos têm consciência dos dois tipos de ilhas, as continentais e as oceânicas: estas, originais, criadas de erupções submarinas; aquelas nascidas de uma ruptura, separadas que ficaram do continente. Ele complementa: “Separação e recriação não se excluem” (DELEUZE, 2004, p. 06). Na existência de dois tipos de ilhas, há uma oposição entre o oceano e a terra, observando que o mar está sobre a terra, e que a terra está sob o mar. Assim, a existência das ilhas reitera a oposição existente entre a terra e o mar. Deleuze (2004, p. 06) explica:

• As ilhas continentais são ilhas acidentais, ilhas derivadas: estão separadas de um continente, nasceram de uma desarticulação, de uma erosão, de uma fratura, sobrevivem pela absorção daquilo que as retinha. As ilhas oceânicas são ilhas originárias, essenciais: ora são constituídas de corais, apresentando-nos um verdadeiro organismo, ora surgem de erupções submarinas, trazendo ao ar livre um movimento vindo debaixo; algumas emergem lentamente, outras também desaparecem e retornam sem que haja tempo para anexa-las.

• “Os mapas sinalizam ilhas submersas” é um livro dividido em duas partes: TERRA e ÁGUA, elementos que se digladiam, criando essa oposição entre textos literários que sinalizam poesias reveladas em poemas em prosas, ora mimetizadas em narrativas curtas, que lembram crônicas e pequenos contos, e que atendem pelo nome de prosa poética, mas que são, na verdade, vozes do eu poético, que não impõem gêneros ao que está escrito e a quem o escreveu, porque é a existência de um ser continental e oceânico que se separa e se recria na concepção de um fazer literário.

• Na primeira parte do livro (Terra), Vórtice faz-nos vislumbrar o desejo moribundo do eu lírico de inundar-se do outro, sob pontos de silêncio e solidão, na tentativa desgovernada de um encontro de paz em vez dos abismos costumeiros que levam à predação da relação a dois. Santos (2018, p. 19) se projeta entre o espaço geográfico e o poético:

• Quis umas tardes com você para caber no mar, quando os portos não tivessem navios, mas pontos de silêncio e solidão.

• Umas tardes que nos levassem para onde o vento soprasse, como um vórtice. Um móbile. Pipas.

• Ademais, as TARDES (p. 21) são recorrentes: “Quero chegar também ao mar... (...) ... são essas tardes que espero cartas... Eu queria ser dessas pessoas que não se incomoda com adeus.” A relação entre o eu lírico e o ser amado é de desencontros. A distância entre o amado e o amante se estabelece por meio de esperas de cartas, telefonemas e e-mails e o adeus que incomoda. Apesar das despedidas e solidão, a tarde é o ponto de encontro de andorinhas (Ainda resta o colorido de um jardim), pássaros que voam (Na tarde pós-tempestade); amantes existencialistas e seus infernos (Nós dois); e do azul (Colisão).

• A segunda parte do livro, Água, inicia um processo de desterritorialização simbólica oriunda das demandas afetivas do eu e do outro. O narrador poético necessita de novos espaços, quando seu território intrínseco sofre alterações, as quais o levam à (re) construção de viagens.

• Ambos os autores, Deleuze e Bachalard, trabalharam a noção de desterritorialização dentro de suas obras, observando as noções de continuidade e descontinuidade, no sentido de que avaliassem o conceito da filosofia a partir de um contexto geográfico, colocando espaços como terra, casa e arte numa condição de paisagens capazes de dar novos rumos para a decifração do pensamento.

• Em Abrigo, Santos (2018, p. 70), transfere suas emoções para um espaço-tempo em que casa e tarde dividem o mesmo território na alma do poeta:

• Na tarde derretida, a tristeza prossegue, mesmo escutando gatos, cachorros, pássaros, homens e outros bichos, na casa quase vazia, quero uma solidão sem paredes, por isso, um guarda-chuva guardado numa tarde de chuva é um crime, mesmo que esta tarde dure anos.

• A noção de desterritorialização defendida por Bachelard (1978, p. 201) coloca o tempo como elemento necessário para a dinamização da casa na sua ligação com o devaneio:

• Nosso objetivo está claro agora: é necessário mostrar que a casa é um dos maiores poderes de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem. Nessa integração, o princípio que faz a ligação é o devaneio. O passado, o presente e o futuro dão à casa dinamismos diferentes, dinamismos que freqüentemente intervém, às vezes se opondo, às vezes estimulando-se um ao outro. A casa, na vida do homem, afasta contingências, multiplica seus conselhos de continuidade. Sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. Ela é corpo e alma. É o primeiro mundo do ser humano.

• Para Deleuze (2004, p. 6), o homem só poderá viver bem quando não mais existe o combate entre a terra e o mar:

• O homem só pode viver bem, e em segurança, ao supor findo (pelo menos dominado) o combate vivo entre a terra e o mar. Ele quer chamar esses dois elementos de pai e mãe [12], distribuindo os sexos à medida do seu devaneio. Em parte, ele deve persuadir-se de que não existe combate desse gênero; em parte, deve fazer de conta que esse combate já não ocorre. De um modo ou de outro, a existência das ilhas é a negação de um tal ponto de vista, de um tal esforço e de uma tal convicção.

• O que se observa, na poesia de Santos, é a busca de identidade que ele estabelece com a tristeza, perscrutando seus devaneios dentre de um espaço a que Bachelard chamou de casa, mas que, dentro da proposta de Deleuze, estende-se na mensuração de uma tarde derretida/líquida a que Deleuze denominou de mar, servindo de metonímia à água no plano poético.

• Santos (2018, p. 65) trabalha esse processo de desterritorialização também em Do Oriente que há em nós:

• Apesar dos saquês

• Dos jogos de Yu-gi-oh aos sábados

• Dos mangás das cerejeiras em flor

• Do Oriente eu há em você.

• Apesar do futebol aos domingos

• Das caipiranhas

• Das feijoadas

• Das novelas diárias

• Do Ocidente que há em mim.

• Apear de sermos parques de diversões, não quero mais esse amor kamikaze,

• Somos brincadeiras arriscadadas.

• Meu corpo ataques suicidas, seus sentimentos um pêndulo aos 360°.(2018)

• Ao contrapor o Ocidente com o Oriente, o poeta embarca no devaneio de uma relação suicida, porque misturando costumes e culturas, em um permanente exercício de viagens e transportes. Em contrapartida, o que se observa em Sobre laços e nós (Santos, 2018, p. 84) é o encontro daqueles que estão distantes, a criar os seus laços a partir das viagens oníricas ventiladas pela própria imagística poética:

• Nas madrugadas, derretemos satélites,

• Como nossos telefones interurbanos.

• Conta-me do Texas. Lembro-me de Paris, Texas.

• Imagino-o como o personagem do filme, vagando pelo deserto,

• Em busca de sua identidade perdida.

• Em “Naquela Tarde” (p. 63/64), há recortes de leituras, existências e lugares, que sugerem a imagem da solidão extraída do passado. Esses recortes remetem às gavetas, às lembranças, da mesma forma que traduzem um certo recolhimento como símbolo de refúgio:

• ...Fez-se um silêncio que você não foi capaz de romper, por isso, na tarde daquele dia, mostrei meu braço recém tatuado, falei de Paris com seus cafés e dos amores que deixei em repouso. (...) Daquela longínqua tarde que tinha uma rainha, um atlas, Patti Smith e Sylvia Plath, restou uma sensação de quase escuro, mas continuo anotando frases nas agendas e como um argonauta ainda fabrico minhas conchas. (SANTOS, 2018).

• Os versos do poeta remetem a uma sensação de solidão, de ausência do ser amado, os quais também denunciam a tristeza por meio da expressão “sensação de quase escuro”, o que vai se consolidar na fabricação das conchas. Bachelard, em A Poética doEspaço (p.277/278), confirmaeste estado d’alma:

• Sabemos perfeitamente que é preciso estar só para habitar uma concha. Vivendo a imagem, sabemos que admitimos a solidão. Morar só, grande sonho ! A imagem mais inerte, a mais fisicamente absurda, como esta de viver na concha, pode servir de origem a tal sonho. (1978).

• A obra de Santos (2018) é colorida de um azul que encharca a poesia, o mar que nela habita, a própria tarde, os pássaros... O azul, com seu semblante frio, imaterial, associado ao mundo dos sonhos, é a cor protagonista, no onirismo que mistura corpos dos amantes com terra e água, enquanto as outras cores, como o vermelho debatons, assumem papéis secundários. Nesseexercício deazul, o discurso poético decifra uma paisagem que, simultaneamente, é literária e geográfica, mas que só se realiza na atitude existencial dos amantes. Os mapas vão servindo de instrumentos de orientação e localização no âmbito geográfico, enquanto no contexto literário, os mapas de Franck Santos são a poesia com a qual ele traduz a busca de todo um universo paisagístico interior.

• Esse fenômeno de interiorização transita entre o eu-que-sonha e o eu-que-existe para chegar à Ilha submersa (2018, p. 85) “Na noite, um grito, que não coube em mim. / âncora, suas mãos/ Asas, sua voz, me acalmam..”

• O poeta consulta seus segredos ao mergulhar no horizonte híbrido do amor que se desvela em seu Tarô (p. 78): “Que importa a paisagem geográfica se a paisagem humana estiver ao nosso lado?”

• Poesia e prosa se fundem em busca de um horizonte geograficamente humano. Os Voos (p.110) é uma peça literária à parte, de valor encantador. Os Escombros (p.111) é uma descrição do abandono, da solidão daquele que ficou no sentimento desértico de quem partiu. Café da tarde (p.108) é mais um encontro dos muitos desencontros. A relação de amor se mistura na Água com Açúcar (p. 90) e Água e sal (p.80). Açúcar e Sal são elementos dicotômicos de um convívio, diluídos que eles o foram pelas ausências, separação e distância.

• Os mapas de Franck Santos também sinalizam um roteiro de viagem à teoria quântica, por meio da qual as esperas ecoam num Universo Paralelo (p. 55). É todo o tempo o amor sendo consumido e

redimido pela distância, em busca do encontro definitivo: “estarei nessa cidade líquida de casarões em ruínas, águas, conchas, sal e sol. Estarei aqui, no meu universo não paralelo, esperando você”. A expressão “cidade líquida” sintetiza a metáfora da água: se a cidade é líquida é porque ela assume as várias formas das esperas: espera de ruínas, de sal, sol, conchas e de águas. Ou, ainda, a “cidade líquida” assume a ideia de fragmento, dispersão, tudo determinado pela incerteza permanente, sobre a qual se debruçou a teoria da modernidade líquida, de Zygmunt Bauman (2001), ao traduzir as relações modernas, inconstantes, cheias de mudanças e, por vezes, imprevisíveis. Tudo é a síntese do querer embalsamado na Sessão da Tarde (2018, P. 57), na qual o encontro é a interiorização recíproca de um no outro.

• Para Deleuze e Guattari, quaisquer que sejam os gêneros artísticos (literatura, música, escultura, pintura), os artistas se expressam por meio das sensações. Para eles, a sensação remete a um devir, já que implica em um “tornar-se”:

• O artista é mostrador de afectos, inventor de afectos, criador de afectos, em relação com os perceptos ou as visões que nos dá. Não é somente em sua obra que ele os cria, ele os dá para nós e nos faz transformar-nos com ele. (Deleuze; Guattari, 1992, p. 227 – 228).

• Dentro dessa proposta, tem-se, na obra de Franck Santos, “Os Mapas Sinalizam Ilhas Submersas”, uma produção de sentidos em que autor e leitores agem por meio das sensações para o alcance de um vir a ser para tornar-se. Pode-se, pois, ficar o tempo que se quiser nas ilhas submersas e encher-se de novaspoesiasaspoesiassinalizadasnosmapas.Todospodem.Oimportanteéatransformaçãocausada pela tradução das sensações. Afinal, todos têm suas ilhas, suas terras e mares; e, ainda que não estejam mapeados, traduzem-se nesses perceptos trazidos à baila pela poeta Franck Santos. Todos os leitores, certamente, afetados, mexidos,tocados. Todos prontos para se transformarem namáquina de produção de afetos... Os mapas sinalizam...

• 03 CONCLUSÃO

• Assim, dentro desta pequena análise do livro de Franck Santos, observa-se quão grande é o fenômeno literário para a construção de sentidos. Esse tema recorrente da ausência na obra de Franck (grifo nosso), mesclada de lembranças e despedidas, também se incorpora à falta que esvazia a palavra, por conta da falta que há no mundo e nas coisas. Mas, como bem o disse Blanchot (2011, p. 50):

• Todo escritor, todo artista conhece o momento em que é rejeitado e como que excluído pela obra em curso. Ela mantém-no à margem, está fechado o círculo em que ele não tem mais acesso a si mesmo, onde ele, entretanto, está encerrado, porque a obra, inacabada, não o solta.(...)

• Uma obra está concluída, não quando o é, mas quando aquele que nela trabalha do lado de dentro pode igualmente terminá-la do lado de fora. •

• FranckSantos criasuapoesiadentrodaquiloqueBlanchot denominoudepalavraperformativa, porque ela se duplica, atuando de forma dúbia, afirmando-se e negando-se, pronta para ser interpretada, construída, descontruída, reconstruída, mesmo depois de acabada, mesmo sem o autor.

• ConformeacentuaCompagnon(2010,p.251),“o objetivo dateoriaé,naverdade,desconsertarosenso comum”. Contudo, observado o universo das correntes literárias, tem-se um leque de caminhos a seguirparaadecifraçãodeumaobraliterária,sempreàesperadenovasinterpretaçõesedescontruções. Mas é preciso abraçar o que se pode alcançar.

• A teoria da literatura, como toda epistemologia, é uma escola de relativismo, não de pluralismo, pois não é possível deixar de escolher. Para estudar literatura, é indispensável tomar partido, decidir-se por um caminho, porqueos métodos nãosesomam, eo ecletismonãolevaalutar algum.(COMPAGNON, 2010, p. 156)

• Assim, abordaram-se aqui, para análise dos textos poéticos, duas visões filosóficas. Ademais, os filósofos sobre os quais foram levantados os pressupostos teóricos aqui expendidos (Bachelard e Deleuze) apresentam novas vias para a conciliação da relação entre transcendência e imanência dentro da filosofia, mormente no que tange às suas ideais voltadas para um equilíbrio ligado à terra, ou seja, aproximações observadas na perspectiva espacial e geofilosófica de ambos os autores. Essa contiguidade contribuiu consideravelmente para tornarem-se leves as análises aqui expostas. Ambos

os autores trabalham conceitos que se estendem desde a filosofia do animal até a crítica da estruturalidade do mundo, abrindo espaço para a observação do fenômeno da casa e da paisagem, que também são imagens recorrentes na obra do poeta Santos.

• O que se deixa aqui, como conclusão de um trabalho de teoria literária, é a certeza de que a poesia também propicia essa possibilidade de viajar na fenomenologia dos espaços, seja pela via “clínicofilosófica” das viagens submarinas em busca das ilhas submersas, seja pela via dos espaços mais terrenos, dentro das casas e gavetas, de onde se extraem as lembranças e amores passados; ou ainda dentro das conchas, nas quais se protegem os sonhos e uma necessidade de solidão que, paradoxalmente, busca a companhia do outro, como a terra busca o mar, e o mar a terra, na incessante procura de sua completude. É a poesia do humano que se propaga em outro sistema: o geográfico; é a literatura e a geografia criando um só espaço para habitação; é a prosa que permite ser poesia para se transformar em prosa poética; é a prosa geograficamente humana no horizonte da poesia, com a qual Franck Santos presenteia o leitor.

• REFERÊNCIABIBLIOGRÁFICA

• BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

• BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução de Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os pensadores)

• BLANCHOT, Maurice, 1907-2003. O espaço literário/Maurice Blanchot; tradução Álvaro Cabral. –Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

• COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum/Antoine Compagnon; tradução de Cleonice Paes Barreto Moura, Consuelo Fortes Santiago. 2. Ed. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

• DELEUZE, Gilles. A Ilha Deserta E Outros Textos: Textos e entrevistas (1953-1974). Edição preparada por David Lapoujade. Trad. Brasileira. São Paulo: Editora Iluminuras, 2004.

• DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Felix. O que é a Filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992.

EspeciaisTextos Escolhidos: Da lavra do professor Natalino Salgado Filho:

"A IGREJA NO CONTEXTO DA INDEPENDÊNCIA"

Publicação autorizada pelo autor.

Montagem MHL: o autor com o padre Eraldo Leão

Natalino Salgado Filho*

A academia FIDES ET RATIO da Arquidiocese do Rio de Janeiro, comemorou, no último dia 10, o bicentenário da independência brasileira, com mais uma edição de um Simpósio sobre “O papel da Igreja na Independência do Brasil”, com uma palestra extremamente interessante do padre Eraldo Leão, Mestre em Teologia da PUC-Rio e Doutorando em História Social pela UFRJ.

Foi uma tarde memorável, na qual o palestrante resgatou parte da história da igreja católica no que diz respeito a Portugal e Brasil, quando este ainda era colônia e depois império. Depois de uma condução por fatos pitorescos da época, o padre Eraldo Leão afirmou com clareza que coube à igreja o papel de contribuir para o sentimento de brasilidade e de pertencimento a esta nação que estava nascendo, por meio dos diversos padres espalhados pelo país que, em suas prédicas, sedimentaram no coração dos súditos do novo império. Da fala do palestrante, fomos informados de que, desde o início do trabalho de evangelização em terras brasileiras, os jesuítas se dedicaram a trabalhar também a educação tanto para alunos índios como para alunos descendentes de portugueses, numa iniciativa inédita para a época.

O palestrante informou que as ligações entre a coroa portuguesa e a igreja remontam aos idos da independência daquele país, por volta do século XII, quando ambas se unem para retomar a fé dos cidadãos, num território dominado pelos mulçumanos. É dessa época que ouvimos falar da atuação da ordem dos templários e diversas outras ordens cristãs e militares. A partir do século 15, a Coroa resolve empreender a conquista de outros povos na costa do Atlântico e em países africanos, para expandir a fé e o reino em terras ultramarinas. Com essa iniciativa, a igreja foi se instalando e evangelizando povos nunca alcançados, com a introdução de um novo culto e uma nova fé. A atividade religiosa na chamada América Portuguesa era coordenada pela Mesa da Consciência e das Ordens e a igreja atuava em duas frentes: pelo clero secular, que incluía paróquias e bispados e pelo clero regular, com trabalho missionário e atividades sociais. Era a igreja, no entendimento de Padre Eraldo, uma espécie de agente intermediário entre a coroa e os súditos. Além dos tribunais civis, existia também os tribunais eclesiásticos para apreciar as causas. No ano da independência, 1822, a Igreja dava conta de que existiam aproximadamente 4 milhões de almas, que era como se fazia a contabilidade da época, 1 arcebispado, 6 bispados e 2 prelazias e cerca de 600 paróquias com 6500 fiéis, enquanto que, em Portugal, eram 850 fiéis por paróquia. 2

No contexto da independência, o catolicismo era um elemento da identidade nacional, atrelada à supremacia do Estado. Foi de dentro da igreja, lembrou o Padre Eraldo, que começaram a surgir vozes em favor da independência. Entre elas, a voz de Frei Caneca, um dos líderes da Revolução Pernambucana contra a dominação portuguesa em 1817 e a de Joana Angélica, que morreu defendendo o convento da Lapa pelos revoltosos portugueses, que não aceitavam o fim da submissão à coroa.

Também citou outros importantes nomes, a exemplo de franciscanos cariocas, como Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, influência próxima ao imperador, visto ter muita amizade com Dom Pedro I; Dom Jose Caetano da Silva Coutinho, que presidiu a coroação de Dom Pedro I e também presidiu a Assembleia Nacional Constituinte de 1823. Também não menos importante foi o papel de Dom Mateus de Abreu Pereira, com suas ideias inovadoras.

Na Constituição de 1824, o catolicismo era a religião oficial e o padroado era mantido, ou seja, o imperador nomearia bispos. Mesmo com a independência, a Santa Sé achou melhor aguardar, com prudência, o reconhecimento internacional. Em 1824, numa missão de aproximação, o Monsenhor Vidigal vai para Roma e lá é recebido pelo papa em 1826, pelo fato de, em 1825, Portugal ter reconhecido a independência do Brasil.

A partir daí, comentou Padre Eraldo, a igreja reorganiza todo seu corpo eclesiástico no Brasil e se consolida como estabilizadora dessa nação, como uma grande consciência nacional e legitimadora do novo império. A igreja, disse o Padre, foi a responsável pela assimilação do rito do Ipiranga, unindo corações discordantes e apaziguando ânimos.

Passados dois séculos, importante ouvir vozes diversas acerca deste imenso Brasil que nos foi legado. A história sempre tem muitas vozes e ouço dizer que cada uma tem sua parte de razão.

"ESTREIA LITERÁRIA: VANESSA CRISTINA FERNANDES BEZERRA"

Prestes a lançar o primeiro livro Laços e Honra, a jovem escritora Vanessa Cristina de Açailândia – Maranhão, acadêmica de Letras (Uemasul), conta a Keila Marta do Portal www.facetubes.com.br um pouco da sua história, da fase de escrita a saga para publicação.

Nascida em Açailândia, no entanto, toda a infância e parte da adolescência foram vividas em um assentamento chamado “São Francisco”, no Município de Bom Jesus das Selvas. Mas, no ano de 2015 passa a residir em Açailândia afim de completar os estudos, pois onde morava, o ensino só chegava até o nono ano do fundamental. O importante é que as dificuldades não foram suficientes para que Vanessa se desinteressasse ou pensasse em desistir.

"Sempre frequentei a escola, e na infância, apesar de ter que andar dois quilômetros para chegar à escola junto com o meu irmão mais velho, isso nunca um empecilho para continuar estudando. Acredito que isso só demonstra o quão imprescindível é a educação para minha família", disse.

O livro, um companheiro inseparável...

Mesmo morando no interior, sempre estive em contanto com muitos livros. Nas salas de aula havia estantes de livros de literatura infantil e juvenil, então, acesso a literatura não foi uma dificuldade. Acredito que foi exatamente por isso que sempre gostei dos livros em si, pelo fato de sempre ver vários deles perto de mim. E dessa forma, lia muito os livros na escola ou em casa, já que podia levar para ler em casa.

A importância dos livros e da escola como lugar de leitura...

Naturalmente, sou uma pessoa curiosa e com uma imaginação incrivelmente fértil. Pegar o livro, observar a capa e tentar imaginar a história antes de ler, e depois lê-lo de fato, nessa ordem, sempre foi um processo prazeroso para mim. Não consigo dizer com clareza desde quando gosto de literatura, acredito que vem dessa época do início da escola. A partir de então sempre estou lendo alguma coisa. Seja prosa, seja poesia.

O que mais a impressiona na literatura...

O que me impressiona na literatura, o que me instiga, me dá prazer nela, é o fato de ser universal. De poder conter um universo inteiro dentro de algumas páginas. Isso me fascina! Quando criança, eu ficava pensando muito sobre como alguém pode ter tanto talento, tanta criatividade para contar histórias muito abrangentes e complexas dentro daquelas páginas. Porque, quando você lê, inconscientemente você participa da história.

Vanessa e Keila Marta

Seja como público, seja na possibilidade de dar uma continuidade a essa história através da sua imaginação. Isso era e ainda é muito fantástico para mim.

O despertar para a escrita...

Sobre a experiência com a escrita, até há algum tempo eu não diria que ela vem da infância, eu diria que é recente. Mas, refletindo, vejo que realmente vem desde muito tempo. Por volta dos nove anos mais ou menos, minha mãe comprava agendas ou diários para mim, onde eu escrevia diversas coisas. Falava do meu dia, das coisas que aconteciam comigo, rabiscava alguns desenhos, porque na infância eu gostava muito de desenhar também. E assim, com minha mãe comprando esses diários, agendas, revistinhas também, eu deixava minha criatividade voar. O que eu acho muito interessante nessa minha relação com a escrita, é que a minha forma de escrever, foi evoluindo muito com o passar dos anos.

Antes, eu escrevia em diários em agendas, sobre o meu dia. Depois, passei a escrever em cadernos maiores, onde eu fazia ainda relato da minha vida, só que agora apenas os acontecimentos mais importantes, e passei a fazer colagens. Colava muita coisa. Eram fotos de artistas que eu gostava, recortes de textos, desenhos que fazia, paisagens que achava bonita, fotografias interessantes, acho que posso dizer que sempre fui uma apreciadora da arte. Já na adolescência, intensifiquei os desenhos, mas ainda tinha os cadernos de colagens, só que desde o início do meu atual namoro, quando estava com dezessete anos, tornei o caderno, um diário de romance. Já são cinco anos de relacionamento, e quase cinco anos de diário nesse perfil. Junto do diário, também passei a escrever cartas para ele. São muitas cartas desde então.

Gosto literário...

Da infância para cá, meu gosto pelos gêneros literários mudou muito, confesso. Antes, gostava demais dos gêneros de terror e mistério. Sou muito fã do Stephen King e de muitos livros desses gêneros. Mas depois de uns anos, me tornei uma leitora assídua de romance e fantasia. Ainda adoro terror e mistério, mas o meu gênero preferido é romance, especialmente os de época. Depois que conheci Jane Austen, as irmãs Brontë, Julia Quinn etc., vivenciei experiências ótimas, indescritíveis. Um fato muito legal, é que meus autores preferidos, na verdade, são todas mulheres, e são justamente as que citei anteriormente.

A nova fase com a literatura...

Depois de muito, muito tempo sendo leitora, resolvi me aventurar na escrita. Mas não comecei como uma escritora, realmente, por que na verdade, eu comecei a escrever Laços e Honra como uma terapia, digamos assim. Era e ainda é um Hobbie. Escrevia sem pressa, sem cobranças, apenas para me sentir bem, para ajudar a trabalhar minha ansiedade. Mas, isso é até engraçado, porque acho que isso intensificou a minha ansiedade. (risos). De um jeito que eu pude ver o quanto é bom, é claro. Porque me levou mais a frente, me motivou a continuar escrevendo e terminar a história.

Passei um ano escrevendo Laços e Honra. E no ano passado, uma das minhas melhores amigas, a quem devo muito por ter me incentivado na escrita e em me tornar uma escritora de verdade, me apresentou a editora com a qual estou me associando agora, e a partir disso, tive uma luz, um esclarecimento e passei a cultivar esse desejo que se tornou um sonho. As ideias para o livro já existiam muito antes. Como eu disse, tenho uma imaginação muito fértil, então sempre ficava matutando alguma coisa, um nome de personagem, criando um lugar diferente, uma sociedade totalmente nova, e depois pensava sobre qual seria a história desses personagens nessa realidade totalmente diferenciada da nossa em tudo.

Laços e Honra...

A história se passa em uma realidade totalmente tecnológica, com uma sociedade dividida em distritos, cada um especializado em algum tipo de ciência, estudo ou área do conhecimento humano. O enredo gira em

torno de cinco amigos, cada um com uma personalidade única, tentando aperfeiçoar suas habilidades para salvar o mundo de uma família perversa. A história vai fluindo para contar como cada um deles lidou com a dor sofrida na infância. E no meio disso, vai se revelando um pouco mais de cada um. Seus medos, suas habilidades, seus humores. Todos irão passar por altas aventuras. Desde provarem da amizade entre si, até se apaixonarem. Laços e Honra é na verdade o primeiro livro de uma série. Então, com a graça de Deus, ainda virá mais alguns livros para a coleção.

HEMETÉRIO JOSÉ DOS SANTOS (1858-1939)

Foi professor, gramático, filosofo e escritor maranhense. Nascido na cidade de Codó, no ano de 1858, Hemetério mudou-se para a província do Rio de Janeiro em 1875, aos 17 anos.

Era filho do Major Frederico dos Santos Marques Baptisei, proprietário da fazenda Sam Raymundo, e de sua escrava Maria. Seu pai pagou seus estudos no Colégio da Imaculada Conceição, em São Luis. Na capital do Brasil Império em 1885 se casou com Rufina Vaz Carvalho dos Santos, neta do prestigiado tipógrafo Francisco de Paula Brito , pai da impressa negra brasileira

Aos 20 anos de idade Hemetério já era professor de francês do afamado Colégio Pedro II. No colégio, foi professor de francês, onde foi visto pelo próprio imperador, que o elogiou. Sua esposa Rufina também ingressou na carreira de Professora na Escola normal da corte.

Hemetério foi nomeado professor adjunto de língua portuguesa do Colégio Militar do Rio de Janeiro pelo Imperador Dom Pedro II, onde, mais tarde, tornou-se professor vitalício. Cursou a Escola de Artilharia e Engenharia, conquistou a patente de Major, obtendo, depois, o galardão de Tenente-Coronel honorário em 1920.

A atuação de Hemetério como professor, ia além do fazer em sala de aula, pois o mesmo se utilizava desses e de outros espaços a fim de ministrar palestras e conferencias a respeito do ensino e do combate ao Racismo de cunho eugenista. Na opinião de Sílvio Romero, Hemetério ombreava com Olavo Bilac, Graça Aranha, Aluísio e Artur Azevedo, no uso da palavra escrita.

Em seu ativismo, ele fez críticas a Machado de Assis, argumentando que o escritor teria ignorado os negros em sua obra, e quando os retratava, era de forma pejorativa (Machado se refere aos negros como vesgos e zarolhos, perpetuando a imagem preconceituosa vigente na literatura e na sociedade de seu tempo).

As opiniões sobre a obra literária de Machado lhe renderam a fama de polemista, sendo chamado de discutidor, o que lhe angariava antipatias

A história de Hemetério, dá início a uma trajetória familiar de professores e funcionários da administração pública municipal que, de acordo com os padrões de seu tempo, construíram um legado que combinava boas qualidades profissionais, intelectuais e morais.

Hemetério foi fundador da Academia Brasileira de Filologia, ocupando a cadeira de número 25 do qual é patrono.

Teve Obras publicadas como : Gramática Elementar da Língua Portuguesa; O livro dos Meninos; Gramática Portuguesa; Segundo Grau Primário; Pretidão de Amor (conferencias literárias); Carta aos Maranhenses; Da construção Vernacular; Gramática Portuguesa: adotada na Escola Normal do Distrito Federal; Frutos Cativos (poesia); Etimologia: “Preto”.

Blog do CEMI (Centro de Memória Institucional do Iserj), clique aqui

Museu Afro digital, clique aqui

Negro, intelectual e professor: Hemetério José dos Santos e as questões raciais de seu tempo (1875 – 1920), de Luara dos Santos Silva, in Saberes e práticas científicas, clique aqui

SILVEIRA, Alfredo Balthazar da. História do Instituto de Educação. Rio de Janeiro: Secretaria Geral de Cultura, 1954.

HEMETÉRIO, O PROFESSOR ABOLICIONISTA DE CODÓ

Por Antônio Carlos Lima (*)

Maranhense que nasceu em Codó é uma das personalidades emblemáticas dos movimentos negros no Brasil e virou tema de estudos em diversas universidades

SÃO LUÍS– Depois de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), reconhecida e celebrada como primeira escritora negra a tratar, na literatura brasileira, do tema da escravidão, chegou a vez de outro maranhense, o professor Hemetério José dos Santos (1858-1939), nascido em Codó, subir ao pódio das personalidades emblemáticas dos movimentos negros no Brasil.

Assim como Maria Firmina (1822-1917), que ganhou notoriedade nos meios acadêmicos e estudantis depois de sua redescoberta nos anos 70 do século passado pelo poeta Nascimento Morais Filho, Hemetério dos Santos virou, repentinamente, tema de estudos em diversas universidades por sua contribuição, como professor e escritor, na luta pela inclusão do negro na sociedade e pelo fim do preconceito racial.

O curioso é que nenhum dos dois esteve na linha de frente do movimento abolicionista, liderado por José do Patrocínio, Luís Gama, André Rebouças (negros, como Hemetério), Joaquim Nabuco e o maranhense Joaquim Serra, entre outros. Hemetério e Maria Firmina, que à época da Abolição tinham 30 e 66 anos de idade, respectivamente, atuaram como entusiastas, mas praticamente à margem desse que foi o primeiro movimento social brasileiro de abrangência nacional.

A medida da curiosidade que hoje desperta esse maranhense quase ignorado no Maranhão desde sua morte há 81 anos foi dada há duas semanas pela Folha de S. Paulo. O jornal de maior circulação e influência no Brasil dedicou um podcast (reportagem em áudio, acessível pela Internet), de cerca de uma hora de duração, para contar, em tom quase épico, “a história do professor negro e antirracista que ensinou durante a escravidão”.

Artigos e teses de mestrado, como a de Aderaldo Pereira dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre a trajetória do professor negro, multiplicam-se nos centros acadêmicos. Lembrou-se que, desde 1944, o professor codoense é patrono da cadeira número 25 da Academia Brasileira de Filologia. No bairro Jacarepaguá, na zona norte do Rio de Janeiro, uma escola pública o homenageia: a Escola Municipal Hemetério dos Santos.

É quase a glória, para quem, não obstante os méritos intelectuais demonstrados como professor, filólogo, poeta e conferencista, foi vítima de preconceito racial no meio culto em que viveu.

A língua como libertação

Hemetério José dos Santos nasceu a 13 de março de 1858 em Codó, à época uma pequena povoação à margem do rio Itapecuru, formada por lavradores, a maioria escravos, e comerciantes. Filho da escrava Maria e do comerciante Theóphilo José dos Santos, antes dos dez anos foi levado para São Luís.

Na capital, estudou no prestigioso Colégio Imaculada Conceição, dos padres Raymundo da Purificação Lemos, Theodoro de Castro e Raymundo Fonseca, instalado à rua São Pantaleão (depois, à rua do Sol), onde teve como colega, dentre outros filhos da aristocracia de seu tempo, o futuro governador Benedito Leite.

Em São Luís provavelmente também conviveu com os irmãos Aluísio e Artur Azevedo, os quais, adolescentes como ele, já se aventuravam no mundo do teatro e da literatura.

Foi no Colégio Imaculada Conceição que Hemetério passou a cultivar o gosto pela gramática. Ali foi educado segundo os métodos do professor Francisco Sotero dos Reis (1800-1871), para quem o ensino da língua,“como instrumento político e como órgão das artes da palavra, primava sobre todas as disciplinas de Humanidades, e de todas era como base e fundamento único”, nas palavras do próprio Hemetério. Em 1875, aos 16 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde complementou os estudos e, aos 20 anos, tornou-se professor do Colégio Pedro II, o mais importante do Império, e do Colégio Militar. Publicou Gramática elementar da língua portuguesa; Livro dos meninos: contos brasileiros de acordo com os processos modernos; e outras versões de sua gramática para alunos da Escola Normal do Distrito Federal e do Colégio Militar.

No mesmo ano em que Machado de Assis publicava “Memórias póstumas de Brás Cubas” e Aluísio Azevedo lançava em São Luís “O Mulato” (1881), Hemetério dos Santos trazia à luz o “Livro dos meninos”, compêndio de textos destinado a jovens estudantes sobre trabalho, higiene e instrução, no qual condena com veemência o escravismo. Também escreveu poesias (“Frutos cadivos”), crônicas e conferências, como “Pretidão de amor” e “Carta aos maranhenses”, documentos em que defende a dignidade dos negros após a abolição e, nesta última, mais enfaticamente, o ensino correto da língua portuguesa.

Casou-se com Rufina Vaz de Carvalho, neta do editor e tipógrafo Francisco de Paula Brito, negro de grande prestígio nos meios intelectuais, o que pode ter contribuído para a sua inserção social.

Demolidor de preconceitos

Em artigo publicado na revista da Academia Brasileira de Filologia (Ano II, No. 2, Rio de Janeiro), em 2003, o escritor e filólogo maranhense Antonio Martins de Araújo já situava o professor Hemetério entre os grandes gramáticos de sua época. E assinalava que, “nascido em berço pobre, sabe-se lá quanto sofrimento e quanto preconceito ele teve de romper para chegar ao ponto que chegou”. O título do artigo resume a tese de Martins: “Hemetério José dos Santos, o demolidor de preconceitos”.

O professor Hemetério era, segundo diversos testemunhos, pessoa de difícil trato. Polêmico, trajava-se de maneira extravagante. Usava fraque e cartola escuros e fumava charutos na rua, o que contribuía para alimentar o perfil caricato, alimentado pelo preconceito racial, com que era visto pela sociedade carioca branca e letrada. O jornalista e poeta satírico Emílio de Menezes (1866-1918), que desfrutava de grande popularidade, o desancou muitas vezes na imprensa, e sempre com viés racista.

Das provocações feitas a intelectuais que julgava omissos ou pouco engajados na luta pela dignidade dos negros, antes e após a abolição (atacou o crítico José Veríssimo e o jurista Rui Barbosa), a mais prejudicial ao conceito público do professor Hemetério foi a que dirigiu ao escritor Machado de Assis.

Poucos dias depois da morte do autor de “Dom Casmurro”, a 29 de setembro de 1908, publicou um artigo violento contra o escritor (“A arte de Machado de Assis é uma arte doentia, de uma perversidade fria”, “A sua poesia foi tão incolor como seus trabalhos ulteriores”), o acusa de omissão na causa antiescravagista e de ter abandonado a mãe adotiva. O episódio é narrado por Josué Montello no livro “Os inimigos de Machado de Assis”. Nele, o romancista maranhense transcreve o texto integral do artigo do professor Hemetério e a violenta reação da intelectualidade carioca

Mas o tempo passou e, com ele, a indisposição e a ignorância em relação a esse maranhense negro do Codó, o “demolidor de preconceitos”, na definição precisa do professor Antonio Martins de Araújo.

Assim como sucedeu com Maria Firmina dos Reis, também mestra e escritora esquecida durante um século, o Brasil começa a desvelar “a história do professor negro e antirracista que ensinou durante a escravidão”, como anunciou a Folha de S. Paulo em seu podcast. Antes tarde do que nunca.

Saiba mais

. “Carta aos maranhenses”, Hemetério José dos Santos. Rio de Janeiro, 1909. Disponível no acervo virtual da Biblioteca Nacional.

. “Pretidão de amor”, idem.

. “Fortes laços em linhas rotas: literatos negros, racismo e cidadania na segunda metade do século XIX”. Tese de doutorado de Ana Flávia Guimarães. Universidade de Campinas, 2014

. “Arma da Educação: cultura política, cidadania e antirracismo nas experiências do professor Hemetério José dos Santos (1870-1930)”. Tese de pós-graduação em Educação, de Aderaldo Pereira dos Santos. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.

. “Hemetério dos Santos: o posicionamento do intelectual negro a partir das obras ‘Pretidão de amor’ e ‘Carta aos maranhenses’”. Artigo de Marcela Moraes Gomes, graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. In Revista Cantareira, julho-agosto 2011.

. “Hemetério José dos Santos: um homem de letras e de cor”. Artigo de William Câmara Barros e outros. Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão.

. “Hemetério dos Santos: o demolidor de preconceitos”. Artigo de Antonio Martins de Araújo, publicado na Revista da Academia Brasileira de Filologia, Rio de Janeiro, 2003.

. “Pretidão de amor”. Artigo de Maria Lúcia Rodrigues. Em “Cor do magistério”, Rio de Janeiro, Eduff, 2006.

. “A história do professor negro e antirracista que ensinou durante a escravidão”. Reportagem do jornal Folha de São Paulo. 9 de julho de 2020. Disponível em podcast.

. “Os inimigos de Machado de Assis”. Josué Montello. Editora Nova Fronteira, 407 páginas, 1998.

Minhas senhoras, vós que vos amamentastes do carinho sem igual da mulher negra, não consistais que a escola, esse céu iluminado por vinte e cinco constelações sonoras, seja fechado ao filho de quem formou este belo Brasil moral e hospitaleiro, amorosamente vos criando com o branco leite do seu amor”.Hemetério José dos Santos, em “Pretidão de amor”.

. (*) jornalista. Membro da Academia Maranhense de Letras. (Email: antoniocglima@uol.com.br)

"QUANTOS PORES DO SOL O MAR DE SÃO LUÍS PRECISA PARA SER FELIZ?" - LIVRO: "UM MAR DE MIM", DE VITÓRIA DUARTE.

MHARIO LINCOLN

MHL e a autora

(“AVISO:/ Tome cuidado/ Sou uma espécie de bomba atômica/ A qualquer hora/ Posso explodir de tanto amor”/VD).

"As águas de dentro irão vazar". Esse é o primeiro verso dessa obra gratificante. Assim começa a saga da jovem Vitória Duarte, autora de “Um mar de mim”.

Ela faz aflorar um dos elementos cósmicos mais importantes para a ciência da alma: a água.

A mesma água de Manuel Bandeira: "(...) A água não morre./ A água que é feita./ de gotas inermes". De Cecília Meireles: "(...) O choro vão/ da água triste, do longo vento,/ vem morrer-me no coração". De Mario Quintana: "(...) Um poema como um gole d'água bebido no escuro".

E mais: o filósofo Thales de Mileto, o primeiro teórico a formular um pensamento mais sistemático fundado em bases racionais, chegou a afirmar: “Tudo começa na água”.

Ora, qualquer um que se dispõe a ler esta obra, fatalmente vai sentir, nas entrelinhas, Bandeira, Cecília, Quintana e Thales. Aliás, que feliz coincidência!

Desde esse primeiro verso, Vitória Duarte cresce como uma tempestade lírica molhando o solo fértil da criação humana, no rumo inverso das concepções elementares cheias, na maioria das vezes, de magia e mitologia, da mesma forma como Thales também as refutou, com base no elemento água: "uma coisa simples como a água pode transformar a concepção filosófica, tornando-a não absurda.". Assim fez Vitória Duarte transformando o elemento poético, mergulhado em mar, em uma coisa múltipla e rica, mesmo sendo simples e singela.

O livro "Um mar de mim", sem dúvida tem a linguagem do coração, assim, simples. E porque essa linguagem "simples"? Perguntariam alguns. Então chamo para responder, Clarice Lispector: "(...). Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho". Ou Khalil Gibran, quando explicita: "A simplicidade é o último degrau da sabedoria". Conclui-se, destarte: é muito mais difícil fazer o simples,

agradar com o simples, perceber o simples, interagir com o simples, vencer com o simples. E Vitória venceu com o simples, nesta sua obra vestibular.

Ah, meu amar não é leve/ É loucamente exagerado/ E eu romântica/ Intensa em demasia”. Ou “AVISO:/ Tome cuidado/ Sou uma espécie de bomba atômica/ A qualquer hora/ Posso explodir de tanto amor”. Duas provas de que essa simplicidade explode por conter elementos incrivelmente retumbantes, numa correlação inversa aos soslaios românticos.

Em ambos momentos líricos, senti uma poesia moderna, sem preconceitos, nem conceitos clássicos, livre de um ‘apaixonamento-amoroso’ exacerbado, sem pregas conceituais, sem "...alinhavos melosos, em busca de 'caçar' uma rima", como disse, certa vez, Ariano Suassuna. E olha que o “caçar”, nesse epíteto tem o significado tal qual.

Confesso que "Um mar de mim" rejuvenesceu-me ao ver a poesia maranhense ganhar singularidade nova, um novo fôlego. O mesmo que Bruna Lombardi escreveu em seu Diário do Grande Sertão: “(…) talvez alguns queiram um respiro. Uma tomada de ar. Apenas isso...". Eu respirei de felicidade em ver a poesia ludovicense alçar voos e iniciar uma superação à acirrada disputa das sobras poéticas deixadas por figuras ímpares da poesia maranhense do século XX, sem dúvida, essa, importante base de sustentação de nossa história.

Ao ler este livro passei a ter certeza de que a diferenciada Vitória Duarte - “O mar não é perfeito (...)/ Sal nos olhos que confessa” - escrevendo assim, fará o coliseu ludovicense se desnudar das vestes clericais de antanho fazendo o olhar do leitor extasiar-se com uma poesia direta, eficiente, sem provocar estiramentos do músculo cardíaco, em razão da simplicidade ergométrica da sua bela lírica.

Posso afirmar, sem nenhuma dúvida, que a partir daqui, meus sonhos pululam. Com certeza irei me deparar com obras similares porque o Maranhão passa por um momento de grande euforia literária e que novas e novos poetas já acordaram e esperam um pequeno grito das placas tectônicas da oportunidade, para ebulirem como vulcões, inaugurando uma nova era aédica.

E como “’A memória é uma pele’/E ela nunca esquece”, na minha concepção, este “Um mar de mim”, ricamente ilustrado pela artista Isabela Pessoa, é um dos livros marcadores desse momento vaticinador, através do teodolito do hoje, a ser lembrado como uma mudança de página, como uma nova onda a quebrar no Golfão Maranhense, flamulando para sinalizar um profícuo momento na poesia da cidade chamada de "Athenas Brasileira".

Enfim, leio:

“Ainda lembro de sentar-me a beira/ A fim de contemplar o mar/ Quando de repente ouvi o amor/ No canto da sereia/ Pronto pra me afogar”.

Pura genialidade! Em cinco versos pluralizaram-se dores, amores, lendas e saudades. Pena que eu não tenha visto essa imagem. Deve ter sido abençoado por um dos maiores pores do sol do Mundo: o do quebra-mar da península da Ponta D’areia, na minha velha e saudosa Ilha de São Luís.

Que assim seja, Vitória!

"A ÁGUA DESTE LIVRO É BOA; É DA MELHOR. ENTRETANTO, PARA BEBÊ-LA,

NÃO BASTA TER SEDE"

EDMILSON SANCHES

*

ABotânicaatépodenosdizerquepoesianãoéárvore.Mastemraiz.Temorigem.Filiação."Pedigree".

Omelhordainterpretação,dadeclamação,dapoesiaeCulturaregionalfoivisto,ouvidoeaplaudidoemuma noite, há cerca de cinco anos, no Teatro Ferreira Gullar. Era Lília Diniz, atriz, poeta, artista, da Academia ImperatrizensedeLetras,mulherqueprendeporsuaArteeempreendeemtodaparte.

Líliaéaponteentreacapitaldopaíseseuinteriorzão.ViveemBrasíliaereviveeconviveemImperatrize região.

Além dos muitos conteúdos que traz, Lília traz Cora Coralina dentro de si. E a bota para fora, em poesia, cantoeencanto--noespetáculo.“CoraDentrodeMim”,queLiliainterpreta,declama,produzeolevoupara diversosestadosbrasileiros.

Emumadessasapresentações,duranteumdaqueleslapsosde15segundos,LíliaDinizconvidou-me com carinhoedengo,dojeitoquesóelasabeconvidar parafazerotextodeapresentaçãodanovaediçãode seulivro"MiolodePote",cujolançamentoaconteceunaquelesdiasenoitesdebomgosto,ArteeCultura. SobreLilia,escrevi: Varinhademarmelo,decondão, façaessamisturaemumcaldeirão: umpoucodaquela(e)ternamenina (onomedela:CoraCoralina); ocantodeumpássarodefé cantelá,PatativadoAssaré ; maisCatulodaPaixãoCearense (apesardonome,émaranhense) dessaquímicaoumágicafeliz, distintopúblico:LíliaDiniz! *

Reproduzoaapresentaçãoquevainolivro.

APRESENTAÇÃO

Obabaçuéoboidasmatas.Dele,sabe-se,nadaseperde.Artesanato,alimento,combustível,medicamento. Emais:entreosmuitosaproveitamentoseutilidadesdobabaçutambémestáacelulose,opapel.Valedizer, assim,quedebabaçutambémfaz-seumlivro.Este,porexemplo.

***

Esedoboi obabaçudospastos ocantornordestinoEdnardoaproveitouatéoberro,LíliaDinizempresta voz à mudez do fruto e movimento à imobilidade da palmeira. Voz e movimento, denúncia e sentimento pendemaquiemcachosdeletras.

Écommuitarazãoesensibilidadequeaescritora,“bichodomato”,trazobabaçuparaasprimeiraspáginas destaobra.Lília,cabocla,sabedasbrenhasondeseembrenha,dosmatosdasmatasquesedesmata.Éíntima daspalmeirasedasconversasdelascomovento,quandofarfalhamegargalham.Líliasabedaessênciado babaçu,doâmagodasamêndoas.Éumgongoquefala sobretudo,alerta.

O líquido batismal de Lília deve ter sido azeite, que lhe marcou a fronte e a vida vida povoada de sonoridades,cheiros,saboresehistóriasquevêmapartirdospalmeirais,doscocosquesedesprendem,das mãosqueos(a)colhem.

Masumavidaricadevivências,sofrências,persistências,ardências,consciênciaecoerênciaatépodeterum batismodebabaçu...porémháoutrasplantaseplantaçõesnaselvadaexistência.Daí"MIOLODEPOTEDA CACIMBADEBEBER"iralémdaslembrançaseessênciasdaterraedaspalmeiras.Líliasabequeháoutros “elementos”, como dizem as xilogravuras que anunciam cada uma das quatro “partes” do livro: “Terra”, “Fogo”,“Água”e“Ar”,asquatrosubstânciasquesábiospré-socráticosdiziamformartudoeque,nestelivro, compõemumquadrifóliopoético quatropétalas,mesmaflor.

Se “Terra”é “essência”,que identifica, e “estrume”, que fertiliza, “Fogo”éluz e calor, energiae amor,que iluminadesejosepaixõeseincendeiacorposecorações:éamulherardenteembrasa,“acesa”emcasa,“com tantodesejoaqueimar”...atéque,aofinal,“asverrugasdotempo”tragamumcerto“enfado”euma(in)certa esperançadereveroserobjetodetantosentimento,tantachamaeincandescência.

“Água”éapartelíquidaecertadeste“miolodepote”.Dela,dosúltimosversosdopoema“Alimento”,aautora tirou, com concha decompridocabo, otítulodolivro. Neste segmento, aáguasoletra um “abc”,poisestá presente,real emetaforicamente,na cheia dosaçudes, nomolhadodosbeijosenochocalho cuja águaas faladeirasparecequetomaram.Águasemaiságuasquelembramaslavadeiras,rioseribanceiras,poçose pororocas, mares e amares águas onde corpos são lavados, roupas enxaguadas, sonhos banhados e sentimentos,quarados.

Em“Ar”,quartaeúltimaparte,LíliaDiniz,comaautoridadenaturaldequemédonaemaiorconhecedora desimesma,tracejatraços(auto)biográficosdesdeanascença,poisqueela,deverbal,ésujeitaderivadade “alicezear”,verboformadopelauniãodacearenseAlicecomocarpinteiroZé,dosquaiséfilha.

Sem necessidade de esclarecimentos sobre manhas e artimanhas, mumunhas e mungangos de exercícios poéticos, somos levados a, sem reparos, reparar no poema “Buchuda” a solução visual com que a autora tratou a disposição dos versos, uma mulher grávida. Este recurso formal, de ascendência concretista, foi inicialmente utilizado na parte primeira do livro, em “Tanta terra”, onde os conceitos intelectuais são visualizadosnaspalavraspostasemcruz.

O“miolo”destelivronãoédopote.Édapoeta.Verdadeiraevisceralcomoé,Lília,emlinhas,sublinhase entrelinhas,revelamuitodeamoredor.Muitodedignidadeeindignações.MuitodetalentoeArte.Muito desuaVida.

Aáguadestelivroéboa;édamelhor. Entretanto,parabebê-la,nãobastatersede.

*

O LIVRO, A BIBLIOTECA E O BIBLIOTECÁRIO EDMILSON SANCHES

O 29 de outubro é o Dia Nacional do Livro porque foi nesta data, em 1810 (há 212 anos), que foi criada a Biblioteca Nacional, sediada no Rio de Janeiro (RJ). Ela se chama oficialmente Fundação Biblioteca Nacional e é do Governo Federal brasileiro.

O LIVRO - Além de jornais, revistas e outras publicações e suportes de informação, o Leitor tem, no livro, um dos principais e com certeza o mais simbólico e charmoso produto de expressão, acumulação, documentação e transmissão do conhecimento, das reflexões e das compulsões humanas. Como se situa o livro na esfera humana e científica? Leia a seguir.

O livro é o mais simbólico dos elementos manuseados pelo Bibliotecário.

Hoje, entretanto, esse profissional não lida (ou não deveria lidar) propriamente com livros, mas com pessoas.

É a evolução da função socioprofissional do Bibliotecário, que sai do bibliocentrismo (isto é, voltado apenas para os livros) e vai para o antropocentrismo (o ser humano como finalidade do conhecimento e do trabalho de outrem).

Para chegarmos ao livro como superproduto humano, passamos, antes pela LITOSFERA, que é a parte da terra (a crosta terrestre) onde está a BIOSFERA, o conjunto dos seres vivos (animais, vegetais).

Na biosfera encontra-se a ZOOSFERA, o sistema onde se desenvolve o reino animal.

Nesse reino reina a ANTROPOSFERA, a parte da Terra em que o ser humano vive, também chamada IDEOSFERA.

É na antroposfera que se desenvolve a NOOSFERA, o sistema mental, cujos fenômenos, documentados de forma escrita, formam a GRAFOSFERA.

Portanto, o livro é parte da Grafosfera.

Para cuidar do livro e de outros suportes de informação existem grupos de conhecimentos próprios: as CIÊNCIAS DAS CIÊNCIAS.

Como se sabe, existem as CIÊNCIAS DA NATUREZA, como as Ciências Exatas ou Descritivas (Matemática, Física, Química, Biologia) e as CIÊNCIAS APLICADAS (Medicina, Agronomia, Engenharia).

Existem as CIÊNCIAS DA CULTURA, como as Ciências Sociais (Linguística, Antropologia Cultural, Sociologia, Economia, História, Educação, Administração) e Humanidades (Filosofia, Teologia, Psicologia, Letras, Artes Plásticas, Música).

E, por fim, existem as CIÊNCIAS DAS CIÊNCIAS, que tratam de organizar, preservar e colocar à disposição os conteúdos das demais Ciências.

As Ciências das Ciências dividem-se em Teóricas (Teoria da Informação, Teoria Geral dos Sistemas, Metodologia) e Documentológicas (Bibliografia, Bibliometria, Bibliologia, Biblioteconomia, Arquivologia ou Arquivística, Museologia, Documentação).

A evolução do conhecimento trouxe a evolução do conceito (ou seria o contrário?): seja encapsulada em disquetes, CDs, CDs-ROM, fitas e discos de cinema e vídeo (DVDs, blu-ray, HD-DVD); seja encasulada em livros, revistas, jornais; seja incrustada em outros suportes físicos ou fluindo no éter do mundo virtual da Informática e das Comunicações, a informação tem de ser colocada à disposição daquele que a gerou: o ser humano.

Assim é que a Biblioteca deixou de ser uma coleção de livros e outros documentos, classificados e catalogados, para ser uma assembleia de usuários da informação.

O Bibliotecário não é um alfarrabista que só tem olhos para os livros (função bibliocêntrica), mas um profissional academicamente preparado para uma função verdadeiramente “antropobibliocêntrica”, onde ser humano e livro (i. e., documento) interagem sob sua mediação.

Existem vários tipos de biblioteca. Frances Henne considerava a Biblioteca Infantil como a “mais importante de todas”.

Têm ainda as Bibliotecas Escolares, com material didático para professores e alunos.

As Universitárias, as Especializadas (que se voltam para um tipo de usuário ou por tipo de documentos).

As Bibliotecas Nacionais reúnem a produção bibliográfica e audiovisual do próprio país e de outros.

As Bibliotecas Públicas são as dos governos estaduais e municipais.

No Brasil, as primeiras bibliotecas chegaram com os jesuítas, em meados do século 16, na Bahia. Neste Estado também surgiu a primeira biblioteca de um mosteiro beneditino, em 1511, e a primeira biblioteca pública, em 1811.

Em 1915, surgiu, no Brasil, o primeiro curso de Biblioteconomia da América Latina.

Hoje, existem dezenas de cursos de graduação e pós-graduação.

A profissão de Bibliotecário surgiu com a Lei 4.084, de 30/06/1962, regulamentada pelo decreto 56.725, de 16/08/1965. (EDMILSON SANCHES)

“BIBLIOTERMOS”

(alguns termos relacionados ao livro)

ARISTOBIBLIOFILIA – sentimento de amor aos livros de luxo.

BIBLIOCIMELIOFILIA – sentimento de amor aos livros raros.

BIBLIOCIRURGIA – técnica que salva da deterioração a parte ainda sã do livro.

BIBLIOCLEPTOMANIA – subtração de livros, por furto, roubo ou não restituição.

BIBLIOFILIA – atribuição de valor ao livro, pela mensagem, pelo material, pela importância histórica.

BIBLIOFOBIA – indevida incompreensão do valor dos livros.

BIBLIOFOTOGRAFIA – técnica da reprodução fotográfica de livros, preservando-o em seu feiçoamento original.

BIBLIOGNOSIA – conhecimento dos livros.

BIBLIOGRAFIA – disciplina que agrupa os livros segundo critérios sistemáticos vários.

BIBLIO-HISTORIOGRAFIA – história do livro.

BIBLIOLATRIA – adoração ao livro, sem excluir seu uso, gozo e proveito.

BIBLIOLOGIA – examina o livro do ponto de vista de sua sistematização.

BIBLIOMANIA – preocupação obsessiva com os livros e a vontade de possuí-los.

BIBLIOMÁTICA – aplicação de processos informatizados na produção e difusão dos livros.

BIBLIOMETRIA – aplicação da análise estatística à bibliografia geral (MACROBIBLIOGRAFIA) e específica (MICROBIBLIOGRAFIA).

BIBLIOPATOLOGIA – disciplina aplicada (química / física / parasitologia) que estuda o deperecimento material do livro sob a influência do meio, do tempo, de ações parasitárias.

BIBLIOPROFILAXIA – técnica de proteção do livro contra as influências/ações de deterioração.

BIBLIOSOFIA – conjunto dos saberes relacionados ao livro.

BIBLIOTAFIA – amor exagerado aos próprios livros (lidos ou apenas possuídos), ao ponto de ocultá-los ou torná-los inacessíveis para outrem.

BIBLIOTECNIA ou BIBLIOTÉCNICA – corpo de técnicas relacionadas à produção do livro, do ponto de vista de seus elementos materiais.

BIBLIOTECNOGRAFIA – exposição sistemática dos princípios e normas de bibliotecnologia.

BIBLIOTECNOLOGIA – sistematiza o corpo de técnicas da bibliotecnia.

BIBLIOTECOCIRURGIA – técnica que salva da deterioração progressiva coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOGRAFIA – cuida da disposição sistemática das coleções de livros.

BIBLIOTECOLOGIA – disciplina dos livros como coleções agrupadas.

BIBLIOTECONOMIA – armazenagem, acesso e circulação dos livros.

BIBLIOTECOPATOLOGIA – disciplina aplicada (arquitetura / administração) que estuda o deperecimento e a deterioração das coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOPROFILAXIA – técnica de proteção às coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOTECNIA ou BIBLIOTECOTÉCNICA – técnicas relacionadas á criação de bibliotecas.

BIBLIOTECOTECNOGRAFIA – exposição sistemática dos princípios da Bibliotecotecnologia.

BIBLIOTECOTECNOLOGIA – sistematiza técnicas/conhecimentos da Bibliotecotecnografia.

BIBLIOTECOTERAPIA – técnica de restaurar coleções e bibliotecas.

BIBLIOTERAPIA – técnica de recuperação/restauração de livros materialmente deteriorados.

ECDÓTICA – arte de descobrir e corrigir erros de um texto e, a partir daí, estabelecer uma edição o mais perfeita possível (“edição crítica” ou “edição exegética”).

EDITORAÇÃO – preparação técnica de originais de um livro para publicação, envolvendo revisão de forma e de conteúdo e, em outra fase, a organização para a edição impressa.

NOVAS PALAVRAS - Nessa linha, engendrei dois novos termos relacionados aos livros. Consultei o Google e o “Dicionário Houaiss” e não há menção aos termos nem a seus significados, com essa formação léxica / lexical.

As palavras são formadas a partir dos elementos de composição gregos para “novo” (NÉOS-), “livro” (BIBLION), “cheiro” / “odor” (OSMÓS) e “amigo” ou aquele que deseja, quer ou gosta (-PHILOS).

BIBLIOSMIOFILIA – Aquele gosto ou satisfação com o cheiro de livros.

BIBLIOSMIÓFILO - Aquele que gosta do cheiro de livros.

NEOBIBLIOSMIOFILIA - Gosto ao ou satisfação com o cheiro de livros novos.

NEOBIBLIOSMIÓFILO - Aquele que gosta do cheiro de livros novos.

MEDALHA LUIZ PHELIPE ANDRÈS JOAQUIMHAICKEL

Por minha sugestão, o vereador Antonio Garcez apresentou na semana passada, na Câmara Municipal de São Luís, um projeto de lei que pretende homenagear uma das pessoas que mais trabalharam em benefício de nossa cidade: Luiz Phelipe Andrès.

O projeto institui a medalha Luiz Phelipe Andrès, destinada ao reconhecimento de pessoas que se destaquem nas ações de preservação do patrimônio arquitetônico, artístico, cultural e da memória do povo e da cidade de São Luís.

Abaixo, o texto do projeto e a justificativa dele.

Art. 1º. Fica instituída a medalha ''Luiz Phelipe Andrès'', destinada a ser entregue anualmente, à dez pessoas, físicas e/ou jurídicas, naturais ou não deste município, que mais se destacarem nas ações de preservação do patrimônio arquitetônico, artístico, cultural e da memória do povo e da cidade de São Luís.

Art. 2º. A entrega das medalhas se dará ao dia 6 de dezembro de cada ano, data comemorativa da elevação desta cidade a categoria de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Art. 3º. Ficam revogadas todas as disposições em contrário.

Art. 4º. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICATIVA

Luiz Phelipe Andrès nasceu a 20 de fevereiro de 1949, em Juiz de Fora-MG. Filho do médico Alberto Andrès Junior e da escritora Cordélia de Carvalho Castro Andrès. Estudou na sua cidade natal, no Colégio dos Jesuítas. Graduado em Engenharia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1972) e mestre em Desenvolvimento Urbano pela Universidade Federal de Pernambuco (2006).

No Rio de Janeiro, estudou artes plásticas com Ivan Serpa, no Centro de Pesquisa de Arte. Foi ilustrador de livros de ciências do 1º grau para a Companhia Editora Nacional. Atuou como artista gráfico para a Revista Engenharia Sanitária, nos anos 1974 a 1976 (capas e ilustrações), e realizou trabalhos de artes gráficas para a Secretaria de Divulgação do antigo Banco Nacional de Habitação.

Desde março de 1977, radicou-se no Maranhão, dedicando-se exclusivamente a atividades na área cultural, notadamente como um dos fundadores do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís, do qual foi coordenador por mais de 27 anos. Autor do projeto de pesquisas sobre as Embarcações do Maranhão e criador do Estaleiro-Escola do Sítio Tamancão.

No período de 1993-95, foi Secretário de Estado da Cultura do Maranhão e, desde 2010, é Conselheiro do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como representante da sociedade civil. É diretor do Centro Vocacional Tecnológico Estaleiro-Escola, professor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas de São Luís do Maranhão e do Curso de Arquitetura da Universidade Dom Bosco, atuando principalmente nos seguintes temas: História, Patrimônio Cultural, Tombamento, Monumento Nacional, Construção Naval Artesanal.

Coordenador da pesquisa para edição do livro Monumentos históricos do Maranhão, editado em 1979, pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado – Sioge, contendo o primeiro inventário dos principais monumentos arquitetônicos e da arte sacra de São Luís, Alcântara e Rosário.

Responsável pelo Setor de Pesquisa e Documentação do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís / Projeto Praia Grande, onde descobriu 166 exemplares remanescentes da Coleção dos Livros da Câmara de São Luís dos séculos XVII, XVIll e XIX. Idealizador e coordenador do Projeto de Restauração e Transcrição Paleográfica desses Livros, financiado pelo CNPq.

Foi Coordenador Geral do Programa de Preservação do Centro Histórico de São Luís, Membro do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão e Coordenador Geral do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.

Estagiário no Centre d’Etudes Superieures d’Histoire et Conservation des Monuments Anciens – Paris. Coordenador da Unidade Executora Estadual-UEE do Programa BID/Prodetur do Maranhão. Coordenador Geral do Projeto São Luís Patrimônio Mundial, para preparação e apresentação do Dossiê à Unesco, com o propósito de obtenção do título. Responsável técnico que assina os originais do referido dossiê, que se encontra arquivado nos anais do Comitê do Patrimônio Mundial na sede da Unesco em Paris.

Bibliografia

a) Como autor: Embarcações do Maranhão; recuperação das técnicas tradicionais populares de construção naval. São Paulo: Audichromo Editora, 1998. Publicado através do Plano Editorial Documenta Maranhão, pelo Governo do Estado do Maranhão, em convênio com a Unesco e com recursos do Ministério da Cultura; São Luís – Reabilitação do Centro Histórico – Patrimônio da Humanidade. São Luís: Edgar Rocha, 2012. (Livro resultante de sua dissertação de mestrado).

b) Como coautor: Monumentos históricos do Maranhão. São Luís: Edições Sioge, 1979; Centro histórico de São Luís, patrimônio mundial. São Paulo: Audichromo Editora, 1998. Publicado através do Plano Editorial Documenta Maranhão, pelo Governo do Estado do Maranhão, em convênio com a Unesco e com recursos do Ministério da Cultura.

c) Colaboração em outras obras: São Luís, Cidade dos Azulejos. Revista do Icomos-Brasil, editada pelo Icomos-Brasil em 2000; Programa de Preservação e revitalização do Centro Histórico de São Luís; Desenho Urbano. Anais Do II Sedur – Seminário sobre Desenho Urbano no Brasil – Coedição CNPq/FINEP/PINL. Brasília, 1986; São Luís, História e Magia. In: A arte do Maranhão – 1940/1990, editado pelo Banco do Estado do Maranhão em 1994.

d) Apresentação de obras: Caminhos de São Luís (ruas, logradouros e prédios históricos), de Carlos de Lima. São Paulo: Siciliano, 2002 (Coleção Maranhão Sempre); São Luís, preto e branco em cores. São Luís: Vale do Rio Doce, 2002; Centro Histórico de São Luís do Maranhão. In: Patrimônio mundial no Brasil. Unesco / Caixa Econômica Federal, 2002; Embarcações do Maranhão. In: Catálogo do 1° Seminário do Patrimônio Naval Brasileiro. Rio de Janeiro: Museu Nacional do Mar, 2005; A Arquitetura Maranhense e a Economia do Algodão. In: Arquitetura na formação do Brasil. Rio de Janeiro: Representação da Unesco no Brasil, 2006; Embarcações do Maranhão, na revista Velejar e Meio Ambiente, janeiro de 2007; São Luís – O Centro Antigo – Introdução Histórica e Temas Maranhenses: O Estaleiro-Escola e as Embarcações do Maranhão. In: Guia de arquitetura e paisagem São Luís Ilha do Maranhão e Alcântara. Junta Andalucía / Embaixada da Espanha e Prefeitura de São Luís em 2008.

De forma que, forte no significado simbólico extremamente relevante da presente homenagem ao nosso passado, assim como o futuro reconhecimento da grandeza dos atos de responsabilidade e consciência com a importância da preservação de nossa cidade, nossa cultura e nossos valores para evolução enquanto sociedade, conclamo os nobres pares a aprovarem este importantíssimo projeto.

BIOQUE MESITO, POETA, FALA SOBRE OUTRO GRANDE

POETA: IMORTAL APB, PAULO RODRIGUES

ROTEIRO DE ESPERANÇAS

O poeta Paulo Rodrigues, desde O abrigo de Orfeu (Penalux, 2017), seguido de Escombros de ninguém (Penalux, 2018) e Uma interpretação para São Gregório (Prêmio Alvares de Azevedo/UBE-RJ-2019, Penalux, 2019), vem ganhando notoriedade em sua obra. Digo obra, e não um conjunto de poemas, pois há muito tempo já abandonou essa postura de colecionar poemas, e, sim, construir seu trabalho literário em livros cada vez mais próximos de uma densa atmosfera poética.

Uma interpretação para São Gregório já demonstra um aporte mais apurado do que seus livros anteriores para a busca do estético. Explico. O que quero aproximar com o conceito de estético é que Rodrigues busca alinhar suas fontes internas com o que o mundo apresenta em seus olhos, ou seja, a metafísica do olhar deste poeta já brilha em condensar com mais poder de atração seus versos.

Paulo Rodrigues e sua obra.

Neste seu novo trabalho literário Cinelândia (Editora Folheando, 2021), observa-se que o cantar de grande parte dos poemas é o que André Cancian chama de metafísica moderna, pautada na investigação da realidade sem separar a natureza dos seres ou dos objetos, mantendo a compreensão mais próxima do leitor, como no enxuto e eficaz Roliúde, um dos melhores poemas do livro: sentava-se na esquina/de costas pra rua./a mesma camisa,/a mesma calça,/os mesmos sapatos./era um homem/invisível./catava feijão./nunca ouviu falar/em mais valia./sonhou com um barranco,/na Serra Pelada./curou-se da doença./não do feijão. (p.34).

Paulo Rodrigues é sagaz e caminha pela densa busca do conceito de Antoine Saint-Exupéry que ensina que “A perfeição é atingida não quando não há mais nada a acrescentar, mas quando não há mais nada para tirar”. Porém, essa perfeição que denominamos de busca pelo apuro estético, é sofrida. Mas o homem nunca conseguirá a iluminação, o sucesso, a liberdade, o amor, o estranhamento... se não for pela senda do sofrer. Rodrigues escolheu o caminho das chagas, o olhar naureano do consumir toda a existência. Busca por fazer uma obra, repito: uma obra e não um amontoado de poemas e versos, para tentar colocar o corpo no paraíso da poesia.

Bioque Mesito sobre Paulo Rodrigues

Este seu Cinelândia é seco. Perambula pelo ontológico, pelo existencial, pelo realismo fantástico, liquefeito em histórias de heróis e anti-heróis, um bem elaborado roteiro de personagens que não são moradores da Europa, pequeno burgueses, pautados na fuga das sagas medievais ou no sertão sofrido, tão já mastigado por tantos autores nestes últimos tempos. Rodrigues narra seres urbanos, moradores próximos à realidade, o que tempera e deixa gostosa a leitura e a releitura deste livro. Vejamos, então:

Alex cabeça de Gato

Bebeu pingos de chuva

Nas calçadas do Rio de Janeiro (Ninguém disfarça o azulejo quebrado, p. 40).

Ou:

A vida, às vezes, é uma esponja de aço. Pior que bala. Ela fere. Arranha. Mete o ferro imperialista, entre a pele e a alma (Carta ao metalúrgico, p. 45).

Ou ainda:

Iriana mora na rua. foi comida pelo pai; pariu cinco filhos nas calçadas. (Gaia, p. 55)

Paulo Rodrigues cria um livro que muito bem poderia encenar trajetórias de roteiros de películas de Glauber Rocha, Quentin Tarantino ou Woody Allen, personas sofridas, identificadas com a existência e o cotidiano trágico. A observação pelos atrativos da Praça Floriano (Cinelândia-RJ) e seu entorno serviram como molde de barro para esta obra homônima: um canto de desespero, um sonhar com um mundo mais justo, um levitar de nossos piores medos.

Bioque Mesito, poeta

ANTROPONÁUTICA, CINCO DÉCADAS DEPOIS, OU PARECE QUE FOI ONTEM

LUÍSAUGUSTOCASSAS

1972. Tinha 19 anos. Amava os Beatles, Drummond, Caetano, Gullar e os Rolling Stones. E queria mudar o mundo pela poesia.

O nome Antroponáutica, título de um dos mais belos poemas de Bandeira Tribuzi encerrado com o antológico “o infinito maioré oprópriohomem”) foiasenhaquenos agrupou(eu,Valdelino,Fontenele,Viriato eChagas Val) em torno de objetivo comum: derrubar os falsos moinhos de vento da velha ordem que pretendia restabelecer o caos e o atraso quando se comemorava o cinquentenário da Semana de Arte Moderna. E, claro, vender o nosso peixe lírico-atômico assado nas brasas interiores.

Ademais, Tribuzi tinha cada de guerrilheiro-zen. Trazia na travessia coimbrã de retorno à urbe a memória da revelação do sol português e repovoava a nossa imaginação com a encarnação moderna de outro grande incompreendido que comera o pão que o diabo amassou: Antonio Gonçalves Dias. Poeta, jornalista, consultor econômico de programas governamentais, esse perfil não o cindira da provedoria doméstica. Era comum cruzarmos com ele, na travessia para o Liceu Maranhense, retornando do mercado, trazendo em uma das mãos um côfo de legumes, e na outra, uma galinha viva. Essa simplicidade franciscana exibia rico simbolismo: era um mestre em repartir a luz.

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O ambiente de 1972 era tóxico, mas alegre. Éramos felizes, mas não sabíamos. Erasmo Dias arranchado nos Apicuns, chorava desolado no enterro de Natasha Trupskaia, gata vadia que Erasmo proclamava de elite e Sérgio Brito,retrucava, afirmando que transava com todos gatos vagabundos dos telhados. Carlos Cunha em verve hecatômbica deixara empenhado o filho, Carlos Anaxímenes, no Bar Athenas e demorara resgatar o vale,oquevaleuchoroerangerdedentesdosclientes.OvelhosábioRubão Almeidadesanovelavaaosventos, a bola branca com cinco carreteís de linha zero, que alavancava os “bodes” de Zezé Caveira, até depositá-los no colo de Deus.

Era questão de modernidade ou morte. A nossa juventude – todos estávamos no vintenário – exigia posição a altura.Afinal,tínhamosonecessário:duasmãose osentimentodomundo. Masestávamosmaisparadesbunde poético-tropical que movimento, essa coisinha andróide, com manifesto, programação, parecendo prévestibular acadêmico. Éramos na anti-rotação da ordem, um contra-movimento. Nossa sede eram os bares da vida.

Fontenele e Viriato, mais afoitos, passaram O comunicado de guerra aos jornais. Valdelino, era o public relation da guerrilha. Eu e Chagas Val nos especializamos em bastidores, operações especiai e profecias de bar. Todas deram certo. Depois, seguidos pelas mulheres, seguimos adiante para as nossas milionárias carreiras-solo. O IML não registrara nenhum cadáver passadista. Na verdade, já estavam mortos. O que fizemos foi cuspir o último gole na cova.

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50 anos depois, releio a Antologia Poética do Movimento Antroponáutica (lançada pelo Departamento de Cultura do Estado,em 72),com capa do compositor César Teixeira. E um frio saudoso percorre-me a espinha. Tribuzi, o patrono virou adubo de rosas. Valdelino foi brincar de boi no céu. Chagas Val pulou nas águas do encantamento. O tempo que converte tudo em elegia, desfalcou-nos do “técnico” e “torcedor de bar”, José Ribamar Estrela Vasquez, que nos legitimava pela maturidade da presença etílica, compensando nossa jovialidade.

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Refletindo na poesia os nossos enigmas, estigmase paradigmas – o louco, o filosófico, o palhaço, o visionário, –vivendoeanti-vivendonossairadeser,alembrançadoAntroponáuticasemprefoiumsinalizadordomenino

interior. Cincoenta anos depois, através de mergulho na psicoterapia, ascese do azul, cavalgado os portais do manicômio e paraíso, redescobrimos a essência do real, a poesia.

Em 1972, éramos poucos. Agora somos muitos. Arrependimentos?. Deveríamos ter amado mais, ousado mais, errado mais, e ter cumprido a promessa feita a Tribuzi, no poema “Compromisso”, de “ República dos Becos.” Tocar fogo nessa Academia. Teria prestado serviço de utilidade às gerações vindouras.

Em 1972, minha utopia era mudar o mundo pela poesia. Hoje, véspera de emplacar 70, nos idos de março, única certeza é que o mundo só poderá mudar pela poesia.

Antroponáutica: éramos 5,em 1972. Valdelino Cécio, Chagas Val, Raimundo Fontenele,Viriato Gastar e Luis Augusto Cassas, este que vos escreve. 50 anos depois e duas baixas, Chagas Val e Valdelino Cécio, numa foto comigo em final da década de 90, o Antroponáutica retorna às bocas. Eis o meu depoimento.

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50 ANOS DO MOVIMENTO QUE MUDOU A HISTÓRIA LITERÁRIA NO MARANHÃO:

ANTROPONÁUTICA

NATAN CASTRO

Original em:http://literaturalimite.blogspot.com/2016/02/movimento-antroponautica-atitude-e.html

A poética do Movimento Antroponáutica, em São Luís. Depoimento completo do Antroponauta Raimundo Fontelene.

No início dos anos 1970 cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Já vivíamos a segunda metade do século XX e por aqui ainda eram perceptíveis traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas. Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luis Augusto Cassas, todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência.

Por volta de 1971 começaram os encontros num bar no Canto da Viração no centro de São Luís, as reuniões eram regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense. A princípio

Poetas antroponáuticos - Foto: Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luís Augusto Cassas.

o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, o que foi alcançado logo depois que nomes como João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. O reconhecimento devido foi buscado ferrenhamente pelos cinco, quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas, como muita luta começaram as publicações no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um crítico de cinema o José Frazão que também acolheu muito bem as novas ideias do pessoal. Após tanto esforço, de fato o primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos como novos nomes da literatura maranhense. Logo em seguida saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica e logo depois foram convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê.

O lançamento do livro "Às Mãos do Dia", do Antroponauta Raimundo Fontelene

A seguir a narração detalhada do inusitado lançamento nas dependências da Biblioteca Pública Benedito Leite, pelo próprio Raimundo Fontenele, em entrevista dada a este que vos escreve.

R - Vocês sabem. A história é feita de fatos, episódios, circunstâncias, eventos, mil acontecimentos distantes um do outro, mas que por esta força grandiosa que é a marcha da vida e da história se conjugam tudo e todos num momento único para deflagrar a coisa, seja revolucionária ou evolucionária, de reforma ou de acomodação. E por essa época aconteceu o lançamento do meu segundo livro individual, o Às Mãos do Dia, que era para ser uma coisa puramente pessoal, mas acabou transcendendo o particular e inseriu-se nessa paisagem do instante que vivíamos: a ditadura militar em todo o seu reinado e esplendor. Querendo fugir daquelas noites de autógrafos costumeiras, que achávamos até enfadonhas, decidimos que o lançamento do meu livro seria diferente. Aí a gente juntaria artes plásticas e música, e lembro do César Teixeira, do Josias, do Sérgio Habibe, do Jesus Santos, do Ciro, Ambrósio Amorim, Lobato, Tácito Borralho, tanta gente. E o lançamento aconteceu na Biblioteca Pública Benedito Leite. Na noite anterior, após tomarmos algumas cervejas, eu, Viriato, Valdelino e outros ficamos na escadaria da Biblioteca Pública conversando e só, de sarro, planejando o lançamento, e cada um saía com a ideia mais louca. Tipo: no lugar de cadeiras para as autoridades íamos colocar vasos sanitários; colocaríamos uma árvore de Natal com ratos pendurados, etc.; íamos convocar mendigos, loucos, os despossuídos para tomarem as escadarias da Biblioteca quando as autoridades e convidados fossem chegando. Ah, e no coquetel no lugar de bebida alcoólica serviríamos leite, mas não em taças e sim em penicos. Novos, claro. Naquele tempo a autoridade maior dos estados era sempre o militar mais graduado, no nosso caso o Comandante do 24 BC. Alguém nos ouviu falar aquelas bobagens e levou a sério. O certo é que o Governador foi acordado pelo Comandante do 24 BC que lhe ordenou visse do que se tratava pois algo de muito grave ia acontecer. Fui chamado às pressas no gabinete do Secretário de Educação (que havia permitido que eu fizesse lá na Biblioteca, órgão da SEC, o lançamento do livro), à época o saudoso Professor Luís Rêgo, um homem boníssimo. Quando entrei em seu gabinete levei um susto, pois ao seu lado estava um Major do Exército. Pálido e trêmulo, ali sentei e o professor Luís Rêgo passou a me interrogar acerca do lançamento e do que estava programado. Neguei tudo. Disse que era mentira. Jamais faríamos uma coisa daquelas e tal. Despachou-me dali, mas me recomendando prudência, e cuidado com o que ia acontecer, pois estavam de olho. Pela cara do oficial do exército nem precisava de me dizer mais nada. Pois, mais tarde enquanto estava na Biblioteca em companhia do poeta Viriato Gaspar, ultimando os preparativos do lançamento, eis que nos aparece um agente da Polícia Federal. E dirigindo-se a mim diz que estava a minha procura, e porque nada mandara o livro para a Censura, e cadê o livro e tal e coisa, e nos colocou em sua viatura fomos até onde eu residia, pegamos um livro, e enquanto eu lia, o motorista nos levou até a sede da Polícia Federal, naquela época ali na Rua Grande na altura do Ginásio Costa Rodrigues. Novo interrogatório pelo delegado de plantão. O Viriato saiu-se bem nas respostas. E quando o delegado quis saber dos mendigos (olha a subversão) que íamos levar, o Viriato disse que não tinha nada a ver, aquilo era uma peça de teatro que estávamos escrevendo e tão logo ficasse pronta levaríamos lá no Serviço de Censura. O certo é que à noite a Biblioteca lotou. Talvez até curiosos, além de meus convidados, muitas autoridades se fizeram presentes. Secretário de Educação, o Prefeito Haroldo

Tavares, e lá atrás de uma daquelas colunas reconheci o agente da PF de nome Mateus, esperando que eu saísse da linha no meu discurso para me grampear. Mas o resultado prático da repressão, que é o cerne desta pergunta, é que nós, os jovens (falo dos jovens em geral e não especificamente do nosso grupo), tomamos rumos diferentes: uns foram para o comodismo da vida privada, outros foram para luta armada, e no meu caso, no primeiro momento, abandonei tudo e embarquei numa carona com os hippies e fiquei vagando pelo país uns três a quatro meses, metido no universo da Contracultura, cujo estímulos vinham da geração beat, e era uma época rica e enriquecedora, chegávamos ao desregramento de todos os sentidos, na vida e na arte, aquilo que o poeta Arthur Rimbaud profetizara um século antes. E a nossa geração foi importante porque abriu caminho para todos vocês que vieram depois de nós. É o ciclo da vida, quer reconheçamos ou não. Ele existe. Ele é.

O Maranhão desde Gonçalves Dias deu início a uma tradição literária que continua até os dias atuais, do Romantismo para cá apresentamos ao país e ao restante do mundo, uma quantidade satisfatória de grandes literatos, para não citar outros gêneros da arte. A geração da Antroponáutica que hoje nos parece quase esquecida pelos tais entes da cultura do Estado, possui um papel relevante, quando o assunto é a renovação dessa brilhante tradição. Os cinco jovens poetas buscaram espaço devido, sonharam com as mudanças e ao conseguir colocaram heroicamente seus nomes na história da arte e da cultura do Maranhão. Tudo isso num período em que a náusea artística era vista como algo peçonhento e altamente prejudicial ao poder estabelecido.

O SENSO ESTÉTICO DE OSWALDINO MARQUE

FERNANDO BRAGA

in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos do autor. Ilustração: Foto de Oswaldino Marques, do acervo do professor e escritor Antônio Miranda.

Oswaldino Ribeiro Marques nasceu em São Luís do Maranhão, em 17 de outubro de 1916 e faleceu em Brasília-DF, em 13 de maio de 2003. Abriu seu caminho a golpes de tenacidade, à mercê de inquebrantável adesão aos valores da inteligência. “Se não fosse escritor, gostaria de ser matemático ou físico nuclear”, dizia convicto com as exigências que tinha consigo.

Ao falar-se de Oswaldino é bom que se diga qual foi ele o ponto de ligação que houve entre sua geração maranhense de 30, com os ecos da ‘Revolução de Arte Moderna de 22’, e é justamente sobre isso que o escritor Rossini Corrêa, em seu belo livro ‘Atenas Brasileira – A Cultura Maranhense na Civilização Nacional’, Thesaurus Editora, Brasília, 2001, à pág. 187, nos diz:

“O ambiente cultural ludovicense não foi contemporâneo do eixo construtor do modernismo brasileiro, na década de 20: ‘os revoltosos assustam no Maranhão’, reconheceria Odylo Costa, filho. Sem movimentos, sem manifestos, sem revistas, sem articulação interativa e sem livromarco de reconvenção estética inserto na moderna história literária do Brasil. São Luís, na realidade, ficou à revelia do itinerário imediato de expansão da mudança modernista em curso no País. São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, sim. Pernambuco, Paraíba, Rio Grade do Norte e Alagoas, também. No Pará, menos. No Maranhão, não. Se alguns poucos sonharam em ensaiar a luta renhida, perderam a batalha que, em visão crítica, não vingou em terras gonçalvinas. O principal modernista maranhense, jovem da década de 20, foi Nunes Pereira, uma espécie de Raul Bopp fugindo do passadismo, que estava diante do seu mestre Mário de Andrade, em Natal, vindo de Belém, onde frequentara tertúlias peripatéticas. E, no Maranhão, nada de Nunes Pereira”.

Avesso às academias e a ciclos literários, Oswaldino Marques, não sei por quê, pertenceu ao ‘Cenáculo Graça Aranha’, ao lado de alguns dos seus mais legítimos companheiros da geração de 30, como Josué Montello, Franklin de Oliveira, Manuel Caetano Bandeira de Mello, Amorim Parga, José Erasmo Dias, Sebastião Corrêa, Paulo Nascimento Moraes, Ignácio Rangel e outros, “a buscar o sonhado caminho’ apregoado pelos cânones

do modernismo de 22, o qual no Maranhão, como se viu, foi “febril e transitório, enquanto que, para o ideal de glória da mitológica tribo timbira, sempre a eternidade foram deusa e rainha sedutora”, como nestes versos do próprio Oswaldino Marques: “E sinto quanto mais contraditória/ é a fortuna de minha realidade:/ ter por órbita a vida transitória/ e em torno a mim só ver eternidade”.

Não procuraram e nem acharam ideia modernista nenhuma. Sobre o ‘Cenáculo Graça Aranha’, é Josué Montello que nos diz: “Éramos românticos, e não sabíamos. O Cenáculo não publicou livros, não promoveu conferências, não empossou nem enterrou ninguém. Na verdade, pensando bem, foi uma bela ficção. Cada um de seus membros fundadores tomou rumo próprio, ficando em São Luís ou dali saindo. Tão completa foi a sua extinção que dele não restou o livro de atas, nem o álbum de recortes. Apenas uma tabuleta”.

Em 1936, Oswaldino zarpa de navio para o Rio de Janeiro, onde já lá estavam Montello, Franklin e Bandeira de Mello. Na velha capital, o mais tarde tradutor de Whitman, se torna um dos fundadores da União Nacional de Estudante-UNE, onde trabalhou como bibliotecário e tradutor, tendo sido um dos responsáveis pela divulgação da poesia moderna estadunidense no Brasil. Em 1965, mudou-se para Brasília, como servidor do Ministério da Educação, transferido do Rio de Janeiro. Por concurso, assumiu a cátedra de Teoria da Literatura na Universidade de Brasília [UnB]. Com o agravamento da ‘posição militar no Brasil’, o mestre Oswaldino a trilhar pelos caminhos do marxismo, foi demitido do cargo, se autoexilando nos Estados Unidos, aonde foi professor visitante das literaturas portuguesa e brasileira, na Universidade de Madison, Wisconsin. Algum tempo depois, em 1991, via anistia, foi reintegrado à UnB pelo Reitor Cristovam Buarque. Oswaldino Marques era por temperamento retraído e viveu os últimos anos praticamente isolado em seu apartamento em Brasília, onde dedicava seus dias à leitura e a ouvir músicas. Quantas vezes, a seu convite, participei desses momentos silentes ao seu lado, entre clássicos e músicas de câmera de sua predileção, a degustar, por vezes, um delicioso ‘mingau de milho’, à moda maranhense, que em outras plagas chamam de ‘canjica’, preparado por Maria do Carmo, sua mulher. Talvez por convicção ideológica, Oswaldino se dizia ateu, mas não por isso, mas por outros ‘caprichos’, deixou registrado em cartório, que não desejava qualquer tipo de cerimônia religiosa quando de seu sepultamento, nem discursos, e nem flores, e nem velas, o que foi seguido à risca por sua mulher e seus filhos, o gravador Igor Marques e o também escritor Ariel Marques. Sintamos o quanto o Padre António Vieira tinha razão quando proferiu o seu famoso sermão a ‘Quinta Dominga da Quaresma’ ou ‘Sermão das Mentiras’, Rossini Corrêa [op.cit.p.224], diz assim:

“Tribo conflitada e desunida a maranhense, que, no passado, falava mal de si às escondidas, como Humberto de Campos a comentar livro de Coelho Neto, no ‘Diário Secreto’: “Recebi um livro de Coelho Neto. É um punhado de crônicas de jornal, em que seguem os lugares-comuns, se sucedem as expressões banais, os termos de gíria, as frases feitas, compondo páginas sem relevo, sem interesse, sem beleza, uma grande piedade, uma grande dó...” [...] Atualmente, porém o duelo travado em terra estranha é público e notório, à faca peixeira, com fratura exposta, massa cerebral perdida, hemorragia desatada e de vísceras caídas por terra, como o servido em BrasíliaRio, por Oswaldino Marques e por Josué Montello. Combate, este, que inspirou ao primeiro a corrosiva e inédita produção poética, que substitui, em sua concisão, todo um banquete psicanalítico. Em: ‘Auto-epitáfico’– “Osvaldino aqui jaz./ De vezo polêmico, /índole indomada. /Zero contumaz /na vida foi nada /nem mesmo acadêmico”.

O que Rossini Corrêa atiça acima, esmiúço abaixo, como ilustração a este dedo de prosa, e para que o leitor entenda melhor essa ‘luta corporal’ que em nada espantaria Ferreira Gullar: Oswaldino e Josué foram colegas no Liceu Maranhense por todo o curso de humanidades; tinham precisamente a mesma idade; ambos intelectuais de fina linhagem; Oswaldino foi ‘eminência parda’ de Montello quando este exerceu a direção da Biblioteca Nacional, mas, infelizmente, um pelo outro nutria uma ‘rezinga figadal’. Oswadino era

terno e generoso em gestos e delicadezas, mas quando se aborrecia, por qualquer coisa, perdia as estribeiras, sem medir consequências e sem economizar adjetivos, o mesmo acontecendo com Josué Montello, o que fazia dos dois, apesar de adversos, mais que semelhantes. Um belo dia, pela década de 80, um ‘Macunaíma’ qualquer, à guisa de fuxico, instigou Oswaldino em relação a um ‘disse-me-disse’ que Josué Montello houvera verbalizado sobre sua pessoa, o que na linguagem cibernética de hoje seria traduzido como ‘fake news’. Pelo sim, pelo não, Oswaldino surtou com que ouvira do ‘herói sem nenhum caráter’, e foi às pressas para o ‘Correio Brasilense’ onde abriu as ferramentas contra Josué, num artigo intitulado ‘Desmontele-se’, o que imediatamente, o autor de ‘Os Tambores de São Luís’ respondeu pelo ‘Jornal do Brasil’ ao tradutor de Blake, num outro artigo, intitulado ‘Arquive-se’. Foi uma ‘batalha romanesca e ensaística’ espetacular, o que me faz rir até hoje quando as leio; guardei esses artigos comigo, de duas páginas inteiras cada um, devidamente catalogados em hemeroteca; são duas preciosidades literárias, que em matéria de ‘agravos, em alto estilo’, nada existe semelhante em língua portuguesa, nem mesmo os terríveis epigramas trocados por Bocage e Caldas Barbosa na velha Arcádia Lusitana, ou as bandarilhas trocadas entre Alexandre Herculano e seus ‘indesejados’ colegas da Torre do Tombo, ou ainda, as fúrias contidas nas farpas de Eça e Ortigão contra uma comunidade inteira. Uma maravilha de batalha literária! De sua extensa bibliografia, eis aqui alguns livros e antologias de Oswaldino Marques: ‘Poemas quase dissolutos’, 1946; ‘Cantos de Walt Whitman’, 1946; ‘O poliedro e a rosa’, 1952; Cravo bem temperado, 1952; ‘Usina de sonho, 1954; ‘Videntes e sonâmbulos’, 1955; ‘Poemas famosos da língua inglesa’, 1956; ‘A seta e o alvo’, 1957; ‘Ensaios escolhidos’, 1968; ‘O Laboratório Poético de Cassiano Ricardo’, 1976; ‘A dançarina e o horizonte’, 1977, ‘Livro de sonetos’, 1986.

“[...] Em seus poemas, onde a beleza formal jamais se afasta da substância, em seus ensaios críticos, onde a arguta percepção está informada do mais dignificante calor humano, em suas traduções exemplares, [William Blake, Walt Whitman, T.S. Eliot] onde a fidelidade ao espírito criador original não está contida pela inevitabilidade da redução, sendo antes recriações válidas e autônomas, o escritor maranhense oferece generosamente o melhor de si [...] “A sensualidade de nossos trópicos se torna evidente mesmo quando os temas são aparentemente intemporais e forâneos”, disse dele o amigo e editor Ênio Silveira.

Escutemo-lo, em seguida, em ‘A dançarina e o horizonte’: “Em luz resplandeceu minha palavra/ e se fez sol interior, mental:/ sob seu calor agora torno à lavra/dos campos da sintaxe e do real”.

Por fim, ouçamo-lo neste ‘Homo sum’, enfeixado em ‘Poemas quase dissolutos’: “Há nos meus ombros vestígios de asas,/Guardo zeloso uma rica herança de voos;/Não esqueci, de todo, os segredos da levitação,/E me vanglorio de flutuar ainda como leve paina no espaço!/Tem sua obscura razão este ingênuo amor pelas nuvens,/Esta infantil ternura pelas franzinas borboletas,/E o orgulho de atirar o rosto para as estrelas./Mas, ai! apalpo no meu cóccix também uma cauda atrofiada,/ Que em vão dissimulo e dissimulo com meu enganador manto celeste. /Besta e anjo um meridiano me corta em zonas de luz e treva. /De um dos meus lados nasce a aurora, /O outro é a úlcera de onde jorra a noite. / Ai! Que desgraça ser o antípoda de si mesmo! / Viver se despenhando em violentas diagonais de contradições. / A mão pura e a impuras pendentes do mesmo tronco. /O olho cego e o são coexistindo na mesma face. /O lábio podre e o eterno modelando estranhas palavras híbridas.”

A última vez que conversei com Oswaldino Marques, não preciso quando...Foi no gabinete em que ele dividia com Herberto Sales a direção do Instituto Nacional do Livro [INL] em Brasília. Tenho saudade de sua generosidade e de suas colocações discursivas, sempre em altíssimo nível. Ele foi, repito, um querido amigo e um escritor que honra a Literatura Brasileira!

SALGADO MARANHÃO, ESCRITOR CAXIENSE: INDO LONGE E PERTO. BEM

LONGE E BEM PERTO

EDMILSON SANCHES

José Salgado Maranhão certamente está recebendo mensagens de todo o país e do Exterior também por seu aniversário no domingo, 13 de novembro. Sua página no Facebook (https://www.facebook.com/jose.s.maranhao) mostra o carinho de seus leitores, amigos e conterrâneos. Tempos atrás, Salgado Maranhão esteve na segunda semana de novembro em Caxias, sua terra natal. Era convidado para o 1º Sarau Literário "Na Pele da Palavra", organizado pelo também escritor caxiense Carvalho Júnior.

Junto com o jornalista Jorge Eugênio Gonçalves, estive na rodoviária caxiense e recebi o grande poeta. Hospedou-se, por minha indicação, no tradicional Excelsior Hotel, ali ao lado da Praça Gonçalves Dias, no centro da cidade, onde também eu me hospedara.

Juntos (mas o convidado era ele), palestramos no auditório do Memorial da Balaiada, no histórico Morro do Alecrim, para dezenas e dezenas de estudantes de escola pública, a convite da professora e poeta Ana Lúcia Gonçalves. Éramos ali dois caxienses, nascidos na mesma década, época que, em princípio, “conspirava” contra nós, por reunir todas as pré-condições para nos dar mal na vida: nascemos pobres, negros, no interior do Maranhão / do Nordeste.

Mas o "casulo" que aparentemente nos apertava e segregava foi o mesmo que nos fez robustos, vigorosos, pelo esforço que empenhamos para sair dele e voar, ir (para) longe.

E Salgado Maranhão foi longe. Bem longe. Em livro e pessoa. Todo prosa mas, sobretudo, todo poético. Em letras (d)e canções. Em versos e versões versões para outras línguas.

Salgado Maranhão foi (e continua indo) pelo mundo. Só nos Estados Unidos, em 2012, a convite, esse poeta caxiense (per)correu pelo menos 20 mil quilômetros e visitou e palestrou em cinquenta e duas exigentes e superorganizadas universidades americanas.

Salgado Maranhão tornou-se “escritor de uma literatura”, não apenas “escritor de uma língua”, de que nos fala o também maranhense Josué Montello em seu “Diário da Tarde”.

Em Caxias, naquele novembro de há alguns anos, Salgado Maranhão foi perto. Bem perto. Juntos, ele e eu re/buscamos ruas de nossa cidade e naquelas ruas buscamos lugares e casas dantanho passado presente em nossas lembranças crianças... Mas as antigas casas foram (trans)mudadas, (trans)feridas pelo amor ao agora e desamor ao (e)terno.

O Poeta não encontrou o que procurava e que se encontra permanente e indelevelmente em sua memória doutrora.

Caxias, confirma-se, está bem presente em Salgado Maranhão. E naquele dia, vésperas do aniversário do Poeta, a cidade-mãe teve presente o filho reconhecidamente pródigo e prodígio, fecundo e genial em nossa Poesia..

Em tempo de aniversário, filho e mãe se presenteiam.

Parabéns para eles.

Parabéns para nós.

Parabéns, Salgado Maranhão.

Ilustração: José Salgado Maranhão, em desenho de Rodriguez.

"VERÔNICA SIMPLESMENTE": "UM PASSARINHO ME CONTOU. E VOCÊ? TEM PASSARINHO?" NOVOLIVRODOESCRITORMARANHENSEROGERDAGEERRE MHARIOLINCOLN

VERONICA SIMPLESMENTE está entre os livros a serem lançados na 12ª edição de Lançamento Coletivo de Obras Maranhenses, na Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, neste 25 de novembro. Ao todo, serão 55 autores a participarem desse evento.

ResenhadolivrodeRogerDageerre

O novo livro de Roger Dageerre VERÔNICA SIMPLESMENTE é uma obra de resiliência. Versa sobre um triunvirato: Roberto, Verônica e Jamille.

Um desses amores platônicos que acabam não dando certo e o amante segue uma vida sem se livrar desse pensamento indolor, mas furtivo e inquietante.

Como diria Luís de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. (...)".

Mas, no conto de Roger Dageere, tudo muda de figura e Roberto acaba por se ver numa outra situação. Não idêntica à de Verônica. De certa forma, contudo, digna de frenesi amoroso: finalmente, alguém entra na vida triste dele e a muda por completo.

Artur da Távola, costumava dizer: "O amor... Ah, o amor.../ O amor quebra barreiras, une facções,/ destrói preconceitos,/ cura doenças...". Então, na lógica, vale uma pergunta: será que o novo amor entre Roberto e Jamille é maior que o amor de Verônica?

É assim que o conto se desenrola. Quando Roberto se vê abandonado após um único encontro entre ele e Verônica, o leitor fica se perguntando qual seria o destino dele.

Roger Dageerre.

Roberto passa por todas aquelas fases de um homem apaixonado/abandonado. Foi ao bar onde sempre bebia duas cervejas aos sábados e, naquela vez, tentou se embebedar de saudade, não suportando a ausência da amada. No fundo, é como se ele "tivesse criado uma imagem sagrada de Verônica". O Sr. Darciles, o dono do estabelecimento, interveio vendo o suplício do amigo e se pois a explicar que um novo amor poderia aparecer a qualquer momento.

O fato é que essa história foge aos conceitos dos roteiros de Amor. Primeiro, porque não há ódio, nem rancor, nem ciúme, nem traição, nem morte. Segundo, porque o principal personagem recebe uma segunda chance e tem uma nova oportunidade de ser feliz, constituir família e filhos.

Mas, não deixa de ter o ápice. É quando, muito tempo depois, já casado e aquietado, Verônica liga para Roberto e marca um encontro a sós com ele. Jamille ouve a conversa e libera Roberto para o encontro, o que demonstra muita maturidade e apreço do personagem, casada com Roberto.

Por fim, o encontro acontece e Verônica explica o porque do abandono: "voltaria para teus braços se eu merecesse você". Nesse caso, o texto foge ao tradicional cantado pelos escritores shakespearianos, que insistem em escrever sobre o poder esmagador que tem o amor, em conseguir alterar e definir as vidas dos amantes.

E não para aí: Roger Dageerre também foge ao tradicional quando dá um final feliz diferenciado a esse triunvirato amoroso mostrando a sinceridade de Verônica e a capacidade de torcer para que Roberto continuasse feliz com a nova família, sem tentar destruir esse relacionamento. E pelo visto, Verônica teria como interceder negativamente. Isso acaba tornando-a um personagem muito significativo no enredo (não só pelo título), porque o leitor sabe da influência forte desse sentimento, quando "(...) o ato de amar é morar um no outro", ensinado por Mario Quintana.

Assim, mesmo que Roberto vivesse feliz com Jamille, ele, com certeza, correria para os braços de Verônica, caso ela sinalizasse dessa forma. Entretanto é a mesma Verônica a responsável pela continuação da convivência conceitual com Jamille, ao final das contas.

Em determinado momento durante o encontro, passadas as emoções e frios na barriga, Roberto pergunta:

- Como você, Verônica, conseguiu me encontrar, tantos anos depois de nenhum contato?

Verônica mesmo responde:

- "Um passarinho me contou".

Aí, já no finalzinho apoteótico, todo o milagre contextual do conto, traduzido em uma palavrinha só,"Um passarinho me contou" -, mesmo porque, essa expressão, especificamente no texto do conto, represente um universo imenso de entendimento, pelo que Roberto enseja:

- Então, por que eu nunca lhe encontrei?

Pelo que, sensacionalmente ela responde:

- É porque você não tem um passarinho!

Esse diálogo final é a chave do enigma para o leitor compreender todo o jogo amoroso entre Roberto e Verônica.

É a velha história de Édipo e a Esfinge, retratada óleo sobre tela, pelo francês François-Xavier Fabre:

- Decifra-me ou devoro-te. (Em todos os sentidos).

Eu decifrei! E você?

POR QUE O MARANHÃO ABANDONA (OU ATÉ

DESCONHECE) SEUS GRANDES VALORES UNIVERSAIS?

EDMILSONSANCHES

NotadoEditor: o Padre Francisco João de Azevêdo inventou uma máquina-protótipo de escrever, através de teclas e a mostrou durante a grande Exposição Nacional no Rio de Janeiro, de 1861. Mas um americano o persuadiu a levar a invenção para os Estados Unidos afirmando que lá, poderia industrializá-la. E aí ianque Chritistofer Sholes levou a fama e a patente. Em março de 1973 Sholes apresentou como seu, um protótipo igual ao do padre. Logo depois mostrou aos armeiros Remington e a partir daí, todo mundo conhece. O padre entrou para a galeria brasileira dos inventores injustiçados. Mas, e quando as pessoas são reconhecidas como desbravadores, inovadores, dentro e fora do país, todavia quase desconhecidos em sua terra de origem, onde nasceram? É essa a história que Edmilson Sanches conta, abaixo:

POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEUS MAIORES VALORES?

Se o Brasil fosse o mundo, o Maranhão seria a França.

---- Se o Maranhão saísse do Brasil, a economia do Brasil perderia menos de 1,5% [um e meio por cento].

Mas se o Maranhão saísse do Brasil, o País perderia mais de 30% de sua História e Cultura

Recentemente, em longa conversa em um café de grande Livraria no Rio de Janeiro, o poeta Salgado Maranhão, meu conterrâneo caxiense, contou-me que ouviu um palestrante dizer, no curso de sua fala:

“ Se o Maranhão saísse do Brasil, a economia do Brasil perderia menos de 1,5% [um e meio por cento]. Mas se o Maranhão saísse do Brasil, o País perderia mais de 30% de sua História e Cultura”. Tal é a grandeza histórico-cultural de nosso Estado.

Como costumo dizer, em termos histórico-culturais, se o Brasil fosse o mundo, o Maranhão seria a França- e, nesta França, Caxias seria Paris...

Reproduzo de memória a frase e substituí o percentual da Economia, com inclusão de dados oficiais, com base no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e do Maranhão em 2019, quando o País totalizou R$ 7 trilhões 389 bilhões e o Maranhão, R$ 97 bilhões.

*

Pormais quesejadifícil quantificarum percentual departicipaçãohistórico-cultural deum estadonaformação e existência de um país, ainda assim é válido, ilustrativa e simbolicamente, realçar a grandeza maranhense na formação brasileira.

Nosso Estado, o Maranhão, pelo talento e esforço de diversos de seus filhos, deu uma gigantes contribuição ao Brasil e ao mundo.

Assim, “en passant”, podemos afirmar que eram maranhenses quem criou a Bandeira do Brasil (cujo dia é daqui a pouco, em 19 de novembro) e quem deu ou fortaleceu a ideia de o Hino Nacional ter uma letra, que foi Coelho Netto, à época deputado federal, em 1909 e 1917.

Ou seja, os dois maiores símbolos do Brasil têm a presença maranhense, incluindo-se também os versos de Gonçalves Dias em estrofe do Hino (“Nossos bosques têm mais vida” / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”).

Por sua vez, a cidade maranhense de Caxias é um raríssimo caso de município que está presente três vezes no Hino e Bandeira brasileiros: o criador da Bandeira do Brasil, Teixeira Mendes, é caxiense, e caxienses são também Coelho Netto e Gonçalves Dias

Maranhenses também são ocriadordoMinistério daAgricultura(epresidentedehonradaSociedadeNacional de Agricultura);

...o primeiro dramaturgo negro do Brasil, criador do Teatro Profissional do Negro, cujo nome foi dado ao ano de 2018 pelo Governo Federal;

...o primeiro tradutor de Shakespeare para a Língua Portuguesa;

...o introdutor do cinema seriado no Brasil;

...o idealizador do Teatro Municipal do Rio de Janeiro;

...o maior governador do Amazonas;

...o primeiro poeta brasileiro a ser publicado em página do maior jornal dos Estados Unidos;

...o autor da primeira música sertaneja gravada no Brasil;

...o criador da primeira companhia imobiliária do País;

...os idealizadores do primeiro banco brasileiro, muito antes de Dom João 6º chegar ao Brasil;

.o inventor do “stent” (nanotubo que se introduz em artérias para regular fluxo sanguíneo para o coração);

...o fundador dos bairros Grajaú no Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Maranhenses são o redator da Lei do Ventre Livre;

...o autor da Lei que permitiu a liberdade de crença e culto (com a separação da Igreja do Estado);

...o autor do primeiro livro científico de Odontologia no Brasil e dentista pioneiro no uso de anestesia, considerado “Glória da Odontologia Brasileira”;

...o patrono da Medicina Legal brasileira (junto com o médico e escritor baiano Afrânio Peixoto);

...o criador da Antropologia Criminal;

...o inspirador da criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio);

...o pioneiro nas lutas pelas leis de proteção à mulher trabalhadora, ao menor trabalhador, ao doente mental e ao índio;

...o introdutor do Indianismo na Literatura Brasileira;

...o introdutor do Parnasianismo;

...o introdutor do Naturalismo;

um dos criadores do Concretismo e do Neoconcretismo na Literatura Brasileira;

..o introdutor do Modernismo nas Artes Plásticas brasileiras;

...o precursor do romance policial no Brasil;

...o professor e dramaturgo que é considerado “A Pedra Angular do teatro Paranaense” (e que estudou com grandes nomes do Cinema e Teatro mundial, como Federico Fellini, Roberto Rossellini, Michelangelo Antonioni, Laurence Olivier, Luchino Visconti...).

*

São maranhenses o responsável pela elevação da capoeira no Brasil, como esporte, arte, técnica, dança, luta digna;

...o escritor três vezes indicado ao Prêmio Nobel;

...o introdutor do cinema seriado no Brasil, precursor das novelas e séries atuais;

...os autores do primeiro livro de autoria coletiva do Brasil;

...o precursor da Tradução Criativa no Brasil;

...o médico que é considerado o maior matemático da História brasileira e um dos maiores do mundo;

...o patrono da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras;

...o pioneiro no estudo do Folclore no Brasil;

...o responsável pela reabilitação do violão como instrumento musical digno no Brasil;

...a sacerdotisa de culto afro-brasileiro e última princesa da linhagem direta fon (estudada por escritores, sociólogos e antropólogos brasileiros e estrangeiros);

...o professor considerado “Mestre dos Mestres” em São Paulo.

Também são maranhenses um campeão internacional de hipismo (inclusive recentemente);

...o pioneiro no estatuísmo (“estátuas vivas”) no Brasil;

...o pioneiro em organização de Cerimonial & Relações Públicas no País;

...um dos fundadores da União Nacional dos Estudantes;

...um aviador herói da 2ª Guerra Mundial;

...a “mãe dos pobres” de São Paulo (capital);

...os primeiros músicos brasileiros a subirem ao palco do primeiro “Rock in Rio” (janeiro de 1985);

...o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia do país;

...o escritor mais lido do Brasil em sua época;

...o primeiro presidente do Conselho Brasileiro de Fitossanidade;

...o dramaturgo, poeta, contista e jornalista e compositor, considerado entre os primeiros letristas profissionais da música popular brasileira.

Também são maranhenses o escritor e jornalista que iniciou a “revolução” gráfica na Imprensa brasileira;

...o antropólogo, veterinário e ictiólogo que foi um dos primeiros pesquisadores mestiços de reconhecimento científico internacional, fundador da Academia Amazonense de Letras, com placa e álea com seu nome no Jardim Botânico do Rio de Janeiro;

...o prefeito exemplar de capital no Sul-Sudeste, autor literário reconhecido em diversos países;

...o autor do primeiro livro de gramática da Língua Portuguesa no Brasil;

...o fundador da primeira tipografia de São Paulo;

...o jornalista e escritor que, bem antes de Euclides da Cunha, foi o primeiro a chegar a Canudos e a escrever e publicar livro sobre a “Guerra de Canudos”, na Bahia (1896-1897);

...o responsável pela primeira contagem populacional (recenseamento) do Brasil, em 1872;

...o primeiro presidente do Banco do Brasil;

...a cantora, compositora, multiinstrumentista, professora e folclorista, considerada a “Rainha do Acordeom” e a segunda maior compositora brasileira em número de músicas gravadas, que com menos de 15 anos já se apresentava no exterior, teve composições gravadas em outros países e por grandes nomes da música brasileira, como Nara Leão, Fagner, Clara Nunes, Marlene, Dóris Monteiro, Inesita Barroso, Marinês e Sua Gente, Carlos Galhardo e Zé Ramalho;

...o músico considerado, na sua época, o melhor violinista do Brasil;

...os poetas considerados, na época de cada um, o maior poeta vivo brasileiro;

...a banda militar maranhense que é a segunda criada na história do Brasil;

...e outros maranhenses e ocorrências que foram/são destaques nacionais e internacionais na Ciência & Tecnologia, nas Artes e Cultura (Música, Literatura, Pintura etc.), Meio Ambiente, Educação, Medicina & Saúde, Administração Pública e Empresarial etc.

E o que, maximamente, é tema recorrente na Imprensa brasileira sobre o Maranhão? Que somos o pior ou um dospioresemindicadoressocioeconômicos. Quandoeueramenino,compravatodoanoo“AlmanaqueAbril”, desde a primeira edição. Sofregamente, ia logo ver o capítulo sobre os Estados brasileiros para ler o texto

sobre o Maranhão. Decepção. Geralmente começava assim: “O Maranhão, estado mais pobre / mais atrasado do Brasil [...]”.

Autoridades maranhenses e mesmo o mundo empresarial, se já não tivessem outros deveres, também têm a obrigação chamam-na de “responsabilidade social” de proporcionar aos maranhenses o conhecimento sistêmico e sistemático, orgânico e organizado dessas informações. Informações que tanto poderiam dar conhecimento quanto, também, ser motivo de inspiração e sadio orgulho para os mais jovens e, por que não?, para todos nós.

Com base nessa exaustiva e ainda assim curta lista de grandes nomes maranhenses (que compõem o projeto “Enciclopédia Maranhense”, que elaborei), faça uma reflexão sobre o fato de nosso Estado, repito, ser conhecido “lá fora” apenas por indicadores socioeconômicos péssimos (que devem ser combatidos, revertidos), mas esquece, nosso Maranhão, de divulgar para o Brasil e para além o que de bom a História registra que foi feito por nossos Conterrâneos de antanho.

O Maranhão não se assenhoreia desse verdadeiro tesouro, desse potencial de Economia Criativa / Economia da Cultura. Relega, bane, expatria ou despreza o pioneirismo, os esforços, o resultado do talento e lutas de seus próprios filhos, que, no passado e até presentemente, contribuíram verdadeiramente para formar, fixar e ampliar a Identidade Brasileira e ajudar a tornar melhor nosso País nas diversas áreas.

Quer saber mais outras dezenas senão centenas de “coisas” em que o Maranhão e maranhenses são bons ou pioneiros etc.? Quer conhecer, apoiar ou associar-se ao projeto “Enciclopédia Maranhense”? Quer uma oportunidade de ser terno com sua terra e eterno com seu nome?

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POETA E ESCRITORA JOIZACAWPY COSTA ANALISA TRABALHO INÉDITO DE MHARIO LINCOLN

Joiza escreve sobre "Entrevistas com Livros", gênero inédito, registrado pelo Facetubes.com.br

Com uma nova forma de resenhar nos propondo uma inovação em gênero de resenha, Mhario Lincoln lança “Entrevista com livros” de forma espetacular. De um jeito diferente Mhario nos leva a viajar pelas páginas de livros de maneira diferenciada, propondo e realizando uma entrevista interagindo com livros de um jeito descontraído permitindo ao leitor embarcar num verdadeiro deleite literário de modo a proporcionar uma viajem pela obra de uma forma leve.

O formato proposto e realizado por Lincoln é feito da seguinte maneira: ele lança uma pergunta ao autor e obtém a resposta com fragmentos do próprio escritor referente a obra selecionada, desse modo tem-se a resenha em forma de entrevista com livros.

O primeiro “diálogo”, foi com o grande escritor José Sarney, Mhario nos fez adentrar a obra “Saudades mortas “, nos permitindo conhecer nuances do livro com riqueza de detalhes, conduzindo-nos a refletir sobre as contribuições contidas no título de forma significativa de modo a nos lançar novos olhares sobre autor e obra.

MHL: Na espontaneidade de seus versos, há muita coisa que cala fundo, quando o mote revive momentos antanhos. Fale-me, pois, sobre um desses momentos: o de sua partida para o futuro. Deixando a rua de barro, de cavalos e de peixes lodosos...

JS: Nasci nesta rua de cavalos; comi pó e barro, peixes de água lodosa, pescados nas madrugadas molhadas. Vieram dias que docemente me induziram a viver, e vivi. Buscando forças que me levaram a partir e nelas fui embora como quem apanhava um barco a velas para enfrentar o mar. Estou íntegro. Sou carne do meu sonho e alma do meu encanto que amou, conheceu medo, a salsa, a alegria, e a chama dessa luz que apagou no vento azedo da maresia do tempo. (Às págs. 33).

Na segunda entrevista, Lincoln nos traz o grande poeta Nauro Machado com o título “Jardim de Infância”, ele viaja na obra interagindo de forma criativa e nos faz adentrar a mesma através de suas perguntas, cujas respostas são os próprios trechos poéticos de Nauro, enriquecidos com o jeito descontraído do novo jeito de resenhar.

MHL: Aliás, em que momento você se apercebe homem ou simplesmente poeta?

Joizacawpy Muniz Costa UMA NOVA FORMA DE RESENHAR PROPOSTA POR MHARIO LINCOLN
*JOIZACAWPY COSTA

NM: “Meu corpo está completo, o homem – não o poeta./ Mas eu quero e é necessário/ que me sofra e me solidifique em poeta,/ que destrua desde já o supérfluo e o ilusório/ e me alucine na essência de mim e das coisas,/ para depois, feliz ou sofrido, mas verdadeiro,/ trazer-me à tona do poema/ com um grito de alarma e de alarde:/ ser poeta é duro e dura/ e consome toda/ uma existência.” (Pág. 13).

De maneira inovadora Mhario Lincoln nos proporciona um jeito igualmente inovador de apreciar uma boa leitura através de entrevista com livros, despertando em nós novas possibilidades de adentrar o mundo da escrita levando-nos a refletir sobre as renovações na maneira de escrever e explorar o univrso literário.

*Joizacawpy Muniz Costa Formada em pedagogia, pós-graduada em psicopedagogia, professora atuante na rede municipal de São Luís MA, nasceu em Santa Inês MA, residiu até os 14 anos no município de Monção MA, mudou-se para São luís aos 14 anos, onde encontrou uma afinidade muito forte com esta cidade. Obras: "Essência de uma Alma" e "Marca das Palavras".

ACADEMIA MARANHENSE DE CULTURA JURÍDICA, SOCIAL

E POLÍTICA OUTORGA MEDALHA FRAN PAXECO A PROFESSORES DE DIREITO

Por AquilesEmir

Paulo Velten, Jaqueline da Silva e Alberto Tavares

Em solenidade realizada, no auditório da SVT Faculdade, no São Francisco, a Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política – AMCJSP, fez a outorga da Medalha Fran Paxeco e do Diploma de Reconhecimento aos professores Alberto Tavares, Paulo Velten e Jaqueline Demétrio.

A Medalha Fran Paxeco e o Diploma de Reconhecimento estão previstos nos dispositivos regimentais da Academia – em seus artigos 44 da Seção III, e 46 da Seção IV. A Medalha foi criada com o objetivo de homenagear professores que tenham se destacado na docência jurídica, através de atividades pertinentes às contribuições em favor do desenvolvimento da pessoa humana e do Estado Democrático de Direito.

Ela é concedida em reunião solene, de preferência no dia em que se comemora a criação do curso jurídico no Maranhão. Este ano, excepcionalmente, ela está sendo outorgada no Dia da Justiça.

Diploma de Reconhecimento – O Diploma destina-se a agraciar personalidades físicas ou jurídicas pelo apoio e colaboração prestada à manutenção e desenvolvimento do Direito em nosso Estado.

Os agraciados receberam, assim, concomitantemente, a Medalha Fran Paxeco e o Diploma de Reconhecimento.

FranPaxeco – Manuel Francisco Pacheco (Fran Paxeco), nasceu em Setúbal, a 9 de março de 1874, e faleceu em Lisboa, a 17 de setembro de 1952. Chegou ao Maranhão, em 1900, e aqui se radicou, tendo prestado relevantes serviços no campo intelectual, em que teve papel preponderante ao lado de Antônio Lobo.

Jornalista, professor, historiógrafo, geógrafo, orador e diplomata. Foi lente do Liceu Maranhense, professor honoris causa da antiga Faculdade de Direito do Maranhão (que ajudou a fundar), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Foi cônsul de Portugal no Maranhão e no Pará.

FERNANDOBRAGA

in ‘Conversas Vadias’, antologia de textos de autor.

Ilustração: Foto do poeta João Viana Guará e Capa do livro ’Poeira Dourada’.

Quem primeiro me falou do poeta João Viana Guará foi o jornalista e escritor José Erasmo Dias de saudosa memória. Dizia-me ele que Viana Guará era um grande poeta, apesar da sua pouca idade e vivência literária, já que era um homem de negócio nascido fazendeiro. Não sabia Erasmo, de cor, nenhum poema do poeta de “Poeira dourada”, mas não sei por que toda vez que ele falava de Viana Guará associava-o a Edmo Leda, este deBarrado Corda, talvez porserEdmo tambémum grandepoeta epelacontemporaneidadede ambos, afazer, a est’outro, os elogios merecidos.

Raimundo Guará, irmão do poeta, meu tio por afinidade, pois era casado com uma prima carnal de minha mãe; a ele devotava eu muita ternura e querer bem. Um belo dia presenteou-me o livro de Viana Guará “Poeira Dourada”, com belíssima dedicatória; este livro foi editado como homenagem de família em 1986, pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Maranhão – SIOGE, cujas orelhas levam a assinatura de Marlene Guará, sobrinha do poeta.

O meu querido amigo Antônio de Oliveira, comparte do poeta, sendo um pouco mais velho que este, diz na apresentação do livro, num laivo de romantismo camiliano, já que era estudioso do genial criador de ‘Amor de Perdição’, que conheceu “Viana Guará na Praça João Lisboa, em São Luís, na década de 30, “quando batia a viração macia do vento, vinda da Ponta da Areia e da Bahia de São Marcos, canalizadas pelas ruas do Egito e de Nazaré, a suavizar a canícula das claras tardes de verão e a refrescar as sedutoras noites estreladas”.

Viana Guará morreu aos vinte e quatro anos de idade, na mesma faixa em que morreram os poetas da chamada terceira geração estoica de românticos, como Castro Alves, Fagundes Varela, Casemiro de Abreu e Álvares de Azevedo.

Não digo que não seria o romantismo a sua bandeira de sentimentos, o seu marco poemático, caminhos que não arredaram o poeta por um instante dos meandros modernistas, escola já instalada e de muita pujança no Brasil, onde surgira em 22, a qual se atravessou pelo meio existencial do poeta, alcançando-o em plena juventude. O que mais me impressiona, no entanto, em Viana Guará, é o seu senso épico, estética que lhe penetra o espírito nas mais variadas formas em que escreveu, do soneto à prosa. Sintamo-lo neste canto dedicada à sua cidade de Grajaú:

Estradas abertas nos desvãos sombrios”. Entre coivaras, tucurus e caçapavas, Acordando às manhãs

Com o matraquear das tropas

E o estalejar das taças, Visando, nas quebradas dos lubungos, A grinalda cinzenta de poeira,

POEIRA DOURADA

O rastejador constante dos tropeiros

- Eis minha terra!”

O poeta confessou ao seu amigo Antônio de Oliveira que gostaria de formar-se em Recife, na famosa Faculdade de Direito de Pernambuco para sorver os ensinamentos deixados por Tobias Barreto e que ainda, como hoje, impregnam todo o ambiente daquela velha escola jurídica, e depois voltar formado para Grajaú por onde deveria começar sua profissão como advogado ou simples promotor, caso preferisse o Ministério Público. De volta a São Luís, talvez fizesse concurso para uma Cadeira na velha Faculdade da Rua do Sol. Gostaria também de ganhar algum dinheiro para ressarcir um pouco seus pais e seus irmãos pelo sacrifício que tinham feito e que ainda iriam fazer”

A família Guará possuiu em Grajaú quatro fazendas assim caracterizadas por Raimundo Guará, no belo conto ‘Fazenda São João’, cuja descrição se faz necessária, para que, no texto aqui reproduzido compreendamos a intenção de sua colocação:” Fazenda ‘Vargem Bonita’: linda propriedade, enfeitada pela sua estrutura geofísica, de matas, vargens e carrascos e reconhecida como berço das onças pintadas; ‘ Fazenda Olhos D’água’ Era um recanto de agregados felizes e alegres que preenchiam as horas de lazer com contagiantes noitadas de amborés de mina; ‘Fazenda Deserto’: Era a fazenda mais antiga e que congregava um número muito grande de agregados, sendo, talvez por isso, um ninho de fuxicos; ‘Fazenda São João’: “Essa fazenda foi focalizada no ‘ fecho da quadra’ por ter sido pivô desse conto, contribuindo para promover a descrição verdadeira que deu motivo a essa curiosa ocorrência” [sic].

E continua Raimundo Guará a nos narrar, em seu belo conto, o brejeiro acontecimento ocorrido em um dia festivo de ‘ferra de gado’ e aqui como muita propriedade registrado: ”[...] Foi precisamente entre a casa da farinhada e o riacho que a filha do vaqueiro, de nome Piedade, foi flagrada em colóquios amorosos com o jovem Sebastião, por um dos empregados da fazenda conhecido por ‘Uruçu’, o qual, na mesma hora, comunicou com veemente indignação ao patrão o que havia presenciado. ‘Uruçu’, ainda sob o impacto da surpresa, dirigiu-se ainda a mim e disse: ‘Raimundo! É preciso acabar com essa pouca vergonha que não é de hoje que vem acontecendo por aqui, pois não é que encontrei agora mesmo a Piedade de sai alevantada e o Sebastião por riba! Eu, naquele momento, encontrava-me na fazenda São João, prestando ao meu saudoso irmão João Viana Guará, já muito doente, a minha colaboração fraterna e amiga no acompanhamento do processo da ferra do gado...”

“Naquele instante, eu e o mano João encontrava-nos recostados na porteira do curral pelo lado de fora, um ao lado do outro, acompanhando com toda atenção e cuidado o segmento dos trabalhos da empolgante ‘ferra’, quando,aindasoboimpactodasurpresaprovocadapelarevelaçãodo‘Uruçu’,vira-seJoãosem ares derevolta e diz para mim:

“Raimundo! Vargem Bonita pra onça, / Olhos d’água pra folia, / Deserto pra fuxico/ e São João pra putaria’.

“O nível do impressionante e rápido improviso surpreendeu-me pela sua velocidade e essência, lançado de chofre pelo meu inesquecível e infortunado irmão, não apenas pela beleza e genialidade da rima à queimaroupa, como se diz na gíria, mas, sobretudo, pelo incrível fato de a tê-la encaixado em brilhante síntese...” [sic].

João Viana Guará nasceu em Grajaú, bela cidade do sertão maranhense, em 6 de outubro de 1916. Aproveito aqui o gancho deixado por Antônio de Oliveira, já considerado seu biógrafo, para viajar com ele nas asas daquele tempo: “Passaram-se alguns anos. Já no Rio de Janeiro, em 1940, soube casualmente de sua morte, por uma breve notícia de um jornal de São Luís. Finou-se como o genial poeta do ‘Guesa’ (Sousândrade), num 21 de abril, consagrado a Tiradentes.

Simples como todo homem que carrega consigo a bagagem de muita sensibilidade e de uma cultura feita em contraponto com a honradez do seu caráter, Viana Guará se despediu da vida em sua Fazenda São João, em Grajaú, onde escreveu, por derradeiro este ‘Meu Testamento’: “Não tenho herança a vos deixar, meus irmãos, / trago os bolsos vazios, sem dinheiro. / (...), no entanto, ó meus irmãos, se desejardes / algo de humilde que não tenha alardes, / Buscai um dia os meus papéis dispersos.../ Encontrareis de certo uns velhos trapos/ E entre as traças vereis, / desses farrapos. / A poeira dourada de meus versos...”

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