ALL EM REVISTA 10.3 - JULHO A SETEMBRO DE 2023

Page 1

EM REVISTA

ANO
3
JULHO-SETEMBRO 2023
EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536
DE GONÇALVES DIAS NÚMERO 10, VOLUME
SÃO LUÍS DO MARANHÃO

EM REVISTA

NÚMERO 10, VOLUME 3 – JULHO-SETEMBRO 2023

SÃO LUÍS DO MARANHÃO

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prefixo Editorial 917536

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

ALL EM REVISTA

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536

vazleopoldo@hotmail.com

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Praça Gonçalves Dias, Centro – Palácio Cristo Rei

65020-060 – São Luis – Maranhão

ALL EM REVISTA

Revista eletrônica da Academia Ludovicense de Letras

Gestão 2022/2023

COMISSÃO EDITORIAL

Uma constatação: quase sempre os mesmos que publicam!!! A maioria – grande! – de membros, só aparecem na foto... nenhuma produção, ao longo do ano, ao longo dos anos... muitos, apenas o discurso de posse, e nada mais... o que acontece?

A participação/produção acadêmica é condição para pertencimento à uma Academia, mormente, de Letras... Devido aos acontecimentos deste trimestre, optamos por dividir a presente edição em duas: o registro normal, de participação de nossos membros em vários eventos, e as publicações nas várias mídias, e as comemorações do bicentenário de nascimento de Gonçalves Dias, que sairá em separado, com o número 10.3.2 agosto 2023. Assim, o que se refere à Gonçalves Dias aparecerá nessa edição em separado; os demais, inclusive aniversário da ALL, na edição normal.

Foi um trimestre muito agitado...

A dúvida do Editor é: o que colocar na edição... temos colaboradores que escrevem todas as semanas, e publicam em jornais locais e outras mídias sociais; temos colaboradores que escrevem todos os dias, e disponibilizam. Muitas das matérias expostas, não se referem à literatura ludovicense/maranhense; são opinativas, crônicas, registros dos acontecimentos políticos diários, quando incomodam. E se manifestam... outras, se referem à artigos técnicos, em sua maioria jurídicos, dada a principal ocupação do escrevinhador... a dúvida é: colocar, ou não, esses artigos técnicos, não literários, não de crítica literária... outros, escrevem sobre literatura universal, autores consagrados, em análise de suas obras... vale o registro? Já que o principal objetivo da academia, e seus meios de divulgação,, são, preferentemente, a ludovicense e a maranhense... quando a edição ultrapassa o numero permitido de páginas para publicação, sem pagamento de taxas extras para tal – ocupação do espaço – tenho cortado meus escritos – o que também não é correto, pois escrevo... mas tenho outros meios de divulgar minhas matérias, como as duas revistas que edito: a Revista do Léo, e a Maranha-y, além do CEV. Mas fica a dúvida: devo sacrificar um assunto pertinente à memória/história do Maranhão, em detrimento de um artigo técnico-jurídico? Ou de literatura, análise crítica, de um autor de fora? O dilema fica...

Mas devemos ‘penalizar’ aqueles que escrevem?

EDITORIAL

01 - ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA - (Fundador)

A ORIGEM DO TERMO GUAXENDUBA, LOCAL ONDE ACONTECEU A FAMOSA BATALHA TRAVADA ENTRE FRANCESES E PORTUGUESES (19.NOV.1614).

14 - OSMAR GOMES DOS SANTOS - (Fundador)

INTELIGÊNCIA "NADA" ARTIFICIAL INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CAOS

BASEADO NO CENTRO DO DEBATE ONDE FICOU A PARIDADE?

15 DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA 1º. Ocupante

16 - AYMORÉ DE CASTRO ALVIM - (Fundador)

GONÇALVES DIAS E O IMPERADOR

ESPIRITUALIDADE. PAI ZELOSO. MEU PAI. SALVE, PINHEIRO!

19 - JOÃO FRANCISCO BATALHA - (Fundador)

21 - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - (Fundador)

O ANIVERSÁRIO DE GRAÇA ARANHA O SEU ELO COM O ARARI. PARABÉNS, RAINHA DA BAIXADA

E ALDENORA – MÁE DA ANNA CLARA - VEIO NOS VISITAR... DIA NACIONAL DO FUTEBOL.

SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUNS, “O FALSO SANTO DO MARANHÃO”

26 - JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO - 1º. Ocupante

27 - SONIA MARIA AMARAL FERNANDES RIBEIRO – POSSE 2023

PELEJA MORTAL

DISCURSO DE POSSE DA CADEIRA DE N° 27, NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, EM 23 DE AGOSTO DE 2023, SÃO LUÍS.

32 - ALDY MELLO DE ARAÚJO - Fundador

34 - CERES COSTA FERNANDES - 1ª. Ocupante

38 - JOSÉ NERES - 1ª. Ocupante

39 - JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA - (Fundador

DO AMOR CORTÊS E DAS MUSAS

OS REFRESCANTES SABORES DA ILHA E SEU MAGO

O (RE)NASCER DE UM LIVRO E DE UMA ESCRITORA

AS PROMESSAS, DE LAURA ROSA

UM TRAÇO PECULIAR DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

FÓRMULAS PARA O FRACASSO ESCOLAR

DELÍRIOS E INSULTOS

COMO ISSO PÔDE ACONTECER?

O DIA DO ESCRITOR

DOS CRIMES E DAS OBRAS

O ÚLTIMO BONDE

O SECRETO, O ESCONDIDO, O FURTIVO E A REPÚBLICA

CAMINHO DE APRENDIZ

40 – ROBERTO FRANKLIN - 1ª. Ocupante

UMA MANHÃ

SUMÁRIO Expediente 03 Editorial 04 Sumário 05 ANIVERESÁRIOS 07 ACONTECEU... 41 MEMORIALDEMARIAFIRMINADOSREIS BIBLIOGRAFIA FIRMINA BIBLIOGRAFIASOBREFIRMINA JORNAL PEQUENO – Editor: Vinícius Bogéa 5365 ARTIGOS, CRÔNICAS, Contos,
& poesias

O VALOR DO TEU OLHAR

PALAVRAS EM SILÊNCIO TODOS OS SENTIMENTOS NAS ASAS DE UM “FALCÃ0” - LINDA BARROS

MINHA CASA, MEUS SONHOS

"A CONTEMPLAÇÃO NA MOCHILA DE ATLAS"

Resenha de Mhario Lincoln sobre obra de Antonio Aílton.

LITERATURA MARANHENSE ENSAIOS SOBRE A LÍRICA CONTEMPORÂNEA

O OUTRO LADO PRÁTICO: o Dia do Escritor assemelha-se a uma 'fake news'.

LINDA BARROS

MHARIO LINCOLN

MONTELLO INVADE OS TAMBORES DE MINA, REVELA OS MISTÉRIOS DE UMA NOITE EM ALCÂNTARA E LEVA

SÃO LUÍS PARA A ETERNIDADE LITERÁRIA

MHARIO LINCOLN

A LIVRARIA AMEI COMPLETA 7 ANOS DE EXISTÊNCIA SOB O COMANDO DE JOSÉ VIÉGAS E A COMUNIDADE LITERÁRIA DO MARANHÃO

JOIZA COSTA

OUTROS ESCRITOS... ESCRITOS POR OUTROS

FINAL DE TEMPORADA

GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA

A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA *

O RETRATO FALSO DE MARIA FIRMINA DOS REIS

LUIS AUGUSTO CASSAS

FERNANDO BRAGA

FERNANDO BRAGA

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

A HOMENAGEM SIMBÓLICA A MARIA FIRMINA DOS REIS NO DIA DO FALECIMENTO (11/11/1917)

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

DEZESSEIS NOVAS MENÇÕES A MARIA FIRMINA DOS REIS EM JORNAIS DO SÉCULO XX (1906–1995)

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

O ERRO HISTÓRICO DO GOOGLE SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS E AS DATAS DE NASCIMENTO E MORTE DE

TRÊS PIONEIROS DA FICÇÃO BRASILEIRA

SEIS NOVOS POEMAS DE MARIA FIRMINA DOS REIS (1863–1908)

O “ÁLBUM” (O DIÁRIO) DE MARIA FIRMINA DOS REIS

O ÚLTIMO AMIGO DE INFÂNCIA DE HUMBERTO DE CAMPOS

‘O MULATO’: UM ROMANCE MARANHENSE

LOUVAÇÃO A NONATO SILVA

Entrevista: Nonato Silva: "Minha produção literária há de continuar"

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

JOSÉ ALMEIDA PEREIRA

Fernando Braga

Fernando Braga

jornal Turma da Barra

EXPLORANDO A PROFUNDA INTERTEXTUALIDADE E A CELEBRAÇÃO DA CRIATIVIDADE EM "CASCATA" DE JOÃO BATISTA DO LAGO

O LABIRINTO DO HOMEM

“HÁ PEDRAS E POESIA NO MEU HABITAT”

LANÇAMENTOS

POETA MARANHENSE PREMIADA NO VIII FESTIVAL DE POESIA DE LISBOA

UCHÔA NETO

*FERNANDO BRAGA

EDMILSON SANCHES

Antonio Ailton

Manhã de encontro, de Ana Miranda, Academia Ludivicense de Letras e Academia Maranhense de Trovas com estudantes, no Auditório do Cristo Rei.

AGO 25/08/2023

Palestra do escritor e jornalista Laurentino Gomes, na Fecomércio.

Entregando 5 exemplares de os Timbiras doados para a ALL pelo autor, Prof. Dr. Grizoste, para a Presidente Jucey Santana.

ENTREGA DO PRÊMIO LITERÁRIO GONÇALVES DIAS, NO PALÁCIO CRISTO REI.

A linda finalista, Lídia Marcelly, da Escola CEM Maria Pinho com a Assessora Cristiane Luma, representante do Secretário de Educação Felipe Camarão

Com gestores da Escola

Segunda colocada Lisieux da UEB Justo Jansen

a

Paola, 5 lugar, da Escola Militar
Com secretária de Educação do Município Anna Caroline Pinheiro Salgado, também representando o prefeito 7 lugar, Tamily do CEM Salustiano Trindade Equipe gestora do Maria Pinho

Os três finalistas

Do Justo Jansen
ELEIÇÃO PARA A CADEIRA 22

JORNAL PEQUENO – AOS DOMINGOS

Editor: VINÍCIUS BOGÉA

ARTIGOS, CRÔNICAS, Contos, & poesias

ANTÔNIO JOSÉ NOBERTO DA SILVA - (Fundador)

ANTONIO NOBERTO FOI A ICATU/MA E DE LÁ, REUNIDO COM AMIGOS

HISTORIADORES, ELE EXPLICA A ORIGEM DO TERMO GUAXENDUBA, LOCAL ONDE ACONTECEU A FAMOSA BATALHA TRAVADA ENTRE FRANCESES E PORTUGUESES (19.NOV.1614). O CONFLITO DECIDIU QUASE A METADE DO TERRITÓRIO BRASILEIRO, POIS A FRANÇA EQUINOCIAL SE ESTENDIA DO CEARÁ À REGIÃO AMAZÔNICA. CONFIRA.

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/REEL/CUNUSNUPJXK/?IGSHID=MTC4MMM1YMI2NG==

01 - CLAUDE D’ABBVEVILLE

COMEÇANDO A ENTREVISTA SOBRE O BICENTENÁRIO DE ADESÃO DO MARANHÃO À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL...

NOBERTO REPRESENTANDO A ALL TV UFMA

[:

[20:05, 02/08/2023] +55 98 8528-2323:

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/REEL/CVDUUB_PMT_/?IGSHID=MTC4MMM1YMI 2NG==

UM BOCADINHO DO CONHECIMENTO PASSADO POR ANTONIO NOBERTO DURANTE A ENTREVISTA NO UQ PODCAST (1⁰ DE AGOSTO DE 2023).

[20:11, 02/08/2023] +55 98 8528-2323: UMA PALHINHA DA ENTREVISTA AO PODCAST UQ, DO TURISMÓLOGO, PESQUISADOR E ESCRITOR ANTONIO NOBERTO (1⁰.AGO.2023).

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/REEL/CVCTEXVLWCE/?IGSHID=MZRLODBINWF LZA==

SOBRE O CRIME DO DESEMBARGADOR PONTES VISGUEIRO, OCORRIDO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX.

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/REEL/CVKNXTTOCYY/?IGSHID=MZRLODBINWF LZA==

Palestra no XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, com o título "A morte e os mortos na sociedade mundial: falando de salubridade".

DOCUMENTÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS. ROTEIRO, DIREÇÃO E NARRAÇÃO ANTONIO NOBERTO

HTTPS://YOUTU.BE/QZKONRAEJVC

��HOJE TEM UQ!��

ANTÔNIO NOBERTO VAI TÁ COM A BRENDA E O JEISAEL ÀS 21H PRA BATER UM PAPO BEM DIVERSIFICADO!��️

⚠️ASSISTA PELO LINK:

HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/LIVE/4LCHSLBRNNS?FEATURE=SHARE

��️O
HISTORIADOR
#UQPODCAST
⚠️

PALESTRA DO PESQUISADOR E ESCRITOR ANTONIO NOBERTO, NO 26⁰

CONGRESSO BRASILEIRO DE GUIAS DE TURISMO

SIGA O NOBERTO NO INSTAGRAM:

@ANTONIONOBERTOSLZ

HTTPS://YOUTU.BE/962ZQD27UMS

Mapa representativo da França Equinocial - São Luís , Maranhão, 1615. Fonte: Antonio Noberto

Intercâmbio São Luís, Cancale e Saint-Malo - Sacada Literária (sacadaliteraria.com.br)Intercâmbio São Luís, Cancale e Antonio Noberto*

Revivendo a nossa primeira história

No último mês de maio, as cidades francesas de Cancale e Saint-Malo (pronuncia-se San Malô) homenagearam o fundador de São Luís e descobridor das Guianas, o francês Daniel de la Touche de la Ravardière. Foram três dias de apresentações culturais: lançamento do livro “La Ravardière, de Cancale a São Luís”; inauguração de exposição sobre a vida e a obra de Daniel de la Touche, organizada nas duas cidades; mesa redonda; palestras; show da cantora Anna Torres; missa em memória ao padre João de Fátima, criador do projeto CEPROMAR, em São Luís; etc. Representaram o Maranhão este pesquisador que escreve o presente artigo, Antonio Noberto, e o vereador de São Luís Aldir Júnior, que agraciou autoridades das duas cidades com a comenda maior da Câmara Municipal de São Luís, a medalha Simão Estácio da Silveira. Ao final do evento restou o saldo positivo e a esperança de continuidade do intercâmbio entre as três cidades envolvidas: São Luís, Saint-Malo e Cancale.

Representantes do Maranhão com o prefeito em frente a prefeitura de Cancale

No segundo dia de evento, no ancoradouro de onde a esquadra fundadora partiu para São Luís em 1612, o Porto de la Houle, na pequena Cancale, o prefeito da cidade nos ofertou a comenda maior do município, o medalhão de Cancale, e se comprometeu visitar o Maranhão no próximo ano. Durante a estada na França o vereador Aldir Junior prometeu a entrega do título de cidadã ludovicense à cantora maranhense Anna Torres, promessa cumprida no último dia 4 de setembro, em um belo e emocionante evento ocorrido na Câmara Municipal de São Luís.

Ainda este ano, o CEPROMAR França fará à Câmara Municipal de São Luís a cessão dos direitos de publicação do livro em quadrinhos “La Ravardière, de Cancale a São Luís”, que será traduzido e lançado no Maranhão quando da vinda do prefeito Pierre-Yves MAHIEU no próximo ano.

Outras agendas

Antonio Noberto recebendo a comenda maior de Cancale

Além do lançamento do livro e da participação de eventos na Câmara, palestras e visitas oficias, pretende-se organizar um grande evento em Santa Maria de Guaxenduba, no município de Icatu/MA, quando autoridades do estado do Maranhão e o prefeito de Cancale inaugurariam um monumento a franceses, portugueses, tupinambás e tapuias mortos na Batalha de Guaxenduba, conflito ocorrido em novembro de 1614, quando se disputava o domínio e posse do Brasil setentrional.

Na agenda do prefeito Mahieu discute-se a possibilidade de uma visita ao Pará, especialmente a Bragança, cidade fundada por Daniel de la Touche em julho de 1613, e a Cametá, município do Baixo Tocantins também visitado por Daniel de la Touche naquela mesma viagem.

Intercâmbio

Antonio Noberto-discursando ao lado de um busto de La-Ravardière no Museu de Cancale.

Um ponto alto da visita do prefeito será a assinatura de convênio de intercâmbio entre as cidades da França com São Luís. As tratativas começaram em maio e a concretização deverá acontecer durante a visita do prefeito Mahieu. No entanto, é preciso o aval do parlamento dos dois municípios. O intercâmbio contemplará o envio de professores e alunos de São Luís para a cidade de Cancale e, possivelmente, de Saint-Malo. E em contrapartida, São Luís receberá discentes e docentes da cidade co-irmã.

La Touche entre os grandes navegadores da França

Desde as comemorações dos quatrocentos anos de São Luís, em 2012, que os franceses daquelas duas cidades co-irmãs despertaram para a importância do fundador de São Luís e descobridor das Guianas. O pioneirismo da viagem de Daniel de la Touche de la Ravardière às Guianas em 1604 foi decisivo para que a França pudesse contar com este departamento tropical encravado entre as elevações dos Andes e a floresta amazônica. Hoje a França conta com um dos melhores centros de lançamento de foguetes do mundo em Kourou, na Guiana francesa, e isto começou com a viagem exploratória de La Touche. Se hoje São Luís é uma das cidades mais importantes desta parte do país, isso tem o pioneirismo de La Touche de la Ravardière.

No dia 8 de setembro de 2012, enquanto São Luís comemorava seu quarto centenário, a cidade de Cancale inaugurava no porto de la Houle, um busto de Daniel de la Touche, com uma ligeira aparência do navegador francês Samuel de Champlain, o conquistador do Canadá.

As promessas de retomada do sonho da França Equinocial nunca acabou porque os franceses nunca desistiram dos maranhenses. Eles sempre nos viram com a responsabilidade de quem um dia plantou a semente de uma nova França nesta terça parte do Brasil com a capital em São Luís.

Nós ludovicenses e maranhenses agradecemos e ficamos felizes pelo revival.

Em 2024 pretende-se fazer o mermo com algumas cidades de Portugal, a exemplo de Lisboa, Porto e Setúbal. Mas este será o assunto de uma outra postagem.

*Turismólogo, palestrante e escritor. Membro-fundador e ex-presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, membro-fundador da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes – AVLA. Idealizador e curador da exposição

JOÃO BATISTA ERICEIRA - (Fundador) - FALECIDO EM 2022

EDITAL ELEITORAL Nº. 03/2023

PREECHIMENTO DE VAGA

A Presidente da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL, no uso de suas atribuições legais, em conformidade com o Art. 75 e 76 do Regimento Interno da Academia, vem abrir, por meio do presente EDITAL, o processo eleitoral para o preenchimento da cadeira 02 sob o patronato de Antonio Vieira, na categoria de membro efetivo, vaga pelo falecimento, em 10 de outubro de 2022, do seu primeiro titular, o acadêmico João Batista Ericeira.

As condições de elegibilidade são as seguintes: ser ludovicense, ou, não sendo, ter, no mínimo 10 anos ininterruptos de residência em São Luís; exercer notória atividade literária ou de relevância cultural; haver publicado ao menos, um livro de relevante valor literário cultural.

Os interessados deverão apresentar os documentação abaixo:

1. Carta dirigida à Presidente, solicitando-lhes inscrição como candidato a cadeira vaga;

2. Curriculum vitae com destaque para sua bibliografia;

3. Exemplares de livros e de quaisquer outros trabalhos de que o candidato seja autor, coautor colaborador, organizador, tradutor ou editor em caráter de doação à Biblioteca da Academia;

4. Declaração de que conhece as normas e demais preceitos da Academia e de que se compromete a observa-las fielmente;

5. Juntada de comprovação de residência na cidade de São Luís há pelo menos, 10 anos ininterruptos, na hipótese de o candidato não Ludovicense.

A documentação deverá ser entregue no Palácio Cristo Rei, Palácio Cristo Rei, sito à Praça Gonçalves Dias, nº. 351, São Luís-Maranhão, no horário comercial, no período de 03 de julho a 02 de agosto. Este Edital poderá encontrado no site da Academia, https://www.academialudovicensedeletras.org e no Instagram: allslzetras.

São Luís, 03 de julho de 2023

02 - ANTONIO VIEIRA

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL

EDITAL DE CONVOCAÇÃO N. 09/2023

São Luís, de 23 de julho de 2023

Senhor (a) Acadêmico (a)

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, no uso das suas atribuições estatutárias, convoca os Senhores(as) Acadêmicos(as) a participarem da Assembleia Geral Ordinária (AGO), a realizar-se no dia 28 de julho de 2023, sexta feira,as17horas,tendoporlocalasaladereuniãodaALL,noPalácioCristoRei,sitoàPraçaGonçalves Dias, nº. 351, São Luís-Maranhão, para tratar da seguinte pauta:

ORDEM DO DIA:

1. Leitura da ata da AGO anterior;

2. Correspondências recebidas e expedidas;

3 – Informes sobre o “Prêmio Literário Gonçalves Dias”;

4. Apresentação do calendário de ações em homenagens ao poeta Gonçalves Dias, o “PATRONO DO ANO” para o mês de agosto de 2023;

5. Informações a sobre Eleição para a cadeira, 02 sob o patronato de Antonio Vieira;

6. Informes da tesouraria;

7. Outros.

Presidente da ALL

SANATIEL DE JESUS PEREIRA - (Fundador)

03 - MANOEL ODORICO MENDES

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – FUNDADOR / HONORÁRIO

Falecido – 2023

ALEXANDRE MAIA LAGO - 1º OCUPANTE

04 - FRANCISCO SOTERO DOS REIS

Copyright © 2023 Jornal Pequeno. Todos os direitos reservados. https://jornalpequeno.com.br/2023/07/20/alexandre-maia-lago-e-eleito-para-aacademia-maranhense-de-letras/

TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO

OSMAR GOMES DOS SANTOS - (Fundador)

INTELIGÊNCIA "NADA" ARTIFICIAL

*Por Osmar Gomes dos Santos

Muito temos ouvido falar sobre o tema inteligência artificial nos últimos meses. Ao que tudo indica, uma tendência que veio para ficar e que o campo para avanço ainda é extenso, indo muito além de onde a imaginação alcançar.

Se considerarmos as mudanças tecnológicas assistidas nos últimos três anos, será possível ter uma dimensão de onde vamos chegar. O setor de tecnologia passou por uma aceleradíssima revolução durante a pandemia da Covid-19.

As grandes companhias mundiais, hoje, ou são de tecnologia ou tem suas operações baseadas nas modernas ferramentas tecnológicas. Nesse bojo, ganha força a tal inteligência artificial, na verdade um avançado mecanismo binário, mas com neurônios por trás do seu funcionamento.

Se trazida para a realidade, a revolução das máquinas tal qual vista na ficção hollywoodiana, encenada por Arnold Scharzenegger, não seria necessariamente um arranjo de informática agindo com “vida” própria. Como costumo dizer, a tecnologia não existe por si, não é autossuficiente em si. Ela somente funciona com a intenção humana, ainda que tenha maior capacidade de processamento e informações, não se trata de uma “evolução”, mas de uma criação humana.

E a capacidade disruptiva e inventiva surpreende. Robôs, aplicativos, softwares que são capazes de fazer um sem-número de coisas. De conectar dispositivos de uma casa inteligente a estabelecer conexões em escala mundial.

Sistemas são capazes de redigir textos, produzir dublagens, elaborar atos judiciais, monitorar multidões. Algoritmos acompanham nossas rotinas em tudo aquilo que somos conectados, o que acessamos, lugares que visitamos.

Em razão da automação, já são muitas as listas de empregos ameaçados de deixarem de existir nos próximos anos. Milhões de pessoas substituídas não necessariamente por máquinas, mas por programas criados para realizar o trabalho. Ganho de tempo e praticidade versus perda do valor humano.

Seria, de fato, a artificialidade agindo contra a humanidade? Que interesses, ou de quem, podem haver por trás dos acelerados processamentos de bites que interferem no comportamento humano cotidianamente? Tudo isso em favor de mera artificialidade?

14 - ALUÍSIO

Receio que não. Não quero ser simplório, mas vejo com certa desconfiança a essa tal artificialidade. Nada é por acaso e os questionamentos são necessários à reflexão.

Por óbvio, se bem utilizada, a tecnologia pode ser uma aliada da jornada humana. Mas, se explorada com outras intenções, sob o pano de fundo “artificial”, pode significar tempos sombrios. Seria o fim da odisseia terrestre, como diz a canção?

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CAOS

A humanidade adentra ao século XXI, já consumindo praticamente um quarto deste período temporal e com avanços tecnológicos inimagináveis até o fim do século passado. Algumas coisas, no entanto parecem nos fazer retroceder enquanto humanidade e levar à profunda reflexão e à constatação de que é necessária a mudança de atitude.

Esta semana acompanhei alguns noticiários que falavam do (já antigo) problema da cracolândia, em São Paulo. Em uma delas, a legenda dizia algo como “moradores e comerciantes querem que o fluxo tenha local único” soou, para mim, quase que como a naturalização do problema e uma forma do poder público estabelecer o controle sobre viciados.

Para demarcar o diálogo, trago dois conceitos para entender essa dinâmica social, que aflige a capital econômica do país e, também, já se espalha por outras cidades brasileiras, potencializando outros problemas sociais e de ordem econômica.

Em São Paulo, a cracolândia se consolidou ainda na década de 1990, na região da Luz, e tem esse nome por causa da principal droga comercializada por traficantes e consumida por um aglomerado de dependentes, o crack. Ações policiais e de reurbanização, no entanto, forçaram a mudanças sucessivas da cracolândia, que se instalava em outros territórios a cada nova ação do poder público.

Após repercutir muito na mídia e se transformar num grave problema social, as ações policiais passaram a acontecer de forma mais frequente, geralmente com perfil de dispersar o movimento e sem qualquer caráter de solução efetiva.

Com as corriqueiras ações policiais, traficantes e usuários passaram a atuar como nômades, fixando-se sempre de forma temporária em outros pontos do centro da maior cidade do país. Esse deslocamento contínuo hoje é chamado “fluxo” e já não tem apenas o crack como única droga comercializada e consumida. Dito isso, cabe regressar aquela legenda que me deixou deveras reflexivo. Diante de um problema que se arrasta por, pelo menos, três décadas, a naturalização do caos faz com que cidadãos sugiram ao poder público a manutenção desse movimento que transgride normas legais e morais em um local “definido”. Outro ponto que me chamou a atenção foi o fato de isso ter sido noticiado ao vivo, em telejornal de grande audiência. É natural que a imprensa está cumprindo seu papel de informar, mas senti falta de um debate mais profundo acerca desse “desejo” da população diante do desespero que vive diariamente.

É quase um requerimento público ao Estado, que poderia ser resumido nesses termos: Nós, cidadãos da região central, diante da inconstância do fluxo, que a cada semana se instala em uma região, requeremos ao poder público que instale traficantes e viciados em local fixo e espaço controlado, para que possamos viver e trabalhar com previsibilidade, com segurança e em paz.

Como seria esse tal “local único”? Em analogia aos muitos lugares institucionalizados, portanto legais – em que há reunião de pessoas e manifestações sociais ordeiras, pacíficas, desportivas e culturais –, pensei: seria a reivindicação de um “cracódromo”?

Não é possível aceitar que o mais rico estado não encontre uma solução definitiva para o problema. É preciso, urgentemente, em São Paulo ou em qualquer outra cidade onde esses movimentos acontecem, que o poder público assuma a responsabilidade pela solução, transmitindo segurança a moradores e comerciantes.

Em tempo que se fala e se discute as cidadanias, exatamente no plural, não se pode permitir, enquanto sociedade e Estado-nação, que concidadãos vaguem como zumbis, reféns de substâncias comercializadas a céu aberto.

O problema envolve segurança, saúde, educação, economia, geração de emprego e renda e tantas outras políticas públicas. Envolve revisão da legislação sobre a questão da internação compulsória, do tratamento

adequado para essas pessoas. Exige um trabalho dedicado das forças de segurança para impedir que a droga chegue, além de identificar e punir traficantes.

Não se pode naturalizar o caos, tampouco institucionalizá-lo. Em tempos de inteligência artificial, internet das coisas, carros que andam sozinhos e até modelos que voam, não se pode aceitar a decadência humana em qualquer condição, tampouco escancarada aos olhos do mundo.O Ministério da Justiça e Segurança Pública pode contribuir muito com um debate preventivo, sem esperar que essas pessoas entrem no sistema para que sejam observadas.

Juizas de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense dela Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

ONDE FICOU A PARIDADE?

*Por Osmar Gomes dos Santos

Há tempos abandonamos normas legais que impunham diferenças entre pessoas em razão de suas características. Pobre, rico, homem, mulher, preto, branco. Categorias sociais criadas, sobretudo, para faccionar o estamento social entre privilegiados e os outros.

Trecho da chamada minirreforma eleitoral, e lá já se vão algumas desde o código eleitoral vigente, assegura cota de 30% para candidaturas femininas. A “ideia” é ampliar a representatividade feminina. Não quero afirmar que paridade tenha sido a intenção, mas bem que poderia.

Bom ressaltar que a norma não pretende garantir 30% de mulheres no parlamento, mas, tão somente, na base total de candidatos dos partidos políticos. Somando meus parcos conhecimentos de analista social e político com meu raso conhecimento de matemática, para mim, parece claro que algo na conta está errado. Oras, estamos discutindo cotas percentuais de representatividade para conceder à mulher, que por sua vez é maioria da população brasileira, mas cabendo a ela a fatia de 30% da receita do bolo. Isso, da receita. Ao bolo, não se sabe quantas, de fato, vão chegar.

De toda forma, ao se estabelecer uma cota para mulheres, ao mesmo tempo não se está, por consequência estabelecendo uma outra para os homens? A diferença é que para nós, “sexo forte”, o percentual de candidatos é de 70%, valor elevado para mais de 80% se comparados os eleitos.

Cumpre observar que a regra não é bem de 30%… Há flexibilidade, obviamente não para beneficiar as mulheres. O projeto da minirreforma prevê que a cota de 30% seja contabilizada pela federação e não individualmente por cada partido. Assim, da união de duas siglas, apenas um precisará obedecer ao percentual.

Penso que esta não seja a forma mais adequada de se buscar equidade. Se a proposta é levarmos a sério uma sociedade plural, inclusiva e participativa, o correto será estabelecer que o número de representantes deverá ser de 50% para homens e 50% para mulheres, podendo-se até estabelecer percentuais para negros e negras dentro de cada parcela.

Não é objetivo adentrar na minirreforma, tampouco fazer crítica direta à sua redação. Pretendo apenas propor uma salutar discussão sobre um tema que interessa à sociedade, tendo em vista o modelo representativo sob o qual vivemos.

Como falar em paridade, inclusão, participação, quando as parcelas são assimétricas, os lugares de fala não são dados, as vozes são abafadas? Política não é coisa de mulher. De homem também não. Mas ao mesmo tempo de uma e de outro, sem distinção.

Não se pode evoluir enquanto nação conservando tantas distorções arcaicas. Avançamos no discurso, presos às velhas práticas que não nos permitem verdadeiramente evoluir. Há espaços que a capacidade individual, intelectual pode fazer a diferença no acesso, a exemplo do concurso público. No entanto, a capacidade representativa, que perpassa pela habilidade política enquanto seres sociais, esta não tem sexo.

O projeto segue para o Senado, que poderá propor alterações no texto base. O tempo é escasso, considerando o prazo que a lei precisa entrar em vigor antes das próximas eleições, em 2024.

Uma coisa, no entanto, parece que segue como dantes: seguimos sendo uma sociedade com enorme disparidade entre teoria e prática, entre a narrativa e a realidade que verdadeiramente se quer construir.

Se luto pela causa feminista? Não. Também não falo da mera elevação da representação da mulher para acomodá-la em uma cota. Entendo apenas que para 51,1% da população brasileira não cabe mera parcela de 30% e um passaporte da incerteza pela eleição.

AYMORÉ DE CASTRO ALVIM - (Fundador)

ESPIRITUALIDADE.

Aymoré Alvim, AMM, ALL, APLAC.

Quem é Deus?

Talvez uma utopia.

Disse-me um dia um amigo meu.

Então lhe perguntei: E tu quem és?

Pra ti falar a verdade, nem mesmo eu sei.

Sozinho andas vagando, neste mundo.

Errando como a terra sem destino.

Por entre as nebulosas deste céu infindo, Sem encontrar resposta ao que perguntas.

Olha dentro de ti, mergulha fundo.

E, então, penetrarás em outro mundo.

Onde, talvez, encontrarás o que tu buscas.

La há amor, compaixão, fraternidade

Que te abrirão o caminho à espiritualidade

Que te conduzirá a Deus, a Quem procuras

Há muito tempo, ocorreu em Pinheiro o caso de uma moça, filha de um fazendeiro, que havia sido deflorada pelo namorado. Um crime grave contra a honra àquela época. Capitão Epifânio, que dizia haver pertencido à Guarda Nacional, tinha uma fazenda de gado próxima às terras da Pampilhosa onde vivia com a esposa e a filha Esperança.

Numa certa tarde, quando o Capitão voltava para casa, viu Esperança e Bonifácio saírem do mato. Não prestou. O velho perdeu as estribeiras e depois de uns petelecos em Esperança a prendeu em casa. Era importante esconder o escândalo, pois ela estava prometida para casar com o filho de um amigo do Capitão que era também fazendeiro por aquelas bandas. Mas ela era doida por Bonifácio que já havia trabalhado como vaqueiro na fazenda do seu pai.

16 - ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS
PAI ZELOSO. Aymoré Alvim, AMM, APLAC, ALL.

Epifânio chamou uns homens de confiança e mandou caçar Bonifácio. Era para prender, capar e depois matar.

O rapaz apavorado correu até Pinheiro onde procurou o padrinho dele, o advogado Chico Leite, em cuja casa ficou homiziado até sua apresentação à Justiça.

Como o caso se espalhou, o Capitão decidiu, então, dar parte à Polícia. O delegado expediu diligências, mas já sabia onde ele estava escondido, mas seu Chico dizia que ele só sairia de sua casa direto para a presença do Juiz.

Daí a alguns dias foi marcada a audiência.

- Como é seu Bonifácio, o senhor afirma que fez mal à moça? Perguntou-lhe o juiz.

- Seu doutor, não fui eu não. Eu me deitei com ela no mato, não nego, mas ela nem gemeu e nem botou sangue.

- Então meu constituinte não casa, adiantou-se Chico Leite.

-Tem de casar, respondeu Mariano Chagas, advogado de Esperança. Ele desrespeitou a casa e a família do Capitão Epifânio.

- Então eu lhe solicito, Meritíssimo, que V. Excelência peça um exame de Corpo de delito para verificar se dona Esperança era virgem ate o seu intercurso sexual com Bonifácio, disse o advogado Chico Leite.

- E já tem médico na cidade? Perguntou o Juiz.

- Dr., médico não tem, mas na falta dele quem faz esse exame é a parteira, dona Pureza, disse-lhe o Escrivão.

O juiz, então, solicitou o exame e quando o resultado chegou às suas mãos foi marcada nova audiência.

- Já tenho aqui o parecer da parteira, disse-lhes o juiz. O escrivão vai proceder à leitura da peça:

“ Ilustre doutor Juiz, Com cuidado e atenção

Examinei as vergonhas

Que mandou pras minhas mãos.

Eu examinei tudinho, Nas vergonhas de Esperança

Teve muita acochambrança

E não foi só uma não.

Pelo rastro que eu vi

Pra mim já faz um tempão

E não foi coisa de agora

Nem duma semana não.

O marvado que fez isso, Por tudo que é mais sagrado, É um cristão desalmado

Bandalhou tudo por lá.

Nunca vi estrago feio

Tava tudo afolosado

Agora só um doutor

Pra conseguir concertar”.

- Como vêem, ao meu constituinte não pode ser imputado tal delito, disse seu Chico.

- Chico Leite, não me vem agora com tuas palavras difíceis. Imputado ou disputado quem eu vi sair do mato com minha filha foi esse sujeito. A minha família está desrespeitada. Por isso, seu doutor Juiz, eu posso passar o resto da minha vida na cadeia, mas esse cabra safado vai ter de casar ou eu mando capar ele pra saber respeitar família de homem de bem.

- Meu cliente não casa. Não foi ele quem fez mal à sua filha, retrucou Chico Leite.

- Qua, padrinho, eu caso sim, disse Bonifácio. Quem tem valor capado é porco.

Acertadas as partes contendoras, o Juiz casou ali mesmo os dois.

Se viveram felizes para sempre eu não soube, mas que Bonifácio pagou a vaca que o boi comeu, isso ele pagou, mas ficou rico. Esperança era filha única.

Caboclo sortudo!...

À memória do meu pai, José Alvim, nesta data.

MEU PAI.

Aymoré Alvim, APLAC, ALL, AMM. Papai,

Assim chamei por ti, tantas vezes, no silêncio das minhas madrugadas, e já estavas, há tempo, junto a mim.

Quantas vezes corri para ti, na insegurança dos meus dias de infância, e com o teu sorriso me acolhias.

Mas, tu te foste tão cedo!

Senti-me só, neste mundo, sem o referencial da minha inspiração, na pré-adolescência.

Perdoa-me, pai.

Naquela noite em que partiste, fiquei contente quando deveria ter ficado triste.

Disseram-me que tu apenas dormias porque tinhas ido falar com Deus, lá no céu.

Como eu esperei por ti!

Mas, não voltaste.

Então, chorei.

Pensei que tivesses gostado mais do céu do que da nossa casa e me abandonado.

Hoje, na minha maturidade, vejo o quanto foi árdua a luta.

Perdi algumas batalhas, Ganhei muitas outras.

Eu venci, pai.

Nos momentos das minhas fragilidades, encontrei, no exemplo que me legaste, a força necessária para prosseguir e o guia seguro a me orientar e conduzir.

Qual um escudo protetor, escondeste-me das vilezas do mundo.

Agora, estou aqui, meu pai, na realização dos teus sonhos com os meus irmãos.

Trilhando, nas vias que nos abriste, pelos caminhos da vida.

Eu sou feliz, pai, Nós estamos muito felizes.

Agradeço-te, pai

Venerando teu nome

te retribuo tudo o que dispensaste, na minha formação e na orientação que me deste. Com meus filhos preservarei a tua memória que eles perpetuarão, nas suas descendências. Que a luz do Senhor te envolva, nas dimensões do eterno Obrigado, pai

SALVE, PINHEIRO!

Letra e música de Aymoré Alvim. Pinheiro, monumento da Baixada, De esperança e de fé em teu porvir. Da força inquebrantável de teu povo, Um mundo novo se renova para ti. A cada geração que se sucede A que precede a história nos traz Dos feitos gloriosos dos teus filhos, Memórias vivas dos nossos ancestrais. Ao sol ardente, tu geraste, nos teus campos, Que te abraçam em perene proteção, Com a mistura de três raças o teu povo, Junto às serenas margens do Pericumã. Que inundam as terras donde vem tuas riquesas, E onde florescem os teus bens culturais. Por isso os teus filhos te saúdam, Salve, Pinheiro, vida-longa e muita paz.

JOÃO FRANCISCO BATALHA - (Fundador)

O ANIVERSÁRIO DE GRAÇA ARANHA O SEU ELO COM O ARARI.

João Francisco Batalha

Cad. 19 da Academia Ludovicense de Letras, Patroneada por João Dunshee de Abranches Moura.

O escritor e diplomata maranhense José Pereira da Graça Aranha, nascido em São Luís, completaria neste 21 de junho que passou, 155 anos de nascimento. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 62 anos de idade, em 26 de janeiro de 1931.

Uma das obras mais representativas do escritor maranhense é Canaã (1902). Romance de grande valor documental e uma das mais importantes do Pré-Modernismo.

Seu nome está ligado a um povoado do município de Arari sobre o qual falarei no final.

Como escritor pertenceu ao movimento pré-modernista do Brasil e foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, sendo o titular da Cadeira 38, cujo patrono é Tobias Barreto e teve papel preponderante na Semana de Arte Moderna de 1922, realizada Teatro Municipal de São Paulo.

Filho do fazendeiro e comendador Temístocles Maciel da Silva Aranha, de família da França, de onde passou a Portugal.

Sua mãe, Maria da Glória de Alencastro da Graça. Talvez parenta não tão distante do nosso Luiz Carlos da Graça, arariense que foi devotado à cultura, ao saber e aos movimentos sociais.

ComorepresentantedoBrasiljuntoàcomunidadeinternacional,GraçaAranhaquetambémpertenceuaoramo da família Pereira, serviu como diplomata e conheceu vários países da Europa, talvez o que mais o tenha influenciado a aderir ao movimento modernista brasileiro tendo-o como uma das principais lideranças por conta de suas ideias inovadoras, aliadas ao modernismo.

Na Academia Maranhense de Letras é o patrono da Cadeira 23 ocupada por José Jorge Soares e na Academia Ludovicense de Letras, patrono da Cadeira 20, ocupada por Arquimedes Viégas Vale.

A FAZENDA DA FAMÍLIA EM ARARI

19 - JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA

A propriedade rural da família em território arariense ficava no atual povoado Aranha onde existiu a fazenda de gado e cultivo de lavoura. Está a uma distância aproximada a 10 quilômetros em linha reta e 24 por estrada asfaltada e vicinal da sede do município de Arari, à sua jusante.

Conhecido povoado de grande animação durante os festejos de Bumba-boi e Terecô, registou histórias marcantes também com os tambores daBoca daPicada, representados pelas irmãs Anália, Bertulina, Oleriana, Erotides, Ginerardi, Joana, Didica e a prima Elisa.

Nas mãosdeBraulino,AntônioCarão,Raimundo Morenoe Filomeno,alimentados pela cachaça“Farra Feliz” ou pela pinga “Brandão”, cada gole um tombo no chão, os tambores rufavam mais alto e se ouviam os seus batuques do Sítio ao Tabocal, do Quebra-Côco, à Ilha da Pindoba, da Curva da Mucura ao Itaquipetuba

Os três primeiros tambozeiros eram destaques do lugar como vaqueiros, cantadores-de-boi e batedores de tambor. O quarto se deslocava do Campo das Folhas para somar na animação.

Na asa norte do povoado uma trifurcação separada por caminhos dava passagem aos transeuntes que se dirigiam ao Quebra Côco, Pindal, Tabocal e Itaquipetuba, e, à montante, a velha estrada que se comunicava comoSítioVelhodosFranceseseoslevavaàsededomunicípiocomtravesseiaderionaTresidelado Bonfim. No povoado existe um magnífico balneário, pouco explorado, com registros históricos oral do velho Porto da Fazenda da família Aranha.

Na comunidade dois templos religiosos, um da Igreja Católica e outro da Evangélica. Perdura por muitos anos a festa religiosa, do dia 13 de outubro, consagrada a Nossa Senhora de Fátima, a padroeira local, com missa, batizados e procissão.

Localidadeprodutorade camarãoem dois períodos piscatórios doanoétambém, produtivaem meldeabelhas. Lá residiram Antônio Leão, destacado vaqueiro de Fausto Perereca, do Jaguari, os comerciantes Justo Tempero e José Pedro Souza entre outras figuras importantes do lugar onde reside Antenor Moreno, um dos mais legítimos representantes dos seus ancestrais no que tange às tradições e cultura local.

Foi no Aranha, na noite de 29 de junho 1955, que deu-se o grande encontro de cantadores de boi do Pindaré com os do Mearim, reunindo Rosa Bobage (não é bobagem, é bobage mesmo), Agostinho, Lusitano, Alfredo Durão, Raimundo Moreno (Mearim), com Coxinho, Lalico, Gregório dos Santos, Raimundo dos Santos, Arlindo Pinheiro e Manoelzinho Candeeiro (Pindaré), entre outros famosos cantadores de boi dos dois vales do Maranhão.

Foi lá também, que por rixas em cantorias de Bumba-boi, colocaram vidro socado na cachaça e deram a Rosa Bobage, que ao ingerir a água ardente passou mal e quase morre vomitando sangue com fragmentos de vidro.

PARABÉNS,RAINHADABAIXADA JOÃOFRANCISCOBATALHA

Titular da Cadeira 19 da Academia Ludovicense de Letras, Patroneada por João Dunshee de Abranches Moura.

E-mail: batalha@elointernet.com.br Wpp 55 98 9 8883 0744.

Há 266 anos, em data de oito de julho de 1757, o juiz da Confraria do Santíssimo Sacramento e governador da Capitania do Maranhão, Gonçalo Pereira Lobato e Sousa, diante de uma comitiva de autoridades comparece à aldeia Guajajara do Maracu para homologar, entre belos campos, lagos, natureza exuberante, fartura de frutos nativos, pescados da água doce, caças rasteiras e aves lacustres, o ato de criação de um Burgo no Maranhão. Era a fundação da Vila de Viana, minha identipartário. A quarta cidade mais antiga do Estado.

A nova unidade detentora de grande extensão territorial não tarda a transformar-se em município que se torna um dos maiores e mais importantes da Província. Nos dias atuais, territorialmente fragmentado em decorrência de dezenas de outros que se emancipara do seu território ao longo da história.

A vetusta e augusta gleba de lendas, encantos e tradições abrigou uma leva de seres humanos de elevados princípios sociais, senso moral, social e político que primou pelas profundas manifestações culturais. Tradicionais festas dançantes (de Branco e de Preto), blocos e folias carnavalescos, apresentações folclóricas, bandas musicais, e dos bumba-boi com sotaque da Baixada, a expressão cultural de maior apelo popular do Maranhão.

Provecta e respeitada na tradição de músicos famosos, maestros, instrumentistas, compositores e artistas.

Terra de mulheres bonitas, educadas, inteligentes e elegantes. A cidade de Viana e seu povo, como um todo, sempre colaborou com o destaque na área da cultura e da beleza maranhense, e também, nas tradições das manifestações culturais intensas e seculares do cunho cívico.

No seu quadro dos vultos ilustres do passado, desfilam Antônio Bernardo da Encarnação, teólogo com conhecimentos aprimorados em Coimbra; Estevam Rafael de Carvalho, jornalista e orador vibrante; os irmãos Antônio e Raimundo Lopes, magistrado e poeta; geógrafo e literato; Dilú Melo, cantora e compositora de renome nacional, além de tantas outras figuras de grande importância para a cultura do Estado e do País.

Entre os ativos e operantes,+ destacamos Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro, procuradora-geral de Justiça do Estado do Maranhão, titular da Academia Vianense de Letras; Lourival de Jesus Serejo Sousa, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado e presidente da Academia Maranhense de Letras; Aurélio Vinícius Campelo Bogéa, jornalista e dinâmico, titular da Academia Ludovicense de Letras; Carlos César Silva Brito, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Viana; entre muitas e tantas outras figuras do mesmo quilate que nasceram no torrão abençoado de Viana, a Rainha da Baixada Maranhense.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - (Fundador)

E ALDENORA – MÁE DA ANNA CLARA - VEIO NOS VISITAR...

Recebemos, hoje, a visita de uma amiga de infância de minha filha mais velha, Loreta. Aldenora Fjellheim, natural de Paraibano-Ma, terra da Del.

Vinha sempre aqui em casa, e nunca soubemos que era de Paraibano, até a pouco tempo atrás, quando o Leo Lasan mandou uma matéria sobre uma paraibanense que jogava handebol, na Noruega!!! Escrevi sobre ela... e vendo as fotos de Anna Clara com a mãe, achei que conhecia de algum lugar: e conhecia, mesmo, aqui de casa!!!

21 - MANUEL FRAN PAXCO
Anna Clara Fjellheim under Intersport cup i Stavanger. Danmark – Brasil 34-22. Foto: Kristin Grønning / TV 2

Já reproduzi matéria do COB: Com ajuda da mãe, handebol descobre talento de Anna Clara na Noruega: Jogadora de 21 anos nascida no Maranhão integra nova geração da modalidade nos Jogos Sul-americanos

Anna Clara ao chegar à Noruega começou a jogar futebol, mas não gostou e aos 11 anos se identificou com o handebol (a Noruega é forte neste esporte e já foi bicampeã olímpica e eleita pelo site Greatest Sporting Nation, a nação com maior sucesso esportivo do mundo em 2020).

Anna estreou no handebol no Sunde na escola primária, depois foi ao KFUM Stavanger que era um clube de apostas que formou uma boa equipe para fazer parte do Bringserien. Quando foi dissolvido depois do Bring, a atleta recebeu ofertas da equipe Algard quando o time foi promovido para a primeira divisão. Depois uma temporada no Algard, Anna Clara recebeu nova proposta da Sola equipe de apostas júnior onde também jogou com a equipe A.

Em poucos anos a jovem atleta maranhense foi sendo destaque e uma das grandes surpresas. “Ela pode ter sido desconhecida por muitos antes da temporada, mas através dos seus bons esforços tem sido notada tanto no lateral-direito como na esquerda” considerou a imprensa daquele país escandinavo.

O contrato com o Grane Arendal alçou a atleta maranhense para a elite do handebol norueguês “Sinto que entrei muito bem na equipe e tenho algumas partidas com as quais estou muito satisfeita. Eu vim para Grane para me desenvolver mais como jogadora. Estou feliz e sinto que tenho mais potencial de desenvolvimento.” Disse Anna Clara na ocasião.

Na temporada 2019-2020 Anna Clara foi a artilheira do clube Arendals com 45 gols em nove jogos e vem sendo destaque na imprensa do país.

Recentemente três grandes equipes da Noruega disputaram a contratação da atleta. Mas conforme Anna Clara o tradicional clube Gjerpen Handball que tem uma longa história no topo do handebol feminino norueguês, teve sua predileção pelo projeto apresentado à atleta maranhense “O clube Gjerpen fez uma apresentação de um plano para o meu desenvolvimento e também para o desenvolvimento do clube. E nesse plano eu vou ter a oportunidade de jogar em duas posições “canto e ataque”, nos outros clubes que estavam interessados em me contratar eu iria ter a oportunidade de jogar somente em uma posição. A oportunidade de jogar em duas posições foi decisivo para a escolha do clube Gjerpen” revelou Anna Clara Fjellheim que assinou contrato de dois anos com o clube.

Anna Clara tem uma média de 46 gols em 10 jogos nessa última temporada. Ela declarou que achou o clube Gjerpen muito profissional e está feliz com a sua escolha.

“Fjellheim é um lateral canhoto e vem de Grane Arendal. Ela também pode jogar no limite. O Fjellheim está em 14º lugar na lista de artilheiros da 1ª divisão nesta temporada, com 46 gols em 10 jogos” destaca a mídia norueguesa na ocasião da contratação da atleta pela grande equipe Gjerpen Handebol.

Ana Clara, da seleção de handebol. Foto: Wander Roberto/COB.

A jogadora de Paraibano-MA tem um sonho, o de jogar numa seleção algum dia (Como tem dupla cidadania pode defender a seleção brasileira ou norueguesa).

Aldenora se esforçou para realizar o sonho da filha. A assistia orgulhosa ao desenvolvimento de Anna Clara Fjellheim nas quadras da Noruega. Jogadora de uma equipe profissional em um país apaixonado pelo handebol, a jovem, natural de Paraibano, no Maranhão, mostrava talento e se destacava. Defender as cores da seleção brasileira, no entanto, parecia um sonho muito distante. A mãe, então, decidiu arregaçar as mangas. “Eu entrei em contato com a confederação e falei que tinha uma filha brasileira que jogava handebol e morava na Noruega comigo. Depois de um tempo, chegou uma mensagem do treinador me pedindo para enviar uns vídeos de jogos dela. Tomei essa iniciativa porque seria difícil a seleção brasileira saber quem a Anna Clara era, já que ela usa o sobrenome norueguês do padrasto”, contou Aldenora.

Cristiano Rocha gostou do que viu nos vídeos e passou a acompanhar o desempenho de Anna Clara no Campeonato Norueguês. “Ela pensou que era brincadeira minha quando eu falei que o treinador da seleção do Brasil pediu para mandar vídeos dela”, relembra a mãe

Anna Clara em ação pelo Brasil com a camisa número 25. Foto: Wander Roberto/COB.

Noúltimo Réveillon, atãoesperadamensagem chegou: Cristianochamava AnnaClaraparaintegrar aseleção: “Fiquei chocada. Sempre sonhei em defender o Brasil, mas não imaginava que iria acontecer desse jeito”, contou a atleta de 21 anos.

Anna Clara participou de um período de treinos com o time nacional em Portugal no início deste ano. Aos poucos, foi vencendo a barreira da língua e se integrando mais ao grupo. Como sua família fala norueguês em casa, seu português estava enferrujado.

A maior dificuldade era entender os termos técnicos dos treinos, mas as companheiras e a equipe técnica estavam sempre de prontidão para ajudá-la com a tradução. Em poucos meses, chegou a convocação para integrar a seleção nos Jogos Sul-americanos como armadora direita.

Anna Clara está na primeira missão pelo Time Brasil após ser descoberta na Noruega. Foto: Wander Roberto/COB.

“Ela é uma canhota muito talentosa, com uma técnica bem apurada. Estamos acompanhando seu desenvolvimento. Foi muito legal descobri-la desse jeito”, afirmou o treinador.

AnnaClara semudou paraaNoruegaem 2009, quandotinhaapenas oitoanos. Amãe conheceuo atual marido quando moravam em Paraibano,noMaranhão.Decidiram secasar eirmorarnaEuropa. Oimpacto foi grande. A menina não entendia a língua, não estava acostumada com a comida local e sofria com o frio, com a neve e com a falta de sol. Mas, depois de um ano em uma escola de idiomas, voltou ao ensino regular e logo abraçou a cultura norueguesa.

O esporte chegou à vida de Anna Clara quando ela tinha cerca de 11 anos por incentivo do padrasto, Trond Johan Fjellheim, que percebia que a enteada precisava melhorar suas habilidades motoras.

“Eu comecei fazendo futebol e handebol. Mas depois de um tempo tive que escolher porque as aulas aconteciam ao mesmo tempo. Escolhi o handebol”, conta a jogadora.

A modalidade é muito popular na Noruega, e muitas escolas mantêm equipes fortes. Foi assim que a brasileira começou a se destacar. Aos 16 anos, já era contratada por uma equipe profissional da segunda divisão local. Hoje atua no Gjerpen HK Skien.

“Ela faz muitos gols e é a melhor na defesa. Ela é muito boa. Os jornais escrevem sobre ela direto aqui. E não falo isso porque sou mãe coruja, não. Estamos muito orgulhosos em vê-la vestindo a camisa do Brasil”, elogia Aldenora.

Fã de Ana Paula Rodrigues e Bruna de Paula, Ana Clara está tendo a chance de jogar e aprender com um de seus ídolos em Assunção. Ana Paula é a mais experiente do time que disputa os Jogos em Assunção. “Tem sido uma experiência incrível. Espero que a primeira de muitas”, diz a jogadora.

ANNA CLARA FJELHEIN - Issuu

Três grandes equipes de handebol feminino da Noruega disputaram a contratação da atleta maranhense Anna Clara Fjellheim ( 20 anos) residente naquele país desde 2010, quando aos 9 anos mudou-se com a família.

Fuxico do Sertão (fuxicodosertao.com)

Concluiu Anna Clara ao Paraibanonews.

Abaixo o perfil de Anna Clara:

Nome= Anna Clara Fjellheim filha de Aldenora Fjellheim.

Endereço= Stavanger Noruega

Idade= 20 anos

Naturalidade: Brasileira, natural de Paraibano-Maranhão. Escola: Estuda espanhol na universidade de Kristiansand Noruega .

Reportagem Léo Lasan-Paraibanonews.

MARANHENSE DE PARAIBANO
– Blog
ASSINA CONTRATO COM UM DOS MAIORES CLUBES DE HANDEBOL DA NORUEGA.
-

Seleção de handebol conta, no Paraguai, com atleta que estava "escondida" na Noruega | Flashscore.com.br

Anna Clara tem mãe brasileira e padrasto norueguês e se mudou para o país europeu em 2009, aos oito anos de idade. Por influência do marido da mãe, ela começou a praticar a modalidade que é uma potência em solo norueguês.

Os vários anos de prática a fizeram mostrar seu talento e ganhar espaço dentro da seleção que está disputando os Jogos Sul-Americanos. A competição vai até o dia 15 de outubro em Assunção, no Paraguai.

Anna, aos 16 anos, foi contratada para atuar na segunda divisão do país, antes de conseguir se transferir de clube. Paciente, ela soube superar os desafios de clima, cultura e língua diferentes.

Anna Clara Fjellheim - handebol-base (handball-base.com)

Paraibano News

4 de fevereiro de 2022

DESTAQUE INTERNACIONAL: JOGADORA NATURAL DE PARAIBANO-MA. É CONVOCADA PELA SELEÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL.

Anna Clara Fjellheim mora com a família há anos na Noruega e joga pelo Gjerpen equipe da primeira divisão do campeonato de handebol Norueguês.

A Seleção Brasileira de Handebol selecionou Anna Clara para fazer parte do plantel de jogadores. Anna Clara é natural da cidade de Paraibano Maranhão. Veja matéria sobre sua história no link https://www.paraibanonews.com/.../maranhense-de.../.

Veja matéria do site Norueguês, traduzido via Google Tradutor.

A Seleção Brasileira de Handebol levou o seu plantel ao encontro e aí encontra um nome familiar para quem acompanha Gjerpen HK Skien e a 1ª divisão norueguesa de handebol.

Texto: Gjerpen HK Skien04 / 02/2022

A própria Anna Clara Fjellheim, do Gjerpen, foi selecionada para a seleção brasileira e participará de um encontro no Brasil de 01 a 06 de março de 2022.

Anna Clara fez uma ótima temporada pelo Gjerpen HK Skien até agora, e isso agora foi recompensado por ser chamado para o seu primeiro encontro da seleção nacional em nível sénior.

"Esta é a minha primeira convocação para uma reunião da seleção nacional. Eu acho que é muito legal, e é uma oportunidade emocionante para mim. Saber que eles estão acompanhando minha atuação é muito importante”, disse Anna Clara quando chegou a primeira convocação.

Anna Clara é agora a quarta atual jogadora da seleção que Gjerpen HK Skien tem no elenco e espera poder usar bem a seleção brasileira no próximo período.

"Houve algum contato entre nós nas últimas semanas, mas foi um pouco surpreendente que tudo tenha acontecido tão rápido. Espero poder fazer parte da seleção brasileira no longo prazo e aproveitar essas oportunidades para me desenvolver como jogadora de handebol”, disse Anna Clara ao ser questionada se estava preparada para essa etapa com o handebol internacional.

AnnaClaraeorestantedasmeninasdaequipedo Gjerpenestãofinalmenteprontasparacontinuaratemporada depois que ela foi interrompida em dezembro.

Já na quarta-feira, 9 de fevereiro, está pronto para a batalha em Skienshallen novamente. A equipe do Nordstrand é quem vem visitar e Anna Clara e as meninas Gjerpen estão ansiosas para começar de novo.

"Começamos a temporada muito bem, mas com algumas pequenas lesões e falta de forma, não conseguimos os resultados que queríamos no Natal. Por outro lado, estamos agora cheias de energia e prontas para dar tudo

para que possamos subir logo após a atual temporada”, foi o discurso claro de Fjellheim para o “início da nova série”.

Gjerpen HK Skien contra Norstrand será disputado na quarta-feira, 9 de fevereiro, em Skienshallen. Partida começa em 19:00 hs.

Convidamos o público a fazer uma viagem a Skienshallen, as portas abrem em 18:00 hs. https://gjerpenhandball.no/.../nok-en-spiller-pa.../...

ANNA CLARA (21) FIKK DRØMMEBESKJEDEN: – SURREALISTISK

Moren til Anna Clara Fjellheim (21) tok kontakt med det brasilianske håndballforbundet. Så kom drømmebeskjeden.

LANDSLAGET: Anna Clara Fjellheim (21) spiller for det brasilianske landslaget. Foto: Anja Borg / TV 2

Anja Borg (Stavanger)

30. okt 2022 12:47

Under Intersport Cup i Stavanger har de norske håndballjentene gått på et stortap mot Nederland. De snudde mot Danmark og vant i en thrillerkamp, og søndag møter de tidligere verdensmester Brasil.

Og da står det en 21-åring på andre siden av banen med etternavnet «Fjellheim» på baksiden av drakta.

– Jeg har jo sett opp til mange av dem hele barndommen. Det blir veldig stort for meg å spille mot Norge, forteller Anna Clara Fjellheim til TV 2.

Se Norge-Brasil søndag fra kl.16.30 på TV 2 Direkte og Play

For nå representerer Fjellheim Brasil i gult, blått og grønt. Selv om hun har bodd i Norge siden hun var åtte år gammel.

INTERSPORT CUP: Anna Clara Fjellheim er i Stavanger for å spille Intersport Cup mot Norge, Nederland og Danmark. Foto: Carina Johansen

10. april 2001 ble Anna Clara født i en liten landsby utenfor San Luis, nord i Brasil. Moren hennes studerte i Rio og Anna Clara bodde med besteforeldrene.

– Mamma var ganske ung da hun fikk meg, så hun flyttet til Rio for å studere. I Rio møtte hun faren til lillesøsteren min. Da ble de kjærester, gifta seg og kom til Norge, forteller 21-åringen.

Og Anna Clara flyttet etter.

– Jeg husker noe fra Brasil, men det er lite. Jeg husker at det er veldig annerledes. Både med kultur, været og alt egentlig, sier hun og ler.

Håndball ble fort en favoritt og karrieren startet i Sunde IL. Nå spiller 21-åringen for 1.divisjonslaget Gjerpen og kjemper om opprykk til REMA 1000-ligaen.

Med brasiliansk statsborgerskap var drømmen å representere fødelandet. I 2013 skrev de brasilianske håndballjentene historie da de vant håndball-VM. Forrige VM (2021) tok de en sjetteplass.

Og en dag tok moren til Fjellheim kontakt med det brasilianske håndballforbundet.

– Hun sa at hun hadde en datter som spilte håndball i Norge og er brasiliansk statsborger. Så tok det litt tid, men så svarte de, forteller den venstrehendte håndballspilleren.

Hun ble kalt inn på landslagssamling april 2022 i Portugal.

– Det var veldig skummelt, for jeg har sett veldig mange av dem på TV. Det var surrealistisk å møte dem i virkeligheten. Det var veldig spennende og erfaringsrikt, og det er et helt annet nivå.

– Jeg har jo drømt om det, men jeg så ikke for meg at det skulle skje så tidlig. Jeg synes det er veldig stort og hele familien er jo derfra. Selv om jeg bor i Norge, så er jeg brasiliansk, legger 21åringen til.

Nå skal Brasil spille kvalifisering for VM 2023.

– Kan dere utfordre i et VM?

– Jeg mener jo det. Vi har mange gode spillere som spiller i gode klubber, så jeg mener at vi har en sjans til å være på toppen der, slår Gjerpen-spilleren fast.

Nesta semana, em que se inicia a Copa do Mundo de Futebol Feminino, o Arquivo Nacional e o Ministério do Esporte se unem para contar uma história que demonstra a resiliência de mulheres no esporte que é paixão no país.

A imagem mostra jogadoras do Araguari Atlético Clube, de Minas Gerais, perfiladas momentos antes de uma partida realizada em 10 de maio de 1959, no estádio Independência, em Belo Horizonte (MG). A partida aconteceu contra a vontade do Conselho Nacional de Desportos (CND), que tentava impedir a realização de jogos de futebol feminino. A CND agia baseada no artigo 54 do Decreto-Lei nº 3.199, de 1941, que proibia as mulheres de praticarem “desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.

O presidente da CND chegou a ligar para a Federação Mineira de Futebol com ameaças de que poderia pedir auxílio policial para evitar a realização do jogo. Mesmo diante das tentativas de intimidação, a partida foi realizada. As jogadoras do Araguari se dividiram em duas equipes, que vestiram uniformes do Atlético e do América. Segundo o jornal Correio da Manhã, as jogadoras apresentaram um alto nível técnico e foram aplaudidas pelo público diante dos bons lances. O jogo terminou com a vitória de 2 a 1 para o “Atlético”. Graças à coragem dessas jogadoras e de tantas outras atletas, a prática do esporte se consolidou entre meninas e mulheres no Brasil. Hoje, a nossa seleção de futebol feminino está entre as melhores do mundo e entra em campo a partir da próxima segunda em busca do sonhado título mundial.

Estamos na torcida para que elas brilhem nos gramados da Austrália e da Nova Zelândia!

Na imagem, jogadoras de futebol do Araguari Atlético Clube, estádio Independência, Belo Horizonte (MG), 10 de maio de 1959. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã

DIA
NACIONAL DO FUTEBOL.
BR_RJANRIO_PH_0_FOT_03473_030
.

As mulheres e o Futebol1

Para Bruna Soares Pires, Cristianne Almeida Carvalho (2019)2, mesmo diante do Decreto-Lei nº. 3199, de 1941, do Conselho Nacional de Desportos, que proibia a participação feminina, por defender a feminilidade, a fragilidade, a beleza e os papéis da mulher como mãe, esposa e cuidadora segundo Knijnik & Vasconcelos (2003; Astarita, 20093; Goellner, 2005, 2006, 20084; Capitanio, 20105), essa restrição não foi suficiente para impedir ou conter a presença feminina na modalidade, visto que já era uma realidade. Segundo Magalhães (2008)6, na década de 20 as mulheres já se organizavam em times e, inclusive, organizavam campeonatos.

As primeiras referências de partidas de futebol disputadas por mulheres surgiram nos anos 20. Os registros de jornais mostram a prática, ainda de forma muito tímida, no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte.7

1 VAZ, L. G. D. (2006). Futebol no Maranhão, 1905 – 1917. In: Da Costa, L. P. (Org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. WWW.ATLASESPORTEBRASIL.ORG.BR, 2006

História do Futebol no Maranhão - Parte 1 (campeoesdofutebol.com.br) Fontes: DA COSTA, Lamartine (Org.) - Atlas do Esporte no Brasil - Rio de Janeiro - CONFEF, 2006; Citações de notícias de jornais (1905 – 1917) adotadas no texto, seguidas das respectivas referências; MARTINS, Djard Ramos. Mergulho no Tempo. São Luís: Sioge, 1989. Pesquisas de Leopoldo Gil Dulcio Vaz - professor de educaçao fisica, pesquisador-associado do Atlas do Esporte e socio do IHGM. Bruna Soares P..pdf (ufma.br)

2 PIRES, Bruna Soares, CARVALHO, Cristianne Almeida. CRAQUES DA RESISTÊNCIA: O FUTEBOL FEMININO EM SÃO LUÍS, MARANHÃO . IN Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, Brasília, v.9, n° 2, julho 2019

3 ASTARITA, P. E. (2009). Incentivos e Dificuldades Vivenciados por Atletas do Futsal Feminino Universitário. 32 f. Monografia, Licenciatura em Educação Física. Escola de Educação Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre

4 GOELLNER, S. V. (2003). Bela, Maternal e Feminina: imagens da mulher na revista educação physica. Ijuí, RS: Ed. Unijuí. . (2005). Mulheres e Futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 143- 151, abr./jun. . (2006) Mulher e Esporte no Brasil: entre incentivos e interdições elas fazem história. Pensar a Prática, v. 8, n. 1, p. 85-100. . (2008) “As Mulheres Fortes São Aquelas Que Fazem Uma Raça Forte”: esporte, eugenia e nacionalismo no Brasil no início do século XX. Recorde Revista de História do Esporte, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, jun

5 CAPITANIO, A. M. (2010) Autopercepções de Desigualdades de Atletas Mulheres. Revista Polêmica, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 70 – 83, abr./jun.

6 Magalhães, S. L. F. (2008). Memória, Futebol e Mulher: anonimato, oficialização e seus reflexos na capital paraense. Revista de História de Esporte, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 1-39.

7 História do Futebol Feminino | ge.globo

Pode parecer piada, mas o circo traz algumas das primeiras referências do uso das palavras "futebol feminino". Era tratado como uma performance, um show. Não uma partida.

A criação do primeiro time de futebol feminino do Brasil, em Belém, capital do Pará, em 1924, é um exemplo de que as mulheres não se intimidaram diante da norma. Segundo Knijnik e Vasconcelos (2003)8, Mourão e Morel (2005)9 e Guedes (2006)10, na década de 1930, movidas pelos ares de novidade e de mudança as mulheres começaram a procurar ainda mais pelo futebol.

Estado do Pará : (PA) – 1921 - Ano 1920\Edição 03177 (2)

Estado do Pará : Propriedade de uma Associação Anonyma (PA) - 1921 - DocReader Web (bn.br)

A prática desta modalidade popularizou-se, sendo estendida a todo o território nacional. No entanto, devido à pouca intimidade da maioria das jogadoras com o esporte e a comparação com o modo de jogar masculino, o futebol feminino tinha uma conotação de comédia para os espectadores. Era considerado, acima de tudo, uma caricatura da modalidade masculina, pois considerava-se o modelo masculino como referência para jogar futebol.

Bruhns (2000)11, em seu livro "Futebol, Carnaval e Capoeira - Entre as gingas do corpo brasileiro, enquanto os homens da elite brasileira começaram a praticá-lo no final do século XIX no Rio de Janeiro e em São Paulo, o grupofeminino que aderiuàprática dofutebol erapertencenteàs classes menosfavorecidas. Porcontadisso, as mulheres que jogavam futebol eram consideradas "grosseiras, sem classe e malcheirosas". Às mulheres da elite cabia o papel de torcedoras. "As partidas de futebol masculinas eram um evento da alta sociedade e as mulheres se arrumavam para ir assistir aos jogos", afirma o livro.

No Brasil, existem registros de partidas mistas, com homens e mulheres juntos, em 1908 e 190912. Durante muito tempo um evento beneficente ocorrido em 1913 foi considerado a primeira partida de futebol feminino no Brasil, mas anos depois foi descoberto que, na verdade, o time “feminino” era formado por jogadores do Sport Club Americano, campeão paulista daquele ano, vestidos de mulher, misturados a “senhoritas da sociedade”. Sendo assim, então, oficialmente a primeira partida de futebol feminino no Brasil ocorreu em 1921, entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira (que hoje seria Santana), na zona norte de São

8 Knijnik, J. D., & Vasconcelos, E. G. (2003). Mulheres na área no país do futebol: perigo de gol. In: Mulher e Esporte: mitos e verdades. Simões, A. C. (org). Barueri: Manole. p. 165-175.

9 MOURÃO, L., & MOREL, M. (2005). As Narrativas sobre o Futebol Feminino: o discurso da mídia impressa em campo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 73-86.

10 Guedes, C. (2006). A Presença Feminina no Futebol Brasileiro. In: Silva, F. C. T. da, & Santos, R. P. dos. (Orgs.). Memória Social dos Esportes: Futebol e política, a construção de uma identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad Editora: FAPERJ, p.281-284.

11 BRUHNS, Heloísa. Futebol, carnaval e capoeira: entre as gingas do corpo brasileiro. Campinas: Papirus, 2000. 158p. ISBN 8530805860

12 OLIVEIRA, Sérgio. Futebol Feminino no Brasil – A História. In Futebol Feminino no Brasil – A História | Última Divisão (ultimadivisao.com.br)

Paulo. Essa partida foi noticiada pelo jornal A Gazeta como uma atração “curiosa”, quando não “cômica”, em meio às festas juninas. Isso porque, naquele tempo, as mulheres tinham um papel secundário no esporte, particularmenteno futebol. Em geral, limitavam-seàtorcidaeaconcursosdemadrinhasdeclubes.Emcampo, no máximo, davam o pontapé inicial ou disputavam tiros livres13 .

Na realidade, apesar dos avanços, havia muita resistência de setores mais conservadores da sociedade contra o futebol feminino. Basta observar que até mesmo Coelho Neto, apesar de ser um grande defensor do futebol (como vimos em nosso artigo “Contra o football”)14, escreveu o seguinte, na imprensa, em 1926: “Certamente ninguém exigirá da mulher que jogue o football ou o rugby, que esmuerre antagonistas com o guante de boxe, que arremesse barras de ferro, que se engalfinhe em luta romana. Há exercícios que lhe não são próprios e que lhe seriam prejudiciais, não só à beleza como à saúde e até a sujeitariam ao ridículo”15 .

Em 14 de Abril de 1941, durante a presidência de Getúlio Vargas, foi-se criado o Decreto-Lei 3199,16 proibindo a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”, entre eles o futebol. Este decretolei só seria revogado em 1979.

No Maranhão, encontramos uma primeira referência sobre o futebol feminino no ano de 1943, publicada em O Combate, edição de 26 de maio, mas não se refere ao futebol maranhense:

13 OLIVEIRA, Sérgio. Futebol Feminino no Brasil – A História. In Futebol Feminino no Brasil – A História | Última Divisão (ultimadivisao.com.br)

14 BECKER, Laércio. Contra o “foot-ball” - por Laércio Becker (campeoesdofutebol.com.br)

15 COELHO NETO, Henrique Maximiano. O esporte e a beleza. In: MACHADO, Ubiratan (org.). Melhores crônicas Coelho Neto. São Paulo: Global, 2009. p. 103.

16 Decreto-Lei Federal do Brasil 3199 de 1941 – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Em A Pacotilha, de 18 de fevereiro de 1954, era anunciado a realização de uma partida de “Futebol Feminino na Fabril”; porém trata-se de uma partida amistosa, entre as equipes do Girassol e do Sultão, dois clubes carnavalescos, que seria disputada entre os membros da diretoria e alguns simpatizantes torcedores, em que os “brotinhos” deveriam participar vestidos com trajes femininos, sendo proibido retirar as máscaras... não se tratava, evidentemente, de um jogo entre mulheres...

A 02 de junho de 1959, em A Pacotilha, reportagem sobre uma esportista carioca, Marly Gomes, do Fluminense, onde jogava vôlei e basquete, de que gostaria de participar de um time de futebol feminino. Em entrevista, perguntada se era contra ou a favor da participação da mulher no futebol, respondeu que “tinha pena de quem pretenda liderar a participação da mulher no futebol”.17 Em seguida, disse ser favorável, desde queprofissionalizado,lembrandodasrestriçõesàparticipaçãodamulhernoBasquete,ehojeéumdosesportes favoritos do público, com ampla aceitação.

No dia 28 de outubro de 1959 é anunciado o primeiro jogo de futebol feminino no estado do Maranhão, iniciativa de Rangel Cavalcanti e Pedro Santos, em benefício da Casa do Estudante do Maranhão. Vinham insistindo na realização desse jogo, até que finalmente foram atendidos, e autorizados. Os dois promotores do evento ficaram de apresentar as atletas na quinta-feira seguinte, recebendo total apoio da Federação Maranhense de Desportos; as equipes do América – presidida por Nagib Feres – e do Sampaio Correa

presidida por Ronald Carvalho – foram procuradas para emprestar suas cores, e tiveram ampla recepção. O chefe de polícia garantiu total apoio e garantia de realização do evento.

Em 02 de maio de 1960, reportagem sobre a realização de uma partida de futebol feminino entre o Esporte Clube Anilense e o Esporte Clube Aurora, no estádio São Geraldo, no Anil. A vitória, por 3x0, foi do E.C.A., orientado por Delgado, e os gols assinalados por Paula Cota e Norma. Em setembro de 1960, nova partida entre os dois clubes anilenses. A 16 de dezembro, novo confronto. Pacotilha : O Globo (MA) - 1949 a 1962DocReader Web (bn.br)

O futebol feminino começou, no Maranhão, no bairro do Anil, com o surgimento de duas equipes, o Anilense e o Aurora. Os confrontos registrados pela imprensa, nos anos seguintes, se referiam apenas à essas duas equipes. Quando outras equipes começaram a surgir, como a do América, foram formadas por jogadoras daquele bairro.

SegundoMourãoeMorel (2005)18,apartirdemeadosdadécadade70,quandohouvearevogaçãodoDecretoLei nº 3.199, o futebol feminino começou a ter destaque na mídia e, por conta disso, aumentou significativamente o número de adeptas: as moças de classe média de Copacabana, por exemplo, se reuniam na praia para jogar, e levavam consigo seus namorados e as suas empregadas domésticas. No jogo não havia empregadas e empregadoras; havia várias mulheres que se reuniam para jogar futebol

17 Pacotilha : O Globo (MA) - 1949 a 1962 - DocReader Web (bn.br) 18 Mourão, L., & Morel, M. (2005). As Narrativas sobre o Futebol Feminino: o discurso da mídia impressa em campo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 73-86.

Lea Campos (Asaléa de Campos Fornero Medina) posando para foto produzida antes do jogo entre as equipes Maranhão e Motoclube, realizado na cidade de São Luis do Maranhão em novembro de 1971. A fotografia integra o livro "Lea Campos: rules can be broken" escrito por Luiz Eduardo Medina Romero. Léa Campos –Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Apenas em 1983 a modalidade foi regulamentada. Com isso, foi permitido que se pudesse competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas. Clubes como o Radar e Saad surgem como pioneiros no profissionalismo. Eram alguns dos times competitivos da época.

Em 1988, a Fifa realizou, na China, um Mundial de caráter experimental. Em inglês, foi chamado de Women's Invitational Tournament. A seleção montada para a competição tinha como bases o Radar, do Rio, e o Juventus (SP) - que tinha talvez o time mais forte feminino do país naquele momento. Não houve nenhuma confecção especial de roupas para as jogadoras. Viajaram para o Mundial com as sobras das roupas dos homens.

Os Jogos deAtlanta– 1991 - marcaram a estreiadofutebol feminino em Olimpíadas.Aseleçãobrasileira, repleta de veteranas da geração anterior, terminou na quarta colocação, ficando muito perto do pódio. Com Meg, Marisa, Fanta, Suzy, Sissi, Pretinha, Roseli e outras, a equipe deixou a medalha escapar na disputa pelo bronze diante da Noruega. Perderam por 2 a 0.

O Campeonato Maranhense de Futebol Feminino é uma competição de futebol realizada pela Federação MaranhensedeFutebol(FMF),quecontacomaparticipaçãodetimesamadoresdefutebol femininodoEstado do Maranhão. A competição abre vaga para o campeão participar do Campeonato Brasileiro Feminino – Série A31

O IAPE conquistou pela primeira vez o título do Campeonato Maranhense Feminino em 2022. Com o título, o Canário da Ilha garantiu vaga no Brasileiro Feminino Série A3 de 2023

SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUNS, “O FALSO SANTO DO MARANHÃO”

O MARANHÃO. REPÚBLICA DOS TUPINAMBAS

Mas o Maranhão existia, como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) eram a capital federal, isto é, o lugar, onde se reunia todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O CONGRESSO DO MULUNDÚS

Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús. Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo Os anos os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegado de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande reunião do povo.Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde veem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás.

Ludovico Schwennhagen

ORIGEM FENÍCIA?

[...] Subindo o rio Mearim, no Estado do Maranhão, na confluência dos rios Pindaré e Grajaú, encontramos o lago Pensiva, que outrora foi chamado Maracu. Neste lago, em ambas as margens, existem estaleiros de madeira petrificada, com grossos pregos e cavilhas de bronze. O pesquisador maranhense Raimundo Lopes escavou ali, no fim da década de 1920, e encontrou utensílios tipicamente fenícios. [...] (grifado) 19 .

Informa Pablo Villarrubia Mauso (2010) 20 que teoria da “origem das cidades perdidas do Maranhão” foi levantada pelo explorador austríaco Ludwig Schwennhagen, que esteve no Brasil no princípio do século 20. Teriam sido sacerdotes cários, povo da Ásia Menor, que mil anos antes de Cristo viajavam em embarcações fenícias que chegaram às costas brasileiras

19 Portal São Francisco (http://www.portalsaofrancisco.com.br/)

20 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

Para Ludwig, as pegadas nas pedras existentes na região da Chapada das Mesas eram representação do grão-sacerdote Sumer, cujo nome teria sido modificado para Sumé. Ludwig Schwennhagen fala em seu livro Antiga História do Brasil, de 1100 a.C. a 1500 d.C. (1928) que os fenícios tinham escolhido a ilha de São Luís como ponto de entrada para uma segunda onda de imigrantes.

Chamaram-na de Tuapon, que significava “cidade de Tupã” – uma das divindades dos índios tupi –, onde fundaram várias aldeias, das quais 27 ainda existiam na época da chegada dos primeiros europeus. De lá, atravessando pequenos rios, foram navegando até onde hoje está a cidade de Belém do Pará. O nome Maranhão derivaria de Mara-Ion, dado pelos fenícios. Tudo isso teria acontecido por volta de 1100 a.C., ou seja, muito antes do descobrimento do Brasil pelos portugueses21

Durante o curto período de ocupação francesa da costa do Maranhão, o frei e cronista Claude d’Abbeville escreveu um diário de viagem no qual falava sobre os avançados conhecimentos astronômicos dos índios tupinambás do Maranhão. Ludwig atribuiu esse conhecimento às influências trazidas pelos sábios da antiga Caldéia, situada na Mesopotâmia, que vinham a bordo das embarcações fenícias22

Os restos mais palpáveis dos fenícios no Maranhão estariam no Rio Pinaré, onde o Lago Maracu mostra restos petrificados que pertenceriam aos estaleiros daquele povo, além de outros portos fluviais situados em três lagos que existem na confluência dos rios Mearim, Pinaré e Grajaú. Nas margens dos rios Gurupi e Ireiti, os fenícios exploraram minas de ouro e tinham como base a aldeia de Carutapera (segundo Ludwig, “taba dos carus”, sendo carus o nome que os indígenas davam aos fenícios). À chegada dos portugueses, o local ainda existia como uma aldeia dos tupis, que conheciam bem a existência das minas de ouro23 .

Schwennhagen ainda dizia que na península situada em frente à cidade de São Luís, possivelmente em Alcântara, foram encontrados restos de antigas muralhas cuja origem não pôde ser comprovada no tempo dos europeus. Na ilha de Troína, também no Maranhão, os navegantes ainda hoje avistam grandes blocos de pedras provenientes de muralhas de uma praça forte e alta24 .

Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), de autoria de Ludovico Schwennhagen é publicado artigo com o seguinte título:

MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO

O labirinto subterrâneo de S. Luis – O congresso dos Mulundús

O prof. Ludovico Schwennhagen, que ora se acha no Ceará, em pesquisas arqueológicas iniciou, com Raimundo Lopes, o estudo da pré-história maranhense.

Os seus originais pontos de vista, que se destinguem pelo imprevisto das hipóteses, busca o erudito professor firma-se em argumentos tirados de factos que ele põe em relevo e cujo interesse e torna patente.

Hoje, um excelente estudo recapitulativo, aborda o nosso colaborador as origens do Maranhão e as possíveis relações entre os antigos habitantes do solo e os navegantes fenício. (A Pacotilha, 30 de maio de 1925)

Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios:

21 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

22 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

23 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

24 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão Posted by luxcuritiba em dezembro 28, 2010, DISPONÍVEL EM http://piramidal.net/2010/12/28/as-cidades-perdidas-do-maranhao/, acessado em 06/05/2015.

Sustento a tese de que a cidade hoje chamada S. Luis, foi fundada por navegadores fenícios, 1.000 anos antes de Cristo, ao mesmo tempo que era levantada, na foz do rio Parnaíba, a de Tutóia, cujo nome antigo era Tu-Troia (terra de Tróia). O nome da capital da ilha do Maranhão era Tupã.

As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara no Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis – fundando TuTroia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú:

OS FENICIOS E OS TUPIS

Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Asia.

Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano.

Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Troia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram TuTroia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis). (SCHWENNHAGEN, 1925).

Ludovico Schwennhagen traz como indícios da presença dos fenícios em Tupaón – Upaon-Açú – os subterrâneos e labirintos existentes; embora a crença popular diga que foram os jesuítas os responsáveis pela construção:

OS SUBTERRANEOS

Essa origem de Tupaón explica também a existencia dos subterrâneos e do labirinto desta cidade.

A questão dos subterrâneos do Maranhão não fica resolvida pela crença popular, de que foram os jesuítas que fizeram tudo isso. O nosso amigo e bem conhecido artista Gregório pega no seu quintal, na rua do Sol, muito peixe, que traz cada maré grande, pelo corredor subterrâneo, que liga a praia com aquela parte da cidade. Ali nõ andavam os padres.

Em baixo da praça de Alegria existe um amplo salão, que tem duas entradas por corredores que vêem da praia de Desterro e e Santa Amelia.

O centro do labirinto está embaixo do Largo do Carmo, onde existem um grande tanque de água e salas de amplas dimensões.

Um corredor passa embaixo do antigo cemitério da igreja, ligando as salas subterrâneas com o Ribeirão. (SCHWENNHAGEN, 1925).

A ocultação desses labirintos parte de Roma; saberiam os jesuítas de algo, que ocultaram?

Esse corredor recebeu um revestimento de tijolos, pelos frades italianos, até o Ribeirão, e seria como comunicação entre o convento e a cidade baixa.

Agora, está ele tapado, por ordem de Roma, na curva entre o teatro e a nova Faculdade de Direito. A tapagem é feita com pedras toscas comuns; mas os frades deixaram um estreito, como para a saída de água. Sem tal passagem, a água destruiria os alicerces da igreja e do convento.

Do outro lado do largo do Carmo passa um corredor sob a casa Lobão, onde existiu mais dois quartos subterrâneos; depois desce o corredor para a muralha da antiga alfândega. O salão central, na colina do antigo Forte, quer dizer do palácio e da Sé, tem quatro entradas, uma vinda da rampa de Campos Melo, a segunda da rampa do Palácio, a terceira de baixo a Biblioteca, a quarta do Ribeirão.

O subterrâneo de Santo Antonio tem três entradas e o corredor central comunica com a praça da Alegria.

Existe também uma comunicação entre a praia do Desterro e a de Campos Melo. Quando, por exemplo, no Desterro desaparecem um porco e não volta à noite, o dono vai a Campos Melo e espera ali a chegada do animal, no outro dia. Os moradores do Desterro contam que, há dois anos, entrou no corredor subterrâneo um homem, munido duma pequena saca de farinha, duma garrafa de cachaça e de algumas velas, para procurar qualquer tesouro. Ele ficou três dias, percorrendo a diversas galerias, e trouxe alguns objetos misteriosos. Disse que as velas não eram suficientes para perlustrar toda a extensão, e que dormiu num salão bem limpo e enxuto. O homem foi embora, numa canoa, para o interior, dizendo que voltaria com companheiros, para continuar suas explorações. Tudo isso passa-se em plena S. Luis, chamada Atenas brasileira, embelecida pelos melhoramentos dos senhores Ulen e Brightman ( em português: Coruja e Homem Largo). Porque não podemos reconstruir também as glorias do antigo Tupaón; Porque o coronel Antonio Bricio hesita ainda em eterniza seu nome como descobridor do grande labirinto de Tupaon, construído provavelmente por um dos bisnetos o rei Minos de Creta. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O FESTEJO DE SÃO RAIMUNDO NONATO DOS MULUNDUS

O festejo de São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro, protetor e padroeiro dos vaqueiros, é um novenário – de 22 a 31 de agosto, dia em que ele faleceu (ou foi encontrado morto?), na antiga fazenda, hoje povoado, Mulundus, a 30 km de Vargem Grande (MA).

A região que compreendia Itapecuru Mirim, Vargem Grande, Chapadinha, Brejo, Anajatuba, Manga do Iguará (Nina Rodrigues), Araioses, Cantanhede e outras existia grandes fazendas de gados o que justifica as centenas de vaqueiros devotos do Santo espanhol, que segundo a lenda, enquanto fazia suas orações a Virgem Maria esta enviava um anjo para guardar os rebanhos sob os seus cuidados, daí a ter um “representante” conterrâneo melhor ainda.

A região era muito propícia a criação de gado que eram comercializados no Arraial da Feira atual Itapecuru Mirim ou transportada para São Luís via rio Muni. As crianças desde muito cedo começavam a aprender o mister de vaqueiro, que era a função de maior status entre os escravos. A profissão de vaqueiro passava dos pais para os filhos.

Por volta dos anos 30 do século XIX, o tenente-coronel Antonio Bernardino Ferreira Coelho adquiriu o Engenho Primavera que outrora pertencera a madrinha do vaqueiro Raimundo Nonato. Na constância do cargo de Deputado Provincial Antonio Bernardino transferiu a Vila de Olho d’Agua para Vargem Grande em 1845. No final dos anos cinquenta o deputado vendeu o Engenho Primavera ao coronel Francisco Solano Rodrigues. Ao comprar as terras adquiriu também a escravatura dos antigos proprietários com todos seus costumes e crendices. No local se estabeleceu com a família depois do casamento com a senhora Luíza Roza Nina Rodrigues, onde tiveram sete filhos: Djalma, Joaquim, Raimundo, Themístocles, Antônio, Saul, e Maria da Glória. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

Muito religiosa Dona Luiza, quando chegou já encontrou a capelinha em Mulundus que fazia parte da propriedade da família. Passou a fazer a manutenção e incentivar o culto a São Raimundo Nonato. Em 1862, enquanto gestava um dos seus filhos se sentiu muito doente então fez promessa, que se tivesse um bom parto, o filho receberia o nome do Santo, porque além de protetor dos vaqueiros é invocado como patrono e protetor das parturientes e das parteiras, porque durante o seu nascimento a sua mãe faleceu e ele foi extraído vivo.

O pequeno Raimundo nasceu no dia 4 de dezembro de 1862, porém foi uma criança com a saúde frágil e mais uma vez Dona Luiza recorreu ao Santo pedindo proteção e saúde ao filho e em troca prometeu fazer vir da Espanha uma imagem autêntica confeccionada na oficina sacra da terra natal de São Raimundo. Quando o filho atingiu a juventude a imagem foi encomendada. A trajetória da imagem foi difícil. Ela foi

enviada à Portugal de lá foi feito o translado de navio para a capital, São Luís, depois foi levada de barco a vapor até Itapecuru –Mirim quando as autoridades locais e eclesiásticas a transportaram até a igreja de São Sebastião e depois à Mulundus. A chegada da imagem ocorreu no penúltimo quartel do século XIX. Blog da Jucey Santana: SÃO RAIMUNDO DOS MULUNDUS

O filho da promessa, Raimundo Nina Rodrigues o mais ilustre filho da terra, foi médico legista, psiquiatra, professor e antropólogo. Faleceu em 1906.

Dona Luíza figurou como responsável pela festa durante muitos anos sendo seguida por seu filho o capitão Saul Nina Rodrigues que mesmo residindo no Engenho São Roque em Anajatuba, gerindo os negócios da família mantinha negócios em Vargem Grande tendo continuado como Mordomo da festa. Dona Luiza faleceu em 17.12.1911.

O tenente- coronel Francisco Solano Rodrigues, foi juiz de direito, Comandante Superior da Guarda Nacional, da Vila de Vargem Grande, deputado constituinte, Presidente da Câmara de Anajatuba e grande benfeitor de Vargem Grande, tendo cedido uma das suas casas para servir de cadeia pública à Vila.

Desde o início do Século XX, começaram as campanhas pela imprensa, pelos moradores e principalmente pelos comerciantes para a transferência da festa para a sede de Vila de Vargem Grande. O povoado de Mulundus, era desprovido de estrutura adequada para a celebração da festa que havia se tornado muito grande.

Porém os tradicionalistas resistiam, por achar que a festa deveria permanecer no local onde iniciou. Foram anos de negociações para solucionar o impasse. Somente em 1953, na gestão do arcebispo Dom José Medeiros Delgado, houve a transferência da festa para Vargem Grande, passando a ter uma maior projeção. Os conservadores, no entanto, inconformados continuaram celebrar São Raimundo Nonato em Mulundus, que em consenso a igreja fixou a data do evento no povoado para o mês de outubro e assim respeitando a religiosidade popular. A festa reúne féis de todo o Maranhão também de outros Estados, em pagamentos de promessas.

O Santo Espanhol, São Raimundo Nonato foi um doutor da igreja, um grande Bispo e mártir da fé católica. Roga por nós, São Raimundo! (em catalão: Ramon Nonat, em castelhano: Ramón Nonato) é um santo católico romano que viveu no século XIII e se rebelou contra a escravidão, que na época era tida como natural. Raimundo recebeu a alcunha de Nonato ("não nascido") porque foi extraído do ventre de sua mãe, já morta antes de dar-lhe à luz, ou seja, não nasceu de uma mãe viva, mas foi retirado de seu útero, algo raríssimo à época. São Raimundo Nonato - Diocese de São José do Rio Preto/SP (bispado.org.br)

Por isso é festejado, no dia 31 de agosto, como o patrono das parteiras e obstetras. Em 1224 entrou na Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que era dedicada a resgatar os cristãos capturados pelos muçulmanos levados para prisões na Argélia. Mas ele não queria apenas libertar os escravos, lutava também para manter viva a fé cristã dentro deles. Capturado e preso na Argélia, converteu presos e guardas, mas teve a boca perfurada e fechada por um cadeado para não pregar mais. Após sua libertação, foi nomeado em 1239 cardeal pelo papa Gregório IX, todavia no início de seu caminho a Roma padeceu violentas febres pela qual morreu. Servilio Conti. O santo do dia.- 10. ed revisada e atual - Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Raimundo Nonato – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Cristo coroando São Raimundo Nonato (Museu do Prado)

São Raimundo Nonato - Santo do Dia (comeceodiafeliz.com.br)

Em “A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus”, a professora Dolores Mesquita diz que Mulundus era uma fazenda de “umas brancas da família Faca Curta”, ricas e donas de muitos escravos. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

O fato: Raimundo Nonato, com outros vaqueiros, caçava uma rês desgarrada e sumiu. Dois dias depois foi encontrado morto: o corpo conservado e exalando um perfume! O povo entendeu que virara um santo. Não houve enterro. O corpo sumiu! É um mistério! Segundo os escravos Raimundo, Secundio, Quirino, Martiniano, Macário, Zé Firino, Militão e José Cabral, os padres levaram o corpo para Roma. Mistérios e farsas sobre são Raimundo Nonato dos Mulundus | O TEMPO

No local do acidente foi feita uma capela de palha (depois o santuário de são Raimundo dos Mulundus, hoje em ruínas), e, chefiados por Macário Ferreira da Silva, criaram um novenário, que se encerrava no dia de sua morte, 31 de agosto. “Isso pelos anos de 1858, mais ou menos” (Dolores Mesquita).

Em 1858, já era rezada a novena, e havia uma capela de palha para o santo vaqueiro, a partir da qual foi erguido o Santuário de são Raimundo Nonato dos Mulundus, de rara beleza; e entre 1901 e 1908, o padre Custódio José da Silva Santos, de Vargem Grande, celebrava a festa em Mulundus “Apesar do abandono em que vive, o altar onde celebram as solenidades religiosas permanece

firme, sendo resistente ao sol e à chuva; diz o povo que não cai porque são Raimundo protege aquele santo lugar”. O racismo é impedimento à santificação de negros no Brasil (geledes.org.br)

Após a Proclamação da República (1889), Mulundus foi comprada pelo coronel Solano Rodrigues, cuja mulher, dona Luíza, em pagamento a uma promessa ao santo vaqueiro, mandou fazer em Portugal uma imagem dele que custou 1 conto e 700 réis, pela cura da pneumonia de seu filho Saul Nina Rodrigues, advogado, irmão do médico Nina Rodrigues. Até 1908, os padres celebravam missa no santuário de Mulundus. Em 1930, o arcebispo de São Luís proibiu o festejo, alegando ser profano! As perseguições do oficialato católico ao santo vaqueiro beiram a insanidade e a ganância. O povo manteve a devoção, sem padre e sem missa.

Em 1954, o arcebispo dom José Delgado, acoitado pela polícia, “mudou”, como se fosse dono de uma obra popular, o Santuário de Mulundus para Vargem Grande, dando-lhe novo nome: Santuário de São Raimundo Nonato, bispo espanhol da ordem dos mercedários (1204-1240), santificado! Os romeiros não arredaram de Mulundus!

A arquidiocese decidiu disputar com Mulundus e dividir a fé do povo: “Comprou 180 hectares da fazenda Paulica, a 7 km de Vargem Grande, e fez uma capela para onde os romeiros em procissão conduzem a imagem de são Raimundo Nonato (o bispo espanhol) no dia 22 e a trazem de volta para a igreja no final do dia” (professora Dolores Mesquita).

Apesar das artimanhas, o Dia do Vaqueiro é 29 de agosto (Lei Federal 11.797/2008).

Para Marcus Ramusyo de Almeida Brasil, A história de São Raimundo Nonato dos Mulundus está envolta em narrativas de mistério, fé e devoção, no contexto das crenças populares e das práticas performáticas socio-culturais que as engendram. São Raimundo Nonato dos Mulundus, o santo vaqueiro: travessias da religiosidade em movimento | Domínios da Imagem (uel.br):

JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUE MARANHÃO

SOBRINHO

ANTÔNIO AILTON SANTOS SILVA

- 1º. Ocupante

22.
-

FELIPE COSTA CAMARÃO - 1º. Ocupante

24
- MANUEL VIRIATO CORRÊA DO LAGO FILHO

JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO - 1º. Ocupante

PELEJA MORTAL

Joãozinho Ribeiro (*)

Quando criança, lidava a cada dia com a presença ou com a possibilidade da visita da morte. Nas condições que estavam postas, o nascimento com vida não era garantia de continuidade da mesma, dado o alto grau de disposições em contrário: fome, pobreza, moléstias de várias procedências...e as ditas trapaças da sorte.

Posteriormente, lembro também do nosso casarão do Centro Histórico, situado no final da Rua Afonso, canto com a Travessa da Lapa, onde o imenso e tradicional ramo da família Carvalho (por parte da minha mãe, D. Amália) se relacionava todo tempo com o óbito das tias e tios mais idosos, que cumpriam a passagem pela breve estação terrena.

As estórias de visagem se multiplicavam na imaginação dos meninos e meninas, que eram muitos naquele casarão, atiçadas pelas bocas dos mais velhos. Diziam que, depois da meia-noite, os patriarcas e matriarcas da família se reuniam em torno de uma longa mesa, esculpida em uma peça enorme de madeira, extraída de uma centenária árvore das matas amazônicas do Maranhão. No quintal, existia um poço lacrado, apelidado de “sumidouro” que os mais entendidos, de idade avançada, afirmavam ter sido local onde atiravam os escravos, nossos ancestrais, para serem espetados nas pontas de estacas, cumprindo o ritual de castigo impingido por conta de alguma pena aplicada pelos seus donos e senhores. Com esta senhora dos destinos, que meu irmão mais velho chamava de Dona Lucrécia, tive um duelo mortal, se me permitirem a redundância da fala, em meados dos anos 60 do século passado, numa cama de enfermaria do Hospital Gaffrée Guinle, situado na Rua Mariz e Barros, no antigo bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, quando ainda era denominado Estado da Guanabara. Mais precisamente, no décimo sétimo dia de convalescença de uma delicada cirurgia, que retirou um sarcoma de mandíbula do lado esquerdo da face; e com o tumor, o próprio lado leste das coisas também.

A Medicina já havia me sentenciado com pena mínima de uns cinco anos de sobrevida, porém o incidente de percurso abreviador da saga foi uma hemorragia no dia dezessete da fase de recuperação, inundando a enfermariaderubras cascatasquejorravam domeucorpo,numaverdadeirasangriadesatada,como costumava dizer D. Amália, sobre os episódios infelizes da existência humana.

A visita de Dona Lucrécia, naquela tardinha, não foi bem-sucedida, graças a Deus, apesar de haver mobilizado toda a equipe de intensivistas daquela casa de saúde, na tentativa de prolongar a existência daquela criança de

26 - RAIMUNDO CORRÊA
DE ARAÚJO

nove anos de idade, recém-chegada de São Luís do maranhão, internada diretamente nas entranhas da assim chamada Cidade Maravilhosa. A vontade de viver prevaleceu soberana. Da gaveta da memória retiro, vez em quando, aquelas imagens da peleja de um menino pela vida, encharcada pelas suas preces silenciosas e poderosas, se agarrando à imagem de uma santa (uma das nossas senhoras), desenhada num azulejo, na cabeceira do leito daquela enfermaria do segundo andar do Hospital Gaffrée Guinle.

Esta última semana, me deparei com um conjunto de perdas de pessoas queridas, que sacudiram a minha estrutura emocional em todos os sentidos e direções. Senti que Dona Lucrécia reapareceu mais preparada e ávida por descontar com juros e todas as correções possíveis os resultados desfavoráveis das nossas contendas do passado. Destafeita,amputandoos laços das convivênciasdos entescaros equeridoscom oplanoespiritual desta breve estação terrena.

Socorro Utta, companheira do maestro Arlindo Pipiu, que nos deixou no dia 27 de junho; D. Valdemira, mãe de Arlindo Carvalho, que fez a passagem no dia 30 de junho; Andressa, filha do estimado casal Bira e Leide, no dia primeiro de julho; e a inesquecível amiga e colega de magistério durante mais de uma década, mãe do escritor Caio, Irlene Menezes Graça, no último dia 04 de julho.

Fui nos velórios e em alguns sepultamentos destas pessoas queridas, compartilhando com familiares e amigos das dores das despedidas, misturadas com lágrimas, cânticos religiosos, orações e aquela solidariedade das almas aflitas e vulneráveis. Lembrei de uns versos recentes da música “Ternura e Pão”, que compus em parceria com o cantor e compositor Ivandro Coelho:

“A barca da existência / Navega sua leveza / Flertando com a natureza / Nas águas da paciência”

“Mergulho na infinitude / Desejo e delicadeza / Deságuam na correnteza / Da fonte da juventude”

O ciclo da existência é cumprido em diferentes formatos e extensões. Mistérios que não conseguem explicações das nossas vãs filosofias. Alguns, ainda logram dobrar o cabo das tormentas sem maiores atribulações e atropelos; outros, são arremessados contra a dureza do muro das lamentações. Sobram projetos de vidas arrasados, como na canção de Chico e Djavan. Dona Lucrécia prosseguirá fazendo suas rondas em busca de novos passageiros para a última chamada nos inusitados portões de embarque. Por ora, não pretendo saber do dia da nossa próxima e derradeira peleja. Sigo o sentimento das águas.

(*) Poeta/compositor

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - (Fundador) - FALECIDO EM 2023

SONIA MARIA AMARAL FERNANDES RIBEIRO – ELEITA E POSSE 2023

Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro

Graduada em Direito (1983) pela Universidade Federal do Maranhão, tem pós-graduação no Curso Preparatório da Magistratura pela Escola Superior da Magistratura ? ESMAM, Especialização em Magistério Superior (UNICEUMA), Mestrado em Políticas Públicas (UFMA) e Mestrado em Ciências Jurídicas (Faculdade de Direito pela Universidade Clássica de Lisboa - FDUL). Entre as funções exercidas, a de advogada da Assembleia Legislativa do Estado (1984/1989), juíza de Direito do Maranhão (admitida em 1989), professora da disciplina de Juizado Especial Cível e Processo Penal da Escola Superior da Magistratura ? ESMAM (admitida no ano de 2000), professora de Processo de Execução Cível da Faculdade Santa Terezinha ?CEST. Foi JuízaAuxiliar da CorregedoriaGeral daJustiça nos períodosde 1998/1999, 2004/2005 e 2008/2009, Coordenadora da Casa Abrigo de São Luís/MA (1999/2001), Coordenadora Geral dos Juizados Especiais do Estado (2000 e 2004), Presidente em exercício da Associação dos Magistrados do Maranhão ?

27 - HUMBERTO DE
CAMPOS VERAS

AMMA ? 2000, presidente eleita da Associação dos Magistrados do Maranhão ? AMMA ? 2001/2002 e vicepresidente da Associação dos Magistrados Brasileiros ? 2002/2004. Foi titular do 7 Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo da Comarca de São Luís (exercício iniciado em 2006); Presidente da Cooperativa de Crédito da Magistratura, do Ministério Público, dos Defensores Públicos e Procuradores do Estado, no Maranhão, Juíza Auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça do Maranhão, Juíza Coordenadora do Planejamento Estratégico do TJMA e, atualmente, é titular da 10 Vara Cível da Comarca de São Luis/MA. Informações

coletadas do Lattes em 05/03/2023

No dia 27 de abril de 2022, Sônia Amaral tomou posse como desembargadora do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA).

A desembargadora Sônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro, do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), será empossada, nesta quarta-feira (23/8), na Academia Ludovicense de Letras (ALL), onde passará a ocupar a cadeira de número 27, que tem como patrono o jornalista e escritor maranhense Humberto de Campos Veras, e que foi ocupada pelo escritor José Ribamar Fernandes.

A cerimônia de posse ocorrerá no auditório da Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA), às 19 horas, com a presença de confrades da Academia Ludovicense de Letras, membros do Judiciário, familiares, amigos e convidados da desembargadora, que também é professora, cronista e escritora.

Sônia Amaral é vice-diretora da Escola Superior da Magistratura do Maranhão (ESMAM), presidente da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ-TJMA) e do Núcleo de Combate ao Assédio Moral e ao Assédio Sexual no Judiciário. Doutoranda em Direito, mestra em Ciências Jurídicas e em Políticas Públicas, a magistrada é autora de artigos científicos e jornalísticos, crônicas e das obras De Cabral a Maria da Penha (2019) e O Rio de Heráclito (2023).

O juiz e acadêmico Osmar Gomes dos Santos (TJMA) foi escolhido pela ALL para recepcionar a colega de magistratura na instituição de cunho literário e linguístico da capital maranhense.

DISCURSO DE POSSE DA CADEIRA DE N° 27, NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, EM 23 DE AGOSTO DE 2023, SÃO LUÍS.

Senhora Presidente desta Academia Ludovicense de Letras, Jucey Santana

Senhoras confreiras e senhores confrades

Meus familiares

Prezados amigos

Boa Noite!

De plano destaco a minha imensa satisfação e alegria de estar aqui esta noite, assumindo uma cadeira na Academia Ludovicense de Letras, cognominada Casa Maria Firmina dos Reis, fundada em 10 de agosto de 2013, logo a exatos 10 anos e 13 dias. Sua fundação acontece com as comemorações dos 190 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, como parte da programação do evento “Mil poemas para Gonçalves

Dias”,promovidopelo InstitutoHistóricoeGeográficodoMaranhão,pelaFederaçãodasAcademias deLetras do Maranhão e pela Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão e do Brasil.

A minha imensa alegria e satisfação na noite de hoje é especial por três motivos:

· O principal, por evidente, diz respeito à posse na Academia Ludovicense de Letras, escolhida que fui pelos que hoje posso chamar de confrades e confreiras, em especial, o Dr. Osmar, dileto amigo, que me sugeriu a inscrição, tão logo foi publicizado o edital correspondente.

· A segunda razão refere-se àquele que sucederei na Cadeira de nº 27, José de Ribamar Fernandes, bem como seu patrono, Humberto de Campos.

· E a terceira, em face de adentrar na Casa de Maria Firmina dos Reis, ilustre conterrânea que inspira um grupo de magistradas, cuja atuação explicarei mais adiante.

Prezados Confrades e Prezadas Confreiras, acredito cada vez mais que não existem coincidências, que a vida tem um propósito e que esse propósito se realiza todos os dias a partir de um roteiro traçado, que, para os menos avisados, parece apenas ser tudo obra do acaso.

Por certo, não quero dizer com isso que as pessoas têm de aceitar com naturalidade eventuais insucessos, pois, se a vida não lhe for benfazeja, já estava tudo previamente determinado. Claro que não. Não é disso que se trata esse propósito que vos falo. Acredito que o ser humano, utilizando-se do livre arbítrio faz escolhas, boas e más, não se tratando de simples má sorte, logo, esses propósitos só se realizarão, apesar do roteiro traçado, se a pessoa fizer as escolhas certas diante daquilo que a vida lhe apresenta.

Enfim, quando falo em roteiro previamente traçado, estou falando que tudo na vida tem um propósito, não é fruto do acaso, mas, sendo possível jogar fora esse propósito, se fizermos escolhas erradas.

Pois bem, quando naquele dia o confrade Osmar me falou da Academia Ludovicense de Letras e instigou-me apromovera inscrição à Cadeiradenº 27,eu não sabiaa quem sucedia. E antesde continuar com essa história, aqui cabe um parêntese, para justificar o porquê de me inscrever sem sequer saber a quem sucedia.

Aceitei me inscrever nesse cenário, porque a fama da Academia Ludovicense de Letras a precedia. Precedia a considerar suas nobres finalidades, estabelecidas estatutariamente no art.2º, de desenvolvimento e difusão da cultura e da literatura ludovicense, que eram (e são) perseguidas com afinco; e precedia, da mesma forma, pela qualidade individual dos seus membros, cultores das letras.

Mas, voltado a questão do porquê não acreditar em coincidências. Pois bem, após ser eleita para a Academia, tratei de saber a quem sucedia, a quem deveria suceder e dar prosseguimento, com denoto e obstinação, à missão da Casa Maria Firmina dos Reis. E ai descobri, mais uma vez, que não existem coincidências. Sucedo a José de Ribamar Fernandes, intelectual com vasta obra, formado em direito e, destaco, arariense.

José de Ribamar Fernandes, nasceu em 30 de janeiro de 1938, em Arari, cidade que conheci pelas mãos da minha sogra, Raimunda Garcia Fernandes. Talvez, por afinidade, sejamos parentes, uma vez que meu marido é um legítimo Fernandes, filho de pai e mãe nascidos e criados em Arari. Só não afirmo com precisão, pois a pessoa que podia tirar essa dúvida, Dona Dada, minha sogra, hoje se encontra muito enferma e sem condições de esclarecimentos.

A cidade que conheci, como já disse, pelas mãos da minha sogra, nas inúmeras histórias que me contou da sua infância e adolescência na cidade de Arari, resgatei nas palavras de José de Ribamar Fernandes, na entrevista que concedeu a Hílton Mendonça, em fevereiro de 2011. E ali é possível saber que José Fernandes, apesar das poucas posses, valeu-se com sabedoria do livre arbítrio ao ter optado pelo estudo, mesmo tendo de lidar com inúmeras doenças na infância e ter de trabalhar, na adolescência, como operário durante o dia e estudar à noite. Durante sua vida como estudante e operário, ainda sobrou tempo para fundar os jornais “Estudante de Atenas” e “Gazeta Arariense”, a “União Arariense dos Estudantes”, o grupo teatral “Raimundo Ramos” e a biblioteca “Mílton Ericeira”.

Outra história contada pelo imortal José Fernandes, dessa feita na esfera politica – onde se enredou como vereador aos 20 anos e candidato a prefeito aos 29 anos –, e que também me trouxeram recordações vividas da Arari do passado, refere-se à citação dos bons gestores municipais que conheceu, quando elenca a Sra. Justina Fernandes Rodrigues (Bembém), prefeita de Arari de 1950 a 1954, que era irmã da minha sogra, D.Dada.

E não para por ai. José Fernandes transformou seu amor por Arari em verso, prosa e crônicas, dentre as quais destaco: Poemas de Início, Crônicas Ararienses, Gente e Coisas da minha terra, Ao sabor da memória, Arari em cordel, dentre inúmeras outras.

A vida de José Fernandes foi rica em sabedoria e vivência, razão pela qual é difícil contá-la aqui e agora, mas não posso me furtar de relatar uma última história sobre ele. Nessa memorável entrevista, José Fernandes afirma que a juventude de Arari, que de lá saiu para estudar na capital, perdeu a “arariensidade”, perdeu o vínculo com a sua terra natal. Antes, ele e os demais que vieram para a capital estudar, voltavam e procuravam contribuir com a cultura local. Contudo, os seus filhos ararienses, depois de saírem de Arari com o mesmo propósito de estudar, não retornavam ou, quando retornavam, vinham só a passeio, deixando de lado toda uma cultura, sem a preocupação de enriquecer ou cultivar, com os conhecimentos adquiridos, a sociedade arariense.

Confesso que essas suas palavras me calaram fundo, pois, tendo nascido na cidade de São Luís, me recinto até hoje de não ter para onde voltar. No início da minha carreira como magistrada, no interior do Maranhão, confesso que sentia uma certa inveja dos filhos da terra, pois, em épocas festivas ou férias, eles voltavam para os seus rincões e ali se encontravam com familiares e amigos. E eu, como filha de São Luís, nascida e criada, não tinha para onde voltar e partilhar esse ritual de reencontro.

Bem, como disse, o imortal João Fernandes tem muita história a contar, mas o tempo que tenho para contálas não favorece o relato exaustivo. Paro por aqui, mas prometo continuar a investigação.

Ooutropontodenão-coincidênciadizrespeitoaminhaeleiçãoàprópriaCasaMariaFirminadosReis.Explico o porquê de mais um propósito. Ascendi ao Segundo Grau no Tribunal de Justiça do Maranhão ano passado e, por motivos diversos, percebi que as magistradas devem, e merecem, usufruir de maior reconhecimento profissional por parte da Corte de Justiça estadual. Um exemplo, apenas, a comprovar o que vos falo, é o percentual mínimo de mulheres a integrar o Segundo Grau: representamos somente 15%. Além disso, exercemos, enquanto juízas, poucos cargos de direção, como juízas auxiliares das Corregedoria e Presidência do Tribunal.

Pois bem, decidi fazeralgumacoisaecriei, com as colegas magistradas dePrimeiroeSegundoGraus, oGrupo Maria Firmina, que dia 28 de agosto próximo realizará, no Tribunal de Justiça, uma solenidade para assinatura do Estatuto do Grupo. Buscamos a paridade, Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU de nº 5, que estabelece a necessidade da “igualdade de gênero” em todos os quadrantes da experiência humana na face da Terra.

Meus caros confrades e confreiras, suceder José Fernandes, filho dileto da terra dos ascendentes dos meus filhos; e ingressar na Casa de Maria Firmina, inspiração do grupo que fundei, não é mera coincidência.

Superadas as não-coincidências, passo ao patrono da Cadeira 27, o imortal Humberto de Campos. O que falar de Humberto de Campos?

Deste, da mesma maneira, tenho a dizer que a história é longa e rica de realizações. Mas, o mais importante, como José Fernandes, mesmo tendo deixado sua terra natal ainda na adolescência, a então Miritiba e hoje a cidade de Humberto de Campos, ele nunca cortou os laços afetivos que o ligava ao torrão natal. Tanto é assim que, um dos seus primeiros versos, recebeu o nome de Miritiba e ali ele declama sua aventura em um barco, quando deixou a cidade.

Falar, então, de sua obra é ter de usar superlativos. Humberto de Campos, em seu pouco tempo de vida (ele morreu aos 48 anos), escreveu poesias, contos, crônicas, críticas, memórias e biografias em profusão. E aqui, só a título de exemplificação, destaco: Poeira, livro de poesias; Tonel de Diógenes, livro de contos, Sombras que sofrem, livro de crônicas; Um sonho de pobre, livro de memórias; e Perfis, uma biografia.

E mais: como José Fernandes, Humberto de Campos ingressou na política, chegando a ser deputado federal pelo Maranhão, em 1920.

Finalizando essa brevíssima síntese sobre a obra de Humberto de Campos, importa ainda falar sobre a marca que este deixou em seu tempo. E aqui me valho das palavras de Carlos Heitor Cony, que disse em entrevista concedida a Roberta Scheiber, o seguinte:

Quando o Humberto de Campos morreu, em 1934, eu era criança, e o comércio do Rio de Janeiro fechou as portas. Eraluto nacional queninguémdecretou. Isso porquetodo mundo lia HumbertodeCampos.Elemorreu

cedo, com 48 anos, numa operação. Foi uma comoção. Ninguém chegou à popularidade de Humberto de Campos. A melhor crônica dele chama-se “Um amigo de infância”. É a mais bonita da literatura brasileira. Voltamos ao propósito. José Fernandes e Humberto de Campos tiveram propósitos em suas vidas e, acredito, não achavam que as coisas aconteciam por acaso. Se assim achassem não teriam dedicado suas vidas à literatura, à politica e ao jornalismo. Lembremos: José Fernandes, apesar de graduar-se em Direito, fundou dois jornais na adolescência – O estudante de Atenas e a Gazeta Arariense; e Humberto de Campos foi jornalista militante.

E, falando em jornalismo, aproveito esse dedinho de prosa, nesta memorável noite, para trazer o tema da liberdade de imprensa e de expressão nos dias atuais, que, a meu juízo, merece atenção especial. Vejo com preocupação alguns arroubos mais ousados, de alguns que pensam que o jornalismo tem de estar afinado com uma ideologia, quando jornalista de verdade tem de levar a notícia como ela é, mesmo que contrária à sua ideologia. É fato que ninguém consegue ser imparcial, pois, se dominamos apenas ínfima parte da verdade, somos todos parciais. Contudo, o jornalismo tem de ser conduzido com isenção, apresentando os fatos como são, e não como gostaria que fossem; sempre trazendo pontos de vistas diferentes sobre um mesmo tema ou fato, e não escolhendo a versão que vai ao encontro de suas preferências ideológicas; e publicar todas as notícias relevantes, e não apenas aquelas que interessam e que tem como objetivo influenciar politicamente os ouvintes, telespectadores ou leitores.

Infelizmente, vejo que hoje alguns esqueceram esses princípios básicos do jornalismo e, com isso, a liberdade de imprensa está perdendo a vida por suicídio. Suicídio porque sua morte, nesse contexto, é um ato deliberado e realizado pela própria vítima do crime, ou seja, o jornalista.

Mas também presenciamos tentativas de homicídio à liberdade de imprensa e de expressão. Dois exemplos. Um recente, a ação proposta pelo Ministério Público Federal visando cassar a concessão de funcionamento da JovemPan; outro, de tempos atrás, a ameaça constante de não renovação da concessão da Rede Globo.

Sobre a liberdade de expressão, preocupa-me uma tal lei de combate a fake news, que pode inviabilizar a expressão plural de todos aqueles que desejam expor suas opiniões e pontos de vista nas redes sociais. A justificativa dada por aqueles que defendem a lei seria o combate à prática de crimes nas redes sociais, como a pedofilia, a incitação à prática de crimes, bem como os ataques à honra, caracterizados como crimes de calúnia, injúria e difamação e as notícias distorcidas, pelo viés ideológico.

Primeiro, os crimes de pedofilia, incitação e contra honra existem fora das redes também, assim como outros inúmeros crimes. Se estes, da vida cotidiana, são combatidos pela polícia utilizando a viatura de polícia; aqueles, da vida digital, devem ser combatidos pelos meios tecnológicos existentes. Segundo, o marco civil da internet, que regra o funcionamento das plataformas digitais, é suficiente para coibir parte disso. E digo parte disso, porque, como acontece na vida cotidiana, a maioria desses crimes acontecem na deep web e não na luz do sol. Logo, não será uma lei que trará esses criminosos para a luz, persistindo a necessidade da polícia realizar a sua caçada e levar às barras da Justiça.

E, terceiro, quanto à distorção das notícias, não creio que isso seja ação realizada apenas nas redes sociais. A imprensa tradicional, pelo viés ideológico, de um lado ou de outro; ou mesmo pela pressa em dar a notícia em primeira mão tem promovido fakes, aqui e alhures. Dois exemplos apenas, dentre inúmeros: o caso da Escola de Base em São Paulo e o caso do computador do filho do Presidente Biden, nos Estados Unidos. Fakes, ou a velha mentira, são produzidos pelo ser humano desde quando Deus fez luz na Terra e não será uma lei que conseguirá acabar com isso. O que pode acontecer, repito, é um cerceamento brutal da liberdade de expressão, pois muitos poderão ser criminalizados por suas opiniões.

Fiz questão de trazer as minhas preocupações sobre tais temas, liberdade de imprensa e de expressão, mesmo sendo esta uma noite de comemoração, pois enxergo as academias como laboratórios do pensamento, em que se discute, experimenta, desenvolve raciocínios e depois apresenta ao público os resultados que poderão se transformar, ou não, em evoluções positivas do saber. Academias são laboratórios do saber, que muitas vezes poderão apresentar soluções que não serão aplicadas, mas noutras poderão contribuir na transformação do homem e, com isso, ajudarão na evolução da sociedade, que, sabemos, é constante e permanente.

E hoje, mais do que ontem, com a profusão de informações instantâneas, com os tiktoks da vida e com a diminuição de leitores, a Academia, essa que pensa, que é um laboratório de ciência pura do pensar, pode contribuir muito, mesmo

que de mil ideias, como acontece no laboratório tradicional, apenas uma se transforme em ciência aplicada. Mas, voltando especificamente a esta Academia: estamos diante de uma jovem Casa moderna. E reforço: só tornada concreta graças à boa vontade e ao comprometimento de cada um dos que a formam. Tanto que, à medida que produz, a Academia inteira se renova permanentemente. Muda para crescer, para evoluir sem perder de vista de onde viemos.

Uma vez empossada, passo agora ao que considero minha primeira função perante os membros desta Academia: a de reverenciar os patronos que a dignificam. Nomes como Padre Antônio Viera, Sotero dos Reis, João Lisboa, Maria Firmina dos Reis, Viriato Correa, Artur e Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Laura Rosa, Humberto de Campos, Dilú Melo, Bandeira Tribuzi. Todos os quarenta, entre outros, a alimentar o espírito que, como nos revela Gonçalves Dias, “‘se gera e se nutre em almas grandes e, por isso, não morre, só cresce e se purifica”.

Nossa Academia – e com essa expressão quero demonstrar que já tomei posse como uma das moradoras da Casa

temapreocupaçãocom“adifusãodaculturaedaliteraturaludovicense,adefesadastradiçõesliterárias do Maranhão e, particularmente, de São Luis, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior”, como estabelece o art. 2º do seu Estatuto. E, pela força desses compromissos assumidos, confesso a minha empolgação em poder participardestaAcademiae,dentrodas minhas limitações, podercontribuir,dealgumaforma,com os debates, do chá das seis, calorosos e, espero, acalorados. Muito obrigada.

A confreira (Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis), Sônia Amaral, no Bom Dia (Mirante), falando sobre o lançamento do "Grupo Maria Firmina", no TJMA.

30 -
ODYLO COSTA, FILHO
CLORES HOLANDA SILVA - (Fundadora)

ANA LUIZA ALMEIDA FERRO - (Fundadora

ArtigoqueapresenteiemcongressointernacionaldedireitoshumanospromovidopelaUniversidade deCoimbra.Agorapublicadoedisponívelnosite cidhcoimbra.com,abaPublicações2022.

31 - MÁRIO MARTINS MEIRELES

ApromotoraeacadêmicaAnaLuizaAlmeidaFerronoestúdiodaRádioTimbirafalandodasériede homenagenspromovidapelaAcademiaMaranhensedeLetrasaoBicentenáriodoNascimentodo PoetaGonçalvesDias.Nestaquarta-feiraédiadeCortejonocentrodacidade,comconcentraçãoàs 16h30naAML.

Ministrei palestra sobre Gonçalves Dias no Colégio Militar Tiradentes, na Raposa, a convite do SESC.

ALDY MELLO DE ARAÚJO - Fundador

32 - JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO

CERES COSTA FERNANDES - 1ª. Ocupante

DO AMOR CORTÊS E DAS MUSAS

( no bicentenário de Gonçalves Dias)

Não há poetas sem musas, ponto. Condição sine qua non para a existência de poemas de amor. Quem fala em Dante, lembra Beatriz; em Petarca, lembra Laura; em Abelardo, lembra Heloísa; em Gonçalves Dias, lembra Ana Amélia. Apenas para ficarmos entre os casais mais votados.

O exercício literário de adoração à mulher é criação do amor cortês, na Idade Média. Ao sagrar-se cavaleiro, o jovem prometia defender seu Deus, sua honra e sua dama. Por um simples sorriso da “dona”, ele ia às justas ou partia para a guerra, levando como prenda um lenço, um cinto, um objeto qualquer dado por ela, a defender suas cores até a morte.

De origem controvertida, o amor cortês, que partiu da Provença para toda Europa, pode ter nascido da necessidadedosmenestréisejograisagradaremàsricassenhorasdosuldaFrança:únicasemtodoocontinente a poder herdar bens e dispor deles – uma espécie de feministas da época. Por se postarem os mancebos em adoração às suas damas, alguns historiadores da literatura universal quiseram ver a pretensa origem do preito amoroso no culto a Nossa Senhora. Essa afirmação, defendida pelos românticos, carece de base histórica, pois as manifestações do amor cortês precedem às dos poetas mariológicos, não havendo notícia de adoração à Virgem na primitiva Idade Média.

De qualquer forma, desenvolveu-se um grande número de poetas mariológicos, que poetavam paralelamente aos trovadores provençais, fazendo como que um “intercâmbio” de influências: enquanto os trovadores adoravam a mulher, colocando-a como deusa, com um amor prenhe de delicadeza espiritual; os poetas cantores de Maria introduziam tons em erotismo místico em suas composições.

O traço distintivo maior destas musas era a inacessibilidade. Para ser musa tinha que ser inatingível. As “atingíveis” desciam ladeira a baixo, da categoria de musa para de amante; ou quiçá para a de esposa (esta última categoria, mais rapidamente destituída das prerrogativas poéticas enaltecedoras que a anterior).

Petrarca, adepto do neoplatonismo, persegue a perfeição da “ideia” e defende que o amor não necessita da consumação amorosa, pois o amante encerra em si o ser amado, estando assim completo. Vide Camões, seguidor do neoplatonismo (somente na poesia, pois teve movimentada vida amorosa na realidade – que

34 - LUCY DE JESUS TEIXEIRA

ninguém é de ferro), nos seus sonetos: “Transforma-se o Amador na Cousa Amada” e “Alma Minha Gentil, que te Partiste.”

O Romantismo, herdeiro do ideário medieval, mormente na lírica amorosa, vai cultuar, do mesmo modo, a mulher idealizada - se bem que menos deusa e mais mulher – mas igualmente proibida. A escola é idealista, execra o cotidiano, o prosaico. Nos romances românticos, o clímax é a união dos amantes via casamento, após o que, aação decai eoautorfazsó ligeiras referênciasaos fatos posteriores aohimeneuerematacom ofamoso “foram felizes para sempre.”

Asgrandesmusasdaliteraturauniversal,algumasjáreferidas,jamaiscasaramcomseuscantores.Sechegaram a casar, tiveram a felicidade de morrer em seguida, escapando, por esta via, da indiferença do amado e do esquecimento da posteridade. A paixão, inspiradora dos grandes poemas, que resiste a sofrimentos, guerras, perseguições e quejandos; não resiste ao cotidiano. Note-se: dizemos paixão, que é um estado patológico do ser humano, compatível com a loucura, difícil de ser vivida as 24 horas do dia; não amor, sentimento menos exaltado, mais duradouro.

Diríamos, sem querer fazer “blague”, em boa hora morreram Romeu e Julieta. Já pensaram o que seria do famoso par, após alguns anos de convivência consentida pelas famílias? Capuletos e Montecchios, em santa paz, a cuidar dos netos? Podemos imaginar Julieta, irritada: “Não dá para tirar essa toalha molhada de cima da cama”? E Romeu: “Ah é? E o meu barbeador que você usou de novo”?

Sábia D. Lourença que, recusando a mão da filha a Antônio Gonçalves dias, gênio poético, sim, mas D. Juan, volúvel e mulherengo, livrou-a a condição de esposa e deu-lhe a interdição requerida à categoria de musa. Musa é distante, musa é inatingível, Igual sorte não teve a mulher de Gonçalves Dias. Quem, fora os pesquisadores, sabe seu nome? Todos nós sabemos o nome de Ana Amélia, a inspiradora do amor imorredouro. Musa à altura de Beatriz e Madona Laura. Todos nos emocionamos com o amor que não foi consumado jamais; chama que não se apagou.

Por isso neste bicentenário de nosso poeta maior, não lamentemos a crueldade do fado que separou Gonçalves Dias deAnaAmélia, esim louvemos asabedoria doDestinoque,tirando-lhesaoportunidadedeserem felizes, deu ao cantor e à sua Musa a imortalidade e nos legou, a nós, seus cultores, os mais belos poemas inspirados nesse amor impossível, “Ainda uma Vez - Adeus”, “Leviana”, “ Teus Olhos”, “És Tu?”, “Se se Morre de Amor” . “Retratação” e outros tantos poemas que embalam nossas emoções.

E, se “o poeta é um fingidor?” Ainda assim, não importa o real, e sim a sua versão: a que ficou nos poemas. Gonçalves Dias e Ana Amélia vivem e embalam o imaginário amoroso dos casais apaixonados, sobretudo o coração dos ludovicenses e caxienses.

OS REFRESCANTES SABORES DA ILHA E SEU MAGO

Ceres Costa Fernandes

e todo tempo é calor em Upaon-açu – é tempo de sorvete. Do sorvete de coco das caixas de zinco com gelo que resiste nas caixas modernas de alumínio forradas de isopor, ainda carregado no ombro do sorveteiro – vêeete coco. Ah, o sorvete de coco na casquinha! Tão bom e tão proibido: “Você sabe com que água ele é feito?” Inquiria meu pai, dedo em riste. Nem queria saber. Aprendi com meu tio Janu –mais conhecido como Zoquinha – que comidas muito temperadas ou de procedência duvidosa, se gostosas e imperdíveis, a gente come “pelas barbas de São Pedro” e todo mal é exorcizado. O sorvete de coco tem uma prima ancestral, também de molecada circundante e procedência duvidosa – e apesar disso, ou até por isso –muito saborosa e desejada: a raspadinha.

Neste tempo de calor

Patrimônio alimentar da humanidade (não é?), a raspadinha é registrada historicamente desde os tempos de Nero: ele mandava vir o gelo das montanhas para ser misturado aos sucos de frutas servidos nos festins de Roma. É, pois, ancestral registrada do sorvete. Nos banquetes, os romanos a sorviam reclinados nos divãs, dois deliciosos pecados capitais juntos: gula e preguiça. Só me dano é que, nos filmes de época, não sei o porquê, Nero sempre está saboreando cachos de uva; não é justo, e as raspadinhas? Morro de inveja dos romanos e de saudade das raspadinhas. Não venham me dizer que ainda resistem algumas na Praia Grande. São feitas com xarope industrializado, não mais com suco de frutas de procedência duvidosa.

Sorvete é arte, ponto. É perecível? Então é uma instalação; quem nisso puser dúvida, lembre os sorvetes de creme e o de ameixa (meu preferido) saídos das mãos do Lúcio. Quem de nós, ilhéu, viveu nesta São Luís, agora quatrocentona, dos anos sessenta ao começo dos oitenta e não soube a fama, ou teve o excelso prazer de provar dos sorvetes do mago conhecido apenas por Lúcio. Ou melhor, o Lúcio do Hotel Central?

O curioso é que não lembro a figura dele. Nunca o vi. Conheci o nome, a celebridade e o sorvete. Todos os saídos do Hotel Central eram “do Lúcio”. Às vezes penso que Lúcio era mais uma marca, um mito que uma pessoa real. Existiria de fato? Era mais de um? Talvez fosse um Homero, um Shakespeare do sorvete, cuja autoria pode até ser contestada, mas as criações, únicas e inimitáveis.

Confesso que a minha primeira vez foi em Fortaleza; quero dizer, a primeira vez em que saboreei, com ritos de iniciação, um sundae, novidade máxima, na época – não havia em São Luís. A cerimônia se deu nas Lojas Americanas de lá, acompanhada de Guaraná Champanhe. Comuniquei a aventura aos amigos do Largo de Santiago erecebi devolta umainformaçãosolenequemeassanhou: noLargodoCarmo,umasorveteriaservia um “sorvete enfeitado” que queria parecer um sundae. Quando convenci meus pais a irmos lá para conferir, ela, vida curta, tinha fechado. Decepção amarga.

Muito tempo depois, outra tentativa: a sorveteria no andar de cima da Loja Acácia. Sorvetes bons, mas nada de sundaes. Os verdadeiros surgiram na loja Ocapana da Rua Grande, ponto de encontro dos jovens. São Luís, então conheceu Banana Split, Vaca Preta, Vaca Dourada. Chovia a meninada por lá. E, é bom dizer, com os pais “acompanhando”.

E quem se lembra do inicio da sorveteria Elefantinho? Caiu no gosto popular oferecendo sorvetes de sabores da terra; bacuri, cupu, juçara, cajá, murici, milho verde, tapioca e outros que tais. Outras tentaram, mas foi ela que mudou a preferência dos nativos; antes era chocolate, creme, ameixa, morango, caramelo, coco. Frutas da terra, só para picolés, assim mesmo com morango (artificial) ganhando disparado das outras. De nome estranho e lugar longe dos points da moda, lá no Diamante, foi campeão de vendas anos a fio. Ponto de referência obrigatório para turistas, surpresos com a variedade das nossas frutas. A descoberta das excelências do cupu, bacuri e juçara, os levavam ao êxtase gastronômico. Essa sorveteria tem o mérito de ter acordado os maranhenses para a riqueza e valorização do sabor de suas frutas, tão fora de moda na época em que sãoluisenses queriam ser cariocas.

Hoje, temos sorveterias sem conta em São Luís (alguém se lembra da do Valentim Maia?), umas muitas boas, outras assim, assim. Mas, neste rememorar de tantos anos (quantos?) de raspadinhas e sorvetes, quero deixar minha homenagem aos sorveteiros anônimos do sorvete de coco; à raspadinha da Praça Deodoro (quando lá era um recanto tranquilo e de convivência); ao sorvete do Lúcio (viverá ainda?) e ao inovador Elefantinho, que deixou São Luís com mais gosto de São Luís.

Entrou pelo bico do pato saiu pelo bico do pinto, quem tiver as suas predileções, pode juntar mais cinco.

JOSÉ NERES - 1ª. Ocupante

O (RE)NASCER DE UM LIVRO E DE UMA ESCRITORA

De modo bastante frio e técnico, um livro pode ser conceituado como um objeto composto por determinado número de páginas que, após impressas, são encadernadas e comercializadas ou ofertadas a alguém, sendo que em nosso momento atual, nem mesmo há mais a necessidade de imprimir e encadernar um trabalho para ele ser considerado um livro, pois estamos na era dos chamados E-books. No entanto, mais que um objeto, físico ou virtual, um livro pode ser visto como um repositório de histórias, de momentos e de sonhos. E não estamos falando aqui das inúmeras narrativas criadas pelas pessoas com habilidade para a ficção, ou dos versos elaborados pelos poetas, nem dos diálogos minuciosamente trabalhados pelos teatrólogos, ou mesmo das páginas técnicas e/ou teóricas, quase sempre dirigidas a um público específico…

Não, não é isso. Falamos aqui daquelas histórias que se escondem por detrás das páginas dos livros e raramente chegam aos olhos e aos ouvidos dos leitores. Todo livro é resultado de um sonho, de um longo diálogo com tantas vozes que ecoam na mente dos escritores, mas que nem sempre conseguem se materializar em palavras escritas.

Por exemplo, em 1983, portanto há quarenta anos, uma jovem com pouco mais de duas décadas de vida, nascida em São Luís do Maranhão, que acabara de iniciar seus estudos em Filosofia na Universidade Federal do Maranhão, curso este que, após alguns momentos de trancamento, foi retomado em 1998, resolveu realizar o sonho de trazer à luz um livro… um livro com poemas.

Há exatamente quatro décadas, a hoje mestra, doutora, pós-doutora e professora da UFMA, Rita de Cássia Oliveira publicava seu livro (Re)Nascer Mulher, que, como o próprio título já indica, é centrado em um olhar

38 - DAGMAR DESTÊRRO E SILVA
Fonte: José Neres – Professor. Membro da AML, ALL, APB, Sobrames-MA Imagem cedida pelo autor, que se responsabiliza pelos seus direitos autorais.

voltado para o universo feminino. Porém, há outras temáticas que também chamam a atenção no pequeno livro de 44 páginas, contendo um total de 32 poemas.

Consciente e visivelmente revoltada com os modos pelos quais as mulheres foram tratadas ao longo da História da Humanidade, o eu lírico, no poema “Renascer”, que abre o livro, diz, com todas as palavras que: Não quero ser só bandeira: antes, serei atos na práxis de um vir-a-ser parido em convulsões de uma nova era. E ressurgirei inteiramente mulher! (pág. 9)

Além das denúncias com relação aos descasos com que as mulheres foram tratadas ao longo dos tempos, a autora também encontrou espaço em seu livro para tecer críticas sociais bastante diretas com relação ao regime político da época que, embora já anunciasse seu declínio, ainda espantava e oprimia as pessoas ávidas por liberdade plena e irrestrita, mas cercada de atitudes responsáveis. Dessa forma, nas estrofes finais do poema “Aceitação”, é possível encontrar este inequívoco recado: Abre a cova e enterra bem fundo a ditadura. Para que, nunca mais impeça teu riso de homem livre. (pág. 30)

Engana-se, porém, quem acredita que o livro é composto apenas de explícitas denúncias sociais. Nele há também lirismo-amoroso, pitadas de erotismo e desejo de mergulhar na essência do Ser Humano, não importando o gênero, o credo ou a etnia a que pertença a pessoa. Desse modo, o leitor, ao se deparar com o poema “Vazio”, percebe que existe uma clara, mas nem sempre perceptível, relação entre a permanência da/na vida e a efemeridade da existência humana, tudo isso em um texto que parece querer dialogar com as temáticas bastante exploradas por Cecília Meireles, conforme pode ser visto a seguir: O mundo. O mundo e o tempo a escorrer entre meus dias sedentos de primaveras. – Quem me dera achar a rosa dialética e poder decifrar o enigma do começo!… (pág. 26)

Em quarenta anos muitas coisas mudam. Aquela quase menina que integrava o Movimento Arte e Vivência e que dirigia a Revista Vivência, ao mesmo tempo em que tentava dar andamento a seu curso de Filosofia e coordenava uma escola popular no bairro do Sacavém, conseguiu atingir muitos de seus objetivos: tornouse mestra e doutora em Filosofia, coordenadora de grupos de pesquisas, publicou diversos artigos em revistas especializadas, publicou, em 2004, outro livro de poemas – Poiesis -, e um longo ensaio, fruto de sua tese de doutoramento, intitulada A via longa da existência errante: Uma interpretação d’O Guesa, de Sousândrade, à luz da Hermenêutica de Pau Ricoeur, e tem se tornado uma referência nos estudos líterofilosóficos.

Realmente, um livro não pode ser visto apenas como um objeto que contém folhas, capa, tinta e palavras… Um livro pode ser visto como um local privilegiado onde se encontram histórias… histórias de vidas que merecem ser estudadas e contadas, capazes de, longos anos depois, fazer uma poeta adormecida (Re)Nascer, não para si e seus entes queridos, mas para quem mal sabe das lutas enfrentadas para que ele chegasse, merecidamente, onde chegou.

as promessas.pdf

AS PROMESSAS DE LAURA ROSA

José Neres 1

INTRODUÇÃO Trazemos de volta aos leitores o livro As Promessas, da escritora, professora e acadêmica Laura Rosa, que ficou conhecida no Maranhão mais por ser a primeira mulher a ser eleita e a tomar posse nos quadros da Academia Maranhense de Letras2 do que por sua grande contribuição para a literatura e para a educação. Este livro de contos, publicado originalmente, em 1910 encontrava-se praticamente esquecido e, para alguns pesquisadores seria uma obra irremediavelmente perdida, porém um único exemplar foi encontrado no acervo da referida Academia, registrado na biblioteca daquela Casa sob número 2.584, em 23 de outubro de 1991, conforme consta no carimbo institucional.

Em excelente estado de conservação, demonstrando que foi pouco manuseado nesses mais de cem anos de existência, o exemplar traz uma dedicatória de próprio punho da escritora com os seguintes dizeres:

À boa amiga d. Angélica mais uma prova da grande amizade que lhe consagra autora Laura Roza.

S. Luiz - Maranhão 25 - 1 - 912.

Localizado o exemplar, ele foi redigitado, a ortografia e a pontuação foram atualizadas, notas foram adicionadas e o texto foi novamente diagramado, desta feita com a adição de imagens elaboradas pela

tecnologia da Inteligência Artificial. Desta forma, o livro volta a circular por meios digitais e fica à disposição de leitores e pesquisadores

ERA UMA VEZ... UMA VIOLETA DO CAMPO3

Filha da senhora Cecília da Conceição Rosa com um cidadão que não assumiu a paternidade da criança, Laura Rosa nasceu em São Luís, no dia 1º de outubro de 1884, teve como padrinhos o casal formado pelo Dr. Antenor Coelho de Souza e a professora Lucília Wilson Coelho de Souza. Esse contato favoreceu sua imersões no mundo da leitura e por uma ativa colaboração em jornais e revistas4 .

No final de 1909, ela concluiu as aulas do Curso de Normal, colando grau no ano seguinte. Logo após o fim de suas aulas, foi convidada para ser uma das conferencistas de um evento comemorativo pelo 130º aniversário de fundação da Biblioteca Pública. Na ocasião, apresentou um trabalho intitulado “As Crianças”, no qual traçou um breve perfil histórico de como as crianças eram educadas ao longo dos tempos em diversas sociedades.

No segundo momento, dava conselhos relativos a como as mães deveriam cuidar de seus filhos. No ano seguinte, em 1910, publicou o livro de contos intitulado “As Promessas”. Segundo informações registradas na época do lançamento, os textos dessa obra eram dirigidos tanto ao público adulto quanto ao juvenil. Com narrativas que conduziam a um fundo de moralidade e de noções sobre educação. Logo após sua formatura, Laura Rosa passou em um concurso e foi designada para lecionar em uma escola mista no município de Caxias, onde ficou por alguns anos e estabeleceu muitos laços afetivos e profissionais. Depois conseguiu transferência para sua cidade de origem, onde ministrou aula por anos, até sua aposentadoria em 1944. Após o falecimento de sua madrinha, retornou para Caxias, onde novamente foi muito bem recebida e onde veio a falecer, no dia 14 de outubro de 1976, aos 92 anos.

Os trabalhos de Laura Rosa permaneceram no ostracismo durante muito tempo. Até que a professora Diomar das Graças Motta, em sua tese de doutoramento estudou a autora e recuperou parte da obra e da biografia da escritora, recolhendo, posteriormente, e publicando em forma de livro a conferência “As Crianças” (Edufma, 2017, 53 páginas) e alguns de seus poemas dispersos em jornais e revistas, sob o título de “Poesia Reunida de Laura Rosa” (Edições AML, 2016, 84 páginas). No entanto, é sabido que vários dos poemas de Laura Rosa ainda podem ser localizados em jornais, assim como parte de sua prosa, que ainda não foi explorada e quem sabe um dia pode ser resgatada e transformada em obras que deleitem os admiradores dessa escritora que precisa ser mais lida e analisada.

LENDO AS PROMESSAS

À primeira vista, o livro As Promessas é uma obra bastante simples, escrita e publicada no início do século XX. No entanto, em uma leitura mais acurada é possível perceber-se que há muitas temáticas que podem ser estudadas e exploradas. Alguns tópicos podem chamar a atenção dos leitores durante a leitura de As Promessas, como, por exemplo, os seguintes: Pontuação diferenciada

Basta começar a ler os contos escritos por Laura Rosa percebermos que ela apresentava um estilo bastante peculiar quanto ao uso dos sinais de pontuação, principalmente o uso dos travessões como indicadores das falas das personagens. Às vezes, em um mesmo conto é possível observar falas com ou sem o uso dos travessões ou mesmo o fato de a autora indicar, durante os diálogos, uma personagem com e outra sem a presença desse recurso gráfico na hora de iniciar ou alternar suas falas. Porém isso, apesar de ser uma curiosidade estilística da autora, não traz ganhos ou prejuízos para o leitor ou para a intelecção da narrativa. Outro detalhe também é o uso constante das reticências e das exclamações ao longo dos textos. Às vezes esses recursos visam indicar os estados de espírito das personagens, em outros momentos demonstram a claudicância na fala dessas personagens.

Nesta edição, tentamos manter a pontuação o mais próximo possível dos originais, alternado (suprimindo ou acrescentando) sinais gráficos de pontuação apenas quando houvesse comprometimento de algumas regras gramaticais que não estivessem diretamente relacionadas com as regras basilares da norma, como é o caso da separação de sujeito e predicado ou verbo e seus respectivos complementos com vírgula, ou alguns

casos que pudessem insinuar duplicidade de sentido sem necessidade estilística. Mas foram poucos esses casos.

Conflitos entre gerações

Muitos dos contos de Laura Rosa estão centrados na relação direta de conflito entre pessoas de gerações distintas. Em alguns casos isso se torna mais evidente, como é o caso de “O Sopro de Deus”, “Miss Rosa” e “Meu Primeiro Conto”, porém, em outros textos, embora esse possa não ser o centro de interesse direto da autoras, diversas situações deixam claro que as personagens pertencem a épocas distintas e que isso pode ocasionar situações tensas e/ou risíveis.

Mas também a diversos casos em que os diálogos entre as pessoas mais jovens e as mais experientes tornam o texto mais dinâmico e dramático, como ocorre em “Promessas”, “Fragmento” e “Na Praia”, contos nos quais esse embate entre gerações se torna essencial para o andamento do enredo.

Ausência do elemento paterno

Os estudiosos da Psicologia e da Psicanálise possivelmente irão perceber que a figura paterna não é um elemento recorrente nos contos de Laura Rosa. Seria isso um reflexo do fato de ela aparentemente não manter relações com um pai que não a reconheceu e não lhe deu um sobrenome? Mas quando os pais aparecem – “O Dico”, “O Galo da Missa” e “Três que Esperam” – a interação se dá em forma de gritos, afastamentos e castigos. Além disso, diversas são as personagens do livro que se referem ou mantém relação de proximidade e de diálogo com a genitora, o que pode também ser visto como reflexo de uma época ou algo premeditado pela autora.

Importante notar que as mulheres mais velhas quase sempre são apresentadas como viúvas ou que, como ocorre no caso de “Miss Rosa”, haja um evidente apego à memória da mãe e um total apagamento do pai, o mesmo ocorrendo em “Dona Águeda” e em “A Louca da Fonte”.

Em “O Sopro de Deus” o pai é apenas citado, mas sua relação com as filhas não é explorada. Em vários contos do livro, a autora insinua uma atitude matriarcal em oposição ao patriarcado tão evidente no momento histórico retratado. Há muito a ser estudado sobre as relações parentais dentro dos contos de Laura Rosa.

Loucura como Fuga

Outro tópico que pode ser bastante explorado nos contos de A Promessa é a relação das personagens com a chamada perda da sanidade mental. Alguns traumas sofridos pelas personagens têm sua culminância na loucura, como ocorre em “A Louca da Fonte” e em “na Praia”

Interessante notar que, em casos assim, a loucura é vista também como uma informação pedagógica, já que a história é reproduzida os acontecimentos são vistos como exemplares dentro das coletividades onde se passou o fato narrado. Praticamente a loucura é tida como um aviso às gerações seguintes, para que não se repita o fato que levou as pessoas àquela situação explorada nos textos.

No mundo dos sonhos

Em vários contos a presença dos sonhos é essencial para o desenrolar das narrativas e para o desenvolvimento das peripécias. Além do caso de Dona Águeda, protagonista do conto homônimo, que tem obsessão por desvendar os sonhos que lhes são contados, tal recurso aparece também de modo bastante visível em “Conto de Natal” e em “Fragmento” alegorias muito bem elaboradas e que enlaçam questões sociais, religiosidade e fantasia em um mesmo bojo, fazendo com que o leitores coloque em situação de empatia com as personagens.

Porém o uso do recurso da temática dos sonhos pode apresentar efeitos diferenciados de acordo com a ideia geral de cada um dos contos. Em “Dona Águeda”, a intenção é claramente divertir o leitor e questionar algumas atitudes – inclusive no espectro das preferências políticas e ideológicas – da protagonista.

Já nos dois outros contos acima citados, o interesse da autora é elevar ao máximo a tensão entre as dificuldades econômicas e a necessidade de pelo menos poder sonhar para satisfazer alguns desejos ou para projetar um laivo de esperança diante das adversidades impostas pela vida.

Perfis de Mulheres

Laura Rosa aproveita seus contos para traçar alguns perfis de mulheres. Alguns são extremamente estereotipados até mesmo para a época retratada. É o caso da mãe entrevada que aspira a um futuro melhor para a filha jovem e bonita (A Louca da Fonte), da dona de casa exemplar que, mesmo em situação de pobreza mantém a casa como exemplo de asseio e de organização (A Promessa, Na Praia), da esposa e mãe que protege o filho contra os rompantes do pai (O Dico, O Galo da Missa).

Porém há casos em que as personagens femininas se comportam de modo não muito comum para o momento histórico e chegam a chocar outras personagens com suas atitudes inusitadas. Um bom exemplo dessa quebra de paradigma é o caso de Miss Rosa, moça rica, com educação esmerada e que toma a decisão de pedir a mão de seu amado em casamento, atitude essa que choca o olhar tradicional de Dona Amância, que não consegue entender a decisão da jovem amiga. A conversa entre as duas é um dos pontos altos de todo o livro de Laura Rosa, por provocar não penas uma entidade ficcional, mas toda uma sociedade patriarcal e tradicionalista.

Outra personagem que tem um comportamento destoante com relação às demais é Sinhá, do conto “O Sopro de Deus”. Ela não aceita o fato de ser assediada por um homem que tem praticamente a idade de seu pai e que não traz em sua estampa o perfil esperado um galã. Suas atitudes não são aceitas por pessoas que veem nela uma espécie de continuidade de uma tradição ancestral. Enquanto todos consideram a atitude do assediador como algo normal ou mesmo engraçada, Sinhá, que é ainda uma adolescente vê seu pretendente apenas como “um maníaco”, avisando a todos os presentes que ela não estava preparada para considerar normais situações como aquela que se desenvolveu durante a festa de aniversário da irmã mais velha

Em “O meu primeiro conto” que, propositalmente, é o último deste livro, o leitor é levado a mergulhar em uma mescla de estudo de costumes com pacto autobiográfico e escrita de si em uma narrativa carregada de leveza, mas que demonstra como alguns traumas da infância podem marcar a vida adulta e até mesmo demarcar caminhos que serão percorridos pelas pessoas. Afastada de sua mãe e de sua madrinha de batismo – aparentemente suas protetoras naturais - a jovem Laura se vê encurralada em um mundo que tolhe sua própria infância e a faz detestar tanto a literatura quanto a matemática, pois ler e ter que decorar I-Juca Pirama (Gonçalves Dias) e a Judia (Thomaz Ribeiro), bem como resolver inúmeros cálculos aparentemente básicos, mas que atormentam a vida de uma criança, são duas formas que os adultos encontram para demonstrar poder.

Mas a menina Laura tem atitudes consideradas rebeldes e cria uma espécie de alter ego para sobreviver às intempéries da vida de menina do interior. O livro traz ainda uma gama de outras temáticas que podem ser exploradas por pesquisadores, pois. Embora não traga profundas inovações de cunho estilístico ou temático, já apresenta ao leitor do início do século XX algumas atitudes inquietantes, sem contar seu grande valor histórico para as letras brasileiras

1 Membro da Academia Maranhense de Letras (Cad. 36), da Academia Ludovicense de Letras (Cad. 38), da Academia Poética Brasileira (Cad. 04) e da Sobrames-MA. Graduado em Letras, História, Pedagogia e Design Editorial. Mestre em Educação, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Membro dos Grupos de estudo Gelma e Formas e Poéticas do Contemporâneo

2 Segundo a Antologia da Academia Maranhense de Letras - Fundadores, organizada por Carlos Gaspar, Caroline Castro Licar e Claunísio Amorim Carvalho (Edições AML, 2023), antes de Laura Rosa, foi eleita para a AML, em 1935, a escritora Maria Luiza Lobo, mas ela não tomou posse, pois perdera os prazos regimentais. Sendo Então Laura Rosa a segunda mulher eleita pela AML, mas a primeira a tomar posse e efetivamente fazer parte dos quadros de membros da AML.

3 Violeta do Campo foi o pseudônimo utilizado por Laura Rosa em diversos poemas

4 Retomamos aqui, com diversas modificações e ajustes, nosso artigo intitulado Laura Rosa, Nossa Violeta do Campo, que foi publicado em, 20 de julho de 2022, no site Região Tocantina. https://regiaotocantina.com.br/2022/07/20/laura-rosa-nossavioleta-do-campo/. Acesso em 20.07.2023.

UM TRAÇO PECULIAR DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

José Neres – Professor.

Com a anuência e a permissão do nosso amigo e editor, o professor Doutor Marcos Fábio Belo Matos, passamos a partir desta semana a ocupar este espaço às segundas-feiras neste prestigiado site que cobre não apenas a Região Tocantina, mas boa parte das notícias e acontecimentos de todo o Brasil.

Será uma oportunidade de, semanalmente, falar sobre livros, peças teatrais, ambiente, educação e qualquer outro assunto que esteja relacionado com os aspectos culturais e nosso Estado e de nosso País.

Nesta primeira semana, trazemos à baila algumas curiosidades acerca de uma das mais importantes personalidades nacionais da primeira metade do século XX – o poeta, compositor e teatrólogo Catulo da Paixão Cearense, um homem que foi muito respeitado por sua produção artística, mas que, como ocorre com muitos outros nomes, encontra-se quase totalmente esquecido.

Filho do casal formado por Amâncio José da Paixão da Silva, que depois retirou o Silva e adicionou sua alcunha Cearense ao nome, e da senhora Maria Celestina Braga da Paixão, Catulo da Paixão Cearense veio à luz, segundo seu biógrafo mais recente – Luiz Américo Lisboa Junior – em 31 de janeiro de 1866. Sobre sua data de nascimento, é importante lembrar que há informações diversas espalhadas em livros, jornais e em páginas da internet. O poeta do Luar do Sertão, ao falecer em 10 de maio de 1946 – em um domingo de Dia das Mães – era reconhecido, amado pelo público e aclamado pela crítica.

Autor de obras memoráveis, como Meu Sertão, Sertão em Flor, O Evangelho das Aves, O Sol e a Lua e Um Boêmio no Céu, Catulo da Paixão Cearense, seja com seus poemas em livros, jornais e revista, seja com suas composições musicais, encantou diversas gerações de amantes das letras e até hoje é visto como exemplo de poeta que sabia utilizar com perfeição tanto a escrita gramaticalmente escorreita quanto as variantes sertanejas. Composições suas, como Luar do Sertão, A Flor do Maracujá e Flor Amorosa já foram diversas vezes regravadas por intérpretes dos mais variados estilos musicais.

Embora tenha sido recorrentemente instado a candidatar-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, o poeta-compositor por diversas vezes deixou claro que não tinha disposição para pedir votos. No entanto, em 1946, ao ser sondando pelo escritor José Nascimento Morais, que à época estava à frente da Academia Maranhense de Letras, o autor de O Boêmio no Céu aceitou fazer parte da Casa de Antônio Lobo, sendo eleito para a Cadeira nº 9, em sucessão ao poeta Inácio Xavier de Carvalho, mas não chegou a tomar posse fisicamente, pois, mesmo tendo elaborado um singelo discurso, faleceu antes da cerimônia, sendo reconhecido postumamente como membro da AML.

Em homenagem a toda a trajetória artística de Catulo, a revista A Noite Ilustrada dedicou-lhe uma edição especial com 38 páginas nas quais praticamente todas as facetas da vida e da obra do grande poeta maranhense foram analisadas.

Porém, mesmo cercado de glórias, admirado por uma multidão e reconhecido como um dos grandes artistas brasileiros, há uma particularidade de Catulo da Paixão Cearense que chamava a atenção de alguns de seus contemporâneos: um narcisismo que beirava a megalomania com relação à sua obra. Até mesmo alguns de seus maiores admiradores se sentiam incomodados com essa característica do autor de Marrueiro, como é o caso do crítico literário Agrippino Grieco e do polígrafo Josué Montello.

Em um capítulo de seu livro Poetas e Prosadores do Brasil (Conquista, 1968, 288 páginas), Grieco comentou que, quando cantava ou recitava na residência de algum amigo, Catulo exigia silêncio absoluto e não permitia que outro poeta ou cantor fizesse uso da palavra. Exigia exclusividade. O famoso crítico chegou a afirmar que Catulo “colocou seu talento acima da formosura das mulheres, proclamava que neste país nunca viu bardo superior, nem mesmo Castro Alves, que não lhe possuía senso filosófico, e, na língua portuguesa em geral, achava-se superior ao próprio Guerra Junqueiro, dizendo que os Simples deste não valiam o seu Evangelho das Aves” (pág. 57). Agrippino Grieco credita esse narcisismo de Catulo a uma espécie de inocência e de uma cândida vaidade, mas não deixa de lembrar que, caso tivesse poder, Catulo “arranjaria uma nova Inquisição, um auto-de-fé implacável para os demais autores” (pág. 57).

Um episódio ocorrido em 1937 envolvendo Catulo da Paixão Cearense e Agrippino Grieco é comentado por Josué Montello no livro Baú de Juventude (Edições AML, 1997, 78 páginas). Em seu artigo, que foi inicialmente publicado logo após o passamento do vate maranhense, o autor de Cais da Sagração descreve Catulo como sendo “um velho baixo, de cabeça completamente raspada, metido numa roupa branca malamanhada, [com] o nariz recurvo, aparando o aro de tartaruga dos óculos avantajados” (pág. 35). Segundo Montello, naquele dia, em plena livraria, o autor de A vaquejada tentava convencer o crítico de que ele – Catulo – era o maior poeta do mundo. Como Grieco relutava em aceitar essa imposição, o poeta começou a declamar em voz alta seus versos. Baldadas suas investidas, saiu dali contrariado.

O narcisismo literário de Catulo era tão visível que tanto Josué Montello quanto Agrippino Grieco recorrem a alegorias semelhantes para demonstrá-la. O primeiro diz que chegando ao céu, o bardo maranhense irá tentar apresentar-se como o maior poeta de todos os tempos. Caso São Pedro não se convença disso, “o poeta recitará seus versos. Se São Pedro mesmo assim contrariar-lhe o julgamento, Catulo apelará para o violão” (Pág. 37). Já Grieco, de modo mais ácido e irônico, escreveu o seguinte em seu artigo: “E estou a vêlo à entrada do Paraíso, dizendo com a máxima naturalidade ao Padre Eterno: ‘Bom dia, caro colega!’”. Interessante notar que o embate entre o poeta e São Pedro é o mote da excelente peça Um Boêmio no Céu, uma das obras-primas da dramaturgia brasileira, mas que há tempos se tornou uma obra rara e sem reedições.

Apesar de suas extremadas catulices megalomaníacas, poucos foram o que negaram o talento desse bardo maranhense que fez muito sucesso em vida, mas que, conforme vaticinou Humberto de Campos, acabou caindo no esquecimento, infelizmente. Talento nunca lhe faltou. Quanto à modéstia… deixemos para lá!

FÓRMULAS PARA O FRACASSO ESCOLAR

Imagem criada pelo autor com auxílio de programa de Inteligência Artificial.

Correm por aí alguns boatos insinuando que nossos índices educacionais estão melhorando e que nossos estudantes estão se saindo bem em diversas avaliações institucionais. Realmente são boas notícias, embora alguns incrédulos teimem em dizer que não é bem assim… De qualquer maneira, é sempre importante fazer algo para que todos possam atingir seus objetivos. Dessa forma, elaboramos um breve esboço com algumas dicas (todas elas devidamente testadas por diversos estudantes ao longo dos tempos) para que o aluno que tenha o fracasso como meta de vida não se sinta excluído e que também possa comemorar a realização de seu sonho.

A seguir temos algumas dessas fórmulas – que não são mágicas, e que exigem um algum esforço por parte do próprio estudante, das famílias, das instituições escolares e das administrações públicas – para que os objetivos do fracasso possam ser atingidos a contento.

SEMPRE SORRIA PARA A TELA DE SEU CELULAR. Como hoje os diversos aparelhos de telefonia móvel se tornaram amigos inseparáveis de quase todo mundo, é muito justo que tais objetos sejam personificados e recebam doses extras de carinho e de atenção. Então, durante as aulas, é sempre importante ficar atento às mensagens, aos áudios, aos links e aos vídeos que chegam. Eles são muito importantes para a realização de seus objetivos. Como o celular acompanha você a todos os lugares, até mesmo na intimidade dos banheiros, é justo que ele também esteja em sala de aula e que você se desligue do mundo para derramar aquele olhar bestificado e soltar aquele sorriso bem maroto toda vez que chegar um aviso de mensagem enquanto os professores se esforçam para tentar explicar algum assunto. O local ideal para descansar seu aparelho é dentro de sua mochila, onde possa ser consultado sem o olhar inquiridor de quem estiver ministrando a aula. Mas você pode optar por colocá-lo entre as pernas, inclusive nos dias de prova, ou no bolso. O importante é que ele esteja sempre próximo a seus olhos… Ah, e não se esqueça do fone de ouvido. Ele é muito importante para que você relaxe ao som de suas músicas preferidas e se livre de vez da voz rouca, cansada e cansativa de seus professores.

NÃO IGNORE SEU SONO. A noite é sempre uma maravilha: são inúmeras séries que devem ser vistas, vários filmes interessantes, infinitas conversas nos aplicativos e nas redes sociais, muitos vídeos e fotos interessantes que chegam… Mas, infelizmente (ou não!), chegará o momento em que o corpo irá cobrar seu déficit de sono. É necessário recuperar as energias. Então, aproveitando que muitas escolas hoje são climatizadas e bastante confortáveis, você pode dormir na hora das aulas e se preparar para uma noite

insone. Se alguém reclamar, não pense duas vezes: diga que a aula é chata, que o professor não sabe explicar direito ou que você passou a noite em claro porque tinha algo muito importante para resolver. Geralmente essas desculpas são bem aceitas e não lhe trarão problemas. Para você melhorar suas probabilidades de fracasso, é deveras importante que garanta seu lugar próximo a uma parede, assim você pode se encostar, dormir tranquilamente e fingir que está atento a tudo. O único problema é que alguns professores falam alto e podem importunar seu sono. Novamente ter um fone de ouvido é primordial. Há alguns que passam despercebidos e, caso você tenha cabelos longos, estará tudo resolvido.

AUSENTE-SE SEMPRE QUE POSSÍVEL. Há muitas coisas mais interessantes que uma aula: um mosquito que voa, uma conversa vinda do corredor, a sirene avisando que é hora do lanche, uma reunião agendada com a coordenação ou com a diretoria etc. Então, para você atingir sua meta de fracasso escolar, você deve ser estratégico e todas as vezes que surgir uma oportunidade para não assistir a uma aula (ou pelo menos parte dela), aproveite. Uma boa desculpa é pedir para ir ao banheiro. Eis um ótimo expediente a ser utilizado. E se o professor ou professora resolver negar seu sagrado direito de sair? Não tenha dúvida. Alegue que está muito apertado ou que irá urinar-se ali mesmo. Se precisar, faça um escândalo, mas saia da sala. Ao sair, não se esqueça de ir sempre pelo caminho mais longo e, ao voltar, aproveite alguns minutos para continuar espiritualmente ausente. Assim você dará mais um importante passo rumo ao seu projeto de fracassar nos estudos.

ATIVE O BOTÃO “TÔ NEM AÍ”. Há professores que exigem atenção dos alunos. Essas criaturas geralmente falam alto, gesticulam muito e podem ser um sério obstáculo para a execução de seu projeto de fracassar nos estudos. Em casos assim, é importante que você aplique a milenar técnica de parecer atento às aulas estando totalmente desligado do que acontece ao seu redor. Fazer uma ou outra pergunta aleatória (geralmente pinçada da frase mais recente do professor), manter os olhos fixos no quadro, fingir que anota tudo são algumas técnicas que podem salvar você de alguns momentos constrangedores. Mas nunca se entusiasme com algum assunto ministrado. Há professores que têm o dom de fazer você interessar por alguns temas. Se isso acontecer, não compareça às próximas aulas ou, se possível, consiga um atestado médico ou force uma suspensão. Isso é bem melhor que pôr em jogo seu tão merecido fracasso.

INVISTA EM SEU FRACASSO. Jamais acredite naquelas pessoas que alardeiam a falsa ideia de que fracassar é algo fácil. Não. Não é! Várias vezes você irá encontrar alguém tentando tirar você do foco de seu objetivo. Então é preciso fazer alguns investimentos, inclusive pecuniário. Se possível, faça uma assinatura em um desses sites ou aplicativos que entregam trabalhos feitos e que permitam que você acesse uma gama de questões resolvidas. A função ctrl C + ctrl V irá garantir que você tenha mais tempo disponível para projetar com mais atenção um futuro de fracassos duradouro. Caso não queira assinar algum desses sites, é muito importante criar network com algum colega que se prontifique, mediante pagamento, a fazer seus trabalhos ou mesmo passar-lhe as respostas das provas. Em alguns casos, jogar seu charme para uma pessoa que não lhe agrade esteticamente, mas que esteja disposta a ser enganada com juras de amor ou breves convites para sair em troca de um gabarito pode resolver esse problema, mas de qualquer forma é um investimento.

JUNTE-SE A SEUS PARES. É relativamente fácil localizar aqueles alunos que comungam da mesma ideia que as suas. Junte-se a eles. O fracasso escolar fica mais fácil quando estamos acompanhados de pessoas empenhadas no mesmo objetivo. Nada de ficar perto daquele nerdola que vive com a cara enfurnada em um livro e em suas anotações! Ele pode ser uma péssima influência. Fuja também daqueles famigerados grupos de estudo e daqueles horríveis clubes de leitura. Vai que você seja corrompido! Será seu fim! Mas se o assunto for baixaria, fofoca, farras, pegadinhas ou as famosas ficadas, esteja sempre por perto e participe ativamente das conversas. Elas ajudarão você a conseguir o que deseja.

Esteja certo de que as supracitadas fórmulas de fracasso são apenas alguns exemplos. Há muitas outras que podem ser aplicadas com a mesma eficiência. Lembre-se sempre de que, ao contrário da busca pelo sucesso, que depende de uma enorme confluência de fatores, basta você seguir uma, duas ou três dessas dicas que você estará bem mais perto do fracasso escolar. Mas não perca o foco!

Detalhe mais que importante: essas fórmulas já foram amplamente testadas e podem ser empregadas em qualquer nível de ensino, desde o ensino fundamental até a pós-graduação. Não tem erro, ou melhor, só tem erro!

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA - (Fundador

39-
JOSÉTRIBUIZIPINHEIROGOMES

DELÍRIOS E INSULTOS

Ele conseguiu, finalmente, desmoralizar todas as instituições do Brasil.

Não bastassem todos os insultos proferidos contra muitos e tantos ele resolveu, agora, transformar em relativo o que os gregos inventaram.

É bem verdade que a democracia anda de muletas no Brasil, principalmente por culpa de quem deveria ampara-la como atento cuidador. Ao invés disso, preferiu usar a força da espada, preterindo o equilíbrio da balança.

Quem não se lembra quando o STF resolveu declarar inválido o que antes havia declarado válido processualmente?

Sem nenhum fato novo que modificasse as circunstâncias e provas encontrou nessa brecha libertar quem tinha (e tem ainda) contas a ajustar.

Livre e impune, graças a um sistema carcomido, o destempero corre solto como se houvesse uma espécie de imunidade verbal desmedida. Dessa vez, contudo, ele foi longe demais, ultrapassando todas as medidas do razoável.

Afirmar que a democracia pode ser relativizada é uma forma de tripudiar com o Estado de Direito (formalmente nominado de democrático), ainda que em momento como nunca visto na história do Brasil.

A Assembleia Nacional Constituinte definiu a democracia como forma de governo que é incompatível com formas e modos autoritários comuns e abjetos, como o comunismo, o nazismo e o fascismo.

E como se sentiu autorizado a dizer o que, como e onde quiser, daí em diante tudo passou a ser possível. Inclusive a declaração insana de que democracia é relativa. Mas nenhum desses regimes pode ser glamourizando, sendo todos albergues da tragédia humana, cada um a seu modo, embora com um único fim: a “coisificação do ser humano.

Não precisa ser um gênio para compreender que o declarante chamou de “democraticamente relativos” os Poderes daRepública.Sim, porquese ela estáprevistacomo regimenaConstituição(ademocracia)nomesmo documento é onde se encontra o fundamento de legitimidade de cada um dos Poderes. e de suas autoridades.

Além de todas essas estultices, em desafio às instituições e valores que estão de modo expresso previstos pela própria Constituição, houve a confissão do que já se sabia, mas que sempre foi dourado pelos cúmplices oportunistas, assim como foi feito com esse “foro do narco-crime organizado” que vez por outra se reune no Brasil. As moedas não apenas circulam…, elas personificam os Judas da imprensa tradicional!

Atacadas, sem nenhum pudor, com o indisfarçável desafio de cada autoridade investida em cargos ou funções públicas, tornou-as como que irrelevantes e desconsideradas perante o autoritarismo que é inato a esse ser.

Está mais do que na hora de um acerto de contas. Definitivamente foi confessada, publicamente, a defesa do comunismo como virtude, o que é absolutamente incompatível com os fundamentos do Estado Democrático de Direito. Passa da hora de um processo de cancelamento de registros de partidos políticos cujos estatutos propugnem e defendam ideologias incompatíveis com os fundamentos políticos da República Federativa do Brasil.

Assim como se pretende estabelecer limites à liberdade de manifestação (direito fundamental expresso e incondicionado), sob a alegação de que não existe direito absoluto, o mesmo argumento pode e deve ser usado aqui – Não há defesa de pluralismo político quando o discurso atente contra os fundamentos constitucionais. É como se o interlocutor quisesse que o edifício subsistisse íntegro após a derrubada dos seus pilares.

Chega de protagonizar a separação de um povo que se identifica pela nacionalidade o reuniu e diversificou perante a comunidade internacional. Basta de serem propaladas retaliações e estímulos a separação de quem a independência uniu.

Eu fico a me perguntar se as autoridades do Brasil não se sentiram ofendidas por esse tipo de declarações, que as detrata institucionalmente, pois como órgãos que integram as instituições democráticas, passaram a ser relativizadas também.

Afinal, os homens que podem salvar o Brasil pelas vias democráticas vão esperar que o país não consiga mais sair da comorbidade em que se encontra? Acaso pensam que não serão responsabilizados pela história? Preferem continuar indiferentes aos delírios e insultos?

A Constituição traz todas as soluções. Mas é preciso ter coragem de exercer a virtude de não se deixar transformar em joio os que devem ser tratados como trigo.

As ondas da história, quando acontecimentos se repetem, talvez traduzam a maior confissão da irresponsabilidade ou falta de compromisso público dos políticos. Claro, a menos que haja um projeto de poder (e por ele pouco importa o custo) desde que sobre os ombros de terceiros que não o Entourage seja distribuído o ônus, tudo vale.

Em sã consciência ninguém pode duvidar de que este país necessite de uma reforma tributária. O Estado não possui outra fonte principal de financiamento senão a tributária, mas necessita, de modo idêntico e com urgência, também, de uma reforma política radical.

Antes de ambas, todavia, nós precisamos (desde sempre) de uma transformação que resgate o sentimento tradutor da fidelidade dos nacionais que desejamos ser, a despeito de todos os destemperos que temos assistido pela mídia.

Se a intenção é séria, célere não pode ser uma reforma que suprima do contribuinte o direito de ter debatido exaustivamente o ônus do financiamento. Fora disso é remendo, não reforma.

Se ao leitor não parecer o exercício é simples. Adianta colocar em mãos dessa gente que compõe o atual cenário político mais dinheiro do contribuinte com essa consciência de hoje? Lamento, mas não creio. A classe política do Brasil em geral acostumou-se ao comportamento perdulário, convicta de que a res publicae outra coisa não é senão a res nullius, desejando perpetuar a “Lei do Gérson”, em que levar vantagem dá a dimensão ética de alguns que pararam no tempo. Pois eu lhes digo, meus caros, a história se repete com requintes cujas proporções podem até não ser as mesmas, mas as consequências são tão nefastas quanto. É o horizonte que sinaliza isto.

Já não há mais nenhum pudor em esconder que o Congresso Nacional se ajoelha aos encantos de emendas em troca de votações, com a cumplicidade midiática que silencia sobre o que foi apelidado de secreto outrora, mas hoje silenciosamente é aceito como normal, como se funções e atribuições públicas pudessem ser desempenhadas sob o impulso do dinheiro (público, a bem dizer) em uma esbórnia que lembra o putsch da cervejaria de 1923.

Há nestes país falta de compromisso público porque há falta de vocação para a política? Não sei responder, embora possa elucubrar que para a esperteza sobeje vocacionados.

A história registra que um certo parlamento no século XX aprovou a “Lei Habilitante”, que dava a um certo senhor “poderes legislativos exclusivos por um prazo renovável de quatro anos”. Nele, também, estavam inclusos o controle orçamentário, a aprovação de tratados internacionais e até fazer emendas à Constituição”. Como se vê, eles não chegaram de uma vez, traçaram um terrorismo seletivo.

A cada passo dado pelo Estado reduz-se a liberdade do cidadão, por isso mesmo sendo atual o audacioso (no juízo deles) desabafo de Otto Wels, um líder social-democrata da época: “Você pode tirar nossas vidas e nossa liberdade, mas não a nossa honra. Estamos indefesos, mas não desonrados.”. É assim que nós, brasileiros, estamos.

O mesmo parlamento, depois, foi considerado despiciente. Tomara que neste particular nossa história não importe o episódio – a tragédia do Reichtag.

COMO ISSO PODE ACONTECER? Bom, é apenas o subtítulo do livro NAZISMO, de Eduardo Szklarz, pela Editora Jandaíra – SP, de 2022.

Que seja só um livro que contenha alertas, para restaurar a luz que faça cessar a penumbra, por um pouco de lucidez apenas.

COMO ISSO PÔDE ACONTECER?

julho 25, 2023 por a pena do pavão, publicado em crônicas, poesia e literatura

ANO 11 – N. 42/2023

Comemora-se hoje o dia do escritor, a pessoa com ofício de falar por letras. Estas, devo à professora primária, uma paixão infantil que se instalou em mim. Talvez meu segundo grande amor de menino. Essa mulher mágica, que me pôs a “juntar letrinhas”, até que eu soubesse escrever meu nome completo. Depois, os rigores dos professores do Colégio Batista fizeram a todos nós da Turma de 1976 saber que porque e por que tem seus porquês.

Mas não posso deixar de mencionar o professor particular de português que tive em casa, capaz de me mandar à estante procurar um “livro grosso” chamado dicionário, após uma sessão de perguntas sobre sinônimos – meu pai. Obrigado, sempre.

Felizmente conseguimos! Somos escritores, de livros, de artigos, de notas, de poesias, de contos, somos todos escritores, mesmo os que, infiéis à verdade, quedaram entregues a desenvolver o que se passou a chamar de fakenews.

Pois é aos escritores que desejo me juntar para homenagear muitos, alguns dos quais convivo com o o prazer da amizade e o encantamento dos seus textos. São muitos, felizmente, e com todos sempre aprendo. Em texto publicado no meu blog A PENA DO PAVAO disse, ontem, que a pessoa que não lê não leva qualquer vantagem sobre o homem analfabeto. E nesta terra de onde voaram os sabiás e escasseiam as palmeiras, ler ainda é a melhor terapia, afinal, na “terra do já teve” difícil está encontrar até placas para serem lidas. Mas o dia é dos escritores (como se não fossem todos os dias) pois são eles os… Operários da razão, mas também do coração, quando, nos cadernos pautados, nas Remingtons do passado, ou nos teclados do presente, reunem caracteres que se abraçam em forma de palavras, Como sementes.

O papel em branco, que hoje me encara, aceita até arriscar poesia, mesmo sem ser poeta, mas é preciso dizer que o escritor retira o nó da garganta, merecendo por isso mais do que um dia, embora o de hoje sirva, como mais um motivo, para eu abraçar cada um de vocês.

Parabéns, escritor, pelo seu dia.

O DIA DO ESCRITOR

DOS CRIMES E DAS OBRAS

Inicio minhas palavras pela referência a algumas obras literárias e jurídicas que confirmam o grau patológico que se constata em alguns episódios no quotidiano do Brasil. Sim, é uma constatação, não apenas uma elucubração.

Ganham manchetes nos meios de comunicação em geral os embates que ocorrem entre a polícia militar do estado de São Paulo e o crime organizado. Sim, o que não usa gravata nem caneta, mas está equipado com recursos bélicos dos mais avançados.

A disposição de combate efetivo do crime, os atentados contra policiais e o paulatino avanço dos guetos dos condomínios em que se refugiam os cidadãos que cumprem as leis, parece não incomodar as autoridades. Ou melhor. Incomoda sim, quando suas claras escolhas sejam de algum modo atingidas.

Roubar pãozinho ou celular, consumir drogas e alguns outros delitos são um pingo d’água para uma gente que jura defender a democracia. O problema é que, do pãozinho a uma empresa estatal, o roubo é apenas medido pela extensão do volume subtraído do contribuinte, quando deveria ser avaliado pela conduta. Roubo sempre será roubo, ladrão sempre será ladrão, mesmo diante da emissão dos passaportes da impunidade, subtraindo da maioria dos brasileiros o direito a ter direitos, artigo que deve (no juízo deles) ser confinado apenas ao Entourage do sistema.

O combate ao crime ou é um compromisso ininterrupto ou é tratado de cumplicidade e prevaricação. Bandido é bandido, polícia é polícia. No meio deles nós, cidadãos, não podemos permanecer reféns, como quem não disponha de nenhuma alternativa de autodefesa ou a quem recorrer, desde que o Congresso Nacional resolveu abrir mãos de suas competências próprias e ajoelhar-se.

É um mito, e não passa disso, querer condenar ações policiais próprias. Há uma guerra lá fora e ela precisa ser combatida com energia, porque só pode ter tolerância com a bandidagem quem com ela se abraça.

Em guerras que buscam a paz os homens estabeleceram, também para essas circunstâncias, tratados internacionais que proíbem determinadas práticas. No Brasil, nas investigações que se instauram quotidianamente contra adversários políticos, o que mais se vê denunciada é a prática das “fishing expeditions”, com indisfarçável violação às regras mínimas do devido processo legal.

Temos, assim, o quadro que é a defesa da impunidade do crime organizado, e a desorganização do devido processo legal, que há muito deixou de ser observado no Brasil, onde impera a prática deletéria contra a verdade e a liberdade, esteios do processo penal contemporâneo.

Quando leio sobre excessos no combate ao crime, no mesmo instante em que uma mulher policial recebe sete disparos pelas costas, com balas de fuzil, eu lembro já da primeira obra. Trata-se de A MENTE ESQUERDISTA – AS CAUSAS PSICOLÓGICAS DA LOUCURA POLÍTICA, do Dr. Lyle H. Rossiter, em que o autor discute, desde a natureza bipolar do homem, sem esquecer o ideal e realidade no esquerdismo radical, até desembocar na integridade e tratamento. Parece que a obra foi escrita para o Brasil de hoje, como laboratório que é, tamanho o número de delírios e patologias.

E é precisamente por esse estado de cousas que é bem ajustado ao momento MITOS SOBRE CRIMINALIDADE – A personalidade criminosa e seu tratamento, de Stanton E. Samenow, Phd., um apanágio de respostas dadas pelo psicólogo aos cenários de desculpas e “justificativas” de criminosos, que normalmente transferem a terceiros a culpa pelos seus atos, ganhando adornos piedosos desse tipo de gente tratado na primeira obra citada.

Mas para essa gente que glamouriza a impunidade é preciso mais. É preciso desencarcerar, porque existe uma superpopulação carcerária, como se o combate não devesse passar, primeiro, pela construção de mais presídios, ao invés de condenar o contribuinte pela segunda vez: a primeira, quando foi vítima do crime; a segunda, quando o libertado se sente protegido pela impunidade.

Na realidade, com o MITO DO ENCARCERAMENTO EM MASSA, Bruno Amorim Carpes demonstra que a punição eficaz é uma necessidade de proteção da cidadania, o que não combina com a impunidade que o Brasil tem assistido pela prática do maior vilipêndio jurídico-político da República nas últimas décadas.

Pobre Brasil, onde as proposições legislativas e judiciárias se despreocupam da posse e consumo de drogas, mas se empenham em estabelecer penalidades rigorosas a quem deseja exercer o direito de falar, protestar, reclamar.

Uma república, por mais absurda que seja o uso da palavra, da manifestação, não pode conviver com o “cala boca”, porque a liberdade de manifestação não decorre da permissão do estado, mas da própria natureza humana desde que o homem aprendeu a se comunicar. Excessos, sim, devem ser punidos, mas daí a calar pessoas porque desagradam os homens públicos é imprimir A ESPIRAL DO SILÊNCIO – OPINIÃO PÚBLICA: NOSSO TECIDO SOCIAL, de Elizabeth Noelle-Neumann, obra em que é tratada a influência nas individualidades pela opinião pública, hoje tão estruturada nos eixos da pós-verdade e dos delírios do identitarismo, tão bem bem avaliados na obra CANCELANDO O CANCELAMENTO, de Madeleine Lacsko. A pretensão de tratar de forma desigual aqueles que deveriam compreender que apenas exercem um “munus” público, é a primeira sentença contra um princípio basilar e fundamental constitucional. Os homens não devem ser privados de exercer seus direitos de manifestação, embora devam responder, como já previsto em lei, pelos excessos. O que não se ajusta ao sistema republicano é o uso da lei, não para regular condutas, mas para atemorizar uma nação.

As autoridades, todas, merecem respeito, não temor. Devem, contudo, responder com penalidades mais severas quando avancem contra o pacto político que é a Constituição, substantivo próprio de um povo, que não pode ser confundida com retalhos de um ateliê de costuras. Iguais somos todos, mas os que exerçam funções públicas, estes sim, deveriam ter tratamento diferenciado, por medidas legais mais severas, sempre que usurpem dos limites da mesma Constituição que os investiu de poderes e deveres.

Como disse no início deste texto, falaria em torno de obras, retratos do Brasil de hoje. Você pode até não as ler, mas terá sentido no quotidiano um pouco do que elas exprimem, como se fossem porta-vozes de um grito contido pelo desejo dos que juram que defendem a democracia, para seu próprio bem.

A estação é a mesma, mas o bonde não passará. A garagem já não existe. Já não mais existem os trilhos, soterrados que foram pelo asfalto. Já não há mais os paralelepípedos, senão como exemplares de composição estética, porque o cenário exige que sobrevivam lembranças.

Já não há bancas de revistas, nem seu João. Desapareceram os papos de sábado e domingo em busca de jornais que, também, desapareceram. Viraram panfletos de ideias que sobrevivem no imaginário falso, genocida e perverso.

Nem o Moto bar, nem a Farmácia Sanitária, nem o Café do Chico, muito menos o Hotel Serra Negra.

O João (o Lisboa) sobre os escombros ainda contempla o jornal que, provavelmente, notícia o último suspiro da imprensa traduzindo a liberdade.

Do Carmo resta o largo, guardando a passagem secreta sob a pia batismal, onde a serpente adormecida provavelmente foi criada para preservação de homens que também lutaram pela liberdade, evocando o poder do Espírito Santo.

O cenário vivo de uma Athenas, hoje apenas, um amontoado de azulejos que apaixonam. Não há local mais lindo no mundo inteiro, desde que olhado pelas lentes da máquina digital, hoje incorporada ao telefone móvel, bisneto do “orelhão”.

Não adianta esperar. O último bonde não passará. Nem passarão, nem passarinho, porque aqui o que nunca passa é a sensação de que “agora vai”, “amanhã será um novo dia”, a “oligarquia” precisa acabar.

O bonde passou deixando motorneiros e cobradores, com os mesmos vícios Piorados nas práticas, enriquecidos em montantes, mas não enrubescidos na vergonha.

O “cara dura” do Anil não mais existe, nem em ferros, sobraram apenas os ternos e os caras dura do inferno a anunciar novas paradas em novas linhas.

Não adianta esperar. O último bonde não passará. Nem sabias passarão. Nem passarinhos.

O ÚLTIMO BONDE

O

SECRETO, O ESCONDIDO, O FURTIVO E A REPÚBLICA

Sem qualquer atenção à postura republicana o presidente da república, ontem, dia 5 de setembro de 2023 (em pleno século XXI) resolveu dar um “conselho” ao povo e ao Supremo Tribunal Federal. Disse de viva voz que o povo não precisa saber como os ministros votam.

É mais uma de suas manifestações autoritárias que não pode ser confundida com ato falho tão frequente nos dias de hoje.

Quem não se lembra da insistência do presidente em falar: “Vai depender da narrativa que tivermos”? Ou da “democracia relativa”?

Neste episódio de ontem a declaração coincide com as manifestações de filiados ao seu partido político, diante de recentes posicionamentos do não menos recente ministro do tribunal nomeado pelo presidente.

Se há uma característica que no início do século passado era preservada com recato era a nomeação de ministros do STF. Hoje, ao contrário, a autoridade e seu Entourage não escondem que tem nos ministros que escolhem verdadeiros prepostos. Coisa comum na classe política do Brasil.

Há, entretanto, uma dose de culpa nos ministros do STF. São excessivamente midiáticos, comparecem a programas de televisões, rádios, redes sociais e sítios da internet com frequência, sem contar no pomposo ingresso nas instalações do próprio tribunal, quando são alvos de fácil alcance pelos repórteres. Mas isto é uma outra coisa.

Mas, então, o que haveria de grave no discurso do presidente? Bom, ele é antirrepublicano, autoritário e tudo o que se possa pensar de mais grave: é um discurso inválido, hipossuficiente e inconstitucional.

Ao dizer que o discurso é inconstitucional não tenho a pretensão de subtrair a competência do STF. Ao contrário, apenas exerço, como professor, o que alguns dos próprios ministros defendem em suas caminhadas doutrinárias: a interpretação de uma “Constituição aberta”, colhida um pouco do germanismo ou uma “Constituição viva”, dos americanos.

O verdadeiro surto autoritário se ajusta a tudo, menos aos princípios republicanos. Basta ler o art. 37 da Constituição da República para constatar que legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência são princípios aplicáveis a todos três Poderes da República.

Portanto, tudo o que suprima o conhecimento dos atos dos agentes públicos não se ajusta aos princípios constitucionais, principalmente porque há diferença entre publicidade e fuxico midiático, publicidade e promiscuidade jornalística, publicidade e conspiração.

Quando “o povo não precisa saber como os ministros votam” prevalecer como prática, nós teremos ressuscitado os anos de chumbo com seu casuísmo legislativo característico, e nem de “democracia relativa” isto se aproxima. É ditadura!

É exatamente pela publicidade dos atos que o povo consegue ter conhecimento dos acontecimentos de fatos históricos subtraídos pelo Congresso Nacional, historicamente descompromissado das responsabilidades com quem o constituiu,

Finalmente, não fosse a publicidade das sessões do STF, das manifestações de seus ministros, e nós não teríamos conhecimento do maior roubo da história republicana do Brasil que a muitos condenou e levou o próprio presidente ao cárcere, depois de três instâncias judiciais. Não fosse a publicidade, também, e nós não saberíamos que existe um “salto triplo carpado” jurídico, capaz de pretender tornar apto a exercer cargos públicos aqueles que jamais deveriam a eles ser reconduzidos.

Talvez por isso o secreto, o escondido e o furtivo tenham no inconsciente de uns poucos subtraído a sanidade institucional.

Como diz a sabedoria popular, quem não deve não teme. Quem esconde quer traquinagem.

É republicano e institucionalmente sadio que o STF continue com suas sessões públicas e transmitidas pela mídia, afinal, as instituições é que devem prevalecer sobre os homens e não o inverso.

CAMINHO DE APRENDIZ

O dia não era um qualquer para um jovem às vésperas de completar seus vinte anos. Era apenas o início de um caminhar.

Havia eu retornado do Texas, onde fui bolsista do Rotary Club, em San Marcos. Foi um tempo de muito aprendizado.

Aos princípios familiares, somados a outros recebidos no Colégio Batista “Daniel de la Touche”, no distante e misterioso oeste americano, descobri a grandeza de um povo trabalhador, com raizes conservadoras históricas e uma pujança financeira destacada em todos os Estados Unidos.

Penso que tudo isto contribuiu para o encontro que hoje rememoro com saudade e gratidão.

Há 47 anos, no dia 16 de setembro de 1976, diante do professor Pompilio Albuquerque, eu tomava posse, como assistente administrativo substituto, na Universidade do Maranhão.

Já casado desde maio daquele ano, mas ainda morando com meus pais, abria-se ali mais uma porta para um projeto de vida que sempre foi ser professor universitário. Nove anos depois o sonho se realizaria. Este ano, dia 4 de novembro, se a saúde permitir, serão 38 anos de magistério. Hoje, às vésperas de completar meus 67 anos de vida, sou o Decano do Departamento de Direito da UFMA.

Jamais esquecerei o chamado do professor José Ricardo Aroso Mendes ao me transferir a disciplina Direito Constitucional, distinção que a Academia reserva a alguns: o Mestre apresentar à comunidade acadêmica o aprendiz e sucessor.

Como em todo caminho que se caminha com determinação as pedras apareceram, mas as oportunidades também. A fé em Deus sempre me revelou a certeza de que Eclesiastes é uma lição irrefutável no quotidiano. Ainda quando em amargura se sinta o homem mais tarde ele sentirá a brisa soprando o peito para irradiar a paz. Só aí compreenderá que Deus apenas o desafiou para saber se manteria a fé.

Mas foi tempo também de muito aprendizado. Colegas com quem muito aprendi (na SEPE e na COPEVE) mas em cuja companhia também eu me diverti, renovavam em mim, sempre, a promessa que me fiz de quem um dia seria professor da UFMA.

Graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado, foram todos produtos de um esforço grande, mas gratificante, tudo sendo somado ao primeiro concurso para procurador do estado, onde permaneci por 35 anos de trabalho.

Hoje, ao despertar, após minhas orações, finalmente compreendi o que meu pai tentava nos dizer ao afirmar que a Caixa Economica havia dado tudo o que ele conquistara na vida.

Há um sentimento parecido em mim. Posso também dizer que a UFMA me deu quase tudo. De sabores a dissabores. Aqueles trago no peito sempre. Estes, com eles fiz um pacote com papel de embrulho, sem jogar fora, porque o homem não deve guardar rancor no peito, mas ele deve preservar as memórias, sempre. E há quem da vida leve só amarguras. Felizmente eu trago comigo vitórias.

Caminhei até aqui mas a caminhada aqui não termina. Como um dia disse Madiba – Mandela: É um longo caminho para a liberdade

Posto que livre seja, porque alcancei o que pretendi um dia, lembro de Gilberto Freire, a despeito de contemplaroutrapaisagem,porqueoconhecimento,quandopretendidosesaberdeverdade,impõereconhecer quem o transmitiu: O homem chega a ser um mestre quando descobre que é um eterno aprendiz.

Eu apenas dei o primeiro passo rumo ao aprendizado. Preciso caminhar mais ainda. Obrigado, meu Deus, por tanto e por tudo.

Quem tu és És fonte que mata a sede carne que alimenta corpo que dá prazer brilho que ilumina chão por onde caminho. És sentimento maior de outros tantos que senti que sofri

ROBERTO FRANKLIN - 1ª. Ocupante

40 – JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS

Conto II

UMA MANHÃ

Uma manhã, após regressar de uma dolorosa ação, ao notar que pássaros procuravam galhos para pousar, em um mês de verão, Cláudio chega em casa abatido e solitário. Passara uma semana em um dos hospitais de sua cidade com a sua Helena acometida pela peste. Depois de uma luta incansável, Cláudio a perdera, foi uma triste manhã ter que deixar sob a terra sua companheira há dez anos, ainda jovem com tantos planos pela frente, com tantos sonhos, fora tolhido de todos os seus anseios.

Ao chegar a casa, a atmosfera lúgubre, de um final de dia, aliado ao cansaço, o fez ir para o quarto. Após uma breve refeição, tomou seu banho e foi para a cama, solitário, acompanhado somente pelas lembranças de um período de convivência.

Ao deitar-se, ouvia os sinos da matriz tocando sinfonias melancólicas, entoavam canções tristes de despedida, que repicavam à parede do seu quarto e o levava a tempos que vivera, suas memórias o atordoavam. Para fugir de seus pensamentos, virou-se para o lado, abraçando o seu travesseiro, sentiu a presença de sua amada que partira, seu perfume ainda impregnado levou-o a sonhos. Sentia a sua presença, no quarto ainda ecoava sua voz, palavras que ela sempre proferira não saíam de sua mente cansada, no seu quarto percebia a imagem de Helena tatuada nas paredes a todo momento, uma dor insuportável era sentida, igual a dor de um punhal penetrando, rasgando seu peito,destroçandoas emoções, fazia-ochorar,aangústia,adepressãosemisturavam a uma falta de ar incontrolável.

Tentou levantar-se, dirigindo seu olhar para o piso do quarto, percebeu que marcas dos pés de sua amada carimbavam o tapete, dando a impressão da sua presença, seu pensamento, ora distante ora atual, o levava a momentos que viveram, deixava-o louco, sem a coragem de enfrentar o que acontecera.

Seu peito sangrava e, numa atmosfera de dor, perseguia seu desespero, tudo era muito real tudo era muito fantasioso, não queria aceitar não queria acreditar, então percebeu que as roupas que foram deixadas sobre a cama no dia que fora levada para o hospital, o aguardavam como um aviso para que nunca se esquecesse de sua amada. As roupas estavam ainda impregnadas de perfume, o mesmo que o levou a sonhos e ao prazer, sentia ao abraçar sua camisola sua mão a percorrer seu corpo. Dando a impressão de procura, sentia seu calor, seus sonhos agora mais que presentes, devido ao que o consumia, sentia o peso do leve corpo dela no seu, as sensações aumentavam, olhava distante e, ao mesmo tempo, ouvia e percebia seus gritos e olhares, com um prazer que somente ela poderia dar.

A cena era tão real na sua imaginação, que o sabor dos lábios de Helena era sentido, até que no momento percebeuque os olhos e a vozdela ecoaram naquele quarto,dando averdadeiraimpressão que ambos entraram em uma dança sensual, que os levava a um prazer nunca antes sentido. Seu corpo desfalecido pelo sonho e pelo cansaço da semana o levou ao sono. Tudo apagou, estava só, sem a companhia de sua amada, percebeu que seus dias deveriam ser entediantes, nada mais fazia sentido, era levado à depressão e ao isolamento.

No dia seguinte, ao levantar percebeu que o silêncio agora era sua companhia, percebeu que as sensações pararam, tudo mudara seu mundo agora seria um mundo unitário, um mundo de completo isolamento, o famoso dia seguinte. A solidão, agora sua companhia, o deixava em transe, não sabendo ainda o que iria fazer de sua solitária vida. Foram dez anos de uma companhia agradável, que ambos viveram como cúmplices. Nada era igual ao que era antes, nada se fazia sentir, nada o tornava feliz, as lembranças do dia a dia o atormentavam. A vida era para ser vivida, a vida era para ser compartilhada, desta maneira não havia outra solução, a vida para ele também acabara.

RobertoFranklin - ALL, ALTO, AVLA, AMCL, SCLMA

Todasàsvezes,ouquasetodasasvezesqueestoupertodomeunetoLucaselefixaseudoceolharem minhadireção,comoseestivesseaprendendo,tentandodizeralgumacoisa,afirmandooamorquetem equeeutambémtenho,ouatémesmotentarconheceressetaldevovôCacá.

Quando observo alguém vejo sempre sua parte externa, aquilo que como pessoa é externamente transmitido,tentoportodososmeiosolhar,olharparadentroparaoseucoraçãoeassimdescobrirsua verdadeiraidentidade,descobrirseussentimentos,teravisãodasuarealidadesaberoquepensa,ver aquiloquedentrodoseuinteriorfaztransmitiroseuexterior.

Saberolharnadireçãodeumapessoa,serásempreoiníciodeumaamizade,deumamorourealmente seráadistânciaquedeveremosterdealguém.Umolharécativanteéprazerosoéencantador,àsvezes repugnante.

Olhardonetoolhardapessoaamada,olhardeumapessoaqueseráumbomamigo,talvezmostrea coração,ounão.Naminhainfâncianuncarecebinenhumapalmadaourepreensãodomeupai,mas,o seuolharsempreternoecarinhosdiziatudo,mostravasempreseuquestionamentoounão,erapara mimumasurra,aquelaquenuncalevei.

Saberolhar,contemplarabelezadeumcéuestrelado,semprenoscausaemoções.Ospovosantigos observandoocéu,sabiamquandoplantarequandocolherospoetasfazemdeumolharpoemas, canções, seus delírios. O Olhar vem logicamente dos olhos nosso poeta o maranhense de Caxias, GonçalvesDiasdedicouumdeseuspoemasasuaamadaAnaAméliaFerreiradoVale,opoemadizia logonaprimeiraestrofe:

Seusolhostãonegros,tãobelos,tãopuros,

Devivoluzir,

Estrelasincertas,queaságuasdormentes

Domarvãoferir;

Aespiraçãodealguémalémdeseusbelosolhostambémvemdeumolhar,eassimfoiquequando chegueiemcasaeobserveiafotofeitapelocelularontemàtardenalitorânea,quandoeumeuamado neto(umdosamados)sentamo-nosparaobservaropôrdosol, observeialémdestemaravilhoso fenômenoo“pôrdosol”aexpressãodeumolharingênuo,quemesmosempalavraspoderiadizer muitaspalavras.Lucaseseuolhardizianaquelemomento,expressavaseuamorpeloavôCacá,seu agradecimentosuaternura,seucontentamentoporestáalicomigoounão,masdepoderescutarminha vozadizer:“Lucaseuteamo!

OVALORDOTEUOLHAR

Palavras em silêncio

Se algo mudou em nossas vidas

Não deixemos que palavras

Sobreponha ao que foi dito no passado.

Não deixemos que as mágoas apaguem

Todo o tempo que um dia foi somente nosso

Um tempo que bastava ouvir tua voz

E nossa química aflorava

Se algo mudou em nossas vidas

Fiquemos em silêncio

Pois certamente as palavras

Levaram todos os anos que passamos

Roberto Franklin Falcão da Costa

Raizes da Poesia - antologia poética lançado em Portugal - 2017 " Direitos Reservados "

OLEIRO

Com o barro moldo a vida, Procurando fazer com às mãos Modelos que agradem.

Modelo sentimentos

Prazer, emoções.

Ao fogo entrego

O que minhas mãos construíram.

Pedaços de ti

É triste o quarto sem você saíste em hora imprópria⁷ fazias sempre parte de um filme protagonizado por nós.

Ao chão ainda encontro

pedaços de ti caídos, encontro carinhos que se perderam em noites seguidas sinto que voltarás trazendo todo o prazer que me deste como uma centelha que se desprende de uma lareira trazendo a inspiração que faz de ti um poema.

TODOS OS SENTIMENTOS NAS ASAS DE UM “FALCÃ0”

“Retornarei um dia, ao passado distante,

LINDA BARROS

num lugar onde deixei amor, sonhos, pecados e súplicas” (Roberto Franklin)

Em dias tão conturbados pelos quais vivemos todos os dias, é impossível sobreviver a eles sem um ou mais alicerces para nos sustentar. Cada pessoa recorre a um ponto de fuga para exaltar seus temores e suas angústias, sentimentos, que por vezes negativos, mas que talvez os façam com que pensamos melhor na vida, em nossos atos e em nossas atitudes. Para falar de sentimentos, bons ou ruins, às vezes não precisamos recorrer à ajuda de especialistas. Em muitos casos, talvez a ajuda esteja em outros meios de expô-los, nos livros, por exemplo.

O livro (físico ou não) ainda é o melhor companheiro para todas nossas necessidades. Com ele, literalmente podemos “voar” e dar asas à nossa imaginação. O livro é um ouvido atento a tudo e está presente em todas as ocasiões. Nele, é possível demonstrar todos os sentimentos (bons ou ruis) que nos atormenta. Em uma obra, o autor tem a liberdade de conversar consigo e com o leitor, de forma livre, deliberadamente sem nenhuma preocupação, pois vai caber ao leitor fazer o julgamento que quiser.

E foi através do livro lançado recentemente por Roberto Franklin – autor de várias obras – que encontramos todos os sentimentos. Em “Asas e Sentimentos” (editora SLZ, 2023, 122 páginas), como o título já sugere, o leitor encontrará o mais puro sentimento do autor, no entanto, o leitor também se identificará com as ações do poeta. E para (e sobre) sua amada, sua grande inspiração, o poeta demonstra todo seu amor e fidelidade nos versos “Se quiseres/não guarda as palavras/dentro de ti/Atira-te aos meus braços/soluça fala do teu amor/ Vem, sabes que sempre fui e sempre serei teu”. A verdadeira demonstração de amor, carinho e companheirismo.

Toda a obra de Roberto Franklin é carregada do lirismo amoroso, familiar, de amizade e compaixão. O autor deixa transbordar no papel sentimentos que lhe são comuns, como a doçura, suavidade. “Asas e Sentimentos” é uma obra que Franklin oferece também a um dos sentimentos mais verdadeiros (além de sua amada e companheira): o amor aos netos.

A timidez do poeta é vista nos versos “Assim como o sol/eu também me escondo/em nuvens carregadas/Para depois aparecer e/molhar-me nas ondas/transformando/ dia em noite/sempre à espera/do prazer matinal”. Em grande parte, você não precisa estar à mostra para que possam te conhecer, pode apenas dizer e mostrar em(poucas) palavras que é visível.

Além de “Asas e Sentimentos”, Roberto Franklin é autor de “Além da Esperança” (2016), “Tuas Mãos” (2016), “Tempo de Amar” (2016), “Amor Sempre” (2017), “Amor Sem Limites” (2018). Franklin participou de algumas antologias, como Platinum e Douce Poésis (2016), Sarau Brasil (2018), I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, (2018), entre outras.

Roberto Franklin derrama sua poesia no papel para, ao mesmo tempo, dizer a seu leitor o que é ser poeta, “O poeta pensa, na sua solidão/se veste de trapos/deixa cair suas mentiras/se encontra com seu eu/ O poeta chora, sente/chama sua carência/de companhia.” Contudo, mostra a ambiguidade entre poeta e homem: “Grita, torna o sonho/de muitos uma realidade falsa/faz viver sentimentos/empresta suas letras/a muitos, e por vezes/o poeta vive só”.

E, então, o Falcão trouxe em suas asas poemas com muita sensibilidade, harmonia, doçura e liberdade. Alçados em voos, esses sentimentos, tão comuns ao Homem desde outrora, ainda que, com o passar dos anos, não foram deixados de lado, tampouco esquecidos, ou jogados ao mar num passeio matinal do pássaro mitológico.

Pela manhã, ao passar pela casa dos meus pais, onde morei toda minha adolescência, situada a Rua Treze de maio, senti a vontade de entrar, e através daquela porta depois do corredor visualizar minha família, ouvir as gozações do meu pai, as reclamações da minha mãe, vontade de novamente tomar a bênção, sentar-se à mesa, tomar o lanche das três com Nescafé e bolachinhas da padaria Santa Maria, impregnada de manteiga real, ou as vezes com cola guaraná Jesus.

Senti imediatamente vontade de transportar-me aos domingos, voltar no tempo, ir até vocês e desfrutar de uma manhã alegre e confusa, de levar o vinho tinto e doce para minha mãe, de tomar meu uísque e compartilhar com meu pai uma eterna dose com uma azeitona, e discutir o nosso futebol, zombar dos que haviam perdido, falar do seu clube do coração o América Futebol Clube, ouvir ele afirmando que esse ano ia dar América. Sinto vontade de ouvir tua voz ao celular minha mãe, uma voz de solidão pois nós teus filhos já haviam batido as asas e assim deixado o ninho., de escutar mesmo longe a voz do meu pai a pedir que não o esqueça de passar para apanhá-lo aos sábados para o nosso passeio em nossa ilha, principalmente de rever vários bairros onde para ele as lembranças ainda eram presentes.

Gostaria de reviver novamente nossos domingos, onde nos reuníamos para almoçar e jogar aquela conversa sem eira nem beira fora. De te ver novamente ao portão e ali beijava-nos a face dando por encerrado nosso domingo, tendo a certeza de que teríamos uma semana longa e solitária para eles pois todos nós trabalhávamos e o contato seria sempre pelo telefone.

Sinto vontade de tudo que um dia passou, a saudade seria o resultado de uma boa e alegre convivência que tivemos, saudades de estarmos juntos pelo menos uma vez na semana e termos um dia alegre e confuso.

A saudade sempre vem quando pela Rua Treze de maio passo, ainda sinto o teu olhar minha mãe, ainda sinto a vontade de te encontrar naquele mesmo portão à espera de todos nós.

A vida tem dessas coisas, nos dá o presente de estarmos juntos para um dia nos da o presente da saudade e da lembrança, fazendo o que ontem era alegria virar hoje tristeza pela falta de não mais os encontrar.

A força de nossas lembranças igualmente junta à vontade de nos reunirmos mais uma vez, traz-me uma alegria triste por termos passado momentos maravilhosos, e triste por nunca mais ser possível esta reunião.

MINHA CASA, MEUS SONHOS

SÓCIOS BENEMÉRITOS

FLÁVIO DINO GOVERNADOR DO MARANHÃO 2015-2022

NATALINO SALGADO FILHO REITOR DA UFMA

SÓCIOS HONORÁRIOS

ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO

JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - (Fundador)

Falecido em março de 2023 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

Falecido em março de 2023 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES

"A CONTEMPLAÇÃO NA MOCHILA DE ATLAS"

Resenha de Mhario Lincoln sobre obra de Antonio Aílton.

Ratificar-me quantas vezes forem necessárias. Não há, dentro de mim, nada que possa exemplificar mais a essência desta obra - "A Camiseta de Atlas" -, do imenso Antonio Aílton, do que - a contemplação -, bem ao estilo dos grandes poetas, como a americana Jane Hirshfield: "(...) cada momento não é apenas ele mesmo, são todas as coisas", escreveu ela. E tudo começa nesse título originalíssimo, "A Camiseta de Atlas", cuja percepção'dotodo' éalógicadaforçaailtoniana,evocandoemoções,criando,atravésda própriacontemplação dos arredores sensoriais, uma rica experiência contada através dos momentos vividos in lato sensu. "O maior peso de estar vestido/ é o preço de fazer sentido. O mundo se acumula sobre o peso fosco da pele/ e dos molambos que tombam sobre meus ombros(...)". AA.

Nas construções de Aílton se vê muito dessa exploração do momento presente e da natureza interconectada da existência. Foi assim, como algo me guiando para a varanda do Éden, que iniciei a leitura dessas poesias. Houve imediata interconexão entre certas coisas que balouçam dentro de mim e o magma contemplativa de Aílton. O autor me fez refletir, lendo seus poemas, sobre uma multiplicidade de experiências que a vida lhe ofereceu. A mim me pareceu dar de cara com uma exploração da natureza paradoxal da existência.

Alguns duetos explícitos:

"Em minha cabeça há um homem livre/ no restante de minha condição, há um homem responsável/ Um homem responsável não é livre (...)". AA

Ou, de certeza e dúvida:

"E pairam sobre minha cama/ entre restos de sono e um cheiro de café/ como laivos de tempestade e ímpeto/ todos os trens em que não parti com Ela". AA

Ou, ainda: de fraqueza e força:

"Eu te amo, ele disse./ Eu te amo, ela disse./ Por que dizê-lo só agora/ tão perto da morte?/ Mistério./ Há uma aragem nos ipês./ Esperança de renascer/ como um casal de gatinhos." AA

Visto isso, nesse introito, impossível não chamar Aristóteles para esta conversa: leia o que está escrito numa obra sensacional, no Livro X de "Ética a Nicômaco", onde há total intenção de fazer compreender - a contemplação - fulcro desta obra, como um estado de atividade intelectual, considerado a forma mais elevada de realização humana:

"Thelifeofcontemplation is thehighest form of life,for it is themost divine andit is also themost continuous. (...). The contemplative person engages in the noblest of activities, focusing their intellect on the eternal truths and the highest realities. In this state of contemplation, one achieves the highest level of wisdom and attains a sense of fulfillment that surpasses any other human pursuit."

"A vida de contemplação é a mais elevada forma de vida, pois é a mais divina e também a mais contínua. (...). A pessoa contemplativa se ocupa da mais nobre das atividades, concentrando seu intelecto nas verdades eternas e as mais altas realidades. Nesse estado de contemplação, alcança-se o mais alto nível de sabedoria e atinge-se uma sensação de realização que supera qualquer outra busca humana." Aristóteles.

Para Aílton, acredito, tal fato, ab origine, da contemplação, fê-lo induzir neste livro, que ora leio, uma tábua devalores,cheiadeanalogiasdenaturezaimperecível,comoimortalseráestaobraanunciada. Possoenumerálas, começando pela porção mágica dos pensamentos e emoções interiores, tão rápidas como devem ser: "... vestígios despencam/ cabelos de chuva/ minha alma à porta". Ou ainda, "Um poema é um guarda-chuva sonhando/(...) Onde teremos ancorado nossa alma/ para abrir a porta desse dia". (AA).

Posso falar igualmente da imersão espetacular do autor entre imagens e simbolismos: "Laura, estou nu novamente/ Alguém roubou meu Traje de Luzes!". Aqui, vale bastante atenção nos detalhes vívidos e sentidos neste exemplo minimalista. Outra característica do poema contemplativo é a linguagem e o tom, as metáforas e os recursos poéticos do autor. Vide: "Nasceu em São Luís do Maranhão/ Pescava sua infância no rio Bacanga/ Considerava ter vivido numa espécie de paraíso trocipal/ Quando chegou à adolescência ficou chocado? em ter que se tornar adulto / e tornou-se poeta".

Sucesso!

Falo isso porque na maioria de suas criações rapsodas, nesta obra, há explícitos exemplos pertinentes a esse 'contemplativo', repito: "... se não fosse/ este roto/ chapéu de espantalho/que se DISSIPA/ no próprio ato/ em que convida/ partilharia contigo/ a dura dignidade/ que trago dentro/ quem sabe embaixo/ deste/ caderno/ de agasalhos".

E como então uma poesia contemplativa pode incorporar ritmo e som? Aílton é perfeito nesse ítem: "Repita em sequência: basta!/ basta! / basta!/ e aos poucos as coisas farão sentido". Notou o ritmo, a cadência e os recursos sonoros do poema "AcrediTe", utilizando a musicalidade para criar uma qualidade reflexiva?

Então, como uma linha vai levando a outra linha simétrica e consecutiva, tais elementos me levaram à rainha da poesia contemplativa: Hannah Arendt, teórica política e filósofa, cuja obra enfatizou a importância do pensamento contemplativo, em uma frase clássica: "pensar sem corrimão". Com base nessa concepção, Antonio Aílton acerta na mosca quando escreveu:

"A carne fechada/ que aduba a cama/ estica a data de vencimento (...)/ Novo corpo/ ou novo/ copo/ o que o tempo/ Prometeu/ e a vida não cumpriu/ já não importa/ é o gole do santo/ ou do abutre (...)/ partir no óbvio/ a corrente/ ou simplesmente/ partir". AA

Nessa contrução doída e real, o poeta, também autor de "Os dias Perambulados & outros tortos Girassóisprêmio Cidade de Recife/2008", ensina que o pensamento genuíno ao construir um bardo poético requer um afastamento do imediatismo, o que vai permitir uma compreensão hermenêutica mais profunda do que está sendo produzido. E o mais legal de tudo isso é que na observação, também cabe a construção poética sensual, pois os momentos contemplativos fornecem uma rica fonte de imagens e emoções para alguns ótimos poetas, como é o caso de Charles Baudelaire - "Les Fleurs du mal" - onde parte de suas poesias exploram temas de beleza, desejo e decadência, muitas vezes combinando imagens sensuais com reflexões introspectivas. Vide: "Les Bijoux". Nesse poema, Baudelaire descreve sugestivamente joias usadas por uma mulher, criando uma atmosfera sensual, de forma observatória. Abaixo, excertos:

"Le plus cher était nu et, connaissant mon cœur, Ne gardez que vos bijoux sonores, Dont le riche attirail lui donnait l'air de la victoire Que les esclaves des Maures avaient dans leurs beaux jours. Quand ton bruit vivant et moqueur danse, Ce monde rayonnant de métal et de pierre Me plonge dans l'extase, et j'aime furieusement Des choses où le son se mêle à la lumière.

(...)

Et ton bras et ta jambe, et ta cuisse et ton rein, poli comme l'huile, ondulant comme un cygne, passé devant mes yeux clairs et sereins ; Et ton ventre et tes seins, ces grappes de ma vigne,

(...)

Et la lampe, résignée à mourir, Comme seule la cheminée éclairait la pièce, Chaque fois qu'il laissait échapper un soupir extravagant, J'ai inondé cette peau d'ambre de sang !"

Mutatis Miutandi, juro que não me surpreendi quando Antonio Aílton, também abraça o tema, ao produzir algo semelhante, ao final de seu borbulhante "A Camisa de Atlas":

Enfim, com extrema sinceridade confesso ter lido uma obra diferenciada e com base nisso, reproduzo a frase de um apreciador da língua latina quando se há que qualificar uma excelente obra literária, escrita em um plaquinha, em alguma parte da Biblioteca Pública do Estado do Paraná:

"Bonus liber ad lyricos novae linguae humanoe conceptus generandos".

Desta forma, interpretei seu livro. Obrigado por compartilhá-lo comigo.

Curitiba-Paraná, 04/07/2023. Mhario Lincoln Presidente da Academia Poética Brasileira

rofessora, poeta e atriz Linda Barros parfticipa de obra hercúlea sobre a Literatura Maranhense

A obra, "Literatura Maranhense Ensaios sobre a lírica contemporânea", é um marco idelével no estudo de poetas, escritores e linguístas da atualidade, no Maranhão.

*********

LITERATURA MARANHENSE ENSAIOS SOBRE A LÍRICA CONTEMPORÂNEA

LINDA BARROS

ATENÇÃO: para ler a obra, na íntegra: https://dinodealcantarablog.wordpress.com/2023/07/20/literaturamaranhense-ensaios-sobre-a-lirica-contemporanea/

Nota da Chefe da ASCOM/APB: nós que fazemos a Academia Poética Brasileira estamos vibrantes com esse ensaio, fundamental para a caminhada do nosso presidente Mhario Lincoln, enquanto poeta. Participar deste livro icônico, possivelmente o primeiro elaborado para estudar e divulgar o autor maranhense atual (de 2000 pra cá) é algo original e deveras necessário. Em carta de agradecimento aos Coordenadores Dino Cavalcante, Helena Mendes e Samara Araújo ( e mais o professor José Neres), disse Mhario: "Permita-me expressar, por meio destas palavras, minha sincera gratidão por essa oportunidade ímpar de poder mostrar minha obra, analisada pela brilhante Linda Barros. É com profunda admiração e respeito que reconheço a inestimável contribuição que vocês têm oferecido ao nosso mundo literário, em especial, através desse hercúleo trabalho do Grupo GELMA,cujasrecompensas somenteseus corações ealmas, sentirão. Assim,curvo-mediantedessa importante missão - sim, missionária - no momento em que tenho certeza absoluta que esse trabalho guarda em si uma alma coletiva, vibrante, diferente de ensaios egóicos e deslumbrantes que nada fazem, porque apenas têm olhos para seus umbigos. Por isso, guarda em si, igualmente, rara excelência, que vai além do óbvio e do superficial, penetrando na âmago das obras e desvendando mistérios e devolvendo-as à sociedade interessada da maneira como deveria ser". Vale lembrar ainda o poeta, já falecido, Manoel Serrão, inigualável, logo após receber os originais de A BULA DOS SETE PECADOS: "Querido MLincoln, você estabelece-se como um mestre do surrealismo, capturando a imaginação e os corações dos leitores com algo hipnotizante. Mas, háembutida,umajornadainquietantepelo desconhecido, destinada aincendiaropensamentoe asuscitar um debate apaixonado sobre a arte e o significado subjacente a ela. Por isso, cuide-se para não esquecer as longarinas da alma, nas líricas de seu dia-a-dia. Enfim, seu novo livro pra mim é arisco". E agora, a excelente ensaísta, poeta, professora e atriz Linda Barros, como que de forma mediúnica, traz à baila um 'mote' quase igual ao do poeta José Serrão, transformando-o em um trabalho grandioso e de fôlego absoluto. Com certeza tal fato será inesquecível para Mhario Lincoln, que me disse, agora a pouco no celular: " ... guardarei essa crítica como se portasse um indispensável registro profissional de Curso Superior, concedendo-me acesso aos lugares mais seguros e profundos do universo lírico." Parabéns Linda Barros. Você merece muitos aplausos. (Orquídea Santos).

Autora do ensaio: LINDA BARROS

É natural de Pastos Bons/MA, Linda Barros é graduada em Letras (Português-Espanhol) pela Universidade Federal do Maranhão, pós-graduada em Língua Portuguesa (Fama), em Dança Educacional (Censupeg-SC).

É escritora cronista, contista, poeta, atriz, faz parte do Grupo Teatro Improviso, onde já atuou em vários

Linda Barros e Mhario Lincoln

espetáculos, entre eles Verão no Aquário – baseado na obra de Lygia Facundes Teles, O Mulato, de Aluízio Azevedo, Alice no País das Maravilhas, onde interpretou a intrépida Rainha de Copas, A Criação do Mundo, Morte e Vida Severina, entre outros espetáculos. No cinema, tem participação nos curta-metragens Branca, Um Pouco antes das cinco e participação especial no longa Muleque té Doido 3 – mais doido ainda e Muleque té Doido 4 – Morreu Maria Preá (lançamento em breve). É professora da Rede Estadual e Ensino Superior na Faculdade do Maranhão – FACAM, nos cursos de Letras, Pedagogia e Turismo. É autora do livro de poemas Palavras ao Vento e também de Meu Ser Espelhado em Mim, recém lançado. Participou das Coletânea Enluaradas, Sinfonia de Desejos.

Tem participações também na coletânea Por que Escrevo, a voz da Mulher, organizado pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. É cronista do Portal Facetubes, da Academia Poética Brasileira e também colabora no Site Região Tocantina. É membro da Academia Poética Brasileira, onde ocupa a cadeira de número 99, que tem como patrono o teatrólogo Charles Melo. Hoje é também a Secretária Executiva Nacional da referida Academia.

MHARIO LINCOLN NA LINHA TÊNUE DO TEMPO

MharioLincoln éadvogado,auditorfiscal aposentado,poeta,jornalistaeescritor.Étambém mais umariqueza nascida em São Luís, terra de grandes nomes como Nauro Machado, Bandeira Tribuzi, Lenita Estrela de Sá, Bioque Mesito, Ferreira Gullar e Ricardo Leão, entre outros. Assim como todos esses autores, Mhario Lincoln tem uma carreira consolidada, trabalhou durante mais de quatro décadas como jornalista profissional em jornais e TV da capital maranhense, entre eles, o SBT/Difusora. É Comendador no grau de Cavaleiro, título conferido pelo Governo do Estado do Maranhão, por seus feitos, foi também condecorado pela Maçonaria do Rio de Janeiro como colaborador. É Embaixador Universal da Paz.

Sua carreira literária é vasta. Integrou importante grupo poético que se apresentou no "Paço da Liberdade", prédio histórico de Curitiba-PR, promovido pelos intelectuais Silvana Mello (paranaense) e Osmarosman Aedo (soteropolitano), Sarau esse que lhe rendeu a primeira amostra pública e oficial de suas obras poéticas, além de lançá-lo também como produtor literário no Paraná; escreveu INA - a Violação do Sagrado, primeiro livro físico do autor, também lançado no formato e-book, numa época rara para esse tipo de publicação, na década de Ensaios sobre a Lírica Contemporâsnea 1990. Possui dois romances a serem publicados; O Maria Celeste e Amor Divino Amor (este, título provisório); tem um livro que reúne suas crônicas na imprensa maranhense Mhario Lincoln em Preto e Branco, trabalho esse que deu origem à tese de doutorado A Evolução da Coluna Social, apresentada em São Paulo, pelo sociólogo e professor paulistano Ferreira de Athayde. Mhario também teve experiência no gênero da Literatura Fantástica, escrevendo as HQ's: Vampiros de Areia, O Segredo das Galerias do Ribeirão; e A Morte de Mariquinhas. Tem ainda um inédito de Ficção Científica, com título de Os Bastidores do ET de Varginha e uma peça de teatro Monólogo da Caverna em Dois Atos e Lagarta com Chapéu de Dedal, baseada em poema épico do autor. Mais recentemente, publicou o livro de poema A Bula dos Sete Pecados. Mas, anteriormente, também havia publicado, Guia do Extraordinário Poético no Twitter e Segredos Poéticos (este com uma segunda edição especial para colorir).

Na área de Direito, que o levou a integrar a Academia Maranhense de Letras Jurídicas como sócio fundador, tem duas obras publicadas: Acumulações Remuneradas de Cargos e Funções Públicas e Inviabilidade das Comissões Permanentes de Inquérito. É também presidente da Academia Poética Brasileira, é ainda membrocorrespondente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Foi colunista no Jornal Pequeno (matutino de grande circulação e importância política no Estado), entre os anos 1999 e 2001, espaço no qual falava de política, economia, curiosidades, cinema, literatura e arte em geral.

Hoje Mhario Lincoln está revolucionando as plataformas digitais, onde comanda o www.facetubes.com.br uma revista eletrônica que possui colaboradores e leitores do mundo inteiro. Nessa mesma página o público também tem acesso à vídeos, TV e podcasts, enaltecendo sempre a cultura maranhense. O poeta é também músico, tem CDs: um instrumental (Baixada) e outro vocalizado. Tem parcerias com grandes músicos maranhenses como, Rogeryo du Maranhão, Wellington Reis, Paulo Piratta e Chiquinho França.

O autor de A Bula dos Sete Pecados, com certeza percorreu caminhos tortuosos até chegar ao mais alto nível de uma carreira consolidada entrando em várias vertentes do mundo intelectual, pois na linearidade da vida às

vezes é preciso ter força, convicção e perseverança de onde se quer chegar, aliado a muito trabalho, muita luta, num caminho que nem sempre é visto ou notado.

MHARIO LINCOLN E SUA POÉTICA SURREALISTA

Algumas vezes a cientificidade nos textos literários ultrapassa alguns limites dentro da perspectiva do autor, pois ora ou outra ele fica face a face com a realidade. O surreal que costumamos encontrar nos textos, principalmente na poesia, é advinda do cotidiano melancólico do poeta. Neste texto, vamos mostrar e tentar entender como o autor específico faz uso dos seus textos dentro da teoria surrealista.

OSurrealismo dentrodo automatismo psíquicopuropor cujo intermédio se procura expressar,tantooralmente como por escrito ou qualquer outro modo, o funcionamento real do pensamento, conforme pode ser visto no poema abaixo, retirado das redes sociais do poeta:

CHORAR, VIVER E AMAR: em três sentidos.

Não chore, CHORANDO.

Chore SENTINDO.

Não viva IMPLORANDO

Viva EXISTINDO.

Não ame

AMANDO Ame PERSISTINDO

Os textos poéticos desse jornalista possuem linguagem automática, sem nenhuma preocupação com a lógica externa ou com as questões gramaticais, possuem traços bem-organizados que ao mesmo tempo são livres de marcas específicas. O autor põe no papel todo o sentimento expressado através das palavras, sem se preocupar comlógicadascoisas,noentantosemperderoritmoeamusicalidade,quesãomarcasinerentesdesuapoética. No poema abaixo, a tessitura das palavras trabalha diversas vertentes da sonoridade e das acepções de uma palavra que vem ganhando dimensão de como aproveitar o fim de semana, sozinho ou ao lado de amigos, descansando ou saindo em busca de múltiplas diversões. O uso do condicional “se” remete às possibilidades que existem dentro de situações que nem sempre são visíveis para quem apenas se importa com o factual, sem atentar para as condições propícias para o aproveitamento do ato de “sextar”.

SEXTOU?

Sextou,

Se estou

Sextante, Sextou

Se estou

Sexteto

Sextou

Se estou

Sexy

Sextou

Se estou

Sextavado

Sextou

Se estou

Sexto

Sextou Se estou Sextanista!

(LINCOLN, 2020, p. 97)

A teoria surrealista provocou enorme impacto na arte “não só pelo seu poder de agitação como também por resumir de forma brilhante e audaciosa diversas tendências que, atuantes desde o século XIX, alcançariam o apogeu nas décadas iniciais do seguinte” (MOISÉS, 2004, p. 442), mas pelo que tudo isso iria causar a partir daquele momento, principalmente pela maneira como essa nova tendência, de forma audaciosa, iria provocar e alavancar críticas nesse século, no entanto, só veio a surtir efeito no século seguinte.

Os versos de Mhario Lincoln vêm carregados de energia e de metáforas poéticas que buscam expressar uma verdade, como nos versos de Vida de artista;

A simplicidade do artista

Faz dele um diferencial

Onde o coração se torna destino

E o sangue, a força para continuar... (LINCOLN, 2020, p. 76).

VII

Quantas vezes Matamos o cupido Pensando matar Também o amor (LINCOLN, 2020, p. 88)

VIII

Há no meu quintal Um canteiro de Esperanças mortas Pasto das desilusões E, bem junto do beiral da casa, Um jirau carregado de heresias. (LINCOLN, 2020, p. 100)

Em grande parte dos textos do autor de A Bula dos Sete Pecados, perpassa por esses pontos de partida e de chegada, onde ele faz um jogo com as palavras deixando o leitor atento para decifrar as mensagens. Sobre esse tema Mhario Lincoln comenta que:

A MORTE DA NOITE

Venho do enterro da noite, acompanhado dos rios em açoite, com olhos deprimidos, deveras enturvinhado.

Fardo nas madrugadas.

Soluço entranhado.

Vi a noite morrer, assim, aos poucos ungido na fonte d’onde bebem os loucos dos universos paralelos; há pouco fugido com o rugir de vozes fétidas, aturdido. Fui morrendo, com a noite; eu junto. Múmias budistas, vi, vivas; eu defunto

num transe imperceptível, na linha tênue...

Alardeei sirenes de fogo em meu bestunto, Molhei as pernas, sal, pimenta, a cabeça unto.

Morreu a noite, morri também, Isso foi denue...?

(LINCOLN, 2016, p. 48)

Ecomomuitosoutrosescritores,oautordeSegredosPoéticosnãoselimitaaumasócorrenteartísticaliterária, o que nos levou a fazer uma análise dos textos nessa corrente específica, foi a proximidade das características observadas na vanguarda surrealista com os textos, não significando dizer que não há influência de outras, porém essa, é a mais recorrente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, nem precisa dizer que em uma carreira que ultrapassa meio século, o sucesso e o reconhecimento são meros gatilhos que ultrapassam as barreiras do tempo. E, para que muitos, ou todos, que pensam que a vida tem um limite na linha do tênue do tempo, se enganam. O fazer literário hoje em dia, é um enorme sacrifício, não para quem o faz, mas para quem lê.

Com tanta tecnologia que somos bombardeados, todos os dias e cada vez mais modernas, o livro está virando um mero objeto de decoração nas prateleiras das poucas bibliotecas existentes.

Já quase não existem as bancas de revistas, nas quais ainda encontrávamos alguns parcos livros, essas bancas eram verdadeiras luzes no meio do blecaute da ignorância em que as folhas em branco ou preenchidas com arte e literatura, soma ou diminui o valor cultural dos livros. Então, como ainda ter gana, ter vontade ou a decência de publicar livros físicos? Isso muito se restringe ao amor pela arte da escrita e pensar que ainda existem leitores afoitos por folheá-los.

O poeta baiano Castro Alves tentou mostrar o verdadeiro valor dos livros com os famosos versos:

“Oh! Bendito o que semeia/ Livros à mão cheia/E manda o povo pensar!/O livro, caindo n'alma/É germe – que faz a palma,/É chuva – que faz o mar!” (ALVES, s/d, p. 17). Esse texto compõe a obra Espumas Flutuantes do poeta dos escravos. Os autores em geral, tem seu estilo próprio, mesmo que talvez não agrade ao leitor, mas seus versos, simetria, músicalidade, condensação dos versos, tudo isso faz parte do rol do autor, ele pode até mudar seu estilo com o passar do tempo, pois vai-se ganhando mais experiências, vocabulário, mas tudo tem a ver seu estilo de escrevereacabe ao leitoroucríticomais atento,descobriroudesvendaressas nuances, assim como umaescola literária. No entanto, assim como nas artes em geral, as obras literárias – que também são obras de arte –possuem características similares e uma delas é subjetividade, que dá liberdade ao leitor, ao observador fazer suas próprias conclusões.

Mhario Lincoln carrega consigo essas várias nuances em suas obras e que sempre deixa o leitor atento a ter suas próprias interpretações.

Mas uma ideia me ocorre Nem o amor finda, nem o poeta morre!

Dadas as circunstâncias, o motivo de escolher a corrente surrealista para mostrar os textos de Mhario Lincoln é que em grande parte dos poemas escolhidos pudemos observar que autor se vale, intencional ou não, mas seus poemas vagueiam pelas características do Surrealismo, algumas vezes passa pelo “sonho e realidade ou entre lucidez e delírio”. É o surreal: aquilo que está para além do real, que é mais que o real porque transcende a compreensão racional e relaciona-se com a mente inconsciente, com o imaginário e o absurdo.

E o Surrealismo é isso, tudo é surreal, ou seja, é aquilo que está para além da realidade, mas sem deixar transparecerumacertaverdade,pois osurreal transcendeacompreensão racionaldas coisas,masaindaassim, há uma relação que mantêm o inconsciente, consciente e deixando uma verdade que às vezes não chega ao absolutismo completo.

REFERÊNCIAS

ALVES, Castro. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]

FERNANDES, Ceres Costa. Surrealismo e Loucura e outros escritos. São Luís: Gráfica Aquarela, 2008.

LINCOLN, Mhario. Segredos Poéticos. São Luís: Edição do Autor, 2016.

A Bula dos Sete Pecados. Curitiba: Editora Palavra & Verso, 2020.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Editora Cultrix, 2004.

TELLES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 21ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022.

SITE: https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/surrealismo.htm#:~:text=Surrealismo%20foi%20um%20movi mento%20art%C3%ADstico,no%20teatro%20e%20na%20filosofia

LADO PRÁTICO: o Dia do Escritor assemelha-se a uma 'fake news'.

Ta bom! Por favor, não nos condenem, mas também não vamos ser bobos de acreditar em tudo que as redes sociais demandam, especialmente quando publicam.... "feliz dia do escritor, blablablá".

Então, que tal se o Dia do Escritor, fosse celebrado de forma diferente, sem os tradicionais tapinhas nas costas e 'até logo'? Poderíamos comemorar como uma oportunidade ímpar de chamar a atenção e conscientizar a sociedade sobre a importância da leitura e da valorização dos escritores, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades para publicar seus livros e têm limitações de acesso à leitura. Porém, quase ninguém na face da terra brasilis pensa assim. Por isso, que tal se fossemos na contramão da normalidade para mostrar até onde estamos certos ou errados em comemorar o 'Dia do Escritor' sem algumas ações básicas e necessárias, especialmente em prol daqueles com raríssimas chances de ter um livro às mãos e - pior - compreender seu conteúdo?

Em primeiríssimo lugar deveríamos atentar para as campanhas de incentivo à leitura, neste Dia do Escritor, campanhas de distribuição de links gratuitos de materiais digitais nas redes sociais e nos outros meios de comunicação, a fim de promover a leitura em massa, levando em conta os bilhões que futricam na internet ou mesmo envolvendo a comunidade interessada em oficinas literárias, proporcionando conhecimento e capacitação para escritores iniciantes. Tal fato já seria um degrau maior onde os envolvidos teriam orgulho desse 'pertencimento'. E isso poderia acontecer em parcerias com instituições sociais, academia de letras, instituições literárias. Isso seria perfeitamente possível!

Outro fator interessante é dar acesso maior possível aos e-books (veja o grande exemplo vindo lá de São Luís-MA, com a publicação da obra, "Literatura Maranhense Ensaios sobre a lírica contemporânea") e plataformas digitais, onde todos possam ler gratuitamente ou de forma a não se submeter a preços absurdos cobrados pelas editoras (vide números ao final). Desta forma, o Dia do Escritor poderia sair dos "obas-obas" e então, fomentar o acesso à leitura para que mais pessoas pudessem ter a oportunidade de ler, mesmo que não tivessem condições de comprar livros impressos.

Alguns esquecem que o Dia do Escritor não é apenas do 'Homem'. Mas do Livro, da leitura do livro. Da interseção entre o leitor e o livro que é igual ao conhecimento que o Escritor passa em sua obra. O Escritor é apenas - e somente - um 'start' que alimenta a eletricidade do conhecimento ou do entretenimento. Por isso, como comemorar o Dia do Escritor, se muitos Escritores, nem leitores têm? Todos sabem que autor citado é autor respeitado. Assim, no próximo ano, invés de encher as redes com "Parabéns", seria interessante publicar uma foto de um livro postado nos Correios e enviado para uma instituição de caridade, um Asilo de Mendicidade ou a um amigo carente. Todos temos amigos assim. Ou não?

Desta forma, para que esse dia seja bem comemorado, alguém terá que abrir as portas do egoísmo pessoal e coletivar a data, com ações previamente organizadas, de forma positiva e real. Se é para festejar, então façamos o certo dando oportunidade à literatura nacional, incentivando os iniciantes, porque a celebração dessa data deveria ajudar no trabalho do Escritor com maior dificuldade e a valorizar a sua contribuição para

O OUTRO
Arte: MHL * Mhario Lincoln

a cultura da sociedade como um todo. Deve-se seguir o mesmo modelo de outras campanhas. No dia da Vacina contra a Pólio. O que se faz? Alardeia-se a necessidade de tomar a vacina. E no Dia do Escritor? O que se está fazendo no país? Alardear a necessidade de se ler (vacinar-se contra a ignorância) ou se está elogiando e glorificando a Pólio?

Vale uma grande reflexão. Especialmente no que concerne às evidências para a melhoria da cultura, propriamente dita, relacionadas à acessibilidade à leitura e aos desafios enfrentados pelos Escritores em relação aos custos de publicação e distribuição de livros. Erros estruturais? Muitos? Destarte, cabe-nos não esperar milagres e assumirmos a posição do velho beija-flor; aquele do incêndio na floresta. E como começarmos? Repassando o velho livro da estante para alguém que gosta de ler e não pode? Parece besteira. Mas isso terá uma resposta imensa no cenário da literatura; um "efeito borboleta", um pouco diferente daquele descoberto pelo meteorologista estadunidense Edward Lorenz: uma borboleta bate as asas na Amazônia e causa um tufão no Texas. Mutatis mutanti, poderia causar um tufão de sabedoria em nossas plagas, não é?

SERVIÇO:

Se não vouver incentivos e uma política mais vibrante e dinâmica, o Dia do escritor, esse ficará de mãos atadas para lançar sua obra. Abaixo, alguns preços praticados (2023), em algumas das gráficas boas, para entregar seu livro* em perfeito estado de leitura e conservação:

Editor: entre R$10 e R$20 por lauda para edição;

Revisor: entre R$8 e R$18 por lauda;

Diagramador: em média, R$10 por página simples diagramada;

Figuras, fotos ou ilustrações de banco de imagens: entre R$30 e R$60 por imagem;

Capista (profissional especializado em capas de livro): entre R$500 e R$1000 por capa.

MONTELLO INVADE OS TAMBORES DE MINA, REVELA OS MISTÉRIOS DE UMA NOITE EM ALCÂNTARA E LEVA SÃO LUÍS

Vinte e um de agosto é o ápice da semana em homenagem ao romancista maranhense Josué Montello e, com certeza, a Casa de Cultura Josué Montello, localizada na Rua das Hortas, Centro de São Luís, se prepara para mostrar um acervo valioso, composto por cerca de 50 mil itens, inclusive o fardão da Academia Brasileira de Letras, além da biblioteca pessoal, possibilitando aos visitantes uma imersão na vida e obra do escritor.

Montello recebeu elogios e reconhecimento de diversos críticos e escritores renomados ao longo de sua carreira. Suas obras foram aclamadas tanto pelo público quanto pela crítica literária. O autor é especialmente conhecido por sua habilidade com a escrita e sua capacidade de evocar um Maranhão que se perdeu no tempo, fazendo-o destacar-se como um raro artista literário.

Entre críticas importantes estão a de colegas, como, por exemplo, Jorge Amado, que considera "A Décima Noite" o maior romance de Montello e "um dos mais sérios já publicados no país", Tristão de Athayde que também enaltece a literatura de Montello, apontando "Os Degraus do Paraíso" como uma "obra que representa o auge da montanha literária que o autor vinha escalando ao longo de vinte anos".

Manuel Bandeira, por sua vez, compara a prosa montelliana à de Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. A precisão e "o cuidado com as palavras na obra de Montello são elogiados, destacando a ausência de excessos e desleixos em sua escrita".

Gilberto Freyre destaca a capacidade do escritor maranhense "de evocar um Maranhão que quase não existe mais, tornando suas obras uma representação autêntica da cultura e da história da região".

José Lins do Rego, outro grande nome da literatura brasileira, também faz uma comparação entre Montello e Machado de Assis, afirmando que o primeiro vai discretamente além do segundo em suas novelas. "Labirinto de Espelhos" é mencionado

PARA A ETERNIDADE LITERÁRIA MHARIO LINCOLN
MHL *Mhario Lincoln c/ fotos antigas enviadas pela amiga da APB, Judith Bogéa Bittencourt Josué Montello na Fonte do Ribeirão. SLZ.

como "um exemplo da tradição da novela espanhola, tratada de forma grotesca, demonstrando a versatilidade do autor em abordar diferentes gêneros e estilos narrativos".

Wilson Martin considera o trabalho de Montello como "uma série de obras-primas, elogiando especialmente o conto 'O Velho Diplomata,' em razão da correção de linguagem, equilíbrio emocional e perfeição técnica presentes em suas obras".

Já a arte sutil e direta do narrador, no trabalho de Montello, é elogiada por Antonio Olinto, que o enxerga "como um ficcionista de vanguarda no Brasil contemporâneo". Octavio de Faria vê em "Duas vezes Perdida" o ponto culminante da carreira do escritor, com novelas variadas em gênero e tom, "todas com uma composição impecável e um domínio completo da arte literária".

Finalmente, Virginius da Gama Melo e Oscar Mendes Martins destacam a técnica de Montello como "digna dos grandes criadores de ficção, ressaltando a maestria com que ele maneja suas histórias e personagens". São opiniões fortes e vindas de quem estuda, analisa e conhece muito bem, inclusive pela convivência pessoal, as artimanhas literárias de Josué, cuja contribuição para a novelística brasileira é exaltada por todos nós, além deles, fato que o torna um nome incontornável na literatura brasileira do século XX.

Bom frisar que Montello, falecido em 2006, tem algumas características incontestáveis, a meu ver. Eu particularmente gosto demasiadamente das suas narrativas realistas e regionalistas, que frequentemente retratam a cultura, os costumes e a história do Maranhão, (onde nasci e ele também), com obras cheias de uma forte identidade regional, explorando as peculiaridades e a diversidade do Estado e de seus habitantes.

A prosa montelliana sempre evitou excessos e desleixos. Sua linguagem é considerada elegante e bem trabalhada, o que contribui para o apreço de leitores e críticos. E mais, ele acaba fazendo com que nós, leitores, voltemos ao passado. Em muitas de suas obras ele traz à tona a história e a memória do Maranhão. Seus romances e contos frequentemente resgatam

Capa. Josué M: Carteira de Trabalho da Presidência da República.

eventos e personagens históricos, conferindo um aspecto nostálgico e melancólico a suas narrativas. Aliás, a grande versatilidade em sua escrita, transita igualmente na análise da perspicácia da sociedade e dos indivíduos, explorando as complexidades da mente humana. Seus personagens são retratados com profundidade psicológica, tornando suas histórias ricas em nuances e reflexões sobre o comportamento humano.

Com certeza, todos esses atributos espalhados pela imensidão de cada obra. Um exemplo: "Tambores de São Luís", uma história que se desenrola em apenas uma noite, em São Luís, no Maranhão, onde Damião, enquanto cruza a cidade, ao som dos tambores da Casa-Grande das Minas, para visitar sua bisneta, que logo ganhará um filho, trineto dele. O incrível disso é que nesse pequeno espaço de tempo, Montello consegue incluir mais de quatrocentos personagens, numa narrativa mais que mágica, me lembrando, também, o fantástico "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez.

Enfim, ler, relembrar e mergulhar nas coisas e no tempo montelliano, a partir de 21 de agosto, na Casa de Cultura Josué Montello, em São Luís, é ter a sensação de que ele está vivíssimo e lhe dizendo: "entre, a casa é sua!"

*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.

TOMOÚNICO

"AodesvelaraessênciadamonumentalobradeGonçalvesDias,intrincadacomosmatizesdo romantismoluminosoeaindubitáveltessituradoindianismobrasileiro,nãopretendo,demaneira alguma,negligenciarsuasignificância.Aocontráriobuscocompartilharinquietaçõesquefluem como águas de um riacho, sem aspirar à universalidade, seguindo a premissa em latim: "sunt personalisetnon-transibiliaconsiderationes."(MharioLincoln).

Emumcontextorepletodeanálisessobreos200anosdeGonçalvesDias,opteiporumaabordagem inversaàlógicaromanesca,imergindoemumaspectoquesedestacounasminúciasdecertos poemas do ilustre poeta maranhense. Iniciei minha incursão nas raízes, explorando poetas românticosalemãesqueexerceraminfluênciasobreGonçalvesDias,comoJohannWolfgangvon Goethe,pioneirodomovimentoromânticoeinfluenciadordediversosescritoresepoetasdesdeos anos1700.

Tomemos,então,comoexemploopoemadeGoethe("MarCalmo"):

"Aonda,quedormequieta,nãoespuma;/Oastro,quesonhaplácido,nãocanta,/Eemtodoo vastomar,empartealguma/Amaispequenavagaselevanta."

Seráexageroatribuiràconsciênciasubjacenteaestesversos,permissõespoéticasquetranscendam ohabitual"euromântico"?Observem:nosversos,"Aonda,quedormequieta,nãoespuma;/O astro,quesonhaplácido,nãocanta",esses,podemtransmitirtambém,aimportânciadaserenidade eequilíbrioemocional,ressaltandoanecessidadedequetaisatributoslevemaalcançarapaz interior?Enestes:"Eemtodoovastomar,empartealguma,/Amaispequenavagaselevanta",não sepoderiaassociaraplacidezdomarcomaserenidadementaleahabilidadedeencarardesafios commaisequanimidadeeharmonia?

À luz dessas interpretações, permito-me percorrer os caminhos da poesia romântica em uma jornadadeautorreflexão,indoalémdosamoresedaspaixões,rumoaumterritóriodeintrospecção

linguísticaeracional.Apenasquisampliaressesconceitosromânticos,atribuindoaeles,damesma forma,uma visão maisexistencial notada nas filigranas de poemas construídos por eminentes autores românticos alemães como Heine, Hölderlin e Eichendorff, ao longo dos séculos. Esses autores,assimcomodomesmomodoencontreiemGonçalvesDias,transcenderamo'amor'para instigarumareflexãopessoalnoleitor.Possivelmentenemelesmesmospoderiamimaginaressa novavertenteemseusversos.Contudo,emmim,funcionaramcomoreflexãointeriormelevandoa mudar certas atitudes relacionadas ao amor, paixão, decepção, solidão, angústia e outros sentimentoshumanos:"uniqueetusupersonali".

Comoilustração,abaixo,opoemadeHeinrichHeine-"Morfina"-cujaangústianeleescrita,'foge' àscaracterísticasqueoincluementrepoetasgemânicosromânticos:"(...)Ornadadepapoulas,sua fronte/tocavaaminha,àsvezes–eseuraro/odormedissipavaadordoespírito./Talalívio, porém,nãodura.Eusó/heidecurar-meinteiramentequando/oirmãoseveroepálidoabaixar/ suatocha.–Osonoébom;osono/eterno,aindamelhor;mascertamente/oidealserianuncater nascido".

Numaprimeiraanálise,sobopontodevistalírico-adjutóriaéfatoatentativacrucialdeHeinede aprenderalidarcomasadversidades.Essadependênciadamorfinapodeserinterpretadacomo umabuscadesesperadaporalívioeconfortodiantedosofrimentofísicoeemocional.Eporfim, quandoHeinedescreveum"irmãoseveroepálido"que,eventualmente,abaixaráatochaetraráo alívio total, ratifica-se nesses versos, uma dualidade reflexiva sobre a natureza transitória das experiênciashumanas.

Taisinterpretaçõesquetive,aolerereleralgunspoemasespecíficodeHeinrichHeine,atéentão, namaioriadoslivrosedaslistasdosromânticosalemães,imediatamentesurgiu-meaideiadeque havia algo a mais nessas construções sentimentais. Em Gonçalves Dias, além do romantismo propriamentedito,háinserçõesprimorosassobreliberdadeeheroísmo,inclusive,elementosque desafiavamnormassociaiseencorajavamaanálisedosvaloresecrençasindividuais.OinglêsLord Byroncompunhanamesmalinhagem.Exemplo:"ChildeHarold'sPilgrimage",poemanarrandoa jornadadeumjovemchamadoChildeHaroldatravésdaEuropa,refletindosobretemascomo beleza,amor,morte,políticaefilosofia,enquantoexploradiversoslugareseculturas.Ora,muito alémdeumconceitoheróicopuramenteestáticoeinorgânico.

Damesmaformaque"CançãodoTamoio"donossoGonçalvesDias,cujanarrativaretrataalutae a resistência dos povos indígenas, especificamente os Tamoios, contra os colonizadores portugueses,enaltecendoacoragemeabravuradosindígenasnadefesadesuasterrasetradições, contraainvasãoeuropeia.Opoematambémfazumacríticaàopressãocolonialeaosofrimento impostoaosnativos.Essaobraéumexemploincontestedoquechamodelírica-adjutóriaporque nelaseincluemmensagensdeluta,desuperação,deforçapessoal;ounão?Damesmaforma,a romântica"CançãodoExílio"seenquadranessapremissa.Encontreiinúmerasmensagenscheiasde rigorexistencial,saudadeexplícitaeabuscapelafelicidadenapátria-mãe.Ouseja,atransformação damelancoliaemumimpulsodeenfrentamentodedesafios.

Paraquemlêcomacuidadedesalienada,vaiacabarencontrandotaisalegações,porexemplo,em "Ainda uma vez - adeus!", cuja ideia de despedida, mesmo diante do amor intenso, pode ser interpretada como um ato de autoamor e autocuidado, representando um crescimento e fortalecimentopessoal,através dodesapego.Ounão?Porisso,estetexto -aserbrevemente transformadoemensaiocrítico-mostrarápidasnuâncesdoquepasseiachamardelírica-adjutória, nãocomo'absolutaveritas',todavia,comoalgodiferente,quepossalevaranovasdiscussõessobre apoéticagonçalvinae,notodo,aavaliaçõessobreaexpansãodaromancidadenoqueconcerneà mensagensinterpessoais.

Foi isso que me levou a analisar além do romantismo e indianismo de Gonçalves Dias, afora componentes líricos, simplesmente. Há, no meu entender, claríssima evocação de mensagensinterpessoais,deversos-bússolas,deapelos-existenciais,enredosque,literalmente,meprovocaram autorreflexãoeestimularammeudesenvolvimentopessoal,noqueconcerneaosmeusvalores humanos.Emoutraspalavras,essalírica-adjutória,queoraacrescentoàsdiscussõeshermenêuticas gonçalvinas,amimmetransmitiumensagenssutisdeesperança,otimismoefortaleza,claro,tudo isso, junto com a ideia inicial e constante de preservação da história e do fortalecimento das essências,romanticaeindianistadoautormaranhense.

Assim, para aqueles que se sentem seguros em suas afirmações e estão abertos a discussões saudáveis, tento ampliar a compreensão da notável jornada poética de Gonçalves Dias, transcendendoasfronteirasdonacionalismoromânticoeexplorandoumâmbitomaisamplode reflexõesinterioreseexistenciaisque,senossaalmaestiveraberta,comcerteza,tilintarão,como respostaaosestímulospresentesemboapartedaobragonçalvina. Atémaisver!Itacenseo,sineconjunctionecumverisabsolutis.

A LIVRARIA AMEI COMPLETA 7 ANOS DE EXISTÊNCIA SOB O COMANDO DE JOSÉ VIÉGAS E A COMUNIDADE LITERÁRIA DO MARANHÃO JOIZA COSTA

Equipe da AMEI- Associação Maranhense de escritores Independentes.

A livraria AMEI completa 7 anos de existência, sob o comando de José Viegas e se tornou um marco na história da literatura maranhense, através da associação de escritores independentes alguns obstáculos puderam ser contornado oferecendo um pouco mais de acesso a produção literária maranhense.

Hojealivrariaabrigaum acervomuito grandedeobras maranhenses, e provaquea culturaletradanesteestado não ficou no passado, embora o passado seja alicerce para o presente e para o futuro, os tempos mais remotos foram tempo de semeadura, o tempo dos primeiros rebentos que frutificaram com escrita da melhor qualidade. Não podíamos parar no passado, embora ele faça parte de um grande legado literário, precisávamos avançar e dinamizar esse processo.

A livraria é a casa de acolhida do autor maranhense, e em seu espaço além de abrigar milhares de obras, abriga o escritor, em seus lançamentos, saraus, reuniões, exposições. E também o autor independente e principalmente iniciantes podem contar com o suporte de orientações sobre a publicação de obras, principalmente através de seu presidente José Viegas. O espaço abriga ainda um bom acervo de artes visuais e artesanato, alimentando de ‘maranhensidade’ quem se dispõe a visitá-la.

Profs. Neres e Dino.
LITERATURA EM EVIDÊNCIA

Numa noite de pura literatura sob o comando dos professores-doutores José Dino Cavalcante e José Neres, embalados pela atmosfera artística de Linda Barros, o público que esteve na AMEI, no dia 31 de agosto do corrente ano, pôde desfrutar do que chamo de essência da literatura maranhense uma iniciativa promovida pelo GELMA-Grupo de Estudos em Literatura Maranhense e AMEI. O foco era Gonçalves Dias e toda sua contribuição literária e cultural para as letras e história brasileira.

Os professores José Dino e José Neres fizeram um mergulho profundo nas nuances da escrita do Poeta Maior, desse modo o público pôde se alimentar ainda melhor da seiva primeira da literatura maranhense e concomitantemente brasileira, sim na fonte da Terra do Brasil, no solo fecundo da nossa natureza e da nossa gente. Para além de um romantismo e de um nacionalismo exacerbado, Gonçalves Dias cantou sua terra e sua gente de uma forma que ninguém se iguala.

E prazerosamente pudemos ouvir e acompanhar nas palavras do professor Dino e do professor Neres, muitas especificidades contidas em nosso poeta maior.

A escritora e atriz Linda Barros nos brindou com uma bela e emocionante interpretação do monólogo intitulado “O PEDIDO” de autoria do professor escritor José Neres. Ele traz de forma fantástica em seu monólogo, Gonçalves Dias na imagem de Ana Amélia, uma sacada de mestre.

O monólogo acontece por meio de uma carta que seria o pedido de casamento de Gonçalves Dias para a mãe de Ana Amélia, e no final, bom isso vocês descobrirem ao apreciarem a referida interpretação do monólogo. Na roda de conversa que se estendeu depois das falas dos professores e da interpretação da atriz, Linda Barros fez o seguinte questionamento: - quem seria Gonçalves Dias sem Ana Amélia, e o professor Neres retornou com outra pergunta, quem seria Ana Amélia sem Gonçalves Dias?...

Com certeza todos que ali estiveram saíram alimentados de LITERATURA.

GONÇALVES DIAS, VIVA A LITERATURA MARANHENSE E BRASILEIRA

DROPS LITERÁRIO

"Oh, meu Deus, que alegria!Hoje de manhã vi minha mãe, dona Lourença, a ler atentamente uma carta. Toda hora ela franzia o cenho. Como se estivesse se sentindo mal. De ser emoção de ter a filha pedida em casamento por um grande poeta... "

Trecho do monólogo O PEDIDO de José Neres.

“VIVA
“O PEDIDO”

OUTROS ESCRITOS...

FINAL DE TEMPORADA

Ninguém poderia ter vivido exemplarmente a minha vida melhor que eu! Quem representaria com tanta perfeição o imperfeito papel do fracasso e do êxito do prazer e da dor do caos e do sublime na profunda necessidade de ser eu mesmo? Quem além de mim viveria plenamente tantos personagens simultâneos e múltiplos

Quixote Hamlet e Fausto com mil riquezas de significados no espaço/tempo de um dia/noite de existência? Quem representaria com tanta fidelidade no palco aceso das paixões a humana comédia da vida sabendo que o existir é drama e tragédia? Bravo! Cansei de ser aplaudido! Nenhum incentivo ou prêmio de consolação pagaria os direitos autorais dessa interpretação solitária e única!

Quem saberia ter convivido com o excesso e a carência do real e do ideal e não se deixou substituir e não se deixou fracassar?

Só eu mesmo poderia ter representado O papel de ser eu e ter estado em mim e não ter ficado absolutamente louco! Sou um especialista em naufrágios: portanto aceito alunos para falar de naufrágios

Mas não me vicio em drogas Só em liberdade Meus psicotrópicos? as tensões da vida Tenho muito tempo para dormir quando chegar a eternidade

Sou um personagem que cansou de ser autor e busca ator para nova mensagem (Portanto aceito novos papéis pela possibilidade de incorporar significados!)

No palco e na vida não enjoo mais:

o que sobra em mim é a carência de ter sido e o que falta é o excesso do realizado

Tudo tornou-se lucro:

não mandem mais flores para o camarim

nesse final de temporada

O único papel foi ter sido sempre eu mesmo e a única glória foi representar bem ou mal a própria vida inacabada

Fi-lo porque tinha de ser feito enfim:

e o que foi feito só poderia sê-lo por mim

O que eu sou é apenas um amador: um homem clamando em desespero por Deus

na luta incessante contra o anjo do destino

GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA

FERNANDO BRAGA

José Pereira da Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele mesmo quem diz no livro “O meu próprio romance”, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico”.

Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então mora a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto.

Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise.

Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntavam, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira que voltava da Suíça.onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que chegavam da revista portuguesa “Orfeu”, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha.

E a “Semana de Arte Moderna” explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com “Paulicéia Desvairada” e “Macunaíma”.

Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para “O meu próprio romance”: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”.

Sobreo livro“Canaã”, JoséVeríssimo, críticodosmais afiados ao tempo,disse:“Estréia,como nãomelembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco.

Graça Aranha publicou estes trabalhos: Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930.

As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos.

Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de “Canaã” e de “A Viagem Maravilhosa” e o doutrinador de “A Estética da Vida” e de “Espírito Moderno”, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em “A Estética da Vida” este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporte ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”.

Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeirode1931, tornou-se,noMovimento,um acontecimento imorredouro,porquetrouxeàluzdapublicidade o seu “Canaã” e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.

[Nota do autor] Discordo de Graça Aranha quanto à negação de Deus e do Direito Natural.

Este artigo foi publicado no Jornal “O Alto Madeira”, Porto Velho, RO, 24.9.84 e enfeixado em “Toda Prosa, de Fernando Braga, ainda inédito, Tomo III, do livro “Travessia – Confissões de um aprendiz de poeta.”

Prisioneiro voluntário em uma oficina de criações e emoções diversas, Nascimento Moraes Filho, mergulhou algum tempo atrás em uma gloriosa pesquisa nas salas grandes da Biblioteca Pública do Estado, em São Luís, como se fosse conduzido pela determinação daquele verso de Whitman: “o que não está numa parte está noutra”, usando apenas a vontade como poder.

Deste trabalho, sentiu há poucos dias [lê-se o ano de 1975], o resultado dos seus propósitos, quando fez a entrega ao Maranhão, em praça pública, do romance ‘Úrsula’, reeditado em fac-símile, justamente nos 150 anos da escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luis a 11 de outubro de 1825 e falecida na cidade de Guimarães [interior do Estado] a 11 de novembro de 1917.

O romance ‘Úrsula’, de Maria Firmina dos Reis, foi publicado pela primeira vez em 1859, pela ‘Tipografia do Progresso’ [São Luís], razão pela qual, se prendeu Nascimento Moraes Filho, provando com a justeza de sua coerência intelectual, ser ela a primeira romancista brasileira.

Esquecida entre jornais empoeirados e entre históricos documentos amarelados pelo tempo, Maria Firmina dos Reis, até então, tinha o nome apenas gravado na ‘água’, como no epitáfio famoso escrito na pedra que silenciao sono eternode Keats. Aninguém coube o fôlegodaintencionalidadeem fazer conhecidaestagrande mulher, neste nosso século e, [lê-se sec. XX] se porventura soubessem da sua existência, diriam displicentemente “que Wattan sem as Valkirias a tenha”, talvez levado pelo descaso consciente de não estar prestando um grande serviço às letras do país, ou pelo medo na incursão de tão cansativo e torturante trabalho.

E Nascimento Mores Filho, hoje já com Deus, e quanta falta faz às nossas letras, dela lembrou-se, com a perspectiva vocacional, colhendo do desconhecido subsídios valiosos para a dignidade do conhecer, sabendo que a arte é a sensibilidade humana e neta de Deus através dos homens. E daí o inesperado, a surpresa, legitimando a romancista Maria Firmina dos Reis na escala dos valores merecidos, até então desprezada no bastardismo do esquecimento. A Nascimento Moras Filho coube a petulante coragem, mostrando que nada mundifica tanto a alma dum homem como a criação da beleza e da verdade. E ele não se acobardou diante das seríssimas dificuldades existentes, sem nada que lhe norteasse uma pesquisa de grande valia e sem nenhum instrumento de metodologia cientifica. Como poeta, transcendeu sensivelmente ao apuro da sua criação de

A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA *
FERNANDO BRAGA

artista, norteando-se apenas a sonhos azuis e longínquos e, como folclorista, homem de cultura feita, maturado por vivências às vezes cruéis e também fantasísticas, teve ao seu lado a suprema ousadia da intenção acidental ou não, mas feliz de certo, que é o destino em estado de rigidez, crendo mais na extensão que propôs realizar do que mesmo no pão em substituição terrível ao suor, admitindo, como Spengler, a possibilidade de transpor o presente como limite de investigação.

Eagoraaí estáMariaFirminados Reis,jáconhecidanoMaranhão,devendo,deagoraem diante,porprocessos lentos, ser conhecida em todo país, pela supremacia de ser a primeira romancista brasileira, carente da necessidade crítica que há de vir por certo.

E agora aí está Maria Firmina dos Reis, em busto na Praça do Pantheon *, em São Luís, e com placa comemorativa num velho casarão da Rua de Santana, onde funcionava, na época, a ‘Tipografia Progresso’ que teve a felicidade de editá-la pela primeira vez.

E agora aí está Maria Firmina dos Reis, com nome de Rua em um dos bairros da Ilha, onde o poeta Gonçalves Dias cantou em versos, rogando a Deus não deixá-lo morrer sem avistar pela derradeira vez as palmeiras que ornamentam a triste e melancólica Praça de seu nome...

Parabenizo Nascimento Moraes Filho por ter sabido que a compreensão é mais que a conquista e que o conhecer é mais que o possuir... O ‘ego habeo fatum’ estender-se-á sempre às suas motivações...

Por fim, parabenizo o Maranhão, que também agora acolhe feliz Maria Firmina dos Reis entre seus filhos ilustres, no ‘logos’ dos seus imortais, louvando aos filhos de nossos filhos, ‘por nume nossos avos’.

*Fernando Braga, in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor.

Especial para o Jornal de Brasília, em 16 de novembro de 1975.

Ilustração: Busto de Maria Firmina dos Reis. Museu Histórico. Réplica, Convento das Mercês.

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

Outros artigos sobre Maria Firmina dos Reis: A Escrava, o conto abolicionista de Maria Firmina dos Reis (1887) | A homenagem simbólica a Maria Firmina dos Reis no dia do falecimento (11/11/1917) | Dezesseis novas menções a Maria Firmina dos Reis em jornais do século XIX (1906–1995) | O Álbum (o Diário) de Maria Firmina dos Reis | O erro histórico do Google sobre Maria Firmina dos Reis e as datas de nascimento e morte de três pioneiros da ficção brasileira | O espírito feminista e revolucionário das primeiras escritoras brasileiras de ficção | Seis novos poemas de Maria Firmina dos Reis (1863–1908)

Tema: o retrato da escritora gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann (1853–1895), usado em dezenas de páginas da Web para ilustrar posts e matérias sobre a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822–1917).

Origem do retrato: a ilustração do capítulo relativo à escritora Maria Benedita Câmara Bormann (mais conhecida pelo pseudônimo “Délia”), no livro Mulheres Ilustres do Brasil (1899), da escritora Inês Sabino. O retrato a bico de pena, sem referência a seu autor, consta da página 193 do livro.

Diferenças marcantes entre as duas autoras:

1. Délia era branca; Maria Firmina era negra.

2. Délia nasceu em família rica e casou-se com um engenheiro que viria a ser Ministro da Guerra; Maria Firmina nasceu e viveu no limite da pobreza, ganhando a vida como professora primária.

3. Délia teve presença marcante na mídia de um grande centro (o Rio de Janeiro), ocupando o lugar de folhetinista oficial de um de seus principais jornais (O País); Maria Firmina colaborou esporadicamente para alguns periódicos do Maranhão.

4. Délia centrou sua ficção nas questões afetivas e eróticas femininas; Maria Firmina teve como principal foco de sua ficção a opressão em suas variadas formas: do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, do branco sobre o negro e do colonizador sobre o indígena.

5. A obra de Délia se encontra “esquecida” do público e da academia, por falta de reedições; a de Maria Firmina está disponível pela primeira vez ao público em geral, graças à reedição de seus dois livros, e continua gerando trabalhos acadêmicos, que já se contam às dezenas.

Importância do fato: o mais flagrante equívoco na representação da aparência física de um autor, na história da literatura brasileira.

A origem do retrato cuja figura é atribuída a Maria Firmina dos Reis Não se conhece na literatura brasileira outro caso tão flagrante de equívoco na representação da aparência física de um autor, como o que envolve a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis e a escritora gaúcha Maria Benedita Câmara Bormann.

Em 1899, Inês Sabino lançou o livro biográfico Mulheres Ilustres do Brasil (1899). Na página 193 da obra, um retrato de Maria Benedita Câmara Bormann trazia, logo abaixo, o nome “Délia”, pseudônimo pelo qual se tornou conhecida durante toda a carreira.

O RETRATO FALSO DE MARIA FIRMINA DOS REIS
·

https://books.google.com.br/books?id=fHJmAAAAMAAJ&hl=pt-PT&pg=PA193#v=onepage&q&f=false

http://www.elfikurten.com.br/2015/06/ignez-sabino-pinho-maia.html

Esse retrato, em que uma jovem Délia, com feições suaves, usando um colar e um camafeu, olha para o seu lado direito, está atualmente associado à escritora Maria Firmina dos Reis em dezenas de páginas da Web, em livros e até mesmo em cartazes de encontros acadêmicos, como se pode ver no exemplo abaixo, datado de novembro de 2017.

http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2017/11/07/literatura-afro-brasileira-pela-obra-de-firmina-dos-reis-e-tema-deevento/

Não se sabe quem cometeu esse erro pela primeira vez e quando ele começou a se disseminar na Web e nas redes sociais. O importante, mais do que apontar o dedo para o estimulador inicial do erro, é corrigi-lo.

Diferenças marcantes entre as duas autoras

Maria Benedita Câmara Bormann, a Délia, era branca.

Maria Firmina era filha de negros, sendo descrita como “parda” por quem conviveu com a escritora. Atualmente, portanto, seria considerada negra.

. Délia nasceu em família rica. Casou-se com um engenheiro que viria a ser Ministro da Guerra e teve uma vida tranquila do ponto de vista financeiro.

Maria Firmina nasceu e viveu no limite da pobreza. Foi professora primária contratada pelo estado do Maranhão e não consta que tenha ganhado qualquer valor significativo em sua atividade como escritora.

. Délia conseguiu destacar-se com sua literatura, a ponto de ter presença marcante na mídia de um grande centro (o Rio de Janeiro), ocupando o lugar de folhetinista oficial de um de seus principais jornais (O País).

Maria Firmina só conseguiu alguma repercussão na mídia do Maranhão ao tempo do lançamento de Úrsula (1860), vindo depois a colaborar esporadicamente para alguns periódicos daquele estado.

Délia centrou sua ficção nas questões afetivas e eróticas femininas. Tornou-se famosa pelo romance Lésbia, que abordava questões polêmicas para a época, como o suicídio.

Maria Firmina teve como principal foco de sua ficção a opressão em suas variadas formas: do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, do branco sobre o negro e do colonizador sobre o indígena.

. Atualmente, a obra de Délia recebe pouca atenção do público, devido à falta de reedições, e da academia.

A obra de Maria Firmina dos Reis já conta com dezenas de estudos acadêmicos, e o relançamento recente de seus dois livros possibilitou, pela primeira vez, o pleno acesso do público a essas obras.

A representação mais fiel da autora maranhense, até o momento

Não há nenhuma fotografia, nenhuma pintura e nenhum desenho do rosto ou do corpo de Maria Firmina dos Reis, originário de sua época.

Aúnicadescrição da autoramaranhense seencontranapágina238(aproximadamente) dolivro Maria Firmina Fragmentos de uma vida (São Luís, 1975), de autoria do escritor e pesquisador maranhense José Nascimento Morais Filho. Eis a descrição, baseada em relatos de contemporâneos e referente ao aspecto físico de Maria Firmina quando ela estava com cerca de 85 anos de idade: “Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros; nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos); morena.”

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10155365582232380&type=3

. Com base nessas informações, o escultor Flory Gama esculpiu um busto de bronze da autora, em 1975, o qual se encontra exposto, atualmente, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão.

http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,no-centenario-de-morte-primeira-autora-negra-do-brasil-ganhareedicao,70001909178

Mesmo essa representação de Maria Firmina, certamente mais aproximada ao original, não conta com boa aceitação entre os estudiosos da obra da autora, porque os traços faciais se assemelham ao de uma pessoa branca e os cabelos são lisos.

Em 9 de março de 2014, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL, São Luís, MA) e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, publicou um post em seu blog no site do periódico O Estado do Maranhão, alertando para a confusão de imagens. A coluna de Leopoldo foi descontinuada em 2017 e a página já não se encontra disponível na Web, mas o conteúdo é o mesmo desta página:

Link original: http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/03/09/nao-e-de-maria-firmina-o-retrato/

Link válido: https://www.revistapoeticabrasileira.com.br/maria-firmina

No dia 14 de março do mesmo ano, Nonato Brito, do blog Vimarense (“vimarense” significa “natural da cidade maranhense de Guimarães”), também publicou um post sobre esse equívoco, motivado pelo desenho a bico de pena que representava Maria Firmina na exposição Mulher em Destaque, realizada em São Luís.

http://vimarense.zip.net/arch2014-03-01_2014-03-31.html#2014_03-14_20_41_07-8718514-0

O alerta de Leopoldo Vaz serviu de base a outro post, este da escritora Jarid Arraes, em 12 de maio de 2017.

http://jaridarraes.com/2017/05/12/o-verdadeiro-rosto-de-maria-firmina-dos-reis/ Uma representação possivelmente mais fiel é esta, presente no artigo supracitado de Leopoldo Vaz.

Esse curioso caso de confusão de imagem resultou em um trabalho universitário: A dissonante representação pictórica de escritoras negras no Brasil: o caso de Maria Firmina dos Reis (1825–1917), do sociólogo Rafael Balseiro Zin (2016).

Neste post do meu blog literário mostro imagens de 100 páginas da Web que veiculam essa informação errônea, com exemplos que vão de alguns anos atrás até o segundo semestre de 2019. Abaixo, apenas cinco exemplos, incluindo páginas nacionais e estrangeiras.

https://revistaraca.com.br/escritoras-negras-do-brasil/ http://www.palmares.gov.br/?p=34293

http://www.publishnews.com.br/materias/2017/11/08/sesc-homenageia-maria-firmina-dos-reis

http://mujeresquehacenlahistoria.blogspot.com.br/2015/05/siglo-xix-maria-firmina-dos-reis.html

https://www.41a.net/tag/leiamulheressjc

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

Resumo

Tema: a primeira menção conhecida à obra de Maria Firmina dos Reis em contexto acadêmico, feita exatamente no dia de seu falecimento, sem que os participantes tivessem essa informação.

Contexto da menção: o estudo Celso de Magalhães, lido pelo escritor Fran Pacheco em sessão pública na Academia Maranhense, em 11 de novembro de 1917.

Menção breve a Maria Firmina: “[…] Maria Firmina dos Reis, ainda viva, soterrada nas paragens vimaranenses [isto é, de Guimarães], vergando ao peso de 92 janeiros […]”.

Publicação do estudo: na Revista da Academia Maranhense de Letras, número 1 (1916–1918), e no livro Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz (Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957).

Local da referência à autora: na página 237 do livro supracitado.

Apresentação

Em 11 de novembro de 1917 falecia a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, nascida a 11 de março de 1822. Ninguém mais do que ela deve ter sentido tanta surpresa pela existência longeva: desde adolescente, Maria Firmina definia-se como “melancólica”, e em textos de prosa e poesia reconheceu ter desejado, muitas vezes, a paz associada ao suicídio.

Aos 95 anos de idade, Maria Firmina morreu pobre e cega. Não se conhecem obituários em jornais do Maranhão ou qualquer outra forma de reconhecimento de suas contribuições à cultura maranhense, após a morte.

A carreira literária também teve longa duração: quase 48 anos, da publicação de Úrsula em agosto de 1860 à divulgação de seu último poema no jornal Pacotilha, de São Luís (MA), em 20 de fevereiro de 1908. Como se deu com tantos escritores brasileiros daquela época, a autora maranhense morreu sem nenhuma expectativa de que no futuro seria lembrada com carinho e admiração, e sua obra divulgada entre o público e estudada no meio acadêmico.

Também esse tempo, no caso de Maria Firmina, demorou bastante. Somente onze anos após o lançamento da segunda edição de Úrsula, em 1975, o romance, até então inacessível, assim como sua obra, viriam a merecer o primeiro trabalho acadêmico: Um autorretrato de mulher: a pioneira maranhense Maria Firmina dos Reis, da escritora e pesquisadora Luiza Lobo.

Se o ano de 1986 marcou a entrada efetiva de Maria Firmina dos Reis na Academia, o de 1917, o próprio ano do falecimento, marcou a sua entrada simbólica. Isso porque em 11 de novembro daquele ano o escritor Fran Pacheco leu um estudo intitulado Celso de Magalhães em sessão pública na Academia Maranhense.

A Academia Maranhense havia sido fundada em 10 de agosto de 1908, tendo como um dos fundadores justamente o orador Fran Pacheco.

Nesse estudo, pela primeira vez a autora maranhense era mencionada de maneira elogiosa, sem que nenhum dos acadêmicos ou dos participantes da sessão soubessem do falecimento da autora, no mesmo dia.

O estudo saiu no ano seguinte na Revista da Academia Maranhense de Letras (número 1, 1916–1918), conforme se lê no recorte abaixo.

HOMENAGEM SIMBÓLICA A MARIA FIRMINA DOS REIS NO DIA DO FALECIMENTO (11/11/1917)
A

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 224, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

Reproduzido depois em Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, vai da página 224 à 255 do livro.

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 224, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

Na página 237 se dá a breve menção a Maria Firmina:

“[…] Maria Firmina dos Reis, ainda viva, soterrada nas paragens vimaranenses [isto é, de Guimarães], vergando ao peso de 92 janeiros […]”.

Na verdade, a autora faleceu aos 95 anos de idade, naquele dia. “Soterrada” soa quase como uma premonição.

Fran Pacheco e as Figuras Maranhenses, de Joaquim Vieira Luz, página 237, Livros de Portugal S. A., Edições Dois Mundos, Rio de Janeiro, 1957.

O contexto da menção era o registro dos nomes dos colaboradores do periódico Seminário Maranhense.

Simbolicamente, nesse dia Maria Firmina dos Reis saía da vida para entrar na Academia, meio que a acolheu e no qual, 100 anos depois, é homenageada com mais de 70 estudos que abordam diversos aspectos da vida e da obra da primeira romancista brasileira.

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

Resumo

Tema: dezesseis menções a Maria Firmina dos Reis e à sua obra, na mídia do século XX, ainda não divulgadas em textos relativos à escritora maranhense.

Menções específicas:

1. O apoio de Maria Firmina e de seu filho adotivo Leude Guimarães, em defesa de um funcionário do Tesouro acusado de corrupção: Diário do Maranhão (São Luís, MA), 18/10/1906, número 9965, página 2, antepenúltima coluna.

2. Solicitação de crédito de Maria Firmina ao governo estadual, para pagamento de vencimentos: Diário do Maranhão (São Luís, MA), 8/3/1910, número 11.004, página 1, segunda coluna.

3. Aprovação da petição anterior de Maria Firmina dos Reis: Correio da Tarde (São Luís, MA), 20/5/1910, número 11.004, página 1, quarta coluna.

4. Menção à obra poética de Maria Firmina dos Reis em artigo literário de João Afonso do Nascimento: Pacotilha (São Luís, MA), 28/11/1911, número 175, página 1, penúltima coluna.

5. A única menção a Maria Firmina feita no Rio de Janeiro, ainda em vida, em artigo da escritora Carmen Unzer, e relativa ao livro de poemas Cantos à Beira-Mar: Faceira (Rio de Janeiro, RJ), setembro-outubro de 1914, número 36, página 12, segunda coluna.

6. A segunda menção a Maria Firmina feita no Rio de Janeiro, em uma conferência literária da escritora Ana Amélia de Queirós Carneiro de Mendonça: Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, RJ), 4/11/1928, número 264, página 6, quinta coluna.

7. A terceira menção à escritora feita no Rio de Janeiro, em artigo anônimo de curiosidades sobre as Marias brasileiras famosas: Revista da Semana (Rio de Janeiro, RJ), 15/8/1936, número 36, página 7, quinta coluna.

8. Republicação do texto sobre as “Marias notáveis” em periódico de Santa Catarina: A Notícia (Florianópolis, SC), 27/8/1936, número 2375, página 5, segunda coluna.

9. A primeira menção do conto A Escrava fora do Maranhão, em artigo do escritor Osvaldo Orico: Diário Carioca (Rio de Janeiro, RJ), 5/7/1953, número 766, página 13, última coluna.

10. Matéria com José Nascimento Morais Filho e Leude Guimarães, filho adotivo da escritora, respectivamente biógrafo e filho adotivo da escritora, sobre a obra e o diário de Maria Firmina: Correio Braziliense (Brasília, DF), 11/12/1973, número 4276, página 40, últimas colunas.

11. Breve texto da jornalista Walda Menezes sobre o lançamento da segunda edição de Úrsula: Diário de Notícias (Rio de Janeiro, RJ), 30/11/1975, número 16.475, página 25, primeira coluna.

12. Artigo de Danilo Gomes sobre as precursoras da ficção brasileira, intitulado A Primeira Novelista Brasileira: Boletim de Ariel (Rio de Janeiro, RJ), setembro-outubro de 1976, número 14, página 19, segunda e terceira colunas.

13. Crítica do conto/novela Gupeva, de Maria Firmina em artigo de Hélio Lopes: Estado de S. Paulo (São Paulo, SP), Suplemento Literário, 25/6/1978, número 87, páginas 4 (última coluna) e 5 (primeira coluna).

14. Artigo de Heloneida Studart sobre a I Semana de Literatura Brasileira em São Luís e a importância de Maria Firmina: Manchete (Rio de Janeiro, RJ), 10/7/1978, número 1364, página 119, terceira coluna.

15. Resenha de livros de escritoras brasileiras por Danilo Gomes, na qual Maria Firmina é destacada como precursora em nossa literatura: Correio Braziliense (Brasília, DF), 11/3/1979, número 5882, página 35, primeira e segunda colunas.

MENÇÕES
MARIA FIRMINA DOS REIS EM JORNAIS DO SÉCULO XX (1906–1995)
DEZESSEIS NOVAS
A

16. Menção à escritora em artigo do então presidente do Senado, José Sarney: Manchete (Rio de Janeiro, RJ), 21/10/1995, número 2273, página 98, segunda coluna.

Apresentação

As menções seguintes à autora maranhense Maria Firmina dos Reis na mídia do século XX ainda não tinham sido reveladas ao público. Também não fazem parte do principal trabalho on-line de compilação de informações sobre a escritora, o site Memorial de Maria Firmina

Maria Firmina dos Reis (1822–1917) desenvolveu a carreira literária no Maranhão entre 1860 (ano de lançamento do romance Úrsula) e 1908 (ano de publicação de seu último poema conhecido).

O falecimento em 11 de novembro de 1917 não motivou nenhum obituário.

Somente em 1975 seu nome voltaria ao conhecimento público, graças à segunda edição de Úrsula, no Maranhão. Mesmo assim, a escritora viveria períodos de obscuridade, do qual só saiu de fato, em termos de grande público, no final de 2017, com o lançamento de novas edições de suas duas únicas obras, o romance supracitado e o livro de poemas Cantos à Beira-Mar.

1. Maria Firmina, o filho adotivo Leude e a defesa de um funcionário do Tesouro acusado de corrupção (18/10/1906).

A primeira menção inédita refere-se a uma comunicação pública de empregado do Tesouro na Coletoria do município de Guimarães, onde vivia Maria Firmina. O empregado, de nome Heitor Beltrão, fora vítima de acusações graves, e para se defender, além de apresentar os devidos documentos angariou o apoio de várias personalidades do local, entre elas a autora maranhense.

A informação mais relevante do recorte abaixo, entretanto, está em seu final: Leude Guimarães, filho de criação de Maria Firmina e um dos signatários, atuara como auxiliar no extinto teatro Recreio Dramático. No início da década de 70, Leude viria a entregar a José Nascimento Morais Filho as páginas do diário de Maria Firmina, atualmente conhecido como o Álbum (veja a menção de número 10).

Diário do Maranhão (São Luís, MA), 18/10/1906, número 9965, página 2, antepenúltima coluna

— http://memoria.bn.br/DocReader/720011/39912

2. Solicitação de crédito ao governo estadual, para pagamento de vencimentos (9/3/1910).

Os recortes abaixo mostram uma solicitação de Maria Firmina ao governo estadual do Maranhão, lida na sessão legislativa de 8 de março de 1910.

“De d. Maria Firmina dos Reis, professora jubilada da vila de Guimarães, pedindo abertura de crédito para pagamento de vencimentos, na importância de 473$250 ― À 1.ª Comissão.”

Diário do Maranhão (São Luís, MA), 8/3/1910, número 11.004, página 1, segunda coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/720011/42841

3. Aprovação da petição de Maria Firmina dos Reis (20/5/1910).

A solicitação de Maria Firmina recebeu a aprovação mais de dois meses depois, conforme essa notícia do Correio da Tarde.

Correio da Tarde (São Luís, MA), 20/5/1910, número 11.004, página 1, quarta coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/388459/541

4. Menção à obra poética de Maria Firmina dos Reis em artigo literário (28/11/1911).

A autora maranhense recebeu uma citação de passagem no artigo Páginas Esquecidas, de autoria de João Afonso do Nascimento, publicado no jornal Pacotilha em 28 de novembro de 1911. O artigo rememorava os escritores divulgados pelo Semanário Maranhense (1867–1868).

“Assinalo, como digna de nota, a presença de uma poetisa, d. Maria Firmina dos Reis […]”.

Pacotilha (São Luís, MA), 28/11/1911, número 175, página 1, penúltima coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/168319_02/2077

5. A única menção a Maria Firmina no Rio de Janeiro, ainda em vida (setembro-outubro de 1914).

No artigo Poetisas brasileiras, a escritora Carmen Unzer recapitulou historicamente a participação de mulheres na poesia brasileira. Ao fazê-lo, tornou-se a primeira pessoa a mencionar Maria Firmina, e em especial o seu livro Cantos à Beira-Mar, em periódico do Rio de Janeiro.

Além disso, Carmen transmitiu a seus leitores uma característica distintiva da obra da poeta maranhense: “O Maranhão que teve a glória de dar o maior poeta brasileiro [Gonçalves Dias], deu também boas poetisas como Ana da Silva Freire, Adelina Teixeira Mendes, de cujos versos transparecem mágoa e melancolia, sobretudo naqueles denominados À beira-mar e Maria Firmina dos Reis que compôs Cantos à Beira-Mar”.

Essa menção se deu pouco mais de três anos antes do falecimento da autora, que ocorreria em 11 de novembro de 1917.

Faceira (Rio de Janeiro, RJ), setembro-outubro de 1914, número 36, página 12, segunda coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/347906/1478

6. A segunda menção a Maria Firmina no Rio de Janeiro, em uma conferência literária (4/11/1928).

Em longa e informativa conferência intitulada Prosadores e poetisas brasileiras, a escritora Ana Amélia de Queirós Carneiro de Mendonça historiou a longa lista de poetas brasileiras, desde o início dessa forma de produção literária, incluindo nessa lista o nome de Maria Firmina

“Em São Luís do Maranhão nasceu e viveu D. Maria Firmina dos Reis, que deixou os Cantos à Beira-Mar.”.

Essa referência, associada à da escritora Carmen Unzer (mostrada acima), parece indicar que o nome de Maria Firmina circulava entre as escritoras cariocas no início do século XX, sempre associado a seu livro de poemas

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, RJ), 4/11/1928, número 264, página 6, quinta coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/364568_11/30883

7. Terceira menção no Rio de Janeiro, em artigo de curiosidades sobre as Marias brasileiras famosas (15/8/1936).

Em 15 de agosto de 1936 a Revista da Semana publicou um texto anônimo sobre “Marias brasileiras que se tornaram notáveis”. Entre elas,…

“[…] Maria Firmina dos Reis, escritora e poetisa maranhense, escreveu romances, ‘Contos [sic] à Beira-Mar’, poesias; […]”.

Revista da Semana (Rio de Janeiro, RJ), 15/8/1936, número 36, página 7, quinta coluna e http://memoria.bn.br/DocReader/025909_03/15747

8. Republicação do texto sobre “Marias notáveis” em Santa Catarina (27/8/1936).

Doze dias depois da publicação da matéria acima, o jornal A Notícia, de Joinville (SC), republicou o texto sem atribuição de fonte na seção Tópicos, mantendo o erro de título do livro.

A Notícia (Florianópolis, SC), 27/8/1936, número 2375, página 5, segunda coluna — http://memoria.bn.br/DocReader/843709/11359

9. A primeira menção do conto A Escrava fora do Maranhão (5/7/1953).

Em 1953, o escritor Osvaldo Orico escreveu um artigo sobre a escravidão intitulado O Açoitamento dos Escravos, incluindo o conto (erroneamente classificado como “romance”) A Escrava (1871) entre as obras literárias que abordaram o assunto.

“A esse rol poderia juntar-se, antecipando-se a todos em data, um romance que tem por título ‘A Escrava’, aparecido em São Luís do Maranhão, de autoria de uma professora nascida na cidade de São Luís em onze de outubro de 1825 [na verdade, 11 de março de 1822], dona Maria Firmina dos Reis.”

Diário Carioca (Rio de Janeiro, RJ), 5/7/1953, número 766, página 13, última coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/19331

10. Extensa matéria com Leude Guimarães, filho adotivo de Maria Firmina, e José Nascimento Morais filhos, biógrafo da escritora (11/12/1973).

A matéria Maria Firmina: outra glória literária do Estado do Maranhão, publicada no Correio Braziliense em 11 de dezembro de 1973, integrou a divulgação de descoberta da obra da autora maranhense, anterior à publicação da segunda edição de Úrsula em 1975.

Na foto da matéria, Leude Guimarães, filho adotivo de Maria Firmina, entregava simbolicamente a José Nascimento Morais Filho um álbum contendo o diário da autora, atualmente conhecido como O Álbum de Maria Firmina. Não se tratava do diário completo, mas de suas páginas restantes após um furto do material da autora em hotel onde ele estava guardado, segundo o próprio Leude contou a Morais Filho.

Maria Firmina, outra glória literária

São Luís (MA) ― E faltava até agora um vulto, um vulto de excepcional valor, na história da nossa literatura, uma mulher extraordinária ― Maria Firmina dos Reis ― que foi, no século XIX, uma das mais brilhantes inteligências do Maranhão. Foi poetisa e escritora. Foi mestra e jornalista [na verdade, não escreveu matérias jornalísticas]. Foi historiadora [na verdade, não atuou como historiadora]. Foi, como intelectual completa, a pioneira desta arte maravilhosa das palavras enigmáticas.

Maria Firmina nasceu aqui mesmo em São Luís, a 11 de outubro de 1825 [na verdade, a 11 de março de 1822]. Em 1847 estava em Guimarães. E já era consagrada como poetisa e escritora [Maria Firmina começou a sua produção literária em 1860]. Possuía inclusive vários livros publicados [em toda a carreira, apenas dois livros, um em 1860 e outro em 1871]. Morreu em 1917, com 92 anos de idade [na verdade, com 95 anos], ainda em Guimarães.

Tudo isto, e sua excepcional contribuição para o progresso das letras e da cultura em geral em nosso Estado, foi descoberto pelo acadêmico Nascimento Morais Filho, outro consagrado escritor e poeta, além de jornalista, aqui de São Luís. Durante meses e meses, talvez anos, ele realiza pesquisas incansáveis e pacientes na Biblioteca do Estado, e também em bibliotecas particulares. Sempre buscando subsídios históricos na imprensa dos velhos e longínquos tempos.

A pesquisa em torno de Maria Firmina dos Reis só estará concluído dentro de mais dois ou três meses. Sem revelar seu roteiro, o acadêmico tem saído de São Luís para repetidas viagens ao interior, recolhendo, agora, valioso material de documentação (certidões de batismo, certidões de registros outros de grande valor histórico, também fotocópias de velhos jornais).

Com entusiasmo de quem realiza importante descoberta, mestre Nascimento Morais Filho diz que o Panorama da Literatura está mudado… Cita os dois principais livros de Maria Firmina: “Úrsula”, romance de 200 páginas editado em 1860, e “Gupeva” [foi publicado em periódicos, mas não como livro], também romance [é um conto ou, no máximo, uma novela], de 1861. E alinhava algumas das principais poesias, sonetos, poemas, trovas e muito coisa mais.

― Foi jornalista também?

― Sim. Jornalista de fato. Quase que em todos os jornais encontramos, no século XIX e também no século XX, sua permanente colaboração [Maria Firmina colaborou literariamente com periódicos, mas jamais foi jornalista na acepção comum da palavra]. E não apenas poesias e contos vários. Mas crônicas e mesmo artigos, que valem como inestimável subsídio histórico.

Revela ainda mestre Nascimento Morais Filho que descobriu um álbum de família legado por Maria Firmina a um filho adotivo.

― Nesse álbum, em forma de anotações pessoais e íntimas, há, com as revelações familiares, poesias, contos, pensamentos, anotações outras sobre muitos e muitos outros intelectuais.

Sentencioso, mestre Nascimento Morais Filho diz, então, que “Maria Firmina dos Reis foi a primeira poetisa, a primeira romancista, a primeira jornalista, a primeira memorialista, a primeira enigmista do Maranhão”. Sua inteligência pode ser avaliada pelas charadas, logogrifos que compunha em prosa e, principalmente, em versos. Além, é claro, das poesias sublimes, dos contos e romances [só escreveu um romance] que nos legou.

A Grande Líder

E mestre Nascimento Morais Filho faz outro destaque: Maria Firmina dos Reis foi também a pioneira talvez no Brasil inteiro, e não apenas no Maranhão, do movimento de emancipação da mulher [informação obviamente equivocada: Nísia Floresta Brasileira Augusta, Ana Eurídice Eufrosina de Barandas e Ana Luísa de Azevedo Castro, na ficção, já haviam publicado obras de natureza feminista antes do lançamento de Úrsula em 1860].

― Imaginemos o que era seu valor para conseguir romper o “círculo de ferro”, como observou um jornal da época, da opinião pública e conclamar as outras mulheres a seguir seu exemplo, derrubando os preconceitos sociais e intelectuais que ainda segregavam a mulher.

― Como era Maria Firmina? ― arriscamos.

― Era pobre, era mulata, era bastada e do interior de uma Província… Em Guimarães foi a Primeira Mestra Régia. Tudo isto não lhe aumenta o valor?

Depois, o acadêmico faz uma observação curiosa: nascida em 1825, Maria Firmina era do que se denomina, de signo histórico-literário do romantismo.

As derradeiras pesquisas sobre Maria Firmina estão em ritmo acelerado. Como disse mestre Nascimento Morais Filho. São depoimentos de seus filhos e amigos íntimos da família. Há vários intelectuais que com ela conviveram, participando, inclusive, de inesquecíveis reuniões literárias em Guimarães quando ela passava dos oitenta anos de uma vida bem vivida. Tudo estará num livro, cuja edição poderá ocorrer no próximo ano. E depois?

As pesquisas de Nascimento Morais Filho continuam. São ininterruptas. Outras poetisas e escritoras, juntamente com outros poetas e escritores, hão de surgir. Tudo para enriquecer mais a literatura do Maranhão, já tão valiosa na conjuntura da cultura brasileira.

Correio Braziliense (Brasília, DF), 11/12/1973, número 4276, página 40, últimas colunas

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_02/41908

11. Breve texto sobre o lançamento da segunda edição de Úrsula (30/11/1975).

A jornalista Walda Menezes divulgou o lançamento da segunda edição de Úrsula em breve texto do Diário de Notícias.

Este mês de novembro marcou o sesquicentenário do nascimento de Maria Firmina dos Reis, primeira romancista maranhense. Entre as comemorações que assinalaram a data, está a inauguração de uma escola e uma praça com seu nome no povoado de Maçarico, perto de São Luís, onde nasceu e onde foi lançado um carimbo filatélico com seu rosto. Em 1880, essa mulher cujos escritos revelam uma grande amargura fundou uma escola mista [na verdade, Maria Firmina foi convidada a ser professora de uma escola fundada por fazendeiros do local], a primeira do Maranhão. Imagina-se o que não deve ter sofrido, ela que era pobre, bastarda, mestiça e solteira, para chegar a escrever: “Eu amo o sepulcro, pensei até em me suicidar um dia.” Hoje, sua memória é venerada e os seus trabalhos reunidos para reedição.

Diário de Notícias (Rio de Janeiro, RJ), 30/11/1975, número 16.475, página 25, primeira coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_05/41544

12. Artigo sobre as precursoras da ficção brasileira (setembro-outubro de 1976).

No artigo da revista literária Boletim de Ariel intitulado A Primeira Novelista Brasileira, sobre a escritora Teresa Margarida da Silva e Orta (1711–1793), Danilo Gomes compara a obra dessa escritora considerada portuguesa, embora nascida em São Paulo, à da escritora maranhense. Teresa Margarida publicou um único livro, Aventuras de Diófanes, considerado o primeiro romance de língua portuguesa escrito por uma mulher. Na década de 30, houve um movimento literário para estabelecê-la como a primeira romancista brasileira, hoje superado no meio acadêmico. Abaixo, o trecho relevante:

Dentre as mulheres, uma se destacou como precursora, também, do romance brasileiro. Maria Firmina dos Reis, nascida no Maranhão em 1825 [na verdade, em 1822], é, aliás, considerada a primeira romancista do Brasil.

Modesta professora primária, escreveu o romance Úrsula (belo título, por sinal) e publicou-o em 1859 [na verdade, em 1860]. Viveu, igualmente, como Teresa Margarida, numa sociedade patriarcal, machista, e, como a colega paulista, teve que usar pseudônimo (assinou-se, simplesmente, Uma Maranhense). Curioso notar que, além de utilizarem pseudônimos, nossas autoras tiveram outra coisa em comum: o Maranhão, pois ali Teresa Margarida viveu durante algum tempo, ao lado do marido que tentava melhor sorte nos negócios [essa informação não é confirmada por estudiosos da autora].

Maria Firmina dos Reis deixou ainda o livro de poesia Cantos à Beira-Mar e um outro romance [na verdade, um conto], A Escrava. Deve-se ao pesquisador Nascimento Morais Filho o descobrimento de um quarto livro [informação incorreta] da escritora maranhense, o romance [na verdade, conto ou novela] indianista “Gupeva” dado a lume em 1861, em Eco da Juventude, um periódico do seu Estado.

Em crônica comemorativa do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina das Reis, seu conterrâneo, o consagrado romancista Josué Montello, assinalou: “Situada entre a geração de Gonçalves Dias e a de Aluísio Azevedo, nos quadros do Maranhão literário, Maria Firmina dos Reis reflete a atmosfera provinciana, no seu gosto das letras, e é isso que explica, a despeito da precariedade de recursos intelectuais, que ela própria reconhece na introdução de Úrsula, a sua vocação e a sua obra. Convém assinalar que, embora nascida em São Luís, a romancista viveu no interior do Maranhão, como professora de primeiras letras, afastada de todos os estímulos possíveis, e ali morreu, já nonagenária, sem qualquer ruído de glória à sua volta.”

Assim, para fim de conversa e, quem sabe, efeito didático, e como uma homenagem ao movimento feminista, podemos rematar:

Teresa Margarida, primeira novelista brasileira [Aventuras de Diófanes era um romance, não uma novela].

Maria Firmina, primeira romancista brasileira. Assim, nenhuma das duas fica no prejuízo. E nós, homens, não atiramos fora uma oportunidade de sermos cavalheirescos, como nos velhos bons tempos.

Boletim de Ariel (Rio de Janeiro, RJ), setembro-outubro de 1976, número 14, página 19, segunda e terceira colunas http://memoria.bn.br/DocReader/072702/2714

13. Crítica do conto/novela Gupeva, de Maria Firmina (25/6/1978).

Na primeira menção conhecida a Gupeva fora do Maranhão, o crítico Hélio Lopes considerou medíocre a história Gupeva, divulgada por José Nascimento Morais Filho no livro Maria Firmina: Fragmentos de uma Vida, a biografia da autora publicada em 1975. No artigo O ficcionista e o crítico, publicado no Suplemento do Estado de S. Paulo, Hélio comparou essa história a outra de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816–1878), que também explorava o tema de Caramuru (Diogo Álvares Correia, 1475–1557).

O trecho não será transcrito porque a digitalização gerou um corte no final de cada linha.

Estado de S. Paulo (São Paulo, SP), Suplemento Literário, 25/6/1978, número 87, páginas 4 (última coluna) e 5 (primeira coluna)

http://memoria.bn.br/DocReader/098116x/7342 http://memoria.bn.br/docreader/098116x/7343

14. Notícia sobre a I Semana de Literatura Brasileira em São Luís (10/7/1978).

Já depois do lançamento da segunda edição de Úrsula em 1975 e de Cantos à Beira-Mar em 1976, realizouse em 1978 o encontro I Semana de Literatura Brasileira, na Universidade Federal do Maranhão, com a presença de vários intelectuais brasileiros de destaque, A também escritora Heloneida Studart cobriu o encontro para a revista Manchete. Abaixo, o trecho relevante.

Os debatedores maranhenses deram verdadeiras lições de erudição aos intelectuais convidados pela universidade. Quem pensava, por exemplo, que a primeira romancista brasileira fosse Teresa Margarida da Silva Orta, autora do romance Aventuras de Diófanes e que sem ousar dizer seu nome se apresentava sob um pseudônimo, ficou sabendo que a pioneira do romance feminino no país foi Maria Firmina dos Reis, tão maranhense quanto Gonçalves Dias. Mas que também coisas do Século XVIII se apresentou como “uma desconhecida”.

Manchete (Rio de Janeiro, RJ), 10/7/1978, número 1364, página 119, terceira coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/004120/177061

15. Resenha de livros de escritoras brasileiras na qual Maria Firmina é destacada como precursora em nossa literatura (11/3/1979).

Um ano depois, o crítico Danilo Gomes escreveu a resenha intitulada Prosadores e Poetas, publicada na edição de 11 de março de 1979 do jornal Correio Braziliense.

Danilo tomou Maria Firmina como ponto inicial da literatura feminina no país, o que não corresponde aos fatos: mesmo restringindo-se o âmbito para a área da ficção, Ana Eurídice Eufrosina de Barandas (1845), Nísia Floresta Brasileira Augusta (1847 e 1850) e Ana Luísa de Azevedo Castro (1858) precederam a autora maranhense.

A informação historicamente relevante vem ao final do primeiro parágrafo, quando Danilo agradece ao amigo Oswaldino Marques pelo envio da edição fac-similar de Úrsula publicada em 1975. Essa dificuldade de acesso aos exemplares daquela edição explica o segundo período de obscuridade (1975–2003) imposto à obra da autora, até o lançamento da terceira edição pela Editora Mulheres.

Nesse período, vários trabalhos acadêmicos foram lançados sem que o grande público tivesse acesso ao romance ao qual eles se referiam.

Prosadores e poetas

Depois que Maria Firmina dos Reis, timidamente, e até usando o incolor pseudônimo de Uma Maranhense, publicou em 1859 [na verdade, em 1860], na Tipografia do Progresso de São Luís, o seu “Úrsula, Romance Original Brasileiro”, as mulheres deste país, felizmente, não pararam mais de escrever. Tivemos recentemente uma edição fac-similar, com prólogo do historiador Horácio de Almeida, daquela raridade bibliográfica (muito grato, mais uma vez, [palavra ilegível], poeta e ensaísta Oswaldino Marques, pelo presente!).

Na esteira da modesta professora Maria Firmina dos Reis, residente no interior do Maranhão oitocentista e patriarcal, dezenas de outras escritoras deram-nos centenas e centenas de livros, até que chegamos ao esplendor de uma Clarice Lispector (fiquemos apenas com esse nome cintilante de quem já se encantou para sempre na outra margem).

Correio Braziliense (Brasília, DF), 11/3/1979, número 5882, página 35, primeira e segunda colunas

http://memoria.bn.br/DocReader/028274_02/118343

16. Menção à escritora em artigo do então presidente do Senado, José Sarney (21/10/1995).

Escrevendo sobre os direitos da mulher na última página da revista Manchete em 1995, José Sarney, então presidente do Senado, lembrou a importância de Maria Firmina.

Recordo-me de uma outra mulher do interior do Maranhão, da cidade de Guimarães, Maria Firmina dos Reis, professora primária no século passado, época em que as mulheres no Brasil eram analfabetas, e autora do romance Úrsula, uma bela história de amor à la Paul et Virginie (Paulo e Virgínia), de Bernardin de SaintPierre

Manchete (Rio de Janeiro, RJ), 21/10/1995, número 2273, página 98, segunda coluna http://memoria.bn.br/DocReader/004120/291056

O ERRO HISTÓRICO DO GOOGLE SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS E AS DATAS DE NASCIMENTO E MORTE DE TRÊS PIONEIROS DA

FICÇÃO BRASILEIRA

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

Tema: a descoberta das verdadeiras datas de nascimento dos escritores Antônio Gonçalves Teixeira e Souza (30 de março de 1812) e Maria Firmina dos Reis (11 de março de 1822), e da data de falecimento da escritora Ana Eurídice Eufrosina de Barandas (23 de junho de 1863).

Descoberta relativa a Antônio Gonçalves Teixeira e Souza: divulgada em 2012 pela escritora e pesquisadora Rose Fernandes.

Descoberta relativa a Maria Firmina dos Reis: divulgada em 2017 pela escritora e pesquisadora Dilercy Aragão Adler.

Descoberta relativa a Ana Eurídice Eufrosina de Barandas: divulgada em 2019 por este pesquisador. O erro do Google: a homenagem do buscador a Maria Firmina dos Reis, realizada em 11 de outubro de 2019 para comemorar o nascimento da autora (ocorrido, na verdade, em 11 de março de 1822).

Apresentação

No dia 11 de outubro de 2019, o Google homenageou a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822–1917), a primeira romancista brasileira, autora de Úrsula (1860), com um de seus famosos doodles (imagens comemorativas colocadas na página inicial do buscador, que levam a informações sobre a pessoa homenageada).

Homenagem simpática, merecida mas equivocada, como veremos adiante.

Datas de nascimento e morte de autores são referenciais básicos no trabalho de pesquisa literária, e novidades relativas a essas datas estão entre as descobertas mais valorizadas pelos pesquisadores, porque representam uma contribuição relevante à história da literatura nacional.

Nos últimos anos, três informações importantes e pouco divulgadas alteraram nosso conhecimento sobre três pioneiros da ficção nacional: Antônio Gonçalves Teixeira e Souza (o primeiro romancista brasileiro), Maria Firmina dos Reis (a primeira romancista brasileira) e Ana Eurídice Eufrosina de Barandas (a primeira autora brasileira de ficção).

A verdadeira data de nascimento de Antônio Gonçalves Teixeira e Souza

Digitando-se “teixeira e souza” e “data de nascimento” no Google (data da busca: 7 de outubro de 2019), consegue-se como resultado inicial a imagem do autor acompanhada da informação: 28 de março de 1812 (a suposta data do nascimento).

Há um problema nesse resultado: desde 2012 está disponível na Web a informação de que o primeiro romancista nacional, autor de O Filho do Pescador (1843), nasceu em 30 de março daquele ano.

Coube a Rosa Fernandes, escritora e pesquisadora, membro e secretária da Academia Cabo-Friense de Letras (ACL), a primeira das três descobertas comentadas neste artigo. A história do feito de Rose pode ser lida no post Pesquisadora Rose Fernandes descobre dados que mudam a biografia de Teixeira e Sousa, no blog Conexão Cabo Frio News, de responsabilidade de Ronaldo Macedo. A data do post: 25 de outubro de 2012.

http://conexocabofrio.blogspot.com/2012/10/pesquisadora-rose-fernandes-descobre.html

A verdadeira data de nascimento do cabo-friense Teixeira e Souza consta do seu registro do batismo, redigido em 9 de abril de 1812. Uma cópia digitalizada do registro pode ser apreciada em post do blog do poeta Alberto Araújo, publicado também em 2012.

Novas Informações Sobre Teixeira e Sousa Escritor Cabo-Friense, Alberto Araújo, 7 de novembro de 2012

http://poetalbertoaraujo.blogspot.com/2012/11/novas-informacoes-sobre-teixeira-e.html

Nesse registro de batismo, Rose descobriu também que o futuro romancista era filho de pais brasileiros, ambos de cor parda e escravos alforriados. A Wikipédia ainda mantém a antiga informação, de que o pai de Teixeira e Souza seria português.

Nestes sete anos, a desinformação triunfou.

Rose Fernandes lançou em 2018 a biografia oficial de Antônio Gonçalves Teixeira e Souza (1812–1861), Um Novo Olhar sobre Teixeira e Sousa, com estas e outras informações inéditas.

https://cronicascariocas.com/cultura/literatura/biografia-oficial-de-teixeira-e-sousa-patrono-da-acl/ Um resumo do conteúdo do livro pode ser lido no destino do link acima.

A verdadeira data de nascimento de Maria Firmina dos Reis

Quando se digita “maria firmina” e “data de nascimento” no Google (data da pesquisa: 7 de outubro de 2019), tem-se uma imagem (supostamente) da autora e a (também suposta) data do nascimento: 11 de outubro de 1825.

A maranhense Maria Firmina dos Reis (1822–1917) é a primeira romancista brasileira, autora de Úrsula (1860).

Em 2017, a escritora e pesquisadora maranhense Dilercy Aragão Adler divulgou na mídia nacional a descoberta de que Maria Firmina, embora tivesse sido batizada em 1825, nascera de fato em 11 de março de 1822.

https://flaema2017.wixsite.com/flaema/dilercy-adler

Matéria do G1 sobre a descoberta de Dilercy.

http://g1.globo.com/ma/maranhao/jmtv-2edicao/videos/v/pesquisadora-realiza-biografia-sobre-aescritora-maria-firmina-dos-reis/6211239/

Essa descoberta só foi possível porque Maria Firmina, em 1847, solicitou a correção do registro da data do próprio nascimento, anteriormente estabelecida como 11 de outubro de 1825, para 11 de março de 1822.

As imagens digitalizadas das 24 páginas do Auto de justificação do dia do nascimento de Maria Firmina dos Reis fazem parte do Anexo B do livro de Dilercy, Maria Firmina dos Reis: Uma Missão de Amor, lançado em 2017 pela Academia Ludovicense de Letras (“Ludovicense” é o gentílico referente à cidade de São Luís, capital do Maranhão). E a imagem digitalizada mostrada no Anexo C reproduz a certidão de justificação de batismo, com data de 14 de julho de 1847, na qual se restabeleceu a verdade histórica sobre o nascimento da autora.

O resultado do Google referido acima ilustra, mais uma vez, o descompasso temporal entre a descoberta de um pesquisador (no caso, pesquisadora) e a assimilação da nova data pela maioria das pessoas, mesmo quando se trata de informações divulgadas na internet.

Coincidentemente, Dilercy também descobriu uma novidade sobre a ascendência da escritora: a mãe não era branca, como sempre se acreditou, e sim uma ex-escrava negra.

O resultado inicial do Google reforça um erro histórico ainda mais grave: o retrato refere-se a outra escritora, Maria Benedita Câmara Bormann (a Délia), autora do romance Lésbia, entre outras obras. Délia era branca, e Maria Firmina, negra.

Na página do meu blog linkada a seguir, revelo como esse erro de identidade visual é cometido por outras 100 páginas da Web (e, infelizmente, o número está aumentando):

https://aarteliteraria.wordpress.com/2017/12/02/o-retrato-falso-de-maria-firmina-dos-reis/

A data de falecimento de Ana Eurídice Eufrosina de Barandas

Não há página na Wikipédia com o nome da primeira autora brasileira de ficção, a gaúcha Ana Eurídice Eufrosina de Barandas (1806–1863).

Até este ano, não se conhecia a data de falecimento da autora de Eugênia ou a Filósofa Apaixonada (1845), um conto romântico, e de Diálogos, peça teatral de conversação que constitui o primeiro texto ficcional do feminismo brasileiro. As especulações variavam de 1856 a 1891.

Em abril deste ano, em post sobre a autora, mostrei várias imagens da comunicação do falecimento de Ana e de missas comemorativas, até oito anos após o desenlace. E foi justamente a última imagem que permitiu datar com precisão a morte da autora: 23 de junho de 1863.

“Hoje, 23 do corrente, oitavo aniversário do falecimento de D. Anna Delmira da Fonseca, manda-se celebrar uma missa em sufrágio de sua alma, na igreja de Nossa Senhora do Carmo, às 7 1/2 horas.”

Diário do Rio de Janeiro, 23/6/1871, número 172, página 4, segunda coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/27458

“Anna Delmira da Fonseca” era um dos nomes usados por Ana Eurídice.

As duas descobertas anteriores, sobre Antônio Gonçalves Teixeira e Souza e Maria Firmina dos Reis, exigiram pesquisa de campo, enquanto esta exigiu apenas a consulta à Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, além de paciência para se pesquisar todos os resultados direta ou indiretamente relacionados aos nomes da escritora.

Assim como nos dois casos anteriores, houve outra novidade gerada pela pesquisa: os nomes de filhas até então desconhecidas de Ana Eurídice. Essas informações podem ser lidas no meu post sobre a autora.

https://aarteliteraria.wordpress.com/2019/04/16/ana-euridice-eufrosina-de-barandas-a-desconhecidapioneira-da-ficcao-nacional/

Depois desse novo erro de informação, cometido hoje no doodle do Google, cabe a pergunta: quantos anos se deverá esperar até que essas três informações sobre Antônio Gonçalves Teixeira e Souza, Maria Firmina dos Reis e Ana Eurídice Eufrosina de Barandas estejam disponíveis logo nos primeiros resultados do mais importante buscador da Web?

Por fim, deixo uma sugestão ao Google: que tal repetir a homenagem no dia certo, em 11 de março de 2020?

SEIS NOVOS POEMAS DE MARIA FIRMINA DOS REIS (1863–1908)

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

Resumo

Tema: apresentação de seis novos poemas da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822–1917), revelados por este pesquisador em 4 de dezembro de 2017.

Os seis novos poemas:

1. Um poema reproduzido como texto em prosa no Álbum (o diário) da autora: A um Anjo, 1863.

2. Um poema dedicado a artistas circenses e recitado em reunião pública: O Menino sem Ossos, 1880.

3. Uma quadrinha que serviu de mote para poema de outro autor, intitulado Prantos: 1885.

4. O título de um poema, de texto desconhecido: O Porvir, 1885.

5. Um poema do qual não se conhece nem o título nem o texto e que foi a única produção de Maria Firmina publicada fora do Maranhão, em vida (no Pará): 1901.

6. Um poema dedicado à filha de criação Dolores e lido no dia do casamento: Poesia Recitada por Ocasião das Bodas do Sr. Eduardo Ubaldino Marques, 1908.

Informação inédita: quem eram os fundadores e membros do Clube União e Perseverança (Belém, PA) ― todos maranhenses residentes naquele estado ―, origem que esclarece a publicação de um poema de Maria Firmina em seu órgão de divulgação.

Apresentação

Os seis poemas deste artigo, quatro deles completos, um quinto do qual se conhece apenas o título e o sexto apenas citado de passagem, foram compartilhados no post A Produção artística avulsa de Maria Firmina dos Reis, publicado em meu blog em 4 de dezembro de 2017, e representavam, à época, uma contribuição ao conhecimento da obra de Maria Firmina dos Reis.

Essa contribuição está registrada em página do site Memorial de Maria Firmina, principal referência on-line para o conhecimento da obra da autora, de responsabilidade de Luciana Diogo.

A informação inédita refere-se ao misterioso poema de Maria Firmina publicado no Pará em 1885, o único fora do Maranhão enquanto viva. Tratava-se do periódico de um clube de maranhenses residentes em Belém, e não de uma publicação editada por paraenses.

OS SEIS NOVOS POEMAS

A um Anjo (1863)

José Nascimento Morais Filho reproduziu esta entrada do Álbum da autora (o diário) como um texto de ficção, mas se trata de um poema ― muito provavelmente, dedicado ao filho de criação Renato, falecido em junho de 1863.

Voaste, meu anjo, Qual nuvem de incenso, Em gratos perfumes

Ao trono do Imenso.

* Com risos assumes Mais grados queixumes, De quem te adorava,

Os campos, os prados, De etéreas alturas!

* Tu garça inocente, Folgando contente, Rival nos agrados Nos anjos c’roados Com as flores dos Céus, Aos pés do Senhor, Nas harpas mimosas, Canções sonorosas… Entoam ao seu Deus!…

* Ó desce um momento, Meu anjo de amor, E traz-me um sorriso Que abrande o tormento

De meu coração!

Fragrância da flor

Do meu paraíso

Se infiltre em minh’alma

Frescura na calma, Consolo à aflição. [Guimarães, […] 1863]

2. O Menino sem Ossos

Poema precedido de explicação na matéria publicada no jornal.

Guimarães.

Sr. redator ― Há anos que nesta pródiga [?] terra não gozamos a vida como é de esperar entre um povo que se avança no progresso e civilização, porém o mês de setembro, que está a despedir-se, nos veio surpreender, dando uma ideia do que é viver-se em sociedade. O dia 7 foi modesta mas entusiasticamente festejado com uma reunião familiar, um soirée, como bem poucos temos aqui assistido, em que reinou a melhor ordem e harmonia, bem organizada orquestra e excelente serviço. A ele assistiram pessoas distintas por sua posição ou porte social.

Na noite de 8, os Acrobatas Virgílio e Vieira, aí já conhecidos, com o menino sem ossos exibiram-se.

Os trabalhos que executaram, muito agradaram ao público, que por sua vez ligou-lhes o apreço devido.

Além dessa, ainda conquistaram novos louros nas noites de 11 e 18, e a esta a última [?], e em benefício do admirável menino Virgílio, em que trabalhavam. O beneficiado foi vitoriado e coroado, no trabalho de deslocação, na torre de cadeiras sobre os copos.

Duas elegantes criancinhas representando o Gênio e o Povo, rendendo homenagem à Arte coroaram a inocente criança, sua companheira. A coroa é de prata singela, artisticamente preparada conforme as forças do lugar.

Copiosa abundância de flores foi lançada sobre os artistas e deposta por uma menina aos pés do beneficiado numa capela de sempre-vivas.

Na coroação foi recitada uma poesia oferecida ao mesmo beneficiado pela ilustre poetisa a Exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis. Tudo correu além da expectativa, os insignes artistas chefes do circo, já mencionados, não foram menos aquinhoados, e as flores lhes caíam aos pés, e poesias também lhes foram dedicadas. Essas demonstrações tocaram aos dignos e distintos cavalheiros, além de artistas de mérito,

que de momento os fez mudar de resolução, e em ato contínuo prometeram demorar-se, e mais de uma vez extasiar-nos, oferecendo seus trabalhos artísticos em benefício desta localidade, com o fim de ser aplicado o inteiro produto dele em qualquer coisa útil a respeito do culto religioso.

Este filantrópico arbítrio foi agradavelmente recebido pelo público, e a noite passada deu-se o dito benefício, e noutra ocasião seremos prolixos a respeito, Rocambole.

Aos distintos artistas, Eduardo Vieira, Virgílio Oliveira, Virgílio ― O MENINO SEM OSSOS.

D’onde vos vem o condão De avassalardes um povo; Em frenética ovação, De um modo estranho, novo.

*

Sereis espíritos dispersos, Que no mundo vagais, Ou seres animados Que a púrpura arrogais!

*

Quem a vós autorizou, Tais arrojos d’Arte, Dando ao nosso Brasil Regozijo em grande parte.

*

Ah! Sois brasileiros, Sois mais… um prodígio, Mostrai à grande Europa Que t’bém temos prestígio!

*

A’vante mancebos… Avante! Não temais aos rivais, Se não sois os primeiros, Aos primeiros igualais.

* No trapézio, corda bamba, No arame, deslocações; Na barra e equilíbrios Extasiais os corações.

*

Ergue a fronte laureada Tu, Eduardo Vieira, Digas ao mundo em peso Viva a nação brasileira!

*

Vós, Vieira e Virgílio, Já sois conhecidos nossos, Quem não fique pasmo, Louco, pelo menino sem ossos?

*

Se de nós não tiveres

A recompensa que mereceis, Prosseguireis triunfantes,

Em outras plagas a tereis.

* Metam a caira, caibras, Provoquem as tradições; Em vida não tiveram c’roas Bocage nem Camões!

*

Deem ao mundo maçada Assistam dele a festa, Siga ― o carro avante Com dégagé [a vivacidade?] da floresta!

*

Em 25 de setembro de 1880.

http://memoria.bn.br/DocReader/704369/4078

O País (MA), 3/10/1880, ano XVIII, número 226, página 2, quarta e quinta colunas, em Guimarães

3. Prantos

Quadrinha que serviu de base para imitação poética de Emiliano Pereira.

Se um dia alegre me sorriu a sorte, Se n’um transporte o coração bateu; Porque tão breve, como a flor d’um dia, Minha alegria se finou ― morreu! Maria Firmina dos Reis.

Pacotilha, 7/5/1885, ano V, número 106, página 3, quinta coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/168319_01/3958

4. O Porvir

Título de poema publicado na edição de número 4 do periódico anônimo. O Porvir Foi distribuído o nº 4 deste interessante periódico literário e crítico, relativo ao dia de hoje [11/5/1885].

Entre os diversos escritos que conta este número, traz uma belíssima poesia ― O Porvir ― de que é autora a poetisa de Guimarães exma. sra. D. Maria Firmina dos Reis.

Diário do Maranhão, 11/5/1885, ano XVI, número 3512, página 3, primeira coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/720011/16715?pesq=firmina

5. Poema de título e texto desconhecidos

Um poema de Maria Firmina, de título e texto desconhecidos, foi publicado na edição de número 3 do periódico O 17 de Dezembro, órgão oficial do Clube União e Perseverança, do Pará.

Trata-se do único poema de Maria Firmina dos Reis publicado fora do Maranhão, em toda a sua vida, e também a única produção da autora compartilhada além do seu estado, naquele período.

Informa o último parágrafo da nota:

“São todas as produções, a que nos referimos, firmadas, por seus autores, sobressaindo, a que lhe é dedicada pela poetisa maranhense Maria Firmina dos Reis.”.

Diário do Maranhão, 11/1/1901, ano XXXII, número 8211, última coluna

http://memoria.bn.br/docreader/720011/32887

A Fundação Cultural do Estado do Pará possui o microfilme do periódico O 17 de Dezembro, ano de 1901, mas o conteúdo ainda não está digitalizado, nem a Fundação oferece o serviço de solicitação de cópias em seu site.

http://www.fcp.pa.gov.br/acervodigital/catalogoalfabeticomicrofilmes/

O Clube União e Perseverança reunia maranhenses moradores em Belém e tinha como líder político o senador Antônio Lemos, cuja base eleitoral situava-se no Pará. Lemos administrou Belém de 1897 a 1911, renovando urbanisticamente a cidade. O periódico O 17 de Dezembro saía anualmente para festejar a data de nascimento do senador.

O Jornal (Belém, PA), 18/12/1900, número 91, página 2, quarta coluna

http://memoria.bn.br/DocReader/169250/351

Diário do Maranhão (São Luís, MA), 13/3/1901, número 8263, página 2, penúltima coluna

http://memoria.bn.br/docreader/720011/33095

6. Poesia Recitada por Ocasião das Bodas do Sr. Eduardo Ubaldino Marques

Esta é a última produção conhecida de Maria Firmina dos Reis, e ainda não havia sido divulgada ao público. No início, a autora faz menção a seu estado de saúde: “Tíbia a voz, fraco o cérebro pelos anos…”. Maria Firmina estava a pouco mais de um mês dos 86 anos de vida.

Algumas estrofes aproveitam versos (idênticos ou com alterações sutis) do poema À Exma. Sra. D. Anna Esmeralda M. Sá”, de 18 de agosto de 1900.

A expressão “filha querida” sugere que a noiva, Dolores, poderia ser filha de criação de Maria Firmina. Cumprimentos à minha querida Dolores. Dolores.

Tíbia a voz, fraco o cérebro pelos anos, Filha querida, que te posso dar? Somente o trilho que encetar começas Quero de flores níveas enastrar [enfeitar].

*

Mais uma página, na risonha vida, No livro da existência hoje volveste, Um passo te levou de um estado a outro, Esse passo com estoicismo deste.

*

Ontem o teu sorrir era o das brisas Que beijam, meigas, branda relva em flor; Hoje, esposa carinhosa e santa, Tipo serás do conjugal amor.

*

Deixastes ontem o lar paterno, o ninho Onde nos dias infantis folgaste; Hoje, não cismas, já não sonhas, crês, Porque novo cenário desvendaste.

*

Agora vais seguir um outro trilho; Nele há também flores, há ventura, Mas essas flores pedem o teu cultivo, Carícias, teu amor, tua ternura.

*

Faço votos por ti para ver sempre Dos lábios te escapar ledo sorriso: Caminha afoita nessa nova senda E a vida te será um paraíso.

9― 2―908

Maria Firmina dos Reis.

Pacotilha (São Luís, MA), 20/2/1908, ano XXVIII, número 43, página 2, quinta coluna http://memoria.bn.br/DocReader/168319_01/32060

Observação

O único livro de poemas de Maria Firmina dos Reis, Cantos à Beira-Mar, publicado em 1871, encontrase disponível para download gratuito e direto aqui.

O “ÁLBUM” (O DIÁRIO) DE MARIA FIRMINA DOS REIS

SÉRGIO BARCELLOS XIMENES

·

Apresentação

Uma das descobertas mais importantes do pesquisador, poeta e escritor José Nascimento Morais Filho foi o Álbum de Maria Firmina dos Reis. O diário da escritora, reproduzido no livro Maria Firmina ─ Fragmentos de uma Vida (São Luís, 1975), permite conhecer em detalhes a sua intimidade, também revelada em vários de seus poemas.

Foto copiada da página do Facebook do sociólogo Rafael Balseiro

Zin. https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10155365582232380&type=3

Leude Guimarães, um dos filhos de criação da escritora, revelou a José Nascimento Morais Filho que a mãe deixara muitos manuscritos ao falecer. Esse material consistia em “cadernos com romances e poesias, e um álbum onde havia muita coisa de sua vida e da nossa família”.

Leude guardou esse legado em um baú do hotel onde estava hospedado em São Luís. Quase tudo se perdeu quando ladrões invadiram o quarto e arrombaram o baú, à procura de bens. O Álbum de Maria Firmina é justamente tudo o que sobrou desse conteúdo valioso da autora maranhense.

As duas entradas que limitam o texto do Álbum, a primeira e a última, tratam de um tema onipresente no diário: a morte de pessoas queridas. Em 20 de maio de 1853, Maria Firmina escreve o texto Uma lágrima sobre um túmulo (sobre o falecimento da própria mãe, em 9 de janeiro daquele ano), e em algum dia de 1910 registra o falecimento de mais um filho de criação.

No total, são 35 falecimentos, incluindo óbitos da mãe e de três filhos de criação.

Em termos etários, esse período vai dos 30 aos 88 anos de idade (aproximadamente) de Maria Firmina dos Reis.

Informa José Nascimento Morais Filho que a transcrição do texto manuscrito foi realizada pelo poeta e dramaturgo Jamil Jorge, assessorado pela filha, sendo a revisão de responsabilidade do documentarista Euclides Siqueira.

Na entrada de 31 de janeiro de 1869, Maria Firmina explica a seu querido amigo Raimundo Marcos Cordeiro o significado pessoal daquele Álbum:

“Bem compreendeis o que é um álbum ― são as páginas d’alma escritas ora com sangue, outra hora com lágrimas, nunca animadas por benéfico sorriso. Amor ou desesperança ― saudade ou dor, eis o que ele significa”.

De fato, saudades e dor são onipresentes no diário da escritora, como veremos adiante.

Conteúdos presentes no Álbum

1. Temperamento melancólico.

“Minha alma ama a melancolia”: na primeira entrada, Uma lágrima sobre um túmulo (20 de maio de 1853), Maria Firmina revela uma verdade sobre si mesma que é deduzida naturalmente da leitura de seus poemas (um deles com o título Melancolia) e dos textos em prosa. Mais adiante, conta que se descobriu melancólica ainda criança, e como gostava de chorar, movida por um desejo impossível de compreender e de satisfazer.

Também:

“A vida para mim está nas lágrimas. Amo as que verto na amargura pungente de minhas ternas desventuras; com elas alimenta-se minha alma, elas acalmam o rigor do meu destino” (15 de junho de 1873).

2. Religiosidade.

“Deus” é uma presença marcante no Álbum, assim como nos poemas e nas obras de ficção (o Cristianismo está presente no romance Úrsula, na novela curta Gupeva e no conto A Escrava). A religiosidade teve função determinante na vida da autora, porque a ideia de Deus, com seus desígnios incompreensíveis mas “justos” (mesmo no caso da perda dos entes queridos), serviu como único freio aos impulsos suicidas.

“Como são incompreensíveis os Juízos do Altíssimo!” (1859).

“[…] resignei-me, porque foi a vontade de Deus!…” (1859).

3. Solidão.

“Penso e sinto: meu sentir e meu pensar não os compreende ninguém; porque também a ninguém os revelo” (15 de junho de 1873).

Mesmo as parentas, as amigas e os muitos filhos de criação não conseguiram alterar esse aspecto da psicologia da autora. Outro fator contribuinte: Maria Firmina nunca se casou.

4. Tendência ao suicídio.

Uma faceta interessante de sua personalidade: a admissão sincera e repetitiva do amor ao túmulo, à “campa”, ao descanso eterno dos problemas supostamente representado pela morte.

“Tentar contra os meus dias, seria um crime contra Deus e contra a sociedade; mas almejo a morte” (2 de fevereiro de 1861).

5. Amor aos filhos de criação.

Segundo José Nascimento Morais Filhos, em Maria Firmina ― Fragmentos de uma Vida, a autora teve pelos menos 10 filhos de criação. No Álbum é possível identificar o falecimento de três deles (Vicente, Renato e Djalma), além do recebimento de uma menina para criação, em 30 de janeiro de 1863.

6. Busca do bem-estar alheio.

A contração emocional de Maria Firmina (solidão, tristeza, melancolia, derrotismo) na dimensão individual era contrabalançada pela expansão, na dimensão social. Traços óbvios de empatia, solidariedade, amor ao próprio e cuidado com os desvalidos ressaltam-se no Álbum, sendo exibidos também em seus poemas (especialmente naqueles dedicados a mães e pais que sofreram a perda de filhos) e em sua ficção, na qual o procedimento literário de dar voz aos oprimidos, em Úrsula (Suzana), Gupeva (Gupeva) e A Escrava (a mãe escrava sem nome), representa bem essas características pessoais da autora.

Esses traços explicam o fato de Maria Firmina, embora vivesse em condições precárias, ter acolhido cerca de 10 filhos de criação.

Conteúdos ausentes do “Álbum”

1. Menção às próprias obras literárias.

A autora não trata de nenhuma de suas produções literárias, enigmísticas ou musicais no Álbum. É possível que reservasse esses assuntos para outros cadernos, que foram perdidos para sempre.

2. Menção a problemas orgânicos específicos.

Fora algumas observações genéricas (Minha compleição é débil, 2/2/1861), nas páginas remanescentes do Álbum não há menção a nenhum dos problemas orgânicos que levaram Maria Firmina a solicitar várias licenças para tratamento de saúde durante o trabalho como professora.

3. Registros ou comentários sobre fatos históricos.

No Álbum não há nenhuma observação sobre fatos históricos, sejam locais, sejam nacionais.

4. A questão racial.

A literatura de ficção de Maria Firmina tem como um dos centros as relações étnicas: a opressão dos negros pelos brancos e dos indígenas pelos colonizadores. No Álbum, entretanto, somente uma entrada, a de 2 de fevereiro de 1872, menciona de passagem a importância da cor para o destino da autora (itálico acrescentado):

“Sim, eu sou a lua: ― se Deus negou-me dela a beleza, o nítido albor [brancura intensa] e o magnífico esplendor de formosura, deu-me uma melancolia, sua palidez; e como ela a divagar no céu, deu-me que […] divagasse na terra: cismando como ela à noite, meditando saudades, e tristezas como ela medita”.

5. Humor.

Não se lê no Álbum nenhuma observação engraçada, nenhuma anedota sobre a vida em família, nenhum relato de episódio engraçado.

Valores do Álbum

Essa produção subjetiva de Maria Firmina apresenta dois valores importantes, um para o estudo da autora e outro para a história da literatura nacional.

. A exposição sincera das experiências pessoais mais íntimas torna o Álbum valioso para se entender a personalidade da autora.

. Além disso, como ressaltou a escritora e pesquisadora Luiza Lobo em Autorretrato de uma pioneira abolicionista, capítulo 18 do livro Crítica sem Juízo (Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1993), o Álbum é, provavelmente, “[…] o primeiro diário escrito por uma mulher publicado no Brasil […]” (página 225).

Organização do conteúdo original do “Álbum”

No livro Maria Firmina ─ Fragmentos de uma Vida, de José Nascimento Morais Filho, várias entradas do Álbum se encontram deslocadas em relação à cronologia da vida da autora, e geralmente não vêm acompanhadas do dia do registro.

Na transcrição abaixo, elas foram incluídas nos anos apropriados, mesmo que possam não ter sido redigidas nesses anos.

O ÁLBUM 1853

9 de janeiro de 1853.

Dia este que há de ser eternamente gravado em minha mente.

UMA LÁGRIMA SOBRE UM TÚMULO

Era a hora do silêncio e do repouso, hora mágica ― misteriosa ― grande ― sublime ― majestosa como Deus! Triste, melancólica como a imagem do túmulo… porém que […] para a minha alma, por isso que minha alma ama a melancolia!!… E eu te saudava, hora mágica ― e sublime!!! E eu subia no cume do rochedo… E tu eras grande ― e misteriosa como o mesmo Deus!!!…

Doze horas soaram… A noite estava silenciosa ― e erma. E eu estava sobre o cume do rochedo. Era o silêncio dos túmulos que aí reinava!!! hora santa ― e respeitável, como a imagem de Deus ― eu te saudava!…

Ao longe Álcion [Alcíone, mulher transformada em pássaro por Zeus], gemia, gemia, sobre as águas ― e o mar mansamente beijava as cavidades do rochedo. Mas o rochedo estava imóvel porque a voz do Senhor ele se havia erguido: ― e esta voz que o erguera, brandamente soava no murmúrio da viração.

E eu chorava porque a meus pés estava um túmulo!!! E as estrelas que prateavam a abóbada celeste ― e o mar que alvejava no seu leito, ― e a brisa do Sul que me rociava as faces, ― e o verme, que se arrastava para a sua presa, ― e o orvalho que se pendurava das ramas ― estavam mudos e tranquilos. Só eu tinha o coração opresso por isso que a meus pés estava um túmulo!

E ninguém partilhava a minha dor!… E os raios da lua começavam a pratear as águas… e um branco sudário se desdobrava, sobre a tema ainda revolta da sepultura. Mas a lua passava e o sepulcro já era tudo sombras: ― e minha dor prosseguia, sempre ainda, sempre crescente!!

Oh! Sim!… E para sempre escondida aquela que eu tanto amara!… Eu chorava… No silêncio da noite, minha dor, tocava a desesperação. O mar desdobrava-se a meus pés, ― as estrelas cintilavam, sobre minha cabeça, ― a viração andava em torno de mim. Deus se me revelava em cada um daqueles objetos. Oh! eu amo a Deus porque Ele é justo, ― santo ― e onipotente.

No auge da minha desesperação, deixei o rochedo. Indignou-me ver tudo tranquilo ― tudo indiferente à minha dor. Deus! Ajoelhei sobre a terra ainda revolta do sepulcro, e meu espirito sentiu amarga consolação. Por quê? Porque Deus amerceou-se [compadeceu-se] de mim. Eu chorei sobre a sepultura, mas era um pranto já mais resignado…

Eu a tinha visto morrer, e não tinha desesperado. No auge da minha dor, soltei uma blasfêmia… mas o arrependimento apaga a nódoa do pecado ― e eu senti renascer em meu coração sentimentos mais dignos do meu Deus. Ele me havia perdoado.

E eu que tinha visto seu corpo fugir-me, atendendo à voz do sepulcro, que o reclamava… e eu que vira seu espírito abandonar-me porque à voz do Senhor… pude ver, e não desesperei?!!

Oh! Deus!… Deus… de Ti veio-me o bálsamo de resignação.

Mas ao silêncio, sussurra a hora da arvorada ― e minhas lágrimas corriam mais suavemente. A resignação entrara em minha alma. O amargor estava ainda em meu coração, ― mas a hora que aprazia a minha alma já havia passado.

A noite já de todo havia desaparecido: ― as flores desabrochavam meigas, e risonhas, ― ao voluptuoso bafejo da manhã: eu já não tinha lágrimas, porque o Senhor as trocara pela resignação.

Então, entoei um hino ao Deus dos Exércitos… Minha alma exalou um suspiro de saudade, ― e circundei de flores o túmulo da que tanto amei!

A hora do silêncio tinha passado, e eu {que} por um instante duvidara da bondade eterna, consolidava já meu coração na crença do seu Deus.

E cessei de chorar porque o seu espírito estava em Deus!!!!

Maria Firmina dos Reis

20 de maio de 1853

1856

Eu as vi… eram duas virgens, duas virgens, meigas, belas, sedutoras, oh! ainda as vejo!… Teresa… Alexandrina.

Foi um momento de prazer que me concederam, mas esse momento ficou gravado em minha alma.

Seus rostos inspiram a mais doce, e meiga simpatia, mas o que é o físico em relação à alma?… Sim, é por sem dúvida transunto [exemplo] fiel da pura ingenuidade de suas almas.

Teresa, meu coração rendeu-se inteiro nos teus encantos… Minha alma simpatizou com a tua, ― minha dedicação, meu afeto, meu amor para ti será eterno.

São Luís, 19 de junho de 1856 * * *

É preciso que neste álbum eu escreva uma lembrança a fim de a minha terna, e querida amiga, quando lançar os olhos sobre o caráter destas letras, se recordar de quanto a amo. Oxalá que ela esteja sempre presente na memória da minha amiga, como fica gravado no meu coração o seu belo retrato.

Trarei teu nome gravado

Dentro do meu coração Pois por ti só concebi Amor, sincera afeição.

*

Estas linhas que escrevo Só querem dizer “Maria”. Delas só me esquecerei Debaixo da campa fria.

*

Teresa de Jesus Cabral. Maranhão, 22 de julho de 1856

1858

Oh! dia 10 de agosto de 1858… como és para mim de dolorosa recordação!! Foi neste infausto dia que a morte me roubou uma terna, e afetuosa amiga! Ana Joaquim Cabral Viana, como eras cara ao meu coração!! Uma lágrima sobre a sua campa!

Urna lágrima de saudade à memória da minha jamais chorada amiga D. Ana Joaquina Cabral Viana. rosa de amor ― rosa purpúrea e bela

Quem entre os goivos te esfolhou, da campa?!!

C. [“Camões”] por [Almeida] Garret

Morreu! já não existe! Lágrimas tristes, pranto de sincera e amarga saudade, orvalhai-lhe a campa! Meu Deus! como a morte é cruel!!! Suas graças, sua amabilidade, sua extrema doçura não a poderão comover!!!

Ah! ainda a vejo no gozar da vida, já tão exígua, já tão próxima do sepulcro, e inda assim tão bela… tão

risonha, tão cheia de encantos.. era como a estrela da alvorada bela ainda até ao ultimo lutar com o resplendor da dor: mas a morte adejou em torno dela e nós perdemo-la para sempre. A terra lhe seja leve!!

Sem data

* * *

Otávia, nascida a 20 de fevereiro de 1858 ― andou a 28 de dezembro do mesmo ano.

Sem data

1859

UM SUSPIRO… UMA RECORDAÇÃO!

Como são incompreensíveis os Juízos do Altíssimo! meu Vicente, na flor dos anos… arrebatado à vida por uma morte súbita e inesperada! Meu Deus, era o dia 15 de fevereiro. Eu o vi morto, e meus olhos não acreditavam! Sofri uma […] dor, mas resignei-me, porque foi a vontade de Deus!…

Guimarães, […] 1859

* * *

UMA LÁGRIMA!…

Era o dia 19 de abril, um formoso sol brilhava sobre os campos do céu, e os raios vívidos e luzentes aqueciam docemente a ervinha do prado; mas meu coração estava aflito, porque na minha alma havia dor pungente. Minha pobre Avó! Caíste como o cedro da montanha, abalado em seu seio pelo correr dos séculos. Uma lágrima sobre a tua campa! porque a sua memória será terna em minha alma. Adios, até o dia em que Deus nos houver de reunir para sempre

Guimarães, 19 de abril de 1859

1860

[Observação: a segunda campanha de subscrição do romance Úrsula, esta bem-sucedida, transcorreu no primeiro semestre de 1860, e o romance foi lançado no início de agosto desse ano, recebendo quatro resenhas e sendo objeto de vários anúncios nos periódicos de São Luís.]

Principiou-se a obra da casa das órfãs Edeltrudes e Juliana a 18 de setembro de 1860.

Sem data

* * *

Hoje tenho o coração opresso… é incompreensível o que sinto! tenho amarga melancolia!!

Guimarães, 24 de setembro de 1860

* * *

Permiti, Senhor meu Deus, que o dia de amanhã me seja mais cheio de esperanças. e de felicidades: porque eu vos louvarei como os anjos.

Guimarães, 25 de setembro de 1860

* * *

Ainda hoje acabrunha-me a mesma melancolia, ou cada vez ocultava mais, e cresce e duplica de amargor. Há no fundo da minha alma o que quer que seja, que derramando-se por todo o meu corpo, entorpece-me os membros, e curva-me a fronte para o sepulcro. Sepulcro… Sepulcro, se para mim não tem jamais um dia de esperança, e de amor, um dia de sensações mais poéticas, e menos amargas, quando o teu silêncio me arrebata!!!

Eu não amo a vida; porque ela é a vida de gozos e de felicidade; amo-te, oh! sepulcro: porque em ti se […] esquecimento e repouso.

Guimarães, 26 de dezembro de […]

1861

Raiou enfim um novo ano; mas a luz do sol do seu primeiro dia, não esclareceu as trevas, nem abrandou as dores do meu coração. Oh! te saúdo novo ano; mas, tu não trouxeste a esperança à minha alma!… Serás acaso tão impassível ao meu sofrer, como foi teu irmão?… Será o derradeiro da minha vida!! Meu Deus eu estou resignada, Bendito sejas; porque me en[…]s o sofrimento!

5 de […]

Sexta-feira, 11 de janeiro, dia em que viemos habitar esta casa. Deus permita que nela eu seja mais feliz e que a tranquilidade visite o meu coração. Difundi Senhora vossa graça sobre nossas cabeças. Amém.

Não. Tentar contra os meus dias, seria um crime contra Deus e contra a sociedade; mas almejo a morte. Perdoai-me Deus de misericórdia! Mas a vida é-me assaz penosa, e eu mal posso suportá-la. O mundo é áspero e duro; mas não me queixo do mundo nem de pessoa alguma. Minha compleição é débil, minha ama [?] alma sensível […], meus desgostos são filhos de meus caprichos. Só vós, Senhor, me compreendeis porque me geraste: só vos podereis perdoar!

Guimarães, 2 fevereiro de 1861

O descanso de uma vida consumida encontra-se na sepultura. O esquecimento das dores humanas, só ela oferece. Eu quero um dia de repouso, um dia de esquecimento. Campa!… campa, eu te saúdo.

Guimarães, 26 fevereiro de 1861 * * *

Raimundo Guimarães Augusto Ermes de Sar[…?] nasceu a 28 de agosto de 1861. Doroteu [escravo] embarcou para a capital com comadre Eulália a 25 de setembro de 1861.

Sem data 1863

RESUMO DA MINHA VIDA

De uma compleição débil e acanhada, eu não podia deixar de ser uma criatura frágil, tímida, e por consequência melancólica: uma espécie de educação freirática, veio dar remate a estas disposições naturais. Encerrada na casa materna, eu só conhecia o céu, as estrelas, e as flores, que minha avó cultivava com esmero, talvez por isso eu tanto ame as flores; foram elas o meu primeiro amor. Minha irmã [Amália Augusta dos Reis]… minha terna irmã, e uma prima querida [Balduína A. dos Reis], foram as minhas únicas amigas de infância; e nos seus seios eu derramava meus melancólicos, e infantis queixumes; porventura sem causa, mas já bem profundos.

II

Mas a infância passou, como passa para todo homem, e eu tive mais vigor e minha vida adquiria mais forças; meu coração como que expandiu-se um pouco, vívidos raios de sol da adolescência. A mulher é como a flor, esta sonha meiguices ao despertar do sol, porque o sol que surge há de afagá-la, sorrir-se […] de felicidade sem lembrar-se a pobrezinha que esse viver de deleites é dum momento, e que esse mesmo sol, que tão

*
* *
* * *
I

docemente a seduziu em seus transportes amorosos com suas faíscas ilusórias, vai-lhe roubando a vida e os encantos. Aquela no desabrochar da vida cisma um futuro radiante, e belo, belo como o céu. Eu experimentei já essa doce ilusão que mais faz amargar os últimos dias da existência. Era um débil e transparente véu que estava ante meus olhos, rasguei-o, vivi um deleitável paraíso, que me seduziu, e que me enlevou, que me transportou; da minha melancolia infantil, passei insensivelmente a um meigo olhar inocente de felicidades. Ah! por que tão depressa fugiste. Ah! por ela fugiste, idade única da vida, em que eu pude sonhar esse sonho que o poeta inveja, em que pude gozar esse gozo puro que assemelha, que arremeda a bem-aventurança dos anjos!…

Passou, e embalde, embalde anda a procuro. O que foi que tão depressa me fez esquecer os meus sonhos da adolescência, o meu gozar dos anjos? Quem se atreve de novo a cerrar sem piedade esse véu que débil, na infância, me ocultava o paraíso, e que agora ainda se tornou mais espesso, mais negro e compacto.

III

O mundo! Esse espelho impassível, cruel […] desfazer as nossas mais gratas, mais lisonjeiras esperanças! A sucessão dos anos apagou-me o fogo do coração, resfriou-me o ardor da mente, quebrou na haste a flor de minhas esperanças. Que porvir tão belo imaginava eu no doce delirar de minhas ideias! Nos meus sonhos mentirosos que futuro radiante se me antolhava [manifestava aos olhos]! Ah! Tudo, tudo uma cruel realidade. Destruí-o para sempre. Tudo: meu coração outrora tão ardente, hoje apenas sinto-o levemente estremecer no meio do gelo, que o circunda E os poetas dizem. “O amor vivifica os corações” ― o Amor é a felicidade da vida, é a vida da nossa existência: talvez. Amei eu já acaso? Não sei. Amor ― acrescentarei eu, é uma paixão funesta ― é o amor quem espreme no mundo tanto fel, tanta amargura, é quem torna a vida peso insofrível, por demais incômodo. Amor que abre ao homem a senda do prazer e da vida é também quem cerra sobre ele a lousa da sepultura. Entretanto o amor é necessário ao coração do homem, quanto o ar é necessário à vida. Amor, amor, deixemos aos poetas esse dom celeste, e infernal, doce e amargurado, inocente e criminoso; não amemo-nos. As ilusões fugiram, fugiram as esperanças, que me resta pois? Uma mãe querida e terna, uma irmã desvelada e carinhosa. Ajudada por elas, arrastarei o peso desta existência até despenhar-se na sepultura. Porque me dás o sofrer, eu te bendigo, porque me permitiste a recordação de um passado mais venturoso! Oh! quantas vezes reclinada a fronte escandecida, sobre a mão gelada pela dor, eu lembro esses dias de infância que passei no regaço de minha mãe, e entre folguedos tecidos por mim, e por minhas duas amigas, folguedos, que começavam para mim com um magnético encanto, e que logo se iam tornando tristonhos e melancólicos, como minha alma, e que terminavam por um choro doído, suposto que sem causa. Meu coração sentia naquele chorar um amargo prazer, sentia uma dor, que ainda querendo, não o saberia explicar: inda assim eu era feliz! Ou então toda entregue a um profundo desalento, quanta vez, meu Deus. a mente vai buscar todas essas fases da vida por que tenho passado! Esses ligeiros anos de esperanças, e de gozo, e depois estes compridos e insofríveis anos de amarguras, de tédio, de desgostos, de dores, não imaginárias como a infância; mas fundadas em outras dores, filhas de grandes e muitos sofrimentos. Vida!… Vida, bem penosa me tens sido tu! Há um desejo, há muito alimentado em minha alma, após o qual minha alma tem voado infinitos espaços, e este desejo insondável, e jamais insatisfeito, afagado e jamais saciado, indefinível, quase que misterioso, é pois sem dúvida o objeto único de meus pesares infantis e de minhas mágoas. Eu não aborreço [me aborreço com] os homens, nem o mundo, mas há horas, e dias inteiros, que aborreço a mim própria.

Que será pois o que sinto? Amo a noite, o silêncio, a harmonia do mar, amo a hora do meio-dia, o crepúsculo mágico da tarde, a brisa aromatizada da manhã; amo as flores, seu perfume me deleita: amo a doce melodia dos bosques, o terno afeto de uma mãe querida, as amigas de minha infância, e de minha juventude, e sobre todas estas coisas amo a Deus; e ainda assim não sou feliz, porque insondável me segue, me acompanho esse querer indefinível que só poderá encontrar satisfação na sepultura.

Renato ― creio que assim se chamará o pequeno órfão que recebi para não mais aleitar. Inocentinho coitado! Nasceu a 6 de dezembro de 1862. No dia 11 do mesmo mês, Deus foi servido para seus insondáveis mistérios chamar-lhe a mãe. Foi no dia 17 do mesmo setembro [dezembro?] que me vieram entregar. Deus e a Virgem Santa o protejam.

*
* *

Sinhá ignora o nome ainda, o nome que terá na pia batismal a inocentinha criança que me foi confiada por pessoa que por ela se interessava em Alcântara, a 30 de janeiro de 1863. Talvez um dia a reclamem a seus pais: foi essa a condição com que ma confiaram.

Sem data

* * *

Renato! Renato, meu filho adotivo, meu pobre anjinho, já não existes!… Que fatalidade, meu Deus!… É duro ver-se morrer aquela a quem se dedica afeição quase materna. Dez dias de sofrimento… dez dias. Renato, pobre florzinha acoitada pelo furacão, quebrou na haste ainda tão débil e tão mimosa… Renato era um anjo que vagava entre nós, e que de novo remontou ao Céu, ileso das dores da vida. […] inseparáveis da existência… e ainda assim eu pranteio? Que loucura! Perdoai-me Senhor; mas, me criaste tão fraca, tão sensível à dor!!! Saudades! quantas não tenho eu dele?! dessa nívea florzinha que foi abrir seus cálices nos jardins do Céu!… Garça que pousou na terra, reerguendo-se novamente às regiões do espaço, sem tocar no lado impuro do mundo! estrela da alvorada eclipsada na terra pelos vívidos raios do sol da terna bemaventurança; nuvem de incenso que se infiltra nos céus aromatizados e puros. Anjo! Anjo de Deus, aceita em tributo de saudade uma lágrima bem sincera, nascida do coração. Nos teus folguedos divinos, no teu constante gozar, lembra-te de minhas saudades, e eleva, prostrado aos pés do Altíssimo uma súplica fervente em favor daqueles que te acolheram e te dispensaram afetos.

Guimarães, […] junho de 1863

A UM ANJO

[Observação: José Nascimento Morais Filho reproduziu essa entrada como um texto de ficção, mas se trata de um poema ― provavelmente, dedicado ao filho de criação Renato, falecido em junho de 1863.]

Voaste, meu anjo, Qual nuvem de incenso, Em gratos perfumes

Ao trono do Imenso.

* Com risos assumes Mais grados queixumes, De quem te adorava, Os campos, os prados, De etéreas alturas!

*

Tu garça inocente, Folgando contente, Rival nos agrados

Aos anjos c’roados

Com as flores dos Céus, Aos pés do Senhor, Nas harpas mimosas, Canções sonorosas… Entoam ao seu Deus!…

* Ó, desce um momento, Meu anjo de amor, E traz-me um sorriso Que abrande o tormento

De meu coração!

Fragrância da flor

* * *

Do meu paraíso

Se infiltre em minh’alma Frescura na calma, Consolo à aflição.

Guimarães, […] 1863

1864

Sinhá sentou-se com 5 meses e começou a desmamar-se de noite em 23 julho de 1863.

Sinhá deixou de mamar em Guilhermina desde os meados de setembro, e a engatinhar a 27 deste mesmo mês.

Sinhá deixou completamente a mama em fins de outubro do mesmo ano de 63.

Sinhá começou a andar no dia 17 de Janeiro de 1864.

Sinhá batizou-se ontem, 2 de fevereiro de 1864, na igreja matriz desta freguesia. Foi chamada Maria, na pia batismal ― foram seus padrinhos o Dr. José Mariano da Costa e eu própria, M. F. dos Reis. Acrescentarei que o dia 2 de fevereiro foi 3.ª feira, e que ela recebeu o batismo às cinco horas da tarde, sendo-lhe este Sacramento administrado pelo Revmo. Pe. Francisco José Cabral.

Guimarães, 3 de fevereiro de 1864

* * *

Foi seu viver um lutar contínuo com a morte: e a morte triunfou e morreu Benjamim na aurora da vida! Morreu no dia 27 de fevereiro de 1864 depois de longos e bem penosos sofrimentos. Deus se apiede de sua alma ― a terra lhe seja leve.

Sem data

* * *

UMA LEMBRANÇA

Ontem, 23 de abril de 1864, pelas nove horas da noite, recebi o beijo de despedida de uma excelente amiga ― D. Francelina Leopoldina Monteiro da Costa. Fui com profunda saudade que os vi partir… e a recordação de sua bondade, e da de seu consorte, e um doce sentimento de amizade, de simpatia, e de sincera afeição, gravada em minha alma, existirá para sempre; triste, mas doce companheira duma bem profunda saudade Guimarães, 24 de abril de 1864 * * *

Partiu finalmente o Dr. José Mariano da Costa a 30 de abril de 1864 pelas oito horas da manhã. A partida deixou-nos saudoso: é vácuo imenso ― o vácuo que deixa um bom amigo. ― Que ele, meu Deus, que sua mulher encontrem em Alcântara as simpatias, a amizade, as afeições que souberam cobrar aqui, de que são tão dignos. É sempre bem penoso ao coração sensível a partida de um amigo que sinceramente nos interessa. Minha alma pois tem sorrido profundamente as saudades da separação. ― Saudades ― gosto amargo de infelizes. ― A. G. [citação literária]. Permiti, meu Deus, que um dia eu os torne a ver… 30 de abril de 1864 * * *

Foram-se as amigas queridas do meu coração… Foram-se, e para bem longe! D. Sabina, D. Anica, D. Emília ― uma família inteira… a toda ela amei por simpatia, por afeição, e hoje vejo-a seguir seu destino para Alcântara, deixando meu coração magoado de saudades as mais profundas. Nossa intimidade, nossos afetos tão doces, tão recíprocos, a separação veio interromper, mas não cortar: embora venha ser doída essa separação, a ternura que lhes dedico as seguirá por toda a parte onde acaso a sorte as leve. Meu Deus, fazeias felizes, Senhor ― são os votos que hoje vos dirijo ― e que jamais me esqueçam, como jamais me esquecerei delas.

1869

À MINHA AMIGA Terezinha de Jesus Pago-te em verso o que te devo em ouro

Beijar-te… ouvir-te a voz divina e pura Mimosa criatura ― anjo de amor!

É gozo que extasia a minha alma Como oásis na calma ― em longo error.

Mimo celeste que vieste ao mundo, Ledo, jucundo [jovial] ― sedutor e santo! Teu riso anima melindrosa fada Por Deus mandada pra estancar meu pranto.

Não vieste, bela, a me inspirar poesia Nessa harmonia de beleza, e canto? Não sentes a alma que teu peito aninha, Que a alma minha […] tributa […]?

Sabes, tu sabes que me[u] peito apuro No afeto puro ― que te hei votado: Que sonho extremo para ti ― ledices Que de meiguices eu te hei cercado.

Mulher, encanto desta terra amena, Visão serena ― ao despertar do dia, Que em branca nuvem, com roupagem d’ouro Desce; ― tesouro ― de imortal poesia.

Anjo que ao sopro matinal desprende O voo: a [e] acende ― do turíb’lo o incenso Que ondula brando derramando aroma E ao trono assoma ― de Jeová incenso [?].

É meu empenho compreender teus cantos, Que encerram encantos ― de celeste amor.

Sonho os mistérios devassar dos Céus Anjo de Deus ― no teu mimoso odor.

Guimarães, 19 de novembro de 1865

AO SENHOR RAIMUNDO MARCOS CORDEIRO

Dou-vos aqui, Senhor, o lugar que mereceis. Aqui neste livro intimo, onde só tenho estampados nomes sacros que mais hei amado no mundo: ― a quem tenho confiado os mais ardentes e os mais profundos sentimentos de minha alma ― as mais doces e as mais dolorosas […] ― aqui estais vós.

1865
Guimarães, 10 de junho de 1864
*
*
*
*
*
*
*

Bem compreendeis o que é um álbum ― são as paginas d’alma escritas ora com sangue, outra hora com lágrimas, nunca animadas por benéfico sorriso. Amor ou desesperança ― saudade ou dor, eis o que ele significa.

Pois bem é nele a par do nome venerando de minha mãe, que estampei o vosso ― é que eu vos consagro uma parcela daquela ternura com que eu a amava ― é que a ausência dum amigo tão caro deixa-me uma parte da saudade que ela me deixou.

Compreendei pois toda a grandeza da minha amizade.

Agora que ides deixar Guimarães e os vossos amigos, recebei a minha despedida nestas frases singelas com o afeto que vos consagro. Estais no começo da vida; largos horizontes se vos antolham, que eu antevejo risonhos e felizes: ― para mim passou já essa quadra da vida, toda de ilusões floridas, e de esperanças mais ou menos enganadoras; mas ainda assim belas!!! Que me resta pois? Um coração vazio de amor, ― uma alma transbordando de afetos ingênuos, puros como os beijos de uma criança, e esses afetos puros assim e sinceros como a minha alma, eu vo-los ofereço, que os mereceis.

Guimarães, 31 de Janeiro de 1869

M. F. dos Reis UMA SAUDADE ― No Álbum da Exma. Snra. D. Maria Firmina dos Reis Aqui junto a um santo nome, Foi que me deste um lugar, No teu álbum… oh! se eu pudera De flores ele adornar!…

*

Mas, Senhora eu te agradeço Essa prova de amizade, Esses tão puros afetos, Essa tão santa saudade.

*

Deixo-te aqui terno ― adeus, Gravado de coração, E saudoso… triste como Dum filho a separação; Merencório como a noite Do pescador, a canção.

*

“Nestas folhas perfumadas, Pelas rosas desfolhadas Dos teus cantos de amizade”, Deixo um ― adeus magoado, Todo de pranto banhado, No teu álbum, ― uma saudade!…

Raimundo Marcos Cordeiro

1872

CAETANA

Deixa gravar o teu nome neste álbum, como lembrança indelével da amizade que te consagrei!

Hoje que na ampulheta do tempo caiu para ti o último bago, ― hoje que a mão da morte gelou teu peito, e cobriu com seu manto de lividez tua fronte bafejada apenas pela fragrância das vinte primaveras, hoje que sobre o ergástulo de tua alma cândida, verto uma lágrima de saudade, mas que tu não correspondes com outra lágrima, ao menos lá do seio do Senhor acolhe a expressão sincera da minha saudade.

Foste filha, esposa e mãe; mas cortada em flor a tua existência, hoje és presa dos vermes!

Sem data

* * *

Há já dois anos que te abandonei, meu pobre álbum… por quê?

Não to direi hoje; mais [depois] dar-te-ei o motivo.

Se eu tivesse uma lira nela ia cantar as belezas desta tarde.

Não tenho…

Mas eu te saúdo oh! tarde doce e melancólica como um sorriso deslizando por entre lágrimas… tarde que recordas no coração tudo quanto ele amou, tudo aquilo que gozou: e trazes como saudades de um prazer futuro que a alma vagamente almeja, e almeja sempre…

Oh! tarde de janeiro ― quanto encanto, quanta poesia! Quem fora feliz para poder-te cantar…

Mas eu, eu não sou! Sou urna desditosa escrava da sorte, uma mísera poetisa cuja lira estalou ao choque da desventura… Não te posso cantar; guardo porém a tua lembrança.

Guimarães, 1º de fevereiro de 1872 * * *

Eu nunca tive a louca pretensão de possuir no céu uma só estrela.

Um dia alguém disse-me apontando-me para a melancólica estrela que acompanhava a lua ― vês a tua estrela? Tu és a lua, e aquela que a segue é tua.

Sim, eu sou a lua: ― se Deus negou-me dela a beleza, o nítido albor [brancura intensa] e o magnífico esplendor de formosura, deu-me uma melancolia, sua palidez; e como ela a divagar no céu, deu-me que […] divagasse na terra: cismando como ela à noite, meditando saudades, e tristezas como ela medita.

Eu sou a lua, mas aquela estrela!… Não, eu não tenho uma estrela! A minha caiu há muito, e sumiu-se no nada. A estrela que acompanha a lua, é plácida e serena como ela, tem como ela amor e poesia, devia ser a minha porque eu sou a lua: mas não ― eu não tenho uma estrela!

Se é sorte sua seguir-me, que me siga; mas eu não a vejo ― porque a minha há muito que caiu e se sumiu no nada…

Esta estrela que me emprestaram é bela, poética e merencória como a lua; mas não é minha ― a minha caiu há muito, e se sumiu no nada!…

Guimarães, 2 de fevereiro de 1872

UMA LEMBRANÇA

Deus quis que eu visse, um dia, um dos seus anjos adormecidos no regaço álgido [gélido] da morte; um dos anjos, que apenas se apartam um instante do seio, e nostalgia mórbida as arrebata e transporta ao éden da bem-aventurança: ― um dos seus anjos, que adormeceu para sempre sobre a terra, porque despertaram no céu, ao som da poética harmonia dos cânticos celestes.

Eu vi esse anjo, era uma donzela pálida e irregelada [enregelada] pelo bafejo da morte, mas mesmo assim, era tão bela que inspiraria interesse a todo o peito, que não fosse de mármore. Com os olhos cerrados ela não via já os extremos [zelos amorosos] da irmã, que a idolatrava: ― o peito frio e inerte não estremecia convulso, ao som magoado dos soluços fraternais.

Parece que ainda a vejo. Havia no seu rosto uma expressão indefinível, um quê de místico e sedutor, que fazia nascer as crenças na alma já fria pelo ceticismo do século. Era o dia quinze de maio, pelo meio-dia, quando o anjo pálido da morte, no seu eterno divagar, sobraçou em suas asas de candidez deslumbrante o anjo meigo que gemia na terra as saudades do céu.

* * *

E sua irmã quase enlouquece de dor.

Se em razão do homem não houvesse um quê que se lembra a cada hora, um Deus, e que nos diz que em nós existe parcela desse mesmo Deus, bastaria para crê-lo ver, como eu vi essa virgem que depois da suprema agonia de urna morte lenta, tinha estampado no rosto um sorriso beatífico. Lançaram-lhe flores de envolta com as lágrimas de sua irmã, e sobre sua memória a palavra [?].

Sem data

* * *

Souvenir!

Isidoro!

Vou render-te um tributo. Merecido é ele; é o singelo tributo de uma lágrima…

Isidiro! tão breve deixaste a vida transitória… tão cedo te escondeste no seio do sepulcro… tão breve buscaste a morada do descanso; como se neste mundo para ti só houvesse urzes e abrolhos…

Hoje te procuro entre os vivos, e nem tua sombra vaga à noite iludindo os olhos que te procuram… porque teu corpo se encerrou na campa e teu espírito singelo foi [a] caminho de seu Deus!

Quantas vezes o sol tem refluído seus raios luminosos sobre teu leito de repouso eterno desde o dia dez de abril, até hoje vinte e oito de maio ― quanto pranto a aurora tem derramado sobre terra endurecida do teu sepulcro ― quantas vezes a lua pálida e comovida lhe há estendido o manto algente [gélido], e glacial; e eu que vivi contigo, nos anos dos sorrisos e nos anos também em que tudo se converte em prantos; eu que denotava afeto quase fraternal; apenas hoje pude gravar teu nome nas páginas deste livro.

Mas olha, aqui é que está o nome de minha mãe que também voou para Deus, daquela que eu amei, mais que a mim própria ― daquela que foi também a tua segunda mãe… é a prova mais sincera da amizade que te dedicava, e da saudade que deixaste para sempre em minha alma

Adeus, Isidoro, adeus… até o dia em que Deus nos reunir no Céu, onde vives com os anjos em doce paz. Adeus!

28 de maio de 1872

Hoje vinte oito de maio partiu daqui seu Luís Cordeiro em viagem para a Europa. O adeus de uma pessoa que a amizade nos torna cara, enche de saudade a nossa alma.

A saudade é um espinho que dilacera; mas não mata É o alimento da alma sensível…

Ah! eu amo a saudade! ……………………………………………

28 de maio de 1872

O álbum é o livro da alma; é nele que estampamos os nossos mais íntimos sentimentos, os nossos mais extremosos afetos; assim como as mais pungentes dores de nossos corações.

E também o nome daquelas pessoas que nos são gratas, que nos inspiram simpatia, que nos cobram sincera amizade deve escrever-se aqui.

Pois bem; ― é por isso que vou dedicar ao […] Teodoro José da Silva Bessa esta página do meu Álbum. Seu trato fino, e delicado, suas maneiras amáveis e cavalheirescas, a singeleza, e a amabilidade de sua conversação, tudo nele enfim induz a amar sua companheira, e a sentir saudades na sua ausência.

Ele voltou ao seio da sua família no dia quatorze de novembro, mas ficou gravado seu nome, e sua lembrança no coração de todos que o conheceram de perto, como eu o conheci.

* * *
* * * O ÁLBUM

Foi ali, nas amenas e gratas praias de Cumã, onde no dia dez de setembro deste mesmo ano, pelas cinco horas da tarde, eu o vi a vez primeira: ― vinha em companhia das Cordeiros, minhas íntimas amigas ― e trazia consigo sua prima D. Glória, cuja recordação me é igualmente agradável.

Ele, pálido e enfermo, vinha procurar saúde nos salitrosos ares de Cumã, e de feito a encontrou. E encontrou ainda mais; ― a afeição sincera dos que o viram, e… os extremos [zelos amorosos], quem sabe? daquela que tão amarga lhe tomou a separação de ontem!… E eu não podia deixar de estimá-lo; porque a par de todas as suas belas qualidades está ainda a extremosa dedicação de sua alma, àquela que eu também, amo como irmã.

Que Deus lhe conceda a felicidade, que sua saúde não se altere, e que ele seja sempre digno da estima geral, e dos extremos da gentil donzela que vibrou de sua alma a corda mais poética, e sensível, ― que acordou em seu coração adormecido a fibra mais íntima do sentimento grato ― o amor.

Guimarães, 15 de novembro de 1872

Salve! oh! dia 29 de novembro! Salve!

Tu, que restituíste ao Cumã um filho que por seis meses peregrinou na Europa deves ter aqui uma saudação grata…

Tu restituíste o Seu Luís Cordeiro aos braços da mãe extremosa e à pátria que o aguardava com ânsia. Eu te saúdo […] dia! E eu também o vi, e senti íntima satisfação, porque o vi. Romeiro da saúde, ele conheceu um pedaço do velho mundo, mas seu coração não se prendendo a ele, as saudades da pátria o chamavam ao seu belo Cumã, e ei-lo entre nós.

Guimarães, 29 de novembro de 1872

1873

RECORDAÇÃO E LÁGRIMA

Sol de vinte e sete de fevereiro, sol de hoje, para que saíste?!! Vens insultar a minha dor? Ah, quantas lágrimas minhas têm bebido teus raios abrasadores; e ainda não farto delas, vens de novo cobrar prantos que o tempo ainda não pôde condensar no coração…

Triste ― doloroso aniversário, vinte e sete de fevereiro, enlutaste para sempre meu coração, dilaceraste para sempre os seios de minha alma, tornaste-me a vida um martírio pungente.

Sol de vinte e sete de fevereiro, por que saíste hoje?!!……………

E desde então eu converti minhas lágrimas em cantos ― cantos mais amargos, mais doídos que a própria morte.

E entretanto os sons da minha harpa gemebunda jamais despertam as pulsações de meu Deus, antes a morte.

27 de fevereiro de 1873

O QUE É A VIDA?

O que é a vida? Será acaso a vida o respirar, o sorrir no trocar de cumprimentos banais e quantas vezes frívolos… o banquetear com aparatosa regularidade, com suntuoso luxo dos amigos, algumas vozes tão indiferentes, e alheios aos sentimentos de afeto, e de amizade que lhe votamos, e até estranhos à gratidão; por que, depois de termos colhido os nossos sinceros afagos vão cuspir sobre eles, seu sorriso de escárnio?… Será isto vida? Não. Ou será então o deslumbrante e sedutor aspecto de um salão dourado, cujo ambiente perfumoso pode encher o coração de mágicos transportes…? Será aí onde as flores de um buquê furta-se um beijo de leve, voluptuoso… será os sons de orquestra afinada, que arrebatando os sentidos enleados vai

* * *
*
* *

de envolta com um bruxulear de magníficos candelabros excitar desejo, despertar ideias, acender no coração um fogo, que logo abrasando-o rapidamente se esmorece, e morre ao último som da derradeira polca ― ao último luzir da reverberante iluminação da sala…?

Ou será a vaidade satisfeita pela posse de um rosto que a natureza adornou com a perfeita formosura dos anjos ― uns olhos onde se retrata toda a beleza da alma, uns olhos que falam de amores, desses que o mundo procura em vão conhecer e que parece que só devem existir em Deus, porque o mundo é assaz pequeno para contê-los ― uns olhos que são um orgulho de quem os tem, e a inveja viva de quantas a rodeiam? Será talvez tudo isso: ― mas eu o nunca vivi; ou se vivi, compreendi a vida por outros desvios, por outras sendas, por onde nem todos passam. Penso e sinto: meu sentir e meu pensar não os compreende ninguém; porque também a ninguém os revelo.

A vida para mim está nas lágrimas. Amo as que verto na amargura pungente de minhas ternas desventuras; com elas alimenta-se minha alma, elas acalmam o rigor do meu destino.

Lágrimas! Lágrimas… Elas despontam cristalinas e brancas no berço do recém-nascido, elas nos seguem amargas e pungentes no caminhar da vida ao túmulo; e ainda na derradeira agonia, nem uma lágrima silenciosa, como um adeus à vida serena a ardência das faces requeimadas pela febre da gangrena.

Eu amo as lágrimas…

Elas têm sido as companheiras da minha árdua e penosa existência; é nelas que tenho achado meu conforto, nelas é que me hei estribado para chegar ao breve termo da minha longa peregrinação… Amei-as na infância, porque elas embalavam-me docemente em ilusório sentir; eu as invocava por simpatia. Depois o amor ― e o amor ― não pode vigorar sem lágrimas.

Elas me sorriram nessa quadra poética da existência, que para mim passou tão breve! elas vinham dos olhos de seio, como a gota filtrada na rocha, doces e voluptuosas banhar-me o coração com sua inefável fresquidão.

E quando a mão de Deus mandou que esse amor tão belo cedesse ao sopro álgido da morte oh! essas antigas companheiras colocaram-se constantes ao meu lado; e como orvalho sagrado, elas de então para cá jamais cessaram de umedecer a estéril e poeirenta senda que tenho vagamente percorrido.

É então que fiz das lágrimas um sacerdócio, ― é quando conheci então que a vida está nas lágrimas… Triste do homem que não as tem…

Guimarães, 15 de junho de 1873

LÁGRIMA NUM BAILE

Ontem eu assistia uma pequena, mas bem animada reunião. Valsavam os pares alegres e risonhos, mas no fundo dos corações, quanto fel, quanta amargura! A máscara do rosto, quantas vezes encobre um vértice de dores e de desesperanças!!!

Eu a vi com as lágrimas nos olhos sorri-se para o cavalheiro, que procurava pesquisar no âmago de sua alma, o martírio que a todos cuidadosamente ocultavas.

Era uma linda, e interessante menina, e já nos verdor dos anos, o fel de tantas dores…

Da aurora no desabrochar mísera flor… vergou na haste, e esta reclinou a fronte amarelecida pelos beijos do vendaval!

Pobre flor que emurchece antes de exalar seus dulcíssimos perfumes!… Essa lágrima para todos desapercebida coou-se-me [?] até o íntimo da alma. Eu não pude furtar-me a partilhar aquela dor tão cruciante, que malgrado seu [contra sua vontade] se vinha revelar no meu […] baile.

(16 de junho?) de 1873

* * *

*
* *

DESPEDIDA

Ontem um baile, hoje uma despedida! O Sr. Alfredo Rodrigues de Melo é um moço de qualidades distintas; ― simpático e amável, dotado de instintos nobres: ― é um perfeito mancebo [jovem]; a quem a sorte parece aprazer-se perseguir. Geralmente estimado pelos que o conhecem; ― amado, quem sabe? até o delírio pela mulher de suas afeições, é contudo mísero ludibrio [objeto de zombaria] do destino. O mundo é um enigma!…

Ele deixou-nos hoje, ― e só Deus sabe até quando… Eu lhe desejo uma melhor sorte, uma sorte digna dele. Foi-se! deixou as plagas que o viram nascer, ― e nelas quem sabe? os destroços de sua alma apaixonada; ― os fragmentos de um coração despedaçado por contrariedades, e amargas decepções!… Eu que tanto o prezo, e que por ele me interesso, voto a Deus, pela sua felicidade. Que possa esquecer tudo, até terra [?]…

17 de junho de 1873

* * *

Ontem eu senti uma tão profunda, e tão completa satisfação, que embora intentasse eu descrevê-la, jamais o poderia fazer. Coisas há que se tornam impossíveis; esta é uma delas.

De joelhos, meu Deus, eu vo-la agradeço… Só vós sabeis o que eu senti… Só vós… Poderei eu explicar o que é a ― simpatia?

“Simpatia é quase amor” disse C. [Casimiro de] Abreu. Pode ser: menos ardente e terno; mais sincero e mais grato. Simpatia é um sentimento espontâneo, nasce do momento, como o amor; mas não se ligando a interesse algum; faz o sacrifício de si própria, acha em si mesma seu alimento; ― não desmaia, não empalidece, não morre.

Simpatia são as auras suavíssimas dos jardins de Deus; são acentos melancólicos das harpas celestes, quando aos pés do trono do Senhor os anjos entoam seus maviosos e cerúleos […?].

Simpatia é um afeto imenso, ― alimenta a alma, corrobora as crenças amortecidas, vigora o coração enfraquecido pelos embates da desventura.

É uma nuvem rosada que surge em meio da cerração.

É a simpatia que de há muito votei a Raimundo M. [Marcos] L. [C = Cordeiro] que me deu forças para seguilo de perto em todas as fases de sua vida: que me levou ao dulcíssimo prazer que ontem experimentei, e que há de deixar sempre em meu coração.

Eu vi-o unir-se ontem, pelos sacrossantos laços do matrimônio, a uma virgem cândida, e pura como um anjo de Deus.

Ele era feliz; eu não podia deixar de o ser; porque a simpatia que lhe voto, me obriga a partilhar seu prazer; e que Deus o preserve delas suas lágrimas, se as lágrimas um dia brotarem de seu coração.

Meu Deus, lançai sobre sua cabeça e sobre a cabeça de Matilde ─ sua esposa, todas bênçãos do Céu!!… fazeios provar na terra, desde a juventude até a mais remota idade, todo o enlevo de que gozam os vossos escolhidos.

Escutai-me a súplica fervente, que fiz aos pés do altar, que hoje renovo. Que eles sejam felizes!… Por única recompensa de todo o meu afeto, só peço que eles compreendam minha desinteressada dedicação. Sou feliz.

Guimarães, 27 de junho de 1873

1874

Vou dedicar esta página à memória de Vicente Cabral.

Dirá alguém talvez: “Que relações de amizade prendiam-te a ele?” Bem poucas, quase nenhumas, responderei eu. Mas se o meu álbum, em algum dia, depois de minha morte, puder merecer a atenção de alguém, ele levará à posteridade o nome de uma pessoa estimável como era Vicente Cabral.

Morreu no dia 4 de janeiro de 1874.

De nascimento obscuro, foi contudo querido e estimado dos seus conterrâneos; e assaz pranteado por seus amigos no dia infausto de sua morte.

Eu que também lhe dedicava estima, e que lhe era grata, procuro salvá-lo do olvido escrevendo seu nome nas páginas deste álbum. A terra lhe seja leve.

5 de Janeiro de 1874

* * *

Cortou-se o cabelo de Sinhá no dia 9 de janeiro de 1874.

Sem data

1875

No dia 4 de maio, Miguel [escravo] entrou na escola de primeiras letras do professor Daniel Vítor Coutinho.

Sem data

1876

No dia 15 de fevereiro de 1876, Guilhermina e Miguel embarcaram para a capital na canoa [deixou o espaço em branco para colocar o nome da canoa ― observação de José Nascimento Morais Filho] e chegaram no dia 16 do mesmo mês.

Sem data

Observação

A “irmã” de Maria Firmina, escrava de sua tia materna Henriqueta, chamava-se Guilhermina Augusta dos Reis.

* * *

Ah! parte, e voa, atende a voz do Céu que te diz:

[…] Não olhes a mágoa, a dor, a saudade, que aqui deixas, elas te seguem ao túmulo, e guardadas no santuário de meu peito, hão de sempre repetir teu nome!

Guimarães, 13 de junho de 1876

* * *

1.º de julho ― domingo pelas 2 horas da madrugada, no Iate Mondego, Doroteu embarcou para a capital.

Deus o faça feliz. Amém.

Sem data

1877

Foi no domingo ― 15 de abril de 77 pelas 8 horas da manhã, que seguiram na Flor do Cumã― para a capital, Dindinha, Balduína, […] Otávia.

Eu segui-as com a alma. Deus as faça aí felizes. Amém.

Sem data

Quantas cenas de morte têm enlutado nossos corações neste fatal mês de junho de 77!… No dia 2 morreu Valentina de Azevedo, no dia 14 sua irmã Dudu. Clemente no dia 15, e no dia 18 seu Mundico Serrão.

A terra lhe seja leve!…

Junho de 1877

* * *

Hoje 20 ainda uma outra deixou a vida ― Candinha de Azevedo!

Que fatalidade persegue esta família…

20 de junho de 1877

1878

Casaram-se no dia 25 de junho de 1878 na Igreja da matriz desta vila os meus prezados afilhados D. Amélia das Santos Cordeiro com Jerônimo H. F. Cordeiro. Deus abençoe sua união, e os faça felizes.

Sem data

* * *

No dia 10 de junho fiquei com uma garrafa de leite.

Sem data

1879

Otávia e Mariazinha [ambas escravas] embarcaram com as Velosos para Pericumã às 10 horas da noite do dia 25 de julho de 1879.

Sem data

* * *

Mundico de Seu Silvino morreu na terça-feira dia 4 de novembro de 1879, pelas 2 horas da madrugada. O de Ana Paca no dia 2 do mesmo mês, e a de seu João Damato no dia 9, e sepultou-se a 10. Três anjos de dois a nove.

Sem data

1881

Vanda nasceu a 7 de setembro de 1881.

Sem data

1882

Oton nasceu a 7 de dezembro de 1882.

Sem data

* * *

Filhos de Otávia Augusta de Avelar nasceram: Vanda, a 7 de setembro de 1881 ― Oton, a 7 de dezembro de 1882.

Sem data

* * *

1883

Adelsom, filho de Sinhá, nasceu a 24 de maio de 1883, numa quinta-feira, dia de Corpo de Deus. Criança gentil, simpática, bonita Não se criou. Morreu a 21 de novembro do mesmo ano. Estava há onze dias com erisipela nas pernas; […] por efeito de ópio em grande quantidade. Uma hora depois que tomou a droga fatal caiu em espasmos, e torpor, e doze horas depois expirou.

Dum funesto e triste engano

Foi a vítima inocente:

Foi triste rosa esfolhada Sobre uma campa recente; Sons plangentes de uma lira Que […] de dor suspira.

Adeus meu doce anjinho, adeus Adelsom! Águia nevada, remontando aos Céus; Nunca da terra uma lembrança amarga, Ledos folgares, ledos brincos [brincadeiras] teus.

Sem data

* * *

Leude [Guimarães, filho de criação] nasceu a 12 de outubro de 1883 ― Hugo nasceu em 12 de junho.

Sem data

1884

Oton, filho de Otávia, nasceu a 7 de dezembro de 1881, pelas 6 horas da manhã, batizou-se no 1º de maio de 1883, principiou a andar a 11 de fevereiro de 1884.

Sem data

* * *

Leude, filho de Mariazinha, nasceu a 12 de outubro de 1883, numa sexta-feira, pelas 3 horas da manhã, batizou-se a 20 de abril de 84, dia de São Benedito. Foram padrinhos Teodoro da Silva Bessa e Maria Amália da Costa Goulart.

Sem data

* * *

Otávia embarcou, e Sinhá, de viagem para a capital no vapor Maranhão, a 28 de maio de 1884. Zuíla também foi e voltou com o pai a 5 do mesmo. Guilhermina chegou bastante mal a 24 de julho. Marioz e Miguel foram buscar no Maçaricó. Otávia chegou aqui a 12 de setembro, e voltou no “Gurupi” a 25 de novembro […] de 84.

Sem data

* * *

SAUDADE

Esta página lutuosa, e sentida é um tributo de sincera amizade à memória da infeliz Guilhermina. Com as flores da amizade lhe enastro [enfeito] a campa tão silenciosa, tão eterna!…

Uma enfermidade prolongada, e aflitiva consumiu-lhe a vida de 50 anos… Morreu a 5 de novembro de 1884 numa quarta-feira pelas duas horas da tarde; seu cadáver desceu à sepultura aí pelas quatro horas da tarde. Dediquei-lhe amizade sincera desde os seus, e os meus primeiros anos. A terra lhe seja leve!

*

Descansas no sepulcro, irmã querida, Filha do Céu, remonta à essência.

Descansa das fadigas desta vida; Desta penosa, e ardida existência!

Sem data

1886

A minha querida Vandoca seguiu para a capital, acompanhada por Mariazinha no Pensador na madrugada do dia 9 de fevereiro de 1886, só lá chegaram às 3 horas da tarde, e desembarcaram às 5. Voltaram em 21 de maio do mesmo ano.

Sem data

* * *

Vandoca e Leude acompanhados por Mariazinha seguiram no vapor “Colombo” a 22 de dezembro de 1886.

Sem data

1887

Vanda, filha de Otávia, nasceu a 7 de setembro de 1887 pelas 11 horas da noite.

Zuzu, filha de Sinhá, nasceu a 25 de outubro do mesmo ano de 87, pelas 7 horas da manhã.

Andaram ambos depois de completo o 1º ano.

Sem data

* * *

Miguel embarcou aqui no “Império” a 30 de novembro de 1884, com 17 anos de idade. Permaneceu na capital do Maranhão 2 anos e seguiu para o Sul a bordo do vapor Purus a 10 de dezembro de 1887. Deus e N. Senhora o protejam e o abençoem.

Sem data * * *

João Marcelino faleceu a 10 de março de 87 do citado mês, e ano pelas 4 horas da tarde. Ana Micaela Nogueira, no mesmo dia às 8 da tarde.

Sem data * * *

Porfíria recebeu a liberdade a 17 do mesmo mês e ano. Antônio Farias faleceu a 18 do citado mês, e ano.

Sem data * * *

Lásaro Nogueira faleceu no naufrágio da Primavera no mesmo ano dos acima citados ― 1887.

Sem data

* * *

Leonor [escravo] e Vanda de volta da capital, chegaram aqui a 6 de junho de 1887.

Sem data

1888

Miguel de volta do Sul chegou à capital a bordo do Purus a 10 de dezembro de 1888, e seguiu para o Norte no mesmo navio a 14 do mesmo mês, e ano.

Aqui e em qualquer parte, que Deus o abençoe.

Sem data

* * *

Vandoca seguiu para a capital no vapor Cabral, a 11 de abril em companhia de Sinhá. Lá chegaram a 12. Oton seguiu com Mariazinha e Leude, a 2 de dezembro do mesmo ano de 88, e lá chegaram a 3 pelas horas da tarde.

Sem data

1891

Filhos de Silvino da Costa Goulart e sua mulher Maria Amália da Costa Goulart nasceram: Zuíla a 25 de outubro de 1881 Antônio a 30 de março de 1886 Adelson a 16 de outubro de 1887 Dolores a 17 de março de 1891.

Sem data

* * *

Leonor e Vanda embarcaram a bordo do Maranhão na quarta-feira à noite, e viajaram para a capital a 17 de setembro de 1891, em uma quarta-feira. Deus as faça felizes.

Sem data

* * *

Zuíla nasceu a 25 de outubro de 1891 [linha riscada observação da José Nascimento Morais Filho].

Sem data

1892

Miguel, Otávio e Vanda chegaram a esta cidade de Guimarães a 18 de maio de 1892.

Miguel regressou a 8 de junho, tendo estado conosco 2 meses, menos 10 dias. Deus o abençoe e o faça feliz.

Otávia e Oton e Leonor seguiram a 1.º de agosto de mesmo ano de 92.

Sem data

1893

Oton veio passar as férias a 6 de dezembro de 1892 e voltou a 25 de janeiro de 93. Foram eles, Balduína, Leonor e Mariazinha.

Sem data

* * * [Poema publicado no “Diário do Maranhão” por um amigo de Maria Firmina.]

No álbum d’uma poetisa

(EXM.ª SRA. D. M. F. R.)

Quereis um canto, Senhora?

Talvez que melhor vos fora pedir no romper d’aurora descantes ao passarinho,

Observação

que ledo e meigo trinado ser-vos-ia, certo, dado d’harmonias repassado soltado à beira do ninho.

*

Quereis perfumes olentes, agradáveis, rescendentes? buscai nas flores nascentes, que as flores perfumes têm; suspiros? Pedi à brisa ao vento que leve frisa a fonte que se desliza correndo e passando além.

*

Se porém quereis doçuras em frases que dão venturas e que do mundo as agruras sabem fazer olvidar, tendes na lira d’amores de rescendentes olores vosso livro de primores de melodias sem par.

*

Que mais quereis então, Senhora? que pedis? No vosso belo álbum tão rico de fulgor quereis por entre o brilho de tão mimosas pérolas, eu deite ousadamente a mais humilde flor?!

*

Ao nauta que sulca as vagas deixando esteiras d’espuma lutando com o vento à proa, o mastro quase a quebrar, peito rijo, mão no leme, vendo qual nuvens as terras pelas asas dos pampeiros, qual mais veloz a voar, é grato deixar em terra, no curto instante do gozo uma lembrança que dure, na pedra o nome gravar, que quando a brisa soprando levá-lo ao país d’aurora talvez alguém com saudades possa o nome soletrar.

*

Na folha pois deste livro, branca pedra rutilante novel nauta gravo o nome, deixo um sinal, uma flor, cantos não da lira as cordas, embora novas crestadas ao fogo dos desenganos não sabem falar de amor!

Segundo José Nascimento Morais Filho, “P. L.” eram as iniciais de Plautilo Lima.

1894

Em 12 de julho de 1894 faleceu na capital minha inditosa [desditosa] prima, a amiga Balduína A. dos Reis. A terra lhe seja leve!!!

Sem data

1895

Miguel e Oton chegaram a 28 de março de 1895; Miguel para realizar o batizado de Margarida. Oton vindo despedir-se de mim em viagem para o Pará. Deus, fazei-os felizes! São estes os meus votos. Abençoai-os, Senhor, guiai-os e protegei-os pelo Nosso Amor.

Permiti, Senhor ainda uma vez os torne a ver.

Sem data

1896

Otávia e seus filhos chegaram a 19 de março de 1896, do Pará.

Sem data

* * *

Leonor, seus filhos Artur e Antônio e Djalma, Mariazinha, Leude e Vandoca seguiram para o Pará no vapor Cabral, hoje pelas 4 horas da tarde. Deus os leve a salvamento, os faça felizes. Amém.

Guimarães, 8 de agosto de 1896

* * *

Filhos de Leonor e Adelaide Cabral nasceram: Artur, a 6 de janeiro de 1889 ― Antônio, a 21 de dezembro de 1890 ― Guilhermina a 12 de janeiro de 1892, Djalma a 30 de junho de 96.

Sem data

* * *

José, filho de Sinhá e compadre Silvino, nasceu 7 de julho de 1895 e morreu a 20 de setembro de 1896.

Sem data

* * *

Mariazinha e Leude de volta do Pará, aqui chegaram no 1° de dezembro de 96. Vieram a bordo do Ocidente.

Sem data

* * *

Nhazinha [Goulart, filha de criação] seguiu para a Capital a 5 de dezembro 96 a bordo do Ocidente, dia em que faleceu o Sampaio.

Sem data

1898

Otávia e seus filhos chegaram a 19 de março de 1898, do Pará.

Sem data

* * *

Vandoca foi a Maranhão em 22 de agosto de 1898 no Ocidente em companhia de D. Filomena de Carvalho.

Sem data

* * *

Oton e Miguel seguiram para o Pará a bordo do Ocidente em 7 de setembro de 1898. Deus os proteja. Amém.

Sem data

Vandoca foi para a casa de Zuíla, em [São Luís do] Maranhão a 22 de agosto de 98.

Miguel a Arthur a 19 de novembro de 1898.

Sem data

* * *

Otávia embarcou aqui no Ocidente para o Maranhão a 25 de dezembro de 1898, e de lá para o Pará a bordo do paquete Maranhão. Seguiu com Vandoca, e os menores em 29 do mesmo dezembro de 98, e desembarcou em Belém a 31 de dezembro de 1898.

Sem data

1899

Filhos de Maria Amélia de Avelar nasceram: Leude, a 12 de outubro de 1883 ― Hugo, a 12 de junho de 1889.

Sem data

* * *

3 de dezembro de 1899

Dia este em que Artur está viajando para a capital na Costa Rodrigues em companhia do compadre Silvino e Isabel, Iaiá. Vão buscar Zuíla, e preparativos para a festa de N. S. da Conceição aqui.

3 de dezembro de 1899

1900

Otávia chegou a Maranhão a 4 de janeiro com Vandoca e Raimundo.

Janeiro de 1900

1901

Gabriel casou a 27 de fevereiro de 1901. Rosa Azevedo morreu a 2 de fevereiro do mesmo ano. Chiquinha, a filha dela, a 31 de janeiro, um dia antes de sua pobre mãe.

Sem data

* * *

Domingo 3 de fevereiro de 1901 embarcou Leude para a capital. Deus o faça feliz.

Sem data

* * *

Leonor morreu a 7 de março de 1901 pelas 4,1/2 da manhã. 7 dias da sua chegada aqui. A terra lhe seja leve!

Sem data

* * *

Miguel morreu a 3 de dezembro do mesmo ano, 1901, no Pará. Longe de mim, e todos os seus! Ah! com ele estava, Deus. Meu filho! meu querido filho!…

Sem data

1902

* * *

Otávia morreu a 14 de agosto de 1902 pelas 2 horas da madrugada. Morreu nos meus braços… eu lhe recolhi o ultimo suspiro! Oh! dor!…

Sem data

* * *

Oton, no costeiro Colombo, seguiu para Belém do Pará a 12 de outubro de 1902. Deus o abençoe. Sem data

1903

Leude em mandado de sua mãe foi à capital a 4 de marco deste mesmo 1903. Deus o guarde, e a todos os meus filhos. Amo-os.

Sem data

* * *

Quarta-feira, 1° de Abril 1903. Djalma embarcou para o Maranhão, na Olinda. Deus o faça feliz e o abençoe. Vandoca já lá o esperava, porque ela foi na Guanabara, no dia 9 de dezembro de 1902.

Sem data

* * *

Vindo do Pará cheguei à capital do Maranhão a 4 de agosto de 1903, e cheguei a Guimarães a 11 de setembro do mesmo ano.

Sem data

* * *

LÁGRIMAS DA VELHICE

Lágrima dorida, amarga, desoladora!

Essa lágrima não se assemelha ao orvalho que à manhã da vida, semeia como pérolas cintilantes […] os leves vestígios dele, depressa seção [?] desaparecem ao sopro da vibração, e dos sonhos auspiciosos do amor!…

Não! Ah! essa lágrima é aflitiva! Essa lágrima é o resumo de quanta dor na vida, de quanta amargura nos punge a alma, de quanta mágoa nos dilacera a alma!!! Essa lágrima, que a dor espreme na âmbula [vaso que guarda os santos óleos] de quanta dor o mundo oferece. Oh! essa lágrima vertida na solidão, escondida a todos; porque ninguém comove ― como a lousa de um sepulcro ― árida como um deserto ― triste, e lúgubre como o som de um sino gemendo um morto que a terra vai fazer desaparecer para sempre!… Oh! essa lágrima… essa lágrima… é o transunto [retrato fiel] […]

Sem data

Observação

Segundo José Nascimento Morais Filho: “Assim também não pertence ao álbum o que sobrou da composição ‘Lágrimas da Velhice’. Está em papel almaço” (item 6 da seção Nótulas de Maria Firmina ─ Fragmentos de uma Vida).

* * *

A MOCIDADE

À Minha Mamaia M. F. dos Reis

Felizes os que podem sem penas e cuidados cercar a mocidade de contas e de flores, sentir na fronte o beijo dos júbilos doirados no seio palpitante fremirem os amores…

Vós sois a sã lembrança dos júbilos passados, daqueles que a velhice cobriu com seus palores [cores pálidas], e galgam com os folguedos, ridentes, perfumados, de vossa mocidade repleta de esplendores…

* Avante!…que nos mares serenos da alegria jamais encontre escolhos a vossa mocidade batel que se declina no veio da corrente…

*

Que nunca da descrença sintais a vaga fria no seio borbulhar-vos lançando a soledade… Onde deve a esp’rança brilhar eternamente!…

20.11.1903

Oton F. Sá

1910

Djalma, filho querido, faleceu a 7 de outubro de 1910, às sete horas da noite. Djalma!… Saudade eterna!

Sem data

*

JOSÉ ALMEIDA PEREIRA *

Um amigo de infância do escritor Humberto de Campos (1886-1934) ainda vive na cidade piauiense de Parnaíba. Ao longo dos seus 127 anos de existência, bem ou mal vividos, ele superou períodos de graves crises, quase sucumbiu aos maus tratos, mas conseguiu reencontrar forças, restabelecer-se e continuar esbanjando saúde e até produzir flores e frutos, literalmente. A relíquia histórica e cultural foi visitada por este pesquisador, devendo-se tal iniciativa a um presente recebido de duas coleções daquele consagrado escritor maranhensedas mãosda Drª Danielle Machadode Azevedo, minha colega pesquisadora da Embrapa noPiauí.

Ao longo das minhas mais de três décadas no Piauí, só uma vez ou outra, eu ouvi falar do “Cajueiro de Humberto de Campos” existente em Parnaíba. Talvez porque ninguém, ou quase ninguém, mais se reporta a ele, eu também até já o havia esquecido. Despertaram-me as leituras das Memórias (vol. 10) e das Memórias Inacabadas (vol. 11) das Obras Completas de Humberto de Campos, da Editora Mérito. Rememorei até que já tinha conhecido Miritiba, a atual cidade de Humberto de Campos, cujo nome foi mudado em 1934, para homenageá-lo, oito dias após o falecimento do seu filho mais ilustre, e que está localizada a pequena distância do litoral maranhense e fincada numa região que somente há duas décadas viu chegar o automóvel nos seus areais.

O ÚLTIMO AMIGO DE INFÂNCIA DE HUMBERTO DE CAMPOS

Desde os tempos daquele menino que nasceu e cresceu se lambuzando nas dunas de Miritiba, a vida ali, assim como ainda ocorre hoje em vários pontos das Reentrâncias Maranhenses, segue o ritmo das marés, constituindo, talvez, uma civilização única no País. Todas as comunicações com as vizinhas comunidades, inclusive a capital do Maranhão, se davam ou se dão ainda por via fluvial, mediante o uso de singelos barcos e canoas. Pude testemunhar pessoalmente o alvoroço da população local com o apito e a chegada de um barco às cinco horas da manhã o qual havia partido da baía de São José de Ribamar doze horas antes e subido preguiçosamente o rio Piriá até ancorar na rampa da cidade de Humberto de Campos. As raízes do literato

Não se trata aqui de um texto biográfico, mas Humberto de Campos Veras nasceu em 25 de outubro de 1886 em uma pequena comunidade ribeirinha chamada Miritiba, plantada no meio da areia às margens do rio Piriá, no estado do Maranhão. Seus genitores eram maranhenses, sendo a sua mãe, dona Ana de Campos Veras, oriunda de família de Viana, município localizado na Baixada Maranhense, e o seu pai, Joaquim Gomes de Farias Veras, do município de Tutóia, no litoral leste do Estado. Com o falecimento precoce do seu pai, ocorrido durante uma viagem do casal a São Luís, em 1892, a sua genitora resolveu liquidar os negócios da família em Miritiba e irem tentar reconstruir a vida, já no ano seguinte, na cidade de Parnaíba, no Piauí, onde os Veras eram prósperos comerciantes e, aliás, continuam tendo expressão econômica e política até hoje.

A viagem da família Campos Veras para Parnaíba teria uma escala em São Luís, onde se demoraria cerca de um mês, mas lapso de tempo suficiente para o menino Humberto captar as imagens das fábricas, bondes e milhares de sobradões coloniais da capital maranhense. Daí, segundo ele, a decepção que sentiu ao chegar em Parnaíba. “As ruas da cidade eram de areia solta, dos seis sobradões, três se achavam entregues aos morcegos e às corujas. A primeira impressão foi de que Parnaíba era uma Miritiba grande… Em Miritiba, meu pai era tudo e não nos faltava nada; em Parnaíba, éramos nada e nos faltava tudo”.

Em Parnaíba, no primeiro ano, a família ficou dividida, residindo em casas de parentes. Em 1894, foi reunida em uma pequena casa alugada na rua Pará, no bairro dos Campos. Dois anos depois, muda-se para uma casa própriavizinha, namesmarua (hoje ruaHumberto deCampos),construídacom as economias (quatro ou cinco contos de reis) restantes da herança deixada pelo pai.

Na mesma época, Humberto de Campos iniciou as suas instruções primárias na Escola Pública de Sinhá Raposo, porém, conforme gostava de rememorar, foi na Escola de Dona Marocas Lima, a segunda que frequentou, que ele se sentiu aquinhoado pelo destino. É que mais tarde alguns dos seus colegas de turma se tornariam importantes personalidades da história do Piauí, como foram os casos de João de Deus Pires Leal (governador), Frederico Clark (diplomata) e Oscar Clark (cientista), estes filhos do comerciante inglês James Clark, detentor de uma das maiores fortunas do Norte e Nordeste do Brasil e figura lendária de Parnaíba. Sem contar que ele próprio, no dia 8 de maio de 1920, em função de sua vasta obra literária, meter-se-ia no seu impoluto fardão como membro titular da cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras.

.

O Amigo de Infância

No ano de 1896, o menino Humberto de Campos conhece em sua nova casa de Parnaíba um grande e inesquecível amigo. É ele quem conta:

“NodiaseguinteaodamudançaparaanossapequenacasadosCampos,em Parnaíba,em1896,todacheirando ainda a cal, a tinta e a barro fresco, ofereceu-me a Natureza, ali, um amigo. Entrava eu no banheiro tosco, próximo ao poço, quando os meus olhos descobriram no chão, no interstício das pedras grosseiras que o calçavam, uma castanha de caju que acabava de rebentar, inchada, no desejo vegetal de ser árvore. Dobrado sobre si mesmo, o caule parecia mais um verme, um caramujo a carregar a sua casca, do que uma planta em eclosão. A castanha guardava, ainda, as duas primeiras folhas úmidas e avermelhadas, as quais eram como duas joias flexíveis que tentassem fugir do seu cofre […].

A trinta ou quarenta metros da casa, estaco. Faço com as mãos uma pequena cova, enterro aí o projeto de árvore, cerco-o de pedaços de tijolo e telha. Rego-o. Protejo-o contra a fome dos pintos e a irreverência das galinhas… acompanho com afeto a multiplicação das suas folhas tenras. Vejo-as mudar de cor, na evolução natural da clorofila. E cada uma, estirada e limpa, é como uma língua verde e móbil, a agradecer-me o cuidado que lhe dispenso, o carinho que lhe devoto, a água gostosa que lhe dou.

O meu cajueiro sobe, desenvolve-se, prospera. Eu cresço, mas ele cresce mais rapidamente do que eu. Passado um ano, estamos domesmo tamanho.Perfilamo-nos um juntodooutro,paraverqual émais alto.Éumaárvore adolescente, elegante, graciosa. Quando eu completo doze anos, ele já me sustenta nos seus primeiros galhos. Mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos braços o seu irmão de leite […]”.

A Casa de Humberto de Campos em Parnaíba (PI) no ano de 2023

No ano de 1899, Humberto de Campos Veras parte para São Luís do Maranhão a procura de emprego e se despede do seu amigo. A comovente descrição a seguir seria contada anos depois por ele:

“Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, apertoo de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio. ‘ Adeus, meu cajueiro! Até a volta!’ Ele não diz nada, e eu me vou embora. Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: ‘Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos,

.

.

e ele te manda lembranças […]’. Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua ideia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?”

No mês de setembro de 1901, dois anos depois, na vã expectativa de um emprego melhor em Belém do Pará, Humberto de Campos embarca em um navio da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão, de regresso, pela primeira vez, para aguardar o chamado para assumir o emprego, em Parnaíba, e abraçar o seu amigo: “Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina correlhe do tronco mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro-pálido para as pipiras morenas. É um cajueiro moço, e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal”.

O ilustre cajueiro, 127 anos depois de plantado

No ano de 1903, Humberto de Campos, carregando os seus dezesseis anos de idade, embarca no porto da Amarração, em Parnaíba, rumo a Belém do Pará, em busca de melhores condições de vida:“Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste: Adeus, meu cajueiro!”

No mesmo ano de 1903 ou no ano seguinte, Humberto de Campos, em seu segundo regresso, agora muito doente, vindo de Belém do Pará, desembarca no Amarração, em Parnaíba: “O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo. ‘ Meu cajueiro, aqui estou!’. Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem: ele está velho. A enfermidade cavame o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono… Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco… Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, embaixo, a vasa e a podridão!”

.

José Almeida Pereira em julho de 2023, sentado à sombra do cajueiro plantado pelo menino Humberto de Campos no ano de 1896

.Por volta do ano de 1906, Humberto de Campos, com a sua saúde parcialmente recuperada, resolve retornar a Belém do Pará e se despede de Parnaíba e do seu amigo de infância, dessa vez, segundo ele mesmo, para sempre. Um já estava com vinte anos de idade e o outro, com a metade disso: “ Adeus, meu cajueiro! E lá me vou outra vez, e para sempre, pelo mundo largo, onde hoje vivo, como ele, com os pés na lama, dando, às vezes, sombra aos porcos, mas, também, às vezes, doirado de sol lá em cima, oferecendo frutos aos pássaros e pólen ao vento, e, no milagre divino do meu sonho, sangrando resina cheirosa, com o espírito enfeitado de flores que o vento leva, e o coração, aqui dentro, cheio de mel, e todo ressoante de abelhas…”

Outras considerações

Humberto de Campos Veras trabalhou no comércio, durante a sua juventude, nas cidades de Parnaíba (PI), São Luís (MA) e Belém (PA). Nessa última, chegou a ser colaborador e redator dos jornais Folha do Norte e Província do Pará. Em 1912, foi embora em definitivo para o Rio de Janeiro, onde exerceu diversos empregos, mas se destacando como jornalista e escritor. Era um autodidata assumido e voraz leitor. Faleceu em 5 de dezembro de 1934 naquela cidade, quando tinha acabado de completar os seus 48 anos de idade, e deixava uma viúva (Catarina Vergolina de Campos), três filhos (Henrique, Humberto e Maria de Lourdes), uma extensa obra literária e o seu nome inscrito no panteão da glória como um dos grandes escritores brasileiros. A maioria dos seus biógrafos, mal informados, continua ignorando a presença do consagrado escritor maranhense na cidade de Parnaíba, no Piauí, justamente naquela acolhedora urbe onde ele recolheu tantas histórias para as contar, anos mais tarde, na sua obra mais célebre (Memórias) e, principalmente, descrever um dos mais emocionantes capítulos da sua trajetória de vida pessoal e de homem de letras, que foi a sua relação de afeto para com um cajueiro (Anacardium occidentale L.), o amigo de infância plantado por ele no quintal da casa da sua genitora no distante ano de 1896, portanto, há 127 anos. Aliás, o cajueiro é uma das raras espécies de plantas cultivadas genuinamente brasileira, no caso, nordestina, ou como os botânicos preferem dizer, é uma planta nossa, “indígena”. Diferentemente da maioria, como a mangueira (Mangifera indica L.), o coqueiro (Cocos nucifera L.) e a laranjeira (Citrus sinensis L.), entre outras, cujos centros de origem são o outro lado do mundo, principalmente a Ásia, daí serem chamadas de “plantas exóticas”.

.

No mesmo ano do falecimento de Humberto de Campos, por coincidência, o seu primo Mirocles de Campos Veras (1890-1978), filho do tio Emídio Gomes Veras, quatro anos mais novo do que o escritor e colega dele de peraltices, quando ambos eram crianças, nas ruas de Parnaíba, iniciava o mandato como prefeito do município o qual exerceu até o ano de 1945. Mirocles fora o que se poderia chamar de “o primo rico”, mas ele nunca se acomodou com isso. Tornou-se médico obstetra, político e filantropo, conquistando com o seu trabalho incansável a fama e o respeito da população de Parnaíba e do Piauí. Fora da iniciativa dele, portanto, no ano de 1941, como consta em uma das placas de mármore no Jardim e Cajueiro Humberto de Campos, a emocionante homenagem prestada ao primo e escritor nascido nas fímbrias dos atualmente badalados Lençóis Maranhenses.

Apenas para melhor referenciar na linha do tempo, como monumentos históricos do Piauí, o Cajueiro de Humberto de Campos foi por ele plantado no mesmo ano em que na cidade de Parnaíba foi fundado o tradicional Hospital da Santa Casa de Misericórdia e, dez anos depois, os Colégios Diocesanos de Parnaíba e de Teresina, sendo estes dois últimos por iniciativa de D. Joaquim Antônio de Almeida (1868-1947), o primeiro bispo do Piauí.

Passados todos esses anos, há de se reconhecer e louvar o meritório trabalho das autoridades locais de Parnaíba, notadamente da Prefeitura Municipal, em manter aceso o interesse pela preservação da Memória do consagrado homem de letras brasileiro que foi Humberto de Campos Veras, de cuja obra, para um povo que ama a sua história e as suas tradições, o Cajueiro plantado por ele em Parnaíba continua sendo um símbolo. Para a verdade histórica, em relação ao Jardim e ao Cajueiro de Humberto de Campos, a preservação do Monumento parece estar seguindo a contento. No entanto, já não se podendo dizer o mesmo quanto à Casa construída em meio a tantas dificuldades pela mãe do escritor a qual abrigou a sua família durante tantos anos na cidade de Parnaíba. Assim, a modesta Casa de Humberto de Campos pede socorro e acena por melhorias junto aos poderes públicos e aos setores empresariais!… Como se explicar que uma Casa histórica seja menos relevante do que o seu Quintal? Ainda que seja o seu Quintal o mesmo cômodo doméstico que abriga generosamente há 127 o último amigo de infância de Humberto de Campos?

* Residente em Teresina (PI), José Almeida Pereira é engenheiro-agrônomo, pesquisador da Embrapa e historiador diletante.

.

‘O MULATO’: UM ROMANCE MARANHENSE *

Fernando Braga

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 4 de abril de 1857 e faleceu em Buenos Aires, em 1913. Estudou as primeiras letras no Maranhão, onde também trabalhou numa casa comercial. Aos dezessete anos foi para o Rio de Janeiro e estuda pintura na Escola de Belas-Artes. Estreou na imprensa como caricaturista, trabalhando em ‘O Fígaro’, ‘O Mequetrefe’ e ‘A Semana Ilustrada’. De volta ao Maranhão, lá escreve o seu primeiro romance de grande êxito, ‘O Mulato’, escrito por Aluísio aos 26 anos de idade num mirante de um solar revestido de azulejos portugueses, à Rua do Sol, em São Luís, tombados pelo Patrimônio Histórico e, consequentemente, pela UNESCO que outorgou a São Luís o título de Patrimônio Artístico daHumanidade,em 1997. Essacasaencontrava-se completamentedeteriorada, pelaação do tempo, até que a ferrenha campanha encetada pelo Instituo Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, através de seu presidente, professor Euges Lima, quebrasse a resistência da insensibilidade de alguns, na tentativa de salvar, como salvou, o imóvel, pertencente ao acervo arquitetônico de nossa história artística e literária, a motivar, inclusive, o Ministério Público a sequestrar bens da proprietária, obrigando-a a reconstruir o solar, em obediência aos rigores de engenharia, determinados pelo patrimônio histórico, o que nos leva, agora, a ratificar as palavras e a endossar a sugestão do professor e historiador Diogo Guagliardo Neves, de que“o espaço pode, no futuro,sediarum museuoumemorial sobreogenialescritorludovicense”. Videabaixo as fotos comparativos e as notas de pé-de-página.

Depois, Aluísio retorna ao Rio, onde publica diversas obras e colabora em jornais e revistas. Tendo feito concurso para a carreira diplomática, serviu como Cônsul em Vigo, Nápoles, Tóquio, e por fim em Buenos Aires, onde morreu. Aluísio é a figura principal do naturalismo no Brasil. Notável observador dos costumes e ambientes da sociedade do Segundo Reinado, a sua produção ressente-se do processo de trabalho do escritor, que era o do folhetim de imprensa. Há em seus livros uma significação histórica ao lado da significação literária. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras e nos deixou estes preciosos títulos: ‘Uma Lágrima de Mulher’, 1879; ‘O Mulato’, 1881; ‘Casa de Pensão’, 1884; ‘O Homem’. 1887; ‘O Coruja’, 1889; ‘O Cortiço’, 1890; ‘O Esqueleto’, 1890; ‘Demônios’, 1893; ‘Livro de uma Sogra’, 1895, além de outras produções espalhadas em jornais e revistas.

O Mulato ficou corporificado no Realismo, como o primeiro romance do naturalismo estilizado, dentro do aspecto da‘artnouveau’,exteriorizandoem suas angústiasedepressõessociais os mesmomales queoprimiam os artistas europeus, quando as misérias da crise mundial já rondavam a decadência emocional da ‘belle époque’.

Aluísio Azevedo, escritor e diplomata foi um dos expoentes maiores da nossa ficção urbana, e em sendo ‘O Mulato’ o primeiro romance naturalista brasileiro – retrata na sua estrutura todo o nódulo social calcado no racismo do meio maranhense do tempo, onde alguns críticos dizem, que para o estigma do nosso autor faltara àquela exigência de Emile Zola, quando normatiza a conduta dos personagens’ retratando o terrível comportamento da paixão, mas que, por outro lado, lhe sobrara, aqueles maneios acirrados que caracterizam a luta contra o conservantismo e as rigorosas imposições clericais que de algum modo entorpeciam São Luís no século XIX – servindo como pano de fundo a principal ação do romance.

‘Raimundo’ [o núcleo central romanesco], filho de escravos e recém-chegado ‘doutor’ da Europa, não se deu conta de sua ‘mulatice’ e se fez amado e amante em circunstâncias dolorosas envolvidas por terríveis preconceitos. Mas foi assim que Aluísio quis que ‘O Mulato’ agisse, tipificando-lhe à moda das histórias de Diderot, e dos romances de Thacheray e Balzac, ou ainda, sob os traços dos contos de Maupassant e Tchékov.

‘O Mulato’ agride o desesperado preconceito racial gerado nas famílias abastadas de São Luís, talvez por isso tão bem recebido pela ferrenha crítica da Corte como exemplo, e ainda, por ter sido escrito no molde do naturalismo bem ao jeito ‘darwinista’, causando forte irritação em seus comprovincianos, que o forçaram voltar às pressas para o Rio de Janeiro e juntar-se novamente ao irmão, o dramaturgo, comediógrafo e também escritor Arthur Azevedo que, às gargalhadas, o esperava no cais do porto para comemorarem o que escrevia de Lisboa o crítico Valentim Magalhães: “Aluísio Azevedo é no Brasil, talvez, o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa da sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão, porque as letras, no Brasil, ainda não dão para a manteiga”.

E sempre será assim... A arte é um dom divino, por isso, dádiva de sacrifício!

*Fernando Braga, in ‘Toda prosa’, antologia de textos do autor, publicado no Jornal ‘O Alto Madeira’, Porto Velho, RO, 7.9.84, e republicado em 2007, por ocasião do Sesquicentenário do nascimento de AA.

Ilustração: Foto do escritor Aluízio Azevedo, e a Casa de sua família, à época, em cujo mirante foi escrito o romance ‘O Mulato’, em 1881. Fotos da casa à esquerda, em 2014, completamente deteriorada, e à direita, em 2018, totalmente restaurada, numa demonstração de que ‘querer é poder’.

LOUVAÇÃO A NONATO SILVA

[Barra do Corda-Ma, 13 de agosto de 1918 – Brasília-DF, 5 de novembro de 2014].

Diz Hermann Hesse, o genial autor de ‘O lobo da estepe’, o qual Franklin de Oliveira reputa o homem mais lúcido de nosso tempo, que “a eternidade da vida coexiste no que parece ser o seu fim”, a ministrar fundamentos teóricos às formas de convivência humana, inspirada na ideia essencial de uma razão idêntica e comum a todos os homens, sem recusar a ninguém suas desnorteantes lições.

A bagagem humanista que Nonato Silva carrega, juntamente com sua cruz, sagrada pelo Cristo, não lhe vem da erudição, a qual é o saber dos outros; provém-lhe, sim, de enigmas sem chaves, talvez daquela condição da ‘kalokagatia platônica’ que nada mais é do que a perfeição moral, em que ele, distanciado subjetivamente dele mesmo, é uma dessas espécies raras, um desses seres diferenciados, frutificados pelo encontro filosófico do cristianismo com o mundo. E assim ele sempre se distancia daquele ‘topus’ de ingerência metafísica a chegar primeiro em sua ‘Via Crucis’, não importando se a ‘Compostela’, no ‘Caminho de Santiago’, ou se ao ‘Alto Alegre’, a cumprir as ‘Santas Estações’, e a vislumbrar lá de cima sua meiga e eterna Barra do Corda, solene entre vales, como se a benzerem-se com o sinal da cruz os rios Corda e Mearim, na magia feiticeira dos seus leitos naturais.

Para Rener Maria Rilke “cantar é existir”, e Nonato Silva existe porque canta como nessa estrofe dedicada a ‘Primeira Missa oficial de Brasília’. Ouçamo-lo: “E palpitas, / em uma essência arquétipa, /sob o piscar das estrelas / que te iluminam / neste Planalto Central [...] E pisas a argila sagrada, / pelo ato religioso / que te afaga e alenta, / sem nada temer.”

Ou ainda, em ‘Nasce uma nova Cidade’: “Remo e Rômulo viram-na criatura, / sob o signo histórico de Roma; / nasce a Cidade tão bela, rica e pura,/ tendo por língua viva seu idioma [...] Traços, linhas e curvas ela pura, / num elo verdejante, pleno aroma, / por florestal que a cobre e emoldura, / colar guardado em épica redoma.”

Efechaos dois últimos tercetos à‘Cidadequenão sabeservencida’[urbes nesciauinci]: “Linda,doce, coberta decarinhos, / visão deixa cair-lhe os dons dagraça, / pontilhandodeflores seus caminhos. / Constitui no Brasil uma família, / pela união da Vida que não passa, / esta donzela chama-se Brasília!”

Se no ciclo bíblico de José, o ‘semibrasileiro’ Thomas Mann nos diz que “os subjugados ressurgirão, pois são os portadores da mensagem libertadora”, Raimundo Nonato Ribeiro da Silva, filho de José Ribeiro da Silva e de Maria Uchoa da Costa Ribeiro, traz em seu sangue a marca emblemática dos conquistadores, que o fez um misto orgânico de homem e aroeira, marco que simboliza os eleitos, nascido em Barra do Corda, em um 13 de agosto, dito aziago pelo supersticiosos, no ano de 1918, já no epílogo da Primeira Grande Guerra, é ele, por isso e por muito mais, um dos mensageiros de signos e tantos livramentos, além de poeta, de camisa aberta

e peito nu para o mundo; é ainda um aristocrata na arte de escrever, ensaísta, ficcionista, jornalista, gramático, filólogo e crítico de arte e de literatura, com licenciatura em Filosofia e bacharelato em Teologia Católica. Padre, como Vieira, Bernardes e Santa Rita Durão o foi, doutor simultaneamente em Direito Canônico e Civil, e também maestro, tendo publicado ao longo desse tempo que Deus lho presenteou como dádiva, esses trabalhos: ‘O Hífen dos Compostos Prefixais’, 1971; ‘No dia das Mães’, 1954; ‘História do Hino Nacional Brasileiro”, 1991; ‘Discurso Acadêmico’, 1994; ‘Filhos da Batina’, 2000; ‘Língua Brasileira’, 2000; ‘História da Ortografia da Língua Portuguesa’, 2003; ‘Sermões Selecionados’, volumes I e II, 2003 e 2004, além de grande contribuição esparsa em jornais e revistas; foi um dos criadores da Academia Barra-Cordense de Letras, instituição que tenho a honra de pertencer, onde fundei a Cadeira nº 26, patroneada por Pedro Braga Filho.

Nonato Silva exerce a arte e a ciência como frêmito do pensamento e não apenas como litania do coração. E ele sabe, como sertanejo, e dos bons, que o nosso Guimarães Rosa na saga de ‘Grande Sertão: veredas’, um dia nos disse isso: “Deus é paciência, é alegria e coragem... e que o mundo, mundo é, enquanto Deus dura”. E eu apenas consigo, se consigo, dizer a Nonato Silva, o que Tolstoi disse a Górki, em ‘Lasnaia Poliana’: “Você tem um coração inteligente”.

*Fernando Braga, in ‘Revista Comemorativa – Edição histórica da literatura de Barra do Corda’, agosto de 2013, com o título ‘Louvação a Nonato Silva ou cântico pelos seus 95 anos de idade’.

N.A. Este texto apenas envelheceu cinco anos... O Canto hoje é dedicado ao Centenário do mestre Nonato Silva.

Entrevista: Nonato Silva "Minha produção literária há de continuar" jornal Turma da Barra

O barra-cordense e professor Nonato Silva chegou aos 95 anos lúcido e com uma força de vontade incomum. Anuncia, por exemplo, que sua produção literária vai continuar. Dessa forma, depois das comemorações do seu aniversário, o TB o entrevistou, onde ele explica não somente o significado dos quase 100 anos bem vividos, mas diz por que Barra do Corda até hoje não tem uma universidade federal e a cidade barra-cordense acaba de obter o título de quarta mais violenta do Maranhão. Veja a entrevista:

- Qual o significado desses 95 anos?

Nonato: Os europeus suspiram, calidamente, a chegada da primavera, quando as árvores e plantas se cobrem de variopintadas flores de diversos aromas. Assim, procedi eu, na ânsia de lá chegar. Então, o significado dos meus 95 anos é essa primavera florida. Cheguei em graça e glória, firme e forte, em plena intelectualidade. A mão do Senhor me acompanhou.

- O senhor imagina chegar a quase 100 anos?

Nonato: Não só imaginava, mas desejo. Os desígnios de Deus é que vão ditar a norma de lá chegar, com humildade, submetendo à vontade divina. Entre o imaginar e realizar, há larga distância. Mas sonhos de um hoje, doente, terão término feliz. Pois a velhice é uma moral, tingida de bondade e ensinamento, quer hoje, quer amanhã, repleta de honradez, literalmente no seu existir. É, pois, a imaginação fértil que impulsiona a vontade de se atingir determinada meta, no voar do tempo.

O seu currículo se confunde com sua biografia. O senhor ainda pretende acrescentar algo mais em sua biografia? Ou todos os sonhos foram realizados?

Nonato: Jamais o sonho se eclipsa nas dobras do meu horizonte. Por isso, enquanto vida tiver, tudo farei para detonar um currículo, confundindo-se com minha biografia, acrescentando-lhe o quanto couber. Os sonhos nunca se escondem na curva da inércia. A virtude do sonho floresce no pomar da vontade férrea. E jamais deixa de operar e realizar, trazendo novos flancos ao ego das biografias, na riqueza do pensamento e da produção, sobretudo literária, cuja dinâmica sobrepõe-se ao acervo biográfico já existente. Minha produção literária há de continuar.

- Barra do Corda é chamada de Princesa do Sertão maranhense da mesma forma que Caxias. Por que Barra do Corda passou a ser também chamada de “Princesa”?

Nonato: Barra do Corda está situada no centro do Maranhão, uma das mais belas regiões do Estado, emoldurada pela Altamira e as gargolantes águas dos Corda e Mearim. Sua posição geográfica permite a passagem, por ali, de milhares de toneladas de produtos de vários estilos. Ora, o pai Maranhão, homem, masculino, príncipe da literatura brasileira. Então, a filha "princesa", Barra do Corda, não poderia ter epíteto melhor. Assim, passou a cidade ser chamada. Porque o povo cria, seleciona, batiza e crisma. E o direito consuetudinário confirma e eterniza. Tudo isso permite a alteza deste título tão honroso, real e permanente. E o Maranhão escolheu a melhor parte que lhe não será tirada. E os escritores passam a usálo com frequência. E aí está esta joia aljofrada de merecida glória, causa pétrea da literatura barracordense. E acrescentei outro título, o de "Atenas Maranhense". Aí estás Barra do Corda , a "Princesa do Sertão", sorrindo e florindo ao sol do amor e do valor. A força da literatura e do jornalismo cordino sustenta tudo isso. Porque a literatura e o jornalismo pontificaram largamente na cidade de Barra do Corda. Ali esteve pessoalmente e escreveu essa realidade de grande efervescência intelectual, cujo carrochefe dessa intelectualidade era "O Norte" (Carlota Carvalho, "Sertão", pag. 80).

- O sr costuma dizer que Barra do Corda é uma “plêiade” de intelectuais, uma verdadeira Atenas. Mas a violência que explodiu na cidade nos últimos anos, quarta mais violenta do Maranhão, não pode atrapalhar esse título de Atenas maranhense?

Nonato: Não, a intelectualidade barra-cordense paira sobre mansa imaginação. A violência é fruto da marginalidade. Essa violência jamais pode atrapalhar o título de "Atenas Maranhense" por mim dado à cidade de Barra do Corda. A intelectualidade cordina é como um raio de sol que pousa sobre a lama e não se emporcalha nem lambuza. Assim, procede a fina flor da "plêiade" de intelectuais barra-cordenses.

- Barra do Corda tem o maior PIB da região central do Maranhão. Por que ainda não há uma universidade federal na cidade?

Nonato: Porque esse "pibão" é alimento dos sem-vontade, dos desinteressados. Deve-se unir o interesse à ação. Os intelectuais pensam, mas não têm os recursos do "pibão". A vontade da população e dos intelectuais ficam sem campo de pouso, porque as autoridades municipais não velam pela cultura superior cordina. Se derem uma alavanca ao povo e aos intelectuais, a Universidade de Barra do Corda será erguida dentro em breve, para honra e satisfação de todos nós.

- O senhor tem vários títulos de bacharel, de mestre e doutor. Dentre os títulos, como o senhor quer ser lembrado?

Nonato: De Licenciatura em Filosofia e Doutor em Filologia Românica, auxiliada pela linguística e pela antropologia, alicerce profundo, base no grego e no latim. Daí o título de professor que carrego com muito orgulho e alegria. Sem desprezar as demais láureas. Preza-me muito a profissão de jornalista e maestro. Então, quero ser lembrado "Professor".

-

- O sr acredita que o Nonato Silva é o maior intelectual de BDC?

Nonato: Há mais de 5.000 anos, já os romanos sentenciavam: "Laus in ore proprio vilescit: louvor em boca própria perde todo o valor". " Medice, cura te ipsum: médico, cura a ti mesmo". "Nemo esse iudex in sua causa potest: ninguém pode ser juiz em causa própria" (Sêneca). Assim, esses judiciosos conceitos, e outros, impedem-me responder positivamente. Deixo aos intelectuais amigos e à corte da cultura barracordense dar esta resposta. "Devo muito aos que amo. Aceito a alegria da paz e da liberdade que tenho para com eles, esperando por eles desta porta à janela, entendendo o que o amor e a gratidão entendem. E isso perdurará, pela eternidade, em espaço lírico e retórico" (Wislawa Szymborska, im "Poemas", pág. 54).

Nonato Silva no Instituto Histórico e Geográfico do DF Nonato Silva em sua residência

EXPLORANDO A PROFUNDA INTERTEXTUALIDADE E A CELEBRAÇÃO DA CRIATIVIDADE EM "CASCATA" DE

JOÃO BATISTA DO LAGO

UCHÔA NETO

CASCATA

De João Batista do Lago (Poema dedicado a Clarice Lispector)

Oh! vida que me vive em toda plenitude quero sangrar toda minha alegria jorrar-me “ininterrupto de novidade” amanhecer parido de felicidade Sou todo criação diversa e continuada sou a imprevisibilidade da novidade sou sal da vida! todo ato em criatividade sou pois poder em toda sua alegre vontade Em mim há jorro de criador e de criatura pleno demiurgo uníssono da minha poética relicário da prole de Horácio a Sófocles do mesmo modo de Platão a Jesus Cristo

Resumo: O poema "Cascata" de João Batista do Lago é uma obra que mergulha nas profundezas da criatividade e da autoexpressão. Com uma notável intertextualidade que ecoa desde Horácio até Jesus Cristo, opoemacelebraaessênciamultifacetadadavidaedacriação.Nessteartigoanalisocomoopoemasedesdobra em sua exploração da plenitude da existência e da conexão intrínseca entre criador e criatura, tecendo uma tapeçaria poética que une várias tradições literárias.

Introdução

"Cascata", do poeta João Batista do Lago, é um poema que se destaca por sua exploração da alegria intrínseca à criatividade e à vida. Com sua linguagem lírica e imagens vibrantes, o poema convida os leitores a uma jornada pela riqueza da existência, destacando a imprevisibilidade da novidade e a interconexão entre criador e criatura. Ao longo do poema, é possível discernir uma rede complexa de referências literárias que ampliam ainda mais a profundidade de seu significado.

A Celebração da Criatividade e da Vida

Desde os versos iniciais, o poema estabelece um tom de celebração e entusiasmo pela vida. A "plenitude" da existência é ressaltada, com a sugestão de que a vida é vivida em sua forma mais autêntica quando "jorrada" com alegria e vitalidade. O eu lírico anseia "sangrar toda minha alegria", evocando a ideia de que a alegria não é retida, mas sim liberada em uma cascata ininterrupta. Essa imagem de "cascata" não apenas cria uma sensação de fluxo contínuo, mas também se torna uma metáfora do processo criativo em si.

A Intertextualidade como Enriquecimento

Uma das características notáveis de "Cascata" é sua rica intertextualidade, que estende pontes literárias desde a antiguidade até o cristianismo. A referência à "prole de Horácio a Sófocles" enraíza o poema na tradição clássica, enquanto a alusão a "Platão a Jesus Cristo" amplia sua esfera de significado. Essas referências não apenas conectam o poema a influências literárias profundas, mas também enfatizam a universalidade das questões abordadas: a busca pela criatividade e pelo sentido da vida.

Criador e Criatura: Uma Dança Poética

Ao longo do poema, a dualidade entre criador e criatura emerge como um tema central. O eu lírico se vê como "pleno demiurgo uníssono", fundindo a ideia de criação divina com a expressão artística pessoal. Essa fusão ressalta a crença na capacidade humana de ser tanto criador quanto receptáculo da criatividade. O poema, assim, sugere que a criatividade é uma extensão natural da própria vida, uma "cascata" que flui ininterruptamente.

Conclusão

"Cascata" de João Batista do Lago é um poema que transcende as fronteiras do tempo e do espaço, mergulhando profundamente na complexa interação entre criatividade, vida e intertextualidade. Através de suas imagens vívidas e referências literárias habilmente entrelaçadas, o poema convida os leitores a refletir sobre a alegria inerente à criação e à existência. Com uma voz lírica única e uma exploração rica de temas universais, "Cascata" ressoa como uma cascata literária em si, enriquecendo o cenário da poesia contemporânea com suas águas vigorosas de expressão e significado.

UchôaNetto éBacharel em Teologia,licenciadoem Filosofia,Pesquisadoreestudioso das CiênciasHumanas, Estudioso da Poesia e Literatura Brasileira.

O LABIRINTO DO HOMEM *

*FERNANDO BRAGA

in Jornal O Estado do Maranhão, 22 de agosto de 1973, para ser enfeixado em “Toda Prosa”, antologia de textos do autor.

RaymundoNonatodaSilva[Caxias-Ma,15deagostode1937– emviagem:Caxias-SãoLuis,27desetembro de 1983]. De suas primeiras experiências no campo poético, Deo Silva, escrevia em Ângulo Noturno que “a árvore paradoxal na sala chora fogo e neve”. Depois, o poeta se distanciou dos exercícios de concretismo e partiu para outros rumos literários. Começou a escrever poemas quase em miniaturas até chegar à sua real e feliz forma, sem mais aquele contágio de filiação que o restringia a vôos limitados apesar de seu enorme talento. Libertou-s e descobriu, como Jacó, a sua verdadeira escada, uma escada em que os anjos de Deus subiam e desciam por ela, a decantada “Escada de Betel”, seu novo livro de poesia forte e amadurecida, depois nomeado como “Equação do Verbo.”

Deo Silva inaugurava o movimento neo-concretista no Maranhão na década de 60, tendo como quartel general o tradicional “BardoCastro”,einaugurava-secomoseu legitimorepresentante,nos moldes deFerreiraGullar, dos irmãos Campos [Augusto e Haroldo], de Décio Pignattari e outros mais adeptos dessa escola, na época com estampas gráficas mais visuais que semânticas... Mas essa incursão foi rápida. Deo, com “Ângulo Noturno” identifica-se com seu real caminho na elaboração da palavra leve, suspensa, em tempo e espaços incomuns, onde a beleza se justapõe com seu espírito criativo, uma poesia de puro espanto parental da de Gullar...

Com a plenitude de sua exteriorização, Deo Silva parte para O labirinto do homem: “Alheio a tudo que o inclinasse a uma descoberta instantânea, Valter dispunha de uma flor e, com ela, poderia salvar-se”. Não é pelo Valter do seu poema, mas nos lembra muito nesses versos, a destreza e o engenho na arte de versificar deWalterVonderVogelweide,osímbolo de comportamentonoquesechamadegentil-homem. “Quecuriosa vocação o havia inclinado às experiências que o ser exige só de quem não entende? Que signo o expunha às derrotas da carne e ao sacrifício glacial do espírito? Que retratação o havia apartado de sua paz, unindo-o ao transe de sua idéia intima?” E Deo Silva, parte em busca do seu próprio labirinto “lutando para sobrepujar a distinção existente entre beleza estética transcendente e por assimilar a estética na transcendência”. “Valter, igual à sua fuga, crescia numa circunferência, e não ignorava que, se, porventura, atingisse o ângulo de sua autenticidade, através de uma ascensão lógica que não o induzisse ao erro, outros infernos – infalivelmente

o esmagariam depois”. Deo, procura de modo elegante, dá uma expressão formal ao conteúdo das imagens que constrói, chegando, a meu ver, a um apuro de real vitória estética: “Uma culpa, quase transcendente e de fontes invioláveis, oprimia a Valter, desencorajando-o, obrigando-o, às vezes, a sentir complexo de suas próprias emoções, ou mesmo odiar o futuro, cuja imagem, disforme e dantesca, lhe vinha à mente, de instante

a instante”. E conclui com uma simbologia, não pela percepção do belo, mas pela técnica das palavras: “Fosse Valter um cisne, e sem extasiante canto não lhe infundiria tanto medo na lama inventiva: havia céu em seus olhos, magnitude em suas mãos e fulgor em sua subconsciência. Mas foi ingrato em sua plenitude órfica e envolvente que ele existiu, provando-se à semelhança de um muro descoberto. [E tinha uma flor, e com ela, poderia salvar-se]”.

Deo Silva foi um dos talentos mais brilhantes que conheci, mas que Deus pouco deixou conosco para contemplá-lo nas suas enluaradas perspectivas!

“HÁ PEDRAS E POESIA NO MEU HABITAT”

EDMILSON SANCHES

O livro de Wybson Carvalho. Acervo: Edmilson Sanches (Prefácio ao livro de Wybson Carvalho)

Mais de trezentos anos depois de Aristóteles e seus alunos terem dito e escrito a pioneira e basilar Arte Poética,(1) o romano Horácio, também manuscritamente, legou-nos seu pequeno grande tratado de criação literária em obra homônima(2) pelo menos na tradução e referência de tantos autores e especialistas do mundo ocidental, a partir mesmo de Quintiliano (35 95), que a chamou Ars Poetica. (3)

Filho de um escravo liberto, que desempenhava atividade que possibilitou recursos para a sua educação, Horácio estudou Literatura em Roma e na Grécia e veio a ser protegido de Mecenas, rico político romano, de quem se tornou amigo e perto de cujo túmulo foi enterrado.

Horácio escreveu sobre talento (ingenium) e técnica (ars) em Poesia, (4) em carta (“epístola”) endereçada à família dos “Pisones”, mencionadamente “pater et iuvenes patre digni”, “pai e filhos dignos de tal pai”.(5) No conjunto de preceitos aos Pisões, um, entre tantos e tantos, é ressaltado logo ali, nas primeiras dez linhas da pequena grande Arte Poética:

“Os pintores e os poetas sempre tiveram da mesma forma o poder de ousar o que quisessem”.(6)

Passaram-se mais de vinte séculos depois da Arte Poética horaciana e até hoje artistas dos pinceis vão além de partes de potros, penas e peixes no desenho de um corpo “humano”, em suas licenças, liberdades e surrealismos artísticos.(7) Por sua vez, os artistas das palavras, os que (de)têm a arte de escrever com arte, tanto compõem suas extravasões quanto até assumem pequenas extravagâncias e extraordinariedades. Assim, pois:

…há poemas que têm sete faces Drummond; (8)

…há poetas que têm diversos nomes Pessoa; (8)

…há o mesmo livro várias vezes diferente Whitman; (9)

…há autor maiúsculo que prefere as minúsculas – cummings… (10)

E, enfim, há poesias escritas com imagens e as há, também, pintadas com letras.

A pintores e poetas, a plena liberdade…

Deste modo, não estranhe o leitor se neste Há Pedras e Poesias no Meu Habitat (coletânea poética), do poeta caxiense Wybson Carvalho, der de olhos com uma paleta de variadas tintas poéticas, delas de grande aderência, sensível brilho e cores fortes (muitas das vezes, ácidas; outras vezes, agônicas).

É assim que, pela décima-segunda vez, o poeta caxiense apresenta-se em celulose e tinta, agora com uma seleção ampliada e a seu gosto com mais de cento e oitenta poemas, praticamente um terço do total que Wybson Carvalho já escreveu, poemas que se escondem e se eternizam em páginas de livros, revistas e jornais, inclusive poemas encontradiços nos bolsos de paletós e outras peças de vestuário do autor e poemas garatujados em papeis inclusive os de mesa de bar que repousam entre outros papeis que nem garrafas de vinhos envelhecem entre garrafas de vinhos. Envelhecer sem envilecer…

A paleta artística de Wybson Carvalho forneceu tintas e cores, tons e meios-tons, entretons e ton sur ton, fumée e dégradée e outros matizes e nuanças mais, para a composição desta pessoal coletânea poética. Tão pessoal que, neste entremeado de tessituras, o “eu lírico”, a voz e vez do autor nos poemas, é a referência das mais presentes nos textos. Tão pessoal que temas ditos difíceis, como morte e espiritualidade (com prevalência da primeira), ocupam fácil uma terceira colocação no total de composições. Há uma relevante presença do que é fúnebre… lúgubre… O corpo do autor dói, mas é a alma do poeta que sofre… Entretanto, o poeta está vivo e se movimenta. “Eppur si muove”. (11) E apesar de olhares inquisitoriais, como os que se lançaram sobre a verdade heliocêntrica de Galileu no século 17, Wybson Carvalho não murmura seu desdém e seu desdito/discordância em relação à realidade circundante, citadina, de incompetências, inapetências, inconsistências e, até, indecências de caráter político, social, político-administrativo, cultural e coisa e tal. Sobre isto, o autor não murmura, não sussurra, não dissimula: ele grita, alerta, denuncia por intermédio da Poesia, porta-voz de seus sentimentos e verdades. E na polifonia temática a voz da crítica assoma e assume a primazia: é a de maior volume, altissonante, com destaque para os poemas verdadeiras bordoadas que se referem à terra natal, Caxias, e na defesa dela, a pólis lestiana, a cidade referência do Leste do Maranhão, Princesa do Sertão. (Com a licença pre/vista por Horácio, o autor, pintor de palavras, trouxe ao quadro poético e urbano três novas unidades léxicas (neologismos), todas adjetivos: “lestiano/a”, “polislestiano/a” e “sabiano/a” para quando se refere ao Leste regional, à cidade (pólis) jurisdicionadora desse Leste e ao sabiá, a ave símbolo de/cantada na “Canção do Exílio”, do igualmente caxiense Antônio Gonçalves Dias, 1823-1864).

Intertextualidade – Além de transitar, livre e versilibrista, pelos poemas “de crítica”, por aqueles com a participação do eu lírico e pelas questões existenciais e espirituais, Wybson Carvalho trafega, senhor de si, pela metapoesia e concede um pouco pauca, sed bona de espaço poético para o amor, a mulher, a música… e referências aos poetas caxienses Gonçalves Dias e Déo Silva e os são-luisenses Ferreira Gullar e Nauro Machado, este nosso amigo comum, falecido em 2015. Gonçalves Dias, homem e/ou obra, é lembrado a partir da dedicatória e em versos deste livro, como no poema “Canção ao exílio”, onde na primeira quadra Wybson Carvalho relembra:

“em minha terra havia palmeiras e o canto dos sabiás. nela, exalava o perfume dos jardins urbanos. dela, ouvia-se a linguagem singela do cotidiano. com a minha cidade crescia a romântica dos poetas…”

Nauro Machado, de muitas interações poéticas com Wybson, é credor dos encômios deste, que já lhe dedicou, mais que versos, uma obra inteira. Em Há Pedras e Poesia no Meu Habitat, reproduz-se o poema “Nauroemcidade” (v. página 166), onde o autor, lembrando o poeta ludovicense morto, amalgama barro e sal, em que se juntam e se fundem indivisivelmente o poeta que cantava a cidade e a cidade que encantava o poeta. Aliás, é homem e cidade, gente e ambiente, o de que trata “Pertencimento simbiôntico”, poema onde, parece que por intertextualidade mímesis ou imitatio e emulação (aemulatio) –, (12) Wybson Carvalho toca e/ou sente-se tocado pela poesia de Ferreira Gullar, que, em “Poema sujo”, de 1976, diz: “O homem está na cidade / como uma coisa está em outra / e a cidade está no homem / que está em outra cidade.”(13) Ambos maranhenses, ambos com vivências fora do torrão natal, não seria de estranhar que Wybson Carvalho também trouxesse o tema às letras e às linhas; entretanto, o homem, na poesia wybsoniana, está na cidade e ambos, homem e cidade, é que, por assim dizer, não se estão “encontrando”:

“o homem está dentro da cidade e carente dela a cidade está fora do homem […] o homem deve estar na cidade assim como ela deve estar nele […]”

(“Pertencimento simbiôntico”)

O poeta caxiense Deo Silva, um dos de maior consistência na poética maranhense do século 20, é lembrança permanente em Wybson Carvalho e em mim, que o conhecemos. Wybson, de modo talvez pioneiro, traz neste livro sua versão de um famoso poema não escrito, mas declamado de Deo Silva. Esta é, até onde se sabe, a primeira vez que o curto e carregado poema de Deo Silva ganha contornos em livro, um verdadeiro resgate de uma composição que sobrevive em razão da memória de amigos poetas e boêmios.

Esse poema, que Wybson intitula “Noite ludovicense”, sempre me lembra o título A Bolsa & A Vida, de Carlos Drummond deAndrade,lançadoem 1962. Em setembrode2020,mantivelongasconversas aotelefone e troca de mensagens com o advogado, ex-deputado federal, escritor e acadêmico caxiense Frederico José Ribeiro Brandão, amigo, colega de estudos, parceiro de boêmia e primo de Deo Silva. Atestou-me por escrito ter ouvido inúmeras vezes Deo declamar o poema, a ponto de as exatas palavras lhe terem ficado indeléveis na memória conterrânea. Registre-se, aqui, então, à guisa de tributo iniciado por Wybson, a versão que escrevi (antes do contato com Frederico) e a reprodução textual dos versos deo-silvianos, conforme me disse e escreveu o confrade Frederico, confiável testemunha ocular e auricular, que assim relembra Deo: “Era uma pessoa alegre, comunicativa. Em São Luís juntou-se a um grupo de intelectuais e boêmios. Não mais saiu dessa ambiência que nem o casamento mudaria. O casamento foi encerrado. Perdeu o emprego”. Quanto ao poema: “Ouvi dele próprio! E, a meu pedido, outras vezes. Estou certo de que Deo não deixou isso em qualquer escrito seu. Deo foi meu colega de turma no Ginásio Caxiense. Meu primo, também. // Não guardo dúvidas sobre o que ouvi. Como também sei que Deo ‘recitava’ esse quase verso para muitos. E, como não o escreveu, os que ouviram…”

Agora, sobre os famosos versos.

“Noite ludovicense”

(versão de Wybson Carvalho)

“São Luís, um beco escuro, um ladrão e eu… ele – mãos ao alto; a bolsa ou a vida! eu

consulte-as; ambas estão vazias!” *

“A bolsa ou a vida”

(versão de Edmilson Sanches, baseada em lembranças do que ouvia no bar “Recanto dos Poetas”, em Caxias):

Na rua, a escuridão.

Eu e um ladrão.

“ – A bolsa ou a vida!”

Ambas vazias.

Transcrição de Frederico Brandão, que reitera que os versos, sem título, nunca foram publicados. A partição em linhas (versos) foi por minha conta, observada a pontuação original:

Na rua escura, eu e um ladrão.

“A bolsa ou a vida”.

Consultei-as.

Ambas estavam vazias.

Reconheça-se, pois, nos versos acima, a árvore Deo Silva, firmemente enraizada, e, nas duas reescritas antecedentes, as folhas deixadas cair, sazonais, e que Wybson e eu ousamos recolher e conservar… Como se vê e lê, pelo dedo se conhece o gigante… e Deo Silva, lembrando verso de Horácio, executou, com as declamações de seu poema, “um monumento mais duradouro que o bronze”.(14)

Mais adiante, quando das anotações sobre eu lírico e autorreferencialidade, far-se-ão considerações acerca de outras cargas temático-poéticas wybsonianas, aí incluído o retorno de Gullar e Wybson, que voltam a se intertocar poeticamente.

*

Há tempos que Wybson José Pereira Carvalho acalantava o sonho deste livro e, gentilmente obstinado, fazia questão de que eu escrevesse o prefácio e fosse o editor da obra. Induziram-no ao erro dessa escolha nossos laços e traços comuns: Caxias, a Literatura, o Jornalismo, o bar “Recanto dos Poetas”, conterrâneos

escritores “mais velhos” e nossos amigos (Vítor Gonçalves Neto, Cid Teixeira de Abreu, Déo Silva, João Vicente Leitão, Luiz Leitão, Artur Cunha, Abreu Sobrinho, Sillas Marques Serra, Wilson Egídio dos Santos…), a Academia, as ideias e ideais…

Com uma vida constante e consistentemente ligada à Cultura, à Comunicação, à Literatura e, nesta, à Poesia –, Wybson Carvalho é referência quando a dúvida ou o assunto é Poesia e História caxienses. Foi presidente da Academia Caxiense de Letras, onde rotineiramente dá palestras para estudantes e outros públicos. Integrou os conselhos municipal e estadual da Cultura e nesse mister tornou-se dedicado participante de eventos da área em diversos pontos do País, tendo formado e firmado relacionamento com um rol de ricos nomes regionais, estaduais e nacionais da Cultura, das Letras, da Música e outros segmentos artísticos. Mais velho dos quatro filhos (duas mulheres, dois homens) de Dona Teresinha e Seu Francisco, Wybson estreou há trinta e quatro anos em livro, Neófitos da Terra (1987), que reuniu diversos nomes da jeunesse dorée caxiense, inclusive o outro irmão, Naldson Luiz Pereira Carvalho, advogado, também poeta e acadêmico.

O “neófito” Wybson daquele primeiro livro sete anos depois deu corpo à sua primeira obra solo, Eu Algum, de 1994. Assim, livro a livro, foi enfeixando seus poemas e se foi tornando o “veterano” autor, que agora, num esforço de Hércules, chega, literária e literalmente, à sua dúzia de trabalhos não contadas as antologias, inclusive nacionais, de que participou, além de presença em espaços da Internet (sites, blogs, páginas…). Para chegar aos seus doze trabalhos, Wybson, também herculeamente, teve de matar leões em Nemeia, limpar estrebarias do argonauta Áugias, rei de Élida, e pegar pelos chifres ou pelas presas – touros em Creta e javalis no Erimanto… (15)

O eu lírico / autorreferencialidade – A poesia de Wybson Carvalho, mais que um ato de criação, parece um exercício de duplicação ou extensão do poeta, que, como ser matriz, tem na Poesia uma filial de si mesmo. Com “Pedaços de um eu algum”, ele abre o livro, se anuncia… e adverte: Pedaços de um eu algum há no meu eu o pulsar de um desejo e no qual há, ainda, o que, agora, almejo: que o fim do somatório da minha dor não interrompa os gritos do clamor, face a um pedaço ser bem emudecido em mim, e o meu outro resto é ouvido, mas ruim… a sinfonia que me invade desde o nada é bem-vinda, ainda que quase desafinada; e eu a quero para sempre almejada, ainda que pouco executada; face a um pedaço inaudível ser ilusão e o meu outro resto, não, mas real solidão… e os versos que, agora, eu escrevo que não sejam lidos e cantados com desvelo; mas como a unicidade do momento de um poeta imerso em seu eterno tormento, face a um pedaço ser calado em mim, mas o meu outro resto é ensurdecedor e ruim! A autorreferencialidade é recurso e realidade em muitos autores. Às vezes, inda que separados no tempo e pelo espaço, distantes na formação e experiência, o self, essa consciência de si e reflexão sobre si próprio, une autores ou estabelece (involuntariamente? inconscientemente?) pontos de contato entre eles, como antes se anotou aqui sobre intertextualidade. Por exemplo, os dois versos finais de cada uma das três sextilhas do poema wybsoniano acima remetem ao “Traduzir-se”, do também maranhense Ferreira Gullar (1930-2016), que, nos seis quartetos das sete estrofes do poema (a última é uma quintilha) vai mostrando o eu lírico gullariano: “Uma parte de mim / é todo mundo: / outra parte é ninguém: / fundo sem fundo. // Uma parte de mim / é multidão: / outra parte estranheza / e solidão. // […] // Uma parte de mim / almoça e janta: / outra parte / se espanta. // […]”.

Em “Um sobrevivente à síndrome de Stevens-Johnson”, a autorreferenciação do poeta continua, agora particularizando e poetizando sobre um mal raro:

Um sobrevivente à síndrome de Stevens-Johnson houve um incêndio afótico dentro de mim. em trevas e sob a cremação da carne putrefata emergiu o emudecido veneno qual direito da alma se acasalar, puramente, em si, e sob correção ao estrago em cicatriz na natureza humano-espiritual. porém, haverá nova folhagem ao homem salvo pela Divindade Criadora que purificou e lapidou o bruto complexo psicofísico da criatura. então, a vida torna-se um fiel canto para o encanto de renascer… Observe-se que os sete primeiros versos são dor e aflição; as sete linhas seguintes, amor (divino) e remissão. No começo, o poeta na sua poesia chora chora e sangra. O ser é frágil e incompleto, mas seu fazer literário (poíesis) é forte e inteiro. O poeta se recupera e se reergue. E com o poeta, também o homem, que espreme seu espírito e exprime na escrita seu espólio de dor e expiação, suportação e superação, resistência e fortaleza, arte e beleza. Os sentimentos e sensações do homem vão-se desentranhando do poeta e se entranhando em sua poesia. No poema “Fogueira à embriaguez”, o poeta está só e em vão agarra-se aos versos que igualmente se vão partindo do veio que é a Poesia e da veia que é a Arte:

Fogueira à embriaguez estou tão só nesta sexta-feira. sinto tanto frio neste último dia útil. há dentro de mim uma sede ao álcool. meu coração quer se aquecer à margem de um vulcão, em erupção constante, que derrame larvas acesas a incendiar meu corpo acasalando solidão nos dias subsequentes do final de semana: sábado e domingo inúteis a um cotidiano de fogo algum.

O crítico – Os olhos e a escrita do poeta são sensíveis ao que vê e ao que não vê, ao que se faz à cidade, ao que não se faz por ela e, também, ao que se desfaz nela. A falta que uma mesa farta faz trouxe “Fome” ao poeta (ele, que, poemas antes, já denunciara a “fome e sede do [rio] Itapecuru”, rio de nossa infância):

Fome

ausência de iguarias nos recipientes à mesa do oferecimento aos desvalidos… presença do vazio

nas vísceras do estômago

embrulhado pelo papel da sociedade…

A fome é quando o nada dói. Um nada autorizado por autoridades e avalizado por uma sociedade apática, atípica, estrábica…

O eu lírico e espiritual do poeta prostra-se em oração, em “Perdão”. E a uma força superior, a “unicidade ubíquaem onipotência e onipresença”rezaum novo pai-nosso: ohomemreconhece-sepecador,teme as trevas e espera a salvação do que foi com a bênção do que será:

Perdão

natureza e obra eternas, unicidade ubíqua em onipotência e onipresença, caí em tentações pecaminosas!

livrai-me de insidiosa luz do fogo. mas não me deixeis nas trevas. não sou digno de beber do vinho e comer do pão! porém,

lavai-me as feridas com meu próprio sangue, aliviai-me a dor para que sacie a minha própria fé, e, então, salvai-me do que fui ao abençoardes o que serei. rogai-me, amém.

Eoque dizem as linhas dodesalinhoem “Valsado descompasso”?É obêbadoeseu andartrôpego,tropicando pelas ruas, entreolhado furtivamente por quem não pode sequer atirar a pedra primeira?

Valsa do descompasso quando meus passos estiverem bailando de um lado para outro, a personalidade dos indivíduos será abalada ao prosseguir nas vias estáticas do comportamento social.

Em “Oferta à vida” volta o poeta às escolhas existenciais: O que, à certeza de um caminho rico (onde “haveria prata, ouro e diamantes”), o fez preferir rumar “por veredas aziagas” onde, em seu “inferno existencial” e em sua existência infernal, a riqueza do poeta é só o exercício do direito de escolher ainda que de vestes desnudo, vestindo-se “do nada”?

Oferta à vida haveria prata, ouro e diamantes, se eu preferisse caminhar certo pelos tortos e estabelecidos caminhos pautados em tua ambiência. mas, vesti-me do nada e rumei por veredas aziagas do meu inferno existencial a destruir ilações sobre nosso espaço. No poema “Sentenciado”, a letargia paralisa o poeta e o leva à desfinalização, ao não acabamento; leva-o ao “começo sem terminar” e à “espera sem fim” e, de quebra, leva-o a perguntar: “ – por que crime fui julgado um ser ruim?”.

O poeta se percebe: está “enfermo, desiludido e tão só…”.

O poeta sofre por si e por sua cidade. Sua poesia é mais livre que ele e não sofre, pois que, louvada pelo porvir, está imunizada contra a ignorância do agora, ignorância que é desconhecimento e ignorância que é grosseria, mesmo!

Sentenciado

inculpado, mas transformado num ser; enfermo, desiludido e tão só… sem horizonte a seguir e com inércia se alimentando de mim! não preferi esse presente letárgico; começo sem terminar e espera sem fim:

por qual crime fui julgado como um ser ruim?

A morte – Wybson Carvalho nem de perto é um admirador da morte. Não idolatra a dor. Mas, embora não clame pela morte,… declama-a. Aliás, nestes aspectos poético-patológicos consigne-se que, em Caxias, são de Wybson Carvalho as referências mais iterativas em relação ao bordão que afirma que “poeta não morre encanta-se”. Aqui e acolá ouve-se Wybson Carvalho (re)citando essa frase aliás, como escrevi em outro texto, frase de Guimarães Rosa, que creio ter origem em uma expressão latina: “Abiit, non obiit” isto é, “Partiu, não morreu”, escrita como epitáfio em lápides da antiga Roma.

Mas não há negar: o fúnebre, o lúgubre, o evocativo da morte passeia pela poesia wybsoniana, ausente o mau agouro: Absitomen. (16)Nenhumanovidade:poetaseescritoresadoramessemisteremistérioqueéomorrer. Como anota Maria Luisa del Barrio Vega, professora da Universidad Complutense de Madrid, citada por Ana

Paula Silva em Morte, Vida, Persuasão e Poesia: “Son muy numerosas las reflexiones sobre la existencia humana, su brevidad y penalidades o la imprevisibilidade del destino”. (17)

VítorManuel deAguiare Silva,professor,poeta,escritorportuguês, laureadoem 2020com oPrêmioCamões, traz-nos, em sua volumosa Teoria da Literatura, de 1969, a confirmação, atribuída à metafísica cristã, de que “[…] o homem é corpo e é espírito, é grandeza e é miséria, devendo a arte dar forma adequada a esta verdade essencial”. (18)

O filósofo e poeta alemão Friedrich Nietzsche (1844 1900), no seu Assim Falava Zaratustra, escreveu, já na primeira parte, que “louco é aquele que se agarra à vida” e que “todos encaram com seriedade a morte, mas morrer ainda não é uma festa”. (19)

O caxiense Gonçalves Dias, em Novos Cantos, diz-nos que “A morte é vária e multiforme, e muda / De trajes e de máscaras mais vezes / Qu’uma cansada atriz”. O poeta continua e nos revela que o diabo da morte, se não é bonita, tampouco é como dela se diz: “Nem sempre é, qual se pinta, o negro espectro / D’irônico sorriso e brancos dentes, / […]”. Mais adiante, no poema “Visões – Passamento”, Gonçalves Dias exclama: “[…] / Morrer loucura, insânia! […]”. E finaliza, suplicante: “[…] / Oh! não quero morrer!…”. (20)

OpoetaportuguêsFernandoPessoatambémcuidoudotema, embora,como ressalva oprofessoruniversitário, crítico literário e ensaísta lisboeta Jacinto do Prado Coelho (1920 1984), tenha buscado “avidamente a felicidade como quem nasceu para ser feliz”. Mas, ainda assim: “Ninguém mais do que ele [Fernando Pessoa] experimentou a sensação pungente de estar condenado à solidão […]”. (21) Prado Coelho exemplifica com os dois últimos versos de um poema pessoano, ortônimo, sem título, de três quadras, feito há noventa anos, em março de 1931: “A vida? Não acredito. / A crença? Não sei viver”. (22)

Porém, uns doze anos antes daqueles versos, Pessoa escreveu, supostamente em março de 1919, uma oitava “carregada”: “Porque vivo, quem sou, o que sou, quem me leva? / Que serei para a morte? Para a vida o que sou? / A morte no mundo é a treva na terra. / Nada posso. Choro, gemo, cerro os olhos e vou. / Cerca-me o mistério, a ilusão e a descrença / Da possibilidade de ser tudo real. / O meu pavor de ser, nada há que te vença! / A vida como a morte é o mesmo Mal!” (23)

Mais perto de Wybson Carvalho, mencione-se, sobre a morte, trecho da monografia da escritora Arlete Nogueira da Cruz, citada pelo poeta (e marido dela) Nauro Machado, em texto constante da Obra Poética, de BandeiraTribuzi, de 2002.SegundoArlete, quevai nocontrafluxodeoutras opiniões, “amorte não representa indagação, medo, absurdo. Significa paz, vizinha à liberdade na ressurreição […]”. (24)

Desse jeito arletiano, a morte, então, seria também um outro “monstre délicat”, tal qual o tédio grandemente (de)cantado e despetalado por Baudelaire logo de entrada, em suas Flores do Mal? (25)

Wybson Carvalho, na temática da morte, poetiza em seu livro a talvez mais perturbadora das interrupções da vida: o suicídio ato tão perturbador que levou o filósofo, jornalista e romancista franco-argelino Albert Camus (1913 1960) a escrever o conhecido O Mito de Sísifo, publicado em 1942, onde está a frase famosa: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio”. E logo em seguida: “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”. (26)

O poeta caxiense apresenta, em “Um suicida”, um dos grandes textos deste livro: Um suicida domínio da inconsciência caçador do ato imoral transformada aparência retrato do mal.

imposto o desejo pecador guia do errante caminho tal ensejo destruidor de um animal sozinho. vil ilusão sem sorte começo da viagem enlouquecida coragem para a morte medo da vida.

Como selê,paraos queseautoencaminham paraa morte,Wybson Carvalho, sensível ecriticamente, esculpiu, com palavras, uma lápide imorredoura, um obelisco eterno, onde também define igualmente sem exaurir osuicídio: “coragem paraamorte/medodavida”. Talveztocadopeladolorosa,recorrenteesurpreendente incidência de atos suicidas, o poeta compôs uma quase nênia, uma canção para os que se levaram (ou foram levados) à autoimolação.

Sem esgotar, repita-se, o assunto, Wybson traz aos olhos e sentimentos do leitor um dos mais definidores e definitivos textos da Poética maranhense sobre o ser e o ato suicida. Em uma só estrofe, mas três quadras (delimitadas pelos esquemas rímicos abab, cdcd e efef rimas alternadas), veem-se: a descrição do turbamento da consciência, condição para o fim próximo; desejo do autofindar-se se impondo e conduzindo ao “errante caminho” da (auto)destruição; e no último quarteto, o imparável começo do ato final para a desvida dito/escrito com uma precisão sensível e suavemente crua, traduzida e encerrada pela assepsia e quase secura dos dois últimos versos da quadra final: “vil ilusão sem sorte / começo da viagem enlouquecida / coragem para a morte / medo da vida”. Observe-se também a expressão “[…] ensejo destruidor / de um animal sozinho”: é o suicida um ser ilhado, em ambienteexternamentedespovoadodeoutros seres, masintimamentehabitadopormultidões deangústias, dores, dúvidas…

Viver ora, viver é para os fracos; é só seguir a turba… Mas morrer, morrer “por si mesmo”, é para os que se desnudam, se desaglomeram, “se livram” dos outros para, não estando em si, em gesto último, se livrarem de si.

A pólis – É quando se devota à sua cidade que Wybson Carvalho amplia a linguagem e amplifica a dicção do livro. Ad augusta per angusta.(27) Veja-se: Saneamento superficial a alma da cidade é banhada em água servida corrente na sarjeta a céu aberto das vias públicas qual lágrima escorrida na vergonha lestiana dos transeuntes a inspirar o odor urbano: fezes e urina são a oferta sem saneamento.

O poeta descobre e avisa: “na pólis há porções negras” (“Refeição à ganância”). Ele percebe: “a população / está na cidade / dentro e carente dela / […]” (“Pólis lestiana sem alma”). Ele insiste: Vestuário de forças há anos a polis troca-se e se veste com a mesma roupa: concreto por sobre as múltiplas negras arestas urbanas. porém, os munícipes lestianos estão despidos da humanologia social e a sós.

Em “Negação”, “o não entregue aos carentes / não sacia a ganância dos abastados / […]”. É o quanto mais tem, mais quer o muito para os que tanto têm, retirado dos muitos que tanto precisam. No poema, o “não” é a mais forte forma de fazer uma afirmativa.

A pólis é o espaço em que o poeta habita e que é por ele habitado. Desse modo, sendo em igual tempo agente e usuário desse espaço, o poeta tem natural autoridade, direito e, mais que isso, dever de apontar omissões, denunciar agressões, externar emoções relacionadas ao que está sendo feito e ao que não se fez. Tem o direito (senão dever) de dessacralizar gentes e gentalhas, que se acreditam santificadas, que são tão pobres que só têm finito dinheiroe,muitomalusado, transitório poder.Emsuacidade,opoeta,àsuamaneira, dessacraliza o “sagrado” , desmitifica o que se fez “mito” e desmistifica o que pura mistificação é.

Desse modo, com a mais poderosa arma (a palavra), em sua melhor “embalagem” (a Poesia), Wybson Carvalho “manda ver” em quem não sabe ver e ainda assim manda…

A série de poemas à pólis (Caxias, cidade-mãe e referência da região leste do Maranhão) é de uma bem-vinda acidez cítrica e nitidez crítica, tudo contido em (in)contidas palavras e versos. De modo singular, talvez único na Literatura especificamente na Poesia caxiense, senão maranhense, Wybson Carvalho teceu, com os fios de suas emoções de cidadão, e escreveu, com a competência de quem sabe lavrar a dor, excepcionais poemas-denúncia, onde palavras e conceitos, de forma ímpar, parecem vir aos pares: desvalidos & necessitados, podridão & vergonha, sarjeta & esgoto, fezes & urina, carências & desencantos, parcos & poucos, mendigo & mendicância, desespero & desesperança. A Poesia também não foge à luta…

Ao denunciar e defender sua terra, o poeta constrói um dos mais sólidos conjuntos poéticos de crítica social, política e moral (imoral). Corre o saudável risco, este conjunto poético, de tornar-se referência para estudantes e estudiosos e de reverência para seus conterrâneos (ainda que não coetâneos).

Grande parte deste livro reflete assim a via crucis, via lucis (28) do poeta, ou seja, o caminho da cruz leva ao caminho da luz, o trilhar as dificuldades da cidade alimenta o ser em sua poeticidade. Aí, então, o poeta, com sua escrita, assesta a pontaria e acerta sua artilharia no alvo que é a asnaria e a barbaria instaladas, cuja omissão, inação e/ou incompetência depõem contra a qualidade de vida da cidade e o bem-estar de seus cidadãos. Santa ira poética!

O jovem universitário que, nas férias, saía de Recife (PE) e vinha para sua terra foi inicialmente aprendendo com os bons: Déo, Vítor, Cid, os livros do Nauro Machado… Já o experiente poeta aprende com a cidade, apreendendo-a. Como os antigos peripatéticos, que ensinavam/aprendiam no caminhar, Wybson Carvalho anda a cidade-berço enquanto seu corpo e olhar, ambos uma só antena sensível, captam as realidades e irrealidades, fluidez e concretude e as transportam para a efemeridade eterna dos poemas. A cidade é seu habitat sociocomunitário e dela o poeta extrai suas virtudes e vicissitudes, que ele intenta levar até ao habitante, para que este, tocado, possa melhor exercer sua cidadania. Como escreve Octavio Paz, nobilíssimo Prêmio Nobel de Literatura, “[…] as palavras do poeta, justamente por serem palavras, são suas e alheias. Por um lado, são históricas, pertencem a um povo e a um momento da fala desse povo […]”. (29)

A poesia de Wybson Carvalho, em sua dor e denúncia, amor e pronúncia, haverá de resistir e permanecer. Pois a Poesia é Alfredo Bosi quem confirma – “resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos. […] Resiste aferrando-se à memória viva do passado; e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia”. (30)

*

Wybson, há pedras e poesia em seu habitat. Ambas são igualmente sólidas.

E podem ser úteis na construção de um mundo e de uma cidade melhor…

Parabéns, Poeta.

Edmilson Sanches

Editor

Notas / Referências (E. S.)

(1) Aristóteles nasceu e morreu na Grécia. Viveu 62 anos, de 384 a. C. a 322 a. C. Sua Arte Poética, datada de entre 335 a. C. e 323 a. C., é resultado das anotações de seus alunos das aulas que ele dava.

(2) Horácio (Quintus Horatius Flaccus) nasceu e morreu em Roma. Viveu 56 anos, de 65 a. C. a 8 a. C. O primeiro nome de sua Arte Poética (datada da segunda década antes de Cristo) é Epístola aos Pisões, título relacionado à carta em versos que enviou a membros de uma família amiga, os Pisones.

(3) Quintiliano (Marcus Fabius Quintilianus) nasceu e morreu em Roma. Foi professor, advogado, poeta. Viveu 61 anos, do ano 35 ao 96, no primeiro século da Era Cristã. Em obra sua, sobre oratória, faz referência à Epístola aos Pisões, chamando-a Arte Poética, como na obra aristotélica. Sobre isto, veja-se Epistula ad Pisones, edição bilíngue organizada por Bruno Maciel, Darla Monteiro, Júlia Avelar e Sandra Blanchet (Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2013).

(4) Veja-se em Epistula ad Pisones, op. cit.

(5) Veja-se em “Ars Poetica de Horácio – O Texto Original”, de Lucia Sá Rabello, professora do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicado na revista Organon, vol. 29, nº 56, páginas 259 a 277 (Porto Alegre: UFRGS, janeiro/junho de 2014).

(6) Em Latim: Pictoribus atque poetis / Quidlibet audendi semper fuit aequa potestas. Optou-se pela tradução de Paulo Rónai, em Não Perca o Seu Latim, 3ª edição (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984).

*
***

(7) Referência aos cinco primeiros versos da Arte Poética / Epístola aos Pisões, de Horácio, em Epistula ad Pisones, op. cit.: “Se um pintor desejasse unir um pescoço equino / a uma cabeça humana e revestir de variadas penas / membros reunidos de várias partes, de tal modo / que uma mulher formosa de rosto termine em um peixe / horrendamente negro, vendo tal quadro, seguraríeis o riso, amigos?

(8) “Drummond”

referência ao “Poema de sete faces”, que abre o livro Alguma Poesia (1930), o primeiro do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. In: Poesia Completa e Prosa (Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977). “Pessoa” – referência ao poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) e seus diversos heterônimos, pseudônimos e outros nomes ou formas de assinar obras (livros e outros textos). Pesquisas feitas por estudiosos de três nacionalidades (portuguesa, holandesa e brasileira) chegam a perto de 130 nomes usados por Fernando Pessoa que, além de poeta, foi astrólogo, comentarista político, correspondente comercial, crítico literário, dramaturgo, empresário, ensaísta, escritor, filósofo, inventor, publicitário e tradutor.

(9) Referência ao livro Leaves of Grass (Folhas de Relva), do poeta norte-americano Walt Whitman (1819-1992), lançado inicialmente em 1855, com 12 poemas e sucessivamente ampliado, a ponto de, 21 anos depois, na sexta edição (1876), a obra ser publicada em dois volumes.

(10) Referência ao poeta, ensaísta, dramaturgo e pintor norte-americano Edward Estlin Cummings (1894 1962), considerado um dos grandes nomes da inovação poética e literária em geral no século 20, que tinha por hábito escrever abreviadamente e em minúsculas seu nome (e. e. cummings) e seus poemas. Também usava minúsculas após pontos.

(11) “Eppur si muove” (ou E pur si muove)em Português: “Entretanto, se move [a Terra, ao redor do Sol]”. Frase latina atribuída ao cientista italiano Galileu Galilei (1564-1642), que, para não sofrer castigos maiores da Inquisição, a teria murmurado logo após negar que a Terra não girava em torno do Sol.

(12) Sobre mímesis ou imitatio e emulação (aemulatio), veja-se, entre outros, a Arte Poética de Aristóteles e o Tratado de Imitação, de Dionísio de Halicarnasso, que escreveu ser a emulação “uma actividade do espírito que o move no sentido da admiração daquilo que lhe parece ser belo” (in Tratado da Imitação, editado por Raul Miguel Rosado Fernandes, publicado em 1986 pelo Instituto Nacional de Investigação Científica e Centro de Estudos Clássicos das Universidades de Lisboa).

(13) In Poema Sujo, de Ferreira Gullar (Rio de Janeiro, José Olympio, 2006).

(14) “Pelo dedo se conhece o gigante”: expressão latina “Ex digito gigas”. “Um monumento mais duradouro que o bronze”: “Exegi monumentum aere perennius”, “Executei um monumento mais duradouro que o bronze”, verso que, no dizer de Paulo Rónai, op. cit., refletia o “justo orgulho” do poeta Horácio ao publicar os três primeiros livros das suas Odes, em 23 a. C. (o quarto sairia dez anos depois, em 13 a. C.; nesse intermédio se publicariam, entre outras obras horacianas, a Epístola aos Pisões ou Arte Poética, aqui já referida).

(15) Nemeia, Élida, Creta e Erimanto são locais em que, segundo a mitologia grega, o herói Hércules realizou alguns dos 12 trabalhos, em cumprimento a uma espécie de penitência.

(16) “Absit omen”. Frase latina. Em Português, “Esteja ausente o mau agouro”, na tradução de Paulo Rónai, op. cit.

(17) Veja-se em Morte, Vida, Persuasão e Poesia: A Composição do Elogio Fúnebre em Don Luís de Góngora e Gregório de Matos, de Ana Paula Silva.São Paulo: Humanitas/Fapesp, 2012.

(18) Veja-se em Teoria da Literatura, 8ª edição, de Vítor Manuel de Aguiar e Silva. Coimbra: Almedina, 1988.

(19) Veja-se em Assim Falava Zaratustra, 3º edição, de Friedrich Nietzsche. São Paulo: Escala, 2008.

(20) Todas as citações em Poesia e Prosa Completas, de Gonçalves Dias. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

(21) (22) Veja-se em Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, de Jacinto do Prado Coelho. São Paulo: Verbo/Edusp, 1977.

(23) As citações e datas estão em Obra Poética, de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

(24) Veja-se em Obra Poética, de Bandeira Tribuzi. São Paulo: Siciliano, 2002.

(25) Veja-se em As Flores do Mal, 1ª edição, de Charles Baudelaire; tradução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2019.

(26) Veja-se em O Mito de Sísifo, de Albert Camus. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.

(27) Ad augusta per angusta. Frase latina. Quer dizer que se chega “a resultados sublimes por caminhos estreitos”, na tradução de Paulo Rónai, op. cit. No prefácio, a alusão à composição de bons poemas que denunciam e criticam as más práticas contra a cidade.

(28) Via crucis, via lucis. Expressão latina da idade Média: “O caminho da cruz [é] o caminho da luz” (Paulo Rónai, op. cit.).

(29) Veja-se em Signos em Rotação, de Octavio Paz. São Paulo: Perspectiva, 2003.

(30) Veja-se em O Ser e o Tempo da Poesia, de Alfredo Bosi. São Paulo: Cultrix, 1977.

LANÇAMENTOS

Editora Passagens: Crise da Democracia

53o.SARAUDAATHEART(AcademiaAtheniensedeLetraseArtes).Ontem,19h30,naAMEI.

Como todo mundo sabe, zumbi é uma figura popularmente associada a seres humanos mortos que por algum motivo foram reanimados e não possuem consciência ou vontade própria (ou possuem????). Na cultura popular, os zumbis são retratados como criaturas andrajosas, com o corpo em putrefação, sedentas de sangue e movendo-se mecanicamente em perseguição às suas vítimas – normalmente humanos que uma vez atacados, também irão virar zumbis.

Felizmente (até que se prove o contrário!), não corremos o risco de encontrar um zumbi dando sopa por aí. Assim como os vampiros e outras criaturas fantásticas e aterrorizantes, eles são frutos da nossa imaginação e criatividade (ou não é bem assim????) e até agora não se tem notícia (será mesmo???) de que zumbis tenham vitimado as pessoas.

Por outro lado, seja nas telas, nas páginas de livros e outras mídias, eles abundam, divertindo, entretendo e, muitas vezes, assustando. Este blog é, portanto (e com muita justiça) uma homenagem a estas criaturas incríveis, que tantas histórias legais já renderam. Mas não só: é também uma homenagem à literatura, de modo geral, e, em especial, à produção voltada para o mundo sombrio e misterioso do suspense, do terror e do oculto. Tudo isso com notícias do mundo literário, dicas e curiosidades para enriquecer o repertório de quem gosta de ler.

BOA LEITURA!

BONS SUSTOS!

PRA QUEM ACHAVA QUE O ZUMBI LITERÁRIO vinha só pra dar notícia ruim, fique com esta: O deputado estadual Duarte Júnior (PSB) anunciou pelas redes sociais seu compromisso em apoiar a cultura literária destinando recursos para um inédito Salão do Livro de São Luís. A proposta do evento partiu dos livreiros reunidos em torno da Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão - ALEM, que buscam alternativas diante da constante incerteza sobre a realização da Feira do Livro de São Luís, a FELIS. Num texto curto e grosso, Duarte lembra que investiu com orgulho na FELIS a fim de incentivar a leitura em nossa cidade e demonstra estar disposto a continuar com esse trabalho, mas por outros caminhos. “Hoje, em uma reunião com os livreiros, reafirmei meu compromisso em apoiar a cultura literária de São Luís destinando recursos ao Primeiro Salão do Livro”, escreveu o deputado.

O Zumbi Literário apurou que a ideia é garantir em torno de 500 mil reais para vale livros, além de batalhar para garantir a estrutura do evento.

Academia Maranhense de Letras

Boas novas surgem na comemoração do Bicentenário de Nascimento do Poeta Gonçalves Dias e devem interessar especialmente pesquisadores e estudiosos da vida e da obra do escritor maranhense. Foram encontrados no arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão documentos que realçam a atuação de Gonçalves Dias como advogado e Curador dos Ausentes em inventários datados de março e agosto de 1845.

Os inventários pertenciam a Joaquim Marques da Costa Fortuna e a Francisco Manoel Pereira Bastos, que faleceu no Reino de Portugal, deixando viúva e filhos em Caxias.

Antônio Gonçalves Dias foi nomeado curador dos órfãos Eloya Pereira Bastos, D. Victoria Pereira Bastos e D. Cleia Pereira Bastos.

A Academia Maranhense de Letras organiza uma série de eventos em homenagem ao Bicentenário e nesta quarta-feira, dia 12, tem na pauta o Cortejo que celebra Gonçalves Dias em versos e ladainhas pelas ruas do centro de São Luís.

Com concentração na sede da AML (rua da Paz, 84, Centro), às 16h30, o cortejo segue para a praça João Lisboa, avenida Magalhães de Almeida e rua de Santana, com performances poéticas e musicais do grupo Tramando Teatro.

O cortejo fará uma parada especial na rua de Santana, na casa onde viveu a musa do poeta, Ana Amélia. Em seguida, haverá um recital poético e musical na praça Gonçalves Dias.

PRÓXIMO DIA 20, ÀS 20:00, PELO MEET, SERÁ LANÇADO O E-BOOK LITERATURA

MARANHENSE: ENSAIOS SOBRE O LÍRICO CONTEMPORÂNEO, CONTENDO NOVE ENSAIOS SOBRE POETAS MARANHENSES DA ATUALIDADE, A SABER: ALEX BRASIL, LAURA AMÉLIA DAMOUS, MHARIO LINCOLN, LUÍZA CANTANHÊDE, SALGADO MARANHÃO, KISSYAN CASTRO, DILERCY ADLER, LÚCIA SANTOS E LUIS AUGUSTO CASSAS. O E-BOOK FOI ORGANIZADO POR DINO CAVALCANTE, SAMARA ARAÚJO E HELENA MENDES, E CONTA COM A PARTICIPAÇÃO DE DIVERSOS ESTUDIOSOS DA LITERATURA MARANHENSE. CASO ALGUÉM QUEIRA ASSISTIR AO LANÇAMENTO, O ENDEREÇO DA SALA VIRTUAL ESTÁ NO CARD EM ANEXO.

JEANDERSON MAFRA LANÇA LIVRO SOBRE DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA PÚBLICA NO MARANHÃO*

"PRÉ-VENDA"

Mestre em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Jeanderson Mafra lança seu segundo livro de uma pesquisa acadêmica desenvolvida com base na Análise do Discurso do pensador francês Michel Foulcault.

"DISCURSO E VIOLÊNCIA: as implicações das relações de poder nas instituições de Segurança Pública do Maranhão" é o título do livro inédito e que já pode ser adquirido com desconto em pré-venda, com o autor.

Relações de poder, delinquência, violência, história e discurso são alguns dos conceitos mobilizados pelo pesquisador para explanar como a violação dos direitos dos policiais são parte central da formação dos mesmos, criando uma espécie de ethos policial que se choca fatalmente contra a sociedade moderna signatária dos direitos humanos universais.

O ser policial é o tema principal da construção narrativa que reúne entrevistas e relatos empíricos de um processo que contrasta do papel da polícia numa Democracia ao manter as mesmas estruturas de um regime de exceção que primeiro violenta e modela o corpo dos trabalhadores.

A apresentação do livro é feita em três etapas reunindo comentários e impressões do *Dr. Ricardo Brizola Balestreri*, Ex-Secretario Nacional de Segurança Pública, pelo *Dr. Jean Carlos Nunes*, Defensor Público do Maranhão e pelo *Dr. Marcelo Jugend*, Advogado e Ex-Assessor da Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

A aquisição antecipada da obra pode ser feita com o próprio autor através do link abaixo, podendo ser enviada para qualquer parte do Brasil.

Reserve seu exemplar neste link

https://wa.me/message/P4OAGFPLNYU7E1

"Falta apenas um mês para o histórico lançamento da “Antologia poética BRASIL – MOÇAMBIQUE”, que será lançada em agosto no SALIPi e em outros espaços e cidades .

Homenageamos, nesta publicação, poetas afro-brasileiras, aqui representando muitas mulheres escritoras que estão presentes na cena literária do país: Maria Firmina, Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Miriam Alves, Dinha Maria, Lívia Natália, Cristiane Sobral, Luiza Cantanhêde e Nina Rizzi.

A “Antologia Brasil – Moçambique” tem o propósito é reestabelecer “o diálogo poético e cultural”, evidenciando a produção poética mais antiga e a contemporânea dos dois países que se irmanam. Tal perspectiva do ponto de vista das escolhas aqui efetuada, sabemos passivas de controvérsias e fragilidades. Se podermos explicar, ainda assim passível de questionamentos, estas se firmam sobre três pilares: 1 – Possibilidade do diálogo poético contemporâneo entre autores e autoras do vasto Brasil, na tentativa de evidenciar produções fortes e revigorantes que alinham vigor estético e intencionalidade na temática; 2 – Produções que revelam diferenças de pontos de vista sobre Brasil de ontem e de hoje, agregando as diversas formas de poetizá-lo, seja através do encanto da palavras ou do assombramento da palavra que não permite se encarcerar por dispositivo de censura ou quaisquer forma de intimidação; 3 – Vigor estético e interação da palavra vida, por modos vivendi das nações Brasil e Moçambique.

A Antologia é organizada por Marleide Lins de Albuquerque e Ernesto Moamba, com curadoria de Assunção Sousa e Elio Ferreira, realização ASSAAC, AVANT GARDE EDIÇõES, com a apoio do NEPA-UESPI e Centro Cultural Brasil-Moçambique. Patrocínio Governo do Estado do Piauí."

Professor da UFMA lança o livro “Boi Solto” nesta quinta-feira

Nesta quinta-feira, 17 de agosto, às 19h, no Palácio Cristo Rei, localizado na Praça Gonçalves Dias, em São Luís, acontece o lançamento do livro “Boi Solto” escrito pelo professor da UFMA e médico Alcimar Nunes Pinheiro. O livro, publicado pela Editora da Universidade Federal do Maranhão (EDUFMA), propõe uma imersão a um tesouro de recordações vívidas da infância de Alcimar no bairro Liberdade, na capital São Luís. Local onde foram construídas as principais vivências da infância do autor.

“Boi Solto” mergulha na época do movimentado matadouro que foi estabelecido no bairro em 1918, um período repleto de atividades. O próprio nome do bairro foi influenciado por esse contexto histórico, evoluindo para “Campina do Matadouro” à medida que urbanização moldava a área. Hoje, a união dos bairros Liberdade, Camboa, Floresta e Fé em Deus forma o maior quilombo urbano da América Latina.

O título do livro alude diretamente a uma expressão usada pelos moradores como um alerta sempre que um touro desagarrado circulava livremente pelo caminho que leva ao antigo matadouro. Quando ouviam-se gritos de “Boi Solto” era um sinal para que moradores buscassem abrigos, mas, como narra Alcimar, era o momento onde as crianças do bairro aproveitavam para atiçar ainda mais o touro como forma de brincadeira com a situação.

O livro, que conta com mais de cinquenta contos, Alcimar reconstrói através de palavras uma época única do seu bairro natal e ambientados na Rua Alberto de Oliveira, no matadouro e na estação de bondes de São Luís, onde seu pai trabalhou. No decorrer da narrativa surgem diversos personagens, que representam as amizades de infância do professor ganhando vida em diversos pontos da obra.

Nas mais de 150 páginas, o leitor será levado a ambientes e sentimentos ligados a infância no bairro da Liberdade, contando com experiências culinárias, crenças locais, competições esportivas, atrações culturais e toda a atmosfera emocional que foi construída na memória do autor.

Por: Karina Soares

Produção: Bruna Castro

https://www.facetubes.com.br/noticia/4261/comeca-hoje-em-sao-luis-ma-a-xii-semana-montelliana

VIII ENCONTRO DE MUSEUS-CASAS LITERÁRIOS – 2023 “MORADAS RENOVADAS”

O tema “Moradas renovadas”, escolhido para o Encontro, envolverá dois segmentos de discussão: o primeiro, a importância da conservação de moradias musealizadas, das ações de manutenção, adequação e restauro dos imóveis de museus-casas, buscando-se abordar casos de sucesso ou de insucesso quanto à recuperação arquitetônica e salvaguarda de coleções; o segundo, a caracterização do espaço íntimo do lar e a memória do modo de viver de seus antigos moradores, em relação aos acervos mantidos pelas instituições.

Confira a programação completa : https://www.casaguilhermedealmeida.org.br/programacao/verprogramacao.php?idprogramacao=1580&iddata=5846

Para realizar sua inscrição no formato presencial para o dia 25/08:https://poiesis.education1.com.br/publico/inscricao/7b41e963c997a06a34c7d3d4957e03a7 Para realizar sua inscrição no formato on-line, dia 26/08:https://poiesis.education1.com.br/publico/inscricao/2d45da15db966ba887cf4e573989fcc8

BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES MINIMALISTAS - ABLAM, ESTÁ PROMOVENDO

I CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARTES MINIMALISTAS , COM INSCRIÇÃO GRATUITA. APROVEITEM.

O
A ACADEMIA

Senhor (a) Acadêmico (a)

A Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, no uso das suas atribuições estatutárias, convoca os Senhores(as) Acadêmicos(as) a participarem da Assembleia Geral Ordinária (AGO), a realizar-se no dia 25 de agosto de 2023, sexta feira,as17horas,tendoporlocalasaladereuniãodaALL,noPalácioCristoRei,sitoàPraçaGonçalves Dias, nº. 351, São Luís-Maranhão, para tratar da seguinte pauta:

ORDEM DO DIA:

1. Leitura da ata da AGO anterior;

2. Correspondências recebidas e expedidas;

3. Informes sobre o “Prêmio Literário Gonçalves Dias”, resultado dos da escola vencedora e data da entrega dos prêmios;

4. Informações a sobre Eleição para a cadeira, 02 sob o patronato de Antonio Vieira: apreciação do parecer da Comissão eleita e deliberação da data da eleição;

5. Avaliação das festividades do bicentenário de Gonçalves Dias e dos 10 anos da ALL;

6. Outros.

São
EDITAL DE CONVOCAÇÃO N. 11/2023
Luís, de 21 de agosto de 2023
Presidente da ALL

Credenciamento Público Nº 10/2023 - PMSL/SECULT - 16ª Feira do Livro de São Luís (FeliS).

A Prefeitura Municipal de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), órgão gestor da política municipal de Cultura, torna público, que estão abertas as inscrições para o credenciamento de organizações da sociedade civil, visando o planejamento e execução da 16ª Feira do Livro de São Luís em parceria com a Secretaria de Educação do Município.

Acesse o edital em www.saoluis.ma.gov.br/editais ou acesse o link na bios do Instagram @secultsaoluis.

#PrefeituraDeSãoLuis

#SecultSãoLuís

#Felis2023

ABSURDAS ALEGRIAS – VIII Festival de Poesia de Lisboa

Antonio Ailton 23/09/2023

Antologia do VIII Festival de Poesia de Lisboa

De 13 a 17 de setembro aconteceu o VIII Festival de Poesia de Lisboa com o tema “A vida é mais tempo alegre do que triste”, o qual foi extraído dos versos do poema Momento, de Adélia Prado, e homenageando essa importante poeta brasileira. O Festival reuniu 171 poetas na Antologia A vida é mais tempo alegre do que triste (Helvetia Éditions), cujos poemas reforçam a voz de Adélia Prado e ecoam em mais de 13 países em que vivem os poetas participantes. A vida é mais tempo alegre do que triste é uma obra que busca representar a poesia lusófona, uma vez que o objetivo principal do Festival de Poesia de Lisboa é a difusão da poesia escrita em Língua Portuguesa.

A poeta ludovicense Maruschka de Mello e Silva ficou em 2º lugar com o poema ABSURDAS ALEGRIAS, aqui apresentado:

ABSURDAS ALEGRIAS

Acumulam-se anos leves

Ainda tenho fôlego

Para absurdas alegrias – não ser convidado a mesa de ninguém – não esperar por visitas aos domingos.

Desenraizada

Afronto a felicidade com alvíssaras e um par de botas Como é que se descobre ser poeta? – Dizer – esses versos me pertencem. Num piscar de olhos, Canto através das palavras.

Maruschka de Mello e Silva mora e trabalha em São Luís (Maranhão). Promotora de Justiça da Capital, escreve desde adolescência, tendo recebido prêmios em Concursos Literários nacionais. Está presente em várias Antologias e tem dois livros publicados: Pedras em Izkhor (editora Scortecci) e Tábua Etrusca (Viegas Editora).

POETA MARANHENSE PREMIADA NO VIII FESTIVAL DE POESIA DE LISBOA
de Mello e Silva
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.